fundamentos teórico-metodológicos para o ensino da matemática

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1 LUIZ GONZAGA PIRES NAISIS CASTELO BRANCO ANDRADE FARIAS CONTEÚDOS E METODOLOGIA DA MATEMÁTICA Módulo “V” TERESINA/ 2010

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1

LUIZ GONZAGA PIRES

NAISIS CASTELO BRANCO ANDRADE FARIAS

CONTEÚDOS E METODOLOGIA DA

MATEMÁTICA

Módulo “V”

TERESINA/ 2010

2

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Luis Inácio Lula da Silva

MINISTRO DA EDUCAÇÃO

Fernando Haddad

GOVERNADOR DO ESTADO DO PIAUÍ

Wilson Martins

REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

Luiz Sousa Santos Junior

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DOPIAUÍ

Antonio José Medeiros

SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃOA DISTÂNCIA DO MEC

Carlos Eduardo Bielschowsky

DIRETOR DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA EaD

Hélio Chaves

COORDENADOR GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

Celso Costa

COORDENADOR GERAL DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTO A DISTÂNCIA DA UFPI

Gildásio Guedes Feranandes

SUPERINTENDENTE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO ESTADO

Eliane Mendonça

DIRETOR DO CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho

COORDENADORA DO CURSO NA MODALIDADE EAD

Vera Lúcia Costa Oliveira

COORDENADORA DO MATERIAL DIDÁTICO DO CEAD/UFPI

Cleidinalva Maria Barbosa de Oliveira

3

Pires, Luiz Gonzaga

CONTEÚDOS E METODOLOGIA DA MATEMÁTICA / Luiz Gonzaga Pires. Naisis Castelo Branco Andrade Farias. – Teresina: UFPI/CEAD, 2010. _____ p.

1. Educação –. 2. Educação Básica – 3. Ensino Infantil e ensino fundamental nos anos iniciais – 4 Raciocínio lógico matemático. I título

4

APRESENTAÇÃO

O presente texto destina-se aos estudantes do Programa de Educação à

Distância da Universidade Aberta do Piauí – UAPI, vinculados ao consórcio

formado pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, Universidade Estadual do

Piauí – UESPI e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí

– IFET, com apoio do Governo do Estado do Piauí, através da Secretaria de

Educação.

O Texto está estruturado em três unidades. Na primeira unidade

adotamos uma lógica para situar o ensino da matemática, situando-o

historicamente e localizando-o dentro das correntes pedagógicas da educação

brasileira as tendências atuais do ensino da matemática. Tratamos também do

projeto pedagógico/currículo em ação, complementando com a formação dos

professores e caracterização dos alunos que, de posse do saberes, vão

influenciar a sociedade para enfrentar os desafios relativos ao ensino da

matemática, considerando sua contribuição no avanço das tecnologias e

interligação do mundo através das redes de comunicação.

Na unidade II tratamos da presença da matemática na educação infantil

enfatizando os jogos em matemática, resolução de problemas e nos anos

iniciais (1º ao 5º ano) onde caracterizamos o conhecimento matemático e sua

contribuição na interdisciplinaridade no desenvolvimento dos temas

transversais.

Na unidade III, foi dada ênfase ao relato de experiências com o ensino

da matemática na educação infantil e nos anos inicias do ensino fundamental.

Esperamos que este material possa ser útil para professores e alunos

que fazem parte do processo de formação continuada na modalidade de

educação à distância.

Paz e Luz.

Luiz Gonzaga Pires

Naisis Castelo Branco Andrade Farias

5

SUMÁRIO

UNIDADE I - FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA

1.1 - Breve histórico do ensino da matemática ................................................ 9

1.2 - Tendências atuais do ensino da matemática .......................................... 12

1.3 - O projeto pedagógico / o currículo em ação na área de matemática ...... 18

1.4 - Formação dos professores para o ensino de matemática ....................... 20

1.5 - O aluno de matemática e o processo ensino-aprendizagem .................. 21

1.6 - Desafios para o ensino de matemática ................................................... 22

UNIDADE II - PROPOSIÇÃO TEÓRICA METODOLÓGICA NO ENSINO DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

2.1- Presença da matemática na educação infantil .......................................... 61

• Associação e relações lógicas ............................................................... 62 • Concreto e abstrato nas relações lógicas .............................................. 63 • Classificação e seriação;.........................................................................64

2.2 – Os jogos em matemática..........................................................................65

2.3 – A perspectiva da resolução de problemas................................................70

2.4 – Crianças de zero a três anos....................................................................73

• Objetivos;................................................................................................73 • Conteúdos;.............................................................................................73 • Atividades...............................................................................................74

2.5 – Crianças de quatro a seis anos................................................................75

• Objetivos;...............................................................................................75 • Conteúdos;.............................................................................................76 • Avaliação................................................................................................83

6

2.6 - Presença da matemática nos anos iniciais ( 1º ao 5º ano)......................85.

• Caracterização da área de mat. para alunos do ensino fundamental ...85 • Principais características do conhecimento matemático;.......................86 • A matemática e os temas transversais;.................................................87

2.7 – Componentes do processo ensino-aprendizagem nos anos iniciais ......90

• Objetivos;................................................................................................91 • Conteúdos;.............................................................................................93 • Metodologia............................................................................................94 • Avaliação................................................................................................95

UNIDADE III - EXPERIÊNCIAS E PROJETOS DE ENSINO DE MATEMÁTICA.

3.1 – Relato de experiências com ensino de mat. na educação infantil.........128

• Relato “1”;............................................................................................129 • Relato “2”.............................................................................................134 • Relato”3”..............................................................................................147

7

UNIDADE 1 - FUNDAMENTOS

TEÓRICO-METODOLÓGICOS

PARA O ENSINO DA

MATEMÁTICA

RESUMO

Nesta unidade adotamos uma lógica para situar o ensino da

matemática, situando-o historicamente e localizando-o dentro das correntes

pedagógicas da educação brasileira as tendências atuais do ensino da

matemática. Tratamos também do projeto pedagógico/currículo em ação,

complementando com a formação dos professores e caracterização dos

alunos que, de posse do saberes, vão influenciar a sociedade para enfrentar

os desafios relativos ao ensino da matemática, considerando sua contribuição

no avanço das tecnologias e interligação do mundo através das redes de

comunicação.

8

Sumário da Unidade “I”

UNIDADE I - FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA

1.1 - Breve histórico do ensino da matemática....................................................9

1.2 - Tendências atuais do ensino da matemática............................................12

1.3 - O projeto pedagógico / o currículo em ação na área de matemática........18

1.4 - Formação dos professores para o ensino de matemática .......................20

1.5 - O aluno de matemática e o processo ensino-aprendizagem...................21

1.6 - Desafios para o ensino de matemática.........................................................22

9

UNIDADE 1 - FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

1.1- Breve histórico do ensino da Matemática

A história da matemática nos indica que, no Brasil, a formação do

matemático voltada para

pesquisa tem seu marco na

década de 30, conforme

comenta D’Ambrósio (2007,

p. 56) :

(...) Em 1933 foi criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo e logo em seguida a Universidade do Distrito Federal, transformada em Universidade do Brasil em 1937. Nessas instituições inicia-se a formação dos primeiros pesquisadores modernos de matemática no Brasil. (...)

Reconhece-se também que foram através da criação das Faculdades de

Filosofia, Ciências e Letras que surgiram os primeiros cursos de licenciatura

para professores de matemática do antigo ginásio correspondente ao 6° e 9°

ano na estrutura do ensino atual. Nesta época as séries iniciais eram de

responsabilidade de professores normalistas oriundos do curso normal

equivalente ao ensino médio atual, com a disciplina matemática nas três séries.

Enquanto o modelo adotado para licenciatura era de três anos dedicados ao

estudo da matemática onde o formando recebia o título de bacharel. Com mais

um ano de matérias pedagógicas como didática geral, didática especial da

matemática e psicologia da criança e do adolescente o mesmo adquiria o grau

de licenciado para ensinar matemática.

Nesta época, a literatura utilizada para o estudo da matemática era de

origem francesa mesclada com algumas produções didáticas brasileiras, dentre

elas destaca-se a de Julio Cesar de Melo e Souza que, inspirado na literatura

árabe, passou a escrever com o pseudônimo de Malba Tahan. Outros livros de

10

importância para história da matemática no Brasil são as coleções de Jácomo

Stávale, Ary Quintella e Algacyr Munhoz Maeder.

Com base na organização dos conteúdos destes livros, o ensino da

matemática processou-se por três décadas, no Brasil, nos moldes tradicionais

sem propostas metodológicas de inovação. Somente na década de 60, surgiu

o primeiro grupo de educação matemática, sob a liderança de Osvaldo

Sangiorgi no Estado de São Paulo. Em seguida surgiram também outros

grupos precisamente no estado do Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro,

justamente no momento em que diferentes países do mundo passaram a

discutir questões relativas à educação matemática, influenciada pelo

movimento da Matemática Moderna.

Segundo D’ Ambrosio(2007), o movimento da Matemática Moderna

serviu para mudar, sem dúvida para melhor, o estilo das aulas e das avaliações

além de introduzir a linguagem moderna de conjuntos para trabalhar os

princípios da lógica matemática com alunos em diferentes níveis de ensino.

Assim, o movimento da Matemática Moderna marcou o início de

mudanças na metodologia do ensino da matemática. Estas eram compatíveis

as exigências da política de modernização econômica que exigia nas décadas

de 60/70, um avanço das ciências exatas com o fim de disseminar o

pensamento científico e tecnológico dos países centrais e periféricos em

desenvolvimento.

Desse modo, a Matemática a ser ensinada passou a conceber uma

lógica de organização das operações realizadas dentro do universo de

conjuntos numéricos em consonância com teoremas, fórmulas, axiomas e

demonstrações peculiares ao conhecimento matemático.

Como conseqüência, os currículos de matemática dessa época

passaram a ser construídos com intenções de responder à necessidade de

uma reforma pedagógica, incluindo a pesquisa de materiais e métodos de

ensino apropriados. Este fato desencadeou a preocupação com a Didática da

Matemática, intensificando estudos e pesquisa nessa área.

11

Neste contexto de preocupação com a educação matemática, em 1980,

o National Council of Teachers of Mathematics( Conselho Nacional de

Professores de Matemática), NCTM, dos Estados Unidos, apresentou

recomendações para o ensino de Matemática no documento “Agenda para

Ação”. Nesta o maior destaque era colocado na resolução de problemas com

situações matemáticas. Ela também enfatizava a relevância dos aspectos

sociais, antropológicos e lingüísticos no aprendizado da Matemática.

As idéias oriundas das discussões em torno da educação matemática

influenciaram as reformas que ocorreram no mundo, a partir de então. As

propostas elaboradas no período 1980/1995, apresentam pontos de

convergência, como, por exemplo:

• Direcionamento do ensino fundamental para a aquisição de competências básicas necessárias ao cidadão e não apenas voltadas para a preparação de estudos posteriores; • Importância do desempenho de um papel ativo do aluno na construção do seu conhecimento; • Ênfase na resolução de problemas, na exploração da Matemática a partir dos problemas vividos no cotidiano e encontrados nas várias disciplinas; • Importância de se trabalhar com um amplo espectro de conteúdos, incluindo-se, já no ensino fundamental, elementos de estatística, probabilidade e combinatória, para atender à demanda social que indica a necessidade de abordar esses assuntos; • Necessidade de levar os alunos a compreenderem a importância do uso da tecnologia e a acompanharem sua permanente renovação. (Brasil, 1997, p.22 )

Essas pontos passaram a fazer parte da preocupação dos professores

de matemática e especialistas de educação que vinham discutindo em nosso país as propostas curriculares das Secretarias dos Estados e dos Municípios brasileiros.

Neste contexto, é possível verificar mudanças que ocorreram e

continuam ocorrendo nas propostas curriculares no sentido de introduzir

concepções matemáticas, metodologias e forma de avaliação na prática

pedagógica dos professores. Essas têm chegado aos envolvidos com o

processo ensino-aprendizagem de matemática através de cursos de

capacitação, ciclos de estudos, congressos e outros.

Atualmente do Professor de Matemática das séries iniciais é formado

pelos cursos de Licenciatura Plena em Pedagogia, enquanto os de 6º ao 9º ano

12

do ensino fundamental e médio são oriundos da Licenciatura Plena em

Matemática.

Os estudos e pesquisas sobre educação matemática continuam

apresentando resultados relevantes para concretizar novas alternativas e

tendências pedagógicas relacionadas com o ensino e aprendizagem deste

campo do saber. Dentre várias se destaca a etnomatemática, modelagem

matemática, história da matemática, uso de recursos tecnológicos e jogos

matemáticos. Estes tópicos serão tratados no próximo item.

1.2 - Tendências atuais do ensino da matemática.

As tendências pedagógicas que se

referem às concepções teóricas dos modelos

pedagógicos com base nas concepções

teóricas e modelos pedagógicos são

estruturadas para qualquer tipo de saber

inclusive o matemático. As mesmas foram

elaboradas por Dermeval Saviani (1991), que

desenvolveu um esquema lógico fundamentado

na criticidade. Assim, classificou-as em dois

grupos denominados de “teorias não-críticas” e

“teorias críticas”.

Tomando como base as idéias de Dermerval Saviani (1991), vários autores

expressaram de forma literal ou sintética conforme o quadro abaixo.

Classificação das Teorias

Concepções Teóricas Modelos Pedagógicos

Não –Críticas (liberais)

Pedagogia Tradicional Ensino Tradicional

Concepção Humanista Moderna Escola Nova (Pedagogia Renovada)

Concepção Humanista Moderna Tecnicismo

Crítico Reprodutivistas

Violência Simbólica Não apresentam propostas pedagógicas, visto que entendem a escola como instrumento de reprodução das condições sociais impostas pela organização capitalista.

Aparelhos Ideológicos de Estado Escola Dualista

Dialéticas Pedagogia Histórico-Crítica Excluindo experiências esporádicas,

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(Progressistas) (Pedagogia Crítico-Social dos Conteúdos)

essa corrente encontra pouca ressonância na prática pedagógica dos educadores brasileiros.

Pedagogia Libertadora Tem sido empregada com êxito em vários setores dos movimentos sociais (sindicatos, associações de bairro, comunidades religiosas e alfabetização de adultos).

Autor desconhecido.

Diante dos conhecimentos sobre as tendências pedagógicas, os

educadores responsáveis pelo ensino da matemática, ao tomar consciência de

que o mesmo não poderia mais continuar nos moldes tradicionais, partiram

para busca de alternativa que colocasse a prática pedagógica do processo

ensino-aprendizagem de matemática em sintonia com as propostas modernas

de educação.

Assim, existem atualmente cinco tendências para o ensino da

Matemática denominadas de Etnomatemática, História da Matemática,

Matemática Crítica, Modelagem Matemática e Resolução de Problemas.

Neste item será abordada, de forma sintética, cada uma dessas

tendências.

• Etnomatemática Etnomatemática é uma tendência denominada de Programa

Etinomatemática que, segundo D’Ambrósio (1993, p. 1), “teve sua origem na

busca de entender o fazer e o saber matemático de culturas periféricas e

marginalizadas, tais como colonizados, indígenas e classe trabalhadora”(...) e

(...) também o conhecimento da cultura dominante” (...).

Partindo da etimologia da palavra etnomatemática, etno (ambiente

natural e cultural) + matema ( explicar, entender, lidar com o ambiente) + tica

(artes, técnicas,modos e maneiras de), D’Ambrósio (1993) conceitua o termo

como um corpo de artes, técnicas, modo de conhecer, explicar e entender em

ambientes com diferentes culturas as competências e habilidades de comparar,

classificar, ordenar, medir, contar, inferir e transcender através do saber

14

matemático e outros que fluem do ambiente natural e cultural dos seres

humanos.

A proposta do Programa Etnomatemática rompe com os parâmetros do

ensino tradicional quando propõe adequação sócia cultural através de

metodologias que estejam alinhadas com o cotidiano das mais diferentes

espaços naturais de sobrevivência humana.

O Programa Etnomatemática tem importantes implicações pedagógicas. Educação é, em geral, um exercício de criatividade. Muito mais de transmitir ao aprendente teorias e conceitos feitos, para que ele as memorize e repita quando solicitado em exames e testes, a educação deve fornecer ao aprendente os instrumentos comunicativos, analíticos e tecnológicos necessários para sua sobrevivência e transcendência. Esses instrumentos só farão sentido se referidos à cultura do aprendente ou explicitados como tendo sido adquiridos de outra cultura ou inserido num discurso crítico. O programa Etnomatemática destaca a dinâmica e a crítica dessa aquisição. (D’Ambrósio, 1993, p.3)

O Programa Etnomatemática é um campo de pesquisa com aplicação na

prática pedagógica do ensino da matemática que foge dos moldes tradicionais

quando abre espaço para metodologias que utilizam tecnologia de informação

e comunicação, enquadrando-se nas exigências de aplicação dos saberes

matemáticos no contexto sócio cultural dos espaços naturais dos seres

humanos.

• História da Matemática

A História da Matemática, é uma tendência da Educação Matemática

que visa colocar a construção histórica do conhecimento matemático como

instrumento de compreensão da evolução dos conceitos, dando ênfase às

dificuldades epistemológicas inerentes à sua evolução.

A metodologia que utiliza a História da Matemática na sala de aula ou

pesquisas, conduz alunos ou pesquisadores a perceber que as teorias

apresentadas como acabadas resultaram sempre de desafios da sociedade

para os matemáticos enfrentarem com grande esforço e, quase sempre, numa

15

ordem bem diferente da que os resultados são apresentadas após o processo

de descoberta.

Neste contexto, o conhecimento matemático apresenta-se como uma

criação humana em diferentes culturas e momentos históricos da evolução

humana no planeta terra. Este fato poderá ser usado pelos professores para

desenvolver junto aos alunos atitudes e valores propensos ao desenvolvimento

do interesse pelos estudos matemáticos.

Ao revelar a matemática como uma criação humana, ao mostrar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos matemáticos do passado e do presente, o professor tem a possibilidade de desenvolver atitudes e valores mais favoráveis do aluno diante do conhecimento matemático. BRASIL (1997, p.45)

Um dos valores a ser desenvolvimento é o de conceber a Matemática

como um conhecimento em construção, com passado, presente, erros. E acertos, sem ser considerada verdade absoluta de forma acabada.

Assim, a tendência História da Matemática por um lado permite a contextualização do saber, mostrando que seus conceitos e algoritmos surgiram numa época histórica, dentro de um contexto cultural, social e político, por outro, pode proporcionar um ensino motivador e mais agradável aos alunos, proporcionando uma visão crítica e reflexiva do conhecimento Matemático.

Em termos metodológicos a tendência história da matemática deve

chegar às salas de aulas onde os professores adotem uma conduta de orientador das atividades, permitindo ao educando a construção do próprio conhecimento de forma ativa e crítica, em consonância com as necessidades históricas, sociais e culturais do contexto onde o processo educativo se desenvolve.

Em síntese, a tendência História da Matemática possibilita o aluno a perceber que a Matemática é um conjunto de conhecimentos em contínua evolução que desempenha um importante papel na sua formação. Neste sentido permite também a interdisciplinaridade com outros conhecimentos, apresentando-se como parte da cultura universal indispensável sobrevivência humana.

• Matemática Crítica

16

No século vinte, o mundo foi abalado pela Segunda Guerra Mundial e

continuou em conflito diante das ameaças alimentadas pelas armas nucleares,

domínio ideológico e econômico. Esse processo teve influência do socialismo

marxista, que fundamentou a teoria histórico-crítica.

Esta teoria influenciou os mais diferentes setores da sociedade. Um

delas foi a educação nas diferentes áreas do saber. Com relação ao ensino de

matemática surge a vertente denominada de “Educação Matemática Crítica.

Esta vertente trouxe novas coordenadas ao currículo de Matemática do então

ensino primário e secundário. Ela tinha como principal ideal à reestruturação

do ensino de Matemática frente às grandes e rápidas transformações da

ciência e da sociedade.

Elevar o nível científico da população escolarizada era uma das

intenções dessa vertente que foi atropelado por um movimento internacional

comandado pelos Estados Unidos da América, denominado de Matemática

Moderna que contribuiu com a organização dos conteúdos através da teoria

dos conjuntos, mas ao mesmo tempo introduziu uma linguagem lógica em

todos níveis de ensino que gerou problemas de aprendizagem principalmente

no nível elementar.

Este fato desencadeou críticas que fizeram surgir novas idéias para o

ensino da matemática dentre eles o que teve maior impacto, inclusive

repercussão internacional, foi a Etnomatemática liderado por Ubiratan

D’Ambrósio.

Neste contexto, ressurge também a Educação

Matemática Crítica. Esta vertente tem como base as

relações estabelecidas entre progresso e tecnologia, em

coerência com as idéias difundidas pela teoria dialética ou

histórico-crítica.

O professor dinamarquês Ole Skovsmose é um dos

principais responsáveis por divulgar o movimento da

17

“educação matemática crítica” ao redor do mundo. Com mestrado em Filosofia

e Matemática pela Universidade de Copenhague e doutorado em Educação

Matemática pela Royal Danish School of Education Studies, Skovsmose

defende em seus trabalhos o direito à democracia e o ensino de matemática a

partir de trabalho com projetos.

Para ele, a Educação Matemática crítica possui um importante papel no

mundo Skovsmose questiona as práticas tradicionais, muitas vezes realizadas

sem reflexão, como a ênfase excessiva na realização de listas de exercícios,

que pode comprometer a qualidade da aula de matemática e acredita que a

Educação Matemática Crítica possui um importante papel no mundo atual,

sobretudo em função do avanço tecnológico.

Skovsmose sempre se preocupou com os países localizados fora dos centros

de poder, o que o levou a viajar pelo mundo orientando e desenvolvendo

pesquisas. Está sempre em contato com professores e pesquisadores da África

do Sul, Colômbia e Brasil.

Em nosso país, ele visita anualmente o programa de Pós -Graduação da

UNESP, em Rio Claro, São Paulo. Atualmente, Skovsmose é professor do

Departam ento de Educação, Aprendizagem e Filosofia da Universidade de

Aalborg, na Dinamarca. Tem livros publicados em português, como Educação

matemática crítica: a questão da democracia (2001) e Desafios da reflexão em

educação matemática crítica (2008), ambos publicados pela editora Papirus,

Educação Crítica – incerteza, matemática, responsabilidade (2007) pela editora

Cortez e Diálogo e aprendizagem em educação matemática (2006) em parceria

com Helle Alroe publicado pela editora Autêntica. Recentemente, em uma d e

suas visitas ao Brasil, falou para um grupo de professores na Universidade

Federal de Minas Gerais, ocasião em que conversou ele visita anualmente o

programa de Pós -Graduação da UNESP, em Rio Claro, São Paulo.

(Este texto é a introdução de uma entrevista concedida a JULIANA ÂNGELO

GONÇALVES, JUSSARA LOIOLA ARAÚJO e SAMIRA ZAIDAN. A mesma foi

18

publicada na íntegra na revista PresençaPedagógica nº83, volume 14,

setembro/outubro de 2008.)

Em síntese, a Educação Matemática Crítica requer uma prática

pedagógica de sala de aula baseada em um cenário para investigação que

convida os alunos a formular questões e a procurar explicações. Dessa forma,

os alunos se envolvem no processo de exploração expresso através de

desafios que buscam explicações.

1.3 - O projeto pedagógico / o currículo em ação na área de matemática

O projeto político-

pedagógico mostra a visão

macro do que a instituição

escola pretende ou idealiza

fazer, seus objetivos, metas,

estratégias permanentes e

processos avaliativos, tanto

no que se refere às suas

atividades pedagógicas,

como às administrativas na âmbito das políticas implementadas. Assim,

compete ao projeto político-pedagógico a operacionalização do planejamento

escolar, em um movimento constante de avaliação.

Neste sentido o projeto político-pedagógico passa a ser uma direção, um

rumo para as ações da escola, através de uma ação intencional que deve ser

construída coletivamente. Ele é denominado de político porque reflete as

opções e escolhas de caminhos e prioridades na formação do cidadão, como

membro ativo e transformador da sociedade em que vive. Pedagógico porque

direciona as atividades pedagógicas e didáticas da escola. A separação entre o

político e pedagógico é apenas formal, na realidade as ações apresentam-se

formando uma totalidade.

19

Assim, o projeto político pedagógico é um instrumento de fundamental

importância para definição do currículo da escola e neste a parte referente à

área de matemática da educação infantil e séries iniciais, tendo em vista que

trata-se de um ramo do saber caracterizado pela abstração, precisão, rigor

lógico nos seus resultados e conclusões.

Desta forma, é na parte do currículo referente ao ensino de matemática

onde delimita-se as competências e habilidades, conteúdos, metodologias e

critérios de avaliação da ação pedagógica, bem como o encaminhamento para

discussão de temas voltados para contribuir com a formação de uma cultura

que reflita as necessidades e os anseios do cidadão. Competência, segundo

Guiomar Namo de Mello (2003), “é a capacidade de mobilizar conhecimentos,

valores e decisões para agir de modo pertinente numa determinada situação”.

É também através do currículo que se caracteriza a clientela que vai

estudar matemática entendida como ciência que estuda todas possíveis

ralações e interdependências quantitativas entre grandezas, comportando um

vasto campo de teorias, modelos e procedimentos de análise.

Finalmente, é seguindo o rumo dado pelo Projeto Político Pedagógico e

as diretrizes curriculares da escola na sua totalidade e do ensino da

matemática na sua especificidade destinado a desenvolver competências e

habilidades intelectuais necessárias a agilização do raciocínio para resolver

problemas do cotidiano dos alunos.

1.4 – Formação do professor para o ensino de matemática

A formação do docente para o ensino de

matemática na educação infantil e as séries iniciais

do ensino fundamental tem sido discutida em

função das propostas de formação inicial

trabalhadas pelas agências formadores de

profissionais para este ramo do saber. Para

D’Ambrósio (2007), as qualidades de um Professor

de Matemática está sintetizada em três categorias:

1. Emocional/afetiva; 2. Política; 3. Conhecimento.

20

Neste sentido, várias questões são evidenciadas no processo de

formação do educador para trabalhar o ensino de matemática. Dentre vários, o

de indagar sobre o domínio do saber matemático que possui caráter abstrato,

onde seus conceitos e resultados tem origem no mundo real, destinado a

muitas aplicações em outras ciências e inúmeras aplicações práticas do

cotidiano.

Ainda com relação à formação do professor de matemática, a

racionalidade formativa aponta para competências e habilidades capaz de

responder as exigências e à multiplicidade de situações que permeiam o

exercício da docência na sociedade do conhecimento, da informação, ciência

e tecnologia.

Essas competências e habilidades devem ainda responder também as

exigências para formação do professor reflexivo de matemática relativa à

necessidade do enfoque interdisciplinar, investigação do cotidiano da prática

pedagógica pela pesquisa e o domínio dos saberes intrínsecos à profissão

docente.

Pensar a formação de professores implica, portanto, pensar que o exercício da docência, conforme Tardif (1991), requer a mobilização de vários tipos de saberes: saberes pedagógicos (reflexão sobre a prática educativa mais ampla), saberes das disciplinas (envolvem vários campos do conhecimento e concretizam-se pela operacionalização dos programas), saberes curriculares (selecionados no contexto da cultura erudita) e os saberes da experiência (constituem-se saberes específicos no exercício da atividade profissional).(BRITO, 2006, p.45)

Em síntese, fica claro que, em uma sociedade complexa, onde a

velocidade das informações e as mudanças proporcionadas pelo avanço das

ciências e tecnologias são constantes, a formação do Professor de Matemática

requer reflexões e ações dinâmicas destinadas a construir e reconstruir

saberes necessários à gerência de uma prática pedagógica reflexiva.

21

1.5– O aluno de matemática e o processo ensino-aprendizagem

Geralmente os Professores concentram

parte de suas energias com questões

relacionadas ao planejamento da aula,

procurando elaborar bem as competências e

habilidade, selecionar conteúdos, escolher

métodos e técnicas de ensino, montar estratégias

para desenvolver as aulas e avaliar a

aprendizagem, mas nem sempre procuram saber

quem são seus alunos.

No desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem é importante que

os Professores vejam o aluno como sujeito da aprendizagem, é ele quem

realiza a ação de aprender. Não existem meios de ensinar alguém que não

tenha tomado a decisão de aprender, tendo em vista que a aprendizagem é um

processo interno que depende da vontade de cada pessoa. Ainda nesta linha

de pensamento faz-se necessário entender que a aprendizagem é resultado de

ações interativas do sujeito com seu meio social e natural circundante.

Este referencial requer o reconhecimento do aluno como centro do

processo ensino-aprendizagem onde o Professor tem a função de auxiliar o

desenvolvimento do aluno percebendo em que zona proximal se encontra para

oferecer subsidio necessário ao alcance de outra mais avançada.

Para tanto, o aluno de matemática deve ser reconhecido pelas

características internas e externas que apresentam com maiores evidências.

Assim, são classificados como crianças, adolescentes e jovens, das mais

diferentes origens sociais, que vivem, do ponto de vista da prática

simbolizadora, construindo explicações sobre o mundo natural e social no qual

está inserido. São geralmente possuidores de uma inteligência essencialmente

prática, que permite reconhecer problemas, buscar e selecionar informações e

tomar decisões diante de situações que exigem raciocínio matemático.

22

Assim, é de fundamental importância para o Professor manter-se

informado sobre a cultura primeira1 dos alunos, tradição cultural étnica e

religiosa, grupos sociais que pertence e rede de comunicação social da qual

faz parte, para facilitar o seu trabalho e conseqüentemente a aprendizagem do

conhecimento matemático.

Desta forma, saber as características do aluno de matemática e

confrontar com quem realmente ele é constitui-se no primeiro passo para o

Professor tornar-se um facilitador da aprendizagem do saber matemático. O

segundo é entender que este aluno está inserido em um universo simbólico,

mediado por interações que podem ser aproveitadas no aprimoramento dos

conceitos, procedimentos e atitudes que contribuem para aprendizagem do

aluno.

1.6- desafios para o ensino de matemática

Os desafios do mundo contemporâneo,

principalmente os gerados pelas

transformações advindas do avanço das

ciências e tecnologias, são transferidos

para escola em formas de saberes a serem

discutidos, avaliados e aperfeiçoado pela

reflexão sobre suas origens, causas e

conseqüências.

Nesse contexto situamos o ensino de matemática, com uma boa parte

da parcela de contribuição referente à formação humana no sentido orientar

para o enfrentamento dos desafios relativos às transformações requisitadas

para sobrevivência no planeta terra.

Na dimensão do ensino de matemática, necessitamos superar o

desafios de fazer chegar os conhecimentos matemáticos a todos, através da

1 A denominação cultura prevalente ou primeira está incluindo, portanto: palavras que são resultado de sensações orgânicas, de experiências de ações diretas sobre os objetos, artefatos e fenômenos; explicações aprendidas em relações diretas com outras pessoas e/ou com os meios de comunicação social e outras produções culturais, como explicações de origem religiosa, da tradição oral étnica ou de uso específico de um grupo social particular.

23

superação do estigma de ciência lógica comunicativa complexa, de difícil

acesso e restrita apenas a uma pequena parcela privilegiada da humanidade.

Assim, os desafios do ensino de matemática serão desenvolvidos com

base nos questionamentos a seguir:

• Como fazer chegar a o saber matemático a todos os indivíduos do

planeta terra?

• Como formar os Professores de Matemática para enfrentar o desafio de

levar o conhecimento matemático a todos?

• Como aplicar os resultados das pesquisas em educação matemática na

prática pedagógica dos Professores?

a) Matemática para todos.

Enquanto os habitantes do Brasil eram “pacificados” e “alfabetizados”

segundo os princípios e costumes europeus, a matemática era apropriada por

uma pequena elite que compreendia o valor do seu aprendizado para o

desenvolvimento e progresso da humanidade. Este fato gerou um

distanciamento entre a elite, principalmente os militares e o “povo brasileiro” e

os “portugueses” menos esclarecidos que acompanhavam a corte para

realização de serviços domésticos ou braçais. Assim, foi instalado o ensino de

matemática no Brasil destinado para poucos que despertavam interesse por

esta área do saber.

Com base nos informes históricos do ensino de matemática no Brasil,

este teve inicio com os cursinhos preparatórios para o ingresso nas academias

militares e cursos superiores. Este teve novo impulso na década de com a

criação da primeiras faculdade de filosofia destinada a formação de

Professores. Neste sentido destaca-se o esforço de Euclides Roxo que fundiu

as disciplinas aritmética, álgebra e geometria em uma denominada de

matemática, mas mesmo assim continuou com acesso a uma pequena fatia da

população.

