Ética no planejamento do marketing mix
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Planejamento de marketingTRANSCRIPT
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Destaques ABEMD
Capítulo 3 – LISTAS
3.1. Lista é um conjunto de informações individuais sobre consumidores - pessoas físicas ou jurídicas -utilizado nas atividades profissionais de marketing direto, e assim deverá ser definida sempre quedivulgada.
Respeito à privacidade do consumidor
3.2. Os agentes de marketing direto que abrem a outras empresas a possibilidade de utilizar suas listasde clientes para ações de marketing direto, devem informar tal prática ao consumidor no momento emque seus dados estiverem sendo coletados.
3.3. Os agentes de marketing direto devem oferecer ao consumidor a opção de ter seu nome suprimidode sua lista, e providenciarem a supressão para os que assim o desejarem.
3.4. Os agentes de marketing direto devem restringir a coleta de informações sobre o consumidor e seucompartilhamento com outras empresas aos dados adequados para fins de marketing.
3.5. Critérios de seleção e informações que possam ser considerados de natureza pessoal ou íntimanão poderão ser compartilhadas com outras empresas quando o consumidor acreditar que tais dadosserão mantidos em sigilo.
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Destaques do CENP
NORMAS-PADRÃO DA ATIVIDADE PUBLICITÁRIA
7º EDIÇÃO - JANEIRO!2003
DO RELACIONAMENTO COMERCIAL ENTRE ANUNCIANTES,AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE E VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO,FRENTE À LEI Nº 4.680/65 E AOS DECRETOS Nº 57.690/66 E 4.563/02
Considerando,
a) que, Anunciantes, Agências e Veículos de Comunicação são parceiros indissociáveis, numaatividade de fundamental importância para a economia de mercado e para a sociedade moderna;
b) que, acima e além dos seus próprios interesses, têm o propósito comum de preservar a liberdade deexpressão, nos termos do artigo 5º, inciso IV da Constituição Federal;
c) que, a busca de menores custos, da maior produtividade com melhor resultado para o investimentoem marketing e em comunicação de marketing, porparte de cada qual, está diretamente ligada àdiminuição dos custos de transação do relacionamento entre Anunciantes, Agências de Publicidade eVeículos de Comunicação;
d) que, a Lei nº 4.680/65, em seu artigo 17, determina que a atividade publicitária nacional será regidapelos princípios e normas do Código de Ética dos Profissionais instituído pelo I Congresso dePropaganda, realizado em outubro de 1957, sendo que esta Lei é vinculante e de ordem pública não sópara os profissionais de propaganda, mas para as soluções impostas aos demais agentes demercado que com eles, necessariamente, se correlacionam (Anunciantes e Veículos de Comunicação).
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Destaques do CONARAlguns casos julgados em dez/2003
“Celta 1.4 - Bombeiro”
Representação nº 288/03Autor: Conar, a partir de queixa de consumidorAnunciante e agência: GM e McCann-EricksonRelator: Carlos ChiesaDecisão: AlteraçãoFundamento: Artigos 1º, 3º, 33 letra b e 50 letra d do Código
Soa o alarme e os bombeiros apressam-se em atender à ocorrência. Mas um deles se atrasa e perde ocaminhão. O que fazer?O bombeiro não hesita: pega o Celta 1.4 estacionado à porta do quartel e dispara em direção aoincêndio, lá chegando antes dos companheiros.Consumidores de São Paulo e Uberlândia viram no filme para a TV da GM sinais de direção perigosa,o que contraria frontalmente o disposto no Código Brasileiro de Auto-regulamentação Publicitária.Em sua defesa GM e McCann-Erickson negam a denúncia. O bombeiro chega mais rápido ao incêndioporque o carro é compacto e ágil, capaz de trafegar por ruas estreitas, ao contrário do caminhão. Negahaver sinais de excesso de velocidade (o que poderia ser comprovado por uma breve imagem dopainel de instrumentos do carro, que indicaria velocidade de 70 km/h). A defesa pondera ainda que setratava de situação de emergência e que o bombeiro é profissional habilitado a “agir em situações deemergência com desenvoltura e preparo”.O relator aceitou apenas parcialmente estas alegações. As seguidas “cantadas” de pneus e ovelocímetro que, ao contrário do que afirma a defesa, chega aos 80 km/h deixaram-lhe, a impressãogeral coincidente com aquela dos consumidores que fizeram a denúncia. Ele propôs a alteração dofilme, voto aceito por unanimidade.
“Papete do Seninha - espionagem”
Representação nº 312/03Autor: Grupo de consumidoresAnunciante e agência: Grendene e W/BrasilRelator: Arthur AmorimDecisão: ArquivamentoFundamento: Artigo 27 n. 1 letra a do Rice
Grupo de consumidores de Santos enviou correspondência ao Conar protestando contra os termos defilme para a TV da papete do Seninha. Os consumidores consideram que o filme apresenta exemplosde comportamento reprovável e perigoso para crianças, qual seja, espionar bandidos, pular muros etc.A defesa considera que o filme alude de forma clara a brincadeiras comuns ao imaginário infantil quesaberão ser facilmente identificadas pelo público alvo.O relator recomendou arquivamento, voto aceito por unanimidade.
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compra para adquiri-la, particular cuidado deve ser tomado pelo Promotor para assegurar que anecessidade desta compra adicional seja claramente informada.
12.22 Quando dois ou mais itens são oferecidos e apenas um é grátis, particular cuidado deve sertomado para assegurar que o consumidor entenda plenamente qual é o produto oferecidogratuitamente e qual ele deverá pagar.
12.23 Quando amostras são distribuídas gratuitamente deve se estar claro ap consumidor que não énecessário pagar por elas, nem há compromisso dele para sua aceitação, assim como, nos casos deamostras que demandem retorno ao Promotor, não deverão ser exigidas quaisquer despesas deremessa e devolução, com os custos totalmente assumidos pelo Promotor.
12.24 Disponibilidade de produtos promocionais
Em todas as circunstâncias em que há um limite máximo de quantidade de produtos promocionaisoferecidos, o Promotor deverá claramente mencionar este fato, assim como o material promocional nãodeverá superestimar a chance de ganho dos participantes. O Promotor deve tomar todas asprecauções para evitar desapontamentos dos consumidores.
12.25 Administração
Todas e quaisquer promoções devem ser administradas com recursos adequados que estejam sob asupervisão própria do Promotor, quer sejam feitas pelo seu Agente Intermediário, que deve tomar asprecauções necessárias para assegurar que não haja razões para reclamações de consumidores. Aoreceber a delegação dos Promotores para administrar suas promoções o Agente Intermediário assumeresponsabilidade de administração como se fosse o próprio Promotor, nas medidas do seuenvolvimento e limites de contratação.
O Agente Intermediário deve controlar conveniente e honestamente as promoções querepresenta, administrado-as corretamente.
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regulamento deve exigir que estes aprovem por escrito a participação da criança. Tudo deve ser feitopara que a promoção não estimule a criança ou o jovem a constranger seus pais, tutores, responsáveisou terceiros, assumindo uma posição socialmente condenável.
12.14 Segurança
As promoções devem sempre ser norteada pela mais absoluta segurança. Cuidados devem sertomados nos casos das promoções ou do material promocional distribuído ou dirigido a adultos,quando estiverem sujeitos a serem desviados para crianças. Avisos de segurança devem sermencionados em todas e quaisquer peças ou materiais promocionais sempre que necessário.
12.15 Uso de produtos e atrativos promocionais
Promotores não devem oferecer produtos e atrativos promocionais que possam ofender a moraldominante ou que, no contexto da promoção, possam ser considerados socialmente indesejáveis, oulevantem dúvidas quanto sua restrição legal.
12.16 Amostras grátis
Cuidados especiais devem ser tomados na distribuição de amostra grátis, respeitando-se a privacidadedaqueles a quem se destina e assegurando-se que crianças ou outros consumidores vulneráveis sejamresguardados do seu recebimento, quando se tratar de amostras destinadas exclusivamente a adultos.
12.17 Exageros
Consumidores e receptores comerciais não devem ser persuadidos a superestimar e supervalorizarações que envolvam produtos e atrativos promocionais. Cuidados especiais devem ser tomadosquando estes não podem examinar a mercadoria antes de adquiri-la.
12.18 Preços, Ofertas, Vantagens, Descontos.
As ofertas, as condições de vantagens e descontos, assim como as condições de preço e pagamentodevem assegurar informações suficientemente claras, corretas, precisas, sem sugerir dubiedade deinterpretações pelos consumidores, e obedecendo-se rigidamente a legislação do País.
12.19 Ofertas "Grátis”
Ofertas não devem ser tituladas como grátis se houver quaisquer custos diretos ao consumidor, salvono caso das taxas abaixo discriminadas, e mediante prévio esclarecimento aos participantes: ·custo depostagem - correio, etc; custos de frete ou entrega de mercadorias promocionais; e custos de despesasde viagens do ganhador para recebimento da oferta grátis.
12.20 O uso da expressão grátis ou similar e correspondente só é permitida nos casos em que apromoção não transfere nenhum custo ao consumidor em relação ao prometido gratuitamente. Sãoproibidas promoções em que o Promotor procura recuperar o custo de uma oferta grátis: impondotaxas que normalmente não cobrariam; inflacionando quaisquer despesas incidentes sobre postagens,fretes, etc; alterando a composição, qualidade ou aumentando preços normais dos produtos quedevem ser adquiridos durante a promoção.
12.21 Quando uma oferta grátis é apresentada em uma embalagem e o consumidor precisa fazer outra
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Todas e quaisquer ações promocionais devem ser planejadas e implementadas de tal maneira a evitarquaisquer frustrações dos consumidores.
12.5 Imparcialidade
Todas as mecânicas, planos e projetos promocionais que envolvem competições devem prever totalimparcialidade no julgamento, sem preconceitos de raça, credo ou religião, permitindo a todos osparticipantes, indistintamente, equanimidade de participação.
12.6 Interesse Público
As promoções de vendas não podem conflitar com o interesse público, evitando-se serdemasiadamente provocante, conter estímulo à violência ou comportamento anti-social, prejuízo para apropriedade ou causar incômodo ou insulto a qualquer cidadão.
12.7 Veracidade
A apresentação da promoção deve ser clara, honesta, fácil de entender, contendo sempre todos osdados principais de participação aqueles a quem se destina.
12.8 Limitações
Todo e qualquer fato que possa interferir na decisão de participar ou não de uma promoção, deve serclaramente comunicada ao interessado, e de tal maneira que este possa avaliar antes de se submetera qualquer compra de bens, idéias ou serviços.
12.9 Privacidade
A privacidade do consumidor deve ser protegida e as promoções devem ser implementadasrespeitando-se o direito dos consumidores a terem razoável privacidade, e evitando-se que estestenham quaisquer problemas ou aborrecimentos. O Promotor não pode fazer uso do nome, endereço eimagem do consumidor na divulgação dos resultados das promoções, sem sua expressa autorização,salvo nos casos em que claramente fique estabelecido que, ao participar da promoção, ele autorizaautomaticamente o uso de seu nome e imagem.
Promotores que usam listagens contendo nomes de consumidores devem assegurar que estas listassejam corretas, eliminando o nome do consumidor que requisitar sua exclusão. 12.10 - Administraçãode Listagens Prestadores de Serviços que recebem a incumbência de administrar cadastros dosPromotores devem manter total confidencialidade da listagem.
12.11 Crianças e Jovens É considerada criança ou jovem aquele que tem menos de 16 anos de idade.As ações promocionais não devem tomar vantagem da sua ingenuidade, credibilidade ou grau deexperiência.
12.12 Cuidados especiais devem sempre ser tomados para se evitar quaisquer riscos emocionais,morais ou físicos para as crianças, assim como as promoções não devem oferecer produtospromocionais inadequados para distribuição a crianças e jovens.
12.13 Quando as ações promocionais podem gerar conflitos entre crianças e pais ou tutores, o
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APÊNDICES E ANEXOS
Destaques da AMPRO
FISCALIZAÇÃO ÉTICA - CADASTRO DE IDÉIAS PROMOCIONAIS
7.1 A AMPRO manterá internamente, à disposição dos associados, um Cadastro de planos, idéias,sugestões, projetos, etc. Todo associado poderá se utilizar deste Cadastro, encaminhando a AMPRO,devidamente lacrado, ao estar participando de concorrências, e mesmo nos casos que entender fazeruso desses serviços, um documento registrando seus planos e idéias. Todas as vezes que se sentirlesado nas suas relações com o Promotor, o Agente Intermediário poderá pedir ao Conselho Diretor daAMPRO proceder à abertura desse documento comprobatório do seu trabalho criativo, resguardando apropriedade do direito autoral. A abertura desses registros se dará na presença dos membros doConselho e do próprio Promotor, formalmente convidado pela Entidade. O Conselho de Ética doConselho Diretor da AMPRO deverá elaborar um Regimento Interno estabelecendo as normas defuncionamento desse Cadastro, o qual igualmente está disponível para uso dos Promotores,registrando o que julgar conveniente, com o objetivo de salvaguardar seus interesses, evitando queAgentes Intermediários inescrupulosos se apropriem de idéias emanadas do próprio Promotor, sobalegação de que é sua criação e/ou para eventual uso junto à concorrência do Promotor.
