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FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS PARA O TRABALHO COM PORTADORES DE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

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O livro apresenta uma abordagem inovadora para o estudo da educação inclusiva. O leitor terá uma visão geral e histórica, desde a concepção até a organização, da integração escolar à proposta da educação inclusiva. Com ele, o leitor verá os alunos com necessidades educacionais especiais apresentados nessa obra em diferentes contextos. Dentro da comunidade escolar, são abordados os princípios da cultura inclusiva no âmbito da escola – igualdade, justiça, imparcialidade, inserção e aceitação da diversidade e a importância da participação da família no processo formativo; formas e a relevância do envolvimento parental, colocando os pais em face do processo de inclusão escolar. Quanto às políticas educacionais brasileiras, o autor traz quais são os princípios norteadores, processos e mecanismos de inclusão e como é a marginalização escolar e social de portadores de necessidades especiais.

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FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS PARA O TRABALHO COM

PORTADORES DE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

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FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS PARA O TRABALHO COM

PORTADORES DE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

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5Apresentação

ApresentaçãoUmconteúdoobjetivo,conciso,didáticoequeatendaàsexpectativasdequemlevaavidaemconstantemovimento:estepareceserosonhodetodoleitorqueenxergaoestudocomofonteinesgotáveldeconhecimento.

Pensando na imensa necessidade de atender o desejo desse exigente leitor équefoicriadoesteprodutovoltadoparaosanseiosdequembuscainformaçãoeconhecimento com o dinamismo dos dias atuais.

Comessesideaisemmente,nasceramoslivroseletrônicosdaCengageLearning,comconteúdosdequalidade,dentrodeumaroupagemcriativaearrojada.

Emcadatítuloépossívelencontraraabordagemdetemasdeformaabrangente,associadaaumaleituraagradáveleorganizada,visandofacilitaroaprendizadoeamemorizaçãodecadadisciplina.

Alinguagemdialógicaaproximaoestudantedostemasexplorados,promovendoainteração com o assunto tratado.

Aolongodoconteúdo,oleitorteráacessoarecursosinovadores,comoostópicos“Atenção”,queoalertamsobreaimportânciadoassuntoabordado,eo“Para saber mais”,queapresentadicasinteressantíssimasdeleituracomplementarecuriosida-desbembacanas,paraaprofundaraapreensãodoassunto,alémderecursosilustra-tivos,quepermitemaassociaçãodecadapontoaserestudado.Aoclicarnaspalavras- -chaveemnegrito,oleitorserálevadoaoGlossário,parateracessoàdefiniçãodapalavra.Paravoltaraotexto,nopontoemqueparou,oleitordeveclicarnaprópriapalavra-chavedoGlossário,emnegrito.

Esperamosquevocêencontrenestelivroamaterializaçãodeumdesejo:oalcancedoconhecimentodemaneiraobjetiva,concisa,didáticaeeficaz.

Boa leitura!

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7Prefácio

PrefácioAinclusãodealunosconsiderados“diferentes”nosistemadeensinotemaconte-cidodeformagarantida,poistrata-sedeumcontextoqueaindarequeraaceitaçãodas diferenças humanas e, principalmente, a transformação de atitudes e posturas.

Nocampodapráticapedagógica,essasdificuldadessãoaindamaispotencializa-das,pois,alémdosesforçosmencionados,sefaznecessárioaindaamodificaçãodosistemadeensinoeaorganizaçãodasescolasparaqueestaspossamseajustaràsespecificidadesdetodososalunos.

Apesardostantospercalços,hádeseconsiderarasmudançashavidasaolongodahistória.Apublicaçãodenormas,leisepolíticasparaoacolhimentodaspessoascomnecessidadesespeciaisnuncafoitãointensa.Destaquedeveserfeitonoce-náriopedagógico.

Parafomentarodebateemtornodosprincípiospedagógicosexploradosnocon-textodainserçãodaspessoascomnecessidadesespeciais,elaboramosopresenteconteúdo,comaapresentaçãodeimportantestemasparareflexão.

NaUnidade1éexploradooconceitodaeducaçãoinclusivaeasuaevoluçãoaolongodahistória.Nessecontexto,oleitorconheceráumpoucomaissobreaLínguaBrasileiradeSinaiseoSistemaBraille,sistemasdesenvolvidosparaauxílioaosportadoresdedeficiênciaauditivaevisual,respectivamente.Alémdessesassun-tos,sãoabordados,ainda,assuntospertinentesaoatendimentoespecializadoeoPlano de Desenvolvimento da Educação (PDE).

