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  • 7/25/2019 F na Preveno

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    Guia do EstudanteMdulo 1

    O uso de lcoole outras drogas

    no Brasil:epidemiologia,

    poltica elegislao

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    A1| Epidemiologia do uso de substncias psicotrpicasno Brasil: dados recentes

    A2|A Poltica e a Legislao Brasileira sobre Drogas

    Aps o estudo deste mdulo, os alunos devero ser capazes de:

    definir epidemiologia

    identificar as drogas lcitas e ilcitas mais usadas no Brasil,

    compreendendo os fatores relacionados ao uso

    refletir sobre como os efeitos das drogas se encaixam nas

    necessidades e nas dificuldades dos diferentes grupos de pessoasque as consomem

    conhecer as polticas pblicas brasileiras e a legislao sobre

    lcool e outras drogas

    MDULO 1O uso de lcool e outras drogas no Brasil:

    epidemiologia, poltica e legislao

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    Aula 1

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    Aula 1

    OS OBJETIVOS DESTA AULA SO:

    definir epidemiologia

    identificar as drogas mais usadas no Brasil

    compreender os fatores relacionados ao uso de drogas

    identificar alguns problemas relacionados ao uso de lcool e

    outras drogas

    refletir sobre como os efeitos das drogas se encaixam nas

    necessidades e nas dificuldades dos diferentes grupos de

    pessoas que as consomem

    TPICOS

    Alguns conceitos fundamentais

    Dados recentes sobre o consumo de drogas no pas

    Consideraes finais

    Bibliografia

    Atividades

    Epidemiologia do uso de substncias

    psicotrpicas no Brasil: dados recentes

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    Epidemiologia do uso de substncias psicotrpicas no Brasil: dados recentes | Au

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    ALGUNS CONCEITOS FUNDAMENTAIS

    Epidemiologia

    A palavra Epidemiologia vem do grego, Epedemion(aquele que visita):

    Ep(sobre), Dems(povo), Logos(palavra, discurso, estudo).

    Etimologicamente, ou seja, em relao origem da palavra, Epidemiologia

    significa cincia do que ocorre com o povo.

    Por exemplo:

    Quantas pessoas esto infectadas com o vrus da AIDS?

    Quantas pessoas so fumantes?

    Ou, ainda:

    Quantas pessoas ganham salrio mnimo?

    Essas so questes que a Epidemiologia busca responder.

    Prevalncia

    a proporo de casos existentesde certa doena ou fenmeno, em uma

    populao determinada, em um tempo determinado.

    Por exemplo:

    Quantos fumantes havia entre os moradores da cidade de So Paulo em

    2001? (casos existentes - fumantes), (populao determinada moradores

    de So Paulo) e (tempo determinado ano de 2001).

    Incidncia

    o nmero de casos novos de certa doena ou fenmeno, em uma

    populao determinada, em um tempo determinado.

    Por exemplo:

    Quantas pessoas, entre os moradores da cidade de So Paulo, comearam

    a fumar em 2001?

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    Mdulo 1 | O uso de lcool e outras drogas no Brasil: epidemiologia, poltica e legislao

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    Algumas definies importantes relacionadas ao uso dedrogas:

    Uso na vida - qualquer uso (inclusive um nico uso

    experimental) alguma vez na vida;

    Uso no ano- uso, ao menos uma vez, nos ltimos 12 meses

    que antecederam a pesquisa;

    Uso no ms- uso, ao menos uma vez, nos ltimos 30 dias que

    antecederam a pesquisa;

    Uso frequente- uso, em seis ou mais vezes, nos ltimos 30

    dias que antecederam a pesquisa;

    Uso pesado- uso, em 20 ou mais vezes, nos ltimos 30 dias

    que antecederam a pesquisa;

    Uso abusivo- quando a pessoa comea a ter problemas fsicos,

    mentais e sociais aparentes devido ao uso da substncia.

    Mesmo que parcialmente, a pessoa ainda consegue cumprir

    com suas obrigaes cotidianas;

    Dependncia- quando a pessoa no mais consegue cumprir

    com suas obrigaes cotidianas devido ao uso da substncia

    ou devido aos efeitos adversos do seu uso (ressaca, por

    exemplo). Ela passa quase que a totalidade de seu tempo ou

    sob o efeito da droga, curando a ressaca, ou para obter a

    substncia.

    Os objetivos dos estudos epidemiolgicos na rea dedrogas consistem em:

    Diagnosticar o uso de drogas em uma determinada populao;

    Possibilitar a implantao de programas preventivos adequados populao pesquisada.

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    Epidemiologia do uso de substncias psicotrpicas no Brasil: dados recentes | Au

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    Tipos de estudos:

    1. Levantamentos epidemiolgicos - fornecem dados diretossobre o consumo de drogas:

    domiciliares pesquisam o uso de drogas entre moradores deresidncias sorteadas

    com estudantes pesquisam o uso de drogas entre alunos doensino fundamental, mdio ou de cursos superiores

    com crianas e adolescentes em situao de rua as informaesso coletadas entre crianas e adolescentes que vivem a maior

    parte do tempo na rua

    com outras populaes especficas pesquisam o uso de

    drogas, por exemplo, entre profissionais do sexo, trabalhadoresda indstria, policiais etc.

    2. Indicadores epidemiolgicos - fornecem dados indiretossobre o consumo de drogas de determinada populao:

    internaes hospitalares por dependncia

    atendimentos ambulatoriais de usurios de lcool e/ou outrasdrogas

    atendimentos em salas de emergncias por overdose

    laudos cadavricos de mortes violentas (fornecidos pelo IML -Instituto Mdico Legal)

    apreenses de drogas feitas pelas polcias Federal, Estaduais eMunicipais

    prescries de medicamentos (ex: benzodiazepnicos eanfetamnicos)

    mdia (notcias veiculadas pelos meios de comunicao sobreas drogas)

    casos de violncia decorrentes do uso de drogas

    prises de traficantes

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    DADOS RECENTES SOBRE O CONSUMO DE DROGASNO PAS

    Levantamentos populacionais

    Os dados diretosque sero apresentados a seguir foram obtidos a partir

    de vrios estudos promovidos pela Secretaria Nacional de Polticas

    sobre Drogas (SENAD) em parceria com diversos centros de pesquisa,

    como o Centro Brasileiro de Informaes sobre Drogas (CEBRID) da

    Universidade Federal de So Paulo (UNIFESP), a Fundao Oswaldo Cruz

    (FIOCRUZ), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e o

    Grupo Interdisciplinar de Estudo de lcool e Drogas (GREA) da Faculdade

    de Medicina da Universidade de So Paulo (FMUSP). Outros dados de

    estudos relevantes tambm sero apresentados.

    I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de DrogasPsicotrpicas no Brasil (2001)

    Este estudo, que foi realizado nas 108 maiores cidades do pas, com pessoas

    com idade entre 12 e 65 anos, de ambos os sexos, apontou que 68,7% delas

    j haviam feito uso de lcool alguma vez na vida. Alm disso, estimou-se que 11,2% da populao brasileira apresentavam dependncia dessa

    substncia, o que correspondia a 5.283.000 pessoas.

    II Levantamento (2005)

    Os dados deste levantamento apontaram que 12,3% das pessoas com

    idades entre 12 e 65 anos eram dependentes do lcool, prevalncia superior

    encontrada no I Levantamento (2001), que foi de 11,2%. Alm disso, no

    II Levantamento, cerca de 75% dos entrevistados relataram j ter bebidoalguma vez na vida, 50% no ltimo ano e 38% nos ltimos 30 dias. Os

    dados tambm indicaram o consumo de lcool em faixas etrias cada vez

    mais precoces, sugerindo a necessidade de reviso das medidas de controle,

    preveno e tratamento.

