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ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA NAVAL E OCEÂNICA PNV 2512 Projeto de Formatura II AeroBote Projeto de um Ultraleve Pendular Gustavo Roque da Silva Ássi Fernando Henrique Bresslau Orientação: Prof. Dr. Marcelo Martins São Paulo, 10 de dezembro de 2003

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  • ESCOLA POLITCNICA DA UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA NAVAL E OCENICA

    PNV 2512 Projeto de Formatura II

    AeroBote Projeto de um Ultraleve Pendular

    Gustavo Roque da Silva ssi Fernando Henrique Bresslau

    Orientao: Prof. Dr. Marcelo Martins

    So Paulo, 10 de dezembro de 2003

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 2

    Agradecimentos

    Ao nosso Deus, por conceder e beno da graduao nesta Universidade.

    Ao nosso estimado orientador Prof Dr. Marcelo Martins.

    Aos nossos queridos colegas, amigos e familiares.

    A todos que contriburam para a realizao deste projeto.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 3

    Resumo

    AeroBote Projeto de um Ultraleve Pendular

    Este texto relata as atividades desenvolvidas pelos alunos Gustavo Roque da

    Silva ssi e Fernando Henrique Bresslau, sob orientao do Prof. Dr. Marcelo Martins,

    durante o Projeto de Formatura, de acordo com a proposta das disciplinas Projeto de

    Formatura I e II do Curso de Graduao em Engenharia Naval e Ocenica da Escola

    Politcnica da Universidade de So Paulo.

    Sintetiza a metodologia de projeto aplicada ao caso de ultraleve pendular para

    operao na gua fundamentada em uma metodologia de projeto para aeronaves leves

    subsnicas. Analisa tecnicamente dois aspectos importantes do desenvolvimento da

    aeronave: desempenho aerodinmico e anlise estrutural.

    O desempenho aerodinmico abordado por duas frentes, numrica e

    experimental, e prope um ganho de desempenho de arrasto para a aeronave operando

    em vo de cruzeiro. O texto apresenta uma srie de resultados obtidos em simulaes

    numricas de CFD Dinmica dos Fluidos Computacional e por ensaios realizados

    com um modelo em escala 1:10 no Tnel de Vento do IPT. Ao final, obtm-se uma

    economia da ordem de 15 %..

    A estrutura do AeroBote analisada pelo mtodo computacional de elementos

    finitos. Apresenta-se breve teoria aplicada ao assunto com as consideraes e hipteses

    aplicadas a uma estrutura tubular. Como resultado, desenvolve-se um programa

    computacional capaz de resolver estruturas simples. O programa deve ser ajustado em

    projetos futuros.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 4

    ndice

    AGRADECIMENTOS.................................................................................................................2

    RESUMO ......................................................................................................................................3

    NDICE .........................................................................................................................................4

    NDICE DE FIGURAS................................................................................................................7

    NDICE DE TABELAS E GRFICOS....................................................................................10

    PARTE I: INTRODUO........................................................................................................11

    1 APRESENTAO .............................................................................................................12

    1.1 O AEROBOTE................................................................................................................12

    2 PROPOSTA DE PROJETO ..............................................................................................13

    2.1 MOTIVAO .................................................................................................................13 2.2 PROPOSTA DESTE TRABALHO........................................................................................13

    3 METODOLOGIA DE PROJETO ....................................................................................16

    3.1 METODOLOGIA DE PROJETO DE BARROS PARA UMA AERONAVE LEVE SUBSNICA .......17 3.2 METODOLOGIA DE PROJETO DE BARROS APLICADA AO PROJETO DO AEROBOTE..........36

    4 AERONAVES SEMELHANTES......................................................................................45

    4.1 TRIKE CAROS...............................................................................................................45 4.2 POLARIS MOTOR...........................................................................................................45 4.3 BRIO FLYING BOAT ......................................................................................................46 4.4 ASA DELTA ...................................................................................................................46 4.5 BOTE INFLVEL ............................................................................................................48

    5 PRINCPIOS FUNDAMENTAIS .....................................................................................49

    5.1 PRINCPIO DO VO PENDULAR ......................................................................................49 5.2 PRINCPIO DAS ASAS DE VELAME ..................................................................................50

    PARTE II: DESEMPENHO AERODINMICO....................................................................52

    6 CFD DINMICA DOS FLUIDOS COMPUTACIONAL ...........................................55

    6.1 MODELOS NUMRICOS..................................................................................................55 6.2 OTIMIZAO DO MODELO.............................................................................................57 6.3 VISUALIZAO DO ESCOAMENTO .................................................................................60 6.4 COEFICIENTES DINMICOS............................................................................................63

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 5

    6.5 RESULTADOS NUMRICOS.............................................................................................65

    7 ESTUDOS EXPERIMENTAIS.........................................................................................68

    7.1 SEMELHANA DE REYNOLDS........................................................................................68 7.2 TNEL DE VENTO..........................................................................................................69 7.3 MODELO EM ESCALA ....................................................................................................70 7.4 BALANA DE MOMENTO ...............................................................................................71 7.5 RESULTADOS EXPERIMENTAIS ......................................................................................72

    8 COMPARAO DOS RESULTADOS ...........................................................................74

    8.1 ANLISE DOS RESULTADOS ..........................................................................................74 8.2 PROPOSTA DE SOLUO................................................................................................74 8.3 CONCLUSO .................................................................................................................74

    PARTE III: ANLISE ESTRUTURAL...................................................................................76

    9 MTODO DOS ELEMENTOS FINITOS .......................................................................77

    9.1 INTRODUO TERICA .................................................................................................77 9.2 MODELAGEM EM CAD (COMPUTER AIDED DESIGN)....................................................86 9.3 DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA COMPUTACIONAL.................................................89 9.4 MTODO DOS ELEMENTOS FINITOS .............................................................................102 9.5 OTIMIZAO DA ESTRUTURA......................................................................................104

    REFERNCIAS .......................................................................................................................105

    ANEXOS ...................................................................................................................................107

    10 ANEXO 01: DOCUMENTAO DO PROJETO....................................................108

    10.1 DESENHOS EM VISTA DIMENSIONAL............................................................................108 10.2 PERSPECTIVA ILUSTRATIVA ........................................................................................110 10.3 MOTOR .......................................................................................................................110

    11 ANEXO 02: LEGISLAO .......................................................................................112

    12 ANEXO 03: PROGRAMA DESENVOLVIDO, COM OS DADOS DE ENTRADA DA ESTRUTURA ESTUDADA............................................................................................................115

    12.1 DECLARAO DA GEOMETRIA DA ESTRUTURA ...........................................................115 12.2 DECLARAO DE FORAS E DESLOCAMENTOS ...........................................................117 12.3 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DO ELEMENTO....................................................118 12.4 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DA ESTRUTURA ..................................................119 12.5 SOLUO DO SISTEMA ................................................................................................120

    13 ANEXO 04: DADOS DE ENTRADA E SADA PARA ESTRUTURA DE TESTE BIDIMENSIONAL.................................................................................................................................121

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 6

    13.1 NS E SEUS GRAUS DE LIBERDADE..............................................................................121 13.2 BARRAS E SEUS NS, INDICANDO DIREO (DO N 1 AO N 2) ...................................121 13.3 COMPRIMENTOS DAS BARRAS (MM)............................................................................121 13.4 NGULOS DO SISTEMA DE COORDENADAS LOCAL EM RELAO AO SISTEMA DE

    COORDENADAS GLOBAL........................................................................................................................121

    13.5 MDULO DE ELASTICIDADE (DE YOUNG) DO MATERIAL ( ) ...............................121

    13.6 CARACTERSTICAS DA SEO TRANSVERSAL (MM OU ) ......................................122 13.7 DECLARAO DE FORAS E DESLOCAMENTOS ...........................................................122 13.8 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DO ELEMENTO....................................................122

    14 ANEXO 05: DADOS DE ENTRADA E SADA PARA ESTRUTURA DE TESTE BIDIMENSIONAL.................................................................................................................................123

    14.1 DECLARAO DA GEOMETRIA DA ESTRUTURA ...........................................................123 14.2 DECLARAO DE FORAS E DESLOCAMENTOS ...........................................................124 14.3 MONTAGEM DA MATRIZ DE RIGIDEZ DO ELEMENTO....................................................125

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 7

    ndice de figuras

    Figura 3.1 Cronograma de um projeto de aeronaves leves subsnicas. ................................... 17

    Figura 3.2 Etapas da metodologia de projeto aplicada a uma aeronave leve subsnica. Barros

    (2000) .................................................................................................................................. 18

    Figura 3.3 Motor selecionado: Rotax 503................................................................................ 40

    Figura 3.4 Esboo inicial da aeronave ..................................................................................... 41

    Figura 3.5 Geometria preliminar da asa delta .......................................................................... 42

    Figura 3.6 Esboo das trs vistas da aeronave ......................................................................... 44

    Figura 4.1 Aeronave semelhante fabricada pela Trike caros .................................................. 45

    Figura 4.2 Aeronave semelhante fabricada pela Polaris Motor ............................................... 45

    Figura 4.3 Aeronave semelhante fabricada pela Brio Flying Boat .......................................... 46

    Figura 4.4 Modelos de asas delta fabricadas pela Trike caros................................................ 47

    Figura 4.5 Botes convencionais adaptveis: (a) FexBoat e (b) Arboat .................................... 48

    Figura 5.1 (a) Aeronave controlada por 3 eixos e (b) seu movimento de manobra.. ............... 49

    Figura 5.2 (a) Aeronave pendular e (b) seus graus de liberdade.. ............................................ 49

    Figura 5.3 (a) Aeronave pendular e (b) seu movimento de manobra.. ..................................... 50

    Figura 5.4 (a) Asa com velame inflado e (b) adicional de arrasto favorecendo a guinada. ..... 51

    Figura 6.1 - Modelo simplificado elaborado para as primeiras simulaes numricas............... 55

    Figura 6.2 Modelo de bote adotado na atual soluo. .............................................................. 56

    Figura 6.3 Comparao entre o modelo simplificado e a nova soluo (azul)......................... 56