7.2 Este serviço está, igualmente, à disposição de uso de pessoas, firmas, empresas efornecedores de serviços criativos ao Agente Intermediário, quando este, por delegação dospromotores, recorrer a seus fornecedores fazendo concorrências que envolvam talento criativo. OAgente Intermediário deverá expor claramente a seus fornecedores as regras de participação deconcorrência, não podendo se utilizar dos serviços criativos destes, salvo nos casos de seremmantidos previamente entendimentos contratuais entre o Agente Intermediário e seus fornecedores.
RECOMENDAÇÕES GERAIS PARA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS EM TODAS AS FORMAS DEPROMOÇÃO DE VENDAS
12.1 Legalidade
Todas as promoções de vendas devem estar de acordo com a lei. Estes princípios são estabelecidospara complementar os controles legais e não para substituí-los.
12.2 Honestidade na Competição
Todas as promoções de vendas devem seguir os princípios de honestidade na competição, balizando-se pelo respeito aos concorrentes, consoante naturalmente aceito no mundo dos negócios e emrespeito à lei.
12.3 Interesses do Consumidor
Todas as ações do Marketing Promocional devem ser honestas, respeitando a integridade doconsumidor e devem ser vistas como tal. Nenhum Promotor, Agente Intermediário, ReceptorComercial, ou qualquer pessoa engajada na promoção deve abusar da boa fé do consumidor ouexplorar as técnicas, meios e instrumentos promocionais em seu detrimento.
12.4 Satisfação do Consumidor
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Artigos eletrônicos e web sites consultados:
CDN HOJE. Reputação da marca é índice de sucesso. Companhia de Notícias, SãoPaulo, 22 de janeiro de 2004. Disponível em: <http://www.cdn.com.br> Acesso em: 8de março de 2004.
ABEMB: www.abemd.com.br
ABONG: www.abong.org.br
AMA: www.marketing power.com
AMPRO: www.ampro.com.br
BUSINESSWEEK: www.businessweek.com
CONAR: www.conar.org.br
COUNCIL FOR ETHICS IN ECONOMICS: www.businessethics.org
CENP: www.cenp.com.br
FPNQ: www.fpnq.org.br
GIFE: www.gife.org.br
INSTITUTO ETHOS: www.ethos.org.br
PROCON: www.procon.sp.gov.br
THE ECONOMIST: www.economist.com
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MOREIRA, Talita. Governança Corporativa é mais dircurso que realidade, dizpesquisa. Valor Econômico, São Paulo, 10 de novembro de 2003. CadernoEmpresas, B2.
MOREIRA, Talita. Conselhos no país ainda estão longe do profissionalismo –Governança: levantamento mostra que em 50 casos avaliados pela CVM, 23envolveram o órgão de gestão. Valor Econômico, São Paulo, 5 de novembro de2003. Caderno Empresas, B1.
MUNCHAU, Wolfgang. São muitos os culpados pelo escândalo na Itália. ValorEconômico, São Paulo, 2 de janeiro de 2004. Caderno Empresas, B2.
PLENDER, John. Escândalos colocam profissão em xeque – Auditoria em crise:raudes na Europa levantam mais uma vez dúvidas sobre a qualidade das firmasglobais. Valor Econômico (tradução do Financial Times), São Paulo, 30 de janeiro de2004. Caderno Empresas Especial, B6.
ROSEMBLUM, Célia. Combate à desnutriçnao ganha reforços - Voluntariado:franqueados de O Boticário vão participar de ações desenvolvidas pela Pastoral daCriança. Valor Econômico, São Paulo, 25 de julho de 2003. Caderno EspecialEmpresa&Comunidade, F3.
SARAIVA, Jacílio, CZAPSKI, Silvia. Equilíbrio delicado: pesquisa revela que asustentabilidade dos negócios – que considera as dimensões econômica, social eambiental – é um campo promissor no Brasil. Valor Econômico, São Paulo, 1 dedezembro de 2003. Caderno Especial Empresa&Comunidade, F1.
VIEIRA, Catherine. Investimentos pautados pela ética: fundos de pensão queremadotar postura socialmente responsável na hora de aplicar seus recursos. ValorEconômico, São Paulo, 9 de setembro de 2003. Caderno Eu&Investimentos, D3.
WERNECK, Ticiana, PAVONI JUNIOR, Gilberto. A empresa no mundo do cliente:especialistas alertam para a necessidade de planejar o crescimento da empresa, deolho nos grandes movimentos da economia global e nas necessidades doconsumidor. Consumidor Moderno, São Paulo, nº 75, pgs. 80 e 81, novembro 2003.
WILKIE, William L., MOORE, Elizabeth S. Marketing’s contributions to society.Journal of Marketing, Vol. 63 pgs. 198-218, 1999.
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Artigos
BAETA, Zínia. Projetos criam seguro ambiental – Meio ambiente: pelo menos duaspropostas sobre o tema tramitam na Câmara dos Deputados. Valor Econômico, SãoPaulo, 19 de janeiro de 2004. Caderno Legislação&Tributos, E1.
BOTELHO, Andréa. Consumidor brasileiro está mais consciente. O Estado de SãoPaulo, São Paulo, 15 de março de 2004. Caderno de Economia, B8.
BUSINESS WEEK. Lea Fastow Ee acusada de participar das falcatruas na Enron –Herdeira algemada: integrante de uma família tradicional de Houston, ela teriaajudado o marido Andrew. Valor Econômico (traduzido da Business Week), SãoPaulo, 24 de novembro de 2003. Caderno Empresas, B4
CARDOSO, Roberta. Modelos normativos de ética em marketing: inclusão da teoriados stakeholders e da filosofia realista. No: Encontro Nacional da ANPAD, 2004.
CARDOSO, Tom. Guru corporativo perde espaço nas prateleiras: crise de grandesempresas mudam o foco de leitores. Valor Econômico, São Paulo, 4 de março de2004. Caderno Especial Educação Executiva, F5.
CHRISTOVÃO, Daniela. Entidades ligadas à internet criam código de ética paralimitar spam – Direito Digital: mensagens indesejadas devem chegar a 35% datransmissão de dados no país. Valor Econômico, São Paulo, 12 de novembro de2003. Caderno Legislação&Tributos, E1.
COSTA, Robson. Por ONGs mais transparentes e muito mais responsáveis:entidades do terceiro setor aplicam técnicas de governança corporativa. ValorEconômico, São Paulo, 9 de fevereiro de 2004. Caderno Eu&Carreira, D4.
FINANCIAL TIMES. Sanyo prepara o CD biodegradável, produzido com polímero domilho. Valor Econômico (traduzido do Financial Times), São Paulo, 27 de novembrode 2003. Caderno Empresas, B4.
LUSCH, Robert F. LACZNIAK, Gene R., MURPHY, Patrick E. The “ethics of socialideas” versus the “ethics of marketing social ideas”. The Journal of Consumer Affairs,1980.
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PRINGLE, Hamish, THOMPSON, Marjorie. Marketing Social. 1 ed. São Paulo:Makron Books, 2000.
RIES, Al, TROUT, Jack. Posicionamento: como a mídia faz sua cabeça. 3 ed. SãoPaulo: Pioneira, 1989.
SMITH, N. Craig, QUELCH, John A. Ethics and the marketing manager. Homewood,IL: Irwin, 1993.
STUKART, Herbert Lowe. Ética e corrupção. 1 ed. São Paulo: Nobel, 2003.
TOFLER, Alvin. Powershift: as mudanças do poder. 2 ed. Rio de Janeiro: Record,1990.
WALTON, Mary. O método Deming. 3 ed. Rio de Janeiro: Marques-Saraiva, 1989.
71
CAPÍTULO 7
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANDREASEN, Alan R. Ética e Marketing Social. 1 ed. São Paulo: Futura, 2002.
BORGES, Maria de Lourdes, DALL’AGNOL, Darlei, DUTRA, Delamar Volpato. Ética.1 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Identidade & Etnia. 1 ed. São Paulo: Brasiliense,1986.
BRIGHAM, John E. The graphic work of M. C. Escher. 1 ed. New York: HawthornBallantine, 1971.
FERRACCIÙ, João De Simoni. Promoção de Vendas. 1 ed. São Paulo: MakronBooks, 1987.
HAUSER, Arnold. História Social da Arte e da Literatura. 1 ed. São Paulo: MartinsFontes, 1995
KOTLER, Philip. Administração de Marketing. 10 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2000.
LACZNIAK, Eugene R., MURPHY, Patrick. Ethical Marketing Decisions: The higherroad. 1 ed. Upper Saddle River, New Jersey: Prentice Hall, 1993.
LANDIM, Leilah, BERES, Nelde. As organizações sem fins lucrativos no Brasil. 1 ed.Rio de Janeiro: Nau, 1999.
MELLO, Luiz Gonzaga de. Antropologia Cultural. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1986.
PORTER, Michael E. Vantagem Competitiva: Criando e sustentando umdesempenho superior. 5 ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992
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CAPÍTULO 6
CONCLUSÕES
O processo todo de imersão e estudo do tema ética em marketing
permitiu o desenvolvimento de uma percepção mais ampla da responsabilidade que,
não apenas os profissionais de uma atividade como a de marketing possui, mas
também os indivíduos de forma geral, na sociedade. Por vezes, é muito clara a
sensação de que muita gente parece ‘se deixar levar’ pelos acontecimentos.
Independente se esta é uma característica do povo brasileiro, o que se deve ter em
mente é que viver em sociedade é ‘ser todos sem deixar de ser um’. Cada indivíduo
representa e constitui a sociedade em cada momento de sua vida, mas ao mesmo
tempo não pode deixar de ser ele mesmo. A mobilização social em torno de
questões éticas é a expressão do indivíduo, conscientizando-se dos danos que
práticas não éticas ou que visam o benefício de poucos, podem gerar. Como citado
no início deste trabalho, da noite para o dia CEO’s de grandes corporações são
questionados, simultaneamente a dispensa de centenas de funcionários e
conseqüentemente, da perda de renda nas famílias. O dano social se estende para
diversos campos e afeta o princípio básico da economia, a confiança. A falta de
confiança numa empresa gera redução de compra de um produto ou marca, a venda
desesperada de ações da mesma, a perda de crédito e cobrança de fornecedores,
apenas para citar alguns casos.
Logo, mais importante que alcançar um ideal de práticas pautadas pela
ética e a ‘RS’ como conseqüência, é o compromisso que todos os stakeholders
devem firmar, para iniciar o percurso nesta via de elevados valores humanos.
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CAPÍTULO 5
RESULTADOS ESPERADOS
São resultados esperados, uma maior maturação do tema ética em
marketing pelos profissionais da área, com uma conseqüente mobilização e ampla
discussão da questão. É esperado que gerações futuras possuam este novo
conceito absorvido no meio acadêmico e o mais importante, na atuação como
indivíduo. Também é almejado como resultado, um crescente envolvimento de
diferentes comunidades e grupos sociais, agregando maior conhecimento e
experiência diversa nos Conselhos de Marketing Mix.
Não é esperado atingir estes resultados de forma rápida, apesar do
freqüente espaço dos conceitos de ‘RS’ e ética na sociedade atual. É um processo
que depende da representatividade, confiança e resultados práticos para continuar
no processo de evolução, caso contrário, poderia ficar fadado a um segmento
restrito de profissionais e ser mais um componente burocrático ou de conflitos
conceituais, agregando pouco valor à atividade. Mas, a crescente mobilização do
meio corporativo, social, governamental e não-governamental, evidenciados em
dados de pesquisas divulgadas neste trabalho, são fatores que colocam a agenda
proposta como uma oportunidade para avançar toda uma indústria, para patamares
mais elevados de práticas e conduta.
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diversas questões, devendo esta responsabilidade, ser compartilhada por todos os
stakeholders. A mudança que ocorreu no mercado de cigarros é um exemplo do que
em breve, deve ocorrer com bebidas alcoólicas, também. O papel dos governos e do
setor corporativo é serem facilitadores deste processo de maturação e
conscientização social. É papel do profissional de marketing, atentar para estas
variáveis e propor caminhos estratégicos que vão de encontro a conceitos mais
elevados de responsabilidade social.
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sociedade, sejam eles largamente presentes no cotidiano social, de grupos sociais
restritos ou ainda, na forma latente. A chamada ‘era da informação’ e as novas
tecnologias e recursos em comunicação, potencializaram a abrangência e a
qualidade das ações em marketing. Ou seja, a promoção em marketing tem a
capacidade de propagar ou estimular determinados comportamentos sociais, aliando
recursos e expertise adquiridos em diferentes campos de estudo do ser humano.
Não é o objetivo deste trabalho, discutir se o marketing cria necessidades sociais,
seja em torno de produtos, serviços ou idéias, ou se o marketing é apenas um meio
para reforçar os mesmos, perante uma necessidade já existente e identificada no
público-alvo. Este tema é de grande complexidade e ainda, longe de chegar a um
consenso. Ou seja, o marketing atende uma necessidade existente, ele não cria. O
que está em questão, neste momento da discussão é, quais os comportamentos,
estilos e imagens que o marketing deveria potencializar e contribuir na propagação
social. Seria, em alguns casos, negar o que somos na realidade, mas ao mesmo
tempo, ter em vista o que podemos ser, numa escala qualitativa. A adoção
exagerada ou injustificada de imagens, demasiadamente, sensuais, podem estar de
acordo com o que a nossa sociedade está habituada a ver nas avenidas, na semana
de carnaval. É isto que queremos? Qual será o limite desta exposição,
principalmente, do corpo feminino? Quais as conseqüências deste ‘modelo social’
sobre as gerações futuras?
