eu gosto é daqui, da roça!

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8• nº1862 Dezembro/2014 Conceição Inácia dos Santos Vieira, 67 anos, mora na comunidade Ponta do Morro, a 10km do município de Conceição do Canindé. Nascida e criada em Isaias Coelho, município próximo, a agricultora mudou-se na década de 70, para onde hoje é o seu lar. Apaixonada pela vida no campo, Dona Inácia é mãe de seis filhos e casada com Raimundo José Vieira, 68 anos. Há 37 anos é funcionária da escola municipal, mas nunca se afastou da vida na roça, lugar onde diz ser feliz de verdade. “Eu nasci em Isaias Coelho e vim pra cá em 71, mas se fosse pra eu voltar de novo pra lá eu não voltava não. Eu gosto é daqui, da roça! Ave Maria, eu adoro roça! Eu tenho 37 anos que tenho meu salário que eu trabalhava num colégio, mas eu nunca deixei a roça. Eu nunca deixei a roça não', conta Inácia com um sorriso largo. Assim que chegaram à comunidade para começar a vida, o casal passou por muitas dificuldades. Em ano de seca, eles iam buscar água na barreira, município de Isaias Coelho, a 19 km de Conceição. Tempos depois, um poço em uma fazenda da região tornou-se a principal fonte de água, que era carregada no lombo de animais, como o jumento. As mulheres percorriam 10 km para lavar a roupa da família. Foi uma época de sofrimento, conta o casal, a renda vinha do algodão cultivado, que era colhido em abundância em tempos de chuva, vendido e distribuído com aqueles que não tinham condições de plantar. “Era um tempo sofrido, mas Deus dava uns inverno ai a gente tirava muito algodão, muito. Dava algodão a quem não tinha e a gente tinha dinheiro pra cobrir as coisas”, explicou Seu Raimundo. ‘‘Eu gosto é daqui, da roça!’’ do Canindé Família de Dona Inácia e Seu Raimundo Dona Inácia em seu plantiu de milho Horta de alface Felicidade Goiaba

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Inácia Vieira, 67, mora na comunidade Ponta do Morro, a 10km do município de Conceição do Canindé. Nascida e criada em Isaias Coelho, município próximo, a agricultora mudou-se na década de 70, para onde hoje é o seu lar. Apaixonada pela vida no campo, Dona Inácia é mãe de seis filhos e casada com Raimundo José Vieira, 68 anos. Há 37 anos é funcionária da escola municipal, mas nunca se afastou da vida na roça, lugar onde diz ser feliz de verdade.

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Page 1: Eu gosto é daqui, da roça!

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8• nº1862

Dezembro/2014

Conceição

Inácia dos Santos Vieira, 67 anos, mora na comunidade Ponta do Morro, a 10km do município de Conceição

do Canindé. Nascida e criada em Isaias Coelho, município próximo, a agricultora mudou-se na década de 70, para

onde hoje é o seu lar. Apaixonada pela vida no campo, Dona Inácia é mãe de seis filhos e casada com Raimundo José

Vieira, 68 anos. Há 37 anos é funcionária da escola municipal, mas nunca se afastou da vida na roça, lugar onde diz

ser feliz de verdade.

“Eu nasci em Isaias Coelho e vim pra cá em 71, mas se fosse pra eu voltar de novo pra lá eu não voltava

não. Eu gosto é daqui, da roça! Ave Maria, eu adoro roça! Eu tenho 37 anos que tenho meu salário que eu

trabalhava num colégio, mas eu nunca deixei a roça. Eu nunca deixei a roça não', conta Inácia com um sorriso

largo.

Assim que chegaram à comunidade para começar a vida, o casal passou por muitas dificuldades. Em ano de

seca, eles iam buscar água na barreira, município de Isaias Coelho, a 19 km de Conceição. Tempos depois, um poço

em uma fazenda da região tornou-se a principal fonte de água, que era carregada no lombo de animais, como o

jumento. As mulheres percorriam 10 km para lavar a roupa da família. Foi uma época de sofrimento, conta o casal, a

renda vinha do algodão cultivado, que era colhido em abundância em tempos de chuva, vendido e distribuído com

aqueles que não tinham condições de plantar. “Era um tempo sofrido, mas Deus dava uns inverno ai a gente tirava

muito algodão, muito. Dava algodão a quem não tinha e a gente tinha dinheiro pra cobrir as coisas”, explicou Seu

Raimundo.

‘‘Eu gosto é daqui, da roça!’’

do Canindé

Família de Dona Inácia e Seu Raimundo Dona Inácia em seu plantiu de milho

Horta de alface Felicidade

Goiaba

Page 2: Eu gosto é daqui, da roça!

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Piauí

Em 2003, quando o casal recebeu a cisterna de 16 mil litros do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC),

Seu Raimundo teve sérios problemas de saúde e passou dois meses internado no hospital de Conceição do Canindé,

operado. Durante esse tempo, Dona Inácia conta que mesmo com toda dificuldade ela não desanimou, trabalhou

duro e conseguiu concluir a construção do implemento. “Eu botei trabalhador e quando eles levantaram a cisterna

eu aterrei ela todinha, tudo, e eu trabalhava num colégio. Eu chegava, ia fazer café, fazia almoço, tudo pros

trabalhador. E quando Raimundo chegou aqui eu tava com essa cisterna prontinha, prontinha, prontinha, só

faltando Deus mandar a chuva. Eu enfrentei tudo e graças a Deus pra mim foi cem por cento e até hoje eu enfrento

tudo e tenho disposição”.

A segunda cisterna, de 52 mil litros do programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), chegou neste ano de 2014,

e foi motivo de comemoração para a família. As chuvas, que já chegam ao semiárido piauiense, encheu a cisterna de

Dona Inácia, que já iniciou sua plantação. Tudo que a agricultora produz é também dividido com os filhos e vizinhos.

“A gente vive na lida da roça, tem uns criatório, tem gado, tem ovelha, tem bode, porco, galinha, de tudo eu crio. Eu

planto alface, pimentinha, pimentão, planto mostarda, cenoura, beterraba, abacaxi, mamão, tudo eu planto. E eu

não gosto de tá vendendo as coisas que eu produzo não, não gosto de vender não, só quando precisa mesmo, eu

faço é dar. Essa cisterna aqui melhorou cem por cento aqui. Essa cisterna é a melhor benção!”

Realização Apoio

OBRA KOLPING DO PIAUÍ

Na casa do casal, a felicidade tomou conta da família com mais essa conquista, pois eles têm a certeza de

que com água armazenada é possível manter e até ampliar a produção e a criação. “Essa cisterna aqui depois que

fizeram é água pra banhar, pra bater pano, pra dar água a bicho, pra tudo. A invenção dessas cisternas foi uma

beleza. Uma benção!”, conta Seu Raimundo feliz da vida.

Com a chegada das chuvas o amor pela terra em que vivem só aumenta, Dona Inácia fala, com um brilho

nos olhos, dos planos para os dias futuros. “Hoje a cisterna tá cheia, choveu e encheu. Agora quero plantar e

fazer uma horta linda, linda mermo, equipar ela, pegar a caixa, botar lá, pegar água e agoar minhas plantas e

fazer lá um bocado de canteiro, vou encher de planta lá”.

Felicidade com a cisterna cheia

Cisterna da P1MC Casal na roça