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Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas
Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis
GERENCIAMENTO DE RISCO DE CRÉDITO E CAPITAL INTELECTUAL: UMA ABORDAGEM EM BANCOS
BRASILEIROS
Sergio de Jesus
São Paulo
2011
Sergio de Jesus
GERENCIAMENTO DE RISCO DE CRÉDITO E CAPITAL INTELECTUAL: UMA ABORDAGEM EM BANCOS
BRASILEIROS Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Presbiteriana Mackenzie para a obtenção do título de Mestre em Controladoria Empresarial.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Thereza Pompa Antunes
São Paulo 2011
Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Professor Dr. Pedro Ronzelli Junior
Decano de Pesquisa e Pós-Graduação
Professora Dra. Sandra Maria Dotto Stump
Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Professor Dr. Moisés Ari Zilber
Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis
Professora Dra. Maria Thereza Pompa Antunes
J58 Jesus, Sergio de Gerenciamento de risco de crédito e capital intelectual: uma abordagem em bancos
brasileiros/ Sergio de Jesus– 2011. 140 f.: il.; 30 cm
Mestrado Profissional (Dissertação de Mestrado)- Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.
Orientação: Profa. Dra. Maria Thereza Pompa Antunes Bibliografia: f. 135-140
1. Gerenciamento de Risco de Crédito 2.Capital Intelectual 3.Instituições Financeiras Bancárias 4.Gestão de Riscos 5.Ativos Intangíveis. Título.
CDD 658.15
“O homem não é a soma do que ele tem, mas a totalidade do que
ainda não tem, do que poderia ter.” Jean Paul Sartre
Dedico este trabalho aos grandes amores da minha vida, minha esposa Helen e meus filhos Gustavo e Vinícius, que sempre me apoiaram e motivaram nesse projeto pessoal, além da compreensão pela grande ausência e pelo incentivo nas horas difíceis.
Agradeço a Deus por tudo em minha vida; a minha orientadora, Profª. Drª. Maria Thereza Pompa Antunes, pelo apoio, conhecimento e sabedoria compartilhados; aos professores do Programa de Mestrado Profissional em Controladoria Empresarial da Universidade Presbiteriana Mackenzie; aos Professores Drs. Octavio Ribeiro Mendonça Neto e Armando Lourenzo Moreira Junior pelas sugestões e comentários no exame de qualificação.
RESUMO
O processo de gerenciamento de risco de crédito dos bancos é uma atividade de extrema importância para a correta identificação dos riscos inerentes à atividade bancária de emprestar recursos financeiros a terceiros. Dessa forma, os gestores dos bancos precisam estar atentos às melhores práticas de mercado e ter em mãos processos eficientes para a tempestiva e correta identificação dos riscos de crédito de sua carteira de empréstimos e agir de maneira adequada para minimizar suas possíveis perdas. Mundialmente, o processo de gerenciamento de risco de crédito passa por significativas mudanças de forma a melhorar a mensuração de riscos por parte dos bancos, devido ao novo acordo de capitais da Basileia II. Segundo este novo acordo, os bancos podem construir e utilizar modelos próprios de gerenciamento de riscos de crédito com a inclusão de informações financeiras e não financeiras. Atualmente, estudos demonstram a importância dos ativos intangíveis das empresas, inclusive os relacionados ao Capital Intelectual, por sua capacidade de geração de valor e de fluxos de caixas futuros para as empresas. Porém, em função da difícil identificação e mensuração desses ativos, os processos atuais de gerenciamento de risco de crédito não incluem esses ativos em suas análises. Sendo assim, esse estudo buscou conhecer a estrutura atual dos modelos de gerenciamento de risco de crédito de bancos brasileiros, pela ótica do novo acordo de capitais da Basileia II, de forma a se verificar a possibilidade de se contemplar os ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual nesses modelos. Também foi escopo do trabalho sugerir uma proposta de aperfeiçoamento do processo do Banco Titânio (nome fictício), com a identificação, mensuração e inclusão desses ativos no processo de gerenciamento de risco de crédito do banco. A pesquisa é descritiva e exploratória e foi conduzida em duas fases: Na primeira fase, a coleta de dados foi efetuada por meio de questionário eletrônico enviado para oito bancos brasileiros, sendo que os dados foram tratados por análises descritivas e análises de conteúdo. Na segunda fase da pesquisa, foi efetuada uma análise de caso com o Banco Titânio, sendo que os dados foram tratados por meio da verificação “in loco” dos processos atuais do banco. Os resultados demonstraram que os ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual são vistos pelos gestores dos bancos como informações importantes para o processo de gerenciamento de risco de crédito, porém por não existir uma forma sistematizada para sua inclusão nos modelos, esses ativos ainda não são contemplados nos processos de gerenciamento de risco de crédito dos bancos que compuseram a amostra; sendo assim, foi proposta uma sistemática para o aperfeiçoamento dos modelos de gerenciamento de risco de crédito dos bancos com a inclusão desses ativos. Palavras-Chave: Gerenciamento de Risco de Crédito; Capital Intelectual; Instituições Financeiras Bancárias, Gestão de Riscos, Ativos Intangíveis.
ABSTRACT
The process of credit risk management of banks is an extremely important activity for the correct identification of the risks inherent in banking to lend funds to third parties. Thus, bank’s managers should be alert to best market practices and efficient processes for the timely and accurate identification of credit risks in its loan portfolio and act appropriately to minimize their potential losses. Worldwide, the process of credit risk management has changed to improve the measurement of risks by banks through the new agreement of Capitals - Basel II. Through this new agreement the banks can build and use their own models of credit risk management, with the inclusion of financial and nonfinancial information. Currently, studies demonstrate the importance of intangible assets of enterprises, including those related to intellectual capital, for its ability to generate value and future cash flows for companies. However, due to the difficult identification and measurement of these assets, the current processes for credit risk management still do not include these assets (Intellectual Capital) into their risk analysis. Thus, this study investigates the structure of current models of credit risk management of Brazilian banks, from the Basel II’s perspective, to see the possibility to contemplate the intangible assets related to intellectual capital in these models. It was also a scope of the research, a proposal for improving the process of Banco Titânio (unreal name), through the identification, measurement and inclusion of such assets in the process of credit risk management of the bank. The research is exploratory and descriptive and it was conducted in two phases: Initially, the data collection was conducted through an electronic research sent to eight Brazilian banks, and the data were processed by descriptive analysis and content analysis. In the second phase, the research was conducted like a case analysis with the Banco Titânio, and the data were processed through the verification “in loco” of the current processes of the bank. The results showed that intangible assets related to Intellectual Capital are viewed by managers of banks as important informations to the process of managing credit risk, but because there is no systematic way for its inclusion in the models, these assets still are not included in the processes of credit risk management of Banks that formed the sample; therefore, we proposed a systematic way to improve the management models of banks' credit risk with the inclusion of these assets. Keywords: Credit Risk Management; Intellectual Capital; Banking Financial Institution, Risk Management, Intangible Assets.
0
SUMÁRIO CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO...............................................................................................13
1.1 Contextualização do Tema.............................................................................................13
1.2 Questão de Pesquisa.......................................................................................................16
1.3 Objetivo Geral................................................................................................................16
1.4 Objetivos Específicos.....................................................................................................17
1.5 Justificativas e Contribuições.........................................................................................17
CAPÍTULO 2: REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................20
2.1 Intermediação Financeira, Crédito e Gerenciamento de Risco de Crédito....................20
2.2 Informação Contábil.......................................................................................................47
2.3 Capital Intelectual...........................................................................................................50
CAPÍTULO 3: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.....................................................64
3.1 Tipo de Pesquisa.............................................................................................................64
3.2 Método de Pesquisa........................................................................................................65
3.3 População e Amostra......................................................................................................65
3.4 Procedimentos de Coleta de Dados: instrumento e técnica...........................................66
3.4.1 Primeira fase da coleta de dados: objetivos específicos 1 e 2..................................66
3.4.2 Segunda fase da coleta de dados: objetivo específico 3...........................................72
3.5 Procedimentos de Tratamento de Dados........................................................................72
3.6 Desenho da Pesquisa......................................................................................................73
CAPÍTULO 4: APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS.................................75
4.1 Resultados das respostas dos questionários com Diretores e Gerentes dos bancos.......75
4.2 Proposta de aperfeiçoamento do modelo de gerenciamento de risco de crédito do Banco
Titânio (nome fictício)........................................................................................................113
CAPÍTULO 5: CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................130
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E BIBLIOGRAFIA...................................................135
APÊNDICES
LISTA DE FIGURAS
1. Função intermediadora dos bancos................................................................................22 2. Comportamento da taxa de juros cobrados de clientes com níveis de risco de crédito
diferenciados e seus impactos para os bancos...............................................................32 3. Esquema do processo de geração do Capital Intelectual...............................................59 4. Desenho da Pesquisa......................................................................................................73 5. Ferramentas utilizadas pelos bancos para o gerenciamento de risco de crédito............89 6. Principais ativos intangíveis considerados pelos bancos como mais importante para o
processo de gerenciamento de risco de crédito...........................................................100 7. Segmento de negócio onde deveriam ser tratadas as informações de Ativos Intangíveis
e de Capital Intelectual das empresas..........................................................................110 8. Essência de um modelo de gerenciamento de risco de crédito....................................118 9. Formas de mensuração de riscos no banco Titânio.....................................................118 10. Técnica Credit scoring - Banco Titânio......................................................................120 11. Técnica de Análise Julgamental – Banco Titânio.......................................................121 12. Possíveis correlações entre a nova variável e as PD’s dos clientes............................122 13. Fluxo do processo de inclusão de novas variáveis – Credit Scoring..........................123 14. Processo final de inclusão de variáveis de ativos intangíveis relacionados ao Capital
Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de crédito do Banco Titânio – análise julgamental......................................................................................................127
15. Técnica de Análise Julgamental ajustada...................................................................128
LISTA DE QUADROS
1. Resumo da estrutura proposta para o Novo Acordo de Capitais da Basileia – Basileia II de acordo com o BIS.....................................................................................................46
2. Características das sociedades industrial e do conhecimento........................................52 3. Classificação do Capital Intelectual segundo Brooking................................................56 4. Classificação do Capital Intelectual segundo Edvinsson e Malone...............................57 5. Classificação do Capital Intelectual segundo Sveiby....................................................57 6. Classificação do goodwill, segundo Coyngton..............................................................62 7. Classificação do goodwill, segundo Paton e Paton........................................................62 8. Caracterização do respondente......................................................................................67 9. Bloco A - Estrutura atual dos modelos de gestão de riscos de crédito dos
bancos............................................................................................................................68 10. Bloco B – Relevância de se contemplar os ativos intangíveis nos modelos de gestão de
riscos de crédito dos bancos..........................................................................................69 11. Bloco C – Relevância de se contemplar o Capital Intelectual nos modelos de gestão de
riscos de crédito dos bancos..........................................................................................70 12. Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos sobre os motivos que levam os
bancos a utilizarem informações não financeiras em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito.........................................................................................................82
13. Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos sobre quais são as principais informações não financeiras utilizadas pelos bancos em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito.................................................................................84
14. Informações não financeiras importantes e suas relações com as definições de Capital Intelectual segundo Brooking, Edvinsson e Malone e Sveiby.....................................86
15. Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos sobre onde são obtidas as principais informações (financeiras e não financeiras) das empresas para o banco incluir em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito....................................87
16. Finalidade de cada ferramenta no processo de gerenciamento de risco de crédito dos bancos............................................................................................................................90
17. Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos se as informações dos ativos intangíveis não evidenciadas nas Demonstrações Contábeis são utilizadas pelos bancos em seus processos de gerenciamento de risco de crédito e onde essas informações são obtidas...........................................................................................................................98
18. Ativos intangíveis importantes e suas relações com as definições de Capital Intelectual segundo Brooking, Edvinsson e Malone e Sveiby......................................................101
19. Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes se os bancos mensuram e avaliam algum item sobre Capital Intelectual de uma empresa para inseri-lo nos modelos de Gestão de Riscos de Crédito? Em caso afirmativo, como é feito esse processo?....................107
20. Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos sobre os motivos de não utilização do Capital Intelectual nos processos atuais de gerenciamento de risco de crédito..........................................................................................................................109
21. Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos sobre o atual estágio de utilização dos Ativos Intangíveis e do Capital Intelectual nos modelos de Gerenciamento de riscos de crédito dos bancos..........................................................111
22. Principais ativos de Capital Intelectual obtidos na pesquisa com os bancos e sugestões de formas de avaliação e pontuação para o processo de gerenciamento de risco de crédito – Banco Titânio...............................................................................................125
LISTA DE TABELAS
1. Representatividade da amostra frente à população – bancos.........................................66 2. Bancos e cargo dos respondentes...................................................................................75 3. Perfil dos respondentes quanto à área de atuação..........................................................76 4. Perfil dos respondentes quanto ao tempo de atuação em suas áreas.............................76 5. Perfil dos respondentes quanto ao tempo de atuação no banco.....................................76 6. Perfil dos respondentes quanto à idade..........................................................................77 7. Perfil dos respondentes quanto à Escolaridade..............................................................78 8. Perfil dos respondentes quanto à formação na Graduação............................................78 9. Perfil dos respondentes quanto à formação na Pós-Graduação.....................................79 10. Adoção das regulamentações de Basileia II pelos bancos.............................................80 11. Metodologia utilizada pelos bancos para o gerenciamento de risco de crédito.............80 12. Tipo de metodologia IRB utilizada pelos bancos..........................................................81 13. Modelos internos antes de Basileia II............................................................................81 14. Tipo de Informação utilizada pelos bancos...................................................................82 15. Incorporação das informações não financeiras nos modelos de gerenciamento de risco
de crédito dos bancos....................................................................................................89 16. Variáveis e resultados obtidos no bloco A do questionário – visão Diretores..............92 17. Variáveis e resultados obtidos no bloco A do questionário – visão Gerentes...............93 18. Variáveis e resultados obtidos no bloco B do questionário – visão Diretores...............95 19. Variáveis e resultados obtidos no bloco B do questionário – visão Gerentes...............96 20. Variáveis e resultados obtidos no bloco C do questionário – visão Diretores.............104 21. Variáveis e resultados obtidos no bloco C do questionário – visão Gerentes.............104
13
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização do Tema
Atualmente mitigar exposição a riscos tem sido uma atividade muito praticada pelas
empresas, visto que o processo de gestão de riscos corporativos se faz necessário para não se
incorrer em perdas financeiras futuras.
Pode-se observar os efeitos maléficos de uma gestão de riscos ineficiente quando se
considera a crise financeira desencadeada no final de 2008, e que se estendeu durante o ano de
2009, denominada “crise dos subprimes”. Esta crise financeira foi desencadeada a partir da
quebra de instituições de crédito dos Estados Unidos, que concediam empréstimos
hipotecários de alto risco que não foram honrados pelos tomadores dos empréstimos. Este fato
pode ter levado vários bancos para uma situação de insolvência, repercutindo fortemente
sobre as bolsas de valores de todo o mundo. Uma possível explicação para esse fato pode ser
a inexistência de processos eficientes de gerenciamento de riscos para evitar tais perdas, além
de eventuais comportamentos disfuncionais dos gestores.
Em linhas gerais, o gerenciamento de riscos tem por missão mitigar os riscos de
determinada empresa, segmento, atividades etc. (KALAPODAS e THOMSON, 2005, p.25).
Por meio de uma gestão de riscos eficaz as empresas podem elaborar modelos de predição de
perdas futuras, agindo no sentido de minimizá-las. Nos dias atuais, as empresas tendem a
assumir mais riscos em virtude da intensa competitividade, logo a implementação de um
efetivo gerenciamento de risco se faz necessária, principalmente no caso dos bancos, pois
esses utilizam fortemente recursos de terceiros em suas atividades e os empresta para outras
pessoas, com o objetivo de ganhar pela intermediação da operação, o que consiste em sua
principal fonte de renda (SILVA, 2000, p.31).
No campo da gestão de riscos, a gestão de riscos de crédito tem sido objeto de
interesse para o mercado financeiro e, também, para a comunidade acadêmica, principalmente
devido à evolução das técnicas de mensuração e gerenciamento de riscos de crédito que vêm
se desenvolvendo nos últimos anos (BRITO e NETO, 2008, p.263).
14
Mundialmente o assunto gestão de riscos para bancos é tratado pelo Novo Acordo de
Capitais – Basileia II, que tem o objetivo de melhorar a gestão de riscos dos bancos
fundamentando-se em três pilares: 1) Necessidades mínimas de Capital; 2) Processo de exame
da fiscalização; e 3) Disciplina de mercado. Destaca-se que no Pilar 1 tem-se a descrição dos
padrões a serem seguidos para a avaliação de riscos de crédito pelos bancos (SEGRETI e
LIMA, 2004, p.1; DOBIJA e ROSOLINSKA, 2010, p.4).
No Brasil, a supervisão dos bancos é realizada pelo Banco Central do Brasil (BACEN)
o qual determina que no processo de gerenciamento de risco de crédito para o segmento
bancário deve-se implementar estruturas de gerenciamento de riscos de crédito compatível
com a natureza de suas operações e a complexidade dos produtos e serviços oferecidos, sendo
que essa estrutura deve permitir a identificação, a mensuração, o controle e a mitigação dos
riscos associados à instituição com a utilização de sistemas, rotinas e procedimentos
(BACEN, 2009).
Atualmente, não existem modelos padronizados para avaliação dos riscos de crédito
(KALAPODAS e THOMSON, 2005, p.25) e, portanto, os bancos definem a melhor maneira
de realizar o gerenciamento desses riscos. Porém, é de se questionar quais informações de
natureza qualitativas e subjetivas são contempladas nos modelos de gerenciamento de riscos
de crédito desenvolvidos pelos bancos, visto que os modelos atuais de avaliação de riscos de
crédito são fortemente focados na utilização de informações quantitativas e financeiras,
evitando-se ou desprezando-se, em muitas vezes, as informações não financeiras das
empresas. Segundo Kalapodas e Thomson (2005, p.26), mesmo com a utilização de
metodologia julgamental para avaliação de riscos de crédito, os aspectos analisados por meio
dessa técnica são: demonstrações de lucratividade, liquidez, fluxo de caixa, alavancagem,
estrutura de capital e projeções financeiras. Assim sendo, percebe-se, claramente, que se
referem a aspectos financeiros encontrados nas demonstrações contábeis das empresas.
Até o ano de 2008, os sistemas contábeis raramente reconheciam os ativos intangíveis
das empresas (GUIMÓN, 2005, p.28; ANTUNES e LEITE, 2008, p.34), e dentre esses ativos,
aqueles que se referem ao Capital Intelectual. Com o advento da Lei 11.638/07 houve uma
evolução importante para a contabilidade no tocante à questão dos ativos intangíveis e de
alguns elementos que caracterizam o Capital Intelectual, porém ainda não suficiente para que
essas informações permitam uma avaliação mais adequada dos riscos de crédito por parte dos
bancos. De acordo com Antunes (2004, p.197), Capital Intelectual é o conjunto de
conhecimento que a empresa possui proveniente das pessoas que, por meio das suas
competências e habilidades, materializam-no em novas tecnologias, processos e
15
produtos/serviços com a finalidade de atingir objetivos estratégicos, sendo necessária,
entretanto, a sua adequação à estratégia da empresa. Para a referida autora, o elemento
humano é o gerador dos demais ativos seja tangíveis, seja intangíveis e, por sua vez, é
também um ativo, ou seja, é compreendido tanto como recurso (insumo), quanto como
produto de per si.
Notadamente, a questão dos ativos intangíveis é secular para a Contabilidade e a
complexidade que abrange este tema refere-se, principalmente, à dificuldade de seu
reconhecimento, registro e evidenciação por parte da Contabilidade Financeira. Isso se deve
ao fato de a Contabilidade Financeira estar atrelada às Normas Contábeis que balizam a sua
aplicação (ANTUNES, 2004) e essa realidade restringe a aceitação de vários itens como
elementos componentes do ativo, fazendo surgir à figura do Goodwill (MARTINS, 1972).
A Lei 11.638/07 trouxe uma evolução importante para a contabilidade no tocante à
questão dos ativos intangíveis, pois criou a conta Ativos Intangíveis no grupo do ativo no
Balanço Patrimonial. Nesse sentido, em 2008, o CPC (Comitê de Pronunciamentos
Contábeis) emitiu o Pronunciamento Técnico 04 (CPC-04), baseado no International
Accounting Standard 38
Com o passar dos anos, as exigências do mercado em relação à evidenciação dos
intangíveis foram aumentando devido, dentre outros fatores, ao aumento da importância
relativa que os ativos intangíveis passaram a representar em relação ao ativo total das
empresas, de uma forma geral. Essa realidade conduz a uma assimetria de informações entre
as empresas e os usuários das informações contábeis o que prejudica, sobremaneira, a
avaliação dessas empresas.
(IAS-38), para regulamentar especificamente o tratamento a ser dado
aos Ativos Intangíveis. De acordo com o CPC-04 (2008, item 1, p. 3) os Ativos Intangíveis
são representados por ativo não-monetário, identificável e sem substância física. Em linhas
gerais, este Pronunciamento determina que a identificação do Ativo Intangível somente lhe é
permitida se o mesmo for separável e resultar de direitos contratuais ou de outros direitos
legais. Dessa forma, o reconhecimento se dá somente quando for provável que os benefícios
econômicos futuros esperados atribuíveis ao ativo sejam gerados em favor da entidade e o
custo do ativo possa ser mensurado com segurança (SAIKI, 2009). Sendo assim, pode-se
verificar que a Lei 11.638/07 ainda restringe o reconhecimento de certos ativos intangíveis na
contabilidade, notadamente aqueles gerados internamente e que resultam no Capital
Intelectual das organizações. Porém, de acordo com Saiki (2009), a citada Lei abriu uma
oportunidade para que os assuntos sobre ativos intangíveis evoluam para que mais ativos
intangíveis sejam identificados e registrados pelos sistemas contábeis.
16
Nesse sentido, Antunes (2004, p. 257) considera que, na realidade empresarial atual,
todos os esforços em relação ao tema Capital Intelectual e aos Ativos Intangíveis devem ser
dirigidos para a Contabilidade Gerencial e que estudos, no sentido de identificar, mensurar e
registrar esses investimentos e contemplá-los nos sistemas de informação gerenciais das
organizações, devem ser priorizados.
Tendo em vista esses aspectos, é de se questionar por que não se incluir a avaliação
dos ativos relacionados ao Capital Intelectual nos processos de gerenciamento de risco de
crédito, caso esses ativos sejam considerados relevantes pela área de riscos dos bancos, por
meio de procedimentos para seu reconhecimento, mensuração e avaliação.
Assim sendo, este estudo aborda o tema Ativo Intangível, sob o enfoque do conceito
de Capital Intelectual, de forma a se avaliar a possibilidade de tais intangíveis serem
contemplados nos modelos de gerenciamento de risco de crédito e concessão de recursos às
empresas por bancos brasileiros.
Considerando-se que pelo Novo Acordo de Capitais da Basileia II, por meio do
modelo de gestão de riscos baseado em classificações internas (IRB – Internal Ratings
Based), os bancos devem desenvolver processos eficientes para a gestão de risco de crédito
adotando critérios próprios, entende-se que a inclusão das informações relativas ao Capital
Intelectual das empresas nesses processos tornaria os modelos de gerenciamento de riscos de
crédito dos bancos mais completos, eficazes e eficientes frente à realidade das empresas no
cenário econômico atual.
1.2. Questão de Pesquisa
Para este estudo formulou-se a seguinte questão de pesquisa: como as instituições
financeiras bancárias contemplam o Capital Intelectual em seus modelos de gestão de risco de
crédito?
1.3. Objetivo Geral
O objetivo geral desta pesquisa é o de conhecer como são os processos de
gerenciamento de riscos de créditos de bancos brasileiros de forma a se identificar como são
tratadas as informações não financeiras, especificamente as relacionadas ao Capital
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Intelectual, à luz do Novo Acordo de Capitais - Basileia II, visando o aperfeiçoamento desses
processos com a introdução dessas informações.
1.4. Objetivos Específicos
Como objetivos específicos tem-se:
1. Conhecer como estão estruturados os processos de gerenciamento de riscos de crédito
das instituições financeiras bancárias da amostra em estudo, pela ótica do Novo
Acordo de Capitais da Basileia II.
2. Buscar o entendimento e a relevância de se contemplar os ativos intangíveis
relacionados ao Capital Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de crédito
de acordo com a percepção dos profissionais (diretores e gerentes) de risco dos bancos
que compõem a amostra deste estudo.
3. Propor uma sistemática para a inclusão dos ativos intangíveis caracterizados como
Capital Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de crédito de bancos, para
aperfeiçoamento dos mesmos.
1.5. Justificativas e Contribuições
A justificativa para a presente pesquisa diz respeito, primeiramente, sobre a
necessidade de se aperfeiçoar os modelos de gerenciamento de riscos de crédito dos bancos
com a inclusão de maior quantidade de informações, sejam elas quantitativas, qualitativas,
financeiras e não financeiras. Nesse contexto, o Capital Intelectual assume papel de grande
relevância conforme anteriormente exposto.
Adicionalmente, a motivação para se realizar o presente estudo em bancos brasileiros
também se deve aos resultados encontrados em pesquisas já realizadas na Espanha e na
Polônia, cujos resultados são mencionados a seguir:
Atualmente as falhas de comunicação entre as empresas e os bancos sobre os ativos
intangíveis críticos que direcionam inovações e performance de negócio resultam em
uma ineficiente alocação de recursos financeiros limitados, prejudicando o
crescimento econômico (GUIMÓN 2005, p.28).
18
Tradicionalmente apenas as mensurações financeiras são incorporadas nos processos
de gerenciamento de risco de crédito e o uso de informações não financeiras é limitado
(DOBIJA E ROSOLINSKA, 2007, p.2).
Instituições financeiras raramente integram e utilizam ferramentas abrangentes para
avaliar o Capital Intelectual dentro de suas rotinas de trabalho, sendo que esse trabalho
vem sendo feito de maneira intuitiva e desestruturada (GUIMÓN 2005, p.33).
Alguns analistas financeiros desconhecem os impactos dos intangíveis na criação de
valor para as empresas; parte explicada pelo fato desses analistas não terem sido
treinados para fazerem esse reconhecimento e parte porque eles não possuem
ferramentas específicas para analisar os intangíveis (GUIMÓN 2005, p.33 e DOBIJA
E ROSOLINSKA, 2007, p.10).
Os analistas financeiros se consideram muito racionais e dessa forma preferem
números ao invés de informações qualitativas, pelo fato dos números serem
considerados reais e objetivos (GUIMÓN 2005, p.33).
Existência de um gap significativo entre o impacto esperado dos relatórios de Capital
Intelectual e os impactos reais, com relação ao processo de riscos de crédito
(GUIMÓN 2005, p.28).
O uso de informações não financeiras na Polônia é limitado, em se tratando de
processos de avaliação de riscos de crédito (DOBIJA E ROSOLINSKA, 2007, p.2).
Analistas de crédito da Polônia entendiam como muito importantes as informações
sobre Capital Intelectual para seus trabalhos de concessão de crédito e que os modelos
atuais de gestão de riscos de crédito não permitiam o uso das informações de Capital
Intelectual em seus modelos (DOBIJA E ROSOLINSKA, 2007, p.2).
Por fim, vale ressaltar que outra motivação para este estudo partiu de uma necessidade
específica identificada pelo autor deste estudo, visto atuar há mais de 26 anos em uma
instituição financeira bancária. Assim, entende-se que o presente estudo será de grande valia
para a sua aplicação na referida instituição e, também, uma sugestão para ser adotada pelas
demais instituições financeiras bancárias.
Conforme já comentado, os bancos precisam criar/utilizar modelos mais precisos de
gerenciamento de riscos de crédito para mitigar a probabilidade de perdas financeiras em suas
operações, principalmente na concessão de crédito a terceiros. Com isso, a introdução de
elementos financeiros e não financeiros nos modelos de avaliação de riscos de crédito seria
19
indicada para uma correta e mais apurada avaliação de riscos. Recursos humanos adequados e
bem treinados, novos projetos de pesquisa e desenvolvimento, investimentos em tecnologia
são alguns direcionadores de Capital Intelectual que as empresas possuem e que impulsionam
a geração de fluxos de caixas positivos futuros as mesmas.
Assim sendo, a principal contribuição deste estudo é a proposição de uma sistemática
para o gerenciamento de risco de crédito que contemple os ativos intangíveis (Capital
Intelectual) e que, portanto, aperfeiçoe os modelos já existentes. Além disso, contribuiu para
fomentar a discussão de tão relevante e complexo tema que se reveste os ativos intangíveis
para a contabilidade.
20
CAPÍTULO 2
REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Intermediação Financeira, Crédito e Gerenciamento de Risco de Crédito
• Desenvolvimento Econômico/Financeiro e Intermediação Financeira
Ao analisar-se a história do desenvolvimento econômico internacional, percebe-se
uma relação causal com o desenvolvimento financeiro. Em outras palavras, o
desenvolvimento financeiro foi o grande impulsionador do desenvolvimento econômico
mundial. Nesse sentido, Andrezo e Lima (1999, p.15) afirmam que atualmente já existe uma
aceitação generalizada dos impactos positivos que um sistema financeiro desenvolvido
proporciona na economia, em termos de produtividade, acumulação de capital, aumento de
poupanças e investimentos, além do crescimento econômico como um todo.
Primeiramente, pode-se pontuar a própria importância do dinheiro para o
desenvolvimento econômico, pois por meio de sua criação eliminou-se as ineficiências do
escambo, surgimento de uma unidade de valor que facilitou a avaliação e cálculo de
transações, e um recipiente de valor que permitiu que as transações econômicas fossem
conduzidas durante longos períodos e, também, em grandes distâncias geográficas
(FERGUSON, 2009, p.28). Assim sendo, o dinheiro flexibilizou e facilitou as operações
financeiras e comerciais, traduzido num único ativo aceito por todas as pessoas.
Outro aspecto relacionado à evolução da economia mundial é o desenvolvimento do
crédito, pois por meio das operações de crédito muitos projetos foram viabilizados e
automaticamente o crescimento econômico mundial acelerou-se. Sendo assim, o crédito e o
débito estão entre os blocos essenciais da construção do desenvolvimento econômico, tão
vitais para a riqueza das nações quanto à mineração, a indústria, ou a telefonia móvel
(FERGUSON, 2009, p.34 e 64)
Os bancos assumem papel de relevância no desenvolvimento econômico, e nesse
sentido, Andrezo e Lima (1999, P.15) comentam que Schumpeter, em 1912, destacava o papel
dessas instituições no financiamento das inovações tecnológicas e que um trabalho
interessante foi realizado em 1993, por King e Levine, no qual com base em uma amostra de
21
oitenta países, no período de 1960 a 1989, foi concluído que as taxas de crescimento do
período podiam ser explicadas pelo nível de desenvolvimento financeiro em 1960.
Fergusson (2009, p.20 e 64) comenta que em situações raras, tem-se uma percepção
equivocada sobre o papel dos bancos como atividades predatórias, pela cobrança de juros e
motivador da pobreza dos países. O autor considera que, na verdade, a pobreza tem mais
haver com a falta dos bancos, pois à medida que as pessoas tem acesso ao crédito elas podem
escapar das “garras” dos agiotas e exploradores, pois esses agentes sim tendem a destruir os
tomadores de recursos com a cobrança de juros abusivos e fora da realidade financeira. E
também, é por intermédio dos bancos que os poupadores deixam seus recursos para que os
bancos possam emprestar para as pessoas que necessitam, ou seja, transferir recursos do rico
ocioso para o pobre empreendedor.
Andrezo e Lima (1999, P.18), por sua vez, mencionam estudo efetuado por um
professor da Yale University, professor Hugh T. Patrick, em que o mesmo analisa e define
alguns conceitos sobre a relação entre crescimento econômico e financeiro. O primeiro
conceito é o Demand Following, onde o sistema financeiro é essencialmente passivo em
relação ao crescimento econômico. Por intermédio do crescimento econômico, o mercado
financeiro se desenvolve e se aperfeiçoa, surgindo oportunidades com maior liquidez e menor
risco, o que, por sua vez, também estimula o crescimento econômico. O segundo conceito é o
Supply Leading que consiste na criação de instituições financeiras e fornecimento de serviços
financeiros, anteriormente ao surgimento da demanda, de modo a induzir o desenvolvimento
econômico. O Supply Leading possui duas funções: transferir recursos dos setores tradicionais
para os setores modernos, e promover um estímulo nos setores modernos.
Em resumo tem-se no desenvolvimento financeiro um papel importante no
desenvolvimento econômico mundial, sendo que essa importância tem aumentado através dos
tempos, com a criação de novos mecanismos e produtos financeiros que impulsionam e
incentivam a pesquisa, desenvolvimento e produção de bens e serviços e, consequentemente,
a criação de mais postos de trabalhos, causando um ciclo de crescimento econômico.
O ambiente onde as operações financeiras acontecem é denominado mercado
financeiro. O mercado financeiro é o local onde o dinheiro é gerido, intermediado, oferecido e
procurado, por meio de canais de comunicação que se relacionam como sistemas. E mais
especificamente é no mercado de crédito onde as operações de crédito ocorrem, sendo esse
mercado composto pelo conjunto de instituições e instrumentos financeiros destinados a
possibilitar operações de prazo curto, médio, longo ou aleatório (ANDREZO e LIMA, 1999,
P.3).
22
De forma geral, Banco é definido como uma instituição de crédito que tem por
finalidade a produção e a circulação dos capitais, servindo de intermediário entre as pessoas
que possuem excesso de capital com aquelas que necessitam de capital, satisfazendo as
necessidades de ambos; ou são empresas que têm por objetivo o exercício do crédito, que
pode ser efetuado com meios próprios e com meios provindos mediante uma função
eminentemente mediadora, soma de fundos de terceiros (sobretudo fundos de economias) para
empregá-los em operações desenvolvidas entre comerciantes, indústrias, agricultores etc., que
necessitam de meios financeiros (COLLI e FONTANA, 1992, p.13 e NIYAMA e GOMES,
2000, p.35).
No mercado de crédito os bancos utilizam sua função intermediadora, atuando como
sujeito ativo ou passivo nas operações realizadas. A figura 1 apresenta o esquema da função
intermediadora dos bancos. Pode-se verificar que na função de intermediação financeira, os
bancos assumem o risco das operações, e, dessa forma cobram uma taxa de juros maior do
tomador de recursos do que ele paga ao investidor de recursos, com o propósito de cobertura
ou remuneração do risco assumido. Essa diferença de taxas de juros é denominada de spread.
