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Fundação Padre Libério Instituto de Filosofia – Seminário Diocesano São José – Divinópolis - MG Thiago Jardel Alves Pinto THEODOR WIESENGRUND ADORNO E A CRISE DE VALORES

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Fundação Padre Libério

Instituto de Filosofia – Seminário Diocesano São José – Divinópolis - MG

Thiago Jardel Alves Pinto

THEODOR WIESENGRUND ADORNO E A CRISE DE VALORES

DIVINÓPOLIS – MG2008

Fundação Padre Libério

Instituto de Filosofia – Seminário Diocesano São José

Thiago Jardel Alves Pinto

THEODOR WIESENGRUND ADORNO E A CRISE DE VALORES

Monografia apresentada à Coordenação Pedagógica do Curso de Filosofia do Instituto Padre Libério do Seminário Diocesano São José, como requisito parcial à obtenção do Certificado de Bacharel em Filosofia.

Orientador: Prof. Doutor José Geraldo Pedrosa

DIVINÓPOLIS – MG

1

2008

Fundação padre LibérioAv. Presidente Vargas, 372 – Centro – CEP 35 661-000 – Pará de Minas – MG – Tel: (37)3236-0101

Instituto de FilosofiaRua Lagoa da Prata, 291 – Belvedere II – CEP 35 501-351 – Divinópolis – MG – Tel: (37)3214-2636

Monografia intitulada “Theodor Wiesengrund Adorno e a Crise de Valores”, de autoria do graduando Thiago Jardel Alves Pinto, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

Prof. Doutor José Geraldo Pedrosa – OrientadorInstituto de Filosofia – Seminário Diocesano São José

Profa. Mestranda Regina Célia Vaz Ribeiro GonçalvesInstituto de Filosofia – Seminário Diocesano São José

Parecer Nota

Professor Mestre Pe. José Carlos de Souza Campos Coordenador Pedagógico

Instituto de Filosofia – Seminário Diocesano São José

Divinópolis,.............de..................................de 200....

2

A DEUS POR TUDO E POR TODOS

QUE ME TEM CONCEDIDO.

3

AGRADECIMENTO

A todos que participaram diretamente ou indiretamente na confecção deste trabalho.

4

“... uma sociedade emancipada não seria nenhum Estado

unitário, mas a realização efetiva do universal na

reconciliação das diferenças.” (ADORNO)

5

RESUMO

A crise de valores é uma realidade. Ao tomar parte desta, retira a propriedade essencial do ser:

a de constituir-se como alguém, dono do que lhe é imanente, a liberdade. Esta se restringe à

ordem controladora que reduz o indivíduo a mero objeto dos interesses capitais de uma

minoria. O desenvolvimento econômico destaca-se em relação ao crescimento pessoal do

indivíduo. Para facilitar o controle social, o capitalismo cria artimanhas que geram

necessidades no ser para a sua sobrevivência num mundo declarado às leis do mercado. Na

vida diária não é permitido ao sujeito pensar e refletir a sua existência, pois vive preso e

dominado. Sentindo-se incapacitado e temeroso, adapta-se às idéias capitais contemporâneas,

ao consumismo deliberado, individualismo, à desconfiança exacerbada no ato gratuito e

outras situações peculiares decorrentes do apelo ao acúmulo de capital no qual estamos

inseridos. O capitalismo é algo inapropriado que absorve o ser alienado e a filosofia é um dos

meios responsáveis pelo esclarecimento do sujeito.

6

RESUMEN

La crisis de valores es una realidad. Al tomar parte de esto, quita la propiedad esencial de ser

el uno de constituir como alguien, dueño que es el inmanente, la libertad. Este limita al orden

controladora que reduce al indivíduo al mero objeto de los intereses capitales de una minoría.

El desarrollo económico destaca en relación al crecimiento personal del individuo. Para

facilitar el control social, el capitalismo crea trucos que generan necesidades en el ser para la

su supervivencia en un mundo declarado a las leyes del mercado. En la vida diaria no se

permite al sujeto pensar y reflejar su existencia, pues vive preso y dominado. Sintiendo

inválido y temeroso, adapta a las ideas capitales contemporáneas, al consumismo deliberado,

individualismo, a la desconfianza exacerbada en el acto gratuito y otras situaciones peculiares

transcurridas del apelación a el acumulación del capital en que nosostros nos insertamos. El

capitalismo es algo inapropiado que absorbe al ser alienado y la filosofía es uno de los medios

responsables para la explicación del sujeto.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................09

1 A ESCOLA DE FRANKFURT E THEODOR ADORNO...............................................11

1.1 Contextualização...............................................................................................................14

1.2 Considerações da Teoria Crítica sobre a Filosofia Precedente.....................................17

2 THEODOR WIESENGRUND ADORNO E A CRISE DE VALORES.........................19

2.1 Mentira, Casamento, Moradia, Gratuidade...................................................................21

2.2 Moral, Fama, Preconceito, Amizade...............................................................................23

2.3 Família, Lugar da Sátira na Sociedade Total, Felicidade, Trabalho, Teses Contra o

Ocultismo.................................................................................................................................25

3 PENSAMENTO DE ADORNO NA CENA CONTEMPORÂNEA................................28

3.1 Grupos de Pesquisas.........................................................................................................32

CONCLUSÃO.........................................................................................................................37

REFERÊNCIAS......................................................................................................................38

ANEXOS..................................................................................................................................39

8

INTRODUÇÃO

Esta monografia aborda idéias de Theodor Wiesengrund Adorno a partir da obra Minima

Moralia acerca da Crise de Valores. Algumas idéias desse filósofo estão nesta exibidas, no

que diz respeito à perda morosa da individualidade para o sistema no qual estamos inseridos e

suas demais conseqüências que danificam a vida cotidiana.

Theodor Wiesengrund Adorno propõe em sua obra uma visualização da realidade que se

encontra fragmentada em seu ver, desenvolvendo-a no decurso de situações da vida cotidiana.

Com base nas leituras realizadas, esta monografia tem como intuito refletir sobre alguns

aforismos de Minima Moralia e posteriormente citar algumas iniciativas às quais ocorrem no

meio acadêmico e em outros cujos trabalhos demonstram resistência ao sistema regido pela

obtenção de lucro.

Vivemos num tempo em que prevalece a força do capital e os valores morais situam-se

enquanto segunda importância na sociedade. Mesmo aqueles que correspondem à ordem,

bem-estar e felicidade das pessoas estão perdendo seus devidos lugares. Já as motivações que

beneficiam o crescimento financeiro estão se tornando recursos indispensáveis desdenhando

aquilo que se refere à vida singular, ao desenvolvimento individual e à realização de cada ser

humano. O tema abordado obtém importância porque considera a realidade enquanto tal e

possibilita a reflexão fundada em idéias pertinentes do filósofo Adorno. Além de algumas das

suas considerações sobre a vida danificada, a presente monografia incita à resistência que

germina na consciência do indivíduo ampliando suas noções sociais.

Esta monografia utiliza algumas referências tais quais tratam de Adorno (1980, 1993, 1999),

Civita (1980), Mondin (1983), Assoun (1991), Reale e Antiseri (1991), Matos (1993), Carone

(2008), Moraes (2008), Pucci (2008), Silva (2008).

9

A primeira parte desta monografia conta o desenrolar filosófico frankfurtiano, o contexto em

que nasceu Adorno e como desenvolveu o pensamento desse importante filósofo

contemporâneo. Segue-se no segundo capítulo com o raciocínio adorniano baseado em

Minima Moralia em que estão citadas algumas situações da vida danificada cotidiana que

focalizam a anulação do indivíduo. A terceira parte explana atividades na atualidade que

utilizam essa temática como meio de promover a formação e reflexão de educadores e

educandos.

10

1 A ESCOLA DE FRANKFURT E THEODOR ADORNO

A Escola de Frankfurt foi criada em 1924 por iniciativa de Félix Weil (FIG.1-ANEXO A),

filho de um negociante de grãos de trigo na Argentina. A escola já foi denominada de Instituto

para o Marxismo e Instituto para a Pesquisa Social seja pelo anticomunismo ou pelo fato dos

colaboradores não adotarem o espírito marxista em sua totalidade.