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    Epidemiologia do uso de substncias psicotrpicas no Brasil: dados recentes | Au

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    Comparaes entre os dois Levantamentos Domiciliares(2001 e 2005)

    Observao importante: embora as porcentagens estejam, geralmente,

    maiores na comparao entre os levantamentos de 2001 e 2005, isso no

    reflete cientificamente um aumento real e significativo, segundo as anlises

    estatsticas aplicadas.

    Da populao pesquisada em 2005, 22,8% j fizeram uso na vida de

    drogas, no considerando o uso de tabaco e lcool (consideradas drogas

    lcitas), o que corresponde a 10.746.991 pessoas. Em 2001, os achados

    foram 19,4%, ou 9.109.000 pessoas. Em pesquisa semelhante realizada nos

    EUA em 2004, essa porcentagem atingiu 45,4%.

    A estimativa de dependentesde lcool em 2005 foi de 12,3%, e de tabaco,

    10,1%, correspondendo a populaes de 5.799.005 e 4.760.635 pessoas,respectivamente; havendo aumento de 1,1% em relao s porcentagens de

    2001, tanto para lcool como para tabaco.

    O uso na vidade maconha em 2005 aparece em primeiro lugar entre as

    drogas ilcitas, com 8,8% dos entrevistados, revelando um aumento de

    1,9% em relao ao levantamento de 2001. Comparando-se o resultado de

    2005 com o de outros estudos, pode-se verificar que ele menor do que o

    de outros pases, como EUA (40,2%), Reino Unido (30,8%), Dinamarca

    (24,3%), Espanha (22,2%) e Chile (22,4%). Porm, superior ao resultado

    da Blgica (5,8%) e da Colmbia (5,4%).

    A segunda droga com maior uso na vida(exceto tabaco e lcool) foram os

    solventes (6,1%), havendo um aumento de 0,3% em relao a 2001. Mas,

    ainda assim, so porcentagens inferiores s encontradas nos EUA (9,5%) e

    superiores s de pases como Espanha (4,0%), Blgica (3,0%) e Colmbia

    (1,4%).

    Entre os medicamentos usados sem receita mdica, os benzodiazepnicos

    (ansiolticos) tiveram uso na vidade 5,6%, com um aumento de 2,3% em

    comparao a 2001. A porcentagem, no entanto, inferior verificada nos

    EUA (8,3%).

    Quanto aos estimulantes (medicamentos anfetamnicos), o uso na vidafoi

    de 3,2% em 2005, 1,7% maior em comparao a 2001. Essa porcentagem

    prxima de vrios pases, como Holanda, Espanha, Alemanha e Sucia,

    mas muito inferior dos EUA (6,6%). Vale dizer que foi a nica categoria

    de drogas cujo aumento de 2001 para 2005 foi considerado significativo,

    quando analisado por meio de anlises estatsticas.

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    Mdulo 1 | O uso de lcool e outras drogas no Brasil: epidemiologia, poltica e legislao

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    No que diz respeito cocana, 2,9% dos entrevistados declararam ter feito

    uso na vida. Em relao aos dados de 2001 (2,3%) houve, portanto, um

    aumento de 0,6% no nmero de pessoas utilizando esse derivado de coca.

    lcool

    A Figura 1 abaixo mostra as porcentagens de entrevistados de ambos os

    sexos preenchendo os critrios de dependncia do lcool.

    Figura 1 - Comparao entre os levantamentos de 2001 e 2005, segundodependncia de lcool, dos entrevistados das 108 cidades com mais de 200 milhabitantes do Brasil (Fonte: SENAD e CEBRID UNIFESP).

    Outro levantamento domiciliar foi realizado em 2012, pela Unidade de

    Pesquisa em lcool e Drogas (UNIAD/UNIFESP). O estudo foi realizado

    em 149 municpios do pas e detectou que o nmero de adultos que bebe

    pelo menos uma vez por semana subiu 20% (de 45% da populao total

    em 2006 para 54% em 2012). A prtica de beber pesado episdico (beber

    cinco doses ou mais numa nica ocasio para homens e 4 doses ou mais para

    mulheres) tambm aumentou. A cerveja era a bebida mais consumida nessas

    ocasies. Esse levantamento - que utilizou uma metodologia de pesquisa

    diferente das anteriormente citadas - constatou que 6,8% da populaobrasileira apresentam possvel dependncia de lcool (10,5% entre os

    homens e 3,6% entre as mulheres), o que representou uma diminuio nos

    percentuais apresentados anteriormente.

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    Epidemiologia do uso de substncias psicotrpicas no Brasil: dados recentes | Au

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    Beber e dirigir

    O ltimo estudo realizado pela SENAD, em parceria com a UFRGS, na

    populao geral, foi o Uso de Bebidas Alcolicas e Outras Drogas nas

    Rodovias Brasileiras e Outros Estudos. Essa pesquisa, realizada nas rodovias

    federais das 27 capitais brasileiras, abrangendo motoristas de carros, motos,

    nibus e caminhes - particulares e profissionais, foi lanada em 2010 e

    apontou, dentre outros achados, que 25% dos motoristas entrevistados

    disseram ter consumido cinco ou mais doses de bebidas alcolicas numa

    mesma ocasio (beber pesado episdico ou binge drinking), entre duas

    e oito vezes no ltimo ms. Tambm demonstrou que os motoristas que

    apresentaram resultados positivos aos testes para lcool ou outras drogas

    tinham ndices de transtornos psiquitricos (depresso, hipomania/

    mania, transtorno de estresse ps-traumtico, transtorno de personalidade

    antissocial, dependncia/abuso de lcool ou outras substncias) maiselevados que os motoristas que apresentaram resultados negativos nos

    referidos testes (sbrios).

    Os acidentes de trnsito e suas consequncias esto bastante associados

    ao consumo de bebidas alcolicas. Em estudo realizado em So Paulo,

    identificou-se que 56% dos motoristas que morreram em acidentes de

    trnsito entre os anos de 2006 e 2008 estavam sob o efeito de bebida

    alcolica. Segundo dados do II LENAD (Levantamento Nacional de

    lcool e Drogas), houve uma reduo de 20% nos motoristas que dirigiramno ltimo ano sob o efeito de bebida alcolica, comparando-se os anos de

    2006 (27,5%) e 2012 (21,6%). O comportamento de beber e dirigir mais

    comum entre os homens (27,3% em 2012) do que entre as mulheres (7,1%

    no mesmo ano). A reduo do ndice de beber e dirigir possivelmente est

    associada lei que estabelece punio mais severa aos que forem flagrados

    nesse comportamento, bem como fiscalizao para cumprimento dessa

    lei.

    Tabaco

    A figura a seguir mostra as porcentagens de entrevistados, de ambos os

    sexos, preenchendo os critrios de dependncia de tabaco (Figura 2).

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    Mdulo 1 | O uso de lcool e outras drogas no Brasil: epidemiologia, poltica e legislao

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    Figura 2 - Comparao entre os levantamentos de 2001 e 2005, segundodependncia de Tabaco, distribudos por gnero, dos entrevistados das 108cidades com mais de 200 mil habitantes do Brasil (Fonte: SENAD e CEBRID UNIFESP).

    Drogas Psicotrpicas (Exceto Tabaco e lcool)

    A Figura 3 mostra o uso na vida, distribudo por gnero, nos anos de 2001e 2005, para 15 drogas.

    Houve um aumento de prevalncia de 2001 para 2005 em nove

    drogas (maconha, solventes, cocana, estimulantes, benzodiazepnicos,

    alucingenos, crack, anabolizantes e barbitricos); diminuio em quatro

    (orexgenos, opiceos, xaropes com cocana e anticolinrgicos) e o mesmo

    consumo para duas (herona e merla).

    Figura 3 - Comparao entre os levantamentos de 2001 e 2005, segundo o usona vida de drogas, exceto lcool e tabaco, dos entrevistados das 108 cidades commais de 200 mil habitantes do Brasil (Fonte: SENAD e CEBRID UNIFESP).

