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UNIERSIDADE EDUARDO MONDLANE Faculdade de Educação Departamento de Organização e Gestão da Educação Curso de Licenciatura em Organização e Gestão da Educação Monografia FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO TÉCNICO PROFISSIONAL E OS DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONOMICO EM MOÇAMBIQUE NO PERÍODO 1975-2014 Autor: Cláudio Juma Amade Supervisor: dr. António Matlombe Maputo, Maio de 2015

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UNIERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Faculdade de Educação

Departamento de Organização e Gestão da Educação

Curso de Licenciatura em Organização e Gestão da Educação

Monografia

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DO ENSINO TÉCNICO PROFISSIONAL E OSDESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO SOCIOECONOMICO EM MOÇAMBIQUE

NO PERÍODO 1975-2014

Autor: Cláudio Juma Amade

Supervisor: dr. António Matlombe

Maputo, Maio de 2015

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UNIERSIDADE EDUARDO MONDLANE

Faculdade de Educação

Departamento de Organização e Gestão da Educação

Curso de Licenciatura em Organização e Gestão da Educação

Monografia

Monografia apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para obtenção de

grau de Licenciatura em Organização e Gestão da Educação na Universidade Eduardo

Mondlane.

O Licenciando: Cláudio Juma Amade

Supervisor: dr. António Matlombe

Maputo, Maio de 2015

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2

Nenhuma autoridade docente se exerce ausente da competência. O professor

que não leve a sério sua formação, não estude, não se esforce para

estar à altura de sua tarefa, não tem força moral para coordenar as atividades

de sua classe.

Paulo Freire (1996)

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I

DECLARAÇÃO DE HONRA

Declaro que esta dissertação nunca foi apresentada na sua essência, para obtenção de

qualquer grau académico, e constituí resultado da minha investigação pessoal, estando

indicadas no texto e na bibliografia as fontes que utilizei.

Maputo, Maio de 2015

O Licenciando

____________________________(Cláudio Juma Amade)

I

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II

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha mãe, Emelita Quinteiro André, minha esposa Angelina António

Amade, meus filhos Ana Raquel Cláudio Amade, Laren Paulo Amade, meus irmãos Maria

Olga Paulo, Kelly Pedro Paulo e especialmente ao meu saudoso irmão Elidio Paulo Amade

que adormeceu na morte sem ter lido esta monografia.

II

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III

AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar os meus sinceros agradecimentos a todas pessoas e entidades que

directa ou indirectamente contribuiu para que o presente trabalho se torne realidade. No

entanto, não deixaria de endereçar especial gratidão ao dr. António Matlombe pela tolerância,

exigência e rigor na supervisão deste trabalho, a dra. Graciosa Nhantsave, dra. Enia

Benjamim, dr. Gil Tobias Zaqueu, pela disponibilidade e prontidão demonstrada para

comentário em torno do trabalho e sobretudo pelas críticas construtivas, a dra. Ilda Alvarinho,

dra. Filomena José, dr. Remígio Rainde, dr. José Filmone e ao dr. Halénio Nuíla, pela

abertura e apoio incondicional no processo de recolha de dados, ao Prof. Doutor Carlos

Mussa e a dra. Maria Dias, pela atenção, paciência e dedicação na fase da elaboração do

projecto de pesquisa que norteou este trabalho.

Os agradecimentos são extensivos a todos colegas do curso em especial à Celina Mugabe ao

Nelson Bape, pelo companheirismo e pela força e incentivo que sempre deram durante a

realização do trabalho, a amigos e familiares não citados, mas que certamente foram de

grande importância durante a minha caminhada;

A todos, muito obrigado!

III

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IV

LISTA DE ABREVIATURAS

CAFP Curso Acelerado de Formação de Professores

CBT Competence Based Training

CIFP Curso Intensivo de Formação de Professores

CIP Centro de Integridade Pública

COREP Comissão da Reforma do Ensino Profissional

DINET Direção Nacional do Ensino Técnico

ETP Ensino Técnico Profissional

ENH Empresa Nacional de Hidrocarbonetos

FP Formação Profissional

REP Reforma do Ensino Profissional

ITIE Iniciativa para a Transparência na Indústria Extrativa

IESE Instituto de Estudos Sociais e Económicos

ISDB Instituto Superior Dom Bosco

MINED Ministério da Educação

PEEC Plano Estratégico de Educação e Cultura

PEE Plano Estratégico da Educação

SETEP Secretaria do Estado de Educação Técnico-profissional

PIREP Programa Integrado da Reforma da Educação Profissional

QNQP Quadro Nacional de Qualificações Profissionais

IFP Instituto de Formação de Professore

IPAU Instituto Pedagógico Agrícola de Umbelúzi

IPIN Instituto Pedagógico Industrial de Nampula

IV

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V

URSS União das Republicas Socialistas Soviéticas

RDA República Democrática da Alemanha

ISP Instituto Superior Pedagógico

UP Universidade Pedagógica

UEM Universidade Eduardo Mondlane

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Resumo dos Modelos de Formação em Educação Profissional

Tabela 3 Informação dos respondentes do questionário a pergunta 1

Tabela 4 Informação dos respondentes do questionário a pergunta 2

LISTA DE ANEXOS

Anexo I Guião de Perguntas para Professores

Anexo II Guião de Perguntas para Diretor Pedagógico do ISDB

Anexo III Guião de Perguntas para Gestora do Departamento de Qualificações e Formação

do Programa Integrado da Reforma de Educação Profissional.

V

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RESUMO

O presente trabalho intitulado “Formação de Professores do Ensino Técnico Profissional e os

Desafios do Desenvolvimento Socioeconómico em Moçambique no período 1975 à 2014”, é

uma caracterização de como o processo de formação de professores do ensino técnico-

profissional tem evoluído desde a independência aos nossos dias tendo em conta, os desafios

políticos, sociais e económicos que influenciam o desenvolvimento ou retrocesso do

subsistema em estudo.

Para a recolha de dados usou-se a pesquisa bibliográfica e analise documental optando-se

pelas entrevistas e questionários como técnicas para o trabalho de campo. A apresentação e

interpretação de dados fez-se cruzando o método quantitativo e qualitativo escolhendo a

estatística descritiva para consolidar a interpretação da informação subjetiva colhida pelos

dois últimos instrumentos mencionados no período anterior.

Para orientar o estudo foram formuladas duas hipóteses. A primeira hipótese foi comprovada

pois até a data, existe apenas uma instituição de índole privada vocacionada a formação de

professores para o subsistema do ensino técnico profissional.

Para o mesmo propósito da primeira hipótese, a falta de recursos financeiros levou o Instituto

Superior Dom Bosco a parar de ministrar cursos para professores em exercício no modelo de

ensino a distancia e para responder ao défice de professores formados no currículo baseado

em padrões de competências. Este factor tem levado o PIREP a realizar capacitações de três

semanas (21 dias) para professores que não frequentaram o ensino superior no Instituto

Superior Dom Bosco como medida de emergência com vista a expandir o número de

docentes como conhecimentos deste modelo curricular. Estes arranjos que vêm sendo feitos e

o encerramento dos cursos a distância por falta de recursos financeiros respondem a segunda

hipótese desta pesquisa.

A segunda hipótese foi comprovada pois até a data, somente a Universidade Eduardo

Mondlane leciona cursos de geologia e química e as restantes quarenta e sete, nenhuma

ministra formações nas áreas de hidrocarbonetos e recursos minerais.

VI

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ÍNDICE

DECLARAÇÃO DE HONRA......................................................................................................... I

DEDICATÓRIA .............................................................................................................................II

AGRADECIMENTOS ................................................................................................................. III

LISTA DE TABELAS................................................................................................................... V

LISTA DE ANEXOS..................................................................................................................... V

RESUMO...................................................................................................................................... VI

1. Introdução................................................................................................................................ 1

1.1. Problema .................................................................................................................................. 3

1.2. Objetivos do Trabalho.............................................................................................................. 5

1.2.1. Geral...................................................................................................................................... 5

1.2.2. Específicos ............................................................................................................................ 5

1.3. Hipótese ................................................................................................................................... 6

1.4. Justificativa.............................................................................................................................. 7

Capitulo II ....................................................................................................................................... 8

2.0. Contextualização...................................................................................................................... 8

Capitulo III.................................................................................................................................... 10

3.0. Revisão da literatura .............................................................................................................. 10

3.1. Políticas Públicas ................................................................................................................... 10

3.2. Ensino Técnico Profissional .................................................................................................. 11

3.3. Formação de Professores ....................................................................................................... 15

3.4. Reforma Educacional............................................................................................................. 17

3.5. Evolução Histórica do ETP e do Processo de Formação de Professores em Moçambique... 17

3.5.1. Fase da Institucionalização e Implementação de Cursos de Curta duração deFormação de Professores do Ensino Técnico Profissional (1975-2005) ...................................... 18

3.5.2. O Desenvolvimento Profissional e a Instabilidade do Pessoal Docente............................. 22

3.5.3. Alicerces para a Reforma do Ensino Técnico Profissional................................................. 24

3.5.4. Fase da Reforma do Ensino Técnico Profissional (2006-2014) ......................................... 25

3.5.4.1. Vertente da REP para Área Organizacional..................................................................... 25

3.5.4.2. Vertente do REP para área Curricular ............................................................................. 26

3.5.4.3. Vertente da REP para área de Formação de Professores ................................................. 28

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3.5.4.4. Vertente da REP para a Área Financeira ......................................................................... 32

Capitulo IV.................................................................................................................................... 33

4.0. Metodologia ........................................................................................................................... 33

4.1. Técnicas de Pesquisa.......................................................................................................... 33

4.2. Amostra.................................................................................................................................. 33

4.3. Técnica de Recolha de Dados .............................................................................................. 34

4.4. Interpretação dos Resultados ................................................................................................. 34

5.0. Apresentação e Análise de Dados.......................................................................................... 35

CAPITULO VI.............................................................................................................................. 40

6.0. Conclusão............................................................................................................................... 40

6.2. Recomendações...................................................................................................................... 43

Referências Bibliográficas ............................................................................................................ 44

ÍNDICE DE ANEXOS

Questionário de Perguntas para Professores do ISDB…………………………………………...48

Guião de Entrevista para o Director Pedagógico do ISDB ………………...…………..………..50

Guião de Entrevista para a Representante da Direcção Nacional do Ensino Técnico

Profissional……………………..………………………………………………..……..…...….51

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CAPITULO I

1. IntroduçãoO desenvolvimento socioeconómico de um país faz-se mediante existência de recursos

humanos habilitados de conhecimentos técnico-científicas e culturais, sabendo quais são

seus direitos e deveres para com a sociedade e o Estado.

Em Moçambique, a existência de profissionais competentes e qualificados na área técnico-

profissional reveste-se de importância vital para o desenvolvimento socioeconómico no

contexto atual, caracterizado pela descoberta de recursos minerais e energéticos.

Este fato impõe desafios acrescido ao subsistema do Ensino Técnico Profissional (ETP)

pois, cabe-lhe a missão de formar pessoal técnico competente para trabalhar na indústria

extrativa e de hidrocarbonetos instaladas no país.

