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GOL DE PLACA Keith Gray

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Gol dE placa

Keith Gray

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Gol de placa

doeu. E não foi pouco. Saiu bastante sangue também.

Eu tirei os olhos da bola por um segundo, talvez

dois. A porrada na cara foi tão forte que arrancou os

meus pés do chão, meu nariz estalou como um pedaço

de plástico bolha estourado e caí de bunda na lama.

O pequeno grupo de espectadores soltou um ge-

mido de susto. Todo mundo dentro do campo ficou pa-

ralisado. Depois de ver que eu não estava morto, de me

ouvir dizer um palavrão, o resto do time veio correndo.

Matty foi o primeiro a chegar até mim – foi ele quem

chutou a bola.

– Jase, desculpa aí, sério mesmo. Você está bem?

Eu não... Não foi...

Os outros o tiraram do caminho com empurrões,

batendo com força nas suas costas, olhando feio para ele.

Ouvi alguém dizer:

– Como é que a gente vai ganhar o jogo amanhã se

você matar o Jase.

E um dos espectadores gritou:

– Belo chute, burrão!

Mas não era culpa de Matty. Eu me distraí do cam-

po, me desliguei do que estava acontecendo lá dentro.

Pelo menos uma dezena de mãos se estenderam

para me ajudar a levantar, mas eu ainda não estava

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Keith Gray

pronto para ficar de pé. O sr. Walsh abriu caminho para

examinar a lesão de seu principal jogador. Era um su-

jeito grandalhão, cuja corpulência devia ser composta

de músculos quando tinha a nossa idade. Também era

professor de alemão, mas suas aulas quase sempre envol-

viam conversas sobre Fußball, porque o nosso time de

futebol era o centro das atenções de todos. Ele sacudiu

a cabeça e resmungou alguma coisa. Sua expressão de

alívio, porém, era bem clara. Estava estampada em seu

rosto. Graças a Deus foi o meu nariz que se transformou

em um chafariz de sangue, não um dos meus pés. Mes-

mo assim, ele não sorriu. Ele nunca sorria quando está-

vamos no campo.

– Está doendo muito? – ele perguntou.

Eu pisquei duas vezes. Era pura agonia. Mas eu me

limitei a fazer que sim com a cabeça.

– Certo – ele falou, apertando a ponta do meu na-

riz e me fazendo gritar. – Não está quebrado. Você vai

sobreviver. – Ele olhou por cima do ombro para Tara,

que estava parada junto à linha lateral toda preocupada,

mas sabendo muito bem que o sr. Walsh jamais permi-

tiria que ela colocasse os pés no campo. Quando olhou

de novo para mim, ele estava com a testa franzida: – Que

isso sirva para você não se distrair do jogo.

Ele me entregou alguns lenços de papel e me falou

para enfiar um em cada narina para estancar o sangra-

mento. Isso só fez a dor piorar, mas eu fiz de tudo para

esconder.

Ele pegou a bola:

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Gol de placa

– Por hoje já chega, pessoal. Vão se trocar. Mas

não é para ir embora, ainda quero falar com vocês. – Ele

apontou para o ginásio de esportes. – Andem. Vão logo.

O time saiu de campo. Eu levantei, me sentindo

um pouco trêmulo, engolindo uma boa quantidade de

sangue. Um dos espectadores aplaudiu, dando início a

uma salva de palmas. Alguém começou a gritar:

– Uh, uh, é Jason Collins... – Não era sempre que

tinha público nos nossos treinos, mas pelo jeito aquele

era importante.

Tara apareceu, apesar de estar frio e chovendo. Es-

tava de botas, chapéu, cachecol e luvas grossas, sofrendo

com o vento sob o guarda-chuva de golfe do pai. Por

baixo de todas essas camadas de tecido, eu sabia que ela

era linda. Queria que ela soubesse que eu estava bem,

mas não que visse o meu rosto se o meu nariz estivesse

todo achatado como um animal atropelado. Fiz um bre-

ve aceno para ela, mantendo a cabeça baixa. Em seguida

ergui oito dedos, tentando dizer que ainda ia passar na

casa dela a essa hora, como o combinado.

