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Financiamento de Longo Prazo no Brasil: Project Finance como Alternativa para a Infra-estrutura Andrea Rangel de Azeredo Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração COPPEAD Dissertação de Mestrado Claudio Contador PhD. Economia Rio de Janeiro 1999

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Financiamento de Longo Prazo no Brasil:

Project Finance como Alternativa para a Infra-estrutura

Andrea Rangel de Azeredo

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração

COPPEAD

Dissertação de Mestrado

Claudio Contador

PhD. Economia

Rio de Janeiro

1999

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Financiamento de Longo Prazo no Brasil: Project Finance como Alternativa para a

Infra-estrutura

Andrea Rangel de Azeredo

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pós-graduação e

Pesquisa em Administração - COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro –

UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.

Aprovada por:

Prof. Dr. Claudio Contador - Orientador

(PhD. Economia)

Prof. Ricardo Leal

(DSc. Administração)

Prof. Roberto Moreno

(DSc. Economia)

Rio de Janeiro

1999

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Azeredo, Andrea Rangel de.

Financiamento de Longo Prazo no Brasil: Project Finance como Alternativa

para a Infra- estrutura. Rio de Janeiro: UFRJ/ COPPEAD, 1999.

vii, 141p

Dissertação – Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAD.

1. Finanças. 2. Financiamento de longo prazo – Brasil. 3. Project Finance. I. Título.

II. Tese (Mestr. – UFRJ/ COPPEAD).

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AZEREDO, Andrea Rangel de. Financiamento de Longo Prazo no Brasil: Project

Finance como Alternativa para a Infra-estrutura. Orientador: Cláudio Roberto

Contador. Rio de Janeiro: UFRJ/ COPPEAD, 1999. Dissertação. (Mestrado em

Administração de Empresas)

Estudo elaborado sobre o Project Finance, modalidade de financiamento que vem sendo

utilizada recentemente por diversos países para o desenvolvimento de projetos de infra-

estrutura, e sua aplicação no Brasil. Diante da escassez de capitais de longo prazo no

país, o Project Finance se apresenta como uma alternativa para o financiamento dos

altos volumes de investimentos necessários para o desenvolvimento da infra-estrutura

nacional. Esta dissertação procura analisar as dificuldades inerentes ao sistema

financeiro nacional e ao ambiente macroeconômico e legal brasileiro, para a aplicação

dessa modalidade, buscando identificar aqueles pontos que precisam ser adaptados ao

contexto brasileiro e que deveriam receber maior atenção por parte das autoridades

nacionais.

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AZEREDO, Andrea Rangel de. Financiamento de Longo Prazo no Brasil: Project

Finance como Alternativa para a Infra-estrutura. Orientador: Cláudio Roberto

Contador. Rio de Janeiro: UFRJ/ COPPEAD, 1999. Dissertação. (Mestrado em

Administração de Empresas)

This study aims to analyse Project Finance, a structure recently adopted world-wide for

the financing of infrastructure projects, and the various implications of its use in Brazil.

In view of the limited availability of long term capital resources in Brazil, Project

Finance is an alternative for the financing of the large amount of investment required for

the development of the national infrastructure. This work analyses the difficulties

inherent to the national financial system and to the Brazilian macroeconomic and legal

environment for the implementation of this structure in Brazil. At the same time, it

attempts to identify those issues which need further adaptation to the Brazilian context

and special attention from the Brazilian authorities.

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de dedicar este trabalho e agradecer o apoio de todos aqueles que de alguma

forma contribuíram para sua preparação.

Agradeço aos amigos, familiares, professores e colegas de trabalho que com paciência e

solidariedade me ajudaram a concluir esta tarefa.

Em especial obrigada a:

Prof. Cláudio Contador, Prof. Rogério Studart, Prof. Winston Fritsch, Graham Lofts,

Anna Ballantyne, Juliana Baiardi, José Roberto Ribas, Ricardo Vasconcellos, Rogério

Poppe, Rui Gomes, Rodolfo Lima, Daniela Franco e meu pai.

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LISTA DE QUADROS E FIGURAS:

Quadro 1: Resumo das Principais Mudanças Introduzidas pela Reforma de 1964Quadro 2: Sedes e Números de Agências dos Bancos Comercias (1)Quadro 3: Participação nos Depósitos em Bancos Privados (%)Quadro 4: Crédito Concedido pelo Sistema Financeiro – 1993/ 1997Quadro 5: Emissões de Ações e Debêntures no Mercado Primário de CapitaisQuadro 6: Volume Negociado em Bolsas de Valores InternacionaisQuadro 7: Captação ExternaQuadro 8: Matriz Qualitativa de RiscosQuadro 9: 10 Principais Bancos Internacionais atuando em Project FinanceQuadro 10: Principais Fundos de Investimento em Infra-EstruturaQuadro 11: Perfil dos Desembolsos do BNDES por Ramo de Atividade – 1981/1997Quadro 12: Principais Itens do Passivo do BNDES

Figura 1: Evolução das Emissões Primárias como Participação do PIBFigura 2: Captação Externa como Percentual do PIBFigura 3: Evolução do Prazo Médio das Emissões (anos)Figura 4: Agentes envolvidos em um BOTFigura 5: Evolução dos Desembolsos do BNDES (US$ bilhões)

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 1

CAPÍTULO 1

O FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO NO BRASIL....................................... 3INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................31.1 A IMPORTÂNCIA DO FINANCIAMENTO NA DETERMINAÇÃO DO INVESTIMENTO ..................................41.2 A EVOLUÇÃO RECENTE DO FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO NO BRASIL ......................................9

1.2.1 A Reforma Financeira de 1964 .................................................................................................101.2.2 A Reforma de 1988 ....................................................................................................................141.2.3 O Mercado de Crédito...............................................................................................................151.2.4 O Mercado de Capitais .............................................................................................................181.2.5 Acesso ao Mercado Internacional .............................................................................................20

1.3 UMA VISÃO GERAL DO QUADRO ATUAL DO FINANCIAMENTO À INFRA-ESTRUTURA ..........................23

CAPÍTULO 2

PROJECT FINANCE COMO ALTERNATIVA PARA A INFRA-ESTRUTURA 25INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................252.1 DEFINIÇÃO E MODALIDADES DE PROJECT FINANCE ..........................................................................262.2 OS AGENTES ENVOLVIDOS................................................................................................................292.3 O PAPEL DA ALOCAÇÃO DOS RISCOS NO PROJECT FINANCE .............................................................322.4 OS INSTRUMENTOS CONTRATUAIS ....................................................................................................37

2.4.1 Edital de Concorrência .............................................................................................................382.4.2 Contrato de Concessão..............................................................................................................392.4.3 Contrato de Compra e Venda de Serviços.................................................................................412.4.4 Acordo de Acionistas.................................................................................................................442.4.5 Contrato de Construção, Fornecimento e Montagem de Equipamentos...................................452.4.6 Contrato de Operação e Manutenção (O&M)...........................................................................482.4.7 Contrato de Suprimento de Matéria-prima ...............................................................................50

2.5 AS GARANTIAS..................................................................................................................................502.6 FONTES ALTERNATIVAS DE FINANCIAMENTO ...................................................................................58

2.6.1 Agências Multilaterais...............................................................................................................592.6.2 Agências de Crédito à Exportação ............................................................................................632.6.3 Seguradoras de Risco Político ..................................................................................................632.6.4 Bancos Comerciais ....................................................................................................................652.6.5 Investidores Institucionais.........................................................................................................672.6.6 O BNDES e seu papel................................................................................................................722.6.7 Outras fontes nacionais .............................................................................................................74

2.7 VANTAGENS E DESVANTAGENS DE UM PROJECT FINANCE ................................................................76

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CAPÍTULO 3

UMA AVALIAÇÃO DO PROJECT FINANCE NO BRASIL:

A EXPERIÊNCIA RECENTE, FATORES LIMITADORES E PERSPECTIVASDE IMPLEMENTAÇÃO............................................................................................. 81

INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................813.1 A EXPERIÊNCIA RECENTE ..................................................................................................................81

3.1.1 Breve descrição do ambiente legal das parcerias público/privadas no Brasil..........................813.1.2 A atuação do BNDES no financiamento de projetos de infra-estrutura....................................89

3.2 FATORES LIMITADORES CARACTERÍSTICOS DO CONTEXTO MACROECONÔMICO E LEGAL BRASILEIRO................................................................................................................................................................963.3 AGENTES ENVOLVIDOS ...................................................................................................................1053.4 PERSPECTIVAS DE IMPLEMENTAÇÃO E SUGESTÕES PARA PROMOÇÃO DO PROJECT FINANCE ..........108

CONCLUSÃO............................................................................................................. 113

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 118

APÊNDICE ................................................................................................................. 123

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INTRODUÇÃO

Os altos índices de inflação e a instabilidade política que o país enfrentou nas últimas

décadas privilegiou os investimentos e créditos de curto prazo em detrimento dos

créditos de longo prazo.

Com o sucesso do Plano Real, no que diz respeito ao controle da inflação, este quadro

tende a se reverter. Estamos presenciando uma maior receptividade dos agentes

econômicos a investimentos de maturação mais longa. Paralelamente, diante da

incapacidade do Estado de financiar investimentos em infra-estrutura através de seus

mecanismos tradicionais, endividamento e expansão monetária, e da iminente crise do

setor, o atual Governo adotou como solução a parceria com a iniciativa privada, modelo

que está sendo utilizado em diversos países. O Governo está deixando para o setor

privado atividades que antes estavam sob seu controle, como infra-estrutura,

abandonando cada vez mais o sistema tripartite - Estado, capital privado nacional e

estrangeiro, que fora o modelo de desenvolvimento econômico adotado no Brasil na

segunda metade do século.

No entanto, uma questão ainda precisa ser resolvida. Ainda que a iniciativa privada

contribua com relevante parcela dos investimentos necessários, através do aporte de

capital próprio, sua capacidade de investimento, somada ao longo prazo de maturação

dos projetos, não é suficiente para fazer frente ao alto volume de investimentos

necessários até o ano 2003, estimados em US$ 230 bilhões (ABDIB, 1999).

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Frente a este ambiente em transição, cabe às autoridades monetárias visualizar e

proporcionar, no sentido de não freiar, o desenvolvimento de novos instrumentos de

canalização de recursos para o setor privado.

O objetivo desta dissertação é descrever o conceito de Project Finance, uma

modalidade de financiamento que vem sendo utilizada recentemente por diversos países

para o desenvolvimento de projetos de infra-estrutura, procurando levantar quais as

dificuldades, inerentes ao Sistema Financeiro Nacional e ao ambiente macroeconômico

e legal brasileiro, para a sua aplicação.

Para tanto, este estudo encontra-se estruturado em três partes. No primeiro capítulo,

busca-se introduzir a discussão acerca da relevância do financiamento para o

desenvolvimento econômico e estudar as causas do atual quadro de financiamentos de

longo prazo, através de uma breve análise da evolução do sistema financeiro nacional.

O capítulo 2 introduz o conceito de Project Finance, buscando apresentar suas

principais caraterísticas e aplicações, assim como suas principais fontes de

financiamento. O terceiro, e último, capítulo desenvolve uma análise sobre a evolução

recente do Project Finance no país e suas principais dificuldades de aplicação,

buscando sintetizar os principais ajustes necessários para que essa modalidade de

financiamento possa ser utilizada para o financiamento dos investimentos em infra-

estrutura no país.

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CAPÍTULO 1

O FINANCIAMENTO DE LONGO PRAZO NO BRASIL

Introdução

A existência de instituições e instrumentos financeiros que possibilitem a canalização de

poupança financeira para o financiamento de longo prazo é de fundamental importância

para o desenvolvimento econômico de uma nação, não só por viabilizar a expansão da

capacidade produtiva, mas também para o desenvolvimento de sua infra-estrutura.

Este capítulo tem como objetivo principal estudar as razões que originaram o atual

quadro de financiamentos no Brasil, analisando o desenvolvimento de instituições e

instrumentos de promoção do financiamento de longo prazo, e suas implicações no

financiamento da infra-estrutura nacional.

Para tanto, o capítulo se subdivide em três itens. O primeiro item apresenta brevemente

a discussão teórica a respeito da relevância do financiamento para o desenvolvimento

econômico, o segundo analisa a evolução recente do financiamento de longo prazo no

Brasil, e por último, o terceiro busca introduzir a discussão acerca da necessidade de

financiamento à expansão da infra-estrutura no país.

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1.1 A Importância do Financiamento na Determinação do Investimento

No pensamento econômico recente, duas linhas teóricas se destacam na discussão

acerca da relevância do financiamento para o desenvolvimento econômico. A primeira,

o pensamento ortodoxo ou neoclássico, defende que poupança e investimento se tratam

de atos determinados de forma independente no mercado de capital. Esta linha de

pensamento considera como premissa básica que o mercado financeiro opera em

concorrência perfeita. Somado a isso, a moeda é fator exógeno ao sistema econômico, o

que se explica pelo contexto econômico no qual se desenvolveu esta teoria, onde sua

variação dar-se-ia apenas via aumento da oferta do minério utilizado como lastro ou

emissão de papel moeda pelo Governo.

Tal argumento, conhecido como “Poupança Prévia”, consiste na afirmação de que a

poupança determina a acumulação, isto é, o ato de poupar antecede o ato de investir.

Esta visão atribui ao sistema financeiro um caráter de mero intermediário entre

poupadores e investidores. A moeda é neutra no longo prazo, e assim são as instituições

financeiras.

No entanto, uma outra abordagem, a Keynesiana, indica que o conceito de poupança

prévia pode ser justificado apenas em uma economia onde o sistema bancário se

encontra no seu estágio inicial de desenvolvimento (Chick, 1983). Nesta fase, os bancos

dependem de depósitos prévios para a criação de crédito, o que significa dizer que o

processo de criação bancária de moeda é passivo.

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Keynes quebra a linha de raciocínio neoclássica apontando em seu princípio da

“Demanda Efetiva” a precedência do ato de gastar. A decisão de consumir ou não

consumir não limita o financiamento, nem mesmo o investimento, uma vez que o poder

de compra estará se transferindo para outras mãos que podem vir, ou não, a investir. O

que realmente afeta o investimento são as decisões de como alocar a riqueza em uma

carteira de aplicações e a existência de financiamento.

Em um sistema bancário desenvolvido os bancos funcionam como agentes ativos na

geração de crédito e, consequentemente, na determinação do nível de recursos para o

financiamento de investimentos.

Segundo Graziani (1987), Keynes considera que o ponto de partida para a realização do

investimento é o financiamento, e não a poupança. A seqüência lógica em uma

economia monetária seria:

Financiamento ➪ Investimento ➪ Renda ➪ Poupança ou Consumo

Sendo assim, a poupança não determina o financiamento, ela surge como um resultado

deste. Para que a produção ocorra é necessário financiamento prévio e a disponibilidade

de caixa é que se trata de fator determinante para o estabelecimento de financiamentos.

Na ausência de financiamento prévio a produção não ocorre e, consequentemente, não

há geração de renda. Ainda segundo Graziani (1997), Keynes explicita esta concepção

em dois de seus artigos publicados após a Teoria Geral, como demonstrado nos trechos

a seguir: “Poupança não possui nenhuma eficácia especial em comparação ao consumo

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na liberação de caixa e restauração da liquidez”1, e ainda: “Dinheiro despendido em

consumo e dinheiro poupado tratam-se igualmente de fundos disponíveis”.2

O financiamento torna o investimento autônomo, independente de fundos previamente

poupados, sendo necessário para qualquer tipo de produção, seja ela para consumo ou

investimento (bens de capital), na medida que a torna possível antes da demanda surgir.

Uma vez efetuada a produção, e, por conseqüência, a geração de renda, as empresas

podem pagar seus financiamentos independentemente da poupança ter aumentado tanto

quanto o investimento. Neste conceito, são os bancos e não poupadores que

desempenham um papel crucial no processo de crescimento econômico, deles depende a

manutenção e o crescimento da produção em uma economia monetária.

É relevante ainda discutir o papel da poupança e do sistema financeiro neste processo.

Esta linha de pensamento não nega a importância da poupança, apenas não a considera

como determinante na determinação do produto e da renda. Segundo Studart (1994, B)3,

“apesar da poupança e da intermediação financeira desempenharem um papel

secundário na determinação da oferta de financiamento ao investimento, ambos são

relevantes em um outro contexto – a questão do funding”.

No pensamento keynesiano, o financiamento do investimento pode ser caracterizado

como um processo duplo de financiamento e funding, sendo o último caracterizado

1 “Saving has no special efficacy as compared with consumption, in releasing cash and restoringliquidity” (Comment on D. H. Robertson’s “Mr Keynes’Finance”) (Keynes apud Graziani, 1987).Tradução livre da autora.2 “Money which is spent on prior consumption flows into the same pool of available funds as moneywhich is saved” (“The Process of Capital Formation”) (Keynes apud Graziani, 1987). Tradução livre daautora.

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como o processo de transformação de obrigações de curto prazo em obrigações de longo

prazo. As obrigações de curto prazo são captadas através dos depósitos, que quando não

despendidos em consumo constituem poupança, e o local onde esta transformação de

prazos ocorre é o Mercado Financeiro. Esta discussão trata-se de um dos principais

aspectos relevantes do pensamento keynesiano, uma vez que abre espaço para a

discussão do papel das instituições no desenvolvimento financeiro.

Diante da importância do financiamento em seu papel de promotor da produção, a

existência de um Mercado Financeiro desenvolvido é fundamental para que uma nação

se desenvolva economicamente. O Mercado Financeiro, através de sua base

institucional, promove o encontro entre os agentes superavitários e deficitários, permite

a diversificação e acumulação de ativos, e possui o importante papel de promover o

crescimento econômico através da canalização de obrigações de curto prazo para

financiamento de longo prazo, o que se trata do processo de criação de funding. 4

Para que este objetivo seja alcançado, seu principal obstáculo seria aumentar a

predisposição dos agentes a participarem do financiamento de longo prazo de ativos. O

desenvolvimento de mercados secundários corrobora esta função do mercado

financeiro, na medida que cria canais de informação para os emissores e compradores

dos títulos (poupadores) e gera liquidez para os ativos. Através da provisão de liquidez

os títulos de mais longo prazo se tornam atraentes para os poupadores, na medida que a

liquidez permite que tais agentes negociem os ativos no caso de alteração de suas

preferências com relação às aplicações financeiras, representando menor risco.

3 Tradução livre da autora.4 Argumento desenvolvido em Azeredo (1995).

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Entretanto, no processo de geração de funding a transformação de prazos pode ser

implementada de diferentes formas dependendo do ambiente institucional, no qual se

baseia o sistema financeiro, de elementos estruturais e conjunturais.

O ambiente institucional trata-se do conjunto de instituições, instrumentos financeiros e

regulamentações que promovem e delimitam as atividades do mercado financeiro.

Os elementos estruturais podem ser descritos principalmente como5: o grau de

desenvolvimento econômico, no que diz respeito ao nível de renda da nação; e o perfil

de distribuição da renda entre firmas e famílias (lucros e salários), o que se torna

relevante à medida que as firmas poderiam estar menos dispostas a converter seus

lucros retidos em poupança financeira, optando por reinvesti-los, praticando assim o

chamado auto-financiamento.

Como elementos conjunturais temos o ritmo do crescimento econômico e possíveis

alterações temporárias das políticas monetária e fiscal em função de mudanças na

conjuntura política ou internacional.

Mesmo o ambiente institucional, no qual se insere o sistema financeiro, é determinado

pelos elementos estruturais e conjunturais acima apresentados. Sendo assim, segundo

Zysman, como resultado da interação de tais elementos, os sistemas financeiros podem

refletir dois padrões de financiamento do setor produtivo. O primeiro seria o Sistema

5 Os fatores relevantes para o grau de desenvolvimento financeiro de uma nação são discutidos emHermmann (1997) e Contador (1992).

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Financeiro Baseado no Mercado de Capitais, onde títulos de dívida e ações constituem a

maior fonte de financiamento de longo prazo, um bom exemplo seria os EUA. Por outro

lado, o Sistema Financeiro Baseado no Crédito normalmente apresenta mercados de

capitais pouco desenvolvidos e financiamentos à produção baseados no crédito

bancário, como ocorre na Alemanha e no Japão. O sistema baseado em crédito possui

ainda duas classificações, em função de sua origem: crédito privado, tomando como

exemplo o caso alemão, e crédito público, citando o caso japonês e o francês (Studart,

1992).

Quando os mercados por si só não atingem um desenvolvimento financeiro que permita

a transformação dos prazos, e com isso a captação de recursos de longo prazo e sua

canalização para o setor produtivo, instrumentos alternativos podem vir a ser

implementados para fazer frente à necessidade de recursos, são eles: o uso de estruturas

governamentais, como no caso do Japão; o autofinanciamento, mencionado acima; e o

financiamento externo.

Segue uma breve análise da evolução do financiamento de longo prazo no Brasil,

buscando identificar quais foram os elementos que serviram de entrave ao seu

desenvolvimento.

1.2 A Evolução Recente do Financiamento de Longo Prazo no Brasil

Até o início da década de 1960 o sistema financeiro brasileiro apresentava uma estrutura

simples, predominavam os bancos comerciais com seu passivo composto em grande

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parte por obrigações à vista e ativo composto por empréstimos de curto prazo6. Na

análise da evolução do Sistema Financeiro Nacional é consenso que seus principais

marcos regulamentares foram as reformas implementadas no período de 1964 a 1967 e

em 1988. Tais reformas tiveram como principal objetivo a criação de um sistema

financeiro sólido e capaz de prover recursos de longo prazo para o financiamento do

crescimento da economia nacional. Em meio a este processo houve erros e acertos, os

quais buscar-se-á resumir ao longo deste item.

1.2.1 A Reforma Financeira de 1964

A Reforma Financeira de 1964 estava inserida no PAEG (Programa de Ação Econômica

do Governo) criado em novembro de 1964, pelo Ministério da Fazenda e o Ministério

do Planejamento e Coordenação Econômica, cujos ministros eram respectivamente

Octavio Bulhões e Roberto Campos.

Dentre outros objetivos, este plano buscou implementar reformas estruturais no sistema

financeiro de forma a: corrigir a crise existente no padrão de financiamento da

economia brasileira, buscando incentivar a geração de recursos de longo prazo; e

possibilitar uma redução de custos nos bancos comerciais, através de incentivos à

concentração bancária.

Esta reforma financeira pretendia alcançar seus objetivos através da segmentação do

sistema financeiro, aplicando o modelo norte-americano a este setor. Aos bancos

6 Ver Lemgruber (1978) e Montoro Filho (1982).

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comerciais cabia a captação via depósitos a vista, provendo às empresas capital de giro

e prestando serviços bancários; aos bancos de investimento cabia captar recursos de

longo prazo, promover emissões públicas de ações e repassar recursos em moeda

nacional ou estrangeira; às financeiras cabia captar recursos mediante letras de câmbio e

repassar sob a forma de crédito direto ao consumidor; as sociedades de crédito

imobiliário captariam a poupança popular mediante cadernetas de poupança para o

financiamento à casa própria. Segue um quadro resumindo as principais mudanças

introduzidas no setor financeiro nacional pela Reforma Campos-Bulhões:

Quadro 1: Resumo das Principais Mudanças Introduzidas pela Reforma de 1964

Lei 4.357/64 Criação da ORTN – Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional,cujo principal objetivo era suprir a necessidade de créditos doGoverno sem que fosse necessário emitir moeda, sendo com estetítulo instituída a correção monetária nos contratos e títulosfinanceiros de longo e médio prazos.

Lei 4.380/64 Institucionalização do Sistema Financeiro da Habitação e criação doBanco Nacional da Habitação, bem como criação das sociedades decrédito imobiliário e carteiras imobiliárias nas financeiras, permitindoa captação de recursos para o Sistema Financeiro da Habitação juntoao público via letras imobiliárias.

Lei 4.595/64, Lei daReforma Bancária

Criação do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central doBrasil, substituindo a SUMOC – Superintendência da Moeda e doCrédito.

Lei 4.728/ 65, Lei doMercado de Capitais

Traçou todo o desenho institucional do mercado de capitais,delimitando as funções dos Bancos Comerciais e Bancos deDesenvolvimento, Sociedades Corretoras e Distribuidoras de Títulose Valores, Sociedades de Crédito Imobiliário, entre outros, criando eregulamentando os Bancos de Investimento.

Com relação à captação de recursos externos dois marcos regulamentares antecederam a

Reforma de 64, atingindo no entanto uma maior utilização apenas após a mesma, com a

maior abertura da economia ao capital externo (Hermmann, 1997):

! Lei 4.131/62, permitiu que empresas nacionais não-financeiras tomassem

empréstimos de órgãos internacionais, o que foi utilizado basicamente por empresas

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estatais, e por multinacionais, por ser menos custoso, do ponto de vista tributário,

que investir diretamente;

! Instituição da Resolução 63, que permite aos bancos captarem recursos com bancos

estrangeiros repassando-os no mercado interno.

