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Governabilidade, governance e reforma do Estado: considerações sobre o novo paradigma Eli Diniz

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Governabilidade, governance e reforma do

Estado:

considerações sobre o novo paradigma

Eli Diniz

Governabilidade, Governance e Reforma do Estado

O tema da reforma do Estado vem ganhando centralidade crescente desde 1980.

O quadro de desequilíbrio que se configurou com a deterioração do antigo regime e o agravamento do processo inflacionário transformaram-se no principal desafio para o os governos da Nova República. Porém, vem sendo implantada de forma muito lenta.

Governabilidade, Governance e Reforma do Estado

Polêmica sobre o futuro do Estado contrasta com o consenso negativo em torno da rejeição do antigo formato estado – concentrador, envolve questões distintas das metas e critérios que devem nortear a proposta de reordenamento.

Para o autor: a reforma do Estado em estreita conexão com o tema da consolidação democrática. O objetivo de reformar o Estado é parte inerente de um processo mais amplo das condições de fortalecimento de governabilidade democrática.

Governabilidade, Governance e Reforma do Estado

Esta perspectiva impõe uma ruptura: de um lado cabe refutar a polaridade Estado – mercado que comporta visões idealizadas do reforço ou eliminação intervencionista estatal. Por outro lado é preciso escapar da rigidez derivada da dicotomia racionalidade – governativa X imperativos democráticos, marcada pela oposição entre a lógica concentracionista e discricionária do poder estatal e a dinâmica descentralizadora, plural e competitiva do jogo democrático.

A Crise do Estado: uma A Crise do Estado: uma perspectiva integradaperspectiva integrada

Crise mundial e pressões no jogo de forças do sistema internacional tiveram um impacto relevante nas mudanças que definiriam as novas prioridades da agenda dos países periféricos. Além do impacto da estruturação da nova ordem mundial, outro peso decisivo que levou a exaustão do antigo modelo de Estado foram os fatores internos que também contribuíram para o esgotamento das condições de viabilidade desse modelo.

A Crise do Estado: uma A Crise do Estado: uma perspectiva integradaperspectiva integrada

Determinantes internos: crise fiscal e complexo de fatores estruturais que conduziriam à corrosão da ordem estatista (Estado e a Sociedade, relações capital – trabalho, padrão de administração do conflito distributivo e a modalidade de relacionamento entre os setores público e privado).

A Crise do Estado: uma A Crise do Estado: uma perspectiva integradaperspectiva integrada

O processo de desgaste tem raízes profundas e causas complexas. Sobre o impacto desenvolvimentista dos anos 70 o país experimentou mudanças profundas evoluindo para sistema híbrido. No caso brasileiro o descompasso entre Estado e sociedade situa-se no cerne da presente crise.

A Crise do Estado: uma A Crise do Estado: uma perspectiva integradaperspectiva integrada

Combinando formatos clientelistas, corporativos e pluralistas ou ainda estilos predatórios e universalistas de interação entre atores, esse sistema expressaria um profundo processo de reordenamento social, que ainda não esgotou suas potencialidades, embora já permita apontar tendências. Entre estas sobressai o obsoletismo do modelo estatista concentrador, ao lado da atualidade de um padrão descentralizado e flexível de ação estatal.

A Crise do Estado: uma A Crise do Estado: uma perspectiva integradaperspectiva integrada

A definição de estratégias de crescimento econômico como as perspectivas de atenuação das desigualdades sociais tornaram-se metas cada vez mais distantes, além de esvaziar importantes itens da agenda pública, sobretudo aqueles relacionados com as reformas sociais.

Governabilidade, crise do Governabilidade, crise do Estado e democraciaEstado e democracia

A ingovernabilidade é um dos principais desafios da atualidade brasileira.

O diagnóstico dominante enfatiza os efeitos perversos advindos da democratização crescente da ordem social e política:

- explosão de demandas; saturação da agenda; excesso de pressões desencadeadas pelo aumento acelerado da participação; expansão desordenada do quadro partidário; indisciplina do Congresso; descompasso entre as capacidades de resposta do Governo e de pressão da sociedade

Governabilidade, crise do Governabilidade, crise do Estado e democraciaEstado e democracia

Deslocando o foco da crise de governabilidade para o contraste entre a hiperatividade decisória da cúpula governamental e a falência executiva do Estado.

O que se observa é a incapacidade do Governo para implementar políticas e fazer valer suas decisões. Este desequilíbrio tem por base a hipertrofia da capacidade legislativa concentrada na alta burocracia governamental.

Governabilidade, crise do Governabilidade, crise do Estado e democraciaEstado e democracia

A opção da elites estatais brasileiras privilegiou vias coercitivas de implementação, caracterizado pela preferência por instrumentos legais capazes de garantir a precedência do Executivo em face do poder Legislativo.