    Figura 6.4 Primeiro boneco tripulante utilizado nos modelos.................................................. 57

    Figura 6.5 Disposio do novos modelos de tripulantes. ......................................................... 58

    Figura 6.6 Ilustrao do modelo com tripulantes, motor, tanque e pra-brisa. ........................ 59

    Figura 6.7 Instalao do canopy............................................................................................... 59

    Figura 6.8 Trs vistas da aeronave. .......................................................................................... 59

    Figura 6.9 - Linhas de fluxo ao redor do modelo. ....................................................................... 60

    Figura 6.10 Linha de fluxo para os ngulos de ataque de 0 e 15. .......................................... 60

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 8

    Figura 6.11 Linhas de corrente no modelo com canopy .......................................................... 61

    Figura 6.12 Vetores velocidade ao redor do modelo com canopy ........................................... 61

    Figura 6.13 Comparao entre as linhas de corrente para as configuraes de canopy para 0 e

    10 ....................................................................................................................................... 62

    Figura 6.14 Comparao entre os campos de vetores para as configuraes de canopy para 0 e

    10 ....................................................................................................................................... 62

    Figura 6.15 Padro das malhas utilizadas nas simulaes numricas ...................................... 63

    Figura 6.16 Campo de presso ao redor dos modelos para 0 e 15......................................... 64

    Figura 7.1 Seo de testes do tnel de vento do IPT................................................................ 69

    Figura 7.2 Modelo construdo para os ensaios experimentais.................................................. 70

    Figura 7.3 Comparao entre os modelos experimental e numrico........................................ 71

    Figura 7.4 Sistema para medio da fora de arrasto no modelo............................................. 71

    Figura 9.1 Diagrama de corpo livre do elemento de ns 1 e 2 e seu sistema local de

    coordenadas......................................................................................................................... 81

    Figura 9.2 - Vista isomtrica do modelo em CAD...................................................................... 87

    Figura 9.3 - vista lateral............................................................................................................... 88

    Figura 9.4 - vista de topo............................................................................................................. 88

    Figura 9.5 - vista anterior ............................................................................................................ 89

    Figura 9.6 - Ns e seus graus de liberdade.................................................................................. 91

    Figura 9.7 - barras e seus ns orientados..................................................................................... 92

    Figura 9.8 - posio angular dos elementos ................................................................................ 93

    Figura 9.9 - estrutura bidimensional de teste .............................................................................. 94

    Figura 9.10 - estrutura tridimensional de teste ............................................................................ 94

    Figura 9.11 - Sistema de coordenadas locais alinhado de acordo com o primeiro mtodo......... 95

    Figura 9.12 - vetor de carregamentos alternativo........................................................................ 96

    Figura 9.13 - estrutura hipoesttica semelhante .......................................................................... 97

    Figura 9.14 - estrutura isoesttica ............................................................................................... 98

    Figura 9.15 - matriz de deslocamentos........................................................................................ 98

    Figura 9.16 - Reaes (x, y, z) no apoio ..................................................................................... 98

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 9

    Figura 9.17 - matriz de deslocamentos........................................................................................ 98

    Figura 9.18 - Reaes (x, y, z) no apoio (dois ns)..................................................................... 99

    Figura 9.19 resoluo pelo mtodo das foras em equilbrio................................................. 101

    Figura 10.1 Vista lateral (dimenses em metros)................................................................... 108

    Figura 10.2 Vista de planta (dimenses em metros) .............................................................. 109

    Figura 10.3 Vistas de frente e de trs (dimenses em metros) ............................................... 109

    Figura 10.4 Perspectiva ilustrativa ......................................................................................... 110

    Figura 10.5 Dados do motor Rotax 503 ................................................................................. 110

    Figura 10.6 Curvas de desempenho do motor Rotax 503 ...................................................... 110

    Figura 10.7 Desenho dimensional do motor Rotax 503......................................................... 111

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 10

    ndice de tabelas e grficos

    Tabela 2.1 Cronograma das atividades..................................................................................... 15

    Tabela 3.1 Previses de desempenho para o AeroBote............................................................ 36

    Tabela 3.2 Ordem estimada das dimenses do bote................................................................. 39

    Tabela 3.3 Ordem estimada das dimenses da asa................................................................... 39

    Tabela 3.4 Estimativas de carregamentos e potncia ............................................................... 39

    Tabela 3.5 Motores Rotax empregados na aviao leve .......................................................... 39

    Tabela 3.6 Instrumentos e equipamentos ................................................................................. 40

    Tabela 3.7 Dimenses bsicas iniciais ..................................................................................... 41

    Tabela 3.8 Estimativa de pesos ................................................................................................ 41

    Tabela 4.1 Ordem dos parmetros estimados para a asa .......................................................... 47

    Tabela 7.1 Clculo de Re no prottipo..................................................................................... 69

    Tabela 7.2 Clculo de Re no modelo ensaiado ........................................................................ 69

    Grfico 3.1 Aeronaves semelhantes: Velocidades X rea de asa............................................ 38

    Grfico 6.1 Coeficiente de arrasto obtido nas simulaes numricas para V=20m/s............... 66

    Grfico 6.2 Coeficiente de sustentao obtido nas simulaes numricas para V=20m/s ....... 66

    Grfico 7.1 Coeficiente de arrasto obtido nos ensaios experimentais para V=20m/s .............. 72

    Grfico 7.2 Coeficiente de arrasto obtido nos ensaios experimentais para V=10m/s .............. 73

    Grfico 8.1 Comparao dos resultados numricos e experimentais ....................................... 74

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 11

    PARTE I: INTRODUO

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 12

    1 Apresentao

    1.1 O AeroBote

    O AeroBote uma proposta de aeronave de pequeno porte (categoria ultraleve) formada

    pela adaptao de um bote inflvel (reforado com fibra de vidro) e de uma asa delta de velame

    reforada. O bote e asa so unidos por uma estrutura tubular onde so fixados os assentos dos

    dois tripulantes e o grupo moto-propulsor. Esta aeronave, prpria para operaes de pouso e

    decolagem da gua, voa pelo princpio de vo pendular, descrito adiante.

    Popularizado como flying boat (barco voador, aero barco, trike aqutico), esta verso de

    aeronave desportiva uma derivao do trike terrestre. Este, por sua vez, derivou-se da asa-

    delta e dos princpios de vo pendular. O AeroBote constitudo de um pequeno bote, com

    motor e hlice aeronuticos, em conjunto com uma asa-delta adaptada.

    Desde a dcada de 80 o trike, principal representante da aviao leve pendular, ganhou

    espao entre os entusiastas do vo livre e ultraleve. Apresentou-se como opo de baixo custo

    alm da segurana e facilidade do vo em suas diversas aplicaes.

    Sua construo muito simples o que torna comum a grande quantidade de projetos de

    adaptao de trikes terrestres com botes inflveis, mesmo sem certificao de segurana.

    O projeto de uma aeronave desta categoria satisfaz muito bem a proposta de um

    trabalho de graduao em Engenharia. Alm das ferramentas tcnicas necessariamente

    empregadas, uma viso metodolgica do processo de projeto satisfatoriamente empregada.

    Certamente a multidisciplinaridade dos temas abordados neste estudo contribuiro para a

    formao dos Engenheiros Navais e Ocenicos.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 13

    2 Proposta de projeto

    2.1 Motivao

    O AeroBote apresenta na sua simplicidade seu maior diferencial. Por um baixo custo,

    relativo as demais opes de aeronaves ultraleves, obtm-se uma aeronave verstil, apta para o

    cumprimento de uma enorme variedade de misses. Dentre elas podemos destacar:

    patrulhamento da costa, patrulhamento de regies alagadas (Pantanal), transporte emergencial

    de pequenos volumes, resgate e salvamento, fotografia area, pesquisas ambientais, transporte

    de apoio, publicidade area, aerodesporto, turismo, etc.

    Atualmente, a grande maioria de aerobarcos operando no Brasil so provenientes de

    adaptaes caseiras, montadas por entusiastas, muitas vezes sem conhecimento tcnico. A outra

    parte destas aeronaves composta por modelos montados a partir de kits importados. Assim, o

    mercado ainda carente de uma opo nacional que apresente confiabilidade tcnica e baixo

    custo.

    2.2 Proposta deste trabalho

    Motivados pelos argumentos apresentados anteriormente, os alunos propem o projeto

    simplificado de uma aeronave desta categoria, seguindo os padres de norma e legislao

    brasileiros.

    Obviamente o projeto integral de uma aeronave requer subprojetos detalhados de todos

    os seus elementos e componentes bem como o estudo minucioso de seu comportamento. Por

    conta desta complexidade este trabalho apresenta um escopo reduzido, focalizando em dois

    aspectos especiais que compem todo o desenvolvimento de um projeto real.

    Alm de uma breve introduo ao assunto e outra rpida apresentao dos princpios,

    teorias, conceitos e hiptese adotados neste estudo, este trabalho pretende enfatizar a otimizao

    aerodinmica em vo de cruzeiro e o estudo de uma estrutura tubular alternativa. Assim, este

    trabalho esta dividido em trs partes: Parte I Introduo, Parte II Desempenho

    aerodinmico e Parte III Anlise estrutural

    2.2.1 Escopo do trabalho

    Compondo o escopo deste projeto, pretende-se abordar os seguintes tpicos:

    Apresentao das aeronaves semelhantes desta categoria. Princpio do vo pendular e consideraes referentes ao comportamento da aeronave

    em vo.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 14

    Aplicao de uma metodologia de projeto para aeronaves leves subsnicas ao AeroBote.

    Dimensionamento da asa delta pela teoria de sustentao de asas de velame. Dimensionamento do grupo moto-propulsor. Otimizao aerodinmica de mnimo arrasto para vo de cruzeiro atravs de mtodos

    computacionais e experimentos em tnel de vento. Anlise de uma estrutura tubular alternativa.

    Como visto, muitas das etapas que compem o projeto de uma aeronave desta categoria

    no sero propositalmente contempladas neste texto.

