ficha para identificaÇÃo - diaadiaeducacao.pr.gov.br · também, a aproximação do aluno da arte...

29

Upload: vuongdung

Post on 24-Nov-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa
Page 2: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA

TURMA - PDE/2012

Título: O ensino da literatura na perspectiva do letramento

Autor Juliana Pessi Mayorca

Disciplina/Área Português

Escola de Implementação do Projeto e sua localização

Colégio Estadual Pedro Stelmachuk

Município da escola União da Vitória

Núcleo Regional de Educação

União da Vitória

Professor Orientador Maria Cristina Fernandes Robazkievicz

Instituição de Ensino Superior

FAFI- União da Vitória

Relação Interdisciplinar Arte e Filosofia

Resumo

A necessidade de novas perspectivas para o ensino de literatura no ensino básico justifica o presente estudo. Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma sociedade de um dado tempo e lugar, pois sabemos que a literatura faz parte do produto geral do trabalho humano, ou seja, da cultura. A cultura de um povo são as suas realizações, em diversos sentidos, é um conjunto socialmente herdado, que determina a vida dos indivíduos. Percebemos isso em cada linha de um enunciado literário, que pode representar a ideologia do autor e sua visão de mundo. Porém, temos que mostrar ao nosso aluno que, mesmo que a literatura reflita sobre a realidade, é preciso olhá-la como ficção, como arte.

A leitura, não só a literária, necessita possibilitar ao aluno uma rede de sentidos, que somente será efetivada se o texto lido for compreendido. Para tanto, os estudos na perspectiva do letramento vão de encontro a essas angústias vivenciadas diariamente nas aulas de Português, uma vez que o letramento ocorre quando se tem compreensão do que se leu e não apenas a decodificação.

O objetivo geral é Promover o letramento literário com uma turma de 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio

Page 3: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

Estadual Pedro Stelmachuk, em União da Vitória – PR. Os objetivos específicos são: Aproximar o texto literário do aluno para desenvolvimento do senso estético e reflexivo; ler e interpretar textos literários relacionando-os com o contexto de produção e possibilitar ao aluno o amadurecimento como leitor, para que, a partir do trabalho desenvolvido, efetivem a leitura como hábito e prazer.

Palavras-chave Literatura; Ensino; Letramento

Formato do Material Didático

Sequência didática

Público Alvo Alunos (as) do 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Pedro Stelmachuk.

Page 4: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

PARANÁ

GOVERNO DO ESTADO

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

JULIANA PESSI MAYORCA

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA

UNIDADE DIDÁTICA

O ENSINO DE LITERATURA NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO

Produção Didática (Unidade Didática) apresentado à Secretaria de Estado de Educação do Paraná (SEED) para o Programa de Formação Continuada intitulado Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), sob a orientação da Profª Ms. Maria Cristina Fernandes Robazkievicz, da FAFI União da Vitória – PR

União da Vitória – PR 2012

Page 5: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

APRESENTAÇÃO

A presente sequência didática vem de encontro à necessidade de novas

perspectivas para as aulas de literatura no ensino básico. Essa é a justificativa deste

estudo, também a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como

ficção, seja ele canônico ou não, mas que pode representar o homem e a sociedade

de um dado tempo e lugar, pois sabemos que a literatura faz parte do trabalho

humano, ou seja, da cultura.

A leitura, não só a literária, necessita possibilitar ao aluno uma rede de

sentidos, que somente será efetivada se o texto lido for compreendido. Para tanto,

os estudos na perspectiva do letramento vão de encontro a essas angústias

vivenciadas diariamente nas aulas de Português, uma vez que o letramento ocorre

quando se tem compreensão do que se leu e não apenas a decodificação.

A leitura literária é tão importante na formação do cidadão, nas suas práticas

sociais como qualquer outra leitura. A literatura possibilita a tomada de compreensão

do mundo, mas também precisa questioná-lo e reinterpretá-lo.

Espera-se que o aluno reflita sobre as questões relacionadas à compreensão

de um texto literário, seja ele em prosa ou em verso, bem como perceba que a

literatura, através do autor, capta da sociedade as alegrias, dores, esperanças,

sofrimentos e aspirações recriando-as e devolvendo-as à sociedade.

Pensando no contexto escolar, em uma turma de 9º ano do Ensino

Fundamental do Colégio Estadual Pedro Stelmachuk, nas aulas de Língua

Portuguesa, em que os alunos têm dificuldades de reconhecer e interpretar textos

literários, questionamos: qual é o papel da Literatura? Como estabelecer uma

educação literária que contemple as várias culturas? Como associar o ensino da

Literatura ao letramento literário? COSSON (2009) defende a ideia de que o

letramento literário é diferente da leitura por fruição, apesar de estarem interligados.