O movimento que estava surgindo preenchia um vazio existente na universidade alemã no que

se refere à história do movimento trabalhista e do socialismo. Carl Grumberg, foi seu primeiro

diretor de 1923 a 1930. Horkheimer a partir de 1931 pôde exercer a função de diretor que se

associava à universidade de Frankfurt. Nesse período, o Instituto ganhou feições de escola e

elaborou um programa que passou para a história das idéias com o nome de Teoria Crítica da

Sociedade.

Max Horkheimer, em 1937, publica um ensaio-manifesto chamado "Teoria Tradicional e

Teoria Crítica”. Nesse, o autor utiliza elementos das teorias tradicionais para explicar o

funcionamento da sociedade e a formação de classes, a formação do indivíduo enquanto

elemento que constitui o corpo social e outras problemáticas que desenvolveu ao longo de seu

estudo.

Na visão de Horkheimer, a Teoria Crítica da Sociedade surgiu para dar coragem a uma teoria

que considerasse a sociedade num todo e que fosse crítica. Theodor Adorno, citado por Reale

e Antiseri, (1991, p.839) expondo sobre a Teoria Crítica, afirma que:

[...]pretende ser uma compreensão totalizante e dialética da sociedade humana em seu conjunto e, para sermos mais exatos, dos mecanismos da sociedade industrial avançada, a fim de promover sua transformação racional que leve em conta o homem, sua liberdade, sua criatividade, seu desenvolvimento harmonioso em colaboração aberta e fecunda com os outros, ao invés de um sistema opressor e sua perpetuação.

11

As hipóteses teóricas da Escola de Frankfurt estenderam-se a diversas áreas das relações

sociais, entre elas a Comunicação Social, o Direito, a Psicologia, a Filosofia, a Antropologia,

entre outras. A linguagem usada pela Escola de Frankfurt se define mais por aforismos,

artigos de circunstância e ensaios do que o formato clássico do livro, justamente como

tentativa de a partir de mínimas situações destacar a postura do indivíduo, seja para considerá-

lo ou retratá-lo historicamente.

Horkheimer, Theodor W. Adorno (FIG.2-ANEXO B), Herbert Marcuse, Walter Benjamin,

Leo Lowenthal, Franz Newmann, Erich Fromm, Otto Kirckkeimer, Friedrick Pollock e Karl

Wittfogel são os principais expoentes da Escola de Frankfurt. Dentre os filósofos

frankfurtianos, o principal a ser lembrado neste estudo é Theodor Wiesengrund Adorno que

nasceu em 1903, em Frankfurt, filho de pai alemão e mãe italiana. Adorno vinha de um meio

de grandes musicistas, daí seu interesse pela estética musical, estudos sobre a arte.

Em 1924, defendeu a tese cujo nome é a transcendência do objetal e do noemático na

fenomenologia de Husserl. No respectivo ano de 1925, Adorno mudou-se para Viena. Sua

permanência em Viena terminou em 1928 quando retornou a Frankfurt. Nessa época já

conhecia Horkheimer.

Com a chegada de Hitler ao poder na Alemanha, o Instituto, que constituía de membros em

sua maioria judeus além de possuírem explícita linha marxista de análise, apesar de não

ficarem estagnados nas reflexões de Marx, tiveram que mudar para Genebra, posteriormente

Paris e a universidade de Columbia em Nova Iorque. A primeira obra agremiada dos

frankfurtianos são os estudos sobre Autoridade e Família realizados na França, estritamente

em Paris, onde elaboraram um diagnóstico da segurança proporcionada à realidade social

burguesa no que diz culturalmente e socialmente.

Os filósofos da Teoria Crítica pretendem criar no indivíduo uma resistência que seja capaz de

redescobrir o valor da autenticidade a cada dia não se submetendo às forças externas

totalitárias.

12

O dia jaz cada manhã, como uma camisa limpa sobre nosso leito; o tecido incomparavelmente fino, incomparavelmente denso, de limpa profecia, nos apresenta como uma luva. A felicidade das próximas vinte e quatro horas depende da maneira de apreendê-las no momento do despertar. (BENJAMIN apud MATOS, 1993, p. 68)

Theodor Adorno (FIG.3-ANEXO C) escreveu críticas sobre a sociedade tecnológica que

produz a barbárie, o capitalismo, a qual não é uma regressão a modos rudimentares da

humanidade, mas um produto do próprio progresso e da civilização. Com o fim da segunda

Guerra Mundial foi um dos que mais desejavam o retorno a Frankfurt, tornando-se diretor-

adjunto do Instituto.

Pouco depois da publicação da obra “Dialética Negativa” em 1966, Adorno vira o novo

diretor da Escola de Frankfurt. As rebeliões dos estudantes que marcaram o ano de 1968 em

quase todos os países fizeram com que Adorno ficasse em situação difícil. Era representante

da autoridade e por isso estava sendo contestado.

Como um dos autores da Teoria Crítica da Sociedade, esperava-se dele o anti-Autoritarismo e

a encarnação do anti-Estado, por isso o movimento estudantil acusou-o de estar do lado do

poder. Adorno morreu em 1969 na Suíça, no momento em que a editora Suhrkamp iniciava a

publicação de suas obras completas.

13

1.1 Contextualização

Os membros da Teoria Crítica presenciaram o início da revolução russa em 1917, o

aparecimento do regime fascista em 1919. Já no âmago alemão houve duas rebeliões

trabalhistas: a proclamação da república dando fim à dinastia da família Hohenzollern em

1918 e o motim de 1923 dos operários de Bremen abafado pelo Partido Socialista Alemão.

O proletariado criou conselhos de operários nas fábricas alemãs. Rosa Luxemburgo (FIG. 4-

ANEXO D) criou ao lado de Karl Liebknecht, Leo Jogiches, Clara Zetkin, Franz Mehring, a

Liga Spartacus e participou na dissidência dessa com o Partido Social-Democrata Alemão que

aprovara os créditos de guerra no parlamento alemão em 1914. Rosa Luxemburgo formou

isoladamente o Partido Social-Democrata Independente rompendo com este ulteriormente e

criando o Partido Comunista Alemão.

A doutrina luxemburguista ou espartaquista defendia a espontaneidade revolucionária das

massas a partir da teoria marxista em que a classe operária deveria emancipar-se. Rosa

concordava que a greve de massas seria o começo para a transformação socialista. Ela

defendia a república dos conselhos operários, estes que eram como formas de revoluções

operárias da sociedade comunista e do proletariado. Para a Liga Espartaquista, a revolução

resultava da ação das massas a fim de cumprir sua missão histórica e atender as necessidades

do povo. A revolução proletária não utilizava a violência. Durante a tentativa da Revolução

Alemã em 1919, Rosa Luxemburgo foi assassinada pelo exército alemão.

Segundo os Bolcheviques, integrantes da facção do Partido Operário Social-Democrata Russo

liderado por Vladimir Lênin, as revoltas na Alemanha não obtiveram sucesso devido ao

oportunismo da social-democracia que defendia seus próprios interesses, dissimulando,

portanto a sua participação no proletariado. Os Bolcheviques, ao contrário dos Mencheviques,

14

defendiam uma mudança radical política para seu povo a partir de uma revolução socialista

armada caso necessário.

Pode-se dizer que o Instituto de Frankfurt desenvolveu seu pensamento num período da

história em que o indivíduo estava sendo oprimido tendo como conseqüência a ausência de

subjetividade. Daí o interesse do Instituto em analisar o indivíduo nessa perspectiva, visto o

contexto de dominação. Poder este ainda presente no sistema capitalista.

