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8214 GLOBALIZAÇÃO E TRANSNACIONALIDADE DO CRIME LA GLOBALIZACIÓN Y LA DELINCUENCIA TRANSNACIONAL Luciano Monti Favaro RESUMO Esse artigo tem por objetivo estudar a globalização e a transnacionalidade do crime. Trata-se, inicialmente, da análise da globalização, bem como dos benefícios trazidos por ela a todas as pessoas. Benefícios esses absolvidos, inclusive, pelas organizações criminosas. Após, adentra-se ao estudo da transnacionalidade do crime, verificando a existência, o conceito – doutrinário e normativo – e o histórico das organizações criminosas. Serão analisadas também as medidas adotadas pela sociedade internacional no combate as essas organizações criminosas. Por fim, aborda-se o histórico e os aspectos da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional – Convenção de Palermo –, bem como algumas inovações incorporadas ao ordenamento jurídico brasileiro em decorrência da adoção dessa Convenção. PALAVRAS-CHAVES: GLOBALIZAÇÃO. TRANSNACIONALIDADE DO CRIME. CRIMINALIDADE ORGANIZADA. CONVENÇÃO DE PALERMO. RESUMEN Ese artículo tiene por finalidad estudiar la globalización e la delincuencia transnacional. Es, inicialmente, el análisis de la globalización, así como los beneficios que haya traído consigo a todo el mundo. Beneficios que también fueran percibidos pelas organizaciones delictivas. Después, entra al estudio de la delincuencia transnacional, tomando nota de la existencia, el concepto - doctrinario y legislativo - y la historia de las organizaciones delictivas. También se examinará las medidas adoptadas por la sociedad internacional en la lucha contra estas organizaciones. Por último, se trata de la historia y los aspectos de la Convención de las Naciones Unidas contra la Delincuencia Organizada Transnacional – Convención de Palermo –, así como algunas innovaciones incorporadas en el ordenamiento jurídico brasileño, debido a la adopción de la Convención. PALAVRAS-CLAVE: GLOBALIZACIÓN. DELINCUENCIA TRANSNACIONAL. DELINCUENCIA ORGANIZADA. CONVENCIÓN DE PALERMO. Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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GLOBALIZAÇÃO E TRANSNACIONALIDADE DO CRIME

LA GLOBALIZACIÓN Y LA DELINCUENCIA TRANSNACIONAL

Luciano Monti Favaro

RESUMO

Esse artigo tem por objetivo estudar a globalização e a transnacionalidade do crime. Trata-se, inicialmente, da análise da globalização, bem como dos benefícios trazidos por ela a todas as pessoas. Benefícios esses absolvidos, inclusive, pelas organizações criminosas. Após, adentra-se ao estudo da transnacionalidade do crime, verificando a existência, o conceito – doutrinário e normativo – e o histórico das organizações criminosas. Serão analisadas também as medidas adotadas pela sociedade internacional no combate as essas organizações criminosas. Por fim, aborda-se o histórico e os aspectos da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional – Convenção de Palermo –, bem como algumas inovações incorporadas ao ordenamento jurídico brasileiro em decorrência da adoção dessa Convenção.

PALAVRAS-CHAVES: GLOBALIZAÇÃO. TRANSNACIONALIDADE DO CRIME. CRIMINALIDADE ORGANIZADA. CONVENÇÃO DE PALERMO.

RESUMEN

Ese artículo tiene por finalidad estudiar la globalización e la delincuencia transnacional. Es, inicialmente, el análisis de la globalización, así como los beneficios que haya traído consigo a todo el mundo. Beneficios que también fueran percibidos pelas organizaciones delictivas. Después, entra al estudio de la delincuencia transnacional, tomando nota de la existencia, el concepto - doctrinario y legislativo - y la historia de las organizaciones delictivas. También se examinará las medidas adoptadas por la sociedad internacional en la lucha contra estas organizaciones. Por último, se trata de la historia y los aspectos de la Convención de las Naciones Unidas contra la Delincuencia Organizada Transnacional – Convención de Palermo –, así como algunas innovaciones incorporadas en el ordenamiento jurídico brasileño, debido a la adopción de la Convención.

PALAVRAS-CLAVE: GLOBALIZACIÓN. DELINCUENCIA TRANSNACIONAL. DELINCUENCIA ORGANIZADA. CONVENCIÓN DE PALERMO.

Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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1. Introdução

Não há dúvidas de que a globalização trouxe benefícios para as pessoas. Um dos maiores benefícios foi, sem dúvida, a informatização e com ela a possibilidade de cooperação entre os países. No entanto, esses benefícios também chegaram até os criminosos que viram a possibilidade de expandir os seus negócios para além das fronteiras de um Estado. Daí o porquê de se utilizar a expressão: transnacionalidade do crime.

O objetivo desse artigo é traçar uma panorâmica da globalização abordando os benefícios e os malefícios dela advindos.

Posteriormente passar-se-á ao estudo da transnacionalidade do crime. Nesse tópico será analisado a existência, a conceituação doutrinária e normativa, bem como o histórico das organizações criminosas.

Por fim, abordar-se-á os modos utilizados pela Sociedade Internacional que têm se mostrado eficazes no combate à criminalidade organizada transnacional. Mais especificamente será analisado, nesse último tópico, a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional – Convenção de Palermo.

Objetiva-se, por conseguinte, relatar o crescimento das organizações criminosas em face dos benefícios trazidos pela globalização e o modo pelo qual os Estados podem combater o avanço dessas organizações.

2. A GLOBALIZAÇÃO

O termo globalização foi utilizado pela primeira vez na década de 80 nas universidades norte-americanas nos cursos de administração de empresas. Posteriormente, esse termo se expandiu pelo mundo mediante a expansão das atividades das empresas transnacionais.[1]

Definir o termo globalização é tarefa das mais complexas, haja vista tratar-se de um termo o qual recaem diversos significados.

Nesse sentido:

Convertida numa das chaves interpretativas do mundo contemporâneo, globalização não é um conceito unívoco. Pelo contrário, é um conceito plurívoco, comumente associado à ênfase dada pela literatura anglo-saxônica dos anos 80 a uma economia política das relações internacionais.[2]

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Não se trata, no presente artigo, de aprofundar o estudo sobre globalização, mas demonstrar que além de benefícios, ela trouxe efeitos adversos como, por exemplo, a expansão das organizações criminosas.

Nesse sentido relata Davin:

A globalização crescente da economia mundial alicerçada em trocas comerciais mais fáceis, na interdependencia económica, numa circulação de capitais ágil e simplificada, baseada em comunicações rápidas bem como o recurso a tecnologia sofisticada sustentada em meios informáticos de última geração, para além de trazer numerosos e sensíveis benefícios para o crescimento desta também veio a acarretar efeitos perversos.[3]

Percebe-se, pelo estudo histórico, que o sistema Bretton Woods constituído pós-segunda Guerra Mundial, bem como acontecimentos posteriores, como, a dissolução do Império Soviético, a queda do muro de Berlim, os círculos políticos do Consenso de Washington, a instituição de blocos econômicos e da Organização Mundial do Comércio – OMC foram as molas propulsoras para o desenvolvimento do comércio mundial.