Diante deste quadro o desafio para educação é colocar o saber

matemático ao alcance de todos através da escola e outros meios de

24

comunicação de massa que possam levar a maior parcela da sociedade. No

que diz respeito à educação escolar, cabe aos Professores e Professoras de

matemática desencadear uma campanha de popularização dos conteúdos

conceituais, procedimentais e atitudinais através de incentivos como:

olimpíadas, clubes de matemática, exposições e outros.

b) Como formar Professores de Matemática para enfrentar o desafio

de levar o conhecimento matemático a todos?

É unânime nos discursos sobre a formação de professores matemática a

idéia de que eles precisam ter o domínio dos saberes matemático, mas tem

ficado também muito claro a necessidade de serem desenvolvidas

competências e habilidades do fazer pedagógico, comprometido com a

proposta que conduza os alunos ao desenvolvimento do raciocínio lógico-

matemático associado à crítica e criatividade desta área do saber, bem como

sua aplicação no cotidiano da sociedade.

Dentre as competências e habilidades do fazer pedagógico destaca-se

como um dos principais desafios na formação dos professores de matemática,

a utilização das novas tecnologias de comunicação e informação que circulam

no cotidiano da sociedade atual. Esta lacuna pode ser gerada tanto pela falta

de equipamentos e materiais didáticos nas instituições formadoras, como pela

influência da prática pedagógica de Professores que rejeitam a aplicação de

novas técnicas para discussão dos conceitos e resoluções de problemas que

envolvam a realidade social e continuam trabalhando de forma tradicional,

utilizando métodos obsoletos que tornam difícil despertar interesse dos alunos

pelo procura de novas alternativas para o ensino da matemática.

Outro desafio encontra-se na relação professor e aluno no processo de

formação. Assim, os alunos, futuros Professores de matemática, devem ser

formados com a orientação de que o saber matemático é algo para ser

assimilado, discutido, compreendido, reconstruído e construído junto com os

alunos visando a aplicação no contexto social do qual faz parte.

25

Na superação deste desafio centra-se os mecanismos melhoria do

processo ensino-aprendizagem e o compromisso de levar a todos o

conhecimento matemático.

c) Como aplicar os resultados das pesquisas em educação

matemática na prática pedagógica dos Professores?

O processo ensino-aprendizagem de matemática tem sido,

principalmente após a década de 60, alvo de muitas pesquisas na área

pedagógica relativa à produção de materiais áudio visual com utilização das

novas tecnologias, métodos e técnicas do fazer pedagógico. A intensificação

do interesse para esta área de estudo teve como ponto de partida o momento

em que o mundo foi surpreendido com conquista do universo através da ida do

homem a lua. Esse fato deu-se em meio a uma disputa de forças ideológicas

entre o bloco dos países socialistas liderados pela União das Repúblicas

Socialistas (URSS) e os capitalistas sob a liderança dos Estados Unidos da

América (USA). Foi justamente os Estados Unidos quem sentiu necessidade de

mudança na área do ensino, onde o marco principal foi a proposta

denominada de “matemática moderna” com a introdução da teoria dos

conjuntos e aplicação do método de resolução de problemas. Esta influenciou

diretamente o Brasil que, neste período, importava conhecimento e tecnologia

dos norte-americanos.

As pesquisas na área da educação matemática continuam sendo

realizadas pelos alunos da graduação através dos trabalhos de conclusão de

curso TCC e especialização lato senso e stricto senso com as monografias,

dissertações, teses e ainda livros publicados por pesquisadores de renome

desta área. Neste sentido, o desafio é trazer para sala de aula os estudos

acumulados sobre a educação matemática, com o fim ser de colocado a

disposição dos Professores para serem aplicados no cotidiano da prática

pedagógica.

26

No desafio de aproximar o ensino de matemática dos resultados das

pesquisas pedagógicas, qualquer mecanismo é valido, mas um dos mais

eficientes encontra-se nas salas de aulas dos cursos de formação de

Professores e sua extensão na prática pedagógica dos docentes das escolas

de ensino fundamental e médio, tende em vista que é nelas onde se encontram

os principais agentes de articulação deste processo.

Neste cenário é de fundamental importância os cursos de formação

continuada em nível de graduação e pós-graduação, tendo em vista que os

mesmos se constituem em canais de comunicação e troca de experiências

entre as escolas de ensino fundamental ou médio e as instituições de ensino

superior, pesquisa e extensão, permitindo atingir outros professores, alunos e

pais com idéias ou práticas inovadoras relativas ao ensino da matemática.

27

ATIVIDADE DA UNIDADE “I”

FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS PARA O ENSINO DA

MATEMÁTICA

Disciplina: Conteúdo e metodologia da matemática

Atividade 1 – obrigatória – fórum de participação.

Unidade: I

Após a leitura do texto sobre Breve histórico do ensino da Matemática, faça uma reflexão sobre a influência da matemática moderna na prática docente dos professores de matemática da educação infantil e séries iniciais do ensino

fundamental.

Após a reflexão, escreva seu posicionamento e deposite no fórum de discussão ou entregue para o monitor presencial do seu núcleo – Atividade 1.

Disciplina: Conteúdo e metodologia da matemática

Atividade 2 – obrigatória – correio eletrônico

Unidade: I

Diante dos conhecimentos sobre as tendências

pedagógicas, os educadores responsáveis pelo ensino

da matemática, ao tomar consciência de que o mesmo não poderia mais

continuar nos moldes tradicionais, partiram para busca de alternativa que

colocasse a prática pedagógica do processo ensino-aprendizagem de

matemática em sintonia com as propostas modernas de educação.

Assim, existem atualmente cinco tendências para o ensino da

Matemática denominadas de: Etnomatemática, História da Matemática,

Matemática Crítica, Modelagem Matemática e Resolução de Problemas.

Dentre estas apresente, através de um pequena texto, as

características principais da etnomatemática e matemática crítica.

28

Após a produção do pequeno texto envie pelo correio eletrônicO ou

email da coordenação do curso - Atividade 2.

Disciplina: Conteúdo e metodologia da matemática

Atividade 3 – obrigatória – fórum de discussão.

Unidade:I

Sabendo que o projeto político-pedagógico mostra a visão macro do que a instituição escola pretende ou idealiza fazer, seus objetivos, metas, estratégias permanentes e processos avaliativos, tanto no que se

refere às suas atividades pedagógicas, como às administrativas na âmbito das políticas implementadas. Assim, compete ao projeto político-pedagógico a operacionalização do planejamento escolar, em um movimento constante de avaliação, discuta com os integrantes de sua sala o papel do planejamento escolar no aprimoramento do processo ensino-aprendizagem de matemática.

Após a discussão coloque sua opinião no fórum de discussão e procure emitir parecer sobre a opinião dos demais alunos.

Disciplina: Conteúdo e metodologia da matemática

Atividade 4 – facultativa – fórum de discussão.

Unidade:I

Quais os tipos de saberes que os Professores necessitam na formação inicial e continuada? Justifique.

29

Disciplina: Conteúdo e metodologia da matemática

Atividade 5 – obrigatória – fórum de participação.

Unidade:1

Na dimensão do ensino de matemática,

necessitamos superar o desafios de fazer chegar os

conhecimentos matemáticos a todos, através da superação do estigma de

ciência lógica comunicativa complexa, de difícil acesso e restrita apenas a

uma pequena parcela privilegiada da humanidade.

Leia atentamente o parágrafo e emita seu parecer esta situação.

Após formalizar seu parecer deposite no fórum de participação ou entregue ao monitor presencial de sua sala.

30

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRASIL, Ministério de Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental, Parâmetros Curriculares Nacionais; MATEMÁTICA.Brasilia: MEC, 1997.

BRASIL, Ministério de Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil.Brasilia: MEC,1998.

BRITO, Antonia Edna. Formar Professores: rediscutindo o trabalho e os saberes docentes IN MEDES SOBRINHO, José Augusto de Carvalho e CARVALHO, Marlene Araújo. FORMAÇÃO DE PROFESSORESE PRÁTICAS DOCENTES: olhares contemporâneos. Belo Horizonte, Autêntica. 2006.

D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas: Papirus, 2007.

KAMII, Constance. A criança e o número.Campinas: Papirus, 2004

MELO, Guiomar Namo de. Afinal, o que é competência ?.Brasilia: Nova Escola, v.18, n. 160, p. 14, março de 2003

SAVIANI, D. Escola e Democracia. 2ª edição. São Paulo: Cortez editora e Editora

Autores Associados, 1984.

SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 2ª edição. São

Paulo: Cortez editora e Editora Autores Associados, 1991.

IMAGENS,Retiradas do Google.

31

ANEXOS

TEXTOS COMPLEMENTARES DA UNIDADE I

Texto 01

CIÊNCIA MULTICULTURAL

Ubiratan D’ambrosio

Estamos passando por grandes transformações na sociedade e, em

particular, na educação. Hoje falamos em educação bilíngüe, em medicinas

alternativas, no diálogo inter-religioso. Inúmeras outras formas de

multiculturalismo são notadas nos sistemas educacionais e na sociedade em

geral.

As profundas transformações nos sistemas de comunicação, de

informatização, de produção e de emprego surgem como um resultado da

mundialização e, conseqüentemente, dão origem à globalização e ao

multiculturalismo. Os reflexos na geração e aquisição de conhecimento são

evidentes.

Um resultado esperado dos sistemas educacionais é a aquisição e

produção de conhecimento. Isso ocorre, fundamentalmente, a partir da maneira

como um indivíduo percebe a realidade nas suas várias manifestações:

• uma realidade individual, nas dimensões sensorial, intuitiva,

emocional, racional;

• uma realidade social, que é o reconhecimento da essencialidade

do outro;

• uma realidade planetária, o que mostra sua dependência do

patrimônio natural e cultural e sua responsabilidade na sua preservação;

32

• uma realidade cósmica, levando-o a transcender espaço e tempo

e a própria existência, buscando explicações e historicidade.

As práticas ad hoc para lidar com situações problemáticas surgidas da

realidade são o resultado da ação de conhecer. Isto é, o conhecimento é

deflagrado a partir da realidade. Conhecer é saber e fazer.

A geração e o acúmulo de conhecimento em uma cultura obedecem a

uma forma de coerência. Há, como dizia J. Kepler no Harmonia Mundi , em

1618, uma comunalidade de ações, na qual se manifesta o "zeitgeist", que viria

a se tornar fundamental na proposta historiográfica de F. Hegel (l770-l83l).

Essa comunalidade de ações caracteriza uma cultura. Ela é identificada

pelos seus sistemas de explicação, filosofias, teorias, e ações e pelos

comportamentos cotidianos. Tudo isso se apóia em processos de

comunicação, de quantificação, de classificação, de comparação, de

representações, de contagem, de medição, de inferências. Esses processos se

dão de maneiras diferentes nas diversas culturas e se transformam ao longo do

tempo. Eles sempre revelam as influências do meio, organizam-se com uma

lógica interna, codificam-se e se formalizam. Assim nasce o conhecimento.

Procuramos entender o conhecimento e o comportamento humanos nas

várias regiões do planeta ao longo da evolução da humanidade, naturalmente

reconhecendo que o conhecimento se dá de maneira diferente em culturas

diferentes e em épocas diferentes.

Etnociência e Etnomatemática

Em meados da década de 70, propus um programa educacional que

denominei Programa Etnomatemática. Embora o Programa Etnomatemática

possa sugerir uma ênfase na Matemática, esse programa é um estudo da

evolução cultural da humanidade no seu sentido amplo, a partir da dinâmica

cultural que se nota nas manifestações matemáticas. Mas que não se confunda

com a Matemática no sentido acadêmico, estruturada como uma disciplina.

33

Sem dúvida essa Matemática é importante, mas de acordo com o eminente

matemático Roger Penrose, ela representa uma área muito pequena da

atividade consciente que é praticada por uma pequena minoria de seres

conscientes, para uma fração muito limitada de sua vida consciente. O mesmo

pode-se dizer sobre a ciência acadêmica em geral.

Em essência, o Programa Etnomatemática é uma proposta de teoria do

conhecimento, cujo nome foi escolhido por razões que serão explicadas mais

adiante. Na verdade, poderia igualmente ser denominado Programa

Etnociência. Ao lembrar a etimologia, ciência vem do latim scio , que significa

saber, conhecer, e matemática vem do grego máthema , que significa

ensinamento – portanto, está claro que os Programas Etnomatemática e

Etnociência se complementam. Na verdade, na acepção que proponho, eles se

confundem.1

A idéia nasceu da análise de práticas matemáticas em diversos

ambientes culturais, porém foi ampliada para analisar diversas formas de

conhecimento, não apenas as teorias e práticas matemáticas. Embora o nome

sugira ênfase na Matemática, esse é um estudo da evolução cultural da

humanidade no seu sentido amplo, a partir da dinâmica cultural que se nota

nas manifestações matemáticas.

O ponto de partida é o exame da história das ciências, das artes e das

religiões em várias culturas. Adotamos um enfoque externalista, o que significa

procurar as relações entre o desenvolvimento das disciplinas científicas, das

escolas artísticas ou das doutrinas religiosas e o contexto sociocultural em que

tal desenvolvimento se deu. O programa vai além desse externalismo, pois

aborda também as relações íntimas entre cognição e cultura.

Ao reconhecer que o momento social está na origem do conhecimento, o

programa, que é de natureza holística, procura compatibilizar Cognição,

História e Sociologia do Conhecimento e a Epistemologia Social num enfoque

multicultural.

A questão do conhecimento

34

O enfoque holístico à história do conhecimento consiste essencialmente

de uma análise crítica da geração e produção de conhecimento, da sua

organização intelectual e social e da sua difusão. No enfoque disciplinar, essas

análises se fazem desvinculadas, subordinadas a áreas de conhecimento

muitas vezes estanques: ciências da cognição, epistemologia, ciências e artes,

história, política, educação, comunicações.

Considerando que a percepção de fatos é influenciada pelo

conhecimento, ao se falar em história do conhecimento estamos falando da

própria história do homem e do seu habitat no sentido amplo, isto é, da Terra, e

mesmo do Cosmos. Mas não há como falar da Terra e do Cosmos, desligados

da visão que o próprio homem criou e tem da Terra e do Cosmos. A ciência

moderna, ao propor "teorias finais", isto é, explicações que se pretendem

definitivas sobre a origem e a evolução das coisas naturais, esbarra numa

postura de arrogância.

A proposta é o enfoque transdisciplinar, que substitui a arrogância do

pretenso saber absoluto, que tem como conseqüências inevitáveis os

comportamentos incontestados e as soluções finais, pela humildade da busca

incessante, cujas conseqüências são respeito, solidariedade e cooperação.2

A transdisciplinaridade é, então, um enfoque holístico ao conhecimento

que procura levar a essas conseqüências e se apóia na recuperação das várias

dimensões do ser humano para a compreensão do mundo na sua

integralidade.

Lembremos que variantes da postura disciplinar têm sido propostas. As

disciplinas dão origem a métodos específicos para conhecer objetos de estudo

bem definidos.

A multidisciplinaridade procura reunir resultados obtidos mediante o

enfoque disciplinar. Como se pratica nos programas de um curso escolar.

A interdisciplinaridade, muito procurada e praticada hoje em dia,

sobretudo nas escolas, transfere métodos de algumas disciplinas para outras,

identificando assim novos objetos de estudo. Já havia sido antecipada em 1699

por Fontenelle, Secretária da Academia de Ciências de Paris, quando dizia que

35

"Até agora a Academia considera a natureza só por parcelas... Talvez chegará

o momento em que todos esses membros dispersos [as disciplinas] se unirão

em um corpo regular; e se são como se deseja, se juntarão por si mesmas de

certa forma."3

A transdisciplinaridade vai além das limitações impostas pelos métodos

e objetos de estudos das disciplinas e das interdisciplinas.

O processo psico-emocional de geração de conhecimentos, que é a

essência da criatividade, pode ser considerado em si um programa de

pesquisa, e pode ser categorizado através de questionamentos como:

Como passar de práticas ad hoc a modos de lidar com situações e

problemas novos e a métodos?

Como passar de métodos a teorias?

Como proceder da teoria à invenção?

Explicitando o que já foi dito acima, essas perguntas envolvem os

processos de:

• geração e produção de conhecimento;

• sua organização intelectual;

• sua organização social;

• sua difusão.

Tais processos são normalmente tratados de forma isolada, como

disciplinas específicas: ciências da cognição (geração de conhecimento),

epistemologia (organização intelectual do conhecimento), história, política e

educação (organização social, institucionalização e difusão do conhecimento).

O método chamado moderno para se conhecer algo, explicar um fato e

um fenômeno baseia-se no estudo de disciplinas específicas, o que inclui

métodos específicos e objetos de estudo próprios. Esse método pode ser

traçado a Descartes. Isso caracteriza o reducionismo. Logo esse método se

36

mostrou insuficiente e já no século XVII surgiram tentativas de se reunir

conhecimentos e resultados de várias disciplinas para o ataque a um problema.

O indivíduo deve procurar conhecer mais coisas para poder conhecer melhor.

As escolas praticam essa multidisciplinaridade, que hoje está presente em

praticamente todos os programas escolares.

Metaforicamente, as disciplinas funcionam como canais de televisão ou

programas de processamento em computadores. É necessário sair de um

canal ou fechar um aplicativo para poder abrir outro. Isso é a

multidisciplinaridade. Mas quando se utiliza Windows 95, a grande inovação é

poder trabalhar com vários aplicativos, criando novas possibilidades de criação

e utilização de recursos. A interdisciplinaridade corresponde a isso. Não só

justapõe resultados, mas mescla métodos e, conseqüentemente, identifica

novos objetos de estudo.

A interdisciplinaridade teve um bom desenvolvimento no século passado

e deu origem a novos campos de estudo. Surgiram a neurofisiologia, a físico-

química e a mecânica quântica. Inevitavelmente, essas áreas interdisciplinares

foram criando métodos próprios e definindo objetos próprios de estudo. Depois,

se tornaram disciplinas em si e passaram a mostrar as mesmas limitações das

disciplinas tradicionais. Surgiram então os especialistas em áreas

interdisciplinares.

É oportuno falarmos de cultura. Há muitos escritos e teorias fortemente

ideológicos sobre o que é cultura. Conceituo cultura como o conjunto de mitos,

valores, normas de comportamento e estilos de conhecimento compartilhados

por indivíduos, vivendo num determinado tempo e espaço.

Ao longo da história, tempo e espaço foram se transformando. A

comunicação entre gerações e o encontro de grupos com culturas diferentes

cria uma dinâmica cultural e não podemos pensar numa cultura estática,

congelada em tempo e espaço. Essa dinâmica é lenta e o que percebemos na

exposição mútua de culturas é uma subordinação cultural e algumas vezes até

mesmo destruição de uma das culturas em confronto, ou em alguns casos dá-

se a convivência multicultural. Naturalmente, a convivência multicultural

representa um progresso no comportamento das sociedades, conseguido após

37

violentos conflitos. Agora, não sem problemas, ganha espaço na educação o

multiculturalismo.

Enquanto os instrumentos de observação (aparelhos – artefatos ) e de

análise (conceitos e teorias – mentefatos ) eram mais limitados, o enfoque

interdisciplinar se mostrava satisfatório. Mas com a sofisticação dos novos

instrumentos de observação e de análise, que se intensificou em meados do

século XX, vê-se que o enfoque interdisciplinar se tornou insuficiente. A ânsia

por um conhecimento total, por uma cultura planetária, não poderá ser

satisfeita com as práticas interdisciplinares. Da mesma maneira, o ideal de

respeito, solidariedade e cooperação entre todos os indivíduos e todas as

nações não será realizado somente com a interdisciplinaridade.

Não nego que o conhecimento disciplinar, conseqüentemente o

multidisciplinar e o interdisciplinar, são úteis e importantes, e continuarão a ser

ampliados e cultivados, mas somente poderão conduzir a uma visão plena da

realidade se forem subordinados ao conhecimento transdisciplinar.

A educação está caminhando, rapidamente, em direção a uma educação

transdisciplinar.

NOTAS:

Ver Ubiratan D'Ambrosio: Etnomatemática. Arte ou técnica de

conhecer e Aprender . Editora Ática, São Paulo, 1990; e Ubiratan

D'Ambrosio: Etnomatemática. Elo entre as tradições e a

modernidade , Editora Autêntica, Belo Horizonte, 2001.

Ubiratan D'Ambrosio: Transdisciplinaridade . Editora Palas Athena, São Paulo,

1997.

B. de Fontenelle: Histoire de l'Académie des Sciences, 1699; p.xix.

Ubiratan D'Ambrosio: Educação para uma Sociedade em Transição, Papirus

Editora, Campinas, 1999.

A entrevista abaixo foi retirada do seguinte site:

38

http://www.folhadirigida.com.br/htmls/Hotsites/Professor_2003

Descompasso com o mundo

O pesquisador Ubiratan D'Ambrosio afirma que os governos são, por essência,

conservadores

Maria Cristina Siqueira

Ubiratan D'Ambrosio é apontado como um dos maiores pesquisadores da visão

holística em Ciências e Educação. A partir de suas mais de 200 obras, entre

livros e artigos, surgiu no Brasil um movimento conhecido no campo das

ciências exatas como “Etnomatemática”. Embora cunhada há quase 30 anos —

o movimento surgiu em 1975 — a expressão provoca indagações imediatas

naqueles que a ouvem pela primeira vez. Para explicá-la, Ubiratan lança mão

de um “apelo etmológico aproximado”:

— Etno+matema+tica são as técnicas ou as artes (ticas) de ensinar, entender,

explicar, lidar com o ambiente natural (matema), social e imaginário (etno).

As referências filosóficas (e bibliográficas) atravessam a Civilização. Vêm dos

povos da bacia do Mediterrâneo, de Santo Agostinho, São João Bosco e

chegam a Paulo Freire. No percurso, passam por Tolstoy, Gramsci, Freinet e

Csikszentmihalyi, entre outros.

Longe de exageros, as referências de que D'Ambrosio dispõe mostram a

transparência e a profundidade das águas em que mergulhou, para mostrar às

gerações contemporâneas que o ensino da matemática tem que estar linkado

com a vida e o cotidiano das pessoas; que esta disciplina é uma santa que nos

leva a conclusões miraculosas, se for usada na dinâmica do dia-a-dia. De outro

jeito, é a tragédia de uma civilização que vê na matemática um monstro que

passeia pelas escolas (e só por elas) para aterrorizar crianças e adolescentes.

A título de apresentação, do vasto currículo de Ubiratan D'Ambrósio, nacional e

internacional, destacamos tratar-se de um doutor matemático, professor

emérito da Universidade de Campinas (Unicamp), entre outras atividades.

39

FOLHA DIRIGIDA — O que é Etnopedagogia ou Etnomatemática?

Ubiratan D'Ambrosio — É próprio de todas as espécies preparar gerações

futuras transmitindo e apreendendo conhecimentos e comportamentos

acumulados pelas gerações anteriores. Conhecimento e comportamento são: 1

— gerados por indivíduos a partir de estímulos do seu ambiente natural, social

e imaginário; são simbólicos, com a finalidade de entender, explicar e lidar com

esse ambiente e com os fatos e fenômenos ali percebidos; 2 — são

organizados intelectualmente como um corpo coerente do que se faz em e o

que se sabe sobre certas situações; 3 — são organizados socialmente no

encontro com outros, segundo nos ensina a dinâmica cultural de saberes e

fazeres; e 4 — são transmitidos e difundidos. Etnomatemática e etnociência

resultam de um entendimento transdisciplinar dessas quatro etapas da

construção de conhecimentos e comportamentos, e repousam sobre métodos e

resultados de cognição, antropologia e dinâmica cultural, epistemologia,

história e política. Etnopedagogia é a realização do processo de transmissão e

difusão dos conhecimentos e comportamentos gerados e organizados num

determinado ambiente natural e social. Uma fragmentação da palavra

etnomatemática, com um apelo etimológico aproximado, sintetiza as tentativas

de definição. Etno+matema+tica são as técnicas ou artes (ticas) de ensinar,

entender, explicar, lidar com o ambiente natural (matema), social e imaginário

(etno). Daí, estende-se esta definição à Etnociência e Etnopedagogia.

FOLHA DIRIGIDA — Alguns conceitos básicos, como a incorporação do

cotidiano na prática pedagógica e a apreensão dos conteúdos da linguagem do

meio circundante lembram o construtivismo piagetiano e a pedagogia do

oprimido, de Paulo Freire. Em que a Etnopedagogia transcende estas

propostas?

D'Ambrosio — As propostas de (Jean) Piaget, Freinet (Celestin Freinet, criador

da moderna escola francesa), (Paulo) Freire e muitos outros, inclusive da

antigüidade clássica, são os ingredientes de base para a formulação do

Programa Etnopedagogia. Lembro a contribuição às idéias hoje presentes na

etnopedagogia, de Santo Agostinho, São João Bosco, Lev Tolstoy, Lev

Vygotski e Antonio Gramsci. A leitura desses autores é parte da base teórica

40

sobre a qual repousam a Etnopedagogia e a Etnomatemática. No sentido mais

amplo, a Etnopedagogia procura conciliar elementos dessas várias propostas e

de inúmeros especialistas. Nesse sentido, talvez seja adequado dizer que a

Etnopedagogia transcende essas propostas, assim como a Etnomatemática e a

Etnociência transcendem as várias formalizações das idéias matemáticas e

científicas de diversas culturas, particularmente das que se consideram como

Matemática e Ciências acadêmicas, provenientes do Ocidente e cujas origens

vêm dos povos da bacia do Mediterrâneo.

FOLHA DIRIGIDA — O teórico americano Mihaly Csikszentmihalyi é muito

citado pelo senhor em artigos e palestras sobre Etnopedagogia. Nessas

citações vai a confirmação de que há mais proximidade do que a admitida entre

Educação e Psicologia?

D'Ambrosio — Sem dúvida, Mihaly Csikszentmihalyi tem uma conceituação de

educação muito ampla, que contempla o panorama atual da sociedade

moderna e dos indivíduos nela inseridos. Esse tipo de reflexão é fundamental

no Programa Etnopedagogia.

FOLHA DIRIGIDA — Os orientadores educacionais criticam a apropriação que

as escolas vêm fazendo dos psicólogos, no sentido de incorporá-los em seu

quadro funcional permanente. Como vê a crítica segundo a qual os psicólogos

não foram preparados para mediar os conflitos do espaço escolar? Trata-se de

uma rivalidade entre pedagogos e psicólogos?

D'Ambrosio — Sim, é uma rivalidade mútua e perniciosa, que resulta de cada

especialista não perceber bem o domínio de sua especialidade. Psicólogo não

é educador, assim como não são educadores os sociólogos, matemáticos,

alfabetizadores e tantos outros. O educador lida com o ser humano na sua

totalidade, compartilhando com o educando as dimensões sensorial, emotiva,

intuitiva, simbólica e racional de ambos, educador e educando. Como

educação inclui também aprendizagem de especialidades, como matemática,

gramática e história, nessa troca, que é uma verdadeira dinâmica cultural, é

fundamental o conhecimento de várias especialidades, inclusive psicologia,

sociologia e a própria disciplina objeto de aprendizagem. Assim, há os

41

professores desta ou daquela disciplina, encarregados de facilitar o

aprendizado da disciplina; mas somente será educador aquele que puder se

integrar ao aluno nestas várias dimensões. Isso é muitíssimo auxiliado, na

verdade necessariamente auxiliado, pelo intercâmbio entre os vários

especialistas. Assim, o diálogo entre psicólogos, sociólogos, antropólogos e os

especialistas das disciplinas ajuda o educador, pois dificilmente um indivíduo

poderá ter conhecimentos mais que superficiais dessas várias áreas do

conhecimento.

FOLHA DIRIGIDA — Os novos Institutos Superiores de Educação, criados pela

Lei de Diretrizes e Bases, vêm sendo estruturados para formar professores

preparados para as demandas dos novos tempos?

D'Ambrosio — Como toda legislação, há, se não ganhos efetivos, uma

desacomodação saudável. Não analisei os detalhes da LDB, mas o que mais

interessa tem a ver com a formação universitária para os professores. Não é

nova a situação, no Brasil e no exterior. A escola deve funcionar e quem estiver

por perto, fica professor. E é ótimo que assim seja. Por outro lado, esse

professor remediador da situação merece apoio. Uma forma de apoiar é

oferecer mais formação, na forma de cursos de magistério, ensino a distância e

tantas outras modalidades. Tudo muito diferente de uma universidade que

oferece uma licenciatura logo a seguir à escola média, a professores em

potencial, sem experiência prévia. São modalidades diferentes de licenciatura e

devem ser conduzidas de maneira diferente. Essa maneira diferente para

aqueles que já atuam no magistério pode ser muito enriquecedora. E de fato é.

Essa proposta é muito semelhante ao Programa CADES, do MEC, iniciado na

década de 50. Só tem faltado uma dose de bom senso, deixando de

reconhecer que professores, sobretudo, os não-licenciados, são explorados,

têm uma carga de 50-60 horas. Merecem, e é absolutamente necessário,

humano e saudável, não ter seu descanso semanal e suas férias perturbados.

Quando farão esses cursos de oficialização de sua profissão? Essa é a

questão não resolvida. Mas o verdadeiro desastre, que às vezes acontece com

muita freqüência no ensino superior, é descredenciar aqueles que não

cumprirem exigências. Como muito do que se faz na legislação, há uma grande

ingenuidade, ou muita perversidade, em acreditar que erros ou deficiências do

42

passado podem ser corrigidos com legislações que retroagem.

FOLHA DIRIGIDA — O que o senhor considera imprescindível oferecer ao

professor durante sua preparação para a carreira?

D'Ambrosio — As demandas dos novos tempos são, basicamente: 1 —

preparar para uma participação cidadã, capaz de escolher e acompanhar a

atuação dos dirigentes, não só políticos, mas empresariais; 2 — participar

ativamente do sistema de gestão, produção e trabalho, nas várias modalidades

em que ele solicita nossa ação. Para isso é necessário capacidade de

comunicação, possibilitando entender o que está em pauta e comunicar e

trocar idéias, sempre com aguçado espírito de crítica. É necessária a

capacidade de entender e analisar, criticamente, uma situação, propondo

opções novas. E é necessária a capacidade de utilização plena, e crítica, de

todos os recursos tecnológicos disponíveis. Essas capacidades são

sintetizadas no que eu chamo de instrumentos comunicativos, instrumentos

analíticos e instrumentos tecnológicos. Espera-se que um sistema educacional

forneça ao aluno, ao professor em formação, esses três instrumentos.

FOLHA DIRIGIDA — O senhor propõe a utilização de calculadoras nas aulas

de Matemática. Há uma defesa contrária, no sentido de que esta prática

estimulará a preguiça mental. O que teria a dizer?

D'Ambrosio — Esse mesmo argumento aparece em todos os momentos da

história em que novos instrumentos se tornam disponíveis. Assim foi na

invenção da escrita. Veja o dialógo de Platão (Fédro), escrito no século III

antes de Cristo. Veja também na introdução, na Europa, da numeração indu-

arábica, com suas regras de operação e tabuada. Um édito, na cidade de

Florença, proibiu o uso dessas operações hereges.

FOLHA DIRIGIDA — Por que, estatisticamente, poucos têm bom desempenho

nas disciplinas exatas? Estudos constatam que até mesmo estudantes que

ingressam em cursos de Matemática e Física, no Brasil, apresentam baixo

desempenho no vestibular.

43

D'Ambrosio — A situação não é apenas no Brasil. O mesmo se passa em todo

o mundo. Eu atribuo isso ao fato de o ensino de Matemática estar em

descompasso com o mundo atual. É obsoleto, desinteressante e os alunos

percebem que ajuda pouco no dia-a-dia. Daí a falta de interesse, sem o que

não pode haver aprendizagem.

FOLHA DIRIGIDA — O senhor tem dito que se os professores não assumirem

o ensino da Matemática, ela perderá sua autonomia como disciplina. O senhor

acredita que a Matemática possa vir a ser ensinada interdisciplinarmente?

D'Ambrosio — Falo em assumir no sentido de integrar esse ensino ao mundo

atual, o que conduz, naturalmente, a um enfoque interdisciplinar. A Matemática

deve estar integrada na busca de explicações e nos esforços para se lidar com

situações reais.

FOLHA DIRIGIDA — O senhor tem defendido a utilização pedagógica dos

museus e parques temáticos na formação dos estudantes. Não falta dinâmica

aos museus? A informática não os tornou desestimulantes?

D'Ambrosio — Os museus e parques temáticos oferecem uma mescla de

realidade e imaginação. Aproximam-se de um ambiente fictício, o que é sempre

atrativo. Os museus podem ter um sentido metafórico, que ajuda a

compreensão da realidade imediata. Pelo contrário, o museu informatizado é

mais dinâmico e muito mais rico.