Como principais resultados das mudanças implementadas pode-se citar o aumento da

complexidade do sistema financeiro, dado o aumento e a diversificação das instituições

financeiras, cujo número aumentou de 499 em 1964, para uma média de 1.615 na

década de 70 e 1.745 na segunda metade da década de 80 (Hermmann, 1997). Com este

processo verificou-se uma grande perda da importância relativa do sistema monetário7,

o que pode ser exemplificado pelo total do crédito destas instituições ao setor privado,

que caiu de 80% em 1964 para 56,5% em 1970 e 45% em 1981, enquanto o sistema não

monetário adquiriu participação crescente8. O aumento do sistema não monetário

refletiu-se no aumento do volume de empréstimos ao setor privado que evoluiu de

26,1% do PIB, em 1968, para 48,4% em média na década de 70 e 51,5% entre 1985 e

1989, o que demonstra o aumento no grau de intermediação financeira da economia.

Outro resultado da diversificação experimentada pelas instituições financeiras é o

acirramento da competição ocasionando a falência de bancos e financeiras, e a

reorganização das instituições financeiras privadas. Associado a tais mudanças houve

um forte incentivo à concentração e conglomeração do setor bancário através da

imposição de barreiras à entrada, como a limitação da liberação de cartas patentes e o

número de agências que não fossem estabelecidas por fusão ou aquisição. É importante

7 Bancos comerciais e Banco do Brasil.8 Para uma melhor análise do tema ler Tavares (1978).

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frisar que o esforço inicial de se alcançar a concentração bancária caminhava no sentido

da não-diversificação das atividades destas instituições, isto é, pretendia-se que elas

operassem apenas como bancos comerciais.

O processo de fusão e concentração do sistema bancário já vinha ocorrendo desde 1958,

se acentuando após 1964 devido à intensificação da concorrência com agências não-

bancárias e a incentivos à concentração, visando fortalecer e estabilizar o sistema

bancário.9 No entanto, apesar da política de incentivo à concentração bancária no

período estudado, os objetivos iniciais não foram alcançados. No que diz respeito à

redução da taxa de juros, esta foi alcançada a partir de 1967; contudo, não resultou da

concentração bancária e da possível redução nos custos que esta acarretaria, mas sim da

aplicação de uma política de teto para os juros de mercado.

Como foi discutido acima, a reforma financeira iniciada em 1964 tinha em mente a

segmentação do sistema financeiro, no entanto, em meados da década de 70, apesar da

permanência da divisão formal imposta pela reforma, na prática esta segmentação já

havia deixado de existir. Após o período do “Milagre Econômico”, a partir de 1974,

quando o sistema bancário entrou em crise devido à política de contenção dos meios de

pagamento, os grandes bancos se viram favorecidos pois puderam ampliar sua área de

influência para o setor do mercado financeiro independente, que se via em problemas.

As grandes instituições financeiras, então conglomerados em formação, ocuparam o

espaço deixado pela liquidação judicial de uma série de financeiras e sociedades de

crédito imobiliário.

9 Para um aprofundamento do tema ver Tavares e Cavalheiro (1978) e D’Oliveira (1993).

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14

1.2.2 A Reforma de 1988

Apesar do movimento de “des-segmentação” que já vinha sendo observado, é apenas

através da Resolução 1.52410, de setembro de 1988, tomada pelo Conselho Monetário

Nacional, que se formaliza o fim da segmentação que caracterizou o sistema financeiro

brasileiro nas duas décadas anteriores, permitindo às companhias financeiras que

operavam em segmentos distintos se fundirem em uma só companhia, os chamados

bancos múltiplos.

Dois pontos de fundamental importância que nortearam essa segunda reforma no

sistema bancário são: a simplificação e a desregulamentação do sistema. A criação do

banco múltiplo objetivou basicamente: a racionalização dos serviços, a agilização dos

processos de diversificação de suas atividades e a redução de custos11, através da fusão

das diversas instituições existentes numa única instituição financeira, introduzindo a

opção dos grandes conglomerados centralizarem a contabilidade passando a operar na

forma de uma única pessoa jurídica.

Após uma breve discussão acerca dos principais marcos regulamentares do setor

financeiro nacional em seu desenvolvimento recente, segue uma breve análise da

evolução das principais fontes de financiamento de longo prazo no país, buscando

levantar os fatores críticos ao seu desenvolvimento.

10 Segundo esta Resolução, para que um banco se constituísse em banco múltiplo era necessário escolherao menos duas das seguintes carteiras: comercial; investimentos; crédito imobiliário; crédito,financiamento e investimento; ou desenvolvimento.

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15

1.2.3 O Mercado de Crédito

Durante a década de 60 as principais medidas tomadas pelas autoridades brasileiras para

o desenvolvimento do crédito de longo prazo para o financiamento à expansão da

capacidade produtiva foram: a instituição da correção monetária, as medidas adotadas

no sentido de estabelecer regras para o funcionamento do mercado financeiro e

fortalecer os bancos comerciais, sem falar na criação dos bancos de desenvolvimento e

de investimento, esse último com atuação prevista também para o mercado de capitais.

Como resultado das medidas aplicadas, o volume de empréstimos ao setor privado

aumentou como proporção do PIB de 26,1%, em 1968, para 48,4% em média na

década de 70, e 51,5%, de 1985 a 1989. A participação dos bancos comerciais cai de

80,8% em 1964 para 43,7% em 1989, cedendo lugar para instituições do sistema não

monetário (Hermmann, 1997).

As medidas adotadas ao longo da década de setenta no sentido de concentrar o sistema

bancário não atingiram o objetivo de aumentar o fornecimento de financiamentos por

parte do setor financeiro privado, que terminou por atuar como mero repassador de

recursos externos (via Resolução 63) e públicos (BNDES e Banco do Brasil).

Apesar da instituição da ORTN como indexador dos títulos públicos e aplicações

financeiras, as altas taxas de inflação atingidas a partir da segunda metade da década de

11Dentre outras reduções de custos temos a economia de impostos, como, por exemplo, o Imposto SobreServiços (ISS) arrecadado nas operações entre as diversas companhias de um mesmo conglomerado.

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16

7012 restringiam o interesse dos poupadores por juros pré-fixados e aumentava seu

interesse por juros pós-fixados, o que acarretou uma redução nos prazos das aplicações

financeiras na medida que os agentes procuravam limitar sua exposição ao risco de

juros reais negativos. A persistência das altas taxas de inflação ao longo da década de 80

contribuiu para o agravamento do quadro de captações, reduzindo o perfil de aplicações

a prazos praticamente diários, a exemplo dos investimentos no “Fundão”.13

Durante a década de 80, com o agravamento do quadro macroeconômico e a

conseqüente concentração nos investimentos de curto prazo, e a restrição ao crédito

internacional, acentuaram-se os entraves às operações de crédito de longo prazo. Diante

da dificuldade de se endividar, o auto-financiamento passou a ser a principal fonte de

recursos para as empresas nacionais, saltando de 58,8% em 1978 para 76,8% em

meados da década de 80, e de 76,7% para 87,7% no mesmo período para as empresas

estrangeiras (Hermmann, 1997).

O BNDES, cuja atuação recente é analisada em mais detalhe ulteriormente, representou,

e ainda representa, a principal, senão única, fonte de recursos locais de médio e longo

prazo. No entanto, a participação dos seus financiamentos na Formação Bruta de Capital

Fixa não foi muito alta, apenas 8,7% no período 1974 – 1978, auge de sua participação

do desenvolvimento industrial. (Hermmann, 1997).

12 A partir de meados da década de 70, a inflação apresentou um comportamento ascendente partindo de34,55% a.a. em 1974, atingiu o máximo de 2.708,55% em 1993, recuando para 1.093,84% em 1994, jádevido ao impacto do Plano Real.13 Fundão era o nome dado ao FAF - Fundos de Aplicação Financeira, de Renda Fixa de Curto Prazo. Emoutubro de 1995 o FIF - Fundo de Investimentos Financeiros, incorporou o Fundão, criando incentivospara o aumento do prazo das aplicações financeiras.

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17

A reforma bancária de 1988 pouco alterou o quadro anterior, implicando apenas em

redução dos custos operacionais e maior facilidade de fiscalização do setor.

Posteriormente, o perfil das captações bancárias evoluiu um pouco, apresentando no

período 1991-1995 um aumento da participação dos depósitos a prazo no total do

passivo, subindo de 18,2% para 24,4%. O período também apresentou um crescimento

da indústria de fundos mútuos de investimento, que em 1995 representava 14,6% do

PIB. No entanto a captação nunca alcançou prazos longos, em 1998 aplicações de 90

dias representavam apenas 2,3% do Patrimônio dos Fundos Mútuos. O fato dos fundos

de renda fixa de 60 dias representarem a maior parte dos investimentos em fundos

mútuos, 75,4%, em 1998, é evidentemente uma melhora no prazo das aplicações, mas

ao mesmo tempo demonstra que a questão da captação de recursos de médio e longo

prazo ainda não foi solucionada (Hermmann, 1997).

O início da década de 90 se caracterizou por uma suavização da restrição externa após a

implementação do Plano Brady14, em 1992, promovendo uma retomada das captações

externas, intensificadas após o Plano Real, como apresentado no item 1.2.5 a seguir.

Pode-se observar no quadro abaixo, a participação decrescente do sistema monetário no

total de créditos concedidos pelo sistema financeiro, principalmente devido à redução da

participação dos bancos públicos. Pode-se observar também a crescente participação da

Caixa Econômica Federal e dos Bancos de Desenvolvimento. Os Bancos de

Investimento mantiveram-se no mesmo patamar durante todo o período, demonstrando

que tais instituições não se desenvolveram na provisão de crédito de longo prazo.

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Quadro 2: Crédito Concedido pelo Sistema Financeiro – 1993/ 1997Participação percentual

Discriminação 1993 1994 1995 1996 1997Bancos Coms. e Múltiplos 74,2 66,8 65,2 62,4 56,2 Banco do Brasil 15,1 18,4 18,1 18,2 16,2 Outros Bancos Públicos 21,3 10,5 11,1 10,3 5,8 Bancos Privados 36,8 37,9 36,0 33,9 34,2Bancos de Desenvolvimento 6,5 5,8 6,0 7,2 10,0Caixas Econômicas 15,4 19,6 20,3 22,7 26,0Financeiras 0,4 1,3 0,6 1,2 1,5SCI/ APE 1,0 1,6 1,6 1,6 1,3Bancos de Investimento 0,5 0,6 0,4 0,5 0,5Sociedades de Arrendamentomercantil

2,3 5,2 5,7 4,4 5,1

Total 100 100 100 100 100Fonte: Banco Central do Brasil, Relatório 1997.

1.2.4 O Mercado de Capitais

Segundo Hermmann (1997), o desenvolvimento insipiente do mercado de capitais

brasileiro até o início da década de 1980 se explica em parte pelo volume inexpressivo

de poupança financeira com perfil de longo prazo e pela inexistência de um mercado

secundário desenvolvido. A ausência de um sistema de supervisão e informações

eficiente também se tratou de uma das dificuldades que só veio a ser minorada com a

Lei das Sociedades Anônimas em 1976 e a criação da Comissão de Valores Mobiliários

– CVM.

Lemgruber (1978) apresenta a inflação elevada e instável como principal fator que

dificultou o desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, e impediu o

alongamento do prazo das aplicações dos investidores e agentes financeiros.

14 Acordo assinado entre os credores da dívida externa brasileira e de outros países da América Latina eos governos locais, convertendo as dívidas em títulos mobiliários com negociação prevista em mercadosecundário.

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Brito e Touriel (1979) chamam atenção para a concentração do capital controlador e a

mistura entre administração e propriedade. O primeiro é resultado do incentivo da

legislação do mercado de capitais à emissão de ações preferenciais, enquanto o segundo

é relacionado a questões culturais. A conseqüência desse cenário é a exposição dos

acionistas minoritários a riscos não diversificáveis, dificultando assim o

desenvolvimento do mercado acionário brasileiro.

Mesmo com inúmeras tentativas governamentais para incentivar o investimento no

mercado de ações, a exemplo dos fundos fiscais 15715 e da atuação do BNDES no

segmento primário do mercado acionário (Brito e Touriel , 1979), tais iniciativas não

lograram resultado satisfatório devido aos problemas acima apontados, que foram por

sua vez agravados pela instabilidade econômica da década de 1980. Segue a evolução

das emissões de ações e debêntures em mercado primário de 90 a 98.

Quadro 3: Emissões de Ações e Debêntures no Mercado Primário de Capitais

US$ mil (1)Ano Ações Debêntures

1990 460.407 1.010.5061991 515.285 877.6521992 416.345 289.1811993 1.005.204 809.3011994 2.682.940 3.163.1971995 2.111.133 8.386.6601996 8.835.183 7.468.2101997 3.965.211 7.517.7751998 3.526.085 8.281.044

Fonte: Retrospectiva Andima.(1) Valores convertidos para dólar pelo câmbio médio do ano.

15 Os fundos fiscais 157 foram desenvolvidos a partir do Decreto-Lei nº 157 de fevereiro de 1967, quepermitiu o abatimento de parte do imposto de renda em investimentos em novas ações.

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Figura 1: Evolução das Emissões Primárias como Participação do PIB

0,0%0,2%0,4%0,6%0,8%1,0%1,2%1,4%

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Ações

Debêntures

Fonte: Retrospectiva Andima.

Pode-se observar abaixo o volume negociado na principal bolsa de valores brasileira no

ano de 1998 em comparação com grandes bolsas mundiais.

Quadro 4: Volume Negociado em Bolsas de Valores Internacionais

Bolsas Volume em 1998(US$ milhões)

% PIB (1)

Bolsa de Nova York 7.317.949 91Bolsa do México 31.192 8Bolsa de Frankfurt 1.491.796 71Bolsa de Londres 2.887.990 224Bolsa de Paris 2.641.153 189Bolsa de Tóquio 750.825 18BOVESPA 139.583 17

Fonte: FIBV Monthly Statistics.(1) Foi utilizado o PIB de 1997.

1.2.5 Acesso ao Mercado Internacional

Como foi dito acima, a lei 4.131 de 1962 e a Resolução 63 possibilitaram a captação de

recursos no mercado internacional. No entanto, é apenas a partir da década de 80 que a

liberalização da conta de capital começa a se intensificar. Destaque é dado à criação de

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fundos de capital estrangeiro, onde a modalidade Anexo IV se tornou a principal forma

de investimentos externos no mercado de capitais brasileiro.

A partir de 1992, com a assinatura do Plano Brady, a restrição internacional começou a

reduzir e a captação externa evoluiu rapidamente como conseqüência do sucesso do

Plano Real no que diz respeito à estabilização econômica, de novos acordos da dívida

externa com base no Plano Brady e do contexto internacional favorável para a captação

de países emergentes (Studart, 1997). A evolução da captação externa como percentual

do PIB e do prazo médio das captações através da emissão de títulos no mercado

internacional, podem ser observadas abaixo.

Figura 2: Captação Externa como Percentual do PIB

0,0%2,0%4,0%6,0%8,0%

10,0%12,0%14,0%16,0%18,0%20,0%

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Fonte: Retrospectiva Andima.

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Figura 3: Evolução do Prazo Médio das Emissões (anos)

0

2

4

6

8

10

12

14

1º trim

1993

1º trim

1994

1º trim

1995

1º trim

1996

1º trim

1997

1º trim

1998

Fonte: Retrospectiva Andima.Nota: Operações de captação autorizadas pelo Banco Central mediante títulos no mercado internacionalnas modalidades: Floating Rate Notes, Fixed Rate Notes, Floating Rate Certificates of Deposit, FixedRate Certificates of Deposit e Bônus de colocação pública ou privada

Como pode ser observado, as captações que em média apresentavam prazos em torno de

4 anos em 1993, evoluíram para prazos de 10 a 12 anos para créditos corporativos de

qualidade. No entanto, como efeito da crise Asiática, Russa e da crise cambial

brasileira, os mercados se retraíram novamente a partir do final de 1997.

Segue um quadro apresentando as captações externas no período 1992 a 1998, onde se

pode observar o rápido crescimento no período de 1996 a 1998 da captação via emissão

de bônus e notes e financiamentos, como resultado do processo acima descrito.

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Quadro 5: Captação ExternaUS$ milhões

Tipo 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998Investimentos 5.188 15.928 27.214 28.010 35.152 56.719 63.244 Em carteira 3.863 14.971 21.600 22.559 24.684 38.855 31.864 Diretos 1.325 877 2.241 3.285 9.580 17.864 26.322 Fundos de Renda Fixa 0 80 1.434 211 12 398 3.988 Fundos de Privatização 0 0 1.939 1.955 779 1.168 1.322 Fundos de Inv. Imobiliário 0 0 0 0 92 96 16 Fdos. de Inv. Empresas Emergentes

0 0 0 0 5 3 0

Empréstimos em Moeda 7.979 11.031 8.756 15.883 28.078 35.535 58.296 Comunicado Firce 10 922 769 1.053 2.170 2.626 5.251 9.548 Resolução 63 856 597 201 817 376 1.202 3.262 Res. 2148 (Fin. Rural Direto) 0 0 0 1.067 4.866 7.844 9.009 Res. 2170 (Fin. Imobiliário) 0 0 0 0 5 4 0 Res. 2312 (Exportação) 0 0 0 0 631 102 50 Commercial Paper 1.190 338 182 381 633 451 642 Bônus e notes 4.833 7.598 5.961 9.650 18.046 20.448 25.977 Export securities 30 675 261 494 297 58 309 Renovações 148 1.054 1.098 1.304 598 175 175Financiamentos 2.332 3.282 4.353 4.576 6.828 24.192 19.284 Registrados 447 449 630 1.074 1.422 12.131 17.062 Autorizados 1.885 2.833 3.723 3.502 5.406 12.061 2.222Leasing e Aluguel 1.173 1.005 842 1.143 1.868 4.002 3.849Pagamento Antecipado deExportações

1.119 1.421 1.908 4.273 7.073 8.536 6.651

Total 17.791 32.667 43.073 53.885 78.999 128.984 151.324Fonte: Retrospectiva Andima, vários números.

1.3 Uma visão geral do quadro atual do financiamento à Infra-estrutura

O setor de infra-estrutura é fundamental para o desenvolvimento econômico e sua

recuperação no Brasil é condição para a retomada do crescimento do país, uma vez que

reverterá em aumento da produtividade dos fatores privados e em redução do custo por

unidade de matéria-prima.16 .

Durante a década de 80, os investimentos em infra-estrutura no Brasil experimentaram

16 Para uma análise do tema ver Rigolon e Piccinini (1997).

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uma redução considerável. Apenas como ilustração, os investimentos em

telecomunicações, energia e transporte passaram de aproximadamente US$ 9 bilhões

em 1980 para cerca de US$ 3,2 bilhões em 1990 (Garcia, 1994). Diante desta situação,

ocasionada pela insuficiência de recursos públicos para tais investimentos, o Governo

vem promovendo reformas desde 1995, objetivando o aumento da presença da iniciativa

privada no setor. Os avanços feitos na privatização foram relevantes, mas uma questão

permanece sem solução: novos investimentos estão relacionados com a disponibilidade

de créditos de longo prazo, que, como apresentado acima, são escassos no país.

Considerando o alto valor dos investimentos necessários para a eliminação dos gargalos

acumulados desde a década de 80 e a melhora da infra-estrutura brasileira, estimados

em US$ 230 bilhões para os próximo 5 anos, e a incapacidade do governo de prover tais

recursos, o desenvolvimento de instrumentos de captação, assim como a viabilização de

sua aplicação, tornam-se imprescindíveis para a captação de recursos junto a

investidores nacionais e viabilizar o investimento de organismos e instituições

financeiras internacionais no país.

O Project Finance se apresenta como modalidade largamente utilizada em países em

desenvolvimento e desenvolvidos para o financiamento de projetos novos (greenfield)

de infra-estrutura. É importante frisar que este se trata de um instrumento utilizado para

captar recursos de longo prazo, sem no entanto resolver a questão crucial do funding,

discutida acima.

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25

CAPÍTULO 2

PROJECT FINANCE COMO ALTERNATIVA

PARA A INFRA-ESTRUTURA

Introdução

O Project Finance se trata de uma modalidade de financiamento que vem sendo

utilizada nas últimas três décadas em diversas partes do mundo. Segundo Finnerty

(1996:4) sua origem remonta à idade média quando a Coroa Britânica financiou minas

de prata nessa modalidade.

Mais recentemente, na década de 70, o Project Finance voltou a ser utilizado no

financiamento do gasoduto Trans Alaska Pipeline System (TAPS) e no financiamento

de plataformas de petróleo no Mar do Norte. Desde então essa modalidade se

disseminou pelo mundo, apresentando-se cada vez mais como uma alternativa de

financiamento a projetos novos (greenfield) de infra-estrutura naqueles países cujos

Governos optaram por passar para a iniciativa privada a construção e operação de

projetos antes sob o domínio público, sendo também utilizado, em menor escala, em

projetos industriais privados, cuja discussão não se encontra no escopo dessa

dissertação.

O objetivo desse capítulo é apresentar o conceito de Project Finance, buscando discutir

suas vantagens e desvantagens tendo em vista as possíveis formas nas quais pode ser

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aplicado.

2.1 Definição e Modalidades de Project Finance

O Project Finance é uma modalidade de financiamento caracterizada por uma série de

práticas que buscar-se-á descrever neste item. Inicialmente, seria interessante

diferenciar o Project Finance de um Financiamento de Projetos. O Project Finance

consiste em uma modalidade específica de financiamento de projetos, enquanto que o

financiamento de projetos pode abranger não só o Project Finance mas também outras

alternativas disponíveis tais como utilização de recursos próprios, empréstimos

corporativos, emissão de títulos com garantias corporativas ou instrumentos mais

elaborados como a securitização de recebíveis (pagamentos a serem realizados em troca

de produtos vendidos). Este último trata-se de uma estratégia adotada com bastante

freqüência por empresas exportadoras, utilizando os recebíves de exportações,

especialmente quando se trata de um endividamento externo em moeda forte pois as

exportações funcionam como uma proteção natural para o risco de desvalorização da

moeda local.

A principal característica que distingue um Project Finance de um financiamento

corporativo de projetos é o fato de sua principal garantia ser o próprio projeto - suas

receitas e seus ativos. Diferentemente de um financiamento de projetos com

empréstimos corporativos, a versão mais pura dessa modalidade não requer

apresentação de garantias pelos patrocinadores do projeto (seus acionistas). Torna-se

agora necessário fazer uma distinção entre diversas nuances que esta característica pode

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apresentar. Um financiamento Project Finance pode ser considerado como non-

recourse, onde não há nenhuma forma de garantia apresentada pelos patrocinadores, ou

como limited-recourse cuja estrutura de garantias variará com o tipo de apoio que se

exigirá dos patrocinadores. Serão discutidos ulteriormente os tipos de garantias e a

forma que estas são incluídas no contexto contratual de um Project Finance.

Uma segunda característica do Project Finance, que se encontra de certa forma

relacionada com a primeira, é que o financiamento é promovido fora do balanço dos

Patrocinadores (off-balance sheet). Enquanto que em um empréstimo corporativo, para

o financiamento de um projeto, a dívida contraída fará parte do passivo do promotor do

projeto, um financiamento na modalidade Project Finance não alavancará o balanço do

mesmo. Para tanto, é necessária a criação de uma empresa para administrar os ativos do

projeto, a qual será a tomadora dos empréstimos necessários. É necessário ainda que os

acionistas não detenham o controle da empresa, justamente para evitar a consolidação

do balanço da empresa estabelecida para o projeto no balanço do acionista17. Esta se

trata de uma das vantagens dessa modalidade que serão discutidas ao final deste

capítulo.

A vantagem de se estruturar o financiamento fora do balanço é corroborada pela

possibilidade de se atingir altos níveis de alavancagem - definida como a participação

do valor da dívida no total de recursos aplicados no projeto - , regularmente de 70 a

80%.

17 No Brasil a consolidação é imposta apenas às Sociedades Anônimas, quando os investimentos emcontroladas (i.e. empresas nas quais detém mais que 50% do capital votante) supera 30% do PatrimônioLíquido da controladora. Essa regra varia de país para país, na Inglaterra, por exemplo, a consolidação é

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Outra característica do Project Finance seria a prática de alocação dos riscos existentes

às partes preparadas e dispostas a assumir tais riscos. As primeiras características

somadas a esta última resultam na necessidade de uma estrutura contratual complexa e

abrangente, à medida que se busca regular e corrigir imperfeições de mercado, evitando-

se comportamentos oportunistas pelas partes envolvidas.

