fichamento perujo clézio

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Fichamento de texto Francisco Perujo Serrano Pesquisar no labirinto – A tese, um desafio possível Referência SERRANO, Francisco Perujo. Pesquisar no labirinto: a tese de doutorado um desafio possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. pp. 39 -153. Parte 3 Tese de doutorado, uma PESQUISA particular Independentemente do tipo e da natureza do trabalho, são inconcebíveis a busca e a demonstração do conhecimento, finalidade essencial e instrumental de toda ação de pesquisa p. 39 Quatro alicerces sobre os quais se ergue o edifício de todo projeto que em última instância, trate de obter a aprovação da comunidade científica: (a) Rigor, para sustentar com firmeza cada argumento e cada passo dado. (b) Método, para submeter o processo às exigências da ciência (c) Validação, para demonstrar com provas em vez de confundir com especulações. Ou seja, quem prova aprova (d) Contribuição, para acrescentar novas perspectivas de análise ao universo do conhecimento humano, seja a partir da inovação [... ] ou a partir da refutação […] pp39-40 [...]o mais alto propósito de todo cientista. Contribuir, graças a seu trabalho com algum desenvolvimento para o universo do conhecimento[...] p.40 “Nos campos onde os testes ainda não tenham sido levados a cabo,(...) temos completa liberdade acerca de como proceder” (Feyerabend, 1989: 96-97). p 40 Portanto são necessárias as mesmas virtudes que, por extensão, comprometem todas as pessoas que encaram alguma vez na vida a necessidade de pesquisar: a humildade, a sensatez no momento de articular os postulados e os limites do trabalho, a disciplina para abortar a desorganização a solidez para esterilizar a falta de consciência nas argumentações, a aceitação da pertença a determinado ramo do saber ou disciplina[...] a subordinação a uma fundamentação metodológica da qual não podemos nos subtrair. p.40 A tese de doutorado[...] “constitui um trabalho original de pesquisa com o qual o candidato há de demonstrar que é um estudioso capaz de fazer avançar a disciplina a qual se dedica” (Eco: 1989: 25) p. 41. Passamos do papel receptivo do aluno ao papel de quem deve tomar a iniciativa como pesquisadores em início de trajeto. p.41 3.1 Pesquisar é coisa diferente São Muitos os que ficam pelo caminho, os que encalham e depois desistem. p.42. Pesquisar significa assumir um novo papel. Pesquisar exige uma dose enorme de compromisso pessoal para superar as fases prévias da ideia ou do projeto, que é o lugar onde acabam confinados muitos projetos da tese de doutorado. p.42

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Page 1: Fichamento Perujo Clézio

Fichamento de textoFrancisco Perujo SerranoPesquisar no labirinto – A tese, um desafio possível

Referência

SERRANO, Francisco Perujo. Pesquisar no labirinto: a tese de doutorado um desafio possível. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. pp. 39 -153.

Parte 3 Tese de doutorado, uma PESQUISA particular

Independentemente do tipo e da natureza do trabalho, são inconcebíveis a busca e a demonstração do conhecimento, finalidade essencial e instrumental de toda ação de pesquisa p. 39

Quatro alicerces sobre os quais se ergue o edifício de todo projeto que em última instância, trate de obter a aprovação da comunidade científica:

(a) Rigor, para sustentar com firmeza cada argumento e cada passo dado. (b) Método, para submeter o processo às exigências da ciência(c) Validação, para demonstrar com provas em vez de confundir com especulações. Ou seja, quem prova aprova(d) Contribuição, para acrescentar novas perspectivas de análise ao universo do conhecimento humano, seja a partir da inovação [... ] ou a partir da refutação […] pp39-40

[...]o mais alto propósito de todo cientista. Contribuir, graças a seu trabalho com algum desenvolvimento para o universo do conhecimento[...] p.40“Nos campos onde os testes ainda não tenham sido levados a cabo,(...) temos completa liberdade acerca de como proceder” (Feyerabend, 1989: 96-97). p 40

Portanto são necessárias as mesmas virtudes que, por extensão, comprometem todas as pessoas que encaram alguma vez na vida a necessidade de pesquisar: a humildade, a sensatez no momento de articular os postulados e os limites do trabalho, a disciplina para abortar a desorganização a solidez para esterilizar a falta de consciência nas argumentações, a aceitação da pertença a determinado ramo do saber ou disciplina[...] a subordinação a uma fundamentação metodológica da qual não podemos nos subtrair. p.40

A tese de doutorado[...] “constitui um trabalho original de pesquisa com o qual o candidato há de demonstrar que é um estudioso capaz de fazer avançar a disciplina a qual se dedica” (Eco: 1989: 25) p. 41.

Passamos do papel receptivo do aluno ao papel de quem deve tomar a iniciativa como pesquisadores em início de trajeto. p.41

3.1 Pesquisar é coisa diferente

São Muitos os que ficam pelo caminho, os que encalham e depois desistem. p.42.Pesquisar significa assumir um novo papel. Pesquisar exige uma dose enorme de compromisso pessoal para superar as fases prévias da ideia ou do projeto, que é o lugar onde acabam confinados muitos projetos da tese de doutorado. p.42

Page 2: Fichamento Perujo Clézio

3. 2 Cursos de doutorado, situação de transitoA universidade tem duas grandes funções: ensinar e pesquisar. p.43.Portanto, o ensino é uma função social que a universidade partilha com todas as outras instituições docentes que a precedem. p.43.

[…] o elemento distintivo da existência da universidade não é apenas a certeza de que ela constitui a instituição docente superior, mas a evidência de que a transmissão e a transferência de conhecimento( modelo professor-aluno) são insuficientes para ela. p.43. Não se concebe o papel nuclear da universidade em nossa sociedade do conhecimento atual sem fazer uma aposta decidida na pesquisa[...] p.43.

A universidade […] deve apostar na ampliação de seus limites. p.43.

[…] a pesquisa dá resposta às novas necessidades, por que contribui com valor agregado e melhorias competitivas, porque facilita a adaptação ao ambiente, inclusive de modo antecipatório. p.44

No início de nosso percurso como pesquisadores, durante a frequência às disciplinas do doutorado, a universidade não perde seu perfil docente, nem nós nossa condição de alunos. p. 45.

3.3 Sim, em anos de solidão

[…] todo o peso da pesquisa recairá nas costas de uma só pessoa: seu autor. p.46.

O doutorando […] escapa às considerações desse esquema de pesquisa guiada e coletiva: ele nenucapesquisou propriamente, não é profissional, não dispõe de uma qualificação comprovada em pesquisa e não está coordenando seus esforços com os de nenhum outro grupo. p.46.

Tem de encarar, como nenhum outro pesquisador, o prisma da autonomia relativa de todos os seres individuais, como dizia Morin. p.46.

Sem motivação, a determinação é impossível. O grau de sedução exercido pelo objeto de estudo sobre nós é diretamente proporcional às probabilidades de levar a êxito nossa pesquisa. O tema deveser um apelo[...]. p. 47.

Ser possibilistas não significa ser conformistas, e sim colocar as expectativas reais da pesquisa em articulação com nossas próprias capacidades. A ambição desmedida[...] só contribui para nos abarrancar. p.47.

3.4 O relógio se detém em sua marcha

Além de pesquisar solitariamente, nós o fazemos contra o relógio. p.48

Em termos de ciência, não existe o além, o não demonstrado é desacreditado. p.48

Existe uma concatenação de trâmites burocráticos que temos de ir superando até chegar ao estágio final da defesa perante uma banca examinadora acreditada e reconhecida na matéria que transformamos, desde o princípio, no núcleo de nosso trabalho de pesquisa. p.48.

A realização de uma tese de doutorado constitui, em si mesma, uma pesquisa extraordinária. p.48.

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[...]quase ninguém retoma o doutorado. Desiste de um novo investimento em face do fragoroso fracasso do anterior. p.49.

Nossa consciência e nossa percepção do mundo se instrumentalizam por meio do eixo diacrônico estabelecido pelo tempo e pelo espaço. Eles são as dua condições elementares da crítica da razão pura de Immanuel Kant e, como não podia deixar de ser, são eles também os dois grandes condicionadores não conceituais que ajustam as possibilidades de êxito de uma tese de doutorado. p.50.

Pois bem, na perspectiva do tempo investigado, nenhuma tese de doutorado está completamente concluída. Só a fechamos com o ponto final quando presumimos ter chegado ao ápice na materialização dos objetivos de pesquisa[...]. p.51

Jamais se conclui uma tese de doutorado, por que é humanamente impossível compilar todo o conhecimento a respeito de um tema concreto. Sempre se pode ir mais longe: ser ainda mais retrospectivo ou continuar com a exploração no presente. Contudo, para conferir-lhe operacionalidade, cortamos em um ponto e a concluímos, dizendo: “ Chegamos até aqui”. Se não Fizermos assim, não acabaremos nunca. p.51.

Em suma, o tempo, de um ponto de vista processual, é uma variável invariante. p.52.

Dado que o relógio não se detém em seu caminho, é aconselhável não nos descuidar, não deixar para a reta final o bruto de nosso trabalho; antes, incluamos no princípio da disciplina o estabelecimento de um cronograma para poder autorregular os prazos de elaboração da tese de doutorado. p.52.

3.5. O crachá de pesquisador

Uma tese de doutorado é uma pesquisa com a qual aprendemos a investigar. Não é o final do caminho e sim seu seu princípio: depois teremos de confirmar nossa nova condição em um itinerário descrito por novos desafios de pesquisa, com nossa entrada em grupos ou equipes de pesquisa[...] p.53.

Em outros termos, o pesquisador costuma ser um consumado especialista no tema que investiga, menos o doutorando durante a tese. p.53.

A aprovação da tese de doutorado pressupõe a conquista do crachá de pesquisador. Apenas isso. É isso o que conseguimos quando nos doutoramos. Demonstramos que sabemos pesquisar, que aprendemos a fazê-lo e que, em consequência de ter confirmado essas habilidades, a universidade nos outorga o status de doutores para o resto de nossas vidas. p.53.

A imensa maioria das pessoas que se matriculam nos cursos de doutorado desiste, deixa o doutoradoantes de concluí-lo, naufraga antes de aportar, abandona-o sem apresentar nem defender seu projeto de tese de doutorado. Da mesma forma, a maioria dos candidatos que chegam a se doutorar não enriquecem com novas pesquisas o leve depósito de seu trabalho. p.54.

3.6 O orientador, uma autoridade de apoio

A solidão do doutorando durante a escrita de sua tese não é absoluta. É quase. O elemento que impede que essa permanente percepção de desamparo do doutorando seja completa é a existência do orientador do projeto de pesquisa. p.55.

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Para começar existem três tipos de orientadores de tese de doutorado: o compulsivo, o negligente e o salomônico. p.56.

De um lado, está o orientador compulsivo. Por seu modo de agir, até parece que é ele quem está fazendo a pesquisa, não o doutorando. p.56.

O grande pecado do orientador compulsivo é a sua obstinação pelo perfeccionismo, quando, na verdade, a tese de doutorado perfeita não existe. p.57.

Na outra ponta, o orientador negligente se posiciona no exato oposto do compulsivo. Adota um papel passivo, esquiva-se de seu papel de guia, descuida de suas responsabilidades de orientação[...]p.57.

O orientador negligente é um orientador ausente, irresponsável e desinteressado. p.58.

O orientador salomônico é o ideal. Mantém inalterável seu papel de vigilância, encontra-se periódica e regularmente com seu doutorando para supervisionar como vai evoluindo a pesquisa e administra seus conselhos para neutralizar os erros, para reorientar os trabalhos, se eles se desviaram demasiadamente dos objetivos iniciais. p.59.

3.6.1 Assessoria regular e seletiva

Essa função é, claramente, a mais importante. A primeira coisa que um orientador de teses deve fazer é abrir o arsenal de todos os seus conhecimentos e habilidades para facilitar o trabalho de seu aluno. p.61.

A assessoria do orientador é sempre seletiva. Ele aconselha a fazer algumas coisas em vez de outras,a se concentrar em algumas vias de pesquisa preferenciais em detrimento de vertentes menos significativas[...] p.61.

Um orientador especializado no tema da pesquisa contribui com segurança e visão de conjunto para o trabalho de seu doutorando. p.62.

3.6.2 Embaixador acadêmico

O orientador[...] não só oferece ao candidato seus conhecimentos como também a possibilidade de contatar outros especialistas de seu círculo. p.63.

Por essa razão, além de assessorar seu doutorando, abre-lhe um círculo de relações, o põe em contato com professores e pesquisadores com os quais compartilhou cursos, congressos, jornadas oubancas, cujos trabalhos e publicações guardam conexão direta com o objeto de estudo. p.63.

3.6.3 Cumpridor de regras e prazos

A orientação acadêmica não permite deixar a cargo unicamente do doutorando todas as responsabilidades referentes à tramitação formal de seu projeto de pesquisa diante da universidade. p.64.

Além disso, essa atenção aos aspectos meramente burocráticos do processo deve ser dupla, já que é conveniente distingui atentamente seus condicionantes formais (requisitos) dos condicionantes temporais (prazos). p.65.

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3.7 Banca examinadora. O dia do juízo final.

Vencidos os créditos do doutorado, demonstrada nossa suficiência em pesquisa com a conclusão do mestrado ou com algum título intermediário correspondente, realizada nossa pesquisa dentro dos prazos previstos, o último requisito é a defesa de nossa tese de doutorado diante da banca de qualificação. p.66.

[…] é necessário não perder de vista um requisito básico: atenção principal ao fundo sem descuidar um só milímetro das formas. p.66.

Uma banca examinadora não se improvisa. Todos os seus membros devem ser convidados para fazer parte dessa equipe pontual de avaliadores. p.67.

Uma boa tese de doutorado aprovada por uma banca examinadora de referência adquire, de imediato e para sempre, importância inquestionável diante da comunidade científica. p.67.

3.7.1. Ritual de defesa: compartilhamento e comportamento

[…] devemos comparecer perante a banca com um conjunto de habilidades comportamentais aprendidas (isso sim teoricamente) de antemão. Para nos familiarizar com o ritual, a primeira recomendação é assistir como espectadores à leitura e defesa de outras teses de doutorado para nos acostumar com o procedimento[...] p.68.

A sentença está dada, mas o veredicto ainda não é definitivo. Se a tese de doutorado que submetemos à leitura crítica desse pequeno grupo de avaliadores não tem vigor, dá mostras de debilidade conceitual e metodológica evidente, é exageradamente caótica e nada esclarecedora, é repetitiva e traz apenas argumentos não bem desenvolvidos desde o princípio, está mal formulada e não chega a conclusões convincentes é uma réplica de outras pesquisas anteriores ou não prova as refutações que admite[...]. Estamos condenados à desaprovação. p.69.

O candidato a doutor defende a validade científica de sua pesquisa, ao passo que seus examinadoresdescobrem as fragilidades encontradas e o crivam de perguntas para determinar a vulnerabilidade científica da tese de doutorado e, ao mesmo tempo constatar até onde vai o conhecimento do doutorando. p.69.

A defesa pública é tida como ato central. O protagonismo recai sobre o doutorando, mas é compartilhado com os membros da banca, que o questionam, interrogam e expõem à contradição seus conhecimentos e os aspectos menos bem fundamentados de seu trabalho. p.70.

Por outro lado, o doutorando tem de abordar com o máximo cuidado a preparação de sua exposição diante da banca. p.70.

A intervenção do candidato deve ser rigorosa e acrítica. p.71.

Do mesmo modo, a exposição não é um resumo da tese de doutorado. Ninguém está ali para resumir, e sim para defender. p.71

É necessário definir brevemente o objeto investigado, explicar o método utilizado e valorizar, sobretudo, as conclusões alcançadas. p.71.

Portanto, convém ensaiar esse ato público de apresentação. Ler várias vezes o discurso de defesa da tese de doutorado por escrito. p.71.

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[…] depois dessa exposição inicial, é a vez dos membros da banca, um a um, seguindo uma escala ascendente de autoridade acadêmica, de menor a maior antiguidade. Devemos anotar tudo o que digam para poder responder-lhes com critério. p.71.

Alimentam sua argumentação com toda debilidade percebida em nosso trabalho. E não fazem isso tendenciosamente; estão em seu papel. p.72.

Teremos, portanto, de anotar suas sugestões para o caso de voltar a nos envolver no processo labiríntico que é pesquisar e receber os golpes da crítica com naturalidade, tolerância e receptividade. p.72.

Em continuação[...] é o momento da réplica. Devemos responder separadamente a cada um deles, como fruto das anotações que fomos fazendo na medida em que cada um deles intervinha. p.72.

A humildade será a melhor embaixadora de nossa causa. Os erros apontados pela banca, ou os refutamos com afirmativas fundamentadas, ou os aceitamos sem reserva. p.72.

Depois desse segundo turno, a sorte está lançada. Os integrantes da banca se retiram para deliberar .O percurso chegou ao final. Resta saber se alcançamos o objetivo pelo qual nos batemos; se vamos obter, depois de tantos esforços e privações, o crachá de pesquisador, ou seja, se passaremos a ser doutores. p.72.

3.8. Os 5cs do doutorando

1. Capacidade. Trata-se de um conceito primário. Parte do princípio da humildade inteligente. Assumir limitações é vital para dimensionar com equilíbrio, para não extrapolar, para não ser excessivamente ambiciosos, para não nos impor objetivos impossíveis. p. 73.

2. Constância. Sem dúvida, aquele que quer faz muito mais do que aquele que pode. Primeiramente é preciso poder (ser capazes) e depois querer (ser tenazes). p.74.

3 Controle. O planejamento, a organização e o método são tres vigas mestras para manter bem amarrado o processo de pesquisa. p.74.

4. Criatividade. Pesquisar tem também um aspecto de criação, pois serve para criar novos conhecimentos, para gerá-los com o consentimento da ciência. p. 75.

5. Complexo zero. O doutorando vê-se, todo o tempo, tomado pelo pânico do principiante. Algo lógico. Pelo fato de carecer de experiência, ele deve supri-la com decisão. Humildade, toda: complexo, zero. p.75.

Parte 4 Decálogo básico da Pesquisa

4.1 Em primeiro lugar a escolha do tema

Se não houver tema, não existe pesquisa. Simples assim. Poderemos ter o desejo e a intenção, mas elas podem nunca se realizar. A escolha do tema configura, em si mesma, o ponto de partida, o arranque para qualquer tentativa de pesquisa. É necessário definir o que queremos fazer, que fragmento da realidade pretendemos abarcar, em que lugar concreto vamos desenvolver pesquisa para, a partir daí, investir todos os esforços em uma única e bem definida direção. p.79.

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[…] Existem sempre dois momentos determinantes para todo pesquisador […] são a escolha do tema e o começo da redação da tese de doutorado[...] p.79.

4.1.1. Os Cinco atributos do objeto de estudo.

[…]Todo objeto de estudo[...] deve ser para o pesquisador:

. acessível: estar à mão;

. mensurável: possível de abarcar

. atrativo: capaz de estimular a pesquisa

. oportuno: capaz de produzir conhecimento

. executável: que tenha custos suportáveis. p.81.

4.2 Tríplice delimitação do objeto de estudo

Existem dois momentos da pesquisa que estão atravessados de ponta a ponta pela indeterminação e que, se não forem su´perados com suficiencia, provocam situações de bloqueio que se alastram e impedem o desenvolvimento do restante do trabalho. p. 92.

Um objeto de estudo nunca é independente de seu contexto. Esse raciocínio entra em contato com o conceito da emancipação do conhecimento científico. p.93.

Quer dizer, toda descoberta deverá inserir-se obrigatoriamente em determinada área de conhecimento científico, o qual modifica, quase sempre por adição, mas do qual não se pode desprender. p.93.

O tema tem uma natureza tridimensional: espacial, temporal e conceitual. p.93.

Nisso consiste, exatamente a tridimensionalidade doo objeto de estudo: em fragmentar espaçotemporalmente a amostra que selecionamos para a pesquisa e em situá-la acertadamente em um marco teórico e científico que nos impulsione a multiplicar os esforços a partir da necessária contextualização. p.94

Quando pesquisamos, fugimos da superficialidade e aspiramos à concreção máxima. Desse modo, as arestas do objeto de estudo vão sendo polidas na medida em que a pesquisa avança.Fazer ciência tem o objetivo máximo de contribuir para gerar conhecimento. O termo scire, que provém do latim, significa saber ou conhecer. p.95

Em outros termos, pesquisar é conhecer de modo distinto, doo único modo reconhecido pela ciência: aplicando o método e demonstrando tudo o que se afirma com dados objetivos e argumentos explicativos. p.95

Mais recentemente, sustentou-se que a ciência contemporânea, cada vez mais, deixava de se preocupar com a causalidade, tentando apenas estabelecer interdependências ou correlações entre osfatos. Ja dissemos antes, nenhum objeto de estudo se nos apresenta em estado puro e em estrita autonomiacom relação a seu entorno. Mesmo assim, a explicação, a partir de uma perspectiva sequencial, é uma consequência, não uma causa para a pesquisa. p.96.

A obrigação de estabelecer desde a origem o significado, o sentido e o objetivo geral das tarefas de todo o pesquisador incide nos já denominados três níveis de pesquisa: o nível tecnológico ( como se

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faz) o nível metodológico (por que se faz) e o nível epistemológico (para que ou para quem). p.96.4.3.1 Divergência entre ponto de saída e ponto de chegada

Assumidas as formulações iniciais, a pesquisa adota uma série de fluxos e de canais que, em muitas ocasiões, não prevemos nem controlamos. p.97.

A imagem da árvore continua sendo de uma utilidade descritiva insuperável. Do tronco inicial (formulação do problema + fixação de objetivos gerais), vão emergindo novas ramagens, conforme progredimos, que dão a ver a complexidade do tema, que confirma nossa tábula rasa de partida e que reorientam o curso de nossos trabalhos com a adição de subtemas ou de perfis suplementares que requerem consequentemente sobre esforços consideráveis. p.98.

Por um lado, toda pesquisa necessita ser segmentada, estabelecendo zonas de corte que delimitem com clareza a dimensão da amostra sobre a qual aplicamos o rigor do método e a pulsão de nossa vontade de obter resultados positivos. Nisso consiste a delimitação do objeto de estudo. p.98.

Junto à ramificação, que reflete claramente a estrutura arborescente de toda pesquisa, a segunda característica que dá a ver sua complexidade implícita é a tendência natural à fragmentação. p.99.

Se somarmos essas duas propriedades(ramificação+fragmentação, entenderemos a sensação de perda e de desorientação demonstrada por muitos pesquisadores (especialmente doutorandos)p.99.

4.3.2 Conclusão, nada de predição apriorística

Pois bem, a pesquisa científica nunca é preditiva. Ela analisa o presente (observação participante) ou o passado. Pode dar ocasião à construção de teorias de aplicação geral ou as leis de extensão universal, mas não classifica nada como válido sem antes tê-lo constatado. p.100.

Aqui podemos localizar a perversão de muitas pesquisas, que se utilizam de subterfúgios para atingir conclusões propositadas que, muitas vezes, também são decorrência da perturbação não científica que as concebe como predições arbitradas a priori ao sabor de finalidades exógenas à própria pesquisa .p.100

Nesse sentido as conclusões serão uma consequência não uma causa da pesquisa. Coroam todo o processo investigatório, não o impulsionam. Se forjarmos conclusões desde o princípio, estaremos começando a casa pelo telhado. p.101

4.4 O método, único caminho válido

O método, justamente tem a missão de nos guiar por esse caminho, eivado e tortuoso, trazendo putas anteriormente validadas, procedimentos que contem com o reconhecimento da ciência. p.101.

Quando pesquisamos, não podemos fugir da realidade, ignorando aquilo que não nos agrada ou que não esperávamos, mas que pula diante de nós no decorrer da pesquisa. A observação deve ser, em todo momento, critica e ponderada, analítica e equilibrada, relativa e discriminatória. Não existem categorias absolutas nem na partida nem na chegada. p.102.

O método põe ordem e confere sentido. Não existe nenhum outro caminho para desfazer a confusãopadecida por alguém que quer pesquisar... e não sabe como. p.102.

Toda pesquisa é de ordem cumulativa. Avançar é difícil, encalhar é o razoável. Ainda assim, os progressos jamais serão predeterminados. p.103.

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4.4.1 Mostrar versus demonstrar

É por isso que pesquisamos: para demonstrar, nunca para mostrar. Nossa tarefa, se tiver a intenção de ser científica, tem de abandonar a superficialidade, o simples escanear do olhar, a visão fotográfica, para se aprofundar nas causas, nos efeitos, na natureza e no posicionamento sempre relativo no espaço-tempo de nosso objeto de estudo. p.104.

4.4.2 A pesquisa e sua circunstância. Multidisciplinaridade.

Essa compartimentação em escaninhos conceituais é a causa subjacente à trama do amplo leque de disciplinas que, na atualidade, fazem parte, por exemplo, do âmbito das ciências sociais. A ciência necessita, portanto, de três procedimentos para esquadrinhar a realidade e dividi-la em unidades de análise: a formalização, a redução (desintegração de fatos ou fenômenos complexos em unidades simples para sua observação) e a disjunção (exclusão classificatória). p.105.

Segmentação e contextualização se reforçam entre si, se exigem reciprocamente. Por um lado, permite demarcar e conhecer em profundidade o tema da pesquisa, por outro, anulam a vagueza da observação panorâmica. p.106.

4.4.3. Ser metódico: organização e disciplina

Não temos outra opção: temos de ser metódicos. Isso quer dizer: usar o método ao pesquisar. Acrescentar mais afirmações acerca de sua utilização seria redundante. Diremos apenas que, sem ele, nos situamos de fato extramuros da ciência. p.107.

A organização uniformiza os passos, padroniza os procedimentos, homologa a gestão do trabalho, evita perdas sem sentido, rentabiliza os esforços, harmoniza as tarefas. A disciplina, por sua vez, normaliza nosso comportamento, imprime a ele pautas fixas, atribui tempos à pesquisa em oposiçãocom o restante de nossas responsabilidades e prioridades individuais. p.108.

4.5 Fixação de protocolos de atuação

Essa recomendação dentro de nosso decálogo tem uma vinculação direta e se encontra plenamente relacionada com as considerações expostas no tópico anterior acerca da necessidade de permear todo o processo de pesquisa com dois vetores de atuação elementares e de aplicação geral: organização e disciplina.Não se concebem ambos os conceitos sem a acomodação da ação investigatória a alguns procedimentos e rotinas de trabalho que, de um ponto de vista prático, exigem a fixação de protocolos de atuação. Isso confere operacionalidade a nossos propósitos. Viabiliza a pesquisa, que não consiste unicamente em querer pesquisar, mas sobretudo, em poder fazê-lo. p.109.

Ter clareza de como agir ante situações hipoteticamente equivalentes minimiza a dificuldade de pesquisar. Encurta, agiliza e barateia os processos, o que acarreta benefícios em uma tríplice e nada desprezível perspectiva: temporal, processual e orçamentária. p.110.

Para estabelecer critérios de atuação operacionais, não é necessário esperar a lucidez do invento, exceto em casos muito singulares, o mais sensato e prudente é assumir os mesmos mecanismos que outros pesquisadores desenvolveram e que em situações parecidas, coroam de êxito os projetos deles. p.110

Portanto será recomendável arbitrar um dispositivo que torne o ato de pesquisar funcional. p.111.

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Por isso, antes de começar a pesquisar, é conveniente dispor de algumas habilidades investigatórias suficientes (aqui reside o sentido das disciplinas de doutorado). p.111.

4.6 Documentação e leitura: um fluxo permanente

Não se entende a pesquisa científica sem a ideia de busca de novos horizontes para o conhecimento humano. […] A intenção é alargar os limites da ciência. Dar uma contribuição. p.112.

Pesquisar é algo muito mais complexo. É Preciso contextualizar, tanto teórica (perspectiva conceitual) como historicamente (perspectiva temporal). Nosso olhar deve ser especializado e panorâmico. p.113.

4.6.1 Monopolização estratégica: relevância e natureza.

É aconselhável montar uma estratégia de leituras e de aquisições bibliográficas. p.113.

Para tanto, na medida em que se avança no conhecimento do objeto de estudo, o melhor é confeccionar uma escala de documentos distinguindo dois níveis de classificação: a relevância […] e sua natureza. p.114.

Esse processo de acumulação e de revisão documental evoluirá paralelamente ao desenvolvimento da própria pesquisa. Será um apio para a mesma. p.114.

4.7 Arquivamento operacional. Quem guarda acha.

O pesquisador deve acrescentar, juntamente com as demais considerações feitas até aqui, o bom hábito de arquivar tudo, do mais importante ao menos significativo. O arquivamento tem uma função operacional essencial. De nada servem os achados, os avanços, a anotação de observações, otrabalho de campo, se depois tudo isso se perde. Trabalho infrutífero! p.115.

[…] são fundamentais para todo pesquisador dois hábitos de conduta: a atualização permanente de arquivos e a realização de cópias de segurança. p.116.

4.7.1. O uso de fontes primárias.

Para o pesquisador, que necessita interrogar e se interrogar, é indispensável o acesso a fontes fornecedoras de informação em seus diferentes graus. Nem sempre é possível experimentar a partir das amostras pretendidas, nem interrogar diretamente os atores constitutivos do fenômeno que estamos pesquisando, nem recorrer aos protagonistas de fatos ocorridos longe de nossos olhos, espacia ou temporalmente. p.118.

A entrevista é util para a pesquisa, pois incorpora os princípios de padronização e de compartimentação sequencial de ações que permitem manipular com critério seus conteúdos e estabelecer conclusões bem pensadas. Em princípio, não parece ser má sugestão elaborar uma ficha técnica da entrevista que contenha a modalidade (pessoal, por telefone, mediante envio de questionário enviado por meio postal ou eletronicamente), o lugar, a duração, bem como uma breve biografia do entrevistado. Além disso, é indispensável redigir a lista de perguntas, registrar em sua totalidade as respostas dadas às perguntase, se a entrevista for ao vivo, gravar as respostas para, depois, transcrevê-las integralmente. p.119.

4.8 Respeitar a autoridade acadêmica

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Quando pesquisamos , não podemos nos apropriar do que é dos outros. Nossa margem de manobra limita-se ao perímetro das demonstrações possíveis. Omitir as contribuições que recebemos de fontes externas supõe um ato ilegítimo que põe a perder toda a pesquisa, pois nos desacredita completamente e gera um halo de desconfiança que nos aniquila por completo. Para todos os efeitos, o seguinte axioma é de aplicação universal: argumentar o que é próprio, dar crédito ao que é alheio. p. 120.

Nossa pesquisa é depositária e continuadora de uma herança científica que aplaina nosso caminho, mas que, do mesmo modo exige que abandonemos a vereda da repetição, do plágio e da redundância. pp.120-121.

Desse modo, reconhecer a autoridade acadêmica é primordial. Do contrário, nossa vulnerabilidade como pesquisadores torna-se maiúscula por carecer dessa blindagem diante de terceiros que apenas o rigor, o melhor aliado do qual podemos nos aproximar na hora de pesquisar, é capaz de nos proporcionar. p.121.

Citar põe cada qual em seu lugar. É como intimar testemunhas a depor em um processo. (Eco, 1989:195) p.121.

4.9 O conteúdo continente

Uma pesquisa, o caso de uma tese de doutorado é paradigmático, é um todo dividido em partes. É um corpus que tem seu esqueleto, que está apoiado, que requer uma estruturação determinada, que está sustentado em andaimes que suportam seus conteúdos. O saber ocupa espaço. Tem de ser apreensível pelos sentidos para, depois ser codificável pelo intelecto. p.122.

O Desejo de pesquisar arranca de um projeto base, que recolhe seus objetivos gerais, as propostas metodológicas e um breve desenho geral de conteúdos. Trata-se apenas de um esboço em traços gerais que depois irá sendo definido, na medida em que evoluem as tarefas de rastreio, busca, comprovação e análise. De fato, é impossível adiantar com exatidão a fisionomia que a pesquisa vaitomando, conforme avança. p.123.

O pesquisador deverá seguir cinco condicionantes primordiais:

1. Compacto. Uniformidade do começo ao fim. No fundo e na forma.2. Organizado. O índice parcela e divide os ramos de conhecimento abordados pela pesquisa.3. Disciplinado. A responsabilidade e a autorregulação do doutorando evitam o caos. Sem compromisso, não se tem sucesso.4. Fundamentado. Não dar nenhum passo fora da trincheira do rigor.5. Dimensionado. Dar lhe a justa medida. O tamanho da tese de doutorado é consequência da pesquisa, não uma presunção do pesquisador para ganhar méritos pela via da quantidade, que, per se, não contribui com qualidade alguma. pp.123-124.

4.9.1 Estrutura arborescente. O tronco que se ramifica

A partir da vertente principal do objeto de estudo escolhido, procede-se na medida em que se investiga, a uma multiplicação das vias de trabalho, a uma progressiva bifurcação das linhas de pesquisa, que assim vão se alargando por meio de uma série de ramagens ou compartimentos que ampliam os limites iniciais e estabelecem uma série de subdivisões que encapsulam unidades de análise significativas. p.125.

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A extraordinária complexidade inerente ao ato de pesquisar é demonstrada na necessidade de dividiro trabalho em uma multiplicidade de temas e de subtemas que são indispensáveis tanto para a ordem da exposição que deve presidir à apresentação de seus resultados, como para a facilitação da leitura e a compreensão que situa as contribuições, sem perder nem uma porção de cientificismo, naproposição indispensável de sua comunicabilidade. p.126.

4.9.2. Sequência do romance clássico

A plasmação por escrito dos resultados de uma pesquisa segue, mesmo que isso soe surpreendente, o esquema básico do romance clássico. Ou seja, se compõe de três partes claramente diferenciadas: introdução, núcleo e clímax.Por canais antitéticos, chegamos ao mesmo esboço de representação. A redação científica tem escassos pontos de conexão com a narrativa. Ela não se baseia na ficção, nem sua descrição é superficial, visto que adentra na dissecação dos fenômenos que estuda, nem sua finalidade é o relatodas peripécias vitais de seus personagens, muitas vezes inventados.Mesmo assim, a ciência se acomoda sem a menor dificuldade a essa tríplice subdivisão interna por que requer um traçado inicial (formulação do problema), desenvolvendo-se depois com base em umconjunto de questões e de vertentes progressivamente bifurcadas (núcleo da pesquisa) e culmina com êxito quando traz contribuições válidas (clímax). p.127.

4.10. Correção e homogeneidade. Ortografia e estilo

Não se pode entender o rigor científico sem um respeito escrupuloso às regras ortográficas do idioma que se utiliza para transmitir os resultados de uma pesquisa. p. 129.

O orientador da tese de doutorado deve lê-la por capítulos e em diversos momentos para delatar erros e incongruências. p.128.

Para combater todos esses defeitos, o dicionário e os manuais específicos constituem o melhor aliado possível de um doutorando. p.129.

Parte 5

O projeto de pesquisa: algo mais que pinceladas

O projeto é o primeiro documento a ser redigido. Ele identifica, dá o perfil do objeto de estudo e antecipa de maneira descritiva e sintética as linhas gerais da pesquisa que, ao menos de princípio, são tidas como aconselháveis. Deve dispor de algumas características de estilo distintivas: ser direto, concreto esquemático sucinto. Não se trata da pesquisa propriamente dita. p.132.

Ambição. O objetivo é fazer ciência e comunicá-la. Portanto, os trabalhos científicos são elaboradosna perspectiva de favorecer a comunicabilidade e as transferências de conhecimentos. p.132.

Aposta. Ao pesquisar, temos de apostar tudo no rigor. Começando com o planejamento inicial até enumeração das conclusões últimas, a exigência de contrastar, de confirmar, de provar, de testar, é indispensável para defender nossas teses e demonstrações. p.132.

Aproximação ao objeto de estudo. […] É bom ter a precaução de realizar uma aproximação apriorística ao tema para prever as opções de bom êxito. p. 133.

Antecipação operativa para a pesquisa. […] Não se pode resumir o que ainda não foi feito. Trata-se

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de um esquema que estabelece os limites do trabalho. Antes de começar, um mapa da rota. A visão sequencial do sempre trabalhoso processo de pesquisarestá presente no projeto. p.133.

2. Pesquisar antes de escrever. A redação do documento informe só começa quando se concluiu a pesquisa. Nunca antes. p.134.

3. A busca precede a análise. Antes se realiza o trabalho de campo, se reúnem, catalogam e arquivam os materiais da pesquisa e por fim, se submete o conjunto a um trabalho hermenêutico, mediante a utilização de operações padronizadas que permitam extrair conclusões e superar o nível restrito do particular.

4 A estrutura é anterior à redação. O documento final assume a estrutura que deu origem à pesquisa,e nunca o contrário. p.134.

5.1 Precedente do núcleo da pesquisaPrimeiro, desenha-se a pesquisa (projeto), depois se pesquisa e por fim, escandem-se de forma ordenada os resultados de todo o processo em um documento final que, no caso do doutorando, seria sua tese de doutorado. p.134

Nesse período central é que acontece a pesquisa. Ela começa com a apresentação do projeto e se conclui com a redação do documento que sustenta e explica todas as suas contribuições. Falamos deum processo extenso e intenso, trabalhoso e complexo, no qual a solução, como nos filmes de suspense, só irrompe no final. Um trânsito repleto de incertezas que se visualiza ainda com mais clareza na figura do doutorando. O trabalho científico é o resultado de uma pesquisa prévia. p.135.

E digamos logo: não se faz ciência sem paciência. p.135.

O pesquisador se encontra , portanto, em uma permanente situação de trânsito excessivamente engessada pela necessidade de rastreio, de obtenção, ordenamento e arquivamento de dados e de materiais sem importar sua procedência nem sua natureza, pertinentes para o sucesso de seus empenhos. Pos esse motivo, ele está submetido à exigência de uma dupla obrigação: buscar e analisar. p.135.

Primeiro que tudo, é necessário projetar a pesquisa. Esboçá-la em um documento. Pôr em escrito suas determinações. Defini-la. Delimitar a margem de busca. Dividir a realidade para obter, a partir dessa primeira ação de desbastamento, um objeto de estudo claro e reconhecível. p. 136.

Definitivamente, toda pesquisa está enquadrada em um processo que em amplas pinceladas, consta de três fases genéricas: 1. Esboço geral, contido em um projeto de pesquisa racionalizado. Faremos recomendações para sua elaboração no tópico a seguir.2 A própria pesquisa. A busca, processamento e análise de dados pertinentes que se infiram do objeto e do objetivo da tarefa investigativa.3. Apresentação posterior. Por meio de um documento final (a tese, por exemplo, no caso do doutorando) que deve fazer um sumário, ter passado pelo crivo de vários rascunhos prévios, ter sidoobjeto de correções permanentes e de revisões intermediárias, até chegar a seu estado definitivo. p.137.

5.2. As partes de um projeto de pesquisa

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O projeto de pesquisa não é apenas um elemento afetado pelo critério logístico do planejamento prévio de toda atividade complexa (pesquisar é uma delas, sem dúvida). Trata-se de um preceito acadêmico, científico e administrativo. p.137.

Para termos visibilidade nesse competitivo panorama do financiamento de pesquisas com recursos públicos (e também privados), é obrigatório dispor de projetos exequíveis que realcem nosso valor egarantam a factibilidade do processo com a dotação dos recursos indispensáveis para poder pesquisar.

5.2.1. O título, uma questão que primeira grandeza

Um aspecto crucial, que temos de trazer resolvido antes iniciar a elaboração de uma elaboração de um projeto de pesquisa é sua denominação. O título deve ser uma resposta a uma escolha atilada e cuidadosa. Qualquer nome não serve, porque o título tem de proporcionar a máxima síntese de conteúdo. p.138.

5.2.2 Aproximação ao objeto de estudo

Antes de começar, é necessário delimitar o objeto de estudo, defini-lo com clareza. Saber que temaspretendemos abordar e qual é sua verdadeira legitimação social e científica. p.139.

Não obstante, essa primeira aproximação ao objeto de estudo é meramente exploratória, nunca em profundidade, pois isso seria contraditório. O planejamento não deve abarcar mais de duas ou três páginas do documento. Redigido em um estilo claro e direto situa o investigador diante do tema da pesquisa. p.139.

O planejamento não é mais, como reza a epígrafe, que uma aproximação geral, superficial e introdutória ao tema. Com ele, pomos em funcionamento o princípio da seleção consciente, fundamental para pesquisar com critério. p.140.

A exigência da aproximação ao objeto de estudo permite desvelar sua identidade exata. Será um grão de areia no deserto, mas é isso que ele é. p.140.

Além dessa pergunta original (o que é?), na aproximação ao objeto de estudo se explicarão os elementos, as causas e os motivos científicos que justificam a pesquisa. Para tanto, será necessário responder a duas poderosas questões: por quê (aqui estamos em uma busca de quais são os critérios que apontaram para a conveniência e a oportunidade de pesquisar justamente o que estamos pesquisando) e para quê? (aqui estamos diante do desafio do sentido geral de nossa tarefa, que seria um desatino, a menos que tenha sido sugerida por sua incontornável função social). p.140.

5.2.3. Formulação do problema

Pesquisar não é fácil. Além de realizar uma definição expressa do objeto de estudo, é necessário saber como vamos abordá-lo, qual vai ser o enfoque, que de forma avaliamos o trabalho para que, mesmo que os obstáculos se avultem, sempre operemos com a clarividência de que é justamente isso o que queremos fazer. p.141.

Em outros termos, pesquisar é um processo problemático que, requer, em primeira instância, a formulação do problema de pesquisa. Isso não é mero trocadilho. Esse primeiro passo é fundamental para a viabilidade do restante da operação que ponhamos em marcha. Se a formulação do problema não estiver bem posta, se fizermos uma formulação difusa e desconexa, débil e imprecisa, teremos muitas dificuldades para colher qualquer resultado. p.141.

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O pesquisador é desconfiado por natureza. Ele tem a necessidade de questionar tudo. Se não fosse curioso, se concordasse com tudo o que acontece a seu redor, se desse por definitivo tudo o que conhece, não assumiria o risco de pesquisar. p.142.

Desse modo, a formulação do problema, a hipótese inicial, constitui um capítulo primordial de qualquer projeto de pesquisa e tem uma função motriz (atua como geradora de movimento) para o restante do processo. É mais que provável que o lugar de chegada se pareça bem pouco com o pontodo qual partimos (já dissemos isso em outros momentos deste livro) e que a sucessão inevitável de hipóteses inferiores que secundam nossa travessia como pesquisadores nos aconselhem a transitar por âmbitos inicialmente imprevisíveis. p.142.

