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FACULDADE DE EDUCAÇÃO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS NATURAIS E MATEMÁTICA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL MONOGRAFIA O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA DISSEMINAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE BAIXO CUSTO PARA O TRATAMENTO DE ESGOTOS NA CIDADE DE MAPUTO: UMA ANÁLISE BASEADA NA EXPERIÊNCIA DO BRASIL Monografia apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para obtenção de grau de licenciatura em Educação Ambiental na Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane. Isaú Miguel Mourão Maputo, Junho de 2015

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS NATURAIS E MATEMÁTICA

LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

MONOGRAFIA

O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA DISSEMINAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE

BAIXO CUSTO PARA O TRATAMENTO DE ESGOTOS NA CIDADE DE MAPUTO: UMA

ANÁLISE BASEADA NA EXPERIÊNCIA DO BRASIL

Monografia apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para obtenção

de grau de licenciatura em Educação Ambiental na Faculdade de Educação da

Universidade Eduardo Mondlane.

Isaú Miguel Mourão

Maputo, Junho de 2015

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FACULDADE DE EDUCAÇÃO

O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA DISSEMINAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE

BAIXO CUSTO PARA O TRATAMENTO DE ESGOTOS NA CIDADE DE MAPUTO: UMA

ANÁLISE BASEADA NA EXPERIÊNCIA DO BRASIL

Isaú Miguel Mourão

Suprevisores: Profa Doutora Eugénia F. R. Cossa

Co-supervisor: Eng. Elias Sete Manjate

Com o apoio do:

Projecto de Cooperação Internacional Brasil - Moçambique para Educação

Ambiental e Saneamento Básico: Intercâmbio Académico entre a UFMG e a UEM

Maputo, 2014

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O PAPEL DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA DISSEMINAÇÃO DE TECNOLOGIAS DE

BAIXO CUSTO PARA O TRATAMENTO DE ESGOTOS NA CIDADE DE MAPUTO: UMA

ANÁLISE BASEADA NA EXPERIÊNCIA DO BRASIL

O Júri

O presidente O oponente O supervisor

_______________________ _____________________ ______________________

Maputo aos ………. de …………………de 2015

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i

DECLARAÇÃO DE HONRA

Eu, Isaú Miguel Mourão declaro por minha honra que esta monografia é da minha

inteira autoria e nunca foi submetida a nenhuma instituição para fins de avaliação. A

autenticidade dos resultados desta monografia tem como testemunha, os respectivos

supervisores e todas as fontes bibliográficas por mim utilizadas e citadas foram

indicadas e reconhecidas.

…………………………………………………………………………………………

(Isaú Miguel Mourão)

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ii

AGRADECIMENTOS

À todos o meu muito obrigado

À Deus, pelo cuidado, protecção e pela sabedoria que me concedeu de modo a terminar

as cadeiras do curso em tempo determinado e de elaborar o presente trabalho

monográfico.

Aos meus pais Miguel Mourão e Maria Paulina, meus irmãos Fernando Gama, Rita,

José, Vanda, Jacob, Zito, Nelson, Nelito pelo apoio em todos os sentidos, financeiro,

moral, etc.

Aos meus supervisores Profa. Doutora Eugénia Cossa e Eng. Elias Manjate pelo apoio,

encaminhamento, críticas, sugestões que foram muito úteis para a elaboração do

presente trabalho.

Ao corpo docente do curso de licenciatura em Educação Ambiental, pelo suporte, apoio,

atenção, paciência, dedicação e acompanhamento durante este longo percurso de 4 anos.

Aos meus colegas de classe e, de maneira especial, aos colegas do grupo que juntos

trabalhamos na elaboração de diversos trabalhos que contribuíram para a minha

aprendizagem em diversos aspectos.

Aos meus amigos Cléofas, Hermenegildo, Chauma, Albertino, Afonso, Salvador,

Manério, Belares, Verniz e de modo especial, ao Inok Chiposse que me incentivou a

concorrer para este curso.

Aos professores, estudantes e profissionais da área de Educação ambiental pelo facto de

terem - se disponibilizado para fazer parte do grupo de entrevistados.

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iii

LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS

AdM - Águas de Moçambique

AFD - Agence Française de Développement

CMM - Conselho Municipal de Maputo

COPASA - Companhia de Saneamento de Minas Gerais

CRA - Conselho de Regulação da Água

DNA - Direcção Nacional de Água

DQO - Demanda química de oxigénio

ETE - Estação de Tratamento de Esgoto

FIPAG - Fundo de Investimento e Património do Abastecimento de Água

FUNASA - Fundação Nacional de Saúde

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INE - Instituto Nacional de Estatística

MICOA - Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental

PIB - Produto Interno Bruto

PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

Pop - Pequenos Operadores Privados

UASB - Uplow Anaerobic Sludge Blanket

UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais

UNESCO - Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura

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iv

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1: Políticas, legislação e planos estratégicos relevantes no sector do saneamento em

Maputo. ....................................................................................................................................... 17

Tabela 4.1: Identificação das razões do crescente uso de Reatores UASB e Lagoas de polimento

no Brasil ...................................................................................................................................... 28

Tabela 4.2: Avaliação do impacto decorrente da implantação de Reatores UASB e Lagoas de

Polimento .................................................................................................................................... 29

Tabela 4.3: Identificação do papel da educação ambiental para o empoderamento dos reatores

UASB e Lagoas de Polimento ..................................................................................................... 30

Tabela 4.1 Resumo das razões que contribuem para o uso de reactores UASB e Lagoas de

Polimento no Brasil ..................................................................................................................... 35

Tabela 4.3: Resumo dos impactos resultantes da implantação do sistema nas comunidades ..... 37

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ÍNDICE

DECLARAÇÃO DE HONRA ....................................................................................................... i

AGRADECIMENTOS .................................................................................................................. ii

LISTA DE ACRÓNIMOS E ABREVIATURAS .........................................................................iii

LISTA DE TABELAS .................................................................................................................. iv

CAPITULO I: INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

1.1 Introdução........................................................................................................................ 1

1.2 Delimitação do tema ........................................................................................................ 2

1.3 Problematização .............................................................................................................. 2

1.4 Objectivos........................................................................................................................ 3

1.4.1 Objectivo Geral .................................................................................................... 3

1.4.2 Objectivos específicos .......................................................................................... 3

1.5 Justificativa ...................................................................................................................... 4

CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................... 6

2.1. Apresentação e análise de conceitos .............................................................................. 6

2.2 Evolução da Educação Ambiental no Mundo ................................................................. 8

2.3. Educação Ambiental em Moçambique ......................................................................... 10

2.4 Vertentes Fundamentais da Educação Ambiental ......................................................... 11

2.5 Importância da Educação Ambiental ............................................................................ 12

2.6 Importância do Saneamento do Meio ............................................................................ 13

2.7 Saneamento e Educação Ambiental .............................................................................. 13

2.8 Tecnologias de tratamento de esgoto (Reactor UASB e Lagoas de Polimento) ........... 14

2.9 Situação actual de saneamento em Moçambique .......................................................... 15

Figura 2.1: Lagoa de estabilização do Infulene ................................................................... 16

2. 9.1 Sistema de Saneamento em Maputo .................................................................. 17

2. 9.1.1 Nível de cobertura dos serviços de saneamento na cidade de Maputo ........... 18

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Figura 2.3: Distribuição percentual por tipo de saneamento em Maputo em 2004 ............ 18

2. 9.1.2 Níveis de cobertura e abastecimento de água ................................................. 19

CAPITULO III: METODOLOGIA............................................................................................. 20

3.1 Contexto Local .............................................................................................................. 20

3.2 Descrição da cidade de Maputo ..................................................................................... 20

Figura 3.1: Mapa da cidade de Maputo ............................................................................... 21

3.3 Descrição da cidade de Belo Horizonte ........................................................................ 21

Figura 3.2: Mapa da cidade de Belo Horizonte ................................................................... 22

3.3 Abordagem Metodológica ............................................................................................. 22

3.4 População e Amostra ..................................................................................................... 23

3.5 Técnicas e instrumentos de recolha de dados ................................................................ 24

3.6 Análise dos dados .......................................................................................................... 26

3.7 Aspectos Éticos ............................................................................................................. 27

4.1 Apresentação dos resultados ......................................................................................... 28

4.2 Análise e discussão dos resultados ................................................................................ 31

4.2.1 Funcionalidade do sistema (Reactores UASB e Lagoas de Polimento) ............. 31

Figura 4.2: Lagoas de Polimento ......................................................................................... 33

4.2.2 Razões do uso crescente dos reactores UASB e Lagoas de Polimento no Brasil

..................................................................................................................................... 33

4.2.3 Impactos da implantação de reactores UASB e lagoas de polimento nas

comunidades ................................................................................................................ 36

4.2.4 Papel da educação ambiental na disseminação (empoderamento) do sistema de

tratamento de esgoto doméstico (reactores UASB e lagoas de polimento) em Maputo

..................................................................................................................................... 37

Capítulo 5: Conclusões e Recomendações .................................................................................. 41

5.1 Conclusões .................................................................................................................... 41

5.2 Recomendações ............................................................................................................. 42

Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 43

Apêndice ..................................................................................................................................... 47

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v

RESUMO

Este estudo analisa o papel da educação ambiental na disseminação das tecnologias de

baixo custo, nomeadamente, Reactores UASB e Lagoas de Polimento para o tratamento

de esgotos na cidade de Maputo baseando-se na experiência Brasileira.

Especificamente, o estudo investiga a funcionalidade dos Reactores UASB e lagoas de

Polimento para se informar sobre (i) razões do crescente uso destes sistemas no Brasil;

(ii) impactos que advém da implantação desses sistemas; e (iii) acções que podem ser

levadas a cabo através da educação ambiental com vista a disseminar os mesmos

sistemas na cidade de Maputo. Como metodologia a pesquisa privilegiou o método

qualitativo e a amostragem foi a não probabilística e por conveniência. A amostra foi

constituída por 15 elementos. Para a recolha de dados recorreu-se à observação,

entrevista e leitura de várias obras literárias que versam sobre o tema. O estudo revelou

que com a implementação dos Reactores UASB e Lagoas de Polimento melhora-se a

qualidade ambiental, a saúde pública e há redução nos custos adicionais em

investimentos na área de saúde. Por sua vez, a educação ambiental pode actuar na

disseminação desses sistemas na cidade de Maputo através de campanhas educativas

com recurso a metodologias participativas onde o cerne do debate seja os impactos do

escoamento indevido dos esgotos e os benefícios que advêm da implantação dos

sistemas para as comunidades e o meio ambiente no geral. À luz da experiência

Brasileira é recomendável que o governo Moçambicano invista em programas de

pesquisa relacionadas com tecnologias de baixo custo de tratamento de esgoto como

forma de elevar o nível de compreensão do uso dos mesmos e maximizar a acção da

educação ambiental na disseminação dos aspectos práticos atinentes a estes tipos de

tecnologias.