    2.2.2 Cronograma de atividades

    Para o cumprimento dos temas listados no escopo, realizaram-se a seguintes atividades,

    distribudas conforme a ordem apresentada no cronograma da Tabela 2.1.

    A. Identificao do projeto: detalhamento dos objetivos e necessidades, escopo, problema de engenharia, contextualizao e introduo ao tema.

    B. Sntese terica: reviso bibliogrfica, princpios do vo pendular, estabilidade, segurana, legislao, aerodinmica, mtodo de elementos finitos aplicado estruturas

    tubulares e dinmica dos fluidos computacional.

    C. Pesquisa de veculos semelhantes: anlise de projetos e contato com fabricantes D. Pesquisa de mercado: anlise de preos, custos e prazos; carncia de modelos e

    aceitao de configuraes.

    E. Pr-projeto de concepo: seleo dos modelos para projeto, estudo de viabilidade e complexidade.

    F. Etapas do projeto: definio das fases de projetos das configuraes escolhidas. G. Projeto de concepo: projeto da estrutura tubular. H. Levantamento das cargas e simulao numrica dos arranjos estruturais por MEF. I. Simulao numrica do modelo simplificado em CFD. J. Simulao numrica do modelo completo em CFD. K. Ensaios do modelo em tnel de vento. L. Comparao dos dados numricos e experimentais. M. Projeto de adaptao: dimensionamento da asa, adaptao do motor (integrao com

    hlice e eficincia aerodinmica da aeronave).

    N. Documentao.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 15

    Tabela 2.1 Cronograma das atividades FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV

    A B C D E F G H I J K L M N

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 16

    3 Metodologia de projeto

    O desenvolvimento de projetos de aeronaves cercado por uma srie de metodologias

    de projeto empreendidas ao longo dos anos. As quatro principais metodologias apresentadas na

    literatura pesquisada se aplicam, de um modo geral, para qualquer projeto de aeronaves. So

    elas: Torenbeck (1981), Raymer (1989), Roskan (1985) e Vandaele (1962).

    Complementando estes mtodos, foi desenvolvida nas ltimas dcadas uma

    metodologia aplicada s necessidades do Centro de Estudos Aeronuticos da Escola de

    Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais (CEA EEUFMG). O Prof. Dr. Cludio

    Pinto de Barros prope uma metodologia aplicada ao projeto de aeronaves leves subsnicas

    baseada na larga experincia deste grupo de pesquisa.

    Antes de se aplicar uma metodologia de projeto diretamente no AeroBote algumas

    consideraes devem ser evidenciadas, uma vez que esta aeronave no se enquadra nas

    categorias convencionais de projetos de aeronaves.

    O mtodo proposto por Barros se aplica a aeronaves leves subsnicas convencionais,

    isto , so aeronaves de trs eixos de controle (como explicado no CAPITULO). Como o

    AeroBote um ultraleve de vo pendular, algumas etapas no podero ser aplicadas, por

    exemplo, clculos de empenagem ou superfcies de controle (ailerons, flapes, leme, cauda, etc.).

    Contudo, feitas estas consideraes, a metodologia apresenta um excelente roteiro de projeto a

    ser seguido para aeronaves desta categoria.

    Assim, a metodologia de projeto de Barros (2000) foi escolhida como a que melhor se

    adapta as necessidades de projeto do AeroBote. Neste texto a metodologia de Barros ser

    apresentada em sua proposta original, isto , sem que as adaptaes necessrias ao projeto do

    AeroBote sejam feitas. Deste modo, pretende-se passar ao leito uma noo previa dos itens que

    compem o projeto de uma aeronave podendo, posteriormente, destacar os pontos que sero

    alterados para aplicao neste trabalho.

    Em uma etapa seguinte deste texto a metodologia explicada ser aplicada ao projeto do

    AeroBote, desta vez destacando-se os pontos que devem ser alterados, corrigidos ou at mesmo

    acrescentados para que o mtodo se adapte ao projeto de um ultraleve pendular.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 17

    3.1 Metodologia de projeto de Barros para uma aeronave leve subsnica

    Nesta seo apresentada a metodologia de projeto de Barros em sua proposta original.

    A maior parte deste texto foi extrado do artigo Uma metodologia de projeto para o

    desenvolvimento de aeronaves leves subsnicas (Barros, 2000).

    O processo completo de desenvolvimento de uma aeronave, desde os primeiros estudos

    at sua liberao para vo, pode ser dividido em sete etapas principais que se desenvolvem

    continuamente durante o projeto. So elas:

    Especificaes e requisitos Estudos preliminares Anteprojeto Projeto Fabricao Ensaios no solo Ensaios em vo

    Ao longo do projeto estas etapas se distribuem consecutivamente. Em alguns casos h

    uma sobreposio de etapas no tempo. Por exemplo, antes mesmo de concluda a etapa de

    projeto pode-se iniciar parte da fabricao dos componentes.

    De acordo com Barros, as etapas principais devem ser distribudas cronologicamente

    como apresentado na FIGURA. Tambm importante ressaltar que a documentao do projeto

    no considerada como uma destas etapas, mas sim como um processo contnuo que deve estar

    presente em todas as fases do processo.

    DOCUMENTAO

    ESPECIFICAESE REQUISITOS

    ESTUDOSPRELIMINARES

    ANTEPROJETO

    PROJETO

    FABRICAO

    ENSAIOSNO SOLO

    ENSAIOSEM VO

    CRONOGRAMA DAS ETAPAS DE PROJETO

    DOCUMENTAO

    ESPECIFICAESE REQUISITOS

    ESTUDOSPRELIMINARES

    ANTEPROJETO

    PROJETO

    FABRICAO

    ENSAIOSNO SOLO

    ENSAIOSEM VO

    CRONOGRAMA DAS ETAPAS DE PROJETO

    Figura 3.1 Cronograma de um projeto de aeronaves leves subsnicas.

    Infelizmente, a proposta deste trabalho no envolve, a princpio, a construo de uma

    aeronave, nem tampouco as etapas de ensaios de solo e vo. Conseqentemente o foco deste

    texto ser raciocinar sobre as quatro primeiras etapas do projeto completo, isto , pode-se dizer

    que este texto se limita ao projeto terico do AeroBote.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 18

    Contudo, como em todos os outros casos de projetos de aeronaves, importante

    destacar que as etapas de fabricao e ensaios devem ser consideradas mesmo que apenas

    virtualmente. Em muitos projetos grandes dificuldades so identificadas nestas fases finais

    implicando em modificaes nas etapas anteriores.

    ESPECIFICAESE REQUISITOS

    Finalidade da aeronave

    Misses tpicas

    Desempenho almejado

    Caractersticas pretendidas

    Requisitos

    Filosofia de projetoESPECIFICAES

    E REQUISITOS

    Finalidade da aeronave

    Misses tpicas

    Desempenho almejado

    Caractersticas pretendidas

    Requisitos

    Filosofia de projeto

    ESTUDOSPRELIMINARES

    Mtodos comparativosFichas tcnicas

    Tabelas comparativas

    Lista de prioridades Escalonamento de prioridades

    Delimitao do projeto

    Configurao externa

    Configurao interna

    Ergonomia aplicada

    Dimensionamento bsico

    Escolha do motor

    Materiais e processos

    Equipamentos e instrumentao

    ESTUDOSPRELIMINARES

    Mtodos comparativosFichas tcnicas

    Tabelas comparativasMtodos comparativos

    Fichas tcnicas

    Tabelas comparativas

    Lista de prioridades Escalonamento de prioridadesLista de prioridades Escalonamento de prioridades

    Delimitao do projeto

    Configurao externa

    Configurao interna

    Ergonomia aplicada

    Dimensionamento bsico

    Escolha do motor

    Materiais e processos

    Equipamentos e instrumentao

    Configurao externa

    Configurao interna

    Ergonomia aplicada

    Dimensionamento bsico

    Escolha do motor

    Materiais e processos

    Equipamentos e instrumentao

    ANTEPROJETO

    Estimativa de peso

    Esboo inicial

    Perfis da asa

    Propores gerais

    Estabilidade e controle

    Perfis da empenagem

    Passeio do centro de gravidade

    Modelo da cabine

    Modelagem da fuselagem

    Configurao externa

    ANTEPROJETO

    Estimativa de peso

    Esboo inicial

    Perfis da asa

    Propores gerais

    Estabilidade e controle

    Perfis da empenagem

    Passeio do centro de gravidade

    Modelo da cabine

    Modelagem da fuselagem

    Configurao externa

    Estimativa de peso

    Esboo inicial

    Perfis da asa

    Propores gerais

    Estabilidade e controle

    Perfis da empenagem

    Passeio do centro de gravidade

    Modelo da cabine

    Modelagem da fuselagem

    Configurao externa

    Figura 3.2 Etapas da metodologia de projeto aplicada a uma aeronave leve subsnica. Barros

    (2000)

    Cada uma das etapas propostas ainda apresenta subdivises em fases de aplicao. Cada

    uma destas fases deve contribuir para o cumprimento dos objetivos de sua etapa. muito

    interessante destacar que, dentro das etapas, as fases do projeto devem se relacionar no sistema

    de espiral de projeto, isto , dentro de cada etapa haver uma srie de ciclos de projeto entre as

    ESTUDOSPRELIMINARES

    Clculo de estabilidade e controle

    Clculo de desempenho aerodinmico

    Clculo de cargas

    Dimensionamento estrutural

    Desenhos detalhados

    PROJETO

    Clculo de estabilidade e controle

    Clculo de desempenho aerodinmico

    Clculo de cargas

    Dimensionamento estrutural

    Desenhos detalhados

    Clculo de estabilidade e controle

    Clculo de desempenho aerodinmico

    Clculo de cargas

    Dimensionamento estrutural

    Desenhos detalhados

    ESTUDOSPRELIMINARES

    Clculo de estabilidade e controle

    Clculo de desempenho aerodinmico

    Clculo de cargas

    Dimensionamento estrutural

    Desenhos detalhados

    PROJETO

    Clculo de estabilidade e controle

    Clculo de desempenho aerodinmico

    Clculo de cargas

    Dimensionamento estrutural

    Desenhos detalhados

    Clculo de estabilidade e controle

    Clculo de desempenho aerodinmico

    Clculo de cargas

    Dimensionamento estrutural

    Desenhos detalhados

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 19

    fases at que as informaes por elas geradas cumpram todos os requisitos da etapa. A Figura

    3.2 apresenta esquematicamente as primeiras etapas do processo e as fases que as compem.