Além da distinção apresentada acima, onde o projeto pode ser classificado pelo tipo de

garantia que apresenta, há mais uma distinção a ser feita. Um Project Finance pode ser

classificado conforme a relação entre agentes públicos e privados no que diz respeito ao

tratamento que se dá aos ativos do projeto em questão, existindo as seguintes

modalidades: Build-Operate-Transfer (ou BOT), a mais comum, e Build-Own-Operate

(ou BOO).

Segundo Wilde Sapte (1997), o BOT se caracteriza pela transferência ao setor privado

da responsabilidade de financiar, desenvolver e operar o projeto por um determinado

período, que deve ser suficiente para remunerar e saldar a dívida contraída e remunerar

o capital investido, ao final do qual os ativos, e direitos emergentes, do projeto retornam

ao setor público. Essa modalidade pode apresentar as seguintes formas: Build-Own-

Operate-Transfer (BOOT); Build-Lease-Transfer (ou BLT); Build-Rent-Transfer

(BRT); Build-Transfer-Operate (BTO); Design-Build-Finance-Operate (DBFO);

Design-Construct-Manage-Finance (DCMF). Como já foi dito o BOT se trata da forma

mais comum para um projeto de infra-estrutura com a parceria público/privada, sendo

parcial caso a controladora detenha entre 25% a 50% do capital votante da controlada, e total, se detivermais que 50% do capital votante.

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normalmente estruturado na forma de uma concessão de determinados ativos do poder

público aos agentes privados.

O BOO se diferencia do BOT pelo fato de não haver transferência ao setor público - a

iniciativa privada possui a propriedade sobre os ativos - como ocorre no caso de uma

privatização, ou, no caso brasileiro de uma usina termelétrica que possui autorização

para operar por um período determinado sem no entanto ter que devolver o ativo ao

final, sendo possível inclusive renovar esta autorização até que o ativo se deprecie por

completo.

2.2 Os Agentes Envolvidos

A parceria público/privada para o desenvolvimento de um projeto de infra-estrutura

envolve uma série de agentes cujas categorias serão descritas neste item.

Um projeto de infra-estrutura usualmente pode se originar de duas formas. Na primeira,

o órgão público encarregado de regulamentar determinado setor lança concorrência para

selecionar quem desenvolverá projetos específicos. Na segunda, o agente privado

identifica uma oportunidade de investimento em determinado setor e pede autorização

para desenvolvê-lo. O uso de um ou outro procedimento, e de suas variantes, dependerá

do estágio de regulamentação no qual o setor e as relações público/privadas se

encontram.

A concessão de um projeto de infra-estrutura normalmente é licitada pelo órgão

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governamental responsável pela regulamentação do setor envolvido, o Poder

Concedente.

O Poder Concedente selecionará através de uma concorrência um parceiro privado para

desenvolver o projeto, o Patrocinador (acionista da empresa estabelecida para o

Projeto). O Patrocinador estabelecerá uma empresa com o propósito exclusivo de

desenvolver e operar o projeto em questão, uma EPE (empresa de propósito específico).

O Patrocinador poderá possuir, ou não, os requisitos para construir e operar o projeto.

Dessa forma, há mais dois agentes envolvidos o Operador e o Construtor do projeto,

onde também se inclui o fornecedor de equipamentos.

A menos que o projeto seja financiado com recursos próprios dos Patrocinadores, o que

não é comum tendo em vista os altos investimentos envolvidos em projetos de infra-

estrutura, temos também a figura do financiador, instituições financeiras discutidas no

item 2.6 a seguir.

Um elemento chave na estruturação de um Project Finance, explorado mais adiante, é a

alocação dos riscos envolvidos no projeto dentre as partes capacitadas a assumi-los.

Neste ponto, surge a seguradora desempenhando um papel crucial ao assumir aqueles

riscos que estão além da capacidade dos demais agentes.

Outro agente de fundamental importância para a elaboração de um Project Finance é o

Comprador ou Usuário dos serviços oferecidos. Para se viabilizar o financiamento, uma

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vez que ele se fundamenta no fluxo de receitas geradas pelo projeto, é importante a

fixação de contratos de longo prazo com Compradores (offtakers) que se

comprometerão em adquirir seja o volume total da produção, seja um volume

satisfatório do ponto de vista do pagamento das dívidas e da remuneração do capital.

Nem sempre haverá compradores dispostos a se comprometer desta forma, isto também

variará conforme o tipo de projeto. Por exemplo, no caso de uma rodovia não há um

único usuário e sim inúmeros. Neste caso, a menos que o Poder Concedente assuma o

pagamento de tarifas, ou de um nível mínimo de tarifas, haverá o risco de mercado que,

como veremos adiante, poderá vir a se tratar de um entrave à estruturação de um Project

Finance caso não seja devidamente analisado e mitigado.

Por último, mas não menos importante, há o Fornecedor de Matérias-primas com o qual

também deve ser estabelecido relacionamento de longo prazo para que se possa

implementar com sucesso um Project Finance.

Segue uma figura ilustrando os agentes típicos de um projeto de infra-estrutura,

desenvolvido na forma BOT:

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Figura 4: Agentes envolvidos em um BOT

PoderConcedente

Acionistas

EPE

Fornecedorde Insumos

Financiador

Comprador(“offtaker”)

Operador Fornecedor deEquipamentos

Construtor

Seguradoras

Onde:

EPE: Empresa de Propósito Específico

Comprador (Offtaker): Comprador do produto ou serviço fornecido pela EPE

2.3 O papel da Alocação dos Riscos no Project Finance

Para que um projeto seja financiado tomando por base seus ativos e suas receitas é

fundamental que todos os riscos sejam alocados àquelas partes que são capazes de

assumi-los e mitigá-los. Este exercício se torna necessário devido ao fato do projeto

depender unicamente de uma atividade, seja ela geração de energia elétrica, produção de

petróleo, ou prestação de serviços de telecomunicações. Desta forma todos aqueles

fatores que podem tornar o projeto e/ou seus ativos vulneráveis têm de ser conhecidos e

mitigados.

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Os riscos deixam de ser um problema quando são previstos e recebem um tratamento

adequado. Tipicamente, um projeto de infra-estrutura apresenta riscos comerciais e

políticos que podem se manifestar no período de Construção e Operação. Tais riscos se

originam de um grupo mais específico de riscos, a saber:

• Riscos comerciais: tecnológico, ambiental, de mercado, macroeconômico (variação

cambial, variação de taxa de juros, inflação alta, recessão, etc.).

• Riscos Políticos: risco de guerra, rebelião, mudança na legislação, risco de quebra

de contrato por parte do Governo, risco de conversibilidade e transferência de

moeda para o exterior.

• Riscos de Força Maior: aqueles fora do controle das partes, englobando riscos

relacionados com fenômenos naturais, acidentes imprevisíveis e alguns riscos

políticos, tais como guerra, rebelião, mudança de lei, dentre outros.

Os riscos aos quais projetos de infra-estrutura estão expostos apresentam inúmeras

causas e variantes, podendo variar em função do setor, do tipo de projeto e da estrutura

comercial e contratual adotada para o mesmo, sendo assim, a elaboração de uma matriz

qualitativa descrevendo causas e possível tratamento e alocação é um instrumento

indispensável na estruturação de um Project Finance, sendo também utilizado no

processo de due diligence18 do mesmo.

18 “Due diligence” é o processo de análise e avaliação do projeto, neste caso realizado pelosfinanciadores.

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Segue como exemplo uma matriz qualitativa dos riscos inerentes a um projeto de

geração hidrelétrica:

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Quadro 6: Matriz Qualitativa de Riscos

Período de Construção:

Risco Causa Mitigação Alocação• Atraso no início da

construçãoAtraso nas Licenças Ambientais, de Construção e deimplantação/ Atraso no processo de expropriação deterras

(1) Garantia dos acionistas durante o período deconstrução

(2) Planejamento e gerência rigorosos(3) Flexibilidade nos prazos do Contrato de Compra de

Energia (CCE)

(1) Acionista(2) Acionista(3) Acionista/ Comprador de

Energia

• Custos acima doprogramado

(1) Licenças/Expropriação(2) Risco Tecnológico(3) Risco Ambiental(4) Risco Geológico(5) Acidentes(6) Força Maior(7) Aumento dos preços(8) Variação cambial

(1) Mesmo que indicado acima(2) Contratação de tecnologia experimentada, com

penalidades impostas ao fornecedor em caso defalhas

(3) Contribuição adicional de Capital Próprio(4) Estudo detalhado das condições geológicas/

aceitação das mesmas pelo construtor da usina(5) Seguro contra todos os riscos(6) Cláusula de força maior no CCE para riscos não

asseguráveis(7) Contratação de pacote de construção com preço

fixo(8) Maior parte dos custos de construção são em Reais

(1) Acionista/ Comprador deEnergia

(2) Fornecedor/ Construtor(3) Acionista(4) Seguradora(5) Comprador de

Energia/Acionista(6) Construtor/fornecedor(7) Acionista

• Atraso na conclusão (1) Risco tecnológico(2) Risco ambiental(3) Força Maior

(1) Contratação de pacote de construção com datadefinida, com penalidades impostas em caso deatraso

(2) Planejamento/ Gerência, aporte adicional de CapitalPróprio

(3) Cláusula de força maior no CCE para atrasosimprevisíveis

(1) Fornecedor/ Construtor(2) Acionista(3) Comprador de

Energia/Acionista

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Período de Operação:

Risco Causa Mitigação Alocação• Perda de receita (1) Risco de Mercado

(2) Risco Comercial do Comprador de Energia(3) Força Maior(4) Acidentes(5) Baixo volume de água(6) Usina não é despachada

(1) Contrato de Compra de Energia (CCE) comcomprador confiável, com preço e quantidadesdefinidas

(2) Garantias do Comprador, por ex. Conta-caução (i)para o pagamento da energia

(3) Pagamentos independentemente do despacho (ii)(4) Seguro de Lucros Cessantes(5) Comprometimento de geração baseado no histórico

do volume de águas.(6) Pagamento incondicional da tarifa de capacidade

(iii) estabelecida no CCE cobrindo os custos fixosda usina, inclusive o serviço da dívida (iv)

(1) Comprador de energia(2) Comprador de energia(3) Comprador de energia(4) Seguradora

• Aumento custos deoperação

(1) Risco operacional(2) Força Maior(3) Mudanças na Lei(4) Acidentes(5) Variação do juros(6) Variação do câmbio(7) Aumento dos preços

(1) Contratação de operador experiente, compenalidades no caso de não performance

(2) Pagamentos independentemente da nãoperformance por Força Maior

(3) Custos repassados para Comprador de Energia(4) Seguro contra todos os riscos(5) Maximizar juros fixos(6) Indexação no CCE/ Conta-caução/ Financiamento

em Reais(7) Indexação no CCE

(1) Operador(2) Comprador de Energia(3) Comprador de Energia(4) Seguradora(5) Acionista(6) Comprador de Energia(7) Comprador de Energia

• Risco Político (1) Desapropriação, guerrilhas, inconvertibilidadeda moeda, etc.

(1) Contratação de seguro contra risco político (1) Acionista (pode aumentarcustos)

Notas:(i) Conta-caução consiste em uma conta bancária onde um determinado valor estaria depositado como garantia de um pagamento ou

empréstimo.(ii) Despacho trata-se de um conceito técnico aplicado ao mercado de eletricidade que representa a ordem de produção.(iii) Tarifa de Capacidade é fixada por unidade de capacidade instalada de geração (por exemplo: MW ou KW).(iv) Serviço da dívida consiste no pagamento do juros e principal da dívida contraída.

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Os riscos são alocados entre os diferentes agentes através de arranjos contratuais

bastante precisos, de forma a evitar qualquer dificuldade futura ou comportamentos

oportunistas. Cada parte terá suas responsabilidades muito bem definidas e dessa forma

o objetivo maior de proteção do fluxo futuro de caixa, fundamental para que um Project

Finance seja bem sucedido, e com isso das obrigações da EPE, ficaria garantido.

A seguir será introduzida a discussão dos instrumentos contratuais tradicionalmente

utilizados em um Project Finance assim como dos tipos de garantias utilizadas.

2.4 Os Instrumentos Contratuais

É de fundamental importância para a compreensão do ambiente contratual de um

projeto de infra-estrutura o tipo de parceria público/privada em que este se insere.

Dependendo do contexto regulamentar do país, e do setor no qual o projeto se encontra,

pode haver um maior ou menor controle do bem público. Nesta situação, o Governo

poderia tomar a iniciativa de licitar a concessão de um projeto, ou a compra de um

determinado serviço a ser realizado pelo projeto, ou ainda pode-se encontrar situações

onde a iniciativa privada identifica um projeto de interesse público/ privado e solicita

autorização para desenvolvê-lo, ou propõe como parceria com o setor público.

Os contratos firmados para o projeto são peças fundamentais para a estruturação de um

Project Finance bem sucedido. Caso tais contratos não sejam satisfatórios do ponto de

vista dos potenciais financiadores, dificilmente implementar-se-á um Project Finance

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non-recourse, prejudicando mesmo a viabilidade do financiamento na sua modalidade

limited recourse.

Para que os contratos sejam satisfatórios esperar-se-á que eles distribuam de forma

adequada os riscos entre os diversos agentes envolvidos. Os financiadores não

costumam aceitar situações onde a empresa estabelecida para o projeto, e tomadora do

financiamento, assuma riscos fora de seu controle.

Seguem alguns dos principais contratos firmados em uma parceria público/ privada, os

quais exercem importante papel na estruturação da transação.

2.4.1 Edital de Concorrência

Em uma situação onde o setor público pretende licitar uma concessão, ou arrendar um

projeto já existente, normalmente ele convidará interessados a apresentarem propostas

através de um Edital de concorrência, onde os parâmetros da concorrência estariam

definidos e explicitados, sem grande espaço para negociação entre o licitante e os

interessados no projeto. Nestas situações, segue-se um ritual de liberação de

informações de forma uniforme e transparente, de modo que nenhum dos concorrentes

detenha informações privilegiadas. Este procedimento é adotado no Brasil, onde há todo

um aparato legal rezando sobre o assunto das licitações e concessões, assim como toda

uma regulamentação em estágio de desenvolvimento nos diversos setores.

Contudo, nem sempre faz-se uso de um Edital de Concorrência. Segundo Wilde Sapte

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(1997), no caso britânico muitas vezes os projetos promovidos pela Private Finance

Initiative - PFI, departamento do Governo para o estabelecimento de parcerias

público/privadas, são definidos através de negociação parcial ou livre negociação. Na

primeira modalidade, o PFI emite uma documentação com alguns dos parâmetros da

concorrência e envia para alguns agentes pré-selecionados os convidando para um

processo de negociações limitado a certos parâmetros definidos na documentação da

concorrência. Diferentemente do sistema brasileiro, nessa modalidade os concorrentes

estariam mais livres para propor alterações quando da entrega de suas propostas.

Adicionalmente, o PFI também define as condições e parâmetros dos projetos através da

livre negociação.

2.4.2 Contrato de Concessão

Este trata-se de um documento fundamental no caso de projetos concedidos à iniciativa

privada. O Contrato de Concessão regulamentará os direitos e obrigações das partes,

indicando de que forma os riscos serão alocados entre as mesmas, a forma de resolução

de divergências entre elas, as penalidades em caso de quebra de alguma condição

contratual, os eventos de força maior, o prazo e condições para o término da concessão,

direito de intervenção e o equilíbrio econômico-financeiro do contrato.

A definição das formas de resolução de divergências é muito importante na medida que

limita prazos e custos que serão incorridos pelas partes no caso do desrespeito de

alguma das cláusulas do contrato. É importante que para todas as possibilidades de

quebra do contrato, “eventos de falha”, haja penalidades, remédios e prazos

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determinados para a cura. Não resolvido o problema no prazo determinado a parte

lesada poderia solicitar o término do contrato e a indenização cabível.

Segundo o Código Civil Brasileiro (Art. 1.058, Parágrafo único), eventos de Força

Maior, ou Caso Fortuito, são definidos como: “O caso fortuito, ou de força maior,

verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar, ou impedir.”, no

entanto esta definição é bastante vaga, e geral, como a lei deve ser. Para a banca

internacional é preciso que os contratos de concessão, que componham um projeto que

será financiado como Project Finance, apresentem uma descrição mais explícita de

quais eventos deveriam estar incluídos nesta categoria. Tais eventos são todos aqueles

que fogem ao controle, e à previsão, das partes, a saber: atos do príncipe, atos da

natureza, guerras, guerrilhas, greves que fujam ao controle das partes, etc. Definidas as

condições para eventos de Força Maior, as partes ficam desobrigadas a cumprir o

contrato nessas circunstâncias.

O término do contrato normalmente é seguido de uma indenização no caso de decisão

unilateral por parte do Poder Concedente. Do ponto de vista da banca internacional esta

indenização teria de ser suficiente para cobrir o saldo da dívida, incluindo os juros.

Os bancos também esperam partilhar do Direito de Intervenção (step-in) caso algo que

prejudique a amortização da dívida contratada e a empresa tomadora do empréstimo (a

Empresa de Propósito Específico) fique inadimplente. Nessa situação, caso o Poder

Concedente não assuma a amortização da dívida, os financiadores buscarão intervir

antes que uma falha se transforme em término do contrato, se isto ocorrer eles

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procurarão participar do processo decisório de substituição do acionista.

O Conceito de “equilíbrio econômico-financeiro” permite reajustes periódicos ou a

revisão da tarifa, para mais ou para menos, de forma a preservá-la de acordo com as

condições originalmente acordadas no contrato.

2.4.3 Contrato de Compra e Venda de Serviços

Como já foi dito antes, este contrato trata-se de um dos elementos de maior importância

na estruturação de um Project Finance.

O estabelecimento de contratos de longo prazo para aquisição do serviço de infra-

estrutura são cruciais para garantir receitas no longo prazo, especialmente naqueles

setores onde as incertezas quanto ao comportamento da demanda e dos preços é maior,

como por exemplo: setores relacionados com commodities – petróleo e gás,

petroquímico, siderúrgico -, setores onde as condições de mercado não estão definidas

quando do estabelecimento do projeto, como no caso do setor elétrico brasileiro nos dias

de hoje.

Segue uma breve descrição de algumas das condições necessárias para que estes

contratos sejam adequados para o pacote de garantias de um Project Finance:

• Volume: É importante que o volume contratado gere receitas em valor suficiente

para cobrir os custos operacionais, o pagamento do financiamento e o retorno do

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capital.

• Preço: O Comprador tem que garantir um preço mínimo que permita, ao volume

contratado, cobrir os custos operacionais, o pagamento do financiamento e o retorno

do capital. O reajuste dos preços tem de estar claramente definido e deve

acompanhar o reajuste dos custos na mesma proporção. Em outras palavras, se parte

dos custos varia de acordo com um índice de inflação e parte de acordo com a

variação cambial da moeda estrangeira utilizada estas variações têm que estar

refletidas nos preços de forma a não criar um descasamento entre receitas e

despesas. A forma de pagamento (prazos, freqüência) também é um ponto

importante a ser definido no Contrato.

• Prazo: A banca internacional esperaria um Contrato de Compra com prazo superior

ao prazo total da dívida em pelo menos 3 anos, de forma a se criar uma margem de

segurança caso seja preciso estender o prazo de amortização da dívida.

• Garantias do Comprador: Normalmente, dependendo da qualidade de crédito do

comprador, são exigidas algumas garantias de cumprimento dos pagamentos

devidos em contrato. Isto não seria uma exigência para compradores que apresentem

classificação de crédito forte, superior a A, de acordo com as agências de

classificação de risco (rating agencies) reconhecidas mundialmente (Standard and

Poor’s, Moody’s, DCR, dentre outras). No entanto, caso a empresa seja rebaixada

em sua classificação, passando a apresentar uma classificação inferior àquela que os

financiadores se sentem confortáveis, o comprador teria então de apresentar

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garantias. Uma forma muito comum é o depósito em conta bancária especial (conta -

caução19) de valores, ou recebíveis de primeira linha, correspondentes a um

determinado número de pagamentos.

• Força Maior: Assim como no Contrato de Concessão, o Contrato de Compra (e

todos os demais contratos envolvidos como veremos a seguir) deverá conter

provisões para o caso de ocorrência de um evento de Força Maior. Nesta situação,

de forma que o contrato seja aceito pela banca internacional sem a necessidade de

nenhum tipo de garantia da parte dos acionistas do projeto, é preciso que a EPE

esteja desobrigada de fornecer os serviços contratados. Além disto, normalmente,

caso os efeitos da Força Maior se prolonguem é facultado às partes o direito de

término do Contrato. Uma provisão contratual bastante desejável do ponto de vista

dos bancos, porém bastante difícil de se atingir na negociação de um Contrato de

Compra, é a existência de pagamentos mínimos durante o período que os efeitos de

um evento de Força Maior sejam sentidos, suficientes para cobrir os custos fixos da

EPE, principalmente o serviço da dívida.

• Término: As circunstâncias que acarretariam o término do contrato, assim como que

tipo de indenização seria devida no caso de término por ambas as partes, teriam de

ser definidas nesta cláusula. A banca internacional esperaria uma indenização por

parte do comprador, ou compra da planta e das instalações do projeto, em valor

suficiente para saldar a dívida. Muitas vezes esta provisão é aceita pelo comprador,

caso ele seja o responsável pelo término do contrato.

19 Outro nome bastante utilizado, na língua inglesa, é escrow account.

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• Penalidades: É importante que todos os eventos de falha entre as partes, seus

respectivos remédios e período de cura sejam considerados, assim como as

penalidades estejam definidas de forma bem precisa no contrato, como por exemplo

penalidades por atraso na entrega dos serviços, não cumprimento de metas,

qualidade inferior à acordada, etc.

2.4.4 Acordo de Acionistas

Antes do estabelecimento de uma Empresa de Propósito Específico para o projeto os

futuros acionistas sentem necessidade de um documento que defina seus direitos e

obrigações entre si. Muitas vezes um Memorando de Entendimento é firmado quando

da época da licitação para determinado projeto, ou no início das negociações entre

partes interessadas, definindo questões como: a participação dos interessados, divisão de

custos, poder de decisão de cada parte e o processo decisório, interesses comerciais das

partes, divisão de tarefas entre as partes, exclusividade e confidencialidade, forma de

retirada do acordo, dentre outras.

Quando do estabelecimento da empresa que irá construir e operar o projeto grande parte

dos direitos e obrigações das partes, agora os acionistas, com relação a esta nova

empresa estabelecida será definida pelo Estatuto Social da nova empresa.

Adicionalmente, é comum os estabelecimento de um Acordo de Acionistas regulando o

relacionamento dos acionistas entre si. Os financiadores estarão atentos neste contrato

para os seguintes assuntos: processo decisório, se existe algum fator que o dificulte;

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comprometimentos de aporte de capital, de que forma o capital será aportado (dinheiro

ou outros ativos) e o prazo e freqüência deste aporte; contribuições contingentes, diante

de situações percebidas como arriscadas; comprometimento dos acionistas com o

projeto a longo prazo; possibilidade de saída apenas encontrando substituto com mesma

qualidade de crédito ou vendendo sua participação para os demais acionistas; restrição à

competição com o projeto através de outra empresa, dentre outros.

2.4.5 Contrato de Construção, Fornecimento e Montagem de Equipamentos

O Contrato de Construção, Fornecimento e Montagem de Equipamentos é mais um dos

ingredientes básicos na estrutura contratual de um Project Finance. Sua importância se

deve ao fato de: representar um alto valor monetário, o investimento do projeto; dele

depender a qualidade, eficiência e o início da operação do projeto, já que atrasos na

construção geram atrasos na operação e por conseqüência perdas de receita.

Normalmente espera-se a construção do empreendimento, o fornecimento e a montagem

dos equipamentos sejam contratados através de um único contrato, o chamado EPC

(Engineering, Procurement and Construction), através do qual a construtora ou a

fornecedora de equipamentos se responsabiliza por toda a subcontratação dos serviços

de engenharia e construção, pela aquisição/ fornecimento de equipamentos e pela

gerência de todo o serviço; na forma turn-key, isto é, construção e montagem completa,

com entrega da planta pronta para funcionar após testada; com preço fixo; e data certa, o

que significa dizer que todos os prazos são estabelecidos nos contratos e caso o EPC

contratado não alcance suas metas estaria sujeito a penalidades e não pagamento de seus

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serviços. Os conceitos básicos que norteiam este contrato serão descritos a seguir.