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    Crack

    A SENAD, em parceria com a FIOCRUZ, realizou estudo para identificar

    o perfil dos usurios de crack e/ou similares no Brasil e para estimar o

    nmero de usurios nas capitais do Pas. As entrevistas ocorreram entre

    os anos de 2011 e 2013 em todo o Brasil. Estima-se que existam 370

    mil usurios de crack e/ou similares nas capitais brasileiras. Dados mais

    detalhados desse estudo sero apresentados na Aula 5.

    Populaes Especficas

    Em 2010, dando sequncia pesquisa entre a populao de estudantes

    de ensino fundamental e mdio, foi realizado tambm pela SENAD, em

    parceria com o CEBRID UNIFESP, o VI Levantamento Nacional sobre

    o Uso de Drogas Psicotrpicas entre Estudantes do Ensino Fundamentale Mdio das 27 Capitais Brasileiras, sendo que nessa edio foram

    contemplados os estudantes de escolas privadas, alm dos estudantes de

    escolas pblicas. Esse estudo indicou que a idade do primeiro uso de lcool

    se deu por volta dos 13 anos de idade, no entanto, o uso regular de lcool

    raramente ocorre antes da adolescncia. O estudo tambm demonstrou

    que 60,5% dos jovens j haviam feito uso de lcool alguma vez na vida;

    42,4% haviam feito algum uso no ltimo ano e 21,1% haviam consumido

    alguma vez nos ltimos 30 dias que antecederam a pesquisa. Outros dados

    preocupantes se referiam frequncia do uso dessa substncia: 2,7%faziam uso frequente (seis ou mais vezes no ms) e 1,6% faziam uso pesado

    (vinte ou mais vezes no ms). O uso na vida de energticos junto ao uso

    de bebidas alcolicas por estudantes foi expressivo em todas as capitais,

    sendo de 15,4% no total. Essas substncias merecem ateno especial, pois

    segundo vrios estudos elas podem prolongar o efeito excitatrio do lcool.

    Com relao ao uso de drogas entre crianas e adolescentes em situao de

    rua, foi publicado em 2003, pela SENAD, em parceria com o CEBRID

    UNIFESP, um importante levantamento realizado em todas as capitaisdo Brasil incluindo jovens de 10 a 18 anos de idade. Nessa pesquisa foi

    constatado que, entre os entrevistados que no moravam com a famlia,

    88,6% relataram ter feito uso de algum tipo de droga (incluindo lcool e

    tabaco) no ltimo ms anterior entrevista. Especificamente com relao ao

    lcool, 43% do total de entrevistados (incluindo os que moravam e os que

    no moravam com a famlia) relataram ter feito uso nos ltimos 30 dias.

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    Outra populao estudada recentemente foi a dos universitrios. No I

    Levantamento Nacional sobre o Uso de lcool, Tabaco e outras Drogas

    entre Universitrios das 27 Capitais Brasileiras, lanado em junho de 2010

    pela SENAD, em parceria com o GREA FMUSP, constatou-se que 86,2%

    (12.673) dos entrevistados afirmaram j ter feito uso de bebida alcolica em

    algum momento da vida. Dentre eles, a proporo entre homem e mulherfoi igual de uma para um. Mas, quanto frequncia e quantidade, os

    homens beberam mais vezes e em maior quantidade que as mulheres. Os

    dados tambm apontaram um consumo mais frequente de lcool entre os

    universitrios do que na populao em geral.

    Indicadores Epidemiolgicos

    Como mencionado anteriormente, os indicadores epidemiolgicosfornecem dados indiretossobre o comportamento da populao em relao

    ao uso de drogas psicotrpicas. Os dados sobre internaes hospitalares

    para tratamento da dependncia mostram que uma anlise de sries

    temporais de 21 anos, 1988-2008, indicou reduo do total de internaes

    no perodo analisado (de 64.702 internaes em 1988 para 24.001 em

    2008). A reduo parece ter acompanhado as aes adotadas nos ltimos

    anos no Brasil, com destaque para a criao, a partir de 2002, dos Centros

    de Ateno Psicossocial lcool e Drogas (CAPS-ad). Por outro lado, ao

    serem analisadas as apreenses de drogas feitas pela Polcia Federal no

    perodo de 2004 a 2008, nota-se que as quantidades de apreenses tanto

    de cocana quanto de maconha tm-se mantido estvel nos ltimos quatro

    anos, havendo, entretanto, diminuio das apreenses dos frascos de lana-

    perfume e aumento da quantidade de comprimidos de xtase nos anos de

    2007 e 2008.

    Outro indicador importante refere-se ao uso indevido de medicamentos

    psicotrpicos. No Brasil, o uso indevido de benzodiazepnicos (ansiolti-

    cos) passou a ser motivo de preocupao no final da dcada de 1980. Estu-

    dos mais recentes mostram que os benzodiazepnicos compem a classe de

    medicamentos psicotrpicos mais prescritos, a partir da anlise das recei-

    tas mdicasretidas em estabelecimentos farmacuticos. So as mulheres as

    maiores consumidoras dessas substncias, e os mdicos sem especializao,

    os maiores prescritores. No entanto, os benzodiazepnicos no so a nica

    classe de medicamentos psicotrpicos sujeitos ao abuso teraputico. An-

    tes de serem proibidas, o que aconteceu recentemente, havia a prescrio

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    indiscriminada de anfetaminas (inibidores do apetite) para fins estticos

    para pacientes sem evidncia de indicao clnica (ndice de massa corporal

    IMC maior que 30 kg/m2).

    CONSIDERAES FINAIS

    Pode parecer estranho que, para uma mesma droga, apaream porcentagens

    referentes ao uso das substncias diferentes. Isso ocorre porque cada tipo de

    estudo analisa uma determinada populao com particularidades prprias.

    A Tabela a seguir ilustra esse fato. possvel notar, por exemplo, que na

    pesquisa domiciliar (incluindo pessoas de 12 a 65 anos de idade), o uso

    na vida de solventes foi relatado por 5,8% dos entrevistados, enquanto

    entre jovens (estudantes, crianas e adolescentes em situao de rua) asporcentagens foram bem maiores. Isso significa que, quando se pretende

    aplicar um programa preventivo ou fazer uma interveno importante

    conhecer o perfil daquela populao especfica, pois suas peculiaridades so

    relevantes para um planejamento adequado.

    Tabela - Comparao do uso na vida de algumas drogas em trs diferentespopulaes pesquisadas. Dados expressos em porcentagens (Fonte: SENAD,CEBRID UNIFESP e GREA - FMUSP).

    LEVANTAMENTOS

    Drogas Domiciliar

    Estudantesde Ensino

    Fundamentale Mdio

    Crianas eAdolescentes

    em Situao deRua

    Universitrios

    Maconha 6,9 5,7 40,4 26,1

    Solventes 5,8 8,7 44,4 20,4

    Cocana 2,3 2,5 24,5 7,7

    preciso lembrar ainda que, embora j existam estudos sobre o panorama

    do uso de drogas no Brasil, os dados disponveis nem sempre so suficientes

    para avaliaes especficas, alm de que o uso de drogas algo dinmico, em

    constante variao de um lugar para outro ou ainda em um mesmo lugar.

    Por essas razes, h necessidade de realizao de programas permanentes de

    pesquisas epidemiolgicas, para que novas tendncias possam ser detectadas

    e programas de preveno e interveno desenvolvidos adequadamente.

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    Mdulo 1 | O uso de lcool e outras drogas no Brasil: epidemiologia, poltica e legislao

    p. 60

    BIBLIOGRAFIA

    Andrade AG, Duarte PCAV, Oliveira LG, organizadores. I Levantamento

    nacional sobre o uso de lcool, tabaco e outras drogas entre

    universitrios das 27 capitais brasileiras. Braslia: Secretaria Nacional

    de Polcas sobre Drogas (SENAD); 2010.

