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  • 8/19/2019 Freire; Romagnoli. o Psicologo No Cras- Cartografias Dos Territorios Subjetivos

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    PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2010, 30 (3), 604-619

      O Psicólogo no CRAS: UmaCartografia dos Territórios

    Subjetivos1

    The Psychologist at the CRAS: A Cartography of Subjective Territories

    El Psicólogo en el CRAS:Una Cartografía de los Territorios Subjetivos

          A    r     t      i    g

        o

    Laura Freirede Andrade

    FaculdadeCiências da Vida

    Roberta CarvalhoRomagnoli

    Pontifícia UniversidadeCatólica de Minas Gerais

    604

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    O Psicólogo no CRAS: Uma Cartografia dos Territórios Subjetivos1.

    Resumo: Esta pesquisa tem como objeto de estudo as relações subjetivas que emergem entre os psicólogosdo CRAS de uma cidade do interior de Minas Gerais e entre os demais profissionais e a comunidade. Oobjetivo é identificar os pontos de represamento e os de invenção produzidos nessas relações, norteadospela filosofia da diferença e pelo método cartográfico. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas coma equipe e os usuários do CRAS, além da observação participante e do envolvimento da pesquisadora. As

    relações de poder, as diferenças e as conexões entre as categorias profissionais, os impasses e os desafiospara a Psicologia nessa recente unidade pública tornaram-se os territórios explorados ao longo da pesquisa.Os efeitos analisados no trabalho mostram os movimentos ora de intercessão entre a equipe e os usuários,ora de especificidades de cada saber, experimentados tanto pelos profissionais quanto pela comunidadeassistida. Além disso, concluímos que tanto o enrijecimento da visão de família nuclear como modelo paraas intervenções como os atravessamentos de polít icos e profissionais de outras organizações nas atividadescotidianas do CRAS muitas vezes inviabilizam o trabalho proposto. Por fim, percebemos a necessidade deintervenções psicológicas para além da psicologização e do modelo tradicional desse fazer.Palavras-chave: CRAS. Cartografia. Subjetivação. Área de atuação profissional. Psicólogos.

     A bstrac: This thesis conducted a study of the subjective relationships that are present among the psychologistsof the CRAS of a small town in Minas Gerais and the other employees as well as the community. The goal isto identify the impoundment and the invention points that are produced in that relationship orientated by

    the philosophy of difference approach and by the cartographic method. Therefore semistructured interviewswith staff and users of CRAS were used, as well as the participant observation and the commitment of theresearcher. The power relationships, the differences and connections among the professional categoriesinvolved, the obstacles and challenges that concern psychology at this recent public unit became the subjectexplored during the research. The effects observed during the research show movements of intercessionamong the staff and the users and also movements of knowledge specificities, experienced by the professionalsas well as by the assisted community. Beyond that, we concluded that both the stiffening of the vision ofthe nuclear family as a model for interventions and the crossings of politicians and professionals from otherorganizations in the daily activities of CRAS many times made the proposed work impracticable. At last,we noticed the need of psychological interventions beyond the psychologizing and the traditional modelof this work.Keywords: CRAS. Cartography. Subjectivation. Professional Practice Location. Psychologists.

    Resumen: Esta pesquisa tiene como objeto de estudio las relaciones subjetivas que emergen entre lospsicólogos del CRAS de una ciudad del interior de Minas Gerais y entre los demás profesionales y lacomunidad. El objetivo es identificar los puntos de represamiento y los de invención producidos en esasrelaciones, norteados por la filosofía de la diferencia y por el método cartográfico. Fueron realizadasentrevistas semi-estructuradas con el equipo y los usuarios del CRAS, además de la observación participantey del envolvimiento de la pesquisidora. Las relaciones de poder, las diferencias y las conexiones entre lascategorías profesionales, los impases y los desafíos para la Psicología en esa reciente unidad pública setornaron los territorios explorados a lo largo de la pesquisa. Los efectos analizados en el trabajo muestranlos movimientos ora de intercesión entre el equipo y los usuarios, ora de especificidades de cada saber,experimentados tanto por los profesionales como por la comunidad asistida. Además de eso, concluimosque tanto el endurecimiento de la visión de familia nuclear como modelo para las intervenciones comolos atravesamientos de políticos y profesionales de otras organizaciones en las actividades cotidianas delCRAS muchas veces inviabilizan el trabajo propuesto. Por fin, percibimos la necesidad de  intervencionespsicológicas para además de la psicologización y del modelo tradicional de ese hacer.Palabras clave: CRAS. Cartografía. Subjetivación. Ubicación de la Práctica Profesional. Psicólogos.

     A Política Pública da Assistência Social visaa garantir a todos os que dela necessitarem,sem contribuição prévia, a proteção social. A concepção da assistência social comopolítica e como direito à proteção e àseguridade social através da Constituiçãode 1988 trouxe uma nova abordagem aessa política, objetivando desvinculá-la

    dos tradicionais modelos assistencialistas ecompreendendo-a como garantidora dosdireitos da cidadania (Brasil, 1988). Sendoum direito do cidadão, pretende proveros mínimos direitos sociais para garantiras necessidades básicas, a segurança de

    sobrevivência (rendimento e autonomia),a segurança da acolhida (alimentação,

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    1Pesquisa

    financiada pelaFAPEMIG.