FOLHA DIRIGIDA — Do ponto de vista pedagógico, concorda que a escola

deve lançar mão dos conteúdos televisivos?

D'Ambrosio — Não só pelo fato de ocupar o tempo da criança, mas por

possibilitar uma leitura muito rica de fatos e fenômenos naturais e sociais.

FOLHA DIRIGIDA — Acha que uma educação moderna e integral, que

estimule as potencialidades efetivas do estudante, depende de políticas de

governo?

D'Ambrosio — Claro. As políticas governamentais têm influência decisiva na

educação. Mas dificilmente governos propõem o novo. Os governos são

44

naturalmente conservadores em educação. Não se pode esperar que uma

classe, como a dos professores, que geralmente tem uma carga de trabalho

pesada e, em média, 15 anos de prática seguindo um certo estilo, aceitem

muitas inovações. Assim, as ações governamentais dificilmente propõem

grandes avanços e inovação. A inovação parte dos profissionais em serviço e

pode-se esperar que os ingressantes na profissão entrem com idéias novas. A

ação do governo será muito eficaz se oferecer espaço para as inovações e

permitir que elas aconteçam. No entanto, medidas alardeando moralização, tais

como provas, provões, avaliações e credenciamentos, tendem a desestimular a

inovação. Como eu disse, as inovações não partem dos governos, que são

naturalmente conservadores. Mas dar maior espaço e estímulo para inovações

deveria ser estimulado pelos governos. Não é isso o que acontece. Os

mecanismos para credenciar propostas de inovação são excessivamente

cautelosos e burocratizados e, portanto, inibidores.

45

TEXTO 02

A educação matemática como fenômeno emergente: desafios e

perspectivas possíveis

João Filipe Matos2

Resumo

Neste artigo discuto uma perspectiva sobre a educação matemática em que

esta é encarada como fenómeno emergente. Para isso, começo por focar o

que são na minha perspectiva as finalidades da matemática escolar e, através

de exemplos, distingo o que se poderá chamar de “ensinar matemática” da

ideia de “educar matematicamente”. Partindo dos trabalhos de Jean Lave e

Etienne Wenger, de seguida desenvolvo a ideia de design para a educação

matemática como meio de criar condições que favoreçam certas formas de

participação em comunidades de prática encarando a aprendizagem como

parte integrante das práticas sociais e retirando daí implicações para o

entendimento da educação matemática como fenómeno emergente. Nessa

discussão assume papel muito importante a noção de pertença. Finalmente,

aponto alguns desafios e possibilidades de desenvolvimento destas ideias a

nível curricular e ao nível da formação de professores de educação

matemática.

Palavras chave: educação matemática; aprendizagem; design; comunidades

de prática.

Ainda as finalidades da educação matemática na escola

2 Centro de Investigação em Educação, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

46

Dentro das finalidades da educação matemática inclui-se o

desenvolvimento do poder dos alunos e dos indivíduos em sociedade, quer

para ultrapassar barreiras do seu desenvolvimento em termos de educação e

emprego, quer no sentido de aumentar a sua auto-determinação e o seu

envolvimento crítico na cidadania social. A finalidade última da educação é a

mudança social em direcção a uma sociedade mais justa e mais igualitária. Na

prática escolar isto significa o questionamento permanente e sistemático,

abrindo espaços de discussão e permitindo (e encorajando) o conflito de

opiniões e pontos de vista, o questionamento dos temas matemáticos e da sua

relevância e a negociação de objectivos partilhados. Pode-se argumentar-se

contra este tipo de abordagem dizendo que se pode tornar facilmente em

propaganda política barata e demagógica. Pode, de facto. E isso apenas

acentua a questão da responsabilidade do professor buscando a discussão das

coisas, a apresentação de pontos de vista contraditórios, explorando os

espaços de questionamento e estimulando a discussão acalorada em vez de

procurar consensos e apresentar a “boa visão” (do professor). Hoje em dia os

jovens cada vez menos aceitam passivamente as opiniões dos adultos e dos

seus professores pelo que é tremendamente maior o benefício desta

abordagem se comparada com o risco de deixar aos alunos a ideia de que os

saberes que a escola lhes trás se apresentam neutros e despidos de qualquer

relação com o respectivo campo de produção e com as pessoas que os

produzem e usam.

Equacionar o ensino escolar da matemática como a transmissão de

factos matemáticos às crianças e aos jovens não faz já mais sentido no mundo

actual. Mas vale a pena insistir na argumentação a favor desta ideia. Primeiro,

embora a matemática esteja cada vez mais presente em todos os fenómenos

sociais, isto é, cada vez mais a sociedade seja regulada por modelos

matemáticos complexos, é também verdade que cada vez menos o cidadão

tem que conhecer a matemática que suporta esses modelos. O que lhe é

exigido cada vez mais é a capacidade de saber lidar com esses modelos,

desocultá-los, perceber a sua presença, ser crítico relativamente aos modos

como são aceites na sociedade, perceber as intenções e os modos como são

produzidos, etc.

47

Segundo, o ênfase deve ser colocado na educação matemática (dos

jovens) e não no ensino de matemática. No editorial do número temático da

revista Quadrante sobre Educação Matemática e Cidadania (Matos, 2002)

argumentei que a disciplina de Matemática deve ser urgentemente eliminada

dos currículos do ensino básico3. Em vez da disciplina de matemática proponho

a criação da disciplina de educação matemática com o objectivo essencial de

contribuir para o desenvolvimento de um ponto de vista matemático sobre as

coisas4. Isto significa naturalmente que as crianças precisarão de conhecer

alguns factos matemáticos mas significa também que o essencial da disciplina

não será a matemática mas o seu uso como um dos recursos estruturantes do

pensamento, da reflexão e da acção. E claro que esta proposta é

acompanhada de implicações importantes sobre a avaliação escolar em

matemática que tem que deixar de ser entendida como sinónimo de

classificação5. Mas a questão principal é que a escola, ao encarar o seu papel

como o de educar os alunos, tire daí as implicações para a área da matemática

assumindo a educação matemática dos alunos de facto como a prioridade.

Terceiro, um movimento de alteração das perspectivas sobre as

finalidades da matemática escolar no sentido de criar uma cultura de educação

matemática visando a participação dos jovens na construção e sustentação de

uma sociedade democrática, tem que ser enquadrado numa problematização

mais alargada da escola e do seu papel na educação dos jovens.

Provavelmente, muitas das questões que aqui coloco relativamente à

matemática escolar poderiam (deveriam) ser colocadas em relação a outras

disciplinas ou até a à sua totalidade. Equacionar as questões da educação

matemática de um modo isolado fora de uma discussão das funções da escola

3 Em Portugal o ensino básico compreende os anos de escolaridade 1 a 9 (aproximadamente 6 a 15 anos de idade num percurso escolar sem repetições) e é obrigatório para todas as crianças. 4 A mudança de nome (se não se ficar só por aí) pode ser muito importante para dar sinais aos participantes nas práticas escolares. Em Portugal a disciplina de Ginástica foi substituída nos anos setenta pela disciplina de Educação Física; muito mais do que uma mudança de nome, tratou-se da introdução de uma conjunto de elementos que trouxeram uma vocação muito mais relevante a essa disciplina através de dimensões tais como a educação motora, saúde e higiene do corpo, o desporto nas suas diversas componentes, etc. 5 A avaliação das aprendizagens parece continuar a ser largamente vista como um processo de legitimar uma dada classificação a ser atribuída pelo professor a cada um dos alunos. Esta não é obviamente a vocação da avaliação na escola que tem que assumir o seu papel de elemento constitutivo do processo de aprender. Em última análise as práticas avaliativas que visam primordialmente a classificação apenas contribuem para a seriação dos alunos e consequentemente para a exclusão escolar e social de muitos deles.

48

pode trazer o risco de se estar a criar novos modos de operacionalizar a sua

função reguladora em vez do carácter emancipatório que deve assumir.

O que é educar matematicamente?

Ao distinguir entre ensinar matemática e educar matematicamente estou

a colocar em confronto duas perspectivas. Aquela que parece ler-se nas

entrelinhas de algumas visões sobre a didáctica da matemática coloca o ensino

da matemática como incidindo essencialmente na tarefa de fazer com os

alunos aprendam matemática, ponto final (entendendo-se que aprender

matemática significa conhecer factos matemáticos). Nesta visão, educar

matematicamente parece ser entendido como fornecer aos alunos factos

matemáticos recontextualizados e reificados na prática escolar com o

argumento de que ou serão úteis noutras disciplinas ou serão úteis alguma vez

na vida. Pode ler-se aqui alguns elementos do que Skovsmose e Valero (2002)

chamam a “ressonância intrínseca” - a crença de que as aprendizagens

matemáticas tradicionais farão (algum dia) ressonância no desenvolvimento

pessoal e social dos jovens e dos adultos. Um dos maiores erros desta

perspectiva é ignorar que uma grande parte dos jovens será tacitamente

excluída do acesso a outras formas de conhecimento e a outras posições e

empregos.

Numa outra perspectiva pode entender-se que a matemática constitui

um instrumento que confere uma dimensão muitíssimo potente aos modelos

que a sociedade cria e adopta. Como tal, a educação deve incluir formas de

aprender a lidar com esses modelos. Uma parte dessa aprendizagem pode

resultar de educar matematicamente os jovens. E educar matematicamente

inclui levar os alunos a apropriar-se de modos de entender matematicamente

as situações do dia-a-dia6. Para elaborar sobre esta questão vou utilizar um

exemplo de um problema típico dos livros de texto do ensino elementar.

6 O dia-a-dia (everyday) deve ser entendido no sentido de Jean Lave – não o que se passa necessariamente fora da escola mas todo o conjunto de actividades que faz parte da vida diária das pessoas. Curiosamente, para os alunos, de facto, o dia-a-dia é essencialmente o viver a escola.

49

Exemplo

Uma viagem de autocarro do Campo Grande para Rossio custa €1 por pessoa.

Quanto paga uma família de 4 pessoas?

A pergunta colocada pode ser lida apenas ao nível da aritmética7. A

mensagem que tradicionalmente se passa aos alunos é que é preciso descobrir

o método certo para resolver o problema: 4 x €1 = €4. Mas claro que se pode

ler o problema do ponto de vista da questão “quanto deve custar a viagem da

família de quatro pessoas”. Em Lisboa, a densidade do trânsito é insuportável,

uma imensa maioria de pessoas utiliza o automóvel próprio para se deslocar.

Os autocarros não são tão eficientes como seria desejável e as viagens de

autocarro ainda são demoradas. Para ir do Campo Grande ao Rossio demora-

se cerca de 30 minutos se não houver muito trânsito8. Há que encorajar que as

pessoas se desloquem de autocarro. Os preços deveriam baixar e os

incentivos à sua utilização deveriam ser maiores. Uma família de quatro

pessoas deveria ter uma redução no preço já que constitui uma unidade

(supostamente) a valorizar pela sociedade (quer por se tratar de uma agregado

familiar quer pelo simples facto de viajar em conjunto). Uma perspectiva de

educação matemática no sentido que mencionei acima tomaria este problema

como uma questão susceptível de análise mais global uma vez que os preços e

a eficácia dos transportes públicos e privados numa cidade são elementos que

ajudam a definir a mobilidade dos cidadãos. Como tal a área temática dos

transportes poderia ser entendida como uma dos pontos essenciais de

desenvolvimento do trabalho num determinado período. Essencial tornar-se-ia

não aprender o cálculo aritmético mas utilizá-lo (e por isso, e com isso,

aprendendo-o) na análise de uma prática do dia-a-dia: deslocarmo-nos de um

7 A questão seria isomorfa de “Uma caneta custa €1. Quanto custam 4 canetas?” mas a história que envolve o problema é relevante se assim quisermos, quer no caso do problema da viagem em autocarro quer no caso da compra das canetas. A questão está mais no modo como queremos posicionar-nos relativamente às finalidades do trabalho que estamos a fazer com os alunos do que com a objectividade do problema colocado. 8 Claro que um lisboeta perguntaria de imediato “mas porque é que não vão de Metro, há Metro directo do Campo Grande para o Rossio” o que levantaria outro conjunto de questões ligadas à rede de Metro de Lisboa, ao modo como cobre algumas zonas da cidade, ao modo como se tem desenvolvido, às razões que têm levado a que a expansão da rede seja feita por umas zonas e não por outras, etc, abrindo um campo de análise em que um ponto de vista matemático ocuparia também um lugar muito importante.

50

lado para o outro utilizando algum meio auxiliar como o autocarro. Essencial

passaria igualmente a ser o questionamento do modelo da proporcionalidade

que se aplica socialmente de modo quase universal e que formata

imensamente a forma de pensar dos humanos9.

Este exemplo serve para pensar na necessidade de abandonar a ideia

de que educar matematicamente os alunos é conduzi-los à ‘aquisição de

conceitos e técnicas da matemática’ enquanto ciência produzida pelos

matemáticos. Aliás, a metáfora da aquisição de saberes está fortemente ligada

à ideia de que a função da escola é exactamente fornecer ou disponibilizar

saberes. Uma perspectiva que assume a participação das pessoas como um

elemento chave na construção do conhecimento, reclama que a função da

escola é constituir um campo de construção de saberes, uma comunidade com

práticas próprias (que não se confundem com as práticas dos matemáticos ou

com outras práticas profissionais e que são essencialmente práticas escolares)

que é preciso questionar em função do tipo de finalidades da educação

matemática que discuti acima.

Sobre o mito da neutralidade da matemática e da educação matemática

As perspectivas positivistas reclamam que o conhecimento, embora

produto humano, é completamente separado das pessoas que o produzem, em

si mesmo neutro, isento de valores e objectivo. E desse modo reservam a

aprendizagem à ideia de descoberta de factos estáticos, da sua descrição e

classificação. Quero aqui contrariar essa ideia. Para começar, é importante

realçar que o conhecimento matemático é continuamente criado e recriado à

medida que as pessoas actuam e reflectem sobre o mundo. O conhecimento

não é fixado de modo permanente nas propriedades abstractas dos objectos

matemáticos. Adquirir conhecimento e produzir conhecimento são dois

momentos de um mesmo ciclo. Esta ideia envolve a noção de que o

9 O uso do modelo da proporcionalidade é especialmente forte nas sociedades e sobretudo nas actividades comerciais. Encontramos múltipla evidência da sua utilização ora abusiva ora de um modo quase cego quando, por exemplo, damos connosco a pensar que o supermercado nos faz um ‘desconto’ quando nos propõe a compra de um conjunto de embalagens nas tradicionais promoções “Leve 3, Pague 2”. Desmontar e analisar criticamente este tipo de pensamento matemático primário é um dos elementos que podem integrar uma proposta de uma disciplina de educação matemática.

51

conhecimento é um produto emergente da acção e da interacção da

consciência humana e da realidade. Através da acção e reflexão, interagindo

dialeticamente para recriar a percepção e descrição da realidade, criam-se

práticas que envolvem aprendizagens de modo natural. Mas estas práticas não

são neutras. O conhecimento matemático não existe fora dos modos como é

usado, fora dos interesses para os quais é usado e das razões pelas quais é

usado. Do mesmo modo, a educação matemática ou o ensino da matemática

que é proporcionado aos alunos não existe fora dos modos, interesses e

razões que lhe estão subjacentes (tenhamos ou não consciência delas). A

matemática (enquanto disciplina escolar) contribui fortemente para a exclusão

escolar e social de um número elevadíssimos de crianças e de jovens. Vemos,

ouvimos e lemos esses factos diariamente na imprensa generalista e

especializada. Não podemos ignorar a nossa responsabilidade no papel de

filtro social que foi sendo criado com o ensino da matemática na escola básica

e secundária10. Não se pode mais limitar o papel do professor a ensinar

matemática. É essencial reconhecer a dimensão social, ética e política no

ensino da matemática e assumir que não existe neutralidade nesse ensino. O

que isto exige aos professores e aos educadores é uma questão que merece

análise própria.

Aprendizagem como participação em comunidades e prática

O argumento principal deste texto é a idéia de que a educação

matemática das pessoas constitui um fenômeno emergente das práticas em

que são imersas e em que participam. Isto significa que, tal como Lave e

Wenger (1991), assumo a idéia de que as aprendizagens são elementos

integrantes das práticas sociais. Mas equacionar a aprendizagem como

participação em comunidades de prática obriga a discutir mais em pormenor

este conceito e a desocultar alguns dos conceitos associados.

10 Falo aqui com referência à situação actual em Portugal mas reconheço que é uma situação com contornos diferentes nos diversos países. E chamo a atenção para o facto de se dever equacionar não apenas o insucesso medido pelas reprovações e abandono escolares (que são já dramáticos, por exemplo, ao nível do 9º ano de escolaridade atingindo 40% nalgumas regiões) mas igualmente os modos como o simples facto de certas opções profissionais conterem a disciplina de matemática condicionar de modo fulminante muito jovens na escolha de uma via de estudo.

52

A noção de comunidade de prática tal como é utilizada nas perspectivas

teóricas que consideram a aprendizagem como fenômeno situado (Lave e

Wenger, 1991; Wenger, 1998) surge como útil na discussão da idéia de

educação matemática como fenômeno emergente. Por um lado, a idéia de

comunidade de prática pode ser entendida como uma ferramenta analítica que

permite encontrar um certo olhar sobre as aprendizagens; por outro lado, pode

ser usada para avançar princípios que constituam um possível design para as

práticas escolares em educação matemática, de modo a permitir organizar

princípios de acção e esforços para cultivar e sustentar comunidades onde a

participação implique aprendizagens significativas em educação matemática11.

De acordo com Wenger (1998), “as comunidades de prática dizem

respeito ao conteúdo, (…) não à forma” (p. 229). Mas apesar disso, e apesar

das múltiplas formas que podem tomar, há três elementos estruturais nas

comunidades de prática (Wenger, McDermott & Snyder, 2002): o domínio, a

comunidade e a prática.

O domínio é aquilo que cria uma base comum e um sentido de

desenvolvimento de uma identidade legitimando a comunidade através da

“afirmação dos seus propósitos e valor aos membros dessa comunidade”

(p.27). Trata-se do elemento principal de inspiração dos membros para

contribuírem e para participarem de modo a fazerem sentido dos significados

das suas acções e das suas iniciativas. No entanto, o domínio não é um

conjunto fixo de problemas, trata-se de algo que acompanha a evolução do

mundo social e da própria comunidade. No que respeita ao ensino e

aprendizagem da matemática, o domínio tem sido sistematicamente entendido

como matemática escolar12 mas é necessário colocar o desafio de cada vez o

11 Não pretendo aqui dizer o que se deve ou como se deve fazer, para estimular o desenvolvimento de comunidades de prática promotoras de educação matemática. O meu argumento essencial é dar conta de como o design de comunidades de prática de acordo com Wenger a tal (2002) pode ser pensado de modo a que isso ajude o leitor a fazer sentido da ideia de educação matemática como fenómeno emergemte. 12 Tradicionalmente os currículos em matemática na escola básica e secundária são definidos tendo como eixos estruturantes áreas clássicas da matemática tais como Geometria, Álgebra, Estatística, fazendo passar aos professores e aos alunos a mensagem de que esses são os elementos que constituem o domínio de trabalho. Muitos matemáticos e educadores matemáticos reclamam que, ao nível do ensino básico e secundário, esses currículos não tratam efectivamente de matemática mas de matemática escolar. Isto acontece não só porque diversos processos e definições não são correctas do ponto de vista matemático (são aceites naqueles níveis de ensino apenas por razões pedagógicas) mas também porque o campo de produção dos saberes matemáticos não é de facto a escola básica e secundária (mas sim as comunidades

53

definir mais como ‘educação matemática’ (no sentido que acima discuti). Uma

alteração do domínio implicará necessariamente alterações mas formas como

a prática e a comunidade se desenvolvem.

“A comunidade é aquilo que constitui a fabricação social13 da

aprendizagem” (p.28). Assumindo que a aprendizagem é uma questão

essencialmente de pertença e de participação, a comunidade torna-se um

elemento central como grupo de pessoas que interagem, aprendem

conjuntamente, constroem relações entre si, desenvolvem um sentido de

engajamento mútuo e de pertença. Mas a ideia de comunidade não implica que

exista homogeneidade. Se as interacções a longo prazo tendem a criar uma

“história comum e uma identidade comunitária” (p. 35), ao mesmo tempo ela

encoraja a diferenciação entre os membros que assumem papéis distintos e

criam as suas diversas especialidades e estilos. Um dos aspectos mais

relevantes no desenvolvimento de comunidades em educação matemática é a

necessidade de uma massa crítica de pessoas que sustentem a participação

mas deve ter-se a noção de que se a comunidade atinge uma dimensão

demasiado grande isso pode igualmente inibir a participação14. À medida que a

comunidade evolui, a sua natureza muda e é nesse quadro que assumem

grande importância as questões de liderança na criação de uma atmosfera e ao

mesmo tempo de um foco que favoreçam práticas conducentes às

aprendizagens desejadas.

A prática é constituída por um conjunto de “esquemas de trabalho, ideias,

informação, estilos, linguagem, histórias e documentos que são partilhados

pelos membros da comunidade15. Enquanto que o domínio denota o tópico em

dos matemáticos) havendo um processo de recontextualização escolar desses saberes que leva inevitavelmente a uma transformação da sua natureza. 13 Wenger et al (2002) utilizam a expressão social fabric colocando o ênfase na ideia de que a aprendizagem é não só constitutiva da comunidade mas também um produto da comunidade. 14 A questão da dimensão da comunidade ou do grupo (número de membros, dispersão de interesses e interacções privilegiadas, etc) é relevante quer no aspecto escolar da educação matemática (por exemplo, relativamente ao número de alunos de uma turma ou de uma escola) mas também na dimensão do desenvolvimento dos professores e dos educadores matemáticos (por exemplo, as opções estratégicas da preparação da série de Conferências Mathematics Education and Society colocam como primeira prioridade o estabelecimento de grupos de cerca de 15 participantes que se mantêm discutindo durante uma semana inteira, ao invés de colocar o centro na diversidade de apresentação de comunicações avulso ou nas sessões plenárias. 15 Naturalmente que nesta discussão, a ideia de prática não se opõe a teoria como muitas vezes se entende. O espaço desta comunicação não permite um desenvolvimento da ideia de prática; uma

54

que a comunidade se foca, a prática é o conhecimento específico que a

comunidade desenvolve, partilha e mantém” (p.29). A prática evolui como um

“produto colectivo” integrado no trabalho dos participantes organizando o

conhecimento em formas que o tornam útil para esses participantes na medida

em que reflecte a sua perspectiva.

Compreender a relevância da ideia de comunidade de prática como

elemento que permite ver a educação matemática como fenómeno emergente,

exige ir um pouco mais longe na caracterização daquilo que está envolvido na

ideia de pertença a comunidades de prática.

Modos de pertença em comunidades de prática

Uma perspectiva situada entende a aprendizagem como uma

experiência vivencial que faz parte integrante da participação em comunidades

de prática. A participação é algo emergente e intencional que não pode ser

prescrito nem legislado do mesmo modo que não pode ser completamente

planeada mas apenas “designed for”16, isto é, facilitada ou frustrada. Mas é

possível pensar em modos de enriquecer a atmosfera da comunidade onde se

pretende que ocorram determinadas aprendizagens. É neste ponto que faz

sentido falar de design mas ao mesmo tempo chamar a atenção para o facto

de que a prática subsequente à elaboração de um determinado design não é o

resultado desse design mas sim a reacção ao design. É neste mesmo sentido

que não se pode entender a aprendizagem escolar como o resultado do ensino

feito pelo professor, não existe tal causalidade entre ensino e aprendizagem na

escola. A aprendizagem ocorre na medida em que os alunos estão envolvidos

em formas de participação em práticas que implicam essas aprendizagens que

são elas próprios elementos integrantes das práticas. O design – entendido

aqui como “arquitectura para aprendizagens” (Wenger et al, 2002) – deve

oferecer possibilidades que favoreçam diversos modos de pertença que as

discussão muito interessante deste tema com referência à educação matemática pode ser encontrada em Santos (2003). 16 Wenger et al (2002) escrevem “it can not be designed; it can only be designed for” (p. 236).

55

pessoas colocam em acção quando precisam ou querem17 ser membros de

uma comunidade. Discuto de seguida em pormenor os três modos de pertença

avançados por Wenger (1998) que podem ajudar a pensar o design de

comunidades de prática em que os participantes se tornem matematicamente

educados.

O engajamento mútuo. O engajamento de crianças e adultos numa dada

prática não é apenas uma questão de actividade. Se se pretende ver o

desenvolvimento de uma comunidade com determinadas características (com o

objectivo de criar um certo tipo de ambiente com uma certa perspectiva do que

é ser educado matematicamente) não é suficiente proporcionar os recursos

entendidos como adequados. A construção de uma comunidade envolve ajudar

os participantes a criar infra-estruturas de engajamento que devem incluir a)

mutualidade, b) competência e c) continuidade (Wenger, 1998). A mutualidade

é certamente uma condição para que a prática tenha lugar e para que a

comunidade exista. As condições para o desenvolvimento de mutualidade na

comunidade incluem (i) elementos que facilitem as interacções (e.g. espaços

físicos e virtuais, comunicação, tempo), (ii) haver tarefas conjuntas definidas

colegialmente (e.g. pontos de entrada para projectos específicos, agendas

transparentes), e (iii) permitir a periferia na participação (e.g. criando

oportunidades para o engajamento das pessoas em encontros de natureza

mais informal e para participar em graus diferentes nas actividades de acordo

com as decisões tomadas em espaços com esse objectivo). Uma das

implicações destas ideias é que um conjunto de alunos a trabalhar na escola

com um ou dois professores em educação matemática tem na sua

responsabilidade a definição das metas e das formas de trabalhar para as

atingir.

Em segundo lugar, a competência. Não se trata de algo que possa ser

pré-definido ou daquilo que significa ser matematicamente competente. A

competência é criada e definida na acção. Por esta razão, os participantes

17 Tipicamente a sociedade exige que as crianças vão à escola, elas não têm opção, e isso é entendido socialmente como desejável – as crianças têm que ir à escola. Entendendo obviamente a natureza política desta obrigatoriedade no sentido da formação dos jovens para uma vida na sociedade tal como a conhecemos, isso não deve ser no entanto confundido com pertença nem como sinónimo de participação da pessoa. A participação no sentido que discuto neste texto é algo em que não faz sentido falar de obrigatoriedade.

56

numa comunidade de prática devem ter oportunidades para actuar as suas

competências, incluindo i) um sentido de que existe espaço para tomarem

iniciativa e condições para que essas iniciativas se tornem patentes a outros

(e.g. criando ocasiões para aplicar certos skills, criando e partilhando soluções

para problemas específicos, propondo e tomando decisões quer em pequeno

grupo quer a nível mais global), (ii) a compreensão de que existem momentos

de dar contas do trabalho feito (e.g. apresentando o seu trabalho a outros,

discutindo, exercendo e sujeitando-se a uma avaliação crítica por parte dos

outros; identificando diferentes estilos de fazer as coisas e confrontá-las com

as suas próprias tirando daí implicações; criando espaço e disponibilidade que

encorajem a expressão da diferença e integrando estilos e formas de trabalho

diferentes; ajudando a criar pontos de entrada para a negociação e

desenvolvimento de empreendimentos comuns), e (iii) colocando em jogo as

ferramentas adequadas, quer em termos de artefactos físicos como de

artefactos conceptuais que ajudem a sustentar as competências dos

participantes (e.g. conceitos e linguagem que ajude ao desenvolvimento de um

reportório comum e partilhado entre os participantes)

Em terceiro lugar, e igualmente importante, é o elemento continuidade

uma vez que as pessoas participando na comunidade necessitam de sentir que

a prática é sustentada (e que eles contribuem para essa sustentação) e que

existe um programa estável de actividades. A continuidade da prática é

sustentada em duas dimensões: (i) através da produção de memórias

reificativas (e.g. construindo e mantendo a história da prática através de

registos e de partilha da informação sobre as actividades em curso,

documentando os modos como as coisas vão sendo feitas, discutindo e

fazendo representações dos resultados da discussão), e (ii) produzindo

memórias participativas (e.g. partilhando e discutindo histórias da prática,

criando espaços de interacção que permitam que as pessoas participem na

negociação do modo como as histórias são contadas e os acontecimentos são

relatados na comunidade, criando formas de demonstrar os seus

desenvolvimentos).

Imaginação. Tal como referi anteriormente, não é suficiente oferecer condições

físicas para que as pessoas participem numa dada prática. É fundamental que

os participantes tenham algumas pistas que lhes permitam reclamar a sua

57

imaginação de modo a tornar possível que a aprendizagem acompanhe o

contexto mais vasto e que as pessoas encontrem referências adequadas (e

úteis) e adquiram um sentimento de pertença à comunidade mais vasta. É por

esta razão que as práticas em educação matemática devem envolver

possibilidades de orientação, reflexão e exploração. Os participantes precisam

de ser capazes de se localizar a si mesmos dado que isso poderá reforçar um

sentimento de pertença à comunidade. A importância da orientação reside

simultaneamente no modo como pode ajudar a formatar o tipo e grau de

participação e pelo facto de que as pessoas se tornarão mais capazes de fazer

sentido dos significados da prática. Um sentido de orientação obriga a que

exista uma preocupação em criar possibilidades de que as pessoas façam

sentido do seu posicionamento no espaço da comunidade e ao mesmo tempo

ajudando-as a localizarem no tempo (e.g. definindo momentos de avaliação

das trajectórias que se vão observando), criando possibilidades para as

pessoas se localizem nos significados da prática (e.g. através da partilha de

histórias da prática) e se localizem nas relações de poder inerentes a qualquer

prática. Ao mesmo tempo, os alunos e os professores deve ter tempo e

oportunidade para serem capazes de comparar com outras práticas através da

reflexão – procurar e representar padrões de actividade e de competência e

partilhá-los com os outros. Como forma de alargar a visão do futuro as pessoas

devem ter as ferramentas necessárias para pensar em trajectórias possíveis da

prática e de criar cenários hipotéticos e simulações, virtualmente inventando o

futuro.

Alinhamento. As ideias de orientação e reflexão estão estreitamente ligadas à

noção de alinhamento. As comunidades de prática necessitam de ter a

possibilidade de ligar as suas práticas a empreendimentos mais vastos. Uma

ideia de alinhamento tornará mais possível que alguns efeitos aconteçam e que

as pessoas vejam o seu papel no âmbito de outros contextos mais alargados e

em ligação com outras comunidades e outros sistemas de actividade18. Wenger

(1998) sugere que a convergência e a coordenação constituem as duas

dimensões mais importantes neste ponto. A convergência implica uma

18 Um exemplo notável do poder de um alinhamento forte dos participantes envolvidos em práticas sociais é dado por Gelsa Knijnik (1996) ao descrever e analisar os interfaces entre os saberes populares e os saberes académicos e as relações de poder associadas ao saber.

58

preocupação não apenas com as tarefas comuns mais simples mas também a

necessidade de encontrar interesses e focos comuns de um âmbito mais

alargado. Por outro lado, os participantes devem partilhar um telos construído

sobre uma compreensão comum e partilhada das situações que vivem, uma

partilha de valores e de princípios num sentido que favoreça a convergência de

finalidades. A coordenação é um passo crucial nas comunidades construídas

sobre a ideia de eficiência mas torna-se igualmente um elemento emergente

em todo o tipo de comunidades exista ou não uma coordenação oficial. Inclui a

definição de métodos de trabalho, canais de comunicação, recursos para

estabelecer pontes para outras comunidades e feedback.

A concluir

Uma noção de educação matemática que inclua a ideia de que a

aprendizagem é uma parte integrante das práticas sociais e é constitutiva da

participação das crianças e jovens em comunidades de prática, tem múltiplas

implicações ao nível de (i) definição dos currículos no que respeita a

metodologias de trabalho, áreas temáticas organizadoras das actividades e

avaliação das aprendizagens, e (ii) definição de princípios base da formação de

professores de educação matemática. Mas de mais é fundamental aprofundar

a ideia de perspectivar a educação matemática como fenómeno emergente.

Este aprofundamento obriga a pensar a natureza das práticas em que se

pretende envolver os alunos como participantes na escola e a encontrar

soluções para a dificuldade de antecipar as aprendizagens que se deseja

ocorram nos alunos. Em última análise esta perspectiva decorre de pensar a

educação matemática em duas dimensões complementares que constituem as

práticas escolares em matemática: uma aproximação ao pensar

matematicamente e a uma forma de organizar a experiência incluindo um ponto

de vista matemático. Este tipo de agenda depara igualmente com dificuldades

decorrentes do facto de pretender realizar uma educação matemática em

instituições fundadas sobre o utilitarismo. Como pergunta Caldas (1999) ‘como

ser educador quando o que se exige [na escola] é um professor burocrata?’