    Beaglehole R, Bonita R, Kjellstrom T. Epidemiologia bsica.

    Washington: Organizacin Panamericana de la Salud; 1994. p. 186.

    BRASIL. Ministrio da Jusa. Polcia Federal Estascas de

    apreenses de drogas. Disponvel em: .

    Carlini EA, Galdurz JCF, Noto AR, Nappo SA. I Levantamento

    domiciliar sobre o uso de drogas psicotrpicas no Brasil - 2001. So

    Paulo: SENAD/CEBRID; 2002.

    Carlini EA, Galdurz JCF. II Levantamento domiciliar sobre o uso

    de drogas psicotrpicas no Brasil: 2005. Estudo envolvendo as 108

    maiores cidades do pas. So Paulo: CEBRID/SENAD; 2007. 468 p.

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    Disponvel em: .

    CONACE. Consejo Nacional para el Control de Estupefacientes.

    Quinto informe anual sobre la situacin de drogas en Chile. Sanago:

    Ministerio del Interior.

    CONACE. Consejo Nacional para el Control de Estupefacientes; 2005.

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    EMCDDA - European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addicon,

    2005. Disponvel em: .

    Galdurz JCF, Noto AR, Fonseca AM, Carlini EA. V levantamento

    nacional sobre o consumo de drogas psicotrpicas entre estudantes

    do ensino fundamental e mdio da rede pblica de ensino nas 27

    capitais brasileiras - 2004. So Paulo: SENAD/CEBRID; 2005.

    INCB - Internaonal Narcoc Control Board. Report for 2009:

    Psychotropic Substances - Stascs for 2008. Assessments of Annual

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    Epidemiologia do uso de substncias psicotrpicas no Brasil: dados recentes | Au

    p

    Medical and Scienc Requirements or Substances in Schedules II, III

    and IV of the Convenon on Psychotropic Substances of 1971. New

    York: United Naons; 2010.

    Nappo SA, Tabach R, Galdurz JFC, Carlini EA. Use of anorecc

    amphetamine-like drugs by Brazilian women. Eang Behaviors 2002

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    NIDA - Naonal Instute on Drug Abuse. High school and youth

    trends, 2005. Disponvel em: .

    Noto AR, Carlini EA, Mastroianni PC, Alves VC, Galdurz JCF, Kuroiwa

    W, et al. Analysis of prescripon and dispensaon of psychotropic

    medicaons in two cies in the state of So Paulo. Brazil. Rev Bras

    Psiquiatr. 2002;24:68-73.

    Noto AR, Galdurz JCF, Nappo AS, Fonseca AM, Carlini CMA, Moura

    YG, et al. Levantamento nacional sobre o uso de drogas entre crianas

    e adolescentes em situao de rua nas 27 capitais brasileiras, 2003.

    So Paulo: SENAD/ CEBRID; 2004.

    Ponce JC, Muoz DR, Andreucce G, Carvalho DG, Leyton V. Alcohol-

    related trac accidents with fatal outcomes in the city of So Paulo.

    Accident Analysis and Prevenon. 2011; 43; 782-87.

    SAMHSA - Substance abuse and mental health services administraon.

    Oce of applied studies: 1999-2000. Naonal household survey on

    drug abuse. Washington: U.S. Department of Health and Human

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    SENAD - Secretaria Nacional Androgas. Curso de formao em

    preveno do uso indevido de drogas para educadores de escolas

    pblicas. Volume I: O adolescente e as drogas no contexto da escola.

    Braslia: Secretaria Nacional Androgas e Ministrio da Educao;2004. 84p.

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    Mdulo 1 | O uso de lcool e outras drogas no Brasil: epidemiologia, poltica e legislao

    p. 62

    LINK PARA TODOS OS RELATRIOS DE ESTUDOS ELEVANTAMENTOSPATROCINADOS PELA SENAD:

    OBID hp://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/

    II Levantamento Nacional de lcool e Drogas. Resultados preliminares.

    2013. Disponvel em: < hp://inpad.org.br/LENAD/>.

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    Epidemiologia do uso de substncias psicotrpicas no Brasil: dados recentes | Au

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    ATIVIDADES

    1. Qual a importncia da epidemiologia em relao ao uso dedrogas?

    ( ) a. Fornecer informaes de preveno para campanhas.( ) b. Conhecer o consumo de drogas numa determinada

    populao.

    ( ) c. Conhecer novas tendncias de uso de drogas.

    ( ) d. Todas as alternativas anteriores esto corretas.

    2. Com referncia aos dados epidemiolgicos relacionados ao usode crack no Brasil, podemos afirmar que:

    ( ) a. O crack est entre as duas drogas mais consumidas no pas.

    ( ) b. O uso na vida de crack superior ao de maconha, solventes,tranquilizantes e anfetaminas.

    ( ) c. Estima-se que existam 370 mil usurios de crack nas capitaisdo pas, sendo 50 mil crianas ou adolescentes.

    ( ) d. O consumo de crack mais comum entre a populao idosa.

    3. Sobre epidemiologia do consumo de drogas, podemos afirmarque:

    ( ) a. Embora existam estudos sobre o uso de drogas no Brasil, osdados disponveis no representam todos os contextos sociaisnos quais o consumo ocorre.

    ( ) b. O uso de drogas dinmico, variando de um lugar para outroe ao longo do tempo.

    ( ) c. So necessrias pesquisas epidemiolgicas peridicas paraavaliao de novas tendncias.

    ( ) d. Todas as alternativas anteriores esto corretas.

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    Mdulo 1 | O uso de lcool e outras drogas no Brasil: epidemiologia, poltica e legislao

    p. 64

    4. Quais as duas drogas mais consumidas no Brasil que merecemmaior ateno devido aos problemas que acarretam?

    ( ) a. O lcool e a cocana, porque geralmente so drogasconsumidas na mesma ocasio e isso potencializa os efeitosnegativos no organismo.

    ( ) b. A maconha e os solventes, porque os adolescentesexperimentam e no conseguem mais parar de usar.

    ( ) c. Os calmantes (benzodiazepnicos) e os medicamentos paraemagrecer (anfetamnicos), porque so remdios que ascrianas aprendem a usar muito cedo e dos quais podem setornar dependentes.

    ( ) d. O lcool e o tabaco, pois so as drogas mais consumidas pelosbrasileiros e seu uso est relacionado a muitas doenas eproblemas sociais.

    Reflita a respeito...

    Atravs dos estudos cientficos apresentados, voc j sabe

    quais so as drogas mais consumidas no Brasil, assim como os

    ndices e padres de uso e dependncia das substncias. Esses

    resultados costumam surpreender por serem diferentes do que

    imaginamos existir na realidade brasileira. Em sua opinio,

    qual o motivo para que a percepo geral seja to diferente

    dos dados provenientes de levantamentos epidemiolgicos?

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    Aula 2

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    Aula 2

    OS OBJETIVOS DESTA AULA SO:

    conhecer as Polticas Pblicas brasileiras sobre lcool eoutras drogas

    identificar as principais legislaes relacionadas conhecer o Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre

    Drogas (SISNAD) conhecer a Poltica Nacional sobre o lcool

    TPICOS

    Poltica Nacional sobre Drogas A Lei n 11.343/2006 - Lei de Drogas

    Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas(SISNAD)

    A Poltica Nacional sobre o lcool Programa Crack, possvel vencer

    Bibliografia Atividades

    A Poltica e a Legislao Brasileira

    sobre Drogas

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    A Poltica e a Legislao Brasileira sobre Drogas | Au

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    POLTICA NACIONAL SOBRE DROGAS

    At o ano de 1998, o Brasil no contava com uma poltica nacional

    especfica sobre o tema da reduo da demanda1(Brasil, 2006a) e da oferta

    de drogas2(Brasil, 2010a).