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    vestuário e abrigo) e o convívio familiar. Suasdiretrizes baseiam-se na descentralização dasações, sendo de responsabilidade da esferafederal a coordenação e as normas gerais,

    e dos Estados e Municípios a coordenaçãoe a execução dos programas e projetos,garantindo-se o comando das ações emcada esfera de governo e respeitando-seas diferenças e as características territoriaislocais. O Sistema Único da AssistênciaSocial (SUAS), implantado em 2005, no País,define e organiza toda a referida política,reordenando a gestão, visando a açõesdescentralizadas e participativas em todo

    o Brasil (Ministério do DesenvolvimentoSocial e Combate à Fome, 2006). O SUASestabelece ainda duas formas de proteçãosocial, que se ocupam das vulnerabilidadese riscos que os cidadãos enfrentam em suatrajetória de vida. A proteção social básicae a proteção social especial compõem essasduas formas, sendo a primeira responsávelpor prevenir situações de risco, e a segunda, já intervindo em casos em que há situações de

    risco com ou sem rompimento dos vínculosfamiliares.

    O Centro de Referência da AssistênciaSocial (CRAS) é um equipamento públicoque se enquadra na proteção social básicae que atua na perspectiva de prevenção desituações de risco. O CRAS fica localizado,obrigatoriamente, em territórios ondehá presença de vulnerabilidades e riscos

    sociais, enfocando a família e os vínculoscomunitários (Ministério do DesenvolvimentoSocial e Combate à Fome, 2006). Essaunidade é a responsável pela execuçãode serviços, programas e projetos quepotencializam a família como unidade dereferência, reconhecendo os diversos arranjosfamiliares, valorizando as particularidadesde cada grupo familiar, fortalecendo essesvínculos e articulando-os com seu contexto

    comunitário. O CRAS, como proposta

    de unidade de atenção social básica, écomposto por psicólogos, assistentes sociais,coordenador, auxiliar administrativo eeducadores sociais, entre outros. Em 2003,

    inicia-se a implantação dessas unidadespúblicas em 301 Municípios brasileiros, dosquais a cidade pesquisada, no Estado deMinas Gerais, é uma das pioneiras.

    Duas mil quatrocentas e cinquenta equatro pessoas habitam esse Municípiomineiro (Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística [IBGE], 2000). O CRAS pesquisadopossui trezentos e oitenta e quatro famílias

    cadastradas e acompanhadas pela equipetécnica. Os projetos desenvolvidos atualmentesão: Projeto Cantina da Cidadania, que visa aatender pessoas desnutridas, malnutridas e/ ou acamadas, bem como obesos, hipertensos,diabéticos, alcoolistas e pessoas com câncer;seu objetivo é garantir a esses usuáriosnutrição que propicie repor ou complementara alimentação diária, melhorar o quadroclínico e a qualidade de vida; Projeto Fiando

    e Desfiando a Vida: oficina para manufaturade panos de prato e congêneres, comomecanismo de geração de renda de famíliasna linha de pobreza; Projeto Centro de Intermediação para o Trabalho: para os jovensmaiores de 16 anos e adultos excluídos doprocesso de trabalho e renda, esse projetovisa a proporcionar capacitação para mãode obra desocupada e/ou desempregada;Projeto Dançando para o Futuro: oficinas de

    dança e capoeira para crianças a partir desete anos, adolescentes e terceira idade; oobjetivo é estimular a autoestima, a melhoriada qualidade de vida, a exteriorizaçãodas emoções e a ampliação do convíviosocial; Telecentro: seu objetivo é a inclusãodigital de toda a população local; Projovem Adolescente: serviço do Governo Federal queatende jovens entre 15 e 17 anos. Os objetivossão a permanência ou o retorno à escola, a

    assistência às famílias dos participantes e a

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    prevenção de situações de risco. Para isso,são realizadas ações socioeducativas comoesporte, cultura, formação inicial para otrabalho e ações comunitárias. Outros dois

    projetos são a feirinha e a parceria com aEmpresa de Assistência Técnica e ExtensãoRural de Minas Gerais (EMATER). A feirinhatem o objetivo de divulgar e vender osprodutos confeccionados no CRAS, e parte daprodução de legumes e verduras da EMATERfica destinada aos usuários que necessitamdesse auxílio.

    Como pesquisar: o olhar dafilosofia da diferença e osprocessos de subjetivação

    No contexto apresentado acima, realizamosuma cartografia para rastrear a realidadee os encontros subjetivos presentes nocotidiano de trabalho dessa unidade. Apesquisa foi realizada através de entrevistassemiestruturadas com os psicólogos, técnicose usuários do CRAS estudado. Essas entrevistasocorreram nos meses de janeiro, março,setembro e novembro de 2008. Durante asvisitas à unidade pesquisada, utilizamos aindaa observação participante e a presença dapesquisadora para cartografar os efeitos dosencontros.

    Cartografar significa navegar entre paisagens,capturar intensidades em que se registram osencontros, e não os objetos. A cartografianão pretende ser neutra, uma vez que, nessesencontros, sujeitos e objetos se tornam outros,um terceiro, e assim por diante e infinitamente(Kirst  , Giacomel, Ribeiro, Costa, & Andreoli, 2003). Nessa proposta, o envolvimento dopesquisador é essencial, pois este é usado paramapear as intensidades, as composições e asdecomposições dos territórios, desenhandoas linhas que se articulam. Essas linhas àsvezes são duras, correspondendo ao queestá estabelecido e instituído e mantendo

    os modelos e as formas identitárias, mastambém, dependendo das circunstâncias,podem ser flexíveis, produzindo potênciade vida, desterritorializações e inaugurando

    criações instituintes, que trazem o impensado,o inédito.

     A cartografia persegue o singular, buscandomapear o transitório, o local, o campode forças que acompanha determinadasituação, visando a abarcar provisoriamentea complexidade que ali atua (Mairesse,2003). Nesse sentido, a intenção cartográficase faz na singularidade dos momentos que

    se atualizam na produção de modos deexistência conectados com a pluralidadee com a resistência. Resistir é reverter aapreensão da vida no capital, escapando dalógica dominante de consumo para liberar apotência de vida, a invenção. Há coexistênciaentre resistir/inventar e reproduzir, por isso,o cartógrafo desenha as forças que mantêma lógica dominante e as linhas de fuga,arrancando as sensações, produzindo redes

    de sentidos.