Apesar da caracterização social de dominação, para o frankfurtiano Adorno, citado por Matos

(1993, p. 53), escreve que: “A idéia de que o indivíduo está sendo destruído ainda é por

demais otimista.” A humanidade estava cada vez mais se tornando desumanizada. A não

valorização do indivíduo conduz ao problema da indiferença. Adorno trata desta questão em

seu ensaio, “A Educação depois de Auschwitz1:”

Se os homens não fossem indiferentes uns aos outros, Auchwitz não teria sido possível, os homens não o teriam tolerado. Os homens, sem exceção, sentem-se hoje pouco amados porque todos amam demasiadamente pouco. A incapacidade de identificação foi, sem dúvida, a condição psicológica mais importante para que pudesse suceder algo como Auschwitz entre homens de certa forma educados e inofensivos. (ADORNO apud MATOS, 1993, p. 57)

A busca pela possibilidade de emancipar-se num mundo dominador e intransigente representa

para os frankfurtianos essa tentativa de encontrar a salvação que liberta. Os modos de

manifestar essa procura acontece através da arte e do amor. Um dos principais conceitos de

amor segundo Adorno é a aptidão de notar o semelhante no dessemelhante. A concepção de

arte para Adorno pode ser abordada a partir de sua obra mais importante sobre o tema: a

Teoria Estética. Este trabalho foi publicado em 1969. Mesmo sem ter sido acabada, apresenta

todo o trabalho sobre o conceito de arte no pensamento do filósofo.

Ainda nos anos 1940, os pesquisadores de Frankfurt propõem o conceito de Indústria Cultural

em substituição ao conceito de Cultura de Massa. Conforme Adorno, sobre a Indústria

Cultural, diz: “impede a formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de julgar

e de decidir conscientemente.”

1 Auschwitz foi o maior campo de concentração nazista que funcionou entre 14 de junho de 1940 e 27 de janeiro de 1945. Abrangia um conjunto de três campos principais: Osciecim, Brezinka e Monowice. Tinha ainda 39 campos menores nas redondezas.

15

O sujeito é mero objeto consumidor conforme as regras da Indústria Cultural2 que são

empresas e instituições as quais visam somente o lucro obstinado utilizando o indivíduo como

mercadoria, apesar de que não pode ser pensada de forma absoluta.

Por isso que é no sujeito individualizado, livre e não individualista que se encontra a

esperança, tendo em vista a busca pelo fim do consumismo exacerbado e egoísta, o início de

uma nova civilização conscientizada de seus deveres e direitos humanos. Indivíduo que

produz, mas que se sente valorizado ao criar e desenvolver gestos criativos pelo bem da

humanidade.

A arte é como se fosse algo perfeito diante da realidade imperfeita, transcende os ditames do

espaço e do tempo, vence o caos. A arte musical (FIG. 5-ANEXO E) conforme Adorno,

significa: “[...]a manifestação imediata do instinto humano e a instância própria para o seu

apaziguamento.” (ADORNO, apud CIVITA, 1993, p. 54)

Sua filosofia tem como objetivo conscientizar as pessoas do sistema em que estão inseridas e

a possibilidade de cada sujeito em viver autenticamente e solidariamente para que haja um

mundo mais humano e sadio.

2 Adorno foi o criador, em parceria com Horkheimer, do termo Indústria Cultural, em contraposição ao termo Cultura de Massa, já que este termo sugere que ela tem origem espontânea nas próprias massas, quando na verdade é forjada de forma a se moldar aos interesses capitalistas.

16

1.2 Considerações da Teoria Crítica sobre a Filosofia Precedente

Adorno juntamente com outros filósofos contemporâneos estava fixado numa tarefa difícil:

pensar filosoficamente a realidade contemporânea. O fato era que a sociedade padecia de

várias transformações, principalmente, na dimensão econômica.

O comércio tinha se fortalecido após as revoluções industriais ocorridas na Europa e, com

isso, o capitalismo desenvolvera, principalmente com as novas descobertas e o avanço

tecnológico. O homem perdeu a sua autonomia em meio ao progresso infortúnio.

Toda a Teoria Crítica se contrapõe à filosofia e à ciência que sacrifica o individual à

totalidade como, por exemplo, Hegel em seus sistemas mistificados. Marcuse, citado por

Matos (1993, p.56), diz: “Hegel sacrifica os indivíduos à universalidade, posto que não há

harmonia possível entre a vontade geral e o interesse particular, entre razão e felicidade.” Os

frankfurtianos também criticam Hegel quanto à contradição histórica e a absolutização da

história. A filosofia não passa de uma racionalização filosófica do sofrimento, uma

justificativa da violência na história.

Horkheimer critica Descartes porque De acordo com o segundo, este pensa queo o homem

deveria se auto-dominar primeiramente para dominar a natureza e. Para Descartes o homem

pensante precisa transformar o mundo exterior graças à técnica e por meio dela. O sujeito a

ser construído é apenas epistemológico, sem emoções. A evidência cartesiana constrói uma

natureza abstrata, trabalha com a idéia. A visão cartesiana inviabilizouA razão cartesiana

criticada pelos frankfurtianos investiga o espaço, domina intelectualmente o mundo e age por

ordem.

A natureza, para os estudiosos de Frankfurt, não deve ser explorada visando o aumento da

produtividade e do lucro porque o objetivo não será o progresso, mas o círculo infernal.

17

Conforme Adorno, a razão ocidental configura-se como pensamento de dominação, de

controle da natureza, o impulso para a dominação nasce por medo da falta do próprio eu,

temor que manifesta em toda realidade de ameaça do sujeito diante do inesperado.

Com isso,

A razão ocidental configura-se na crítica feita por Adorno como razão de dominação, de

controle da natureza. Cabe ao sujeito, desprovido de seus aspectos empíricos, ser o mestre e

conhecedor da natureza; ele passa a dar ordens à natureza, que deve aceitar sua anexação ao

sujeito e falar sua linguagem.

a capacidade do homem de emancipar na atualidade não está sendo almejada: “O tempo é

tudo, o homem não é mais nada, nada mais que a materialização do tempo [...] O homem é a

carcaça do tempo. Não é uma hora de um homem que vale uma hora de outro homem, mas o

homem de uma hora vale um outro homem de uma hora.” (MARX, apud MATOS, 1993, p.

54) De acordo com os frankfurtianos, o importante é o conceito de indivíduo numa guerra

declarada às leis do mercado que regem a vida de cada um.

Apesar das críticas de Adorno no que diz o Iluminismo3, em Kant, os frankfurtianos

encontram o conteúdo sublime da Teoria Crítica; ele não submeteu o indivíduo a nenhum

universal, seja pátria, nação, estado ou sociedade sem classes.

Kant, citado por Matos (1993, p. 55), escreve: “Nem todos os homens são felizes, mas todos

têm o direito a sê-lo. Tudo o que pode ser comparado pode ser trocado, tem um preço; o que

não pode ser comparado, não pode ser trocado, não tem preço, dignidade: o homem.”

3 Adorno foi um crítico do iluminismo. Sua relação com a tradição da racionalidade moderna é ainda hoje proveitosa. Ele tratou de mostrar como valores, princípios e processos fundamentais para a constituição da razão moderna inverteram as suas expectativas. Enquanto se esperava realizar a emancipação, apareceu um processo de dominação instrumental tanto da natureza quanto do indivíduo. Se pensamos em constituir um critério seguro de moralidade, ele se inverteu em perversão. Adorno teve sensibilidade para notar a inversão do projeto iluminista.

18

2 THEODOR WIESENGRUND ADORNO E A CRISE DE VALORES

Como a respectiva monografia aborda críticas e propostas a partir de conceitos tendo por base

uma visão de uma realidade fragmentada, a obra Minima Moralia de Adorno é um meio

importante para que haja um realce do indivíduo, pois ela constitui de pequenas situações

diárias onde o sujeito é o foco principal. Adorno elaborou a sua obra Minima Moralia a partir

de aforismos que são proposições, máximas, sentenças que em poucas palavras encerram um

princípio moral.

A produção literária Minima Moralia compõe-se de 03 partes datadas sucessivamente de

1944, 1945 e 1946-47, organizada em 153 aforismos. As máximas ou segundo Adorno,

mínimas morais tratam de atitudes que não se deve fazer e não um tratado ético positivo sobre

o que há de se cumprir para ter uma vida feliz. Nas páginas que se seguem estão citados

apenas alguns aforismos onde se encontram situações do nosso cotidiano.

