gestão da comunicação: diferencial no projeto de extensão...

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1 Gestão da Comunicação: diferencial no Projeto de Extensão Hora de Falar de Bullying 1 Josenia AUSTRIA 2 Juliana Lima Moreira RHODEN 3 Valmor RHODEN 4 Universidade Federal do Pampa, São Borja. RESUMO Este trabalho apresenta resultados parciais do projeto de extensão Hora de Falar de Bullying, desenvolvido pelos cursos de Relações Públicas-ênfase em produção cultural e Licenciatura em Ciências Humas da Unipampa e, posteriormente incluindo outros cursos, de forma interdisciplinar. Para isso, primeiramente, traz o estudo bibliográfico a cerca do tema Bullying, conceitos, envolvidos e consequências deste problema que afeta de forma negativa o ambiente escolar. Em seguida, mostra as estratégias desenvovidas no projeto, analisando-se por fim, o envolvimento do gestor da comunicação, neste caso, o Relações-Públicas, utilizando suas estratégias e habilidades para o alcance dos objetivos do projeto. PALAVRAS-CHAVE Bullying; Escola; Extensão; Violência na Escola; Relações-Públicas. INTRODUÇÃO Nas últimas décadas as questões relativas a violência escolar, entre elas, o fenômeno Bullying está no centro de amplas discussões, inclusive vemos surgir projetos de lei que obriga as escolas a adotarem medidas de prevenção, conscientização, diagnose e combate ao Bullying. Trata-se de uma temática que vem tendo grande importância e que merece atenção também por parte das universidades. 1 Trabalho apresentado no IV SIPECOM - Seminário Internacional de Pesquisa em Comunicação. 2 Estudante de Graduação 6º semestre do Curso de Comunicação Social - Relações Públicas ênfase em produção cultural da UNIPAMPA, e-mail: [email protected] 3 Coordenadora do projeto. Professora de Psicologia da UNIPAMPA, email: [email protected] 4 Orientador do trabalho. Coordenador do Curso de Comunicação Social Relações Públicas ênfase em produção cultural da UNIPAMPA, email: [email protected]

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1

Gestão da Comunicação: diferencial no Projeto de Extensão Hora de Falar de

Bullying1

Josenia AUSTRIA2

Juliana Lima Moreira RHODEN3

Valmor RHODEN4

Universidade Federal do Pampa, São Borja.

RESUMO

Este trabalho apresenta resultados parciais do projeto de extensão Hora de Falar de

Bullying, desenvolvido pelos cursos de Relações Públicas-ênfase em produção cultural

e Licenciatura em Ciências Humas da Unipampa e, posteriormente incluindo outros

cursos, de forma interdisciplinar. Para isso, primeiramente, traz o estudo bibliográfico a

cerca do tema Bullying, conceitos, envolvidos e consequências deste problema que afeta

de forma negativa o ambiente escolar. Em seguida, mostra as estratégias desenvovidas

no projeto, analisando-se por fim, o envolvimento do gestor da comunicação, neste

caso, o Relações-Públicas, utilizando suas estratégias e habilidades para o alcance dos

objetivos do projeto.

PALAVRAS-CHAVE

Bullying; Escola; Extensão; Violência na Escola; Relações-Públicas.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas as questões relativas a violência escolar, entre elas, o

fenômeno Bullying está no centro de amplas discussões, inclusive vemos surgir projetos

de lei que obriga as escolas a adotarem medidas de prevenção, conscientização,

diagnose e combate ao Bullying. Trata-se de uma temática que vem tendo grande

importância e que merece atenção também por parte das universidades.

