sp capacita cras vol2

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SÃO PAULO CAPACITA CRAS vol.02 O CRAS no contexto dos municípios paulistas: panorama e experiências

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  • So Paulo caPacita craS vol.02

    o CRAS no contexto dos municpios paulistas:

    panorama e experincias

    JoS SErraGovernador do Estado de So Paulo

    rita dE cSSia trinca PaSSoSSecretria Estadual da assistncia e desenvolvimento Social

    nivaldo camPoS camarGoSecretrio adjunto

    carloS FErnando ZuPPochefe de Gabinete

    tnia criStina mESSiaS rocHacoordenadora de ao Social

    marGarEt nicolEttiresponsvel pela Proteo Social Bsica

    a capacitao dos centros de referncia da assistncia Social (craS) uma iniciativa da Secretaria Estadual de assistncia e desenvolvimento Social (SEadS) para consolidar a proteo social bsica nos municpios paulistas, por meio do apoio tcnico e terico que permita a reflexo, a troca de experincias e o desenvolvimento de metodologias de atendimento.

    SEcrEtaria EStadual dE aSSiStncia E dESEnvolvimEnto Socialrua Bela cintra, 1.032 - cerqueira csarSo Paulo - SP - cEP 01415-000(11) 2763 8040www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br

    Fundao carloS alBErto vanZoliniavenida Paulista, 967 - cerqueira csarSo Paulo - SP - cEP 01311-100(11) 3145 3700 www.vanzolini.org.br

  • So Paulo caPacita craS vol.02

    o CRAS no contexto dos municpios paulistas:

    panorama e experincias

    JoS SErraGovernador do Estado de So Paulo

    rita dE cSSia trinca PaSSoSSecretria Estadual da assistncia e desenvolvimento Social

    nivaldo camPoS camarGoSecretrio adjunto

    carloS FErnando ZuPPochefe de Gabinete

    tnia criStina mESSiaS rocHacoordenadora de ao Social

    marGarEt nicolEttiresponsvel pela Proteo Social Bsica

    a capacitao dos centros de referncia da assistncia Social (craS) uma iniciativa da Secretaria Estadual de assistncia e desenvolvimento Social (SEadS) para consolidar a proteo social bsica nos municpios paulistas, por meio do apoio tcnico e terico que permita a reflexo, a troca de experincias e o desenvolvimento de metodologias de atendimento.

    SEcrEtaria EStadual dE aSSiStncia E dESEnvolvimEnto Socialrua Bela cintra, 1.032 - cerqueira csarSo Paulo - SP - cEP 01415-000(11) 2763 8040www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br

    Fundao carloS alBErto vanZoliniavenida Paulista, 967 - cerqueira csarSo Paulo - SP - cEP 01311-100(11) 3145 3700 www.vanzolini.org.br

  • ndice

    Apresentao04

    05

    11

    31

    So Paulo Capacita CRAS

    Panorama dos CRAS em So Paulo

    Relatos de experincias

  • A iniciativa da Secretaria Estadual de Assistncia e Desenvolvimento Social (SEADS) de realizar a capacitao para a implantao e implemen-tao dos Centros de Referncia de Assistncia Social (CRAS) foi mais uma mostra do seu compromisso com a Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS) e com o Sistema nico de Assistncia Social (SUAS).

    Em uma capacitao descentralizada, multiprofissional, intergovernamental, organizada em trs mdulos, foram capacitados 1.481 tcnicos municipais e estaduais, entre representantes de rgos gestores e tcnicos de CRAS dos muni-cpios paulistas, representantes das coordenadorias da SEADS, das Diretorias Regionais de Assistncia e Desenvolvimento Social (DRADS), da Comisso Intergestores Bipartite e do Conselho Estadual de Assistncia Social.

    O contedo programtico favoreceu a assimilao de novos conceitos e meca-nismos de aprimoramento das gestes dos CRAS para a consolidao da Poltica Nacional e do SUAS. As atividades complementares estimularam tambm a troca de experincias, permitindo reflexes, aes e relaes crticas entre o cotidiano de trabalho de cada um e os eixos temticos que fundamentaram essa capacitao.

    O alto nvel de interesse e participao dos tcnicos municipais e estaduais de-monstrou o sucesso da capacitao. Nas 39 turmas organizadas em 25 polos, houve mais de 80% de frequncia nas 1.404 horas de atividades presenciais ministradas e mais de 3.500 atividades complementares realizadas.

    Dessa forma, a SEADS, como instncia responsvel pela coordenao, monito-ramento e avaliao da poltica de assistncia social no estado de So Paulo, assume o seu papel de disseminar conhecimento tcnico, possibilitando a cada municpio paulista discutir suas realidades e buscar alternativas que garantam no s a qualidade dos servios desenvolvidos pelos CRAS, mas, principalmente, a consolidao da poltica social em nvel local.

    Quem ganha com todo esse trabalho so as pessoas em situao de vulnera-bilidade social, que procuram os CRAS ou so encaminhadas a eles para serem includas em servios de proteo social bsica, necessrios para o seu desenvol-vimento e a consequente melhora de sua condio de vida.

    Rita PassosSecretria Estadual de Assistncia e Desenvolvimento Social

    Apresentao

  • So Paulo Capacita CRAS

    1.

  • 6 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    Como iniciativa da Secretaria de Assistncia e Desenvolvimento Social do Estado de So Paulo (SEADS), o Projeto de Capacitao para a Implementao e Implantao dos Centros de Referncia de Assistncia Social (CRAS) no Estado de So Paulo reuniu representantes de 642 (99,53%) municpios paulistas (rgos gestores municipais da assis-tncia social e CRAS) e tcnicos estaduais.

    Teve como eixo central a efetivao dos CRAS e demandou a reflexo sobre a sua natureza, funo e atuao na perspectiva da consolidao da Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS) e do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS).

    A capacitao foi descentralizada, multiprofissional, intergovernamental, e fundada em meto-dologia que possibilitou a participao de sujeitos com distintas funes, conhecimentos e experincias. Desenvolvida em trs mdulos, com contedos interdependentes e perio-dicidade mensal, foi intercalada com atividades complementares, no presenciais. Como instrumentos pedaggicos, essas atividades complementares possibilitaram aos participantes desenvolver reflexes, aes e relaes crticas entre o seu cotidiano de trabalho e os eixos temticos que fundamentaram essa capacitao, alm de gerarem um banco de dados sobre a situao da proteo social bsica no Estado de So Paulo1.

    O esquema a seguir ilustra a dinmica integradora da capacitao.

    1 O banco de dados completo se encontra sob a responsabilidade da SEADS. Para efeito desta publicao, foi selecionada apenas uma pequena parte desses dados.

    Plano de cursoatividades Presenciais e no Presenciais

    Mdulo icras: unidade Pblica estatal

    da Proteo social Bsica

    Mdulo iiiPlanejamento, monitoramento e

    avaliao na agenda do cras

    PuBlicao voluMe 02

    cras no contexto dos MunicPios Paulistas: PanoraMa e exPerincias

    PuBlicao voluMe 01so Paulo capacita crascras: Marcos legais

    atividade coMPleMentar ianlise situacional dos Municpios

    Paulistas com/sem cras

    traBalho FinalProjeto de interveno relato de experincia

    Mdulo iiseguranas sociais e Metodologias

    do trabalho social no cras

    atividade coMPleMentar iicaracterizao do trabalho socioassistencial

    na Proteo social Bsica

    seMinrio de encerraMento

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 7

    Um dos traos marcantes da capacitao foi o alto nvel de inte-

    resse e participao dos tcnicos municipais e estaduais. Os indicadores de presena, as avaliaes, os depoimentos e

    a finalizao das atividades no presenciais demons-traram o acerto metodolgico e o xito na execuo

    da proposta. Alguns depoimentos dos participan-tes registrados no instrumental de avaliao dos mdulos presenciais explicitam esses resultados:

    Mdulos muito bem estruturados para a compreenso deste processo complexo da nova poltica de assistncia social CRAS.

    (participante da turma de Campinas II)

    O mtodo pedaggico e a dinmica do curso atingiram o objetivo proposto. (participante da turma do Vale do Ribeira)

    A forma de apresentao mediando o terico e prtico [...], ver realidades diferentes, ver problemas e potencialidades comuns. (participante da turma da Grande So Paulo II)

    Oportunidade de troca de experincias, propostas e observaes entre os diferentes municpios, o fomento reflexo e ao debate acerca dos principais problemas e dificuldades, observaes, bem como a importncia de desenvolvimento de estratgias voltadas para assegurar o cumprimento do que consta no aparato legal da assistncia social. (participante da turma de Avar II)

    Interface com a prtica no contexto do trabalho. (participante da turma da Grande So Paulo I)

    Parece estar de acordo com as necessidades e o perfil dos presentes, pois trata de temas e questes ligadas s experincias cotidianas dos profissionais da assistncia social. (participante da turma da Grande So Paulo Norte Guarulhos).

    Partindo do pressuposto de que o processo de aprendizagem ocorre na interao com o outro, a metodologia do curso criou oportunidades educativas que favoreceram o dilogo, a reflexo e a interveno.

    O curso foi muito claro. Ajudou-me no esclarecimento das dvidas, na comparao da relao do contedo do curso com a realidade no trabalho. (participante da turma de So Jos do Rio Preto II)

    1.481 participantes (642 de rgos gestores, 130 de DRADS, 671 de tcnicos de CRAS e 38 de coordenadorias da SEADS, da Comisso Intergestores Bipartite e do Conselho Estadual de Assistncia Social)

  • 8 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    A abordagem de conceitos orientadores do

    trabalho foi fundamental nesta reunio, alm da traduo destes conceitos em aes prticas. (participante da turma de Sorocaba II)

    Foi timo para esclarecer o que e o que se faz no CRAS. Lanou desafios e props caminhos. (participante da turma de Marlia I)

    Muito bom, pois por meio desta Capacitao j adequamos algumas mudanas em nosso municpio e a cada dia esclarece mais o papel do CRAS e suas adaptaes em municpios de pequeno porte. (participante da turma de Fernandpolis I)

    No municpio onde atuo no h CRAS. Portanto, a Capacitao gerou um grande conforto para implementarmos o CRAS dentro da dinmica relativamente ideal e coerente. Estou feliz e realizada. Foi muito bem reforada a questo do MTODO. (participante da turma de Fernandpolis I)

    Saio desta Capacitao com mais clareza e confiante, com mais vontade de que os CRAS realmente tenham plena funcionalidade. (participante da turma da Grande So Paulo II)

    Essa capacitao veio ao encontro das necessidades dos municpios, tanto para os que possuem CRAS como para os que no possuem. (participante da turma de Marlia I)

    Ponto forte neste curso a importncia e urgncia de fazer com que o CRAS atue de maneira eficaz em benefcio da populao. (participante da turma de Botucatu)

    Ter o CRAS como eixo dessa capacitao abriu a possibilidade de expandir a discusso para o campo das polticas sociais no contexto das relaes sociais. O curso possibilitou ainda a an-lise e a crtica de concepes e prticas conservadoras (assistencialismo, subsidiariedade esta-tal, fragmentao das aes, amadorismo, intervenes paliativas e tutelares) e do esforo histrico e poltico de superao e de construo de novas estratgias para a efetivao da assistncia social como poltica pblica.