Ela gritou:

– Você está bem?

O sr. Walsh pôs sua mão pesada no meu ombro e

me empurrou para dentro do ginásio antes que eu tivesse

a chance de responder.

– Resolva isso quando estiver fora do campo – ele

grunhiu no meu ouvido.

Pálido e assustado, Matty apareceu meio que dan-

çando na minha frente:

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Keith Gray

– É sério, Jase, foi sem querer. Não mirei em você

nem nada. Foi só...

– Um baita chute – falou o sr. Walsh. – Mas tente

mirar no gol amanhã, certo?

Matty fez que sim com a cabeça, aliviado por eu

não estar morto, e por ele não ter levado um esporro. Fui

andando ao lado dele do campo até o ginásio de esportes,

ignorando seu falatório. Não sei o que me preocupava

mais: a final do dia seguinte ou o meu nariz amassado

acabar afastando Tara de mim. E isso me fez pensar no

quanto mudei nos últimos meses por causa dela.

O vestiário estava barulhento, as vozes ecoavam

nas divisórias. Havia uniformes da escola jogados em

cima dos bancos, e algumas gravatas no chão. Assim que

entrei já foram logo perguntando como eu estava, se es-

tava tudo bem, se jogaria no dia seguinte. Respondi que

sim a todas as perguntas. Com Matty, porém, as intera-

ções não eram tão amigáveis. Logo em seguida, começa-

ram as chicotadas com toalhas molhadas. Eu poderia ter

pedido para deixá-lo em paz, mas quando me olhei no

espelho minha cara parecia a de uma vítima em um filme

de terror – sangue e catarro secos, manchas roxas sob os

dois olhos. Me apressei para entrar no chuveiro. Não tive

co ragem de esfregar o nariz, só deixei que a água caísse

sobre o meu rosto para lavar a sujeira.

Muita gente detesta os vestiários depois da aula de

educação física. Para muitos, é a pior das torturas. Sofrer

bullying é sempre uma bosta, mas quando o motivo para

isso é o tamanho do seu pinto a coisa vira um pesadelo.

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Gol de placa

Na minha antiga escola, todo mundo ficava de short –

era melhor carregar um uniforme molhado o dia todo

do que mostrar para os colegas de sala se tínhamos um

cano de água ou de um toco de lápis. Quando mudei

para a Stonner, no ano passado, logo descobri que a me-

lhor maneira de evitar a encheção de saco era tirar a rou-

pa logo de uma vez. O que diziam era que quem ficava de

shorts eram só os pedófilos e os virgens. Como se cobrir

as partes íntimas fosse uma prova de que havia alguma

coisa suspeita rolando por baixo do short.

O que eu não conseguia entender era como a coisa

toda tinha virado uma competição. O sexo e tudo mais.

Alguns anos antes, todo mundo era feliz fugindo das me-

ninas. E não era uma questão de não entendê-las, já que

nem isso nós queríamos – elas pareciam ser chatíssimas.

Nós jogávamos futebol, videogame e qualquer outra coi-

sa em que fosse possível competir para depois se gabar.

Mas então fizemos catorze e quinze anos, e conseguir

uma namorada se tornou a vitória mais importante de

todas. E era preciso fazer coisas com elas também. As

meninas se tornaram uma competição, e cada conquista

era como um gol.

Ninguém ali estava de short no chuveiro. Mesmo

assim, eu seria capaz de apostar um bom dinheiro que

ainda eram todos virgens – menos Tony Podmore, que

vivia mostrando no celular umas fotos absurdas da meni-

na com quem estava saindo, mais velha que ele. Mas, tal-

vez, depois do jogo do dia seguinte, eu pudesse me juntar

a ele e ser totalmente sincero ao tirar o short no banho.