Aprofundou-se assim, as tendências de substituir Decretos – Leis (regime ) por Medidas Provisórias, concebidas como instrumento adequado a conjunturas excepcionais e situações emergenciais.

Governabilidade, crise do Governabilidade, crise do Estado e democraciaEstado e democracia

O que se observa desde então é a proliferação de decisões, que são tomadas com total liberdade, sem consulta e transparência, situando-se o núcleo que efetivamente decide em instâncias enclausuradas na alta burocracia e fora do controle político.

Governabilidade, crise do Governabilidade, crise do Estado e democraciaEstado e democracia

Entre 1985 e 1988 foram promulgadas 376 Decretos – Leis.

Com a Nova Constituição, do Governo Sarney aos cinco primeiros meses do Governo FHC foram editadas nove centenas de Medidas Provisórias.

Governabilidade, crise do Governabilidade, crise do Estado e democraciaEstado e democracia

Sob tais condições, o argumento que vê o Executivo paralisado pelo poder de bloqueio de um Legislativo agressivo e indisciplinado carece de sustentação empírica.

A assimetria de poder degrada as relações Executivo – Legislativo, colocando este ultimo a mercê das iniciativas do primeiro, tendo como conseqüência um estímulo as trocas clientelistas, com o amesquinhamento da prática parlamentar e o aprisionamento do Executivo pela lógica da reciprocidade.

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Entretanto a credibilidade dos atos do Governo tende a ser abalada por causa pelo efeito do voluntarismo da elite estatal.

O excesso de poder discricionário abre caminho para práticas de experimentação irrestrita, dada a inexistência de freios institucionais, favorecendo uma política errática.

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O padrão de expansão, o modo de operação e o estilo de ação cristalizados no decorrer das várias fases do antigo modelo de industrialização produziriam as irracionalidades e ineficiências consubstanciadas na crise do Estado.

Governabilidade, crise do Governabilidade, crise do Estado e democraciaEstado e democracia

O estilo tecnocrático da gestão da Nova República agravaram mais os problemas, assim, a tensão entre as formas de alcançar os objetivos da nova agenda pública tornou-se parte constitutiva da crise do Estado.

Eficácia na administração da crise e consolidação democrática foram conduzidas como alvos contraditórios.

Assim cabe uma ruptura com a matriz e o vício reducionista das concepções correntes relacionadas à governabilidade e à crise do Estado.

Governabilidade, crise do Governabilidade, crise do Estado e democraciaEstado e democracia

Contra isto, contrapõe-se um perspectiva integrada. Trata-se de uma abordagem que enfatiza o teor pluridimensional da governabilidade, compreendendo não só os aspectos técnicos e administrativos da atividade de governar, como também a dimensão política.

Impõe-se criar e expandir, além de elevar a competência administrativa, as condições de governance do Estado.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

A crise do Estado extrapola questões ligadas ao poder decisório concentrado nas agências governamentais, envolvendo, ainda e sobretudo, a capacidade de gerar adesão e garantir sustentabilidade política para as decisões.

Como maximizar a eficácia da ação Estatal ?

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

Discussão contemporânea adota uma visão abrangente que aborda questões técnicas, administrativas e a dimensão política.

O êxito das políticas governamentais requer a mobilização de meios políticos de execução além dos instrumentos de institucionais e dos recursos financeiros. E a garantia da viabilidade política, envolve estratégias de coalizão e articulação de alianças que forneçam sustentação às decisões.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

Para repensar a reforma do Estado, cabe utilizar as categorias: Governança e Governance

Governabilidade: refere-se às condições sistêmicas mais gerais sob as quais se dá o exercício do poder em uma dada sociedade, tais como as características do sistema político.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

Governance: diz respeito a capacidade governativa no sentido amplo, envolvendo a ação estatal na implementação das políticas e na consecução das metas coletivas, implica em expandir e aperfeiçoar os meios de interlocução e de administração do jogo de interesses.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

Para superar a dicotomia Estado – mercado implica um novo estilo de gestão pública e um novo padrão de articulação Estado – sociedade, reformulando as práticas convencionais de administração pública.

Através da criação de incentivos e oportunidades introduzidos por novos arranjos institucionais, é possível conduzir a formação e o modo de atuação dos grupos na direção almejada.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

Um dos obstáculos na condução de políticas estatais está relacionado ao fraco desempenho do Governo quanto à consecução de metas coletivas que se acham comprometidas pela baixa capacidade de coordenação do Estado, o que dificulta a compatibilização dos fins definidos socialmente.

