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FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO PROFISSIONAL EM TECNOLOGIAS APLICÁVEIS À BIOENERGIA NOEL MOREIRA SANTOS PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL: UM OLHAR SOBRE A REGIÃO NORTE SALVADOR 2011

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FACULDADE DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS

DIRETORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

MESTRADO PROFISSIONAL EM TECNOLOGIAS APLICÁVEIS À BIOENERGIA

NOEL MOREIRA SANTOS

PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL:

UM OLHAR SOBRE A REGIÃO NORTE

SALVADOR

2011

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NOEL MOREIRA SANTOS

PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DO BIODIESEL:

UM OLHAR SOBRE A REGIÃO NORTE

Dissertação apresentada como pré-requisito à

obtenção do Título de Mestre, do Mestrado

Profissional em Tecnologias Aplicáveis à

Bioenergia, da Faculdade de Tecnologia e

Ciências, em Salvador, sob orientação do Prof.

Dr. Alexandre Wentz.

SALVADOR

2011

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Dedico este trabalho a todos os que me apoiaram direta ou indiretamente.

Principalmente a minha mulher Geoisa por entender o verdadeiro significado deste

trabalho e sacrificar tanto para vê-lo efetivado, e aos meus filhos Noel e Dandara

pelo apoio imprescindível. A minha mãe Ivani Moreira Santos (in memorium) pela

capacidade de e Jupira e a minha tia Janira sem as quais eu não seria ou teria

nada.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Bicombustíveis (ANP) que

forneceu os recursos indispensáveis à realização deste trabalho.

Agradeço aos colegas e dedicados amigos Francisco Nelson e Fábio Teixeira pela

parceria fantástica, nesse momento ímpar da nossa vida.

Ao professor e orientador Dr. Alexandre Wents, um agradecimento especial, por

avaliar e reavaliar as idéias, contribuindo de forma significativa para conclusão deste

trabalho.

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“Cada pessoa deve trabalhar para o seu aperfeiçoamento e, ao mesmo tempo, participar da

responsabilidade coletiva por toda a humanidade.”

Marie Curie

“Não se pode ensinar nada a um homem; só é possível ajudá-lo a encontrar a coisa

dentro de si.”

Galileu Galilei

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RESUMO

Esta dissertação tem como objetivo analisar os principais aspectos correlacionados

com a inserção do biodiesel na região Norte do Brasil. O método utilizado consistiu

em uma revisão literária do arcabouço jurídico institucional responsável pelas

políticas públicas de implementação do PNPB e a análise dos recursos energéticos

disponíveis dentro do contexto sócio-político e ambiental da região Amazônica Neste

contexto, nos deparamos com um marco normativo que define um percentual

mínimo obrigatório da mistura biodiesel no diesel, para ser aplicado uniformemente

em todo o território nacional. A região amazônica apesar de concentrar a maior

biodiversidade do planeta, e um vasto manancial de recursos energéticos, tem uma

carência crônica de infra-estrutura. As pesquisas revelam que após seis anos do

lançamento do programa não existe uma cadeia agrícola organizada em condições

de produzir matéria-prima para biodiesel. Desta forma, apesar do enorme potencial

para produção de biomassa, o parque produtivo possui capacidade instalada baixa,

que responde por apenas 3,2% da capacidade nacional. Os volumes de biodiesel

produzidos atualmente na região Norte atende apenas 20% da demanda regional.

Esta região encontra-se completamente dependente dos excedentes de biodiesel

produzidos em outras regiões brasileiras. Os índices de inclusão social são

baixíssimos, a degradação está cada vez mais presente, há uma carência de

pesquisas e desenvolvimento científico-tecnológico e seu parque produtivo está

aquém das necessidades, há uma ausência de integração territorial gerando um

gargalo logístico de elevada complexidade. Diante destes fatos, é possível

estabelecer percentuais diferenciados das misturas obrigatórias, considerando de

fato as peculiaridades regionais. Ao tempo em que recomenda-se a realização de

um balanço regional pelos órgãos de Estado com competência sobre o tema,

visando um diagnóstico holístico do atual estado do PNPB, para adoção dos ajustes

necessários.

Palavras-chave: Biodiesel, Políticas Públicas, Região Norte, Fontes Alternativas,

PNPB, Petróleo.

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ABSTRACT

This thesis aims to analyze the main aspects related to the introduction of biodiesel in northern Brazil. The method used consisted of a literature review of the legal and institutional framework responsible for the implementation of public policies PNPB and analysis of energy resources available within the socio-political environment of the Amazon region and in this context, we face a legal framework that defines a percentage minimum mandatory biodiesel mix in diesel to be applied uniformly throughout the country. The Amazon region while concentrating the greatest biodiversity on the planet, and a vast wealth of energy resources, has a chronic shortage of infrastructure. Research shows that six years after the launch of the program there is an organized agricultural chain able to produce feedstock for biodiesel. Thus, despite the enormous potential for biomass production, the productive capacity has low, which accounts for only 3.2% of national capacity. The volumes of biodiesel currently produced in the North meets only 20% of regional demand. This region is completely dependent on the surplus of biodiesel produced in other regions of Brazil. The inclusion rates are very low, the degradation is increasingly present, there is a lack of research and scientific-technological development and its industrial park falls short of needs, there is an absence of territorial integration creating a highly complex logistical bottleneck. Given these facts, it is possible to establish mandatory mixtures of different percentages, considering the fact that the regional differences. By the time it is recommended the holding of a regional balance of state bodies with jurisdiction over the issue to a holistic diagnosis of the current state of PNPB to adopt the necessary adjustments. Keywords: Biodiesel, Public Policy, Amazon Region, Alternative Source, PNPB, Petroleum

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LISTA DE SIGLAS

ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

CEI – Comissão Executiva Interministerial

CIB – Conselho de Informações sobre Biotenologia

CNPE – Conselho Nacional de Política Energética

CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

DCAA – Departamento de Cana-de-Açucar e Agroenergia

DCR – Departamento de Combustíveis Renováveis

EMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

FUNTAC – Fundação de Tecnologia do Estado do Acre

FUCAPI – Fundação Centro de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica

FINEP – Financiadora de Estudos e Pesquisas

IEPA – Instituto de Pesquisas do Estado do Amapá

IME – Instituto Militar de Engenharia

INMETRO – Instituto Nacional de Metrologia e Qualidade Industrial

MAPA: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MCT: Ministério da Ciência e Tecnologia

MDA: Ministério do Desenvolvimento Agrário

MDL – Mecanismos de Desenvolvimento Limpo

MME: Ministério de Minas e Energia

PARÁBIODIESEL – Programa Paraense de Incentivo à Produção de Biodiesel

PBio – Petrobras Biodiesel

PNPB: Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel

PRODECOOP: Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de

Valor à Produção Agropecuária

PRONAF: Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

REMAN – Refinaria de Manaus

SAF: Secretaria da Agricultura Familiar

SEAGRI – Secretaria Estadual da Agricultura e Regularização Fundiária

SECT – Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia

SECTAM – Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente

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SETEC – Secretaria de Ciência e Tecnologia

SICAF: Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores

SPAE – Secretaria de Produção e Agroenergia

SPG Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis

UBRABIO – União Brasileira do Biodiesel

UFAC – Universidade Federal do Acre

UFAM – Universidade Federal do Amazonas

UFPA – Universidade Federal do Pará

UPGN – Unidade de Processamento de Gás Natural

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SUMÁRIO

1 Introdução ................................................................................................11

2 Marco regulatório .....................................................................................16

2.1 Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel ..............................17

2.2 Lei no 9.478, de 06 de agosto de 1997 – “Lei do Petróleo” ......................18

2.3 Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) ..................................19

2.4 Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

(ANP) .......................................................................................................22

2.5 Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis (SPG) .23

2.6 Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) .........................................24

2.7 Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) ..................28

2.8 Políticas públicas estaduais na Região Norte ..........................................29

2.8.1 Acre .........................................................................................................31

2.8.2 Amazonas ................................................................................................32

2.8.3 Amapá .....................................................................................................32

2.8.4 Pará ..........................................................................................................33

2.8.5 Rondônia .................................................................................................34

2.9 O papel dos estados no desenvolvimento sustentável do PNPB ............34

3 Fontes alternativas de energia ................................................................37

3.1 Óleo vegetal “in natura” ...........................................................................39

3.2 Biocombustíveis ......................................................................................42

3.2.1 Biodiesel ..................................................................................................44

3.2.1.1 Conceito de biodiesel ..............................................................................45

3.2.1.2 Evolução histórica do biodiesel ...............................................................46

3.2.1.3 Matérias-primas para o biodiesel .............................................................47

3.2.1.4 Cadeia agrícola na Região Norte ............................................................50

3.2.1.5 Parque produtivo ......................................................................................53

3.2.1.6 Logística do biodiesel ...............................................................................56

4 Petróleo e derivados ................................................................................59

4.1 Produção de Petróleo e Gás Natural no Brasil e na Amazônia ................60

4.2 Produção de derivados de petróleo na Amazônia ....................................69

5 Conclusão ..................................................................................................76

Referências .......................................................................................... ..80

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1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento econômico, social e cultural de um país tem como um dos

seus pilares básicos de sustentação, os recursos energéticos. Atualmente o

paradigma energético global baseia-se no uso do petróleo, fonte de energia não

renovável, proveniente principalmente dos combustíveis fósseis, respondendo pela

grande maioria dos processos produtivos.

A exploração de recursos energéticos numa linha de desenvolvimento

predatório tem gerado danos irreversíveis em termos ambientais e sociais para o

planeta. É urgente que os países adotem medidas – se necessário, radicais – para a

preservação do meio ambiente, assegurando um desenvolvimento seguro, em bases

sustentáveis para as novas gerações. (BEZERRA, 2010, p. 72).

Atualmente a matriz energética brasileira (figura 1) está baseada no petróleo,

mas observamos um crescimento das fontes renováveis, ratificando, “a necessidade

do uso de combustíveis produzidos a partir da biomassa” (BACCHI, 2006).

Figura 1 - Matriz Energética Nacional

Fonte: MME (2010)

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Apesar dessa dependência do petróleo, o Brasil foi um dos poucos países do

mundo a conseguir uma penetração efetiva de biomassa em sua matriz energética.

De acordo Araújo (2011), destaca-se por possuir uma matriz energética com elevada

participação das fontes renováveis, e a médio ou longo prazo, o país se tornará uma

peça-chave no biotrade - mercado que efetiva os negócios internacionais relativo à

oferta de energia renovável -, visto que em 2009, a cana e seus derivados

representaram 17,9% de toda a energia bruta ofertada no país.

O Brasil, “possui a matriz energética mais limpa do mundo”, na qual uma

média de 47% de seu suprimento energético é de natureza renovável, ou seja, o

país é referência quando o assunto é energia. Também dispõe de um vasto

manancial de recursos energéticos, destacando-se à Amazônia brasileira, cuja área

é da ordem de 5 milhões de km2, equivalente a 60% do território nacional. Esta

região abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará,

Rondônia, Roraima, Tocantins, e a maior parte do Maranhão, e concentra a maior

biodiversidade do planeta, ou seja, variabilidade de organismos vivos de todas as

origens e todos os ecossistemas.

Segundo Bezerra (2010, p. 262), as dimensões da Amazônia brasileira não

são totalmente conhecidas e compreendidas por boa parcela do povo brasileiro.

Apesar de essas informações estarem disponíveis em qualquer livro de geografia ou

na internet é difícil perceber as conseqüências práticas nesse mundo à parte. A

ignorância é verbalizada quando se fazem regras idênticas para todo o país – sem

compreender a impossibilidade de aplicá-las na Amazônia – como quando se

questiona, por exemplo, por que os gestores públicos e as organizações sociais da

região reivindicam barcos e não carros para transporte e escoamento da produção

A base econômica dos estados da região Norte está assentada no

extrativismo de espécies vegetais e dos recursos minerais, além da produção

agropecuária, e excepcionalmente o estado do Amazonas é o único que possui uma

zona industrial - o pólo eletroeletrônico da Zona Franca de Manaus.

O somatório das riquezas produzidas pelos estados da região amazônica

representa algo como 5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país,

evidenciando as conseqüências de uma criminosa política de concentração

de investimentos públicos no Sul/Sudeste, em detrimento das demais

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regiões do país. O peso econômico da região, entretanto, não pode ser

mensurado pelo atual nível de participação do PIB, mas pelo seu

extraordinário potencial. (BEZERRA, 2010, p. 62).

Segundo Becker e Stenner (2008), a Amazônia que era visto historicamente

pelo imaginário social, como espaço alternativo – seja como paraíso ou como inferno

verde – passou a ter na representação simbólico-cultural um papel importante no

novo contexto de sustentabilidade da Terra. Pela magnitude da natureza tropical,

passou a ser valorizada como fonte de poder econômico e científico, “tornando-se

um dos três eldorados reconhecidos contemporaneamente”: os fundos oceânicos, a

Antártica, “e a Amazônia, única dos três, a estar sob a soberania de Estados

Nacionais.” (BECKER e STENNER, 2008).

A Amazônia não possui um valor restrito apenas a sua biodiversidade. Ela

tem forte influência no clima do planeta, tendo em vista o aquecimento global. Há

também uma valorização crescente do seu potencial quanto a disponibilidade de

água doce, diante de uma crise mundial anunciada de escassez “a ponto de lhe ser

atribuído um valor estratégico similar ao do petróleo no século XX e a denominação

de “ouro azul”, conformando uma verdadeira hidropolítica no cenário mundial.”

(BECKER e STENNER,2008).

Sem levar em consideração as peculiaridades dos diversos espaços

ecológicos amazônicos e os desejos e anseios da população regional, a

Amazônia foi sofrendo as conseqüências de um modelo exógeno baseado

na extração predatória dos recursos florestais, seguido pela substituição da

floresta por extensas áreas de pastagem ou agricultura, deixando um saldo

de pobreza para as populações

Na Amazônia os habitantes dependem fundamentalmente do ecossistema

em que vivem: o lago é a despensa, o rio é a estrada e a terra firme é onde

eles plantam mandioca. Para eles, os benefícios sociais gerados da

exploração dos recursos da região foram irrisórios comparados com os altos

custos ambientais resultantes e a população local nunca esteve no centro

do modelo aplicado na região e muito menos foi ouvida quanto a seus

interesses e reais necessidades. (ANDRADE,2010).

Possui a mais extensa bacia hidrográfica do planeta formada por um

emaranhado de 25.000 km de rios navegáveis, distribuídos em 6.925.674 km2 dos

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quais 3.836,520 km2 em território brasileiro. Uma característica marcante da região

Norte é a baixa densidade demográfica, que está relacionada ao processo de

ocupação do seu território, que ocorreu ao longo dos grandes eixos de circulação

(hidrovias), necessários para a conexão da região com os mercados extra-regionais,

mas que por lado, gerou descontinuidades nas grandes massas florestais, com sua

população ribeirinha dispersa, dificultando a conectividade das populações, e

conseqüentemente o desenvolvimento regional.

Os processos logísticos englobam um complexo sistema de vetores de

produção, transporte e processamento, visando garantir principalmente, a

movimentação perene com competitividade. Na Amazônia o desenvolvimento das

energias renováveis depende fundamentalmente da infra-estrutura de transportes.. A

logística do território assume um papel essencial, pois é um importante elemento de

custo e de qualidade dos serviços e produtos, afetando à competitividade. A

produção de biodiesel na região Norte sofre com à ausência de integração territorial

e a conectividade regional. (BECKER e STENNER, 2008)

De acordo com a União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio, 2010), a capacidade

instalada nacional para produção de biodiesel atualmente é suficiente para atender a

demanda de biodiesel, para misturas de até 10% no diesel fóssil, ou seja, já é

possível antecipar gradualmente metas, viabilizando maiores investimentos na

cadeia produtiva. De fato a capacidade instalada reflete essa projeção, no entanto,

atualmente as unidades produtoras se concentram nas regiões Centro-Oeste, Sul, e

Sudeste, com 42%, 25%, e 17%, respectivamente, exigindo estímulos a

descentralização da produção do biodiesel para o desenvolvimento de pólos de

produção em regiões carentes. A participação da região Nordeste e do Norte, são

12% e 4%.

Ainda segundo a Ubrabio (2010), “o setor de biodiesel necessita da

construção de uma conjuntura favorável à sua expansão para manter sua trajetória

virtuosa. É necessário ampliar os atuais volumes de mistura para consolidar a

confiança na capacidade de crescimento, estabelecendo um novo marco

regulatório”, mas segundo a Biodieselbr (2010), a Agência Nacional de Petróleo,

Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) declarou que, “estudos e pesquisas são

impositivos antes de determinar o aumento do teor de adição de biodiesel ao diesel”,

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opinião registrada no relatório do Grupo de Trabalho do Senado responsável pelo

projeto de lei que regulamenta o setor.

O sucesso do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel está

vinculado à sua expansão, promovendo aumento da produção de biodiesel a partir

da vocação agrícola nas diferentes regiões brasileiras objetivando garantir a

demanda das misturas obrigatórias definidas em lei. Na região Norte, as

características da matriz energética regional, os gargalos logísticos existentes, as

limitações das matérias-primas destinadas à produção de biodiesel, e a carência

crônica de infra-estrutura exigem um diagnóstico dessas características regionais. O

problema identificado é: ao considerar as peculiaridades regionais o Conselho

Nacional de Política Energética deve ou não estabelecer percentuais

diferenciados da mistura de biodiesel no diesel na Região Norte, e por

extensão em outras regiões do Brasil?