59

Referências

Caldas, J. (1999). A intervenção do artista na escola. In Caldas, J. & Pacheco,

N. (Org) Teatro na Escola. A Nostalgia do Inefável (pp.9-15). Porto: Quinta

Parede.

Knijnik, G. (1996). Exclusão e Resistência – Educação Matemática e

Legitimidade Cultural. Porto Alegre: Artes Médicas.

Lave, J. & Wenger, E. (1991). Situated Learning: Legitimate Peripheral

Participation. Cambridge: Cambridge University Press.

Matos, J.F. (2002). Educação Matemática e Cidadania. Quadrante, vol.11, 1,

pp.1-6.

Santos, M.P. (2003). Encontros e Esperas com os Ardinas de Cabo Verde -

Aprendizagem e Matemática numa Prática Social. Tese de Doutoramento,

Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da Universidade

de Lisboa. (no prelo)

Skovsmose, O. & Valero, P. (2002). Quebrando a neutralidade política: o

compromisso crítico entre a educação e a democracia. Quadrante, vol.11,

1, pp.7-28.

Wenger, E. (1998). Communities of Practice – learning, meaning and identity.

Cambridge: Cambridge University Press.

Wenger, E., McDermott, R. & Snyder, W. (2002). Cultivating Communities of

Practice. Boston: Harvard Business School P

60

UNIDADE 2 – PROPOSIÇÃO

TEÓRICA METODOLÓGICA NO

ENSINO DA MATEMÁTICA NA

EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS

ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL.

RESUMO

Nesta unidade tratamos da presença da matemática na educação infantil

enfatizando os jogos em matemática, resolução de problemas e nos anos

iniciais (1º ao 5º ano) onde caracterizamos o conhecimento matemático e sua

contribuição na interdisciplinaridade no desenvolvimento dos temas

transversais. Em cada um dos ciclos foram trabalhados os componentes do

processo ensino-aprendizagem expresso através dos conteúdos, objetivos,

sugestões de atividades e avaliação.

61

UNIDADE II - PROPOSIÇÃO TEÓRICA METODOLÓGICA NO ENSINO DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

2.1- Presença da matemática na educação infantil .......................................... 61

• Associação e relações lógicas ............................................................... 62 • Concreto e abstrato nas relações lógicas .............................................. 63 • Classificação e seriação;.........................................................................64

2.2 – Os jogos em matemática..........................................................................65

2.3 – A perspectiva da resolução de problemas................................................70

2.4 – Crianças de zero a três anos....................................................................73

• Objetivos;................................................................................................73 • Conteúdos;.............................................................................................73 • Atividades...............................................................................................74

2.5 – Crianças de quatro a seis anos................................................................75

• Objetivos;...............................................................................................75 • Conteúdos;.............................................................................................76 • Avaliação................................................................................................83

2.6 - Presença da matemática nos anos iniciais ( 1º ao 5º ano)......................85.

• Caracterização da área de mat. para alunos do ensino fundamental ...85 • Principais características do conhecimento matemático;.......................86 • A matemática e os temas transversais;.................................................87

2.7 – Componentes do processo ensino-aprendizagem nos anos iniciais ......90

• Objetivos;................................................................................................91 • Conteúdos;.............................................................................................93 • Metodologia............................................................................................94 • Avaliação................................................................................................95

62

UNIDADE II PROPOSIÇÃO TEÓRICA METODOLOGICA NO ENSINO DA

MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

2.1- A presença da Matemática na Educação Infantil

As crianças, desde o

nascimento, estão imersas em um

universo do qual os conhecimentos

matemáticos são parte integrante.

Elas participam de situações que

envolve a idéia de números, noções

de espaço e tempo,utilizando

recursos inerentes ao meio que se

encontram e suas necessidades

orgânicas de sobrevivência.

De acordo com seu desenvolvimento a criança passa a recorrer de

noções matemáticas associadas á contagem, operações e resoluções de

pequenos problemas referentes a conferir figurinhas, marcar e controlar pontos

de jogos ,mostrar idade através dos dedos, manipular e operar com pequenas

quantia de dinheiro.

(...) Também observam e atuam no espaço ao seu redor

e, aos poucos, vão organizando seus deslocamentos,

descobrindo caminhos, estabelecendo sistemas de

referência, identificando posições e comparando

distâncias. Essa vivência inicial favorece a elaboração de

conhecimentos matemáticos. Fazer matemática é expor

idéias próprias, escutar as dos outros, formular e

comunicar procedimentos de resolução de problemas,

confrontar, argumentar e procurar validar seu ponto de

vista, antecipar resultados de experiências não

63

realizadas, aceitar erros, buscar dados que faltam para

resolver problemas, entre outras coisas. Dessa forma as

crianças poderão tomar decisões, agindo como

produtoras de conhecimento e não apenas executoras de

instruções. Portanto, o trabalho com a Matemática pode

contribuir para a formação de cidadãos autônomos,

capazes de pensar por conta própria, sabendo resolver

problemas.(Brasil 1998,p.207)

Deste modo, constatamos que as noções matemáticas na educação

infantil atende, por um lado, às necessidades das próprias crianças de

construírem conhecimentos necessários para atender as condições impostas

pelo modo de vida particular de cada pessoa. Assim, ela participa e

compreende seu espaço no mundo desenvolvendo diferentes competências e

habilidades advindas do conhecimento que adquire na interação com o meio.

Sendo assim, a aplicação de fundamentação teórica dada às noções

matemáticas na educação infantil, ao longo do tempo, tem seguido orientações

diversas que nem sempre são adequadas ao cotidiano da criança no meio que

está inserida.. Dentre elas,destacaremos a seguir as mais presentes na

educação infantil,tendo em vista ser este o foco de atenção deste trabalho.

a) Associação e Relações Lógicas

Para trabalhar associação e relações lógicas na educação infantil,será

levado em consideração o esquema de Piaget para o desenvolvimento

intelectual da criança nos estágios sensório-motor de ( 0 a 2 anos),estágio pré-

operacional (2 a 6 anos) e observações referente a prática da educação infantil

nas escolas,como é descrito com muita propriedade no referencial curricular

nacional para educação infantil,conforme citação abaixo:

Há uma idéia corrente de que as crianças aprendem não

só a Matemática, mas todos os outros conteúdos, por

repetição e memorização por meio de uma seqüência

linear de conteúdos encadeados do mais fácil para o

mais difícil. São comuns as situações de memorização de

64

algarismos isolados, por exemplo, ensina-se o 1, depois

o 2 e assim sucessivamente.

Propõe-se exercícios de escrita dos algarismos em

situações como: passar o lápis sobre numerais

pontilhados, colagem de bolinhas de papel crepom sobre

numerais, cópias repetidas de um mesmo numeral,

escrita repetida da sucessão numérica. Ao mesmo

tempo, é comum enfeitar os algarismos, grafando-os com

figuras de bichos ou dando-lhes um aspecto humano,

com olhos, bocas e cabelos, ou ainda, promovendo

associação entre os algarismos e desenhos, por

exemplo, o número 2 associado a dois patinhos.

Acredita-se que, dessa forma, a criança estará

construindo o conceito de número. (Brasil,1998,p.209)

Neste sentido, os resultados das pesquisas sobre o desenvolvimento

infantil associados á educação matemática permite questionar a prática

docente fundamentada nas idéias contidas na citação acima,por isto trataremos

no item seguinte a presença do concreto e do abstrato na aprendizagem da

criança na faixa etária referenciada.

b) Concreto e Abstrato nas Relações Lógicas

Outra idéia presente na educação infantil é a manipulação de objetos

concretos, com o qual a criança adquire a idéia do “concreto real” para

desenvolver um raciocínio lógico abstrato. A função do professor, neste caso,

se restringe a auxiliar o desenvolvimento infantil por meio da organização de

situações de aprendizagem nas quais os materiais concretos contribui com a

auto-instrução. Essa concepção resulta da idéia de que primeiro trabalha-se o

conceito no concreto para depois trabalhá-lo no abstrato.

65

Embora o concreto e o abstrato sejam uma conseqüência do outro, eles

se caracterizam como duas realidades dissociadas, em que o concreto é

identificado com o manipulável e o abstrato com as representações formais do

concreto, possibilitando a construção dos conteúdos conceituais e

procedimentais através dos conceitos, definições, procedimentos lógicas e

sistematizações. Essa concepção, porém, dissocia a ação física da ação

intelectual, dissociação que não existe do ponto de vista do sujeito. Na

realidade, toda ação física supõe ação intelectual. A manipulação do concreto

realizada pelo sujeito está sempre associada a uma idéia ou finalidade. Este

pensamento tem um sentido do ponto de vista do desenvolvimento da criança.

Neste sentido, aprender é construir significados e atribuir sentidos, as

ações concretas ou direcionadas pelas idéias abstratas. Esta dinâmica

representa ponto de fundamental importância para aprendizagem,

principalmente da criança que percebe com mais intensidade a ação do

concreto.

c) Classificação e Seriação

Algumas interpretações das pesquisas psicogenéticas concluíram que o

ensino da Matemática seria beneficiado por um trabalho que incidisse no

desenvolvimento de estruturas do pensamento lógico-matemático. Assim,

consideram-se experiências-chave para o processo de desenvolvimento do

raciocínio lógico e para a aquisição da noção de número as ações de

classificar, ordenar, seriar e comparar objetos em função de diferentes critérios.

Essas idéias fundamentam o desenvolvimento das operações lógicas

que contribuem para aprendizagem de conhecimento em qualquer área, não só

em Matemática. Quando o sujeito constrói conhecimento sobre conteúdos

matemáticos, como sobre tantos outros, as operações de classificação e

seriação necessariamente são exercidas e se desenvolvem, contribuindo para

aprendizagem dos conceitos matemática. A classificação e a seriação têm

papel fundamental na construção na construção do número.

2.2- Jogos e aprendizagem de noções matemáticas

66

O jogo tornou-se objeto de interesse de

psicólogos, educadores e pesquisadores

como decorrência da sua importância para o

desenvolvimento do raciocínio lógico da

criança e da idéia de que é uma prática que

auxilia o desenvolvimento infantil, bem como a

construção das noções do conhecimento matemático.

A educação infantil, em função de seus objetivos vinculados

inicialmente mais ao laser do que desenvolvimento de competências e

habilidades necessárias para aprendizagem configurou-se como o espaço

natural do jogo e da brincadeira, o que favoreceu a idéia de que o

aprimoramento do raciocínio lógico, principalmente relacionado ao

conhecimento matemático, se efetiva com mais facilidade nas crianças que

praticam atividades lúdicas.

A participação ativa da criança e a natureza lúdica e prazerosa inerentes a

diferentes tipos de jogos têm servido de argumento para fortalecer essa

concepção, segundo a qual se aprende Matemática brincando. Essa afirmativa

tem sentido, porque se percebe na prática pedagógica esta evidência através

do desempenho dos alunos que participam dos jogos e brincadeiras. Esse fato

também contribui para modificar idéia de que, para aprender matemática, é

necessário um ambiente em que predomine a rigidez, a disciplina e o silêncio.

Neste sentido, percebe-se certo tipo de euforia, na educação infantil e

até mesmo nos níveis escolar posteriores, relativa à utilização dos jogos,

brinquedos e materiais didáticos em geral que são tomados sempre de modo

indiferenciado na atividade pedagógica sem planejamento prévio dos seus

objetivos. Neste caso, são necessários controle e direcionamento relacionado

com os resultados que se deseja alcançar. Controle no sentido de adequar a

idade, normas e regras e direcionamento para os saberes a serem trabalhados

com o desenvolvimento lógico originado através do jogo ou brincadeira.

Apesar das crenças que envolvem a brincadeira como uma atividade

natural da criança, investigações sobre sua influência no desenvolvimento

67

lógico matemático tem confirmado sua ação auto instrutiva na aprendizagem

deste ramo do saber e outros que requerem sentido lógico na sua construção.

Desta forma, o jogo como expressão cultural através de suas múltiplas

manifestações e significados, variam conforme a época e contexto. Associado

a época encontram-se jogos e brincadeiras que expressam traços próprios de

determinadas gerações, tais como os jogos de tabuleiro e os eletrônicos,

enquanto o contexto expressa-se no desenvolvimento da tecnologia, formas de

organização da sociedade e condições sócias e econômicas das crianças.

Neste contexto, seja qual for a situação, o que caracteriza o jogo é a

iniciativa da criança, sua intenção, curiosidade e interesse em brincar com

assuntos que proporcionam diversão e prazer em competir utilizando regras

que disciplinam as ações e resultados característicos das competições através

dos vencedores e vencidos.

Convém salientar que embora os jogos e brincadeiras propiciarem

também noções matemáticas indispensáveis à sua aprendizagem, cabe

ressaltar que o seu uso como instrumento pedagógico não significa,

necessariamente, a garantia absoluta do aprendizado matemático. Faz-se

necessária orientação no sentido de estabelecer a relação entre o raciocínio

lógico adquirido na dinâmica da brincadeira ou jogo com conceitos,

procedimentos e atitudes próprias deste ramo do saber.

Em síntese, os jogos e brincadeiras podem tornar-se uma estratégia

didática quando as situações forem planejadas e orientadas no sentido de visar

a aprendizagem, isto é, proporcionar o desenvolvimento do raciocínio lógico,

conhecimento e atitudes necessária a sua formação. Para que isso ocorra, é

necessário haver uma intencionalidade educativa, o que implica planejamento

e previsão de etapas pelo professor, para alcançar objetivos predeterminados e

extrair do jogo resultados favoráveis ao processo ensino-aprendizagem.

No próximo item estão colocadas sugestões de brincadeiras e jogos que

podem ser utilizados em sala de aula da educação infantil.

• Atividades Sugeridas:

Quatro cores

68

- Idade: A partir de quatro anos.

- Objetivo: Desenvolver a capacidade de planejamento, coordenação motora e

análise de erros.

- Como fazer: Em uma folha de papel, faça o contorno de uma figura qualquer,

podendo ser um objeto, um animal ou uma forma geométrica. Divida

aleatoriamente a figura até dez subdivisões para não dificultar muito. Quando

sentir que os alunos maiores já dominam a atividade, aumente as subdivisões

ou deixe que criem as próprias figuras.

- Regra: As cores devem ser individualizadas para cada parte sem repetição.

Ex. O azul não se encosta ao azul, o verde não se encosta ao verde.

- Como jogar : O jogo é individual. Cada aluno recebe quatro canetas hidrocor

ou lápis de cores diferentes e a folha com a figura desenhada. Os pequenos

podem trabalhar com giz de cera grosso, pintura a dedo e colagem de papéis

ou de tecidos. O objetivo é colorir a figura usando as quatro cores sem deixar

regiões vizinhas da mesma cor. Áreas limitadas pelo vértice podem ter

tonalidades iguais. Se a criança não conseguir completar a figura, dê a ela a

oportunidade de repintar algumas áreas.

- Variação É possível trabalhar em duplas. As crianças têm de encontrar

juntas uma solução para o desafio.

69

Jogo de Percurso

Aqui a criançada treina a soma e conta com a sorte para chegar primeiro ao

fim do tabuleiro

- Idade: A partir de quatro anos.

- Objetivo: desenvolver o cálculo, conceito de correspondência entre

quantidade, número e respeito a regras.

- Como jogar Em um papelão quadrado de 40 centímetros de lado, trace um

caminho. Para crianças de quatro anos, faça um trajeto reto de até 50 casas.

Como elas ainda não conhecem bem os números, pinte as casas de seis cores

diferentes e na seqüência – as mesmas cores deve ter o dado, construído com

um cubo de madeira. Nessa versão, a criança joga o dado e salta para a

primeira casa à frente com a cor correspondente. Dica de tema: levar o

coelhinho à toca. Para os alunos de cinco e 6 anos, o caminho pode ser

sinuoso, em ziguezague, espiral ou circular, com 50 a 80 casas. Utilize dois

dados numerados de um a seis para que eles somem os resultados antes de

seguir o percurso. Crie regras para dificultar. Exemplo: se cair na casa

vermelha, fique uma vez sem jogar. Dica de tema: viagem à Lua. Para os

maiores de7 anos, o caminho pode ter 100 casas e bifurcações.

Higiene

- Idade: A partir de quatro anos

- Objetivo: Adquirir a habilidade de jogar no local adequado.

- Como jogar : Jogam de duas a quatro crianças. Cada uma escolhe um peão

(tampas plásticas de refrigerantes) para se deslocar no tabuleiro. Joga o dado,

quem tirar o maior número é o primeiro, as demais crianças entram na

seqüência, de acordo com suas posições na mesa. Cada um joga o dado e

anda com seu peão o número de casas que tirou. Se cair na casa como a

denominação “jogou o lixo no chão” volta duas casas. Se cair na casa jogou o

lixo no sexto de lixo, prossegue normalmente. Ganha quem chegar primeiro.

70

- Lembretes: Não numere as casas para não tornar o jogo confuso – os

números sorteados no dado significam a quantidade de casas que a criança

deve andar e não a casa que ela deve ocupar

Quem tem põe

Idade: A partir de 04 anos

Material (para grupo de 02 crianças)

• 01 dado com numerais de 1 a 6;

• 01 tabuleiro;

• 50 fichas (1cm x 1cm).

Objetivos:

• Estabelecer uma correspondência biunívoca;

• Reconhecer quantidades.

Desenvolvimento:

Os jogadores sentados um em frente ao outro, alternadamente jogam o

dado. Conforme o número obtido no dado, deverá colocar a mesma quantidade

de fichas na parte correspondente do tabuleiro. Este tabuleiro contém cada um

dos lados uma fileira seis quadros com bolinhas correspondentes à sua

numeração. Por exemplo: se sair a face 2 do dado, a criança colocará 2 fichas

no quadrado que contém 2 bolinhas do seu lado do tabuleiro. Se sair um

número que o quadrado já está preenchido, a criança passa a vez para o

adversário e assim por diante. Vence quem primeiro encher o seu lado.

Caça ao tesouro

Idade: A partir dos cinco anos

Material (para um grupo de 04 crianças)

• 01 tabuleiro;

• 33 cartões com palavras escritas;

71

• 04 marcadores.

Objetivos:

• Estimular a contagem;

• Comparação de quantidades.

Desenvolvimento:

Embaralham-se os cartões e coloca-os empilhados, voltados para baixo,

no tabuleiro.

Cada criança escolhe um marcador e na sua vez, vira um cartão, lê a

palavra, conta o número de sílabas (pode ser letras) e anda com o seu

marcador sobre as tampinhas, de modo que a cada sílaba (letra) da palavra

corresponda a uma tampinha.

Os cartões utilizados devem ser colocados na pilha de descarte.

Ganha o jogo quem chegar ao FIM primeiro.

2.3- A Resolução de Problemas na Educação Infantil

Como trabalhar a resolução

de problemas na Educação

Infantil? Como crianças que

não sabe nem ler nem

escrever, podem resolver

problemas de matemática?

Para iniciar essa discussão, temos que partir do seguinte

questionamento: Será que aqueles problemas matemáticos “prontos”, onde

obtemos apenas uma resposta verdadeira, são os únicos?

Para responder ao questionamento temos que fazer uso da classificação

de problemas. Eles podem ser identificados como convencionais e não

72

convencionais. O primeiro refere-se aos comumente encontrados nos livros de

matemática que necessitam do uso de algoritmo para obter uma resposta

única. Já os problemas não convencionais, caracterizam-se por possuírem

várias formas de resolução.

Se refletirmos um pouco sobre os problemas que são apresentados no

nosso dia-a-dia, percebemos que a maioria deles é resolvido com aplicação de

um algoritmo, embora apresente possibilidades de várias formas de solução.

Em situações de compras geralmente exige tomada de decisão sobre a

escolha de um produto ou outro, levando em consideração preços, proporções

e estimativas. Assim, resolvemos muitos problemas ao mesmo tempo e de

várias formas.

No cotidiano da maioria das crianças, os problemas fazem parte de sua

rotina associada às brincadeiras e os jogos. Assim, são os jogos e as

brincadeiras que geram situações problemas para serem resolvidos através de

acordos entre os pares e outros que fazem parte do seu meio.

Resolver problemas na Educação Infantil é proporcionar às crianças

situações para comunicar idéias, fazer colocações, investigar relações e

adquirir confiança em suas capacidades. É um momento para desenvolver

noções, procedimentos e atitudes que favoreçam a aprendizagem do

conhecimento matemático.

Para que isso ocorra, o professor(a) precisa estar atento para identificar

problemas que possam ser aproveitados em situações de aprendizagem do

conhecimento matemático. Ao oferecer às crianças oportunidades de participar

dessas situações, em grupo ou na classe toda, geralmente elas permitem às

crianças a construção de uma base para externar seu pensamento sobre a

problemática investigada.

Assim, o professor deve auxiliar o aluno nesse processo de resolução de

problemas entendendo que cada criança encontrará uma solução que expressa

suas vivências e experiências acumuladas.

Nesse contexto, deve ser proporcionada oportunidade para as

crianças explorarem mais situações através de observação e troca de idéias

73

com seus colegas, no intuito de encontrar caminhos para solução de

problemas.

A solução de problema pelas crianças pode ser registrada de forma oral,

pictórica e textual. Oral é o registro mais natural da criança que utiliza sua

língua materna para registrar, explicar e argumentar sua estratégia de solução.

Já o registro pictórico é expresso através de desenhos que mostram os

caminhos utilizados para solução dos problemas, através dele a criança toma

consciência de sua ação, desenvolve a noção espacial e de proporcionalidade.

Enquanto o registro textual é o resulta de uma construção coletiva de um texto

que contemple as diferentes estratégias relatadas pelas crianças.

Os registros ainda podem contribuir com o processo de avaliação,

possibilitando ao professor identificar o estágio que a criança se encontra com

relação a aprendizagem.

Para aprofundar mais sobre o registro da criança a partir de resolução

de problemas de matemática na educação infantil, pode ser encontrado em um

texto de Luana Torricelli no site www.Alb.com.br/anais16/sem15dtf.

2.4 - Crianças de Zero a Três Anos

74

• Objetivo

A abordagem da Matemática na educação infantil, faixa de zero a três

anos, tem como finalidade proporcionar oportunidades para que as crianças

desenvolvam a capacidade de estabelecer aproximações a noções

matemáticas presentes no seu cotidiano, como contagem, relações espaciais e

outros.

• Conteúdos

Em qualquer que seja o nível de ensino e em especial na educação

infantil, a seleção dos objetivos em consonância com a faixa etária das

crianças e as condições materiais que dispõe a escola é de fundamental

importância para seleção e organização dos conteúdos destinadas a

aproximar dos alunos os conceitos procedimentos e atitudes relativas a

estabelecer relações biunívocas, necessária para contagem, noções de

quantidade, de tempo e de espaço.

• Atividades

Os conteúdos de matemática são repassados para as crianças de zero a

três anos, através de atividades como: brincadeiras, jogos, músicas,

manipulação de objetos, festas, historinhas, de forma agradável e sem

imposição.

Neste processo o importante é a manipulação e exploração de objetos e brinquedos, em situações organizadas de forma que a criança possa descobrir as características e propriedades principais e suas possibilidades associativas: empilhar, rolar, transvasar, encaixar, e outros.

Assim também as festas, historinhas, jogos e as brincadeiras permitem a familiarização com elementos espaciais e numéricos, sem imposição. Desta forma, os conceitos matemáticos não são o pretexto nem a finalidade principal a ser perseguida. As situações deverão ter um caráter múltiplo para que as crianças possam interessar-se, fazer relações sobre várias áreas e comunicá-las. Isto porque as modificações no espaço, a construção de obstáculos com cadeiras, mesas, pneus e panos por onde as crianças possam engatinhar ou andar, subindo, descendo, passando por dentro, por cima, por baixo, permitem a construção gradativa de conceitos matemáticos, dentro

75

de um contexto significativo. Neste sentido, as brincadeiras de construir torres, pistas para carrinhos e cidades, com blocos de madeira ou encaixe, possibilitam representar o espaço em dimensões diversas.

Também o faz-de-conta das crianças pode ser enriquecido,

organizando-se espaços próprios com objetos e brinquedos que

contenham números, como telefone, máquina de calcular, relógio e

outros. (BRASIL, 1999, p. 218)

Com o objetivo de aproximar as crianças da idéia de quantidade, tempo e

comparação, o professor(a) pode, juntamente com as crianças, organizar um

quadro que contenha o nome, idade e a data do aniversário, bem como montar

escalas com tamanho e peso com a finalidade de anotar as medidas ao longo

do ano letivo, fazendo comparação entre os resultados.

(...) As crianças por volta dos dois anos já podem, com ajuda do professor, contar quantos dias faltam para seu aniversário. Pode-se organizar um painel com pesos e medidas das crianças para que elas observem suas diferenças. As crianças podem comparar o tamanho de seus pés e depois olhar os números em seus sapatos.

O folclore brasileiro é fonte riquíssima de cantigas e rimas infantis envolvendo contagem e números, que podem ser utilizadas como forma de aproximação com a seqüência numérica oral. São muitas as formas possíveis de se realizar o trabalho com a Matemática nessa faixa etária, mas ele sempre deve acontecer inserido e integrado no cotidiano das crianças. (BRASIL, 1999, p. 218)

Após estes procedimentos o professor está orientado para trabalhar

com as crianças desenvolvendo as atividades e realizando continuamente

avaliação do desempenho através da observação do raciocínio lógico

matemático, expresso nas atividades motoras realizadas.

2.5 - Crianças de Quatro a Seis Anos

76

• OBJETIVOS

Para crianças de quatro a seis anos, o objetivo é aprofundar e ampliar o

trabalho realizado na faixa etária anterior, através do reconhecimento e

valorização dos números com noções de contagem e percepção de formas,

espaço e tempo. O referencial curricular para educação infantil, volume 3,

indica os seguintes objetivos:

• reconhecer e valorizar os números, as operações numéricas, as

contagens orais e as noções espaciais como ferramentas necessárias

no seu cotidiano;

• comunicar idéias matemáticas, hipóteses, processos utilizados e

resultados encontrados em situações-problema relativas a

quantidades, espaço físico e medida, utilizando a linguagem oral e a

linguagem matemática;

• ter confiança em suas próprias estratégias e na sua capacidade para

lidar com situações matemáticas novas, utilizando conhecimentos

prévios. (BRASIL, 1999, p. 215)

• CONTEÚDOS

77

Os conteúdos indicados para as crianças de quatro a seis anos, deve ser

apresentado na forma conceitual procedimental e atitudinal. Eles podem ser

organizados em blocos para aproximar as crianças da organização dos

conhecimentos matemáticos. Seguindo a mesma orientação do referencial

curricular para educação infantil, os blocos de conteúdos apresentam-se da

seguinte forma: "Números e sistema de numeração", "Grandezas e medidas" e

"Espaço e forma".

Esta organização por blocos não deve ser encarada como uma

fragmentação, mas trata-se de artifícios didático pedagógico que não impede

das crianças vivenciarem os conteúdos matemáticos de forma integrada.

Bloco 1-Números e sistema de numeração

Neste bloco de conteúdos serão

trabalhadas a contagem, notação e escrita

numéricas, pequenas operações matemáticas,

noções simples de calculo mental, seriação e

comparação.

- Contagem Contar é uma operação matemática onde a criança encontra o valor

cardinal de um conjunto de objetos, estabelecendo uma relação biunívoca

entre o número e numeral

(...)Isso fica evidenciado quando se busca a propriedade numérica dos conjuntos ou coleções em resposta à pergunta "quantos?" (cinco, seis, dez, etc.). É aplicada também quando se busca a propriedade numérica dos objetos, respondendo à pergunta "qual?". Nesse caso está também em questão o valor ordinal de um número (quinto, sexto, décimo, etc.). (BRASIL, 1999, p. 220)

78

A contagem oral que surge através das brincadeiras, jogos e músicas

deve ser reforçada com a utilização do ábaco e outros materiais concretos

como: tampinhas, botões, sementes e peças do material dourado.

Embora a recitação oral da sucessão dos números seja uma importante forma de aproximação com o sistema numérico, para evitar mecanização é necessário que as crianças compreendam o sentido do que se está fazendo. (BRASIL, 1999, p. 221)

Existe um grande número de cantigas que podem ser utilizadas na técnica de contagem oral tais como:

"a galinha do vizinho bota ovo amarelinho; bota um, bota dois, bota três, bota quatro, bota cinco, bota seis, bota sete, bota oito, bota nove e bota dez";

"um, dois feijão com arroz; três, quatro, feijão no prato; cinco, seis, feijão inglês; sete, oito, comer biscoito; nove, dez, comer pastéis".

A utilização da música torna as atividades de aprendizagem da

matemática mais agradável para o professor(a) e alunos, por este motivo foi

acrescido nos anexos texto ‘3’ sobre sugestões de utilização da música no

aprendizado da matemática

Associado à contagem, o desenvolvimento das noções simples de

cálculo mental deve ser levemente introduzido para solução de pequenos

problemas do cotidiano das crianças. Ex. Tinha 2 figurinhas ganhou mais 1,

com quantas ficou? Este processo deve culminar com a comunicação dos

resultados, utilizando a linguagem oral, a notação numérica e/ou registros não

convencionais.

Ainda paralelo à noção de contagem, deve ser trabalhada a identificação

da posição de objetos ou número numa série, explicitando a noção de

sucessor e antecessor, com o objetivo de fundamentar a contagem de números

em maiores proporções.

Nesta faixa etária de quatro a seis anos pode ser apresentado números

em diferentes situações e contexto do cotidiano das crianças.

Os conhecimentos numéricos das crianças decorrem do contato e da utilização desses conhecimentos em problemas cotidianos, no ambiente familiar, em brincadeiras, nas informações que lhes chegam pelos meios de comunicação, etc. Os números estão presentes no cotidiano e servem para memorizar quantidades, para identificar algo, antecipar resultados, contar, numerar, medir e operar. Alguns desses

79

usos são familiares às crianças desde pequenas e outros nem tanto. (BRASIL, 1999, p. 220)

Neste sentido, é importante para a contagem a utilização de números

que fazem parte do cotidiano das crianças, representando quantidades

relacionadas com suas necessidades de sobrevivência no meio em que se

encontra.

- Notação e escrita numéricas

Notação e escrita numérica requerem das crianças as habilidades de

comparar, classificar, ordenar e desenhar símbolos. Para desenvolvê-las é de

fundamental importância relacionar com o cotidiano das crianças que são

cheias de comparações, classificações e ordenações e números presentes nos

telefones, nas placas de carro e de ônibus, nas camisas de jogadores, nas

etiquetas de preço, nas contas de luz, etc.

Atividades de colecionar álbum de figurinhas e importante atividade para

notação e escrita numérica, principalmente o que trazem uma folha com a

ordem de colocação aonde a criança vai riscando as figuras as que já foram

colocadas e deixando em branco as que faltam adquirir.

Colecionar em grupo um álbum de figurinhas pode interessar às crianças. Iniciada a coleção, pode-se pedir que antecipem a localização da figurinha no álbum ou, se abrindo em determinada página, devem folhear o álbum para frente ou para trás. É interessante também confeccionar uma tabela numérica (com o mesmo intervalo numérico do álbum) para que elas possam ir

80

marcando os números das figurinhas já obtidas. (BRASIL, 1999, p. 222)

É importante iniciar com as crianças desta faixa etária a coleta de dados

juntos aos familiares e dos próprios colegas para montar tabelas e criar

situações problemas relacionados com a contagem.

As crianças podem pesquisar as informações numéricas de cada membro de seu grupo (idade, número de sapato, número de roupa, altura, peso, etc.). Com ajuda do professor, as crianças podem montar uma tabela e criar problemas que comparem e ordenem escritas numéricas, buscando as informações necessárias no próprio quadro, à partir de perguntas como: "quantas crianças vestem determinado número de roupa?", "quantos anos um tem a mais que o outro?", "quanto você precisará crescer para ficar do tamanho de seu amigo?". É possível também pesquisar a idade dos familiares, da pessoa mais velha da instituição, da cidade, do país ou do mundo. (BRASIL, 1999, p. 222)

A notação numérica que foi uma conquista da humanidade ao longo de

sua história continua ainda hoje fazendo parte de nossas vidas. Quem se

envolve com este tipo de trabalho está sendo

importantes para as crianças e o mundo que passa a

contar com seres capazes de registrar sua situação

no tempo e espaço.

