gassi eng 2003 aerobote
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ESCOLA POLITCNICA DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA NAVAL E OCENICA
PNV 2512 Projeto de Formatura II
AeroBote Projeto de um Ultraleve Pendular
Gustavo Roque da Silva ssi Fernando Henrique Bresslau
Orientao: Prof. Dr. Marcelo Martins
So Paulo, 10 de dezembro de 2003
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AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo ssi Fernando Bresslau 2
Agradecimentos
Ao nosso Deus, por conceder e beno da graduao nesta Universidade.
Ao nosso estimado orientador Prof Dr. Marcelo Martins.
Aos nossos queridos colegas, amigos e familiares.
A todos que contriburam para a realizao deste projeto.
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AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo ssi Fernando Bresslau 3
Resumo
AeroBote Projeto de um Ultraleve Pendular
Este texto relata as atividades desenvolvidas pelos alunos Gustavo Roque da
Silva ssi e Fernando Henrique Bresslau, sob orientao do Prof. Dr. Marcelo Martins,
durante o Projeto de Formatura, de acordo com a proposta das disciplinas Projeto de
Formatura I e II do Curso de Graduao em Engenharia Naval e Ocenica da Escola
Politcnica da Universidade de So Paulo.
Sintetiza a metodologia de projeto aplicada ao caso de ultraleve pendular para
operao na gua fundamentada em uma metodologia de projeto para aeronaves leves
subsnicas. Analisa tecnicamente dois aspectos importantes do desenvolvimento da
aeronave: desempenho aerodinmico e anlise estrutural.
O desempenho aerodinmico abordado por duas frentes, numrica e
experimental, e prope um ganho de desempenho de arrasto para a aeronave operando
em vo de cruzeiro. O texto apresenta uma srie de resultados obtidos em simulaes
numricas de CFD Dinmica dos Fluidos Computacional e por ensaios realizados
com um modelo em escala 1:10 no Tnel de Vento do IPT. Ao final, obtm-se uma
economia da ordem de 15 %..
A estrutura do AeroBote analisada pelo mtodo computacional de elementos
finitos. Apresenta-se breve teoria aplicada ao assunto com as consideraes e hipteses
aplicadas a uma estrutura tubular. Como resultado, desenvolve-se um programa
computacional capaz de resolver estruturas simples. O programa deve ser ajustado em
projetos futuros.
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ndice
AGRADECIMENTOS.................................................................................................................2
RESUMO ......................................................................................................................................3
NDICE .........................................................................................................................................4
NDICE DE FIGURAS................................................................................................................7
NDICE DE TABELAS E GRFICOS....................................................................................10
PARTE I: INTRODUO........................................................................................................11
1 APRESENTAO .............................................................................................................12
1.1 O AEROBOTE................................................................................................................12
2 PROPOSTA DE PROJETO ..............................................................................................13
2.1 MOTIVAO .................................................................................................................13 2.2 PROPOSTA DESTE TRABALHO........................................................................................13
3 METODOLOGIA DE PROJETO ....................................................................................16
3.1 METODOLOGIA DE PROJETO DE BARROS PARA UMA AERONAVE LEVE SUBSNICA .......17 3.2 METODOLOGIA DE PROJETO DE BARROS APLICADA AO PROJETO DO AEROBOTE..........36
4 AERONAVES SEMELHANTES......................................................................................45
4.1 TRIKE CAROS...............................................................................................................45 4.2 POLARIS MOTOR...........................................................................................................45 4.3 BRIO FLYING BOAT ......................................................................................................46 4.4 ASA DELTA ...................................................................................................................46 4.5 BOTE INFLVEL ............................................................................................................48
5 PRINCPIOS FUNDAMENTAIS .....................................................................................49
5.1 PRINCPIO DO VO PENDULAR ......................................................................................49 5.2 PRINCPIO DAS ASAS DE VELAME ..................................................................................50
PARTE II: DESEMPENHO AERODINMICO....................................................................52
6 CFD DINMICA DOS FLUIDOS COMPUTACIONAL ...........................................55
6.1 MODELOS NUMRICOS..................................................................................................55 6.2 OTIMIZAO DO MODELO.............................................................................................57 6.3 VISUALIZAO DO ESCOAMENTO .................................................................................60 6.4 COEFICIENTES DINMICOS............................................................................................63
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6.5 RESULTADOS NUMRICOS.............................................................................................65
7 ESTUDOS EXPERIMENTAIS.........................................................................................68
7.1 SEMELHANA DE REYNOLDS........................................................................................68 7.2 TNEL DE VENTO..........................................................................................................69 7.3 MODELO EM ESCALA ....................................................................................................70 7.4 BALANA DE MOMENTO ...............................................................................................71 7.5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS ......................................................................................72
8 COMPARAO DOS RESULTADOS ...........................................................................74
8.1 ANLISE DOS RESULTADOS ..........................................................................................74 8.2 PROPOSTA DE SOLUO................................................................................................74 8.3 CONCLUSO .................................................................................................................74
PARTE III: ANLISE ESTRUTURAL...................................................................................76
9 MTODO DOS ELEMENTOS FINITOS .......................................................................77
9.1 INTRODUO TERICA .................................................................................................77 9.2 MODELAGEM EM CAD (COMPUTER AIDED DESIGN)....................................................86 9.3 DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA COMPUTACIONAL.................................................89 9.4 MTODO DOS ELEMENTOS FINITOS .............................................................................102 9.5 OTIMIZAO DA ESTRUTURA......................................................................................104
REFERNCIAS .......................................................................................................................105
ANEXOS ...................................................................................................................................107
10 ANEXO 01: DOCUMENTAO DO PROJETO....................................................108
10.1 DESENHOS EM VISTA DIMENSIONAL............................................................................108 10.2 PERSPECTIVA ILUSTRATIVA ........................................................................................110 10.3 MOTOR .......................................................................................................................110
11 ANEXO 02: LEGISLAO .......................................................................................112
12 ANEXO 03: PROGRAMA DESENVOLVIDO, COM OS DADOS DE ENTRADA DA ESTRUTURA ESTUDADA............................................................................................................115
12.1 DECLARAO DA GEOMETRIA DA ESTRUTURA ...........................................................115 12.2 DECLARAO DE FORAS E DESLOCAMENTOS ...........................................................117 12.3 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DO ELEMENTO....................................................118 12.4 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DA ESTRUTURA ..................................................119 12.5 SOLUO DO SISTEMA ................................................................................................120
13 ANEXO 04: DADOS DE ENTRADA E SADA PARA ESTRUTURA DE TESTE BIDIMENSIONAL.................................................................................................................................121
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13.1 NS E SEUS GRAUS DE LIBERDADE..............................................................................121 13.2 BARRAS E SEUS NS, INDICANDO DIREO (DO N 1 AO N 2) ...................................121 13.3 COMPRIMENTOS DAS BARRAS (MM)............................................................................121 13.4 NGULOS DO SISTEMA DE COORDENADAS LOCAL EM RELAO AO SISTEMA DE
COORDENADAS GLOBAL........................................................................................................................121
13.5 MDULO DE ELASTICIDADE (DE YOUNG) DO MATERIAL ( ) ...............................121
13.6 CARACTERSTICAS DA SEO TRANSVERSAL (MM OU ) ......................................122 13.7 DECLARAO DE FORAS E DESLOCAMENTOS ...........................................................122 13.8 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DO ELEMENTO....................................................122
14 ANEXO 05: DADOS DE ENTRADA E SADA PARA ESTRUTURA DE TESTE BIDIMENSIONAL.................................................................................................................................123
14.1 DECLARAO DA GEOMETRIA DA ESTRUTURA ...........................................................123 14.2 DECLARAO DE FORAS E DESLOCAMENTOS ...........................................................124 14.3 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DO ELEMENTO....................................................125
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ndice de figuras
Figura 3.1 Cronograma de um projeto de aeronaves leves subsnicas. ................................... 17
Figura 3.2 Etapas da metodologia de projeto aplicada a uma aeronave leve subsnica. Barros
(2000) .................................................................................................................................. 18
Figura 3.3 Motor selecionado: Rotax 503................................................................................ 40
Figura 3.4 Esboo inicial da aeronave ..................................................................................... 41
Figura 3.5 Geometria preliminar da asa delta .......................................................................... 42
Figura 3.6 Esboo das trs vistas da aeronave ......................................................................... 44
Figura 4.1 Aeronave semelhante fabricada pela Trike caros .................................................. 45
Figura 4.2 Aeronave semelhante fabricada pela Polaris Motor ............................................... 45
Figura 4.3 Aeronave semelhante fabricada pela Brio Flying Boat .......................................... 46
Figura 4.4 Modelos de asas delta fabricadas pela Trike caros................................................ 47
Figura 4.5 Botes convencionais adaptveis: (a) FexBoat e (b) Arboat .................................... 48
