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GÊNERO E EXTREMA POBREZA: UM ENFOQUE PARA SEU ENFRENTAMENTO.

Valdenia Guimarães e Silva Menegon1

Palavras-Chave: Gênero, pobreza, empoderamento.

1. INTRODUÇÃO O presente trabalho faz parte das discussões que estão sendo travadas em grupos

de debate organizados pela Secretaria Municipal da Mulher2 da Prefeitura Municipal de Caxias - MA sob a coordenação do gabinete da secretária e do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Caxias/MA – CMDM3 e surgiu a partir das demandas apresentadas pelo Grupo Intersetorial Para Elaboração do I Plano Municipal de Políticas Para as Mulheres, em especial para subsidiar a discussão acerca do Eixo Autonomia Econômica das Mulheres.

Outro espaço de discussão que se apresentou foi a realização da I Conferência Municipal de Políticas Para as Mulheres do Município de Caxias, Estado do Maranhão, momento em que a Comissão de Organização do Evento solicitou um texto para embasar os debates do Grupo de Trabalho acerca da autonomia econômica e a conferência sobre gênero e pobreza extrema.

O objetivo do texto é fazer uma relação entre as assimetrias de gênero e a pobreza, já que defendo a tese de que a pobreza afeta mais diretamente as mulheres.

2. METODOLOGIANesta produção procuro discutir o conceito de pobreza a partir de uma ótica

multidimensional, em que ser pobre vai muito além da carência financeira, mas envolve uma série de fatores que podem levar à exclusão e à vulnerabilidade dos indivíduos. Destaco a relação entre pobreza e as assimetrias de gênero e por fim, na conclusão delineio em que devem está embasadas as políticas de enfretamento às múltiplas dimensões da pobreza.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As discussões sobre o fenômeno da pobreza ganharam espaço nas últimas

décadas entre os estudiosos. Dentre algumas correntes existem aquelas que tratam a pobreza a partir do limiar de renda e de consumo. Este tem sido o parâmetro utilizado pelas instituições internacionais ao longo dos anos. Este recorte, no entanto, não dá conta das multifacetas que envolvem a situação de pobreza em que vivem milhões de pessoas em todo o mundo.

______________1 Professora; Secretária Municipal da Mulher de Caxias – MA; Mestra em Políticas Públicas pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão – UFMA; vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Caxias - MA.2 A Secretaria Municipal da Mulher de Caxias foi criada através da Lei Municipal nº. 1.745 de 23 de dezembro de 2008.3 O Conselho Municipal dos Direitos da Mulher – CMDM foi criado através da Lei Municipal n °1.658/2007.

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O conceito de pobreza tratado neste trabalho a compreende como um fenômeno social, historicamente construído e que engloba “(...) a falta do que é necessário para o bem-estar material, a falta de identidade social, a falta de voz e poder (possibilitando a exploração), a falta de bem-estar físico (saúde), a falta de bem-estar social (pertencimento a uma comunidade), etc (GUROVITZ,2003).

A CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) “[...] entende a pobreza como um fenômeno multidimensional, que associa subconsumo, desnutrição, condições precárias de vida, baixa escolaridade, inserção instável no mercado de trabalho e pouca participação política e social. A pobreza é o resultado de um processo social e econômico de exclusão social, cultural e política” (MELO, 2005).

Isto significa dizer que quem é pobre não consegue ter acesso aos bens produzidos pela humanidade e isto está muito acima da carência de renda, de moradia e de falta de educação ou saúde. Os pobres são rejeitados pela sociedade, têm rompidos os laços familiares, comunitários e sociais.

Segundo dados do IBGE (2010), existem hoje no Brasil 16,27 milhões de pessoas vivendo em situação de extrema pobreza. O recorte utilizado pelo governo federal para definir a linha de pobreza ainda é o recorte de renda. Neste sentido, o que diferencia uma pessoa extremamente pobre das demais é possuir uma renda familiar per capita de até R$ 70,00, o que representa 8,5% da população total do País.

Esta realidade atinge homens e mulheres, idosos e crianças, em especial na Região Nordeste do País. De um total de 29,83 milhões de brasileiros residentes no campo, praticamente um em cada quatro se encontra em extrema pobreza (25,5%), perfazendo um total de 7,59 milhões de pessoas. As regiões Norte e Nordeste apresentam valores relativos parecidos – 35,7% e 35,4%, respectivamente – de população rural em extrema pobreza (IBGE, 2010).

