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FACULDADE DOIS DE JULHO GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO GERAL FÁBIO FRANKLIN CARNEIRO DA SILVA A DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL E AS MUDANÇAS ESTRATÉGICAS OPERACIONAIS ADOTADAS NAS EMPRESAS EXPORTADORAS DE MINÉRIO: estudo de caso Organização Alfa Salvador 2009

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FACULDADE DOIS DE JULHO GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO GERAL

FÁBIO FRANKLIN CARNEIRO DA SILVA

A DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL E AS MUDANÇAS ESTRATÉGICAS OPERACIONAIS ADOTADAS NAS EMPRESAS EXPORTADORAS DE

MINÉRIO: estudo de caso Organização Alfa

Salvador 2009

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FÁBIO FRANKLIN CARNEIRO DA SILVA

A DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL E AS MUDANÇAS ESTRATÉGICAS OPERACIONAIS ADOTADAS NAS EMPRESAS EXPORTADORAS DE

MINÉRIO: estudo de caso Organização Alfa

Monografia apresentada como requisito para obtenção do grau de Bacharel em Administração da Faculdade 2 de Julho. Orientador: Prof. José Carlos Garcia

Salvador 2009

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FÁBIO FRANKLIN CARNEIRO DA SILVA

A DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL E AS MUDANÇAS ESTRATÉGICAS OPERACIONAIS ADOTADAS NAS EMPRESAS EXPORTADORAS DE

MINÉRIO: estudo de caso Organização Alfa

Monografia apresentada ao curso de Administração da Faculdade 2 de Julho, como

pré-requisito para obtenção do grau de Bacharel, pela Banca Examinadora

composta pelos membros:

( ) Aprovado Data: _____/_____/_____

_________________________________________________________ Profº. José Carlos Garcia

Especialista em Administração pela Universidade Federal da Bahia

________________________________________________________ Profº. Emydio Palmeira

_________________________________________________________ Profº. André Ricardo Nascimento Oliveira

OBS.:

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a meus pais, Frederico e Vanda Iolanda por terem tido a sabedoria de me

ensinar o verdadeiro significado de valores como integridade, honestidade, justiça,

moralidade, disciplina, e ética. Meus irmãos e sobrinhos.

A minha esposa Selma e sua família e também a minha amada filha Rafaela. Em

fim, todos aqueles que souberam entender a minha abnegação, ausência e

dedicação, as quais me fizeram privar, muitas vezes, de suas companhias. Aos

irmãos Alberto e Ricardo Ventura cuja ajuda tornou possível meu ingresso ao ensino

superior.

Aos professores que proporcionaram uma transformação pelo conhecimento e pelo

exemplo de competência e dedicação. Agradeço particularmente ao Professor

orientador José Garcia, que com paciência e competência tornou possível a

realização deste trabalho.

Aos colegas pelo incentivo, amizade e parceria durante todo o curso, em especial

Bérgson, Eliane, Emanuel, Geisiane e Joelma com quem partilhamos um ideal

comum e dividimos cada descoberta, desafio, conquista, medo, incerteza e

somamos entusiasmo, força e alegria. Lutamos, crescemos e vencemos.

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Dedico este trabalho a meus pais, irmãos e amigos pelo incentivo na busca da vitória e a Selma e Rafaela, minha esposa e filha, fonte de inspiração e compreensão na realização dos meus esforços.

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“De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que estamos sempre começando; a certeza de que é preciso continuar e a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar. Vamos fazer da interrupção um caminho novo!”

Fernando Sabino

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RESUMO

SILVA, Fábio Franklin Carneiro da. A desvalorização cambial e as mudanças estratégicas operacionais adotadas nas emp resas exportadoras de minério: estudo de caso Organização Alfa. Orientador: José Carlos Garcia. Salvador: Faculdade 2 de Julho, 2009. Monografia (Graduação em Administração Geral). A redução acentuada na cotação da moeda americana frente ao real no período de 2004 a 2008 provocou um grande impacto nas organizações exportadoras. Sobretudo naquelas que possuem custos e despesas em moeda local. O cenário desfavorável obrigou as organizações afetadas procurarem estratégias para atravessar o período. Este trabalho analisa as estratégias operacionais adotadas pelas empresas exportadoras de minério, especificamente a Organização Alfa, a fim de reverter à situação adversa e garantir a manutenção do negócio. A pesquisa mostrou que a situação adversa pode ser revertida em oportunidade de aperfeiçoamento e até crescimento. No caso apresentado a organização Alfa aumentou a eficiência das suas operações, Explorou novos seguimentos e conseguiu não só atravessar o período crítico de baixa no faturamento em reais como também aperfeiçoar seus processos e fortalecer sua posição no mercado. Palavras-chave : Estratégias Organizacionais; Crise Cambial; Desperdício; Custos; Negociação; Diversificação.

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ABSTRACT

The sharp reduction in the price of U.S. currency against the real in the period 2004 to 2008 caused a major impact on export organizations. Especially those who own costs and expenses in local currency. The negative scenario has affected organizations seeking strategies through the period. This paper examines the operational strategies adopted by companies exporting ore, especially the Organization Alpha in order to reverse the adverse situation and ensure the maintenance of the business. The research showed that the adverse situation can be reversed to opportunity for improvement and even growth. In case the organization Alpha increased the efficiency of their operations, explore new and has not only follow through the critical period of low turnover in the real but also improve their processes and strengthen their market position. Keywords: Organizational Strategies; Currency Crisis, waste and costs, Negotiation, Diversification.

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LISTA DE FIGURAS

Quadro 01 – Matriz Swot .............................. ......................................................... 20

Quadro 02 – Variáveis ambientais ......................................................................... 21

Quadro 03 – Matriz BCG........................................................................................ 22

Quadro 04 – As espécies de etratégias segunto mintzberg ................................... 24

Quadro 05 – Elementos básicos da logística ......................................................... 28

Quadro 06 – Fluxos Logísticos............................................................................... 29

Quadro 07 – Visão geral dos planos estratégicos corporativo e funcional ............. 29

Quadro 08 – Variação anual das tarifas de energia elétrica: 1998-2006................ 37

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 – Conceito de valor agregado............................................................... 32

Gráfico 02 – Distribuição de vendas: Organização Alfa – 2004 ............................. 35

Gráfico 03 – Aproveitamento da matéria-prima: Organização Alfa – Ano 2004 ..... 36

Gráfico 04 – Cotação dólar / real: 2004-2009......................................................... 37

Gráfico 05 – Variação do preço do barril de petróleo – 2004-2008........................ 38

Gráfico 06 – Distribuição dos custos variáveis unitários – Organização Alfa ......... 38

Gráfico 07 – Volumes Produzidos: Organização Alfa............................................. 40

Gráfico 08 – Volumes de resíduo comercializados: Organização Alfa ................... 42

Gráfico 09 – Resíduo comercializado 2004-2008: Organização Alfa (%)............... 43

Gráfico 10 – Comercialização dos resíduos: Organização Alfa – 2004-2008 ........ 43

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................12 1.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................15

2 ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS ................................................17

2.1. ETIMOLOGIA DA PALAVRA ESTRATÉGIA. .................................................17 2.2. CONCEITOS DE ESTRATÉGIA.....................................................................18 2.3. EVOLUÇÃO DA ADMINSTRAÇÃO ESTRATÉGICA......................................19

3 ESTUDOS SOBRE NEGOCIAÇÃO, LOGÍSTICA E DESPERDÍCIO. .25

3.1 ESTUDOS SOBRE NEGOCIAÇÃO.................................................................25 3.2 ESTUDOS SOBRE LOGÍSTICA......................................................................27 3.3 ESTUDOS SOBRE DESPERDÍCIO: A PRODUÇÃO ENXUTA.......................30

3.3.1 Histórico da Produção Enxuta ................. ..............................................30 3.3.2 Conceitos de Desperdício ..................... .................................................31 3.3.3 Os Principais Tipos de Desperdícios. ......... ..........................................32

4 PESQUISA EXPERIMENTAL: ORGANIZAÇÃO ALFA.......................34

4.1 CENÁRIO CAMBIAL BRASILEIRO - 2004 A 2008..........................................36 4.2 AÇÕES ESTRATÉGIAS DA ORGANIZAÇÃO ALFA.......................................39

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................44

REFERÊNCIAS.....................................................................................48

APÊNDICE A – Entrevista com os gestores da Organização Alfa .........50 APÊNDICE B – Autorização para divulgação ........................................50

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1 INTRODUÇÃO

Em momentos difíceis os gestores reagem de maneiras variadas, dependendo das

circunstâncias apresentadas, como causas internas ou externas e tempo de duração

prevista. É fato que muitas organizações retardam a reação e enfrentam os desafios

com menor capacidade de defesa: redução do capital de giro, menor estoque,

endividamento, quebra de contratos, entre outros.

Ainda que em parte, algumas corporações contam com gestores atentos aos

cenários e conseguem prever tais situações antecipando a implementação de

mudanças estratégicas para enfrentar o momento. Algumas conseguem ainda tirar

vantagem da situação de crise para diversificar ou aprimorar o negócio, revertendo à

situação adversa numa oportunidade de aperfeiçoamento e mudança, que além de

conseguir superar a má fase, fortalece suas estruturas e melhoram os resultados do

negócio.