    Observando a diviso proposta para as etapas verifica-se que a metodologia de projeto

    apresentada est mais proximamente relacionada com a metodologia de Vandaele. Por outro

    lado, o conceito de Tabela Comparativa introduzido por Vandaele aparece substitudo pelo

    conceito mais geral de Mtodos Comparativos, do qual a Tabela Comparativa representa apenas

    o primeiro item. Tambm, a Delimitao do Prottipo ampliada, incluindo-se os itens

    Ergonomia e Estimativa dos Parmetros Bsicos.

    Nas prximas sees as etapas deste processo sero detalhadamente explicadas e suas

    fases sero posteriormente aplicadas ao projeto do AeroBote.

    3.1.1 Especificaes e requisitos

    3.1.1.1 Finalidade da aeronave

    No inicio do desenvolvimento do projeto deve-se ter bem definidos: qual ser a

    finalidade da aeronave, ou seja, qual ser sua utilizao tpica; e qual ser a infra-estrutura de

    operao da aeronave.

    A finalidade da aeronave, especificamente para o caso de veculos leves subsnicos,

    normalmente se restringe a: instruo bsica de vo; instruo avanada (acrobtica); transporte

    pessoa, lazer e esportiva.

    Quanto infra-estrutura necessria para operao, tm-se: pistas asfaltadas de tamanho

    mdio; pistas de grama; pistas de terra curtas; operao de pouso e decolagem na gua.

    3.1.1.2 Misses tpicas

    A partir da finalidade da aeronave, devem-se definir quais misses tpicas ela estar apta

    para realizar: partida, taxiamento e decolagem; subida at a altitude de operao; navegao;

    descida normal; trfego e pouso. Em cada uma das misses devero ser estipulados o tempo e o

    consumo de combustvel gastos.

    No caso de misso acrobtica de treinamento o item Navegao deve ser corrigido para

    os gastos de operao em condies extremas.

    3.1.1.3 Desempenho almejado

    Nesta fase, devem-se especificar quais metas de desempenho devero ser atingidas. As

    metas de desempenho mais comuns so: velocidade mxima em vo nivelado; velocidade de

    cruzeiro a 85% (ou outra porcentagem conveniente) da potncia mxima; velocidade de estol

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 20

    com flapes; razo mxima de subida; distncias de decolagem e pouso; alcance mximo

    (distncia); autonomia mxima (tempo); teto mximo; capacidade acrobtica.

    A prtica mais comum eleger um destes itens como prioritrio a ser otimizado, sem

    negligncia dos demais.

    3.1.1.4 Caractersticas pretendidas

    Nesta fase devem ser definidas quais caractersticas a aeronave dever atender, como:

    nvel de elaborao construtiva; custo final da aeronave; exigncias de manuteno;

    caractersticas de vo lento; qualidade de vo; relao entre velocidade mxima e velocidade de

    estol (elasticidade do vo); faixa de alcance e de autonomia; materiais a serem utilizados; nvel

    de segurana passiva (crashworthiness); estilo.

    Na etapa dos Estudos Preliminares estas caractersticas devero ser dispostas seguindo

    uma ordem de prioridades.

    3.1.1.5 Requisitos

    No processo de projeto de uma aeronave muito importante a anlise das normas

    tcnicas disponveis a fim de se optar pela norma mais adequada ao caso. Para aeronaves

    desenvolvidas no Brasil os requisitos da RBHA Requisitos Brasileiros de Homologao de

    Aeronaves devem sempre ser atendidos. Normalmente, os RBHA remetem s principais

    normas internacionais: FAR (Federal Aircraft Regulations EUA) e JAR (Joint Airworthiness

    Regulations Europa).

    Para aeronaves de pequeno porte, no pressurizadas, as seguintes normas so aplicveis:

    FAR-Part 23; e JAR-VLA.

    A norma JAR-Part23 engloba quatro categorias: normal; utilitria; acrobtica;

    commuter. A categoria normal se aplica a aeronaves com 11 assentos ou menos e peso mximo

    de decolagem de 5670kg, no sendo permitidas manobras acrobticas. categoria utilitria se

    aplicam as mesmas restries da normal, permitindo um nmero limitado de acrobacias. A

    categoria acrobtica tambm se destina a aeronaves com 11 assentos ou menos e peso mximo

    de 5670kg, permitindo acrobacias sem restries. A categoria commuter destina-se a aeronaves

    propelidas a hlice, multimotoras, para 21 assentos ou menos e peso mximo de decolagem de

    8620kg, no permitindo manobras acrobticas.

    A norma JAR-VLA dedicada a aeronaves bem menores e apresenta as seguintes

    restries: no mximo dois assentos; peso mximo de decolagem at 750kg; velocidade de estol

    no superior a 83km/h; aeronaves com um nico motor; razo de subida no inferior a 2m/s;

    distancia de decolagem com obstculo a 15m no superior a 500m. A operao ainda restrita a

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 21

    vos diurnos e visuais (VFR Visual Flight Reference), ficando proibido o vo por

    instrumentos.

    3.1.1.6 Filosofia de projeto

    Como filosofia de projetos de aeronaves destacam-se dois conceitos importantes,

    chamados de soluo mnima e soluo livre.

    O conceito de soluo mnima, defendido por muitos projetistas (especialmente da

    corrente europia), se baseia no pressuposto de que a aeronave deve ser aquela menor e mais

    leve possvel capaz de atender misso a qual destinada.

    Kovacs (1986), em seu trabalho Filosofia de Projeto, explana este conceito dizendo que

    a aeronave deve ser a mais enxuta e mais espartana possvel. Ainda no contexto da soluo

    mnima, a famosa expresso de Bill Stout, simplifique e adicione leveza, permanece como

    advertncia importante at hoje. Tambm a expresso keep it simple, stupid nascida nos

    escritrios de projeto de aeronaves dos EUA, no inicio da dcada de 40, perfeitamente valida

    at hoje.

    Esta filosofia de projeto pode ser resumida em quatro tpicos:

    Assegurar peso baixo via soluo compacta, tamanho pequeno e simplicidade. Restringir os equipamentos ao nvel da necessidade operacional. Combinar mis de uma funo (sempre que possvel) para o maior nmero possvel de

    componente da aeronave. Adotar grupo moto-propulsor com dimenses reduzidas e com peso especfico e

    consumo especfico baixos.

    Tais princpios podem ser aplicados a aeronaves de qualquer porte. O maior avio do

    mundo pode ser projetado sob o conceito de soluo mnima. Estes conceitos foram aplicados

    no F-16 resultando no avio de caa mais revolucionrio e mais vendido nos ltimos tempos.

    Na aplicao da soluo mnima deve-se cuidar para no cair em certos exageros, como

    no caso dos primeiros Lancair biplace, onde, para se ter o mximo de velocidade de cruzeiro,

    reduziu-se tanto as dimenses do avio (principalmente da empenagem) que a aeronave ficou

    obteve comportamento crtico em baixas velocidades. Tendo ocorrido uma srie de acidentes

    graves as autoridades australianas proibiram a operao desta aeronave no pas. Posteriormente,

    aumentou-se tanto o brao de alavanca das empenagens como suas reas, eliminando os srios

    problemas de estabilidade e controle.

    Em contraposio ao conceito de soluo mnima pode-se definir o conceito de solua

    livre. Toda aeronave projetada sem a preocupao de atender a qualquer um dos quatro tpicos

    acima est sob a filosofia de soluo livre.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 22

    Por considerarem o conceito de soluo mnima como soluo pobre, os defensores da

    solua livre propem aeronaves mais equipadas, com mais sistemas redundantes (eltricos,

    hidrulicos e pneumticos), com blindagens mais robustas (mais pesadas), com maior conforto

    para o piloto e tripulantes (maior espao interno) e com maior quantidade de equipamentos

    (eletrnicos e instrumentos em geral). Em contrapartida, tero aeronaves mais pesadas, com

    maior consumo de combustvel e mais caras.

    Apesar disso, observa-se que tanto na aviao militar quanto na chamada aviao geral,

    uma parcela cada vez maior de consumidores optando por mais conforto, segurana e, talvez,

    posio social, tem preferido aeronaves projetadas neste conceito (Kovacs, 1986).

    E importante ressaltar que o conceito de soluo mnima no significa soluo pobre,

    mas deve ser entendida como soluo coerente. Ambas as filosofias dentro da aviao geral, e

    em particular na aviao leve, so empregadas em projetos atuais. Entretanto, o mais comum

    tem sido adotar o conceito de soluo mnima preservando-se critrios mnimos de conforto e

    segurana operacional para os tripulantes.

    3.1.2 Estudos preliminares

    3.1.2.1 Lista de prioridades

    Ao se desenvolver um projeto novo comum existirem parmetros antagnicos entre os

    quais se dever priorizar um em detrimento do outro. Por exemplo, alto desempenho

    aerodinmico se ope facilidade de construo; elevado ndice de comodidade da tripulao

    (cabine ampla) se ope a desempenho elevado; alta segurana passiva (cabine resistente)

    implica em aumento de peso, opondo-se ao aumento de desempenho; dentre outros.

    A associao da finalidade bsica da aeronave com a filosofia adotada para o projeto

    definir quais parmetros devem ser beneficiados ou penalizados. Entre as filosofias, podem-se

    adotar:

    Projeto visando facilidade construtiva Projeto visando ganhos de desempenho Projeto visando facilidade de manuteno Projeto visando segurana operacional Projeto visando facilidade de transporte (entre oficina e pista de pouso)

    Escalonamento de prioridades

    Uma vez definida da filosofia do projeto, deve-se elaborar uma lista escalonada das

    prioridades a serem atendidas. Este escalonamento ir influenciar fortemente todos os aspectos

    do projeto: configuraes; dimenses; potncia; nvel de elaborao; materiais; custo; tempo de

    fabricao; etc.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 23

    Desta forma possvel adequar o projeto s prioridades estabelecidas.