    Nesse trajeto, utilizamos o referencial teóricoda filosofia da diferença, também chamada deesquizoanálise, que insiste na faceta inumanaexistente na realidade e que também fazparte da subjetividade. A subjetividade ligadaao sujeito e à interioridade é somente umaspecto da subjetividade que se refere ao“pólo identitário e sedentário” (Schérer, 2005,

    p. 132). Em uma perspectiva esquizoanalítica,é preciso se livrar desse raciocínio, na buscade entender como o nosso eu mobiliza aprodução subjetiva incorporal, migrandoos territórios – os que possuímos e os quepodemos vir a ser – como sujeitos nômades,dispostos a outros encontros, que estão àespera de navegar por outras trilhas, outrosterritórios antes desabitados, que corrompema subjetividade, e dela arranquem elementos

    fazendo-se um novo local de moradia. Isso é

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    a conexão. O que agenciamos? Agenciamosencontros com músicas, com uma estrada,com uma obra de arte, com uma pedra;tudo o que verdadeiramente existe pode

    tornar nossa subjetividade diferente daquiloque a compunha anteriormente. Esse é umprocesso transversal e imanente, compostopor estratos e fluxos, formas e forças.

    Nossa subjetividade é habitada por segmentos,linhas estratificadas e duras, sustentadas porrepresentações que abarcam a classificaçãodo sujeito em raça, gênero, sexo, profissãoe classe social, que formam planos de

    organização estratificados. Essas linhas semantêm por processos binários, como, porexemplo, homem versus  mulher, negroversus branco , usuário versus especialista,comunidade versus profissional. Essessegmentos nos formatam em estratos,territórios, cuja composição é codificadacomo identidade. O segmento bináriocompõe as identidades individuais e grupais.De acordo com Deleuze e Guattari (1996),

    esses segmentos estancam a circulaçãoda vida e operam cortes e recortes queconfiguram a forma de a espécie humanase colocar no mundo. Os segmentos têmainda como objetivo estabelecer métodos dehierarquização e de organização.

     Além dessas linhas duras, a subjetividadeé atravessada por forças e fluxos quepossuem outro funcionamento e que

    escapam à homogeneização, convocandoa heterogênese, compondo processosde subjetivação inventivos, planos deconsistência que propiciam agenciamentos.Pelo fato de também ser formada por linhasrelativamente flexíveis, a subjetividade oscilaentre o território já estabelecido – a facetaformal identitária – e as linhas de fuga, quetrazem a desterritorialização, o novo. O queocorre é que as linhas flexíveis nos conectam

    com uma infinidade de entornos, de fluxos

    que vêm de fora e que correspondem auma zona de indeterminação entre as linhasduras e as linhas de fuga. Nas palavras deMárcio Borges, compositor mineiro: “É que

    nunca temos, nem podemos ter jamais, ideiasuficientemente clara desse aglomeradoindistinto..., pois um pouco mais de exatidãonos lança num abismo fundo demais, emtudo e por tudo inimaginável” (Borges, 2002,p. 221).

    Conforme Deleuze e Guattari (1996), asfissuras no segmento possibilitam a formaçãode linhas de fugas, que se dão no molecular,

    mas passam para o molar, para o visível,onde se vê sua efetivação. Essas linhasescapam ao território existencial habitado atéentão, e produzem uma desterritorialização,para permitir a passagem dos fluxos davida e derivar em uma criação/invenção.Somos então habitados por uma estranheza,afetados por sensações desconhecidas que seviabilizam em agenciamentos, que nos levamà produção do inédito, sustentando diferenças

    singulares. Com isso, tornam-se obsoletos osvalores subjetivos que antes habitavam anossa casa, o nosso território identitário. Emoutro lugar, reconfigura-se algo inteiramentenovo, mas que também se torna recolocadoe estabelecido. Essa é a processualidadeda vida: habitar um território, ser afetadopela exterioridade de forças inumanas,desterritorializar e novamente territorializar.Esse é o processo de subjetivação, de

    invenção, ou seja, a subjetividade, em seuterritório fixado (linhas duras) se abre (linhasflexíveis), e os acontecimentos que emergemdessa abertura produzem novas conexõesinventivas (linhas de fuga), convocando-nosa habitar outro território.

    Sob o olhar da filosofia da diferença, arealidade é imanência, e não transcendência,lógica hierárquica. Nessa perspectiva, os

    processos de subjetivação são entendidos

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    “É que nuncatemos, nem

    podemos ter jamais, ideia

    suficientementeclara desse

    aglomeradoindistinto..., poisum pouco mais

    de exatidão noslança num abismo

    fundo demais,em tudo e por

    tudo inimaginável”(Borges, 2002, p.

    221).

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    como o conjunto de instâncias individuais/ sociais e pré-individuais fabricados pelasmáquinas sociais, pela mídia, pela linguagem,uma heterogênese de componentes que,

    através dos agenciamentos, produzem novasformas de subjetivar-se. Os deslocamentosda subjetividade se dão através do que nosafeta de fora, que nos impulsiona e pressionaà ruptura do sentido, corrompendo a nossasubjetividade e levando-a a se abrir e acriar novos sentidos. Essas são a construçãoe o processo de territorialidade presentesna subjetivação. Tal noção é complexa,pois depende da articulação dinâmica da

    realidade, no entrecruzamento das diversasinstâncias – sociais, químicas, biológicas,arquitetônicas, de poder, corporais, sexuais,étnicas, culturais, tecnológicas, dentre tantasoutras – para conjugar/compor/arranjar aprodução subjetiva. Trata-se, portanto, deuma multiplicidade de elementos conjugados,de uma emergência do coexistir do estado decoisas em que nos encontramos, a diluiçãoda contradição – não somos isso ou aquilo –

    somos compostos e conjugados pela geografiade estados intensivos, com contornos abertosà construção de novos mapas (Pelbart, 2000).

