fotografia aplicada auxiliar de restauro e conservação

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Escola Superior de Tecnologia Mestrado Fotografia “FOTOGRAFIA APLICADA” AUXILIAR DE RESTAURO E CONSERVAÇÃO Elaborado por: António Manuel Fonseca Peleja – Nº 18484 Docente: António Ventura TOMAR 2013/2014

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Page 1: Fotografia aplicada auxiliar de restauro e conservação

Escola Superior de TecnologiaMestrado Fotografia

“FOTOGRAFIA APLICADA”AUXILIAR DE RESTAURO E CONSERVAÇÃO

Elaborado por:António Manuel Fonseca Peleja – Nº 18484

Docente: António Ventura

TOMAR2013/2014

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Introdução

A Fotografia enquanto documento

Fotografia técnica

Luz normal

Fluorescência de ultravioleta

Reflectografia de infravermelho

Luz monocromática de vapor de sódio

Luz rasante

Conclusão

Bibliografia

Glossário

Índice

5

7

8 / 9

10 / 13

14 / 15

16 / 17

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A fotografia no Grande Dicionário da Língua Portuguesa tem como significa-do o seguinte:

Fotografia, «processo técnico ou artístico de produção de imagens através da fixação da luz reflectida pelos objectos numa superfície impregnada com um produto sensível às radiações luminosas» (2004, p.714)

De facto é, sem dúvida, uma explicação assertiva e ao mesmo tempo simplis-ta, no entanto carregada de realismo, da palavra Fotografia. Assim como as tintas são a matéria-prima do pintor, a luz é a matéria-prima do fotógrafo, sem luz não existe fotografia. Um fotógrafo tem que conhecer profundamente e dominar a luz para poder efectuar os seus registos, dentro dos parâmetros técnicos do que se convencionou ser um bom registo.

Durante o dia a dia somos bombardeados constantemente por um sem número de situações que a nossa retina regista, mas que não fixa, segundo Kossoy “ Toda a fotografia representa em seu conteúdo uma interrupção do tempo e, portan-to da vida. O fragmento seleccionado do real, a partir do instante em que foi registado, permanecerá para sempre interrompido e isolado na bidimensão da superfície sensível.” (Kossoy, 1989, p.28).

Neste documento que elaborei, o assunto principal é a fotografia aplicada, neste caso específico, aplicada ao restauro e conservação. Esta pequena introdu-ção serve antes de mais para nos lembrar de quão importante é o papel da luz na criação do documento que nos permite posteriormente fazer um exame detalhado de uma obra.

Introdução

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A fotografia como documento, assume um compro-misso directo com a realidade tal como ela é, a sua re-presentação quer-se livre de artefactos e motivos dis-tractivos, um espelho do real. Juan Miguel Sánchez Vigil, questiona a Fotografia enquanto Arte ou Docu-mento. No documento “La Fotografía como documen-to en el siglo XXI”, p.255 afirma: “Desde su invención, la fotografia há seguido dos caminos para representar la realidade: la reprodución del natural (sujeto, objecto, paisage, etc.) y la creación (composición). A finales del siglo XX la prensa ilustrada acentuó esta división hasta trazar una línea fronteriza entre creadores y documen-talistas.

Al referirnos a la fotografia como documento nos interesa su función y aplicación desde los contenidos”. Lee Fontanella afirmou que a origem da fotografia está muito mais próxima do documento do que dos outros sectores: «Podemos afirmar que a fotografia arrancou com uma intenção mais utilitária do que artística, então podemos afirmar que a fotografia documental está mais próxima dos princípios da fotografia dos que as outras modalidades fotográficas, devido ao propósito mais

A Fotografia enquanto

“Documento”

pragmático».A fotografia aplicada, ao museu, ao restauro ou

ao património, reforça ainda mais o que se preten-de da fotografia enquanto documento, um docu-mento que substitua a peça, obra ou objecto, seja ela bi-dimensional ou tri-dimensional, captada em estúdio ou no local de estudo. A fotografia deve ser o mais próxima possível da realidade, deve permi-tir por ela só um estudo aprofundado de um ob-jecto, o desenho científico é muito mais rigoroso, mas não substitui o objecto. A fotografia também ela não pretende substituir-se ao objecto, ainda que em certas situações nos mostre algo que seria impossível a olho nu podermos observar, sejam os casos de fluorescência de Ultra Violeta e Reflecto-grafia em Infra-vermelhos.