A partir de 2003, no primeiro mandato do governo Lula, a política econômica do

Brasil, somado ao cenário econômico mundial, provocou uma onda de valorização

do real em relação ao dólar. Segundo dados do Banco Central do Brasil, a cotação

do dólar americano no Brasil acumulou, no período de janeiro de 2004 a Agosto de

2008, uma redução da ordem de 48% (quarenta e oito por cento). Após este

período, com a recente crise do sistema financeiro mundial, o dólar recuperou parte

do seu valor e chegou a ser cotado em torno de R$ 2,30 (dois reais e trinta

centavos) e na posição do dia 11 de junho de 2009 está sendo negociado a

aproximadamente R$ 1,94 (um real e noventa e quatro centavos).

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Esta queda relevante da moeda americana reduziu proporcionalmente o faturamento

dos exportadores, atingindo mais gravemente àqueles que possuem custos em

moeda local. Vieira, (2005), o então vice-presidente da Associação dos

Exportadores do Brasil, Augusto de Castro, declarou que as empresas menores "são

mais punidas com a atual realidade da taxa de câmbio" para ele o dólar barato

reduziu a competitividade da indústria nacional ao encarecer os produtos brasileiros

no exterior.

Nogueira (2005) publicou no Jornal Folha da Região de Araçatuba de 14 de março

de 2005, que o Grupo Frigoalta, o qual possui seis frigoríficos em São Paulo, Mato

Grosso, Goiás e Rondônia, demitiu 100 funcionários devido a queda de 55%

(cinqüenta e cinco por cento) das exportações de carne, desde o final de 2004, por

causa da desvalorização do dólar. A mesma empresa demitiu mais 300 funcionários

em maio de 2005, reduzindo 83% (oitenta e três por cento) de suas atividades em

relação ao período anterior a crise cambial, segundo publicação do mesmo jornal,

em 02 de maio de 2005.

Gomes (2007), em seu artigo publicado no site do Conselho Federal de Economia,

afirma que as exportações tem se mantido em bom nível, por causa da elevação das

commodities1 e da maior participação de produtos manufaturados na pauta

exportadora. Os superávits comerciais2 vêm provocando a oferta de dólar no

mercado brasileiro pressionando a queda da moeda.

Brito (2008), entrevistou Juan Quirós, ex-presidente da Agência Brasileira de

Promoção de Exportação e Investimentos (APEX), o qual afirmou que a situação

cambial pode comprometer o esforço de criar uma “cultura exportadora” brasileira.

Em seu artigo, Trevisan (2007) divulgou que o índice de rentabilidade das

exportações, aferido pela Fundação Centro de Estudos do Comercio Exterior

(FUNCEX), atingiu em novembro 78,07, o menor índice desde janeiro de 1985,

quando o indicador começou a ser calculado. Portes (2007) divulgou entrevista com

1 Termo utilizado para identificar os produtos primários comercializados na Bolsa de Valores. 2 Ocorre quando o volume financeiro das exportações é maior que os volumes resultantes das importações.

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Edgard Pereira3 declarando que a queda contínua do dólar em relação ao real

ameaça o emprego do Brasil a médio prazo, sobretudo nas pequenas e médias

empresas com produção voltadas a exportação. E traz os índices de redução dos

níveis de emprego nos seguimentos de celulose, papel e papelão, 0,48% (zero

vírgula quarenta e oito por cento) e têxteis que sofreu queda de 0,21% (zero vírgula

vinte e um por cento). E conclui afirmando que para sobreviver a queda da moeda

americana muitas empresas tem cortado custos, o que significa redução de pessoal.

No caso estudado, a organização Alfa enfrenta uma ameaça de política cambial,

somado a problemas macroeconômicos nos Estados unidos, que provocam a queda

do dólar no mundo inteiro. Diante deste cenário é que surge o estudo proposto, o

qual traz como problema a ser respondido: quais as estratégias operacionais

implantadas na empresa exportadora de minério, Organização Alfa, contribuíram

para manter a competitividade do negócio, frente à desvalorização da moeda

americana, no período de 2004 a 2008?

Parte-se do pressuposto de que as estratégias operacionais adotadas pela empresa

basearam-se principalmente em redução de custos e controle de qualidade como

diferencial de mercado.

Essa pesquisa tem como objetivo geral: Mapear as mudanças estratégicas

operacionais adotadas nas empresas exportadoras de minério com o objetivo de

superar a redução no faturamento em reais devido à desvalorização cambial.

Para alcançar o objetivo geral, foram traçados os seguintes objetivos específicos:

• Identificar os principais fatores que influenciam na competitividade do

negócio;

• Mensurar o percentual de redução da cotação do dólar nas transações

comerciais;

• Determinar as influências da alteração cambial para o setor;

• Mapear as mudanças realizadas pela organização Alfa.

3 Economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).

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Desta forma, a redução direta no faturamento das empresas exportadoras afetou

profundamente as organizações, as famílias, a economia dessas regiões e o poder

público. Daí a relevância deste trabalho, que poderá servir de fonte para novos

estudos acadêmicos ou profissionais, numa reflexão sobre a estratégia de gestão

com habilidade para transformar crise em oportunidade de aperfeiçoamento,

diversificação ou até mesmo crescimento organizacional e com isso, reduzir os

efeitos nocivos à sociedade.

1.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa realizada teve uma abordagem qualitativa. Para ROESCH (2007), o

método qualitativo, põe-se a entender e explorar os significados, a forma real como

se processa, sem estarem presos e apenas direcionados pela hipótese, definições

operacionais ou ao entendimento do pesquisador. Difere-se do método quantitativo

na forma de conhecimento da realidade e na maneira de estudar o indivíduo, já que,

“na pesquisa quantitativa o pesquisador parte de conceitos a priori sobre a realidade,

o pesquisador qualitativo sai a campo não estruturado, justamente para captar as

perspectivas e interpretações das pessoas”.

Realizou-se o estudo através da observação direta e entrevista com os diretores da

organização pesquisada, realizadas pelo próprio autor. Os dados coletados foram

analisados e apresentados através de gráficos, com o intuito de facilitar a

compreensão e conseqüente reflexão do leitor.

A estrutura do trabalho está dividida em cinco capítulos, distribuídos da seguinte

forma: no Capítulo 1 traz uma introdução acerca do assunto abordado e a

metodologia utilizada para realização da pesquisa; o Capítulo 2 descreve

importantes conceitos sobre estratégia empresarial e a evolução histórica da

administração estratégica; no Capítulo 3 são relatadas breves análises sobre

Negociação, Logística e Desperdício; o Capítulo 4 apresenta o estudo de caso

escolhido, apresentando todo o material coletado com a pesquisa e como quinto e

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último capítulo, são apresentadas as Considerações Finais, com o objetivo de traçar

um diagnóstico dos acontecimentos e suas implicações, comparando-os com a

teoria científica. Serão apresentados também, os resultados apurados com a esta

pesquisa de forma a responder ao questionamento que motivou esta obra.

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2 ESTRATÉGIAS ORGANIZACIONAIS

2.1. ETIMOLOGIA DA PALAVRA ESTRATÉGIA.

Atribui-se a Sun Tzu, em sua obra “A arte da guerra” traduzida em quase todo o

mundo, o primeiro registro literário sobre estratégia. Apesar de sua conotação

militar, este livro ainda é muito utilizado na administração como guia para gestores

que atuam em ambientes organizacionais competitivos.

A palavra estratégia vem do grego “estrategia” que era usada para nomear a arte

dos generais. Estrategos eram os comandantes supremos escolhidos para planejar

e fazer a guerra (MAXIMIANO, 2006). Seu significado inicial, “arte em geral”,

relaciona-se ao seguinte fato: inicialmente, nas batalhas, o comandante da operação

participava diretamente do confronto, geralmente na linha de frente do conflito. Esta

postura reduzia o campo de visão do líder, que muitas vezes tinham seus exércitos

dizimados por outras frentes, visto que este não conseguia manter informações das

manobras dos inimigos. Com o desenvolvimento das táticas de guerra, o líder passa

a distanciar-se do grupo de modo a ampliar seu campo de visão e assim tomar suas

decisões táticas baseadas nas condições gerais do conflito. Daí o termo General,

para o líder do exército e “arte em geral” para a arte de conduzir este exército rumo

à vitória (BETHLEM, 1981).

Segundo Mintzberg (2004) apud Evered (2000), o termo estratégia assumiu sentido

na habilidade administrativa em 450 a.C. quando passou a significar habilidades

gerenciais (administrativas, liderança, oratória, poder etc.). Mais tarde, no tempo de

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Alexandre, 330 a.C. adquiria o significado de habilidades empregadas para vencer

um oponente e criar um sistema unificado de governança global.