Não há uma resposta para estas questões, pois depende de um amplo e
aberto diálogo de todos os envolvidos neste processo, e reforço, com
representatividade e equalização de forças de interesse. Não tenho dúvida de que a
sociedade, no seu devido tempo, irá manifestar seus desejos quanto às mais
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infantis e 6 dedoches – pequenos fantoches – são utilizados em campanhas de
prevenção a acidentes domésticos, higiene bucal, leitura e meio ambiente. As
apresentações com os dedoches compõem o Dia da Celebração da Vida, projeto em
parceria com a Pastoral da Criança em comunidades atendidas. Num mundo com
rapidez no acesso a informação, ainda existem localidades sem energia elétrica,
mas com rodovias a apenas alguns metros de uma vila de pescadores. Então, a
definição da modalidade de transporte de produtos, não deve apenas atentar para a
modalidade mais rápida e econômica, mas sim para quais regiões seriam
beneficiadas com a inclusão no roteiro de transporte. O estudo, obrigatoriamente,
passa a considerar variáveis sócio-econômicas também.
. 4º “P” – Promoção
a) Criação publicitária e promocional
A estratégia para a ‘promoção’ em marketing deve, sempre que possível,
criar oportunidade para promover conceitos éticos e de responsabilidade social,
amplificando estes ideais na sociedade, associado ou não a marcas e/ou empresas.
Uma ação promocional seja ela qual for, propaga além de conceitos e
posicionamento de um produto ou serviço, mas também, estilos, comportamentos e
hábitos. A imagem de personalidades, acontecimentos na história de uma
sociedade, também compõem uma percepção generalizada do que uma sociedade
valoriza ou não, o que ela permite ou não, conforme seus padrões e enfim, como ela
se mostra e gostaria de ‘ser vista’. Slogans, gírias, movimentos gestuais e outros
tantos recursos utilizados na atividade de marketing, são a expressão da própria
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funcionários, clientes de empresas, imprensa, órgãos governamentais e comunidade
local, este complexo e amplo sistema só poderá operar de forma ética, com a
participação de todos os stakeholders em todas as etapas do processo decisório. A
corrida de governos estaduais, reduzindo impostos para abrigar novas unidades
fabris, é um exemplo que freqüentemente toma destaque na mídia. Nestes casos, a
exemplo das redes hoteleiras, os impactos são grandes e devem ser estudados por
comitês com adequada representatividade e força de interesses.
b) Meio de transporte ou transferência de produtos, bens, serviços ou
idéias
Quando se transporta produto, leva-se mais do que apenas o produto
físico. As redes de transporte propiciam desenvolvimento nas localidades que
abrangem, permitindo a entrada de uma infinidade de benefícios. Mas o próprio
transporte de produtos pode ser mais útil, quando analisado no escopo da
responsabilidade social/ética. Parcerias entre empresas que visam atender o mesmo
mercado podem otimizar custos e reduzir tráfego em rodovias, reduzindo custos de
manutenção de rodovias, danos ambientais e até qualidade de vida para famílias
residentes às margens das rodovias. Ainda pensando nas famílias quem habitam
regiões mais distantes dos grandes centros urbanos, um simples caminhão de
transporte de produtos pode ser meio de deslocamento para um serviço médico
público, para atender comunidades em campanhas de saúde pública específicas.
Utilizando a capilaridade da rede de franqueados de perfumaria e
cosméticos ‘O Boticário’, distribuiu kits com um miniteatro portátil, CD’s com histórias
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Atitude. Novas despesas com esta característica para as empresas, não devem ser
repassadas para o consumidor, mesmo com a aparente desvantagem em preço, nas
prateleiras. A Sanyo já desenvolveu em parceria com a Cargill Dow, um CD
biodegradável, proveniente do milho, que promete reduzir danos ambientais no
momento da decomposição. Uma espiga de milho resulta em dez CD’s. Mas, a
grande barreira para a implantação deste novo produto é seu preço no mercado,
estimado em US$0.60 contra US$0.20 do CD convencional (policarbonato). Este é
um processo que deverá ser conduzido com muita atenção, pois apesar de diversos
grupos com interesse no sucesso do MildDisc, o mercado consumidor pode ficar
restrito a ambientalistas e algumas comunidades mais sensibilizadas com a causa.
. 3º “P” – Praça
a) Análise e definição de localidade
O setor hoteleiro no Brasil realizou alguns exemplos neste campo, com a
criação de resorts em áreas de preservação ambiental, mas com emprego de mão-
de-obra local. No período, de aproximadamente, 18 meses iniciais de operação,
ainda era visível a dificuldade de grandes grupos hoteleiros em disseminar suas
aprimoradas técnicas e modelos de prestação de serviços para a mão-de-obra local
empregada no empreendimento. Ainda, no caso de hotelaria, a análise é bastante
complexa, pois envolve ainda, a criação de uma verdadeira estrutura de transporte
intermodal, permitindo a confortável chegada e saída de hóspedes. A interferência
deste sistema deve ser planejada com muita atenção, pois pode alterar de forma
definitiva toda uma região. Hotéis, agências de viagens e de incentivo, empresas,
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despesa que a indústria absorve. Um exemplo de como o mercado, naturalmente,
busca melhores alternativas para manter sua estrutura de custos em equilíbrio, é a
criação da entrega em bulk, ou entrega em grandes volumes. Nesta modalidade de
comercialização, o defensivo agrícola é adquirido sem embalagem, pois é entregue
em caminhões e com o uso na cultura, diretamente do mesmo.
. 2º “P” – Preço
a) Composição de custos e margem de lucro
A composição do preço, em todas as etapas da cadeia, deve ser da forma
mais clara possível e objetivando a disponibilização ao público-alvo em condições
que favoreçam a competitividade e desenvolvimento do mercado. Além de tributos e
impostos que, em princípio são revertidos para a sociedade direta ou indiretamente,
parte do preço do produto ou serviço também pode ser revertido para a sociedade,
por meio de programas e campanhas educativas, de cunho cultural, saúde pública e
cidadania. No Brasil, já existem empresas que alocam parte do seu faturamento
para ações de benefício social, a exemplo da ‘O Boticário’. O fato de ser alocada
parte do faturamento garante uma continuidade desta contribuição, independente do
lucro como resultado. Uma maior participação do setor público, ampliando benefícios
para setores que estão em fase de implantação de modelo de atuação focado em
responsabilidade social, pode ampliar a quantidade de iniciativas. Já se estuda a
criação de um seguro ambiental para empresas potencialmente poluidoras, com
cobertura para danos pessoais e ao meio ambiente, conforme Projeto de Lei nº
2.313/03, em análise na Câmara dos Deputados de São Paulo, desenvolvido ONG
62
b) Design e produção da embalagem
O desenvolvimento da embalagem de um produto deve, não apenas
proteger o produto no momento do transporte, facilitar o uso pelo consumidor, conter
clareza nas informações de composição, formas de utilização e responsáveis, mas
também ser concebido de forma a contribuir com a sociedade, em dois aspectos: na
sua produção física (como embalagem) e na circulação por canais até o consumidor.
Os materiais, maquinário, mão-de-obra e tecnologia empregadas na produção física
de uma embalagem, constituem uma cadeia produtiva à parte, que deve incorporar
as ‘Diretrizes’, caso que ocorre na indústria de defensivos agrícolas no Brasil.
Antevendo pressões sociais e governamentais quanto ao passivo de embalagens
em propriedades agrícolas, a indústria organizou-se para gerenciar um novo modelo,
hoje referência mundial, juntamente com os Estados Unidos, Canadá e Alemanha,
para o descarte e coleta de embalagens de defensivos agrícolas. Com investimento
previsto de US$25 milhões durante o período de 2002-2006, o Instituto Nacional de
Processamento de Embalagens Vazias – INPEV, promove a coleta de mais de 870
mil embalagens descartadas por mês, por meio de 50 Unidades de Recebimento em
todo o País. Embalagens de Polietileno de Alta Densidade – PEAD passam pela
chamada ‘tríplice lavagem’, processo de enxágüe das embalagens, que elimina
99,99% dos resíduos tóxicos, antes do envio para as Unidades de Recebimento e
posterior transformação para conduítes, utilizados na construção civil. Ainda existem
estudos, para gerar vassouras e cordas de plástico. Embalagens flexíveis de
alumínio, plástico ou papel, são encaminhadas para a incineração em alta
temperatura e com controle de filtros nas chaminés. Este processo gera uma nova
61
Viabilidade da Agenda - Propostas e Exemplos para os “4 P’s”
O objetivo aqui é exemplificar algumas oportunidades de planejamento
pautado pela ética e ‘RS’ em cada um dos “P’s” de marketing. O exercício inicia com
a busca de um prisma diferente para cada ‘P’. Nestes exemplos, o ‘P – Produto’ é
visto como um meio físico que circula pela sociedade e como tal pode agregar maior
valor ao processo; o ‘P – Preço’ é entendido como um recurso para reverter
benefícios para a sociedade, desde quer não ocorra ‘repasse’ de despesas para o
consumidor; o ‘P – Praça’ é visto como uma estrutura de ‘capilaridade’ que pode ser
meio de distribuição de outros elementos, além do produto em si; e, finalmente, o ‘P
– Promoção’ pode contribuir para a criação e manutenção de uma nova percepção
da sociedade sobre suas próprias aspirações.
. 1º “P” - Produto e Serviços
a) Pesquisa, desenvolvimento, extração de insumos e produção
A pesquisa, extração de insumos na natureza e produção, deve objetivar
a criação de um ciclo independente e específico para suprir as necessidades de
mercado. A exemplo das práticas encontradas no setor produtivo de papel, o ciclo
de extração e reflorestamento de madeira, é auto-sustentável. Os estudos para
novas tecnologias devem considerar aspectos relacionados a ‘RS’, além de ganhos
em produtividade e diferenciação.
60
Os 4 Conselhos atuariam fundamentando o ‘Processo Analítico’ e as
‘Diretrizes’, além de propiciar amplo debate na atividade de marketing,
desenvolvendo publicações e com atuação no meio acadêmico.
59
ELEMENTO REFERENCIAL
• Comissões de Profissionais de Marketing e Stakeholders
A proposta de criação de conselhos específicos para cada “P”,
objetivando estimular o ‘Processo Analítico’ e as ‘Diretrizes’, relacionados
anteriormente, e com balanço na representatividade de todos os stakeholders e
forças, seria uma forma estruturada para desenvolvimento de práticas éticas em
marketing. A exemplo do exercício de outras ONG’s no País, os Conselhos de
Produto, Preço, Praça e Promoção teriam a autoridade para analisar casos
específicos de ética no marketing mix, e inclusive, em parceria com outras ONG’s já
existentes (ex.: Conselho Promoção e CONAR). Os 4 Conselhos seriam um
referencial para os profissionais de marketing balizarem suas decisões. É importante
destacar que a atuação destes 4 Conselhos não é de finalidade regulatória ou até
punitiva, mas sim de finalidade educativa, propiciando referencial para o
desenvolvimento da atividade de marketing no Brasil.
58
É estabelecida uma nova forma de pensar a conseqüência das ações em
marketing no cenário macro, conforme segue na Figura 7.
Setor. Lideranças. Leis. Mercado
Sociedade. Valores. Princípios. Cultura. Religião
Global. Sociedades. Setores
visão de consequência
visão de consequência
Comunidades. População. ONG’s
Indivíduo
Empresa. Cadeia produtiva
Figura 7: Mudança de Raciocínio para o Marketing Ético e a Interação com Diferentes Ambientes
As áreas grifadas – ‘Indivíduo’, ‘Comunidades’ e ‘Global’ – são os novos
elementos no cenário pautado pela ‘RS’, e referencial inicial para o planejamento do
marketing mix. A visão de conseqüência deve migrar em todas as demais áreas,
realimentando todo o sistema, de forma ética e responsável. Ou seja, o
planejamento do marketing mix deve atender os objetivos estratégicos da empresa e
as necessidades de preservação, aprendizado e desenvolvimento dos stakeholders.
Os stakeholders, também devem zelar pela sustentabilidade da empresa no sistema,
fazendo uso da mesma visão de conseqüência.
57
ESCOPO COLETIVO (STAKEHOLDERS) – VISÃO DE CONSEQUÊNCIA
• Diretrizes para a Decisão no Planejamento do Marketing Mix
Agora, o raciocínio deve ser ampliado para um cenário maior,
considerando a sociedade e demais stakeholders. Como resultado do planejamento
do marketing mix, os “4 P’s” devem, objetivar a realização das seguintes diretrizes:
. Preservar e propiciar a sustentabilidade do meio-ambiente e sua diversidade;
. Preservar e disponibilizar aprendizado e desenvolvimento do ser humano e
suas distinções;
. Respeitar e valorizar hábitos, costumes, história, cultura e referências éticas e
morais da comunidade na qual está inserida ou relaciona-se.
. Respeitar e estimular o desenvolvimento de leis na comunidade na qual está
inserida ou relaciona-se;
. Atender às necessidades da empresa e da cadeia produtiva, como um todo,
visando à atratividade e sustentabilidade.