Este estudo tem como escopo, avaliar os diversos aspectos correlacionados

com a inserção do biodiesel na matriz energética da região Amazônica. Será

utilizada como metodologia uma revisão literária, associada as políticas públicas e

uma análise do desempenho da indústria petrolífera da região Norte, considerando

os seguintes aspectos: reservas totais; reservas provadas; produção do parque de

refino; o consumo de derivados de petróleo e biocombustíveis; cadeia produtiva do

óleo de palma; localização das usinas de biodiesel, análise comparativa de outras

cadeias produtivas, produção das usinas de biodiesel; gargalos logísticos na

distribuição e comercialização de combustíveis; e ausência de integração do

território nacional. Adicionalmente estabeleceremos um paralelo com os principais

contrastes econômicos e sociais da região, na qual um dos grandes desafios é

explorá-la economicamente sem destruí-la.

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2 MARCO REGULATÓRIO

Nesta seção será apresentado os principais marcos normativos e

institucionais que redefiniram a matriz energética brasileira, e que culminaram com a

criação do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). O atual

arcabouço regulatório existente é fruto da integração dos diversos órgãos de

governo, setores públicos e privados, que elaboraram mecanismos de política de

incentivos para viabilizar o PNPB. Englobam ações que incorporam as várias

dimensões do novo caminho energético – social, cultural, econômica, política e

ambiental.

A produção e uso de biodiesel no Brasil ficaram durante décadas, restritas às

pesquisas acadêmicas. Em 02 de julho de 2003, um Decreto Presidencial, instituiu o

Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), composto por 11 Ministérios e Coordenado

pela Casa Civil, encarregado de apresentar estudos sobre a viabilidade de utilização

de óleo vegetal - biodiesel como fonte alternativa de energia, propondo, em função

dos resultados, as ações necessárias para a implementação do uso de biodiesel

(BRASIL, 2003).

O estudo identificou nos resultados, os seguintes desafios:

Desenvolvimento de padrões de qualidade para o biodiesel;

Aproveitamento racional dos subprodutos gerados nas diversas etapas,

que compõem a cadeia produtiva;

Políticas públicas de tributação diferenciada de acordo com as

necessidades de cada região;

Gargalos logísticos na cadeia produtiva - do cultivo da matéria prima ao

produto final entregue para distribuição e comercialização, entre

outros.

Foi verificado, um leque de potencialidades, tais como:

A enorme capacidade produtiva de biomassa no país;

As experiências de pesquisa e produção de biodiesel;

A possibilidade de redução das importações de óleo diesel;

A disponibilidade de áreas agrícolas não utilizadas e subutilizadas;

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A ótima chance de se criar mecanismos de participação de agricultores

familiares na cadeia produtiva do biodiesel.

O Relatório Final foi apresentado em 04 de dezembro do mesmo ano,

recomendou a inserção do novo combustível na matriz energética brasileira. Em

seguida o Decreto Presidencial de 23 de dezembro de 2003, instituiu a Comissão

Executiva Interministerial (CEI) encarregada da implementação das ações

direcionadas à produção e ao uso de óleo vegetal - biodiesel como fonte alternativa

de energia.

2.1 Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel

A Medida Provisória 214/04 – transformada na Lei 11.097 em 13 de janeiro de

2005, culminou com a criação do Programa Nacional de Produção e Uso de

Biodiesel (PNPB), introduzindo o biodiesel na matriz energética brasileira,

constituindo-se no primeiro marco regulatório, para implantação de uma política

pública que autorizava o uso comercial dessa fonte alternativa.

Segundo Paula & Sakatsume (2006), o PNPB, foi estruturado nos moldes do

Proálcool, inicialmente organizaram a cadeia produtiva, definiram as linhas de

financiamento, definiram a base tecnológica e finalmente editaram o marco

regulatório do novo combustível. No entanto, ressalta a diferença entre os

programas, identificando no PNPB a preocupação em apoiar a agricultura familiar,

fixando o homem no campo e proporcionando elevação de renda.

As principais diretrizes do PNPB: Implantar um programa sustentável,

promovendo inclusão social; Garantir preços competitivos, qualidade e suprimento; e

Produzir o biodiesel a partir de diferentes fontes oleaginosas e em regiões diversas.

Quadro 1 – Pilares do PNPB

Fonte: MME (2005)

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2.2 Lei nº 9.478 de 06 de agosto de 1997 - “Lei do Petróleo”

No Brasil a partir da Emenda Constitucional nº 09 de 09/11/95, e

posteriormente da Lei nº 9.478 de 06/08/97, conhecida como a “Lei do Petróleo”, foi

estabelecida as bases e diretrizes da organização econômica para todos os agentes

correlacionados com o exercício das atividades da cadeia petrolífera. De acordo com

Moreira, Niyama, e Botelho (2006), a “Lei do Petróleo” “inicia uma nova era na

indústria de petróleo nacional com o fim do monopólio da Petrobras”. A referida lei

“Dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao monopólio do

petróleo, institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do

Petróleo e dá outras providências”. Diante das discussões sobre a viabilidade da

integração das fontes alternativas renováveis, levando em conta, uma visão de

desenvolvimento sustentável, destacamos a inserção dos biocombustíveis como

alternativa estratégica na matriz energética brasileira, conforme se depreende do art.

1º da Lei nº 9.478/97, no inciso XII, redação dada pela Lei nº 11.097 de 13/01/2005,

com a inclusão dos novos incisos (XIII, XIV, XV, XVI, XVII, e XVIII) incluídos pela Lei

nº 12.490 de 19/09/2011.

Art. 1º As políticas nacionais para o aproveitamento racional das fontes

de energia visarão aos seguintes objetivos:

[ ]

XII - incrementar, em bases econômicas, sociais e ambientais, a

participação dos biocombustíveis na matriz energética nacional.

XIII - garantir o fornecimento de biocombustíveis em todo o território

nacional;

XIV - incentivar a geração de energia elétrica a partir da biomassa e de

subprodutos da produção de biocombustíveis, em razão do seu caráter

limpo, renovável e complementar à fonte hidráulica;

XV - promover a competitividade do País no mercado internacional de

biocombustíveis;

XVI - atrair investimentos em infra-estrutura para transporte e

estocagem de biocombustíveis;

XVII - fomentar a pesquisa e o desenvolvimento relacionados à energia

renovável;

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XVIII - mitigar as emissões de gases causadores de efeito estufa e de

poluentes nos setores de energia e de transportes, inclusive com o uso

de biocombustíveis.

2.3 Conselho Nacional de Política Energética (CNPE)

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) é um órgão vinculado

diretamente ao Presidente da República presidido pelo Ministro de Minas e Energia.

Sua função é formular políticas energéticas destinadas a articular os interesses do

Estado, com as do mercado e da sociedade civil. Segundo Marques et. al (2007),

trata-se de um órgão opinativo, cuja função precípua é a proposição de diretrizes ou

recomendações de políticas energéticas em geral, cabendo ao Presidente, acatá-las

ou não. Conta com o apoio das Agências Reguladoras do setor energético, com os

quais mantém um relacionamento bastante harmonioso. Suas principais atribuições

são:

I - promover o aproveitamento racional dos recursos energéticos do

País, em conformidade com o disposto na legislação aplicável e com

os princípios:

II – assegurar, em função das características regionais, o suprimento

de insumos energéticos ás áreas mais remotas ou de difícil acesso do

País, submetendo as medidas específicas ao Congresso Nacional,

quando implicarem criação de subsídios;

III – rever periodicamente as matrizes energéticas aplicadas às

diversas regiões do País, considerando as fontes convencionais e

alternativas e as tecnologias disponíveis;

IV - estabelecer diretrizes para programas específicos, como os de uso

do gás natural, do carvão, da energia termonuclear, dos

biocombustíveis, da energia solar, da energia eólica e da energia

proveniente de outras fontes alternativas;

V - estabelecer diretrizes para a importação e exportação, de maneira a

atender às necessidades de consumo interno de petróleo e seus

derivados, biocombustíveis, gás natural e condensado, e assegurar o

adequado funcionamento do Sistema Nacional de Estoques de

Combustíveis e o cumprimento do Plano Anual de Estoques

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Estratégicos de Combustíveis, de que trata o art. 4o da Lei no 8.176,

de 8 de fevereiro de 1991;

VI - sugerir a adoção de medidas necessárias para garantir o

atendimento à demanda nacional de energia elétrica, considerando o

planejamento de longo, médio, e curtos prazos, podendo indicar

empreendimentos que devam ter prioridade de licitação e implantação,

tendo em vista seu caráter estratégico e de interesse público, de forma

que tais projetos venham assegurar a otimização do binômio

modicidade tarifária e confiabilidade do Sistema Elétrico.

VII - estabelecer diretrizes para o uso de gás natural como matéria-

prima em processos produtivos industriais, mediante a regulamentação

de condições e critérios específicos, que visem a sua utilização

eficiente e compatível com os mercados interno e externos. (nosso

grifo)

VIII - definir os blocos a ser objeto de concessão ou partilha de

produção;

IX - definir a estratégia e a política de desenvolvimento econômico e

tecnológico da indústria de petróleo, de gás natural, de outros

hidrocarbonetos fluidos e de biocombustíveis, bem como da sua cadeia

de suprimento;

X - induzir o incremento dos índices mínimos de conteúdo local de

bens e serviços, a serem observados em licitações e contratos de

concessão e de partilha de produção, observado o disposto no inciso

IX.

§ 1º Para o exercício de suas atribuições, o CNPE contará com o apoio

técnico dos órgãos reguladores do setor energético.

§ 2º O CNPE será regulamentado por decreto do Presidente da

República, que determinará sua composição e a forma de seu

funcionamento.

O Conselho Nacional de Política Energética editou desde então uma série de

Resoluções, que estão intrinsecamente vinculados ao desenvolvimento do PNPB,

destacando-se: as que reduziram o prazo de obrigatoriedade para o atendimento do

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percentual mínimo, e as que estabeleceram diretrizes gerais para realização dos

leilões.

A Resolução nº 3 do Conselho Nacional de Política Energética, de 23 de

setembro de 2005 reduz o prazo de que trata o § 1o do art. 2o da Lei no 11.097, de

13 de janeiro de 2005, para o atendimento do percentual mínimo intermediário de

dois por cento, em volume, cuja obrigatoriedade se restringirá ao volume de

biodiesel produzido por detentores do selo “Combustível Social”, instituído pelo

Decreto no 5.297, de 6 de dezembro de 2004, e se iniciará em 10 de janeiro de

2006.

A Resolução nº 5 do Conselho Nacional de Política Energética, de 03 de

outubro de 2007, estabelece diretrizes gerais para a realização de leilões públicos

para aquisição de biodiesel, em razão da obrigatoriedade legal prevista na Lei no

11.097, de 13 de janeiro de 2005, e dá outras providências.

A Resolução nº 7 do Conselho Nacional de Política Energética, de 05 de

dezembro de 2007, estabelece as diretrizes para a formação de estoques de

biodiesel.

A Resolução nº 2 do Conselho Nacional de Política Energética, de 13 de

março de 2008, estabelece em três por cento, em volume, o percentual mínimo

obrigatório de adição de biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor final,

nos termos do art. 2º da Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005.

A Resolução nº 2 do Conselho Nacional de Política Energética, de 27 de abril

de 2009, estabelece em quatro por cento, em volume, o percentual mínimo

obrigatório de adição de biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor final,

de acordo com o disposto no art. 2o da Lei no 11.097, de 13 de janeiro de 2005.

A Resolução nº 6 do Conselho Nacional de Política Energética, de 16 de

setembro de 2009, estabelece em cinco por cento, em volume, o percentual mínimo

obrigatório de adição de biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor final,

de acordo com o disposto no art. 2o da Lei no 11.097, de 13 de janeiro de 2005.

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22

2.4 Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP),

autarquia federal, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, foi criada com a

missão de gerir os recursos petrolíferos, é o órgão regulador das atividades que

integram a indústria do petróleo, gás natural e biocombustíveis no Brasil. Dentre as

diversas atribuições da ANP destacamos:

Autorizar e fiscalizar as operações das empresas que distribuem e

revendem derivados de petróleo;

Autorizar e fiscalizar as atividades de produção, importação,

exportação, transporte, transferência, armazenagem, estocagem,

distribuição, revenda e comercialização de biocombustíveis;

Estabelecer as especificações técnicas (características físico-químicas)

dos derivados de petróleo, gás natural e dos biocombustíveis e realizar

permanente monitoramento da qualidade desses produtos nos pontos-

de-venda;

A ANP, que tem como atribuição regular e fiscalizar as atividades relativas à

produção, controle de qualidade, distribuição, revenda e comercialização do

biodiesel e da mistura óleo diesel-biodiesel (BX), tem editado Resoluções,

objetivando o desenvolvimento dessa fonte energética sustentável sob os aspectos

ambiental, econômico e social, propiciando a redução das importações de óleo

diesel.

Resolução ANP nº 18, de 22 de junho de 2007, estabelece a obrigatoriedade

da autorização prévia da ANP para utilização de biodiesel, B100, e de suas misturas

com óleo diesel, em teores diversos do autorizado por legislação específica,

destinados ao uso experimental, caso o consumo mensal supere a 10.000 litros.

Resolução ANP Nº 2, de 29.1.2008, sujeita à autorização prévia da ANP a

utilização de biodiesel e de suas misturas com óleo diesel B, em teores diversos do

autorizado pela legislação vigente, destinados ao uso específico. Sendo que o uso

específico de Diesel B6 a B20 poderá ser autorizado sem necessidade de prévio uso

experimental, a que se refere a Resolução ANP n° 18, de 22.06.2007. E se a

empresa fabricante do motor apresentar documento oficial de declaração

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concedendo a garantia do uso será dispensado do uso experimental (Resolução

ANP n° 18, de 22.06.2007) no caso de misturas com teores de biodiesel superiores

a 20%.

Resolução ANP Nº 7, DE 19.3.2008, estabelece no Regulamento Técnico

ANP, parte integrante desta Resolução, a especificação do biodiesel a ser

comercializado pelos diversos agentes econômicos autorizados em todo o território

nacional.

2.5 Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis (SPG)

No âmbito do Ministério de Minas Energia foi estruturada a Secretaria de

Petróleo, Gás Natural e Combustíveis Renováveis (SPG) que tem como missão

institucional desenvolver as políticas setoriais, sendo um dos seus objetivos,

aumentar a participação dos biocombustíveis na matriz energética nacional, em

bases econômicas, sociais, e ambientais, tese reforçada com a criação do

Departamento de Combustíveis Renováveis (DCR), ao qual compete:

Monitorar e avaliar, em conjunto com as instituições governamentais,

agências reguladoras e demais instituições competentes, as condições

de produção, utilização e a evolução do abastecimento de

combustíveis renováveis;

Promover, desenvolver e executar ações e medidas preventivas e

corretivas visando garantir o satisfatório abastecimento de

combustíveis renováveis no País, bem como a sua adequada

participação na matriz energética;

Promover a inserção de novos combustíveis na matriz energética;

Promover, acompanhar e supervisionar a adequada utilização dos

recursos destinados ao fomento da utilização dos combustíveis

renováveis;

Coordenar e promover programas, incentivos e ações visando a

atração de investimentos para o setor de combustíveis renováveis;

Monitorar, estimular e apoiar atividades de pesquisa e desenvolvimento

tecnológico no setor de combustíveis renováveis;

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Interagir com as instituições governamentais, agências reguladoras e

demais entidades envolvidas com o setor de combustíveis renováveis.

2.6 Ministério do Desenvolvimento Agrário

O Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) ficou responsável pela

promoção da inserção qualificada de agricultores familiares na cadeia de produção

do biodiesel. Marco normativo de extrema relevância foi a instituição do selo

"Combustível Social", através do Decreto nº 5.297, de 06 de dezembro de 2004,

visando garantir a participação da agricultura familiar no PNPB, que será concedido

ao produtor de biodiesel que:

I - promover a inclusão social dos agricultores familiares enquadrados

no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar -

PRONAF, que lhe forneçam matéria-prima;

II - comprovar regularidade perante o Sistema de Cadastramento

Unificado de Fornecedores - SICAF.

§1º Para promover a inclusão social dos agricultores familiares, o

produtor de biodiesel deve:

I - adquirir de agricultor familiar, em parcela não inferior ao percentual a

ser definido pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, da matéria-

prima para a produção de biodiesel;

II - celebrar contratos com os agricultores familiares, especificando as

condições comerciais que garantam renda e prazos compatíveis com a

atividade, conforme requisitos a serem estabelecidos pelo Ministério do

Desenvolvimento Agrário; e

III - assegurar assistência e capacitação técnica aos agricultores

familiares.

§2º O percentual de que trata o inciso I do § 1:

I - poderá ser diferenciado por região; e

II - deverá ser estipulado em relação às aquisições anuais de matéria-

prima efetuadas pelo produtor de biodiesel.

§3º O selo "Combustível Social" poderá, com relação ao produtor de

biodiesel:

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I - conferir direito a benefícios de políticas públicas específicas voltadas

para promover a produção de combustíveis renováveis com inclusão

social e desenvolvimento regional; e

II - ser utilizado para fins de promoção comercial de sua produção.