1 Trabalho apresentado no IV SIPECOM - Seminário Internacional de Pesquisa em Comunicação.

2 Estudante de Graduação 6º semestre do Curso de Comunicação Social - Relações Públicas – ênfase em produção

cultural da UNIPAMPA, e-mail: [email protected]

3 Coordenadora do projeto. Professora de Psicologia da UNIPAMPA, email: [email protected]

4 Orientador do trabalho. Coordenador do Curso de Comunicação Social – Relações Públicas – ênfase em produção

cultural da UNIPAMPA, email: [email protected]

2

O projeto de Extensão Hora de Falar de Bullying: fomentando discussões com a

comunidade escolar de São Borja traz uma proposta interdisciplinar e de ações

articuladas, visando a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão e procura viabilizar a

relação transformadora entre a universidade e a sociedade, possibilitando a produção e a

troca de conhecimentos. A proposta deste projeto iniciou nos cursos de Relações

Públicas – ênfase em Produção Cultural e Licenciatura em Ciências Humanas, da

Universidade Federal do Pampa, atualmente conta também com a inserção de

acadêmicos dos cursos de Publicidade e Propaganda, Ciências Políticas e pós-graduação

em Políticas e Intervenção em Violência Intrafamiliar, além de voluntários da

comunidade que atuam em suas diversas de suas ações.

A proposta do projeto surgiu de uma demanda das escolas que participaram em

2012 do projeto de extensão: “Educação Emocional na Escola: O aluno aprendendo

novas formas de Ser e Conviver”, que teve como objetivo principal auxiliar no

desenvolvimento pessoal e social de jovens alunos. A queixa de alguns professores e

alunos sobre determinados comportamentos agressivos e o fato de muitas vezes não

saberem o que fazer, levou-nos a discussão do tema Bullying no decorrer do projeto e

nos instigaram a querer aprofundar e ampliar essa reflexão com mais alunos e

professores, e incluindo também os pais.

Assim, foram definidos como públicos-alvo pais, alunos, professores e

comunidade em geral. E como objetivo principal, informar, conscientizar e mobilizar a

comunidade escolar a cerca do fenômeno Bullying, a fim de alertar para o problema

muitas vezes banalizado e confundido com brincadeiras entre crianças e adolescentes.

Para desenvolvê-lo foi seguida a seguinte metodologia:

a) Pesquisa bibliográfica, discussões e capacitações em grupo.

b) Parceria com instituições públicas, dentre elas a coordenadoria regional

de educação, oito escolas estaduais do município e empresas privadas

com apoios e patrocínios.

c) Pesquisa de campo – questionário aplicado a 921 alunos de 4º a 6º ano,

do ensino fundamental, buscando verificar a incidência de Bullying.

d) Palestras com pais.

e) Formação de professores.

3

f) Atividades artísticas de conscientização do tema – teatro, música,

brincadeiras, debate e interação com alunos.

g) Publicidade e propaganda – criação de cartilha, camisetas, banner, estes

para dar apoio às atividades direcionadas e VT, spot’s, releases para

circulação nos meios de comunicação (rádio, jornais e televisão).

h) Site – foi criado no endereço: <horadefalardebullying.com.br>, com

objetivo de registrar fotos e notícias do projeto, disseminar conhecimento

sobre o tema e dar subsídio aos professores com sugestão de atividades,

livros, filmes, artigos e outros.

i) Mostra de projetos anti-bullying – esta ação, esta em andamento e tem

por objetivo propiciar discussões em sala de aula de sobre bullying e

metodologias de prevenção, bem como, integrar as várias escolas

participantes, em um único evento, onde alunos e professores apresentam

os resultados (projetos criados em cada escola), incentivando as mesmas

na sua implementação.

j) Avaliação de cada estratégia de acordo com suas especificações e

compiladas em relatório final.

Assim, as páginas posteriores apresentarão detalhadamente como foi e esta

sendo desenvolvida cada etapa deste projeto de extensão, iniciando pela exposição dos

conceitos preliminares sobre Bullying.

Por fim, analisa, o envolvimento do gestor da comunicação, neste caso, o

Relações-Públicas, utilizando suas habilidades e conhecumento na construção do

planejamento, entendendo e aproximando públicos, desenvolvendo a pesquisa,

utilizando seus contatos com a mídia, coordenando a execução do projeto, e com sua

experinência em imagem institucional, disponibilizando recursos e atraindo

investimentos de organizações parceiras que buscam agregar valor através imagem

positivas ao associarem-se em projetos de repercussão social.

Conceitos preliminares

A violência é entendida por diferentes culturas, como o uso excessivo do

emprego de força contra algo ou alguém. É compreendida, também, como, qualquer

4

ação que se afasta de sua natureza, que invade os limites de tolerância pessoal e/ou

social e, não respeita a peculiaridade da pessoa humana. Uma das formas de violência

debatida e que tem merecido atenção por parte de pesquisadores, é denominada na

literatura internacional, bullying.

