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AUTORIA E REDES DE COMUNICAÇÃO: UM OLHAR SOBRE AS CARTOGRAFIAS COLABORATIVAS Beatriz Cintra Martins Acta Media 11 – São Paulo/Lisboa

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Page 1: Cartografias Colaborativas

AUTORIA E REDES DE COMUNICAÇÃO: UM OLHAR SOBRE AS CARTOGRAFIAS COLABORATIVAS

Beatriz Cintra Martins

Acta Media 11 – São Paulo/Lisboa

Page 2: Cartografias Colaborativas

INFLEXÕES DA AUTORIA

Os novos processos autorais interativos problematizam a noção de autoria em várias direções:

A figura do autor individual é abaladaOs contornos da obra são borradosA questão da credibilidadeDesafio para o direito autoral

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AUTORIA EM REDE

Wikipédia: editada por milhões de colaboradores em 287 diferentes versões idiomáticas

• GNU/Linux: desenvolvido e aperfeiçoado por milhares de programadores ao redor do mundo

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O QUE É UM AUTOR?

Palestra de Foucault na Société Française de Philosophie, em 1969

Pensar a autoria para além de uma atribuição pessoal

A autoria como construção histórica

Propõe, então, o conceito de função autor

Page 5: Cartografias Colaborativas

A FUNÇÃO AUTOR

“A função autor é, assim, característica do modo de existência, de circulação e de funcionamento de alguns discursos no interior de uma sociedade” (FOUCAULT)

Autor é o que dá forma ao discurso, dando-lhe unidade e coerênciaDesempenha um papel na circulação do discurso na sociedadeVai além de atributos pessoais

Page 6: Cartografias Colaborativas

FUNÇÃO AUTOR

Não tem caráter universal, sua configuração varia em diferentes períodos históricos:

Na Idade Média, os discursos médicos tinham que ser atribuídos a alguém para terem valor: “Hipócrates disse...”E os textos literários circulavam sem que fosse preciso definir sua autoria

Page 7: Cartografias Colaborativas

FUNÇÃO AUTOR

Já nos séculos XVII/XVIII, a situação se inverte:

“perguntar-se-á a qualquer texto de poesia ou de ficção de onde é que veio, quem o escreveu, em que data, em que circunstâncias ou a partir de que projeto” (FOUCAULT)

Page 8: Cartografias Colaborativas

FUNÇÃO AUTOR

A função autor varia através do tempo:

As maneiras como as obras são validadas Autoria atribuída ou nãoIndividual ou coletivaNomeada ou anônima

Quais foram as condições que permitiram a emergência de algo como o sujeito na ordem do discurso

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PRODUÇÃO DISCURSIVA NA ANTIGUIDADE

Quem é o autor de Ilíada e de Odisséia?

O poeta como repetidor e criador

A obra fluida e comum

O texto pertence a todos e a ninguém

Page 10: Cartografias Colaborativas

PRODUÇÃO DISCURSIVA NA ANTIGUIDADE

Cada declamador era ao mesmo tempo um repetidor de poemas

Nenhuma performance era igual a outra e a invenção era parte da apresentação

Uma transcendência, a inspiração das Musas, era a fonte da criação

Musas como corporificação da tradição da poesia oral

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PRODUÇÃO DISCURSIVA NA ANTIGUIDADE

Homero escreve que a musa é “convidada a ‘cantar’ a Ilíada e a ‘recitar’ a Odisséia.

De modo mais explícito, Hesíodo descreve o ‘canto’ (não o ‘meu canto’) como algo que ‘elas ensinaram’”

(HAVELOCK)

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ESCRITA MEDIEVAL

Um escrita interativa através dos comentários nas margens dos manuscritos (marginálias)

A autoridade religiosa avalizava a produção: a auctoritas

Page 13: Cartografias Colaborativas

ESCRITA MEDIEVAL

A escrita era um exercício coletivo de hermenêutica

Nomeação não era a regra

Deus era a fonte suprema de inspiração, o verdadeiro autor

A produção não tinha um caráter privado

Page 14: Cartografias Colaborativas

ESCRITA MEDIEVAL

Também os textos literários eram objeto de criação coletiva

The Canterbury Tales, obra do escritor inglês Geoffrey Chaucer, do século XIV, teve várias versões produzidas por leitores, com cortes e acréscimos, num processo de autoria aberto e fluido

Alguma semelhança com projetos wiki?

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A MODERNIDADE

A era do projeto do sujeito autônomoO conhecimento passa a circular em torno do sujeito O ser humano adquire autonomia para criar e saber por sua própria contaA noção de autor como um criador individual é fortalecida

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A INVENÇÃO DO IMPRESSO

Obra fechada e acabada

A leitura também se individualiza

Desenvolvimento das artes gráficas e do mercado do livro

Novas regras para garantir o lucro aos empreendedores

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O ROMANTISMO

O autor deixa de ser um artesão admirado por sua capacidade de imitação (mimésis)

Passa a ser valorizado por suas habilidades subjetivas

A capacidade de criar algo único e original

A figura do gênio criador, cujo talento único deve ser recompensado monetariamente – as bases do direito autoral

Page 18: Cartografias Colaborativas

ROMANTISMO

[…] cada indivíduo tem seu próprio processo de pensamento, a sua própria maneira de formar conceitos e conectá-los. [...] Tudo o que nós pensamos, devemos pensar de forma análoga a nossos outros hábitos de pensamento, e somente retrabalhando novos pensamentos, depois de compará-los com nosso processo habitual de pensamento, é que os fazemos nossos [...] Assim, cada escritor deve dar a seus pensamentos uma certa forma, e ele não pode dar-lhes outra forma senão a sua, porque ele não tem outra. Mas ele também não pode querer ceder esta forma ao tornar seus pensamentos públicos, porque ninguém pode se apropriar de seus pensamentos sem, contudo, alterar a sua forma. Esta, assim, permanece para sempre sua propriedade exclusiva.