    A clareza nos debates nos faz repensar no s a implementao do CRAS, mas toda a prtica profissional. (participante da Turma da Alta Paulista)

    Com a Capacitao surge a necessidade de um olhar crtico quanto prtica, em relao assistncia social. (participante da turma de Campinas III)

    39 turmas de capacitao realizadas em 25 polos

    18 educadores

    3.527 Atividades Complementares no presenciais

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 9

    A estrutura da Capacitao me faz sentir orgulho de estar no bojo da construo da poltica de assistncia social. (participante da Turma da Grande So Paulo III).

    Proporcionou um momento de reflexo sobre as prticas e os desafios da construo da poltica da assistncia social. (participante da turma da Grande So Paulo Norte Guarulhos).

    Esta Capacitao vem fortalecer o nosso trabalho para a superao das dificuldades e realmente efetivar o nosso trabalho e o SUAS como poltica pblica. (participante da turma do Vale do Paraba So Jos dos Campos II)

    Outra forma de expresso e reflexo dos participantes, estimulada nesta Capacitao, deu-se por meio das atividades no presenciais organizadas em trs processos sequenciais:

    Atividade no presencial

    Ttulo Objetivos

    Atividade Complementar I

    Anlise situacional dos municpios paulistas com/sem CRAS

    Mapear a situao dos municpios e regies paulistas com/sem CRAS a partir da diversidade de realidades e do lugar que cada participante se insere.

    Atividade Complementar II

    Caracterizao do Trabalho Socioassistencial na Proteo Social Bsica

    Conhecer o direcionamento dado aos eixos da PNAS e do SUAS e identificar avanos e desafios decorrentes no trabalho socioassistencial.

    Trabalho final Plano de Ao (Municipal e Regional) da Proteo Social Bsica

    Aprimorar a gesto no campo da proteo social bsica (correlacionando a Capacitao atuao profissional) e expressar uma determinada viso de futuro, direcionada ao reordenamento da poltica municipal e estadual de assistncia social.

    O enfoque adotado nessas atividades no presenciais privilegiou a reflexo, a ao e o esta-belecimento de relaes crticas entre o cotidiano de trabalho dos participantes e os eixos temticos que fundamentaram a capacitao. Para o desenvolvimento dessas atividades, foram criadas ferramentas prprias, em plataforma web, disponibilizadas para os partici-pantes durante o processo de formao, por meio de senha pessoal.

    oportuno esclarecer que a Atividade Complementar I foi constituda por questes fechadas e exigiu a escolha de respostas entre as constantes de uma lista. Foi includa a opo outros para atender s situaes em que os participantes/respondentes no

    Mais de 80% de frequncia nos mdulos presenciais

    2 mil publicaes do volume 1, mais 2 mil do volume 2

    25 monitores

  • 10 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    encontrassem a resposta correspondente sua realidade. Entre as questes, havia aquelas que permitiam mltiplas respostas. J a Atividade Complementar II e o trabalho final foram com-postos por questes abertas e, portanto, permi-tiram aos participantes responderem livremente, tendo como parmetros um nmero determinado

    de caracteres.

    Em razo da heterogeneidade de participantes e de realidades municipais, regionais e estaduais, essas

    atividades tiveram ferramentas especficas destinadas aos seguintes profissionais:

    tcnicos de CRAS;

    gestores de municpios com CRAS;

    gestores de municpios sem CRAS;

    tcnicos da SEADS/Diretoria Regional de Assistncia Social (DRADS), Conselho Estadual de Assistncia Social (CONSEAS) e Comisso Intergestora Bipartite (CIB).

    O conjunto dessas atividades no presenciais comps um amplo banco de dados que possibilita diferentes escalas de anlises: local (CRAS), municipal (rgo gestor), regional (DRADS) e estadual (SEADS), com diversos nveis de profundidade temtica. Neste texto, foram selecionados dados considerados relevantes para o contexto estadual em funo do escopo tempo, espao e objetivo desta publicao.

    A anlise traa o panorama dos CRAS em So Paulo com base na perspectiva dos munic-pios (rgos gestores e CRAS). Toma, portanto, como referncia emprica os participantes da capacitao (tcnicos municipais) que finalizaram a Atividade Complementar I at o momento da extrao dos dados no sistema. Os nmeros abaixo indicam uma amostra bastante significativa em relao ao contexto estadual2:

    622 (92%) tcnicos de CRAS;

    335 (84%) representantes de rgos gestores de municpios com CRAS;

    205 (82%) representantes de rgos gestores de municpios sem CRAS.

    Neste texto, os participantes dessas atividades no presenciais tambm podero ser tratados como respondentes.

    A seguir, apresentaremos a anlise de questes consideradas fundamentais para a construo de um panorama dos CRAS no Estado de So Paulo.

    2 Nmeros e ndices apresentados no volume 1 CRAS: Marcos legais , a partir dos dados de inscrio dos participantes e outros fornecidos pela SEADS, no incio desta capacitao.

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 11

    Panorama dos CRAS no Estado de So Paulo

    2.

  • 12 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    A s informaes organizadas neste Panorama foram extradas das atividades no pre-senciais desenvolvidas pelos rgos gestores e tcnicos de CRAS, participantes da Capacitao. Essas informaes possibilitam analisar alguns elementos da situao dos CRAS no mbito estadual1 e permitem a comparao com outras bases de dados2 e, neste caso, podem revelar nmeros diferentes. Nessa anlise comparativa fundamental considerar a metodologia que orienta cada uma das bases de dados. Contudo, este Panorama pode ser tomado como um dos instrumentos de processos de monitoramento e avaliao desenvolvidos pela SEADS/DRADS e, desse modo, contribuir para o aprimoramento e consolidao dos CRAS no Estado de So Paulo.

    Municpios com CRAS

    A implantao dos CRAS est diretamente vinculada aprovao da PNAS, em 2004, e do SUAS, em 2005. Os 622 tcnicos de CRAS respondentes da Atividade Complementar I informa-ram que em So Paulo, de forma precursora, foram implantadas as primeiras 41 (7%) unidades pblicas estatais em 2004. Nos anos seguintes, observou-se um movimento crescente de insta-lao dessas unidades 142 (23%), em 2005, e 191 (31%), em 2006. Tal evoluo demonstra o bom nvel de prontido e a firme adeso dos municpios ao SUAS, intensificada pela atuao das DRADS no contexto regional e pela vigncia da Portaria n 385/20053, do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome.

    De acordo com o grfico da pgina ao lado, o movimento de implantao de CRAS no linear, uma vez que a deciso de instalao de uma unidade decorre de um conjunto de variveis de na-tureza poltica, tcnica, financeira e das relaes federativas. Contudo, esse movimento indica que a expanso do nmero de CRAS registra nmeros cumulativos e ascendentes no Estado de So Paulo.

    A partir de dados levantados diretamente pela SEADS4 possvel estimar a configurao atual dos CRAS no Estado de So Paulo.

    Consta que 413 (64%) municpios instalaram 703 CRAS com a seguinte distribuio:

    1 O banco de dados, sob responsabilidade da SEADS, tambm possibilita a organizao de anlises por municpios e regies de atuao das DRADS. 2 PMAS 2009, da SEADS e Censo CRAS 2009, do MDS.3 A Portaria n 385, de 26 de julho de 2005, do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome, vinculou a partilha de recursos financeiros

    ao processo de habilitao dos municpios em nveis de gesto bsica ou plena. Definiu prazos, fluxos e requisitos para o processo de habilitao dos municpios ao SUAS e para expanso dos servios em 2005. Entre os requisitos, os municpios que pleiteassem habilitao em gesto bsica ou plena deveriam criar o CRAS.

    4 Estes dados foram informados pela SEADS, em outubro de 2009, e so diferentes daqueles apresentados no Volume 1: CRAS: Marcos Legais que se referem ao ano de 2008.

    1 municpio tem 7 CRAS

    1 municpio tem 9 CRAS

    1 municpio tem 11 CRAS

    1 municpio tem 13 CRAS

    1 municpio tem 31 CRAS

    5 municpios tm 6 CRAS

    10 municpios tm 5 CRAS

    17 municpios tm 3 CRAS

    29 municpios tm 4 CRAS

    38 municpios tm 2 CRAS

    309 municpios tm 1 CRAS

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 13

    Grfico 1 Total de unidades do CRAS implantadas por ano em So Paulo

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRAS

    417%

    2004

    19131%

    2006

    14223%

    2005 2007

    14623%

    8914%

    2008

    132%

    2009

    Dados da Atividade Complementar I indicam que a deciso de implantao de CRAS nos municpios foi decorrncia direta do nvel de adeso dos municpios ao SUAS, do apoio das DRADS gesto dos municpios e do cofinanciamento federal. Esses aspectos expressam rela-es federativas entre os trs nveis de governo, que so apoiadas em menor ou maior grau por foras e processos instalados pelo prprio municpio, em seu planejamento e nos espaos de controle social da poltica de assistncia social.

    legenda

    drads

    nmero de cras

    Previso de instalao

    sem cras

    1 cras

    2 - 4 cras

    5 - 10 cras

    Mais de 10 cras

    Movimentos dos CRAS em So Paulo

    Fonte: Secretaria Estadual de Assistncia e Desenvolvimento Social (SEADS), 2009

  • 14 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    Para a maioria dos respondentes, os fatores determinantes para a implantao de uma unidade do CRAS so o apoio da DRADS gesto municipal, o posicionamento poltico do gestor da assistncia social e sua capacidade de negociao, e o cofinanciamento federal.

    Grfico 3 Fatores determinantes na deciso de implantao de CRAS

    Fonte: Atividade Complementar 1 rgo gestor de municpios com CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    Ter espao fsico/prdio prprio

    Ter quadro de trabalhadores/tcnicos

    Ter equipamentos

    Negociao com Legislativo Municipal

    Reivindicao da populao

    Apoio da DRADS

    Posicionamento poltico do Gestor da Assistncia Social

    Capacidade de negociao do Gestor da Assistncia Social com o Prefeito

    Cofinanciamento Federal

    Financiamento Municipal

    Posicionamento poltico do Prefeito

    Experincia de descentralizao e regionalizao

    78%69%

    67%

    53%

    48%44%

    33%27%

    22%

    19%

    15%

    6%

    Grfico 2 Origem da deciso de implantao de CRAS

    Fonte: Atividade Complementar 1 rgo gestor de municpios com CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    Nvel de gesto (bsica/plenano SUAS

    Orientao da DRADS

    Meta do Plano Municipal de Assistncia Social

    Financiamento PAIF

    Deliberao de Conferncia Municipal de Assistncia Social

    Recomendao do Conselho Municipal de Assistncia Social

    Propostas de Frum Municipal da rea de Assistncia Social

    77%

    73%

    40%

    36%

    24%

    21%

    1%

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 15

    Com base nesses dados, verifica-se a importncia da DRADS no contexto regional, como instncia mais prxima da realidade dos municpios. Essa proximidade se manifesta espe-cialmente no apoio ao processo de cumprimento de requisitos e responsabilidades para a habilitao dos municpios em nveis de gesto no SUAS.