De acordo com Costa (2011, p.360):

É um termo inglês utilizado para descrever atos de violência física ou

psicológica, intencionais e repetitivos, praticados por um individuo

(bully – valentão) ou grupo de indivíduos com a intenção malévola e

com objetivo determinado de intimidar ou agredir fisicamente,

moralmente, outro indivíduo, (ou grupo de indivíduos) incapazes de se

defender.

Bullying trata-se de um comportamento na maioria das vezes consciente,

intencional, deliberado, hostil e repetido, de uma ou mais pessoas, cuja intenção é ferir

outros. Pode assumir várias formas, tais como: violência e ataques físicos; gozações

verbais, apelidos e insultos; ameaças e intimidações; extorsão ou roubo de dinheiro e

pertences; exclusão do grupo de colegas, etc.

Apesar de muitas vezes banalizado, considerado como simples comportamento

de um grupo de crianças ou adolescentes, justificado como brincadeiras sem grandes

consequências, as consequências do bullying podem ser desastrosas. Podem inclusive,

tomar proporções infinitamente maiores das que pretendia o agressor, desde a

diminuição da autoestima, suicídio e até atitudes agressivas com resultados homicidas.

Há três tipos de pessoas envolvidas no bullying, considerados os personagens do

bullying: o agressor, a vítima e os espectadores.

O agressor ou autor de bullying tende a envolver-se em uma variedade de

comportamentos antissociais e geralmente desde cedo apresenta uma aversão às normas,

com muita dificuldade de aceitar serem contrariados ou frustrados. Silva (2010, p.43) ao

se referir aos agressores, aponta:

Eles podem ser de ambos os sexos. Possuem em sua personalidade

traços de desrespeito e maldade e, na maioria das vezes, estas

características estão associadas ao um perigoso poder de liderança

que, em geral, é obtido ou legitimado através da força física ou de

intenso assédio psicológico. O agressor pode agir sozinho ou em

grupo. Quando ele esta acompanhado de seus “seguidores”, seu poder

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de “destruição” ganha reforço exponencial o que amplia seu território

de ação e sua capacidade de produzir mais e novas vítimas.

Dentre os protagonistas do bullying estão também as vitimas, geralmente são

crianças e adolescentes mais retraídos, tímidos e inseguros, com baixa autoestima, têm

poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de

agressividade sofridos. Muitos passam a ter baixa autoestima, resistem ou recusam-se a

ir para escola, chegando a desenvolver várias consequências psíquicas e

comportamentais. Silva (2010) cita como principais consequências: sintomas

psicossomáticos, transtorno do pânico, fobia escolar, fobia social, transtorno de

ansiedade generalizada, depressão, anorexia e bulimia, transtorno obsesssivo-

compulsivo (TOC), transtorno do estresse pós-traumático (TEPT) e ainda outros

quadros menos frequentes como esquizofrenia, suicídio e homicídio.

Em relação a estas consequências, a autora, salienta:

[...] a vulnerabilidade de cada indivíduo, aliada ao ambiente externo,

ás pressões psicológicas e ás situações de estresse prolongado, pode

deflagrar transtornos graves que se encontravam, até então,

adormecidos. Desta forma, devemos refletir de maneira bastante

conscienciosa que, além de o bullying ser uma prática inaceitável nas

relações interpessoais, pode levar a quadros clínicos que exijam

cuidados médicos e psicológicos para que sejam superados (SILVA,

2010, p.32).

Há também os espectadores, são aqueles que presenciam a violência contra

colegas, porém não a pratica e nem sofre. Os espectadores muitas vezes se calam por

medo de serem a próxima vítima, portanto, apenas testemunham as ações dos

agressores. Geralmente são divididos em três grupos distintos; espectadores passivos

que são os que se calam, mesmo não concordando as atitudes dos bullies; os

espectadores ativos que apesar de não participarem ativamente dos ataques contra as

vítimas, manifestam “apoio moral”, com risadas e palavras de incentivo e os

espectadores neutros que não demonstram sensibilidade pelas situações que presenciam.