$ $
$ + i% $+(i+x)%
Figura 1 – Função intermediadora dos bancos
Fonte: ANDREZO e LIMA ( 1999, p.4)
Os bancos exercem uma das principais atividades para a economia de um país, sendo
fomentadora de recursos para as pessoas investirem em seus projetos. Os bancos não possuem
recursos próprios suficientes para a atividade de fomento do mercado e é por meio da
intermediação financeira que os mesmos conseguem os recursos para destiná-los a quem
necessita. Dessa forma a intermediação financeira é o grande cenário da qual a atividade de
crédito faz parte e consiste em captar dinheiro junto aos depositantes e emprestá-los para
outras pessoas que necessitam de recursos. A função de intermediação financeira é, sem
dúvida, facilitadora para a consecução dos objetivos de diversos outros segmentos da
atividade econômica (SILVA, 2000, p.26 e 48).
INVESTIDOR
BANCO
TOMADOR
23
Segundo Andrezo e Lima (1999, P.11) diversas características tornam a intermediação
financeira atraente, sendo elas:
a) Economia de escala: os intermediários financeiros atuam com custos menores do que
os tomadores e operadores, pois trabalham continuamente na compra de títulos
primários;
b) divisibilidade e flexibilidade: um intermediário financeiro pode reunir as poupanças de
diversas pessoas ou entidades, de modo a aumentar a oferta de títulos indiretos com
características mais atraentes, além de proporcionar maior flexibilidade e melhores
condições ao tomador, do que se este entrasse em contato direto com diversos
poupadores;
c) diversificação das características dos instrumentos financeiros: a intermediação
financeira possibilita transformação dos montantes de capital, dos prazos de
vencimentos, alteração das taxas de juros e diluição do risco, o que permite uma
alocação mais eficiente dos recursos e mais atraente, tanto para o investidor como para
o poupador;
d) especialização e conveniência, ou seja, os intermediários financeiros são especialistas
na compra de títulos diretos, o que elimina inconvenientes da compra direta, como
conhecimento de aspectos específicos.
Considerando-se que uma das principais atividades de um banco é a intermediação
financeira, fica evidente que os bancos precisam focar seus esforços no controle e
gerenciamento dessas atividades para reduzir ao máximo sua exposição a riscos e
probabilidades de perdas financeiras.
• Conceito de Crédito
Conforme já comentado, na atividade de intermediação financeira dos bancos,
conceder “crédito” é uma das atividade que expõe os bancos a risco, pois o não recebimento
dos recursos emprestados a terceiros podem levar o banco a um estado financeiro crítico.
A palavra crédito deriva do latin credere, que significa acreditar, confiar, ou seja,
acreditar e confiar no compromisso de alguém para conosco (PAIVA, 1997, p.3). Assim
sendo, crédito é conceituado como todo ato de vontade ou disposição de alguém em ceder,
temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, normalmente na forma de recursos
financeiros, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente, após
24
decorrido o tempo estipulado entre as partes (SCHRICKEL, 2000, p.25 e CAOUETTE,
ALTMAN e NARAYANAN, 2000, p.1).
No âmbito das instituições bancárias, o crédito consiste em alocar à disposição do
cliente (tomador de recursos) certo valor sob a forma de empréstimos e financiamentos,
mediante uma promessa de pagamento numa data futura, com a expectativa de receber um
valor maior que o disponibilizado inicialmente, por intermédio do recebimento de juros
(SILVA, 2000, p.63).
Chaia (2003, p.10) comenta que em decorrência de inúmeras facilidades que as
operações de crédito podem introduzir na dinâmica do processo econômico, elas apresentam
importantes papéis sociais, sendo as principais: a oportunidade de as empresas aumentarem
seus níveis de atividade e o estímulo ao consumo dos indivíduos, ou seja, elevação da
demanda agregada. Outro fator importante é que o crédito usado adequadamente, tanto por
governos, quanto por empresas, como forma de gestão de consumo, continua a desempenhar
papel fundamental na economia, pelo fato de ser um instrumento provocador e facilitador das
transações de bens e serviços.
Historicamente, pode-se dizer que o crédito nasceu juntamente com as instituições
bancárias em Roma, a partir dos cambistas que se aproveitavam da diversidade de moedas
existentes na época para realizar trocas entre elas, obtendo-se sempre pequenas vantagens
nessas transações. Os cambistas normalmente ficavam em pequenos bancos nos lugares de
movimento, tais como igrejas, estabelecimentos públicos e praças. Por esse fato, esses
cambistas receberam o nome de banqueiros, que é usado até os dias atuais. Posteriormente,
essas atividades foram expandidas pela possibilidade de recebimento de depósitos em
dinheiro e a oferta de empréstimos com recursos próprios mediante a cobrança de um
acréscimo no valor futuro, ou seja, a realização de uma operação de crédito (CHAIA, 2003,
p.11).
Caouette, Altman e Narayanan (2000, p.39), comentam que os primeiros bancos da
Europa medieval agiam como um armazém para commodities fungíveis, que começaram a
considerar o que poderiam fazer com os depósitos até que seus clientes voltassem para
recuperá-los. Começaram a fazer empréstimos de curto prazo para manter o negócio. Esses
empréstimos eram feitos apenas para clientes que eram bem conhecidos, geralmente os
mesmos clientes que tinham depositado o dinheiro.
Esses bancos normalmente cobravam dos seus clientes uma tarifa para guardar seus
fundos. Não demorou muito para que os banqueiros percebessem que, emprestando o dinheiro
depositado para outras pessoas, podiam fazer dessa atividade um negócio rentável. Para atrair
25
novos depositantes, começaram a pagar uma remuneração pelo aluguel de seu dinheiro, ou
seja, taxa de juros. Os banqueiros pagavam uma taxa de juros a seus depositantes e cobravam
uma taxa de juros maior dos tomadores dos recursos e lucravam a diferença.
Em vista do exposto, pode-se perceber que a atividade de crédito e o funding das
operações são bastante antigos e se mostravam operações muito importantes para a população
e para a economia da época.
• Riscos – Conceitos e Gerenciamento
As empresas estão constantemente gerenciando riscos em seus negócios para tentar
mitigá-los ao máximo, sendo que algumas conseguem obter sucesso em sua gestão e outras
não. Outras empresas aceitam passivamente exposições a riscos, sem uma ação para sua
identificação e gerenciamento e outras tentam criar uma vantagem competitiva com relação à
sua exposição a riscos. Seja qual for a forma de atuação das empresas com relação a seus
riscos, entende-se que as mesmas devem monitorar cuidadosamente esses riscos, pois esses
possuem grande potencial para causar danos financeiros.
Segundo Jorion (2001, p.3), riscos podem ser definidos como volatilidade ou
resultados inesperados, geralmente no valor de ativos, passivos ou resultados. Também pode-
se conceituar risco como sendo incerteza, imponderável, imprevisível, situando-se
necessariamente e unicamente ao futuro (SCHRICKEL, 2000, p.35). Os riscos são originados
de várias fontes, tais como: ciclos de negócios, inovação tecnológica, inflação, mudanças nas
políticas governamentais e guerras. Também podem surgir por intermédio de fenômenos
naturais, tais como enchentes ou terremotos. Os riscos e a vontade de incorrer em riscos são
essenciais para o crescimento econômico.
Jorion (2001, p.4) explica que os vários tipos de riscos a que as empresas estão
expostas podem ser classificados como riscos do negócio e riscos não relacionados aos
negócios.
Os riscos do negócio são aqueles onde as empresas voluntariamente assumem para
criar uma vantagem competitiva e adicionar valor para os acionistas. Esses riscos pertencem
ao mercado onde a empresa opera e estão relacionado a inovação tecnológica, desenho de
produtos, dentre outros.
Os demais riscos, aqueles que não estão sob controle das empresas, são denominados
riscos não relacionados aos negócios. Esses riscos incluem riscos estratégicos, que resultam
26
de fundamentais mudanças na economia ou no ambiente econômico onde a empresa atua.
Como exemplo de risco não relacionado aos negócios pode-se citar que no Brasil em 1994,
após longo período de elevados níveis de inflação, o governo adotou um novo plano
econômico (Plano Real) para combate à inflação. Por meio desse plano e de um engenhoso
mecanismo econômico, a inflação inercial foi freada e reduzida bruscamente (KIMURA et al.,
2009, p.11). Também são considerados riscos não relacionados aos negócios e expropriação
ou nacionalização de ativos, pois, as empresas possuem dificuldades de se protegerem contra
esses riscos.
O principal risco a que o segmento bancário está exposto é o risco financeiro, definido
como sendo aquele relacionado com a possibilidade de perdas no mercado financeiro, ou seja,
perdas relacionadas aos movimentos das taxas de juros ou “defaults” em obrigações
financeiras, causando prejuízos monetários para os bancos expostos ao risco. Suas causas
podem ser: a flutuação ou volatilidade de preços de ativos e passivos, inadimplência na
carteira de crédito de empresas, fraudes, erros, inadequação da estrutura, ações judiciais etc.
(JORION, 2001, p.4 e KIMURA et al., 2009, p.13). O crescimento da volatilidade nas taxas
de câmbio, juros e os preços dos commodities tem criado a necessidade de novos instrumentos
financeiros e ferramentas analíticas de gerenciamento de riscos. Dessa forma, o
gerenciamento de riscos tem emergido como uma resposta para o crescimento da volatilidade
dos mercados financeiros globais. No tocante à gestão de riscos, Kimura et al.,( 2009, p.6) a
definem como sendo o processo formal adotado por uma organização para promover a efetiva
identificação, mensuração e controle das exposições assumidas.
Já o gerenciamento de riscos financeiros referem-se ao desenho e implementação de
procedimentos para controlar esse tipo de riscos (JORION, 2001, p.10). Os principais riscos
financeiros são: Risco de Mercado; Risco de Liquidez; Risco Operacional; Risco Legal; e
Risco de Crédito, resumidos a seguir:
a) Risco de Mercado
Risco de Mercado advém do potencial de perdas relacionadas à flutuação de preços de
ativos e passivos da empresa (KIMURA et al., 2009, p.15). Do mesmo modo Jorion (2001,
p.15) define risco de mercado como sendo os riscos que surgem dos movimentos no nível ou
volatilidade dos preços de mercado. Uma queda muito grande nos preços de um ativo pode
levar a perdas que, em última análise, podem afetar a capacidade de sobrevivência de uma
27
empresa. Já, uma alta forte nos preços de um passivo pode fazer com que a empresa tenha
sérias dificuldades em honrar com seus compromissos assumidos.
Kimura et al.,( 2009, p.15) afirmam que o gerenciamento do risco de mercado de uma
empresa deve buscar manter o potencial de perda de ativos e passivos controlado em
montantes que a empresa possa suportar. Esses montantes, assim como as políticas vigentes
na área de gerenciamento de riscos da empresa, devem ser previamente definidos e
formalizados pela alta gestão da empresa. Uma das técnicas fundamentais de análise do risco
de mercado é o VaR ou Value at Risk, que representa a perda máxima potencial de uma
carteira, em um horizonte de tempo definido, com determinado grau de confiança.
b) Risco de Liquidez
O risco de liquidez possui duas origens. A primeira diz respeito ao risco da empresa
em não conseguir negociar um ativo pelo seu valor real, ou seja, o ativo perde sua
negociabilidade. Dessa forma as perdas ocorrem quando a empresa vende seu ativo de baixa
liquidez a valor inferior ao real. Alguns ativos possuem mercados altamente líquidos e são
negociados facilmente pelas empresas. Outros ativos não possuem essa condição e a empresa
para se desfazer do mesmo precisa abrir mão de parte do preço (deságio) (JORION, 2001,
p.18 e KIMURA et al., 2009, p.16).
A segunda diz respeito a falta de recursos disponíveis para bancar desembolsos de
curto prazo, ou seja, a empresa se vê obrigada a liquidar antecipadamente um ativo por falta
de recursos (dinheiro), realizando na venda desses ativos perdas financeiras.
Para a análise e gerenciamento do risco de liquidez as empresas devem estimar os
deságios associados à falta de negociabilidade de ativos, como também a escassez de recursos
disponíveis no mercado, além do controle das necessidades de caixa das empresas.
c) Risco Operacional
O risco operacional geralmente pode ser definido como originado de erros humanos,
tecnológicos ou acidentes. Nesta definição se inclui as fraudes, falhas na gestão e
procedimentos e controles inadequados (JORION, 2001, p.18). Da mesma forma Kimura et
al.,( 2009, p.17) afirmam que o risco operacional reflete as perdas potenciais que podem
resultar de falhas ou inadequações de processos internos, pessoas, sistemas ou de eventos
28
externos. Assim, perdas ocasionadas por erros, fraudes, incompatibilidades de estruturas,
falhas nos processos operacionais da empresa, estão relacionados ao risco operacional.
Segundo Jorion (2001, p.20), a melhor proteção contra o risco operacional consiste na
redundância de sistemas, separação clara de papéis e responsabilidades (segregação de
funções), controles internos robustos e planos de contingências regulares.
d) Risco Legal
O risco legal, também denominado de risco de compliance, está relacionado à
possibilidade de perdas ocasionadas pela má formalização dos contratos (JORION, 2001, p.20
e KIMURA et al., 2009, p.18). Também pode-se conceituar risco legal como sendo o risco de
se descobrir que ativos poderão ser muito menores ou que obrigações poderão ser muito
maiores do que se esperava devido à interpretação legal, documentação incorreta ou
inadequada. Os bancos são particularmente suscetíveis a riscos legais quando entram em
novos tipos de transações e quando o direito legal de uma contraparte para entrar numa
transação não está estabelecido (BIS 2003).
O risco legal pode ser controlado e gerenciado por intermédio de políticas e
procedimentos para a adequação às normas legais, que podem ser desenvolvidas pelos
consultores jurídicos da empresa.
e) Risco de Crédito
Quando um banco disponibiliza recursos a alguém, por mais que utilize técnicas para
verificar a capacidade do tomador dos recursos em devolver o valor emprestado no prazo e
quantia inicialmente acordados, sempre há o risco do não recebimento desses recursos. A isso
denomina-se por riscos de crédito.
Risco de crédito, ou risco de default, é a possibilidade de uma contraparte em um
contrato financeiro de não cumprir com o acordado em relação a suas obrigações contratuais,
sendo que esse risco nasce do fato de que uma contraparte pode estar relutante ou
impossibilitada de realizar suas obrigações. As perdas originadas do risco de crédito podem
ocorrer antes do default atual. Obrigações, empréstimos e derivativos são itens que estão
expostos ao risco de crédito, que também incluem os riscos soberanos, que são aqueles onde
um país impõe controles cambiais que fazem com que as contrapartes fiquem impossibilitadas
29
de honrar seus compromissos. Uma relação de crédito liga o credor ao devedor e estabelece
uma obrigação para o devedor efetuar um determinado pagamento ao credor em uma data
futura (BIELECKI e RUTKOWSKI, 2002, p.3; JORION, 2001, p.16; KIMURA et al., 2009,
p.16; CAOUETTE, ALTMAN e NARAYANAN, 2000, p.1).
O Bacen (2009), define como risco de crédito a possibilidade de ocorrência de perdas
associadas ao não cumprimento pelo tomador ou contraparte de suas respectivas obrigações
financeiras nos termos pactuados, à desvalorização de contrato de crédito decorrente da
deterioração na classificação de risco do tomador, à redução de ganhos ou remunerações, às
vantagens concedidas na renegociação e os custos da recuperação, e compreendem:
a) O risco de crédito da contraparte, entendido como a possibilidade de não cumprimento,
por determinada contraparte, de obrigações relativas à liquidação de operações que
envolvam a negociação de ativos financeiros;
b) o risco país, entendido como a possibilidade de perdas associadas ao não cumprimento
de obrigações financeiras nos termos pactuados por tomador ou contraparte localizada
fora do país, em decorrência de ações realizadas pelo governo do país onde localizado
o tomador ou contraparte, e o risco da transferência, entendido como a possibilidade
de ocorrência de entraves na conversão cambial dos valores recebidos;
c) a possibilidade de ocorrência de desembolsos para honrar avais, fianças, coobrigações,
compromissos de crédito ou outras operações de natureza semelhante; e
d) a possibilidade de perdas associadas ao não cumprimento de obrigações financeiras
nos termos pactuados por parte intermediadora ou conivente de operações de crédito.
Um ponto importante citado por Kimura et al.,(2009, p.16) é o fato de que,
tradicionalmente, utiliza-se a análise fundamentalista de demonstrativos contábeis e
financeiros para estimar a capacidade de crédito dos tomadores de recursos. Por meio de
ratings de crédito proferidos por agências especializadas, podem ser estimadas probabilidades
de default que estimam o risco de crédito. Outro ponto importante salientado pelos autores é a
diversificação da carteira de crédito, para diluição dos riscos individuais.
O modelo mais tradicional de organização de informações sobre a possibilidade de
pagamento de um cliente é caracterizado pelas suas cinco dimensões, conhecidos como os 5
C’s do crédito: (i) Capacidade; (ii) Caráter; (iii) Capital; (iv) Condições; e (v) Colateral
(SCHRICKEL, 2000, p.47; SILVA, 2000, p.78; SHIMKO, 1999, p.149; PAIVA, 1997, p.21),
que, resumidamente, compreendem:
30
Capacidade: Representada pela habilidade de honrar com os compromissos assumidos.
Considera-se que apenas a vontade de contrair compromissos não é suficiente, pois os
tomadores de recursos precisam ter capacidade comprovada de poder honrar com seus
compromissos e devolver no prazo os valores emprestados;
caráter: Representada pela avaliação dos antecedentes do possível tomador de
recursos. Na verdade a análise do caráter do indivíduo demonstrará sua honestidade,
confiança, vontade de honrar compromissos etc. Normalmente as pessoas que não
possuem bom caráter são percebidas pelo mercado e possuem dificuldades em obter
recursos financeiros;
capital: Representada pela capacidade econômica e financeira do tomador em contrair
dívidas e honrá-las. Por intermédio da análise de informações econômico-financeiras
do tomador pode-se ter uma boa ideia se o mesmo possui condições de contrair
dívidas, e por meio de suas atividades gerar fluxos de caixas futuros para honrar seus
compromissos;
condições: Representada pela verificação das condições do tomador no momento do
crédito, suas particularidades, seus ciclos de recebimentos e desembolsos etc. Muitas
vezes apenas a análise dos demonstrativos financeiros do tomador não espelha a real
condição do mesmo, em função desses demonstrativos estarem defasados e
comprometidos com eventos subsequentes a sua publicação. Outro ponto para se
refletir é se apenas analisando os demonstrativos financeiros atuais é possível ter um
completo perfil do tomador de recursos. A pergunta que fica é: As informações não
financeiras das empresas são importantes para uma correta e completa avaliação das
condições do tomador de recursos?; e
colateral: Representada pelas garantias que o tomador poderá entregar aos bancos no
caso de não conseguir honrar com seus compromissos. Essas garantias precisam ter
valor suficientes para que os bancos, no caso de possíveis defaults de tomadores de
recursos, poderem utilizar as garantias ou vendê-las para cobertura total ou parcial dos
prejuízos com a inadimplência do tomador.
Vale comentar que quando da análise por meio dos 5 C’s, os bancos avaliam uma série
de informações sobre os clientes, sendo elas informações econômico-financeiras ou
informações não financeiras, (SCHAEFFER, 2000, p.4 a 6 e SILVA, 2000, p.87 a 91).
31
Por fim, ressalta-se que os riscos de crédito podem ser controlados ou reduzidos
através da adoção de políticas conservadoras de administração de crédito, adoção de modelos
de gestão de riscos sólidos, controle de limites de crédito, obtenção e controle de garantias
dos empréstimos e acompanhamento pormenorizado dos clientes (JORION, 2001, p.17 e
KIMURA et al., 2009, p.16).
• Gerenciamento de Risco de Crédito
No item anterior, verificou-se que risco de crédito é a possibilidade de uma contraparte
não honrar com suas obrigações financeiras. Dessa forma, gestão ou gerenciamento de risco
de crédito são todos os processos, modelos, atividades, controles etc. para identificar e
controlar o risco de crédito. De acordo com o Bacen (2009), a estrutura de gerenciamento de
risco de crédito deve permitir a identificação, a mensuração, o controle e a mitigação dos
riscos de crédito associados a cada instituição.
Outro ponto importante a se destacar sobre um gerenciamento de risco de crédito
eficaz é a possibilidade de aperfeiçoamento das técnicas de cobrança de juros dos clientes dos
bancos, atribuindo-se taxas de juros maiores aos clientes com maiores níveis de risco de
crédito e, consequentemente, menores taxas de juros aos clientes que apresentem riscos de
crédito menores. A Figura 2 demonstra, de forma hipotética (pois nos bancos essas
informações são tratadas de forma confidencial por serem estratégicas), o comportamento da
taxa de juros cobrados de clientes com níveis de risco de crédito diferenciados e seus
impactos para o banco.
32
Figura 2 – comportamento da taxa de juros cobrados de clientes com níveis de risco de crédito diferenciados e seus impactos para os bancos Fonte: Elaborado pelo autor
A Figura 2 demonstra, de forma hipotética, a política de cobrança de taxa de juros de
dois bancos (A e B), dado certo nível de risco de clientes. Observa-se que no banco A, por se
ter uma forma mais apurada de mensurar o risco dos clientes, a cobrança de juros dos mesmos
é mais justa, pois esses juros são maior para os clientes com maiores níveis de risco e,
consequentemente, menores para os clientes com menores níveis de risco. Já o banco B, por
não ter uma forma tão apurada de mensuração de riscos de clientes, acaba praticamente
utilizando a mesma taxa de juros para todos os clientes.
Esse procedimento acaba trazendo problemas ao banco B, pois, o banco tende a reter
em sua carteira os “maus”clientes e, provavelmente, perder os “bons” clientes para o banco A,
que é mais justo na cobrança de juros. Esse fenômeno fará com que o banco B tenha uma
deterioração de sua carteira de empréstimos e a possibilidade do mesmo incorrer em perdas
com crédito aumentará substancialmente.
Caouette, Altman e Narayanan (2000, p.4) atribuem o nascimento da gestão de risco
de crédito a meados da década de 80, quando os Estados Unidos sofreram uma grande
0
2
4
6
8
10
12
1 2 3 4 5 6 7
JUROS - RISCO ERRADO JUROS - RISCO REAL
Problema: Juros cobrados a maior dos clientes com baixo risco de crédito
Problema: Juros cobrados a menor dos clientes com maior risco de crédito
Taxa de juros
Risco
Banco A
Banco B
33
inadimplência do pagamento de empréstimos bancários e bonds de empresas. Quando a
inadimplência dos junk bonds saltou para mais de 10% em 1990 e 1991, muitos observadores
de mercado acharam que tanto os mercados de junk bonds como os de empréstimos bancários
alavancados tendiam a desaparecer. O mau desempenho das carteiras de empréstimos na
década de 80 estimulou os administradores de risco de crédito a se interessarem cada vez mais
por novas técnicas. Porém, nesse período não foram observados grandes evoluções no
processo de gerenciamento de risco de crédito. De fato, o interesse por novas abordagens da
gestão de risco de crédito aumentou no período atual, onde pode-se perceber grande evolução
nos mercados de crédito, crescimentos econômicos, aumento da demanda e oferta por crédito.
Para uma efetiva gestão de risco de crédito existem técnicas de avaliação de risco de crédito
que auxiliam os bancos a gerenciar essas operações e tentar mitigar ao máximo as
possibilidades de perdas com créditos. Na sequência são abordados essas técnicas.
• Técnicas de mensuração de Risco de Crédito
As técnicas de mensuração de risco de crédito visam auxiliar os profissionais de
gestão de riscos de crédito dos bancos a identificar, controlar e mitigar a ocorrência dos riscos
e, consequentemente, perdas financeiras. De acordo com Caouette, Altman e Narayanan
(2000, p.119), as técnicas mais utilizadas no processo de gerenciamento de risco de crédito
são:
a) Econométricas: são técnicas que utilizam fortemente o auxílio de cálculos estatísticos
para se determinar a probabilidade de um evento acontecer ou não. Essas técnicas
modelam a probabilidade de inadimplência como variáveis dependente, cuja variância
é explicada por um conjunto de variáveis independentes, que podem ser razões
financeiras, indicadores econômicos, condições econômicas, dentre outras;
b) redes Neurais: são sistemas de computador que tentam imitar o funcionamento do
cérebro humano, por meio da emulação de uma rede de neurônios interligados. Essa
técnica utiliza os mesmos dados empregados nas técnicas econométricas, porém com
metodologia empregada de acerto e erro;
c) de otimização: são técnicas de programação matemática que descobrem os pesos
ideais dos atributos de credor e tomador, que minimizam o erro do credor e
maximizam seus lucros;
34
d) sistemas especialistas: são sistemas utilizados para imitar de maneira estruturada o
processo usado por um analista experiente para chegar a uma decisão de crédito.
Basicamente, esses sistemas clonam o processo empregado por um analista bem-
sucedido para que sua experiência seja distribuída para toda a organização;
e) sistemas híbridos utilizando computação, estimativas e simulação diretas: são
processos movidos em parte por uma relação causal direta, cujos parâmetros são
determinados por meio de técnicas de estimativa.
As técnicas mencionadas podem ser aplicadas para as seguintes finalidades
relacionadas à gestão do risco de crédito, a saber:
1) Aprovação de crédito: processo de análise das informações e aprovação ou rejeição de
crédito a um tomador ou contraparte. Esse processo normalmente é utilizado em
pequenas operações de crédito e não são utilizados para aprovação de crédito de
grandes empresas, porém podem auxiliar na tomada de decisão;
2) determinação de ratings de crédito: os ratings de crédito são notas atribuíveis a
prováveis tomadores de recursos ou para derivar “espelhos” para títulos e empréstimos
que não sejam avaliáveis. Esses ratings influenciam os limites de crédito, de carteira e
outros limites dos bancos;
3) precificação do crédito: podem ser utilizada para sugerir “prêmios”por risco que
devem ser cobrados dos tomadores de recursos, em virtude da probabilidade e do
volume de perda, em caso de inadimplência. Normalmente esse prêmio é cobrado dos
tomadores de recursos na forma de taxa de juros;
4) aviso prévio financeiro: podem ser usados para sinalizar problemas em potencial na
carteira para facilitar medidas corretivas antecipadas;
5) linguagem comum de crédito: podem ser usados para selecionar ativos de um conjunto
para construir uma carteira aceitável para atingir uma qualidade de crédito mínima
necessária para obter o rating de crédito desejado; e
6) estratégias de cobrança: podem ser utilizados para decidir a melhor estratégia de
cobrança e solução. Por exemplo, se o modelo indicar que o tomador de recurso está
passando por dificuldades financeiras de curto prazo, e não um declínio em sua
capacidade de honrar suas obrigações, então se pode elaborar uma solução apropriada
para o caso.
35
Especificamente sobre as técnicas econométricas citadas anteriormente, ressalta-se o
“Credit Scoring”. O Credit Scoring é um conjunto de modelos de decisão, com
especificidades que auxiliam os emprestadores de recursos a efetuarem a concessão e
gerenciamento de crédito a terceiros. Por meio do Credit Scoring pode-se definir quem pode
obter crédito, qual o montante de recursos financeiros e quais as estratégias operacionais que
deverão ser utilizadas para alavancar a lucratividade do emprestador de recursos com o
tomador de recursos. Em outras palavras, o Credit Scoring avalia o risco de emprestar
recursos a um tomador específico (THOMAS, EDELMAN, CROOK, 2002, p.1).
Na mesma direção, Hand e Henley (1997, p.2) definem Credit Scoring como sendo o
termo usado para descrever os métodos formais estatísticos usados para classificar possíveis
tomadores de recursos em “boas”ou “más” classes de riscos.
Adicionalmente, para um efetivo gerenciamento de crédito por meio do Credit Scoring
os bancos e demais emprestadores de recursos consideram uma vasta quantidade de
informações sobre o possível tomador de recursos para a avaliação de sua condição de honrar
com seus compromissos. Como exemplos dessas informações tem-se: informações
demográficas, informações financeiras obtidas por intermédio das demonstrações contábeis,
informações cadastrais, algumas informações de caráter subjetivo, dentre outras.
Vários métodos estatísticos podem ser utilizados no Credit Scoring, como exemplos
pode-se citar as análises discriminantes, regressões logísticas, regressões não-lineares,
classificação “’árvore”, dentre outras. Essas metodologias são de extrema importância para
avaliação dos tomadores de recursos e, muitas vezes, precisam ser adaptadas ao tipo de
cliente, maneira de gerenciamento de risco por parte do banco, perfil de riscos etc. É por
intermédio do Credit Scoring que se chega ao rating do tomador de recurso para seu
enquadramento em nível de risco.
Outra técnica também utilizada pelos bancos para o gerenciamento de risco de crédito
é a análise julgamental, também denominada como qualitativa. Essa técnica utiliza a
avaliação de fatores específicos relacionados aos tomadores de recursos e do ambiente
externo (econômico) para a avaliação de crédito. Por intermédio da análise julgamental, os
analistas de crédito coletam uma série de informações sobre os tomadores de recursos e
formam uma lista com suas características específicas para verificar qual exposição de riscos
o banco está assumindo com a operação de crédito. Uma das principais características
analisadas por essa técnica são as garantias da operação oferecidas pelos tomadores de
recursos (KALAPODAS e THOMSON, 2005, p.25). Também, segundo os autores, a maior
36
desvantagem dessa técnica diz respeito ao fato de que a interpretação das informações são
extremamente subjetivas.
Um ponto a se destacar na gestão de riscos de crédito efetuada pelos bancos é a
segregação dos tomadores de recursos por segmentos. Essa segregação é muito importante
para um tratamento diferenciado e personalizado de acordo com cada tipo de tomador de
recurso. Normalmente, a segregação efetuada pelos bancos é feita entre operações de “Varejo
ou massificados” e operações “Corporate ou grandes empresas”. Cada banco possui uma
regra específica para alocar os clientes entre esses segmentos e isso demonstra a forma de
como o banco gerencia seus riscos de crédito. Dependendo do segmento que o possível
tomador de recursos está alocado, o banco utiliza uma técnica específica para avaliar o risco
de crédito da operação. Em geral, nas operações de Varejo é empregada a técnica de Credit
Scoring, enquanto que nas operações Corporate utiliza-se a técnica de análise julgamental.
Analisando os modelos e técnicas de mensuração e gerenciamento de riscos de crédito,
pode-se perceber que existe um vasto ferramental para os bancos e seus profissionais de risco
de crédito trabalharem para fazerem um efetivo e eficiente controle de riscos. Também é
notório que os modelos podem ser configurados para receberem informações não financeiras
das empresas, informações essas avaliadas e mensuradas cuidadosamente, para o
aperfeiçoamento e refinamento dos modelos de gestão de riscos de crédito.
Todavia, verifica-se que, atualmente, o gerenciamento de riscos de crédito em sua
grande maioria tem sido pautado em informações quantitativas e objetivas e os modelos de
avaliação de crédito raramente utilizam informações não financeiras ou subjetivas (DOBIJA E
ROSOLINSKA, 2007, p.2) e dessa forma importantes ativos geradores de valor das empresas
não são avaliados tempestiva e corretamente nas avaliações de riscos de crédito. Grande parte
desse procedimento é causado pelo fato desses ativos não estarem evidenciados nas
demonstrações contábeis e demais informações divulgadas ao mercado. Esse é o caso do
Capital Intelectual das empresas que são ativos relevantes e com grande potencial de geração
de valor às mesmas, que pelo fato de na maioria das vezes não estarem evidenciados nas
informações contábeis ou por não existir uma forma padronizada de seu reconhecimento e
mensuração são tratados de forma não relevante, ou mesmo desprezados, nos modelos de
avaliação de crédito.
37
• Conceito de Default, Probabilidade de Default e Escore de crédito
O entendimento do conceito de default é fundamental para o processo de
gerenciamento de risco de crédito, pois é através desse entendimento que os profissionais da
área de gestão de riscos de crédito dos bancos agem para criar maneiras de mitigar suas
perdas financeiras. Sendo assim denomina-se default como o ato de alguém fracassar em
pagar uma quantia a um banco, quebrar um acordo ou o fracasso em cumprir com uma
obrigação contratual (FITCH, 2000, p.134, BESSIS, 1998, p.82 e WESTGAARD e WIJST,
2001, p.339).
Para o processo de Basileia II, o BIS (2006, p.100) considera que o default ocorre
quando:
O banco considera improvável que o devedor pague suas obrigações na sua
totalidade, sem a necessidade do banco ter que incorrer em ações para fazer valer
seu direito;
o devedor está em atraso em mais de 90 dias em alguma obrigação material com o
banco.
Sendo assim, percebe-se que para o processo de gerenciamento de risco de crédito, a
identificação do default de um cliente para o banco é de extrema importância para que o
mesmo possa agir no sentido de verificar quanto o banco irá arcar de prejuízo com a operação
de crédito.
Já a probabilidade de default ou descumprimento é definido como a medição da
probabilidade da ocorrência de um evento de default de um determinado cliente do banco.
Segundo Bessis (1998, p.83), a probabilidade de default não pode ser medida diretamente e
técnicas estatísticas históricas de defaults podem ser utilizadas para essa mensuração.
A determinação da probabilidade de default de um cliente não é uma tarefa fácil e
nesse sentido Westgaard e Wijst (2001, p.339) comentam que a definição de default pode ser
desmembrada utilizando o montante e período em atraso de uma operação, porém essas
informações não existem de maneira sistematizada e definições mais gerais têm sido
utilizadas, tais como falências decretadas.
Com isso, Akiama (2008, p.27) comenta que esse fato explica o motivo de muitos
estudos relacionados com a previsão de default de empresas utilizarem dados de falência ou
concordatas, pois são dados publicamente disponíveis, uma vez que dados de atrasos são de
difícil obtenção.
38
Uma importante afirmação sobre o processo de mensuração da probabilidade de
default é feita por Saunders (2000, p.207), onde o mesmo comenta que a disponibilidade de
mais informações, com custos menores para sua obtenção, permitem que os bancos utilizem
métodos mais sofisticados e mais quantitativos de mensuração. O autor também comenta que
a mensuração do risco de crédito de empréstimos individuais é crucial para que um banco
possa precificar um empréstimo ou avaliar uma obrigação corretamente e para fixar limites
apropriados ao volume de crédito a ser concedido a qualquer tomador, ou a exposição
aceitável a perdas com qualquer tomador.