    De igual forma, fica evidenciado o compromisso tcnico-poltico e a determinao do gestor municipal da poltica de assistncia social em cumprir as recomendaes para ins-talao da unidade e em consolidar o SUAS localmente. Se agruparmos os fatores listados no grfico 3 em outras categorias analticas, possvel observarmos, em primeiro plano, a fora e o protagonismo tcnico-poltico do municpio nessa deciso, pois destacam como determinantes: questes de ordem tcnico-poltica municipal5 com incidncia de 196%6; recursos financeiros do municpio e cofinanciamento federal (100%); apoio da DRADS (78%); infraestrutura e recursos humanos7 (68%); experincia municipal de descentraliza-o e regionalizao dos servios (33%) e reivindicao da populao (6%).

    Municpios sem CRAS

    Segundo dados levantados pela SEADS, dos 232 (36%) municpios sem CRAS, 68 deles j tm prevista a implantao de sua primeira unidade. Outras 28 cidades j programaram at 2010 a realizao de ampliaes no nmero de CRAS existentes8. H que se considerar tambm que dos 232 municpios sem CRAS, 207 deles so de pequeno porte 1 (at 20 mil habitantes) e 193 esto em gesto inicial no SUAS9.

    Nos municpios sem CRAS, a proteo social bsica desenvolvida majoritariamente pelos rgos gestores da assistncia social. Pelo que se apurou na Atividade Complementar I e, mais diretamente, nos debates com os participantes dos mdulos presenciais da capacita-o, no h um consenso estabelecido sobre se h ou no a necessidade de implantao de CRAS em municpios de pequeno porte 1.

    Dados da referida atividade indicam como razes principais para a no implantao do CRAS a falta de recursos financeiros, a carncia no quadro de trabalhadores, a inexistncia de prdio prprio e a insuficincia de equipamentos. A disponibilizao desses itens parte do conjunto de providncias que o rgo gestor deve tomar para instalar a unidade e ofer-tar servios populao.

    5 Posicionamento poltico do Prefeito; posicionamento poltico do Gestor da Assistncia Social; negociao com Legislativo municipal; capacidade de negociao do gestor da assistncia social com o prefeito.

    6 Trata-se de questes de mltipla escolha, em que o respondente pode assinalar mais de uma alternativa. Assim, a frequncia das respostas extrapola o ndice de 100%.

    7 Ter quadro de trabalhadores/tcnicos; ter espao fsico/prdio prprio; ter equipamentos.8 Esses dados foram informados pela SEADS, em outubro de 2009 e, por sua atualidade, so diferentess daqueles apresentados no Volume 1: CRAS: Marcos Legais. 9 A estruturao de CRAS requisito para os nveis de gesto bsica e plena no SUAS.

  • 16 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    Com base nessas manifestaes, podemos reunir em quatro categorias os motivos da no implantao do CRAS em determinados municpios. So elas: falta de recursos financeiros e humanos10 (106%)11, ausncia de infraestrutura adequada (86%)12; questes relacionadas ordem tcnico-poltica municipal (26%)13 e ausncia de controle social14 (9%). Nesse quadro, a falta/ausncia de condies objetivas da gesto municipal adquire centralidade.

    Grfico 4 Razes indicadas por rgos gestores municipais para a no implantao de CRAS

    Fonte: Atividade Complementar 1 rgo gestor de municpios sem CRAS Obs.: Questo de mltipla escolha

    41%

    25%

    10%10%

    32%

    13%

    39%

    6%

    26%

    5%

    6%

    1% 1%

    3% 3%2%

    4%

    Precisa reformar e adaptar o espao

    Ausncia de reivindicao da populao

    No encontrou espaos em reas de vulnerabilidade

    Baixo entendimento da lgica do CRAS

    No houve negociao com o Legislativo Municipal

    Porte do municpio no justifica a criao do CRAS

    Posicionamento poltico do Gestor de Assistncia Social

    No acredita no potencial do CRAS de inovar a assistncia social

    No identifica a necessidade

    Falta de recursos financeiros do prprio municpio

    No ter quadro de trabalhadores/tcnicos

    No ter prdio prprio

    Falta de recursos financeiros do governo federal

    No ter equipamentos

    No definiu a rea de localizao

    Ausncia de recomendao do Conselho Municipal de Assistncia Social

    Posicionamento poltico do Prefeito

    10 Falta de recursos financeiros do prprio municpio; falta de recursos financeiros do governo federal e no ter quadro de trabalhadores/tcnicos. 11 Importante ressaltar que trata-se de questes de mltipla escolha, em que o respondente pode assinalar mais de uma alternativa. Assim, a

    frequncia das respostas extrapola a soma de 100%. 12 No ter prdio prprio; no ter equipamentos; no definiu a rea de localizao; precisa reformar e adaptar o espao; no encontrou espaos

    adequados dentro das reas de vulnerabilidade social. 13 Posicionamento poltico do prefeito; baixo entendimento da lgica do CRAS; porte do municpio no justifica a criao do CRAS; no houve

    negociao com o Legislativo municipal; posicionamento poltico do gestor da assistncia social; no acredita no potencial de o CRAS inovar as prticas de assistncia social; no identifica necessidade.

    14 Ausncia de reivindicao da populao e ausncia de recomendao do Conselho Municipal de Assistncia Social.

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 17

    Significados atribudos ao CRAS pelos respondentes

    Uma das questes levantadas para caracterizar os CRAS no Estado de So Paulo se refere ao significado atribudo a essa unidade, pelos diferentes status de participantes da capaci-tao: municpios sem e com CRAS e tcnicos de CRAS.

    PARA VOC O CRAS :

    STATUS DO RESPONDENTE

    rgo gestor sem CRAS

    rgo gestor com CRAS

    Tcnico de CRAS

    A possibilidade de efetivar a assistncia social como poltica pblica de direitos.

    89% 94% 94%

    A possibilidade de trabalhar na direo da conquista de direitos socioassistenciais.

    76% 80% 87%

    Uma inovao na lgica de organizao das provises da assistncia social.

    61% 53% 53%

    O espao de registro e controle de benefcios de transferncia de renda.

    35% 31% 29%

    A retomada do trabalho comunitrio reeditando prticas do servio social de comunidade.

    14% 20% 12%

    Um planto de emergncias nos moldes do planto social.

    2% 1% 2%

    Mais um local onde as prticas assistencialistas se desenvolvem.

    2% 0% 2%

    Essa tabela demonstra que o CRAS representa para todos os status de respondentes com maior incidncia nos municpios onde ele j uma realidade a possibilidade de afirma-o da assistncia social como poltica pblica garantidora de direitos socioassistenciais.

    Permite tambm inferir que a responsabilidade assumida pelos rgos gestores municipais na implantao dessa unidade pblica de execuo direta de programas, projetos, benefcios e servios reafirma o dever de Estado no campo da proteo social no contributiva. Aponta ainda para uma mudana na identidade histrica da assistncia social ao superar o seu carter subsidirio, de delegao e assistencialista. O CRAS carrega, portanto, uma potencialidade de ruptura e inovao.

    Contudo, no se observa a mesma incidncia de respostas em relao inovao na lgica de organizao das provises (programas, projetos, benefcios e servios) de assistncia social. Parece haver um certo distanciamento tpico de processos de mudana entre a direo tico-poltica da assistncia social como poltica pblica do campo dos direitos sociais e sua concretizao no modo de operacionalizar a oferta de servios aos cidados.

    Fonte: Atividade Complementar I rgo gestor de municpios com e sem CRAS, e tcnicos de CRASObs.: Questo de mltipla escolha

  • 18 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    Estrutura fsica e funcionamento do CRAS

    Grfico 5 Dificuldades encontradas pelo rgo gestor para a instalao dos CRAS

    Fonte: Atividade Complementar I rgo gestor de municpios com CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    Adequar os espaos s instrues normativas

    Encontrar espaos em reas de vulnerabilidade

    Reformar e adaptar os espaos

    Adaptar os espaos s normas de acessibilidade

    Utilizar espao que abrigou servio de natureza diferente

    Padronizar a estrutura fsica dos prdios

    Definir a rea de localizao

    49%

    21%

    47%

    27%

    48%

    41%

    16%

    Para o efetivo desenvolvimento e o cum-primento com qualidade de suas funes, o CRAS deve contar com alguns elementos e algumas condies fundamentais. O CRAS no pode ser compreendido simplesmente como uma edificao. A disposio dos espa-os e sua organizao refletem a concepo sobre trabalho social com famlias adotada pelo municpio (MDS, 2009: 47).

    De acordo com as informaes dos respon-dentes, 539 (87%) CRAS esto localizados em reas de vulnerabilidade social e 87 (13%) no se encontram nessa situao. Embora esse dado no permita um maior aprofundamento sobre as condies de localizao do CRAS nos municpios, a questo (a regra e a exceo) prevista nas orientaes operacionais do SUAS.

    Essas orientaes estabelecem que os CRAS devem localizar-se, prioritariamente, em reas que concentram situaes de vulne-rabilidade e risco social. Excepcionalmente, unidades podem ser instaladas em locais de maior acessibilidade ou em reas centrais, com maior convergncia de populao, quando se tratar, por exemplo, de territ-rios com baixa densidade populacional e de municpios de pequeno porte.

    Em relao ao espao fsico, os respondentes informaram que 323 (52%) imveis ocupa-dos pelos CRAS so prprios municipais, 241 (38,77%) so alugados, 56 (9%) so cedidos e dois (0,03%) esto em situao de comodato.

    O fato de um imvel ser de propriedade pblica traz certas vantagens para o CRAS: o espao pode ser mais facilmente reconhe-cido pela populao (no territrio), existe uma garantia maior de permanncia e con-tinuidade dos servios no mesmo local e sua estrutura interna, bem como sua ambien-tao, podem ser melhor adaptadas para as necessidades especficas de atendimento. Tal flexibilidade seria mais difcil de ser conse-guida em imveis locados ou cedidos.