Juntamente com esse desenvolvimento advieram os benefícios da globalização sentido dia-a-dia pelas pessoas. O desenvolvimento da tecnologia juntamente com o avanço da informática – frutos da globalização – trouxe à vida das pessoas mais possibilidades e novas expectativas.

No entanto, os benefícios trazidos pela globalização foram sentidos também pelas organizações criminosas. Elas viram, nos efeitos trazidos pela globalização, a oportunidade de expandir as suas atividades para além das fronteiras. Essa expansão, juntamente com a estrutura estável que possuem, fez com que conseguissem aumentar ainda mais o seu poderio econômico.

Os Estados, pelo contrário, reféns da globalização, tornaram-se enfraquecidos e incapazes de conter o avanço das organizações criminosas. Nem mesmo as cooperações entre os Estados – instituídas mediante tratados – foram capazes de evitar o crescimento dessas organizações.

Concluindo acerca da globalização faz-se necessário mencionar o posicionamento de Naím:

A globalização trouxe novos hábitos, novos costumes, novas expectativas, novas possibilidades e novos problemas. Isso nós sabemos. O que não sabemos muito bem é o tamanho da riqueza que a globalização trouxe para os traficantes. O mundo interconectado abriu novos e claros horizontes ao comércio ilícito. O que os traficantes e seus cúmplices encontram nesses horizontes não é somente dinheiro, mas também poder político.[4]

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Conclui-se, assim, que a globalização trouxe benefícios tanto para os Estados, quanto para as pessoas e para a criminalidade organizada. Aos Estados, mediante o crescimento do comércio internacional. Às pessoas, as novas expectativas e possibilidades. À criminalidade organizada, a possibilidade de expansão, tornando-se, assim, transnacional.

3. TRANSNACIONALIDADE DO CRIME

A verificação da existência, a conceituação – doutrinaria e normativa, bem como o histórico das organizações criminosas são necessários para entender a transnacionalidade do crime.

3.1 A EXISTÊNCIA DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

Assim como o termo globalização, o conceito das organizações criminosas é impreciso. A dificuldade em torno do conceito decorre da diversidade das atividades criminosas organizadas ilícitas. Atrelado a essa dificuldade, pode-se incluir a divergência doutrinará acerca da existência ou não das organizações criminosas.

Há doutrinadores que negam a existência dessas organizações. Nesse sentido, argumenta Hireche: “a doutrina, destarte, não conceituou validamente a criminalidade organizada, primeiro porque não se poderia conceituar o inexiste”.[5]

Outros, pelo contrário, afirmam que elas existem desde o século XVI com as tríades chinesas.[6]

A negativa da existência da criminalidade organizada, como lembra Machado, também foi fruto de debate no Brasil na década de 80. Essa negativa partiu de autoridades do Poder Judiciário e do Poder Executivo acerca das organizações que se formavam nos presídios, como, por exemplo, as Serpentes Negras – na Casa de Detenção de São Paulo –; o Primeiro Comando da Capital, atuante em diversos presídios do estado de São Paulo –; e o Comando Vermelho – nos presídios do Rio de Janeiro.[7]

Maia, procurador da República atuante no combate ao crime organizado, afirma que a criminalidade mediante organizações criminosas no Brasil existe e está cada vez mais atuante. Rechaça a negativa da existência dessas organizações ao afirmar que:

Por seu turno, para desmentir a perspectiva idílica, que nega a existência do crime organizado ou assegura que ele não existe em nosso país, é necessário apenas relembrar as gangues que assaltam aos cofres da Previdencia Social; [...]; os diferentes grupos de jogo do bicho, espalhados por todo país, [...]; as organizações de tráfico de entorpecentes instaladas nas prisões (“comando vermelho”) [...]; a intensa circulação e até mesmo a prisão de membros de organizações espanholas de tráfico de mulheres, da Yakusa japonesa e da Máfia siciliana em território nacional, sintomaticamente estes últimos quase sempre atuando como ‘sócios’ de restaurantes, sabidamente uma das formas mais utilizadas para reciclagem de dinheiro sujo [...].[8]

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Essas palavras do Procurador podem ser corroboradas, com a célebre frase: “O Brasil se tornou um santuário para os mafiosos”.[9]

Essa frase foi mencionada pelo tenente-coronel Angioto Pellegrini, chefe da Direzione Investigativa Antimafia na Calábria quando se encontrava no Brasil com a finalidade de levar à Itália um dos maiores chefões da Máfia, Tommaso Buscetta.[10]

Claramente verifica-se que as organizações criminosas existem e que nenhum país está imune a elas.

Nesse sentido são as palavras de Chiavario: “sem dúvida as organizações criminais sempre existiram”. Obviamente que elas se tornaram mais conhecidas na época atual devido à atuação cada vez mais violenta e incisiva.[11]

3.2. CONCEITO DE ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

Baseando-se na existência das organizações criminosas, faz-se necessário a conceituação delas. Além das conceituações doutrinárias, muitos países tem se ocupado de conceituá-las em dispositivos normativos. Também nas Convenções Internacionais isso pode ser verificado.

3.2.1. Conceituação doutrinária

Antes de conceituar as organizações criminosas é interessante verificar que o termo crime organizado foi utilizado pela primeira vez pela Comissão de Crime de Chicago. Trata-se de uma organização civil criada por negociantes, banqueiros e advogados, em 1919, com a finalidade de promover alterações no sistema de justiça criminal.[12]

Posteriormente, a expressão crime organizado é utilizado por Frederic Thrasher no livro intitulado The Gang: a study of 1313 gangs in Chicago editado em 1927 pela Chicago University Press. Um dos capítulos do livro foi, justamente, intitulado como The gang and the organized crime.[13]

Curiosamente, de 1930 até a década de 60 não se procurou definir tampouco enunciar princípios conceituais do crime organizado. Em 1961 com a posse de John Kennedy para presidente dos Estados Unidos, assume como Procurador-Geral, Robert Kennedy – irmão de John. Em um de seus discursos, Robert declarou como medida prioritária o combate ao crime organizado.[14]

Com o advento da morte de John Kennedy, em 1963, na cidade de Dallas, o debate sobre a criminalidade organizada é reacendido.[15]

A partir daí, com o crescente desenvolvimento da criminalidade organizada e a infiltração dela nos diversos setores da sociedade, os doutrinadores passam a estudá-la e, conseqüentemente, a conceituar as organizações criminosas.

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Davin entende que como elemento nuclear do conceito “criminalidade organizada” está a existência de uma organização. Organização esta que age de forma autônoma de seus membros sempre com o objetivo de uma ação delituosa.[16]

Clássica conceituação de organizações criminosas é a elaborada pela Unidade de Crime Organizado da Organização Internacional de Polícia Criminal – INTERPOL:

É qualquer grupo de criminosos que, tendo estrutura corporativa, estabeleça como objetivo básico a obtenção de recursos financeiros e poder através de atividades ilegais, freqüentemente recorrendo, para tanto, ao medo e a intimidação de terceiros.[17]

Desse conceito advém a caracterização das organizações criminosas como estruturas coorporativas. Atuam, portanto, como se fossem verdadeiras empresas.