Este sentido de método para vencer o inimigo de guerra, mais tarde ampliou-se para

o campo político, econômico e ao contexto empresarial. Contudo, manteve em todas

as aplicações a raiz semântica, ou seja, a de estabelecer caminhos ( CAMARGOS,

2003 apud GRAVE E MENDES, 2001)

Aurélio (2004) segue a linha etimológica e define estratégia como: “Arte militar de

planejar e executar movimentos e operações de tropas, navios e/ou aviões, visando

a alcançar ou manter posições relativas e potenciais bélicos favoráveis a futuras

ações táticas sobre determinados objetivos.” Ou ainda: “Arte militar de escolher

onde, quando e com que travar um combate ou uma batalha.”

Nota-se que a estratégia teve várias fases e significados, evoluindo de um conjunto

de ações e manobras militares para uma disciplina do conhecimento administrativo,

a Administração Estratégica (AE), dotada de conteúdo, modelos e conceitos vem se

firmando nas práticas de gestão.

2.2. CONCEITOS DE ESTRATÉGIA

Camargos e Dias (2003) apud Cabral (1998), afirmam que a abrangência do

conceito de estratégia apresenta um paradoxo, pois exige a integração de uma série

de teorias e enfoques, o que impede o completo registro de seus conceitos e

abordagens. Dependendo do contexto no qual é empregada, a estratégia pode

significar políticas, objetivos, táticas, metas, programas, entre outros.

Não há precisão no uso do conceito de estratégia na área de administração. O termo

é amplamente empregado na comunidade acadêmica e empresarial, dotado de

grande amplitude e diversificação, em alguns aspectos complementar e em outros

divergentes (CAMARGOS e DIAS, 2003) apud (MEIRELLES e GONÇALVES, 2001).

Camargos e Dias (2003) apud Fahey (1999) confirmam com a declaração que

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poucas palavras são tão mal definidas na literatura gerencial e estão tão expostas a

diferentes significados quanto a palavra estratégia.

Thompson JR. e Strickland III (2002) definem estratégia como um conjunto de

mudanças competitivas que os gerentes executam para atingir o melhor

desempenho da empresa. É o planejamento realizado pela gerência para reforçar a

posição da organização no mercado, promover a satisfação dos clientes e atingir os

objetivos de desempenho. Fugindo dessa abordagem prescritiva os autores

Mintzberg e Quin (1991), definem estratégia como um plano que integra os

objetivos, as políticas e as ações seqüenciais de uma organização, em um ato

coeso.

Maximiano (2006), apud Chandler (2006), define estratégia como a determinação

das metas e objetivos básicos e de longo prazo de uma empresa e a adoção de

ações e alocação de recursos necessários para atingir esses objetivos.

Os autores Thompson JR. e Strickland III (2002) associam alguns objetivos como

justificativa ao seu conceito de estratégia e não consideram a possibilidade de que

dependendo do alvo, a organização pode tomar algumas atitudes inversas as que os

autores apresentam na definição do termo.

2.3. EVOLUÇÃO DA ADMINSTRAÇÃO ESTRATÉGICA

Para Camargos e Dias (2003), somente a partir da década de 1950 a Administração

Estratégica passou a receber maior atenção do meio acadêmico e empresarial,

acelerando seu desenvolvimento entre as décadas de 60 e 70. Até os anos 50, o

foco dos empresários se restringia ao ambiente interno da empresa, como a

melhoria dos processos operacionais e maior produtividade dos seus funcionários.

Nesta época, a crescente demanda do mercado favorecia o crescimento das

organizações proporcionalmente a sua capacidade produtiva. Após a II Guerra

Mundial, o mercado exigiu maior esforço empreendedor dos gestores, com a

necessidade de responder mais rapidamente às transformações mercadológicas e

ações dos concorrentes.

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20

Houve uma redefinição do papel social da empresa e a necessidade de adequar-se

à nova postura dos consumidores. Neste cenário, a administração estratégica se

desenvolve na busca de manter a sintonia entre a empresa e o mercado, além de

considerar os stakeholders4 nas decisões empresariais. Para Vasconcelos (2001),

dois fatores principais contribuíram para retardar á consolidação da administração

estratégica: a influência da economia neoclássica, a qual o mercado se auto-

regulava, sugerindo irrelevância para estratégias adotadas e a baixa

profissionalização da gestão até a metade do século XX.

Na década de 1970, se formalizou o planejamento estratégico, o modelo básico era

o SWOT5, chamado posteriormente por Mintzberg de Escola de Design que, de

maneira prescritiva, criou-se um modelo rígido de aplicação da estratégia

empresarial, constituindo de etapas, estágios seqüenciais e subestratégias

(Cavalcanti, 2001).

FORÇAS FRAQUEZA

OPORTUNIDADES AMEAÇAS

AM

BIE

NT

E IN

TE

RN

OA

MB

IEN

TE

EX

TE

RN

O

MATRIZ SWOT

FORÇAS FRAQUEZA

OPORTUNIDADES AMEAÇAS

AM

BIE

NT

E IN

TE

RN

OA

MB

IEN

TE

EX

TE

RN

O

MATRIZ SWOT

Fonte – Mintzberg (2000) Quadro 1 – Matriz swot

4 Paiva (2007) define stakeholder como qualquer pessoa ou organização que tenha interesse ou seja afetado pelo projeto. 5 Segundo Maximiano (2006), SWOT é uma ferramenta de diagnóstico. Sua sigla significa: S(strenghts) = pontos fortes, W(weaknesses) = pontos fracos, O(opportunities) = oportunidades e T(threats) = ameaças.

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21

Para Mintzberg (2000), apesar do campo da Administração Estratégica ter se

desenvolvido e crescido em direções diferentes, a maior parte da literatura continua

utilizando o modelo SWOT como peça central. Este modelo apresenta-se como

uma ferramenta de diagnóstico do ambiente estratégico da organização. Mintzberg

(2000), apud Prower et al. (1986), enumera as principais variáveis que devem ser

analisadas:

VARIÁVEIS AMBIENTAIS EXTERNAS

Ameaças e Oportunidades

VARIÁVEIS AMBIENTAIS INTERNAS

Forças e Fraquezas

Mudanças na sociedade Marketing

Mudanças governamentais Pesquisa e Desenvolvimento

Mudanças econômicas Sistemas de informações gerenciais

Mudanças de competição Operações

Mudanças de fornecedores Finanças

Mudanças de mercado Recursos humanos

Fonte – Mintzberg (2000) Quadro 2 – Variáveis ambientais

Nota-se nesta ferramenta a influência dos termos militares para diagnosticar o

cenário da organização. Força e fraqueza, ameaça e oportunidades trazem para o

presente sinais da raiz etimológica do termo estratégia.

Cavalcanti et al. (2001) classifica os principais conceitos do pensamento estratégico

em duas fases distintas: os conceitos prescritivos, até a década de 1980, e os

conceitos descritivos, a partir desta data.

Em 1970, foi desenvolvida matriz BCG (quadro 03) que prega a classificação de

produtos ao longo da participação de mercado em relação ao crescimento deste

mercado, buscando compor um guia para a empresa concretizar a carteira de

negócios. Ainda neste ano, surge o “choque do futuro” que propõe a reestruturação

contínua da empresa.

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Segundo Mintzberg (2000), a matriz de crescimento-participação fazia parte do

planejamento de portfólio, o qual tratava da questão de como alocar fundos para

diferentes negócios de uma empresa diversificada. Antes de seu surgimento, as

corporações dependiam de orçamentos de capitais e assemelhados para avaliar o

retorno sobre o investimento de diferentes propostas. A matriz crescimento-

participação procurava embutir essas opções em uma estrutura sistemática:

����

$

?

Estrela Criança-problema

Vaca leiteira Cão

Alta Baixa

Participação de mercado atual do negócio

Alto

Baixo

Pot

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al d

e cr

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Estrela Criança-problema

Vaca leiteira Cão

Alta Baixa

Participação de mercado atual do negócio

Alto

Baixo

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Fonte: Mintzberg (2000) Quadro 03 – Matriz BCG

Dayshoum (2007), apud Bruce Henderson, autor do BCG, que afirma:

Para ter sucesso, uma empresa precisa ter um portfólio de produtos com diferentes taxas de crescimento e diferentes participações de mercado. A composição deste portfólio é uma função do equilíbrio entre fluxos de caixa. Produtos de alto crescimento exigem injeções de dinheiro para crescer. Produtos de baixo crescimento devem gerar excesso de caixa. Ambos são necessários simultaneamente (DAYSHOUM, 2007, p. 64).

Porter (1991) apresenta três estratégias genéricas para a competitividade,

considerando as variáveis: custo, diferenciação e foco. Neste contexto é proposto

curvas de experiência, barreiras de entrada, posicionamento estratégico, sistema de

inteligência sobre o concorrente e estratégia de nicho.

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23

Segundo Mintzberg (2000), em 1985 Michael Porter apresenta a cadeia de valor,

que define cinco atividades primárias: logística de entrada, operações, logística de

saída, marketing ou vendas e serviços e quatro atividades de apoio, Suprimento,

desenvolvimento de tecnologias, gestão de recursos humanos e infra-estrutura da

empresa que constituíam a cadeia de valor da organização. Esse processo é

descrito como um modelo de análise competitiva e detalha os cinco elementos: a

ameaça de novos entrantes, poder de barganha dos fornecedores da empresa,

poder de barganha dos clientes da empresa, ameaça de produtos substitutos e a

Intensidade da rivalidade entre empresas concorrentes. Todos os fatores anteriores

convergem para a rivalidade, que para Poter é um cruzamento entre guerra aberta e

diplomacia pacífica.