    Independentemente do tipo de espao defi-nido (pblico, locado ou cedido), a instalao dos CRAS foi precedida de algumas dificul-dades e as principais, na viso dos rgos gestores, aparecem apontadas no grfico 5.

    Basicamente, elas se referem adequao dos espaos fsicos s instrues normati-vas de edificao da identidade do CRAS como unidade pblica estatal, que oferta provises da proteo social bsica e con-cretiza direitos socioassistenciais.

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 19

    Outro aspecto de destaque no processo de instalao do CRAS se refere ao seu funcio-namento em espaos compartilhados com outras unidades e servios. Dos 622 CRAS registrados na base de dados, 209 (34%)

    esto instalados em espaos compartilha-dos e 413 (66%), em espaos exclusivos. O grfico 6 detalha com que tipo de rgos ou instituies os 209 CRAS compartilham espaos de funcionamento.

    Percebe-se que a maioria dos 209 CRAS divide espao com unidades da adminis-trao municipal. Exemplos: rgo gesto-res de assistncia social (58%), estruturas administrativas (41%), conselhos de diver-sas polticas pblicas (24%), Fundo Social de Solidariedade (17%) e Centro de Referncia Especializado da Assistncia Social CREAS (6%).

    Alm dessas unidades pblicas, parece possvel inferir que os diversos projetos, programas sociais e cursos (14%) tambm sejam aes da Prefeitura, em sua maioria, voltadas proteo social bsica de assis-tncia social.

    No grfico 6, tambm se destacam ONGs, associaes e centros comunitrios (30%) e outros tipos de rgos (6%), como cartrios, bibliotecas, juntas militares, bases comunit-rias de polcia e Correios.

    Os CRAS instalados em espaos comparti-lhados expressam arranjos polticos locais. Contudo, essa situao pode estar em desa-cordo com as recomendaes nacionais e denotar possvel fragilidade em firmar sua identidade fsica e, consequentemente, os propsitos da poltica de assistncia social no municpio, pois, o espao fsico constitui fator determinante para o reconhecimento do CRAS como lcus no qual os direitos

    Grfico 6 CRAS em espaos compartilhados com outras unidades e servios

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    rgo gestor de assistncia social

    Outros

    Estruturas administrativas da Prefeitura Municipal (sade, educao, esportes, habitao)

    CREAS

    ONGs/associaes e centros comunitrios

    Telecentro

    Conselhos municipais (de assistncia social, tutelar e da criana e do adolescente)

    Instituio religiosaFundo Social de Solidariedade

    Posto INSSDiversos projetos, programas sociais e cursos

    Banco comunitrio

    58%

    17%

    41%

    24%

    14%

    30%

    1% 1% 1%3%

    6%6%

  • 20 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    socioassistenciais so assegurados [...]. O espao fsico reflexo de uma concepo (MDS, 2009: 48).

    No mbito do processo de acompanha-mento e monitoramento das aes do CRAS pelos estados e pela Unio, a Resoluo n 6, de 1 de julho de 2008, da Comisso Intergestores Tripartite, pactuou um con-junto de situaes consideradas insatis-fatrias e que demandam a apresentao, pelos municpios e pelo Distrito Federal, de um plano de providncias para a sua superao15.

    Entre as condies tipificadas como insa-tisfatrias16, consta a implantao de CRAS em espaos compartilhados com secretarias (estruturas administrativas) e em associa-es comunitrias. Alm dessa resoluo, a publicao do MDS, Orientaes Tcnicas da Proteo Social Bsica do Sistema nico de Assistncia Social SUAS: Centro de Referncia de Assistncia Social CRAS (2009), trata da possibilidade de implan-tao de unidades do CRAS em espaos

    compartilhados, respeitadas as excees explicitadas na referida resoluo e desde que sejam assegurados a sua identidade, a partir do acesso por entrada exclusiva, uso privativo dos ambientes destinados ao cum-primento de suas funes e a distino das equipes de referncia.

    Em relao ao espao fsico, a maioria dos CRAS dispe de salas e ambientes especfi-cos para o cumprimento de suas funes. J as condies de acessibilidade para idosos e pessoas com necessidades especiais aos espaos fsicos do CRAS esto adequadas em 363 (58%) das unidades. Outro aspecto de extrema relevncia na construo da identidade visual do CRAS no territrio refere-se instalao de placa de identifi-cao, j existente em 512 (82%) unidades. Segundo os respondentes, os CRAS dispem de boas condies de conectividade 98% das unidades dispem de telefone. Em 90% delas h computadores, mas internet com banda larga realidade s de pouco mais da metade das sedes (57%).

    15 A no superao das condies consideradas insatisfatrias implica a suspenso do cofinanciamento federal nos termos da referida resoluo.16 So elas: I. ausncia de equipe de referncia no CRAS; II. presena de apenas um tcnico com nvel superior na equipe de referncia do CRAS em

    municpios com mais de 50 mil habitantes; III. CRAS implantado em espao compartilhado com secretarias (estruturas administrativas); IV. CRAS implantado em associao comunitria; V. CRAS sem adequao s normas de acessibilidade da ABNT; VI. CRAS sem instalaes sanitrias; VII. CRAS sem salas adequadas; VIII. CRAS sem placa de identificao (Art. 3 da Resoluo n 6, da CIT, de 01/07/2008).

    Grfico 7 Espaos fsicos nos CRAS

    82%

    91%94%

    84%

    Sala privativa para atendimento

    Sala para recepo

    Sala para trabalhos em grupo

    Placa de identificao

    Acessibilidade para idosos e pessoas com necessidades especiais

    53%

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRASObs.: Questo de mltipla escolha

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 21

    O carro outro recurso com alcance restrito, sendo encontrado em 366 (59%) CRAS. Utilizados pelas equipes de referncia para a realizao de visitas domiciliares e institucionais, os veculos otimizam as funes do CRAS no territrio.

    Na condio de unidade pblica estatal, o CRAS precisa funcionar em carter continuado e adequado, assim como tem o dever de assegurar condies de trabalho apropriadas aos seus profissionais para o acesso e o atendimento aos usurios, em consonncia com as exigncias preconizadas nas orientaes operacionais do SUAS.

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    Grfico 8 Condies de conectividade nos CRAS

    90%98%

    76%

    Linha telefnica

    Computador

    Acesso internet

    Internet com banda larga

    57%

    Grfico 9 Jornada semanal

    2% - 6 dias

    95% - 5 dias

    2% - 7 dias

    0,5% - 2 dias

    0,2% - 3 dias

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRAS

    Grfico 10 Horas dirias de funcionamento

    18% - 9 horas

    65% - 8 horas

    8% - 10 hras

    0,3% - 4 horas

    0,2% - 11 horas

    3% - 6 horas

    1% - 12 horas

    5% - 7 horas

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRAS

  • 22 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    Em relao jornada semanal do CRAS, os respondentes informaram que 95% das unidades funcionam cinco dias por semana. Em 4% delas, a jornada de atendimento chega a seis e sete dias. Embora com ndices reduzidos, encontram-se no Estado de So Paulo unidades do CRAS que funcionam apenas dois ou trs dias por semana. O perodo de funcionamento, por sua vez, varia de 4 a 12 horas dirias. Em 65% dos CRAS, o atendimento se estende por oito horas no dia.

    Recursos Humanos

    Para compor a equipe de trabalho do CRAS, nos termos da Norma Operacional de Recursos Humanos do SUAS (NOB/RH-SUAS), de 2006, os respondentes apontam que encontraram um conjunto de dificuldades. As principais aparecem relacionadas no grfico a seguir.

    Segundo 36% dos rgos gestores/respondentes, a maior dificuldade consistiu na prpria composio da equipe de referncia, prevista pela NOB/RH-SUAS, em relao ao nmero de famlias referenciadas e capacidade de atendimento anual do CRAS.

    A respeito desse tema, os tcnicos de CRAS informaram que 344 (55%) unidades tm equi-pes que atendem s recomendaes da NOB/RH-SUAS e que 278 (45%) unidades esto em situao inadequada no que se refere a esse aspecto normativo e operativo que preconiza uma abordagem interdisciplinar. Apontaram ainda que entre esses 278 CRAS, 122 deles (44%) no tm coordenador, nem psiclogo; 105 (38%) carecem de apoio administrativo e 58 (21%) no contam com assistente social.

    Grfico 11 Dificuldades encontradas pelos rgos gestores para compor a equipe de trabalho dos CRAS

    Fonte: Atividade Complementar I rgos gestores de municpios com CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    36%

    20%17%

    12%

    16%

    11%

    22%

    5%

    Compor a equipe mnima

    Realizar concurso pblico

    Capacitar trabalhadores do CRAS

    Nomear o coordenador

    Ter trabalhadores com dedicao exclusiva

    Convocar e nomear trabalhadores concursados

    Encontrar tcnicos interessados

    Transferir funcionrios municipais para o CRAS

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 23

    Alm da composio inadequada, os respondentes informaram que, em 331 (53%) CRAS, as equipes de referncia receberam capacitao e, em 291 (47%), no houve esse investimento.

    Investir na composio e formao permanente das equipes de referncia dos CRAS signi-fica melhorar a principal tecnologia da poltica de assistncia social, pois a qualidade dos servios socioassistenciais disponibilizados sociedade depende da estruturao do traba-lho, da qualificao e valorizao dos trabalhadores atuantes no SUAS (NOB/RH-SUAS, 2006: 23).

    Organizao do trabalho e aes dos CRAS

    No mbito do CRAS, a gesto da proteo social bsica responde ao princpio de des-centralizao do SUAS e tem por objetivo promover a atuao preventiva, disponibilizar servios prximos do local de moradia das famlias, racionalizar as ofertas e traduzir o referenciamento dos servios ao CRAS em ao concreta (MDS, 2009:20). Para alcanar esses propsitos, os CRAS precisam apoiar a sua gesto em diagnstico socioterritorial, em plano de trabalho e processos de monitoramento e avaliao.

    De acordo com os tcnicos de CRAS, a elaborao do diagnstico socioterritorial, do plano de trabalho e do monitoramento e avaliao colocou em movimento 80% dos CRAS. Quase a metade dessas unidades afirma ter essas ferramentas de gesto e em cerca de um tero ela est em fase de desenvolvimento. A leitura do territrio a base para as equipes gestoras e tcnicas dos Centros de Referncia da Assistncia Social, pois auxilia na compreenso da realidade onde se intervm e subsidia a tomada de decises sobre onde e como intervir (ARREGUI e SANTOS, 2009: 76).

    Grfico 12 Tcnico/funo que no compe a equipe de referncia dos CRAS

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    Coordenador

    Psiclogo

    Administrativo

    Assistente social

    38%

    21%

    44%44%

  • 24 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    O diagnstico socioterritorial requer atualizao regular e constitui a base de organizao do plano de trabalho do CRAS em determinado territrio. Por sua vez, o plano de trabalho do CRAS alinhado ao Plano Municipal de Assistncia Social estabelece as diretrizes para o pro-cesso de monitoramento e de avaliao dos servios ofertados no territrio.