A fotografia será, nesta sua aplicação ao restau-ro e conservação, mais umas das ferramentas que o conservador tem à sua disposição, uma ferramenta importante sem dúvida, já que lhe permite estar no seu gabinete ou estúdio a observar detalhadamente um objecto sem que este esteja presente, e como já foi referido, observar detalhes que seriam impos-síveis vislumbrar a olho nu. É evidente que não quero com isto dizer que a observação atenta do objecto não é importante ou que a devemos deixar para segundo plano, antes pelo contrário, é mui-to importante que nos foquemos primeiro numa observação atenta e num estudo pormenorizado, com acompanhamento do conservador e com as condições de luz natural adequadas, de modo a po-dermos definir os pontos de maior interesse onde pode existir a necessidade de uma aproximação do objecto e do detalhe (macrofotografia), só depois nos devemos preocupar com os aspectos técnicos.

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Como já referi e para enquadramento geral é im-portante, e dado que a luz é um elemento essencial no registo fotográfico, falarmos de luz e de espectografia para ser mais fácil percebermos o que se vai passar nos próximos capítulos.

Sabemos que todas as ondas eletromagnéticas se propagam no vácuo com a velocidade da luz. As on-das eletromagnéticas transportam momento e ener-gia para longe de uma fonte. É importante lembrar que as ondas eletromagnéticas se diferenciam pela sua frequência e comprimento de ondas, e a inte-ração dessas ondas com a matéria depende da fre-quência da onda e da estrutura atômico-molecular da matéria.

A forma mais simples das ondas eletromagnéticas corresponde ao espectro eletromagnético que o nosso olho consegue enxergar. A luz é produzida por corpos que estão com alta temperatura (como o filamento de uma lâmpada) e pela reorganização dos elétrons em átomos e moléculas.

Fotografia TécnicaNeste capítulo é que vamos abordar as questões mais técnicas destes exames, luz normal, luz rasante, ma-

crofotografia, fotografia no infravermelho e fluorescência de ultra violeta, vamos ainda falar do equipamento utilizado e as opções de captura, tempos de exposição, aberturas, ISO etc. e dos resultados observados através dos registos efectuados, no âmbito da conservação e restauro.

Os comprimentos de onda da luz visível são clas-sificados segundo a cor, do violeta, que tem compri-mento de onda λ = 4 . 10-7 m, ao vermelho, cujo comprimento de onda é λ = 7 . 10-7 m. Portanto, a sensibilidade dos olhos é uma função do compri-mento de onda e é máxima para um comprimento de onda λ = 5,5 . 10-7 m (amarelo-verde). A visão é o resultado dos sinais transmitidos ao cérebro por dois elementos presentes na retina: os cones e os basto-netes. Os cones são elementos que se ativam quando há presença de luz de forma intensa (como a do dia); e são sensíveis à cor. Já os bastonetes são elemen-tos capazes de atuar com iluminação menos intensa (como, por exemplo, em uma sala escurecida); e são menos sensíveis à cor.

A luz é tão importante que originou o desenvol-vimento de um ramo especial da Física aplicada: a Óptica. Esta ciência estuda os fenômenos relaciona-dos à luz e à visão, incluindo também o desenho dos instrumentos ópticos. (Fig. 1)

Fig.1 - Espectro Electromagnético

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O equipamento disponível para os registos era todo ele digital, e porquê? basicamente por uma questão de gastos, o digital permite menos gastos e resultados muito mais rápidos, a visualização é ime-diata e permite a sua pós edição logo no momento..