Mintzberg (2000) relata que, em 1994, os autores Gary Hamel e C.K. Prahalad

tratam do desenvolvimento de habilidade e tecnologia com o objetivo de oferecer

vantagens ao cliente. Neste estudo os autores consideram a empresa como um

portfólio de competências, um novo plano ou arquitetura estratégica que mostra as

competências a serem desenvolvidas para interceptar o futuro.

Já em 1995, Michael Tracy e Fred Wiersema apresentam três disciplinas de valor,

excelência operacional, liderança do produto e conhecimento do consumidor. Neste

esboço os autores pregam o continuo investimento e excelência em pelo menos

uma destas três áreas de valor para construir a reputação da companhia.

Em 1999, Pierre Dussage e Bernate Garrete propõem a formação de alianças

estratégicas e modos de antecipar sua evolução e resultados. Tipifica alianças entre

não-competidores, joint ventures6, parceiros verticais e entre competidores: alianças

na cadeia de fornecimento, alianças de quase-concentração e alianças

complementares.

Mintzberg (2000) identifica e caracteriza oito espécies de estratégias, conforme

descrito abaixo:

6 Associação de empresas, não definitiva, para explorar determinado(s) negócio(s), sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica. (Aurélio, 2004)

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24

Planejada

As estratégias se originam em planos formais; existem intenções precisas, formuladas e articuladas por uma liderança central, apoiada por controles formais para garantir sua implementação

Empreendedora

As estratégias se originam na visão central; as intenções existem como visão pessoal de um único líder e assim adaptáveis a novas oportunidades.

Ideológica

Estratégias originadas em crenças comuns; as intenções existem como visão coletiva de todos os agentes, em forma inspiracional e relativamente imutável.

Guarda-Chuva

As estratégias se originam em restrições; a liderança, em controle parcial das ações organizacionais, definem limites estratégicos ou alvos dentro dos quais outros agentes respondem às suas experiências ou preferências.

Processo

As estratégias se originam no processo;a liderança controla aspectos processuais da estratégia (contratações, estruturas etc.)deixando os aspectos de conteúdo para outros agentes.

Desarticuladas

As estratégias se originam em enclaves e empreendimentos: agentes frouxamente ligados ao restante da organização produzem padrões em ações próprias na ausência das ações centrais.

Consenso

As estratégias se originam em consenso: através de ajustes mútuos, os agentes convergem sobre padrões que se tornam difundidos na ausência de intenções centrais ou comuns.

Imposta

As estratégias se originam no ambiente: este, dita padrões de ações através de imposição direta ou de opção organizacional implicitamente limitante.

Fonte Mintzberg (2000) Quadro 04 – As espécies de estratégias segundo Mint zberg

Mintzberg (2000) trata do que chamou de ascensão e queda do planejamento

estratégico com processo formal, que distingue o planejamento estratégico do

pensamento estratégico. Neste estudo o autor descreve o fracasso da formalização

de estratégias. Para ele, estratégia é um processo de aprendizado; se o

planejamento estratégico é análise, o pensamento estratégico é a síntese.

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3 ESTUDOS SOBRE NEGOCIAÇÃO, LOGÍSTICA E DESPERDÍCIO .

3.1 ESTUDOS SOBRE NEGOCIAÇÃO

Freitas 1994, apud Pruitt 1981, p. 14, define negociar como

uma forma de tomar decisão em que duas ou mais partes conversam entre si num esforço de resolve os seus interesses opostos. Elas expressam as suas demandas contraditórias e se movem em direção a um acordo, através de um processo de fazer concessões e buscar novas alternativas, que ofereçam maiores benefícios mútuos.

Baseado nesse conceito, a negociação pode ser entendida como um processo que

envolve uma ou mais partes com interesses opostos e se movem na busca de

alternativas e conquistas de concessões que condicionam a decisão.

Cohen (2002), a negociação é um campo do conhecimento e empenho que visa a

conquista de pessoas de quem se deseja alguma coisa. Este autor enumera três

elementos cruciais da negociação: Informação, tempo e poder. Esses elementos são

manipulados com o objetivo de dominar a outra parte e assim levar vantagem na

negociação. A negociação neste conceito se comporta como um duelo entre as

partes onde um lado sairá vencedor em detrimento do outro.

Martinelli (1997), atualmente a tendência é buscar relacionamentos duradouros, que

se mantenha ou evolua em novas negociações. Procurando manter uma negociação

ganha-ganha, ou seja, uma relação onde todos os envolvidos ganham com a

decisão. Neste caso, se faz necessário a identificação das necessidades das partes

que podem ser complementares ou antagônicas e através do bom senso e

concessões.

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26

Martinelli (1997) ressalta a importância da comunicação nas negociações quando

afirma que a informação é vital para todas as atividades dentro da administração.

Afirma que o administrador consome em média 80% (oitenta por cento) do seu

tempo em comunicações diretas e indiretas e os 20% (vinte por cento) restantes

ainda utilizam da comunicação através da leitura e escrita.

Mello (2003), afirma que existem três formas de negociar, as quais variam de acordo

com o objetivo do negociador. Manter a parceria ou relacionamento, conquistar o

menor custo possível sem se importar com as outras partes envolvidas e reparar um

relacionamento ou ajudar o parceiro do negócio. Neste ultimo o negociador poderá

estar disposto a ceder mais que normalmente faria para construir uma nova situação

no futuro.

Ainda Mello (2003) sugere que há quatro tipos básicos de estratégias de

negociação: a estratégia de competição que consiste no objetivo de ganhar a

disputa, coincidindo com as idéias de Cohen descrita anteriormente; a estratégia de

cooperação, quando há necessidade de ganhos materiais, mas manter o

relacionamento ou parceria é importante; a estratégia de relacionamentos, que

ocorre quando a necessidade de manter o relacionamento é mais importante que as

vantagens financeiras e a estratégia de indiferença, onde os resultados possíveis da

negociação não são relevantes para as partes.

Em uma negociação onde uma das partes detém vantagem prévia, há uma

tendência de conquistar maiores concessões na negociação. Segundo Martinelli

(1997), a barganha é muito questionada por aqueles que defendem que não deva

acontecer num processo de negociação, mas tão somente buscar atender os

interesses de ambas as partes envolvidas.

Biehl (2003) apud Peterson e Lucas (2001) afirma que o planejamento a preparação

antecipada são etapas essenciais para o sucesso da negociação. Para a autora, o

negociador precisa ter um estilo particular para alcançar um desempenho de

parceria e esse comportamento pode ser facilitado a partir dos preparativos

antecedentes ao encontro. Neste caso, o comportamento estratégico é a

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sustentação que propícia o desenvolvimento do relacionamento entre as partes, e de

forma extensiva, contribuindo para a construção da confiança e da credibilidade nas

futuras negociações. Destaca que o indivíduo preocupado com o aspecto de

organizar-se antes da negociação, é um indivíduo que se apresenta mais calmo,

equilibrado e colaborador. Biehl (2003) apud Jericó e Perroca (2001), confirma tal

fato no exemplo dos estudos do comportamento dos enfermeiros em seu cotidiano

profissional, que por não planejarem suas estratégias, faziam uso de argumentos

poucos confiáveis, sem fundamentação, comprometendo os resultados do certame.

Para Freitas (1994), fazer concessões não deve ser considerado sinal de fraqueza,

mas sim de abertura e confiança. A concessão deve ser interpretada como um

passo importante na busca da solução que requer reciprocidade e negar essa

reciprocidade pode ser entendido como má-vontade, exploração e poderá mudar a

postura da outra parte.

3.2 ESTUDOS SOBRE LOGÍSTICA

Segundo Ballou (1993), a logística empresarial estuda como prover melhor nível de

rentabilidade nos serviços de distribuição aos clientes e consumidores, através de

planejamento, organização e controles efetivos. Para o autor, a relevância da

logística é influenciada diretamente pelos custos associados as suas atividades.

Dornier et al. (2000), define logística como gestão de fluxos entre funções de

negócio, ressaltando a expansão que a logística sofreu ao longo do tempo.

Tradicionalmente, eram considerados como atribuições da logística a entrada de

matérias-primas e o fluxo de saída dos produtos acabados. Hoje, para os autores, a

estrutura da logística deve compreender os seguintes fluxos físicos: matérias-primas,

produtos semi-acabados, transferências de equipamentos, produtos acabados, itens

de uso e consumo, mercadorias e peças para manutenção, equipamentos de

suporte a vendas, embalagem vazias retornadas, peças vendidas ou devolvidas e

produtos consumidos a serem reciclados. O que demonstra que a logística

desenvolveu-se e cada vez mais reafirma sua importância na administração atual.

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Novaes (2004) define logística como o processo de planejar, implementar e controlar

de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e

informações dos associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de

consumo, com o objetivo de atender os requisitos do consumidor. Para o autor, a

logística empresarial moderna agrega valor de lugar, tempo, qualidade e informação

à cadeia produtiva.

Para Ballou (2001), a missão da logística é dispor a mercadoria ou o serviço certo,

no lugar certo, no tempo certo e nas condições desejadas, ao mesmo tempo em que

fornece a maior contribuição à empresa.

O papel estratégico das operações de logística, segundo Dornier et al. (2000), está

na tendência das empresas de projetarem seus produtos e serviços para o mercado

mundial. Ampliando a complexidade dos fluxos logísticos cujos custos poderão

garantir a competitividade.

Novais (2004) apresenta os principais elementos da logística. A logística empresarial

inicia suas atividades pelos estudos e planejamento do processo a ser implantado.

Após o planejamento e decisão inicia-se a fase de implementação e operação.

Quando em operação, todo fluxo deverá ser constantemente monitorado, avaliado e

controlado.

Processo de Planejar, operar, controlar

Matéria-primaProdutos em processoProdutos acabadosInformaçõesDinheiro

Fluxo e Armazenagem

do pontode origem

ao pontode destino

de forma econômica,eficiente e efetiva.

satisfazendo asnecessidades e

preferênciasdos clientes.

ELEMENTOS BÁSICOS DA LOGÍSTICA

Processo de Planejar, operar, controlar

Matéria-primaProdutos em processoProdutos acabadosInformaçõesDinheiro

Fluxo e Armazenagem

do pontode origem

ao pontode destino

de forma econômica,eficiente e efetiva.

satisfazendo asnecessidades e

preferênciasdos clientes.

ELEMENTOS BÁSICOS DA LOGÍSTICA

Fonte: Novaes (2004) Quadro 05 – Elementos básicos da logística

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29

De acordo com Novaes (2004), os fluxos associados à logística podem ser de

materiais, que parte do fornecedor de matéria prima até o consumidor, o fluxo do

dinheiro que ocorre no sentido contrário e o fluxo de informações que acontece em

ambos os sentidos, como ilustrado na figura 02.

FORNECEDOR MANUFATURA DISTRIBUIDOR VAREJISTA CONSUMIDOR

FLUXO DE INFORMAÇÃO

FLUXO DE MATERIAIS

FLUXO DE DINHEIRO

FLUXOS LOGÍSTICOS

FORNECEDOR MANUFATURA DISTRIBUIDOR VAREJISTA CONSUMIDOR

FLUXO DE INFORMAÇÃO

FLUXO DE MATERIAIS

FLUXO DE DINHEIRO

FLUXOS LOGÍSTICOS

Fonte: Novaes (2004) Quadro 06 – Fluxos logísticos

Ballou (2001) ressalta a importância da estratégia logística e afirma que para

desenvolvê-la é necessária boa parte dos esforços criativos de uma estratégia

corporativa e os resultados podem alcançar a vantagem competitiva:

Fatores externos•Econômico•Regulamentário•Tecnológico•Competitivo

Plano estratégicocorporativo

Manufatura

Logística

Marketing

Finanças

Planos estratégicos funcionais

Fatores externos•Econômico•Regulamentário•Tecnológico•Competitivo

Plano estratégicocorporativo

Manufatura

Logística

Marketing

Finanças

Planos estratégicos funcionais

Fonte: Ballou (2001) Quadro 07 – Visão geral do planos estratégicos cor porativo e funcional.

Para este autor, uma estratégia logística deve atender três objetivos principais:

redução de custo, dirigida para minimizar os custos variáveis associados à

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30

movimentação e à estocagem; a redução do capital que consiste na minimização do

nível de investimento no sistema logístico. E por último a melhoria dos serviços, que

considera o nível de serviço como fator decisivo no planejamento de sua estratégia

logística consciente que quanto melhor o nível de serviço, maior o custo das

operações de logística.

3.3 ESTUDOS SOBRE DESPERDÍCIO: A PRODUÇÃO ENXUTA

Segundo Mazzone (2009), a idéia principal da produção "enxuta"7 é acabar com o

desperdício de trabalho, energia, tempo, dinheiro e materiais. Envolve, a cada

momento, a preocupação de reduzir o custo de produção ao mínimo absolutamente

necessário. Essa opinião coincide com outros autores como Müller (2009) que

discorre sobre a importância que indústria japonesa tem obtido no mercado mundial

e atribui seu sucesso aos princípios de produção, nos quais se busca o maior

resultado através da total eliminação de perdas.

Segundo Ferreira (2004), Manufatura Enxuta é um termo genérico usado para definir

o Sistema Toyota de Produção - STP.

3.3.1 Histórico da Produção Enxuta

Boa parte da filosofia da produção "enxuta" tem origem no trabalho em controle de

qualidade do engenheiro americano W. Edwards Deming, que foi consultor das

forças de ocupação dos Estados Unidos no Japão logo após a Segunda Guerra. O

contexto dos estudos de Deming era que a produtividade não diminuiria pela ênfase

na qualidade. Ao contrário, Deming discutia com os industriais do Japão que um

sistema industrial organizado para produzir qualidade poderia apoiar e aumentar a

produtividade. Este ponto de vista, contrário à filosofia de produção "em massa” que

preponderava desde os anos 20 e que havia sido originalmente formulada por Henry

7Mazzone (2006) apud Womack, Jones e Roos (1990ª), “Enxuto" é a tradução da palavra inglesa "lean" que significa magra, sem gorduras, e que foi usada pela primeira vez para descrever o sistema de produção da Toyota na sua fábrica em Nagoya pelos autores do livro, The Machine That Changed the World ()

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31

Ford e, depois, desenvolvida por Alfred Sloan da General Motors. Embora o sistema

de produção "em massa" não fosse contra a qualidade, a sua ênfase recaía sobre a

quantidade, a economia de escala e as vendas. (Mazzone, 2006)

Ferreira (2004) Afirma que na primavera de 50, um engenheiro japonês, Eiji Toyoda,

visitou por três meses a fábrica Rouge, a qual era a maior e mais complexa da Ford,

se não de todo o mundo. Depois de muito estudo, Eiji voltou ao Japão e, com a

ajuda de seu engenheiro chefe e vice presidente da Toyota, Taiichi Ohno,

concluíram que a produção em massa nunca funcionaria no Japão. Desse começo

experimental estava nascendo o que a Toyota veio a chamar de Toyota Production

System − TPS (Sistema Toyota de Produção − STP) e, finalmente, produção enxuta.

Para Maximiano (2006), os dois pilares do STP são: eliminação de desperdícios e

fabricação com qualidade.

3.3.2 Conceitos de Desperdício

Maximiano (2006) define desperdício como toda e qualquer atividade que não

agrega valor ao produto.

De acordo com Campos (1996), o desperdício é todo e qualquer recurso que se

gasta na execução de um produto ou serviço além do estritamente necessário

(matéria-prima, materiais, tempo, energia, por exemplo). É um dispêndio extra que

aumenta os custos normais do produto ou serviço sem trazer qualquer tipo de

melhoria para o cliente.

Para Aurélio (2006), desperdício é o gasto sem proveito ou em excesso.

Segundo Ferreira (2006), reduzir o desperdício na produção significa eliminar tudo

àquilo que aumenta o custo de produção, ou seja, transformar desperdício em valor.

Os movimentos de um operador podem ser classificados como operações ou perdas

como pode ser observado no gráfico 01:

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Fonte: Ferreira (2004) Gráfico 01 – Conceito de Valor agregado

3.3.3 Os Principais Tipos de Desperdícios.

Para Ohno (1997), o passo preliminar para adotar o STP é identificar e eliminar os

seguintes desperdícios:

• Desperdício de superprodução;

• Desperdício de tempo disponível (espera);

• Desperdício em transporte;

• Desperdício do processamento em si

• Desperdício de estoque disponível;

• Desperdício de movimento:

• Desperdício de produzir produtos com defeitos.

Ferreira (2006) definiu os tipos de desperdício propostos por Ohno no Sistema

Toyota de Produção:

Superprodução: quando se produzir mais do que o demandado pelos clientes ou

por produzir com velocidade acima do necessário. Portanto, no Sistema Toyota de

Produção, a produção deve ser sustentada pela filosofia just in time8.

8 Just in time é uma abordagem disciplinada, que visa aprimorar a produtividade global e eliminar os desperdícios. Ele possibilita a produção eficaz em termos de custo, assim como o fornecimento apenas da quantidade correta, no momento e locais corretos, utilizando o mínimo de instalações, equipamentos, materiais e recursos humanos (Maximiano, 2006).

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33

Espera : quando é necessário esperar para processar determinada peça, o que

constitui desperdício e também se refere ao excesso de estoque dos insumos,

produtos semi-acabados e produtos a serem entregues.

Transportes: muito importante devido ao seu envolvimento com as entregas de

peças e materiais. Operações de transporte para distâncias maiores do que as

necessárias, taxas e mudanças são também caracterizadas como desperdícios.

Processamento: a atividade de acrescentar ao processo mais esforço do que o

requerido pelas especificações dos clientes também deve ser tratada como

desperdício.

Estoque: quando ocorre excesso de fornecimento de peças entre os processos, ou

pelos fornecedores, com o intuito de abastecer a fábrica, ocorre o que se chama de

Inventário (estoque), que exige capital de giro para sua manutenção e gera custo.

Movimentação desnecessária: quando o método de trabalho é executado de forma

desorganizada, reduzindo a produtividade do setor.

Defeitos: Quando o produto não atende as especificações contratadas, este item

gera custos com retrabalho, recuperação ou mesmo a perda total do esforço e

material. Além do risco de perder clientes.

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4 PESQUISA EXPERIMENTAL: ORGANIZAÇÃO ALFA

A Organização Alfa9 está localizada em área industrial na zona metropolitana de

Salvador na Bahia. Sua principal atividade é o beneficiamento de minério para uso

industrial. Instalada em área de 10.000 m², tem capacidade para produção de

aproximadamente mil toneladas por mês.

Foi fundada em 2003 para atender um contrato de fornecimento de minério, nas

especificações do contratante. Isto provocou o direcionamento da estrutura e

equipamentos. Todo material processado é adquirido de terceiros com origem na

Paraíba, Rio grande do Norte e Bahia. Após beneficiamento, os produtos são

embalados em contentores flexíveis e exportados através do porto de Salvador.

Possui quinze colaboradores e dois diretores, sócios igualitários, que dividem a

administração da organização assessorada por dois gerentes, sendo um operacional

e outro administrativo. A jornada de trabalho é de 44 horas semanais de segunda a

sábado.

Seu planejamento estratégico se baseava na confortável situação de excesso de

demanda e contrato de fornecimento com um grande cliente capaz de absorver todo

volume produzido. Por esse motivo, a Alfa foi montada com uma estrutura inflexível,

totalmente direcionada para atender aos pedidos nas especificações deste grande

cliente e eventuais outros que consumissem o mesmo produto. E assim aconteceu

até a cotação do dólar ameaçar o modelo acima descrito. Em meados de 2004, a

Alfa atendia basicamente a três clientes (gráfico 2).

9 Nome fictício para preservar as informações confidenciais do negócio.

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Distribuição das Vendas - Organização AlfaAno 2004

Cliente X88%

Cliente Y7%

Cliente Z4%

Outros1%

Fonte: Pesquisa Direta Gráfico 02 - Distribuição de Vendas: Organização Al fa – 2004

Os clientes X, Y e Z, citados no Gráfico 02, são europeus de países distintos, mas

atuam no mesmo seguimento

Segundo informações coletadas na entrevista com os gestores, o sistema de

produção foi projetado para atender ao principal cliente (X) que consumia, no ano de

2004, aproximadamente 88% (oitenta e oito por cento) do volume produzido.

Seguidos do cliente Y com 7% (sete por cento) e o cliente Z com 4% (quatro por

cento) da produção. O restante, 1% (um por cento) representava a atuação no

mercado interno basicamente ligados ao aproveitamento de resíduo e materiais fora

de especificação

O excesso de demanda e a pressão por volume não possibilitavam aos gestores

focar na correção de alguns fatores operacionais que provocavam perdas. Dentre

esses fatores os gestores destacaram o custo com transporte dos insumos fora de

especificação representavam 10% (dez por cento) do material recebido. Este valor

não era ressarcido pelos fornecedores e acabava representando um elevado custo

com eventuais reaproveitamentos nas vendas do mercado interno.

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36

Destaca-se também o desperdício com estoque, embalagem e descarte dos

resíduos que atingiam 22% (vinte e dois por cento) de toda matéria prima adquirida.

(Gráfico 03)

Aproveitamento da Matéria PrimaAno 2004

Resíduo22%

Produto78%

Fonte: Pesquisa Direta Gráfico 03 - Aproveitamento da Matéria Prima: Orga nização Alfa – Ano 2004.

4.1 CENÁRIO CAMBIAL BRASILEIRO - 2004 A 2008.

Neste período, a moeda americana sofreu forte desvalorização em todo o mundo.

Especialistas atribuem esse fenômeno a crescente divida pública americana e o

déficit comercial que abalou a confiança dos investidores internacionais e estimulou

a investir em outros mercados.

Segundo Svaldi (2004), no Brasil, a política de captação de recursos internacionais

com as maiores taxas de juros mundiais atraiu grandes investidores e aumentou

consideravelmente a oferta da moeda americana no mercado. O dólar variou de R$

3,20 (três reais e vinte centavos) em maio de 2004 à R$ 1,55 (um real e cinqüenta e

cinco centavos) em agosto de 2008, representando uma redução direta no preço dos

produtos em dólar de 51,50% (cinqüenta e um vírgula cinqüenta por cento), vide

gráfico 04.

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37

COTAÇÃO DÓLAR/REAL - 2004-2009

1,501,701,902,102,30

2,502,702,903,103,30

2/1/

2004

2/4/

2004

2/7/

2004

2/10

/200

4

2/1/

2005

2/4/

2005

2/7/

2005

2/10

/200

5

2/1/

2006

2/4/

2006

2/7/

2006

2/10

/200

6

2/1/

2007

2/4/

2007

2/7/

2007

2/10

/200

7

2/1/

2008

2/4/

2008

2/7/

2008

2/10

/200

8

2/1/

2009

Fonte: Banco Central do Brasil Gráfico 04 - Cotação dólar / real: 2004-2009

Em paralelo, também neste período, os custos diretos de produção sofreram

reajuste, principalmente por causa do óleo diesel que onera diretamente o custo da

logística. Além disso, foram registrados reajustes na tarifa de energia elétrica

(Quadro 08), salários e insumos. A soma desses fatores provocou na organização a

necessidade urgente de reformulação do negócio, pois não havia margem de lucro

que absorvesse tamanha variação.

Fonte: Dieese Quadro 08 - Variação anual das tarifas de energia elétrica: 1998-2006

Portanto, o aumento no custo da logística reflexo das sucessivas valorizações do

petróleo e seus derivados afetou todo sistema produtivo. Neste período, o barril do

petróleo oscilou, mas em média, manteve uma crescente que variou de U$ 40,00

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(quarenta dólares) a U$ 143,61(cento e quarenta e três dólares e sessenta e um

centavos), como pode ser observado no Gráfico 05. Só caindo no final de 2008,

quando o dólar havia recuperado seu valor no mercado devido a recente crise

financeira americana. Na empresa Alfa, os custos com logística de suprimento e

distribuição somam 44% (quarenta e quatro por cento) (Gráfico 06).

Fonte: Invertia.com Gráfico 05 – Variação do preço do Barril de Petról eo – 2004-2008.

Distribuição dos Custos Variáveis Unitários:Organização Alfa

Materia Prima27%

Logística de Suprimentos

31%

Logística de distribuição

13%

Impostos10%

Outros Custos19%

Fonte: Pesquisa Direta Gráfico 06 – Distribuição dos Custos Variáveis uni tários: Organização Alfa

Segundo informações dos gestores da Alfa, seus principais concorrentes na Líbia e

Madagascar praticam preços em média 20% (vinte por cento) menor. Mas, as

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características do seu produto alcançam um resultado melhor no produto final e por

isso seu negócio teve força para atravessar a fase adversa.

Desta forma, pode-se afirmar que os principais fatores que influenciam na

competitividade da organização Alfa são: a cotação da moeda americana em reais,

que sofreu redução de 48% (quarenta e oito por cento), os custos de logística que

representam algo em torno de 44% (quarenta e quatro por cento) dos custos

variáveis unitários e a qualidade do seu produto, que segundo os gestores

entrevistados foi o fator responsável para o sucesso nas negociações com seu

principal cliente.

4.2 AÇÕES ESTRATÉGIAS DA ORGANIZAÇÃO ALFA

No ano de 2004, segundo dados oficiais do Banco Central do Brasil, o dólar

valorizou 11% (onze por cento) até o mês de maio quando foi cotado à R$ 3,20 (três

reais e vinte centavos). Essa valorização acresceu os custos da organização que

não se reverteu durante a crise cambial que se iniciava, com exceção dos custos em

dólar de algumas despesas na logística de distribuição. A trajetória de queda no

valor do dólar se manteve até ser cotado a R$ 1,55 (um real e cinqüenta e cinco

centavos) em agosto de 2008.

Até maio de 2005, os gestores da organização não interferiram nas metas

operacionais, a oscilações nos volumes produzidos observadas no período, são

características do negócio e suas varáveis de suprimento de insumos por causa de

condições meteorológicas ou de logística, na época do escoamento da safra de

frutas no norte da Bahia, havia escassez de transporte para matéria-prima oriunda

daquela região.

Para compensar as perdas cambiais foi revista e analisada toda planilha de custos,

novas parcerias com fornecedores foram negociadas e um processo de otimização

nos custos levaram a redução dos primeiros impactos do câmbio. Paradoxalmente

neste período, alcançou o maior volume mensal produzido: 1.160 toneladas de

produto acabado (Gráfico 07). Até esta data, varias tentativas de renegociação

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haviam sido experimentadas, mas sem sucesso. Parte deste fracasso nas

negociações se deu porque os clientes estavam super-estocados e ainda se

acreditava na breve reversão do cenário.