- Operações A partir da contagem as crianças contam agregando

ou retirando quantidade de elementos a de conjuntos

formados por objetos, animais, pessoas e outros. Nesta ação elas estão

realizando operações matemática de somar ou subtrair.

As operações são aprendidas juntamente com a noção de números,

expressos através de brincadeiras, jogos e situações- problemas.

(...) Nessas situações, em geral as crianças calculam com apoio dos dedos, de lápis e papel ou de materiais diversos, como contas, conchinhas, etc. É importante, também que elas possam fazê-lo sem

81

esse tipo de apoio, realizando cálculos mentais ou estimativas. (BRASIL, 1999, p. 222)

Em síntese, as operações adição e subtração são apenas uma continuação do aprendizado conseguida na contagem que vai adquirindo grau de aprofundamento de acordo com o desenvolvimento individual de cada criança.

BLOCO ‘2’ - Grandezas e medidas

As grandezas e medias são habilidades

desenvolvidas através da comparação de

grandeza com as unidades padrões de

comprimento, peso, volume e tempo.

Nesta unidade pode ser também trabalhada

as noções de dinheiro através de

experiências, jogos e brincadeiras de

interesse das crianças.

De utilidade histórica reconhecida, o uso de medidas mostrou-se não só

como um eficiente processo de resolução de problemas práticos do homem

antigo como teve papel preponderante no tecido das inúmeras relações

entre noções matemáticas. A compreensão dos números, bem como de

muitas das noções relativas ao espaço e às formas, é possível graças às

medidas. Da iniciativa de povos (como os egípcios) para demarcar terras

fazendo medições resultou a criação dos números fracionários ou decimais.

Mas antes de surgir esse número para indicar medidas houve um longo

caminho e vários tipos de problemas tiveram de ser resolvidos pelo homem. (BRASIL, 1999, p. 226)

Para aprender a medir as crianças devem realizar medidas em

diferentes situações e objetos, inicialmente com unidades de medidas não

convencionais, como palmo, pé, passos e outros, seguido do manuseio de

instrumentos, como metro, balança, régua e outros, observando, anotando e

comparando resultados.

As crianças aprendem sobre medidas, medindo. A ação de medir inclui: a observação e comparação sensorial e perceptiva entre objetos; o reconhecimento da utilização de objetos intermediários, como fita métrica, balança, régua, etc., para quantificar a grandeza

82

(comprimento, extensão, área, peso, massa, etc.). Inclui também efetuar a comparação entre dois ou mais objetos respondendo a questões como: "quantas vezes é maior?", "quantas vezes cabe?", "qual é a altura?", "qual é a distância?", "qual é o peso?", etc. A construção desse conhecimento decorre de experiências que vão além da educação infantil.

Para iniciar esse processo, as crianças já podem ser solicitadas a fazer uso de unidades de medida não convencionais, como passos, pedaços de barbante ou palitos, em situações nas quais necessitem comparar distâncias e tamanhos: medir as suas alturas, o comprimento da sala, etc. Podem também utilizar-se de instrumentos convencionais, como balança, fita métrica, régua, etc., para resolver problemas. (BRASIL, 1999, p. 227)

Como as medidas estão presentes no cotidiano das crianças, cabe ao

professor(a) trabalhar as idéias de forma prática demonstrando seu valor para

expressar ganhos, perdas, quantidade e valores incorporadas na vida de cada

uma delas.

BLOCO ‘3’- Espaço e forma

A identificação das propriedades

geométricas de objetos e figuras identificadas

através de faces, superfícies, lados e outros,

fazem parte do universo expresso através de

seus espaços e formas.

Neste contexto, as crianças percebem objetos com representações

bidimensionais e tridimensionais, pontos de referências, descrição e

representação de pequenos percursos

O pensamento geométrico compreende as relações e representações espaciais que as crianças desenvolvem, desde muito pequenas,

83

inicialmente, pela exploração sensorial dos objetos, das ações e deslocamentos que realizam no meio ambiente, da resolução de problemas. Cada criança constrói um modo particular de conceber o espaço por meio das suas percepções, do contato com a realidade e das soluções que encontra para os problemas.

Considera-se que as experiências das crianças, nessa faixa etária, ocorrem prioritariamente na sua relação com a estruturação do espaço e não em relação à geometria propriamente dita, que representa uma maneira de conceituar o espaço por meio da construção de um modelo teórico.

Nesse sentido, o trabalho na educação infantil deve colocar desafios que dizem respeito às relações habituais das crianças com o espaço, como construir, deslocar-se, desenhar, etc., e à comunicação dessas ações. (BRASIL, 1999, p. 227)

Nesse aspecto, é necessário que professores(a) e família possam de

forma integrada contribuir com o desenvolvimento da percepção da criança na

exploração das relações espaciais contida nos objetos, entre diferentes objetos

e nos deslocamentos espaciais.

O desenho é uma forma privilegiada de representação, na qual as crianças podem expressar suas idéias e registrar informações. É uma representação plana da realidade. Desenhar objetos a partir de diferentes ângulos de visão, como visto de cima, de baixo, de lado, e propor situações que propiciem a troca de idéias sobre as representações é uma forma de se trabalhar a percepção do espaço.

Pode-se propor, também, representações tridimensionais, como construções com blocos de madeira, de maquetes, painéis, etc. Apesar de estarem intrinsecamente associado ao processo de desenvolvimento do faz-de-conta, o jogo de construção permite uma exploração mais aprofundada das propriedades e características associativas dos objetos, assim como de seus usos sociais e simbólicos. (BRASIL, 1999, p. 230)

As relações espaciais podem ser percebidas pelas crianças por meio do contato e manipulação. A constatação das características e propriedades conduzem à identificação de atributos, como quantidade, tamanho e forma.

É possível, por exemplo, realizar um trabalho com as formas geométricas por meio da observação de obras de arte, de artesanato

84

(cestas, rendas de rede), de construções de arquitetura, pisos, mosaicos, vitrais de igrejas, ou ainda de formas encontradas na natureza, em flores, folhas, casas de abelha, teias de aranha, etc. (BRASIL, 1999, p. 230)

A essas atividades podem ser incluídas corpos geométricos, modelados em madeira, cartolina ou de plástico, ou figuras planas que possibilitam um trabalho exploratório das suas propriedades, comparações e criação de contextos em que a criança possa fazer construções. A título de exemplo temos os blocos lógicos, apresentado no anexo através do texto complementar ‘4’ .

• A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: OBSERVAÇÃO,

REGISTRO E AVALIAÇÃO FORMATIVA

A observação sistemática é uma técnica que o professor utiliza para

melhor conhecer seus alunos, identificando suas dificuldades e avaliando seu

desempenho nas várias atividades que exigem o desenvolvimento cognitivo,

afetivo e psicossocial, em decorrência das experiências vivenciadas. Ela pode

ser individual ou em grupo.

Na educação infantil a observação é sempre individual, levando em

consideração o desempenho do aluno em relação ao grupo. Por meio dela se

consegue obter conhecimento e dados a cerca do que as crianças sabem,

podem fazer e pensam a respeito dos fenômenos sociais e naturais que

ocorrem no meio circundante e no planeta.

O registro é uma fonte de informação sobre o processo de

desenvolvimento das crianças e a forma de condução deste pelo educador(a)

infantil. Ele possibilita um acervo de informações para educadores(a), pais e

especialistas em outras áreas, sobre o desempenho da criança no

enfretamento das situações impostas pelas relações com o meio natural e

social. Estes dados são registrado para efeito avaliação do processo, seguido

de propostas para encaminhamentos.

Outro instrumento que ajuda na avaliação formativa da

criança é o portfólio, também chamado dossiê do aluno. Ele é um

85

instrumento de avaliação composto pela compilação de todos os trabalhos

realizados pela criança durante o ano. Incluem também, entre outros

elementos, dados pessoais e registro de experiências vividas na escola e fora

dela.

A avaliação na educação infantil deve ser formativa no sentido de

contribuir para formação da personalidade das crianças e de todos envolvidos

no processo. Ela se efetiva com base nos seguintes princípios:

• A avaliação deve se constituir em elemento de ajuda;

• A avaliação deve ser tratada como componente do processo ensino-

aprendizagem inter-relacionado com os demais;

• A avaliação exige interação recíproca entre seus atores;

• A avaliação deve conduzir ao alinhamento da aprendizagem com o

processo formativo da personalidade.

A avaliação é uma tarefa permanente que se constitui em instrumento

indispensável a uma prática pedagógica comprometida com a formação da

personalidade da criança.

Ainda com relação a avaliação está colocado no anexo o texto

complementar ’5’ que trata da avaliação na Educação Infantil passo a passo.

2.6 - Presença da Matemática nos anos iniciais (1º ao 5º ano)

• Caracterização da Área de Matemática para Alunos do Ensino

Fundamental

As características principais desta

área de conhecimento estão

associadas a sua origem, ramo

do conhecimento que pertence,

utilidade e educação matemática.

Quanto à sua origem está

ligada às necessidades dos seres

humanos para orientar em termos quantitativos a posse de objetos e bens com

o fim de facilitar estabelecimento de correspondência para suas trocas ou

86

vendas . O termo matemática vem do grego máthēma (µάθηµα) que

significa ciência, conhecimento, aprendizagem.

Vista pelo compo do conhecimento a matemática é cosiderada uma

ciência do raciocínio lógico abastrato. Isso faz com que sua metodologia da

pesquisa e ensino está sempre assciada a caminhos que conduzam ao

desenvolvimento do racicinio lógico matemático. No ensino da Matemática,

destacam-se dois aspectos básicos: o primeiro consiste em relacionar

observações do mundo real com representações (esquemas, tabelas, figuras);

o segundo em relacionar essas representações com princípios e conceitos

matemáticos. Este fato faz com que o conhecimento matemático deve ser

apresentado aos alunos como historicamente construído e em permanente

evolução. O contexto histórico possibilita ver a Matemática em sua prática

filosófica, científica e social e contribui para a compreensão do lugar que ela

tem no mundo.

O fato de a matemática ser considerada uma ciência do raciocínio lógico

abstrato faz com que no processo ensino-aprendizagem a seleção e

organização de conteúdos não devem levar em conta a lógica interna da

Matemática, sua relevância social e a contribuição para o desenvolvimento

intelectual do aluno. Trata-se de um processo permanente de construção.

Com relação à utilidade é vasto o campo de suas aplicações em outras

ciências, comunicações e tecnoligias que sustentam o desenvolvimento

humano. O processo de comunicação está centrado nas representações

gráficas, desenhos, construções, códigos, senhas e outros.

Assim, a educação matemática passa a exercer um papel de

fundamental importância na construção da cidadania, na medida em que a

sociedade se utiliza, cada vez mais, de conhecimentos científicos e recursos

tecnológicos, dos quais os cidadãos devem se apropriar. Isto justifica a

necessidade da matemática estar ao alcance de todos garantindo a

democratização do seu ensino.

Neste sentido, a educação matemática passa a combater a vertente que

defende sua essência como um “olhar para coisas prontas e definitivas”, ao

tempo que assume uma postura que associa a aprendizagem da matemática a

87

construção e apropriação de conhecimento que servirá para compreender e

transformar a realidade.

Em síntese, a matemática é uma ciência que estuda todas as possíveis

relações e interdependências quantitativas entre grandezas, comportando um

vasto campo de teorias, modelos e procedimentos de análise. Possui

metodologias próprias de pesquisa, na matemática pura, aplicada e educação

matemática.

• Principais Características do Conhecimento Matemático

A Matemática, surgida no período inicial de adaptação do homem ao

mundo natural. por necessidades da vida cotidiana, converteu-se atualmente

em ciência que contribui com a organização da sociedade e serve de poderoso

instrumento para o conhecimento do mundo e domínio da natureza.

O conhecimento matemático construído dentro de uma lógica específica de

inter-relacionamento e conexões abstração, é caracterizado pela precisão,

rigor lógico, caráter irrefutável de suas conclusões e aplicação em situações

concretas no mundo real.

A matemática é caracterizada por áreas que surgem historicamente ao

longo do tempo com fins e aplicação específico no atendimento das

necessidades humanas. Assim temos a aritmética, geometria e álgebra.

A Aritmética e a Geometria formaram-se a partir de conceitos que se interligavam. Talvez, em conseqüência disso, tenha se generalizado a idéia de que a Matemática é a ciência da quantidade e do espaço, uma vez que se originou da necessidade de contar, calcular, medir, organizar o espaço e as formas.

O desenvolvimento da Geometria e o aparecimento da Álgebra marcaram uma ruptura com os aspectos puramente pragmáticos da Matemática e impulsionaram a sistematização dos conhecimentos matemáticos, gerando novos campos: Geometria Analítica, Geometria Projetiva, Álgebra Linear, entre outros. O estudo das grandezas variáveis deu origem ao conceito de funçãoe fez surgir, em decorrência, um novo ramo: a Análise Matemática.

A Matemática transforma-se por fim na ciência que estuda todas as possíveis relações e interdependências quantitativas entre grandezas, comportando um vasto campo de teorias, modelos e procedimentos de análise, metodologias próprias de pesquisa, formas de coletar e interpretar dados. (Brasil, 2007, p. 24)

88

Em síntese, as sub-áreas que compõe a matemática faz parte de um

processo histórico vivenciado pela humanidade ao longo de sua existência

• A Matemática e os Temas Transversais.

A interdisciplinaridade e transdisciplinaridade passaram a exigir da

matemática uma atitude com relação os demais ramos do saber organizados

como disciplina no ensino regular ou surgido em função das necessidades que

a humanidade enfrentano mundo atual. Desta preocupação surgiram os temas

transversais destinados a penetrar no currículo das escolas em qualquer

momento, desde que se torne necessário. interação do ensino de Matemática

com os Temas Transversais é uma questão bastante

Os mesmo geralmente são trabalhados através de projetos que

respondem a uma problemática surgida no contexto de uma escola em

diferentes áreas do saber. Dentre muitas podemos citar a ética, orientação

sexual, meio ambiente, saúde, pluralidade cultural e outros temas que possam

surgir no decorrer do ano letivo.

Ética

Ao trabalhar a ética, o processo de ensino-aprendizagem pode ser

direcionado para desenvolvimento de competências e habilidade que requeira

confiança em si próprio e nos outros para construir conhecimentos

matemáticos, respeitando à forma de pensar do coletivo da sala de aula.

Nesta dinâmica, o trabalho dos alunos deve ser orientado para ser livre

do preconceito de que Matemática é um conhecimento direcionado apenas

para poucos. Assim deve prevalecer o respeito e a solidariedade no sentido de

combater o individualismo e fazer prevalecer o coletivo.

Orientação Sexual

Para desenvolver este tema. O processo ensino-aprendizagem da

matemática pode ser processado no sentido de acomodar num mesmo

patamar os papéis desempenhados por homens e mulheres no

desenvolvimento da lógica matemática e conseqüentemente no construção de

uma sociedade mais igualitária.

89

No entanto, como importante instituição formadora de cidadãos, a escola não pode estabelecer qualquer tipo de diferença em relação à capacidade de aprendizagem entre alunos de diferentes sexos.

Ao ensino de Matemática cabe fornecer os mesmos instrumentos de aprendizagem e de desenvolvimento de aptidões a todos, valorizando a igualdade de oportunidades sociais para homens e mulheres. (Brasil, 2007, p. 27)

Embora pareça não existir relação entre a matemática e este tema

transversal, percebe-se sua importância no tratamento das relações existentes

na sala de aula e abertura para combater os mitos que perpassam a formação

dos que fazem opção pelo estudo da matemática.

Meio Ambiente

A matemática pode contribuir de maneira decisiva na compreensão das

questões ambientais no sentido de quantificar e apresentar através de gráficos

a situação que se encontra nosso planeta.

Assim pode ser trabalhados no processo ensino-aprendizagem dados

quantitativos relacionados poluição, desmatamento, lixo, limites para uso dos

recursos naturais e desperdícios. Neste tipo de atividade pode ser utilizado

conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais relacionados com área,

médias, volumes e proporcionalidade, vinculados a procedimentos e atitudes

necessária para encaminhar soluções relativas a esta problemática.

Saúde

As informações sobre saúde podem receber um tratamento matemático

através de comparações para permitir juízos e previsões sobre doenças que

atingem a sociedade dentre de determinadas époças e espaços.

O acompanhamento do próprio desenvolvimento físico (altura, peso, musculatura) e o estudo dos elementos que compõem a dieta básica são alguns exemplos de trabalhos que podem servir de contexto para a aprendizagem de conteúdos matemáticos e também podem encontrar na Matemática instrumentos para serem mais bem compreendidos. ( Brasil, 2007, p. 28)

Este tipo de intervenção educa matematicamente o cidadão e ajuda a se

tornar mais lógico e racional na análise de problemas que envolve a saúde.

90

Pluralidade Cultural

Expressar fatos e fenômenos através da matemática não é específico

somente dos matemáticos, mas de outras categorias como cientistas,

engenheiros, médicos, advogados e outros que possuem origens socioculturais

diferentes.

Da mesma forma, os matemáticos necessitam de informações das

outras áreas do conhecimento para fazer suas análises e interpretação dos

fatos e fenômenos que se deparam no seu cotidiano.

Este tema transversal pode ser utilizado no processo ensino –

aprendizagem para demonstrar que diferentes ramos da cultura fazem uso da

matemática e ao mesmo tempo ela necessita de informação para se tornar útil

à sociedade. Isto pode ainda contribuir para a superação do preconceito de que

Matemática é um conhecimento produzido exclusivamente por determinados

grupos sociais ou sociedades mais desenvolvidas.

2.7 – Componentes do Processo Ensino-Aprendizagem nos Anos Iniciais

(1º ao 5º ano)

De imediato observa-se no

processo ensino-aprendizagem a

atividade do estudante para instruir-

se denominada de aprendizagem,

isto é, atividade que executa o

estudante para sua formação. Pode-

se apreciar também a atividade do

professor que guia esta

aprendizagem, entendida como

91

ensino. Ambos, aluno e professor, atuam sobre o conhecimento matemático.

Desta dinâmica resulta o processo ensino-aprendizagem.

Uma análise mais profunda coloca o processo ensino-aprendizagem

como objeto de estudo da Didática, expresso pelo conjunto de características

fundamentado em pressupostos que determina o comportamento e movimento

do processo ensino-aprendizagem. Nesta é possível perceber os

“componentes” do processo ensino-aprendizagem, através dos aspectos que

originam seu caráter singular ou na inter-relação com os demais. O termo

“componente” está associado ao enfoque sistêmico dado a este processo,

tendo em vista a exigência de ser caracterizado pelas propriedades individuais

e sua inter-relação com os demais. Nesta visão ele é considerado um sistema

com seus componentes pessoais – professor e aluno e não pessoais –

objetivo, conteúdo, metodologia, recursos e avaliação, representados na

esquema baixo e expressos a seguir:

Esquema de representação do processo ensino-aprendizagem.

• Componentes pessoais.

a) Professor – Aluno; professor-grupo; professor-professor.

b) Aluno-Professor; aluno-grupo; aluno-aluno.

No processo ensino aprendizagem o professor é o representante das

aspirações sociais necessárias para a transformação da sociedade, através da

formação do aluno.

Componentes do processo de ensino aprendizagem

Pessoais

Professor- aluno

Aluno-aluno

Grupo-professor

Professor- professor

Não pessoais

Objetivos

Conteúdos

Metodologia

Recursos

Avaliação

92

• Componentes não pessoais.

a) Objetivo – são aspirações ou propósitos que se deseja alcançar através

do processo ensino-aprendizagem de matemática. Para os alunos do 1º

ao 5º ano do ensino fundamental, são os seguintes:

� Construir o significado do número natural a partir de seus diferentes usos no contexto social, explorando situações-problema que envolva contagens, medidas e códigos numéricos. � Resolver situações-problema e construir, a partir delas, os significados das operações fundamentais, buscando reconhecer que uma mesma operação está relacionada a problemas diferentes podem ser resolvidos pelo uso de diferentes operações. � Desenvolver procedimentos de cálculo — mental, escrito, exato, aproximado — pela observação de regularidades e de propriedades das operações e pela antecipação e verificação de resultados.

� Estabelecer pontos de referência para situar-se, posicionar-se e deslocar-se no espaço, bem como para identificar relações de posição entre objetos no espaço; interpretar e fornecer instruções, usando terminologia adequada. � Perceber semelhanças e diferenças entre objetos no espaço, identificando formas tridimensionais ou bidimensionais, em situações que envolvam descrições orais, construções e representações. � Reconhecer grandezas mensuráveis, como comprimento, massa,capacidade e elaborar estratégias pessoais de medida. � Utilizar informações sobre tempo e temperatura. � Utilizar instrumentos de medida, usuais ou não, estimar resultados e expressá-los por meio de representações não necessariamente convencionais. � Identificar o uso de tabelas e gráficos para facilitar a leitura e interpretação de informações e construir formas pessoais de registro para comunicar informações coletadas. � Ampliar o significado do número natural pelo seu uso em situações problema e pelo reconhecimento de relações e regularidades. � Construir o significado do número racional e de suas representações (fracionária e decimal), a partir de seus diferentes usos no contexto social.

93

� Resolver problemas, consolidando alguns significados das operações fundamentais e construindo novos, em situações que envolvam números naturais e, em alguns casos, racionais. � Ampliar os procedimentos de cálculo — mental, escrito, exato, aproximado — pelo conhecimento de regularidades dos fatos fundamentais, de propriedades das operações e pela antecipação e verificação de resultados. � Identificar características das figuras geométricas, percebendo semelhanças e diferenças entre elas, por meio de composição e decomposição, simetrias, ampliações e reduções. � Recolher dados e informações, elaborar formas para organizá-los e expressá-los, interpretar dados apresentados sob forma de tabelas e gráficos e valorizar essa linguagem como forma de comunicação. � Utilizar diferentes registros gráficos — desenhos, esquemas, escritas numéricas — como recurso para expressar idéias, ajudar a descobrir formas de resolução e comunicar estratégias e resultados. � Identificar características de acontecimentos previsíveis ou aleatórios a partir de situações-problema, utilizando recursos estatísticos e probabilísticos. � Construir o significado das medidas, a partir de situações-problema que expressem seu uso no contexto social e em outras áreas do conhecimento possibilite a comparação de grandezas de mesma natureza. � Utilizar procedimentos e instrumentos de medida usuais ou não, selecionando o mais adequado em função da situação-problema e do grau de precisão do resultado. � Representar resultados de medições, utilizando a terminologia convencional para as unidades mais usuais dos sistemas de medida, comparar com estimativas prévias e estabelecer relações entre diferentes unidades de medida. � Demonstrar interesse para investigar, explorar e interpretar, em diferentes contextos do cotidiano e de outras áreas do conhecimento, os conceitos e procedimentos matemáticos abordados neste ciclo. � Vivenciar processos de resolução de problemas, percebendo que para resolvê-los é preciso compreender, propor e executar um plano de solução, verificar e comunicar a resposta. (BRASIL. 1997, p.47 e 67)

b) Conteúdo – é a parte da cultura e experiência social que deve ser

adquirida ou construída pelo aluno.

Do primeiro ao terceiro ano, a característica principal do processo ensino

aprendizagem de matemática é aproximar o aluno das operações, dos

números, das medidas, das formas e espaço. Nessa dinâmica, o aluno deve

94

adquirir confiança em sua própria capacidade para aprender resolver

problemas matemáticos que lhe permitam avançar no processo de formação de

conceitos, desempenho nos procedimentos e formação de atitudes.

Os conteúdos de matemática no ensino fundamental são organizados de

forma a contemplar o estudo dos números e das operações (no campo da

Aritmética e da Álgebra), o estudo do espaço e das formas (no campo da

Geometria) e o estudo das grandezas e das medidas (que permite interligações

entre os campos da Aritmética, da Álgebra e da Geometria).

Outra forma de organização dos conteúdos a serem trabalhados do 1º

ao 5º ano obedece à lógica interna de construção do saber matemático

expressa através de conceitos, procedimentos e atitudes.

Esses indicadores fizeram com que os PCN de matemática para séries iniciais

do ensino fundamental apresentasse sugestões de conteúdos como exemplo

citado abaixo.

CONTEÚDOS CONCEITUAIS E PROCEDIMENTAIS Números Naturais e Sistema de Numeração Decimal • Reconhecimento de números no contexto diário. • Utilização de diferentes estratégias para quantificar elementos de uma coleção: contagem, pareamento, estimativa e correspondência de agrupamentos. • Utilização de diferentes estratégias para identificar números em situações que envolvem contagens e medidas. • Comparação e ordenação de coleções pela quantidade de elementos e ordenação de grandezas pelo aspecto da medida. • Formulação de hipóteses sobre a grandeza numérica, pela identificação da quantidade de algarismos e da posição ocupada por eles na escrita numérica. (...) CONTEÚDOS ATITUDINAIS • Desenvolvimento de atitudes favoráveis para a aprendizagem de Matemática. • Confiança na própria capacidade para elaborar estratégias pessoais diante de situações-problema. • Valorização da troca de experiências com seus pares como forma de aprendizagem. • Curiosidade por questionar, explorar e interpretar os diferentes usos dos números, reconhecendo sua utilidade na vida cotidiana. • Interesse e curiosidade por conhecer diferentes estratégias de cálculo. (...) (BRASIL, 1999, p. 50 a 53)

95

Os conteúdos são selecionados visando o alcance dos objetivos que

necessitam de uma metodologia apropriada para o ensino e conseqüentemente

a aprendizagem.

c) Metodologia – é o caminho ou via que devem percorrer o professor e o

aluno para alcançar o objetivo, de modo mais eficiente, com o emprego do

mínimo de recursos humanos e materiais.

O alcance dos objetivos exige a utilização de elementos facilitadores

denominados de meios ou atividades que deverão ser compatíveis com os

fundamentos da tendência pedagógica seguida.

No caso específico deste trabalho a tendência a ser seguida é a

Etnomatemática e Educação Matemática Crítica, que requer uma prática

pedagógica de sala de aula baseada em um cenário para investigação,

através de atividades que direcione os alunos para formular questões e

procurar explicações. Dessa forma, os alunos se envolvem no processo de

exploração expresso através de desafios que buscam respostas.

Nesta linha de pensamento, o professor(a) necessariamente deve abolir

o método tradicional e partir para aulas onde alunos, individualmente ou grupo,

procuram discutir, explicar e investigar questões permeadas pelo saber

matemático.

Nesta linha de ação metodológica os recursos didáticos como livros,

vídeos, televisão, rádio, calculadoras, computadores, jogos e outros materiais

têm um papel importante no processo de ensino e aprendizagem. Contudo,

eles precisam estar integrados a situações que levem ao exercício da análise e

da reflexão.

Com uma metodologia bem definida desenvolve-se um processo de

ensino e aprendizagem que faz sentir a necessidade de determinar o alcance

dos objetivos. O componente que caracteriza esta situação e a avaliação.

d) Avaliação – a avaliação é o componente que, após ser processada oferece

informações sobre o alcance dos objetivos, expressos através da eficiência dos

demais componentes.

96

Estas informações devem ser trabalhadas através da interação contínua dos

componentes pessoais, de forma que atenda as orientações, necessidades ajustes ou

modificações no processo, se constituindo em elemento de ajuda no desempenho dos

alunos.

Neste sentido a avaliação apresenta um caráter integrador, através da sua

relação com os demais componentes. Estas relações se constituem nas condições

imprescindíveis para o plano avaliativo. No próximo item será tratada com

especificidade a avaliação em matemática

• Avaliação em matemática

Diante dos estudos e discussões realizadas recentemente sobre

orientações metodológicas, observamos questionamentos e novos desafios

relativos ao processo ensino-aprendizagem da matemática. Um destes que

mais gerou preocupação foi a avaliação, tendo em vista que sua orientação

perpassa níveis diferenciados de aprendizagem e habilidades de interpretar,

aplicar, refletir e tomar decisões.

Os requisitos acima estão associados a uma avaliação caracterizada

como um componente dinâmico do processo ensino-aprendizagem, realizado

através da interação contínua entre professor e aluno. Seus fins se concretizam

através da coleta de dados sobre o desenvolvimento do aluno e ação do

professor, para identificar as áreas de progresso e dificuldades. Seus

resultados são destinados a subsidiar as tomadas de decisões, bem como

fornecer informações para avaliação de disciplinas, currículo e instituição.

Para compreender melhor o conceito de avaliação, faz-se necessário

explicitar, em linhas gerais, o conceito de educação e as exigências do

processo avaliativo para torná-la dinâmica.

Educação é um processo que conduz a humanidade para

aprender a viver unida, conhecendo melhor o próximo

através de sua história, suas tradições e espiritualidade,

bem como criando um espírito novo que impulsione a

97

realização de projetos comuns ou a soluções inteligentes e

pacíficas dos inevitáveis conflitos, fortificando assim as

relações de interdependência, no sentido de garantir um

mundo mais humano e melhor. ( Pires, 2000, p. 55)

Para uma educação com estas exigências, a avaliação tem

necessariamente, que ser trabalhada à luz do caráter formativo que requer

atitudes dinâmicas, concretizadas através da interação contínua entre

examinador e examinado, onde o primeiro, o professor, presta ajuda com base

no nível de desempenho do aluno, em determinadas tarefas.

O caráter formativo da avaliação é um procedimento que direciona o

processo avaliativo para formação da personalidade dos sujeitos avaliadores e

avaliados. Este requer um grau de consciência dos professores, alunos e

outros envolvidos, no sentido de adquirir uma visão ampla do papel da

avaliação no processo ensino-aprendizagem, que vai além da simples

atribuição de notas para efeito de promoção ou reprovação dos educandos.

Para estabelecer conexão entre a avaliação formativa e o processo de

ensino-aprendizagem específico da matemática, necessitamos caracterizar

pontos significativos de apropriação do saber desta área de conhecimento bem

como suas peculiaridades em termos de competências, habilidades, conteúdos

e metodologia.

Assim, o processo avaliativo em matemática tem necessariamente que

atentar para suas peculiaridades a fim de que se possa perceber o grau de

apropriação dos alunos relativos à abstração, precisão, rigor, lógica e aplicação

no cotidiano, levando em consideração os procedimentos utilizados de acordo

com o nível e idade dos alunos. Deve-se ainda atentar para as habilidades que

desejamos avaliar tais como: formação de conceitos, percepção do concreto,

estabelecimento de relações, passagem do concreto para o abstrato,

compreensão lógica das situações que expressam as relações do

conhecimento matemático com o cotidiano.

98

Na prática, o Professor de matemática necessita dos conhecimentos

expressos neste texto, no momento de elaboração do instrumento de

avaliação, aplicação e tomada de decisão.

A elaboração dos instrumentos de avaliação deve levar em

considerações as características do conhecimento matemática, as

competências e habilidades necessárias para sua aprendizagem. Os itens

poderão ser objetivo ou subjetivo abrangendo os conteúdos conceituais,

procedimentais e atitudinais em forma de problemas.

Exemplos:

01 - (OBM-2000) Uma caixa contém 900 cartões, numerados de 100 a 999.

Retiram-se ao acaso (sem reposição) cartões da caixa e anotamos a soma dos

seus algarismos. Qual é a menor quantidade de cartões que devem ser

retirados da caixa, para garantirmos que pelo menos três destas somas sejam

iguais?

(A) 51;

(B) 52;

(C) 53;

(D) 54

(E) 55.

99

02 - (OBM-1997) No edificio mais alto de Terra Brasilis moram Eduardo e

Augusto. O número do andar do apartamento de Eduardo coincide com o

número do apartamento de Augusto. A soma dos números dos apartamentos

dos dois é 2164. Calcule o número do apartamento de Eduardo sabendo que

há 12 apartamentos por andar. (Por exemplo, no primeiro andar estão os

apartamentos de 1 a 12, no segundo, de 13 a 24, e assim por diante).

Na aplicação dos instrumentos de avaliação o Professor de Matemática

deve sempre expressar companheirismo e confiança na capacidade dos

alunos, criando um clima propício para produção do saber dentro da linha de

raciocínio lógico matemática, ético e social.

A tomada de decisão é o ponto de culminância do processo avaliativo que

pressupõe a interação professor e aluno em caráter pessoal e coletivo através

do conselho de classe, reuniões de pais e mestres e outros. Esta etapa exige a

participação efetiva de todos que participam do processo ensino-aprendizagem

em matemática, de maneira que se promova uma ação conjunta capaz de

direcionar os resultados para formação da personalidade dos participantes.

Neste momento também o Professor decide os novos rumos de sua ação

pedagógica no ensinar e aprender.

A tomada de decisão deve ser dirigida para garantir a continuidade

dos resultados positivos bem como determinar procedimentos de correção

destinados a contribuir positivamente para solução das dificuldades. Embora

tenha colocado a tomada de decisão no último item, não significa que a mesma

tenha um caráter finalista, ao contrário deste pensamento, ela é o ponto de

partida e chagada do processo ensino-aprendizagem.