Dispunhamos de uma Canon 5D Mark II com ob-jectiva de 50mm, e uma lente de 100mm, também ela da Canon, uma Sony H9, esta última dispõe de um sistema Infra -Red Night Shot - A H9 no modo Night Shot permite a recolha do filtro infravermelho dei-xando assim passar este comprimento de onda até ao sensor e produzir registos muito aceitáveis a preços bastante baixos. Esta câmara foi utilizada exclusiva-mente para a reflectografia do infravermelho.

Durante as pesquisas que efectuei, no respeitante

a estudos sobre o registo de reflectografia no infra-vermelho, cheguei à conclusão que as câmaras com-pactas e muitas bridge não vêm com o sistema do filtro de infra-vermelhos montado, sendo possível então efectuar um registo nesta gama de onda, sendo simplesmente necessário a colocação do filtro Kodak 87 frente à objectiva e proceder ao registo. Para saber se a câmara tem ou não filtro infra-vermelho, bas-ta apontar com um comando de uma TV ou Rectro--projector para o visor da câmara e carregar numa das teclas, se virmos a luz é porque não tem filtro se não virmos a luz então é porque tem filtro. (Fig.2)

Utilizámos também um con junto de filtros 30% Magenta, 20% Magenta, Skylight e Kodak 87 e um Fotómetro além dos cartões X-Rite ColorChecker e o White Balance.

A Canon 5D Mark II foi a câmara utilizada para os registos de luz normal (flash), rasante e fluorescência de Ultra Violeta, foram ainda feitos testes na reflec-tografia de Infravermelho. A lente utilizada na Canon 5D Mark II foi uma Canon 50mm f:1.7.

Durante este estudo utilizámos vários quadros com representações diversas, tanto em cor como em níveis de degradação, por tanto será normal podermos exemplificar com qualquer um deles, dependendo do objectivo do exame. Neste caso penso que o importante sãoa aplicação dos conhe-cimentos e a sua aplicação e não em si, neste caso, a obra analisada.Fig.2 - Teste ausência de Filtro IR - Olympus C-720UZ

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A seguir colocamos a câmara na coluna de estúdio, controlando a altura e a proximidade do objecto e cen-trada em relação ao mesmo no dois sentidos x e y. A orientação da câmara deve obedecer à dimensão do ob-jecto, vertical ou horizontal de modo a que não existam percas de pixéis.

Com o estúdio preparado, a câmara fixa na coluna à distância pretendida, e com os ajustes todos definidos e sem distorções, ou pelo menos minimizados, dado que com a lente de 50mm as distorções são quase impossí-veis de retirar (o que não é grave dado que na pós-edição esse ajuste pode ser feito facilmente) coloca-se a mira X-Rite Checker, para procedermos ao perfil de cor e balanço de brancos e, finalmente, podemos preparar os emissores de luz.

Luz Normal (FLASH)No primeiro registo com luz de flash utilizámos a Canon 5D Mark II e a lente 50mm, f1.7 da Canon com

um filtro Skylight instalado, este filtro absorve os raios ultravioletas que são prejudiciais para um bom registo neste tipo de luz vísivel. Verificamos então, e sempre que iniciamos a sessão, os valores da câmara, o ISO que deve estar no seu valor mais baixo, o Balanço dos Brancos que deve ser ajustado consoante o tipo de luz a utilizar e a velocidade sempre dependente da luz e da profundidade de campo pretendida.

do flash ou então a potência de disparo do mesmo.Quando os valores forem iguais nos quatro (4) can-

tos, vamo-nos focar então na câmara que, para o caso, já está montada no tripé de estúdio e com os valores padrão estabelecidos marcados, formato RAW, ISO LO, White Balance em Flash e velocidade que vai ser controlada consoante o histograma e ajustada depois se for necessário.

O primeiro registo, ainda antes de passarmos à obra, vai ser do X-RITE Colour Checker (Fig.5) para poder-mos criar um perfil de cor. O Colour Checker é um sis-tema que permite reduzir o tempo de processamento e melhorar o controlo de qualidade das imagens.

