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    Com efeito, este tipo de pases conhece, a par de algumas

    cidades cujo grau de progresso se poder comparar ao dos cen-

    tros urbanos de qualquer pas de mais alto nvel de desenvolvi-

    mento econmico, vastas regies onde as condies de vida so

    muito primitivas e onde o progresso no chega a penetrar, tama-

    nhas so as barreiras que isolam tais regies dos restantes cen-

    tros de desenvolvimento.

    Em todos os pases da frica, sobressaem cidades como

    Elizabethvitte, Accra, Leopoldville, de nvel de vida comparvel

    ao das principais capitais da Europa; e todavia as restantes zonas

    desses pases continuam a braos com problemas econmicos de

    base, problemas de subsistncia e expanso.

    Mesmo na Europa no podem esquecer-se situaes como as

    da Itlia dividida em duas zonas, norte e sul (incluindo esta as

    ilhas Sardenha e Siclia), uma rica e outra pauprrima.

    Finalmente, um so realismo leva-nos a olhar para o nosso

    prprio pas e a reparar no mesmo fenmeno: no continente, a

    par de dois grandes plosLisboa e Po rto a que eventual-

    mente se podem associar aiguns outros centros urbanos, vastas

    regies onde a populao vive em condies muito primitivas e

    onde os esforos de progresso em curso no conseguem deixar

    marca aprecivel.

    As causas de atraso de algumas regies em relao ao con-

    junto so mltiplas, podendo distinguir-se, entre elas, razes de

    ordem geogrfica, econmica, histrica e scio-cultural e psi-

    colgica.

    A

    azes

    de ordem geogrfica

    H regies mais e menos dotadas do ponto de vista de re-

    cursos naturais, dependendo esteis, por sua vez, do solo, do clima,

    da situao geogrfica, etc.

    Este conjunto de factores impressionou sempre os economis-

    tas a ponto de, ainda em poca que no vai longe, quase se acei-

    tar, como uma faitalidfade, os condicionalismos de ordem geogr-

    fica. Hoje, pelo contrrio, conhecem-se tcnicas apropriadas para

    os corrigir ou pelo menos para contrabalanar os seus efeitos.

    B

    Razes de ordem econmica

    As regies atrasadas vivem, em regra, segundo um esquema

    de economia de autoconsumo que no favorece, antes entrava, o

    desenvolvimento econmico. Por outro lado, a exiguidade de ca-

    pitais,

    a falta de instruo e qualificao profissional das suas

    populaes, a ignorncia em relao s tcnicas mais produtivas,

    a falta de poder de compra interno, etc. somam um conjunto de

    razes que constituem outros tantos entraves ao desenvolvimento

    SS 9

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    C

    Razes deordem histrica escio-cultural

    Pesam igualmente em sentido desfavorvel ao desenvolvi-

    mento certos condicionalismos de carcter histrico ou scio-cul-

    tural. Entre estes, cabe mencionar preconceitos contra a tcnica

    e o progresso (obra demonaca, pensa-se em certos meios fecha-

    dos), fuga das classes mais abas tadas das actividades indus triais

    e comerciais (que se consideram indignas e desprestigiantes), sis-

    tema feudal, estrutura familiar vincadamente patriarcal, regime

    de propriedade latifundiria ou minifundiria, preconceitos rela-

    tivos transmisso da propriedade da terra, etc.

    D azes

    de ordem psicolgica

    Mencionamos em ltimo lugar um tipo de factores que, decerto modo, resume e condensa os restantes

    a atitude mental

    da populao em face do progresso.

    A populao quer ou no progredir? Acredita, duvida ou

    nega a possibilidade de uma situao melhor? Est convencida

    de que o desenvoOvimento pode ser obra sua ou tudo espera da

    autoridade

    Acontece que nas regies atrasadas, regra geral, as popula-

    es vivem fechadas sobre si mesmas e isoladas (de facto por

    fata de meios de comunicao ou pelo menos psicologicamente

    por falta de dilogo e de comunicao entre as classes de dife-

    rente nvel de vida). E, assim sendo, nem sempre so penetrveis

    pelo sopro de progresso que anima as restantes populaes.

    As razes apontadas explicam sumariamente uma situao

    de atraso econmico-social; abrem tambm caminho compreen-

    so de que uma populao atrasada entregue a si mesma no s

    no tem possibilidades de progredir como est fortemente amea-

    ada de retrocesso. As causas anteriormente apontadas so, com

    efeito, factores de agravamento da situao porquanto geram

    novas situaes ainda mais fortemente contraditrias do desen-

    volvimento.

    Como consequncia

    a m enos que intervenha um factor

    externo a desiigualdade entre as regies mais evoludas e as

    mais atrasadas tender a agravar-se. Semelhante situao no

    s se reflecte sobre as regies menos evoludas votadas estag-

    nao e retrocesso como j dissemos como tem repercusso nas

    regies desenvolvidas, constituindo, a longo prazo, um obstculo

    sua expanso. Isto por mltiplas razes que podemos condensar

    nas seguinte:

    Um desnivelamento muito acentuado de condies de vida

    provoca inevitavelmente migraes macias dos centros

    5IfO

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    menos desenvolvido para os mais evoludos. O xodo ru-

    ral que assim se acelera s excepcionalmente poder vir

    a ser absorvido pelo ritmo da expanso dos centros urba-

    nos;

    mais provavelmente se constituir um volume de de-semprego que, por seu turno, far presso no sentido do

    baixo nvel geral de salrios alm de que, por si s, consti-

    tui factor de instabilidade social e descontentamento.

    A necessidade de amplo mercado, tpica de todos os pro-

    cessos de expanso, tambm prejudicada pela failta de

    poder de compra das extensas camadas da populao das

    zonas subdesenvolvidas.

    O baixo grau de instruo e qualificao das populaes

    mais subdesenvolvidas vir a ameaar, a longo prazo, a

    expanso da indstria quando esta necessitar de pessoal

    qualificado e especializado, bem como de quadros dirigen-

    tes e no encontrar onde (fazer o seu recrutamento.

    Por ltimo, a ex istncia nas grandes cidades de massas

    humanas desaidaptadas, sem trabailho, sem cuiltura, sem

    rendimento adequado constitui, alm de um encargo one-

    roso para a Assistncia Pblica uma ameaa constante e

    sria para a estabilidade e a paz social interna, de que

    no pode abstrair-se.

