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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL MANEJO E USO DA VEGETAÇÃO NATIVA POR AGRICULTORES TRADICIONAIS DA COMUNIDADE SANTANA, REGIÃO DA MORRARIA, CÁCERES - MT. RENATO RIBEIRO MENDES CUIABÁ MATO GROSSO - BRASIL 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL

MANEJO E USO DA VEGETAÇÃO NATIVA POR AGRICULTORES TRADICIONAIS DA COMUNIDADE SANTANA, REGIÃO DA MORRARIA, CÁCERES - MT.

RENATO RIBEIRO MENDES

CUIABÁ MATO GROSSO - BRASIL

2005

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA TROPICAL

MANEJO E USO DA VEGETAÇÃO NATIVA POR AGRICULTORES TRADICIONAIS DA COMUNIDADE SANTANA, REGIÃO DA MORRARIA, CÁCERES - MT.

Renato Ribeiro Mendes Engenheiro Florestal

Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo

Dissertação apresentada à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do Título de Mestrado em Agricultura Tropical.

CUIABÁ - MT JULHO 2005

FICHA CATALOGRÁFICA

C) M538m Mendes, Renato Ribeiro.

Manejo e uso da vegetação nativa por agricultores

tradicionais da Comunidade Santana, região da Morraria,

Cáceres – MT. / Renato Ribeiro Mendes. – Cuiabá: o autor,

2005.

103 p.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato

Grosso, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária.

Índice para catálogo sistemático:

1. Recursos florestais 2. Estudo etnobotânico 3. Valoração

As Árvores

As árvores são fáceis de achar Ficam plantadas no chão Mamam do sol pelas folhas E pela terra Também bebem água Cantam no vento E recebem a chuva de galhos abertos Há as que dão frutos E as que dão frutas As de copa larga E as que habitam esquilos As que chovem depois da chuva As cabeludas As mais jovens mudas As árvores ficam paradas Uma a uma enfileirada Na alameda Crescem para cima com as pessoas Mas nunca se deitam Crescem como as pessoas Mas não são soltas nos passos São maiores Mas ocupam menos espaço Árvore da vida Perdão pelo coração que eu desenhei em você Com o nome do meu amor.

Jorge Benjor / Arnaldo Antunes

AGRADECIMENTOS À Deus e ao meu anjo da guarda, pela proteção. Aos meu pais Erval e Onir que sempre me apoiam em todos os momentos. Ao Prof. Rodrigo pela orientação, pela oportunidade de aprendizado e desenvolvimento. À Débora, companheira de todas as horas, pela grande força, pelo constante incentivo e por compartilhar. Ao Seu Catulino e Dona Cecília por me receberem e compartilharem o seu modo de vida comigo. Aos agricultores que contribuíram com valiosas informações para este estudo, meu agradecimento e grande admiração. As árvores, que são muito especiais. À Universidade Federal de Mato Grosso, pela oportunidade de realizar esse trabalho e a CAPES pelo apoio financeiro. Aos Professores Sebastião Carneiro Guimarães, Maria de Fátima Barbosa Coelho, Márcio de Nascimento, Joana Maria Ferreira Albrecht e Carlos Alberto Moraes Passos pela leitura crítica e sugestões. Aos companheiros do “Projeto Morraria” Mauro, Helionora, Daniela, Virgínia e Rui. E aos colegas de mestrado Luíz Carlos, Rene, Jorge, Marizette, Reginaldo, Ronaldo, Leo, Patrícia e aos demais que até o momento não me recordei. Ao Libério, técnico do Herbário da UFMT, pela ajuda na identificação das espécies florestais. As floresteiras Lucinéia e Cris pela contribuição na coleta de dados no inventário das áreas de pousio.

SUMÁRIO RESUMO ...................................................................................................... IV

ABSTRACT................................................................................................... VI

1. INTRODUÇÃO............................................................................................1

2. REVISÃO DE LITERATURA.......................................................................3

2.1. Manejo e uso dos recursos da vegetação nativa. ....................................3

3 . METODOLOGIA ......................................................................................10

3.1 Localização e características da área de estudo ....................................10

3.2. Seleção da área e dos informantes para o estudo etnobotânico. ..........13

3.2.1. Entrevistas. .........................................................................................16

3.2.2. Observação direta e observação participativa ....................................16

3.2.3. Coleta e identificação do material botânico.........................................17

3.3. Análise florística e fitossociológica em áreas de pousio (capoeiras). ....18

3.4. Valoração econômica dos recursos florestais de uso direto da flora

nativa......................................................................................................21

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................24

4.1. Manejo da vegetação nativa no cultivo da terra.....................................24

4.2. Uso dos recursos da vegetação nativa. .................................................47

4.3. Análise florística e fitossociológica em áreas de pousio. .......................67

4.4. Descrição, quantificação e valoração econômica dos recursos

florestais nativos.....................................................................................82

5. CONCLUSÕES.........................................................................................91

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................93

Manejo e Uso da Vegetação Nativa por Agricultores Tradicionais da Comunidade Santana, Região da Morraria, Cáceres - MT.

Autor: Renato Ribeiro Mendes Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo

RESUMO

Este trabalho é parte de um estudo, denominado projeto Morraria,

que integra o Programa de Estudos de Sistemas Agrícolas (ProSA) da

Universidade Federal de Mato Grosso. O ProSA tem como objetivo geral

pesquisar sobre o conhecimento tradicional, definido de maneira simplista

como conjunto de saberes de agricultores tradicionais sob diversos

aspectos. Partindo da hipótese de que o papel estratégico dos recursos

florestais nativos de uma Unidade Produtiva (UP) é o somatório da

necessidade de conservá-lo, devido sua importância na UP, com a

necessidade de eliminá-lo, para que seja possível a implantação de roças e

pastagens, a presente pesquisa teve como objetivo entender como

agricultores tradicionais, que habitam por várias gerações uma antiga área

de sesmaria, utilizam e manejam a vegetação nativa. Observou-se que o

manejo da vegetação nativa para o cultivo da terra, ainda guarda influência

indígena e se enquadra no sistema de corte - queima - pousio. A atividade

extrativista vegetal abrange um conjunto significativo de práticas, cuja

finalidade principal é o consumo. No estudo etnobotânico foram levantadas

171 etnoespécies da flora nativa, com variadas formas de uso, distribuídas

em 50 famílias botânica. A dependência dos agricultores pelos recursos

florestais nativos gera conhecimento sobre classificações fisionômicas do

ambiente, fenologia, características silviculturais, habitat preferencias das

espécies e critérios de seleção e manejo. A quantificação e valoração

econômica dos recursos florestais nativos utilizados nas moradias,

benfeitorias relacionadas à criação animal, cercamento das unidades de

manejo, lenha e móveis/utensílios, variou de 943,32 (R$/ano) a 7.356,63

(R$/ano), conforme o grau de dependência por madeira da UP. O inventário

realizado em duas capoeiras, uma com três, e outra com oito anos de

pousio, permitiu obter informações sobre a presença e a disponibilidade, de

acordo com o diâmetro, das 21 espécies florestais mais utilizadas nas UPs.

A estrutura populacional da vegetação da capoeira com três anos de pousio

apresentou densidade absoluta (DA) de 16.300 indivíduos por hectare,

distribuídas em 61 espécies, e a capoeira com oito anos de pousio, 16.850

indivíduos por hectare, distribuídas em 57 espécies. Os estudos mostraram

que esses agricultores, com baixo poder aquisitivo de compra, dependem de

áreas com capoeiras em diferentes estágios de sucessão, para obterem os

recursos madeireiros para diversas finalidades, e que falta de áreas

destinadas ao pousio florestal pode comprometer a reprodução das suas

Unidades Produtivas.

Palavras-chave: recursos florestais, estudo etnobotânico, valoração.

ABSTRACT Management and Use of the Native Vegetation by Traditional Farmers of the Santana Community, Morraria Region, Cáceres - MT.

This paper is part of a study, called Morraria project, which

integrates the Program of Studies of Agricultural Systems (ProSA) of the

Federall University of Mato Grosso. The ProSA’s general aim is to research

about the traditional knowledge, defined in a simple way as a set of

knowledge of traditional farmers under several aspects. Based on the

hypotheses that the strategic role of the native forest resources of a

Productive Unity (UP) is the sum of the need of preserving it, due to its

importance in the UP, with the necessity of eliminating it, so that the

implantation of vegetable gardens and grazing grounds will be possible, this

research aimed at understanding how the traditional farmers, that have lived

for several generations in an ancient area of allotment, use and manage the

native vegetation. It was observed that the management of the native

vegetation for the planting of the land still has Indian influence and fits in the

slash - burn – fallow system. The extractivist activity comprises a significant

set of practices, whose main purpose is the consumption. In the ethnobotanic

study 171 ethnospecies of the native flora were surveyed, with several ways

of use, distributed into 50 botanic families. The farmers’ dependence on the

native forest resources generates knowledge about the physiognomic

classification of the environment, phenology, silvicultural characteristics,

favorite habitats of the species and criteria of selection and management.

The determination of the quantity and the economic value of the native forest

resources used in the households, improvements related to animal raising,

fencing of the management units, firewood and furniture/utensils, varied from

943,32 (R$/year) to 7.356,63 (R$/year), according to the degree of

dependence on wood of the UP. The inventory carried out in two woodlands,

one with three, and the other with eight years of fallow, allowed getting

information about the presence and the availability, according to the

diameter, of the 21 most used forest species in the UPs. The population

structure of the woodland’s vegetation with three years of fallow presented

absolute density (DA) of 16.300 individuals per hectare, distributed into 61

species, and the woodlands with eight years of fallow, 16.850 individuals per

hectare, distributed into 57 species. The studies showed that these farmers,

with low income to acquire goods, depend on the areas with woodlands in

different stages of progression, in order to obtain wood resources for different

uses, and that the lack of areas reserved for the forest fallow can endanger

the reproduction of its Productive Units.

Key words: forest resources, ethnobotanic study, value.

1

1. INTRODUÇÃO

O Brasil é um país tropical que tem como uma de suas

características grande biodiversidade, percebida ao longo de todo território.

Na flora a riqueza de espécies, ocorre em diferentes biomas, associada à

variações de clima, relevo e solo. Outro aspecto marcante é a diversidade

cultural e sócio-econômica de sua população.

A atividade agrícola também é muito diversificada, conseqüência

de diferentes padrões ambientais e culturais, resultando em vários tipos de

sistemas agrários1: uns mais compatíveis com as condições ambientais

existentes e outros responsáveis pela grande perda de biodiversidade e

degradação dos recursos naturais.

A capacidade de conservação in situ da biodiversidade e dos

recursos naturais pelos agricultores tradicionais já é comprovada. Esses

agricultores encontram-se mais próximos à terra e possuem amplo

conhecimento sobre a natureza. Possuem técnicas de manejo, acumulada

ao longo de gerações, baseadas na compreensão aprofundada sobre o

ambiente em que vivem (Goméz-Pompa & Kaus, 1992; Hildebrant, 1987;

Caballero, 1986). Esta particularidade permitiu a esses agricultores

construírem uma agricultura própria, otmizando apenas os recursos naturais

disponíveis (Azevedo, 2003).

No contexto atual de desaparecimento de informações vinculadas

ao saber tradicional, devido ao abandono e substituição por modelos

1 “Expressão conceitual de um tipo de agricultura historicamente constituído e geograficamente localizado, composto de um ecossistema cultivado característico e de um sistema social produtivo definido. É caracterizado pelos tipos de instrumentos, de energia, de particularidades dos procedimentos técnicos e de conhecimentos utilizados, bem como das relações sociais envolvidas” (Mazoyer e Roudart , 2001).

2

diferentes, surge a importância de estudos voltados para essa categoria de

agricultores. A conservação da diversidade biológica está intimamente

relacionada com a manutenção da diversidade cultural. Portanto,

“compreender, resgatar e divulgar a importância do conhecimento tradicional

não apenas enriquece a ciência, como também pode gerar hipóteses e

direcionar pesquisas futuras”, contribuindo dessa forma com novas

possibilidades para agricultura e a conservação da biodiversidade (Diegues,

1994).

A presente pesquisa, de caráter exploratório e descritivo, teve

como objetivo entender como os agricultores da comunidade Santana,

utilizam e manejam a vegetação nativa, partindo da hipótese de que o papel

estratégico dos recursos florestais nativos de uma Unidade Produtiva (UP) é

o somatório da necessidade de conservá-lo, devido sua importância na UP,

com a necessidade de eliminá-lo, para que seja possível a implantação de

roças e pastagens. Para tanto, os objetivos específicos incluíram: descrever

os processos de manejo da vegetação nativa; identificar os recursos da flora

nativa utilizados pelos agricultores; quantificar e valorar os recursos

madeireiros nativos de uso direto nas UPs.

3

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1. Manejo e uso dos recursos da vegetação nativa.

Os estudos etnocientíficos, com as suas variadas ramificações

(etnobiologia, etnobotânica, etnosilvicultura, etnoagronomia etc), em que as

comunidades tradicionais e indígenas desempenham papel fundamental,

têm ganhado força nos últimos anos. Segundo Diegues (2000), a etnociência

parte da lingüística para estudar o conhecimento das populações humanas

sobre os processos naturais, tentando descobrir a lógica subjacente ao

conhecimento humano do mundo natural. A etnociência conjuga a base do

saber das ciências naturais com as ciências sociais, a fim de conhecer a

classificação e o uso dos recursos naturais por parte de comunidades

tradicionais e indígenas, e em que medida se detecta a influência humana

na manipulação e manutenção de sistemas ecológicos (Balée, 1989; Posey,

1984).

A etnobiologia, uma das ramificações da etnociência é definida

como o “estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por

qualquer sociedade a respeito da biologia. Em outras palavras, é o estudo

do papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a

determinados ambientes. Neste sentido, a etnobiologia relaciona-se com a

ecologia humana, mas enfatiza as categorias e conceitos cognitivos

utilizados pelos povos em estudo” (Posey, 1986).

A etnobotânica, outro segmento da etnociência, se ocupa no

estudo do conhecimento e das conceituações desenvolvidas por qualquer

sociedade a respeito do mundo vegetal; este estudo engloba tanto a maneira

como o grupo social classifica as plantas e os usos que dão a elas. Por meio

da etnobotânica, são analisadas as relações entre os seres humanos e os

4

recursos vegetais, procurando responder questões como: quais plantas

estão disponíveis, quais plantas são reconhecidas como recursos, como o

conhecimento etnobotânico está distribuído na população, como os

indivíduos diferenciam e classificam a vegetação, como esta é manejada e

quais os benefícios derivados das plantas (Posey, 1986). Portanto, muitos

aspectos despertam a atenção na pesquisa etnobotânica, como os alimentos

utilizados na região, materiais utilizados na construção, os recursos

utilizados como lenha, as práticas de agricultura, domesticação de plantas

dentre outros (Alcorn, 1989). Nos últimos anos os estudos etnobotânicos

também vêm tentando quantificar o potencial utilitário revelado pelo

conhecimento local de comunidades tradicionais e povos indígenas na busca

de alternativas aos severos desmatamentos das regiões tropicais e para a

conservação da biodiversidade (Toledo et al., 1995).

De acordo com Cardona (1985) citado por Amorozo (1996), o

termo etnobotânica é encontrado na literatura com duas conotações. A

primeira delas diz respeito à “uma verdadeira botânica científica, mas

recortada sobre o habitat, uso etc. de uma etnia específica” e seria realizada

por alguém com treinamento em botânica científica. A segunda enfoca “a

ciência botânica que possui uma etnia específica”, e seria realizada por

alguém com treinamento em antropologia e por quem se interesse como

uma dada etnia classifica seu mundo natural, sendo estas duas vertentes de

estudos complementares, o que significa na cooperação entre cientistas do

campo das ciências naturais e das ciências humanas.

Reforçando essa afirmativa, Witte (1998) escreve que a

etnobotânica tem suporte de outras ciências, já que ela possui

pesquisadores da botânica, antropologia, geografia, história, arqueologia,

sociologia etc, sendo um campo interdiciplinar que compreende o estudo e a

interpretação do conhecimento, significado cultural, manejo e usos dos

elementos da flora.

O caráter interdisciplinar que envolve a pesquisa etnocientífica é

de fundamental importância para o desenvolvimento de estudos mais

elaborados, e conseqüentemente, de maior credibilidade científica. Tendo

5

em vista a obtenção de melhores resultados, esse caráter interdisciplinar

requer mais que a simples associação de dados, requer a elaboração e

conseqüente desenvolvimento conjunto das pesquisas, conduzida por um

grande envolvimento entre diversos profissionais das áreas afins. Para que

isso seja possível é necessário que ocorra efetivamente a troca de

informações durante as várias fases da pesquisa, principalmente a

correlação entre elas, pois as informações obtidas de uma delas podem

interferir e muito nos resultados da outra, podendo até afetar a validade dos

resultados (Marques, 2002; Viertler, 2002).

De acordo com Marques (2002) o que hoje é chamado de

etnociência (ou etnociências) já emergiu no panorama científico como um

campo de cruzamento de saberes e tem evoluído por meio de um diálogo

frutífero entre as ciências naturais e as ciências humanas e sociais. Tem -se

como exemplo para estudos etnobotânicos, dependendo das circunstâncias

e de acordo com os objetivos, a associação de várias técnicas, como

entrevistas (técnica básica da pesquisa antropológica) e coleta de materiais

botânicos (técnica básica da pesquisa biológica). Podendo ainda recorrer a

outras técnicas, oriundas de várias disciplinas, dentre elas: análises

quantitativas e qualitativas, valorações econômicas e análises lingüísticas,

que são consideradas técnicas complementares, e que devem ocorrer de

forma integrada, uma dando respostas às questões que a outra não

consegue dar quando usada de forma isolada.

O uso dos recursos florestais nativos madeireiros e não-

madeireiros por comunidades tradicionais e indígenas é citado em vários

trabalhos científicos. De acordo com Tewari e Campbell (1996), mais de 500

milhões de pessoas que vivem nas redondezas das florestas tropicais

dependem de seus recursos para sobreviverem. Dubois (1996) cita o

exemplo de comunidades rurais da Amazônia (caboclos) que necessitam

dos recursos florestais para o sustento da população local, que consomem

frutos como alimento; folhas, cascas e sementes como medicamento, e

madeiras e fibras para construção de casas, utensílios e benfeitorias rurais.

Os Caiçaras, comunidade tradicional do litoral paulista, também são

6

dependentes da flora nativa para os mais diversos fins; utilizam madeira

para fabricação de móveis, embarcações e rodas de carro-de-boi, vigamento

e construções rurais, várias plantas medicinais e alimentícias, fibras para

confecção de cestos, balaios etc (Adams, 2000).