    Essas ideias visam a fazer compreenderas relações em atenção aos modos defuncionamento, no modo como osagenciamentos acontecem, como elesproduzem e fabricam processos que mantêmo estado das coisas, a reprodução de modelos

    instituídos e as possibilidades de novasconexões. Romagnoli (2004) assinala a visãoda filosofia da diferença sobre a realidadecomo pura produção. Tudo o que existe éproduzido tanto para o novo – inventivo,como para o que já foi produzido e paraimpedir a produção. Somos produção,reprodução e antiprodução, acontecimentosconjugados simultaneamente nas relações.Vale dizer, então, que criamos, copiamos e

    estagnamos as coisas, nossos encontros e a

    nós mesmos, tudo ao mesmo tempo. Esseé o processo subjetivo, que não se reduzsomente ao indivíduo e à interioridade masque diz respeito também à exterioridade

    e às situações que convocam composição.Tal processo impulsiona o sujeito à criaçãoe a processos de subjetivação inventivos naprodução de singularidades nos encontrosque emergem no campo do indizível,invisível, mas do que é experimentado,sentido, reconfigurando, assim, os territóriossubjetivos.

    Rastreando o CRAS: o território

    e suas linhas (tensões?)

     A partir dessa perspectiva teórica, abordamoso Centro de Referência da Assistência Social(CRAS) no interior de Minas Gerais, cujaequipe possui dois psicólogos, dois assistentessociais, um coordenador, um nutricionista,um auxiliar administrativo e oito educadoressociais/monitores.

    No decorrer do processo da pesquisa,ut i l izamos os efeitos dos encontrosestabelecidos entre a pesquisadora, a equipe eos usuários para realizarmos as consideraçõessobre os impactos da Psicologia e do CRASnaquela comunidade. Sendo assim, desde otrajeto à cidade, observando a geografia e ahistória locais, realizando entrevistas com ostécnicos e os usuários da unidade pesquisada,acompanhando os profissionais em visitas

    domiciliares, em conversas informais commoradores e nas interferências políticas,foram todos eles tratados como elementos deproblematização do campo, em uma tentativade manter a coerência com o marco teóricoproposto, a filosofia da diferença, e com ométodo utilizado, a cartografia, examinadosacima.

    O b s e r v a m o s e m n o s s a p e s q u i s a

    que o atendimento da equipe CRAS é

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    preponderantemente voltado para açõese intervenções postuladas pela assistênciasocial que determina essa unidade comolocal de acolhimento e encaminhamento

    da população à rede socioassistencial.Nesse contexto, evidenciamos uma cisãohegemônica em que a comunidade,os profissionais de outras unidades e aprópria equipe do CRAS direcionam osatendimentos como psicológicos e assistentes sociais, conduzindo-os aos seus respectivosprofissionais. Estabelece-se, portanto,de forma dominante, uma Psicologiacaracterizada como saber da  psique,  e a

    área  social  como pertencente ao serviçosocial, associando-se saúde/doença mentaisà Psicologia e dificuldades socioeconômicasao segundo. Percebemos que nossa profissãoé compreendida, em alguns momentos, comosaber realizado em um espaço fechado, no setting tradicional do campo  psi.  Todavia,essa vertente tradicional não se sustenta nocotidiano de trabalho no CRAS.

    Sobre a Psicologia no universo estudado,observamos que, em meio a intervençõesrealizadas por uma equipe multiprofissionalatravés da promoção de saúde, prevençõesde situações de risco e visitas domiciliares,convocam-se e são realizadas atuações forados consultórios. Com isso, os profissionaissão convidados a lançar novos olhares sobrea Psicologia inscrita nos espaços públicos,fruto inclusive da desestabilização a que

    esses profissionais são arremessados emseu cotidiano de trabalho. Diante dessedesafio, constatamos que, nos encontroscom servidores públicos, tais como médicos eprofessores, há certa incompreensão sobre olugar da Psicologia no CRAS, pois esses aindaentendem a Psicologia como prática liberale privada, responsável pelo diagnóstico eacompanhamento psicoterápico dos usuáriosdo CRAS. Com base nessas observações,

    nas entrevistas realizadas e na nossa própria

    inserção profissional em um CRAS, inferimosque o modelo da prática  psi dominantepermanece, de maneira geral, atreladoao projeto de modernidade. Desde seu

    surgimento, na modernidade, as ciênciasmostram-se marcadamente especializadase separadas umas das outras. Nesse sentido,observamos o processo binário e os segmentosda subjetividade presente nas relações,e, em alguns momentos, constatamos amanutenção da compartimentalização dossaberes no cotidiano do CRAS. Sendo assim, émantida uma visão da Psicologia que atende amodernidade, em seu projeto de ordem e de

    uma ciência compartimentada em disciplinasespecializadas e especializantes, segmentosbinários e planos de organização ordenadose segmentados (Hüning & Guareschi, 2005).