Dando seguimento na abordagem do estudo, a Unidade 2 trata dos diversos con-textosemqueoestudantecomnecessidadeseducacionaisespeciaisestáinserido,como sua casa, locais públicos, meios de transporte, comunidade em geral, dentre tantoslocaisqueauxiliamemsuainclusão.

AUnidade3vaiapresentarquestõesimportantes,comoaparticipaçãodafamíliano processo de inclusão.

Finalmente,naUnidade4,oleitoraprenderámaissobreocontextohistóricodoprocessopedagógico,repassandoasnoçõessobreapedagogiapombalina,osre-flexosnoâmbitoeducacionaldeperíodoscomooEstadoNovoeaditaturamilitar.QuestõescomoaspolíticaseducativasnoBrasileoproblemadadescontinuidadedeaçõessãosuscitadasnapartefinaldoconteúdo.

Ainclusãodaspessoasportadorasdedeficiênciaétemalatenteemerecetodaaatençãonecessária,principalmenteemtemposondeaindasepleiteiamgarantiasessenciais e urgentes.

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9Unidade 1 – O que é Educação Inclusiva

UNIDADE 1O QUE É EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Capítulo 1 ConceitosbásicossobreaEducaçãoInclusiva,10

Capítulo 2 Visãogeralehistórica,concepçãoeorganizaçãoda Educação Inclusiva, 14

Capítulo 3 Visão geral e histórica da Educação Inclusiva no Brasil, 14

Capítulo 4 ALínguaBrasileiradeSinais–Libras,18

Capítulo 5 OsistemaBraille,19

Capítulo 6 ConcepçãoeorganizaçãodaEducaçãoInclusiva,20

Capítulo 7 OsNúcleosdeAtividadesdeAltasHabilidades/ Superdotação, 21

Capítulo 8 OPlanoNacionaldeEducaçãoemDireitosHumanos,22

Capítulo 9 OPlanodeDesenvolvimentodaEducação–PDE,22

Capítulo 10 AtendimentoEducacionalEspecializado,23

Capítulo 11 Salas de recursos multifuncionais, 23

Capítulo 12 DaintegraçãoescolaràpropostadaEducaçãoInclusiva,26

Glossário,30

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10 Fundamentos pedagógicos para o trabalho com portadores de necessidades educativas especiais

1.ConceitosbásicossobreaEducaçãoInclusivaAntesdeabordarmososconceitosbásicossobreEducaçãoInclusiva,éneces-sáriorealizarmosumareflexãosobreocontextoatualdaescolaque,comoins-tituição social educativa, tem sofrido críticas em relação ao seu papel ante a globalizaçãomundial.Esseprocessotemocorridoemtodoomundocontempo-râneo,promovendotransformaçõesdeordempolítica,socialecultural.Essastransformaçõestêmcomopontodepartidaosavançostecnológicos,areestru-turaçãodossistemasdeprodução,acompreensãodopapelqueoEstadoexerceeasinúmerasmodificaçõesporqueesseEstadovempassandoemrazãodasalteraçõesnosistemafinanceiroglobal,aorganizaçãodotrabalhoe,porfim,oshábitosdeconsumodapopulaçãoemtodoomundo(LIBÂNEO,OLIVEIRA,TOSCHI,2006,p.51).

Nessaconjuntura,énecessárioqueaescolarepenseainstituiçãocomoaco-nhecemoshoje.Elaéconvidadaareestruturarossistemaseducativosdequefazuso,umavezque,alémdeconvivercomoutrasmodalidadesdeeducação não formal,informaleprofissional,precisasearticulareseintegraraestas,com o objetivo, entre outros, de formar cidadãos mais bem preparados e aptos paravivereatuarnessemundoglobalizado.

ÉnessecontextoqueseencontraaEducaçãoInclusiva.

Esseéumassuntoque temsidoabordadopor inúmerosautoresdaáreadeeducação,preocupadosemproporcionaraosestudantesqueapresentamne-cessidades educativas especiais as oportunidades para estudarem com autono-miaeindependência,nasmesmascondiçõesdeigualdadedosestudantesquenão possuem nenhuma dessas necessidades.