100

Disciplina: Conteúdo e metodologia da

matemática

Atividade 1 – obrigatória – fórum de participação

Unidade: II

Qual a relação da matemática na

educação infantil e anos iniciais do ensino

fundamental com as relações lógicas envolvendo

o concreto e o abstrato, associação e relações, classificação e seriação?

Responda produzindo um pequeno para postar no fórum de participação.

Veja a posição dos colegas e faça seus comentários.

Disciplina: Conteúdo e metodologia da

matemática

Atividade 2 – obrigatória – fórum de discussão.

Unidade: II

Sabe que existe muito preconceito com

relação aos jogos, principalmente quando os

mesmo são transformados em vícios. Diante

dessa situação, qual sua opinião a respeito dos jogos no aprendizado da

matemática.

Faça a leitura dos textos, pesquise em outros locais, forme sua opinião

e deposite no fórum de discussão. Leia a opinião de seus colegas e faça

seus comentários.

101

Disciplina: Conteúdo e metodologia da

matemática

Atividade 3 – obrigatória – correio eletrônico.

Unidade: II

A resolução de problemas é uma

atividade indispensável para formação da

consciência crítica dos alunos. Trata-se de uma

atividade que inicia na educação infantil e percorre toda formação

matemática da pessoa. Leia o texto sobre o assunto, veja as orientações e

elabore três problemas para o ensino infantil e cinco para o fundamental.

Envie pelo correio eletrônico ou entregue para o monitor presencial

Disciplina: Conteúdo e metodologia da

matemática

Atividade 4 – obrigatória – correio eletrônico.

Unidade: II

Na apostila são apresentados os

componentes do processo ensino aprendizagem.

Com na leitura do texto, elabora um plano de aula

para o educação infantil e outro para os anos iniciais.

Envie pelo correio eletrônico ou entregue para o monitor presencial

Disciplina: Conteúdo e metodologia da matemática

102

Disciplina: Conteúdo e metodologia da

matemática

Atividade 5 – obrigatória – fórum de participação.

Unidade: II

Com base no texto abaixo, procure fazer

uma reflexão sobre sua prática pedagógica ou de

um professor(a) que você possa observar e

elabore um pequeno texto sobre seu cotidiano ou o cotidiano do professor(a)

observado na sala de aula.

“Deposite o texto no fórum de participação. Leia o trabalho dos colegas

e participe dando sua opinião.

Na aplicação dos instrumentos de avaliação o Professor de Matemática

deve sempre expressar companheirismo e confiança na capacidade dos

alunos, criando um clima propício para produção do saber dentro da linha de

raciocínio lógico matemática, ético e social.

A tomada de decisão é o ponto de culminância do processo avaliativo

que pressupõe a interação professor e aluno em caráter pessoal e coletivo

através do conselho de classe, reuniões de pais e mestres e outros. Esta

etapa exige a participação efetiva de todos que participam do processo

ensino-aprendizagem em matemática, de maneira que se promova uma ação

conjunta capaz de direcionar os resultados para formação da personalidade

dos participantes. Neste momento também o Professor decide os novos

rumos de sua ação pedagógica no ensinar e aprender.

A tomada de decisão deve ser dirigida para garantir a continuidade dos

resultados positivos bem como determinar procedimentos de correção

destinados a contribuir positivamente para solução das dificuldades. Embora

tenha colocado a tomada de decisão no último item, não significa que a

mesma tenha um caráter finalista, ao contrário deste pensamento, ela é o

ponto de partida e chagada do processo ensino-aprendizagem.”

103

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRASIL, Ministério de Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental, Parâmetros Curriculares Nacionais; MATEMÁTICA.Brasilia: MEC, 1997.

BRASIL, Ministério de Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil.Brasilia: MEC,1998.

D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas: Papirus, 2007.

KAMII, Constance. A criança e o número.Campinas: Papirus, 2004

KAMII, Constance. A Criança e o Número: implicações educacionais da teoria

de Piaget para a atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. 23ªed. Campinas:

Papirus,1997

KOCH, Maria Celeste Machado. Descoberta do Número: conquista da criança.

O papel da pré-escola neste processo. Revista do Professor. Porto Alegre, 24-

30; out/dez, 1988

SARA, Pain. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4ª ed.

Porto Alegre: Artes Médicas, 1992

SEBER, Maria da Glória. Construção da Inteligência pela Criança: atividades

do período pré-operatório. 4ª ed. São Paulo: Scipione, 1995

SMOLE, Kátia Cristina Stocco. A Matemática na Educação Infantil: a teoria das

inteligências múltiplas na prática escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996

104

ANEXOS

TEXTO COMPEMENTAR ‘1’

A Construção do Número na Educação Infantil

Luciane Knuppe

www.ufrgs.br/faced

O ser humano desde que nasce está em contato com o número, a

começar pela própria idade, onde uma criança pequena sem saber quanto é,

mostra com os dedos os anos que tem. Nesta situação, ela não está fazendo a

conservação do número, pois ainda não associa número a quantidade, este

processo , segundo Kamii (1997, p.26) não ocorre antes dos cinco anos.

O trabalho com o número na maioria das escolas infantis baseiam-se

basicamente no reconhecimento dos algarismos e escritas do mesmo; muitos

educadores esquecem da importância da exploração da variedade de idéias

matemáticas existentes, referentes a classificação e seriação.

Toda criança passa por descobertas, ela precisa mexer, experimentar,

tocar para poder assim conhecer o novo. Necessita do concreto para poder

organizar seus conhecimentos, o qual é adquirido naturalmente através do

contato com outras pessoas, das interações com o grupo de amigos. Ou seja é

uma construção resultante das ações da criança com o mundo.

A criança da faixa etária entre 2 e 7 anos está construindo a

conservação do número, e para isto necessita do contato com materiais

concretos, precisa tocar, manipular e experimentar. Se dermos a uma criança

pequena vários cubinhos de madeira, a primeira reação será pegar, virar de um

lado para outro, bater um com o outro, e por fim atira-lo longe.

Nesta situação, ela pode reconhecer o objeto, construiu um novo

conhecimento, necessitou perceber a singularidade do objeto para agir sobre

105

ele, organizando suas percepções e relações entre formas, peso, tamanho,

espessuras.

Uma criança um pouco maior, a qual já fez este tipo de relação parte

para um novo conhecimento, o da classificação, a qual já é capaz de perceber

semelhanças e diferenças. Um exemplo é o trabalho com os blocos lógicos, o

importante é deixa-lo ao alcance da criança para que explore o material. Assim

que manteve um bom contato, podemos lançar desafios para que formule

hipóteses:

- Dê uma peça como esta.

- Dê mais uma como esta.

- Agora separe os parecidos.

- Existe outra maneira de separar os parecidos?

- Podemos separar os parecidos de outra forma ainda?

O importante é que a criança crie estratégias, ela deverá perceber que

existem os grupos das cores, do tamanho, das formas, das espessuras.

A próxima etapa é a da seriação, a qual é explorado a construção de

série. Exemplo de atividades:

- formar fila por tamanho dos alunos (do maior ao menor);

- propor atividades com diversos tamanhos de cabo de vassoura para ordená-

lo;

- ordenar brinquedos da sala de aula.

Além do material diversificado, o professor poderá explorar o jogo-

matemático da "Centopéia". O jogo consiste em um saquinho com vários de

círculos de cartolina nas cores azuis, amarelas e vermelhas, e de um tabuleiro

com o desenho da centopéia.

No tabuleiro está o desenho da centopéia com alguns círculos do corpo

colorido, a criança retira do saco um círculo (é importante que não veja qual a

cor escolhida), se fizer parte da seqüência ela completa o corpo, se for uma

106

outra cor que não a da ordem dada, coloca o círculo de volta e espera a sua

próxima jogada. Neste jogo a criança estabeleceu uma seqüência de cores que

deve ser seguida.

O trabalho com a classificação, seriação e quantificação são decorrentes

das relações que a criança faz entre os objetos.

Estas atividades iniciais auxiliam a criança a construção do número, a

relacionar o numeral à quantidade.

Através da atividade lúdica a criança constrói símbolos. Elas devem ter a

oportunidade de inventar (construir) as relações matemáticas em vez de

simplesmente entrar em contato com o pensamento pronto, formular suas

hipóteses a partir de ensaio e erro, para confirmá-las ou refutá-las.

Segundo Kamii “... embora a estrutura mental de número esteja bem

formada em torno dos cinco para os seis anos, possibilitando à maioria das

crianças a conservação do número elementar, ela não está suficientemente

estruturada antes dos sete anos e meio de idade para permitir que a criança

entenda que todos os números consecutivos estão conectados pela operação

de “+ 1”. ( 1997, pág.28).

A criança está se preparando para formar esta estrutura (relacionar

quantidade a escrita do número) nos jogos e brincadeiras. Por isso a atividade

lúdica, o contato com diferentes materiais é tão importante na Educação

Infantil.

As brincadeiras, construções e jogos que fazem espontaneamente com

eles, levam as trocas, comparações, descobertas estratégicas. Através dos

jogos construirão um pensamento produtivo e raciocínio lógico, bem como

terão melhores condições para enfrentarem situações novas e envolver-se com

aplicações matemáticas.

Com a criança pequena, devemos começar trabalhando com a

quantidade, atividades que envolvam a noção do + 1. Só através do concreto

ela poderá perceber que dentro do 3 tem o 2, que dentro do 2 tem o 1.

107

Um exemplo para esta assimilação são os jogos de compra. Propomos

ao grupo que façam uma rodinha, no centro colocamos vários pauzinhos de

picolé e um dado com a quantidade 1, sugerimos a criança, cada uma

respeitando a sua vez, que jogue o dado e compre a mesmo tanto de pauzinho

que o dado indicou. Após a compra o professor explora com o grupo:

- Quantos pauzinhos de picolé o João comprou?

- E a Ana, quantos comprou?

Bem explorada esta rodada, passa-se para próxima, onde irão jogar o

dado e comprar mais um pauzinho de picolé. O professor lança novos

questionamentos:

- João comprou 1 pauzinho de picolé na outra rodada, agora ela comprou + 1,

quantos pauzinhos ficou o João?

- E a Ana, ela tinha 1 pauzinho, comprou + 1, quantos ela tem agora?

Este tipo de exploração proporciona a criança perceber a existência do

mais 1, que a quantidade 3 não é um único objeto, e sim 1 + 1 + 1.

É uma tarefa difícil, mas se bem explorada a criança poderá construir a

conservação de número de uma forma simples e prazerosa.

Outro exemplo de jogo é o jogo do tapa certo, onde as crianças

confeccionam uma mãozinha de cartolina com um pauzinho de churrasquinho,

a mesma proposta, que façam uma rodinha, no centro várias frutas

desenhadas. O professor após explorar bem as gravuras, cita uma fruta e a

criança com a mãozinha bate sobre ela, aquela fruta fica reservada com ela e

passa-se para uma próxima citação. Terminado o jogo, o professor irá lançar

alguns questionamentos:

- Quantas maçãs eu comprei?

- Quantas laranjas?

- Quantos limões eu comprei?

- O que eu comprei mais maçãs ou laranjas?

108

- O que eu comprei mais maçãs ou frutas?

Questionamentos sobre a inclusão também auxiliam no processo da

construção do número. Assim que a quantidade estiver bem assimilada pela

criança o professor poderá propor jogos intermediários, ou seja que trabalhem

o número e a quantidade.

Atividades Sugeridas:

Jogo do Bingo

Cada criança recebe uma cartela, onde o professor canta o número e

com uma tampinha de garrafa o aluno marca o número ou a quantidade. O

interessante que na cartela tenha a escrita de alguns números e a quantidade

de outros. Aquele que acabar grita BINGO !

Jogo do Troca

Um outro jogo que desperta muito o interesse das crianças é o “Jogo do

Troca”, onde ela irá relacionar a topologia do número com a sua quantidade.

Os procedimentos do jogo consiste no seguinte, o grupo estará em rodinha e

dividido por equipes, as quais receberão um tabuleiro; no centro estarão as

fichas contento a escrita dos numerais de 1 a 6.

Cada equipe, respeitando a sua vez de jogar, irá virar a ficha do centro,

se esta for correspondente a cor do seu tabuleiro, deverá comprá-la e

preencher o tabuleiro (caso não haja correspondência de cor o representante

da equipe deverá desvirar a ficha e passar a vez para a próxima equipe);

Se alguma equipe virar a ficha com a palavra TROCA TROCA, deverá

trocar todo o seu tabuleiro com a equipe correspondente a cor mostrada na

fichinha; Termina o jogo assim que completarem seus tabuleiros;O interessante

deste jogo, é que quem estiver na frente não será necessariamente, o

vencedor.Este tipo de atividade, entre outras, auxiliará a criança no processo

de construção do número.

109

Bibliografia

KAMII, Constance. A Criança e o Número: implicações educacionais da teoria

de Piaget para a atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. 23ªed. Campinas:

Papirus,1997

KOCH, Maria Celeste Machado. Descoberta do Número: conquista da criança.

O papel da pré-escola neste processo. Revista do Professor. Porto Alegre, 24-

30; out/dez, 1988

SARA, Pain. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4ª ed.

Porto Alegre: Artes Médicas, 1992

SEBER, Maria da Glória. Construção da Inteligência pela Criança: atividades

do período pré-operatório. 4ª ed. São Paulo: Scipione, 1995

SMOLE, Kátia Cristina Stocco. A Matemática na Educação Infantil: a teoria das

inteligências múltiplas na prática escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996

KAMII, Constance. A Criança e o Número: implicações educacionais da teoria

de Piaget para a atuação junto a escolares de 4 a 6 anos. 23ªed. Campinas:

Papirus,1997

KOCH, Maria Celeste Machado. Descoberta do Número: conquista da criança.

O papel da pré-escola neste processo. Revista do Professor. Porto Alegre, 24-

30; out/dez, 1988

110

TEXTO 2

Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia - PPGECT I Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia – 2009 ISBN: 978-85-7014-048-7801

Piaget e a Matemática Roseli Scuinsani da Rosa Resumo

Este artigo mostra como Jean Piaget chegou a conclusão sobre os estágios do desenvolvimento, desde o nascimento até por volta dos 15/16 anos de idade, relatando os mecanismos de assimilação e acomodação, que levam a um estado de equilibração, a importância dos mesmos no desenvolvimento de cada ser em relação a matemática, o papel das operações lógico-matemáticos segundo cada estágio, as dificuldades de grande parte dos alunos em aprender essa disciplina tão temida, e também tem como principal preocupação a reflexão sobre importância da matemática ensinada nas escolas nos dias atuais, em que hoje se tornou responsável por um grande índice de evasão no sistema escolar.

Palavras-chave: estágios desenvolvimento, matemática e exclusão escolar. Abstract

Piaget and the Mathematics This article shows as Jean Piaget arrived the conclusion on the periods of training of the development, since the birth even for return of the 15/16 years of age, telling the mechanisms of assimilation and room, that lead to a equilibração state, the importance of same in the development of each being in relation mathematics, the paper of the operations logical-mathematicians according to each period of training, the difficulties of great part of the pupils in learning this Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR discipline so feared, and also it has as main concern the reflection on importance of mathematics taught in the schools in the current days, where today one became responsible for a great index of evasion in the pertaining to school system. Keywords: periods of training development, mathematics and pertaining to school exclusion.

Piaget procurou saber como se passa de um conhecimento mais simples

para um conhecimento mais complexo. Isso o levou a encontrar estruturas

novas chamadas de estágios, que pressupões estruturas anteriores, no

decorrer do tempo que vai desde o nascimento até os 15/16 anos, quando a

111

capacidade plena do raciocínio é atingida, e sua grande contribuição foi ter

estudado o raciocínio lógico-matemático.

Piaget criou um campo de investigação que denominou de epistemologia

genética, isto é, uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento

natural da criança, onde nos diz que o sujeito é conhecedor de seus poderes,

em todos os níveis. Existe um instrumento de troca, onde a zona de contato

entre o próprio corpo e as coisas progredirão do exterior ao interior, sendo a

ação o instrumento inicial de troca e não a percepção.

A aprendizagem para Piaget remete ao processo de ajustamento ao

meio, composto por dois mecanismos: a assimilação e a acomodação,

regulados pelo processo de equilibração. Piaget refere que “(...) pode dizer-se

que toda necessidade tende, primeiro a incorporar as pessoas e as coisas na

atividade própria do sujeito, portanto a ‘assimilar’ o mundo exterior às

estruturas já construídas, e, segundo, a reajustar estas em função das

transformações sofridas, portanto em ’acomodá-las’ aos objetos externos.”

(Piaget, 1990, p.17)

O desenvolvimento é para Piaget, questão de equilibração, um equilíbrio

pode se regular mais ou menos rapidamente, segundo a atividade do sujeito,

dependendo assim da ação do sujeito sobre seu meio.

Uma das características dos estágios do desenvolvimento é a ordem de

sucessão e não a cronologia, segundo Piaget.

Segundo La Taille (2003), Piaget usa a expressão “a passagem do caos

ao cosmo” para traduzir o estudo sobre a construção do real no período

sensório-motor (0/2 anos)

. Para melhor entender o processo evolutivo das estruturas cognitivas de

Jean Piaget (1973), é destacado três estágios básicos. Na construção dos

primeiros esquemas de natureza lógico matemática as crianças se apóiam em

ações sensório-motoras sobre objetos materiais, e através do exercício de

repetição espontânea chegam ao domínio da ação do estagio pré-operatório

(2/7 anos). O segundo estágio caracteriza-se pelo aparecimento das

112

operações, as ações em pensamento, nessa fase as crianças ainda dependem

dos objetos concretos para que as ações se constituam em conceitos,

chamado de estágio operatório concreto (7/12 anos). E finalmente atingem o

estágio das operações sobre objetos abstratos, já não dependendo mais de

ações concretas ou de objetos concretos, é a constituição do pensamento

puramente abstrato ou formal, onde aparecem as características que marcarão

a vida adulta (12/15 anos).

Segundo Piaget (1973): O papel inicial das ações e das experiências lógico matemáticas concretas é precisamente de preparação necessária para chegar-se ao desenvolvimento do espírito dedutivo, e isto por duas razões. A primeira é que as operações mentais ou intelectuais que intervém nestas deduções posteriores derivam justamente das ações: ações interiorizadas, e quando esta interiorização, junto com as coordenações que supõem, sãos suficientes, as experiências lógico matemáticas enquanto ações materiais resultam já inúteis e a dedução interior se bastará a si mesmo. A segunda razão é que a coordenação de ações e as experiências lógico-matemáticas dão lugar, ao interiorizar-se, a um tipo particular de abstração que corresponde precisamente a abstração lógica e matemática.

Os indivíduos desenvolvem certa aversão a matemática. Abreu (1998)

chama atenção para a necessidade de mudanças perante as taxas de

insucesso escolar, a célebre caducidade das aprendizagens e os fracos

resultados em exames nacionais e internacionais. “Com efeito, não só as

porcentagens de insucesso escolar elevada nos diversos níveis do sistema,

como também se mantiveram altas as taxas de desistência e de abandono

escolares. Além disso, aparecem novos indicadores de disfuncionamentos

graves, reveladores da ineficácia estrutural do sistema e respeitantes à curta

durabilidade dos conhecimentos adquiridos na escola” (Abreu, 1998, p.135).

Alguns estudiosos comprovam em pesquisas o porque muitas crianças

fracassam em matemática . Segundo Freitag (1984), a maioria das crianças de

seis a nove anos ainda não possui o pensamento operatório–concreto

estabilizado. Somente 11,2% das crianças estudadas demonstraram ter

construído as operações lógicas características desse nível, enquanto que as

restantes ou apresentam características do pensamento pré-operatório (8%) ou

estão no período de construção dessas estruturas (78,8%).

113

Observa-se que neste processo de construção das estruturas

operatórias existem diferenciações. Algumas crianças avançam mais e outras

menos, isso segundo a teoria psicogenética de Piaget, que se deve ao fato de

estarem mais ou menos expostas a uma ação reflexiva sobre o meio em que

interagem, garantindo o processo de equilibração para o desenvolvimento se

assegurar.

A relação com adultos nos primeiros anos de vida das crianças é de

fundamental importância, para que a ação infantil desenvolva através do

provocar, do desafiar, do solicitar a criança uma atividade, encorajando-a a

fazê-la, permitindo que ela manipule os objetos e sustente sua reflexão. Os

adultos precisam intervir na atividade da criança, respondendo as suas

curiosidades, questionando-as e problematizando-as no sentido de provocar a

necessidade de criação de novos relacionamentos, precisa ao mesmo tempo

demonstrar confiança e afeto em sua capacidade de aprender.

Ainda segundo Freitag (1984), afirma não haver relação entre o nível do

desenvolvimento cognitivo e o rendimento escolar das crianças em idade

escolar em matemática:

Mesmo alunos que se encontram em estagio “certo” segundo a expectativa teórica de Piaget, ou seja, na entrada do estagio formal (ou nele em estabilização ou estabilizado) apresentam um índice muito elevado de notas baixas e mesmo reprovações (...) (Freitag, 1984, p.199).

O conhecimento lógico matemático segundo Piaget (1978), é uma

construção que resulta da ação mental da criança obre o mundo, construído a

partir de relações que a criança elabora na sua atividade de pensar o mundo, e

também das ações sobre os objetos. Portanto não pode ser ensinada por

repetição ou verbalização, a mente não é uma tábula rasa. Segundo Morgado

(1986), a escola tradicional, baseada na transmissão oral dos conhecimentos,

foi criticada por Piaget por considerar a criança como um ser passivo e vazio

onde se poderiam imprimir os conhecimentos que o docente quisesse.

Piaget ainda afirma que o ensino deveria formar o raciocínio, conduzindo

à compreensão e não è memorização, desenvolvendo um espírito criativo e

não repetitivo. O professor deveria criar situações que levem o discente a

encontrar a solução correta, de acordo com seu nível de desenvolvimento

114

psicogenético, através de trabalhos práticos individuais ou em grupo, de

dialogo entre colegas ou com o professor. “(...) lê tache de l’éducation c’est

former lê ratiocine (...) (1972, p.50)

A matemática é geralmente tratada como uma disciplina que apenas

“transmite” uma serie de regras arbitrárias e ensina uma linguagem de signos,

sem garantir, o desenvolvimento das estruturas cognitivas que sustentem a

possibilidade do real entendimento do que se pretende ensinar. Esta disciplina

não se relaciona com a capacidade do sujeito agir, criando relações para

solucionar os problemas da vida (Carraher, 1982), o ensino é quase que todo

centrado em memorização de regras e na aprendizagem de “truques” através

dos quais não se obtém a compreensão dos porquês, mas se tem de utilizá-los

porque “funcionam”, e a avaliação escolar é superficial e mecânica.

O ensino da matemática ocupa um espaço na formação escolar. Cerca

de 20% do tempo de permanência do aluno na escola é exclusivamente

dedicado à aprendizagem da matemática, e seu desempenho tem importância

fundamental na definição do seu sucesso ou insucesso escolar, significando

para grande maioria, reprovação e até abandono escolar. Infelizmente vivemos

numa sociedade desigual, a ciência está muito tempo a nossa frente, houve um

salto tecnológico absurdo, aumentando assim a produtividade, mas não

acarretou melhoria nas condições de vida da população, pelo contrario, só fez

com que os alunos tivessem que desistir dos bancos escolares e ir a busca de

trabalho para ajuda e sustento de seus familiares, deixando de lado sua

escolarização, muitas vezes prejudicada pelo mau desempenho na disciplina

de matemática.

A matemática ensinada nas escolas se tornou mecânica e repetitiva,

gerando assim uma aversão à mesma. Continuamos ensinando conteúdos que

jamais serão utilizados, a não ser em sala de aula mesmo. Porque nos

perguntamos ate hoje se deveríamos deixar o uso da calculadora em sala de

aula, enquanto a maioria das escolas brasileiras já possui computadores.

Assim estaremos traduzindo nosso ensinamento a um mero treinamento de

repetição e memorização, criando como resultados a inquietação e a rebeldia

115

frente aos cálculos matemáticos, e sua conseqüência pode ser o fracasso

escolar, seguido da reprovação e até esmo do abandono dos alunos da escola.

Paulo Freire (1998), fala da importância em saber ensinar:

Não temo dizer que inexiste validade no ensino em que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado. (...) nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado (...) Percebe-se, assim, que faz parte da tarefa do docente não apenas ensinar conteúdos mas também ensinar a pensar certo. (Freire, 1998, 26-29)

Além de não contribuir para o aprendizado das crianças, a matemática tem

colaborado para o insucesso das mesmas na escola, consequência disso, a

escola produz o fracasso expresso na repetência e na evasão. Assim, uma das

funções que a matemática tem assumido através da escola é a de “separar” os

indivíduos, selecionando com provas e exames os mais “capazes”, cumprindo

o papel ideológico, seletista e discriminatório de marginalização de muitos que

aprendem que... “não gosto de matemática”, que...” não levo jeito pra

matemática”, assumindo que são “meio burros”.

A matemática tem urgência em ser ensinada como instrumento para

interpretação das coisas que rodeiam nossas vidas e o mundo, formando assim

pessoas conscientes para a cidadania e a criatividade e não somente como

memorização, alienação e exclusão.

É necessário e possível modificar esse enfoque atual do ensino de

matemática, garantindo um currículo que favoreça a construção do

pensamento lógico-matemático das crianças através de sua ação/reflexão,

considerando suas diferenças a partir dos estágios em que estão inseridas,

cada qual com suas particularidades, mas todas em busca de algo em comum:

aprender.

116

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABREU, M. V. Cinco ensaios sobre motivação. Coimbra: Almedina, 1998.

CARRAHER, Terezinha Nunes; CARRAHER, David William; SHLIEMANN, Ana

Lúcia Dias. Na vida dez, na escola zero: os contextos culturais da

aprendizagem matemática. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n42, p. 79-86,

ago. 1982.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática

educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1998.

FREITAG, Bárbara. Sociedade e consciência: um estudo piagetiano na favela e

na escola. São Paulo: Cortez, 1984.

LA TAILLE, Y. Prefácio. In, PIAGET, J. A construção do real na criança. 3.ed.

São Paulo: Editora Ática, 2003.

MORGADO, L.M.A. Aprendizagem operatória: a conservação das quantidades

numéricas. Dissertação de Doutoramento não publicada, apresentada à FPCE,

Universidade de Coimbra, 1986.

PIAGET, Jean. Ou va l’éducation? Paris: Denoel/Gonthier, 1972 (1ª ed. 1948)

____________. Biologia e conhecimento. Petrópolis, Vozes, 1973.

____________. Aprendizagem e conhecimento, em Piaget, P. & Gréco, P.,

Aprendizagem e Conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,1974.

____________. Epistemologia genética. São Paulo: Martins Fontes, 1990.

____________. Seis estudos de Psicologia. Lisboa: Publicações Dom Quixote.

1990.

117

RANGEL, Ana Cristina Souza. Educação matemática e a construção do

número pela criança: uma experiência em diferentes contextos sócio-

econômicos. Ana Cristina Souza Rangel.- Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

Revista Nova Escola. Grandes Pensadores. p.29.São Paulo. Edição Especial,

n.19, julho 2008.

SOUSA, Pedro Miguel Lopes de. O ensino da matemática: contributos

pedagógicos de Piaget e Vygotsky. Artigo científico. Disponível em:

http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0258.

Acesso em: 01 dez. 2008.

TERRA, Márcia Regina. O desenvolvimento humano na teoria de Piaget.

Disponível em: http://65.55.40.167/att/GetAttachment.aspx?file=fc1a9ebe-5c34-

4416-ae25-d9. Acesso em: 13 nov. 2008.

118

TEXTO COMPLEMENTAR ‘3’

BLOCOS LÓGICOS

Fonte de pesquisa: www. Revistaescola.abril.com.br/online/

Nas classes de educação infantil, essas pequenas peças geométricas, criadas na década de 50 pelo matemático húngaro Zoltan Paul Dienes, são bastante eficientes para que seus alunos exercitem a lógica e evoluam no raciocínio abstrato. Em pequenas doses, com brincadeiras e atividades

dirigidas, você pode tirar todo o proveito didático que o material oferece. Com os blocos lógicos é possível, por exemplo, ensinar operações básicas para a aprendizagem da Matemática, como a classificação e a correspondência. Essa ajuda certamente vai facilitar a vida de seus alunos nos futuros encontros com números, operações, equações e outros conceitos da disciplina.

Atividades sugeridas:

O primeiro passo é promover o reconhecimento do material. Com cartolina ou outro material semelhante, prepare pranchas com desenhos feitos nas formas dos blocos lógicos uma casinha formada de um retângulo e um triângulo, por exemplo. Em seguida, os alunos reproduzem a figura utilizando as peças. Para isso, vão observar e comparar as cores, os tamanhos e as formas que se encaixam.

O trabalho em grupo enriquece a atividade, pois as crianças certamente vão discordar entre si. O diálogo contribuirá para o conhecimento físico de cada bloco. Depois de completar alguns desenhos, os próprios alunos criam novas figuras.

A História do Pirata

Agora, conte a seguinte história: "Era uma vez um pirata que adorava tesouros. Havia no porão de seu navio um baú carregado de pedras preciosas.

119

Nesse porão, ninguém entrava. Somente o pirata tinha a chave. Mas sua felicidade durou pouco. Numa das viagens, uma tempestade virou seu barco e obrigou todos os marinheiros a se refugiarem numa ilha. Furioso, o pirata ordenou que eles voltassem a nado para resgatar o tesouro. Mas, quando retornaram, os marujos disseram que o baú havia sumido. 'Um de vocês pegou', esbravejou o pirata desconfiado." Nesse ponto, começa o jogo com as crianças.

Peça que cada uma escolha um bloco lógico. Ao observar as peças sorteadas, escolha uma delas sem comunicar às crianças qual é. Ela será a chave para descobrir o "marujo" que está com o tesouro. Apresente então um quadro com três colunas.

Supondo que a peça escolhida seja um triângulo pequeno, azul e grosso, você diz: "Quem pegou o tesouro tem a peça azul". Pedindo a ajuda das crianças, preencha os atributos no quadro. Em seguida, dê outra dica: "Quem pegou o tesouro tem a forma triangular". Siga até chegar ao marinheiro que esconde o tesouro.

A atividade estimula mais que a comparação visual. Também exercita a comparação entre o atributo, agora imaginado pela criança, e a peça que a criança tem na mão. A negação (segunda coluna do quadro) leva à classificação e ajuda a compreender, por exemplo, que um número pertence a um e não a outro conjunto numérico.

Qual é a peça?

Para descobrir, as crianças entram numa competição. Você deve dividir a turma em grupos e distribuir um conjunto de atributos para cada um contendo as características de uma peça (por exemplo: amarelo, triângulo, grande e fino). Em seguida, o grupo tem que selecionar a peça correspondente e apresentá-la às outras equipes.

A competição pode girar em torno de qual grupo encontra a peça correta em menos tempo ou de qual grupo encontra mais peças corretas. À medida que acertam, recebem uma pontuação. Outra opção é cada equipe desafiar os

120

outros grupos da classe distribuindo eles mesmos os atributos. Nesse jogo, as propriedades dos blocos são apresentadas de forma separada.

O raciocínio lógico estará voltado para a composição e a decomposição das características de cada peça. Antes de escolher a peça correta, a criança terá de imaginá-la com todas as suas características. Esse é o mesmo processo pelo qual as crianças passarão quando estiverem formando o conceito de número.

Conforme evoluírem, saberão que o número 4, por exemplo, é par, maior que 3 e menor que 5, sem precisar usar materiais concretos para isso. Nessa fase, entendem também que é importante saber os nomes corretos de cada característica. Não pode haver dúvida entre o que é amarelo e o que é vermelho, por exemplo. Mais adiante, também não poderão vacilar entre o que seja um quadrado e um pentágono, um número inteiro e um fracionário.

O jogo das diferenças

Nesta atividade, as crianças trabalham sobre um quadro contendo três peças. O desafio consiste em escolher a quarta peça observando que, entre ela e sua vizinha, deverá haver o mesmo número de diferenças existente entre as outras duas peças do quadro.

As peças devem ser colocadas pelo professor de forma que, em primeiro lugar, haja apenas uma diferença. Depois duas, três e, por fim, quatro diferenças entre as peças. A intenção é que as crianças façam comparações cada vez mais simultâneas quando estiverem pensando na peça que se encaixe em todas as condições.

