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Domingo, 11 de maio de 2014 Gazeta do Povo Editorial / Os filhos do Brasil Políticas de abrigamento de crianças e adolescentes no país são viciadas. Se não forem modificadas, o descompasso entre as necessidades dos abandonados e os que desejam adotar vai continuar Crianças e adolescentes brasileiros crescem e “envelhecem” nos abrigos, sem desfrutarem da oportunidade de serem adotados. Sabe-se dessa manchete. Também é sabido que os casais que se candidatam a adotar seguem um receituário pétreo – querem crianças brancas, saudáveis e com menos de 5 anos de idade, o que, em parte, explica a situação. Há quem queira adotar, quem precise ser adotado, mas essa soma de vontades não resolve o impasse, como seria desejável. E assim prosseguimos, arrastando por décadas um dos maiores impasses da vida brasileira. Os dados da adoção foram explorados em série publicada pela Gazeta do Povo, Infância esquecida, do repórter Felippe Aníbal. O Paraná, quinto estado brasileiros com mais abrigados em instituições, tem mais pretendentes à adoção do que crianças e adolescentes em abrigos: 5 mil contra 3 mil. O descompasso tem explicações no mínimo dolorosas. Uma delas diz respeito à cor do adotado. No Sul, a condição de que seja branca chega a 41% dos casos. Não é preciso malabarismos para deduzir que quem está na fila são na maioria negros. Os números, exatos, se tornam um circo de absurdos: o Cadastro Nacional de Adoção diz que 1,2 mil crianças e adolescentes podem ser adotadas, mas esse número não passa de um grito parado no ar. Há quem pergunte se haverá saída, pois nem o tempo para, deixando a gurizada sempre em chicas e shorts, nem os pais reescrevem seu imaginário sobre a adoção. Hoje tem um abrigado fazendo 6, 10 ou 16 anos. E tem um casal preenchendo formulários nas varas do país, na maior boa vontade, mas desfrutando do seu direito de ajustar a adoção à própria mentalidade. Melhor não atiçar: mesmo em situações ideais, acontecem “devoluções” de crianças, agregando um trauma a mais à vida de quem já carregava traumas de sobra. O que se pode dizer é que o mecanismo das adoções pode ser aperfeiçoado. E acelerado, para felicidade geral da nação. Difícil alguém que conheça o setor e não partilhe dessa certeza. Ainda que alegue expedientes técnicos demorados, a Justiça não só pode como deve fazer as devidas e evidentes destituições do poder pátrio, permitindo à criança, em tempo hábil, encontrar um novo lar. Campanhas, claro, sempre as campanhas, se forem contínuas e impertinentes conseguiriam atrair mais pais para a adoção, e pais mais abertos. Pronto? Todas essas verdades pisadas e repisadas precisam de um ingrediente a mais – políticas públicas que ajudem a maior parte das crianças e adolescentes abrigados a voltar para suas próprias famílias. Durante muito, muito tempo, desacreditar dessa possibilidade era uma questão, digamos, institucionalizada. O próprio sistema de abrigamento se organizou em torno da premissa de que voltar para casa estava fora de

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Page 1: Gazeta do Povo - mppr.mp.br fileEm parte, o Cras teria poder para tanto, mas já se percebeu que a tarefa é mais dura do que a plasticidade do projeto. Sobre o Cras pesam tarefas

Domingo, 11 de maio de 2014

Gazeta do Povo Editorial / Os filhos do Brasil

Políticas de abrigamento de crianças e adolescentes no país são viciadas. Se não forem modificadas, o descompasso entre as necessidades dos abandonados e os que desejam adotar vai continuar

Crianças e adolescentes brasileiros crescem e “envelhecem” nos abrigos, sem desfrutarem da oportunidade de serem adotados. Sabe-se dessa manchete. Também é sabido que os casais que se candidatam a adotar seguem um receituário pétreo – querem crianças brancas, saudáveis e com menos de 5 anos de idade, o que, em parte, explica a situação. Há quem queira adotar, quem precise ser adotado, mas essa soma de vontades não resolve o impasse, como seria desejável. E assim prosseguimos, arrastando por décadas um dos maiores impasses da vida brasileira.

Os dados da adoção foram explorados em série publicada pela Gazeta do Povo, Infância esquecida, do repórter Felippe Aníbal. O Paraná, quinto estado brasileiros com mais abrigados em instituições, tem mais pretendentes à adoção do que crianças e adolescentes em abrigos: 5 mil contra 3 mil. O descompasso tem explicações no mínimo dolorosas. Uma delas diz respeito à cor do adotado. No Sul, a condição de que seja branca chega a 41% dos casos. Não é preciso malabarismos para deduzir que quem está na fila são na maioria negros. Os números, exatos, se tornam um circo de absurdos: o Cadastro Nacional de Adoção diz que 1,2 mil crianças e adolescentes podem ser adotadas, mas esse número não passa de um grito parado no ar.

Há quem pergunte se haverá saída, pois nem o tempo para, deixando a gurizada sempre em chicas e shorts, nem os pais reescrevem seu imaginário sobre a adoção. Hoje tem um abrigado fazendo 6, 10 ou 16 anos. E tem um casal preenchendo formulários nas varas do país, na maior boa vontade, mas desfrutando do seu direito de ajustar a adoção à própria mentalidade. Melhor não atiçar: mesmo em situações ideais, acontecem “devoluções” de crianças, agregando um trauma a mais à vida de quem já carregava traumas de sobra.

O que se pode dizer é que o mecanismo das adoções pode ser aperfeiçoado. E acelerado, para felicidade geral da nação. Difícil alguém que conheça o setor e não partilhe dessa certeza. Ainda que alegue expedientes técnicos demorados, a Justiça não só pode como deve fazer as devidas e evidentes destituições do poder pátrio, permitindo à criança, em tempo hábil, encontrar um novo lar. Campanhas, claro, sempre as campanhas, se forem contínuas e impertinentes conseguiriam atrair mais pais para a adoção, e pais mais abertos. Pronto?

Todas essas verdades pisadas e repisadas precisam de um ingrediente a mais – políticas públicas que ajudem a maior parte das crianças e adolescentes abrigados a voltar para suas próprias famílias. Durante muito, muito tempo, desacreditar dessa possibilidade era uma questão, digamos, institucionalizada. O próprio sistema de abrigamento se organizou em torno da premissa de que voltar para casa estava fora de

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questão. Ainda hoje há quem faça expressão de horror ao ouvir que a maior parte dos que vivem em casas-lares não são órfãos, como se quer acreditar, mas vítimas da violência de padrastos ou expurgados pela miséria.

A questão é que as políticas de volta à família são caras demais, demoradas demais, sofisticadas demais. E não se acredita o bastante de que todo esse tempo, dinheiro e empenho valem a pena. Até se botou fé que o sistema dos centros de referência em assistência social, os Cras, diluiria as barreiras, dando forma à viagem de volta para casa. Mas Papai Noel não existe.

Em parte, o Cras teria poder para tanto, mas já se percebeu que a tarefa é mais dura do que a plasticidade do projeto. Sobre o Cras pesam tarefas inúmeras, comunitárias, imediatas, o que impede os centros de dar conta de uma missão tão delicada. A bola está cantada – as práticas de volta à família estão no papel, mas ainda não nasceram. Pedem coragem, determinação e investimentos. Pedem o Cras, e algo mais.

Do contrário, os números continuarão a ser uma tragédia anunciada, como mostrou a série Infância esquecida: apenas em Curitiba, 84% dos aptos à adoção têm mais de 11 anos. Suas chances se reduzem a zero a cada aniversário que completam. Ao complicador da idade, some-se haver ou não irmãos, cor, ser portador do HIV ou alguma outra enfermidade crônica. São estatísticas que incidem diretamente sobre o destino das crianças e jovens brasileiros. E esse é um assunto que não pode mais ficar para depois. Coluna do leitor / Copa do Mundo

É um absurdo que uma instituição privada estrangeira, a Fifa, venha ao Brasil e se sobreponha a direitos estabelecidos pela nossa Constituição. Como pode bloquear o acesso dos moradores e visitantes às suas casas? Que história é essa que comerciantes no entorno não poderão vender o que terá à venda dentro da Arena? Gostaria de ouvir a OAB do Paraná que sempre se posiciona sobre isso. Leudinir de Souza Alagoas / Monitores são afastados por suspeita de torturar adolescentes

Quarenta e seis monitores de unidades de internação de jovens em conflito com a lei em Alagoas foram afastados de suas funções após serem acusados de torturar adolescentes. A informação foi divulgada na quinta-feira pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Entre os relatos que estão sendo investigados pelo Ministério Público e pela Defensoria, existe a denúncia de que um grupo de monitores mascarados teria invadido os alojamentos onde os jovens dormiam em uma unidade de Maceió e os agredido no dia 16 de abril, um dia após a visita do presidente do STF e do CNJ, Joaquim Barbosa, ao local em uma vistoria. Reserva Natural / O aquífero e as águas doces de SC Maior reservatório subterrâneo do continente, o Guarani tem potencial para uso no abastecimento. Porém, grande parte dessa fonte é salobra Luan Galani, especial para a Gazeta do Povo

O maior reservatório hídrico subterrâneo da América do Sul não é um mar de água doce. Muito pelo contrário. A maior parte das reservas do Aquífero Guarani, que se encontra sob boa parte dos territórios do Sudeste e do Sul do Brasil, além de outros países, é formada por água salobra. A exceção fica para o estado de Santa Catarina, onde 90% do aquífero é formado por água doce, com potencial para uso no abastecimento público, na indústria e na agricultura, conforme revela uma pesquisa

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recente do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Até um tempo, acreditava-se que o Guarani teria capacidade de abastecer 200 milhões de brasileiros por 2,5 mil anos, o que estudos revelaram se tratar de um mito. O geólogo José Flores Machado, da divisão de Porto Alegre do CPRM, que esteve à frente do levantamento em Santa Catarina, conta que foram analisadas amostras de 7,2 mil poços durante quatro anos. “Aproximadamente 5 mil poços estão no oeste do estado, nas cercanias de Piratuba. Cada propriedade chega a ter um poço próprio, já que a água da maioria dos rios está poluída pela suinocultura e pela avicultura”, explica.