    3.1.2.2 Mtodos comparativos

    De acordo com Kovacs (1986), o desenvolvimento de aeronaves uma atividade

    diretamente influenciada pelas caractersticas e desempenho dos modelos existentes e

    disponveis. Embora, conforme menciona Kovacs (1986), os projetistas de vocao so e

    devem ser espontaneamente, instintivamente e entusiasticamente inovadores, nenhuma

    concepo de aeronave parte do nada. Este exame aprofundado do atual estado de solues no

    universo fundamental para o desenvolvimento do projeto. Este processo nada mais do que a

    famosa Anlise de Semelhantes.

    Para este fim, e conveniente a elaborao de tabelas e grficos que apresentam uma

    srie de aeronaves a serem analisadas com suas caractersticas bsicas: dimenses, pesos, reas,

    parmetros de desempenho, potncia, etc.

    O objetivo deste levantamento no engessar o projeto, mas permitir que, atravs de

    comparaes, tendncias possam ser extrapoladas visando obteno de um produto melhor nas

    caractersticas que se busca otimizar. Os Mtodos Comparativos no levam, necessariamente, a

    um bom projeto, mas orientam o projetista na busca de uma soluo melhor.

    H que se contar tambm com valores tcnicos no considerados em projetos anteriores

    e valores no quantificveis, subjetivos, guiados pelo talento do projetista. Todo projeto bem

    sucedido fruto da associao da tcnica com a arte, do casamento do conhecimento com o

    talento, da fuso do pondervel com o impondervel, do enlace do estruturar com o esculpir.

    As informaes que perfazem os Mtodos Comparativos podem ser organizadas pelos

    seguintes meios:

    Fichas tcnicas das aeronaves com gravuras das trs vistas. Tabela comparativa das caractersticas. Grficos relacionando caractersticas de aeronaves.

    Outros fatores importantes que no so citados nos Mtodos Comparativos tambm

    devem ser considerados: manobrabilidade em acrobacia; capacidade de efetuar manobras

    especiais; suavidade de comandos; proporcionalidade de comandos; docilidade de vo;

    facilidade de manuteno; custo de operao; potencial de venda.

    Os itens funcionalidade e esttica, impossveis de quantificar, mas escalonveis,

    tambm so importantes. A avaliao destes itens pode envolver pesquisas com possveis

    consumidores do produto.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 24

    Fichas tcnicas

    muito importante, para efeito de avaliao geral, a montagem de fichas tcnicas das

    aeronaves analisadas. Tais fichas devem conter, na medida do possvel: foto da aeronave;

    ilustrao em trs vistas; dados tcnicos de maior relevncia.

    As trs vistas fornecem informaes imprescindveis sobre as propores gerais da

    aeronave. Os dados tcnicos informam acerca das dimenses, pesos, desempenho e grupo

    propulsor. Estes dados so recolhidos de catlogos de fabricantes, revistas tcnicas e manuais

    especializados.

    Tabelas comparativa

    Deve-se elaborar uma tabela comparativa onde os principais dados de diversas

    aeronaves so anotados para efeito de comparao. Normalmente, estabelecem-se pelo menos

    sete grupos de informaes: dimenses externas; caractersticas da asa; caractersticas da

    empenagem; reas; pesos e cargas; desempenho; e grupo propulsor. Outras informaes teis

    tambm podem ser somadas, como os materiais de construo, por exemplo.

    Grficos

    A comparao por grficos a ferramenta mais usual para comparao. Este fato se d

    pela facilidade do engenheiro em interpretar os resultados representados entre dois eixos. Desta

    forma, quaisquer parmetros de comparao podem ser expressos graficamente formando um

    excelente material de anlise comparativa.

    Os grficos de barras so muito usados para comparar caractersticas de vrias

    aeronaves juntas. Mas, os grficos que fornecem as informaes mais valiosas so, geralmente,

    os que relacionam duas grandezas parametrizadas para as aeronaves. Assim, em um mesmo

    grfico, possvel analisar as curvas de desempenho de varias aeronaves da mesma categoria.

    Apenas para citar, alguns parmetros so comumente plotados em grficos nos projetos

    de aeronaves: potncia e velocidade; carga alar e velocidade; carga alar e razo de subida; carga

    alar e velocidade de estol, etc.

    Atualmente, alm dos parmetros clssicos, conveniente acrescentar dois parmetros

    globais de desempenho de aeronaves. Ambos foram introduzidos pela CAF Foundation em

    Seeley (1993), so eles:

    CAF Challenge, que visa avaliar a eficincia das aeronaves leves segundo trs fatores:

    uma velocidade de referncia (Vref, em milhas por hora), o ndice de consumo de combustvel na

    velocidade de referncia (C, em milhas por galo) e a carga til (W, em libras), conforme segue.

    ( ) ( ) 6,03,1 WCVCAFE refChallenge =

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 25

    CAF Triaviathon, que considera a velocidade mxima (Vmax, em milhas por hora), a

    razo de subida (R, em ps por minuto) e a velocidade de estol com flapes (VSO, em milhas por

    hora), como segue.

    ( )( )( ) 94

    2max

    10410062528110625

    +=

    SOnTriaviatho V

    RVCAFE

    3.1.2.3 Delimitao do projeto

    Configurao externa

    Um estudo preliminar da configurao externa de uma aeronave envolve os arranjos

    bsicos que fundamentaro o restante do projeto. Neste item devem ser avaliadas as

    configuraes de cabines (nmero de passageiros e sua disposio: tandem ou lado a lado), asa

    (asa baixa, mdia, alta ou parassol), trem de pouso (triciclo, convencional, monociclo, etc.),

    grupo propulsor (trator ou impulsor), empenagem ou cone cauda (posio e categoria),

    superfcies de controle (profundor, leme, ailerons, flapes, canard, etc.), dentre outras.

    Configurao interna

    Os arranjos internos de uma aeronave de pequeno porte influenciam muito o

    desenvolvimento do projeto. Por natureza da soluo, existe pouca disponibilidade de espao.

    Alguns elementos principais devem receber ateno especial, pois influenciam

    preponderantemente nas caractersticas da aeronave, principalmente sobre a posio do seu

    centro de gravidade. Como exemplo, destacam-se: a posio do tanque de combustvel, dos

    assentos dos tripulantes, das portas de acesso, do painel de instrumentos, das manetes de

    controle e compartimento para bagagens.

    Ergonomia aplicada

    A ergonomia da cabine visa adequar o posto de trabalho aos tripulantes. Esta adequao

    deve atentar para a comodidade oferecida, considerando-se as diversas estaturas e bitipos.

    Deve-se considerar o acesso aos comandos, bem como as foras que devero ser executadas

    neles, a visibilidade externa (principalmente em se tratando de uma aeronave de recreio), as

    cores utilizadas, o nvel de rudo e vibrao, o conforto trmico (especialmente em aeronaves de

    cabines abertas), etc. Tudo isto visa proporcionar o menor desgaste fsico e o menor ndice de

    risco aos tripulantes.

    Os principais aspectos ergonmicos so enumerados: acesso a cabine; disposio dos

    comandos; acesso aos comandos e ao painel; regulagem longitudinal e vertical dos assentos;

    regulagem dos pedais; visibilidade externa; fixao dos cintos de segurana; disposio dos

    instrumentos no painel.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 26

    Dimensionamento bsico

    Esta etapa conhecida na literatura internacional como o sizing da aeronave. Com

    base na filosofia de projeto adotada, iniciam-se as estimativas das dimenses preliminares e

    pesos da aeronave. Estas caractersticas esto intimamente ligadas misso da aeronave,

    estabelecida na fase inicial do projeto.

    Com base na misso tpica da aeronave, deve-se executar o seguinte procedimento:

    A partir da tabela comparativa, escolhe-se as aeronaves que mais se assemelham (em termos de parmetros e misso) a aeronave pretendida.

    Elabora-se uma tabela reduzida contendo os seguintes parmetros bsicos: razo entre carga til e peso mximo de decolagem; carga alar; alongamento; razo entre envergadura e comprimento da fuselagem; razo entre potncia e peso.

    Calcula-se a mdia dos parmetros da tabela reduzida (que no coincide com a mdia dos parmetros de toda a tabela comparativa).

    Guiado pela tabela reduzida e pelo valor mdio calculado, adotam-se valores para os itens bsicos para o projeto em desenvolvimento. Cada valor deve levar em considerao no apenas a mdia, mas tambm a tendncia do momento.

    Existem tambm projetos com previses de alteraes futuras, como mudana de

    misso da aeronave. Nestes casos, as futuras provveis variaes de pesos e dimenses devem

    ser consideradas. Por exemplo, quando o projeto de uma aeronave pretende servir de base para a

    gerao de uma famlia de aeronaves. Neste caso, as caractersticas dimensionais da aeronave

    me podem no ser as melhores para a misso individual do modelo, mas proporcionaro uma

    melhor adaptao quando as novas aeronaves da mesma famlia (com pequenas variaes

    dimensionais e de misso) forem projetadas.

    Com base nos dados comparativos levantados, iniciam-se as estimativas preliminares:

    Peso vazio

    Para iniciar a estimativa de peso vazio, arbitra-se a carga til (peso dos tripulantes no

    caso de uma aeronave desportiva sem transporte de carga); pequena quantidade de bagagem;

    combustvel; etc. Divide-se a carga til arbitrada pela razo entre carga til e peso total

    escolhida anteriormente, obtendo-se a estimativa do peso mximo de decolagem. Subtrai-se a

    carga til do peso total para obter-se a estimativa do peso vazio (ou peso leve) da aeronave.