Muitas populações tradicionais manejam o ambiente em que

vivem para obtenção dos recursos da vegetação nativa. Posey (1986)

discute sobre o uso e remanejamento das florestas e savanas por povos

indígenas brasileiros, apontando a dependência de densas populações pelas

florestas secundárias manejadas. Este autor ressalta o hábito muito

difundido entre os Kayapó em transplantar espécies da flora nativa,

classificada como “agricultura nômade”, para facilitar a obtenção de

recursos.

Um estudo etnobotânico conduzido entre os índios Kayapó da

aldeia Gorotire, no sul do Pará, mostra que eles não somente usam todas as

espécies encontradas no apêtê (ilhas de vegetação), mas também plantam a

maioria dessas espécies. Das 120 espécies encontradas no inventário, 90

(75%) foram consideradas como espécies plantadas (Posey e Anderson,

1985). O manejo de cerrado pelos Kayapó parece basear-se na

heterogeneidade ambiental; esses índios aumentam a diversidade e a

manutenção de aglomerados de vegetação ricamente diversificada, dentro

de um ambiente relativamente inalterado, tanto em savanas abertas como

florestas fechadas. Esta tática de manejo visa à manutenção de

comunidades múltiplas durante gerações Baleé (1989) caracteriza algumas

formações da vegetação na floresta Amazônica como conseqüência da

manipulação humana. Nestas formações, o autor destaca algumas espécies

como indicadores de distúrbios ocorridos na vegetação primária.

Denominadas de florestas antropogênicas, essas formações são compostas

por espécies de palmeiras (inajá Maximiliana maripa, tucumã Astrocaryum

vulgare, babaçu Orbignya phalerata), bambus e algumas frutíferas como a

castanha (Bertholletia excelsa), que ocupam grandes extensões de área na

floresta amazônica.

Segundo Dubois (1990) as comunidades tradicionais da

7

Amazônia (caboclos e índios) têm modificado notavelmente a paisagem

florestal primária e secundária. Os cultivos anuais durante breves períodos

em clareiras feitas no interior de áreas com vegetação nativa têm favorecido

em muitos casos formações florestais com um número limitado de espécies

arbóreas. Quase todas estas espécies são boas colonizadoras e crescem

facilmente nestes espaços. Em muitas partes da Amazônia encontram-se

antigos bosques com predomínio da castanha (Bertholletia excelsa).

No estado do Maranhão, a palmeira babaçu (Orbignya spp.),

desempenha uma função determinante na economia regional. Esta espécie

forma maciços secundários praticamente puros, que cobrem uma superfície

de mais de 100.000km2, em locais de solos moderadamente férteis e de boa

estrutura, onde ocorreram queimadas na vegetação primária (Teixeira et al.,

2000).

Na região de Iquitos, na Amazônia peruana, agricultores praticam

uma ordenação florestal intensiva, mediante ao manejo, para obterem

produtos florestais, para consumo e para comercializar. Esses agricultores

utilizam as parcelas queimadas e plantam algumas espécies perenes como

a castanha (Bertholletia excelsa), o caju (Anacardium occidentalle) e palmito

(Euterpe precatoria) que são vendidas juntamente com carnes e couros de

animais caçados e carvão vegetal. Essas espécies são proveniente do corte

de árvores de áreas de pousio com mais de vinte e cinco anos, que serão

novamente utilizadas para agricultura temporária (Dubois, 1996).

As rápidas mudanças sociais, culturais e econômicas afetam

fortemente o conhecimento local sobre o uso de recursos naturais (Benz et

al., 2000; Caniago e Siebert, 1998; Amorozo e Gély, 1988). Os problemas

decorrentes dessa perda cultural são irreversíveis e, com ela, as

possibilidades de desenvolver sustentavelmente uma região com base na

experiência local são reduzidas. Todos esses aspectos já vêm sendo

discutidos por diversos autores (Albuquerque, 1999; Rêgo, 1999; Begossi,

1998; Diegues, 1994). Segundo (Begossi et al., 2002), o estudo das

populações humanas sob a ótica da ecologia (modelos e conceitos) é útil

para entender o comportamento humano e suas transformações, em

8

especial o de subsistência. O foco da Ecologia Humana na subsistência

deve-se aos seguintes fatores: a) as ferramentas da ecologia são aplicadas

em especial ao mundo natural; b) no mundo natural, as populações vivem

em estreita relação de consumo e dependência com o ambiente local; c) o

comportamento de subsistência inclui processos de decisões sobre como

obter, escolher e consumir recursos; d) conforme as populações tornam-se

urbanas, os processos de decisão passam a depender mais de fatores

econômicos que ecológicos.

Portanto, pelas comunidades tradicionais apresentarem fluxo

socioculturais dinâmicos fez com que Begossi (2001) fizesse comparações

entre as comunidades tradicionais aos estudos de fragmentos florestais,

analisados sob perspectivas do conceitos ecológicos de resiliência e efeito

de borda. Segundo a autora, a resiliência é determinada por uma seqüência

de liberação e re-organização, sendo considerada como a magnitude de

perturbações que podem ser absorvidas antes que mudanças em um

sistema ocorram. E a abordagem de efeito de borda está relacionada ao

isolamento e tamanho dos fragmentos florestais ou comunidades tradicionais

influenciado pelo tipo e tamanho da vizinhança. Isso pode determinar maior

ou menor conservação da “cultura tradicional”, reduzindo ou ampliando o

efeito de borda. Essas mudanças culturais fez com que a autora

classificasse as comunidades como sistemas neotradicionais, por

apresentarem elementos de sistemas tradicionais como de sistemas

recentes e emergentes. Assim as populações neotradicionais são as que

possuem tanto conhecimentos tradicionais quanto uma bagagem de novos

conhecimentos provenientes de fora. As populações apresentam novas

variedades de conhecimentos adquiridos, mas podem existir diferenças na

proporção do que é velho e do que é novo. Naturalmente, muitos

comportamentos aprendido de sociedades externas não são ecologicamente

adaptativos e nem todas as tradições podem ser consideradas como

ecologicamente “sustentáveis”. Segundo a autora, os pontos-chave são as

possibilidades de se adquirirem novas variedades, mantendo a variabilidade

para adaptação a mudanças. A fronteira cultural flexível das comunidades

9

neotradicionais pode diminuir a inércia cultural e torná-la mais acessíveis a

novos valores culturais, o que pode levar a adaptações e práticas culturais

que auxiliem a aumentar a resiliência.

10

3 . METODOLOGIA

Esta pesquisa é parte de um estudo denominado projeto Morraria,

que integra o Programa de Estudos de Sistemas Agrícolas (ProSA) da

Universidade Federal de Mato Grosso. Esse programa tem como objetivo

geral pesquisar o conhecimento tradicional, definido de maneira simplista

como conjunto de saberes de agricultores tradicionais sob diversos

aspectos. O Projeto Morraria, atualmente com seis subprojetos, busca

compreender a construção do conhecimento, o entorno agroecológico,

socioeconômico e histórico-cultural e a forma de ocupação do território por

agricultores tradicionais que habitam, por várias gerações, uma antiga área

de Sesmaria2 numa região conhecida como Morraria, no município de

Cáceres, estado de Mato Gross (MT).

3.1 Localização e características da área de estudo

A área de estudo está localizada numa região conhecida como

Morraria, cerca de 45 km do município de Cáceres, sudoeste do estado de

Mato Grosso, na latitude 16º04’00” e longitude de 57°41’00” (Figura 1).

A região possui características topográficas marcada por vales,

cercados por um conjunto de serras paralelas com altitude variando de 200 a

620 metros (BRASIL,1982). A vegetação nativa dos vales compreende

fitofisionomias que variam de cerrado, campo cerrado e cerradão e as serras

são cobertas por uma vegetação classificada como floresta estacional

2 Sesmarias são domínios titulados ou não, que quando tornados espólios permaneceram indivisos por várias gerações, sem que houvesse partilha formal, destacando-se o vínculo moral e significativo entre a terra e o parentesco. A sesmaria, que foi a primeira forma jurídica de apropriação e ocupação do território brasileiro, está extinta desde julho de 1822 (Castro, 2001).

11

decídua, que se caracteriza por perder as folhas na época mais seca (Sano

e Almeida, 1998). Atualmente, pode-se observar um mosaico de vegetação

secundária (capoeiras) em diferentes estágios de sucessão, resultante do

cultivo itinerante, e pastagens (Figura 2 e 3).

A região, que pertence ao domínio morfoclimático chamado de

Morrarias, é embasada em rochas calcárias e possui clima com duas

estações bem definidas. A precipitação pluviométricas anual está em torno

de 1.216,2 mm, com cerca de 80% das chuvas concentradas entre setembro

e abril, e uma estação seca entre maio e agosto. A temperatura média na

estação mais fria é de 21o C e 32 o C no verão (Castro, 1994).

Brasil

N

Mato Grosso

Cáceres

FIGURA 1. Localização do município de Cáceres.

12

FIGURA 2 - Vista aérea da região da Morraria, Cáceres (MT) (Fonte: SEMATUR)

FIGURA 3 - Aspecto da paisagem na comunidade Santana, Morraria, Cáceres (MT)

13

3.2. Seleção da área e dos informantes para o estudo etnobotânico.

Na primeira fase do projeto Morraria foram levantados dados

sociais, culturais e econômico de 40 unidades produtivas (UPs), das

comunidades Santana, Taquaral, Água Branca e Vila Aparecida. Nessa fase,

por meio de entrevistas fechadas (questionários) foram levantados dados

como nome completo e apelido dos agricultores, rotas migratórias, número

de membros da família, sexo, idade, nível de escolaridade, fontes de renda,

etc. A partir desses dados foi feito um diagnóstico preliminar na tentativa de

entender o modo de vida do grupo de agricultores em estudo. Essas

informações estão disponíveis no banco de dados do projeto Morraria,

portanto não serão abordadas de forma específica neste trabalho.

A comunidade Santana foi selecionada devido a existência de

agricultores tradicionais (objeto de estudo do projeto Morraria) e pela

facilidade de locomoção entre as UPs.

Foram considerados agricultores tradicionais aqueles que não se

inseriram por inteiro nos modelos tecnológicos da agricultura industrial,

baseados na intensificação do uso dos recursos naturais e na introdução de

insumos externos em seus sistemas de produção (Azevedo, 2003). De

acordo com Diegues (2000) e Diegues (1994), os agricultores tradicionais se

caracterizam:

a) pela dependência por uma estreita relação com a natureza, os

ciclos naturais (sazonalidade) e os recursos naturais renováveis com os

quais se constrói um modo de vida;

b) pelo conhecimento aprofundado da natureza e de seu ciclos que

se reflete na elaboração de estratégias de uso e de manejo dos recursos

naturais. Esse conhecimento é transferido por oralidade de geração em

geração;

c) pela noção de território ou espaço onde os grupos sociais se

reproduz econômica e socialmente;

d) pela moradia e ocupação desse território por várias gerações,

ainda que alguns membros individuais possam ter se deslocado para os

14

centros urbanos e voltado para a terra de seu antepassados;

e) pela importância das atividades de subsistência, ainda que a

produção de mercadorias possa estar mais ou menos desenvolvidas, o que

implica numa relação com o mercado;

f) pela reduzida acumulação de capital;

g) pela importância dada à unidade familiar, doméstica ou comunal

e às relações de parentesco ou compadrio para o exercício das atividades

econômicas, sociais e culturais;

h) pela tecnologia utilizada que é relativamente simples, de impacto

limitado sobre o meio ambiente;

i) pela auto-identificação ou identificação pelos outros de se

pertencer a uma cultura distinta das outras.

Depois da seleção inicial da área de amostragem e das UPs, os

agricultores foram procurados, individualmente, para que fossem informados

de forma bem clara, o motivo da pesquisa e a necessidade da colaboração

deles. A seleção final dos informantes (e das UPs) só ocorreu depois que os

mesmos concordaram em participar do trabalho.

O trabalho foi realizado em 10 UPs da comunidade Santana, num

total de 11 UPs que se encaixavam no critério de seleção. Colaboram na

pesquisa 17 informantes, sendo 11 homens adultos, 3 jovens adolescentes e

3 mulheres adultas. Dos 17 informantes, 8 homens participaram das

entrevistas formais e 6 pessoas (5 homens e 1 mulher) foram considerados

como informantes-chave, assim entendidos como possuidores de

conhecimento mais extenso sobre as plantas, seus usos e do ambiente onde

vivem (Azevedo e Coelho, 2002).

Para definição de uma amostra representativa, foi usada a técnica

da escolha aleatória dos membros da comunidade até que as informações

por eles fornecidas tornassem repetitivas (Gil, 1995). Além desse

instrumento, a composição da amostra foi definida por indicações de

pesquisadores que trabalharam na primeira fase do projeto Morraria. A pesquisa etnobotânica foi utilizada como instrumento para

levantar e documentar o conhecimento tradicional dessa amostra de

15

agricultores, considerados como o grupo de pesquisa. Esse conhecimento

tradicional foi observado no que se refere à identificação, usos e manejo dos

recursos da flora nativa.

Foram realizadas seis visitas a campo, no período de maio de

2003 a dezembro de 2005, com tempo de permanência entre 1 e 17 dias,

num total de 40 dias (Tabela 1). Quando o tempo de permanência

ultrapassou 1 dia, o pernoite era realizado em acampamento no quintal de

uma das UPs selecionadas. Isto foi muito positivo para pesquisa, pois essa

estadia na “casa” de dois informantes-chave (casal) contribuiu para a criação

de um vínculo de amizade e confiança que era traduzida em vários

depoimentos orais e informais da história de vida desses e dos demais

agricultores da comunidade. O tempo de contato com os informantes tem

sido relatado como importante, e possibilita maior interação e compreensão

das inter-relações que se estabelecem (Amorozo, 1996).

TABELA 1. Visitas realizadas a campo no período de coleta de informações da pesquisa.

Visita/Data Permanência Atividades realizadas

Mai 2003 1 dia Reunião coletiva com agricultores das comunidades para apresentação do projeto Morraria.

Ago 2003 3 dias Conversa individual com agricultores da comunidade Santana para agendamento das entrevistas.

Fev 2004 17 dias Coleta de dados.

Jun 2004 1 dia Visita informal.

Set 2004 9 dias Coleta de dados.

Dez 2004 9 dias Coleta de dados.

A coleta de dados foi feita com o objetivo de levantar dados

qualitativos e quantitativos. Para isso houve a associação de várias técnicas,

como entrevistas informais e formais (semi-estruturada e abertas);

observação direta e observação participativa, caminhadas pelas UPs,

16

inventários, coleta de material botânico e registro fotográficos, conforme

recomendado por (Azevedo e Coelho, 2002; Viertler, 2002).

3.2.1. Entrevistas. Nas entrevistas formais, sempre marcadas antecipadamente,

utilizou-se o modelo semi-estruturado. Esse tipo de entrevista foi utilizado

para coleta de informações qualitativas, mais dirigidas, na qual foi preparado

um roteiro de tópicos para que não fosse esquecido nenhum aspecto

considerado previamente importante. Esse roteiro funcionou de forma

dinâmica e aberta, onde, na medida em que o informante respondia, ocorria

espontaneamente à proposição de novos tópicos a serem abordados.

As entrevistas foram registradas resumidamente de forma escrita

num diário de campo e gravadas em fita cassete de forma simultânea. A

gravação só ocorreu quando houve permissão do agricultor. Depois, as

entrevistas foram transcritas exatamente como gravadas, preservando o

modo e a fala do agricultor.

Nas entrevistas informais, as anotações não foram feitas

presencialmente, e sim pós-relato. Essas entrevistas geralmente ocorriam

durante as refeições, nas horas de descanso, nos encontros ao acaso com

agricultores (às vezes em grupo), nas caminhadas pela UP para coleta de

lenha e/ou produtos da roça e na hora de apartar o gado. As transcrições

foram feitas no mesmo dia das entrevistas, de forma a não prejudicar

qualquer informação coletada.

3.2.2. Observação direta e observação participativa

Nas atividades desenvolvidas no cotidiano dos agricultores, como

coleta de madeira para lenha, cabo de ferramentas e construção, e nas

queimadas em áreas de pastagens, foi adotada a técnica da observação

participativa, na qual o pesquisador se envolve na execução das atividades.

As informações sobre os processos de colheita, armazenagem e

beneficiamento de produtos provenientes da roça, “limpeza” de pasto,

17

acompanhamento do processo de regeneração em áreas de pousio e a

constatação do uso direto dos recursos da vegetação nativa nas UPs foram

obtidas por meio da observação direta no campo. Como sugere Azevedo e

Coelho (2002) a observação direta dos usos e dos conhecimentos sobre a

vegetação nativa, deve contar com uma contextualização das informações

obtidas para o entendimento mais completo dos processos.

3.2.3. Coleta e identificação do material botânico

A coleta de material botânico para identificação foi feito na própria

comunidade. Três informantes-chave, que possuiam bastante conhecimento

da flora local, participaram ativamente do processo de coleta que se

procedeu da seguinte forma: As espécies utilizadas foram levantadas nas

entrevistas (formais e informais), em observações direta e participativas e

nas caminhadas pelas UPs. A partir desse levantamento foi feito uma lista

das espécies com seus respectivos usos e locais de ocorrência. À medida

que se construía essa lista com entrada de novas espécies, também

procedia-se a coleta do material botânico.

Para a coleta do material botânico foi utilizado tesoura de poda,

facão, podão, prensa de madeira, jornal, papelão, fita adesiva e saco de

ráfia. Fotografias também foram utilizadas para identificar algumas espécies

de palmeiras.

Foram coletadas três amostras de cada espécie, de forma

representativa em relação ao aspecto geral da planta (filotaxia dos ramos no

galho e das folhas e quando possível ramos com flores e frutos) (Silva,

2002). Devido a proximidade dos locais de coleta, esses materiais eram

acondicionados em sacos de ráfia e levados para serem organizados e

prensados na moradia do informante.

Cada amostra era acondicionada entre folhas de jornal junto com

uma etiqueta escrita a lápis com o nome popular da espécie, data, local de

coleta e nome do informante. A etiqueta era presa ao ramo como uma fita

adesiva para evitar perda no manuseio das exsicatas. Depois desse

procedimento as amostras eram colocadas na prensa (Figura 4).

18

A coleta do material foi realizada nos últimos dias da visita a

campo no intuito de conservar características como a cor e evitar a

contaminação com fungos.

