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Page 1: Fordismo

Impulso, Piracicaba, 16(39): 153-155, 2005 153

Reflexões sobre o Fordismo e o Pós-FordismoREFLEXIONS ON FORDISM AND POST-FORDISM

Fordismo. Origens e Metamorfosesde LÚCIO ALVES DE BARROS

Piracicaba: Editora UNIMEP • Série Textos Acadêmicos • 2004 92p. • R$ 14,00 • ISBN 85-85541-47-4

recente publicação de Fordismo. Origens e Metamor-foses, do sociólogo Lúcio Alves de Barros, permite-nosrefletir sobre importantes aspectos das atuais trans-formações dos processos produtivos no mundo dotrabalho. Tais transformações caracterizam-se como in-completas, limitadas e inseridas no desenvolvimentopolítico-econômico do capitalismo e na constituição do

que Harvey1 apropriadamente conceituou como acumulação flexível.Sob a inspiração do ecletismo, da erudição e do engajamento po-

lítico do falecido sociólogo Vinícius Caldeira Brant (ex-professor daUFMG) e embasado em importantes referências bibliográficas das áreasde sociologia do trabalho, economia política e administração, Barrosnos aponta que os “novos modelos” de produção (sueco, italiano e ja-ponês) “não estão divorciados dos princípios apregoados pelo tayloris-mo/fordismo”.2 Longe de negar ou ignorar as mudanças que configu-ram a realidade pós-fordista ou neofordista, o autor discute criticamen-te a ingênua empolgação da teoria da especialização flexível de Piore eSabel,3 de modo a elucidar os pontos frágeis de sua defesa aos “novos”paradigmas da organização produtiva.

O autor aborda inicialmente as origens tayloristas do fordismo esua constituição como modelo de organização do trabalho. Em seguida,discute os seus processos de desenvolvimento e sua maturação comomodo de regulamentação social e política. De acordo com a visão deHarvey,4 o sociólogo aponta-nos que a acumulação capitalista noperíodo fordista-keynesiano apoiou-se na produção e no consumo demassa e numa expansão econômica que se deu paralelamente à cons-

1 HARVEY, 1993, p. 140.2 BARROS, 2004, p. 86.3 PIORE & SABEL, 1984.4 HARVEY, 1993.

EDUARDO PINTOE SILVA

Universidade Metodista dePiracicaba (UNIMEP/SP)

AAAA

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trução e ao desenvolvimento do Estado doBem-Estar Social (Welfare State). Vale ressaltarque, ao analisar a consolidação do projeto socialfordista, Barros5 faz jus à criação do termo for-dismo por Gramsci,6 explicitando que o autormarxista o cunhou pioneiramente em sua críticaao americanismo e em alusão ao modelo indus-trial de produção hegemônico no período do ca-pitalismo monopolista. Segundo Gramsci, talmodelo objetivava não somente a expansão docapital e a constituição da sociedade do consu-mo, mas também o controle, a domesticação e apadronização da vida pública e privada do traba-lhador.7

Barros também discute os distintos pro-cessos de crise do fordismo, associando-os àscrises político-econômicas do desenvolvimentodo capitalismo.8 Segundo sua argumentação, ofordismo sofreu duas importantes crises, umade superprodução, em 1930 (que impulsionou oestabelecimento do New Deal e a formação doEstado do Bem-Estar Social), e outra de renta-bilidade, em 1973 (que estimulou os “novos”modelos de produção e o desmonte paulatinodo Welfare State).9