Por fim, escore de crédito são modelos que utilizam dados relativos a características
observadas do tomador de crédito, seja para calcular a probabilidade de default, seja para
colocar os tomadores de crédito em classes de risco de inadimplência (SAUNDERS, 2000,
p.210). Segundo o autor, por meio da seleção e combinação de diversas características
econômicas e financeiras do tomador (informações financeiras e não financeiras), os bancos
podem:
Estabelecer numericamente os fatores que são explicações importantes do risco de
inadimplência de um tomador de crédito.
Avaliar o grau relativo de inadimplência desses fatores.
Melhorar a precificação do risco de inadimplência.
Ser mais capaz de fazer a triagem de maus devedores.
Colocar-se em posição melhor para calcular as reservas necessárias para cobrir
perdas futuras esperadas com empréstimos.
Dessa forma, o autor conclui sobre a necessidade de se identificar medidas financeiras
e não financeiras para cada classe de tomador de crédito, além da escolha de uma técnica
estatística que quantifique e atribua escores de crédito para a correta mensuração do risco.
Um ponto a destacar são as críticas aos escores de crédito feitas por Servigny e
Renault (2004, p.63), onde os autores comentam que os escores de crédito são frequentemente
considerados como não muitos sofisticados, sendo que esses escores são apenas um pedaço
bem pequeno de um enorme quebra-cabeças. Os autores terminam dizendo que os escores de
crédito aplicam-se a qualquer tipo de devedor, porém para as grandes empresas, os modelos
estruturais são mais aderentes.
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• Comitê de Basileia
O Comitê de Basileia foi criado como um comitê de regulamentação e supervisão
bancária com os países do G-10 (Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão,
Holanda, Reino Unido, Alemanha Ocidental e Suécia), sediado no Banco de Compensações
Internacionais - BIS, em Basileia, na Suíça. Os motivos da criação desse comitê foram os
distúrbios nos mercados internacionais, como a falha na liquidação de contratos de câmbio
ocasionada pela insolvência do Bankhaus Herstatt, da Alemanha no final de 1974. A primeira
reunião do comitê ocorreu em fevereiro de 1975, sendo que as demais ocorrem de três a
quatro vezes ao ano desde então (BIS, 2001),
O Comitê é constituído por representantes dos bancos centrais e por autoridades com
responsabilidade formal sobre a supervisão bancária dos países membros do G-10. Neste
Comitê, são discutidas questões relacionadas à indústria bancária, visando melhorar a
qualidade da supervisão bancária e fortalecer a segurança do sistema bancário internacional.
O Comitê de Basileia não possui autoridade formal para supervisão supranacional,
mas tem o objetivo de estimular o comportamento nos países membros do G-10. Estes, ao
seguir as orientações, estarão contribuindo para melhoria das práticas no mercado financeiro
internacional.
Um importante trabalho do comitê tem sido o fechamento das lacunas de coberturas
em supervisão bancária atuais, por meio de dois princípios básicos: 1) que nenhum banco
estabelecido internacionalmente escape da supervisão bancária; e 2) que essa supervisão seja
adequada.
a) Basileia I
Conforme citado anteriormente, na década de 70, a situação financeira mundial forçou
os bancos centrais dos países desenvolvidos pertencentes ao G-10 a criar instrumentos que
pudessem assegurar a estabilidade do sistema financeiro mundial, e, dessa forma, foi criado o
denominado acordo de Basileia em 1988, cuja função foi a proteção dos depositantes e
fortalecimento dos bancos (PEREIRA, 2006, p.1).
Em 1988, o Comitê de Basileia promulgou o primeiro documento sobre necessidade
de capital mínimo para os bancos operarem, chamado “Convergência Internacional de
Mensuração e Padrões de Capital” (International Convergence of Capital Measurement and
40
Capital Standarts), conhecido como Acordo de Capital ou ainda Basileia I, voltado somente a
risco de crédito. Em 1996, publicou emenda que incluiu o risco de mercado no arcabouço do
acordo.
Os objetivos do Acordo foram reforçar a solidez e a estabilidade do sistema bancário
internacional e minimizar as desigualdades competitivas entre os bancos internacionalmente
ativos. Essas desigualdades eram o resultado de diferentes regras de exigência de capital
mínimo pelos agentes reguladores nacionais. Segundo Jorion (2001, p.55) essa solidez e
estabilidade são obtidas por meio do estabelecimento de padrões mínimos de requerimentos
de capital. O acordo de 1988 definiu uma forma comum de cálculo de solvência para cobrir os
riscos de crédito dos bancos.
Dessa forma, o Acordo de Basileia de 1988 criou três conceitos básicos, a saber:
Capital Regulatório (ou mínimo): montante de capital próprio alocado para a cobertura
de riscos, considerando os parâmetros definidos pelo regulador;
fatores de Ponderação de Risco dos Ativos: a exposição a Risco de Crédito dos ativos
é ponderada por diferentes pesos estabelecidos, considerando, principalmente, o perfil
do tomador; e
índice Mínimo de Capital para Cobertura do Risco de Crédito: Índice de Basileia -
quociente entre o capital regulatório e os ativos ponderados pelo risco. Se o valor
apurado for igual ou superior a 8% (No Brasil esse índice é de 11%), o nível de capital
do banco está adequado para a cobertura de Risco de Crédito.
A aderência a estas normas é obrigatória para os países membros, com as devidas e
necessárias adaptações pelos órgãos reguladores de cada país, e optativa para os países não
membros.
Segundo Bacen (1994), no Brasil, Basileia I foi instituída a partir da Resolução do
CMN 2.099/94 no que se refere a risco de crédito.
Vale comentar que Basileia I tinha um aspecto exclusivamente contábil, ou seja,
levava em consideração somente os números contabilizados nos balanços das organizações,
fossem eles nas contas patrimoniais ou de compensação.
41
b) Basileia II
Novas pressões do mercado, aliadas aos escândalos financeiros e contábeis dos
últimos anos culminaram na necessidade de induzir todos os bancos em nível global a
possuírem um sistema de informação que lhes permitissem gerir riscos eficazmente
(PEREIRA, 2006, P.1). Com isso a entidade responsável mundialmente por esse processo, o
Bank for International Settlements (BIS), incentivou a formulação de uma nova proposta para
definir um acordo de capitais apoiado em bases mais sólidas, que refletisse adequadamente a
nova realidade do setor financeiro e permitisse aos bancos e supervisores uma gestão eficaz
dos riscos incorridos (PEREIRA, 2006, p.1). Dessa forma foi criado o Novo Acordo de
Capitais – Basileia II, cujo objetivo foi: promover a estabilidade financeira; fortalecer a
estrutura de capital das instituições; favorecer a adoção das melhores práticas de gestão de
riscos; e estimular maior transparência e disciplina de mercado.
Em junho de 2004, o Comitê de Basileia publicou o documento intitulado:
Convergência Internacional de Mensuração e Padrões de Capital – Estrutura Revisada
(International Convergence of Capital Measurement and Capital Standards: A Revised
Framework) conhecido como o Novo Acordo de Capitais da Basileia, ou Basileia II, para:
promover substanciais alterações nos conceitos de risco de crédito; manter as disposições de
risco de mercado existentes; e introduzir o conceito de risco operacional (BIS, 2006). Dessa
forma, pode-se verificar que a principal alteração introduzida por Basileia II foi a introdução
do conceito e importância de se utilizar as melhores práticas de gestão de riscos nos bancos
mundiais e não apenas ter um índice de capitalização adequado baseado em dados contábeis.
Os Três Pilares de Basileia II
De acordo com o BIS (2006), Basileia II esta fundamentado em uma estrutura
composta por três pilares distintos, porém complementares na avaliação de risco do sistema
financeiro. Esses pilares são:
42
I) PILAR I – Requerimentos Mínimos de Capital
Nesse pilar é definido o tratamento a ser dado para fins de determinação da exigência
de capital frente aos riscos incorridos nas atividades desenvolvidas pelos bancos. Em relação
ao Acordo de 1988, o Basileia II introduz a exigência de capital para risco operacional e
aprimora a discussão acerca do risco de crédito.
Basileia II estimula a adoção de modelos proprietários para mensuração dos riscos
(crédito, mercado e operacional), com graus diferenciados de complexidade, sujeitos à
aprovação do regulador, e possibilidade de benefícios de redução de requerimento de capital
por conta da adoção de abordagens internas. Dessa forma, os bancos podem desenvolver seus
próprios modelos. De acordo com Santos (2005, p.9), a diferença básica entre Basileia I e
Basileia II, com relação ao risco de crédito, está no tratamento dos ativos de crédito, ou seja,
enquanto em Basileia I os ativos são ponderados pelas categorias a que pertencem,
aglutinadas em cinco grupos (0%, 10%, 20%, 50%, e 100%), o Basileia II incentiva a adoção
de abordagens avançadas, nas quais o risco individual do titular do instrumento financeiro ou
o risco coletivo da modalidade são mensurados pela própria instituição, por intermédio de
modelos internos de “ratings”.
As abordagens de mensuração de Risco de Crédito, segundo o Novo Acordo, são
classificadas em dois tipos: padronizada e a baseada em classificações internas - (Internal
Ratings Based - IRB). Esta última é dividida em IRB básica (IRB Foundation) e IRB
avançada (IRB Advanced).
A abordagem padronizada constitui-se em revisão/aprimoramento do método proposto
no Acordo de 1988 que, conforme citado anteriormente, estabeleceu fatores de ponderações
de risco para os ativos. Nessa abordagem, os fatores de ponderação de riscos são
fundamentados em classificações de riscos (ratings) oriundos de análises feitas por
instituições externas de avaliação de crédito (External Credit Assessment Institution - ECAI),
visando melhorar a qualidade da percepção de risco e não introduzir demasiada complexidade
ao método.
A abordagem IRB (Internal Ratings Based), que é uma metodologia de cálculo de
capital de natureza estatística, baseada em componentes de risco que permitam um
acompanhamento de todo o ciclo de vida econômica de uma operação de crédito, partindo da
concessão até o seu pagamento final ou hipotético descumprimento, oferece tratamento
conceitualmente similar ao método padronizado no tratamento das exposições do banco,
43
porém com maior grau de sensibilidade aos riscos. A apuração do requerimento de capital
considera os seguintes componentes de risco:
PD (Probability of Default), também conhecida por FEI (Frequência Esperada de
Inadimplência): é a possibilidade de um determinado cliente ficar inadimplente. Deve
considerar as características do cliente e está associada ao risco do cliente (rating). Faz
parte do ciclo de vida da operação de crédito, desde a concessão até o descumprimento
da obrigação. É calculada a partir de sistemas de credit scorings, análise julgamental e
ratings estabelecidos para os segmentos do banco;
LGD (Loss Given Default), também conhecida por PDI (Perda Dada a Inadimplência):
é uma medida preditiva que informa o quanto efetivamente não é recuperado quando
um cliente entra em inadimplência. Na apuração dessa medida deve ser considerada a
estimativa de quanto se recupera de uma dívida em atraso menos os custos no
processo de recuperação. Faz parte do ciclo de vida da operação de crédito, que vai do
descumprimento da obrigação até o fim da recuperação.
EAD (Exposure at Default), também conhecida por Exposição no Momento da
Inadimplência: considera que um cliente tende a aumentar seu endividamento ao se
aproximar de uma situação onde não terá capacidade de honrar seus compromissos.
Este componente evidencia o montante (efetivo + potencial) do endividamento do
cliente no momento da inadimplência. Faz parte do ciclo de vida da operação de
crédito relativo ao saldo devedor sujeito a descumprimento.
Na IRB básica os bancos apenas calculam internamente a probabilidade de
descumprimento ou inadimplência (PD). Os outros parâmetros (LGD e EAD) são definidos e
fornecidos pelo supervisor natural. Já na IRB avançada os bancos calculam todos os fatores
de risco, ou seja, além da PD, calcula-se a perda efetiva (LGD) e também a exposição efetiva
(EAD).
II) PILAR II – Revisão do Processo de Supervisão
O segundo pilar de Basileia II contém os princípios do processo de supervisão
regulatória. O foco da atuação supervisora versa sobre a solidez dos processos, garantindo a
manutenção de capital adequado que suporte os riscos da atividade bancária, encorajando o
desenvolvimento e uso de técnicas sofisticadas de monitoramento e gestão de riscos. Essa
44
solidez deve ser, em primeiro lugar, de responsabilidade da alta administração do banco, a
qual é constantemente incentivada a aprimorar a governança de risco.
O processo de supervisão estabelece normas para o gerenciamento de risco, tendo sido
estabelecidos quatro princípios essenciais de revisão de supervisão, que evidenciam a
necessidade dos bancos avaliarem a adequação de capital em relação aos riscos assumidos e
dos supervisores reverem suas estratégias e tomarem atitudes pertinentes em face dessas
avaliações. São eles:
1º. Princípio: os bancos devem ter um processo para estimar sua adequação de capital
em relação a seu perfil de risco e possuir uma estratégia para manutenção de seus níveis
adequados de capital.
2º. Princípio: os supervisores devem avaliar as estratégias e as estimativas de
adequação de capital dos bancos, bem como seus processos de monitoramento e garantia de
conformidade com a exigência de capital mínimo.
3º. Princípio: os supervisores esperam, e podem exigir, que os bancos operem acima
das exigências de capital mínimo.
4º. Princípio: os supervisores podem intervir antecipadamente e exigir ações rápidas
dos bancos, se o nível de capital ficar abaixo do nível mínimo.
De acordo com o Pilar II, a Alta Administração é responsável pela estratégia de
exposição aos riscos e pelos níveis de capital compatíveis. As principais características da
existência de um processo rigoroso de avaliação da adequação de capital deverão envolver:
- Supervisão da Alta Administração do banco e do Conselho de Administração;
- avaliação sólida das necessidades de capital para suportar os riscos de negócios;
- avaliação abrangente dos riscos;
- monitoramento e emissão de relatórios; e
- revisão do controle interno.
O Pilar II enfatiza a necessidade de os bancos possuírem volume de capital adequado
para suportar todos os riscos envolvidos nos negócios. O capital não deve ser visto apenas
como a única opção que o regulador utilizará para tratar a questão risco, mas, também, os
controles internos e processos de administração de riscos que se revelarem insuficientes ou
inadequados. Adicionalmente, podem ser utilizados outros meios para tratar da gestão dos
45
riscos, tais como aplicação de limites de exposição internos, fortalecimento do nível de
provisões e reservas e o aprimoramento dos controles internos de maneira geral.
Por fim, uma das metas do processo de supervisão é o incentivo ao uso de modelos e
processos mais robustos, a busca permanente de melhores práticas e a aplicação de
instrumentos adequados para a gestão de riscos. Como resultado pode-se observar, também, a
necessidade de menores níveis de capital, suficiente para garantir o pleno funcionamento das
atividades dos bancos e do Sistema Financeiro como um todo.
III) PILAR III – Disciplina de Mercado
O terceiro Pilar de Basileia II determina o processo de divulgação de informações
direcionadas aos agentes de mercado e ao público em geral e visam permitir que esses sejam
capazes de entender e avaliar a gestão de riscos e a adequada alocação de capital dos bancos.
Os supervisores terão uma matriz para mensurar e cobrar dos bancos o adequado disclosure
das informações de riscos.
O Pilar III fundamenta-se em quatro categorias/divisões:
a) Escopo de aplicação: representa a relação entre as recomendações e a estrutura do
Banco;
b) capital: demonstra a capacidade de o banco absorver eventuais perdas;
c) exposição a risco: evidencia os subsídios para avaliação da intensidade dos riscos e
as formas de avaliação destes; e
d) adequação de capital: Possibilita o julgamento da suficiência do capital frente aos
riscos incorridos.
O intuito deste terceiro pilar é de complementaridade aos requerimentos mínimos de
capital (Pilar I) e ao processo de revisão da supervisão (Pilar II). Significa dizer que, com o
desenvolvimento de regras que estimulem e requeiram maior abertura de informações quanto
ao perfil de riscos e ao nível de capitalização dos bancos, os agentes participantes do mercado
sintam-se estimulados a fiscalizar os bancos. A utilização de determinados níveis de
transparência será condição necessária para o reconhecimento e habilitação de um banco em
uma abordagem de mensuração de capital específica.
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Para garantir o cumprimento da transparência, Basileia II prevê aos supervisores a
utilização de instrumentos de persuasão, que vão desde diálogo com a administração do banco
à multas financeiras, de acordo com a deficiência de divulgação apresentada.
Com esse formato, cresce o papel dos reguladores no sentido de acessar e avaliar as
posturas dos bancos diante de suas exposições ao risco, com ênfase em seu papel de
supervisão. Ao estimular a abertura de informações, o Basileia II procura potencializar o
poder de avaliação e atuação dos participantes do mercado.
O quadro 1 resume o Novo Acordo de Capitais da Basileia – Basileia II, de acordo
com o BIS:
Quadro 1 – Resumo da estrutura proposta para o Novo Acordo de Capitais da Basileia – Basileia II de acordo com o BIS
NOVO ACORDO DE CAPITAIS DA BASILEIA II
PILAR I Requerimentos mínimos de
Capital
PILAR II Exame da Supervisão sobre a
adequação de Capital
PILAR III Disciplina de Mercado
Estabelecimento de uma exigência mínima de capital
Melhor tratamento do risco de crédito, atrelando-se ao rating
o Rating públicos o Ratings Internos
Tratamento explícito do risco operacional
O risco de Gestão de ativos e passivos – incluído no Pilar II.
Baseia-se em 4 princípios: o Os bancos devem
calcular seus índices de solvência, em relação ao seu perfil de risco
o Os supervisores devem examinar as avaliações efetuadas pelos bancos, sobre suas estratégias de capital
o Os bancos devem manter capital em montante superior ao nível mínimo exigido
o Os reguladores irão intervir antecipadamente, caso os níveis de capital apresentem deterioração.
Maior transparência em relação a:
o Estrutura de capital o Práticas de
mensuração e gerenciamento de riscos
o Perfil de riscos o Adequação de capital
Fonte: Oliver Wyman & Company (2001, p.1)
A análise dos Pilares de Basileia II permite verificar que os bancos podem e devem
criar metodologias próprias para mensuração e avaliação de riscos de crédito, deixá-los à
disposição do supervisor para avaliação e ser transparentes quanto sua metodologia de
gerenciamento. Com essa abordagem, identifica-se uma oportunidade para que os bancos
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incluam em seus modelos de gestão de riscos informações de natureza não financeira das
empresas para um correto gerenciamento dos riscos de crédito. Em Basileia I essa
possibilidade não estava claramente prevista.
Sendo assim, informações não evidenciadas nas demonstrações contábeis poderiam ser
incluídas nos modelos de gerenciamento de riscos de crédito dos bancos para uma correta e
mais apurada mensuração de riscos. Nesse sentido, o Capital Intelectual pode ganhar
importância quando da avaliação pelos bancos da situação econômico-financeira das
empresas para o gerenciamento de riscos de crédito, pois esse ativo, apesar de não estar
evidenciado nas demonstrações contábeis, se mostra um recurso importante na geração de
valor para as empresas, além do poder de geração de fluxo de caixas futuros.
2.2. Informação Contábil
A contabilidade tem por objetivo o fornecimento de informações financeiras e não
financeiras para vários usuários, de forma que propiciem aos mesmos o poder de tomar
decisões racionais, além da capacidade de predizer os fluxos futuros de caixa da empresa.
(IUDÍCIBUS, 1987 e HENDRIKSEN E BREDA, 2007, p.107). Isso é feito por meio da
identificação, mensuração, registro e comunicação dos fenômenos que afetam o patrimônio da
entidade, disponibilizando as informações econômicas, financeiras, físicas e sociais da
entidade em questão.
Os relatórios contábeis são potencialmente meios importantes para a administração
comunicar a performance e a governança da empresa para os investidores e demais
interessados (PALEPU, HEALY e BERNARD, 2004). De acordo com Hendriksen e Breda
(2007), o propósito principal desses relatórios é o de dar suporte ao processo decisório dos
stakeholders.
As demonstrações contábeis são os principais meios pelo qual a contabilidade se
comunica com os seus usuários. O CPC (2010, p.7) descreve que o objetivo das
demonstrações contábeis é fornecer informações sobre a posição patrimonial e financeira, o
desempenho e as mudanças na posição financeira da entidade, que sejam úteis a um grande
número de usuários em suas avaliações e tomadas de decisão econômica.
Pelas definições apresentadas, observa-se que a contabilidade tem uma missão muito
importante que é a de suprir informações a seus usuários, sejam internos ou externos, para a
tomada de decisões racionais e lógicas. Sendo assim, todas as informações importantes e
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relevantes para auxiliar os usuários das informações contábeis em suas decisões deveriam
estar inseridas no sistema contábil das empresas. Um problema que restringe esse
reconhecimento são os princípios fundamentais de contabilidade que, em alguns casos,
limitam ou impedem o reconhecimento e apresentação de certas informações de ativos e
passivos, limitando a contabilidade em realizar seus objetivos.
• Conceito de Ativo e Ativo Intangível
De acordo com o CPC (2010, p.16 a 18), ativo é um recurso controlado pela entidade
como resultado de eventos passados e do qual se espera que resultem futuros benefícios
econômicos para a mesma, sendo que os ativos somente são reconhecidos pela contabilidade,
quando for provável que os benefícios econômicos futuros dele provenientes fluirão para a
entidade e seu valor puder ser determinado de maneira confiável. Dessa forma, e por
exclusão, entende-se que desembolsos incorridos ou comprometidos, dos quais seja
improvável a geração de benefícios econômicos para a entidade, não devem ser reconhecidos
pela contabilidade. Também é definido pelo CPC que benefício econômico futuro embutido
em um ativo é o seu potencial em contribuir, direta ou indiretamente, para o fluxo de caixa ou
equivalentes de caixa para a entidade. Dessa forma entende-se que esses benefícios podem ser
representados por receitas futuras geradas ou economias de custos/despesas futuras
alcançadas. Também pode-se entender ativo como o conjunto de meios ou os recursos postos
à disposição do administrador para que este possa operar de modo a conseguir os fins que a
entidade e sua direção desejem (IUDÍCIBUS, 1987, p.102).
Segundo Hendriksen e Breda (2007, p.285) os ativos possuem três características
essenciais:
Deve incorporar benefícios futuros prováveis, ou seja, devem contribuir direta ou
indiretamente para a geração de entradas líquidas futuras de caixa da empresa;
o ativo deve ser controlado por uma entidade que deve controlar o acesso de outras
entidades aos benefícios do ativo; e
o fato gerador ou transação que deu a empresa o direito ao ativo é fato já ocorrido.
Dessa forma pode-se observar que os ativos são itens sob controle das empresas, cujo
objetivo é gerar benefícios futuros ou redução de custos/despesas. Em outras palavras, os
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ativos são os motores das empresas e servem para as mesmas cumprirem com sua missão e
objetivos.
Já os ativos intangíveis são ativos não monetários ou o poder de geração de benefícios
futuros, que não possuem substância física, sendo que esse tipo de ativo se diferencia dos
ativos físicos e financeiros no que se refere à valorização e o reporte financeiro/contábil
(LEV, 2005, p.299, ERNEST & YOUNG e FIPECAFI, 2009, p.325 e CPC 04, p.5).
Outro ponto importante citado por Lev (2005, p.299) diz respeito ao fato de que os
ativos intangíveis possuem características particulares em gerar grandes valores para a
economia e seu crescimento, para as empresas e para os países. Por fim, o autor comenta
também que existem vários métodos disponíveis para avaliar e mensurar os ativos intangíveis,
porém esforços precisam ser feitos para melhorar os procedimentos de mensuração e
disclosure dos mesmos. Hendriksen e Breda (2007, p.388) conceituam ativos intangíveis de
uma maneira um pouco diferente, sendo definido como a diferença positiva entre o custo de
uma empresa adquirida e a soma de seus ativos líquidos. Aliás, esse conceito é muito
oportuno para definir o goodwill ou expectativa de rentabilidade futura, porém esse tema será
abordado mais adiante.
Os ativos intangíveis, por serem elementos que às vezes são de difícil evidenciação e
mensuração, em alguns casos não são reconhecidos pela contabilidade financeira, em face da
possibilidade de distorção que esse tipo de ativo pode causar nos ativos totais das empresas.
Segundo o CPC 04 e IAS 38, para o registro de um ativo intangível na contabilidade
de uma empresa, alguns critérios devem ser observados. Esses critérios ocorrem quando:
• O ativo intangível for separável, ou seja, puder ser separado da entidade e vendido,
transferido, licenciado, alugado ou trocado, individualmente ou junto com um
contrato, ativo ou passivo relacionado, independente da intenção de uso pela entidade
ou resultar de direitos contratuais; ou outros direitos legais, independentemente de tais
direitos serem transferíveis ou separáveis da entidade ou de outros direitos e
obrigações;
• o ativo intangível é controlado por outra entidade. Dessa forma, a entidade controla
um ativo quando detém o poder de obter benefícios econômicos futuros gerados pelo
recurso subjacente e de restringir o acesso de terceiros a esses benefícios; e
• os benefícios econômicos futuros gerados pelo ativo intangível podem incluir a receita
da venda de produtos ou serviços, redução de custos ou outros benefícios resultantes
do uso do ativo pela entidade.
50
Dessa forma, observa-se que um ativo intangível precisa possuir atributos muito claros
de identificação, controle e poder de geração de benefícios futuros para ser registrado na
contabilidade. Por intermédio dessas definições, ficam claros os motivos que levam a
contabilidade financeira a não registrar muitos ativos intangíveis, principalmente os gerados
internamente por meio da ação do conhecimento, que atualmente tem-se denominado de
Capital Intelectual (BROOKING, 1996), em face da impossibilidade de obtenção dos critérios
de reconhecimento e mensuração citados anteriormente. Infelizmente essa impossibilidade
traz prejuízos aos usuários das informações contábeis, pois esses agentes não poderão avaliar
corretamente a empresa e seu potencial de geração de valor aos acionistas.
Por fim ressalta-se um relevante comentário de Saiki (2009) em seu trabalho, onde a
autora evidencia que a Lei 11.638/07 trouxe em seu contexto, dentre outros assuntos,
abordagens específicas para o tratamento de ativos e, especificamente, criou a figura dos
ativos intangíveis nas demonstrações contábeis. Dessa forma, essa nova abordagem trouxe
aos usuários das informações contábeis uma expectativa muito positiva no que se refere à
mensuração e reconhecimento dos ativos intangíveis. A Lei 11.638/07 ainda restringe o
reconhecimento de certos ativos intangíveis na contabilidade, porém a citada Lei abriu uma
oportunidade muito interessante para que os assuntos sobre ativos intangíveis evoluam para
que mais ativos intangíveis sejam identificados e registrados pelos sistemas contábeis.
2.3. Capital Intelectual
• Organizações do Conhecimento
O conhecimento é um recurso detido pelas pessoas que, juntamente com outros fatores
produtivos, podem gerar benefícios às organizações. Infelizmente esse recurso não é
evidenciado nas informações contábeis das empresas e, tampouco, é de fácil identificação e
mensuração. Porém, é sabido que principalmente, nas operações de combinações de negócios
entre empresas, o desejado seria que o conhecimento das pessoas pudesse ser identificado e
mensurado adequadamente para se chegar ao correto preço da operação.
Sendo assim, torna-se imperativo o entendimento do conceito de conhecimento.
Segundo Sveiby (1998, p.35) não existe um consenso sobre a definição de conhecimento,
porém o autor comenta que o termo epistemologia (teoria do conhecimento) provém da
51
palavra grega episteme, que significa verdade absolutamente certa. No português, a palavra
conhecimento assume vários significados, tais como: informação, conscientização, saber,
sapiência, experiência, qualificação, habilidade, aprendizado, percepção, competência,
capacidade, dentre outros.
Por intermédio do entendimento do conceito de conhecimento, percebe-se que o
mesmo possui um alto potencial de geração de valor às empresas, sendo que as mesmas
devem dispor de meios para reter e aperfeiçoar o conhecimento das pessoas para seu próprio
benefício. Antunes (2008, p.24) evidencia a importância do conhecimento com a seguinte
afirmação de Toffler: “O conhecimento passou de auxiliar do poder monetário e da força
física à sua própria essência e é por isso que a batalha pelo controle do conhecimento e pelos
meios de comunicação está se acirrando no mundo inteiro (...) o conhecimento é o substituto
definitivo de outros recursos”.
Antunes (2002, p.42) também destaca que a aplicação do conhecimento vem
impactando, sobremaneira, o valor das organizações, pois com a materialização da utilização
desse recurso, mais as tecnologias disponíveis e empregadas para atuar num ambiente
globalizado, produz benefícios intangíveis que agregam valor às mesmas.
Stewart (2004, p.5) comenta que o conhecimento tornou-se um recurso econômico
mais importante que a matéria-prima e muitas vezes mais importante que o dinheiro.
Com a evolução dos tempos e a globalização mundial, a economia tem evoluído para
adaptar-se às novas regras de mercado. Nesse contexto, Crawford (1994, p.29) comenta que a
economia ascendeu da fase industrial para a economia do conhecimento, sendo as principais
mudanças:
• Foco na automação das atividades;
• crescimento generalizado na indústria de serviços, particularmente os segmentos de
saúde, educação, softwares e entretenimento;
• redução das grandes empresas, face ao estímulo ao empreendedorismo;
• crescimento acentuado da força de trabalho das mulheres; e
• substituição da força da economia, antes centrada nas matérias-primas e bens de
capital, para as informações e conhecimentos, principalmente pesquisa e educação.
O quadro 2 demonstra as diferenças nas características das sociedades industrial e do
conhecimento, sob a ótica de tecnologia, economia, sistema social, sistema político e
paradigma, para o entendimento das mudanças ocorridas com a evolução econômica mundial.
52
Quadro 2 – Características das sociedades industrial e do conhecimento
SOCIEDADE
INDUSTRIAL
CONHECIMENTO
TECNOLOGIA
Energia: óleo, carvão. Materiais: recursos não renováveis. Ferramentas: máquinas para substituir a força humana. Métodos de produção: linha de montagem e partes cambiáveis. Sistema de transporte: barco a vapor, ferrovia, automóvel e avião. Sistema de comunicação: imprensa e televisão.
Energia: sol, vento e nuclear. Materiais: recursos renováveis (biotecnologia), cerâmica, reciclagem. Ferramentas: máquinas para ajudar a mente (computadores e eletrônica relacionada). Métodos de produção: robôs. Sistema de transporte: espacial (sic). Sistema de comunicação: comunicações individuais ilimitadas por meio eletrônico.
ECONOMIA
Economia de mercado nacional cuja atividade econômica é a produção de bens padronizados, tangíveis com a divisão entre produção e consumo. Divisão complexa da mão-de-obra baseada em habilidades específicas, modo de trabalho padrão e organizações com vários níveis hierárquicos. O capital físico é o recurso fundamental.
Economia global integrada cuja atividade econômica central é a provisão de serviços baseados em conhecimento. Maior fusão entre produtor e consumidor. Organizações empreendedoras de pequeno porte. O capital humano é o recurso fundamental.
SISTEMA SOCIAL
Familiar nuclear com divisão de papéis entre os sexos e instituições imortais que sustentam o sistema. Os valores sociais enfatizam conformidade, elitismo e divisão de classes. A educação é em massa.
O indivíduo é o centro com diversos tipos de família e fusão dos papéis sexuais com ênfase na auto-ajuda e em instituições mortais. Os valores sociais enfatizam a diversidade, o igualitarismo e o individualismo.
SISTEMA POLÍTICO
Capitalismo e Marxismo: leis, religião, classes sociais e política são modeladas de acordo com os interesses da propriedade e do controle de investimento de capital. Nacionalismo: governos centralizados e fortes tanto como forma de governo representativo quanto na forma ditatorial.
Cooperação global: instituições são modeladas com base na propriedade e no controle do conhecimento. As principais unidades de governo e a democracia participativa definem as normas.
PARADIGMA
Base do conhecimento: física e química. Ideias Centrais: os homens se colocam como controladores do destino num mundo competitivo com a crença de que uma estrutura racional pode produzir harmonia num sistema de castigos e recompensas.
Base do conhecimento: eletrônica quântica, biologia molecular, ecologia. Idéias Centrais: os homens são capazes de uma transformação contínua e de crescimento (pensamento com o cérebro integrado). Sistemas de valores enfatiza um indivíduo autônomo numa sociedade descentralizada com valores femininos dominantes.
Fonte: Crawford (1994, p.18)
53
Por meio da análise do quadro 2, pode-se verificar que na era da sociedade do
conhecimento a tecnologia e o conhecimento são as grandes aliadas do ser humano na
produção. Nessa fase, ao contrário da era da sociedade industrial, onde a atividade econômica
era focada na produção de bens e de ativos tangíveis, a atividade econômica é centralizada na
prestação de serviços baseados no conhecimento e na produção de ativos intangíveis. De
acordo com Sveiby (1998, p.23), as sociedades do conhecimento são caracterizadas por
possuírem poucos ativos tangíveis, sendo seus ativos intangíveis muito mais valiosos do que
seus ativos tangíveis. Também é na era do conhecimento onde aparece uma nova classe
trabalhadora com foco na aplicação do conhecimento nas rotinas de trabalho, ao invés de
apenas a força física. Outro ponto importante que expressa bem a diferença entre as duas
sociedades é que na industrial o capital físico é o recurso fundamental, enquanto na do
conhecimento é o capital humano o mais importante, ou seja, o conhecimento que ele possui
que se consiste no recurso econômico mais importante, muito embora os demais não sejam
dispensáveis (Terra, Capital e Trabalho), segundo enfatiza Antunes (2008).
Assim sendo, vale-se ressaltar o conhecimento como recurso econômico. Ainda
segundo Antunes (2008, p.33) o conhecimento diferencia-se dos demais recursos pelos
seguintes motivos:
• É um recurso ilimitado, pois a pessoa aprimora seus conhecimentos à medida que os
desenvolve;
• contribui para minimizar o consumo de outros recursos, à medida que é empregado
para aperfeiçoar técnicas existentes com novas tecnologias;
• é propagável e utilizado para gerar progresso, quando empregado em seu sentido
stricto e materializado sob a forma de produto, serviço ou tecnologia;
• está distribuído pelo mundo, descentralizando a riqueza, pois esta estará em mãos
daqueles que souberem como criar, mobilizar e organizar o conhecimento; e
• é um recurso de difícil reconhecimento de valor, pois enquanto que nos demais
recursos (terra, capital e trabalho) pode-se atribuir valores financeiros ou econômicos,
para o recurso conhecimento esse reconhecimento é de extrema subjetividade e
dificuldade.