Figura 5.1 (a) Aeronave controlada por 3 eixos e (b) seu movimento de manobra.. ............... 49
Figura 5.2 (a) Aeronave pendular e (b) seus graus de liberdade.. ............................................ 49
Figura 5.3 (a) Aeronave pendular e (b) seu movimento de manobra.. ..................................... 50
Figura 5.4 (a) Asa com velame inflado e (b) adicional de arrasto favorecendo a guinada. ..... 51
Figura 6.1 - Modelo simplificado elaborado para as primeiras simulaes numricas............... 55
Figura 6.2 Modelo de bote adotado na atual soluo. .............................................................. 56
Figura 6.3 Comparao entre o modelo simplificado e a nova soluo (azul)......................... 56
Figura 6.4 Primeiro boneco tripulante utilizado nos modelos.................................................. 57
Figura 6.5 Disposio do novos modelos de tripulantes. ......................................................... 58
Figura 6.6 Ilustrao do modelo com tripulantes, motor, tanque e pra-brisa. ........................ 59
Figura 6.7 Instalao do canopy............................................................................................... 59
Figura 6.8 Trs vistas da aeronave. .......................................................................................... 59
Figura 6.9 - Linhas de fluxo ao redor do modelo. ....................................................................... 60
Figura 6.10 Linha de fluxo para os ngulos de ataque de 0 e 15. .......................................... 60
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Figura 6.11 Linhas de corrente no modelo com canopy .......................................................... 61
Figura 6.12 Vetores velocidade ao redor do modelo com canopy ........................................... 61
Figura 6.13 Comparao entre as linhas de corrente para as configuraes de canopy para 0 e
10 ....................................................................................................................................... 62
Figura 6.14 Comparao entre os campos de vetores para as configuraes de canopy para 0 e
10 ....................................................................................................................................... 62
Figura 6.15 Padro das malhas utilizadas nas simulaes numricas ...................................... 63
Figura 6.16 Campo de presso ao redor dos modelos para 0 e 15......................................... 64
Figura 7.1 Seo de testes do tnel de vento do IPT................................................................ 69
Figura 7.2 Modelo construdo para os ensaios experimentais.................................................. 70
Figura 7.3 Comparao entre os modelos experimental e numrico........................................ 71
Figura 7.4 Sistema para medio da fora de arrasto no modelo............................................. 71
Figura 9.1 Diagrama de corpo livre do elemento de ns 1 e 2 e seu sistema local de
coordenadas......................................................................................................................... 81
Figura 9.2 - Vista isomtrica do modelo em CAD...................................................................... 87
Figura 9.3 - vista lateral............................................................................................................... 88
Figura 9.4 - vista de topo............................................................................................................. 88
Figura 9.5 - vista anterior ............................................................................................................ 89
Figura 9.6 - Ns e seus graus de liberdade.................................................................................. 91
Figura 9.7 - barras e seus ns orientados..................................................................................... 92
Figura 9.8 - posio angular dos elementos ................................................................................ 93
Figura 9.9 - estrutura bidimensional de teste .............................................................................. 94
Figura 9.10 - estrutura tridimensional de teste ............................................................................ 94
Figura 9.11 - Sistema de coordenadas locais alinhado de acordo com o primeiro mtodo......... 95
Figura 9.12 - vetor de carregamentos alternativo........................................................................ 96
Figura 9.13 - estrutura hipoesttica semelhante .......................................................................... 97
Figura 9.14 - estrutura isoesttica ............................................................................................... 98
Figura 9.15 - matriz de deslocamentos........................................................................................ 98
Figura 9.16 - Reaes (x, y, z) no apoio ..................................................................................... 98
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Figura 9.17 - matriz de deslocamentos........................................................................................ 98
Figura 9.18 - Reaes (x, y, z) no apoio (dois ns)..................................................................... 99
Figura 9.19 resoluo pelo mtodo das foras em equilbrio................................................. 101
Figura 10.1 Vista lateral (dimenses em metros)................................................................... 108
Figura 10.2 Vista de planta (dimenses em metros) .............................................................. 109
Figura 10.3 Vistas de frente e de trs (dimenses em metros) ............................................... 109
Figura 10.4 Perspectiva ilustrativa ......................................................................................... 110
Figura 10.5 Dados do motor Rotax 503 ................................................................................. 110
Figura 10.6 Curvas de desempenho do motor Rotax 503 ...................................................... 110
Figura 10.7 Desenho dimensional do motor Rotax 503......................................................... 111
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ndice de tabelas e grficos
Tabela 2.1 Cronograma das atividades..................................................................................... 15
Tabela 3.1 Previses de desempenho para o AeroBote............................................................ 36
Tabela 3.2 Ordem estimada das dimenses do bote................................................................. 39
Tabela 3.3 Ordem estimada das dimenses da asa................................................................... 39
Tabela 3.4 Estimativas de carregamentos e potncia ............................................................... 39
Tabela 3.5 Motores Rotax empregados na aviao leve .......................................................... 39
Tabela 3.6 Instrumentos e equipamentos ................................................................................. 40
Tabela 3.7 Dimenses bsicas iniciais ..................................................................................... 41
Tabela 3.8 Estimativa de pesos ................................................................................................ 41
Tabela 4.1 Ordem dos parmetros estimados para a asa .......................................................... 47
Tabela 7.1 Clculo de Re no prottipo..................................................................................... 69
Tabela 7.2 Clculo de Re no modelo ensaiado ........................................................................ 69
Grfico 3.1 Aeronaves semelhantes: Velocidades X rea de asa............................................ 38
Grfico 6.1 Coeficiente de arrasto obtido nas simulaes numricas para V=20m/s............... 66
Grfico 6.2 Coeficiente de sustentao obtido nas simulaes numricas para V=20m/s ....... 66
Grfico 7.1 Coeficiente de arrasto obtido nos ensaios experimentais para V=20m/s .............. 72
Grfico 7.2 Coeficiente de arrasto obtido nos ensaios experimentais para V=10m/s .............. 73
Grfico 8.1 Comparao dos resultados numricos e experimentais ....................................... 74
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PARTE I: INTRODUO
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1 Apresentao
1.1 O AeroBote
O AeroBote uma proposta de aeronave de pequeno porte (categoria ultraleve) formada
pela adaptao de um bote inflvel (reforado com fibra de vidro) e de uma asa delta de velame
reforada. O bote e asa so unidos por uma estrutura tubular onde so fixados os assentos dos
dois tripulantes e o grupo moto-propulsor. Esta aeronave, prpria para operaes de pouso e
decolagem da gua, voa pelo princpio de vo pendular, descrito adiante.
Popularizado como flying boat (barco voador, aero barco, trike aqutico), esta verso de
aeronave desportiva uma derivao do trike terrestre. Este, por sua vez, derivou-se da asa-
delta e dos princpios de vo pendular. O AeroBote constitudo de um pequeno bote, com
motor e hlice aeronuticos, em conjunto com uma asa-delta adaptada.
Desde a dcada de 80 o trike, principal representante da aviao leve pendular, ganhou
espao entre os entusiastas do vo livre e ultraleve. Apresentou-se como opo de baixo custo
alm da segurana e facilidade do vo em suas diversas aplicaes.
Sua construo muito simples o que torna comum a grande quantidade de projetos de
adaptao de trikes terrestres com botes inflveis, mesmo sem certificao de segurana.
O projeto de uma aeronave desta categoria satisfaz muito bem a proposta de um
trabalho de graduao em Engenharia. Alm das ferramentas tcnicas necessariamente
empregadas, uma viso metodolgica do processo de projeto satisfatoriamente empregada.
Certamente a multidisciplinaridade dos temas abordados neste estudo contribuiro para a
formao dos Engenheiros Navais e Ocenicos.
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2 Proposta de projeto
2.1 Motivao
O AeroBote apresenta na sua simplicidade seu maior diferencial. Por um baixo custo,
relativo as demais opes de aeronaves ultraleves, obtm-se uma aeronave verstil, apta para o
cumprimento de uma enorme variedade de misses. Dentre elas podemos destacar:
patrulhamento da costa, patrulhamento de regies alagadas (Pantanal), transporte emergencial
de pequenos volumes, resgate e salvamento, fotografia area, pesquisas ambientais, transporte
de apoio, publicidade area, aerodesporto, turismo, etc.
Atualmente, a grande maioria de aerobarcos operando no Brasil so provenientes de
adaptaes caseiras, montadas por entusiastas, muitas vezes sem conhecimento tcnico. A outra
parte destas aeronaves composta por modelos montados a partir de kits importados. Assim, o
mercado ainda carente de uma opo nacional que apresente confiabilidade tcnica e baixo
custo.
2.2 Proposta deste trabalho
Motivados pelos argumentos apresentados anteriormente, os alunos propem o projeto
simplificado de uma aeronave desta categoria, seguindo os padres de norma e legislao
brasileiros.
Obviamente o projeto integral de uma aeronave requer subprojetos detalhados de todos
os seus elementos e componentes bem como o estudo minucioso de seu comportamento. Por
conta desta complexidade este trabalho apresenta um escopo reduzido, focalizando em dois
aspectos especiais que compem todo o desenvolvimento de um projeto real.
Alm de uma breve introduo ao assunto e outra rpida apresentao dos princpios,
teorias, conceitos e hiptese adotados neste estudo, este trabalho pretende enfatizar a otimizao
aerodinmica em vo de cruzeiro e o estudo de uma estrutura tubular alternativa. Assim, este
trabalho esta dividido em trs partes: Parte I Introduo, Parte II Desempenho
aerodinmico e Parte III Anlise estrutural
2.2.1 Escopo do trabalho
Compondo o escopo deste projeto, pretende-se abordar os seguintes tpicos:
Apresentao das aeronaves semelhantes desta categoria. Princpio do vo pendular e consideraes referentes ao comportamento da aeronave
em vo.
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Aplicao de uma metodologia de projeto para aeronaves leves subsnicas ao AeroBote.
Dimensionamento da asa delta pela teoria de sustentao de asas de velame. Dimensionamento do grupo moto-propulsor. Otimizao aerodinmica de mnimo arrasto para vo de cruzeiro atravs de mtodos
computacionais e experimentos em tnel de vento. Anlise de uma estrutura tubular alternativa.
Como visto, muitas das etapas que compem o projeto de uma aeronave desta categoria
no sero propositalmente contempladas neste texto.