• Custos e Quantidades: Os financiadores esperam que os custos sejam fixados ou que

sejam reajustados de acordo com cláusulas contratuais pré-definidas de forma que

não haja nenhum aumento inesperado ao longo de sua execução. As quantidades são

também definidas de acordo com as especificações do projeto, e sua alteração só

seria permitida em situações muito específicas de responsabilidade do contratante,

da EPE, de Força Maior ou mudanças na lei. Em suma, o custo do contrato deve ser

fixo e acordado antes do início dos trabalhos.

• Prazos: A EPE possui responsabilidades em termos de prazo para o início do

fornecimento dos serviços, e caso não os atenda muitas vezes perderá a receita não

realizada e será penalizado através de multas por atraso. Sendo assim, é importante

que o prazo para a conclusão da construção seja definida, e mais ainda, um

cronograma para a execução dos trabalhos seja seguido. Uma das medidas utilizadas

para incentivar o cumprimento destas metas de prazos é o estabelecimento de

penalidades e bônus. Outra prática bastante freqüente nestes contratos é o de

pagamentos vinculados ao cronograma estabelecido.

• Qualidade e especificação: No que diz respeito à qualidade do equipamento e da

construção, testes serão implementados quando da conclusão dos trabalhos para

comprovar o perfeito funcionamento dos equipamentos instalados. Após a

conclusão, o contrato deverá prever garantias com prazos limitados (em torno de um

ano) para a reposição e/ou reparação de peças com defeito. A especificação do

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escopo de trabalho e dos equipamentos é outro item imprescindível ao Contrato,

uma vez que o contratante e os financiadores exigirão que certos requisitos sejam

cumpridos.

• Garantias de execução: Normalmente as seguintes garantias de performance são

requeridas do contratado: Performance Bond20 (ou Cartas de Crédito), fornecidos

para assegurar a execução das obras, podem ser liberados conforme as metas

estabelecidas sejam atingidas; Retenções, adicionalmente ao Performance Bond é

comum que ao longo dos pagamentos ao Contratado o Contratante retenha parte

destes pagamentos até formar uma reserva cujo montante varia de acordo com a

situação (por exemplo 10% do valor do contrato); Garantias de conclusão podem ser

requeridas no valor equivalente ao contrato dependendo dos riscos percebidos pelo

Contratante; Garantias da empresa controladora, dependendo da qualidade de

crédito da Contratada garantias de sua empresa controladora podem ser requeridas

para cobrir as garantias de conclusão; Seguros, é de fundamental importância que os

equipamentos e a obra estejam segurados contra todos os riscos.

• Penalidades (Liquidated Damages): As penalidades básicas de um contrato de EPC

são resumidas em Penalidades por Atraso e Penalidades por Performance. Em

ambos os casos o Contratante e os financiadores esperam que o Contratado pague

multas que cubram não só o pagamento do serviço da dívida, os custos fixos e o

retorno do capital, mas também outras penalidades incorridas pela EPE por não estar

cumprindo com suas obrigações.

20 Modalidade de seguro que garante a execução de um serviço contratado.

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• Obrigações: As obrigações do Contratado em caso de quebra de alguma das

provisões contratuais estão normalmente limitadas ao valor total do Contrato.

• Controle: Tanto o contratante quanto os financiadores buscarão exercer um mínimo

de controle sobre a execução do Contrato de forma a prevenir problemas que

possam surgir. Segundo Wilde Sapte (1997), as principais áreas de controle são:

variações no pedido, aprovações do desenho do projeto, inspeção e teste,

subcontratações e definição da equipe de trabalho, dentre outras.

É de fundamental importância que este contrato esteja de acordo com o contrato de

Compra de serviços e o Contrato de Concessão no que diz respeito à qualidade

requerida, metas e prazos.

2.4.6 Contrato de Operação e Manutenção (O&M)

A operação e manutenção do projeto e seus ativos pode ser contratada com um único

prestador de serviços, ou de forma independente. Muitas vezes o operador é o próprio

acionista do projeto, quando este possuir experiência na atividade, ou mesmo o

fernecedor de equipamentos. É fundamental que um Contrato de O&M (ainda que

separados) seja contratado junto a especialistas com experiência reconhecida. É também

importante que o Operador do projeto seja envolvido desde o período de testes e, se

necessário no desenho da planta, para que possíveis dificuldades sejam levantadas desde

o início. Os principais termos deste tipo de contrato são:

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• Garantias: O operador tem que oferecer garantias sobre níveis mínimos de

performance e sobre danos que ele venha a causar.

• Seguros: A responsabilidade quanto à contratação dos seguros necessários durante o

período de operação tem que ser acordada neste contrato.

• Penalidades: Caso o Operador não atinja a performance mínima requerida ele estará

sujeito a penalidades de forma a reembolsar a EPE pelas perdas incorridas (seja por

redução de receita ou aumento de custos).

• Remuneração: Normalmente uma remuneração fixa, variável ou mista pode ser

utilizada. Adicionalmente, um esquema de bônus e penalidades pode vir a ser

implementado.

• Treinamento e tecnologia: O contrato tem que tratar de assuntos como transferência

de propriedade intelectual e treinamento dos empregados da própria EPE, se for

necessário.

• Término: A EPE deve poder terminar o contrato no caso de quebra das cláusulas

contratuais por parte do Operador. Esta cláusula, seus remédios e prazos de cura,

será observada com muito cuidado pelos financiadores.

Mais uma vez é importante lembrar que este contrato tem que estar de acordo com a

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50

performance requerida no Contrato de Concessão e/ou no Contrato de Compra.

2.4.7 Contrato de Suprimento de Matéria-prima

Da mesma forma que a EPE tem que buscar mecanismos para garantir a geração de um

nível mínimo de receitas (através de um Contrato de Compra), ela também deve buscar

uma situação onde os custos de produção sejam o mais definidos possível. Sendo assim,

um dos requisitos para que um projeto seja financiado na modalidade Project Finance é

o estabelecimento de contrato de suprimento de matéria-prima pelo mesmo período do

Contrato de Compra de Serviços. Este contrato é normalmente necessário naqueles

projetos onde um produto é indispensável para sua operação, por exemplo: usinas

termelétricas movidas a óleo ou a gás natural, refinarias, dentre outros. Este contrato

tem de conter provisões quanto ao reajuste de preços, obrigação de fornecimento de um

volume mínimo, padrões de qualidade a serem respeitados, penalidades no caso de não

cumprimento de algum dos itens mencionados acima.

Normalmente a obrigação de fornecimento de um volume mínimo possui a

contrapartida de obrigação de aquisição de um volume mínimo. Esta trata-se da cláusula

de take-or-pay que define que uma parcela do volume contratado tem de ser paga

independentemente do seu consumo.

2.5 As Garantias

O pacote de garantias (“Security package”) tem que ser estruturado de tal forma que sob

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51

uma situação de inadimplência todas as etapas e prazos necessários para a intervenção

dos financiadores (“step-in”) e transferência dos ativos e dos direitos sobre o projeto

para os mesmos estejam predefinidas.

A estrutura das garantias advirá da análise detalhada do projeto, processo chamado de

due diligence. Durante a due diligence os financiadores buscarão analisar os riscos

potenciais do projeto, o que, como já foi dito, trata-se de um dos pontos fundamentais

para a estruturação de um Project Finance. Neste momento todos os contratos firmados

para o projeto serão avaliados pelos bancos e seus assessores contratados, assim como o

impacto financeiro das provisões destes contratos no fluxo de caixa do projeto. O

mercado e os aspectos regulamentares também serão analisados em detalhe.

Idealmente o pacote de garantias será a combinação de diversas garantias fornecidas

pelos vários participantes do projeto de forma a permitir conforto aos financiadores e

uma divisão equilibrada entre os riscos do projeto.

Classificação das garantias segundo Nevitt e Fabozzi (1995):

• Quanto ao provedor das garantias:

O provedor das garantias pode ser o acionista do projeto, que através de aval e garantias

contigentes assegura os financiadores contra determinados riscos. Pode-se também

contar com garantias de terceiros, a saber: fornecedores, compradores, empresas

contratadas, agências governamentais. O objetivo de terceiros ao fornecer garantias para

um projeto seria fundamentado basicamente no interesse em fornecer equipamentos e

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serviços para o projeto, garantindo uma fonte de demanda a longo prazo, ou, no caso

dos organismos governamentais, garantir o desenvolvimento econômico da região

beneficiada. Há também provedores de garantidas comerciais, os quais fornecem

garantias em troca de receita, a saber: os bancos e as seguradoras.

• Quanto à cobertura das garantias:

As garantias cobrirão aqueles riscos com os quais os financiadores, e até mesmo os

acionistas, não se sentem confortáveis. Dentre as principais categorias de riscos

encontrados em um Project Finance temos:

" Risco Comercial: Os riscos comerciais serão garantidos normalmente pelos

acionistas ou pelo terceiro responsável (fornecedor, comprador,...). Os riscos

comerciais mais comuns são: risco de conclusão da obra, risco de custo

acima do estimado, atraso no início de operações, variação dos custos da

matéria-prima, falha no suprimento da matéria-prima, variação de preços do

produto ou serviço fornecido pelo projeto, ou ausência de mercado para o

mesmo.

" Força Maior: Os riscos classificados como de força maior são todos aqueles

que fogem ao controle das partes, englobando catástrofes naturais e riscos

políticos, como descrito abaixo. Alguns destes riscos são cobertos por

seguro, como alguns dos riscos resultantes de catástrofes naturais e alguns

dos riscos políticos, enquanto outros não são seguráveis e devem ser

alocados às partes mais adequadas ao seu controle e planejamento. Por

exemplo, no caso de mudança de lei em um projeto que envolva a compra de

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energia por uma empresa pública, esta empresa provavelmente estará em

melhor condição para negociar com o Governo no caso do que a nova

empresa estabelecida para o projeto.

" Risco Político: Dentre os principais riscos políticos temos expropriação,

conversibilidade da moeda, quebra de contrato, mudança da lei, guerra,

rebelião, dentre outros. Alguns destes riscos, tais como conversibilidade,

expropriação e quebra de contrato são seguráveis por algumas instituições

multilaterais, ou seguradoras internacionais, no entanto há outros que muitas

vezes necessitam de apoio governamental, ou podem vir a representar

necessidade de garantia adicional do acionista, tais como mudança de lei.

• Quanto ao tipo de garantias:

" Limitadas: As garantias podem ser limitadas por valor ou por prazo, por

exemplo durante a construção do projeto.

" Indiretas: As garantias podem ser indiretas, como é o caso de contratos take-

or-pay e de contratos que garantem um preço mínimo para o serviço

(suporte estatal ou de um consumidor do projeto). Tais garantias não

impactam no balanço do garantidor, representando normalmente apenas

nota do auditor.

" Contingentes: No caso de situações com as quais os financiadores não se

sentem confortáveis estes podem requerer garantais contingentes dos

acionistas Tais garantias não impactam no balanço do garantidor,

representando normalmente apenas nota do auditor.

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" Implícitas: Tratam-se das chamadas Cartas de Conforto (Comfort Letter),

que sinalizam um apoio do “garantidor” em caso de necessidade. Não se

tratam exatamente de garantias e normalmente não criam um

comprometimento legal entre as partes.

" Garantias por Deficiência: Tais garantias são oferecidas no caso de

inadimplência no pagamento da dívida. Nesta situação o garantidor se

responsabiliza em pagar um determinador valor ou percentual do valor

devido.

" Garantias de Conclusão (Completion Guarantee): Tais garantias são

oferecidas normalmente pelo acionista do projeto quando o risco de

construção e início da operação é percebido como muito alto. Através de um

contrato firmado com os financiadores os acionistas se responsabilizam por

possíveis atrasos e por cobrir qualquer custo superior ao estimado, não

requerendo dos financiadores a colocação de recursos adicionais.

" Garantias no Contrato de Construção: Os construtores, e fornecedores de

equipamentos e materiais devem fornecer garantias que cubram a conclusão

e o funcionamento adequado do projeto. Tais garantias normalmente tomam

a forma de: seguro-garantia (Performance Bond, garantindo a performance,

ou Bid Bond, garantindo a proposta apresentada para o contratante), cartas

de fiança bancária, retenções de pagamentos dos contratados, seguros em

favor do contratante.

" Principais Covenants e outras restrições: Os Covenants tratam-se de

cláusulas contratuais constantes no contrato de financiamento que definem

limites para a atuação dos acionistas e do projeto ou exigem certas ações dos

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mesmos. Os covenants são divididos em três principais categorias:

(i) Positivos (Positive ou Affirmative Covenants): Exigem

certas ações por parte do tomador do empréstimo, como

por exemplo: implementação e condução do projeto de

forma diligente e de acordo com as boas práticas

financeiras; manutenção de informações contábeis e

gerenciais adequadas; fornecimento relatórios financeiros

e técnicos periódicos; livre acesso aos financiadores;

notificação de mudanças, decisões, procedimentos

administrativos ou técnicos, ou litígios que possam

impactar no projeto; pode também vir a incluir exigências

mais específicas adaptadas ao tipo de projeto.

(ii) Negativos (Negative Covenants): Restringe certas

atividades do tomador de empréstimo, como por exemplo:

restrição à compra de outros ativos que não diretamente

ligados à operação do projeto, imposição de limites a

venda de ativos e das ações do projeto; limites à mudança

do escopo do projeto, dos estatutos da empresa e

alterações nos contratos firmados para o desenvolvimento,

construção e operação do projeto; limites para

endividamento e investimentos, proibição de fornecer os

ativos do projeto como garantias, além daquelas

disponibilizadas aos financiadores; limites e regras para o

pagamento de dividendos e outras distribuições, como

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comissões de gerenciamento pagas aos acionistas

(normalmente só aceita-se a distribuição de dividendos aos

acionistas após os desembolsos dos financiamentos e

quando o projeto apresenta determinados índices

financeiros).

(iii) Covenants financeiros: os financiadores determinam

indicadores financeiros que funcionam como alerta quanto

a uma possível inadimplência. Os indicadores financeiros

mais usuais são: índice de cobertura do serviço da dívida

(DSCR – Debt Service Cover Ratio), calculado

periodicamente (anual ou semestral) como a razão entre o

caixa disponível para o serviço da dívida (amortização do

empréstimo e pagamento de juros) e o total do serviço da

dívida; Índice de Liquidez Corrente, calculado como a

razão entre Ativo Circulante e Passivo Circulante. Caso o

projeto comece a apresentar índice inferiores ao mínimo

definido, o apoio dos acionistas para aporte de recursos

pode ser solicitado, ou se o evento perdurar a amortização

do empréstimo pode ser acelerada ou renegociada,

dependendo das circunstâncias.

(iv) Outros Covenants: direito de aprovação de certas ações e

benefícios dos acionistas e administradores do projeto;

exigência que os acionistas mantenham determinada

participação no projeto por determinado período; suporte

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adicional dos acionistas pode ser requerido em caso de

custos excessivos no projeto ou falhas sobre o seu

controle.

(v) Cross-default: tais cláusulas determinam que caso o

projeto ou seus acionistas se tornem inadimplentes em

outros contratos, isto se estende ao contrato de

financiamento, possibilitando que os financiadores

solicitem a aceleração do mesmo.

(vi) Contas de Reserva: contas caucionadas onde o projeto

deverá depositar periodicamente determinados valores

para cobrir determinadas obrigações. As contas mais

comuns são: Conta caução para o serviço da dívida

(DSRA – Debt Service Reserve Account), onde

normalmente são exigidos depósitos equivalentes ao

próximo pagamento do serviço da dívida (semestral ou

anual); Conta de Manutenção (Maintenance Reserve

Account): provisão exigida quando o projeto requer altos

investimentos de manutenção que se repetem ao longo de

um período, por exemplo a cada 5 anos.

As garantias variarão caso a caso, no entanto pode-se apresentar como garantias típicas

de um Project Finance non recourse: a caução das ações da empresa de propósito

especial estabelecida para o projeto; a caução das contas bancárias do projeto inclusive

da conta caução para o serviço da dívida (normalmente os bancos requerem o

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equivalente ao próximo pagamento semestral); direitos sobre todos contratos do projeto,

tais como contrato de venda, contrato de compra de insumos, contrato de construção; a

participação como favorecido nas apólices de seguro; hipoteca de todos os bens móveis

e imóveis da EPE.

2.6 Fontes Alternativas de Financiamento

Devido ao longo prazo de maturação dos investimentos em infra-estrutura, uma vez que

demandam um alto volume de investimentos, torna-se necessário para a viabilização de

tais projetos, do ponto de vista do retorno dos agentes privados que o patrocinam, a

disponibilidade de recursos de terceiros (dívida ou quasi-equity21) de longo prazo a

custos inferiores ao retorno do fluxo de caixa operacional do projeto, i.e. sem considerar

o financiamento.

Devido à, já comentada, escassez de recursos financeiros de longo prazo no país torna-

se imprescindível a presença de recursos de longo prazo internacionais, normalmente

provenientes de Instituições Multilaterais de Fomento, Agências de Crédito à

Exportação, Investidores Institucionais e Bancos Comerciais. No mercado financeiro

local poucas instituições merecem destaque no financiamento de longo prazo, são elas o

BNDES e a Caixa Econômica Federal. Alguns Investidores Institucionais e bancos

comerciais começam um movimento no sentido de prover recursos de mais longo prazo.

Segue uma breve descrição destas instituições e de sua forma de atuação.

21 Por “quasi-equity” entenda-se dívida conversível em participações acionárias.

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2.6.1 Agências Multilaterais

As Agências Multilateriais tratam-se de órgãos criados com o propósito de promover o

desenvolvimento econômico e o bem estar social de uma determinada região, através do

financiamento de longo prazo para setores priorizados conforme seu impacto no

desenvolvimento da região. Normalmente são constituídas por governos de diversos

países que contribuem para seus fundos. Outra forma de captação bastante comum entre

tais agências para a arrecadação de recursos de longo prazo é a emissão de instrumentos

de dívida de longo prazo.

Dentre tais agências há uma divisão não só por área de abrangência como também por

setor que suporta, algumas se destinam apenas a apoiar o setor público em projetos

sociais, enquanto outras se destinam ao setor privado no desenvolvimento de projetos de

infra-estrutura ou de outros setores que necessitem suporte financeiro. Há também

aquelas que possuem ambas divisões, atuando tanto com o setor público como com o

privado.

As principais Agências Multilateriais dedicadas ao financiamento de projetos junto ao

setor privado são: IFC – International Finance Corporation; IDB – Inter-American

Development Bank; EIB - European Investment Bank; EBRD - European Bank for

Reconstruction and Development; ADB - Asian Development Bank. Segue uma breve

descrição de tais instituições:

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• IFC – International Finance Corporation:

O IFC é o braço do Banco Mundial para o setor privado, criado em 1956, possui

aproximadamente 172 países membros e atua nos países emergentes, sem restrições

regionais. Sua política é apoiar os agentes privados, principalmente naqueles setores

onde não há capital privado suficiente, assumindo totalmente o risco comercial sem

garantias governamentais.

Esta instituição, como todos os demais organismos multilaterais, possui um

procedimento de liberação de recursos que envolve uma análise bastante minuciosa do

projeto em questão, tanto no seu aspecto financeiro/documental como nos aspectos

ambiental, político e social.

Sua participação no financiamento de projetos se dá através de três linhas: o empréstimo

A, com recursos próprios da instituição; o empréstimo B, organizado pela instituição

mas fundeado com recursos de bancos comerciais; e o empréstimo C, normalmente com

recursos próprios, tratando-se de uma linha especial utilizada para adquirir participações

acionárias minoritárias, empréstimos subordinados22, ou onde algum tipo de vantagem é

proporcionada ao IFC, como por exemplo a participação no retorno do projeto. O

empréstimo B trata-se de uma forma de atrair empréstimos de longo prazo de bancos

comercias, pois estes se sentem seguros em participar de um financiamento aprovado

pela instituição. Este tipo de apoio é o chamado “guarda-chuva” das agências

multilaterais, onde estas constam como financiadoras (lender of record) junto aos

22 Empréstimos subordinados são aqueles que se encontram num patamar inferior a outros empréstimosna escala de direitos sobre os ativos de uma empresa.

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bancos centrais dos países de origem dos bancos comerciais envolvidos e do país

destinatário, garantindo no primeiro caso a liberação de provisões normalmente

requeridas para empréstimos internacionais, e, muitas vezes, no caso do país

destinatário, a liberação da retenção de imposto de renda na fonte para o pagamento de

juros e outras comissões relacionadas ao empréstimo.

Como foi mencionado acima, eventualmente o IFC pode vir a adquirir participações

minoritárias nas empresas e projetos financiados.

• IDB – Inter-American Development Bank:

O IDB, ou BID – Banco Inter-americano de Desenvolvimento, instituição estabelecida

em 1959 para o desenvolvimento econômico e social da América Latina e Caribe,

historicamente financiava apenas projetos no setor público e recentemente 1989 passou

a apoiar também o setor privado. Esta agência funciona de forma muito similar ao IFC,

apresentando também uma estrutura de financiamentos A (recursos próprios) e B

(bancos comerciais). Mais recentemente a instituição também vem apresentando como

modalidade de suporte garantias contra risco político ou comercial.

O IDB possui uma grande experiência no Brasil em financiamentos em conjunto com o

BNDES e vem atuando recentemente em diversos projetos de geração de energia e no

setor de transportes, sendo a instituição multilateral mais ativa em financiamentos para

infra-estrutura no país.

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• EIB – European Investment Bank:

Foi fundado em 1958 e pertence aos países membros da União Européia (UE),

dedicando-se a financiar projetos que promovam o desenvolvimento de regiões menos

abastadas ou ainda projetos que demandem seu apoio e sejam de interesse comum aos

países membros. O EIB pode também financiar projetos fora da região da UE desde

que estes gerem benefícios para os países membros.

Os recursos do EIB originam-se basicamente do capital aportado pelos membros e de

operações no mercado de capitais. Seu financiamento pode atingir um prazo de 25 anos,

e cobrir até 50% do investimento de um projeto.

• EBRD - European Bank for Reconstruction and Development:

O EBRD foi criado com o propósito de apoiar os países da Europa Central e Oriental

em projetos públicos e privados. Esta instituição pode oferecer empréstimos, com

recursos próprios e/ou de bancos comerciais, participações minoritárias no capital ou

garantias.

• ADB – Asian Development Bank:

Criado em 1966, objetiva promover o desenvolvimento nos países membros da Ásia e

Pacífico, apoiando o setor público e privado. É composto por 40 países da região e 16

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fora. O ADB pode participar de um projeto através de financiamentos e participações

acionárias, assim como pode fornecer assistência técnica para a preparação e

desenvolvimento de projetos.

2.6.2 Agências de Crédito à Exportação

A Agências de Crédito à Exportação (também conhecidas como ECAs – Export Credit

Agencies) tratam-se de órgãos governamentais que objetivam promover a exportação de

seus países oferecendo condições atrativas de financiamento. Uma ECA pode apoiar

projetos que envolvam a aquisição de bens ou serviços do seu país de origem através

dos seguintes produtos: financiamento, com recursos próprios ou de bancos comerciais;

seguro/ garantia contra risco político e/ou comercial, cobrindo financiamentos de outras

instituições financeiras; refinanciamento de projetos financiados inicialmente com

recursos de bancos comerciais; subsídios a taxas de juros contratadas para financiar um

produto originário de seu país; dentre outros. Normalmente seu financiamento, ou

cobertura de risco político, pode alcançar até 85% do valor do bem/serviço adquirido.

Dentre as principais ECAs temos: US Eximbank (EUA); Jexim (Japão); COFACE

(França); Hermes (Alemanha); ECGD – Export Credit Guarantee Department (Reino

Unido), dentre outras.

2.6.3 Seguradoras de Risco Político

Além das ECAs, há várias instituições que podem oferecer cobertura contra risco

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político para projetos de infra-estrutura. Segue uma breve descrição das principais

entidades atuando neste sentido:

• MIGA – Multilateral Investment Guarantee Agency:

Criada em 1988, trata-se de outro membro do Banco Mundial com o propósito de

incentivar o investimento estrangeiro nos países em desenvolvimento. A MIGA

normalmente oferece garantias para os investidores (acionistas) de determinado

empreendimento, mas pode vir a garantir também financiamentos. Suas garantias

compreendem principalmente: risco de convertibilidade e transferência de moeda,

expropriação, guerras e conflitos civis e quebra de contrato pelo governo. A agência

também oferece seus serviços de assessoria, visando aumentar a capacidade de atração

de investimentos privados nos países membros. Para ser eleito para o programa da

MIGA o investidor tem que pertencer a um dos países membros, que não aquele do

investimento, podendo receber garantias com prazo de até 20 anos.

