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Ficha para Identificação da Produção Didático-Pedagógica

Professor PDE/2012

Título: HISTÓRIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Abordagens, problemas e perspectivas

Autor Maristela Ferreira da Rocha

Disciplina/Área História

Escola de Implementação

do Projeto e sua localização

Colégio Estadual João XXIII – EFMN

Rua da Liberdade, 471 - Centro

Município da escola Clevelândia – PR

Núcleo Regional de Educação Pato Branco

Professor Orientador Jó Klanovicz

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Centro-Oeste

– UNICENTRO

Relação Interdisciplinar

Arte, Ciências, Geografia, História, Língua

Portuguesa, Sociologia.

Resumo

Este Caderno Temático diz respeito às orientações

para o desenvolvimento das práticas curriculares de

educação ambiental na proposta da História

Ambiental, destacando as abordagens, problemas e

perspectivas. Partindo da compreensão que a

Educação Ambiental é um dos Temas Transversais

a serem implementados atendendo aos preceitos

dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)

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pretende-se discutir sobre os fundamentos teórico-

metodológicos na formação de educadores para

ampliar o diálogo entre a sociedade e a natureza e

para repensar as abordagens, problemas e

perspectivas da Educação Ambiental no município

de Clevelândia - Paraná. A partir da análise dos

Planos de Trabalho Docente (PTD) verificou-se que

a temática em relação à História Ambiental não

está inserida no currículo da disciplina de História.

A não formação dos professores na área ambiental

pode ser um fator que contribui para que essa

temática não seja trabalhada em sala de aula. O

objetivo geral é analisar na perspectiva histórica as

relações existentes entre a natureza e a sociedade

apresentando como esse tipo de abordagem pode

contribuir para o trabalho dos professores e esta-

belecer diálogos com outras disciplinas. Serão

utilizados textos com o propósito de inicialmente

apresentar os fundamentos teóricos da História

Ambiental, na sequência será discutida a

metodologia da História Ambiental e finalmente

será destacada a relação entre meio ambiente e o

ensino de História. Serão utilizados como funda-

mento de nossas apresentações os conceitos e a

metodologia de pesquisa propostos por Donald

Worster, José Augusto Pádua, José Augusto

Drummond e Paulo Henrique Martinez, destacando

os trabalhos e resultados recentes desse tipo de

pesquisa no Brasil.

Palavras-chave Educação; História Ambiental; Perspectivas.

Formato do Material Didático Caderno Temático

Público Alvo Docentes

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APRESENTAÇÃO O Caderno Temático é parte integrante do material didático de intervenção,

implantação e implementação na prática pedagógica. É apresentado como

requisito para a obtenção do cumprimento das atividades realizadas pelos

professores PDE.

O Caderno Temático HISTÓRIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: aborda-

gens, problemas e perspectivas tem como objetivo analisar na perspectiva

histórica as relações existentes entre a natureza e a sociedade apresentando

como esse tipo de abordagem pode contribuir para o trabalho dos professores e

estabelecer diálogos com outras disciplinas.

A pretensão no aprofundamento dessa temática justifica-se pela relevância

das questões ambientais em relação a sociedade, sendo que a educação

ambiental não é um campo homogêneo e que reflete a diversidade das

concepções teóricas que fundamentam os estudos sobre a História Ambiental.

Neste âmbito, os sujeitos são compreendidos como indivíduos historicamente

determinados, constituídos em ações políticas com vistas à transformação na

sociedade.

Esse material preparado para a socialização com os professores da Rede

Estadual de Educação do estado do Paraná, pressupõe uma discussão referente

ao desenvolvimento das práticas curriculares de educação ambiental na proposta

da História Ambiental destacando os principais aportes teóricos sobre a temática,

metodologias e a relação entre meio ambiente e o ensino de História.

Na primeira unidade, temos os “Fundamentos teóricos da história

ambiental” com o propósito de inicialmente apresentar os fundamentos teóricos da

história ambiental, como a historiografia tem se comportado diante desse tipo de

estudos, seus principais autores e as diferentes formas de abordagem e temas de

investigação.

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Na sequência, intitulada “Metodologia da história ambiental” será discutida

a metodologia de pesquisa da história ambiental, apresentando alguns

documentos históricos, formas de extrair as questões ambientais dessas fontes,

construção e desenvolvimento de projetos de pesquisa nessa área.

Na terceira parte será destacada a “Relação entre meio ambiente e o

ensino de História”, em que será discutido como esse tipo de conhecimento pode

ser incorporado no cotidiano da sala de aula, sugerindo recursos que dinamizem o

ensino de História, além de fazer com que a história dialogue com outras

disciplinas.

Utilizaremos como fundamento de nossas apresentações os conceitos e a

metodologia de pesquisa propostos por Donald Worster, José Augusto

Drummond, José Augusto Pádua e Paulo Henrique Martinez, destacando os

trabalhos e resultados recentes desse tipo de pesquisa no Brasil.

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1ª UNIDADE

FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA HISTÓRIA AMBIENTAL

Maristela Ferreira da Rocha1

Nesta unidade tem-se como propósito apresentar os fundamentos teóricos

da história ambiental, ou seja, como a historiografia tem se comportado diante

desse tipo de estudos, seus principais autores e as diferentes formas de

abordagem e temas de investigação.

A questão ambiental é essencial no cenário sócio-político mundial. As

discussões travadas acerca das relações sociais desigualmente estabelecidas,

que culminam com o esgotamento dos recursos naturais, inserem-se direta ou

indiretamente no âmbito das instituições educacionais, por tratarem de um tema

estratégico para o futuro do planeta. Isso, além de situar a questão ambiental

como um problema fundamental, também é fruto de grande preocupação, pois

faltam, na maioria dos casos, discussões que incorporem reflexões

epistemológicas e teórico-políticas que deem sentido a essas atividades. Diante

dessa perspectiva entende-se que:

A história ambiental apresenta-se hoje como um campo vasto e diversificado de pesquisa. Diferentes aspectos das interações entre sistemas sociais e sistemas naturais são esquadrinhados anualmente por milhares de pesquisadores. A produção atual engloba tanto realidades florestais e rurais quanto urbanas e industriais, dialogando com inúmeras questões econômicas, políticas, sociais e culturais.(PÁDUA,2010,p.96).

As discussões sobre Educação Ambiental, na escola, pressupõem a

explicitação de suas bases, isto é, em quais referenciais teóricos sustentamos

nossas concepções sobre o trabalho pedagógico voltado à Educação Ambiental

1 Cursista do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE)-Universidade do Centro-Oeste -UNICENTRO.

Graduada em História e Geografia com especialização em Meio Ambiente.

e-mail:[email protected]

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na escola. Teremos como base documentos oficiais de âmbito internacional e

nacional, e autores que abordam a História Ambiental nos aspectos da educação

formal e da discussão teórico-científica.

A Educação Ambiental foi inserida no cenário político nacional e

internacional recentemente. Praticada nos EUA, na Austrália e em alguns outros

países de língua inglesa, nasceu do interesse e dos trabalhos de pesquisa de uma

pequena comunidade acadêmica, formada basicamente por historiadores e

biólogos, vindos de diferentes temas e especialidades.

A história ambiental, como campo historiográfico consciente de si mesmo e crescentemente institucionalizado na academia de diferentes países, começou a estruturar-se no início da década de 1970. A primeira sociedade científica voltada para esse tipo de investigação, a American Society for Environmental Histoy, foi criada em 1977. A publicação de análises substantivamente histórico-ambientais, no entanto, algo bem diferente da simples proposição de influências naturais na história humana, já vinha se delineando desde a primeira metade do século XX e, em certa medida, desde o século XIX. Para refletir sobre a gênese e evolução desse campo de conhecimento, é preciso levar em conta fatores sociológicos e epistemológicos.(PÁDUA, 2010, p.01).

A educação ambiental surgiu no Brasil muito antes de institucionalização.

No início dos anos 70 temos a existência de um persistente movimento

conservacionista, quando ocorre a emergência do ambientalismo vinculado com

as lutas pelas liberdades democráticas manifestadas através da ação isolada de

escolas, professores e estudantes, de pequenas ações de organizações da

sociedade civil, de prefeituras e governos estaduais com atividades educacionais

voltadas a ações para recuperação, conservação e melhoria do meio ambiente.

Em 1973 houve a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente –

SEMA, vinculada a presidência da República, instituindo a educação ambiental no

âmbito do governo federal brasileiro.Em 1981 surge a Lei 6.938/1981 sobre

Política Nacional de Meio Ambiente –PNMA, que estabeleceu no âmbito legislativo

a necessidade da inclusão da Educação Ambiental em todos os níveis de ensino,

incluindo a participação da comunidade, objetivando capacitá-la para a

participação ativa em defesa do meio ambiente.

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As principais referências legais para a construção de um sistema nacional

de educação ambiental são os Artigos 23, 205 e inciso VI do artigo 225 da

Constituição Federal de 1988; que estabeleceu a necessidade de “promover a

educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública

para a preservação do meio ambiente”.

Em decorrência desse cenário mais amplo, na segunda metade da década

de 1990 as questões ambientais ganharam maior visibilidade e materialidade com

a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de ensino

fundamental e médio, desencadeando a necessidade de preparação profissional

dos professores para a abordagem das problemáticas ambientais já nos cursos de

graduação e licenciatura de disciplinas escolares, entre elas a História (Brasil,

2000). Diante dessa premissa sabe-se que :

Os PCNs são apresentados não como um currículo, e, sim, como subsídio para apoiar o projeto da escola na elaboração do seu programa curricular. Sua grande novidade está nos Temas Transversais, que incluem o Meio Ambiente. Ou seja, os PCNs trazem orientações para o ensino das disciplinas que formam a base nacional comum e mais cinco temas transversais que permeiam todas as disciplinas, para ajudar a escola a cumprir seu papel constitucional de fortalecimento da cidadania.(CZAPSKI, 1997 p.1).

No ensino formal houve a valorização da Educação Ambiental pela Política

Nacional de Educação Ambiental (Lei 9.795, de 27 de abril de 1999), em uma

perspectiva transversal, e não como disciplina específica, gerando novas

necessidades no campo do ensino e da aprendizagem. O meio ambiente

ingressou nas agendas econômica, política, educacional e universitária. Estas

mudanças sociais e as medidas governamentais lançaram os historiadores frente

a um problema epistemológico que, se não lhes é totalmente novo, requer novo

empenho analítico: a história do meio ambiente ou, em expressão mais sintética, a

História Ambiental.

No Chile em 2003 aconteceram os primeiros debates sobre a fundação de

uma sociedade latino-americana ligada a história ambiental. Em 2004, foi fundada

a Solcha, pelos mesmos pesquisadores, reunidos em Cuba, cujo propósito é o de

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fomentar a investigação, o intercâmbio de opiniões, a educação e a divulgação de

conhecimento da história ambiental da América Latina e Caribe, a partir de uma

perspectiva de diálogo entre várias áreas do conhecimento.

A Educação Ambiental, à procura de suas bases epistemológicas, sustenta-

se em conhecimento aberto, dialógico e reflexivo, vinculado à prática social, que,

por meio de uma articulação complexa, busca ir além da disciplinaridade imposta

na divisão do conhecimento por áreas fechadas.

A perspectiva interdisciplinar como um dos princípios essenciais na

formação da Educação Ambiental, visa criticar o modelo de organizar e produzir

conhecimento e para se opor à especialização que ainda impera na ciência

moderna, sendo a grande geradora da fragmentação e do reducionismo dos

problemas socioambientais.

O que forma a interdisciplinaridade é um caminho epistêmico e

metodológico da Educação Ambiental como nova postura frente ao ato de

conhecer e conceber o mundo, pois aproxima os saberes específicos, oriundos de

diversos campos de conhecimento, em um contexto que supere a dicotomia objeto

e sujeito, bem como natureza e ser humano.

O objetivo primeiro da Historia Ambiental consiste em aprofundar a

compreensão relativa aos impactos que os seres humanos sofrem de seu

ambiente natural e vice-versa (WORSTER, 199, p. 2). Esta nova prática

historiográfica destaca-se pelo estudo das relações sociais e, a partir das

mesmas, das relações estabelecidas com a natureza (MARTINEZ, 2006, p. 19).

Ainda segundo Martinez,

a primeira tarefa está na preparação dos historiadores para lidar com essa abordagem do passado, a das relações entre sociedade e natureza. Esta última concebida como parte do processo social, ou seja, a dimensão física e material que adquire valor e significado pela sua inserção na vida cotidiana dos seres humanos, pois o ambiente é, necessariamente, uma construção social. Uma natureza com face humana. (MARTINEZ, 2006, p. 21).

Para efetivar a História Ambiental é necessário fazer uma releitura

historiográfica na sala de aula, essa prática requer do professor um olhar diferente

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para a educação, a interdisciplinaridade assume um papel decisivo, a história

ambiental, como um campo novo dentro da História, necessita do diálogo com as

demais disciplinas para compreender como o meio ambiente interfere na relação

do homem com a natureza e da sua relação com a sociedade.

REFERÊNCIAS

CARSON, Rachel. Primavera silenciosa. 1962

CZAPSKI, S. de. A Implantação da Educação Ambiental no Brasil. Brasília: Ed.

MEC. Unesco, 1997.

MARTINEZ, Paulo Henrique. Brasil: Desafios para uma história ambiental.

Nómadas (Col), núm. 22, abril, 2005, p. 26-35 Universidad Central Bogotá,

Colombia.

________ Paulo Henrique. História Ambiental no Brasil: pesquisa e ensino. São

Paulo: Cortez, 2006.

PÁDUA, José Augusto. As bases teóricas da história ambiental. Estudos

avançados. São Paulo, vol. 24 (68), p. 81-101, 2010.

WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. In: História e Natureza.

Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8, p. 198-215, 1991.

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2ª UNIDADE

METODOLOGIA DA HISTÓRIA AMBIENTAL

Maristela Ferreira da Rocha

Na segunda unidade o objetivo é discutir a metodologia da história

ambiental, apresentando alguns documentos históricos, formas de extrair as

questões ambientais dessas fontes, construção e desenvolvimento de projetos de

pesquisa nessa área.

Segundo Worster (1991, p.199) a proposta básica dos criadores da História

Ambiental é tornar possível a construção de uma história interessada em tratar do

papel e do lugar da natureza na vida humana.

Enquanto política pública no Brasil, a obrigatoriedade de promover a

Educação Ambiental nos diversos níveis de ensino inicia-se com a Constituição

Federal de 1988 (Cap. VI, art. 225, parágrafo 1, inciso VI), seguida da inclusão da

temática meio ambiente nos Parâmetros Curriculares Nacionais do MEC - PCN

(BRASIL, PCN, 1997), seguida da Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999,

regulamentada em 2002 e consolidando-se com a Resolução CNE/CP nº 2, de 15

de junho de 2012 que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação Ambiental.

Com relação à Educação Ambiental, os PCNs sugerem que esta temática

seja trabalhada de maneira que o processo educativo esteja comprometido com a

contextualização e o aprofundamento da problemática ambiental considere as

relações sociais, ou seja:

[...] a questão ambiental impõe às sociedades a busca de novas formas de pensar e agir, individual e coletivamente, de novos caminhos e modelos de produção de bens, para suprir necessidades humanas, e relações sociais que não perpetuem tantas desigualdades e exclusão social, e, ao mesmo tempo, que garantam a sustentabilidade ecológica. Isso implica um novo universo de valores no qual a educação tem um importante papel a desempenhar (BRASIL, 1998, p. 180).

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Corroborando com a concepção e o entendimento dos PCNs pelos

envolvidos no processo educacional, Lopes (2004, p.9) comenta que se faz

necessário

[...] conceber os parâmetros como apenas uma proposta curricular, dentre outras, retirar destes textos a marca de referência padrão, é crucial para a construção de novos sentidos para as políticas curriculares. Isso permitirá que outras propostas curriculares com princípios diversos, nos estados e município, e, mesmo nas escolas, tenham maior espaço para produzir novos sentidos para as políticas curriculares, valorizando o currículo como espaço de pluralidade de saberes, de valores e de racionalidades.

Segundo os PCNs é importante “[...] contemplar as temáticas sociais em

sua complexidade, sem restringi-las à abordagem de uma única área” (BRASIL,

1997, p. 42).

[...], o conhecimento científico é parte integrante de uma prática intersubjetiva que ‘tem a eficácia específica de se ajustar teoricamente e sociologicamente pelas consequências que produz na comunidade científica e na sociedade em geral’ (p. 148). Portanto, ainda que no enfoque disciplinar, o compromisso da ciência recortada em cada disciplina deve ser com a prática social concreta que estabelece o sentido da atividade científica. A própria disciplina científica abarcaria, nessa perspectiva pragmática, o compromisso com a realidade social (MACEDO, 1999, p. 56-57).

Nas práticas pedagógicas as questões ambientais constituem-se uma

oportunidade para analisar os processos sociais no Brasil, pois é uma

problemática pouco abordada nas escolas e universidades, mesmo tendo a sua

importância de forma crescente na atualidade. A sociedade, de forma organizada,

define as formas de acesso e a relação de grupos e classes socais com o meio

em que se insere.

Segundo os PCNs em Ação Meio Ambiente na Escola (BRASIL, 2001), é

fundamental que a EA contemple as temáticas relacionadas às questões

ambientais, o domínio de procedimentos que propiciem a pesquisa em diversas

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fontes de informação, desenvolvendo uma atitude de aprendizagem e constante

atualização, propiciando a reflexão sobre a prática especialmente no que se refere

ao tratamento didático dos conteúdos e aos próprios valores e atitudes em relação

ao meio ambiente.

Nessa perspectiva é importante entendermos as definições de Santomé

(1998, p.70): sobre multi, inter e transdisciplinaridade, sendo que

Multidisciplinaridade. Representa o nível inferior da integração. Ocorre quando, para solucionar um problema, busca-se informação e ajuda em várias disciplinas, sem que tal interação contribua para modificá-la ou enriquecê-la. Costuma ser a primeira fase da constituição de equipes de trabalho interdisciplinar, porém não implica necessariamente ser preciso passar a níveis de maior cooperação. Interdisciplinaridade. Segundo nível de associação entre disciplinas, em que a cooperação entre várias disciplinas provoca intercâmbios reais; isto é, existe verdadeira reciprocidade nos intercâmbios e, consequentemente, enriquecimento mútuo. Transdisciplinaridade. É a etapa superior da integração. Trata-se da construção de um sistema total, sem fronteiras sólidas entre as disciplinas, ou seja, de “uma teoria geral dos sistemas ou de estruturas, que inclua estruturas operacionais, estruturas de regulamentação e sistemas probabilísticos, e que una essas diversas possibilidades por meio de transformações reguladas e definidas”. (SANTOMÉ, 1998, p.70).

Os documentos oficiais sugerem que as questões ambientais sejam

trabalhadas na prática pedagógica de maneira interdisciplinar, então é importante

conhecermos esses níveis de integração para efetivá-los como prática em sala de

aula.

As Diretrizes Curriculares Estaduais de História com relação ao trabalho

pedagógico com os conteúdos históricos menciona que

deve ser fundamentado em vários autores e suas respectivas interpretações, seja por meio dos manuais didáticos disponíveis ou por meio de textos historiográficos referenciais. Espera-se que, ao concluir a Educação Básica, o aluno entenda que não existe uma verdade histórica única, e sim que verdades são produzidas a partir evidências que organizam diferentes problematizações fundamentadas em fontes diversas, promovendo a consciência da necessidade de uma contextualização social, política e cultural em cada momento histórico. (DCEs, 2008, p.69).

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Worster em seu artigo sobre História Ambiental procurou sintetizar os

principais elementos do "fazer história ambiental" em 1988, publicado no Brasil no

ano de 1999, procurou sintetizar em três níveis fazer história ambiental que

necessitam ser percebidos em conjunto em suas interações e linhas de

causualidade. Segundo Pádua (2010, p.95),

o primeiro deles se relaciona com a natureza propriamente dita, orgânica e inorgânica, incluindo o organismo humano em sua relação com os diferentes ecossistemas.[...] O segundo nível diz respeito à constituição socioeconômica das sociedades,em sua inter-relação necessária com determinados espaços geográficos.[...] O terceiro grande nível mencionado por Worster, finalmente, diz respeito às dimensões cognitivas, mentais e culturais da existência humana, incluindo cosmologias,ideologias e valores. O comportamento social dos seres humanos em relação ao mundo natural, assim como a própria estruturação socioeconômica da vida coletiva, passa pelas visões de natureza e dos significados da vida humana.

O ponto teórico principal, de qualquer forma, encontra-se na necessidade

de combinar, de maneira aberta e interativa, os três níveis de interações

mencionados anteriormente, pois segundo Pádua (2010, p.97), [...] Mas, de

maneira geral, creio que a história ambiental vem sendo bem-sucedida em

construir metodologias que combinem as diferentes dimensões da experiência

histórica. Entre as temáticas que podem ser analisadas Martinez (2005) sugere

o uso e ocupação da terra, as práticas agrícolas, os grandes projetos energéticos e de infraestrutura, políticas públicas para o meio ambiente, movimentos sociais em defesa da natureza, premissas e possibilidades para o desenvolvimento sustentável, os efeitos da industrialização e da urbanização nas bacias hidrográficas, programas de desenvolvimento local e regional, eliminação das desigualdades sociais são alguns deles.(MARTINEZ,2005, p.34).

É importante elaborar propostas que possibilitem discutir a didática da

História e sua relação com a temática ambiental com atividades de aprendizagem

com diferentes perspectivas em que a História Ambiental possa ser ensinada

utilizando-se de procedimentos de aprendizagem que contribuam para o processo

de construção do conhecimento científico.

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Os procedimentos metodológicos para abordar a História Ambiental devem

contemplar a problematização através da contextualização espaço-temporal,

articulando com os conteúdos básicos, confrontando interpretações

historiográficas e documentos históricos.

Para entender a complexidade das questões ambientais, faz-se necessário

revisitar a Lei n.° 9795/99 de 27 de abril de 1999 que dispõe sobre a educação

ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras

providências e a Resolução CNE/CP nº 2, de 15 de junho de 2012 que

Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde. Brasília;

1998.

DRUMOND, José Augusto. A História Ambiental: temas, fontes e linhas de

pesquisa. In: História e Natureza. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8,

1991, p. 177-197.

LEI No 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999. Dispõe sobre a educação ambiental,

institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências

MARTINEZ, Paulo Henrique. Desafios para uma história ambiental BRASIL:

Nómadas (Col), núm. 22, abril, 2005, pp. 26-35. Universidad Central Bogotà,

Colombia

PÁDUA, José Augusto. As bases teóricas da história ambiental. Estudos

avançados. São Paulo, vol. 24 (68), p. 81-101, 2010

PARANÁ. Diretrizes Curriculares Estaduais. 2008

Resolução CNE/CP nº 2, de 15 de junho de 2012 - Estabelece as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental.

SANTOMÉ, J. T. Globalização e Interdisciplinaridade. Porto Alegre: Artmed,

1998.

WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. In: História e Natureza.

Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8, p. 198-215, 1991.

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3ª UNIDADE

RELAÇÃO ENTRE MEIO AMBIENTE E O ENSINO DE HISTÓRIA

Maristela Ferreira da Rocha

Nesta terceira e última unidade será destacada a relação entre meio

ambiente e o ensino de história, onde será discutido como esse tipo de

conhecimento pode ser incorporado no cotidiano da sala de aula, sugerindo

recursos que dinamizem o ensino de história, além de fazer com que a história

dialogue com outras disciplinas.

A educação necessita cada vez mais de práticas que priorizem a formação

de educandos conscientes e comprometidos com sua realidade histórica e que

estejam prontos a responder as demandas da sociedade, para tanto é necessária

uma reflexão sobre a importância da inclusão da História Ambiental nos currículos

da escola pública paranaense.

A História Ambiental estuda ainda as compreensões, os discursos e as

explicações que as pessoas elaboram sobre a natureza e sobre as mudanças

ambientais. Para Paulo Henrique Martinez, que contribui para o debate acerca do

conceito de História Ambiental, esta é uma abordagem das questões ambientais

no tempo e que encontra no meio ambiente o seu objeto de investigação.

Martinez (2006, p.18) defende

uma nova proposta historiográfica que dê conta da exploração dos homens e da natureza no passado/presente, assim como dos efeitos produzidos, no mundo natural, pelas diversas formações sociais e econômicas.

Segundo o historiador Fernand Braudel que embasou suas concepções no

geógrafo Vidal de La Blache, absorvendo os conceitos de “meio” e “espaço”, na

qual o “tempo histórico” se articula com o “ambiente”, analisando as paisagens,

elementos climáticos, vegetais e animais inseridos no contexto histórico.

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Aqui, referimo-nos à chamada História Ambiental, que nos capacita a descobrir a natureza enquanto agente da História, considerando que outras forças significativas atuam sobre o tempo (WROSTER, 1991, p.1)

Daniel Prado (2008) parte da compreensão do espaço, possibilitando ao

historiador à ampliação das respostas aos questionamentos da história da

humanidade, tornando-se um fator adicional na explicação da interação das

sociedades com a natureza, assunto inserido nas discussões atuais de Educação

Ambiental.

A contribuição da História Ambiental para a Educação Ambiental, tem o

significado de abordar a interação sociedade-natureza no prisma dos fenômenos

sociais, ou seja, como as sociedades humanas se relacionam e interagem com o

meio natural e como concebem o ambiente. Sendo assim, Ambiente, História

Ambiental e Educação Ambiental estão profundamente relacionadas.

Nessa perspectiva a História Ambiental pode desempenhar um importante

papel nesse esforço de decifração do mundo, ao mesmo tempo em que abre aos

historiadores mais uma oportunidade de explorar um campo de trabalho em

expansão. Daí a importância de sensibilizar pesquisadores, professores e

estudantes para esse tema tão presente no cotidiano das pessoas e dos

profissionais de História.

Os modos como concebemos e nos relacionamos com a natureza são

oriundos do momento histórico em que vivemos. Para a História é importante

entender as relações sociais e a natureza, ou seja, diferentes formas de se

perceber o meio ambiente e as representações da natureza, assim como os

limites das relações ecológicas entre humanos e não humanos. Diante dessa

perspectiva, a reformulação do ensino proposta pelos PCN incluiu o tratamento

interdisciplinar a respeito do meio ambiente. Isto significa que o ensino de História

necessita contemplar a problemática ambiental na sala de aula.