FIGURA 4 - Exsicatas para identificação botânica.

As amostras foram identificadas no herbário central da

Universidade Federal de Mato Grosso e contou com o auxílio de três

técnicos do herbário e de material bibliográfico (Lorenzi, 2002; Silva, 1998;

Lorenzi, 1992; Santos, 1987).

3.3. Análise florística e fitossociológica em áreas de pousio

(capoeiras).

As coletas de dados para o estudo florístico e fitossociológico

foram realizadas em duas áreas, uma com três e outra com oito anos de

pousio. A área total foi medida com trena e possuía 0,62 hectares (ha) para

o local com 3 anos de pousio e 0,80 ha para o local com 8 anos de pousio.

19

Em cada sítio foram alocadas duas parcelas quadradas, de 10 m x 10 m

totalizando 0,02 ha, distribuídas de forma sistemática aleatória. As parcelas

foram delimitadas com piquetes e barbante, e subdivididas em subparcelas

de 2 x 10 m a fim de facilitar a análise demográfica das plantas (Castellani,

2002).

A análise florística contou com ajuda de dois informantes-chave

que informavam o nome popular das espécies que conheciam. A coleta das

plantas amostradas seguiu os mesmos procedimentos citados no item 3.2.3.

Os dados de campos das espécies arbustivas e arbóreas foram

obtidos em um nível de abordagem: foram incluídos todos os indivíduos com

circunferência ≥ 3,0 cm medido a 15,0 cm do solo. As avaliações foram

feitas em todos os indivíduos das parcelas que atendiam esse requisito,

sendo tomados os dados de circunferência (cm) a 15,0cm do solo e altura

total (em metros). Quanto às espécies de cipós – japecanga (Smilax sp) e

tripa-de-galinha (Bauhinia glabra) foram apenas contabilizados o número de

indivíduos encontrados nas parcelas.

Na medição da circunferência utilizou-se uma fita métrica. A

altura, definida como o comprimento da base do indivíduo ao nível do solo

até o ápice foi medida com uma fita métrica aderida a uma vara de taquara.

Análise quantitativa do inventário

As estimativas dos parâmetros da estrutura horizontal, obtidas por

meio dos dados do inventário, incluíram a densidade, a freqüência e a domi-

nância. Esses parâmetros foram calculados por meio das seguintes

expressões (O’Brien e O’Brien, 1995):

A. Densidade Absoluta (DA) e Densidade relativa (DR)

An

DA ii =

em que

ni = número de indivíduos amostrados da i-ésima espécie; e A = área amostrada, em hectares.

20

100.NDADR1

iii ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∑==

S

i

em que DA i = densidade de indívíduos da i - ésima espécie; e N i = número total de indivíduos amostrados por hectare B. Freqüência Absoluta e Freqüência Relativa

100xT

ii uu

FA =

em que

ui = número de unidades amostrais com a ocorrência da i-ésima espécie; e

uT = número total de unidades amostrais.

100.FAFAFR1

iii ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∑==

S

i

em que

FAi = freqüência absoluta da i - ésima espécie

FA = freqüência de todas as espécies

C. Dominância Absoluta e Dominância Relativa

AAB

DoA ii =

sendo ABi a área basal da i-ésima espécie, expressa em m2/ha, obtida da

soma das áreas individuais a partir da fórmula do círculo = Σπd2/4, em que d

é o (diâmetro a altura de 15cm do solo).

100.DoADoADoR1

iii ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∑==

S

i

em que

DoA = Dominância absoluta total da i - ésima espécie

21

3.4. Valoração econômica dos recursos florestais de uso direto da flora nativa

Para a valoração dos recursos florestais primeiramente foram

identificados todos os recursos de uso direto da vegetação nativa nas

Unidades Produtivas. Posteriormente esses recursos foram quantificados

por meio de contagem do número de peças de madeira utilizadas e

medições do comprimento e diâmetro para madeiras cilíndricas e

comprimento, largura e espessura para madeiras serradas.

Para medir o consumo médio diário de lenha de uma casa com

quatro pessoas foram tomados dados de diâmetro e comprimento e peso de

todas as peças de madeira utilizadas no fogão durante 30 dias (Figura 5). O

volume em metros cúbicos (m3) foi calculado com base na fórmula do

volume do cilindro reto e posteriormente convertido em metro esteres (mst)

de madeira como proposto por Santos (1987).

FIGURA 5 – Medição do peso da lenha.

22

A valoração desses recursos seguiu o princípio da atribuição de um

valor monetário aos mesmos. A idéia básica é saber quanto custaria a

aquisição no mercado desses bens ou similares, ou de tecnologias

alternativas que possam substituir determinado bem (Pinedo-Vasquez et al.,

1992).

Para abordar a escala temporal da valoração (valor(R$)/ano) as

madeiras foram divididas em duas categorias: madeira branca e madeira de

cerne. As madeiras brancas são as de baixa durabilidade quando exposta ao

tempo, por isso são substituídas a cada 2 anos. A distribuição do valor no

tempo para madeiras de cerne foi considerada de 25 anos.

Foi recorrido ao uso de tecnologia alternativa de substituição

quando não havia no mercado produtos de tal natureza, e

conseqüentemente valores/preço desses bens ou de similares. Todas as

coberturas com folhas de indaiá (Attalea geraensis), palmeira típica da

região amplamente utilizada pelos agricultores em suas benfeitorias (Figuras

6 e 7), foram valoradas de com base na tecnologia alternativa de

substituição (valor de telhas de amianto).

A tomada de preço foi feita no município de Cáceres, por meio de

informações, em estabelecimentos comercias consumidores de lenha

(padarias e pizzarias), em serrarias, depósitos e importadores de madeira

(aroeira Astronium urundeuva proveniente da Bolívia).

23

FIGURA 6. Vista externa de uma moradia com cobertura de indaiá (Attalea geraensis).

FIGURA 7. Vista interna de uma moradia com cobertura de indaiá (Attalea geraensis).

24

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Manejo da vegetação nativa no cultivo da terra.

A agricultura tradicional praticada por esses agricultores guarda

influência marcante da tradição indígena (Baleé, 1989). Seus roçados e suas

roças se enquadram no sistema de pousio. Esse modelo de agricultura, que

derruba, queima e alterna, em uma mesma área, períodos de cultivo e

períodos de pousio florestal é ainda praticada em várias regiões tropicais por

agricultores vinculados ao saber tradicional (Leal, 2004; Noda, 2002;

Begossi, 2002; Adams, 2000; Kato e Kato, 2000; Altieri, 1992; Gomez-

Pompa e Kaus, 1990).

As áreas cultivadas existentes nas unidades produtivas (UPs),

apresentam roças e pastagens para criação extensiva de gado (Figuras 8 e

9). Suas roças são baseadas no policultivo e procuram atender basicamente

o consumo da família e de suas criações (porcos e galinhas). Dentre a

grande diversidade de espécies encontradas nas roças, a mandioca, o arroz,

o feijão, o milho e a banana assumem papel principal nos cultivos por serem

a base da alimentação dos agricultores e de suas criações (Tabela 2).

Todas UPs estudadas possuem roças, mesmo que não seja no

seu interior, como verificado em uma delas, que possui roças em outras

áreas por não ter local apropriado para essa atividade, reforçando o conceito

de espaço funcional3 (Azevedo, 2003).

3 A noção de território implica na existência de um determinado espaço sobre o qual o agricultor tem controle. Está, assim, associada à idéia de poder sobre um conjunto de recursos essenciais à reprodução da UP. O território pode ter dois significados. De um lado, o espaço fundiariamente destinado ao agricultor, seja por compra, assentamento ou posse. De outro lado, significa também aquele espaço que pode extrapolar o da propriedade “legalmente” estabelecida, mas que é essencial para reprodução da UP.

25

FIGURA 8 - Roça em uma unidade produtiva da comunidade Santana.

FIGURA 9 - Área de pastagem em uma unidade produtiva da comunidade Santana.

26

TABELA 2 – Espécies observadas nas roças das unidades produtivas estudadas (período: maio de 2003 a dezembro de 2004).

Nome popular Nome científico Família

Abacaxi Annanas comosus L. Bromeliaceae

Abóbora Curcubita sp. Cucurbitaceae

Amendoin Arachis hypogea Leguminoseae

Arroz Oryza sativa L. Gramineas

Banana Musa spp. Musaceae

Batata-doce Solanum sp. Solanaceae

Café Coffea arabica L. Rubiaceae

Cana-de-açucar Saccharum officinarum L. Gramineae

Cará Dioscorea sp. Dioscoreaceae

Feijão Phaseolus vulgaris L. Leguminoseae

Inhame Dioscorea sp. Dioscoreaceae

Mamão Carica papaya L. Caricaceae

Mandioca Manhiot esculenta Crantz Euphorbiaceae

Maxixe Cucumls sp. Cucurbitaceae

Melancia Citrullus vulgaris Schrad Cucurbitaceae

Milho Zea mays L. Gramineae

Pimenta Capsicum sp. Solanaceae

Quiabo Malvaceae Albelmoschus esculentus

A pecuária extensiva e a criação de pequenos animais também

fazem parte da atividade produtiva desses agricultores (Tabela 3). As

pastagens para criação de gado estão presentes em 50% das UPs

estudadas. Essa atividade é realizada em pequenas áreas e caracteriza-se

por apresentar baixa produtividade que decorre, principalmente, da escassez

de alimento durante o período seco, quando a disponibilidade de forragem

nativa e plantada é bastante reduzida. A criação de porcos e galinhas estão

presente em todas as UPs estudadas. São as principais fontes de proteína

animal desses agricultores.

27

TABELA 3 - Criação animal nas Unidades Produtivas de agricultores tradicionais da Comunidade Santana.

Criações Nº de Unidades Produtivas (UP)

Cachorro 10

Galinha d’angola 8

Galo/Galinha 10

Gato 10

Peru 5

Bovino 5

Eqüino 2

Suíno 10

Assim, quase que somente em nível de subsistência é a relação

desses agricultores com a terra. A venda externa não é a meta final para os

produtos, embora ocorra em pequena escala, pois além das dificuldades

encontradas para transportar a produção, não há aceitação no mercado das

variedades produzidas. As trocas envolvendo produtos locais por não locais

assumem relevante importância, já que serve como fonte alternativa para

aquisição de outros produtos, ou mesmo para a circulação do pouco dinheiro

que é revertido em outros elementos necessários. Essas particularidades

também foram observadas nos trabalhos de Castro (2001); Ribeiro (1998);

Moreno (1993) e Felix et al. (1984) que trabalharam com agricultores

remanescentes de áreas de sesmarias em outras localidades no estado de

Mato-Grosso.

A escolha dos agricultores do local para o cultivo de roças e

pastagens atende alguns critérios previamente definidos.

“Eu prefiro uma mata fechada, uma mata boa né, que eu vejo que é uma mata sempre levantada, fresca, que ela já mostra, indica que aquela terra já serve, pode dar certo, né, que pertence mais beira rio e cê começa a plantar já começa a produzi, que a parte de campo não

28

produzi, no campo tem a pedra, ali tem a terra pura, tem chão de areia, tudo tem ali ” (se referindo a uma área de campo próximo a sua casa).” (Sr. Catulino)

“Agente escolhe o lugar pra fazer a roça onde tem a mata mais enfaxada, quando tem mais folha, aí indica uma faixa melhor. Aqui mais na bera do rio já é terra de cultura, tem um mato mais levantado, uns paus mais grosso” (Sr. Armindo).

“Escolhe a capoera mais levantada e dexa a mais baixa, mato baixo suja muito. O brejo tem mato levantado mas não serve.” (Sr. Benedito)

“A terra que pertence o bacuri ela costuma ser boa, ela produz né, se nega pra uma coisa mas pra outra ela sai. Muitas vezes pode nega pro milho mas sai pro pasto.” (Sr. Totó)

“Na terra que tem assim, angico, peroba, ingarana, cumbaru, manduvi, cedro, essa madeira assim indica que toda planta quo cê planta sai.” (Sr. Antônio)

“Ali onde parece terra de cultura mas não é, é um pedregal, um lugar feio, lugar de pedra, aí eu dexei ele então, esse é um cerrado fraco que agente fala dele, aqui mais em cima é campo, ele tá entre o campo e a terra de cultura, onde tem aquela roça.” (Sr. Catulino)

“Onde dá terra boa dá galho grosso, onde dá galho finin é terra ruim” (Sr. Máximo)

“Aqui já derrubou e jogamo capim, aqui é cerrado. As roça a gente faz nessa faixa aqui de baixo” (Sr. Armindo)

“No campo limpo não dá prá pô braquiara não, só no mais grossin né.(se referindo a presença de espécies arbóreas). Aí pega. O proveito que agente tira é que o gado também come aquele capim, cata um pouco” (Sr. Catulino)

A análise dos depoimentos orais dos agricultores permitiu verificar

que os critérios vegetação nativa, tipo de solo e paisagem, são analisados

de forma conjunta, não havendo separação clara entre eles. Os cultivos das

roças são feitos em terrenos de maior fertilidade, geralmente associadas a

29

cursos d’água (mata ciliar). As pastagens ocupam áreas onde o terreno

possui menor fertilidade.

Essas falas relacionam o saber à percepção de relevo,

localização da terra, tipos de solos, microclima, vegetação, estágio de

sucessão ecológica, uso da terra e outros aspectos do ambiente natural.

Cada um desses aspectos tem sido abordado na literatura. Martin (1995)

em seus estudos relaciona a qualidade do solo com base na vegetação que

esse suporta, mostrando que espécies indicadoras revelam a localização de

nutrientes em solos ricos ou sítios onde a terra está erodida e lixiviada.

Azevedo (2001) também observou esse comportamento em agricultores do

Vale do Guaporé (MT), que e além de espécies indicadoras, usavam a

aparência da vegetação na classificação de determinado sítio.

Características como umidade, cor, textura e utilidade foram levantadas

como os principais critérios de classificação do sítio, verificando também

que as relações entre a distribuição do solo e topografia são freqüentemente

melhor entendidas, quando se incluiu fertilidade relativa de terras próximas

de rios e áreas florestadas (Alves, 2004). Índios Kayapó fazem suas

distinções verticais e horizontais baseadas na cor, textura e capacidade de

drenagem, o que lhes permite predizer os componentes resultantes da flora,

chamando a atenção que para cada tipo de ecozona o manejo é feito de

forma distinta, segundo suas características específicas (Posey, 1987).

A região da comunidade Santana, compõe-se de uma grande

variedade de ecótonos, mais complexa que os compartimentos

paisagísticos homogêneos reconhecidos, na divisão de cerrado, cerradão e

campo-cerrado. De acordo com a classificação dos agricultores dessa

comunidade, diversas variações podem ser percebidas na região,

mostrando a grande heterogeneidade de ambientes percebida por eles. O

mesmo acontece no trabalho de Posey (1984), na região amazônica, que

levantou quase quarenta zonas ecológicas nas variações de campos,

matas, serras e ilhas, e, que apresentavam relações específicas com

plantas e animais.

30

As roças sempre ocorrem em áreas abertas no interior da

vegetação nativa (Figura 10) e são baseadas na agricultura de corte e

queima, na fertilidade natural dos solos sem o uso de mecanização, e no

pousio da terra (depois da colheita, as clareiras são abandonadas para

permitir a renovação da cobertura vegetal e o descanso do solo). As roças

desses agricultores são chamadas de roça-de-toco ou roça-de-coivara.

FIGURA 10 – Roça-de-toco implantada no meio de uma clareira da vegetação nativa,

comunidade Santana. “Roça aqui só tem essa e uma capoera ali, que vou voltá nela daqui uns dois ano.” (Sr. Armindo)

“Tem vez que a roça fica um ano, dois ano, três ano, aí dexa levantar o mato pra fazê outra roça, aí dexa dois, três anos e volta.” (Sr. Benedito)

“Nós táva cuidando de outro lugar, aí venceu lá, agora vão vim pra cá, derrubá essa capoera.” (Sr. Armindo)

O agricultor realiza sua própria ordenação territorial rotacionando

temporalmente suas áreas de roças a fim de permitir o restabelecimento da

fertilidade do solo. O auge da produção agrícola se dá nos primeiros anos de

plantio, em que os nutrientes do solo se encontram mais disponíveis. Logo

31

após o terreno cultivado já não produz satisfatoriamente, obrigando os

agricultores a derrubarem outra porção de mata. Segundo Metzger (2000) a

quantidade e qualidade desses nutrientes dependem da fertilidade natural do

solo e da quantidade de biomassa da vegetação que anteriormente se

encontra sobre a área.

“Primeira coisa que fiz foi roçá né, roçá de foice, cortando o mais fino né, aí depois, terminei de roçá, entrei com machado derrubando o mais grosso, aí as madera que agente viu que poderia ter ficado agente dexô. Eu dexei o cedro, o ipê. O angico agente mata, ele resseca a terra, mata planta da gente. Depois que derruba deixa 30 a 60 dias e taca fogo, mas se vê que vai chovê agente queima antes disso. Nem que fica muita coivara, depois ajunta e queima de novo, é melhó que ficá a roça pra quemá. O tempo mudô, tá diferente, já quema. Porque é o seguinte, muitas vezes esse período de roçada já tem um mês ou mais de mês roçado sequim, na foice, né, aí derrubou no machado com 15 dias pode ponha fogo. Isso aconteceu naquela rocinha ali, derrubei em setembro mas só que já tava roçado de foice desde o mês de julho, comecei em julho já tinha pauzim seco, aí derrubou com oito dia de derrubado, eu tava com um companheiro aí, aí eu falei sabe o que o tempo tá bom pra chovê, vou lá punha fogo, ficou muita coivara, mas a coivara só da derrubada num foi difícil de juntá não, limpá. A coivara é depois que agente põe fogo, tá derrubado, aí o fogo entra e queima, aí sobra gaiada de pau que não quemô, aqueles varotes que não quemô, vai acatrancando a terra aí vô de machado corta e amontoa, faz um monte grande, desocupa a terra aí vem com a palha e põe fogo. Então a gente não pode segurá não. Aí vem a chuva agente tem que coivará e plantá.” (Sr. Catulino)

A limpeza da área para o cultivo segue etapas bem definidas.

Todos os agricultores citaram a mesma seqüência nesse procedimento:

limpeza da área/corte da vegetação existente - queima - plantio - colheita -

pousio, havendo algumas variações na intensidade de uso do solo e no

tempo de pousio das áreas destinadas as roças. Quanto ao calendário há

certa flexibilidade nas atividades de limpeza, mas elas ocorrem sempre no

período mais seco do ano (maio a setembro), que antecede a época de

32

plantio. A Tabela 4 mostra as atividades realizadas para a produção agrícola

ao longo do ano nas unidades produtivas.