Criamos um perfil de cor que nos vai ser útil na luz contínua ou de flash, este perfil não pode ser utilizado nos registos de reflectografia de infravermelho e fluo-rescência de ultravioleta pois a cor está ausente.

Sempre que utilizamos o ColorChecker devemos efectuar dois registos, um com o ColorChecker presen-te, este registo é meramente comparativo, e outro sem o ColorChecker, este registo é o registo final.

O perfil de cor é criado a partir do registo captado pela câmara, e aqui numa posição próxima do Color-Checker para registar o máximo possível de informa-ção, posteriormente é convertido em DNG, e exportado como perfil de cor que depois será utilizado no Câmara Raw para implementar nos registos que forem necessá-rios (Fig 6).

Depois de todos estes procedimentos é que passa-mos à fase dos registos. Efectuamos o primeiro disparo e analisamos se está consoante o pretendido com o grau

Fig.4 - Disposição corecta dos emissores

O flash já se encontra na posição ideal (Fig.4)portan-to, e dado que estamos a trabalhar com flash, torna-se necessário fazer a medição da luz com um fotómetro, esta medição deve ser feita, no caso de um quadro, nos seus quatro (4) cantos e os valores devem ser iguais em todos eles, caso não sejam devemos ajustar a distância

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de exigência máximo respeitando o objectivo principal que é registar a máxima quantidade de informação, evi-tando distorções da forma, da proporção, textura ou co-res do(s) objecto(s). Depois do registo estar confirmado e dado como final, procede-se à aplicação do perfil de cor e guarda-se na pasta que anteriormente foi seleccio-

nada para o efeito (Fig 7 e 8). Até ao final do trabalho, e por uma questão de méto-

do, podemos, e por vezes é muito útil, deixar estes emis-sores de luz nas posições, para o caso de ser necessário repetir algum registo ou até mesmo para servir de com-paração, se necessário, com outro tipo de reflectografia.

Fig.5 - X-Rite ColorChecker, registo próximo para criação do perfil de cor

Fig.6 - No programa DNG Profile, durante a criação do perfil de cor

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Fig.7 - Metadados - f 16 - 1/100 - ISO 50

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Fig.8 - Metadados - f 16 - 1/100 - ISO 50

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Este fenómeno dá-se pela excitação dos electrões nos átomos e moléculas dessa substância ao absorver a energia da luz invisível. Ao retornar a seus níveis nor-mais (níveis de energia), o excesso de energia é ree-mitido sob a forma de luz visível. Este processo, na fotografia aplicada ao restauro e conservação, realça principalmente as diferenças do verniz na superfície de um quadro, os pormenores gastos ou apagados e os microorganismos invisíveis sob luz normal.

Para o posicionamento dos emissores (lâmpadas de Wood) tomamos em linha de conta os procedimentos efectuados para o Flash (Fig. 4), alterando somente a aproximação à obra que, com a Fluorescência de Ultra Violeta, deve ser mais próxima da mesma.

Para efectuarmos o registo é necessário colocar na frente da objectiva um conjunto de filtros que absor-vam as radiações ultra violeta e que não deixem passar senão a luz visível com comprimento de onda superior aos 380nm. Os filtros a usar são 50% Magenta e 30% Yellow, no trabalho agora apresentado e dado não ter-mos um só filtro de 50% de magenta recorremos a dois filtros magenta de 30% mais 20% , utiliza-se ainda o filtro Skylight. Os tempos de exposição são bastante elevados, e existe mesmo a necessidade de trabalhar com o ISO em valores também elevados. A focagem da obra deve ser efectuada antes da colocação dos fil-tros dado que os mesmos reduzem em muito o nosso poder de visão.