A dúvida, expressa em forma de perguntas, supõe a chispa que ativa todo processo de pesquisa. p.143.

É preciso impor um limite à pesquisa. De fato, a formulação do problema antecipa quais são as suasfronteiras mais gerais. Esclarece o que vamos fazer, qual é a nossa prioridade, que orientação e perspectiva lhe damos, isto é, a escolha do objeto de estudo agrega uma visão nova: a de reconhecerque se trata de uma área inexplorada e a lhe conferir um enfoque determinado. A partir daí, o capítulo seguinte deve vir fixar seus objetivos. p.143.

5.2.4. Exposição de objetivos. Gerais e específicos.

Eleito e formulado corretamente o tema, próximo passo, antes de começar a pesquisar, é a fixação dos objetos, sejam eles gerais ou específicos. Obviamente, se arbitrará para isso um procedimento lógico que os ordenará, segundo forem surgindo, do maior ao menor. p.143.

Todavia, é um erro superlativo confundir objeto e objetivos da pesquisa. O primeiro faz referência ao tema concreto que transformamos no centro de todas as nossas suposições e conjecturas. Ele constitui o quê e o porquê da pesquisa, enquanto os objetivos cifram e fixam seus para quê. O objeto é essencialista, enquanto os objetivos são, por natureza finalistas. p.144.

Por esse motivo, os objetivos têm de estar expostos com precisão, ser poucos e diretos. Uma pesquisa não pode ter objetivos gerais ilimitados. Isso não seria normal. Entraria em contradição com sua própria definição. p.144.

5.2.5 Metodologia. Inevitável para provar a hipótese

De tanto repetir, uma coisa parece inexcusável: a pedra de fogo da ciência é o método, dado que ele é “o único que garante o conhecimento da realidade: todos os demais métodos farão o homem” escravo de suas opiniões, assegura Charles Sanders Peirce (1971; 35) O método está imbuído de uma intenção de objetividade, de imparcialidade, de rigor, de cientificismo, que é inseparável da forma na qual os pesquisadores tentam construir o conhecimento que adquire o estatuto de ciência. p.145.

De uma forma ou de outra, existe uma coincidência que é comum para a globalidade desse conjuntode raciocínios: a necessidade de construir o conhecimento científico a partir da utilização de um método válido. Por isso, em todo projeto de pesquisa, deve figurar um capítulo à parte, no qual se esclareça, se defina, se identifique e se justifique o tipo de método escolhido. É difícil executar uma pesquisa com uma sujeição exclusiva a um único método. p.145.

Desse modo, a escolha de um método em vez de outro deverá ser pensada de forma direta e estará condicionada pela própria natureza da pesquisa. p.146.

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5.2.6 Fundamentos teóricos. Base conceitual.

Por isso, constitui uma obrigação para todo pesquisador manejar com facilidade e fluidez a base conceitual sobre a qual se assenta o tema escolhido. Pesquisar é uma tarefa altamente qualificada, que exige que se disponha de conhecimentos avançados. O doutorando deve possuir esse embasamento mínimo para manobrar a pesquisa com movimentos firmes. p.146.

Por um lado, é imprescindível conhecer, para evitar repetições absurdas e omissões transcendentes, as teorias e proposições anteriores que tenham sido publicadas sobre o tema. Por outro, necessita de uma contextualização que não apenas insira a pesquisa no presente, mas que também seja retrospectiva, para, desse modo, determinar a evolução da realidade analisada no tempo. p.147

Por isso, toda pesquisa requer o esclarecimento e a especificação de, pelo menos, uma dupla contextualização, conceitual e dialógica. p.147.

Junto à existência de alguns fundamentos metodológicos e científicos, que constituem o conteúdo do subtítulo anterior, nenhuma pesquisa pode ser classificada de séria se não fizer um esforço para esclarecer qual é seu embasamento teórico, ou seja, para especificar seu entorno conceitual de referência. Eludir essa exigência supõe incorrer em uma debilidade estrutural que afeta de forma transversal todo o conjunto. p.148.

5.2.7. Plano de trabalho e cronograma de ações

Junto a todas as exigências já enumeradas, não há projeto de pesquisa que se preze que, ao descer aum nível mais pragmático, não se dote conscientemente de um bem montado plano de trabalho. Pesquisar é um processo. Será nossa obrigação, portanto, sequenciar esse processo, atribuir-lhe fases, estabelecer objetivos intermediários de caráter instrumental. É essa a melhor trincheira para que não nos vejamos vencidos logo adiante. p. 149.

E mais: o pesquisador se encontra em uma permanente situação de adaptação. Isso acarreta a obrigação. Isso acarreta a obrigação de categorizar as tarefas de pesquisa, distinguindo claramente entre tarefas concluídas, em execução e por realizar. p.150.

Existem duas ferramentas que facilitam o trabalho e cuja utilidade afeta todo tipo de pesquisas: o cronograma e o diário de campo. Trata-se de dois documentos independentes, mas que guardam certa relação: sua obsessão por segmentar a pesquisa e por lhe conferir uma ordem determinada. p.150.

Mas não são os únicos. Também se faz necessário incorporar outros instrumentos de grande valia, como é o caso das fichas, das entrevistas personalizadas e dos questionários para recordação direta de informação, assim como de bases de dados consistentes nas quais arquivar todo o material que vamos acumulando enquanto experimentamos. Todo esse procedimento operacional não faz mais parte do planejamento e sim da execução da pesquisa. pp.151-152.

5.2.8. Anexo Documental. Bibliografia.

Por fim, todo projeto de pesquisa tem de se fechar por um capítulo obrigatório que contenha, em forma de anexo, uma lista detalhada das fontes documentais em função de sua natureza (primárias esecundárias) ou de seu uso (citadas ou consultadas). Um roteiro que se remata com a cópia fac-similar de determinados documentos que são imprescindíveis para a logística da tarefa investigatória, como é o caso dos questionários, fichas etc., que devem ser conhecidos anexados e numerados para conhecimento da banca examinadora. p.152.