TABELA 4 – Calendário de atividades relacionadas ao manejo da vegetação nativa para produção agrícola nas unidades produtivas da comunidade Santana.

Ecossistema Atividade Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Roçada X X

Derruba X

Queima X X

Coivara X X

Plantio X X X

Mata

ou

Capoeira

Capina X X X

Na tabela 4 quando se fala em mata, se refere a áreas que já

foram utilizada para atividades agrícolas e se encontra em estágio mais

avançado de sucessão.

As principais ferramentas utilizadas na derrubada de árvores são

a foice e o machado. Das 10 UPs estudadas, oito nunca utilizaram

motosserra no processo de abate de árvores.

“Os pau grosso agente deixa, madera grossa pro machado, dá muito trabalho.” (Sr. Máximo) “Madera grossa dá uma cansera pra derrubá, então dexa ela lá.” (Sr. Benedito)

As árvores que possuem aproximadamente diâmetro acima de 80

cm, de qualquer espécie, madeira de cerne ou madeira branca, são

deixadas em pé. Isto ocorre devido a dificuldade e ao desgaste físico para o

agricultor em abatê-las. Foram encontrados indivíduos arbóreos em áreas

de roça e pastagem, de várias espécies com circunferência a altura do peito

variando de 4,0 a 5,5 m e altura estimada de 30 m. Essas árvores são

remanescentes da vegetação primária que existia no local.

33

“Agente dexa as aroeiras, cumbaru, piúva porque já num tem muito mais, se algum dia precisá pra frente” (Sr. Armindo)

“Costuma dexá o cedro, cumbaru, aroeira, pode precisá no futuro.” (Sr. Duda)

“Tem as árvores no pasto pra fazê sombra, se tira tudo fica sem sombra pro gado. Tem a quimeira, barbatimão que também é remédio.” (Sr. Armindo)

O corte seletivo de árvores também é feito segundo outros critérios.

Além do diâmetro, como citado anteriormente, a seleção está relacionada

com as espécies que possuem algum valor de mercado ou de uso na UP,

conhecidas como madeira de cerne; quando há intenção de fazer sombra

para o gado nas pastagens; e para utilizar como mourão vivo no cercamento

das unidades de manejo das UPs (Figuras 11, 12 e 13).

FIGURA 11 - Árvore de ipê (Tabebuia sp.) como remanescente da vegetação primária em

área que atualmente está com 12 anos de pousio.

34

FIGURA 12 - Árvores no meio da pastagem para fazer sombra para o gado em uma

Unidade Produtiva da comunidade Santana.

FIGURA 13. Árvore de açoita-cavalo (Luehea sp.) usada como moirão-vivo na cerca da roça em uma Unidade Produtiva da comunidade Santana.

35

“O angico estraga o capim, aí agente tira ou mata ela e dexa lá pra pegá pra lenha depois.” (Sr. Armindo)

“O angico onde ele tá funcionando, a lavoura não sai, é tanto onde a sombra dele pega a lavoura é mais fraca, ele tem um tipo de coisa que não dêxa i pra frente, agente roleta o tronco dele, mata ele mas dexá em pé, que ele dá uma lasca pra fazer uma cerca, a galhada dá uma lenha boa, antonce dexá em pé que tem alguma serventia.” (Sr. Antônio)

“O angico resseca a terra, onde tem ele, aí tem que tirá, o que tá debaixo dele é prejudicado, num sai direito.” (Sr. Catulino)

Quando a espécie é um angico (Anadenanthera sp.) esta é

anelada na intenção de provocar a morte da planta sem derrubá-la (Figura

14). Todos agricultores afirmaram esse procedimento nas entrevista em

relação a essa espécie.

Segundo Abreu (2004), o angico sintetiza determinados

metabólitos secundários que, quando liberados no ambiente, interferem na

germinação e no desenvolvimento de outras plantas (alelopatia).

FIGURA 14 - Angico anelado na beira de uma roça de arroz e mandioca, Comunidade Santana.

36

O tamanho do roçado nas UPs varia de acordo com a capacidade

da força de trabalho da família e de suas necessidades, sendo que essas,

às vezes, não são supridas em nível de cada sistema de produção.

“Área de roça hoje tem uma ali, pequinininha, dá uma base de 50 braças por 25, duas tarefas de 25, uma chacrinha de nada.” (Sr. Armindo)

A área de roçado variou de 0,3 a 0,7 ha. A unidade de medida

local mais comum adotada pelos agricultores da comunidade Santana, é o

sistema de braças, onde cada braça corresponde a 2,20 m de comprimento.

A Tabela 5 mostra outras unidades de medidas utilizadas pelos agricultores.

37

Tabela 5 - Unidades de medidas adotadas pelos agricultores tradicionais da comunidade Santana

Unidades Braças Braças quadradas

Metros m2 Hectares Alqueires

Tarefa mínima 12 12 x 12 26,4 x 26,4 696,96 0,070 0,029

Tarefa de 15 15 15 x 15 33,0 x 33,0 1,089 0,1406 0,045

Tarefa de 25 25 25 x 25 55,0 x 55,0 3.025 0,3025 0,125

2 alqueirinhos 100 100 x 100 220,0 x 220,0 48.400 4,84 2

A metade de 100 braças quadradas

- 100 x 50 220,0 x 110,0 24.200 2,42 1

Tarefa 10 x 12 - 10 x 12 22,0 x 26,4 580,8 0,058 0,024

Tarefa de 30 30 30 x 30 66,0 x 66,0 4.356 0,436 0,180

Tarefa de 40 40 40 x 40 88,0 x 88,0 7.744 0,774 0,320

Tarefa de 12 x 14 - 12 x 14 26,4 x 30,8 813,12 0,081 0.033

Fonte: Elaborado a partir dos depoimentos dos agricultores da comunidade Santana (Informação pessoal).

38

Apenas duas UPs utilizaram trator no preparo da área para

implantação de pastagem. Esse fato confirma a predominância de

ferramentas manuais de menor impacto ao ambiente.

“A terra tá com a natureza que veio mesmo. A terra mecanizada fica boa, só que acaba ligeiro. A chuva carrego o polvilho. É difícil tê uma terra que só empoça né. Mecaniza ela, o polvilho vai embora na água.” (Sr. Antônio) “Na terra mecanizada, num sai muito broto, então não encapoera direito, só sai mato finim.” (Sr. Duda) “Vem os broto da terra, das planta que tinha, raiz né, sai da terra. A raiz que tá guardada e volta” (Sr .Catulino)

Os agricultores têm certa resistência ao uso de trator por terem

pequenas áreas de cultivo e por esse implemento causar degradação do

solo. Segundo os relatos, o uso da mecanização prejudica as brotações das

raízes das árvores que saem do solo nas áreas que estão em pousio. Isso

retarda o processo de sucessão secundária da vegetação nativa, aumentado

o tempo para o reestabelecimento da capoeira. A capoeira desempenha

uma série de funções importantes. Entre as principais estão o acúmulo de

nutrientes na biomassa vegetal durante o tempo de pousio, o melhoramento

da estrutura do solo (Goss, 1991), a conservação da mesofauna e

microfauna subterrânea (Diekmann, 1997), a supressão do crescimento de

ervas daninhas (Wiesenmüller, 2000). Além disso, a capoeira possui

importância prática e econômica: fornece lenha; material para construção,

produtos de uso extrativista e plantas medicinais (Homma, 1993). Em termos

biológicos, a capoeira é essencial para conservação da biodiversidade e

constitui um importante reservatório genético (Copabianco, 2001). Segundo (Wiesenmüller, 2004), agricultores tradicionais da região

de Capitão-do-Poço (PA) que utilizaram tratores para preparo de plantios,

realizando destocamento com a intenção de impedir o crescimento da

vegetação lenhosa, mais aração e gradagem, em áreas com menos de 2 ha

citaram os efeitos negativos dessa prática, e em nenhum caso os

39

agricultores consideraram essa técnica em substituição ao preparo manual.

A razão mais freqüente relatada está relacionada aos custos elevados, que

não foram compensados por aumentos na produção e nas perdas, até totais,

em monoculturas de feijão e pimenta-do-reino, que segundo o autor, podem

estar relacionadas a diminuição da capacidade de armazenamento de água

nas camadas superficiais após o preparo do solo. Todas as áreas

mecanizadas com plantios temporários foram abandonadas depois da

primeira colheita. O autor comenta que essas áreas geralmente ficaram

improdutivas, pois associações de plantas invasoras substituíram a capoeira

e dificultaram e até impediram o crescimento de espécies lenhosas.

Diekmann (1997) também verificou esses fatos na região da

Bragantina (AM) e alertou sobre a diminuição da disponibilidade de

nutrientes para plantas cultivadas como conseqüência do preparo

mecanizado. Janssen e WienK (1990) consideram a mecanização contínua

inapropriada para agricultores tradicionais, principalmente pelos impactos no

agroecossistema. Eles acrescentam que esse tipo de preparo pode ser

realizado somente mediante a altos insumos financeiros.

A Figura 15 ilustra uma área de roça abandonada ha oito meses,

após ter sido cultivada sem o uso de mecanização no preparo do solo, onde

percebe-se uma diversidade de espécies nativas e algumas espécies

agrícolas que existia na roça.

40

FIGURA 15 - Área abandonada ha oito meses, após ter sido cultivada sem uso de mecanização no preparo do solo. Detalhe para muda de gonçaleiro, cumbaru, pés de mandioca e mamão.

O manejo de brotações em áreas de pastagens também assume

um importante papel na manutenção da fertilidade dessas áreas.

“É capoera né, mas fala pasto né. Como ele taí agente vai procurar limpá, arrumá tudo certinho, quando limpa é pasto, desse jeito aí agente considera também como pasto, tá plantado braquiara, mas no momento tá encapoerado. É o sistema da gente vivê né. É uma capoera danada, fui formando devagar, sapecava uma bolinha, plantava capim, aí roçava, num tava muito apresado, aí roçava, sujou, roçava. Agora o pasto tá baixo, rapado, num carece de fogo. Agora se ele crecê e ficá macegoso, seco, tem que punhá fogo. Mas desse jeito entro na foice e dexo o mato espaiado no chão, aí apodrece a bagacera na terra, aí o capim brota no meio dele, aí como o gado vai pisando, vai derretendo, é assim. A não ser que ficá muito alto, quando roça tem que punha fogo, é, mas igual taí num precisa. A normalidade é limpar uma, duas vez por ano. Cresce muito rápido, tá fechado mas tá fino. O bom que esse mato derrete na terra.” (Sr. Catulino)

41

O manejo das brotações de algumas espécies arbóreas nativas

que ocorrem no meio do capim em áreas de pastagem pode ser visualizado

na Figura 16.

FIGURA 16 - Pasto em área onde não houve preparo do solo com máquina. Detalhe no manejo da rebrota da vegetação nativa adotado pelo agricultor. Mais atrás uma área com vegetação nativa em pousio de 10 anos. (Foto tirada em março de 2004)

Esse método de construção da fertilidade do solo com o

aproveitamento da vegetação nativa, baseados na ciclagem de nutrientes,

diminui o empobrecimento do solo da pastagem. Se agricultores como esses

ficarem na dependência de insumos externos, na forma de adubos químicos,

mais comprometido ficará seu sistema produtivo, pois os mesmos não

possuem capital para adquirí-los. Portanto, existe uma lógica nessa forma de

manejo. O que para alguns pode parecer desleixo e falta de cuidado com a

pastagem, para esse agricultor significa uma forma de diminuir as perdas de

nutrientes e manter certo nível de matéria orgânica na área, demonstrando

uma opção adaptativa ao manejo. Percebe-se dessa forma que o seu

42

conceito de pastagem é outro, diferente da maioria dos técnicos que hoje

prestam assistência no campo.

A agricultura de corte e queima se faz presente na comunidade

Santana há um longo tempo, e segundo os agricultores entrevistados a

região não possui mais florestas primárias devido a essa forma de manejo

da vegetação nativa. Um agricultor (Sr. Armindo) com 78 anos em seu relato

disse.

“Nos nascemo e sempre criemo aqui. Primero nós moremo naquela cana véia lá em baixo, depois nos passemo aqui pra cá. Já era tudo mato, capoeira levantada”

“Quando vim morá aqui, era um capoerão levantado. Já tinha sido derrubada pelos mais antigos” (Sr. Máximo)

“Cheguei aqui há mais o menos vinte quatro anos atrás. Usei a madeira da capoeira para fazê a casa, já era capoera trabalhada” (Sr. Benedito)

Os agricultores da comunidade Santana dão preferência em

derrubar a vegetação secundária (capoeira) do que a vegetação primária. Há

uma lógica nesse processo, visto que é mais fácil derrubar e queimar a

vegetação secundária do que a vegetação primária, em função do tamanho

das árvores. Gómez-Pompa e Kaus (1990) também observaram essa

preferência em relação ao manejo da vegetação nativa em agricultores

tradicionais do México no preparo de áreas para o cultivo agrícola. O mesmo

acontece com os caiçaras no litoral paulista (Adams, 2000).

Jordan e Kline (1972) citam em seus estudos sobre ciclagem de

nutrientes em florestas tropicais que a vegetação secundária, com dez ou

mais anos de pousio, não possuem necessariamente estoques de nutrientes

menor quando comparado às florestas primárias, e o banco de sementes no

solo na vegetação secundária com essa idade também é reduzido, o que

facilita o manejo das culturas agrícolas pelos agricultores. Denich (1991),

Juo e Manu (1996), Mackensen et al. (1996) e Hölscher et al. (1997),

considera-se necessário um período mínimo de sete a dez anos de pousio

para reposição das perdas de nutrientes na região do Pará. Na Mata

43

Atlântica, a floresta secundária continua a acumular biomassa por muitas

décadas, mas os nutrientes tende a acumular-se mais rapidamente na

primeira década (Whitmore, 1990).

O uso controlado do fogo na limpeza da área constitui o principal

agente fertilizador do solo, cuja acidez é neutralizada pelo alto pH das

cinzas. Após uma queimada, ocorre o aumento na concentração de todos

nutrientes do solo, ao mesmo tempo em que o nível de toxidade do alumínio

é reduzido, disponibilizando nutrientes e favorecendo o crescimento das

plantas cultivadas, além se constituir numa das principais ferramentas para a

limpeza da área, o fogo também é responsável pela aceleração da

decomposição da matéria orgânica nas camadas superiores do solo e no

controle de pragas e doenças (Denich, 1991). Esse sistema tradicional de

derruba e queima é o instrumento mais eficaz ao alcance do agricultor, por

promover a fertilização gratuita do solo e por ser um processo menos

oneroso para produção de subsistência.

Estudo realizado no início dos anos 80 na região do Ribeira,

estado de São Paulo, comparou três métodos de limpeza de terreno

recoberto por floresta secundária para fins agrícolas (plantio de milho), sem

uso do arado: queima total, sem remoção dos resíduos da vegetação;

amontoa, sem queima da biomassa (enleiramento); e remoção dos restos,

sem queima, utilizando trator de esteira e lâmina (destoca). Nessas

condições, a queima da vegetação apresentou melhores resultados em

termos de fertilidade e condições físicas do solo, resultando numa maior

produtividade das roças de milho na primeira safra (Hernani et al., 1987).

Vários autores também citam os efeitos negativos da agricultura

tradicional de corte e queima para o ambiente de forma geral. No trabalho

desenvolvido por Mackensen et al. (1996) foram quantificadas as principais

perdas de nutrientes desse sistema. Depois da queimada, apenas uma

fração dos nutrientes armazenados na vegetação fica disponível para o

sistema de produção em forma de cinzas. Significantes proporções de

nitrogênio, enxofre, magnésio, potássio e cálcio (até 98%, 68%, 33%, 43%,

31%, respectivamente) perdem-se na queima por volatilização e transporte

44

de partículas na fumaça. Além de nutrientes essenciais, também 98% do

carbono estocado na biomassa entra na atmosfera. Além das perdas de

nutrientes, foi observado que as repetidas queimadas ocasionaram aumento

na infestação de gramíneas e ciperáceas (Kanashiro e Denich, 1998).

Segundo esses autores o uso inadequado do fogo pode provocar a

destruição dos mecanismos biológicos de reposição da vegetação nativa e

viabilizar a formação de uma comunidade final dominada por espécies

resistentes ao fogo. Nessas áreas, a biomassa e o número de espécies não

aumentam com o tempo.

“A terra muito queimada não é boa não, sapecada é boa, se queima demais não produz.” (Sr. Antônio)

Para esse método de preparo da terra para plantio funcionar, é

necessário o respeito à freqüência de utilização das queimadas, devido ao

fato de que a maioria dos nutrientes está estocada na biomassa e não no

solo. É preciso da disponibilidade de áreas para os períodos de pousio longo

(maior que dez anos).

Diversos fatores ligados ao manejo agrícola podem influenciar a

dinâmica da paisagem em áreas de agricultura de corte e queima, em

particular o tempo de pousio, o tempo de cultivo, a proporção de terra

utilizada anualmente para o cultivo e a distribuição espacial das áreas

cultivadas (Metzger, 2000).

“Primeiro aqui era tudo comum, não tinha nada de divisão. Daqui uns tempo pra cá já foi mudando, já fazendo cerca. Nós aqui fomo empurrado pra pedra (serra). Agora ficou mais comprimento, o nosso era 50 alqueires aí... .Agora tem na base de uns 12 alqueires. De pasto é uns 10 alquieires.” (Sr Armindo)

Nessa comunidade a diminuição do tempo de pousio está

relacionado principalmente com a perda da posse da terra dos agricultores

para fazendeiros de gado e o ciclo de pecuarização a qual algumas UPs

estão submetidas atualmente (derruba – queima – plantio da roça –

45

formação de pastagem).

“Agente derruba, queima, planta a roça e depois põe capim.” (Sr. Gonçalo) “Essa roça aqui fico capoeira, eu rocei, ficou capoeira de novo, parei uns 3 anos, fiquei trabalhando pra lá, fora daqui, parei de trabalhá aqui, ficou a capoeira. Aí quando voltei de novo já tava uma capoeira com varinha assim, aí quebrei ela todinha, sapequei com fogo e formei de pasto.” (Sr. Catulino)

Um sistema agrário de uso comum da terra tem como premissa o

uso comum dos recursos naturais, que viabiliza a extração de recursos da

vegetação nativa, à agricultura de coivara (corte-queima) e o acesso comum

à pastagem, permitindo a pecuária extensiva de pequeno porte. Os

agricultores remanescentes das “Terras de Sesmarias” no Estado de Mato

Grosso são exemplos típicos desse sistema agrário (Castro 2001; Moreno,

1993; Ribeiro, 1989).