     Atendendo o projeto da modernidade, aPsicologia é compreendida, em determinadascircunstâncias, como saber que é realizado emum espaço fechado, no setting tradicional docampo psi. A comunidade e os profissionais de

    outras unidades governamentais questionama atuação do psicólogo quando este trabalhasob outra ótica, e não aceitam que o psicólogonão possa diagnosticar, fazer atendimentoclínico e criticam a prática não convencionalcomo se isso fosse o que a Psicologiatem a oferecer independentemente darealidade em que sua prática se insere. Essarelutância emerge nas falas dos psicólogosque relatam as dificuldades de atuar

    em espaços públicos, realizando visitasdomiciliares, fazendo intervenções duranteaulas e cursos, dentre outros, e atuandofora do modelo tradicional. Nesse sentido,percebemos um saber endurecido  em suaforma identitária, composto por linhas duras,concomitantemente à atuação para além doespaço formal da Psicologia.

    No cotidiano do CRAS, profissionais se

    deparam com sujeitos, ambientes e grupos

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    complexos. A Psicologia, não raro, seencontra habitada, então, por um abismoentre o saber acadêmico, adquirido nagraduação e divulgado em livros e pesquisas,

    e a realidade vivida no cotidiano, como foicolocado pelos profissionais entrevistados. Emnosso estudo, percebemos que a formaçãodo psicólogo e a realidade brasileira ficamdesvinculadas, pois, no âmbito da formação,há uma hegemonia na ênfase clínica voltadapara o atendimento às camadas sociais comgrande poder aquisitivo, como foi colocadopor grande parte dos entrevistados. Caberessaltar que, em estudos recentes sobre

    a atuação do psicólogo no atendimento acrianças e adolescentes em risco, verifica-se também o discurso e a prática pautadosnesse modelo: “Sobressai-se..., na maioriados dados, a concepção da atuação dopsicólogo fundamentada no modelo clínico eindividual. A atuação do psicólogo continua,em parte, pautada no modelo técnico,liberal e autônomo” (Alberto, Almeida,Dória, Guedes, Sousa, & França, 2008,

    p. 571). O mercado de trabalho, porém,oferece oportunidades em organizaçõesgovernamentais e não governamentais noatendimento à população pobre, sobretudoatravés das políticas públicas. Todavia,concebemos que a Psicologia deva primarpor uma prática política e libertária emqualquer espaço em que ela se inscrevaindependentemente da população atendida(Ferreira Neto, 2004).

    Concordamos com Benevides de Barros(2005), que aponta a necessidade cadavez mais premente de não se sustentar oisolamento indivíduo versus social e nem adespolitização das práticas clínicas. Para driblaro risco de psicologização dos problemas e oaprimoramento de mecanismos de exclusãosocial, é preciso, ainda, redimensionar asnossas práticas, questionando a clínica,

    que se apresenta também como social,

    que discutiremos abaixo. A clínica deve sersocial, ampliada, ampla, que se faz e se refazem vários territórios, rompendo paradigmase deflagrando processos de subjetivação

    inventivos e deslocamentos micropolíticosque trazem o novo (Birman, 2001; Guerra,2002; Maciel Junior, Kuppermann, & Tedesco,2005; Passos & Benevides de Barros, 2004;Romagnoli, 2006; Romagnoli, Moreira,& Neves 2007), a clínica feita por váriosprofissionais, pautada na heterogeneidade– de locais de trabalho, de classes sociais,de espaços distintos, empregando teoriasdiversas, em encontros singulares.

    Por outro lado, o lugar da assistência social épercebido pela comunidade com descrédito,com o desinteresse de governantes e coma troca de favores, bem como local deescuta, apoio e laços sociais. Embora oCRAS pesquisado tenha, sim, ligaçõesmacropolíticas com a política municipalinteriorana e personalista e esteja capturadoem linhas reprodutivas e despotencializadoras,

    é um programa que também independe deatuações políticas eleitoreiras; dessa maneira,configura um programa de ação continuada euma política pública reconhecida como direitodo cidadão (Ministério do DesenvolvimentoSocial e Combate à Fome, 2004). De acordocom Demo (1995), é preciso compreendera assistência como parte integrante decidadania, que possui suas especificidades enão pretende e não deve ser entendida como

    a resolução de todos os problemas sociaise econômicos. As necessidades básicas dapopulação são múltiplas e não se reduzem àsobrevivência material. A assistência social,para ser efetiva, depende de uma políticaglobal integrada que ultrapassa os limites desua própria política. É importante assinalarque a assistência social se distingue doassistencialismo na medida em que o primeirocorresponde a um direito humano entendido

    como atendimento emergencial, de forma

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    que “se favoreçam atividades de produçãoe participação” (Demo, 1996, p. 31) nointuito de emancipar o sujeito assistido. Jáo assistencialismo é compreendido comoassistência que “cultiva o problema socialsob a aparência de ajuda, ...é estratégiade manutenção das desigualdades sociais”(Demo, 1996, p. 30). No cotidiano, tudoisso ocorre de forma ativa e processual,escapando, muitas vezes, da lógica na qualsomos submetidos e à qual submetemosos usuários. Vejamos como exemplo aquestão da distribuição de cestas básicasno CRAS, onde realizamos essa pesquisa. A princípio, esse benefício estaria na lógicaassistencialista, que prefeito e técnicos daunidade tentam combater. É certo que adoação de cestas básicas pode ser entendidacomo prática assistencialista, pois mantém ossujeitos na mesma condição de pobreza emque se encontravam anteriormente à doação.Devemos, portanto, pensar na necessidadede assistir de modo emergencial para setrabalhar, posteriormente, a autonomia ea emancipação dos usuários. São situaçõesque psicólogos e assistentes sociais do CRASvivem com frequência no cotidiano de seutrabalho. Percebemos que há um movimentoimanente de assistencialismo e de busca deautonomia nas intervenções, que produzemquestionamentos e discussões entre osprofissionais.