Essas reflexões sobre o tema Bullying denotam um fenômeno que pode ser

encontrado em qualquer lugar e contexto. O que nos inspira ao questionamento da

incidência de práticas de bullying na cidade de São Borja e que ações direcionadas a

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comunidade escolar envolvida, possam ser desenvolvidos com o intuito de reduzir esse

tipo de comportamento violento entre as crianças e adolescentes.

Primeira etapa do Projeto de Extensão

Com objetivo de ampliar o conhecimento do que realmente é bullying, já que

muitas vezes, é banalizado ou confundido com brincadeiras entre alunos, e preparar os

acadêmicos para produções posteriores de materiais de comunicação dirigida, a

conduzir debates nas escolas e orientar e sanar dúvidas que poderiam etapas iniciais do

projeto, surgir durante as atividades práticas foi organizado atividades direcionadas ao

grupo de acadêmicos que iriam atuar nas escolas. Foi realizado estudo bibliográfico,

através de grupos de estudos, palestras, dinâmicas e capacitações e oficinas.

O material de estudo utilizado foi centralizado, principalmente, na leitura em

grupo e debate dos capítulos do livro intitulado Bullying: Mentes perigosas nas escolas5,

este que apresenta além de conceitos claros e atuais, depoimentos, reflexões e histórias

verídicas.

Além disso, no grupo de estudos utilizou-se de dinâmicas que proporcionaram

aos participantes exporem suas experiências, e também experimentar algumas das

situações que vivenciam os personagens de bullying (agressores, vítimas e

observadores). Observaram vídeos-depoimentos e, através de vários encontros

delinearam a implementação do projeto, metodologias e sua inserção nas escolas.

Dentre as capacitações realizadas, a equipe contou com a presença de uma

professora6 da área de direito e experiência na área de educação e assistência social, que

trouxe diversas orientações, disponibilizou as principais leis sobre bullying e apresentou

exemplos de ações penais relativas ao tema. Nesta ocasião ficou evidenciado que

conforme a lei estadual nº 13.474/10, todas as instituições de ensino e educação infantil

tem por obrigação promover ações de combate ao bullying, podendo inclusive serem

indiciadas penalmente quando omitem-se dessas práticas dentro da escola ou quando os

alunos estão, por assim dizer, sob suas responsabilidades.

A mesma lei apresenta em seu artigo 2º, o seguinte conceito para Bullying,

5 SILVA. Ana Beatriz Barbosa. Bullying: mentes perigosas nas escolas. Rio de Janeiro: objetiva, 2010.

6 Waleska Belloc Barbosa.

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[...] qualquer prática de violência física ou psicológica, intencional e

repetitiva, entre pares, que ocorra sem motivação evidente, praticada

por um indivíduo ou grupo de indivíduos, contra uma ou mais pessoas,

com o objetivo de intimidar, agredir fisicamente, isolar, humilhar, ou

ambos, causando dano emocional e/ou físico à vítima, em uma relação

de desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.

Somando-se a isso essa lei, está em tramitação na Câmara de Vereadores de São

Borja, projeto de lei semelhante, que entre outras coisas, orienta as escolas a inserirem

em seu componente curricular, temáticas “antibullying”.

Figuras de 1 a 3: Fotografias de alguns encontros de capacitação realizados com integrantes do projeto.

Outra capacitação realizada foi coordenada por acadêmico7 da Unipampa,

Especializando em Políticas e Intervenção em Violência Intrafamiliar e Especializando

em Tecnologia da Informação e Comunicação aplicadas à Educação. A capacitação teve

como tema “Bullying e Educomunicação” e também serviu para incentivar o uso de

recursos tecnológicos para o desenvolvimento do projeto, em especial por possuir um

recurso de grande alcance como o site “http://horadefalardebullying.com.br”.

Houve ainda outros encontros, com discussões relativas ao assunto Bullying,

educação e implementação de recursos, entre outros preparando a aplicação das

estratégias. Nas etapas seguintes os encontros continuaram a acontecer, porém de uma

forma mais esporádica, de acordo com as necessidades da equipe.