Palavras-chave: educação ambiental, disseminação de tecnologia, tratamento de

esgotos.

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CAPITULO I: INTRODUÇÃO

1.1 Introdução

Diante dos problemas ambientais que assolam à humanidade na actualidade, a educação

ambiental têm sido visto como um dos principais mecanismos para fazer face aos

mesmos. Para Lima, Pinho, Ferreira e Melo (2008), a educação ambiental visa fomentar

a mobilização e participação dos diversos agentes sociais no sentido de responder aos

problemas ambientais e sanitários vivenciados quotidianamente pelo conjunto da

população. De acordo com Guimarães (1995), a educação ambiental promove o

conhecimento dos problemas ligados ao ambiente, vinculando-os a uma visão global. O

mesmo autor refere que a educação ambiental preconiza também a acção educativa

permanente, através do qual a comunidade toma consciência da realidade global, do tipo

de relações que os homens mantêm entre si e com a natureza, dos problemas derivados

desta relação e de suas profundas causas.

À medida que cresce a consciência dos impactos decorrentes da ausência de saneamento

e dos direitos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, aumentam as políticas

públicas voltadas à implementação de saneamento ambiental dentre as quais a

implantação de sistemas de tratamento de esgoto (Sílvia, Sousa, Ceballos, Leite, Feitosa

& Araújo, 2009). Por exemplo, dentre os vários processos de tratamento de esgotos, a

utilização de reactores de fluxo ascendente (UASB) e lagoa de polimento para o pós-

tratamento dos efluentes dos reactores como alternativa de tratamento para os esgotos

municipais, tem vindo a crescer de forma significativa no Brasil. O baixo custo de

implementação e operacionalização associados à uma significativa remoção de matéria

orgânica são algumas das principais razões para a popularidade deste tipo de tecnologia

(Luduvice, Neder & Pinto, 2000).

No entanto, para que essas tecnologias de tratamento de esgoto doméstico de baixo

custo sejam amplamente conhecidas não somente no Brasil, mas em outros países que

possuem as mesmas condições climáticas e que favorecem a implantação desses

sistemas, é necessário que haja uma participação dos diferentes profissionais das áreas

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ligadas ao meio ambiente e saneamento com vista à promover e divulgar os reactores

UASB e as lagoas de polimento.

Neste sentido, tendo como base a experiência do Brasil, o presente trabalho propõe-se a

analisar como é que a educação ambiental pode actuar na promoção do sistema de

tratamento de esgoto (Reactor UASB e lagoas de polimento) em Moçambique,

concretamente na cidade de Maputo.

1.2 Delimitação do tema

A presente pesquisa foi realizada em duas partes distintas. Uma parte foi desenvolvida

no Centro de Pesquisa e Treinamento em Saneamento do Meio UFMG/COPASA,

localizada junto a estação de tratamento de esgoto do ribeirão arrudas na cidade de Belo

Horizonte/Brasil e na Escola de Engenharia Ambiental e Sanitária da Universidade

Federal de Minas Gerais no Brasil. A outra parte teve lugar na cidade de Maputo.

1.3 Problematização

Os efluentes domésticos constituem uma das principais preocupações do saneamento

básico. O lançamento de esgoto sem tratamento em corpos aquáticos causa sérios

problemas à qualidade de vida e coloca em risco a qualidade de água da população

(Cavalcanti, Adrianus, Von Sperling & Kato, 2001). Os mesmos autores referem que a

necessidade de preservar os recursos hídricos impulsionou o desenvolvimento de

diversos processos de tratamento para minimizar os efeitos adversos ocasionados ao

ambiente pela sua descarga directa na natureza.

Segundo Mara e Pearson (1987) e Luduvice et al. (2000), dentre os métodos existentes

para tratamento de esgoto, a combinação de reactores anaeróbicos com as lagoas de

polimento pela sua simplicidade operacional, baixo custo e elevada eficiência, têm

alcançado ampla aceitação em diversas partes do mundo.

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Tanto no Brasil como em Moçambique, as condições climáticas são extremamente

favoráveis ao emprego dessas tecnologias de baixo custo para o tratamento de esgoto.

No entanto, arrolados estes pressupostos a pergunta de partida que se coloca para esta

pesquisa é a seguinte: tendo como base a experiência do Brasil, como é que a educação

ambiental pode intervir para a disseminação dessas tecnologias de baixo custo na

cidade de Maputo?

1.4 Objectivos

A presente pesquisa foi orientada pelos seguintes objectivos:

1.4.1 Objectivo Geral

Analisar o papel da educação ambiental na disseminação das tecnologias de

baixo custo para o tratamento de esgotos na cidade de Maputo.

1.4.2 Objectivos específicos

1. Descrever o funcionamento do sistema de tratamento de esgotos (Reactores

Anaeróbicos e Lagoas de Polimento);

2. Identificar as razões do crescente uso de Reactores UASB e Lagoas de Polimento no

Brasil;

3. Avaliar os impactos decorrentes da implementação dos Reactores UASB e Lagoas

de Polimento; e

4. Identificar as acções a serem levadas a cabo através da educação ambiental para

disseminação dos Reactores UASB e Lagoas de Polimento na cidade de Maputo.

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1.4.3 Perguntas de pesquisas

O presente trabalho foi orientada pelas seguintes perguntas de pesquisa:

a) Como é que funciona o sistema de tratamento de esgotos (Reactores Anaeróbicos e

Lagoas de Polimento)?

b) Qual é a razão do crescente uso de Reactores UASB e Lagoas de Polimento no

Brasil?

c) Que impactos se podem esperar da implementação dos Reactores UASB e Lagoas

de Polimento na cidade de Maputo?

d) Que acções devem ser levadas a cabo através da educação ambiental para

disseminar e promover os sistemas de tratamento de esgoto de baixo custo?

1.5 Justificativa

Na perspectiva de Manuel, Monjane, Bandeira, Singo, Amisse e Hens (2010) a maioria

dos centros urbanos de Moçambique possui sistemas de saneamento deficiente e

obsoleto, ou seja, nem todos os municípios têm acesso aos serviços de saneamento e,

em alguns locais os sistemas disponíveis encontram-se num estado avançado de

degradação. Para esta situação concorrem factores como: o aumento drástico da

população utilizadora, a má utilização e a falta de manutenção devido principalmente, a

falta de meios financeiros dos municípios. Daí que, a falta generalizada de sistemas de

esgoto nas zonas suburbanas, segundo estes autores especialmente nas zonas de

pequeno e médio porte, contribui igualmente, para a contaminação do ambiente local e

para a proliferação de doenças.

É nesta óptica que o presente estudo torna-se extremamente importante porque, poderá

contribuir significativamente para a percepção do papel da educação ambiental na

disseminação de sistemas de tratamento de esgotos domésticos de baixo custo, simples,

com elevada eficiência e amplamente usados em países com clima tropical como é o

caso do Brasil.

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Por um lado, este estudo torna-se relevante na medida em que é um dos poucos estudos

tanto no Brasil como em Moçambique que procura relacionar a actuação da educação

ambiental na disseminação (empoderamento) de sistemas de tratamento de esgotos com

vista a melhorar a situação deficitária na área de saneamento em Moçambique, e com

maior enfoque na questão de tratamento de esgotos.

Por outro lado, com a implementação dos reactores anaeróbicos e lagoas de polimento

em Moçambique, acredita-se que haverá uma redução dos níveis de contaminação dos

corpos de água por agentes patogénicos o que poderá consequentemente reflectir-se na

melhoria da qualidade de vida e saúde pública das comunidades.

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CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA

Para melhor compreensão do fenómeno a abordar é necessário trazer a luz alguns

conceitos que permitirão a análise e desenvolvimento dos problemas que nortearam a

elaboração deste trabalho monográfico.

2.1. Apresentação e análise de conceitos

Esgoto

Segundo Manuel et al. (2010), o esgoto é o termo usado para caracterizar os despejos

provenientes dos diversos usos das águas quer usos domésticos, comerciais, industriais

e agrícolas. Esta definição assemelha-se também a de Pessoa e Jordão (1982) que

definem esgoto como sendo os despejos provenientes das diversas modalidades do uso e

da origem das águas, as de uso doméstico, comercial, industrial, utilidade pública, de

áreas agrícolas, de superfícies, de infiltração, pluviais, etc.

Esgotos domésticos

São definidos como sendo uma parcela muito significativa dos esgotos sanitários,

provenientes principalmente de residências, edificações públicas e comerciais que

concentram aparelhos sanitários, lavandarias e cozinha (Manuel et al., 2010).

De acordo com Pessoa e Jordão (1982), o esgoto doméstico provém fundamentalmente

de residências, edifícios comerciais, instituições ou qualquer edificação que contenha

instalações de banheiros, lavandarias, cozinhas, ou qualquer dispositivo de utilização da

água para fins domésticos. Este compõe-se essencialmente da água do banho, urina,

fezes, papel, resto de comida, sabão, detergentes, água de lavagem, etc. Para o presente

trabalho adoptou-se o conceito de Pessoa e Jordão pelo facto deste ser mais abrangente.

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Saneamento do Meio

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saneamento do meio é definido

como sendo o controlo de todos os factores do meio físico do Homem, que exercem ou

podem exercer efeitos nocivos sobre o seu bem-estar físico, mental e social (MICOA,

2009). Também pode ser visto como um conjunto de ações sócioeconômicas que têm

por objectivo alcançar níveis de Salubridade Ambiental, por meio de abastecimento de

água potável, colecta e disposição sanitária de resíduos sólidos, líquidos e gasosos,

promoção da disciplina sanitária de uso do solo, drenagem urbana, controle de doenças

transmissíveis e demais serviços e obras especializadas, com a finalidade de proteger e

melhorar as condições de vida urbana e rural (FUNASA, 2007).

Com base nesta definição, pode-se perceber que, ao falar de saneamento do meio,

estamos perante um assunto muito complexo, pois abarca vários aspectos cuja

finalidade é proteger e melhorar a qualidade de vida e alcançar a salubridade ambiental.

Educação ambiental

Para Minini (2000), a educação ambiental é um processo que consiste em propiciar às

pessoas uma compreensão crítica e global do ambiente com vista a elucidar valores e

desenvolver atitudes que lhes permitam adoptar uma posição consciente e participativa

a respeito das questões relacionadas com à conservação e adequada utilização dos

recursos naturais para a melhoria da qualidade de vida e, redução da pobreza extrema e

consumismo desenfreado.