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Keith Gray

Às oito horas na casa de Tara. Os pais dela iam fi-

car fora a noite toda. De forma que eu ia dormir lá. Afa-

nei uma camisinha do meu irmão. Ela prometeu. Era tão

errado assim ficar mais empolgado com isso do que com

o jogo do dia seguinte?

Estávamos todos vestidos de novo, esperando o sr.

Walsh. Ele torceu o nariz ao entrar na pesada névoa de

desodorante que pairava no ar, veio até o banco onde eu

estava e começou a examinar de perto meu nariz, que

estava com o dobro do tamanho habitual, mas parecia

um pouco melhor sem o sangue e o catarro seco. Tentei

assoar quando estava no banho, e senti como se alguém

tivesse enfiado lâminas incandescentes nas minhas nari-

nas. Fungar era bem menos doloroso. As manchas sob os

meus olhos estavam bem roxas.

– Não está tão bonito quanto meia hora atrás – avi-

sou o sr. Walsh. – Mas isso não vai impedir você de jogar

amanhã, né?

– Não, senhor.

Ouvi alguns murmúrios de aprovação do time em

meio aos passos silenciosos dos pés descalços no chão de

ladrilho.

O sr. Walsh deu um tapinha no meu ombro:

– Grande garoto. – Ele se afastou e assumiu seu

lugar de sempre ao lado da lousa na qual anotava o es-

quema tático e a estratégia de jogo. Com os pés afastados

e as mãos na cintura, ele nos encarava.

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Gol de placa

– Amanhã é o grande jogo – ele falou. Como se não

soubéssemos. – Um jogo muito, muito importante. Vou

ser sincero com vocês, meninos: é o jogo mais impor-

tante em que já estive. Sou treinador de futebol aqui na

escola há onze anos, mas só com vocês consegui chegar

a minha primeira final. E posso dizer que estou orgulho-

so por compartilhar esse momento com vocês... com o

nosso time.

Nós batemos os pés no chão em agradecimento.

– Vocês sabem que não gosto de ficar favorecen-

do ninguém, mas não é preciso ser nenhum gênio para

perceber que um jogador em especial tem um pé mági-

co que está destruindo todos os times que enfrentamos

até aqui.

O grito de “Uh, uh, é Jason Collins” começou.

Meu ego se inflou tanto que meu nariz quase voltou para

o lugar, como acontece com os dedos de uma luva de

borracha quando a pessoa a enche de ar.

O sr. Walsh balançou a cabeça, quase sorrindo,

mas não exatamente. Ele ergueu uma das mãos pedindo

silêncio e imediatamente foi atendido.

– Sou obrigado a reconhecer que este velho treina-

dor derramou algumas lágrimas na cerveja quando des-

cobriu que Jason ia mudar de escola. E, como esperado,

é ele quem está marcando todos os nossos gols. Doze em

dez jogos... nunca vi nada do tipo. Mas ele só consegue

fazer isso porque tem o apoio de todos vocês. Não teria

feito nem metade se não fosse as bolas que vocês passam

ou a marcação que vocês fazem. Ele precisa de vocês, de

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Keith Gray

todos vocês. Se fizerem a sua parte, ele também vai fazer.

Certo, Jason?

Cerrei os dentes e fiz que sim com a cabeça, con-

victo:

– Certo.

O sr. Walsh relaxou um pouco e cruzou os braços:

– Então eu não preciso dizer muito mais para vo-

cês, certo? Vocês só precisam cumprir seus papéis ama-

nhã. E vocês são capazes de fazer isso, eu sei que sim.

Tratem de dormir bem hoje à noite. – Ele apontou para

Moss no fundo do vestiário. – Sei que é seu aniversário,

garoto, que está fazendo dezesseis anos, o que é muito

legal. Mas deixe para comemorar amanhã à noite, certo?

Você vai ter dezesseis anos durante doze meses, mas o

dia de uma final é uma coisa única na vida. Se eu ouvir

dizer que você ficou na farra até altas horas, bebendo e

indo atrás de meninas... se eu sentir cheiro de cerveja no

seu hálito de manhã... se aparecer com olheiras, você não

vai nem entrar em campo, entendeu bem?

