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    Qualidade Total na Formao Profissional:

    do Texto ao Contexto

    Maria Laura P. Barbosa FrancoFundao Carlos Chagas (FCC)Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP)

    Discute o conceito de qualidade de ensino, sua relao com o

    significado de qualidade total e seus desdobramentos para a educao;

    questiona a dicotomia quantidade x qualidade no mbito do sistema

    educacional brasileiro; explica o vnculo que se estabelece entre os

    indicadores implcitos na concepo de ensino de qualidade e as

    demandas provenientes dos novos processos de produo e suas exigncias

    para a formao profissionai.

    Introduo

    A dcada de 90 coloca novos desafios aos educadores. No apenaso Brasil, mas, tambm, toda a Amrica Latina encontra-se, mais uma vez,no impasse de rever suas prioridades para a educao, nos marcos denovas dinmicas de desenvolvimento.

    Tais dinmicas delineiam-se, por um lado, em um contexto de

    recursos limitados e, por outro, no bojo de um cenrio de avanotecnolgico e de intercmbio cientfico, em uma perspectiva regional e,sobretudo, internacional.

    Entre outras palavras, a planificao, a prtica educativa e suasrelaes com o mercado, a competitividade, as formas de gesto, ademocratizao do saber e a necessidade de formao de grupos de

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    excelncia so aspectos crticos que requerem ateno renovada eprospectiva.

    Neste programa, a educao e a aquisio de conhecimentospassam a ser vistas como elementos fundamentais, enquanto possibilidadede desenvolvimento econmico, poltico e social. Mais enfaticamente, acapacitao de recursos humanos e, especificamente, a formao detcnicos ganham importncia redobrada. Aqui, estamos sendo atropelados

    pela tentativa da imposio de um modelo normativo, hegemnico egestado nos pases de capitalismo avanado que, por hiptese, j atingiramo estgio da "modernidade", via incorporao de novas tecnologias.

    No entanto, apesar dos propalados avanos tecnolgicos, da buscade novos mecanismos de acumulao do capital que rapidamente seinternacionaliza e de novas formas de gerenciamento institucional eempresarial (seja nos setores da produo ou nos de servios), ocapitalismo est novamente em crise. E, desta vez, como diz LucilaMachado, trata-se de uma crise bem mais profunda (como aqueladecorrente da depresso de 1929, por exemplo), medida que envolveelementos que colocam em risco a prpria capacidade de manuteno ede realizao do capitalismo (Machado, 1993).

    E certo que diferentes estratgias tm sido analisadas e, portentativa, implantadas, no sentido da superao dessa crise que denatureza estrutural e de dimenso mundial.

    Dentre tais estratgias, algumas esto especificamente direcionadasao redimensionamento das propostas a serem elaboradas para a formaode tcnicos e para a qualificao do trabalhador. Nessa vertente, osignificado a ser atribudo ao reconhecimento da qualidade dessa formaoassume renovada importncia.

    Nos limites deste trabalho, optamos por delinear algumas questesrelativas concepo de qualidade do ensino (em geral, e, em especial,do ensino tcnico) levando em conta a necessidade de:

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    enfrentar esse debate de uma maneira contextualizada;privilegiar uma reflexo terica;e, principalmente, enfocar a discusso acerca dos indicadores

    preconizados, hoje, para a definio de qualidade do ensino, no mbitodos pressupostos que os sustentam.

    A qualidade do ensino e seus desafos

    O DESAFIO EMPRICO

    A qualidade do ensino tradicionalmente se apresenta como umproblema para a Amrica Latina, quando se supe resolvido o problemada oferta. Entre ns, acreditamos que preciso enfrentar essa problemtica,no bojo de um catico e perverso panorama de acesso educao formal,que hoje se mostra longe de estar resolvido.

    Nos anos 70, demandas sociais e econmicas, exercendo fortepresso sobre os setores educacionais, exigiram ampliao dasoportunidades de acesso ao ensino formal. Nesse sentido, efetuaram-seesforos que, em ltima instncia, representaram apenas acomodaess condies existentes para aumentar a oferta de matrculas nasinstituies da rede pblica.

    Relatrios oficiais mostravam, j no incio da dcada de 80, resultadosque, primeira vista, pareciam auspiciosos quanto ao nmero de matrculasiniciais. De fato, sob uma perspectiva quantitativa, os dados atestavam

    porcentagens promissoras em relao ao acesso escola, em todos os niveis.

    Mesmo assim, j naquele momento, muitos analistas empenharam-se emdenunciar as perversas estratgias que tornariam essa "democratizao"superficial e inconsistente, uma vez que se apoiavam: na criao de classessuperlotadas; em escolas funcionando em at cinco turnos; no sensvelrebaixamento salarial de professores etc. Tais dados, entre outros, permitiam

    prognosticar conseqncias desastrosas para a qualidade do ensino.