    Convm destacar que, freqentemente, o peso real da aeronave vazia, aps sua

    construo, superior ao valor obtido pelo processo descrito anteriormente. Por experincia,

    raramente ocorre o contrrio, devido aos erros de construo no previstos. Peso rela maior que

    o previsto acarretar em restries operacionais na aeronave. comum, mesmo nas grandes

    indstrias, ter-se que fazer um programa de reduo de peso na execuo do segundo prottipo.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 27

    Dimenses bsicas

    Para estimar a rea alar, o alongamento, a envergadura e o comprimento da fuselagem,

    recomenda-se o seguinte procedimento:

    Divide-se o peso mximo de decolagem pela carga alar escolhida anteriormente e obtm-se a rea da asa.

    A partir da rea alar e do alongamento escolhido anteriormente, obtm-se a envergadura da aeronave.

    Finalmente, o comprimento da fuselagem tem o seu valor estimado, multiplicando-se o valor da envergadura pelo razo entre envergadura e comprimento da fuselagem, tambm escolhido anteriormente.

    Potncia preliminar

    A estimativa de potncia da aeronave, obtida multiplicando-se a razo entre potncia e

    peso escolhida pelo peso estimado para a aeronave.

    Escolha do motor

    O processo usual de escolha do motor pode ser resumido atravs do seguinte processo:

    Identificam-se, entre os motores oferecidos pelo mercado, aqueles cuja potncia est prxima da potncia necessria estimada.

    Para cada motor, efetuam-se os clculos de desempenho. Caso no se obtenha, com nenhum dos motores testados, o desempenho almejado,

    selecionam-se motores mais potentes, refazendo-se o item anterior.

    Entre os motores que atenderam ao desempenho almejado escolhe-se aquele mais satisfatrio, levando-se em considerao: a confiabilidade do motor; seu preo; seu consumo; sua relao entre potncia e peso; o atendimento ao cliente ps-compra; etc.

    Vale a pena comentar que o aumento de da razo potncia e peso da aeronave melhora o

    desempenho da aeronave e, em contrapartida, aumenta o seu custo operacional.

    Materiais e processos

    Para a definio de materiais e processos construtivos, os seguintes tipos bsicos de

    construo devem ser considerados: em madeira; em trelia de tubos; em alumnio; em

    materiais compostos; e mista.

    Equipamentos e instrumentao

    A escolha da instrumentao e dos demais equipamentos que comporo o quadro da

    aeronave deve ser norteada pela misso do modelo. Os instrumentos bsicos para um vo de

    segurana nunca devem ser negligenciados no projeto (medidores, controles, comunicao,

    etc.). Os equipamentos de segurana tambm recebem a devida importncia (extintores, cintos

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 28

    de segurana, para quedas, materiais de sobrevivncia, etc.). Existe uma srie de equipamentos

    que sero utilizados no modelo real de acordo com as exigncias dos tripulantes e de novas

    misses, convm lembrar que a instrumentao perfaz uma parcela considervel do custo de

    uma aeronave de pequeno porte.

    3.1.3 Anteprojeto

    3.1.3.1 Esboo inicial

    Uma vez cumpridas as etapas anteriores, inicia-se o desenho bsico da aeronave em trs

    vistas: lateral, em planta e frontal. Este conjunto tecnicamente conhecido como as trs vistas

    da aeronave.

    O primeiro passo executar, mo livre, um esboo das trs vistas, que ser modificado

    reiteradas vezes. No caso de aeronaves leves, recomenda-se que o esboo seja iniciado pelo

    desenho do piloto (aquele de estatura mais elevada). Inicia-se pela vista lateral.

    Em seguida estabelece-se um espao para curso dos pedais. Tal espao, no caso de

    motor dianteiro, ter como limite frente a parede de fogo. Acrescenta-se, em seguida, o espao

    para o cofre do motor, respeitando-se inclusive os espaos necessrios para desmontagem de

    suas partes, como os magnetos e carburadores, que s vezes necessitam de remoo para

    manuteno.

    Desenham-se as primeiras linhas de contorno da fuselagem. Neste ponto, deve-se prever

    o posicionamento da asa e, especialmente, da longarina, evitando-se conflito da mesma com os

    tripulantes.

    Coloca-se o painel a uma distncia de alcance cmoda para a tripulao. Traa-se o

    restante do contorno da aeronave buscando-se, intuitivamente, um equilbrio tanto em

    centragem quanto em esttica. Neste ponto j devem aparecer esboados as empenagens,

    canopy e o restante da asa, completando-se a vista lateral.

    Conforme j mencionado, este esboo deve ser retrabalhado tantas vezes quantas

    necessrias, at se chegar a propores convenientes e, ao mesmo tempo, com aspecto esttico

    satisfatrio.

    Terminada a vista lateral, passa-se a elaborar a vista em planta da aeronave. A vista em

    planta conjugada vista lateral e nesta so definidas, especialmente, as formas em planta da

    asa, da empenagem horizontal e da fuselagem. Cuidado especial deve ser dedicado largura da

    cabine, resguardando a ergonomia da mesma.

    Na elaborao das trs vistas, alguns detalhes, muito importantes para o desempenho da

    aeronave devem seguir uma orientao cientfica, quais sejam: forma do spinner; adelgaamento

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 29

    da fuselagem; interseo entre asa e fuselagem; entrada de ar de arrefecimento; juno entre

    empenagem e fuselagem; e posio e geometria do canopy.

    3.1.3.2 Estimativa de peso (resizing)

    O refinamento da estimativa do peso vazio da aeronave feito atravs de estimativas

    dos diversos pesos de todos os seus componentes, conforme o seguinte processo:

    A partir do valor de peso, obtido no ciclo anterior, faz-se uma estimativa dos pesos dos componentes da aeronave.

    Somam-se os pesos dos componentes para se ter a estimativa do peso vazio da aeronave neste novo ciclo.

    Compara-se o novo valor do peso ao antigo. O valor do peso vazio deve ser corrigido, alterando-se a carga til na medida do necessrio e de acordo com a convenincia, at que ele coincida com o novo peso calculado.

    Nos itens do algoritmo acima, para se estimar o peso das asas, da fuselagem e da

    empenagem horizontal, Pazmany (1963) sugere o uso das frmulas e dos bacos desenvolvidos

    por K. L. Sanders.

    3.1.3.3 Propores gerais

    Entende-se por uma aeronave com boas qualidades de vo aquela que oferece segurana

    operacional e seja fcil e agradvel de pilotar. Assim, uma aeronave com boas qualidades de

    vo exige foras suaves do operador para realizar manobras e responde de um modo previsvel

    aos comandos. sabido que, enquanto algumas aeronaves apresentam qualidades de vo no

    mais elevado grau, outras so consideradas marginais, de difcil pilotagem.

    As qualidades de vo esto ligadas s estabilidades esttica e dinmica (longitudinal

    direcional e lateral), s foras nos comandos para vo equilibrado e para manobras, s

    velocidades de rotao no rolamento, tangagem e glissagem. Deve haver uma proporo

    harmoniosa entre as foras nos comandos primrios: no rolamento, fora no manche

    proporcional a 1; na tangagem, fora no manche proporcional a 2; na glissagem, fora nos

    pedais proporcional a 3.

    Quanto s foras nos comandos, se a variao de fora no manche por "g" for muito

    alta, ocorrer cansao excessivo do piloto. Caso contrrio, se for muito baixa, poder ocorrer do

    piloto, inadvertidamente, aplicar, com pouca fora, uma carga excessiva na estrutura da

    aeronave.

    Visando-se obter uma aeronave com boas qualidades de vo, terminado o esboo

    inicial, conveniente fazer um estudo comparativo da proporcionalidade das dimenses bsicas

    da aeronave em desenvolvimento. Para isso, selecionam-se as aeronaves cujas formas mais se

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 30

    aproximam da aeronave em desenvolvimento e que sejam, reconhecidamente, detentoras de

    boas qualidades de vo.

    Em seguida, elaboram-se tabelas contendo as principais propores geomtricas destas

    aeronaves e as respectivas propores da aeronave em desenvolvimento. Na medida em que

    houver desproporo, volta-se ao esboo inicial, fazendo-se as modificaes convenientes.

    Barros recomenda que as seguintes propores sejam analisadas: razo entre o brao da

    empenagem horizontal e a corda mdia geomtrica da asa; razo entre o brao da empenagem

    vertical e a envergadura da asa; razo entre o comprimento da fuselagem e a envergadura da

    asa; razo entre as envergaduras da empenagem horizontal e da asa; razo entre a corda da raiz

    da asa e o comprimento da fuselagem; razo entre a rea do profundor e a rea da empenagem

    horizontal; e razo entre a rea do leme e a rea da empenagem vertical.

    3.1.3.4 Estabilidade e controle

    As geometrias das empenagens so preliminarmente estabelecidas utilizando-se os

    seguintes os de estabilidade: volume de cauda horizontal; e volume de cauda vertical.

    A partir de uma tabela comparativa contendo os respectivos valores de volumes de

    cauda das aeronaves mais competitivas, faz-se uma escolha judiciosa de qual valor adotar como

    a estimativa preliminar.

    Quanto menores forem os volumes de cauda escolhidos, menores sero os arrastos das

    empenagens e, portanto, menor o arrasto total da aeronave e melhor o seu desempenho

    aerodinmico. Em contrapartida, piores sero as condies de estabilidade e controle,

    especialmente no pouso e na decolagem. O raciocnio se inverte com de volumes de cauda

    maiores.

    3.1.3.5 Perfis da asa

    Duas filosofias de projeto podem ser apontadas. A primeira, considerada a melhor

    opo at o final da dcada de 80, adota asas mais afiladas com perfis diferentes na raiz e na

    ponta. A segunda, adotada por alguns projetistas na dcada de 90, adota asas menos afiladas

    com um nico perfil da raiz at a ponta.

    A primeira opo permite obter asas com bom desempenho aerodinmico e

    estruturalmente mais adequadas. So consideradas esteticamente mais aceitveis. Adotam dois

    perfis para contornar as dificuldades de estol comuns nas asas mais afiladas. So

    construtivamente mais complexas.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 31

    A segunda opo construtivamente mais simples. Como as asas so, neste caso, menos

    afiladas, as dificuldades com estol tornam-se pequenas, permitindo utilizao de um nico perfil

    sobre toda a envergadura com desempenho aerodinmico, em mdia, superior primeira.

