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Ex Vi Legis ∙ www.exvilegis.wordpress.com Direito Constitucional III 1 PODER LEGISLATIVO Cumpre ao poder Legislativo exercer a função típica de criar as leis nos planos federal, estadual, distrital, municipal e territorial. Poder Legislativo Federal: é bicameral, ou seja, é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe de duas Casas Legislativas: a Câmara dos Deputados (representa o povo) e o Senado Federal (representa os Estados-membros). O número de deputados federais depende da população; Nenhum dos Estados-membros terá menos de 8, nem mais de 70 deputados federais; Os territórios federais, quando vierem a ser criados, deverão ser representados por 4 deputados federais (Não é ente federativo, por isso não elege senador); O número de senadores, para cada Estado-membro, será de 3. Total: 81 senadores. Poder Legislativo Estadual: é unicameral. Assim, é exercido pela Assembleia Legislativa, composta por deputados estaduais, que representam o povo do respectivo Estado-membro, para ocuparem mandato de 4 anos. Poder Legislativo Distrital: é unicameral. Aqui, é desempenhado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (art. 32, caput, CF). Ela é composta pelos deputados distritais, que representam o povo do Distrito. Poder Legislativo Municipal: também é unicameral, sendo representado pela Câmara dos Vereadores (ou Câmara Municipal), composta pelos representantes do povo: os vereadores. O mandato é de 4 anos. SISTEMAS PARA ELEIÇÃO DO CANDIDATO Sistema majoritário: consiste na eleição do candidato que obtiver o maior número de votos. É dividido em sistema majoritário simples e por maioria absoluta. Pelo sistema majoritário simples existe um único turno de eleição, bastando a maioria relativa para eleição do candidato. Já no sistema majoritário por maioria absoluta, exige-se a realização da eleição em dois turnos, caso nenhum dos candidatos obtenha maioria absoluta já no primeiro turno. No segundo turno de votação participam os dois candidatos mais votados no primeiro turno. Sistema proporcional: O candidato é eleito após cálculos matemáticos que conjugam a votação dada aos candidatos e ao partido para o qual concorrem, estabelecendo-se, de

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Ex Vi Legis ∙ www.exvilegis.wordpress.com Direito Constitucional III

1

PODER LEGISLATIVO

Cumpre ao poder Legislativo exercer a função típica de criar as leis nos planos

federal, estadual, distrital, municipal e territorial.

Poder Legislativo Federal: é bicameral, ou seja, é exercido pelo Congresso Nacional,

que se compõe de duas Casas Legislativas: a Câmara dos Deputados (representa o povo) e o

Senado Federal (representa os Estados-membros).

∙ O número de deputados federais depende da população;

∙ Nenhum dos Estados-membros terá menos de 8, nem mais de 70 deputados federais;

∙ Os territórios federais, quando vierem a ser criados, deverão ser representados por 4

deputados federais (Não é ente federativo, por isso não elege senador);

∙ O número de senadores, para cada Estado-membro, será de 3. Total: 81 senadores.

Poder Legislativo Estadual: é unicameral. Assim, é exercido pela Assembleia Legislativa,

composta por deputados estaduais, que representam o povo do respectivo Estado-membro,

para ocuparem mandato de 4 anos.

Poder Legislativo Distrital: é unicameral. Aqui, é desempenhado pela Câmara

Legislativa do Distrito Federal (art. 32, caput, CF). Ela é composta pelos deputados distritais,

que representam o povo do Distrito.

Poder Legislativo Municipal: também é unicameral, sendo representado pela Câmara

dos Vereadores (ou Câmara Municipal), composta pelos representantes do povo: os

vereadores. O mandato é de 4 anos.

SISTEMAS PARA ELEIÇÃO DO CANDIDATO

Sistema majoritário: consiste na eleição do candidato que obtiver o maior número de

votos. É dividido em sistema majoritário simples e por maioria absoluta. Pelo sistema

majoritário simples existe um único turno de eleição, bastando a maioria relativa para

eleição do candidato. Já no sistema majoritário por maioria absoluta, exige-se a realização

da eleição em dois turnos, caso nenhum dos candidatos obtenha maioria absoluta já no

primeiro turno. No segundo turno de votação participam os dois candidatos mais votados no

primeiro turno.

Sistema proporcional: O candidato é eleito após cálculos matemáticos que conjugam

a votação dada aos candidatos e ao partido para o qual concorrem, estabelecendo-se, de

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acordo com o número de votantes, quociente eleitoral e partidário. Vale dizer que, no

sistema proporcional, nem sempre o candidato mais votado é eleito.

CASAS DO PODER LEGISLATIVO

A Câmara dos Deputados é a primeira Casa do Poder Legislativo Federal, sendo

formada pelos representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em cada Estado,

Território e Distrito Federal (art. 45, caput, CF).

A segunda casa do Poder Legislativo Federal é o Senado Federal. Ele existe para

frear os impulsos da Câmara dos Deputados. Serve para garantir o espírito de equilíbrio e

prudência.

COMPARAÇÃO ENTRE AS DUAS CASAS LEGISLATIVAS

Senado Federal Câmara dos Deputados

Representa: os Estados e o Distrito Federal

Representa: o povo (brasileiros natos + brasileiros naturalizados)

Eleição: princípio majoritário

Eleição: princípio proporcional (art. 45, § 1º,

CF)

Número de Senadores: 81 (3 para cada um

dos 26 Estados e 3 pelo DF)

Número de Deputados Federais: 513

Duração do mandato: 8 anos

Duração do mandato: 4 anos (1 legislatura)

Renovação do mandato: a cada 4 anos,

alternadamente, por um e dois terços dos

Senadores

Renovação do mandato: a cada 4 anos

Idade mínima para elegibilidade: 35

anos

Idade mínima para elegibilidade: 21 anos

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LEGISLATURA

Legislatura é o período legislativo que corresponde ao mandato dos deputados

federais. No Brasil, a legislatura é fixada em 4 anos, conforme o art. 44, par. único, da CF,

sendo esta dividida em quatro sessões legislativas ordinárias que vão de 2 de fevereiro a 22

de dezembro de cada ano. Cada sessão legislativa ordinária, por sua vez, é dividida em dois

períodos legislativos, o primeiro de 2 de fevereiro a 17 de julho e o segundo de 1º de agosto

a 22 de dezembro (art. 57, CF)

RECESSO PARLAMENTAR

Recesso parlamentar é o espaço de tempo compreendido entre os períodos

legislativos, ocasião em que o Congresso deixa de funcionar, salvo convocação

extraordinária. Tem o total de 55 dias. No primeiro ano de cada legislatura, no entanto, o

recesso na prática terá apenas 54 dias, já que a sessão preparatória para a posse dos

membros e para eleição das mesas diretoras é realizada no dia 1º de fevereiro.

Após dois anos reelegem nova mesa diretora (art. 57, § 4º, CF)

MESA DIRETORA

Senado Federal Câmara dos Deputados

1 presidente 1 presidente

2 vice-presidente 2 vice-presidente

4 secretários 4 secretários

Congresso Nacional

1 presidente (do Senado Federal)

1º vice-presidente (da Câmara dos Deputados) 2º vice presidente (do Senado Federal)

1º secretário (da Câmara dos Deputados) 2º secretário (do Senado Federal)

3º secretário (da Câmara dos Deputados) 4º secretário (do Senado Federal)

Art. 57, § 5º

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COMO SE DIVIDE A SESSÃO LEGISLATIVA

Cada sessão legislativa é dividida em sessões ordinárias, extraordinárias e

preparatórias. As sessões ordinárias são aquelas realizadas em dias úteis, dentro do horário

do expediente parlamentar fixado no regimento interno de cada Casa.

As sessões extraordinárias são aquelas convocadas fora do horário do expediente

parlamentar (18 de julho até 31 de julho - 23 de dezembro até 1º de fevereiro), ao passo que

as sessões preparatórias são aquelas convocadas para a posse de seus membros e eleição

das respectivas Mesas (art. 57, § 4º, CF).

Hipóteses de convocação extraordinária do Congresso Nacional: Somente ocorrerá

nas hipóteses expressamente previstas na Constituição Federal;

“I - Por convocação do Presidente do Senado Federal, em caso de decretação de

estado de defesa ou de intervenção federal, de pedido de autorização para a decretação de

estado de sítio e para o compromisso e a posse do Presidente e do Vice-Presidente da

República (art. 57, § 6º, I, CF);

II - Por convocação do Presidente da República, pelos Presidentes da Câmara dos

Deputados e do Senado Federal ou a requerimento da maioria dos membros de ambas as

Casas, em caso de urgência ou interesse público relevante, em todas as hipóteses deste inciso

com a aprovação da maioria absoluta de cada uma das Casas do Congresso Nacional. (art.

57, § 6º, II, CF).”

COMISSÕES PARLAMENTARES

Segundo Uadi Lammêgo Bulos, “as comissões parlamentares são órgãos colegiados,

nascidos na Câmara ou no Senado, com número certo de integrantes, incumbidos de

analisar as proposições legislativas, a fim de emitir pareceres a respeito delas.” Poderão ser

comissões permanentes, temporárias, mistas. Também poderão ser exclusivas.

A forma, competência e atribuições dessas comissões são disciplinadas pelos

respectivos regimentos internos de cada Casa – Regimento Interno da Câmara dos

Deputados (RICD) e Regimento Interno do Senado Federal (RISF) – e, no caso das comissões

mistas, pelo Regimento Comum do Congresso Nacional (RCCN).

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A Lei Maior ainda determina que, na constituição das mesas diretoras e de cada

comissão, seja assegurada, na medida do possível, a representação proporcional dos

partidos ou dos blocos parlamentares que participem da respectiva Casa (art. 58, § 1º, CF).

Comissões mistas: As comissões permanentes e temporárias podem ser mistas. Diz-se

comissão mista aquela formada por deputados e senadores, com o objetivo de examinar

matérias expressamente fixadas, inclusive aquelas que exijam uma decisão do Congresso

Nacional, pela sessão conjunta de suas Casas.

Comissões exclusivas: Formadas ou por deputados, ou por senadores.

Comissões permanentes (temáticas ou em razão da matéria): Comissões permanentes,

temáticas ou em razão da matéria são órgãos técnicos criados pelo regimento interno, com a

finalidade de discutir e votar as proposições ou projetos que são apresentados à respectiva

Casa. São organizadas em razão da matéria, perdurando enquanto constarem no regimento

interno, sobrevivendo assim através das legislaturas, suas atribuições estão determinadas no

rendimento interno e no §2º do art. 58, CF/88.

Comissões temporárias (especiais): Segundo o livro Direito Constitucional

Descomplicado, as comissões temporárias são aquelas criadas para apreciar determinado

assunto, e se extinguem ao término da legislatura, ou antes, quando alcançado o fim a que

se destinavam ou expirado seu prazo de duração (Vide art. 74, RISF e art. 33, do RICD). É

espécie as comissões parlamentares de inquérito.

Comissões parlamentares de inquérito: é uma prerrogativa do Poder Legislativo para

investigar denúncias e/ou apurar responsabilidades sobre um “fato determinado, em prazo

certo”. A Constituição Federal, em seu artigo 58, § 3º, estabelece:

“As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação

próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas

Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou

separadamente, mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de

fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao

Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores. ”

As comissões parlamentares de inquérito também podem ocorrer nos planos

estadual, distrital e municipal, quando recebem a nomenclatura de comissões especiais de

inquérito.

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São 3 requisitos constitucionais para criação de uma CPI: Requerimento de um

terço dos membros da Casa; Fato determinado; Prazo certo.

CPI PODE:

Pedir quebra de sigilo bancário;

Determinar diligências;

Possibilidade de informações junto as instituições financeiras;

Ter acesso a dados fiscais;

Ter acesso a dados telefônicos (mediante decisão fundamentada e motivada);

Ouvir pessoas investigadas;

Pedir oitiva de testemunhas, com condução coercitiva, se necessário;

Pedir oitiva de ministros (art. 50, CF);

Realizar perícias e exames necessários a dilação probatória;

Requisição de documentos e busca de todos os meios de provas, legalmente admitidos;

Determinar buscas e apreensões de documentos necessários as investigações, respeitando

a inviolabilidade domiciliar;

Permitir a presença de advogados;

Respeitar os direitos fundamentais;

Investigar, encaminhando suas conclusões ao MP.

CPI NÃO PODE:

Interferir na chamada reserva constitucional de jurisdição;

Violar domicílio (art. 5º, XII, CF);

Determinar interceptação telefônica (somente o Judiciário);

Determinar prisão cautelar;

Formular acusação;

Julgar, aplicar penalidades;

Reter passaporte;

Determinar indisponibilidade de bens, arrestos, sequestros, hipoteca judiciária. São

provimentos cautelares de sentença definitiva de condenação, os quais não se confundem

com os poderes instrutórios ou de cautela sobre a prova, que se possam admitir extensíveis

à CPI (entendimento do STF)

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Obs.: Se houver algum abuso ou ilegalidade praticada por algum membro da CPI,

cabe ao STF o controle do ato.

ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS

O Estatuto dos Congressistas consiste em um conjunto de prerrogativas, direitos,

imunidades e incompatibilidades, estabelecidos pela Constituição Federal (arts. 53 a 56),

para assegurar que o poder Legislativo e seus membros, individualmente, atuem com ampla

liberdade e independência no exercício de suas funções constitucionais.

∙ Existe uma finalidade democrática;

∙ Protege o parlamentar contra pressões e abusos dos demais Poderes;

∙ É uma garantia;

∙ Imunidade é inerente à função do parlamentar e não à pessoa do parlamentar;

∙ São irrenunciáveis;

Dividem-se em: imunidade material e imunidade formal.

Imunidade material (art. 53, caput): inviolabilidade por palavras, votos e opiniões.

Absoluta: o parlamentar não responde por aquilo que fala dentro da Casa, pois se

presume que tenha conexão com a função parlamentar;

Relativa: Se o parlamentar está fora da Casa, o que ele fala deve ter nexo com a sua

atividade, caso contrário será responsabilizado.

Obs.: Deve-se provar o nexo entre o que o parlamentar fala e sua função parlamentar.

A imunidade material também é chamada de real ou substantiva: o parlamentar

não será responsabilizado civil, penal, disciplinar ou politicamente por suas opiniões, votos

ou palavras. Não cabe ao parlamentar imune, crimes de opinião ou de palavra, como os

crimes contra a honra, incitação ao crime, vilipêndio oral a culto religioso. O fato típico deixa

de constituir crime, pois a norma constitucional afasta a incidência penal.

É de ordem pública, perpétua e absoluta, pois não pode ser renunciada e não serão

os parlamentares responsabilizados após findo o mandato.

Imunidade formal: restrição à prisão de parlamentares e à instauração de processos

contra estes (art. 53, §§ 3º e 5º). Em regra, parlamentar federal não pode ser preso (em

flagrante delito, prisão temporária, prisão preventiva, pensão alimentícia)

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Quanto a prisão: começa após a diplomação pela Justiça Eleitoral. A diplomação nada

mais é que o atestado garantindo a regular eleição do candidato. É antes da posse. Posse é o

ato oficial e público através do qual o parlamentar é investido nessa condição.

O parlamentar poderá ser preso quando em flagrante delito de crime inafiançável

(racismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes, terrorismo, crimes hediondos, ação de

grupos armados civis ou militares) caso contrário não poderá.

Obs.: O STF entende que o parlamentar pode ser preso em virtude de sentença

judicial transitada em julgado, observado o devido processo legal, não há que se falar em

suspender a execução de penas privativas de liberdade, impostas definitivamente ao

parlamentar.

Quanto ao processo: A imunidade formal incide, também, sobre o processo de

incriminação do congressista instaurado pelo STF. Essa prerrogativa confere poder à Casa

Legislativa, da qual o parlamentar faz parte, para suspender o andamento da ação referente

aos crimes praticados após a diplomação do mandato em curso.

Recebida a denúncia do Ministério Público (se ação pública) ou a queixa-crime do

ofendido (se ação privada) contra o Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a

diplomação, o Supremo Tribunal Federal poderá instaurar imediatamente o processo

criminal contra o parlamentar, sem necessidade de autorização prévia da Casa Legislativa.

Uma vez instaurado o processo criminal, o STF dará ciência à Casa respectiva, que,

por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus

membros, poderá, até a decisão final, suspender o andamento da ação.

Recebida a ciência do STF a respeito da instauração do processo criminal contra

parlamentar referente a crime praticado após a diplomação do mandato em curso, somente

os partidos políticos com representação na respectiva Casa são legitimados a dar início ao

processo de suspensão do andamento da ação penal, em curso no STF. A provocação pelo

partido político poderá ocorrer a qualquer momento, desde o recebimento da denúncia ou

queixa-crime pelo STF até a decisão final do Tribunal ou até o término do mandato.

O partido político apenas dará início ao procedimento de suspensão do andamento

da ação contra o parlamentar. A suspensão propriamente dita dependerá da aprovação por

maioria absoluta dos membros da respectiva Casa Legislativa.

O pedido de suspensão será apreciado pela Casa respectiva no prazo

improrrogável de 45 dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. A suspensão do

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processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato (Redação da EC 35/01). Findo o

mandato, volta a fluir normalmente o prazo prescricional, podendo a ação penal ter seu

curso retomado. A suspensão da prescrição punitiva visa evitar a impunidade.

Obs. 1: Em relação a crimes praticados antes da diplomação, o parlamentar pode

ser processado e julgado pelo STF enquanto durar o mandato. Neste caso, não cabe

imunidade formal quanto ao processo. Esta só caberá em razão de crimes praticados após a

diplomação.

Obs. 2: Ao terminar o mandato, termina a suspensão do processo, ainda que haja

ocorrido à reeleição do mesmo. De acordo com o STF, o processo não pode ser suspenso

novamente, porque o crime foi praticado antes da nova legislatura.

Obs. 3: Esta imunidade só funciona para crimes ocorridos apões a diplomação do

atual mandato, nunca para os ocorridos antes da diplomação.

Estatuto dos Congressistas: Foro privilegiado ou por prerrogativa de função (Art. 53,

§ 1º, CF)

Deputados e senadores serão submetidos a julgamento perante o STF pela prática

de qualquer tipo de crime. Crimes contra a vida, eleitorais etc. Só se refere ao processo

penal e não a ilícitos de outra natureza, como civis e trabalhistas. Esta prerrogativa decorre

do efetivo exercício da função parlamentar. Findo o mandato, caso o processo não tenha

terminado, acaba a competência do STF, devendo o processo retornar ao juiz natural.

Estatuto dos Congressistas: Sigilo da fonte (Art. 53, §§ 6º, 7º E 8º, CF)

“§ 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre

informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as

pessoas que lhes confiaram ou deles receberam informações.

§ 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora militares

e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva.

§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores subsistirão durante o estado de sítio,

só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Casa respectiva,

nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis

com a execução da medida.”

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Estatuto dos Congressistas: Incompatibilidades/impedimentos (Arts. 54, 55, CF)

Em decorrência de sua nobre função, aos parlamentares é vedado o exercício de

algumas atividades, bem como determinados comportamentos, desde a expedição do

diploma e, posteriormente, após tomarem posse. Assim, os Deputados e Senadores não

poderão, conforme anuncia o art. 54, I e II, da CF/88:

I — DESDE A EXPEDIÇÃO DO

DIPLOMA

firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de

direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de

economia mista ou empresa concessionária de serviço

público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas

uniformes;

aceitar ou exercer cargo, função ou emprego

remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis ad

nutum, nas entidades constantes da alínea anterior.

II — DESDE A POSSE

ser proprietários, controladores ou diretores de

empresa que goze de favor decorrente de contrato com

pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função

remunerada;

ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad

nutum, nas entidades referidas no inciso I, “a”;

patrocinar causa em que seja interessada qualquer das

entidades a que se refere o inciso I, “a”;

ser titulares de mais de um cargo ou mandato público

eletivo.

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De acordo com o art. 55, § 1º, “é incompatível com o decoro parlamentar o abuso

das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de

vantagens indevidas.”

Ocorrerá a cassação do mandato no caso dos incisos I, II e VI do art. 55 (I - de

infringir o estabelecido no art. 54; II - no caso de incompatibilidade com o decoro

parlamentar; VI - caso tenha sofrido condenação criminal em sentença transitada em

julgado), a decisão de cassação se dá pela respectiva Casa. Neste caso, a perda será decidida

mediante provocação:

I - na Mesa da Casa da qual o parlamentar pertence;

II - de Partido Político com representação no Congresso Nacional.

No caso dos incisos III, IV e V, (que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa,

à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por

esta autorizada; IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos; V - quando o

decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos nesta Constituição) ocorre a extinção do

mandato, e sua declaração se dá pela Mesa da Casa respectiva. Neste caso, a provocação

para declaração da perda se dá:

I - pela Mesa da Casa do parlamentar;

II - qualquer de seus membros;

III - partido político com representação no Congresso Nacional.

PERDA

CASSAÇÃO DO MANDATO

EXTINÇÃO DO MANDATO

Art. 55, I Art. 55, II Art. 55, VI

Art. 55, § 2.º - voto secreto maioria absoluta

Art. 55, III Art. 55, IV Art. 55, V

Art. 55, § 3.º - ato meramente declaratório

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Hipóteses em que não haverá a perda do mandato do Senador ou Deputado

O art. 56 da CF/88 enumera as hipóteses em que o Deputado ou Senador não

perderá o mandato.

Art. 56, I - Nas hipóteses de investidura nos cargos de Ministro de Estado,

Governador de Território, Secretário de Estado, do Distrito Federal, de Território, de

Prefeitura de Capital ou chefe de missão diplomática temporária: o Deputado ou Senador

poderá optar pela remuneração do mandato;

No caso de investidura nos cargos acima apontados, por força do art. 56, I, o

parlamentar federal não perderá o mandato. No entanto, perderá (ou melhor, ficarão

suspensas) as imunidades parlamentares.

Art. 56, II, 1.ª parte - quando licenciado pela respectiva Casa por: motivo de doença

(não há prazo máximo, será remunerado);

Art. 56, II, 2.ª parte - quando licenciado pela respectiva Casa para: tratar, sem

remuneração, de interesse particular, desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse

120 dias por sessão legislativa (não há remuneração).

Parlamentares estaduais

De acordo com o art. 27, § 1º, são aplicadas as mesmas regras dos parlamentares

federais aos estaduais, respeitadas as correspondências (sobre sistema eleitoral,

inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e

incorporação às Forças Armadas).

Ex.: Em caso de flagrante delito por crime inafiançável, os autos serão remetidos à

Assembleia.

∙ No caso de processo penal, a Assembleia decidirá se susta ou não o processo (no

caso de prática de crime comum após a diplomação, o TJ poderá instaurar o processo sem a

prévia licença da Assembleia Legislativa, mas deverá a ela dar ciência, sendo que, pelo voto

da maioria de seus membros, o Poder Legislativo Estadual poderá sustar o andamento da

ação);

∙ também possuem imunidade material (são invioláveis, civil e penalmente, por

quaisquer de suas opiniões, palavras e votos);

∙ foro privilegiado - as Constituições Estaduais poderão atribuir aos Tribunais de

Justiça esta competência.

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Parlamentares municipais

De acordo com o art. 29, VIII, os parlamentares estaduais possuem imunidade

material, mas apenas na circunscrição do município (em que trabalha). Não possui

imunidade formal, e não tem prerrogativa de foro, ou seja, são julgados de forma comum.