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FICHA PARA CATÁLOGO
PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título: A Indisciplina Escolar e o Processo Educativo mais Afetivo: Uma ação coletiva
Autora Maria Rosa Garbellotti Paiva
Escola de Atuação Escola Estadual Professora Hercília de Paula e Silva EF e Colégio Estadual Joaquim Maximiano Marques EFM.
Município da escola Carlópolis
Núcleo Regional de Educação
Jacarezinho
Orientador Mauricio Gonçalves Saliba
Instituição de Ensino Superior
Universidade Estadual do Norte Pioneiro – UENP – Campus Jacarezinho
Disciplina/Área (entrada no PDE)
Pedagogia
Produção Didático-pedagógica
Caderno Temático
Relação Interdisciplinar
A presente produção será trabalhada interdisciplinariamente, uma vez que a problemática discutida no referido tema, (in)disciplina, apresenta-se em todas as áreas do conhecimento.
Público Alvo
Professores e demais funcionários da escola.
Localização
Escola Estadual Professora Hercília de Paula e Silva EF, localizada na Avenida Elson Soares nº 34 e Colégio Estadual Joaquim Maximiano Marques EFM, localizado no Distrito Nova Brasília do Itararé do município de Carlópolis.
Apresentação:
A presente Produção Didática em formato de Caderno Temático foi elaborada para atender ao propósito do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola numa articulação da teoria com a prática. Tem o objetivo de ser um elemento de articulação e reflexão teórica no interior
da escola no decorrer da implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica e junto aos Grupos de Trabalho em Rede – GTR, envolvidos no Programa de desenvolvimento Pedagógico – PDE, para fins de elaborar o Artigo Científico com trabalho conclusivo do programa. Será trabalhada com os professores e demais funcionários no sentido de discutir e refletir sobre o significado e os reflexos da (in)disciplina na realidade concreta de um planejamento participativo que constitua uma estratégia de trabalho integrando todos os setores envolvidos no processo ensino aprendizagem para a solução dos problemas comuns.Isso será feito através de grupos de estudos para debates, reflexão e tomada de decisões que fortaleça e corrobore o trabalho escolar na perspectiva de efetivação da aprendizagem do aluno. No final os resultados serão publicados no blog indisciplinaescola.blogspot.com feito para proporcionar interação e conexões ao conhecimento do aprofundamento teórico.
Palavras-chave: (in)disciplina; reflexão; regras; planejamento participativo
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE PIONEIRO – CAMPUS DE JACAREZINHO – UEMP
NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO – JACAREZINHO
CADERNO TEMÁTICO
CARLÓPOLIS/JACAREZINHO/PARANÁ
2011
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE PIONEIRO – CAMPUS DE JACAREZINHO – UEMP
NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO – JACAREZINHO
CADERNO TEMÁTICO
TITULO: A INDISCIPLINA ESCOLAR E O PROCESSO EDUCATI VO MAIS AFETIVO: Uma ação coletiva.
PROFESSOR PDE: MARIA ROSA GARBELLOTTI PAIVA
ÁREA DE ATUAÇÃO: PEDAGOGIA
CARLÓPOLIS/JACAREZINHO/PARANÁ
2011
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE PIONEIRO – CAMPUS DE JACAREZINHO – UEMP
NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO – JACAREZINHO
CADERNO TEMÁTICO
PROFESSOR PDE: MARIA ROSA GARBELLOTTI PAIVA
TÍTULO: A INDISCIPLINA ESCOLAR E O PROCESSO EDUCATI VO MAIS AFETIVO: UMA AÇÃO COLETIVA
Produção Didática Pedagógica – Caderno Temático apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação -- PDE na área de Pedagogia, sob orientação do Professor: Mauricio G. Saliba
CARLÓPOLIS/JACAREZINHO/PARANÁ
2011
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SUMÁRIO
SUMÁRIO.................................................................................................................... 6
1 APRESENTAÇÃO ................................................................................................ 7
2 CONCEITUANDO (IN)DISCIPLINA .................................................................... 10
2.1 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 23
3 CAUSAS DA INDISCIPINA FRENTE AOS IMPASSES VIVIDOS NO COTIDIANO ESCOLAR ............................................................................................ 25
3.1 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 38
4 A ÉTICA E MORAL COMO ENFRENTAMENTO À INDISCIPLINA NA ESCOLA.....................................................................................................................39
4.1 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 45
5 (IN) DISCIPLINA ESCOLAR: Um Processo mais afetivo ................................... 46
5.1 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 52
6 INDISCIPLINA NA ESCOLA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES LEGAIS ............. 53
6.1 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 64
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1 APRESENTAÇÃO
Apresentar a necessidade de refletir a questão da (in)disciplina e seus
reflexos no processo de ensino aprendizagem no contexto escolar a partir de um
olhar teórico é o que se revela esta Produção Pedagógica, em formato de Caderno
Temático, no sentido de atuar em busca da melhoria de ensino, focando um olhar
sobre o relacionamento professor /aluno. Entendemos que esta produção
privilegiará a organização do trabalho pedagógico na escola. Que os professores,
através de leituras e reflexões possam fazer os enfrentamentos à indisciplina com
mais autonomia de maneira que atinja todos os sujeitos que nela atua.
Assim a nossa expectativa é que o material configure-se num significativo
elemento de articulação e reflexão teórica no decorrer da implementação do Projeto
de Intervenção Pedagógica na Escola Estadual Professora Hercília de Paula e Silva
-- EF e Colégio Estadual Joaquim Maximiano Marques – EFM e junto aos grupos
de trabalho em Rede – GTR, envolvidos no Programa de Desenvolvimento
Pedagógico – PDE, para fins de elaborar o Artigo Científico como trabalho
conclusivo do Programa e melhorar a práxis pedagógica dos professores na ação,
na reflexão e principalmente na ação renovada pela reflexão teórica da prática
pensada.
O tema apresentado nesse Caderno Temático é “A Indisciplina Escolar e
o Processo Educativo mais Afetivo: Uma ação coletiva”, o qual está organizado em
cinco unidades, enquanto estratégia metodológica que sirva ao propósito em
atender ao objetivo de mediar o trabalho pedagógico junto aos professores e
demais profissionais da escola no enfrentamento as questões de indisciplina que há
muito tempo deixou de ser um evento esporádico e particular no cotidiano das
escolas, tendo se tornado um dos maiores obstáculos pedagógicos nos dias atuais.
Deixando por um lado o professor sem alternativas e por outro não oportunizando
aos alunos uma educação de qualidade.
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Dessa forma elaboramos cinco unidades priorizando a reflexão do papel
do professor frente à problemática da indisciplina na escola, direcionado a prática
pedagógica em sala de aula.
A primeira unidade “Conceituando (in) disciplina”, apresenta conceitos já
elaborados, desde alguns dicionários a determinados estudiosos. Entre eles Aquino,
Foucalt, Simon, Damke e Torres, De La Taille e Rebelo. Conceitos que se justapõem
no sentido de explicar o fenômeno da (in) disciplina a fim de chegar a uma
compreensão da estrutura conceitual do termo em si, bem como da sua
aplicabilidade dentro dos diferentes contextos nos quais a escola se apresenta.
Para tanto os conceitos tomados, se dará apenas no campo educacional
tendo como objetivo a análise do termo e a reflexão de como pode a noção de
conceito interferir na organização, nas práticas pedagógicas, na autoridade docente
entre outros fatores que determinarão o perfil do professor, consequentemente da
escola.
A segunda unidade, “Causas da Indisciplina frente aos impasses no
cotidiano escolar”, trata de algumas causas como determinantes da indisciplina sob
a ótica de Julio Groppa Aquino e Maria Izete de Oliveira e Nelson Pedro Silva.
Apresenta algumas soluções sugeridas pelos autores, que podem ser
implementadas na escola pelos professores, com a finalidade de minimizar o
problema da indisciplina em sala de aula.
A terceira unidade, “A Ética e a Moral como enfrentamento à indisciplina na
escola”, trás uma reflexão sobre a ética e a moral, pontuando questões que
justificam a importância desses assuntos serem ensinados na escola como
prevenção à indisciplina.
A quarta unidade, “(In) disciplina Escolar: Um processo mais afetivo”, está
apoiada nos estudos de Rossini sobre a Pedagogia Afetiva e as idéias de Paulo
Freire entre outros estudiosos. O texto leva o leitor a refletir sobre a formação de um
ser humano que nasce dependente e que precisa ser bem trabalhado para ser o
mais completo possível. Apresenta como alternativa o processo de ensino
aprendizagem mais afetivo para torná-lo um indivíduo de boa índole, ético, capaz de
viver em sociedade, respeitar os valores e a cultura do grupo que convive.
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Abordamos na última unidade, “Indisciplina na Escola: Algumas
considerações legais”, reflexões sobre a indisciplina na escola do ponto de vista das
leis que regulamentam a obrigatoriedade do estado em ofertar a educação como um
direito social, bem como a obrigatoriedade da família acompanhar a educação de
seus filhos. Aborda a forma que os Regimentos Escolares apresentam suas normas
quanto aos direitos, deveres, proibições e ações disciplinares dos alunos e a
maneira que o professor deve ver o Estatuto da Criança e do Adolescente como
uma ferramenta auxiliar no enfrentamento as questões de indisciplina visando à
garantia do direito a educação igualitária para todos.
Entendemos que todos os temas abordados nesse caderno, possam
constituir-se em recurso útil para reflexão na construção de novas metodologias que
corresponda a uma visão pedagógica atual e emergente frente às tantas dificuldades
que os professores das escolas públicas vêm enfrentando em relação à temática da
(in) disciplina aqui abordada.
Pedagoga Maria Rosa Garbellotti Paiva
PDE – 2010/2011
“[...] estamos imersos nesses problemas e possibilidades, falamos e nos
inquietamos a partir deles, como simples mortais; e como pesquisadores
também”. (COSTA, 2002, P.51)
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2 CONCEITUANDO (IN)DISCIPLINA
Tudo passa e tudo fica.
Porém o nosso é passar, Passar fazendo caminhos [...]
Caminhante, são tuas pegadas O caminho e nada mais;
Caminhante, não há caminho, Se faz caminho ao caminhar.
Antonio Machado
A questão da in(disciplina) dos alunos nas escolas é uma das questões
mais preocupantes na educação nos dias de hoje. Este tema tem sido debatido,
discutido e estudado por pesquisadores, estudiosos e especialistas de várias áreas
do conhecimento, especialmente da educação, ligados diretamente as instituições
escolares. O tema é tão polêmico quanto complexo que chega a ponto de muitos
manifestarem incredulidade frente às possíveis mudanças nesse quadro
assombroso que a cada dia tem se confirmado em concretude de atos que
ultrapassam as barreiras da normalidade de comportamentos de pessoas
civilizadas.
A dificuldade de definir indisciplina é o que provoca certas confusões no
julgamento do comportamento de nossas crianças e jovens, deixando os
educadores sem uma segurança na hora de fazer o enfrentamento a essas
questões.
Sinalizar para uma compreensão mais coerente com a realidade em
relação à complexidade e até, a ambigüidade do tema (in) disciplina é a proposta
desse estudo em que a noção de indisciplina estará ligada à de disciplina.
Para tanto se recorrerá primeiramente aos dicionários, posteriormente a
alguns teóricos educadores, sociólogos e psicólogos para apresentar algumas
considerações que possam contribuir para o esclarecimento do próprio conceito
que os professores têm do que seja disciplina e sua negação, indisciplina dentro do
contexto escolar.
As notas de análise aqui apresentadas sobre o conceito de (in) disciplina
apenas anunciarão pensamentos iniciais sobre algumas alternativas de
desenvolvimento conceitual que se abrirão.para reflexões Ainda que não se tenha a
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pretensão de elaborar um conceito exclusivo e determinado, mesmo porque as
idéias a cerca desse fenômeno estão longe de serem consensuais, acredita-se que
essa possibilidade analítica, mas restrita a apenas a alguns autores, nos permita
refletir sobre uma das questões que inquieta a todos no cotidiano da escola; a
indisciplina escolar.
Pode se constatar por meio da literatura existente que a análise do que
vem a ser (in)disciplina é fortemente influenciada pela concepção de educação que
os integrantes da escola apresentam. Implicam em preconceitos, valores, ética, em
formação cultural e intelectual dos envolvidos no processo ensino aprendizagem.
Isso não é estático, têm sido construído e transformado ao longo da história,
recebendo influência da própria construção histórica do homem como ser
sociocultural e político. Os modismos de épocas também influenciam neste
contexto e contribuem para a construção de diferentes conceitos.
Em um estudo publicado na internet, realizado por Simon, Damke e
Torres, o conceito de indisciplina escolar, aparece na literatura acadêmica a partir
da década de 80. No entanto segundo (Aquino, 2003, p. 10) “esta temática tomou,
entre nós, maior visibilidade a partir dos anos 90.” Quando começam a surgir
publicações voltadas a ela. [...] não seria o caso de imaginar que a indisciplina não
habitasse o imaginário pedagógico antes de então, mas é a partir desse momento
que o tema desponta entre os educadores sob o timbre de “obstáculo” ou
“complicador” do trabalho pedagógico. Desde então os conceitos de disciplina e
indisciplina foram sendo considerados de diversas formas, em diferentes momentos
e lugares, apresentando múltiplos níveis de significados e, portanto, podendo ser
interpretados de diferentes maneiras, em cada época e em diversos contextos
educacionais tendo se modificado muito nas últimas décadas. Porém, esta
manifestação não surgiu isolada no ambiente da escola e, ao longo do tempo, vem
demonstrando algumas relações com a organização escolar, com as práticas
pedagógicas, com a autoridade docente, entre outras.
Para muitos professores indisciplina é simplesmente a conversa dos
alunos. Logo a conversa em sala de aula passa ser sinônimo de indisciplina e por
via oposta o silêncio acaba por caracterizar a idéia de sala indisciplinada. Isto é
muito preocupante porque é através de conversas que se aprende. É através de
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conversas que se dá uma das mais extraordinárias manifestações da inteligência
humana, o conhecimento, única realidade que se multiplica quando é dividido.
Este conceito vai muito além do que os dicionários trazem. Ao consultar
alguns, por constituírem em uma referência popular e de fácil acesso encontramos
alguns conceitos.
Segundo o conceito descrito no Dicionário Aurélio da língua portuguesa
tem por Disciplina e indisciplina:
(Do lat. Disciplina) s.f. 1. Regime de ordem imposta ou livremente consentida. Ordem que convém ao funcionamento regular duma organização (militar, escolar, etc.). Relações de subordinação do aluno ao mestre ou ao instrutor. Observância de preceitos ou normas. Submissão a um regulamento. (FERREIRA, 1999, p. 689) Indisciplina: (De in2 + disciplina) S. f. Procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desobediência; desordem; rebelião. (FERREIRA, 1999, p. 1102).
Neste caso há dois aspectos importantes no conceito de disciplina:
a) A disciplina interna, pessoal, no campo da consciência e da moral,
relacionada com atitudes interiores.
b) A disciplina externa, de caráter social, que preside e constitui as
atitudes e comportamentos externos, no meio de um grupo ou comunidade.
Para que este último não se desvirtue e conserve seu caráter de meio
educativo é necessário que se fundamente na disciplina interna, composta de
decisões, propósitos, hábitos mentais e morais orientados reflexivamente para a
ordem escolar, reconhecendo seu valor intrínseco.
Deduz-se que a disciplina não consiste apenas numa acomodação
exterior e formalística às diretrizes e normas de um regulamento escolar. A
disciplina supõe uma adesão interior, isto é, numa certa orientação consciente da
vontade com relação aos hábitos individual e coletiva como válidos para atividade
escolar.
Considera-se que a disciplina na escola, não poderia ser entendida como
se tivesse uma finalidade educativa em si mesma, nem tanto, pode ser puramente
exterior, baseado num conjunto de regras e condutas, normas hierárquicas e
rígidas.
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Quanto ao conceito de indisciplina, ela é entendida como conduta, ação
que produz uma reação contraditória à disciplina, provocando tumulto, desarranjos
naquilo que estava em ordem.
Amparando-se ainda no que os dicionários trazem buscamos o significado
de disciplina e indisciplina no Mini dicionário Gama Kuryda da língua portuguesa,
onde se lê por:
Disciplina: conjunto de prescrições destinadas a manter a boa ordem em qualquer organização; a boa ordem resultante da observância dessas prescrições; a instrução e direção dada por um mestre a seu discípulo; submissão do discípulo à instrução e direção do mestre; imposição de autoridade, de métodos, de preceitos; submissão ou respeito à um regulamento; (GAMA KURY, 2001,p.256). Indisciplina: falta de disciplina, desordem, desobediência (GAMA KURY, p. 424)
Subentende que para que haja a ordem em qualquer organização escolar,
a disciplina deve ser acompanhada de regras, normas que devem ser seguidas a
risca conforme pré-estabelecidas, pois a boa ordem, (a disciplina) depende de
como essas prescrições, (regras, normas) são observadas.
No caso da indisciplina, esta se dá na ausência da disciplina, nas
situações de conflito, na anarquia, o que ocasionará a desordem
Segundo Caudas Aulete,
Disciplina: Princípios de ordem estabelecidos para o funcionamento adequado de instituição, atividade etc, (disciplina militar); sujeição a esses princípios e sua observância, espontânea, ou imposta: A disciplina do atleta é rigorosa: Disposição e constância para realizar algo; persistência: É preciso muita disciplina para manter esta dieta (CALDAS AULETE, 2004, p. 278).
Indisciplina: Ato ou procedimento que contraria princípios de disciplina. (CALDAS AULETE, 2004, p. 445).
Percebe-se que os termos definidos nesses dicionários não significam
somente um sentido negativo. São termos que apresentam aspectos diferentes
entre si, permitindo que seus significados sofram mudanças, inclusive com relação
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ao seu oposto. Uma ação indisciplinada, portanto, não se define por si, mas pelo
seu significado no contexto em que ocorre.
Além dessas definições simplistas do vocábulo, há outras formas de
entendimento do significado bem mais complexos desses termos, os quais serão
apresentados apenas pautados à instituição escolar.
Vários são os autores que conceituam essas terminologias, entretanto
abordaremos alguns, como nos propomos a expor a seguir:
Dentre os pensadores contemporâneos que se preocuparam em estudar
com mais profundidade este tema e que, portanto poderão nos subsidiar, destaca-
se Foucaut, cujo estudo sobre a questão do poder e as modalidades pelas quais
ele se organiza e é exercido em nossa sociedade, trazem valiosos subsídios à
compreensão da disciplina enquanto prática escolar.
Para Foucault (2009, p. 133), disciplina são “métodos que permitem o
controle minucioso das operações do corpo, que realizam a sujeição constante de
suas forças e lhes impõem uma relação de docilidade-utilidade.”, Essa situação
domesticadora tem suas origens nos conventos, nos colégios, nos exércitos e nas
oficinas sendo que essa “modalidade implica numa coerção ininterrupta, constante,
que vela sobre os processos da atividade mais que sobre seu resultado e se exerce
de acordo com uma codificação que esquadrinha ao máximo o tempo, o espaço, os
movimentos.” Esta questão está diretamente ligada as relações de poder, de que o
que o poder faz é reprimir certas tendências consideradas nocivas à pessoa e ao
convívio social.
A disciplina por ele conceituada “como uma forma de dominação e de
exercício de poder nos espaços sociais menores, cuja organização não é garantida,
no seu cotidiano, pelas leis maiores”, permite, nestes locais, o “controle” do corpo e
da alma, isto é, do comportamento integral dos que neles se encontram. Neste
caso a disciplina pode ser concebida como uma técnica de exercício de poder, Não
inteiramente inventada, mas elaborada em seus princípios fundamentais durante o
século XVIII. Nesse sentido, falar de indisciplina é evidenciar o não cumprimento de
regras estabelecidas. Tal percepção pode ser evidenciada no cotidiano escolar,
através das formas ineficazes com que os educadores lidam com os alunos,
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considerados por eles, indisciplinados. De maneira geral, as atitudes tomadas,
numa relação vertical, revelam uma forma de dominação e de exercício de poder.
Atualmente, apesar dos esforços que os educadores compromissados
com a integração dos processos educacionais na busca da libertação do ser
humano e das diversas propostas para a transformação da escola em um espaço
que atenda a esses propósitos, muito do que se apresenta nos estudos de
Foucoult, ainda estão presentes na prática das escolas
Para o sucesso do poder disciplinar no exercício da disciplina conforme
anteriormente conceituado, torna se necessário o estabelecimento de mecanismos
constantes e aperfeiçoados de controle e vigilância, dentre os quais salientamos
alguns: (Cf,FOUCAULT,p.165 a 180)
A vigilância hierárquica, instrumento de vigilância que é favorecido pela
organização, cujo exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo
jogo do olhar, na qual o poder de coerção é distribuído a muitos indivíduos, de
modo que o controle é exercido continuamente. Assim é que diretores, pedagogos,
professores entre outros recebem delegação de poder e complementam-se na
tarefa de vigilância, de denúncia de irregularidades e até mesmo em face de
atuação a elas. Forma-se assim uma pirâmide de controle que permite a constância
e a eficácia na identificação de todas as possíveis contraposições à ordem
estabelecida, graças à atuação dos próprios vigiados e controlados. Com o avanço
das tecnologias, hoje outros dispositivos são usados para o controle dos indivíduos,
permitindo acompanhamento perfeito daquele que domina sobre os movimentos
corporais do dominado, numa relação de poder. Muitas escolas instalam câmeras
para este controle, mais uma das técnicas das vigilâncias múltiplas e
entrecruzadas, dos olhares que vê sem ser visto.
A sanção normalizadora: com função de manter uma linha de controle
conforme as normas estabelecidas é uma prática que trata das micropenalidades e
de “um pequeno mecanismo penal” que funciona repressivamente em relação ao
tempo (atrasos, ausências, interrupções), às atividades (desatenção, negligência,
falta de zelo), à maneira de ser (grosseria, desobediência), ao corpo (atitudes
incorretas, sujeira), e à sexualidade (imodéstia, indecência). Diz respeito às mais
tênues das condutas penalizáveis dos indivíduos indiferente do aparelho disciplinar.
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Como sanções aos que não cumprirem as normas estabelecidas, utiliza-se de
privações, humilhações, chantagens, advertências, transferências. Isto se
estabeleceu como, um normal que funciona como princípio de coação.
O exame: uma combinação das técnicas que vigia e da sanção
normalizadora, permite qualificar, classificar e punir, onde está comprometido todo
um campo de saber, todo um tipo de poder. Na escola o exame é ininterrupto,
acompanha em todo seu comprimento a operação do ensino. Dele se espera a
comparação de cada um com todos, que permite ao mesmo tempo medir e
sancionar. Garante a passagem dos conhecimentos do mestre ao aluno, permite ao
mestre ao mesmo tempo em que transmite o seu saber, levantar um campo de
conhecimentos sobre seus alunos numa verdadeira e constante troca de saberes.
Para a maioria dos educadores, infelizmente, disciplina é,entendida como a descrita
acima, ou seja, é entendida como adequação do comportamento do aluno àquilo
que o professor deseja em uma hierarquia de poder. Considera-se ainda que,
disciplina é o comportamento do aluno previamente esperado pelo professor.
A questão que poderia ser colocada é a seguinte: que comportamento
deseja o professor?
Para enriquecer nossos estudos recorremos à leitura que Simon, Damke
e Torres faz do que Garcia pontua sobre o termo disciplina
Analisando o que seja o termo disciplina, Garcia (2006, p. 70) realiza uma leitura etimológica da palavra “disciplina” e encontra, primeiramente, “duas matrizes possíveis de significado”. Uma advinda de discipulus “aluno, discípulo” e interpretada como “um indivíduo que se apropria de algo que lhe está sendo mostrado e indicado — daí o sentido de discípulo como aquele que aprende”. Sendo assim, o discípulo, quando se apropria de algo ensinado, é capaz de mudar de lugar, mas com um crescimento agregado a si e, dessa forma, é que ele se desloca para outro patamar. Essa mudança de lugar será direcionada pelo ensino e o professor ocupará uma posição de destaque, pois é ele quem lidera e guia este trajeto. A segunda matriz etimológica, também de origem latina, possui o elemento de composição disc-, do verbo disco, que significa “aprender, ensinar, tornar-se familiarizado”, guardando “relações com os termos educar e docência, com os quais compartilha um sentido de transformação” (GARCIA, 2006, p. 70). Ainda na visão etimológica, apontamos que o termo “disciplina” no período medieval relacionou-se com a idéia de “castigo”, “punição”. Apenas mais tarde, a disciplina aparece como “ramo do conhecimento”, ou seja, enquanto uma unidade curricular que deve ser ensinada e aprendida, como a Matemática, a História e a Geografia. Além disso, o entendimento associa-se, posteriormente, à noção de “controle” sobre a conduta (GARCIA, 2006, p. 52-57).
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Como decorrência, os padrões estabelecidos para a disciplina do aluno, assim como os critérios adotados para identificar a indisciplina guardam relações com a noção de controle sobre a conduta e, não obstante, aludem a indisciplina enquanto uma conduta, um comportamento. Essa visão, ainda que tenha sofrido mudanças ao longo do tempo e tenha se diferenciado no interior da dinâmica social escolar, está presente entre os sujeitos escolares e precisa ser superada. Conforme Garcia (2002), o conceito de indisciplina enquanto “problema de comportamento” precisa ser superado e “assim devemos considerar outras dimensões além da comportamental, para englobar os diversos aspectos psicossociais envolvidos neste fenômeno”.
Para De La Taille (1998, p. 10), a compreensão do conceito de
indisciplina é decorrente da nossa conceituação do que vem a ser a disciplina. Para
o autor, se compreendermos a disciplina por
[...] comportamentos regidos por um conjunto de normas, a indisciplina poderá se traduzir de duas formas: 1) a revolta contra estas normas; 2) o desconhecimento delas. No primeiro caso, a indisciplina traduz-se por uma forma de desobediência insolente; no segundo, pelo caos dos comportamentos, pela desorganização das relações. . (DE LA TAILLE, 1996.p.10).
Ao considerar essa conceituação, o autor leva os profissionais da
educação a uma reflexão da sua própria prática pedagógica, pois se os alunos se
revoltam contra as regras, é necessário saber o porquê desta revolta, de onde ela
vem, qual a razão. Se essa revolta está ligada a prática do professor, se aos
conteúdos que nem sempre são significativos, ou a forma como se está construindo
o conhecimento e ainda se esta revolta está relacionada a outros fatores externos a
sala de aula, ou a administração da escola (autoritarismo, ausência de diálogo etc.).
Por outro lado se compreendermos que a indisciplina é uma conseqüência do
desconhecimento das regras da escola. É preciso entender porque os responsáveis
pela administração da escola (diretor, equipe pedagógica, professores)
compreendem a indisciplina como sendo a quebra de regras se ela não oferece
oportunidade da comunidade (pais e alunos) construírem as regras da escola
coletivamente, ou se elas simplesmente não apresentam regras para o bom
convívio e aprendizagem. Então porque supõe que alunos e pais conhecem tais
regras esperando que se manifestem comportamentos adequados, disciplinados?
Ambas as reflexões propostas por De La Taille culminam no olhar sobre a
indisciplina nas práticas escolares (Como as regras são construídas ou
apresentadas? Elas são apresentadas ou os professores supõem que os alunos as
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conhecem?), Sobre o coletivo (como são formuladas as regras e sanções dentro do
ambiente escolar? Quem participa dessa formulação?) e sobre a percepção de cada
membro da equipe escolar sobre o que vem a ser indisciplina escolar. (Qual é?)
Analisando a complexidade do tema, De La Taille (1998, p. 10) afirma que
“[...] a disciplina é bom porque, sem ela, há poucas chances de se levar a bom termo
um processo de aprendizagem”, mas questiona a maneira como ela pode se dar. Se
“[...] a rigor, a disciplina em sala de aula pode equivaler à simples boa educação:
possuir alguns modos de comportamento que permitam o convívio pacífico”, sem se
preocupar com a causa que poderá ser por medo de castigo, por conformismo. Ao
aluno disciplinado não se questiona a causa seu comportamento é tranqüilo,
aceitável. Isto é desejável?
Para o Psicólogo Yves de La Taille, a escola deve investir em formação
ética no convívio entre os alunos, professores e funcionários para vencer a
indisciplina.
Ele defende que:
[...] se deva trabalhar com as novas gerações ajudando as a construir valores, a pautar seus comportamentos por regras, a situar-se além e aquém de certos limites [...] a escola ajude a formar pessoas capazes de resolver conflitos coletivamente, pautados pelo respeito a princípios discutidos pela comunidade. O caminho para chegar lá passa pela formação ética – não necessariamente como conteúdo didático, mas principalmente no convívio diário dentro da instituição. (DE LA TAILLE,2000.p.09 e 22).
Em um estudo sobre Limites Taille coloca que para resolver todo “mal
estar” ético que vivemos hoje a solução seria “a necessidade, reivindicada por
muitos, de retomar a discussão do contrato social entre os indivíduos, discutir
valores e princípios e incluí-los claramente nos projetos educacionais” (Taille,2000,
p. 7).
“Limite”, sendo uma palavra, hoje usada constantemente, não só na
escola como também na família e em todas demais relações sociais, a qual está
diretamente ligada ao fenômeno da indisciplina, dirigida com maior ênfase à criança,
e aos jovens, Taille apresenta as conseqüências da sua ausência e as dimensões
que ela abrange afirmando que,
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[...] com maior frequência, “limite” não deve ser pensado apenas como ponto extremo, como fim, como limitação, [...] limite significa também aquilo que pode ou deve ser transposto. Toda fronteira, todo limite separa dois lados. O problema reside em saber se o limite é um convite a passar para o outro lado ou, pelo contrário, uma ordem para permanecer de um lado só. Ora na vida, e na moralidade, as duas possibilidades existem: o dever transpor e o dever não transpor. (DE LA TAILLE, 2000, p. 12)
Ainda escreve sobre o que é permitido e o que é proibido, define “limite
como sendo a fronteira que não deve ser transposta, a demarcação de um domínio
que não deve ser invadido”. (DE LA TAILLE, 2000 p. 51).
Em sala de aula, isso é extremamente importante, pois é dentro dessa
dimensão que o “limite” delimita onde o direito de um termina para começar o do
outro. “O sentido restrito da palavra “limite” nos coloca de chofre no grande tema
humano que é a liberdade. Não transpor determinados limites é sujeitar-se a uma
imposição, seja física ou normativa”. (DE LA TAILLE, 2000 p. 51).
Diante do exposto, o papel da escola também passa a ser o de ensinar a
ter limites, ninguém nasce com ele. É na convivência que se aprende. Daí o grande
mal da indisciplina presente na escola e na sociedade, ambos não estão cumprindo
com seu papel, o de “educar”.
Silva (2004) discute sobre a definição da indisciplina enquanto
ruptura com as regras estabelecidas. O autor defende a idéia de que uma das
causas do fenômeno da indisciplina esteja relacionada, entre outras, à quase
absoluta consideração de regras e valores morais, portanto a indisciplina
seria produto do fato de os alunos não terem como valor central em sua
personalidade o respeito ao outro. Assim,
O termo indisciplina quase sempre é empregado para designar todo e qualquer comportamento que seja contrário às regras, às normas e às leis estabelecidas por uma organização. No caso da escola, significa que todas as vezes em que os alunos desrespeitarem alguma norma desta instituição serão vistos como indisciplinados, sejam tais regras impostas e veiculadas arbitrariamente pelas autoridades escolares (diretores e professores), ou elaboradas democraticamente. (SILVA, 2004, p.21)
Compreende-se aqui que a quebra do contrato das normas, seja ela
construída coletivamente ou imposta pela escola, leva a denominação de
indisciplina sem se quer pensar em causas, motivos que justifique o ato infracional
20
do aluno perante as normas estabelecidas, uma vez que os alunos não priorizam
os valores que a escola quer passar.
Aquino (1996) leva-nos a perceber a complexidade do tema (in) disciplina,
e até mesmo, a sua ambigüidade. Define indisciplina como sendo um “fenômeno”
que se dá na inter-relação (professor/aluno/escola) cuja relevância não é nítida. De
difícil abordagem. Classifica-a como inimigo número um do educador atual. Pondera
como algo que ultrapassa o âmbito estritamente didático-pedagógico que passou a
configurar um problema de cunho interdisciplinar, transversal à Pedagogia,
tornando-se um obstáculo pedagógico. Considera a indisciplina como “um sintoma
de outra ordem que não a restritamente escolar, incapaz de gerir e administrar
novas formas de existência social concreta, que surgem no interior das relações
educativas diretamente ligadas a esse trabalho” Para ele é mais um entrelaçamento
imediato, uma interpenetração em torno das diferentes instituições que define a
matriz social e a supra-institucional, que a todos submeteria.
Segundo o autor (1996, p. 41) “a análise transversal ao âmbito didático-
pedagógico em relação à indisciplina, dá-se sob dois olhares distintos: um sócio-
histórico, tendo como ponto de apoio os condicionantes culturais, e outro
psicológico, rastreando a influência das relações familiares na escola”. Isto é, de um
lado temos a construção do ser humano num ambiente social que exige a sujeição a
um sistema de regras que norteiam o seu relacionamento com seus semelhantes e
de outro temos o ser humano como membro da família que exerce forte influência no
comportamento dos indivíduos em face de amadurecimento emocional, o qual
depende das experiências emocionais anteriores, ou seja, aquilo que foi
experimentado na infância desempenha importante papel durante os anos de
adolescência.
Mais adiante Aquino define:
[...] Indisciplina é mais um dos efeitos do entre pedagógico, mais uma das vicissitudes de relação professor-aluno, para onde afluem todas essas “desordens” [...] A relação professor-aluno torna-se, assim o núcleo concreto das práticas educativas e do contrato pedagógico – o que estrutura os sentidos cruciais da instituição escolar. (AQUINO, 1996, p.49).
21
Estudo realizado por Rebelo (2002) apresenta reflexões acerca do
significado de (in) disciplina escolar no qual ela faz uma associação do fenômeno da
indisciplina à concepção Bancária de educação, apresentando como proposta de
superação a concepção problematizadora, ambas imbuída dos pensamentos de
Paulo Freire, que possuem posturas bem antagônicas. Neste estudo a autora mostra
que é possível desenvolver ações que valorizem os interesses pessoais dos
envolvidos na problemática na perspectiva da emancipação de nossas crianças e
jovens.
Para entender a complexidade em que se dá esta relação, recorro aos
escritos de Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido que trata da educação bancária,
a tradicional, a que ainda vemos muito em nossas escolas, e da educação
problematizadora, a qual seve a libertação, a humanizadora onde valoriza a relação
dialógica entre educador-educandos.
Na educação bancária Freire (2005, p. 68) considera,
a) o educador é o que educa; os educandos, os que são educados; b) o educador é o que sabe; os educandos, os que não sabem; c) o educador é o que pensa; o educandos, os pensados; d) o educador é o que diz a palavra; os educandos, os que escutam docilmente; e) o educador é o que disciplina; os educandos, os disciplinados; f) o educador é o que opta e prescreve sua opção; os educandos, os que
seguem a prescrição; g) o educador é o que atua; os educandos, os que têm a ilusão de que atuam,
na atuação do educador; h) o educador escolhe o conteúdo programático, os educandos, jamais ouvidos
nesta escolha, se acomodam a ele; i) o educador identifica a autoridade do saber com sua autoridade funcional,
que opõe antagonicamente à liberdade dos educandos; estes devem adaptar-se às determinações daquele;
j) o educador, finalmente, é o sujeito do processo; os educandos, meros objetos. (FREIRE, 2005, p. 68)
Na educação problematizadora, cuja concepção, educar é um ato de
amor, de respeito, por isso se deve dar através do diálogo em um processo
educativo libertador
[...] o educador já não é o que apenas educa, mas o que, ao ser educado, também educa. Ambos, assim, se tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que os “os argumentos de autoridade” já não valem. Em que, para ser-se, funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com as liberdades e não contra elas. FREIRE (2005, p.79).
22
Oliveira (2005) defende um conceito de indisciplina democrático, como
resultado de um consenso, uma disciplina que promova a autodisciplina. Numa visão
democrática em oposição a uma visão autoritária, cujo entendimento está
nitidamente ligado a concepção de educação e do tipo pessoa que quer formar.
Corroborando para o entendimento Vianna (1989) propõe discutir o
significado de disciplina participativa na escola a partir da realidade concreta do
Planejamento Participativo, cuja estratégia de trabalho é caracterizada pela
participação de todos, sendo que “a disciplina é enfocada como uma realidade –
participativa, comunitária, política, criativa – que possa facilitar a solidariedade, a
conscientização e a politização dos envolvidos, transformando-se, dentro de nosso
contexto político e cultural, numa proposta eminentemente desafiadora.”
Em concordância com Rebelo (2002, p.53) podemos concluir que “a
disciplina pode ser controle ou libertação do homem, da mesma forma que a
indisciplina pode ser desobediência ou denúncia; tudo depende do nosso ponto de
vista ao olharmos o mundo.”
Como se vê, mesmo entre os estudiosos não há unanimidade quanto ao
significado de indisciplina/disciplina. Há de se ter prudência na aplicabilidade do
termo em si, visto que confusões quanto ao seu sentido e aplicação têm causado
muitas dúvidas.
Assim, assinalamos para uma reflexão dos conceitos aqui apresentados
para que os professores possam tirar suas próprias conclusões e poderem se
identificar em qual conceito se baseia na sua prática pedagógica.
23
2.1 REFERÊNCIAS
AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina: O Contraponto das escolas Democráticas . —
São Paulo: Moderna, 2003.
AQUINO. J.G Indisciplina na Escola , Alternativas Teóricas e Praticas: 15ª edição.
São Paulo: Summus Editorial. (1996).
CALDAS AULETE, Mini dicionário contemporâneo da língua portuguesa –
Conselho Editorial dos dicionários, Editor responsável Paulo Geiger, apresentação
Evanildo Bechara – R J: Nova Fronteira, 2004.
GAMA KURY, Adriano. Mini dicionário GAMA KURY da língua portuguesa ,
Organização Ubiratan Rosa – São Paulo: FTD, 2001
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio Século XXl. Dicionário da
Língua Portuguesa . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido – Rio de Janeiro, Paz e Terra, ed. 44
2005.
FOUCAULT, Michel (2009. P. 154). Vigiar e Punir : 37. ed. Petrópolis, RJ: Vozes.
OLIVEIRA, Maria Izete de Indisciplina Escolar: determinações, conseqüências e
ações . – Brasilia: Liber Livro Editora, 2005.
REBELO, Rosana Aparecida Argento. Indisciplina Escolar: Causas e Sujeitos.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
ROSSINI, Maria Augusta Sanchs. Pedagogia Afetiva -- Petrópolis, RJ: Vozes, 2001.
24
SIMON, Ingrid; DAMKE, Anderleia; TORRES, Renato. Indisciplina escolar: Notas
de uma Análise Conceitual . Texto publicado no Google.
SILVA, Nelson Pedro. Ética, Indisciplina & Violência nas Escolas . —Petrópolis,
Vozes, 3ª ed. 2004.
VIANNA, Ilca Oliveira de Almeida, A disciplina Participativa na Escola : um
desafio a todos os brasileiros. In: D’Antola, Arlette (Org) Disciplina na Escola:
Autoridade versus Autoritarismo. Temas Básicos de educação e ensino. São Paulo:
EPU, 1989.
25
3 CAUSAS DA INDISCIPINA FRENTE AOS IMPASSES VIVIDOS NO COTIDIANO ESCOLAR
Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar.
Paulo Freire
Ao nos aproximarmos das nossas escolas, observamos a inquietude dos
profissionais da educação: diretores, equipe pedagógica e docente, frente às
questões de indisciplina que é corrente no cotidiano da escola. A indisciplina dos
alunos altera o processo de ensino e aprendizagem, obstrui as aulas, deixa os
professores aturdidos e perplexos frente ao fenômeno da indisciplina a qual
compromete a qualidade das aulas, caracterizando-se como comportamento anti-
social.
Os profissionais da educação estão constantemente em busca, ainda que
de modo impreciso e pouco aprofundado, de explicações para a existência de tais
manifestações, de alternativas para o enfrentamento a esses impasses, aos quais se
deparam e sentem-se despreparados para fazê-lo. Muitos são os fatores que
causam esses impasses.
Para determinar as causas da indisciplina não serão referenciados os
determinantes tão discutidos em muitos livros, artigos, jornais e revistas que circulam
entre nós e que são conhecidos de todos: a falta de empenho e vontade política, uso
de verbas inadequadas, precariedade das instalações e infra-estrutura das escolas,
falta de manutenção das tecnologias, má administração, etc. vou ater-me apenas no
que podemos exercer numa ação efetiva e imediata, no que está ao alcance de uma
prática condizente com nossa realidade.
Mesmos assim uma ação caracterizada como ato indisciplinar pode ter
como causa numerosos fatores os quais só podem ser identificados se houver um
conhecimento razoável, do aluno, das suas relações e da realidade em que vive.
A maior dificuldade nesses casos é quanto à determinação das causas da
indisciplina, considerando que o ser humano é complexo e toda sua ação é
reprodução das relações em que vive. Detectar a causa de um determinado
comportamento que caracterize indisciplina é muito difícil e comprometedor. Visto
26
que intervir, modificar o comportamento dos alunos pode implicar num julgamento
precipitado com diagnósticos imprecisos e levar a tomada de atitudes que possam
vir a causar outros problemas decorrentes destes
No entanto é necessário que os profissionais da educação tenham
clareza dos fatores que geram a indisciplina para poder compreenderem o porquê
das atitudes incorretas e da resistência às normas que os alunos têm, é preciso
conhecer a fundo os problemas daqueles alunos que são considerados
indisciplinados, como, também fazer uma auto-reflexão sobre, em que prática está
se dando este tipo de comportamento.
A indisciplina é uma preocupação cada vez mais crescente no interior da
maioria das escolas, sabemos que a manifestação indisciplinar dos alunos tem
origem em diversos fatores, desde sua relação familiar, como é educado em casa,
seus relacionamentos na sociedade, com a mídia, que alias é um grande
influenciador na formação da personalidade, sendo o mais relevante a maneira
como se relaciona em casa. A permissividade dos pais em tudo que as crianças ou
jovens querem, torna-o senhor do mundo, não respeitando o professor como
autoridade na escola, dificultando o acatamento as regras. Estas são também outro
fator gerador de indisciplina, uma vez que nem sempre são claras, unânimes, muito
menos democráticas. Na maioria das vezes as regras são impostas, ignorando as
opiniões, os desejos e os valores daqueles que tem de se sujeitar a elas.
Conhecer como se deu o processo histórico da educação, compreender
de como as tendências pedagógicas se deram ao longo dos anos e influenciaram
fortemente a maneira de pensar e agir dos professores é pré requisito necessário
para o professor compreender como se dá o processo ensino aprendizagem assim
como se fortalece a relação professor aluno. Conhecendo o processo de
transformação social, as mudanças pedagógicas que interferiram e interferem tanto
na escola como nas atitudes dos professore, talvez seja o requisito imprescindível
para compreendermos como o sintoma da indisciplina tem se instalado no interior
das salas de aula.
O posicionamento e a compreensão que o professor tem em relação à
democracia podem ser mais um fator determinante para definir as questões de
disciplina em sala de aula. Se autoritário, suas atitudes poderão não ser aceitas e
27
ocasionar resistências, ocasionando discussões e conflitos. Se souber distinguir
autoridade de autoritarismo em uma relação democrática, usando da autoridade
competente para o enfrentamento dos conflitos será capaz de resolver os problemas
do cotidiano de maneira eficaz. “No entanto não há dúvidas de que a disciplina está
vinculada à autoridade e que esta é fundamental na vida das pessoas. Não há
nenhum grupo social que sobreviva sem o hábito de respeitar as regras sociais”.
(OLIVEIRA, p.77, 2005). Estas regras devem ser construídas coletivamente
democraticamente para que o aluno possa entender e respeitar o que foi
determinado pelo grupo como melhor forma de convivência.
Muitos autores trazem estudos acerca das causas da indisciplina na
escola. Entre eles destacamos os estudos de Aquino (1996) que aponta como fator
preponderante da indisciplina dois olhares distintos sobre o tema: um sócio-hitórico,
tendo como ponto de apoio os condicionantes culturais, e outro psicológico,
rastreando a influência das relações familiares na escola, a indisciplina como
carência psíquica infra-estrutural.
Quanto ao fator sócio-histórico, ele tem nas práticas escolares como
testemunhas e protagonistas das transformações históricas, isto é, seu perfil vai
adquirindo diferentes adjacências de acordo com os contingentes sócio-culturais.
As correções disciplinares que se faziam de forma vertical, imposta à
base do castigo ou da ameaça dele, medo, coação, onde o professor era visto como
um superior hierárquico, aquele que sabia mais, podia mais porque estava mais
próximo da lei, afiliado a ela, cuja função era a de modelar moralmente os alunos,
além de assegurar a observância dos preceitos legais mais amplos, aos quais os
deveres escolares estavam submetidos. Essas relações escolares eram
determinadas em termos de obediência e subordinação.
Aquino (1996, p.43) ao desmistificar a escola de outrora, aponta
indicadores preponderantes nas mudanças do comportamento dos alunos, que pode
ter se dado,
Com a crescente democratização política do país e, em tese, a desmilitarização das relações sociais, uma nova geração se criou. Temos diante de nós um novo aluno, um novo sujeito histórico, mas em certa medida, guardamos com padrão pedagógico a imagem daquele aluno submisso e temeroso. De mais a mais, ambos, professor e aluno, portavam
28
papéis e perfis muito bem delineados: o primeiro, um general de papel; o segundo, um soldadinho de chumbo. (AQUINO, 1996, p. 43)
Como se vê a escola de outrora tinha um espaço social pouco
democrático, considerada de caráter elitista e conservador, destinava-se apenas às
classes sociais privilegiadas
Assim temos que a indisciplina possa ser indício da injunção da escola
idealizada e dirigida para um determinado tipo de sujeito e sendo tomada por outro.
Este quadro de instabilidade provocado pela confrontação do novo sujeito histórico a
velhas formas institucionais cristalizadas significaria as rupturas a esta instituição
secular que é a escola, sendo que mais cedo ou mais tarde esse modelo autoritário
de conceber e efetivar a tarefa educacional venha cair. “Deste ponto de vista Sócio-
histórico, a indisciplina passaria, então, a ser força legítima de resistência e
produção de novos significados e funções, ainda insuspeitos, à instituição escolar”.
(AQUINO, 1996, p. 45)
Do olhar psicológico: a indisciplina como carência psíquica infra-estrutural
do aluno, é colocada por Aquino como a questão que,
[...] estará inevitavelmente associada à ideia de uma carência psíquica do aluno. Entretanto vale advertir desde já que o fenômeno não poderá ser pensado como um estado ou uma predisposição particular, isto é, um atributo psicológico individual (e, no caso, patológico), mas de acordo com seus determinantes psicossociais, cujas raízes encontram-se no advento, no sujeito, da noção de autoridade. (AQUINO, 1996, p.45).
Do ponto de vista do autor o aluno precisa de uma referência como
reconhecimento da autoridade externa, que pressupõe uma infra-estrutura
psicológica, moral anterior à escolarização, neste caso a do professor, Esta estrutura
refere-se à introjeção de determinados parâmetros morais já adquiridos, tais como:
permeabilidade a regras comuns, cooperação, partilha de responsabilidades,
reciprocidade, solidariedade etc., visto que não há possibilidade de escolarização
sem esta condição cuja tarefa cabe prioritariamente à família.
Nesse sentido o trabalho da escola não pode se dar alheio ao da família,
pois ambos se completam para a educação plena. Estas duas instituições não se
justapõem, por isso há a necessidade de se fazer a articulação para que elas
possam se complementar.
29
Como existe um esfacelamento do papel clássico da instituição família,
estando ela desestruturada, incapaz de realizar a contento sua parcela no trabalho
educacional, não oferecendo parâmetros às crianças e adolescentes que chegam à
escola, acometidos por agressividade/rebeldia, ou apatia/indiferença, ou ainda,
desrespeito/falta de limites, o que vai interferir na convivência em grupo e no
trabalho pedagógico especialmente no trabalho em sala de aula.
Desta maneira o trabalho do professor que deve ser um porta-voz
privilegiado, na transmissão dos conteúdos historicamente acumulados se torna
impossibilitado de gerir relações com o saber, visto que não há disponibilidade do
sujeito para com seu semelhante. Não é possível ensinar a quem não tem
predisposição a aprender. Não importa aqui as razões.
Assim podemos concluir com a colocação de Aquino (1996, p. 48) que,
Do ponto de vista sócio-histórico, a escola é palco de confluência dos movimentos históricos (as formas cristalizadas versus as formas de resistência), do ponto de vista psicológico ela é profundamente afetada pelas alterações na estrutura familiar. De ambos os modos, a indisciplina apresenta-se como sintoma de relações descontínuas e conflitantes entre o espaço escolar e as outras instituições sociais. (AQUINO, 1996, p. 48)
Maria Izete de Oliveira (2005) desenvolveu um estudo sobre essa
questão. Ela aponta a transformação histórico-social e as mudanças pedagógicas
que interferiram na escola, nas atitudes dos professores e no comportamento dos
alunos como causas da indisciplina, apontam ainda, os fatores psico-sociais e os
fatores pedagógicos como fatores determinados por estes primeiros, os quais não se
dão com a mesma intensidade no comportamento da criança; alguns podem ser
mais ou menos extremos conforme as circunstâncias e a realidade de cada aluno e
de cada escola. Esses fatores, psico-sociais e pedagógicos podem ser, internos ou
externos a instituição.
Segundo a autora faz parte dos fatores psico-sociais: a família, a mídia, a
diversidade entre os alunos, os problemas de distúrbio de atenção dos alunos e
carência afetiva. Entre os fatores pedagógicos estão a imposição ou falta de regras,
a busca do “clima ideal” de sala de aula, os cursos de formação de professores, a
proposta pedagógica e o sistema educacional da escola. Ela coloca ainda que
30
alguns fatores possam agir concomitantemente, ou seja, vários fatores se dão ao
mesmo tempo na atitude dos alunos, determinando o seu comportamento.
Estes fatores não é novidade para quem é familiarizado com a educação,
mas adicionam uma concretude de que o nosso ambiente escolar não difere das
maiorias. Por isso apresentarei um breve resumo de cada fator segundo Oliveira
(2005).
a) A família
Ao referenciar à família, não a tradicional composta por pai, mãe e
irmãos, mas a real, das quais vêm nossos alunos composta por diferentes tipos de
parentescos seja pais, avós, tios, padrinhos, padrastos, ou até mesmo somente a
mãe; Esta família desestruturada que encontramos na sociedade, as quais as
crianças tomarão como exemplo e que direcionarão e influenciarão em sua conduta
encontra-se desorientada É dessa família que a criança, o aluno faz parte, que ao
ingressar na escola leva consigo todas as suas inseguranças, angústias, traumas,
revoltas.
Os pais ou responsáveis, na maioria dos casos em que se tem ocorrência
de indisciplina ou má conduta das crianças e adolescentes, quase sempre estão
ausentes ora trabalhando ora procurando trabalho, e às vezes envolvidos em
situações de risco, violência também. Com isso as crianças e os adolescentes
quando não estão na escola fica na rua aprendendo tudo o que não deveria
aprender. Como os pais acabam transferindo à escola toda a responsabilidade de
educar, desenvolver hábitos básicos, estabelecer limites. Atitudes que devem ser de
responsabilidade exclusiva da família, isso gera os conflitos, e acaba apresentando
atitudes indesejáveis na escola que culminam em desobediência, agressividade,
falta de respeito, refletindo na relação da criança com os colegas, professores e
outros.
b) A mídia
A mídia, fator responsável por grande parte da formação da
personalidade de nossos jovens vem influenciando muito no seu comportamento.
A televisão especificamente é a que mais influencia por ser de mais fácil
acesso, interfere na educação que os pais e até mesmo a escola tenta passar. Com
objetivo específico de aumentar o ibope, não se preocupa se os programas são
31
inescrupulosos ou não, incentiva a rebeldia, o sexo, e a violência através dos
desenhos, filmes e noticiários que só transmite notícias ruins. É obvio que as
crianças e jovens que assistem a esses programas sem uma censura, sem um
controle dos pais que estão ausentes ou são permissivos, acabam reproduzindo
esses comportamentos na escola sendo a indisciplina em sala de aula uma dessas
manifestações.
c) A diversidade entre os alunos
A escola é um lugar de encontros de diversidade de práticas educativa.
Entretanto, estamos vivendo um contexto onde temos vários alunos com o mesmo
tipo de características narcisistas sendo que a competitividade torna se mais
acirrada. Logo, as discussões e comportamentos tornam-se mais calorosos tendo
em vista a grande quantidade de alunos com o mesmo padrão de comportamento
Essa diversidade entre os alunos no sentido das diferentes culturas, mas de
comportamentos individualista, com as quais nos defrontamos no âmbito escolar
pode ser fator com que os profissionais da educação deva se preocupar, para isso o
professor deve ter o cuidado de saber respeitar, achar formas de resolver os
problemas sem dar sermão e não querer homogeneizar sua clientela de acordo com
seus conceitos de comportamento daquele aluno cujas atitudes não demonstrem
proximidade com os seus valores, ou seja, com aquilo que julga correto. Logo,
[...] aquele aluno que não se enquadra no “modelo” estabelecido pelo professor passa a ser discriminado. Essa discriminação pode se manifestar no juízo que o professor faz da aparência do aluno, pelo modo de se comportar, pela forma como se expressa e /ou pela sua dificuldade em aprender os conteúdos. Isso acontece porque nem todos os professores têm sensibilidade, habilidade e bom senso para lidar com a diversidade. (OLIVEIRA, 2005, p. 54).
Segundo a autora se deve abordar as diferenças com sabedoria e bom
senso procurando não humilhar uma criança que muitas vezes já se sente
inferiorizada pela vida que leva. Uma vez que o aluno é rotulado pelo professor ou
pelos colegas ele poderá carregar este estigma até os anos finais de sua
escolarização, e dependendo do aluno ele terá diferentes reações, poderá se
revoltar e tornar-se um aluno indisciplinado ou poderá sofrer silenciosamente, perder
o prazer de ir à escola, prejudicando assim toda sua aprendizagem.
d) Os problemas de distúrbio de atenção dos alunos
32
Os problemas de distúrbios de atenção dos alunos é outro problema sério
que influencia no comportamento do cotidiano em sala de aula. Os professores
precisam estar atentos para poder identificar nas condutas desviantes dos alunos se
estas são advindas de fatores psicológicos ou emocionais, e se configuram em
distúrbio de atenção. Isso é imprescindível para que ele possa tomar atitudes
adequadas que ajude a criança, evitando que o comportamento destas culmine em
indisciplina influenciando negativamente no comportamento dos colegas.
Entretanto, os professores têm que ter cautela ao encaminhar para
tratamento psicológico crianças que tenham alguma dificuldade de aprendizagem ou
apresente algum tipo de comportamento dito não normal, pois às vezes, essas
crianças precisam apenas de um pouco mais de atenção do professor ou da família.
É quando o professor deve considerar que essas crianças podem estar
apresentando uma “carência afetiva” muito grande, uma vez que não podem contar
com os pais para lhes darem carinho e atenção. Diante desse fato o professor pode
proporcionar uma relação mais afetiva com a turma, demonstrando seu interesse por
eles, mostrando-lhes que são importantes. O vínculo afetivo em sala de aula é
essencial para que o trabalho corra bem. Porém, não se trata de atender as
vontades dos alunos, de serem permissivos às normas, tão pouco de ser um
professor meloso, mas de aproximar-se daqueles que estão apresentando algum
tipo de problema, para conhecer suas dificuldades e sua realidade e melhor
desempenhar o papel de educador.
e) A afetividade
A afetividade por parte do professor não o abdica de sua responsabilidade
e de sua autoridade. Enquanto os professores não perceberem que é, também,
através da dinâmica relacional do docente com a turma e da análise detalhada do
que se passa no seio do grupo que podem melhorar o ambiente de sala de aula, não
obterão grandes resultados
f) Imposição ou falta de regras
Dos fatores pedagógicos temos que na imposição ou falta de regras,
estas devem ser tratadas com esmeros cuidados, pois se for apresentadas aos
alunos regras prontas impostas, estas com certeza não serão respeitas da mesma
33
forma do que se forem construídas coletivamente de acordo com a opinião e a
realidade da maioria dos alunos, num processo democrático.
Na elaboração de regras a educação deve estar voltada para a autonomia
do educando, para isso é preciso compreender que a criança, o jovem têm vontade
própria, que são competentes e, dentro de suas possibilidades, capazes de construir
conhecimento e interferir no meio em que vive. O professor deve propiciar condições
nas quais os alunos possam compreender e desenvolver essa autonomia, dando-
lhes condições de ver que existe um consenso entre professor e alunos quanto ao
comportamento dos mesmos, considerado que a indisciplina pode ser superada para
o bem comum.
g) “Clima ideal” de sala de aula
Na busca do “clima ideal” de sala de aula o professor deve considerar que
isso nem sempre é possível, vários fatores contribuem para isso: as próprias
condições físicas do ambiente como, sala de aula pequena ou grande demais,
número excessivo de alunos, carteiras inadequadas e quebradas, falta de
ventilação, iluminação insuficiente, causam agitação nos alunos. O que também
deve ser considerado é que às vezes a turma é ativa, participativa, essa agitação
fértil, é positiva e não deve preocupar o professor com possíveis julgamentos
externos à sala de aula. De qualquer modo uma sala de clima ideal é aquela em que
os alunos sabem que é preciso aprender a se comportar, reconheçam que há
momentos em que é necessário concentração e esforço para que ocorra a
aprendizagem.
Oliveira (2005) aponta o bom senso e a experiência como ajuda no
gerenciamento da sala de aula. Para isso ela sugere que o professor prepare sua
aula prevendo a dosagem, o nível de dificuldade e a duração de cada atividade,
evitando o excesso ou a ociosidade dos alunos, mantendo os alunos sempre
ocupados com atividades que lhes interessam e que exija concentração. È
importante também, visando as diferenças individuais, planejar atividades
diversificadas (jogos educativos) para os alunos mais rápidos, evitando sua
inquietação ao término da tarefa.