No Brasil, ainda são poucos os estudos e pesquisas sobre

espaços de uso comum e processos socioculturais a eles associados

(Diegues, 2001). Têm-se como propriedade comunal, quando os recursos

são manejados por uma comunidade identificável de usuários

interdependentes. Esses usuários excluem a ação de indivíduos externos,

ao mesmo tempo em que regulam o uso por membros da comunidade local.

Internamente à comunidade, os direitos aos recursos normalmente não são

exclusivos ou transferíveis, e sim freqüentemente igualitários em relação ao

acesso e ao uso, diferindo do livre acesso que é caracterizado pela ausência

de direitos e propriedade bem definida (Mckean e Ostrom, 1995; Fenny et al,

1990).

Como observado em diversos levantamentos de campo (Alves,

2004; Costa, 2004; Godoy, 2004; Castro, 2001; Ferreira, 1994; Ribeiro,

1989) o acesso à pastagem e as florestas foram manejadas em regime

comunal pelos agricultores das áreas de sesmarias, principalmente até

década de 70. Atualmente, depois de esse regime comunal passar por

46

modificações, principalmente no que se refere à questão fundiária e perda

da posse da terra, uma reorganização espacial da distribuição das famílias

nas terras da comunidade foi imposta. Na prática o que se observa

atualmente é que apesar dos cercamentos e o reordenamento das famílias

na área, ainda pode-se observar traços do regime comunal.

A conjugação desses fatores diferenciou os sistemas de produção

quanto a pressão dos agricultores sobre o meio biofísico. O resultado disso

foi o desaparecimento da cobertura vegetal com matas primárias e capoeiras

(vegetação secundária) com mais de 12 anos de pousio, em locais

favoráveis para cultivo. Atualmente, elas só ocorrem em áreas que não

prestam para o cultivo de roça ou pastagem. Este grau de intensificação do

uso da terra apresentou como conseqüência a exploração de áreas com até

dois a três anos de pousio, como citado em alguns depoimentos. As formas

de manejo desses agricultores vêm se modificando e incorporando novos

valores que buscam um desenvolvimento econômico para garantir suas

novas necessidades de consumo. Os agricultores têm consciência das

conseqüências negativas da mudança na forma de manejo dos recursos

naturais e esse é um dos principais problemas que enfrentam.

A redução do tempo de pousio tem levado a progressiva

diminuição do potencial de produção de biomassa das capoeiras e,

conseqüentemente, do acúmulo de nutrientes, resultando na queda

gradativa da produção agrícola por unidade de área, pois o funcionamento

dos sistemas de produção ainda continua baseado na fertilidade natural dos

solos. Nesse contexto, atualmente, os sistemas de cultivos estão sendo

orientados exclusivamente para as áreas de cobertura vegetal com

capoeiras novas, onde as parcelas agrícolas são cultivadas por um ou dois

ciclos de cultura, depois deixadas em pousio por período nunca superior a

oito anos, o que tem diminuído a produtividade dessas áreas devido ao

esgotamento dos solos e problemas com pragas e doenças.

Portanto, como relatado por Felipin et al. (2000), torna-se evidente

que essa forma de manejo, em todas as suas etapas (corte da vegetação -

queima - plantio - colheita - pousio) está relacionada com a questão da

47

disponibilidade de terras e a cobertura florestal. O abandono de áreas de

roça, ou sistema de pousio, favorece o início da sucessão secundária da

vegetação nativa, onde o tempo de regeneração desta vegetação é bastante

variável em função do tipo de vegetação anteriormente existente no local, da

intensidade de uso da área anteriormente cultivada e da disponibilidade de

áreas adequadas para a próxima roça ser aberta. A agricultura de pousio,

em determinados contextos sociais e ambientais, é exemplo de prática

ambiental adequada. Entretanto, esta constatação não exclui a necessidade

de aprimorar os conhecimentos referentes aos efeitos desta no contexto

socioeconômico e ambiental onde esta locada a parcela da população que a

pratica.

4.2. Uso dos recursos da vegetação nativa.

Durante as visitas a campo foi observado variadas formas de uso

direto dos recursos da vegetação nativa nas UPs. Para a obtenção desses

recursos os agricultores praticam o extrativismo, que é compreendido como

um conjunto de atividades de extração, quer se relacione com produtos de

origem vegetal quer se trate de produtos de procedência animal. O

extrativismo, tanto num caso como no outro, sempre se refere a produtos

ofertados pela natureza, ou seja, produtos que não são cultivados ou

criados.

A caça é uma atividade posta em ação, principalmente, com

finalidade de complementar a fonte de proteína animal (Figura 17).

O extrativismo vegetal realizado pelos agricultores da

comunidade Santana abrange um conjunto significativo de práticas. Todos

eles fazem coleta de variados produtos da flora nativa, cuja finalidade

principal é o consumo. Estes produtos (madeira, folhas de palmeiras, lenha,

plantas medicinais, frutos, cipós, taquaras, etc) são estratégicos para uso

nas UPs e prestam-se aos mais diferentes fins, todos imprescindíveis à vida

camponesa.

48

FIGURA 17 - Preparo da caça (cotia) para alimentação.

No extrativismo da madeira emprega-se, em sua maioria o

machado na derrubada das árvores, e na forma de retirada, a força do

trabalho humano e animal. Essa é uma tarefa árdua, que geralmente é

realizada pelos homens e filhos mais velhos.

No levantamento etnobotânico realizado junto aos os agricultores

foram citadas 171 etnoespécies da flora nativa, distribuídas em 50 famílias.

Dessas, 91 foram identificadas a nível de espécie, 59 a nível de gênero e 5 a

nível de família. Do total levantado, 17 espécies ficaram apenas com o nome

popular, pois não foi possível coletar material botânico, por se tratar de plantas

encontradas somente em locais distantes. Na Tabela 6 são apresentados as

etnoespécies levantadas, classificadas por família botânica, bem como seu porte

e forma de uso.

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Tabela 6 - Relação das espécies citadas pelos agricultores da comunidade Santana, seu porte e suas formas de uso.

Legenda AL: Alimento ET: Estaca para cerca CT: Construção IB: Imbira CF: Cabo de ferramenta LE: Lenha EC: Espera de caça MD: Medicinal SB: Sombra UT: Utensílios

Família e Espécies Nome popular, Nome científico

Porte Formas de uso

ALISMATACEAE

Chapéu-de-couro (Echinodorus sp.) Herb MD

ANACARDIACEAE

Aroeira (Myracroduon urundeuva) Fr. All Arb CT; ET; MD; SB; LE

Caiá (Spondia lutea) L. Arb EC; LE

Caju (Anacardium occidentale) L. Arb AL

Cajuzinho-do-mato Arb AL

Gonçaleiro (Astronium fraxinifolium) Schott Arb CT; ET; LE

Tapiriri (Tapirira guianensis) Aubl. Arb UT

ANNONACEAE

Araticum (Annona coreacea) Mart. Arb AL

Ata-do-campo (Lughetia lanceolata) Mart Arb CT; LE

Ateira (Annona sp) Arb CT; LE

Não identificada (Unonopsis sp.) Arb LE

Pimenta-de-macaco (Xylopia aromatica) Mart. Arb CT; rolo de fumo

Pindaíba (Xylopia aromatica) (Lam.) Mart. Arb CT; rolo de fumo

Pinha-do-mato (Annona sp.) Arb AL

APOCYNACEAE

Cipó-canoinha Cipó MD

Guatambu (Aspidosperma australe) Muell. Arg. Arb CT; CF; ET; LE

Peroba-rosa (Aspidosperma sp.) Arb CT; CF; ET; LE

Perobinha (Aspidosperma sp.) Arb CT; CF; ET; LE

Mangava-mansa (Hancornia speciosa) Gomez Arb AL

ARECACEA (Palmae)

Acuri (Attalea phalerata) (Mart.) Burret Arb AL; CT; EC

Aguaçu (Orbignya speciosa) (Mart.) Barb. Rodr. Arb AL; CT

Continua...

50

Família e Espécies Nome popular, Nome científico

Porte Formas de uso

Bocaiúva (Acrocomia aculeata) (Jacq.) Lodd. Arb AL; CT; EC

Bacuri (Attalea phalerata) (Mart.) Burret Arb AL; CT; EC

Buriti (Mauritia flexuosa) Arb UT

Gueroba Arb Al

Indaiá (Attalea geraensis) Arb CT

Tucum (Bactris cuyabensis) Barb. Rodr. Arb UT

Vassoura (Allogoptera sp.) Arb CT; UT

ASTERACEAE

Assa-peixe (Vernonia sp.) Arbust MD; LE

Picão (Bidens sp.) Herb MD

BIGNONIACEAE

Ipê (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE

Ipê-amarelo (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE

Ipê-branco (Tabebuia sp.) Arb CT; CF; LE

Ipê-maniçoba (Tabebuia sp.) Arb Sem uso

Ipê-roxo (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE; MD

Caroba (Jacaranda sp.) Arb CT; LE; MD

Carobão (Jacaranda sp.) Arb CT; LE; MD

Para-tudo (Tabebuia aurea) (Manso) Arb CT; MD; LE

Pexinga (Tabebuia spp) Arb CT; CF; LE

Piúva (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE; MD

Piúva-amarela (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE

Piúva-roxa (Tabebuia sp.) Arb CT; ET; LE; MD

Ipê-tapioca (Cybistax antisyphilitica) (Mart.) Mart. Arb CT; CF; LE

Unha-de-lagartixa (Machifadenia ungisgati) Cipó CT

BOMBACACEAE

Barriguda (Ceiba sp.) Arb LE

Imbiruçu (Pseudobombax sp.) Arb LE

Imbiruçu branco (Pseudobombax sp.) Arb LE

Paineira (Chorisia sp.) Arb UT; LE

BORAGINIACEAE

Louro-preto (Cordia glabrata) (Mart).DC Arb CT; ET; LE

Continua...

51

Família e Espécies Nome popular, Nome científico

Porte Formas de uso

BROMELIACEAE

Abacaxi-do-mato (Annanas sp.) Herb AL

Gravatá Herb Sem uso

BURSERACEAE

Mescla (Protium heptaphylum) (Aulb) March Arb CT; LE; MD

CARYOCARACEAE

Pequi (Caryocar brasiliense) Cambess. Arb AL; SB

CECROPIACEAE

Embaúba (Cecropia sp.) Arb CT (bica); MD

COMBRETACEAE

Carne-de-vaca (Combretum leprosum) Mart. Arb CT; ET; LE

Pau-de-bicho (Terminalia argentea) Arb Sem uso

Tarumarana (Buchenavia tomentosa) Eichl. Arb EC

DILLENIACEAE

Lixeira (Curatella americana) L. Arb LE; UT

EUPHORBIACEAE

Cansação (Cnidosculus cnicocodendron) Griesb. Arbust Sem uso

Cascudinho (Maprounea guianensis) M.Arg. Arb LE

Sangra-d’água (Croton sp.) Arb MD; LE

Urucurana (Croton sp.) Arb MD; LE

FLACOURTIACEAE

Chá-de-frade (Casearia sylvestris) Sw. Arb MD; LE

Espeteiro (Casearia gossypiosperma) Briquet Arb CT; ET; LE

Pururuca (Casearia rupestris) Eichler Arb CT; ET; LE

GUTTIFERA

Guanandi (Callophyllum brasiliensis) Camb. Arb CT; ET; LE

ERREREACEAE

Salsa-parrilha (Errerea sarsaparrilha) Herb MD

LAURACEAE

Caneleira (Ocotea sp.) Arb CT; ET

Canela (Nectandra sp.) Arb CT; ET

Continua...

52

Família e Espécies Nome comum, Nome científico e Autor

Porte Formas de uso

LECYTIDACEAE

Imbira (Cariniana sp.) Arb CT; ET; LE; MD; IB

Jequitibá (Cariniana sp.) Arb CT; ET; LE; MD; IB

Jequitibá-branco (Cariniana sp.) Arb CT; ET; LE; MD; IB

Pilão-de-macaco (Cariniana sp.) Arb CT; ET; LE; MD; IB

LEGUMINOSAE - CAESALPINOIDEAE

Carvão-vermelho(Diptychandra auriantica) (Mart) Arb CT; ET; LE

Guarapeira (Apuleia sp.) Arb CT; ET

Jatobá (Hymenea stigonocarpa) Mart. Ex Hayne Arb CT; ET; LE; MD

Pata-de-vaca (Bauhinia sp.) Arb LE; MD

Pé-de- boi (Bauhinia sp.) Arb LE

Tripa-de-galinha (Bauhinia glabra) Cipó CT; MD

Tripa-de-ganso (Bauhinia sp.) Cipó CT

Velame (Sclerolobium paniculatum) Benth Arb CT; ET;MD

LEGUMINOSAE - MIMOSOIDEAE

Amarelinho (Plathymenia reticulata) Benth Arb CT; ET; LE

Angico (Anadenanthera sp.) Arb CT; ET; LE

Angico-branco (Albysia sp.) Arb CT; ET; LE

Angico-branco (Acácia polyphylla) DC Arb CT; ET; LE

Barbatimão(Stryphonodendron polyphyllum) (Mart.) Arb CT; ET; LE; MD

Escorrega-macaco (Acacia polyphylla) DC Arb CT; ET; LE

Farinha-seca (Acacia polyphylla) DC. Arb CT; ET; LE

Ingá (Inga sp.) Arb ET; LE

Tamboril (Enterolobium contortisiliquum ) Morong Arb CT; ET; LE

Timbuva (Enterolobium contortisiliquum ) Morong Arb CT; ET; LE

Vinhático (Plathymenia reticulata) Benth Arb CT; ET; LE

LEGUMINOSAE - PAPILIONOIDADEAE

Abrobrão (Erytrina fusca) Lourt. Arb Sem uso

Abrobrir (Erytrina fusca) Lourt. Arb Sem uso

Angelim (Vatairea macrocarpa) (Benth.) Ducke Arb LE; MD

Cabriúva (Dalbergia sp.) Arb CT; ET; LE

Cumbaru (Dipteryx alata) Vog. Arb CT; ET; SB; AL Continua...

53

Família e Espécies Nome popular, Nome científico

Porte Formas de uso

Jacarandá (Machaerium opacum) Mart Arb CT; ET

Morcegueira (Andira inermis) (Sw.) Kunth ex DC Arb CT; ET; UT

Mulungu (Erytrina sp.) Arb MD

Sucupira-branca (Pterodon emarginatus) Vog. Arb CT; ET; MD

Sucupira-preta (Bowdichia virgilioides) Kunth. Arb CT; ET; MD

Osso-seco (Platypodium elegans) Vog. Arb CT; ET; LE

LOGANIACEAE

Quina (Strychnos pseudoquina) A St. – Hil. Arb MD

LYTHRACEAE

Carijó (Physocalina scaberrimam) Pohl. Arb CT; ET; LE

Mangava (Lafoensia pacari) A St. – Hil. Arb AL; MD; ET; CT; LE

MALPIGHIACEAE

Canjiquinha (Byrsonima verbacifolia) (L.) Rich Arb Al; LE

Mirici (Byrsonima verbacifolia) (L.) Rich Arb Al; LE

MELIACEAE

Araputanga (Swietenia macrophyla) King Arb CT; ET

Cedro (Cedrela fissilis) Vell. Arb CT

MIRYSTICACEAE

Pau-de-sebo (Virola sebifera) Aubl Arb CT; ET; LE

MONIMIACEAE

Negramina (Siparuna guianensis) Aubl. Arb MD; LE

MORACEAE

Algodão-do-mato (Brosimum sp) Arb MD

Carapiá (Dorstenia sp.) Herb MD

Mama-cadela (Brosimum gaudichaudii) Tréc. Arb CT; ET; LE; MD

Figueira (Ficus sp.) Arb SB

Figueira-mata-pau (Ficus dendrocida) HBK Arb Sem uso

MYRTACEAE

Cascudinho (Psidium sp.) Arb LE

Goiabinha (Psidium sp.) Arb EC; LE

OLEACEAE

Limãozinho (Ximenia sp.) Arb LE Continua...

54

Família e Espécies Nome popular, Nome científico

Porte Formas de uso

OPILACEAE

Tinge-cuia (Agonandra brasiliensis) Miers Arb MD; CO; LE

POACEAE

Taboca Bambu CT; UT

POLYGONNACEAE

Canjiquinha (Coccoloba cujabensis) Casar Arb EC; AL

Novateiro (Triplaris brasiliana) Cham. Arb LE

RHAMNACEAE

Cabriteiro (Rhamnidium elaeocarpum) Reiss Arb CT; ET; LE

RUBIACEAE

Cruzeirinho (não identificada) Arb Sem uso

Genipapo (Genipa sp.) Arb CT; ET; LE; CF; AL

Marmelada (Alibertia sessilis) (Vell.) K. Schum Arb AL; LE; MD

Quina-branca (Coussarea hydrangeifolia) Schult. Arb ET; LE

Veludo (Guettarda viburnoides) Cham.&Schtdl Arb LE

RUTACEAE

Mama-cadela (Zantoxylum riedelianum) Engl. Arb CT; ET; CF; LE

Mamica-de-porca (Zantoxylum rhoifolium) Lam. Arb ET; LE

SAPINDACEAE

Café-bravo (Matayba sp.) Arb LE

Camboatã (Cupania sp.) Arb CT; ET; LE; EC

Pau-de-pombo (Matayba sp.) Arb CT; ET; LE

Saboneteira (Sapindus saponaria) L. Arb ET; LE

Timbó (Magonia glabrata) A ST.-Hil. Arb CT; ET; LE

SIMAROUBACEAE

Pau-de-perdiz (Simarouba versicolor) A.St.-Hil. Arb ET; LE; MD

SMILACACEAE

Japecanga (Smilax sp.) Cipó MD

STERCULIACEAE

Chico-magro (Guazuma ulmifolia) Lam. Arb CT; ET; LE; MD

Manduvi (Sterculia striata) A St.-Hil & Naud Arb LE; AL; EC

Rosquinha (Helicteres sp.) Arb LE

Continua...