Por fim, para as organizações empresariais, a aplicação do recurso do conhecimento,
juntamente com as tecnologias disponíveis, produz benefícios intangíveis, que nas últimas
duas décadas vem sendo denominados por Capital Intelectual (BROOKING, 1996).
54
• Definição e classificação do Capital Intelectual
Conforme citado por Brooking (1996, p.12), o Capital Intelectual não é um conceito
novo. Ele existe desde quando o primeiro vendedor estabeleceu um bom relacionamento com
seu cliente. Esse bom relacionamento provavelmente fidelizou o cliente, trazendo certa
tranquilidade ao vendedor quanto à realização de futuras vendas. Esse relacionamento é um
ativo para o vendedor, pois o mesmo possui o poder de gerar benefícios econômicos, mesmo
sendo um intangível não identificável pela contabilidade tradicional. Esse tipo de intangível é
um dos quais pode-se denominar como “Capital Intelectual”. Para a autora, Capital Intelectual
é um conjunto de ativos intangíveis, resultantes das mudanças nas áreas de tecnologia da
informação, que trazem benefícios intangíveis às empresas.
Segundo Antunes e Martins (2007, p.4) Capital Intelectual é o somatório do
conhecimento proveniente das habilidades aplicadas (conhecimento tácito) dos membros de
uma organização com a finalidade de trazer vantagem competitiva, materializando-se em bons
relacionamentos e no desenvolvimento de novas tecnologias, ou seja, em novos ativos.
Edvinsson e Malone (1998) explicam o Capital Intelectual como sendo a posse de
conhecimento, experiência aplicada, tecnologia organizacional, relacionamentos com clientes
e habilidades profissionais que proporcionam à empresa uma vantagem competitiva no
mercado. Os autores também explicam o Capital Intelectual por meio de uma metáfora, que
ficou bastante conhecida. Esta metáfora compara uma empresa a uma árvore, cuja parte
visível, constituída pelo tronco, galhos e folhas, representa os organogramas, demonstrações
contábeis, relatórios anuais e outros documentos e as raízes que são as partes invisíveis da
árvore representam o Capital Intelectual, formados por fatores dinâmicos e estruturais da
empresa, que suportam a parte visível da mesma para o alcance dos objetivos estratégicos e a
obtenção de lucros.
Segundo Roos, Roos, Edvinsson e Dragonetti (1997) o conceito de Capital Intelectual
pode ser demonstrado em duas vertentes. Uma vertente positiva onde o Capital Intelectual é
demonstrado como o somatório do conhecimento dos membros de uma empresa e da
materialização desse conhecimento em marcas, produtos e processos e a vertente negativa,
onde o Capital Intelectual é algo que cria valor, porém é intangível e representa a diferença
entre o valor total da companhia e o seu valor contábil. Aqui vale ressaltar que não é o mesmo
critério de mensuração do Goodwill, como muitos autores mencionam, visto que Capital
Intelectual e Goodwill não são sinônimos (Antunes, 2008).
55
Striukova, Unerman e Guthrie (2008, p.298) comentam que, de forma geral, Capital
Intelectual pode ser definido como recurso intelectual ou de conhecimento de uma
organização, que deve interagir com os demais recursos da empresa (recursos físicos) para o
alcance dos objetivos organizacionais.
Um ponto importante citado por Abhayawansa e Abeysekera (2009, p.294) é que,
atualmente, o potencial para criação de vantagem competitiva para as empresas está mais
relacionado com o gerenciamento dos ativos intangíveis ou Capital Intelectual do que com
ativos tangíveis. Porém, as autoras lamentam o fato das informações contábeis atuais se
mostrarem inadequadas para evidenciarem esses ativos em seus relatórios, prejudicando
sobremaneira seus usuários, em suas tomadas de decisões estratégicas. Isso ocorre pelo fato
da limitação hoje existente na identificação e mensuração do Capital Intelectual das
organizações pela contabilidade tradicional. O motivo dessa limitação é decorrente do fato de
a Contabilidade tradicional estar atrelada às Normas Contábeis, bem como aos Princípios
Fundamentais de Contabilidade que balizam a sua aplicação (ANTUNES, 2004) e essa
realidade restringe a aceitação de vários itens como elementos componentes do ativo, fazendo
surgir à figura do Goodwill (MARTINS, 1972).
Como pode-se perceber, Capital Intelectual são recursos não corpóreos que se
eficazmente gerenciados, podem gerar grande parte da riqueza de uma organização. Um
exemplo de empresa que utiliza fortemente o Capital Intelectual são as empresas de
tecnologia, pois percebe-se que todo seu potencial de geração de resultados está baseado em
ativos intangíveis ou Capital Intelectual. Essas empresas dependem altamente da criatividade
e pró-atividade de seus colaboradores para a geração de novos negócios. Além da capacidade
dos colaboradores, o uso intensivo de tecnologia é outro fator determinante para demonstrar a
importância do Capital Intelectual desse segmento de negócio, pois tecnologia é um ativo não
corpóreo que pode ser o diferencial relevante no desempenho de uma entidade. Com isso,
todavia, não se quer dizer que as empresas pertencentes aos demais setores produtivos não
façam uso intensivo do conhecimento, mas sim que as empresas de tecnologia são aquelas em
que o conhecimento está contido como matéria-prima e como produto gerado.
Um comentário adicional se faz necessário a algumas abordagens de mensuração que
existem sobre Capital Intelectual. Antunes e Martins (2007) citam que a metodologia mais
comumente citada na literatura é a que Capital Intelectual é visto como a diferença entre o
valor do patrimônio líquido e o valor de mercado de uma empresa. Essa maneira de
conceituar o Capital Intelectual é questionável. Pode-se, por exemplo, citar que antes da crise
financeira mundial iniciada no final de 2008, existiam empresas que possuíam seu valor de
56
mercado 4, 5, 6 vezes, ou até mais, maior que seu valor de patrimônio líquido. Após a crise
financeira essa diferença reduziu drasticamente fazendo com que a diferença entre valor de
mercado e valor de patrimônio líquido de algumas empresas praticamente desaparecesse. A
pergunta que se faz aqui é: será que em função da crise financeira as empresas perderam de
forma relevante seu ativo de Capital Intelectual e poder de geração de benefícios futuros?
Será que não existem outros fundamentos de mercado que explicam essa queda de valor de
mercado sem influenciar o Capital Intelectual? Uma avaliação preliminar permite afirmar que
não se pode qualificar diretamente o Capital Intelectual como sendo a diferença entre os
valores de mercado e de patrimônio líquido de uma empresa, pois realmente existem outros
fatores a serem considerados para essa explicação. Porém, o escopo desta pesquisa não é a
explicação desse fenômeno, logo entende-se que outros estudos poderão ser efetuados
futuramente na intenção de entender e explicar o mesmo.
Quanto à classificação do Capital Intelectual, percebe-se que não existe um consenso
quanto a sua estrutura, conforme se pode verificar nas definições de Brooking (1996);
Edvinsson e Malone (1998); e Sveiby (1998), apesar de na essência esses autores tratarem o
Capital Intelectual da mesma forma. Uma provável explicação para essa diferença de visão
pode ser explicada pela natureza abstrata dos elementos que compõe o Capital Intelectual
(Antunes, 2004).
Nos quadros 3,4 e 5 é demonstrado a classificação do Capital Intelectual segundo as
visões de Brooking (1996); Edvinsson e Malone (1998); e Sveiby (1998):
Quadro 3 – Classificação do Capital Intelectual segundo Brooking
CAPITAL INTELECTUAL
ATIVOS DE MERCADO
Representa o potencial que a empresa possui em decorrência dos intangíveis que estão relacionados ao mercado, como exemplos têm-se, a marca, clientes, fidelização de clientes, negócios recorrentes, canais de distribuição etc.
ATIVOS HUMANO
Representam os benefícios que as pessoas podem proporcionar para as empresas por meio de sua expertise, criatividade, conhecimento, habilidade para resolver problemas, empreendedorismo, pró-atividade, dentre outros.
ATIVO DE PROPRIEDADE INTELECTUAL
São ativos que necessitam de proteção legal para proporcionarem às empresas benefícios, tais como: know-how, segredos industriais, copyright, patentes, design.
ATIVO DE INFRA-ESTRUTURA
Representam as tecnologias, metodologias, processos empregados, cultura organizacional, sistemas de informação, métodos gerenciais, banco de dados, dentre outros.
Fonte: Brooking (1996, p.13-16)
57
Quadro 4 – Classificação do Capital Intelectual segundo Edvinsson e Malone
CAPITAL INTELECTUAL
CAPITAL HUMANO
Representado pelo conhecimento, a experiência, o poder de inovação e a habilidade dos empregados de uma companhia para realizar as tarefas do dia-a-dia. Inclui também os valores, a cultura e a filosofia da empresa. O capital humano não pode ser de propriedade da empresa.
CAPITAL ESTRUTURAL
Representado pelos equipamentos de informática, os softwares, os bancos de dados, as patentes, as marcas registradas e todo o resto da capacidade organizacional que apoia a produtividade daqueles empregados, ou seja, tudo o que permanece no escritório quando os empregados vão para casa. Também inclui o capital de clientes, o relacionamento desenvolvido com os principais clientes. Ao contrário do capital humano, o capital estrutural pode ser possuído e, portanto, negociado.
Fonte: Edvinsson e Malone (1998, p.10)
Quadro 5 – Classificação do Capital Intelectual segundo Sveiby
CAPITAL INTELECTUAL
ESTRUTURA EXTERNA
Representa as marcas, relações com clientes e fornecedores.
ESTRUTURA INTERNA
Representam a organização: gerência, estrutura legal, sistemas manuais, atitudes, P&D, softwares.
COMPETÊNCIA INDIVIDUAL
Representa a capacidade de agir em diversas situações para criar ativos tangíveis e intangíveis (escolaridade, experiência, empreendedorismo, etc).
Fonte: Sveiby (1998, p.14)
Analisando-se as três visões anteriormente mencionadas, pode-se identificar que os
autores tratam o Capital Intelectual da mesma forma, porém com abordagens diferentes, pois
enquanto Brooking utiliza a palavra ativo para os elementos do Capital Intelectual, os demais
autores utilizam expressões que dão o entendimento de tratamento dos elementos do Capital
Intelectual como recursos. O Capital Estrutural de Edvinsson e Malone contém os Ativos de
Mercado, de Propriedade Intelectual e de Infra-Estrutura utilizado por Brooking. O único
autor a empregar a expressão ativo intangível em sua definição foi Sveiby. O importante a
destacar é que a junção de todos esses elementos é o que poderá trazer benefícios às
organizações com a criação de valor para as mesmas (ANTUNES, 2004).
58
Sendo assim, pode-se assumir que o Capital Intelectual representa ativos com grande
potencial de geração de valor às empresas. Em função do rápido crescimento da economia
baseada no conhecimento, o Capital Intelectual das empresas tem aparecido como um recurso
sustentável de vantagem competitiva. Esse tipo de ativo tem emergido como um direcionador
crítico de lucratividade e de geração de valor a longo prazo (BOSE e OH, 2004, p.347). Os
autores também evidenciam que as empresas devem investir em Capital Intelectual não
apenas para manter sua competitividade, mas para alcançar retornos acima da média a seus
acionistas.
Tayles, Pike e Sofian (2007, p.522 e 529) comentam em seu trabalho, que é altamente
reconhecido, que o Capital Intelectual, na forma de conhecimento, experiência, habilidades
profissionais, bons relacionamentos e capacidade tecnológica são os maiores recursos de
vantagem competitiva corporativa e que o mesmo pode ter um impacto significante na criação
de valor e no valor das empresas.
Por fim, vale ressaltar dois trabalhos que analisam o relacionamento do Capital
Intelectual e o desempenho das empresas. Um primeiro, elaborado por Zéghal e Maaloul
(2010, p.39-60), cujo objetivo foi analisar o valor adicionado como um indicador de Capital
Intelectual, e seus impactos no desempenho das empresas. Esse pesquisa foi conduzida no
Reino Unido com 300 empresas, divididas em 3 grupos: empresas de alta tecnologia,
tradicionais e de serviços. Os autores chegaram à conclusão que o Capital Intelectual afeta o
desempenho das empresas pelo fato de poder reduzir os custos de produção das mesmas,
aumentando, consequentemente, seus lucros, além do poder de criação de valor aos
stockholders e os stakeholders.
O segundo, elaborado por Ting e Lean (2009, p.588-599), teve como objetivo
examinar o desempenho do Capital Intelectual e seu relacionamento com o desempenho
financeiro de bancos da Malásia, no período de 1999 a 2007. Como achados do trabalho os
autores chegaram à conclusão que aumentos na eficiência de criação de valor influenciam
positivamente a rentabilidade de uma empresa. Porém, é necessário maximizar a utilização de
recursos, especificamente os relacionados ao Capital Intelectual de bancos, com o intuito de
maximizar os lucros da empresa.
Assim, chega-se a conclusão que o Capital Intelectual, por ser um recurso que afeta o
desempenho, deve ser reconhecido, mensurado e avaliado nas análises econômico-financeira
das empresas e também, utilizado para identificação de seu poder de geração de fluxos de
caixas positivos futuros.
59
• Processo de geração do Capital Intelectual
No processo de geração do Capital Intelectual, tem-se o elemento humano com papel
de destaque, face o mesmo possuir o domínio do conhecimento, que pode gerar benefícios às
organizações. Dessa forma, esse elemento precisa ser visto como um ativo (recurso) que
necessita de investimentos para aumentar seu potencial de geração de benefícios, não sendo
mais possível enxergar esse elemento como custo ou despesa (CRAWFORD, 1994).
A figura 3, na sequência, demonstra o processo de geração do Capital Intelectual,
considerando o elemento humano como ativo (recurso), gerador de benefícios às
organizações, segundo modelo desenvolvido por Antunes e Martins (2007).
Figura 3 – Esquema do processo de geração do Capital Intelectual Fonte: Antunes e Martins (2007, p.15)
No processo demonstrado na figura 3, tem-se que os gestores, baseados na missão da
empresa, fazem investimentos (recursos financeiros) no elemento humano, propiciando
condições do mesmo se desenvolver, com o objetivo de gerar benefícios à empresa. O
elemento humano, por meio de suas habilidades, inteligência, expertise, conhecimento, dentre
outros, gera o recurso do conhecimento que, somando com os demais recursos físicos
específicos e recursos financeiros, materializa-se nos ativos de infra-estrutura, ativos de
mercado e ativos de propriedade intelectual. Assim, a interação desses ativos, juntamente com
a gestão do conhecimento, contribui para um melhor desempenho da empresa, podendo gerar-
lhe um valor a mais (ANTUNES e MARTINS, 2007, P.15).
Capital Intelectual
Missão
Gestor
Recursos Físicos Financeiros
Ativos H
umanos
Condições de trabalho
Recurso do conhecimento
Gestão do conhecimento
área de RH Específicos
Recursos Físicos
Específicos e Recursos
Financeiros
Contribuição do CI para o Valor
da Empresa
Ativo de Infra-estrutura
Ativo de Mercado
Ativo de Propriedade Intelectual
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• Reconhecimento e Mensuração do Capital Intelectual
Nos dias atuais, ainda não existem modelos e técnicas padronizadas para o
reconhecimento e mensuração do Capital Intelectual. Antunes (2002, p.42) cita que existe a
percepção do mercado de que os relatórios fornecidos pela contabilidade financeira ou
tradicional não retratam certas realidades das empresas. Essa realidade tem sido interpretada
pelo mercado como uma falha da contabilidade em lidar com novos valores da sociedade.
Sveiby (1998, p.193), no mesmo sentido, comenta que até o momento, os sistemas de
avaliação de ativos intangíveis têm sido prejudicados pelo uso de variáveis financeiras e que
os fluxos de conhecimento e ativos intangíveis, por não serem elementos financeiros, exigem
medidas tanto financeiras como não financeiras para sua mensuração.
Uma provável resposta para esse problema é que os ativos intangíveis, principalmente
os relacionados ao Capital Intelectual, são extremamente subjetivos e de difícil mensuração.
Sobre esse aspecto, Marr, Gray e Neely (2003, p.441) afirmam que apesar da importância do
Capital Intelectual em prover benefícios às empresas, é essencial que pesquisadores sobre o
assunto tenham condições de justificar esses pressupostos teóricos, por intermédio de testes
empíricos rigorosos.
Na mesma direção, Liebowtz e Suen (2000, p.54) comentam que mensurar o Capital
Intelectual é uma área de interesse em crescimento, dentro do campo do gerenciamento do
conhecimento, sendo que métricas estão sendo desenvolvidas e aplicadas por algumas
organizações, porém, existe a necessidade de se ampliar as pesquisas para melhor se
sistematizar essas mensurações.
Entende-se que essas preocupações fazem sentido pelo fato de que erros na avaliação
de ativos das empresas podem prejudicar, sobremaneira, a tomada de decisão efetuada pelos
usuários das informações contábeis. Dessa forma, se torna muito oportuno o comentário de
Antunes (2004, p. 257) sobre o fato de que todos os esforços em relação ao tema Capital
Intelectual e aos Ativos Intangíveis devem ser dirigidos para a Contabilidade Gerencial e que
estudos, no sentido de identificar, mensurar e registrar esses investimentos e contemplá-los
nos sistemas de informação gerenciais das organizações devem ser priorizados.
O único adendo a essa afirmação refere-se ao fato de que contemplando o Capital
Intelectual somente nos sistemas de contabilidade gerencial fará com que essa informação
fique restrita a um grupo reduzido de pessoas/usuários, pois, de acordo com a obra de
Anthony e Govindarajan (2008), o sistema de controle gerencial ou contabilidade gerencial, é
61
voltado aos usuários internos, ou seja, voltado a estratégia da empresa. Dessa maneira, a
assimetria de informação torna-se mais acentuada e prejudicial para os usuários externos da
informação contábil.
Prestar contas à sociedade é uma das funções das organizações em função do alto
relacionamento que existe entre empresas e pessoas. A divulgação financeira deve fornecer
informação útil à tomada de decisão racional de investimento, concessão de crédito, dentre
outros, para investidores e credores atuais e futuros, bem como outros usuários
(HENDRIKSEN e BREDA, 2007, p.511). Dessa forma, evidencia-se que a divulgação ao
mercado de informações sobre o Capital Intelectual poderá trazer benefícios às empresas e à
sociedade como um todo, pela transparência e entendimento dos negócios das empresas.
Outro ponto importante a destacar, é que tais divulgações tendem a reduzir a assimetria
informacional entre a empresa e as pessoas interessadas em informações sobre a mesma
(IUDÍCIBUS, 1987, P.92 e HENDRIKSEN e BREDA, 2007, p.139).
• Definição de Goodwill
Hendriksen e Breda (2007, p.392) comentam que o goodwill é o mais importante ativo
intangível na maioria das empresas, pois o mesmo representa recursos ocultos com grande
potencial de geração de benefícios, além de ser o ativo de tratamento mais complexo, em
função da dificuldade de reconhecimento e mensuração.
Ernest & Young e FIPECAFI (2009, p.325) citam que de acordo com as normas
internacionais de contabilidade – IFRS 3 – goodwill representa os benefícios econômicos
futuros decorrentes de ativos que não poderão ser identificados individualmente e
reconhecidos separadamente.
Para uma melhor compreensão do significado do goodwill, apresenta-se a seguir os
quadros 6 e 7, que versarão sobre a classificação do goodwill, na ótica de Coyngton e Paton e
Paton, encontrados em Martins (1972, p.73-74):
62
Quadro 6 – Classificação do goodwill, segundo Coyngton
GOODWILL
COMERCIAL
Criado em função, exclusivamente, de toda empresa, independentemente das pessoas proprietárias ou administradoras.
PESSOAL
Decorre de uma ou várias pessoas que integram a empresa, sendo proprietárias ou administradoras.
PROFISSIONAL
Desenvolvido por uma classe profissional que cria uma imagem que a distingue dentro da sociedade, propiciando condições de alta remuneração.
EVANESCENTE
Característico de certos produtos que a moda cria e, portanto, possuem curta duração.
DE NOME OU MARCA COMERCIAL
Ocasionado pela imagem do nome da empresa que produz o produto ou da marca sob a qual é comercializado.
Fonte: Martins (1972, p.74)
Quadro 7 – Classificação do goodwill, segundo Paton e Paton
GOODWILL
COMERCIAL
Decorrente de serviços colaterais, como equipe cortês de vendedores, entregas convenientes, facilidade de crédito, dependências apropriadas para serviços de manutenção, qualidade do produto em relação ao preço, atitude e hábito do consumidor como fruto de nome comercial e marca tornados proeminentes em função de propaganda persistente, localização da firma.
INDUSTRIAL
Decorrente de altos salários, baixo turnover de empregados, oportunidades internas satisfatórias para acesso a posições hierárquicas superiores, serviço médico, sistema de segurança adequado, desde que tais fatores contribuam para a boa imagem da empresa e também para a redução do custo unitário de produção em virtude da eficiência de uma força de trabalho operando nessas condições.
FINANCEIRO
Derivado da atitude de investidores e de fontes de financiamento e de crédito em virtude de a empresa possuir sólida situação para cumprir suas obrigações e manter sua imagem ou, ainda, obter recursos financeiros que lhe permitam aquisições de matéria-prima ou de mercadorias em melhores termos e preços.
POLÍTICO
Em decorrência de boas relações com o Governo.
Fonte: Martins (1972, p.73)
63
Analisando-se as definições e classificações do goodwill, percebe-se a proximidade
que o mesmo possui ao Capital Intelectual. Isso é reforçado pelos comentários tecidos por
Brooking (1996, p.12), onde a referida autora comenta que o nascimento do Capital
Intelectual deu-se quando o primeiro vendedor estabeleceu um bom relacionamento com seu
cliente, o que se denominou goodwill.
Edvinsson e Malone (1998, p.22) comentam que goodwill pode ser considerado como
a lealdade dos clientes, o reconhecimento de um nome empresarial que existe há décadas, a
localização comercial, ou até mesmo, o caráter dos empregados. Esses conceitos dos autores
sobre o goodwill estão intimamente ligados ao do Capital Intelectual.
Todavia, vale mencionar o estudo realizado por Antunes (1999) em que ela conclui
que o Capital Intelectual e o goodwill fazem parte do mesmo fenômeno e que as
características de um estão fortemente presentes no outro, mas que não são sinônimos, visto
que o Capital Intelectual vem identificar alguns fenômenos que enquanto não identificados
compõem o Goodwill. Pode-se dizer então que, enquanto não identificado e adequadamente
mensurado, o Capital Intelectual situa-se dentro do goodwill e percebe-se, dessa maneira, que
ambos possuem o potencial de geração de benefícios econômicos às empresas.
64
CAPÍTULO 3
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1. Tipo de Pesquisa
Este estudo se caracteriza como do tipo exploratório e descritivo. Exploratório porque
se trata de um proposição de aperfeiçoamento dos modelos de gestão de risco de crédito dos
bancos por meio da inclusão dos ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual tendo
em vista o Novo Acordo de Capitais - Basileia II; além disso se buscou maior conhecimento
sobre o grau de entendimento dos gestores de bancos brasileiros a respeito dos benefícios da
identificação, mensuração e utilização desses ativos, além da sugestão de proposta.
A utilização da pesquisa exploratória ocorre quando há pouco conhecimento sobre o
assunto estudado e dessa forma busca-se conhecer com mais profundidade o assunto em
questão de modo a torná-lo mais claro (BEUREN, 2009, p.80; COLLIS e HUSSEY, 2005,
p.24; GIL, 2002, p.41). Este estudo também é descritivo porque a partir de uma população
específica (bancos brasileiros) se descreveu o processo de utilização, ou não, das informações
não financeiras, especificamente as relacionadas ao Capital Intelectual, no gerenciamento de
risco de crédito dos bancos à luz do Novo Acordo de Capitais - Basileia II de forma a se
analisar a possibilidade de serem incluídos esses elementos.
Segundo Collis e Hussey (2005, p.24), pesquisas descritivas são aquelas que
descrevem o comportamento dos fenômenos, sendo utilizada para identificar e obter
informações sobre as características de um determinado problema ou questão. Oliveira (1999)
comenta que nas pesquisas descritivas é necessário um planejamento rigoroso quanto à
definição de métodos e técnicas para a coleta e análise de dados. O referido autor recomenda
que para esse tipo de pesquisa se utilizem informações obtidas por meio de estudos
exploratórios.
Assim sendo, este estudo enquadrou-se no paradigma de pesquisa fenomenológico.
Esse paradigma de pesquisa se interessa em entender o comportamento humano a partir da
estrutura de referência do pesquisador e presume-se que a realidade social está dentro das
pessoas (COLLIS e HUSSEY, 2005, p.59).
65
3.2. Método de Pesquisa
De acordo com Richardson (2007), método de pesquisa é a escolha de procedimentos
sistemáticos para a descrição e explicação de fenômenos em ciências sociais. Sendo assim,
segundo o autor, existem dois grandes métodos de pesquisa: o quantitativo e o qualitativo. O
método quantitativo caracteriza-se pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta
quanto no tratamento dos dados; já o método qualitativo se caracteriza pelo poder de
descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis,
compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais (BEUREN, 2009,
p.92). Assim sendo, neste estudo fez-se uso do método qualitativo para a coleta e tratamento
dos dados, conforme evidenciado mais adiante nos itens 3.4 e 3.5, pois julgou-se ser a forma
mais adequada para se responder à questão de pesquisa deste estudo atingindo-se aos
objetivos geral e específicos propostos.
3.3. População e Amostra
Segundo Marconi e Lakatos (2002, p. 41), população ou universo é o conjunto de
seres animados ou inanimados que apresentam pelo menos uma característica em comum.
Para Gil (2002), população ou universo é o conjunto de elementos que possuem determinadas
características.
População ou universo é o conjunto de elementos que possuem determinadas
características (MARCONI e LAKATOS, 2002; RICHARDSON, 2007; GIL, 2009).
Assim sendo, a população alvo do presente estudo foi composta pelos gestores
(Diretores e Gerentes) de risco dos bancos brasileiros. Considerou-se banco brasileiro toda
instituição financeira que opera no Brasil e que divulga informações financeiras e contábeis
ao mercado, independentemente se o mesmo possuir sócios ou controladores estrangeiros
Para se identificar os bancos de forma a se compor a amostra deste estudo, adotou-se
o critério de valor de ativos. Para tanto, partiu-se da premissa de que os bancos com maiores
ativos tendem a possuir maiores carteiras de crédito e, consequentemente, processos e
modelos de gerenciamento de risco de crédito mais bem elaborados.
Assim sendo, foram selecionados os 8 bancos conforme exibe a Tabela 1, os quais
representam parcela relevante do total de bancos brasileiros (52,6% do total de ativos do
Sistema Financeiro Nacional). Os gestores dos outros bancos pertencentes aos dez maiores
66
bancos do Sistema Financeiro Nacional, em termos de ativos totais, também foram
convidados a participar da pesquisa, porém não se manifestaram a respeito.
Assim, tem-se como amostra final do estudo os gestores dos seguintes bancos:
Bradesco, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Votorantim, Santander, Alfa, Industrial
e Comercial e Cruzeiro do Sul, conforme evidencia a Tabela 1.
Tabela 1: Representatividade da amostra frente à população - bancos
BANCOS
ATIVOS TOTAIS
FINANCEIROS
BASE 30/06/2010
Reais milhões
%
BANCO DO BRASIL 729.977 18,2
BANCO BRADESCO 495.622 12,4
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL 381.238 9,5
BANCO SANTANDER 366.047 9,1
BANCO VOTORANTIN 102.050 2,5
BANCO ALFA
BANCO INDUSTRIAL E COMERCIAL
BANCO CRUZEIRO DO SUL
12.596
14.498
8.238
0,3
0,4
0,2
SUBTOTAL 2.110.266 52,6
TOTAL DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
4.011.864 100,0
Fonte: sitio BACEN, 2010.
3.4. Procedimentos de Coleta de Dados: instrumento e técnica
Os procedimentos para a coleta dos dados foram divididos em duas fases de acordo
com os objetivos específicos estabelecidos para este estudo, a saber:
3.4.1. Primeira fase da coleta de dados: objetivos específicos 1 e 2
Inicialmente foi feito contato por meio telefônico, e por meio de e-mail, com os
gestores das áreas de gestão de riscos de crédito e análise de crédito de cada banco
67
pertencente a amostra para explicar os motivos e a importância da pesquisa, convidando os
responsáveis pela gestão de riscos de crédito a participar do estudo.
Para a coleta dos dados foi desenvolvido um questionário eletrônico pela internet,
através do link:< http://www.surveymonkey.com/s/GQ26MMF>
O questionário eletrônico foi estruturado com perguntas abertas e fechadas. De acordo
com Hill e Hill (2008), a construção de um questionário equivale a traduzir os objetivos da
pesquisa em questões específicas, refletindo cuidadosamente o objetivo geral, ou seja, a
informação que se procura.
(APÊNDICE A). Diante da
concordância, foi enviado a eles o questionário eletrônico por e-mail na forma de uma carta
convite com o link de acesso (APÊNCIDE B). O envio do convite aos respondentes foi
efetuado em setembro de 2010.
As perguntas fechadas foram utilizadas para se obter: (i) informações demográficas e
funcionais dos respondentes; (ii) informações cadastrais de cada banco; e (iii) respostas
escolhidas pelos respondentes através de alternativas fornecidas pelo pesquisador (questões de
múltipla escolha). As questões abertas foram utilizadas para as respostas descritivas,
elaboradas pelo próprio respondente (HILL e HILL, 2008, p.93). As perguntas abertas são
bastante indicadas na situação em que o pesquisador tem pouca informação sobre o assunto
ou deseja saber sobre o assunto (RICHARDSON, 2007).
Os quadro 8, 9, 10 e 11 apresentam a relação de questões constantes no questionário
identificadas aos objetivos específicos 1 e 2 da pesquisa e seu tipo.
Quadro 8 : Caracterização do respondente
PERGUNTA\AFIRMAÇÃO TIPO Cargo no banco Fechada
Formação acadêmica Fechada
Formação na graduação Fechada
Formação na Pós-graduação Fechada
Área de atuação na banco Fechada
Tempo em que atua no banco Fechada
Tempo em que atua na área atual Fechada
Idade Fechada
Nome do banco Aberta
Nome do respondente (opcional) Aberta
68
Definição de informações financeiras e não financeiras para fins desse estudo:
Informações financeiras são aquelas evidenciadas e obtidas através das Demonstrações
Contábeis das empresas.
Informações não financeiras
são aquelas não evidenciadas nas Demonstrações
Contábeis das empresas, sendo obtidas de outras formas.
Quadro 9 : Bloco A - Estrutura atual dos modelos de gestão de riscos de crédito dos bancos
PERGUNTA\AFIRMAÇÃO TIPO 1. O banco já está adotando as regulamentações de Basileia II para o Gerenciamento de
Risco de Crédito?
Fechada
2. Em caso positivo na resposta anterior, qual é a metodologia escolhida/utilizada pelo
banco para a Gestão de Riscos de Crédito?
Fechada
3. Se a resposta anterior for IRB, qual é o tipo? Fechada
4. Assinale quais ferramentas de Gestão de Riscos de Crédito são utilizadas pelo banco:
Creditscoring; Analise julgamental; e Outros (qual)?
Fechada
5. Comente a finalidade de cada ferramenta citada na questão anterior. Aberta
6. Antes das regulamentações de Basileia II, o banco já possuía modelos internos de
avaliação e gerenciamento de Risco de Crédito?
Fechada
7. Em caso negativo na questão anterior, favor explicar como eram os modelos de
avaliação e gerenciamento de Risco de Crédito do banco.
Aberta
(eliminada)
8. Qual tipo de informação de empresas o banco utiliza em seus modelos de Gestão de
Riscos de Crédito?
Fechada
9. Justificar a resposta anterior sobre os motivos de utilização de informações não
financeiras nos modelos.
Aberta
10. Caso a resposta a pergunta 8 for “financeiras e não financeiras”, favor elencar as
principais informações “não financeiras” que são utilizadas pelo banco em seus modelos
de gerenciamento de risco de crédito.
Aberta
11. No caso do banco utilizar em seus modelos informações “Financeiras e Não
Financeiras”, essas informações foram incorporadas aos modelos de gerenciamento de
risco de crédito somente após as determinações de Basileia II?
Fechada
69
12. Onde são obtidas as principais informações (financeiras e não financeiras) das empresas
para o banco incluir em seus modelos de Gerenciamento de Risco de Crédito? Exemplo:
Demonstrações Contábeis, Serasa, Agências de Ratings, etc.
Aberta
13. Basileia II trouxe oportunidades de inovações e aperfeiçoamentos nos modelos de
Gerenciamento de Riscos de Crédito do banco.
Escala Likert
(fechada)
14. Basileia II trouxe mais flexibilidade para a utilização de informações não financeiras
nos modelos de Gestão de Riscos de Crédito do banco.
Escala Likert
(fechada)
15. O banco entende que após Basileia II ficou mais fácil a inclusão de informações sobre o
Capital Intelectual nos modelos de Gestão de Riscos de Crédito.
Escala Likert
(fechada)
16. As Demonstrações Contábeis atuais disponibilizam informações suficientes para avaliar
a situação econômico-financeira de uma empresa para os modelos de Gestão de Riscos
de Crédito do banco.
Escala Likert
(fechada)
Quadro 10 : Bloco B – Relevância de se contemplar os ativos intangíveis nos modelos de gestão de riscos de crédito dos bancos
PERGUNTA\AFIRMAÇÃO TIPO 1. Ao se analisar uma empresa, as informações não financeiras são importantes e
relevantes para o aperfeiçoamento dos modelos de gerenciamento de risco de crédito do
banco.
Escala Likert
(fechada)
2. Os sistemas de Gestão de Riscos de Crédito do banco estão preparados para trabalhar
com informações não financeiras das empresas.
Escala Likert
(fechada)
3. Os analistas de crédito do banco estão preparados para analisar informações não
financeiras das empresas para o correto gerenciamento de risco de crédito.