Nesse sentido são as palavras de García de Paz:

Mientras que lãs actividades delictivas clásicas eran llevadas a cabo básicamente de manera individual, se observa en la actualidad uma evolución hacia uma criminalidad conducida por grupos de delincuentes bien estructurados y que asumen el crimen como empresa, como negocio: esto es lo que denominamos a grandes rasgos crimen organizado.[18]

Corroborando o mesmo argumento, Davin identifica três elementos nas organizações criminosas. O primeiro refere-se à permanência temporal mesmo que altere os seus fundadores ou criadores. O segundo refere-se à estruturação da organização – há a divisão de trabalho entre seus membros, bem como a centralização de algumas ações. Por fim, a prática de infrações ou crimes com a finalidade de obter proveitos econômicos relevantes.[19]

É de se notar que, olhando por essa ótica, as organizações criminosas realmente se assemelham as empresas. Afinal, as empresas caracterizam pela permanência temporal ainda que modifique os seus fundadores; são estruturalmente organizadas havendo a divisão de tarefas; e possuem a finalidade de obtenção de lucros.

Machado argumenta que essas características, no entanto, não podem ser utilizadas para todas as organizações criminosas, haja vista alguma delas não visarem lucro, como, por exemplo, as organizações terroristas.[20]

Diferentemente desse posicionamento é o de Naím ao afirmar que o mundo se equivoca ao ver essas redes apenas em termo terroristas. Em seu livro, Naím aborda o império econômico que também essas organizações vêm conseguindo. Estruturam-se, assim, como as demais em verdadeiras empresas transnacionais em busca de lucro advindo de atividades ilícitas. [21]

Nesse sentido são os argumentos de Naím:

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O problema é que o mundo ainda pensa nessas redes principalmente em termos de terrorismo. No entanto, [...], o lucro é uma motivação tão poderosa quanto Deus. As redes de comerciantes de bens ilícitos sem pátria estão mudando o mundo tanto quanto os terroristas – provavelmente mais. Mas o mundo, obcecado pelo terror, ainda não se deu conta.[22]

Percebe-se, portanto, que as características mencionadas acima referem-se a todo o tipo de organização criminosa que, no estudo de Maia, são classificadas em: organizações hierarquicamente organizadas, como, por exemplo, as máfias e cartéis; organizações profissionais especializadas – no âmbito de atuação interna – em atividades ilícitas, como, por exemplo, o roubo de carga e o contrabando de armas; organizações criminosas econômicas; organizações criminosas que praticam crimes contra o Estado – criminalidade praticada por servidores públicos; e organizações terroristas.[23]

Assim, as organizações criminosas podem ser conceituadas, doutrinariamente, como sendo um grupo estruturado hierarquicamente, estável e permanente, que se dedica à prática de atividades ilícitas com o objetivo de obter recursos financeiros.

3.2.2. Conceituação normativa

Tanto os ordenamentos jurídicos internos, quanto os internacionais se preocuparam em conceituar as organizações criminosas.

A primeira tipificação do crime de associação criminosa é encontrada no código napoleônico de 1810. Posteriormente, e na mesma linhagem, veio a tipificação no código penal português de 1852. Este código, no artigo 263, intitulado “associação de malfeitores”, previa a punição à atuação de grupos criados com a intenção de atacar pessoas e propriedades.[24]

Em 1884, este dispositivo é alterado, estendendo a incriminação a qualquer associação formada para cometer crimes. A tipificação trazida pelo código penal português de 1884 foi mantida pelo código de 1983, no artigo 299.

Artigo 299. Associação criminosa

1 - Quem promover ou fundar grupo, organização ou associação cuja finalidade ou actividade seja dirigida à prática de um ou mais crimes é punido com pena de prisão de um a cinco anos.

2 - Na mesma pena incorre quem fizer parte de tais grupos, organizações ou associações ou quem os apoiar, nomeadamente fornecendo armas, munições, instrumentos de crime, guarda ou locais para as reuniões, ou qualquer auxílio para que se recrutem novos elementos.

3 - Quem chefiar ou dirigir os grupos, organizações ou associações referidos nos números anteriores é punido com pena de prisão de 2 a 8 anos.

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4 - As penas referidas podem ser especialmente atenuadas ou não ter lugar a punição se o agente impedir ou se esforçar seriamente por impedir a continuação dos grupos, organizações ou associações, ou comunicar à autoridade a sua existência de modo a esta poder evitar a prática de crimes.

5 - Para os efeitos do presente artigo, considera-se que existe grupo, organização ou associação quando esteja em causa um conjunto de, pelo menos, três pessoas, actuando concertadamente durante um certo período de tempo (grifos).

Percebe-se que a legislação portuguesa acaba por igualar “grupo”, “organização” e “associação” criminosa desde que tenham a finalidade de crime. Não prevê, portanto, o tipo legal de criminalidade organizada, mas sim o de associação para cometer algum delito.

O Código Penal espanhol segue a mesma linhagem: “refira-se, igualmente, que o CP espanhol não prevê o tipo legal de criminalidade organizada, mas o de associação para cometer algum delito (art. 515).[25]

Diferentemente do código penal português e espanhol é a lei penal italiana. Encontra-se nela um dos mais instigantes conceitos de criminalidade organizada. A Itália foi um dos primeiros países a combater abertamente a organização criminosa – Máfia – que se instalou no país ainda no século XIX. Decorrência desse combate foi a alteração do código penal a fim de tipificar a criminalidade organizada.

O artigo 416, originariamente, dispunha apenas sobre as associações para delinqüir – quadrilhas e bandos. Posteriormente, em 1982, incorporou-se o artigo 416 bis que teve por objetivo dispor sobre as associações do tipo mafioso.

Nesse sentido comenta Maierovitch: “estabeleceu-se o duplo trilho: associações criminosas comuns e associações criminosas de modelo mafioso. As de tipo mafioso com método, aparato estrutural e finalidade diversa”.[26]

O artigo 416 bis apresenta os seguintes termos:

Qualquer um que fizer parte de uma associação do tipo mafioso por três ou mais pessoas, é punido com reclusão de três a sete anos.

Aqueles que promoverem, dirigirem ou organizarem a associação são punidos, só por isso, com reclusão de quatro a nove anos.

Nota-se que o legislador italiano classificou as organizações criminosas do tipo mafioso como verdadeiras associações. O simples fato de participar dessas associações já é considerado crime punível com reclusão.

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Diferentemente do ordenamento jurídico italiano, o brasileiro optou em não criminalizar a simples participação em uma organização criminosa desde que não se cometa crimes nessa união.[27]

Em 1995 o legislador brasileiro, frente ao clamor público por ações contra a criminalidade organizada, editou a lei 9.034 – Lei de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado. Essa lei foi, posteriormente, alterada pela lei 10.217, de 2001.[28]

Na versão de 1995, o artigo 1º preconizava: “esta lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que versarem sobre crime resultante de ações de quadrilha ou bando”.