Pesquisa de campo

Por conseguinte, foi investigada a incidência de Bullying nas escolas estaduais

de São Borja, através de pesquisa de campo. Neste sentido, foi apontando quais as

7 pós-graduando Romulo Tondo.

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principais ações de bullying que ocorrem, nível de incidência e o que provoca nos

personagens envolvidos.

A pesquisa foi realizada em oito Escolas Estaduais do município de São Borja,

onde 921 alunos do 4º a 6º ano do ensino fundamental, de idades entre 8 a 16 anos

responderam ao questionário.

Esse questionário não continha conceito de Bullying, para facilitar a

compreensão dos alunos, para isso, foi utilizado os termos “intimidação ou agressão”.

As perguntas inteiravam 12 questões fechadas, com opções de múltiplas respostas.

Através da pesquisa foi possível constatar que mais da metade das crianças

participantes, já haviam sofrido algum tipo de intimidação ou agressão, como

xingamentos, ameaças, apelidos e outros. Em torno de 78% das crianças entrevistadas,

responderam ter visto algum colega sendo agredido ou intimidado na sua escola.

Quando eles foram perguntados sobre que tipos de intimidação ou agressão já

fizeram aos colegas apenas 57,2% responderam que não intimidam ou agridem os

colegas, essa resposta aumenta para 62% quando perguntados por que intimidam ou

agridem e como se sentem após o ocorrido.

Quanto ao que os motiva, a maioria, 20,4% disseram que intimidam ou agridem

os colegas apenas por brincadeira, 18% porque sentem-se provocados e 5% dizem que

os colegas merecem.

Nas questões seguintes, a orientação dada no questionário era para que apenas

aqueles que já tivessem sido intimidados ou agredidos seguissem respondendo. Assim,

apenas um grupo que variou entre 33,9% a 47,8% não respondeu as questões seguintes.

Os alunos intimidados ou agredidos que disseram sentirem-se mal com o

ocorrido foram 25,7%, 23% sentiram-se irritados, 12,4% sentiram-se envergonhados,

8,5% tiveram medo e 9,7% não sentiram nada.

Quanto à reação, a maioria disse ter se defendido, totalizando 24%, 18,3%

falaram para família e 13,7% não fizeram nada.

É importante ressaltar que aqui há apenas um fragmento dos resultados obtidos,

tanto no que tange a pesquisa de campo e que estas respostas serviram como base,

juntamente com o estudo bibliográfico para delinear as estratégias empregadas

posteriormente.

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Ação para alunos

Para compor as ações direcionadas aos alunos, buscou-se uma técnica que

fugisse ao cotidiano da sala de aula e que ao mesmo tempo, sensibilizasse e

disseminasse o conhecimento do que é bullying e suas consequências, optando-se pelo

teatro e a música.

A escolha do teatro como estratégia direcionada aos alunos deu-se, devido ao

teatro proporcionar um maior interesse naqueles que assistem, muitas vezes mexendo

com as emoções e facilitando a interiorização da mensagem.

Segundo Lima & Pereira “aprendizado como imposição, obrigação, regra, é até

aceito pelos educandos, porém não assimilam nem levam como base de educação para a

vida” (LIMA & PEREIRA, 2011, p.5).

O uso desta metodologia para discutir o fenômeno Bullying - teatro, a música e o

diálogo – proporcionou a reflexão sobre os personagens envolvidos no contexto

bullying (agressores, vítimas e espectadores) de maneira lúdica e criativa, contagiando a

plateia de várias idades e as convidando a todo disseminar essa ideia.

Os mesmo autores elucidam que

[...] esteja o aluno como espectador ou como figurante, o teatro é um

poderoso meio para gravar na sua memória um determinado tema, ou

para levá-lo, por meio de um impacto emocional, a refletir sobre

determinada questão moral ou um conhecimento novo. (LIMA &

PEREIRA, 2011, p.6).

Além disso, no uso destas ações na escola, também veem de encontro com a

necessidade de envolver a comunidade escolar com a produção cultural, incentivo ao

uso de recursos diferenciados de ensino em sala de aula e o desenvolvimento do gosto

pela arte desde a infância.

Até o momento, mais de 400 alunos já participaram desta ação em três escolas,

ainda falta pelo menos cinco escolas, previstas para serem executadas durante o mês de

setembro.