Segundo a revista BiodieselBR (2011), a inclusão social está muito aquém do

desejável. A responsabilidade da promoção da integração entre produção de

biodiesel e a agricultura familiar é do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA),

e que de acordo seu Coordenador de Combustíveis, a Instrução Normativa quê

regulamenta o programa deve ganhar nova redação, e será submetida à audiência

pública no 2º semestre de 2011.

O princípio por trás do Selo Combustível Social é sublime. O governo buscou evitar

que o biodiesel repetisse a história do etanol feito de cana-de-açúcar e virasse um

negócio restrito aos grandes agricultores. Então, o que se fez foi desenvolver um

sistema que procurava recompensar as usinas que comprassem matéria-prima da

agricultura familiar. O empresário que incluísse os pequenos agricultores entre seus

fornecedores ganharia abatimentos e até mesmo isenção de impostos. Além disso, a

iniciativa era inédita: em nenhum programa de biodiesel do mundo tal proposta havia

sido colocada em prática. (BIODIESELBR, 2011)

O MDA através da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) atua em duas

frentes (Fig. 2): na concessão e gerenciamento do Selo Combustível Social que será

fornecido ao produtor que cumprir os critérios estabelecidos pelo Programa; e no

planejamento e implementação da metodologia da organização da base produtiva,

promovendo a articulação entre os diversos atores e os agricultores familiares -

responsável pelo fornecimento da matéria-prima. Facilitando para os agricultores o

acesso às políticas públicas, tecnologia e capacitação.

Figura 2 – Atuação do MDA – PRONAF

FONTE: MDA

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Segundo a reportagem apresentada pela BiodieselBR (2011), em 15 de

setembro deste ano, o PNPB pode ser considerado exitoso em relação ao volume

produzido, capacidade instalada e abastecimento. No entanto o programa social

seria um fracasso sem a participação da Petrobras (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Evolução do Número de Agricultores Familiares do PNPB

Fonte: MDA, Petrobras Biocombustível e BiodieselBR

O Brasil possui hoje 67 usinas de biodiesel autorizadas pela ANP e uma

capacidade de produção de 6,38 bilhões de litros.. As três unidades da Petrobras

Biocombustível possuem capacidade de 434 milhões de litros. Embora essas

unidades representem menos de 7% de toda a capacidade produtiva do Brasil, a

estatal é responsável por 73% da inclusão social. Do total das usinas autorizadas,

34 usinas (quadro 2) conseguiram aderir ao Selo Combustível Social (BiodieselBR,

2011)

Quadro 2: Empresas com Selo Combustível

EMPRESAS COM O SELO COMBUSTÍVEL SOCIAL

Nº EMPRESA MUNICÍPIO UF

1 Agrosoja – Comércio e Exportação de Cereais Ltda Sorriso MT

2 Araguassú Óleos Vegetais Indústria e Comércio Ltda Porto Alegre do

Norte

MT

3 Barralcool – Usina Barralcool S.A. Barra do Bugres MT

4 Bio Óleo Indústria e Comércio de Biocombustível Ltda Cuiabá MT

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5 Biocamp Indústria e Comércio de Biocombustível Ltda Campo Verde MT

6 Biocapital Consultoria Empresarial e Participações S.A. Charqueada SP

7 Biopar – Bioenergia do Paraná Ltda Rolândia PR

8 Biopar Produção de Biodiesel Parecis Ltda Nova Marilãndia MT

9 Bioverde – Indústria e Comércio de Biocombustíveis S?A Taubaté SP

10 Brasil Ecodiesel Ind. E Com de Biocombustíveis e Óleos Vegetais

S.A.

Iraquara BA

11 Brasil Ecodiesel Ind. E Com de Biocombustíveis e Óleos Vegetais

S.A.

Porto Nacional TO

12 Brasil Ecodiesel Ind. E Com de Biocombustíveis e Óleos Vegetais

S.A.

Rosário do Sul RS

13 BSBIO Indústria e Comércio de Biodiesel Sul Brasil S.A. Passo Fundo RS

14 BSBIO Marialva Indústria e Comércio de Biodiesel Sul Brasil S.A Marialva PR

15 Camera Agroalimentos S.A. Ijuí RS

16 Caramuru Alimentos S.A. São Simão GO

17 Caramuru Alimentos S.A. Ipameri GO

18 Comanche Biocombustíveis da Bahia Ltda Simões Filho BA

19 Companhia Produtora de Biodiesel do Tocantins – Biotins Paraíso do

Tocantins

TO

20 COOPERFELIZ Feliz Natal MT

21 Cooperbio – Cooperativa de Biocombustível Cuiabá MT

22 Delta Biocombustíveis Industria e Comércio Ltda Rio Brilhante MS

23 Fertibom Indústria Ltda Catanduva SP

24 Fisgril Ltda Lucas do Rio

Verde

SP

25 Granol Indústria e Comércio Ltda Cachoeira do Sul RS

26 Granol Indústria e Comércio Ltda Anapólis GO

27 Grupal Agroindústria S.A. Sorriso MT

28 JBS S.A. Lins SP

29 Oleoplan S.A. – Óleos Vegetais Planalto Veranópolis RS

30 Olfar Indústria e Comércio de Óleos Vegetais Ltda Erechim RS

31 Petrobras Biocombustível S.A. Candeias BA

32 Petrobras Biocombustível S.A Quixadá CE

33 Petrobras Biocombustível S.A. Montes Claros MG

34 Transporte Caibense Ltda Rondonópolis MT

FONTE: MDA (2011) Atualizado 31/10/2011

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2.7 Ministério de Agricultura, Pecuária (MAPA)

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é responsável

pela gestão das políticas públicas de estímulo à agropecuária, pelo fomento do

agronegócio e pela regulação e normatização de serviços vinculados ao setor.

Através da Secretaria de Produção e Agroenergia (SPAE) desenvolve políticas

públicas de fomento aos setores cafeeiro e sucroenergético. O Departamento de

Cana-de-Açúcar e Agroenergia (DCAA) têm por objetivo projetar o Brasil como

liderança mundial em agroenergia. Monitora a produção das usinas do setor

sucroalcooleiro, o abastecimento de etanol e promove a internacionalização dos

biocombustíveis

Através do Plano Nacional de Agroenergia articula propostas de Pesquisa,

Desenvolvimento, Inovação e de Transferência de Tecnologia, visando garantir

sustentabilidade, competitividade e maior eqüidade entre os agentes das cadeias de

agroenergia. O Brasil é o país que em função das suas dimensões continentais, e

condições edafoclimáticas poderá liderar a agricultura de energia. Destaca-se pela

possibilidade de incorporar áreas à agricultura de energia, sem competição com a

agricultura de alimentos. Por outro lado, tem a possibilidade de múltiplos cultivos

dentro do ano calendário.

Segundo o MAPA (2011), os principais fatores que impulsionam o

desenvolvimento tecnológico para aproveitamento da biomassa energética são:

A crescente preocupação com as mudanças climáticas globais;

O reconhecimento da importância da energia de biomassa para efetuar

a transição para uma nova matriz energética e substituir o petróleo

como matéria prima, em seu uso como combustível ou insumo para a

indústria química;

A crescente demanda por energia e as altas taxas recentes de uso de

biomassa energética;

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Os custos ambientais (externalidades negativas) serão paulatinamente

incorporados ao preço dos combustíveis fósseis, através de tributos

punitivos (taxa de poluição);

O preço também oscilará, mantendo tendência crescente, em função

das disputas políticas e bélicas pelas últimas reservas disponíveis,

tornando inseguros os fluxos de abastecimento e o cumprimento de

contratos de fornecimento de petróleo;

Cresce, em progressão logarítmica, o investimento público e privado no

desenvolvimento de inovações que viabilizem as fontes renováveis e

sustentáveis de energia, com ênfase para o aproveitamento da

biomassa;

Também cresce o número de investidores internacionais interessados

em contratos de largo prazo, para o fornecimento de biocombustíveis,

especialmente o álcool e, em menor proporção, o biodiesel e outros

derivados de biomassa;

A energia passará a ser um componente importante do custo de

produção agropecuário e da agroindústria, tornando progressivamente

atraente a geração de energia dentro da propriedade.

2.8 Políticas Públicas Estaduais na Região Norte

No tocante às políticas públicas estaduais, Teixeira e Miccollis (2010),

destacam algumas iniciativas para o desenvolvimento do biodiesel na Região

Amazônia no primeiro ano do programa (2005)

Inauguração da usina de biodiesel do Grupo Agropalma que utiliza

como matéria-prima a borra do óleo de palma;

Realização do I Seminário Estadual de Energia Renováveis, Biodiesel

e Sustentabilidade organizado pela Secretária do estado de Ciência e

Tecnologia (SECT);

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A Fundação de Tecnologia do Estado do Acre (FUNTAC) em parceria

com a Eletrobrás, elaboraram projeto para implantação de um centro

de excelência sobre biodiesel;

No Amapá – o governo federal juntamente com o governo estadual

liberou verbas para pesquisas voltadas a produção de biodiesel a partir

das oleaginosas regionais;

Em Rondônia, a Secretária de Reordenamento Agrário do Ministério do

Desenvolvimento Agrário, em parceria com a Federação dos

Trabalhadores na Agricultura de Rondônia (FETAGRO) organizou

seminário sobre Crédito Fundiário e Biodiesel.

Outro passo importante foi à adoção das Diretrizes da Política de Agroenergia

nos Programas Estaduais da Região Norte. Estabelecem um direcionamento nas

políticas e ações públicas de Ministérios, diretamente envolvidos no aproveitamento

de oportunidades e do potencial da agroenergia brasileira, sob parâmetros de

competitividade, sustentabilidade e equidade social e regional. (MAPA, MCT, MME,

MDIC, 2006).

Desenvolvimento da agroenergia – implantação da cadeia produtiva de

biodiesel;

Desenvolvimento Tecnológico – desenvolver tecnologias para

aproveitamento da biomassa em pequena escala;

Agroenergia e produção – a expansão da agroenergia não implicará na

redução de alimentos para o consumo interno;

Autonomia energética – opções para geração de energia em regiões

remotas do território nacional;

Geração de emprego e renda – Vetor de inclusão social, fixação da

população em seus habitat, e agregação de valor a cadeia produtiva;

Otimização do aproveitamento de áreas antropizadas – produção de

culturas energéticas em áreas degradadas;

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Otimização das vocações regionais – incentivo aos projetos de culturas

com maior potencial;

Liderança no comércio de biocombustíveis – assumir o papel de líder

no mercado internacional, desenvolvendo e promovendo os produtos

energéticos oriundos da agroenergia;

Aderência a política ambiental – nortear suas ações de acordo com as

normas ambientais brasileiras, assim como, pelos Protocolos e

Acordos Internacionais, dos quais o Brasil seja signatário, a exemplo

do Protocolo de Quioto que estabeleceu Mecanismos de

Desenvolvimento Limpo (MDL).

2.8.1 Acre

O Centro de Referência em Energias Renováveis foi criado para centralizar os

projetos voltados para o desenvolvimento energético do Estado, baseados na

utilização das fontes renováveis, sendo parte das estratégias para o

desenvolvimento político, econômico e social sustentáveis. Nesse sentido os

representantes do Governo do Estado do Acre, em parceria Eletroacre, Eletronorte,

Universidade Federal do Acre - UFAC e Fundação de Tecnologia do Acre –

FUNTAC, visando atender as comunidades isoladas das regiões mais distantes,

sem acesso a rede convencional de energia, criou um Grupo de Trabalho (GT), com

o objetivo buscar e assegurar a instalação de soluções tecnológicas, alternativas

com o uso de fontes renováveis, garantindo a essas comunidades tradicionais,

acesso à energia, aos processos produtivos, a educação e a cidadania.

O Programa Estadual do Biodiesel, um dos núcleos do Centro de Referência

em Energias Renováveis elaborou projeto estruturado em seis (6) etapas:

desenvolvimento do ciclo agroindustrial da matéria-prima; desenvolvimento do ciclo

tecnológico da produção de insumos; desenvolvimento do ciclo de geração de

energia; desenvolvimento do ciclo das comunidades; desenvolvimento do ciclo de

capacitação; e resultado. Principal objetivo geração de energia elétrica em

comunidades isoladas do Acre utilizando biocombustíveis a partir de oleaginosas

regionais.

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2.8.2 Amazonas

No âmbito das políticas públicas o Estado do Amazonas estimulou projetos

voltados ao desenvolvimento de suas potencialidades e ao atendimento das

comunidades isoladas. Segundo a revista BiodieselBR, o Fundo Setorial de Energia

(MME), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

Tecnológico (CNPq) liberaram R$ 806 mil para construção de uma usina de

biodiesel experimental.

O projeto Programa de Biodiesel para o Amazonas: Dendê, coordenado pelo

Instituto Militar de Engenharia (IME), contou com a participação da Empresa

Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) - Ocidental e a Fundação Centro

de Análise, Pesquisa e Inovação Tecnológica (FUCAPI). A usina experimental

funciona no município Rio Preto da Eva, produzindo inicialmente 1000 litros de

biodiesel, destinados ao atendimento de motor estacionário para geração de

eletricidade. Outro projeto é o Programa de Biodiesel para o Amazonas a partir de

Oleaginosas Nativas, visando estudar a produção de biodiesel a partir de óleos

obtidos do tucumã, do urucuri, do muru-muru e do babaçu, contando com a

participação da Universidade Federal do Amazonas, o Instituto Nacional de

Pesquisas da Amazônia e comunidades isoladas da Reserva Extrativista do Médio

Juruá.

2.8.3 Amapá

O Governo do Estado, através da Secretaria de Ciência e Tecnologia

(Setec), garantiu participação no PNPB apresentando o Programa Amapaense de

Biodiesel e do projeto “Desenvolvimento de Pesquisa e Prospecção de Plantas

Nativas com Potencialidade para a Produção de Biodiesel no Estado do Amapá”.

Acompanhando as diretrizes do PNPB o programa foi estruturado em três grandes

componentes: ciência e tecnologia, agrícola, e o social. O projeto realizará uma série

de pesquisas sobre espécies nativas do Estado e analisará o potencial dessas

oleaginosas na produção de biocombustíveis. Fará investimentos no treinamento de

pesquisadores e técnicos e montará um laboratório equipado para realização dos

testes. As principais espécies nativas do Estado serão estudadas, como andiroba,

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pracaxi, ucuúba, buriti, piquiá, inajá, entre outras, visando identificar o potencial e a

qualidade química do óleo extraído.

A Financiadora de Estudos e Pesquisas (FINEP) fará o repasse dos recursos

para serem aplicados em pesquisas, treinamentos e montagem de laboratório. O

Governo do Estado em parceria com a Embrapa Amapá, implementará as ações

necessárias para construção de uma base tecnológica para o desenvolvimento da

produção de biodiesel. Técnicos do Embrapa - Amapá juntamente com os do

Instituto de Pesquisas Científicas e do Estado do Amapá – IEPA, estão selecionando

os municípios com potencial de produzir as espécies oleaginosas selecionadas.

2.8.4 Pará

Em 22 de junho de 2004 a Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e

Meio Ambiente (Sectam), lançou o Programa Paraense de Incentivo à Produção de

Biodiesel (Parábiodiesel) que é parte do Programa Paraense de Incentivo à

Bioindústria. O objetivo do programa é de incentivo a produção deste novo

combustível, proveniente de matéria totalmente renovável, para introduzi-lo na

matriz energética estadual, em substituição aos combustíveis derivados de petróleo,

altamente poluentes. A primeira indústria a produzir biodiesel no Pará foi a

Agropalma. De acordo com o levantamento de Santos (2008), o Programa foi

estruturado, considerando os seguintes aspectos:

Agronômico - caracterização das oleaginosas com potencial produtivo

para biodiesel, mapeamento das regiões e assentamento rural;

Industrial – empreendimentos industriais para esmagamento e

produção de óleo, produção de etanol;

Instalação de usinas de biodiesel.

Ainda de acordo com Santos (2008), foram estabelecidas metas de cunho

tecnológico, destacando-se:

Adequação e credenciamento do Departamento de Química da UFPA;

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Disponibilização das informações das tecnologias empregadas na

produção de biodiesel;

Formação e capacitação técnico-científica.

O presidente Lula lançou no município de Tomé-Açu, a 193 quilômetros de

Belém (PA), em 06 de maio de 2010 o Programa Nacional de Estímulo à Produção

de Óleo de Palma.

A Petrobras anunciou que pretende produzir biodiesel a partir de óleo de

palma (dendê). O Projeto Biodiesel Pará, prevê a implantação de uma usina com

capacidade de produzir 120 milhões de biodiesel por ano, visando abastecer toda a

região Norte.

A Biopalma, empresa subsidiária da Vale, produzirá biodiesel no Pará, a partir

de 2013, como alternativa energética para seus empreendimentos industriais. O

projeto será desenvolvido na região indicada pelo zoneamento ecológico econômico

como propícia à produção de palma, palmeira que tem como fruto o dendê. A região

abrange, entre outros municípios, Moju, Tailândia, Acará e Concórdia do Pará.

2.8.5 Rondônia - A EMATER-RO em parceria com a Secretaria Estadual da

Agricultura e Regularização Fundiária - SEAGRI estão promovendo projetos visando

à produção do biodiesel, e também a sustentabilidade financeira dos produtores.