Levantou-se então a dúvida, se esse dispositivo poderia ser aplicado à criminalidade organizada ou apenas aos casos de formação de quadrilha e bando conforme tipificação do artigo 288 do Código Penal.[29]

A doutrina argumentava que não faria sentido a prevalência dessa lei unicamente aos casos de formação de quadrilha ou bando.[30] Já a jurisprudência inclinou-se no sentido contrário.[31]

Ciente das divergências, o legislador alterou o artigo 1º da Lei de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado mediante a lei nº 10.217, de 2001. O objetivo da alteração foi incorporar as ações praticadas por organizações ou associações criminosas de qualquer tipo conforme se percebe da ilação do artigo 1º.

Esta Lei define e regula meios de prova e procedimentos investigatórios que versem sobre ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando ou organizações ou associações criminosas de qualquer tipo.

Nesse sentido assevera Machado: “quis o legislador agasalhar a tese defendida pela maioria dos doutrinadores brasileiros, ampliando, assim, a gama de situações passíveis de ensejar os meios disponíveis na Lei n. 9.034”.[32]

Atente-se, no entanto, que mesmo após a alteração, o ordenamento jurídico brasileiro não passou a criminalizar a simples participação em uma organização criminosa.

Tampouco a alteração trouxe uma definição para as organizações criminosas.[33] Isso fez com que se tornasse difícil o combate às organizações criminosas.

Nesse sentido pondera Davin: “esta opção (criticável) dificulta, do ponto de vista jurídico-penal, o seu conhecimento, enquadramento e combate”,[34] e também Gomes: “não existe em nenhuma parte do nosso ordenamento jurídico a definição de organização criminosa”.[35]

O conceito tão necessário para a aplicação das referidas leis brasileiras às organizações criminosas somente é encontrado na Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado – Convenção de Palermo.

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Nessa Convenção Internacional que foi adotada, pelo Brasil, em 12 de dezembro de 2000 e, posteriormente, ratificada em 29 de janeiro de 2004, os grupos criminosos são conceituados da seguinte forma.

“a) Grupo criminoso organizado – grupo estruturado de três ou mais pessoas, existentes há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material”.

Percebe-se, assim que organização criminosa é o grupo estruturado há algum tempo com participação de três ou mais pessoas e que tem por objetivo cometer uma ou mais infrações graves. Levanta-se, então, algumas perguntas. O que seria infração grave? A própria Convenção define-a:

“b) infração grave – ato que constitua infração punível com uma penas de privação de liberdade, cujo máximo não seja inferior a quatro anos ou com pena superior”.

A outra pergunta é no sentido de saber se a Convenção de Palermo é aplicável ao ordenamento jurídico brasileiro.

Não restam dúvidas de que ela é sim aplicável ao nosso ordenamento. Até porque, após a ratificação pelo Presidente da República, editou-se o decreto nº 5.015 em 15 de março de 2004 que internalizou a Convenção de Palermo no ordenamento jurídico brasileiro.[36]

A tendência, portanto, é que a restrição quanto à aplicabilidade da Lei de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado sobre as organizações criminosas se acabe, haja vista constar numa Convenção Internacional – internalizada no sistema brasileiro – o conceito para criminalidade organizada.

A única ressalva é que o conceito constante, na Convenção de Palermo, tornou-se um pouco vago, vez que não se definiu com precisão o tempo necessário de formação da organização criminosa.[37] Isso não gera, no entanto, a inaplicabilidade do conceito da Convenção às organizações criminosas.

Nesse sentido assevera Capez:

Com isso, a tendência é a de que se acabe a restrição quanto à incidência da Lei do Crime Organizado sobre as organizações criminosas, ante o argumento de que não foram definidas em lei. Bastam três pessoas para que se configure tal organização, contrariamente à quadrilha ou bando, que exige, no mínimo, quatro integrantes. O conceito é um pouco vago, pois a Convenção exige que a organização esteja formada “há algum tempo”, sem definir com precisão quanto. De qualquer modo, certamente todos os dispositivos das Leis n. 9.034/95 e n. 10.217/2001 passam a ter incidência sobre os grupos.[38]

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3.3. HISTÓRICO DAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS

Após conceituá-las e, optando pela doutrina que afirma a existência das organizações criminosas, cabe expor um histórico dessas organizações.

Conforme exposto, essas organizações não são frutos do século XX, mas sim do século XVI com as tríades chinesas.[39] Já no século XIX verificou-se o início da internacionalização dessas tríades mediante a migração de integrantes delas para os Estados Unidos em virtude da corrida do ouro na Califórnia.[40] Com o advento do século XX e o aumento no fluxo migratório, as tríades chinesas instalam-se em países europeus. Diferentemente das máfias italianas, as tríades, ainda hoje, possuem estrutura rudimentar baseada em graus hierárquicos aos quais são associados números.[41] Atualmente, as tríades desempenham atividades nacionais e internacionais. Entre as nacionais destacam-se a extorsão, jogos e duplicação ilegal de softwares. Entre as internacionais destacam-se o tráfico de drogas e armas, as fraudes de cartões de crédito e as imigrações clandestinas.[42]

No século XVIII nasceu, no Japão, a Yakusa. Davin aponta que a máfia japonesa nasceu entre vendedores de rua que controlavam determinados territórios.[43] Acompanhando o crescimento do Japão no pós-guerra, a Yakusa expandiu as suas atividades para outras áreas. A principal atividade dessa organização consiste no tráfico de mulheres e jovens para exploração sexual.[44]

A Máfia, organização criminosa mais conhecida no mundo,[45] surgiu na Sícilia, Itália, no século XIX. Consagrou-se por possuir uma estrutura forte, hierarquizada e disciplinada. Com o fluxo migratório para os Estados Unidos no início do século XX, a Máfia acabou por internacionalizar-se.

Figueiredo lembra que o termo Máfia é utilizado genericamente para denominar quatro organizações distintas: Cosa Nostra, na Sicília; N’drangheta, na Calábria;[46] Sacra Corona Unità, em Puglia-Bari;[47] e Camorra, em Nápoles.

Pode-se afirmar que a Máfia passou por três fases. A primeira que ocorreu entre o feudalismo e o capitalismo e ficou conhecida como fase agrária.

A segunda que ficou conhecida como fase urbana e empresarial. Essa fase teve seu ápice com o contrabando de bebidas alcoólicas em Chicago durante o período em que vigorou a “Lei Seca”.

Assevera Davin que: “os enormes recursos financeiros obtidos durante o período da ‘Lei Seca’ aplicados na economia legítima geraram lucros que, para além de aí serem ‘reinvestidos’ também eram utilizados no financiamento de novas operações criminosas”.[48]

Com esses aportes elevados de capitais arrecadados durante a segunda fase, a Máfia entra na terceira fase conhecida como financeira. Passa-se, assim, a atuar junto com organizações criminosas de outros países no contrabando de armas e drogas. Atualmente, a Máfia mantém-se como uma das mais poderosas organizações. Suas

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atividades, conforme relata Figueiredo, consistem basicamente: na ilegalidade das drogas, na expansão do mercado de armas, na persistência do sigilo bancário e nas inovações do mercado financeiro.[49]

Davin relata que a N’drangheta está ligada ao tráfico de drogas – em especial a cocaína – e ao tráfico de armas. Já a Sacra Corona Unità tem como principal renda o tráfico de drogas – em especial a heroína –, bem como o contrabando de cigarros e o comércio de armas.