34
h) Os cursos de formação de professores
Quanto aos cursos de formação de professores segundo Oliveira, no que
diz respeito ao preparo para o gerenciamento e enfrentamento aos aspectos
relacionais e disciplinares dos alunos em sala de aula que envolva motivação e
participação, são tratados de forma superficial e não prepara os professores no
sentido de ajudá-los a lidar com essa complexidade e com a diversidade do
ambiente escolar. Como medida de prevenção da disciplina a autora sugere uma
formação permanente e em serviço, voltada para a reflexão, análise, e resolução
dos problemas que os afligem com a indisciplina, a violência, a dificuldade de
aprendizagem dos alunos, as metodologias de ensino, a política de inclusão, etc.
Uma atuação profissional mais consciente e ativa na qual o professor deixe de ser
um mero transmissor de conhecimento, consiga lidar com essa complexidade e
diversidade em seu trabalho pedagógico considerando a realidade concreta dos
educandos e as exigências e normas do sistema pode vislumbrar novos horizontes
para uma educação de qualidade e uma vida digna.
i) A proposta pedagógica
Da Proposta Pedagógica: A necessidade de uma proposta pedagógica
mais definida pode ser outro determinante da disciplina na escola. Logo o papel do
professor perante essa proposta é o de saber selecionar os conteúdos que estejam
de acordo com o nível de conhecimento e realidade do aluno, que tenha utilidade em
sua vida e que sejam colocados de forma contextualizados. Escolher metodologias
que façam com que os alunos consigam aprender e entender a utilidade dos
conteúdos, bem como relacioná-los com o seu cotidiano, pois sem saber fazer essa
relação, os alunos perdem o interesse e acabam procurando outra coisa para fazer e
ocupar seu tempo em sala de aula, ocasionando a indisciplina. A avaliação também
deve estar afinada, de acordo com o nível de conhecimento do aluno, bem como
atender suas expectativas, apresentando-se de forma a medir o conhecimento
adquirido para dar continuidade do processo de aprendizagem e não de forma
evasiva, somente para tirar notas e passar de ano. Logo, para que os alunos tenham
interesse é preciso que os professores discutam com eles a razão de ser de cada
conteúdo estudado, considerando que é tarefa docente ensinar os conteúdos e
também ensinar a pensar, a raciocinar, produzindo seu próprio conhecimento.
35
j) O sistema educacional e a escola
Do sistema educacional e a escola, Oliveira coloca que a escola ainda
que tente trabalhar sob as normas do sistema educacional, este impõe um padrão
tradicional de condutas que a escola e os professores devem seguir. A escola
funciona com uma organização vertical, com atividades que se repetem dia após dia
e é apoiada em lideranças muitas vezes autoritárias.
Outras imposições são comuns a todos e interfere diretamente no
comportamento não só dos alunos, mas também no dos professores, tais como:
trabalhos burocráticos excessivos, horários rígidos, turmas numerosas, escolas sem
espaço físico para desenvolver apropriadamente as atividades, com salas pouca
iluminadas, ventiladas, sala que sofre interferência de barulho externo, falta de
material didático, sistema de avaliação de rendimento dos alunos, remuneração
insatisfatória
Nesse sentido a escola deixa de ser agradável para muitos alunos, por
não ter atrativos. Frequentar a escola passa a ser uma obrigação imposta pelos
pais. Como o aluno não vê saída para esta imposição, ele cria estratégias para
conseguir permanecer na escola e sobressair, procurando alcançar apenas dois
objetivos que são divertir-se e passar de ano.
Como sugestão ao enfrentamento dos impasses do sistema educacional,
Oliveira propõe que os profissionais da educação, dentro das suas possibilidades,
criem estratégias para intervir frente aos problemas que se manifestam dentro da
escola e que prejudicam o processo ensino aprendizagem. Sendo que para ela a
melhor estratégia é a elaboração e implantação do Projeto Político Pedagógico
compartilhado.
Para a autora a junção de um Projeto Político Pedagógico com a atuação
de uma autoridade competente em sala de aula e que desenvolva um trabalho
fundamentado nos princípios de igualdade e responsabilidade, são características
suficientes para promoção da aprendizagem dos conhecimentos que cabe à escola
ensinar, para todos.
Os fatores pedagógicos os quais Oliveira se refere: a imposição ou falta
de regras, a busca do “clima ideal” de sala de aula, os cursos de formação de
professores, a proposta pedagógica e o sistema educacional da escola, a meu ver
36
estão muito mais próximos de ser solução do que problemas ao enfrentamento da
indisciplina na escola, visto que tudo se dá na ação dos profissionais da educação
que deve ter um comprometimento para com seu trabalho. Tudo depende do ponto
de vista de cada um. Se formos pessimistas não vamos encontrar solução e cada
entrave será visto como obstáculo para o não enfrentamento a questão. Por outro
lado se formos otimistas e perseverantes encontraremos no menor sinal o caminho
para a busca de soluções aplausíveis dos problemas dos mais corriqueiros aos mais
sérios, pois para tudo há solução e se acreditarmos na nossa capacidade de
enfrentar os desafios com persistência faremos as necessárias intervenções e os
problemas serão superados com serenidade no contexto escolar.
O Psicólogo e Professor Nelson Pedro Silva em sua exposição na
palestra do, XX Semana Educacional em Jacarezinho, mostrou-se pessimista
quanto a uma solução aplausível para os problemas da indisciplina na escola, a qual
ele caracteriza como um sintoma desses tempos sombrios de personalidades
narcisistas, onde a busca do prazer individual se dá a qualquer custo.Os jovens não
sabem lidar com as limitações, as rachaduras e as frustrações que qualquer
relacionamento impõe naturalmente, isto é, “renúncia ao crescimento, ao
desenvolvimento”, do que correr o risco inevitável de sofrer.
Para ele a dificuldade de aprendizagem e a indisciplina continuam a dar
plantão nas instituições escolares, pois não há possibilidade de uma única estratégia
para a solução do problema. Sendo que as causas são várias e de diferentes
naturezas, as pessoas envolvidas são singulares e estão em constante
transformação e não há como eliminar o problema, pois a sua matriz geradora da
agressividade é da natureza humana, resultante da não canalização, direcionamento
da agressividade considerada natural no homem “teoria freudiana”.
Dessa maneira a indisciplina, a violência pode ser atribuída à ocorrência
da existência de uma natureza maléfica nos seus praticantes. Mas também pode ser
considerados outros fatores ambientais como:
a) O clima cultural geral beligerante, que banaliza a violência a ponto de
concebê-la como único instrumento de solução de conflitos;
b) À carência afetiva;
c) A ausência de limites
37
d) O não desenvolvimento moral e ético;
e) O modo de afirmação de poder e de autoridade dos pais sobre os
filhos, por meio de práticas educativas que incluem maus-tratos físicos
e explosões emocionais violentas, isso levaria à necessidade de
produzir contra os outros os maus-tratos sofridos em casa ou na
escola, como forma de descontar e com forma de adaptação.
Diante de tais posicionamentos o Professor Nelson sugeri que nunca se
deve brigar com os alunos sem perguntar o porquê daquilo, a razão de seu ato e
que o diálogo ainda é a melhor solução. Os alunos não estão sabendo lidar com as
diferenças, isso não significa que devemos amá-los, mas respeitá-los. Pois para ele,
todos nós somos carentes afetivamente, mas cada um se manifesta de uma
maneira.
Devido à complexidade do tema desse trabalho e a magnitude com que
os problemas de indisciplina têm se apresentado no cotidiano escolar, tão presente
em nossas vidas, porém tão difícil de descobrir, onde não há caminhos definidos,
mas que vão sendo construídos no caminhar. Espera se que essa revisão de
literatura se enriqueça na confrontação dos educadores. Assim à procura de
respostas, é possível que mais dúvidas, questionamentos tenham sido provocados
do que respostas encontradas.
Conclui-se que as escolas tenham que desenvolver políticas internas que
oportunizem os professores, em serviço, discutir e refletir sobre os problemas
vivenciados nas rotinas das escolas buscando soluções e implementação das
mesmas; que as escolas propicie mudanças de paradigmas voltas para ações
coletivas verdadeiramente democráticas de forma preventiva à combater a
indisciplina na escola.
38
3.1 REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, Maria Izete de Indisciplina Escolar: determinações, conseqüências e
ações. – Brasilia: Liber Livro Editora, 2005.
AQUINO. Julio. Groppa. Indisciplina na Escola, Alternativas Teóricas e Pra ticas:
15ª edição. São Paulo: Summus Editorial. 1996.
SILVA, Pedro Nelson. Palestra proferida curso PDE 22/03/2011,
39
4 A ÉTICA E MORAL COMO ENFRENTAMENTO À INDISCIPLINA NA ESCOLA
Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher o que plantamos. Provérbio chinês
Vivemos em um momento cultural da humanidade em que se valoriza
muito o individualismo Os valores éticos e morais estão voltados para um espírito
exageradamente competitivo. Vivemos numa era de aceleração tecnológica, de
globalização aonde as informações chegam ao mesmo tempo em que acontecem,
exigindo cada vez mais das pessoas. Nossa disponibilidade de tempo não aumenta
na proporção em que são criados os recursos tecnológicos que por um lado facilita
nossa vida, mas que por outro nos obriga à reflexão sobre as escolhas e sobre as
renúncias, tirando-nos o foco de visão e desviando nossas energias para a
resolução imediata de contratempos.
Como decorrente desse processo de individualismo criado pelo sistema
em que somos obrigados a se inserir, o individuo se torna essencialmente
egocêntrico. A nossa educação enfatiza esse perfil de ser egoísta, de querer o
tempo todo ter o melhor de tudo, de levar vantagem e obter sucesso a qualquer
preço nesse mundo competitivo. Esses valores como solidariedade, generosidade
humildade, coragem justiça honestidade e tantas outras ligadas à virtude, às
questões de prudência estão um pouco esquecidos e fora de moda, pelas
características de nossa educação, de nossa formação tradicional, mais tecnicista
que faz com que o ser humano perda esse valor intrínseco de subjetividade, onde
ele passou a ser rival de si mesmo. O homem está se autodestruindo com esse tipo
de cultura, com essa visão de mundo que descaracteriza aquilo que tínhamos de
humanidade Não há valorização do sujeito enquanto personagem da história.
Estamos perdendo o espírito de subjetividade e de humanidade.
A família tem a responsabilidade de formar o caráter, de educar para os
desafios da vida, de perpetuar os valores éticos e morais. Mas, os pais não sabem
mais como educar, como agir diante de tantas mudanças, às vezes agem de
maneira oposta ao seu modo de pensar ou de como foram educados somente para
40
não se sentirem por fora do status que a sociedade por hora impõe. Tomam tais
atitudes talvez por se sentirem ignorantes por ou não refletirem sobre o quê e em
quem acreditar
As pessoas diante dessas mudanças de paradigmas sentem se perdidas
quanto ao seu futuro e o de seus filhos. As crianças e os adolescentes mostram-se
resistentes a vivenciar e respeitar os limites que visam a assegurar a sobrevivência
de si e do grupo no qual estão inseridos. Faltam lhes a sabedoria que deveriam
receber dos adultos como herança ou como troca de experiência.
A escolarização formal também encontra se em crise. As crianças e
jovens chegam à escola, carregados dessa formação permissiva dos pais, se
achando dono do mundo, com atitudes de indiferença em relação às normas e
regras que deveria garantir o convívio social. Os educadores por outro lado os vêem
como malcriados, rebeldes, perdidos, inúteis, imorais, preguiçosos, sem iniciativa.
Não sabem como agir diante de tantos pré-requisitos negativos os quais se
apresentam. “As sanções (punições), em outros tempos utilizados por eles, não são
mais aceitas e, mesmo quando são aplicadas, parecem ser ineficientes. Em relação
às novas, quando eles as conhecem, ou se mostram céticos (pessimistas) em
relação a sua eficácia ou não sabem quais devem ser aplicadas.” SILVA (2004, p.
16).
Novos valores afetam a relação ético-pedagógica, há um conflito de
valores em nosso tempo causado, talvez pelo impacto da globalização e a escola
tem sido vítima desse processo.
Silva (2004) traça algumas considerações sobre o tema, ética e relaciona-
o com a (in)disciplina e seus reflexos no processo ensino-aprendizagem.
“indisciplina é, em parte, produzida pelas relações interpessoais e só pode ser
superada se esta dimensão for trabalhada, levando-se em consideração aspectos
sociais mais amplos e outros diretamente ligados à política educacional em
vigência”.
Para Silva (2004, p. 60) “a conceituação de indisciplina e, por
conseqüência de disciplina, é toda ação moral executada pelo sujeito e que está em
desacordo com as leis impostas ou construídas coletivamente, tendo o indisciplinado
consciência ou não deste processo de elaboração”, Independente, se o aluno
41
desobedeceu a regras colocadas de maneira arbitrária ou se as desobedeceu sem
ter consciência dessa transgressão. O que importa como ato moral é que ele
desobedeceu e, portanto, cometeu um ato de indisciplina.
Essas ações, na escola, são comuns. Daí a necessidade de se trabalhar
ética e moral. Mas o que está sendo feito para dar conta dessa lacuna do currículo
nas escolas?
Os “Parâmetros Curriculares Nacionais” – PCNs (Brasil, 1997), trás como
“Temas Transversais” a Ética com o objetivo “de alcançar e fortalecer a meta maior
que é a formação do cidadão. [...] Os conteúdos apresentados estão referenciados
ao princípio da dignidade do ser humano, um dos fundamentos da Constituição
brasileira.” (PCNs, 1997, p.91)
No entanto a Proposta Curricular do Paraná, elaborada coletivamente,
não traz especificamente como trabalhar essa questão. Nela discute-se como
trabalhar os Temas Sociais Contemporâneos apresentados nos “Cadernos
Temáticos: Desafios Educacionais Contemporâneos” os quais estão direcionados
aos profissionais da educação, educandos, seus pais e toda a comunidade. Tais
desafios trazem as inquietudes humanas, as relações sociais, econômicas, políticas,
e culturais, levando-se a avaliar os enfrentamentos que se deve fazer dentro da
diversidade cultural, trabalhadas no contexto em que se dá a escola, nas diferentes
áreas de estudos.