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    Atualmente, e a partir de novos e bem mais sofisticadosprocedimentos, alguns pesquisadores constatam que 95% das crianasde cada gerao tm acesso escola. Na opinio dos mesmos, a falta devagas deveria, assim, deixar de figurar no roi dos fatores explicativos daineficincia da educao brasileira, medida que tal ineficincia estaria

    relacionada principalmente s altas taxas de repetncia escolar.Concomitantemente, outros dados tambm atestam no existir elevadaevaso precoce. Assim, a evaso aparece inflacionada (nos registrosoficiais) porque, quando a reprovao se torna iminente, os alunosdesistem, ou so induzidos a desistir da escola naquele ano, masrematriculam-se no ano seguinte. Continuam, portanto, sendo atendidos

    pelo sistema educacional, ainda que paream ser por ele excludos.Esses argumentos trazem o benefcio de permitir que se enfrente,

    com mais firmeza, a questo da repetncia e da pesada responsabilidadeque cabe escola no pretenso fracasso dos alunos. Da mesma forma,

    ventila-se, com muita propriedade, o conceito da "cultura da repetncia",que consiste no desdobramento, no mbito escolar, dos preconceitos quese desenvolvem em relao s camadas populares, e que, gerados a partirde relaes de produo perversas, permeiam toda a sociedade, refletindo-se, pois, na escola.

    Apesar da pertinncia das consideraes anteriores, acreditamosser temerrio concluir que a infra-estrutura e os insumos destinados educao sejam suficientes para conseguir resolver o problema daqualidade do ensino com os recursos que j possumos. Isso porquedevemos comear indagando: de que escolas estamos falando, quando

    afirmamos que o acesso educao est praticamente garantido a 95%das crianas de cada gerao?Uma parte da pesquisa, concluda em dezembro de 1993 pelo

    Instituto de Pesquisa e Economia Aplicada (IPEA) do Ministrio doPlanejamento, detalhou as condies fisicas de 192 mil estabelecimentosde ensino do Pas, obtendo resultados extremamente negativos. Mostrou

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    que 25% deles no tm nenhum banheiro. Em 27% no existe sequergua, nem de poo. No meio rural esse nmero sobe para 33%, e 48%no dispem de energia eltrica, nem mesmo de bancos suficientes paraos alunos, obrigados a dividir carteiras ou a sentar no cho (Flha de S.Paulo, 1994).

    Se nos reportamos a dados mais qualitativos, constatamos queum expressivo nmero de escolas rurais isoladas, principalmente no

    Nordeste, so espaos que funcionam sob o rtulo de "Escola", masque, para serem admitidas como tal, preciso deixar de lado o conceitotradicional que se tem de uma instituio de educao formal.Estabelecidas nas pobres residncias das professoras, tais "escolas" estoorganizadas em classe multisseriada, gerando para os alunos uma duplatarefa: os mais velhos no apenas auxiliam os mais novos nos trabalhosescolares, como, tambm, em muitos casos, ajudam na preparao damerenda e at nos cuidados com os filhos das professoras. Estas, por

    sua vez, na sua grande maioria, recebem salrios apenas "simblicos" e,sem formao adequada, disputam uma vaga para serem "professoras",principalmente pelos "beneficios" que, por hiptese, tero direito deusufruir junto ao INSS.

    Nas regies mais desenvolvidas do Brasil, sero "escolas" aquelasque funcionam em cinco turnos por dia, cujos baixos salrios afastam os

    profissionais qualificados, abrindo constantes vazios nos quadrosfuncionais? Ainda, sero "escolas" aquelas cujos problemas, ecos de nossas

    profundas mazelas sociais, extrapolam, de muito, as questes pedaggicas?Nesse sentido, pertinente transcrever aqui o depoimento da diretora de

    um estabelecimento situado entre duas violentas e populosas favelas noRio de Janeiro: "Aqui temos 2.300 alunos que j esto acostumados comos tiroteios entre as quadrilhas de traficantes e os policiais. Mandamosconstruir um muro alto para proteg-los, mas ele vivia sempre cravejadode balas at que um dia caiu. Eles (os alunos) j esto acostumados.Aprenderam a se defender quando percebem algo de anormal. Mas

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    continuam vindo escola. No querem que as aulas sejam suspensas"(Veja, 1993). Em outra escola carioca, os traficantes ordenaram asuspenso das aulas porque queriam usar o espao para venda de drogas.Professores apavorados foram focalizados em telejornal e admitiam teremsido obrigados a mandar os alunos para casa.

    Enfim, podemos minimizar a incidncia de fatores materiais nainsuficincia do sistema escolar quando, em um Estado rico como SoPaulo, reiteradas greves de professores (que lutam contra salriosrealmente inquos e por melhores condies de ensino) ocorremfreqentemente, deixando milhes de crianas sem aula?

    Acreditamos que, no Brasil, o efetivo acesso educao formalest longe de ser resolvido. Diminuir a importncia das dificuldadesmateriais e sociais da escola e do processo escolar, insistindo-se unicamentena dimenso pedaggica, pode redundar em uma viso simplista e linear.