Contudo, a globalização e os avanços tecnológicos deixam o subsistema de ensino técnico-

profissional a largos passos de distância quanto a qualidade da força de trabalho que tem

sido disponibilizada ao mercado laboral em relação a outros países da região austral da

Africa e do mundo em geral. A impossibilidade de encontrar recursos humanos

competentes localmente, força aos investidores e/ou empregadores a recrutarem mão-de-

obra estrangeira ou a formar sua força de trabalho com vista a muni-los de habilidades

técnicas e práticas de que necessitam.

Este trabalho é relevante pois alinha-se com as estratégias de desenvolvimento do país e

visa responder a uma questão crucial quer a nível social quer a nível económico e

académico.

Os contributos que podem advir da apreciação desta pesquisa irão ajudar a compreender a

evolução do processo de formação de professores do ensino técnico profissional ao longo

da história, ajudando os gestores educativos a tomar decisões e a desenvolver estratégias

que visam responder situações pontuais e futuras na área em estudo.

Este trabalho foi possível realizar recorrendo a técnicas de recolhas de dados como

análise documental, bibliográfica bem como, questionários e entrevistas para o trabalho

de campo. A triangulação do método qualitativo e quantitativo possibilitou a análise e

interpretação de dados usando a estatística descritiva para consolidar a interpretação da

informação subjetiva.

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A estrutura do trabalho apresenta cinco capítulos em que o primeiro contém os elementos

da introdução, o segundo contextualização, terceiro enquadramento teórico, quarto,

procedimentos metodológicos, e o quinto apresentação e análise de dados.

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1.1. Problema

O relatório do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE, 2012), refere que os

recursos naturais quando devidamente racionalizados podem ampliar o mercado de

emprego aos moçambicanos, facto que suscita pressão acrescida ao governo e ao ETP em

especial, pois deve prover o mercado, de recursos humanos competentes e com habilidades

necessárias para satisfazer os requisitos técnicos laborais.

Um documento similar do Centro de Integridade Pública (CIP, 2009), mostra uma

discrepância entre os níveis de crescimento marcados pelo índice do volume de existência

dos referidos recursos no país e a preparação da mão-de-obra capaz de trabalhar nas

indústrias emergentes dentro das diversas áreas a fins.

A oferta de técnicos para satisfazer a procura de um mercado laboral cada vez mais

exigente, carece da presença de um corpo docente altamente qualificado, capaz de

potenciar a força de trabalho de ferramentas técnicas e práticas indispensáveis para o

trabalho.

O Ministério da Educação partilha da mesma ideia ao afirmar que “os quadros oferecidos

ao mercado de trabalho, não satisfazem as aspirações do empresariado local, e esse facto é

agravado pelas fracas qualificações em geral, dos instructores...”(PEEC 2006-2011, p.48).

A sustentação do MINED pode justificar-se por um lado pelo facto dos

instructores/formadores terem beneficiados da formação inicial básica ou média entre 1977

à 1984 e, não terem passado pela reciclagem ou capacitações adicionais tornando-os

repetidores de um modelo curricular bastante teórico e com pouca componente prática.

Dada a inexistência de instituições de formação de professores do ETP, os contratados para

a carreira docente com nível superior vinham das universidades sem formação didático-

pedagógica ou com esta formação mas sem a destreza prática para o subsistema em

questão.

Com as exigências emanadas com a reforma do ensino técnico-profissional em curso no

país desde 2006, os professores deviam ser originários das instituições de ensino superior

públicas e privadas presentes em Moçambique.

Porém, o levantamento estatístico do ensino superior de 2013 mostra que em Moçambique

somente uma instituição de índole privada esta vocacionada à formação de professores

para o ensino técnico profissional (Instituto Superior Dom Bosco). Este fato revela um

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descompasso entre as pretensões do governo, as estratégias do ensino técnico profissional

no âmbito da reforma e a dinâmica do desenvolvimento socioeconómico do país.

O problema de pesquisa resulta do desencontro entre a expansão do acesso (rede escolar ou

oferta de novos cursos) e a necessidade de garantirmos “recursos humanos competentes”

e/ou “mão-de-obra capaz de trabalhar nas industrias emergentes” facto agravado pela

escassez de instituições publicas ou privadas provedoras de cursos de formação de

formadores/professores do ETP.

Na mesma senda, para as áreas de maior investimento (hidrocarbonetos), com expceção da

Universidade Eduardo Mondlane que ministra cursos relacionados com Geologia e

Química, as restantes quarenta e oito (48) instituições de ensino superior (IES) incluindo o

ISDB, nenhuma leccionam cursos do género.

Portanto, numa altura que o país tem desafios na provisão de técnicos para o

desenvolvimento económico, nota-se a inexistência de uma política expressiva de

formação de professores. Esta situação torna-se problemática se partimos do pressuposto

que bons técnicos resultam da existência de bons professores e de capacidade instalada

para sua formação.

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1.2. Objetivos do Trabalho

1.2.1. Geral

Compreender como o processo de formação de professores do EnsinoTécnico Profissional evoluiu no período 1975 a 2014 e como temcontribuído para o crescimento socioeconómico do país.

1.2.2. Específicos

Caracterizar o quadro histórico do processo de formação de

professores para o ensino técnico profissional entre 1975 a 2014;

Analisar os momentos marcantes de cada época e as mudanças que

trouxe para o subsistema em si e para o crescimento socioeconómico

do país.

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1.3. Hipótese

A problematização acima descrita, leva-nos a tecer as seguintes hipóteses de

investigação:

H1 – O défice de instituições superiores e recursos financeiros para formar

professores do Ensino Técnico Profissional em Moçambique, resulta na fraca

oferta de pedagogos para satisfazer as atuais exigências da economia

nacional.

H2 – Os currícula desenhados com a reforma do ensino técnico profissional foram

concebidos sem observar as áreas de maior interesse nacional (recursos

minerais e hidrocarbonetos).

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1.4. Justificativa

Esta pesquisa é importante, pois relaciona-se com o desenvolvimento económico que o

país vem alcançando nos últimos anos. Tal desenvolvimento exige a presença de

pessoal técnico competente a fim de responder às necessidades e exigências da

“revolução industrial” emergente no país. Este panorama impõe responsabilidade

acrescida ao Estado, e de forma específica ao subsistema do Ensino Técnico

Profissional.

Tomando em conta que a fraca qualidade do corpo docente tem sido apontada como

causa da fraca qualidade dos graduados do subsistema do ensino técnico profissional,

torna-se justificável a pesquisa a medida que esta procura compreender como o processo

de formação de professores do Ensino Técnico Profissional tem evoluído desde da

independência em 1975 a 2014 e como tem contribuído para o crescimento

socioeconómico do país.

Este estudo pretende de certo modo trazer a atenção dos gestores de educação e a

estrutura de direito, a necessidade de se investir na formação de professores do ensino

técnico profissional, garantindo a existência constante de material técnico pedagógico

(oficinas praticas e laboratórios) pois, esta é a chave para o desenvolvimento

socioeconómico do país na medida que o professor torna-se agente catalisador do

desenvolvimento pela formação e transformação das mentes através da capacitação ou

transmissão de conhecimentos tecno-práticos as novas gerações bem como, as

competências próprios param atividade laboral.

A existência de professores formados e o curricula elaborado para satisfazer as

necessidades do mercado, as empresas reduzirão a contratação da mão-de-obra

estrangeira e reduzirão gastos de investimento na formação da força de trabalho visto

que as competências de que precisam no seio de seus quadros localmente existem.

Não obstante, com a existência da mão-de-obra localmente devidamente preparada e

trabalhando nas diversas frentes económicas do país, a fuga de capitais irá baixar pois

tudo quanto ganha-se nos sectores laborais será aplicado localmente contribuindo para o

desenvolvimento social e económico dos moçambicanos.

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Capitulo II

2.0. Contextualização

Moçambique é um dos países no mundo cuja economia vem registando um crescimento

notório nos últimos cinco (5) anos com perto de 7% por ano (Banco de Moçambique,

2013). Esse crescimento cujos efeitos se fazem sentir a nível social e económico é

originado pelo estabelecimento de multinacionais movidas pelas recentes confirmações

de existência de petróleo, gás natural para além do carvão mineral e outros

hidrocarbonetos.

De acordo com o relatório do Centro de Integridade Pública (CIP, 2009), há um

descompasso entre o crescimento, marcado pela descoberta de recursos minerais e

energéticos no país e a preparação da mão-de-obra capaz de trabalhar nas indústrias

emergentes dentro desta área.

Este facto contribuiu para que o governo por meio do Ministério de Educação,

especificamente o subsistema de ensino técnico profissional, repensasse o futuro desta

modalidade de ensino e agendasse uma reforma profunda que teve início em 2006 e que

alteraria o currículo orientado pela oferta para um outro orientado pela procura do

mercado laboral. Um dos factores cruciais para o sucesso dessa reforma, passa

necessariamente pela formação de professores no currículo baseado em padrões de

competências e melhorias das condições de infraestruturas físicas e laboratoriais bem

como, pela disponibilidade de recursos matérias e didáticos.

Reza a história que nos primeiros cinco anos pós-independência, Moçambique viveu

uma situação de pressão social e económica, caracterizada pela ausência de docentes do

ETP e défice de técnicos para preencher os diversos sectores socioeconómicas do país.

Esta situação foi motivada pela saída massiva de técnicos qualificados de nacionalidade

estrangeira para os países de origem, deixando o ramo do ETP com problemas de

instabilidade e qualidade do corpo docente. Nessa época, uma das soluções encontradas

pelo Governo foi “orientar os graduados do 6º e 7º ano dos liceus e os dos cursos

elementares do Ensino Técnico, para seguirem cursos básicos de curta duração (um

ano) denominados Cursos de Formação Acelerada de Professores (CFAP) nas diversas

especialidades (Pinto, 2012). Os formandos destes cursos adquiriam o perfil de

professores polivalentes, aptos a leccionar várias disciplinas gerais e de especialidade.

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Em paralelo, o governo construiu escolas vocacionadas a formação de professores para

este subsistema de ensino, dos níveis elementar, básico e medio deixando que as

universidades e sobretudo a cooperação com o estrangeiro se encarrega-se de prover

docentes de outros níveis através de bolsas de estudo para cidadão moçambicanos que

se formariam no estrangeiro quer nos níveis médio ou superior, permitindo desta modo

o equilíbrio de docentes preparada para a actividade lectiva.

Em Moçambique decorre desde 2006 a reforma do ensino técnico profissional. Contudo

para fins relacionados a formação de professores do ETP, o país conta somente com

uma instituição de índole privada do nível superior que forma professores iniciais e em

exercício que é o Instituto Superior Dom Bosco (ISDB), nas áreas de Agricultura e

Agro-indústria, Administração e Gestão, Eletricidade e Manutenção Industrial e

Hotelaria Turismo.

Esta acção não é suficiente para satisfazer as necessidades da mão-de-obra qualificada

de que Moçambique se ressente facto que força ao empresariado a pautar pela

contratação de trabalhadores estrangeiros por inexistência de quadros competentes

localmente.

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Capitulo III

3.0. Revisão da literatura

No presente capítulo, apresentamos os “conceitos operacionais” que serão usados ao

longo da pesquisa. Na primeira parte traremos os conceitos de políticas públicas, ensino

técnico profissional, formação de professores do ETP e a reforma educacional. A

segunda parte visa essencialmente rebuscar o histórico da actividade de formação de

professores do ETP e os contornos sociopolíticos e económicos até a reforma do ETP

em curso no país.