O Ministério da educação elaborou um caderno como subsídio para (re)
elaboração do currículo das escolas. Em sua apresentação Gomes (2008, p. 6)
consta que,
A liberdade de organização conferida aos sistemas por meio da legislação vincula-se à existência de diretrizes que os orientem e lhes possibilitem a definição de conteúdos de conhecimento em conformidade à base nacional comum do currículo, bem como a parte diversificada, como estabelece o Artigo 26 da vigente Lei de diretrizes e Bases da educação Nacional – LDB nº9. 394 20 de dezembro de 1996: “Os currículos do ensino fundamental e Médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela”. (GOMES, 2008, p. 6)
A Escola Pública do Paraná sempre tem oportunidade de discutir a
constituição e reformulação do currículo. Deve, no entanto aproveitar essas
42
oportunidades para melhor refletir sobre a constituição de um documento que, mais
do que a distribuição de disciplinas e conteúdos, promova, por meio de estratégias
dinâmicas, discussão, reflexão, questionamentos a respeito da implementação da
ética e da moral como elemento obrigatório, presente no currículo, dentro do qual
deve ser vista como um eixo orientador no contexto da diversidade Entende-se por
diversidade a construção histórica, cultural e social das diferenças
Justifica-se a necessidade urgente de se trabalhar ética e moral como
conteúdo junto às demais disciplinas, visto que este tema pode ajudar por um lado
nossas crianças e jovens que não estão tendo oportunidade de receber esta
formação que antes era exclusiva da família e que por diversas razões não estão
mais cumprindo com sua função Por outro lado pode ajudar o professor a cumprir
com o papel da escola que é propiciar as crianças e jovens espaços e ambiente
educativo que ampliem a aprendizagem, reafirmando-a como lugar do
conhecimento, do convívio da diversidade, da sensibilidade, condições
imprescindíveis para a construção da cidadania.
Além demais, discutir ética e moral junto à diversidade podem contribuir
para que muitos dos problemas de indisciplina e violência sejam amenizados, uma
vez que estas questões determinam e organizam o comportamento humano dos
sujeitos.
Corroborando para a justificativa, ainda no caderno de Indagação sobre
Currículo encontramos:
Posicionamo-nos em defesa da escola democrática que humanize e assegure a aprendizagem. Uma escola que veja o estudante em seu desenvolvimento – criança, adolescente e jovem em crescimento biopsicossocial; que considere seus interesses e de seus pais, suas necessidades, potencialidades, seus conhecimentos e sua cultura. (GOMES, 2008, p. 7)
A relação entre ética e diversidade, nos coloca diante de práticas e
políticas voltadas para o respeito, para as diferenças, para a superação dos
preconceitos e discriminação. Nesse sentido acrescentamos que “o reconhecimento
do aluno e do professor como sujeitos de direitos é também compreendê-los como
sujeitos éticos. (GOMES, 2008, p. 32).
43
Para a autora, discutir a diversidade no campo da ética significa rever
posturas, valores, representações e preconceitos que permeiam a relação
estabelecida com os alunos, com a comunidade e demais profissionais da escola.
Segundo Amauri Carlos Ferreira (2006, p. 32) in (GOMES, 2008, p. 33),
A ética é referencia para que a escolha do sujeito seja aceita como um princípio geral que respeite e proteja o ser humano no mundo, Nesse sentido, o ethos, como costume, articula-se às escolhas que o sujeito faz ao longo da vida. A ética fundamenta a moral, ao expressar a sua natureza reflexiva na sistematização das normas. (GOMES, 2008, p. 33).
Levar ao cotidiano das escolas reflexões sobre ética, os valores e seus
fundamentos, trata-se de gerar ações, discussões sobre seus significados e sua
importância para o desenvolvimento dos seres humanos e suas relações com o
mundo, conforme define Silva (2004, p.23):
O termo ética (do grego ethos, que quer dizer etimologicamente “costume”), e resumidamente, significa reflexão sobre a moral, logo para entender o que significa ética é preciso também entender o significado de moral. Basicamente moral (do latim morus, que também quer dizer “costume” ) significa um conjunto de regras, normas e leis que determinam ou orientam os comportamentos dos indivíduos numa dada sociedade. (SILVA, 2004, p. 23).
Logo, aprender viver em sociedades, isto é, ser cidadão é entre outras
coisas, aprender a agir com respeito, solidariedade, responsabilidade, justiça, não
violência. Neste sentido é preciso aprender respeitar regras, nas mais diferentes
situações e comprometer-se com o que acontece na vida da comunidade e do país.
Esses valores e essas atitudes precisam ser aprendidos e desenvolvidos pelos
alunos e, portanto devem ser ensinados na escola A ética, assim como a
democracia e a autonomia, não se constrói por meio do discurso, mas sim pelo
exercício prático diário, exemplo vivo e vivido, que perpassa as relações cotidianas
que, nesse caso, são representados pela figura do professor e do aluno.
No entanto, como sabemos o processo educativo é complexo e
fortemente assinalado por variáveis pedagógicas e sociais, entendemos que esse
não pode ser analisado fora de uma interação dialógica entre escola e vida,
considerando o desenvolvimento humano, o conhecimento e a cultura em que cada
escola está inserida. Para isso devemos pensar que ao ensinar os princípios éticos,
são necessários pelo menos dois fatores, primeiro que os princípios se expressem
44
em situações reais, nas quais os alunos possam ter experiências e conviver com a
sua prática; segundo que, haja um desenvolvimento da sua capacidade de
autonomia moral, isto é, de capacidade de analisar e eleger valores para si,
consciente e livremente.
Nesse contexto é importante destacar que o papel funcional dos sujeitos
da aprendizagem, alunos e professores, que interpretam e conferem significado aos
conteúdos com que coexistem na escola, a partir de seus valores previamente
construídos e de seus sentimentos e emoções, sejam incorporados no cotidiano das
escolas, especialmente no interior das salas de aula.
45
4.1 REFERÊNCIAS
SILVA, Nelson Pedro. Ética, Indisciplina & Violência nas Escolas . Petrópolis, RJ:
Vozes, 2004.
SILVA, Nelson Pedro. Ética, (In)disciplina e Relação Professor-aluno . In: (Org.)
LA TAILLE, Yves de. INDISCIPLINA Ética, moral, e ação do professor DISCIPLINA.
Porto alegre: Ed. Mediação, 2005.
GOMES, Nilma Lino. Indagações sobre Currículo : diversidade e currículo. –
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental, Parâmetros Curriculares Nacionais:
introdução aos parâmetros Curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.
46
5 (IN) DISCIPLINA ESCOLAR: Um Processo mais afetivo
Não existem, no universo, crianças irrecuperáveis, mas sim crianças que precisam de outras coisas além da pedagogia
Cesare de La Rocca
È de conhecimento de todos que o ser humano nasce frágil e necessita
de outro de sua espécie para sobreviver, assim como necessita da interação com os
outros para aprender a ser humano. Exemplo disso tem a história das meninas loba,
encontradas na Índia no ano de 1920. Duas crianças selvagens que viviam entre
lobos, Amala e Kamala, sendo que a primeira morreu um ano depois e segunda,
Kamala, que deveria ter uns oito anos quando encontrada, morreu em 1929 sem se
humanizar. Ela levou seis anos para ficar ereta, falava palavras simples e se isolava.
Temos também que o ser humano possui capacidades biológicas como
as de andar ereto, falar, conquistar maneiras de pensar através de conceitos, só que
tudo isso é possível somente através da convivência com o meio e com seus
semelhantes.
Nessa perspectiva é necessário pensar que a formação do ser humano
intelectual depende de quem, com quem e de que maneira ele interage no decorrer
de sua vida. Logo, se queremos formar um indivíduo cidadão, de boa índole, ético,
capaz de viver em sociedade, respeitar os valores, a cultura de seu grupo, cabe, em
primeiro lugar a família, núcleo principal de formação do indivíduo, promover
condições necessárias a sua formação. Depois da família vem a convivência na
escola, que é o segundo núcleo de convivência, cujas implicações serão tratadas
neste pequeno ensaio como referência de formação integral do indivíduo.
Consideremos a escola como local fornecedor de vida coletiva, de
informações, de interação de grupo, troca de valores, normas, modo de vida
diferenciado daquele que se tem com a família; local influenciador das condições
socioculturais da comunidade inserida, onde o desenvolvimento ocorre, espaço onde
a intervenção pedagógica promove a produção do conhecimento. Neste sentido o
desenvolvimento cognitivo é conseqüência do conteúdo a ser apropriado pelo
indivíduo e das relações que ocorrem ao longo do processo da educação e ensino.
47
Assim temos os conceitos cotidianos ou espontâneos e os conceitos
científicos. Os cotidianos são os construídos pela história, pelo concreto das
relações sociais. Os conceitos científicos são adquiridos por meio da ação
sistematizada da escola.
Dentro dessa concepção queremos mostrar que ao mesmo tempo em que
a escola passe os conteúdos historicamente construídos e sistematizados, que ela o
faça de forma humanizada, em uma linha mestra de educação moderna e
humanista. Levando em consideração, os objetivos constitucionais da educação
(art.214) como sendo a erradicação do analfabetismo; universalização do
atendimento escolar; melhoria da qualidade de ensino; o trabalho; promoção
humanística, científica e tecnológica do País. As Diretrizes Curriculares do Paraná
também apontam à este condicionante quanto à função da escola que é “ensinar,
dar acesso ao conhecimento, para que todos, especialmente os alunos das classes
menos favorecidas, possam ter um projeto de futuro que vislumbre trabalho,
cidadania e vida digna.” (Arco-Verde, p. 7, 2008)
Neste sentido entendemos que a afetividade possa ser uma estratégia de
ação para facilitar a apropriação dos conteúdos escolares, tornado-se um elemento
motivador da aprendizagem escolar. Gomes, (2008, p. 145)
Porém, não se trata de tornarmos o afetivo, no contexto da escola, como simples demonstrações de atenção, carinho e elogio aos alunos, por parte dos professores, mas analisarmos tais processos como um fundamento presente em todo pensamento e em toda a ação desenvolvidos pela criança ao longo de sua vida. (GOMES, p.145, 2008)
Segundo Rossine (2001) em Pedagogia Afetiva, a autora propõe aos
educadores uma educação ressignificada voltada para mudanças no relacionamento
professor/aluno, onde o silêncio, o medo, a revolta, repulsa, cedem espaço ao afeto
e à presença consciente de educadores que realmente querem, com
responsabilidade, se modificarem dando as crianças e jovens oportunidades de
desenvolver sua afetividade, dando-lhes condições para seu emocional florescer, se
expandir, ganharem espaço para fazer os enfrentamentos os quais a vida lhes
apresenta.
Para a autora,
48
A afetividade acompanha o ser humano desde o nascimento até a morte. Ela “está” em nós como fonte geradora de potência, de energia. [...] os que possuem uma boa relação afetiva são seguras, têm interesse pelo mundo que as cerca, compreendem melhor a realidade e apresentam melhor desenvolvimento intelectual. [...] A falta de afetividade leva à rejeição aos livros, à carência de motivação para a aprendizagem, à ausência de vontade de crescer. Portanto, uma das nossas máximas é: Aprender deve estar ligado ao ato afetivo, deve ser gostoso, prazeroso. . (ROSSINE, p.9, 15,16, 2001)
Em seu estudo ela faz um apelo aos educadores para que invistam na
afetividade como saída para um futuro melhor, mais justo, mais humano,
proporcionando qualidade de ensino e satisfação no aprendizado, possibilitando ao
aluno oportunidade de desenvolver sua afetividade, ganhando espaço para fazer
seus próprios enfrentamentos. Sendo que para isso é necessário que os educadores
mantenham postura firme de autoridade, estabelecendo questões de limites sem
medo, sem culpas. Logo, os “educadores”, aqueles que sabem que educar é mais
que ensinar uma matéria ou outra, devem estar atentos para trabalhar a questão dos
limites. Árdua missão que os educadores precisam mediar com sabedoria, na base
do diálogo.
Deve-se mostrar que limite não é castigo. É ensinar que não se podem
fazer tudo o que se quer. Que na vida sempre existem muitas situações em que se
depara com nãos, com frustrações. Que existem outras pessoas que tem os
mesmos direitos e que nem tudo acontece da maneira que se quer ou deseja.
Também é preciso elaborar as regras coletivamente. Nada imposto na vertical vai
funcionar. O que é importante é que as regras sejam claras, firmes, e cobradas de
forma sempre igual, todos os dias e sempre que forem desrespeitadas.
Para a autora crianças ou adolescentes têm desejos pronto. No entanto o
jovem também se recente da ausência de regras codificando isso como falta de
amor para com eles, achando que não significam nada, por isso fazem de tudo para
chamar atenção. É preciso que se diga a eles o que fazer, e como fazer, cobrando
veemente o combinado. Nesse sentido, o educador deve assumir o papel de
liderança conquistada, partindo do princípio de que dentro da sala ele é a autoridade
mediadora entre a realidade social e a missão de educar, sem perder de vista que
estamos vivendo em um mundo onde o desenvolvimento tecnológico é um grande
49
desafio. Logo trabalhar na perspectiva de uma educação humanizada se torna um
desafio muito maior.
Paulo Freire em Pedagogia da Autonomia (1996) cujo sumário mais
parece um poema que ao recitá-lo transmite todo um discurso que desvela a
compreensão de um processo de aprendizagem voltada para uma relação de
autonomia que deve ser próprio do professor competente, mas também amoroso,
afetuoso, que além de falar da importância da transmição dos saberes
historicamente construídos pelos homens, também e ao mesmo tempo fala da
boniteza da docência e da discência na concretude da formação humana mais
humanizada.
Segundo Freire (1996, p.119) “Escutar é obviamente algo que vai mais
além da possibilidade auditiva de cada um.” Nesse escutar de Freire é que
concordando com ele que:
“Não há docência sem discência”
E que
Ensinar exige rigorosidade metódica.
Ensinar exige pesquisa.
Ensinar exige respeito aos saberes dos educando.
Ensinar exige criticidade.
Ensinar exige estética e ética.
Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo.
Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer
forma de descriminação.
Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática.
Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural.
Ensinar não é transferir conhecimento.
Ensinar exige consciência do inacabamento.
Ensinar exige reconhecimento de ser condicionado.
Ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando.
Ensinar exige bom senso.
Ensinar exige humildade, tolerância e luta em defesa
dos direitos dos educadores.
50
Ensinar exige apreensão da realidade.
Ensinar exige alegria e esperança.
Ensinar exige a convicção de que a mudança é possível.
Ensinar exige curiosidade.
Ensinar é uma especificidade humana.
Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade.
Ensinar exige comprometimento.
Ensinar exige compreender que a educação
é uma forma de intervenção no mundo.
Ensinar exige liberdade e autoridade.
Ensinar exige tomada consciente de decisões.
Ensinar exige saber escutar.
Ensinar exige reconhecer que a educação é ideológica.
Ensinar exige disponibilidade para o diálogo.
Ensinar exige querer bem aos educandos.
Que ao refletirmos sobre estas tão necessárias exigências estaremos
refletindo sobre o papel do professor, ou conforme Freire gosta de se referir ao papel
do educador. Que precisa estar alicerçado emocionalmente, num contexto escolar
afetivo, subsidiado de elementos teóricos, com abordagem da dimensão afetiva
Desse modo, partindo do saber fundamental de que “mudar é difícil, mas
é possível”, é que devemos programar nossa ação político-pedagógica para uma
ação mais afetiva, sem deixar de exercer a autoridade, tomando decisões,
orientando atividades, estabelecendo tarefas, cobrando as produções individuais e
coletivas numa relação dialógica, daquele que sabe escutar. “Somente quem escuta
pacientemente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas
condições precise falar a ele. [...] O educador que escuta aprende a difícil lição de
transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao aluno, em uma fala com ele.
(FREIRE, p. 113, 1996).
É na convivência amorosa com seus alunos e na postura curiosa e aberta
que o professor assume, provocando os alunos a se assumirem enquanto sujeitos
sócio-históricos culturais do ato de conhecer e aprender para fazer valer os
51
princípios da igualdade, da convivência fraterna, da reciprocidade e da solidariedade
na construção de um mundo melhor, mais humano.
Assim quando nos direcionamos aos educadores que estão diariamente
envolvidos com os alunos cuja formação ética, moral e intelectual é de sua
responsabilidade, é que apontamos para a necessidade de se pensar, (re) pensar as
relações e as práticas que ocorrem dentro das escolas, já que a especialidade do
trabalho educativo é o fato de este trabalho interferir, decididamente, sobre o
processo de humanização das crianças e jovens, produzindo novos conhecimentos.
Gomes (2008, p. 147) indica que “esse caminho de aproximação com a
realidade de vida do aluno possa produzir, nesta, uma sensação de pertencimento
em relação aos propósitos da escola e aos conteúdos por ela trabalhados,
oportunizando novas relações entre a criança com o universo escolar.”
A escola nem sempre se sente capacitada a realizar tudo que deseja
principalmente no que fere a uma pedagogia que esteja também focalizada no
campo emocional, posto que se houver uma reavaliação de atitudes metodológicas
em uma direção que não dificulte a apropriação dos conhecimentos historicamente
construídos pelos homens e que possibilite a promoção integral do ser humano,
provavelmente poderá estar contribuindo, se não para o fim, mas, para amenizar as
situações de indisciplina na escola.
52
5.1 REFERÊNCIAS
PARANÁ: Secretaria do Estado da Educação do Estado do Paraná. Diretrizes
Curriculares da Educação Básica, Carta da Secretária da Educação , Yvelize
Freitas de Souza Arco Verde, 2008.
ROSSINI, Maria Augusta Sanchs. “Pedagogia Afetiva”. 5ª ed. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia : Saberes necessários à prática
educativa. 42 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GOMES, Cláudia Aparecida Valderramas, O afetivo para a psicologia hisórico-
cultural : considerações sobre o papel da educação. Marília, 2008.
53
6 INDISCIPLINA NA ESCOLA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES LEGAIS
Dize-me como tratas tuas crianças e te direi que país tu és.
Cesare de La Rocca
A questão disciplinar na escola sempre esteve presente no cotidiano das
escolas, mas nos últimos anos tem se agravado, visto que os professores persistem
em tomarem medidas que não mostram resultados, não resolve os problemas.
Cansados, desmotivados, sentem-se desamparados.
O presente texto, ainda que não tenha a intenção de esgotar a discussão,
pretende trazer ao debate as questões legais quanto aos direitos, deveres,
proibições e ações disciplinares dos alunos colocados nos documentos legais, aos
quais todos profissionais devem ter acesso para poder fazer os enfrentamentos as
questões de indisciplina que vem ocorrendo no interior de nossas escolas.
A escola não pode assumir a postura de incredulidade frente ao potencial
das nossas crianças e jovens, que vem com outra formação a qual a escola pública
tem que assumir e enfrentar buscando alternativas de intervenção para garantir a
todos uma educação igualitária, de promoção para a cidadania. A escola não pode
responsabilizá-los pela formação que trazem consigo, mas sim cumprir com o seu
dever estabelecido na forma da lei.
Cavet, em mensagem ao professores na Semana Pedagógica do início do
ano de 2011 define o papel da educação do Estado do Paraná, a saber:
A educação pública no estado do Paraná está pautada em princípios e finalidades do processo educativo, no cumprimento da função social da escola e na efetivação do processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, o valor da escola é determinado pela qualidade do trabalho pedagógico, pela sua organização e, sobretudo, pela intencionalidade no planejamento, na execução e na avaliação das ações desenvolvidas no processo.
Nesse sentido é que os professores devem pautar suas expectativas e
direcionar suas metas para efetivar a educação que almejamos.
Imbuídos desse ideal devemos pensar em uma escola democrática, onde
todos tenham acesso aos conhecimentos produzidos historicamente pela
54
humanidade, pois sendo a escola um lugar privilegiado em que se dá a educação
formal do ensino-aprendizagem temos que pensar que para a maioria das nossas
crianças e adolescentes seja o único acesso a essas informações. Daí a nossa
tamanha responsabilidade.
A Constituição Federal de 1988 assegura igualdade de condições para o
acesso e a permanência na escola; a liberdade de aprender, ensinar e pesquisar;
privilegia a educação como única alternativa para a construção da dignidade
humana. No capítulo lll, Art.205, estabelece que “A educação, direito de todos e
dever do Estado e da Família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.”
O artigo textualmente determina que a educação seja direito de todos:
ricos e pobres, negros e, brancos, mulheres e homens, índios e filhos de
estrangeiros, dotados e não dotados, disciplinados e não disciplinados, os que
querem e os que não querem estudar, enfim, a educação além de ser direito, é
obrigatória desde a educação infantil até que se complete a maioridade
A criança e o adolescente não têm opção, todos devem obrigatoriamente
frequentar a escola. No entanto sabemos que muitos estão em sala de aula apenas
por conta da lei, consequentemente não se interessam em aprender, atormentam os
professores, atrapalham a aprendizagem dos demais alunos
O Estado brasileiro, que conferiu essa obrigatoriedade, é também o
responsável por fazê-la cumprir. Ao que parece a família há muito deixou de cumprir
seu papel na integra conforme estabelece a lei. A sociedade, mesmo sofrendo os
reflexos do seu descomprometimento, também tem camuflado muito bem este
compromisso para com nossas crianças e jovens deixando-os a mercê da quase
total marginalização.
A escola, embora não seja o único lugar onde se educa, e apesar de toda
a falta de apoio, de recursos e tantos outros problemas que desabam sobre ela,
continua sendo respeitada, valorizada e reconhecida como instituição imprescindível
para o desenvolvimento do individuo e da sociedade. Ela vem tentado, mesmo com
muitas dificuldades dar conta de cumprir com seu papel que é o de passar os
conteúdos e preparar o aluno/cidadão para a vida.
55
No entanto a escola que idealiza um aluno de direitos e deveres tem
recebido uma clientela com características muito diferentes da ideal, e garantir uma
educação de qualidade, na qual deve proporcionar aos alunos possibilidades de se
tornar cidadãos críticos, autônomos, capazes de interferirem na sociedade passa a
ser um dos grandes desafios aos educadores. Por sua vez os educadores se
sentem angustiados, impossibilitados, desamparados no cumprimento de seus
deveres.
Os educadores precisam conhecer as leis que regulam e normatizam as
ações do coletivo escolar, saber como funciona o sistema educacional no âmbito
geral, participar da elaboração dos documentos que regem as condutas de todos
dentro da escola para poder fazer os enfrentamentos com firmeza frente aos atos de
indisciplina na escola.
Para a garantia do direito à educação, visando dar o respaldo necessário
ao professor na sua atuação docente apresentam-se alguns apontamentos em que
os documentos oficiais da escola podem contribuir.
Consideremos a normatização do Regimento escolar, Projeto Político
Pedagógico (PPP), e algumas considerações do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA).
Segundo subsídios para a elaboração do Regimento Escolar (SEED/PR,
2010), sua normatização pelo sistema Estadual de Educação do Paraná está
normatizada pela exigência da Lei nº 5.692/71, segundo normas da LDBEN nº
9.39496 e do sistema Estadual de Ensino, especificamente a deliberação nº 016/99
que conserva a profunda reflexão teórica, de marcado avanço democrático,
expressa na Deliberação nº 020/91e Indicação nº001/91, a ela anexa e respeita a
retificação realizada pela deliberação nº002/96.
Os documentos: Regimento Escolar, Projeto Político Pedagógico (PPP),
regem e organizam as escolas que estão inseridas em uma totalidade social que se
constitui historicamente como formas de organização, valores, normas e regras.
Neste contexto, e por se tratar de instituição que tem como função social a
apropriação do conhecimento de forma a tornar possível a compreensão da
realidade e a atuação consciente sobre ela pelos cidadãos que a compõe, é que se
faz necessário a participação dos sujeitos envolvidos no processo que, discutindo
56
coletivamente as posições, os princípios filosóficos e as concepções de homem,
sociedade, e educação, elaboram o Projeto Político Pedagógico da escola a qual
estão ligados.
Dessa forma é garantida a participação na sociedade que se pretende
democrática. A organização do trabalho pedagógico é constituída pelo Conselho
Escolar,Equipe de Direção, Órgãos Colegiados de Representação da Comunidade
Escolar, Conselho de Classe, Equipe Pedagógica entre outras, todos normatizados
no Regimento Escolar e PPP.
Considerando que o Regimento Escolar e o PPP são a expressão real da
vontade e necessidade de cada escola, o professor deve recorrer a eles sempre que
houver necessidade de fazer os enfrentamentos. Neles estão expressos os direitos e
deveres de todas as instâncias da escola que darão segurança e legitimidade aos
posicionamentos necessários.
O Regimento Escolar estrutura, define, regula e normatiza as ações do
coletivo da escola, reafirma a organização das ações estipuladas no PPP,
legitimado-as dentro da peculiaridade de cada instituição escolar.
Assim temos no capitulo III, do Regimento Escolar do Colégio Estadual
Joaquim Maximiano Marques EFM e da Escola Professora Hercília de Paula e Silva
– EF do Município de Carlópolis, e da maioria das escolas do Paraná, que trata,
respectivamente, dos direitos, deveres, proibições e ações disciplinares dos alunos
em observância dos dispositivos constitucionais da Lei Federal nº 8.069/90 –
Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, da Lei nº 9.394/96 – Diretrizes e bases
da Educação Nacional – LDBEN, Decreto Lei nº 1.044/69 e Lei nº 6.202/75:
Dos direitos do aluno:
I. Tomar conhecimento das disposições do Regimento Escolar e do(s) Regulamentos(s) Interno (os) do estabelecimento de ensino, no ato da matrícula;
II. Ter assegurado que o estabelecimento de ensino cumpra a sua função de efetivar o processo de ensino e aprendizagem;
III. Ter assegurado o principio constitucional de igualdade de condições para o acesso e permanência no estabelecimento de ensino;
IV. Ser respeitado, sem qualquer forma de discriminação; V. Solicitar orientação dos diversos setores do estabelecimento de
ensino;
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VI. Utilizar os serviços, as dependências escolares e os materiais da escola, de acordo com as normas estabelecidas no regulamento Interno;
VII. Participar das aulas e demais atividades escolares; VIII. Ter assegurada a prática, facultativa, da educação física, nos casos
previstos em lei; IX. Ter ensino de qualidade ministrado por profissionais habilitados para
o exercício de suas funções e atualizados em suas áreas de conhecimento; X. Ter acesso a todos os conteúdos previsto na Proposta Curricular do
Estabelecimento de ensino; XI. Participar de forma representativa na construção, acompanhamento e
avaliação do Projeto Político-Pedagógico da escola; XII. Ser informado sobre o Sistema de Avaliação do Estabelecimento de
Ensino; XIII. Tomar conhecimento do seu aproveitamento escolar e de sua
frequência, no decorrer do processo de ensino e aprendizagem; XIV. Solicitar, pelos pais ou responsáveis, quando criança ou adolescente,
revisão do aproveitamento escolar, de preferência, dentro do prazo de 72 (setenta e duas) horas, a partir da divulgação do mesmo;
XV. Ter assegurado o direito à recuperação de estudos, no decorrer do ano letivo, mediante metodologias diferenciadas que possibilitem sua aprendizagem;
XVI. Contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instancias escolares superiores, conselho Escolar e Núcleo Regional de educação;
XVII. Requerer transferência ou cancelamento de matrícula por si, quando maior, ou através dos pais ou responsáveis, quando menor;
XVIII. Ter reposição das aulas e conteúdos; XIX. Solicitar os procedimentos didático-pedagógicos previstos na
legislação vigente e normatizados pelo Sistema Estadual de Ensino; XX. Sugerir, aos diversos setores de serviços do estabelecimento de
ensino, ações que viabilizem melhor funcionamento das atividades; XXI. Ter assegurado o direito de votar e/ou ser votado representante no
Conselho de Escolar e associações afins; XXII. Participar de associações e/ou agremiações afins; XXIII. Representar ou fazer-se representar nas reuniões do Pré-Conselho e
Conselho de Classe; XXIV. Realizar as atividades avaliativas, pré, estabelecidas, em caso de
falta às aulas, mediante justificativa e/ou atestado médico; XXV. Receber regime de exercícios domiciliares, com acompanhamento da
escola, sempre que compatível com seu estado de saúde e mediante laudo médico, como forma de compensação da ausência às aulas, quando impossibilitado de frequentar a escola por motivo de enfermidade ou gestação;
XXVI. Receber atendimento de escolarização hospitalar, quando impossibilitado de frequentar a escola por motivos de enfermidade, em virtude de situação de internamento hospitalar.