56
ESCOPO INDIVIDUAL - PROCESSO
• Variáveis no Planejamento do Marketing Mix
Deve visar o desenvolvimento de competência ética individual, através de
processo perene e evolutivo. O processo de aprendizado deve ser balizado, desde o
início, pelos códigos de ética existentes nas diferentes atividades de marketing, em
gestão empresarial e na legislação. O profissional de marketing deve permitir que
estas 3 forças delimitem, direcionem e alimentem o curso do processo, norteando
todas suas reflexões e ações.
Complementar ao ‘Processo Analítico de Variáveis’, seguem as Diretrizes
para a tomada de decisão, que abrangem escopo coletivo e numa abordagem
‘consequencialista’, de resultados esperados.
1 Referência: Conselho para Ética em Economia - Council for Ethics in Economics, 2001
55
comunidades é um fator imprescindível para a qualidade do processo de tomada de
decisão em ética. Então foi adicionado nesta agenda, um elemento de escopo
normativo, estabelecendo referenciais e precedentes históricos para o balanço em
relação às duas dimensões de reflexão. O chamado ‘elemento referencial’ contribui
com o direcionamento do processo decisório, resguardando valores, princípios e
moral das comunidades representadas e ainda, como meio de aprendizado e
preparo de novas gerações de profissionais.
54
Complementar aos dois escopos de planejamento, ainda é proposto, um
elemento de cunho ‘referencial’, visando nortear o processo e alimentar amplo
debate. A Figura 5 apresenta a síntese da proposta de agenda.
Cada escopo, individual e coletivo, traz benefícios para a atividade de
marketing, seja como ‘processo’ (metodologia) de planejamento ou exercício da
‘visão de conseqüência’, respectivamente. Desta forma, esta agenda visa abranger
os vários elementos satélites na tomada de decisão ética em marketing, estimulando
o exercício de raciocínio em dimensões distintas, mas complementares quando se
objetiva o caminho mais adequado ou o caminho do meio. A reflexão do profissional
de marketing nesta agenda, deve migrar de forma dinâmica e desprendida nas
dimensões individual e coletiva, ponderando sobre as consequências. Mas, o
profissional de marketing não estará sozinho neste processo. Como citado
anteriormente neste trabalho, a representatividade e abrangência de indivíduos e
53
CAPÍTULO 4
METODOLOGIA
4.1 Agenda
Os estudos de SMITH e QUELCH relacionam com clareza os pontos
críticos para questões éticas em cada um dos “P’s”. O propósito neste capítulo é
apresentar uma agenda de planejamento e atuação, pautados pela ética em cada ‘P’
do marketing mix (“4 P’s”). O foco nesta agenda são as potenciais oportunidades
que cada “P” do marketing mix oferece, quando envolto pelos princípios de ética e
atuação socialmente responsável.
O objetivo aqui não é detalhar cada possibilidade, até porque são muito
amplas e imprevisíveis, mas sim, abranger a maior variedade de cenários. Entender
o marketing como um processo social de troca e meio para a interação entre os
diversos stakeholders, é o pensamento central para esta proposta. Na síntese, a
agenda apresenta duas fases que devem organizar o planejamento do profissional
de marketing. A primeira delas é de escopo individual e a segunda, de escopo
coletivo (stakeholders). Ambos escopos, permitirão compor um planejamento
alinhado aos anseios dos sociais em atuação ética e ‘RS’.
52
seja colocada em segundo plano, em situações nas quais a ética é obstáculo ao
lucro.
Certamente, a qualidade do planejamento em marketing, em específico
do marketing mix, será determinante para os desafios que surgirão no curso da
implementação das ações. Naturalmente, o mercado e a sociedade estão em
constante movimento, o que é uma força geradora de situações inesperadas ou
imprevistas, por mais amplo e detalhado que seja o planejamento de marketing. A
seriedade com que as questões éticas são abordadas é exemplo, referência e
padrão para a atuação de toda a cadeia de profissionais envolvidos na
implementação de ações. Neste momento, o perfil do profissional de marketing e
sua postura frente ao assunto, são determinantes para a qualidade de respostas
pela equipe empregada.
SMITH e QUELCH ainda relacionam cinco razões para considerar a ética
na formulação estratégica de marketing:
. A diversidade de stakeholders e a complexidade de interesses ao redor da
companhia. A preocupação com questões éticas permitirá atender de forma
consensual, aos diferentes públicos.
. Evitar a publicidade negativa. Esta ocorrência é o inverso da publicidade
positiva do chamado ‘boca-a-boca’. Esta forma de divulgação de informação
relacionada à empresa é extremamente poderosa, devido sua validação e
testemunho espontâneo do locutor.
. Mudança de referências do que é certo/errado.
. Conhecimento de demandas e preocupações relacionadas à ética pode gerar
novas soluções ou o desenvolvimento de novos produtos, que poderão agregar
valor/benefícios.
. Erros de implementação serão minimizados com um adequado planejamento.
51
É possível identificar três esferas da ética neste guia da promoção: a
esfera da relação ética e honestidade entre agência e cliente, a esfera da ética em
relação à qualidade da ação promocional e finalmente, a esfera da ética e
honestidade entre agência e público-alvo. Os itens 1, 2, 3 e 4, expressam a ética, a
honestidade e a qualidade do serviço no relacionamento entre agência e cliente. Já
os itens 3, 4, 5, 7, 8 e 10, dizem respeito à qualidade, em específico, da ação
promocional, mas sem ferir os demais itens. Os itens 5, 6 e 9, são claramente, a
ética frente ao público-alvo.
O processo para uma atuação ética inicia-se com a identificação do
problema ético, seleção de padrão ético e a aplicação do mesmo (LACZNIAK,
MURPHY 1993). Ou seja, em acontecimentos marcantes, a exemplo dos recentes
escândalos corporativos e a prevenção dos mesmos, demanda a compreensão da
necessidade de um modelo ético de conduta e comportamento. No momento
seguinte, é necessária a criação de códigos de ética ou regulamentações para uma
atividade e/ou setor, e nesta fase é essencial que haja a maior representatividade de
públicos e interesses, para garantir uma análise mais abrangente possível. Então,
definido o modelo de atuação ética para a atividade e/ou setor, se faz necessária à
formação de uma comissão, qualificada para tal, de julgamento de casos. Este
processo de identificação de necessidades, mobilização dos diferentes públicos e
definição de um modelo de atuação, já é bastante difundido nas diferentes
atividades existentes no marketing, com resultados de maior ou menor qualidade,
dependendo da forma como foi conduzido o processo. A questão é que, a conduta
ética parece ser temporal, ou seja, definida a sua intensidade em paralelo à
conveniência, ainda predominante, do desempenho financeiro, do lucro. Com a
clareza de que toda atividade empresarial visa o lucro, é natural esperar que a ética
50
Na compreensão de DE SIMONI, o fato de a atividade promocional ser
mais recente que a propaganda, por exemplo, ainda sofre com uma menor
compreensão e adoção de regulamentações e códigos de ética criados pelos
próprios profissionais, a exemplo do CONAR e, mais recentemente, o CENP -
Conselho Executivo de Normas Padrão, na atividade de propaganda. Não há como
deixar de considerar esta compreensão de DE SIMONI, pois se trata de uma visão
que considera o aprendizado como um processo evolutivo e perene. Na percepção
do autor, não existe ‘meia’ ética, ou se é, ou não é ético. E o que é ético, é percebido
naturalmente. O consumidor, sentindo-se aborrecido com uma empresa, marca ou
loja, deixará de comprar o produto. O autor, relaciona 10 mandamentos da
promoção e neste guia onde, nota-se a aplicação de conceitos de ética. Segundo o
autor, a promoção deve:
1. Não tentar executar aquilo que os outros componentes de marketing
podem fazer melhor;
2. Ser a melhor alternativa para o atingimento dos objetivos;
3. Obter o máximo efeito pelo menor custo;
4. Estar de acordo com os padrões de comportamento daqueles para os
quais é destinada e de acordo com a imagem da marca;
5. Atrair a atenção e provocar ação de aceitação;
6. Ser simples, clara, fácil de entender;
7. Utilizar tanto apelos emocionais quanto racionais;
8. Ser única, singular, exclusiva;
9. Ser honesta, evidentemente honesta;
10. Ser suficientemente desejada por todos de quem seu sucesso
dependa, recebendo por parte da empresa total apoio e que a equipe de
funcionários, principalmente a de vendas, perceba e imite.
49
sociedade como um todo (meio de comunicação e negócios), bem-estar
(privacidade), maior compreensão (e aceitação) da atividade. E, difunde aprendizado
(modelo prático para exercer a atividade), é referencial de qualidade a ser
perseguida e estimula a diferenciação (capacidade criativa que respeite o
consumidor).
O código de ética da AMPRO, assim como outros em qualquer atividade
que ocorra relacionamento interpessoal e haja o fator abstrato envolvido, não são
detalhadamente redigidos a ponto de eliminar qualquer indício de atuação não ética,
pois também comprometeriam tantos outros casos de exercício pleno dos recursos
da atividade. JOÃO DE SIMONI, considerado um dos maiores especialistas da
atividade promocional no Brasil e um dos pioneiros na atividade, disserta sobre ética
na promoção em seu livro ‘Promoção de Vendas’. A proposta de DE SIMONI para
um código de ética na atividade promocional, em seu livro em 1997, tornou-se a
base para o próprio código de ética da AMPRO e normatiza algumas questões
polêmicas até então. Dois pontos são destacados, o primeiro referente à forma de
remuneração, estabelecendo uma tabela de preços da AMPRO para serviços
prestados pelo agente intermediário (agências, fornecedores) ou o uso de ‘fee’ ou
‘pro-labore' e o segundo ponto, referente à proteção de idéias originais pelo prazo de
dois anos. E ainda, há uma flexibilidade, muito apropriada para acordos específicos
entre as partes envolvidas, desde que acordado e esclarecido. DE SIMONI dedica
um capítulo somente para a questão ética em promoção, no qual inicia, com a
seguinte citação:
“O sucesso é coisa abominável quando obtido com o
sacrifício dos princípios fundamentais da moralidade”.
Theodore Roosevelt
48
b. Desenvolvimento da Própria Atividade
. Difusão de aprendizado
. Conteúdo prático para os profissionais em atividade
. Formação de novos profissionais
. Networking
. Referencial de qualidade
. Reconhecimento de profissionais
. Estímulo a diferenciação e inovação
. Novos recursos e aplicações derivados da atividade original
. Novas metodologias
Segue a breve citação de dois códigos de ética que demonstram a
rapidez de mobilização do setor de interesse (caso do Código Anti-Spam) e o
consenso encontrado pela atividade promocional (caso AMPRO), que agrupa uma
grande diversidade de possibilidades em ações, além da grande exposição a
questionamentos.
Modelos ‘pontuais’ para algumas atividades, como o ‘Código de Ética
Anti-Spam e Melhores Práticas de Uso de Mensagens Eletrônicas’, são de grande
valia para o desenvolvimento e até, por que não dizer, sobrevivência da própria
atividade. O código prevê, entre outros aspectos: a necessidade de autorização
prévia do destinatário para receber mensagens; a inclusão da sigla “NS” no campo
‘assunto’, quando a mesma ‘não foi solicitada’ pelo destinatário e a identificação do
remetente. Em relação ao ‘Benefício Social’ e ao ‘Desenvolvimento da Atividade’,
expostos anteriormente, o ‘Código Anti-Spam’, propicia o desenvolvimento da
47
pode ser seguido, não apenas para as atividades do marketing que se encontram
em fase de crescimento ou maturação, como também para os negócios em geral.
Mas, não considero essencial um código de ética ou normas de conduta
para cada atividade de marketing, esta especificidade pode ser prejudicial,
contribuindo para uma complexidade de recomendações e limitações para o
desenvolvimento do próprio marketing. O critério para se definir se uma atividade
necessita de código de ética e/ou normas de conduta, pode ser embasado em 2
aspectos: benefício social (coletivo) e desenvolvimento da própria atividade.
a. Benefício Social
. Possibilitar o desenvolvimento da sociedade como um todo
. Recurso para ampliar ou adquirir direitos como cidadão e consumidor
. Desenvolvimento econômico
. Gerar bem-estar
. Conforto
. Comodidade
. Privacidade
. Maior clareza e compreensão da atividade
. Participação e contribuição com propostas provenientes da sociedade
46
3.3.1 Códigos de Ética – Referencial da Atividade
As questões apresentadas no estudo de SMITH e QUELCH são as que
geram os maiores conflitos do mercado, principalmente em processos de
concorrências entre agências, muitas vezes, claramente sem parâmetros imparciais
ou honestos. A regra, de que ‘nos momentos de forte pressão é que se conhece
uma pessoa de verdade’, seu caráter e formação, é muito freqüente no mercado. A
grande quantidade de agências e a oscilante e decrescente disponibilização de
budget para comunicação nos anunciantes, tornou o mercado mais competitivo,
sendo difícil mapear quem faz o que. Agências, originalmente de publicidade já
atuam em promoção e marketing direto e assim por diante. Então, em justificativa a
grande competitividade do mercado, práticas como o dumping é comum, é um vale
tudo para ganhar a próxima concorrência.