• OPIC – Overseas Private Investment Corporation:

A OPIC é uma agência governamental norte-americana, criada em 1971, que atua em

140 países em desenvolvimento provendo financiamento e seguro de risco político para

empreendimentos promovidos por investidores norte-americanos. O seguro de risco

político possui cobertura para não convertibilidade da moeda e impossibilidade de

remeter os resultados do empreendimento segurado (transferência), expropriação e

violência política.

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• American International Group (AIG):

Uma outra instituição que merece destaque é a AIG, seguradora privada norte-

americana que vem atuado no mercado de seguros contra risco político.

Porém a participação da AIG em projetos de infra-estrutura não se limita ao

fornecimento de seguros, ela se trata de um dos principais agentes envolvidos na

administração e fornecimento de recursos via Fundos de Investimento em Infra-

estrutura. Dentre os fundos que contam com a participação da AIG, temos: AIG Asian

Infrastrucure Fund e o AIG-GE Capital Latin American Infrastructure Fund, os quais

serão discutidos mais a frente.

2.6.4 Bancos Comerciais

Os bancos comerciais internacionais vem atuando de forma crescente na modalidade de

financiamento em estudo. Sua participação se dá normalmente através de empréstimos

B das instituições multilaterais acima mencionadas. A preferência por esta forma de

participação se dá pela credibilidade que a participação de uma instituição multilateral

confere à transação: não só por possuírem uma due diligence criteriosa, que geralmente

duram de 4 meses a 1 ano, mas principalmente porque estas instituições teriam

facilidade maior em caso de necessidade de renegociação da dívida ou em caso de

negociação com Governos no caso de problemas com a conversibilidade da moeda, a

chamada “umbrela” (guarda-chuva) das instituições multilaterais. Adicionalmente, estes

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bancos operam também com cobertura de risco político (seja de ECAs, seja de outras

instituições). Recentemente a participação “descoberta”, sem cobertura de risco político,

também vinha aumentando, muitas vezes através de operações complementares àquelas

com cobertura contra risco político. No entanto após a crise asiática (setembro de 1997),

sucedida pela crise russa (julho de 1998), e pela crise cambial brasileira (janeiro de

1999), esta tendência se esvaziou. Mesmo antes das crises financeiras mencionadas esta

prática encontrava-se disponível principalmente para projetos desenvolvidos em países

que atingiram a classificação “Investment Grade”.23

Segue uma lista com os 10 principais bancos internacionais na estruturação e

financiamento de projetos na modalidade Project Finance, no ano de 1998, no Mundo e

na América Latina:

Quadro 7: 10 Principais Bancos Internacionais atuando em Project Finance

Mundo América Latina

Banco Valor(US$ milhões)

Banco Valor(US$ milhões)

Citibank/ SSB 3.919,25 Citibank/ SSB 1.653,06Bank of America 3.592,14 Bank of America 1.304,91Barclays Capital 2.743,50 ABN Amro 806,83Chase 2.645,28 Dresdner 783,87Crédit Lyonnais 2.577,18 Chase 747,16ABN Amro 2.411,96 Lehman Brothers 690,81Societé Générale 2.173,07 Deutsche 562,78Deutsche 2.095,79 ANZ 559,82West LB 2.061,43 Banque Nationale de

Paris525,61

HypoVereinsbank 2.044,47 West LB 480,09Fonte: Project Finance – The Book of Lists 1999.

23 Investment Grade (ou Investimento Prudente) é a classificação de risco definida pelas autoridadesfinanceiras norte-americanas como prudente. Segundo as agências Standard & Poor’s e Duff & Phelpsequivale à classificação acima de BBB-.

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No Brasil, devido ao perfil de curto prazo de suas captações, os bancos comerciais não

possuem apetite para transações de longo prazo. O que se tem visto no momento são

algumas iniciativas de alguns grandes bancos nacionais, como é o caso do Unibanco, na

implementação de linhas de repasse de multilaterais e do BNDES.

O Unibanco está em fase final de obtenção de um financiamento de US$ 300 milhões

do IFC para o financiamento de projetos de infra-estrutura de pequeno e médio porte.

Este financiamento será composto de empréstimo A (aproximadamente US$ 50

milhões) e empréstimo B, com prazo estimado em 10 anos. O risco dos projetos será

assumido pelo Unibanco que avaliará e negociará o pacote de garantias na modalidade

Project Finance com aproximadamente 10 projetos, seguindo as regras do IFC e do

Banco Mundial. O fechamento do financiamento dependerá da melhora das condições

de mercado e espera-se que esteja concluído no fim de 1999.

O Unibanco é hoje de um dos principais agentes repassadores de recursos do BNDES

no curto e longo prazo, tendo atuado como repassador para empréstimos de longo prazo

na modalidade Project Finance em diversos projetos nos setores de telecomunicações,

transportes (rodovias e ferrovias) e energia.

2.6.5 Investidores Institucionais

Os investidores institucionais, cujos principais representantes discutiremos a seguir,

vem participando em financiamentos a projetos de infra-estrutura em todo o mundo.

Usualmente tais investidores participam no financiamento de projetos através de Private

Placements - colocações privadas de títulos de dívida, sem registro em bolsa –, e de

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colocações de títulos via Regra 144 A (Rule 144A), que regula a venda pública de títulos

sem registro em bolsa.

• Fundos de Pensão

Considerando os altos volumes sob a administração dos Fundos de Pensão, o perfil de

longo prazo de suas obrigações, e a experiência internacional podemos afirmar que os

fundos de pensão possuem um alto potencial de financiamento à formação de capital.

Os fundos de pensão brasileiros controlavam em 1997 ativos na faixa de US$ 77,8

bilhões, representando aproximadamente 12% do Produto Interno Bruto, contra

participações superiores a 70% nos EUA e Reino Unido, e 45% no Chile24. Podemos

constatar assim o grande potencial de crescimento dos recursos administrados pelos

fundos de pensão, o que dependerá em larga escala da reforma do sistema

previdenciário nacional.

Espera-se que a disponibilidade de recursos destas instituições para investimentos de

longo prazo em infra-estrutura também poderá aumentar com o advento da estabilidade

econômica. A economia brasileira, ao apresentar altas taxas de juros para investimentos

de alta liquidez, favorece os investimentos de curto prazo em detrimento dos

investimentos de longo prazo. Sendo assim, os fundos de pensão brasileiros aplicam

acima de 40% dos seus ativos em investimentos de curto prazo e alta liquidez (LAFIS,

1998), contra saldos inferiores a 4% aplicados pelos fundos de pensão de economias

24 Relatório LAFIS: Brazil – Pension Funds, agosto de 1998.

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estáveis (como Alemanha, Holanda e Suécia), o suficiente para as retiradas previsíveis.

O BNDES vem desenvolvendo, desde 1993, análise quanto às possíveis formas de

apoio destes fundos ao desenvolvimento econômico nacional, e propondo aos

administradores dos Fundos de Pensão alternativas de apoio conjunto a investimentos

no setor produtivo e de infra-estrutura.25

• Fundos de Investimento em Infra-estrutura

Os Fundos de Investimento em Infra-estrutura tratam-se de uma modalidade de

investidores bastante recente no mercado internacional, tendo se iniciado na década de

80.

Tais fundos podem apoiar projetos de infra-estrutura, ou empresas que atuam no setor,

basicamente de duas formas: investimentos através de participações acionárias e

financiamentos .

A maior parte dos fundos estabelecidos atuam através de participações acionárias,

buscando altos retornos, normalmente associados ao investimento como acionista. Um

aspecto muito importante neste caso é a análise do potencial de venda desta

participação, as possíveis estratégias de saída a serem implementadas, tais como:

abertura do capital da empresa, venda da participação a terceiros e refinanciamento

através de emissão de instrumentos de dívida. A estratégia de saída é importante na

25 Para uma análise mais profunda dos Fundos de Pensão como potenciais financiadores dodesenvolvimento ver Castellar (1994).

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medida que dá um conforto adicional ao investidor.

Alguns fundos estabelecidos recentemente vêm buscando investir também com

instrumentos de dívida, financiamentos, e devido ao fato de almejarem altos retornos (o

que varia de 20 a 30% ao ano), podem vir a ser utilizar instrumentos alternativos, tais

como opções de compra de ações, debêntures conversíveis e participações no lucro da

empresa.

Os principais investidores deste fundos são: fundos de pensão; empresas fornecedoras

de equipamentos e serviços para projetos de infra-estrutura, com o interesse de

promover as vendas do seu produto; agências multilaterais, como o BID, o IFC e a

OPIC; bancos comerciais; seguradoras, como a AIG; grandes investidores, como Soros

Capital Inc.; dentre outros.

Estes fundos têm um grande interesse na América Latina, inclusive alguns já foram

estabelecidos com enfoque exclusivo na região, e são potenciais investidores para o

desenvolvimento da infra-estrutura no Brasil.

Segue uma lista com os principais fundos e uma breve descrição de sua área de atuação

e seus investidores.

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Quadro 8: Principais Fundos de Investimento em Infra-Estrutura

Nome Valor Investidores Área de Atuação AIG AsianInfrastructure Fund

US$ 1,8 bi AIG, Singapore InvestmentCorp., Temasek Holdings

Diversos setores.

AIG-GE CapitalLatin AmericanInfrastructure Fund

US$ 1,013bi

AIG, GE Capital Corp. Diversos setores. Possuilimitação por país (Brasil40%).

Asia InfrastructureFund (AIF)

US$ 1 bi Peregrine InvestmentHoldings Ltd., Frank RussellCo., Soros Capital Inc., AsiaDevelopment Bank

Diversos setores.

Global PowerInvestment LP

US$ 575 m GE Capital Services,Quantum IndustrialHoldings, IFC, outros

Atuação mundial. Enfoque em projetos deenergia elétrica.

Asian MezzanineInfrastructure Fund(AMI)

US$ 450 m Credit Lyonnais, Caisse desDepots e Consignations,IFC, Mitsui Trust, outros

Diversos setores.

International EnergyInfrastructure Fund

US$ 200 m Energy Asset Management,Pacif Enterprises, DresserIndustries/ MW Kellog,Bechtel Enterprises

Atuação mundial. Enfoqueem energia (projetosrelacionados com energiaelétrica e petróleo)

Darby Latin AmericaMezzanine Fund

US$ 500 m Barby OverseasInvestments, Banco BilbaoVizcaya, DresdnerKleinwort Banson, IDB,outros

Enfoque na AméricaLatina.

Global EnvironmentEmerging MarketFund

US$ 70 m Global Environment Fund(GEF), OPIC

Atuação mundial (65%investimentos na AméricaLatina). Setores de atuação: água esaneamento, transporte edistribuição de gás,geração de energia limpa emeio ambiente.

Global EnvironmentEmerging MarketFund II

US$ 120 m GEF, OPIC, BechtelEnterprises, United Utilities.

Setores de atuação: água esaneamento, transporte edistribuição de gás,geração de energia limpa emeio ambiente.

Fonte: Revista Infrastructure Finance (1997).

! Seguradoras:

As segurados tratam-se de um dos principais investidores potenciais para projetos de

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infra-estrutura, a exemplo da AIG, acima apresentada, e da Sul América Seguros, que é

um dos investidores de Marlim, projeto de exploração de petróleo desenvolvido com a

Petrobras. Um fato que dificulta e limita o investimento de seguradoras em projetos de

infra-estrutura é o longo prazo de maturação destes investimentos vis à vis a

necessidade destas instituições de manutenção de determinado volume de aplicações

líquidas.

2.6.6 O BNDES e seu papel

O BNDES, como único provedor nacional de financiamentos de longo prazo para o

setor privado, possui papel fundamental no desenvolvimento do Project Finance no

Brasil. O banco vem, desde 1994, participando de inúmeros financiamentos nessa

modalidade nos setores de transportes, eletricidade, telecomunicações, incluindo

recentemente exploração e produção de Petróleo.

Em função da crescente necessidade de recursos de longo prazo, seja nos setores de

indústria e serviços, seja nos setores de infra-estrutura, os desembolsos do BNDES vem

crescendo rapidamente nos últimos cinco anos. Como podemos observar no gráfico

abaixo, os desembolsos do BNDES aumentaram de US$ 3,2 bilhões, em 1993, para

US$ 16,5 bilhões no ano de 1997, atingindo aproximadamente US$ 15,7 bilhões em

1998.

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Figura 5: Evolução dos Desembolsos do BNDES (US$ bilhões)

-

5,00

10,00

15,00

20,00

1993 1994 1995 1996 1997 1998

Total

Infra-estrutura

Fonte: BNDES

Os desembolsos para infra-estrutura apresentaram o seguinte perfil de distribuição entre

os setores, evoluindo de uma participação de 27,5% da carteira total de empréstimos do

BNDES em 1993, para 45,6% em 1997.

Quadro 9: Perfil dos Desembolsos do BNDES por Ramo de Atividade – 1981/1997

Atividades 1981/85 1986/90 1990 1995 1996 1997 1991/97Ind. de Transformação 53,1% 60,6% 73,8% 56,3% 43,8% 33,8% 48,5%Infra-estrutura 31,4% 27,0% 17,6% 26,0% 31,5% 45,6% 31,0%Serviços 0,1% 5,3% 3,0% 6,3% 15,6% 8,3% 6,3%Extração de Minerais 3,0% 2,5% 1,5% 1,0% 1,5% 4,2% 1,7%Agropecuária 0,4% 2,2% 3,8% 10,4% 7,5% 7,8% 12,2%O utros 12,0% 2,4% 0,3% 0,0% 0,1% 0,3% 0,3%Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: BNDES, Além (1998).

Tendo em vista a grande necessidade de recursos para a infra-estrutura, o BNDES

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percebeu que uma solução seria canalizar recursos para projetos de infra-estrutura

através da modalidade Project Finance, com ou sem co-financiamento com outras

entidades de fomento ao desenvolvimento (tais como IFC e BID). Abordar-se-á no

próximo capítulo as ações do BNDES nesse sentido.

2.6.7 Outras fontes nacionais

• Caixa Econômica Federal - CEF:

A Caixa Econômica Federal possui uma linha de financiamento para concessionários

privados de serviços de saneamento, utilizando-se de recursos do FGTS- Fundo de

Garantia por Tempo de Serviço e do BNDES para este fim. Neste sentido, a CEF vem

procurando promover financiamentos na modalidade Project Finance, trabalhando

inclusive em conjunto com o BNDES, por prazos de até 12 anos, e taxas de juros

vinculadas à TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), no caso de uso dos recursos do

BNDES, e TR (Taxa Referencial), no caso de uso dos recursos do FGTS.

No entanto, segundo informações obtidas junto a esta instituição, a Caixa vem buscando

apoiar outros setores, como rodovias e ferrovias.

• Agências de Fomento:

A criação de agências de fomento insere-se no contexto de equacionamento das dívidas

estaduais junto à União e da reestruturação e privatização dos bancos estaduais.

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Diante deste contexto, o Governo Federal iniciou um processo de reestruturação dos

sistemas financeiros estaduais, através de MP 1.556-10, de 1997, estabelecendo

mecanismos que procuram equacionar a dívida estadual que culminariam na

privatização dos bancos estaduais ou na sua transformação em agências de fomento. O

Conselho Monetário Nacional emitiu a Resolução 2.347, em 10/12/96, que define as

agências de fomento como instituições não-financeiras. Suas captações são limitadas a

repasses originários de: fundos constitucionais, orçamentos dos estados e municípios,

organismos e instituições oficiais de fomento, instituições multilaterais, instituições

financeiras e investidores institucionais.

Há no momento uma discussão a cerca da ampliação do leque de captação das agências

de fomento, assim como de sua atuação, em outras modalidades de suporte financeiro

como coobrigação na emissão de debêntures, cobertura de risco político em concessões

de infra-estrutura, dentre outras.26

• O Papel da Eletrobrás:

Com o processo de privatização do setor elétrico, a Eletrobrás vem procurando seu novo

papel no setor. Uma das possíveis alternativas é sua atuação como financiador do setor,

dando continuidade à sua prática de fornecimentos de financiamentos como recursos da

RGR (Reserva Global de Reversão27) a custos subsidiados, na faixa de 7 a 9% ao ano.

26 Para uma melhor análise do assunto ver Studart (1997).27 A Reserva Global de Reversão foi instituída pela Lei 5.655, de 1971, e trata-se de uma contribuiçãorealizada por todas as concessionárias de serviço público para angariar fundos para cobrir a indenizaçãodos investimentos realizados quando da reversão dos bens da concessão ao poder concedente.

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Com o fim da RGR, previsto para fim de 200228, a Eletrobrás perderá uma importante

fonte de recursos para exercer tal atividade.

2.7 Vantagens e Desvantagens de um Project Finance

Como já foi mencionado acima, uma das principais vantagens de se financiar um

projeto na modalidade Project Finance, do ponto de vista dos agentes privados, é o fato

do financiamento pode ser contratado “fora do balanço” do acionista. Em outras

palavras, o passivo é contraído pela empresa de propósito específico (EPE) estabelecida

para o projeto e não é consolidado no passivo de seus acionistas, nem é garantido pelos

mesmos. Como conseqüência, tal modalidade permite que um mesmo acionista

participe de vários projetos ao mesmo tempo, dado que sua capacidade de captar

recursos, indiretamente, aumenta de forma considerável. Esta vantagem é essencial

para países onde há necessidade de grandes volumes de investimentos em infra-

estrutura e para empresas que não tenham capacidade financeira para investir ou tomar

financiamentos no próprio balanço para desenvolver novos projetos.

A estruturação do financiamento fora do balanço do acionista, quando acompanhada do

fornecimento de um pacote de garantias adequado aos requerimentos de um Project

Finance, também apresenta como vantagem a possibilidade de acesso de empresas

localizadas em mercados emergentes, ou com limitações de crédito, a recursos de longo

prazo que não estariam disponíveis no caso de uma estrutura com garantias

corporativas.

28 Lei 9.648 de 1998.

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Outro benefício decorrente desta forma de captação são os altos níveis de alavancagem

normalmente praticados, não só pelo prisma de um projeto individual, onde a dívida

pode vir a participar em até 100% dos recursos necessários para o investimento (apesar

de que os níveis normalmente praticados variam de 60 a 80% do projeto, dependendo da

capacidade financeira e dos riscos do projeto), como também pelo fato de possibilitar a

participação do acionista em diversos projetos com um comprometimento reduzido de

capital, possibilitando a diversificação de sua carteira de projetos e o aumento do

retorno sobre o capital investido, desde que o custo da dívida (líquido do impacto do

imposto de renda29) seja inferior ao retorno do projeto sem dívida.

Ao mesmo tempo em que permite a redução do uso de recursos dos acionistas, o Project

Finance também possibilita uma divisão de riscos mais adequada à capacidade de

absorção de cada uma das partes envolvidas no projeto.

As vantagens para o acionista privado, acima descritas, também se convertem em

vantagens para o Governo, na medida em que o Project Finance se trata de uma forma

de alavancar investimentos em áreas onde os altos montantes envolvidos, os diversos

riscos e o longo prazo de maturação são fatores limitadores para que a iniciativa privada

comprometa seu capital.

Somando-se às vantagens acima apresentadas, temos também, segundo Finnerty (1996),

reduções dos custos de sinalização em situações de informação assimétrica. Isto ocorre

29 Custo líquido da dívida: i x (1-T), onde i = taxa de juros e T = alíquota do imposto de renda, cálculoadotado considerando o benefício da dedutibilidade dos juros para fins fiscais.

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porque normalmente durante o processo de due diligence os acionistas do projeto

revelam para um reduzido número de investidores e financiadores dados do projeto para

que estes possam desenvolver uma análise detalhada e reduzir sua percepção de risco e,

consequentemente, o custo do empréstimo. Finnerty também aponta, como uma

vantagem do ponto de vista dos financiadores e dos acionistas, que a estrutura adotada

nos contratos de financiamento na modalidade Project Finance reduz o custo de

agenciamento na medida que covenants são definidos de forma a permitir a monitoração

de forma mais efetiva da performance financeira e o comportamento dos

administradores do projeto, implicando também na redução dos custos do

financiamento.

Dentre as desvantagens dessa modalidade de financiamento podemos apontar a

complexidade deste tipo de transação, por envolver muitos agentes e contratos, que

procuram ser suficientemente abrangentes de forma a evitar qualquer brecha para o não

cumprimento de suas provisões. Esta característica também implica em altos custos de

assessoria legal.

Ao adotar um Project Finance o acionista está também se comprometendo a relatar

todas as suas decisões e atos administrativos e financeiros aos financiadores, através de

relatórios regulares: de investimentos físicos, operacionais e situação contábil e

financeira. Esta abertura de informações, somada ao fato de todos os contratos

relacionados ao projeto constituírem parte das garantias fornecidas aos credores,

garantindo a estes, portanto, poder de intervenção em muitas das decisões a serem

tomadas, pode ser considerada como mais uma desvantagem na medida que restringe o

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poder de decisão do acionista sobre o projeto.

Projetos cuja tecnologia é complexa e pouco experimentada, ou onde o risco de

mercado não permite uma previsibilidade adequada para o fluxo de caixa do projeto são

dificilmente financiados na modalidade em análise. Normalmente nestas circunstâncias

os financiadores provavelmente requererão garantias corporativas dos acionistas, que,

dependendo do nível de exigência, pode vir a tornar o financiamento praticamente

corporativo.

Outra desvantagem a ser considerada é o maior custo dos empréstimos. Dependendo

dos riscos do projeto a ser financiado, e das soluções encontradas para sua mitigação, o

custo de captação da nova empresa pode vir a ser superior ao custo de sua controladora,

empresa já estabelecida com ativos e um histórico de desempenho financeiro.

Como se pode notar, o Project Finance apresenta vantagens e desvantagens que devem

ser analisadas ad hoc, não se tratando de uma receita aplicável a qualquer investidor,

projeto ou setor. Para sua implementação os objetivos a serem atingidos devem ser

considerados antes da decisão de sua aplicação.

Essa modalidade possui grande utilidade para aqueles projetos que envolvam um grupo

de acionistas, prática comum em projetos de infra-estrutura, principalmente para aqueles

acionistas que não possuem recursos suficientes para cobrir toda a necessidade de

investimento do projeto e não pretendem sobrecarregar seus balanços com dívida

adicional para o projeto. Ela também permite que os investidores dividam entre si,

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acionistas ou financiadores, o risco de investir seus recursos em projetos de infra-

estrutura, muitas vezes fora de seu país de origem.

A análise das vantagens e dificuldades de se implementar o Project Finance é o

primeiro passo para a decisão de adotar ou não essa modalidade. O conhecimento do

contexto macroeconômico, político e legal do país onde o projeto será instalado também

é relevante para esta análise.

É condição para a implementação do Project Finance a existência de um ambiente

macroeconômico e legal estável, que permita um nível aceitável de previsibilidade da

geração de caixa do projeto, assim como do comportamento dos agentes envolvidos e da

validade jurídica dos contratos firmados. Este é um dos principais desafios para a

implementação dessa modalidade de financiamento em mercados emergentes.

Segue uma breve análise do ambiente macroeconômico e legal brasileiro buscando

identificar as principais dificuldades encontradas pelos investidores de projetos de infra-

estrutura e seus financiadores.

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CAPÍTULO 3

UMA AVALIAÇÃO DO PROJECT FINANCE NO BRASIL:

A EXPERIÊNCIA RECENTE, FATORES LIMITADORES E

PERSPECTIVAS DE IMPLEMENTAÇÃO

Introdução

O objetivo deste capítulo é analisar a aplicação recente do Project Finance no Brasil,

buscando apresentar as principais dificuldades encontradas pelos investidores e

financiadores no campo legal, macroeconômico e político. Uma breve análise do perfil

dos agentes econômicos envolvidos também é desenvolvida ao final do capítulo.

3.1 A experiência recente

3.1.1 Breve descrição do ambiente legal das parcerias público/privadas no Brasil

A concessão e permissão de prestação de serviços públicos no Brasil é regulamentada

pela Lei 8.987, de 13 de fevereiro de 1995 (a “Lei das Concessões”) e pela Lei 9.074, de

7 de julho de 1995, que foram criadas com o objetivo de regulamentar o artigo 175 da

Constituição Federal, que já previa concessão de serviços públicos a agentes do setor

privado. Desta forma, com a Lei das Concessões, instituiu-se um ambiente legal para a

exploração de serviços públicos, atividade antes limitada a empresas sob o controle

acionário das três esferas de Governo.