    Em nosso entender, a considerao dos aspectos anteriores

    representa o primeiro passo, quando a tarefa discutir qualidade doensino. Discusso que se efetua em um momento em que, por um lado,a educao se encontra na encruzilhada do difcil convvio que seestabelece entre modalidades de ensino-aprendizagem tradicionais earcaicas e o fascnio da Cincia e das novas tecnologias que envolvema informtica, a telecomunicao, o vdeo, a televiso a cabo, as redeseletrnicas (cada vez mais em expanso), os bancos de dados etc; poroutro lado, assistimos ao surgimento de uma sociedade na qual osconhecimentos cientficos e tecnolgicos e no mais o tamanho doexrcito ou a dimenso das fbricas parecem ser os elementos mais

    significativos para o desenvolvimento do mundo em que vivemos, e aoantigo apelo educao agora, porm, mais intenso comoredentora e panacia para a sada do atoleiro econmico e para asuperao dos males sociais. Retricas vazias que, mesmo se bemintencionadas, pressupem, equivocadamente, a existncia deindispensveis precondies bsicas, de um determinado patamar de

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    desenvolvimento e de um acesso igualitrio aos bens socialmenteproduzidos, muito alm da situao com a qual, em verdade,convivemos.

    O DESAFIO TERICO

    A qualidade do ensino pressupe um julgamento de mrito que seatribui tanto ao processo quanto aos produtos decorrentes das aeseducacionais. Implica, pois, um juzo de valor, mas no qualquer tipo de

    juzo.Sob essa tica, Vernica Risopatron ( 1991 ) destaca alguns aspectos

    a serem observados quando a tarefa definir qualidade do ensino e seusrespectivos indicadores. Com razo, alerta que estamos diante de umdesafio terico, medida que o conceito de qualidade um significante eno um significado. Da, sua inerente ambigidade e a dificuldade de

    abordar essa problemtica com clareza e objetividade. "A conscincia daambigidade deste termo surge porque se espera que ele seja definido a

    partir de um nico significado. Sem dvida, o conceito de qualidade assim como do belo, do bom e da morte um significante que podeadquirir muitos significados" (Risopatron, 1991, p. 15).

    O conceito de qualidade, enquanto significante, um conceitohistoricamente produzido e, neste caso, no pode ser definido em termosabsolutos. Pressupe uma anlise processual, uma dinmica, a recuperaodo especfico e o respeito s condies conjunturais. E, pois, um conceitofixado a partir de um arbitrrio sociocultural e orientado por diferentesexpectativas que incorporam demandas diversificadas e mutveis ao longodos tempos.

    Alm disso, no um conceito neutro. Ao contrrio, reflete umposicionamento poltico e ideolgico perceptvel, seja para a definio daqualidade do ensino, seja para o encaminhamento de propostas que secorporificam na explicitao de seus indicadores.

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    Devido caracterstica dual do ensino mdio no Brasil, osindicadores de sua qualidade oscilaram, ao longo dos tempos, entreenfatizar a capacitao dos jovens para o prosseguimento dos estudos, e

    permitir a concluso da formao tcnico-profissional, encarada, nestecaso, como objetivo terminal.

    Sob a tica da formao tcnica, sua discusso tem sido efetuadano compasso da relao que se estabelece entre educao e trabalho. A

    partir deste eixo, so bastante conhecidos os promissores encaminhamentosque, em nvel terico, tentam equacionar tal relao, tendo como substratoos interesses dos trabalhadores, bem como os diferentes questionamentosque circunscrevem esta problemtica. Vamos, portanto, retom-los apenassucintamente.

    No bojo desses questionamentos, na dcada de 70, o alvo principalfoi a profissionalizao imposta, de maneira universal e compulsria, aoensino de 2ograu, mediante a Lei 5.692, em 1971. Vrios argumentos

    apoiaram tais crticas, desde os que se deixaram levar por razespragmticas e conjunturais, at aqueles, mais elaborados, que buscaramrespaldo em pressupostos tericos pertinentes temtica. No conjuntodo primeiro grupo, destacam-se os discursos que associam a falncia da

    profissionalizao (tal como concebida) incapacidade do sistemaeducacional em absorv-la. Incapacidade que se justifica pela falta derecursos fsicos e de equipamentos disponveis, pela carncia de pessoalqualificado ou mesmo pelo desinteresse demonstrado por muitosestabelecimentos de ensino em relao s propostas profissionalizantes.

    Do ponto de vista terico, as crticas, em oposio s abordagens

    "do capital humano", constataram o equvoco de uma profissionalizaoestreita e a orientao dada preparao para o trabalho, sem considerarque educao e trabalho esto submetidos a processos cclicos nitidamentediferenciados.

    No cipoal de incertezas e de indefinies, surge como uma novaproposta a organizao dos currculos, para a educao tcnica, em torno

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    do trabalho visto como "principio educativo". Essa abordagem ganhafora no final da dcada de 80 e se direciona para a oferta de uma educaoque permita ao aluno apropriar-se tanto de uma nova concepo de cinciaquanto de uma viso ampla e crtica dos processos de trabalho e da

    produo e seu impacto sobre a sociedade. Apesar da carncia de uma

    sistematizao, capaz de lhe imprimir contornos mais definidos, talabordagem teve o mrito de iniciar um debate acerca da educao unitriae de recrudescer o questionamento acerca de um ensino mdio segmentadoe excludente, por sua prpria configurao.

