Ética e cidadania - aula 2
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ÉTICA PROFISSIONAL E CIDADANIAA ÉTICA NA HISTÓRIANo horizonte da conturbada vivência moral as incertezas pairam no ar devido a diversidade e à contraposição de bens que se elevam com o caráter de "bem maior". Essa preocupação ganha uma dimensão mais abrangente e contundente no plano filosófico da reflexão ética. São pensadores, escolas filosóficas que se rivalizam na tentativa de explicitar, definir e erigir categoricamente o fim ou o bem último da vida moral.TRANSCRIPT
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Disciplina: ÉTICA PROFISSIONAL E CIDADANIA
Professor: ROBSON SILVA MACEDO
2ª AULA
A ÉTICA NA HISTÓRIA
No horizonte da conturbada vivência moral as incertezas pairam no ar devido
a diversidade e à contraposição de bens que se elevam com o caráter de "bem
maior". Essa preocupação ganha uma dimensão mais abrangente e contundente no
plano filosófico da reflexão ética. São pensadores, escolas filosóficas que se
rivalizam na tentativa de explicitar, definir e erigir categoricamente o fim ou o bem
último da vida moral.
O critério eudemonista (Aristóteles - 384/383-322 a.C.) No plano moral, o
eudemonismo representa uma doutrina que admite a felicidade como critério
normativo da ação, como fundamento condicionante da conduta humana. É
considerado bom o ato, o comportamento que conduz a felicidade individual e
coletiva. A felicidade e apreciada como sumo bem, pois e ela que a pessoa humana
procura em todos os seus esforços, em todos os objetos do seu desejo.
A ética aristotélica e o exemplo clássico da sistematização filosófica do
eudemonismo. Aristóteles afirma que o bem humano, o exercício mais perfeito da
ação humana e a felicidade. Neste sentido, a felicidade é o fim a que visam as
nossas ações. É o bem supremo ao qual todos acorrem.
Na tentativa de definição e de busca de felicidade, esta é identificada ora com
o prazer, ora com as honrarias, ora com o acúmulo de riquezas. Para Aristóteles, no
entanto, essas identificações são inadequadas. Para ele, a felicidade, como bem
supremo realizável pela pessoa humana, pressupõe o uso da razão, consiste em
viver em conformidade com a razão. A função própria de um homem bom e o
exercício das atividades racionais conforme a virtude, que deve estar ordenada a
atingir o alvo do meio-termo, pois todo excesso é característico da deficiência moral.
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Ela comporta a felicidade completa, visto que, para a pessoa humana, a vida
conforme o intelecto é melhor e mais agradável, e também a que mais se assemelha
a vida divina. Dessa forma, a pessoa sábia e a pessoa mais feliz.
O critério hedonista (Epicuro - 341-270 a.C.)procura demonstrar que a
realização da pessoa reside no prazer. Mentalidade, aliás, muito difundida em nosso
mundo consumista, no qual o prazer e algo muito evidenciado. São vários, hoje, os
setores da vida social que se sustentam economicamente com a promoção de
atividades orientadas à exploração comercial do prazer.
Este critério formula uma moral elementar, prática, conformada ao espirito
utilitário. Moral dominada pela idéia de que a verdadeira realização da vida humana
repousa no prazer. O bem supremo, para o qual se inclina a ação moral, e o prazer.
Foi Epicuro, na Antigüidade, que deu ao hedonismo as características de um grande
sistema ético. Como o mundo e a pessoa humana, para Epicuro, são frutos do
acaso, só resta ao indivíduo ocupar-se com a vida presente, procurando fazer com
que ela se torne a vida mais agradável possível. De que modo? Só existe um
caminho: o da busca do bem maior da existência: o prazer, considerado como o bem
primitivo e inato.
Essa contabilidade moral quer indicar que a vida é um negócio a ser
desfrutado do modo mais lucrativo possível: o máximo de prazer contraposto ao
aniquilamento da dor.
O critério do dever (Imanuel Kant - 1724-1804) é entendido como forma a
priori que funda a moralidade. A sustentação filosófica do dever, como critério
normativo da ética, foi esboçada por Emanuel Kant. Para Kant, a razão humana não
é simplesmente razão teorética capaz de conhecer, mas e também razão pratica
que determina a ação moral. A vontade é a razão em seu sentido pratico.
A razão sozinha é suficiente para mover a vontade. Prescinde do auxilio dos
impulsos sensíveis. É só em função desta "autonomia da razão" que se pode admitir
a existência de princípios morais válidos , sem exceção, para todas as pessoas.
O conceito de dever, objetivamente, exige da ação sua concordância com a
lei. Subjetivamente, e em respeito a lei, como o único modo de a vontade deixar-se
determinar pela lei. O primeiro caso (o da concordância) é a legalidade, na qual
repousa a consciência do dever cumprido de acordo com o dever e por dever, ou
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seja, por respeito à lei. O segundo (o respeito) é a moralidade: o valor moral deve
ser posto exclusivamente no fato de a ação ocorrer pelo dever, isto é, somente pela
lei. O dever, nesta formulação, se impõe por si mesmo. É a forma a priori da razão
prática.