Moss se apressou em responder que jamais faria

isso, de jeito nenhum.

– O mesmo vale para todos vocês – avisou o sr.

Walsh, fazendo um gesto com o braço para o vestiário

inteiro ver. – Estou falando com vocês como homens,

não como meninos. Tratem de mostrar um pouco de

profissionalismo, para terem motivo para se orgulhar

uns dos outros. Fiquem em casa à noite. Montem um

quebra-cabeça, se distraiam com um jogo de tabuleiro. E

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Gol de placa

depois durmam bem, e cedo. – Ele amenizou um pouco

o tom de voz, quase sorrindo. – E sozinhos.

Atrás de mim, alguém deu risada.

– Sabiam que antigamente os jogadores não po-

diam nem ver as mulheres nas vésperas dos jogos? Já

ouviram falar nisso? Quem joga futebol precisa de um

pouco de agressividade quando está em campo, para po-

der lutar pela bola. Reprimir esse tipo de energia deixa

vocês mais agressivos. – Ele deu uma piscadinha. – Pois

é, pessoal, nada de sexo hoje à noite, é o que estou falando.

Houve sorrisinhos e mais risadas. De todo mundo,

menos de mim.

– Isso inclui o que vocês fazem sozinhos – conti-

nuou o sr. Walsh. – Deem um descanso para as mãos

hoje à noite, garotos. Sei que vai ser difícil para alguns

de vocês, mas se querem ser o primeiro time da Stonner

a ganhar uma final precisam fazer algum sacrifício. Por

vocês, por mim e pelo resto do time.

Alguém começou a aplaudir atrás de mim. Acho

que foi Moss quem gritou:

– Um viva para o sr. Walsh! – De repente eu não

estava mais no clima para um “hip, hip, urra!”.

– O ônibus sai às sete em ponto – o professor de

educação física avisou, tentando parecer durão, mas cla-

ramente orgulhoso de todos nós.

Eu virei a cara, pois não conseguia olhá-lo nos

olhos.

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Keith Gray

Kirk achou tudo muito engraçado.

– Não acredito. Sério mesmo que o Walshy falou

na frente de todo mundo: “Nada de bronha para vocês

hoje, meninos, não quero nenhum punheteiro no meu

time”?

– Mais ou menos. Mas não é essa a questão...

Kirk revirou os olhos:

– Que babaca.

Eu não sabia o que fazer. Meu ego inflado mur-

chou rapidinho, e quase procurei o sr. Walsh para contar

sobre Tara e a noite que planejamos. Aquela seria a noite.

Ela prometera. Tentei me convencer de que ele entende-

ria. Mas no fundo eu sabia que estava só me enganando.

O que eu queria que ele dissesse? “Mandar ver, garoto”?

Também não queria falar sobre o assunto com

ninguém do time. Todos nós respeitávamos o sr. Walsh e

sempre seguíamos à risca o que ele pedia... Minha nossa,

eu estava me sentindo um merda, e só o que tinha feito

até então era pensar em desobedecê-lo.

Kirk era meu amigo mais próximo que não fazia

parte do time. Era mais alto que eu, porém mais magro.

Seu queixo às vezes ficava coberto pelas maiores espi-

nhas que alguém já viu na vida. Sentávamos perto um

do outro em quase todas as aulas. Ele me ajudava a colar

nas provas de matemática. E de francês. E às vezes nas de

ciências também. Tinha um jeito meio esquisitão, mas

pelo menos eu podia confiar que não ia abrir a boca. Ele

também falava bastante sobre sexo – insistia tanto no as-

sunto que ficava óbvio que nunca tinha feito.

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Gol de placa

– Não acredito que você está me perguntando isso

– ele falou.