Issoporque,historicamente,aspessoasportadorasdenecessidadesespeciaissofreramasmaisdiferentesformasdediscriminação.Atualmente,sãovistasde

formapreconceituosa,oqueaslevaàsi-tuaçãodeexclusãocomrelaçãoaosseusdireitos fundamentais como cidadãos.

Cabedestacarquenemsempreaspessoasquepossuemnecessidadeseducativases-peciaissãopessoascomdeficiência.

AEducaçãoInclusivaestávoltadatambémaos estudantes pertencentes a minorias sociaisque,porumasériedemotivos,nãose encontravam presentes em escolas e sa-lasdeaularegulares(AINSCOW,1997).

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11Unidade 1 – O que é Educação Inclusiva

Vamos conhecer um pouco mais sobre as necessidades educativas especiais?

Asnecessidadeseducativasespeciaissevoltamnãosóàspessoasquepossuemdeficiências,masàquelesquepassamaserconsideradosespeciaisnomomentoemquedemandamrespostasespecíficaseadequadasàssuaslimitações.Issopodeocorrerpordiversosmotivos:acidentes,enfermidades,situaçõesparticu-lares ou sociais...

Verificamos,então,queoconceitodenecessidadeseducacionaisespeciaisin-clui, alémdas pessoas comdeficiências, aquelas que vivenciemdificuldadestemporáriasoupermanentesnaescolaequenecessitamdeatençãodiferenciada.

Segundo a Declaração de Salamanca, também se encontram nesse rol ascriançasque:

• apresentemrepetênciacontínuanosanosescolares;• estejam sendo vítimas de trabalho forçado;• vivem nas ruas;• moramdistantesdequaisquerescolas;• vivememcondiçõesdepobrezaextrema;• estejam em situação de desnutrição;• sejamvítimasdeguerraouconflitosarmados;• sofremdeabusoscontínuosfísicos,emocionaisesexuais;• estãoforadaescola,porqualquermotivoqueseja.

Trata-sedeumaconcepçãoextremamenteabrangente,quedemandaaaproxi-maçãodosdoistiposdeensino,oregulareoespecial,jáqueessanovadefiniçãoimplicaquetodospossuem(oupodem,emdadomomento,virapossuir),tem-poráriaoupermanentemente,necessidadeseducacionaisespeciais.

P ARA SABER MAIS: A Declaração de Salamanca se encontra disponível no sítio eletrônico do Ministério da Educação – MEC, em <http://portal.mec.gov.br/seesp/

arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2015.

EoquesignificaEducaçãoInclusiva?

ParaentendermosoqueaEducaçãoInclusivarepresenta,precisamosdesmem-braressaexpressão:

• Educação –Refere-seaoconjuntodenormaspedagógicasquevisamaode-senvolvimentogeraldocorpoedoespírito(AURELIOONLINE, 2015).

• Inclusiva – Origina-sedoverboincluir,que,porsuavez,vemdolatiminclu-dereesignificaabranger,compreender,envolver.

Ainclusão deveserentendidacomoumprocessodinâmico,noqualoobjetivoéencontrarasmelhoressituações,paraquecadaestudantesedesenvolvadentro

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12 Fundamentos pedagógicos para o trabalho com portadores de necessidades educativas especiais

desuaspotencialidades,dascaracterísticasquesuaescolapossui,bemcomodasdiversasvariáveisqueaeducaçãoapresentaequeserelacionamaotempoeàsoportunidades.

Valedizerque“excluir”temorigemnolatimexcludereeéoopostodeincluir. É contra a exclusão que a Educação Inclusiva Milita.

Devemosentenderqueincluirnãosedirecionasomenteàaçãodeconduziraspessoascomnecessidadesespeciaisemdireçãoàinclusão.

Incluir compreende uma mudança de visão, um buscar por meios de cons-cientizarosintegrantesdasociedadequeaindacriamemantêmsituaçõesdeexclusão.Essaconscientizaçãotemseusesforçosdirecionadosparaexclusãodeixedeserpraticadaeparaqueaquelesqueapratiquemampliemsuavisão.Sóassimaeducaçãodequalidadepoderáserumdireitoexercidoportodososmembros da escola e da sociedade em geral.

Nessesentido,Menezes(2002)apontaparaanecessidadedaexistênciadeumsistemade educaçãoúnico (regular+ especial), que seja capazdeatender atodososestudantes,tantoadultoscomocrianças,pormaisespecialqueessepúblicopossaserouemqualquersituaçãoqueseencontre.