E as organizações não se restringiram, unicamente, ao eixo asiático e a Itália. Na atualidade, diversos outros países têm organizações criminosas instaladas em seus territórios.

Exemplo desses países é a Federação Russa que reconhece a existência de 8.059 grupos criminais operando em seu território, sendo que trinta dessas organizações operam no mercado internacional. Essas organizações russas que se caracterizam por utilizar: sistemático uso de violência; forte controle hierárquico, elevada experiência militar; e equipamentos de alta tecnologia, atuam, principalmente, no tráfico de órgãos e na lavagem de dinheiro.[50]

Outra organização criminosa conhecida são os cartéis colombianos na Colômbia que atuam na produção, transformação e exportação de cocaína. Esses cartéis que entraram em decadência durante as décadas de 70 e 80 em virtude de intervenção das autoridades policiais e judiciárias, se converteram em diversos cartéis menores – cartelitos – que continuam atuando na produção da cocaína.

Nesse sentido assevera Davin:

Admite-se, com reservas, que possam existir cerca de 100 de pequena e média dimensão que não tendo nem as estruturas nem as pretensões políticas dos grandes cartéis entretanto desaparecidos, concentram-se fundamentalmente, na produção, transformação e “exportação” de cocaína.[51]

Atuando na produção da cocaína encontram-se, também, grupos mexicanos – Culiacan, Golfo, Juárez, Sinaloa e Tijuana – que são responsáveis pela colocação do produto no mercado dos Estados Unidos e Canadá. Esses grupos mexicanos atuam, ainda, na introdução de imigrantes clandestinos nos Estados Unidos mediante a construção de túneis subterrâneos entre os lados da fronteira.[52]

Já as organizações criminosas nigerianas atuam na exportação ilegal de petróleo e na prática dos crimes denominados “e-crimes”, vez que cometidos mediante a rede mundial de computadores.[53]

Inúmeras outras organizações criminosas já foram identificadas, entre as quais, encontram-se: os grupos sul-africanos, as máfias turcas, albanesas-kosovares e também os grupos brasileiros.

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Esses últimos conforme já abordado anteriormente surgem de dentro dos presídios brasileiros. Entre os grupos mais conhecidos encontra-se o Primeiro Comando da Capital – PCC e o Comando Vermelho – CV. O PCC atuante, principalmente, na cidade de São Paulo e na Baixada Santista, tem como líder Marcos Willian Herbas Camacho – o “Marcola”. Já o CV atuante, principalmente, no Rio de Janeiro, tem como líder Luis Fernando da Costa – o “Fernandinho Beira-Mar”.

Ambas as organizações atuam no tráfico de drogas, mediante a venda da cocaína advinda da Colômbia. Percebe-se, assim, a internacionalização das organizações criminosas que querendo expandir seus negócios, transpassam as fronteiras dos Estados e passam a se relacionar com outras organizações.

As palavras de Davin concluem com precisão esse tópico acerca do histórico das organizações criminosas:

Para além do já referido todos os dias surgem novas organizações nos mais variados locais, as quais, graças a uma combinação de diversos factores e ao fim de algum tempo, dispõem de “massa crítica” suficiente para passarem a actuar em outros ordenamentos jurídicos.[54]

4. A SOCIEDADE INTERNACIONAL NO COMBATE À CRIMINALIDADE ORGANIZADA

4.1. HISTÓRICO

As organizações criminosas que antes tinham atuação unicamente territorial, com a globalização, passam a transpassar as fronteiras e começam a atuar em outros países. Muita das vezes essa atuação efetiva-se mediante a cooperação entre várias organizações criminosas, como, por exemplo, pôde ser verificado na operação Cartagena, desbaratada pela polícia italiana, na qual se verificou integração entre o Cartel de Cali, na Colômbia, e a Máfia italiana passando, inclusive, pelo território brasileiro.[55]

Preocupada com o avanço da criminalidade organizada e da facilidade com que ela atravessa as fronteiras estatais, a sociedade internacional passou a elaborar meios de cooperação a fim de combatê-la.

Um dos primeiros passos foi com a instituição do Grupo de Ação Financeira contra a lavagem de dinheiro e o financiamento do terrorismo – GAFI. Trata-se de uma organização internacional criada em 1989 e que, atualmente, conta com trinta e quatro países-membros – entre eles o Brasil. O principal propósito dessa organização é desenvolver e promover políticas nacionais e internacionais à lavagem de dinheiro e ao financiamento ao terrorismo – principais atividades das organizações criminosas. A fim de cumprir o seu propósito, o GAFI publicou quarenta e nove recomendações, sendo que, nove dessas, tratam de recomendações especiais.

Posteriormente, em 1994, a Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas – ONU aprovou a Declaração Política de Nápoles e o Plano de Ação Global contra o

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Crime Organizado Transnacional. Com a aprovação dessa declaração, a Assembléia Geral instou os Estados-membros a implementarem as ações propostas nos mencionados documentos. Conjuntamente a isso, iniciou-se uma consulta aos governos dos Estados-membros sobre a possibilidade da criação de convenções internacionais acerca do crime organizado transnacional e sobre quais questões essas convenções deveriam reportar.[56]

Dando seguimento as ações propostas pelos documentos aprovado pela Assembléia Geral em 1994, realizaram-se dois seminários regionais ministeriais. O primeiro foi celebrado na cidade de Buenos Aires, em novembro de 1995, onde se aprovou a Declaração de Buenos Aires sobre a prevenção e o controle do crime organizado transnacional. Os países da região latino-americana e Caribe, adotantes da Declaração de Buenos Aires, manifestaram interesse na elaboração de uma convenção internacional acerca do tema. Desse seminário surgiram elementos que, posteriormente, foram incluídos na Convenção de Palermo.[57]

O segundo seminário foi realizado na cidade de Dakar, em julho de 1997, onde se aprovou a Declaração de Dakar sobre a prevenção e o controle do crime organizado transnacional. De igual modo que os países latino-americanos e Caribe, os países africanos demonstraram, durante o seminário, interesse na elaboração de um acordo internacional a fim de combater a criminalidade internacional.[58]

Em abril do mesmo ano, a Fundação Giovanni e Francesca Falcone realizou, em Palermo, na Itália, uma reunião para tratar da elaboração de uma convenção internacional acerca do tema. O relatório final dessa reunião foi enviado a Assembléia Geral da ONU. A partir desse relatório, a Assembléia decidiu, então, estabelecer um grupo intergovernamental de peritos com a finalidade de elaborar um anteprojeto de Convenção Internacional contra o crime organizado internacional.[59]