    Uma vez escolhida a opo a ser adotada no projeto da aeronave, a escolha dos perfis

    das asas depender da misso prioritria da aeronave. Uma vez definido o parmetro a ser

    priorizado, deve-se calcular o nmero de Reynolds para a raiz e para a ponta da asa. No caso de

    se adotar a opo de um nico perfil para a asa, deve-se calcular o nmero de Reynolds para a

    sua corda mdia geomtrica.

    3.1.3.6 Perfis da empenagem

    Nos aspectos gerais, a escolha dos perfis das empenagens segue a mesma orientao das

    asas. Comumente so usados perfis simtricos, turbulentos ou laminares, com espessura relativa

    variando entre 6% e 12%. No caso de empenagens em T, por questes estruturais, a espessura

    relativa da empenagem vertical muitas vezes se estende at 15%.

    s vezes, quando os perfis da asa apresentam valores altos do coeficiente de momento

    aerodinmico utiliza-se, na empenagem horizontal, perfis assimtricos colocados na situao

    invertida (extradorso como superfcie inferior). Em casos extremos, adiciona-se a isso, slots no

    bordo de ataque da empenagem horizontal.

    Um parmetro aerodinmico que pode ser utilizado na escolha do perfil das empenagens

    a inclinao da curva de sustentao, que deve ser maximizada, para permitir empenagens

    menores. importante, contudo, examinar este parmetro para os nmeros de Reynolds

    calculados para as cordas mdias das empenagens.

    3.1.3.7 Passeio do centro de gravidade

    A posio do centro de gravidade da aeronave importante para a sua pilotagem.

    Quanto mais a frente estiver o centro de gravidade, maiores sero as deflexes do profundor e a

    fora no manche necessrias para vo equilibrado, bem como as deflexes e foras para efetuar

    manobras longitudinais.

    Para posies do centro de gravidade excessivamente frente, o profundor poder no

    apresentar autoridade suficiente para levantar o nariz da aeronave durante o pouso, podendo

    provocar acidentes. Por outro lado, quanto mais para trs o centro de gravidade, menores sero

    as deflexes do profundor e as foras no manche necessrias para equilbrio e manobras

    longitudinais.

    Para posies do centro de gravidade excessivamente recuadas, o piloto com pequenas

    foras ou deflexes no comando poder, inadvertidamente, induzir solicitaes excessivas na

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 32

    estrutura da aeronave ou, no caso de curvas a baixa velocidade, induzir a aeronave ao parafuso

    chato com conseqncias desastrosas. Em casos extremos poder ocorrer perda de estabilidade

    com o fenmeno de reverso de comandos, no qual as aes do manche para cabrar ou picar a

    aeronave ficam invertidas.

    Considerando que as aeronaves operam com cargas variveis (tripulantes, bagagem,

    combustvel, etc.), a posio do centro de gravidade (CG) diferente para cada vo. Mesmo

    durante o vo, alteraes na posio de passageiros e no volume de combustvel provocam

    alteraes na posio do centro de gravidade. Assim, atravs da simulao de todas as situaes

    possveis, estima-se o passeio do centro de gravidade, ou seja, a sua posio crtica mais

    dianteira e a mais traseira.

    Quanto menor o passeio do centro de gravidade (mais prximos os limites dianteiro e

    traseiro), menor poder ser o volume de cauda horizontal e, em particular, a rea da empenagem

    horizontal. Como conseqncia, menor ser o arrasto aerodinmico e o peso da empenagem

    horizontal. Em contrapartida, menor ser a flexibilidade de variao no posicionamento das

    cargas mveis.

    Estimativa do passeio do centro de gravidade

    Para estimar o passeio do centro de gravidade, devem-se decompor as cargas da

    aeronave em fixas e variveis. As fixas compem a aeronave vazia (bsica) e as variveis so

    aquelas correspondentes aos tripulantes, combustvel, bagagens, etc. Elabora-se uma vista

    lateral da aeronave identificando-se os diversos componentes com seus pesos e distncias dos

    seus centros de gravidade a um plano de referncia.

    Considerando a parcela fixa do peso da aeronave aplicado em um centro de massa e a as

    posies crticas (mais a frente e mais a r) de todas as cargas variveis possvel chegar nos

    limites a frente e a r do passeio do centro de gravidade. Normalmente, os limites do passeio do

    centro de gravidade obtidos em relao ao plano de referncia so expressos em percentuais da

    corda mdia aerodinmica da asa.

    Um valor seguro para o passeio do centro de gravidade, entretanto, s ser

    definitivamente determinado, aps os clculos de estabilidade e controle longitudinais,

    efetuados na fase de Projeto.

    3.1.3.8 Modelo da cabine

    A complexidade da cabine, com todos os seus aspectos ergonmicos, torna praticamente

    necessria a construo de um modelo em escala natural da cabine, chamado mock-up.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 33

    O mock-up no necessita ser uma reproduo exata da cabine com revestimento e

    pintura, mas precisa conter em escala natural todos os comandos ou dispositivos que possam

    interferir na ergonomia da mesma. Recomenda-se que o mock-up contenha sees reproduzindo

    um corte lateral, um corte em planta e cortes frontais. Os cortes frontais normalmente so feitos

    em estaes na regio de acomodao dos tripulantes.

    Em fase posterior do projeto, o mock-up poder ser utilizado tambm para verificao

    dos mecanismos dos comandos.

    3.1.3.9 Modelagem da fuselagem

    A modelagem da fuselagem deve seguir os seguintes critrios: produzir o menor arrasto

    aerodinmico possvel; proporcionar rigidez estrutural na ligao entre os elementos da

    aeronave; acomodar os equipamentos e controles da aeronave; seguir uma esttica agradvel

    dentro da misso da aeronave; e permitir fcil manuteno como limpeza e pintura.

    3.1.3.10 Configurao externa

    Realizadas todas as atividades anteriores, necessrio verificar a coerncia das

    estimativas feitas. No caso de se detectar alguma inconsistncia deve-se retornar aos itens

    correspondentes, refazendo-se as estimativas quantas vezes forem necessrias, at que a

    consistncia seja plena.

    Posteriormente, durante a fase de Projeto Detalhado, ao se efetuarem clculos de

    desempenho, estruturais, de estabilidade e controle etc., novas alteraes podero ser

    necessrias.

    3.1.4 Projeto

    Concludo o Anteprojeto inicia-se o Projeto Detalhado que consiste em realizar todos os

    clculos necessrios, detalhamentos de componentes, desenhos em escala apropriada para

    fabricao, elaborao do relatrio final do projeto e da programao de ensaios no solo.

    3.1.4.1 Clculo de desempenho aerodinmico

    Os clculos aerodinmicos e de desempenho podem ser resumidos nos seguintes itens:

    determinao da polar de arrasto; determinao das curvas de potncia disponvel e potncia

    requerida; determinao da curva de razo de subida; determinao das curvas de alcance e de

    autonomia em funo da velocidade; determinao dos principais parmetros de desempenho

    aerodinmico.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 34

    3.1.4.2 Clculo de estabilidade e controle

    As superfcies aerodinmicas de controle da aeronave devem ser adequadamente

    defletidas para equilibrar a aeronave durante o vo (anular o momento resultante em tomo dos

    seus eixos). Assim, importante obter os valores de deflexo e fora nos comandos (manche e

    pedais) necessrios para pilotar a aeronave.

    As deflexes de comando, por sua vez, so limitadas pelas correspondentes deflexes

    das superfcies aerodinmicas. Para deflexes muito acentuadas, as superfcies aerodinmicas de

    controle deixariam de proporcionar o efeito esperado. Normalmente, as deflexes mximas no

    devem ultrapassar 30 (o valor exato vai depender do perfil adotado).

    Tambm, necessrio evitar que o piloto faa foras exageradas durante o vo. Para

    isso as normas estabelecem dois limites: o limite de fora contnua, que deve ser respeitado nas

    situaes de vo prolongado (vo de cruzeiro, por exemplo); e o limite de fora temporria, que

    deve ser obedecido durante algumas manobras ou situaes de curta durao.

    Para avaliar a estabilidade direcional e as deflexes do leme e foras nos pedais

    necessrias para manter a glissada ou enfrentar ventos de travs, pode-se utilizar o procedimento

    descrito em Morelli (1976).

    Parafuso e rolamento

    Uma aeronave em operao normal, principalmente em curvas de mdia e grande

    inclinao a baixas velocidades, corre o risco de entrar, involuntariamente, em parafuso. Caso

    no se tenha condio de restabelecer a atitude da aeronave, o acidente ser inevitvel. Portanto,

    no projeto de uma aeronave, fundamental verificar se possvel restabelecer a atitude de uma

    aeronave em parafuso. Para verificar esta capacidade, Raymer (1989) recomenda calcular o

    parmetro TDPF (Tail Damping Power Factor) definido em Bowman (1971).

    Alm disso, recomenda-se avaliar a mxima velocidade de rolamento da aeronave, a

    qual pode ser obtida conforme Morelli (1976). O valor calculado deve ser compatvel com os de

    aeronaves similares.

    3.1.4.3 Clculo de cargas

    Baseado nos fatores de carga limites para a aeronave, estabelecidos pelos requisitos

    (JAR-VLA, FAR, Part 23, etc.), de acordo com a misso tpica, devem-se elaborar os diagramas

    de velocidade e fator de carga de manobra, de rajada e combinado. Este processo chamado de

    determinao do envelope de vo.

    Alm disso, para o dimensionamento estrutural da aeronave necessrio considerar as

    vrias alternativas de carregamento s quais ela estar sujeita.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 35

    Durante a operao ocorrem quatro tipos de cargas: cargas aerodinmicas; pesos; cargas

    inerciais; e cargas de reao com o solo.

    As cargas aerodinmicas so provocadas pelo escoamento do ar na superfcie externa da aeronave (so predominantes nas asas e nas empenagens).