Masporqueénecessárioumsistemadeeducaçãoúnico?

Noanode2007,oMinistériodaEducação–MECnomeou,pormeiodaPortariaMinisterial no 555/2007, um Grupo de Trabalho – GT para defender o direito detodososestudantesestaremjuntos,aprendendoeparticipando,semexperi-mentar nenhum tipo ou forma de discriminação.

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13Unidade 1 – O que é Educação Inclusiva

De acordo com essa portaria, o movimento mundial pela Educação Inclusiva nãodeveocorrerde forma isolada.Paraqueessaeducaçãovenhaacumprircomseuobjetivo,énecessárioqueocorraaintegraçãodeumconjuntodeações,nas áreas políticas, culturais, sociais e pedagógicas, que dialoguem entre sidiante, para se tornar o objetivo maior: a efetivação da Educação Inclusiva.

Aoconjugartodosesseselementos,umsistemaúnicodeeducaçãodeveutilizarosrecursospedagógicosparasuprirasnecessidadesdaquelesestudantesquenecessitamdeatençãodiferenciada,semprecisarsepará-losemsalasdeauladiferenciadaseexcludentes.

Assim,asaladeaularegulardeveestarpreparadaparareceberosestudantesquepossuemnecessidadesespeciaiseosquenãopossuemessasnecessidades.

Pararepresentaraexclusão,aseparação,aintegraçãoeainclusão,afiguraaseguirébastanteelucidativa.

Ainclusãoédiferentedeintegração,umavezqueaúltimaaindaguardacarac-terísticasdesegregação.Ainclusãoefetivamenteinsereapessoacomnecessi-dadesespeciaisnoseiodasociedade,comoindivíduocapazequegozaplena-mente de seus direitos e deveres como cidadão.

Nopróximocapítulo,estudaremosavisãogeralehistórica,bemcomaconcep-çãoeaorganizaçãodaEducaçãoInclusiva.Nessemomento,teremosaoportu-nidadedevisualizaraquestãodadiscriminação,queenvolveopreconceitoeasegregaçãocomrelaçãoaosportadoresdenecessidadesespeciais.Tambémve-remosnesse capítulo como essa discriminação tem sido paulatinamente vencida pormeiodeaçõesdeEducaçãoInclusiva.

Exclusão Separação

Integração Inclusão

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2.Visãogeralehistórica,concepçãoeorganizaçãodaEducação Inclusiva

Nocapítuloanterior,estudamososconceitosbásicosdaEducação Inclusiva.Analisamosoqueconstituemasnecessidadesespeciaiseverificamoscomoosportadoresdessasnecessidadestêmsido,historicamente,vítimasdepreconcei-toeatémesmoexcluídasdasociedade,vivendosemacessoaosdireitosbásicos,como a educação.

Agora,vamosestudarcomooatendimentoeducacionalàspessoascomnecessi-dadeseducativasespeciaisfoisedesenvolvendoaolongodotempo.Analisaremos,também,algunsdosmarcoshistóricosenormativosmaisimportantes,quede-ramorigemàconcepçãoeàorganizaçãodaEducaçãoInclusivacontemporânea.

3. Visão geral e histórica da Educação Inclusiva no BrasilNoBrasil, o atendimento às pessoas comdeficiência por parte doEstado jáocorriadesdeaépocadoImpério,comacriaçãodoImperialInstitutodosMeni-nos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, bem como do Instituto dos Surdos Mudos, atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos – INES.

EmboraohistóricodeaçõesporpartedoEstadoBrasileiroremonteaoséculoXIX,vamosrealizarumcortetemporal,queseinicianoséculoXX,quandoumasériedeimportantesaçõesforamimplementadas.

Décadasde1920-1950

• 1926–FundaçãodoInstitutoPestalozzi,dedicadoaoatendimentodepesso-ascomdeficiênciamental.

• 1945–Criaçãodoprimeiroatendimentoeducacionalespecializadoparapes-soas com superdotação,naSociedadePestalozzi.

• 1954–FundaçãodaprimeiraAssociaçãodePaiseAmigosdosExcepcionais–APAE.

Décadasde1960-1970

Apartirdadécadade1960,épossívelobservarummovimentoquecrescegra-dualmenteemproldemudançascomrelaçãoàspessoasportadorasdeneces-sidades educativas especiais.