    Foi a partir da realizao da XX Assembleia Geral das Naes Unidas, na

    qual foram discutidos os princpios diretivos para a reduo da demanda

    de drogas, aderidos pelo Brasil, que as primeiras medidas foram tomadas.

    O ento Conselho Federal de Entorpecentes (CONFEN) foi transformado

    no Conselho Nacional Antidrogas (CONAD) e foi criada a Secretaria

    Nacional Antidrogas SENAD3(Brasil, 2006b), diretamente vinculada ,

    ento, Casa Militar da Presidncia da Repblica.

    Com a misso de coordenar a Poltica Nacional Antidrogas, por meio

    da articulao e integrao entre governo e sociedade, e como Secretaria

    Executiva do Conselho Nacional Antidrogas, coube SENAD mobilizar os

    diversos atores envolvidos com o tema para a criao da poltica brasileira.

    Assim, em 2002, por meio de Decreto Presidencial n 4.345, de 26 de

    agosto de 2002, foi instituda a Poltica Nacional Antidrogas PNAD.

    Em 2003, o Presidente da Repblica, em Mensagem ao Congresso Nacional,

    apontou a necessidade de construo de uma nova Agenda Nacional para a

    reduo da demanda de drogas no pas, que viesse a contemplar trs pontos

    principais:

    integrao das polticas pblicas setoriais com a PolticaNacional Antidrogas, visando ampliar o alcance das aes

    descentralizao das aes em nvel municipal, permitindoa conduo local das atividades da reduo da demanda,

    devidamente adaptadas realidade de cada municpio

    estreitamento das relaes com a sociedade e com a

    comunidade cientficaAo longo dos primeiros anos de existncia da Poltica Nacional Antidrogas,

    o tema drogas manteve-se em pauta e a necessidade de aprofundamento do

    assunto tambm.

    Assim, foi necessrio reavaliar e atualizar os fundamentos da PNAD,

    levando em conta as transformaes sociais, polticas e econmicas pelas

    quais o pas e o mundo vinham passando.

    1Reduo da demanda:Aereferentes preveno do usoindevido de drogas lcitas e

    ilcitas que causem dependncbem como quelas relacionad

    ao tratamento, recuperao,reduo de danos e reinser

    social de usurios e dependent

    2Reduo da oferta:Atividadinerentes represso da

    produo no autorizada e dotrfico ilcito de drogas. As a

    contnuas de represso devemser promovidas para reduzir

    a oferta das drogas legais e/ou de abuso, pela erradicao

    e apreenso permanentesdestas produzidas no pas,

    pelo bloqueio do ingresso daoriundas do exterior, destinad

    ao consumo interno ou aomercado internacional, e pela

    identificao e desmantelamendas organizaes criminosas.

    3

    Medida Provisria n 1.669e Decreto n 2.632, de 19 dejunho de 1998.

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    Mdulo 1 | O uso de lcool e outras drogas no Brasil: epidemiologia, poltica e legislao

    p. 68

    Em 2004, foi efetuado o processo de realinhamento e atualizao da poltica,

    por meio da realizao de um Seminrio Internacional de Polticas Pblicas

    sobre Drogas, seis fruns regionais e um Frum Nacional sobre Drogas.

    Coube SENAD a responsabilidade pela articulao e coordenao desse

    grande projeto nacional.

    Com ampla participao popular, embasada em dados epidemiolgicosatualizados e cientificamente fundamentados, a poltica realinhada passou

    a chamar-se Poltica Nacional sobre Drogas - PNAD e foi aprovada

    pelo Conselho Nacional Antidrogas CONAD em 23 de maio de

    2005, entrando em vigor em 27 de outubro desse mesmo ano, por meio

    da Resoluo n3/GSIPR/CONAD. Como resultado, o prefixo anti

    da Poltica Nacional Antidrogas foi substitudo pelo termo sobre, j

    de acordo com as tendncias internacionais, com o posicionamento do

    governo e com a nova demanda popular, manifestada ao longo do processode realinhamento da poltica.

    A Poltica Nacional sobre Drogas estabelece os fundamentos, os objetivos,

    as diretrizes e as estratgias indispensveis para que os esforos, voltados

    para a reduo da demanda e da oferta de drogas, possam ser conduzidos

    de forma planejada e articulada.

    Todo esse empenho resultou em amplas e importantes conquistas, refletindo

    transformaes histricas na abordagem da questo das drogas.

    Em 2006, a SENAD coordenou um grupo de governo que assessorouos parlamentares no processo que culminou na aprovao da Lei n

    11.343/2006, que instituiu o Sistema Nacional de Polticas Pblicas

    sobre Drogas - SISNAD, suplantando uma legislao de 30 anos que se

    mostrava obsoleta e em desacordo com os avanos cientficos na rea e com

    as transformaes sociais.

    A LEI N 11.343/2006 - LEI DE DROGAS

    A Lei n 11.343/2006 colocou o Brasil em destaque no cenrio

    internacional, ao instituir o SISNAD e prescrever medidas para preveno

    do uso indevido, ateno e reinsero social de usurios e dependentes de

    drogas, em consonncia com a atual poltica sobre drogas.

    Essa Lei nasceu da necessidade de compatibilizar os dois instrumentos nor-

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    A Poltica e a Legislao Brasileira sobre Drogas | Au

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    mativos que existiam anteriormente: a Lei n 6.368/764e a 10.409/20025.

    A partir de sua edio, foram revogados esses dois dispositivos legais pr-

    vios, com o reconhecimento das diferenas entre a figura do traficante e a

    do usurio/dependente, os quais passaram a ser tratados de forma diferen-

    ciada e a ocupar captulos diferentes na lei.

    O Brasil, seguindo tendncia mundial, entendeu que usurios e dependentesno devem ser penalizados pela justia com a privao de liberdade. Essa

    abordagem em relao ao porte de drogas para uso pessoal tem sido apoiada

    por especialistas que apontam resultados consistentes de estudos, nos quais:

    a ateno ao usurio/dependente deve ser voltada ao oferecimento

    de oportunidade de reflexo sobre o prprio consumo, ao invs de

    encarceramento.

    Assim, a justia retributiva baseada no castigo substituda pela justia

    restaurativa, cujo objetivo maior a ressocializao por meio de penasalternativas, tais como:

    advertncia sobre os efeitos das drogas

    prestao de servios comunidade em locais/programasque se ocupem da preveno/recuperao de usurios e

    dependentes de drogas

    medida educativa de comparecimento a programa ou cursoeducativo

    Recentemente, a Cmara dos Deputados aprovou o projeto de lei

    no7663/10, que prope a alterao de alguns itens da Lei de Drogas, entre

    eles a definio de critrios para a ateno aos usurios e dependentes e

    o financiamento das aes sobre drogas no pas. A proposta aguardava a

    apreciao do Senado Federal no momento da reviso deste material.

    SISTEMA NACIONAL DE POLTICAS PBLICASSOBRE DROGAS (SISNAD)

    O Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas, regulamentado pelo

    Decreto n 5.912, de 27 de setembro de 2006, tem os seguintes objetivos:

    I. contribuir para a incluso social do cidado, tornando-o

    menos vulnervel a assumir comportamentos de risco para

    4Lei n 6.368/1976, de 21de outubro de 1976, que falasobre medidas de prevenoe represso ao trfico ilcito euso indevido de substncias

    entorpecentes ou quedeterminem dependncia fsic

    ou psquica.

    5Lei n 10.409/2002, de 11de janeiro de 2002, que disp

    sobre a preveno, o tratamenta fiscalizao, o controle e a

    represso produo, ao uso ao trfico ilcito de produtos

    substncias ou drogas ilcitas qcausem dependncia fsica ou

    psquica.