2.2.2 Cronograma de atividades
Para o cumprimento dos temas listados no escopo, realizaram-se a seguintes atividades,
distribudas conforme a ordem apresentada no cronograma da Tabela 2.1.
A. Identificao do projeto: detalhamento dos objetivos e necessidades, escopo, problema de engenharia, contextualizao e introduo ao tema.
B. Sntese terica: reviso bibliogrfica, princpios do vo pendular, estabilidade, segurana, legislao, aerodinmica, mtodo de elementos finitos aplicado estruturas
tubulares e dinmica dos fluidos computacional.
C. Pesquisa de veculos semelhantes: anlise de projetos e contato com fabricantes D. Pesquisa de mercado: anlise de preos, custos e prazos; carncia de modelos e
aceitao de configuraes.
E. Pr-projeto de concepo: seleo dos modelos para projeto, estudo de viabilidade e complexidade.
F. Etapas do projeto: definio das fases de projetos das configuraes escolhidas. G. Projeto de concepo: projeto da estrutura tubular. H. Levantamento das cargas e simulao numrica dos arranjos estruturais por MEF. I. Simulao numrica do modelo simplificado em CFD. J. Simulao numrica do modelo completo em CFD. K. Ensaios do modelo em tnel de vento. L. Comparao dos dados numricos e experimentais. M. Projeto de adaptao: dimensionamento da asa, adaptao do motor (integrao com
hlice e eficincia aerodinmica da aeronave).
N. Documentao.
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Tabela 2.1 Cronograma das atividades FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV
A B C D E F G H I J K L M N
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3 Metodologia de projeto
O desenvolvimento de projetos de aeronaves cercado por uma srie de metodologias
de projeto empreendidas ao longo dos anos. As quatro principais metodologias apresentadas na
literatura pesquisada se aplicam, de um modo geral, para qualquer projeto de aeronaves. So
elas: Torenbeck (1981), Raymer (1989), Roskan (1985) e Vandaele (1962).
Complementando estes mtodos, foi desenvolvida nas ltimas dcadas uma
metodologia aplicada s necessidades do Centro de Estudos Aeronuticos da Escola de
Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (CEA EEUFMG). O Prof. Dr. Cludio
Pinto de Barros prope uma metodologia aplicada ao projeto de aeronaves leves subsnicas
baseada na larga experincia deste grupo de pesquisa.
Antes de se aplicar uma metodologia de projeto diretamente no AeroBote algumas
consideraes devem ser evidenciadas, uma vez que esta aeronave no se enquadra nas
categorias convencionais de projetos de aeronaves.
O mtodo proposto por Barros se aplica a aeronaves leves subsnicas convencionais,
isto , so aeronaves de trs eixos de controle (como explicado no CAPITULO). Como o
AeroBote um ultraleve de vo pendular, algumas etapas no podero ser aplicadas, por
exemplo, clculos de empenagem ou superfcies de controle (ailerons, flapes, leme, cauda, etc.).
Contudo, feitas estas consideraes, a metodologia apresenta um excelente roteiro de projeto a
ser seguido para aeronaves desta categoria.
Assim, a metodologia de projeto de Barros (2000) foi escolhida como a que melhor se
adapta as necessidades de projeto do AeroBote. Neste texto a metodologia de Barros ser
apresentada em sua proposta original, isto , sem que as adaptaes necessrias ao projeto do
AeroBote sejam feitas. Deste modo, pretende-se passar ao leito uma noo previa dos itens que
compem o projeto de uma aeronave podendo, posteriormente, destacar os pontos que sero
alterados para aplicao neste trabalho.
Em uma etapa seguinte deste texto a metodologia explicada ser aplicada ao projeto do
AeroBote, desta vez destacando-se os pontos que devem ser alterados, corrigidos ou at mesmo
acrescentados para que o mtodo se adapte ao projeto de um ultraleve pendular.
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3.1 Metodologia de projeto de Barros para uma aeronave leve subsnica
Nesta seo apresentada a metodologia de projeto de Barros em sua proposta original.
A maior parte deste texto foi extrado do artigo Uma metodologia de projeto para o
desenvolvimento de aeronaves leves subsnicas (Barros, 2000).
O processo completo de desenvolvimento de uma aeronave, desde os primeiros estudos
at sua liberao para vo, pode ser dividido em sete etapas principais que se desenvolvem
continuamente durante o projeto. So elas:
Especificaes e requisitos Estudos preliminares Anteprojeto Projeto Fabricao Ensaios no solo Ensaios em vo
Ao longo do projeto estas etapas se distribuem consecutivamente. Em alguns casos h
uma sobreposio de etapas no tempo. Por exemplo, antes mesmo de concluda a etapa de
projeto pode-se iniciar parte da fabricao dos componentes.
De acordo com Barros, as etapas principais devem ser distribudas cronologicamente
como apresentado na FIGURA. Tambm importante ressaltar que a documentao do projeto
no considerada como uma destas etapas, mas sim como um processo contnuo que deve estar
presente em todas as fases do processo.
DOCUMENTAO
ESPECIFICAESE REQUISITOS
ESTUDOSPRELIMINARES
ANTEPROJETO
PROJETO
FABRICAO
ENSAIOSNO SOLO
ENSAIOSEM VO
CRONOGRAMA DAS ETAPAS DE PROJETO
DOCUMENTAO
ESPECIFICAESE REQUISITOS
ESTUDOSPRELIMINARES
ANTEPROJETO
PROJETO
FABRICAO
ENSAIOSNO SOLO
ENSAIOSEM VO
CRONOGRAMA DAS ETAPAS DE PROJETO
Figura 3.1 Cronograma de um projeto de aeronaves leves subsnicas.
Infelizmente, a proposta deste trabalho no envolve, a princpio, a construo de uma
aeronave, nem tampouco as etapas de ensaios de solo e vo. Conseqentemente o foco deste
texto ser raciocinar sobre as quatro primeiras etapas do projeto completo, isto , pode-se dizer
que este texto se limita ao projeto terico do AeroBote.
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Contudo, como em todos os outros casos de projetos de aeronaves, importante
destacar que as etapas de fabricao e ensaios devem ser consideradas mesmo que apenas
virtualmente. Em muitos projetos grandes dificuldades so identificadas nestas fases finais
implicando em modificaes nas etapas anteriores.
ESPECIFICAESE REQUISITOS
Finalidade da aeronave
Misses tpicas
Desempenho almejado
Caractersticas pretendidas
Requisitos
Filosofia de projetoESPECIFICAES
E REQUISITOS
Finalidade da aeronave
Misses tpicas
Desempenho almejado
Caractersticas pretendidas
Requisitos
Filosofia de projeto
ESTUDOSPRELIMINARES
Mtodos comparativosFichas tcnicas
Tabelas comparativas
Lista de prioridades Escalonamento de prioridades
Delimitao do projeto
Configurao externa
Configurao interna
Ergonomia aplicada
Dimensionamento bsico
Escolha do motor
Materiais e processos
Equipamentos e instrumentao
ESTUDOSPRELIMINARES
Mtodos comparativosFichas tcnicas
Tabelas comparativasMtodos comparativos
Fichas tcnicas
Tabelas comparativas
Lista de prioridades Escalonamento de prioridadesLista de prioridades Escalonamento de prioridades
Delimitao do projeto
Configurao externa
Configurao interna
Ergonomia aplicada
Dimensionamento bsico
Escolha do motor
Materiais e processos
Equipamentos e instrumentao
Configurao externa
Configurao interna
Ergonomia aplicada
Dimensionamento bsico
Escolha do motor
Materiais e processos
Equipamentos e instrumentao
ANTEPROJETO
Estimativa de peso
Esboo inicial
Perfis da asa
Propores gerais
Estabilidade e controle
Perfis da empenagem
Passeio do centro de gravidade
Modelo da cabine
Modelagem da fuselagem
Configurao externa
ANTEPROJETO
Estimativa de peso
Esboo inicial
Perfis da asa
Propores gerais
Estabilidade e controle
Perfis da empenagem
Passeio do centro de gravidade
Modelo da cabine
Modelagem da fuselagem
Configurao externa
Estimativa de peso
Esboo inicial
Perfis da asa
Propores gerais
Estabilidade e controle
Perfis da empenagem
Passeio do centro de gravidade
Modelo da cabine
Modelagem da fuselagem
Configurao externa
Figura 3.2 Etapas da metodologia de projeto aplicada a uma aeronave leve subsnica. Barros
(2000)
Cada uma das etapas propostas ainda apresenta subdivises em fases de aplicao. Cada
uma destas fases deve contribuir para o cumprimento dos objetivos de sua etapa. muito
interessante destacar que, dentro das etapas, as fases do projeto devem se relacionar no sistema
de espiral de projeto, isto , dentro de cada etapa haver uma srie de ciclos de projeto entre as
ESTUDOSPRELIMINARES
Clculo de estabilidade e controle
Clculo de desempenho aerodinmico
Clculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
PROJETO
Clculo de estabilidade e controle
Clculo de desempenho aerodinmico
Clculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
Clculo de estabilidade e controle
Clculo de desempenho aerodinmico
Clculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
ESTUDOSPRELIMINARES
Clculo de estabilidade e controle
Clculo de desempenho aerodinmico
Clculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
PROJETO
Clculo de estabilidade e controle
Clculo de desempenho aerodinmico
Clculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
Clculo de estabilidade e controle
Clculo de desempenho aerodinmico
Clculo de cargas
Dimensionamento estrutural
Desenhos detalhados
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AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
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fases at que as informaes por elas geradas cumpram todos os requisitos da etapa. A Figura
3.2 apresenta esquematicamente as primeiras etapas do processo e as fases que as compem.