O hidrogeólogo da Universidade de São Paulo (USP) Uriel Duarte defende que as águas subterrâneas sejam utilizadas como recurso estratégico apenas para soluções locais. “Esses reservatórios do Guarani devem ser cuidadosamente explorados e utilizados apenas quando necessário, já que a reposição de água do aquífero pelas chuvas demora anos”, alerta. O especialista explica que a água se infiltra nas rochas com uma velocidade média de um a dois metros por ano.

“O verdadeiro Aquífero Guarani é, em sua maior parte, composto por água não potável, sem serventia para o abastecimento público, a indústria ou a agricultura”, garante o hidrogeólogo Ernani Francisco da Rosa Filho, da Universidade Federal do Paraná, com experiência de quem se debruça sobre o tema há 35 anos. Em resumo, o aquífero não é contínuo, mas constituído de diversos reservatórios menores sem ligação entre si, e grande parte da água tem muitos sais, sulfatos e flúor, o que impossibilita o consumo.

Em terras gaúchas, metade das águas do aquífero é salobra. E o Paraná detém a maior taxa de água não potável do Sul – quase 70%. “A Organização Mundial da Saúde recomenda que a concentração de flúor não passe de 1,5 miligramas por litro e que o índice de sulfatos na água não ultrapasse mil miligramas por litro. No Paraná, para nossa surpresa, os níveis dessas substâncias são até oito vezes superiores”, calcula Ernani. Tratar a água salobra não é viável

Os especialistas são unânimes em afirmar que é inviável tratar a água salobra do Aquífero Guarani para consumo. “Seria extremamente caro. Um poço artesiano que explore um aquífero menos profundo, com 200 metros, por exemplo, custa, em média, R$ 30 mil. Já um poço para retirar água do Guarani gira na casa dos milhões, fora os custos com tratamento, principalmente devido à profundidade, que pode passar dos 1,5 mil metros”, frisa o geólogo José Flores Machado.

A cada 20 litros de água salobra retirados do aquífero, seria necessário acrescentar 80 litros de água potável para torná-la ideal para o abastecimento público. O hidrogeólogo Ernani Rosa, que esteve envolvido desde os primeiros estudos acerca do tema, conta que as primeiras pesquisas conduzidas em 1979 na região do aquífero levavam a crer que o reservatório tinha muita água de boa qualidade. “Estudos posteriores, porém, provaram o contrário. Mas o rumor de que havia um oceano de água potável continuou a ser divulgado erroneamente”, conclui. Meio Ambiente / Mudanças climáticas ameaçam produção agrícola Denise Paro, da sucursal

Nas próximas décadas, será preciso aumentar em pelo menos 60% a produção agrícola no planeta se for mantido o mesmo padrão de consumo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Além disso, as mudanças climáticas, a escassez de água e a erosão são ameaças para a agricultura.

O assunto foi um dos temas de uma reunião anual da Rede WWF (World Wildlife Fund), que ocorreu entre os dias 5 e 9 de maio, em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná.

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Foi o primeiro evento internacional dos integrantes da ONG realizado no país. A WWF está presente em mais de 100 países e conta com 5 milhões de associados.

Superintendente de Políticas Públicas da rede, Jean-François Timmers diz que o planeta está chegando ao limite da capacidade e já se observa no mundo inteiro efeitos da superexploração dos recursos naturais. As mudanças climáticas, que criam escassez, são uma das preocupações dos ambientalistas. O Brasil é um exemplo. A forte seca nas regiões Sudeste e Sul afeta a produtividade de algumas culturas e a segurança no fornecimento de energia elétrica no país. “Há concretamente um impacto real de questões ambientais sobre a economia como um todo”, diz Timmers. Ele observa que em algumas regiões do mundo as abelhas estão desaparecendo. Isso faz com que lavouras diminuam a produtividade, de 10% a 20%, por falta de polinização.

O ambientalista ainda comenta que a agenda ambiental não é separada de outros debates de desenvolvimento. Pelo contrário, é condição e sustentação da atividade econômica. “Hoje isso está dissociado nas mentes, mas não nos fatos.”

Conforme o relatório Planeta Vivo, do WWF, a produção de alimentos aumentou 45% nos últimos 20 anos. Até 2030, a demanda mundial por energia primária e água crescerá entre 26% e 53%. Isso trará impacto na produção de alimentos. O setor consome um terço da energia primária e 70% da água disponível no planeta.

No evento do WWF em Foz, foram discutidas estratégias e diretrizes globais e o posicionamento da rede em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma das propostas resultantes da Rio+20. Os ambientalistas presentes no encontro vão agora tentar inserir as decisões do evento nas estratégias dos grupos que representam. Entrevista / Para especialista, questão ambiental não trava desenvolvimento Maria Cecília Wey de Brito, CEO do WWF no Brasil

De acordo com Maria Cecília Wey de Brito, do WWF Brasil, as autoridades políticas precisam se conscientizar de que as questões ambientais não estão descoladas do desenvolvimento social e econômico. Leia trechos do bate-papo com a especialista:

Qual é a maior preocupação do WWF em relação ao Brasil? A preocupação é de fato conseguir que o governo federal e os governos estaduais

passem a observar que meio ambiente não é um ente à parte. Se não cuidarmos, ao mesmo tempo e com todas as políticas, do local de onde nós vivemos e, portanto, do nosso meio ambiente, não haverá melhorias na produção e nas condições de vida das pessoas. É preciso mudar um pouco a forma como tem sido abordada a questão ambiental pelos governantes.

Os governos não incorporaram essa preocupação, de fato? Pior do que não incorporar, os governos têm visto isso como uma situação em

oposição ao crescimento e ao desenvolvimento, como se houvesse uma intenção direta de fazer com que o Brasil e outros países não pudessem alçar melhores condições econômicas, sociais e ambientais.

Podemos afirmar que há um embate do setor ambiental, principalmente com a área do agronegócio?

Isso é uma falácia. Do nosso ponto de vista, isso foi criado como uma forma de mal traduzir para a população a questão ambiental, que é complexa e envolve todo mundo, não só um setor. Tem relação com o setor produtivo, governamental. E quando se coloca uma oposição é mais ou menos como tratar essa discussão como se fosse um jogo de futebol. Não existe essa contraposição, existem ideias que não são necessariamente iguais. Dá para conciliar, e melhor do que tudo, todo mundo precisa que o meio ambiente esteja saudável, se não você não tem produção, emprego, renda e consumo.

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No Brasil, há muito desrespeito ambiental por parte do agronegócio? Existe um pouco de desinformação como em muitas áreas do Brasil, não é apenas

no setor agrícola. Há uma informação feita para ser desencontrada, existe um tipo de ganho político sobre isso. Mas creio que a sociedade brasileira é muito melhor do que isso e é capaz de observar essas questões de uma forma mais inteligente. O próprio setor produtivo tem a clara noção de que o planeta tem limites e que eles precisam ser respeitados.

Qual é o maior impacto hoje em termos ambientais? Em caráter global e persistente são as mudanças climáticas, porque afetam a

todos e provavelmente com mais intensidade aqueles com menos condições de se beneficiar economicamente. Muito embora a falta de água e o mal manejo dos recursos hídricos do Brasil têm de ser tratado imediatamente, porque tende a se repetir. A política existe, mas a aplicação é muito mal feita e pouco priorizada. Investigação / Os próximos capítulos da Lava Jato Novas denúncias da Procuradoria da República e inquéritos da Polícia Federal podem acrescentar personagens ao esquema do doleiro Alberto Youssef Guilherme Voitch com Agência O Globo

Criada inicialmente para apurar as relações do doleiro Carlos Chater com empresas ligadas ao ex-deputado federal José Janene (falecido em 2010), a Operação Lava Jato já resultou na abertura de oito processos contra 42 pessoas, tirou o deputado federal André Vargas do PT e pode ainda trazer complicações para várias pessoas e empresas.

Estão na mira, principalmente, aqueles que fizeram negócios com o doleiro Alberto Youssef e com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Youssef, conforme apurou a PF, atuava como uma espécie de doleiro-mor, centralizando diferentes esquemas de desvio de recursos e lavagem de dinheiro. Costa, ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, era o elo de Youssef com os milionários negócios da estatal. Na próxima semana, a força-tarefa do Ministério Público encarregada do caso deve apresentar mais quatro denúncias que serão analisadas pelo juiz Sérgio Moro e novos protagonistas podem surgir.

Dois novos inquéritos já foram abertos pela PF depois da análise do primeiro lote de documentos apreendidos, e outros podem ser instaurados a partir da conclusão de novos laudos sobre o farto material recolhido no primeiro dia da operação. Investigadores estão de olho sobretudo na análise das mensagens trocadas a partir dos 34 celulares apreendidos com Youssef.

A PF e o Ministério Público Federal devem pedir ainda a quebra do sigilo de ao menos mais 60 contas bancárias. “Mais de 80 mil documentos foram apreendidos. Muitos não foram analisados ainda. Muita coisa vai aparecer. Estamos apenas na fase preliminar”, disse o procurador Carlos Fernandes, um dos integrantes da força-tarefa.

O elo inicial A Operação Lava Jato nasceu para apurar a relação entre o doleiro Carlos Habib Chater e o ex-deputado paranaense José Janene (PP), falecido em 2010. Foi a partir dos dois que surgiram os demais personagens. “O objeto da apuração foi ampliado para diversos outros doleiros que se relacionavam entre si para o desenvolvimento das atividades, mas que formavam grupos autônomos e independentes”, diz o relatório da Força-Tarefa que embasa as denúncias contra os acusados. Janene, porém, ganhou destaque ainda antes. Líder do PP na Câmara na época do mensalão, foi absolvido no processo de cassação em 2005. De acordo com a Procuradoria da República, como líder da bancada do PP ele captou pelo menos R$ 3 milhões do valerioduto para garantir o apoio do partido ao governo e usou a corretora

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Bônus Banval para distribuir o dinheiro. Em sua defesa, Janene admitiu ter recebido R$ 700 mil para ajudar o ex-deputado Ronivon Santiago (AC) a pagar advogados e negou acusação de venda de voto.