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Tendo em vista o novo contexto onde a parceira entre a iniciativa privada e o setor

público é inevitável, a Lei das Concessões buscou não só regulamentar a outorga de

concessões, mas procurou também tratar daqueles assuntos relevantes para o

estabelecimento de condições de investimento e retorno satisfatórias aos investidores

privados. A Lei 9.074, complementar a Lei das Concessões, define que esta legislação

se dedica a regulamentar as concessões, permissões e autorizações nos seguintes

setores: vias federais; barragens, contenções, eclusas, diques e irrigações; estações

aduaneiras e outros terminais alfandegados de uso público, não instalados em área de

porto ou aeroporto; energia elétrica (geração, transmissão e distribuição);

telecomunicações; navegação aérea, aeroespacial e infra-estrutura aeroportuária;

transporte ferroviário e aquaviário interestadual; transporte rodoviário interestadual e

internacional de passageiros; portos; serviços locais de gás canalizado e mineração. A

Lei não abrange operações com petróleo e gás por se tratar na época de monopólio da

União e, segundo o artigo 41 da Lei das Concessões, serviços de rádio e televisão.

Ainda na Lei 9.074, segundo seu artigo 2º, estão dispensados de prévia autorização os

serviços de saneamento básico, limpeza urbana e determinados serviços de transporte,

tais quais: rodoviário de carga, rodoviário e aquaviário de passageiros com o objetivo de

turismo, dentre outros.

As concessões de serviço público só podem ser outorgadas através de licitação, de

acordo com a Lei das licitações (Lei 8.666, de 21 de junho de 1993). O artigo 15 da Lei

8.987 também determina que as concessões deverão ser outorgadas com base em: a)

menor valor da tarifa; b) maior oferta, nos casos de pagamento ao poder concedente

pela outorga da concessão; c) ambos critérios. As regras para a avaliação financeira,

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assim como os critérios que definem a inexiqüibilidade da proposta, deverão ser

definidos no edital de cada licitação, de acordo com as condições econômicas de cada

projeto. O artigo 18 define quais campos devem estar cobertos pelo edital de licitação.

O objetivo é que o edital reflita ao máximo todas as informações disponíveis sobre o

processo seletivo, o projeto e suas condições futuras de operação, e os direitos e

obrigações da concessionária, assim como a minuta do contrato de concessão. O

legislador pretende aqui promover a transparência do processo, e com isso incentivar a

concorrência.

O artigo 23, da Lei das Concessões, especifica quais as cláusulas essenciais ao contrato

de concessão de forma genérica, conforme apresentado abaixo. O detalhe deve ser

definido caso a caso no próprio contrato.

(I) “objeto, área e prazo de concessão;

(II) modo, forma e condições de prestação de serviços;

(III) critérios, indicadores, fórmulas e parâmetros definidores da qualidade do

serviço;

(IV) preço do serviço e critérios e procedimentos para o reajuste e a revisão das

tarifas;

(V) direitos, garantias e obrigações do poder concedente e da concessionária;

(VI) direitos e deveres dos usuários para obtenção e utilização dos serviços;

(VII) forma de fiscalização das instalações, dos equipamentos, dos métodos e práticas

de execução do serviço, bem como a indicação dos órgãos competentes para

exercê-la;

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(VIII) penalidades contratuais e administrativas a que se sujeita a concessionária e

sua forma de aplicação;

(IX) casos de extinção da concessão;

(X) bens reversíveis;

(XI) critérios para o cálculo e a forma de pagamento das indenizações devidas à

concessionária, quando for o caso;

(XII) condições para prorrogação do contrato;

(XIII) obrigatoriedade, forma e periodicidade da prestação de contas da

concessionária ao poder concedente;

(XIV) exigência de publicação de demonstrações financeiras periódicas da

concessionária;

(XV) foro e modo amigável de solução das divergências contratuais.

Se os contratos forem precedidos da execução de obra pública:

(I) cronogramas físico-financeiros de execução das obras vinculadas à concessão;

(II) requerimento de garantia do fiel cumprimento, pela concessionária, das

obrigações relativas às obras.”

Um dos pontos críticos para que a iniciativa privada esteja disposta a investir em uma

concessão seria a questão dos reajustes de preços, dado que a receita do projeto é fator

determinante não só para o retorno do projeto para o acionista, mas também para a

amortização dos financiamentos contraídos para a viabilização financeira do mesmo.

Tendo em vista isto, a Lei das Concessões introduziu não só a necessidade da cláusula

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de ajuste tarifário, como também trata da aplicação do conceito de “equilíbrio

econômico-financeiro”, conceito constitucional aplicado em contratos administrativos

firmados entre a esfera pública e privada.

O Conceito de “equilíbrio econômico-financeiro” permite a revisão da tarifa de forma a

preservá-la de acordo com as condições originalmente acordadas no contrato. Em outras

palavras, caso ocorram mudanças nos custos do projeto por motivos fora do controle da

concessionária, tais como custos derivados de mudanças de lei, eventos de força maior,

aumento de impostos, aumento de juros ou desvalorização cambial, as tarifas seriam

reajustadas, para mais ou para menos, de forma a restabelecer o equilíbrio econômico-

financeiro do projeto de acordo com a tarifa original. A Lei é bastante geral neste

sentido e o mecanismo de ajuste, a forma de aplicação e de resolução de disputas devem

ser determinados caso a caso em cada contrato de concessão, procurando abranger todas

as possibilidades de alteração das condições do projeto. Tal procedimento é de suma

importância na medida que gera garantias para os acionistas e para os financiadores

quanto à manutenção da viabilidade e das mesmas condições comerciais e financeiras

que os motivaram a apoiar o projeto.

No entanto, por se tratar de um conceito previsto para contratos administrativos, o

equilíbrio econômico-financeiro se enfraquece quando utilizado entre partes privadas,

havendo o risco de terminar em disputa judicial, risco que os financiadores não

pretenderão tomar e que potencialmente demandará algum tipo de suporte dos

acionistas, seja via garantias adicionais ou aportes contingentes de capital.

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A definição de como a concessão extingue-se, assim como as penalidades das partes e o

tratamento a ser dado para o ativo nesta situação também é de suma importância. A Lei

das Concessões define, em seu artigo 35, que a extinção da concessão pode se dar por:

termo contratual, encampação (retomada do serviço por parte do poder concedente

durante prazo da concessão), caducidade (falha da concessionária em cumprir com os

temos do contrato), rescisão, anulação e falência ou extinção da concessionária.

Extinta a Concessão retornam ao poder concedente todos aqueles “bens reversíveis,

direitos e privilégios transferidos ao concessionário conforme previsto no edital e

estabelecido no contrato.” (Lei 8.987, Art. 35º, §1º).

No caso de termo contratual e encampação a reversão dar-se-á com indenização dos

investimentos não depreciados. Normalmente a forma de cálculo de tais indenizações

não é explicitada nos contratos de concessão, o que consiste em mais uma dificuldade

para operações de Project Finance na medida que gera incerteza quanto ao valor e sua

capacidade de saldar a dívida remanescente.

No caso de caducidade a Lei possibilita que o contrato contemple disposições

estabelecendo deduções, no caso das multas e danos causados pela concessionária, a

serem feitas da indenização paga.

No caso de rescisão, anulação e falência ou extinção da empresa concessionária, a Lei

não é clara, parecendo indicar que a reversão dar-se-ia sem qualquer tipo de

indenização.

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Os artigos 27 e 28 tratam da oferta de garantias vinculadas à concessão. A transferência

da concessão sem autorização do poder concedente implica em extinção da mesma, daí

é vedado o oferecimento do direito à concessão em garantia. No entanto, é permitido o

oferecimento dos direitos emergentes da concessão tais como recebíveis e ativos não

transferíveis ao poder público, desde que não comprometam a continuidade e a

operação do serviço. Como será visto mais a frente, ainda há dúvidas quanto à forma de

exercício de garantias sobre os direitos emergentes da concessão.

Segundo Clifford Chance (1995), “o Presidente vetou um dispositivo que

proporcionaria garantias de receita mínima ou subsídios por parte do poder concedente

para a Concessão. Ao vetar tal dispositivo, o Presidente deixou claro que o suporte

governamental é contrário ao estímulo da eficiência operacional das concessões

outorgadas ao setor privado.“

De fato, a garantia de pagamentos mínimos por parte do Governo poderia gerar

comportamentos oportunistas por parte dos gestores das concessionárias. Estas

poderiam satisfazer-se apenas com a renda mínima gerada, não implementando as

melhorias necessárias para ampliar o número de usuários ou estender a cobertura do

serviço.

Entretanto, muitas vezes esta pode ser a solução para aqueles projetos que não são

interessantes em termos econômicos para a iniciativa privada. Este é o caso de algumas

rodovias, hidrovias, projetos de transporte urbano e até mesmo hospitais e

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penitenciárias. Descartando-se completamente esta possibilidade pode-se estar

dispensando uma alternativa válida para projetos “inviáveis” do ponto de vista do

investidor privado. Em algumas situações o apoio do Governo poderia atrair

investidores e resultar em ganhos sociais.

Há também projetos de infra-estrutura que não dependem de concessão mediante

licitação, como a geração termelétrica de energia, por exemplo, com exceção de usinas

nucleares. Segundo o Artigo 6º da Lei 9.074: “As usinas termelétricas destinadas à

produção independente poderão ser objeto de concessão mediante licitação ou

autorização.”. Conforme o Artigo 7º: “São objeto de autorização: I – a implantação de

usinas termelétricas de potência superior a 5.000 KW. (...)”. A autorização, assim como

a permissão, não precisa ser antecedida de licitação. O processo normalmente se inicia

quando um agente privado localiza uma oportunidade de investimento e apresenta seu

estudo à ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), que demandará estudos

técnicos e ambientais para avaliar o pedido. Um exemplo disto são as termelétricas de

Araucária (PR) e Paulínia (SP).

Outro movimento bastante comum é aquele onde distribuidoras estaduais de

eletricidade, ou mesmo geradoras, como é o caso da Eletronorte, abrem licitações para a

aquisição de energia. Nestas licitações o critério é o do menor preço, e o vencedor

assinará um contrato de Compra e Venda de Capacidade e Energia Associada por

determinado prazo, assumindo a responsabilidade de construir e operar uma usina

termelétrica. São exemplos: UTE de Cuiabá (MT), onde o comprador é a Eletronorte;

UTE de Uruguaiana (RS), onde o comprador é a CEEE; UTE de Pecém (CE), onde o

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comprador é a COELCE.

3.1.2 A atuação do BNDES no financiamento de projetos de infra-estrutura

O objetivo deste item é traçar um quadro geral dos projetos de infra-estrutura que foram

financiados pelo BNDES até então, e daqueles que estão em processo de análise (due

diligence) pelas instituições financeiras.

Como já foi mencionado o BNDES vem acompanhando e participará no financiamento

de grande parte dos projetos de infra-estrutura em andamento.

Um dos primeiros projetos que o BNDES procurou apoiar utilizando as receitas como

principal garantia foi a estrada SC-400/401 em Santa Catarina, ligando o centro da

cidade de Florianópolis à região de praias. Tal financiamento, contratado em 1995, não

se tratou de um Project Finance, no entanto representou um primeiro movimento do

BNDES neste sentido.

Posteriormente o BNDES participou do financiamento de diversas rodovias, dentre elas

a Rio - Juiz de Fora (BR-040), a Ponte Rio Niterói, a Rodovia Presidente Dutra

(interligando a cidade do Rio de Janeiro à cidade de São Paulo) e a Linha Amarela (Rio

de Janeiro), as duas últimas realizadas em conjunto com o IFC e BID respectivamente.

Em cada uma delas o banco foi aperfeiçoando sua compreensão e buscando aplicar o

conceito de Project Finance, fornecendo financiamentos ao projeto, e não aos

acionistas, e reduzindo a demanda de garantias dos últimos.

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Recentemente, o estabelecimento da nova regulamentação do setor elétrico teve como

conseqüência o surgimento de inúmeros projetos no setor. O BNDES vem também

atuando de forma expressiva, analisando e buscando estruturar financiamentos na

modalidade Project Finance para projetos de geração hidrelétrica e termelétrica em

conjunto com agências multilaterias (IFC, BID e OPIC). Estão em processo de

fechamento do financiamento, em conjunto com o BID, as usinas hidrelétricas de Itá,

1.450 MW e US$ 950 milhões de investimentos, e Machadinho, 1.140MW e US$ 600

milhões, ambas localizadas na fronteira entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A

termelétrica de Uruguaiana (Rio Grande do Sul, 600MW e US$ 315 milhões), movida a

gás natural, também está na fase final de financiamento, provavelmente em conjunto

com a OPIC. A hidrelétrica de Cana Brava (450 MW), localizada no Rio Tocantins e

controlada pela Gerasul, obteve em 1998 financiamento de longo prazo do BNDES,

para aproximadamente 60% de seus investimentos, com características bastante

próximas ao Project Finance e no momento está negociando com o BID o

refinanciamento de parte do financiamento do BNDES.

Tais financiamentos apresentaram ou apresentarão características muito próximas do

Project Finance, como o estabelecimento de uma EPE, o uso de garantias baseadas na

receita do Projeto, a transferência dos direitos dos seguros para o financiador, mas vêm

enfrentando diversas dificuldades para sua aplicação, o que será discutido no próximo

item.

O BNDES vem também procurando financiar o setor de água e saneamento. Dentre os

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projetos já contratados temos a Concessão de Jundiaí (São Paulo, US$ 20 milhões) e Itu

(São Paulo, US$ 18,5 milhões).

Em fevereiro de 1999 o BNDES apresentava 9 projetos de telecomunicações em estudo,

envolvendo telefonia celular e fixa, representando investimentos equivalentes a US$

15,7 bilhões.

A instituição, que este ano apresenta orçamento estimado em R$ 18 bilhões, apresentou

em 1997 desembolsos superiores a instituições como o BID e o próprio IFC (que

apresentaram respectivamente US$ 5,4 bilhões e US$ 2 bilhões de desembolsos em

1997, contra US$ 16,5 bilhões do BNDES).

Mesmo assim, devido à grande demanda por recursos e à necessidade de apoiar outros

setores o BNDES já vem enfrentando uma restrição orçamentária. Desta forma sua

participação em determinados setores foi reduzida para a faixa de 30 a 40% dos

investimentos, quando antes poderia atingir até 65%.

As principais fontes de obtenção de seus recursos são: o FAT (Fundo de Amparo ao

Trabalhador) e o PIS/PASEP, empréstimos obtidos com instituições multilaterais,

emissão externa de títulos e recursos próprios (geração de caixa de suas próprias

operações). Segue a evolução recente das fontes de recursos do BNDES:

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Quadro 10: Principais Itens do Passivo do BNDES

(US$ milhões)Fonte 1996 1997 1998 Mar/ 1999FAT 17.622 20.897 23.125 17.653 % Total Passivo 39% 39% 35% 38%PIS/PASEP 13.469 14.003 13.832 10.276 % Total Passivo 30% 26% 21% 22%Recursos Externo (1) 2.124 3.506 9.025 4.822 % Total Passivo 5% 7% 14% 10%Acionistas 9.655 9.352 8.535 (2) 6.285 % Total Passivo 22% 18% 13% 14%Outros 1.856 5.211 12.310 7.463 % Total Passivo 4% 10% 16% 18%Total Passivo 44.726 52.969 66.827 46.499Fonte: BNDES News – abr/ jun 1999.Nota: (1) Financiamentos de instituições multilaterais, emissão de títulos no mercado internacional eempréstimos externos. (2) O BNDES distribuiu US$ 490 milhões em dividendos no último trimestre de1998.

Observando a evolução do passivo do BNDES, pode-se notar que os recursos do PIS-

PASEP vêm apresentando redução progressiva nos últimos anos, o que ocorre devido ao

fato de sua arrecadação ter sido substituída pelos recursos do FAT30 (Fundo de Amparo

ao Trabalhador), quando da criação deste fundo em 1988.

Por outro lado o saldo dos recursos externos vem crescendo como parte do esforço de

diversificação e ampliação de sua base de captação para atender a crescente demanda

por recursos de longo prazo. A captação externa é composta por recursos de instituições

multilaterais e emissões de títulos no mercado internacional.

O BNDES não só provê financiamento de longo prazo diretamente ao projeto, mas

também vem buscando incentivar o desenvolvimento do financiamento de longo prazo

no Brasil através da criação de instrumentos que incentivem bancos nacionais privados,

30 Pelo menos 40% deste fundo é alocado ao BNDES.

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e outras instituições de investimento, a participarem de tais financiamentos aceitando

prazos mais longos. Este é o caso do financiamento no valor de R$ 394 milhões

fornecido pelo o prazo de 15 anos por 13 bancos nacionais e estrangeiros, liderados pelo

Unibanco, como repasse de recursos do BNDES para a aquisição dos tubos de aço

fabricados pela Confab destinados ao Gasoduto Bolívia-Brasil. Nestas estruturas de

repasse os recursos são originários do BNDES mas o banco comercial, agente

repassador, assume o risco comercial da operação por isso e negocia a estrutura da

garantia a ser oferecida pelo tomador do empréstimo.

Uma forma adicional de apoio a projetos de infra-estrutura, disponibilizada junto com

os financiamentos da instituição, é o estabelecimento de uma linha stand-by, isto é uma

linha de crédito que não é desembolsada de imediato, sendo disponibilizada para

utilização em caso de perdas de caixa advindas de desvalorização cambial e flutuações

das taxas de juros disponibilizadas pelo BNDES (TJLP ou Cesta de Moedas)31. Este

instrumento foi desenvolvido para reduzir a exposição daqueles projetos cujo

financiamento envolve moedas estrangeiras, normalmente dólares, para as quais

instrumentos de proteção não estão disponíveis no mercado nacional a custos que

viabilizem sua utilização, e cuja receita não prevê ajustes à variação cambial. Neste caso

o prejuízo é assumido pelo acionista do projeto uma vez que a dívida aumentará, e com

isso o serviço da dívida, reduzindo o caixa disponível para o retorno do capital. No

entanto esta medida traz segurança para os financiadores internacionais para o caso de

desvalorizações, facilitando e reduzindo os custos destes créditos.

31 TJLP – Taxa de Juros de Longo Prazo criada pelo Banco Central em dezembro de 1994 para aplicaçãoa financiamentos de longo prazo. A Cesta de Moedas ou UM-BNDES trata-se de uma outra taxa de jurosdisponibilizada pelo BNDES e combina os juros das captações internacional do banco e a variaçãocambial das moedas dos empréstimos.

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Uma iniciativa ainda em desenvolvimento é o TPR (Título de Participação em Receita

de Serviço Público Concedido), cujo projeto de lei que está em análise no Senado, em

fase final de redação. O TPR consiste em um título mobiliário, registrado junto à CVM

– Comissão de Valores Mobiliários, representativo de parte da receita da concessão,

tratando-se de um título de propriedade, e não de crédito. Estas características podem

ser observadas no Artigo 3º do Projeto de Lei do Senado, Nº216, 1997, a seguir:

“§1º - A subscrição de TPR importará na cessão, pela concessionária, com anuência

do poder concedente e na aquisição, pelo investidor, da titularidade da participação no

percentual da receita da concessão.”

“§2º - Os valores correspondentes ao percentual da receita da concessão não

integrarão, para qualquer fim de direito, a receia bruta das vendas e serviços da

concessionária.”

O projeto de Lei também prevê o direito de intervenção aos investidores que

representem 51% do valor total de cada subscrição de TPR.

A principal vantagem deste título sobre as debêntures tradicionais é portanto o

estabelecimento de mecanismos de proteção ao investidor no caso de falência da

concessionária ou perda da concessão, dado que o título é vinculado ao objeto da

concessão. Uma outra vantagem seria a isenção de tributos sobre ganhos de capital

decorrentes da vendo do TPR, o que busca incentivar a formação de um mercado

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secundário para este título.

Há, no entanto, algumas limitações impostas à utilização destes títulos:

• aplicam-se apenas a Concessões (não se aplicariam a projetos de infra-estrutura com

autorização);

• não podem representar mais que 50% do valor do investimento total do

empreendimento;

• é necessário um aporte de recursos próprios de no mínimo 20% do valor total dos

investimentos;

• não podem ser adquiridos por empresa ou controlador do mesmo grupo econômico

da concessionária;

• não são resgatáveis, conversíveis ou permutáveis por qualquer participação

acionária ou títulos de crédito da concessionária.

Tendo em vista o que foi dito, o fim último do BNDES com o estabelecimento do TPR

seria criar um instrumento financeiro que possibilite o financiamento de investimentos

em infra-estrutura via mercado de capitais. Dessa forma, em um estágio inicial, o

BNDES estruturaria parte de seus financiamentos em TPRs, para num futuro próximo,

quando os agentes financeiros privados estiverem menos avessos a investimentos de

longo prazo, ou mesmo quando os principais riscos dos projetos normalmente

experimentados na fase de implantação tiverem sido superados, revender tais títulos,

liberando seus recursos para novos investimentos.

Outro objetivo seria aplicar políticas de incentivo a investimentos privados em infra-

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estrutura, através de redução de impostos para este tipo de aplicação.

A utilização do TPR também será um instrumento útil para envolver investidores

institucionais nacionais, principalmente fundos de pensão e seguradoras, cujo perfil de

longo prazo de suas obrigações não encontram instrumentos de investimento no

mercado financeiro nacional. Esta pode ser uma alternativa bastante próxima de ser

implementada, e seu mercado crescerá conforme o prazo de aplicações no mercado

financeiro nacional se alargue.

3.2 Fatores Limitadores Característicos do Contexto Macroeconômico e

Legal Brasileiro

Uma das dificuldades para se implantar o Project Finance no Brasil é a incerteza quanto

à situação macroeconômica. Em função da recente crise mundial, que se seguiu a crise

no Sudeste Asiático, e da crise cambial e fiscal brasileira, os mercados internacionais se

tornaram mais fechados para financiamentos ao Brasil. Se antes era importante o

desenvolvimento de mecanismos que canalizassem e facilitassem a provisão de recursos

de longo prazo em Reais, a partir de instituições nacionais, para o financiamento de

projetos, hoje, e provavelmente nos próximos dois anos quando os efeitos da crise ainda

serão sentidos, isso é fator determinante para o financiamento de tais projetos.

Independentemente da disponibilidade ou não de recursos externos a custos cada vez

mais baixos para o financiamento de projetos, a dependência de tais recursos gera

desconforto aos investidores de projetos de infra-estrutura por uma razão bem simples:

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suas receitas são geradas em moeda nacional este passivo é captado em dólares. Por

outro lado, a maior parte dos contratos de compra de serviços, ou de concessão, não

prevêem a indexação das tarifas a moedas estrangeiras, e não há no mercado nacional

mecanismos de proteção (hedging) contra variações cambiais a custos razoáveis.

No entanto, há situações em que a utilização de financiamentos vinculados a moedas

estrangeiras é necessária para evitar o risco cambial da compra de bens importados ao

longo do prazo de construção do projeto. Este é o caso das termelétricas, onde mais de

60% do valor de seus equipamentos e serviços são importados e os prazos de construção

pode alcançar 2 anos ou mais. Nestes casos a impossibilidade de reajustar a tarifa

transfere o risco cambial para a fase de operação, onde custos em moeda estrangeira

estarão descasados de receitas em moeda local.

A possibilidade de indexação das tarifas vinculada à variação cambial trata-se de uma

área nebulosa, que alguns juristas acreditam ser possível baseando-se no Decreto Ouro,

outros possuem a interpretação de que o Decreto Ouro se aplica estritamente a contratos

de financiamento e produtos importados. A legislação que estabeleceu o “Real”, Leis

8.880, de 1994, e 9.069, de 1995 proíbe a indexação de preços e pagamentos à variação

de cotações de moeda estrangeira, com exceção do é permitido no Decreto-lei 857, de

1969, o Decreto Ouro, que permite a estipulação de pagamentos em moedas estrangeiras

apenas para pagamentos relativos a contratos de importação, empréstimos internacionais

ou outras obrigações internacionais, aplicando-se a relações contratuais entre agentes

nacionais apenas se houver efetiva transferência de tais obrigações.

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A periodicidade mínima de um ano para qualquer tipo de indexação, também

estabelecida na legislação do Real, não aplicável aos contratos e obrigações previstos no

Decreto Ouro, trata-se de mais uma dificuldade na medida que caso haja uma

desvalorização do Real em algum ponto do período anual de ajuste as perdas são

assumidas pelo projeto até que ocorra o novo ajuste, gerando portanto um descasamento

temporário entre receitas e despesas, e possivelmente uma perda monetária

irrecuperável no período até o reajuste.

Em função da divergência quanto à aplicação ou não do Decreto Ouro ao reajuste de

tarifas de empresas que possuem dívida em moeda estrangeira, muitos dos contratos de

concessão, ou de contratação de serviços de infra-estrutura, não prevêem a vinculação

do ajuste das tarifas ao valor do dólar, moeda estrangeira dominante no passivo das

concessionárias e empresas prestadoras do serviço de infra-estrutura. Dessa forma, a

incerteza quanto à possibilidade de indexação à moeda dos passivos, assim como da

remuneração de investidores estrangeiros, e a introdução do prazo mínimo de um ano

para reajustes de preços, gera um risco que os investidores e financiadores não desejam

assumir.