Pontuamos,aseguir,asprincipaisaçõesempreendidas:

• 1961–OatendimentoeducacionalàspessoascomdeficiênciapassaaserdispostopelaLeideDiretrizeseBasesdaEducaçãoNacional–LDBEN,fun-damentadonaLein.4.024/61.É importantedestacarqueessa lei foium

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15Unidade 1 – O que é Educação Inclusiva

marcoparaaEducaçãoInclusivadoBrasil,apontandoodireitodos“excep-cionais”(termoutilizadonaquelaépoca)àeducação,defendoessaocorrerdeforma preferencial dentro do sistema geral de ensino.

• 1971–ApublicaçãodaLein.5.692/71alterouaLDBENaodefinirqueo“tratamentoespecial”(termoquepassouaserutilizadoentão)paraoses-tudantescom“deficiênciasfísicas,mentais,osqueseencontramematrasoconsiderávelquantoà idaderegulardematrículaeossuperdotados”nãoatenderiaaopropósitoparaoqualforaoriginariamenteestabelecido.Iden-tificou-seque:

1)essetratamentonãofomentariaaorganizaçãodeumsistemadeensinocapazdeatenderàsnecessidadeseducacionaisespeciais;

2) ele acabaria reforçando o direcionamento dos estudantes para as classes e escolasespeciais,exatamenteoquesepretendiaevitar.

• 1973 – Foi criado o Centro Nacional de Educação Especial – Cenesp, por partedoMinistériodaEducação–MEC.Essecentrotornou-seoresponsávelpelagerênciadaeducaçãoespecialnoBrasil.Suaprincipalatribuiçãofoiapromoçãodaintegração,aoimpulsionaraçõeseducacionaisdirecionadasàspessoascomdeficiênciaeàspessoascomsuperdotação.

ATENÇÃO! Cabe destacar que, nesse período, as ações de inclusão de pessoas com necessidades especiais ainda eram configuradas por campanhas assistenciais e

iniciativas isoladas por parte do Estado brasileiro.

Também não foi efetivada uma política pública de acesso universal à educação.Prevaleceu a concepção de “políticas especiais” para lidar com a educação de estudantes possuidores de deficiência.

Existia, ainda a falta de organização de um atendimento especializado que levasse em consideração as singularidades de aprendizado dos estudantes com superdotação, embora esses tenham obtido acesso ao ensino regular.

Décadade1980

• ApromulgaçãodaConstituiçãodaRepúblicaFederativadoBrasilde1988–a“CartaMagna”trouxe,comoumdosseusobjetivosfundamentais“pro-moverobemdetodos,sempreconceitosdeorigem,raça,sexo,cor,idadeequaisqueroutrasformasdediscriminação”(artigo3o, inciso IV).

• Noartigo205daConstituição,estádefinidoqueaeducaçãoéumdireitodetodos,garantindo-seoplenodesenvolvimentodapessoa,oexercíciodacida-daniaeaqualificaçãoparaotrabalho.

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16 Fundamentos pedagógicos para o trabalho com portadores de necessidades educativas especiais

• Noartigo206,incisoIdomesmodiplomalegal,estáestabelecidoquea“igual-dadedecondiçõesdeacessoepermanêncianaescola”trata-sedeumdosprincípios da educação.

• Oartigo208tambémdaConstituiçãogarantequeaofertadoatendimentoeducacionalespecializado,comodeverdoEstado,deveocorrer“preferencial-mente na rede regular de ensino.”

Décadade1990

NessadécadaocorrerammarcosmundiaisnaEducaçãoInclusivanomundoenoBrasil.Emâmbitomundial,aEducaçãoInclusivaentrouemevidênciatendocomopontodepartidaasdiscussõesdochamado“movimentopelainclusão”,bemcomodosreflexosprovocadospelaConferênciaMundialsobreEducaçãoEspecial,realizadanacidadedeSalamanca,naEspanha,noanode1994.

• No mundo foram publicados dois importantes documentos para a Educação Inclusiva,quesão:

a)1990 – A Declaração Mundial de Educação para Todos, por parte da Organização das Nações Unidas para a educação, a Ciência e a Cultura – Unesco.

b)1994 –ADeclaraçãodeSalamanca, documento significativo em todo omundo,noqualforamlevantadosaspectosinovadoresrelativosàreformade políticas e sistemas educacionais.