Por outro lado, a educação ambiental pode ser definida como sendo um processo que

visa formar uma população mundial consciente e preocupada com o meio ambiente e

com os problemas que lhe dizem respeito, uma população que tenha os conhecimentos,

as competências, o estado de espírito, as motivações e o sentido de participação e

engajamento que lhes permita trabalhar individualmente e colectivamente para resolver

os problemas actuais e impedir que se repitam (UNESCO, 1975).

Tendo essa premissa básica como referência, propõe-se que a educação ambiental seja

um processo de formação dinâmica, permanente e participativa, no qual as pessoas

envolvidas adquirem conhecimentos, tornam-se conscientes, desenvolvem atitudes,

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habilidades, novos hábitos e participam activamente na busca de soluções para os

problemas que se deparam e actuam para prevenir os problemas futuros.

2.2 Evolução da Educação Ambiental no Mundo

Para entendermos o presente e nos prepararmos para o futuro temos de conhecer e

compreender o passado. Neste sentido, nesta secção far-se-á o destaque de alguns

eventos que impulsionaram e solidificaram a educação ambiental tanto a nível

internacional, regional e nacional.

Década de 60

Segundo Dias (1998), em 1962 a jornalista Rachel Carson lançava um livro intitulado

"Primavera Silenciosa" que alertava sobre os efeitos danosos de acções humanas sobre

o ambiente como a perda da qualidade de vida produzida pelo uso indiscriminado e

excessivo de produtos químicos e seus posteriores efeitos sobre o meio ambiente, como

a utilização dos pesticidas. Esta obra tornou-se um clássico do movimento ambientalista

mundial.

No ano de 1968, surgiu o Conselho para Educação Ambiental, no Reino Unido. Neste

mesmo ano, segundo Dias (1998) trinta especialistas de várias áreas se reuniram em

Roma para discutir a crise actual e futura da humanidade. Fundava-se assim o Clube de

Roma que em 1972 passaria a produzir o relatório ʺThe Limits of Growthʺ, que na

tradução em língua portuguesa significa "Os Limites do Crescimento Económico" (Este

relatório denunciava o crescente consumo mundial, levando a humanidade a um limite

de crescimento e possível colapso. Na busca por um mundo equilibrado com a redução

do consumo tendo em vista determinadas prioridades sociais foram estudadas algumas

acções para reverter a situação. Ainda em 1968 a delegação da Suécia na ONU alertava

sobre a degradação do meio ambiente e sugeria uma abordagem global em busca de

soluções dos problemas ambientais (Dias, 1998).

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Década de 70

Entre 5 a 16 de Junho de 1972, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o

Meio Ambiente Humano em Estocolmo, Suécia. A mesma, tinha como objectivo

primordial a criação de critérios e princípios comuns que ofereçam aos povos do mundo

inspiração e guia para preservar e melhorar o meio ambiente humano (Declaração de

Estocolmo, 1972).

A Declaração de Estocolmo (1972) traz a questão de quão importante é que todos os

cidadãos e comunidades, empresas e instituições, locais, nacionais e internacionais de

todas as nações, aceitem as responsabilidades que possuem e que todos participem

equitativamente somando esforços para resgatar, preservar e melhorar o planeta Terra

em benefício do Homem e da natureza como um todo, hoje e no futuro.

De 13 a 22 de Outubro de 1975 foi elaborada uma estrutura global para a Educação

Ambiental conhecida por Carta de Belgrado, que constitui um dos documentos mais

lúcidos e importantes gerados na década de 70.

A Carta de Belgrado (1975) propõe temas que falam da erradicação das causas básicas

da pobreza como a fome, o analfabetismo, a poluição, a exploração e dominação, sendo

assim problemas que devem ser tratados em conjunto. Preconiza ainda que nenhuma

nação deve se desenvolver à custa de outra nação, havendo necessidade de uma ética

global que abranja a toda humanidade na biosfera e promova mudanças de atitudes e

comportamentos para uma melhora global; onde a reforma dos processos e sistemas

educacionais é central para a constatação dessa nova ética de desenvolvimento.

De 14 e 16 de Outubro de 1977, foi realizada a Conferência Intergovernamental de

Educação Ambiental em Tbilisi, realizada na Geórgia (ex-URSS) organizada pela

UNESCO com a colaboração do programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA), sendo considerado um marco fundamental na evolução do conceito de

Educação Ambiental, e seus princípios estabelecidos são até hoje aceitos como uma

referência ou parâmetro internacional para a Educação Ambiental, contando, com 41

recomendações (Dias, 1998).

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Década de 80

De acordo Jacobi (2003), em 1987 decorreu em Moscou (URSS) o Congresso

Internacional sobre a Educação e Formação relativas ao Meio Ambiente. Neste encontro

foi gerada a Estratégia Internacional em Matéria de Educação e Formação Ambiental

para a Década de 90: Relatório Bruntland (conhecido como “Nosso futuro comum”). O

mesmo, foi publicado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento. Esse relatório apresentava o conceito de Desenvolvimento

Sustentável, mostrando as necessárias relações entre economia, tecnologia, sociedade e

política, reforçando uma nova postura ética em relação à preservação do meio ambiente,

apontando para o desafio do desenvolvimento humano, tanto entre as novas gerações,

assim como entre os integrantes da sociedade da época.

Década de 90

O ano de 1992 foi de extrema importância na composição histórica da Educação

Ambiental no Brasil e no mundo, pois foi neste ano que aconteceu a Segunda

Conferência das Nações Unidas (ONU) sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no

Estado do Rio de Janeiro de 03 a 14 de Junho. Nesta conferência, foi desenvolvido o

Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade

Global, tendo sido assinada a Jornada Internacional de Educação Ambiental, no Fórum

Global paralelo à ECO-92.

Actualmente a ECO-92 é reconhecida como o encontro internacional mais importante

desde que o Homem se organizou em sociedades (Dias, 1998).

2.3. Educação Ambiental em Moçambique

Segundo MICOA (2009), em Moçambique a educação ambiental começa a merecer a

devida importância a partir da década 80. Em que se assistem vários movimentos em

prol desta área.

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Primeiramente, a questão ambiental se cingia na conservação e defesa de algumas

espécies devido à incapacidade técnica-humana. No entanto, a partir de 1990, a

discussão da questão ambiental passou a envolver diversos sectores da sociedade e que

culminou com a realização da Primeira Conferência Nacional sobre o Meio Ambiente e

Desenvolvimento, em Outubro de 1991. Com o corolário do evento foi criada a Divisão

Meio Ambiente, junto ao Instituto de Planeamento Físico.

Em Junho de 1992 criou-se por decreto presidencial, a Comissão Nacional do Meio

Ambiente (CNA), que coincide com a criação oficial do Ministério para a Coordenação

da Acção Ambiental (MICOA), em 1994.

De 1994-2007 foram criados vários instrumentos legais sendo de destaque: Constituição

da República que dá ao cidadão o direito e o dever de ser educado, a liberdade de

criação de associações, aprovação de Política Nacional do Ambiente que reconhece de

forma inequívoca e clara a interdependência entre o desenvolvimento e o meio ambiente

e a Lei do Ambiente que assegura o direito à Educação Ambiental. Neste quadro abriu-

se espaço para o envolvimento de outros actores (sociedade civil, organizações

governamentais e não-governamentais), surgindo várias associações. Um outro aspecto

a salientar é a inclusão da temática nos currículos de Ensino em todos os níveis, de

forma transversal.

2.4 Vertentes Fundamentais da Educação Ambiental

No que diz respeito aos processos de educação ambiental para o MICOA (2009)

existem três vertentes, nomeadamente:

1. Educação ambiental formal: que se desenvolve de forma estruturada e dentro do

sistema formal de ensino, através da inclusão de termos, conceitos e noções sobre o

ambiente nos planos curriculares.

2. Educação ambiental não formal: acontece geralmente fora do sistema formal de

ensino, desenvolvendo-se através de programas comunitários, clubes e núcleos de

ambiente, associações e programas de alfabetização. A mesma envolve o conjunto

de conhecimentos tradicionais que nas zonas rurais são transmitidos de geração em

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geração. Este tipo de educação pode ter lugar em estabelecimento de ensino através

de palestras, seminários, acções de capacitação e actividades extracurriculares.

3. Educação ambiental informal: geralmente transmitida nos órgãos de informação

através dos programas de rádio e televisão, artigos e campanhas publicadas em

jornais, revistas, internet, etc. Esta vertente é mais flexível e não obedece

necessariamente a uma estrutura rígida ou em currículo e pode ser aprendida por

meio de pesquisa e de experiência pessoal e/ou profissional.

2.5 Importância da Educação Ambiental

Os actuais problemas que afectam a sobrevivência no meio ambiente são cada vez mais

angustiantes e, como consequência constituem uma preocupação crescente da

humanidade. Assim, é urgente que se busque acções e iniciativas que possam de forma

imediata contribuir para solucionar os problemas. Barbosa (2004) aponta como proposta

de solução a prática da educação ambiental. Reforçando a ideia avançada por Barbosa

(2004), a FUNASA (2009) refere que a educação ambiental configura-se como uma

ferramenta indispensável para o desenvolvimento da consciência ambiental, atitudes e

condutas que favorecem o exercício da cidadania, a preservação do meio ambiente e a

promoção da saúde e do bem-estar.

Por seu turno, Lima et al. (2008) argumenta que a educação ambiental apresenta-se

como um recurso necessário para a reflexão crítica do modelo de uma sociedade em

construção. Estes autores salientam ainda que, a educação ambiental constitui uma

ferramenta de sensibilização, mobilização social e empoderamento da população que

possibilita a construção de valores e práticas individuais e colectivas visando a

mudanças culturais, políticas e sociais necessárias à construção de uma sociedade mais

justa.

Ademais, a mobilização social, torna-se num movimento organizativo enquanto agrega,

discute colectivamente soluções para os problemas da comunidade, como também

contribui para a formação de sujeitos capazes de interagir, dialogar uns com os outros

(Lima et al., 2008).

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2.6 Importância do Saneamento do Meio

A importância do saneamento e a sua associação à saúde humana remonta desde as mais

antigas culturas (FUNASA, 2009). Vários estudos realizados neste campo, constataram

que diversas doenças infecciosas e parasitárias têm no meio ambiente uma fase do seu

ciclo de transmissão. Neste sentido, a implantação de um sistema de saneamento

significaria interferir no meio ambiente de forma a interromper o ciclo de transmissão

da doença.

Para Lima et al. (2008), a ausência de serviços de saneamento causa um grande número

de impactos negativos ao meio ambiente e à saúde humana. Por isso, as áreas sem

saneamento ou com um sistema deficitário interferem de forma significativa na

dinâmica dos ecossistemas naturais.

O Ministério das cidades do Brasil (2009), reforça o pensamento avançado por Lima et

al. (2008) ao afirmar que a deficiência na dotação de infra-estrutura de saneamento

relacionada com o abastecimento e tratamento de água para o consumo humano,

esgotamento sanitário, colecta e disposição final de resíduos sólidos domésticos e

industriais, ou drenagem de águas pluviais, podem condicionar um grande número de

impactos sociais e ambientais que afectam os ecossistemas locais e a saúde da

população.