Observando a diviso proposta para as etapas verifica-se que a metodologia de projeto
apresentada est mais proximamente relacionada com a metodologia de Vandaele. Por outro
lado, o conceito de Tabela Comparativa introduzido por Vandaele aparece substitudo pelo
conceito mais geral de Mtodos Comparativos, do qual a Tabela Comparativa representa apenas
o primeiro item. Tambm, a Delimitao do Prottipo ampliada, incluindo-se os itens
Ergonomia e Estimativa dos Parmetros Bsicos.
Nas prximas sees as etapas deste processo sero detalhadamente explicadas e suas
fases sero posteriormente aplicadas ao projeto do AeroBote.
3.1.1 Especificaes e requisitos
3.1.1.1 Finalidade da aeronave
No inicio do desenvolvimento do projeto deve-se ter bem definidos: qual ser a
finalidade da aeronave, ou seja, qual ser sua utilizao tpica; e qual ser a infra-estrutura de
operao da aeronave.
A finalidade da aeronave, especificamente para o caso de veculos leves subsnicos,
normalmente se restringe a: instruo bsica de vo; instruo avanada (acrobtica); transporte
pessoa, lazer e esportiva.
Quanto infra-estrutura necessria para operao, tm-se: pistas asfaltadas de tamanho
mdio; pistas de grama; pistas de terra curtas; operao de pouso e decolagem na gua.
3.1.1.2 Misses tpicas
A partir da finalidade da aeronave, devem-se definir quais misses tpicas ela estar apta
para realizar: partida, taxiamento e decolagem; subida at a altitude de operao; navegao;
descida normal; trfego e pouso. Em cada uma das misses devero ser estipulados o tempo e o
consumo de combustvel gastos.
No caso de misso acrobtica de treinamento o item Navegao deve ser corrigido para
os gastos de operao em condies extremas.
3.1.1.3 Desempenho almejado
Nesta fase, devem-se especificar quais metas de desempenho devero ser atingidas. As
metas de desempenho mais comuns so: velocidade mxima em vo nivelado; velocidade de
cruzeiro a 85% (ou outra porcentagem conveniente) da potncia mxima; velocidade de estol
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AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular
Gustavo ssi Fernando Bresslau 20
com flapes; razo mxima de subida; distncias de decolagem e pouso; alcance mximo
(distncia); autonomia mxima (tempo); teto mximo; capacidade acrobtica.
A prtica mais comum eleger um destes itens como prioritrio a ser otimizado, sem
negligncia dos demais.
3.1.1.4 Caractersticas pretendidas
Nesta fase devem ser definidas quais caractersticas a aeronave dever atender, como:
nvel de elaborao construtiva; custo final da aeronave; exigncias de manuteno;
caractersticas de vo lento; qualidade de vo; relao entre velocidade mxima e velocidade de
estol (elasticidade do vo); faixa de alcance e de autonomia; materiais a serem utilizados; nvel
de segurana passiva (crashworthiness); estilo.
Na etapa dos Estudos Preliminares estas caractersticas devero ser dispostas seguindo
uma ordem de prioridades.
3.1.1.5 Requisitos
No processo de projeto de uma aeronave muito importante a anlise das normas
tcnicas disponveis a fim de se optar pela norma mais adequada ao caso. Para aeronaves
desenvolvidas no Brasil os requisitos da RBHA Requisitos Brasileiros de Homologao de
Aeronaves devem sempre ser atendidos. Normalmente, os RBHA remetem s principais
normas internacionais: FAR (Federal Aircraft Regulations EUA) e JAR (Joint Airworthiness
Regulations Europa).
Para aeronaves de pequeno porte, no pressurizadas, as seguintes normas so aplicveis:
FAR-Part 23; e JAR-VLA.
A norma JAR-Part23 engloba quatro categorias: normal; utilitria; acrobtica;
commuter. A categoria normal se aplica a aeronaves com 11 assentos ou menos e peso mximo
de decolagem de 5670kg, no sendo permitidas manobras acrobticas. categoria utilitria se
aplicam as mesmas restries da normal, permitindo um nmero limitado de acrobacias. A
categoria acrobtica tambm se destina a aeronaves com 11 assentos ou menos e peso mximo
de 5670kg, permitindo acrobacias sem restries. A categoria commuter destina-se a aeronaves
propelidas a hlice, multimotoras, para 21 assentos ou menos e peso mximo de decolagem de
8620kg, no permitindo manobras acrobticas.
A norma JAR-VLA dedicada a aeronaves bem menores e apresenta as seguintes
restries: no mximo dois assentos; peso mximo de decolagem at 750kg; velocidade de estol
no superior a 83km/h; aeronaves com um nico motor; razo de subida no inferior a 2m/s;
distancia de decolagem com obstculo a 15m no superior a 500m. A operao ainda restrita a
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vos diurnos e visuais (VFR Visual Flight Reference), ficando proibido o vo por
instrumentos.
3.1.1.6 Filosofia de projeto
Como filosofia de projetos de aeronaves destacam-se dois conceitos importantes,
chamados de soluo mnima e soluo livre.
O conceito de soluo mnima, defendido por muitos projetistas (especialmente da
corrente europia), se baseia no pressuposto de que a aeronave deve ser aquela menor e mais
leve possvel capaz de atender misso a qual destinada.
Kovacs (1986), em seu trabalho Filosofia de Projeto, explana este conceito dizendo que
a aeronave deve ser a mais enxuta e mais espartana possvel. Ainda no contexto da soluo
mnima, a famosa expresso de Bill Stout, simplifique e adicione leveza, permanece como
advertncia importante at hoje. Tambm a expresso keep it simple, stupid nascida nos
escritrios de projeto de aeronaves dos EUA, no inicio da dcada de 40, perfeitamente valida
at hoje.
Esta filosofia de projeto pode ser resumida em quatro tpicos:
Assegurar peso baixo via soluo compacta, tamanho pequeno e simplicidade. Restringir os equipamentos ao nvel da necessidade operacional. Combinar mis de uma funo (sempre que possvel) para o maior nmero possvel de
componente da aeronave. Adotar grupo moto-propulsor com dimenses reduzidas e com peso especfico e
consumo especfico baixos.
Tais princpios podem ser aplicados a aeronaves de qualquer porte. O maior avio do
mundo pode ser projetado sob o conceito de soluo mnima. Estes conceitos foram aplicados
no F-16 resultando no avio de caa mais revolucionrio e mais vendido nos ltimos tempos.
Na aplicao da soluo mnima deve-se cuidar para no cair em certos exageros, como
no caso dos primeiros Lancair biplace, onde, para se ter o mximo de velocidade de cruzeiro,
reduziu-se tanto as dimenses do avio (principalmente da empenagem) que a aeronave ficou
obteve comportamento crtico em baixas velocidades. Tendo ocorrido uma srie de acidentes
graves as autoridades australianas proibiram a operao desta aeronave no pas. Posteriormente,
aumentou-se tanto o brao de alavanca das empenagens como suas reas, eliminando os srios
problemas de estabilidade e controle.
Em contraposio ao conceito de soluo mnima pode-se definir o conceito de solua
livre. Toda aeronave projetada sem a preocupao de atender a qualquer um dos quatro tpicos
acima est sob a filosofia de soluo livre.
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Por considerarem o conceito de soluo mnima como soluo pobre, os defensores da
solua livre propem aeronaves mais equipadas, com mais sistemas redundantes (eltricos,
hidrulicos e pneumticos), com blindagens mais robustas (mais pesadas), com maior conforto
para o piloto e tripulantes (maior espao interno) e com maior quantidade de equipamentos
(eletrnicos e instrumentos em geral). Em contrapartida, tero aeronaves mais pesadas, com
maior consumo de combustvel e mais caras.
Apesar disso, observa-se que tanto na aviao militar quanto na chamada aviao geral,
uma parcela cada vez maior de consumidores optando por mais conforto, segurana e, talvez,
posio social, tem preferido aeronaves projetadas neste conceito (Kovacs, 1986).
E importante ressaltar que o conceito de soluo mnima no significa soluo pobre,
mas deve ser entendida como soluo coerente. Ambas as filosofias dentro da aviao geral, e
em particular na aviao leve, so empregadas em projetos atuais. Entretanto, o mais comum
tem sido adotar o conceito de soluo mnima preservando-se critrios mnimos de conforto e
segurana operacional para os tripulantes.
3.1.2 Estudos preliminares
3.1.2.1 Lista de prioridades
Ao se desenvolver um projeto novo comum existirem parmetros antagnicos entre os
quais se dever priorizar um em detrimento do outro. Por exemplo, alto desempenho
aerodinmico se ope facilidade de construo; elevado ndice de comodidade da tripulao
(cabine ampla) se ope a desempenho elevado; alta segurana passiva (cabine resistente)
implica em aumento de peso, opondo-se ao aumento de desempenho; dentre outros.
A associao da finalidade bsica da aeronave com a filosofia adotada para o projeto
definir quais parmetros devem ser beneficiados ou penalizados. Entre as filosofias, podem-se
adotar:
Projeto visando facilidade construtiva Projeto visando ganhos de desempenho Projeto visando facilidade de manuteno Projeto visando segurana operacional Projeto visando facilidade de transporte (entre oficina e pista de pouso)
Escalonamento de prioridades
Uma vez definida da filosofia do projeto, deve-se elaborar uma lista escalonada das
prioridades a serem atendidas. Este escalonamento ir influenciar fortemente todos os aspectos
do projeto: configuraes; dimenses; potncia; nvel de elaborao; materiais; custo; tempo de
fabricao; etc.
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Desta forma possvel adequar o projeto s prioridades estabelecidas.