Volumes Produzidos - Organização Alfa

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

jan/

04

abr/04

jul/0

4

out/04

jan/

05

abr/05

jul/0

5

out/05

jan/

06

abr/06

jul/0

6

out/06

jan/

07

abr/07

jul/0

7

out/07

jan/

08

abr/08

jul/0

8

out/08

Período

(t)

Período de redução estratégica dos volumes produzidosVolume Produzido

Volumes Produzidos - Organização Alfa

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

jan/

04

abr/04

jul/0

4

out/04

jan/

05

abr/05

jul/0

5

out/05

jan/

06

abr/06

jul/0

6

out/06

jan/

07

abr/07

jul/0

7

out/07

jan/

08

abr/08

jul/0

8

out/08

Período

(t)

Período de redução estratégica dos volumes produzidosVolume Produzido

Fonte: Pesquisa Direta Gráfico 07 – Volumes Produzidos: Organização Alfa

Mintzberg (2000) classificou como planejada, as estratégias que se originam em

planos formais; existem intenções precisas, formuladas e articuladas por uma

liderança central, apoiada por controles formais para garantir sua implementação.

Para repor as perdas cambiais no primeiro ano de baixa, maio de 2004 a maio 2005,

os gestores da Alfa analisaram seus custos e buscaram alternativas para reduzir os

efeitos da redução no faturamento em reais. Dessas medidas de correção de custos

pode-se destacar: o fechamento de um escritório no interior do estado da Bahia, que

se mostrava pouco produtivo e seu custo era expressivo; a redução das compras de

matéria-prima com origem em outros estados de 70% (setenta por cento) para 30%

(trinta por cento), promovendo uma importante redução no curto com transporte. Em

sintonia com as idéias de Ballou (2001), quando afirmam que um dos objetivos da

estratégia logística era a redução de custo, dirigida para minimizar os custos

variáveis associados à movimentação e à estocagem

Outra ação que se destaca é a punição com multas aos fornecedores que

entregavam materiais fora das especificações. Tal medida, praticamente anulou as

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perdas com o frete do material sem qualidade. Reduzindo os desperdícios de

defeitos que segundo Ferreira (2006) ocorre quando o produto não atende as

especificações contratadas, este item gera custos com retrabalho, recuperação ou

mesmo a perda total do esforço e material.

A centralização das informações provocou a identificação de diversas parcerias

prejudiciais ao negócio e todas essas foram extintas. Os custos com despacho

aduaneiro e serviços terceirizados de movimentação de contêiner foram reduzidos

através de renegociação. Mas o cenário negativo se mantinha e não havia

perspectivas de reversão como se acreditava no inicio.

Em maio de 2005, iniciou-se o processo de desabastecimento dos clientes (gráfico

06), isto só foi possível pelo diferencial do produto, a qualidade, sem similares no

mercado. Os diretores da organização Alfa sabiam que a necessidade do seu

produto pelo cliente aumentaria as chances de sucesso numa futura renegociação

dos preços. Paralelo a isso, buscava-se novos clientes, aproveitamento do resíduo e

a diversificação para atuar no mercado interno e depender menos das condições

cambiais.

Nesta época o quadro de funcionários foi reduzido em 30% (trinta por cento), os

materiais adquiridos também sofreram redução. Esta decisão provocou importante

impacto em toda cadeia de stakholders. Segundo informações obtidas através da

entrevista, foram retirados do negócio aproximadamente cinqüenta (50)

caminhoneiros e quatro (04) fornecedores de matéria-prima e também houve

redução expressiva na aquisição de materiais complementares e de uso e consumo.

No inicio de 2006, a Organização Alfa começou a exportar na moeda comum

européia para um novo cliente que utiliza o material em seu estado bruto. A

experiência com o contrato de preços fixos anterior levou a uma negociação

escalonada, que protegeria a Organização Alfa de grandes variações cambiais. A

relação com esse cliente evoluiu e hoje este representa mais de 20% (vinte por

cento) do faturamento, com melhores margens de rentabilidade e maior valor

agregado.

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Após um levantamento da situação de contrato com seu grande comprador, a

Organização Alfa exportou apenas o saldo contratado e o restante foi estocado na

organização até que fosse renegociado o preço final do produto. Este processo só

findou em maio de 2006, quando foram negociados preços escalonados

inversamente proporcionais às taxas de cambio aplicadas.

Um grande avanço ocorreu no aproveitamento do resíduo. O que antes

representava 22% (vinte e dois por cento) de desperdício da matéria-prima e custos

com estoque, embalagem e logística de descarte, hoje se transformou em receita

que cobre os custos de compra do material e desonera a organização dos custos de

logística, embalagem e frete que ficou por conta dos clientes. Estes produtos são

comercializados com as empresas dos seguimentos de argamassas, tapetes e

construção civil.

Volume de Resíduo comercializado (t)Organização Alfa

0

200

400

600

800

1000

1200

Ano 2004 Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008

Fonte: Pesquisa Direta Gráfico 08 – Volumes de resíduo comercializado: Org anização Alfa

Pode-se observar nos Gráficos 08 e 09, o crescimento do volume de

comercialização. Em 2004, foram negociadas apenas 120 toneladas do resíduo, 8%

(oito por cento) de todo volume gerado. Já em 2008, o resíduo comercializado

representou 94% (noventa e quatro por cento) do volume gerado ou 1.128

toneladas.

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Todo resíduo é comercializado à granel, que dispensa embalagem, e FOB10. Desta

forma, todo custo de embalagem e logística com o resíduo foi extinto e ainda há a

receita com as vendas.

Resíduo comercializado 2004-2008Organização Alfa (%)

0102030405060708090

100

Ano 2004 Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008

%

Fonte: Pesquisa Direta Gráfico 09 – Resíduo comercializado 2004-2008: Orga nização Alfa (%) O Gráfico 10 deixa claro o sucesso no aproveitamento dos resíduos pela empresa

pesquisada que reverteu o que representava um custo anual de aproximadamente

R$ 68.000,00 (sessenta e oito mil reais) em 2004, para uma situação de receita de

aproximadamente R$ 10.000,00 (dez mil reais) no ano de 2008.

Fonte: Pesquisa Direta Gráfico 10 –Comercialização dos resíduos – 2004-20 08

10 O termo FOB (Free on Board) significa que o comprador é responsável pela retirada das mercadorias nas dependências do fornecedor.

COMERCIALIZAÇÃO DOS RESÍDUOS 2004-2008ORGANIZAÇÃO ALFA

(80.000,00)

(70.000,00)

(60.000,00)

(50.000,00)

(40.000,00)

(30.000,00)

(20.000,00)

(10.000,00)

-

10.000,00

20.000,00

Ano 2004 Ano 2005 Ano 2006 Ano 2007 Ano 2008

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As organizações exportadoras atravessaram um período muito difícil por causa da

desvalorização do dólar. Cada uma buscou os caminhos adequados para amenizar

os efeitos da redução no faturamento em reais. Da mesma forma, outros setores

tiveram seus problemas e a eles reagiram em torno de um objetivo.

Este estudo é apenas uma pequena contribuição na promoção do debate deste

tema que é inesgotável. Novas pesquisas devem ser realizadas a fim de buscar

novos caminhos e definições.

Hoje, na Organização Alfa, a negociação com preços escalonados provocou maior

estabilidade aos negócios e até certo ponto, uma independência das variações

cambiais. O processo de negociação durou aproximadamente um ano. À primeira

vista, quando o cliente apresentava estoques elevados e não aceitava qualquer

alteração nos valores contratados causou a impressão que não havia poder de

barganha por parte da organização Alfa para pressioná-lo a ceder. Mas, de acordo

com o gestor entrevistado, havia realmente a expectativa que a situação fosse

passageira e, em contra-partida, o cliente oferecia adiantamentos, sem juros, como

uma manifestação de boa vontade na manutenção da parceria e entende a

concessão recebida pelo cliente X como uma demonstração de confiança e

credibilidade, coincidindo com a idéia de Freitas (1994) que afirmou sobre a

concessão não ser considerada sinal de fraqueza ou covardia.

Segundo Martinelli (1997), a barganha é muito questionada por alguns, que

defendem que não deva acontecer num processo de negociação. Talvez por isso, o

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entrevistado não admite que o poder de barganha fez a diferença nesse processo de

negociação.

Na verdade, segundo o gestor da Organização Alfa, no momento em que os

estoques do cliente X atingiram níveis críticos, já havia se passado 18 meses, tempo

suficiente para perceber que o processo de desvalorização da moeda poderia ser

irreversível. A partir daí buscou-se uma solução conjunta que resultou nos preços

escalonados onde quanto menor a cotação do dólar, maior o preço do produto.

Como bem afirmou Martinelli (1997), sobre a tendência atual de buscar

relacionamentos duradouros, que se mantenha ou evolua em novas negociações.

Por outro lado, a crise cambial e suas conseqüências na organização X,

desencadearam uma série de medidas com o objetivo de atravessar o período com

os menores impactos possíveis que não só conseguiu este objetivo inicial quanto

provocou a otimização dos processos e captação de novos clientes.