2.9 O Papel dos Estados no Desenvolvimento Sustentável do PNPB

De acordo Araújo (2011), os Estados têm um papel essencial no

desenvolvimento das potencialidades regionais. Suas ações devem estar pautadas

nessas características. Nesse sentido Coy e Kohlhepp (2005) afirmam que a

Amazônia brasileira passou por grandes transformações nas últimas décadas, no

entanto a maior parte da nação brasileira não percebe, conservando imagens

obsoletas sobre a região, verdadeiros mitos – terra exótica e dos espaços vazios -

que obscurecem a realidade regional, dificultando a elaboração de políticas públicas

adequadas ao seu desenvolvimento.

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35

Segundo Coy e Kolhepp (2005) “a Amazônia hoje é uma questão nacional.

Seu imenso patrimônio natural pouco e inadequadamente utilizado é um desafio à

ciência nacional e mundial, e também um instrumento de pressão externa para

adesão ao “norte” e de negociação do Brasil contra essa pressão. (Becker, 2005, p.

39). As políticas públicas destinadas a Amazônia expressam e se adéquam as

grandes mudanças ocorridas nas últimas três décadas. Estas buscam compatibilizar

o crescimento econômico com a inserção social e a conservação ambiental gerindo

intensos conflitos que resultam na paralisação das ações.

Considerando que a Amazônia possui uma área desmatada de 67 milhões de

hectares, (HOMMA, 2005, apud DROUVOT, DROVOUT, 2011), as políticas públicas

agrícolas devem priorizar as zonas degradadas, agregando-lhe produção. A

recuperação de áreas degradadas possibilita o desenvolvimento de projetos

sustentáveis, com grande apelo ambiental, e com reflexo na melhoria da qualidade

de vida dos povos amazonenses, principalmente das comunidades isoladas.

O sucesso da implementação do PNPB, teve como elemento balizador, a

capacidade de articulação dos diversos atores, se expressando através dos grupos

interministeriais, interagências, interestaduais, e intermunicipais. Verificamos no

primeiro momento, que apesar das dificuldades de comunicação entre ministérios,

agências, instituições governamentais das esferas federal, estadual e municipal, foi

apresentada uma resposta rápida aos estudos solicitados pelo Governo, permitindo

uma série de tomadas de decisões, garantindo a implementação do programa.

Nesse momento é necessário um diagnóstico do PNPB, sob a ótica dos erros e

acertos dos diversos órgãos que integram esse processo.

Atores fundamentais são os governos estaduais, que, com a crise do Estado central,

assumiram responsabilidades e força política. É interessante e importante saber que

esses governos, por suas condições histórico-geográficas, têm estratégias

diferentes. O Mato Grosso e o Pará têm estratégias extensivas de uso da terra, o

estado do Amazonas tem uma estratégia pontual industrial, localizada em Manaus; o

Acre e o Amapá se baseiam na estratégia da florestania, modernização do

extrativismo; em Rondônia procura-se expandir a pecuária e mesmo a soja, e, em

Roraima, a soja no lavrado (cerrado) cercado por florestas e terra indígenas. O

município também é um ente político que tem voz na região, embora sem recursos

financeiros. Economicamente, não tem força, mas a tem do ponto de vista político, e

é responsável pela urbanização recente, transformando as vilas em cidades.

(Becker, 2005)

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Atualmente os órgãos responsáveis pelas políticas setoriais e regulação da

indústria do petróleo, gás natural e biocombustíveis, envidam esforços para a

ampliação da participação das fontes renováveis na matriz energética brasileira. As

medidas que norteiam a inserção do biodiesel na matriz energética brasileira

ratificam os esforços realizados pelas instituições, para gerar incentivos aos agentes

econômicos, na medida em que “viabilizam as inovações tecnológicas, a

organização das firmas, organização do processo de trabalho, as políticas

macroeconômicas, e o padrão de competitividade, que em suma, articulam o

crescimento e o desenvolvimento econômico, de forma mais ou menos duradoura e

sustentada“ (CONCEIÇÃO, 2002).

O Estado é o principal ator no mercado energético, com ações de taxação,

regulação, desoneração, produção, distribuição, e comercialização. Cabe também

ao Estado, em determinadas situações, delimitar seus raios de ação, estabelecer

suas responsabilidades e criar agências reguladoras. O Estado pode criar

diretamente condições para o seu desenvolvimento, mas depois, deve ceder a

liderança ao setor privado mais ágil, flexível e eficiente, sem perder as rédeas

reguladoras do segmento. Os desafios de ações, decisões e articulações que

envolvem essas diversas atividades são imensos, e as inúmeras forças envolvidas

neste complexo contexto de poder transcendem o segmento energético. (VECCHIA,

2010, p. 20)

Apesar do empenho dos Estados da Região Norte na elaboração e

execução de políticas de incentivo para a produção de biodiesel, o volume produzido

é inexpressivo, insuficiente até para atender a demanda interna dos Estados

produtores. A tendência a médio prazo e longo prazo, é de manutenção da

dependência de biodiesel produzido em outras regiões para o atendimento das

demandas regionais, sempre crescentes, seja pelo aumento do consumo da mistura,

ou pela alteração do percentual da mistura. Tal constatação reforça à necessidade

da inclusão dessas singularidades na elaboração de futuros marcos regulatórios.

Qual o custo do diesel gasto no transporte do biodiesel para regiões longínquas? O

benefício “ambiental” justificaria a inserção do biodiesel em regiões que ainda não

possuem uma cadeia produtiva organizada, capaz de fornecer a matéria-prima para

a produção de biodiesel? Muitos questionamentos podem e devem ser levantadas,

visando a adoção das melhores soluções energéticas regionais. As peculiaridades

regionais não devem ser ignoradas, sob pena de se cometerem erros estratégicos, a

exemplo da mamona no Nordeste, que não logrou êxito.

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3 FONTES ALTERNATIVAS DE ENERGIA

Os dois choques do petróleo da década de 70 (1973 e 1979, quando a OPEP

reduziu a oferta de petróleo, forçando a elevação dos preços, de US$ 3 para US$ 12

por barril, e depois para US$ 40), deflagraram no Brasil a necessidade de encontrar

fontes alternativas de energia para os combustíveis fósseis. Segundo Pires (2004), a

ameaça do fim da era do petróleo provocou mudanças nas estratégias das principais

empresas petrolíferas do mundo, que estão diversificando seus investimentos no

desenvolvimento de energéticos alternativos ao petróleo, tais como: gás natural,

célula de hidrogênio, energia solar, eólica e o biodiesel, transformando-se em

verdadeiras empresas de energia.

O cenário para a adequação das matrizes energéticas do futuro com o uso

de energia limpa passa, necessariamente, por um uso mais racional e

eficiente, pelo desenvolvimento de novas tecnologias, pelo aproveitamento

da energia da biomassa, da solar e da eólica e da construção das pequenas

centrais hidrelétricas, com barragens reduzidas, que não comprometeram a

biodiversidade local. Deve-se também aproveitar o biogás gerado em

aterros sanitários e em estações de tratamento de esgotos.

A tendência do crescimento do consumo de petróleo e derivados, tendo como

um cenário futuro: a escassez do petróleo; os sucessivos aumentos dos preços do

petróleo e seus derivados; e as crescentes preocupações ambientais, renovaram os

interesses de muitos países no desenvolvimento de combustíveis alternativos,

abrindo uma série de discussões sobre a alteração da matriz energética nacional e

global.

[...] O uso das fontes tradicionais traça sua trajetória ao declínio, não só pela

sua característica efêmera, mas por que é uma ameaça ao meio ambiente.

Na esteira da questão ecológica, as chamadas “fontes alternativas de

energia” ganham um espaço cada vez maior. Essas fontes alternativas,

além de não prejudicar a natureza, são renováveis, e por isso perene [...]

(SANTOS / MOTHÉ, 2007).

As crises de petróleo incentivaram o desenvolvimento de processos de

transformação de óleos e gorduras em derivados com propriedades físico-

químicas mais próximas dos combustíveis fósseis visando à substituição

total ou parcial destes (OLIVEIRA, et al., 2008).

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Em termos práticos, está sendo traçado um novo caminho energético, e será

necessário admitir que: o petróleo é um recurso finito e está se tornando escasso; os

combustíveis fósseis estão poluindo e comprometendo o clima do planeta; é

emergencial fazer uma transição para energias renováveis e limpas; a biomassa é

uma das alternativas para substituição dos combustíveis fósseis; o álcool e o

biodiesel já se tornaram uma realidade como substitutos, para a gasolina e diesel.

De acordo Costa (2010), o Brasil tem todas as condições para desenvolver

um novo caminho energético. Seu principal desafio será o de superar os modelos

econômicos adotados, responsáveis pela atual crise ambiental e o paradigma do

crescimento econômico praticado hoje baseado em conceitos do século passado,

como o de “crescimento a qualquer custo”, por imposição das forças econômicas,

em detrimento dos aspectos sociais e ambientais. Segundo Almeida (2006), as

fontes alternativas de energia são uma realidade presente no Brasil e no mundo,

recebendo incentivos governamentais e da iniciativa privada, principalmente das

indústrias. As fontes alternativas de energia se caracterizam por sua eficiência,

produção de energia limpa, pura e não poluente, são renováveis, e por isso perene.

Exemplos de fontes renováveis incluem a energia solar, a energia eólica, a energia

hídrica, as células a combustível, e a biomassa.

O mundo necessita urgentemente de uma nova matriz energética, e os

combustíveis renováveis são vitais para construí-la. Reduzem

significativamente as emissões de GEE e abrem oportunidades para muitos

países pobres e em desenvolvimento na América Latina, na Ásia e na

África. Podem propiciar autonomia energética sem grandes investimentos;

gerar emprego e renda; favorecer a agricultura familiar; equilibrar a balança

comercial ; e contribuir para a consolidação de uma sociedade sustentável.

Para Figueredo e Farias Filho (2009), as mudanças em curso no mundo em

relação às fontes renováveis convergem maior foco nas energias renováveis que se

apresentam como um complemento ou substituto dos combustíveis de origem fóssil,

quanto para geração de eletricidade. Os combustíveis produzidos a partir da

biomassa representam essa alternativa.

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3.1 Óleo vegetal “in natura”

Na Amazônia, o índice de eletrificação rural ainda é muito baixo, mais de 80%

das propriedades rurais não são atendidas (ROCHA e SILVA, 2005 apud

GONZALEZ et al., 2008). A solução para os vilarejos e pequenos municípios é uso

de geradores que utilizam combustíveis fósseis. Garantir o fornecimento de energia

elétrica a estas comunidades implica em buscar soluções que utilizem recursos

locais, e que adicionalmente proporcionem desenvolvimento econômico.

Boa parte da população amazônica, em torno de 50%, vive em comunidades

isoladas, sem energia. É um exemplo da complexa logística de acesso, que em

virtude das grandes distâncias, e aliada ao fato de representarem uma parcela

ínfima do mercado nacional de energia elétrica, com baixa demanda, faz com que a

geração nestes sistemas ocorra de forma descentralizada. São comunidades

pobres, que ainda praticam escambo, sem condições remunerar o fornecimento de

bens e serviços, razão pela qual a energia nesses locais não pode ser entendida

como insumo econômico, mas, como insumo social. (GONZALEZ et al., 2008)

A utilização do óleo vegetal “in natura” como combustível é indicada no caso

das comunidades isoladas, onde as grandes usinas hidrelétricas ou a

instalação de linhas de transmissão são impraticáveis. Assim, a utilização

de óleos vegetais in natura produzidos localmente tornou-se uma

alternativa, na medida em que novas tecnologias permitiram sua viabilidade

técnica. (COELHO et al. 2004).

Os recursos energéticos são essenciais para a integração do ser humano ao

desenvolvimento, gerando emprego e renda, refletindo uma melhoria na sua

qualidade de vida. Nesse sentido, óleo vegetal in natura é uma opção que deve ser

considerada para a geração de energia das comunidades isoladas. O acesso a

essas localidades exige longas viagens de barco, que por sua vez obrigam a essas

comunidades ter um estoque de diesel que garanta o funcionamento regular do

gerador. A utilização de óleo vegetal in natura, a exemplo do “óleo de dendê”,

permite que essas comunidades tornem-se auto-suficientes.

Apresentamos abaixo (quadro 1) 03 projetos que foram desenvolvidos em

regiões isoladas da região Amazônica para geração de energia elétrica com óleos

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vegetais de nativas. O óleo de dendê tem sido utilizado preferencialmente, pois

possui características físico-químicas similares ao diesel.

Mapa 1 – Região Norte - Projetos: Geração de energia utilizando óleos vegetais

Fonte: Silva (2004)

Destacamos a execução do projeto PROVEGAM que implantou e testou uma

Unidade de Demonstração de Utilização Energética de Óleos Vegetais – utilizando

um motor convencional diesel, acoplado a um gerador e adaptado com um kit

conversor que permite seu funcionamento com óleo de dendê in natura. No

município de Moju, no estado do Pará, na Vila Soledade, onde moram 700 pessoas

foi instalada uma unidade de demonstração de utilização energética de óleos

vegetais, para verificação do desempenho do motor, e o efeito da disponibilidade de

energia elétrica naquela comunidade. Não restaram dúvidas da melhoria da

qualidade dessa comunidade, mas em relação ao desempenho do motor foram

ratificadas as limitações já identificadas.

Resultados - No aspecto socioeconômico percebeu-se clara melhoria nas

condições de vida da comunidade com a aquisição, pela maioria das

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famílias, de lâmpadas, eletrodomésticos e equipamentos eletromecânicos

que hoje estão presentes em 80% das residências com energia elétrica da

comunidade. [...] A disponibilidade de energia contínua e de boa qualidade

possibilitou o investimento dos moradores em máquinas de processamento

do açaí, uma das principais bases da alimentação das comunidades rurais

paraenses, que aí são beneficiados e comercializados. (COELHO, 2004).

Nesse projeto foi selecionado o óleo de dendê devido às suas

características físico-químicas similares ao diesel. De acordo as pesquisas são

necessárias poucas adaptações no motor diesel para seu funcionamento com o

mesmo.

A Fiat, em parceria com o Instituto Nacional de Metrologia e Qualidade

Industrial (Inmetro), está desenvolvendo um motor para máquinas agrícolas movido

a óleo vegetal puro. Calculam que a substituição do diesel pelo óleo vegetal pode

representar uma economia de aproximadamente 30%. O insumo poderá ser

preparado pelo próprio agricultor com sementes oleaginosas, como soja e

girassol. Romeu Daroda, coordenador do projeto no Inmetro, salienta que

em geral as pesquisas no segmento dos biocombustíveis estão voltadas

para conversão do óleo vegetal em algo que se assemelhasse à aparência

química dos combustíveis fósseis, mudamos o foco, estamos

desenvolvendo um motor que se adapte ao combustível, explica.

(BIODIESELBR, 2010).

[...] a idéia nasceu de uma preocupação social: criar uma fonte de

energia para comunidades agrícolas isoladas. Além de produzir o

combustível dos tratores, os agricultores também poderão usar as

máquinas como geradores de energia elétrica para residências.

Mas a tecnologia pode, ainda, alavancar a produtividade de

grandes empreendimentos do agronegócio, como a produção de

soja. (BIODIESELBR, 2010).

Apesar de apresentar algumas limitações, o uso do óleo vegetal in natura

num motor estacionário em regiões remotas, visando a geração de eletricidade para

atender as necessidades básicas dessas comunidades configura-se como a melhor

opção, em relação ao diesel e ao biodiesel. O primeiro pela ineficiência logística de

aquisição, transporte, e armazenamento, e o segundo, por ser necessário

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transformações químicas para sua produção, exigindo além da instalação de uma

mini-usina para produção de biodiesel, insumos (álcool, catalisadores, etc.) que

utilizam a mesma logística (aquisição, transporte, e armazenamento) do combustível

fóssil (BIODIESELBR, 2008).

3.2 Biocombustíveis

O uso de fontes alternativas e renováveis em complemento às fontes

tradicionais de produção de energia vem de encontro com a necessidade de se

construir um novo paradigma que contextualize as dimensões políticas, econômicas,

sociais, tecnológicas e ambientais, contestando os valores vigentes na sociedade

atual que exaltam o crescimento desenfreado com a exploração descontrolada dos

recursos naturais.

[...] o século XXI nos arremessa a uma nova preocupação, até quando o

planeta sustentará o contínuo abuso no uso dos seus recursos?

Tendo como objeto tal preocupação e em busca de soluções energéticas

para o aumento da demanda internacional, o Brasil ressurge no cenário

internacional como um gigante dos biocombustíveis, uma opção barata,

bem desenvolvida tecnologicamente e, principalmente sustentável. O país

reaparece ao mundo no contexto energético munido de um Knowhow

baseado em décadas de experiências na agricultura para fins energéticos,

tecnologia avançada de produção, grande aporte financeiro da iniciativa

privada, tanto em pesquisa quanto em produção, extensas áreas de cultivo,

já em atividade, com alta capacidade de expansão e sem competir com a

agricultura de alimentos, possibilidade de múltiplas culturas em decorrência

da grande extensão territorial e biodiversidade, favorecendo o plantio de

diferentes fontes alternativas de energia associadas à agricultura de

energia, abundância de recursos hídricos e mão-de-obra. (ARAÙJO, 2011,

grifo nosso).

O Brasil possui o cenário ideal para a construção de uma “Matriz Energética

mais Verde” diante do seu imenso potencial, para aproveitamento da irradiação

solar, força dos ventos e principalmente da biomassa, contribuindo para a

diminuição de gases de efeito estufa e redução dos impactos ambientais (Matijascic

& Medeiros, 2011). Araújo (2011) ressalta que as nações ao admitirem a existência

de problemas ambientais, atrelados a alta demanda de combustíveis, “abriu

caminhos para a inclusão do Brasil no mercado internacional de etanol e biodiesel”

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Segundo Bacchi (2006), estima-se em 2 trilhões de toneladas de biomassa no

globo terrestre, correspondendo a 8 vezes o consumo anual mundial de energia.