    A enumerato destes factores e a referncia situao do

    subdesenvolvimento nos termos em que o fizemos no se propeter cunho de uma anlise desenvolvida; visa, to-somente, mos-

    trar a relevncia do problema em geral, a oportunidade de se

    reflectir sobre ele, relativamente ao caso portugus e, bem assim,

    abre caminho ao reconhecimento da necessidade de um processo

    de expanso que seja verdadeiramen te eficaz na promoo do bem-

    -estar individual e colectivo nas reas mais desfavorecidas. sobre

    este ltimo assunto que faremos algumas consideraes nas p-

    ginas seguintes.

    2.

    Insuficincia d as medidas exclusivamente econmicas

    A situao atrs descrita torna clara a necessidade de uma

    aco concertada em ordem acelerao do crescimento econmico

    das zonas subdesenvoVidas e sugere que tal aco tem de partir

    de um estmulo exterior, j que, nesse tipo de colectividades, a

    situao no de molde a, por si s, espontaneamente fazer surgir

    um processo acelerado de desenvolvimento.

    Este fenmeno passou despercebido teoria clssica do de-

    senvolvimento. Para esta, a poltica de desenvolvimento equacio-

    nava-se em termos puramente econmicos: investimento e pro-

    cura. Mais tarde, a noo de plano econmico como tcnica de

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    ordenao funcional dos recursos potenciais existentes s necessi-

    dades assumiu aquele esquema de desenvolvimento e limitou-se,

    por seu turno, a prever fontes de investimentos e a criar merca-

    cados. Este esquema, que se mostrou vlido para a acelerao do

    ritmo de expanso de economias j evoludas, revelou-se, porm,

    inteiramente inoperante e mesmo contraditrio para os casos

    e

    grande atraso sob o ponto de vista cultural, econmico e social.

    As experincias feitas demonstram, mais inequivocamente do

    que todas as argumentaes, que o desenvolvimento das regies

    muito atrasadas no mera questo de novo equipamento, novas

    indstrias, habitaes mais confortveis, escolas novas, melhores

    estradas ou transportes. Ainda que fosse possvel obter todo este

    conjunto de infraestruturas e estruturas para todas as colectivi-

    dadeso que certamente no acontecer dada a escassez de

    meios que carateriza essas economias ta is melhoramentos depouco serviriam ao desenvolvimento se a populao, que se supe

    vir a beneficiar deles, no sofresse, concomitantemente, uma trans-

    formao de mentalidade profunda.

    O desenvolvimento no um fenmeno meramente quanti-

    tativo, uma questo de mais ter; , igualmente, um fenmeno

    qualitativo deve traduzir-se, portanto, por

    mais ser

    ou

    me-

    lhor ser (expresses do P.

    e

    Lebret e do Crculo de Economie

    et Humanisme .

    S um processo que mergulhe as suas razes na

    mentalidade da populao e seja capaz de operar nela uma trans-

    formao suficientemente profunda ter garantia de ser eficaz e

    de ter continuidade.

    O facto de blocos habitacionais confortveis e limpos ficarem

    desertos por fadta de moradores que entretanto se acomodam em

    buracos ou bairros de lata (ex. da Itlia meridional, do Marrocos

    francs, etc) um exempJo, entre muitos, da carncia de eficcia

    de medidas que no foram acompanhadas por um esforo paralelo

    da educao (tome-se a expresso no seu sentido lato, de trans-

    formao de atitude em face da vida).

    Por outro lado, reconhece-se hoje que no pode dispensar-se

    o concurso das populaes para o seu prprio desenvolvimento

    em virtude da exiguidiade dos recursos em relao s necessidades

    gerais que h para satisfazer. Nunca um plano, por maisi ambi-

    cioso que seja e por mais amplos que sejam os recursos de que

    disponha, poder prever e dar satisfao a todas as situaes

    particulares a que, alis, s os prprios muitas vezes so sens-

    veis. Daqui, uma nova razo justificativa da importncia das tc-

    nicas capazes de dinamizar as populaes, de as tornar cons-

    cientes da s su as necessidades e recursosi potenciais e de a s hab ilitar

    a unir os seus esforos num procesiso comum de satisfao das

    suas prprias necessidades. Com esite objectivo tm vindo a expe-

    rimentar-se algumas tcnicas que se inspiram fundamentalmente

    542

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    nos conhecimentos da moderna psicologia, educao de base, ser-

    vio social de grupo e de comunidade, etc.

    Estas tcnicas no vm disipensar a resoluo dos problemas

    econmicos de base a que tm de fazer face as economias subevo-ludas, mas vm preparar as populaes para desejar o desenvol-

    vimento, assimil-lo sem desajustamentos excessivamente graves

    e torn-lo possvel e duradouro.

    O desenvolvimento comunitrio situa-se no tipo de tcnicas

    atrs referido; conquanto venha a ser praticado de h muito de

    forma emprica, a sua formulao cientfica relativamente re-

    cente. Trata-se de uma conjugao de dois tipos de contributos

    ao desenvolvimento: os especficos da anlise econmica e os das

    tcnicas psicolgicas. Nisto consiste a sua originalidade

    1

    .

    3 .

    O desenvolvimento comunitrio no quadro das tcnicas de ace-

    lerao do crescimento econmico das regies-problema

    No repetiremos aqui o que em outro trabalho tivemos oca-

    sio de escrever sobre a noo de desenvolvimento comunitrio,

    seus princpios fundamentais e caractersticas mais relevantes.

    Limitamo-nos a recordar a definio adoptada pelas Naes Uni-

    das e hoje aceite comummente como ponto de partida.

    O termo desenvolvimento comunitrio entrou na linguagem

    internacional para designar o conjunto dos processos pelos quais

    uma populao une os senis esforos aos dos poderes pblicos como fim de melhorar a sua situao econmica, cultural e social e

    bem assim integrar-se na vida da nao e contribuir para o pro-

    gresso nacional geral.

    No se ignara que nesta definio se contm elementos con-

    traditrios. Que a populao voluntariamente se associe e coopere

    para alcanar um nvel de vida superior afigura-se desde logo

    um objectivo de consecuo certamente difcil mas talvez possvel.

    Mas como conseguir incutir nos governos o sentido dos inte-

    resses particulares das diferentes comunidades? Como despertar

    nestas a necessidade de equacionar os seus problemas especficos

    em termo s de unidades regionais cada vez m ais vas tas e bem assim

    incutir-lhes o sentido do esforo comum com vista ao progresso

    nacional gerai? Esta uma meta que no se v facilmente como

    conseguir. A dificuldade real e d a alguns margem para duvi-

    dar do xito do desenvolvimento comunitrio, receando que ele se

    torne um processo demasiadamente longo, quando no puramente

    utpico.

    i Para maior conhecimento da tcnica de desenvolvimento comunit-

    rio, veja-se M. M.