Em fevereiro de 1998, o grupo de peritos apresentou, em Varsóvia, Polônia, relatório com indicação de conteúdos necessários que deveriam constar numa futura convenção internacional. No mesmo ano, realizou-se outro seminário ministerial regional. Desta vez, o seminário foi realizado no continente Asiático. Em 25 de março foi, então, celebrado, na cidade de Manila, nas Filipinas, a Declaração de Manila sobre a prevenção e a luta contra o crime organizado transnacional. Os Estados asiáticos e do Pacífico apoiaram os esboços elaborados pelos peritos nomeados pela ONU e firmaram o compromisso de resolverem as diferenças e superarem as dificuldades conceituais a fim de agilizar a conclusão da convenção internacional.[60]

Ainda em 1998, mediante recomendação da Comissão de Prevenção do Crime e de Justiça Criminal e do Conselho Econômico e Social, a Assembléia Geral da ONU decidiu estabelecer um comitê especial que teria por finalidade elaborar a tão almejada Convenção Internacional contra o crime organizado transnacional. Juntamente com essa finalidade, o comitê especial foi incumbido de examinar a necessidade de elaborar instrumentos internacionais que abordassem a tratativa de mulheres e crianças; a fabricação e o tráfico ilícito de armas de fogo; e o tráfico e o transporte ilícito de migrantes inclusive por mar. A Assembléia Geral estipulou que os trabalhos deveriam ser concluídos até o ano de 2000.[61]

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A fim de elaborar essa convenção, o comitê realizou onze períodos de sessões na cidade de Viena, Áustria.[62] Ao final desses onze períodos o Comitê apresentou o esboço da Convenção à Assembléia Geral da ONU. Em 15 de novembro de 2000, na 62º reunião da Assembléia Geral, os Estados-membros decidem, então, adotar a Convenção de Palermo.

A entrada em vigor internacionalmente da Convenção estava condicionada ao depósito do quadragésimo instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão ao tratado. A Convenção entra em vigor no dia 25 de junho de 2003, noventa dias após o depósito de ratificação[63] da Bielo-Rússia – quadragésimo país –, conforme previsto no artigo 38 da Convenção de Palermo.[64]

Junto com essa Convenção foram elaborados dois Protocolos adicionais. Um relativo ao combate ao tráfico de migrantes por via terrestre, marítima e aérea e o outro relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial mulheres e crianças. Posteriormente, em 2005, foi elaborado o terceiro Protocolo relativo à produção ilícita e o tráfico de armas de fogo, suas partes, componentes e munição.

O Brasil, conforme já exposto anteriormente, adotou a Convenção depositando a ratificação em 29 de janeiro de 2004. A internalização em nosso ordenamento jurídico deu-se pelo Decreto nº 5.015 de 12 de março de 2004. Também foram adotados os três protocolos adicionais sendo a internalização desses mediante os Decretos 5.016 e 5.017, de março de 2004 e 5.941, de março de 2006.

4.2. CONVENÇÃO DE PALERMO

A Convenção de Palermo não típica condutas delitivas. Constitui-se de diretrizes que devem ser seguidas pelos países-partes no combate ao crime organizado – normas programáticas.[65]

Além do excelente conceito sobre o crime organizado – examinado no tópico 3.2.2. – na Convenção foram expostos diversos compromissos. Assim, os Estados signatários, em seus ordenamentos jurídicos internos, deverão: tipificar a conduta de participação em grupo criminoso organizado; criminalizar a conduta de lavagem de dinheiro e a corrupção; responsabilizar penalmente as pessoas jurídicas que participarem em infrações graves envolvendo grupo criminoso; e adotar medidas de confisco e apreensão de bens de produtos de crimes.

Além disso, para o efetivo combate a criminalidade organizada transnacional a Convenção determina a necessidade de cooperação internacional entre os Estados signatários mediante determinadas condutas, como, por exemplo: a transferência de pessoas condenadas; assistência judiciária recíproca; investigações conjuntas, entre outras.

Nota-se que, aos poucos, o Brasil vem colocando em práticas as normas programáticas previstas na Convenção e nos protocolos adicionais. É o caso, por exemplo, do projeto de lei que institucionalizará a videoconferência.

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O artigo 18, item 18 da Convenção de Palermo possui a seguinte redação:

Se for possível e em conformidade com os princípios fundamentais do direito interno, quando uma pessoa que se encontre no território de um Estado Parte deva ser ouvida como testemunha ou como perito pelas autoridades judiciais de outro Estado Parte, o primeiro Estado Parte poderá, a pedido do outro, autorizar a sua audição por videoconferência, se não for possível ou desejável que a pessoa compareça no território do Estado Parte requerente.[66]

Essa norma programática despertou no legislador brasileiro o interesse em também incluir no nosso ordenamento jurídico a utilização da videoconferência. No projeto de lei nº 139, de 2006, originado no Senado Federal e que já foi aprovado no plenário da Câmara dos Deputados encontra-se a regra geral para a utilização da videoconferência nos interrogatórios e audiências de presos e testemunhas com a participação do juiz, do acusado e de seu advogado.[67]

Outra diretiva que já observada foi a constante no protocolo facultativo relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas. O legislador brasileiro, mediante a lei nº 11.106, de 2005, alterou o artigo 231 do Código Penal que dispõe sobre o tráfico internacional de pessoas, bem como incorporou o artigo 231-A prevendo o tráfico interno de pessoas.[68]

Percebe-se, portanto, caber aos Estados-partes, com base nas diretrizes expostas na Convenção, tipificarem as condutas delitivas, bem como cooperarem entre si em prol do combate ao crime organizado transnacional.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se concluir pelo aqui exposto que a globalização trouxe benefícios e novas expectativas à vida das pessoas. Ocorre que as organizações criminosas também viram novas oportunidades na globalização. A possibilidade de transpassar suas atividades para além das fronteiras foi, sem dúvida, o maior e melhor benefício trazido pela globalização. Surge, então, aquilo que se denominou de transnacionalidade do crime.

Pelo histórico das organizações aqui levantado, percebe-se que a criminalidade organizada não é fruto do século XX. No entanto, o grau de ofensividade frente às estruturas do Estado e modo agressivo com que elas vêm atuando é algo relativamente novo.

Sem dúvida é errônea as teses levantadas que rechaçam a existência dessas organizações. Isso porque negá-las dificultaria ainda mais o combate a elas. Países como a Itália buscam cada vez mais confirmar a existências delas a fim de intensificar o combate contra o crime organizado.

Essa intensificação, no caso da Itália, é percebida pelo próprio Código Penal que classifica as organizações criminosas do tipo mafioso como verdadeiras associações.

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Além disso, o simples fato de participar dessas associações já é considerado crime punível com reclusão.

Percebe-se, assim, que o combate à criminalidade exige o reconhecimento do próprio Estado de que essa criminalidade é organizada e assemelha-se a verdadeiras empresas transnacionais. Empresas que sendo um grupo estruturado hierarquicamente, estável e permanente, se dedicam à prática de atividades ilícitas com o objetivo de obter recursos financeiros.

Como medidas de combate a crescente internacionalização da Máfia, países como os Estados Unidos aprovaram diversas medidas legislativas, entre as quais a possibilidade de agentes se infiltrarem nas organizações e os privilégios concedido aos pentiti.[69]

A cooperação internacional é outra medida eficaz no combate à criminalidade organizada transnacional. Exemplo dessa cooperação foi a instituição do GAFI e a posterior elaboração, pela Organização das Nações Unidas, de uma Convenção Internacional contra o crime organizado transnacional. Necessário, no entanto, que os Estados-partes da Convenção dêem efetivo cumprimento as diretrizes nela expostas dentro de seus territórios, sob pena de se tornar um documento inócuo.