    Os respondentes tambm informaram que 549 (88%) CRAS elaboram relatrio mensal dos atendimentos realizados e 612 (98%) mantm pronturios de atendimento em arquivo. Esses instrumentos de registro de atividades so fundamentais, pois podem tornar-se base estra-tgica na produo de indicadores para monitorar e avaliar as aes de proteo social que acontecem num determinado territrio (ARREGUI e SANTOS, 2009: 13).

    De acordo com o grfico 13, a organizao do trabalho do CRAS se define, na maioria das unidades, com base na diviso da equipe de referncia nos programas, projetos, servios e benefcios ofertados e tambm por segmentos atendidos. De outro modo, em 27% dos CRAS, o territrio tomado como base para a organizao do trabalho. Na primeira forma, a lgica parece ser a da especializao da equipe na oferta de atenes pblicas; e, na segunda forma, a especializao da equipe no conhecimento das demandas do territrio. Contudo, os modos de organizao do trabalho devem considerar as possveis e necessrias conjugaes face crescente exigncia por ampliao da cobertura da proteo social nos territrios.

    Grfico 14 Diviso de trabalho nos CRAS

    Programa

    Servio

    Projeto

    Benefcio

    Territrio

    Segmento

    72%

    41%

    27%

    54% 54%

    16%

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    Grfico 13 Diagnstico, plano de trabalho e monitoramento e avaliao nos CRAS

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRAS

    Diagnstico

    Sim44%

    Em desenvolvimento

    36%

    No20%

    Monitoramento e avaliao

    Sim26%

    Em desenvolvimento

    34%

    No20%

    Plano de trabalho

    Sim53%

    Em desenvolvimento

    35%

    No12%

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 25

    Grfico 15 Atenes de proteo social bsica ofertadas nos CRAS

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    Programa de Ateno Integral s Famlias (PAIF)

    Acompanhamento das famlias do Renda Cidad

    Acompanhamento das famlias do Bolsa Famlia

    Acompanhamento dos adolecentes do Ao Jovem

    Benefcios eventuais

    Servios para crianas de 0 a 6 anos, para fortalecimento dos vnculos familiares, de sensibilizao para a defesa dos direitos das crianas

    Acompanhamento do Benefcio de Prestao Continuada (BPC)

    Servios socioeducativos para crianas e adolescentes na faixa etria de 6 a 14 anos, visando sua proteo, socializao e ao fortalecimento dos vnculos familiares e comunitrios

    Cadastro dos usurios do Bolsa Famlia

    Programas de incentivo ao protagonismo juvenil e de fortalecimento dos vnculos familiares e comunitrios

    Centro de informao e de educao para o trabalho

    Projetos de Gerao de Trabalho e Renda

    Centros de Convivncia para Idosos

    87%

    66%

    21%

    80%

    25%

    85%

    48%

    59%

    62%

    77%

    23%

    50%

    51%

    Para o cumprimento de suas funes, os CRAS ofertam um conjunto de atenes de proteo social bsica. Os registros dos respondentes indicam que o Programa de Ateno Integral Famlia (PAIF) o principal servio desse nvel de ateno, seguido do acompanhamento dos benefcios de transferncia de renda direta ao cidado, financiados pelos governos estadual e federal. O grfico a seguir detalha a situao.

  • 26 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    Em relao ao modo como os CRAS organizam as suas aes e abordagens no territrio, os atos profissionais mais frequentes so visitas domiciliares, recepo e acolhida, encaminha-mentos s redes socioassistencial e intersetorial, e grupos socioeducativos.

    Grfico 16 Trabalhos e abordagens que os CRAS desenvolvem

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    Visita domiciliar

    Recepo e acolhida

    Encaminhamento rede socioassistencial

    Encaminhamento para outras polticas pblicas

    Orientao e acompanhamento para insero no BPC

    Acompanhamento planejado e continuado de famlias

    Campanha socioeducativa

    Palestra

    Insero de famlias no Cadastro nico (MDS)

    Ao de insero produtiva/gerao de renda

    Produo de material socioeducativo

    Terapia familiar

    Grupo socioeducativo com famlias

    Insero de famlias no Pr-Social (SEADS)

    Busca ativa

    Grupo de convivncia

    Articulao da rede socioassistencial

    Grupo socioeducativo com criana e adolescente

    Oficina de capacitao para o trabalho

    Articulao e fortalecimento de grupos locias

    Terapia comunitria

    99%

    91%

    61%

    38%

    97%

    67%

    47%

    55%

    8%

    97%

    72%

    85%

    85%

    60%

    12%

    95%

    62%

    41%

    73%

    82%

    54%

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 27

    Condies tcnicas de trabalho, dificuldades e demandas para implementao

    Segundo os respondentes, grande parte da equipe de referncia dos CRAS encontra condies tcnicas de trabalho favorveis: pode criar e propor, tem suas decises respeitadas e possui autonomia. Como contraponto, em 50% dos CRAS, o trabalho obedece a uma estrutura hie-rarquizada e centralizada. Em 18% deles, a atividade profissional sofre interferncia direta do poder poltico local.

    Grfico 17 Condies tcnicas de trabalho encontradas nos CRAS

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    Para cumprir a sua funo de gesto territorial da proteo social bsica, os CRAS se defron-tam com dificuldades de vrios nveis. As mais citadas pelos tcnicos de CRAS so:

    a falta de um sistema de monitoramento e avaliao (embora afirmem que 46% dos CRAS utilizam e outros 34% esto desenvolvendo tal ferramenta de gesto, conforme o grfico 12);

    o reduzido nmero de profissionais;

    a articulao da rede socioassistencial e recursos para o atendimento das demandas. As dificuldades de menor expresso so: o uso das aes do CRAS para fins poltico-partid-rios e a falta de entendimento do coordenador do CRAS sobre a poltica de assistncia social. A convivncia diria com a misria, formas de violncia, sofrimento da populao e a no observncia dos impactos produzidos no trabalho desenvolvido so claramente dimenses tico-polticas geradoras de dificuldades para os profissionais da assistncia social.

    78%

    50%

    18%

    68%77%

    Espao para criao de novas alternativas e propostas

    Respeito s decises dos tcnicos

    Autonomia

    Estrutura de trabalho hierarquizada (vrios nveis de chefias)

    Interferncia do poder poltico (prefeito, vereadores, primeira-dama) altera as decises tcnicas

  • 28 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    Trata-se de considerar os condicionantes aos quais os profissionais esto submetidos na execuo de suas funes. fundamental implementar mecanismos capazes de forta-lecer a equipe tcnica em suas prontides pessoais e profissionais, tais como a priori-zao de reunies de equipe, de grupos de estudo e de capacitaes continuadas.

    Se agruparmos as dificuldades que apre-sentam a mesma natureza, teremos, em primeiro plano, a infraestrutura e o quadro de trabalhadores (incidncia de 163%); o grau de cobertura das demandas do ter-ritrio (84%); a metodologia do trabalho

    socioassistencial com famlias e coletivi-dades (74%); o nvel de conhecimento da populao e da rede sobre o CRAS (65%); o sistema de monitoramento e avaliao (62%) e a articulao da rede socioassis-tencial (55%).

    O conjunto dessas dificuldades apontadas pelos tcnicos de CRAS podem configu-rar-se como demandas potencializadoras do planejamento territorial e municipal, do controle social e de inmeras estratgias de enfrentamento coletivo e participativo que, certamente, extrapolam as prprias funes do CRAS.

    Grfico 18 Dificuldades encontradas nos CRAS

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    30%

    12%11%

    39%

    44%44%

    35%35%35%

    40%40%

    34%

    31%

    3%2% 2%

    62%

    54%

    Pouco conhecimento da populao da existncia do CRAS no municpio

    Ausncia/fragilidade de metodologia de trabalho social com famlias

    Ausncia de infraestrutura adequada ao trabalho tcnico

    Ausncia de veculo ou condies para realizar as visitas e outros

    Falta de entendimento do gestor municipal da poltica de assistncia social

    Convivncia diria com a misria e o sofrimento da populao

    Ausncia de rede socioassistencial

    Utilizao das aes desenvolvidas no CRAS para fins polticos

    Falta de entendimento do coordenador do CRAS da poltica de assistncia social

    No existem dificuldades

    Falta de sistema de monitoramento e avaliao

    Reduzido nmero de profissionais

    Ausncia/fragilidade na articulao com a rede socioassistencial

    Inexistncia ou poucos recursos para atender as demandas

    Grande nmero de pessoas para atendimento

    Falta de espao adequado para atendimento dos cidados

    Pouco conhecimento do CRAS por parteda rede socioassistencial do municpio

    Ausncia/fragilidade de metodologia de abordagem comunitria

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 29

    Grfico 19 Questes fundamentais que demandam implementao

    Fonte: Atividade Complementar I tcnicos de CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    Investimento em sistema de monitoramento e avaliao 93%

    Contratao de tcnicos 52%

    Maior apoio por parte do rgo gestor municipal 17%

    Maior clareza quanto s atribuies e ao papel do CREAS 14%

    Menor interferncia de poder poltico 9%

    Melhorar fluxos de referncia/ contrarreferncia nos atendimentos 58%

    Ter reunies de planejamento com a equipe do CRAS 21%

    Investimento em capacitao tcnica 69%

    Ter um imvel para funcionamento exclusivo do CRAS 23%

    Aquisio de equipamento de trabalho 40%

    Contratao de profissionais de apoio 48%

    Maior investimento em infraestrutura 57%

    Maior apoio da DRADS 18%

    Ter reunies de planejamento com rgo gestor municipal 26%

    Maior clareza quanto s atribuies e ao papel do CRAS 29%

    Os tcnicos de CRAS tambm destacaram questes entendidas como fundamentais para a implementao nos CRAS. Investir no desenvolvimento de um sistema de monito-ramento e avaliao , para 93% dos tcnicos de CRAS, a questo de maior prioridade.

    A dimenso dessa demanda parece apontar a urgncia de se verificar em que medida as aes realizadas contribuem para a supera-o de situaes de vulnerabilidade social e constatar o grau de cobertura e a potencia-lidade local para garantir os direitos e, por outro, a qualidade do acesso e dificuldade das famlias aos servios correspondentes (ARREGUI e SANTOS, 2009: 86).

    No grfico a seguir, essa e outras questes evidenciam o conjunto das dificuldades identificadas anteriormente, alm de reve-larem novas demandas que exigem pro-vidncias concretas para a realizao das funes do CRAS.

    Alguns exemplos: investimento em capaci-tao tcnica (69%); melhorar os fluxos de referncia e contrarreferncia (58%); maior clareza quanto atribuio e ao papel do CRAS (29%) e do CREAS (14%); ter reu-nies de planejamento com rgo gestor (26%) e com a equipe do CRAS (21%) e maior apoio da DRADS (18%) e do rgo gestor (17%).