    SILVA,

    Desenvolvimento comunitrio uma tcnica de

    progresso social, A. I. P., Lisboa^ 1961. Neste livro inclui-se uma referncia

    bibliogrfica especializada por temas que poder ajudar o leitor a iniciar-se

    na literatura produzida sobre o desenvolvimento comunitrio.

    Jf

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    Os factos, porm, demonstram que, ao contrario, possvel

    superar a aparente antinomia de interesses entre os governos cen-

    trais e as popullaes locais justamente atravSf da tcnica do

    desenvolvimento comunitrio.

    Quanto possvel lentido do processohaja em vista que

    ele repousa numa base psicolgica e est sujeito, portanto, ao

    ritmo prprio da evoluo dasi pessoas e dos grupo humanos

    h que responder que, numa perspectiva de longo prazo, esta pos-

    svel lentido d o arranqu e inteiramente compensada porquanto

    o desenvolvimento comunitrio introduz na colectividade um ele-

    mento dinmico que, a partir de certa aJtuira, capaz de s por

    si acelerar e dar continuidade ao processo de expanso.

    Em favor do desenvolvimento comunitrio diz-se ainda que,

    se o desenvolvimento opera sempre uma transform ao profunda

    dos indivduos e dos grupos humanos, devem ser estes os autores

    dessa transformaotomando conscincia dela, escolhendo-a,

    assumindo-a, realizando-a, que o mesmo dzer que o desenvolvi-

    mento deve processar-se por iniciativa, com a participao e sob

    a responsabilidade daqueles a quem vai beneficiar, como da

    ndole do desenvolvimento comunitrio.

    Tocamos aqui mm ponto importante o qual o da relao

    entre a iniciativa dos indivdiuosi e a dos governos em matria de

    desenvolvimento.

    Numa planificao central de tipo autoritrio, toda a inicia-

    tiva do desenvolvimento parte do Estado, sendo o governo central

    responsvel pelia concepo, execuo e reviso do plano. Mesmo

    nos casoshoje consentes da planificao em sistemas no

    totalitrios, o plano no perde esta caracterstica de instrumento

    da poltica econmica centrai, elaborado e conduzido segundo a

    responsabilidade da Administrao Pblica.

    O desenvolvimento comunitrio, ao contrrio, parte da base,

    das necessidades sentidas pela populao e sobre elas constri o

    plano de aco contando, desde o comeo, com a iniciativa, a res-

    ponsabilidade e liberdade de escolha por parte dos interessados.

    Seria errado deduzir daqui que o desenvolvimento comuni-

    trio uma soluo em si mesma completa para o problema do

    desenvolvimento das reas atrasadas, dispensando outras formas

    de actuao. Mas inegvel que ele vem preencher uma lacuna

    manifesta nas polticas tradicionaisa qual a falta de

    integrao do povo no processo de desenvolvimento. Atravs

    de uma identificao psicolgica entre a populao e o plano,

    de uma mobilizao geral dos recursos potenciais existentes

    ao nvel da colectividade, o desenvolvimente comunitrio opera

    transformaes substanciais no modo de viver dos povo e pre-

    para uma mentailMade nova favorvel ao progresso, capaz de o

    assimilar e ap ta cooperaa Todavia,, esta tcnica no serve para

    5U

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    cobrir as necessidades de base a todo o processo de desenvolvi-

    mento, tais como reformas do regime de propriedade, alarga-

    mento e aperfeioamento da rede geral de comunicaes no Pas,

    extenso e aperfeioamento do sistema de crdito, incremento da

    investigao, instalao das grandes indstrias, centrais elctri-

    cas, obras de irrigao, etc.

    Do que fica exposto, pode afirmar-se que a soluo ideal

    para a acelerao do procesiso de desenvolvimento das regies

    atrasadas a que permite combinar as vantagens de uma progra-

    mao global com os benefcios de uima participao voluntria

    do povo no progresso, isto , a conjugao do plano central que

    define as grandes dinhas da poltica de fomento com o desenvovi-

    mento comunitrio.

    Podem existir experincias de desenvolvimento comunitrio

    aqui e alm sem um apoio directo dos governos centrais ou regio-

    nais;

    toavia, tais experincias ficaro isempre limitadas na sua

    dimenso se no for possvel, a certa altura, contar com o apoio

    tcnico e financeiro exterior colectividade local, j aue a

    prpria evoluo do processo de desenvolvimento comunitrio

    conduzir a populao a empreendimentos cada vez mais amplos

    que transcendero, portanto, a capacidade humana, financeira e

    tcnica locais.

    Corre-se ento o risco de estar a desencadear foras que,

    posteriormente, no encontraro aplicao racional e ordenada ao

    bem comum e viro possivelmente a dar origem a estados de

    insatisfao piores do que a situao inicial de subdesenvolvi-

    mento.

    Tambm pode acontecer e os tcnico devem conduzir a sua

    aco nesse sentido que o dinamismo interno criado nas peque-

    nas colectividades seja por si um factor que obrigue a romper as

    estruturas administrativas anquilosadas e retire dos servios

    pblicos ou privados existentes um rendimento e eficincia supe-

    riores aos tradicionais; operar-se-, assim, nessas estruturas, oima

    reforma a partir de dentro, cujos resultados benficos no conjunto

    da vida econmico-sociail de um pas tero de tornar-se sensveis.

    II FA SE S DE UM PLANO DE DESENVOLVIMENTO

    COMUNITRIO

    1. Da situao inicial ao enquadramen to regional e nacional

    Dissemos anteriormente que no desenvolvimento comunitrio

    existem dois objectivos que sao contraditrios, ao menos aparen-

    temente; por um lado, o apelo inicitiva local e a convergncia

    de esforos para a soluo dos problemas de colectividade , por

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    outro,

    a

    integrao

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    A justificao de uma enumerao distinta das cinco fases

    do desenvovimento comunitrio reside antes de mais numa exi-

    gncia de anlise

    s

    diferenciando-as temos possibilidades de

    um entendimento mais profundo do que se pretende com cada uma

    e, em segundo lugar, no facto de a ateno a da r a cada umdos aspectos mencionados se concentrar particailarmente num ou

    outro,

    segundo a escalonao feita.

    tendo presente esta observao que passamos anlise de

    cada uma das fases atrs enumeradas.