O doleiro Nascido em Londrina, Alberto Youssef é personagem central do

noticiário político e policial brasileiro desde o começo da década passada. Youssef ficou conhecido durante a investigação das contas CC-5 do Banestado. É acusado de ser um dos principais operadores do esquema que movimentou cerca de US$ 28 bilhões. O doleiro acabou condenado, mas fez um acordo de delação premiada com a Justiça. Ele entregou outros doleiros que participavam do esquema, pagou uma multa de R$ 1 milhão e comprometeu-se a não se envolver mais com operações de câmbio. Permaneceu em liberdade, mas continuou a operar. Ele voltou a aparecer durante a investigação do mensalão, na CPI dos Correios. Youssef seria o verdadeiro dono da corretora Bônus-Banval, usada para repassar R$ 1,2 milhão aos então deputados Pedro Henry (PP-MT), Pedro Corrêa (PP-PE) e José Janene (PP-PR). A ligação, porém, nunca foi oficialmente comprovada. Na Lava Jato, Youssef é descrito como personagem central que une os diferentes núcleos investigados.

O parlamentar Nascido em Assaí, no Norte Pioneiro, André Vargas teve sua ascensão no mundo político interrompida pelas revelações da Operação Lava Jato. Vargas galgou seu crescimento na estrutura partidária e na Câmara com a bênção do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No PT, o deputado tornou-se secretário de Comunicação defendendo bandeiras do partido como a regulação da mídia. Foi indicado pelo partido para ocupar a vice-presidência da Câmara dos Deputados com o apoio do chamado baixo clero da Casa. O calvário do parlamentar paranaense começou com uma matéria do jornal Folha de S.Paulo mostrando que o deputado tinha voado em um jatinho do doleiro Alberto Youssef, que posteriormente foi preso pela Polícia Federal. Vargas disse que a carona no voo foi um “equívoco” e negou qualquer outra relação com Youssef. Informações da investigação divulgadas na sequência desmentiram a versão do deputado. Mensagens interceptadas pela PF mostraram que Vargas teria feito lobby no Ministério da Saúde a pedido do doleiro.

O dirigente Nascido em Telêmaco Borba e formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Roberto Costa foi funcionário de carreira da Petrobras, especializado em Engenharia de Instalações no Mar. Diretor de distribuição da Petrobras entre 2004 e 2012, o paranaense cuidou dos projetos técnicos da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. A obra, iniciada em 2007 com custo estimado de US$ 2 bilhões, ainda não foi concluída. Seu custo já bate na casa dos US$ 18 bilhões. Para a PF, Costa seria o elo do doleiro Alberto Youssef com a Petrobras em esquema que envolvia empresas de fachada de Youssef e grandes fornecedores da estatal. Mesmo depois de deixar a empresa, Costa continuou cobrando propina para intermediar contratos fraudados por meio de sua consultoria, a Costa Global. Durante as investigações, a PF também descobriu que Paulo Roberto ganhou um Land Rover no valor de R$ 250 mil pago pelo doleiro. Para a Justiça, o presente foi produto de desvios de recursos da usina.

O juiz Tido como juiz enérgico, ágil e atuante, Sérgio Fernando Moro, atualmente titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, é velho conhecido do doleiro Alberto Youssef. Ele foi o magistrado responsável pelas ações relacionadas as contas CC-5, do Banestado. Boa parte das informações prestadas por Youssef no acordo de delação premiada foi usada na sequência, durante a Operação Farol da Colina. Na época, Moro chegou a decretar a prisão de 123 pessoas de uma vez só. Na sequência, continuou lidando com processos de grande repercussão. Na chamada Operação Fênix, o juiz decretou a prisão

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de 11 pessoas ligadas ao traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Entre elas estava inclusive o advogado de Beira-Mar. Moro também teve papel de importância no julgamento do caso mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O juiz foi convocado pela ministra Rosa Weber para auxiliá-la em seu voto. Cidadania / A lei exige transparência, mas o Brasil ainda é bastante “opaco” Apesar de estar valendo há dois anos, Lei de Acesso à Informação sancionada pela presidente Dilma ainda não vigora completamente no país Taiana Bubniak

A Lei de Acesso à Informação (LAI) completa dois anos de vigência neste mês. No entanto, a legislação, que é um passo adiante no caminho da transparência, ainda encontra muitos entraves para valer plenamente. Falta de regulamentação, sucessivos pedidos negados, aumento no sigilo das informações e problemas na gestão de documentos são alguns dos obstáculos enfrentados pelo cidadão que faz valer o direito de solicitar dados, documentos e estimativas de órgãos públicos.

Até agora, 19 estados e apenas 24% dos municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes regulamentaram a lei, de acordo com levantamento da Controladoria Geral da União (CGU). O mesmo órgão – responsável pela gestão de tudo que é relativo à LAI no âmbito federal – organizou um programa de assessoramento para estados e municípios na prestação de informações, mas até agora só 1.360 municípios dos mais de 5.500 aderiram ao plano, chamado Brasil Transparente.

Sem regulamentar a lei, ou seja, sem pormenorizar e detalhar a aplicação, cidadãos, jornalistas e ONGs ficam sem resposta ou sem saber a quem recorrer quando um pedido é negado, por exemplo. “A regulamentação é essencial porque a lei não entra nas miudezas. Um decreto ou uma nova lei que regulamenta a LAI é o que pode dar execução, mostrando qual é o fluxo. A lei aponta o princípio, mas cada órgão precisa de um encadeamento jurídico que vem logo depois para demonstrar como se dará”, explica Moacir Rodrigues de Oliveira, Chefe da Controladoria Regional da União no Paraná.

A regulamentação da LAI é a peça-chave para a resolução dos outros entraves encontrados por quem busca informação dos órgãos públicos. Isso porque dessa forma é possível indicar as minúcias da lei: se haverá um funcionário específico para receber os pedidos e responder as demandas, como será o sistema on-line para pedir informação, determinação de sigilo das informações e como será a gestão documental.

“O principal problema que encontramos, e que gera todos os outros, é a efetiva implementação da LAI. Embora na esfera federal isso já exista, nos níveis estaduais e em municípios, isso é raro”, comenta Marina Atoji, do Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas.

Sigilo A regulamentação é que indica a classificação dos documentos, que podem ser categorizados como público, sigiloso, secreto ou ultrassecreto. A mudança de status entre essas categorias é usada para minimizar o impacto com a divulgação dos gastos públicos em algumas entidades. Levantamento da revista IstoÉ mostrou, por exemplo, que 98% dos gastos pessoais do gabinete da presidência da República são sigilosos. Em 2008, antes das denúncias de uso indevido do cartão corporativo, 82% dos trâmites tinham essa classificação.

“Isso é reativo. É uma manobra que vemos comumente, principalmente em informações relativas à segurança pública e gastos de gabinetes. E mudou depois da vigência da lei”, lamenta Marina.

Divulgação Para o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, a simples divulgação da LAI em grande escala ajudaria a fazer com que o acesso aos dados

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públicos se efetivasse. “Na medida em que você gera a demanda, você terá a regulamentação”, afirma. No Paraná, ainda há muito para evoluir

Curitiba e o governo do Paraná têm decretos que especificam a lei desde 2012. A Assembleia Legislativa não possui um documento específico, mas diz que criou uma série de medidas internas para cumprir a lei que, no entendimento dos deputados, é “autoaplicável”. Em 2012, a Assembleia designou um funcionário exclusivo para o atendimento aos pedidos, mas a pequena procura por informações fez com que esse aparato exclusivo para a LAI fosse desarticulado, de acordo com a assessoria de imprensa do órgão. A Assembleia recebe de 3 a 4 pedidos de informação por mês.

O Ministério Público também não tem documento específico, mas afirma que segue a regulamentação proposta pelo Conselho Nacional do Ministério Público. O Tribunal de Justiça (TJ-PR) e o Tribunal de Contas do Paraná (TCE-PR) também não possuem a regulamentação da Lei de Acesso.

A situação mais grave com relação à regulamentação está no interior, porque não há levantamentos sobre quais municípios tem algum tipo de implementação sobre isso.

No Paraná, das 17 cidades com mais de 100 mil habitantes, só três regulamentaram a lei. Não há nenhuma estimativa oficial sobre os municípios com menos de 100 mil habitantes no interior do estado. Das 399, 122 ingressaram no programa Brasil Transparente, da CGU, que promove capacitação e assessoramento para a implementação da lei.

De acordo com a CGU, o TCE-PR é o órgão responsável por acompanhar a transparência nos municípios e tem a atribuição, inclusive, de aplicar sanções caso sejam identificadas irregularidades. E é papel do Ministério Público instaurar um inquérito civil público contra o município, caso entenda que há omissão em relação à implementação das medidas obrigatórias.

Há um grupo de trabalho no TCE-PR, formado neste ano, que vai produzir o documento e promover a fiscalização da regulamentação nos municípios. O grupo deve atuar a partir de julho.

76% dos municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes ainda não regulamentaram a Lei de Acesso à Informação, 24 meses depois da entrada em vigência da legislação. Ainda há sete estados que também não fizeram a regulamentação. Garantia / Regra evita que gestores “escondam” dados públicos

A Lei de Acesso à Informação passou a valer em maio de 2012. A legislação foi criada com a intenção de promover maior transparência na relação entre cidadãos e órgãos públicos. A partir desta norma, a escolha por quais informações seriam divulgadas deixou de ser exclusividade dos gestores públicos e o cidadão interessado passou a poder exigir a divulgação de dados ou documentos públicos. Estão debaixo do “guarda-chuva” da LAI prefeituras, câmaras municipais, assembleias legislativas, tribunais de contas, universidades públicas, autarquias, empresas públicas, governos estaduais, governo federal e os órgãos que compõem o Judiciário. Opinião / Burocratas resistem em dar ao público aquilo que é de direito Rosiane Correia de Freitas, professora de Jornalismo da Universidade Positivo

A Lei de Acesso a Informações surgiu para evitar que políticos e burocratas possam filtrar o que a sociedade sabe. Antes da lei, o cidadão pedia e dependia da boa vontade de quem estava atrás do balcão: se quisesse dar a informação, ótimo; caso contrário, o único caminho era tomar o caminho da Cúria e reclamar ao bispo.