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Figuras de 4 a 6: Fotografias da equipe durante ação direcionada aos alunos

Ação para os professores

Para os professores, foi planejada oficina, desenvolvida nos encontros de

formação, permitindo através de dinâmicas de grupo, que eles expusessem suas

dificuldades, compreendessem como se caracteriza e buscassem novas alternativas para

diminuir essas práticas nas escolas, comprometendo-os para continuação do projeto.

O encontro direcionado para os professores contemplou os seguintes momentos:

1) Quebra-gelo, onde professores e acadêmicos puderam se conhecer.

2) Apresentação geral do projeto.

3) Apresentação de alguns conceitos de bullying, através de vídeo com a fala e

orientação da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do livro “Mentes

perigosas nas escolas: Bullying”.

4) Apresentação e discussão dos resultados da pesquisa de campo

5) Dinâmica de grupo, na qual os professores expõem suas dificuldades,

experiências e através de trocas, sugerem soluções para a redução do

bullying nas escolas.

6) Sensibilização através de mensagem de incentivo a continuidade do trabalho

e apresentação de fotos da atividade feita com os alunos.

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Figuras de 7 a 9: Fotografias de alguns encontros de formação de professores.

Ação para os pais

Para pais, que na maioria das vezes, não são atingidos por campanhas anti-

bullying e que são eles que podem atuar na prevenção de ações de violência na fase

infantil, devido ao contato e influência que exercem sobre os personagens envolvidos,

foi ofertada palestra informativa e educativa com professora da área de psicologia. A

proposta era orientá-los a respeito do bullying, as consequências e como reconhecer e

agir perante suas manifestações.

Figuras de 10 a 12: Fotografias da palestra direcionada aos pais de alunos.

A Comunicação no Projeto Hora de Falar de Bullying

Além do uso de pesquisa e eventos, outras ferramentas de comunicação foram

empregadas, como a criação de identidade visual, utilizada em todas as etapas e ações

do projeto das ações, criação de materiais de apoio, como banner, camisetas, cartilhas e

assessoria de imprensa, que realizou a cobertura e o registro das etapas desenvolvidas.

Figura 13: um dos modelos de camiseta do projeto

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Figura 14: Modelo de folder/cartilha

O contato permanente com a mídia permitiu o alcance de vários espaços como a

publicações de matérias em jornais. Além disto está previsto para os meses de outubro e

novembro a veiculação de spot em rádio ( Fronteira FM e Cultura AM), anúncio em

jornal impresso local (Folha de São Borja) e vt’s (RBS TV, região da sucursal

Uruguaiana que abrange a fronteira oeste) sobre a temática do projeto. Todos os espaços

alcançados com parcerias, ou seja, gratuitos ao projeto, através da intervenção da área

de Relações Públicas.

Já na internet, foi desenvolvida um site <http://horadefalardebullying.com.br>

com objetivo de registrar fotos e notícias do projeto, disseminar conhecimento sobre o

tema e servir de subsídio aos professores com sugestão de atividades, livros, filmes,

artigos, entre outros.

Figura 15: Print do site do projeto – destaca os subitens da aba Materiais disponibilizados e/ou sugeridos.

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A utilização desses veículos de comunicação em massa teve o intuito de alcançar

a comunidade em geral, já que também foi incluída como público de interesse do

projeto e assim disseminar o projeto por todo o município de São Borja e região.

Relações Públicas: o gestor no Projeto Hora de Falar de Bullying

Sabe-se que o planejamento é uma das funções básicas do profissional de Relações-

Públicas, somado ao conhecimento das técnicas e estratégias de comunicação. É o Relações-

Públicas um profissional com potencial para gerenciar a comunicação dentro das

organizações ou mesmo em uma infinidade de projetos. Como é o caso o que esta sendo

apresentado o projeto de extensão universitária “Hora de Falar de Bullying”.

Este projeto contou com a inserção e participação de vários cursos e bolsistas

durante as etapas de execução. Porém, como sua proposta tem como um dos objetivos

principais a disseminação de conhecimentos através de ações direcionadas a públicos de

interesse, das quais se utilizou a comunicação estratégia e dirigida, a fim de atingir esses

resultados, articulados, planejados e gerenciados pela área de Relações Públicas,

responsável pelo cumprimento de todas as etapas nele empregadas.