    Vale salientar que, em nossa pesquisade campo, ao buscarmos conhecer assingularidades e o cotidiano do CRAS,encontramos especificidades e semelhançasnas práticas profissionais dos psicólogos eassistentes sociais, o que tem provocado efeitosdiversificados. Notamos que a equipe doCRAS realiza os atendimentos e acolhimentosdos usuários da mesma maneira, assimcomo as atividades burocráticas cotidianassão realizadas igualmente pelos técnicos, oque pode se traduzir como um intercessor

    entre as duas disciplinas – Psicologia eserviço social. Os próprios usuários oraidentificam a diferença no atendimento e nasintervenções, ora compreendem que as duas

    categorias se misturam, sendo demonstradaa coexistência de funcionamentos distintos,que são, em determinadas circunstâncias,definidos e classificados, e que, em outras,traduzem agenciamentos que podem serprodutivos. Entretanto, em alguns momentos,há um direcionamento específico para cadasaber. Para a Psicologia, direcionam-sedemandas que dizem respeito às questõesemocionais e às relações familiares,

    ficando para o serviço social as questõesde encaminhamentos, acesso e orientaçõessobre direitos, benefícios e documentos, ouseja, cada disciplina impede que a outra seaproxime de seu território, mantendo-seuma afastada da outra, resguardada pelo seuespecialismo, seus procedimentos e técnicas. A esse respeito, vimos que, no manual deorientações do CRAS e em recortes de jornais, há certa incongruência quanto às

    práticas desses profissionais (Afonso, 2008;Conselho Federal de Psicologia, 2006;Conselho Regional de Psicologia de MinasGerais, 2007; Ministério do DesenvolvimentoSocial e Combate à Fome, 2006). Oraindica-se que as práticas devem estarrelacionadas à interdisciplinaridade – umarelação pactual entre saberes conexos queproduzem uma intenção comum, possuindoum eixo hierarquicamente superior que

    redefine tais saberes – ora aconselha-seque o trabalho no CRAS seja orientado pelatransdisciplinaridade – todos os saberesenvolvidos abandonam suas  identidades em prol da criação de um campo de saberautônomo e próprio, fabricando intercessoresentre as disciplinas. Isso significa dizer quetais propostas, além de serem compreendidascomo confusas pelos profissionais que aliatuam, constituem também um desafio no

    dia a dia do serviço. Aliás, na prática, essa

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    indistinção dos saberes conduziu, em algunsmomentos, na insistência na identidade decada campo, ao endurecimento da referênciacorporativa, ao plano de organização, em

    vez da formação de um território entre as disciplinas, à criação de indagaçõesque as levassem a se agenciar. Em outraspalavras, o que se viu foram movimentosde indiferenciação e especificidades tantoda Psicologia quanto do serviço socialno cotidiano do CRAS, sendo compostosora planos de organização estratificados,segmentados, ora planos de composiçãoem que agenciamentos criaram dimensões

    impensadas.

     A história desse CRAS começa com suaimplantação, que coincide com anoeleitoral, afetando as relações entre usuários,profissionais e políticos. Na época, havia umadescrença e a desconfiança dos moradores deque o programa permaneceria na cidade casohouvesse a mudança do gestor municipal. Apesar de ser um programa que se mantém

    independente de prefeitos, governadores oudo Presidente da República, o CRAS vivenciaações descontinuadas atravessadas pelapolítica local, que, muitas vezes, se achampresentes no cotidiano dos profissionais eusuários, reproduzindo relações de poder. As descontinuidades surgem pelo repassede verba interrompido – que aconteceanualmente após a avaliação dos gastos– pela substituição de profissionais, pela

    fragmentação dos saberes e também peladificuldade de suporte e encaminhamentopara a rede de serviços socioassistenciais,em grande defasagem no Município.Há interferências de políticos locais naspolíticas públicas, pois, caso o usuário sejareconhecidamente um cidadão que apóia oprefeito, obterá benefícios via prefeitura. E,se a pessoa for considerada de oposição, teráseus direitos garantidos constitucionalmente

    suspensos e barrados pelos que obtém

    poder macropolítico, mecanismos bináriosde exclusão e de adesão à política social quedeveria ser para todos. Essa é a realidade deMunicípios pequenos, pois a dominação do

    controle do eleitorado nas mãos de coronéisconserva a população como sua clientela.Tal fato se reflete nas ações dos técnicosdo CRAS que cotidianamente impedem asinterferências políticas em suas atividades,sendo, muitas vezes, incompreendidos pelapopulação que, frequentemente, não sebeneficia com cestas básicas e pelos políticosque deixam de ganhar votos para a próximaeleição (Avelar & Walter, 2008).

    No que diz respeito à assistência socialcomo norteadora das ações relacionadasao CRAS, percebemos, no dia a dia doCRAS estudado, que sua política é colocadacomo hierarquicamente superior aos demaissaberes e que possui retrocessos e avançosem sua história, denotando um territóriomarcado por linhas duras historicamenteconstruídas e mantidas. De sua criação,

    a assistência social era ação exclusiva dogoverno federal e associada à filantropiae à caridade. Somente com a mudançaconstitucional e com os movimentos sociaisa assistência social foi regulamentada comouma política pública com participação detodas as esferas do governo e da sociedadecivil (Ministério do Desenvolvimento Sociale Combate à Fome, 2004; Ministério doDesenvolvimento Social e Combate à Fome,

    2009). Desse percurso, notamos que, nocotidiano do CRAS estudado, as ações orase manifestam como mantenedoras de açõesassistencialistas, ora são responsáveis pelapromoção de cidadania e do envolvimentodos sujeitos como protagonistas de suas vidas,um desafio tanto para o serviço social comopara a Psicologia.

