fuja da armadilha do endividamento · uma rota de fuga do cheque especial é o bom uso do cartão...

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Sem Opção Veículo: Correio Braziliense - Caderno: Economia - Seção: Não Especificado - Assunto: Economia - Página: 8 - Publicação: 15/12/19 URL Original: Fuja da armadilha do endividamento Fuja da armadilha do endividamento Mais da metade da população brasileira está endividada. Até novembro de 2019, 65,1% das famílias relataram possuir algum tipo de dívida, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No mesmo período do ano passado, o indicador era de 60,3%. O cartão de crédito foi apontado em primeiro lugar como um dos principais tipos de dívida por 78,8% das famílias, seguido por carnês e financiamento de carro. A economista da CNC Marianne Hanson explica que estar endividado não significa inadimplência. “O crédito possibilita que muitas famílias tenham acesso ao consumo de bens e serviços que não conseguiriam pagar à vista e dos quais precisam imediatamente. Também há famílias que concentram os gastos no cartão. Logo, estar endividado não é a mesma coisa que estar inadimplente”, explica. “As dívidas com cartão de crédito vêm aumentando porque ele está substituindo outras formas de financiamento. O acesso fácil ao crédito e às opções de parcelamento são mais viáveis para muitas famílias”, indica a economista. As elevadas taxas de juros do cheque especial também são o motivo de grande parte das dívidas acumuladas pelos consumidores. Até outubro deste ano, os débitos no cheque especial de pessoas físicas somavam R$ 26,53 bilhões, enquanto as dívidas de pessoas jurídicas nessa modalidade eram de R$ 10,06 bilhões. Os juros do cheque especial para pessoas físicas variam de 1,52% a 15,92% ao mês, ou 19,79% a 488,84% ao ano, segundo o Banco Central (BC). Atualmente, o cheque especial é utilizado por 81 mil clientes bancários, entre pessoas físicas e jurídicas. OBC limitou os juros do cheque especial a um teto de 8% ao mês e decidiu que os bancos vão poder cobrar uma tarifa mesmo de quem não usa, mas pretende manter aberta a linha de crédito. A medida passa a valer em janeiro. Isso significa que, a partir de 1º de junho de 2020, será obrigado a pagar essa tarifa quem tiver um limite de cheque especial acima de R$ 500. Ou seja, mesmo que a pessoa não utilize o cheque especial, o banco poderá cobrar uma taxa. Apenas clientes que tiverem até R$ 500 de limite serão isentos. Por mais que ofereça imediatismo de uso, cheque especial, explica o professor do Departamento de Ciências Contábeis da UnB Jomar Miranda, deve ser evitado ao máximo por pessoas que são desorganizadas financeiramente. “Caso não tenha outra saída, o ideal é ficar com o dinheiro o menor tempo possível e procurar taxas menores, além de preferir o rotativo em vez do parcelado”, explica. Segundo o professor, pessoas que controlam as finanças pessoais e possuem conhecimento sobre o que realmente precisam consumir normalmente não pegam o especial, e preferem se planejar. Planejamento Uma rota de fuga do cheque especial é o bom uso do cartão de crédito. No parcelado — que divide o total da fatura — as taxas de juros para pessoas físicas vão de 3,03% a 16,08% mensais, ou de 43,05% a 498,31% ao ano. Já no crédito rotativo para pessoas físicas, os juros são maiores: de 0,68% a 19,93% por mês, equivalentes a 19,99% e 790,53% ao ano. O rotativo permite que, caso o cliente não pague a fatura, o débito passe para o mês seguinte com juros sobre o saldo devedor. Quando bem utilizado, o cartão de crédito permite que o consumidor planeje a compra de bens duráveis e tenha acesso a uma linha de crédito rápida, além de oferecer outras vantagens. Até o final do ano passado, havia 98,7 milhões de cartões de crédito ativos no país. Em outubro de 2019, o saldo dos débitos era de R$ 11,30 bilhões para pessoas jurídicas e R$ 251,29 bilhões para pessoas físicas, segundo o BC. O cartão de crédito oferece a possibilidade de parcelamento sem juros, que pode ser melhor aliado do que o cheque especial em situações de emergência. Além disso, os programas de milhas e pontos que alguns bancos oferecem permitem ao cliente obter passagens aéreas, hospedagens, produtos e outras vantagens, sem colocar a mão no bolso. Os pontos são acumulados ao longo do tempo, mas têm prazo de validade que costuma ser por volta de dois anos. Caso não sejam resgatados, os pontos expiram. Outra vantagem de alguns cartões são os descontos em lojas, restaurantes, cinemas e serviços de empresas parceiras.