    2. Primeira fase Informao geral e dinamizao da colectivi-

    dade

    O desenvolvimento comunitrio pode ser desencadeado por

    diferentes entidades: uma pessoa qualquer da regio, um lder for-

    mal, um rgo da administrao, uma associao de carcter so-

    cial, cultural ou humanitrio, uma equipa de tcnicos, um centro

    de investigao, etc.

    3

    .

    Seja como for, h sempre um momento de arranque depen-

    dente da iniciativa de algum ou de alguma entidade. O primeiro

    passo a dar na colectividade que se pretende desenvo'ver consiste

    em transmitir-lhe a ideia do desenvolvimento comunitrioa ne-

    cessidade de participao de todosi em ordem consecuo do

    melhor nvel dje vida. Por outras palavras, necessrio informar

    a colectividade sobre as possibilidades que o desenvolvimento

    comunitrio lhe poder trazer.

    O tipo de informao a tran sm itir varia muito com a situao

    concreta em que se encontra a colectividade e bem assim com a

    relao que a entidade responsvel pelo arranque tem com essa

    colectividade.

    Se estamos em face de uma popuJaao que j possui um desejo

    latente de progredir, a informao incidir sobretudo nas alter-

    nativas possveis para um desenvolvimento efectivo.

    Se estamos perante uma situao de absoluta indiferena,

    passividade ou mesmo cepticismo quanto possibilidade de uma

    transformao de vida ,(o que ser a situao mais) frequente),

    a informao procurar a ntes de mais despertar a iniciativa; criar

    o gosto por novas condies de vida, mostrando paralelamente

    como estas podero tornar-se reais.

    3 H exemplos concretos de cada caso. No pequeno traballho M. M.

    SILVA

    Experincias de desenvolvimento de re as rura is atrazadas Ind stria

    Portuguesa,

    n> 406, Dezembro 1961, encontram-se descritas experincias

    dos seguintes tipos: iniciativa governamental (Ghana); iniciativa de uma

    autoridade local (Aspre); iniciativas de uma entidade particular estranha

    colectividade (a Shell italiana em Borgo-a-Mozzano); iniciativa governa-

    mental e de uma agncia internacional (a Sardenha, com o apoio da

    C C . D .

    E .) .

    5J

    f

    7

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    No que diz respeito ao agente responsvel pelo arranque do

    processo de desenvolvimento, a informao destinar-se- principal-

    mente a tornar claros os intuitos que o animam a assumir tal

    responsabilidade e as condies em que dar a sua colaborao.

    Sobretudo qoiando se trata de agentes desconhecidos da colecti-

    vidade esta informao extremamente importante e pode levar

    muito tempo.

    A populao tem os seus esquemas apriorsticos segundo os

    quais estabelece os seus juzos quer sobre o projecto quer sobre

    os agentes que o animam. S excepcionalmente os seus primeiros

    juzos so correctos; da a importncia de que a informao inicial

    v ao encontro djesses esquemas, procurando criar uma noo de

    base certaeste o primeiro objectivo dia informaocriar

    uma atitude certa em relao ao projecto, em relao s pessoas

    que o desencadeiam, e aos mbeis por que o fazem, Oque pode-

    remos chamar uma fase de pr-informao que deve atingir toda

    a populao da colectividade:

    homens e mulheres, rapazes, e ra-

    parigas, sector industria; , agrcola, comercial e servios, as auto-

    ridades formais e informais, religiosas e civis, o pessoal -dia admi-

    nistrao, etc.

    O segundo objectivo da informao provocar uma reaco

    favorvel ao desenvolvimento por parte da populao'. Importa

    levar a populao a quererprogredir, a acreditar na possibilidade

    de progresso, a comprometer-se no seu prprio processo de desen-

    volvimento. A pr-informao opera portanto desde logo uma di-

    namizao da colectividade e cria o clima psicolgico necessriopara o xito de qualquer poltica concreta posterior.

    A importncia da pr-informao no processo leva-nos a abor-

    dar uma questo bem concreta: como fazer a pr-informao?

    Todos os meios de informao existentes so em princpio

    bons:

    a rdio, a televiso, os jornais, as reunies

    ad hoc,

    etc. To-

    davia, importa saber quais desses meios tm real penetrao na

    colectividade e em que grau so assimilados; analogamente, h

    que descobrir os canais especficos de comunicao local (o adro

    da igreja, o lavadouro pblico, a taberna, etc.) e us-los com efi-

    cincia. No de desprezar, por outro lado, a comunicao atra-

    vs das pessoas de prestgio local. A estas convm dar uma in-

    formao mais ampla e antecipada de sorte que elas possam

    comp

    1

    etar e, eventualmente, corrigir erros de interpretao de

    informaes dadas s massais.

    Em qualqjuer caso, convir usar diferentes meios, visto estar

    provado que os indivduos so desigualmente sensveis a um e

    outro meio de comunicao.

    Entre os meios de informao colectiva, as reunies de massa

    constituem um meio de comunicao muito oportuno, porquanto

    so particularmente favorveis criao de uma conscincia e

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    responsabilidade comuns indispensveis continuidade do pro-

    cesso;

    estas assembleias, contudo, devem ser sempre acompanha-

    das de discusso posterior em pequenos grupos. Com efeito, as

    pessoas entendem sempre coisas diferentes diaqsuelas que realmente

    so ditas, j porque filtram o que ouvem atravs dos seus inte-

    resses prprios, j por erros de interpretao de certas expresses

    ou imagens ou, mesmo por incapacidade de seguir um certo

    tipo de raciocnio diferente do seu. O agente de desenvolvimento

    tem de contar com este facto como um dado e por isso procurar,

    atravs da discusso, esclarecer os pontos obscuros ou desfazer

    as confuses que se criaram. O ideal ser que terminada a expo-

    sio cada um possa ter oportunidade de trocar ideias no seu

    crculo de amigos ou em famlia,, estando desde logo prevista a

    possibilidade de novo encontro para discusso de pontos concre-

    tos.

    A discusso imediatamente a seguir a

    /

    uma exposio rara-

    mente fecunda, sobretudo quando se trata de meios intelectual-

    mente pouco evoludos.

    A demonstrao outra tcnica de informao particular-

    mente eficaz em relao aos indivdiuos pouco evoludos. Mais do

    que em discursos, o rural acredita naquilo que v. No s as ex-

    perincias so para ele de mais fcil assimilao como tambm

    mais poderosas no que diz respeito s resistncias que o rural tem

    de vencer para se lanar em novos caminhos sejam os de novas

    produes ou tcnicas agrcolas, sejam os de novas condies para

    a sua habitao ou outros. A demonstrao, ao mesmo tempo que

    serve de meio de comunicao de uma ideia, um instrumento

    de convico mormente quando os prprios interessados so asso-

    ciados experincia e eles mesmos tm ocasio de nela actuarem.

    A primeira fasea pr-informaopode considerar-se

    terminada quando a populao comea a compreender o desenvol-

    vimento comunitrio e apresenta sinais de querer dar incio a um

    ou outro projecto concreto. Nesse momento (que a actuao dos

    tcnicos visa fazer surgir o mais rapidamente possvel), e s en-

    to, se deve comear com algum projecto concreto.

    A informao no cessa; em todas as etapas, ela necessria,

    designadamente antes de cada nova iniciativa. O que dissemos

    quanto a tcnicas vlidas para a pr-informao tem inteiro ca-

    bimento no que se refere informao, em geral.

    3.

    Segunda fas e: Prospeco das necessidades e recursos potenciais

    Todo o esforo ordenado ao desenvolvimento tem de basear-se

    numa gama de conhecimentos,, to completa e exacta quanto pos-

    svel, acerca da situao em caoisa no duplo aspecto: necessidades

    e recursos existentes e potenciais.

    O desenvolvimento comunitrio no ctispensa este conheci-

  • 7/26/2019 FASES DE UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITARIO.pdf

    13/21

    mento, podendo dizer-se que uma das fases do processo justa-

    mente a investigao feita com vista recolha de dados inerentes

    situao que se vai fazer evoluir.

    Esta investigao deve ser feita simultaneamente pelos tcni-

    cos que intervm no plano e pela prpria populao.

    A prospeco das necessidades feita pela populao tem como

    fim primrio no tanto a recolha dos dados (que tcnicas adequa-

    das permitiriam conhecer eventualmente com maior rigor), mas

    sobretudo a tomada de conscincia da situao presente de uma

    dada colectividade e a sua dinamizao em ordem a tomar parte

    activa no processo de desenvolvimento.

    Est, com efeito, provado que, se um grupo ou uma colecti-

    vidade reflecte em conjunto sobre as suas necessidades e recursos

    potenciais, esta reflexo constitui, por si s, um factor de dina-

    mizao. s pessoas que se envolvem na discusso sentem-se com-

    prometidas a fazer alguma coisa. Por exemplo,, se num grupo se

    discute a necessidade de uma estraica e, a certa altura, se verifica

    que ela vai passar por determinada propriedade de um do pre-

    sentes, este no oferecer to grande resistncia em ceder parte

    do seu terreno como porventura sucederia se esta hiptese lhe

    tivesse sido apresentada fora do grupo de discusso. Pelo contr-

    rio, ele prprio empenhado pessoalmente perante o grupo no xito

    do projecto procurar oferecer o maior nmero de facilidades

    possveis.

    A prospeco feita pela populao tem ainda duas outras

    vantagens: primeiro, permite identificar as necessidades sentidas,

    isto , aquelas que a populao reconhece como taisi; segundo,

    proporciona a transmisso de um conjunto de conhecimentos

    muito apreciveis. A identificao dia necessidades sentidas

    muito importante, quer do ponto de vista de uma actuao ime-

    diata quer como base de reflexo das medidas adequadas para

    fazer evoluir essas mesmas necessidades.

    Quanto informao que possvel transmitir ao mesmo

    tempo que se processa a auto-prospeco de necessidades e re-

    cursos feita pela colectividade, importa esclarecer que aquela tem

    de ser feita com a colaborao de tcnicos competentes. Isto d

    margem a muitas explicaes necessrias, apresentao de ml-

    tiplas hipteses possveis, etc, o que tudo concorre para dar co-

    lectividade novas alternativas, factor indispensvel do seu processo

    de desenvolvimento. Haja em vista, por exemplo, uma propeco a

    fazer no domnio da sade e higiene. O tcnico que conduz a pros-

    peco no podle deixar de dar algumas noes de padres de

    higiene, tipos de doenas, meios de preveno, etc. Estes conheci-

    mentos so ministrados directamente em ordem ao inqurito mas

    vo passando de maneira gradual e orgnica para a colectividade,

    contribuindo para uma transformao de mentalidade. Anloga-

    55Q

  • 7/26/2019 FASES DE UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITARIO.pdf

    14/21

    mente, ao falar de equilbrio agro-pecurio, possvel) fazer pas-

    sar noes certas cfce estabulaao em condies econmicas, ou

    medidas adequadas de combate eroso; ao referir o baixo renr

    dimento

    per capita

    podem ser oportunas consideraes sobre ra-

    cionalizao do trabalho, mecanizao ou dimenso mnima dasempresas; e assim por diante.

    A vantagem das informaes dadas por esta via que elas

    entram gradualmente e de uma maneira bastante incarnada que

    torna no s mais fcil a sua assimilao pelos interessados como

    suscita mais facilmente a sua aplicao imediata.

    Existem variados processos de condaizir prospeco de ne-

    cessidades e recursos feita pela colectividade sobre a sua prpria

    situao. Entre esses vrios processos ganha foros de maior cunho

    cientfico o chamado auto-inqurito da colectividade

    4

    .

    Como se estrutura este auto-inqurito?

    Pressupe-se uma colectividade j informada sobre possibi-

    lidades de desenvolvimento pelos seus prprios recursos e decidida

    a fazer essa experincia. Estamos portanto perante uma populao

    que quer progredir comunitoamente. O auto-inqurito ser-lhe-

    apresentado como um meio necessrio para conhecer o que existe

    (do ponto de vista de necessidades e recursos) em ordem me-

    lhor ordenao dos recursos existentes para satisfao das neces-

    sidades identificadas.

    O auto-inqurito deve ser da resiponsabilidacle de uma comis-

    so central na qual tenham assento os principais lderes formais

    e informais locais bem como os representantes dos diferentessectores e dos diferentes aglomerados de populao.

    O inqurito previamente estudado por esta comisso, que

    o reparte depois em diferentes rubricas, cada uma das quais de-

    vendo ser tratada em sub-comisses adequadlas. Deste modo, toda

    a populao chamada a colaborar, pelo menos em algum aspecto

    particular.