(FICHTE)

Page 19: Cartografias Colaborativas

O AUTOR EM DISSOLUÇÃO

Mallarmé: o poder generativo da linguagem

Barthes e a morte do autor: “o texto é um tecido oriundo de mil focos da cultura”

Foucault: “O que é um autor?”

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AUTORIA EM REDE

Algumas características são reformatações de antigas práticas de escrita:

Uma remediação do manuscrito:InteratividadeCriação coletivaAbertura à intervenção

E também do impressoLeitura silenciosaElementos das artes gráficasRecursos de indexação

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ESPECIFICIDADE DO DIGITAL

● Eletricidade● Conectividade● Velocidade● Outra dimensão

perceptiva e cognitiva

● Favorecimento das estratégias interativas

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AUTORIA EM REDE

Um novo tipo de espaço, que interliga de modo original o espaço público e o espaço privado, como um espaço estendido e coletivo que abre novos potenciais à criação. O hipertexto promove, dessa forma, uma cognição compartilhada:

Qualquer um que esteja on-line é, de fato, parte de um hipertexto mundial. [...] A mente elétrica é verdadeiramente pós-escrita no sentido que pode dar-se ao luxo de conhecer sobre si própria e sobre a mente escrita, ela pode combinar o privado e o coletivo em uma única entidade, a conectiva, sem ameaçar uma à outra.

(De Kerckhove)

Page 23: Cartografias Colaborativas

CARTOGRAFIAS COLABORATIVAS

Possibilidade de intervenção crítica

Diagnóstico de problemas

Construção de banco de dados

Propostas de ação cidadã

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CARTOGRAFIAS COLABORATIVAS

Mapas desenvolvidos sobre a plataforma Google Maps

Levantamento de ocorrências em determinada região

Abertas à participação do público

Obra feita da contribuição de uma multidão de atores distribuídos em rede para a construção de um bem comum

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PORTO ALEGRE CC

Page 26: Cartografias Colaborativas

PORTO ALEGRE CC

Usa a metodologia Wikicidade, que visa incentivar o exercício da cidadania para melhorar a qualidade de vida

É possível contribuir criando uma causa, isto é, uma sugestão de algo que pode ser feito para melhorar uma região.

Algumas dessas causas ganham mais força, saem da Internet e vão para as ruas, tornando-se de fato uma mobilização social.

Foi criado pela Prefeitura de Porto Alegre em parceria com a Unisinos

http://portoalegre.cc/

Page 27: Cartografias Colaborativas

PORTO ALEGRE CC – DETALHE

O mapa traz informações sobre transporte, meio ambiente, educação, saúde, cultura etc.

É possível filtrar por bairro ou tema, como no exemplo ao lado: recorte do Bairro de Boa Vista só com os dados sobre mobilidade urbana

Page 28: Cartografias Colaborativas

PORTO ALEGRE CC

Page 29: Cartografias Colaborativas

WEBDOC GRAFFITTI

Page 30: Cartografias Colaborativas

WEBDOC GRAFFITI

 Documentário interativo sobre a arte urbana na capital paulista.

Além de vídeos abordando diferentes projetos de arte de rua de São Paulo, há um mapa colaborativo com marcadores de grafites e arte urbana abertos à participação do público

http://www.webdocgraffiti.com.br/mapa

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WEBDOC GRAFFITTIJANA JOANA E VITCHÉ NA FACHADA DO CCJ, VILA NOVA CACHOEIRINHA

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PLUG-IN MAPAS DE VISTA

Desenvolvedores brasileiros criaram o plug-in Mapas de Vista para a plataforma WordPress, no modelo software livre:

É uma ferramenta aberta e gratuita que pode ser utilizada por entidades e coletivos para os mais variados tipos de mapeamento

http://mapasdevista.hacklab.com.br

Page 33: Cartografias Colaborativas

BIKEIT!

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BIKEIT!

Tem o objetivo de estimular a boa relação entre o ciclista e sua cidade

Através de postagens, os usuários podem divulgar a qualidade de atendimento de estabelecimentos de produtos e serviços aos ciclistas no espaço urbano

O projeto é uma criação do coletivo de ações urbano-artísticas CRU, baseado na cidade de São Paulo

http://www.bikeit.com.br

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BIKEIT!PARAFUSOS BARRA FUNDA

Page 36: Cartografias Colaborativas

FOGO NO BARRACO

Page 37: Cartografias Colaborativas

FOGO NO BARRACO

Faz um levantamento dos incêndios das favelas na cidade de São Paulo

Seu objetivo é monitorar as ocorrências desses incidentes e chamar a atenção pública para o problema

Como complemento, o site tem um blog onde é possível postar e trocar informações sobre os incêndios

http://fogonobarraco.laboratorio.us

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FOGO NO BARRACO

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CONCLUINDO

As redes de comunicação tem viabilizado o desenvolvimento dos mais diversos projetos de produção autoral interativa

As cartografias colaborativas representam uma importante ferramenta para construção de banco de dados, comuns e abertos, com vistas à articulação política e cidadã Constituem-se, de fato, na materialização do espaço híbrido – entre o público e o privado – proporcionado pelo meio digital

Possibilitam, pela ação distribuída e compartilhada de uma multidão de agentes, o diagnóstico de problemas e a reivindicação de demandas sociais e/ou culturais coletivas

Page 40: Cartografias Colaborativas

OBRIGADA!

http://autoriaemrede.wordpress.com

@biacm

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