    A dcada de 90 inicia-se com novas e bem mais complexas questes.Aprofunda-se a discusso acerca da contnua referncia aos mecanismosdo mercado como os grandes orientadores das polticas educacionais. Aessa referncia acrescenta-se o debate sobre o recorrente apelo "modernidade" e "modernizao", as quais, ainda que simbolicamenterepresentadas, como diz Casassus, so aspiraes comuns e consensuais

    de toda a Amrica Latina. Sua busca parece substituir o discurso darevoluo social e o iderio desenvolvimentista e surge como umapossibilidade de transformao poltica e econmica (Casassus, 1993).Transformao que implica o repensar das propostas de formao derecursos humanos diante da contradio que se estabelece entre um

    processo de industrializao heterognea e desigual (no qual o segmentomais moderno se utiliza de tecnologias sofisticadas) e a realidade de umcontexto permeado pela existncia de uma fora de trabalho barata eabundante e penalizado pelo subemprego e pelo desemprego. Da, a duplaexigncia em, por um lado, organizar formas institucionais para a formaode tcnicos e, ao mesmo tempo, propiciar a educao bsica a um grande

    contingente da populao dela excluda.As colocaes anteriormente delineadas (ainda que sucintamente)

    fornecem pistas para a anlise de dois importantes corolrios que delasderivam.

    Por um lado, remete-nos ao exame das presses nacionais einternacionais que, impostas por interesses globalizantes, passam a imprimir

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    sucessivas modificaes no que se refere forma considerada adequadapara a formao de tcnicos qualificados para o enfrentamento dasexigncias atuais aspecto que ser retomado no item subseqente,quando nos reportamos discusso sobre qualidade total.

    Por outro lado, acenam para a importncia da definio de

    prioridades para a educao, especialmente em um pas como o nossocujos dados atestam: 150 milhes de habitantes, dentre estes 40 milhesde pessoas vivendo em condies de extrema pobreza; 48 milhes deanalfabetos e cerca de 10 milhes de crianas fora da escola (IBGE, 1990).

    Quanto questo da definio de prioridades, vamos apenasaproveitar o momento para "pensar alto".

    Sem dvida, investir no ensino bsico indispensvel, uma vezque ele que constitui a porta de entrada para a democratizao do sabere a possibilidade de fortalecer a qualidade dos nveis subseqentes.

    Todavia, no podemos cair na armadilha dos argumentos linearese mecanicistas que procuram demonstrar, entre outras coisas, que a

    profissionalizao, por si prpria, uma idia errada; que se utilizam dasdificuldades relativas insero de egressos de escolas tcnicas no mercado

    para justificar a inadequao entre educao e trabalho; que falam a favorda maior eficincia da "pedagogia da fbrica", em detrimento da formaode tcnicos no interior do sistema formal de ensino; que denigrem etripudiam as propostas curriculares fragmentadas e o adestramentolimitado, mas no elaboram, com a devida profundidade, encaminhamentosde propostas mais amplas e mais eficazes para a apropriao de um sabertcnico competente. Ou seja, aquele saber que realmente concentre a

    possibilidade de elevar um sujeito desprovido de instrumentos especficos

    condio de cidado, o qual passa a deter maior poder de barganha nomercado de trabalho, atravs do domnio de conhecimentos, habilidadese atitudes compatveis com as demandas caractersticas do seu tempo ehistoricamente definidas.

    Enfim, h que se esquivar das armadilhas vistas como conjunturaise procurar identificar as razes mais profundas subjacentes s polticas

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    educacionais que ora enfatizam o fortalecimento da formao de tcnicose de especialistas, ora buscam procedimentos mediadores para oenfraquecimento dessa mesma formao.

    O DESAFIO DOS PRESSUPOSTOS

    Como j dissemos, o termo "qualidade" historicamente situadoe supe a incorporao de diferentes significados. Da, quandoindagamos acerca da qualidade de qualquer objeto, possvel identificarelementos observveis que permitam (ou no) a aferio de seus padresde qualidade. Assim, por exemplo, pode-se testar a durabilidade dedeterminado produto, a adequao de diferentes aparelhos s funess quais se destinam; a pertinncia de estratgias que auxiliam naaprendizagem de conceitos, na inculcao ideolgica ou na disseminaode idias alienantes.

    Nesses casos, tanto o processo de desenvolvimento quanto oproduto final podem ser submetidos a um controle de qualidade e, emgeral, a avaliao tende a ser consensual. Todavia, quando indagamos:"qualidadepara quem?, no h lugar para pretenses normativas nem

    para supor universalizao de interesses.A diversificao dos indicadores de qualidade que se colocam no

    sistema educacional sustenta tal afirmao. Exemplificando: a partir decritrios sabidamente exgenos (porm diferenciados em suas bases), aqualidade de uma escola de 2 grau de elite tem sido, seguidamente,consagrada principalmente nos centros urbanos mais desenvolvidos

    pela quantidade de ex-alunos (sempre exibidos nos meios decomunicao) que conseguiram boas colocaes para o ingresso no ensinosuperior (em universidades tambm de elite); para os egressos de escolastcnicas de nvel mdio (tendo como referncia, neste caso, tambm oscentros urbanos mais desenvolvidos e, em especial, as escolas das redesvinculadas ao setor produtivo, como Senai, Senac, Sear), a obteno de