    As diferentes comisses, tanto a central como as restantes,

    devem poder contar com a assistncia no s do tcnico do inqu-

    rito e discusso de grupo como tambm dos tcnicos ligado aos

    diferentes sectores: do agrnomo para as questes die agricultura,

    do mdico para as questes de sade, etc.

    Esta presena dos tcnicos nas diferentes comisses tem, en-

    tre outras, a vantagem de permitir, desde logo, afastar pistas de

    soluo falsas que, de contrrio, poderiam converter-se em con-

    vices colectivas mais difceis de desfazeir.

    A funo dos tcnicos nas comisses de inqurito no nem

    dirigir as reunies nem saibstituir-se aos demais componentes da

    4 Sobre e sta tcnica, veja-se HENDRICKS Auto-enqute en com mu-

    nautj policpia distribuda pelo Departamento da questes sociais da

    Holanda.

    5B

  • 7/26/2019 FASES DE UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITARIO.pdf

    15/21

    comisso (que alis, diga-se de passagem, tero a tendncia fcil de

    se demitirem), mas to-somente de esclarecerem as questes e

    apresentarem as possveis alternativas com os respectivos argu-

    mentos a favor e contra.

    O inqurito deve conduzir a um conjunto de resultados que,

    regra geral, devero ser publicados e ficar patentes a toda a popu-

    lao da colectividade. Escrevemos regra geral, porquanto caso

    h em que a crueza da situao encontrada pode ser demasiada-

    mente humilhante para a populao e no ter qualquer efeito

    benfico a sua exposio clara; em outros casos, poder acontecer

    que determinaidlos dados vo contra o pudor da colectividade

    (ex. numa populao em que a tuberculose considerada uma

    vergonha social apresentar no inqurito um elevado ndice de indi-

    vduos tuberculosos).

    Outra caracterstica deste tipo de prospeco que ela deve

    conduzir ao esboo de solues. No demais frisar que o aiuto--inqurito da colectividade no um sucedneo econmico da an-

    lise cientfica; trata-se de um esforo colectivo de conhecimento

    de situaes e pesquisa dos caminhos mais acertados para lhes

    fazer face. Nesta ordem de ideias, o inqurito dever conter, a

    propsito de cada questo, uma trplice interrogao: o que h?

    o que deveria ser? como possvel melhorar a situao existente?

    Para concluir, resta mencionar as vantagens deste mtodo,

    alis visveis:

    consciencializa a colectividlade;

    empenha os interessados na soluo das siuas dificuldades;

    cria elementos de solidariedade na colectividade e processa

    presses estimulantes de uns sobre os outros;

    reduz eventuais tenses na colectividade pondo em condi-

    es

    e

    colaborar pessoas pertencentes a diferentes grupos.

    Apesar de todas estas vantagens, o auto-inqurito no

    pensa a anlise cientfica, a qual da competncia dos tcnicos.

    Esta anlise processa-se em duas etapas:

    l.

    a

    etapa: investigao prvia com vista descoberta da tipo-

    logia prpria da regio onde se vai actuar.

    Trata-se da identificao de aspectos gerais tais como: situa-

    o geogrfica, tipo de populao, gnero de ocupao, grau de

    religiosidade, etc. Como diz oProf Ponsioen, trata-se de fazer

    viver dentro de si a fisionomia da regio atrav dos seus traos

    mais caractersticos.

    Esta investigao destina-se, basicamente, a desfazer o

    preconceitos que todos teremos.

    552

  • 7/26/2019 FASES DE UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITARIO.pdf

    16/21

    2.

    a

    etapa: diagnstico da situao em ordem elaborao do

    plano geral de actuao.

    Nesta, tm de intervir todos os factores que podem consti-

    tuir elementos a favor ou em desfavor do desenvolvimento. uma

    anlise que tem por base oa trabalhos j existentes sobre a regio,

    a informao estatstica geral, a observao directa e indirecta

    dos tcnicos sobre a regio.

    Este trabalho obviamente moroso (de 6 meses a um ano,

    em regra) e deve ser feito paralelamente com algum projecto de

    desenvolvimento. Com efeito, por um lado no so necessrios

    estudos exaustivos para se detectarem, desde o incio do projecto,

    alguns campos de actuao possveis e, por outro, as populaes

    dificilmente suportaro grandes demoras no que se refere a resul-

    tados visveis. Tal leva a aconselhar que, o mais cedo possvel,

    se lance mo de uns tantos projectos de utilidade indiscutvel e

    que vo de encontro a necessidades j sentidas pela populao.

    O auto-inqurito e a anlise feita a nvel dos tcnicos pode ento

    processar-se concomitantemente.

    4. Terceira fase: Descoberta e formao dos lderes locais

    Toda a comunidade repousa sobre um conjunto de relaes

    que por sua vez se processam segundo uma base mais ou menos

    definida: a sua organizao. Esta serve de meio de definio dagama de relaes que se estabelecem entre os indivduos e os gru-

    pos bem como de princpio de identificao de funes dos dife-

    rentes elementos na colectividade.

    Quando se fala em organizao, tem-se logo em mente os ser-

    vios existentes e a hierarquia com que dentro deles se estabelecem

    os diferentes quadros, os rgos que ctetm a autoridade civil,

    religiosa ou poltica dentro da colectividade, as instituies que

    detm funes bem delimitadas na colectividade. Estes quadros

    porm identificam apenas um tipo de organizao, a organizao

    visvel ou formal, facilmente detectvel e susceptvel de repre-

    sentao num organigrama mais ou menos complexo.

    Paralelamente a este tipo dfe organizao, desenvolve-se, po-

    rm, em toda a colectividade, um conjunto de foras nela actuan-

    te que so, por seu turno, um novo sistema de definio de

    funes e de comportamentos adentro do todo social. A este tipo

    de organizao corrente designar por organizao informal. Nas

    situaes concretas, so possveis casos em qiue a organizao

    formal e informal so mais ou menos coincidentes; uma coinci-

    dncia absoluta improvvel.

    Analogamente, possvel distinguir entre lderes formais e

    informais, consoante o seu papel se desempenha na organizao

    553

  • 7/26/2019 FASES DE UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITARIO.pdf

    17/21

    formal ou informai Um. lder formal pode ou no ser um lder

    informal e vice-versa.

    Como evidente, enquanto o lder formal facilmente se iden-

    tifica pela sua posio, na escala hierrquica do servio ou insti-

    tuio a que pertence, a prospeo do lder informal uma tarefadelicada que exige o emprego de tcnicas adequadas.