Como no registo anterior, há a necessidade de efec-tuar alguns disparos para se poder ir ajustando a aber-tura / ISO dado que a velocidade, e pela experiência adquirida nestes registos, deve estar, no caso de estar-mos a trabalhar directamente do portátil, no seu valor

Fluorescência de Ultra Violeta

A luz com Fluorescência de Ultra Violeta situa-se a partir dos 380 nanómetros (nm) a 1nm, significa além do violeta já que o violeta é a cor visível do comprimento de onda. Muitas substâncias, quando expostas à ra-diação UV, comportam-se de um modo diferente de quando expostas à luz visível, tornando-se fluorescentes.

mínimo que são 30” e no caso de estarmos a trabalhar com disparador, na posição BULB e depois controlar o tempo no cronómetro. O tempo de exposição varia sempre, também em função da quantidade e qualida-de da fluorescência de violeta emitida. Depois do re-gisto ser considerado final e já na pós produção deve ser retirada toda a saturação, pois o registo fica muito mais legível dado que a cor na maior parte dos casos torna-se um elemento distractivo. De salientar que fi-zemos experiências com e sem conjunto de filtros para podermos detectar as diferenças e saliento que com o conjunto de filtros os resultados são de maior qua-lidade, conferindo mais detalhe e melhor densidade. Outra experiência foi a desaturação do registo, a meu ver sem a distracção da cor fica mais fácil a observa-ção de promenores.

Fig.9 - Metadados - f 11 - 20” - ISO 200 - s/conj. filtros

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Fig.10 - Metadados - f 11 - 30” - ISO 500 - c/conj. filtros Fig.11 - Com desaturação valores metadados igual à Fig.10

Fig.12 - Ampliação onde parece estar presente um rosto que depois foi retirado posteriormente

Fig.13 - Registo com Luz Normal, com referência à área ampliada e para comparação com a Fig. 12

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Em várias pesquisas que efectuei, todos são unâni-mes em afirmar que diferentes câmaras deixaram pas-sar diferentes quantidades de luz IR, conforme o seu filtro interno for mais ou menos forte.

A generalidade das Canon, segundo alguns, têm um filtro interno demasiado agressivo pelo que obri-gam a tempos de exposição muito prolongados, como tal não são a melhor escolha. Na Nikon a D100/D70/D50 são boas opções.

Já no que respeita a filtros o mais popular para este tipo de fotografia é o Hoya R72 (screw-in). Este é um filtro bastante denso, de tom avermelhado, que blo-queia todos os comprimentos de onda de luz abaixo dos 720nm (nanómetros), deixando passar a luz IR que queremos captar e um pouco de luz normal (ver-melho).

Existem outros, fabricantes como a Cokin, a B+W ou a série Wratten da Kodak (89b, 87, 87c) com di-ferentes níveis de transmissão de luz IR. O usado durante o decorrer do nosso trabalho foi o da Kodak 87, não podemos estabelecer comparação, dado não termos outro para o efeito, no entanto, penso estar à altura da função para a qual está designado, que seja a penetração nas camadas superiores e apresentar os desenhos subjacentes à pintura, ou seja, esboços ou arrependimentos feitos previamente à obra final. Na segunda obra que tivemos oportunidade de registar não apareciam esboços ou arrependimentos (Fig.16), já na primeira obra existiam arrependimentos que es-tão registados e se podem observar nas Fig. 14 e 15.

Reflectografia de Infravermelho

O Infravermelho é um espectro de luz não visível que se inicia nos 750nm aproximadamente a 105nm, mas só os comprimentos de onda entre os 750 e os 2000nm podem ser registados por via fotográfica. Nem todas as câmaras são capazes de captar a luz infravermelha, e as que captam não o fazem todas da mesma forma. Isto deve-se ao facto de as camâras digitais terem um filtro de bloqueio de luz IR interno por cima do sensor, visto que a luz IR degrada a qualidade da luz visível numa fotografia.