As práticas de ensino da rede pública precisam da articulação entre o saber

histórico e o saber escolar, partindo da reflexão da realidade local, regional e

global.

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O diálogo entre as disciplinas faz-se necessário para a melhor

compreensão das temáticas ambientais na contemporaneidade, podendo ser

efetivadas com trabalhos interdisciplinares, articulando elementos constitutivos do

fazer histórico com o fazer pedagógico. Esse é um caminho da educação histórica

em que a sala de aula é um espaço privilegiado, que pode possibilitar a

desnaturalização de uma visão crítica.

A partir desse enfoque é importante analisar o processo de construção de

conceitos científicos e o conhecimento escolar, utilizando diferentes linguagens e

documentos na apreensão e compreensão dos principais conceitos ambientais.

Elaborando projetos de ensino e aprendizagem da História ou em caráter

interdisciplinar.

As relações sociais, socioambientais e as concepções de natureza

constituem-se enquanto produtos da própria História, já que são construídos

socialmente.

A História Ambiental é um novo campo de conhecimento em relação a

construção social do conceito de ambiente. Deste ponto surge uma nova

concepção sobre o passado e o futuro, a partir do qual se construiria uma história

ambiental. Pensá-la desta maneira é como algo que vai além das fronteiras da

disciplina História, e que vai além dos limites da ciência tradicional.

Alguns dos principais produtos socioculturais do século 20, que tem amplo

alcance no todo social e que reposiciona continuamente a relação entre humanos

e mundo natural têm sido filmes, quer sejam documentários ou os featured

movies. Essas produções estão localizadas na imbricação de construções

socioculturais acerca da relação entre sociedade e natureza, especialmente que

as temáticas são desenvolvidas em torno de desastres, agricultura, paisagens.

Eles podem ser considerados textos ambientais, por remeterem a uma ética

específica de relação entre humanos e mundo natural na qual o humano não está

na primazia da tela, seus interesses são limitados por intempéries ou por outros

elementos na trama (BUELL, 1995).

Page 19: Ficha para Identificação da Produção Didático-Pedagógica · Utilizaremos como fundamento de nossas apresentações os conceitos e a metodologia de pesquisa propostos por Donald

Assim é que a proposta está pensada para a utilização histórica e

historiográfica do cinema em sala de aula, partindo de premissas já apontadas por

autores como Marc Ferro (1992), que o caracterizam como produções que

explicitam relações de poder, mas também com a centralização em categorias

psicológicas como afeto ficcional ou afeto documentário (SHOHAT, STAM, 1996).

Essa produção cinematográfica que pode ser trabalhada historicamente está

intimamente ligada a uma cultura da mídia que fornece material com que muitas

pessoas constroem o seu senso de classe, de etnia e raça, de nacionalidade, de

sexualidade, de “nós”, “eles”, “paisagem”, contribuindo para a construção de uma

cultura comum para a maioria dos indivíduos em muitas regiões do mundo

(KELLNER, 2001, p.9).

REFERÊNCIAS

BUELL, Lawrence. The environmental imagination. Boston: Belknap/Harvard

University Press, 1995.

CARVALHO, I.C.M. Historicidade, paisagem e ambiente: as várias naturezas da

natureza. CONFLUENZE. [on line] 2009, Vo 1, N. 1, p. 136-157, Dipartamento

di Lingue e Letterature Straniere Moderne, Universitá di Bologna. ISSN 2036-0967.

FERRO, Marc. Cinema e história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

KELLNER, Douglas. A cultura da mídia. Bauru: EDUSC, 2001.

MARTINEZ, Paulo Henrique. História Ambiental no Brasil: pesquisa e ensino.

São Paulo: Cortez, 2006.

SHOHAT, Ella; STAM, Robert. Crítica da imagem eurocêntrica. São Paulo:

Cosac Naify, 2006.

WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, Rio de

Janeiro, vol. 4, n. 8, p. 198-215, 1991.