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FAC - FACULDADES CEARENSES CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL
HALINE SOUSA LIMA ALMEIDA
POLÍTICAS PÚBLICAS E A PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
NA VELHICE: UM ESTUDO SOBRE O PROJETO SAÚDE,
BOMBEIROS E SOCIEDADE EM FORTALEZA
Fortaleza – CE
2013
HALINE SOUSA LIMA ALMEIDA
POLÍTICAS PÚBLICAS E A PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
NA VELHICE: UM ESTUDO SOBRE O PROJETO SAÚDE,
BOMBEIROS E SOCIEDADE EM FORTALEZA
Monografia apresentada ao curso de Serviço Social da Faculdade Cearense como requisito para obtenção de título de bacharel em Serviço Social. Orientadora: Profª. Ms. Ruth Brito dos Santos
FORTALEZA-CE
2013
HALINE SOUSA LIMA ALMEIDA
POLÍTICAS PÚBLICAS E A PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA
NA VELHICE: UM ESTUDO SOBRE O PROJETO SAÚDE,
BOMBEIROS E SOCIEDADE EM FORTALEZA
Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação:___/___/___
Banca Examinadora
_________________________________________ Profª Ms. Ruth Brito dos Santos
Mestre em Políticas públicas e sociedade (UECE) Orientadora
_________________________________________________ Profª. Ms. Valney Rocha Maciel
Mestre em Políticas públicas e sociedade (UECE) 1ª examinadora
_____________________________________________
Profª. Ms. Kelly Maria Gomes Menezes Mestre em Políticas públicas e sociedade (UECE)
2ª examinadora
Ao meu pai Edimar a quem sempre me dedicou amor, e a quem tenho infinita gratidão pela contribuição na formação do meu caráter e personalidade, além de ser também objeto de minha pesquisa.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus pela sabedoria oportunizada para esta construção e
por permitir tantas vivências que me fortaleceram e me fizeram um ser humano
melhor.
Ao meu esposo Sávio pelo apoio, amor e incentivo, obrigada por tudo e por
compreender as ausências tão necessárias.
A minha filha linda Maria Eduarda que suportou a minha ausência em muitos
momentos, me ajudou com suas palavras de incentivo, com seu amor incondicional
e recíproco e mesmo sendo uma criança ainda, compreendeu tão bem todo o meu
processo de formação profissional. Te amo com todo o meu coração filha.
Ao meu pai Edimar pela educação e pelos valores que me passou e que sem estes
tudo seria diferente. Obrigada pai.
A minha mãe Geralda simplesmente por ser minha mãe e ter me oportunizado a
graça de vir ao mundo.
A minha família de um modo geral que compreende minhas irmãs, irmão, cunhados,
cunhadas e sobrinhos, mesmo distantes cada um tem sua importância e de algum
modo se fazem presentes em minha vida.
As minhas amigas que são mais que irmãs: Cecília, Danielle e Glenia. Estou certa
que me faço presente nas suas orações e torcida verdadeira para que tudo desse
certo. Amo vocês.
A minha amiga e SUPERvisora de estágio Sandra Regina de Morais dos Santos
pelas reflexões, ensinamentos, compromisso dentre outras qualidades nas quais irei
me espelhar para a prática profissional. Grata.
As professoras Valney Rocha, Vívian Matias, Sandra Lima, Letícia Peixoto, Rúbia
Gonçalves e Mariana Aderaldo. Assistentes sociais que mais marcaram e
contribuíram para a minha formação enquanto professoras.
Aos meus colegas de trabalho (USB Sen. Fernandes Távora) que muito torceram e
torcem para o meu sucesso, aqui representados por Sulamita, Solimar, Virgínia,
Aurélio e Nivânia.
A minha orientadora linda Ruth Brito pela dedicação, pelos ensinamentos e reflexões
próprios de uma mestre em excelência, pelo compromisso com este trabalho, muito
obrigada.
A banca examinadora composta pela professora Kelly Menezes, e pelas já
contempladas Valney Rocha e Ruth Brito pela atenção e disponibilidade.
Aos idosos em especial e aos profissionais que fazem parte do Projeto saúde,
Bombeiro e Sociedade pela disponibilidade em participar da pesquisa e a todos os
idosos, motivo do meu interesse e instigação em pesquisar essa temática.
Por último e não menos importante quero agradecer imensamente às amigas e
companheiras de profissão Daniele Soares, Isalenny Gonçalves, Eliane Avelino,
Angélica Braga, Vanessa Teixeira, Fernanda Braga e várias outras pelos vários
momentos de alegria, pelas angústias compartilhadas, pelo companheirismo, pelos
trabalhos, pelas viagens, enfim pela construção de relações de amizade verdadeiras
nascidas na academia e que levarei por toda a vida. Obrigada a todas. Amo-vos.
Enfim, agradeço a todos que não foram citados mas que de alguma forma
contribuíram para esta etapa da minha vida.
Reinauguração
Nossa idade – velho ou moço – pouco importa. Importa é nos sentirmos vivos e alvoroçados mais uma vez, e revestidos de beleza, a exata beleza que vem dos gestos espontâneos e do profundo instinto de subsistir enquanto as coisas em redor se derretem e somem como nuvens errantes no universo estável. Prosseguimos. Reinauguramos. Abrimos olhos gulosos a um sol diferente que nos acorda para os descobrimentos. Esta é a magia do tempo. Esta é a colheita particular que se exprime no cálido abraço e no beijo comungante, no acreditar na vida e na doação de vivê-la em perpétua procura e perpétua criação. E já não somos apenas finitos e sós . Carlos Drummond de Andrade
RESUMO
O presente trabalho tem como objeto a compreensão da velhice e dos modos de se
obter qualidade de vida nesta fase através das políticas públicas existentes. Sendo o
objetivo principal compreender se o Projeto Saúde, Bombeiro e Sociedade se
constitui uma estratégia que contribui para promover qualidade de vida dos idosos.
Tendo como objetivos específicos: traçar o perfil dos idosos que participam do
projeto; saber que compreensão estes sujeitos tem acerca da velhice e do processo
de envelhecimento; conhecer a motivação e os efeitos de participar de um grupo
para sua faixa etária e analisar a percepção que os sujeitos pesquisados tem das
políticas públicas, da cidadania e dos direitos da pessoa idosa. Para a elaboração
deste trabalho foram fundamentais os diálogos com alguns autores que contribuíram
para o debate em torno do tema, entre eles: NERI (2007); BEAUVOIR (1990);
DEBERT (1999); PEREIRA (2008); MASCARO (2004); MINAYO (2002); e
PAPALÉO NETTO (1996). Para alcançar os objetivos realizamos uma pesquisa
qualitativa e como técnicas instrumentais utilizamos a observação simples e
entrevista semi estruturada, tendo como universo dez idosos. Para interpretar os
dados foram utilizadas as falas dos sujeitos constituindo-se portanto a análise do
discurso. Como resultado tivemos a constatação que a velhice passou de fenômeno
a vivência cotidiana de um número cada vez maior de pessoas, que esta é uma
construção social e que a apreensão delas pelos próprios idosos depende do
contexto no qual eles estão inseridos, podendo ser vista e vivenciada de forma
positiva ou não. Foi verificado ainda que da efetivação de políticas públicas depende
um envelhecer bem e que estas embora tenham avançado não dão conta da
crescente demanda desse segmento populacional no Brasil. Percebeu-se que o
projeto pesquisado através das ações e dos resultados positivos é um exemplo de
política que promove qualidade de vida aos idosos que dele faz parte.
Palavras – chave: Velhice; Políticas Públicas; Qualidade de vida
ABSTRACT
This work aims the understanding of aging and ways to achieve quality of life at this
stage through the existing policy. Since the main objective is to understand the
Project Health, Fire and Society constitutes a strategy that helps to promote quality of
life for seniors. Having specific objectives: to outline the profile of older people
participating in the project; know that understanding these guys have about old age
and the aging process; know the motivation and the effects of participating in a group
for their age group and analyze the perception that has researched subjects of public
policy, citizenship and the rights of the elderly. For the preparation of this work were
instrumental dialogues with some authors who contributed to the debate on the topic,
including: NERI (2007); BEAUVOIR (1990); Debert (1999), Pereira (2008);
MASCARO (2004); MINAYO (2002), and Papaleo Netto (1996). To achieve the
objectives we conducted a qualitative research and how instrumental techniques
used simple observation and semi-structured interviews, with the universe ten
elderly. To interpret the data we used the 'speech consisting therefore discourse
analysis. As a result we had the realization that old age has gone from phenomenon
to daily life of an increasing number of people, this is a social construction and that
the seizure of them by the elderly depends on the context in which they are inserted,
and can be seen and experienced positively or not. It was also verified that the
effectiveness of public policies depends on a stale and well advanced although these
do not account for the increasing demand of this population segment in Brazil. It was
noticed that the project researched through actions and positive results is an
example of policy that promotes quality of life for seniors who are part of it.
Words - Tags: Aging; Public Policy; Quality of life
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
BM Bombeiro Militar
BPC Benefício de Prestação Continuada
CAPs Caixas de Aposentadorias e Pensões
CBMCE Corpo de Bombeiro Militar do Ceará
CIAPREV Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência contra a pessoa
idosa
CRAS Centro de Referência da Assistência Social
CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
IAPs Institutos de Aposentadorias e Pensões
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INPS Instituto Nacional de Previdência Social
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
LOAS Lei Orgânica da Assistência Social
LOPS Lei Orgânica da Previdência Social
MDS Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome
NBS Núcleo de Busca e Salvamento
NOB Norma Operacional Básica
OMS Organização Mundial de Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
PNI Política Nacional do Idoso
PSBS Projeto Saúde Bombeiro e Sociedade
PNSI Política Nacional de Saúde do Idoso
SD Soldado
SESC Serviço Social do Comércio
SESI Serviço Social da Indústria
SUS Sistema Único de Saúde
TSI Trabalho Social com Idosos
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Faixa Etária dos Idosos que participam do projeto................................55
Gráfico 2 - Nível de Escolaridade.............................................................................57
Gráfico 3 - Conhecimento sobre o estatuto do Idoso...............................................65
SUMÁRIO
Introdução ....................................................................................................... 15
1. Velhice em Termos ................................................................................... 18
1.1 O Processo de envelhecimento X Velhice X Terceira idade ...................... 18
1.2 As transformações causadas pelo passar do tempo .................................. 25
1.3 Os significados desta nova fase “terceira idade” ........................................ 30
2. Políticas públicas e a promoção da qualidade de vida do idoso ........... 33
2.1 Políticas públicas: Pra que são e onde estão no segmento do idoso? ....... 33
2.2 Breve histórico da proteção social do idoso no Brasil ............................... 41
2.3 E o que é qualidade de vida? Como obtê-la na velhice? ........................... 43
3. O percurso metodológico e o campo de pesquisa ................................. 47
3.1 Metodologia ................................................................................................ 47
3.2 Lócus da pesquisa ..................................................................................... 50
3.3 A chegada ao campo ................................................................................. 51
3.4 O Projeto Saúde, Bombeiro e Sociedade ................................................... 52
3.5 Análise dos dados ...................................................................................... 53
3.5.1Compreendendo os sujeitos – Perfil dos idosos ....................................... 54
3.5.2 A velhice nas falas dos idosos ................................................................ 56
3.5.3 Impactos da inserção no projeto para o cotidiano ................................... 60
3.5.4 Idosos e o exercício da cidadania ........................................................... 62
Considerações finais ..................................................................................... 65
Referências .................................................................................................... 68
Apêndice 1 ...................................................................................................... 72
Apêndice 2 ...................................................................................................... 73
Anexo 1 ........................................................................................................... 74
Anexo 2 ........................................................................................................... 75
Música: Envelhecer
Arnaldo Antunes
A coisa mais moderna que existe
nessa vida é envelhecer
A barba vai descendo e os cabelos
vão caindo pra cabeça aparecer
Os filhos vão crescendo e o tempo vai
dizendo que agora é pra valer
Os outros vão morrendo e a gente
aprendendo a esquecer
Não quero morrer pois quero ver
Como será que deve ser envelhecer
Eu quero é viver pra ver qual é
E dizer venha pra o que vai acontecer
Eu quero que o tapete voe
No meio da sala de estar
Eu quero que a panela de pressão
pressione
E que a pia comece a pingar
Eu quero que a sirene soe
E me faça levantar do sofá
Eu quero pôr Rita Pavone
No ringtone do meu celular
Eu quero estar no meio do ciclone
Pra poder aproveitar
E quando eu esquecer meu próprio
nome
Que me chamem de velho gagá
Pois ser eternamente adolescente
nada é mais demodé
Com uns ralos fios de cabelo sobre a
testa que não para de crescer
Não sei por que essa gente vira a cara
pro presente e esquece de aprender
Que felizmente ou infelizmente sempre
o tempo vai correr
Não quero morrer pois quero ver
Como será que deve ser envelhecer
Eu quero é viver pra ver qual é
E dizer venha pra o que vai acontecer
Eu quero que o tapete voe
No meio da sala de estar
Eu quero que a panela de pressão
pressione
E que a pia comece a pingar
Eu quero que a sirene soe
E me faça levantar do sofá
Eu quero pôr Rita Pavone
No ringtone do meu celular
Eu quero estar no meio do ciclone
Pra poder aproveitar
E quando eu esquecer meu próprio
nome
Que me chamem de velho gagá.
15
INTRODUÇÃO
O envelhecimento passa atualmente, de fenômeno a vivência cotidiana de
aproximadamente 21 milhões de brasileiros, segundo pesquisa do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatísticas (IBGE,2010) houve considerável aumento da população
idosa passando de 14,5 milhões no ano 2000 para 20,5 milhões no censo de 2010,
assim este segmento etário representa 10,8% da população total de nosso país.
No Ceará, de acordo com a mesma fonte de pesquisa, da população total
de mais de 8 milhões, 903 mil são idosos, o que representa 10,5%. Entre pessoas
de 60 a 64 anos, o número passou de 2,9% para 3%. Na Região Metropolitana de
Fortaleza também cresceu o percentual dessa faixa, que passou de 2,7%, em 2008,
para 2,8%, em 2009. Assim, a expectativa de vida no Brasil passou de 72 anos e 10
meses (72,86) em 2008 para 73 anos e 02 meses (73,17) em 2009. E ainda, a
previsão é de que para os próximos 20 anos o Brasil ultrapasse a quantidade de 30
milhões de idosos, o que irá representar cerca de 13% da população total.
Tendo em vista esse crescente aumento da expectativa de vida em nosso
país, fazendo com que este seja visto não mais como um país jovem e levando em
consideração que a velhice e as questões sociais que a envolvem demandam do
Serviço Social respostas é que optei por pesquisar as políticas públicas na
promoção da qualidade de vida do idoso e utilizei como cenário o Projeto Saúde,
Bombeiro e Sociedade.
O envelhecimento é um fenômeno complexo e inerente a ele tem-se
demandas que são e serão também do Serviço Social, então como esta profissão
trabalha diretamente com políticas e direitos sociais é relevante a compreensão e
apreensão das determinações desse fenômeno já que também esta profissão “não
pode abster-se do exame crítico do significado e implicações contextuais desse
fenômeno, visto que ele não se dá de forma isolada”.1
Algumas das competências do assistente social é apreender criticamente
os processos sociais de produção e reprodução das relações sociais numa
perspectiva de totalidade e identificar as demandas existentes na sociedade na
perspectiva de formular respostas para o seu enfrentamento (Barroco, 2012) é o que
1 Comunicação apresentada pela professora Potyara A. P. Pereira – coordenadora do Dep. De
Serviço Social da UnB (universidade de Brasília) - em mesa redonda No Seminário sobre Educação Superior e Envelhecimento Populacional no Brasil em Brasília, 12 de maio de 2005.
16
também nos impulsionou ir a campo pesquisar sobre velhice e assim buscar
respostas para alguns questionamentos, entre eles: Que percepção os idosos tem
acerca da velhice e do envelhecimento? Quais as principais mudanças ocasionadas
pelo acúmulo de anos? Quais as motivações em participar do Projeto Saúde
Bombeiro e Sociedade? As políticas públicas contemplam esse segmento etário? O
projeto é uma estratégia que promove qualidade de vida para os idosos? O que
pensam sobre isso e sobre os direitos da pessoa idosa?