3.1. Políticas Públicas

Para uma análise concisa do preceituado nesta pesquisa, torna-se importante abordar o

conceito de políticas públicas como instrumento regulador e normativo das reformas a

nível da formulação, implementação, expansão e avaliação. Esta abordagem justifica-se

pelo facto de ao longo do trabalho tratarmos a questão da Reforma do ETP e as políticas

que a regem.

Segundo Asensio (2010), Política Pública é um conjunto de decisões e acções que

resultam de interações repetidas entre os actores públicos e privados cujas condutas se

vêm influenciadas pelos recursos e regras institucionais gerais de que o Estado dispõe

(Sistema Político-constitucional) e específicas (âmbito de intervenção).

Na perspectiva de Daye (1976), política pública é o estudo do que fazem os governos,

por que/porquê o fazem e que diferenças produzem suas acções na sociedade em relação

aos seus problemas. Estas políticas ou estratégias são delineadas mediantes modelos

específicos a nível da formulação e implementação, bem como na tomada de decisões.

Desta abordagem de políticas públicas desenrolam para o presente trabalho os subsídios

da reforma e estratégias do ETP incluindo a estratégia de formação de formadores

(professores) do ETP que são abordados nesta secção.

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3.2. Ensino Técnico Profissional

Ensino Técnico Profissional (ETP) é o ensino profissionalizante ou um modelo de

ensino vocacional destinado a “criação de força de trabalho qualificada, essencial para

estimular o desenvolvimento e crescimento económico do país (Plano Estratégico da

Educação 2012-2016, p.85)”.

O ETP é um modelo de ensino didático académico que confere aos mais jovens

competências profissionais que estabelecem a ligação primordial entre relações sociais

determinadas pelo “papel” que desempenham e serve como fonte principal da

identidade própria, isto é, da imagem que os indivíduos têm de si próprios e através da

qual se apresentam ao mundo em que vivem pela profissão que exercem (Cedof, 2004).

De acordo com a Lei da Educação Profissional e Tecnológica (2004), o ETP é um

processo de construção social, e que ao mesmo tempo qualifica o cidadão e o educa em

bases técnico-científicas, bem como, éticos-políticos para compreender a tecnologia

como produção do ser social, que estabelece relações sócio históricos e culturais, com a

finalidade de poder actuar como agente de transformação social.

Sendo assim, o ensino técnico profissional permite que o cidadão possa aprender e

desenvolver competências profissionais que lhes possibilitem mobilizar, articular e

colocar em acção conhecimentos, habilidades e valores capaz de garantir-lhes a

autonomia intelectual em relação ao objecto do saber e ao próprio trabalho que

desenvolvem ou irão desenvolver.

Este modelo de ensino teve a sua origem no século XII no continente Europeu através

dos “guildas” que eram corporações que reuniam pessoas que trabalhavam no mesmo

ofício ou ramo profissional nas cidades e vilas. O trabalho dos guildas ou artesões,

muito se assemelham a formação e ao ensino de hoje pois, este obedecia uma hierarquia

rígida de nível profissional: aprendiz, artífice e mestre. O título de mestre era o único

atestado de competência escrito, enquanto os aprendizes recebiam uma declaração de

competências aonde se comprovava terem completado a primeira fase da sua

aprendizagem (Cedof, 2004).

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De acordo com a fonte mencionada no parágrafo anterior, estas corporações de artífices

vieram a ser banidas com a revolução industrial e convulsões sociais que se

desencadearam durante a revolução francesa, inglesa e industrial. Na primeira fase da

revolução industrial, as fábricas e as máquinas simples eram manuseadas por operários

sem qualificações e mal pagos. Dado que o ritmo de desenvolvimento industrial não foi

igualitário por todo continente, isso contribuiu para desigualdade de modelos de

formação técnico profissional vigentes facto que manifesta em nossos dias na Europa.

Como exemplo:

“A Grã-Bretanha deu os primeiros passos no que hoje chamamos industrialização no

século XVIII. Com a invenção da máquina a vapor, do tear mecânico e da máquina de

fiação, surgiram fábricas de têxteis por todo o país…Para formação técnico-profissional,

representantes dos trabalhadores, do patronato os centros e escolas de formação

profissional negociavam “no terreno” qual o tipo de ensino e formação a

prestar”(Cedof, 2004).

“A França teve um papel de destaque nas ciências naturais no século XVIII. Instituições

como as grandes écoles, tal como a École Polytechnique, tornaram-se um modelo para o

ensino técnico na Europa. No entanto, o país só atingiu o zénite da sua industrialização

em finais do século XIX.”(Ibid).

Na Alemanha ao longo do século XIX, muitos aprendizes frequentaram as “escolas de

acompanhamento”, em regime pós-laboral ou aos domingos. Nestas escolas, faziam-se

uma revisão dos programas da escola primária e ministravam-se conhecimentos teórico

específicos para se trabalhar num determinado sector. No final do século XIX, estas

escolas tinham-se transformado em “escolas profissionais”. Para além do ensino e

formação profissional, os estudantes recebiam ainda educação cívica. (Ibid).

No entanto, a primeira guerra mundial suscitou uma intervenção acrescida a qualidade e

disponibilidade de quadros competentes principalmente com os maiores investimentos

canalizados a indústria bélica, aviação e naval a fim de equipar o exercito.

Na época, a Alemanha revelou ser uma superpotência tanto na primeira como na

segundo guerra mundial não pelo poderio militar, mas pelo investimento que fazia a

formação técnica e pela qualidade de formadores que norteavam o país, facto que o

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tornou em um dos países mais industrializado e com uma economia sólida até aos

nossos dias.

Até à data, a investigação histórica no domínio da formação profissional conseguiu

identificar três (3) modelos “clássicos” e exemplares de formação profissional

desenvolvidos a nível europeu e que se expandiram aos outros continentes ao longo dos

séculos, criados durante a primeira fase da Revolução Industrial em resposta ao desgaste

do modelo de formação profissional baseado nas artes e ofícios (Greinert, 1999). São

eles o liberal orientado pela economia de mercado do Reino Unido e Grã-Bretanha, o

modelo burocrático estatizado em uso na França e o modelo dual-empresarial, da

Alemanha. Vide o resume na tabela a seguir.

TABELA 01 (Modelos de Formação em Educação Profissional)

Pressuposto dos

Modelos

Modelo do Mercado

Liberal França

Modelo

Regulamentado pelo

Estado

Modelo dual

Empresarial Alemanha

Quem

determina a

organização do

ensino e

formação

profissional?

Negociado “no terreno”,

entre representantes dos

trabalhadores, gestores e

centros de formação

profissional.

O Estado. Câmaras de comércio

regulamentadas pelo

Estado, agrupadas por

profissão.

Onde tem lugar

o ensino e

formação

profissional?

Há muitas opções:

escolas, empresas,

simultaneamente nas

escolas e nas empresas,

através dos meios de

comunicação eletrónicos,

etc.

Em escolas

especializadas,

denominadas “escolas

de produção”.

Alternando de forma

predeterminada entre as

empresas e as escolas

profissionais “(modelo

dual)”.

Quem

determina o

conteúdo dos

O mercado ou as

próprias empresas,

dependendo das

O Estado (em conjunto

com os parceiros

sociais). O objetivo não

Decidido em conjunto

pelos empresários, os

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programas de

ensino e

formação

profissional?

necessidades do

momento. O conteúdo

dos programas não é

predeterminado.

é refletir a prática das

empresas, assentando

antes numa formação

mais geral e teórica.

sindicatos e o Estado.

Quem paga o

ensino e

formação

profissional?

Regra geral, são os

formandos que pagam.

Algumas empresas

financiam certos cursos,

que elas mesmas

ministram.

O Estado aplica um

imposto às empresas e

financia o ensino e

formação profissional,

mas só para um

determinado número de

candidatos por ano.

As empresas financiam a

formação no seu seio,

sendo esses custos

dedutíveis nos impostos.

Os formandos recebem

um subsídio definido por

contrato. As escolas

profissionais são

financiadas pelo Estado.

Quais as

qualificações

obtidas através

do ensino e

formação

profissional, e

quais as

oportunidades

que estas

oferecem?

Não há supervisão da

formação profissional

nem exames finais

reconhecidos por todos.

Os certificados

emitidos pelo Estado

permitem que aqueles

que mais se distinguem

prossigam os seus

estudos para níveis de

maior especialização.

Geralmente, as

qualificações permitem

que os formandos

trabalhem na profissão

em causa e que

prossigam os seus

estudos para níveis de

maior especialização.

Fonte: Cedof (2004).

Dos modelos acima descritos, o modelo dual empresarial Alemão é o que mais vem

sendo usado e já foi adoptado em países como Portugal, Brasil, Itália, Japão, China,

Correia do Norte, Uganda, e Nigéria. O mesmo modelo esta sendo implementado no

país desde 2006 com o início da reforma do Ensino Técnico Profissional através da

introdução do currículo baseado em padrões de competências em que o mercado define

as competências que precisa em harmonia com o Estado.

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3.3. Formação de Professores

O Estado tem produzido vários instrumentos normativos e reguladores para a formação

de professores. Porém, é importante que existam pessoas que transformem as diversas

políticas e acções de domínio público. Os professores são actores ou gestores do

processo de ensino e aprendizagem que materializam as políticas em práticas na sala de

aula. Sendo assim, os indivíduos que desenvolvem esta actividade fazem-no cientes de

suas responsabilidades e regem-se por teorias ou princípios próprios para a docência.

Dieguez (1980, p.38), considera a “formação de professores como um ensino

profissionalizante”, pois, “ela representa outra dimensão do ensino como atividade

intencional, que se desenvolve para contribuir para a profissionalização dos sujeitos

encarregados de educar as novas gerações.” O autor enaltece que, “a formação de

professores representa um encontro de pessoas adultas que visava a transmissão de

saberes de uns para os outros isto é, dos mais velhos aos mais novos que dariam

continuidade a atividade de transmissão de saberes as novas gerações”.

Este último conceito assemelha-se ao da educação tradicional na definição de Golias

(1991), diferenciando-se nos métodos usados no processo de formação. O autor assume

a educação tradicional como sendo, “um processo de transmissão de conhecimentos dos

mais velhos aos mais novos através de ritos de iniciação, lendas e histórias contadas de

pais para filhos, de avos aos netos, bisnetos e mais”.

Contudo, Barbaum (1982, p.15), entende a formação como um processo no qual a

mudança se consagra através da intervenção ao longo de um período de tempo em que

existe, participação consciente do formando, vontade explícita quer do formando quer

do formador em atingir um objetivo explícito. Assim, o formando é um ser activo e

consciente dos seus actos e das mudanças de si esperadas para alcançar as expectativas

da formação.

Entretanto, Honoré (1980), justifica a “formação como actividade humana inteligente

caracterizada por uma actividade relacional e de intercâmbio, com uma dimensão

evolutiva e destinada a atingir metas conhecidas.”

Segundo Ferry (1983, p.15), como citado por Garcia (1999, p.22), a formação de

professores significa um processo de desenvolvimento individual destinado a adquirir

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ou aperfeiçoar capacidades”. Nesta perspectiva, a formação de professores se

diferenciaria de outras actividades formativas em três dimensões:

1. Trata-se de uma formação dupla, onde interagem as formações (científicas,

literárias e artísticas), com a formação pedagógica.