Se, eventualmente, o cenário no qual o profissional de marketing está
inserido, não possuir referenciais desenvolvidos em grau e qualidade, suficientes
para referenciar a conduta ética e moral, os valores e princípios pessoais assumirão
uma importância maior. No caso do cenário brasileiro, algumas atividades de
marketing ainda não têm definido um código de ética, mas a evolução dos
mercados, das demandas da sociedade como um todo, conduzirão as atividades
para este caminho. A inexistência de legislação específica e atualizada, frente ao
rápido desenvolvimento do marketing no Brasil, foi um fator que estimulou maior
mobilização, união de interesses e consenso entre os profissionais da área, ou seja,
a auto-regulamentação das atividades, iniciando na atividade de publicidade e
migrando para as demais. Este exemplo histórico demonstra que o mesmo caminho
45
d. Promoção
As questões mais críticas em ‘promoção’ são relacionadas à
comunicação com o consumidor, tratando da veracidade da mensagem e
a persuasão excessiva, por exemplo. Deve-se atentar para eventual dano
social que uma campanha pode gerar, estimulando comportamentos
inadequados ou perigosos à saúde. As questões de privacidade
assumiram um corpo ainda maior após a internet, criando incômodo com
mensagens não solicitadas ou de conteúdo inadequado para o
destinatário.
44
a. Produto
Na pesquisa e desenvolvimento do produto, os insumos
utilizados no seu processo de produção e eventuais danos ao meio-
ambiente, são questões críticas. Assim como a definição de design da
embalagem e a clareza na informação de sua composição, formas de
uso, advertências e responsáveis, por exemplo. Também é importante o
posicionamento do produto frente ao público-alvo selecionado, pois pode
estimular desde o uso inadequado até expectativas falsas de seus
benefícios.
b. Preço
A adoção de qualquer prática, em relação ao preço, que
prejudique a livre concorrência, o desenvolvimento do mercado ou ainda,
crie falsa percepção de valor para o consumidor, são pontos que
requerem a atenção do profissional de marketing. No processo de sua
composição, o preço de um produto pode ser onerado por diferentes
áreas da empresa, na verdade, devido a ineficácias dos processos
internos.
c. Praça
O relacionamento com canais de distribuição, também deve,
permitir a concorrência no mercado e a adequada disponibilização do
produto ou serviço para o consumidor. A área de distribuição deve
respeitar características locais, como perfil do público-alvo e o meio-
ambiente/geografia.
43
A teoria do ‘utilitarianismo’ define que uma decisão é apropriada se
produz mais benefícios e para a maior quantidade de pessoas. Em filosofia, o
‘utilitarianismo’ também é entendido como uma teoria ‘teológica’, pois julga as
conseqüências, o fim. As fragilidades encontradas no pensamento ‘utilitarianista’ são
a definição do que é ‘bom’ para as pessoas e a interpretação de que, algumas vezes
‘o fim justifica o meio’. E ainda, como relacionar o ‘utilitarianismo’ ao conceito de
justiça? Pois, se uma ação causa mais bem para a maior quantidade de pessoas,
ainda assim pode não ser a mais justa.
Segundo pesquisa informal de SMITH e QUELCH, autores de ‘Ethics
Marketing’, na mídia a cerca das questões éticas em marketing, foram agrupados na
estrutura de 4P’s, 20 questões de maior polêmica na atividade de marketing.
Tabela 4: Maiores Questões Éticas em Marketing – Modelo 4P’s
Produto. Segurança do produto. Produtos genéricos ou similares. Posicionamento do produto esegmentação de mercado. Ética na entrega de produto e/ou serviço. Impactos ambientais do produto eembalagem
Preço. Fixação de preço horizontal/vertical. Distinção de preço. Preço predatório. Remarcação de preço. Falsa composição de preço
Praça. Exclusividade e outras formas dediscriminação na distribuição. Controle de canal (incluindo relações defranchising). Mercado paralelo. Promoções para trade anti-competitivas. Baixos padrões em mercadosexportadores
Promoção. Propaganda enganosa. Dano social da propaganda. Técnicas de vendas questionáveis econflitos de interesse em vendas. Extorsão. Marketing direto e assuntos deprivacidade
42
3.3 A Questão Ética no Marketing – Estudos Realizados
LACZNIAK e MURPHY (1993), afirmam que a ética em marketing lida
com o estudo de como padrões morais são aplicados em decisões no marketing,
comportamentos e instituições. Os autores justificam a importância da ética nas
decisões em marketing, devido não apenas ao fato de ser a ‘coisa certa’ mas
também, por questões de custo. Existem custos no âmbito pessoal, quando os
profissionais de marketing pensam que as empresas darão suporte em casos de
conduta não ética, mas se o caso se torna público, eles ficam sozinhos. Também
existem custos em reparos a pessoas e meio-ambiente, redução do volume de
vendas e danos à marca do produto ou imagem corporativa. Os autores ainda
afirmam que o padrão na tomada de decisão, tanto de profissionais de marketing
como de executivos, é o método do ‘utilitarianismo’ ou baseado na conseqüência. É
um modelo de raciocínio, resultado da freqüente análise de ‘custo-benefício’,
presente na formação dos profissionais. Além do ‘utilitarianismo’, existem outras três
principais teorias em ética, conforme a Tabela 3.
Tabela 3: Resumo das Teorias em Ética Normativa
Egoísmo UtilitarianismoTeorias baseadasnas ‘Obrigações’
(Deveres)Ética da Virtude
Foco nadecisão moral
A moralidade daauto-devoção
A moralidade dasconsequências
A moralidade dasobrigações
A moralidadeda aspiração
Critério naoperacionalização
da teoria
Ganho pessoalou organizacional Custo-benefício
Padrões absolutosde conduta,
regulados porpenalidades
O esforço pararevitalizar
ideais clássicos
41
3.2.4 A Contribuição do Marketing
A melhor e mais efetiva contribuição que cada atividade profissional pode
trazer para a sociedade é a própria execução da atividade com qualidade. A
contribuição do marketing para a sociedade não pode ser vista apenas através do
desenvolvimento, criação e divulgação de campanhas com objetivo de benefício
social, esta é apenas uma forma de contribuição e que será efetiva se for executada
com qualidade. A qualidade da execução de uma atividade propicia um maior
aprendizado e aperfeiçoamento de seus profissionais, além de um maior
desenvolvimento dos consumidores, concorrentes, fornecedores, órgãos públicos,
enfim, do mercado como um todo. Neste momento, a análise da atividade sob a
ótica da teoria ética do utilitarianismo ou teológica, na qual uma ação é ética se
causa mais benefício ao maior número de pessoas do que dano, é eficaz. Esta
teoria coloca o ato sob o foco das conseqüências que gera.
O marketing é um meio ou processo estruturado e capacitado com
recursos diversos que propiciam a clara identificação de demandas dos diferentes
grupos de interesse, além da expressão da empresa para com os mesmos. Ou seja,
é o caminho que deve ser trilhado na interação stakeholders-empresa-stakeholders,
como forma de coleta de informações, comunicação, desenvolvimento de soluções e
atendimento de necessidades. E para que este processo seja realizado de forma
excelente, além da atuação responsável, deverá respeitar os valores morais e éticos
das comunidades com as quais se relaciona, em escopo global.
40
3.2.3 Relação do Marketing e Pessoas – Vocação Inata
A essência do marketing, atender as necessidades das pessoas, requer
conhecer as pessoas e obviamente, pensar como elas. O marketing e o ser humano
estão diretamente ligados, pessoas fazem o marketing para pessoas. O marketing
pode ser encontrado nas mais simples atividades diárias no cotidiano social.
Negociar preço, agregar benefícios à venda de um bem, buscar diferenciais frente
às demais opções, são ações corriqueiras no dia-a-dia de troca de bens e serviços.
A dinâmica de um comércio de rua, a exemplo da tradicional rua 25 de março em
São Paulo, seja no papel do proprietário de um grande armarinho, do lojista de porte
médio ou do camelô, contém conceitos de marketing que são praticados em cada
um destes negócios.
O marketing é a própria atividade humana, nossa rotina, nossas ações e
sempre expressará os anseios das pessoas, além de ser o próprio meio de atendê-
los. O marketing então, é um meio de trazer de fora para dentro da empresa, as
informações necessárias para entender e atender demandas. Ele traduz a
linguagem do consumidor em linguagem empresarial, estratégica e pode desta
forma, assumir um espaço maior e mais relevante nas estruturas corporativas e na
sociedade. É uma tarefa extremamente complexa, pois envolve conflitos em
diferentes áreas e o mais complicado, exigindo diferentes competências para
realizar.
39
PRINGLE e THOMPSON (1999) apresentam um esquema sobre a
antropomorfia da construção de uma marca, na qual dividem os últimos 50 anos da
história em 3 ondas evolutivas, claramente balizadas por MASLOW. Na
compreensão de PRINGLE e THOMPSOM, a indústria publicitária associou a
primeira e segunda onda, teorias como USP (Unique Selling Proposition) e ESP
(Emotional Selling Proposition), respectivamente. Mas, a terceira onda trata de um
campo ainda não explorado, onde o consumidor preocupa-se com a dimensão ética
ou espiritual da marca. Ou seja, já não basta apenas saber o que o produto oferece
ou qual imagens ele transmite, mas sim ‘em que’ a marca ‘acredita’.
Década de 50:Racional
Década de 70:Emocional
Década de 90:Espiritual ou Ético
Figura 4: Antropomorfia na Construção de Marcas
38
lojas pelo mundo, e com estratégias que se fundem com os ideais de Anita, a ponto
impossibilitar definir o que surgiu primeiro. ‘Quero que minha empresa faça a
diferença no mundo’, diz Anita. Na visão dela, é possível uma empresa internacional
agir de modo ético e responsável, sem sacrificar a margem de lucro e o senso de
negócios. E complementa, ‘as empresas devem se preocupar com o bem público,
não só com o lucro’. Mas o pioneirismo na adoção destes conceitos em suas
práticas é monitorado por perto pela imprensa e sociedade. São empresas que
devem ampliar cada vez mais a atenção aos detalhes de suas práticas, para não
cair em contradição e ainda, estar atento aos concorrentes que entram nesta área
de posicionamento de marca, mas sem carregar o ‘fardo’ do pioneirismo. Por isto
mesmo, dependendo do cenário, fornecedores, concorrentes, consumidores e etc,
haverá ambiente mais propício ou não para a implantação de conceitos de ’RS’.
Este raciocínio é embasado pelo estudo de MASLOW sobre a ‘Hierarquia
das Necessidades’, no qual a motivação central do ser humano altera no tempo,
evoluindo para questões mais elevadas, na medida em que alcança e satisfaz
necessidades anteriores, como fome e sede. A seqüência na qual o ser humano
conduz suas prioridades, primeiramente no campo individual (necessidades
básicas), seguido do campo de afirmação social (bens materiais) e finalmente,
causas mais elevadas para o bem comum (espiritual), prenunciam que a evolução
das diferentes sociedades e culturas ocidentais deverá levar ao mesmo horizonte, o
da responsabilidade social.
37
3.2.2 Marketing Societal – ‘RS’ ou Estratégia de Diferenciação?
O marketing societal pode ser compreendido com uma evolução das
demais orientações que uma empresa pode adotar, como ‘orientação de produção’,
‘orientação de produto’, ‘orientação de vendas’ e ‘orientação de marketing’. É uma
forma de atuação que coloca a atividade de marketing mais próxima dos conceitos
de ‘RS’. KOTLER alerta que empresas ‘orientadas para o marketing societal’ devem
incluir considerações sociais e éticas em suas práticas de marketing e equilibrar três
aspectos: lucros da empresa, satisfação dos desejos dos consumidores e interesse
público. É muito difícil separar empresas que utilizam o marketing societal como
forma de diferenciação ou que, realmente tem este conceito internalizado, desde sua
origem. Existem cada vez mais exemplos de empresas que encontram espaço na
mente dos consumidores com a diferenciação. AL RIES e JACK TROUT no livro
‘Posicionamento’, afirmam que frente a grande quantidade de informações que
temos no mundo atual, o profissional de marketing deve encontrar espaço na mente
dos consumidores, seguindo a expressão francesa “cherchez le créneau” ou
“procure acertar entre as ameias da muralha”.
Existem empresas cuja ‘personalidade’ é tão marcante que parecem
tomar corpo de seus líderes. A estratégia de posicionamento da Body Shop, por
exemplo, estabeleceu de forma sólida a imagem de uma empresa com
direcionamento ético e responsável. Expressar a contrariedade a testes de produtos
cosméticos em animais, utilizar insumos naturais e provenientes de países em
desenvolvimento são ‘bandeiras’ que a executiva fundadora, Anita Roddick, carrega
com vigor. Hoje, a Body Shop possui um faturamento superior a US$1 bilhão e 2 mil
36
3.2.1 Definição
São diversas as definições encontradas para a atividade de marketing.
Marketing é ‘mercadear’, é uma forma de gerar atividade no mercado, fazê-lo
movimentar. ‘Movimentar’ o mercado é conhecer as pessoas que compõem este
mercado e identificar suas necessidades, desenvolver produtos, serviços, bens ou
idéias para estas pessoas e disponibilizá-los no local e preço mais adequado. Isto
movimenta o mercado, movimenta empresas, fornecedores, distribuidores,
consumidores, uma diversidade de cadeias, enfim, a economia. Segundo KOTLER,
marketing é o processo social por meio do qual pessoas e grupos de pessoas obtêm
aquilo de que necessitam e o que desejam com a criação, oferta e livre negociação
de produtos e serviços de valor com outros. A American Marketing Association –
AMA, define o marketing como um ‘processo de planejamento e execução dos
“4P’s”, que criam trocas que satisfaçam objetivos individuais e organizacionais.
Os profissionais de marketing tem direcionado os recursos que a
atividade dispõe, para mapear as necessidades do consumidor. A pressão por
resultados e a ampla competitividade dos mercados, não permitem uma reflexão
mais apurada e a visualização de outras possibilidades para o marketing,
principalmente sob o prisma da responsabilidade social.
35
3.2 Marketing
O marketing é a área dentro de cada empresa que possui maior interação
e exposição com o mercado consumidor, não apenas no nível físico (entrega de um
produto ou bem), no nível conceitual (entrega de idéias ou conceitos), mas na
compreensão das necessidades do mesmo, por meio de recursos e técnicas
disponibilizadas com o avanço tecnológico e no conceito de one-to-one marketing. O
SIM – Sistema de Informações de Marketing é uma ferramenta já amplamente
utilizada nas empresas, como alicerce nas questões estratégicas e gerando um
grande volume de informações organizadas em pesquisas. Mas o marketing pode
ser entendido e exercido de forma mais ampla e com plena utilização de recursos e
benefícios. Mas, antes vamos rever suas definições.
34
de produtos de empresas socialmente responsável é menor, em média 15%, contra
mais de 40% em países desenvolvidos (Austrália, Estados Unidos, Canadá,
Alemanha e Grã-Bretanha). Mas, neste questionamento, o fator cultural é
determinante, a exemplo do Japão, que apresenta apenas 6% de propensão à
compra de produtos de empresas com ‘RS’.
Os dados da pesquisa ETHOS, aliados às estatísticas do CONAR,
apresentados anteriormente, dão sinais de uma crescente importância de questões
referentes a ‘RS’ e ética na sociedade brasileira, ainda com maior representatividade
em classes sociais mais elevadas e/ou com maior grau de instrução. O campo para
a valorização destas questões é favorável, mas dependerá de um constante
empenho das empresas, meios de comunicação, governo, ONG’s e profissionais de
marketing, na divulgação e solidificação destes ideais.
33
3.1.2 Percepção do Consumidor Brasileiro
Segundo pesquisa do INSTITUTO ETHOS, o consumidor brasileiro
espera por um comportamento ético nas empresas e deseja conhecer suas práticas
em ‘RS’. Segundo o ETHOS, este resultado confirma um maior enraizamento dos
conceitos de ‘RS’ na sociedade, identificados nas edições anteriores da mesma
pesquisa, em 2000 e 2001. Já ocorre um empate técnico quando o entrevistado é
questionado sobre qual o papel das grandes empresas na sociedade, dividindo as
opiniões entre o papel tradicional (gerar lucro, pagar impostos e cumprir as leis –
34%) e um papel que acrescenta valores sociais (ajudar a construir uma sociedade
melhor – 39%). As mulheres apresentam maiores expectativas por um papel mais
ético e socialmente responsável das empresas (31% papel tradicional contra 40%
com padrões éticos mais elevados). A medida que o grau de escolaridade é maior,
também é maior a demanda por uma postura socialmente responsável das
empresas.
É consenso, nos participantes da pesquisa, de que para uma empresa ser
considerada socialmente responsável, deve fazer mais do que a lei exige. Mas, a
atribuição de responsabilidades entre empresa e Governo, em vista da
responsabilidade social, ainda pesa com maior grau na figura do Governo. O
comportamento punitivo dos consumidores, evitando a compra de produtos é
crescente – 68% dos entrevistados não comprariam o produto se a empresa
utilizasse mão-de-obra infantil e 80% caso a empresa estivesse envolvida em casos
de corrupção e pagamento de propinas – por exemplo. A pesquisa também mostra
que em países em desenvolvimento ou sub-desenvolvidos, a propensão à compra
32
demais grupos de interesse, que estão moldando um novo referencial conceitual
para a avaliação e mensuração da qualidade nas corporações.
Segundo JOSÉ LUIZ DE SANTANA, consultor e professor da
FUNDAÇÃO DOM CABRAL, ‘a primeira e básica responsabilidade social de uma
empresa, é ser bem sucedida como Empresa:
. Gerando o valor a que se compromissa em sua Missão;
. Gerando produtos (bens e/ou serviços) que melhorem a vida;
. Gerando emprego, trabalho e renda;
. Gerando recursos para a comunidade através de impostos, taxas e
similares;
. Promovendo a multiplicação econômica e financeira através da cadeia
produtiva.’
E, SANTANA complementa: ‘Tudo isso sem agir como predadora da
sociedade ou de qualquer um dos stakeholders. Ela não precisa fazer nada mais
que isso para ser cidadã, pois já o é. Contudo, se ela puder e quiser fazer algo a
mais, esse algo deve ser feito com recursos que saiam do seu lucro, vez que jogar
isso nos custos pode não ser sustentável e mesmo colocar em risco a
responsabilidade social básica. E, colocar esse custo na composição dos preços é
agir como um predador disfarçado.’
31
Recentemente, foi divulgada pesquisa realizada pela Fleishman-Hillard
Communications, abrangendo os 1.500 participantes do WORLD ECONOMIC
FORUM de Davos, referente a ‘Medidas de Sucesso Corporativo’. Conclui-se que na
percepção de líderes presentes no encontro, o fator ‘Reputação Corporativa e
Integridade’ é mais relevante que ‘Lucratividade’ e ‘ROI’, por exemplo.
A ‘Reputação Corporativa/Integridade’ sempre foi considerado um bem
intangível, mas agora passa a ser reconhecido como medida de sucesso
corporativo, diz John Graham – presidente e diretor-executivo da Fleishman-Hillard.
Podemos presumir que os recentes escândalos no meio corporativo impactaram nos
resultados desta pesquisa, e seja provável ainda, a queda do fator ‘Lucratividade’ e
‘ROI’ em relação à aos fatores ‘Sustentabilidade’, ‘Governança Corporativa’ e
‘Responsabilidade Social’. São dados como este, aliados ao trabalho de ONG’s e
Tabela 2: Medidas de Sucesso Corporativo
30
investe este montante em ações voltadas ao meio ambiente, a exemplo do programa
‘Um Milhão de Árvores’, com o objetivo de tornar a companhia totalmente
sustentável até 2020, plantando até lá, dez milhões de árvores em todo o mundo. A
Natura também possui um orçamento anual para monitorar indicadores como o
consumo de água, energia e geração de resíduos e coleta seletiva.
Será cada vez maior e mais freqüente a busca das empresas por
parceiros que atuem em concordância com os preceitos da responsabilidade social e
desta forma, em algum momento no tempo, a busca de parceiros em marketing que
atuem sob estes conceitos, também será presente. Este é um processo natural e
evolutivo, no qual as sociedades amadurecem em ciclos. São muitas as motivações
para a atuação pautada pela responsabilidade social, principalmente em empresas
que almejam mercados internacionais. Pois, usualmente estão mais expostas a
estes conceitos. Mas, não são poucos os casos de empresas que parecem adotar a
‘RS’ desde seu primeiro dia de exercício. O estímulo ao trabalho voluntário a partir
dos funcionários gera um senso de responsabilidade ampliado e internalizado na
empresa, associando a mesma a sentimentos como orgulho e respeito.
Independente da motivação para tal prática considero este processo irreversível,
pois a expectativa dos diferentes públicos de interesse é maior em quantidade e
qualidade.
29
cita empresas brasileiras como o Banco Itaú, a Itaúsa – Investimentos do Itaú S/A, a
Embraer e a Cemig. “No período 2003-2004, o banco foi selecionado pela quarta vez
consecutiva e se tornou o único latino-americano a figurar na lista”, afirma Alfredo
Setúbal, diretor de relações com investidores do Itaú.
Fernando de Almeida, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para
o Desenvolvimento Sustentável - CEBDS e autor do livro, “O Bom Negócio da
Sustentabilidade“, é mais enfático: “A companhia que ignorar essa visão acabará
quebrando”. O modelo para uma atuação responsável deve utilizar ferramentas de
gestão nos aspectos econômicos, sociais e ambientais. A governança corporativa,
prática que engloba os relacionamentos entre os acionistas, o conselho de
administração, a diretoria, uma auditoria independente e o conselho fiscal, objetiva
aumentar o valor de mercado da companhia e maior retorno para os acionistas.
Heloísa Bedicks, diretora do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa - IBGC,
resume que ‘a administração empresarial precisa ser baseada na transparência de
informações, na ética, na prestação de contas e no tratamento igual entre acionistas
e cotistas’.
No aspecto social, a pesquisa PwC, Revista Meio Ambiente Industrial e
Valor, cita iniciativas de 73% das empresas entrevistadas em normas especiais de
seleção de fornecedores e parceiros de negócio, especificamente comunidades
indígenas, população de baixa renda e pessoas com deficiências. Estas iniciativas
contribuem com a geração de riquezas para a população e promoção da inclusão
social. Ainda na pesquisa, 88% das companhias investem em ações sociais e 42%
delas possuem uma divisão especial para a atividade. O meio ambiente, terceiro
ponto do tripé da sustentabilidade dos negócios (econômico - social - meio
ambiente), recebe investimento aproximado a US$6 milhões/ano. Só a Alcoa,
28
A seguir, veja a Figura 3, que exemplifica este possível estágio futuro
para a ‘RS Global’.
Empresa. Cadeia produtiva
Comunidades. População. ONG’s
Setor. Lideranças. Leis. Mercado
Sociedade. Valores. Princípios. Cultura. Religião
Global. Sociedades. Setores
Visão Universal-
‘RS’ Global
Figura 3: Ambientes de Relacionamento Corporativo – ‘RS Global’
Nesta figura, uma empresa de atuação local passa a considerar em suas
práticas, a população global, composta também, de outras sociedades e setores,
atuando num conceito avançado de ‘RS’ Global, referenciado por uma visão
universal.
Mas ainda estamos numa fase de crescimento do conceito de ‘RS’ na
sociedade, como mostra pesquisa real izada pela consultor ia
PricewaterhouseCoopers, divulgada no jornal ‘Valor Econômico (dezembro/2003). A
pesquisa que contou com o apoio da revista ‘Meio Ambiente Industrial’ e o próprio
’Valor Econômico’, conclui que há espaço de sobra para investimentos neste
conceito de ‘RS’, considerando que apenas 28% das empresas divulgam relatórios
de sustentabilidade, num universo de 239 entrevistadas. O índice global para medir
performances na sustentabilidade, o Dow Jones Sustentability Global Index (DJSGI),
27
Este processo evolutivo, naturalmente, abriu caminho para um conceito
mais amplo, o conceito da responsabilidade social. Os próximos passos na
responsabilidade social são, ganhar corpo, força e abrangência e ser segmentada
para diferentes setores ou indústrias e atividades ou rotinas na sociedade. Seguindo
no raciocínio de processo evolutivo até a ‘RS’, devemos considerar a possibilidade
da própria ‘RS’ evoluir para estágios mais elevados, alcançando uma concepção
global. Pois, a visão holística que direciona a atuação em ‘RS’ na atualidade, é
costumeiramente focada nas relações com os stakeholders, mas os quais a
empresa se relaciona direta ou indiretamente. Agora, se inserirmos o ingrediente da
‘era da informação’, representada pela rapidez, abrangência, segmentação e
qualidade da informação circulante nas sociedades e no mundo, teremos então o
conceito de ‘RS Global’.
Uma suposição no campo prático deste modelo futuro de ‘RS’ é a
preocupação da empresa com comunidades ou grupos que não são stakeholders,
mas tem representatividade, força ou influência para, em algum momento,
relacionar-se com a empresa em âmbito global. Para a empresa, não mais bastaria
atender aos anseios dos stakeholders, mas de toda a população global, até por que,
todas suas práticas, mesmo as locais, são de conhecimento global.
26
3.1.1 Linha do Tempo – Evolução
O processo que colocou a responsabilidade social em destaque iniciou-
se, com o exercício de uma visão holística, extrapolando primeiramente, os limites
departamentais das empresas para a busca de sinergias numa cadeia produtiva
inteira. Este exercício intelectual e de escopo estratégico, gerou novas parcerias e
níveis de responsabilidade na cadeia produtiva, como mostra a Figura 2.
Departamental
Expandidapara Parceiros
Imediatos
Multisetorial
VisãoHolística
-Responsabilidade
SocialLimitada
EmpresaComo um Todo
CorporativaCompartilhada
CadeiaComo um TodoVisão
Responsabilidade
Figura 2: Evolução para a Responsabilidade Social
Corporativa
25
CAPÍTULO 3
PROPOSIÇÃO
3.1 Ética e Responsabilidade Social nas Empresas
É crescente a atenção dispensada pelas empresas, para a questão de
responsabilidade social que, através do INSTITUTO ETHOS, é interpretada em
diferentes indicadores, como: transparência nas decisões/ações, respeito ao
indivíduo e a sociedade como um todo, seleção e parceria com fornecedores,
transparência política e liderança social. A atuação em todos esses indicadores deve
ser pautada por valores e ética. Historicamente, a compreensão da ética nas
empresas têm sido limitada, em sua grande maioria, na atuação e adoção de
práticas que visam a maior lucratividade e dentro da lei. Esta visão já é substituída
por um real foco nas necessidades e interesses dos clientes, em detrimento da
lucratividade. Derivam, deste foco mais amplo nas necessidades e interesses do
cliente, os grupos e as organizações sociais e o maior suporte da legislação para o
consumidor. Neste processo de ‘equalização’ de forças, nota-se um natural
movimento para os extremos, em favor do lado que desenvolve maior influência ou
pressão sobre a legislação.
24
associada a indicadores do PIB, questões ambientais, níveis de pobreza ou saúde.
Os referenciais ocidentais, simplesmente não se encaixam na sociedade butanesa.
‘É um povo cuja cultura está voltada para a ética, à meditação, a vida saudável e a
astrologia… ’ – afirma Sander Tideman, diretor do BFE, presidente da Spirit in
Business e ex-vice-presidente do ABN Amro na Holanda, atualmente desenvolvendo
um conjunto de políticas e indicadores para o governo do Butão, que além dos
valores econômicos, considere também, valores ambientais, sociais e espirituais. A
matéria finaliza com a observação de que Tideman defende uma redefinição do
sistema econômico, com dados mais subjetivos e espirituais.
Então, a identificação e compreensão de padrões éticos de uma
sociedade, terão maior qualidade e precisão, dependendo do nível de detalhe que
for empregado no estudo dos fatores componentes da ética. Talvez, este seja um
dos grandes desafios do processo de globalização, atender diferentes demandas
pela ética, em paralelo às diferentes demandas dos mercados.
23
2.4 Padrões Sociais – Referências
‘Quando se quer estudar os homens, é necessário olhar bem de perto; mas para estudar o
homem é preciso aprender a levar longe o olhar; é necessário antes de mais nada observar as
diferenças para descobrir as propriedades.’
Rousseau
O referencial que cada sociedade tem de ética, deve ser analisado com
atenção, pois este fator delineará a forma como a mesma é interpretada e exercida.
A ética é a soma da história e acontecimentos, cultura, hábitos e costumes, leis e
religião de uma sociedade. Então, se uma determinada sociedade tem em sua
história, casos de sucesso, benefício ou vantagem, provenientes de práticas
carentes de ética, a tendência para que estas práticas sejam aprovadas e até
estimuladas, como um referencial central de comportamento, são grandes.
No contexto global, devemos atentar para o risco da generalização pois, o
processo de globalização tem contribuído para a perda de referenciais locais e da
diversidade. Ficamos condicionados a entender a globalização como um processo
de padronização ou ‘ocidentalização’ de hábitos e costumes. Esta poderá ser uma
conseqüência da globalização, mas deveria ser apenas em áreas específicas, como
a economia, mercados e comunicação. Um exemplo interessante das exceções à
generalização, é o critério que o Bridge Fund Europe - BFE em parceria com o
governo do Butão, estabeleceu para avaliar os anseios sociais de qualidade de vida
dos butaneses, enfocando na felicidade. Em matéria divulgada no jornal Valor
Econômico em dezembro de 2003 (caderno especial Empresa & Comunidade),
relata-se que a percepção de qualidade de vida para os butaneses, não está
22
O interessante neste caso é que mesmo embasado por dados de
pesquisa em mídia que comprovam a adequada seleção de meio e horários para a
veiculação, responsabilidade mínima que deve estar presente nas agências, ainda
houve interpretação de risco de danos para o público infantil. É uma postura
precavida do CONAR, que certamente entende que por mais segmentado e
selecionado sejam os meios de comunicação na atualidade, sempre existe
abrangência de público infantil.
. Caso 2
“Casas Bahia – Quer pagar quanto?”
Representação nº 304/03
Autor: Conar, a partir de queixa de consumidor
Anunciante e agência: Casas Bahia e Bates Brasil
Relator: Rubens da Costa Santos
Decisão: Alteração
Fundamento: Artigos 1°, 3°, 27 par. 1º e 2º e 50 letra “b” do Código.
Para consumidores de Campinas, Jundiaí, Rio de Janeiro e Itaboraí, o mote da campanha
das Casas Bahia, expresso acima, é enganoso. Ao contrário do que sugere a afirmação,
em momento algum o consumidor é capaz de influenciar no valor e forma de pagamento
dos produtos. Em sua defesa, Casas Bahia e Bates Brasil consideram que a afirmação é
recurso criativo que sempre está ligado a uma determinada oferta.
O relator propôs alteração, voto acolhido por maioria, de forma a deixar mais clara a
ligação entre a afirmação e as ofertas a ela associadas.
Neste caso, fica evidente o questionamento da veracidade da mensagem
principal da campanha, que representam expressivo percentual de queixas no
CONAR.
21
2.3 Casos na Publicidade Brasileira
Abaixo são expostos dois casos analisados pelo CONAR e que
exemplificam características da percepção de ética na sociedade brasileira.
. Caso 1
Representação nº 263/03
Autor: Conar, a partir de queixa de consumidor
Anunciante: Pepsico
Relator: André Porto Alegre
Decisão: Sustação
Fundamento: Artigos 1º, 3º, 6º, 18 e 50 letra c do Código e seu Anexo P
Embalagem do salgadinho Pingo d´Ouro Agito mostra em destaque copo com cerveja;
copo e garrafa contêm logotipo da Brahma. A iniciativa atraiu protesto de consumidor de
Curitiba. Ele considerou inadequada esta forma de divulgação da marca da cerveja pelo
forte apelo que salgadinhos exercem junto ao público infantil e adolescente que, por esta
forma, poderiam estar sendo induzidos ao consumo de bebidas alcoólicas, o que contraria
a lei. Outras denúncias semelhantes chegaram ao Conar após abertura do processo ético.
Em sua defesa, a Pepsico argumenta que o produto é dirigido ao público adulto, anexando
programação de mídia em rádio e TV concentrada em horários assistidos,
majoritariamente, por público adulto. A defesa também traz cópia das orientações
transmitidas aos seus vendedores sobre a maneira como o produto deveria ser exposto
nos pontos de venda, em gôndolas “não próximas de produtos destinados a público
infantil”.
O relator não aceitou estes argumentos. “Por mais criteriosa que tenha sido e agido a
anunciante, não há garantias sobre os resultados de sua intenção”, escreveu o relator em
seu voto, pela sustação do uso da embalagem contendo as imagens do copo cheio e da
garrafa de cerveja Brahma. Levado a julgamento, o voto foi aceito por unanimidade pelos
membros do Conselho de Ética.
20
O percentual de questionamentos em ‘propaganda enganosa’, ‘RS’ e
‘omissão de frase de advertência’, estão em queda, o que indica uma atuação mais
responsável e atenta dos profissionais da área de publicidade, reduzindo a
quantidade de processos abertos no CONAR. Em paralelo, a quantidade de
processos encaminhados ao CONAR cresceu, aproximadamente 40% no período,
partindo de um total de 264 processos em 2001, para 368 em 2003. E, confirmando
a crescente maturidade do consumidor, principalmente, além de demais
comunidades e grupos de interesse (stakeholders), o percentual de processos
provenientes da categoria ‘consumidor’ nas estatísticas do CONAR, também
apresenta crescimento.
Concluindo, as estatísticas do CONAR demonstram uma maior
maturidade no consumidor brasileiro, mais participativo e questionador nos
aspectos, de forma geral, relacionados a ‘RS’ e uma maior maturidade e capacidade
de adaptação dos profissionais da área, atentos a esta demanda social.
19
O processo de amadurecimento e ampliação da capacidade de
percepção, julgamento e senso de direitos têm evoluído de forma constante no
Brasil, ampliando a abrangência quantitativa na sociedade e qualitativa de diferentes
necessidades das comunidades. Na publicidade, segundo dados do Conselho
Nacional de Autoregulamentação Publicitária - CONAR, o mais antigo código de
ética dentre todas as diferentes atividades de marketing no País, no período de
2001-2003, o maior índice de reclamações dentre todos aspectos analisados, é de
‘apresentação verdadeira’, ou seja, casos onde o reclamante alega inexistência de
dados ou comportamentos que comprovem a mensagem principal da campanha –
entendida também como ‘propaganda enganosa’.
Tabela 1: Questionamentos em ‘Apresentação Verdadeira’ x Total de Casos
2001 2002 2003
39,39% 32% 30%
Fonte: CONAR
Ocorrem ainda, questionamentos em ‘responsabilidade social’, onde pode
haver estímulo ao uso inadequado do produto e para público-alvo diferente do
propósito, por exemplo, e questionamentos em ‘omissão de frase de advertência’,
onde há ausência de advertência ou falta de clareza na informação.
Tabela 1.1: Questionamentos em ‘RS’ e ‘Omissão de Frase de Advertência’ x Total de Casos
2001 2002 2003
15,53% 13% 12%
Fonte: CONAR
18
consumidor e empresas. No ano de 1987, é criado o Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor – IDEC e finalmente, é sancionado o Código de Defesa do Consumidor
no início da década de 90, acompanhado do Departamento de Proteção e Defesa ao
Consumidor, da Secretaria do Direito Econômico do Ministério da Justiça. Como
resultado destes acontecimentos, a formação de preço de produtos e serviços
passou a ocupar mais tempo e esforço das empresas, pois além da nova postura do
consumidor frente ao produto, a crescente competitividade obrigou a busca por
modelos de produção mais eficazes.
O terceiro setor no Brasil apresenta expressivo crescimento,
movimentando aproximadamente 1,5% do PIB nacional (dados de 1995), e com a
existência de mais de 220 mil organizações sem fins lucrativos (Receita Federal –
1995). A criação de ONG’s tem auxiliado o desenvolvimento social, em referência à
expressão e resultados que órgãos como o PROCON, CONAR e INSTITUTO
ETHOS têm na sociedade. Outro órgão de grande reconhecimento no Brasil é a
Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade – FPNQ, fundado há 12 anos,
acolhendo organizações privadas e públicas para administrar o Prêmio Nacional da
Qualidade – PNQ. O PNQ estimula a melhoria da qualidade de produtos e serviços
através da gestão para a excelência do desempenho, aumento da competitividade e
a utilização de referenciais reconhecidos mundialmente, resultando no
desenvolvimento de meios e processos que conduzam a uma melhor qualidade de
vida. Estas ONG’s são exemplos da maturidade que o Brasil está adquirindo neste
campo.
17
com o avanço do capitalismo para o mundo industrializado, surgiram os primeiros
movimentos de trabalhadores e boicotes a produtos específicos. Neste período, foi
criada a denominação de ‘defesa do consumidor’. No ano de 1891, foi criada a “New
York Consumers League”, fortalecendo o ‘movimento consumerista’ em todo o
mundo. Em 1927, surge o Food and Drug Administration - FDA, órgão que hoje tem
reconhecida importância e referência no mundo inteiro. Novas iniciativas são
implementadas, até o reconhecimento da Assembléia Geral das Nações Unidas,
através da resolução 39-248, reiterando a importância da participação dos governos
em questões relacionadas à defesa do consumidor.
No Brasil, o Código Comercial de 1840 já previa direitos e obrigações
para passageiros de embarcações. Nas décadas de 30 e 50, alguns movimentos
sociais em protesto à falta de produtos e aos preços praticados, tornaram a
consciência do consumidor nacional mais amadurecida. Mas, o verdadeiro exercício
de direitos e conscientização, na sociedade brasileira, estava por começar. Os
seguidos anos de inflação na década de 80, geraram uma perda de referencial do
valor de bens e corridas para redes de abastecimento, não só pelo temor de redução
do valor monetário, mas também pela falta de produtos em prateleiras, marcando os
períodos de implantação dos planos econômicos. Nesta época também surgiram os
‘Fiscais do Sarney’, delatando remarcações de preço no comércio, em clima de
ufanismo. A sociedade começa a se organizar e cria entidades civis para diferentes
necessidades, marcando a década de 80 com intensas alterações políticas e sociais,
uma verdadeira reorganização estrutural e comportamental. O PROCON, criado em
1976, inicialmente no Estado de São Paulo, ganha força e expressão nacional, que
preserva até a atualidade. A conscientização progressiva do consumidor, através do
trabalho do PROCON, propiciou uma efetiva equalização de forças entre o
16
2.2 Sociedade e Demanda pela Ética
‘Índio quer continuar vida de índio toda a vida’
Txãwãrãtxowi, índio tapirapé.
O movimento social pode ser interpretado como um movimento elástico. É
comum na história, e em diferentes campos como o político, intelectual,
comportamental, a sociedade chegar em extremos e no momento seguinte,
encontrar uma postura mais moderada, equilibrada. Isto é muito mais perceptível em
situações novas, onde a experiência prática ainda não foi vivenciada, a história
ainda não foi escrita. Este movimento elástico de aprendizado é também presente
em nossas histórias pessoais, nossas fases de maiores radicalismos e nossas fases
de maior moderação, após ampliar a experiência. Atualmente, a demanda social por
postura e práticas corporativas fundamentadas pela ética é bastante expressivo, o
que não ocorria antes das experiências com impérios corporativos que ruíram. Ver
para crer, ainda é uma forma clara no comportamento humano. Certamente, se os
escândalos descobertos nos últimos anos não tivessem ocorrido ou a informação
não fosse de domínio público, hoje estas questões teriam uma importância muito
menor.
A evolução do movimento iniciado pelo Código de Hamurabi seguiu no
tempo, e no século XIII a.C., a Índia adotava sanções para alimentos adulterados,
através do Código de Massu. Na França da Idade Média, século XV, casos do
mesmo tipo eram punidos com castigos. No final do século XIX, nos Estados Unidos,
15
A figura abaixo exemplifica a distinção conceitual adotada para este
trabalho:
Então, ética refere-se ao processo decisório ou ação, considerando
elementos como valores, princípios, seja do indivíduo ou de uma empresa. E,
responsabilidade social é o resultado gerado, o benefício revertido para a sociedade
e stakeholders.
14
estabelecer-se. O bom-senso deve ser fruto de uma análise coletiva e
representativa, gerando um ‘bom-senso comum’.
. Responsabilidade Social
Não é clara a distinção entre os conceitos de ‘ética’ e ‘responsabilidade
social’, apesar de serem utilizados para exemplificar casos ou situações da mesma
qualidade. Na definição do INSTITUTO ETHOS, ‘responsabilidade social é uma
forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e co-
responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é
aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes
(acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores,
comunidade, governo e meio-ambiente) e conseguir incorporá-los no planejamento
de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos
acionistas ou proprietários’. E ainda, ‘a prática da responsabilidade social se
caracteriza pela permanente preocupação com a qualidade ética das relações da
empresa com seus colaboradores, clientes e fornecedores, com a comunidade, com
o poder público e com o meio ambiente’. Para efeito de uma maior especificidade e
clareza no entendimento deste trabalho, proponho a utilização destes termos da
seguinte forma: ética será adotado em referência a qualidade da ação, seja do
indivíduo ou das empresas; responsabilidade social será compreendido no contexto
de resultado de uma ação e no âmbito dos stakeholders.
13
responsáveis pela construção de casas seriam punidos com a morte, caso o
desmoronamento da casa de sua autoria, causasse a morte do morador. E ainda
especificava que se a vítima do eventual desmoronamento fosse o filho do morador,
seria punido com a morte, o filho do construtor.
Os aspectos da ‘reciprocidade’ e da ‘proporcionalidade’, foram uma
inovação na organização social naquela época, criando referência de dano ao
próximo e de reparo a este dano na mesma proporção. A antológica frase do
também imperador da Babilônia, sucessor de Hamurabi, Nabucodonosor - “olho por
olho, dente por dente” – tornou-se uma expressão popular que, talvez, melhor
represente este princípio. É obviamente, um modelo de raciocínio original que
resiste até hoje, ora pela efetividade da ‘ameaça’ intrínseca para àqueles que não
seguem a ordem determinada, ora pela adição do fator emocional, impulsionando
um sentimento de vingança. Apesar da evidente sensação de erros de julgamento,
nos exemplos de nossos antepassados, a ‘reciprocidade’ e a ‘proporcionalidade’ são
o gatilho para o raciocínio ético e ainda são úteis na atualidade. Pois, geram a
compreensão de que a melhor forma de convivência interpessoal, independente do
campo analisado, é não fazer ao outro o que não deseja para si mesmo, enfim, é
fazer a coisa certa.
BORGES et al. (2002), afirmam que a atitude correta pode ser entendida
como aquela que: maximiza a felicidade de todos; é praticada por um agente
virtuoso; está de acordo com regras determinadas e ainda, pode ser justificada aos
outros de forma razoável. Nota-se que em qualquer linha de raciocínio, o fator
determinante para em última instância, julgar algo como ético ou não, é o bom-
senso. E, justamente quando o bom-senso é exercido de forma individual ou não
representativa, que as distorções e injustiças encontram campo fértil para
12
CAPÍTULO 2
REVISÃO DA LITERATURA EM MARKETING ÉTICO
2.1 Ética e Moral – Um Aprendizado na História
A razão é temporal, a ação histórica.
De acordo com STUKART (2003), ética é a ciência da moral e tem como
objetivo o exame teórico das ações humanas. A ética analisa o que o homem
deveria fazer, a partir de componentes como virtude, justiça e felicidade. Ele cita
felicidade, pois em seu raciocínio, o exercício da ética propicia uma ‘vida satisfatória
e a perfeição integral do homem’, o que consiste na felicidade do homem. A ética
assume o papel de princípio regente de diferentes atividades humanas, sejam elas
em campo profissional, religioso, público ou privado. Desta forma, foram criados os
códigos de comportamento e conduta, estabelecendo uma nova ordem nas
sociedades do passado. No século XVIII a.C., o imperador Hamurabi (Khammu-rabi,
1792 – 1750 a.C.), da Babilônia, foi o autor de 282 sentenças que deram origem ao
Código de Hamurabi. Hamurabi conquistou quase toda a Mesopotâmia através de
guerras e acordos e implantou a noção de direito no seu reinado, composto por
sumérios, acádios e assírios. Suas leis foram as mais amplas e praticadas até a
criação do Direito Romano, por Roma. O Código de Hamurabi, gravado numa stela
de basalto negro, contemplava principalmente, o direito a vida e a propriedade, além
de questões relacionadas à honra, dignidade, família e a supremacia das leis sobre
os governantes. Como exemplo, o código estabeleceu que os indivíduos
11
A proposta de agenda para o profissional de marketing, apresentada ao
final deste trabalho, estimula não apenas uma reflexão sobre o tema, como também
proporciona um processo prático para referenciar a atuação. Vale ressaltar que esta
agenda está estruturada nas oportunidades que uma atuação ética e responsável
pode gerar, inclusive com a citação de exemplos para o planejamento em cada ‘P’
do marketing mix. A decisão pelo foco nas ‘oportunidades’ e não nos ‘problemas ou
ameaças’, justifica-se pela consistente literatura já existente nesta área,
principalmente nos Estados Unidos. Desta forma, o PE contribui com uma visão
otimista e viável do curso evolutivo de aspectos éticos e da responsabilidade social
na vida do profissional de marketing.
10
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
A elaboração deste PE foi pautada pelo novo cenário, com diferentes
prioridades dos stakeholders em responsabilidade social, gerando freqüentes
questionamentos éticos, além também, da motivação pessoal em estudar o tema a
fundo e contribuir, de forma conceitual e prática para a atividade de marketing. Ao
todo, foram aproximadamente cinco meses de pesquisa sobre o tema em
bibliografias, na mídia e consultas com profissionais de marketing, de gestão
empresarial e da área jurídica. No seu conteúdo, o PE busca referências históricas
dos primeiros códigos de conduta das sociedades antigas, passando pela
compreensão contemporânea do tema ‘ética e moral’, além de sua interpretação e
desenvolvimento na gestão empresarial e na atividade de marketing. As conclusões
encontradas no curso do trabalho são referendadas por resultados de pesquisas e
por vezes, a própria experiência pessoal e profissional das pessoas que
colaboraram com este PE, incluindo a percepção do próprio autor.
9
Este Projeto Empresarial têm como objetivo principal, apresentar uma
agenda de planejamento do marketing mix (4 P’s), que atenda ambas as demandas,
social e corporativa, estabelecendo um novo ‘ponto de equilíbrio’. O ‘PE’ não têm a
pretensão de apresentar uma ‘receita’ que se aplicará a todos os acontecimentos e
eventualidades, com as quais um profissional de marketing defronta-se diariamente,
pois seria genérico em demasiado e comprometer a própria finalidade ou, específico
demais e perder a riqueza que uma análise mais ampla proporciona. Certamente,
além da contribuição prática de um modelo de atuação ético no planejamento do
marketing mix, será de grande valia o próprio processo de imersão, compreensão e
discussão do tema ‘ética em marketing’.
Palavras-chave: Responsabilidade Social; Ética; Marketing; Planejamento do
Marketing Mix; Modelo de Tomada de Decisão
8
RESUMO
O tema ‘Responsabilidade Social’ e questões relacionadas à ética estão
em pauta na sociedade como um todo e com freqüente destaque na mídia. Esta
crescente preocupação com ‘RS’ é conseqüência de um movimento social,
corporativo e até governamental em busca de equalização de responsabilidades e
obrigações. Numa sociedade e porque não dizer num mundo, globalizado, ao menos
no aspecto financeiro/econômico, a prática da ‘responsabilidade social’ é bem vista e
estimulada, pois minimiza as possibilidades de danos e prejuízos em cadeia, como
os exemplos vividos por impérios corporativos - WorldCom, Enron e Parmalat. Da
noite para o dia, CEO’s de grandes corporações, até então reverenciados em rodas
de executivos e palestras, são questionados e migram das páginas de negócios dos
grandes jornais, para as páginas policiais. Alguns, até com escolta de carabinieri e
algemas. Como é possível uma derrocada intensa, e aparentemente definitiva de
padrões e da própria compreensão do que é certo ou errado, ou melhor, adequado
ou inadequado? Quantas outras corporações, ainda poderão figurar nesta amarga
‘lista de desaparecidos’? Questões como estas levam a reflexão as diferentes áreas
das empresas, na revisão de conceitos e prioridades, incluindo o marketing. O
profissional de marketing passa a atuar num novo cenário, com forças antagônicas
até então, exigindo práticas socialmente responsáveis e vantagem competitiva em
relação aos demais concorrentes.
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LISTA DE ABREVIATURAS
CEO - Chief Executive Officer
RS – Responsabilidade Social
PE – Projeto Empresarial
FDA – Food and Drug Administration
PROCON – Grupo Executivo de Proteção ao Consumidor
IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
CONAR – Conselho Nacional de Autoregulamentação Publicitária
BFE – Bridge Fund Europe
DJSGI – Dow Jones Sustentability Global Index
CEBDS – Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
IBGC – Instituto Brasileiro de Governança Corporativa
PwC – PricewaterhouseCoopers
AMA – American Marketing Association
USP – Unique Selling Proposition
ESP – Emotional Selling Proposition
CENP – Conselho Executivo de Normas Padrão
AMPRO – Associação de Marketing Promocional
FPNQ – Fundação para o Prêmio Nacional de Qualidade
ABEMD – Associação Brasileira de Marketing Direto
INPEV – Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias
PEAD – Polietileno de Alta Densidade
PIB – Produto Interno Bruto
GIFE - Grupo de Institutos, Fundações e Empresas
ABONG – Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais
6
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES
pág.
Imagens
1 Eight Heads, M. C. Escher – 1922 ……………………………….Capa
Tabelas
1 Questionamentos – CONAR ………………………………… …….19
1.1 Questionamentos – CONAR ………………………………………. 192 Medidas de Sucesso Corporativo ………………………………….313 Resumo das Teorias em Ética Normativa ………………………...424 Maiores Questões Éticas em Marketing – Modelo 4P’s …………43
Figuras
1 Conceitos de Ética e ‘RS’ …………………………………………. 152 Evolução para a Responsabilidade Social ………………………. 263 Ambientes de Relacionamento Corporativo – ‘RS Global’ ………284 Antropomorfia na Construção de Marcas …………………………395 Síntese da Agenda Proposta ……………………………………….546 Processo de Aprendizado Individual ………………………………567 Mudança de Raciocínio para o Marketing Ético ………………….588 Atuação dos Conselhos de Marketing Mix ………………………. 59
5
SUMÁRIO
CAPÍTULOS pág.
1 INTRODUÇÃO ……………………………………………………….10
2 REVISÃO DA LITERATURA EM MARKETING ÉTICO …………12
2.1 Ética e Moral – Um Aprendizado na História ……………………. 122.2 Sociedade e Demanda pela Ética ………………………………… 162.3 Casos na Publicidade Brasileira ………………………………….. 212.4 Padrões Sociais – Referências …………………………………… 23
3 PROPOSIÇÃO ……………………………………………………… 25
3.1 Ética e Responsabilidade Social nas Empresas …………………253.1.1 Linha do Tempo – Evolução ………………………………………. 263.1.2 Percepção do Consumidor Brasileiro …………………………….. 33
3.2 Marketing ……………………………………………………………..353.2.1 Definição …………………………………………………………….. 363.2.2 Marketing Societal – ‘RS’ ou Estratégia de Diferenciação? …… 373.2.3 Relação do Marketing e Pessoas – Vocação Inata …………….. 403.2.4 A Contribuição do Marketing ………………………………………. 41
3.3 A Questão Ética no Marketing – Estudos Realizados ………….. 423.3.1 Códigos de Ética – Referencial da Atividade ……………………. 46
4 METODOLOGIA ……………………………………………………. 53
4.1 Agenda ………………………………………………………………. 53
5 RESULTADOS ESPERADOS …………………………………….. 69
6 CONCLUSÕES …………………………………………………….. 70
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ……………………………….71
ANEXOS …………………………………………………………….. 76
4
AGRADECIMENTOS
A Roberta Cardoso e Caio Ortiz, por compartilharem respectivamente,
o profundo conhecimento conceitual do tema ética
e a valiosa experiência profissional.
A meus queridos irmãos Adriana e Alexandre e meus cunhados,
José Eduardo e Viviane, amigos de todas as horas e para sempre.
E agradeço, com grande admiração, a meus pais Bel e Sady,
referências em minha vida. Obrigado por acreditarem em mim,
fazendo dos sonhos, realidade.
3
Para meus filhos Luca e Catarina,
e minha esposa e melhor amiga, Samantha.
Encontro em vocês, a alegria das coisas mais simples
e inesperadas, inspiração e força sem fim.
Dedico, com amor.
2
Marcelo Maldonado Dal Mas
A ÉTICA NO PLANEJAMENTODO MARKETING MIX
Projeto Empresarial apresentado à Fundação Dom Cabralpara a conclusão do programa MBA Empresarial
2º Semestre de 2003 – Turma 12
Orientadora: Roberta CardosoSponsor: Caio Fabrício Ortiz
São Paulo
2004
1
Marcelo Maldonado Dal Mas
A ÉTICA NO PLANEJAMENTODO MARKETING MIX
São Paulo
2004
Eight Heads, 1922 – M. C. Escher