Escala Likert
(fechada)
4. Ao se analisar uma empresa, informações sobre ativos intangíveis são importantes e
relevantes para a correta avaliação de riscos de uma empresa.
Escala Likert
(fechada)
5. Os analistas de crédito do banco estão preparados para analisar informações sobre ativos
intangíveis das empresas para o correto gerenciamento de riscos de crédito das mesmas.
Escala Likert
(fechada)
6. Os sistemas de Gestão de Riscos de Crédito do banco estão estruturados para trabalhar
com informações sobre ativos intangíveis das empresas.
Escala Likert
(fechada)
7. Os modelos atuais do banco de Gerenciamento de Risco de Crédito efetivamente
contemplam informações sobre ativos intangíveis das empresas.
Escala Likert
(fechada)
8. As informações utilizadas pelo banco sobre ativos intangíveis, para inclusão em seus
modelos de gerenciamento de risco de crédito, são apenas aquelas evidenciadas nas
Demonstrações Contábeis das empresas.
Escala Likert
(fechada)
70
9. As informações sobre ativos intangíveis não evidenciadas nas Demonstrações Contábeis
das empresas são utilizadas pelo banco para inclusão em seus modelos de Gestão de
Risco de Crédito? Em caso afirmativo, como são obtidas essas informações?
Aberta
10. Favor assinalar quais tipos de informação sobre ativos intangíveis o banco considera
importante/relevante para inclusão em seus modelos de Gerenciamento de Risco de
Crédito?
( ) Marca
( ) Relacionamento com clientes
( ) Canais de distribuição
( ) Investimentos em treinamento dos colaboradores
( ) Nível escolar dos gerentes e diretores da empresa
( ) Patentes registradas da empresa
( ) Cultura organizacional
( ) Sistemas de informações
( ) Investimentos em Tecnologia e informática
( ) Valor de Mercado da empresa
( ) Reputação da empresa
( ) Imagem da empresa
( ) Nível de governança
( ) Relacionamento com fornecedores
( ) Freqüência de lançamentos de novos produtos
Fechada
Definição de Capital Intelectual para fins desse estudo:
Capital Intelectual é o somatório do conhecimento proveniente das habilidades
aplicadas dos membros de uma organização com a finalidade de trazer vantagem competitiva,
materializando-se em marcas, novos produtos, processos eficientes, bons relacionamentos
com os clientes, desenvolvimento de novas tecnologias etc (Antunes, 2004).
Quadro 11: Bloco C – Relevância de se contemplar o Capital Intelectual nos modelos de gestão de riscos de crédito dos bancos
PERGUNTA\AFIRMAÇÃO TIPO 1. Os membros de minha organização conhecem e utilizam em seus processos o conceito
de Capital Intelectual.
Escala Likert
(fechada)
2. O Capital Intelectual é considerado pelo banco um ativo gerador de valor e de
benefícios futuros das empresas e precisa ser corretamente mensurado e avaliado para os
modelos de gerenciamento de risco de crédito.
Escala Likert
(fechada)
71
3. A mensuração do Capital Intelectual das empresas é um item importante para o banco
para inclusão nos seus modelos de Gerenciamento de Risco de Crédito.
Escala Likert
(fechada)
4. Efetivamente, os modelos atuais do banco de Gestão de Riscos de Crédito contemplam
informações sobre a avaliação e mensuração do Capital Intelectual das empresas.
Escala Likert
(fechada)
5. As empresas que melhor evidenciam o valor de seu Capital Intelectual possuem mais
vantagens ou melhores pontuações nos modelos de Gestão de Risco de Crédito do
banco.
Escala Likert
(fechada)
6. Para o banco, gastos com treinamentos de colaboradores são considerados investimentos
que trazem benefícios futuros, ou seja, retornos para as empresas.
Escala Likert
(fechada)
7. O banco já desenvolveu um modelo específico para avaliação e mensuração do Capital
Intelectual das empresas para o gerenciamento de risco de crédito.
Escala Likert
(fechada)
8. O Capital Intelectual é um item não avaliado e considerado pelo banco em seus modelos
de gerenciamento de risco de crédito.
Escala Likert
(fechada)
9. O banco entende que investimentos em Capital Intelectual podem reduzir custos futuros
das empresas.
Escala Likert
(fechada)
10. O investimento em Capital Intelectual pode melhorar o fluxo de caixa futuro de uma
empresa?
Escala Likert
(fechada)
11. O banco mensura e avalia o Capital Intelectual de uma empresa para inseri-lo nos
modelos de Gestão de Riscos de Crédito? Em caso afirmativo, como é feito esse
processo?
Aberta
12. Em caso negativo a pergunta anterior, favor justificar os motivos que levaram o banco a
não considerar o Capital Intelectual como um item a ser avaliado e considerado em seus
modelos de gerenciamento de risco de crédito, se for o caso.
Aberta
13. Para você, as informações sobre ativos intangíveis e do Capital Intelectual devem ou
deveriam ser inseridos nos modelos de risco de crédito de qual segmento de negócio:
( ) Segmento de grandes empresas
( ) Segmento de médias empresas
( ) Segmento de pequenas empresas
( ) Em todos os segmentos acima
( ) Outros
Fechada
14. Em suma, como você descreve resumidamente o status atual da utilização dos ativos
intangíveis e do Capital Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de crédito do
seu banco?
Aberta
72
3.4.2. Segunda fase da coleta de dados: objetivo específico 3
Nesta fase da pesquisa foi realizada uma análise de caso no Banco Titânio (nome
fictício) para entendimento de como é o processo de gerenciamento de riscos de crédito no
banco e se existe algum tratamento dos ativos de Capital Intelectual nesses modelos. Também
foi possível verificar se por intermédio da possibilidade dada pelo Novo Acordo de Capitais -
Basileia II, o banco estava utilizando em seus modelos de gestão de riscos de crédito
informações sobre ativos intangíveis importantes para a correta avaliação de riscos das
empresas.
De acordo com Gil (2009, p.4), na análise de casos o pesquisador dispõe de um
conjunto de informações e dados já disponíveis, acerca de um grupo, organização,
comunidade, fato ou fenômeno que podem ser analisados com propósitos diversos cabendo ao
pesquisador conferir-lhes tratamento analítico, sendo adotado como um dos procedimentos
fundamentais nos estudos exploratórios. Dessa forma, não se confunde com o método do
estudo de caso, pois este envolve procedimentos de planejamento, coleta, análise e
interpretação de dados.
Assim sendo, este estudo foi desenvolvido junto à área responsável pela modelagem
de risco de crédito do Banco Titânio, por meio de seus Gerentes.
Também nesta fase coletou-se elementos que permitiram propor o aperfeiçoamento
dos modelos atuais de gestão de riscos de crédito do banco, por meio da inclusão de
variáveis relacionadas ao Capital Intelectual, conforme descrito no capítulo 4.
3.5. Procedimentos de Tratamento de Dados
Na primeira fase da pesquisa (objetivos específicos 1 e 2), primeiramente os dados
relativos às perguntas fechadas foram organizados em tabelas de frequência e gráficos para a
realização de análises descritivas, conforme orienta Stevenson (1981). Para a análise
descritiva dos dados, não houve a necessidade de resumir os dados, pelo fato da amostra ser
considerada pequena. Dessa forma os dados foram analisados individualmente.
As perguntas abertas, também relativas a primeira fase da pesquisa, foram analisadas
de acordo com a técnica de análise de dados qualitativos denominada por Análise de
Conteúdo.
73
A análise de conteúdo é uma maneira de converter sistematicamente textos em
variáveis numéricas para a análise qualitativa de dados (MOSTYN, 1995, apud COLLIS e
RUSSEY, 2005, p.240). Segundo Godoy (1995), na análise de conteúdo utiliza-se de técnicas
quantitativas e/ou qualitativas condensando os resultados em busca de padrões, tendências ou
relações implícitas cuja interpretação deverá ir além do conteúdo manifesto dos documentos,
pois o que interessa ao pesquisador é o conteúdo latente, ou seja, o sentido que está por trás
do imediatamente aprendido. Dessa forma, a análise de conteúdo se mostra aderente a esse
tipo de estudo.
Na segunda fase da pesquisa (objetivo específico 3), foi utilizado o procedimento de
entendimento dos fluxos dos processos de inclusão de novas variáveis nos modelos/técnicas
de gerenciamento de risco de crédito da unidade em análise (Banco Titânio – nome fictício),
através da verificação “in loco” dos processos atuais e, também, através de reuniões com os
gerentes responsáveis pela área de modelagem de risco de crédito do banco. Esse
procedimento permitiu a compreensão dos fluxos de processos reais do banco e de quais são
suas formas de avaliação de riscos de crédito e, ainda, de como o Capital Intelectual poderia
ser inserido nesse contexto, pois o banco não possui tratamento específico para esse tipo de
ativo. Tal observação serviu como orientadora para a proposição de melhoria do modelo atual
com a inserção de informações dos ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual nos
modelos de gestão de risco de crédito do banco. Os ativos relacionados ao Capital Intelectual
que foram tratados na proposta de melhoria dos processos de gerenciamento de risco de
crédito do Banco Titânio foram identificados através das respostas dos respondentes ao
questionário relativo à primeira fase da pesquisa.
A pedido da Instituição foi mantido o seu anonimato e utilizou-se um nome fictício
para o banco (Banco Titânio), visto tratar-se da disponibilização de informações e processos
estratégicos. Todavia, vale ressaltar que todos os processos e fluxos descritos nesta pesquisa
(atuais e propostos) condizem fielmente aos processos do banco e os mesmos foram
analisados e validados pelos especialistas em modelagem de risco de crédito do mesmo.
3.6. Desenho da Pesquisa
A Figura 4 apresenta o desenho desta pesquisa. No APÊNDICE C tem-se a Matriz de
Amarração que possibilita a visão geral do estudo em termos da sequência metodológica que
foi seguida para se atender aos objetivos específicos descritos no item 1.4 desta dissertação.
74
Figura 4 – Desenho da Pesquisa
Fonte: Elaborado pelo autor
GERENCIAMENTO DE RISCO DE CRÉDITO COM ELEMENTOS DE CAPITAL INTELECTUAL
CAPITAL INTELECTUAL
GERENCIAMENTO DE RISCO DE
CRÉDITO
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
TEORIA – LIVROS,
ARTIGOS, ETC
PESQUISA DOCUMENTAL
LEIS, REGULAMENTO,
NORMAS
PESQUISA DE CAMPO BANCOS
BRASILEIROS
ENTENDIMENTO DA SITUAÇÃO ATUAL E DA IMPORTÂNCIA DOS ATIVOS INTANGÍVEIS E DO CAPITAL INTELECTUAL PARA OS PROCESSOS DE GESTÃO DE
RISCO DE CRÉDITO DOS BANCOS OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1 E 2
ANÁLISE DE CASO – BANCO TITÂNIO (NOME FICTÍCIO) ESTUDO PARA O APERFEIÇOAMENTO DOS MODELOS DE GERENCIAMENTO DE
RISCOS DE CRÉDITO COM ELEMENTOS DE CAPITAL INTELECTUAL
SISTEMÁTICA DE INCLUSÃO DOS ATIVOS INTANGÍVEIS (CAPITAL INTELECTUAL) NOS MODELOS/TÉCNICAS DE GERENCIAMENTO DE RISCO DE CRÉDITO
OBJETIVO ESPECÍFICO 3
CONCLUSÕES DO ESTUDO
LIMITAÇÕES E SUGESTÕES PARA NOVAS PESQUISAS
75
CAPÍTULO 4
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
A apresentação dos resultados deste estudo está dividida em duas partes. Na primeira
caracterizam os respondentes e apresentam-se os resultados das respostas dos gestores
(Diretores e Gerentes) da área de gestão de risco de crédito dos bancos que compuseram a
amostra e que atendem aos objetivos específicos 1 e 2. Na segunda parte, apresenta-se a
proposta de aperfeiçoamento do modelo do Banco Titânio (nome fictício) para o processo de
gerenciamento de risco de crédito, incorporando-se os elementos intangíveis, principalmente
os relacionados ao Capital Intelectual, cumprindo-se assim ao objetivo específico 3.
4.1 Resultados das respostas dos questionários com Diretores e Gerentes dos bancos
Caracterização dos respondentes
Com o propósito de estabelecer o perfil dos respondentes, conforme indicado no
capítulo precedente deste estudo (Tabela 1), foram calculadas frequências estatísticas dos
dados obtidos, analisadas na sequência.
Dos 8 bancos selecionados para este estudo, obteve-se o retorno de 14 questionários.
Esses questionários são referentes aos gestores dos bancos Bradesco, Banco do Brasil, Caixa
Econômica Federal, Votorantim, Santander, Alfa, Industrial e Comercial e Cruzeiro do Sul.
Desses, 7 são de Diretores e 7 são de Gerentes, conforme evidencia a Tabela 2.
Tabela 2: Bancos e cargo dos respondentes
Banco Diretor Gerente Total
Banco Bradesco 1 1 2Banco do Brasil 0 2 2Caixa Econômica Federal 1 1 2Banco Votorantim 1 1 2Banco Santander 1 1 2Banco Alfa 1 1 2Banco Industrial e Comercial 1 0 1Banco Cruzeiro do Sul 1 0 1Total 7 7 14
76
As Tabelas 3, 4 e 5 demonstram, respectivamente, a área de atuação, o tempo na área
de atuação e o tempo de atuação no banco dos respondentes.
Tabela 3: Perfil dos respondentes quanto à área de atuação
área de atuaçãoFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
Gestão de Riscos Corporativos 4 57.1% 4 57.1% 8 57.1%Contabilidade/Controladoria 0 0.0% 0 0.0% 0 0.0%Crédito 3 42.9% 3 42.9% 6 42.9%Outros 0 0.0% 0 0.0% 0 0.0%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
Tabela 4: Perfil dos respondentes quanto ao tempo de atuação em suas áreas
Tempo em que atua na áreaFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
1 a 5 anos 3 42.9% 2 28.6% 5 35.7% 6 a 10 anos 1 14.3% 3 42.9% 4 28.6% 11 a 15 anos 2 28.6% 1 14.3% 3 21.4% 16 a 20 anos 0 0.0% 1 14.3% 1 7.1% mais de 20 anos 1 14.3% 0 0.0% 1 7.1%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
Tabela 5: Perfil dos respondentes quanto ao tempo de atuação no banco
Tempo em que atua na bancoFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
1 a 5 anos 1 14.3% 1 14.3% 2 14.3% 6 a 10 anos 2 28.6% 1 14.3% 3 21.4% 11 a 15 anos 1 14.3% 1 14.3% 2 14.3% 16 a 20 anos 1 14.3% 0 0.0% 1 7.1% mais de 20 anos 2 28.6% 4 57.1% 6 42.9%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
A Tabela 3 evidencia que se atingiu o público desejado, ou seja, 50% dos respondentes
são diretores e 50% são gerentes. Todavia, conforme evidenciado na Tabela 2, no caso do
Banco do Brasil apenas os gerentes responderam e no caso do Banco Industrial e Comercial e
do Banco Cruzeiro do Sul, apenas os diretores, não obtendo-se, portanto, a correspondência
em toda a amostra. Ainda em relação à área de atuação dos respondentes (Tabela 3), destaca-
se que, tanto no caso dos Diretores como no dos Gerentes, dos 14 respondentes, 8
profissionais (4 Diretores e 4 Gerentes) pertencem a área de Gestão de Riscos Corporativos e
6 (3 Diretores e 3 Gerentes) pertencem a área de Crédito dos bancos. Esses resultados estão
aderentes à estratégia de pesquisa que foi elaborada (Capítulo 3), pois são as áreas de Gestão
77
de Riscos Corporativos e de Crédito as principais áreas responsáveis e gestoras do processo
de gerenciamento de risco de crédito em um banco.
Com relação ao tempo de atuação em suas áreas atuais (Tabela 4), tem-se que no caso
dos Diretores, dos 7 respondentes, 3 atuam em suas áreas entre 1 a 5 anos e 2 atuam entre 11 a
15 anos. No caso dos Gerentes, evidencia-se que dos 7 respondentes, 3 atuam entre 6 a 10
anos e 2 entre 1 a 5 anos.
E com relação ao tempo em que os respondentes trabalham nos referidos bancos
(Tabela 5) tem-se que com relação aos Diretores, dos 7 respondentes, 2 estão no banco na
faixa entre 6 e 10 anos e 2 a mais de 20 anos. No caso dos Gerentes, dos 7 respondentes, 4
estão no banco a mais de 20 anos.
Em se tratando da idade dos respondentes (Tabela 6), pode-se observar que a maior
parte dos Diretores está na faixa etária entre os 41 e 46 anos (5 Diretores), seguida da faixa
etária dos 36 aos 40 anos (2 Diretores). No caso dos Gerentes, a maior parte deles encontra-
se na faixa etária dos 36 aos 40 anos (4 Gerentes), seguido por aqueles que tem mais de 46
anos (2 Gerentes).
Tabela 6: Perfil dos respondentes quanto a idade
IdadeFrequência
Diretores%
Frequência
Gerentes% Total %
20 a 25 anos 0 0.0% 0 0.0% 0 0.0% 26 a 30 anos 0 0.0% 0 0.0% 0 0.0% 31 a 35 anos 0 0.0% 0 0.0% 0 0.0% 36 a 40 anos 2 28.6% 4 57.1% 6 42.9% 41 a 46 anos 5 71.4% 1 14.3% 6 42.9% mais de 46 anos 0 0.0% 2 28.6% 2 14.3%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
A Tabela 7 evidencia a formação acadêmica dos respondentes. Pode-se verificar que a
maior parte dos Diretores possui graduação (3 diretores), sendo que 2 Diretores possuem
também mestrado. Quanto aos Gerentes, observa-se que a situação se inverte, visto que a
grande maioria possui Mestrado ou Especialização (MBA/Pós-Graduação), além da
graduação (2 Gerentes).
78
Tabela 7: Perfil dos respondentes quanto a Escolaridade
CursoFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
Graduação 3 42.9% 2 28.6% 5 35.7%Mestrado 2 28.6% 2 28.6% 4 28.6%Doutorado 0 0.0% 0 0.0% 0 0.0%Especialização (MBA/Pós Grad.) 1 14.3% 3 42.9% 4 28.6%Outro 1 14.3% 0 0.0% 1 7.1%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
A Tabela 8 exibe a formação dos respondentes na Graduação.
Tabela 8: Perfil dos respondentes quanto a formação da Graduação
CursoFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
Ciências Contábeis 0 0.0% 0 0.0% 0 0.0%Administração 2 28.6% 3 42.9% 5 35.7%Economia 1 14.3% 2 28.6% 3 21.4%Engenharia 4 57.1% 1 14.3% 5 35.7%Outros 0 0.0% 1 14.3% 1 7.1%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
Nota-se que a maioria dos Diretores (4 casos), se graduou em Engenharia, sendo o
curso de Administração o 2º curso preferido pelos Diretores (2 casos). Para os Gerentes,
verifica-se que a maioria se graduou em Administração (3 casos) e em 2º lugar em Economia
(2 casos). Uma possível explicação para esse perfil de graduação, principalmente no caso dos
Diretores, pode ser o fato de o processo de gestão de risco de crédito requerer habilidades de
raciocínio lógico e matemático, visto que muitas inferências de cálculos matemáticos e
estatísticos são aplicadas e o curso de Engenharia se destaca fortemente no desenvolvimento
dessas habilidades atraindo profissionais com esse perfil.
A Tabela 9 demonstra a formação dos respondentes na Pós-Graduação. Destaca-se
que, nesse aspecto, o curso de Finanças foi o mais escolhido, tanto pelos Diretores quanto
pelos Gerentes (4 Diretores e 5 Gerentes, do total de 14 respondentes), o que está totalmente
em linha com a função exercida na área em que atuam nos bancos.
79
Tabela 9: Perfil dos respondentes quanto a formação da Pós-Graduação
CursoFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
Contabilidade/Controladoria 1 14.3% 0 0.0% 1 7.1%Administração Geral 1 14.3% 0 0.0% 1 7.1%Finanças 4 57.1% 5 71.4% 9 64.3%Auditoria e Compliance 0 0.0% 0 0.0% 0 0.0%Outros 1 14.3% 2 28.6% 3 21.4%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
Em síntese, com relação à caracterização dos respondentes, pode-se resumir que se
trata de um grupo formado por profissionais que atuam em 8 bancos brasileiros os quais
representam, aproximadamente, 53% do total do sistema financeiro em termos de ativos,
possuem formação acadêmica, idade e experiência condizentes com suas áreas de atuação.
Assim sendo, pode-se afirmar que se teve acesso a profissionais respondentes cujo perfil está
em consonância com os objetivos do estudo.
Na sequência, apresentam-se os resultados tendo como referência os objetivos
específicos propostos no Capítulo 1. Assim sendo, para cada bloco do questionário
(APÊNDICE A) foi feita uma análise descritiva das respostas obtidas.
Vale ressaltar que visando garantir o cumprimento de todos os objetivos específicos
estabelecidos para este estudo, foi desenvolvida uma matriz a qual se denomina por “Matriz
de Amarração dos objetivos” (APÊNDICE C).
Do Objetivo Específico 1
Do Objetivo Específico 1: Conhecer como estão estruturados os modelos de
gerenciamento de riscos de crédito das instituições financeiras bancárias da amostra em
estudo, pela ótica do Novo Acordo de Capitais da Basileia II.
No Bloco A do questionário, conforme pode ser visto no APÊNDICE A, buscou-se
identificar como estão estruturados os modelos atuais de gerenciamento de riscos de crédito
dos bancos estudados, pela ótica do Novo Acordo de Capitais da Basileia II. Assim sendo, a
Tabela 10 evidencia a resposta para a pergunta que visa saber se o banco já está adotando as
regulamentações de Basileia II para o gerenciamento de risco de crédito.
80
Tabela 10: Adoção das regulamentações de Basileia II pelos bancos
RespostasFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
Sim 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%Não 0 0.0% 0 0.0% 0 0.0%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
Pergunta: O banco já está adotando as regulamentações de Basileia II para o Gerenciamento de Risco de Crédito?
Nota-se que, tanto os Diretores como os Gerentes (14 respondentes ou 100%)
entendem que os bancos onde eles atuam já estão adotando as regulamentações de Basileia II
para o gerenciamento de risco de crédito.
A Tabela 11 exibe qual é a metodologia escolhida/utilizada pelos bancos para o
processo de gerenciamento de risco de crédito, tendo em vista as regulamentações de Basileia
II. Percebe-se que, no caso dos Diretores, dos 7 respondentes 4 afirmam que seus bancos
utilizam a metodologia IRB (Internal Rating Based) e 3 a metodologia Padronizada. Já no
caso dos Gerentes, também dos 7 respondentes ao questionário, 5 afirmam que seus bancos
utilizam a metodologia IRB, enquanto 2 afirmam ser a metodologia Padronizada a utilizada
pelos bancos no processo. Tal descasamento de opiniões entre Diretores e Gerentes pode ser
explicada pelo fato que na amostra estudada, existem bancos que foram representados apenas
por Diretor ou Gerente, não existindo a opinião de uma dupla por banco (Diretor/Gerente),
conforme comentado anteriormente (Tabela 2).
Tabela 11: Metodologia utilizada pelos bancos para o gerenciamento de risco de crédito
RespostasFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
Padronizada 3 42.9% 2 28.6% 5 35.7%IRB (Internal Rating Based ) 4 57.1% 5 71.4% 9 64.3%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
Pergunta: Em caso positivo a pergunta anterior, qual é a metodologia escolhida/utilizada pelo banco para a
Gestão de Riscos de Crédito?
A Tabela 12 exibe as respostas dos respondentes quando questionados sobre qual é o
tipo de metodologia IRB que está sendo adotada nos bancos em seus processos de
gerenciamento de risco de crédito. Pode-se verificar que tanto na visão dos Diretores, como
na dos Gerentes, a metodologia Avançada é a utilizada por todos eles.
81
Tabela 12: Tipo de metodologia IRB utilizada pelos bancos
RespostasFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
Básica 0 0.0% 0 0.0% 0 0.0%Avançada 4 100.0% 5 100.0% 9 100.0%Total 4 100.0% 5 100.0% 9 100.0%
Pergunta: Se a resposta anterior for IRB, qual tipo?
A Tabela 13 informa se os bancos já possuíam modelos internos de avaliação e
gerenciamento de risco de crédito antes das regulamentações de Basileia II. Segundo os
Diretores e Gerentes ( 12 dos 14 respondentes), todos afirmaram que seus bancos já possuíam
modelos internos de avaliação e gerenciamento de risco de crédito antes das regulamentações
de Basileia II. Tal fato pode explicar a preocupação dos bancos pesquisados em possuir
modelos aperfeiçoados de gerenciamento de risco de crédito para uma efetiva gestão.
Tabela 13: Modelos internos antes de Basileia II
RespostasFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
Sim 6 85.7% 6 85.7% 12 85.7%Não 1 14.3% 1 14.3% 2 14.3%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
Pergunta: Antes das regulamentações de Basileia II, o banco já possuía modelos internos de avaliação e
gerenciamento de Risco de Credito?
A Tabela 14 demonstra qual tipo de informação das empresas os bancos estão
utilizando em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito, ou seja, se apenas
informações financeiras ou se informações financeiras e não financeiras. A análise das
respostas permite verificar que, tanto na visão dos Diretores, como dos Gerentes (100% ou 14
respondentes), todos afirmam que tanto as informações financeiras como as não financeiras
são importantes e são utilizadas nos processos de gerenciamento de risco de crédito dos
bancos.
82
Tabela 14: Tipo de Informação utilizadas pelos bancos
RespostasFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
Apenas Financeiras 0 0.0% 0 0.0% 0 0.0%Financeiras e não financeiras 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
Pergunta: Qual tipo de informação de empresas o banco utiliza em seus modelos de Gestão de Riscos de Crédito?
De forma a se complementar esse entendimento, foi-lhes questionado sobre quais
são os motivos que levam os bancos a utilizarem informações não financeiras em seus
modelos de gerenciamento de risco de crédito e, ainda, quais são as principais informações
não financeiras utilizadas. Assim sendo, os quadros 12, 13 e 14 exibem as respostas obtidas
dos Diretores e Gerentes, literalmente transcritas.
A primeira pergunta diz respeito aos motivos que os levam a utilizar informações não
financeiras em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito.
Quadro 12: Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos sobre os motivos que levam os bancos
a utilizarem informações não financeiras em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito.
Diretores Resposta dada
Banco 1 Para melhor qualificação dos clientes.
Banco 2 Necessidade de conhecer o cliente.
Banco 3 Os modelos foram construídos utilizando-se variáveis quantitativas
(informações econômico-financeiras) e qualitativas (cadastrais) das empresas.
Banco 4
Os modelos do banco são baseados em dados financeiros e demográficos dos
clientes e para os casos de clientes carteirizados são muito importantes os
relatórios de visitas dos officers de conta e de crédito.
Banco 5 Utilizamos as informações financeiras, o histórico de relacionamentos com a
instituição, informações de mercado e de outras fontes de nossa confiança.
Banco 6
Utilizamos dados do comportamento do cliente, do default em outras
instituições, do spread com cada um dos clientes em cada uma das operações e
compara-mo-la com o risco associado ao cliente. Realizamos cálculo do
RAROC; apreçamos a carteira (MtM considerado o risco de crédito);
calculamos o VaR da carteira de crédito. Todos esses dados não são financeiros.
Além disso, temos o cálculo da curva de distribuição das perdas da carteira que
é efetuado por simulação de Monte Carlo.
83
Banco 7
Acreditamos que o histórico de pagamentos da empresa, setor de atuação,
análise dos seus administradores etc fornece subsídios importantes para a
análise e a decisão de crédito.
Gerentes Resposta dada
Banco 1
Nos modelos de análise julgamental, as informações não financeiras
respondem por boa parte dos critérios de avaliação, uma vez que apenas as
informações de demonstrações financeiras e cadastro não são suficientes
para proceder a uma boa avaliação do cliente.
Banco 2
Informações setoriais, relativas a preocupação com aspectos sócio-
ambientais, modelo de gestão, processo sucessão são relevantes na avaliação
de risco.
Banco 3
Os modelos do banco são estruturados com base em informações financeiras e,
também, em questionários qualitativos. O peso de cada conjunto de informação
(quantitativo x qualitativo) depende do tipo de cliente analisado.
Banco 4 Informações de cadastros, legais e ambientais.
Banco 5
Para pequenas empresas utilizamos muitas informações cadastrais e
comportamentais por possuírem maior poder preditivo, também devido a pior
qualidade das informações financeiras destas empresas. Para empresas de
grande porte, levamos em consideração itens qualitativos, como programas de
sucessão, qualidade e formação dos administradores, e perspectivas de
mercado, não incluso nas informações financeiras.
Banco 6 Informações não financeiras também podem ajudar na previsibilidade de
default.
Banco 7 Informações providas de análises julgamentais de caráter qualitativo são
empregadas no modelo.
Analisando-se as respostas dos Diretores e Gerentes, pode-se verificar que os motivos
que levam os bancos a utilizarem informações não financeiras em seus modelos de
gerenciamento de risco de crédito é a possibilidade de conhecer e avaliar melhor o cliente. Por
meio do melhor conhecimento do cliente o banco poderá efetuar uma gestão mais eficaz sobre
o mesmo e tentar prevenir-se melhor contra perdas financeiras futuras. Demonstra-se os
motivos sintetizados na sequência em ordem de importância:
Visão dos Diretores
• Melhor qualificação e conhecimento dos clientes – 3 respostas.
84
• Para melhor entendimento do comportamento dos clientes - 2 respostas.
• Entendimento do histórico de relacionamentos dos clientes com o banco – 1
resposta.
• Para melhorar as informações cadastrais dos clientes – 1 resposta.
Visão dos Gerentes
• Para melhorar a capacidade de avaliação dos clientes – 2 respostas.
• Melhor qualificação e conhecimento do cliente – 2 respostas.
• Para melhorar as informações cadastrais dos clientes – 2 respostas.
• Para melhor entendimento do comportamento dos clientes – 1 resposta.
A segunda pergunta diz respeito a quais são as principais informações não financeiras
utilizadas pelos bancos em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito, conforme
evidencia o Quadro 13.
Quadro 13: Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos sobre quais são as principais
informações não financeiras utilizadas pelos bancos em seus modelos de gerenciamento de risco de
crédito.
Diretores Resposta dada
Banco 1 Fluxo de Caixa, Índice de liquidez , Capacidade financeira, Exposição a risco
no mercado.
Banco 2
Governança e transparência das informações, Qualificação da Diretoria,
comportamento no mercado, restrições cadastrais, ratings de agências de
Classificação, setor de atividade.
Banco 3 Fundamentalmente informações cadastrais, tais como: tempo de constituição
da empresa, qualidade do 'management' etc.
Banco 4
Informações não financeiras inclui dados demográficos para PF e pequenos
negócios e para os clientes atacado são incluídos dados da posição da empresa
no mercado, histórico das empresas e dos sócios, qualidade dos seus
fornecedores e clientes, garantias e análises do setor e região em que está a
empresa.
Banco 5 Vide item 10.
Banco 6 vide 09.
Banco 7 Vide resposta acima.
85
Gerentes Resposta dada
Banco 1
Posição competitiva no mercado; concentração de compras e vendas em
termos de mercados, fornecedores e clientes; dependência de governo
(subsídios e incentivos, controle de preços) e legislação (licitações);
tecnologia; profissionalização da administração; riscos existentes no
processo sucessório; relacionamento com o mercado financeiro;
relacionamento com o banco.
Banco 2
Informações setoriais, dados da cadeia de valor, dados fornecidos pela
empresa como modelo de gestão, processo de sucessão, responsabilidade
socioambiental.
Banco 3
Tipo de administração (familiar, profissional); Processo decisório;
Qualidade dos ativos físicos; Plano de Investimentos; Participação de
mercado da empresa e dos principais concorrentes; maiores clientes e
fornecedores; avaliação SWOT.
Banco 4 Política de cadastros: avaliação de restrições de crédito, Informações legais:
inadimplência com tributos e contribuições, princípios do Equador.
Banco 5 programas de sucessão, qualidade e formação dos administradores,
perspectivas de mercado, histórico de pagamentos e negativações.
Banco 6 Risco operacional, risco sócio-ambiental, estrutura de gestão.
Banco 7 Idem item 9.
Analisando-se as respostas dos Diretores e Gerentes, pode-se verificar que existem
diversos tipos de informações não financeiras que se mostram importantes para o processo de
gerenciamento de risco de crédito dos bancos. Em linhas gerais, destacam-se em ordem de
importância:
Visão dos Diretores
• Qualificação da Administração da empresa – 2 respostas.
• Setor de atividade da empresa – 2 respostas.
• Qualidade dos clientes e fornecedores da empresa – 2 respostas.
• Informações cadastrais – 2 respostas.
• Posicionamento de mercado “Marhet Share – 1 resposta.
• Nível de Governança e transparência – 1 resposta.
• Informações de Agências de Ratings – 1 resposta.
• Reputação – 1 resposta.
86
Visão dos Gerentes
• Processo decisório da empresa – 5 respostas.
• Qualificação da Administração da empresa – 4 respostas.
• Qualidade dos clientes e fornecedores da empresa – 4 respostas.
• Posicionamento de mercado “Marhet Share” – 3 respostas.
• Informações sobre Tecnologia da empresa – 1 resposta.
• Setor de atividade da empresa – 1 resposta.
• Informações cadastrais – 1 resposta.
Percebe-se por meio das respostas dos respondentes que algumas das informações não
financeiras evidenciadas como importantes para o processo de gerenciamento de risco de
crédito dos bancos enquadram-se nas classificações de Capital Intelectual segundo Brooking,
Edvinsson e Malone e Sveiby. O quadro 14 demonstra esse relacionamento.
Quadro 14: Informações não financeiras importantes e suas relações com as definições de capital
intelectual segundo Brooking, Edvinsson e Malone e Sveiby
Tipo de Informação Brooking (1) Edvinson e Malone (1) Sveiby (1) Qualificação da Administração Ativo humano Capital humano Competência individual Qualidade de clientes e fornecedores
Ativo de mercado Capital estrutural Estrutura externa
Nível de governança e transparência
Ativo de infra-estrutura
Capital estrutural Estrutura interna
Reputação Ativo de infra-estrutura
Capital humano Estrutura interna
Tecnologia Ativo de infra-estrutura
Capital estrutural Estrutura interna
Processo decisório Ativo humano Capital humano Competência individual (1) Definições segundo: Brooking (1996, p.13-16); Edvinsson e Malone (1998, p.10); e Sveiby (1998, p.14)
Fonte: Elaborada pelo autor
A terceira pergunta diz respeito às fontes de obtenção dessas informações (financeiras
e não financeiras) que são incluídas nos modelos de gerenciamento de risco de crédito dos
bancos, conforme evidenciado no Quadro 15.