Portanto, torna-se evidente que o saneamento básico é fundamental na prevenção de

doenças, melhoria da saúde pública e na conservação do meio ambiente.

2.7 Saneamento e Educação Ambiental

Para o Ministério das Cidades do Brasil (2009), os serviços de saneamento estão

relacionados à promoção da qualidade de vida, bem como ao processo de protecção dos

ambientes naturais, em especial dos recursos hídricos. Nesse sentido, é imprescindível

desenvolver acções educativas que possibilitem a compreensão sistémica que a questão

exige e estimular a participação popular, engajada e consciente, na perspectiva de fazer

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face à essa questão. É por essa razão que a componente educação ambiental torna-se

fundamental nos projectos de saneamento, pois, permite que a população adquira

conhecimentos dos benefícios trazidos por este, para além de elevar o nível de

consciência da população sobre a importância da mudança de comportamento, visando à

preservação do meio ambiente e a qualidade de vida (FUNASA, 2009). A este respeito,

Marques, Link, Gomes e Nishijima (2012) argumentam que, para minimizar os

agravantes causados pela falta de saneamento básico, a aplicabilidade de uma tecnologia

social somente tem resultados positivos se estiver aliada a um processo educativo. Por

isso, as acções de educação ambiental auxiliam na disseminação de tecnologias sociais e

na efectivação do desenvolvimento sustentável.

Na mesma linha de pensamento, Alencar (2005) ressalta que, apesar de as tecnologias

possibilitarem diversos benefícios, é preciso evitar os desvios pois, não haverá

empoderamento de qualquer tecnologia sem a superação de preconceitos. Nesta

perspectiva, Freire (1981) enfatiza que, é neste processo de amadurecimento da

consciência que a educação ambiental exerce um papel decisivo por estar conjugada a

um processo de mudança social.

2.8 Tecnologias de tratamento de esgoto (Reactor UASB e Lagoas de Polimento)

Segundo Copasa (2012), o tratamento anaeróbico é efectuado por bactérias que não

necessitam de oxigénio para a sua respiração. No reactor UASB (Uplow Anaerobic

Sludge Blanket), ou reactor anaeróbico de fluxo ascendente e manta de lodo, o princípio

do processo consiste na estabilização da matéria orgânica anaerobicamente por meio de

microrganismos que crescem dispersos no meio líquido. A parte superior do reactor

UASB possui um separador trifásico (sólidos, líquidos e gases), que apresenta uma

forma cónica ou piramidal, permitindo a saída do efluente clarificado, assim como a

colecta do biogás gerado no processo e a retenção dos sólidos dentro do sistema. Esses

sólidos retidos constituem a biomassa que permanece no reactor por tempo

suficientemente elevado para que a matéria orgânica seja degradada. O lodo retirado

periodicamente do sistema já se encontra estabilizado, necessitando apenas de secagem

e disposição final.

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No entanto, o efluente produzido neste processo ainda contém diversos poluentes que

podem pôr em causa a qualidade do corpo receptor. Esta situação remete à necessidade

de uma etapa de pós-tratamento. Para tal, Chernicharo (1997), realça que o pós-

tratamento de efluentes de reactores através de lagoas de polimento tem sido a forma

mais usual. A utilização de lagoas de polimento como unidades finais do sistema de

tratamento tem por objectivo dar polimento a qualquer tipo de efluentes, seja em termos

da remoção de patogénicos e de nutrientes, ou seja para o polimento em termos de DQO

(demanda química de oxigénio). O mesmo autor refere que a remoção dos organismos

patogénicos por lagoas de polimento constitui uma alternativa natural na economia com

relação à opção de desinfecção com cloração, que pode causar problemas relacionados

com a geração de compostos cancerígenos.

2.9 Situação actual de saneamento em Moçambique

Segundo Costa e Souto (2012), em Moçambique as taxas de cobertura dos serviços de

saneamento domiciliário são baixas e tal como com o abastecimento de água obedecem

a níveis diversificados de serviços, nomeadamente: (i) retrete ligada à fossa séptica; (ii)

latrinas melhoradas; (iii) latrinas tradicionais melhoradas; (iv) latrinas tradicionais não

melhoradas e; (v) falta de serviços de saneamento.

Em 2008 o nível de cobertura dos serviços de saneamento domiciliário situava-se nos

47 % depois de se ter situado em 37% em 2004. As latrinas não melhoradas, que não

cumprem com os padrões mínimos estabelecidos na Política Nacional de Águas tendem

a ocupar maior espaço.

Em 2010 o único sistema de águas residuais existentes no país era o de Infulene, na

cidade de Maputo. Todas as outras cidades e vilas descarregavam os seus efluentes

(onde existem drenagem) directamente nos cursos de água, ou no mar.

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Figura 2.1: Lagoa de estabilização do Infulene

Em 2012 foi inaugurada a maior estação de tratamento de águas residuais (ETAR) de

Moçambique. A ETAR está instalada nos arredores da cidade da Beira. Esta estação de

tratamento de águas residuais conta com um conjunto de reactores anaeróbicos, dois

filtros biológicos, igual número de decantadores com a função de tratar as águas dos

esgotos daquela cidade a partir da última estação elevatória localizada na Munhava e

que vai garantir que não haja poluição ambiental. O empreendimento vai garantir que as

águas ali processadas possam ser reaproveitadas para muitos outros fins, como a rega

dos jardins e lavagem de viaturas, produzindo em simultâneo adubo para utilização

agrícola (MACAUHUB, 2012).

Figura 2.2: ETAR da cidade da Beira (Fonte: Google Imagens, 2015)

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2. 9.1 Sistema de Saneamento em Maputo

De acordo com a DNA (2009) o sector do saneamento em Maputo têm se desenvolvido

de forma muita lenta. Concorrem para esta situação factores como: a fraca coordenação

entre os diferentes agentes e uma grande insuficiência de recursos financeiros e

humanos. Na Tabela 2.1 apresentam-se as principais políticas, legislação e planos

estratégicos relevantes no sector do saneamento em Maputo.

Tabela 2.1: Políticas, legislação e planos estratégicos relevantes no sector do saneamento

em Maputo

Lei das Águas (Lei 19/91 de 3 de Agosto de 1991)

Regulamento dos Sistemas Públicos e Prediais de Distribuição de Água e de

Drenagem de Águas Residuais (Decreto 30/03 de 01 de Julho de 2003)

Plano Estratégico de Saneamento das 7 cidades, uma delas Maputo (2004)

Projecto de Desenvolvimento Municipal (elaborado pelo Banco Mundial, 2004)

Política Nacional das Águas (2007)

Plano Estratégico de Água e Saneamento Urbano (2008)

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2. 9.1.1 Nível de cobertura dos serviços de saneamento na cidade de Maputo

A zona urbana possui um sistema convencional de saneamento (redes gravíticas de

colectores) e um sistema constituído por fossas sépticas, com ou sem ligação ao sistema

público de drenagem. Nas zonas peri-urbanas, as soluções mais recorrentes

correspondem a opções tecnológicas de iniciativa privada e de baixo custo, como as

latrinas (melhoradas ou não) e, em menor número, as fossas sépticas (DNA, 2008).

Na Figura 2.3 apresenta-se a distribuição percentual dos agregados familiares residentes

em Maputo, por tipo de saneamento, em 2004. Observa-se que quase 60% da população

da cidade possui latrinas, e 25% por fossas sépticas. Apenas 16% da população está

directamente ligada à rede pública de drenagem.

Figura 2.3: Distribuição percentual por tipo de saneamento em Maputo em 2004 (Fonte: adaptada

pelo Conselho Municipal de Maputo, 2008)

De acordo com a DNA (2006), em 1979 a concepção da latrina melhorada foi definida

como prioritária para as áreas peri-urbanas. No entanto, o insuficiente acompanhamento

técnico ao nível do projecto e construção, a falta de sensibilização sobre as condições

hidrogeológicas locais, entre outros factores condicionaram o êxito da iniciativa.

Segundo INDER (1994), em 1985 foi iniciado o Programa Nacional de Saneamento a

Baixo Custo nos subúrbios de Maputo. O mesmo, contribuiu para à expansão da

utilização das latrinas melhoradas a partir da criação de vários centros de construção.

Ainda de acordo com a DNA (2008), as populações com maior poder económico estão,

por iniciativa própria a substituir as antigas latrinas pelas fossas sépticas. Devido à falta

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de redes de águas residuais, o uso das fossas sépticas tem sido uma das alternativas mais

viável para os indivíduos que desejam construir uma casa moderna com casa de banho.

Em locais onde a densidade habitacional e as condições do terreno são favoráveis, a

tecnologia de fossas sépticas e disposição final é ideal, desde que as mesmas sejam bem

mantidas e regularmente limpas. Torna-se importante referir que, em certos casos em

que, estas condições não se verificam, principalmente pela ausência de normas de

construções e à falta de fiscalização, surgem problemas ambientais e de saúde pública.

Segundo UN-HABITAT (2008b) a rede de águas residuais na cidade de Maputo

encontra-se degradada, apresentando fugas (infiltrações), as quais podem causar

problemas por contaminação dos meios receptores. Estima-se que a Estação de

Tratamento de Águas Residuais (ETAR) do município de Maputo trate apenas 10% do

esgoto da população. Uma parte dos efluentes resultantes do tratamento do esgoto são

usados para a irrigação agrícola. As restantes águas residuais são lançadas na Baía de

Maputo, sem tratamento, contaminando o ambiente. A ETAR localiza-se no Infulene,

entre as cidades de Maputo e da Matola.

2. 9.1.2 Níveis de cobertura e abastecimento de água

De acordo com o censo de 2007, cerca de 55% das habitações da cidade de Maputo

tinham água canalizada, dos quais 16 % no interior da habitação e 39% fora da

habitação (INE, 2007). Porém, o Inquérito realizado pelo grupo Integrado da Força do

Trabalho em 2008 constatou que cerca de 70% da população do Município de Maputo

tem água canalizada, 24% água de fontanário, sendo a restante população abastecida por

poços na escala de 2.5% poços não protegidos, 1.8% poços protegidos mas sem bomba,

e 1.2% poços protegidos com bomba manual (Conselho Municipal de Maputo, 2008).

Uma análise feita pelo Banco Mundial estima que a cobertura pela Águas de

Moçambique (AdM) é de 25% da população total da cidade. Por seu turno, o Fundo de

Investimento e Património do Abastecimento de Água (FIPAG) e a AdM estimam que

este valor seja de 35%. Análises feitas recentemente pelo Conselho de Regulação da

Água (CRA) mostram que, incluindo a revenda de água pelos Pequenos Operadores

Privados (Pop), a cobertura pela rede da AdM atinge cerca de 53% (AFD, 2009).

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CAPITULO III: METODOLOGIA

3.1 Contexto Local

O presente trabalho monográfico foi desenvolvido no Brasil, na cidade de Belo

Horizonte e em Moçambique na cidade de Maputo e o mesmo insere-se no âmbito do

programa da CAPES/AULP: Projecto “Educação Ambiental e Saneamento Básico” que

decorre na Faculdade de Educação da UEM em parceria com a Universidade Federal de

Minas Gerais, Brasil.

3.2 Descrição da cidade de Maputo

A cidade de Maputo é a capital e a maior cidade de Moçambique. Localiza-se no sul do

país, na margem ocidental da Baia do Maputo. Tem como limites o distrito de

Marracuene ao norte, Matola e Boane ao noroeste, e ao sul o distrito de Matutuine.

Possui uma superfície de 347 km2, e uma população de 1.178.116 sendo 608.569

Feminina e 569.447 Masculina. (CMM, 2011).

A cidade de Maputo tem um papel estratégico ao nível do país e internacionalmente,

pois entre outros aspectos tem as melhores infra-estruturas e serviços públicos de

Moçambique. Nela concentra-se cerca de 40 % de toda a população urbana de

Moçambique e produz-se 20.2 % do PIB Nacional. Em termos de actividades

económicas os sectores do comércio, transporte e comunicação, e indústrias

manufactureiras são os mais significativos.

No que refere a infra-estruturas, cerca de 52% das casas são abastecidas com água

canalizada, 13,7% unidades de habitações têm casa de banho com rede de esgotos, 21,6

fossa sépticas; 33,6 % latrinas melhoradas; 30.6% latrinas não melhoradas. (INE, 2007).

Também, cerca de 45.9% de unidade de habitações usam electricidade; 38,9% usam

petróleo/gás; o resto da população usa outras fontes de energia tais como vela, bateria,

lenha, etc.

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Figura 3.1: Mapa da cidade de Maputo (Fonte: Google Earth, 2015)

3.3 Descrição da cidade de Belo Horizonte

A cidade de Belo Horizonte é a capital do segundo Estado mais populoso do Brasil,

Minas Gerais, situando-se próximo ao paralelo 19º49'01'' sul e do meridiano 43º57'21''

oeste. A área real do município é controversa, e varia conforme a fonte de dados. A

própria Prefeitura oferece 330,23 km² de área e o IBGE refere uma área de 330,95 km².

Suas cidades limítrofes são Nova Lima e Brumadinho a sul; Sabará e Santa Luzia a

leste; Santa Luzia e Vespasiano a norte; e Ribeirão das Neves, Contagem e Ibirité a

oeste.

A população do município em 2010, de acordo com o IBGE, era de 2.375.151

habitantes, sendo o município mais populoso de Minas Gerais e o sexto do Brasil, atrás

de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza e, mais recentemente, Brasília,

apresentando uma densidade demográfica de 7.167.02 hab. /Km² e uma taxa de

urbanização de 100%. Da população total, 1.113.513 habitantes eram do sexo masculino

(46,88%) e 1.261.638 do sexo feminino (53,12%). Quanto à faixa etária, 452.963

pessoas tinham menos de 15 anos (19,07%), 1.716.194 entre 15 e 64 anos (72,26%) e

205.994 possuíam 65 anos ou mais (8,67%).

No ano de 2000, segundo o IBGE, a cidade tinha 628.447 domicílios (apartamentos,

casas e cómodos). Dos quais, 99,26% dos domicílios eram atendidos pela rede geral de

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abastecimento de água; 96,58% das moradias possuíam colecta de lixo e 93,24% das

residências possuíam escoadouro sanitário. Grande parte do município conta com água

tratada, energia eléctrica, esgoto, limpeza urbana, telefonia fixa e telefonia celular.

O abastecimento de água é feito pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais

(COPASA). Actualmente a demanda média equivale a 14 mil litros de água por

segundo. Isso corresponde a 91,5% da capacidade total de produção.

Em Belo Horizonte está situada a maior estação de tratamento de esgoto da América

Latina. A Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da bacia do Ribeirão do Onça

possui capacidade de tratar cerca de 155 milhões de litros de esgotos/dia gerados em

grande parte de BH e região metropolitana, sendo que sua eficiência é de 70% de

remoção da carga poluidora. Ocupa uma área total de 653 mil metros quadrados, dos

quais 243 mil são de área construída. Com a inauguração desta ETE, a COPASA passou

a ter condições de tratar 100% dos esgotos colectados em Belo Horizonte.

Figura 3.2: Mapa da cidade de Belo Horizonte (Fonte: Google Earth, 2015)

3.3 Abordagem Metodológica

Esta pesquisa privilegiou o método qualitativo. Segundo Marconi e Lakatos (2007), a

metodologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos,

descrevendo a complexidade do comportamento, tendência, etc. De forma sucinta este

método procura soluções para o problema proposto sem recurso a dados quantitativos

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ou métodos estatísticos. Portanto, o presente trabalho monográfico procura colher as

diferentes sensibilidades dos diversos profissionais e estudantes com vista a encontrar

soluções para resolver o problema com que Moçambique se depara, concretamente na

cidade de Maputo, sobretudo no que concerne a descarga directa dos efluentes

domésticos (esgoto doméstico) nos cursos de água ou no mar. Tendo como base a

experiência do Brasil, com o presente estudo pretende-se compreender de que forma a

educação ambiental pode contribuir para o empoderamento de tecnologia de baixo custo

para o tratamento do esgoto doméstico com vista à solucionar ou minimizar o problema

descrito no capítulo 1 desta monografia.

2.4 População e Amostra

Para Gressler (2003), população é o agregado de todos os elementos que possuem

determinadas características definidas no próprio corpo de pesquisa. Na óptica do

mesmo autor (2003), a amostragem refere-se à utilização de uma parte da população

para fazer estimativa do todo.

Para a presente pesquisa, a amostragem usada é a não probabilística e por conveniência.

Segundo Miguel (1978), este tipo de amostragem é usado quando a possibilidade de se

escolher um certo elemento do universo é desconhecida. A amostragem por

conveniência é aquela em que os elementos do universo são escolhidos simplesmente

por serem acessíveis ou por serem mais fáceis de serem avaliados.

Neste sentido, para a materialização dos objectivos do presente trabalho monográfico,

foram entrevistados no Brasil três professores e pesquisadores da área de saneamento da

Universidade Federal de Minas Gerais, um estudante de doutoramento em Engenharia

Ambiental, um estudante de mestrado em Saneamento e Recursos Hídricos, uma

professora e especialista em Educação Ambiental da Universidade Federal de Rio

Grande.

Em Moçambique, concretamente em Maputo, foram entrevistados seis estudantes do

curso de licenciatura em Educação Ambiental da Universidade Eduardo Mondlane, dois

profissionais da área da educação ambiental e um consultor na área de Gestão de

Sistemas Ambientais. No total foram entrevistados 15 pessoas.

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3.5 Técnicas e instrumentos de recolha de dados

Documentação indirecta

Segundo Andrade (2005), esta fase consiste na revisão bibliográfica e pesquisa

documental com vista a adquirir uma base teórica para posteriormente fazer-se a recolha

de dados. Desta forma, fez-se a leitura de diversas obras disponíveis nas bibliotecas da

UFMG e da UEM e artigos disponíveis na internet que versam sobre a matéria em

estudo.

Documentação directa

Ainda de acordo com Andrade (2005), este tipo de técnica remete-nos à recolha de

dados no campo a partir de entrevistas, questionários e observação. Portanto, a

documentação directa abrange a observação directa intensiva e observação directa

extensiva. A observação directa intensiva baseia-se nas técnicas de observação

propriamente ditas e entrevistas, enquanto, a observação extensiva baseia-se na

aplicação de formulários e questionários, medidas de opinião e de atitudes, testes,

pesquisas, etc. (Andrade, 2006).

Entrevista

Para Marconi e Lakatos (2007) a entrevista representa um dos instrumentos básicos para

a colecta dos dados. Trata-se, pois, de uma conversa face a face de maneira

metodológica e que pode proporcionar resultados satisfatórios e informações

necessárias.

Para esta pesquisa, a entrevista foi do tipo despadronizada ou semi-estruturada (Anexo

1) que, segundo Marconi e Lakatos (1990), consiste em uma conversa informal, que

pode ser alimentada por perguntas abertas, proporcionando maior liberdade ao

informante.

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Em entrevistas semi-estruturadas, o entrevistador tem a liberdade de desenvolver cada

situação em qualquer direcção que considere adequada. É uma forma de poder explorar

mais amplamente a questão em estudo. Neste contexto, as perguntas foram previamente

elaboradas.

Desta feita, foram efectuadas entrevistas aos professores e pesquisadores de Engenharia

ambiental e Sanitária da Universidade Federal de Minas Gerais, estudante de mestrado

em Saneamento e Recursos Hídricos, professora com especialidade em Educação

Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, estudantes do Curso de

Licenciatura em Educação Ambiental da Universidade Eduardo Mondlane de

Moçambique e Profissionais de Educação Ambiental de Moçambique.

As entrevistas decorreram em espaços diversificados tais como: gabinete ou escritório,

nas instalações do Centro de Pesquisa e Treinamento do Saneamento do Meio da

Universidade Federal de Minas Gerais e nas instalações do Campus da Universidade

Eduardo Mondlane. Os dados foram registados manualmente (com recurso a agenda e

esferográfica) e gravados (com celular com respectivo aplicativo para gravar). Os

mesmos foram posteriormente digitados no computador. As entrevistas tiveram a

duração de sensivelmente 20 a 30 minutos.

Vale referir que por causa da incompatibilidade do tempo de alguns entrevistados e com

vista a obter respostas mais elaboradas e detalhadas por parte dos mesmos recorreu-se

as tecnologias. Onde por meio do correio electrónico (e-mail) e redes socias (Face

Book) foi possível interagir com os integrantes da pesquisa. Com recurso a esse meio os

participantes da pesquisa tiveram acesso ao roteiro de entrevista, tendo sido aberto o

espaço para possíveis esclarecimentos de ambas partes.

Observação

Para Marconi e Lakatos (2007), a observação é uma técnica de colecta de dados para

conseguir informações utilizando os sentidos na obtenção de determinados aspectos da

realidade. Neste sentido, a observação focalizou-se no sistema de tratamento do esgoto

existente no Centro de Pesquisa e Treinamento em Saneamento do Meio

UFMG/COPASA, localizada junto a estação de tratamento de esgoto do ribeirão

arrudas, em Belo Horizonte. Assim, foi observada a funcionalidade do sistema com o

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intuito de verificar se o mesmo pode ser viável para o contexto Moçambicano, dada a

sua condição económica.

3.6 Análise dos dados

Os dados foram analisados com recurso à técnica de análise de conteúdos. Trata-se de

um método que lida com comunicações frequentemente numerosas e extensas para

delas se extrair um conhecimento que a simples leitura ou a audição cumulativa não

permitiria formar (Pacheco & Lima, 2006). Silva e Fossá (2013), referem que a análise

de conteúdo é uma técnica de análise das comunicações que irá analisar o que foi dito

nas entrevistas ou observado pelo pesquisador. Na análise do material, busca-se

classificá-los em temas ou categorias que auxiliam na compreensão do que está por trás

dos discursos.

De referir que em termos de tipologia de categorização a mesma foi de análise

categorial. A análise categorial consiste em utilizar categorias existentes ou criar

categorias. Neste sentido, foram criadas as categorias em função dos grupos

entrevistados e as perguntas correspondentes.

As informações resultantes das entrevistas foram selecionadas, recortadas e inseridas

numa tabela. Para cada pergunta feita em cada grupo (Professores, Estudantes e

Profissionais de Educação Ambiental), foi seleccionada uma resposta que vai de

encontro às respostas dadas pelos restantes e em alguns casos foram seleccionadas duas

opiniões divergentes dadas pelo mesmo grupo. Os entrevistados foram codificados

conforme o grupo a que pertenciam. Assim, os professores têm a codificação P onde

P1, 2, 3 e 4 correspondem aos diferentes professores entrevistados. Os estudantes

tiveram a codificação E, onde E1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 e 8 correspondem aos diferentes

estudantes entrevistados e PEA, onde PEA1, 2 e 3 correspondem aos profissionais de

educação ambiental. Com vista a distinguir as respostas dos estudantes Brasileiros e

Moçambicano atribuiu-se as seguintes subcategorias EB (Estudantes Brasileiros) e EM

(Estudantes Moçambicanos).

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3.7 Aspectos Éticos

Estudos envolvendo métodos qualitativos levantam questões éticas, principalmente

devido à proximidade entre pesquisador e pesquisados.

Tendo em vista que os objectos de pesquisa qualitativas, em geral, são seres humanos,

deve-se tomar extremo cuidado para evitar qualquer dano a estes. Geralmente as

preocupações éticas têm girado em torno dos temas: consentimento informado

(anuência, por parte do sujeito, em participar da pesquisa, após ter sido cuidadosamente,

e de forma verídica, informado sobre a investigação); direito à privacidade e ao

anonimato (proteção da identidade do sujeito); bem como a proteção contra quaisquer

danos (físico, emocional, ou de qualquer outro tipo). (Fontana & Frey, 1994). Neste

sentido, foram acautelados os seguintes aspectos éticos:

Permissão / consentimento - todos os envolvidos nesta pesquisa participaram de forma

voluntária. Ou seja, não se usou de nenhum meio coercivo.

Sigilo / Anonimato- com vista a preservar a imagem dos participantes desta pesquisa os

seus respectivos nomes não serão usados em nenhum relatório ou em outros

documentos, nem mencionados em eventos ou apresentações referentes aos resultados

da pesquisa.

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CAPITULO IV: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1 Apresentação dos resultados

Nas tabelas 4.1, 4.2 e 4.3, são apresentadas as respostas das entrevistas resultantes do

trabalho de campo. As mesmas estão divididas em três grupos que correspondem às

respostas dos professores, estudantes e profissionais de educação ambiental. Nas tabelas

4.1e 4.2 estão inseridas as respostas dos professores e estudantes, e na tabela 4.3, estão

inseridas as respostas dos professores, estudantes e profissionais de educação ambiental.

Em cada tabela são apresentadas respostas que satisfazem um determinado objectivo

específico desenhados para a pesquisa. Exceptua-se o primeiro objectivo da pesquisa

que se limitou a resposta do professor com larga experiência na matéria.

Tabela 4.1: Identificação das razões do crescente uso de Reatores UASB e Lagoas de

polimento no Brasil

Objectivo Perguntas Respostas

Professores Estudantes

Identificar as

razões do

crescente uso

de reactores

UASB e lagoas

de Polimento

no Brasil

Por que razão se

intensifica o uso de

Reactores UASB e

lagoas de

polimento no

Brasil?

P1:Pelo facto de agregar uma

série de vantagens; remove uma

grande parte da matéria

orgânica a um custo

relativamente baixo, e

potencialidade de

reaproveitamento do

subproduto do tratamento.

EB1:Pelo facto de reactores

UASB/Lagoas de polimento

produzirem um efluente de

elevada qualidade,

considerando mínimos

custos operacionais.

Que acções foram

levados a cabo

para a

disseminação

desses sistemas?

P2: O governo Brasileiro

investiu em pesquisas em redes

cooperativas no qual resultou

na elevação da compreensão

sobre o funcionamento do

processo e de sua operação.

EB1:Importantes projectos

de pesquisa têm sido

realizados no sentido de se

avaliar as diferentes

configurações e seus

requisitos necessários à

implantação e operação

desse sistema.

Há actuação de

profissionais de

educação

ambiental?

P1: Não. Não há envolvimento

do pessoal ligado com educação

ambiental, embora a educação

ambiental tenha um papel

importante no empoderamento

dessas tecnologias.

EB1: Sim. Os profissionais

desta área são importantes

aliados para o

empoderamento dessas

tecnologias.

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Tabela 4.2: Avaliação do impacto decorrente da implantação de Reatores UASB e Lagoas

de Polimento

Objectivo

Perguntas

Respostas

Professores Estudantes

Avaliar os

impactos

decorrentes da

implantação

desses sistemas

nas

comunidades

Que impactos

sociais e

ambientais podem

- se esperar com a

implantação desses

sistemas nas

comunidades?

P2: despoluição das águas que

recebem os esgotos, o que tem

impactos positivos em termos

sociais e na saúde das

comunidades. No entanto, deve-

se atestar para que não ocorram

impactos negativos para a

vizinhança, principalmente os

relacionados a maus odores,

resultante de um tratamento de

esgoto com alguma deficiência.

EB1: Melhoria de

condições de vida e

recuperação da qualidade

ambiental.

No âmbito da

implantação desses

sistemas as

comunidades são

envolvidas?

P3: Não, porque tem se a ideia

de que o saneamento é um

direito de todos.

EB1: Não. Em algumas

comunidades verifica-se

ausência de diálogo.

Qual tem sido a

percepção das

comunidades sobre

a importância

desses sistemas?

P1: O nível de percepção

depende muito da região que os

usuários estão inseridos, região

com o nível económico mais

elevado percebem melhor a

importância do tratamento de

esgoto, contrariamente as

regiões com nível económico

mais baixo.

EB1:Conhecimento médio.

Neste sentido torna-se

importante a acção de

educação ambiental

actuando como ponte entre

o conhecimento

especializado e a saber

popular no sentido de

demostrar a potencialidade

do sistema.

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Tabela 4.3: Identificação do papel da educação ambiental para o empoderamento dos

reatores UASB e Lagoas de Polimento

Objectivo

Pergunta

Respostas

Professores Estudantes Profissionais de EA

Identificar o

papel da

educação

ambiental

para o

empoderamen

to de

reactores

UASB e

Lagoas de

polimento em

Maputo

Que acções podem

ser levadas a cabo

em Moçambique

para a disseminação

de Reactores UASB

e Lagoas de

Polimento?

P4: Identificação

da percepção das

pessoas envolvidas

a respeito da

temática em foco, e

realização de

diagnóstico sócio

ambiental

P2: Acções

similares que

foram levadas a

cabo no Brasil

EB1: Mobilizar as

lideranças locais,

considerando áreas

estratégicas como

saúde e o meio

ambiente.

PEA3: Educar e ou

consciencializar as

comunidades de várias

dimensões sobre a

necessidade de se optar

por alternativa de baixo

custo para o

melhoramento do

saneamento do meio.

De que forma a

educação ambiental

pode actuar para o

empoderamento

dessas tecnologias

na Cidade de

Maputo?

P2: Mostrando a

importância de

tratamento de

esgoto em termos

de preservação

ambiental e da

saúde pública,

esclarecendo sobre

o seu

funcionamento e

adaptabilidade

deste processo de

tratamento de

esgoto a realidade

de Moçambique.

P3: realizações de

conferências locais,

seminários, onde a

discussão seja o

esgoto sanitário

(doméstico) e as

consequências

tanto para à saúde

como para o meio

ambiente caso não

sejam tratados.

EM4: desencadeando

campanhas de

consciencialização e

sensibilização para dar

a conhecer a

comunidade o seu

modo de

funcionamento,

montagem, benefícios

de modo a convence-

los sobre a viabilidade

económica e

ambiental.

PEA2: recorrendo a

sessões de palestras e

demonstrações desse

sistema e o seu custo de

implementação.

Que metodologias

de Educação

ambiental podem ser

aplicadas no âmbito

da disseminação

desses sistemas?

P3:Metodologias

participativas,

onde, as pessoas

são envolvidas até

que assumam fazer

parte do problema

e também parte da

solução.

EM5: A educação

ambiental deve se

fazer valer de

metodologias

participativas com um

enfoque

interdisciplinar para a

disseminação do

sistema.

PEA1: Metodologia de

abordagem

participativa.

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4.2 Análise e discussão dos resultados

Os dados foram analisados a partir dos princípios de pesquisa qualitativa. A pesquisa

qualitativa trabalha com dados relativos à realidade que não podem ser quantificadas,

tais como: valores, atitudes, mudanças de percepções (Richardson, 1999).

A análise e discussão dos resultados é feita de acordo com a sequência das perguntas de

pesquisa.

4.2.1 Funcionalidade do sistema (Reactores UASB e Lagoas de Polimento)

Relativamente à questão referente ao funcionamento do sistema de tratamento de esgoto

(Reactores UASB e Lagoas de Polimento) o entrevistado constatou aquilo que está

previsto na literatura ao referir que os reactores UASB têm a denominação em

português de Reactores Anaeróbios de Manta de Lodo e Fluxo Ascendente e, tendo

explicado que o esgoto entra pela parte de baixo de um tanque (denominado reactor), e

segue para a parte de cima, de onde sai.

Dando seguimento, na parte de baixo do reactor, a matéria orgânica do esgoto encontra

microrganismos anaeróbios (que crescem na ausência de oxigénio), os quais convertem

a matéria orgânica em gás carbónico, metano (biogás que pode gerar energia) e mais

microrganismos. Na parte superior do reactor UASB existe um defletor ou separador,

que separa o gás (retirado por tubulação específica), do líquido (que é o esgoto tratado,

agora com uma menor concentração de matéria orgânica) e dos sólidos que são a

biomassa, e que posteriormente retornam por sedimentação para a aparte de baixo do

tanque.