Reforçando o grande potencial de suprimento de energia através das fontes

renováveis. O Brasil com 140 milhões de hectares de área adicional agricultável,

tecnologia própria e mão-de-obra disponível, têm as melhores condições para liderar

a agricultura de energia. De acordo informe técnico do Conselho de Informações

sobre Biotecnologia (CIB), as principais vantagens da produção dos biocombustíveis

são:

Ambiental – qualquer planta cultivada seqüestra carbono [...}. Desta forma,

a agroenergia contribui de maneira efetiva para a redução do aquecimento

global.

Renovável – petróleo queimado não volta mais, ao passo que o etanol e o

biodiesel são produzidos sempre, e cada vez com melhor tecnologia, mais

produtiva, competitiva e sustentável. O biocombustível pode ser produzido

em qualquer lugar do mundo, com base em diversas matérias-primas.

Social – gera emprego ao longo de toda a cadeia de produção. Este é um

fator que pode ser multiplicado em todos os países que optarem pela

agroenergia.

Econômica – o impacto na balança comercial de quem depende do petróleo

é evidente. O Brasil é hoje auto-suficiente em óleo por causa dos

biocombustíveis, especialmente do etanol. E, mais ainda a co-geração de

eletricidade por parte das usinas de álcool ganha crescente importância no

país, reduzindo a necessidade de novas hidrelétricas e termelétricas. O

estado de São Paulo, o mais industrializado do Brasil, já tem 17% de sua

energia elétrica vinda do açúcar.

Novo paradigma – a agroenergia vai mudar a geoeconomia mundial.

Diferentes matérias-primas vocacionadas para os mais diversos países

mudarão o panorama rural. Só com a cana-de-açucar, que ocupará áreas

de pastagens, por exemplo, permitirá a produção de grãos, especialmente

leguminosas, onde antes isto não existia. Isso ocorre porque a cada cinco

anos, em média, os canaviais precisam ser replantados. Porém antes disso,

são usadas as leguminosas, a exemplo da soja e do amendoim, para fixar

nitrogênio no solo. Além do mais, a agroenergia demanda terra, sol, água,

recursos humano, tecnologia e capital. Os primeiros cinco itens estão

disponíveis entre os trópicos, seja na América Latina ou na África. (CIBH,

2009).

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O Governo Federal lançou em 2005 o PNPB, incentivando o desenvolvimento

das cadeias produtivas de biodiesel, definindo linhas de financiamento, estruturando

a base tecnológica, e estabelecendo o marco regulatório do novo combustível

(CASTRO et. al, 2010).

3.2.1 Biodiesel

A utilização de óleos vegetais como combustível já tinha sido idealizada pelo

engenheiro alemão Rudolph Diesel, conforme sua declaração, entre os anos de

1911 e 1912. “O motor a diesel pode ser alimentado com óleos vegetais, e ajudará

no desenvolvimento agrário dos países que vierem utilizar. O uso de óleos vegetais

como combustível pode parecer insignificante hoje em dia, mas com o tempo, irão

se tornar tão importante quanto o petróleo e o carvão são atualmente” (CÂMARA,

2006).

O Biodiesel surge como uma alternativa aos combustíveis fósseis, com a

vantagem de ser um produto obtido de fonte renovável e perene. Apesar da 1ª

patente ter sido depositada em 1980 pelo Dr. Expedito Parente, só em 2003 é que

foram elaboradas as bases para o Programa Nacional de Produção e Uso de

Biodiesel. Etapa crucial foi a edição da Medida Provisória nº 227, de 06/12/2004, que

autorizava a utilização comercial do biodiesel, marco regulatório convertido na Lei nº

11.097, de 13/01/2005. A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e

Biocombustíveis - ANP, ficando responsável pela regulação e fiscalização da

comercialização dos biocombustíveis, e o Conselho Nacional de Política Energética

– CNPE, pelas diretrizes de produção e o percentual da mistura do biodiesel ao

diesel de petróleo.

Assim, o biodiesel constitui-se em uma alternativa para geração de

energia limpa, que além do apelo ambiental, a produção desse

combustível, a partir de diversas oleaginosas implica na

necessidade de expansão da produção agrícola das potenciais

culturas para atender a esse novo mercado. (CRUZ et al., 2006)

De acordo Rathmann et al. (2005), a diversidade de ecossistemas conferem

ao Brasil uma vantagem comparativa com outros países produtores de oleaginosas.

O uso dos biocombustíveis geram outras vantagens específicas:

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Vantagens ecológicas: o cultivo da matéria-prima absorve CO2 durante

o processo de fotossíntese;

Vantagens macroeconômicas: geração de emprego e renda para a

população rural (inclusão social);

Matriz energética diversificada, mais limpa;

Vantagens financeiras: aproveitamento dos créditos de carbono,

gerados pela produção de combustível;

Desenvolvimento regional, através do rearranjo do sistema produtivo,

desenvolvimento de inovações tecnológicas, constituindo uma cadeia

competitiva de biodiesel como resposta ao desenvolvimento regional.

3.2.1.1 Conceito de Biodiesel

O biodiesel é um biocombustível composto de mono-alqui-ésteres de ácidos

graxos de cadeia longa obtidos da reação de óleos vegetais ou gordura animal com

um álcool de cadeia curta, metanol ou etanol, na presença de um catalisador,

processo conhecido como transesterificação (BONOMI, 2004), possuindo

propriedades físico-químicas similares ao óleo diesel de petróleo (CRUZ, et al.,

2006).

Segundo o European Biodiesel Board, o biodiesel é um combustível renovável

produzido a partir de óleos vegetais, tais como a soja, canola, girassol, e também de

óleos de frituras ou de gordura animal.

Parente (2003) definiu biodiesel como um combustível renovável,

biodegradável e ambientalmente correto, sucedâneo do óleo diesel mineral,

constituído de uma mistura de ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos, obtidos

da reação de transesterificação de qualquer triglicerídio com um álcool de cadeia

curta, metanol ou etanol.

Quimicamente, o biodiesel possui características apropriadas de uso,

especialmente pela ausência de enxofre e compostos aromáticos, melhor qualidade

de ignição, ponto de combustão apropriado, não tóxico e biodegradável. Ademais,

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quando comparado ao diesel ele é menos poluente, reduzindo sensivelmente as

emissões de materiais particulados, óxidos de carbono, óxidos de enxofre e

hidrocarbonetos policíclicos aromáticos.

Segundo Oliveira et al. (2008), a definição contida no art. 4º da Lei nº 11.097,

de 13/01/2005, que autoriza o uso comercial de biodiesel, não faz nenhuma objeção

a rota tecnológica, dessa forma os produtos obtidos por outros processos, a exemplo

dos bio-óleos (craqueamento) também seriam considerados como biodiesel.

Nesse estudo será adotada a definição da ANP, conforme inciso I, do Art. 2º

da Resolução ANP nº 7, de 19/03/2008 que diz – biodiesel – B100 - combustível

composto de alquil ésteres de ácidos graxos de cadeia longa, derivados de óleos

vegetais ou de gorduras animais conforme a especificação contida no Regulamento

Técnico, parte integrante desta Resolução.

3.2.1.2 Evolução Histórica do Biodiesel

As experiências voltadas para a utilização de fontes alternativas de

combustíveis não são recentes. De acordo Costa et al. (2011), no ano de 1853, E

Duffy e J.Patrick, cientistas, foram os primeiros a realizarem a transesterificação de

óleos vegetais. No passado a oferta abundante de petróleo a preços baixos, não

despertaram interesses na realização de pesquisas para o desenvolvimento de

combustíveis com base nos óleos vegetais. O estado da arte dos biocombustíveis na

linha do tempo (Quadro 3)

Quadro 3 – Biodiesel na linha do tempo

Biodiesel na linha do tempo

1893 O engenheiro alemão Rudolf C. K. Diesel desenvolve o primeiro motor a diesel do mundo, abastecido com óleo vegetal feito a partir de amendoim.

Década de 1920 No Brasil, o Instituto Nacional de Tecnologia (INT) estudava e testava combustíveis alternativos e renováveis a partir da palma, algodão e amendoim.

Década de 1970 A Universidade Federal do Ceará- UFCE desenvolve pesquisas sobre fontes alternativas de energia que culminaram com a revelação de um novo combustível: o biodiesel.

Década de 1980 Registro da primeira patente mundial do biodiesel obtida pelo Prof. Expedito Parente da UFCE– Patente “PI-8007959”.

Década de 1990 No começo dos anos 1990 é iniciado na Europa o processo de industrialização do biodiesel. Na ocasião, o principal mercado produtor e consumidor desse biocombustível em grande escala já era aquele continente.

2004 Foi lançado em 06 de dezembro o Programa Brasileiro de Produção e Uso do

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Biodiesel - PNPB. Foram se sucedendo edições de Leis, Atos Normativos e Regulamentos que formam todo o arcabouço legal que norteia as iniciativas do biodiesel no Brasil.

2005 Em janeiro é publicada a Lei nº 11.097 que dispõe sobre a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira. A partir dessa publicação a ANP assumiu a atribuição de regular e fiscalizar as atividades relativas ao biodiesel. Realização do 1º leilão. Adição facultativa de 2% do biodiesel no diesel.

2008 – 2009 Início da obrigatoriedade da mistura de 2% de biodiesel no diesel. Em junho de 2008 é autorizado o aumento para 3% (Resolução nº 2 do Conselho Nacional de Política Energética - CNPE). Em julho de 2009 entrou em vigor a adição de 4% de biodiesel.

2010 A partir de primeiro de janeiro de 2010. Resolução CNPE, nº 6/2009 permitiu a adição de 5% biodiesel no diesel, publicado no Diário Oficial de 18 de fevereiro de 2009.

Fonte: Ubrabio, 2009, com atualização da Embrapa.

3.2.1.3 Matérias-primas para o biodiesel

Segundo Melo et al. (2007) o Programa do Biodiesel sendo parte integrante

da política governamental brasileira, deverá obrigatoriamente promover a produção

de combustíveis alternativos a partir dos óleos vegetais, entretanto, embora o Brasil

possua grande diversidade de insumos agrícolas, muitas culturas possuem caráter

extrativista, não havendo plantios comerciais que permitam avaliar suas reais

potencialidades.

Quadro 4 – Oleaginosas disponíveis por região

OLEAGINOSAS DISPONÍVEIS POR REGIÃO PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL

REGIÃO ÓLEOS VEGETAIS DISPONÍVEIS

NORTE DENDÊ, BABAÇU E SOJA

NORDESTE BABAÇU, SOJA, MAMONA, DENDÊ, ALGODÃO, MILHO E COCO

CENTRO-OESTE SOJA, MAMONA, ALGODÃO, GIRASSOL, DENDÊ, MILHO E NABO FORRAGEIRO

SUDESTE SOJA, MAMONA, ALGODÃO, MILHO E GIRASSOL

SUL SOJA, CANOLA, GIRASSOL, ALGODÃO, MILHO, E NABO FORRAGEIRO

Fonte: MAPA

De acordo a revista Bioenergia, “a introdução do biodiesel na matriz

energética implica também a inclusão do risco agrícola, pois a matéria-prima está

sujeita a sazonalidade da safra e entressafra” lembra Ricardo Borges Gomide –

coordenador-geral de desenvolvimento da produção e do mercado de combustíveis

do MME. “Condições climáticas, pragas e doenças podem resultar numa colheita

melhor ou pior e, em última instância, numa maior ou menor oferta de

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biocombustível. O economista Daniel Furlan, reforça “a matéria-prima é o gargalo do

programa”. (BIOENERGIA, 2008)

De acordo Goes et al. (2010) a avaliação do Programa de Biodiesel no Brasil

sob a ótica do desenvolvimento sustentável, tem na matéria-prima a questão mais

importante a ser considerada, face as especificidades destas, que implicam em

soluções diferenciadas. O biodiesel pode ser produzido a partir de diversas fontes

de matéria-prima de origem e características distintas. Câmara (2006) subdividiu as

fontes potenciais de matérias-primas nas seguintes classes, conforme quadro

abaixo:

Quadro 5: Classes das Matérias-Primas

Óleos vegetais Líquido à temperatura como os óleos de algodão,

amendoim, babaçu, canola, dendê, girassol, mamona, soja, etc.

Gorduras animais Pastosas ou sólidas à temperatura ambiente como o sebo bovino, óleo de peixe, banha de porco, óleo de mocotó, etc.

Óleos e gorduras residuais

Nesta classe encontram-se muitas matérias-primas relacionadas ao meio urbano como óleos residuais originários de cozinhas domésticas e industriais (óleo de fritura); gordura sobrenadante (escuma) de esgoto; óleos residuais de processamentos industriais; etc.

Fonte: Câmara (2006)

As premissas básicas do PNPB incluem a implantação de um programa

sustentável, devendo promover continuamente a inclusão social; a utilização de

diferentes oleaginosas de acordo as condições edafoclimáticas regionais; a garantia

da qualidade; a garantia do suprimento; e preços competitivos, sendo assim, o óleo

vegetal é predominantemente a melhor opção, seguido das gorduras animais. As

fontes de energia renováveis agrícolas têm potencial técnico para atender boa parte

da demanda incremental de energia do mundo. O Brasil é um país tropical,

possuindo uma ampla variedade de matérias-primas disponíveis, sendo o grande

desafio do PNPB o aproveitamento das potencialidades regionais. Na tabela abaixo

apresentamos o perfil produtivo em grãos e óleo por (kg/ha) das oleaginosas que vai

determinar em menor ou maior grau a sua escolha.

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49

Tabela 1 : Características das oleaginosas com potencial para produção de Biodiesel

Matéria-Prima Teor de óleo (% m/m)

Produtividade média – grão (kg/ha)

Produtividade – óleo (kg/ha)

Mamona

48

1.000

470

Girassol

45

1.800

774

Amendoim

45

2.400

788

Canola

38

1.500

570

Dendê

26

15.000

4.000

Soja

20

2.800

560

Algodão

19

1.900

361

Pinhão Manso

38

5.000

1.900

Fonte: Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA, 2007

No Brasil as matérias-primas identificadas num primeiro momento, com as

melhores características para a produção de biodiesel em função do seu rendimento

e disponibilidade regional, não logram participação expressiva no processo

produtivo, principalmente por não possuírem uma cadeia produtiva organizada. Um

caso à parte é a soja que já era produzida em larga escala, com uma expressiva

participação de 84%, (gráfico 2) seguida do sebo bovino com 12,4%, e óleo de

algodão com 2,1%. Os dois últimos são co-produtos de cadeias produtivas

organizadas, assim como a da soja, o que lhes garante produção em larga escala

(LIMA e CASTRO, 2010).

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50

Gráfico 2 – Participação das oleaginosas na produção de biodiesel

Fonte : ANP - Anuário Estastísitico - 2011

3.2.1.4 Cadeia agrícola na Região Norte

A Região Norte possui uma extraordinária biodiversidade, além de uma

grande variedade de espécies nativas com possibilidades de produzir óleos vegetais

para produção de biodiesel. Estudos realizados pela Embrapa vislumbram no cultivo

da palma, uma opção bastante promissora. Em 06 de maio de 2010, foi lançado no

município de Tomé-Açu, no estado do Pará, o Programa Nacional de Produção de

Óleo de Palma, que tem como principal objetivo a expansão desse cultivo. Segundo

Homma (2005), “toda a política pública para a Amazônia deve estar voltada para a

utilização de mais de 67 milhões de hectares que já foram desmatadas e que

constituem a segunda natureza”.

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Foto: 1 –Palmeira do dendê e frutos frescos

Fonte: (GONZALEZ, et al.2008)

Homma (2005) afirma que são grandes as oportunidades para a lavoura de

biomassa, colocando a agricultura nacional em um patamar privilegiado no

desenvolvimento desses cultivos potenciais. O cultivo do dendê nas áreas

desmatadas (degradadas) será uma grande oportunidade para a recuperação

desses biomas, podendo inclusive colocar a Amazônia em destaque no cenário

internacional a médio e em longo prazo como um grande produtor mundial de óleo

de dendê e biodiesel.

A cadeia produtiva do dendê deverá garantir o fornecimento contínuo de

matéria-prima, sendo necessário o domínio da tecnologia de produção de toda a

cadeia. Atualmente o maior produtor de óleo de palma no Brasil é o estado do Pará,

com 67 mil hectares de áreas plantadas e responsável por 96% produção da

nacional.

A principal vantagem em relação as outras oleaginosas, é sua alta

produtividade, a partir do 7º ano após o plantio, pode produzir de 25 a 30 toneladas

de cachos de frutos frescos por hectare, equivalente a 4t a 6t de óleo/há/ano (taxa

de extração em torno de 22%). (SILVA, 2006 apud MACÊDO et al. 2010).

O Governo Federal reconhece no cultivo do dendê um grande potencial para

a produção de biocombustíveis na Amazônia, mas de acordo Furlan Junior et al

(2006 apud MACÊDO.et al. p. 328, 2010), “ o custo final do biodiesel depende,

sobretudo, do custo do óleo de palma, da taxa de conversão do processo e, em

menor grau, dos custos do álcool, do catalisador e da energia necessária ao

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processo de transesterificação.. Um estudo realizado pelo CEPEA, para análise de

custos e preços do biodiesel, tendo como base os custos agrícolas nas cinco regiões

do Brasil, constatou que para Região Norte, o biodiesel produzido do óleo de palma

seria o mais vantajoso, em função do caráter perene da cultura, alta produtividade

por hectare, e os baixos de custos de produção. (MACÊDO et al., 2010).