A experiência com grupos de idosos em uma unidade básica de saúde da
cidade de Fortaleza enquanto agente comunitária de saúde me instigou ainda mais a
pesquisar sobre o tema e me influenciou inclusive na escolha do campo de pesquisa
já que muitos dos idosos acompanhados também faziam parte do Projeto. E
algumas vezes relatavam sobre as atividades realizadas no mesmo.
Também percebi durante o estágio em Serviço Social realizado num
hospital de nível terciário em Fortaleza o IJF (Instituto Dr. José Frota), onde inclusive
tive a oportunidade de executar, sob supervisão, o projeto de intervenção “Ter
direitos é legal, conhecê-los é essencial” direcionado a idosos, que a problemática
da questão que envolve a pessoa idosa merece a devida atenção e é um espaço de
atuação e intervenção do assistente social que tem como princípio primeiro a defesa
intransigente dos direitos da pessoa humana e garantia destes.
Outra motivação que me levou a fazer esta pesquisa foi a percepção de
que, mesmo tendo avançado nas últimas décadas, são tímidos os estudos
existentes sobre o assunto, embora possua tamanha relevância a discussão.
Acredito que a posse da compreensão das dimensões que envolvem o
envelhecimento contribuirá para o meu exercício profissional como assistente social,
já que é fundamental para a categoria a aproximação, desvelamento e
conhecimento da realidade social e facilitará o desempenho que pretendo ter no
futuro enquanto especialista na área de Gerontologia.
Quanto a organização do trabalho, para melhor compreensão dos
leitores, foi dividido em três capítulos, em que o primeiro intitulado Velhice em
Termos ficou composto por três tópicos que abordam a conceituação e distinção
entre velhice, envelhecimento e as conseqüências destes nos seus diversos
aspectos para o sujeito idoso. Fazemos ainda nesta primeira parte, o resgate dos
17
significados da “terceira idade” como é considerado por muitos idosos, uma nova
imagem atribuída à velhice.
No segundo capítulo o qual atribuímos o nome Políticas Públicas e a
Promoção da Qualidade de Vida, abordamos as políticas públicas conceituando e
fazendo uma relação das mesmas com a qualidade de vida do idoso. Apresentamos
as legislações específicas para esses sujeitos, compreendendo-as e refletindo-as
teoricamente. Paralelo a isso e para compreensão das políticas direcionados a esse
segmento etário no Brasil fizemos um breve histórico da proteção social ao idoso
pois consideramos importante para compreensão da realidade hoje. Elencamos
ainda neste capítulo os espaços que trabalham na perspectiva de promoção da
qualidade de vida do idoso em Fortaleza.
No terceiro e último capítulo que intitulamos O Percurso Metodológico e
o campo de Pesquisa, mostramos os passos que foram dados na pesquisa através
da apresentação da metodologia, cenário, sujeitos e suas falas. É o maior e mais
rico dos três – quatro tópicos e quatro sub-tópicos - pois neste trazemos as falas dos
idosos analisando as mesmas. Obtivemos neste então algumas percepções sobre a
velhice e qualidade de vida nesta fase através das políticas e ainda sobre o Projeto
Saúde Bombeiro e sociedade. Foi neste também que deixamos algumas impressões
sobre a temática pesquisada e assim como nas considerações finais onde
consideramos ter exposto que alcançamos os objetivos desta pesquisa.
É bem verdade que novas inquietações surgiram e a vontade de ir buscar
respostas também, pois aqui não se teve a pretensão e nem a condição de
aprofundar aqui todos os aspectos que envolvem a velhice, as políticas públicas e a
qualidade de vida do idoso, mas estou certa que este trabalho poderá contribuir com
a discussão e poderá servir como pontapé inicial para que outros pesquisadores
ampliem o debate. E como o conhecimento é algo que não se esgota poderei
aprofundar o que aqui foi iniciado em outras etapas da formação.
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1. VELHICE EM TERMOS
Neste capítulo traremos conceitos, definições e as principais abordagens
acerca das categorias apresentadas nesta pesquisa. A diferença entre velhice,
terceira idade e o processo de envelhecimento é uma das discussões que fazemos
neste momento do trabalho para compreender como se dá a gestão da velhice
diante das transformações ocorridas ao longo do processo histórico. Para tanto
analisaremos a nível mundial e posteriormente como acontece aqui no Brasil. O que
nos possibilitou isso foi a pesquisa bibliográfica e a contribuição de alguns autores,
sendo os principais: Simone de Beauvoir, Guita Grin Debert, Jack Messy, Potyara
Pereira e Maria Cecília Minayo.
Além de fazer também um levantamento das consequências que o
acúmulo de anos trazem para o indivíduo tanto no aspecto físico e psicológico
quanto e principalmente no social.
1.1 O Processo de envelhecimento X Velhice X Terceira idade
Envelhecimento não se resume à velhice, etapa da vida caracterizada
pela longevidade dos anos, fase última do ciclo da vida humana. Ao nascer e
perpassarmos de uma fase a outra, da infância à adolescência e posteriormente à
fase adulta, estamos vivenciando tal processo. Assim consideramos que o
envelhecimento é um processo que tem apenas ponto de partida e não de retorno.
Nos dias atuais, na prática, o que se constata na nossa sociedade –
ocidental e em desenvolvimento- é que o processo de envelhecimento está
culturalmente associado à velhice, já em países mais desenvolvidos tem-se acerca
desse processo outra visão, mais ampliada. Na frança, por exemplo, a palavra
envelhecimento se traduz “Vieillissement” tem por sufixo, ou seja, começa com a
palavra vida “Vie” (MESSY, 1999, 17). Concluímos, portanto que envelhecer é um
processo se inicia desde o momento em que se nasce até a morte. E sua estreita
relação com a velhice se dá por conta das importantes alterações biológicas,
psicológicas e sociais que ficam mais evidenciados nesta fase. Assim novamente
19
citamos MESSY (1999) para melhor esclarecer a distinção que há entre o conceito
de velhice e envelhecimento:
Se o envelhecimento é o tempo da idade que avança, a velhice é o da idade avançada, entenda-se, em direção a morte. No discurso atual, a palavra envelhecimento é quase sempre usada num sentido restritivo e em lugar da velhice. A sinonímia dessas palavras denuncia a denegação de um processo irreversível que diz respeito a todos nós, do recém-nascido ao ancião. (Messy, 1999. p.23)
Diferentemente do pensamento de muitos autores, adotamos a
concepção de envelhecimento como nos apresentou MESSY (1999) como sendo um
processo que não se reduz a uma etapa da vida e sim por tratar-se de uma
constante que não se inscreve no tempo e assim o trataremos ao longo do trabalho
que abordará as duas categorias – velhice e envelhecimento - mas se deterá na
discussão da velhice, do aumento da população idosa.
Em consequência da redução da taxa de fecundidade e dos avanços
tecnológicos em todo o mundo nas últimas décadas, já que as descobertas pela
medicina tende a prolongar os anos, curar ou descobrir vacinas que evitem doenças
se reflete na expectativa de vida determinando portanto o crescimento também da
população idosa. Um número cada vez maior de pessoas tem chegado aos
70,80,100 anos e as estimativas segundo o IBGE(2010) são que em 2050 nosso
país terá cerca de 30% da população idosa.
Em contraponto a esse aumento da expectativa de vida temos a
ineficiência ou ausência de políticas publicas que deem conta da enorme demanda
nos mais diversos aspectos. Portanto é necessária a discussão e busca por
respostas para alguns questionamentos (PASCHOAL, 2000): Qual a qualidade
dessa sobrevivência? Como aumentar o vigor físico, intelectual, emocional e social
dessa população até os momentos que precedem a morte? Ao ser questionado em
relação a quanto se deseja viver, maioria dos indivíduos deseja viver cada vez mais,
porém a experiência do envelhecimento (a própria e a dos outros) está trazendo
angústias e decepções, pelo menos em nosso país.
Nas suas indagações o autor explicita seus anseios em relação ao
envelhecer no Brasil. Pensamos que o fato de relacionar o envelhecimento às
angústias e decepções deve-se ao modelo neoliberal seguido na atualidade, este,
próprio ao que se constitui e se embasa é inútil quem não produz além de se
caracterizar pela postura não intervencionista do Estado na economia e pela
20
redução em investimentos em políticas sociais, deixando portanto de atender as
legítimas demandas e necessidades sociais (PEREIRA, 2008).
É inegável que tenha havido mudanças nos últimos anos, que o Brasil
tenha avançado nas políticas sociais, no entanto, estão longe de dar conta da
diversidade de demandas trazidas com o aumento da população idosa. Envelhecer
no Brasil, embora não de maneira generalizada, não é algo positivo já que este
processo é marcado por consequências desafiadoras como coloca a autora a seguir.
Assim, quando se refere ao velho em solo brasileiro, inclui-se na contagem aquelas pessoas que atingiram essa idade, porém não se pode e nem se deve esquecer que a velhice possui diversas faces, sobretudo numa sociedade como a brasileira marcada pela desigualdade social, onde há uma exorbitante concentração de renda e conseqüentemente um alto índice de pobreza. Neste caso, faz-se necessário lembrar que o jovem pobre de hoje será também o idoso pobre de amanhã. (Silva, 2005)
A idade de uma pessoa, independente de como ela se encontre
psicologicamente, socialmente ou biologicamente é importante para se compreender
o processo de envelhecimento, mas não para determinar o começo ou fim desta
etapa da vida. A concepção de velhice na sociedade traz esta fase associada a
doenças, perdas, à ideia de finitude, e a negação da mesma e isto fica claro desde o
tratamento que se dá na sociedade quanto na literatura que traz diferentes
denominação para as pessoas velhas, tais como: idoso, pessoa idosa ou variações
como terceira idade, idade madura. Portanto, a maior parte das dificuldades
relacionadas à velhice está relacionada a uma cultura que limita e não valoriza.
Nem sempre foi assim, já que somente a partir de meados do século XIX,
é que a velhice ganha esse aspecto negativo de decadência física e ausência de
papéis sociais, e a longevidade como sinônimo de um processo de dependência e
contínua desvalorização, construindo uma identidade negativa acerca da velhice
(DEBERT, 1999).
BEAUVOIR (1990, p.112) nos faz observar algumas diferenças culturais
que há entre a compreensão de velhice entre o ocidente e o oriente, apontando
como os idosos chineses são respeitados. “Toda a casa devia obediência ao homem
mais idoso. Não havia contestação prática de suas prerrogativas morais, pois a
cultura intensiva que se pratica na China exige mais experiência do que força”
E isso contraria os novos parâmetros em que a velhice tem até mesmo
divisão etária, como se faz ao definir a categoria terceira idade (que será abordada
21
em outro tópico) que a conduz a um novo olhar, um novo tratamento por parte da
sociedade e também sobre as perspectivas dos próprios idosos que cada vez mais
buscam mudar as concepções estereotipadas atuais sobre o envelhecer, conforme
coloca a autora a seguir,
É preciso lembrar que a terceira idade é uma nova categoria social que designa o envelhecimento ativo e independente. Geralmente essa etapa da vida se compõe de uma população disposta a ociosidade criativa e a prática de múltiplas atividades físicas e culturais (De Mais apud Minayo, 2000, p.20).
Todo o exposto justifica a opção pela escolha do Projeto Saúde,
Bombeiro e Sociedade para se pesquisar já que atividades físicas é “o carro chefe”
desse projeto, o que demonstra disposição por parte dos idosos participantes além
da compreensão de que há necessidade de busca da qualidade vida através da
socialização, interação com os outros sujeitos do grupo, do movimentar-se.
Contradizendo então a imagem estigmatizada do idoso sentado na cadeira de
balanço, vivendo de lembranças do passado, vendo o resto de vida passar. Além
disso, relaciona-se à velhice quase que exclusivamente à perdas principalmente da
saúde, o que nos faz compreender que apenas o aspecto biológico é considerado. E
ficar velho vai além de tudo isso.
Assim, a compreensão da categoria velhice como sendo uma etapa da
vida somente será possível a partir da capacidade de saber relacionar esta em seus
aspectos biológicos, cronológicos, psicológicos e sociais. Segundo DEBERT (1999),
essa compreensão da interação dessas dimensões está diretamente ligada às
condições culturais nas quais o indivíduo está inserido, sendo importante ressaltar
que a relação acima citada é relevante na categorização de um indivíduo como
velho ou não.
Em “A Reinvenção da velhice: socialização e processos de reprivatização
do envelhecimento", a mesma autora que também é antropóloga e realizou algumas
pesquisas de campo muito contribuiu para algumas reflexões sobre a velhice e teve
o importante papel de fazer com que as discussões sobre este tema se difundissem
amplamente no meio acadêmico também, analisando a velhice não apenas pelas
estatísticas, conforme dados já apresentados neste trabalho, como um crescente
aumento da população idosa, mas analisa a visualidade da velhice pelo modo como
se deu essa construção desta na nossa sociedade. E é este o papel que a pesquisa
22
social, conforme é esta, desempenha, a análise não apenas dos dados com vistas
no aumento do número de idosos mas indo além, descobrindo, investigando o
porque de a velhice ganhar ênfase no cenário nacional e mundial, buscando
compreender toda a sua complexidade, visualizando como um conjunto de
interfaces.
Como nos mostra BEAUVOIR (1990), a velhice não é uma abstração
porque as pessoas também não a são e isso implica em dizer que a velhice é uma
realidade em que as pessoas idosas vivem cada uma delas, com suas
particularidades, suas experiências diferenciadas uma das outras, no entanto
histórias únicas, vivências cheias de significados e vividas no contexto
socioeconômico, cultural e étnico em que cada um está inserido.
Ainda sobre velhice, (MINAYO; COIMBRA JR., 2002, p.14)) diz que “(...)
cada pessoa vivencia essa fase da vida de uma forma, considerando sua história
particular e todos os aspectos estruturais(classe, gênero e etnia) à eles
relacionados, como saúde, educação e condições econômicas.” O que vai
caracterizá-la enquanto um processo que é heterogêneo como antes foi colocado.
As discussões sobre velhice como categoria dentro da gerontologia até
bem pouco tempo atrás se limitava à identificação de discursos que se opunham,
cada um com suas especificidades e no que diz respeito a velhice tinham visão
diferenciada do tema, como colocam a autora a seguir,
No Brasil, pesquisar associações de gerontologia era, até muito
recentemente, identificar oposição entre médicos geriatras e gerontólogos
cientistas sociais que, contra o determinismo biológico dos primeiros,
empenhavam-se em mostrar que a velhice é uma construção sociocultural.
(DEBERT, 1999, p.33)
Conforme bem explicitou os autores SCHNEIDER E IRIGARAY (2008) em
seu artigo, as concepções de velhice nada mais são que resultados de uma
construção social e temporal feita no seio de uma sociedade com valores e
princípios próprios, que são atravessados por questões multifacetadas,
multidirecionadas e contraditórias.
Na época contemporânea, início do XXI, ao mesmo tempo em que a
sociedade potencializa a longevidade, ela nega aos velhos o seu valor e sua
23
importância social. Vive-se em uma sociedade de consumo na qual apenas o novo
pode ser valorizado, caso contrário, não existem produção e acumulação de capital.
Nesta realidade esmagadora, o idoso passa a ser ultrapassado, descartado, ou seja,
ficou velho já está fora de moda. E como o homem não vive nunca em seu estado
natural; na sua velhice, como em qualquer idade, seu estatuto lhe é imposto pela
sociedade que pertence (BEAUVOIR, 1990), logo é marginalizado e por sua
fragilidade em diversos aspectos, inerente a esta etapa da vida, absorve tantas
consequências negativas.
Ser idoso não é algo fácil, principalmente no Brasil um país imenso em
território e nas desigualdades, aqui é definido como idoso, de acordo com a
constituição que nos rege, a pessoa que tem 60 anos ou mais de idade (BRASIL,
2011). E nas últimas décadas só cresce o número de idosos, segundo as
estatísticas.
Como vem sendo mostrado ao longo do trabalho, o envelhecimento passa
de fenômeno a vivência cotidiana nos dias de hoje, pesquisas comparativas
mostraram esse fato a nível mundial: em meados de 1900 menos de 1% da
população tinha mais que 65 anos, já nos anos 90 do século passado esta
porcentagem aumentou para cerca de 6,2% e a previsão é para que 2050 a
população idosa seja de um quinto da população mundial (Papaléo Netto, 1996).
A partir desses dados tem-se a necessidade de pensar que envelhecer é
importante desde que haja condições para que os idosos tenham uma qualidade
nessa longevidade, que possam a eles ser garantidos os direitos de proteção à vida
e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um
envelhecimento saudável e em condições de dignidade, como consta no
ESTATUTO DO IDOSO (2003) artigo 9º: “É obrigação do Estado, garantir à pessoa
idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas
que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade”.