    Os pesos, conseqncia da atrao gravitacional, esto distribudos ao longo da estrutura da aeronave.

    As cargas inerciais se devem reao das massas dos componentes da aeronave s aceleraes impostas.

    As cargas de reao com o solo surgem como decorrncia do impacto do trem de pouso com o solo durante o pouso, a decolagem e o taxiamento.

    3.1.4.4 Dimensionamento estrutural

    O dimensionamento estrutural representa um dos itens mais trabalhosos do projeto e

    fundamental para a segurana do vo. Deve, portanto, ser cuidadosamente executado.

    Um ponto comum a todo dimensionamento estrutural de uma aeronave a utilizao de

    dois fatores de segurana: o bsico e o de qualidade. Assim, as cargas para dimensionamento

    (Qd) devem ser obtidas atravs da expresso.

    FQFSQQd = 1 onde Q1 representa a carga limite, FS denota o fator de segurana e FQ, o de qualidade.

    A carga limite (Ql) a mxima prevista para ocorrer em vo (obtida para cada

    componente).

    O fator de segurana bsico (FS) imposto por norma. Tanto o JAR-VLA quanto o Part

    23 estabelecem FS = 1,5.

    O fator de qualidade (FQ) varia de acordo com o material estrutural utilizado e com o

    componente em considerao.

    Para o dimensionamento dos elementos estruturais, recomenda-se a seguinte

    bibliografia bsica:

    Bruhn (1965), Peery (1950) e Megson (1972) para os clculos estruturais propriamente ditos.

    Silva Jr. (1962) e Albuquerque (1980) para dimensionamento de mecanismos em geral. No caso especfico de longarinas em madeira, recomenda-se utilizar tambm Brotero et

    al. (1941). Para estruturas em materiais compostos recomenda-se utilizar tambm Verein Deutcher

    Ingenieure (1970) ou Ho1lmann (1996).

    3.1.4.5 Desenhos detalhados

    Por fim, os desenhos e relatrios do projeto da aeronave devem satisfazer as exigncias

    normativas, uma vez que devero ser apresentados para homologao.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 36

    Alm disso, um bom relato de projeto, devidamente registrado e desenhado, torna-se a

    melhor base de dados para desenvolvimentos futuros.

    3.2 Metodologia de projeto de Barros aplicada ao projeto do AeroBote

    Nesta seo a metodologia de projeto de Barros, apresentada e comentada

    anteriormente, aplicada s necessidades de projeto do AeroBote. Como mencionado, alguns

    pontos sero negligenciados, outros alterados e outros ainda introduzidos.

    3.2.1 Especificaes e requisitos

    3.2.1.1 Finalidade da aeronave

    Aeronave com finalidade aerodesportiva, de lazer, instruo bsica de vo.

    Caractersticas: vo solo ou at dois tripulantes em tandem, operao de pouso e decolagem na

    gua, asa desmontvel, bote inflvel, possibilidade para ser rebocada por um automvel.

    3.2.1.2 Misses tpicas

    O AeroBote projetado para satisfazer as seguintes misses de operao:

    Partida Taxiamento (na gua) Decolagem Subida altitude de operao Navegao de cruzeiro Descida normal Trfego e aproximao Pouso

    3.2.1.3 Desempenho

    Previses de desempenho apresentadas na Tabela 3.1.

    Tabela 3.1 Previses de desempenho para o AeroBote Peso mximo ao decolar 450Kg Velocidade de cruzeiro 70Km/h Autonomia (120Km) 2h a 3h Velocidade ao decolar 40Km/h Capacidade do tanque 30L Velocidade de estol 35Km/h Capacidade do tanque 30L Velocidade nunca exceder 100Km/h Espao para decolagem 80m Mxima razo de planeio 7:1 Espao para pouso 100m Fator de carga +5G 3G

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    Gustavo ssi Fernando Bresslau 37

    3.2.1.4 Caractersticas pretendidas

    Deve ser uma aeronave de simples construo e manuteno, podendo ser montada em

    poucos minutos antes do vo. Seu custo final ao consumidor no deve exceder R$20.000,00

    (estimado no ano de 2003 para venda em So Paulo - SP).

    3.2.1.5 Requisitos

    O AeroBote deve satisfazer as exigncias da legislao brasileira para operao de

    aeronaves desportivas ultraleves. Por isso, enquadra-se sob a portaria normativa do

    Departamento de Aviao Civil (DAC N 927/DGAC). Os pontos de destaque da legislao

    vigente so apresentados no Anexo 02.

    3.2.1.6 Filosofia do projeto

    Por se objetivar uma aeronave de baixssimo custo, principalmente o custo operacional,

    de manuteno simples, fcil montagem e desempenho satisfatrio, decide-se pela filosofia de

    soluo mnima.

    3.2.2 Estudos preliminares

    3.2.2.1 Lista de prioridades

    Classificada como uma aeronave de vo lento, e desempenho do AeroBote pode ser

    sobrepostos por sua facilidade de construo. Resumidamente, o projeto prioriza as

    caractersticas escalonadas a seguir, em detrimento s que dificultam ou encarecem o projeto.

    1. Projeto visando facilidade construtiva 2. Projeto visando facilidade de manuteno 3. Projeto visando facilidade de transporte (entre oficina e pista de pouso)

    3.2.2.2 Mtodos comparativos

    Diversos mtodos de comparao entre aeronaves semelhantes podem ser utilizados

    para se obter a ordem de grandeza dos parmetros iniciais do AeroBote. No Grfico 3.1

    apresenta-se apenas uma comparao realizada entre aeronaves semelhantes.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 38

    Grfico 3.1 Aeronaves semelhantes: Velocidades X rea de asa

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    10 15 20 25

    rea da asa (m2)

    Velo

    cida

    de (m

    /s)

    Mnima Mxima Cruzeiro

    3.2.2.3 Delimitao do projeto

    Configurao externa

    Dois tripulantes em tandem. Asa delta alta sobre a estrutura tubular. Bote inflvel abaixo sem trem de pouso para operao no solo (esta opo pode ser

    instalada em projetos futuros ou em adaptaes). Leme para controle do bote na gua. Grupo propulsor impulsor preso a estrutura atrs dos tripulantes. Tanque de combustvel abaixo do motor, prximo ao piso do bote. Canopy transparente.

    Configurao interna

    Painel de instrumentos frente do bote sob o canopy. Barra de controle com movimentao livre acima do canopy. Assentos dos tripulantes em tecido de baixo peso, sem regulagens.

    Ergonomia aplicada O AeroBote ser pilotado pelo tripulante da frente. Ele deve ter liberdade para

    movimentar a barra de sem tocar na estrutura, canopy ou no outro passageiro. Ambos devem ter viso ampla a fim de proporcionar um vo panormico prazeroso. Alm disso, o piloto deve ter viso livre para os instrumentos no painel.

    O tripulante de trs ficar mais alto que o piloto, de modo que a cabea do tripulante da frente fique na altura do peito do passageiro. O Piloto sentar entre as pernas do passageiro de trs.

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    Dimensionamento bsico (sizing)

    Seguindo a ordem de grandeza das aeronaves semelhantes, o AeroBote ter as

    dimenses bsicas como apresentadas nas tabelas abaixo. No caso do bote, pretende-se seguir as

    dimenses dos modelos inflveis disponveis no mercado. As dimenses finais, definidas nos

    ciclos seguintes da espiral de projeto, sero apresentadas nos desenhos de documentao do

    projeto.

    Tabela 3.2 Ordem estimada das dimenses do bote Comprimento externo 3,5m Largura externa 2,0m Comprimento interno 2,5m Largura interna 0,8m Dimetro dos flutuadores 0,5m Peso total 70kg

    Tabela 3.3 Ordem estimada das dimenses da asa Envergadura 10,0m Razo de planeio 7:1 Corda na raiz 3,0m Nervuras 20 Superfcie alar 22m2 Razo de aspecto 5,0 Pano duplo na vela 40% Peso total 60kg

    Tabela 3.4 Estimativas de carregamentos e potncia Peso vazio 200kg Carga alar 20kg/m2 Peso mdio em cruzeiro 400kg Potncia do motor 54HP Peso mximo na decolagem 450kg

    Escolha do motor

    O mercado de motores aeronuticos de pequeno porte, especialmente desenvolvidos

    para aviao leve e ultraleve, liderado pelo fabricante austraco Rotax Motors Co. Os modelos

    mais utilizados so apresentados na Tabela 3.5.

    Tabela 3.5 Motores Rotax empregados na aviao leve Rotax 447 40 HP Rotax 618 UL 74 HP Rotax 503 (B e C) 47 a 54 HP Rotax 912 (UL e S) 80 e 100 HP Rotax 582 (c e E) 64 HP Rotax 914 115 HP

    Dentre os motores citados acima, escolhe-se o modelo Rotax 503 de 54HP com base na

    anlise de aeronaves semelhantes. Vale destacar que este motor possui baixo custo relativo e

    requer pouca manuteno. Os cdigos B e C referem-se ao tipo de caixa de reduo. Os dados

    tcnicos do motor escolhido so apresentados no Anexo 01. A Figura 3.3 apresenta o motor

    selecionado.

  • AeroBote: Projeto de um ultraleve pendular

    Gustavo ssi Fernando Bresslau 40

    Figura 3.3 Motor selecionado: Rotax 503

    Materiais e processos

    O AeroBote deve ser construdo com materiais de baixo custo sem a necessidade de

    ferramental pesado. Um bom parmetro comparativo neste item so os home-built kits de

    aeronaves ultraleves desportivas. Neste projetos o entusiasta capaz de montar sua prpria

    aeronave seguindo um projeto detalhado de construo.

    O bote inflvel de borracha, reforado com fundo em fibra de vidro e espuma de

    poliuretano, uma adaptao de modelos disponveis no mercado. A princpio dois fabricantes

    possuem botes adequados para vo no AeroBote: Flexboat e Arboat, ambas do estado de So

    Paulo.

    A estrutura tubular deve ser de ao com juntas soldadas. A asa delta ser adaptada dos

    modelos empregados nos trikes terrestres. Um fabricante recomendado: