filologia romÂnica i · 2018-04-16 · na língua portuguesa: ... de transmissão dos textos, com...
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A Filologia...
A palavra Filologia provém de dois radicais gregos:
philos ‘amigo, amante’; lógos ‘estudo, ciência’
Na língua portuguesa:
Lat. philologus -‘amigo das letras’
(sig. etimológico é ‘amor da ciência’, ‘culto da erudição’).
Cinco definições de Filologia no Dicionário Houaiss (2001):
Filologia é (1) o “estudo das sociedades e civilizações antigas através de
documentos e textos legados por elas, privilegiando a língua escrita e
literária como fonte de estudos”. Século XVI;
(2) o “estudo rigoroso dos documentos escritos antigos e de sua transmissão,
para estabelecer, interpretar e editar esses textos”. Século XIX;
(3) o “estudo científico do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de
línguas, em especial a pesquisa de sua história morfológica e fonológica
baseada em documentos escritos e na crítica dos textos redigidos nessas
línguas (p.ex., filologia latina, filologia germânica etc.); gramática histórica”.
Século XX;
Cinco definições de Filologia no Dicionário Houaiss (2001):
(4) o “estudo científico de textos (não obrigatoriamente antigos) eestabelecimento de sua autenticidade através da comparação de manuscritose edições, utilizando-se de técnicas auxiliares (paleografia, estatística paradatação, história literária, econômica etc.), especialmente para a edição detextos”.
(5) a “parte da lingüística histórica que trata do estudo comparado daslínguas, não só através de sua origem e evolução, como também do confrontocom línguas modernas; gramática comparada, linguística comparada.Etimologicamente, do latim: philolog a,ae ‘amor às letras, instrução, erudição,literatura, palavrório’; do grego: philología, as ‘necessidade de falar,conversação’”.
Para Saussure (2006 [1916], p. 7) “A língua não é o
único objeto da filologia, que quer, antes de tudo, fixar,
interpretar e comentar os textos; este primeiro estudo a
leva a se ocupar também da história literária, dos
costumes, das instituições, etc.; em toda parte ela usa
seu método próprio, que é a crítica.”
A Filologia é o conjunto das atividades que se ocupam metodicamente da
linguagem do Homem e das obras de arte escritas nessa linguagem. Como se
trata de uma ciência muito antiga, e como é possível ocupar-se da linguagem
de muitas e diferentes maneiras, o termo FILOLOGIA tem um significado
amplo e abrange diversas atividades, pois se trata de uma ciência que se
ocupa da linguagem de muitas e diferentes maneiras (AUERBACH, 1972, p. 11).
Edição Crítica de Textos , que busca reconstituir o texto representativo doânimo autoral;
a Lingüística, que trata das línguas em geral e de sua comparação ou deum grupo de línguas aparentadas, ou de uma língua específica;
os Estudos Literários , que se ocupavam da Bibliografia, da Biografia, daCrítica Estética e da História da Literatura; e
o Comentário ou Explicação de Textos , que podia servir aos maisdiversos propósitos, segundo os textos selecionados e às diferentesobservações que neles se pudessem fazer.
Dentre estas atividades filológicas, a que melhor lhe guarda a
memória é a primeira, a Edição Crítica de Textos , considerada
pelos eruditos como a mais nobre e a mais autêntica das formas
de fazer Filologia.
O início da Filologia... Grécia, século III a.C. – necessidade de constituir textosautênticos e o desejo de preservá-los;
Eruditos da Biblioteca de Alexandria;
“[...] aqueles eruditos encarregaram-se de restaurar os textosliterários antigos, tornando-os inteligíveis às gerações da época(SPINA, 1994, p. 66)”.
A necessidade de constituir textos autênticos se faz sentir quando um povo
de alta civilização toma consciência dessa civilização e deseja preservar dos
estragos do tempo as obras que lhe constituem o patrimônio espiritual;
salvá-las não somente do olvido como também das alterações, mutilações e
adições que o uso popular ou o desleixo dos copistas nelas introduzem
necessariamente (AUERBACH, 1972, p. 11).
A tradição da edição de textos antigos se manteve durante
toda a Antiguidade e se mantém até os dias de hoje...
Historicamente, a Filologia precedeu a Linguística, mas hoje deve situar-semodestamente no quadro geral dos estudos linguísticos. Os estudosfilológicos têm caráter “histórico”. Partem de línguas determinadas,documentadas através de textos e, depois de percorrem um itineráriocultural, ondem entram a História, a Epigrafia, a Literatura, voltam para otexto de onde saíram (ELIA, 1974, p. 10).
Estabelecer as causas psicológicas, sociológicas ou estruturais dosfenômenos linguísticos é fazer Linguística; iluminar um texto por meio decomentários da mais variada natureza é tarefa da Filologia (ELIA, 1974, p. 10).
A Filologia será ‘românica’ se tiver como objeto específico as
línguas e os dialetos que se originaram do latim vulgar e suas
respectivas literaturas de qualquer espécie, desde a origem até
a sua situação atual (BASSETTO, 2005, p. 38).
Chamam-se línguas românicas aquelas que são diferenciações notempo e no espaço de uma língua comum primitiva, o latimvulgar (ELIA, 1979, p. 3).
Formação das línguas românicas
A formação das línguas românicas é, por um lado, resultado darelaxação dos laços exteriores e da debilitação da vitalidadecultural do Império Romano e, por outro lado, da formação denovas comunidades lingüísticas “nacionais” nascidas no temposubseqüente, comunidades estas que restabelecem e vivificam, demaneira independente, a tradição cultural antiga (LAUSBERG,1974, p. 26).
O papel do RomanistaDo ponto de vista filológico, portanto, cabe ao romanista a pesquisa e
publicação de textos, enquanto, no plano lingüístico, estuda ele os
múltiplos aspectos da história das línguas neolatinas, sua evolução a
partir do latim vulgar, as influências externas que receberam, os
contactos que mantiveram entre si, a sua fragmentação dialetal, enfim,
todos os fenômenos concernentes à fonética, morfologia, sintaxe e
léxico (MIAZZI, 1972, p. 15).
Surgimento e evolução da Filologia Românica
Século XIV (início)
Dante Alighieri, no De Vulgari Eloquentia (Sobre os falares vulgares), jámenciona a afinidade existente entre o francês, provençal, italiano eespanhol.
Século XIV (final)
Trabalho que prenuncia o filológico: a explicação da Divina Comédia porGiovanni Bocaccio.
Surgimento e evolução da Filologia Românica
Século XV
Bracciolini afirma que o latim não era simplesmente uma língua artificial,mas sim falado pelo povo, e que dela resultaram as línguas românicas.
1492 – surge a primeira gramática de uma língua românica, a Arte de laLengua Castellana, de Elio Antonio de Nebrija.
Século XVI
Primeiro dicionário francês: Dictionarium Latino-gallicum, por Stephanus eum Tretté de la grammere françoese, por Meigret.
Surgimento e evolução da Filologia Românica
Século XVII
1601 – Trattato della vera origine e del processo a nome della nostra lingua,de Ceslo Citadini, que afirma terem existido duas espécies de latim – um cultoe outro rústico, e deste último é que se originava a língua italiana.
1606 – Thresor de la langue françoyse, de Nicot.
1650 – Dictionnaire étymologique de la langue Françoise.
1669 – Origini della língua italiana, escrito por Gilles Ménage. Procura aorigem de termos latinos, o que o conduz à teoria errônea, então em voga deque o latim procedia do grego.
Surgimento e evolução da Filologia Românica
Século XVIII
Historie littéraire de la France, 12 volumes, publicada pelos beneditinos daAbadia de Saint-Maur, sob a direção de Rivet (1733-1763) e a Storia dellalitteratura italina, de Tiraboschi, em 1772.
Século XIX: Constituição da Ciência
O interesse filológico é despertado ao mesmo tempo em que o linguístico;
De um lado inicia-se a publicação de textos, de outro se ativa a pesquisados idiomas românicos e suas relações;
Ideais do romantismo, concentrava-se nos temas exóticos (como osânscrito) e, principalmente, nos medievais e populares;
Século XIX: Constituição da Ciência
As literaturas românicas passam a ser objeto de crescente investigação,especialmente na Alemanha;
Os franceses e os alemães iniciam a edição de documentos literários queevidenciam aspectos das línguas românicas.
Século XIX: Constituição da Ciência
Franz Bopp realiza estudo comparativo das línguas persa, sânscrita,grega, latina, alemã e inglesa... > família indo européia. Assim, ele cria ométodo comparativo.
Jakob Grimm realiza estudo diacrônico do alemão, criando, assim, ométodo histórico que acompanha a evolução da língua.
Raynouard dedica estudo exaustivo do provençal e contribuisignificativamente para os estudos das línguas românicas apesar de suateoria errônea de que o provençal tivesse dado origem às línguas românicas.
Século XIX: Constituição da Ciência
1836
FREDERICH DIEZ (1794-1876) Iniciou a fase científica dos estudos
românicos, aplicando-lhes o método histórico-comparativo usado porBopp e Grimm.
Objeto e método estabelecidos Final do século XIX
A partir da segunda metade do século XX
Atualmente, temos três subdisciplinas, aparentemente separadas, mas que, na verdade,dialogam entre si, conforme os interesses dos pesquisadores.
LINGUÍSTICA LITERATURA
LINGUÍSTICA LITERATURA FILOLOGIA
Diez começou estudando obras castelhanas antigas, depois passou para o
provençal, em seguida, outras línguas românicas e, entre 1836 e 1843,
publicou sua Gramática das Línguas Românicas, em três volumes; e em
1854, o Dicionário Etimológico das Línguas Românicas. Logo na primeira
página de sua gramática, Diez faz derivar diretamente do latim vulgar as seis
línguas românicas, que ele havia considerado como tais entre todas as
variedades estudadas. O ponto de partida das línguas românicas é a língua
falada pelos romanos, não a forma escrita, literária, diferentemente do que
pensaram Dante Alighieri e Raynouard. Por isso, Diez é considerado o pai da
filologia românica (BASSETTO, 2001, p. 32).
O latim e as Línguas Românicas
LATIM ESPANHOL FRANCÊS ITALIANO PORTUGUÊS
octo ocho huit otto oito
auricula / oricla oreja oreil orecchia orelha
nocte noche nuit notte noite
oculu / oclu ojo oeil occhio olho
cantare cantar chanter cantare cantar
As formas latinas no inglês Exit
Candidate
Habeas corpus
Deficit
Alibi
Modus vivendi
Persona non grata
Contribuições para o ensino e a aprendizagem de línguas
Muitos dos fenômenos que acreditamos ser atuais já aconteciam na época
dos romanos, quando estes estavam levando a língua latina para diversas
partes da Europa, África e Ásia, e que se repetem em outras épocas e outros
lugares, com outros povos.
Contribuições para o ensino e a aprendizagem de línguas
O vocabulário é constituído de termos da língua erudita, da língua popular,
das línguas dos povos dominados, das línguas dos povos que mantém
intercâmbios, ou seja, de todos envolvidos direta ou indiretamente.
Contribuições para o ensino e a aprendizagem de línguas
As línguas estão sempre em processo de intercâmbios, de empréstimos,
mesmo entre línguas de origens aparentemente distintas, pois elas evoluem,
se diferenciam, tomam empréstimos, são substituídas, dominam e são
dominadas, a exemplo da própria língua latina.
Modernamente, a Filologia se divide em dois ramos: 1. da Linguística (sincrônica/diacrônica) - que faz o estudocomparativo e histórico das línguas;
2. da Filologia Textual/Crítica Textual - que se ocupa do processode transmissão dos textos, com a finalidade de restituir e fixar suaforma genuína.
Embora historicamente a Crítica Textual tenha privilegiado oestudo dos textos literários, atualmente considera tanto os textosliterários como os não-literários.
No plano linguístico, considera os vários aspectos da história das línguas,sua evolução, as influências que receberam, a fragmentação dialetal, todosos fenômenos relacionados com a fonologia, morfologia, sintaxe e o léxico.No que tange à literatura, trata dos autores e obras literárias; revisa ahistória da literatura através dos movimentos culturais e estéticos,tendências e estilos mais relevantes; analisa temas, gêneros e formasliterárias comuns a diversas línguas e culturas; discute como as diferentescorrentes de pensamento têm influenciado na estética, na arte e nacomunicação ao longo do tempo. Enfim, as "Filologias" trabalham sobre aslínguas, sobre os textos e sobre as culturas, a partir de motivações diferentes(SANTOS, 2003).
REFERÊNCIASAUERBACH, E. Introdução aos estudos literários . São Paulo: Cultrix, 1972.BASSETTO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica: história externa das línguas. Vol. 1. São Paulo: EDUSP, 2001.ELIA, Silvio. Preparação a Linguística Românica. Rio de Janeiro: Livro Técnico, 1974.HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de S. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Elaborado no Instituto Antônio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. LAUSBERG, H. Linguística Românica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1981.MIAZZI, Maria Luíza F. Introdução a Linguística Românica. São Paulo: Cultrix, 1976.SANTOS, Rosa Borges. A Filologia e seu objeto – diferentes perspectivas de estudo. In: Revista Philologus, Ano 9. Rio de Janeiro: CiFEFiL, maio/ago. 2003, p. 44-50.SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. Tradução de Antônio Chelini, José Paulo Paes, Izidoro Blikstein. 27 ed. São Paulo: Cultrix, 2006 [1916]. SPINA, Segismundo. Introdução à edótica. São Paulo: Cultrix, 1977.