A necessidade de discussão acerca da temática dos impactos do
envelhecimento na qualidade de vida e cidadania do idoso remete a busca pelas
causas determinantes das atuais condições de vida dos idosos e de se conhecer as
múltiplas facetas que envolvem o processo de envelhecimento, para que os desafios
sejam enfrentados por meio de planejamento adequado. (PAPALÉO NETTO, 1996)
24
Todas as pesquisas que tratam da questão da velhice são iniciadas pelos
dados numéricos, pelo aumento da população idosa, como o fizemos, que é natural
para ilustrar a situação e faz parte da metodologia no entanto resumir todo o
processo que envolve a velhice a dados apenas quantitativos não determina a
problemática e tão pouco o direcionamento que se deve tomar, como afirma a autora
a seguir,
Considerar que as mudanças nas imagens e nas formas de gestão do envelhecimento são puros reflexos de mudanças na estrutura etária da população é fechar o acesso para a reflexão sobre um conjunto de questões que interessa pesquisar. (DEBERT,1999, p.12)
Os estudos, pesquisas e demais trabalhos que tratam da problematização
relacionada à questão do envelhecimento, embora tenham tido avanços nos últimos
anos, são ainda insuficientes e não contemplam os processos fundamentais
constantes do fenômeno e que poderiam esclarecer porque existem tantos
questionamentos a serem desvendados. Logo, a transformação destes
conhecimentos em saberes científico traz à tona a questão do idoso em seus
diversos aspectos: desgaste físico e biológico, a longevidade e as políticas sociais
que abarcam a discussão.
É contraditória a situação que envolve o aumento da população idosa
frente à omissão e até mesmo a atitudes preconceituosas contra o velho. Os meios
de comunicação e a leitura que se faz dessa sociedade moderna é que a mídia, de
massa principalmente, marginaliza o idoso e o associa a perda de sua condição
social, fazendo-se notar uma inversão de valores, consequência da excessiva
valorização da força de produção em virtude do avanço da tecnologia e globalização
da industrialização. Assim novos valores são assumidos qualificando ao extremo o
potencial da juventude fazendo com que a pessoa que vivencia esta fase seja
associada à improdutividade e decadência (PAPALÉO NETTO apud SALGADO,
1996).
Detemo-nos aqui na abordagem desse processo sob a perspectiva do
envelhecimento quando da passagem dos sujeitos pesquisados à velhice, fase em
que estes são considerados como idoso, ou seja, 60 anos de acordo com a carta
magna de 1988(CRFB/88). E isso ocorrerá a partir da compreensão dos idosos que
fazem parte do Projeto Saúde, Bombeiro e Sociedade sobre este processo.
25
1.2. As transformações causadas pelo passar do tempo
Em “A velhice”, obra considerada uma autobiografia, Simone de
BEAUVOIR (1990) escreveu que o idoso é como uma espécie de objeto que
incomoda, não tem utilidade, e quase tudo que se deseja é poder tratá-lo como
quantia desprezível. É esse o pensamento que tem alguns idosos - de acordo com
os próprios discursos - frente à atenção que não lhe é dada, e ainda pela apreensão
de muitos da imagem negativa da velhice associando-a apenas às perdas: da
própria identidade física, da beleza, da autonomia e independência, da memória, etc.
Ao bem observarmos uma pessoa idosa é evidente que as
transformações físicas, psicológicas, sociais estão explícitas (DEBERT, 1999). A
primeira e a segunda são consideradas como naturais do ponto de vista biológico, já
que o passar dos anos atribui aos indivíduos desgaste das células por exemplo.
Assim o cabelo cai e/ou fica esbranquiçado, a pele enruga, o corpo fica mais
suscetível a doenças, enfim a capacidade física passa a ser cada vez mais limitada
e os desafios em conseqüência disso são maiores, já a terceira é uma construção
diária que consiste na perda de identidade, papéis sociais e assim da importância
antes tida pelo idoso.
Mesmo assim, segundo o que aponta (GIDDENS,2005), são distintos
envelhecimento e as conseqüências e caracterização de doenças - de acordo com
pesquisas- eles não são sinônimos. As conseqüências da velhice, não podem ser
relacionadas substancialmente com a perda da saúde e incapacidade porque isso
não é uma regra, varia de pessoa para pessoa. O que pode-se afirmar é que com o
avanço da idade, cresce também os problemas físicos e de saúde em conseqüência
do desgaste inevitável no entanto a relatividade dessa informação está quando
existem pessoas que aos 80 anos tem vigor físico e mental comparável a de uma
pessoa de 40 por exemplo.
Ainda com base nas idéias do mesmo autor, temos que as perdas sociais
que são a diminuição da rede de socialização, a baixa auto-estima, entre outros,
juntamente com a perda econômica, por conta da aposentadoria principalmente, não
se difere muito ou exerce forte ligação com as perdas físicas. Ou seja, à medida que
morre um parente, em amigo, havendo portanto algum tipo de rompimento de
vínculos, ou mesmo chega a hora de afastar-se do trabalho (aposentadoria), que
26
acarreta queda na renda e perda de status, provavelmente afetará a condição física,
constituindo uma perda desta. As conseqüências psicológicas que podem ser
mensuradas em relação à aposentadoria para além de muitas angústias são
tristezas pela separação, a idéias de abandono e de solidão, a sensação de
inutilidade, semelhantemente à perda de uma pessoa que se ama (BEAUVOIR,
1990-333).
Outro aspecto relevante de ser citado é o tratamento dado pela sociedade
(ou não dado devidamente) ao que tange ao idoso já que consensualmente a ideia
que se tem do velho é estereotipada e algumas vezes preconceituosa, que contribui
significativamente para a deturpação da imagem do idoso e isto é considerado
consequências sociais para os sujeitos que chegam a velhice.
Contrariamente ao que foi mensurado como consequência negativa da
velhice o tão comentado aumento da população idosa provoca também maior
participação política e pressão pelo reconhecimento de distintos interesses e
necessidades (GIDDENS,2005) o que é positivo, já havendo inclusive luta
organizada, movimentos em prol desse segmento, onde se tem a ideologia de lutar
contra o Velhicismo2, que tem como bandeira combater a generalização da imagem
negativa e a discriminação por conta da quantidade de anos vividos, entre outros.
Em análise à letra da música a seguir, refletimos a vivência e angústias
desse universo que é a velhice e nos faz pensar que valores estão sendo
disseminados em nossa sociedade, que futuro terá os nossos idosos que somos
todos nós daqui a pouco ou muito tempo?
Eis a música:
Quando me tornei invisível 3
Já não sei em que data estamos. Lá em casa não há calendários e na minha
memória as datas estão todas misturadas. Me recordo daquelas folhinhas grandes,
uns primores, ilustradas com imagens dos santos que colocávamos no lado da
2 “Os grupos ativistas também começaram a lutar contar o velhicismo – a discriminação de pessoas
com base em sua idade -, buscando incentivar uma visão positiva da idade e das pessoas mais velhas.” Giddens,2005-147) 3 Música de Ernesto Cortazar e traduzida por Helsan, visualizada no Blog “filosofia e temas para
filosofia” que pode ser conferido em: http://jaueras.blogspot.com.br/2009/11/velhice-percepcao-da.html
27
penteadeira. Já não há nada disso. Todas as coisas antigas foram desaparecendo.
E sem que ninguém desse conta, eu me fui apagando também.... Primeiro me
trocaram de quarto, pois a família cresceu. Depois me passaram para outro menor
ainda com a companhia de minhas bisnetas.
Agora ocupo um desvão, que está no pátio de trás. Prometeram trocar o vidro
quebrado da janela, porém se esqueceram, e todas as noites por ali circula um ar
gelado que aumenta minhas dores reumáticas. Mas tudo bem... Desde há muito
tempo tinha intenção de escrever, porém passava semanas procurando um lápis. E
quando o encontrava, eu mesma voltava a esquecer onde o tinha posto. Na minha
idade as coisas se perdem facilmente: claro, não é uma enfermidade delas, das
coisas, porque estou segura de tê-las, porém sempre desaparecem.
Noutra tarde dei-me conta que minha voz também tinha desaparecido. Quando eu
falo com meus netos ou com meus filhos não me respondem. Todos falam sem me
olhar, como se eu não estivesse com eles, escutando atenta o que dizem. As vezes
intervenho na conversação, segura de que o que vou lhes dizer não ocorrera a
nenhum deles, e de que lhes vai ser de grande utilidade. Porém não me ouvem, não
me olham, não me respondem. Então cheia de tristeza me retiro para meu quarto e
vou beber minha xícara de café.
E faço assim, de propósito, para que compreendam que estou aborrecida, para que
se dêem conta que me entristecem e venham buscar-me e me peçam perdão
…Porém ninguém vem.... Quando meu genro ficou doente, pensei ter a
oportunidade de ser-lhe útil, lhe levei um chá especial que eu mesma preparei.
Coloquei-o na mesinha e me sentei a esperar que o tomasse, só que ele estava
vendo televisão e nem um só movimento me indicou que se dera conta da minha
presença. O chá pouco a pouco foi esfriando……e junto com ele, meu coração ...
Então noutro dia lhes disse que quando eu morresse todos iriam se arrepender. Meu
neto menor disse: “Ainda estás viva vovó? “. Eles acharam tanta graça, que não
pararam de rir. Três dias estive chorando no meu quarto, até que numa manhã
entrou um dos rapazes para retirar umas rodas velhas e nem o bom dia me deu. Foi
então quando me convenci de que sou invisível...Parei no meio da sala para ver, se
me tornando um estorvo me olhavam. Porém minha filha seguiu varrendo sem me
tocar, os meninos correram em minha volta, de um lado para o outro, sem tropeçar
em mim.
28
Um dia se agitaram os meninos, e me vieram dizer que no dia seguinte nós iríamos
todos passar um dia no campo. Fiquei muito contente. Fazia tanto tempo que não
saía e mais ainda ia ao campo! No sábado fui a primeira a levantar-me. Quis arrumar
as coisas com calma. Nós os velhos tardamos muito em fazer qualquer coisa, assim
que adiantei meu tempo para não atrasá-los. Rápido entravam e saíam da casa
correndo e levavam as bolsas e brinquedos para o carro. Eu já estava pronta e muito
alegre, permaneci no saguão a esperá-los.
Quando me dei conta eles já tinham partido e o carro desapareceu envolto em
algazarra, compreendi que eu não estava convidada, talvez porque não coubesse no
carro, Ou porque meus passos tão lentos impediriam que todos os demais
caminhassem a seu gosto pelo bosque. Senti claro como meu coração se encolheu
e a minha face ficou tremendo como quando a gente tem que engolir a vontade de
chorar. Eu os entendo, eles vivem o mundo deles. Riem, gritam, sonham, choram, se
abraçam, se beijam. E eu, já nem sinto mais o gosto de um beijo.
Antes beijava os pequeninos, era um prazer enorme tê-los em meus braços, como
se fossem meus. Sentia sua pele tenrinha e sua respiração doce bem perto de mim.
A vida nova me produzia um alento e até me dava vontade de cantar canções que
nunca acreditara me lembrar. Porém um dia minha neta Laura, que acabava de ter
um bebê disse que não era bom que os anciãos beijassem aos bebês, por questões
de saúde...
Desde então já não me aproximo deles, não quero lhes passar algo mal por minhas
imprudências. Tenho tanto medo de contagiá-los ! Eu os bendigo a todos e lhes
perdôo, porque... ‘ QUE CULPA EU TENHO DE TER ME TORNADO INVISÍVEL?’
Em suma, as consequências de ficar velho podem ser positivas ou
negativas e isso semelhante a outras questões sociais são influenciadas por alguns
determinantes que são a condição de classe, gênero e etnia. Na qual de forma
objetiva podemos exemplificar em relação ao gênero que as mulheres compõem a
maioria dos sujeitos nessa faixa etária, elas se cuidam mais, buscam melhor
qualidade de vida através de cuidados médicos, na participação de grupos de
convivência as mulheres também são maioria, portanto vivem mais, além disso se
fizermos um “link” com a violência, teremos um número maior de pessoas do gênero
feminino, já que os homens morrem em quantidade maior devido esse fator. As
mulheres tem maior expectativa de vida também devido, como expõe a autora, ao
29
fato de que elas tem “menor exposição a riscos de acidentes de trabalho, o menor
consumo de tabaco e álcool, maior atenção e informação em relação aos sintomas
das doenças, e também a maior constância na procura dos serviços de saúde.”
MASCARO (2004:86-87) e como completa essa outra autora “A velhice não tem o
mesmo sentido nem as mesmas consequências para os homens e para as
mulheres.” (BEAUVOIR, 1990, p. 104).
Também de maneira objetiva, exemplificaremos a condição étnica
enquanto determinante que influencia nas questões que envolvem a velhice e o
processo de envelhecimento, não da visão errônea desta estar relacionada à fatores
morfológicos, como o cor da pele ou estatura por exemplo mas da que compreende
os fatores culturais, sendo estes: a religião, a língua, os hábitos alimentares e outras
tradições como aponta MASCARO (2004) e estes são fatores que exerce
diretamente influencia sobre como gestar o envelhecimento numa sociedade.
Faremos aqui algumas considerações acerca das consequências do
envelhecer para o aspecto socioeconômico do idoso. Neste é observável através
das pesquisas que cai o rendimento com a aposentadoria, se gasta mais com
medicamentos, com produtos de beleza e rejuvenescimento, pois este sistema tão
contraditório e que se transveste sempre em novas roupagens ao mesmo tempo em
que nega a velhice e lhe atribui dissabores como o da improdutividade (BORGES,
2006), também utiliza o seu discurso para adiar a mesma, prolongar a juventude tão
aclamada pelo capitalismo, fazendo assim com que os idosos sejam uma parcela da
população que compõe a camada da sociedade que sofre as consequências das
desigualdades produzidas.
Portanto observamos que as políticas públicas não dão conta da
demanda e não são satisfatórias, as sociais então cada vez mais focalizadas,
portanto exclusivas. No tocante o Serviço Social trabalha para reverter o quadro e
proporcionar mais qualidade de vida aos idosos, trabalhando sempre na perspectiva
de promoção da autonomia desses sujeitos e garantia dos direitos que lhes são
assegurados. Para complementar o que aqui argumentamos sobre as
transformações que o tempo causa, sobre as consequências do envelhecer e a falta
de suporte para um envelhecer bem, faremos no capítulo segundo deste trabalho
uma abordagem das políticas públicas e destas destinadas à velhice.
30
1.3 Os significados desta nova fase “terceira idade”
A realidade é dinâmica e é inerente a ela a transformação da sociedade e
das formas de gestar os processos que envolvem as etapas da vida, como é o caso
da velhice. Isso pode ser ilustrado com a nova demografia do nosso país que, assim
como as transformações sociais referentes ao aumento da populacional que vem
ocorrendo leva à criação de um grupo denominado Terceira Idade, caracterizado por
produzir uma imagem positiva do envelhecimento.
Esta nova denominação de velhice, conforme abordado ao longo deste
trabalho tem ganhado visibilidade e tem sido sofrido ampla socialização, assim, as
pesquisas, a sociedade o que inclui os próprios idosos, utilizam a terminologia
“Terceira Idade” para enquadrar aqueles que não depreciam a velhice ou não
atribuem a esta conotação negativa, conforme DEBERT(1999) o fato de assim
denominar a velhice como terceira idade pode ser compreendido como sendo
resultante de um processo crescente de socialização da gestão da velhice que
segundo esta autora por muito tempo foi tratado como sendo própria da esfera
privada e familiar, limitado a uma questão de previdência individual ou de
associações filantrópicas, agora compreendida como uma questão pública.
Muitos são os termos utilizados para caracterizar a velhice, entre eles
está um dos mais difundidos na atualidade a “terceira idade”, que do ponto de vista
sociológico é uma das tantas estratégias utilizadas pelo contraditório sistema
capitalista para disseminar uma ordem de consumo por classificação etária com
vistas para o lucro, já que em crescimento, este tende a ser um público consumidor
em potencial para um mercado também em ascensão. DEBERT (1999) traz que no
Brasil, temos periódicos, revistas, projetos privados todos direcionados a atrair este
público, mostrando lhes que esta é uma fase em que se podem concretizar sonhos e
assim realizar-se pessoalmente.
Neste tópico fazemos uma análise da terceira idade enquanto categoria,
definida como uma construção social e que esta conforme o envelhecimento
populacional vem tomando espaço e ganhando visibilidade através de estudos e
pesquisas como essa, surgem também categorias que buscam exemplificar, definir e
representar a velhice ou segmentos desta, como é o caso da categoria terceira
idade.
31
O estabelecimento da categoria supracitada é algo recente e não há na
literatura muitos estudos que a explane profundamente. Trata-se de institucionalizar
esta etapa da vida favorecendo a formação de identidades etárias e semelhante ao
que acontece em outras etapas da vida, visa estabelecer características específicas
como crenças, condutas, hábitos e experiências como sendo próprias daquele
período. Para MASCARO (2004) isso é positivo já que faz com que as pessoas que
estejam vivenciando esta fase possam apreender a velhice como uma imagem
positiva, mudando a concepção desta associada à doenças, solidão,
improdutividade, dependência. Seria um modo da sociedade de atribuir símbolos,
imagens e estereótipos como coloca a referida autora:
Na verdade, a sociedade vai determinar o lugar e o papel que os idosos irão representar (viver) na própria sociedade, e por outro lado, os idosos irão absorver (ou rejeitar), elaborar e recriar os traços culturais e ideológicos do espaço social em que vivem. (MASCARO, 2004, p.65)
Atrelada ao envelhecimento, a categoria terceira idade ao mesmo tempo
que reverte à imagem negativa atribuída aos idosos é mais uma das facetas do
sistema capitalista para incutir nos sujeitos outra ideia do que é envelhecer, passar
uma imagem de segmentação ainda maior da velhice, uma divisão etária cheia de
idealizações e novos estereótipos nos quais muitos desses sujeitos poderão não se
enquadrar, justamente pelas suas particularidades, o que pode gerar deslocamentos
de alguns, sentimento de não pertencimento a outros e porque não dizer uma nova
forma de exclusão.
Não se pretende aqui atribuir negatividade à caracterização da terceira
idade enquanto segmento da velhice associada à vida longa, (re)viver o que não se
teve tempo na juventude, viajar, esbanjar o “tempo livre”. A análise crítica é o quanto
a adesão dessa ideologia imposta pela mídia e por alguns organismos faz com que
os idosos neguem sua condição e ao negarem a realidade que é a velhice não a
compreendam em todos os seus aspectos, negando a si mesmos, deixando de viver
com plenitude e ainda colaborando com a lógica de um sistema esmagador, o
capitalismo, que ao mesmo em que nega a importância de um segmento - o do
idoso – cria formas de lucrar com ele e não investe em sua qualidade de vida, em
políticas públicas que atendam a demanda e ainda transfere para a sociedade a
32
responsabilidade que é do Estado, caracterizando o neoliberalismo inerente à
organização política atual no Brasil.4
A análise anteriormente feita se dá pela observação do contraponto que
há entre essa visão que se quer incutir nos idosos acerca das novas formas de
gestar a velhice a partir da concepção dessa divisão etária o que caracteriza a
terceira idade e a outra camada desse segmento que, segundo dados do IBGE
(2010), trata-se de um número cada vez maior de idosos que são responsáveis pela
renda do domicílio, o que afeta diretamente toda a sua vida, e estes permanecem
marginalizados por sua condição social.
Mesmo assim compreendemos a velhice não como um problema social a
ser combatido ou revestido, pois como viemos tratando é inerente ao ser humano, o
que deve ser combatidas são as expressões de um envelhecer sem qualidade de
vida, sem perspectivas nenhuma.
4 Em relação a organização atual da política no Brasil e sobre o neoliberalismo acima citados não
haverá neste trabalho aprofundamento da discussão no entanto fica sugestão de leitura para melhor compreensão do assunto que é bem explicitado por Vicente de Paula Faleiros, 2008 in Serviço Social, política e trabalho: desafios e perspectivas para o século XX, nestes escritos o autor fala da política neoliberal com sua flexibilização, financeirização, política de mercadorização que faz com que se perca a efetividade dos pactos de cidadania articulados pelo Estado, ou seja, desresponsabiliza o Estado de suas obrigações para com os direitos de vários segmentos sociais, que inclui o idoso.
33
2. POLÍTICAS PÚBLICAS E A PROMOÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO IDOSO
Neste capítulo trazemos uma apreciação das políticas públicas,
conceituando e fazendo uma associação destas com a obtenção da qualidade de
vida do idoso. Para tanto apresentamos as políticas direcionadas para este
segmento populacional no Brasil, e os mecanismos legais existentes através dos
quais se assegura os direitos e, portanto garantias de melhor vida a estes
indivíduos, em seguida apontaremos os espaços identificados em Fortaleza como
sendo promotores da qualidade de vida do idoso por serem instrumentos de
materialização das políticas públicas.
Faremos ainda um breve histórico da proteção social ao idoso no país
pois acreditamos ser relevante para se compreender a conjuntura atual das políticas
públicas para o nosso objeto de pesquisa e por fim abordaremos a qualidade de vida
enquanto categoria de estudos, explanando algumas definições desta e apontando
os indicadores através dos quais pode-se obtê-la na velhice.
2.1 Políticas públicas: Pra que são e onde estão no segmento do idoso?
A professora Potyara Pereira (2008) afirma que para compreender política
pública é necessário primeiramente saber o que é política em seus dois principais
significados. Segundo a autora, o primeiro está relacionado à eleição voto, partido,
parlamento, já o segundo refere-se às ações do Estado frente às questões
demandadas pela sociedade que são de responsabilidade do mesmo desde que
passou a ser o interventor.
É justamente sobre esse segundo significado de política que compreende
de forma mais ampla as ações do Estado no atendimento às demandas da
sociedade, de suas necessidades, mediante direitos conquistados e pautados em lei
com vista à concretização destes, é que iremos nos debruçar. Acreditamos ser
importante destacar que política pública não significa somente ação mas também
uma posição de não agir diante de determinada situação, ou seja, o Estado opta por
não interferir numa questão de sua responsabilidade, segundo PEREIRA (2008).
34
Vale ressaltar que Estado trata-se de um conjunto de instituições
permanentes compreendidas pelos órgãos legislativos, força armada, tribunais por
exemplo, o que se possibilita ações do governo, que se diferencia de Estado, já que
por governo entende-se como sendo um conjunto de programas, projetos propostos
por parte da sociedade – políticos, organismos da sociedade, técnicos e outros –
visando o bem comum, um governo desempenha as funções do Estado por
determinado período (HÖFLING, 2001).
Ainda sobre a definição Pereira (2008) ressalta que política pública tem
como marca principal o fato de ser pública, o que quer dizer “de todos” e não por
estar ligada ao Estado. Esta deve sob controle da sociedade ter uma orientação
para a ação pública e ser administrada por uma autoridade de mesmo caráter. Outra
característica da política pública é segundo a mesma autora, ter como objetivo a
concretização dos direitos sociais obtidos através de conquistas e pautados na lei
em que os mesmos estão assegurados.
A materialização dessas ações se dá através dos programas, projetos e
serviços conforme é o caso do PSBS (Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade) aqui
pesquisado. Desse modo o conceito de política publica que foi adotado para
trabalhar nesta pesquisa foi o de que está é, como aponta PEREIRA (2008, p.96)
“uma estratégia de ação pensada, planejada e avaliada, guiada por uma
racionalidade coletiva, na qual, tanto o Estado como a sociedade, desempenham
papeis ativos”.
Corroborando a definição acima sobre o significado de políticas públicas
NERI (2007) diz que significa o estabelecimento de metas gerais colocando-as num
plano de prioridade, definição das competências dos diversos atores envolvidos para
que haja o cumprimento e ainda estabelecer o grau de intervenção do Estado.
Por esses motivos compreendemos que o conceito de políticas públicas
está diretamente relacionado com o de cidadania analisado como um conjunto das
liberdades individuais antes decretadas e expressas como direitos civis, entre eles:
“ir e vir, acesso à informação; direito ao trabalho, à fé, à propriedade e à justiça,
poder votar e ser votado; participar do poder político, ter acesso à segurança e
desfrutar de bem estar econômico, conforme NERI (2007).
Considerando então política pública enquanto ação do Estado através dos
governos em suas instâncias (federal, estadual e municipal) frentes as diversas
35
demandas da sociedade, temos como sendo um dos segmentos desta a política
social que sem a pretensão de abordagem profunda, foi compreendida segundo o
que nos traz HÖFLING (2001) como um conjunto de ações implementadas pelo
Estado, essas ações visam a redução das desigualdades sociais e o
estabelecimento de um padrão de proteção social e também está voltada para a
redistribuição de benefícios sociais. Dentre as tais podemos citar: a educação,
saúde, lazer, habitação, previdência social, assistência social e outras.
A política social “é uma espécie do gênero política pública” como afirma
PEREIRA (2008, p.92) e a identificação desta com os direitos sociais, conforme
acontece como as políticas públicas de um modo geral, decorre do fato dessas
políticas terem como horizonte a equidade e a justiça social e para que haja
concretude destas, do Estado sejam cobradas ações que efetivem os direitos,
possibilitando assim que os valores acima descritos se transformem em realidade.
Diante do exposto e ao relacionar políticas públicas à questão social que
envolve a pessoa idosa, a nível de Brasil, poderíamos aqui antecipar as impressões
da fragilização na materialização das mesmas, tendo em vista que não são
observados cumprimento de acordo com o estabelecido e pautado nas legislações.
Às políticas sociais tem cabido o papel apenas de, segundo (BORGES, 2006),
solucionar as questões que o mercado, a família e a comunidade não derem conta,
ou seja adotando um caráter assistencialista, emergente e imediatista.
Reconhece-se que houve avanço, principalmente com a promulgação da
CRFB/88 (Constituição da República Federativa do Brasil de 1988) que pode ser
considerado um sistema de garantias da cidadania que em muito abarca proteção
social à pessoa idosa. Nesta a seguridade social é de fato contemplativa ao
segmento do idoso, já que nela são enfatizadas as políticas da saúde, previdência e
assistência, principais demandas desse segmento populacional. É nesta também
que a assistência social e a saúde serão compreendida como direito social
(BORGES, 2006).
O artigo 230 da CRFB/88 reconhece o idoso como sujeito de direitos “A
família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas,
assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-
estar e garantindo-lhes o direito a vida” (BRASIL, 2011) e por este motivo pode ser
compreendido como forma de promover a qualidade de vida destes sujeitos. Através
36
desta lei foi expressamente ampliada a rede de proteção social ao idoso dando uma
conotação não mais de caráter contributivo – a seguridade – mas como um direito e
acesso à cidadania (BORGES, 2006)
Como exemplo de medidas que promovem qualidade de vida ao idoso
pelas políticas públicas citamos a LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social - Nº
8.742, de 7 de dezembro de 1993) em que no Artigo 1º fica claro que a assistência
social é direito do cidadão e dever do Estado, não mais atribuída ao
“assistencialismo” como até então, sendo realizadas através de um conjunto de
ações para garantir o atendimento as necessidades básicas. Sobre o que consta
nesta, vale ressaltar que a assistência social é pra quem dela necessita e não para
todos como deveria. Em relação ao idoso, além do Art. 2º inciso I que fala sobre a
política de assistência social ter como objetivo “a proteção [...] à velhice” (BRASIL,
1997), é nesta que fica regulamentado o BPC (Benefício de Prestação Continuada),
principal fonte de renda dos idosos em situação de vulnerabilidade no Brasil.
O BPC trata-se de um benefício de caráter não contributivo concedido e
pago uma quantia de 1 (um) salário mínimo pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro
Social) a quem não possuir meios de prover sua subsistência e nem sua família
conforme previsto no art. 194 da constituição e regulamentado pela LOAS, com
algumas alterações tendo sido feitas a partir do Estatuto do Idoso em 2003, que
consistiu em ser beneficiado o idoso a partir de 65 anos(antes era 67 anos).
Pode ser concedido a quem preencher os seguintes requisitos: Ser
portador de deficiência ou ter idade mínima de 65 (sessenta e cinco) anos para o
idoso não-deficiente; Renda familiar mensal (per capita) inferior a ¼ do salário
mínimo; Não estar vinculado a nenhum regime de previdência social; Não receber
benefício de espécie alguma, salvo o de assistência médica; Comprovar não possuir
meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família.
Compreendendo que qualidade de vida em relação ao idoso está
diretamente relacionada à proteção, a liberdade, cidadania, ao lazer e ao afeto é que
citamos o surgimento da PNI – Política Nacional do Idoso promulgada pela lei 8.842
em 04 de janeiro de 1994, outro instrumento que avança na luta em defesa dos
direitos do idoso, neste o idoso é visto a partir da idade cronológica (de 60 anos),
pode-se considerar como a primeira política direcionada ao público desta faixa
etária. Desta citamos o primeiro artigo que consideramos contemplar a
37
especificidades tratadas aqui por este trabalho: Artigo 1º “assegurar os direitos
sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e
participação efetiva na sociedade” (BRASIL, 1996).
Tanto a PNI quanto a LOAS estão em sintonia com a CRFB/88 e como
coloca BORGES (2006, p.101) “preconizam o modelo descentralizado de gestão
pública, com o envolvimento das esferas federal, estadual e municipal, mas tendo o
município um papel de fundamental importância na implantação e execução de
políticas sociais (...)”.
Em 2003, outra legislação veio contribuir com a promoção da qualidade
de vida na velhice, o Estatuto do Idoso promulgado em 10 de outubro do mesmo ano
através da Lei 10.741. O 1º artigo informa sobre o objetivo da lei que é “regular os
direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos” o
que implica na determinação do cumprimento dos demais artigos para o indivíduo a
partir dessa faixa etária. É relevante também citar o artigo 8º que diz: “o
envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção um direito social, nos
termos desta lei e da legislação vigente” (BRASIL, 2003), fortalecendo e reafirmando
que envelhecer bem é um direito sendo portanto a qualidade de vida dever do
Estado através do estabelecimento de políticas que proporcionam isto.
Para que o idoso viva mais e cada vez melhor é necessário materializá-
las através de projetos e ações efetivas. Consideramos o artigo 3º do Estatuto do
Idoso contemplativo do que vínhamos tratando neste capítulo, que é a qualidade de
vida quando ele fala,
É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito a vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e a convivência familiar e comunitária.(Estatuto do Idoso,2003).
O Estatuto do idoso é uma conquista importante para o idoso pois em
seus 118 (cento e dezoito) artigos que dispõe sobre o direito à saúde (contemplados
entre os artigos 15 e 19), à educação, esporte, lazer e cultura (artigos 20 a 25),
formação profissional e trabalho (artigos 26 a 28), previdência social (artigos 29 a
31), assistencial social (artigos 33 a 36), à habitação (artigos 37 a 38), transporte
(artigos 39 a 42), fiscalização das instituições com relação ao atendimento aos
idosos (artigos 52 a 55), e em relação aos crimes contra a pessoa idosa – punição,
38
detenção e multas (artigos 93 a 108), ele se caracteriza como um enorme avanço já
que além de estabelecer os direitos antes pautados nas outras legislações, tem um
caráter punitivo por trazer também as medidas de proteção.
Em Fortaleza onde desenhamos a nossa pesquisa, identificamos alguns
espaços de efetivação das políticas para promoção da qualidade de vida do idoso,
assim buscamos responder a pergunta inicial que é conhecer quais e onde estão
essas políticas que contemplam o segmento do idoso antes pautados nas
legislações como mostramos anteriormente.
Os espaços estão listados a seguir em ordem alfabética e foram aqui
relacionados por serem os principais na agenda de atenção ao idoso quando da
busca pela qualidade de vida nos seus diversos aspectos em Fortaleza:
- Alô Idoso – Central telefônica que atende diariamente pelo número: 0800.285.0880
registrando reclamações, denúncias e informações sobre maus tratos, abandono e
negligência contra a pessoa idosa, e em seguida encaminha às instituições
competentes. Esta é uma ação integrada das secretarias estaduais, Ministério
Público e Prefeituras municipais do estado do Ceará. Fonte: Governo do Estado do Ceará
- Centros comunitários – São equipamentos sociais que prestam serviços à
comunidade, sendo direcionado ao idoso atividades lúdicas e de entretenimento
através do dos grupos de convivência CONVIVER, são 07 unidade na capital
cearense. Mantidos pelo governo do estado. Fonte: Prefeitura de Fortaleza, disponível em
www.fortaleza.ce.gov
- Centro de cidadania – Popularmente conhecidos como CSU’s (antigos Centro
Social Urbano) estes equipamentos oferece aos idosos esportes como ginástica e
hidroginástica, por exemplo, é administrado pela prefeitura de Fortaleza embora
encontrem-se na atual gestão em situação crítica de infraestrutura. Ao todo são 07
unidades que ainda possuem grupos de idosos, embora duas tenham mudado o
caráter do atendimento à comunidade passando a sediar escola da rede municipal.
Fonte: Jornal “O povo” de 06/12/20012.
- CIAPREVI – (Centro Integrado de Atenção e Prevenção à Violência Contra a
Pessoa Idosa) Presta serviço de acolhimento, orientações e acompanhamento
jurídico, psicológico e social em casos de violência contra o idoso. É administrado
39
pela STDS e mantido pelo governo do estado do Ceará. Fonte: STDS – Secretaria do
trabalho e Desenvolvimento Social.
- CRAS – Centro de referência da assistência social, faz parte do programa de
assistência social básica, é financiado pelo MDS (Ministério de Desenvolvimento
Social) e gestado pelo município, tem como serviços voltados ao idoso: Serviço de
Convivência e Fortalecimento de vínculos, são 24 unidade fixas e 1 itinerante em
Fortaleza.Fonte: MDS -Ministério do Desenvolvimento Social
- Lar Torres de Melo – Unidade de abrigo de longa permanência, esta instituição
existe há 108 anos em Fortaleza, trata-se de uma organização não governamental
mas que recebe ajuda do Estado para sua manutenção.
- Promotoria do Idoso – Órgão de defesa dos direitos da pessoa idosa, de cunho
Federal é braço do Ministério Público e tem como função não apenas ser repressivo
da discriminação e violência contra o idoso mas também como parceiro no fomento
de políticas públicas e programas para inclusão social da pessoa idosa. Fonte:
Ministério público
- PSBS – (Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade) Projeto existente desde 2002 é
coordenado pelo CTDH (Centro de treinamento e Desenvolvimento Humano) que foi
criado para dar suporte ao corpo de bombeiro que implantou o projeto. Em Fortaleza
são aproximadamente 200 núcleos. Aprofundaremos em ouro momento, tendo em
vista que este é alvo da nossa pesquisa de campo.Fonte: Jornal diário do nordeste em
22/04/12
- SESC – (Serviço Social do Comercio) Pioneiro no Brasil, o SESC realiza há mais
de 40 anos atividades, grupos, esportes, lazer, oficinas tudo visando o bem estar e
qualidade de vida dos idosos. O TSI – Trabalho Social com Idosos obteve até
mesmo reconhecimento da ONU – Organização das Nações Unidas. Trata-se de
uma entidade privada mantida por empresários do comércio. Fonte: Site SESC disponível
em www.sesc.com.br/portal
- Unidade de abrigo de idosos – Instituição mantida pelo governo do Estado e pelo
MDS, presta assistência integral a idosos que vivem em regime de abrigo
permanente, sendo que neste mesmo local situam-se idosos que apenas participam
dos grupos de convivência. Vale ressaltar que tal instituição está sempre acima do
40
seu limite de capacidade. A mesma abriga idosos, deficiente e situação de
abandono. Fonte: STDS – Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social.
- Universidade para a terceira Idade – Foi identificada em Fortaleza, embora este
seja um mercado em ascensão e haja previsão de abertura de novos espaços em
breve, a Universidade sem fronteiras que conta com 34 cursos para este segmento
etário. Fonte: Jornal O povo online.
- Vilas Olímpicas – Instituições administradas pela secretaria do esporte do governo
do estado e realizam para os idosos que compõe os grupos “Felizidade” atividades
de lazer e cultura. São cinco vilas olímpicas em Fortaleza. Fonte: Secretaria do Esporte
do Ceará.
E para além destes espaços aqui expostos enquanto rede de atenção ao
idoso em Fortaleza ressaltamos a importância de mencionar os conselhos, e
também a promotoria e coordenaria do idoso, assim como outros grupos de
convivência para idosos constituídos nas organizações não governamentais e que
aglutinam participantes com mais idade. Estes compõem não somente a rede de
atenção como também de promoção da autonomia, formas de associativismo, como
expõem DEBERT (1999), portanto promovem qualidade de vida para a pessoa
idosa.
No tópico a seguir faremos um breve histórico das políticas públicas e
sociais que englobam a proteção social do idoso em nosso país.
41
2.2. Breve histórico da proteção social do idoso no Brasil
Sendo a velhice mais que um ciclo de vida e o envelhecer um processo
contínuo inscrito na temporalidade de cada indivíduo, acreditamos ser esta uma
preocupação que deveria ser tida pelas autoridades e pela sociedade de não apenas
vê-la passar e somente assistir as transformações sem nada fazer para o bem estar
de nossos idosos, sem cobrar ações sociais efetivas para esse público de mais
idade e mais, sem considerar sua história. Por considerarmos importante tratar de
história e de ações sociais, confiramos a seguir um breve histórico da proteção
social ao idoso no Brasil e reflitamos sobre o quanto as discussões, ações e lutas
devem ser travadas à medida que a sociedade evolui e as transformações nestas
nos apresentam novas demandas.
Historicamente, verificamos, através do que nos apresenta SIMÕES
(2008) que data de 1923 através da Lei Eloy Chaves a primeira forma de proteção
social ao idoso que lhes conferiu, embora de modo semelhante aos dias de hoje
muito “seletista”, já que beneficiou com a aposentadoria apenas os ferroviários por
meios das CAPs – Caixas de Aposentadorias e Pensões. Posteriormente em 1926
contemplando os portuários e marítimos.
É importante destacar que as conquistas acima citadas assim como todas
as que tivemos ao longo da história de nosso país se deram por meio de muitas
lutas e pressão por parte da classe trabalhadora, sendo as reivindicações atendidas
à medida que se tinha peso econômico importante.
No mesmo sentido, ainda conforme SIMÕES (2008) foram criados os
IAPs – Institutos de Aposentadorias e Pensões que em 1933 substituíram as CAPs
que institucionalizou a previdência por meio da divisão por categorias e não mais por
empresas como até então era feito com as CAPs e isso se deu à nível nacional,
constituindo-se portanto a aposentadoria por meio de contribuição dos próprios
trabalhadores.
Considerando que a divisão por categorias profissionais insidia também
no número de diversos institutos é que se aprovou em 1960 a LOPS – Lei Orgânica
da previdência Social que teve como objetivo principal uniformizar as contribuições e
também os benefícios concedidos, ampliando-os também já que os segurados da
previdência passaram a usufruir entre outros dos seguintes benefícios: auxílio
42
doença; aposentadoria por velhice; aposentadoria por tempo de serviço;
aposentadoria especial; por invalidez; auxílio natalidade.
O que foi iniciado com a LOPS – a unificação do sistema previdenciário -
se concretizou apenas em 1967 com a criação do INPS – Instituto Nacional de
Previdência Social, quando ficou definida a idade de 60 anos (mulheres) e 65 anos
(homens) para a aquisição da aposentadoria e também as garantias em relação ao
tempo de serviço, que passou a garantir ao segurado a aposentadoria mediante
contribuição superior a 30 ou 35 anos (mulher e homem respectivamente).
SIMÕES (2008) sobre as legislações previdenciárias que se constituíram
em nosso país e que contemplava os idosos ainda cita o desmembramento do
MTPS – Ministério do trabalho e Previdência social e a criação do MPAS – Ministério
da Previdência e assistência Social em 1974. Vale ressaltar que a referida história
da previdência até então era de caráter contributivo, sendo beneficiário portanto
aqueles cidadãos que contribuísse com a previdência.
É recente a estruturação da atenção ao segmento dos idosos no que diz
respeito às políticas públicas no Brasil. Em pesquisa BRITO (1999) constatou que
somente a partir da década de 1970 registram-se ações que caminham para a
construção legítima de organismos que institucionalizam a representação política
dos idosos. E assim data de 1973 no que refere à proteção previdenciária, a criação
da aposentadoria-velhice concedida à homens maiores que 65 anos e mulheres
maiores que 60 anos pelo INPS e Ministério do Trabalho e INPS- Instituto Nacional
de Previdência Social
Assim pode-se afirmar que somente com a promulgação da CRFB/88 o
idoso tem de fato a atenção e proteção, já que a velhice é destacada em alguns
artigos, sendo o Art.230 – “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de
amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade,
defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida”
(BRASIL,2011), o que melhor refere à temática pesquisada.
Posterior a isto foi regulamentada em 1996 a PNI – Política Nacional do
Idoso que explicita o que havia sido previsto na Lei nº 8.842/94 e dispõe sobre as
competências dos órgãos e entidades sobre a materialização dos direitos previstos
na política. Esta tem como objetivo principal assegura os direitos sociais dos idosos.
E de forma breve citamos o Estatuto do Idoso – Foi amplamente abordado no tópico
43
anterior – que foi após seis anos tramitando no congresso nacional foi sancionada
em 1º de outubro de 2003, a Lei Federal de Nº 10.741. Finalizamos essa viagem
pela história da proteção social ao idoso com a PNSI (Política Nacional de Saúde do
Idoso) que é implementada em 2006 através da portaria de Nº 2.528 de 19 de
outubro de 2006 e instituído o Pacto pela Saúde pela Portaria do Ministério da
Saúde nº 399/06, que se constitui em um conjunto de reformas institucionais do SUS
(Sistema Único de Saúde), que objetiva dispensar atenção integral a população
idosa.Vejamos:
“Nesse sentido, a presente Política Nacional de Saúde do Idoso tem como propósito basilar à promoção do envelhecimento saudável, a preservação e a melhoria, ao máximo, da capacidade funcional dos idosos, a prevenção de doenças, a recuperação da saúde dos que adoecem e a reabilitação daqueles que venham a ter sua capacidade funcional restringida, de modo a garantir - lhes permanência no meio em que vivem, exercendo de forma independente suas funções na sociedade”. (PORTARIA/MS nº. 1395/99). (Fonte: Ministério da saúde – Portal da saúde/SUS)
Apreendemos como a visualização da evolução histórica das políticas de
proteção social ao idoso, como mostrado acima, que as mesmas compreendem o
bem estar desse segmento populacional, se atendido conforme determina a lei, e
confirmam a importância da luta e dos movimentos para legitimação e consolidação
dessas políticas. Discordando então do que argumenta Marcelo Antonio Salgado em
palestra proferida em um Seminário sobre políticas públicas em 2001 no SESC -
Serviço Social do Comércio, em que compreende as políticas sociais brasileiras não
como conquista resultado de lutas das organizações, grupos, sindicatos e sim algo
“oferecido de cima para baixo” (BORGES, 2006, p.98).
2.3. E o que é qualidade de vida? Como obtê-la na velhice?
Não foi ainda estabelecido um consenso sobre a definição da categoria
qualidade de vida, a concepção biomédica é que prevalece quando da abordagem
desta categoria, assim a OMS (Organização Mundial de Saúde) em 1990, a definiu
como sendo “a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da
cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos,
44
expectativas, padrões e preocupações”. E posteriormente considera que a
subjetividade, a muldimensionalidade e as dimensões positivas e negativas são
aspectos fundamentais para a compreensão deste construto (OMS,1998).
Concordando com a amplitude que tem o tratamento desta categoria e
com a falta de consenso PASCHOAL (2000), traz que qualidade de vida é um
“conceito que está submetido a múltiplos pontos de vista e que tem variado de
época para época, de país para país, de cultura para cultura, de classe social para
classe social e, até mesmo, de indivíduo para indivíduo”. Delimitamos nossa
pesquisa a trabalhar com o conceito a partir da concepção de bem estar físico,
psicológico e social, que são as dimensões compreendidas pelo projeto pesquisado,
de acordo com as observações, coleta de dados e análise das falas dos sujeitos
envolvidos na pesquisa.
BEAUVOIR (1990, p.619) diz que “quando o velho não é vítima de
condições econômicas e fisiológicas que o reduzem ao estado de sub-homem,
permanece, ao longo das alterações da senescência, o indivíduo que foi: sua última
idade depende em grande parte de sua maturidade”. Isto significa dizer que as
desigualdades sociais exercem influencia importante na qualidade de vida dos
idosos e que esta depende diretamente de políticas condizentes com as
necessidades expressas na velhice. Por isso neste capítulo expressaremos a
relação que há entre qualidade de vida na velhice e o que se apresenta nas políticas
e legislações direcionadas ao idoso.
Anterior a isto a discussão apontada por DEBERT (1999), traz que a
utilização do termo qualidade de vida foi relevante para a construção do
entendimento sobre a subjetividade, e esta faz-se necessário para a compreensão
do complexo processo de envelhecimento associado à qualidade de vida.
Qualidade de vida trata-se de uma categoria que demanda um
“tratamento cuidadoso devido sua complexidade e abrangência” como coloca
LOPES (2006) concordando assim com os demais autores quanto a ser difícil a sua
conceituação, no entanto, tem-se tido avanço considerável nas pesquisas acerca da
temática em virtude do também aumento de interesse de pesquisadores, o que nos
permite delimitar a abordagem desta em relação à velhice – objeto de nossa
pesquisa – quando faremos associações e buscaremos fazer um resgate do
surgimento desta categoria.
45
Associando qualidade de vida à temática pesquisada seria como coloca
em outro momento NERI (2007) na utilização do pressuposto de que é sim possível
obtê-la na velhice e que essa possibilidade se dá na proporção de uma adequada
atuação de fatores individuais e socioculturais. Ressaltando a importância de
políticas publicas que atendam as necessidades demandadas por este segmento
populacional ou pelo menos do cumprimento do já estabelecido nas legislações
vigentes.
A mesma autora é citada por Paulino (2007) quando trata da expansão da
abordagem da temática que envolve a promoção da qualidade de vida e diz:
A promoção da “qualidade de vida” na velhice tornou-se assunto de grande interesse a um grande número de pessoas, inclusive profissionais, crescendo também o apelo da sociedade ao consumo dirigido aos mais velhos para que estes se “mantenham bem”: a medicina, com os avanços farmacológicos, clínicos, cirúrgicos e estéticos, busca garantir melhores anos e a manutenção e aprimoramento dos procedimentos ligados à saúde e ao bem-estar dessas pessoas; as universidades abrem as portas para esse novo contingente, congregando-os em torno dos objetivos cognitivos, sociais e afetivos assumindo-os como apropriados aos idosos; a ciência continua sua meta de descrever e explicar a velhice e o envelhecimento numa ampla variedade de campos disciplinares; o Estado se interessa pela promoção e manutenção da saúde das pessoas, pois seu contrário resultará em “ônus” com tratamentos,internações, etc. Muitas outras profissões tentam, igualmente, descobrir caminhos para atuar junto aos mais velhos (Neri,2000 apud Paulino, 2007)
A análise histórica do ser humano indica que desde a antiguidade almeja-
se longevidade, no entanto é desafiante fazer o percurso da velhice com bem estar e
satisfação nos diversos aspectos, e para se determinar este feito, para avaliar a tão
desejada qualidade de vida nessa fase devem ser considerados e adotados alguns
critérios para se fazer uma avaliação do nível desta qualidade. Os critérios seriam de
natureza biológica, psicológica e sociocultural. E para tanto são apontados vários
elementos como sendo indicadores dessa avaliação, entre eles os mais relevantes:
longevidade, saúde biológica, satisfação, a produtividade, atividade, o status social,
enfim, na citação a seguir a mesma autora completa:
Avaliar a qualidade vida na velhice implica na adoção de múltiplos critérios de natureza biológica, psicológica e sociocultural. Vários elementos são apontados como determinantes ou indicadores de bem estar na velhice: longevidade; saúde biológica; saúde mental; satisfação; controle cognitivo; competência social; produtividade; atividade; eficácia cognitiva; status social; renda; continuidade de papéis familiares e ocupacionais e
46
continuidade de relações informais em grupos primários (principalmente rede de amigos). (NERI, 2007, p.10)
Faz-se uma reflexão sobre a esta temática quando a mesma autora faz
relação à qualidade de vida dos idosos - que de acordo com estudos
epidemiológicos- que apenas 4% das pessoas com mais de 65 anos apresentam
incapacidade acentuada e 20% apresentam um leve grau de incapacidade. Depois
dos 85 anos, é que a incapacidade sobe para cerca de cinco vezes maior do que
aos 65 anos, e a proporção de idosos com incapacidade moderada sobe para 46%,
assim a velhice não é algo indissociável da obtenção de qualidade de vida o que faz
com que a pesquisa aqui realizada – com sujeitos na faixa etária entre 60 e 80 anos
– tenha suporte e possa trazer elementos novos acerca da temática qualidade de
vida com os sujeitos pesquisados.