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    bons empregos, na respectiva rea de formao, passa a ser um forteindicador para a avaliao da qualidade de tais escolas; j em escolas de2ograu de periferia, que funcionam no perodo noturno e que acolhem,em sua grande maioria, estudantes trabalhadores, os grosseiros ndicesde aprovao (em contraposio aos que indicam evaso e repetncia)

    so sistematicamente expostos e considerados como suficientes para aatribuio de sua "qualidade"; no contexto mais geral do nosso sistemade ensino (permeado por instituies desprovidas de recursos), o domniodas primeiras letras e das operaes matemticas bsicas parece ser o

    bastante a ser almejado e o possvel a ser realizado.

    O que falar sobre qualidade total?

    No contexto dessa heterogeneidade, que reflete a desigualdade deacesso aos bens sociais, decorrente de um sistema econmico

    extremamente excludente, difunde-se (a cada dia com mais vigor) odiscurso da "qualidade total" e indaga-se acerca de sua possvelaplicabilidade na educao.

    Do ponto de vista macropoltico e econmico, a busca da qualidadetotal, como diz Lucila Machado, aponta para "a salvao em direo ao

    paraso celestial" (Machado, 1994, p.2).Apropriando-nos de suas idias (ao mesmo tempo pertinentes,

    analgicas, perspicazes e irnicas), concordamos que, na situao deflagelos crise econmica, instabilidade financeira, subemprego,desemprego etc. que se instalam no mundo e que penalizam, maisfortemente, a Amrica Latina, fazer parte de um seleto grupo da elite

    mundial , sem dvida, aspirao comum de todos os pases. Mais do queisso, o melhor mesmo deveria ser o primeiro no ranking competitivo docapitalismo internacional. Neste sentido, divulgam-se idias doutrinriasacerca do conceito de "qualidade total".

    Idealiza-se que "para salvar o Brasil preciso salvar as empresas"Salvando-se o Pas, salva-se a humanidade. Os merecedores da graa sero

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    aqueles que se mostrarem mais competentes, os que souberem aplicareficazmente os princpios e mtodos do sistema administrativo da qualidadetotal para a soluo de seus problemas (Machado, 1994, p.2).

    No pretendemos, nos limites de nossos objetivos, aprofundar osignificado de "qualidade total". Todavia, consideramos importante

    destacar alguns de seus princpios.Por um lado, os meios de comunicao tm sido generosos em

    manter uma orquestrada propaganda para apresentar a "qualidade total"como o mais avanado smbolo da produtividade, da produo material edas atividades de bens e servios (Machado, 1994). Por outro lado, reinauma evidente confuso conceitual acerca de tal expresso.

    Como j dissemos, o termo "qualidade" um significante impregnadode conotaes valorativas. Da mesma forma, a expresso "qualidade total"incorpora diferentes significados, dependendo da tica de quem a define e

    para quem se dirige. No entanto, nos discursos atualmente presentes acerca

    da expresso "qualidade total", advoga-se a favor de sua neutralidadeobjetiva. "Neutralidade" que, ancorada na lgica individualista dereconverso produtiva, escamoteia seu forte componente ideolgico, aodeslocar para o terreno da responsabilidade pessoal a intensificao das j

    profundas contradies, excluses e marginalizaes sociais.Nesse sentido, o entendimento do conceito de qualidade total est

    muito mais vinculado compreenso de uma nova mentalidade empresarial,no que se refere s condies de produes e s tcnicas de gesto, doque em relao sua prpria conceituao.

    No que se refere s tcnicas de gesto, a mentalidade embutida na

    concepo de "qualidade total" ope-se ao arcasmo e rigidez dosmodelos tayloristas e fordistas e assenta-se em princpios de flexibilidadee autonomia gerencial.

    A partir desses princpios, definem-se seus principais componentes:a) O uso do tempo de cada funcionrio, durante o qual ele exibe

    comportamentos relativos a compromissos individuais, e de responsabi-

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    lidade e solidariedade. A idia de que o uso do tempo seja "autocon-trolado", tendo em vista uma participao compartilhada, na qual cada"colaborador" funcione como uma microempresa, sendo, portanto,necessrio que cada segmento de uma unidade se conhea e com suaequipe de trabalho seja capaz de gerenciar seus prprios processos