Uma possível conseqüência da impossibilidade de indexação em moeda estrangeira com

o objetivo de mitigar os custos vinculados a outras moedas, seria o aumento dos preços

oferecidos nas concorrências para venda de serviços, e redução do pagamento

relacionado com a outorga da concessão de serviços de infra-estrutura. Em outras

palavras, com passivos em dólar uma nova desvalorização do Real acarretaria às

concessionárias e autorizadas um aumento de custos sem correspondente aumento de

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receita, deteriorando assim o retorno do projeto e a capacidade de remuneração e

amortização de sua dívida. Diante da inexistência de alternativas para lidar com este

risco, um impacto imediato seria no preço dos serviços oferecidos. Os investidores

teriam de incluir em seu preço o impacto deste risco e dos custos que teriam de incorrer

para se proteger de desvalorizações cambiais através de derivativos no mercado

financeiro ou da compra de NTN (Notas do Tesouro Nacional) ou NBC cambiais (Notas

do Banco Central) com remuneração vinculada ao dólar. No entanto cabe acrescentar

que tais instrumentos apresentam liquidez muito baixa, muitas vezes inexistente e não

oferecem proteção de longo prazo.

Mais do que isso, a impossibilidade de indexação daqueles custos denominados ou

vinculados à moeda estrangeira pode resultar em uma situação onde os investidores

optem por desenvolver apenas os projetos mais rentáveis e dispensem aqueles que não

apresentem uma rentabilidade satisfatória para compensá-los pelos riscos aos quais

estariam expostos. Nesse caso, diante do insucesso da atração de parceiros privados, só

restaria ao Estado desenvolver os projetos menos rentáveis, o que seria pouco provável

diante do seu atual quadro fiscal.

A questão da indexação vem sendo abordada em alguns dos contratos recentemente

estabelecidos para projetos de geração termelétrica. Alguns dos projetos deste tipo,

cujos contratos de compra de energia já foram assinados, incorporaram em suas

cláusulas de revisão tarifária a possibilidade de incorporação da variação cambial,

aplicada apenas àquela parcela da tarifa cujos custos variam de acordo com o câmbio.

Como foi dito, esta abordagem é questionável e não há posição definida quanto à sua

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validade jurídica.

Outros contratos de concessão de infra-estrutura se apoiam somente na cláusula de

“equilíbrio econômico-financeiro”, que poderia ser revisto em caso de alterações

macroeconômicas, como câmbio (assumindo que, por exemplo, caso a desvalorização

ultrapasse determinado patamar a revisão é acionada), juros e impostos. Este é muitas

vezes o caso dos contratos de rodovias e de certos contratados de compra de energia que

não envolvem concessões de serviço público. No entanto, apesar destas provisões terem

sido incorporadas em ambos contratos, ainda não há certeza quanto a sua aplicabilidade

em termos legais.

A crise asiática, seguida pela crise Russa, juntamente com a situação fiscal nacional

dificultou o gradualismo da política econômica, culminando na flutuação do câmbio em

janeiro de 1999 e na conseqüente maxi-desvalorização. Os efeitos da “maxi” afetaram

todos os projetos e empresas que contraíram dívidas em dólar e que dependiam de

componentes importados, equipamentos e combustível. Diante disso, e da percepção

que sem o ajuste das tarifas de venda de eletricidade há o risco de inviabilização dos

projetos de energia elétrica, a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica vem

buscando estabelecer regulamentação sobre o assunto. Recentemente, a ANEEL emitiu

a resolução do Valor Normativo, Resolução 233, de 29 de julho de 199932. Através do

Valor Normativo a ANEEL procura estabelecer limites para repasse dos preços

estabelecidos nos contratos bilaterais de compra de energia elétrica ao consumidor final,

criando um incentivo para que as distribuidoras de energia busquem negociar preços

32 Complementa a Resolução 266, de 1998.

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mais baixos de compra de energia. O reajuste do Valor Normativo também fica limitado

às proporções definidas na futura resolução, para reajuste das tarifas à inflação

doméstica (mínimo de 30% do valor normativo), variação cambial e custo dos

combustíveis, no caso da geração termelétrica. Analisando sucintamente a iniciativa da

ANEEL, cabe uma observação: tal limitação poderia acarretar dificuldades aos novos

empreendimentos de geração caso não sejam estabelecido tetos apropriados para o

Valor Normativo, podendo até mesmo impossibilitar novas plantas em determinadas

regiões, onde, por exemplo, o combustível é mais caro.

Uma questão que ainda não está muito clara é o fato desta resolução permitir que o

reajuste do Valor Normativo seja vinculado em parte à variação cambial, enquanto a

legislação federal que fundamenta o Plano Real o proíbe.

A impossibilidade de estabelecimento de contas reservas fora do país para garantir o

serviço da dívida em dólares, meio normalmente utilizado para mitigar não só o risco

comercial, mas principalmente o risco de transferência e convertibilidade da moeda e o

risco de desvalorização cambial não repassada inteiramente às tarifas, trata-se de mais

uma dificuldade para a mitigação do risco cambial. Tal impossibilidade pode vir a ser

um dos principais elementos restritivos ao financiamento em moeda estrangeira para

projetos de infra-estrutura, mais especificamente aqueles cujas receitas originam-se

exclusivamente de contratos de longo prazo, tendo portanto um limite para o aumento

de suas receitas na medida que os volumes e preços estão fixos.

O uso de instrumentos de dívida no mercado de capitais nacional fica limitado devido à

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mentalidade “curto-prazista” dos investidores nacionais e à qualidade das garantias,

dado que a única garantia que os projetos poderiam fornecer seriam os direitos

emergentes da concessão, seus recebíveis, cuja aplicação e validade jurídica não está

totalmente clara para os agentes, e em alguns casos, como os projetos que não envolvem

Concessão, seus ativos. Outra dificuldade é que no caso de falência estes credores

teriam que aguardar a conclusão do processo falimentar e situar-se-iam em posição

inferior aos empregados da empresa e ao Governo, para o recebimento de dívidas

fiscais, na ordem dos beneficiados.

Uma outra área nebulosa quanto ao pacote de garantias seria a utilização dos Direitos

Emergentes da Concessão. Sua aplicação não é clara, nem mesmo no que diz respeito

aos procedimentos necessários para acessá-los em caso de não pagamento da dívida

como quanto ao prazo necessário para tal. Isso se trata de mais uma dificuldade para o

financiamento de projetos na modalidade Project Finance na medida que a última coisa

que os financiadores desejam é não receber seus pagamentos (principal e dívida) e

possuírem garantias que não possam ser exercidas.

Em caso de falência, ou em determinados eventos de falha da concessionária, a prática

internacional prevê que os financiadores tenham o poder de intervenção no projeto,

cujas condições prévias e prazos têm que estar previstos no contrato de concessão e no

contrato de financiamento. Normalmente, em uma situação de intervenção os

financiadores teriam que apresentar ao Poder Concedente as medidas recomendadas e

caso o problema não seja solucionado o Poder Concedente teria de substituir os

acionistas por outros capacitados a desenvolver o projeto. Os financiadores buscarão

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influenciar nesta decisão, indicando que os investidores com os quais se sentem

confortáveis do ponto de vista econômico e técnico. No caso de projetos que não

envolvam uma Concessão os financiadores por si só buscarão novos investidores. No

entanto, os Contratos de Concessão no Brasil não contemplam esta possibilidade de

intervenção por parte dos financiadores.

Como foi discutido no capítulo 2, os aspectos jurídicos são de grande relevância na

estruturação de um Project Finance dada a complexidade apresentada pelos arranjos

contratuais. Cabe a este respeito uma breve discussão sobre o contexto jurídico

brasileiro, baseado em leis e normas, em comparação ao contexto jurídico do direito

anglo-saxão, baseado nos costumes.

No sistema jurídico brasileiro a lei é quem define em última instância as relações

contratuais enquanto que no regime consuetudinário as relação contratual se baseia na

experiência anterior. Dessa forma é importante ter em mente esta distinção básica dos

regimes jurídicos implica na necessidade de adaptação dos preceitos jurídicos aplicados

a muitos dos financiamentos internacionais, de forma a eliminar riscos adicionais

acarretados pela não validade de determinadas provisões contratuais no país.

As operações de Project Finance também necessitam de um ambiente legal que permita

a resolução de divergências contratuais de forma rápida e transparente através da

arbitragem (na forma de acordos extrajudiciais), instrumento recentemente introduzido

na legislação brasileira e ainda de pouco uso. Uma dificuldade derivada deste fato é que

a resolução de divergências pode demorar muito tempo percorrendo várias instâncias

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jurídicas.

O Risco Político é um outro fator que vem a prejudicar o investimento em projetos de

infra-estrutura no País. Os investidores e financiadores podem mitigar alguns destes

riscos através de seguros contra risco político, que em geral cobrem: expropriação;

violência política; convertibilidade e transferência de moeda. No entanto há outros

riscos não menos importantes que não encontram cobertura, tais como: Mudança na Lei;

atos arbitrários do órgão regulador, como por exemplo atrasos ou recusa em emitir

renovações de licenças ou aprovações; e greves de caráter regional ou nacional.

Tais riscos são vistos como altos no Brasil, principalmente em função de algumas

experiências recentes no setor de rodovias, envolvendo o Programa de Concessões de

Rodovias do Estado do Paraná e da Rodovia Via Lagos, que liga o Rio de Janeiro à

Região dos Lagos. Em ambos os casos, por se tratarem de rodovias sem histórico de

pedágio, houve uma reação popular muito grande contra os valores cobrados. Diante

disto, os Governos estaduais implementaram uma revisão tarifária unilateral, que no

caso das Rodovias do Paraná chegaram a uma redução de 50% das tarifas, com

recuperação total apenas após o décimo ano de concessão.

A recente medida adotada pelo Ministério dos Transportes, diante da greve dos

caminhoneiros e da solicitação de redução dos pedágios, impedindo o reajuste das

tarifas de pedágio das concessionárias rodoviárias, sem dúvida compromete mais ainda

a confiança do investidor privado e dos financiadores no cumprimento do Estado de

suas obrigações contratuais. Este tipo de medida desencoraja tanto o investidor quanto o

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financiador, pois uma vez implementada não só terá efeitos sobre o retorno do

investimento de ambas as partes, como também ficará a incerteza quanto a outras

medidas que podem vir a ser tomadas em prejuízo da concessionária e quanto à validade

jurídica dos contratos de concessão no Brasil.

3.3 Agentes Envolvidos

Os projetos de infra-estrutura no Brasil despertaram o interesse de empresas nacionais e

internacionais. No caso das empresas nacionais, os principais agentes são:

• Construtoras: com a redução do papel do Estado na execução de obras públicas,

principal componente das carteiras de pedidos destas empresas, as construtoras

tiveram que redirecionar suas atividades representando no momento um dos

principais agentes nacionais a investirem em projetos de infra-estrutura, desde

rodovias a projetos de telecomunicações.

• Distribuidoras nacionais: algumas distribuidoras de energia elétrica expandiram sua

atuação a nível nacional, como é o caso da Cataguazes-Leopoldina e do Grupo

Rede, e tendem a ser grandes atores no desenvolvimento de projetos ligados à

energia elétrica.

• Fornecedores de Equipamentos e material de construção: empresas como a Inepar e

o Grupo Votorantim, que também se trata de um grande consumidor de eletricidade,

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expandiram sua atuação no setor de infra-estrutura: de fornecedores passaram a

investidores. O primeiro vem atuando em telecomunicações e geração hidrelétrica e

o segundo atua na área de distribuição de energia, através de sua joint venture com o

Bradesco e a Camargo Corrêa, e na área de geração elétrica.

• Empresas siderúrgicas e de alumínio: tais empresas nacionais vêm investindo em

diversos projetos a fim de garantir seu fornecimento de energia elétrica, uma de suas

principais matérias-primas.

• Fundos de pensão: os fundos de pensão têm participado de alguns projetos de

transporte envolvendo ferrovias, portos e rodovias, mas sua participação em projetos

de infra-estrutura é ainda limitada. Tratam-se no entanto, de um dos potenciais

investidores, principalmente através de instrumentos de dívida.

• Petrobrás: através de um programa de projetos de co-geração a Petrobrás vem

promovendo diversos projetos a serem desenvolvidos em suas refinarias em

conjunto com a iniciativa privada. Somado a isto a empresa vem participando de

outros projetos de geração como fornecedora de combustível e acionista. No setor

de exploração e produção de petróleo ela lançou um programa de parcerias com

mais de 20 projetos em andamento.

• Eletrobrás: a legislação atual permite que a Eletrobrás participe de empreendimentos

de energia elétrica, com concessão de serviço público, com posição minoritária. A

empresa espera que em breve esta permissão seja estendida a projetos que envolvam

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107

autorizações. Desde então a empresa vem buscando apoiar projetos de geração

através de participação acionária preferencialista, com prazo definido para recompra

das ações. A intenção é apoiar os projetos naquele período onde os riscos são

maiores, ultrapassados os riscos a empresa se retiraria.

Os investidores internacionais também são bastante ativos neste setor, devido ao grande

número de oportunidades, a uma corrida para ganhar mercado e se estabelecer no País

antes da concorrência, e à atratividade dos negócios, que muitas vezes oferecem taxas

de retorno superiores àquelas proporcionadas por projetos similares em países em

estágio de desenvolvimento mais avançado. O alto retorno pode ser explicado por

inúmeros fatores, tais como: menor concorrência, grande demanda reprimida, parcela

dos custos locais mais barata.

Os principais agentes são descritos a seguir:

• Utilities/ developers: estas empresas são distribuidoras de energia, no sentido lato da

palavra, e possuem filiais para o desenvolvimento de projetos fora dos seus países

de origem (“developers”). Sua atuação no País é bastante intensa, e as principais

são: Enron (EUA), AES (EUA), El Paso (EUA), Intergen (EUA), British Gas (RU),

Tractebel (Bélgica), EDP (Portugal), EdF (França), dentre outras.

• Grandes companhias de petróleo: como resultado da reformulação da Lei do

Petróleo, e da abertura do mercado para agentes privados, as grandes companhias

estão em processo de estabelecer várias joint-ventures com a Petrobrás, algumas

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108

delas também estão buscando atuar na geração de energia elétrica, como é o caso da

Texaco, Shell e Amoco.

• Construtoras: algumas construtoras estão participando ativamente como acionistas

em projetos de rodovias e geração elétrica, são elas: Sideco (Argentina) , Impregillo

(Itália), Hochtief (Alemanha), Bechtel (EUA).

• Fornecedores de Equipamentos: estas empresas também, com o objetivo de atrair

novos negócios, num mercado cada vez mais competitivo, estão atuando como

acionistas de projetos de geração elétrica. É o caso da suíça ABB – Asea Brown

Boveri e da General Electric, através de sua subsidiária GE Capital .

• Trading Japonesas: estas empresas vêm atuando junto a Petrobrás para o

desenvolvimento de campos de petróleo e gás. As principais são: Mitsui, Marubeni e

Mitsubishi. A Marubeni vem também participando de projetos de geração elétrica,

como é o caso da usina termelétrica de Cubatão, através de sua controlada Sithe

(EUA), em conjunto com a Petrobrás, e de outras usinas ainda em fase de

planejamento.

3.4 Perspectivas de Implementação e Sugestões para promoção do Project

Finance

Diante das dificuldades apresentadas para a utilização do Project Finance, que podem

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109

vir a inviabilizar vários projetos, e buscando eliminar o gargalo que a infra-estrutura

nacional representa para o desenvolvimento econômico do País, cabe às autoridades

governamentais definirem uma estratégia de apoio a este tipo de financiamento, devido

às vantagens discutidas no capítulo 2.

A questão do funding nacional, isto é, da disponibilidade de recursos nacionais de longo

prazo, é algo a ser alcançado durante o processo de confirmação da estabilidade

econômica. No entanto o processo de estabilização econômica também requer recursos

de longo prazo, o que gera uma circularidade, cuja análise não se encontra no escopo

dessa dissertação.

A mesma circularidade existe no caso da implementação do Project Finance, ele se

apresenta como solução para a realização de investimentos de infra-estrutura com a

participação do BNDES e de investidores e financiadores internacionais, mas ele

também requer um ambiente legal, político e macroeconômico previsível. Diante deste

requerimento básico, algumas medidas precisam ser adotadas para a implementação do

que talvez seja a única forma de, no curto e médio prazo, desenvolver a totalidade dos

projetos de infra-estrutura necessários ao país.

As principais medidas que poderiam ser adotadas considerando as dificuldades

levantadas alo longo deste capítulo podem ser resumidas como:

1) Medidas que amenizem o Risco cambial:

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110

Diante do atual quadro macroeconômico brasileiro, caracterizado pela necessidade de

ajustes fiscais, um mercado de capitais pouco desenvolvido e a escassez de recursos de

longo prazo, e consequentemente pela necessidade de recursos externos para a expensão

da capacidade produtiva e para o desenvolvimento, pelo menos a curto e médio prazo,

da infra-estrutura nacional, é de fundamental importância que se possibilite mecanismos

de proteção ao investidor privado contra o risco cambial. Esta trata-se de uma discussão

muito ampla, que ao invés de esgotá-la pretende-se apenas introduzi-la, com

implicações na estrutura do plano Real. Algumas das medidas necessárias para se criar

um ambiente propício ao desenvolvimento de projetos com financiamentos e

investimentos em moeda estrangeira seriam:

• possibilidade de repasse do custo relativo aos recursos utilizados em dólar para o

preço final do serviço, o que necessariamente terá de passar pela alteração da Lei do

Real. Neste caso os reajustes poderiam ser anuais desde que fossem possíveis

revisões de preço no caso de aumentos acima de um determinado percentual

previamente acordado, o que demandaria uma maior confiança no mecanismo de

restabelecimento do “equilíbrio econômico-financeiro” em contratos firmados entre

agentes privados;

• possibilidade de estabelecimento de contas caução (contas reserva) fora do país de

forma a garantir um volume mínimo do serviço da dívida em dólar.

2) Combate a atitudes que aumentem o Risco Político:

Esta trata-se de uma questão bastante complexa, mas o Governo Federal deveria agir

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111

junto aos Governos Estaduais e Municipais de forma a proporcionar um ambiente

seguro para o investidor privado, e nesse sentido evitar a quebra de contratos firmados

com a iniciativa privada, muitas vezes contratos estes propostos pelo próprio Governo.

A existência de um histórico de não cumprimento de contratos corrobora a incerteza

quanto ao cumprimento de novos contratos.

3) Adoção de medidas que reforcem o Pacote de Garantias:

Como foi discutido ainda há incerteza quanto à aplicação dos direitos emergentes da

concessão em um pacote de garantias, sua validade jurídica, especialmente em caso de

falência da concessionária, ou empresa estabelecida para o projeto.

A inexistência de previsão ou a presença de elementos nos editais e contratos que

dificultam a intervenção dos financiadores em caso de inadimplência da empresa

estabelecida para o desenvolvimento do projeto ou de uma performance abaixo da

esperada, descumprindo cláusulas do contrato de financiamento, trata-se de mais uma

dificuldade na implementação de um pacote de garantias nos moldes internacionais.

4) Incentivo à participação de investidores institucionais nacionais e estrangeiros, e o

desenvolvimento de instrumentos como o TPR:

É importante incentivar a participação de investidores institucionais, nacionais e

estrangeiros, no financiamento de projetos. A importância do desenvolvimento de um

mercado nacional para a negociação de títulos de infra-estrutura (como por exemplo o

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112

TPR) possibilitaria a renovação da carteira do BNDES assim como a criação de mais

uma fonte para a captação de recursos de longo prazo. A atração de investidores

institucionais estrangeiros também é relevante pois representam uma fonte alternativa

de financiamento internacional dado que os financiadores internacionais tradicionais,

como o IFC e BID, já começam a apresentar restrições de recursos para o país, devido

ao excesso de projetos brasileiros em suas carteiras.

5) Desconhecimento do assunto:

Uma das grandes dificuldades para a implementação do Project Finance no Brasil é o

desconhecimento do assunto por parte dos agentes, das autoridades e órgãos

reguladores. É importante a ampliação do entendimento dessa modalidade e das práticas

internacionais que a fundamentam.

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113

CONCLUSÃO

O objetivo dessa dissertação foi descrever o Project Finance e apresentá-lo como um

importante instrumento para o financiamento à infra-estrutura. Essa modalidade mostra-

se também como uma alternativa para solucionar o atual momento de crise do setor de

infra-estrutura, que se caracteriza pelo alto volume de investimentos requeridos e

restrita disponibilidade de capitais domésticos em prazos compatíveis com a maturação

destes investimentos.

Como principais vantagens pode-se apontar o financiamento do projeto fora do balanço

patrimonial dos acionistas e a possibilidade de atingir altos níveis de alavancagem.

Estas vantagens resultarão certamente em benefícios para os projetos desenvolvidos no

país tendo em vista que, frente ao alto volume de investimentos necessários, os

investidores (acionistas) não teriam capacidade financeira de investir sozinhos ou captar

grandes volumes de recursos como dívidas alocadas em seu balanço. Sendo assim,

mesmo que um acionista tenha limitações para contrair dívidas, o próprio projeto poderá

fazê-lo na estrutura Project Finance.

Outra vantagem é o fato dessa modalidade possibilitar que empresas localizadas em

mercados emergentes, ou empresas com limitações de crédito, tenham acesso a recursos

de longo prazo para o desenvolvimento de projetos. Esta trata-se de uma vantagem

essencial, dado que não há disponibilidade de recursos de longo prazo no mercado local

para o financiamento de projetos, à exceção do BNDES, e mesmo empresas com alta

qualidade de crédito encontram dificuldade de obter prazos longos para captação no

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mercado internacional, como analisado no primeiro capítulo. Outro fator positivo

derivado da participação de investidores e financiadores externos, que não a oferta de

capitais de longo prazo, é o fato destes estarem familiarizados com a modalidade de

financiamento em análise, diferentemente dos investidores e potenciais financiadores

locais.

Pode-se deduzir da análise desenvolvida neste estudo que essa modalidade não se trata

de uma fórmula aplicável em qualquer situação, mas sim de uma estrutura que exige

uma análise muito detalhada dos aspectos técnicos, legais e econômicos do projeto,

antes de se concluir quanto à possibilidade e forma de sua aplicação.

Para sua implementação é importante contar com um ambiente legal, político e

macroeconômico que possibilite um mínimo de previsibilidade para a geração de

receitas e conforto quanto à manutenção das relações contratuais. Como pode-se

observar no Brasil atual o ambiente regulamentar encontra-se em transição, migrando de

uma situação onde os setores de infra-estrutura eram monopólios naturais para um novo

contexto onde a iniciativa privada participa de tais investimentos, gerando um certo

grau de desconforto aos investidores privados nacionais e internacionais devido à

incerteza associada ao processo.

De modo geral, as principais dificuldades levantadas neste estudo para a implementação

do Project Finance no Brasil são: a impossibilidade de se montar estruturas que

amenizem o risco de variação cambial, seja através de mecanismos de hedge e

estruturas adotadas para o financiamento de projetos em outras partes do mundo como o

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estabelecimento de conta reserva do serviço da dívida fora do país, seja pela indexação

das tarifas; o risco político derivado de quebras de contrato de concessão e mudanças na

lei e regulamentação, isto é, quaisquer atitudes políticas que reduzam a previsibilidade e

estabilidade das condições comerciais e econômicas do projeto; questões intrínsecas ao

contexto legal brasileiro que dificultem o exercício do pacote de garantias; e o

desconhecimento do assunto devido à sua recente utilização no país.

A experiência recente, por volta dos últimos três anos, mostra que alguns projetos têm

sido analisados e financiados através da combinação de BNDES, agências multilaterais,

agências de crédito à exportação, os dois últimos com colaboração de bancos comerciais

internacionais. Apesar destes financiamentos serem estruturados na modalidade Project

Finance, ainda guardam certa distância do que seria um Project Finance pleno, com

garantias baseadas apenas na geração de caixa do projeto e em seus ativos e relações

contratuais.

O que se observa também, é uma tentativa de adaptar uma modalidade já praticada em

diversos países do mundo ao contexto legal brasileiro, através de inúmeros “remendos”

para adaptar exigências contratuais originadas de práticas internacionais.

A impossibilidade de se aplicar o Project Finance verdadeiro e usufruir de suas

vantagens poderá acarretar um quadro no qual apenas aqueles projetos mais atrativos do

ponto de vista de retorno para o acionista e menor risco para os financiadores serão

desenvolvidos, não restando muitas alternativas para o desenvolvimento dos projetos

menos atrativos.