3.1.2.2 Mtodos comparativos
De acordo com Kovacs (1986), o desenvolvimento de aeronaves uma atividade
diretamente influenciada pelas caractersticas e desempenho dos modelos existentes e
disponveis. Embora, conforme menciona Kovacs (1986), os projetistas de vocao so e
devem ser espontaneamente, instintivamente e entusiasticamente inovadores, nenhuma
concepo de aeronave parte do nada. Este exame aprofundado do atual estado de solues no
universo fundamental para o desenvolvimento do projeto. Este processo nada mais do que a
famosa Anlise de Semelhantes.
Para este fim, e conveniente a elaborao de tabelas e grficos que apresentam uma
srie de aeronaves a serem analisadas com suas caractersticas bsicas: dimenses, pesos, reas,
parmetros de desempenho, potncia, etc.
O objetivo deste levantamento no engessar o projeto, mas permitir que, atravs de
comparaes, tendncias possam ser extrapoladas visando obteno de um produto melhor nas
caractersticas que se busca otimizar. Os Mtodos Comparativos no levam, necessariamente, a
um bom projeto, mas orientam o projetista na busca de uma soluo melhor.
H que se contar tambm com valores tcnicos no considerados em projetos anteriores
e valores no quantificveis, subjetivos, guiados pelo talento do projetista. Todo projeto bem
sucedido fruto da associao da tcnica com a arte, do casamento do conhecimento com o
talento, da fuso do pondervel com o impondervel, do enlace do estruturar com o esculpir.
As informaes que perfazem os Mtodos Comparativos podem ser organizadas pelos
seguintes meios:
Fichas tcnicas das aeronaves com gravuras das trs vistas. Tabela comparativa das caractersticas. Grficos relacionando caractersticas de aeronaves.
Outros fatores importantes que no so citados nos Mtodos Comparativos tambm
devem ser considerados: manobrabilidade em acrobacia; capacidade de efetuar manobras
especiais; suavidade de comandos; proporcionalidade de comandos; docilidade de vo;
facilidade de manuteno; custo de operao; potencial de venda.
Os itens funcionalidade e esttica, impossveis de quantificar, mas escalonveis,
tambm so importantes. A avaliao destes itens pode envolver pesquisas com possveis
consumidores do produto.
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Fichas tcnicas
muito importante, para efeito de avaliao geral, a montagem de fichas tcnicas das
aeronaves analisadas. Tais fichas devem conter, na medida do possvel: foto da aeronave;
ilustrao em trs vistas; dados tcnicos de maior relevncia.
As trs vistas fornecem informaes imprescindveis sobre as propores gerais da
aeronave. Os dados tcnicos informam acerca das dimenses, pesos, desempenho e grupo
propulsor. Estes dados so recolhidos de catlogos de fabricantes, revistas tcnicas e manuais
especializados.
Tabelas comparativa
Deve-se elaborar uma tabela comparativa onde os principais dados de diversas
aeronaves so anotados para efeito de comparao. Normalmente, estabelecem-se pelo menos
sete grupos de informaes: dimenses externas; caractersticas da asa; caractersticas da
empenagem; reas; pesos e cargas; desempenho; e grupo propulsor. Outras informaes teis
tambm podem ser somadas, como os materiais de construo, por exemplo.
Grficos
A comparao por grficos a ferramenta mais usual para comparao. Este fato se d
pela facilidade do engenheiro em interpretar os resultados representados entre dois eixos. Desta
forma, quaisquer parmetros de comparao podem ser expressos graficamente formando um
excelente material de anlise comparativa.
Os grficos de barras so muito usados para comparar caractersticas de vrias
aeronaves juntas. Mas, os grficos que fornecem as informaes mais valiosas so, geralmente,
os que relacionam duas grandezas parametrizadas para as aeronaves. Assim, em um mesmo
grfico, possvel analisar as curvas de desempenho de varias aeronaves da mesma categoria.
Apenas para citar, alguns parmetros so comumente plotados em grficos nos projetos
de aeronaves: potncia e velocidade; carga alar e velocidade; carga alar e razo de subida; carga
alar e velocidade de estol, etc.
Atualmente, alm dos parmetros clssicos, conveniente acrescentar dois parmetros
globais de desempenho de aeronaves. Ambos foram introduzidos pela CAF Foundation em
Seeley (1993), so eles:
CAF Challenge, que visa avaliar a eficincia das aeronaves leves segundo trs fatores:
uma velocidade de referncia (Vref, em milhas por hora), o ndice de consumo de combustvel na
velocidade de referncia (C, em milhas por galo) e a carga til (W, em libras), conforme segue.
( ) ( ) 6,03,1 WCVCAFE refChallenge =
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CAF Triaviathon, que considera a velocidade mxima (Vmax, em milhas por hora), a
razo de subida (R, em ps por minuto) e a velocidade de estol com flapes (VSO, em milhas por
hora), como segue.
( )( )( ) 94
2max
10410062528110625
+=
SOnTriaviatho V
RVCAFE
3.1.2.3 Delimitao do projeto
Configurao externa
Um estudo preliminar da configurao externa de uma aeronave envolve os arranjos
bsicos que fundamentaro o restante do projeto. Neste item devem ser avaliadas as
configuraes de cabines (nmero de passageiros e sua disposio: tandem ou lado a lado), asa
(asa baixa, mdia, alta ou parassol), trem de pouso (triciclo, convencional, monociclo, etc.),
grupo propulsor (trator ou impulsor), empenagem ou cone cauda (posio e categoria),
superfcies de controle (profundor, leme, ailerons, flapes, canard, etc.), dentre outras.
Configurao interna
Os arranjos internos de uma aeronave de pequeno porte influenciam muito o
desenvolvimento do projeto. Por natureza da soluo, existe pouca disponibilidade de espao.
Alguns elementos principais devem receber ateno especial, pois influenciam
preponderantemente nas caractersticas da aeronave, principalmente sobre a posio do seu
centro de gravidade. Como exemplo, destacam-se: a posio do tanque de combustvel, dos
assentos dos tripulantes, das portas de acesso, do painel de instrumentos, das manetes de
controle e compartimento para bagagens.
Ergonomia aplicada
A ergonomia da cabine visa adequar o posto de trabalho aos tripulantes. Esta adequao
deve atentar para a comodidade oferecida, considerando-se as diversas estaturas e bitipos.
Deve-se considerar o acesso aos comandos, bem como as foras que devero ser executadas
neles, a visibilidade externa (principalmente em se tratando de uma aeronave de recreio), as
cores utilizadas, o nvel de rudo e vibrao, o conforto trmico (especialmente em aeronaves de
cabines abertas), etc. Tudo isto visa proporcionar o menor desgaste fsico e o menor ndice de
risco aos tripulantes.
Os principais aspectos ergonmicos so enumerados: acesso a cabine; disposio dos
comandos; acesso aos comandos e ao painel; regulagem longitudinal e vertical dos assentos;
regulagem dos pedais; visibilidade externa; fixao dos cintos de segurana; disposio dos
instrumentos no painel.
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Dimensionamento bsico
Esta etapa conhecida na literatura internacional como o sizing da aeronave. Com
base na filosofia de projeto adotada, iniciam-se as estimativas das dimenses preliminares e
pesos da aeronave. Estas caractersticas esto intimamente ligadas misso da aeronave,
estabelecida na fase inicial do projeto.
Com base na misso tpica da aeronave, deve-se executar o seguinte procedimento:
A partir da tabela comparativa, escolhe-se as aeronaves que mais se assemelham (em termos de parmetros e misso) a aeronave pretendida.
Elabora-se uma tabela reduzida contendo os seguintes parmetros bsicos: razo entre carga til e peso mximo de decolagem; carga alar; alongamento; razo entre envergadura e comprimento da fuselagem; razo entre potncia e peso.
Calcula-se a mdia dos parmetros da tabela reduzida (que no coincide com a mdia dos parmetros de toda a tabela comparativa).
Guiado pela tabela reduzida e pelo valor mdio calculado, adotam-se valores para os itens bsicos para o projeto em desenvolvimento. Cada valor deve levar em considerao no apenas a mdia, mas tambm a tendncia do momento.
Existem tambm projetos com previses de alteraes futuras, como mudana de
misso da aeronave. Nestes casos, as futuras provveis variaes de pesos e dimenses devem
ser consideradas. Por exemplo, quando o projeto de uma aeronave pretende servir de base para a
gerao de uma famlia de aeronaves. Neste caso, as caractersticas dimensionais da aeronave
me podem no ser as melhores para a misso individual do modelo, mas proporcionaro uma
melhor adaptao quando as novas aeronaves da mesma famlia (com pequenas variaes
dimensionais e de misso) forem projetadas.
Com base nos dados comparativos levantados, iniciam-se as estimativas preliminares:
Peso vazio
Para iniciar a estimativa de peso vazio, arbitra-se a carga til (peso dos tripulantes no
caso de uma aeronave desportiva sem transporte de carga); pequena quantidade de bagagem;
combustvel; etc. Divide-se a carga til arbitrada pela razo entre carga til e peso total
escolhida anteriormente, obtendo-se a estimativa do peso mximo de decolagem. Subtrai-se a
carga til do peso total para obter-se a estimativa do peso vazio (ou peso leve) da aeronave.
Convm destacar que, freqentemente, o peso real da aeronave vazia, aps sua
construo, superior ao valor obtido pelo processo descrito anteriormente. Por experincia,
raramente ocorre o contrrio, devido aos erros de construo no previstos. Peso rela maior que
o previsto acarretar em restries operacionais na aeronave. comum, mesmo nas grandes
indstrias, ter-se que fazer um programa de reduo de peso na execuo do segundo prottipo.