Estávamos no quarto dele. Na parede em cima

da minha cama, eu preguei um cachecol do Sheffield

Wednesday, canhotos de ingressos dos jogos a que fui

em vários estádios diferentes e duas tabelas da Copa do

Mundo. A cúpula do abajur que eu ganhei os oito anos

de idade era uma bola de futebol, e continuava a mesma

desde então. Já Kirk tinha um pôster em tamanho real de

uma modelo peituda na porta do guarda-roupa.

– Ninguém ia ser capaz de me segurar se uma me-

nina me dissesse que aquela seria a noite.

– Mas e se for verdade? – questionei. – E se a gente

transar hoje à noite e eu for um fiasco amanhã? E se eu

não fizer nenhum gol? E se o time perder a final por mi-

nha causa?

Kirk deu de ombros:

– Jogadores de futebol que não transam? Qual é,

isso deve ser mito.

– Como assim?

– Você sabe como é, tipo aquelas histórias de que

as garotas não engravidam se fizerem de pé. Ou que as

gordas gozam mais.

– O sr. Walsh falou que os boxeadores também fa-

zem isso. Eles não podem transar antes das lutas.

Kirk balançou a cabeça.

– Bom, isso eu também ouvi um monte de vezes.

Todo mundo sabe que é verdade.

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– Então por que não seria para os jogadores?

– Pensa bem – disse Kirk. – Um boxeador entra no

ringue sozinho, certo? E precisa estar puto a ponto de ba-

ter no outro até nocautear o cara. Mas um jogador, por

que ele precisaria estar puto? Além disso, ele é só uma

peça do time. E daí se tiver transado na noite anterior e

estiver meio devagar? Vai ter pelo menos outros seis ou

sete no time a todo vapor. Eles podem marcar os gols se

for preciso.

– Não no nosso time – rebati. – Já te falei que fui o

único a fazer gols nos últimos oito jogos?

– Só em todas as vezes que a gente conversou. – Ele

bufou e deu de ombros de novo. – Então é só não transar

com a Tara, se acha que vai ser melhor assim. Mas você

vai se sentir um babaca se não transar e o time perder do

mesmo jeito.

– Hoje à noite pode ser a nossa única chance. A

mãe dela tem uma tia que está muito doente, então os

pais dela viajaram para fazer uma visita. A gente vai ter a

casa vazia a noite toda.

Kirk balançou a cabeça:

– Então transa com ela, ora. Mas você vai se sentir

um babaca se não jogar nada e o time perder amanhã.

Eu olhei feio para ele, que abriu um sorriso.

Em seguida vi que horas eram.

– Fiquei de ir até a casa dela daqui a uma hora. – Eu

me levantei e comecei a andar de um lado para o outro

dentro do quarto.

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– Quer que eu vá no seu lugar? – Kirk ainda estava

rindo. – Posso usar uma máscara de Jason Collins, e falar

como um menino rico.

– Que beleza – respondi. – Valeu mesmo. – Eu me

virei para a porta. – Obrigado pela ajuda.

Ele riu de mim:

– Seja otimista. Ela pode nem querer dar para você

depois de ver esse seu nariz. Problema resolvido.

Havia um espelho pequeno do lado da cama. Eu o

apanhei e fiz uma careta ao ver meu reflexo. Deixei meu

corpo desabar no chão, com as costas contra a parede.

– Quando foi que tudo ficou assim tão complicado? –

perguntei.

– O que ficou tão complicado?

– Tudo. Dois anos atrás eu só pensava em jogar

bola. Não estava nem aí para mais nada. E todo mundo

me achava o máximo porque eu fazia gols. Mas agora

não é mais assim, né? Hoje em dia se quiser ser bem vis-

to você precisa ter namorada também, e uma bem gata,

não pode ser qualquer uma. E ela não pode ser durona,

tem que dar para você. Porque não dá para ser popular

e virgem ao mesmo tempo. Minha nossa, quem foi que

inventou esse monte de regras assim do nada?

– E desde quando você é assim tão filosófico?

Eu não respondi.

– E você não é virgem, né? – continuou Kirk. –

Você me contou que perdeu a virgindade com aquela

garota da outra escola. Como era o nome dela mesmo?