2. Esta é uma formação profissional que não se traduz necessariamente na

formação do professor em si mas de um cidadão activo na sociedade;

3. O conceito de professor é muito mais abrangente ao trazer o que na

modernidade muito se discute sobre a formação ao longo da vida ou ainda,

formação contínua.

Na senda da formação continua Morgado (2007), define como a planificação do futuro

profissional do docente que permite “compaginar pensamentos e acções, reformulando e

reactualizando a preparação de professores, questionando as práticas de ensino,

identificando problemas e necessidades destes profissionais e das escolas e desenvolver

novas formas de relacionamento e novos modos de trabalho”.

Os autores acima citados definem a formação de professores como um processo de

indução dos aspirantes a docência pelo intercâmbio de conhecimentos entre estes e os

formadores, em que a mudança se consagra através de uma intervenção à qual ocorre ao

fim de um tempo determinado onde existe vontade explicita tornando possível a

assimilação de técnicas, métodos didáticos e práticas laborais no caso da formação

técnica profissional. Porém, a actividade docente exige muito mais do que isso. Para o

sucesso profissional o professor deve ter uma rotina visando um aperfeiçoamento

constante, descobrindo e redescobrindo os novos métodos de ensino, inovando as

práticas anteriores e acompanhando o dinamismo da ciência.

Entre professores do ensino técnico profissional e os do ensino geral existem aspetos em

comum como, amor a profissão, mestria ou destreza pedagógica e domínio sistemático

da sua actividade (Maria, 1993). Porém existem aspetos específicos e imprescindíveis

para o professor do ensino técnico profissional que serão abordos no capitulo três

principalmente no âmbito da reforma em curso no país.

Com a dinâmica das ciências, o desenvolvimento das sociedades bem como, o uso da

tecnologia de informação e comunicação (TIC’s) as pessoas ficam cada vez mais

actualizadas em prol dos avanços científicos e das inovações existente fazendo com que

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o professor seja afrontado dia-a-dia com novas informação impondo-lhe a adaptar-se

constantemente a arte de ensino em novos contextos ou paradigmas.

A inflexibilidade e falta de pesquisas constante por parte de um professor do ensino

técnico pode torna-lo rotineiro usando métodos de ensino tradicional como mero

transmissor de conhecimentos a um grupo de alunos sem espírito crítico e curioso o que

se repercute na qualidade dos formandos ou da força de trabalho.

3.4. Reforma Educacional

Consideram-se reformas as “transformações que se operam a nível organizacional e

administrativo a fim de tornar o sistema mais operacional em função dos objectivos

bem como, visando corrigir a forma como o processo de organização de ensino decorre

esperando a correcção do desvio que possa ter havido relativamente ao processo

Educativo” (Castiano, 2005 p.10)

Segundo relatório do Status quo em Moçambique (2012), as reformas do ensino técnico

profissional são intervenções ou transformações deliberadas feitas pelo Estado com

objectivo de contribuir para o desenvolvimento económico e social, equitativo e

sustentável, tornando as empresas e a economia moçambicana mais competitiva através

da formação de cidadãos competentes e empreendedores.

Com base nestes autores pode-se resumir que a reforma educacional como conjunto de

transformações deliberadas e devidamente planificadas, tomadas com intuito de tornar o

sector educacional mais célere melhorando as suas actividades em diversas facetas para

o beneficio dos utentes e da sociedade em geral.

O debate do conceito da reforma torna-se primordial para este trabalho que pretende

compulsar sobre o historial das reformas do ETP no período pós-independência tal

como desenvolvemos nas secções seguintes.

3.5. Evolução Histórica do ETP e do Processo de Formação de

Professores em MoçambiqueNa 2ª parte da análise da literatura faz-se a explicação da origem e evolução do ensino

técnico profissional no mundo e o seu crescimento em Moçambique. No país

analisaremos duas fases distintas subdivididas em etapas:

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A primeira considerada fase da Institucionalização e Implementação

de Cursos de Formação de Professores do Ensino Técnico

Profissional de Curta duração (1975-2005);

A segunda é a fase das Reformas (2006-2014).

3.5.1. Fase da Institucionalização e Implementação de Cursos de Curta duração

de Formação de Professores do Ensino Técnico Profissional (1975-2005)

A evolução histórica do subsistema do ensino técnico-profissional tem acompanhado o

crescimento do país enquanto nação Moçambicana. Assim, em 1975 após a

independência começaram a manifestar-se as primeiras preocupações com o futuro da

educação e do ETP em particular eclodindo pela primeira vez no Seminário Nacional do

Ensino Técnico em Dezembro de 1975.

De acordo com a DINET (1992), na altura o cenário desta modalidade de ensino

caracterizava-se por:

i. Corpo docente predominantemente estrangeiro e em regra constituído por

técnicos ligados a produção e serviços e oficiais do exército que exerciam a

docência como actividade complementar;

ii. Saída massiva dos técnicos portugueses das empresas, de regresso ao seu país,

gerando-se uma abrupta falta de mão-de-obra qualificada;

iii. Rede escolar bastante reduzida, sendo o ensino elementar em regra ministrado

pelas missões religiosas nas zonas rurais;

iv. Mau apetrechamento das instituições em equipamento oficinal e laboratorial;

Portanto, essa situação deixou as escolas oficiais ressentidas com a saída massiva dos

professores portugueses após a independência e as escolas técnicas não ficaram isentas.

Segundo a fonte anteriormente citada, entre as medidas tomadas foram prioridades do

governo:

i. Formação de docentes para disciplinas técnicas, teóricas e práticas;

ii. Concepção de novos currículos e reorganização do processo de ensino;

iii. Desenvolvimento de infraestruturas e de equipamento;

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iv. Capacitação de quadros de Direcção.

Todas as medidas tomadas no seminário em questão visavam essencialmente tomar

como base de orientação, as perspetivas de desenvolvimento da economia do país ao

mesmo tempo que se combatiam todas as formas de discriminação no ensino e se

lançavam bases para uma maior qualidade dos operários e técnicos formados, em

particular através de uma ligação mais efetiva com a actividade prática (Pinto, 2012).

A saída massiva de técnicos qualificados das empresas na sua maioria de nacionalidade

portuguesa, seguida de uma situação de estagnação económica do país, privou o ensino

técnico daqueles que tradicionalmente o enriqueceram com sua experiência e prática, ao

mesmo que aos novos técnicos se privou das melhores condições de se desenvolverem

profissionalmente e poderem eventualmente retroalimentar positivamente o subsistema

(DINET, 1992:41-43).

Um dos aspetos marcante neste primeiro período foram as decisões tomadas para

formação dos professores no período entre 1977 à 1985. Para efeito, os estudantes que

estavam frequentando o 6° e 7° anos dos liceus, bem como, os que frequentavam os

cursos complementares do ensino técnico foram obrigados a interromperam os estudos e

conduzidos para vários cursos de curta duração, incluindo os cursos de formação de

professores. Estes cursos tinham a duração inicial de um (1) ano lectivo, como foi o

caso do Curso de Formação Acelerada de Professores (CFAP), ministrados no Instituto

Industrial de Maputo, nas especialidades de contabilidade, mecânica e electricidade

(ibid).

Em 1979 o Curso de Formação de Professores de Contabilidade passou para o Instituto

Comercial de Maputo, tendo no mesmo ano, iniciado o Curso de Formação Acelerada

de Professores de Dactilografia. No mesmo ano o Instituto Agrário de Chimoio

ministrou o mesmo curso para o ramo agrário (ibid).

Cursos similares foram ministrados em várias instituições do ensino técnico profissional

que além da atividade vocacional (formação da mão-de-obra qualificada nas diversas

áreas), exerciam em simultâneo a formação de formadores ou instrutores. Esta

actividade ajudou na redução o número de professores estrangeiros e membros do

exército que leccionavam nas escolas técnicas nos primeiros dois (2) anos pós-

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independência. Os professores formados nestes centro-escolas concluíam o curso com o

nível básico.

Segundo a DINET (1992), os Curso Formação de Professores de Acelerada foram

ministrados durante quatro anos (1977/1980). A partir desta altura, passou a ser

ministrado paralelamente à estes curso, o Curso Intensivo de Formação de Professores

(CFIP) para finalistas dos CFAP (professores em exercício). Para além da formação

técnica os professores passaram a receber a formação psicopedagógica, durante um ano.

No ano seguinte, estes cursos passaram a ter duração de dois anos como forma de

colmatar as deficiências denotadas pelos graduados dos cursos anteriores.

E importante referir que a iniciativa para progressão na carreira e aperfeiçoamento da

capacidade psicopedagógica e didática dos professores passava pela formação nos

cursos intensivos para professores em exercício das disciplinas da área industrial que

foram formados nos CFAP, no período entre 1977 à 1980. O caso de IPIN por exemplo,

entre 1980 à 1986 ministrou cursos regulares para professores das disciplinas técnicas

nas especialidades de:

o Mecânica-Auto;

o Máquinas-Ferramentas;

o Soldadura;

o Mecanização Agrícola;

o Sistemas Eléctricos;

o Electrónica.

E digno de nota que o IPIN, tinha por orientação formar professores para leccionarem

nas escolas e institutos industriais e não formandos para o exercício no mercado laboral

(industrias, a banca e mais).(ibid).

Esta iniciativa foi extensiva para o Instituto Pedagógico Agroindustrial do Umbelúzi

(IPAIU) que formou professores para a:

o Agricultura;

o Construção Civil;

o Pecuária;

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Para a formação do pessoal da banca, comercio bem como actividades administrativas,

foi incumbido ao Instituto Comercial de Maputo entre 1983 à 1989 formar

nomeadamente para os seguintes cursos:

o Contabilidade,

o Planificação e Estatística;

o Secretariado.

Em 1982 começaram a graduar-se os primeiros professores dos Cursos de Formação

Intensiva para Professores (CFIP) que terminavam a formação com o nível médio,

foram colocados nas diversas escolas do país, dando a possibilidade aos docentes que

frequentaram os Cursos de Formação Acelerada de Professores (CFAP) de continuar

com os estudos nos Institutos Médios Pedagógicos e aos graduados dos CFIP de

prosseguir a sua formação no nível superior.

Tratando-se de evolução historia seria fundamental os dados numéricos do n°s de

professores formados nos dois cursos mencionados, dos bolseiros e dos institutos

vocacionados aos dois modelos de formação anteriormente abordados. Porém, nem a

DINET nem o Instituto de Bolsas de Estudo dispõem desta informação.

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3.5.2. O Desenvolvimento Profissional e a Instabilidade do Pessoal Docente

O governo, desde da introdução de cursos de formação intensiva de professores

preocupou-se com o desenvolvimento profissional dos graduados e em 1985 criou

através do Diploma Ministerial nº 73/85 de 4 de Dezembro o Instituto Superior

Pedagógico (ISP), vocacionada a formação superior de professores e técnicos de

educação, que seria mais uma porta para que professores do ensino técnico profissional

em exercício pudessem aprimorar as habilidades cursando o nível superior garantindo o

crescimento na carreira e a melhoria da qualidade de ensino.

Segundo a DINET (1992:41-43), durante os primeiros anos de existência da Secretaria

de Estado da Educação Técnico-profissional (SETEP), foi preocupação desta dotar-se

de quadros capacitados e com larga experiência de ensino. Para o efeito recrutou muitos

professores das escolas técnicas que melhor desempenho demonstravam no exercício

das suas funções e paralelamente estabeleceu acordos de cooperação técnica com vários

países e até 1989, a URSS, RDA e Cuba figuravam entre os países para onde muitos

moçambicanos eram encaminhados e provinha assistência técnica e que cooperavam

com professores que leccionavam cursos superiores na Universidade Eduardo Mondlane

e no Instituto Superior Pedagógico.

A constante elevação da capacidade de quadros moçambicanos permitiu reduzir

substancialmente a quantidade de técnicos estrangeiros.

Porém, a estabilidade no corpo docente, recursos materiais, técnicos e infraestruturas

para o ensino técnico profissional não perduraram. As calamidades naturais (seca e

fome), que assolaram o país em 1984, a inflação do preço do petróleo, e a

desestabilização militar levaram Moçambique a uma crise generalizada.

Esta situação forçou o país a aderir a politicas financeiras do Banco Mundial e ao Fundo

Monetário Internacional (FMI) nos finais de 1984, e abandonar a orientação politica e

ideologia socialista para económica de mercado do mercado. O documento Policy

framework paper do FMI e Banco Mundial (1994), estabelecia “que o governo de

Moçambique devia promover condições para expansão do sector privado, permitindo

as forças do mercado a atribuição eficiente de recursos através de uma maior

competitividade…”. As iniciativas das duas (2) instituições financeiras aqui

mencionadas, condicionaram a criação do novo sistema nacional de educação

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promulgado à base da lei 6/92 que de entre outros aspectos, abriu portas para que o

sector privado pudesse participar na provisão da educação aos cidadãos moçambicanos,

retirando este dever do Estado facto que norteou a proliferação de Escolas Privadas,

Institutos Politécnicos e Institutos Superiores Politécnicos.

O programa de reabilitação económica (PRE), que ocorreu no segundo quinquénio da

década de 80, agravou substancialmente a carência de docentes com a formação básica,

média e superior principalmente para o ensino profissional e os existentes, muitos foram

aliciados a abandonaram e actividade docente em troca de empregos bem remunerados

no mercado laboral. “O PRE implicava alterações substâncias no funcionamento do

aparelho estatal moçambicano e consequentemente da sociedade através de cortes de

gastos públicos”, segundo o relatório da 12 de Abril da AfriMAP (2012, p.38),

Os efeitos destes mudanças não tardaram a fazer-se sentir e a formação de professores

do ETP foi um dos sectores onde mais se refletiu com o encerramento de escolas de

formação de professores do ETP ou a transformação para leccionarem cursos normais

que permitissem formar mão-de-obra para o sector produtivo. Assim, foram encerrados

o Instituto Industrial Pedagógico de Nampula, a Faculdade de Educação em 1986 e as

restantes tiveram um destino semelhante nos anos seguintes (DINET, 1992).

Por essas e outras razões, paulatinamente a estabilidade docente veio a esmoronar e os

problemas do subsistema em si agravaram-se, desde a qualidade de ensino até as

condições infraestruturais e oficinais o que deixou o ensino técnico profissional numa

situação deplorável.

Essa situação levou a uma depreciação gradual da qualidade de ensino nos anos

subsequentes facto que se alastrou durante a década de 90, cujos efeitos se fazem sentir

até aos nossos dias.

Importa salientar que, durante o período compreendido entre 1991 à 2006 não se

registou nenhuma actividade de formação inicial de professores exclusivamente para o

ensino técnico-profissional no país e todos os centros criados no passado para este

propósito foram paulatinamente encerrados (…).

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3.5.3. Alicerces para a Reforma do Ensino Técnico Profissional

As pesquisas de ocorrência de hidrocarbonetos em Moçambique vêm decorrendo desde

o século passado e confirmaram recentemente a presença de reservas de gás natural,

jazigos de petróleo, carvão mineral e outros minérios nas regiões sul, centro e norte do

país. Estas descobertas despertaram a necessidade da mão-de-obra qualificada pela

atracão de investimento externo com a entrada das multinacionais e surgimento de

indústrias emergentes procurando explorar os recursos existentes, e oferecer serviços

aos megaprojetos (30 anos de ENH, 2014).

Pela natureza e complexibilidade do trabalho que estas empresas realizam, carecem de

pessoal técnico devidamente qualificado capaz de desenvolver actividades em vários

campos da área industrial. Esta situação fez com que o subsistema do ensino técnico-

profissional reanalisasse o ensino técnico profissional visto ser a principal via de prover

o mercado, recursos humanos competentes.

Em 2000 e 2001, após uma consulta pública, foi elaborado o plano estratégico do ensino

técnico profissional 2001-2011, que preconizava várias realizações entre elas a

formação e capacitação de professores e gestores para as instituições de formação. Os

professores e formadores, seriam dotados com adequada formação e competência

pedagógica, científica, técnica e de gestão, para responder às mudanças a serem

introduzidas no subsistema” (Plano Estratégico do Ensino Técnico-Profissional 2001-

2011).

Portanto, o ritmo de desenvolvimento que tem-se notabilizado na economia

moçambicana e as constantes pressões do mercado de trabalho, revelaram a necessidade

urgente da flexibilidade por parte do Ministério da Educação e particularmente do

subsistema do ensino técnico em responder a procura de mão-de-obra qualificada e

competente.

Importa salientar que, a quando da elaboração do Plano Estratégico do Ensino Técnico

Profissional 2001-2011, o governo tinha noção que “em geral, tanto o corpo docente

como o pessoal técnico-administrativo não está devidamente qualificado. Os

professores possuem formação de base muito variada (graduados de Institutos

Pedagógicos, graduados de Institutos Médios e do Ensino Superior, técnicos das

empresas e serviços, operários qualificados do sector produtivo), e na globalidade, as

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suas qualificações formais não correspondem às capacidades teóricas, técnicas,

práticas, metodológicas e profissionais necessárias no ETP”. Não só, a qualidade do

corpo docente existente era a quem de desejável, os dados estatísticos da época

apontavam que do total de 1.028 professores no ano 2000, apenas 13.8% tinha formação

superior, (contra 27.8% em 1997) e 65.5% possuía formação psicopedagógica e a

maioria dos quais não teve possibilidade de participar em cursos de reciclagem e

aperfeiçoamento para elevação das suas capacidades pedagógicas e metodológicas

(Plano Estratégico do ETP 2001-2011).

A mesma fonte refere que “a maior parte dos professores efectivos não tinham

experiência práctica na produção, exercendo dessa forma uma docência demasiado

escolarizada ou teórica e uma parte considerável dos professores eventuais possuíam

bons conhecimento práticos e experiência profissional, mas sem formação

psicopedagógica”.

3.5.4. Fase da Reforma do Ensino Técnico Profissional (2006-2014)A reforma do ETP surge como corolário dos factos apontados nesta secção e iniciou em

2006 sob decreto governamental n° 29/2005, de 26 de Junho. As transformações

previstas na reforma do ensino profissional (REP) podem ser abordadas em quatro (4)

vertentes: organizacional, curricular, formação de professores e financeira. Essas

vertentes comportam as três (3) fases que são: a fase Piloto (2006-2010/11), a fase de

Expansão (2011-2016) e a fase consolidação (2016-2020), segundo Pinto (2012, p.10).

3.5.4.1. Vertente da REP para Área OrganizacionalPara fase piloto foram criados através do decreto presidencial de 16/2007, os órgãos de

condução da REP de acordo com o relatório do PIREP de Maio (2009). Estes órgãos

são:

i. A Comissão Interministerial da Reforma da Educação Profissional (CIREP), tem

por funções, a orientação política e a supervisão de todo o processo da sua

implementação composta por oito (8) ministérios.

ii. A Comissão da Reforma do Ensino Técnico Profissional (COREP), presidida

pelo Ministro da Educação, e da qual fazem parte um representante do MINED e

outro do MITRAB (Ministério do Trabalho), toma decisões sobre as atividades a

implementar pelo Secretariado Executivo.

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iii. Secretariado Executivo é o órgão técnico de implementação da REP liderado por

um Director que responde perante a COREP.

Através do Programa Integrado de Reforma da Educação Profissional (PIREP) o

Secretariado Executivo da REP, realiza as actividades emanadas pela COREP. (PEEC

2006-2010/11).

O Objectivo geral do PIREP é facilitar a transição do sistema de Educação Profissional

orientado pela oferta para um outro sistema de formação orientado pela procura e prover

os beneficiários da formação de maiores capacidades relevantes ao mercado de trabalho,

bem como melhores oportunidades económicas. A prossecução deste objectivo inclui o

estabelecimento de:

i) Um quadro institucional adequado para a governação e regulamentação

integrada da Educação Profissional (EP) em Moçambique com

representatividade do governo, sector produtivo e sociedade civil;

ii) Um sistema de qualificações baseado em padrões de competências, integrado,

coerente, flexível e financeiramente sustentável;

iii) Um sistema de avaliação e certificação de competências profissionais

independente do sistema de formação;

iv) Um novo modelo de gestão descentralizado das instituições de formação; e

v) De novos mecanismos de financiamento que inclui o investimento

privado.(Estratégia para a Formação de Formadores da Educação Profissional

em Moçambique 2011 – 2015, p.7).Para perceber as intervenções que a Reforma esta realizando nas 04principais áreas, passamos a descreve-las.3.5.4.2. Vertente do REP para área Curricular

A filosofia da REP assenta na transformação da provisão do ETP num sistema orientado

pela procura, construído num quadro de formação modular com cursos baseados em

padrões de competências e assente num Sistema Nacional de Padrões, o qual deve ser

reconhecido pelos empregadores e pela sociedade civil. Para este propósito,

empregadores e organizações da sociedade civil encontram-se envolvidas no desenho de

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padrões competências para os diversos cursos, bem como na gestão de instituições de

ensino (PEEC 2006-2010/11). Vejamos os cursos disponíveis na fase-piloto segundo a

tabela a seguir.

Com a reforma em curso no país, introduziu-se um sistema de Formação Baseado em

Competências (FBC/CBT- Competence Based Training), que exige que a Instituição de

Educação Profissional (IEP) tenham maior conhecimento e relação com o mercado de

trabalho, com a sociedade onde se insere e que seja capaz de oferecer cursos aos

cidadãos que desenvolvam as competências necessárias para resolver problemas

práticos e que conduzam a uma maior produtividade e eficiência da economia e à

melhoria da qualidade de vida da comunidade local (Estratégia para a Formação de

Formadores da Educação Profissional em Moçambique 2011 – 2015, p.19).

Foi ainda definida a metodologia de avaliação e de certificação das aprendizagens dos

formandos baseada em evidências de conhecimento, com recurso a uma diversidade de

instrumentos. A avaliação de cada módulo é realizada pelos professores e por

avaliadores externos à escola. Os verificadores externos normalmente são técnicos das

empresas e de outras instituições fora da escola, formados em matérias de avaliação de

competências. A certificação final das qualificações de cada nível é da competência do

SE do PIREP.(ibid).

Os currículos elaborados com todas as dimensões acabadas de descrever, adequam-se ao

paradigma da formação baseada na procura destinada a preparar para as competências

exigidas pelo desempenho no contexto do mercado de trabalho, o que “e objetivo

principal da REP.

A fase experimental-Piloto da reforma curricular teve lugar em cinco (5) Instituições de

Educação Profissional (Pemba, Chimoio e 3 em Maputo) com Qualificações para

Agricultura, Guias Turísticos, Contabilidade, Electricidade e Mecânica Geral. Vejamos

a tabela com os cursos que fizeram parte da fase piloto bem como os demais cursos já

prontos. Porém até a introdução dos cursos que fizeram parte da fase piloto já estavam

elaborados 37 perfis de cursos para o ensino profissional em padrões de competência.

Actualmente, estão em preparação as condições para o desenvolvimento das

Qualificações em novos Campos Profissionais, como Construção Civil, Minas,

Ecoturismo, Educadores de Infância, Cadastro e Administração de Terras, Pescas, Agro-

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Indústria, Informática e outros (Estratégia para a Formação de Formadores da Educação

Profissional em Moçambique 2011 – 2015).

3.5.4.3. Vertente da REP para área de Formação de ProfessoresA formação de professores do ensino técnico profissional, foi uma prioridade para o

alcance dos objectivos do PIREP ao frisar a necessidade de “Capacitação dos

professores em exercício e formação de 340 novos no currículo baseado em padrões de

competências (Plano Estratégico de Educação e Cultura 2006-2010/11, p.51).

No âmbito da parceria público-privada, o MINED e os parceiros de cooperação tem

financiado desde 2006, o Instituto Superior Dom Bosco (ISDB), por ser a única

instituição que tem oferecido cursos para professores do ETP, combinando a

componente técnica/tecnológica com a pedagogia relacionada ao currículo baseado em

padrões de competências, na formação de professores em exercício bem como, a

formação inicial. Dado que um dos requisitos para ser formador do ETP no novo

currículo é possuir formação com certificado B, o facto dos graduados desta instituição

contemplar esta componente no torna-lhes privilegiados a serem recrutados para

lecionarem em escolas técnico profissional.

Para além da formação localmente, o governo através dos parceiros de cooperação

enviou 30 professores para serem formados no novo currículo na Alemanha e Portugal

para flexibilizar a provisão de quadros formados e a melhoria da qualidade de ensino.

(Plano Estratégico de Educação e Cultura 2006-2010/11, p.51).

A formação no currículo baseado em padrões de competências em causa justifica-se

pelo facto de:

1. A formação inicial da maioria dos professores em exercício não ter sido na área

educacional, a qual não esta orientada para o desenvolvimento das competências

necessárias a um formador;

2. Os formadores que beneficiaram da formação inicial em cursos intensivos ou

acelerados para formação de professores no segundo quinquénio da década 70 e

80 possuem muita experiência prática e pouca teoria e muitos encontram-se

desatualizados as inovações que ocorrem aos equipamentos técnicos;

3. As reformas que são contínuas na educação e na sociedade exigem do formador

uma constantes mudanças no formador;

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4. Os desafios impostos pelo sector económico ou produtivo e as inovações

tecnológicas acarretam actualização técnica e contínua dos formadores (ibid).

Sendo assim, o ISDB como parceira do PIREP, tem lecionado cursos superior de

Bacharelatos (de acordo com a nova Lei do Ensino superior serão chamadas

licenciaturas) no regime de ensino à distância para professores em exercício que

possuíam formação inicial de nível médio, com duração de quatro (4) anos e meio nas

áreas de Agricultura e Agropecuária, Electricidade, Manutenção Industrial, e

Administração e Gestão. Parte integrante dos formandos em regime do ensino a

distância no ISDB, são professores em exercício vindos do subsistema do ensino

profissional com bolsas de estudo para ampliar o seu grau de conhecimento no nível

superior.

Em 2011 foi elaborada e aprovada uma Estratégia de Formação de Formadores para o

Ensino Técnico Profissional, pela COREP. Esta acção vem enaltecer a importância que

a formação de formadores representa e afigura como um alicerce para o alcance dos

objectivos da reforma, para o crescimento e a melhoria contínua da qualidade de

Educação Profissional.

Com isso, espera-se que os “formadores sejam capazes de operar como parte de uma

instituição de educação profissional dinâmica, interativa e comprometida com o

desenvolvimento tecnológico, económico e social da região onde está inserida e do país.

Eles devem ser profissionais competentes sob ponto de vista científico, tecnológico,

pedagógico e social, podendo estar comprometidos com os valores profissionais, éticos,

morais, patrióticos, de justiça social e de solidariedade, e devem ser capazes de inovar e

melhorar continuamente a sua prática como formadores e serem gestores da sua própria

progressão, sendo gestores da sala de aula e do processo de ensino aprendizagem, tendo

a visão do gestor educacional, percebendo a escola como um todo (Estratégia para a

Formação de Formadores da Educação Profissional em Moçambique 2011 – 2015,

p.7)”.

Com a aprovação desta estratégia espera-se que as instituições de educação profissional

sejam entidades dinâmicas que dependendo da dimensão e abrangência, evoluam para

uma maior complexidade dos programas de educação e de gestão, exigindo maiores

necessidades de análise, concepção, planificação e organização dos programas, bem

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como de desenvolvimento de material didático, de avaliação, garantia de qualidade,

etc…”(ibid).

O plano estratégico citado no parágrafo anterior, identifica como principais ocupações,

relevantes e emergentes no processo de implementação das novas qualificações no

âmbito do currículo baseado em padrões de competências (excluindo as ocupações de

suporte técnico e administrativo), as seguintes para a componente formação:

i. Formador – gere e lecciona um módulo; faz o seu plano de aulas; prepara as suas

lições; lecciona e facilita o processo de ensino-aprendizagem; avalia os

estudantes; assegura que o material necessário está na aula; faz os pedidos de

materiais necessários; supervisiona estudantes em estágios; participa nas

actividades de avaliação e planificação da IEP; desenvolve instrumentos de

avaliação e materiais de ensino; participa na verificação interna (como

verificador) das avaliações dos estudantes.

ii. Instrutor – Gere e lecciona um módulo ou curso num Centro de Formação

Profissional; faz plano de sessões; prepara os esquemas de trabalho; facilita as

sessões de ensino aprendizagem; avalia os formandos; gere o espaço de

aprendizagem.

iii. Formador líder – Para além das actividades de um formador, lidera e coordena o

grupo de formadores que está a implementar uma qualificação, programa o

calendário dos módulos, coordena as diversas atividades dos formadores na

implementação da qualificação, coordena os processos de verificação interna das

avaliações dos estudantes. Esta é uma ocupação emergente no processo de

implementação das qualificações nas IEP’s piloto.

i. Metodólogo – E um formador que para além das atividades de um formador,

supervisiona outros formadores, aconselha (conselheiro pedagógico), participa

no desenvolvimento de 20 unidades de competências padrão e qualificações e

currículos, participa no desenvolvimento de procedimentos e políticas em EP,

desenvolve, melhora e amplia práticas de ensino, facilitação e aprendizagem;

desenvolve estratégias de aprendizagem. O metodólogo pode trabalhar numa

IEP ou num órgão regulador e/ou diretor do sector (DINET, ANEP, etc).

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Para além das ocupações acima mencionadas tidas como básicas existem tantas outras

tais como, director pedagógico, da unidade de produção/oficinas, da unidade de inserção

profissional e mais…Para o efeito, foram desenhadas três (03) qualificações que são

compostas pelas Unidades de Competência Padrão definidas para cada ocupação. As

três (03) qualificações são:

1° Certificado C em Educação Profissional – Concebido para Instructores da

Educação Profissional no âmbito Quadro Nacional de Qualificações

Profissionais (QNQP) – para instructores dos Centros de Formação Profissional,

escolas básicas ou profissionais ou outros que leccionam principalmente

módulos dos níveis básicos – é um certificado de nível cinco.

2° Certificado B em Educação Profissional – Concebido para formadores da

Educação Profissional das escolas profissionais, básicas e institutos médios – é

um certificado de nível superior que pode ser parta integrante de uma

licenciatura combinada.

3° Certificado A em Educação Profissional – Concebido para Formadores

líderes da Educação profissional, e coordenadores de equipas e pedagógicos bem

como gestores das escolas profissionais. E um certificado de nível superior que

pode ser parta integrante de uma licenciatura combinada.

Importa salientar que, os certificados A, B e C não se assemelham aos graus de

mestrado ou pós-graduação e são certificados de competências que dão ao individuo o

direito de leccionar ou dirigir repartições das instituições de EP no novo currículo.

Deste modo, irá vedar-se a actividade docente a qualquer graduado do ensino superior

quer da área técnica (engenharias e mais) ou das ciências sociais bem como, os que

possuam formação psicopedagógica sem que tenham um curso didático metodológico

no currículo baseado em padrões de competências pelo certificado B.

Porém, para efeito da resposta na provisão de professores formados para o ETP no novo

currículo ou com nível superior o PIREP ainda não conseguiu suprir as necessidades,

esta informação consta do levantamento estatístico de 03 de Março de 2013, da

Direcção de Planificação e Cooperação do Ministério da educação, referindo que dos

2126 professores em exercício nas escolas públicas moçambicana, 67.6% tem formação

psicopedagógica e os restante não possuem. Dos 100%, somente 22.4% possuí

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formação escolar superior e o restante 77, 6% distribui-se entre a formação básica e

média.

3.5.4.4. Vertente da REP para a Área FinanceiraA REP em vigor no país é financiada pelo governo moçambicano com a intervenção do

Banco Mundial e de outros membros de cooperação. A fase Piloto da reforma foi

financiada exclusivamente pelo Banco Mundial e o governo moçambicano, tendo o

Reino dos Países Baixos, a Dinamarca, Portugal, Espanha e Alemanha, acordado em

providenciar financiamento e/ou assistência técnica suplementar na prossecução do

PIREP, através de alinhamento dos seus programas de assistência bilateral a um sistema

de formação técnico-profissional coerente e integrado. (PEEC 2006-2010/11, p.50).

Para esta mesma componente, a Assembleia da Republica aprovou a lei 23/2014 de 23

de Setembro (Lei da Educação profissional) que regula as actividades do ensino

profissional em Moçambique, que nos artigos nrs.38, 39, 40,41, 42 e 43 especificam as

fontes de financiamento para este subsistema de ensino. Entre eles constam, a criação

do Fundo Nacional de Educação Profissional (FNEP).

De acordo com o nr.1, do artigo 38 da lei em referência, sem prejuízo do financiamento

direito do Estado as instituições da educação profissional através do Orçamento do

Estado, o financiamento público é promovido, através do FNEP. O FNEP é o

mecanismo através do qual são recolhidas e geridas as contribuições monetárias para o

financiamento da formação, no âmbito do sistema de educação profissional e este fundo

é gerido pelo órgão regulador da educação profissional.

O artigo 41, as alíneas a), b), c) e d) mencionam as fontes de receitas do fundo nacional

de educação profissional e espera-se que os formandos ou os candidatos matriculados

nas instituições da educação profissional contribuem para a sua formação através do

pagamento de propinas fixadas e actualizadas pelo Ministério de tutela, segundo o

artigo nº 43, nrs.1 e 2.

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Capitulo IV

4.0. Metodologia

Esta pesquisa é de natureza qualitativa orientada pelo modelo de investigação histórica

que permite compreender e interpretar os eventos passados para entender o presente e

prever fenómenos futuros.

Segundo Boas apud Lakatos (2003), o método histórico consiste em investigar

acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na

sociedade atual acreditando que as instituições são o que são através de alterações de

partes que as compõem ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural

particular de cada época.

Os autores citados acrescentam que este método permite, prever o futuro próximo e

longínquo da sociedade e das instituições pelos passos que vão tomando.

Este estudo recomenda-se para melhor compreensão do papel que as instituições

actualmente desempenham na sociedade, remontando os períodos da sua formação e

modificações (Boas apud Lakatos, 2003).

4.1.Técnicas de Pesquisa

De acordo com Lakatos e Marconi (2003), técnica é o conjunto de preceitos ou

processos da qual se servem as ciências na obtenção de seus propósitos. Tendo em

conta o método escolhido, achou-se conveniente adoptar técnicas mistas para recolha de

dados, a análise documental, bibliográfica, questionários e entrevistas semiestruturadas

para apreender as perceções dos diversos intervenientes no ETP em relação a estrutura

de funcionamento do subsistema em estudo, especificamente na área da formação de

professores.

4.2. Amostra

Dado que o ISDB é a única instituição formando professores para ETP em

Moçambique, por conveniência, foi retirada uma amostra de 17 (dezassete) professores

de um universo de 75 (setenta e cinco) professores. Os 17 (dezassete) professores são

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efectivos da instituição, com graus superiores entre licenciados, mestres e engenheiros

com tempo de trabalho entre cinco a sete anos de trabalho na carreira docente.

À essa amostra de professores, foi administrado um questionário e foram conduzidas

duas entrevistas uma ao Director Pedagógico do Instituto Superior Dom Bosco e a

outra, a Gestora do Departamento de Formação e Qualidade do Programa Integrado da

Reforma do Ensino Profissional (PIREP) em representação da Direcção Nacional do

Ensino Técnico (DINET).

Os resultados dos questionários e entrevistas foram associados à analise documental

para encontrar evidências entre a teoria e a prática na realidade do ETP em

Moçambique.

4.3. Técnica de Recolha de DadosA recolha de dados foi feita mediante um questionário de 16 perguntas (abertas e

fechadas), submetido aos professores do ISDB, e entrevistas semiestruturadas ao

Director Pedagógico do ISDB e Gestora do Departamento de Formação e Qualificação

do PIREP em representação a DINET para melhor compreensão do processo em análise

e obter uma visão mais abrangente em termos de acções concrectas e projectos em

carteira para esta componente no subsistema do ETP.

4.4. Interpretação dos ResultadosA interpretação dos resultados foi feita mediante a triangulação das respostas dos

questionários e entrevistas a luz de teorias que abordam o tema em análise. Este método

visa englobar o ponto de vista dos dois (2) grupos intervenientes (os entrevistados e os

questionados) no fornecimento de informações para uma melhor interpretação dos

resultados.

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CAPITULO V

5.0. Apresentação e Análise de Dados

Tal como foi explicado no capítulo da metodologia, esta pesquisa apesar de ter recorrido

a análise de bibliográfica histórica, também administrou questionário e entrevistou o

Director Pedagógico do ISDB, e a representante da DINET (Gestora do Departamento

de Qualificações e formação do PIREP) para melhor compreender os eventos que

ocorrem na prática, no âmbito da formação de professores.

O questionário de pesquisa administrado aos professores foi constituído por perguntas

abertas e fechadas com objectivo de compreender os sentimentos destes quanto a

situação actual do ETP e das projecções individuais quando ao futuro deste subsistema

de ensino. Das questões formuladas interessa-nos apresentar o resultado de duas

perguntas fechadas que passamos a apresentar.

Pergunta 1: Como classifica a Reforma do Ensino Profissional em Moçambique no

tocante a formação de professores do ETP?

Com esta pergunta procura-se compreender o sentimento dos professores envolvidos no

processo de formação de formadores para o ETP quanto as mudanças operadas desde do

inicio da reforma do ensino técnico até ao momento.

Entretanto, os 100% dos professores questionados foram unanimes nas respostas

referindo que existem muitas fraquezas nas aspetos relacionados a reforma em curso no

país principalmente no tocante a formação de professores.

Os mesmos justificaram o seu posicionamento através de respostas das perguntas

abertas, apontando as questões relacionadas ao nível de exigência que o modelo

curricular baseado em padrões de competências acarreta e a inexistência de condições

de implementação das componentes nela leccionadas por falta de recursos matérias

(oficinas e equipamento de ponta ou laboratórios) nas empresas e nas instituições de

ensino.

Outro aspeto por eles mencionado, prende-se ao facto de não estarem criadas condições

para a expansão deste modelo curricular as outras províncias, a exiguidade de

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professores formados no currículo baseado em padrões de competências bem como, a

dificuldade dos graduados deste modelo curricular em ingressar no ensino superior dado

que o perfil dos cursos estarem direccionados à componente ligados as competências

para o mercado de emprego.

Outro factores mencionados pelos professores, tem a ver com a exiguidade de

instituições de ensino superior provedoras da formação de professores para este

subsistema de ensino no país. Vejamos a tabela a seguir.

TABELA 3 (Respostas da pergunta 1 (um) do questionário para professores do ISDB)

Respostas Frequência Percentagem

Muito bem 0 0

Bem 0 0

Muita Fraca 17 100.0

Fraca 0 0

Total 17 100.0

Fonte: Questionários de perguntas de pesquisa respondidos pelos professores do ISDB

Pergunta 2: Na sua opinião, os currícula actualmente implementados no ETP vão de

encontro aos desafios do país face ao actual crescimento da economia e a descoberta de

hidrocarbonetos? Justifique a sua resposta.

Com esta pergunta procura-se analisar até que ponto os cursos elaborados e em vigor no

ensino técnico profissional no âmbito da REP e do novo currículo estão virados ao

desenvolvimento económico do país no âmbito das descobertas de recursos minerais e

energéticos.

A tabela a seguinte dita o comportamento dos respondentes da pergunta 02. É digno de

nota que 64.7% não concordam que os currícula (cursos elaborados) em vigor no ETP

não se alinham ao ritmo de desenvolvimento do país na área de recursos minerais e

hidrocarbonetos.

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Porém, 35.3% dos professores inqueridos acreditam que os curricula actuais, possuem

bases para solucionar o problema da mão-de-obra não necessariamente para os dois

campos mencionados mas, para as áreas relacionadas a estas actividades.

Vejamos a tabela:

TABELA 4 (Respostas dos professores a pergunta de pesquisa nr.2).

Respostas Frequência Percentagem

Sim 6 35.3

Não 11 64.7

Total 17 100.0

Fonte: Questionários de perguntas de pesquisa respondidos pelos professores do ISDB

Em relação as outras áreas na fundamentação dos 35.3% dos professores, relacionadas a

descoberta de recursos minerais e hidrocarbonetos constam hotelaria e turismo,

electricidade e manutenção industrial bem como agro-indústria. Estes acrescentam que

estas áreas permitem boa acomodação dos cidadãos nacionais e estrangeiros nas

diversas partes do país, garantem a produção e a segurança alimentar aos camponeses

incluindo os visitantes, e provê técnicos em eletricidade e manutenção industrial as

fabricas.

Com base no acima descrito e nas perguntas abertas respondidas pelos professores,

pode-se aferir que, volvido aproximadamente 10 anos após o início da reforma do

ensino técnico profissional e estando a passos largos rumo ao fim do PIREP, muito

pouco nota-se em termos de mudanças visíveis trazidas pela reforma em causa a nível

social e económico.

Ilda Alvarinho, Gestora do Departamento de Qualificação e Formação do PIREP em

representação da DINET, reconhece o aspecto mencionado no parágrafo anterior e diz

que “faltam estudos de avaliação do impacto do PIREP para aferir até que ponto está

ou não alçando seus objectivos”, acrescentando que “a empregabilidade dos graduados

em um ano não é um indicador fiável pois nos últimos anos o número de empresas

cresceu bastante e nada garante que os quadros oferecidos ao mercado tenham

competências necessárias”.

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Ao pergunta-la como esta sendo a formação de professores no âmbito da reforma em

curso no país Alvarinho disse que “muita coisa ainda estão a nível dos gabinetes e que

é importante que as políticas saiam do papel e se transformem em factos tangíveis,

concrectos e mensuráveis”. A fonte reconhece que “a Estratégia de Formação de

Formadores do Ensino Técnico Profissional em Moçambique (2011-2015) é um

instrumento valiosíssimo mas e que se fosse possível a sua materialização traria muitos

ganhos ao subsistema e a sociedade”.

Para minimizar o défice de professores com formação psicopedagógica e até humana a

fonte disse que “o governo esta levando a cabo capacitações de três (3) semanas para

professores em exercício no currículo baseado em padrões de competências e processos

avaliativos como solução dada a emergência que a situação se apresenta”. Mesmo

assim, “muitos professores ainda não foram formados nesta componente e pelo facto do

ISDB não estar a ministrar actualmente cursos a distância para professores em

exercício por falta de recursos financeiros”. (Entrevistada no dia 12 de Março 2014,

09:30 min, nos escritórios PIREP).

Contudo, seria “utopia acreditar que em 21 dias o professor poderá reactualizar seus

conhecimentos, questionar as prácticas de ensino, identificar os problemas e

necessidades profissionais e desenvolver novos modelos de trabalho”, porém é o que se

nos apresenta de momento frisou a nossa fonte (Entrevistada no dia 13 de Fevereiro

2014, 09:30 min, nos escritórios PIREP).

Alvarinho que além de Gestora no PIREP, é professora de Matemática na faculdade de

Economia da Universidade Eduardo Mondlane lembra com emoção que, “a quando da

independência o país parou para formar professores. Os melhores professores que hoje

são reitores, vice-reitores e directore e as universidades estavam engajados nesta

nobre missão pois era prioridade do país”.

Entretanto, Halénio Nuíla Director Pedagógico do ISDB diz que, “ desde 2006 a 2014 o

Instituto Superior Dom Bosco Graduou pouco mais de 600 professores, entre eles

professores em exercício do subsistema do ensino técnico profissional no currículo

baseado em padrões de competências”.

Ao solicitar a opinião de Nuíla se os professores formados no ISDB estavam preparados

para implementar o currículo baseado em padrões de competências este fintou que “o

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novo currículo é bastante exigente e carece de contacto constante entre as escolas e o

mercado de em trabalho para analisar o nível de receptividade ou feedback dos

graduados, estreitando as relações a fim de encontrar suporte técnico e campo de

estágio para formandos” (Entrevistada no dia 12 de Março 2014, 16:15 min, nos

escritórios PIREP).

Ao perguntarmos ao Director do ISDB quem são os que frequentam os cursos do ISDB

a fonte disse que para “além de graduados da 12ª classe, também frequentam nos

cursos, professores em exercício no modelo de ensino a distância”. Contudo, “a falta

de recursos financeiros e a elevada logística para formação de professores no modelo

de ensino a distância, estes cursos encontram-se interrompidos a mais de dois anos.