Apesar dos estudos demonstrarem a viabilidade econômica da produção do

biodiesel a partir do óleo de palma, não logra participação como matéria-prima na

produção nacional de biodiesel. Vale destacar que a Agropalma sediada no estado

do Pará é a única empresa de grande porte que domina a produção de dendê,

respondendo por 77% da produção nacional, sendo a única refinadora do óleo da

palma e do palmiste do país (BRITO, 2008 apud MACÊDO et al. 2010). Se destaca

no cenário nacional como referência pela produção de biodiesel utilizando como

matéria-prima os ácidos graxos (co-produtos) retirados do processo de refino do

óleo de palma. Adota o processo de esterificação (Fig.3) por rota metílica

(Palmdiesel). A grande vantagem é não reduzir o volume do óleo bruto destinado ao

mercado de alimentos (seu carro-chefe).

Figura 3 – Processo de esterificação Palmdiesel

Fonte: MONTEIRO, 2011

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Lima e Castro (2010), Macêdo et al. (2010) apontam as principais

oportunidades e limitações para o óleo de palma como matéria-prima para biodiesel:

Quadro 6 – Óleo de Palma : Oportunidades e Limitações

OPORTUNIDADES

a) Originadas no sistema produtivo agrícola

1 Cultivo perene

2 Alta produtividade do dendê ton/há/ano

3 Aproveitamento dos co-produtos

4 Participação de empresas capitalistas

5 Aplicação de alto nível tecnológico na agroindústria

6 Utilização de áreas desmatadas, propiciando a recuperação desses biomas

7 Inserção da agricultura familiar

8 Possibilidade de consórcio com outros cultivos – agricultura familiar

9 Disponibilização de melhoria genética

10 Elevada sustentabilidade da cultura

b) Originadas do sistema de fornecimento de insumos

11 Existência de cultivares adaptadas

12 Disponibilidade de informações no Mapa sobre os cultivares registrados

13 Baixa intensidade no uso dos defensivos agrícolas

LIMITAÇÕES

a) Originadas no sistema produtivo agrícola

1) Competição indústria de alimento x biodiesel

2) Altos investimentos na implantação e retorno do capital a longo prazo

3) Legislação ambiental rigorosa e restritiva à expansão na Amazônia

4) Baixa participação da agricultura familiar

5) Escassez de mão-de-obra; encargos trabalhistas;

6) Altos custos com fertilizantes e adubação

7) Custos com a colheita

8) Combate as pragas

9) Tempo de útil de exploração da cultura – 25 anos

b) Originadas no sistema de fornecimento de insumos

10 Único fornecedor de sementes

11 Baixa capacidade de atendimento no fornecimento de sementes

12 Fornecimento de fertilizantes – único fornecedor – custos elevados

13 Eficiência reduzida dos fertilizantes em função das chuvas

14 Formulação inadequada para o cultivo do dendê

15 Apenas um pesticida registrado no MAPA

Fonte: Macêdo et al. 2010

3.2.1.5 Parque Produtivo de Biodiesel

A região Norte (Mapa 2) possui 6 usinas com a capacidade instalada de 193

m3/ano, que corresponde 3,2% da capacidade instalada nacional. No ano de 2010 a

produção de biodiesel no Estado de Tocantins, de 85.345,1 m3 representou 90,9%

da produção da região Norte. A Brasil Ecodiesel produziu 74.576,5 m3 equivalente a

79,4% de todo o biodiesel da região Norte. A empresa Agropalma deixou de produzir

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desde de junho de 2010, fato preocupante, pois a mesma é uma referência nacional

quando o assunto é biodiesel do óleo de palma.

Mapa 2 – Localização das Usinas por região

Fonte ANP

Se as usinas da região Norte estivessem operando no limite de sua

capacidade nominal (tabela 4), ainda assim, o biodiesel produzido – 210,6 mil m3 -,

não seria suficiente para atender as necessidades regionais. As vendas de óleo

diesel no ano de 2010, na região Norte em volume foram de 4861 mil m3

correspondente a um volume de 243 mil m3 de biodiesel – (B100), para preparar a

mistura B5 vigente. Esses números podem sofrer alguma variação, mas este cenário

exige um estudo detalhado da real situação da cadeia produtiva de biodiesel na

região Norte, possibilitando a adoção de estratégias capazes de reverter esse

quadro. O volume produzido no estado do Tocantins foi bastante expressivo, 85.341

mil m3 equivalente 90,9% do total do biodiesel produzido na região Norte no ano de

2010. No entanto, essa concentração de produção no Tocantins, demonstra que os

outros estados da região não estão engajados no PNPB. As políticas públicas

estaduais, não surtiram o efeito para estimular a organização da cadeia agrícola e

produtiva de biodiesel, aliado como já foi dito, as grandes dificuldades logísticas.

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55

Tabela 2 – Capacidade nominal a produção do biodiesel

Capacidade nominal e produção de biodiesel1 (B100), segundo unidades –

2010

Unidade Produtora

2

Município (UF) Capacidade Nominal

3

Produção

m3/ano m

3

DVH Tailândia (PA) 12.600

-

Agropalma Belém (PA) 28.800

2.345,5

Amazonbio Ji-Paraná (RO) 7.200

6.186,2

Ouro Verde Rolim de Moura (RO) 3.240

4,0

Biotins Paraiso Tocantins (TO) 29.160

10.768,6

Brasil Ecodiesel Porto Nacional (TO) 129.600

74.576,5

TOTAL 210.600

93.880,8

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

O mapa abaixo dá uma dimensão da ausência da cadeia agrícola para

produção de biodiesel na região Norte.

Mapa 3 – Pólo do Dendê

Fonte: SAF/MDA

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3.2.1.6 Logística do Biodiesel

Um dos grandes desafios do PNPB está relacionado com os fluxos de

produtos para produção de biodiesel, desde os insumos agrícolas para produção

das matérias-primas até o produto final, ou seja, a mistura diesel-biodiesel na

bomba de abastecimento do posto revendedor. Numa perspectiva econômica é

possível afirmar que a formação dos preços do biodiesel será determinada pelas

movimentações dos produtos entre os diversos elos da cadeia produtiva e da

distribuição. (CASTRO et al. 2010). Para Cittadin, Zilli, Soratto (2010), “não basta

apenas criar novos produtos e serviços que atendam as necessidades dos

consumidores, mas ofertá-los com qualidade e o menor custo possível,”

Becker (2008) afirma que: a logística assume um papel relevante para as

empresas, sendo considerado um elemento de custo e qualidade. A complexidade

do serviço logístico está diretamente vinculada aos diversos elos que compõem a

cadeia produtiva, e sua abrangência.

Para uma logística eficiente são necessários, então, além de infra-estrutura,

serviços qualificados para potencializar o uso dessas redes físicas. Daí

sairá à escolha dos modais mais adequados para atender às exigências de

transporte e armazenagem de um determinado produto. Dada a importância

da logística para as corporações, muitas delas desenvolvem suas próprias

soluções às vezes implantando redes físicas exclusivas no território.

(BECKER, 2008).

Para Becker (2008), a diversificação da matriz energética, pela inserção de

novas fontes de energia, propiciará a construção de um novo padrão de

aproveitamento da base territorial do país, favorecendo a integração do espaço

amazônico no processo de globalização da economia.

Nesse contexto, um fator crucial será o arranjo da cadeia produtiva de

biodiesel que será adotado para a produção de oleaginosas, principalmente levando

em conta que as distâncias na região Amazônia ganham outro significado, em

relação ao resto do país. A experiência da Agropalma, única empresa brasileira de

grande porte que produz biodiesel de óleo de palma baseada no modelo integrado

CP-4 (Figura 5). Assim, as distâncias relevantes dizem respeito a localização da

distribuidora. Para Castro et al. (2010), essa característica é favorável para redução

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dos custos de logística, até a produção do biodiesel. Como a quantidade produzida é

inferior a demanda estadual, e o parque de distribuição de combustíveis está a

próxima dessa empresa., os custos logísticos produtor – distribuidor são mínimos.

Figura 6 – Arranjo da Cadeia Produtiva Integrada

Fonte: COPPEAD ,

2007

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Do ponto de vista prático a logística existente para os derivados de petróleo

(Mapa 2) será a mesma que será utilizada para o biodiesel produzido, nas etapa de

distribuição e comercialização.

Mapa 4 – Localização de bases primárias, secundárias, e os modais de transporte dos derivados

Fonte: SINDICON, 2011

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59

4 PETRÓLEO E DERIVADOS – RECURSOS DISPONÍVEIS NA REGIÃO NORTE

Para Vecchia (2010, p 87), o mundo está dividido em países produtores e não

produtores de petróleo, e nesse contexto, alguns exercem seu domínio para obtê-lo,

e outros se submetem a fornecê-lo. O petróleo é considerado o principal vilão do

aquecimento global e da devastação ambiental, mas por outro lado, a indústria do

petróleo é o maior negócio do mundo, calcula-se que movimente diariamente entre

US$ 2 e US$ 5 bilhões. É uma atividade extremamente complexa, compreendendo:

campos de petróleo, plataformas marítimas, oleodutos, gasodutos, refinarias,

terminais, bases de distribuição, uma vasta rede postos revendedores, além das

indústrias petroquímicas.

A energia obtida dos combustíveis fósseis tem sido um dos pilares do

desenvolvimento dos países industrializados, proporcionando conforto e progresso

no padrão de vida. No entanto em meados do século XX, diversos fatores, criaram

um cenário preocupante para as próximas décadas, “O Fim da Era dos

Combustíveis Fósseis”, com graves conseqüências sociais, econômicas e políticas.

É esperado um crescimento acentuado da demanda de petróleo e derivados em

função do desenvolvimento dos países, e principalmente das necessidades de

petróleo das economias emergentes, como por exemplo, a China e Índia. As

reservas provadas mundiais em 2011 estão estimadas em 1.382,1 bilhões de barris,

distribuídos de acordo Regiões Geográficas (fig. 5). Atualmente o Oriente Médio

detém 54,45% das reservas provadas mundiais.

Figura 5 – Reservas provadas

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

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Para Rosa & Gomes (2004), será preocupante se a velocidade de

substituição dos combustíveis fósseis pelos combustíveis oriundos de outras fontes

alternativas não for suficiente para compensar o déficit da oferta e da demanda de

petróleo. De acordo Bacchi (2006), para atender o atual ritmo de crescimento e

consumo dos países - desenvolvidos e em franco desenvolvimento -, levando em

conta que a capacidades das reservas mundiais é extremamente limitada, a

exaustão das mesmas está estimada entre 40 a 50 anos. Vecchia (2010, p90) afirma

que apesar do petróleo ser indispensável ao planeta, e da incerteza de quando se

dará sua exaustão, seu uso contínuo implicará em custos e riscos inaceitáveis,

gerando sérias ameaças à segurança global.

De acordo Rathmann et al (2006), antes do esgotamento das reservas o

preço do petróleo ficará tão elevado que, sua utilização como combustível não será

mais interessante, estimulando uma necessidade de opções alternativas de recursos

energéticos que permitam a substituição do petróleo.

Embora as reservas de petróleo sejam finitas, sua duração dependerá do preço que

a sociedade está disposta a pagar por ele. Nos últimos 40 anos o preço do barril de

petróleo (barril = 159 litros) comercializado internacionalmente variou de cerca de

US$ 3,00 a mais de US$ 140,00 e hoje está próximo de US$ 100,00. Como o custo

médio de sua extração vem crescendo, a tendência é de que seu preço se eleve

gradualmente no futuro. Em adição, convém recordar que as jazidas de petróleo têm

uma distribuição bastante aleatória no mundo (MATTOSO, 2008).

4.1 Produção de Petróleo e Gás Natural no Brasil e Amazônia

No Brasil o segmento de Exploração & Produção vive seu melhor momento

desde a abertura do setor em 1999, petroleiras devem perfurar ao longo do ano de

2011, 161 novos poços e adquirir 12.630 km de sísmica 2D e 2.940 km2 de sísmica

3D. Está prevista a realização da 11ª rodada de licitações das áreas exploratórias,

que será organizada pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e

Biocombustíveis, e serão ofertados blocos localizados nas Regiões Norte e

Nordeste. De acordo a revista Petróleo & Gás (2011), a Petrobras em 2010 registrou

um índice de sucesso exploratório em torno de 57%, refletindo um aumento de 40%

em relação a 2009. Para Chambriard (2011), são grandes as possibilidades num

futuro próximo, de crescimento expressivo das reservas provadas, passando dos

atuais 14 bilhões para 30 bilhões de barris (Fig. 6).

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Figura 6 – Reservas provadas de petróleo brasileiras

Fonte: ANP - Apresentação Potencial Petrolífero do Estado do Amazonas Chambriard (2011)

A Lei nº 9.478/97 – “Lei do Petróleo” -, no inciso II do Art. 8, atribuiu a ANP,

“promover estudos visando à delimitação de blocos, para efeito de concessões das

atividades de exploração, desenvolvimento e produção”, e ainda neste mesmo

diploma no inciso I, § 2º do Art. 50º estabelece o percentual de recursos destinados

a estudos geológicos e geofísicos – “40% (quarenta por cento) ao Ministério de

Minas e Energia, sendo 70% (setenta por cento) para o financiamento de estudos e

serviços de geologia e geofísica aplicados à prospecção de combustíveis fósseis, a

serem promovidos pela ANP, nos termos dos incisos II e III do art. 8o desta Lei”.

Esquema simplificado (fig. 7) da cadeia de geologia e geofísica.

Figura 7 – Cadeia de Geologia e Geofísica

Fonte: ANP - Apresentação Potencial Petrolífero do Estado do Amazonas Chambriard (2011)

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De acordo Chambriard (2011), Diretora da ANP, o Plano Plurianual Geologia

& Geofísica aprovou orçamento para investimentos exploratórios na Região

Amazônica na ordem de R$ 78,4 milhões (fig. 8), compreendendo levantamentos

sísmicos 2D e 3D em 7800 km e 1.050 km2 respectivamente, e aerolevantamento

gravimétrico e magnetométrico em 16.280 km2. Alguns levantamentos já foram

concluídos e outros estão em curso. Vale ressaltar que apenas 6% das bacias da

Região Amazônica estão sendo exploradas pelas concessionárias, e é grande a

expectativa de novas ocorrências de óleo e gás, despertando grande atratividade

nas petroleiras

Figura 8 – Investimentos nas bacias do Solimões e Amazonas

Fonte: ANP - Chambriard (2011) - Potencial Petrolífero do Estado do Amazonas

A empresa HRT Óleo, que é detentora de 21 blocos na Bacia do Solimões,

(fig. 9) tem realizado vultosos investimentos no estado do Amazonas, com previsão

de perfuração de 16 poços em 2011.

Figura 9 – Província petrolífera da bacia do Solimões

Fonte: ANP – Chambriard (2011) - Potencial Petrolífero do Estado do Amazonas

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Trabalhos prospectivos estão sendo realizados na Foz do Amazonas - costa

do Amapá, pela Petrobras e OGX (Grupo EBX). Até o momento foram perfurados 93

poços exploratórios, mas nenhuma descoberta foi registrada. A OGX está presente

na bacia Pará-Maranhão (fig. 10) projetando a perfuração de dois poços

exploratórios. Calcula-se que as reservas possuam em torno de 447 milhões de

barris de óleo equivalente, com um índice de sucesso exploratório em torno de

21,3%.

Figura 10 – Bacias em exploração e campos em produção – foz do Amazonas, Pará-Maranhão

Fonte: www.brasil-round.gov.br – Mapas Concessões

Segundo a ANP, as reservas totais brasileiras de petróleo e gás natural, que

incluem as provadas, as prováveis, e as possíveis, cresceram 34,7% (tabela 5) e

37,1% (tabela 6) respectivamente, no período de 2009 para 2010, o maior aumento

desde 2000. O estado do Amazonas, atualmente é o único da região Norte, que tem

reservatórios localizados, apresentando uma evolução positiva das reservas totais,

de 5,41% para o petróleo (tabela 5), e 0,58% para o gás natural (tabela 6) no

período de 2010 em relação ao ano anterior.