Esse raciocínio lhes será útil em várias situações do cotidiano, como dirigir um carro ou operar um computador, bem como em temas futuros da Matemática. Afinal, quase sempre há mais de uma resolução para um problema ou um sistema de equações. A criança terá que ponderá-las para chegar à forma mais conveniente.

121

Siga os comandos

As crianças vão transformar uma peça em outra seguindo uma seqüência de comandos estabelecida pelo professor. Esses comandos são indicados numa linha por setas combinadas com atributos. No exemplo da foto, vemos uma seqüência iniciada com os atributos círculo, azul e grosso. As crianças então escolhem a peça correspondente.

O comando seguinte é mudar para a cor vermelha. As crianças selecionam um círculo grosso e vermelho. Em seguida, devem mudar para a espessura fina. Então, um círculo vermelho e fino é selecionado. Assim por diante, o professor pode continuar acrescentando comandos ou pode apresentar uma seqüência pronta.

Depois é feito o processo inverso. As crianças são então apresentadas a uma nova seqüência de comandos, já com a última peça. Elas deverão reverter os comandos para chegar à peça de partida. A atividade é essencial para o entendimento das operações aritméticas, principalmente a soma como inverso da subtração e a multiplicação como inverso da divisão. E também contribui, no futuro, para que as crianças resolvam problemas e entendam demonstrações, atividades que exigem uma forma de raciocínio em etapas seqüenciais.

122

TEXTO COMPLEMENTAR ‘4’

A avaliação na Educação Infantil passo a passo :

FONTE: WWW.multirio.rj.gov.br/portal/

• Observar e compreender o dinamismo presente no desenvolvimento infantil é fundamental para redimensionar o fazer pedagógico. Essa compreensão influenciará diretamente na qualidade da interação dos professores com a infância.

• O conhecimento de uma criança é construído em movimento de idas e vindas, portanto, é fundamental que os professores assumam seu

papel de mediadores na ação educativa; mediadores que realizam intervenções pedagógicas no acompanhamento da ação e do pensamento individualizado infantil.

• Ainda hoje, na prática cotidiana, é comum, não só na Educação Infantil, como nos demais níveis de ensino, os avaliados serem só os alunos. É necessário que a clássica forma de avaliar, buscando “erros” e “culpados",

seja substituída por uma dinâmica capaz de trazer elementos de crítica e transformação para o trabalho.

• Nesse processo, todos – professores/recreadores, coordenação pedagógica, direção, equipe de apoio e administrativa, crianças e responsáveis – devem, sentir-se comprometidos com o ato avaliativo.

• Para focar o olhar em como se avalia, sugere-se atenção aos pontos abaixo, nos espaços de educação infantil:

Análises e discussões periódicas sobre o trabalho pedagógico.

123

Estas ações são realizadas nos encontros periódicos. Elas fornecem elementos importantes para a elaboração e reelaboração do planejamento. Igualmente importante é dar voz à criança. Nesse sentido, a prática de avaliar coletivamente o dia-a-dia escolar, segundo o olhar infantil, traz contribuições fundamentais e surpreendentes para o adulto educador, ao mesmo tempo que sedimenta a crença na concepção de criança cidadã.

Observações e registros sistemáticos.

Os registros podem ser feitos no caderno de planejamento, onde cada professor/ recreador registra acontecimentos novos, conquistas e/ou mudanças de seu grupo e de determinadas crianças; dados e situações significativos acerca do trabalho realizado e interpretações sobre as próprias atitudes e sentimentos.

É real que, no dia-a-dia, o professor/ recreador não consiga registrar informações sobre todas as crianças do seu grupo, mas é possível que venha a privilegiar três ou quatro crianças de cada vez e, assim, ao final do período, terá observado e feito registro sobre todas as crianças.

Utilização de diversos instrumentos de registro.

Para darmos espaço à variada expressão infantil, podem-se utilizados como instrumentos de registro de desenvolvimento arquivos contendo planos e materiais referentes aos temas trabalhados, relatórios das crianças e portfólios.

O professor/recreador deve organizar um dossiê de cada criança, guardando aí seus materiais mais significativos e capazes de exemplificar seu desenvolvimento. Também durante a vivência de um projeto de trabalho, cada grupo deve ter como meta a produção de um ou mais materiais que organize o conhecimento constituído acerca do assunto explorado. Assim sendo, o arquivo de temas é o dossiê do projeto realizado pelos grupos de uma mesma instituição.

Construção de um olhar global sobre a criança

124

A fim de evitar um ponto de vista unilateral sobre cada aluno, é fundamental buscar novos olhares:

- Recolhendo outras visões sobre ela.

- Contrastando a visão dos responsáveis com o que se observa na escola/ creche.

- Conhecendo o que os responsáveis pensam sobre o que a escola/creche diz.

- Refletindo sobre o que a família pensa em relação aos motivos de a criança comportar-se de determinada forma na escola/creche.

- Ouvindo a família sobre como pensa que poderia auxiliar a criança a avançar em seu desenvolvimento.

Sugestões:

Hábitos e Atitudes:

. Está sempre atento na sala de aula

. Relaciona-se bem com os colegas e professores.

.Ouve com atenção e espera a sua vez de falar.

. Faz a tarefa com capricho e é pontual na sua entrega

. Porta-se no momento da merenda e higiene.

. Colabora com a limpeza da sala de aula.

. É cuidadoso com o material escolar.

. Confia nas tarefas que realiza.

. Comporta-se bem nas atividades desenvolvidas.

. A conversa está interferindo no rendimento.

. Reparte os brinquedos com os colegas

125

Linguagem:

. Entende bem o que lhe é falado.

. Expressa-se com clareza.

. Articula bem as palavras.

. É desinibido e gosta de participar das atividades musicais e teatrais.

. Dialoga sobre suas vivências espontaneamente.

. Na hora da história, está disposto a ouvir e participar.

Desenvolvimento Cognitivo:

. Apresenta bom raciocínio matemático.

. Tem facilidade em compreender as noções matemáticas.

. Compõe quebra-cabeça.

. Consegue concentrar-se na realização das atividades.

. Demonstra interesse e criatividade na execução dos trabalhos.

. É responsável na execução das atividades.

Desenvolvimento Psicomotor:

. Consegue movimentar-se bem (pular, correr, saltar, arrastar...).

. Quando modela cria formas diferentes.

. Apresenta boa motricidade fina (recortar, pintar, colar...).

. Tem consciência do seu corpo e consegue expressar-se graficamente.

. Orienta-se bem no espaço e tempo.

126

UNIDADE 3 - EXPERIÊNCIAS E

PROJETOS DE ENSINO DE

MATEMÁTICA

RESUMO

Nesta unidade serão trabalhados três textos que foram produzidos com

base em resultados de experiências educativas na área de matemática, com

alunos da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. O realto “1”

trata de uma proposta freiriana que trabalha a noção de quantidade com

materiais concretos e brincadeiras lúdicas que criam possibilidade de produção

e construção do conhecimento matemático neste nível de ensino. O relato “2” é

voltado para as investigações em Educação Matemática com a finalidade de

elas se ampliarem e constituírem uma área de conhecimento cada vez mais

consistente. Isto porque a incorporação desses resultados à prática das salas

de aula tem se mostrado muito lenta impedindo que as transformações

desejadas se realizem com mais rapidez. Já o relato “3” traz uma experiência

sobre o ensino da matemática com a utilização do material dourado com sua

base no método Montessori, que parte do concreto rumo ao abstrato.

127

UNIDADE III - EXPERIÊNCIAS E PROJETOS DE ENSINO DE MATEMÁTICA.

3.1 – Relato de experiências com ensino de mat. na educação infantil anos iniciais...........................................................................................................128 Relato ‘1’.......................................................................................................129.

Relato “2”.......................................................................................................134

Relato “3”.......................................................................................................147

128

UNIDADE III - EXPERIÊNCIAS E PROJETOS DE ENSINO DE MATEMÁTICA.

3.1 – Relato de experiências com ensino de matemática na educação infantil e anos iniciais.

Nesta unidade serão trabalhados três textos que foram produzidos com

base em resultados de experiências educativas na

área de matemática, com alunos da educação infantil e

anos iniciais do ensino fundamental. O realto “1” trata

de uma proposta freiriana que trabalha a noção de

quantidade com materiais concretos e brincadeiras

lúdicas que criam possibilidade de produção e

construção do conhecimento matemático neste nível

de ensino. O relato “2” é voltado para as investigações

em Educação Matemática com a finalidade de elas se

ampliarem e constituirem uma área de conhecimento cada vez mais

consistente. Isto porque a incorporação desses resultados à prática das salas

de aula tem se mostrado muito lenta impedindo que as transformações

desejadas se realizem com mais rapidez. Já o relato “3” traz uma experiência

sobre o ensino da matemática com a utilização do material dourado com sua

base no método Montessori, que parte do concreto rumo ao abstrato. O mesmo

trabalha com objetos simples, mas muito atraentes, e projetados para provocar o

raciocínio.

Os relatos deverão ser lidos e acrescidos da leitura de outros textos

sobre experiências com o ensino de matemático, a fim de subsidiar um projeto

de intervenção que será elaborado nesta disciplina para futuramente subsidiar

os relatórios das práticas educativos, elaboração de Trabalho de Conclusão de

Curso – TCC ou artigos científicos.

129

• RELATO 1

UMA PROPOSTA FREIRIANA PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA NAS

SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Denise Moro da Rocha,

Elisabete da Rosa Santos ,Erotilde Gil Fischer,Luciléia Grassmam de Oliveira

,Ivane Almeida Duvoisin FURG/SAP

[email protected]

“Não importa com que faixa etária trabalha o educador ou educadora. O nosso é um trabalho realizado com gente miúda, jovem ou adulta, mas gente em permanente processo de busca.”

( Freire, 1996. p.144)

Este relato de experiência é resultado de uma prática pedagógica

realizada em diferentes turmas por quatro professoras, alunas da FURG. Estas

práticas de ensino foram desenvolvidas nas Escolas Municipais de Santo

Antônio da Patrulha e Gravataí.

Em discussão sobre as práticas que realizamos em sala de aula

percebemos que nosso trabalho estava inter-relacionado desde a Educação

Infantil até a 3ª série do Ensino Fundamental, partindo de objetivos em comum,

trabalhando a construção do número através do uso do material concreto.

A partir de nossa experiência com crianças desde a Educação Infantil ao

Ensino Fundamental, é possível perceber que é importante trabalhar a noção

de quantidade, com material concreto e brincadeiras lúdicas em qualquer nível

de ensino, onde a cada ano é possível dar continuidade ampliando estes

130

saberes. Freire diz que: “[...] ensinar não é transferir conhecimento, mas criar

as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção.” (Freire,

2005. p. 47)

O ponto de partida de nossas práticas pedagógicas foi embasado na

teoria dialógica de Paulo Freire que segundo ele: “Somente o diálogo, que

implica um pensar crítico, é capaz de gerá-lo. Sem ele não há comunicação e

sem esta não há verdadeira educação.” (Freire, 1997, p. 83)

Após o diálogo com os alunos damos continuidade ao processo de

construção do número, com a exploração do material concreto: sucatas, lápis

coloridos, canudinhos e jogos de encaixe, pois a partir do manuseio de

materiais é que se constrói a aprendizagem numa interação social, em que os

sujeitos da aprendizagem começam a fazer relações da quantidade com os

objetos, tendo o professor como mediador.

Na seqüência partimos para relacionar as quantidades com os objetos e

símbolos da seguinte forma:

Na turma do jardim foi desenvolvida uma atividade que envolveu as

brincadeiras dos pais quando eram crianças. Este trabalho começou através de

uma pesquisa realizada com a família.

Freire aponta que,

“Não é possível respeito aos educandos, à sua dignidade, a seu ser formando-se à sua identidade fazendo-se, se não se levam em consideração as condições em que eles vêm existindo, se não se reconhece a importância dos “conhecimentos de experiência feitos” com que chegam à escola.” ( Freire, 1996. p. 71)

No contexto da sala de aula uma menina relatou que seu pai brincava

com bolinhas de gude, então resolvi construir uma brincadeira em que os

alunos deveriam jogar bolinhas de jornais construídas por eles. Após todos

131

terem construído suas bolinhas tinham que ficar segurando a bolinha com a

mão. Neste momento perguntei para cada um deles, conforme eles iam

brincando, qual era a mão que os mesmos estavam segurando a bolinha, se

era a direita ou a esquerda. Em seguida estipulei com uma cordinha a distância

que eles deveriam ficar para jogar a bolinha em um balde.

Todos os alunos tinham chances de jogar várias vezes no grupo.

Conforme eles acertassem as bolinhas de jornal na balde teriam que relacionar

com a quantidade de objetos que estavam expostos na mesa.

Após, os alunos expressaram suas brincadeiras através do desenho,

representando a quantidade de peças que tinham acertado no balde. Ao

término sistematizamos construindo um painel com as quantidades.

Na turma do primeiro ano do ciclo, iniciei a atividade questionando os

alunos como poderiam ser organizados aqueles materiais/sucatas, obtendo

como resposta que poderíamos separar por cores.

No inicio da atividade alguns alunos tiveram dificuldades de identificar

algumas cores colocando os objetos misturados nos conjuntos, porém aqueles

que já tinham uma melhor percepção de espaço localizavam-se e interagiam

trocando aquele objeto, colocando-o no conjunto da cor apropriada.

A partir dos questionamentos dos colegas começaram a perceber que

outros objetos poderiam também ser trocados de conjunto, como por exemplo,

um pote com uma tampa amarela deixava o pote branco e a tampa na cor

amarela, fazendo assim associações. Esses questionamentos fizeram com que

houvesse uma problematização na atividade em que eles mesmos estavam

organizando e através dos seus raciocínios ajudavam aos outros.

Terminada a separação dos objetos observamos quais as cores que

havia em cada conjunto, contamos a quantidade de conjuntos e a quantidade

de objetos dos mesmos.

Então sistematizamos essa atividade no papel, dobrando uma folha de

oficio em partes e selecionando alguns conjuntos para desenhar. Através do

material concreto representaram os objetos através do desenho e coloriram

conforme as cores escrevendo ao lado de cada conjunto os numerais

132

correspondentes. Com base nesta atividade foi possível perceber o entusiasmo

e o interesse das crianças em agir sobre os objetos e poder manipulá-los a

partir de solicitações e das trocas de experiências com os colegas.

Freire traz que,

“Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que o professor e alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos a nossa alegria.”( Freire, 1996. p. 72)

Na turma de segunda série o trabalho foi desenvolvido a partir das

dificuldades dos alunos em realizarem operações de adição, pois os alunos

tinham dúvidas quando o resultado de uma operação de adição tinha que ir

“1”em cima ou não.

Foi a partir desta curiosidade dos alunos que elaborei esta aula para

ensinar os conceitos de unidade, dezena e centena e desenvolver a

compreensão dos números cardinais de um a cem.

Sobre isto Freire diz que,

“Antes de qualquer tentativa de discussão de técnicas, de materiais, de métodos para uma aula dinâmica assim, é preciso, indispensável mesmo, que o professor se ache “repousado” no saber de que a pedra fundamental é a curiosidade do ser humano. É ela que me faz perguntar, conhecer, atuar, mais perguntar, re - conhecer.”(Freire. 1996. p. 86)

Comecei a aula pedindo que os alunos pegassem três lápis e depois

dois lápis. Expliquei que as quantidades dois e três eram unidades. Em outro

momento solicitei que separassem seis lápis, depois mais quatro, em seguida

juntassem e contassem. Alguns responderam: “é dez”. Aproveitei para explicar

que dez unidades é uma dezena.

133

Continuando a aula distribui dez tampinhas para cada aluno e em

seguida fui passando com uma caixa nas classes para que cada aluno fosse

devolvendo as tampas à caixa contando do um até o cento e vinte. Expliquei ai

o conceito de centena, que era igual a cem unidades ou a dez dezenas.

No conceito de dezena trabalhei a adição, ampliando para o conceito de

centena foi possível inserir noções de multiplicação. A sistematização desta

atividade foi feita no quadro para os alunos copiarem.

Na turma da 3ª série, a atividade partiu da necessidade de esclarecer

aos alunos alguns termos das quatro operações, por eles desconhecidos, pois

até então, ouviam falar em “mais, menos, vezes, repartir”. Assim surgiu o

questionamento sobre o termo “Dividir”. Expliquei o conceito da palavra

exemplificando com fatos do cotidiano, pois eles fazem isso constantemente ao

repartir brinquedos e, ou a própria merenda.

Considerando a importância da interação entre as pessoas no processo

da aprendizagem, seus saberes e recursos de materiais didáticos dos mesmos

e da própria da escola, organizei os alunos em grupos e distribui “canudinhos

de refrigerante”, coletados anteriormente pelos próprios alunos (material de

contagem), para os mesmos manusearem. Cada grupo recebeu porções

diferenciadas para repartir conforme os componentes do grupo. Após solicitei

que repartissem o material em partes iguais, e então questionassem uns aos

outros quanto às quantidades destinadas a cada um e também pensassem

outras possibilidades de dividir os materiais.

Para Freire, “O objeto da investigação não é propriamente o homem

visto como uma coisa, mas seu pensar: o que ele pensa, como pensa, em

torno do que pensa. Qual é a sua visão de mundo.” (Freire, 1979. p. 129)

Em seguida distribuí numerais a cada grupo de acordo com a

quantidade de material recebido anteriormente e solicitei que repartissem

conforme os numerais estipulados a cada grupo.

Este processo possibilitou a construção de conjuntos diferenciados em

cada grupo. Nesta mesma atividade, porém de modo inverso, foram

percebendo as possibilidades de associação de quantidades. O termo

134

“multiplicação” veio à tona e concomitante aos cálculos de divisão perceberam

tais conceitos. Outros cálculos matemáticos foram desencadeados, trazendo

para a sala de aula situações vivenciadas pelos alunos, principalmente em

relação às despesas da família (consumo de água, luz, alimentação).

A sistematização desta atividade foi sendo feita à medida que iam

surgindo as dúvidas e descobertas. Os alunos socializavam com o grande

grupo estas descobertas, refletindo sobre as mesmas. Construímos gráficos,

painéis com rótulos e relatórios.

O objetivo dessa atividade era levá-los a compreender conceitos dos

termos divisão e multiplicação, bem como, compreender o processo dos

mesmos. Assim, foi possível, entenderem que na divisão o processo inicia-se

do todo para as partes e na multiplicação ocorre o inverso.

Freire aponta que,

“[...] ao se lhe propor sua situação existencial concreta como um

problema, sua tendência é organizar-se reflexivamente para a captação do

desafio. Ao se organizar reflexivamente e criticamente, encaminha-se para a

ação, também crítica, sobre o desafio.”(Freire. 1979. p.127)

O professor precisa tomar consciência dos fatores do entorno

educacional que ocasionam mudanças na ação de ensinar e de aprender,

analisando-os criticamente, juntamente com seus alunos; precisa pensar e

ensinar seu aluno a pensar; precisa aprender e ensinar a aprender, é como nos

diz Freire (1996. p. 39) “[...] na formação permanente dos professores, o

momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando

criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima

prática.”

135

Referências

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. RJ: Paz e Terra, 1997.

FREIRE, Paulo Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 31 ed. SP: Paz e Terra, 1996.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17ª ed.Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987

RELATO “2”

IMPACTO DA PESQUISA NA SALA DE AULA

Tânia Maria Mendonça Campos

PUC/SP

As investigações em Educação Matemática se ampliam e constituem

uma área de conhecimento cada vez mais consistente. No entanto, a

incorporação desses avanços à prática das salas de aula tem se mostrado

muito lenta e as transformações desejadas custam a se realizar.

Uma das formas indicadas para diminuir a distância entre esses dois

mundos é envolver os professores responsáveis pela educação do nosso país,

em ações de formação continuada que, de fato, lhes permitam mobilizar

conhecimentos e melhorar a qualidade da aprendizagem de seus alunos.

No entanto, essa formação continuada não pode restringir-se a meros

cursos de treinamento, como mostram as experiências de diversas secretarias

136

de educação. É preciso propor novas formas de formação continuada (e inicial)

de professores.

Nos últimos anos um dos aspectos mais discutidos nesse terreno, é o do

papel da pesquisa na formação de professores e, junto a isso, como os

programas de formação de professores devem ser organizados para que se

constituam efetivamente, em espaços de construção coletiva de conhecimento

sobre o ensino e a aprendizagem.

De acordo com as Diretrizes de Formação de Professores para a

Educação Básica em nível superior, do Conselho Nacional de Educação (2001)

a pesquisa (ou investigação) que se desenvolve no âmbito do trabalho de

professor refere-se, antes de mais nada, a uma atitude cotidiana de busca de

compreensão dos processos de aprendizagem e desenvolvimento de seus

alunos e à autonomia na interpretação da realidade e dos conhecimentos que

constituem seus objetos de ensino. O foco principal do ensino da pesquisa nos

cursos de formação docente é o próprio processo de ensino e de

aprendizagem dos conteúdos escolares na educação básica.

Essas diretrizes destacam ainda que para uma real autonomia dos

professores é fundamental “que eles saibam como são produzidos os

conhecimentos que ensina, isto é, que tenham noções básicas dos contextos e

dos métodos de investigação usados pelas diferentes ciências, para que não

se tornem meros repassadores de informações. Esses conhecimentos são

instrumentos dos quais podem lançar mão para promover levantamento e

articulação de informações, procedimentos necessários para ressignificar

continuamente os conteúdos de ensino, contextualizando-os nas situações

reais”.

Com preocupações dessa natureza, nos últimos cinco anos, o Centro de

Ciências Exatas e Tecnologia da PUC/SP desenvolveu ações de formação

continuada, que não só contribuíram para uma formação de melhor qualidade

dos professores da rede pública, como também representaram uma

revitalização para seu corpo docente.

Trazendo para seu interior a realidade e os desafios da educação

pública, essas ações trouxeram novos elementos para o próprio processo de

137

formação inicial, no curso de licenciatura, e para as investigações que se

desenvolvem no programa de pós-graduação, especificamente no mestrado

em Educação Matemática.

Essas ações de formação continuada, demandadas inicialmente pela

Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, ganharam uma parceria

fundamental durante o processo, a da FAPESP, no âmbito de programas como

o Ensino Público e o PróCiências.

Uma experiência com professores do primeiro e segundo ciclos

do ensino fundamental

No 2º semestre de 1996, iniciamos um projeto denominado Espaço e

forma: a construção de noções geométricas pelas crianças das quatro séries

iniciais do Ensino Fundamental19. Ele foi desenvolvido em parceria com a

EEPSG e CEFAM “Dr. Edmundo de Carvalho” e teve como objetivo investigar

questões relativas ao ensino aprendizagem de Geometria pelas crianças de 7 a

10/11 anos e buscar alternativas de trabalho que levem em conta as

possibilidades dessas crianças em termos da construção das noções de

espaço e forma.

Ao integrar este projeto, o Centro das Ciências Exatas e Tecnologia da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo reafirmava seu interesse em

desenvolver estudos e pesquisas na área do Ensino de Matemática que

promovam um efetivo salto qualitativo em nosso sistema educacional e que

respondam às atuais demandas sócio-educacionais e às orientações da

comunidade da Educação Matemática.

Para tanto, uma das prioridades do Centro foi a de estabelecer parceria

com as escolas, para o desenvolvimento de ações conjuntas. Neste caso, essa

parceria foi estabelecida com a Escola Estadual Experimental “Dr. Edmundo de

Carvalho” e o CEFAM – Centro de Formação ao Magistério que funciona junto

19 Processo FAPESP nº 1996/2517-3

138

a essa escola, com grande tradição em trabalhos de pesquisa e corpo docente

reconhecido pelo compromisso com a qualidade do ensino público.

A característica básica deste projeto foi o envolvimento de professores

atuantes em diferentes níveis de escolaridade - professores da PUC,

professores formadores de futuros professores que lecionam no CEFAM,

professores que trabalham nas séries iniciais e alunos do CEFAM - em torno

do processo ensino - aprendizagem de assunto matemático específico, no caso

a Geometria. As reuniões de estudo foram realizadas tanto na própria escola

como no Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da PUC e um ponto muito

importante nesse processo foi a montagem, na escola, de um laboratório com

computadores e outros recursos para o uso de professores e alunos neste

projeto.

O projeto apostou na eficácia da formação de professores pela via da

“pesquisa” entendendo-se que essa formação deveria possibilitar ao professor

explicitar suas próprias representações a respeito da Geometria e do seu

ensino, levantar e testar hipóteses a respeito de como as crianças constróem

noções geométricas, propor e experimentar soluções inovadoras, analisar

resultados de produção dos alunos e perceber que a didática não se faz sem

esse tipo de investigação. Durante todo o processo, evidenciou-se para o grupo

de professores, que ensinar requer dispor e mobilizar conhecimentos para

improvisar, para agir em situações não previstas, intuir, atribuir valores e fazer

julgamentos que fundamentem a ação da forma mais pertinente e eficaz

possível. Para tanto, o desenvolvimento de uma postura investigativa é

fundamental na formação de professor.

As dificuldades maiores foram motivadas pela constante mudança de

professores, que ao longo desse tempo participaram do projeto, que

infelizmente é uma característica bastante comum em escolas da rede pública

e que fatalmente interfere negativamente na constituição de uma equipe

escolar e/ou de um grupo de estudos e pesquisas como este.

Na 1ª fase do projeto – 2º Semestre de 1996 - os professores

participaram de reuniões de estudo para discutir a fundamentação teórica do

trabalho com Geometria; também nesta fase procedeu-se ao levantamento de

139

suas representações frente à Geometria e ao seu ensino, uma discussão do

trabalho que vinha sendo realizado e entrevistas com as crianças para

levantamento de seus conhecimentos prévios; os professores tiveram seus

primeiros contatos com o computador.

Na 2ª fase do projeto - 1997 - os professores elaboraram um plano de

trabalho para cada série - discutindo a seleção e a organização de conteúdos;

quinzenalmente se reuniram para elaborar atividades a serem trabalhadas com

crianças e avaliar os resultados das propostas desenvolvidas em sala de aula;

continuaram participando dos laboratórios para uso o computador; os alunos do

CEFAM receberam uma formação para acompanhar o trabalho nas salas de

aula.

Na 3ª fase – 1º e 2º semestres de 1998 – os professores – tanto das

séries iniciais como os do CEFAM - continuaram se reunindo para discutir o

trabalho realizado em sala de aula mas o foco de atenção foi colocado na

sistematização da observação de como as crianças constróem conhecimentos

geométricos, como também em relação às concepções das alunas do CEFAM

frente à Geometria e ao seu ensino.

Na 4ª fase e última fase – 1º semestre de 1999 – os professores, tanto

das séries iniciais como os do CEFAM, trabalharam de forma mais

sistematizada com o uso do computador na aprendizagem de geometria, pois

nas fases anteriores o trabalho com o computador vinha sendo feito na

perspectiva de que eles pudessem se apropriar dessa ferramenta.

A avaliação do projeto foi feita por meio da aplicação de instrumentos

destinados a levantar os conhecimentos/representações dos professores de

magistério e dos professores de Ciclo Básico, terceiras e quartas séries, da

aplicação de instrumentos destinados a avaliar os conhecimentos construídos

por alunos das séries iniciais, pelos relatórios produzidos não apenas pelos

professores participantes mas também pelos alunos magistério nos estágios

realizados especificamente nessas aulas de Geometria e finalmente, por meio

do material elaborado para o projeto e de sua utilização em sala de aula.

140

Outro indicador foi o desempenho dos alunos nas provas do SARESP20,

em comparação com o desempenho, nessas avaliações, em anos anteriores.

Analisando-se os resultados esperados com os resultados obtidos

podemos dizer que ocorreu uma significativa melhoria em Geometria, do

desempenho dos alunos das séries iniciais e do CEFAM, pois com o projeto os

professores passaram a gerenciar o tempo disponível reservando um período

determinado na semana, para a aula de Geometria.

Além disso, esses professores passaram a ter um melhor domínio de

conhecimentos geométricos e também um aprofundamento no campo da

didática, especialmente no que se refere a levar em conta as condições e

possibilidades dos alunos na construção de conhecimentos geométricos.

Assim, por exemplo, tiveram a oportunidade de comprovar alguns resultados

de investigações como as realizadas por François Colmez e Bernard Parzysz,

compilados no artigo “O Visto e o Sabido na evolução de desenhos de

pirâmides de alunos de 8 a 17 anos”. Trabalhando com a representação de

pirâmides, verificaram que os alunos buscam um compromisso entre a

representação e a adaptação das propriedades que conhecem (o sabido) e a

organização do conjunto do desenho de uma maneira compatível com a

imagem mental global que eles têm do objeto ( o visto).

Outro resultado a ser destacado é o fato de que, a realização de uma

pesquisa na área de educação matemática e a experimentação de soluções

inovadoras proporcionaram a articulação entre professores do Ensino

Fundamental, do ensino médio (formadores do CEFAM) e professores do

ensino superior (do CCE da PUC/SP), evidenciando que nessas ações

coletivas todos aprendem com todos. Esse trabalho coletivo permitiu também

que se realizasse a sistematização da análise do material didático preparado

ao longo do projeto para professores e alunos, com intenção de auxiliar o

ensinar e o aprender Geometria.

Considerando-se que professor da educação básica desenvolve junto a

seus futuros alunos postura investigativa, a pesquisa constitui um instrumento

de ensino e um conteúdo de aprendizagem na formação, especialmente

20 Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo

141

importante para a análise dos contextos em que se inserem as situações

cotidianas da escola, para construção de conhecimentos que ela demanda e

para a compreensão da própria implicação na tarefa de educar.

Ela possibilitou que os professores apreendessem a realidade para

além das aparências, de modo que possa intervir considerando as múltiplas

relações envolvidas nas diferentes situações com que se depara, referentes

aos processos de aprendizagem dos alunos.

Uma experiência com professores do terceiro e quarto ciclos do

ensino fundamental e do ensino médio

Em agosto de 1996, a Secretaria de Educação de São Paulo convidou

universidades deste estado para o desenvolvimento de um Programa de

Educação Continuada, que ficou conhecido como PEC.

A PUC/SP aceitou o convite e o Centro de Ciências Exatas e Tecnologia

da PUC/SP apresentou uma proposta à SEESP, para desenvolver ações de

educação continuada com Professores de Matemática, de 5ª a 8ªséries, de

escolas localizadas na zona norte da capital paulista e em municípios vizinhos,

como Guarulhos, Caieiras, Mairiporã e Franco da Rocha .

O desafio era grande, porque o trabalho envolvia quase 1.000

professores, o que implicava dispor de uma equipe bastante numerosa de

formadores experientes. Assim, a equipe foi composta de profissionais com

vasta experiência em formação de professores da rede pública e por outros

com menor experiência, mas que estavam dispostos a construir, coletivamente,

conhecimentos específicos sobre a tarefa de formar professores já em atuação.

O grupo tinha clareza de que não se tratava de oferecer aos professores

aulas sobre uma série de conteúdos, de forma meramente expositiva, sem

considerar seus conhecimentos anteriores e sua prática em sala de aula. Mais

ainda: sabia que pouco adiantaria aconselhar os professores sobre novas

formas de conduzir o processo de ensino e aprendizagem se na sua formação

142

eles vivenciassem situações contraditórias com concepções de construção de

conhecimento, de ensinar e aprender, de avaliação, de interação professor

aluno etc. O que se desejava era engajar, num mesmo projeto, professores

universitários e professores do ensino fundamental, realizando estudos

referentes ao ensino e aprendizagem de diferentes conteúdos e propondo

soluções inovadoras para o ensino de Matemática, que pudessem ser

devidamente acompanhadas e avaliadas.

O primeiro passo foi traçar o perfil dos professores quanto à formação,

experiência profissional, conhecimentos e concepções sobre a Matemática e

seu ensino, o que deu pistas importantes para planejar as atividades do

projeto21.

A capacitação planejada envolveu ações diversificadas, algumas

presenciais (ciclos de debate, palestras, grupos de estudo, seminários), ações

em serviço (dinamização da HPTC) e oficinas (para discussão de seqüências

de aprendizagem, utilização de materiais de suporte didático-pedagógico). Ela

foi organizada de forma que os grupos de professores tivessem vários

momentos de encontro e não ações concentradas num único período. Outro

aspecto importante residia no fato de que o projeto era bastante abrangente, ou

seja, envolvia equipes escolares inteiras e não somente alguns professores

representantes de escola,

que, finda a capacitação, pouco conseguem realizar em suas escolas.

Também foi decisivo o fato de que ela não se restringiu à tematização de

conteúdos matemáticos, mas que se estendeu a problemas educacionais e

pedagógicos mais amplos, como o projeto pedagógico da escola, o trabalho

coletivo, a interdisciplinaridade etc. Também foram debatidos aspectos

específicos ligados ao sistema de ensino estadual, como as avaliações feitas

pelo SARESP – Sistema de Avaliação Escolar do Estado de São Paulo.