Conforme viemos mostrando ao longo desse trabalho com dados
estatísticos e projeções para os próximos anos, há um crescente aumento da
população idosa no Brasil mas as políticas públicas existentes não avançam na
mesma proporção, o que inviabiliza uma vida com qualidade já que da
implementação destas depende o alcance do que é considerado por eles como
indicadores de qualidade de vida: satisfação com a vida familiar, liberdade, inserção
social, bem estar físico, seguido do emocional, solidariedade, independência
financeira.
Sem o suporte que se espera das principais políticas para idosos, saúde,
assistência e previdência, não se alcança os indicadores citados e portanto não se
tem qualidade de vida na velhice. É preciso avançar, pois a insatisfação dos idosos
com as políticas supracitadas, conformes dados coletados nas entrevistas é
recorrente, principalmente com as questões mais reivindicadas por eles: a
ineficiência da saúde pública e o difícil acesso à política de previdência. Esse alerta
não é algo novo, ou seja, já vem sendo discutido, mas diante da “mesmice” faz-se
necessário continuar e contribuir para o debate e por isso concordamos com o que
alerta a autora, “torna-se urgente a realização de reformas na área da previdência
social para a resolução dos dois principais problemas da velhice em nosso país: a
aposentadoria e o sistema de saúde” (MASCARO, 2004,p.83)
47
3. PERCURSO METODOLÓGICO E O CAMPO DA PESQUISA
Neste capítulo explicitaremos o percurso metodológico da realização da
pesquisa, assim como explanaremos sobre o recorte que foi realizado, pois
compreendemos a necessidade que houve de fazê-lo para dar conta de
alcançarmos os objetivos já expostos na introdução e para melhor explorarmos a
realidade pesquisada. Apresentaremos o lócus da pesquisa, o perfil dos sujeitos e
também exporemos as análises dos dados em relação ao que pensam os idosos
sobre a velhice e sobre o projeto. Traremos ainda uma explanação dos benefícios e
dos modos como o PSBS contribui para a qualidade de vida e a significação deste
para o cotidiano dos sujeitos pesquisados.
3.1 Metodologia
Na pesquisa realizada com os idosos do grupo de convivência do Projeto
saúde, bombeiros e Sociedade, foi utilizado o método dialético por acreditar que este
tem como característica contextualizar o objeto pesquisado, abrangendo-o em sua
totalidade, e como coloca MINAYO (2010), considera a historicidade dos processos
sociais e dos conceitos, as condições socioeconômicas de produção dos fenômenos
e as contradições sociais. E ainda segundo a mesma autora, a dialética trata da
questão que valoriza a qualidade e quantidade trabalhando também com as
contradições intrínsecas às ações e realizações do ser humano, e com o movimento
perene entre parte e todo e interioridade e exterioridade dos fenômenos. Portanto
me fez compreender o movimento do mundo real e com essa compreensão vir a
atuar enquanto assistente social com capacidade de intervenção e transformação da
realidade.
Na análise dos dados coletados foi considerado a existência de uma
relação inseparável entre o mundo natural e o mundo real, ou seja consideramos
que as ações dos sujeitos pesquisados, o seu pensar através do seu falar – dados
48
das entrevistas – e as considerações em relação a estes sujeitos, os idosos, tem
relação com as determinações que as condicionam.
Optou-se pela pesquisa bibliográfica e de campo por acreditar que estas
se sobressaem às outras quando se trata de pesquisa social, conforme é esta
pesquisa, e de acordo com Gil (2002:45) “A principal vantagem da pesquisa
bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de
fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente”, já
a pesquisa de campo, é essencial para a apreensão e a análise da realidade, para
tanto foi observado o ponto de vista antropológico - fonte em que as ciências sociais
também bebem - as conclusões tidas por Malinowski (GOLDENBERG, 2004) em
que é necessária interagir com os “nativos”, saber o que estes dizem: sobre o que
fazem, o que realmente fazem e o que pensam a respeito do que fazem, ou seja,
observar os sujeitos e tentando captar ao máximo a veracidade dos fatos, das
informações, tendo aproximação com esta realidade podendo assim melhor
interpretá-la.
Foi feito uso da pesquisa qualitativa por acreditar que essa metodologia
permite se ter uma idéia mais ampla acerca do objeto que certamente torna a
pesquisa mais rica, permitindo ainda melhor compreensão dos temas abordados.
Segundo Goldenberg :
É inegável a riqueza que pode ser explorar os casos desviantes da “média” que ficam obscurecidos nos relatórios estatísticos. Também é evidente o valor da pesquisa qualitativa para estudar questões difíceis de quantificar, como sentimentos, motivações, crenças e atitudes individuais. (2004, p.63)
Ainda conforme a referida autora os dados qualitativos consistem em
descrições detalhadas de situações com o objetivo de compreender os indivíduos
em seus próprios termos. Estes dados não são padronizáveis como os dados
quantitativos, fazendo com que o pesquisador tenha flexibilidade e criatividade no
momento da coleta e também ao analisá-los, conforme o fiz. E ainda nos traz que
nas pesquisas sociais como é o caso desta, tem como principal problemática a
possibilidade de contaminação dos resultados em função da personalidade e valores
que o pesquisador possui, no entanto foi buscado, não a neutralidade máxima pois
isto trata-se de um discurso ingênuo e malicioso, mas a objetivação que busca
49
formas de redução de juízos de valores na pesquisa (MINAYO,2010), quando da
análise desses dados.
Para melhor desvelar e construir uma nova abordagem acerca da
realidade pesquisada acreditamos ser o método qualitativo o mais adequado tendo
em visto que este é aplicável ao estudo e compreensão de toda a historicidade do
indivíduo e a produção de suas relações como bem coloca a mesma autora quando
fala:
O método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam.(MINAYO, 2010, p.57)
Como instrumento de coleta de dados para compor a pesquisa foi
utilizado entrevistas semi estruturadas com os sujeitos do recorte feito, MINAYO
(2010) diz que este instrumento trata-se de uma fonte de coleta de dados importante
pois fornece informações sobre fatos, idéias, crenças, condutas e pensamentos.
Nestas entrevistas continham questões orientadas para o alcance dos objetivos pré
determinados, composta ainda por observações que tentaram captar através da
comunicação não verbal, gestos e demais expressões o que as palavras não
conseguiram dizer.
Dentre os cinqüenta participantes do grupo, fizemos uma delimitação
deste universo e consideramos que abrangendo vinte por cento do grupo
atingiríamos os objetivos, assim foram entrevistados dez idosos, sendo utilizado
como critério de inclusão, ou seja, como justificativa da participação destes, a
frequência deles nos dias em que a pesquisadora estava em campo, a
disponibilidade dos mesmos em participar da pesquisa, como dito anteriormente que
estejam inseridos no projeto há mais de seis meses para melhor analisar os
impactos do projeto e por fim a acessibilidade pois como afirma Gil,
O pesquisador seleciona os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam de alguma forma, representar o universo. Aplica-se este tipo de amostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é requerido elevado nível de precisão. (2008, p.94).
50
Por fim, como modalidade para se analisar os sujeitos da pesquisa, foi
utilizado a análise do discurso que trabalhou com o conteúdo das falas e com o
contexto no qual estavam inseridos o pesquisador, este conceito de análise tem com
objetivo segundo (Minayo, 2010), fazer uma reflexão e análise das condições de
produção e apreensão da significação, um dispositivo de análise de dados que
conferem a interpretação dos mesmos, bem apropriado à uma pesquisa social. Visa
ainda estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmando ou negando
pressupostos, e também responder as questões formuladas a fim de ampliar os
conhecimentos sobre o que se está pesquisando. De acordo com a mesma autora,
este tipo de análise de maneira muito significante veio contribuir com a pesquisa
qualitativa considerando que anteriormente esta modalidade era hegemônica em
outros tipos de pesquisa, por exemplo, sempre coube às análises positivistas
analisar as falas.
3.2 Lócus de pesquisa
O cenário em que a pesquisa foi realizada consiste na delimitação que
fizemos do Projeto Saúde Bombeiro e Sociedade no qual optamos por trabalhar, por
questões de distância territorial e tempo - para melhor analisar os sujeitos - com um
dos 225 núcleos do projeto existentes em Fortaleza, o Tia Eurice. Este fica
localizado num espaço de utilização pública por se tratar de um pátio da creche
escola pública que deu nome ao núcleo. Está situado na Rua Diogo Correia, nº684
no Bairro João XXIII em Fortaleza. A opção por este local para abrigar um dos
núcleos do projeto se deu como estratégia dos coordenadores em atingir o público
daquela área que já haviam por meio de diálogos anteriores, solicitado a instalação
do núcleo e ainda por ser um ambiente com espaço amplo e clima agradável
proporcionado pelo local arborizado. Conforme mencionado o núcleo Tia Eurice é
apenas um dos 225 de Fortaleza e um dos aproximadamente 400 núcleos no estado
do Ceará. Para muitos idosos esta a única opção em atividades físicas e
socioculturais, além de contribuir para o associativismo deste segmento
populacional.
51
3.3 A chegada ao campo
A pesquisa passou por um processo de legalização quando para atender
as normas exigidas pela faculdade e legitimar este estudo tomamos nota na mesma
de um ofício com pedido de autorização de campo para pesquisa acadêmica. Este
foi entregue a coordenação do Projeto Saúde Bombeiro e Sociedade representado
pela Sra. Mônica Araújo uma das coordenadoras de núcleos do projeto, que o fez
chegar até o Major Onofre, coordenador geral de quem obtivemos resposta positiva
para pesquisar.
Ao chegar ao campo despertei curiosidades em algumas idosas que me
indagaram quanto às observações e registro em diário de campo que eu fazia, logo
acostumaram, pois eu quase não faltava aos encontros que acontecem neste núcleo
nas segundas, quartas e sextas feiras a partir das 16:30 horas. Diante da
proximidade e por já saber o tempo de participação de algumas, comecei a
entrevistá-las.
Inicialmente foi pensado sobre entrevistar dez idosas e dois profissionais
para coletarmos informações sobre a velhice e o projeto, no entanto percebemos
que para dar respostas às indagações desta pesquisa apenas as falas das idosas
bastariam e os profissionais a quem entrevistamos não descartamos mas utilizamos
como fonte de informações sobre o surgimento, dados estatísticos e
organizacionais.
Foi utilizados nas entrevistas gravador com autorização prévia das
entrevistadas através de Termo de Livre Esclarecido (APÊNDICE 1) e
posteriormente transcritas. Algumas entrevistas foram realizadas no próprio campo
de pesquisa e outras na residência das idosas, marcadas por telefone informado por
elas. Todas ficaram cientes do teor desta pesquisa e foram esclarecidas quanto à
preservação de suas identidades, que dentro do trabalho seriam referidas por
codinomes, embora algumas mencionaram não haver problemas com isso e até
autorizaram registro com fotos de suas imagens.
Foram momentos muito ricos os proporcionados pela pesquisa de campo
e principalmente pelas entrevistas, na maioria do tempo procurou-se ter a
neutralidade exigida de um pesquisador, mas por algumas vezes ao ouvir histórias
tão emocionantes e emocionadas foi difícil manter uma postura imparcial.
52
3.4 O Projeto Saúde, Bombeiro e Sociedade
A partir da iniciativa de alguns componentes do CBMCE (Corpo de
Bombeiro Militar do Ceará) que faziam suas atividades físicas diárias no calçadão da
Praia Leste Oeste na Avenida Presidente Castelo Branco em Fortaleza é que surgiu
em 2002 o PSBS (Projeto Saúde Bombeiro e Sociedade) com a demanda de
orientar idosos que também se exercitavam nas proximidades do quartel do Núcleo
de Busca e Salvamento (NBS) e solicitavam informações a respeito dos exercícios.
Posteriormente com o aumento da demanda sentiu-se a necessidade de
oficializar as ações, o que ocorreu em 2003 com a Portaria Nº 023, de 18 de março
de 2003, DOE Nº 073, 17 de abril de 2003 (ANEXO 1), segundo relato do SD
(Soldado) BM (Bombeiro Militar) Francisco Antonio da Silva, 45 anos. Este é pós
graduado em educação física e também professor de alguns núcleos do projeto, nos
concedeu estas informações através de entrevista.
Segundo esta mesma fonte de informações, houveram mudanças na
corporação já que um considerável número de bombeiros passaram a se qualificar -
formação em educação física- para atender as exigências de participar como
profissional do projeto, o que veio como incentivo no salário (pagos por hora/aula).
Com a institucionalização do projeto, foi ampliada então a ação a todas as unidades
da corporação e vindo a se organizar enquanto bem estruturado e organizado
projeto através do CTDH (Centro de Treinamento e Desenvolvimento Humano)
criado para coordenar ás ações dos bombeiros junto a esse projeto, conforme
acontece até hoje. Fortaleza conta atualmente com 225 núcleos que atendem
17.000 inscritos.
O PSBS ganhou e vem ganhando visibilidade além reconhecimento por
parte da sociedade tendo portanto que se estender por toda a cidade de Fortaleza e
recentemente por várias cidades do estado do Ceará contando hoje com
aproximadamente 80 mil idosos e 11 anos de história do mesmo.
Segundo o SD BM e professor Francisco Antonio, o PSBS é desenvolvido
pelo CBMCE sendo portanto financiado pelo governo do Estado do Ceará que é o
órgão responsável pela instituição. O projeto tem uma coordenação geral que é
realizada pelo CTDH, este tem à frente atualmente o Major Onofre, tem ainda os
coordenadores de cada núcleo além de se eleger também um dos participantes
53
(alunos) para ser um coordenador local que é quem articula informações do projeto,
organiza os passeios e participa de reuniões para acompanhar os resultados do
PSBS.
O PSBS, conforme visualizado nas visitas pela na observação simples
que utilizamos como metodologia nesta pesquisa, trabalha na perspectiva de
promoção da qualidade de vida do idoso através de ações que se embasam na PNI.
Essas atividades propostas pelo projeto, abaixo relacionadas, compreendem esse
universo demandado pela Política supracitada.
Atividades do Projeto: Instruções sobre acidentes domésticos e em geral, adaptando as técnicas
desenvolvidas pela Corporação;
Palestras com paramédicos da Corporação, referentes a assuntos da terceira
idade, (pressão arterial, queimaduras, reanimação cardiopulmonar, desmaio,
acidentes domésticos, diabetes, etc.);
Realização de atividade física de baixo impacto para idosos;
Recreação com dinâmica em grupos;
Passeios.
3.5 Análise dos Dados
Neste tópico exporemos as reflexões feitas ao longo dos meses abril,
maio e junho quando da realização da pesquisa em campo, nas quais foram
observados os sujeitos através da observação simples onde conseguimos com o
registro em diário de campo e fotografias (anexas ao trabalho e autorizadas
previamente) captarmos o que seria posteriormente foi complementado com as
informações colhidas nas entrevistas.
Das 50 participantes do projeto eleito para realizar nossa pesquisa,
compôs o universo pesquisado um total de 10 idosas, o que compreende 20% do
grupo que participa do PSBS no núcleo do bairro João XXIII. Por meio de entrevista
semi estruturada e observações foram coletados os dados aqui apresentados.
Roteiro está contido no final do trabalho (APÊNDICE 2).
54
3.5.1 Compreendendo os sujeitos - Perfil dos idosos
Foi identificado que a participação em projetos sociais, grupos de
convivência a exemplo do PSBS é majoritariamente feminina, tendo em vista que no
núcleo pesquisado 100% das participantes eram mulheres. Isto nos leva a relacionar
a pesquisa ao que aponta Debert (1999) e MASCARO (2004) sobre a participação
das mulheres ser maior em grupos e na Velhice consecutivamente. Isso leva a fazer
novos questionamentos, tais como: o que acontece com os homens? Que
estratégias poderiam ser criadas para suscitar a participação destes?
O roteiro de perguntas de nossa entrevista foi dividido em 4 blocos dos
quais o primeiro abordava o perfil socioeconômico dos sujeitos. Anterior a isto
tomamos nota de dados pessoais tais como nome, endereço e idade, sobre esta fica
ilustrado no gráfico 1 a faixa etária das participantes.
GRÁFICO 1
Fonte: Pesquisa Direta, 2013
Conforme ilustrado no gráfico acima, observa-se que a maioria das idosas
que participam do projeto está na faixa de 60 a 69 anos, seguidas pelas que estão
entre 70 e 79 anos e por último da que está entre 80 e 90 anos a qual é atribuído
essa participação etária à limitação física inerente a idade, que é algo natural ao ser
humano.