O modelo pós-fordista de produção enxu-ta e flexível e os seus aspectos aparentementeemancipatórios ou inovadores são analisadosmuito mais como uma utopia, senão promessaduvidosa (dado o atual contexto de incertezasno mundo do trabalho), do que propriamentecomo uma realidade efetivamente consolidada.Assim, Barros considera que “o fordismo tradi-cional coexiste com o fordismo pós ou neo e, aprodução em massa, concomitantemente com aprodução flexível”.10 Ainda segundo o sociólo-go, os argumentos de Lipietz e Lebgorne11 são“contundentes”.12 Segundo tais autores, desde a

crise de 1973 observamos processos de reestru-turação produtiva que transitam entre trêsclasses modelares pós-fordistas: a neotaylorista(total expropriação do saber operário e triunfoda engenharia e da administração), a californiana(que se desenvolve por métodos cooptativos emecanismos coercitivos) e a saturniana (funda-da em relações de trabalho cooperativas, nego-ciações coletivas e em uma rede integrada deprodução que engloba empresa-mãe e firmassubcontratadas).13

Portanto, Barros nos descreve, competen-te e criticamente, a convivência do velho com onovo nos atuais processos de inovações organi-zacionais. Ao fazê-lo, menciona excelentesreferências teóricas. De nossa parte, apenasressalvamos que o autor poderia ter tambémconsiderado uma importante contribuição críti-ca e interdisciplinar da psicologia do trabalho,14

contribuição essa intimamente relacionada aostemas por ele discutidos. Tal fato, não obstante,não o impediu de apontar a hibridez15 dosprocessos produtivos atuais e a existência oupersistência de alguns aspectos indesejados,como a neotaylorização, a precarização dosdireitos trabalhistas e dos salários, a subcon-tratação e o desemprego. De maneira geral, o ar-gumento do autor é crítico e perspicaz, e rela-ciona com propriedade as referidas inovaçõesorganizacionais às contradições do desenvolvi-mento do capitalismo. Assim, discute de formaclara e em linguagem acessível a contínua ehistórica interação de forças sociais e/ou econô-micas que se ajustam e/ou contribuem aos dis-tintos processos de desenvolvimento e crise docapitalismo, bem como aos modelos de produ-ção a eles correspondentes. Vale a pena conferir.

5 BARROS, 2004, p. 14.6 GRAMSCI, 1974.7 Ibid.8 BARROS, 2004, p. 25-56.9 Ibid., p. 4610 Ibid., p. 73.11 LIPIETZ & LEBORGNE, 1988.12 BARROS, 2004, p. 85.

13 Apud BARROS, 2004, p. 79-84.14 HELOANI, 1994 e 2003.15 Hibridez significa “qualidade do que é híbrido” ou “irregularidade,anomalia”. O termo híbrido, no sentido figurado, significa “misturade duas espécies diferentes” ou, ainda, “que contém vários gênerosou estilos, mesclado”, “irregular, misto” (Grande DicionárioLarousse Cultural da Língua Portuguesa. São Paulo: Nova Cultural,1999, p. 492.)

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Referências BibliográficasBARROS, L.A. de. Fordismo. Origens e Metamorfoses. Série Textos Acadêmicos. Piracicaba: Editora UNIMEP, 2004.

GRAMSCI, A. Americanismo e Fordismo. v. II. In: ______. Obras Escolhidas. Lisboa/Santos: Estampa/Martins Fontes,1974.

HARVEY, D. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Loyola, 1993.

HELOANI, J.R.M. Gestão e Organização no Capitalismo Globalizado: história da manipulação psicológica no mundodo trabalho. São Paulo: Atlas, 2003.

______. Organização do Trabalho e Administração: uma visão multidisciplinar. São Paulo: Cortez, 1996.

LIPIETZ, A. & LEBORGNE, D. “O pós-fordismo e seu espaço”. Espaço & Debates, Revista de Estudos Regionais e Urba-nos, São Paulo, v. III, n. 25, 1988.

PIORE, M. & SABEL, C.F. The Second Industrial Divide: possibilities for prosperity. Nova York: Basic Books, 1984.

Dados do autor

Mestre pela Faculdade de Educação da Unicamp edoutorando por essa instituição, na linha de

pesquisa “Gestão, saúde e subjetividade”. Professorda UNIMEP e da Facamp.

Recebimento: 28/jul./04Consultoria: 2/ago./04 a 3/ago./04

Aprovada: 2/dez./04

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