• NoBrasil,foipromulgadooEstatutodaCriançaedoAdolescente–ECA(Lein.8.069/90).Noartigo55dessalei,estádestacadoque“ospaisouresponsáveistêmaobrigaçãodematricularseusfilhosoupupilosnarederegulardeensino”.

ALeideDiretrizeseBasesdaEducaçãoNacional–LDBENqueseencontraemvigor(Lein.9.394/96)define,entreasnormasparaaorganizaçãodaeducaçãobásica:

• “[...]possibilidadedeavançonoscursosenassériesmedianteverificaçãodoaprendizado”(artigo24,incisoV,alínea).

• “[...] oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as característi-casdoalunado,seusinteresses,condiçõesdevidaedetrabalho,mediantecursoseexames”(artigo37,§1o).

Amesmaleidispõeque:

“Artigo59–Ossistemasdeensinoassegurarãoaoseducandoscom,trans-tornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação:

I–currículos,métodos,técnicas,recursoseducativoseorganizaçãoespecífi-cos,paraatenderàssuasnecessidades;

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17Unidade 1 – O que é Educação Inclusiva

II– terminalidadeespecíficaparaaquelesquenãopuderematingironívelexigidoparaaconclusãodoensinofundamental,emvirtudedesuasdefici-ências,eaceleraçãoparaconcluiremmenortempooprogramaescolarparaos superdotados;

III–professorescomespecializaçãoadequadaemnívelmédioousuperior,paraatendimentoespecializado,bemcomoprofessoresdoensinoregularca-pacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;

IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vidaemsociedade,inclusivecondiçõesadequadasparaosquenãorevelaremcapacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãosoficiaisafins,bemcomoparaaquelesqueapresentamumahabilidadesuperiornasáreasartística,intelectualoupsicomotora;

V–acesso igualitárioaosbenefíciosdosprogramassociaissuplementaresdisponíveis para o respectivo nível do ensino regular”.

Éimportantedestacarque,em1999,oDecreton.3.298/99,foipublicadopararegulamentaraLein.7.853/89,quedispõesobreaPolíticaNacionalparaaIntegraçãodaPessoaPortadoradeDeficiência.Nessedecreto,estádefinidoquea Educação Especial se trata de uma modalidade transversal a todos os níveis edemaismodalidadesdeensino.Suaênfasevolta-separa“aatuaçãocomple-mentar da educação especial ao ensino regular.”

Nota-sequeháumprocessosucessivodemudançasemrelaçãoaoamadureci-mentodaeducaçãodepessoasportadorasdenecessidadesespeciais,refletidonasDiretrizesNacionaisparaaEducaçãoEspecialnaEducaçãoBásica,conti-dasnaResoluçãoCNE/CEBn.2/2001.

OArtigo2odaLDBENdeterminaqueossistemasdeensinotemodeverdematri-culartodososestudantes.Aorganizaçãoparaviabilizaroatendimentoaosedu-candoscomnecessidadeseducacionaisespeciaiseasseguraraelesascondiçõesnecessáriasparaumaeducaçãodequalidadeé de responsabilidade das escolas.

Verifica-sequeaLDBENampliouocaráterdaEducaçãoEspecial,visandoà reali-zaçãodoatendimentoespecializadocomplementarousuplementaràescolarização.

Todavia, dessa ação surgiu um efeito colateral preocupante: a admissão da pos-sibilidadede substituir o ensino regularnãopotencializouaadoçãodeumapolítica de educação inclusiva na rede pública, conforme previsto.

Adécadade2000esuainfluêncianaorganizaçãoeconcepçãoda Educação Inclusiva

DeacordocomoPlanoNacionaldeEducação–PNE(Lein.o 10.172/01), previu--se,em2001,que“ograndeavançoqueadécadadaeducaçãodeveriaproduzir

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18 Fundamentos pedagógicos para o trabalho com portadores de necessidades educativas especiais

seriaaconstruçãodeumaescolainclusivaquegarantaoatendimentoàdiver-sidade humana”.

Esse avanço deveria decorrer por meio do estabelecimento de objetivos e metas, nosquaisossistemasdeensinofavorecessemoatendimentoàsnecessidadeseducacionais especiais dos estudantes.

Todavia,identificou-seainsuficiênciadevagasparaamatrículadeestudantescomdeficiêncianasclassescomunsdoensinoregular.Alémdisso,faltavafor-maçãodocenteespecialparaatenderaessepúblico,alémdenãohaveracessi-bilidadenas escolas.