A partir das narrações aforísticas pode-se notar a crise de valores em que estamos situados na

sociedade tomada pelo “progresso.” Vejamos algumas dessas sucintamente. No aforismo

“Morte da imortalidade” o indivíduo é focalizado em sua situação de portador de capacidades

artísticas. Porém, Adorno diz:

A fama enquanto resultado de processos objetivos na sociedade de mercado que tinha algo de fortuito e, com freqüência, de impingido, mas também o reflexo da justiça e da livre escolha está liquidada. [...] Os famosos não se sentem bem. Eles transformam-se em artigos de marca registrada[...]. (ADORNO, 1993, p. 87)

Depois da Segunda Guerra Mundial, apesar do nazismo ter-se perdido em sua força totalitária,

para Adorno, as técnicas utilizadas nos campos de concentração continuam presentes na

sociedade. No aforismo “Mélange”, a respeito do preconceito, o autor aborda o tema

igualdade e diferença em que cita:

19

A técnica dos campos de concentração visa tornar os prisioneiros iguais a seus guardas, a fazer dos assassinados assassinos. A diferença de raças é elevada ao absoluto para que se possa aboli-la de modo absoluto, ainda que nada diferente sobreviva mais. (ADORNO, 1993, p. 89)

Para o escritor o que permanece na realidade é a falsa emancipação das vítimas

principalmente dos negros. O preconceito é tido como conceito ultrapassado visto que a

sociedade transforma-se continuamente. Uma irrealidade que visa esconder a problemática

real e que conforme o autor serve de abandono e extermínio da vítima.

No aforismo “Não se aceitam trocas”, Theodor Adorno fala um pouco da ausência do valor da

gratuidade. O ato gratuito na vida social está se perdendo porque o sujeito não se localiza

mais enquanto tal. Vive a sua vida em função apenas do social.

Até o ato privado de dar presentes foi rebaixado ao nível de uma função social que se efetua com uma racionalidade contrariada[...] numa avaliação cética acerca do outro e com o menor esforço possível. O verdadeiro ato de presentear encontrava sua felicidade na imaginação da felicidade do recebedor. ( ADORNO, 1993, p. 35)

Adorno também relata o uso da mentira como meio lucrativo, o casamento enquanto contrato

social, a idéia de lar, a gratuidade, a moral contemporânea, fama enquanto alienação,

preconceito, amizade, família, o lugar da sátira na sociedade total, felicidade, trabalho

opressor e suas teses no que se refere ao ocultismo.

20

2.1 Mentira, Casamento, Moradia, Gratuidade

O aforismo “Antes de Tudo Uma Coisa Meu Filho” trata de colocar a mentira universal no

seu devido lugar. A mentira utiliza uma idéia peculiar tornando-a sua marca e verdade única

embora seja incapaz de esconder a sua inautenticidade. A inverdade universal ou ocidental

não é capaz de esconder suas ciladas. “Não cabe à inverdade universal insistir na verdade

particular, que ela, no entanto, imediatamente converte em seu contrário.” (ADORNO, 1993,

p. 23)

Aquele que mente está perdendo seu caráter de convincente a partir da mentira, pois sua

própria consciência o impede de praticar a sua libertinagem com persuasão. O aspecto indigno

universal mostra-se através da mentira particular.

Quem mente envergonha-se, pois em cada mentira faz necessariamente a experiência da indignidade do mundo tal como ele é, que o obriga a mentir se quiser viver[...] Tal vergonha tira toda força às mentiras dos indivíduos mais sutilmente organizados. Eles fazem-no de modo mal feito e, com isso, a mentira torna-se ainda mais propriamente a imoralidade no outro. Ela toma-o por imbecil e serve de expressão ao desrespeito. (ADORNO, 1993, p. 24)

A mentira universal está inserida no particular de fato que o indivíduo carrega o fardo de não

conseguir mentir com eficácia. A inverdade era utilizada enquanto meio de comunicação para

que as diferenças pudessem conviver; atualmente, ela tornou-se uma técnica para que haja

uma despreocupação social, uma frieza em relação às outras pessoas causando desconforto e

ausência de partilha entre elas, aumentando conseqüentemente o consumismo e

individualismo. Mentir para que a mentira universal prevaleça. Daí a fala de Adorno sobre a

verdade particular da mentira universal: a necessidade do domínio capital.

Os aforismos “Separados Unidos” e “Asilos Para Desabrigados” estão em sintonia devido

ambos tratarem problemáticas relacionadas à instituição família. O primeiro aforismo diz com

21

pessimismo sobre a comunhão de interesses que torna repugnante o matrimônio. Este leva

Adorno cogitar a possibilidade de apenas os ricos serem portadores de uma relação mútua

verdadeira, pois os interesses passariam a ser de segunda natureza.

Para o autor, o casamento está sendo uma humilhação visto que a preocupação da

autoconservação está tirando o direito do indivíduo em viver o seu amor na sua inteireza. Já

no aforismo “Asilos Para Desabrigados”, a casa que antigamente era vista como local de

exteriorização do indivíduo hoje perdera a sua função. Adorno diz:

A casa é coisa do passado. A destruição das cidades européias, assim como os campos de trabalho forçado e de concentração, apenas dá prosseguimento, como executores, àquilo que o desenvolvimento imanente da técnica há muito tempo já decidiu acerca das casas. Estas são como as latas de conserva velhas, só servem para serem jogadas fora. (ADORNO, 1993, p. 32)

O pensamento socialista em sua não concretização contribuiu com a força da burguesia. A

arte enquanto meio de superar a anulação do indivíduo foi aniquilada com a objetividade

aplicada nas mobílias e disposição da casa. A arte para Adorno, nesse caso, consiste em

suspender o direito de ser dono daquilo que lhe é próprio, a fim de que o indivíduo tenha

chance de se manifestar diante da dominação. Desta maneira, o processo que se desenvolve a

partir de abundância de bens e de crescimento do consumismo perderia sua força na idéia

moral de que a casa ao qual habitamos não nos pertence. Seria o mesmo que possuir a si

mesmo e não se tornar consumista obstinado. Uma compra leva a outra compra.

A gratuidade é explanada no aforismo “Não se aceitam trocas” em que através do gesto de dar

presente, o autor critica a falta de gratuidade nas relações. Para ele, o ato privado de dar

presente foi rebaixado à necessidade de aprovação social. A observação em relação ao gosto

alheio é uma arte que deveria visar à felicidade e imaginação do outro.

Pois bem, a partir da década de 40, em suas observações tanto na Europa destruída quanto nos

Estados Unidos que desenvolvia o capitalismo em grande escala, notava-se a frieza nos

relacionamentos e a falta de sentimento nas situações que deveriam provocar encantamento.

Para Adorno, o próprio gesto de substituir presentes é mais humano visto que aí o presenteado

pode dar verdadeiramente um presente a si mesmo indo contra a artificialidade do gesto

anteriormente vulgar.

22

2.2 Moral, Fama, Preconceito, Amizade

No aforismo “Uma Palavra a Favor da Moral” Adorno critica a desigualdade social e junto

dela àqueles que consideram a luta pela sobrevivência natural por causa da dificuldade de

alguns em se adaptar. “Pregar a amoralidade tornou-se o assunto daqueles darwinistas que

Nietzche desprezava e que proclamavam convulsivamente como máxima a luta bárbara pela

sobrevivência, justamente porque ela seria mais necessária.” (ADORNO, 1993, p. 84)

Visto a antiga visão de baixa produtividade tinha-se idéia de falta de matéria, porém isto tem

se mudado diante da realidade que nada mais é que a abundância de poucos diante da falta de

muitos. Alguns sentem fartos de tomar o que não lhes pertence e buscando a sua própria

satisfação oferecem aos muitos que padecem a fim de que estes permaneçam na miséria.“A

virtude da distinção há muito não consistiria mais em tomar o melhor para si antes dos outros,

mas em estar farto do ato de tomar e em exercitar realmente a virtude de dar[...].” (ADORNO,

1993, p. 84)

Essa ausência de naturalidade, subjetividade retira a substancialidade das pessoas e faz com

que sejamos meros objetos perante uma realidade social. Alguns que estão fartos do que tem e

outros que recebem dos que estão cansados. Podemos pensar sobre a idéia de gratuidade como

algo positivo, embora se deve notar a necessidade de alguns terem que contribuir com outros

a fim de que possa amenizar a sua culpa diante da realidade imoral em que vivemos. Já no

aforismo “Morte da Imortalidade”, Adorno observa a característica dos famosos eleitos pela

Indústria Cultural. A morte de sua marca indelével, a de sua arte pura é o assunto.