50%
40%
10%
Faixa Etária
60 a 69 anos
70 a 79
80 a 90
55
Refletimos também sobre a questão da renda dos idosos que compõe os
grupos de convivência. Assim temos que a maioria tem uma renda mínima
proporcionada por aposentadoria em virtude do tempo trabalhado ou por BPC
(Benefício de Prestação Continuada). Dentre as entrevistadas apenas duas não
tinha renda fixa, já que as mesmas não haviam contribuído com previdência e nem
tinha idade igual ou superior a 65 anos que é exigido para fins de obtenção do
benefício acima citado, no entanto estas têm perfil para adquiri-lo. Foi verificado que
as duas trabalham como autônomas, fazem os chamados “bicos”, uma vendendo
cosméticos e a outra vendendo artesanatos, sendo alguns produzidos por ela
mesma.
Ainda sobre o aspecto econômico pudemos constatar que vem mudando
o perfil do idoso brasileiro, principalmente o cearense já que este ao chegar à
velhice continua trabalhando para completar o salário e dar conta das despesas da
casa das quais são participantes ou total responsáveis em alguns casos. Essa
realidade é crescente semelhante ao aumento do número de idosos, conforme foi
verificado há alguns anos pelo IBGE no censo do ano 2000, em que 62% dos idosos
já se responsabilizavam pelos domicílios (IBGE,2000) . Este fenômeno confirma
também o que aponta LOPES (2006) sobre os indivíduos dessa faixa etária
proporcionarem às sua famílias suporte financeiro devido a regularidade de suas
aposentadorias ou benefícios – no caso de alguns- e devido também à situação de
miséria e instabilidade financeira em muitos lares.
Para se sentir bem, uma pessoa precisa de autonomia e suprimento de
algumas necessidades, conforme trouxemos quando conceituamos qualidade de
vida em capítulos anteriores, isto confronta em parte com a realidade de alguns
idosos que pesquisamos quando indagados sobre com quem moram e 50%
relataram sobre morar sozinhos e destes 60% associam esse fenômeno – morar
sozinho- à solidão. Outro fator que compõe o perfil destes sujeitos é nos apropriar do
nível de escolaridade, o que nos leva a compreender quais difíceis eram as
condições de acesso à escola e, portanto à informações, nos tempos de juventude
destes, no projeto pesquisa a maioria das idosas 34% concluíram apenas o ensino
fundamental completo, dividindo as outras na mesma porcentagem 22% o demais
níveis escolares (não alfabetizada, fundamental 2 completo e incompleto e ensino
médio), o que representa diversidade, como mostra o gráfico 2.
56
GRÁFICO 2
Fonte: Pesquisa Direta, 2013
O exposto acima retrata ainda uma realidade de pouco investimento em
educação até as últimas décadas do século passado, o que ao mesmo tempo nos
deixa esperançosos ao fazer a projeção da velhice neste aspecto dos atuais jovens,
já que os índices de acesso à educação e à informação melhoraram.
Foi constatado ainda nas falas dos idosos que a fé é algo muito presente,
é nela e por ela que todas as entrevistadas se apegam ao conduzirem suas vidas,
100% das entrevistadas refeririam ser adeptas da religião católica.
3.5.2 A velhice nas falas dos idosos
Ainda na intenção de alcançar os objetivos os quais nos propomos ao
enfrentar o desafio de conduzir esta pesquisa, fizemos um segundo bloco de
perguntas em que a velhice foi amplamente abordada e pudemos através da
respostas como veremos a seguir, saber o que pensam os idosos a respeito da sua
condição de idade, como eles enxergam a velhice, para tanto citaremos as falas nas
quais não identificaremos as entrevistadas, daremos a estas codinomes,
preservando assim a identidade da cada uma delas, conforme lhes foi informado no
momento da entrevista.
22%
34%
22%
22%
Nível de Escolaridade
Não alfabetizado
Fundamental 1 incompleto
Fundamental 2 incompleto
Fundamental 2 completo
Médio incompleto
57
Ao serem questionadas sobre o que era velhice na opinião delas, foi
ouvido:
Pérola (76 anos): “Velhice minha filha é uma coisa que não tem volta. Ser velho é ser velho ora. Se cair caiu, não tem jeito, só que eu ainda não sou velha apesar da idade.(risos)”
Rubi (63 anos): “Acho que não existe velhice, não sei o que é ficar velha, me sinto uma jovem, tenho a felicidade e garra pra viver, nunca vou me preocupar com a velhice. Me sinto jovem, jovem mesmo. As pessoas tem que ter em mente que a velhice não é doença, não devem ter preconceito e procurar ser feliz ao seu modo. Se se você for se preocupar porque tá velho e não pode mais fazer determinadas coisas, vai se acabar.”
Safira (60 anos): “Se tiver autonomia, saúde é uma coisa boa ou se tiver doente quem cuide, se não é melhor morrer logo.”
Turquesa (80 anos): “A velhice é muito boa. Agente passa por muita coisa e vive, muitos não tem a mesma sorte de ter uma boa vida, mas pra mim é formidável essa experiência, tenho muitas amigas que também são idosas e que vivem suas vidas, aproveitam bem esse momento. Adoro viver, dançar, participar das coisas.”
Ágata (75 anos): “Pra mim já é o final de tudo (...) a pessoa não espera mais nada(...) o que eu vou esperar mais? só me divertir e aproveitar o resto da vida só(...) pra mim é assim, aproveitar enquanto eu posso, enquanto não estou “prostada” como tem um ali , que não sai mais pra canto nenhum(...) eu sinto muita coisa, mas eu tenho que me diverti, sair, o final é me diverti e gastar o que eu tenho e não deixar nada pra ninguém e pronto.”
Ametista (60 anos): “Pra mim até agora é bom, até agora não sofri nada, já vi muita gente sofrer, mas graças a Deus comigo não aconteceu nada. É uma fase boa, minha família está bem, não tenho “aperreios”. Graças a Deus sou feliz. Trabalhei muito, meu dinheiro faço o que quero, dou o que quero, compro minhas coisas. Não tenho necessidades que não são atendidas. Acho bom sair de casa, sair, movimento, me faz bem. Não acho ruim a vida não.”
As respostas acima foram dadas de forma espontânea, responderam a
uma questão simples e aberta na qual ficaram muito à vontade. Pudemos perceber
em suas falas que a velhice é de fato uma experiência heterogênea, que as
vivências, a história do indivíduo e a sua condição de saúde e econômica,
principalmente, é que reflete o seu modo de pensar e conseqüentemente a forma
como encara a velhice.
Questionamos os sujeitos pesquisados sobre vantagens e desvantagens
da velhice assim como sobre as principais diferenças que os mesmos identificam
como sendo características nesta fase e que antes era diferente. Também lhes foi
perguntado sobre o tratamento que é disponibilizado aos idosos na sociedade
contemporânea. As respostas a seguir contemplam as das demais entrevistadas;
58
Jade (66 anos): “Ser idoso não tem vantagem, porque quando passa a ser velho muda muita coisa não é mais como quando a gente é novo.”
Diamante (78 anos): “A falta de saúde é a principal desvantagem, mas agente leva do jeito que pode. E vantagem é porque fiquei velha mas não dependo dos outros, vivo às minhas custas”.
Rubi (63 anos): “As vantagens são você ter bastante conhecimento, você é uma pessoa que já passou por várias coisas na vida, você conhece o certo e o errado, você está preparada para enfrentar a realidade. Algumas pessoas de idade ficam depressivas por conta da velhice, eu não fico, não tenho preconceito com velhice, nem de ser velha. Eu me divirto faço minhas atividades. Tenho energia de uma pessoa jovem. Não tenho problemas com a velhice. Ao contrário eu sou é muito feliz na minha fase de idosa. Aos 62 anos enfrentei uma separação, me divorciei por que não gostava da vida que levava, estava insatisfeita com as brigas, bebedeiras e por ele fumar e eu não gosto de nada disso. Sou uma pessoa saudável, não tenho doenças, graças a Deus, por isso conversei com meus filhos que me apoiaram e sugeriram que eu viesse morar sozinha que me sustentariam e aqui estou eu. Velhice pra mim é um momento em que tenho somente a agradecer a Deus pelas conquistas, pelas vitórias, consegui educar meus filhos, estão todos formados, trabalhando, me ajudando. “Minha vida é um mar de rosas”.
A saúde, a independência, a autonomia e o respeito são os fatores mais
apreciados quando se é idoso. A fragilização de quaisquer desses, compromete o
bem estar e a sua visão acerca da vivência desse momento. As entrevistadas, em
sua maioria, acreditam que o tratamento que é dispensado ao velho não é igual nem
de longe ao que é dado ao jovem, que a sociedade marginaliza e discrimina o idoso.
É bem verdade que não se tem uma opinião consensual, ao mesmo que umas vêem
de um modo positivo outras relatam sobre momentos em que, segundo a fala de
uma delas “falta cordialidade conosco”(Turquesa, 80 anos).
Atribuímos as diversas imagens que os idosos digerem da sua condição à
também diversificada quantidade de situações e condições em que vivem esses
sujeitos, já que ao longo do trabalho pudemos verificar que é cultural a compreensão
e o tratamento que se dá ao velho, assim com também a valorização destes. Alguns
idosos, segundo dados coletados nas entrevistas, atribuem sua condição social à
velhice tratada no capítulo primeiro desse trabalho, ou seja, sempre associando às
limitações existentes por conta da idade e às doenças também provenientes do
decorrer dos anos.
Já outra parcela de idosos entrevistados relata sobre o que foi analisado
no tópico que contempla a categoria Terceira Idade, condicionando a velhice a uma
fase “boa de ser vivida”, onde para eles a regra é viver a vida enquanto se tem,
59
superar os limites impostos e mesmo não havendo tantas possibilidades, ou
interesse em investir nisso, vão “aproveitando” e enfrentando os desafios que
segundo as falas não são poucos.
Quanto maior o nível de escolaridade mais crítico em relação a sua
condição de velho, melhor exercem sua cidadania e tem mais conhecimento sobre
seus direitos. Isso parece um fato óbvio, a surpresa está em que estes pertencem ao
primeiro grupo acima citado, o dos que relacionam a velhice à sua condição de
saúde, em suas falas muito lamentam sobre a falta de atenção do poder público, o
descaso com a população idosa e sempre relatam os vários tipos de violência que
sofrem, já sofreram ou a que estão expostos.
Já os idosos em que segundo o perfil socioeconômico identificamos baixa
escolaridade e renda familiar inferior ou igual a um salário mínimo pudemos
observar maior disposição em lidar com o processo de envelhecimento, atribuímos
melhores perspectivas em relação à alegria de viver, mesmos que, ainda de acordo
com os relatos dos mesmos, os desafios existam e não sejam poucos. Associamos
este grupo ao que foi retratado aqui por Terceira Idade, que caracteriza a velhice
vivenciada por uma parcela da população idosa que tem uma tendência à
autonomia, a uma maior independência, foi lhes conferido também maior disposição
física e psicológica. Para ilustrar o que expusemos acima, citaremos a autora a
seguir que diz,
A invenção da terceira idade não pode, também, ser reduzida aos indicadores de prolongamento de vida nas sociedades contemporâneas. Essa invenção requer(...) a existência de uma “comunidade de aposentados”, com peso suficiente na sociedade, demonstrando dispor de saúde, independência financeira e outros meios apropriados para tornarem reais as expectativas de que essa etapa da vida seja propícia à realização e satisfação pessoal. DEBERT (1999, p.162)
A relação que fizemos acima das concepções de velhice pelos dois
grupos, como assim dividimos considerando as opiniões, concepções e perfil
socioeconômico, nos pareceram contraditória em alguns momentos ao que nos
apresentou os conceitos trazidos por alguns autores, quando da associação de
terceira idade a divisão etária da velhice com perspectivas de atender interesses de
poucos sob a ótica de consumo.
Assim compreendemos após análise da opinião dos próprios sujeitos, que
a categorização da velhice em termos como terceira idade é positiva, pois do ponto
60
de vista dos idosos é menos pejorativo que velho por exemplo, tendo em vista a
construção social da imagem de que o velho não serve, é algo negativo ainda é
muito presente na sociedade. Nos dias atuais são utilizados ainda, conforme
exposto ao longo do trabalho, outras nomenclaturas e que são melhor apreciados
pelo idosos, conforme ilustrado na seguinte citação da autora:
A expressão velho, que nos leva a pensar em algo antiquado, desgastado ou obsoleto, foi substituída por idoso, significando a passagem do tempo e aquele que tem bastante idade. A fase da velhice foi substituída por terceira idade e mais recentemente por maturidade. (MASCARO, 2004, p.69)
De acordo com a autora, a construção das novas imagens da velhice
pelos próprios idosos, é de não aceitação, ou seja, negação da velhice já que a
maioria desejar viver cada vez mais e não aceitam o que preconceituosamente, lhes
é reservado: papeis de vovó fazendo crochê e vovô aposentado em cadeira de
balanço. Isso foi confirmado nas falas dos sujeitos pesquisados, não é a idade que
determina a chegada à velhice e sim a condição física em seu limite, além do
aspecto social que facilita o desprestígio e desrespeito ao idoso em que a sociedade
constrói tantos estereótipos em relação ao idoso.
3.5.3 Impactos da inserção no projeto para o cotidiano
Um terceiro bloco de perguntas visou coletar informações sobre a opinião
dos sujeitos pesquisados sobre o PSBS, sobre a motivação em participar do mesmo
e ainda para saber que atividades são exercidas dentro do grupo, principais
benefícios e contribuições que lhes trouxeram essa inserção no projeto. As
respostas foram das mais diversas tendo em comum o fato de enxergarem como
relevante a existência desse espaço e a necessária ampliação de ações com esta.
Foi identificada nas falas das idosas que fazem parte do PSBS uma
relação de gratidão com profissionais envolvidos, pela atenção que lhe é
disponibilizada, à acolhida que sentem ao saírem de suas casas para ir até lá e
principalmente às mudanças que lhes ocorreram após ingressarem naquele projeto.
As duas respostas a seguir foram as que melhor ilustraram a opinião do grupo já que
se teve unanimidade ao serem indagadas sobre o que achavam do projeto.
61
Turquesa (80 anos): “Acho bom. Conheço pessoas, conheço professores, agente passeia, eles tratam agente muito bem, são delicados, são prestativos. É uma coisa que agente se diverte, lá você pode chegar triste como for que eles lhe animam. Acho um projeto formidável.”
Ametista (60 anos): Dou nota dez para o projeto. Antes eu tinha problemas de saúde nos braços (bucite) em que o médico disse que não tinha solução, que nenhum remédio daria jeito e foi as atividades físicas que passei a realizar no projeto que fizeram com que eu voltasse a vestir até meu sutiã que eu não conseguia mais. Deixei até de tomar os remédios que tomava. Não conseguia nem pentear os cabelos. Agora me movimento, danço, faço tudo.
Com isso analisamos que, embora esteja preconizado nas legislações do
idoso, que seja uma das mínimas ações em que o Estado materializa os direitos
desses sujeitos ao lazer e à promoção da qualidade de vida é compreendido pelos
mesmos como um favor. Quando relacionamos à mínimas ações não é tirando os
méritos do projeto, pelo contrário, há muito que se exaltar iniciativas como esta e
reconhecer o quanto ele representa para as comunidades de idosos, que segundo
relatos dos mesmos, estão sujeitos à ociosidade que os levam à outras inúmeras
questões que os minimizam, marginalizam e o estigmatizam.
Dentre as motivações verificadas que levaram os participantes a fazerem
parte do PSBS e se manterem lá por tanto tempo (mínimo de 02 anos – Ágata (76
anos) e máximo de 09 anos-Diamante (78 anos), foram a melhora do ponto de vista
da saúde com a disposição resultante das atividades físicas, a sociabilidade
promovida pelo projeto com o aumento da rede de amigos da mesma faixa etária e
com isso a troca de experiências, as conversas, as risadas – tendo sido tudo isso
constatado visualmente com a observação simples realizada pela pesquisadora – e
o movimento, palavra de ordem das idosas. Mexer, dançar, passear, festa,
comemorar, brincar, alegria, conversar são as palavras que mais aparecem quando
descrevem sua participação no projeto e os benefícios proporcionados por este, o
que nos leva a traduzir como sendo algo necessário a velhice o movimentar-se.