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    Mdulo 1 | O uso de lcool e outras drogas no Brasil: epidemiologia, poltica e legislao

    p. 70

    o uso indevido de drogas, trfico e outros comportamentos

    relacionados

    II. promover a construo e a socializao do conhecimento sobre

    drogas no pas

    III. promover a integrao entre as polticas de preveno do

    uso indevido, ateno e reinsero social de usurios e

    dependentes de drogas

    IV. reprimir a produo no autorizada e o trfico ilcito de drogas

    V. promover as polticas pblicas setoriais dos rgos do Poder

    Executivo da Unio, Distrito Federal, estados e municpios

    O SISNAD est organizado de modo a assegurar a orientao central e

    a execuo descentralizada das atividades realizadas em seu mbito. Com

    a sua regulamentao, houve a reestruturao do Conselho NacionalAntidrogas - CONAD, garantindo a participao paritria entre governo

    e sociedade.

    Em 23 de julho de 2008, foi instituda a Lei n 11.754, por meio da qual

    o Conselho Nacional Antidrogas passou a se chamar Conselho Nacional

    de Polticas sobre Drogas (CONAD). A nova lei tambm alterou o nome

    da Secretaria Nacional Antidrogas para Secretaria Nacional de Polticas

    sobre Drogas (SENAD). Essa modificao histrica era aguardada desde

    o processo de realinhamento da Poltica Nacional sobre Drogas, em 2004,tornando-se um marco na construo de polticas pblicas no Brasil.

    A ao do CONAD descentralizada por meio de conselhos estaduais e de

    conselhos municipais:

    I. Atribuies do Conselho Nacional de Polticas sobre Drogas

    (CONAD)

    acompanhar e atualizar a Poltica Nacional sobre Drogas,consolidada pela SENAD

    exercer orientao normativa sobre aes de reduo dademanda e da oferta de drogas

    acompanhar e avaliar a gesto dos recursos do Fundo NacionalAntidrogas6 (Brasil, 2010b) e o desempenho dos planos e

    programas da Poltica Nacional sobre Drogas

    promover a integrao ao SISNAD dos rgos e entidadescongneres dos estados, dos municpios e do Distrito Federal

    6O Fundo Nacional Antidrogas composto por recursos

    oriundos de apreenso ou deperdimento, em favor da Unio,de bens, direitos e valores, objeto

    do crime de trfico ilcito desubstncias entorpecentes ou dedrogas que causem dependncia

    fsica ou psquica, e outros

    recursos colocados disposioda Secretaria Nacional dePolticas sobre Drogas.

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    A Poltica e a Legislao Brasileira sobre Drogas | Au

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    O Decreto n 5.912/2006, com as alteraes introduzidas pelo Decreto no

    7426/2010, regulamentou, ainda, as competncias dos rgos do Poder

    Executivo no que se refere s aes de reduo da demanda e da oferta de

    drogas.

    II. Atribuies da Secretaria Nacional de Polticas sobre Drogas

    (SENAD)

    articular e coordenar as atividades de preveno do uso indevido,de ateno e reinsero social de usurios e dependentes de

    drogas

    consolidar a proposta de atualizao da Poltica Nacional sobreDrogas (PNAD) na esfera de sua competncia

    definir estratgias e elaborar planos, programas e procedimentos

    para alcanar as metas propostas na PNAD e acompanhar suaexecuo

    gerir o Fundo Nacional Antidrogas e o Observatrio Brasileirode Informaes sobre Drogas7(Brasil, 2006 d).

    promover o intercmbio com organismos internacionais nasua rea de competncia

    O trabalho da SENAD desenvolvido em trs eixos principais:

    1) Diagnstico situacional

    Objetivo: realizao de estudos que permitam um diagnsticosobre a situao do consumo de drogas no Brasil e seu impacto

    nos diversos domnios da vida da populao. Esse diagnstico

    vem se consolidando por meio de estudos e pesquisas de

    abrangncia nacional, na populao geral e naquelas especficas

    que vivem sob maior vulnerabilidade para o consumo e o

    trfico de drogas.

    Exemplos de aes:

    realizao de levantamentos sobre uso dedrogas pela populao geral brasileira, por estudantes, povos

    indgenas, crianas e adolescentes; mapeamento das instituies

    de ateno s questes relacionadas ao uso de lcool e outras

    drogas, entre outros.

    2) Capacitao de Agentes do SISNAD

    Objetivo: capacitao dos atores sociais que trabalhamdiretamente com o tema drogas, e tambm de multiplicadores

    7O OBID um rgo daestrutura do Governo Federa

    vinculado SENAD, que,de acordo com o Decreto

    no 5.912/2006, cap. V, art.16, possui a misso de reunire centralizar informaes econhecimentos atualizados

    sobre drogas, incluindodados de estudos, pesquisase levantamentos nacionais,produzindo e divulgando

    informaes, fundamentadascientificamente, que contribua

    para o desenvolvimento denovos conhecimentos aplicados atividades de preveno douso indevido, de ateno e dereinsero social de usurios

    e dependentes de drogas epara a criao de modelosde interveno baseados nasnecessidades especficas dasdiferentes populaes-alvo,

    respeitadas suas caractersticasocioculturais.

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    Mdulo 1 | O uso de lcool e outras drogas no Brasil: epidemiologia, poltica e legislao

    p. 72

    de informaes de preveno, tratamento e reinsero social.

    Exemplos de aes: cursos de formao para conselheirosmunicipais, operadores do Direito, lideranas religiosas e

    comunitrias, educadores, profissionais das reas de sade,

    assistncia social, segurana pblica, empresas/indstrias,

    entre outros.

    3) Projetos Estratgicos

    Objetivo: projetos de alcance nacional que ampliam o acessoda populao s informaes, ao conhecimento e aos recursos

    existentes na comunidade.

    Exemplos de aes: parceria com estados e municpios parafortalecimento dos Conselhos sobre Drogas; apoio tcnico

    e financiamento a projetos por meio de Subveno Social;implantao do Servio Nacional de Orientaes e Informaes

    sobre Drogas (Viva Voz - 132); ampliao e fortalecimento da

    Cooperao Internacional, criao da Rede de Pesquisa sobre

    Drogas, entre outros.

    Com o objetivo de potencializar e articular as aes de reduo da demanda,

    focadas principalmente em atividades preventivas, com aes de reduo da

    oferta de drogas, que priorizam o enfrentamento ao trfico de ilcitos, em

    janeiro de 2011, o Governo Federal optou pela transferncia da SENAD

    da estrutura do Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da

    Repblica para o Ministrio da Justia.

    A POLTICA NACIONAL SOBRE O LCOOL

    A Poltica Nacional sobre o lcool resultou de um longo processo de discusso.

    Em julho de 2005, o ento Conselho Nacional Antidrogas, ciente dos gravesproblemas inerentes ao consumo prejudicial de lcool, e com o objetivo de

    ampliar o espao de participao social para a discusso de to importante

    tema, instalou a Cmara Especial de Polticas Pblicas sobre o lcool

    CEPPA, composta por diferentes rgos governamentais, especialistas,

    legisladores e representantes da sociedade civil. A Cmara Especial iniciou

    suas atividades a partir dos resultados do Grupo Tcnico Interministerial

    criado no Ministrio da Sade, em 2003.

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    A Poltica e a Legislao Brasileira sobre Drogas | Au

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    Esse processo permitiu ao Brasil chegar a uma poltica realista, sem qualquer

    vis fundamentalista ou de banalizao do consumo, embasada de forma

    consistente por dados epidemiolgicos, pelos avanos da cincia e pelo

    respeito ao momento sociopoltico do pas. A poltica sobre o lcool reflete

    a preocupao da sociedade em relao ao uso cada vez mais precoce dessa

    substncia, assim como o seu impacto negativo na sade e na segurana.Em maio de 2007, por meio do Decreto no6.117/2007, foi apresentada

    sociedade brasileira a Poltica Nacional sobre o lcool.