Os sólidos retidos constituem a biomassa que permanece no reactor por tempo

suficientemente elevado para que a matéria orgânica seja degradada. O lodo retirado

periodicamente do sistema já se encontra estabilizado, necessitando apenas de secagem

e disposição final.

As lagoas de polimento, por sua vez, são lagoas escavadas no terreno, com o objectivo

específico de tratar os esgotos. Nas lagoas de polimento o restante da matéria orgânica

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que saiu do reactor UASB é utilizado por bactérias aeróbias, que têm o oxigénio como

sua fonte para respiração. Este oxigénio resulta do processo da fotossíntese realizado

pelas algas, que crescem em abundância nas lagoas.

Nas lagoas de polimento ocorre também a mortandade de bactérias patogénicas e vírus,

além da sedimentação de protozoários e helmintos, também causadores de doenças, ou

seja, as lagoas de polimento servem para remover patogênos, nelas estão criadas as

condições desfavoráveis para a sua sobrevivência tais como: alta insolação, radiação

solar, compostos tóxicos, presença de predadores, escassez de alimento e pH, etc.

As Figuras 4.1 e 4.2 ilustram a funcionalidade do Reactor UASB do centro de Pesquisa

e Treinamento em Saneamento do Meio UFMG/COPASA e Lagoas de Polimento,

respectivamente.

Figura 4.1. Reactor UASB do centro de Pesquisa e Treinamento em Saneamento do Meio

UFMG/COPASA

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Figura 4.2: Lagoas de Polimento

4.2.2 Razões do uso crescente dos reactores UASB e Lagoas de Polimento no Brasil

Para responder a esta questão foram entrevistados Professores (P) e Estudantes

Brasileiros (EB). Os mesmos foram unânimes em afirmar que, o crescente uso de

reactores UASB e lagoas de Polimento no Brasil deve-se ao facto do sistema:

P1 "Agregar uma série de vantagens, remove uma grande parte da matéria orgânica a

um custo relativamente baixo, e potencia o reaproveitamento do subproduto do

tratamento".

EB1: "Produzir um efluente de elevada qualidade, considerando mínimos custos

operacionais".

As afirmações dos entrevistados prendem-se com o facto de os reactores UASB

removerem grande parte da matéria orgânica e a um custo relativamente baixo, e terem

uma simplicidade operacional intermediária pelo facto de não precisarem de operadores

qualificados. Ademais, produzem pouco lodo, reduzindo o custo de tratamento de

subproduto e, potencializando a produção de biogás.

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Por outro lado, as lagoas complementam muito bem os reactores UASB por serem

simples do ponto de vista operacional, e removem uma quantidade considerável de

patogênos, o que de certo modo podem ser aplicáveis à realidade Brasileira e

Moçambicana. Como se referiu o P1, um outro elemento extremamente importante a

considerar nestes sistemas tem a ver com a potencialidade do reaproveitamento dos sub-

produtos do tratamento (água, lodo, biogás). Por exemplo, o subproduto do tratamento,

especificamente o lodo, após a devida higienização pode ser reaproveitado para a

agricultura pelo facto de agregar vários constituintes. Além da matéria orgânica,

alcalinidade, nitrogénio e fosfato, tem nutrientes que são essenciais para os solos. O

esgoto tratado que sai das lagoas de polimento possui baixas concentrações de

organismos causadores de doenças. Além disso, possui nitrogénio e fósforo, que são

nutrientes. Desta forma, são adequados para utilização na irrigação, sendo esta uma

óptima alternativa de reuso. O biogás, por sua vez, é constituído por importante parcela

de metano, que, se produzido em grande quantidade pode ser destinado ao

aproveitamento energético que posteriormente pode ser reaproveitado para a cozedura

de alimentos das comunidades.

Para além das vantagens agregadas ao sistema, é de referir que algumas acções levadas

a cabo no Brasil contribuíram para o empoderamento dos sistemas como referem o

grupo de P e E.

P2:" O governo Brasileiro investiu em pesquisas em redes cooperativas no qual

resultou na elevação da compreensão sobre o funcionamento do processo e de sua

operação".

EB1:"Importantes projectos de pesquisa têm sido realizados no sentido de se avaliar as

diferentes configurações e seus requisitos necessários à implantação e operação desse

sistema".

Este programa de pesquisa (PROSAB), que se deu na década 90 e nos meados dos anos

2000, envolvendo diversos profissionais, professores universitários, pesquisadores,

técnicos de algumas companhias de saneamento, impulsionou a intensificação das

pesquisas e a disseminação dos resultados das mesmas contribuíram para o

empoderamento dessas tecnologias.

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No entanto, lamentavelmente o P1 disse que "Não houve envolvimento do pessoal

ligado à educação ambiental pelo facto do projecto estar mais ligado ao

desenvolvimento tecnológico, embora a educação ambiental tenha um papel importante

no empoderamento dessas tecnologias".

O grupo de estudantes reconhece a importância do envolvimento do pessoal de

educação ambiental. Por exemplo o EB1 afirmou que "Os profissionais desta área se

apresentam como importantes aliados para o empoderamento dessas tecnologias".

Com base nos depoimentos fornecidos pelos entrevistados pode-se perceber que a

educação ambiental não tem actuado de forma activa quer no âmbito da divulgação ou

disseminação do sistema, como na implementação do mesmo, o que de certo modo

pode-se concluir que vários projectos referentes a implementação desses sistemas nas

comunidades não têm alcançado os objectivos almejados por falta da componente

educação ambiental. Visto que, a componente educação ambiental assume um papel

fundamental nos projectos de saneamento pois, permite que a população adquira

conhecimentos dos benefícios trazidos por este, para além de elevar o nível de

consciência da população sobre a importância da mudança de comportamento, visando à

preservação do meio ambiente e a saúde pública.

A tabela 4.1 apresenta o resumo das razões que contribuem para o uso de reactores

UASB e Lagoas de Polimento no Brasil.

Tabela 4.1 Resumo das razões que contribuem para o uso de reactores UASB e Lagoas de

Polimento no Brasil

Simplicidade operacional.

Remoção significativa da matéria orgânica e patogênos a um custo relativamente baixo.

Possibilidade de reaproveitamento do subproduto resultante do tratamento de esgoto (água, biogás e

lodo).

Possibilidade de gerar energia que pode beneficiar a comunidade que vive em redor da ETE.

Potencialidade de reaproveitamento de água do esgoto tratado para a irrigação agrícola, pelo facto deste

possuir nutrientes que podem tornar o solo mais produtivo.

Importantes pesquisas desenvolvidas deram maior confiabilidade e aceitabilidade do sistema.

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4.2.3 Impactos da implantação de reactores UASB e lagoas de polimento nas

comunidades

Os serviços de saneamento estão relacionados à promoção da qualidade de vida, bem

como ao processo de protecção dos ambientes naturais em especial dos recursos

hídricos. Um número elevado de doenças está relacionado com as condições do

tratamento dado ao esgoto. Os aspectos negativos do tratamento inadequado do esgoto

não se restringem somente à saúde da população. O despejo directo de esgoto em locais

impróprios pode causar grande degradação ambiental, contaminar lençóis freáticos e

corpos hídricos, degradando ecossistemas e comprometendo a flora e a fauna nativas

(Ministério das Cidades, 2009).

A este respeito, os entrevistados afirmaram que com a implementação desses sistemas

nas comunidades podem se esperar os seguintes impactos:

P2: "Despoluição das águas que recebem os esgotos, isso obviamente tem impactos

positivos em termos sociais e na saúde das comunidades".

E1: "Melhoria de condições de vida e recuperação da qualidade ambiental".

Desta forma, sempre que se implementa o sistema de tratamento de esgoto (Reactores

UASB e Lagoas de Polimento) em uma comunidade os impactos ambientais são

favoráveis, porque contribuem para a redução dos índices de poluição dos corpos de

água, lençóis freáticos, solos, etc. Uma das vantagens adicionais desse sistema de

tratamento de esgoto (Reactores UASB e Lagoas de Polimento) é que ele remove

organismos causadores de doenças, e isto obviamente tem um impacto em termos

sociais e de saúde pública. Quando se melhora o nível de saúde da população por meio

de acções preventivas de saneamento, economiza-se em acções correctivas de Medicina,

que no ponto de vista económico são as mais caras.

No entanto, ao se implantar essas tecnologias para o tratamento de esgoto, o P2 chama

atenção sobre a necessidade de "atestar para que não ocorram impactos negativos para

a vizinhança, principalmente os relacionados a maus odores, resultante de um

tratamento de esgoto com alguma deficiência".

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Assim, torna-se importante referir que, com base na observação foi possível verificar

que o sistema, pela sua simplicidade e facilidade de operação e manutenção pode ser

aplicável à realidade Moçambicana visto que, o mesmo não envolve profissionais

altamente qualificados e custos elevados para sua implementação.

Tabela 4.3: Resumo dos impactos resultantes da implantação do sistema nas comunidades

Redução dos índices de contaminação dos corpos de água por patogênos e matéria orgânica existentes

no esgoto.

Redução ou eliminação de risco de contaminação por agentes patogênicos.

Melhoria da saúde pública e bem-estar da comunidade.

Redução dos custos adicionais em termos de investimentos na área de saúde.

Melhoria de condições de vida e recuperação da qualidade ambiental.

Impactos negativos para a vizinhança, principalmente os relacionados aos maus odores, resultantes de

um tratamento de esgoto com alguma deficiência.

4.2.4 Papel da educação ambiental na disseminação (empoderamento) do sistema

de tratamento de esgoto doméstico (reactores UASB e lagoas de polimento) em

Maputo

Nesta subsecção serão apresentados os resultados referentes ao papel da educação

ambiental para a disseminação de tecnologias de tratamento de esgotos (Reactores

UASB e Lagoas de Polimento) em Maputo.

No que tange a esse aspecto, os entrevistados referem que a educação ambiental pode

actuar da seguinte forma:

P2: "Mostrando a importância de tratamento de esgoto em termos de preservação

ambiental e da saúde pública, esclarecendo sobre o seu funcionamento e

adaptabilidade deste processo de tratamento de esgoto a realidade de Moçambique".

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P3: "Realizando conferências locais, seminários, onde a discussão seja o esgoto

sanitário (doméstico) e as consequências tanto para à saúde como para o meio

ambiente caso não seja tratado".

EM4: "Desencadeando campanhas de consciencialização e sensibilização para dar à

conhecer a comunidade o seu modo de funcionamento, montagem, benefícios de modo a

convence-los sobre a sua viabilidade económica e ambiental ".

PEA2: "Recorrendo a sessões de palestras e demonstrações desse sistema e o seu custo

de implementação".

No que concerne ao tipo de metodologia a ser adoptada no âmbito dessa disseminação

os entrevistados foram unânimes em afirmar que deve -se pautar por:

P3:"Metodologias participativas, onde, as pessoas são envolvidas até que assumam

fazer parte do problema e também parte da solução".