55

Família e Espécies Nome popular, Nome científico

Porte Formas de uso

TILIACEAE

Açoita-cavalo (Luehea sp.) Arb CT; ET; LE; MD

Janguadeiro (Apeiba tibourbou) Aubl Arb LE; IB; MD

Pente-de-macaco (Apeiba tibourbou) Aubl Arb LE; IB; MD

Rosquinha Arb ET; LE

ULMACEAE

Carniúba (Trema micrantha) (L.) Engl Arb LE

Periquiteira (Trema micrantha) (L.) Engl Arb LE

VERBENACEAE

Andú (Lantana sp.) Arbust LE

Tarumã (Vitex sp.) Arb AL

Gervão (Stachytarpheta cayenensis) (Lcrich) Herb MD; UT

VOLCHYSIACEAE

Cambará (Vochysia sp.)

Carvão-branco (Callistene fasciculata) (Spr.) Mart. Arb CT; ET; LE; MD

Pau-terra (Qualea grandiflora) Mart. Arb LE

ZINGIBERACEAE

Caninha-do-brejo (Costus spiralis) (Jacq) Herb MD

ESPÉCIES NÃO IDENTIFICADAS

Caja Arb

Cipó-dágua Cipó UT

Cipó-pombo Cipó UT

Faveiro Arb

Insulina Herb MD

Jassarana-do-brejo Cipó LE

Louro-branco Arb ET; LE

Mamoninha Arb LE

Moreira Arb LE

Mulher-pobre Arb LE

Pau-de-anta Arb Sem uso

Peixinho Arb LE

Pimenta-dagua Arbut Sem uso

Pitomba Arb AL

Continua...

56

Família e Espécies Nome popular, Nome científico

Porte Formas de uso

Purga-de-lagarto MD

Sapé Herb MD; CT

Seputá Arb AL

Sovadeiro Arb IB

Taiúva Arb Sem uso

As formas de uso direto dos recursos da vegetação nativa estão

associadas principalmente a construção de algumas benfeitorias (moradias,

abrigos, currais, chiqueiros, galinheiros, pontes etc), fabricação de utensílios

(pilão, cocho, peneira, vassoura, calha para captação de água etc), estaca

para cerca, confecção de cabo de ferramentas, móveis, lenha, alimentação,

espera de caça, sombra e uso medicinal.

De acordo com a Tabela 6, nota-se a diversidade de plantas

utilizadas pelos agricultores tradicionais da comunidade Santana. Existem

espécies que possuem fins bens específicos, como a quina (Strychnos

pseudoquina), usada como medicinal e o indaiá (Attalea geraensis), palmeira

que tem suas folhas utilizadas nas coberturas das moradias. E outras

espécies são mais plásticas nas suas formas de uso, a aroeira (Myracroduon

urundeuva), por exemplo, é usada como caibros, esteios, alicerce

(baldrame), estaca para cerca, lenha e uso medicinal. A peroba-rosa

(Aspidosperma sp.) é usada para caibros, esteios, cabo de ferramenta e

lenha. Dentre as espécies de cipó, a tripa-de-galinha (Bauhinia glabra), além

de ter uso medicinal, é muito utilizada nas UPs para fazer amarrios das

estruturas de madeiras (Figura 18).

FIGURA 18 - Amarrio feito com cipó tripa-de-galinha (Bauhinia glabra).

De acordo com as entrevistas e observações diretas foi possível

verificar que, apesar da grande diversidade de plantas utilizadas, existe um

grupo de 21 espécies que possuem preferência de uso e foram citadas por

todos agricultores (Tabela 7). Essas espécies são amplamente conhecidas e

utilizadas nas UPs da comunidade Santana, são plantas fornecedoras das

madeiras ditas “linheiras”, com as dimensões (comprimento e diâmetro) que

os agricultores utilizam nas suas benfeitorias. As características silviculturais

destas espécies, como rápido crescimento e capacidade de rebrota,

permitem a coleta contínua desses recursos nas capoeiras. A forma,

resistência, durabilidade e facilidade de obtenção e manejo são os principais

critérios na seleção dos recursos madeireiros nativos.

A dependência dos agricultores pelo recurso florestal estreita sua

relação com a vegetação nativa. Isso gera conhecimento sobre as

classificações fisionômicas, fenologia, características silviculturais, habitat

preferenciais e critérios de seleção e manejo da flora.

57

58

Tabela 7 - Espécies que os agricultores da comunidade Santana possuem preferência de uso.

Espécies utilizadas Formas de Uso dos Recursos Florestais Nativos Nome popular Nome científico Esteios Alicerce Cobertura Barrote Amarrio Móveis Porta e

Janela Cerca Lenha Curral e

ChiqueiroCabo de

ferramenta Aroeira Myracrodruon urundeuva X X X X Gonçaleiro Astronium fraxinifolium X X X Cumbaru Dipteryx alata X X X X Carvão-branco Callisthene fasciculata X X X X Carvão-vermelho Diptychandra auriantica X X X X Ipê Tabebuia sp. X X X X X Ata-do-campo Lughetia lanceolata X X X X Cabriteiro Rhamnidium elaeocarpus X X X X Carne-de-vaca Combretum leprosum X X X X Carijó Physocalymma scaberrimum X X X X Espeteiro Casearia gossypiosperma X X X X Guatambu Aspidosperma sp. X X X X X X X Pururuca Rapanea ferruginea X X X Tripa-de-galinha Bauhinia sp. X Indaiá Attalea geraensis X Cedro Cedrella fissilis X X Ipê-branco Tabebuia spp. X X X X X Angico Anadenanthera sp. X X Peroba Aspidosperma australe X Farinha-seca Acacia polyphylla X Canela Ocotea sp. X X

59

O agricultor busca esses recursos em diferentes locais, devido a

grande variação nas dimensões das peças de madeira utilizadas na UP. A

Figura 19 ilustra o uso de diferentes recursos da flora nativa na cozinha de

um agricultor. As folhas de indaiá (Attalea geraensis) da cobertura são

obtidas na sua maioria em área de campo. As madeiras com menores

dimensões utilizadas nas paredes (barrotes) e as taquaras de bambu são

encontradas nas capoeiras mais novas (com até 10 anos de pousio).

FIGURA 19 – Diferentes recursos utilizados na cozinha de um agricultor tradicional da comunidade Santana. Madeira, “apá”(peneira de taquara), bambu e folhas de indaiá na cobertura.

Essas informações estão coerentes com a literatura, que relata

que as espécies que fornecem esses recursos ocorrem de maneira mais

expressiva em formações abertas e capoeiras novas, sendo raras em

capoeiras antigas ou florestas primárias sombrias. São espécies

consideradas do grupo ecológico das pioneiras, possuem crescimento rápido

e madeira leve (Carvalho 1994; Lorenzi, 1991;). Outra particularidade é que

essas peças de madeira são colhidas em rebrotas de algumas espécies

arbóreas que já foram manejadas. Isto permite que o agricultor obtenha de

um mesmo indivíduo várias peças (Figura 20).

60

FIGURA 20 - Rebrota de um indivíduo arbóreo da espécie carijó (Physocalymma

scaberrimum) em uma capoeira com 8 anos de pousio. Detalhe que um indivíduo potencialmente pode fornecer três peças de madeira.

As madeiras utilizadas para fazer esteios, alicerces (baldrame),

por possuírem maior dimensão e durabilidade (FIGURA 21), são

encontradas apenas nas capoeiras em estágios mais avançados de

sucessão. Essas espécies são classificadas como secundárias e tardias

(Carvalho, 1994).

61

FIGURA 21 – Moradia de um agricultor tradicional da comunidade Santana

As Figuras de 22 a 28 ilustram variadas formas de uso direto dos

recursos da vegetação nativa nas UPs da comunidade Santana.

As espécies utilizadas para fazer cocho possuem como

característica madeira macia. São utilizadas árvores com diâmetro em torno

de 30 cm. Para fazer a calha para captação da água da chuva o agricultor

retira a camada mais macia que fica no interior do caule da bocaiúva

(Acrocomia aculeata), deixando a camada dura mais externa. A vassoura é

feito com ramos de gervão (Stachytarpheta polyura), espécie de porte

herbáceo encontrada na beira de trilhas, nos quintais e nas áreas de roças

recém abandonadas, no início de pousio. Portanto, para atender a

necessidade dos agricultores, deve haver capoeiras em vários estágios de

sucessão para que haja oferta de diferentes recursos para uso nas unidades

produtivas.

62

FIGURA 22 - Cocho para colocar sal para gado.

FIGURA 23 - Abrigo na roça.

63

FIGURA 24 – Chiqueiro feito com barrotes de madeira proveniente de capoeira nova e piso de madeira de capoeira mais antiga.

FIGURA 25 - Calha de bocaiúva (Acrocomia aculeata) para coleta de água da chuva.

64

FIGURA 26 - Pinguela de tora de madeira.

FIGURA 27 - Cerca de “pau-a-pique” para evitar entrada de alguns animais silvestres e

domésticos.

65

FIGURA 28 – Vassoura feita com ramos de gervão (Stachytarpheta polyura).

A lenha é o único recurso que possui vários locais para coleta. Ela

é obtida tanto nas capoeiras (novas ou antigas) como nos restos de coivaras

das roças. Os restos de coivara são importantes fontes desse recurso,

devido à grande quantidade de madeira que não é totalmente queimada no

preparo da área para implantação das roças. A principal vantagem é a

facilidade na coleta. É também dos restos de coivara que são provenientes

as madeiras utilizadas para armazenar e bater o arroz colhido nas roças

(Figuras 29 e 30).

66

FIGURA 29 - Toras de madeiras provenientes dos restos de coivaras utilizadas para fazer pilhas de arroz no campo antes de beneficiá-lo.

FIGURA 30 - Estrutura de madeira utilizada para bater arroz

67

As plantas comestíveis silvestres são utilizadas em menor número

e o seu consumo é ocasional, não estando presente na comunidade como

elemento de complementaridade dietética. São consumidos quando ofertado

pelo ambiente e mesmo nessa situação, alguns recursos não são

procurados.

4.3. Análise florística e fitossociológica em áreas de pousio.

No levantamento florístico e fitossociológico realizado em duas

áreas de capoeiras, uma com três anos de pousio e outra com oito anos de

pousio, verificou-se que muitas das espécies utilizadas pelos agricultores

estão presentes nessas áreas.

Na capoeira com três anos de pousio, uma área de transição

entre cerrado e mata ciliar (terra de cultura) (Figura 31), foram levantadas 61

espécies, destas 52 foram identificadas, sendo pertencentes a 25 famílias

botânicas (Tabela 8). Nesta capoeira foi observado espécies arbóreas e de

cipós, dentre elas estão o guatambu (Aspidosperma sp.), o cabriteiro

(Rhamnidium elaeocarpum), a piúva (Tabebuia sp.), a ata-do-campo

(Lughetia lanceolata) e a tripa-de-galinha (Bauhinia glabra). As famílias

Annonaceae, Apocynaceae, Bignoniaceae e Sapindaceae foram as mais

representativas quanto ao número de espécies.

As espécies arbóreas foram predominantes no levantamento,

embora algumas espécies de cipó apresentaram alta densidade, como

exemplo a japecanga (Smilax sp.), espécie de uso medicinal e a tripa-de-

galinha (Bauhinia glabra).

Na parcela 1 foram inventariados 134 indivíduos, destacando-se

as seguintes espécies arbóreas: timbó (Magonia glabrata), pau-terra (Qualea

grandiflora), pata-de-vaca (Bauhina sp.), guatambu (Aspidosperma sp.) e

pau-de-bicho (Terminalia argentia). Na parcela 2 houve maior densidade de

indivíduos, perfazendo um total de 192 indivíduos amostrados; dentre as

espécies arbóreas de maior ocorrência estão: ata-do-campo (Lughetia

lanceolata), pururuca (Casearia rupestris), cabriuva (Dalbergia sp.), mamica-

de-porca (Zantoxylum rhoifolium) e a piúva (Tabebuia sp.), espécies mais

68

comuns em terra de cultura, segundo o agricultor. A Tabela 9 apresenta os

parâmetros fitossociológicos obtidos neste levantamento.

FIGURA 31 - Aspecto da capoeira com 3 anos de pousio

Das espécies presentes, cerca de 25% apresentaram distribuição

em ambas parcelas, sendo que o timbó (Magonia glaba) e a mamica-de-

porca (Zanthoxylum rhoifolium) apresentam maior número de indivíduos.

Uma comparação entre a densidade e a dominância, demonstra que as espécies mais representativas (de maior densidade) são as que possuem maior área basal relativa, ou seja, a maioria dos indivíduos ocupa mesma área. Portanto, não há dominância de nenhuma espécie em particular num período de três anos de pousio, que é caracterizado por certa homogeneidade no diâmetro dos indivíduos amostrados. Em florestas nativas (ineqüiâneas) em estágios mais avançados de sucessão, ou em clímax essa característica de homogeneidade de diâmetros não ocorre, já que algumas espécies podem ser pouco representativas e possuir maior área basal (maior dominância) que os indivíduos que possuem maior densidade (O’brien e O’brien, 1996).

69

TABELA 8 - Espécies levantadas na capoeira com três anos de pousio em uma Unidade

Produtiva da Comunidade Santana.

Nome popular Nome científico Família

Açoita-cavalo Luehea sp. Lythraceae

Algodão-do-mato Brosimum sp. Moraceae

Angico Anadenathera macrocarpa Leg. Mimosoideae

Ariticum Annona dioica Annonaceae

Arnicão Eupatorium odoratum Asteraceae

Assa-peixe Verninia sp. Asteraceae

Ata-do-campo Lughetia lanceolata Annonaceae

Barbatimão Stryphonodendron polyphyllum Leg. Mimosoideae Cabriteiro Rhamnidium elaeocarpus Rhamnaceae

Cabriúva Dalbergia sp. Leg. Papilionoideae

Café-bravo Mataiba guianensis Sapindaceae

Camboatã Cupania vernalia Sapindaceae

Canela Ocotea sp. Lauraceae

Cansação Cnidosculus cnicocodendron Euphorbiaceae

Carapia Dorstenia sp. Moraceae

Carijó Physocalina scaberrimam Lythraceae

Carne-de-vaca Combretum leprosum Combretaceae

Carobão Jacaranda sp. Bignoniaceae

Cascudinho Psidium sp. Myrtaceae

Chá-de-frade Casearia sylvestris Flacourtiaceae

Cruzeirinho Não identificada Rubiaceae

Cumbaru Dipteryx alata Leg. Papilionoideae

Espécie 1 Glateria sp. Annonaceae

Espécie 2 Conarus suberosus Conaraceae

Espécie 3 Hymantantus laciolata Apocynaceae

Espécie 4 Cupania sp. Sapindaceae

Espécie 5 Eugenia sp. Myrtaceae

Gonçaleiro Astronium fraxinifolium Anarcadiaceae

Guatambú Aspidosperma autrale Apocynaceae

Continua...

70

Nome popular Nome científico Família

Ipê-branco Tabebuia sp. Bignoniaceae

Japecanga Smilax sp. Smilacaceae

Lixeira Curatella americana Dilleniaceae

Louro Cordia sp. Boraginaceae

Louro-branco Cordia glabrata Boraginaceae

Mamica-de-porca Zantoxylum rhoifolium Rutaceae

Mandioca-brava Manihot sp. Euphorbiaceae

Marmelada Alibertia sessilis Rubiaceae

Osso-seco Platypodium elegans Leg. Papilionoideae

Paineira Chorisia sp. Bombacaceae

Pata-de-vaca Bauhinia sp. Caesalpinaceae

Pau-de-bicho Terminalia argentea Combretaceae

Pau-terra Qualea grandiflora Vochysiaceae

Peroba Apidosperma sp. Apocynaceae

Pindaíva Xylopia aromatica Annonaceae

Piúva Tabebuia sp. Bignoniaceae

Píuva-felpuda Tabebuia sp. Bignoniaceae

Pururuca Casearia rupestris Flacourtiaceae

Quaresmeira Tibouchina granulosa Melastomaceae

Timbó Magonia glabrata Sapindaceae

Tripa-degalinha Bauhinia sp. Leg. Caesapinoideae

Tucum Bactris inundata Palmae

Vassoura Allogoptera sp. Palmae

Não identificada 1

Não identificada 2

Não identificada 3

Não identificada 4

Não identificada 5

Não identificada 6

Não identificada 7

Não identificada 8

71

TABELA 9 - Parâmetros fitossociológicos na capoeira com 3 anos de pousio em uma Unidade Produtiva da comunidade Santana.

Nome DA DR(%) FA FR (%) DoA DoR(%)

Açoita-cavalo 150 0,920 1 1,316 0,062 0,248

Algodão-do-mato 50 0,307 1 1,316 0,006 0,026

Angico 50 0,307 1 1,316 0,0004 0,002

Ariticum 100 0,613 1 1,316 0,037 0,148

Arnicão 300 1,840 2 2,632 0,301 1,211

Assa-peixe 100 0,613 1 1,316 0,022 0,088

Ata-do-campo 1450 8,896 1 1,316 5,133 20,679

Barbatimão 100 0,613 1 1,316 0,074 0,298

Cabriteiro 200 1,227 2 2,632 0,085 0,343

Cabriuva 1050 6,442 1 1,316 0,413 1,664

Café-bravo 200 1,227 2 2,632 0,020 0,082

Camboatá 50 0,307 1 1,316 0,031 0,124

Canela 50 0,307 1 1,316 0,044 0,177

Cansanção 650 3,988 2 2,632 1,679 6,763

Carapiá 150 0,920 1 1,316 0,000 0,000

Carijó 150 0,920 2 2,632 0,386 1,557

Carne-de-vaca 300 1,840 1 1,316 0,800 3,224

Carobão 100 0,613 1 1,316 0,018 0,072

Cascudinho 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014

Chá-de frade 250 1,534 2 2,632 0,086 0,345

Cipó 50 0,307 1 1,316 0,019 0,079

Cruzeirinho 50 0,307 1 1,316 0,005 0,022

Cumbaru 200 1,227 2 2,632 0,017 0,070

Gonçaleiro 150 0,920 1 1,316 0,019 0,078

Guatambu 350 2,147 2 2,632 0,264 1,064

Ipê-branco 50 0,307 1 1,316 0,005 0,020

Japecanga 100 0,613 1 1,316 0,000 0,000

Lixeira 100 0,613 1 1,316 0,032 0,130

Louro 450 2,761 2,632 0,461 1,856 2 Continua...