    Quanto às ações dirigidas aos usuários,

    observamos que uma equipe multiprofissional,

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    presente não só nos CRAS, deve se pautar nacompreensão de que nenhuma especialidadesozinha será capaz de resolver todas asdemandas de quem a procura, pois a

    realidade é multideterminada, processual ecomplexa. Para esse objetivo, percebemosa necessidade de as práticas se conectareme refazerem seus campos em um objetivomaior: o do envolvimento dos usuários eo da devolução, aos usuários, do saber quelhes foi destituído. Para isso, acreditamos sernecessário desenvolver a capacidade de acomunidade descobrir suas demandas, de seorganizar de forma a que ela própria construa

    os dispositivos necessários para a melhoriade suas vidas. Nessa recuperação do sabercomunitário, especialistas devem descobrirque “as massas não necessitam deles parasaber” (Foucault, 1979, p. 71), e que, comoiguais – usuários e especialistas –, devem seunir contra o poder opressor e em favor dapotência reiventiva da vida.

    Constatamos que ainda persiste, na equipe

    do CRAS, a noção de família presa ao modeloinstituído e dominante – a família nuclear– diferentemente do que se apresenta narealidade. A família ideal, pais unidos emmatrimônio e filhos decorrentes dessa união,ainda permanece como referencial para asintervenções do campo da Psicologia. Alémdisso, a família, ainda que seja o foco de açãodessa unidade, bem como dos profissionaisque ali atuam, ao colocarem as dificuldades

    relacionadas a ela, o fazem culpabilizando-a,como é evidenciado também por Alberto etal. (2008).

    Exatamente onde parece haver um problema – a família real, dentro de suas possibilidadeseconômicas, históricas, culturais e sociais – éque se deve considerá-la uma construçãosingular e circunstancial frente ao modelomantido por setores conservadores de

    nossa sociedade, e não abordá-la de forma

    comparativa e desqualificativa, ou seja,a solução se encontra na construção dopensar e do como atuar a partir do vivido. A família deve, então, ser compreendida a

    partir de seus modos de agir habituais, poisé nesse cotidiano que se manifestam oscaminhos a serem tomados como terrenoshabitáveis, possíveis, e é essa compreensãoque deve servir de base para as intervençõese os encaminhamentos da equipe (CentroBrasileiro para Infância e Adolescência, 1992). 

    Outro desafio percebido neste estudo dizrespeito à necessidade de consolidação

    da articulação da rede socioassistencial,que, embora seja regulamentada pelapolítica do CRAS e das políticas públicas emgeral, ainda não se sustenta no cotidiano,mantendo a desarticulação dos trabalhosdesenvolvidos nos diversos setores públicos.Para o desenvolvimento de ações continuadase próximas das práticas da complexa realidadeque encontramos, é preciso desenvolver aintersetorialidade, que pressupõe a articulação

    de setores sociais diversos, de saberes ede poderes para enfrentar os problemasda realidade social, o que significa dizerque, em vez de fragmentarmos os sujeitose as intervenções, devemos então noscomprometer com ações de teoria e açõesde prática que se multipliquem em umaúnica rede. “Assim estamos mais próximosde pensar as necessidades da comunidade deforma mais ampla e de agir nos problemas de

    forma menos pontual e considerando toda suacomplexidade” (Wimmer & Figueiredo, 2006,p. 152). Para a intersetorialidade acontecer,acreditamos que uma das possibilidadesseja a de todos os profissionais envolvidosprecisarem abandonar o  glamour das açõese glórias individuais reforçadas pela condiçãopós-moderna, desafiando, portanto, osespecialismos, as doutrinas dogmáticas ea hipervalorização do eu (Rolnik, 1997). A

    ousadia dessa nova forma de atuação é um

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    processo que implica riscos “em funçãodas resistências previsíveis de grupos deinteresses” (Junqueira, 2004, p. 27).

     Além disso, é preciso estar atento à tendênciade patologizar e de achar que, em todas asqueixas apresentadas, o sujeito carece defazer terapia. Essa tendência em psicologizar é um percurso que os saberes psi – Psicologia,psiquiatria e psicanálise – têm percorridodesde suas fundações no Brasil. O surgimentoda grande medicina no século XIX, que sedesenvolveu como uma medicina clínicacentrada em exames, em diagnósticos, na

    terapêutica individual e, principalmente, no“colóquio singular” (Foucault, 1979, p. 194),influenciou a construção de outros saberes,como a Psicologia. O modelo médico e afilantropia desencadearam uma série denovos agentes responsáveis pela disciplinae pela normalização no controle de todo ocorpo social:

    Tomemos o exemplo da filantropia no

    início do século XIX: pessoas que vêm seocupar da vida dos outros, de sua saúde,da alimentação, da moradia... Mais tarde,dessa função confusa, saíram personagens,instituições, saberes... uma higiene pública,inspetores, assistentes sociais, psicólogos.

    na comunidade estudada, psicólogos eassistentes sociais percebem que essa unidadecumpre com seus objetivos e promove,para os usuários, novos devires. Um dos

    assistentes sociais enfatizou que os projetosFiando e desfiando a vida  e Cantina da Cidadania possuem efeitos potencializadoresde autonomia financeira, de promoção desaúde e de envolvimento dos usuários norecebimento da cesta básica. Por outro lado,os usuários contam suas experiências, e umdeles relata que, do encontro com outrosusuários e com os profissionais do CRAS,potencializou outros modos de subjetivação.