    (produtos e servios) e sua atuao funcional;b)A combinao dos meios (recursos humanos, equipamento,

    informatizao) para a produo de um determinado bem ou servio, "oque, em ltima instncia, definiria a funo da produo";

    c)A importncia do cliente, cuja satisfao passa a ser a chave paraa reestruturao de qualquer instituio pblica ou privada. "Naadministrao taylorista e, at mesmo fordista, a produo era realizada na'Ley de Say', medida que os empresrios ofertavam seus produtos sem oconhecimento prvio das reais necessidades dos consumidores, na crenade que toda oferta cria sua prpria demanda. O carter menos competitivo

    da indstria e a escassez de alternativas, por parte dos consumidores, faziamcom que esta estratgia pudesse at dar certo. Hoje, os mercadores somuito mais seletivos e exigentes e a organizao da produo exige oconhecimento prvio e detalhado do mercado" (Medici, 1993, p.32);

    d)A implantao de mecanismos de avaliao em processo (comexplicitao de critrios e definio de indicadores quantificveis), tendoem vista:

    a aferio da qualidade intrnseca custo, atendimento, moralda equipe, capacidade na rapidez de adaptaes e na correo de distores

    just in time;

    a mensurao da qualidade extrnseca,balizada por indicadoresde produtividade e tendo como parmetros a satisfao das necessidadese das expectativas dos clientes/consumidores;

    e) em conseqncia, nessa nova filosofia, centrada na crena da"pseudo" autonomia e na responsabilidade pessoal pelo desenvolvimentode competncias individuais, preconiza-se o estabelecimento de uma nova

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    politica salarial diferenciada, baseada em ndices de produtividade,solidariedade e cooperao.

    Em que pese a racionalidade orgnica do discurso que se disseminaacerca da expresso "qualidade total", gostaramos de questionar algunsde seus pressupostos (em especial, no que se refere aos desdobramentos

    para a educao) e chamar a ateno para a abstrao implcita em suasbases de sustentao. Abstrao que, na falta de referenciais concretos,pode vir a se constituir "na grande ameaa da prxima rodada da cirandacapitalista e cujos efeitos apenas comeam a se esboar neste final desculo" (Dupas, 1994).

    Os desdobramentos para a educao

    A onda competitiva, para a sada da crise que o Pas atravessa,bate forte na praia da educao, em um momento em que o conhecimento

    e a formao de recursos humanos passam a ser vistos como eixos detransformao produtiva.Na esteira do iderio liberal, tenta-se introduzir no sistema escolar

    os mecanismos de mercado com nfase no controle e na avaliao; naremunerao por mrito; no apoio livre iniciativa; na premiao porcompetncia; na busca de maior racionalizao administrativa etc.

    Em especific, para o ensino tcnico, recorre-se redefinio dosindicadores de qualificao (ou requalificao) profissional, tendo-se comohorizonte a capacitao para a "modernidade", condio sequer atingidae nem mesmo conceitualmente compreendida, como j tivemosoportunidade de discutir mais profundamente em Franco (1994, cap.6).

    , tambm, no mbito da formao profissional que se instala oconceito de qualidade total, cujos princpios deveriam se corporificar emum conjunto de procedimentos capazes de garantir a qualidade dosresultados e dos servios, em contraposio s prticas tradicionais.

    Ainda que redundante, bom lembrar que ao longo do tempoque estamos comprometidos com o estudo da relao entre educao e

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    trabalho j tivemos oportunidade de acompanhar os debates acerca dafuno social do ensino tcnico em um contexto de transio democrtica.Posteriormente, enfrentamos a discusso sobre a profissionalizao doensino mdio, a questo do trabalho enquanto princpio educativo, asdistores do sistema educao-produo e, mais recentemente, o impacto

    das novas tecnologias na interface que caracteriza o binmio"modernidade" e crise.

    Agora, com uma fora disseminadora jamais vista, estamos sendotomados de assalto pela propagao da idia da integrao entre escola esetor produtivo e pela introduo, na educao, da concepo de qualidadetotal.

    A esse respeito, diria que, apesar do otimismo demonstrado porAndr Medici, ao explicitar os benefcios desta introduo (Medici, 1993),devo concordar com Lucila Machado, quando desnuda o ideriomistificador que est por trs dessa vinculao. A qualidade total emerge

    enquanto possibilidade de tornar o Pas competitivo e, para isso, "deveingressar tambm o (sic) sistema escolar, para que as escolas se tornemexmias na soluo de seus problemas. Problemas so nada mais nadamenos que resultados indesejados. Ento, preciso garantir que o produto,o egresso dessa escola, no seja um resultado indesejado, no seja algumque no se integre a esta cadeia competitiva, que no trilhe os caminhosda salvao! E que a escola contribua com o sistema, repassando custosmenores alm da qualidade do produto esperada" (Machado, 1994, p.2).

    OUTROS DESAFIOS E ALGUNS LIMITES

    Como j dissemos, a "satisfao do cliente" o ponto de partidae o ponto de chegada que confere sentido e legitima a busca da qualidadetotal. Constitui-se, pois, em sua referncia principal. Tal referncia (bemcomo seus derivados), quando transportada para a educao, aponta paraa necessidade de reflexes adicionais.

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    Supondo o aluno como "cliente" e sua satisfao o ponto de partidae o ponto de chegada do processo educacional, evidente (alis, emqualquer modelo e nao apenas nas balizas da qualidade total) que asdemandas sociais mais amplas devem ser conhecidas; as necessidades eexpectativas individuais precisam ser identificadas; os educadores devem

    assumir responsabilidade pelos resultados de seu trabalho, bem comodefinir metas viveis e realistas; e, finalmente, todo o processo necessitaser sistematicamente controlado por procedimentos de avaliao, para aorientao da ao e para o planejamento de ajustes.