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Pela nova lei, ninguém pode perguntar quem é você ou por que você quer a informação. Você é cidadão e isso basta para ter o direito de saber de coisas públicas. Ponto. Mas, claro, ainda há resistência a isso. Os burocratas continuam querendo ter a chave do cofre de informações. E quem faz solicitações sente isso na pele.

Recentemente, coordenando um trabalho de alunos de Jornalismo da Universidade Positivo, pedi dados à prefeitura de Curitiba sobre fiscalização da Vigilância Sanitária. Logo me ligaram querendo saber “quem eu era”. Procedimento desnecessário e fora do que prevê a lei. Informei que era professora universitária e os dados vieram.

As informações eram relevantes e geraram uma reportagem que acabou sendo publicada aqui na Gazeta do Povo. Ao saber que a informação seria usada para fins jornalísticos (o que é absolutamente legal) funcionários da Secretaria Municipal da Saúde afirmaram às alunas que faziam a reportagem que as informações haviam sido liberadas porque se tratava de um trabalho acadêmico. Como se o fato de haver interesse jornalístico mudasse algo. Na verdade, os servidores nem poderiam perguntar para que serviria a informação. A obrigação era de fornecê-las independente do resto.

Ainda levará tempo para que os gestores se acostumem à nova realidade e a lei seja plenamente cumprida. Como está, porém, já é melhor do que o que havia antes. Controle / “Vivemos a cultura do segredo por 500 anos” Jorge Hage, ministro-chefe da Controladoria Geral da União Taiana Bubniak

Depois que a Lei de Acesso à Informação passou a valer, foi a Controladoria Geral da União (CGU) que ficou responsável por fazer com que a regra operasse em âmbito federal. Nessa esfera, os números são positivos: a estimativa do órgão é de que 97,6% dos pedidos têm respostas e, dessas, apenas 10% são negativas. O ministro chefe da GCU, Jorge Hage, conversou com a Gazeta do Povo sobre a lei. Confira os principais trechos da entrevista.

Onde há desrespeito à Lei de Acesso à Informação? Basicamente nos estados e municípios e talvez em algumas instituições do

Judiciário e Legislativo, sobretudo no nível estadual. Temos tido notícia disso. Também recebemos reclamações com relação ao Ministério Público, que deveria ser o mais transparente e que não tem conseguido ser. No âmbito federal, onde a atribuição é da Controladoria Geral da União, estamos empenhados em cumpri-la integralmente e estamos satisfeitos com os resultados. Nós recebemos, até antes de ontem [dia 5 de maio, segunda-feira] 173.744 pedidos de informação, e desses, 169.422 já foram respondidos, o que dá um porcentual de 97,6% de respostas, num prazo médio de 13 dias. A lei permite que a resposta seja dada em um prazo de 20 dias, prorrogáveis por mais 10 dias. Estamos usando menos da metade do tempo previsto. E isso em um país que nunca teve acesso a transparência. Vivíamos a cultura do segredo. É evidente que ainda há problemas, como seria e é normal em qualquer processo de mudança cultural. Você não muda uma tradição de séculos em pouco tempo, mas os problemas são exceções.

O que fazer para resolver esses problemas, além de esperar que passe o tempo necessário para a mudança cultural?

A gente pode ajudar o processo a ser mais rápido e não deixar apenas a cargo do tempo. Criamos programa Brasil Transparente, que oferece apoio e assessoramento a estados e a municípios. Mas eles são independentes, não podemos impor que participem. Até agora, tivemos a adesão de 1.360 municípios, o que ainda é um número baixo. O que esse programa oferece é o assessoramento técnico para que se cumpra a lei.

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Fazemos a distribuição de manuais, cartilhas com orientação sobre o procedimento e capacitação para servidores estaduais e municipais.

O senhor acha que as sanções deveriam ser mais duras para quem não cumpre a Lei de Acesso à Informação?

A lei prevê sanções e há várias condutas tipificadas no artigo 32 do texto, que podem resultar em processo administrativo e judicial por improbidade administrativa. Não há previsão de pena para o governante que deixar de adotar medidas. Quem precisa fiscalizar isso é o Ministério Público e os órgãos legislativos competentes, que têm essa responsabilidade política.

Que balanço o senhor faz dos dois anos de vigência da lei? É uma mudança cultural, que é difícil. A mudança de um procedimento não muda

a cultura de 500 anos de opacidade, de obscuridade. Essa cultura vem sendo mudada, por exemplo, com os portais da transparência em matéria orçamentária, em 2009. Isso foi o começo da mudança cultural. Com a Lei de Acesso à Informação, damos um passo a mais no que chamamos de transparência passiva, que é aquela que ocorre mediante demanda do cidadão. Ele vai ter o documento que quer e não só aquilo que o governo divulga. Esses dois primeiros anos foram surpreendentes, mas temos questões que seguramente vão chegar ao Judiciário. Por exemplo, há discussão do que é ou não é um pedido genérico, que não pode ser atendido. Outra coisa: o que é ou não protegido por sigilo decorrente de outra lei. A Lei de Acesso à Informação ressalvou sigilos específicos, como o sigilo profissional, o segredo de justiça e os sigilos comercial e bancário. E temos outros desafios, como melhorar a administração dos documentos, como conservá-los e guardá-los, para facilitar a busca rápida. No Brasil, não tínhamos a priorização da gestão documental, então ainda estamos aprimorando o acesso e o registro dos documentos que ficam sob a guarda da administração pública. Judiciário / CNJ cobra tribunais sobre desvio de função Por determinação do conselho, funcionários que estão em funções indevidas terão de voltar aos postos para os quais fizeram concurso Katna Baran

Por determinação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os Tribunais de Justiça de 26 estados do Brasil – incluindo o Paraná – deverão apurar e regularizar todas as situações que envolvam desvio de função de servidores. Conforme a decisão, tomada nesta semana pelo plenário do CNJ, as cortes terão de instaurar processo administrativo nas respectivas Corregedorias-Gerais de Justiça para que os funcionários desviados de suas funções retornem aos cargos de origem.

Por unanimidade, os conselheiros seguiram o voto da conselheira Deborah Ciocci, relatora dos pedidos de providência que têm o CNJ como requerente. Segundo a decisão, “o desvio de função é ato atentatório ao princípio da legalidade, pois sua configuração provoca efeitos deletérios para a administração pública, notadamente com violação dos princípios da moralidade administrativa e da eficiência. Pode, ainda, provocar enriquecimento ilícito para o Estado”.

Em outubro do ano passado, a conselheira já havia pedido aos tribunais que enviassem informações complementares sobre a existência de divisão na carreira entre os servidores de 1º e 2º grau, inclusive por meio de concursos distintos. Procurada pela reportagem, a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) não apresentou informações sobre quantos funcionários do órgão seriam impactados com a decisão do CNJ.

O diretor financeiro do Sindicato dos Servidores do Judiciário do Paraná (Sindijus-PR), Mario Cândido de Oliveira, explica que, recentemente, o órgão já fez a correta

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realocação de servidores em seus respectivos cargos. Ele, porém, não soube informar quantos funcionários foram atingidos pela medida e se ainda há pessoas nessa situação. Para ele, a decisão do CNJ é benéfica para a instituição, mas que ainda deve haver uma definição mais clara do que caracteriza o desvio de função. “Há ainda essa discussão, pois há servidores nas secretarias e foros judiciais. De um para o outro, não há como saber se há desvio”, diz.

Observando a determinação do CNJ, o Sindijus disponibilizou em seu site um questionário para que os servidores ativos e aposentados para avaliação da real situação dos servidores em busca de uma solução definitiva da questão. Celso Nascimento / A salvação de Fruet

Se tudo quanto a presidente Dilma Rousseff sacramentou para Curitiba na última sexta-feira se concretizar, a administração do prefeito Gustavo Fruet está salva – desde que ele, o prefeito, saiba transpor com agilidade as naturais dificuldades que envolvem a execução das obras de tão grande porte quanto as que acabam de ser anunciadas.

De fato, os maiores problemas estruturais que Curitiba enfrenta, com reflexos para toda a região metropolitana, concentram-se na mobilidade urbana. Para vencê-los, verbas federais vão irrigar a construção do metrô, a conclusão da Linha Verde, a readequação do itinerário do Inter-2 e a finalização do projeto de readequação das canaletas.

Além destas obras projetadas pelo município, Dilma anunciou outra, de responsabilidade exclusiva da União: a recuperação do Contorno Sul. Na soma, incluindo este último, os investimentos federais em Curitiba chegarão a R$ 3 bilhões, aos quais se acrescem outros cerca de R$ 2 bilhões em recursos da prefeitura e da iniciativa privada.

Portanto, R$ 5 bilhões (ou pouco mais) destinados a melhorar o sistema viário e a dar maior eficiência ao transporte público.

Ótimo, se a cada edital a ser lançado não sobrevier uma enxurrada de contestações judiciais capazes de jogar para as calendas gregas a execução das obras ou se o poder público municipal não for ágil o bastante para botar a máquina pra funcionar. Deve-se evitar, por exemplo, o que ocorreu com a intenção de implantar a usina de industrialização que serviria para processar 2,5 mil toneladas por dia do lixo metropolitano.

A licitação foi lançada em 2007, mas tantas foram as ações judiciais que envolveram a concorrência internacional que, até hoje, passados sete anos, a usina ficou apenas na intenção. Ou nem na intenção, porque o tempo decorrido e a mudança na administração municipal aconselharam a adoção de tecnologia diferente daquela inicialmente idealizada. Que por sua vez também não saiu do papel.

Ou, para citar outro exemplo emblemático de quanto obras consideradas vitais ficam pela metade em relação às previsões de término, está o caso da Linha Verde. A grande avenida sobre trecho urbano da BR-476, ligando o Ceasa ao Atuba, não chegou a ficar pronta nem mesmo pela metade. Parou quando seus custos triplicaram durante os anos seguintes ao seu início, em 2005.

São situações que, se não levadas em conta por Fruet, podem se repetir: são obras complexas de engenharia e de processos construtivos, caras, sujeitas a mudanças radicais de custos e a infindáveis contestações judiciais – destas que tanto gostam de mover as grandes empreiteiras, geralmente vorazes na tarefa de aumentar seus lucros.