Assim, pode ser lembrando o que recomenda Margarida Kunch, que

Atender a novas demandas dependerá da capacitação e da

agressividade dos agentes, ou seja, dos profissionais de relações

públicas. São eles que devem demonstrar aos dirigentes das

organizações como esta área pode agregar valor às suas atividades e

contribuir para uma maior responsabilidade social e corporativa.

(KUSCH, 2003, p14)

Além disso, esse profissional domina o uso do planejamento, o que possibilita uma

melhor organização, permitindo à coordenação e à equipe acompanhar o processo a ser

desenvolvido. Sabendo aonde se queria chegar, motivando e compreendendo a conexão

entre cada estratégia, diminuindo improvisos e consequentemente os muitos contratempos,

repercutindo de forma global em benefício para todos os envolvidos.

Partindo do pressuposto que para se atingir um determinado público é necessário

adequar a informação e os meios para conseguir tal propósito, o planejamento deste projeto

de extensão foi dividido em etapas que permitiram contemplar as especificidades de cada

grupo – pais, professores, alunos e comunidade. Assim, para os primeiros, foi utilizada a

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comunicação dirigida, através de eventos, materiais de apoio e outras estratégias específicas

aos interesses de cada grupo.

Outro fator relacionado com essa profissão, diz respeito à mídia. O Relações-

Públicas, através do contato com a imprensa, consegue destacar espaços na mídia e atingir a

comunidade são-borjense, através de publicações jornalísticas, veiculação de VT’s e spots

elucidativos e mesmo gerenciando ferramentas digitais, produzindo conteúdos que gerem

interesse aqueles dos quais é dirigida.

Dentro do projeto, outro destaque é dado a articulação de esforços, por meio dos

conhecimentos de Relações Públicas em agregar valor a imagem institucional, e assim,

conquistar importantes parcerias. Sabendo dos interesses das organizações em conquistar

mais públicos e, consolidar sua uma imagem positiva, aliando-se a propostas de cunho

social, que gerem visibilidade, o Projeto Hora de Falar de Bullying contou com pelo menos

nove patrocinadores, que tiveram seus nomes expostos em publicações, materiais gráficos,

camisetas, menções em eventos, exposição de banners durante as atividades realizadas,

entre outros que geraram benefícios para as ambas as partes envolvidas.

Considerações Finais

Analisando a repercussão, interesse e entusiasmo que os públicos demonstraram

durante a aplicação das estratégias desenvolvidas, e mesmo pelo feedback recebido, foi

possível perceber que as ações alcançaram os objetivos propostos pelo projeto que é

elucidar e esclarecer sobre o tema aos públicos envolvidos e afetados.

Porém, a redução efetiva de manifestações de bullying só ocorrerá através da

continuidade e permanência de ações como estas nas escolas e dentro da famílias,

incentivando a mudança hábitos no comportamento dos alunos e de toda a comunidade

escolar.

Desta forma, conclui-se que propostas como essas contribuem com as

necessidades das escolas, auxiliam na redução da violência em todos os níveis da

sociedade, já que as ações de bullying em muitos casos dão início a outras praticas

violentas e comportamentos agressivos. E, sobretudo, alertou sobre o problema a toda

comunidade através de campanhas e divulgação de informações contribuindo com as

políticas públicas de educação.

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Além disso, as estratégias implementadas não limitam-se ao uso das Relações

Públicas. Apenas, destaca-se que, são os profissionais desta área quem dominam as

ferramentas necessárias para atingir um maior número de públicos e conseguem

planejar estratégias mais adequadas aos interesses de cada um dos públicos-alvo. Pode

assim, ampliar os resultados das campanhas e projetos desenvolvidos, dando mais

visibilidade e alcance as propostas.

Referências bibliográficas

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ESTUDOS JURÍDICOS, UNESP, VOL. 15, Nº 21 (2011). Disponível em:

<http://seer.franca.unesp.br/index.php/estudosjuridicosunesp/article/view/346>. Acesso em: 11

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