Foi verificado ainda, através das observações registradas em diário de
campo, que não há tecnicidade na realização das atividades físicas, o que implica
dizer que não há um acompanhamento individual, nem tem como fazê-lo já que são
em média 50 alunas para cada professor, mas as idosas são orientadas quanto a
fazê-lo se permitirem ir somente onde seus limites possibilitarem. Os professores do
PSBS orientam ainda quanto à boa alimentação, regularidade para se ir ao médico,
62
estímulo a tomada correta de medicamentos e várias outras dicas que promovem
saúde, bem estar, portanto qualidade de vida.
3.5.4 Idosos e o exercício da cidadania
Um quarto e último bloco de perguntas compôs a nossa entrevista e este
buscou contemplar o que chamamos de verificar a relação entre idoso com a
cidadania, na qual os indagamos sobre a participação em outros grupos, sobre o
nível de satisfação com as políticas públicas existentes, direitos da pessoa idosa que
são por eles conhecido, se sabem quem garante ou deveria garantir esses direitos e
por fim a significação do Estatuto do Idoso, a representação que este tem para suas
vidas.
Das 10 idosas entrevistadas apenas 3 participam de outros grupos para
essa faixa etária, destes um é de caráter religioso, outro desportivo e o último de
caráter político – uma associação de moradores- o que caracterizou falta de
informação que também ficou explícita quando as indagamos se as mesmas
acreditavam ser contempladas pelas políticas públicas atuais. Tivemos que diversas
vezes refazer a pergunta para que houvesse compreensão do que realmente se
tratava já que ao mencionar o termo política algumas a relacionavam meramente à
definição abordada no capítulo segundo deste trabalho que se refere à questão
meramente partidária e até ouvimos “Políticas de eleição, é?” (Ágata,75 anos).
Através do gráfico 3 exporemos a seguir o nível de conhecimento das
entrevistadas sobre o Estatuto do Idoso e qual foi nossa surpresa saber que a
maioria não conhece e também nunca viram.
63
GRÁFICO 3
Fonte: Pesquisa Direta, 2013
Ainda de acordo com os dados que ilustramos acima em que apenas 20%
das idosas entrevistadas tiveram algum contato, conhecem o Estatuto do Idoso,
outras 20% só ouviu falar mas nem sabem direito o que representa e 60 % ou seja a
maioria delas desconhecem a legislação, temos que esta não é amplamente
divulgada, na realidade não houve desde a promulgação desta lei em 2003 um
trabalho de informação e conscientização com os principais interessados que como
pudemos analisar tem como fonte principal de informações a mídia televisiva e esta,
acredita-se que por não lhes serem rentável do ponto de vista financeiro, por não
trazer lucro, não é divulgado, não informam aos idosos.
A grande questão é, quanto menor o nível de escolaridade e de
informação acerca dos seus direitos menor o nível de satisfação com a sua fase
atual, a da velhice e menor também a motivação em viver mais, de celebrar a vida,
de aproveitar os momentos.
Por possuírem plano de assistência a saúde privado 40% das idosas que
entrevistamos se dizem satisfeitas com o atendimento nessa área, estas estão
incluídas nos 60% nos informaram sobre serem bem atendida nas instituições de
saúde que procuram, embora reivindiquem que há muito que se fazer e se
reconhecendo como testemunhas das dificuldades e deficiências dessa política
60% 20%
20%
Sobre o Estatuto do Idoso
Não Conhece Só ouviu falar Conhecem
64
pública que é apontada como a mais necessária. Foi relatado ainda por algumas
sobre as longas filas de espera para se obter consultas e exames especializados em
Fortaleza pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
As outras idosas que compreendem 40% das entrevistadas lamentam
profundamente o sucateamento que vem acontecendo na saúde pública, assim
como nas demais políticas, ou seja, a falta de prioridade com que o governo
brasileiro vem tratando as questões de necessidade básica e a ênfase que dá –
através de investimentos financeiros- às copas das confederações e do mundo de
futebol por exemplo.
Isto, finalmente tem sido criticado pela população, conforme observamos
na repercussão das manifestações atuais, como vêm sendo retratadas nos jornais,
na mídia -embora de uma forma distorcida e por vezes manipuladora- e
principalmente nas ruas, onde aparente e historicamente o “povo” vem
desenvolvendo maior consciência política e agora parece estarem certos de que só
com luta e movimentos sociais poderemos avançar. 5
5 Em plena copa das confederações de futebol, momento em que os holofotes mundiais estão voltados para o
nosso país, ocorrem manifestações em vários estados brasileiros iniciados em São Paulo contra o aumento de passagens no transporte público, mas que ganharam Brasil afora com pautas difusas e insatisfação geral com a corrupção de políticos e gastos de dinheiro público com o que não é prioridade para a maioria.
65
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo possibilitou ampliar o conhecimento acerca da velhice
e das políticas públicas com os organismos que funcionam enquanto estratégias de
promoção da qualidade de vida da pessoa idosa.
Percebemos que os olhares acerca das imagens da velhice do ponto de
vista dos próprios idosos pesquisados se distinguem pela também distinta realidade
em que se situam, sendo o fator mais relevante para fazer essa diferenciação a
apreensão da realidade pelos sujeitos.
Assim, a velhice é compreendida como uma construção social em que o
sujeito pode sentir-se bem ou mal dependendo do contexto no qual está inserido. A
saúde, na visão dos idosos compreendida na maior parte por eles, apenas pelo bem
estar físico (ausência de doenças) é extremamente relevante para estes sujeitos se
considerarem inclusos socialmente, para se sentirem participantes ativos da
sociedade.
Ao esmiuçar os dados coletados pudemos constatar que a imagem
estereotipada da velhice estabelecida até mesmo pela gerontologia, quando esta a
analisa apenas com um processo biológico, conforme o exposto no início do trabalho
é também o ponto de vista de alguns idosos. Não de todos nem da maioria, mas é
daqueles que limitadamente se vêem apenas enquanto pessoas mais suscetíveis às
doenças e às limitações físicas ocasionadas pelo passar dos anos. Porém é um erro
generalizar este ponto de vista pois como dissemos não é comum a todos.
Positivamente os idosos e a sociedade, embora a passos ainda lentos, vem dando
outra conotação à velhice.
É bem verdade que se faz necessário para que a manutenção e
expansão desta concepção de velhice sejam mantidas, seja garantida também uma
segurança aos indivíduos para se envelhecer bem. Esta se materializa quando há o
suprimento de suas necessidades, não falo das necessidades básicas relacionadas
a sobrevivência apenas, falo de independência financeira, saúde e autonomia. Estas
três foram identificadas como sendo primordiais ao envelhecer bem, para se ter
qualidade de vida, pois através delas, segundo as depoentes, se obtém todo o resto.
Constatamos que as políticas de proteção e que asseguram direitos à
pessoa idosa para se ter uma boa vida existem e a propósito disso avançamos
bastante nas últimas três décadas, mas ainda não são suficientes, não atendem as
66
demandas dessa faixa etária que conforme as estatísticas com relação ao
crescimento da população idosa mostram que as políticas públicas não crescem na
mesma proporção. É necessária a efetivação de políticas públicas e que estas sejam
de fato eficazes.
Quanto ao Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade é um exemplo que
poderia ser copiado, expandido e utilizado como referência para implantação de
novos projetos ou ações que na mesma medida contemplasse esse segmento da
população, merece todo nosso respeito e foi uma iniciativa plausível, dito foi pela
proporção com que se expandiu e se transformou no grandioso PSBS.
É um tipo de política pública que em Fortaleza no segmento do idoso
mais tem se destacado, o projeto promove socialização, favorece o convívio social,
os tira da ociosidade e promove ainda o estabelecimento de novas relações de
amizades, aumentando assim o chamamos de rede social. Ao relatar sobre a
importância do mesmo todas as idosas falaram de impressões positivas, da melhora
no aspecto da saúde, do lazer e principalmente do social. Relembrando as falas: “É
um projeto formidável, lá agente ri, brinca, dança, faz amigos, lá agente se
movimenta”. A palavra de ordem do PSBS é movimentar-se” e é disso que idoso
precisa. Não para negar a velhice como faz algumas, acreditando não estarem
velhas, mas para acreditarem e fazerem acreditar que a velhice é uma fase da vida
e como as outras deve-se simplesmente viver o melhor que puder.
Vale salientar que a partir disso, novas imagens são tidas da velhice, por
eles mesmos – os idosos – e pela sociedade de um modo geral embora saibamos
que temos muito que avançar ainda. Nós, assistentes sociais que temos como uma
das principais competências a formulação, implementação e avaliação das políticas
públicas temos o dever de apreender essa realidade dos idosos brasileiros e junto a
outras categorias trabalharmos na perspectiva da promoção de um envelhecimento
bem sucedido. Não é tarefa fácil, mas é possível embora a logo prazo mudar a
concepção de velhice inútil, limitada e associada a finitude para uma velhice atuante,
que participa, que movimenta-se.
Além disso, a desconstrução da imagem negativa atribuída ao idoso se
daria por um longo e gradual processo obtido através do meio mais eficaz e
transformador que é a educação. Essa de “responsabilidade dos pais e dever do
Estado”, conforme a CRFB (1988, art. 205), necessita ser assegurado e
67
materializado não somente para uma mudança de concepção, pelo respeito com os
mais velhos e compreensão da velhice como um processo natural e inerente ao ser
humano que vive por muitos anos como foi sendo retratado, mas para de forma mais
ampla vislumbrar a transformação da sociedade.
Em relação aos direitos dos idosos consideramos que o problema grave
do nosso tempo em relação a esse direitos não é mais a questão de fundamentá-los
e sim de buscar protegê-los, impedir que estes sejam violados, eis a quantidade de
artigos que protegem os idosos nas legislações vigentes no país, no entanto maiores
são os desafios em relação à materialização dos mesmos no que diz respeito à
promoção e manutenção da dignidade dos idosos brasileiros.
Assim, esse trabalho faz ainda um convite aos demais pesquisadores,
profissionais que se interessam pelo assunto e sociedade para que juntos tenhamos
um novo olhar acerca dos modos de se obter qualidade de vida para o idoso e
compreendamos que estratégias sociais poderiam enfrentar as debilidades
ocasionadas pelo envelhecimento, promovendo o protagonismo deste.
68
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72
APÊNDICE 1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos a Senhora participar da pesquisa “VELHICE COM QUALIDADE DE
VIDA MEDIANTE EFETIVAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS: Um estudo sobre
Projeto Saúde Bombeiro e Sociedade em Fortaleza” sob a responsabilidade da
pesquisadora Haline de Sousa Lima, que tem por objetivos conhecer os impactos do
Projeto Saúde, Bombeiro e Sociedade na qualidade de vida e cidadania dos idosos
e ainda compreender as motivações e consequências de participar do projeto.
Sua participação é voluntária e se dará por meio da concessão de entrevista semi
estruturada e sua identidade será preservada. O presente estudo discutirá ainda
sobre a compreensão que os idosos tem acerca da velhice e do processo de
envelhecimento. Esperamos que esta pesquisa possibilite reflexões importantes
acerca da velhice e da busca pela qualidade de vida dos idosos no contexto atual.
Os resultados desta pesquisa serão publicados nos meios científicos e em nenhum
momento a Senhora será identificada. A Sra. não terá nenhum gasto ou ganho
financeiro por participar desta pesquisa.
Se depois de consentir em sua participação a Sra. desistir de continuar participando,
tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em qualquer fase da
pesquisa, seja antes ou depois da coleta dos dados, independente do motivo e sem
nenhum prejuízo a sua pessoa.
Para qualquer outra informação, a Sra. poderá entrar em contato com a
pesquisadora no endereço: Rua São João 186 – Bom Sucesso e pelos telefones de
contato (85)3290 7445/(85)88716066.
Eu,___________________________________________________________, fui devidamente informada sobre o teor da pesquisa e a importância desta. Sendo assim concordo com minha participação, assinando as duas vias de igual teor. _____________________________________ Data: ___/ ____/ _____ Assinatura do participante ________________________________ Assinatura do Pesquisador Responsável
73
APÊNDICE 2
ROTEIRO DA ENTREVISTA COM OS IDOSOS PARTICIPANTES DO PROJETO
SAÚDE, BOMBEIRO E SOCIEDADE
DADOS PESSOAIS: Nome_____________________________________________Sexo:_________ DataNasc____________________EstadoCivil_________________________ Endereço________________________________________________________ ______________________________________________Tel_______________ I - SOCIOECONÔMICO -É aposentado(a)?________ Valor da renda:R$____________ -Trabalha? -É responsável por alguma despesa da casa? - Quantas pessoas moram? - Nível de escolaridade? - Religião
II – VELHICE . O que a Senhora gostaria de falar sobre o que é a velhice. . Quais as vantagens e desvantagens de ser idoso? . Quais as principais diferenças entre o jovem e o velho? . A sra. acredita que tem diferença no tratamento dado ao jovem e ao velho na nossa sociedade? Por quê?
III – PROJETO SAÚDE, BOMBEIROS E SOCIEDADE . O que a Sra. pensa sobre o projeto? . Por que a Sra. se interessa em participar do Projeto? -Quais atividades realiza no projeto? Qual freqüência? . Como sua família vê sua participação no Projeto? Como é seu relacionamento com a família? . A Sra. acredita que este projeto permite maior integração com a comunidade? . Quais os principais benefícios do Projeto para a Sra.? . A Sra. toma suas próprias decisões? Decide o que quer fazer e como vai fazer? Sempre foi assim? O projeto contribui de alguma forma para tal? . O que mudou na sua vida depois que o entrou para o Projeto? Qual o uso que a Sra. faz no dia a dia do que aprende no Projeto?
III – CIDADANIA . A Sra. participa de algum grupo ou movimento comunitário (Conselho, Associação demoradores de bairro, igreja)?Quais? Há quanto tempo? Qual a importância que dá a esses movimentos, acredita neles? Acredita ser contemplado pelas políticas públicas existentes?
b) VISÃO DOS DIREITOS . Quais os direitos da pessoa idosa que a sra. conhece? . Quem garante seus direitos? . Conhece ou ouviu falar do Estatuto do Idoso? O que este representa para a Sra? -Já utilizou ou mencionou o Estatuto em alguma situação?
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ANEXO 1 Portaria de ampliação do Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade
PORTARIA Nº 023, DE 18 DE MARÇO DE 2003 DOE nº 073, 17 de abril de 2003 O COMANDANTE GERAL DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO CEARÁ, no uso de suas atribuições que lhe confere o Art.9°, da Lei n°11.673, 20 de abril de 1990 - Lei de Organização Básica, e ainda: CONSIDERANDO que o PROJETO SAÚDE, BOMBEIROS E COMUNIDADE é um projeto voluntário, que teve início no Grupamento de Busca e Salvamento desta Corporação; CONSIDERANDO a visão de seus idealizadores: Cap BM Virgílio Ryozaburo Cláudio SAWAKI; Ten BM LUÍS ROBERTO Costa; Sgt BM José Ivonildo BRITO e Sgt BM Antônio ALDENOR da Silva em oferecer atendimento às pessoas da terceira idade na forma de atividades físico - ocupacionais; CONSIDERANDO que as alterações no processo de envelhecimento no ser humano, podem ser restringidas com a prática regular de atividades físicas, e mesmo que não em alguns casos devemos assegurar o prolongamento do tempo de vida, garantindo uma condição igualmente importante - o bem estar- cotidiano da pessoa na terceira idade; CONSIDERANDO que o público alvo da terceira idade está integrando-se ao Corpo de Bombeiros através da diretriz do senhor Secretário de Segurança Pública e Defesa Social; CONSIDERANDO que devemos realizar uma grande mobilização na população para conscientizar a sociedade quanto ao processo acelerado de envelhecimento sem preconceito; CONSIDERANDO que este projeto em andamento reforça através do Governo do Estado a campanha da fraternidade deste ano atendendo no momento 100 (cem) jovens da terceira idade no momento no Grupamento de Busca e Salvamento; RESOLVE: Determinar aos COMANDANTES das Unidades Bombeiro Militar do 2° e 3° Grupamentos de Incêndio e Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Bombeiros, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentarem o Plano de Unidade Didática com vistas a ampliação do Projeto Saúde, Bombeiros e Comunidade e o início das atividades com a terceira idade. QUARTEL DO COMANDO GERAL DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO ESTADO CEARÁ, em Fortaleza, aos 18 de março de 2003. JOSÉ ANANIAS DUARTE FROTA - CEL QOBM