Umimportantepassoparaaafirmaçãoda igualdadededireitose liberdadesfundamentaisparaaspessoascomdeficiênciafoiapromulgaçãodaConvençãoda Guatemala (1999) por meio do Decreto n. 3.956/01.

Nessedecreto,estádefinidoquesecaracterizacomodiscriminaçãotodaequal-querdiferenciaçãoouexclusão,combaseemqualquerdeficiênciaqueapessoaapresente,equepossaimpedirouanularoexercíciodosseusdireitoshumanose de suas liberdades fundamentais.

Essanormarepercutiufortementenaáreadaeducação,aoexigirareinterpre-taçãodaeducaçãoespecial, queaté então era compreendidanocontextodadiferenciaçãoedaadoçãodemeiosquefomentassemaeliminaçãodebarreirasqueimpedissemoacessoàescolarizaçãodaspessoasportadorasdenecessida-des especiais.

AResoluçãoCNE/CPn.1/02estabeleceuasDiretrizesCurricularesNacionaisparaaFormaçãodeProfessoresdaEducaçãoBásica,definindoqueas insti-tuiçõesde ensinosuperiordeveriamprevera formaçãodocente voltadaparaadiversidadeequecontemplasseconhecimentossobreasespecificidadesdosestudantes portadoras de necessidades educacionais especiais, em sua organi-zaçãocurricular.

4.ALínguaBrasileiradeSinais–LibrasOutro importanteavançodeu-secomapublicaçãodaLein.10.436/02,quereconheceuaLínguaBrasileiradeSinais–Libras, como meio legal de comuni-caçãoeexpressão.

ATENÇÃO: Libras é a forma de comunicação utilizada entre as pessoas brasileiras com baixa ou nenhuma audição. Utiliza a expressão gestual. Tem origem na língua

de sinais francesa.

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19Unidade 1 – O que é Educação Inclusiva

Essa lei determinou que fossem garantidas as formas institucionalizadas deapoioaoseuusoedifusãoe,ainda,a inclusãodadisciplinadeLibrascomoparte integrante do currículo nos cursos de formação de professores e de fono-audiologia.

ODecreton.5.626/05(queregulamentouaLein.10.436/02)dispôssobre:

• a inclusão daLibrascomodisciplinacurricular;

• aformaçãoeacertificaçãodeprofessores,instrutores,tradutoresouintér-pretesdeLibras;

• oensinodaLínguaPortuguesacomoasegundalínguaparaestudantessurdos;

• aorganizaçãodaeducaçãobilínguenoensinoregular.

5.OsistemaBrailleOutraimportanteaçãoparaaEducaçãoInclusivafoiaaprovação,porpartedoMEC,daPortarian.2.678/02,quedefinitivasdiretrizesenormasparaouso,ensino, produção e difusão do sistema Braille em todas as modalidades de ensino.

ATENÇÃO: O sistema Braille é o sistema de escrita e leitura para deficientes visuais que utiliza o tato. Foi inventado pelo francês Louis Braille, no ano de 1827.

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20 Fundamentos pedagógicos para o trabalho com portadores de necessidades educativas especiais

APortariadoMECdispôssobreoprojetodaGrafiaBrailleparaaLínguaPortu-guesa, bem como recomendou o seu uso em todo o território brasileiro.

EssessãomarcosnahistóriarecentedaEducaçãoInclusiva.Outrasaçõespon-tuaistambémocorreram,maspreferimosnãonosdeteraelas,optandopordarumavisãopanorâmicadessehistórico.

Estudaremos,no tópico seguinte, a concepção e a organizaçãodaEducaçãoInclusiva,queseplasmaemdiversasações.

6.ConcepçãoeorganizaçãodaEducaçãoInclusivaAEducaçãoInclusivatrata-sedeumparadigma daeducação,quesebaseianaconcepção de direitos humanos, ao conjugar igualdade e diferença como valores indissociáveis.

DeacordocomoMEC(2007,p.1),aEducaçãoInclusivaavançaemrelaçãoàideiadeequidadeformal,aocontextualizarascircunstânciashistóricasdaproduçãodaexclusãodentroeforadaescola,aopartirdoreconhecimentodequeasdificulda-desenfrentadasnossistemasdeensinoratificamanecessidadedeconfrontaraspráticasqueresultememdiscriminaçãoecriaralternativasqueassuperem.