A fama resultada de um processo justo e de livre escolha está liquidada. “Ela tornou-se por

completo uma função de agências de propaganda pagas e é medida em termos do

investimento que é arriscado pelo portador do nome ou pelo grupo de interesses por trás

23

dele.” (ADORNO, 1993, p. 87) Os artistas perdem sua autenticidade e sentem-se afastados de

si mesmos. Ao fim da utilização dos tais produtos caem no esquecimento público e a Indústria

Cultural os troca por outros que atendem a demanda.

O próprio conceito de preconceito relata o juízo precoce de “algo.” No aforismo “Mélange”,

Adorno vê na linguagem de muitos que se dizem tolerantes, o argumento de que não há

diferenças. As diferenças seria algo inaceitável pela sociedade. As diferenças conforme a

sociedade devem ser vistas como algo irreal. O autor observa a intolerância no que diz a

diferença. Um argumento tolerante da intolerância.

A técnica dos campos de concentração visa tornar os prisioneiros iguais a seus guardas, a fazer dos assassinados assassinos. A diferença de raças é elevada ao absoluto para que se possa aboli-la de modo absoluto, ainda que nada diferente sobreviva mais. (ADORNO, 1993, p. 89)

No caso da igualdade abstrata, percebe nisso uma idéia intencional de liquidar àquilo que não

se enquadra no grupo. Visto a filosofia de Adorno constituir-se democrata e subjetivista,

critica o Estado que pretende pelo totalitarismo igualar as diferenças, ao invés de buscar a

reconciliação das mesmas. “Uma sociedade emancipada não seria nenhum Estado Unitário,

mas a realização efetiva do universal na reconciliação das diferenças.” (ADORNO, 1993, p.

89) Acrescenta dizendo:

Quando se assegura ao negro que ele é exatamente como o branco, quando na verdade não o é, mais uma vez está se fazendo secretamente uma injustiça a ele. Humilham-no, assim, amistosamente com um padrão que vai necessariamente sob a pressão dos sistemas, colocá-lo numa posição de inferioridade e que, ademais, seria um mérito duvidoso satisfazer. (ADORNO, 1993, p. 90)

O tema amizade no aforismo “Exame” é visto por Adorno como capacidade de perceber o

outro enquanto o que ele é e não como representação de desejos que me satisfazem. O outro

deve ser sempre o outro e não motivação alheia. Os interesses que possam estar inseridos no

contexto retiram a qualidade das relações. O ir além de si mesmo enriquece porque possibilita

o indivíduo perceber outras realidades e aumentar seu nível empírico. A possibilidade de

suspender os juízos faz-se parte de tal moral. “A liberdade seria não a de escolher entre preto

e branco, mas a de escapar à prescrição de semelhante escolha.” (ADORNO, 1993, p. 115)

24

2.3 Família, Lugar da Sátira na Sociedade Total, Felicidade, Trabalho, Teses contra o

Ocultismo

No aforismo “Filemon e Baucis” a mentira é vista dentro do lar cujo patriarca em seu direito

deve ser servido pela sua esposa porque ele é o responsável pelo enfrentamento na sociedade

hostil. Para Theodor Adorno existe uma ideologia secreta que rebaixa o indivíduo. A estrutura

familiar contribui com essa característica: um é o forte, o outro será o fraco. Ocorre que a

mentalidade hegeliana de senhor e escravo deveria com o decorrer do tempo ser substuída por

algo novo sem reduções do sujeito a nada.

O problema é que esse confronto familiar está em acordo com as exigências da sociedade.

Sendo a sociedade alienada, busca em sua origem manter essa insanidade. As crianças querem

ser senhoras de seus pais, estes querem manter-se senhores delas e os cônjuges seguem a

ideologia patriarcal.

Ambos os adversários estão errados. Ao desmistificar o homem – cujo poder repousa sobre o fato de ganhar dinheiro, alardeado como próprio do ser humano – a mulher expressa ao mesmo tempo a inverdade do casamento, no qual ela busca toda sua verdade. Não há emancipação sem a emancipação da sociedade.(ADORNO, 1993, p. 152)

A crítica enquanto forma literária de ironizar o objeto para apresentar a mentira por trás dele

está sendo arruinada. Portanto no aforismo “O Erro de Juvenal”, Adorno demonstra a

ausência de individualidade na sociedade que desvaloriza a reflexão subjetiva. Sendo assim a

sátira ocupou seu lugar junto aos fortes. A sátira para não se perder, ocupou o lugar de sua

própria derrota.

Mudou sua visão de mundo a favor da ideologia progressista. Com o fim da burguesia

histórica, passou a defender ideais humanitários devido à força consensual, sem questionar as

proposições dos mesmos. A ironia perdeu sua peculiaridade crítica. “É assim mesmo, é

25

exatamente aquilo que o mundo dirige a qualquer de suas vítimas, e o acordo transcendental

imanente à ironia torna-se ridículo diante do acordo real daqueles que ela teria de atacar.”

(ADORNO, 1993, p. 185)

No aforismo “Não Encontrável” o autor de Mínima Moralia mantém sua posição no que se

refere à objetividade positiva. Nela desenvolve uma não contrariedade favorável somente à

sociedade positivista. O ato de dar alguma coisa está em muitos casos carregado de uma

necessidade de provar a virtude ou espoliar algo inutilizável. Todavia:

A decadência do ato de presentear, nos dias de hoje, corresponde ao endurecimento das pessoas contra o ato de tomar. Mas isso vem dar na negação da própria felicidade, que é a única coisa que permite às pessoas aferrarem-se à sua espécie de felicidade. (ADORNO, 1993, p. 190)

A felicidade verdadeira em Adorno corresponde ao movimento recíproco na vida das pessoas.

O gesto gratuito de ajudar e de estar sempre nessa situação de oferecer um pouco de si para o

bem alheio. As pessoas não estão sendo felizes porque tem medo de perder o que possuem.

Para eles, os filisteus, pessoas com espírito burguês, a felicidade não rende lucro. “A

felicidade está ultrapassada: ela não é econômica.” (ADORNO, 1993, p. 190)

O trabalho também é uma das causas de alienação social, visto que ele perdeu a peculiaridade

de contribuir na subjetivação do indivíduo. No aforismo “Novissimum Organum”, o

indivíduo nada mais no mercado é que contribuinte para com a produção em massa. Ele

precisa se adaptar e constituir a forma orgânica do sistema ao qual está inserido. (FIG. 6-

ANEXO F). “A transformação da composição técnica do capital prolonga-se nos indivíduos,

absorvidos e, ao rigor, em primeiro lugar constituído pelas exigências tecnológicas do

processo de produção.” (ADORNO, 1993, p. 201)

A sociedade gera uma necessidade de adaptação, não como algo influente na vida do

indivíduo, mas uma composição orgânica. Ele passa a criar o trabalho em seu ser. “A

composição orgânica do ser humano não pára de crescer.” (ADORNO,1993, p.201) À medida

que o progresso mecânico aumenta, o indivíduo desenvolve uma maior interiorização dessa

realidade e vai se perdendo nesse processo. As relações de produção imperam sobre os

impulsos e atividades do indivíduo anulando-o. “A vontade de viver encontra-se na

26

dependência da negação da vontade de viver: a autoconservação anula a vida na

subjetividade.”(ADORNO, 1993, p. 201)

O aforismo “As teses contra o ocultismo” inclui, entre outras, situações que revelam o

domínio do sistema sobre a subjetividade (FIG. 7-ANEXO G), tomada pelo não

esclarecimento. Conforme Adorno, a propensão para o ocultismo é um indício da regressão da

consciência. A própria palavra ocultismo4 revela que existe algo escondido. “A magia podre

nada mais é que a existência podre, que ela ilumina. Com isso, ela torna as coisas tão

cômodas para as pessoas prosaicas.” (ADORNO, 1993, p. 211)

O esclarecimento traz essa luz para a consciência, apesar de que, a confusão de informações

indistintas contribui com o não esclarecimento. O sistema interessa em condicionar o sujeito a

fim de que ele se anule cada vez mais e se instale enquanto alguém que suporte as condições

impostas. O ocultismo tem um poder hipnótico. Quanto menor o esclarecimento maior será o

poder de domínio sobre a vítima. “Tão hostil e conspiratória quanto os obscurantistas da