87
Quadro 15: Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos sobre onde são obtidas as principais
informações (financeiras e não financeiras) das empresas para o banco incluir em seus modelos de
gerenciamento de risco de crédito.
Diretores Resposta dada
Banco 1 Demonstrações Financeiras, Serasa, Associação Comercial, Agências de
rating, Internet (sites da própria empresa).
Banco 2 Demonstrações Contábeis, Serasa, SPC, SCR-BACEN, Agências de rating,
CVM, Empresas de análise setorial.
Banco 3 Demonstrativos contábeis, bureaus de crédito, legados internos do banco etc.
Banco 4
As principais fontes são os balanços das empresas, informações de bureau de
crédito como Serasa e Associação Comercial de SP, informações setoriais e
regionais de órgão particulares e governamentais e principalmente os obtidos
das visitas aos clientes com dados informados e por observação.
Banco 5
Demonstrações contábeis, Serasa, agências de rating, histórico com a
instituição, avaliações de mercado para as empresas com negociação em bolsa e
outras fontes de nossa confiança.
Banco 6 Serasa, modelo próprio de comportamento.
Banco 7 DFs, Serasa, periódicos, agências de ratings e visitas junto aos comerciais.
Gerentes Resposta dada
Banco 1
Demonstrações contábeis, agências de classificação externa (ratings
nacionais e internacionais), Serasa, visitas à empresa, estudos setoriais
realizados pelo Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos,
participações em painéis e seminários.
Banco 2
Demonstrações Financeiras (dependendo do porte da empresa), dados
restritivos de fontes externas (Serasa, SCPC ou Agências de Rating), dados
extraídos de balanços sociais, dados extraídos do relatório de visita realizada
pela agência de relacionamento do cliente.
Banco 3
Demonstrações Contábeis, Serasa, Agências de Ratings, Informações da
Central de Risco e relatórios de visitas elaborados pelos gerentes de contas.
Banco 4
Fichas cadastrais coletadas dos tomadores de crédito, informações contábeis
(BP, DRE), Cadastros externos (SERASA, SPC), Agências especializadas
para rating em segmentos.
Banco 5 Demonstrações Contábeis, Serasa e questionário Know Your Customer
(KYC).
Banco 6 Demonstrações Contábeis, Serasa, Banco Central, agências de rating etc.
88
Banco 7 Demonstrações contábeis, estudos e rotinas desenvolvidas internamente
(modelagem) e aprovadas em Comitês internos, agências externas como a
Serasa etc.
A análise das repostas evidencia que são várias as fontes utilizadas pelos respondentes
para a obtenção das informações financeiras e não financeiras das empresas, destacando-se as
seguintes em ordem de importância:
Visão dos Diretores
• Serasa – 7 respostas.
• Demonstrações Contábeis – 6 respostas.
• Agências de Classificação de Ratings – 4 respostas.
• Informações obtidas por meio de visitas a clientes – 2 respostas.
• Informações obtidas pelos sites de Internet – 1 resposta.
Visão dos Gerentes
• Demonstrações Contábeis – 7 respostas.
• Serasa – 7 respostas.
• Agências de Classificação de Ratings – 6 respostas.
• Informações obtidas por meio de visitas a clientes – 3 respostas.
Nota-se que grande parte dos respondentes informou como fonte para a obtenção de
informações, as de caráter preponderantemente financeiro (Demonstrações Contábeis e as
Agências de classificação de Ratings), restando para as informações de caráter não financeiro,
aquelas obtidas por meio de visitas a clientes. Já, por intermédio da Serasa, se é possível a
obtenção de informações financeiras e não financeiras das empresas. Como parte das
informações não financeiras não é evidenciada pela empresa e também não é divulgada
periodicamente para o mercado (ANTUNES, 2004), esse talvez seja um dos motivos para que
essas informações sejam obtidas apenas por meio de visitas aos clientes.
A Tabela 15 exibe as respostas para a questão referente à incorporação dessas
informações financeiras e não financeiras nos modelos de gerenciamento de risco de crédito
dos bancos, ou seja, se essa incorporação ocorreu somente após as regulamentações de
Basileia II.
89
Tabela 15: incorporação das informações não financeiras nos modelos de gerenciamento de risco de
crédito dos bancos
RespostasFrequência Diretores
%Frequência Gerentes
% Total %
Sim 2 28.6% 0 0.0% 2 14.3%Não 5 71.4% 7 100.0% 12 85.7%Total 7 100.0% 7 100.0% 14 100.0%
Pergunta: No caso do banco utilizar em seus modelos informações "Financeiras e Não Financeiras", as informações "não financeiras" foram incorporados aos modelos de gerenciamento de risco de crédito somente após as determinações de Basileia II?
Na visão dos Diretores, 5 deles informaram que não incorporam as informações não
financeiras em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito apenas após as
determinações de Basileia II. No caso dos Gerentes, todos fizeram essa mesma afirmação.
Sendo assim, pode-se concluir que mesmo antes das determinações de Basileia II os bancos
já possuíam informações não financeiras em seus modelos. Essas respostas estão aderentes
aos resultados obtidos na tabela 13.
A Figura 5 exibe quais são as ferramentas de gerenciamento de risco de crédito
utilizadas pelos bancos.
0% 50% 100%
creditscoring
análise julgamental
outros
Diretores
Diretores
0% 50% 100%
creditscoring
análise julgamental
outros
Gerentes
Gerentes
Figura 5: Ferramentas utilizadas pelos bancos para o gerenciamento de risco de crédito
Nota-se por meio da figura 5, que na visão dos Diretores, 6 deles informaram utilizar
as ferramentas “Creditscoring” e “Análise Julgamental” em seus processos de gerenciamento
de risco de crédito. Na mesma direção, todos os Gerentes fizeram esta afirmação. Esses
resultados demonstram que “Credit scoring” e “Análise Julgamental” são as ferramentas
mais utilizadas pelos bancos em seus processos de gerenciamento de risco de crédito.
90
O quadro 16 complementa a pergunta anterior evidenciando a finalidade de cada
ferramenta utilizada pelos bancos. As respostas obtidas dos Diretores e Gerentes estão
literalmente transcritas.
Quadro 16: Finalidade de cada ferramenta no processo de gerenciamento de risco de crédito dos bancos
Diretores Resposta dada
Banco 1 Avaliação do risco do cliente.
Banco 2
Creditscoring - utilizado para operações de varejo PF e PJ e clientes novos
na decisão de aprovação, de portfólio, de limites e de rating. Análise
Julgamental - utilizado quando o cliente não é aprovado no modelo, só pode
ser utilizado para alguns produtos. Behavioral - utilizado na manutenção,
reavaliação, renovação de operações e calibragem de limites em operações
comerciais PF e PJ. Cadeia de Markov - utilizado na manutenção e reavaliação
da carteira de habitação. Matriz de Crédito - utilizada na avaliação de corporate,
Instituições Financeiras. Análise fundamentalista- utilizada em projetos,
avaliação de papéis e operações especiais. Modelos especialistas - construção
civil - PJ e projetos - Média e grande empresa.
Banco 3 Efetuar a concessão e a gestão do risco de crédito com o respaldo de
ferramentas e modelagem estatística e julgamental.
Banco 4
Creditscoring, junto com outras ferramentas de modelagem interna são
utilizadas para avaliar créditos estandarizados (PF e Pequenos negócios). A
análise julgamental é utilizada para avaliar rating e créditos de clientes
carteirizados (clientes PF private e clientes do atacado.
Banco 5 Gestão do risco de crédito.
Banco 6 O Creditscoring é utilizado para identificar o ranting ou a probabilidade de
default do cliente numa determinada data (PD = f(t, S)). Realizamos a
convolução da distribuição de frequências e da severidade para a carteira de
créditos concedidos.
Banco 7 Aprovação de Crédito de Middle Market. O Crédito Consignado é aprovado de
acordo com as regras de cada convênio.
Gerentes Resposta dada
Banco 1
Crediscoring: análise de clientes de varejo. Análise julgamental: análise de
clientes de atacado. Modelos internos de precificação e orçamento: estabelecer
parâmetros para juros cobrados nas operações de crédito, e programação dos
resultados de crédito vis-a-vis custos de captação e administração.
91
Banco 2
As ferramentas citadas têm o objetivo de mensurar o risco e classificar os
clientes conforme escala mestra de riscos (rating e Probabilidades de
Default). Além disso, são utilizados como apoio para decisões de alterações de
risco calculado pelas metodologias.
Banco 3
Creditscoring para análise de clientes de varejos (massificados) - pessoas
físicas e pequenas empresas. Para clientes do atacado, instituições financeiras e
países são utilizadas as análises julgamental.
Banco 4
O banco está em processo de adoção dos preceitos de Basileia II.
Banco 5 O banco está implementando modelos de CreditScoring para todos os
segmentos de atuação, com o objetivo de mensurar adequadamente os riscos
para precificar corretamente os créditos, ajustar as provisões as perdas
esperadas e os valores dos limites ao apetite de risco do banco, e para agilizar e
ser utilizado como ferramenta auxiliar a concessão de crédito. A análise
julgamental ainda é utilizada no banco para análise das empresas,
especialmente as de grande porte.
Banco 6
O creditscoring tem por finalidade mensurar o risco de default e contribuir
para correta precificação dos ativos de crédito.Quanto ao julgamental, tem a
mesma finalidade, no entanto, agrega outras visões além do scoring.
Banco 7
Todas visam a melhor avaliação com relação à concessão de recursos de
crédito, bem como gerenciar a qualidade da carteira tanto sob aspectos de
normalidade de mercado quanto de estresse, possibilitando a tomada de
decisões quanto à mitigação de riscos.
Analisando-se as respostas dos Diretores e Gerentes, percebe-se que as principais
finalidades das ferramentas nos processos de gestão de risco de crédito dos bancos são:
Visão dos Diretores
• Principal finalidade das ferramentas de gerenciamento de risco de crédito: auxílio
na mensuração e avaliação do risco do cliente – 5 respostas.
• Finalidade do Creditscoring: Para operações de varejo (massificados) – 2
respostas.
• Análise Julgamental: Para avaliação de ratings e para grandes clientes (private e
atacado) – 2 respostas.
92
Visão dos Gerentes
• Principal finalidade das ferramentas de gerenciamento de risco de crédito: auxílio
na mensuração e avaliação do risco do cliente – 4 respostas.
• Creditscoring: Para avaliação e mensuração da carteira de empréstimos de
“varejo” ou massificados – 3 respostas.
• Análise Julgamental: Para avaliação e mensuração da carteira de grandes clientes,
seja, clientes private ou corporate – 3 respostas.
Dessa forma, pode-se verificar que tanto na visão dos Diretores como na dos Gerentes
dos bancos pesquisados, a percepção sobre a utilização das ferramentas de gerenciamento de
risco de crédito são basicamente as mesmas, ou seja, a ferramenta Credit scoring é utilizada
para avaliação do risco dos clientes massificados dos bancos, também denominados clientes
de “varejo” e a Análise Julgamental é utilizada para avaliação do risco dos grandes clientes
dos bancos, ou seja, clientes “corporate/private” ou clientes de atacado. Porém, pode-se
verificar que o principal objetivo de uso dessas ferramentas é o de aperfeiçoar a mensuração e
avaliação do risco dos clientes dos bancos.
Nas Tabelas 16 e 17, buscou-se identificar mais informações sobre a influência de
Basileia II nos processos de gerenciamento de risco de crédito dos bancos, bem como a
adequação das Demonstrações Contábeis para esse processo. Para tanto, foi lhes solicitado
para que identificassem em qual grau as assertivas descrevem a realidade em seus bancos, por
meio da seguinte escala: (1) Não descreve; (2) Descreve pouco; (3) Descreve medianamente;
(4) Descreve bastante; e (5) Descreve totalmente. Para a análise das informações estão sendo
atribuídos números de identificação de 1 a 7 para os respondentes Diretores e de 8 a 14 para
os respondentes Gerentes, porém sem a exposição do nome dos respondentes e a qual banco
os mesmos pertencem.
Tabela 16: Variáveis e resultados obtidos no bloco A do questionário – visão Diretores
Assertivas / Respondentes - Diretores Variável 1 2 3 4 5 6 71. Basileia II trouxe oportunidades de inovações e aperfeiçoamentos nos modelos de Gerenciamento de Riscos de Crédito do banco.
V1 4 4 5 4 4 4 5
2. Basileia II trouxe mais flexibilidade para a utilização de informações não financeiras nos modelos de Gestão de Riscos de Crédito do banco.
V2 4 2 5 4 4 3 3
3. O banco entende que após Basileia II ficou mais fácil a inclusão de informações sobre o Capital Intelectual nos modelos de gestão de risco de crédito?
V3 4 2 3 4 2 2 3
4. As Demonstrações Contábeis atuais disponibilizam informações suficientes para avaliar a situação econômico-financeira de uma empresa para os modelos de Gestão de Riscos de Crédito do banco
V4 3 3 4 2 3 1 2
93
Tabela 17: Variáveis e resultados obtidos no bloco A do questionário – visão Gerentes
Assertivas / Respondentes - Gerentes Variável 8 9 10 11 12 13 141. Basileia II trouxe oportunidades de inovações e aperfeiçoamentos nos modelos de Gerenciamento de Riscos de Crédito do banco.
V5 5 5 5 4 4 5 5
2. Basileia II trouxe mais flexibilidade para a utilização de informações não financeiras nos modelos de Gestão de Riscos de Crédito do banco.
V6 5 3 2 4 3 2 3
3. O banco entende que após Basileia II ficou mais fácil a inclusão de informações sobre o Capital Intelectual nos modelos de gestão de risco de crédito?
V7 3 3 3 3 3 3 2
4. As Demonstrações Contábeis atuais disponibilizam informações suficientes para avaliar a situação econômico-financeira de uma empresa para os modelos de Gestão de Riscos de Crédito do banco
V8 4 4 3 3 3 3 2
Conforme a percepção dos Diretores e Gerentes e de acordo com a análise das
respostas das variáveis evidenciadas nas tabelas 16 e 17, pode-se inferir que Basileia II
realmente trouxe oportunidades de inovações e aperfeiçoamentos nos modelos de
Gerenciamento de Riscos de Crédito dos bancos, pois essa afirmação descreveu de maneira
relevante a opinião dos respondentes, ou seja, dos 7 Diretores, 5 concordam bastante com essa
afirmação e 2 concordam totalmente com a mesma. No caso dos Gerentes, existe uma
inversão, sendo que dos 7 Gerentes, 5 concordam totalmente com a afirmação e 2 concordam
bastante.
Com relação a afirmação de que Basileia II trouxe mais flexibilidade para a utilização
de informações não financeiras nos modelos de gestão de riscos de crédito dos bancos, essa
afirmação descreveu bastante a opinião dos Diretores (3 Diretores concordam bastante e 1
concordou totalmente). Porém, no caso dos Gerentes o nível de concordância ficou mediano e
pouco (3 e 2 Gerentes, respectivamente). Assim sendo, percebe-se que não houve consenso
entre as opiniões de Diretores e Gerentes dos bancos a essa afirmação.
Já a afirmação de que os bancos entendem que após Basileia II ficou mais fácil a
inclusão de informações sobre o Capital Intelectual nos modelos de gestão de risco de crédito,
tal afirmação descreveu pouco e mediano a opinião dos Diretores (3 Diretores com pouca
concordância e 2 com concordância mediana). Analisando-se as respostas dos Gerentes,
percebe-se que a afirmação descreve medianamente a opinião dos mesmos (6 Gerentes).
Por fim, com relação a afirmação de que as Demonstrações Contábeis atuais
disponibilizam informações suficientes para avaliação da situação econômico-financeira de
uma empresa para os modelos de Gestão de Riscos de Crédito dos bancos, pode inferir-se que
essas demonstrações não atendem totalmente as necessidades dos bancos para seus processos,
pois, a concordância dos Diretores respondentes a essa afirmação situou-se em mediano (3
94
casos) e pouco (2 casos). Já os Gerentes demonstraram que a afirmação descreve
medianamente suas opiniões (4 casos).
Em síntese, em relação aos questionamento contidos no Bloco A do instrumento de
pesquisa, em que se teve a intenção de conhecer como estão estruturados os modelos de
gerenciamento de riscos de crédito das instituições financeiras bancárias da amostra em
estudo, pela ótica do Novo Acordo de Capitais da Basileia II, tem-se que:
• Em todos os bancos são adotadas as regulamentações de Basileia II em seus
processos de gerenciamento de risco de crédito.
• A maioria dos bancos está utilizando a metodologia IRB (Internal Rating Based)
modelo avançado em seus processos. Essa metodologia permite a utilização de
modelos próprios para o gerenciamento de risco de crédito.
• Os bancos já utilizavam-se de modelos próprios para os processos de
gerenciamento de risco de crédito, mesmo antes de Basileia II, sendo que eles
também já utilizavam-se de informações não financeiras nos modelos.
• O propósito de utilização de informações não financeiras nos modelos é melhorar
o conhecimento sobre os clientes e seus comportamentos, pois as informações
contidas nas Demonstrações Contábeis não são suficientes para a efetiva gestão do
processo de gerenciamento de riscos. As principais informações não financeiras
utilizadas pelos bancos são: qualificação da Administração, setor de atividade,
qualidade dos clientes e fornecedores, informações cadastrais, processo decisório e
posicionamento de mercado “Market Share”. As principais informações para o
processo de gerenciamento de risco de crédito são obtidas por meio das
Demonstrações Contábeis, Serasa, Agências de classificação de Ratings e visitas a
clientes (basicamente informações financeiras).
• As principais ferramentas utilizadas nos processos dos bancos de gerenciamento
de risco de crédito são: Credit scoring para os clientes massificados “varejo” e
análise Julgamental para os grandes clientes, ou seja clientes “corporate ou
private”.
• Basileia II trouxe oportunidades de inovações e aperfeiçoamentos para os modelos
de Gerenciamento de Riscos de Crédito dos bancos, mas ao contrário, o processo
ficou menos flexível para a utilização de informações não financeiras e de Capital
Intelectual nos modelos.
95
Do Objetivo Específico 2
Do Objetivo Específico 2: Buscar o entendimento e a relevância de se contemplar os
ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco
de crédito dos bancos pesquisados.
No Bloco B do questionário (APÊNDICE A) tem-se as questões que foram
utilizadas para se identificar a relevância de se contemplar os ativos intangíveis nos modelos
de Gestão de Riscos de Crédito dos bancos. As tabelas 18 e 19 evidenciam as respostas dos
Diretores e Gerentes dos bancos pesquisados. Para tanto, foi lhes solicitado para que
identificassem em qual grau as assertivas descrevem a realidade em seus bancos, por meio da
seguinte escala: (1) Não descreve; (2) Descreve pouco; (3) Descreve medianamente; (4)
Descreve bastante; e (5) Descreve totalmente.
Vale ressaltar que foram atribuídos números de identificação de 1 a 7 para os
respondentes Diretores e de 8 a 14 para os respondentes Gerentes, porém sem a exposição do
nome dos respondentes e a qual banco os mesmos pertencem. Tabela 18: Variáveis e resultados obtidos no bloco B do questionário – visão Diretores
Assertivas / Respondentes - Diretores Variável 1 2 3 4 5 6 7Ao se analisar uma empresa, as informações não financeiras são importantes e relevantes para o aperfeiçoamento dos modelos de gerenciamento de risco de crédito do banco.
V9 4 5 5 4 5 4 4
Ao se analisar uma empresa, informações sobre ativos intangíveis são importantes e relevantes para a correta avaliação de riscos de uma empresa.
V10 4 5 4 4 5 4 3
Os sistemas de Gestão de Riscos de Crédito do banco estão preparados para trabalhar com informações não financeiras das empresas.
V11 4 4 4 4 5 4 4
Os sistemas de Gestão de Riscos de Crédito do banco estão preparados para trabalhar com informações sobre ativos intangíveis das empresas.
V12 4 3 4 3 3 4 3
Os analistas de crédito do banco estão preparados para analisar informações não financeiras das empresas para o correto gerenciamento de risco de crédito.
V13 4 4 5 5 5 4 5
Os analistas de crédito do banco estão preparados para analisar informações sobre ativos intangíveis das empresas para o correto gerenciamento de riscos de crédito das mesmas.
V14 4 4 4 4 4 4 3
Os modelos atuais do banco de Gerenciamento de Risco de Crédito efetivamente contemplam informações sobre ativos intangíveis das empresas.
V15 3 3 5 3 3 4 3
As informações utilizadas pelo banco sobre ativos intangíveis, para inclusão em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito, são apenas aquelas evidenciadas nas Demonstrações Contábeis das empresas.
V16 4 2 3 2 5 1 3
96
Tabela 19: Variáveis e resultados obtidos no bloco B do questionário – visão Gerentes
Assertivas / Respondentes - Gerentes Variável 1 2 3 4 5 6 7Ao se analisar uma empresa, as informações não financeiras são importantes e relevantes para o aperfeiçoamento dos modelos de gerenciamento de risco de crédito do banco.
V17 5 4 3 4 4 5 4
Ao se analisar uma empresa, informações sobre ativos intangíveis são importantes e relevantes para a correta avaliação de riscos de uma empresa.
V18 5 4 4 4 3 4 4
Os sistemas de Gestão de Riscos de Crédito do banco estão preparados para trabalhar com informações não financeiras das empresas.
V19 5 4 4 4 4 5 5
Os sistemas de Gestão de Riscos de Crédito do banco estão preparados para trabalhar com informações sobre ativos intangíveis das empresas.
V20 3 5 2 4 3 3 3
Os analistas de crédito do banco estão preparados para analisar informações não financeiras das empresas para o correto gerenciamento de risco de crédito.
V21 5 5 4 4 4 5 5
Os analistas de crédito do banco estão preparados para analisar informações sobre ativos intangíveis das empresas para o correto gerenciamento de riscos de crédito das mesmas.
V22 3 4 3 4 4 5 4
Os modelos atuais do banco de Gerenciamento de Risco de Crédito efetivamente contemplam informações sobre ativos intangíveis das empresas.
V23 3 5 2 3 3 3 3
As informações utilizadas pelo banco sobre ativos intangíveis, para inclusão em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito, são apenas aquelas evidenciadas nas Demonstrações Contábeis das empresas.
V24 1 2 1 2 4 2 4
A análise das respostas das variáveis evidenciadas nas tabelas 18 e 19, permite inferir
que os Diretores dos bancos acreditam que as informações não financeiras são importantes e
relevantes para o aperfeiçoamento dos modelos de gerenciamento de risco de crédito dos
bancos, pois essa afirmação descreveu bastante a opinião de 4 Diretores e totalmente a
opinião de 3 Diretores. No caso dos Gerentes, a afirmação descreveu bastante a opinião de 4
Gerentes e totalmente a opinião de mais 2 Gerentes. Dessa forma evidencia-se que as
informações não financeiras são muito importantes para o processo.
Na mesma direção, evidencia-se a importância dos ativos intangíveis para o processo
de gerenciamento de risco de crédito dos bancos, em aderência às respostas a pergunta
anterior, pois concordaram bastante com a afirmação da importância dos ativos intangíveis
para o processo 4 Diretores e concordaram totalmente 2 Diretores. No caso dos Gerentes, o
nível de concordância também ficou alto (5 Gerentes concordaram bastante com a
afirmação). Assim sendo, percebe-se que os ativos intangíveis também são relevantes e
importantes para o processo de gerenciamento de risco de crédito dos bancos.
Com relação a afirmação de que os sistemas de gestão de risco de crédito dos bancos
estão preparados para trabalhar com informações não financeiras, tal afirmação descreveu
bastante a opinião de 6 Diretores. No caso dos Gerentes, descreveu bastante a opinião de 4
97
Gerentes e totalmente a opinião de mais 3 Gerentes. Esses resultados evidenciam a
preocupação dos bancos em aperfeiçoarem seus modelos com informações não financeiras.
Todavia, ao analisar-se a efetividade dos sistemas de gestão de risco de crédito dos
bancos para o tratamento de informações sobre ativos intangíveis das empresas, percebe-se
que essa afirmação descreveu preponderantemente como mediana a opinião dos Diretores e
Gerentes dos bancos (4 casos cada). Uma possível explicação para isso é a dificuldade de se
obter as informações dos intangíveis das empresas. Esse processo precisa ser melhorado.
Um ponto relevante evidenciado na análise diz respeito a qualificação e preparo dos
analistas de crédito dos bancos para analisarem e avaliarem as informações não financeiras e
de ativos intangíveis das empresas. No primeiro caso (informações não financeiras), essa
afirmação descreveu totalmente a opinião de 4 Diretores/Gerentes e bastante a opinião de
mais 3 Diretores/Gerentes. Já no segundo caso (ativos intangíveis), a afirmação descreveu
bastante a opinião de 6 Diretores e 4 Gerentes. Esse fato pode evidenciar a preocupação dos
gestores dos bancos em possuir pessoal qualificado para seus processos de gerenciamento de
risco de crédito e de possíveis investimentos em treinamento nesse sentido.
Apesar dos respondentes dos bancos entenderem que as informações sobre ativos
intangíveis são importantes para seus processos de gerenciamento de risco de crédito, os
mesmos não estão utilizando essas informações nos processos atuais. A afirmação de efetiva
utilização desses ativos nos processos atuais dos bancos descreveu medianamente a opinião
de 5 Diretores e 5 Gerentes. Mais uma vez estima-se que uma possível explicação para esse
fato é a dificuldade de se obter as informações dos ativos intangíveis.
Por fim, nota-se que os respondentes tiveram percepções diferenciadas sobre a
afirmação de que as informações inseridas nos modelos de gerenciamento de risco de crédito
dos bancos, relativas aos ativos intangíveis, somente são aquelas evidenciadas nas
demonstrações contábeis das empresas. Para essa afirmação não foi observada tendência de
resposta. Esse achado pode ter sido influenciado pelo fato dos processos atuais dos bancos
não utilizarem muitas informações sobre ativos intangíveis.
Também questionou-se aos respondentes da pesquisa se as informações dos ativos
intangíveis não evidenciadas nas Demonstrações Contábeis são utilizadas nos bancos em seus
processos de gerenciamento de risco de crédito atuais e onde essas informações são obtidas. O
quadro 17 demonstra a resposta a esse questionamento. As respostas obtidas dos Diretores e
Gerentes estão literalmente transcritas.
98
Quadro 17: Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos se as informações dos ativos
intangíveis não evidenciadas nas Demonstrações Contábeis são utilizadas pelos bancos em seus processos
de gerenciamento de risco de crédito e onde essas informações são obtidas
Diretores Resposta dada
Banco 1 Sim, Internet (para algumas empresas que abrem estas informações) bem como
Agências de rating.
Banco 2 Somente para as empresas que já estão utilizando o padrão IFRS.
Banco 3
Sim. Estas informações normalmente são capturadas através da avaliação
comportamental dos clientes na instituição, bem como através da realização
de visitas às empresas.
Banco 4 As informações fora as que estão nos balanços são obtidas em visitas aos
clientes e na análise do setor.
Banco 5 Levamos em conta principalmente o valor do negócio, reputação e os clientes
da empresa.
Banco 6
Temos como avaliar o rating de sustentabilidade da empresa através de
mecanismos de busca e de auto-declaração do cliente. Buscamos essas
informações de sites governamentais. Além disso, temos como avaliar pela
mídia o comprometimento com prevenção a lavagem de dinheiro e ilícitos o
que pode demonstrar um passivo ambiental e social. Conseguimos ainda avaliar
os ativos intangíveis organizacionais no sentido de representarem os recursos
(conhecimentos, tecnologias, recursos humanos) empregados pela empresa em
seu processo produtivo. Desta forma, não fazemos a medição efetiva dos
intangíveis, mas temos sinais do quanto a empresa utiliza bem esses
recursos,pois possui um bom produto, apresenta indicadores de governança
adequados e possui soluções adequadas. Assim, os intangíveis externos
seriam o resultado percebido pelo cliente no produto e/ou serviço ofertado,
sendo esta uma avaliação perceptível subjetiva. Sob uma ótica de percepção
externa desses ativos, a concepção representa a percepção valorativa que
determina o nível de venda ou de sucesso alinhado ao comportamento de
compra do consumidor final na escolha de determinado produto. Dessa forma
os modelos não se utilizam de um medidor de ativos intangíveis, mas
consideram indiretamente esse sucesso (reconhecido pelos valores dessa
Instituição) partindo do pressuposto que os ativos intangíveis estariam ligados
diretamente à capacidade de gerar e propulsionar a utilização desse
conhecimento efetiva desses intangíveis.
Banco 7 Normalmente, jornais, revistas ou entrevistas com os administradores das
empresas.
99
Gerentes Resposta dada
Banco 1 Em entrevistas e visitas às empresas.
Banco 2 A partir do relatório de visita elaborado pela agência de relacionamento do
cliente.
Banco 3 Por meio do questionário qualitativo.
Banco 4 Informações sobre setor e mercado de atuação da empresa.
Banco 5 Através da utilização de consultorias especializadas nos setores de atuação
das empresas e de analistas de crédito especializados.
Banco 6 Entrevista com os administradores, cenário econômico, fornecedores,
outros.
Banco 7 Não respondeu.
Analisando as respostas dos Diretores e Gerentes, evidencia-se que existem
informações sobre os ativos intangíveis das empresas não evidenciadas nas Demonstrações
Contábeis que são utilizadas pelos bancos nos processos de gerenciamento de risco de crédito.
Todos os Diretores (7) afirmaram que utilizam algumas dessas informações nos processos de
gerenciamento de risco de crédito, e no caso dos Gerentes, 6 dos 7 respondentes fizeram a
mesma afirmação. Segundo os respondentes, essas informações são obtidas da seguinte
forma:
Visão dos Diretores
• Visitas aos clientes do banco – 3 respostas.
• Internet, nos sites das empresas – 2 respostas.
• Análise da reputação da empresa – 2 respostas.
• E outros com 1 resposta, tais como: avaliação comportamental, análise do setor de
atividade da empresa, análise dos clientes da empresa e agências de rating.
Visão dos Gerentes
• Visitas aos clientes dos bancos – 3 respostas.
• E outros com 1 resposta, tais como: questionário qualitativo, análise do setor de
atividade, análise de fornecedores e agências de rating.
Dessa forma, conclui-se que os profissionais da área de gestão de riscos dos bancos,
para conseguirem informações sobre ativos intangíveis não evidenciados pelas empresas,
100
precisam recorrer a diversas formas alternativas para sua obtenção, pois as mesmas são
importantes para o processo de gerenciamento de risco de crédito.
Como última questão do bloco B questionou-se aos respondentes sobre quais tipos de
informações sobre ativos intangíveis os respondentes consideram importantes e relevantes
para a inclusão nos processos de gerenciamento de risco de crédito dos bancos.
A Figura 6 exibe quais são os ativos intangíveis considerados pelos respondentes
como mais importante para o processo de gerenciamento de risco de crédito.
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Marca
Relacionamento com clientes
Canais de distribuição
Investimentos em treinamento dos colaboradores
Nível escolar dos gerentes e diretores da empresa
Patentes registradas da empresa
Cultura organizacional
Sistemas de informações
Investimentos em Tecnologia e informática
Valor de Mercado da empresa
Reputação da empresa
Imagem da empresa
Nível de governança
Relacionamento com fornecedores
Frequência de lançamentos de novos produtos
Outros
Total
Gerentes
Diretores
Figura 6: Principais ativos intangíveis considerados pelos bancos como mais importante para o processo de gerenciamento de risco de crédito
Com relação aos principais ativos intangíveis a serem incluídos nos modelos de
gerenciamento de risco de crédito dos bancos, chegou-se aos seguintes ativos por ordem de
preferência.
Visão dos Diretores:
• Relacionamento com clientes – 7 respostas.
• Imagem – 7 respostas.
• Nível de governança – 7 respostas.
• Relacionamento com fornecedores – 7 respostas.
• Valor de mercado da empresa – 6 respostas.
• Marca – 5 respostas.
• Canais de distribuição – 5 respostas.
101
• Cultura organizacional – 5 respostas.
Visão dos Gerentes:
• Canais de distribuição – 7 respostas.
• Marca – 6 respostas.
• Relacionamento com clientes – 6 respostas.
• Nível de governança – 6 respostas.
• Relacionamento com fornecedores – 6 respostas.
• Investimentos em tecnologia – 5 respostas.
• Valor de mercado da empresa – 5 respostas.
• Reputação – 5 respostas.
• Imagem – 5 respostas.
Por meio das respostas dos respondentes nota-se que os ativos intangíveis citados
como importantes para o processo de gerenciamento de risco de crédito dos bancos
enquadram-se nas classificações de Capital Intelectual segundo Brooking, Edvinsson e
Malone e Sveiby. O quadro 18 demonstra esse relacionamento.
Quadro 18: Ativos intangíveis importantes e suas relações com as definições de capital intelectual segundo
Brooking, Edvinsson e Malone e Sveiby
Tipo de Informação Brooking (1) Edvinson e Malone (1) Sveiby (1)
Relacionamento com clientes Ativo de mercado Capital estrutural Estrutura externa Imagem Ativo de mercado Capital estrutural Estrutura externa Nível de governança Ativo de infra-
estrutura Capital estrutural Estrutura interna
Relacionamento com fornecedores
Ativo de mercado Capital estrutural Estrutura externa
Valor de mercado da empresa Ativo de mercado Capital estrutural Estrutura externa Marca Ativo de mercado Capital estrutural Estrutura externa Canais de distribuição Ativo de mercado Capital estrutural Estrutura externa Cultura organizacional Ativo de infra-
estrutura Capital humano Estrutura interna
Investimentos em tecnologia Ativo de infra-estrutura
Capital estrutural Estrutura interna
Reputação Ativo de infra-estrutura
Capital humano Estrutura interna
(1) Definições segundo: Brooking (1996, p.13-16); Edvinsson e Malone (1998, p.10); e Sveiby (1998, p.14)
Fonte: Elaborada pelo autor
102
Dessa forma evidencia-se que a visão da importância de alguns ativos
intangíveis (Capital Intelectual) são compartilhados por Diretores e Gerentes dos bancos,
também demonstrando um alinhamento de opinião entre esses profissionais.