Quanto a correlação entre os curricula e a descoberta de recursos minerais e energético

Nuíla disse que “o processo de elaboração e implementação de novos cursos é gradual

e oneroso não sendo correcto que as pessoas sigam os ventos do momento com risco de

cometerem erros”. A nível do ISDB, segundo o nosso interlocutor existem cursos

ligados a energias renováveis para os que frequentam Electricidade e Manutenção

Industrial.

Enquanto isso, Ilda Alvarinho disse que “os cursos para a área de hidrocarbonetos e

recursos minerais estão sendo elaborados através de consulta no comité intersectorial

em que fazem parte varias empresas de construção civil, mineração, hidrocarbonetos e

mais e nos fóruns consultivos fazem-se levantamento das principais actividades ou as

áreas de interesse descrevendo as competências que se requerem dos trabalhadores

com vista a elaboração de cursos com padrões solicitados”.

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CAPITULO VI

6.0. Conclusão

A presente pesquisa pretendia caracterizar a evolução do processo de formação de

professores do ensino técnico-profissional desde a independência aos nossos dias tendo

em conta os desafios sociais, económicos e políticos que influenciaram no

desenvolvimento ou retrocesso deste subsistema. O horizonte temporal da pesquisa

centrou-se nos aspetos marcantes entre 1975 a 2014. Para melhor caracterização

subdividiu-se o período em fases e a primeira, analisou a institucionalização do

subsistema de ensino técnico profissional através da implantação de cursos de formação

de professores especificamente para o ETP entre 1975 à 2005 e a segunda espelhou os

aspetos relevantes da reforma em curso desde 2006 até 2014.

A recolha de dados foi possível através da análise documental, bibliográfica,

questionários e entrevistas. O questionário foi submetido a 17 professores efetivos do

Instituto Superior Dom Bosco (ISDB) por ser a única instituição formando professores

do ensino técnico profissional em Moçambique. Para a consolidação da informação

foram entrevistados o Director do ISDB e a Gestora do Departamento de Qualificação e

Formação do PIREP em representação da Direcção Nacional do Ensino Técnico

Profissional.

Os dados colhidos revelaram que após a independência foi tomada varias medidas

visando colmatar o défice de professores que existia. Essas medidas passaram por

transformar as escolas técnicas para centros-escolas e que em simultaneamente

dedicavam-se a formar professores do ensino técnico profissional e técnicos para os

diversos sectores de actividade. Conduzir os estudantes que frequentavam o sexto e

sétimo ano dos Liceus bem como os que frequentavam cursos elementares do ensino

técnico para cursos de formação de professores de curta duração (Cursos Acelerados de

Formação de Professores do Ensino Técnico Profissional entre 1977-1980, com duração

de um ano). Os graduados destes cursos terminavam com o nível básico.

A partir de 1979 começaram a ser abolidos os cursos acelerados introduzindo-se cursos

intensivos com a duração de dois anos para professores em exercício permitindo que os

que frequentaram os cursos acelerados darem continuidade aos estudos concluindo com

o nível médio.

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Entre outras iniciativas consta o envio de estudantes moçambicanos para o estrangeiro

como bolseiros para frequentarem cursos superiores e médios que depois voltariam para

lecionarem nos diversos subsistemas de ensino entre eles o ensino técnico.

Estas estratégias conduziram a estabilidade em termos de necessidades do corpo

docente até 1984.

Os fenómenos naturais (seca e a fome), aspectos sociopolíticos (guerra dos 16 anos) e

mais, forçaram o governo a mudar a orientação política do país de uma ideologia

socialista para economia de mercado. Esta mudança foi marcada pela adesão de

Moçambique as políticas financeiras do Banco Mundial e Fundo Monetário

Internacional. Uma das condições para conceção de empréstimos ao país passava por

Moçambique levar a cabo um Programa de Reabilitação Económica (PRE) que

implicava cortes nas despesas públicas entre eles constava a formação de professores.

Esta medida conduziu ao encerramento de todos centros de formação de professores do

ensino técnico profissional terminando com o sonho e projectos desenvolvidos ao longo

do segundo quinquénio da década de 70 e primeiros 5 anos do decénio 1980-1990.

Dado ao explicado no parágrafo anterior na década de 90 não se notou nenhuma

actividade de formação de professores do ETP quer em exercício ou inicial. Para piorar

a carência de professores, empresas que foram-se instalando no país aliciaram os

professores em exercício à abandonar a docência em troca de empregos bem

remunerados na banca e nas unidades fabris.

Com a descoberta de hidrocarbonetos e recursos minerais e consequente entrada no

mercado empresarial moçambicano de megaprojetos, urge a necessidade da mão-de-

obra qualificada para satisfazer a procura de recursos humanos destas indústrias

emergentes. Dada as fragilidades que existiam como consequência das mudanças

ideológicas e a adesão a economia do mercado Moçambique introduziu uma reforma

profundo no subsistema que teve inicio em 2006 com duração prevista de 15 anos.

Porém, após análise dos dados foi possível apurar que volvidos 10 anos desde do inicio

da reforma do ensino técnico profissional, o país conta com somente uma instituição do

ensino superior vocacionada a formação de professores do ensino técnico profissional

Instituto Superior Dom Bosco (ISDB) e as remanescente não o fazem.

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Não obstante, para além da Universidade Eduardo Mondlane (faculdade de ciências)

que lecciona cursos de geologia e química, as outras instituições de ensino superior não

ministram cursos do género tendentes a responder as necessidades do mercado e

alinhar-se as necessidades económicas do país.

Estas constatações respondem as hipóteses enunciadas no início deste trabalho cuja

primeira referia que, o défice de instituições de ensino superior e recursos financeiros

para formar professores do Ensino Técnico Profissional em Moçambique, resulta na

fraca oferta de pedagogos para satisfazer as actuais exigências da economia nacional.

A segunda hipótese avança que, os currícula desenhados com a reforma do ensino

técnico profissional foram concebidos sem observar as áreas de maior interesse nacional

(recursos minerais e hidrocarbonetos).

A primeira hipótese ficou provada pois até a data existe apenas uma instituição de

índole privada vocacionada a formação de professores para este subsistema quer sejam

iniciais ou em exercício. No entanto, a falta de recursos financeiros levou o Instituto

Superior Dom Bosco a parar de ministrar cursos para professores em exercício no

modelo de ensino a distância para responder ao défice de professores formados no

currículo baseado em padrões de competências.

Esta questão esta forçando o governo a ministrar capacitações de 21 dias para

professores em exercício do nível básico, médio ou superior no currículo baseado em

padrões de competências, tendo em vista a expansão curricular e a abrangência aos que

não foram contemplados para a formação na fase Piloto da Reforma.

Em relação a segunda hipótese apesar da ambiguidade de opiniões, esta provado que

para a área de hidrocarbonetos e recursos minerais com excepção da Universidade

Eduardo Mondlane, nenhuma oferece cursos do género.

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6.2. Recomendações

Perante as conclusões que chegaram o trabalho, recomenda-se que o ministério que

tutela pelo ensino técnico profissional envolva maior número de instituições de ensino

superior na formação de professores para o ensino técnico profissional para garantir a

formação da mão-de-obra necessária para os diversos setores de atividade.

Recomendaria de igual modo, aos gestores e decisores da educação em Moçambique

para ao elaborar os curricula tenham em conta o contexto socioeconómico que serão

implementados sob risco de não espelharem as reais necessidades e estarem

desalinhados as projecções socioeconómicas do país.

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ANEXOS

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Questionário de Perguntas para Professores do ISDB

Caro (a) professor (a), este questionário é de carácter académico e visa recolher

informações sobre formação de professores do ensino técnico profissional.

Antecipadamente agradecemos a sua colaboração.

Sexo ____________________________

Formação escolar__________________

Formação pedagógica_______________

Local de trabalho __________________

Disciplinas que leciona _____________

B01. Tem conhecimento das reformas do ETP em Moçambique, no tocante à formação

de professores ETP

Sim Não

B02. Como classifica à Reforma do Ensino Técnico Profissional em Moçambique na

componente Formação de Professores?

Muito bem Bem Muita Fraca Fraca

Justifique a sua resposta?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

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B03. Na sua opinião, os currículas actualmente implementados no ETP vão de encontro

aos desafios do país face ao actual crescimento da economia e a descoberta de

hidrocarbonetos?

Sim Não

Porquê?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

____________________________________________________________________

B04. Que sugestões daria sobre oque pode ser feito no futuro no ensino Ensino Técnico

Profissional, no que tange à formação de professores.

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

____________________________________________________________________

Muito Obrigado pela sua colaboração

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GUIA DE ENTREVISTA PARA O DIRECTOR PEDAGOGICO DO ISDB

A01. Senhor Director o ISDB é a única instituição em Moçambique que forma

professores do ETP, quais são os cursos que a instituição lecciona?

A02. Os discentes destes cursos são professores em exercício ou finalistas do nível

médio do ensino geral ou do ensino técnico.

A03. O ISDB é também a única instituição em Moçambique que esta formando

professores no currículo baseado padrões de competências. Quantos professores em

exercício já beneficiaram dessa formação?

A04.Quais as dificuldades que o ISDB tem encarrado na formação de professores em

exercício vindos do subsistema do ETP?

A05. Na sua opinião os curriculas actualmente implementados no ETP vão de encontro

aos desafios económicos do país na componente formação de recursos humanos face ao

desenvolvimento do país?

A06. Quanto a descoberta de recursos minerais e energéticos existem projectos em

curso para formação de professores no ISDB nestas especialidades?

A07. No seu ponto de vista, acha que os professores do ETP estão preparados para

implementar o novo currículo?

A08. Que sugestões daria para a melhoria da qualidade e maior abrangência da

formação dos professores para o ETP?

Obrigado pela atenção.

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GUIÃO DE ENTREVISTA PARA A REPRESENTANTE DO MINED

A01. Senhora Gestora, é consensual que não se fazem reformas do ensino sem a

preparação dos recursos humanos, falo dos professores e do pessoal técnico-

administrativo. Como esta sendo feita a formação de professores no âmbito da reforma

do ensino técnico profissional em curso no país?

A02. Segundo o PEEC 2006-2010/11, de entre os aspectos relevantes para os alcances

do PIREP, consta a formação de professores em exercício bem como, a contratação 340

novos no currículo baseado em padrões de competências. Essa meta foi alcançada?

A03. Dado que nem todos professores beneficiaram da formação no novo currículo,

como esta será feita a expansão curricular as outras instituições do ETP?

A04. Sabemos que o ISDB é única instituição em Moçambique que esta formando

professores no currículo baseado padrões de competências. Oque esta sendo feito para

envolver mais instituições de ensino superior na provisão destes cursos?

A05. Até ao momento já foram graduados alguns estudantes formados no âmbito do

novo currículo nas escolas da fase piloto da REP, como tem sido a receptividade destes

pelo mercado do emprego e pela sociedade?

A06. Ate então ressente-se a falta de instituições ministrando cursos relacionados a

hidrocarbonetos no país, o Ministério da Educação já tem algum projecto com vista a

prover recursos humanos qualificados as minerados e empresas que operam na área de

petróleo e gás natural?

A07. Tem alguma sugestão a dar quanto ao processo de formação de professores quer

na actualidade e no futuro?

Obrigado pela atenção.