72

Nome DA DR(%) FA FR (%) DoA DoR(%)

Louro-branco 100 0,613 1 1,316 0,026 0,103

Mamica 800 4,908 2 2,632 2,816 11,344

Mandioca-brava 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014

Marmelada 50 0,307 1 1,316 0,554 2,230

Espécie 1 100 0,613 1 1,316 0,030 0,120

Espécie 2 50 0,307 1 1,316 0,038 0,154

Espécie 3 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014

Espécie 4 50 0,307 1 1,316 0,006 0,026

Espécie 5 50 0,307 1 1,316 0,005 0,021

N identificada 1 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014

N identificada 2 50 0,307 1 1,316 0,024 0,098

N identificada 3 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014

N identificada 4 50 0,307 1 1,316 0,039 0,157

N identificada 5 100 0,613 1 1,316 0,009 0,036

N identificada 6 50 0,307 1 1,316 0,004 0,015

N identificada 7 50 0,307 1 1,316 0,005 0,020

N identificada 8 50 0,307 1 1,316 0,141 0,567

Osso-seco 150 0,920 1 1,316 0,015 0,058

Paineira 50 0,307 1 1,316 0,008 0,032

Pata-de-vaca 950 5,828 2 2,632 0,905 3,646

Pau-de-bicho 250 1,534 1 1,316 0,546 2,199

Pau-terra 1300 7,975 2 2,632 1,294 5,215

Peroba 400 2,454 2 2,632 1,193 4,808

Pindaíba 250 1,534 1 1,316 1,149 4,630

Piúva 450 2,761 2 2,632 0,596 2,402

Piúva-felpuda 100 0,613 1 1,316 0,068 0,273

Pururuca 1150 7,055 1 1,316 0,188 0,758

Quaresmeira 50 0,307 1 1,316 0,004 0,014

Timbó 1400 8,589 2 2,632 5,058 20,377

Tripa-de-galinha 550 3,374 1 1,316 0,000 0,000

Tucum 200 1,227 1,316 0,038 0,153 1

Continua...

73

Vassoura 300 1,840 1 1,316 0,025 0,102

Total 16.300 100,00 100,00 24,820 100,00 DA: Densidade absoluta (no de indivíduos por hectare); DR: Densidade relativa; FA: Freqüência absoluta (no de parcelas em que ocorre a espécie); FR: Freqüência relativa; DoA: Dominância absoluta (área em m2 por hectare que cada espécie ocupa); DoR: Dominância relativa.

No total de espécies inventariadas, mais da metade possuem

algum registro de uso, e 18,0% delas não foram citadas ou o uso é

desconhecido. De acordo com o levantamento 47,5% são apontadas como

espécies utilizadas em construções rurais e 6,5% são utilizadas como cabo

de ferramentas. Para produção de energia (lenha), 65,5% das espécies

foram citadas e 21,3% para algum uso medicinal.

O inventário na capoeira com oito anos de pousio foi realizado em

um local próximo a um rio (mata ciliar) (Figura 32), sendo assim observou-se

uma mudança na composição florística, quando comparada com a capoeira

com 3 anos.

FIGURA 32 - Aspecto da capoeira com oito anos de pousio.

74

Foram encontradas 57 espécies na área amostrada, destas 44

foram identificadas, sendo pertencentes a 30 famílias botânicas (Tabela 9).

Nesta capoeira as famílias Leguminosae, Anacardiaceae, Annonaceae,

Apocynaceae, Rubiaceae e Sapindaceae foram as mais representativas

quanto ao número de espécies. Foram observados espécies como o

gonçaleiro (Astronium fraxinifolium), o guatambu (Aspidosperma sp.), a

aroeira (Myracroduon urundeuva), a piúva (Tabebuia sp.), o açoita-cavalo

(Luehea sp.) e a tripa-de-galinha (Bauhinia glabra).

Na parcela 1 foram inventariados 174 indivíduos, destacando-se

as seguintes espécies arbóreas: negramina (Siparuna guianensis), cabriteiro

(Rhamnidium elaeocarpus), gonçaleiro (Astronium fraxinifolium) e a pindaíba

(Xylopia auriantica). Na parcela 2 houve menor densidade de indivíduos,

perfazendo um total de 163 indivíduos amostrados; dentre as espécies

arbóreas de maior ocorrência estão: guatambu (Aspidosperma sp.), lixeira

(Curatella americana), cabriteiro (Rhamnidium eleocarpus) e a peroba

(Aspidosperma sp.). Na Tabela 10 estão os parâmetros fitossociológicos

obtidos neste levantamento.

Uma comparação entre a densidade e a dominância, demonstram

que as espécies mais representativas não são as que possuem maior área

basal relativa (DoR) como aconteceu na capoeira com 3 anos de pousio.

Esta afirmativa pode ser confirmada analisando como exemplo a ata-do-

campo (Lughetia lanceolata), o carijó (Physocalina scaberrimam )e a mama-

cadela (Brosimum gaudichaudii).

75

TABELA 9 – Espécies levantadas na capoeira com oito anos de pousio, em uma UP da comunidade Santana.

Nome popular Nome científico Família

Açoita-cavalo Luhea sp. Tiliaceae

Amescla Protium heptaphylum Burseraceae

Angélica Não identificada Rubiaceae

Angico Anadenanthera sp. Leg. Mimosoideae

Araticum Annona coreacea Annonaceae

Aroeira Myracroduon urundeuva Anacardiaceae

Ata-do-campo Lughetia lanceolata Annonaceae

Cabrito Rhamnidium elaeocarpum Rhamnaceae

Cabriúva Dalbergia sp. Leg. Papilionoideae

Café-bravo Matayba sp. Sapindaceae

Canela Ocotea sp. Lauraceae

Cansação Cnidosculus cnicocodendron Euphorbiaceae

Carijó Physocalina scaberrimam Lytraceae

Caroba Jacaranda sp. Bignoniaceae

Cascudinho Psidium sp. Mytaceae

Chá-de-frade Casearia sylvestris Flacourtiaceae

Chico-magro Guazuma ulmifolia Sterculiaceae

Cipó-canoinha Não identificada Apocynaceae

Embaúba Cecropia sp. Cecropiaceae

Espécie 1 Miconia albicans Melastomaceae

Espécie 2 Licania sp. Chrysonbalanaceae

Espécie 3 Palicuraia sp. Rubiaceae

Espécie 4 Hirtella sp. Chrysonbalanaceae

Espécie 5 Tibouchina sp. Melastomaceae

Espécie 6 Trichilia elegans Meliaceae

Espécie 7 Nercia hermafrodita Nyctanginaceae

Espécie 8 Myrcia albotomentosa Myrtaceae

Continua...

76

Nome popular Nome científico Família

Espécie 9 Cordia insignis Boraginiaceae

Gonçaleiro Astronium fraxinifolium Anacardiaceae

Guatambu Aspidosperma australe Apocynaceae

Indaiá Attalea geraensis Palmae

Ipê-tapioca Cybistax antisyphylitica Bignoniaceae

Jacarandá Machaerium opacum Leg. Mimosoideae

Jequitibá Cariniana sp. lecytidaceae

Limãozinho Ximenia sp. Olacaceae

Lixeira Curatella americana Dilleniaceae

Mama-cadela Brosimum gaudichaudii Rutaceae

Marmelada Alibertia sessilis Rubiaceae

Manduvi Sterculia striata Sterculiaceae

Mirici Byrsonima verbacifolia Malphigiaceae

Morcegueira Andira inermis Fabaceae

Negramina Siparuna guianensis Monimiaceae

Pata-de-vaca Bauhinia sp. Leg. Caesalpinoideae

Pau-de-pombo Matayba sp. Sapindaceae

Pente-de-macaco Apeiba tibourbou Tiliaceae

Pindaíba Xylopia aromatica Annonaceae

Piúva Tabebuia sp. Bignoniaceae

Tapiriri Tapirira guianensis Anacardiaceae

Timbó Magonia glabrata Sapindaceae

Tripa-de-galinha Bauhinia sp. Leg. Caesalpinoideae

Velame Sclerolobium Paniculatum Leg. Caesalpinoideae

Vinhático Plathymenia reticulata Leg. Mimosoideae

Não identificada 1

Não identificada 2

Não identificada 3

Não identificada 4

77

TABELA 10 - Resultado do levantamento fitossociológico da capoeira com 8 anos de pousio em uma Unidade Produtiva da comunidade Santana.

Nome popular DA DR FA FR (%) DoA DoR(%)

Açoita-cavalo 300 1,780 1 1,176 0,206 0,533

Amescla 350 2,077 2 2,353 0,354 0,916

Angélica 200 1,187 1 1,176 2,747 7,111

Angelim 50 0,297 1 1,176 0,039 0,101

Angico 50 0,297 1 1,176 6,787 17,569

Ariticum 150 0,890 1 1,176 0,186 0,483

Aroeira 200 1,187 2 2,353 0,231 0,598

Ata-do-campo 150 0,890 2 2,353 0,315 0,815

Cabrito 1150 6,825 2 2,353 0,954 2,469

Cabriúva 100 0,593 1 1,176 0,255 0,661

Café-bravo 150 0,890 2 2,353 0,032 0,082

Canela 100 0,593 1 1,176 0,141 0,364

Cansanção 400 2,374 1 1,176 0,118 0,306

Carijó 100 0,593 2 2,353 1,955 5,061

Caroba 150 0,890 2 2,353 0,035 0,091

Cascudinho 250 1,484 2 2,353 0,311 0,805

Chá-de-frade 150 0,890 2 2,353 0,324 0,840

Chico-magro 50 0,297 1 1,176 0,056 0,145

Cipó-canoinha 50 0,297 1 1,176 0,000 0,000

Embauba 200 1,187 1 1,176 1,712 4,432

Espécie 1 50 0,297 1 1,176 0,005 0,014

Espécie 2 150 0,890 1 1,176 0,039 0,101

Espécie 3 50 0,297 1 1,176 0,005 0,013

Espécie 4 50 0,297 1 1,176 0,006 0,015

Espécie 5 50 0,297 1 1,176 0,015 0,039

Espécie 6 50 0,297 1 1,176 0,003 0,009 Espécie 7 50 0,297 1 1,176 0,006 0,016

Espécie 8 50 0,297 1 1,176 0,013 0,033

Fruta-algodão 50 0,297 1 1,176 0,003 0,009

78

Nome popular DA DR FA FR (%) DoA DoR(%)

Gonçaleiro 400 2,374 1 1,176 0,295 0,763

Guatambu 1450 8,605 2 2,353 2,052 5,311

Indaiá 400 2,374 2 2,353 0,035 0,091

Jacarandá 50 0,297 1 1,176 0,004 0,012

Japecanga 950 5,638 2 2,353 0,000 0,000

Jequitibá 100 0,593 1 1,176 0,776 2,009

Limãozinho 150 0,890 1 1,176 0,100 0,260

Lixeira 750 4,451 1 1,176 1,454 3,764

Mama-cadela 50 0,297 1 1,176 1,849 4,786

Marmelada 150 0,890 1 1,176 0,146 0,378

Morcegueira 50 0,297 1 1,176 0,008 0,020

N indentificada 1 150 0,890 1 1,176 0,216 0,559

N indentificada 2 100 0,593 1 1,176 0,070 0,181

N indentificada 3 50 0,297 1 1,176 0,006 0,016

N indentificada 4 50 0,297 1 1,176 0,031 0,081

N indentificada 5 50 0,297 1 1,176 0,004 0,011

N indentificada 6 50 0,297 1 1,176 0,004 0,012

N indentificada 7 50 0,297 1 1,176 0,018 0,046

N indentificada 9 50 0,297 1 1,176 0,015 0,039

N indentificada 10 50 0,297 1 1,176 0,006 0,015

N indentificada 11 50 0,297 1 1,176 0,023 0,060

Negramina 1500 8,902 2 2,353 1,600 4,141

Orelha-de-burro 50 0,297 1 1,176 0,004 0,010

Pata-de-vaca 250 1,484 2 2,353 0,104 0,269

Pau-de-pombo 150 0,890 1 1,176 0,036 0,094

Pau-de-sebo 50 0,297 1 1,176 0,146 0,378

Pau-terra 150 0,890 2 2,353 0,158 0,408

Pente-de-macaco 50 0,297 1 1,176 0,005 0,012

Peroba 750 4,451 1 1,176 9,772 25,296

Pindaíba 850 5,045 2 2,353 0,855 2,215

Piúva 50 0,297 1 1,176 0,024 0,063

79

Nome popular DA DR FA FR (%) DoA DoR(%)

Rosquinha 50 0,297 1 1,176 0,050 0,131

Tapiriri 1100 6,528 2 2,353 1,195 3,093

Timbó 150 0,890 2 2,353 0,189 0,490

Tripa-de-galinha 1400 8,309 2 2,353 0,000 0,000

Veludo 150 0,890 1 1,176 0,326 0,843

Vinhático 150 0,890 1 1,176 0,198 0,512

TOTAL 16850 100,00 100,00 38,630 100,00 -

DA: Densidade absoluta (no de indivíduos por hectare); DR: Densidade relativa; FA: Freqüência absoluta (no de parcelas em que ocorre a espécie); FR: Freqüência relativa; DoA: Dominância absoluta (área em m2 por hectare que cada espécie ocupa) DoR: Dominância relativa.

No total de espécies inventariadas, mais da metade possuem

algum registro de uso e 17,0% delas não foram citadas ou o uso é

desconhecido. De acordo com o levantamento, 33,9% das espécies são

utilizadas em benfeitorias rurais e 6,7% como cabo de ferramentas. Para

produção de energia (lenha) 69,5% das espécies foram citadas, e 15,23%

tem algum uso medicinal.

Esta análise comprova o papel estratégico das capoeiras. Além

de elas contribuírem para o restabelecimento da fertilidade do solo no

período de pousio, elas são importantes fontes de recursos para os

agricultores tradicionais.

Algumas plantas do grupo de 21 espécies que os agricultores

mais utilizam nas UPs estão presente nas duas áreas de capoeiras. A

Tabela 11 apresenta a variação da disponibilidade dessas espécies de

acordo com a classe de diâmetro entre as duas áreas de pousio.

80

TABELA 11 – Estimativa da densidade absoluta e o número de usos das 21 espécies mais utilizadas pelos agricultores da comunidade Santana nas duas áreas de capoeiras.

Capoeira 3 anos

Capoeira 8 anos Nome

popular

Nome científico

Classe de diâmetro

DA DA

No de

usos

1,00 - 5,00 50 - 5,01 - 10,00 - - Angico

Anadenanthera macrocarpa acima de 10,01 - 50

3

1,00 - 5,00 - 150 5,01 - 10,00 - 50

Aroeira

Myracrodruon urundeuva acima de 10,01 - -

5

1,00 - 5,00 950 100 5,01 - 10,00 300 50

Ata-do-campo

Lughetia lanceolata acima de 10,01 200 -

2

1,00 - 5,00 400 1050 5,01 - 10,00 - 50

Cabriteiro

Rhamnidium elaeocarpus acima de 10,01 - 50

3

1,00 - 5,00 50 50 5,01 - 10,00 - 50

Canela

Ocotea sp. acima de 10,01 - -

2

1,00 - 5,00 150 50 5,01 - 10,00 - -

Carijó

Physocalymma scaberrimum acima de 10,01 - 50

3

1,00 - 5,00 250 - 5,01 - 10,00 - -

Carne-de-vaca

Combretum leprosum acima de 10,01 50 -

3

1,00 - 5,00 - - 5,01 - 10,00 - -

Carvão-branco

Callistene fasciculata acima de 10,01 - -

4

1,00 - 5,00 - - 5,01 - 10,00 - -

Carvão-vermelho

Diptychandra auriantica acima de 10,01 - -

3

1,00 - 5,00 - - 5,01 - 10,00 - -

Cedro

Cedrella fissilis acima de 10,01 - -

1

1,00 - 5,00 400 - 5,01 - 10,00 - -

Cumbaru

Dipteryx alata acima de 10,01 - -

4

1,00 - 5,00 - - 5,01 - 10,00 - -

Espeteiro

Casearia gossypiosperma acima de 10,01 - -

3

1,00 - 5,00 - - 5,01 - 10,00 - -

Farinha-seca

Acacia polyphylla acima de 10,01 - -

3

1,00 - 5,00 150 400 5,01 - 10,00 - -

Gonçaleiro

Astronium fraxinifolium acima de 10,01 - -

3

81

Capoeira 3 anos

Capoeira 8 anos Nome

popular

Nome científico

Classe de diâmetro

DA DA

No de

usos

1,00 - 5,00 300 1400 5,01 - 10,00 50

Guatambu

Aspidosperma sp. acima de 10,01 50

4

1,00 - 5,00 400 5,01 - 10,00

Indaiá

Attalea geraensis acima de 10,01

1

1,00 - 5,00 350 50 5,01 - 10,00 100

Ipê

Tabebuia sp. acima de 10,01

4

1,00 - 5,00 50 5,01 - 10,00

Ipê-branco

Tabebuia spp. acima de 10,01

3

1,00 - 5,00 200 400 5,01 - 10,00 150

Peroba

Aspidosperma australe acima de 10,01 50

4

1,00 - 5,00 1150 5,01 - 10,00

Pururuca

Rapanea ferruginea acima de 10,01

3

1,00 - 5,00 550 1400 5,01 - 10,00

Tripa-de-galinha

Bauhinia glabra

2 acima de 10,01

DA: Densidade absoluta (no de indivíduos por hectare).

As duas áreas de pousio podem ofertar algumas das espécies

que os agricultores utilizam. O carvão-vermelho (Diptychandra auriantica), o

carvão-branco (Callistene fasciculata),o espeteiro (Casearia

gossypiosperma), o cedro (Cedella fissilis) e a farinha-seca (Acacia

polyphylla) são as espécies que não foram encontradas nessas áreas.

Segundo os agricultores, essas espécies não são comuns nesses sítios.

Nessas capoeiras, pode-se verificar que as maiores densidades

de indivíduos ocorrem nas menores classes de diâmetro. A comparação

entre os diâmetros das peças de madeira que os agricultores utilizam nas

UPs, com os indivíduos disponíveis nessas áreas de pousio, mostra que

nesse estágio de sucessão, essas capoeiras só podem ofertar madeiras com

pequenas dimensões, geralmente utilizadas como barrote, cabo de

ferramenta e alguns produtos não madeireiros como ervas medicinais e

cipós. Esta avaliação aponta para necessidade de haver capoeiras em

estágios mais avançados de sucessão para atender a demanda dos

82

agricultores nos demais recursos madeireiros utilizados nas UPs.

4.4. Descrição, quantificação e valoração econômica dos recursos

florestais nativos.

Os valores monetários atribuídos aos recursos florestais de uso

direto foram divididos em cinco categorias de uso: moradia, benfeitorias

relacionadas à criação animal, cercamento das unidades de manejo das

UPs, lenha, móveis e utensílios.