Ressalta, ainda, que a literatura deve ser ensinada na escola, que devemos

compreender que o letramento literário é uma prática social, assim, responsabilidade

da escola. E como escolarizar a literatura sem descaracterizá-la, “sem transformá-la

em um simulacro de si mesma que mais cega do que confirma seu poder de

humanização.” (COSSON, 2009, p.23)

Será que estamos formando leitores através da literatura ou apenas nos

Page 6: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

iludindo? Neste sentido, as palavras de Cosson são pertinentes, ou seja, o estudo

do texto literário faz parte de uma prática escolar em que os alunos não encontram

sentido nesse estudo.

Acreditamos que a leitura efetiva de textos literários pode levar o aluno ao

contato com uma diversidade de situações por meio das personagens, oferecendo-

lhe experiências para a compreensão crítica das estruturas sociais. Diante disso,

temos algumas discussões e propostas a desenvolver acerca do texto literário, como

objeto de estudo para o letramento.

O objetivo geral deste trabalho é promover o letramento literário com uma turma

de 9º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Pedro Stelmachuk, em União

da Vitória – PR. Os objetivos específicos são: aproximar o texto literário do aluno

para desenvolvimento do senso estético e reflexivo; ler e interpretar textos literários

relacionando-os com outras manifestações artísticas, e possibilitar ao aluno o

amadurecimento como leitor, para que, a partir do trabalho desenvolvido, efetivem a

leitura como hábito e prazer.

A primeira unidade irá trabalhar com a arte e sua relação com a vida. A sugestão

de trabalho parte do filme Sociedade dos poetas mortos, passa pelo texto de Rubem

Alves, Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas, e acaba com uma

reflexão a partir a música Comida, da banda Titãs. O objetivo dessa unidade é

pensar sobre como a arte está entrelaçada na nossa vida e na escola, o que ela

representa e como pode agir sobre nós. A unidade encerra com uma produção

textual.

Na unidade seguinte, o tema proposto é o amor. A música Amor, meu grande

amor, da banda Barão Vermelho, abre a unidade didática. Na sequência duas

crônicas: O amor acontece, de Adriana Falcão, e O amor acaba, de Paulo Mendes

Campos. Além de reflexões sobre esse contraditório sentimento, apresenta-se o

conceito de crônica e mito. A unidade se encerra com uma produção textual.

A unidade 3 continua tratando da temática “amor”. O poema de Carlos

Drummond de Andrade, As sem-razões do amor, é o texto de motivação, em que se

pode atentar para o lado sombrio do amor, aquele que leva à morte. Na sequência, o

conto de Lygia Fagundes Telles, Venha ver o pôr-do-sol, o qual aborda a relação de

amor e ódio, que chega a levar à morte. A produção final da unidade será uma

história em quadrinhos.

A quarta e última unidade traz como assunto principal “a casa”. Como motivação,

Page 7: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

a atividade proposta parte de classificados, em que os alunos terão que escolher a

“casa dos sonhos”. Na sequência, o conto de Moacyr Scliar, No retiro da figueira,

que aborda a falta de segurança nos condomínio. A unidade didática propõe uma

produção textual e deixa como sugestão algumas músicas com o tema “casa” para

que o (a) professor (a) continue as atividades.

Os alunos terão a oportunidade de conhecer os autores de todos os textos, bem

como as bandas que tocam as músicas trabalhadas. Essa atividade faz parte da

sequência básica proposta por Rildo Cosson (2008) chamada “introdução”. Há

sugestões de textos, entrevistas e vídeos sobre os autores/poetas/bandas em todas

as unidades didáticas.

Page 8: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

1. Motivação1:

1. Assistir ao filme Sociedade dos poetas mortos, do diretor Peter Weir, de

1990.2

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-5280/

O filme se passa em 1959, na Welton Academy, uma tradicional escola preparatória,

um ex-aluno, John Keating (Robin Williams) se torna o novo professor de literatura,

mas logo seus métodos de incentivar os alunos a pensarem por si mesmos cria um

choque com a ortodoxa direção do colégio, principalmente quando ele fala aos seus

alunos sobre a "Sociedade dos Poetas Mortos".

1 A sequência didática será baseada na teoria do Letramento Literário, de Rildo Cosson, chamada Sequência

Básica. Esse procedimento é composto de 4 partes: motivação, introdução, leitura e interpretação. Porém, o

presente trabalho irá adaptar esta teoria, sendo que em alguns casos a introdução e leitura estarão acopladas. 2 Professor (a): Chamar a atenção dos alunos no momento do filme em que o professor fala sobre a poesia e

sobre a arte.

Pensando um pouco sobre

arte...

Page 9: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

1. Questões para debate3:

a) Valorização do pensamento livre;

b) A importância da arte na vida das pessoas;

c) “Carpem diem”;

d) Ser humano alienado x cidadão crítico, participativo;

e) “Não acreditem em tudo que leem”;

f) Visão de mundo limitada e possibilidade de mudança (enfatizar a cena em

que o professor sobe na carteira).

2. Após o debate sobre o filme, ler e refletir sobre o texto de Rubem Alves “Há

escolas que são gaiolas e há escolas que são asas”

Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas

Escolas que são gaiolas existem

para que os pássaros

desaprendam a arte do voo.

Pássaros engaiolados

são pássaros sob controle.

Engaiolados, o seu dono

pode levá-los para onde quiser.

Pássaros engaiolados

sempre têm um dono.

Deixaram de ser pássaros.

Porque a essência dos pássaros

é o voo.

Escolas que são asas

3 O (a) professor (a) pode mediar um debate sobre esses temas e esclarecer alguns termos. Querendo, pode

formular questões mais específicas acerca das questões levantadas.

Page 10: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

não amam pássaros engaiolados.

O que elas amam

são pássaros em voo.

Existem para dar aos pássaros

coragem para voar.

Ensinar o voo,

isso elas não podem fazer,

porque o voo já nasce

dentro dos pássaros.

O voo não pode ser ensinado.

Só pode ser encorajado.”

Rubem Alves

(http://www.pedagogia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=47)

a) Qual a relação do filme Sociedade dos poetas mortos e o texto de Rubem

Alves?

b) Para você, o que seria uma escola “gaiola” e uma escola “asa”?

c) Como você gostaria que a sua escola fosse?4

2. Introdução e leitura

1. Leia e reflita sobre a música “Comida”, dos Titãs:5

4 Neste momento, o (a) professor (a) pode ampliar a atividade, pedindo uma produção textual e/ou a ilustração da

escola desejada. 5 A música não está completa.

Page 11: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

COMIDA

Bebida é água!

Comida é pasto!

Você tem sede de que?

Você tem fome de que?...

...

A gente não quer só comida

A gente quer bebida

Diversão, balé

A gente não quer só comida

A gente quer a vida

Como a vida quer...

(Disponível em http://letras.mus.br/titas/91453)

http://www.titas.net/fotos/amplia.php?interface=0&foto=104&ext_g=jpg

Page 12: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

a) Você conhece a banda “Titãs”? Vamos pesquisar um pouco mais sobre esses

músicos.6

b) Qual a temática da música “Comida”?

c) Você concorda com a letra, que diz que a gente não quer só comida e bebida,

apesar de serem essenciais para a nossa sobrevivência?

d) Além da comida e da bebida, o que mais você quer?

e) Você considera a arte e a diversão importantes para nossa vida? Por quê?

f) O que você entende por “arte”? Quais as manifestações artísticas que você

conhece?

g) Escreva sobre a relação entre “dinheiro e felicidade” apresentada na música.

O que você pensa sobre o assunto?

3. Interpretação / avaliação

1. A partir das ideias debatidas nesta unidade, produza um texto reescrevendo a

música dos Titãs. Leve em consideração a importância da arte em nossas

vidas e tudo aquilo que você deseja além de comida e bebida.7

6 Sugestões de vídeos e sites: Música Comida (http://www.youtube.com/watch?v=hOyt4cwjVns); Site oficial em

que é possível pesquisar a história da banda, ver fotos e vídeos, discografia, deixar recados e etc. (www.titas.net);

entrevista no Programa do Jô Soares (http://www.youtube.com/watch?v=9ggAZi5_Mmc)

7 Os textos produzidos podem ficar expostos na sala ou no mural da escola. Também é interessante incentivar os

alunos a cantarem a música reescrita. O trabalho pode ser feito em duplas ou trios.

Page 13: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

1. Motivação:

1. Assistir ao clipe da música “Amor, meu grande amor”8 disponível em

http://www.youtube.com/watch?v=jC1ATUK7ei8&feature=list_other&playnext=1&list=AL94UK

MTqg-9D3mJe1ABKLfGv09D

http://www.galeriamusical.com.br/detalhes_d.php?cod_artista=9

8 Sugestão:

http://www.youtube.com/watch?v=jC1ATUK7ei8&feature=list_other&playnext=1&list=AL94UKMTqg-

9D3mJe1ABKLfGv09DWyjP4n

Ah, o amor...

Page 14: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

Amor, Meu Grande Amor (Barão Vermelho)9

Amor, meu grande amor

Não chegue na hora marcada

Assim como as canções

Como as paixões

E as palavras...

Me veja nos seus olhos

Na minha cara lavada

Me venha sem saber

Se sou fogo

Ou se sou água...

(http://letras.mus.br/barao-vermelho/44415/)

Algumas questões para pensar:

1. “Não chegue na hora marcada” 2. “Só dure o tempo que mereça” 3. “Que seja o último e o primeiro”

2. Interpretação / leitura

1. Após refletirmos sobre a canção, vamos ler a crônica O amor acontece, de

Adriana falcão e O amor acaba, de Paulo Mendes Campos

O amor acontece* (Adriana Falcão)10

Parece que tem acontecido mais raramente, ninguém sabe ao certo por

que, mas, de repente, olha lá ele. O amor acontece quando quer, sem dar

ouvidos a pedidos humanos, talvez porque seja inclemente, ou porque

apenas obedeça a ordens superiores, ou porque esteja convicto daquilo

que está fazendo. Alguém diz algo agradável e o amor acontece. Alguém diz

um absurdo e o amor acontece. Alguém não diz nada e o amor acontece.

9 A letra da música não está na íntegra.

10 Disponível em http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-amor-acontece*,400981,0.htm

Page 15: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

Alguém toma uma atitude e o amor acontece. Alguém canta o amor e ele

acontece. Ninguém está esperando e o amor acontece.

[...]

* Este texto é inspirado na crônica O Amor Acaba, do meu ídolo Paulo Mendes Campos.

1. Pela leitura do texto, o que, em sua opinião, se entende por amor? 2. E para você, o que é o amor? 3. Há muito tempo os seres humanos tentam explicar o que é o amor. Essas

tentativas deram origem a diversas histórias, como a do mito grego Eros e Psique. Reúna-se com alguns colegas e pesquisem esse mito grego e histórias de outras mitologias (africanas, indígenas, orientais, etc)11

Mitos: são narrativas utilizadas pelos povos antigos para explicar fatos da realidade e fenômenos da natureza que não eram compreendidos por eles. Os mitos se utilizam de muita simbologia, personagens sobrenaturais, deuses e heróis. Todos estes componentes são misturados a fatos reais, características humanas e pessoas que realmente existiram. Um dos objetivos do mito é transmitir conhecimento e explicar fatos que a ciência ainda não havia explicado.

Características de um mito:

- Tem caráter explicativo ou simbólico.

- Relaciona-se com uma data ou com uma religião.

- Procura explicar as origens do mundo e do homem por meio de personagens sobrenaturais como deuses ou semi-deuses.

- Ao contrário da explicação filosófica, que se utiliza da argumentação lógica para explicar a realidade, o mito explica a realidade através de suas histórias sagradas, que não possuem nenhum tipo de embasamento para serem aceitas como verdades.

- Alguns acontecimentos históricos podem se tornar mitos, desde que as pessoas de determinada cultura agreguem uma simbologia que tornem o fato relevante para as suas vidas.

- Todas as culturas possuem seus mitos. Alguns assuntos, como a criação do mundo, são bases para vários mitos diferentes.

- Mito não é o mesmo que fábula, conto de fadas ou lenda.

Disponível em http://www.infoescola.com/redacao/mito-ou-lenda/

11

Professor(a): Nesse momento poderá dividir a turma em grupo e cada grupo irá fazer a pesquisa e apresentar

para a turma.

Page 16: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

A crônica literária A palavra crônica é derivada do latim Chronica e do grego Khrónos (tempo), e significado principal que acompanha esse tipo de texto é exatamente o conceito de tempo. A crônica é o relato de um ou mais acontecimentos em um determinado tempo. A quantidade de personagens é reduzida, podendo inclusive não haver personagens. É a narração de um fato do cotidiano das pessoas, algo que naturalmente acontece com muitas pessoas. Esse fato é incrementado com um tom de ironia e bom humor, fazendo com que as pessoas vejam por outra ótica aquilo que parece óbvio demais para ser observado.

Um dos segredos de uma boa crônica é a ótica com que se observam os detalhes, é através disso que vários cronistas podem fazer um texto falando do mesmo fato ou assunto, mas de forma individual e original, pois cada um observa de um ângulo diferente e destaca aspectos diferentes.

Quando a crônica surgiu era um relato de acontecimentos históricos, que eram registrados por ordem cronológica. Podia usar uma visão mais geral ou mais particular, assim como podia destacar fatos mais relevantes ou secundários. A partir de Fernão Lopes, no século XVI, é que a crônica começou a tomar uma perspectiva individual ou interpretativa.

A crônica de teor crítico surgiu junto com a imprensa periódica (folhetins e jornais), no século XIX. Começou com um pequeno texto de abertura que falava de maneira bem geral dos acontecimentos do dia. Depois passou a assumir uma coluna nos folhetins (coluna da primeira página do periódico) e por fim adentrou de vez ao Jornalismo e à Literatura.

A característica mais relevante de uma crônica é o objetivo com que ela é escrita. Seu eixo temático é sempre em torno de uma realidade social, política ou cultural. Essa mesma realidade é avaliada pelo autor da crônica e uma opinião é gerada, quase sempre com um tom de protesto ou de argumentação. Esse tipo de crônica pode ser simplesmente argumentativa, e dispensar o uso da narração. É possível que percam-se assim, elementos típicos do gênero como personagens, tempo, espaço.

Sendo assim podemos identificar duas maneiras de se produzir uma crônica: a primeira é a narrativa, que como já foi dito, conta um fato do cotidiano, utilizando-se de personagens, enredo, espaço, tempo, etc. A outra maneira é a crônica dos textos jornalísticos, é uma forma mais moderna do gênero, e ao contrário da outra não narra e sim disserta, defende ou mostra um ponto de vista diferente do que a maioria enxerga.

As semelhanças entre as duas são justamente o caráter social crítico, abordando sempre uma maneira de enxergar a realidade, e o tom humorístico, irônico ou até mesmo sarcástico. Podem se utilizar, para esse objetivo, de “personagens tipo”, da sociedade que criticam.

Page 17: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

Não se pode confundir a crônica com outros gêneros como o conto ou a fábula, estes têm características individuais que os diferenciam daquela.

A crônica conta um fato comum do dia a dia, relatam o cotidiano da vida real das pessoas, enquanto o conto e a fábula contam fatos inusitados ou até fantásticos. Ou seja, distantes da realidade. (Ana Paula de Araújo, disponível em http://www.infoescola.com/redacao/cronica-literaria/)

2. O texto lido, O amor acontece, foi uma resposta que a escritora Adriana Falcão

deu ao texto de Paulo Mendes Campos, O amor acaba, que vamos ler a seguir.

O amor acaba (Paulo Mendes Campos)

O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova,

depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos

parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro

que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro

repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora

tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba

o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e

elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as

mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços

luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido

iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do

cavaleiro errante que passou pela pensão; [...]

(Do livro WERNECK, Humberto (org). Boa Companhia – crônica. São Paulo:

Companhia das Letras, 2005)12

1. Vamos conhecer um pouco mais sobre Paulo Mendes Campos13 e Adriana

Falcão.14

12

Professor (a): É interessante levar o livro para a sala de aula, para que o aluno faça a leitura da capa, orelha e

demais elementos paratextuais. 13

Professor (a): Nesse site há um pouco sobre a vida do escritor, http://www.releituras.com/pmcampos_bio.asp.

Também no youtube, http://www.youtube.com/watch?v=6cOJ54k165Y, no programa De lá pra cá. 14

Adriana Falcão concedeu uma entrevista para programa Entrelinhas, disponível em

Page 18: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

2. As duas crônicas trabalhadas até aqui, falam do amor, dos motivos que

desencadeiam ou finalizam o amor, bem como as situações em que ele

começa ou termina, podem ser muito semelhantes. Na sua opinião, por que

isso acontece?

3. Interpretação / avaliação

1. Em sua opinião, o que faz do amor um sentimento tão importante entre as

pessoas e, ao mesmo tempo, tão contraditório? Produza um texto expondo

suas impressões sobre o assunto. Seu texto pode ser em prosa ou verso.

http://www.youtube.com/watch?v=r_PiJkrplLk&feature=related.

Page 19: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

1. Motivação

As Sem - Razões do Amor

Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante,

E nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça

E com amor não se paga.

Amor é dado de graça É semeado no vento,

Na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários E a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo Bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca,

Não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, Feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte, E da morte vencedor,

Por mais que o matem (e matam) A cada instante de amor.

(Carlos Drummond de Andrade)15

(http://www.jornaldepoesia.jor.br/drumm3.html#assemrazoes)

15

Professor (a): promover um breve debate sobre o tema da poesia, com ênfase na última estrofe, preparando a

turma para leitura dos contos que seguem.

...Ainda o amor

Page 20: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=570&evento=9

2. Interpretação / leitura

1. Leia o conto abaixo, da escritora Lygia Fagundes Telles.

Venha ver o pôr-do-sol – Lygia Fagundes Telles16

Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas

iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos

16

Professor (a): Depois da leitura e interpretação do texto, poderá apresentar à turma algumas adaptações do

conto. Há várias no youtube, como por exemplo:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=tneJb4rLSy0#

Page 21: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato

rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil cantiga infantil era a

única nota viva na quietude da tarde.

Ele a esperava encostado a uma árvore. Esguio e magro, metido num largo

blusão azul-marinho, cabelos crescidos e desalinhados, tinham um jeito jovial

de estudante.

- Minha querida Raquel.

Ela encarou-o, séria. E olhou para os próprios sapatos. [...]

TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr-do-sol e outros contos. São Paulo:

Ática, 1993.17

http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/tvmultimidia/imagens/2010/lingua_portuguesa/lygia.jpg

2. Responda as questões propostas:

a) Como o conto apresenta a situação inicial?

b) Lygia Fagundes Telles, escritora consagrada da Literatura Brasileira, tem

como uma de suas temáticas a abordagem dos conflitos humanos pela

17

Professor (a): Há alguns vídeos disponíveis no youtube que poderão ser passados para que os alunos conheçam

um pouco mais sobre a autora: http://www.youtube.com/watch?v=iYHAnfWp8ig

Entrevista com a escritora: http://www.youtube.com/watch?v=xZtdITd_fvs

Page 22: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

construção do fator psicológico nas atitudes das personagens. Faça a

descrição física e psicológica das personagens envolvidas no conto. O qual

das duas descrições foi fundamental para contribuir num enredo sinistro?

Justifique.

c) De que maneira o cenário interfere na criação das personagens?

d) Já dava para perceber que algo de errado estava por acontecer no conto. Cite

elementos que demonstrem isso.

e) De que maneira passa o tempo neste conto? Cronológico ou psicológico?

Justifique com elementos do texto.

f) Em que momento ocorre o clímax nesta história?

g) De que maneira o desfecho acaba surpreendendo o leitor?

h) Por que o nome do conto é: Venha ver o pôr do sol? Justifique sua resposta

com um trecho do mesmo.

i) No início da história, podemos notar a apresentação da leveza nas atitudes

infantis em relação ao outro acontecimento que estava por vir. Explique qual a

intenção do autor em fazer essa iniciação do enredo.

"À medida que avançava, as casas iam rareando, modestas casas espalhadas

sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem calçamento,

coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A

débil cantiga infantil era a única nota viva na quietude da tarde."

3. Interpretação / avaliação

1. Após leitura e interpretação do conto, transforme o conto “Venha ver o pôr-do-

sol” em uma história em quadrinhos.18

18

Professor (a): O trabalho produzido deve ser exposto no mural da escola ou em um varal em sala de aula.

O conto caracteriza-se por ser uma narrativa linear e curta, tanto em

extensão quanto no tempo em que se passa. A linguagem é simples e

direta, todas as ações se encaminham diretamente para o desfecho, que

geralmente é surpreendente. Envolve poucas personagens, e as que

existem se movimentam em torno de uma única ação e as ações se passam

em um só espaço, constituem um só eixo temático e um só conflito.

Page 23: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

1. Motivação

Faz de conta que você recebeu um prêmio de poder escolher a casa que

quiser. Escolha entre os anúncios nos classificados a casa dos seus sonhos.19

Em seguida, oralmente explicitar por que escolheram tal imóvel.

2. Introdução20

http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/tvmultimidia/imagens/2portugues/1scliar.jpg

19

Professor (a): Distribuir entre os alunos anúncios de classificados de casa a venda. Enfatizar para a linguagem

publicitária e o discurso persuasivo. 20

Para apresentar o autor aos alunos, o professor pode utilizar o site http://scliar.org/moacyr/ . No youtube há

vídeos muito bons, como esses por exemplo: http://scliar.org/moacyr/,

http://www.youtube.com/watch?v=H2LWNhRDMTk

Lar doce lar

Page 24: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

3. Leitura / interpretação

No retiro da figueira

Sempre achei que era bom demais. O lugar, principalmente. O lugar era... era

maravilhoso. Bem como dizia o prospecto: maravilhoso. Arborizado, tranqüilo, um

dos últimos locais – dizia o anúncio – onde você pode ouvir um bem-te-vi cantar.

Verdade: na primeira vez que fomos lá ouvimos o bem-te-vi. E também constatamos

que as casas eram sólidas e bonitas, exatamente como o prospecto as descrevia:

estilo moderno, sólidas e bonitas. Vimos os gramados, os parques, os pôneis, o

pequeno lago. Vimos o campo de aviação. Vimos a majestosa figueira que dava

nome ao condomínio: Retiro da Figueira.

Mas o que mais agradou à minha mulher foi a segurança. Durante todo o

trajeto de volta à cidade – e eram uns bons cinquenta minutos – ela falou,

entusiasmada, da cerca eletrificada, das torres de vigia, dos holofotes, do sistema de

alarmes – e sobretudo dos guardas. Oito guardas, homens fortes, decididos – mas

amáveis, educados. Aliás, quem nos recebeu naquela visita, e na seguinte, foi o

chefe deles, um senhor tão inteligente e culto que logo pensei: “ah, mas ele deve ser

formado em alguma universidade”. De fato: no decorrer da conversa ele mencionou

– mas de maneira casual – que era formado em Direito. O que só fez aumentar o

entusiasmo de minha mulher.

Ela andava muito assustada ultimamente. Os assaltos violentos se sucediam

na vizinhança; trancas e porteiros eletrônicos já não detinham os criminosos. Todos

os dias sabíamos de alguém roubado e espancado; e quando uma amiga nossa foi

violentada por dois marginais, minha mulher decidiu – tínhamos de mudar de bairro.

Tínhamos de procurar um lugar seguro.

Foi então que enfiaram o prospecto colorido sob nossa porta. Às vezes penso

que se morássemos num edifício mais seguro o portador daquela mensagem

publicitária nunca teria chegado a nós, e, talvez... Mas isto agora são apenas

suposições. De qualquer modo, minha mulher ficou encantada com o Retiro da

Figueira. Meus filhos estavam vidrados nos pôneis. E eu acabava de ser promovido

na firma. As coisas todas se encadearam, e o que começou com um prospecto

sendo enfiado sob a porta transformou-se – como dizia o texto – num novo estilo de

Page 25: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

vida.

Não fomos os primeiros a comprar casa no Retiro da Figueira. Pelo contrário;

entre nossa primeira visita e a segunda – uma semana após – a maior parte das

trinta residências já tinha sido vendida. O chefe dos guardas me apresentou a

alguns dos compradores. Gostei deles: gente como eu, diretores de empresa,

profissionais liberais, dois fazendeiros. Todos tinham vindo pelo prospecto. E quase

todos tinham se decidido pelo lugar por causa da segurança.

Naquela semana descobri que o prospecto tinha sido enviado apenas a uma

quantidade limitada de pessoas. Na minha firma, por exemplo, só eu o tinha

recebido. Minha mulher atribuiu o fato a uma seleção cuidadosa de futuros

moradores – e viu nisso mais um motivo de satisfação. Quanto a mim, estava

achando tudo muito bom. Bom demais.

Mudamo-nos. A vida lá era realmente um encanto. Os bem-te-vis eram

pontuais: às sete da manhã começavam seu afinado concerto. Os pôneis eram

mansos, as aléias ensaibradas estavam sempre limpas. A brisa agitava as árvores

do parque – cento e doze, bem como dizia o prospecto. Por outro lado, o sistema de

alarmes era impecável. Os guardas compareciam periodicamente à nossa casa para

ver se estava tudo bem – sempre gentis, sempre sorridentes. O chefe deles era uma

pessoa particularmente interessada: organizava festas e torneios, preocupava-se

com nosso bem-estar. Fez uma lista dos parentes e amigos dos moradores – para

qualquer emergência, explicou, com um sorriso tranqüilizador. O primeiro mês

decorreu – tal como prometido no prospecto – num clima de sonho. De sonho,

mesmo.

Uma manhã de domingo, muito cedo – lembro-me que os bem-te-vis ainda

não tinham começado a cantar – soou a sirene de alarme. Nunca tinha tocado antes,

de modo que ficamos um pouco assustados – um pouco, não muito. Mas sabíamos

o que fazer: nos dirigimos, em ordem, ao salão de festas, perto do lago. Quase

todos ainda de roupão ou pijama.

O chefe dos guardas estava lá, ladeado por seus homens, todos armados de

fuzis. Fez-nos sentar, ofereceu café. Depois, sempre pedindo desculpas pelo

transtorno, explicou o motivo da reunião: é que havia marginais nos matos ao redor

do Retiro e ele, avisado pela polícia, decidira pedir que não saíssemos naquele

domingo.

– Afinal – disse, em tom de gracejo – está um belo domingo, os pôneis estão aí

Page 26: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

mesmo, as quadras de tênis...

Era mesmo um homem muito simpático. Ninguém chegou a ficar

verdadeiramente contrariado.

Contrariados ficaram alguns no dia seguinte, quando a sirene tornou a soar de

madrugada. Reunimo-nos de novo no salão de festas, uns resmungando que era

segunda-feira, dia de trabalho. Sempre sorrindo, o chefe dos guardas pediu

desculpas novamente e disse que infelizmente não poderíamos sair – os marginais

continuavam nos matos, soltos. Gente perigosa; entre eles, dois assassinos

foragidos. À pergunta de um irado cirurgião o chefe dos guardas respondeu que,

mesmo de carro, não poderíamos sair; os bandidos poderiam bloquear a estreita

estrada do Retiro.

– E vocês, por que não nos acompanham? – perguntou o cirurgião.

– E quem vai cuidar da família de vocês? – disse o chefe dos guardas,

sempre sorrindo.

Ficamos retidos naquele dia e no seguinte. Foi aí que a polícia cercou o local:

dezenas de viaturas com homens armados, alguns com máscaras contra gases. De

nossas janelas nós os víamos e reconhecíamos: o chefe dos guardas estava com a

razão.

Passávamos o tempo jogando cartas, passeando ou simplesmente não

fazendo nada. Alguns estavam até gostando. Eu não. Pode parecer presunção dizer

isto agora, mas eu não estava gostando nada daquilo.

Foi no quarto dia que o avião desceu no campo de pouso. Um jatinho.

Corremos para lá.

Um homem desceu e entregou uma maleta ao chefe dos guardas. Depois

olhou para nós – amedrontado, pareceu-me – e saiu pelo portão da entrada, quase

correndo.

O chefe dos guardas fez sinal para que não nos aproximássemos. Entrou no

avião. Deixou a porta aberta, e assim pudemos ver que examinava o conteúdo da

maleta. Fechou-a, chegou à porta e fez um sinal. Os guardas vieram correndo,

entraram todos no jatinho. A porta se fechou, o avião decolou e sumiu.

Nunca mais vimos o chefe e seus homens. Mas estou certo que estão

gozando o dinheiro pago por nosso resgate. Uma quantia suficiente para construir

dez condomínios iguais ao nosso – que eu, diga-se de passagem, sempre achei que

Page 27: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

era bom demais.21

(SCLIAR, Moacyr. O retiro da figueira. In: LADEIRA, Julieta de Godoy. Contos

Brasileiros Contemporâneos. São Paulo: Moderna, 2001)22

Questões para reflexão:

1. Qual o tema tratado no conto lido?

2. Quais as características físicas do condomínio Retiro da Figueira?

3. Quais características convenceram os compradores pelo aspecto racional?

4. O que os convenceu pelo apelo à distinção social?

5. Além do tema tratado, esse texto permite uma reflexão sobre quais outros

temas?

6. Quantas vezes o narrador diz que as coisas que viam aconteciam

“exatamente como dizia o prospecto”? Qual o efeito dessa repetição?

7. Por que o chefe da polícia fez uma relação dos parentes e amigos dos

moradores?

8. Em que passagens o narrador expressa desconfiança? De que forma isso fica

claro na sua fala?

9. O que você imagina que aconteceu? Por que você chegou a essa conclusão?

10. Dê continuidade ao conto, criando um final de acordo com sua imaginação. 23

Dando sequência ao tema “moradia”, como sugestão o professor (a) pode

trabalhar com as seguintes canções:

Saudosa Moloca – Adoniran Barbosa

Casa no campo – Zé Rodrix (interpretada por Elis Regina)

Casinha branca – José Augusto

Humilde residência – Michel Teló

A casa – Vinicius de Moraes

21

Professor (a): O final do texto, em vermelho, não deve ser apresentado para os alunos no primeiro momento. 22

Texto presente no Livro Didático Público do Estado do Paraná de Língua Portuguesa, páginas 72-74. Algumas

das atividades são inspiradas no livro didático público do PR. 23

Após produzirem os textos, os alunos podem socializar seus textos, lendo-os para a classe. Após a leitura, o

professor (a) pode apresentar a final original.

Page 28: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, Carlos Drummond. As sem-razões do amor. Disponível em

http://www.jornaldepoesia.jor.br/drumm3.html#assemrazoes

ANDRADE, Carlos Drummond. Disponível em

http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=570&evento=

9

ARAÚJO, Ana Paula. A crônica literária. Disponível em disponível em

http://www.infoescola.com/redacao/cronica-literaria

BARÃO VERMELHO. Amor, meu grande amor. Disponível em

http://letras.mus.br/barao-vermelho/44415/

BARÃO VERMELHO. Amor, meu grande amor. Disponível em

http://www.youtube.com/watch?v=jC1ATUK7ei8&feature=list_other&playnext=1&list=

AL94UKMTqg-9D3mJe1ABKLfGv09D.

BARÃO VERMELHO. Disponível em

http://www.galeriamusical.com.br/detalhes_d.php?cod_artista=9

CAMPOS, Paulo Mendes. O amor acaba IN: WERNECK, Humberto (org). Boa

Companhia – crônica. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

COSSON, Rildo. Letramento literário. São Paulo: Contexto, 2009.

FALCÃO, Adriana. O amor acontece. Disponível em

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-amor-acontece*,400981,0.htm

LYGIA FAGUNDES TELLES. Disponível em:

http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/tvmultimidia/imagens/2010/lin

gua_portuguesa/lygia.jpg

MITOS. Disponível em http://www.infoescola.com/redacao/mito-ou-lenda

MOACYR SCLIAR. Disponível em

Page 29: FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO - diaadiaeducacao.pr.gov.br · Também, a aproximação do aluno da arte da palavra, do texto criado como ficção, mas que pode representar uma ... “casa

http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/tvmultimidia/imagens/2portugu

es/1scliar.jpg

RUBEM ALVES. Disponível em

http://www.pedagogia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=47

SCLIAR, Moacyr. O retiro da figueira. In: LADEIRA, Julieta de Godoy. Contos

Brasileiros Contemporâneos. São Paulo: Moderna, 2001

Sociedade dos poetas mortos. Disponível em

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-5280/

TELLES, Lygia Fagundes. Venha ver o pôr-do-sol e outros contos. São Paulo:

Ática, 1993.

TITÃS. Comida. Disponível em http://letras.mus.br/titas/91453.

TITÃS. Disponível em

http://www.titas.net/fotos/amplia.php?interface=0&foto=104&ext_g=jpg