Fig.14 - Arrependimento bem patente a artista corige a pos-sição da cabeça do Cristo. Reflectografia de Infravermelho

Fig.15 - A obra anterior com selecção da área em destaque

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Fig.16 - Reflectografia de Infravermelho - Informação fornecida pela câmara Sony H9 - f 2.8 - 1/30 - ISO não disponibiliza

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Este tipo de registo que se situa entre os 589 e os 590 nm da luz visível e é preferencialmente benéfico por-que emite num comprimento de onda muito reduzido, emite uma única cor, o que torna as cores sem grande importância, portanto menos destractiva, é monocro-

Monocromática Vapor de Sódio

mático e permite detectar o claro-escuro, e evidencia o desenho na pintura, pois atingem-se melhores con-trastes. Por vezes é possível observar zonas escondidas por vernizes envelhecidos. A disposição da iluminação é igual à utilizada no flash ou luz contínua ver (Fig4).

Fig.17- Monocromática Vapor de Sódio - Metadados - f 11 - 1/6 - ISO 50

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Neste tipo de registo utilizámos um emissor de luz (lâmpadas de halogéneo a 1000w), no entanto depen-dendo da altura da obra, assim poderão ser necessá-rios mais pontos emissores de luz.Na luz rasante esperam-se resultados que evidenciem os enfolamentos, estalados, vincos, rasgões, lacunas e marcas imprimidas pelas grades.O sistema de iluminação utilizado consiste em ilumi-nar a obra com um feixe de luz e o ângulo deve variar entre os 5º e os 20º, o projector necessita ter abas para

Luz Rasante

poder ser regulado o feixe de luz.O sistema de iluminação difere pouco do normal uti-lizado, sendo as diferenças a utilização de uma úni-ca fonte emissora, e o ângulo varia entre os valores que referimos. Além de ser um método que pode dar muitas referências e portanto ser muito utilitário para o conservador/restaurador, é ao mesmo tempo de difícil registo já que uma grande parte das obras se encontram em moldura e essa mesma moldura geral-mente interfere no resultado final.

Fig.18 e 19 - Luz Rasante - f 11 - 20 - ISO 50 - Um registo aproximadamente 5º e o outro perto dos 20º

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Todo este trabalho descrito é o sumatório dos conhecimentos adquiridos nas unidades curriculares de Fotografia Aplicada e Fotografia Digital Aplicada.

Este trabalho foi benéfico para a criação de rotinas, que permitam cada vez mais um melhoramento das técnicas empregues e ao mesmo tempo criem a necessidade e o prazer da pesquisa e da experimentação.

É uma área que me fascina, este tipo de registo torna-se desafiante, e alarga os nossos conhecimentos à área da conservação e restauro, área pela qual começo a desenvolver um gosto especial. Além de todos os conhecimentos de Fotografia Digital Aplicada adqui-rimos os de Conservação e Restauro, ainda que de uma forma menos desenvolvida, no entanto vamo-nos aos poucos familiarizando com os termos mais comuns e aprendendo os seus significados, repintes, enfolamentos, desgastes de superfície, etc...

Para o desenvolvimento deste tipo de trabalho o fotógrafo deve ter conhecimento de alguns termos e normas e interesses da Conservação e Restauro, para assim existir uma linguagem única que facilita e acelera os processos de trabalho.

Durante o trabalho solicitado, os métodos foram-se apurando, de tal modo, que surgiu a altura em que achei necessário repetir uma série de registos por achar que os anterio-res não correspodiam aos padrões de qualidade que devíamos exigir nesta fase. Estes registos foram feitos sobre uma nova pintura o que lançou novos desafios e abordagens diferenciadas. Neste segundo registo a obra não tinha tantas carências como o primeiro, no entanto, à primeira vista e à Luz Normal era logo possível ver vincos, estalamentos, sujidades diversas e repintes. Na luz rasante evidenciam-se os enfolamentos, lacunas e marcas imprimidas por uma grade anterior à fixação neste suporte. A luz Monocromá-tica de Sódio salienta as zonas onde as densidades e as camadas de protecção são mais homogéneas. No entanto, é na luz Ultravioleta e de Infravermelhos onde se criam mais expectativas pois são estas duas que têm, devido ao seu comprimento de onda, a possi-bilidade de penetrar nas camadas da pintura. No primeiro quadro já tinha sido evidente a descoberta de um arrependimento, ou seja, o artista antes da pintura corrigiu um rosto. Já no segundo caso parece ter tapado um rosto existente, sendo que na primeira situação foi detectado na Reflectografia de Infravermelho, o que nos diz que foi logo na camada inicial, antes da pintura. Na segunda situação aparece na Fluorescência de Ultravioleta o que quer dizer que foi uma correcção feita depois da pintura já que se encontrar numa camada superior, e manchas de verniz acentuadas.