XXVII. Ter registro de carga horária cumprida pelo aluno, no Histórico Escolar, das atividades pedagógicas complementares e do estágio não obrigatório;
XXVIII. Requerer por escrito, quando maior de 18 anos, a inserção de seu nome social em âmbito escolar e constando somente nos documentos do estabelecimento de ensino, tais como espelho do Livro Registro de Classe, Edital de Notas e Boletim escolar;
Dos deveres do aluno:
I. Manter e promover relações de cooperação no ambiente escolar;
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II. Realizar as tarefas escolares definidas pelos docentes; III. Atender às determinações dos diversos setores do estabelecimento
de ensino, nos respectivos âmbitos de competência; IV. Participar de todas as atividades curriculares programadas e
desenvolvidas pelo estabelecimento de ensino; V. Comparecer às reuniões do Conselho Escolar, quando membro
representante do seu segmento; VI. Cooperara na manutenção da higiene e na conservação das
instalações escolares; VII. Compensar, junto com os pais, os prejuízos que vier a causar ao
patrimônio da escola quando comprovada a sua autoria; VIII. Cumprir as ações disciplinares do estabelecimento de ensino; IX. Providenciar e dispor, sempre que possível, do material solicitado e
necessário ao desenvolvimento das atividades escolares; X. Tratar com respeito e sem discriminação professores, funcionários e
colegas; XI. Comunicar aos pais ou responsáveis sobre reuniões, convocações e
avisos gerais, sempre que lhe for solicitado; XII. Comparecer pontualmente a aulas e demais atividades escolares; XIII. Manter-se em sala durante o período das aulas; XIV. Apresentar os trabalhos e tarefas nas datas previstas; XV. Comunicar qualquer irregularidade de que tiver conhecimento ao
setor competente; XVI. Justificar-se junto à equipe pedagógica ao entrar após o horário de
início das aulas; XVII. Apresentar atestado médico e/ou justificativa dos pais ou
responsáveis, quando criança ou adolescente, em caso de falta às aulas; XVIII. Zelar e devolver os livros didáticos recebidos e os pertencentes à
biblioteca escolar; XIX. Observar os critérios estabelecidos na organização do horário
semanal, deslocando-se para as atividades e locais determinados, dentro do prazo estabelecido para o seu deslocamento;
XX. Respeitar o professor em sala de aula, observando as normas e critérios estabelecidos;
XXI. Cumprir as disposições do Regimento Escolar no que lhe couber.
Das Proibições:
I. Tomar atitudes que venham prejudicar o processo pedagógico e o andamento das atividades escolares;
II. Ocupar-se, durante o período de aula, de atividades contrárias ao processo pedagógico;
III. Retirar e utilizar, sem a devida permissão do órgão competente, qualquer documento ou material pertencente ao estabelecimento de ensino;
IV. Trazer para o estabelecimento de ensino material de natureza estranha ao estudo;
V. Ausentar-se do estabelecimento de ensino sem a prévia autorização do órgão competente;
VI. Receber, durante o período de aula, sem a prévia autorização do órgão competente, pessoas estranhas ao funcionamento do estabelecimento de ensino;
VII. Discriminar, usar de violência simbólica, agredir fisicamente e/ou verbalmente colegas, professores e demais funcionários do estabelecimento de ensino;
VIII. Expor colegas, funcionários, professores ou qualquer pessoa da comunidade a situações constrangedoras;
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IX. Entrar e sair da sala durante a aula, sem a prévia autorização do respectivo professor;
X. Consumir ou manusear qualquer tipo de drogas nas dependências do estabelecimento de ensino;
XI. Fumar nas dependências do estabelecimento de ensino, conforme legislação em vigor;
XII. Comparecer às aulas embriagado ou com sintomas de ingestão e/ou uso de substâncias químicas tóxicas;
XIII. Utilizar-se de aparelhos eletrônicos, na sala de aula, que não estejam vinculados ao processo ensino aprendizagem;
XIV. Danificar os bens patrimoniais do estabelecimento de ensino ou pertences de seus colegas, funcionários e professores;
XV. Portar armas brancas ou de fogo e/ou instrumentos que possam colocar em risco a segurança das pessoas;
XVI. Portar material que represente perigo para a sua integridade moral, física ou de outrem;
XVII. Divulgar, por qualquer meio de publicidade, ações que envolvam direta ou indiretamente o nome da escola, sem prévia autorização da direção e/ou do Conselho Escolar;
XVIII. Promover excursões, jogos,coletas rifas, lista de pedidos, vendas ou campanhas de qualquer natureza, no ambiente escolar, sem a prévia autorização da direção.
Das Ações Pedagógicas Educativas, e Disciplinares.
Os alunos que deixar de cumprir ou transgredir de alguma forma as
disposições contidas no Regimento Escolar ficará sujeito às seguintes ações:
I. Orientação disciplinar com ações pedagógicas dos professores, equipe pedagógica e direção;
II. Registro dos fatos ocorridos envolvendo o aluno, com assinatura; dos pais ou responsáveis, quando menor;
III. Comunicado por escrito, com ciência e assinatura dos pais ou responsáveis, quando criança ou adolescente;
IV. Convocações dos pais ou responsáveis, quando criança ou adolescente, com registro e assinatura, e/ou termo de compromisso;
V. Esgotadas as possibilidades no âmbito do estabelecimento de ensino, inclusive do Conselho Escolar, será encaminhado ao Conselho Tutelar ou à Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude, quando criança ou adolescente, para a tomada de providências cabíveis.
O art.151 dispõe que “todas as ações pedagógicas disciplinares previstas
no regimento Escolar serão devidamente registradas em Ata e apresentadas aos
responsáveis e demais órgãos competentes para ciência das ações tomadas”.
No regimento Escolar está previsto também que todo ato infracional
praticado pelo aluno deverá se comunicado imediatamente ao conselho Tutelar ou à
Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude.
No parágrafo único do capítulo III encontramos que a comunicação da
prática do Ato Infracional à autoridade policial, Conselho Escolar ou a Promotoria de
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Justiça da Infância e da Juventude não implica em prejuízo à freqüência do aluno
acusado no estabelecimento de ensino, salvo decreto de internação provisória.
Postas as medidas regulamentadas e esgotados os recursos previstos no
Regimento Escolar o diretor, professor ou funcionário pode recorrer ao Estatuto da
Criança e do Adolescente como respaldo legal as más condutas dos alunos.
No entanto o Professor deverá primeiramente usar de sua autonomia, de
recursos metodológicos diferenciados, do uso de medidas normatizadas pela escola
para depois de esgotados todos os recursos disponíveis recorrer ao Conselho
Tutelar que é o órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela
sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente,
definidos na lei (Art.131, p. 28).
Em segundo lugar o professor deverá junto com a Equipe Pedagógica de
sua escola definir se os casos de indisciplina não sejam de outros aspectos, tais
como médicos, psicológicos, sociológicos e até mesmo, o que é comum ser,
pedagógicos. Os quais deverão ser tratados diferentemente de acordo com cada
especificidade.
O Estatuto da Criança e do adolescente (ECA) Lei nº 8.069/90, é outro
documento o qual serve de apoio ao professor, mas para isso ele precisa ser
entendido como ferramenta que o auxilie. Não sendo mal interpretado como sendo
uma lei permissiva, que contempla somente direitos às crianças e adolescente e que
de certo modo isso contribui com a indisciplina escolar.
Conforme estabelecido no art. 1º do (ECA) que trata sobre a proteção
integral à criança e ao adolescente, o professor deve fazer sua interferência
buscando junto ao Conselho Tutelar proteção aos alunos que necessitam de ajuda,
os que têm seus direitos ameaçados ou violados por ação ou omissão da sociedade,
da família, do estado ou por sua própria conduta, no sentido em que eles não são
capazes de responder pelos seus atos, mas, seus pais ou responsáveis sim, pois “é
dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
(Art. 4º, p. 1).
61
Dos direitos, os alunos, os pais quase sempre têm conhecimento. Agora,
dos seus deveres, do respeito ao conjunto mínimo de normas, nem sempre tem
ciência. Quando tem, ignora. Um dos papéis da escola situa-se nesta questão, ou
seja, é papel da escola contribuir para que o aluno tenha ciência de seus direitos e
obrigações, sujeitando-se às normas legais e regimentais, como parte de sua
formação. “Saber que os alunos têm direitos, mas que também tem
responsabilidades e obrigações é uma competência fundamental do professor, que,
não obstante aos anos de vigência do Estatuto, parece não ter se mostrado cônscio
de tal situação” FERREIRA (2010, p. 60).
Por isso a importância do aluno participar da elaboração das normas para
que não surja a indisciplina como negação da disciplina
À escola resta apenas uma solução, que segundo Yves de la Taille
compete:
Lembrar e fazer lembrar em alto e bom tom, a seus alunos e à sociedade como um todo, que sua finalidade principal é a preparação para o exercício da cidadania. E, para ser cidadão, são necessários sólidos conhecimentos, memória, respeito pelo espaço público, um conjunto mínimo de normas de relações interpessoais, e diálogo franco entre olhares éticos. (TAILLE, 2003, p. 23)
Cidadania nos dias de hoje, não mais pode ser concebida de forma
limitada como a possibilidade de “participação política por meio de voto, que sugeria
a alfabetização do eleitor” (LOPES, p. 40). Hoje a visão é muito mais ampla e
genérica, uma vez que, este requisito, a partir da atual Constituição não mais vigora,
posto que seja facultativo o voto para o analfabeto. Atualmente, cidadania demanda
um cidadão que conheça os seus direitos e lute por eles, mas que também tenha
ciência de suas obrigações e de seus deveres. Como esclarece Ferreira (2010, p.
60): “Deve ficar patente que a todo direito corresponde uma obrigação e que o
direito do aluno tem como limite o direito do outro aluno, do professor ou
funcionário.”
Ferreira faz um estudo sobre a Indisciplina e o ato infracional, cuja análise
contribui para alguns esclarecimentos junto ao professor no enfrentamento a estas
questões. Tem por objetivo enquadrar o problema disciplinar sob o aspecto jurídico,
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posto que a questão de indisciplina escolar não tenha nenhuma referência no
Estatuto, mas pode ser tratada, indiretamente quando se tratar de afronta ou
negação da disciplina, no dever de cidadão a ele garantido por lei conforme está
estabelecido no Art. 53 do ECA, que visa “a educação como o preparo para o
exercício da cidadania”. Nesse sentido o papel da escola centra-se na questão de
contribuir para que o aluno-cidadão tenha ciência de seus direitos e obrigações,
sujeitando-se às normas legais e regimentais, como parte de sua formação.
Para o autor, “desta forma a crianças e adolescentes devem ser
encarados como sujeitos de direitos e também de deveres, obrigações e proibições
contidos no ordenamento jurídico e Regimentos Escolares. Quando ao desrespeitar
quaisquer das normas, pode cometer um ato infracional ou um ato indisciplinar.”
Sendo assim, é preciso saber refletir entre o que é ato indisciplinar e ato infracional.
A expressão ato infracional foi o termo criado pelos legisladores na
elaboração do ECA. Não se diz que o adolescente é autor de um crime ou
contravenção penal, mas que ele é autor de ato infracional, para isso o artigo 103 do
ECA considera-se como ato infracional a conduta descrita como crime ou
contravenção penal. O ECA considera autores de infração apenas os adolescentes
de 12 a 18 anos e jovens de 18 a 21 anos, nos casos expressos em lei (Art. 2º do
ECA).
São considerados atos infracional: roubo, vandalismo, pichação,
desacato, ameaça, depredação das instalações, lesões corporais, consumo de
drogas, porte de armas, entre outras.
Desta forma podemos concluir que nem todo ato indisciplinar corresponde
a um ato infracional. A conduta do aluno pode caracterizar a uma indisciplina, que
não corresponda a uma infração prevista na legislação. Neste caso, cabe a escola
fazer uso de seus instrumentos legais para resolver o problema.
A falta disciplinar deve ser averiguada pelo Conselho Escolar que, após
sindicância disciplinar, em reunião específica deverá deliberar sobre as sanções a
que os mesmos estariam sujeitos, dentre as elencadas no Regimento Escolar,
depois de assegurada a ampla defesa e garantida a proteção da criança e ou do
adolescente dentro da escola. Deve se também dar ciência aos pais ou
responsáveis.
63
No entanto, uma ofensa verbal dirigida ao professor, dependendo do tipo
de ofensa e da forma como foi dirigida, se ameaça injúria ou difamação, pode ser
caracterizada como ato de indisciplina ao mesmo tempo em que pode ser
considerado ato infracional, dependendo do contexto em que foi praticado. Nesse
sentido Tendo o ato infracional ocorrido na escola, independente das consequências
na área administrativa escolar, o responsável (diretor, vice-diretor, pedagogo,
professor ou assistente) deve fazer os encaminhamentos necessários. Sendo que
quando se tratar de criança, (até 12 anos), deve encaminhar os casos ao Conselho
Tutelar, independente de qualquer providência no âmbito policial (não há
necessidade de lavratura de boletim de ocorrência na delegacia de polícia). No caso
de ato infracional praticado por adolescente (de 12 aos 18 anos), deve ser lavrado o
boletim de ocorrência na delegacia de polícia, que providenciará os
encaminhamentos ao Ministério Público e Juízo da Infância e da Juventude.
Encaminhamentos sugeridos por Ferreira.
Com base no ECA aplicam-se medidas diferenciadas às crianças e aos
adolescentes que praticam ato infracional. Medidas que vão desde as medidas de
proteção artigo 101 do Estatuto, até as medidas sócio-educativas, advertências,
obrigação de reparar o dano, prestação de serviços a comunidade, liberdade
assistida, semiliberdade, e intervenção, artigo 112 do Estatuto, estas duas ultimas
aplicáveis quando o adolescente pratica ato infracional passível de segregação.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, dependendo das circunstâncias
é uma ferramenta poderosa para realizar e fazer cumprir todas as normas ali
presentes. A lei está posta e é muito boa, o que falta e o compromisso dos
envolvidos com a educação das crianças e jovens, com a sua realização, em todos
os seus termos e condições. Posto que se criou o mito da impunidade devido às
regras protecionistas que lhe formam o conteúdo, mas fecha quando o agente da
ilicitude são os familiares negligentes, sendo que o dever dos pais em relação à
educação dos filhos está previsto no artigo 1634, l do Código civil, e artigo 22 do
ECA. Nesse sentido, necessário se faz recorrer ao Conselho tutelar que deverá
submeter os pais ou responsáveis a respostas pelo desrespeito ao cumprimento de
seu papel de protetor integral da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento os quais merecem atenção especial pela sua vulnerabilidade, por
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serem pessoas ainda em fase de desenvolvimento da personalidade, (artigo 6º do
ECA).
Importante assinalar que, na interpretação e aplicação do Estatuto e do
Regimento Escolar, devem-se levar em consideração os fins sociais das normas e a
condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento
que precisa incorporar no decorrer do seu amadurecimento um conjunto de regras
construídas pelo homem e para o homem poder viver com outros homens, isto é
viver em sociedade.
6.1 REFERÊNCIAS
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação,
Semana Pedagógica – 1º semestre -- 2011. Curitiba PR: SEED – 2011.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.
Coordenação de gestão escolar. Subsídios para elaboração do Regimento
Escolar . Curitiba: SEED – Pr., 2010.
FERREIRA. Luiz Antonio Miguel
A Indisciplina e o Ato Infracional. Disponível em:
<http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/a_ind_esc_ato_inf.pdf> Acesso em:
06-06-2011
–. O Estatuto da Criança e do adolescente e o Profess or: reflexos na sua
formação e atuação 2 ed. São Paulo: Cortez, 2010.
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069, de 13 de julho de1990.
BRASIL. Constituição Federal do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso
em 05/06/2011.
65
Regimento Escolar do colégio Estadual Joaquim Maximiano Marques – ensino
fundamental e Médio. -- Aprovado pelo Ato Administrativo nº 049/08 NRE/SEF.
Regimento Escolar da Escola Estadual Professora Hercília de Paula e Silva – Ensino
Fundamental. Aprovado pelo Ato Administrativo nº 30/08 NRE/SEF.