Conclui-se, portanto, não haver dúvidas de que as organizações criminosas existem. Negar-lhes a existência significa vedar os olhos para os problemas enfrentados e dificultar ainda mais o combate a elas.

6. REFERÊNCIAS

CAPEZ, Fernando. Legislação penal especial: juizados especiais criminais, interceptação telefônica, crime organizado, tóxicos. Vol.2, 4ed., São Paulo: Damásio de Jesus, 2004.

DANTAS, George. A escalada do crime organizado e o esfacelamento do Estado. Disponível em http://www.analisefinanceira.com.br/artigos/crime_estado.htm. Acessado em 15 ago. 2008.

DAVIN, João. A criminalidade organizada transacional: a cooperação judiciária e policial na UE. 2ed. Coimbra: Editora Almedina, 2007.

FIGUEIREDO, Lucas. Morcegos Negros. Rio de Janeiro: Record, 2000.

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GOMES, Rodrigo Carneiro. O Crime Organizado na Visão da Convenção de Palermo. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.

MACHADO, Anderson Fonseca. Criminalidade organizada transnacional e a globlização. Dissertação – Universidade Católica de Brasília, 2006.

MAIEROVITCH, Wálter Fanganiello. As associações mafiosas. Disponível em: http://www.cjf.jus.br/revista/numero2/artigo18.htm. Acessado em: 15 ago. 2008.

MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 2.ed. São Paulo: RT, 2008.

NAÍM, Moisés, Ilícito: o ataque da pirataria, da lavagem de dinheiro e do tráfico à economia global. Tradução: Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Informe del Comité Especial encargado de elaborar uma convención contra la delincuencia organizada transnacional sobre la labor de sus períodos de sesiones primero a 11º. 10 nov. 2000. Disponível em: http://www.unodc.org/pdf/crime/final_instruments/383s.pdf. Acesso em: 15 jul. 2008.

[1] BARBOSA, A.F. apud MACHADO, Anderson Fonseca. Criminalidade organizada transnacional e a globlização. Dissertação – Universidade Católica de Brasília, 2006, p. 27.

[2] FARIA, J.E. apud MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 27.

[3] DAVIN, João. A criminalidade organizada transacional: a cooperação judiciária e policial na UE. 2ed. Coimbra: Editora Almedina, 2007, p. 9-10.

[4] NAÍM, Moisés. Ilícito: o ataque da pirataria, da lavagem de dinheiro e do tráfico à economia global. Tradução: Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p. 22.

[5] EL HIRECHE, G.F. apud MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 66.

[6] DAVIN, João, op.cit., p. 60.

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[7] MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 66.

[8] MAIA, R.T., apud MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 68.

[9] FIGUEIREDO, Lucas. Morcegos Negros. Rio de Janeiro: Record, 2000, p. 173.

[10] Idem.

[11] CHIAVARIO, M., apud MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 68.

[12] MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 52-53.

[13] DAVIN, João, op.cit., p. 90.

[14] Idem.

[15] Idem.

[16] DAVIN, João, op.cit., p. 100.

[17] DANTAS, George. A escalada do crime organizado e o esfacelamento do Estado. Disponível em http://www.analisefinanceira.com.br/artigos/crime_estado.htm. Acessado em 15 ago. 2008.

[18] GARCÍA DE PAZ, Isabel Sánchez apud MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 81.

[19] DAVIN, João. Op.cit., p. 101-102.

[20] MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 85. Nesse sentido: “O escopo do presente trabalho não inclui as organizações terroristas criminosas, pois, apesar da relevância e visibilidade atual, escapam ao conceito empregado por não possuírem estrutura empresarial, isto é, exercerem uma atividade de produção ou circulação de bens ilícitos, pessoas e serviços, ainda que lícitos, prestados de forma ilícita com uma finalidade claramente lucrativa”.

[21] NAÍM, Moisés, op. cit., p. 11.

[22] Idem.

[23] MAIA, R.T., apud MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 85.

[24] DAVIN, João, op. cit., p. 54.

[25] DAVIN, João, op. cit., p. 54.

[26] MAIEROVITCH, Wálter Fanganiello. As associações mafiosas. Disponível em: http://www.cjf.jus.br/revista/numero2/artigo18.htm. Acessado em 15 ago. 2008.

[27] MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 107.

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[28] Idem.

[29] Artigo 288. “Quadrilha ou bando. Art. 288. Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: Pena – reclusão, de um a três anos”.

[30] MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 109.

[31] Nesse sentido o REsp 258280 / 2002 / CE de relatoria do ministro Fontes de Alencar: RESP. CRIMINAL. CRIME HEDIONDO. LEI Nº 9.034/95. REGIME PRISIONAL NOS CRIMES HEDIONDOS. HIPÓTESE DE APLICAÇÃO. 1. A Lei nº 9.034/95, no tocante ao regime inicialmente fechado para cumprimento de reprimenda tem aplicabilidade única no caso de quadrilha ou bando. Haverá, evidentemente, com os crimes cometidos pela organização criminosa, concurso material e, sendo eles de caráter hediondo, submetidos aos rigores da Lei nº 8.072/90, que subsiste, a despeito da Lei nº 9.455/95, salvo quanto ao crime de tortura. 2. Recurso especial conhecido e provido. Disponível em: http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=No+tocante+ao+regime+inicialmente+fechado&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=13, acesso em 30 de jul. 2008.

[32] MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 109.

[33] Conforme lembra Machado: “continuamos, porém, sem a definição das organizações criminosas a que se referem os diversos diplomas legais ora mencionados”. Idem.

[34] DAVIN, João, op. cit., p. 55.

[35] GOMES, L.F. apud MACHADO, Anderson Fonseca, op. cit., p. 110.

[36] Frisa-se que no Brasil, de acordo com entendimento do Supremo Tribunal Federal – STF, adota-se a teoria dualista moderada no que tange a internalização de tratados no ordenamento jurídico brasileiro. Conquanto não seja objeto do presente trabalho a discussão da teoria monista e dualista, apenas para situar o leitor faz-se necessária uma rápida explanação acerca dessas teorias. A teoria dualista foi elaborada por Carl Heinrich Triepel, em 1923, que a apresentou num curso da Academia de Direito Internacional da Haia. Por essa teoria afirma-se que existem dois ordenamentos jurídicos totalmente distintos, um ordenamento internacional e outro interno. Afirma ainda que os dois ordenamentos só se comunicam quando há a internalização da norma internacional. Por essa teoria, para que um tratado se torne norma de direito interno é necessário que o Congresso Nacional o transforme em lei – dualista extremada. Após a edição da lei, a norma internacional torna-se norma interna motivo pelo qual não haverá mais conflito entre os dois ordenamentos. Já a teoria monista foi elaborada por Hans Kelsen, em 1926, que também a apresentou num curso da Academia de Direito Internacional da Haia. Por essa teoria afirma-se que tanto as normas internas quanto as internacionais constituem um único ordenamento jurídico. Assim, os costumes internacionais têm vigência imediata nos ordenamentos jurídicos internos. De igual modo os tratados após a ratificação pelo Presidente da República. O Brasil, conforme exposto acima, adota a teoria dualista moderada. Isso porque após a ratificação do tratado necessita-se outro procedimento para que ele adentre ao nosso ordenamento,