    Conforme preconiza a NOB/RH-SUAS, a capacitao dos trabalhadores da rea da assistncia social deve ter como fundamento a educao permanente e ser ofertada de modo sistemtico e continuado, pois por intermdio de profissionais qualificados, com-

    prometidos e devidamente remunerados que sero garantidos os direitos socioassistenciais dos usurios dos CRAS (MDS, 2009: 62).

    Os fluxos de referncia e contrarreferncia nos atendimentos dos usurios e a distino

  • 30 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    e a convergncia entre CRAS e CREAS podem compor pautas de discusso e de reunies de planejamento com os rgos gestores, com a prpria equipe do CRAS e ainda com a rede socio-assistencial e intersetorial.

    Nesse nvel de dificuldade, preciso definir fluxos e procedimentos entre os nveis de proteo social bsica e especial e considerar o processo de articulao pelo qual se criam e mantm cone-xes entre diferentes organizaes, a partir da compreenso do seu funcionamento, dinmicas e papel desempenhado, de modo a coordenar interesses distintos e fortalecer os que so comuns (MDS, 2009: 21).

    Cerca de 20% dos tcnicos consideram fundamental obter maior apoio da DRADS e do rgo gestor municipal da assistncia social ao CRAS. Como parte do SUAS, o CRAS man-tm vnculos orgnicos com todas as estruturas do sistema que precisam ser estrategica-mente conectadas e alimentadas.

    Contudo, os respondentes avaliam que a presena do CRAS nos municpios produziu mudanas significativas. Em 92% dos lugares onde est presente, o CRAS atribuiu maior visibilidade pol-tica de assistncia social. A visibilidade poltica uma condio importante para a refundao da identidade da assistncia social no campo dos direitos e da responsabilidade de Estado.

    Maior visibilidade da poltica de assistncia social

    Aumento no nmero de trabalhadores

    Aumento de cofinanciamento federal

    Aumento dos recursos prprios do municpio

    Investimento em sistemas de tecnologia da informao vigilncia social

    92%

    36%

    39%

    28%21%

    Grfico 20 Mudanas produzidas pelos CRAS nos municpios

    Fonte: Atividade Complementar I rgo gestor de municpios com CRASObs.: Questo de mltipla escolha

    Ainda que o nmero de trabalhadores, o cofinanciamento, os recursos do prprio municpio e o investimento em tecnologia da informao tenham alcanado ndices bem inferiores ao ndice de visibilidade, anunciam e confirmam a possibilidade de mudana nos rumos da poltica de assistncia social com base na capacidade estratgica de gesto das diferentes instncias do governo e da sociedade.

  • Marcos Legais e Organizadores do CRAS1

    3.Relatos de experincias

  • 32 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    Experincias municipais e regionais da proteo social bsica

    Ao finalizar o processo de capacitao, os tcnicos municipais e estaduais foram convidados1 a refletir, sistematizar e relatar as suas experincias municipais e regionais que convergem para o aprimoramento e consolidao da proteo social bsica no Estado de So Paulo.

    A partir desse convite, recebemos a inscrio de mais de 100 relatos de experincias, vincula-dos aos eixos temticos especificados no quadro abaixo. Todos os relatos foram lidos e anali-sados por um grupo de especialistas que tiveram a difcil tarefa de selecionar as experincias aqui publicadas2, observando o cumprimento dos critrios divulgados para essa escolha3 e os limites de pginas dessa edio. Na seleo das experincias tambm optamos por contem-plar relatos das diferentes regies de atuao das DRADS e dos diversos eixos de discusso para alcanar maior representatividade territorial e temtica. Por fim, esses relatos de experincias disseminam processos, conhecimentos e metodologias e, demonstram o compromisso tcnico-poltico e a determinao dos participantes para implantao e implementao das diretrizes e eixos da PNAS/04 e da NOB-SUAS.

    1 Atividade no presencial optativa.2 Todos os autores dos relatos de experincias autorizaram expressamente a publicao. 3 Os critrios previamente divulgados e observados nessa escolha foram os seguintes: aspecto inovador superao de fatores histricos, tais como:

    fragmentao, assistencialismo, subsidiariedade estatal, amadorismo, prticas paliativas e tutelares; vinculao com as diretrizes e os eixos da PNAS/2004 e do SUAS; significado para o usurio/territrio/municpio/regio; possibilidade de disseminao e replicabilidade.

    Eixo tEmtico ttulos dos rElatos dE ExPEriNcias sElEcioNados

    1. Uso de tecnologias de informao para conhecer as vulnerabilidades sociais e planejar a ateno pblica

    Comunicao e proximidade com a rapidez da internet

    Unificao de dados para uma gesto social mais eficaz

    2. Incentivo participao poltica e coletiva na implementao de servios, projetos, programas e benefcios: lgica da territorializao

    Exemplo inovador de participao popular

    3. Adoo de metodologias de trabalho social de carter emancipatrio (criao de oportunidades de gerao de renda, de aprendizagens, de convvio social e de participao poltica na vida pblica)

    No cooperativismo, sada para superar a vulnerabilidade social

    A vulnerabilidade transformada em participao e alegria de viver

    Formao de cuidadores de idosos: estratgia para gerao de renda

    Arte para fortalecer a ao socioeducativa

    Interao com jovens para legitimar a atuao

    Mudanas individuais na direo da cidadania

    Qualificao como meio de gerao de renda e emancipao

    Cidadania e segurana alimentar e nutricional

    O valor de conhecer a realidade e saber transform-la

    4. Estimulo construo de mecanismos de participao e protagonismo dos usurios

    Planejamento e mtodo no incentivo participao popular

    O acolhimento que fortalece laos e gera resultados

    5. Desenvolvimento de referncias de gesto sob a tica de atuao em rede socioassistencial e intersetorial

    Parceria pela incluso e pela proteo social

    6. Adoo de sistemas de monitoramento e avaliao Gesto moderna e melhores servios populao

    7. Uso de estratgias de atuao interdisciplinar

    Estimulo e apoio para a construo do futuro

    Atuao interdisciplinar pela transformao social

    Construo da interdisciplinaridade no trabalho com famlias

    8. Papel da SEADS na implantao e implementao da proteo social bsica

    Integrao e aprendizado coletivo no territrio regional

    Intercmbio que orienta e fortalece o trabalho social

    9. Processo de Implantao e Implementao de CRAS Superviso: construindo novas prticas

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 33

    Portal se tornou um instrumento para a integrao de todos os atores sociais da regio

    comunicao e proximidade com a rapidez da internet

    Equipe da DRADS de Itapeva: Fabiana Grava, Franciele Rosana de Almeida R. Panaino, Hilma Aparecida Camilo, Marcia Cristina de Moraes, Magali Marcondes dos Santos e Redailson Moraes Gonalves (webdesign)

    Localizada na regio Sudoeste do Estado de So Paulo, a DRADS Itapeva responsvel pela superviso e pelo monito-ramento de 18 municpios, que, juntos, congregam um total de 356 mil habitantes. A distncia entre alguns deles Itapeva,

    por exemplo, a terceira cidade paulista em extenso territo-rial mostrou-se, nos ltimos anos, um obstculo significativo

    para a efetiva integrao do trabalho socioassistencial.

    Por conta disso, do grande volume de tarefas que se acumulam no dia a dia e da necessidade de promover a capacitao constante de sua equipe, a DRADS Itapeva se

    viu diante do desafio de tornar mais dinmica e efetiva a interao em sua rede, de modo a favorecer a troca de experincias e conhecimentos. Como soluo, a unidade lanou em 2009 o Portal de Comunicao Micropolos, site na internet que rene, entre outros contedos, informaes sobre a misso institucional e as diversas iniciativas de assistncia social desenvolvidas em cada municpio da regio, dados socioeconmicos, agenda de atividades, materiais tcnicos, vdeos e a ntegra de legislaes, alm de um blog para a postagem de notcias relevantes a respeito do trabalho realizado. Seu endereo www.dradsitapeva.zip.net.

    A experincia evidenciou a grande relevncia do uso da tecnolo-gia da informao no trabalho socioassistencial, pela capacidade de aproximar aes e, principalmente, pessoas, que, mesmo separadas geograficamente, tm de atuar em sintonia de pro-psitos e prticas. Juntamente com as atividades sistemticas de capacitao, o lanamento do portal na web representou um grande avano para o nosso trabalho, principalmente no que diz respeito ao monitoramento e avaliao dos servios, troca de informaes, assimi-lao de conceitos e padronizao de procedimentos. Ideia nascida na prpria DRADS Itapeva, o site foi viabilizado sem qualquer tipo de custo, pois j contvamos com todos os instrumentos necessrios para o seu desenvolvimento.

    A escolha do nome Portal de Comunicao Micropolos no foi aleatria. Sua entrada no ar ocorreu no mesmo perodo em que a DRADS promoveu um agrupamento dos muni-cpios da regio em dois micropolos um deles com 11 cidades e o outro com 7, com o objetivo de descentralizao de capacitaes sistemticas solicitadas por intermdio de processo de avaliao anual de necessidades dos municpios. A despeito da direta associa-o entre o nome e as atividades desenvolvidas nessas cidades, o portal acabou conquis-

    1. Uso de tecnologias de informao para conhecer as vulnerabilidades sociais e planejar a ateno pblica

    * Municpios integrantes da DRADS Itapeva: Apia, Barra do Chapu, Bom Sucesso de Itarar, Buri, Capo Bonito, Guapiara, Iporanga, Itaber, Itaca, Itapeva, Itapirapu Paulista, Itarar, Nova Campina, Ribeira, Ribeiro Branco, Ribeiro Grande, Riversul e Taquariva.

    Itapeva

    DRADS: Itapeva*

  • 34 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    unificao de dados para uma gesto social mais eficaz

    Por Rosane Braz Mendes Raddi, representante de rgo gestor da assistncia social de So Sebastio da Grama

    No se consegue prestar um atendimento socioassisten-cial eficaz sem o suporte de uma base de dados dinmica,

    atualizada e confivel. Essa certeza faz parte do dia a dia da Prefeitura de So Sebastio da Grama, cidade de 13 mil

    habitantes da regio Alta Mogiana do Estado de So Paulo. O governo municipal tem se dedicado nos ltimos anos moderni-

    zao dos sistemas de informaes administrativas, com o objetivo de tornar a gesto mais gil e eficiente.

    Uma das reas a merecer ateno a de assistncia social, que tem como desafio maior a consolidao de uma infraestrutura tecnolgica apta a oferecer, com agilidade e correo, uma viso completa dos servios oferecidos s famlias referenciadas nos diversos setores, como sade, educao e esporte, bem como do perfil desse pblico e das necessidades na rea de atendimento.