O objetivo da consolidação democrática deve ser pensado em conexão com o tema da reforma do Estado, o que requer que a ação deste último esteja afinada com um projeto global.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

A visão proposta se diferencia se contrapõe à perspectiva estatista à noção de autonomia do Estado meramente enquanto capacidade de sobrepor-se à pressões. Este enfoque implicaria priorizar a definição das metas pelas próprias elites estatais ou por um círculo de especialistas.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

O conceito de Governance requer que se recupere a noção de interesse público, crescentemente banida do vocabulário político por sua suposta afinidade com a antiga concepção de interesses nacionais, marcada pela idéia de globalização enquanto força integradora.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

A ação estatal ao ser dissociada de alguma noção de bem comum e da garantia da preservação de algum grau de responsabilidade pública na tomada de decisões perde legitimidade. Este argumento encontra respaldo numa linha teórica que ressalta a meta da cidadania plena envolvida na noção de democracia associativa em contraste com a prática da democracia delegativa.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

Na ótica da democracia associativa as diferentes concepções de bem comum constituem importante referencial do processo decisório, em se tratando de uma ordem democrática. Isto implica que um projeto coletivo que representa a capacidade do sistema político em geral e das elites governantes de conviverem com o dissenso e o conflito, através da disposição para a negociação e o compromisso.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

A ineficiência estatal torna-se perversa numa sociedade como a brasileira em termos de primazia das metas coletivas.

O sistema político brasileiro tem as características de um poliarquia, entre as quais, a garantia de eleições livres, e periódicas, baseadas no sufrágio universal e em partidos competitivos, representados por diferentes correntes e ampla liberdade de associação e de expressão.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

Em contrapartida tem-se uma democracia deficitária em termos de garantia de igualdade de condições para o exercício de uma cidadania plena. Os direitos de acesso (a bens públicos, serviços essenciais, etc) estão distribuídos de forma desigual. Por isso temos uma democracia peculiar.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

Há portanto uma rarefação do bem público, uma inércia na prestação de serviços básicos e uma ausência de canais para a expressão de direitos elementares, deixando camadas expressivas da população à margem da área de atuação das instituições encarregadas de resolver seus problemas primários de saneamento, saúde, segurança transporte e educação.

Reforma do Estado: definindo Reforma do Estado: definindo um novo paradigmaum novo paradigma

Esta lacuna deixada pelo Estado abre espaço para a proliferação de práticas predatórias e a disseminação da insegurança generalizada. As áreas social e territorialmente periféricas criam sistemas paralelos de poder que tendem a alcançar níveis extremos de violência e arbitrariedade.

Considerações FinaisConsiderações Finais

Para reverter este quadro é preciso impor o fortalecimento dos nexos com a sociedade e a política.

As crises do Estado e de Governabilidade são indissociáveis e devem ser focalizadas em suas múltiplas dimensões.

Considerações FinaisConsiderações Finais

As estratégias de enfrentamento de crises desta natureza não pode perder de vista a meta da consolidação democrática. Para tal é imprescindível compatiblizar eficiência do Estado e aprimoramento da democracia, reduzindo o duplo divórcio Executivo – Legislativo e o Estado – sociedade.

Considerações FinaisConsiderações Finais A noção de eficácia do Estado envolve: competência

e eficiência da máquina estatal, sustentabilidade política das decisões e à legitimidade dos fins que se pretende alcançar através da ação governamental.

Para aumentar os graus de governabilidade exige além elevar seu nível técnico o reforço da responsabilidade do Estado em face das metas coletivas e das demandas básicas dos diferentes níveis da população.

Considerações FinaisConsiderações Finais A reforma do Estado, crucial para a construção de

uma nova ordem, implica maximizar as condições de governance do sistema estatal, através da expansão das capacidades de comando, de coordenação e de implementação do Estado, ao lado do aperfeiçoamento dos meios de intervenção na ordem associativa.

A sugestão de um novo paradigma pensar a reforma do Estado impões a ruptura com os enfoques tecnocráticos e neoliberal.

Considerações FinaisConsiderações Finais

O enfoque tecnocrático tende a reforçar visões e práticas irrealistas porque calcadas na despolitização artificial dos processo de formulação e execução de políticas.

O enfoque neoliberal com sua visão minimalista, enfatiza a redução do Estado, subestimando seu papel de reforço e revitalização do aparelho estatal para o êxito de suas políticas, e para preencher as lacunas existentes.

Considerações FinaisConsiderações Finais A proposta do novo paradigma implica não só o conceito

dominante de autonomia estatal como também do modelo de gestão pública associada àquele conceito.

Em contrapartida a visão da capacidade governativa aqui sugerida pressupõe o reforço dos mecanismos e procedimentos formais de prestação de contas ao público, por um lado, bem como a institucionalização das práticas de cobrança, por parte dos usuários dos serviços públicos e dos organismos de supervisão e controle, por outro.