Psychic Research é a própria sociedade. O poder hipnótico exercido pelas coisas ocultas

assemelha-se ao terror totalitário.” (ADORNO, 1993, p. 209)

O indivíduo consciente é aquele que pela arte produz algo que reflita o seu sentimento,

pensamento. A lei do mercado está interessada pelo giro capital e não o desenvolvimento da

capacidade intelectiva e transformadora do indivíduo livre. O produto realizado em série

carrega em si a imagem fria inanimada e não consta por ser reflexo do indivíduo artístico. “O

trabalho objetivado ameaçador salta dos objetos sobre ele com inúmeras caretas

demoníacas.”(ADORNO, 1993, p. 209)

4 Ocultismo é um conjunto de teorias e práticas cujo objetivo seria desvendar os segredos da natureza, do Universo e da própria Humanidade. O ocultismo trata de um tipo de conhecimento que está além da esfera do conhecimento empírico, o que é sobrenatural e secreto. Não é aceito pela comunidade científica por não compartilhar de suas metodologias. O ocultismo está relacionado aos fenômenos sobrenaturais. Ou seja, são conjecturas metafísicas, e teológicas, algumas das quais oriundas de povos da Antigüidade Clássica. Ocultismo varia de varias formas de pensamentos de cada pessoa.

27

Adorno critica ao sistema que para as mais variadas perguntas dê respostas grosseiras que

adiam as soluções. Os ocultistas são práticos e compromissados com os dotados de poder

capital. “Das estrelas aos negócios a prazo a passagem é rápida.” (ADORNO,1993, p. 212)

3 PENSAMENTO DE ADORNO NA CENA CONTEMPORÂNEA

Adorno dirige o seu estudo a todas as pessoas que buscam esclarecer-se sobre o capitalismo

tardio. Através do esclarecimento torna-se possível conscientizar-se da realidade. Para o autor

frankfurtiano somente o ponto de vista da redenção poderá considerar todas as coisas tais

como elas se apresentam. A filosofia seria a responsável por esse processo. “O conhecimento

não tem outra luz além daquela que, a partir da redenção, dirige seus raios sobre o

mundo[...].” (ADORNO, 1993, p. 215)

A Filosofia Crítica desenvolve panoramas na qual a realidade desfigura-se de seu

encantamento. O pensamento deve elaborar idéias pacíficas no contato com o objeto a fim de

que o mundo se estranhe a partir desta visão redentora que apresenta as rachaduras

decorrentes do enfraquecimento da subjetividade frente ao poder capitalista.

A Teoria Crítica apresenta a realidade tal como ela é: falseada a fim de que prevaleça o

capitalismo. É preciso desmascará-lo. Embora inúmeros empecilhos tentam manter as forças

obscuras, a Teoria Crítica atualiza-se através de palestras organizadas em assembléias

educativas para profissionais, estudantes; através de artigos e ensaios publicados em jornais,

grupos de pesquisas que estudam e divulgam a realidade social o qual vivemos.

Iray Carone, doutora em filosofia, ministrando um curso na Assembléia Legislativa do Estado

de São Paulo palestrou um programa de Ética e Política realizado em três aulas em que

utilizou das obras de Aristóteles “Ética a Eudemo”, “Ética a Nicômaco”, “Grande Ética”,

“Das Virtudes e Dos Vícios” e “Política”, a “Ética individualista de Thomas Hobbes” e o

“Estado Leviatã”, a “Ética de Kant segundo a fundamentação numa Metafísica dos Costumes”

28

e a explanação da filosofia de Adorno. Sobre Adorno e sua obra Minima Moralia, Carone

(2008) diz:

[...]conjunto de fragmentos sem ordenação sistemática, nos mostra o seu conteúdo crítico através de detalhes insignificantes da vida, que no entanto acabam ganhando um significado de “vida danificada” para Adorno. São na verdade, problemas morais ou exemplos de ruínas morais da vida contemporânea. Não se trata, pois, de um tratado de moral “positiva”, com máximas morais.

Acrescenta ainda sobre a estrutura da mesma obra:

[...]Tomou como objeto alguns “flashes” do cotidiano, fazendo uma espécie de micrologia da vida contemporânea. Aquilo que passa despercebido no automatismo alienado da vida cotidiana, permite a ele apenas vislumbrar quem somos, como existimos socialmente e o que é a sociedade. O particular se torna a via para se vislumbrar o universal[...]. (CARONE,2008)

Além do mais, a respeito de Minima Moralia, ainda complementa:

Ele é um imperativo categórico formulado negativamente, que diz o que não pode ocorrer, o que não deve ser. Ele não diz afirmativamente, como deveria ser evitado o que não deveria ser. Sua evidência refere este imperativo à experiência histórica do que já aconteceu. Mas as condições que tornaram possível Auschwitz não foram superadas, é um passado que não passou e que sobrevive no presente como um passado sem elaboração, daí a possibilidade de novos Auschwitz.(CARONE, 2008)

Adorno critica a objetividade sistemática que não permite a reflexão subjetiva. Embora exista

essa força dominante, o indivíduo ainda resiste. Alexandre Lara de Moraes, mestre em

filosofia, diz que “Em outras palavras, apesar da situação de anulação pela socialização

totalitária em que o indivíduo se vê enredado, Adorno insiste que o mesmo ainda resiste.”

(MORAES, 2008) Sobre a anulação do indivíduo, Moraes diz sobre Adorno:

[...]pode-se perceber que a anulação do indivíduo não se dá de fora para dentro, mas como uma meta de realização individual engendrada socialmente. A idéia de uma anulação do indivíduo socialmente determinada como realização individual, por outro lado, indica que, com o termo anulação, Adorno não está querendo dizer que o indivíduo deixou de existir. Pelo contrário, com o conceito de anulação, Adorno pretende denunciar aquilo que de pior poderia ter acontecido com o indivíduo. Ou seja, a morte do indivíduo, conseqüência radical da objetivação total da subjetividade, não significa a liquidação completa do mesmo[...]), mas a permanência perversa de um modelo historicamente condenado... (MORAES, 2008)

Moraes ainda acrescenta:

A anulação do indivíduo, então, não diz respeito apenas ao cerceamento e impossibilidade do desenvolvimento da individualidade em todo o seu potencial

29

humano, mas também diz respeito à manutenção de uma falsa idéia de individualidade que faz do isolamento cego a que submete as pessoas o meio de perpetuar os indivíduos, ainda que estes já estejam mortos. De acordo com Adorno, poderíamos dizer que o indivíduo está morto, mas para que continue existindo sem apresentar uma verdadeira resistência, a sociedade providencia seu empalhamento.(MORAES, 2008)

É como se o indivíduo estivesse sendo preparado para a morte. O seu empalhamento significa

a aceitação de sua sobrevivência, a sua estada enquanto sujeito dominado pelo sistema. O

filósofo Daniel Ribeiro da Silva escrevendo um artigo acerca da Indústria Cultural trata da

Teoria Estética de Adorno.

Na Teoria Estética, obra que Adorno tentará explanar seus pensamentos sobre a salvação do homem, dirá ele que não adianta combater o mal com o próprio mal. Exemplo disso, ocorreram no nazismo e em outras guerras. Segundo ele, a antítese mais viável da sociedade selvagem é a arte. A arte, para ele, é que liberta o homem das amarras dos sistemas e o coloca como um ser autônomo, e, portanto, um ser humano.(SILVA, 2002)

A arte emancipa o homem de seu estado funesto e liberta-o.

Enquanto para a Indústria Cultural o homem é mero objeto de trabalho e consumo, na arte é um ser livre para pensar, sentir e agir. A arte é como se fosse algo perfeito diante da realidade imperfeita.(SILVA, 2002)

Adorno vivenciou situações letais em que o indivíduo estava condenado à morte, preso,

frustrado, porém apesar disto, o autor conseguiu enxergar além do pessimismo. O seu

otimismo está na possibilidade do sujeito em alcançar sua emancipação.