O que, em resumo, significa que, se não ficar atento ao controle, tanto dinheiro para tanta obra pode ser sinônimo de muito sucesso ou de grande fracasso na administração.

Olho vivo / Bastidores Com um pé em cada canoa, o governador Beto Richa (PSDB) não deixa de trabalhar também pela candidatura presidencial de Eduardo

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Campos (PSB), quase tanto quanto diz publicamente fazê-lo pela do correligionário tucano Aécio Neves. Richa e membros do primeiro escalão de seu governo têm tido reuniões semanais com o ex-prefeito de Curitiba, Luciano Ducci (PSB), coordenador da campanha de Campos e que disputará cadeira na Câmara Federal na próxima eleição.

Ansiedade 1 Cresce a ansiedade nos arraiais do PMDB paranaense. Repentinas mudanças de opinião entre os que têm algum poder de influência sobre os convencionais do partido espalham clima de incerteza. O grupo de deputados estaduais, antes considerado capaz de definir o resultado da convenção em favor da aliança pela reeleição de Richa, começa a apresentar fissuras capazes de de levar o partido a lançar candidato próprio.

Ansiedade 2 Se, antes, os deputados viam na aliança a tábua de salvação para seus próprios mandatos, agora eles se veem acossados por alguns membros da bancada e “forasteiros” que pretendem disputar a eleição, que a melhor alternativa é ter um candidato majoritário “puxador” de votos. No caso, o senador Roberto Requião.

Ansiedade 3 Em razão da dúvida existencial que acomete os dois lados – o dos richistas e o dos requianistas –, Pessuti passou a ser valorizado. Tem poucos votos na convenção, talvez apenas uns 20% dos delegados – o bastante, no entanto, para desempatar a disputa. Ele sabe disto e joga as cartas: para pavimentar o próprio caminho, aceita bater chapa com Requião, ser candidato ao Senado ou, até, se aproximar da petista Gleisi Hoffmann. Efeito mensalão / Polícia Federal investiga ameaças na rede a Joaquim Barbosa

A Polícia Federal (PF) investiga, a pedido do Supremo Tribunal Federal (STF), ameaças de morte ao presidente da Corte, Joaquim Barbosa, em perfis de redes sociais na internet. Em um dos dois inquéritos de investigação, a PF descobriu que um dos que ameaçaram o ministro foi Sérvolo de Oliveira e Silva, secretário de organização do diretório do PT em Natal e membro da Comissão de Ética do partido no Rio Grande do Norte.

“Contra Joaquim Barbosa toda violência é permitida, porque não se trata de um ser humano, mas de um monstro e de uma aberração moral das mais pavorosas”, postou o petista no Facebook com o nome de Sérvolo Aimoré-Botocudo de Oliveira, como informou a edição da revista Veja deste fim de semana.

“Joaquim Barbosa deve ser morto. Ponto Final. Estou ameaçando a um monstro que é uma ameaça ao meu país. Barbosa é um monstro e como monstro deve ser tratado”, continuou Sérvolo.

Depois que começou a ser investigado pela PF, Sérvolo se mudou para Foz de Iguaçu. À revista, o petista disse que não tenho coragem de matar ninguém, completando que se quisesse de fato matar alguém não postaria a ameaça na internet.

No outro inquérito, a PF investiga quem está por trás do perfil de Brasília que convoca membros e correligionários do PT a atentar contra a vida do presidente do STF. Meio ambiente / Existe um continente de lixo boiando no Pacífico – e ninguém dá a mínima Sopa de plástico forma um bloco maior que a Índia, localizado entre a Califórnia e o Havaí, que ameaça a cadeia alimentar e o trânsito de navios na região Jaqueline Ribeiro, especial para a Gazeta do Povo

Enquanto as imagens de lixões abarrotados de plástico causam preocupação pelas consequências ecológicas, no oceano, um novo continente surge sem que a humanidade faça ideia da ameaça que ele representa. O sétimo continente, como é chamado pelos

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estudiosos, é formado por lixo e ocupa um espaço maior que a Índia. A área fica ao norte do oceano Pacífico, entre a Califórnia e o Havaí e ganhou esse nome porque hoje atinge uma extensão de 3,5 milhões de km².

A poluição terrestre é despejada nos mares por meio de esgotos e rios. Ao cair nas correntes marítimas, o lixo que forma o bloco foi transportado pelos mares até chegar ao giro oceânico do Pacífico Norte, um dos cinco existentes no globo (veja infográfico). No interior do giro, o plástico não dissolvido permaneceu por anos e, devido ao movimento natural do oceano, formou uma espécie de “sopa plástica”. Grande parte desta sujeira não é facilmente visível, o que dificulta o acompanhamento da área via satélite.

Apesar de ser desconhecido pela população mundial, o problema é antigo. O “Lixão do Pacífico” foi encontrado por acaso, em 1997, pelo capitão Charles Moore, juntamente com Patrick Deixonne, membro da Sociedade dos Exploradores da França (Société des Explorateurs Français) e atual explorador da área.

Aumento Na época, a catástrofe ambiental era estimada em 1,3 milhões de km². Hoje, Deixonne e sua equipe acreditam que, se nada for feito para conter o problema, nos próximos 20 anos, o continente de lixo vai alcançar o tamanho da Europa.

De acordo com Tiago Zanella, advogado atuante no ramo de direito marítimo, as pessoas desconhecem o problema porque é algo distante da realidade delas. “É diferente, por exemplo, de um acidente marítimo em que um navio derrama óleo no litoral e as pessoas ficam impossibilitadas de ir à praia no final de semana por causa disso”, explica. Ele observa que, no Brasil, quase nada se produz ou discute sobre a consequência da presença de plástico nos oceanos.

Para Deixonne, a falta de informação vem da indiferença das pessoas em relação ao meio ambiente. “A questão parece interessar somente ambientalistas e cientistas. Grande parte da comunidade internacional parece indiferente”, lamenta.

Em proporções menores, os giros Atlântico Norte e Sul, Pacífico Sul e Índico apresentam o mesmo problema. Em todos os casos, “o impacto ambiental ainda não é bem compreendido”, descrevem os estudos expedicionários. O grupo de Deixonne afirma que existem poucas pesquisas mundiais que abordam o tema, por isso pretende fazer “um primeiro relatório científico sobre a situação dos oceanos”.

Expedição Pesquisadores vão investigar concentração de resíduos no Pacífico

Em 2012, o navegador Patrick Deixonne e sua equipe partiram em direção ao sétimo continente a fim de explorar de perto o problema. Por uma falha logo no início da viagem, a missão foi abortada e retomada somente em maio de 2013, quando a expedição passou 20 dias no mar em busca do giro do Pacífico Norte. No diário de bordo oficial, a equipe relatou que o “desastre ecológico invisível é muito horrível quando se está cara a cara com ele”.

Novamente em alto mar, agora para coletar dados, amostras e aprofundar o conhecimento do fenômeno, a expedição partiu dia 5 de maio e fez parceria com laboratórios de pesquisa para apresentar ao mundo os resultados da catástrofe ambiental.

Durante os 20 dias, os expedicionários devem investigar o grau de poluição da água e da cadeia alimentar do Pacífico Norte, caracterizar os ambientes encontrados, para melhorar a detecção por satélite de áreas onde há plástico concentrado, quantificar e caracterizar os resíduos encontrados e analisar os poluentes presentes na superfície da água. 80% de todo o lixo plástico encontrado nos mares é de origem terrestre, os outro 20% vêm de fontes que estão próprio oceano, como navios.

13.000 fragmentos de material plástico por quilômetro quadrado é a estimativa de proporção de plástico em todos os oceanos, calculada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

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Poluição / Acúmulo de plástico nos oceanos ameaça a vida marinha A enorme quantidade de plástico nos oceanos consiste em uma ameaça silenciosa,

mas real à fauna marinha. De acordo com Tiago Zanella, especialista em direito marítimo, a ingestão de polímeros sintéticos (elementos presentes no plástico) causa a morte de milhares de espécies todo ano. “Por repelirem a água, a resina do plástico acaba atraindo diversos outros tipos de poluentes hidrofóbicos, principalmente compostos orgânicos venenosos como pesticidas (DDT) e bifenilos policlorados (PCBs), que funcionam como verdadeiras esponjas de sujeira”, explica.

Zanella afirma que o problema também acarreta perdas econômicas porque o plástico presente no mar causa danos às hélices, entope tubulações e sistemas de resfriamento de água das embarcações, o que pode reduzir o trabalho na pesca. Opinião / Direito internacional e defesa dos mares Tiago Zanella, advogado atuante no ramo de direito marítimo

A poluição marinha por plásticos é um problema ambiental de caráter essencialmente internacional. Em razão de suas peculiaridades, a questão demanda uma atuação conjunta da sociedade internacional, sendo que apenas através de uma ação global o problema pode começar a ser resolvido.

Atualmente, o direito internacional possui pouca efetividade na prevenção e controle do problema. Isso ocorre, sobretudo, em razão da impossibilidade de responsabilização dos poluidores. Uma vez inserida nos mares, não há como identificar o agente (Estado) que introduziu o material plástico no ambiente marinho e, assim, não há como punir o país responsável.

A solução encontrada pelo direito internacional foi requisitar dos Estados uma regulação interna sobre a poluição marinha que advém do seu território. Os esparsos tratados internacionais que mencionam a poluição marinha de origem terrestre (cerca de 80% de toda introdução de plásticos nos oceanos provêm da terra), apenas determina que os próprios países devem controlar e legislar sobre o tema. Essa solução, por mais ineficaz que seja, se explica pela impossibilidade de fiscalização e identificação dos culpados pela sociedade internacional.

Dessa forma, atualmente, é necessária a vontade dos próprios Estados para combater o problema. Contudo, fica evidente a necessidade de uma iniciativa da sociedade internacional, até porque o tema não pode ser solucionado por apenas um país, já que se trata de uma demanda de caráter absolutamente global. Enquanto isso, os resultados dessa falta de normatização internacional eficaz é o aumento na poluição marinha por plásticos em todos os oceanos.