O contacto directo com as obras possibilita-nos um trabalho mais sério e real, o que é motivo de concentração e empenho da minha parte. É evidente que a escala de satisfação ainda não atinge o seu pleno, e que muitos pormenores ainda poderão ser corrigidos.

É um processo que agora iniciei, no entanto estou convicto de ter dado todo o meu empenho na resolução deste trabalho e sinto-me motivado e com uma enorme vontade de continuar a explorar estes caminhos.

Conclusão

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Bibliografia

Barthes, Roland, (2012), A Câmra Clara; nota sobre fotografia, 13ª ed., Lisboa EdiçõesKossoy, Boris (1989), Fotografia e História, São Paulo, ed. “Bom Livro”Romão, Paula Soares, (1989), Técnicas Físico-Químicas Aplicadas à ConservaçãoSánchez Vigil, Juan Miguel, (2006), El documento fotográfico - história, usos y aplicaciones. Gíjon: Ediciones Trea

Fontes Documentais

IFUSP - Instituto de Física da Universidade de São Paulo - Fotografia como auxiliar de restauro e conser vação de pinturas de cavalete. Vicente Pagliaro Peixoto de Mello

Consejo Superior de Investigaciones Cientifícas - La fotografia aplicada a la reprodución de obras de arte. José Francisco Lorén González. Arbor CLXIX, 667-668 (Julio-Agosto 2001), 591-198 pp.

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Átomo - É uma unidade básica de matéria que consiste num nú-cleo central de carga positiva envolto por uma nuvem de eletrões de carga negativa.

BULB - Bulb, abreviado B, é uma configuração da velocidade do obturador numa câmera ajustável que permite longos tempos de exposição sob o controle direto do fotógrafo.

Covalente - A ligação covalente é um tipo de ligação química caracterizada pelo compartilhamento de um ou mais pares de elétrons entre átomos, causando uma atração mútua entre eles, que mantêm a molécula resultante unida. O nome ligação cova-lente surgiu em 1939.

DNG - Digital Negative (DNG) é um formato de imagem RAW utilizado na fotografia digital, desenvolvido em 2004 pela em-presa americana de softwares Adobe Systems. Esse tipo de ar-quivo foi criado com a intenção de padronizar os diferentes for-matos de RAW utilizados no mercado pelas diferentes marcas de câmeras, além de unificar o arquivo de imagem com seu script de edição e metadados.

Electrão - (do grego ήλεκτρον, élektron, “âmbar”), geralmente representado como e-, é uma partícula subatômica que circunda o núcleo atômico, identificada em 1897 pelo inglês John Joseph Thomson. Subatómica e de carga negativa, é o responsável pela criação de campos magnéticos e eléctricos.

Espectro eletromagnético é o intervalo completo da radiação eletromagnética que contém as ondas de rádio, as microondas, o infravermelho, os raios X, a radiação gama, os raios violeta e a luz visível ao olho humano.

Filtros - Um filtro fotográfico é um acessório de câmera foto-gráfica ou de vídeo que possibilita o manejo de cores e/ou a ob-tenção de efeitos de luz pela sua inserção no caminho ótico da imagem. Os filtros são de gelatina, plástico, vidro ou cristal, na maioria das vezes montadas em anéis rosqueáveis na objetiva, ou em anéis elásticos para montar no cilindro liso da objetiva.