Conferências foram planejadas, com a participação de professores de

outras instituições, com a finalidade de ampliar debates e mostrar visões,

concepções e propostas bastante diversificadas. Os professores em formação

21 A análise do perfil dos professores e as sínteses dos trabalhos apresentados no evento mencionado foram publicadas

143

participaram também de eventos que contaram com palestrantes internacionais

e/ou que visitaram a PUC/SP nesse período.

Os participantes foram divididos em 31 grupos para a realização de

oficinas em que foram discutidos diferentes temas do currículo de Matemática

de 5ª a 8ª séries, identificados pelos professores como aqueles que

consideravam mais importantes. Foram, ainda, organizados grupos para aulas

no laboratório de informática, para que os professores pudessem se apropriar

do uso desses equipamentos e também trabalhar com softwares específicos.

A cada um dos 31 grupos, foram propostos temas que seriam objeto de

pesquisa do grupo, com a orientação do professor coordenador da oficina.

Essa proposta foi muito bem aceita e, de fato, foram desenvolvidos “projetos de

pesquisa” muito ricos e interessantes, que motivaram a coordenação a propor

um evento que aconteceu no final de outubro de 97, num hotel no interior de

São Paulo. Para grande parte dos professores era a primeira vez que se

hospedavam num hotel e a primeira vez que participavam de um congresso de

professores.

Nesse processo ficou muito evidente para o grupo de professores a

importância de terem acesso aos conhecimentos produzidos pela investigação

acadêmica nas diferentes áreas que compõem seu conhecimento profissional e

de se manterem atualizados para fazer opções em relação aos conteúdos, à

metodologia e à organização didática dos conteúdos que ensinam.

Foi muito discutido também o fato de que a constituição de uma “

postura de investigação” implica em que o professor conheça e saiba usar

procedimentos de pesquisa tais como o levantamento de hipóteses,

delimitação de problemas, registro de dados, sistematização de informações,

análise e comparação de dados, verificação etc.

Com esses instrumentos, poderá, também, ele próprio, produzir e

socializar conhecimento pedagógico de modo sistemático. Ele produz

conhecimento pedagógico quando investiga, reflete, seleciona, planeja,

organiza, integra, avalia, articula experiências, recria e cria formas de

intervenção didática junto aos seus alunos para que estes avancem em suas

aprendizagens.

144

Nesse encontro, os professores apresentaram resultados de seus

estudos e de suas experiências em sala de aula, em torno dos 31 temas

escolhidos. Foi possível observar que se sentiram bastante valorizados pela

oportunidade de expor seu trabalho, sua produção. Nesse evento, os

professores assistiram a diferentes palestras e participaram de atividades

culturais e de lazer que contribuíram para entrosar ainda mais o grupo.

A grande maioria desses alunos continuou estudando, matriculando-se

em um curso de especialização.

O projeto do Curso de Especialização22 para professores de ensino

médio e/ou fundamental, em exercício na rede pública de São Paulo, foi

aprovado e iniciado em 1999. A procura foi muito grande, 490 professores se

inscreveram para o curso, 280 foram selecionados, 277 confirmaram sua

matrícula. Destes,139 professores concluíram o curso. As desistências foram

motivadas, em sua maioria, pelas difíceis condições de trabalho desses

professores: alterações de carga horária, mudança de local e de horário de

trabalho, jornadas imensas, dificuldades financeiras que, muitas vezes,

impossibilitavam até o deslocamento para a universidade.

O curso também foi organizado com base no levantamento de

conhecimentos prévios dos professores sobre cada um dos temas que estavam

planejados. O grupo de formadores já conhecia bastante bem o grupo de

professores, que, por sua vez, mostrava ter consciência de seus limites e um

grande desejo de superá-los.

Durante a realização dos sete módulos, organizados em torno de temas

matemáticos, foi possível observar um grande avanço em relação à resolução

de problemas, à capacidade para analisar e criticar algumas propostas

apresentadas em livros didáticos e para criar seqüências didáticas para

trabalhar com os alunos.

Encerrados os módulos, a partir do 2º bimestre do ano 2000, os

professores participaram de um seminário longitudinal, que visava ao seu

desenvolvimento cultural e de sua atuação profissional para além do interior da

sala de aula. 22 Processo FAPESP nº 98/13481-5

145

Nesse seminário, de 22 sessões, tiveram contato com pesquisas na área

de educação matemática, sobre as discussões nacionais em torno da LDB e

dos PCN e sobre o uso das TICs na escola e, em particular, no ensino de

Matemática.

A participação nestes seminários permitiu evidenciar que a pesquisa é

elemento essencial na formação profissional do professor. A intenção era a de

mostrar que a pesquisa permite ao professor em formação construir

procedimentos necessários para acompanhar o processo de desenvolvimento

e aprendizagem dos aluno. Quanto à produção de conhecimento pedagógico,

não só compreender os processos de produção de conhecimento matemático,

mas também daqueles que dão suporte ao trabalho do educador (Psicologia,

Sociologia, Filosofia), e das disciplinas que se dedicam a investigar os

processos de aprendizagem dos diferentes objetos de conhecimento

(Didáticas). O grupo percebeu a necessidade de estar constantemente se

atualizando em relação às teorias e informações que as pesquisas nas

diferentes ciências produzem.

Além das palestras e discussões de textos realizadas ao longo do

seminário, uma monografia de conclusão de curso foi elaborada pelos

professores. Essa proposta, sem dúvida, foi o “ponto alto” do trabalho e,

também, o mais desafiador, uma vez que colocava em jogo, ao lado de outras,

duas competências importantes, mas pouco “trabalhadas” nos cursos de

formação de professores de Matemática: a competência leitora e a

competência escritora. Fazer síntese de um texto lido, levantar idéias centrais,

descrever uma atividade observada, preparar um instrumento para coletar

dados, são vistas como tarefas bastante complexas para os professores.

Escrever uma monografia foi, portanto, um grande desafio. Mas elas foram

produzidas. Sua qualidade variou em função da própria composição dos grupos

e, principalmente, do tempo disponível. Mas elas, sem dúvida, foram uma

grande fonte de aprendizagens, como por exemplo, fazer um projeto,

apresentá-lo aos colegas, discuti-lo com seu orientador, desenvolvê-lo, refazer

partes, organizar as informações.

O desenvolvimento desses projetos possibilitou uma aproximação cada

vez maior do CCE - Centro das Ciências Exatas da PUC/SP com os

146

professores do ensino fundamental e médio, permitindo conhecer melhor suas

necessidades e interesses. Nessa aproximação, ficou muito evidente que em

ações de formação continuada não basta repartir o tempo disponível entre um

conjunto de disciplinas. É preciso instituir tempos e espaços curriculares

diferenciados, como oficinas, seminários, grupos de trabalho, de estudo,

tutorias e eventos, entre outros, capazes de promover e, ao mesmo tempo,

exigir dos futuros professores atuações diferenciadas, percursos de

aprendizagens variados, diferentes modos de organização do trabalho,

possibilitando o exercício das diferentes competências a serem desenvolvidas.

Um dos pontos salientados durante a formação foi o processo de

avaliação. Aperfeiçoar esse processo em cursos de formação de professores é

fundamental. A avaliação deve ter como principal finalidade a orientação do

trabalho dos formadores, a autonomia dos futuros professores em relação ao

seu processo de aprendizagem. Embora tenhamos definido um critério de

notas usado ao final de cada módulo de conteúdos, em que estavam incluídas

notas de provas e atividades, procuramos avaliar as competências profissionais

dos futuros professores, verificando se faziam uso dos conhecimentos

construídos em suas salas de aula.

Os formadores procuraram sempre explicitar critérios e compartilhá-los

com os professores, pois eles são referência básica para quem é avaliado,

tanto para a orientação dos estudos como para a identificação dos aspectos

considerados mais relevantes para a formação em cada momento do curso.

Além disso, o professor tem condições de fazer, continuamente, auto-avaliação

do processo de formação dos futuros professores, o que favorece a tomada de

consciência do percurso de aprendizagem.

A divulgação feita pelos próprios professores em formação a seus

colegas fez com que a procura por cursos tomasse proporções enormes. Para

atender às demandas foram realizados alguns cursos de extensão e

aperfeiçoamento em 1999/2000.

Além da freqüência aos cursos observamos que os alunos passaram a

freqüentar os diversos espaços da Universidade, como a biblioteca e salas de

estudo, para conversar com colegas e formadores sobre sua prática e suas

dúvidas em Matemática. Aprenderam a formar grupos de estudo, a buscar

147

informações e participar de eventos sobre educação matemática etc.

Em todas essas experiências, tanto para professores e como para

formadores, foi ficando muito mais claro o papel que a pesquisa pode

desempenhar na formação de professores. O documento já citado de Diretrizes

de Formação de Professores para a Educação Básica em nível superior, do

Conselho Nacional de Educação (2001), destaca que “o professor, como

qualquer outro profissional, lida com situações que não se repetem nem podem

ser cristalizadas no tempo. Portanto precisa, permanentemente, fazer ajustes

entre o que planeja ou prevê e aquilo que acontece na interação com os

alunos. Boa parte dos ajustes têm que ser feitos em tempo real ou em

intervalos relativamente curtos, minutos e horas na maioria dos casos – dias ou

semanas, na hipótese mais otimista – sob risco de passar a oportunidade de

intervenção no processo de ensino e aprendizagem. Além disso, os resultados

das ações de ensino são previsíveis apenas em parte. O contexto no qual se

efetuam é complexo e indeterminado, dificultando uma antecipação dos

resultados do trabalho pedagógico”.

Essas constatações evidenciam que uma formação de professores

voltada para o desenvolvimento de um amplo espectro de competências

profissionais demanda uma diversidade de atividades curriculares e que, a

“pesquisa” é sem dúvida uma das mais importantes.

148

Bibliografia

CAMPOS,T. D'AMBROSIO,B. - Pre-service teachers' representations of

children's understanding of mathematical concepts: conflicts and conflict

resolution - Educational Studies in Mathematics 23: 213-230 (1992) (em

colaboração com Beatriz S. D'Ambrósio);

PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto

Alegre. Artes Médicas, 1999.

Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de

licenciatura, de graduação plena. Brasília. 2001.

149

RELATO “3”

TRABALHANDO COM MATERIAL DOURADO E BLOCOS LÓGICOS NAS SÉRIES INICIAIS

Karen Daltoé

Sueli Strelow

Maria Montessori

Maria Montessori (1870-1952), nasceu na Itália. Interessou-se pelo

estudo das ciências, mas decidiu-se pela Medicina, na Universidade de Roma.

Direcionou a carreira para a psiquiatria e logo se interessou por crianças

deficientes. “A grande contribuição de Maria Montessori à moderna pedagogia

foi a tomada de consciência da criança”, percebendo que estas respondiam

com rapidez e entusiasmo aos estímulos para realizar tarefas, exercitando as

habilidades motoras e experimentando autonomia.

Devido sua formação médica teve fortes influências positivistas,

acreditava na experiência sensível externa que dá ao homem o progresso da

inteligência, para que ele possa deixar de egoísmo e viver também para os

outros.

Para ela a educação deve ser efetivada em etapas gradativas,

respeitando a fase de desenvolvimento da criança, através de um processo de

observação e dedução constante, feito pelo professor sobre o aluno. Na sua

visão a criança traz consigo forças inatas interiores, pré-disponibilizada para

aprender mesmo sem a ajuda do alheio, partiu de um princípio básico: A

CRIANÇA É CAPAZ DE APRENDER NATURALMENTE. Buscando

desenvolver essas energias, acredita que o educando adquire conhecimento e

se torna livre para a expressão do seu ser através da liberdade do seu

potencial, disse: “DEIXE A CRIANÇA LIVRE, E ELA SE REVELARÁ”. Segundo

Montessori , na sala de aula o professor é uma espécie de orientador que ajuda

a direcionar o indivíduo no seu desenvolvimento espontâneo, para que o

mesmo não desvie do caminho traçado, assegurando a livre expressão do seu

ser, sua exigência com o professor era: RESPEITO À CRIANÇA.

150

A escola criada por Montessori prima pela educação que leva em conta

o ser total, também a criança como um todo: a interdependência corpo-mente.

O homem não é um ser acabado, pronto. É alguém “em trânsito”, a caminho,

sujeito a todas as mutações da Cultura. Para ela, educar é semear, é transmitir

VIVÊNCIA. O educador educa através de ATITUDES, que servem como

apoio/referencial para criança. Isso mostra sua preocupação com o bem-estar

e social da criança e também com o aspecto prático da educação. Ainda

segundo ela, a criança aprende mexendo-se (aprendizagem-movimento) num

ambiente previamente preparado.

Sua escola foi totalmente adaptada para atender as necessidades da

criança, favorecendo a independência do aluno.

DESCOBRIR O MUNDO PELO TOQUE

Nas escolas montessorianas o espaço interno era (e é) cuidadosamente

preparado para permitir aos alunos movimentos livres, facilitando o

desenvolvimento da independência e da iniciativa pessoal. Assim como o

ambiente, a atividade sensorial e motora desempenha função essencial. Ou

seja, dar vazão à tendência natural que a garotada tem de tocar e manipular

tudo que está a seu alcance.

Maria Montessori defendia que o caminho do intelecto passa pelas

mãos, porque é por meio do movimento e do toque que os pequenos exploram

e decodificam o muno ao seu redor. “A criança ama tocar os objetos para

depois poder reconhecê-los”, disse certa vez. Muitos dos exercícios

desenvolvidos pela educadora – hoje utilizados largamente na Educação

Infantil – objetivam chamar a atenção dos alunos para as propriedades dos

objetos (tamanho, forma, cor, textura, peso, cheiro, barulho).

O método Montessori parte do concreto rumo ao abstrato. Baseia-se na

observação de que meninos e meninas aprendem melhor pela experiência

direta de procura e descoberta. Para tornar esse processo o mais rico possível,

a educadora italiana desenvolveu os materiais didáticos que constituem um dos

aspectos mais conhecidos de seu trabalho. São objetos simples, mas muito

151

atraentes, e projetados para provocar o raciocínio. Há materiais pensados para

auxiliar todo tipo de aprendizado, do sistema decimal à estrutura da linguagem.

Exemplos desses materiais: blocos maciços de madeira para encaixe de

cilindros, blocos de madeira agrupados em três sistemas, encaixes

geométricos, material das cores, barras com segmentos coloridos

vermelho/azul, algarismos em lixa, blocos lógicos, material dourado, cuisenaire,

ábaco, dominó, etc.

MATERIAL DOURADO

"Preparei também, para os maiorezinhos do curso elementar, um

material destinado a representar os números sob forma geométrica. Trata-se

do excelente material denominado material das contas. As unidades são

representadas por pequenas contas amarelas; a dezena (ou número 10) é

formada por uma barra de dez contas enfiadas num arame bem duro. Esta

barra é repetida 10 vezes em dez outras barras ligadas entre si, formando um

quadrado, "o quadrado de dez", somando o total de cem. Finalmente, dez

quadrados sobrepostos e ligados formando um cubo, "o cubo de 10", isto é,

1000.

Aconteceu de crianças de quatro anos de idade ficarem atraídas por

esses objetos brilhantes e facilmente manejáveis. Para surpresa nossa,

puseram-se a combiná-los, imitando as crianças maiores. Surgiu assim um tal

entusiasmo pelo trabalho com os números, particularmente com o sistema

decimal, que se pôde afirmar que os exercícios de aritmética tinham se tornado

apaixonantes.

As crianças foram compondo números até 1000. O desenvolvimento

ulterior foi maravilhoso, a tal ponto que houve crianças de cinco anos que

fizeram as quatro operações com números de milhares de unidades".

152

O Material Dourado é um dos muitos materiais idealizados pela médica e

educadora italiana Maria Montessori para o trabalho com matemática.

Embora especialmente elaborado para o trabalho com aritmética, a

idealização deste material seguiu os mesmos princípios montessorianos para a

criação de qualquer um dos seus materiais, a educação sensorial:

• desenvolver na criança a independência, confiança em si

mesma, a concentração, a coordenação e a ordem;

• gerar e desenvolver experiências concretas estruturadas

para conduzir, gradualmente, a abstrações cada vez maiores;

• fazer a criança, por ela mesma, perceber os possíveis erros

que comete ao realizar uma determinada ação com o material;

• trabalhar com os sentidos da criança.

Inicialmente, o Material Dourado era conhecido como "Material das

Contas Douradas" e sua forma era a seguinte:

Embora esse material permitisse que as próprias crianças compusessem

as dezenas e centenas, a imprecisão das medidas dos quadrados e cubos se

constituía num problema ao serem realizadas atividades com números

decimais e raiz quadrada, entre outras aplicações possíveis para o material de

contas. Foi por isso que Lubienska de Lenval, seguidor de Montessori, fez uma

modificação no material inicial e o construiu em madeira na forma que

encontramos atualmente.

153

O nome "Material Dourado" vem do original "Material de Contas

Douradas". Em analogia às contas, o material apresenta sulcos em forma de

quadrados. Pode-se fazer uma adaptação do material dourado para o trabalho

em sala de aula, com papel quadriculado de 1cm X 1 cm, onde as peças são

feitas da seguinte forma:

unidade dezena centena (1 X1) (1 X 10) (10 X 10)

Este material em papel possui a limitação de não ser possível a

construção do bloco, o que é uma desvantagem em relação ao material em

madeira.

O primeiro contato do aluno com o material deve ocorrer de forma lúdica

para que ele possa explorá-lo livremente. É nesse momento que a criança

percebe a forma, a constituição e os tipos de peça do material.

Ao desenvolver as atividades o professor pode pedir às crianças que

elas mesmas atribuam nomes aos diferentes tipos de peças do material e criem

uma forma própria de registrar o que vão fazendo. Seria conveniente que o

professor trabalhasse durante algum tempo com a linguagem das crianças para

depois adotar os nomes convencionais: cubinho, barra, placa e bloco.

154

O material dourado destina-se a atividades que auxiliam o ensino e a

aprendizagem do sistema de numeração decimal-posicional e dos métodos

para efetuar as operações fundamentais (ou seja, os algoritmos).

No ensino tradicional, as crianças acabam "dominando" os algoritmos a

partir de treinos cansativos, mas sem conseguirem compreender o que fazem.

Com o material dourado a situação é outra: as relações numéricas abstratas

passam a ter uma imagem concreta, facilitando a compreensão. Obtém-se,

então, além da compreensão dos algoritmos, um notável desenvolvimento do

raciocínio e um aprendizado bem mais agradável.

O material, mesmo sendo destinado ao trabalho com números (na

matemática) pode ser utilizado com crianças de até seis anos de idade, para

desenvolver a criatividade, motricidade e o raciocínio lógico-matemático.

ATIVIDADES:

1. JOGOS LIVRES

Objetivo : tomar contato com o material, de maneira livre, sem regras.

Durante algum tempo, os alunos brincam com o material, fazendo construções

livres. O material dourado é construído de maneira a representar um sistema

de agrupamento. Sendo assim, muitas vezes as crianças descobrem sozinhas

relações entre as peças. Por exemplo, podemos encontrar alunos que

concluem:

- Ah! A barra é formada por 10 cubinhos!

- E a placa é formada por 10 barras!

- Veja, o cubo é formado por 10 placas!

2. MONTAGEM

Objetivo: perceber as relações que há entre as peças.

O professor sugere as seguintes montagens:

- uma barra;

- uma placa feita de barras;

- uma placa feita de cubinhos;

155

- um bloco feito de barras;

- um bloco feito de placas;

O professor estimula os alunos a obterem conclusões com perguntas como

estas:

- Quantos cubinhos vão formar uma barra?

- E quantos formarão uma placa?

- Quantas barras preciso para formar uma placa?

Nesta atividade também é possível explorar conceitos geométricos, propondo

desafios como estes:

- Vamos ver quem consegue montar um cubo com 8 cubinhos? É possível?

- E com 27? É possível?

3. DITADO

Objetivo: relacionar cada grupo de peças ao seu valor numérico.

O professor mostra, um de cada vez, cartões com números. As crianças devem

mostrar as peças correspondentes, utilizando a menor quantidade delas.

Variação:

O professor mostra peças, uma de cada vez, e os alunos escrevem a

quantidade correspondente.

4. FAZENDO TROCAS

Objetivo: compreender as características do sistema decimal.

156

- fazer agrupamentos de 10 em 10;

- fazer reagrupamentos;

- fazer trocas;

- estimular o cálculo mental.

Para esta atividade, cada grupo deve ter um dado marcado de 4 a 9.

Cada criança do grupo, na sua vez de jogar, lança o dado e retira para si a

quantidade de cubinhos correspondente ao número que sair no dado.

Veja bem: o número que sai no dado dá direito a retirar somente cubinhos.

Toda vez que uma criança juntar 10 cubinhos, ela deve trocar os 10 cubinhos

por uma barra. E aí ela tem direito de jogar novamente.

Da mesma maneira, quando tiver 10 barrinhas, pode trocar as 10 barrinhas por

uma placa e então jogar novamente.

O jogo termina, por exemplo, quando algum aluno consegue formar duas

placas.

O professor então pergunta:

- Quem ganhou o jogo?

- Por quê?

Se houver dúvida, fazer as "destrocas".

O objetivo do jogo das trocas é a compreensão dos agrupamentos de dez em

dez (dez unidades formam uma dezena, dez dezenas formam uma centena,

etc.), característicos do sistema decimal.

A compreensão dos agrupamentos na base 10 é muito importante para o real

entendimento das técnicas operatórias das operações fundamentais.

O fato de a troca ser premiada com o direito de jogar novamente aumenta a

atenção da criança no jogo. Ao mesmo tempo, estimula seu cálculo mental. Ela

começa a calcular mentalmente quanto falta para juntar 10, ou seja, quanto

falta para que ela consiga fazer uma nova troca.

* cada placa será destrocada por 10 barras;

* cada barra será destrocada por 10 cubinhos.

157

Variações:

Pode-se jogar com dois dados e o aluno pega tantos cubinhos quanto for a

soma dos números que tirar dos dados. Pode-se utilizar também uma roleta

indicando de 1 a 9.

5. PREENCHENDO TABELAS

Objetivo: os mesmos das atividades 3 e 4.

- preencher tabelas respeitando o valor posicional;

- fazer comparações de números;

- fazer ordenação de números.

As regras são as mesmas da atividade 4. Na apuração, cada criança escreve

em uma tabela a quantidade conseguida.

Olhando a tabela, devem responder perguntas como estas:

- Quem conseguiu a peça de maior valor?

- E de menor valor?

- Quantas barras Lucilia tem a mais que Gláucia?

Olhando a tabela à procura do vencedor, a criança compara os números e

percebe o valor posicional de cada algarismo.

158

Por exemplo: na posição das dezenas, o 2 vale 20; na posição das centenas

vale 200.

Ao tentar determinar os demais colocados (segundo, terceiro e quarto lugares)

a criança começa a ordenar os números.

6. PARTINDO DE CUBINHOS

Objetivo: os mesmos da atividade 3, 4 e 5.

Cada criança recebe um certo número de cubinhos para trocar por barras e

depois por placas.

A seguir deve escrever na tabela os números correspondentes às quantidades

de placas, barras e cubinhos obtidos após as trocas.

Esta atividade torna-se interessante na medida em que se aumenta o número

de cubinhos.

7. VAMOS FAZER UM TREM?

Objetivo: compreender que o sucessor é o que tem " 1 a mais" na seqüência

numérica.

O professor combina com os alunos:

- Vamos fazer um trem. O primeiro vagão é um cubinho. O vagão seguinte terá

um cubinho a mais que o anterior e assim por diante. O último vagão será

formado por duas barras.

Quando as crianças terminarem de montar o trem, recebem papeletas nas

quais devem escrever o código de cada vagão.

159

Esta atividade leva à formação da idéia de sucessor. Fica claro para a criança

o "mais um", na seqüência dos números. Ela contribui também para a melhor

compreensão do valor posicional dos algarismos na escrita dos números.

8. UM TREM ESPECIAL

Objetivo: compreender que o antecessor é o que tem " 1 a menos" na

seqüência numérica.

O professor combina com os alunos:

- Vamos fazer um trem especial. O primeiro vagão é formado por duas barras

(desenha as barras na lousa). O vagão seguinte tem um cubo a menos e assim

por diante. O último vagão será um cubinho.

Quando as crianças terminam de montar o trem, recebem papeletas nas quais

devem escrever o código de cada vagão.

Esta atividade trabalha a idéia de antecessor. Fica claro para a criança o

"menos um" na seqüência dos números. Ela contribui também para uma

melhor compreensão do valor posicional dos algarismos na escrita dos

números.

9. JOGO DOS CARTÕES

Objetivos: compreender o mecanismo do "vai um" nas adições; estimular o

cálculo mental.

O professor coloca no centro do grupo alguns cartões virados para baixo.

Nestes cartões estão escritos números entre 50 e 70.

160

1º sorteio: Um aluno do grupo sorteia um cartão. Os demais devem pegar as

peças correspondentes ao número sorteado.

Em seguida, um representante do grupo vai à lousa e registra em uma tabela

os números correspondentes às quantidades de peças.

2º sorteio: Um outro aluno sorteia um segundo cartão. Os demais devem pegar

as peças correspondentes a esse segundo número sorteado.

Em seguida, o representante do grupo vai à tabela registrar a nova quantidade.

Nesse ponto, juntam-se as duas quantidades de peças, fazem-se as trocas e

novamente completa-se a tabela.

Ela pode ficar assim:

Isto encerra uma rodada e vence o grupo que tiver conseguido maior total.

Depois são feitas mais algumas rodadas e o vencedor do dia é o grupo que

mais rodadas venceu.

Os números dos cartões podem ser outros. Por exemplo, números entre 10 e

30, na primeira série; entre 145 e 165, na segunda série.

Depois que os alunos estiverem realizando as trocas e os registros com

desenvoltura, o professor pode apresentar a técnica do "vai um" a partir de

uma adição como, por exemplo, 15 + 16.

Observe que somar 15 com 16 corresponde a juntar estes conjuntos de peças.

Fazendo as trocas necessárias,

161

Compare, agora, a operação:

* com o material:

*com os números:

Ao aplicar o "vai um", o professor pode concretizar cada passagem do cálculo

usando o material ou desenhos do material, como os que mostramos.

O "vai um" também pode indicar a troca de 10 dezenas por uma centena, ou 10

centenas por 1 milhar, etc.

Veja um exemplo:

162

No exemplo que acabamos de ver, o "vai um" indicou a troca de 10 dezenas

por uma centena.

É importante que a criança perceba a relação entre sua ação com o material e

os passos efetuados na operação.

10. O JOGO DE RETIRAR

Objetivos: compreender o mecanismo do "empresta um" nas subtrações com

recurso; estimular o cálculo mental.

Esta atividade pode ser realizada como um jogo de várias rodadas. Em cada

rodada, os grupos sorteiam um cartão e uma papeleta. No cartão há um

número e eles devem pegar as peças correspondentes a essa quantia. Na

papeleta há uma ordem que indica quanto devem tirar da quantidade que têm.

Por exemplo: cartão com número 41 e papeleta com a ordem: TIRE 28.

Vence a rodada o grupo que ficar com as peças que representam o menor

número. Vence o jogo o grupo que ganhar mais rodadas.

É importante que, primeiro, a criança faça várias atividades do tipo: "retire um

tanto", só com o material. Depois que ela dominar o processo de "destroca",

pode-se propor que registre o que acontece no jogo em uma tabela na lousa.

163

Isto irá proporcionar melhor entendimento do "empresta um" na subtração com

recurso. Quando o professor apresentar essa técnica, poderá concretizar os

passos do cálculo com auxílio do material ou desenhos do material.

O "empresta um" também pode indicar a "destroca" de uma centena por 10

dezenas ou um milhar por 10 centenas, etc. Veja o jogo seguinte:

11. "DESTROCA" Objetivos: os mesmos da atividade 10. Cada grupo de alunos recebe um dado marcado de 4 a 9 e uma placa. Quando

o jogador começa, todos os participantes têm à sua frente uma placa. Cada

criança, na sua vez de jogar, lança o dado e faz as "destrocas" para retirar a

quantidade de cubinhos correspondente ao número que sair no dado. Veja

bem: esse número dá direito a retirar somente cubinhos.

Na quarta rodada, vence quem ficar com as peças que representam o menor

número.

Exemplo: Suponha que um aluno tenha tirado 7 no dado. Primeiro ele troca

uma placa por 10 barras e uma barra por 10 cubinhos:

Depois, retira 7 cubinhos:

Salientamos novamente a importância de se proporem várias atividades como

essa, utilizando, de início, só o material. Quando o processo de "destroca"

164

estiver dominado, pode-se propor que as crianças façam as subtrações

envolvidas também com número

REFERENCIA DE MONOGRAFIA SOBRE EXPERIÊNCIA COM ENSINO DE MATEMATICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS.

• natureza e sociedade na Educação Infantil. O CONHECIMENTO MATEMÁTICO: FUNDAMENTOS E METODOLOGIAS. O RCNEI's e o ensino da Matemática. ... http://www.salesiano-ata.br/faculdades/posgraduacao/educacao/educacao_infantil.pdf

REFERENCIA DE DISSERTAÇÃO SOBRE EXPERIÊNCIA COM ENSINO DE MATEMATICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS.

• Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental e Pedagogia, por ocasião dos ... desde então, para a Educação Matemática o materialismo histórico, ..... Dissertação de. Mestrado. Minas Gerais: Universidade Federal, 1988. ... www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/3208_1589.pdf

REFERENCIA DE TESE SOBRE EXPERIÊNCIA COM ENSINO DE MATEMATICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL E ANOS INICIAIS.

165

• Tese de Doutorado. Título original, Avaliação do processo de ensino e ... Atividade de ensino ¤ Avaliação da aprendizagem ¤ Ensino de matemática ... por professoras da Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, ... www.teses.usp.br/teses/.../tde-16032009-145709/ - Em cache - Similares

Disciplina: Conteúdo e metodologia da matemática

Atividade 1 – obrigatória – fórum de participação

Unidade: III

Faça a leitura dos relatos de experiências

e produza um texto fazendo um paralelo entre os

resultados das leituras e a sua prática pedagógica

como objetivo de fundamentar o projeto de intervenção que será construído na

final desta unidade.

Em seguida deposite o texto no fórum de participação e participe

fazendo a leitura e comentários dos trabalhos postados.

O projeto de intervenção será futuramente orientado e combinado a

forma e data da sua entrega.

166

SOBRE O AUTOR E AUTORA

Luiz Gonzaga Pires é

Professor de Prática de

Ensino e Metodologia do

Ensino de Matemática,

Ciências Naturais e Física

na Universidade Federal do

Piauí - UFPI. Graduou-se em

Física e Pedagogia pela

UFPI e especializou-se em

Avaliação da aprendizagem

pela Catédra de Educação

da Univerasidade de

Brasilia. Realizou seu

mestrado inicialmente na

Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo –

PUC e concluiu na Universidade Federal do Ceará. Atualmente está com

seu interesse voltado para Educação à Distância onde atua como

Professor, a nível de licenciatura, nos cursos de Matemática e Pedagogia

da Universidade Aberta do Piauí - UAPI e, a nível de especialização, no

curso de gestão escolar oferecido pela Escola de Gestores da Educação

Básica/Universidade Federal do Piauí.

167

Naisis Castelo Branco

Andrade

Possui Graduação em Licenciatura

Plena em Matemática pela

Universidade Estadual do Piauí

(2000);Especialização em Matemática

para o ensino Médio pela

Universidade Federal do

Piauí.Ministrou e coordenou o

curso:Matemática Contextualiza na

Universidade Estadual do Piauí

(2001),Ministrou a Disciplina

Matemática Elementar e Ensino para o curso de Formação de professores

do Ensino Fundamental em Áreas Específicas pela Universidade Estadual

do Ceará (2001).Desenvolveu Módulos de Matemática utilizados no

projeto Formação Continuada de Professores da Rede Pública do Estado

do Ceará -Fundação Demócrito Rocha(Universidade Aberta do Nordeste-

2004). Atualmente é Professora Substituta da Universidade Federal do

Piauí, ministrando as Disciplinas de Prática de Ensino, Estágio

Supervisionado II e Metodologia da Matemática. Ultimamente está com

seu interesse voltado para Educação à Distância onde atua como

Professora, a nível de licenciatura, nos cursos de Matemática e Pedagogia

da Universidade Aberta do Piauí - UAPI e, a nível de especialização, no

curso de gestão escolar oferecido pela Escola de Gestores da Educação

Básica/Universidade Federal do Piauí.