Folha de Londrina Informe Folha "Ricardo Boechat recusa penas alternativas. Quer cumprir em presídio. Sugiro Pedrinhas, no Maranhão"

Pedrinhas Ainda sobre a condenação a seis meses e 16 dias de prisão do jornalista Ricardo Boechat, da Rede Bandeirantes de TV e da rádio BandNews, por ofensas e calúnias contra o senador Roberto Requião (PMDB), o político paranaense tuitou: "Ricardo Boechat, condenado a 6 meses de cadeia, recusa penas alternativas. Quer cumprir em presídio. Sugiro Pedrinhas, no Maranhão." Requião já havia dito que

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trocaria condenação de Boechat por direito de resposta. Já o jornalista insistiu que não mudaria uma vírgula do que disse.

Florestópolis O Juízo da Vara Cível de Porecatu (Norte) condenou o ex-prefeito de Florestópolis na gestão 1993-1996, Márcio Francisco de Souza, a pagamento de multa e suspensão dos direitos políticos por três anos, devido a um ato de improbidade administrativa. Segundo ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público (MP), Souza autorizou a compra de alimentos e produtos de limpeza para o Poder Executivo em supermercado de propriedade do vice-prefeito à época. Conforme relatado pelo MP na ação inicial, os produtos atenderiam necessidades corriqueiras da administração municipal, o que não justifica dispensa de licitação. A ação foi proposta em 2001, e, após sucessivos recursos, a decisão transitou em julgado. O MP agora propõe a execução da sentença buscando a reversão da multa civil imposta aos réus em prol do Município de Florestópolis.

Convênio O Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE) determinou a devolução de R$ 412.404,19, devido a irregularidades em convênio entre a Prefeitura de Guaraqueçaba (Litoral) e o Instituto Ônix para a realização de ações na área da saúde entre 2011 e 2012. Segundo dados do TCE-PR, entre as principais irregularidades estão a falta de comprovação de despesas, ausência de extratos bancários, pagamento de R$ 13,8 mil à então presidente da entidade, Mariana Martins, além da utilização de Recibos de Pagamento a Autônomo (RPAs) para justificar despesas. Muitos dos RPAs apresentados não tinham relação entre numeração e datas de emissão, assinaturas ou autenticação que comprovasse o efetivo pagamento.

Multa Além da devolução do dinheiro, o TCE-PR aplicou multas, previstas em sua Lei Orgânica. O então prefeito de Guaraqueçaba Haroldo Salustiano de Arruda e o então secretário municipal de Saúde Ezequiel Ribeiro da Silva pagarão multa de 10% do valor do dano (R$ 41.240,41), por terem sido omissos na fiscalização sobre o uso dos recursos públicos. Com base no Artigo 87 da Lei Orgânica, Arruda recebeu duas multas, que somam R$ 2.176,48. As gestoras do Instituto Ônix também foram multadas. Luiz Geraldo Mazza/ Protagonismo

O MP do Trabalho está lançando restrição ao possível uso de crianças como gandulas na Copa do Mundo. Uma intervenção dessas, ano passado, quase mela o evento de Natal do HSBC, o maior de todos, pela restrição às crianças que dele participavam. Qualquer hora vão querer tirar do ar astros mirins da tevê brasileira. Shirley Temple, se fosse brasileira e atuasse hoje, talvez não fizesse carreira.

Júri O ex-deputado Carli Filho vai a júri, mas é beneficiado pelo fato de que as peças referentes ao seu estado de embriaguez (alcoolemia) devem ser descartadas porque feitas sem o consentimento do réu. Isso tudo a despeito das imagens e das constatações dos bombeiros. É um caminho para tentar classificar o delito como culposo. Ninguém fala no sumiço das imagens, os frames do desdobramento cênico da tragédia. Cobertura oficial dada ao infrator nos primeiros momentos foi notória, além das corporativas dos colegas políticos. Deputados votam repasse a Fundo de Saúde Proposta de abertura de crédito adicional de R$ 900 milhões visa deixar Paraná fora do cadastro negativo do Tesouro Nacional Roger Pereira

Curitiba - Amanhã a Assembleia Legislativa começa a votar o polêmico projeto de lei 175/2014, que autoriza a abertura de crédito adicional de R$ 900 milhões ao Fundo

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Estadual de Saúde (Funsaúde). A proposta visa adequar as finanças do Estado ao que determina a Emenda Constitucional n° 29, de 13 de janeiro de 2012, que prevê os parâmetros e os investimentos necessários na área da saúde. Se aprovada, a lei será retroativa a 1° de janeiro deste ano. Com a medida, seria zerada a conta do Estado com a Saúde, deixando o Paraná fora do cadastro negativo do Tesouro Nacional, empecilho à liberação de empréstimos.

Uma das causas alegadas pela Secretaria do Tesouro Nacional para barrar os empréstimos internacionais e federais ao governo do Paraná nos últimos meses foi o descumprimento, por parte do Estado, de sua obrigação constitucional de investir, no mínimo, 12% de seu orçamento em Saúde Pública.

O projeto a ser votado em primeiro turno nesta segunda, no entanto, foi questionado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Seu relator, deputado Tadeu Veneri (PT) apontou falha na proposição pelo fato de ela não apresentar a origem dos recursos. Na justificativa do Poder Executivo, que acompanha o projeto, constava apenas que os recursos para a cobertura da reprogramação das contas são decorrentes de cancelamentos de dotações de diversos Órgãos e Entidades do Poder Executivo.

Por conta disto, a CCJ chegou a rejeitar o projeto, que voltou à comissão, sob relatoria do líder do governo Ademar Traiano, e com uma explicação da Secretaria de Fazenda sobre a origem dos recursos (grande parte transferida das secretarias de Administração e Previdência e de Fazenda), sendo aprovado com os votos contrários de Veneri e Péricles Melo (PT). "Não há nenhuma inconformidade no projeto e as explicações exigidas já nos foram encaminhadas. A proposta está pronta para ir a plenário", disse Traiano.

Apesar das explicações e da aprovação na CCJ, a oposição segue afirmando que votará contra. "O projeto não diz a origem dos recursos e nem do destino. Diz que vai para o Fundo de Saúde, mas não diz como será utilizado. As explicações não foram anexadas ao projeto, ele não pode ser votado", disse Veneri, que ainda contestou os cortes que o governo pretende fazer para liberar esses R$ 900 milhões. "A maior parte, R$ 582 milhões, tem como origem a Secretaria de Administração e, analisando o orçamento da Administração, o único lugar que podem mexer é na parte que cabe ao Estado da contribuição ao Paraná Previdência. Vão tirar esse dinheiro da previdência dos servidores", reclamou. Lava Jato cria clima de apreensão no Congresso Roger Pereira

Curitiba - Membro da Comissão Externa da Câmara e um dos propositores da CPI mista da Petrobras no Congresso Nacional, o deputado federal Fernando Francischini (Solidariedade) comentou na sexta-feira, durante sua passagem por Curitiba, os desdobramentos da Operação Lava Jato e o impasse para a instalação das CPIs pelo parlamento. "Não tem como tirar o viés político da investigação. Ela pode acabar caindo no colo do governo. Por isso esse temor muito grande por parte deles (do governo) e a tentativa de postergar a CPI. Mas, agora, depois de muita pressão, o presidente Renan Calheiros (PMDB) deu o prazo para a indicação dos nomes (dos membros da CPI). Estamos acreditando que não haverá mais manobras para adiar o processo", disse.

O deputado, que estará em Curitiba no dia 22 para colher depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto da Costa, preso na operação, disse que já tem claro o modus operandi do esquema. "Está claro que eles agiam através de subcontratações de empresas terceirizadas, já com valores superfaturados, com a promessa de doação a políticos. O que eles não contavam era com o Paulo Roberto dando consultoria."

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Francischini comentou que há um clima de grande apreensão no Congresso pelo fato de as investigações poderem envolver novos parlamentares. "O que o próprio governo está fazendo, agora, é espalhar lista de doações (das empresas investigadas pela operação a campanhas políticas) para constranger os deputados. Mas não me constrange. Eu recebi R$ 10 mil, legalmente, de uma dessas empresas, e sou o proponente da CPI", declarou. "Em breve, podem aparecer empréstimos do BNDES a obras dessas empresas no exterior, já com essas doações previstas também", indicou.

Explicação Apontada como uma das candidatas que mais recebeu doações das empresas investigadas pela Operação Lava Jato, a senadora e pré-candidata do PT ao governo do Paraná, Gleisi Hoffmann, divulgou nota na sexta-feira dizendo que todas as doações recebidas por ela são oficiais, contabilizadas e aprovadas pelo Tribunal Superior Eleitoral sem qualquer ressalva. Gleisi recebeu R$ 2,1 milhões em doações de campanha de empresas investigadas pela operação. Universitário condenado por estupro é libertado Samara Rosenberger

Lucas Ferreira Ramalho, de 22 anos, universitário de Londrina condenado por estupro, foi solto depois de passar duas horas dentro da prisão. A defesa do estudante conseguiu parecer favorável do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) ao pedido de habeas corpus na sexta-feira. Ramalho deu entrada na unidade II da Penitenciária Estadual de Londrina (PEL) por volta das 16h30 de sexta-feira e foi libertado no mesmo dia, às 18h30.

As informações foram confirmadas por Emerson das Chagas, diretor da PEL II, na manhã de ontem, em entrevista ao Portal Bonde, do grupo FOLHA.

Ramalho foi preso na manhã da última terça-feira, no campus da Pontifícia Universidade Católica (PUC). Portador de diabetes, ele apresentou complicações médicas e foi internado no Hospital do Coração, onde recebeu alta na sexta-feira.

O estudante foi condenado a 12 anos e seis meses de prisão por estupro de vulnerável. A sentença da 3ª Vara Criminal de Londrina foi publicada na segunda-feira no Diário Oficial de Justiça do Estado do Paraná. O crime ocorreu em maio de 2012, quando Ramalho dopou uma universitária dentro de uma casa noturna e a levou, com a ajuda do estudante de Administração da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Pedro Henrique de Oliveira, para um motel, onde ambos a violentaram. Oliveira também foi condenado, e até a manhã de ontem, permanecia foragido. A pena dele é de 11 anos e oito meses. Ministério quer impedir crianças como gandulas Roger Pereira

Curitiba - O Ministério Público do Trabalho no Paraná (MPT-PR) ajuizou ação para proibir a utilização de crianças e adolescentes como gandulas nos jogos da Copa do Mundo. O pedido de liminar vale para todo o País e prevê multa de R$ 100 mil para cada adolescente que seja menor de idade utilizado em campo. A ação tem por base a Constituição Federal, que impede o trabalho de menores de 16 anos.