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Dimenses bsicas
Para estimar a rea alar, o alongamento, a envergadura e o comprimento da fuselagem,
recomenda-se o seguinte procedimento:
Divide-se o peso mximo de decolagem pela carga alar escolhida anteriormente e obtm-se a rea da asa.
A partir da rea alar e do alongamento escolhido anteriormente, obtm-se a envergadura da aeronave.
Finalmente, o comprimento da fuselagem tem o seu valor estimado, multiplicando-se o valor da envergadura pelo razo entre envergadura e comprimento da fuselagem, tambm escolhido anteriormente.
Potncia preliminar
A estimativa de potncia da aeronave, obtida multiplicando-se a razo entre potncia e
peso escolhida pelo peso estimado para a aeronave.
Escolha do motor
O processo usual de escolha do motor pode ser resumido atravs do seguinte processo:
Identificam-se, entre os motores oferecidos pelo mercado, aqueles cuja potncia est prxima da potncia necessria estimada.
Para cada motor, efetuam-se os clculos de desempenho. Caso no se obtenha, com nenhum dos motores testados, o desempenho almejado,
selecionam-se motores mais potentes, refazendo-se o item anterior.
Entre os motores que atenderam ao desempenho almejado escolhe-se aquele mais satisfatrio, levando-se em considerao: a confiabilidade do motor; seu preo; seu consumo; sua relao entre potncia e peso; o atendimento ao cliente ps-compra; etc.
Vale a pena comentar que o aumento de da razo potncia e peso da aeronave melhora o
desempenho da aeronave e, em contrapartida, aumenta o seu custo operacional.
Materiais e processos
Para a definio de materiais e processos construtivos, os seguintes tipos bsicos de
construo devem ser considerados: em madeira; em trelia de tubos; em alumnio; em
materiais compostos; e mista.
Equipamentos e instrumentao
A escolha da instrumentao e dos demais equipamentos que comporo o quadro da
aeronave deve ser norteada pela misso do modelo. Os instrumentos bsicos para um vo de
segurana nunca devem ser negligenciados no projeto (medidores, controles, comunicao,
etc.). Os equipamentos de segurana tambm recebem a devida importncia (extintores, cintos
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de segurana, para quedas, materiais de sobrevivncia, etc.). Existe uma srie de equipamentos
que sero utilizados no modelo real de acordo com as exigncias dos tripulantes e de novas
misses, convm lembrar que a instrumentao perfaz uma parcela considervel do custo de
uma aeronave de pequeno porte.
3.1.3 Anteprojeto
3.1.3.1 Esboo inicial
Uma vez cumpridas as etapas anteriores, inicia-se o desenho bsico da aeronave em trs
vistas: lateral, em planta e frontal. Este conjunto tecnicamente conhecido como as trs vistas
da aeronave.
O primeiro passo executar, mo livre, um esboo das trs vistas, que ser modificado
reiteradas vezes. No caso de aeronaves leves, recomenda-se que o esboo seja iniciado pelo
desenho do piloto (aquele de estatura mais elevada). Inicia-se pela vista lateral.
Em seguida estabelece-se um espao para curso dos pedais. Tal espao, no caso de
motor dianteiro, ter como limite frente a parede de fogo. Acrescenta-se, em seguida, o espao
para o cofre do motor, respeitando-se inclusive os espaos necessrios para desmontagem de
suas partes, como os magnetos e carburadores, que s vezes necessitam de remoo para
manuteno.
Desenham-se as primeiras linhas de contorno da fuselagem. Neste ponto, deve-se prever
o posicionamento da asa e, especialmente, da longarina, evitando-se conflito da mesma com os
tripulantes.
Coloca-se o painel a uma distncia de alcance cmoda para a tripulao. Traa-se o
restante do contorno da aeronave buscando-se, intuitivamente, um equilbrio tanto em
centragem quanto em esttica. Neste ponto j devem aparecer esboados as empenagens,
canopy e o restante da asa, completando-se a vista lateral.
Conforme j mencionado, este esboo deve ser retrabalhado tantas vezes quantas
necessrias, at se chegar a propores convenientes e, ao mesmo tempo, com aspecto esttico
satisfatrio.
Terminada a vista lateral, passa-se a elaborar a vista em planta da aeronave. A vista em
planta conjugada vista lateral e nesta so definidas, especialmente, as formas em planta da
asa, da empenagem horizontal e da fuselagem. Cuidado especial deve ser dedicado largura da
cabine, resguardando a ergonomia da mesma.
Na elaborao das trs vistas, alguns detalhes, muito importantes para o desempenho da
aeronave devem seguir uma orientao cientfica, quais sejam: forma do spinner; adelgaamento
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da fuselagem; interseo entre asa e fuselagem; entrada de ar de arrefecimento; juno entre
empenagem e fuselagem; e posio e geometria do canopy.
3.1.3.2 Estimativa de peso (resizing)
O refinamento da estimativa do peso vazio da aeronave feito atravs de estimativas
dos diversos pesos de todos os seus componentes, conforme o seguinte processo:
A partir do valor de peso, obtido no ciclo anterior, faz-se uma estimativa dos pesos dos componentes da aeronave.
Somam-se os pesos dos componentes para se ter a estimativa do peso vazio da aeronave neste novo ciclo.
Compara-se o novo valor do peso ao antigo. O valor do peso vazio deve ser corrigido, alterando-se a carga til na medida do necessrio e de acordo com a convenincia, at que ele coincida com o novo peso calculado.
Nos itens do algoritmo acima, para se estimar o peso das asas, da fuselagem e da
empenagem horizontal, Pazmany (1963) sugere o uso das frmulas e dos bacos desenvolvidos
por K. L. Sanders.
3.1.3.3 Propores gerais
Entende-se por uma aeronave com boas qualidades de vo aquela que oferece segurana
operacional e seja fcil e agradvel de pilotar. Assim, uma aeronave com boas qualidades de
vo exige foras suaves do operador para realizar manobras e responde de um modo previsvel
aos comandos. sabido que, enquanto algumas aeronaves apresentam qualidades de vo no
mais elevado grau, outras so consideradas marginais, de difcil pilotagem.
As qualidades de vo esto ligadas s estabilidades esttica e dinmica (longitudinal
direcional e lateral), s foras nos comandos para vo equilibrado e para manobras, s
velocidades de rotao no rolamento, tangagem e glissagem. Deve haver uma proporo
harmoniosa entre as foras nos comandos primrios: no rolamento, fora no manche
proporcional a 1; na tangagem, fora no manche proporcional a 2; na glissagem, fora nos
pedais proporcional a 3.
Quanto s foras nos comandos, se a variao de fora no manche por "g" for muito
alta, ocorrer cansao excessivo do piloto. Caso contrrio, se for muito baixa, poder ocorrer do
piloto, inadvertidamente, aplicar, com pouca fora, uma carga excessiva na estrutura da
aeronave.
Visando-se obter uma aeronave com boas qualidades de vo, terminado o esboo
inicial, conveniente fazer um estudo comparativo da proporcionalidade das dimenses bsicas
da aeronave em desenvolvimento. Para isso, selecionam-se as aeronaves cujas formas mais se
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aproximam da aeronave em desenvolvimento e que sejam, reconhecidamente, detentoras de
boas qualidades de vo.
Em seguida, elaboram-se tabelas contendo as principais propores geomtricas destas
aeronaves e as respectivas propores da aeronave em desenvolvimento. Na medida em que
houver desproporo, volta-se ao esboo inicial, fazendo-se as modificaes convenientes.
Barros recomenda que as seguintes propores sejam analisadas: razo entre o brao da
empenagem horizontal e a corda mdia geomtrica da asa; razo entre o brao da empenagem
vertical e a envergadura da asa; razo entre o comprimento da fuselagem e a envergadura da
asa; razo entre as envergaduras da empenagem horizontal e da asa; razo entre a corda da raiz
da asa e o comprimento da fuselagem; razo entre a rea do profundor e a rea da empenagem
horizontal; e razo entre a rea do leme e a rea da empenagem vertical.
3.1.3.4 Estabilidade e controle
As geometrias das empenagens so preliminarmente estabelecidas utilizando-se os
seguintes os de estabilidade: volume de cauda horizontal; e volume de cauda vertical.
A partir de uma tabela comparativa contendo os respectivos valores de volumes de
cauda das aeronaves mais competitivas, faz-se uma escolha judiciosa de qual valor adotar como
a estimativa preliminar.
Quanto menores forem os volumes de cauda escolhidos, menores sero os arrastos das
empenagens e, portanto, menor o arrasto total da aeronave e melhor o seu desempenho
aerodinmico. Em contrapartida, piores sero as condies de estabilidade e controle,
especialmente no pouso e na decolagem. O raciocnio se inverte com de volumes de cauda
maiores.
3.1.3.5 Perfis da asa
Duas filosofias de projeto podem ser apontadas. A primeira, considerada a melhor
opo at o final da dcada de 80, adota asas mais afiladas com perfis diferentes na raiz e na
ponta. A segunda, adotada por alguns projetistas na dcada de 90, adota asas menos afiladas
com um nico perfil da raiz at a ponta.
A primeira opo permite obter asas com bom desempenho aerodinmico e
estruturalmente mais adequadas. So consideradas esteticamente mais aceitveis. Adotam dois
perfis para contornar as dificuldades de estol comuns nas asas mais afiladas. So
construtivamente mais complexas.
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A segunda opo construtivamente mais simples. Como as asas so, neste caso, menos
afiladas, as dificuldades com estol tornam-se pequenas, permitindo utilizao de um nico perfil
sobre toda a envergadura com desempenho aerodinmico, em mdia, superior primeira.