Tabela 5 – Reservas Totais de Petróleo (Milhões de Barris)

RESERVAS TOTAIS DE PETRÓLEO (MILHÕES DE BARRIS)

UF Localiza

ção

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Var % 09/10

BRASIL 12.99

2,7

13.07

5,8

13.49

3,9

14.76

8,4

16.13

2,3

18.17

4,9

20.38

0,4

20.85

4,5

21.13

4,4

28.46

7,4

34,

70

SUBTOT

AL

Terra 1.214,

7

1.370,

5

1.360,

7

1.299,

3

1.354,

7

1.569,

3

1.458,

0

1.456,

1

1.498,

9

1.492,

0

1,5

7

Mar 11.77 11.70 12.13 13.46 14.77 16.60 18.92 19.39 19.66 26.97 37,

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64

8,0 5,3 3,3 9,2 7,6 5,6 2,4 8,4 5,5 5,4 17

AMAZON

AS

Terra 150,8 140,7 130,8 123,8 115,7 121,2 156,4 164,2 200,5 211,4 5,4

1

Fonte: ANP/SDP, conforme a portaria ANP nº 9/2000 (Reservas em 31/12 dos anos de referência)

Tabela 6 – Reservas Totais de Gás Natural (milhões de m3)

RESERVAS TOTAIS DE GÁS NATURAL (MILHÕES DE M3)

UF Localizaç

ão

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 09/10 %

BRASIL 335.2

62

353.6

54

351.6

16

498.1

58

454.4

54

588.6

17

584.4

72

589.2

07

601.5

18

824.7

23

37,1

1

SUBTOT

AL

Terra 121.0

49

123.6

60

115.7

42

117.8

99

115.1

41

131.4

63

117.1

58

115.7

30

118.9

40

117.2

27

-

1,44

Mar 214.2

13

229.9

94

235.8

74

380.2

58

339.3

12

457.1

54

467.3

15

473.4

77

482.5

78

707.4

96

46,6

1

AMAZON

AS

Terra 75.32

4

85.05

1

77.98

6

84.23

9

84.36

1

88.63

4

90.51

8

90.45

3

93.90

8

94.45

6

0,58

Fonte: ANP/SDP, conforme a portaria ANP nº 9/2000 (Reservas em 31/12 dos anos de referência)

As reservas provadas de petróleo e gás são um conceito que determina o

quanto de produto ainda está disponível para exploração, tendo como pressupostos,

a tecnologia existente, viabilidade econômica, e o marco regulatório vigente. A ANP

(2000), define as Reservas Provadas como:

“Reservas de petróleo e gás natural que, com base na análise de dados geológicos

e de engenharia, se estima recuperar comercialmente de reservatórios descobertos

e avaliados, com elevado grau de certeza, e cuja estimativa considere as condições

econômicas vigentes, os métodos operacionais usualmente viáveis e os

regulamentos instituídos pela legislações petrolífera e tributária brasileiras. (ANP,

2000)

De acordo a ANP (2011), o Brasil possuía reservas provadas em 31/12/2010

(tabela 7) de 14.246,3 milhões de barris de petróleo, e o estado do Amazonas de

104,4 milhões de barris, equivalente a 0,73% . Um aumento de 10,65% na reserva

provada nacional, e uma redução de -9,41% no estado do Amazonas em relação a

2009. Esse potencial de produção na região Norte é significativo, constituindo-se

em um poderoso vetor de desenvolvimento regional.

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65

Tabela 7 – Reservas provadas de petróleo

RESERVAS PROVADAS DE PETRÓLEO (MILHÕES DE BARRIS)

UF Localiza

ção

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 09/10 %

BRASIL 8.495

,8

9.804

,6

10.60

1,9

11.24

3,3

11.77

2,6

12.18

1,6

12.62

3,8

12.80

1,4

12.87

5,7

14.24

6,3

10,6

5

SUBTOT

AL

Terra 909,0 927,0 934,5 864,5 892,7 904,9 886,4 895,8 938,6 916,3 -

2,38

Mar 7.586

,8

8.877

,6

9.667,

4

10.37

8,8

10.89

0,0

11.27

6,8

11.73

7,5

11.90

5,6

11.93

7,1

13.33

0,0

11,6

7

AMAZON

AS

Terra 131,8 114,5 110,6 100,0 91,9 96,7 102,7 107,6 114,0 104,4 -

9,41

Fonte: ANP/SDP, conforme a portaria ANP nº 9/2000 (Reservas em 31/12 dos anos de referência)

O Brasil ocupou a 12ª posição do ranking mundial dos países que possuem

as maiores reservas provadas de petróleo. O Rio de Janeiro é destaque,

participando com 82,2% do total das reservas provadas brasileiras (Fig. 11).

Figura 10 – Distribuição percentual das reservas provadas

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

Foi observado em 2010 um crescimento de 15,2% nas reservas provadas de

gás natural (tabela 8) em relação ao ano de 2009. No estado do Amazonas, as

reservas sofreram uma variação positiva de 6,64% em relação a 2009.

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66

Tabela 8 – Reservas provadas de gás natural

RESERVAS PROVADAS DE GÁS NATURAL (MILHÕES DE M3)

UF Localizaç

ão

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 09/10 %

BRASIL 222.7

31

244.5

47

245.3

40

326.0

84

306.3

95

347.9

03

364.9

91

364.2

36

367.0

95

423.0

03

15,2

3

SUBTOT

AL

Terra 77.15

9

76.07

0

76.59

7

73.73

0

71.75

2

74.52

2

68.13

1

66.30

5

65.48

9

68.80

3

5,06

Mar 145.5

72

168.4

77

168.7

43

252.3

54

234,6

43

273.3

81

296.8

60

297.9

31

301.6

06

354.2

00

17,4

4

AMAZON

AS

Terra 44.54

9

47.89

3

49.07

5

49.44

8

51.46

5

53.23

2

52.77

4

52.14

3

52.39

7

55.87

8

6,64

Fonte: ANP/SDP, conforme a portaria ANP nº 9/2000 (Reservas em 31/12 dos anos de referência)

No estado do Amazonas estão os maiores volumes de reservas provadas de

gás natural em terra, com 55,8 bilhões de m3, destacando-se sua expressiva

participação na reserva provada nacional de 13,4% (Fig. 13).

Figura 11 – Distribuição percentual da reservas provadas de gás

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

Em 2010, o Brasil bateu recordes de produção, atingindo uma média de 750

milhões de barris de petróleo, (tabela 9) equivalentes a um pouco mais de 2 milhões

de barris/dia, aumento de 5,35% em relação 2009. Segundo a revista Petróleo &

Gás (2011), estão previstos durante o ano de 2011, a entrada em operação de 7

novos sistemas de produção nas bacias de Campos e Santos, com capacidade

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67

instalada de 320 mil barris/dia de óleo e 16 milhões de m3/dia de gás, que irão

garantir uma produção acima de 2 milhões de barris/dia on shore. No estado do

Amazonas a produção de óleo cresceu em torno de 5,49%. Essa produção poderá

suprir 80% da capacidade de refino da REMAN.

Tabela 9 – Produção de petróleo

PRODUÇÃO DE PETRÓLEO (MIL BARRIS)

UF Localizaç

ão

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 09/10 %

BRASIL 471.8

62

530.8

55

546.0

80

540.7

17

596.2

55

608.7

97

638.0

18

663.2

75

711.8

83

749.9

54

5,35

SUBTOT

AL

Terra 77.18

0

78.95

2

79.73

8

78.63

2

74.96

2

70.84

1

69.89

3

66.33

7

65.46

5

65.97

3

-

0,78

Mar 394.6

92

451.9

02

466.3

42

462.0

85

521.2

92

557.9

57

568.1

26

596.9

38

646.4

18

683.9

81

5,81

AMAZON

AS

Terra 15.74

3

15.91

4

15.41

0

15.54

1

14.37

6

13.06

2

12.27

6

11.65

7

12.35

1

13.03

0

5.49

Fonte: ANP/SDP, conforme a portaria ANP nº 9/2000 (Reservas em 31/12 dos anos de referência)

A produção brasileira de gás registrou um aumento de 8,5% no ano de 2010

em relação ao ano de 2009, produzindo 22,9 bilhões de m3, equivalentes a 62,8

milhões de m3/dia.

Tabela 10 – Produção de Gás Natural

PRODUÇÃO DE GÁS NATURAL (MILHÕES DE M3)

UF Localiza

ção

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 09/10 %

BRASIL 13.99

8,8

15.52

5,2

15.79

2,1

16.97

1,2

17.69

9,2

17.69

9,2

18.15

1,7

21.59

2,7

21.14

1,5

22.93

8,4

8,5

0

SUBTOT

AL

Terra 5.827,

5

6.168,

6

6.708,

6

7.765,

5

7.375,

3

6.656,

9

6.282,

9

6.273,

1

6.045,

2

6.024,

0

-

0,3

5

Mar 8.171,

3

9.356,

5

9.083,

4

9.205,

7

10.32

3,9

11.04

2,2

11.86

0,7

15.31

9,6

15.09

6.3

16.91

4,4

12,

04

AMAZON

AS

Terra 2.427,

3

2.743,

2

2.992,

6

3.362,

8

3.567,

2

3.376,

3

3.546,

1

3.732,

6

3.780,

2

3.857,

9

2,0

5

Fonte: ANP/SDP, conforme a portaria ANP nº 9/2000 (Reservas em 31/12 dos anos de referência)

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68

O estado do Amazonas produziu 3.857,4 m3 de gás (tabela 10), entretanto o

volume de gás reinjetado, 2.994,8 me (tabela 11), equivale 77,63% do gás produzido.

Esse número reflete a ausência de infra-estrutura (gasoduto) para escoamento do

gás produzido. De acordo a revista Valor Econômico (2010), o gasoduto Urucu –

Coari – Manaus, com extensão de 660 km, já está fornecendo gás em Manaus

oriundo da província petrolífera de Urucu. Atualmente o grande desafio da Petrobras

é a construção do gasoduto Juruá-Urucu de 170 km, viabilizando a exploração da

reserva gaseífera de Juruá. Os gasodutos em operação no estado do Amazonas,

Garsol (Urucu-Coari) e Gascom (Coari – Manaus), têm a capacidade para

transportar 6,85 milhões m3 de gás.

Tabela11 – Reinjeção de gás natural

REINJEÇÃO DE GÁS NATURAL (milhões de m3) – 2001– 2010

UF Localização

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 10/09 %

Brasil 3.027,4

3.383,2

3.291,0

3.616,2

2.995,7

3.169,9

3.494,3

3.894,1

4.351,3

4.369,1

0,41

Subtotal Terra 2.442,8

2.717,3

2.916,8

3.252,1

2.361,3

2.871,6

3.269,9

3.466,7

3.572,2

3.442,8

-3,65

Mar 584,6 665,9 376,2 364,1 624,4 298,3 224,4 427,5 778,1 926,2 19,04

AMAZONAS

Terra 1.968,3

2.276,7

2.440,4

2.900,2

2.184,9

2.696,7

2.840,3

2.999,9

3.015,3

2.994,8

-,069

% Reinjeçã

o

81,1

83,0

81,5

80,1

61,2

79,9

80,1

80,4

79,8

77,6

Fonte: ANP/SDP, conforme a portaria ANP nº 9/2000 (Reservas em 31/12 dos anos de referência)

Está previsto a ampliação da malha de gasodutos no estado do Amazonas,

de acordo projetos apresentados no quadro abaixo.

Quadro 5 – Projetos de gasodutos no estado do Amazonas

GASODUTOS GÁS NATURAL - EM CONSTRUÇÃO E EM PROJETO

Nome Gasoduto

Origem Destino Capacidade Vazão

Comp.(KM) Operador Status

Urucu-Porto Velho

Coari Porto Velho 2, 5 milhões 537,8 Transpetro Em projeto

Juruá – Urucu Carauari Coari Não informado

120 Transpetro Em projeto

UTE Aparecida

ERP -Iranduba

PE – Iranduba

Não informado

17,52 Transpetro Inertizado

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69

Anamã – Trecho B2

ERP - Anamã

PE – Anamã

Não informado

26,50 Transpetro Inertizado

Anori – Trecho B1

ERP – Anori PE – Anori Não informado

31,00 Transpetro Inertizado

Caapiranga – Trecho B2

ERP - Caapiranga

PE – Caapiranga

Não informado

10,50 Transpetro Inertizado

Coari ERP – Coari PE – Coari Não informado

21,50 Transpetro Inertizado

Codajás ERP - Codajás

PE – Codajás

Não informado

25,00 Transpetro Inertizado

Iranduba ERP - Iranduba

PE – Iaranduba

Não informado

9,00 Transpetro Inertizado

Manacapuru ERP - Manacapuru

PE- Manacapuru

Não informado

9,00 Transpetro Inertizado

Gasoduto Manaus

Manaus Nhamundá 6 milhões 410 TGM Em projeto

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

4.2 Produção de Derivados de Petróleo na Amazônia

O refino é o atual gargalo da indústria de petróleo, como a intensificação do

uso de derivados na atividade de transportes, beirando 60% da destinação final, a

tendência mundial é de restrição no suprimento de óleo diesel e gasolina. De acordo

a revista Petróleo & Gás (2011), a Petrobras fará investimentos para modernização

do seu parque de refino. Foram aprovados investimentos na ordem U$ 37.215

bilhões somente para o ano de 2011. Observa-se uma grande concentração das

refinarias nas regiões Sul e Sudeste.

Figura 12 – Unidades de Refino no Brasil

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

Está previsto a modernização da Refinaria de Manaus (Reman), que realizará

em 2011 a licitação dos serviços de construção e montagem das obras que integram

as carteiras de diesel e gasolina, com orçamento aprovado na ordem de U$ 700

milhões para o período de 2010 a 2014.

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70

A execução desses projetos aumentará a oferta de combustíveis na região

Norte, que tem sua demanda atendida por outras regiões. Espera-se um aumento da

produção de diesel, gasolina, e GLP. Em 2010 as 16 refinarias nacionais somaram

uma capacidade de refino de 332.703 m3/dia. A Petrobras possui 12, respondendo

por 98,1% da capacidade total. Em média, processaram 1,8 milhão de barris/dia. A

Reman responde por 7.300 m3/dia, equivalente 2,19% do total refinado.

Tabela 12 – Capacidade de refino das refinarias

Tabela 2.24 – Capacidade de refino, segundo refinarias – 31/12/2010

Refinaria Município (UF) Início de operação

Capacidade Nominal

m3/dia

Total 332.703

Replan - Refinaria de Paulínia Paulínia (SP) 1972 66.000

RLAM - Refinaria Landulpho Alves São Francisco do Conde (BA)

1950 44.500

Revap - Refinaria Henrique Lage São José dos Campos (SP)

1980 40.000

Reduc - Refinaria Duque de Caxias Duque de Caxias (RJ) 1961 38.500

Repar - Refinaria Presidente Getúlio Vargas

Araucária (PR) 1977 35.000

Refap - Refinaria Alberto Pasqualini S.A. Canoas (RS) 1968 30.000

RPBC - Refinaria Presidente Bernardes Cubatão (SP) 1955 27.000

Regap - Refinaria Gabriel Passos Betim (MG) 1968 24.000

Recap - Refinaria de Capuava Mauá (SP) 1954 8.500

Reman - Refinaria Isaac Sabbá Manaus (AM) 1956 7.300

Pólo de Guamaré - Pólo Industrial de Guamaré

Guamaré (RN) 2000 4.328

Riograndense - Refinaria de Petróleo Riograndense S.A.

Rio Grande (RS) 1937 2.700

Manguinhos - Refinaria de Petróleos de Manguinhos S.A.

Rio de Janeiro (RJ) 1954 2.200

Lubnor - Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste

Fortaleza (CE) 1966 1.300

Univen - Univen Refinaria de Petróleo Ltda. Itupeva (SP) 2007 1.100

Dax Oil - Dax Oil Refino S.A. Camaçari (BA) 2008 275

Fonte: ANP/SRP, conforme a Portaria ANP n° 28/1999.

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

Foram produzidos em 2010 no Brasil 110.148, milhões de m3 de derivados.

A Reman está operando no limite da sua capacidade operacional e em 2010,

produziu 2.412.833 m3 de derivados energéticos de petróleo. A produção nacional

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71

de óleo diesel em 2010 foi de 41.429.263 m3 (tabela 13) e da Reman foi de 761.516

m3 (tabela 14), quantidade muito inferior a demanda da Região Norte para o mesmo

período de 4.861.000 m3. A corrente de petróleo refinado na Reman produziu um

rendimento de óleo diesel (derivado energético) em torno de 32%, seguido pela

nafta (derivado não energético) com 27% (gráfico1).

Tabela 13 – Produção de derivados de petróleo – 2005 - 2010

Derivados de petróleo Produção de derivados de petróleo energéticos e não energéticos 10/09

% 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Total 104.386.596 106.283.719 108.512.061 108.141.220 109.475.630 110.148.398 0,61

Energéticos 88.926.681 89.927.982 91.387.954 91.398.770 92.159.651 92.874.922 0,78

Gasolina A 19.979.562 21.330.106 21.598.969 21.041.901 20.874.989 23.067.253 10,50

Gasolina de aviação 70.199 64.598 62.159 67.966 52.746 90.104 70,83

GLP1 10.728.055 10.289.227 10.431.558 10.211.745 9.740.150 9.452.748 -2,95

Óleo combustível2,3 15.075.499 15.112.402 15.389.837 14.704.434 14.053.755 13.883.271 -1,21

Óleo diesel3 38.743.022 39.111.322 39.572.842 41.134.038 42.898.619 41.429.263 -3,43

QAV 4.150.003 3.823.671 4.102.676 3.871.687 4.380.983 4.664.552 6,47

Querosene iluminante 50.107 37.691 24.969 23.158 19.707 25.457 29,17

Outros4 130.235 158.964 204.944 343.840 138.701 262.275 89,09

Não energéticos 15.459.915 16.355.738 17.124.106 16.742.450 17.315.979 17.273.475 -0,25

Asfalto 1.419.621 1.864.970 1.680.039 2.125.959 2.089.926 2.767.281 32,41

Coque5 2.394.882 2.372.802 2.563.296 2.811.485 3.084.025 3.056.971 -0,88

Nafta6 8.498.006 8.626.248 9.244.639 8.134.049 8.402.282 7.311.298 -12,98

Óleo lubrificante 801.741 785.804 645.053 756.200 593.794 603.154 1,58

Parafina 140.457 134.417 129.638 130.069 105.594 94.196 -10,79

Solvente 813.331 612.561 579.688 478.226 457.809 508.705 11,12

Outros7 1.391.877 1.958.935 2.281.754 2.306.463 2.582.549 2.931.870 13,53

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

Tabela 14 – Produção de derivados de petróleo - REMAN

Produção de derivados de petróleo energéticos e não energéticos, REMAN – 2010

Derivados de petróleo Produção (m3) Derivados de

petróleo

Produção (m3)

Reman (AM) Reman (AM)

Total 2.412.833

Energéticos 1.672.612 Não energéticos 740.222

Gasolina A 272.487 Asfalto6 91.023

Gasolina de aviação Coque7 -

GLP² 93.955 Nafta8 649.199

Óleo combustível³,4 280.660 Óleo lubrificante -

Óleo diesel4 761.516 Parafina -

QAV 156.448 Solvente -

Querosene iluminante 0 Outros9 -

Outros5 107.545

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

Gráfico 1 – Percentual de derivados produzidos na Reman

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O estado do Amazonas conta com três Unidades de Processamento de Gás

Natural (UPGN), com capacidade de processar 9.706 m3/dia, estão operando no

limite de sua capacidade operacional. Nesse cenário a Companhia de Gás do

Amazonas (CIGÁS), tem um papel estratégico na inserção desse suprimento

energético na matriz regional que poderá ser utilizado como gás natural veicular

(GNV) ou para o funcionamento das Usinas Termelétricas de Manaus.