"A Constituição também impede o trabalho noturno de menores de 18 anos, o que acontecerá nos jogos da Copa e, também em condições insalubres. E os gandulas estarão expostos ao risco de agressão física, conflitos e choque violentos ou fraturas no trabalho", disse a promotora do trabalho Margareth Matos de Carvalho.

A seleção de gandulas para a Copa do Mundo faz parte de uma ação promocional da Fifa com a Coca Cola, que está convocando crianças para atuar na função por meio de

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um concurso fotográfico. Além da multa de R$ 100 mil por cada gandula usado, a ação pede que os adolescentes já selecionados pelo programa tenham o direito de entrar nos jogos da Copa do Mundo, mas apenas como acompanhantes de jogadores ou carregadores de bandeiras e fiquem nas arquibancadas durante a partida.

A ação ainda prevê que a Fifa e a Coca-cola se responsabilize em contratar e substituir os adolescentes selecionados por maiores de 18 anos e pede acesso irrestrito do MPT aos jogos da Copa para fiscalizar a situação. As empresas divulgaram informando que respeitarão eventuais decisões judiciais.

Diário dos Campos Serviço voluntário no sistema penitenciário é regulamentado Agência Estadual

A partir de agora, estudantes universitários, servidores aposentados e profissionais liberais poderão desenvolver serviços voluntários nas unidades do Sistema Penitenciário do Paraná, administrado pelo Departamento de Execução Penal (DEPEN) da Secretária da Justiça Cidadania e Direitos Humanos (SEJU). Decisão neste sentido faz parte do Decreto 10712/1014, assinado pelo governador Beto Richa, estabelecendo critérios para serem firmados acordos de cooperação entre o DEPEN, instituições e pessoas interessadas.

Pelo Decreto, poderão prestar esse tipo de serviço solidário e cidadão “servidores aposentados do DEPEN, estudantes ou formados nas áreas de Direito, Medicina, Psicologia, Assistência Social, Administração de Empresas, Contabilidade, Ciências Contábeis, Engenharias Civil, Ambiental e Elétrica, bem como Enfermagem e Informática”. Os bacharéis e acadêmicos de Direito não poderão estar vinculados a escritório de advocacia da comarca onde prestarão os serviços voluntários.

Os interessados em prestar serviço voluntário deverão procurar a direção da Unidade Penitenciária em que pretende atuar, munido de duas fotos 3x4, documento de identidade, CPF, comprovante de residência e certidão de antecedentes criminais. No ato da inscrição, o voluntário assinará um termo de adesão, contendo as atribuições, proibições e deveres inerentes ao serviço voluntário, além dos dias e horários de trabalho. Concluído o período de atuação voluntária, o DEPEN ou a Unidade Penal emitirá certificado de prestação de serviços voluntários, contendo o local e o período de trabalho. O Diário do Norte do Paraná Entrevista/ Cláudio Prates Lamachia / Vice-presidente da OAB afirma que o grande problema do Poder Judiciário no Brasil é a falta de investimentos em recursos humanos "Os valores destinados para as campanhas eleitorais são absurdos" Murilo Gatti

Vice-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cláudio Pacheco Prates Lamachia, que esteve em Maringá durante o 8º Congresso Jurídico Integrado (Conjuri), afirma que o principal problema do Poder Judiciário no País é a falta de investimentos em recursos humanos. Ele critica a implantação obrigatória do processo eletrônico, como forma de amenizar o problema, e defende mudanças na Lei de Responsabilidade Fiscal

Page 19: Gazeta do Povo - mppr.mp.br fileEm parte, o Cras teria poder para tanto, mas já se percebeu que a tarefa é mais dura do que a plasticidade do projeto. Sobre o Cras pesam tarefas

(LRF) para permitir que o judiciário possa contratar mais juízes e responder com mais agilidade ao sentimento de impunidade existente hoje. Sobre eleições, ele critica o 'investimento' das empresas nos políticos. Lamachia também falou sobre as ações recentes desenvolvidas pela OAB em favor da sociedade.

P.— Tem uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN), que cobra a atualização da tabela do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física. O que a OAB busca com o processo?

R.— Temos uma defasagem acumulada de 61,42% na tabela do imposto de renda. Esse índice, por si só, explica porque a OAB foi buscar, por meio de uma ADIN, a declaração de inconstitucionalidade da lei que tem atualizado a tabela com uma defasagem permanente. E, no dia 2 de maio, posteriormente ao ingresso da ação, a Presidência da República diz que vai novamente, este ano, atualizar a tabela em 4,5%, mesmo com uma inflação projetada de quase 6%. Estaremos agregando mais um porcentual em cima destes 61,42% de defasagem.

P.— Qual o impacto desta defasagem para os brasileiros? R.— Faz com que se agrave o problema social. Se considerássemos uma

atualização real destes valores da tabela do imposto de renda, seguramente uma pessoa que ganha R$ 2,5 mil, por mês, estaria isenta. Há quase 20 anos, a isenção era para quem ganhava até seis e meio salários mínimos. Hoje, quem ganha dois e meio salários mínimos paga imposto de renda. É uma distorção absurda que agrava o problema social. É algo que não se pode conceber, notadamente em um País, onde temos uma das maiores cargas tributárias do mundo. O imposto de renda é um dos impostos mais justos, porque tributa exatamente a renda. Mas é injusto com quem ganha menos, quando não se atualiza a base da pirâmide.

P.— Existe ação do Ministério Público Federal, em direção semelhante, que questiona a correção do FGTS, também abaixo da inflação. Qual o posicionamento da OAB?

R.— O posicionamento é semelhante. A Ordem entende que deve ter a correção da inflação. É a mesma coisa que acontece com os precatórios. A OAB defende que os índices inflacionários sejam aplicados sobre aquilo que pertence ao povo. Caso contrário, ficamos em uma situação desigual. O governo atualiza os créditos dele, mas quando olha para os créditos do contribuinte, do trabalhador, da cidadania, da sociedade, considera outros aspectos e coloca um redutor.

P.— Outra ADIN apresentada pela OAB, que se encontra em fase de julgamento no STF, inclusive com o voto favorável da maioria dos ministros, trata da proibição do financiamento de campanhas eleitorais por empresas. Qual a importância desta proibição?

R.— Se partirmos do pressuposto que empresa não doa, empresa investe, só essa frase já sacramenta a questão. Qual é a ideia de uma empresa ao investir em determinado candidato? O empresário vai buscar algo em troca, depois, lá na frente. Claro que isto não pode se generalizar, mas isto é o que tem ocorrido. Lá na frente, o político acaba devolvendo a contribuição da campanha. Entendemos que a ideia do financiamento por parte de empresas fere a ideia central da Constituição de um homem, um voto.

P.— Quais consequências nas eleições? R.— Mascara o processo eleitoral. Apenas 5% dos gastos em campanhas são de

financiamentos da sociedade como um todo, do cidadão individual. Agora, o que é mais preocupante é que um número de dez empresas investe quase que em 70% das campanhas. E qual o interesse que essas empresas têm de dar para todo mundo? Reforça a visão de que a empresa não tem ideologia, mas faz um investimento. O que ela quer é exatamente isto, ter um candidato seu, não importa qual seja, de qual partido, mas eleito, para que amanhã ou depois possa cobrar a conta.

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P.— Esta regra vai valer para as eleições de 2014? R.— Lamentavelmente não. Mas é importante, porque já se coloca um

balizamento. A OAB também defende a aprovação de uma lei de iniciativa popular denominada "Eleições limpas, eleições democráticas". A ideia básica desse projeto é que exista o financiamento privado da campanha, apenas para pessoas físicas e de até R$ 700, e se tenha a exclusão das empresas, a exemplo do que buscamos no Supremo. Outra fonte de financiamento da campanha seria o fundo partidário, que já existe. Assim, é possível baratear as campanhas eleitorais. Os valores investidos nas nossas campanhas são verdadeiramente absurdos.

P.— Durante a Copa do Mundo é praticamente certo que vão ocorrer manifestações. Como o senhor avalia este dilema entre a garantia do direito de protestar e a garantia dos torcedores de assistir aos jogos?

R.— Vivemos em um estado democrático de direito. Todas as pessoas têm o direito à livre manifestação. Se sou contra ou a favor, tenho o direito de me manifestar. Mas meu direito vai até onde encosta no direito do outro. Na medida em que, de alguma forma, com o meu direito de manifestação, crio um prejuízo a outro, não ajo de forma a observar a legislação. A possibilidade de manifestação é plena e absoluta quando, por exemplo, é ordeira. Na medida em que ultrapassa este critério, fere o direito de propriedade e o direito dos outros de irem e virem e fere o patrimônio privado. Ficamos diante de uma ilegalidade e isto tem que ser coibido pelo Estado.

P.— O governo federal chegou a colocar em discussão um projeto para proibir as manifestações. Foge da democracia?

R.— Penso que se trabalharmos com esta ideia, vamos arranhar a Constituição Federal. Temos regras de conduta, podemos aparelhar melhor as policias. Tudo aquilo que buscarmos para a segurança, sou a favor, mas temos um princípio geral que é o princípio da Constituição, que precisa ser considerado por todos, notadamente pelas autoridades.

P.— Temos presenciado muitas situações onde as pessoas buscam fazer justiça com as próprias mãos. Isso se deve a um descrédito da Justiça? Como o senhor avalia o crescimento nos casos de justiçamento?

R.— Esta ideia de justiça pelas próprias mãos fere de maneira mortal a Constituição Federal e o nosso estado democrático de direito. Temos leis, temos estruturas que estão postas. O que temos de fazer é cada vez mais apostar nas instituições. Apostar e melhorar o funcionamento das nossas instituições. No Judiciário, os processos não andam com a celeridade que deveriam. O primeiro fator é que a capacidade instalada do Judiciário no País não dá conta da demanda, o que não é novidade. Temos que olhar para as instituições e vermos onde estão os problemas. Por que isto tem acontecido no Judiciário? É a limitação de investimento.