Uma vez escolhida a opo a ser adotada no projeto da aeronave, a escolha dos perfis
das asas depender da misso prioritria da aeronave. Uma vez definido o parmetro a ser
priorizado, deve-se calcular o nmero de Reynolds para a raiz e para a ponta da asa. No caso de
se adotar a opo de um nico perfil para a asa, deve-se calcular o nmero de Reynolds para a
sua corda mdia geomtrica.
3.1.3.6 Perfis da empenagem
Nos aspectos gerais, a escolha dos perfis das empenagens segue a mesma orientao das
asas. Comumente so usados perfis simtricos, turbulentos ou laminares, com espessura relativa
variando entre 6% e 12%. No caso de empenagens em T, por questes estruturais, a espessura
relativa da empenagem vertical muitas vezes se estende at 15%.
s vezes, quando os perfis da asa apresentam valores altos do coeficiente de momento
aerodinmico utiliza-se, na empenagem horizontal, perfis assimtricos colocados na situao
invertida (extradorso como superfcie inferior). Em casos extremos, adiciona-se a isso, slots no
bordo de ataque da empenagem horizontal.
Um parmetro aerodinmico que pode ser utilizado na escolha do perfil das empenagens
a inclinao da curva de sustentao, que deve ser maximizada, para permitir empenagens
menores. importante, contudo, examinar este parmetro para os nmeros de Reynolds
calculados para as cordas mdias das empenagens.
3.1.3.7 Passeio do centro de gravidade
A posio do centro de gravidade da aeronave importante para a sua pilotagem.
Quanto mais a frente estiver o centro de gravidade, maiores sero as deflexes do profundor e a
fora no manche necessrias para vo equilibrado, bem como as deflexes e foras para efetuar
manobras longitudinais.
Para posies do centro de gravidade excessivamente frente, o profundor poder no
apresentar autoridade suficiente para levantar o nariz da aeronave durante o pouso, podendo
provocar acidentes. Por outro lado, quanto mais para trs o centro de gravidade, menores sero
as deflexes do profundor e as foras no manche necessrias para equilbrio e manobras
longitudinais.
Para posies do centro de gravidade excessivamente recuadas, o piloto com pequenas
foras ou deflexes no comando poder, inadvertidamente, induzir solicitaes excessivas na
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estrutura da aeronave ou, no caso de curvas a baixa velocidade, induzir a aeronave ao parafuso
chato com conseqncias desastrosas. Em casos extremos poder ocorrer perda de estabilidade
com o fenmeno de reverso de comandos, no qual as aes do manche para cabrar ou picar a
aeronave ficam invertidas.
Considerando que as aeronaves operam com cargas variveis (tripulantes, bagagem,
combustvel, etc.), a posio do centro de gravidade (CG) diferente para cada vo. Mesmo
durante o vo, alteraes na posio de passageiros e no volume de combustvel provocam
alteraes na posio do centro de gravidade. Assim, atravs da simulao de todas as situaes
possveis, estima-se o passeio do centro de gravidade, ou seja, a sua posio crtica mais
dianteira e a mais traseira.
Quanto menor o passeio do centro de gravidade (mais prximos os limites dianteiro e
traseiro), menor poder ser o volume de cauda horizontal e, em particular, a rea da empenagem
horizontal. Como conseqncia, menor ser o arrasto aerodinmico e o peso da empenagem
horizontal. Em contrapartida, menor ser a flexibilidade de variao no posicionamento das
cargas mveis.
Estimativa do passeio do centro de gravidade
Para estimar o passeio do centro de gravidade, devem-se decompor as cargas da
aeronave em fixas e variveis. As fixas compem a aeronave vazia (bsica) e as variveis so
aquelas correspondentes aos tripulantes, combustvel, bagagens, etc. Elabora-se uma vista
lateral da aeronave identificando-se os diversos componentes com seus pesos e distncias dos
seus centros de gravidade a um plano de referncia.
Considerando a parcela fixa do peso da aeronave aplicado em um centro de massa e a as
posies crticas (mais a frente e mais a r) de todas as cargas variveis possvel chegar nos
limites a frente e a r do passeio do centro de gravidade. Normalmente, os limites do passeio do
centro de gravidade obtidos em relao ao plano de referncia so expressos em percentuais da
corda mdia aerodinmica da asa.
Um valor seguro para o passeio do centro de gravidade, entretanto, s ser
definitivamente determinado, aps os clculos de estabilidade e controle longitudinais,
efetuados na fase de Projeto.
3.1.3.8 Modelo da cabine
A complexidade da cabine, com todos os seus aspectos ergonmicos, torna praticamente
necessria a construo de um modelo em escala natural da cabine, chamado mock-up.
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O mock-up no necessita ser uma reproduo exata da cabine com revestimento e
pintura, mas precisa conter em escala natural todos os comandos ou dispositivos que possam
interferir na ergonomia da mesma. Recomenda-se que o mock-up contenha sees reproduzindo
um corte lateral, um corte em planta e cortes frontais. Os cortes frontais normalmente so feitos
em estaes na regio de acomodao dos tripulantes.
Em fase posterior do projeto, o mock-up poder ser utilizado tambm para verificao
dos mecanismos dos comandos.
3.1.3.9 Modelagem da fuselagem
A modelagem da fuselagem deve seguir os seguintes critrios: produzir o menor arrasto
aerodinmico possvel; proporcionar rigidez estrutural na ligao entre os elementos da
aeronave; acomodar os equipamentos e controles da aeronave; seguir uma esttica agradvel
dentro da misso da aeronave; e permitir fcil manuteno como limpeza e pintura.
3.1.3.10 Configurao externa
Realizadas todas as atividades anteriores, necessrio verificar a coerncia das
estimativas feitas. No caso de se detectar alguma inconsistncia deve-se retornar aos itens
correspondentes, refazendo-se as estimativas quantas vezes forem necessrias, at que a
consistncia seja plena.
Posteriormente, durante a fase de Projeto Detalhado, ao se efetuarem clculos de
desempenho, estruturais, de estabilidade e controle etc., novas alteraes podero ser
necessrias.
3.1.4 Projeto
Concludo o Anteprojeto inicia-se o Projeto Detalhado que consiste em realizar todos os
clculos necessrios, detalhamentos de componentes, desenhos em escala apropriada para
fabricao, elaborao do relatrio final do projeto e da programao de ensaios no solo.
3.1.4.1 Clculo de desempenho aerodinmico
Os clculos aerodinmicos e de desempenho podem ser resumidos nos seguintes itens:
determinao da polar de arrasto; determinao das curvas de potncia disponvel e potncia
requerida; determinao da curva de razo de subida; determinao das curvas de alcance e de
autonomia em funo da velocidade; determinao dos principais parmetros de desempenho
aerodinmico.
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3.1.4.2 Clculo de estabilidade e controle
As superfcies aerodinmicas de controle da aeronave devem ser adequadamente
defletidas para equilibrar a aeronave durante o vo (anular o momento resultante em tomo dos
seus eixos). Assim, importante obter os valores de deflexo e fora nos comandos (manche e
pedais) necessrios para pilotar a aeronave.
As deflexes de comando, por sua vez, so limitadas pelas correspondentes deflexes
das superfcies aerodinmicas. Para deflexes muito acentuadas, as superfcies aerodinmicas de
controle deixariam de proporcionar o efeito esperado. Normalmente, as deflexes mximas no
devem ultrapassar 30 (o valor exato vai depender do perfil adotado).
Tambm, necessrio evitar que o piloto faa foras exageradas durante o vo. Para
isso as normas estabelecem dois limites: o limite de fora contnua, que deve ser respeitado nas
situaes de vo prolongado (vo de cruzeiro, por exemplo); e o limite de fora temporria, que
deve ser obedecido durante algumas manobras ou situaes de curta durao.
Para avaliar a estabilidade direcional e as deflexes do leme e foras nos pedais
necessrias para manter a glissada ou enfrentar ventos de travs, pode-se utilizar o procedimento
descrito em Morelli (1976).
Parafuso e rolamento
Uma aeronave em operao normal, principalmente em curvas de mdia e grande
inclinao a baixas velocidades, corre o risco de entrar, involuntariamente, em parafuso. Caso
no se tenha condio de restabelecer a atitude da aeronave, o acidente ser inevitvel. Portanto,
no projeto de uma aeronave, fundamental verificar se possvel restabelecer a atitude de uma
aeronave em parafuso. Para verificar esta capacidade, Raymer (1989) recomenda calcular o
parmetro TDPF (Tail Damping Power Factor) definido em Bowman (1971).
Alm disso, recomenda-se avaliar a mxima velocidade de rolamento da aeronave, a
qual pode ser obtida conforme Morelli (1976). O valor calculado deve ser compatvel com os de
aeronaves similares.
3.1.4.3 Clculo de cargas
Baseado nos fatores de carga limites para a aeronave, estabelecidos pelos requisitos
(JAR-VLA, FAR, Part 23, etc.), de acordo com a misso tpica, devem-se elaborar os diagramas
de velocidade e fator de carga de manobra, de rajada e combinado. Este processo chamado de
determinao do envelope de vo.
Alm disso, para o dimensionamento estrutural da aeronave necessrio considerar as
vrias alternativas de carregamento s quais ela estar sujeita.
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Durante a operao ocorrem quatro tipos de cargas: cargas aerodinmicas; pesos; cargas
inerciais; e cargas de reao com o solo.
As cargas aerodinmicas so provocadas pelo escoamento do ar na superfcie externa da aeronave (so predominantes nas asas e nas empenagens).
Os pesos, conseqncia da atrao gravitacional, esto distribudos ao longo da estrutura da aeronave.