Como conclusão das análises efetuadas no Bloco B da pesquisa, onde a
intenção foi identificar a relevância de se contemplar os ativos intangíveis nos modelos de
Gestão de Riscos de Crédito dos banco, tem-se que:
• As informações não financeiras e sobre ativos intangíveis são importantes e
relevantes para o processo de gerenciamento de risco de crédito dos bancos.
• As áreas de gestão de riscos de crédito dos bancos possuem pessoal treinado e
qualificado para trabalhar com informações não financeiras e de ativos intangíveis
em seus processos.
• Os sistemas (tecnologia) dos bancos precisam se adaptar melhor para utilizar
informações sobre ativos intangíveis para os processos de gerenciamento de risco
de crédito.
• Apesar dos gestores dos bancos reconhecerem que são importantes e relevantes as
informações sobre ativos intangíveis, as mesmas ainda não são totalmente
utilizadas nos processos de gerenciamento de risco de crédito. Uma possível
explicação para isso é a dificuldade de se obter tais informações das empresas.
• Em seus processos atuais, realmente os gestores dos bancos utilizam algumas
informações sobre ativos intangíveis, além daquelas evidenciadas nas
Demonstrações Contábeis da empresas.
• As informações sobre ativos intangíveis não evidenciadas nas Demonstrações
Contábeis das empresas são obtidas de diversas formas não padronizadas.
• Na visão dos Diretores e Gerentes dos bancos, os principais ativos intangíveis
(Capital Intelectual) que podem ser incluídos nos processos de gerenciamento de
risco de crédito dos bancos são: Relacionamento com clientes, Imagem, Nível de
governança, Relacionamento com fornecedores, Valor de mercado, Marca, Canais
de distribuição, Cultura organizacional, Investimentos em tecnologia e Reputação.
Sendo assim, para a realização do objetivo específico 3 que é propor uma
sistemática para a inclusão dos ativos intangíveis caracterizados como Capital
Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de crédito de bancos, foram
103
considerados esses ativos tidos como os principais através das respostas dos
respondentes.
Do Objetivo Específico 2: Entender a relevância de se contemplar o Capital
Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de crédito dos bancos pesquisados.
Do Objetivo Específico 2
No Bloco C do questionário, conforme APÊNCICE A, buscou-se identificar a
relevância de se contemplar o Capital Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de
crédito dos bancos. As tabelas 20 e 21 evidenciam as respostas dos Diretores e Gerentes dos
bancos pesquisados. Primeiramente foi dada a seguinte definição de Capital Intelectual para
os respondentes:
Definição de Capital Intelectual para fins desse estudo:
Capital Intelectual é o somatório do conhecimento proveniente das habilidades aplicadas dos
membros de uma organização com a finalidade de trazer vantagem competitiva,
materializando-se em marcas, novos produtos, processos eficientes, bons relacionamentos
com os clientes, desenvolvimento de novas tecnologias etc. (ANTUNES, 2004).
Na sequência, foi lhes solicitado para que identificassem em qual grau as assertivas
descrevem a realidade em seus bancos, por meio da seguinte escala: (1) Não descreve; (2)
Descreve pouco; (3) Descreve medianamente; (4) Descreve bastante; e (5) Descreve
totalmente.
Vale ressaltar que para a análise das informações foram atribuídos números de
identificação de 1 a 7 para os respondentes Diretores e de 8 a 14 para os respondentes
Gerentes, porém sem a exposição do nome dos respondentes e a qual banco os mesmos
pertencem.
104
Tabela 20: Variáveis e resultados obtidos no bloco C do questionário – visão Diretores
Assertivas / Respondentes - Diretores Variável 1 2 3 4 5 6 7Os membros de minha organização conhecem e utilizam em seus processos o conceito de Capital Intelectual
V25 3 3 4 3 5 2 4
O banco entende que investimentos em Capital Intelectual podem reduzir custos futuros das empresas.
V26 4 4 4 3 4 2 4
O investimento em Capital Intelectual pode melhorar o fluxo de caixa futuro de uma empresa?
V27 4 4 3 4 4 4 3
Para o banco, gastos com treinamentos de colaboradores são considerados investimentos que trazem benefícios futuros, ou seja, retornos para as empresas.
V28 4 3 5 4 4 5 3
O Capital Intelectual é considerado pelo banco um ativo gerador de valor e de benefícios futuros das empresas e precisa ser corretamente mensurado e avaliado para os modelos de gerenciamento de risco de crédito.
V29 4 4 4 3 5 4 4
A mensuração do Capital Intelectual das empresas é um item importante para o banco para inclusão nos seus modelos de Gerenciamento de Risco de Crédito.
V30 4 4 4 2 4 4 3
Efetivamente, os modelos atuais do banco de Gestão de Riscos de Crédito contemplam informações sobre a avaliação e mensuração do Capital Intelectual das empresas
V31 3 3 4 2 2 4 3
As empresas que melhor evidenciam o valor de seu Capital Intelectual possuem mais vantagens ou melhores pontuações nos modelos de Gestão de Risco de Crédito do banco.
V32 4 3 3 2 4 4 3
O banco já desenvolveu um modelo específico para avaliação e mensuração do Capital Intelectual das empresas para o gerenciamento de risco de crédito.
V33 3 1 3 2 2 4 2
O Capital Intelectual é um item não avaliado e considerado pelo banco em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito.
V34 3 3 3 2 3 1 4
Tabela 21: Variáveis e resultados obtidos no bloco C do questionário – visão Gerentes
Assertivas / Respondentes - Gerentes Variável 1 2 3 4 5 6 7Os membros de minha organização conhecem e utilizam em seus processos o conceito de Capital Intelectual
V35 3 3 3 4 5 3 3
O banco entende que investimentos em Capital Intelectual podem reduzir custos futuros das empresas.
V36 5 4 4 4 4 4 5
O investimento em Capital Intelectual pode melhorar o fluxo de caixa futuro de uma empresa?
V37 5 4 4 4 3 4 4
Para o banco, gastos com treinamentos de colaboradores são considerados investimentos que trazem benefícios futuros, ou seja, retornos para as empresas.
V38 5 5 4 5 4 5 4
O Capital Intelectual é considerado pelo banco um ativo gerador de valor e de benefícios futuros das empresas e precisa ser corretamente mensurado e avaliado para os modelos de gerenciamento de risco de crédito.
V39 3 4 3 5 4 4 4
A mensuração do Capital Intelectual das empresas é um item importante para o banco para inclusão nos seus modelos de Gerenciamento de Risco de Crédito.
V40 3 4 2 4 4 4 2
Efetivamente, os modelos atuais do banco de Gestão de Riscos de Crédito contemplam informações sobre a avaliação e mensuração do Capital Intelectual das empresas
V41 3 3 2 3 3 3 2
As empresas que melhor evidenciam o valor de seu Capital Intelectual possuem mais vantagens ou melhores pontuações nos modelos de Gestão de Risco de Crédito do banco.
V42 3 5 4 4 3 3 3
O banco já desenvolveu um modelo específico para avaliação e mensuração do Capital Intelectual das empresas para o gerenciamento de risco de crédito.
V43 1 2 1 3 2 2 1
O Capital Intelectual é um item não avaliado e considerado pelo banco em seus modelos de gerenciamento de risco de crédito.
V44 4 4 3 3 2 3 3
105
Conforme a percepção dos Diretores e Gerentes, e de acordo com a análise das
respostas das variáveis evidenciadas nas tabelas 20 e 21, pode-se inferir que os membros dos
bancos pesquisados não possuem total conhecimentos do conceito de Capital Intelectual, nem
tampouco utilizam o mesmo de forma sistemática em seus processos de gerenciamento de
risco de crédito. Segundo os Diretores, dos 7 respondentes, 3 concordam medianamente que
os membros de suas organizações conhecem e utilizam os conceitos de Capital Intelectual em
seus processos de gerenciamento de riscos de crédito e apenas 2 concordam bastante com a
afirmação. Já na visão dos Gerentes, dos 7 respondentes, 5 concordam medianamente com a
afirmação.
Já com relação a visão dos respondentes sobre a importância do Capital Intelectual,
evidencia-se nas respostas que o mesmo se mostra um ativo de importância e valor para os
respondentes. Na afirmação se o banco entende que investimentos em Capital Intelectual
podem reduzir custos futuros das empresas, 10 dos 14 Diretores/Gerentes concordaram
bastante com essa afirmação e mais 2 Gerentes concordaram totalmente com a mesma. Na
mesma direção, a afirmação de que os investimentos em Capital Intelectual podem melhorar o
fluxo de caixa futuro de uma empresa, na visão dos Diretores e Gerentes, 10 dos 14
respondentes concordam bastante com essa afirmação. E para ratificar a importância de um
dos itens que contemplam os investimentos em Capital Intelectual, na afirmação de que os
gastos com treinamentos de colaboradores são considerados investimentos que trazem
benefícios futuros, ou seja, retornos para as empresas, na visão dos Diretores dos bancos, essa
afirmação descreveu bastante a opinião de 3 Diretores e descreveu totalmente a opinião de
mais 2 Diretores. No caso dos Gerentes, a afirmação descreveu totalmente a opinião de 4
Gerentes e bastante a opinião de mais 3 Gerentes.
Sendo assim, evidencia-se a importância do Capital Intelectual para os respondentes,
fato que fica fortalecido na análise da afirmação se o Capital Intelectual é considerado pelos
gestores dos bancos um ativo gerador de valor e de benefícios futuros das empresas e precisa
ser corretamente mensurado e avaliado para os modelos de gerenciamento de risco de crédito.
Na visão dos Diretores, essa afirmação descreveu bastante a opinião de 5 Diretores e 4
Gerentes. E também na afirmação de que a mensuração do Capital Intelectual das empresas é
um item importante para ser incluído nos modelos de Gerenciamento de Risco de Crédito,
pois a afirmação descreveu bastante a opinião de 5 Diretores e 4 Gerentes.
Todavia, apesar da importância do Capital Intelectual para os processos de
gerenciamento de riscos de crédito dos bancos, o mesmo não vem sendo utilizado nos
106
processos atuais dos bancos. Infere-se tal conclusão por meio da análise da afirmação: se,
efetivamente, os modelos atuais do banco de gestão de riscos de crédito contemplam
informações sobre a avaliação e mensuração do Capital Intelectual das empresas.
Na visão dos Diretores a afirmação descreveu medianamente a opinião de 3 Diretores
e descreveu pouco a opinião de mais 2 Diretores. Já no caso dos Gerentes, a afirmação
descreveu medianamente a opinião de 5 Gerentes e descreveu pouco a opinião de mais 2
Gerentes. Exibe-se por meio das respostas dos respondentes que os bancos não estão
utilizando os ativos de Capital Intelectual em seus processos de gerenciamento de risco de
crédito, apesar de entenderem que os mesmos são importantes para o processo.
Por não estarem utilizando o conceito de Capital Intelectual nos processos atuais de
gerenciamento de risco de crédito, os respondentes também apresentaram respostas medianas,
porém com viés de alta para a afirmação de que as empresas que melhor evidenciam o valor
de seu Capital Intelectual possuem mais vantagens ou melhores pontuações nos modelos de
Gestão de Risco de Crédito do banco. Na visão dos Diretores essa afirmação descreveu
medianamente a opinião de 3 Diretores e bastante a opinião de mais 3 Diretores, porém, no
caso dos Gerentes, a afirmação descreveu medianamente a opinião 4 Gerentes e bastante a
opinião de mais 2 Gerentes. Talvez a possível resposta para essas afirmações é a falta de
verificação prática dos efeitos da mensuração e utilização do Capital Intelectual das empresas
nos processos atuais de gerenciamento de risco de crédito.
Evidencia-se, também, que os processos atuais dos bancos não possuem modelos
específicos para o tratamento das informações de Capital Intelectual das empresas. Quando
analisa-se as respostas a afirmação se o banco já desenvolveu um modelo específico para
avaliação e mensuração do Capital Intelectual das empresas para o gerenciamento de risco de
crédito, na visão dos Diretores respondentes, essa afirmação descreveu pouco a opinião de 3
Diretores e mediana a opinião de mais 2 Diretores. No caso dos Gerentes, a afirmação
descreveu pouco a opinião de 3 Gerentes e não descreveu a opinião de mais 3 Gerentes.
Sendo assim, confirma-se a não utilização ou pouca utilização do Capital Intelectual das
empresas nos processos de gerenciamento de riscos de crédito atuais dos bancos. Na
afirmação inversa, para ratificar esse entendimento, questionou-se aos respondentes se o
Capital Intelectual é um item não avaliado e não considerado pelo banco em seus modelos de
gerenciamento de risco de crédito, essa afirmação ficou aderente às demais afirmações sobre a
utilização do Capital Intelectual nos processos de gerenciamento de riscos de crédito dos
bancos, pois descreveu medianamente a opinião de 4 Diretores e 4 Gerentes.
107
Também questionou-se se o banco mensura e avalia algum item sobre o Capital
Intelectual de uma empresa para inseri-lo nos modelos de Gestão de Riscos de Crédito e se
em caso afirmativo, como é feito esse processo. O quadro 19 demonstra a resposta a esse
questionamento. As respostas obtidas dos Diretores e Gerentes estão literalmente transcritas.
Quadro 19: Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes se os bancos mensuram e avaliam algum item sobre Capital Intelectual de uma empresa para inseri-lo nos modelos de Gestão de Riscos de Crédito? Em caso afirmativo, como é feito esse processo?
Diretores Resposta dada
Banco 1 Sim, programa de formação, Plano de desenvolvimento de pessoas,
auditoria externa.
Banco 2 Não, apenas dos dirigentes das empresas, em alguns casos.
Banco 3
Não nesse momento.
Banco 4 Não há esta mensuração.
Banco 5 Avaliando a tecnologia que a empresa detém e a forma de administração
desta.
Banco 6 De modo indireto. O Banco avalia a performance de governança e dos valores
da empresa e se não existem óbices considera-os adequados.
Banco 7 Atualmente, não.
Gerentes Resposta dada
Banco 1
Na análise julgamental dos aspectos qualitativos de uma empresa, o Banco
considera, entre outros fatores, a tecnologia, a profissionalização da
administração e o encaminhamento da sucessão, que, embora estejam ligados
à questão do capital intelectual, não representam todos os aspectos da questão.
Banco 2
O Banco utiliza informações que tem por objetivo medir o capital intelectual
das empresas avaliadas. Para isso utilizamos relatório de informações colhido
junto às empresas e parametrizados no modelo de análise julgamental.
Banco 3 Não mensura, porém, a avaliação e/ou ponderação pode ser feita quando da
análise julgamental.
Banco 4 Não.
Banco 5
Através de perguntas elaboradas e inclusas em questionários sobre os
clientes, o banco passou a armazenar informações de Capital Intelectual das
empresas. Além disso, os analistas acompanham e realizam visitas às empresas
e consideram as informações obtidas sobre capital intelectual no processo de
avaliação.
Banco 6 Negativo.
108
Banco 7 A mensuração está incorporada entre os item de avaliação qualitativa
(julgamental) da empresa.
Analisando as respostas dos Diretores e Gerentes, evidencia-se que dos 7 Diretores, 4
responderam que não utilizam nenhum item de Capital Intelectual em seus processos de
gerenciamento de riscos de crédito. Da mesma forma, 3 dos 7 Gerentes fizeram a mesma
afirmação. Para os respondentes que utilizam algo sobre o Capital Intelectual em seus
processos, exibe-se como são os mesmos (basicamente obtidos por meio de questionários
qualitativos e visitas as empresas):
Visão dos Diretores
• Análise da Tecnologia da empresa – 1 resposta.
• Plano de desenvolvimento – 1 resposta.
• Forma de administração da empresa – 1 reposta.
• Governança e valores – 1 resposta.
Visão dos Gerentes
• Análise da tecnologia da empresa – 1 resposta.
• Profissionalização da administração – 1 resposta.
• Processo sucessório – 1 resposta.
• Análise de relatórios das empresas – 2 respostas.
Dessa forma, conclui-se que os gestores dos bancos realmente não utilizam de forma
contundente as informações de Capital Intelectual em seus processos de gerenciamento de
riscos de crédito, além da falta de padronização e de processo estruturado para utilizar tal
informação. Outro ponto a destacar é que os gestores pesquisados não possuem total
conhecimento dos conceitos de Capital Intelectual.
Para entendimento dos motivos que levam os gestores dos bancos a não utilizarem
atualmente informações sobre o Capital Intelectual em seus processos de gerenciamento de
risco de crédito foi-lhes questionado o motivo. O quadro 20 exibe as respostas obtidas dos
Diretores e Gerentes, literalmente transcritas.
109
Quadro 20: Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos sobre os motivos de não utilização do Capital Intelectual nos processos atuais de gerenciamento de risco de crédito (para quem não utiliza).
Diretores Resposta dada
Banco 2 Falta de informação.
Banco 3
Dificuldade na captura e mensuração dos benefícios do capital intelectual
na modelagem de risco, embora tais aspectos sejam importantes.
Banco 4 Difícil mensuração é o principal problema. É colocado mais como diferencial
ou seja um ponto forte ou fraco da empresa analisada. Este aspecto difere muito
de setor para setor. Há aqueles que este aspecto pode pesar muito e outros
menos.
Banco 7 Difícil avaliação em outras organizações.
Gerentes Resposta dada
Banco 3 Dificuldades na criação de ferramentas.
Banco 4 Ausência de modelos para esta avaliação.
Banco 6 Não respondeu.
Analisando as respostas dos Diretores e Gerentes, verifica-se que os grandes
motivadores da não utilização pelos bancos de informações sobre o Capital Intelectual das
empresas em seus processos atuais de gerenciamento de risco de crédito é a falta de
informação ou local apropriado para se obter as mesmas, além da dificuldade na adaptação
das ferramentas atuais para tratar tais informações. Essas constatações foram observadas tanto
nas respostas dos Diretores como na dos Gerentes.
A figura 7 exibe as respostas dos respondentes sobre em qual segmento de negócio dos
bancos as informações de Ativos Intangíveis e Capital Intelectual das empresas deveriam ser
inseridas para o gerenciamento de risco de crédito.
110
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60%
Segmento de grandes empresas
Segmento de médias empresas
Segmento de pequenas empresas
Em todos os segmentos acima
Outros
Total
Gerentes
Diretores
Figura 7: Segmento de negócio onde deveriam ser tratadas as informações de Ativos Intangíveis e de Capital Intelectual das empresas
Com relação a qual segmento de negócio dos bancos as informações de Ativos
Intangíveis e Capital Intelectual das empresas deveriam ser inseridas para o gerenciamento de
risco de crédito, chegou-se aos seguintes ativos por ordem de preferência.
Visão dos Diretores:
• Segmento de grandes empresas – 4 respostas.
• Em todos os segmentos – 4 respostas.
• Segmento de médias empresas – 3 respostas.
Visão dos Gerentes:
• Segmento de grandes empresas – 4 respostas.
• Em todos os segmentos – 3 respostas.
• Segmento de médias empresas – 3 respostas.
Dessa forma evidencia-se que o segmento de grandes empresas (corporate) é o
principal segmento de negócio no qual as informações de Ativos Intangíveis e Capital
Intelectual das empresas deveriam ser inseridas para o gerenciamento de risco de crédito.
Para finalizar o bloco C questionou-se aos respondentes sobre sua visão resumida
sobre o estágio atual da utilização dos Ativos Intangíveis e do Capital Intelectual nos modelos
de gerenciamento de risco de crédito dos bancos. O quadro 21 exibe as respostas obtidas dos
Diretores e Gerentes literalmente transcritas.
111
Quadro 21: Respostas dadas pelos Diretores e Gerentes dos bancos sobre o atual estágio de utilização dos Ativos Intangíveis e do Capital Intelectual nos modelos de Gerenciamento de riscos de crédito dos bancos.
Diretores Resposta dada
Banco 1 São utilizados parcialmente, entretanto, com potencial para elevar esta
utilização.
Banco 2 Basicamente são utilizados nas avaliações das grandes empresas e das
Instituições Financeiras.
Banco 3
A utilização de tais ativos ainda é incipiente na instituição. Alguns ativos
intangíveis já são contemplados nos modelos, mas com um estágio ainda inicial
de maturidade. A implementação da Abordagem IRB Avançada no banco
propiciará a utilização de tais variáveis de forma mais intensa.
Banco 4
Por ser de difícil mensuração ele é pouco utilizado. E há casos em que os
aspectos intangíveis são mais importantes como nas empresas de serviços e
de tecnologia. Este ponto pode ser o fator de sucesso ou de quebra da empresa.
Em outras empresas industriais e comerciais o ponto é importante mas nem
sempre é fundamental.
Banco 5 Em desenvolvimento.
Banco 6
Bastante bom, mas pode ainda melhorar. A metodologia indireta esbarra nas
informações disponíveis. Assim, somente com tratamento caso a caso se pode
identificar o conhecimento e as particularidades de cada empresa e o seu modo
de tratar cada um dos ativos intangíveis. Isso já é feito na aprovação de crédito.
Para a gestão do risco de crédito, as empresas e operações são resumidas por
meros indicadores estatísticos e é nesse ponto que são necessárias maiores
informações.
Banco 7 Ainda em fase embrionária, porém, em desenvolvimento para o futuro.
Gerentes Resposta dada
Banco 1
Ainda está num estágio de avaliação indireta, sendo avaliados por tópicos
relacionados (capital intelectual) ou de forma não sistemática (ativos
intangíveis).
Banco 2
Classifico a utilização dessas informações como médio, pois existe muita
dificuldade de obter informações confiáveis sobre Capital Intelectual nas
empresas. Por esse motivo utilizamos esses modelos apenas para grandes e
mega empresas.
Banco 3 O atual estágio da utilização dos ativos intangíveis e do Capital Intelectual nos
modelos de gerenciamento de risco de crédito se dá de forma bastante
incipiente e por meio da análise julgamental, a partir de informações obtidas
em pesquisas na internet, leitura dos relatórios de administração e relatórios de
visitas.
112
Banco 4 Intangíveis são usados na avaliações julgamentais e o capital intelectual não é
usado na avaliação do risco de crédito, a menos que esse seja o negócio da
empresa.
Banco 5
Ainda estamos em fase de desenvolvimento e captura de informações para
posterior inclusão nos modelos.
Banco 6 Embora não tenha atuação direta nesta área, minha impressão é que a utilização
destas variáveis tem muito que evoluir.
Banco 7 Estamos alinhados com as demais instituições de mesmo porte no mercado,
respeitando os preceito do Acordo de Basileia e do Banco Central do Brasil.
Analisando as respostas dos Diretores e Gerentes têm-se:
Visão dos Diretores
• Esses ativos são utilizados de forma parcial (incipiente) – 3 respostas.
• Possuem potencial para melhorar – 2 respostas.
• Em desenvolvimento – 2 respostas.
• Com a utilização da metodologia IRB tende-se a evoluir – 1 resposta.
• Bastante bom – 1 resposta.
Visão dos Gerentes
• Em desenvolvimento – 2 respostas.
• Esses ativos são utilizados de forma parcial (incipiente) – 2 respostas.
• A utilização atual é mediana – 1 resposta.
• Muito a evoluir – 1 resposta.
Como conclusão das análises efetuadas no Bloco C da pesquisa, onde a intenção foi
entender a relevância de se contemplar o Capital Intelectual nos processos de gerenciamento
de risco de crédito dos bancos pesquisados, tem-se que:
• Os colaboradores dos bancos pesquisados não possuem total conhecimento dos
conceitos de Capital Intelectual e não utilizam o mesmo em seus processos.
• Apesar de ser reconhecido como importante e relevante, o Capital intelectual das
empresas não vem sendo utilizado nos processos atuais dos bancos e dessa forma,
não observa-se se as empresas que atualmente melhor demonstram seu valor de
113
Capital Intelectual possuem benefícios no momento da avaliação de seu risco de
crédito.
• Nos bancos não existem modelos específicos de avaliação e mensuração do
Capital Intelectual das empresas.
• Os principais motivos que levam os gestores dos bancos a não utilizarem
informações do capital Intelectual em seus processos de gerenciamento de risco de
crédito são a falta de informações sobre o Capital Intelectual das empresas e a falta
de ferramentas de avaliação desse tipo de ativo.
• O principal segmento de negócio onde o Capital Intelectual deveria ser mensurado
e avaliado para o processo de gerenciamento de risco de crédito é o segmento de
grandes empresas (corporate).
Por fim, verifica-se que os processos atuais dos bancos de gerenciamento de risco
de crédito possuem espaços para evoluírem e se aperfeiçoarem por meio da introdução dos
ativos relacionados ao Capital Intelectual das empresas. Possivelmente, com o aumento da
utilização desses ativos nos processos de gerenciamento de risco de crédito dos bancos, tal
fato poderá incentivar as empresas a divulgarem mais informações sobre esses ativos,
resultando na melhora substancial das informações aos bancos e ao mercado de forma
geral.
4.2 Proposta de aperfeiçoamento do modelo de gerenciamento de risco de crédito –
Banco Titânio (nome fictício)
Do Objetivo Específico 3
Do Objetivo Específico 3: Propor uma sistemática para a inclusão dos ativos
intangíveis caracterizados como Capital Intelectual nos modelos de gerenciamento de
risco de crédito de bancos, para aperfeiçoamento dos mesmos. Análise de caso
efetuado com o Banco Titânio (nome fictício).
Para o cumprimento do objetivo específico 3 foi feita uma análise de caso no Banco
Titânio (nome fictício), uma das maiores Instituições Financeiras privadas do Brasil, segundo
114
o BACEN. Conforme já mencionado, a pedido da Instituição, em função da disponibilização
de informações e processos estratégicos, foi mantido o anonimato da mesma e utilizou-se um
nome fictício para o banco (Banco Titânio). Todavia, todos os processos e fluxos descritos
nessa fase da pesquisa condizem fielmente aos processos do Banco Titânio, sendo que os
mesmos foram analisados e validados pelos especialistas em modelagem de risco de crédito
da instituição.
Objetivou-se nessa fase da pesquisa o entendimento dos processos de gerenciamento
de riscos do banco, principalmente o risco de crédito, para se propor uma sistemática de
inclusão de ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual nos modelos de
gerenciamento de risco de crédito do mesmo, de forma a aperfeiçoá-lo.
Gerenciamento de Riscos no Banco Titânio
O Banco Titânio considera o gerenciamento de riscos fundamental em todas as suas
atividades e o utiliza com o objetivo de agregar valor aos seus negócios e dar suporte às áreas
de negócios no planejamento de suas atividades, maximizando a utilização de recursos
próprios e de terceiros em benefício de seus stakeholders e da sociedade.
A atividade de gerenciamento de riscos é altamente estratégica em virtude da crescente
complexidade dos serviços e produtos ofertados e da globalização dos negócios do banco,
motivo pelo qual está sempre aprimorando seus processos, além de utilizar como referência as
melhores práticas internacionais, a regulação local e as recomendações do Novo Acordo de
Capital de Basileia. O Banco Titânio investe consideravelmente em ações relacionadas aos
processos de gerenciamento riscos, especialmente na capacitação do quadro de funcionários, a
fim de elevar a qualidade da execução dos referidos processos e de garantir o foco necessário,
fatores intrínsecos a estas atividades, que produzem alto valor agregado.
O Banco Titânio aborda o gerenciamento de todos os riscos inerentes às suas
atividades de modo integrado, dentro de um processo de aprimoramento contínuo, visando
acompanhar a evolução dos negócios e minimizar a existência de lacunas que possam
comprometer a qualidade deste gerenciamento.
Risco de Mercado
Risco de mercado é a possibilidade de perda por oscilação de preços e taxas de
mercado (KIMURA et al., 2009, p.15 e JORION, 2001, p.15), uma vez que as carteiras ativa e
115
passiva do Banco Titânio podem apresentar descasamentos de prazos, moedas e indexadores.
O processo de gerenciamento de risco de mercado no Banco Titânio permite embasar decisões
estratégicas do banco com grande agilidade e alto grau de confiança. O gerenciamento de
riscos está sempre em linha com as melhores práticas de mercado, práticas estas alinhadas
com as políticas internas, regulamentações do Banco Central do Brasil e às recomendações do
Novo Acordo de Capital de Basileia.
Risco de Liquidez
Risco de Liquidez é a possibilidade da não existência de recursos financeiros
suficientes (JORION, 2001, p.18 e KIMURA et al., 2009, p.16) para que o Banco Titânio
honre seus compromissos em razão dos descasamentos entre pagamentos e recebimentos,
considerando as diferentes moedas e prazos de liquidação de seus direitos e obrigações.
O conhecimento e o acompanhamento deste risco são cruciais, sobretudo para que o
Banco Titânio possa liquidar as operações em tempo hábil e de modo seguro. O Banco
Titânio tem uma Política de Liquidez que define os níveis mínimos a serem mantidos, assim
como os instrumentos para gestão da liquidez em cenário normal e em cenário de crise. A
política e os controles estabelecidos atendem plenamente a Resolução nº 2.804 do CMN.
Risco Operacional
Risco operacional é definido como o risco de perda resultante de processos internos,
pessoas e sistemas inadequados ou falhos e de eventos externos (JORION, 2001, p.18 e
Kimura et al., 2009, p.17). Essa definição inclui o risco legal, mas exclui o estratégico e o de
imagem.
O controle do risco operacional está fundamentado na elaboração e implantação de
metodologias, critérios e ferramentas que padronizam a forma de coleta e tratamento dos
dados históricos de perdas, e encontra-se alinhado com as regulamentações do Bacen,
recomendações do BIS – Bank for International Settlements, e com as melhores práticas de
mercado.
116
Risco de Crédito
Risco de crédito está ligado à possibilidade de haver perdas associadas ao não
cumprimento, pelo tomador ou contraparte, de suas respectivas obrigações financeiras nos
termos pactuados, bem como à desvalorização de contrato de crédito decorrente da
deterioração na classificação de risco do tomador, à redução de ganhos ou remunerações, às
vantagens concedidas na renegociação, aos custos de recuperação e a outros valores relativos
ao descumprimento de obrigações financeiras da contraparte (BIELECKI e RUTKOWSKI,
2002, p.3; JORION, 2001, p.16; KIMURA et al., 2009, p.16; CAOUETTE, ALTMAN e
NARAYANAN, 2000, p.1).
Visando mitigar o risco de crédito, o Banco Titânio atua, continuamente, no
acompanhamento dos processos de atividades de crédito, no aprimoramento, aferição e
elaboração de inventários de seus modelos, bem como no monitoramento de concentrações e
na identificação de novos componentes que ofereçam riscos de crédito.
Adicionalmente, o direcionamento dos esforços, focado na utilização de modelos
avançados de mensuração de riscos e na melhoria contínua dos processos, reflete no
desempenho da carteira de crédito nos diversos cenários, tanto em resultados quanto em
robustez. O controle e gestão do risco de crédito é realizado pela área de Risco de Crédito,
que, dentre as principais atividades, destacam-se:
• backtesting e calibração dos modelos utilizados para mensuração de riscos da
carteira de crédito;
• participação ativa no processo de melhoria de modelos de classificação de riscos
de clientes;
• acompanhamento de grandes riscos por meio do monitoramento periódico dos
principais eventos de inadimplência;
• acompanhamento do provisionamento frente às perdas esperadas e inesperadas;
• revisão contínua de processos internos, inclusive papéis e responsabilidades,
capacitação e demandas de tecnologia da informação; e
• participação na avaliação de riscos, quando da criação ou revisão de produtos e
serviços.
Além disso, todo o processo de controle do risco de crédito abrange a revisão
periódica dos projetos voltados ao atendimento das melhores práticas de mercado e aos
requerimentos do Novo Acordo de Capital. Visando o aprimoramento no processo de gestão,
117
todas as ações em andamento são monitoradas e procura-se identificar e sanar novas lacunas
ou necessidades que possam surgir.
A metodologia de avaliação de risco de crédito, além de fornecer subsídios ao
estabelecimento de parâmetros mínimos para concessão de crédito e gerenciamento de riscos,
possibilita a definição de políticas de crédito diferenciadas em função das características e do
porte do cliente. Com isto, oferece embasamento tanto para a correta precificação das
operações quanto para a definição de garantias adequadas a cada situação.
As classificações de risco para grupos econômicos - pessoas jurídicas - fundamentam-
se em procedimentos estatísticos e julgamentais parametrizados, informações quantitativas e
qualitativas. São efetuadas de modo corporativo e acompanhadas periodicamente com o
objetivo de preservar a qualidade da carteira de crédito.
O Banco Titânio considera que a mensuração quantitativa e a modelagem estatística
são fundamentais para suportar o gerenciamento de riscos. Por esta razão, a área de
Modelagem trabalha na fronteira dos avanços das ferramentas de gestão de informação e
modelagem estatística.
Por fim, a partir da significativa base de informações de todo o Banco Titânio, são
criados modelos estatísticos que visam mensurar as probabilidades de descumprimento (PD),
as perdas após o descumprimento (LGD), escores de crédito, escores de recuperação e escores
de comportamento. Esses modelos estão sendo inseridos continuamente ao longo do processo
de concessão, acompanhamento e recuperação de crédito, buscando aprimorar o apreçamento
do risco e otimização na alocação de capital do Banco Titânio.
Proposta de sistemática para a inclusão dos ativos intangíveis caracterizados como
Capital Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de crédito
• Entendimento dos modelos – Banco Titânio
No processo de gerenciamento de risco de crédito do Banco Titânio existe a fase de
identificação e análise da PD (Probabilidade de default ou descumprimento) dos clientes.
Essa identificação e análise é importante para a apuração do potencial de descumprimento de
um cliente frente a suas obrigações financeiras com o banco.
Essas PD’s são identificadas através de modelos de gerenciamento de risco de crédito,
que conforme define Chaia (2003, p.4), são modelos que utilizam como variáveis as
118
características dos devedores e as condições econômicas e de mercado vigentes. A figura 8
demonstra a essência de um modelo de gerenciamento de risco de crédito.
Figura 8 – Essência de um modelo de gerenciamento de risco de crédito
Fonte: Chaia (2003, p.4)
A figura 8 demonstra a essência de um modelo de gerenciamento de risco de crédito,
onde as características dos devedores são representadas pelos parâmetros que os bancos
assumem para estabelecer a classificação dos clientes em relação a seus riscos. Já as
condições econômicas e de mercado representam os parâmetros externos aos clientes que
afetam a percepção dos bancos sobre as probabilidades de descumprimento, servindo de base
para a apuração do risco de crédito.