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Page 1: Fuja da armadilha do endividamento · Uma rota de fuga do cheque especial é o bom uso do cartão de crédito. No parcelado — que divide o total da fatura — as taxas de juros

SemOpção

Veículo: Correio Braziliense - Caderno: Economia - Seção: Não Especificado -Assunto: Economia - Página: 8 - Publicação: 15/12/19URL Original:

Fuja da armadilha do endividamentoFuja da armadilha do endividamento Mais da metade da população brasileira está endividada. Até novembro de 2019, 65,1% das famílias relataram possuir algumtipo de dívida, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela ConfederaçãoNacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No mesmo período do ano passado, o indicador era de 60,3%. Ocartão de crédito foi apontado em primeiro lugar como um dos principais tipos de dívida por 78,8% das famílias, seguido porcarnês e financiamento de carro. A economista da CNC Marianne Hanson explica que estar endividado não significa inadimplência. “O crédito possibilita quemuitas famílias tenham acesso ao consumo de bens e serviços que não conseguiriam pagar à vista e dos quais precisamimediatamente. Também há famílias que concentram os gastos no cartão. Logo, estar endividado não é a mesma coisa queestar inadimplente”, explica. “As dívidas com cartão de crédito vêm aumentando porque ele está substituindo outras formas definanciamento. O acesso fácil ao crédito e às opções de parcelamento são mais viáveis para muitas famílias”, indica aeconomista. As elevadas taxas de juros do cheque especial também são o motivo de grande parte das dívidas acumuladas pelosconsumidores. Até outubro deste ano, os débitos no cheque especial de pessoas físicas somavam R$ 26,53 bilhões, enquanto asdívidas de pessoas jurídicas nessa modalidade eram de R$ 10,06 bilhões. Os juros do cheque especial para pessoas físicasvariam de 1,52% a 15,92% ao mês, ou 19,79% a 488,84% ao ano, segundo o Banco Central (BC). Atualmente, o cheque especialé utilizado por 81 mil clientes bancários, entre pessoas físicas e jurídicas. OBC limitou os juros do cheque especial a um teto de 8% ao mês e decidiu que os bancos vão poder cobrar uma tarifa mesmode quem não usa, mas pretende manter aberta a linha de crédito. A medida passa a valer em janeiro. Isso significa que, a partirde 1º de junho de 2020, será obrigado a pagar essa tarifa quem tiver um limite de cheque especial acima de R$ 500. Ou seja,mesmo que a pessoa não utilize o cheque especial, o banco poderá cobrar uma taxa. Apenas clientes que tiverem até R$ 500 delimite serão isentos. Por mais que ofereça imediatismo de uso, cheque especial, explica o professor do Departamento de Ciências Contábeis da UnBJomar Miranda, deve ser evitado ao máximo por pessoas que são desorganizadas financeiramente. “Caso não tenha outra saída,o ideal é ficar com o dinheiro o menor tempo possível e procurar taxas menores, além de preferir o rotativo em vez doparcelado”, explica. Segundo o professor, pessoas que controlam as finanças pessoais e possuem conhecimento sobre o querealmente precisam consumir normalmente não pegam o especial, e preferem se planejar. Planejamento Uma rota de fuga do cheque especial é o bom uso do cartão de crédito. No parcelado — que divide o total da fatura — as taxasde juros para pessoas físicas vão de 3,03% a 16,08% mensais, ou de 43,05% a 498,31% ao ano. Já no crédito rotativo parapessoas físicas, os juros são maiores: de 0,68% a 19,93% por mês, equivalentes a 19,99% e 790,53% ao ano. O rotativo permiteque, caso o cliente não pague a fatura, o débito passe para o mês seguinte com juros sobre o saldo devedor. Quando bem utilizado, o cartão de crédito permite que o consumidor planeje a compra de bens duráveis e tenha acesso a umalinha de crédito rápida, além de oferecer outras vantagens. Até o final do ano passado, havia 98,7 milhões de cartões de créditoativos no país. Em outubro de 2019, o saldo dos débitos era de R$ 11,30 bilhões para pessoas jurídicas e R$ 251,29 bilhões parapessoas físicas, segundo o BC. O cartão de crédito oferece a possibilidade de parcelamento sem juros, que pode ser melhor aliado do que o cheque especial emsituações de emergência. Além disso, os programas de milhas e pontos que alguns bancos oferecem permitem ao cliente obterpassagens aéreas, hospedagens, produtos e outras vantagens, sem colocar a mão no bolso. Os pontos são acumulados ao longodo tempo, mas têm prazo de validade que costuma ser por volta de dois anos. Caso não sejam resgatados, os pontos expiram.Outra vantagem de alguns cartões são os descontos em lojas, restaurantes, cinemas e serviços de empresas parceiras.