Fluorescência - É a capacidade de uma substância de emitir luz quando exposta a radiações do tipo ultravioleta (UV), raios ca-tódicos ou raios X.

Fotómetro - O fotómetro é um aparelho que mede a intensida-de da luz (por exemplo, para adequá-la às necessidades especí-ficas de um fotógrafo ou de um cineasta) através de parâmetros fotográficos. Este converte a luz em corrente eléctrica podendo ser medida em valores referentes à velocidade de obturação ou abertura de diafragma (“f ”) . Os fotografos e cinegrafistas por exemplo usam o fotometro para medir a intensidade da luz no ambiente para conseguir bons filmes e imagens.

Impregnada - Repleta de ....

ISO - Sensibilidade fotográfica, também conhecida como sensi-bilidade ISO é um termo utilizado para se referir à sensibilidade de superfícies fotossensíveis (sensíveis à luz) utilizadas na foto-

Glossário

grafia (filme fotográfico ou sensor de imagem).

Lâmpada de Wood - A Lâmpada de Wood tem um arco de mer-cúrio que emite radiações ultravioleta.

Macrofotografia - Classicamente, o campo da macrofotografia está delimitado pela captura de imagens em escala natural ou aumentada em até cerca de dez vezes seu tamanho natural.

Moléculas - Uma molécula é uma entidade eletricamente neutra que possui pelo menos dois átomos, todos ligados entre si me-diante ligação covalente.

Nanómetro - é um milionésimo de milímetro

Radiação Ultravioleta - As frequências desta radiação são supe-riores às da região visível ao olho humano. Estas radiações são emitidas pelos átomos quando excitados, como por exemplo, em lâmpadas de vapor mercúrio (Hg), acompanhando a emissão de luz. Por não serem visíveis os raios ultravioletas podem causar sérios danos à visão humana.

Radiação Visível - As ondas eletromagnéticas que possuem fre-quência compreendida entre 4,6 x 1014 Hz e 6,7 x 1014são de extrema importância para nós, seres humanos, pois elas são ca-pazes de sensibilizar a nossa visão, essas são as chamadas radia-ções luminosas, ou seja, a luz. As radiações luminosas possuem um pequeno espaço no espectro eletromagnético. Sendo assim, o olho humano não consegue ver o restante das radiações que compõe o espectro eletromagnético.

RAW - Raw, ou formato cru, é uma denominação genérica de formatos de arquivos de imagens digitais que contém a totalida-de dos dados da imagem tal como captada pelo sensor da câmera fotográfica. Tais formatos não podem ter aplicada a compressão com perda de informação, como ocorre com o popular JPEG.Como o formato cru contém todos os dados da imagem captada pela câmara e uma maior profundidade de cor, em geral 30 ou 36 bits/píxel — seus arquivos são muito grandes, salvo quando são comprimidos (sem perdas). É muitas vezes chamado de “nega-tivo digital” pois é equivalente a um filme negativo na fotografia analógica: ou seja, o negativo não é usável como uma imagem, mas contem todas as informações necessárias para criar uma. O processo de converter uma imagem crua para um formato visí-vel é muitas vezes chamado de revelação de imagem raw .

Reflectografia - É o nome dado ao método de registro do raio refletido de luz sobre uma superfície. Reflectografia Infraverme-lho, em especial, tem aplicação na observação de desenhos subjacentes em pinturas.

White Balance - Em fotografia, balanço de cores ou balanço do branco (em inglês, white balance) refere-se aos ajustes que são efetuados pelo fotógrafo ou pela câmera fotográfica para se obter imagens com fidelidade de cores próxima àquelas que os objetos apresentam sob iluminação ideal.A maioria das câmeras fotográficas digitais também faz isso au-tomaticamente, embora nem sempre satisfatoriamente.

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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO TOMAREscola Superior de Tecnologia

Mestrado Fotografia

António Manuel Fonseca Peleja