As moradias dos agricultores são de madeira, construídas com a

técnica de pau-a-pique, barreadas e cobertas com folhas de indaiá, embora

também existam casas feitas de alvenaria e cobertas com telhas de amianto.

O piso é de chão batido e, em grande parte das moradias, mesmo

as construídas de alvenaria, as cozinhas são separadas das casas e são

feitas de pau-a-pique, sem ser barreadas, para diminuir o calor e a fumaça

produzida pelo fogão a lenha.

Os banheiros também são separados das casas, e as vezes nem

existem. Para tomar banho utilizam um cercado de madeira ou palha que

fica no quintal, quando não o fazem nos rios e córregos.

Para facilitar a quantificação dos recursos da vegetação nativa, as

peças de madeiras utilizadas na moradia foram divididas de acordo com a

sua função (Tabela 12).

O alicerce é a peça de madeira, que pode ser serrada ou bruta,

que fica deitada em contado com a superfície do chão e serve de base às

paredes. Essa peça possui diâmetro que varia de 15 a 25 cm e é feita com

madeira resistente e muito durável como aroeira (Myracroduon urundeuva),

carvão-branco (Callistene fasciculata) e carvão-vermelho (Dipychandra

auriantica).

O esteio é a peça de madeira de sustentação vertical que recebe

a maior carga em relação as demais estruturas. Essa peça geralmente

possui diâmetro que varia de 15 a 20 cm e dois comprimentos: um maior que

fica posicionado no meio da construção, em ambos os lados, e outro menor

que fica nos cantos. Esses dois comprimentos permitem que o telhado tenha

83

duas águas. As madeiras utilizadas para fazer esteio são resistentes e

duráveis, pois ficam em contato com a umidade do solo. A aroeira e o

cumbaru são exemplos de espécies utilizadas para esse fim.

O barrote é uma peça de madeira com várias finalidades na

construção, empregado principalmente para fazer as paredes das moradias

(casa e cozinha). Possui, em média, comprimento de 1,7 m e diâmetro de 7

a 8 cm. Várias espécies são utilizadas para esse fim, como o carijó

(Physocalymma scaberrimum), a carne-de-vaca (Combretum leprosum) e o

cabriteiro (Rhamnidium elaeocarpus). Essas peças possuem baixa

durabilidade quando em contato com umidade, necessitando substituições

freqüentes, geralmente a cada 2 anos.

As linhas e travas são peças de madeiras utilizadas de maneira

horizontal sobre a qual assentam as tesouras do telhado. As madeiras

utilizadas para esse fim possuem diâmetro em torno de 10 a 13 cm e

comprimento de 7 a 9 m. Deve apresentar resistência moderada, já que não

fica em contato com a umidade do solo, e ser leve. A ata-do-campo

(Lughetia lanceolata), o espeteiro (Casearia gossypiosperma) e o vinhático

(Plathymenia reticulata) são espécies que prestam para essa finalidade.

Caibros e ripas são empregados em armações de telhados. Os

caibros possuem diâmetro em torno de 6,5 cm e as ripas de 4,0 a 5,0 cm. As

espécies empregadas para esse fim são o guatambu e a pururuca

A taboca é uma espécie de bambu utilizada para prender os

barrotes das paredes da cozinha e para dar sustentação ao barro nas

paredes das casas, possuindo diâmetro de 3,0 a 3,5 cm.

A madeira serrada é empregada para fazer portas, janelas e

móveis. Os móveis são simples e consistem em prateleiras, bancos e mesas.

De maneira geral pode-se observar a grande quantidade de

madeira empregada nas construções das moradias dos agricultores. As UPs

1, 5, 6 e 8 foram as que tiveram menor número de peças de madeira. Esses

valores são menores porque as moradias das UPs 1 e 6 são feita de

madeira serrada adquirida no mercado, e as UPs 5 e 8 são casas feitas de

alvenaria.

84

TABELA 12 - Classificação e quantificação dos recursos madeireiros na construção das moradias (casa, cozinha, banheiro e banho) da Comunidade

Santana.

Alicerce Esteio Linha e Trava Barrote Caibro Ripa Taboca Madeira serrada

UP N°

Peças

Comp.

Total (m) N°

Peças

Comp.

Total (m) N°

Peças

Comp.

Total (m) N°

Peças

Comp.

Total (m) N°

Peças

Comp.

Total (m) N°

Peças

Comp.

Total (m) N°

Peças

Comp.

Total (m) N°

Peças

Comp.

Total (m)

1 8 34,00 25 70,10 12 58,50 82 141,70 25 70,50 23 92,00 - - - -

2 24 71,40 41 116,20 21 90,00 1011 2022,0 66 298,80 32 192,00 438 1453,0 79 73,28

3 14 46,80 25 74,60 16 82,80 400 672,00 52 186,20 62 372,00 304 1071,6 76 78,18

4 29 100,10 39 122,40 23 113,60 676 1181,8 66 242,40 101 599,00 254 755,40 169 259,60

5 6 18,00 19 68,00 14 71,50 283 476,30 16 38,40 30 180,00 64 275,20 63 62,58

6 16 54,30 19 74,10 16 77,50 20 42,80 55 137,50 18 126,00 - - 13 15,80

7 16 57,00 26 82,30 16 79,00 875 1596,0 67 210,50 48 264,00 252 1197,0 - -

8 12 34,40 19 60,20 12 54,00 560 947,20 34 81,60 62 372,00 282 974,80 61 60,23

9 12 49,50 23 69,20 13 85,90 704 1194,0 64 256,00 94 533,00 278 1265,0 45 39,28

10 16 46,60 24 75,00 17 109,60 816 1390,0 52 262,80 42 262,00 482 1523,0 180 240,90

85

As benfeitorias relacionadas à criação animal também empregam

grande quantidade de madeira (Tabela 13). Os galinheiros e chiqueiros são

feitos com madeiras que possuem baixa durabilidade, chamadas pelos

agricultores de madeira branca. Segundo as entrevistas, os chiqueiros e

galinheiros são refeitos a cada dois anos, o que chama a atenção para

necessidade de áreas com capoeiras novas para fornecer recurso madeireiro.

Na construção do curral utiliza-se, de preferência, para fazer os palanques e

mourões, madeira de alta resistência e durabilidade (aroeira ou caneleira)

conhecida como madeira de cerne. Nas varas horizontais utilizam madeiras que

são resistentes ao impacto (ipê, faveiro e outras).

Segundo o agricultor da UP 2 as peças de caneleira e aroeira do seu

curral estão com mais de 25 anos e apresentam bom estado de conservação

(Figura 33).

FIGURA 33 - Curral com mourões de caneleira (Ocotea sp.) com 25 anos de uso. Unidade

Produtiva 2.

86

TABELA 13 - Uso dos recursos madeireiros na infra-estrutura relacionada a criação animal na Comunidade Santana.

Chiqueiro Galinheiro Curral UP

Diâmetro

(cm) N° Peças

Comp. Total(m)

N° Peças

Comp. Total(m)

N° Peças

Comp. Total (m)

3,5 - 12,0 32 128,00 175 471,70 - - 13,0 - 18,0 8 8,00 9 30,00 - -

1

acima de 19 - - - - - - 3,5 - 12,0 284 682,20 58 143,00 81 186,50 13,0 - 18,0 - - 17 39,80 41 110,70

2

acima de 19 4 4,00 2 2,40 1 3,00 3,5 - 12,0 210 367,30 11 28,00 - - 13,0 - 18,0 - - - - - -

3

acima de 19 - - - - - - 3,5 - 12,0 266 648,40 196 272,00 35 90,20 13,0 - 18,0 47 705,00 - - 2 1,20

4

acima de 19 - - - - 4 8,40 3,5 - 12,0 8 23,20 - - 201 603,00 13,0 - 18,0 - - - - 66 165,00

5

acima de 19 - - - - - - 3,5 - 12,0 78 277,20 - - - - 13,0 - 18,0 14 42,00 - - - -

6

acima de 19 17 25,50 - - - - 3,5 - 12,0 97 230,00 - - - - 13,0 - 18,0 - - - - - -

7

acima de 19 - - - - - - 3,5 - 12,0 114 305,00 6 17,40 100 220,00 13,0 - 18,0 - - - - 2 5,60

8

acima de 19 3 3,90 - - 1 3,00 3,5 - 12,0 104 230,80 3 6,40 - - 13,0 - 18,0 - - - - - -

9

acima de 19 2 2,40 - - - - 3,5 - 12,0 125 229,40 58 143,00 - -

10 13,0 - 18,0 - - 17 39,80 - - Acima de 19 4 4,80 2 2,40 - -

As cercas são feitas com madeira branca e madeira de cerne; as

estacas de madeira branca, como acontece nas outras estruturas, também têm

que ser substituídas a cada dois anos. A Tabela 14 mostra a quantidade e o

valor desse recurso madeireiro nas UPs.

87

TABELA 14 - Quantificação e valoração de estacas de madeira utilizadas para fazer cerca nas Unidades Produtivas, Comunidade Santana.

Recurso Madeireiro - Cerca Madeira de Cerne N° Peças

Madeira Branca N° Peças

UP

2,20 m*

Valor (R$)

2,20 m* 4,00 m*

Valor (R$)

N° Peças Total 10,00 m*

Valor Total (R$)

1 38 506,54 - - - - 38 506,54

2 91 1.210,30 764 407 4 8.404,40 1.266 9.614,70

3 90 1.197,00 633 - - 1.392,60 723 2.589,60

4 86 2.266,10 367 - - 807,40 453 3.073,50

5 68 904,40 764 407 4 8.404,40 1.243 9.308,80

6 39 519,87 - - - - 39 519,87

7 - - 160 352,00 160 352,00

8 29 546,53 764 407 4 8.404,40 1.243 9.308,80

9 - - - - - - - -

10 414 5.518,62 - - - - 414 5.518,62 * Comprimento da peça de madeira (metros) Cotação do Dollar: U$ 1,00 = R$ 2,242

As UPs 2, 5 e 8 possuem uma roça em comum, na qual foi feito um

cercado para inibir a entrada de animais silvestres como porco-do-mato,

capivara e veado. Nesse cercado foram gastos 1221 peças de madeira com

comprimento médio de 4,0 m e 13 cm de diâmetro e 426 peças de 2,20 m de

comprimento e 10 cm de diâmetro, totalizando 1647 peças de madeira. Esse

dado pode causar certo espanto e parecer desperdício de madeira, mas na

verdade esses agricultores estão aproveitando a madeira da capoeira que foi

derrubada para a implantação da roça, portanto não se trata de desperdício e

sim aproveitamento do recurso madeireiro. Essa prática está cada vez mais em

desuso. Segundo os agricultores atualmente as capoeiras que são derrubadas

para fazer roças não chegam a produzir madeiras com essas dimensões

(comprimento e diâmetro) devido ao pouco tempo de pousio.

88

A lenha é outro recurso madeireiro usado em todas UPs, apesar de

algumas possuírem fogão a gás. O consumo de lenha foi quantificado e

valorado em uma UP com quatro pessoas, por um período de 30 dias (Tabela

15). TABELA 15 - Valor e consumo mensal de lenha em uma Unidade Produtiva da Comunidade

Santana.

No Medidas No de estacas Peso (Kg) Volume (m3 ) Estere (mst ) Valor (R$)

1 22 21,00 0,13 0,22 2,47

2 21 19,00 0,16 0,27 2,94

3 23 24,50 0,14 0,24 2,61

4 25 23,00 0,12 0,21 2,28

5 25 27,00 0,18 0,29 3,21

6 37 31,50 0,25 0,41 4,56

7 8 8,80 0,05 0,08 0,88

8 12 20,50 0,11 0,19 2,08

9* 18 25,50 0,09 0,15 1,66

10* 17 27,30 0,09 0,15 1,66

11 25 26,00 0,15 0,25 2,73

12* 14 29,61 0,08 0,13 1,47

13 * 11 22,70 0,08 0,13 1,47

14 * 13 27,10 0,08 0,13 1,47

Total 271 333,51 1,71 2,86 31,47 * Espécie utilizada: Angico (Anadenanthera macrocarpa) Cotação do Dollar: U$ 1,00 = R$ 2,242

Todos os tipos de madeira têm uso potencial para lenha nas UPs.

Apesar da preferência pelo angico (Anadenanthera macrocarpa), a facilidade de

obtenção é o principal critério de utilização do recurso lenha. Normalmente a

coleta é feita quase que diariamente, o espaço médio entre uma coleta e outra

nesse caso foi de dois dias. O consumo de lenha varia em função da espécie

utilizada, quando se usa a espécie angico, que possui maior poder calorífico

(Andrade e Carvalho, 1998), o número de estacas consumidas e o volume é

menor quando comparados a outras espécies florestais.

89

O consumo mensal foi de 2,86 mst (esteres) por mês. Sharma (1993)

em seu trabalho com agricultores tradicionais na Nicarágua, verificou o

consumo médio mensal de 2,3 mst de lenha por família com 6 a 7 membros e

3,7 mst por família com 15 a 18 membros, mostrando que a variação no

consumo de lenha não é proporcional ao número de pessoas.

Segundo Shaffler e Prochnow (2002), em capoeiras com idade entre

15 e 30 anos obtem-se em média 60 mst de lenha por hectare sem fazer corte

raso. Essa quantidade varia de região para região e também depende das

espécies da área que está sob manejo.

Na Tabela 16 está o valor do investimento em recursos madeireiros

caso os agricultores tivessem que adquirí-los no mercado. Dentro das cinco

categorias de uso dos recursos madeireiro, a moradia e estacas para cerca são

as que consomem mais madeira e conseqüentemente com maiores valores

monetários. TABELA 16 – Valoração econômica dos recursos madeireiros utilizados nas Unidades

Produtivas.

Valoração econômica total (R$)

UP Moradia Criação

animal Estaca p/

cerca Móveis e Utensílios

Ponte e Pinguela Total

1 1.767,79 895,60 506,54 101,00 160,00 3.430,93 2 9.810,90 6.919,16 9.614,70 248,00 406,67 26.999,433 5.520,20 620,40 2.589,60 234,00 424,73 9.388,33 4 8.653,02 1.056,88 3.073,50 1.065,03 470,85 14.319,285 3.620,39 4.437,94 9.308,80 236,74 406,67 18.010,546 2.463,26 1.490,89 519,87 745,10 30,00 5.249,12 7 4.777,20 290,00 352,00 22,00 - 5.441,20 8 5.377,16 1.770,96 9.308,80 338,66 406,67 17.202,259 5.776,75 251,60 - 186,56 424,73 6.639,64

10 4.902,31 827,94 5.518,62 11.798,13409,26 140,00 Cotação do Dollar: U$ 1,00 = R$ 2,242

90

Os valores monetários das UPs 2, 5 e 8 são mais elevados devido à

grande quantidade dos recursos madeireiros utilizados para cercar uma roça

que possuem em comum.

Ao incluir a escala temporal, devido ao período de durabilidade das

benfeitorias os valores monetários alteram (Tabela 17).

TABELA 17 - Custo anual dos recursos madeireiros utilizados nas Unidades Produtivas.

Valoração econômica total anual (R$/ano)

UP Moradia Criação

animal Estaca p/

cerca Móveis e Utensílios

Ponte e Pinguela Lenha* Total

1 269,98 447,95 90,98 54,40 80,00 - 943,32

2 1.664,45 727,97 4.633,28 300,66 30,27 - 7.356,63

3 975,31 224,15 837,68 121,81 212,37 - 2.371,32

4 1.649,77 1.056,88 488,67 388,71 235,43 409,32 4.228,78

5 585,92 191,34 4.564,82 105,28 30,27 - 5.477,63

6 304,00 631,35 109,00 368,67 15,00 - 1.428,02

7 1.652,48 121,00 176,00 36,67 - - 1.986,15

8 1.120,25 235,88 5.382,37 102,40 30,27 - 6.871,17

9 1.473,99 125,80 - 96,21 212,37 - 1.908,38

10 1.577,53 344,97 220,78 166,82 70,00 - 2.380,10 * consumo de lenha foi medido em apenas uma UP. Cotação do Dollar: U$ 1,00 = R$ 2,242

Quando se adiciona a escala temporal nos valores dos recursos

madeireiros percebe-se que, quanto maior o uso de madeira branca na

construção das benfeitorias, proporcionalmente maior é o valor monetário

anual. Isto acontece devido à necessidade de se trocar as peças de madeira de

dois em dois anos, o que não acontece com as madeiras de cerne, que

possuem durabilidade maior que 25 anos. Portanto, quanto maior o uso de

madeiras brancas, maior é a dependência do agricultor pela vegetação nativa.

91

5. CONCLUSÕES.

A vegetação nativa proporciona uma ampla variedade de produtos

madeireiros e não-madeireiros que vêm sendo explorado pelos agricultores há

várias gerações. Os resultados mostraram um amplo conhecimento dos

agricultores sobre o ambiente em que vivem: conhecimentos específicos sobre

os recursos naturais, formas de cultivo da terra; o uso e comportamento das

plantas (nativas ou cultivadas); a classificação de ambientes e conhecimentos

sobre tecnologias apropriadas a sua forma de manejo.

A retirada da vegetação nativa para exploração agrícola é uma

prática comum. Mas para os agricultores tradicionais da comunidade Santana,

que tiveram suas áreas reduzidas, a necessidade de retirar a vegetação nativa

para o cultivo assume papel contraditório, pois os recursos advindos dessa

vegetação são estratégicos para reprodução de suas Unidades Produtivas

(UPs).

O ciclo de pecuarização (formação de pastagens), cada vez mais

freqüente nas UPs, tem diminuído a quantidade de áreas destinadas ao pousio

florestal, e conseqüentemente diminuído a quantidade de capoeiras e recursos

da flora nativa. Essa situação pode comprometer a reprodução das unidades

produtivas, antes mesmo do esgotamento de outros recursos naturais. Esses

agricultores, com baixo poder aquisitivo de compra, necessitam de áreas com

capoeiras em diversos estágios de sucessão, para obterem os recursos

madeireiros e não-madeireiros da flora nativa, e para recuperação da fertilidade

do solo, através do pousio de áreas cultivadas.

92

Existe a necessidade de se aprofundar o conhecimento sobre a

dinâmica das capoeiras manejadas pelos agricultores, para conhecer a

distribuição horizontal e vertical das populações florestais e o potencial de

incremento no diâmetro dos indivíduos arbóreos. Dessa forma é possível de se

ter uma estimativa da disponibilidade de recursos da flora nativa para atender a

demanda das UPs ao longo do tempo e propor alternativas de uso do solo que

sejam compatíveis com o modo de vida desses agricultores.

93

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