    O objetivo geral da Poltica Nacional sobre o lcool estabelecer

    princpios que orientem a elaborao de estratgias para o enfrentamento

    coletivo dos problemas relacionados ao consumo de lcool, contemplando

    a intersetorialidade e a integralidade de aes para a reduo dos danos

    sociais, sade e vida, causados pelo consumo desta substncia, bem como

    das situaes de violncia e criminalidade associadas ao uso prejudicial debebidas alcolicas.

    Essa poltica, reconhecendo a importncia da implantao de diferentes

    medidas articuladas entre si, e numa resposta efetiva ao clamor da

    sociedade por aes concretas de proteo aos diferentes domnios da vida

    da populao, veio acompanhada de um elenco de medidas passveis de

    implementao pelos rgos de governo no mbito de suas competncias e

    outras de articulao com o Poder Legislativo e demais setores da sociedade.

    Essas medidas so detalhadas no anexo II do Decreto n 6.117 e podem serdivididas em nove categorias:

    diagnstico sobre o consumo de bebidas alcolicas no Brasil

    tratamento e reinsero social de usurios e dependentes delcool

    realizao de campanhas de informao, sensibilizao emobilizao da opinio pblica quanto s consequncias do

    uso indevido e do abuso de bebidas alcolicas reduo da demanda de lcool por populaes vulnerveis

    segurana pblica

    associao lcool e trnsito

    capacitao de profissionais e agentes multiplicadores deinformaes sobre temas relacionados sade, educao,

    trabalho e segurana pblica

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    Mdulo 1 | O uso de lcool e outras drogas no Brasil: epidemiologia, poltica e legislao

    p. 74

    estabelecimento de parceria com os municpios para arecomendao de aes municipais

    propaganda de bebidas alcolicas

    Merece destaque, dentre essas medidas estratgicas para minimizar os

    impactos adversos decorrentes do uso de bebidas alcolicas, as aes ligadas

    associao lcool e trnsito, tendo em vista que os problemas relacionados

    ao consumo excessivo de bebidas alcolicas no atingem apenas populaes

    vulnerveis, mas associam-se diretamente com os ndices de morbidade

    e mortalidade da populao geral. Por essa razo, tornou-se urgente

    desenvolver medidas contra o ato de beber e dirigir.

    Em janeiro de 2008, o Poder Executivo encaminhou ao Congresso Nacional

    a medida provisria n 415, proibindo a venda de bebidas alcolicas nas

    rodovias federais e propondo a alterao da Lei n 9.503/97 - Cdigo de

    Trnsito Brasileiro. Aps exaustivo processo de discusso e com ampla

    participao popular, essa medida provisria foi transformada em um

    projeto de lei, aprovado no Congresso Nacional em maio de 2008.

    A nova Lei n 11.705 foi sancionada em 19 de junho de 2008, por ocasio

    da realizao da X Semana Nacional Antidrogas.

    Essa Lei alterou alguns dispositivos do Cdigo de Trnsito Brasileiro,

    impondo penalidades mais severas para o condutor que dirigir sob a

    influncia de lcool.

    O motorista que tiver qualquer concentrao de lcool por litro de sangue

    estar sujeito a penalidades administrativas, previstas (artigo 165, Lei

    no9503/97) como multa, apreenso do veculo e suspenso do direito de

    dirigir por 12 (doze) meses.

    O motorista que apresentar concentrao de lcool igual ou superior a

    0,6g/L de sangue sofrer pena de deteno de seis meses a trs anos, alm

    das penalidades administrativas8(Brasil, 1997).

    Penalidades Administrativas at 0,6 g/L Penalidades Criminais a partir de 0,6 g/L

    Aps alguns anos, a Lei n 12.760, de 20 de dezembro de 2012, alterou o

    dispositivo referente comprovao de que o motorista estava sob influncia

    de lcool ou outra substncia psicoativa, possibilitando que, alm do teste,

    o condutor seja submetido a exame clnico, percia, imagem, vdeo ou outro

    procedimento que, por meios tcnicos ou cientficos, na forma disciplinada

    pelo CONTRAN, permita certificar tal influncia.

    8O Decreto no 6488, de 19 dejunho de 2008, no seu artigo

    2 determina que: para finscriminais de que trata o artigo306 da Lei no 9.503/1997

    Cdigo de Trnsito Brasileiro,a equivalncia entre os distintos

    testes de alcoolemia seja aseguinte:

    I Exame de sangue:concentrao igual ou superiora seis decigramas de lcool por

    litro de sangue (0,6 g/L);II Teste de aparelho de ar

    alveolar pulmonar (etilmetro):concentrao de lcool igualou superior a trs dcimos

    de miligramas por litro de arexpelido dos pulmes.

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    So vedados, na faixa de domnio de rodovia federal ou em local prximo

    faixa de domnio com acesso direto rodovia, a venda varejista e/ou o

    oferecimento de bebidas alcolicas (teor superior a 0,5 Graus Gay-Lussac)

    para consumo no local.

    Essa Lei prev tambm que os estabelecimentos comerciais que vendem ou

    oferecem bebidas alcolicas sejam obrigados a exibir aviso informativo deque crime dirigir sob a influncia de lcool, punvel com deteno.

    Em 20 de dezembro de 2012, por meio da Lei n 12.760, houve

    nova alterao no cdigo de Trnsito Brasileiro, tornando as medidas

    administrativas e as penalidades mais severas, com ampliao da possibilidade

    de responsabilizao penal. Mas a maior inovao foi a possibilidade de

    enquadrar e punir criminalmente os condutores que se recusam a fazer o

    teste com o etilmetro (bafmetro), atravs da utilizao de outros meios que

    comprovem capacidade psicomotora alterada em decorrncia da influnciade lcool ou outra substncia psicoativa que determine dependncia.

    O condutor poder ser submetido a teste de alcoolemia, exame clnico,

    percia, prova testemunhal ou outro procedimento que permita identificar

    o consumo de lcool ou outra substncia psicoativa. A infrao tambm

    poder ser caracterizada mediante imagem, vdeo ou constatao de

    sinais que indiquem alteraes na capacidade psicomotora. A resoluo

    do CONTRAN n 432, de 23 de janeiro de 2013, dispe sobre os

    procedimentos a serem adotados pelas autoridades de trnsito e agentes defiscalizao: exame de sangue, exames laboratoriais, teste com etilmetro,

    exames clnicos, verificao de sinais que indiquem alterao psicomotora,

    com a possibilidade de utilizar prova testemunhal, vdeo ou imagem. Com

    a nova Lei, alm de qualquer concentrao de lcool por litro de sangue

    estar sujeita a penalidades administrativas, o valor da multa, que antes era

    de R$ 957,70, foi estabelecido em R$ 1.915,40, podendo ser duplicado

    em caso de reincidncia. Todas essas medidas tm como objetivo reduzir

    o nmero de acidentes de trnsito no Brasil, coibindo a associao entre o

    consumo de lcool e outras substncias psicoativas e o ato de dirigir.

    Todas essas medidas tm como objetivo reduzir o nmero de acidentes de

    trnsito no Brasil, coibindo a associao entre o consumo de lcool e o ato

    de dirigir.

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    PROGRAMA CRACK, POSSVEL VENCER

    O fenmeno do consumo de crack, lcool e outras drogas complexo,

    multifatorial e est associado a diferentes significados histricos e culturais.

    Construir uma poltica pblica que d conta dessa complexidade desafiador

    e requer, acima de tudo, uma viso intersetorial, tendo em vista os diversos

    aspectos envolvidos (biolgicos, pessoais, familiares, sociais, entre outros).