    Ora, do ponto de vista do desenvolvimento comunitrio, con-

    quanto a colaborao dos lderes formais seja muito desejvel

    sobretudo com os lderes informais que importa contar, pois estes

    so os lderes autnticos da colectividade enquanto os primeiros

    podero s-lo ou no.

    Daqui que uma tarefa miuito concreta das tcnicas* do desen-

    volvimento comunitrio seja a pesquisa de tais lderes. Esta pres-

    supe, em primeiro lugar, uma descoberta dos grupos informais

    existentes visto que os lderes se definem em funo de deter-

    minado grupo ou formao sociail e depois a descoberta do lder

    ou lderes de cada grupo. As entrevistas s notabilidade^ locais

    (padre, mdico, professores, etc.) podero ajudar a fazer esta

    descoberta mas no dispensaro nunca o contacto directo com a

    populao e a intromisso do agente de desenvolvimento comuni-

    trio nos diferentes grupos.

    Tanto os lderes formais como os informais carecem de ser

    formados para o desenovlvimento comunitrio. Nesta formao, os

    contactos pessoais desempenham papel insubstituvel pois permi-

    tiro estabelecer pontes slidas entre as concepes tradicionais

    e os novos valores em jogo. A formao atravs da atribuio de

    funes sucessivamente de maior responsabilidade igualmente

    bom mtodo.

    Designadamente, no que diz respeito aos lderes formais h

    aspectos que importa discutir com eles e ajudar a rever, como

    por exemplo o conceito da sua pr pria funo (noc?.o de servio

    da colectividade), da autoridade (progresso no sentido de maior

    democratizao), de colaborao entre os diferentes servios

    (maior polarizao pelos objectivos a atingir em vez da tradi-

    cional rivalidade), de maior ateno aos interesses e aspiraes da

    colectividade, da eficincia nas relaes com o pblico, etc.

    Cabe por ltimo fazer referncia a um tipo d*e agentes de

    desenvolvimento comiunitrio que recebem uma preparao ade-

    quada. Queremos referir-nos aos animadores locais ou, na expres-

    so anglo-saxnica, front line workers.

    Estes so agentes polivalentes que provm da prpria colec-

    tividade (ou colectividades de tipo semelhante) e receberam uma

    formao intensiva que os habilita a serem na colectividade ope-

    radores de pequenas transformaes desejveis na colectividade

    e bem assim a estabelecerem os contactos indispensveis entre as

    populaes e os tcnicos ou servios administrativos. Em regra,

    554

  • 7/26/2019 FASES DE UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITARIO.pdf

    18/21

    ministra-se-lhes uma formao polivalente nas tcnicas mais teis

    s diferentes colectividades (enfermagem, agricultura, veterin-

    ria, cooperativismo, desporto, ocupao de tempos livres e recrea-

    o colectiva, etc).

    Ainda estes animadores podem ser profissionais (ligados aos

    quadros dia administrao) ofu trabalhadores benvolos que

    acumulem esta funo com a sua ocupao tradicional. A primeira

    soluo foi a adoptada sobretudo pelos pases em vias de desenvol-

    vimento com estruturas polticas de feio anglo-saxnica tal

    como a ndia, o Ghana, etc. Nos demais pases, preferiu-se a auto-

    nomia em relao Administrao Pblica e que se mantivesse

    o carcter de voluntariado.

    Noutros casos, tambm em vez de uma formao polivalente,

    se seguiu o critrio de dar uma formao de base quanto aos

    princpios e tcnicas de desenvolvimento comunitrio e uma pre-

    parao num domnio especializado

    agr icultu ra-p ara o jovem

    agricultor j mais evoludo, tcnica de desporto para o lder da

    recreao local, etc.

    5. Quarta fase: Elaborao de um plano

    O desenvolvimento comainitrio pode iniciar-se sem que se

    aguarde a elaborao de um plano geral de desenvolvimento da

    colectividade; todavia, este necessrio a dada altura como ins-

    trumento capaz de dar maior eficcia aco que se empreende.

    O que normalmente sucede , pois, o seguinte: comea-se com

    dois ou trs projectos de utilidade indiscutvel, d(e fcil conse-

    cuo e de resultados visveis a curto prazo. Estes projectos, alm

    de trazerem um acrscimo de rendimento muito necessrio, pro-

    porcionaro ou tras van tagens, tai s como da r populao confiana

    em si prpria, faz-la acreditar nos seus recurso, proporcionar-

    -Ihe experincia de cooperao, suscitar maior dinamismo, etc.

    A realizao destes projectos d margem,, por seu turno, a

    que se processem simultaneamente os inquritos e estudos indis-

    pensveis elaborao de plianosi mais vasto sem que a popu-

    lao se canse de esperar fenmeno tpico das populaes

    menos evoludas.

    Esta a lio de muitos projectos de desenvolvimento comu-

    nitrio, designadamente da Sardenha, onde os tcnicos comearam

    justamente com dois projectos limitados tratamento das olivei-

    ras e criao de pintos de raaantes de se lanarem num plano

    de desenvolvimento global

    5

    .

    A prpria evoluo dos projectos limitados, se for bem con-

    duzida, abrir caminho a que a populao sinta a necessi-

    dade de uma coondenao eficaz dos vrios esforos e bem assim

    Vd. M. M.

    SILVA

    obra c i tada .

    555

  • 7/26/2019 FASES DE UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITARIO.pdf

    19/21

    de um plano de aco de conjunto que v resolver as suas difi-

    culdades de base.

    Quando se fala em plano em termos de desenvolvimento comu-

    nitrio, tem-se presente um determinado conceito de plano, que

    importa agora precisar, enumerando as suas principais caracte-rsticas:

    visa a satisfao das necessidiade reais de uma dada co-

    lectividade (no importa a sua extenso: aldeia ou muni-

    cpio;

    regio geogrfica, pas ou at regio internacional);

    elabora-se a par tir do reconhecimento feito pela populao

    das suas necessidades e recursos potenciais;

    tem o acordo final da populao, directa ou indirectamente

    manifestado a partir dos seus representantes mais autn-

    ticos;

    e

    realizado, avaliado e controlado pela prpria populao.

    Cabe aos tcnicos um papel muito importante na estrutura-

    o do plano mas tambm aqui eles no devem sobrepor-se po-

    pulao. A funo dos tcnicos apresentar as diferentes priori-

    dades e fundament-las tendo presente um quadro de necessidades

    e recursos. Todo o plano, com efeito, se reduz a estabelecer um

    conjunto de escolhas daquilo que se no far no momento

    6

    .