As cargas inerciais se devem reao das massas dos componentes da aeronave s aceleraes impostas.
As cargas de reao com o solo surgem como decorrncia do impacto do trem de pouso com o solo durante o pouso, a decolagem e o taxiamento.
3.1.4.4 Dimensionamento estrutural
O dimensionamento estrutural representa um dos itens mais trabalhosos do projeto e
fundamental para a segurana do vo. Deve, portanto, ser cuidadosamente executado.
Um ponto comum a todo dimensionamento estrutural de uma aeronave a utilizao de
dois fatores de segurana: o bsico e o de qualidade. Assim, as cargas para dimensionamento
(Qd) devem ser obtidas atravs da expresso.
FQFSQQd = 1 onde Q1 representa a carga limite, FS denota o fator de segurana e FQ, o de qualidade.
A carga limite (Ql) a mxima prevista para ocorrer em vo (obtida para cada
componente).
O fator de segurana bsico (FS) imposto por norma. Tanto o JAR-VLA quanto o Part
23 estabelecem FS = 1,5.
O fator de qualidade (FQ) varia de acordo com o material estrutural utilizado e com o
componente em considerao.
Para o dimensionamento dos elementos estruturais, recomenda-se a seguinte
bibliografia bsica:
Bruhn (1965), Peery (1950) e Megson (1972) para os clculos estruturais propriamente ditos.
Silva Jr. (1962) e Albuquerque (1980) para dimensionamento de mecanismos em geral. No caso especfico de longarinas em madeira, recomenda-se utilizar tambm Brotero et
al. (1941). Para estruturas em materiais compostos recomenda-se utilizar tambm Verein Deutcher
Ingenieure (1970) ou Ho1lmann (1996).
3.1.4.5 Desenhos detalhados
Por fim, os desenhos e relatrios do projeto da aeronave devem satisfazer as exigncias
normativas, uma vez que devero ser apresentados para homologao.
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Alm disso, um bom relato de projeto, devidamente registrado e desenhado, torna-se a
melhor base de dados para desenvolvimentos futuros.
3.2 Metodologia de projeto de Barros aplicada ao projeto do AeroBote
Nesta seo a metodologia de projeto de Barros, apresentada e comentada
anteriormente, aplicada s necessidades de projeto do AeroBote. Como mencionado, alguns
pontos sero negligenciados, outros alterados e outros ainda introduzidos.
3.2.1 Especificaes e requisitos
3.2.1.1 Finalidade da aeronave
Aeronave com finalidade aerodesportiva, de lazer, instruo bsica de vo.
Caractersticas: vo solo ou at dois tripulantes em tandem, operao de pouso e decolagem na
gua, asa desmontvel, bote inflvel, possibilidade para ser rebocada por um automvel.
3.2.1.2 Misses tpicas
O AeroBote projetado para satisfazer as seguintes misses de operao:
Partida Taxiamento (na gua) Decolagem Subida altitude de operao Navegao de cruzeiro Descida normal Trfego e aproximao Pouso
3.2.1.3 Desempenho
Previses de desempenho apresentadas na Tabela 3.1.
Tabela 3.1 Previses de desempenho para o AeroBote Peso mximo ao decolar 450Kg Velocidade de cruzeiro 70Km/h Autonomia (120Km) 2h a 3h Velocidade ao decolar 40Km/h Capacidade do tanque 30L Velocidade de estol 35Km/h Capacidade do tanque 30L Velocidade nunca exceder 100Km/h Espao para decolagem 80m Mxima razo de planeio 7:1 Espao para pouso 100m Fator de carga +5G 3G
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3.2.1.4 Caractersticas pretendidas
Deve ser uma aeronave de simples construo e manuteno, podendo ser montada em
poucos minutos antes do vo. Seu custo final ao consumidor no deve exceder R$20.000,00
(estimado no ano de 2003 para venda em So Paulo - SP).
3.2.1.5 Requisitos
O AeroBote deve satisfazer as exigncias da legislao brasileira para operao de
aeronaves desportivas ultraleves. Por isso, enquadra-se sob a portaria normativa do
Departamento de Aviao Civil (DAC N 927/DGAC). Os pontos de destaque da legislao
vigente so apresentados no Anexo 02.
3.2.1.6 Filosofia do projeto
Por se objetivar uma aeronave de baixssimo custo, principalmente o custo operacional,
de manuteno simples, fcil montagem e desempenho satisfatrio, decide-se pela filosofia de
soluo mnima.
3.2.2 Estudos preliminares
3.2.2.1 Lista de prioridades
Classificada como uma aeronave de vo lento, e desempenho do AeroBote pode ser
sobrepostos por sua facilidade de construo. Resumidamente, o projeto prioriza as
caractersticas escalonadas a seguir, em detrimento s que dificultam ou encarecem o projeto.
1. Projeto visando facilidade construtiva 2. Projeto visando facilidade de manuteno 3. Projeto visando facilidade de transporte (entre oficina e pista de pouso)
3.2.2.2 Mtodos comparativos
Diversos mtodos de comparao entre aeronaves semelhantes podem ser utilizados
para se obter a ordem de grandeza dos parmetros iniciais do AeroBote. No Grfico 3.1
apresenta-se apenas uma comparao realizada entre aeronaves semelhantes.
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Grfico 3.1 Aeronaves semelhantes: Velocidades X rea de asa
20
40
60
80
100
120
10 15 20 25
rea da asa (m2)
Velo
cida
de (m
/s)
Mnima Mxima Cruzeiro
3.2.2.3 Delimitao do projeto
Configurao externa
Dois tripulantes em tandem. Asa delta alta sobre a estrutura tubular. Bote inflvel abaixo sem trem de pouso para operao no solo (esta opo pode ser
instalada em projetos futuros ou em adaptaes). Leme para controle do bote na gua. Grupo propulsor impulsor preso a estrutura atrs dos tripulantes. Tanque de combustvel abaixo do motor, prximo ao piso do bote. Canopy transparente.
Configurao interna
Painel de instrumentos frente do bote sob o canopy. Barra de controle com movimentao livre acima do canopy. Assentos dos tripulantes em tecido de baixo peso, sem regulagens.
Ergonomia aplicada O AeroBote ser pilotado pelo tripulante da frente. Ele deve ter liberdade para
movimentar a barra de sem tocar na estrutura, canopy ou no outro passageiro. Ambos devem ter viso ampla a fim de proporcionar um vo panormico prazeroso. Alm disso, o piloto deve ter viso livre para os instrumentos no painel.
O tripulante de trs ficar mais alto que o piloto, de modo que a cabea do tripulante da frente fique na altura do peito do passageiro. O Piloto sentar entre as pernas do passageiro de trs.
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Dimensionamento bsico (sizing)
Seguindo a ordem de grandeza das aeronaves semelhantes, o AeroBote ter as
dimenses bsicas como apresentadas nas tabelas abaixo. No caso do bote, pretende-se seguir as
dimenses dos modelos inflveis disponveis no mercado. As dimenses finais, definidas nos
ciclos seguintes da espiral de projeto, sero apresentadas nos desenhos de documentao do
projeto.
Tabela 3.2 Ordem estimada das dimenses do bote Comprimento externo 3,5m Largura externa 2,0m Comprimento interno 2,5m Largura interna 0,8m Dimetro dos flutuadores 0,5m Peso total 70kg
Tabela 3.3 Ordem estimada das dimenses da asa Envergadura 10,0m Razo de planeio 7:1 Corda na raiz 3,0m Nervuras 20 Superfcie alar 22m2 Razo de aspecto 5,0 Pano duplo na vela 40% Peso total 60kg
Tabela 3.4 Estimativas de carregamentos e potncia Peso vazio 200kg Carga alar 20kg/m2 Peso mdio em cruzeiro 400kg Potncia do motor 54HP Peso mximo na decolagem 450kg
Escolha do motor
O mercado de motores aeronuticos de pequeno porte, especialmente desenvolvidos
para aviao leve e ultraleve, liderado pelo fabricante austraco Rotax Motors Co. Os modelos
mais utilizados so apresentados na Tabela 3.5.
Tabela 3.5 Motores Rotax empregados na aviao leve Rotax 447 40 HP Rotax 618 UL 74 HP Rotax 503 (B e C) 47 a 54 HP Rotax 912 (UL e S) 80 e 100 HP Rotax 582 (c e E) 64 HP Rotax 914 115 HP
Dentre os motores citados acima, escolhe-se o modelo Rotax 503 de 54HP com base na
anlise de aeronaves semelhantes. Vale destacar que este motor possui baixo custo relativo e
requer pouca manuteno. Os cdigos B e C referem-se ao tipo de caixa de reduo. Os dados
tcnicos do motor escolhido so apresentados no Anexo 01. A Figura 3.3 apresenta o motor
selecionado.
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Figura 3.3 Motor selecionado: Rotax 503
Materiais e processos
O AeroBote deve ser construdo com materiais de baixo custo sem a necessidade de
ferramental pesado. Um bom parmetro comparativo neste item so os home-built kits de
aeronaves ultraleves desportivas. Neste projetos o entusiasta capaz de montar sua prpria
aeronave seguindo um projeto detalhado de construo.
O bote inflvel de borracha, reforado com fundo em fibra de vidro e espuma de
poliuretano, uma adaptao de modelos disponveis no mercado. A princpio dois fabricantes
possuem botes adequados para vo no AeroBote: Flexboat e Arboat, ambas do estado de So
Paulo.
A estrutura tubular deve ser de ao com juntas soldadas. A asa delta ser adaptada dos
modelos empregados nos trikes terrestres. Um fabricante recomendado: