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A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO CIENTÍFICO E O MÉTODO DE ALLAN KARDEC Adolfo de Mendonça Junior [email protected]

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A EVOLUÇÃO DO

PENSAMENTO CIENTÍFICO E

O MÉTODO DE ALLAN

KARDEC

Adolfo de Mendonça Junior

[email protected]

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O presente trabalho tem o objetivo de

examinar o método de pesquisa

utilizado por Allan Kardec na

codificação do espiritismo, no séc. XIX.

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Para que se possa compreender o

método científico utilizado por Kardec

é necessário entender a evolução do

pensamento científico no período

histórico compreendido entre a Idade

Média e a primeira metade do século

XIX.

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Com esse texto, pretendo responder a

seguinte indagação: o método de

pesquisa utilizado por Allan Kardec,

pode ser considerado um método

científico?

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O homem medieval valorizava a tradição, vivia em uma sociedade que tinha seus próprios valores, assim, na Europa a sociedade estava dividida em

ordens hierarquizadas, nas quais:

Os clérigos devem por todos orar Os cavaleiros sem demora Devem defender e honrar E os camponeses sofrer.

Cavaleiros e clero sem falha Vivem de quem trabalha

(Estevão de Fougères, apud DUBY, Georges. As três ordens ou o imaginário

no feudalismo. Lisboa, Editorial Estampa, 1982, p. 309.)

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O pensamento da época era

determinado pela Igreja, que controlava

toda a cultura intelectual da época, ou

seja, todo o saber. A “vontade divina”

determinava o destino dos homens.

Todo o conhecimento era produzido

pelos clérigos, os únicos que sabiam

ler e escrever.

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A partir dos séculos X, XI e XII, as

cidades se tornaram importantes e a

sua revitalização estimulou a vida

intelectual. Por isso surge um novo

tipo de instituição de ensino: a

Universidade.

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O movimento universitário europeu

inicia-se nos fins do século XII, quando

então surgiram as primeiras e as mais

importantes universidades: Bolonha,

Paris, Oxford, Montpellier.

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Mas é no decorrer do século XIII que o

movimento universitário se

desenvolve: surgem novas

universidades como Vicenza, Arezzo,

Pádua, Vercelli, Siena na Itália, Orléans

e Angers na França, Cambridge na

Inglaterra, Valladolid na Espanha.

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Renascimento científico

Nicolau Copérnico defendeu a

revolucionária idéia do heliocentrismo

(teoria que defendia que o Sol estava

no centro do sistema solar). Copérnico

também estudou os movimentos das

estrelas.

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Nesta mesma área, o italiano Galileu

Galilei construiu telescópios para

aprimorar o estudo celeste. Este

cientista também defendeu a idéia de

que a Terra girava em torno do Sol.

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Com a Idade Moderna [séc. XV ao

XVIII], surgem novas referências para a

organização do pensamento; inúmeros

pesquisadores desse período deram a

sua contribuição para o surgimento de

um modelo de ciência. A revolução

científica ocorrida na Europa dos

séculos XVI e XVII foi movida por um

ideal de ruptura da Idade Média.

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[...] a observação e a experimentação,

procedimentos metodológicos que

passam a ser considerados, a partir de

Galileu (século XVI), como teste para o

conhecimento científico, não eram

procedimentos utilizados para esse fim

na Grécia e na Idade Média.

(ANDERY et al, 1998).

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O método científico foi criado no

século XVII, surgiu como uma tentativa

de organizar o pensamento para se

chegar ao meio mais adequado de

conhecer e controlar a natureza.

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[...] a ciência, nos moldes que

conhecemos hoje, é relativamente

recente. Foi somente na Idade Moderna

que adquiriu o caráter científico que

tem atualmente. (...) A revolução

científica propriamente dita ocorreu

nos século XVI e XVII, com Copérnico,

Bacon e seu método experimental,

Galileu, Descartes e outros.

(CERVO e BERVIAN, 2006, p. 9).

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No século XVIII, os homens retomaram o prazer de pensar e produzir o

conhecimento, através das ideias iluministas, que propunham a luz da

razão sobre as trevas da ignorância e dos dogmas religiosos. O Iluminismo

apareceu como um desdobramento de concepções desenvolvidas desde o Renascimento e propunha "a luz da razão sobre as trevas dos dogmas

religiosos".

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René Descartes, considerado o Pai

do “Racionalismo Moderno”, que ao

constatar que duvidar significa

pensar, criou a frase "penso, logo

existo", pela qual mostrou ser a razão a

essência dos seres humanos. Ele criou o

cartesianismo, um modelo de conhecimento

inspirado na matemática, que leva o homem

à verdade. Segundo ele, a verdade poderia

ser alcançada através da dúvida e da

reflexão. Descartes é um dos maiores

filósofos da modernidade.

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Na passagem da Idade Moderna para a Idade

Contemporânea, final do século XVIII, até

meados do século XIX, surgem importantes

estudos no campo das ciências naturais que

também influenciaram o pensamento

moderno. Isaac Newton, por exemplo,

conseguiu elaborar leis naturais que,

segundo ele, regiam o mundo material. Tais

descobertas acabaram trazendo um tipo de

explicação dos fenômenos

naturais independente das

explicações religiosas.

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Dessa maneira, a dúvida, o

experimento e a observação seriam

instrumentos capazes de explicar as

“normas” que organizam o mundo. O

método utilizado por Newton acabou

influenciando outros pensadores que

também acreditavam que por

intermédio da razão, poderiam elaborar

leis relacionadas à história, a política e

a economia.

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O século XIX é considerado o século

das ciências. A ciência continuou a

registrar importantes progressos e os

enciclopedistas deram uma forte ajuda

para que houvesse mudanças na

sociedade científica, criando museus e

escolas com ensino regular de ciência.

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Com isso surgem as sociedades

científicas especializadas. Na

sociologia Augusto Comte criou o

positivismo, na economia, Karl Marx e

Friedrich Engels lançaram o

materialismo-dialético; Charles Darwin

formula a teoria da evolução das

espécies. A ciência passou a explicar

os fenômenos sociais, biológicos,

antropológicos, físicos e naturais.

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O MÉTODO CIENTÍFICO

A ciência moderna nasceu a partir da

revolução científica dos séculos XVI e

XVII. Basicamente no domínio das

ciências naturais, no entanto, a sua

afirmação verifica-se, sobretudo, nos

século XVIII e XIX. No século XIX, as

ciências sociais também foram

incorporadas no pensamento moderno.

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Surge o modelo global de

racionalidade científica. Este modelo

de Ciência vai afirmar-se

progressivamente, em contraposição

ao senso comum.

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Toda pesquisa científica se inicia com

algum tipo de problema ou indagação.

Por exemplo: se jogarmos um copo de

vidro para o alto, com muita força, ele

quebrará ou permanecerá intacto?

Certamente ele quebrará. Esse tipo de

conhecimento é chamado de senso

comum, ou conhecimento do dia-a-dia.

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“O método científico é a combinação

de três operações que visam descobrir

as regras que regem os fenômenos

naturais: observação, experimentação

e raciocínio. A observação é o primeiro

passo para o entendimento de um

fenômeno. É um exame cuidadoso dos

fatores e circunstâncias que parecem

influenciá-lo. Realizam-se várias

experiências visando repetir a

observação e, desse modo, isolar o

fenômeno estudado.

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A partir da análise das observações,

tenta-se levantar uma hipótese que

explique o fenômeno: é a fase do

raciocínio. A hipótese leva a uma nova

série de experiências que irão

confirmar, ou não, a hipótese feita. Se

ela se mostrar acertada e puder prever

os resultados de uma nova experiência,

ela se torna uma lei natural.”

(Penteado, 1998, p.4).

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O surgimento da ciência no séc. XVII trouxe a preocupação da criação de um

método, no qual os pesquisadores pudessem realizar suas pesquisas e obter conclusões que diferenciem a

pesquisa cientifica do senso comum. O método científico é o arcabouço teórico

da investigação, com ele, o pesquisador utiliza seus

conhecimentos e sua imaginação para formular uma hipótese.

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Para testar sua hipótese, ele

(pesquisador) faz observações e

experimentos, com seus instrumentos.

O pesquisador deve seguir um método

de pesquisa. As etapas de um método

cientifico são: formular hipóteses,

construir experiências, observar o

fenômeno, utilizar instrumentos e

procurar descobrir como os dados se

relacionam.

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Veremos, a seguir, como pode se

desenvolver um método científico. Para

facilitar a sua compreensão,

tomaremos, como exemplo, o trabalho

de Francesco Redi (1626–1697), (...). A

investigação científica pode começar

com a observação de um fato:

decomposição dos “vermes”.

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“Como esses vermes surgiram na carne?” Será que eles se originam

mesmo da própria carne, como muitos acreditam?” Ele estava, então, levantando um problema, a ser

resolvido. “Esses vermes não devem se originar da carne em decomposição, e sim de outros seres vivos.” Com uma

idéia semelhante a essa, Redi estava levantando uma hipótese, isto é, uma

explicação para o problema. Essa hipótese estaria correta?

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Redi sabia que ela precisava ser

testada. Então, realizou uma

experiência, usando frascos abertos e

fechados, onde colocou carne em

decomposição. Tirou, então, uma

conclusão, que confirmou a sua

hipótese: os “vermes” não se

originavam da carne em

decomposição, e sim de moscas

preexistentes.

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Comprovando a validade de sua

hipótese, depois de vários

experimentos, os cientistas podem

ainda estabelecer um princípio ou lei

geral para explicar os fatos

observados, isto é, eles formulam uma

teoria”. (Barros e Paulino, 1997, p.8).

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Galileu Galilei (1564-1642),

um dos gênios da

revolução científica do

século XVII, tendo vivido

em pleno Renascimento, é

considerado o criador do

método experimental. Ele

foi o primeiro a usar a

observação empírica e a

matemática para descrever

os fenômenos da natureza.

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Marconi e Lakatos classificam os

métodos científicos em quatro tipos,

sendo eles: indutivo, dedutivo,

hipotético-dedutivo e dialético.

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No campo das ciências sociais,

desenvolveu-se uma concepção da

construção dos conhecimentos

científicos fundada no positivismo. Trata-

se de uma corrente teórica da sociologia

desenvolvida por Augusto Comte (1798-

1857). Para Comte, o método positivista

consiste na observação dos fenômenos,

subordinando a imaginação e à

observação. Os positivistas crêem que o

conhecimento se explica por si mesmo.

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O MÉTODO DE ALLAN KARDEC

Desde o inicio da história da ciência,

no séc. XVII, até a publicação de “O

Livro dos Espíritos”, em 1857, de Allan

Kardec, foram criadas as bases sobre

as quais os conhecimentos espíritas se

apoiaram. Kardec fez uso de

paradigmas científicos e filosóficos de

sua época, escolhidos por ele dentre

os que considerou mais aceitáveis.

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Ao pesquisar o fenômeno espírita,

Allan Kardec buscou compreender a

origem e o desenvolvimento da vida em

quase todos os seus aspectos. Antes

de aceitar o fenômeno, ele queria

observá-lo.

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“Foi ali que fiz os meus primeiros estudos sérios sobre espiritismo, não tanto pelas

revelações, como pelas observações. Apliquei a esta ciência o método

experimental, não aceitando teorias preconcebidas, e observava atentamente, comparava e deduzia as consequências,

dos efeitos procurava elevar-me às causas, pela dedução e encadeamento dos fatos,

não admitindo por valiosa uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as

dificuldades da questão. Foi assim que procedi sempre em meus anteriores

trabalhos, desde os 15 anos.” (Kardec, 1987. p.204).

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A ciência tem como objeto a

matéria e suas propriedades, usa

critérios de repetição, medição e

verificação em laboratório. O

pesquisador Allan Kardec longe de

contrariar a Ciência Positiva do

séc. XIX, se distanciou dela ao

afirmar que seu objeto de pesquisa

são os espíritos ou a vida espírita. .

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Assim ele definiu a ciência espírita:

[...] O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.

(Id, 1997b, p.50).

O Espiritismo “[...] É, pois, resultado da observação; numa palavra, uma ciência: a

ciência das relações entre o mundo visível e o mundo invisível; […] ocupará o seu lugar ao lado das ciências positivas. (Id, 2004, p. 434,

grifo nosso).

Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual. […] (Id, 2007c, p.

363, grifo nosso).

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Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da

mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental. Fatos novos se

apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; ele

os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas,

chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as conseqüências e busca as

aplicações úteis.

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Não foram os fatos que vieram a

posteriori confirmar a teoria: a teoria é

que veio subseqüentemente explicar e

resumir os fatos. É, pois,

rigorosamente exato dizer-se que o

Espiritismo é uma ciência de

observação e não produto da

imaginação.

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As ciências só fizeram progressos

importantes depois que seus estudos

se basearam sobre o método

experimental; até então, acreditou-se

que esse método também só era

aplicável à matéria, ao passo que o é

também às coisas metafísicas.

(Id, 1985, p.31-32, grifo nosso ).

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A codificação do espiritismo, elaborada

por Allan Kardec, no séc. XIX, pode ser

considerada um trabalho acadêmico,

onde Kardec utilizou o método

experimental na nas pesquisas com os

“fenômenos espíritas”. Ele pesquisou,

observou, analisou, buscou as

respostas de suas indagações.

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Ele era um homem sintonizado com a

intelectualidade de sua época, trocava

correspondências com os simpatizantes e

não simpatizantes do espiritismo, criou

uma revista [Revista Espírita – 1858/1869],

com o objetivo de colocar a opinião

pública a par dos progressos de suas

pesquisas. A Revista seria uma espécie

de “laboratório”, destinado a sondar a

opinião dos homens e dos espíritos,

sobre determinados assuntos.

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“Um dos primeiros resultados que colhi

das minhas observações foi que os

espíritos, nada mais sendo que as

almas dos homens, não possuíam nem

a sabedoria plena, nem a ciência

integral; que o saber de que dispunham

se circunscrevia ao grau que haviam

alcançado de adiantamento, e que a

opinião deles só tinha o valor de uma

opinião pessoal.

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Reconhecida desde o princípio, esta

verdade me preservou do grave

escolho de crer na infalibilidade dos

espíritos e me impediu de formular

teorias prematuras, tendo por base o

que fora dito por um ou alguns deles.”

(KARDEC, 1890. p. 269).

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Allan Kardec era um homem de espírito

científico, em sua pesquisa, não

negava nem afirmava o “fenômeno

espírita”, não se entusiasmou com os

primeiros resultados, teve cuidado na

seleção das informações e a não

divulgação precipitada de fatos ainda

não todos examinados e comprovados

e o interesse na procura da verdade.

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“Procedi com os espíritos como teria feito com os homens; considerei-os, desde o menor até ao maior, como elementos de instrução e não como

reveladores predestinados. Tais foram as disposições com que empreendi e

com que sempre segui os estudos espíritas: observar, comparar e julgar,

essa foi a regra invariável que me impus.”

(Kardec, 1987. p.205).

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Em nossa pesquisa identificamos a

relação de Allan Kardec com vários

médiuns. O pesquisador francês, em

seu trabalho, ao utilizar o método

científico em sua pesquisa, entrevistou

médiuns diferentes, estranhos uns aos

outros, colhendo informações

espontâneas dos espíritos.

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Nenhuma ciência existe que haja saído

prontinha do cérebro de um homem.

Todas, sem exceção de nenhuma, são

fruto de observações sucessivas,

apoiadas em observações precedentes,

como em um ponto conhecido, para

chegar ao desconhecido. Foi assim que

os Espíritos procederam, com relação

ao Espiritismo. (KARDEC, 1985, p.52).

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Para Allan Kardec, a universalidade e a concordância da revelação dos

espíritos conferem a seu método força e autoridade. É na concordância

universal que reside a melhor comprovação do ensino dos espíritos.

Em suas pesquisas, Allan Kardec utilizou esse critério, o da

concordância do ensino dos Espíritos, que ele denominou “critério da

verdade”.

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Portanto o método de Allan Kardec é a

observação. Em “O Livro dos

Espíritos”, ele apresentou 1018

perguntas aos espíritos, obtendo

respostas de diversos médiuns, onde

havia concordância dos espíritos nas

respostas. Ele elegeu como critério de

pesquisa a concordância e a evidência.

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A GUISA DE CONCLUSÃO

O objetivo desse trabalho era descobrir se o método de pesquisa utilizado por Allan

Kardec, pode ser considerado um método científico. Observamos que o uso do método de Kardec por pesquisadores acadêmicos e não acadêmicos, como um método científico

é uma possibilidade. Nesse estudo, procuramos entender os procedimentos específicos da ciência espírita e o uso do

método de Allan Kardec nas pesquisas sobre a temática espírita.

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Como Kardec era da academia francesa

e vivia em um contexto positivista de

onde surgiram as ciências como as

conhecemos hoje, utilizou o mesmo

método de pesquisa de sua época, se

distanciando delas ao eleger as

revelações dos espíritos como seu

objeto de pesquisa.

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Analisar, comparar, discutir, complementar, revisar, duvidar,

reinterpretar, criticar e reconsiderar são as práticas que devem nortear as pesquisas sobre essa temática. Nesse

sentido, vemos neste século a inserção da pesquisa sobre temática espírita no

meio acadêmico de uma maneira significativa, e a Liga de Pesquisadores do Espiritismo (LIHPE), tem dado uma

importante contribuição.

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Muito mais que obter respostas sobre o

uso do método de pesquisa utilizado

por Allan Kardec, e sem a pretensão de

esgotar o tema, procuramos suscitar

debates e reflexões e ter contribuído

com essa temática.

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