Nesse debate, a Educação Inclusiva tem assumido um papel central, pois seu focotemsidooquestionamentodasociedadecontemporâneadecomoaescolatematuadoparasuperaralógicadaexclusão.

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21Unidade 1 – O que é Educação Inclusiva

A organização de escolas e classes especiais passou a ser repensada, tendocomo ponto de partida os referenciais para a construção de sistemas educacio-nais inclusivos. Esse posicionamento implicou a mudança de estrutura e da culturadaescola,afimdepossibilitarquetodososestudantespudessemviratersuasnecessidadesdeaprendizadoespecíficasatendidas.

AconcepçãoeaorganizaçãodaEducaçãoInclusivanosdiasatuaisforammol-dadas,também,combaseemdiversasaçõesqueserviramparasubsidiaressaeducação, como a implementação, por parte do MEC no ano de 2003 do Progra-ma“EducaçãoInclusiva:direitoàdiversidade”.

Esse Programa teve como objetivo principal envidar meios na busca pela ga-rantiadodireitodeacessodetodosàescolarização,àofertadoatendimentoeducacionalespecializadoeàgarantiadaacessibilidade.

Para viabilizar a proposta deste Programa fez-senecessária a transformaçãodossistemasdeensinoexistentesemsistemaseducacionaisinclusivos,oquedemandou um amplo processo de formação de gestores e educadores nos mu-nicípios brasileiros.

ApublicaçãododocumentoO acesso de estudantes com deficiência às escolas e classes comuns da Rede Regular,noanode2004,oMinistérioPúblicoFederaldoBrasil–MPFbuscoudisseminarosconceitosediretrizesmundiaisparaainclusão,aoreafirmarodireitoeosbenefíciosdaescolarização,tantoparaosestudantespossuidoresdedeficiênciaquantoscomoparaosquenãoapossuí-am nas turmas comuns do ensino regular.

OutroatolegislativoimportantefoiapublicaçãodoDecreton.5.296/04,queregulamentouasLeisn.10.048/00en.10.098/00,estabelecendoasnormaseoscritériosparaapromoçãodaacessibilidadeàspessoascomdeficiência,bemcomodaquelascommobilidadereduzida.

Por parte doMinistério dasCidades, ocorreu a implementação do Programa“BrasilAcessível”(2004),cujoobjetivofoiodepromoveraacessibilidadeurbanaeapoiarasaçõesquegarantissemoacessouniversalaosespaçospúblicos.

7.OsNúcleosdeAtividadesdeAltasHabilidades/Superdotação

Noanode2005sãoimplantadososNúcleosdeAtividadesdeAltasHabilidades/Superdotação – Naah/s, em todos os estados brasileiros e no Distrito Federal.

Paraisso,foramorganizadoscentrosdereferêncianaáreadasaltashabilidadese superdotação.

Oobjetivoprincipaldessaaçãofoidaroatendimentoeducacionalespecializa-do(AEE)dessepúblico,fornecerorientaçãoaosrespectivosfamiliarese,ainda,promoveraformaçãocontinuadadeprofessoresquetrabalhamnessaárea.

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86 Fundamentos pedagógicos para o trabalho com portadores de necessidades educativas especiais

O livro apresenta uma abordagem inovadora para o estudo daeducaçãoinclusiva.Oleitorteráumavisãogeralehis-tórica, desde a concepção até a organização, da integração escolar à proposta da educação inclusiva. Com ele, o lei-torveráosalunoscomnecessidadeseducacionaisespeciaisapresentados nessa obra em diferentes contextos. Dentro da comunidade escolar, são abordados os princípios daculturainclusivanoâmbitodaescola–igualdade,justi-ça, imparcialidade, inserção e aceitação da diversidade e a importânciadaparticipaçãodafamílianoprocessoformati-vo;formasearelevânciadoenvolvimentoparental,colocan-do os pais em face do processo de inclusão escolar. Quanto às políticas educacionais brasileiras, o autor trazquais são os princípiosnorteadores, processos emecanis-mos de inclusão e como é a marginalização escolar e social de portadores de necessidades especiais. O livro informa ainda aoleitorquaissãoasgarantiasconstitucionaiseosdireitoslegais dos portadores de necessidades educativas especiais.

FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS

PARA O TRABALHO COM PORTADORES DE NECESSIDADES

EDUCATIVAS ESPECIAIS