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Vantagens De acordo com coordenador do MBA em Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, mesmo com asfacilidades, o cartão de crédito deve ser utilizado com atenção. “Utilizar o crédito com planejamento e com o dinheiro reservadopara as parcelas é a melhor alternativa. Isso porque fazer uma compra e deixar o dinheiro rendendo pode gerar uma pequenavantagem financeira”, afirma. No entanto, Teixeira alerta que não é apropriado ultrapassar a renda mensal em gastos no cartão,pois, em caso de atraso no pagamento, os altos juros e outros encargos podem virar uma bola de neve muito difícil de quitar. O aposentado Carlos Costa, 57 anos, conta que precisou utilizar o cheque especial e demorou mais de dois anos para conseguirpagar todos os juros. Depois disso, deixou de usar a modalidade e aderiu ao planejamento financeiro. “Todo início de mês vejoquais seriam os gastos e me planejo. Uso o cartão de crédito para a compra de coisas mais caras, que não cabem no salário deum mês, mas que tenho certeza de que vou conseguir pagar em dia”, conta. Ele utilizou de cursos on-lines sobre planejamento,para aprender como fazer bom uso do cartão de crédito. Na internet, é possível encontrar canais no Youtube, como NathFinanças e Me Poupe, que oferecem dicas para uma vida financeira tranquila em vídeos gratuitos. * Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

Fique de olhoDicas para aproveitar melhor o cartão de crédito » Programe suas compras. Não utilize o cartão como se fosse um segundo salário. » Antes de comprar, faça as contas. Veja se o valor cabe no seu bolso. » Ao utilizar o cartão, o valor total da compra não deve ultrapassar o limite de crédito disponível, mesmo que a compra sejaparcelada. » Confira sempre a fatura de seu cartão. Caso não reconheça alguma despesa, entre imediatamente em contato com a Central de Atendimento. » Guarde sempre os comprovantes das compras. Para evitar sustos e não estourar o orçamento, some-os sempre para saber oquanto já gastou no mês. » Fique fora da bola de neve. Pague o valor total da fatura do cartão no vencimento. » Se for parcelar, cuidado para não comprometer o orçamento dos próximos meses. » Em caso de perda ou roubo do cartão, entre imediatamente em contato com a Central de Atendimento. » Antes de viajar, não se esqueça de avisar o gerente de sua conta. Isto evita possíveis bloqueios do cartão por suspeita defraude. Fonte: Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito (Abecs)

Juros do cheque especial para pessoa física nos principais bancos* Banco Ao mês Ao anoSantander 14,78% 422,89%ItaúUnibanco 12,48% 309,91%Bradesco 12,54% 312,94%Banco do Brasil 12,02% 290,6%Caixa 9,42% 194,46% * em 21 de novembro

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Juros do cartão de crédito parcelado à pessoa física nos principais bancos* Banco Ao mês Ao anoSantander 7,87% 148,21%Itaucard 8,49% 165,84%Bradesco 8,08% 153,93%Banco do Brasil 7,59% 140,45%Caixa 8,32% 160,89% * em 21 de novembroFonte: Banco Central

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