Ética, marketing e política
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A Ética na Prática Política12 de Dezembro de 2009I COLÓQUIO NACIONAL DA APEFPASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE ÉTICA E FILOSOFIA PRÁTICA
ÉTICA, CULTURA E FILOSOFIA PRÁTICA
Esta temática envolve um complexo
rol de pontos de abordagem:
▫ Origens históricas e culturais do fenómeno
▫ Razões económicas e institucionais
▫ Custos políticos e sociais
▫ A dimensão macro ou micro do postulado ético na política
▫ As experiências vividas na 1ª pessoa
Os conceitos
Ética pública Ética pessoal
Ética da responsabilidade
(atenta às consequências)
Ética da convicção
O nosso ponto de partida
• A sucessão de vários escândalos de corrupção acontecidos nos últimos tempos
• A desilusão política por parte do cidadão vs. abstencionismo
• A existência ou não de mudanças sobre velhas práticas e processos políticos
• O papel da imprensa em denunciar e acompanhar
• O funcionamento da democracia vs a legitimação das ditaduras
Algumas constatações
• Os valores éticos ainda são pouco observados pelos que elegem e pelos eleitos
• Os partidos que mais cresceram foram aqueles que pregaram atitudes de ética, integridade, cidadania e transparência na política
• A perpetuação no poder em causa pelo funcionamento da limitação legal dos mandatos (efeito 2013)
Uma definição de ética para a acção
na política
• A ética é a intenção de uma acção política realizada sob o signo das boas acções; é o cuidado consigo e com o outro para que possamos viver bem.
• Este conceito de “viver bem consigo e com o outro”, evoca a ideia de estima e solicitude que contribui para estabelecer a igualdade entre as pessoas.
• Esta intenção do bem-viver deve envolver de algum modo o sentido da justiça, isso é exigido pela própria noção do outro.
Modo de ser ou carácter
(mau feitio ou bom carácter)
Conduta responsável para o bem comum
Comportamento dos homens em sociedade
Exigências, limitações e a melhor alternativa
de acção
Ética e Prática Política
• Poder e oposição – Estatuto da oposição
• Marketing Político e Novos media
• Programas e seu cumprimento
• Orçamento participativo
• Fiscalização do poder executivo / exercício do poder das assembleias
• Militância e independência
A PRÁTICA POLÍTICA COMO JOGO
JOGO DA NÃO
DECISÃO
JOGO DO PODER
NEGATIVO
JOGO DE PODER
JOGO DA RESPOSTA
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O jogo da rebelião (Insurgency game)
O jogo da contra-rebelião (Counterinsurgency game)
O jogo do patrocínio (Sponsorship game)
O jogo da construção de alianças (Alliance building game)
O jogo da construção do império (Empire-building game)
O jogo da orçamentação (Budgeting game)
O jogo de “soprar no ouvido” (Whistle-blowing game)
O jogo da especialização (Expertise game)
O jogo do jovem guerreiro (Young Turks game)
Os jogos de poder de Mintzberg
11
Os jogos da não decisão
A táctica da inclusão/exclusão de items na agenda das reuniões
A táctica da inclusão/exclusão de pessoas na tomada de decisão
A táctica do “pegar” pelos detalhes
A táctica do adiar (é sempre necessário aprofundar mais a questão)
A táctica do “homem invisível” (o que nunca aparece)
A táctica de não reagir ou incentivar a inércia (semelhante à táctica do adiar)
A táctica de manter o projecto complexo, difícil e vagamente definido
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Jogos de poder negativo ou do poder da contra-implementação
A táctica do “bode espiatório” (a culpa de não-fazer é sempre de alguém)
A táctica da chantagem emocional (não faço porque o problema tem um grande peso emocional)
A táctica da minimizar a legitimidade e influência dos lideres da mudança (o agente da mudança não conhece bem o problema ...)
A táctica da explorar a ausência de conhecimento interno (não podemos mudar porque nos faltam as competências ...)
JOGO DA RESPOSTA
JOGO DA RESPOSTA
• O voto e o apoio como próximo de um processo de decisão de compra
• Necessidade – informação – avaliação de alternativas – decisão – voto – avaliação da performance
• O modelo do “GAP” nos serviços (Mary JoBitner)
▫ Expectativa vs resultado
Pesquisa de opinião “Eleição brasileira: ética,
política e cidadania, 2002
Universidade Católica de Brasília
12,3
14,2
10,4
3,8
20,5
31,2
3,54,1
0
5
10
15
20
25
30
35
Gráfico nº 02 - Como você define uma pessoa ética?
vive de acordo com as normas sociaisrespeita as diferenças
não lesa os outrosfavorável aos bons costumes
procede de forma honestaconjunto de valores e princípios para guiar o comportamentooutra
ns/nr
Perfil de pessoa ética
F %
responsabilidade social 119 37,5
postura ética 38 12,0
cumprimento de seu dever 83 26,2
comprometimento com a população 26 8,2
boa aparência 5 1,6
Honestidade 23 7,3
transparência nas acções 13 4,1
Carácter 1 0,3
moralidade pública 6 1,9
Integridade 3 0,9
Total 317 100,0
Características de um bom político
F %
acompanha o mandato analisando o cumprimento das promessas 64 20,2
acompanha o trabalho desenvolvido pelo candidato 158 49,8
Esquece, pois votou por obrigação 36 11,4
Mantém o voto na sua reeleição, por fidelidade partidária 13 4,1
Outra 38 12,0
Ns/nr 8 2,5
Total 317 100,00
Como decido o voto?