    No entanto, as escolas geralmente operam com pouca ou nenhumadefinio de seus objetivos de aprendizagem e com precrios mtodos deconstruo curricular. Alm disso, em virtude das ineficientes condiesde formao inicial e da contnua falta de apoio pedaggico, os professoresencontram grandes dificuldades para formular estratgias eficazes deensino. Somando-se a esses fatores, as deficientes prticas de avaliao

    acentuam o alheamento da cultura vivida pela escola em relao s reaiscondies sociais e s experincias cognitivas e existenciais de seus alunos;e mais, reforam a incongruncia entre o que se ensina e as efetivasnecessidades educativas, especialmente daqueles com maiores dificuldadesde insero sociocultural.

    Da, ser importante entender que no significado de qualidade total,embora se explicite a necessidade de ajustes, de "sintonia fina", de levarem conta as diferenas culturais, a flexibilidade e a autonomia da escola,est embutida tambm a ideologia do consenso. Tendo como referncia asolidariedade, idealiza-se a ausncia de conflitos (nas instituies de ensino)

    e aposta-se num empenho solidrio, por parte dos envolvidos, em buscade objetivos comuns.A partir desses pressupostos, preconiza-se no Plano Decenal de

    Educao para Todos a reorganizao da educao a partir de instrumentosde participao, em parceria, e modos de relacionamento capazes de formaro cidado para o pluralismo, para o senso de tolerncia, de solidariedade

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    e de soluo pacfica de conflitos (MEC, 1994, p.21). Sob o argumentode que tais padres de conduta so requeridos para o aperfeioamentodemocrtico, j que "desafiam o formalismo e a alienao dos programasescolares" (idem, ibidem), aposta-se na edificao de propostaseducacionais "objetivas" e na planificao controlada.

    Mas disso resulta exatamente o contrrio, formalismo e alienaoso coisas completamente diferentes. E certo que se rejeite o formalismoem busca da qualidade do ensino. Mas, tal providncia no garante aexcluso de propostas alienantes que impedem o desvelamento doconcreto e que negligenciam a importncia de se levar em conta ascontradies, os conflitos, os dissensos e as discordancias.

    Para que no sejamos vtimas de iluses simtricas, devemosencarar com mais realismo (e menos euforia) os possveis obstculosque, com certeza, dificultaro a implementao global de propostasidealizadas e ancoradas nos pilares da chamada "terceira revoluo

    industrial", que, em nome da "modernidade", prev sua prpriasustentao em comportamentos ticos e solidrios.Assim como a anlise da to anunciada modernizao brasileira

    inclui o conhecimento do contexto no qual foi operada a revoluotecnolgica e uma reflexo acerca das disparidades que diferenciam asdinmicas econmicas entre o centro-norte e a periferia dependente, damesma forma, a proposio de contedos universalistas deve serexaminada diante da noo de tica.

    A oferta de contedos universalistas, neutros, normativos eabstratos pode favorecer o acesso aos conhecimentos disponveis, mas insuficiente para permitir a leitura do mundo e para o desenvolvimento

    da interpretao crtica da realidade, principalmente no que diz respeito compreenso das origens histricas e do jogo de interesses que

    perpetuam e mantm as desigualdades instaladas.Nesse sentido, a formao profissional deveria ser dimensionada

    a partir de uma dupla tica. Por um lado, importante capacitar otrabalhador para enfrentar os desafios de seu tempo. Ou seja, trata-se de

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    instrument-lo para que possa fornecer respostas s exigncias domercado, proporcionando-lhe a aquisio de conhecimentos gerais eespecficos e o domnio de habilidades flexveis e adequadas s novasformas de produo e de gesto. Por outro lado, trata-se de rejeitar aartificialidade da suposio de que, necessariamente, deve haver

    coincidncia entre os objetivos dos patres e dos empregados para oalcance do "bem comum" e da qualidade total.

    A cooptao nesse sentido desastrosa e falsificadora. No discursoe no "texto", preconiza-se a importncia de atitudes e habilidades, taiscomo capacidade de trabalhar em equipe, solidariedade, autonomia,criatividade, potencialidade para tomar decises, co-gesto participativa,flexibilidade e esprito de iniciativa.

    No concreto e no contexto, sedimentam-se, cada vez mais, a"cultura do controle" e a permanncia de relaes hierarquizadas, no

    bojo das quais a noo de "problema" se resume no-conformidade

    com os padres estabelecidos. Padres que valorizam a disciplina, asubservincia, o cumprimento de ordens e a aceitao silenciosa dasdeterminaes superiores.

    E muito provvel que a competitividade como meta, a gratificaopor mrito, a exigncia do sigilo em relao aos salrios, o enfraque-cimento dos sindicatos e a livre negociao entre empresrios etrabalhadores desencadeiem distores, para a maioria dos trabalhadores,muito mais desastrosas do que aquelas j conhecidas.