P.— Como é possível resolver? R.— Temos uma a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que é um dos principais

avanços do nosso País. Mas a LRF é aplicada de forma semelhante para o Executivo, Legislativo e Judiciário, e ela cria esta distorção. Qual distorção? O Poder Executivo não vive, basicamente, de contratação de pessoal. O Poder Legislativo, também não, basicamente. O Poder Judiciário vive basicamente na aplicação em pessoal. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o Estado precisa contratar de 1.500 a 2.000 juízes. Essa é a defasagem para um quadro de 1.200 magistrados no Estado. Então, os processos se avolumam. Isso provoca uma sensação de impunidade muito grande. Agora, é claro que eu não posso dizer que por isso, vamos legitimar as pessoas para fazerem justiça com as próprias mãos. Outro ponto, é a falta de investimento na segurança, que também provoca o sentimento de impunidade. Aí, a pessoa vê que a Polícia não funciona ou que não consegue prestar a segurança necessária e se sente autorizada, digamos assim, a fazer justiça. É um equívoco absurdo.

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P.— A dificuldade de compreensão do direito. Vou dar um exemplo. O cidadão que vê o autor de um homicídio se apresentar à polícia após as 48 horas do flagrante e, que por ter residência fixa e não ter antecedentes, ser liberada depois do depoimento, o que é uma garantia prevista em lei. Situações assim também contribuem para aumentar a sensação de impunidade?

R.— Pode até ser. Mas sou daqueles que não acham que precisamos de mais leis. Penso que as leis são boas, mas precisamos de mais investimento. Seria uma pauta para ficarmos horas conversando. O que dá a sensação de impunidade? A questão dos presídios. Você deu o exemplo daquele que é liberado. Mas e aquele que vai preso? Pegam o cara traficando dois, três baseadinhos, ou o que foi pego em um pequeno furto. Pegam pessoas que cometeram crimes de menor potencial e colocaam em um presídio que, às vezes, é uma verdadeira escola do crime. Quando a pessoa sair estará formada, pós-graduada em crime, e sai muito mais violenta, porque sai querendo se vingar da sociedade que a colocou lá para viver no meio dos ratos, das baratas, comendo mal, dormindo mal, muitas vezes, sem ter uma cama. Ao invés de o Estado ressocializar a pessoa, o Estado formou a pessoa para o crime. É uma bola de neve.

P.— A ausência de uma defensoria pública eficaz agrava? R.— Seguramente, sem dúvida alguma. É a falta de investimentos em princípios

básicos de Justiça. Todo cidadão tem direito à defesa. O princípio da defensoria é exatamente este. Mas temos Estados sem estrutura econômica para manter uma defensoria.

P.— Vemos reclamações constantes em relação ao cumprimento, em regime fechado, de presos como o Zé Dirceu, condenado ao regime semiaberto, ou do José Genuíno, que buscou o cumprimento da pena em regime domiciliar sob a alegação de que demanda tratamento especializado de saúde. Aí vemos a realidade dos presídios que mencionou. Usando um termo popular. Estes políticos condenados no mensalão reclamam de 'barriga cheia'?

R.— Esta pergunta respondo com as colocações que fiz antes em relação ao sistema prisional brasileiro. Se tem uma pessoa, seja ela quem for, que fica em uma cela individual e tu olhas o sistema das penitenciárias brasileiras, tu vês uma discrepância enorme entre o cumprimento de duas penas. Mas não vamos dizer que isto seja o errado. O ideal seria a cela, ou individual, ou onde as pessoas pudessem cumprir uma pena de forma justa, com quatro, cinco pessoas em uma cela com um espaço físico adequado. Por quê? Desta maneira, estas pessoas vão ser ressocializadas. Falo das pessoas que estão nos presídios superlotados. A superlotação agrava ainda mais a criminalidade. E faz com que as pessoas tenham mais sensação de impunidade.

P.— Como o senhor avalia a declaração do ex-presidente Lula em entrevista a uma TV de Portugal, de que o julgamento do mensalão foi 80% político e 20% técnico. A afirmação desgasta a Justiça ?

R.— Desgasta. Penso que não soma para o Brasil, para o sistema jurídico brasileiro, nem para a suprema corte . Temos uma decisão judicial que foi proferida, transitou em julgado e, portanto, cabe a todos observarmos a decisão e respeitar. Quanto a porcentuais, não consigo entender nem dá para saber de onde eles foram extraídos. Qual é a base utilizada para encontrar este porcentual? Gaeco investiga 'sumiço' de carro do pátio da Polícia Rodoviária Proprietário foi buscar o veículo no posto da PRE em Peabiru, mas ele já havia sido retirado No último dia 16 de abril, o Honda Civic foi multado por excesso de velocidade em Maringá Murilo Gatti

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O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) de Maringá investiga o "sumiço" de um Honda Civic, placa DXV-0079, do posto da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) de Peabiru (a 55 km de Maringá).

O carro está em nome de Karina Ferreira dos Reis, esposa do proprietário que, no dia 2 de janeiro de 2014, foi parado por policiais rodoviários e teve o veículo apreendido por causa do atraso no pagamento do IPVA. "Achei que o veículo ficaria seguro ali e não retirei antes porque precisava acertas outras contas primeiro", diz o proprietário que prefere não se identificar. Em março, quando decidiu buscar o carro, veio a surpresa. O IPVA tinha sido parcelado e o veículo retirado no dia 7 de março por meio de uma procuração supostamente falsificada em que Karina Ferreira dos Reis autorizou Carlos Henrique Bernardochi a retirar o veículo da PRE e, até mesmo, vender o automóvel.

Bernardochi prestou depoimento no Gaeco esta semana e confirmou ter retirado pessoalmente o veículo do pátio da PRE. "Ele disse que recebeu a procuração pronta, assinada, como outorgado para retirar o veículo. Contou ainda que teria negociado o carro com uma pessoa de Campo Mourão, que lhe entregou o documento", diz o delegado do Gaeco, Elmano Ciriaco.

Sobre o paradeiro do carro, Bernardochi informou que desistiu do negócio cerca de uma semana depois e devolveu o veículo para esta pessoa de Campo Mourão. "É uma história difícil de acreditar ainda mais que esta pessoa com quem teria negociado o veículo se suicidou há poucas semanas", relata Ciriaco.

Nos próximos dias, o Gaeco vai ouvir os policiais rodoviários que entregaram o veículo mediante a procuração, medida que, segundo o comando da 4ª Companhia da Polícia Rodoviária Estadual, está correta, pois o débito estava quitado e a documentação supostamente correta. O cartório onde foi feita a procuração também foi notificado a prestar esclarecimentos, a apresentar o cartão de assinatura de Karina e outros documentos que possam colaborar nas investigações. "Aguardamos a resposta do cartório. A vítima (Karina) confirma que não conhece o mandatário, não tem nenhuma dívida, não assinou a procuração e que houve a fraude. Também estamos diligenciando para tentar localizar o veículo e confirmar esta questão do suicídio", diz o delegado. A última imagem que se tem do veículo desaparecido é de multa por excesso de velocidade aplicada no dia 16 de abril, no Contorno Sul de Maringá.

Explicação "Ele [Bernardochi] disse que recebeu a procuração pronta, assinada, como outorgado para retirar o veículo"

Elmano Ciriaco Delegado do Gaeco Assembleia de Deus obtém liminar para posse de templo Juíza entendeu que a Ieadcemar é a proprietária legal do imóvel de Sarandi Pastor Clementino, que ocupa a residência pastoral, tem 15 dias para recorrer Murilo Gatti

A Igreja Evangélica Assembleia de Deus do Campo Eclesiástico de Maringá (Ieadcemar) obteve liminar de reintegração de posse do templo da congregação de Sarandi, localizado na Rua Jaçanã, no Centro da cidade. A decisão é da juíza da Vara Cível de Sarandi, Ketbi Astir José. Em sentença, publicada anteontem, ela concedeu prazo de 15 dias para o pastor Clementino Florentino, da igreja Assembleia de Deus de Sarandi, que atualmente ocupa a residência pastoral, apresentar contestação sobre a liminar.

O pedido de reintegração de posse do templo foi protocolado em abril, após uma série de divergências internas entre a direção da Assembleia de Deus e o pastor. A principal é que o dinheiro obtido com a alienação do templo de Sarandi, em julho de

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2013, que viabilizaria a reforma do imóvel, acabou aplicado em outros projetos da Ieadcemar, o que causou descontentamento dos fiéis .

Na sentença, a juíza levou em consideração que a Ieadcemar é a proprietária legal do templo da Rua Jaçanã e, que no dia 7 de fevereiro deste ano, quase cinco anos após assumir as atividades da congregação, o pastor Clementino Florentino formulou um "requerimento de desligamento" da igreja.

Quando do ingresso da ação, o presidente da Ieadcemar, pastor Robson Brito, afirmou que a medida judicial foi adotada como garantia de direito. "O imóvel foi adquirido com recurso de todas unidades eclesiásticas. Não é questão conseguida com recursos deles", afirma. Além do pastor Clementino, cerca de 650 fiéis de Sarandi também se desligaram da Ieadcemar.

Disputa 545 mil reais é o valor obtido pela Assembleia de Deus com a alienação do tempo de Sarandi; dinheiro de reforma foi para outros projetos. Assessor do Procon é exonerado Murilo Gatti

A Prefeitura de Maringá exonerou do cargo de assessor do Procon, o presidente da associação de moradores do Jardim Oásis, Dionilson da Silva Filho. O desligamento do serviço público foi motivado pelo envolvimento de Dionilson no furto de placas de grama de uma área de preservação à margem do Córrego Osório, no Jardim Oásis, zona norte de Maringá.

Os dois homens e um adolescente flagrados pela Guarda Municipal com as placas de grama retiradas do fundo de vale, no dia 3 de maio, afirmaram na delegacia de Maringá que Dionilson autorizou a remoção do gramado. "Retiramos de um local público para outro local público", chegou a afirmar o adolescente, como forma de justificar a subtração da grama.