    Ainda que persistam certas limitaes tcnicas, os meios para a ins-tituio dessa base de dados j esto presentes na administra-o municipal. O Departamento de Assistncia Social conta, por exemplo, com trs softwares de gesto, desenvolvidos em 2008 por uma empresa especializada o DBS, que gerencia os benefcios recebidos pelas famlias e conso-lida informaes sobre suas condies socieconmicas; o Certa, que acompanha a frequncia nos cursos dis-ponibilizados populao; e o Procap, que monitora as atividades internas de capacitao profissional. A Prefeitura dispe ainda do Sistema Intra Chat, por meio do qual possvel conversar, em tempo real, com os diversos departamentos da rea social. Todos esses progra-mas tm sido aprimorados de acordo com o surgimento de novas necessidades.

    Interligao de softwares de gesto vai propiciar relatrios completos sobre o atendimento social

    Mogiana

    So Sebastioda Grama

    DRADS: MogianaMunicpio: So Sebastio da GramaPorte do municpio: Pequeno porte INvel de gesto: Gesto bsica

    tando uma dimenso mais ampla, tornando-se uma ferramenta de integrao dos diversos atores sociais da regio e de consulta sobre os princpios contidos na Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS).

    Nossos maiores parceiros na manuteno do portal so os prprios municpios, que con-tribuem com informaes de interesse de toda a rede. Mas precisamos ir alm. O desafio agora fazer com que o portal seja cada vez mais utilizado e representativo das aspiraes locais e regionais.

    E-mail de contato: [email protected] // [email protected]

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 35

    Exemplo inovador de participao popular

    Por Ana Lcia Alves Barboza, tcnica do CRAS Jardim Pioneiros, de Sud Mennucci

    A histria das polticas pblicas brasileiras est quase sempre vinculada manifestao dos interesses parti-

    culares de minorias, em detrimento das necessidades da maioria da populao, para a qual as aes so formuladas.

    Quando no oferecerem condies ideais para o exerccio do protagonismo social, as polticas pblicas correm um risco bas-

    tante concreto de no serem bem-sucedidas.

    Hoje, contudo, h indicadores mostrando que j despertamos para o bvio: no basta oferecermos apenas gua a uma pessoa que tambm sente fome. Assim, preciso que o trabalho socioassistencial seja amplo e integrado e, acima de tudo, esteja intima-mente sintonizado com as demandas dos segmentos aos quais se destina. Por esta linha de raciocnio, Sud Mennucci, municpio de 8 mil habitantes da Alta Noroeste Paulista, atua na direo do incentivo participao popular na concepo e desenvolvimento de projetos e aes sociais voltados pessoas que vivem em situao de vulnerabilidade.

    Em 2005, de forma inovadora, a administrao pblica da cidade passou a adotar em seus servios de assistncia social o princpio segundo o qual a prpria populao quem melhor

    Interligao de softwares de gesto vai propiciar relatrios completos sobre o atendimento social

    2. Incentivo participao poltica e coletiva na implementao de servios, projetos, programas e benefcios: lgica da territorializao

    O que se busca agora o alcance de um novo patamar de eficincia, com a interligao desses trs softwares de gesto, de modo a possibilitar a unificao dos diversos relat-rios de desempenho. No se trata apenas de uma tarefa tecnolgica. H um outro com-ponente importante a ser destacado, no se pode pensar na construo de uma ampla e eficiente base de dados sem que tenhamos, como contrapartida, a colaborao dos usurios, que precisam se conscientizar cada vez mais da importncia de apresentarem documentao completa de todos os integrantes de suas famlias quando do preenchi-mento de seus cadastros sociais na Prefeitura. A falta de informaes no s prejudica a qualidade dos servios prestados, mas tambm torna mais difcil ao poder pblico ter disposio o quadro completo de seu atendimento, da populao e das demandas.

    Um amplo trabalho de conscientizao tem sido realizado por agentes comunitrios e nas visitas domiciliares para coleta de informaes. Atualmente, 90% dos usurios j pro-curam os servios municipais munidos de toda a documentao exigida.

    E-mail de contato: [email protected]

    Alta Noroeste

    Sud Mennucci

    DRADS: Alta NoroesteMunicpio: Sud MennucciCRAS: Jardim PioneirosPorte do municpio: Pequeno porte INvel de gesto: Gesto bsica

  • 36 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    Projetos foramexecutados combase nas demandasdas comunidades

    sabe o que necessita como atendimento, mas que, por uma srie de fatores, tem dificul-dades para expressar suas demandas. E quando isso acontece, habitualmente feito de forma desarticulada.

    Em Sud Mennuccci, a soluo encontrada para superar essa barreira e favorecer o envolvi-mento do usurio foi a definio de um modelo de atendimento empenhado em aproxi-mar pessoas com problemas semelhantes e que vivessem no mesmo bairro, criando meios para que pudessem, de uma forma mais eficiente, expressar suas demandas e, assim, sub-sidiar a administrao municipal na formulao de projetos socioassistenciais capazes de respond-las.

    Em resumo, procurou-se fazer com que as polticas pblicas fossem subordinadas a um controle social, incentivando as pessoas a pra-

    ticarem os valores e princpios da cidadania e a mudarem seu comportamento, com a troca da apatia pela participao.

    Como o conhecimento o meio mais eficaz para o alcance desse objetivo, a Prefeitura buscou desenvolver o seu traba-lho diretamente nos territrios. Reunies foram agendadas

    em cada bairro da cidade para a apresentao dessa ambi-ciosa proposta, bem como para os esclarecimentos de dvidas

    e para que as reais necessidades de cada territrio pudessem ser minuciosamente conhecidas pela administrao.

    Um modelo baseado no planejamento estratgico e na administrao por objetivos tor-nou-se o fio condutor de todas as iniciativas, e a mobilizao popular, seu principal ins-trumento de ao. Para assegurar o carter participativo, o modelo proposto incorporou diversos instrumentos de interao, como a realizao de reunies peridicas nos locais de moradia dos participantes, o estmulo formao de conselhos de bairros, a organizao de encontros envolvendo todas as comunidades, o desenvolvimento de capacitaes para lideranas comunitrias e o incentivo ao dilogo constante em nome da prevalncia dos interesses coletivos na conduo dos projetos. O estabelecimento de parcerias com orga-nismos da esfera municipal e regional e com a iniciativa privada asseguraram a viabilizao do atendimento pretendido, consolidando-se como outro diferencial da experincia de Sud Mennucci. Hoje em dia, qualquer deciso relativa ao desenvolvimento de servios sociais tem de, obrigatoriamente, levar em conta a opinio e as necessidades da populao.

    A prevalncia do controle social nas polticas pblicas foi, sem dvida alguma, uma con-quista da administrao municipal, que viu nele a oportunidade de consolidar o seu traba-lho junto populao local. Mas foi tambm uma realizao da cidadania. E s pudemos avanar da forma imaginada porque conseguimos propagar a certeza de que um objetivo compartilhado com muitas pessoas torna-se um sonho coletivo e, quando isso acontece, as chances de sucesso so infinitas diante da comparao com qualquer atitude isolada ou iniciativa unilateral da gesto pblica.

    E-mail de contato: [email protected]

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 37

    3. Adoo de metodologia de trabalho social de carter emancipatrio (criao de oportunidades de gerao de renda, de aprendizagens, de convvio social e de participao poltica na vida pblica)

    Projeto de gerao de renda atraiu 15 mulheres para a produo de doces,conservas e compotas

    Taciba

    Alta Sorocabana

    DRADS: Alta Sorocabana Municpio: TacibaPorte do municpio: Pequeno porte INvel de gesto: Gesto inicial

    No cooperativismo, sada para superar a vulnerabilidade social

    Por Patrcia Russo de Andrade Pires, representante de rgo gestor da assistncia social de Taciba

    O presente relato de experincia tem por finalidade apre-sentar a trajetria da efetivao do Projeto de Gerao de Renda desenvolvido pela Secretaria Municipal de Assistncia Social de Taciba, cidade paulista de 5.300 habitantes, loca-

    lizada na regio da Alta Sorocabana. Em 2002, o municpio implementou uma estratgia de proteo social dirigida s fam-

    lias atendidas pelo Programa Renda Cidad.

    O caminho encontrado pelo municpio foi o da oferta de qualificao pro-fissional. Com o auxlio do Sebrae, verificou-se que o mercado de produtos alimen-

    tcios mantm-se como um dos mais estveis da atividade econmica e que, por fazer uso de produtos naturais, o segmento de compotas e conservas oferecia um atrativo particular, de grande potencial de vendas. Com base nessas informaes, a Secretaria Municipal de Assistncia Social elaborou o projeto Sabores Taciba.

    Nesse projeto, as famlias em situao de vulnerabilidade social produziriam e comerciali-zariam compotas, conservas e doces caseiros pelo sistema de cooperativismo. O projeto foi desenvolvido para melhorar as condies de vida do grupo, por meio da gerao de renda. Buscou-se com isso, tambm, superar o tradicional modelo assistencialista, pela adoo de iniciativas que efetivamente contri-bussem para a sustentabilidade dessas famlias. Para a concreti-zao dos objetivos, foi adotado um conjunto de aes, entre as quais incluam-se a montagem do planejamento, a divulga-o do projeto s 30 famlias integrantes do Programa Renda Cidad e a organizao de um curso sobre produo de com-potas, conservas, gelias e doces. Tambm foram programadas palestras de orientao sobre normas de vigilncia sanitria e empreendedorismo. Das 20 mulheres que demonstraram interesse em participar, 15 deram incio produo. As vendas comearam a ser feitas na prpria cidade e na regio, diretamente ao consumidor. O trabalho passou a ser monitorado permanentemente avaliaes mensais se encarregavam de verificar o andamento e os avan-os do projeto.

    Inicialmente, o maior desafio enfrentado foi o de convencer as mulheres de que poderiam atuar num tipo de atividade profissional diferente das opes tradicionais conhecidas por

  • 38 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    elas, como trabalho rural, funcionalismo pblico, comrcio e prestao de servios. Essa sensibilizao foi alcanada por intermdio da realizao de capacitaes e de reunies interativas.

    Para a execuo das aes e a comercializao dos produtos, foram estabelecidas parcerias com diversos setores municipais. Instituiu-se tambm um processo de ambientao, por meio do qual as integrantes tiveram a oportunidade de conhecer todo o funcionamento do projeto, com suas normas e responsabilidades.

    Em seu incio, o Projeto de Gerao de Renda contou com apoio financeiro do Fundo Social de Solidariedade e Desenvolvimento Social e Cultural do Estado So Paulo. A Prefeitura assumiu a compra de matria-prima e os gastos com gua e energia eltrica, alm de alguns outros custos. Com o incio do retorno financeiro oriundo das vendas, as beneficirias passa-ram a se responsabilizar pelas despesas.