[...]Adorno foi um filósofo que conseguiu interpretar o mundo em que viveu, sem cair num pessimismo. Ele pôde vivenciar e apreender as amarras da ideologia vigente, encontrando dentro dela o próprio antídoto: a arte e a limitação da própria Indústria Cultural. Portanto, os remédios contra as imperfeições humanas estão inseridos na própria história da humanidade. É preciso que esses remédios cheguem à consciência de todos (a filosofia tem essa finalidade), pois, só assim, é que conseguiremos um mundo humano e sadio.(SILVA, 2002)

Pucci5 diz sobre sua publicação:

Vou reservar o nome Teoria Crítica para a produção científica de pensadores da chamada Escola de Frankfurt, especificamente Max Horkheimer, Walter Benjamin, Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Jürgen Habermas. Vou me ater às

5 Doutor em filosofia, publicou um artigo de nome “Novos Problemas e Temas em Filosofia da Educação à luz da Teoria Crítica da Sociedade” incluso na revista “Educação e Cultura Contemporânea” do PPGE/Estácio de Sá, RJ ocorrendo algumas modificações no que se refere o trabalho original. No artigo esteve relatado o 1º, 2º e 4º temas apenas.

30

investigações científicas na área da educação produzidas no Brasil a partir da contribuição teórica desses pensadores. (PUCCI, 2003)

Vejamos o que Pucci em suas reflexões acerca de Theodor Adorno e os frankfurtianos vêm

nos enriquecer:Há diversos Grupos de Pesquisa, no Brasil, que trabalham com os teóricos frankfurtianos, mas não na área de educação. Os teóricos frankfurtianos, que servem de referência aos grupos de pesquisas levantados acima, são antes de tudo filósofos, sociólogos, estetas, literatos e não investigadores do processo educacional. Mas é verdade que todos eles, como professores universitários (com exceção de Benjamin), foram também educadores, escreveram ensaios e proferiram conferências sobre questões educacionais. Theodor Adorno, por exemplo, não escreveu nenhum livro específico sobre educação, embora em suas coletâneas de textos se encontrem ensaios sobre a questão educacional. Há dois que analisam problemáticas educacionais: “A educação após Auschwitz” e “Tabus que pairam sobre a profissão de ensinar.” (PUCCI,2003)

Sobre Adorno a respeito da formação que ele tem oferecido aos educadores brasileiros diz:

Os dois pensadores frankfurtianos que mais tem contribuído com pesquisas em educação em nosso país são, a meu ver, Theodor Adorno e Jürgen Habermas. O potencial formativo do pensamento crítico é enfatizado por Adorno no ensaio “A Educação após Auschwitz” (In Cohn, 1986: 35): “A Educação só teria pleno sentido como educação para a auto-reflexão crítica. Educação pela auto-reflexão crítica significa a busca da autonomia, da autodeterminação kantiana. E a educação, enquanto esclarecimento, mesmo não podendo evitar o reaparecimento da barbárie, pode ajudar a gerar um clima de auto-consciência e de resistência aos atos bárbaros. (PUCCI,2003)

A contribuição de Adorno continua ampla na atualidade no que se refere principalmente a

formação das pessoas, suas obras são utilizadas no mundo inteiro tendo em vista a reflexão

sobre a possível neo-barbárie no mundo dilacerado em que estamos situados.

31

3.1 Grupos de Pesquisas

As organizações que diligem no decurso de esclarecer a realidade constituem também por

grupos de pesquisas. Agem através de linhas de pesquisas que seria o mesmo que dizer temas

ou foco a ser abordado aos quais privilegiam áreas para que seja um estudo aprofundado, a

fim de que a aplicação na sociedade seja fundamentada e eficaz.

Para que este estudo fosse possível, houve a necessidade de uma pesquisa ampla sobre grupos

que atuam no Brasil; logicamente nem todos estão relatados aqui, somente alguns que

utilizam mais precisamente o estudo adorniano, principalmente sua obra Minima Moralia com

o objetivo de defender a autonomia do indivíduo.

O grupo de pesquisa “Ética e Teoria Crítica” da UNIMEP (Universidade Metodista de

Piracicaba) atua na área da Ética e Teoria Crítica cujo estudo engloba as demais ciências:

Humanas, Educação, Fundamentos da Educação, Psicologia Educacional. Dentre os

pesquisadores que se destacam está Maria dos Remédios de Brito, doutora em filosofia.

Considerando a rejeição clara dos pensadores da primeira geração da "Escola de Frankfurt"

em elaborar uma ética positiva, trata de investigar a presença da dimensão ética no legado

desses pensadores principalmente nos estudos de Adorno. Desenvolvem uma formação

permanente, atividades de ensino, educação à distância e educação especial.

Além de investigar o legado ético, o grupo de pesquisa “Ética e Teoria Crítica” constrói um

verdadeiro prado investigativo sobre os fenômenos morais contemporâneos que esculpem as

práticas de formação cultural dos indivíduos nos âmbitos escolares, familiares, políticas

32

públicas, na mídia e outras. Em outras palavras, esse grupo de pesquisa analisa como está a

formação da sociedade e provavelmente observa a alienação em todos os seus níveis sociais.

O grupo “Teoria Crítica e Educação” da UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba)

atua na área das Ciências Humanas e Educação. O pesquisador trata-se de Bruno Pucci

especializado em doutorado no curso de filosofia. Distingue-se como um dos poucos núcleos

no Brasil que estuda a Teoria Crítica e pelas contribuições à Educação a partir dos pensadores

clássicos da Escola de Frankfurt: Adorno, Horkheimer, Benjamin e Marcuse.

Esse já se tornou uma referência nacional na temática pelas suas inúmeras atividades de

produção científica nas áreas anteriormente relatadas em que se ocupam. Entre elas estão as

organizações de três Colóquios Nacionais e dois Congressos Internacionais. O primeiro em

1998, “O Ético, o Estético”, acerca de Adorno; o segundo, 2000, "Dialética Negativa, Estética

e Educação"; o terceiro, em 2002, "Tecnologia, Cultura e Formação... ainda Auschwitz", o

primeiro Congresso em 2004, Congresso Internacional “Teoria Crítica e Educação” e o

segundo em 2006, Congresso Internacional "Indústria Cultural Hoje".

Contaram com participação de mais de 35 pesquisadores, entre doutores, doutorandos,

mestres, mestrandos, graduados e graduandos; realizaram a publicação de 16 livros, 56

capítulos de livros, 90 artigos; traduções de mais 40 ensaios, particularmente do alemão;

defesa de 40 dissertações e teses; apresentação de mais de 300 trabalhos em Congressos

Científicos; cinco trabalhos de Iniciação Científica premiados em Congressos de Iniciação

Científica e a articulação com grupos de pesquisa que estudam a Teoria Crítica.

O grupo “Teoria Crítica e Educação” da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos)

focaliza a Educação e as Ciências Humanas cujos fundadores foram os estudiosos Antônio

Álvares Soares Zuin, graduado na Universidade de Campinas e Newton Ramos de Oliveira na

Universidade Federal de São Carlos, ambos doutores em filosofia.

33

O grupo de pesquisa renomeado de “Filosofia, Ética e Educação” atua na área das Ciências

Humanas e Filosofia. O fundador é o Damião Bezerra Oliveira mestre em Educação. Esse

grupo está desenvolvendo uma pesquisa com a meta de resgatar a história do ensino da

Filosofia no estado do Pará e principalmente com o intuito de contribuir com a secretaria de

educação através de cursos de atualização, fornecimento de bibliografia e outros, de certo

modo contribuirá para melhor aplicabilidade de uma metodologia científica não descuidando

da parte didático-pedagógica.

Também tem se preocupado com uma formação moral e ética do educador, sempre visando ao

exercício de uma ética profissional no exercício do magistério superior e médio. Acrescente-

se que esse grupo tem formado profissionais que hoje se encontram cursando mestrado e

doutorado além de outros que prestaram concurso público para a docência superior na UFPA

(Universidade Federal do Pará).

Além dos demais, o “Núcleo de Estudos e Pesquisas Educação e Sociedade Contemporânea”

envolve as Ciências Humanas e Educação” tendo como fundadores os graduados em

doutorado Alexandre Fernandez Vaz e Marcus Aurélio Taborda. O primeiro graduado em

Ciências Humanas Sociais e o segundo em Educação.