     A princípio, essa usuária relatou que psicólogoera médico para doido, e assistente social,aquele que se intromete na vida das pessoas.Ela não acreditava que o CRAS fosse umserviço continuado e duradouro. Sua históriase confunde com a do CRAS, pois sua famíliafoi a primeira a se cadastrar. Aos poucos,foi se aproximando dos profissionais, e suasdesconfianças foram sendo desconstruídas.Ela chega à cidade em busca de melhorescondições de trabalho, e, do seu encontro

    com o CRAS, consegue um lote na prefeiturae a comunidade se mobiliza para a comprade material e para a construção de sua casa.Seus filhos, antes sem registro de nascimento,agora possuem documentação e frequentama escola local. Ela era obesa, e seus filhosdesnutridos, e hoje controlam a alimentaçãona Cantina da cidadania. No tecer dos panosde prato, ela troca experiências de vida,sentimentos, enfrentamento do dia a dia e

    novas perspectivas de vir-a-ser.

    Esse relato nos permite perceber um espaçofluido que percorre territórios rígidos emaleáveis. Em meio às tensões, vivenciam-se encontros potencializadores de novosmodos de ser dos usuários, psicólogos eassistentes sociais. Não se trata, portanto,de definirmos a verdade sobre as formasde intervenção e a execução das atividadesque aqui se apresentaram, mas é somente,e apenas, uma tentativa de rastrearmos

    (Foucault, 1979, p. 151)

    Observamos, em nossa pesquisa, anecessidade de enquadrar, de classificar osusuários do serviço, e, em alguns momentos,tivemos a preocupação de que esses usuários

    não pudessem ser atendidos conforme aPsicologia tradicional.

    Percebemos ainda, no cotidiano do CRASestudado, não somente desafios e tensõesmas também encontros produtivos epotencializadores. Os profissionais do CRASrevelam compreensão de sua empreitada eos territórios entre psicólogos e assistentessociais também denotam zonas de fusão, de

    amizade e de trocas de experiências intensas. A respei to dos impactos do CRAS

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    os territórios experimentados pelosatores dessa caminhada, territórios oracompostos pela dominância de segmentos,estratos, classificações, comparações e de

    horror ao diferente, ora compostos peladesterritorialização, pelos agenciamentosque se efetuam para trazer o novo, algoimpensado, deixando que a potência da vidase atualize, de maneira alegre, nos encontrosestabelecidos.

    Considerações finais

    O CRAS, como recente equipamento

    público, suscita que estudos sejam realizadossobre as práticas envolvidas nessas unidadesespalhadas por todo o território nacional. APsicologia, como outras profissões inseridasnas políticas públicas, foi então convocadaa participar, trazendo diversas questõessobre seu campo de atuação, suas conexõescom as demais profissões e, não menosimportante, com suas implicações e com oimpacto nos usuários.

    Diante dessas colocações, o lugar daPsicologia no CRAS se apresenta como umespaço fluido e, portanto, em permanentesmodificações. Sendo assim, só é possíveldefini-lo como espaço de encontros e deacontecimentos singulares.

    Retomando a problemática da atuaçãodo psicólogo, presenciamos hoje, no País,grandes discussões acerca da construção de

    outro modelo clínico que não seja somenteo tradicional, com objetivos analíticos,diagnósticos e/ou curativos. De acordocom Ferreira Neto (2003), o conceitoclínica social nasce historicamente comouma prática destinada ao segmento dacamada pobre da população que ampliouo campo de atuação da Psicologia, antesdesenvolvida hegemonicamente comoatividade liberal e privada reservada às

    classes média e alta. Contudo, Romagnoli(2006) assinala que hoje a clínica social não

    se destina apenas às camadas mais baixas, masconfigura uma resposta à multiplicidade quepermeia todos os espaços onde os psicólogosestão inscritos. O que a torna uma prática

    emergente é a insistência em combater amassificação e a hegemonia de modelosque pretendem encapsular os sujeitossubmetidos à globalização, ou seja, em nãonos adaptarmos às exigências do mundocontemporâneo e em transformarmos nossosaber na arte da invenção, conectando-noscom outros territórios existenciais que escapamà psicologização e às patologias. Em qualquerambiente que nós, psicólogos, estejamos, cabe

    perseguirmos as singularidades presentes nosencontros. Além disso, a clínica relacionada aum modo de escuta que possibilita a produçãode diferenciação pode e deve estar presenteem todos os campos de atuação da Psicologia.Isso implica uma atitude não totalizadora quedesloca o enquadramento, os diagnósticose as patologias para novas configurações desentido, seja no consultório particular, sejanas práticas emergentes. A esse respeito,podemos afirmar que:

     A psicoterapia não pode ser o modo porexcelência da atuação profissional nemna atenção individual, nem no modelo doprofissional liberal, o que significa queo psicólogo deve ocupar um espaçopolítico e público, enfim, em que se possamcompreender os processos de subjetivaçãotais como se produzem na sociedade brasileirae o diálogo com as referências teóricas

    conectadas a essa realidade (Alberto et al.,2008, p. 572) .

    Nesse contexto, acreditamos que seja de nossaresponsabilidade considerar não somentenos aspectos técnicos, mas, sobretudo, osefeitos éticos, políticos e sociais que qualquersaber acarreta. A Psicologia, assim, no nossoentender, pode tornar-se uma prática libertáriacapaz de habitar lugares ainda desconhecidos,de se inserir em novos campos de forma críticae inventiva.

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    Laura Freire de AndradeMestre em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Minas Gerais – BH – Brasil.

    Roberta Carvalho RomagnoliDoutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo - SP – Brasil.E-mail para contato: [email protected]

    *Endereço para envio de correspondência:Rua Mestre João Matias, nº 178, Bairro Jardim Arizona, Sete Lagoas, Minas Gerais - BH – Brasil CEP 35700-396.E-mail para contato: [email protected]

    Recebido 1/7/2009, 1ª Reformulação 20/11/2009, 2ª Reformulação 14/12/2009, Aprovado 29/12/2009.

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