Como ser moral, capaz de obedecer a lei, a pessoa humana possui dignidade
incomparável, que a faz ser fim em si mesma e não um meio.
O critério voluntarista (Friedrich Nietzsche - 1844-1900) coloca vontade
como fator condicionante da vida moral admitindo que a possibilidade da mudança,
da revolução da criatividade, da reação contra as convenções presume e requer o
poder interventor e desintegrador da vontade. Percebida como uma energia em
movimento contínuo, a vontade ora é confundida com sentimento, com o desejo,
com o esforço, ora é apreendida como pura espontaneidade, como impulso
irrefreável.
Na filosofia, foi Friedrich Nietzsche quem a exaltou. Sua ética, denominada de
voluntarista e evolucionística, enaltece a vontade de poder: a vida que se afirma
triunfalmente, enquanto conduz a humanidade a preparar-se para a vinda do Super-
Homem.
A concepção da vontade de poder, em Nietzsche, tem por base a sua filosofia
da negação, que compreende o universo como incoerência, um verdadeiro caos,
privado de finalidade, de sentido. Não tem ordem nem lógica. Um emaranhado de
"forças" que se desintegram, que se chocam e tendem novamente a combinar-se. O
homem, as coisas, os costumes, tudo é um sistema de forças em conflito, em
combate, impelidas a expansão.
O critério da liberdade (Jean-Paul Sartre - 1905-1980) define a pessoa
humana e como fonte da qual se originam todos os valores. Ele identifica a pessoa
humana com a liberdade. A realidade humana é radicalmente liberdade. A pessoa
não é uma essência fixa. É apenas um projeto: aquilo que projeta ser.
Primeiramente existe, surge e se descobre no mundo; e só posteriormente, que se
define, que será aquilo como a si próprio fizer.
A liberdade, na compreensão sartreana, é absoluta. Dois fatores
fundamentarn essa afirmação: a razão de que a existência precede a essência torna
impossível a referencia a uma explicação ou a uma natureza imutável; o fato de que
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Deus não existe faz com que não encontremos diante de nós valores ou imposições
que nos legitimem o comportamento.
Por conseqüência, a responsabilidade atribuída a pessoa humana é total. A
pessoa humana, ao escolher-se, escolhe as suas circunstancias, as condições de
sua existência, os seus valores. Torna-se responsável por aquilo que escolheu e tal
responsabilidade envolve toda a humanidade.
O critério espiritualista (Baruch Spinoza - 1632-1667) evocado como Deus,
como Ser necessário, constitui o fundamento último, o critério supremo da
moralidade. A firme crença na existência de Deus tem um reflexo muito grande na
vida moral. Em conformidade com a imagem de Deus, modelada segundo a religião
de que participa, o crente vê-se forçado a pautar o seu comportamento. Na
vinculação entre moral e fé, dá-se muita importância a coerência de vida, ao
testemunho, a autenticidade. O modo de agir, de conduzir a existência, da parte do
crente, deve ser uma expressão viva e coerente de sua fé.
Nessa visão existe a tentativa de interpretar Deus como sendo toda a
realidade. Deus e mundo são percebidos como uma só coisa. Tudo é redutível a
unidade do Absoluto. Nessa interpretação monista da realidade, Deus é tudo. Não é
salvaguardada a autonomia do Criador e da criatura.
Baruch Spinoza é o filósofo mais eminente que defende esta idéia,
associando-a ao tema da moral. Para Spinoza, existe sé uma substância: Deus.
Compreendido como ser absolutamente infinito, Deus e uma substância dotada de
uma infinidade de atributos. É a única substância existente, pois tudo aquilo que é, o
é nele. Sem Deus nenhuma coisa pode existir, assim como não pode ser concebida.
Tudo o que acontece, acontece segundo as leis da natureza infinita de Deus e
segue a necessidade de sua essência. Tudo, portanto, é determinado pela natureza
de Deus. O mundo é a necessária conseqüência de Deus. Ou melhor, tudo é em
Deus. Natureza e Deus são a mesma coisa, se identificam. Deus não é distinto do
mundo. Tal concepção é panteística, sendo que tudo é manifestação necessária de
Deus.
Os critérios que objetivam fundamentar a eticidade estão em sintonia com o
senso comum. Procuram ser a expressão das idéias veiculadas pela opinião e
mentalidade populares, que tem sempre um respaldo filosófico. Existem outros.
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Devido a seu exclusivismo próprio, colocam em relevo apenas um dos
aspectos da moralidade, legitimado e admitido como principio fundamental. O que
sobressai, nesta análise, é a necessidade de compreender a moral como um
conjunto de valores, de propriedades e dimensões que estão em conexão
inseparável.
REFERÊNCIAS
MATTAR NETO, João A. Filosofia e ética. São Paulo: Saraiva, 2004.
HUISMAN, D.; VERGEZ, A. Curso moderno de filosofia: introdução à filosofia das
ciências. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1983.
KUNG, Hans. Projeto de ética mundial: uma moral ecumênica em vista da
sobrevivência da humanidade. São Paulo: Paulinas, 1998.