Tabela 15– Capacidade de processamento das UPGNs

Capacidade de processamento de gás natural, segundo unidades produtoras – 31/12/2010

Unidades produtoras Município (UF) Início de operação Capacidade Nominal

mil m3/dia1

Total 9.706

UPGN Urucu I Coari (AM) 1993 706

UPGN Urucu II Coari (AM) 2000 6.000

UPGN Urucu III Coari (AM) 2004 3.000

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

No Brasil ao final de 2010, havia 501 bases de distribuição de combustíveis

líquidos autorizadas pela ANP, na região Norte 53, com capacidade de

armazenamento de 439.762 m3 de derivados de petróleo, 62.292 m3 de etanol, e

13.528 m3 de GLP, representando 9,2% do total.

Tabela 16 – Nº de Bases de distribuição de comb. líquidos

Quantidade de bases de distribuição de combustíveis líquidos derivados de petróleo e de etanol automotivo – 31/12/2010

Grandes Regiões e Unidades da

Federação

Bases de distribuição

Capacidade nominal de armazenamento (m³)

Derivados de petróleo GLP Etanol

Brasil 501 2.906.999 147.152 702.914

Região Norte 53 439.762 13.528 62.292

Rondônia 13 62.725 2.350 11.268

Acre 5 11.767 0 2.477

Amazonas 6 104.759 4.803 20.490

Roraima 2 8.422 0 1.611

Pará 22 242.748 6.179 24.040

Amapá 1 6.408 0 1.184

Tocantins 4 2.933 196 1.223

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

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A região Norte possui 2.677 postos revendedores de combustíveis (tabela 12)

que corresponde a 7% do total dos postos revendedores de combustíveis que

operam no país. Os estados do Pará e Amazonas são os mercados mais

expressivos tanto em número de postos, quanto pelo volume de combustíveis

líquidos comercializados.

Tabela 17 – Nº de Postos revendedores

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

Na região Norte encontram-se operando nos rios (hidrovias) os “pontões” (foto

2) – postos revendedores de combustíveis flutuantes – um agente econômico típico

dessa região, que ratifica a singularidade da mesma..

Foto 2 – Posto Revendedor de Combustível Flutuante – “Pontão”

Quantidade de postos revendedores de combustíveis automotivos, por bandeira, segundo Grandes Regiões e Unidades da Federação – 2010

Grandes Regiões e Unidades da

Federação

Quantidade de postos revendedores de combustíveis automotivos

Total BR Ipiranga Shell Cosan Alesat Bandeira Branca

1

Outras2

Brasil 38.235 7.597 5.132 2.225 1.535 1.369 16.682 3.695

Região Norte 2.677 540 177 32 14 48 1.315 551

Rondônia 469 83 15 6 1 - 266 98

Acre 148 56 3 3 - - 57 29

Amazonas 572 95 19 8 - - 176 274

Roraima 105 37 1 1 - - 53 13

Pará 906 165 86 10 12 24 478 131

Amapá 112 29 37 1 - - 45 -

Tocantins 365 75 16 3 1 24 240 6

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Fonte: Autor

As vendas nacionais de derivados de petróleo, (Tabela 18), mostram um

consumo crescente de gasolina “C”, querosene de aviação e óleo diesel, o GLP se

mantém estável, e uma redução drástica do óleo combustível e querosene

iluminante.

Tabela 18 – Vendas nacionais dos derivados de petróleo

Vendas nacionais, pelas distribuidoras, dos principais derivados de petróleo – 2001-2010

Derivados de petróleo Vendas nacionais pelas distribuidoras (mil m3)

10/09

% 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Total 86.123 84.705 81.309 83.907 84.140 84.486 88.419 92.682 92.332 102.878 11,42

Gasolina C 22.211 22.610 22.610 23.174 23.553 24.008 24.325 25.175 25.409 29.844 17,45

Gasolina de aviação 71 63 59 61 55 52 55 61 62 70 11,32

GLP 12.703 12.165 11.436 11.708 11.639 11.783 12.034 12.259 12.113 12.558 3,67

Óleo combustível 9.093 7.561 6.200 5.413 5.237 5.127 5.525 5.172 5.004 4.901 -2,05

Óleo diesel 37.025 37.668 36.853 39.226 39.167 39.008 41.558 44.764 44.298 49.239 11,15

QAV 4.818 4.436 3.972 4.209 4.429 4.466 4.891 5.227 5.428 6.250 15,14

Querosene

Iluminante

202 201 177 116 59 42 31 24 16 15 -6,00

Fonte: ANP/SAB. Dados até 2006, conforme a Portaria CNP n° 221/1981. Dados a partir de 2007, conforme Resolução ANP n°

17/2004.

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

A partir das vendas de óleo diesel, é possível elaborar alguns cenários em

relação ao volume de biodiesel necessário para as grandes regiões (tabela 19) e

seus respectivos estados (tabela 20).

Tabela 19 – Vendas de óleo diesel Brasil – Regiões

Vendas de óleo diesel, pelas distribuidoras, por Grandes Regiões e Unidades da Federação – 2001-2010

Grandes Regiões Vendas de óleo diesel (mil m3)

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Brasil 37025 37668 36853 39226 39167 39008 41558 44764 44298 49239

Norte 2967 2952 2990 3422 3711 3601 3766 3951 4075 4861

Nordeste

5.657

5.619

5.238

5.622

5.700

5.818

6.214

7.089

6.928 7720

Sudeste

16.542

16.782

16.303

17.156

17.395

17.542

18.740

19.840

19.534 21568

Sul

7.567

7.750

7.759

8.121

7.829

7.752

8.166

8.689

8.627 9467

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Centro-Oeste

4.292

4.565

4.563

4.906

4.532

4.294

4.673

5.195

5.134 5624

Tabela 21 – Vendas de óleo diesel – Região Norte e Unidades da Federação

Vendas de óleo diesel, pelas distribuidoras – Região Norte e Unidades da Federação – 2001-2010

Norte UF

Vendas de óleo diesel pelas distribuidoras (mil m3)

10/09 %

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Brasil 37.025 37.668

36.853 39.226 39.167 39.008 41.558 44.764 44.298 49.239

11,15

Região Norte

2.967 2.952 2.990 3.422 3.711 3.601 3.766 3.951 4.075 4.861

19,29

Rondônia 596 541 548 592 663 655 631 667 696 762 9,51

Acre 234 232 186 159 169 132 124 128 127 152 19,96

Amazonas

471 476 496 698 830 714 703 740 873 1.187

35,87

Roraima 72 62 49 54 52 53 56 68 71 143 102,71

Pará 1.133 1.133 1.179 1.297 1.332 1.388 1.481 1.510 1.439 1.635

13,64

Amapá 117 121 139 195 224 209 232 245 293 316 8,17

Tocantins 343 386 392 427 440 450 538 592 577 665 15,36

Fonte: ANP – Anuário Estatístico 2011

De acordo com a produção de biodiesel em 2010 (tabela 3) a produção na

Região Norte foi de 93.881 mil m3, muito abaixo da demanda existente, em função

do marco regulatório vigente.

Tabela 22 – CENÁRIO – BIODIESEL NECESSÁRIO P/MISTURA BASEADO NAS VENDAS DE 2010

CENÁRIO - BIODIESEL NECESSÁRIO P/MISTURA BASEADO NAS VENDAS DE 2010 (mil m

3)

UF RO AC AM RR PA AM TO NORTE

VENDAS 2010 762 152 1187 143 1635 316 665 4861

5% DIESEL 723,9 144,4 1127,65 135,85 1553,3 300,2 631,75 4617,95

BIODIESEL 38,1 7,6 59,35 7,15 81,75 15,8 33,25 243,05

7% DIESEL 708,66 141,36 1103,91 132,99 1520,6 293,88 618,45 4520,73

BIODIESEL 53,34 10,64 83,09 10,01 114,45 22,12 46,55 340,27

10% DIESEL 685,8 136,8 1068,3 128,7 1471,5 284,4 598,5 4374,9

BIODIESEL 76,2 15,2 118,7 14,3 163,5 31,6 66,5 486,1

Fonte: Próprio

A disponibilidade de reservas de petróleo e gás no Amazonas se materializa

como uma grande oportunidade econômica para explorar, pelo menos parcialmente,

seu grande potencial mineral. A província petrolífera de Urucu, segunda reserva de

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gás e a terceira de petróleo do país – transformou em todos os sentidos a vida do

município de Coari. Antes mesmos da construção dos gasodutos que irão abastecer

as termelétricas de Manaus e Porto Velho, possibilitando a instalação de um pólo

petroquímico na região. (BEZERRA, p. 284, 2010).

5 CONCLUSÃO

Neste estudo foi apresentada uma série de variáveis que nos levam a refletir

sobre as diversas possibilidades que podem embasar decisões referentes ao uso da

mistura diesel-biodiesel na região Norte considerando os recursos energéticos

regionais.

Discorremos sobre o arcabouço jurídico institucional que culminou com a

inserção dos biocombustíveis na matriz energética brasileira, através da Lei nº

11.097/2005 que instituiu o PNPB. Ao mesmo tempo, destacamos as políticas

públicas e programas desenvolvidos pelos diversos órgãos governamentais e

agências reguladoras atuantes no âmbito do biodiesel.

Na seção seguinte, tratamos dos recursos energéticos que compõem a matriz

energética contemporânea, com ênfase nas fontes renováveis (biomassa) e

recursos minerais (combustíveis fósseis) no contexto da região Amazônica.

Pode-se dizer que existe um conteúdo normativo bastante expressivo focado

na agricultura familiar, visando a sua inserção para aumentar a produção agrícola,

gerando trabalho e renda com melhoria da qualidade de vida das populações

ribeirinhas e comunidades isoladas.

No estudo ficou comprovado, que após seis anos da implementação do

PNPB, não foram criadas condições adequadas para o desenvolvimento de uma

cadeia agrícola organizada e voltada para produção de biodiesel. Como

conseqüência os indicadores de inclusão social são baixíssimos, a degradação

ambiental está cada vez mais presente, há uma carência de pesquisas e

desenvolvimento técnico-científico, e seu parque produtivo está aquém das

necessidade da região. Há também uma ausência de integração territorial gerando

um gargalo logístico de elevada complexidade.

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No Estado do Pará, está sediada a Agropalma, única empresa de grande

porte que domina a produção de dendê (77% da produção nacional). Esta empresa

usa na produção de biodiesel a borra e ácidos graxos (co-produtos) obtidos no

processo de refino de óleo de dendê. De acordo com a literatura agronômica a

produção de óleo de palma gira em torno de 4-5 toneladas de óleo por hectare e o

óleo possui de 3–4 % de borra. O rendimento é 150 a 200 kgs de ácidos graxos

utilizados para produção de biodiesel pelo processo de esterificação (Palmdiesel).

Em tese é um excelente negócio, pois está utilizando um sub-produto (baixo valor

agregado) da sua unidade de refino. A produção do óleo refinado (seu produto

principal) está destinado ao segmento alimentício, mercado garantido e com

demanda crescente. Um detalhe importante, no caso da Agropalma, é que seu

sucesso está diretamente vinculado ao arranjo da cadeia produtiva. As fazendas de

cultivo da palma estão próximas a unidade de refino, que por sua vez está ao lado

da usina de biodiesel. Esse arranjo se torna necessário para garantir a qualidade do

óleo de palma refinado, pois o tempo entre a colheita do cacho de dendê e seu

processamento não deve ultrapassar às 24 horas.

Na região Norte, a palma, pelas suas características está sendo apontada

como uma das melhores opções para reflorestamento das áreas degradadas, e

produção de matéria-prima para biodiesel. Existem programas de governo a nível

federal e estadual que estão incentivando o cultivo da palma para produção de

biodiesel em pequenos municípios, vilas e comunidades isoladas. Esta produção

abastecerá motores estacionários para geração de energia elétrica. Vale lembrar

que a matéria-prima é o óleo da palma, que exige a instalação de uma mini-usina, e

insumos (álcool, catalisadores, etc.) para produção de biodiesel. Por necessitar de

transformações químicas, logística para os insumos, e destinação adequada aos

resíduos do processo, não considero recomendável.

Está sendo realizada uma série de pesquisas, objetivando o uso do óleo

vegetal in natura, nos motores estacionários, para geração de energia elétrica

analisando o desempenho dos motores e o custo benefício. Algumas comunidades

isoladas já fazem uso dessa tecnologia. A grande vantagem do uso do óleo vegetal

in natura é a produção pela própria comunidade a partir das oleaginosas disponíveis.

Técnicos do Inmetro estão desenvolvendo motores adaptados para esta finalidade.

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Em que pese à redução do tempo útil de funcionamento do motor, esta alternativa é

sem sombra de dúvida a mais viável, dentro do contexto regional e ambiental.

O estado do Amazonas possui um grande potencial mineral na província

petrolífera de Urucu – a segunda reserva de gás e terceira do país – responsável por

grandes mudanças, gerando riquezas, trabalho e renda. Foi construído um gasoduto

de 660 km (Juruá – Coari – Manaus), que modificou a matriz energética regional, na

medida em que substituiu o óleo combustível e óleo diesel utilizados nas

termelétricas. Manaus também dispõe de Gás Natural Veicular, mais uma opção

para o consumidor.

As petroleiras têm realizado vultosos investimentos na região, pois é grande a

expectativa de descoberta de novas províncias petrolíferas. No estado do Amazonas

a exploração racional dos recursos minerais traz inegáveis benefícios a população,

reduzindo sua dependência de outras regiões. O uso indiscriminado, abusivo, dos

recursos naturais (biocombustíveis e combustíveis fósseis), são

quantitativamente não renováveis e podem competir com as culturas de alimentos e

destruir florestas.

O ser humano continua repetindo o mesmo erro, retirando da natureza, os

recursos energéticos em quantidades muito superiores àquelas que são

disponibilizadas naturalmente pelo planeta, desconsiderando as reais necessidade

humanas.

Garantir suprimento energético não significa apenas sua disponibilidade, mas

esforços conjuntos econômicos, tecnológicos, ambientais, políticos e sociais, no

sentido de construir uma logística de produção, transformação, transporte e

distribuição desses recursos.

Propomos que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) inclua nas

discussões sobre o planejamento energético, as singularidades existentes na Região

Norte objetivando embasar as decisões referentes ao percentual das misturas

obrigatórias diesel-biodiesel considerando de fato as diferenças regionais.

Sugerimos a realização de um balanço regional pelos órgãos de Estado com

competência sobre o tema, visando um diagnóstico holístico do atual estado do

PNPB, para adoção dos ajustes necessários.

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Concluímos ser fundamental estabelecer percentuais diferenciados nas

misturas obrigatórias diesel-biodiesel, incorporando de fato as peculiaridades

regionais. Na região Norte ficou comprovado que a produção de biodiesel é

insuficiente para atender a demanda regional atual, e não há perspectiva a curto e

médio prazo, de mudança dessa realidade. Se considerarmos a ausência de

integração territorial e adicionalmente as ineficiências logísticas regionais, é

recomendável que nos próximos marcos regulatórios, não altere o percentual da

mistura vigente para a região Norte, podendo inclusive estudar a possibilidade da

não obrigatoriedade da mistura, enquanto não for desenvolvida uma cadeia

produtiva de biodiesel organizada.

As matrizes energéticas devem ser adequadas, de forma a atender aos novos

tempos, onde a exigência de energia limpa se tornou uma exigência não apenas das

regras impostas, mas da própria necessidade sobrevivência do ser humano.

Devemos fazer o uso mais racional dos nossos recursos através do

desenvolvimento de novas tecnologias, o aproveitamento da energia da biomassa,

da solar, da eólica, etc. Opções são muitas, cada região deve explorar suas

possibilidades.

Ao considerarmos os benefícios sociais, ambientais, tecnológicos, é inegável

a contribuição do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB),

inserindo esse “novo combustível” como uma excelente alternativa ao combustível

fóssil.

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