    Ao longo do tempo, as principais limitaes foram ultrapassadas, como o aprendizado de se trabalhar em equipe (algo nem sempre muito fcil de ser obtido) e a comercializao dos produtos.

    Aps sete anos do incio do projeto, os resultados consolidados so bastante significativos, particularmente no que diz respeito gerao de renda a famlias antes em situao de vulnerabilidade econmica. A qualificao profissional foi o fator decisivo para o sucesso do negcio. Avanou-se tambm na qualidade da produo dos doces, que se tornaram cada vez mais aceitos pelos consumidores. Para alm dos ganhos materiais, o projeto propiciou ainda outro tipo de benefcio, menos palpvel a descoberta de potencialidades que antes estavam ocultas, proporcionando a essas 15 mulheres a recuperao de sua autoestima, a valorizao pessoal e o fortalecimento das relaes pessoais e familiares.

    O alcance da sustentabilidade plena do projeto e a regularizao dos produtos para venda no comrcio local, regional e at em outras reas do estado so os prximos objetivos a serem conquistados pelo grupo de mulheres que no se submeteu s dificuldades e falta de espe-rana e soube transformar sua vida com dedicao, coragem e vontade.

    E-mail de contato: [email protected]

    Araraquara

    Sta Rita do Passa Quatro

    DRADS: Araraquara Municpio: Santa Rita do Passa QuatroCRAS: Jardim Boa Vista III Porte do municpio: Pequeno porte II Nvel de gesto: Gesto bsica

    a vulnerabilidade transformada em participao e alegria de viver

    Por Andrea Tazima de Carvalho, tcnica do CRAS Jardim Boa Vista III, de Santa Rita do Passa Quatro

    Includa entre os 26 municpios sob coordenao da DRADS de Araraquara, a cidade de Santa Rita do Passa Quatro, na regio central do Estado de So Paulo, concen-tra um nmero considervel de pessoas idosas. Segundo estudo da Fundao Sistema Estadual de Anlise de Dados

    (SEADE), 16,4% dos 27 mil habitantes locais tm 60 anos de idade ou mais, resultado superior ao registrado no estado,

    cujo contingente de idosos de apenas 10,7% da populao.

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 39

    Alm de firmar laos de amizade e interao social, os idosos criaram nova viso sobre direitos sociais

    No surpreende, portanto, que a populao idosa tenha sido escolhida como objeto do primeiro projeto do CRAS quando de sua implantao, em 2006, no Jardim Boa Vista, em uma das reas de vulnerabilidade social de Santa Rita do Passa Quatro. Um levantamento revelou, por exemplo, que a maioria dos idosos daquela regio era responsvel pela manuteno familiar a apo-sentadoria, em muitos casos, mantinha-se como a nica fonte de renda do domiclio. Constatou-se tambm a existncia de uma parcela considervel de idosos vivendo sozinhos. Nas duas situaes, boa parte dessas pessoas apresentava precria convivncia social e era alvo de discri-minao na comunidade. Muitas delas, inclusive, viviam em estado de completo abandono.

    Com base nessas referncias, um primeiro grupo de idosos foi constitudo em 2007 pelo CRAS local. Sua criao possibilitou o estabelecimento de parceria com o Programa Sade da Famlia (PSF) para a oferta, conjugada, de atendimento nas reas de assistncia social e de sade, em sintonia com a Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS).

    O grupo inicial contou com dez pessoas. Superado o desconhecimento inicial da comuni-dade em relao ao trabalho desenvolvido pelo CRAS e pelo PSF, a iniciativa ganhou corpo e se consolidou, adaptando-se aos interesses do pblico, fruto da realizao de avaliaes peridicas sobre a evoluo do programa. Hoje, j so 30 pessoas participando de ativi-dades como alongamento, ginstica e hidroginstica, bingo, cine-pipoca, passeios, aes socioeducativas e alfabetizao, atividades muitas vezes no realizadas por esse pblico. Por exemplo: Santa Rita do Passa Quatro uma estncia climtica, e muitos participantes puderam conhecer pontos tursticos locais em passeios organizados pelo CRAS e pelo PSF. Mas, para esses moradores, a atividade mais significativa foi a de realizar uma apresenta-o durante a VII Conferncia Municipal de Assistncia Social. O grupo subiu no palco e convidou as pessoas presentes para uma breve sesso de alongamento. A participao foi total e finalizada com aplausos e reconhecimento geral.

    Cada usurio cadastrado e recebe acompanhamento constante da assistncia social e de sade, alm de alimentao durante as atividades. Com frequncia, os prprios participan-tes sugerem a realizao de novas atividades.

    Por trs de tudo isso est o objetivo de garantir a segurana de convvio e fortalecimento dos vnculos comunitrios, alm da identificao grupal do pblico idoso em situao de vulnerabilidade social, por meio da criao de oportunidades de interao e conquista de direitos essenciais transformao das condies de vida.

    claro que algumas dificuldades surgiram pelo caminho. Uma delas foi a de se conseguir parcerias com os demais setores do municpio para a realizao de trabalho conjunto em reas especficas. Somem-se a isso a falta de recursos financeiros e limitaes estruturais para a capacitao dos profissionais envolvidos nas atividades.

    Mas nenhum desses percalos impediu que as principais metas fossem alcanadas. Alm de criar laos inditos de amizade, os participantes estabeleceram tambm interao com outras turmas da terceira idade, alm de grupos de jovens e de crianas, numa evidente

  • 40 | O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias

    manifestao de avanos de sua sociabilidade. Formou-se entre os participantes, ainda, uma nova viso sobre direitos sociais e a participao popular pelas pessoas da terceira idade. A convivncia no ncleo familiar tambm tem sido claramente beneficiada, pois o novo olhar adquirido pelos idosos nas atividades em grupo e as reflexes geradas nos trabalhos socioe-ducativos acabam influenciando positivamente a interao no ambiente familiar. Ou seja, o que antes era vulnerabilidade social agora cidadania, participao e alegria de viver.

    E-mail de contato: [email protected]

    JaBauru

    DRADS: BauruMunicpio: JaCRAS: Central Porte do municpio: Grande porteNvel de gesto: Gesto plena

    Formao de cuidadores de idosos: estratgia para a gerao de renda

    Por Regina Pelegrino de Almeida Prado e Celio Luiz Cardoso, tcnicos do CRAS Central

    Assim como acontece no Brasil, em geral, o municpio de Ja tambm viu sua populao de idosos crescer significativa-

    mente nas ltimas dcadas. Atualmente, esse grupo de pessoas j representa 12% dos cerca de 130 mil habitantes da cidade.

    A tendncia de aumento da expectativa de vida entre as pessoas com 60 anos de idade ou mais levou a equipe do CRAS Central a vislumbrar

    uma oportunidade de fortalecimento de sua atuao em um dos segmentos de trabalho na rea de proteo social bsica, o da qualificao profissional da comunidade com vistas gerao de renda e emancipao de famlias em situao de risco e vulnera-bilidade social.

    A partir de observaes de sua equipe, a unidade do CRAS constatou a existncia na cidade de um grande potencial para a criao de um curso dirigido formao de cuida-dores de idosos. A ideia foi implementada pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistncia Social.

    Sem a necessidade de grandes investimentos, o curso teve incio ainda em 2009. Seu objetivo era bastante claro: ensinar os participantes a cuidar de pessoas idosas e a suprir suas necessidades bsicas. Esse propsito geral foi a referncia para a elaborao de toda a grade curricular, que incluiu, entre outros temas, a oferta de conhecimentos sobre a evolu-o histrica e a situao atual do idoso na sociedade e as atitudes individuais requeridas para o desempenho da funo de cuidador.

    O curso foi estruturado didaticamente com uma carga de 32 horas 20 horas de ensino terico (10 aulas semanais no CRAS Central) e 12 horas de ensino prtico (com ativida-des desenvolvidas no Centro de Convivncia do Idoso da Prefeitura local). Cada turma comporta at 20 participantes, que tm a orientao de monitores formados em cursos universitrios correlatos temtica do curso. Para participar, os interessados devem estar obrigatoriamente inscritos no CRAS. Ao final do curso, os participantes com frequncia nas aulas superior a 85% passam por uma avaliao feita pela equipe de monitores. Os apro-vados recebem um certificado de concluso. O curso Formao Inicial para Cuidador de

  • O CRAS no contexto dos municpios paulistas: panorama e experincias | 41

    Curso geroumudana na visosobre papel dosidosos na sociedade

    Idosos tem superado, at agora, as expectativas iniciais com a apresentao de resultados positivos.

    A despeito de estar voltado a um mercado de trabalho em expanso e com carncia de mo de obra, o curso se defronta com desafios comuns s atividades focadas na emancipao de pessoas em vulnerabilidade social. Como motivar um pblico com concretas dificuldades de sobrevivn-cia, submetido cotidianamente a situaes de violncia domstica e que tem de se deslocar a p por quilmetros para chegar ao local das aulas? Como almejar que pessoas que no tm supridas suas necessidades bsicas de sade, alimentao, mora-dia, segurana e/ou afetividade vejam relevncia num curso de vrios meses e de retorno financeiro a longo prazo?

    Como ocorre com quase todo projeto socioassistencial, os organizadores tambm tiveram de lidar com dilemas desse tipo e com outras limitaes, como a carncia de recursos humanos e materiais. Alm disso, algumas aes pontuais tiveram de ser adotadas para conquistar o pblico. Para as pessoas que evidenciaram em suas entrevistas uma condio de insegurana alimentar, o CRAS providenciou o encaminhamento para a entrega de uma cesta bsica de alimentos. Aos que teriam de percorrer longas distncias a p para participar das aulas, provi-denciaram-se passes de transporte pblico. E para os inscritos com demandas de orientao psicolgica, foi oferecido atendimento especializado.

    Alm da preparao profissional em si, o curso gerou uma outra consequncia positiva para os alunos a mudana de viso sobre o idoso e sua insero familiar e comunitria. Muitos participantes substituram o entendimento de que os mais velhos voltam a ser crianas quando chegam na terceira idade pela compreenso de que a velhice mais uma etapa do desenvolvimento humano, com vantagens e desvantagens. E essa mudana o primeiro passo para que a defesa da cidadania dos idosos e o combate ao preconceito etrio ganhe novos e aguerridos adeptos.

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    ItaquaquecetubaGde S. Paulo Leste

    DRADS: Grande So Paulo LesteMunicpio: ItaquaquecetubaCRAS: Vila Bartira Porte do municpio: Grande porteNvel de gesto: Gesto plena

    arte para fortalecer a ao socioeducativa

    Por Elizeu de Miranda Corra, tcnico do CRAS Vila Bartira de Itaquaquecetuba

    O ms de fevereiro de 2009 marcou o incio das ati-vidades do Programa de Ate