Dentro do perfil de extremamente pobres no Brasil, também foi identificada a distribuição da extrema pobreza por sexo o que revelou que em termos percentuais homens e mulheres não possuem grandes disparidades em relação à renda. O Censo Demográfico 2010 por sexo revela que há uma distribuição homogênea entre homens e mulheres em termos percentuais, com leve superioridade da presença feminina (50,5% contra 49,5%). Em algumas regiões, essa tendência destoa como no Sudeste e no Sul (52,8% e 51,3%, respectivamente). No entanto, como nas áreas urbanas o número de mulheres em situação de extrema pobreza é maior que o número de homens, as assimetrias de gênero se acentuam.

Em se tratando das questões de gênero, as “[...] famílias extremamente pobres tendem a intensificar a participação de mulheres, crianças e jovens no mercado de trabalho, geralmente em ocupações precárias e mal remuneradas” (MOREIRA et all, Revista de C. Humanas, Vol. 10, Nº 1, p. 198-212, jan./jun. 2010). Esta relação é ainda mais forte, porque, culturalmente as mulheres são as que cuidam da casa e da família. Quando faltam os bens necessários aos suprimentos das necessidades humanas, as mulheres são obrigadas a se inserirem no mercado de trabalho, muitas vezes de forma precarizada, mas ainda assim, continuam responsáveis pelos cuidados do lar, das crianças, dos idosos e dos deficientes.

Existem fatores de gênero que incidem com maior ou menor peso na vida das mulheres e homens, mas que para as mulheres este fardo é mais pesado, pois, elas reúnem duas fragilidades: ser mulher e ser pobre.

As assimetrias de gênero se apresentam em diversos aspectos, dentre os quais se destacam: a) a limitação de oportunidades nas áreas de educação e emprego para as mulheres; b) a divisão sexual do trabalho que mantém as mulheres no espaço do lar ou as coloca em ocupações com baixa remuneração, que muitas vezes reproduzem o

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modelo patriarcal no ambiente de trabalho e sem estabilidade; c) a dupla ou até tripla jornada de trabalho; d) níveis inferiores de saúde e bem-estar; d) participação limitada nas decisões de família; e) subrepresentação na política e; f) sua limitada autonomia pessoal.

Desta forma, a pobreza extrema, atinge mais consideravelmente as mulheres já que as desigualdades geradas por este fenômeno ocasionam uma série de desvantagens para este grupo que, ao imbricarem-se com outras assimetrias econômicas, sociais, étnicas, de deficiência ou não e geracionais, as expõe mais duramente do que aos mesmos grupos de homens e as tornam mais vulneráveis a situações de privação e de perpetuação do ciclo da pobreza.

3. CONCLUSÕES

Pobreza não representa apenas a carência financeira, mas está imbricada de uma série de fatores que, juntos, fazem a pessoa ser considerada pobre ou extremamente pobre. Definir a pobreza extrema a partir somente de um recorte de renda é insuficiente para definir a real extensão da pobreza. Aliados à renda é necessário associar ainda o subconsumo, a desnutrição, as condições precárias de vida, a baixa escolaridade, a inserção instável no mercado de trabalho e a pouca participação política e social.

Enquanto fenômeno socialmente construído, a pobreza atinge mais fortemente as mulheres. A falta de independência econômica, a forma de inserção no mercado de trabalho, a dupla ou tripla jornada de trabalho, a subrepresentação política e a falta de empoderamento se apresentam com os principais fatores que, aliados à falta de acesso a educação e saúde estariam na ponta para a concretude desta realidade.

Para o seu enfrentamento devem ser promovidas políticas que estejam pautadas nos fatores que estão na ponta da sua produção, tais como falta de autoestima, autonomia pessoal e social, violência contra as mulheres, acesso à saúde, educação e aos bens produzidos pela humanidade. No ato de elaboração das políticas é necessário compreender que a pobreza atinge diferentemente a homens e mulheres e que estas têm demandas diferentes das dos homens. É preciso o reconhecimento de que o empoderamento econômico das mulheres é essencial, mas que para as mulheres sejam autônomas é necessário também o empoderamento pessoal e político.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Senso Demográfico 2010. Brasília: Ministério do Planejamento, 2010.BRASIL. Plano Brasil Sem Miséria. Brasília: MDS/2011.BRASIL. Perfil da extrema pobreza no Brasil. Disponível em www.mds.gov.br/ acesso em 01/08/2011.GUROVITZ, Elaine. Gênero e pauperização das mulheres. São Paulo: FGV/EAESP, 2003. 135 p. (Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação da FGV/EAESP).MELO, Hildete Pereira de. Gênero e pobreza no Brasil: Relatório Final do Projeto Governabilidad Democratica de Género en America Latina y el Caribe. Brasília: CEPAL/SPM, 2005.MOREIRA, Nathalia Carvalho et al. Programa de transferência de renda mínima e atividade complementar de renda: uma análise sobre o empoderamento das mulheres. Revista de C. Humanas, Vol. 10, Nº 1, p. 198-212, jan./jun. 2010.