EM5: "A educação ambiental deve se fazer valer de metodologias participativas com

um enfoque interdisciplinar para a disseminação do sistema".

PEA1:"Metodologia de abordagem participativa".

Analisando as respostas dos entrevistados, torna-se evidente que, para a disseminação

(empoderamento) do sistema de tratamento de esgoto (Reactores UASB e Lagoas de

Polimento) em Maputo, é imprescindível a aplicação de metodologias participativas

com recurso ao autodiagnóstico ou autoconhecimento com o intuito de identificar a

percepção do grupo alvo a respeito da temática em causa. Posteriormente pode-se abrir

espaço para a realização de campanhas educativas, palestras, workshops, debates

públicos, seminários, etc., onde a discussão seja o esgoto doméstico e as consequências

para a saúde e para o meio ambiente quando não tratado adequadamente. Por meio deste

processo educativo, os preconceitos serão vencidos, o público-alvo (comunidades,

gestores de saneamento, líderes comunitários, entidades públicas e privadas,

pesquisadores) será esclarecido sobre a importância de adoptar hábitos higiénicos e

estarão consciente quanto aos danos causados ao meio ambiente e a sua própria saúde

devido ao escoamento inadequada dos esgotos doméstico.

Para além de mostrar os impactos do não tratamento, deve-se mostrar as soluções

possíveis de aplicação que são mais apropriadas a realidade Moçambicana. Neste caso,

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pode-se abordar os benefícios que advém da implantação de reactores UASB e lagoas

de polimento para as comunidades e para o meio ambiente no geral, explicando as

vantagens e desvantagens, a forma de operação e manutenção, esclarecendo sobre o

funcionamento e a adaptabilidade deste para a realidade da Cidade de Maputo.

Aliado a esse processo, à luz da experiência do Brasil, torna-se extremamente

importante investir em pesquisa relacionadas com tecnologias alternativas de tratamento

de esgoto com o intuito de elevar o nível de compreensão da funcionalidade e

exequibilidade dos sistemas de tratamento de esgotos de baixo custo. As discussões e os

resultados desses estudos darão maior confiança e aceitação aos gestores de saneamento

e a sociedade no geral o que de certo modo fortalecerá a acção da educação ambiental

no âmbito da disseminação ou empoderamento das mesmas.

Estes resultados estão em consonância com o que a literatura diz relativamente ao papel

da educação ambiental na disseminação de tecnologia de tratamento de esgoto. Por

exemplo, Marques, et al (2012) argumentam que a aplicabilidade de uma tecnologia

social somente tem resultados positivos se estiver aliada a um processo educativo. Por

isso, as acções de educação ambiental auxiliam na disseminação de tecnologias sociais e

na efectivação do desenvolvimento sustentável. O mesmo posicionamento é partilhado

por Silva, et al. (2009) ao referir que a aplicabilidade de tecnologias voltadas ao

tratamento de resíduos não depende exclusivamente dos aspectos como: fácil operação,

baixo custo de aquisição e implantação, remoção significativa da matéria orgânica e

mitigação de impactos sócio ambientais. A participação institucional é essencial para a

disseminação, empoderamento e aplicação em escala real. Desta forma, a componente

educação ambiental torna-se fundamental nos projectos de saneamento pois permite que

a população adquira conhecimentos dos benefícios trazidos por este, para além de elevar

o nível de consciência da população sobre a importância da mudança de

comportamento, visando à preservação do meio ambiente e a qualidade de vida.

No que tange ao tipo de metodologia a ser usada neste processo de disseminação dos

Reactores UASB e Lagoas de Polimento os resultados apresentados convergem com

aquilo que a literatura preconiza. Por exemplo a FUSANA (2009) refere que durante

esse processo educativo deve-se pautar por métodos de acção participativa que

capacitem as pessoas e os grupos a analisarem criticamente uma situação, a identificar e

priorizar problemas, a indicar e a se organizarem para promover as soluções.

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A metodologia participativa utiliza como ponto de partida, uma técnica simples, mas

que apresenta excelentes resultados, sempre que é aplicado. O autodiagnóstico ou

autoconhecimento permite ao grupo envolvido no processo educativo, para além de

tomar consciência dos problemas ambientais que os afecta, passe a conhecer as suas

causas, estimulando uma prática que transforma a percepção das pessoas e as atitudes

das mesmas perante o problema (Gomide e Serrão, 2004).

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Capítulo 5: Conclusões e Recomendações

Este capítulo apresenta as conclusões e recomendações que resultaram deste estudo à

luz dos objectivos e questões de pesquisa que orientaram a elaboração desta

monografia.

5.1 Conclusões

No que concerne as razões do crescente uso de reactores UASB e lagoas de polimento

no Brasil constatou-se que o uso recorrente do mesmo deve-se ao facto do sistema

remover grande parte de matéria orgânica e patogênos a um custo relativamente baixo.

Este sistema potencia o reaproveitamento dos subprodutos resultante do tratamento para

diferentes fins. Deve-se, no entanto, salientar que, além dos aspectos inerentes ao

sistema analisado, algumas pesquisas desenvolvidas pelo governo Brasileiro

contribuíram para o empoderamento dos reactores UASB e lagoas de polimento.

No que tange ao aspecto referente aos impactos resultantes da implantação dos reactores

UASB e lagoas de polimento constatou-se que com a implantação desses sistemas nas

comunidades podem se esperar os seguintes impactos: despoluição das águas, melhoria

da saúde pública, melhoria de condições de vida e recuperação da qualidade ambiental,

o que, resulta numa economia em termos de investimentos no sector da saúde.

O estudo também permitiu concluir que a educação ambiental pode actuar para a

disseminação dos reactores UASB e lagoas de polimento na cidade de Maputo através

de campanhas educativas (seminários, workshops, debates públicos, conferências, etc)

com recurso a metodologias participativas. O cerne destas campanhas deve girar em

torno do esgoto sanitário e as consequências para a saúde e para o meio ambiente caso

não seja tratado devidamente. Com base nessas discussões deve-se apresentar soluções

passíveis de aplicação no contexto Moçambicano. Desta forma, pode-se abordar sobre

os benefícios que se advém da implantação de reactores UASB e lagoas de polimento

para as comunidades e para o meio ambiente no geral, explicando as vantagens e

desvantagens, a forma de operação e manutenção, esclarecendo sobre o funcionamento

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e a adaptabilidade deste processo de tratamento de esgoto para a realidade da cidade de

Maputo.

5.2 Recomendações

Com base nos resultados e conclusões do estudo recomenda-se o seguinte:

A exemplo do Brasil, sugere-se ao governo Moçambicano a investir em

programas de pesquisas relacionadas às tecnologias de baixo custo para o

tratamento de esgoto com o intuito de elevar o nível de compreensão sobre o

funcionamento, a operação, manutenção e os impactos que advém da

implantação dos reactores UASB e lagoas de polimento. Os resultados dessas

pesquisas darão maior confiança e maior aceitação do sistema tanto por parte

dos gestores dos serviços de saneamento bem como as comunidades.

Realização de Auto-diagnóstico em algumas comunidades residentes na cidade

de Maputo com vista a avaliar o nível de percepção das mesmas sobre os

impactos resultantes do despejo inadequado do esgoto doméstico.

Necessidade da intensificação da educação ambiental com vista a

consciencializar e sensibilizar os gestores municipais e as comunidades sobre os

impactos do despejo indevido do esgoto sanitário e apresentar-se soluções

passíveis de aplicação (soluções de baixo custo) no contexto Moçambicano de

modo a reverter a situação actual.

Criação de programas de formação em educação ambiental e saneamento do

meio para os líderes comunitários, a comunidade e gestores públicos com vista a

estimular um olhar mais crítico em relação ao problema do despejo inadequado

do esgoto sanitário nos cursos de água.

Ao Governo Brasileiro sugere-se que se inclua de forma activa os profissionais

da educação ambiental quer no âmbito da disseminação quer no da

implementação dos sistemas alternativos para o tratamento de esgoto. Pois, estes

profissionais são aliados importantes para o sucesso de qualquer projecto ligado

a área de saneamento.

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Apêndice

Roteiro de entrevista

Este roteiro de entrevista será aplicado para recolha de dados de carácter qualitativo

relativos ao papel da educação ambiental na disseminação de sistema de tratamento de

esgoto de baixo custo (Reactores UASB e Lagoas de Polimentos). A entrevista será

efectuada no âmbito da realização do trabalho de culminação do curso de Licenciatura

em Educação Ambiental (Monografia). Estas perguntas serão aplicadas aos professores,

pesquisadores, estudantes, profissionais da área de saneamento e profissionais de

educação ambiental com a finalidade de perceber o papel da educação ambiental na

disseminação de tecnologia de baixo custo para o tratamento do esgoto em Moçambique

(concretamente na cidade de Maputo).

Dados do entrevistado

Nome:

Profissão:

Nível de Formação:

Sexo: Masculino ( ), Feminino ( )

Bairro residencial:

1.Segundo a literatura, tem se intensificado no Brasil o uso de reactores UASB e Lagoas

de polimento para o tratamento e pós-tratamento do esgoto. Por qual razão?

2. De forma não técnica, como é que funciona o sistema de tratamento de esgoto

(Reactores UASB e Lagoas de Polimento)?

3. O sub - produto gerado do tratamento (água, lodo e gás) podem ser reaproveitados?

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Sim ( ), Não ( )

Caso seja sim, para que fins?

4. O sistema tem a capacidade de tratar esgoto de quantos habitantes?

5.Que acções têm sido levadas a cabo no Brasil para a disseminação de sistema de

tratamento de esgoto a baixo custo (reactores de UASB e Lagoas de Polimento)?

6.Que papel a educação ambiental tem desempenhado para a disseminação e implatação

desses sistemas de tratamento de esgoto?

7. Que impactos sócias, económicos e ambientais podem se esperar com a implantação

desse sistema nas comunidades?

8. Qual tem sido o nível de percepção das pessoas sobre a importância do uso desses

sistemas de tratamento de esgoto? Alto ( ), médio ( ), baixo( )

Comentário

9.No âmbito da implantação desses sistemas em alguns locais, as comunidades são

envolvidas?

Sim ( ), Não ( ).

Comentário

10.Qual é a importância desse sistema?

11.Que acções podem ser desenvolvidas em Moçambique para a disseminação desse

sistema?

12. Que papel a educação ambiental pode desempenhar para a disseminação desses

sistemas em Moçambique? Tanto para os gestores da área de saneamento como para as

comunidades de modo que tenha aceitação?

13.Que metodologias de educação ambiental podem ser aplicadas em Moçambique no

âmbito da disseminação e implantação desses sistemas de tratamento de esgoto?