O grupo tem aperfeiçoado pesquisas interagindo tanto com os objetos de conhecimento

quanto com pesquisadores em várias áreas e estágios de formação. Contam com

pesquisadores e bolsistas de iniciação científica (ensino médio e graduação), mestrado e

doutorado. O Núcleo abriga pesquisadores de várias universidades.

Adorno colaborou bastante com os estudos acerca da Psicologia. Paulo Albertini juntamente

com José Leon Crochik graduado em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano

formaram o grupo “Cultura, Educação e Subjetividade” na USP (Universidade de São Paulo)

onde exercem o estudo das relações entre o indivíduo, a cultura e a educação, suas

implicações teóricas e empíricas no campo da Psicologia.

34

Entre as temáticas pesquisadas destacam-se: personalidade/ideologia, formação da

subjetividade, corporeidade, diversidade, inclusão social, processos de escolarização. As

concepções teóricas básicas que norteiam tais investigações são a Teoria Crítica da Sociedade

principalmente em Adorno, psicanálise em Freud e Reich; além desses referenciais, o Grupo

utiliza a literatura da Filosofia, Sociologia, Antropologia e História.

Nesse grupo são desenvolvidos orientações de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado.

Como a temática ultrapassa os limites da Psicologia, tem-se mantido contato com

profissionais não só desta área, mas também da Filosofia, da Sociologia, da Antropologia e da

Educação.

O grupo “Educação e Filosofia Contemporânea” da USP (Universidade de São Paulo) analisa

e reforma as falas sobre a educação no pensamento filosófico e social contemporâneo. Produz

uma reflexão sobre os problemas epistemológicos, éticos, estéticos e políticos que angustiam

a educação na contemporaneidade.

Propõe novas alternativas aos educadores a fim de que consigam superar os obstáculos e

enfrentar os desafios da contemporaneidade. As propostas são teóricas, mas possuem uma

aplicabilidade prática.

Os principais pesquisadores desse grupo são Alonso Bezerra de Carvalho, Carlos da Fonseca

Brandão, doutores em Educação e Anilde Tombolato Tavares da Silva mestra em Educação.

Existem outros nomes que contribuem intensamente nessa investigação científica.

O grupo “Valores, Educação e Formação de Professores” investiga nas áreas das Ciências

Humanas e Educação. Localiza-se na UNESP (Universidade Estadual Júlio de Mesquita

Filho). Ele passou por uma reestruturação sendo que anteriormente compreendia o nome

“Formação de Professores e Práticas Educativas”.

35

O grupo tem como meta refletir a partir da Educação, Psicologia, Psicanálise, Filosofia,

História e Sociologia sobre o processo de construção e o esclarecimento de preconceitos,

valores inerentes aos discursos e práticas educativas desenroladas no âmbito escolar e nas

práticas sociais que excedem os espaços de educação formal.

Buscam analisar os problemas éticos contemporâneos, epistemológicos, relações de gêneros

identificados na prática educacional e racionalizam de que maneira os problemas podem ser

abordados cientificamente. Estimulam o estudo, a pesquisa e a produção acadêmica em

distintos níveis: iniciação científica, mestrado e doutorado, em que sejam abordadas questões

relativas à formação de professores, valores em educação, relações de gênero, educação e

tecnologia, valores e sexualidade, educação e afetividade.

Contribuem consideravelmente com a formação de professores que já estejam em sala de aula

e que desejam desenvolver pesquisas, interrogando sobre valores que transpassam os

discursos e práticas escolares. Visam ainda pensar a formação de futuros educadores

atualizando-se.

Esses grupos acima relatados possuem o mesmo propósito: esclarecer a sociedade dos

problemas de ordem moral, social, psicológica entre outros e auxiliar na formação de

indivíduos autônomos conscientes de suas responsabilidades membros de uma sociedade.

36

CONCLUSÃO

Esta monografia desejou revelar algumas idéias de Adorno acerca da Crise de Valores dadas

em situações danificadas no cotidiano. A realidade é considerada enquanto tal, fragmentada e

destruída. As reflexões conduzem à associação entre seu pensamento e a vida particular.

Adorno interpretou o mundo em que viveu sem cair num pessimismo. Ele experimentou e

apreendeu as amarras da ideologia capitalista, encontrando nela a sua cura: o esclarecimento,

a arte, a limitação da própria Indústria Cultural enquanto historicamente passível de

desaparecer.

A formação do movimento revolucionário e as guerras que contextualizaram a fundação do

Instituto para a Pesquisa Social foram narradas no primeiro capítulo. As condições impostas

pelas circunstâncias influenciaram nas posturas, atitudes e decisões dos membros desse

Instituto que posteriormente mudou sua designação para Escola de Frankfurt. No segundo

capítulo temos o pensamento filosófico de Adorno baseado na obra Minima Moralia, descrito

através de alguns aforismos. Estes e outros foram escritos a partir das vivências e teorias de

Adorno. No terceiro capítulo percebemos que suas colocações não se perderam ao longo dos

anos. Várias pesquisas tem sido realizadas visando à conscientização de professores, alunos,

indivíduos que buscam esclarecerem-se a respeito da ordem vigente.

Enfim, acredito que Theodor Adorno não somente contribuiu com a história filosófica, mas

colaborou criticamente com a sociedade, de fato que, auxiliou no combate às hipocrisias do

capitalismo, mundo do “faz de conta”. O indivíduo mente para si mesmo que é feliz e o

capitalismo engana desde o momento que pretende desejar-lhe a felicidade.

37

REFERÊNCIAS

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ADORNO, W. Theodor. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

ADORNO, W. Theodor. Os Pensadores. Trad. Luiz João Baraúna. São Paulo: Nova Cultural,

1999.

ASSOUN, Laurent Paul. A Escola de Frankfurt. São Paulo: Ática, 1991.

CARONE, Iray. Programa de Ética e Política. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por

<[email protected]> em 18 jul. 2008.

CIVITA, Victor. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

MATOS, F. C. Olgária. A Escola de Frankfurt. Luzes e sombras do iluminismo. São Paulo:

Moderna, 1993.

MONDIN, Battista. Curso de Filosofia. 7ª ed. São Paulo: Paulus, 1983.

MORAES, Alexandre Lara. Sobre a Negatividade do Conceito de Indivíduo em Adorno.

[mensagem pessoal].Mensagem recebida por <[email protected]> em 25 jul. 2008.

PUCCI, Bruno. Teoria Crítica e Educação: pesquisa e produção do conhecimento.

[mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <[email protected]> em 19 jul. 2008.

38

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dário. História da Filosofia. Vol. 3. São Paulo: Paulus,

1991.

SILVA, Daniel Ribeiro. Indústria Cultural e a Teoria Estética. [mensagem pessoal].

Mensagem recebida por <[email protected]> em 22 jul. 2008.

ANEXO A – Fotografia de Félix Weil

39

Fonte: Disponível em: <http: www.marxists.org/.../w/pics/weil-felix.jpg>

FIGURA 1

ANEXO B – Fotografia de Theodor Wiesengrund Adorno

40

Fonte: Disponível em: <http: www.stern.de/.../51/27/512766/adorno dpa 250 jpg>

FIGURA 2

ANEXO C – Theodor Wiesengrund Adorno

41

Fonte: Disponível em: <http://criticomusical.no.sapo.pt/adorno.jpg>

FIGURA 3

ANEXO D – Fotografia de Rosa Luxemburgo

42

Fonte: Disponível em: <http: www. centrodandara.org.br/.../RosaLuxemburgo.jpg>

FIGURA 4

ANEXO E – Adorno e a música

43

Fonte: Disponível em: <http://files.blog-city.com/files/aa/48142/p/f/adorno_ausc.jpg>

FIGURA 5

ANEXO F – Homem, forma orgânica do sistema

44

Fonte: Disponível em: <http: www.geocities.com/autonomiabvr/slavery.gif>

FIGURA 6

ANEXO G – Indivíduo descaracterizado de sua subjetividade

45

Fonte: Disponível em: <http: www.gapersblock.com/detour/gfx/10012007_drexl.jpg>

FIGURA 7

46