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qual seja: a edição de um decreto presidencial e a conseqüente publicação no Diário Oficial da União. Essa teoria adota pelo STF, no entanto, não é justificada em nenhum dispositivo constitucional. Nesse sentido assevera Mazzuoli, que: “a Suprema Corte jamais conseguiu demonstrar o dispositivo constitucional no qual se fundamentou para dizer da obrigatoriedade da promulgação do decreto presidencial. Em nenhum artigo a Constituição de 1988 diz caber ao Presidente da República promulgar e fazer tratados; o texto constitucional (art. 84, inc. IV) somente se refere à promulgação e publicação das leis (e sabe-se já que, quando a Constituição quer se referir a tratados ela o faz expressamente)”. MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 2.ed. São Paulo: RT, 2008, p. 57.

[37] Na Convenção, conforme já analisado, apenas está escrito: “...grupo estruturado de três ou mais pessoas, existentes há algum tempo...”

[38] CAPEZ, Fernando. Legislação penal especial: juizados especiais criminais, interceptação telefônica, crime organizado, tóxicos. Vol.2, 4ed., São Paulo: Damásio de Jesus, 2004, p. 97.

[39] DAVIN, João, op. cit., p. 60.

[40] Idem.

[41] Ibidem, p. 61.

[42] DAVIN, João, op. cit., p. 70-71.

[43] Ibidem, p. 62

[44] Ibidem, p. 72-73.

[45] FIGUEIREDO, Lucas, op. cit., p. 178. O autor lembra que o fato de a Máfia ser a organização mais conhecida no mundo refere-se ao fato de, diferentemente do que ocorre em outros países, o Estado italiano não a esconder.

[46] A N’dragheta – Sociedade de Homens de Honra – ficou conhecida após o rapto do filho do magnata norte-americano Paul Getty. É composta por cerca de cento e cinqüenta famílias entre as quais se destacam a dos Vottari-Pelle-Romeo e Nirta-Strangio. DAVIN, João, op. cit., p. 67.

[47] A Sacra Corona Unità conta com cerca de duas mil pessoas divididas em cinqüenta e uma famílias. Davin assevera que: “o seu desenvolvimento fulgurante deveu-se, em larga medida, às fortes relações que estabeleceu com as organizacoes criminosas a operar do outro lado do Adriático nomeadamente nas repúblicas originárias da ex-Jugoslávia e Albânia”. DAVIN, João, op. cit., p. 67.

[48] DAVIN, João, op. cit., p. 65.

[49] FIGUEIREDO, Lucas, op. cit., p. 177-178.

[50] DAVIN, João. Op. cit., p. 68-70.

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[51] Ibidem, p. 73.

[52] Ibidem, p. 74.

[53] DAVIN, João, op.cit., p. 75-76.

[54] Ibidem, p. 78.

[55] FIGUEIREDO, Lucas, op. cit., p. 17-46.

[56] Disponível em http://www.unodc.org/pdf/crime/final_instruments/383s.pdf, acesso em 15 de jul. 2008.

[57] Idem.

[58] Idem.

[59] Disponível em http://www.unodc.org/pdf/crime/final_instruments/383s.pdf, acesso em 15 de jul. 2008.

[60] Idem.

[61] Disponível em http://www.unodc.org/pdf/crime/final_instruments/383s.pdf, acesso em 15 de jul. 2008.

[62] Nesse sentido: Hasta la fecha, el Comité Especial ha celebrado los once períodos de sesiones siguientes: el primero, del 19 al 29 de enero de 1999; el segundo, del 8 al 12 de marzo de 1999; el tercero, del 28 de abril al 3 de mayo de 1999, paralelamente AL octavo período de sesiones de la Comisión de Prevención del Delito y Justicia Penal; el cuarto, del 28 de junio al 9 de julio de 1999; el quinto, del 4 al 15 de octubre de 1999; el sexto, del 6 al 17 de diciembre de 1999; el séptimo, del 17 al 28 de enero de 2000; el octavo, del 21 de febrero al 3 de marzo de 2000; el noveno, del 5 al 16 de junio de 2000; el décimo, del 17 al 28 de julio de 2000; y el 11º, del 2 al 28 de octubre de 2000. Idem.

[63] Ratificação, de acordo com a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, de 1969, é o ato internacional pelo qual um Estado estabelece, no plano internacional, o seu consentimento em obrigar-se por um tratado.

[64] Artigo 38 – Entrada em vigor: 1. A presente Convenção entrará em vigor no nonagésimo dia seguinte a data de depósito do quadragésimo instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão.

[65] Nota-se que no livro “O Crime Organizado na visão da Convenção de Palermo” de Rodrigo Carneiro Gomes, conquanto o excelente trabalho realizado pelo autor, o capítulo sétimo é intitulado de Crimes previstos na Convenção de Palermo e seus protocolos. Não se trata, na verdade, de previsão de crimes, mas sim de determinações a serem observadas pelos Estados signatários no combate ao crime organizado. Com base no tratado os Estados deverão, portanto, alterarem a legislação interna a fim de cumprirem as diretrizes mencionadas na Convenção de Palermo.

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[66] Item 18 do artigo 18 da Convenção de Palermo: “Se for possível e em conformidade com os princípios fundamentais do direito interno, quando uma pessoa que se encontre no território de um Estado-parte deve ser ouvida como testemunha ou como perito pelas autoridades judiciais de outro Estado-parte, o primeiro Estado-parte poderá, a pedido do outro, autorizar a sua audição por videoconferência, senão for possível ou desejável que a pessoa compareça no território do Estado-parte requerente”. (grifos).

[67] GOMES, Rodrigo Carneiro. O crime organizado na visão da Convenção de Palermo. Belo Horizonte: Del Rey, 2008, p. 54-55.

[68] Artigos 231 e 231-A do Código Penal.

Tráfico internacional de pessoas Art. 231. Promover, intermediar ou facilitar a entrada, no território nacional, de pessoa que venha exercer a prostituição ou a saída de pessoa para exercê-la no estrangeiro: Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. § 1º - Se ocorre qualquer das hipóteses do § 1º do art. 227: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. § 2o Se há emprego de violência, grave ameaça ou fraude, a pena é de reclusão, de 5 (cinco) a 12 (doze) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Tráfico interno de pessoas Art. 231-A. Promover, intermediar ou facilitar, no território nacional, o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento da pessoa que venha exercer a prostituição: Pena – reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. Parágrafo único. Aplica-se ao crime de que trata este artigo o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 231 deste Decreto-Lei.

[69] Pentiti: – expressão que significa “arrependido” e é utilizada para denominar aqueles que colaboram com a justiça. FIGUEIREDO, Lucas, op. cit., p. 97.

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