    No intuito de articular e coordenar diversos setores para aes integradas

    de preveno, tratamento e reinsero social de usurios abusadores e

    dependentes de crack, lcool ou outras drogas, bem como enfrentar o

    trfico em parceria com estados, municpios e sociedade civil, o Governo

    Federal convergiu esforos e lanou, em dezembro de 2011, o programa

    Crack, possvel vencer9, que indicou a implementao de aes para a

    abordagem do tema de forma intersetorial.

    A perspectiva que somente uma organizao em rede capaz de fazer

    face complexidade das demandas sociais e fortalecer a rede comunitria.

    Nesse sentido, o programa est estruturado em trs eixos que propem

    aes especficas e complementares. So eles:

    Preveno:ampliar as atividades de preveno, por meio da

    educao, disseminao de informaes e capacitao dos

    diferentes segmentos sociais que, de forma direta ou indireta,

    desenvolvem aes relacionadas ao tema, tais como: educadores,

    profissionais de sade, de assistncia social, segurana pblica,

    conselheiros municipais, lderes comunitrios e religiosos;

    Cuidado: aumentar a oferta de aes de ateno aos usurios decrack e outras drogas e seus familiares, por meio da ampliao

    dos servios especializados de sade e assistncia social, como

    os Consultrios na Rua, os Centros de Ateno Psicossocial

    lcool e drogas (CAPS-ad), as Unidades de Acolhimento

    adulto e infanto-juvenil, Centros de Referncia Especializadaem Assistncia Social (CREAS), leitos de sade mental em

    hospitais gerais, entre outros;

    Autoridade: enfrentar o trfico de drogas e as organizaescriminosas atravs de aes de inteligncia entre a Polcia

    Federal e as polcias estaduais. Esto sendo realizadas,

    tambm, intervenes de segurana pblica com foco na

    9Lanado por meio do DecretoPresidencial n 7.637/2011, quealterou o decreto n 7.179/2010,que instituiu o Plano Integrado

    de Enfrentamento ao Crack eoutras Drogas

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    polcia de proximidade em reas de maior vulnerabilidade para

    o consumo, que contam com a ampliao de bases mveis e

    videomonitoramento para auxiliar no controle e planejamento

    das aes nesses locais.

    Assim, o Programa prev uma atuao articulada intersetorial e

    descentralizada entre Governo Federal, estados, Distrito Federal emunicpios, alm de contar com a participao da sociedade civil e

    diversas universidades, sempre com o monitoramento intensivo das aes.

    Compem a equipe responsvel pelas aes do Programa os Ministrios

    da Justia, Sade, Desenvolvimento Social e Combate Fome, Educao,

    alm da Secretaria de Direitos Humanos e a Casa Civil da Presidncia

    da Repblica. No mbito local, foram criados comits gestores estaduais

    e municipais, com o objetivo de coordenar e monitorar o andamento de

    todas as aes realizadas.Cada vez mais so fundamentais o conhecimento e a ampla disseminao

    da poltica e da legislao brasileira sobre drogas em todos os setores da

    sociedade brasileira, mostrando a sua importncia como balizadores das

    aes de preveno ao uso, de tratamento, de reinsero social de usurios

    e dependentes, bem como do enfrentamento do trfico de drogas ilcitas.

    O uso de crack, lcool e outras drogas afeta a todos, sejam familiares,

    educadores, lderes comunitrios, profissionais ou cidados. A observncia

    legislao vigente, aliada s orientaes da Poltica Nacional sobre Drogas,da Poltica Nacional sobre lcool e do Programa Crack, possvel vencer,

    contribui para o fortalecimento de uma rede de ateno s questes relativas

    ao uso de substncias psicoativas numa perspectiva inclusiva, de respeito s

    diferenas, humanista, de acolhimento e no estigmatizante do usurio e

    seus familiares.

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    BIBLIOGRAFIA

    BRASIL. Secretaria Nacional Androgas. A preveno do uso de drogas

    e a terapia comunitria. Braslia: SENAD; 2006(a).

    BRASIL. Decreto-lei n 5.912/2006, de 27 de setembro de 2006(d).

    BRASIL. Decreto n 7.637, de 8 de dezembro de 2011.

    BRASIL. Inovao e parcipao. Relatrio de aes do governo na

    rea da reduo da demanda de drogas. Braslia: Secretaria Nacional

    Androgas (SENAD); 2006.

    BRASIL. Lei n 11.343/2006, de 23 de agosto de 2006(c).

    BRASIL. Lei n 11.705/2008, de 19 de junho de 2008.

    BRASIL. Lei n 9503/1997, de 23 de setembro de 1997.

    BRASIL. Lei n 12.760/2012, de 20 de dezembro de 2012.

    BRASIL. Polca Nacional sobre Drogas. Braslia: Presidncia da

    Repblica, Secretaria Nacional de Polcas sobre Drogas (SENAD);

    2010(b).

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    ATIVIDADES

    1. A Poltica Nacional sobre o lcool um captulo recente nahistria das polticas pblicas na rea de drogas em nosso pas.Sobre essa poltica INCORRETO afirmar que:

    ( ) a. Ela possui como objetivo geral estabelecer princpios queorientem a elaborao de estratgias para o enfrentamentocoletivo dos problemas relacionados ao consumo de lcool.

    ( ) b. Ela no visa ao tratamento ou reinsero social de usurios edependentes de lcool, pois essas aes j esto previstas emoutra poltica, vinculada rea da sade.

    ( ) c. Entre suas medidas esto aes voltadas para o tema lcool etrnsito.

    ( ) d. Ela busca contemplar diversos setores da sociedade e integrarsuas aes para a reduo dos danos sociais, sade e vida,causados pelo consumo do lcool, bem como das situaes deviolncia e criminalidade associadas ao uso prejudicial debebidas alcolicas.

    2. O programa Crack, possvel vencer indicou aimplementao de aes para a abordagem do tema de formaintersetorial e est estruturado em trs eixos que propem aesespecficas e complementares. Marque abaixo a alternativa

    CORRETA:( ) a. Preveno, Reduo de Danos e Pesquisa.

    ( ) b. Legislao, Poltica Pblica e Diagnstico.

    ( ) c. Preveno, Autoridade e Cuidado.

    ( ) d. Cuidado, Pesquisa e Legislao.

    3. Um dos grandes avanos alcanados com o estabelecimento daatual Poltica Nacional sobre Drogas (PNAD) foi:

    ( ) a. O rigor da represso ao uso de drogas com o aumento das

    penas para usurios.( ) b. A extino do Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre

    Drogas e a consequente criao do Conselho Nacional dePolticas sobre Drogas.

    ( ) c. O fortalecimento das aes setoriais em detrimento das aesintersetoriais.

    ( ) d. A no penalizao dos usurios e dependentes pela justiacom a privao de liberdade.

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    4. Dentre as alternativas a seguir qual NO um objetivo daSISNAD (Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas):

    ( ) a. Promover a construo e a socializao do conhecimentosobre drogas no pas.

    ( ) b. Contribuir para a incluso social do cidado, tornando-o

    menos vulnervel assumir comportamentos de risco para ouso indevido de drogas, trfico e outros comportamentosrelacionados.

    ( ) c. Promover a integrao entre as polticas de preveno do usoindevido, ateno e reinsero social de usurios edependentes de drogas.

    ( ) d. Regulamentar a produo e distribuio de drogas no pas.

    Reflita a respeito...

    Como voc viu, o nome SENAD foi alterado de SecretariaNacional Antidrogas para Secretaria Nacional de Polticas

    sobre Drogas. Nessa perspectiva de mudana de abordagem,

    em 2006, a Lei n 11343/06 instituiu o SISNAD Sistema

    Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas. Em sua opinio,

    qual a importncia dessa mudana de nomes e da criao

    desse sistema no cotidiano das pessoas em geral e daqueles

    que trabalham com usurios de drogas? Voc acha que essas

    alteraes indicam uma mudana de viso em relao ao temadrogas?