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116

Quanto à origem dos recursos de longo prazo para tais projetos, conforme a percepção

do risco Brasil, melhore é possível que outros instrumentos de captação internacional

sejam introduzidos para projetos de infra-estrutura, como por exemplo a emissão de

bônus de longo prazo para a aquisição de investidores institucionais. Espera-se que o

processo de estabilidade macroeconômica também resulte no aumento dos prazos de

aplicação financeira dos agentes econômicos domésticos, acarretando o surgimento de

novas fontes de recursos de longo prazo.

Considerando o grande volume de investimentos necessários para se recuperar e

avançar com a infra-estrutura brasileira, a falta de recursos domésticos de longo prazo e

a incapacidade dos agentes privados de aportarem todos o recursos necessários para tais

investimentos, é recomendável que as autoridades governamentais, em especial os

órgãos reguladores setoriais e o Ministério da Fazenda, dediquem-se ao estudo das

alternativas para o financiamento à infra-estrutura, buscando melhor compreender e

proporcionar condições de adaptação e uso do Project Finance, tendo em vista que

restam poucas alternativas factíveis para o financiamento à infra-estrutura nacional no

curto e médio prazo.

Como sugestões para estudos futuros pode-se indicar, sem a pretensão de esgotar o

tema: análise do impacto da estrutura de capital em projetos de infra-estrutura; estudos

de caso, analisando projetos ou setores específicos; estudos comparativos do uso de

Project Finance em outros países em desenvolvimento; análise da aplicação dessa

modalidade em países desenvolvidos; análise das dificuldades inerentes ao sistema legal

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117

brasileiro para a aplicação dessa modalidade de financiamento; estudo das técnicas de

análise e modelagem financeira para projetos de infra-estrutura.

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118

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123

APÊNDICE

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Projetos Hidrelétricos em Andamento:

Nome Principais Características Acionistas StatusGuilman Amorim 140 MW (MG) Belgo-Mineira e Samarco Em operação. Projeto financiado

inicialmente pelo BNDES e

refinanciamento posteriormente pelo

IFC.

Machadinho 1.140 MW (SC). Investimento

estimado em US$ 557 milhões.

Votorantim, Alcoa, Copel, CELESC,

CEEE, Inepar, Camargo Corrêa,

outros

Em construção e em fase de análise

do financiamento com o BNDES,

BID e Eletrobrás.

Lajeado 850 MW (TO). Investimento

estimado em US$ 960 milhões

Vale Paranapanema (Celtins, CEB,

EDP, Investco)

Em construção.

Itá 1.450 MW (SC). Investimento

estimado em US$ 900 milhões.

CSN, OPP, Itambé Cimentos Em construção e em fase de

fechamento do financiamento com

BID e BNDES. Eletrobrás apoiou o

projeto através de ações preferencias,

com compromisso de recompra.

Cana Brava 450 MW (GO). Investimento

estimado em US$ 573 milhões.

Tractebel (Bélgica) Financiamento em análise no BID.

Projeto já possui financiamento de

longo prazo com BNDES.

Campos Novos 880 MW (SC). Investimento estimado

em US$ 540 milhões.

Copel, Celesc, CEEE, Onix

(Alemanha), Inepar, Desenvix, Cia.

Técnica de Energia Elétrica

Fase de projeto.

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Nome Principais Características Acionistas StatusItapebi 450 MW (BA). Investimento

estimado em US$ 450 milhões.

Coelba, Previ, Iberdrola (Esp.),

Guaraniana

Financiamento em análise no BID e

BNDES. Projeto conta com apoio da

Eletrobrás.

Ponte de Pedra 176 MW (MT/MS). Investimento

estimado em US$ 158 milhões.

Inepar, Impregilo (Itália), CIGLA,

Servix e Constran

Fase de projeto.

Queimado 105 MW (DF/GO/MG). Investimento

estimado em US$ 141 milhões.

Cemig e CEB Em construção.

Porto Estrela 112 MW (MG). Investimento

estimado em US$ 110 milhões.

Cemig, CVRD, Nova Era, Silicon e

Coteminas

Em construção.

Dona Francisca 125 MW (RS). Investimento estimado

em US$ 100 milhões.

Gerasul Em construção e análise de

financiamento pelo BID e BNDES.

Piraju 70 MW (SP/PR). Investimento

estimado em US$ 141 milhões.

CBA (Grupo Votorantim) Fase de projeto.

Irapé 360 MW (MG). Investimento

estimado em US$ 332 milhões.

Cemig Fase de projeto.

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126

Projetos Termelétricos em Andamento:

Nome Principais Características Acionistas StatusUruguaiana 600 MW (RS). Investimento estimado

em US$ 335 milhões. Gás importado

da Argentina.

AES (EUA) Em construção, financiamento em

análise pela OPIC e BNDES.

Cuiabá 480 MW (MT). Investimento

estimado em US$ 510 milhões.

Enron (EUA), Shell Em construção. Primeira fase em

operação. Financiamento em fase de

fechamento envolvendo OPIC e KfW.

Pecém 240 MW (CE). Investimento estimado

em US$ 160 milhões.

Texaco (EUA), CSN, Gaspetro Financiamento em análise pelo BID e

BNDES

Manaus Termelétrica (240 MW). El Paso (EUA) Fase de operação.

Norte Fluminense 700 MW (RJ) Eletrobrás, Light, Cerj, Petrobras,

Cataguazes-Lopoldina, Enersis

(Chile)

Fase de projeto

Araucária 480 MW (PR). Investimento estimado

em US$ 300 milhões.

El Paso (EUA), Copel, British Gas

(RU), Petrobras

Fase de projeto

Paulínia 620 MW (SP). OPP, Florida Power and Light (EUA),

Ultrafértil, CESP

Fase de projeto

Cubatão Co-geração com a Petrobras Sithe (EUA), Marubeni (Japão) e

Petrobras

Fase de projeto

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127

Projetos Termelétricos em Andamento (continuação):

Nome Principais Características Acionistas StatusJacareí 700 MW (SP). Investimento estimado

em US$ 400 milhões.

Light Fase de projeto

Santa Branca 1000 MW (SP). Investimento

estimado em US$ 600 milhões.

Eletroger (Eletropaulo) Fase de projeto

Candiota III 335 MW (RS). Investimento estimado

em US$ 300 milhões.

GC Alstom (França) Fase de projeto

Campo Grande 300 MW (MS). Investimento

estimado em US$ 150 milhões.

Enersul Fase de projeto

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Projetos de Rodovias em Andamento:

Nome Principais Características Acionistas StatusLinha Azul (Santa Catarina) Recuperação, melhoramento e

operação de rodovias costeiras

interligando as praias ao Norte de

Florianópolis.

Engepasa Projeto pioneiro financiado pelo

BNDES em 1995.

Concer (Rio - Juiz de Fora) Recuperação, melhoramento e

operação da rodovia, com 180 km de

extensão. Investimentos estimados em

R$ 760 milhões.

CBPO, Triunfo, Não disponível.

Nova Dutra (Rodovia Presidente

Dutra, Rio – São Paulo)

Investimentos estimados em R$ 970

milhões.

Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa,

CBPO e Serveng- Civilsan

Financiamento obtido junto ao IFC

(empréstimo A e B) e BNDES..

Linha Amarela (Rio de Janeiro) Construção e operação de 25 Km de

via expressa interligando bairros do

Rio. Investimento estimado em R$

120 milhões. Segunda fase em

análise.

OAS, Previ Projeto financiado pelo BID e

BNDES.

Via Lagos (RJ-124) Recuperação, melhoramento e

operação da rodovia, com

investimentos de R$ 120 milhões (60

km).

Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e

Serveng- Civilsan

Projeto financiado pelo BNDES e

BID.

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Projetos de Rodovias em Andamento (continuação):

Nome Principais Características Acionistas StatusCRT (Rio – Teresópolis) 144 Km de extensão e R$ 450

milhões de investimento.

Queiroz Galvão, Cowan, OAS, EIT,

Carioca Christiani-Nielsen

Projeto financiado pelo BNDES.

Ponte Rio - Niterói Recuperação e manutenção de 14 Km,

com investimentos de R$ 380

milhões.

Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e

Serveng- Civilsan

Projeto financiado pelo BNDES.

Autoban (Anhanguera Bandeirantes,

SP )

Recuperação, melhoramentos eexploração da rodovia, 308 km einvestimentos de R$ 1,2 bilhão.

Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa,

CBPO e Serveng- Civilsan, SVE

Participações (Servix e Via

Engenharia)

Financiamento em andamento com

IFC, BID e BNDES.

Centrovias (Lotes 8, SP) Obras de melhoramento e recuperaçãodas rodovias, totalizando 218 km deextensão. Investimento estimado R$415 milhões

Construbase, PEM, Better, BenitoRoggio (Argentina), Engeform,Passarelli

Financiamento em análise noBNDES.

Lotes de São Paulo – Lote 10 –Etesco-Autovias

Recuperação e melhoramento dasrodovias. Investimentos de US$ 225milhões

Etesco, Enterpa Financiamento em análise noBNDES.

Viaoeste (Castelo Branco – Raposo

Tavares, SP)

162 km, investimentos de R$ 750

milhões

Queiroz Galvão, Cowan, OAS, EIT,

Carioca Christiani-Nielsen

Não disponível.

Triângulo do Sol (Ribeirão Preto, SP) 440 km, R$ 1,1 milhão de

investimentos

Leão-Leão, Bic Banco, Brisa

(operadora portuguesa)

Não disponível.

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130

Projetos de Rodovias em Andamento (continuação):

Nome Principais Características Acionistas StatusEcovia dos Imigrantes (Anchieta –

Imigrantes, SP)

Investimentos de R$ 950 milhões CR Almeida Não disponível.

Tebe (SP) 158 km de rodovias na região de

Barretos, investimentos estimados em

R$ 89 milhões

Torc, Empa, Brasil, Erco Não disponível.

Rodonorte (Paraná,) Recuperação, melhoramento,

manutenção e exploração de 568 km

de rodovias, totalizando investimentos

de R$ 1,1 bilhão.

Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa,

CBPO, Castilho, Toniolo Busnello,

Brasília Guaíba

Projeto em análise pelo BNDES e

BID. Temporariamente suspenso

devido à redução das tarifas por parte

do Governo do Estado.

Viapar (Paraná) 545 km, R$ 890 milhões de

investimentos

Queiroz Galvão, Cowan, OAS, EIT,

Carioca Christiani-Nielsen

Temporariamente suspenso devido à

redução das tarifas por parte do

Governo do Estado.

Caminhos do Paraná 322 km Consórcio de empresas argentinas: J.

Cartelloni, Construcciones Civiles,

Codi e Welber , e locais

Temporariamente suspenso devido à

redução das tarifas por parte do

Governo do Estado.

Rodovia das Cataratas (Paraná) 459 km de rodovias entre Foz do

Iguaçu, Cascavel e Guarapuava.

Banco Bandeirantes, Construtora DM,

Momento e Civília (Grupo Macri,

Argentina)

Temporariamente suspenso devido à

redução das tarifas por parte do

Governo do Estado.

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131

Projetos de Rodovias em Andamento (continuação):

Nome Principais Características Acionistas StatusEcovia Caminho do Mar (Paraná,

Lote 6)

Recuperação, melhoramento,

manutenção e exploração da rodovia

que interliga Curitiba ao Porto de

Paranaguá.

CR Almeida Temporariamente suspenso devido à

redução das tarifas por parte do

Governo do Estado.

Sulvias (Lajeado, Rio Grande do Sul),

Convias (Caxias do Sul), Metrovias

(região metropolitana de Porto

Alegre)

Totalizando R$ 1,04 bilhão de

investimentos.

Univias: Toniolo Busnello, Brasília-

Guaíba, Sultepa, Castilho

Não disponível.

Concepa (Osório – Porto Alegre) 112 km, Investimentos de 94 milhões. Ivaí, Triunfo Rodovia em operação.

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Projetos de Portos em Andamento:

Nome Principais Características Acionistas StatusTecon Rio Grande Operação, expansão e modernização

do Porto de Sepetiba. Investimentosde US$ 70 milhões

Tecon Rio Grande S.A. Projeto Financiado em 1999 pelo

BNDES e IFC.

Tecon Santos Implantação e operação de umterminal de contêineres e veículos.Investimentos de US$ 152 milhões

Consórcio Santos-Brasil S.A.:

Opportunity Leste, Multiterminais,

525 Participações, Previ e Sistel.

Projeto em análise pelo BNDES e

BID.

Tecon 1 Sepetiba Ampliação e Modernização do Portode Sepetiba. Investimento estimadoem. US$ 182 milhões

Sepetiba Tecom S.A. (CSN) Projeto em análise no BNDES

Paranaguá Implantação de terminal marítimo degranéis sólidos de uso misto no Portode Paranaguá. Investimento estimadoem.US$ 35 milhões

Fospar S/A – Fertilizantes Fosfatados

do Paraná

Projeto em análise no BNDES

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Projetos de Ferrovias em Andamento:

Nome Principais Características Acionistas StatusFerrovia Sul-Atlântica Investimentos estimados em US$ 250

milhões até 2001. Atravessa PR, SC e

RS. Interliga os estados do Maranão,

Rio Grande do Norte, Paraíba,

Pernambuco, Alagoas e Sergipe.

Judori Empreendimentos e

Participações, Interférrea, Railtex

International Holdings, Varbra e

Ralph Partners.

Financiamento em análise pelo IFC.

Ferrovia Bandeirantes S.A. (antiga

Fepasa)

Investimento estimado em R$ 250

milhões para os próximos 5 anos.

Interliga Rio de Janeiro, Belo

Horizonte e São Paulo com os países

do Mercosul.

Ferropasa (Ferronorte e Novoeste),

Companhia Vale do Rio Doce,

Funcef, Previ , Chase Latin America

Equity Associates, Campelissa Adm.

Financ., Logísitica Bandeirantes

Participações, Bradesco, Dasaiev

Empreendimentos e Shearer

Empreendimentos.

Não disponível.

Companhia Ferroviária do Nordeste Modernização e recuperação da viaférrea. Investimentos estimados emUS$ 75 milhões

CSN, Vicunha, Cia. Vale do RioDocee Bradesco.

Financiamento em andamento com o

BNDES.

Ferrovia Novoeste S.A. Melhoria do equipamento utilizadoInvestimentos estimados em US$ 48milhões

Previ, Funcef, Constran, GE Capital(EUA), Bndespar, BRP, outros

Financiamento em andamento com o

BNDES.

Transnordestina Construção da ligação ferroviária dePetrolina a Salgueiro. Investimentosestimados em US$266 milhões

Companhia Ferroviária do Nordeste eBndespar

Financiamento em andamento com o

BNDES.

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Projetos de Ferrovias em Andamento:

Nome Principais Características Acionistas StatusFerrovia Centro-Atlântica Maior ferrovia do país, cruzando seis

estados.

Mineração Jacumã, CSN, Judori

Empreendimentos e Participações,

Interférrea, Railtex International

Holdings (EUA), Varbra, Ralph

Partners (EUA) e Tupinamparana.

Financiamento em fase de fechamento

junto ao BNDES e IFC.

Ferronorte Interliga Mato Grosso ao Mato

Grosso do Sul.

Previ, Funcef, Grupo Itamarati,

AIG/GE Capital, BNDESpar,

Bradesco

Projeto financiado pelo BNDES,

através de repasse para um grupo de

bancos nacionais liderados pelo

Unibanco.

MRS Logística Atende aos estados de Minas Gerais,

Rio de Janeiro e São Paulo.

Cosipa, CSN, Celato Integração

Multimodal, ABS Empreendimentos

Imobiliários, Ferteco Mineração,

Fundação Caemi de Previdência

Social, Gerdau, MBR, Ultrafértil e

Usiminas.

Não disponível.

Ferrovia Teresa Cristina Santa Catarina. Banco Interfinance. Não disponível.

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Projetos de Telecomunicações em Andamento:

Nome Principais Características Acionistas Status

Projetos de Telefonia Celularlicitados para o uso da Banda BATL Prestação de serviço de telefonia

celular com investimentos de US$430 milhões (próximos 5 anos).Abrange Rio de Janeiro e EspíritoSanto.

Grupo Algar Não disponível.

BCP Prestação de serviço de telefoniacelular com investimentos de US$991 milhões (próximos 5 anos).Abrange região metropolitana de SãoPaulo

Bell South (EUA), Banco Safra Projeto financiado por uma

combinação de bancos comerciais e

EDC (agência de crédito à exportação

do Canadá).

Global Telecom Prestação de serviço de telefoniacelular com investimentos deUS$1.129milhões. Abrange SantaCatarina e Paraná.

Suzano, DDI (Japão), Inepar,Motorola (EUA)

Em análise no BNDES.

Maxitel Prestação de serviço de telefoniacelular com investimentos deUS$1.426 milhões. Abrange MinasGerais, Bahia e Sergipe

Stet (Itália), Vicunha, UGB Em análise no BNDES.

Americel Prestação de serviço de telefoniacelular com investimentos de US$milhões (próximos 5 anos). Abrange aregião Centro-oeste.

Bell Canada. Projeto financiado pelo BNDES em1999.

Telet Prestação de serviço de telefoniacelular com investimentos deUS$763milhões (próximos 5 anos).Abrange o Rio Grande do Sul.

Bell Canada, TIW (Canada), Fundosde Pensão

Em análise no BNDES.

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Nome Principais Características Acionistas Status

Empresas EspelhoBonari Empresa de telefonia de longa

distância. Investimentos estimados emUS$ 2 bilhões (próximos 5 anos).

Sprint (EUA), National Grid (RU),France Telecom (França)

Financiamento em fase deestruturação.

Canbrá Empresa espelho da Telemar.Investimentos estimados em US$ 1,3bilhões (próximos 5 anos).

Bell Canada, WLL(EUA), Qualcomm(EUA), Liberman (Arg.), Vicunha

Financiamento em fase deestruturação.

Megatel Empresa espelho da Telesp.Investimentos estimados em US$ 1,5bilhões (próximos 5 anos).

Bell Canada, WLL (EUA),Qualcomm (EUA), Liberman (Arg.)

Não disponível.

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Projetos de Saneamento em Andamento:

Nome Principais Características Acionistas StatusCia. de Saneamento Jundiaí Concessão para tratamento de esgoto.

Investimentos totais previstos de R$

30 milhões.

Construtora Augusto Velloso,

Construtora Coveg e Empresa

Tejofram de Saneamento e Serviços

Gerais.

Financiamento em andamento com

BNDES.

Região dos Lagos – Pro-Lagos Concessão plena para operação desistema de saneamento. Investimentoinicial estimado em US$ 34 milhões.Área de abrangência: Cabo Frio,Búzios, Iguaba, São Pedro D’Aldeia eArraial do Cabo, RJ.

Monteiro Aranha, PEM Engenharia,EPAL (Portugal), Bozano Simonsen,ERCO

Financiamento em andamento com

BNDES e Caixa Geral de Depósitos

(Portugal).

Águas de Niterói Investimentos de R$ 100 milhões nos3 primeiros anos para ampliação doabastecimento de água. Investimentosde R$ 200 milhões ao longo de todoperíodo de concessão (30 anos).

Carioca, Developer, Queiroz Galvão,Cowan e Trana (EIT)

Financiamento de R$ 60 milhõesaprovado pelo BNDES.

Águas do Paraíba Investimento de US$ 30 milhões naampliação do abastecimento de água ede coleta de esgoto

Carioca, Developer, Queiroz Galvão,Cowan e Trana (EIT)

Financiamento em análise no

BNDES.

Águas de Jurtunaíba Investimentos previstos de R$ 73

milhões.

Cowan, Queiroz Galvão, Trana (EIT)

e Erco

Não disponível.

Águas de Paranaguá Investimento previsto em R$ 60

milhões. Área de abrangência:

Paranaguá, PR.

Carioca, Developer e Construtora

Castilho.

Não disponível.

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Projetos de Saneamento em Andamento (continuação):

Nome Principais Características Acionistas StatusÁguas de Limeira Investimento previsto em R$ 110

milhões. Área de abrangência:

Limeira, SP.

CBPO e Lyonnaise des Eaux

(França).

Financiamento em andamento com

BNDES.

Ambient Serviços Ambientais Concessão para tratamento de esgoto.

Investimentos totais de US$ 45

milhões. Área de abrangência:

Ribeirão Preto, SP.

REK Construtora e CH2M Hill

International Co.

Não disponível.

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Projetos de Produção de Petróleo em Andamento:

Nome Principais Características Acionistas StatusBijupirá-Salema Exploração de campo de petróleo na

Bacia de Campos. Investimentoestimado em US$ 800 milhões, dosquais a Petrobras já investiu 25%.

Petrobras Financiamento em andamento comCitibank e Societe Générale. Emdesenvolvimento. Enron Intl. Estáenvolvida na estruturação datransação.

Espadarte/Marimbá/Voador Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo na Bacia deCampos. Investimento estimado emUS$ 1,8 bilhão.

Petrobras Financiamento em andamento,envolvendo: Mitsui/ Marubeni, ABN-AMRO, CSFB, Chase, TokyoMitsubishi, Fuji Bank, ANZ(Austrália).

Marlim Exploração de campo de petróleo naBacia de Campos. Investimentoestimado em US$ 5,3 bilhões (dosquais Petrobras já investiu US$ 3bilhões)

Petrobras, Sul América Seguros,ABN-AMRO, BNDESPAR

Financiamento em andamento,envolvendo: BNDES, ABN, e bancosinternacionais.

Barracuda Caratinga Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo na Bacia deCampos. Investimento estimado emUS$ 2,5 bilhões. Início da produçãoocorrerá em 2001.

Petrobras Financiamento em andamento comBNDES, JEXIM (Agência de Créditoà Exportação Japonesa) e bancosinternacionais.

Roncador Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo na Bacia deCampos. Investimento estimado emUS$ 1,7 bilhão. Início da produçãoesperado para 2001.

Não disponível. Não disponível.

Albacora Leste Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo na Bacia deCampos. Investimento estimado emUS$ 2 bilhões. Início da produçãoesperado para 2001.

Exxon (operadora), Shell, Texaco,Marubeni/Japex

Financiamento em desenvolvimento.

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Projetos de Produção de Petróleo em Andamento (continuação):

Nome Principais Características Acionistas StatusFrade e BC-4 Desenvolvimento e exploração de

campo de petróleo na Bacia deCampos.

Texaco (operador), Nissho Iwai(Japão), Amerada Hess (EUA),Odebrecht

Financiamento em desenvolvimento.

BES-3 Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo. Investimentoestimado em US$ 20 milhões.

YPF (Arg.), Santa Fé, Wiser, Norbay,Sotep, Petroserv.

Não disponível.

Bcam-2 Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo. Investimentoestimado em US$ 10 milhões.

Coastal (EUA), Unocal (EUA),Ipiranga

Não disponível.

BAS-97 Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo. Investimentoestimado em US$ 87 milhões.

Coastal, Unocal, Ipiranga Não disponível.

Btuc-1 Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo. Investimentoestimado em US$ 12,4 milhões.

Perez Companc, Kerr McGee Não disponível.

SES-107 Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo. Investimentoestimado em US$ 10,8 milhões.

Union Pacific, TDC Não disponível.

Bpot-2 Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo. Investimentoestimado em US$ 8,3 milhões.

Santa Fé, YPF (Arg.), Sotep Não disponível.

Caraúna Desenvolvimento e exploração.Investimentos de US$ 76 milhões.

Santa Fé, YPF (Arg.), Sotep Não disponível.

BS-2 Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo. Investimentoestimado em US$ 230 milhões.

Petrobras, Amerada Hess (EUA),British Borneo, Odebrecht

Não disponível.

BC-8 Desenvolvimento e exploração decampo de petróleo. Investimentoestimado em US$ 112 milhões.

Petrobras, Amerada Hess (EUA),British Borneo, Odebrecht

Não disponível.

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Projetos de Gás Natural em Andamento:

Nome Principais Características Acionistas StatusGasoduto Uruguaiana – Porto Alegre 650 Km de gasoduto interligando as

duas cidades com capacidade de 12milhões de m3/ dia. Investimentoestimado em US$ 265 milhões.

Total (França), YPF (Arg.), Ipiranga,Techint (Arg.), Transportadora de Gasdel Norte (Arg.).

Fase de projeto.

Gasoduto Uruguai-Argentina-Brasil Gasoduto interligando Argentina,Uruguai e Sul do Brasil.

British Gas (RU), Panamerican Fase de projeto.

Planta de GNL - SUAPE Construção de terminal de importaçãode gás natural liqüefeito, eprocessamento da regaseificação.Capacidade 6 milhões de m3/ dia.Investimento estimado em US$ 210milhões.

Shell, Petrobras, ENI (Itália) Fase de projeto.