A etapa preliminar do processo de aperfeiçoamento dos processos foi a identificação

dos desperdícios, distinguidos e detalhados por Ohno (1997): superprodução,

espera, transporte, processamento, estoque, movimentos e defeitos. Destacaram-se

os ganhos na eliminação dos desperdícios em transporte: com a transferência de

maior parte do recebimento da matéria-prima para dentro do estado, reduzindo o

custo com o frete rodoviário; a construção de uma rampa de carga dos contêineres

na empresa dispensando a movimentação entre a empresa e armazém gerais

alfandegários e todas as despesas acessórias contratadas. Essas medidas

reduziram os impactos dos custos de logística para a organização. Afinal, como bem

disse Ballou (2001), a missão da logística é dispor a mercadoria ou o serviço certo,

no lugar certo, no tempo certo e nas condições desejadas, ao mesmo tempo em que

fornece a maior contribuição à empresa.

Destaca-se também, a redução no custo com as perdas e estoque do resíduo que

agora surge como uma nova alternativa de atuação no mercado interno e aumentou

significamente a competitividade da organização.

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A ampliação da carteira de clientes reduziu a dependência no cliente X e abre a

possibilidade de mudança e diversificação dentro da área de atuação, além de

possíveis conquistas em novos seguimentos à serem explorados. As vagas de

emprego que foram interrompidas em 2005 já foram preenchidas e a previsão é de

aumentar em 30% (trinta por cento) até o final do ano. Os resíduos negociados

foram de extrema importância para vencer os percalços de outrora e já existem

planos de beneficiamento para agregar valor e incrementar as receitas da

organização.

Por isso, ao analisar a Organização Alfa no período anterior à crise cambial e

compará-la com sua situação atual. Fica claro, o quanto a crise pode ser útil no

desenvolvimento de novas oportunidades e também no aprimoramento dos negócios

como um todo.

Assim, a hipótese apresentada nesta pesquisa se confirma, pois a base da

estratégia implantada na Organização Alfa teve o objetivo principal de reduzir os

custos operacionais e o foco na qualidade dos produtos, os quais serviram como

diferencial nas negociações e contribuíram para a conquista dos objetivos iniciais

que evoluíram ao decorrer do processo e resultaram no amadurecimento do negócio

com inúmeras possibilidades futuras.

É notória também a relevância do administrador no processo de formulação,

implantação e folow-up11 das estratégias organizacionais, as quais são capazes de

reverter à situação adversa em oportunidade de aperfeiçoamento e crescimento, não

só para organização mais também para seus parceiros e a sociedade.

11 Acompanhamento, monitoramento.

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APÊNDICE A – Entrevista com os gestores da Organiza ção Alfa

Como a política cambial interfere no seu negócio?

A Organização Alfa é predominantemente exportadora. Mais de 98% (noventa e oito

por cento) de sua produção é destinada a exportação. Portanto, nosso faturamento é

em moeda estrangeira. Quando há uma desvalorização da moeda estrangeira,

recebemos menos pelo produto. No comércio exterior não existe reajustes regulares

de preço e a negociação é quase sempre feita a longo prazo, sob contratos de

fornecimento e acordos que protegem ambas as partes de mudanças bruscas

durante o exercício do certame.

Como se não bastasse, nossos custos são em real e não pararam de crescer ao

longo da história. Somando as duas situações, aumento dos custos e redução do

faturamento temos então uma situação que poderia inviabilizar o negócio.

No ano de 2004, o dólar caiu cerca de 13% (treze por cento) enquanto os custos

aumentaram 21% (vinte e um por cento) somando uma perda de mais de 30% (trinta

por cento). Não havia margem para suportar tal variação.

Em que momento você teve consciência que estava dia nte de uma situação de

crise? Como se deu este processo.

Inicialmente acreditávamos que seria uma coisa passageira, breve, que logo depois

o câmbio recuperava seu valor e tudo se normalizaria. No primeiro semestre de 2004

o dólar chegou a R$ 3,10. Esse pico refletiu no preço do petróleo que por sua vez

reajustou o diesel e aumentaram os custos com fretes dos insumos e boa parte dos

materiais auxiliares.

No segundo semestre de 2004 começou a queda do dólar. Havia um pensamento

quase generalizado que esta seria uma situação passageira. Os custos que

recentemente haviam sido reajustados se mantiveram e nosso faturamento se

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51

encolhendo. Até o inicio de 2005, nós aguardamos a retomada da cotação da moeda

americana, que não acontecia, até que ultrapassasse a barreira psicológica de R$

2,70 (dois reais e setenta centavos) por dólar. Neste momento tomamos a

consciência que haviam se instalado uma crise e precisaríamos reagir.

Qual a estratégia implantada pela empresa naquele m omento?

Imediatamente paramos a produção, os funcionários entraram de férias e

começamos as negociações para um reajuste no preço em dólar, para compensar

as perdas cambiais. Mas não conseguimos sucesso, pois para o cliente nada havia

mudado. Depois fizemos uma análise interna e cortamos todas as gorduras

possíveis para reduzir os efeitos.

A médio prazo, analisamos as situações dos contratos e percebemos que havíamos

entregado ao longo de 2004, uma quantidade maior de material que o mínimo

mensal contratado. Nosso cliente estava super-estocado e isso reduziu seu

interesse em solucionar a questão. Para ele, até seus estoque baixarem a situação

havia se normalizado. Com essas informações, mais o fato de estar operando em

prejuízo, reduzimos nosso volume para atender somente o mínimo contratado e

negociamos a todo tempo com o nosso cliente a possibilidade de reajustar o preço.

Você afirmou que cortou gorduras para reduzir os cu stos. Essa redução foi

significativa? Se não houvesse a crise cambial, voc ê faria a mesma análise?

Essa pergunta é muito interessante!

Na rotina que nos encontrávamos, provavelmente continuaríamos com os custos

altíssimos por um bom tempo. A necessidade de sobreviver à crise nos fez olhar

para dentro da empresa. A redução da rentabilidade foi bastante significativa e nos

ajudou a enxugar os custos operacionais e prorrogar as incertezas daquele

momento.

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O desabastecimento do cliente te ajudou como havia planejado?

Sim, depois de seis meses, a necessidade de insumos em curto prazo pressionou o

cliente ceder na negociação de preços e possibilitou a retomada da produção.

A nível operacional, o que mudou?

Reduzimos o volume produzido para 30% (trinta por cento) da nossa capacidade,

neste período antecipamos a programação de mudanças e intervenção na planta.

Conseguimos captar um novo cliente de outro seguimento e começamos a atender

suas demandas. A falta de perspectivas inicial provocou a redução do quadro de

funcionários. Mas, foi reposto em abril de 2005.

Uma das soluções para redução de custos foi alterar comercializar os resíduos

gerados na produção. Tínhamos um aproveitamento de 78% (setenta e oito por

cento) da matéria-prima e o restante era descartado com despesa de embalagem e

frete. Hoje comercializamos praticamente todo resíduo gerado e conseguimos

reverter os custos e despesas em uma pequena receita que tende a aumentar com

alguns investimentos no beneficiamento destes resíduos.

Que lições você tirou deste período?

Aprendi a olhar para dentro da organização. Fiquei surpreso com a quantidade de

recursos que poderia ser economizado e algumas parceria que não valiam à pena.

A diversificação do negócio e investimentos em flexibilidade da linha de produção

também foi marcante. Quando precisamos mudar nosso produto para reduzir os

custos, esbarramos no sistema inflexível que havíamos implantados. Nos novos

investimentos buscamos uma linha de produção mais maleável que permitirá no

futuro atender produtos diferentes com menor tempo e custo de setup.

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Como se deu a negociação de preço?

Concordamos em formular uma tabela de preços escalonada, baseada na cotação

do dólar a cada embarque. Desta forma a empresa Alfa perdia menos em grandes

baixas do dólar e o cliente economizaria em eventual alta desta moeda.

Recentemente, com a crise americana, o dólar reagiu e valorizou a níveis que

há muito tempo não se pensava. Mas já apresenta sin ais de nova fase de baixa.

Como a organização Alfa enfrentou este período e o que está planejado para o

futuro?

Como já foi mencionado, negociamos de tal forma que nossos preços variam de

acordo com a cotação de cada remessa. Desta forma estamos preparados para

trabalhar até uma cotação mínima de R$ 1,60 (um real e sessenta centavos) por

dólar. Qualquer cotação inferior a esta faixa vai requerer nova negociação.

Para o futuro há uma perspectiva de criar uma nova linha de produção que será

destinada ao novo seguimento que atendemos e também estamos desenvolvendo

novos mercados para nossos produtos.

Muitas empresas exportadoras não sobreviveram o per íodo de baixa, a que

você atribui o sucesso da organização Alfa?

Nossa posição no mercado é realmente privilegiada, quase não temos concorrentes

no mundo e somos o líder em qualidade. Em se tratando de Brasil, temos um

diferencial que está no cumprimento religioso do contrato com o cliente. Infelizmente

esta atitude é considerada um diferencial no seguimento de mineração em nosso

País.

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APÊNDICE B – Autorização Para Divulgação

BIBLIOTECA BASÍLIO CATALÁ CASTRO

AUTORIZAÇÃO Eu, Fábio Franklin Carneiro da Silva, CI nº. 3799578-98, SSP/BA, autorizo a Faculdade 2 de Julho a utilizar minha monografia de Conclusão de Curso no seu Site e na sua Biblioteca – disponibilizando fotocópia para seus usuários.

Salvador, 29 de junho de 2009

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