    Constitui tambm objectivo do piano determinar o plo ou

    plos de desenvolvimento. matria aceite sem discusso que,

    para se atingir certo nvel de desenvolvimento, torna-se necessriauma gama de infra-estruturas e servios que impem uma dimen-

    so mnima aos centros de desenvolvimento, visto no ser vivel

    fazer uma total pulverizao destes servios. Deste modo, conce-

    be-se como soluo aceitvel a existncia de plos ou centros de

    desenvolvimento desde que se assegure devidamente a comunica-

    o do plo ou centro com os demais lugares.

    A escolha do plo , porm,, uma tarefa complexa uma vez

    que as diferentes colectividades sobre as quais recair a escolha

    se sentem no direito de serem escolhidas para plo na expectativa

    de virem a gozar de benefcios especiais. Nestas condies), tor-

    na-se necessrio, por um lado, proceder a um esforo de raciona-

    lizao fazendo cair pela base os argumentos puramente emocio-

    nais e subjectivos e, por outro lado, estabelecer solidamente as

    condies que assegurem a real comunicao do centro com a peri-

    feria, designadamente a representao de todos os lugares'nos

    grupos que detm a autoridade, estabelecimento de meios de co-

    municao fceis, etc.

    6 Existem vrios critrios de prioridade todos vlidos den tro da sua

    ptica prpria: prioridades lgicas, econmicas, financeiras, polticas, psico-

    lgicas. No existe contudo uma prioridade que seja sntese de todas estas.

    556

  • 7/26/2019 FASES DE UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITARIO.pdf

    20/21

    6. Quinta fase: A avaliao dos resultados

    A avaliao dos resultados situa-se logicamente no termo de

    qualquer projecto, muito embora se possa igualmente fazer a ava-

    Mao no fim das diferentes (fases. No desenvolvimento comuni-trio, a avaliao deve incidir no s sobre os resultados materiais

    obtidos como tambm sobre as transformaes de mentalidade

    operadas.

    Importa igualmente precisar que a avaliao deve fazer o con-

    fronto entre os resultados obtidos e os resultados previstos e

    quanto aos efeitos no previsto, fazer a anlise dos resultados

    benficos e das disfunes, procurando, em cada caso, conhecer

    as possveis causas.

    A avaliao no -

    f unes, h que corrig i-las); estabelece bases m ais slidas p ara

    a elaborao de planos futuros (a no tar o erro de uma aco pla-

    neada sobre a hiptese dos resultados esperados por uma aco

    anterior no correctamente avaliada); assegura a relao entre

    o ritmo gerai do desenvolvimento e o plano traado (no basta

    que se consigam resultados benficos de uma dada aco, mas h

    que assegurar que tais resultados sejam aqueles que se projecta^

    vam; de contrrio, como se poder saber se se controla ou no

    o processo de desenvolvimento?

    Mais uma vez no decorrer da anlise de cada uma das fases

    do processo de desenvolvimento comunitrio temos ocasio de

    dizer que tambm a avaliao deve ser feita pela populao atra vs

    das suas comisses de sector e central.

    Podem igualmente prever-se outras avaliaes: as que os tc-

    nicos fazem sobre o projecto e sobre a sua actuao como tcnicos;

    as que podem confiar-se a alguns peritos de tempos a tempos.

    Cada tipo de avaliao preenche um objectivo determinado. Ne-

    nhuma substitui a reflexo que a populao tem de fazer sobre a

    sua prpria aco em proJ do desenvolvimento colectivo.

    7.

    O desenvolvimento comunitrio e o interesse nacional

    A enumerao que fizemos das diferentes fases de um pro-

    cesso de desenvolvimento comunitrio teve por fim no s faci-

    557

  • 7/26/2019 FASES DE UM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO COMUNITARIO.pdf

    21/21

    litar uma anlise do contedo especfico de cada etapa e bem

    assim das tcnicas que a servem como ainda contribuir para o

    esboo da soluo do problema enunciado logo no incio deste

    trabalho:possibilidade de harmonizao entre o interesse das

    pequenas colectividades e o das colectividades regionais ou na-cionais.

    Com efeito, primeira vista aquela dificuldade parece insu-

    pervel e apontam-na alguns como questo insolvel dentro do

    desenvolvimento comunitrio e, consequentemente, razo de crtica

    deste. Uma reflexo mais profunda, porm, permite observar que

    justamente medida que uma pequena colectividade entra num

    processo de desenvolvimento comunitrio o que se passa que

    os seus horizontes se vo sucessivamente alargando pois gradual-

    mente a populao vai-se dando conta de necessidades cuja satis-

    fao s se encontra em enquadramentos mais amplos do que os

    definidos pelos contornos da prpria colectividade.

    Cada uma das fases atrs enunciadas vai contribuir para o

    alargamento sucessivo de interesses da colectividade, at que ao

    chegar-se elaborao do plano tem de forosamente estar pre-

    sente o interesse geral, no j como algo exterior colectividade

    e a que ela ter de sacrificar o seu interesse particular, mas antes

    como um interesse que se identifica com o prprio interesse local.

    III

    OBSERVAO FINAL

    No foi nossa inteno neste trabalho tratar do caso por-

    tugus e das possibilidades que a tcnica do desenvolvimento co-

    munitrio poderia apresentar para a acelerao do ritmo do nosso

    crescimento econmico e transformao scio-cultural. Essa ser

    matria para um novo estudo. Todavia, no queremos terminar

    este artigo sem uma referncia oportunidade que representaria

    para o processo socio-econmico portugus a adopo dos prin-

    cpios e tcnicas do desenvolvimento comunitrio sobretudo nos

    casos das zonas rurais mais atrazadas, incapazes de acompanhar

    o ritmo geral de crescimento econmico do pas sem uma aco

    particularmente adequada e intensa de transformao mental das

    suas populaes.

    Ao entrar-se agora na preparao do prximo Plano de Fo-

    mento (Plano de transio para 1965-1967 como foi definido pelo

    Governo) tem toda a oportunidade o estudo da possibilidade de

    ensaio e generalizao do desenvolvimento comunitrio e bem

    assim da sua integrao no plano geral de desenvolvimento econ-

    mico do Pas

    7

    .

    7 Sabemos que o Secre tariado Tcniica da Presidncia do Conselho

    tem essa inteno.

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