O Banco Titânio mensura o risco de crédito dos clientes de duas formas distintas:
mensuração para concessão de empréstimos e mensuração para o gerenciamento da carteira
de empréstimos. A figura 9 demonstra as duas formas de mensuração de risco do banco:
Figura 9 – Formas de mensuração de riscos no Banco Titânio
Fonte: elaborado pelo autor
Características dos devedores
Condições Econômicas e de Mercado
Modelos de mensuração do Risco de Crédito
Minimização do Risco de Crédito do banco
Mensuração
Para concessão de empréstimos
Para o gerenciamento da carteira de empréstimos
119
Por meio da figura 9 percebe-se que o banco utiliza formas diferenciadas para
mensurar o risco de seus clientes, sendo a mensuração para concessão de empréstimos aquela
utilizada para verificar se o banco deve ou não deve emprestar recursos financeiros a
determinado cliente (determina bons e maus clientes). Nesse processo o cliente ainda não
obteve o empréstimo solicitado. Já a forma de mensuração para o gerenciamento da carteira
de empréstimos é aquela utilizada para mensurar a probabilidade do banco incorrer em perdas
financeiras sobre empréstimos já concedidos a clientes. Nesse processo os recursos
financeiros já foram disponibilizados para os clientes e o banco precisa monitorar o risco dos
mesmos para tomar as providências cabíveis. A proposta de aperfeiçoamento do modelo de
risco de crédito desta pesquisa foi elaborada tomando-se como base a forma de mensuração
para o gerenciamento da carteira de empréstimos.
Para mensurar o risco de crédito dos clientes, o Banco Titânio utiliza modelos e
técnicas em seu auxílio. Importante destacar que todo modelo/técnica de mensuração de risco
de crédito, seja para a concessão de empréstimos, seja para o gerenciamento da carteira de
empréstimos, pode ser aperfeiçoado através de três processos:
1) Melhoria do processo utilizado pelo modelo/técnica, ou seja, melhoria na forma de
como o modelo determina o risco do cliente;
2) melhoria das informações da base de dados do banco, ou seja, melhoria da
qualidade das informações obtidas pelo banco;
3) introdução de novas variáveis no modelo que melhorem a predição dos riscos dos
clientes, ou seja, introdução de novas informações que auxiliem o modelo a determinar de
forma mais precisa o risco dos clientes. Sendo assim, a proposta de sugestão de nova
sistemática para a inclusão dos ativos intangíveis caracterizados como Capital Intelectual nos
modelos de gerenciamento de risco de crédito do Banco Titânio atendeu ao terceiro processo.
Em aderência com os achados nas respostas aos questionários da pesquisa efetuada
com os demais bancos, o Banco Titânio também utiliza duas técnicas para mensurar o risco de
crédito de clientes: O Credit Scoring e a Análise Julgamental. Em geral, a técnica Credit
Scoring é utilizada nas operações de Varejo, enquanto que nas operações Corporate utiliza-se
a técnica de análise julgamental, conforme citado no referencial teórico dessa pesquisa.
As figuras 10 e 11 demonstram esquematicamente como são os fluxos dessas técnicas
no Banco Titânio.
120
Figura 10 – Técnica Credit scoring - Banco Titânio
Fonte: elaborado pelo autor
Analisando-se a figura 10 percebe-se que no credit scoring várias informações são
inseridas dentro de um sistema específico, com expertise e parametrizado para analisar todas
as informações em conjunto relativas ao cliente e através dessa análise produzir um escore de
crédito do mesmo. Pela grande quantidade de clientes e informações, esse processo somente
pode ser feito através de sistemas computadorizados.
Por meio do escore de crédito apurado pelo sistema, será determinado pelo Banco
Titânio se o cliente do banco possui condições de obter um empréstimo ou não. Após a
definição do escore de crédito positivo do cliente outras variáveis precisam ser analisadas pelo
banco, tais como: informações restritivas, garantias dadas pelo cliente, análise de documentos
etc. Somente após todas essas fases o banco decide se libera ou não os recursos financeiros ao
cliente. Evidentemente que por trás dessa técnica/sistema existem vários métodos
quantitativos sendo executados (análises de regressão, regressão logística, análises
discriminantes, análise de cluster, árvores de decisão etc.), porém não é escopo dessa pesquisa
descrever o funcionamento desses métodos quantitativos (estatísticos). Na ocorrência de
escore de crédito negativo o empréstimo é rejeitado ao cliente.
Informações Financeiras
Informações Cadastrais
Outras informações
Nota estabelecida ao cliente – rating (sistema especialista)
Boas chances de aceitar o empréstimo (baixo nível de risco)
recusa o empréstimo (alto nível de risco)
Escore adequado
Escore inadequado
121
Figura 11 – Técnica de Análise Julgamental – Banco Titânio
Fonte: elaborado pelo autor
Analisando-se a figura 11 pode-se inferir que na Análise julgamental no Banco Titânio
as informações são avaliadas por um analista experiente que determina se o cliente está em
condições financeiras favoráveis ou desfavoráveis e através dessa percepção é atribuído o
rating do mesmo e, consequentemente, seu nível de risco a ser gerenciado pelo banco. Esse
processo pode ser executado por analistas experientes, sem a necessidade de sistemas
computadorizados, pois a quantidade de empresas avaliadas por essa técnica são bem menores
(empresas corporate).
De acordo com os resultados obtidos no questionário enviado aos gestores dos bancos,
o segmento de negócio onde deveriam ser tratadas as informações dos ativos intangíveis
relacionados ao Capital Intelectual, foi o segmento de grandes empresas, também conhecido
como segmento “corporate”. Também, por meio do referencial teórico, verificou-se que para
o segmento de grandes empresas ou “corporate”, a técnica mais adequada para mensuração do
risco de crédito é a Análise julgamental. Sendo assim, para a proposta de aperfeiçoamento do
modelo de gerenciamento de risco de crédito por meio da inclusão de ativos intangíveis
(Capital Intelectual), foi tomado como base a técnica de Análise julgamental no segmento de
grandes empresas (corporate).
• Processo de inclusão de novas variáveis nos modelos – Banco Titânio
Para a introdução de novas variáveis nos modelos de gerenciamento de risco de crédito
do Banco Titânio, existe um processo a ser executado para a certificação da qualidade das
Análise de Demonstrações Contábeis
Informações Não financeiras e subjetivas
Outras informações
Informações analisadas por um analista experiente
Rating negativo
Rating positivo
Boas chances de aceitar o empréstimo (baixo nível de risco)
recusa o empréstimo (alto nível de risco)
122
novas informações no modelo. O importante nesse processo é identificar se a variável possui
alguma correlação com a PD dos clientes. A figura 12 demonstra as possíveis correlações
entre a nova variável e as PD’s dos clientes.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
risco - bom para o modelo
risco - bom para o modelo
risco - não serve para o modelo
Figura 12 – Possíveis correlações entre a nova variável e as PD’s dos clientes
Fonte: elaborado pelo autor
Por meio da figura 12 pode-se verificar que as variáveis mais importantes para os
modelos de gerenciamento de risco de crédito do Banco Titânio são aquelas que possuem
correlação com as PD’s dos clientes, ou seja, quando essas variáveis apresentam variações as
mesmas explicam variações na PD dos clientes. Já aquelas variáveis que independentemente
de sua performance (boa ou ruim) a PD dos clientes permanece inalterada, essas variáveis não
fazem sentido para os modelos de gerenciamento de risco de crédito e podem ser eliminadas
do processo.
Já a figura 13 demonstra o fluxo do processo de inclusão de novas variáveis nos
modelos de gerenciamento de risco de crédito do Banco Titânio, especificamente na técnica
de Credit Scoring. O fluxo do processo da técnica de análise julgamental será abordado mais
adiante.
Nova variável
PD’s
123
Figura 13 – Fluxo do processo de inclusão de novas variáveis – Credit Scoring
Fonte: elaborado pelo autor
Por meio da análise da figura 13, pode se perceber que o fluxo do processo de inclusão
de novas variáveis nos modelos de gerenciamento de risco de crédito do Banco Titânio
(Técnica Credit Scoring) inicia-se pela análise se a variável individualmente discrimina
clientes com características semelhantes e que possuem PD’s iguais. Se a variável não possuir
o poder de individualmente discriminar clientes e suas PD’s a mesma é descartada do
processo.
Porém, ao verificar-se que a variável tem o poder de discriminar clientes e PD’s,
passa-se a analisar o efeito da entrada dessa nova variável no modelo de gerenciamento de
risco de crédito. Esse efeito pode ser:
Nova variável (financeira ou não
financeira)
A variável discrimina clientes (explica as PD’s)
Sim - incluir e testar o modelo
Não – abandona a
variável
Efeito da entrada da nova variável no
modelo – 2 hipóteses
Entra e mantém as atuais variáveis
Entra e exclui variáveis atuais
Testes com situações reais para validar o modelo – ainda não
utilizadas
Validado - incluir definitivamente a nova variável no
modelo
Não validado – encontrar novas variáveis para
incluir e melhorar o modelo
124
1) A entrada da nova variável contribuiu com o modelo já existente, melhorando seu
poder de predição de riscos, mantendo-se inalteradas as demais variáveis atuais. Esse
fato ocorre quando a nova variável não possui características encontradas nas variáveis
já existentes. Por isso as variáveis atuais são mantidas no modelo.
2) A entrada da nova variável contribuiu com o modelo já existente, melhorando seu
poder de predição de riscos, porém algumas variáveis atuais são excluídas do processo
de gerenciamento de risco de crédito. Esse fato ocorre quando a nova variável possui
características encontradas nas variáveis atuais e por isso é necessário a exclusão de
algumas dessas variáveis, pois as mesmas já não fazem mais sentido.
Após a constatação da eficácia da nova variável, efetua-se testes com situações
reais de perdas de clientes já ocorridas e que não foram utilizadas para o estudo da
inclusão da nova variável. Esse processo denomina-se “validação fora do tempo”. Dessa
forma, sua inclusão definitiva no modelo dependerá de sua performance final dentro do
modelo com a verificação de situações reais. Caso contrário, o processo inicia-se com a
busca de novas variáveis para melhorar os modelos de gerenciamento de risco de crédito
do banco.
• Sugestões de avaliação e pontuação dos ativos intangíveis (Capital Intelectual)
para o processo de gerenciamento de risco de crédito do Banco Titânio
Os ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual que foram analisados para a
sugestão de avaliação e pontuação para o processo de gerenciamento de risco de crédito do
Banco Titânio, foram os ativos mais pontuados pelos respondentes dos bancos nas respostas
aos questionários enviados aos mesmos (objetivos específicos 1 e 2). Dessa forma, o quadro
22 evidencia os principais ativos escolhidos pelos respondentes e sugestões de avaliação e
pontuação dos mesmos para o processo de gerenciamento de risco de crédito, segundo a visão
do autor da pesquisa e de especialistas em gerenciamento de risco de crédito do Banco Titânio
(área de modelagem de risco de crédito).
125
Quadro 22 – Principais ativos de Capital Intelectual obtidos na pesquisa com os bancos e sugestões de formas de avaliação e pontuação para o processo de gerenciamento de risco de crédito – Banco Titânio
Tipo de Informação Sugestão de formas de avaliação Sugestão de formas de pontuação -
notas Relacionamento com clientes
Pesquisas de satisfação dos clientes da empresa, nível de diversificação dos clientes, identificação dos principais clientes.
Ótimo relacionamento - 4 Bom relacionamento - 3 Regular relacionamento - 2 Péssimo relacionamento – 1
Imagem
Pesquisa com os principais stakeholders da empresa para identificação de como os mesmos enxergam a empresa (pesquisa de percepção).
Ótima imagem - 4 Imagem boa - 3 Imagem regular - 2 Imagem péssima - 1
Nível de governança
Verificar quais as práticas de governança corporativa da empresa e compará-las às melhores práticas de mercado. As melhores práticas podem ser obtidas através dos manuais de práticas de governança corporativa da BMF&BOVESPA.
Ótimas práticas de governança - 4 Boas práticas de governança - 3 Regulares práticas de governança
- 2 Péssimas práticas de governança
– 1
Relacionamento com fornecedores
Identificação dos principais fornecedores da empresa, nível de dependência dos fornecedores, Pontualidade e qualidade dos produtos/serviços entregues pelos fornecedores.
Ótimo relacionamento - 4 Bom relacionamento - 3 Regular relacionamento - 2 Péssimo relacionamento – 1
Valor de mercado da empresa
Acompanhar a evolução do valor de mercado.
Valor de mercado em crescimento - 2
Valor de mercado estável – 1 Valor de mercado em queda - 0
Marca
Valor da marca da empresa obtida por meio de estudos efetuados por empresas especialistas em valorização desse tipo de ativo.
Valor até $ milhões – 1 ponto Valor de $ até $$ milhões – 2
pontos Valor de $$ até $$$ milhões – 3
pontos Valor superior a $$$ - 4 pontos
Canais de distribuição
Verificar quais os canais de distribuição da empresa.
1 canal de distribuição - 1 2 canais de distribuição - 2 3 canais de distribuição - 3 4 canais de distribuição - 4 + de 4 canais de distribuição – 5
Cultura organizacional
Verificar através de pesquisas com funcionários/diretores qual é a cultura organizacional e como ela permeia toda empresa.
Cultura encontrada em toda empresa - 4
Cultura encontrada em 50% da empresa - 3
Cultura encontrada em 20% da empresa - 2
Não identificado padrões de cultura na empresa – 1
Investimentos em tecnologia Verificar e quantificar os investimentos em tecnologia da empresa.
Valor dos investimentos em tecnologia nos últimos 5 anos
Reputação Idem imagem Idem imagem Fonte: elaborado pelo autor
126
As sugestões de formas de avaliação e pontuação das variáveis relacionadas a ativos
intangíveis (Capital Intelectual) são passíveis de serem implementadas nos processos do
Banco Titânio.
Após a criação de formas de avaliação e pontuação das novas variáveis relacionadas
ao Capital Intelectual existe a necessidade de relacionar os resultados obtidos nessas variáveis
com as PD’s dos clientes para se estimar a correlação das mesmas, ou seja, análise para
determinar se as novas variáveis auxiliam na identificação dos defaults dos clientes e
consequentemente seu risco.
Nessa fase esbarra-se num problema, pois os clientes “corporate” do banco não
possuem históricos suficientes de perdas para a associação com as novas variáveis de Capital
Intelectual. Na verdade esse problema é encontrado em quase todos os bancos, pois nesse
segmento (corporate) as perdas com clientes são menores que as perdas em outros segmentos.
Todavia, na ausência de históricos de perdas para a associação com as novas variáveis,
o banco poderá recorrer a experts em cada nova variável para um diagnóstico se as mesmas
podem determinar o risco do cliente e seu potencial default. Esse processo pode ser utilizado
pelos bancos, principalmente após Basileia II, por meio dos modelos IRB, onde os bancos
podem criar seus modelos de gerenciamento de risco de crédito. O importante é que os bancos
brasileiros, após a criação dessas novas metodologias, submetam as mesmas ao Bacen para
análise e validação. A partir de então o novo processo poderá ser utilizado e será avaliado
periodicamente pelo órgão regulador.
Dessa forma a figura 14 demonstra o processo final de inclusão de ativos intangíveis
relacionados ao Capital Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de crédito do
Banco Titânio, na técnica de análise julgamental.
127
Figura 14 – Processo final de inclusão de variáveis de ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de crédito do Banco Titânio – análise julgamental
Fonte: elaborado pelo autor
Sendo assim, a figura 14 demonstra o modelo de Análise julgamental do Banco
Titânio ajustado com a incorporação dos ativos intangíveis (Capital Intelectual) em seu
contexto.
Por fim tem-se a técnica de análise julgamental ajustada com a inclusão dos
ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual. A figura 15 demonstra essa técnica
ajustada.
Nova variável no modelo
Ativo de Capital Intelectual
Definir formas de avaliação e
pontuação da nova variável
É possível relacionar a nova variável com as PD’s dos clientes
do banco
Sim – utilizar a variável no modelo para avaliação de risco de crédito do
cliente
Obter a análise e parecer de experts sobre o poder de
predição da variável
Não – abandonar a nova variável
128
Figura 15 – Técnica de Análise Julgamental ajustada
Fonte: elaborado pelo autor
Por meio da figura 15 pode-se inferir que na Análise julgamental ajustada com a
introdução dos ativos de Capital Intelectual, as informações continuam a ser analisadas por
um analista experiente, porém o mesmo terá a seu dispor melhores informações para a tomada
de decisão e avaliação de riscos dos clientes, ou seja, o processo ganhou em precisão na
mensuração dos riscos dos clientes.
Para a utilização desse processo é muito importante que seja observado pelo Banco
Titânio os seguintes pontos:
1. Padronização de todos os dados do processo.
2. Criação de metodologias de mensuração e avaliação das novas variáveis.
3. Encontrar a correlação entre a nova variável e as PD’s dos clientes, seja de
maneira direta ou através da opinião de experts na avaliação da variável.
Por fim, espera-se que esse processo venha a contribuir com os modelos de Análise
julgamental dos bancos, principalmente do Banco Titânio, com os seguintes benefícios:
a) Maior precisão na análise e identificação dos riscos de crédito dos clientes;
Análise de Demonstrações Contábeis
Informações Não financeiras
Outras informações
Informações analisadas por um analista experiente
Ativos Intangíveis (Capital Intelectual)
Rating negativo
Rating positivo
Boas chances de aceitar o empréstimo (baixo nível de risco)
recusa o empréstimo (alto nível de risco)
129
b) Poder de tratamento diferenciado dos clientes e consequente cobrança diferenciada
de taxa de juros (taxas mais justas);
c) Poder de retenção de bons clientes; e
d) Expurgo natural dos maus clientes.
130
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo abordou o tema Capital Intelectual no âmbito das instituições financeiras
bancárias, com o objetivo geral de conhecer como são os processos de gerenciamento de
riscos de créditos de bancos brasileiros de forma a se identificar como são tratadas as
informações não financeiras, especificamente as relacionadas ao Capital Intelectual, à luz do
Novo Acordo de Capitais - Basileia II, visando o aperfeiçoamento desses processos com a
introdução dessas informações.
Considerou-se que o processo de gerenciamento de risco de crédito é uma das mais
importantes atividades dos bancos, visto estar relacionada diretamente com sua principal
missão, que é a intermediação financeira, ou seja, captar recursos financeiros excedentes no
mercado e emprestá-los às pessoas/empresas que necessitam de recursos para objetivos
específicos.
Nos dias atuais o governo e a sociedade em geral tem criticado os altos spreads
cobrados pelos bancos brasileiros, definido como a diferença entre a taxa de juros paga pelos
bancos na captação de recursos financeiros de terceiros e a taxa de juros cobrada por esses
mesmos bancos ao emprestarem os recursos a pessoas/empresas. Porém, na composição do
spread bancário, parcela é originada dos riscos de perdas financeiras dos bancos com sua
carteira de empréstimos.
Dessa forma, quanto mais apurado for o processo dos bancos para a identificação das
potenciais perdas com suas carteiras de empréstimos, os mesmos poderão criar mecanismos
mais eficientes para a mitigação dessas perdas financeiras e, assim, reduzir eventuais
prejuízos, criando valor aos acionistas, além de efetuar uma política de cobrança de taxas de
juros mais justa, ou seja, cobrar juros maiores dos piores clientes e juros menores dos bons
clientes.
De acordo com o conteúdo do referencial teórico dessa pesquisa, pode-se verificar a
importância do desenvolvimento pelos bancos de modelos e técnicas mais apuradas para o
efetivo processo de gerenciamento de risco de crédito e mitigação de perdas financeiras e que
os ativos intangíveis, principalmente os relacionados ao Capital Intelectual podem contribuir,
sobremaneira, nesse aperfeiçoamento.
131
Verifica-se que, atualmente, o potencial para criação de vantagem competitiva para as
empresas está mais relacionado com o gerenciamento dos ativos intangíveis ou Capital
Intelectual do que com ativos tangíveis. Porém, as informações contábeis atuais se mostram
inadequadas para evidenciarem esses ativos em seus relatórios, prejudicando seus usuários,
em suas tomadas de decisões estratégicas; fato esse decorrente da limitação hoje existente na
identificação e mensuração do Capital Intelectual das organizações dada a regulamentação
vigente.
Em função do exposto, o estudo realizado permitiu chegar às seguintes conclusões:
• Os bancos estão adotando as regulamentações de Basileia II em seus processos de
gerenciamento de risco de crédito, sendo que grande parte já utiliza a metodologia
IRB (Internal Rating Based), um modelo considerado avançado em seus
processos. Essa metodologia permite a utilização de modelos próprios para o
gerenciamento de risco de crédito e a inclusão de informações de ativos
intangíveis (Capital Intelectual) nos modelos e técnicas utilizadas pelos bancos,
desde que validadas e aprovadas pelo órgão regulador (BACEN).
• Mesmo antes das regulamentações de Basileia II, os bancos já utilizavam
informações não financeiras e subjetivas em seus modelos/técnicas de
gerenciamento de risco de crédito, em função das informações contidas nas
Demonstrações Contábeis não serem suficientes para a efetiva gestão do processo.
• Basileia II trouxe oportunidades de inovações e aperfeiçoamentos para os
modelos/técnicas de Gerenciamento de Riscos de Crédito dos bancos.
• Existe a percepção de que as informações não financeiras e sobre ativos
intangíveis são importantes e relevantes para o processo de gerenciamento de risco
de crédito dos bancos.
• Apesar dos gestores dos bancos reconhecerem que são importantes e relevantes, as
informações sobre ativos intangíveis ainda não são totalmente utilizadas nos
processos de gerenciamento de risco de crédito. Isso deve-se à dificuldade de se
obter tais informações das empresas, além de não existir formas padronizadas de
mensuração e avaliação desses ativos.
• Os colaboradores dos bancos pesquisados não possuem total conhecimento dos
conceitos de Capital Intelectual e não utilizam o mesmo em seus processos. Dessa
132
forma evidencia-se que os bancos precisam entender melhor o que são esses ativos
e seu poder de geração de valor às empresas.
• Nos bancos não existem modelos específicos de avaliação e mensuração do
Capital Intelectual das empresas para inclusão nos modelos e técnicas de
gerenciamento de risco de crédito.
• Os principais motivos que levam os gestores dos bancos a não utilizarem
informações do Capital Intelectual em seus processos de gerenciamento de risco
de crédito são a falta de informações sobre o Capital Intelectual das empresas e a
falta de ferramentas de avaliação desse tipo de ativo.
• Os bancos pesquisados estariam dispostos a incluir em seus processos de
gerenciamento de risco de crédito informações de ativos intangíveis relacionados
ao Capital Intelectual das empresas.
Por fim, verificou-se, também, por meio da análise de caso efetuada no Banco Titânio,
que os ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual são importantes e relevantes para
o efetivo gerenciamento de risco de crédito da carteira de empréstimos do banco, e que a
inclusão desses ativos nos modelos e técnicas utilizadas pelo banco é viável, desde que se faça
uma correta avaliação e mensuração desses ativos, além da identificação de sua correlação
com as PD’s dos clientes, para que o processo seja aperfeiçoado.
Dessa forma, através de análises e reuniões com os profissionais responsáveis pela
área de modelagem de risco de crédito do Banco Titânio, conseguiu-se construir uma
sistemática teórica de inclusão dos ativos de Capital Intelectual nos modelos e técnicas de
gerenciamento de risco de crédito do banco.
Assim, em função dos resultados dessa pesquisa, acredita-se que a correta
identificação e mensuração dos ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual, para
inclusão nos modelos e técnicas de gerenciamento de risco de crédito dos bancos brasileiros,
pode aperfeiçoar e dar maior precisão a esses modelos e técnicas na identificação do potencial
de perdas financeiras e da probabilidade de descumprimento (PD) da carteira de crédito dos
bancos e com isso permitir que os bancos tomem ações necessárias para mitigar essas perdas.
Nesse sentido, vale mencionar que já existem empresas que estão se especializando na
avaliação de ativos intangíveis, muitos deles relacionados ao Capital Intelectual. Isso pode ser
verificado pela recente matéria divulgada na revista Consumidor Moderno, ano 15 – outubro
de 2010, com o título: “O que as empresas ganham ao priorizar a gestão de ativos
133
Intangíveis?” Nessa matéria foi demonstrada a importância da correta identificação dos ativos
intangíveis importantes para a empresa e seu efetivo gerenciamento. A revista também
demonstrou a premiação PIB – Prêmio Intangível Brasil, que utilizou a metodologia IAM –
Intangible Assets Management, criada pela empresa de consultoria DOM Strategy Partners.
Esse prêmio foi fruto da avaliação de importantes ativos intangíveis de empresas, muitos
desses ativos relacionados ao Capital Intelectual das mesmas, tais como: Conhecimento
Corporativo, Governança corporativa, Inovação, Marcas, Sustentabilidade, Talentos, TI
e Internet e Clientes e Consumidores.
Sendo assim, entende-se ser imprescindível a criação de uma metodologia para
mensuração, avaliação e inclusão dos ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual
pelos bancos, para maior precisão de seus processos de gerenciamento de riscos de crédito de
sua carteira de empréstimos, para mitigação das perdas financeiras. Nesse sentido, este estudo
vem trazer uma contribuição para que esta necessidade se torne uma realidade incorporada à
gestão de riscos nas instituições financeiras.
• Limitações do Estudo
Considera-se que em todo estudo, por mais que tenha sido o empenho e a dedicação do
pesquisador em identificar e aplicar as condições ideais de trabalho, algumas limitações são
encontradas, principalmente àquelas relacionadas às escolhas metodológicas. Nesse estudo
foram identificadas as seguintes limitações:
1. Apesar da pesquisa com os bancos ter alcançado aproximadamente 53% do total
dos ativos do sistema financeiros, apenas oito bancos foram pesquisados;
2. alguns bancos pertencentes ao ranking das dez maiores Instituições Financeiras do
país, segundo o BACEN, não se manifestaram a respeito de sua participação na
pesquisa;
3. a escolha da análise de caso com o Banco Titânio impossibilita a generalização
dos resultados e da proposição de modelos/técnicas de gerenciamento de risco de
crédito desenvolvida com o banco;
4. a pesquisa foi influenciada pelo pesquisador, quanto a escolha da metodologia de
pesquisa e da forma de analisar os resultados da mesma;
5. também houve a influência do pesquisador, pois o mesmo participou ativamente
da análise de caso no Banco Titânio, além do mesmo atuar há mais de 26 anos no
banco; e
134
6. As variáveis da pesquisa não são controláveis por parte do pesquisador.
• Sugestões para Futuros Estudos
Ao longo desse estudo foi possível identificar alguns caminhos que podem sugerir
futuros estudos. São eles:
1. A metodologia mais comumente citada na literatura é a que Capital Intelectual é
visto como a diferença entre o valor do patrimônio líquido e o valor de mercado de
uma empresa. Dessa forma, é de se investigar se a eventual queda brusca do valor
de mercado de uma empresa, causada por possíveis crises financeiras, evidencia
que as empresas perderam seu valor de Capital Intelectual e o poder de geração de
benefícios futuros.
2. Verificar empiricamente se as formas de avaliação e pontuação dos ativos
intangíveis relacionados ao Capital Intelectual propostos neste estudo são as mais
adequadas para àqueles ativos.
3. Estudar a correlação da performance dos ativos intangíveis relacionados ao Capital
Intelectual da pesquisa com a probabilidade de descumprimento (PD’s) de clientes
de forma empírica.
4. Testar se os ativos de Capital Intelectual evidenciados neste estudo conseguem
identificar as PD’s de clientes dos bancos.
5. Testar empiricamente o processo sugerido de introdução de variáveis relacionadas
ao Capital Intelectual nos modelos e técnicas de gerenciamento de risco de crédito
de bancos.
135
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APÊNDICE A
APÊNDICE A
QUESTIONÁRIO ELETRÔNICO ENVIADO AOS DIRETORES E GERENTES DOS BANCOS RESPONDENTES
GERENCIAMENTO DE RISCO DE CRÉDITO E CAPITAL INTELECTUAL: UMA
ABORDAGEM EM BANCOS BRASILEIROS
APÊNDICE B
APÊNDICE B
EMAIL DE APRESENTAÇÃO DO QUESTIONÁRIO ELETRÔNICO PARA AS RESPOSTAS DOS RESPONDENTES – DIRETORES E GERENTES DE BANCOS
Universidade Presbiteriana Mackenzie Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis Mestrado Profissional em Controladoria Empresarial São Paulo, 9 de setembro de 2010 At. Sr. Fulano de Tal Prezados Senhores, Meu nome é Sergio de Jesus, sou aluno regular do Curso de Mestrado Profissional em Controladoria Empresarial do Programa de Pós Graduação em Ciências Contábeis da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Atualmente encontro-me na fase de coleta de dados para o desenvolvimento da minha dissertação de mestrado. Este estudo tem o objetivo de conhecer o efeito dos Ativos Intangíveis, principalmente aqueles relacionados ao Capital Intelectual, nos processos de gerenciamento de risco de crédito de bancos brasileiros e está sendo realizada sob a orientação da Profa. Dra.Maria Thereza Pompa Antunes. Assim sendo, estou enviando-lhe um questionário por mim elaborado, que levará cerca de 20 minutos para ser respondido, e que pode ser acessado por meio do link:
http://www.surveymonkey.com/s/GQ26MMF
O propósito é que o Diretor e o Gerente da área gestora do processo de gerenciamento de riscos de crédito do banco respondam, individualmente, a este questionário. Adicionalmente, saliento que esse questionário possui apenas fins acadêmicos e que as informações obtidas serão tratadas estatisticamente e respeitado o sigilo quanto ao respondente. Assim que a pesquisa for concluída, terei o maior prazer em enviar os resultados caso seja do seu interesse. Conto com sua valiosa colaboração e solicito a gentileza de que o mesmo seja respondido até 17/09/2010, de forma que eu possa dar continuidade ao cronograma da pesquisa. Agradeço antecipadamente por sua ajuda e disponibilização de alguns minutos do seu tempo para responder a este questionário. Atenciosamente, Sergio de Jesus Mestrando em Controladoria Empresarial Universidade Presbiteriana Mackenzie E-mail: [email protected] Telefone: (11) 9480-6253
APÊNDICE C
APÊNDICE C
MATRIZ DE AMARRAÇÃO DOS OBJETIVOS DA PESQUISA
OBJETIVO GERAL DA PESQUISA
O objetivo geral desta pesquisa é o de conhecer como são os processos de gerenciamento de riscos de créditos de bancos brasileiros, de forma a se identificar como são tratadas as informações não financeiras, especificamente as relacionadas ao Capital Intelectual, à luz do Novo Acordo de Capitais - Basileia II, visando o aperfeiçoamento desses processos com a introdução dessas informações.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA PESQUISA
OBJETIVO 1
Conhecer como estão estruturados os processos de gerenciamento de riscos de crédito das instituições financeiras bancárias da amostra em estudo, pela ótica do Novo Acordo de Capitais da Basileia II.
OBJETIVO 2
Buscar o entendimento e a relevância de se contemplar os ativos intangíveis relacionados ao Capital Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de crédito de acordo com a percepção dos profissionais (diretores e gerentes) de risco dos bancos que compõem a amostra deste estudo
OBJETIVO 3
Propor uma sistemática para a inclusão dos ativos intangíveis caracterizados como Capital Intelectual nos modelos de gerenciamento de risco de crédito de bancos, para aperfeiçoamento dos mesmos.
PONTOS DE INVESTIGAÇÃO
OBJETIVOS ESPECÍFICOS 1 E 2 – QUESTIONÁRIO ELETRÔNICO
Bloco A – Estrutura dos modelos de Gestão de Riscos de Crédito do banco. O bloco A contém questões abertas e fechadas para determinação do objetivo específico 1.
OBJETIVO ESPECÍFICO 3
Estudo de análise de caso no Banco Titânio (nome fictício) para conhecimento dos modelos de gerenciamento de risco de crédito do banco e proposição de uma sistemática de aperfeiçoamento do modelo por meio da inclusão de informações sobre o Capital Intelectual das empresas.
Bloco B – Relevância de se contemplar os ativos intangíveis nos modelos de Gestão de Riscos de Crédito O bloco B contém questões abertas e fechadas para determinação do objetivo específico 2 Bloco C - Relevância de se contemplar o Capital Intelectual nos modelos de Gestão de Riscos de Crédito O bloco C contém questões abertas e fechadas para determinação do objetivo específico 2.
TÉCNICA DE COLETA DE DADOS
OBJETIVOS 1 E 2
Primeira fase da coleta de dados
Questionário eletrônico enviado por email aos respondentes, contendo perguntas abertas e fechadas, divididas em 3 blocos distintos.
OBJETIVO ESPECÍFICO 3
Segunda fase da coleta de dados
Coleta das informações no Banco Titânio (nome fictício) - Análise de Caso - por meio de observação in loco dos processos atuais de gerenciamento de risco de crédito do banco para entendimento e proposição de aperfeiçoamento do mesmo, com a inclusão de informações relacionadas ao Capital Intelectual das empresas.
TÉCNICA DE ANÁLISE DOS DADOS
OBJETIVOS 1 E 2
As respostas abertas foram analisadas através da técnica de análise de conteúdo e as respostas fechadas através de análise descritiva.
OBJETIVO ESPECÍFICO 3
Reuniões com os gerentes responsáveis pela área de modelagem de risco de crédito do banco e verificação dos
processos atuais para entendimento e criação, em conjunto, de sugestão de melhoria do modelo com a introdução de informações de ativos relacionados ao Capital Intelectual.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA DA PESQUISA
Intermediação financeira, crédito e gerenciamento de risco de crédito (*)
• Desenvolvimento econômico / financeiro e intermediação financeira; • Conceito de crédito; • Riscos – Conceitos e gerenciamento; • Gerenciamento de risco de crédito; • Técnicas de mensuração de risco de crédito; • Conceito de Default, Probabilidade de Default e Escore de crédito; • Comitê de Basileia.
• A informação contábil; Informação contábil (*)
• Conceito de ativo e ativo intangível.
• Organizações do conhecimento; Capital Intelectual (*)
• Definição e classificação do Capital Intelectual; • Processo de geração do Capital Intelectual; • Reconhecimento e mensuração do Capital Intelectual; • Definição de goodwill. (*) Ver referenciais bibliográficas do trabalho.
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APÊNDICE D
SITE DA PESQUISA
http://www.surveymonkey.com/s/GQ26MMF