F %
difícil cumprir 54 17,0
não acredito em políticos 21 6,6
o político não deveria prometer o que não pode cumprir 72 22,7
é possível cumprir 60 18,9
Seria importante que se cumprisse o prometido 83 26,2
é impossível cumprir 15 4,7
Outro 8 2,5
ns/nr 4 1,0
Total 317 100,0
Avaliação e fiabilidade do político
F %
Só decido depois da divulgação do programa eleitoral 11 3,5
não assisto ou não leio nada sobre a eleição 13 4,1
assisto apenas aos telejornais e baseio-me neles 19 6,0
leio os jornais para me manter informado 45 14,2
Sigo-me pelas pesquisas 2 0,6
é importante, pois nos media vemos melhor os factos 95 30,0
a imprensa aumenta o facto 10 3,2
a imprensa manipula as informações 75 23,7
Outro 33 10,4
ns/nr 14 4,4
Total 317 100,0
Importância dos meios de comunicação na decisão de voto
10,4
50,5
6,6
0,6
20,5
8,52,8
0
10
20
30
40
50
60
são todos corruptos a maioria é corrupta
pouquissimos são corruptos todos são honestos
o tempo os tornam corruptos poucos são desonestos
ns/nr
Político e corrupção
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Procurar os limites éticos da utilização do poder
Pergunta 1:
O jogo político é motivado exclusivamente
por interesses próprios, i.e. não são contemplados quaisquer interesses daorganização ?
SimSim
NãoNãoPergunta 2:
O jogo político respeita os direitos das pessoas envolvidas ?
Pergunta 3:
O jogo político é justo e leva a resultados
equilibrados ?
NãoNão
SimSimNãoNão
SimSim
Não ético
Ético
Não ético
Ética e prática política autárquica
Programas e acção
Participação e empowerment
Domínio e influência
Oposição e transparência
Burocracia e proximidade
O Estado da “ARTE”
Unicidade de comando
Tecnocracia e oportunismo
(critérios e prazo)
Ética, política e projecto estratégico
de desenvolvimento
Mentalidade de longo prazo
Libertação do potencial criativo
Favorecimento do pensamento antecipatório
Resposta às necessidades com
efeito multiplicador positivo
Incentivo à liderança partilhada
Sentido de globalidade e
interdependência nas decisões
As questões de uma experiência
O voto e a eleição como prioridade
A anulação da participação
associativa e das oposições
Anulação do papel da imprensa na democracia
Incumprimento regimental da
resposta às oposições
A unicidade como caminho para a falta
de debate
A autarquização de todas as iniciativas da
comunitária
A personalização da identidade
corporativa da CM
A quem compete fiscalizar o
comportamento ético?Eleitor
Restantes eleitos
Associações e grupos de cidadãos
Imprensa
Oposição
Parceiros sociais
Empresas
Escolas
O desvio nos comportamentos.
O anti-ético na prática política.
A falsa independência vs militância
Pedir licença para obter
licença
A disciplina no voto
Sinais de autoridade
As vozes do poder
A troca de favores
A resistência à mudança
Lentidão e atraso
Política, político vs comunidade
Incumprimento
ÉTICO
Político - poder
Imprensa
(omissão, desinformação)
Cidadão (recusa,
abstenção)
Oposições
Ter Competição Poder como privilégio Hierarquização Centralização Hostilidade Manda de cima para baixo Autoritarismo Sucesso competição Ganha/perde Administra Status Oprime Governa pelo temor
Ser Partilha Poder como serviço Liderança Rede Conciliação Estimula de baixo para cima Consenso Fracasso competição Ganha/ganha Cuida Realização Capacita Governa pela persuasão
A B
Constatação!
• Somos menos exigentes com a política e com os políticos do que com os actores, do que com os jogadores e treinadores de futebol
Geração da dependência
Confusão partido / exercício de
poder
Domínio da comunicação
social
Eliminação da liberdade das associações
Uso do marketing de
mandato para a perpetuação de
poder
O país perdeu a inteligência e a
consciência moral.
«O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Não há princípio que não seja desmentido nem instituição que não seja escarnecida
Já não se crê na honestidade dos homens públicos
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
Os serviços públicos abandonados a uma rotina dormente
O desprezo pelas ideias aumenta a cada dia
A ruína económica cresce, cresce, cresce…
A intriga política alastra-se por sobre a sonolência enfastiada do país.
Diz-se por toda a parte:”O país está perdido!” »
Eça de Queiroz (1871)