    Mesmo admitindo a emergncia da tica como princpio reguladorde negociaes, h que se considerar a natureza individualizada de suas

    bases e o pragmtico desequilbrio que se estabelece entre seus plos de

    negociao. De um lado, os empregados otimizando a possibilidade deinserir o Pas no contexto da economia globalizada. De outro, a exclusoincontrolvel (e cada vez maior) de grande parte da populao mundialdo mercado de trabalho.

    Nessas condies, como se encaixa o discurso acerca do resgateda tica enquanto caminho a ser trilhado?

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    Do ponto de vista etimolgico, a tica concebida como a parteda filosofia que estuda os valores morais e as normas ideais da condutahumana. Em termos processuais, e incrustada na parte prtica da filosofiasocial, passa a ser um dispositivo normativo ao qual se devem ajustar asrelaes entre os diversos membros da sociedade.

    A despeito da inquestionvel importncia da tica, enquantoprincpio regulador desses ajustes, impe-se antever "os efeitos a mdioprazo dessa turba crescente de marginalizados pelo processo histrico,quando seu alcance ainda dificil de ser mensurado" (Dupas, 1994).Inclusive porque alguns sintomas j esto vista de todos e podem serconstatados em diferentes nveis; em uma perspectiva mais ampla, soeles: a ecloso de fundamentalismos, o renascimento do neofascismo, amultiplicao de organizaes mafiosas, as migraes de povos inteiros eguerras civis por toda parte (idem, ibidem).

    No cotidiano das relaes interpessoais, o sistemtico ataque aocorporativismo e o conseqente apelo solidariedade, embasado em

    princpios ticos, escamoteiam evidentes conflitos.Na acepo do termo, solidariedade significa uma comunidade totalde interesses e de responsabilidades. No entanto, por sua imposioindiscriminada e por escamotear conflitos de interesses, as prticas "solidrias"tendem a ser deslocadas. Nas definies das chamadas "frmulas de sucesso",os "bem-sucedidos", atravs de apoios declarados ou mediante omisses esilncios, acabam por perder suas genunas identidades sociais. Presas fceis,ao invs de incorporarem tambm o carter contraditrio das relaes detrabalho na sociedade contempornea, provavelmente estaro mais inclinadosa desenvolver somente comportamentos de ajustamento e de observncia sdeterminaes das lideranas, para que possam se sentir correspondendo ao

    prescrito e, portanto, legitimados e recompensados.

    Referncias bibliogrficas

    BRASIL. MEC. Plano Decenal de Educao para Todos 1993-2003.Braslia: Secretaria de Educao Bsica, 1994.

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    CASASSUS, J. Modernidade educativa e modernizao educacional.Cadernos de Pesquisa, So Paulo, n.87, p.3-96, nov. 1993.

    DUPAS, Gilberto. Folha de S. Paulo, 2 dez. 1994. Cad. 1 p.18.

    FOLHA DE S. PAULO. So Paulo, 13 mar. 1994. Cad. 4 p.8.

    FRANCO, Maria Laura P. B. Ensino mdio, desafios e reflexes.Campinas: Papirus, 1994. cap. 6

    MACHADO, Lucila. Controle de qualidade total. Extra-Classe emRevista, v.2, n.l, out. 1993.

    Controle de qualidade total e educao. Texto apresentado no Seminrio sobre Qualidade Total da Educao,

    promovido pelo Centro de Estudos dos Sindicais e realizado em

    So Paulo, de 6 a 8 de maio de 1994.

    MEDICI, Andr. Qualidade nas escolas: realidade ou utopia? mimeo.[S.l.], 1993.

    RISOPATRON, Vernica. El concepto de calidad de la educacin.Santiago do Chile: OREALC/UNESCO, 1991.

    VEJA. So Paulo, 25 ago. 1993.

    Recebido em 3 de maro de 1995.

    Maria Laura Puglisi Barbosa Franco, doutora em Psicologia daEducao pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP), professora titular da referida universidade, na rea de Psicologia daEducao Fundamentos da Educao.

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    This article discusses the concept of quality education, its relation

    to the significance of Total Quality, and its implications on education. It

    questions the quality-quantity dichotomy in the scope of the Brazilian

    educational system. It spells out the link between the indicators implicit

    in the quality education concept and the demands brought by the new

    production processes and the requirements entailed in the education of

    the professional.

    Cet article prsente une discussion du concept de Qualit de I

    'Enseignement, son rapport avec la signification de Qualit Totale et ce

    qu 'il implique dans le domaine de l 'ducation; une mise en question de

    la dichotomie quantit/qualit dans le cadre du systme d'ducation

    brsilien; la mise en vidence du lien qui se forme entre les indicateurs

    implicites dans la conception de l'enseignement de qualit face aux

    demandes issues des nouveaux processus de production et de leurs

    exigences vis--vis de la formation professionnelle.

    El artculo discute el concepto de cualidad de la enseanza, su

    relacin con el significado de Cualidad Total y sus implicaciones en la

    educacin; cuestiona la dicotoma cuantidadx cualidad en el mbito del

    sistema educacional brasileo; expone el vnculo que se establece entre

    los indicadores implcitos en la concepcin de la ensenanza de cualidad

    con las demandas provenientes de los nuevos procesos de produccin y

    sus exigencias para la formacin profesional.