etica a nicomaco - roteiro de leitura

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Notas sobre a “Ética a Nicômaco” de Aristóteles Prof. Sergio Salles “Agir bem tanto é raro quanto nobre e louvável” (Aristóteles) I. Divisão Livro I: Do bem supremo; da felicidade (eudaimonia) Livro II: Das virtudes de caráter em geral Livro III: Do voluntário e do involuntário. Das précondições da virtude. As virtudes individuais de caráter (coragem e temperança) Livro IV: Das virtudes individuais de caráter (generosidade; magnificência; magnanimidade; virtudes concernentes às pequenas honras; gentileza; amicabilidade em contextos sociais; veracidade em contextos sociais; sagacidade; vergonha) Livro V: Da Justiça Livro VI: Das virtudes dianoéticas (conhecimento científico; conhecimento produtivo; inteligência; entendimento; sabedoria; boa deliberação; etc.) Livro VII: Da continência e incontinência; Do prazer. Livro VIII: Da amizade Livro IX: Dos problemas, dos motivos e da justificação da amizade Livro X: Do prazer; Da felicidade; Da educação moral e política; Da contemplação. II. Roteiro de leitura Livro I Cap. 1: o bem mais elevado: a felicidade Cap. 12: Distinção fundamental entre práxis e poiésis (c. 12) e a dimensão teleológica de ambas. Cap. 2: Arquitetônica dos saberes e dos saberes práticos (a subordinação da Ética à Política). Ética = práxis individual; Política = práxis social/comunitária. Cap. 3: Observações sobre o método da Ética que exclui demonstrações rigorosas. Do Cap. 4 ao 12: O bem como télos da práxis humana. Cap. 4: opiniões dos filósofos sobre o bem mais elevado; a noção de bem não é unívoca (Platão), mas análoga. Cap. 5: opiniões correntes sobre o bem mais elevado (prazer, honra e riquezas). Cap. 7: o que é o bem mais elevado (absoluto) e suas condições (a autosuficiência) Cap. 8: a felicidade (eudaimonia) como atividade conforme à virtude Cap. 9: introdução às virtudes Cap. 12: a felicidade (eudaimonia) é uma atividade (energeia) da alma segundo a virtude perfeita (kat’areten teleian). Cap. 13: relação entre as virtudes e as partes da alma

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Page 1: Etica a Nicomaco - Roteiro de Leitura

Notas sobre a “Ética a Nicômaco” de Aristóteles  

Prof. Sergio Salles 

“Agir bem tanto é raro  

quanto nobre e louvável”  

(Aristóteles) 

 

I. Divisão 

 

Livro I: Do bem supremo; da felicidade (eudaimonia) 

Livro II: Das virtudes de caráter em geral 

Livro III: Do voluntário e do involuntário. Das pré‐condições da virtude. As virtudes 

individuais de caráter (coragem e temperança) 

Livro  IV:  Das  virtudes  individuais  de  caráter  (generosidade;  magnificência; 

magnanimidade;  virtudes  concernentes  às  pequenas  honras;  gentileza; 

amicabilidade em contextos sociais; veracidade em contextos sociais; sagacidade; 

vergonha) 

Livro V: Da Justiça 

Livro  VI:  Das  virtudes  dianoéticas  (conhecimento  científico;  conhecimento 

produtivo; inteligência; entendimento; sabedoria; boa deliberação; etc.) 

Livro VII: Da continência e incontinência; Do prazer. 

Livro VIII: Da amizade 

Livro IX: Dos problemas, dos motivos e da justificação da amizade 

Livro X: Do prazer; Da felicidade; Da educação moral e política; Da contemplação. 

 

II. Roteiro de leitura 

Livro I 

Cap. 1: o bem mais elevado: a felicidade 

Cap. 1‐2: Distinção fundamental entre práxis e poiésis (c. 1‐2) e a dimensão 

teleológica de ambas. 

Cap. 2: Arquitetônica dos saberes e dos saberes práticos (a subordinação da Ética à 

Política). Ética = práxis individual; Política = práxis social/comunitária. 

Cap. 3: Observações sobre o método da Ética que exclui demonstrações rigorosas. 

Do Cap. 4 ao 12: O bem como télos da práxis humana. 

Cap. 4: opiniões dos filósofos sobre o bem mais elevado; a noção de bem não é 

unívoca (Platão), mas análoga.  

Cap. 5: opiniões correntes sobre o bem mais elevado (prazer, honra e riquezas).  

Cap. 7: o que é o bem mais elevado (absoluto) e suas condições (a auto‐

suficiência) 

Cap. 8: a felicidade (eudaimonia) como atividade conforme à virtude 

Cap. 9: introdução às virtudes 

Cap. 12: a felicidade (eudaimonia) é uma atividade (energeia) da alma segundo a 

virtude perfeita (kat’areten teleian). 

Cap. 13: relação entre as virtudes e as partes da alma 

Page 2: Etica a Nicomaco - Roteiro de Leitura

Livro II 

Distinção entre virtudes intelectuais (dianoéticas) e virtudes éticas (morais) em 

razão das diversas potências da alma humana; 

As virtudes éticas em geral (cap. 1‐7); 

A  virtude  ética  possui  as  seguintes  características:  é  um  hábito  adquirido 

racionalmente que leva à ação boa (práxis); ela é justa medida (mésotes), ou seja, 

meio‐termo  entre  dois  opostos;  ela  é  voluntária,  objeto  de  escolha  deliberada 

(proaíresis).  

A virtude é “o que faz bom ao que a tem e faz boa sua obra”. 

A  virtude  é  a  “disposição  estável  que  nos  permite  escolher,  disposição  esta 

consistente  num meio  termo  relativo  a  nós, meio  definido  pela  razão  como  o 

definiria o próprio prudente” (Livro II, c. 6, 1106b‐1107). 

A virtude ética como mediania (cap. 8‐9); 

As virtudes são adquiridas, enquanto as potências são inatas à alma. 

O critério de distinção das ações moralmente boas em relação às más é a “reta 

razão” (). 

Livro III 

Definição de ato involuntário: “um ato é involuntário quando praticado sob compulsão 

ou por ignorância”(I, 1109b35). “O ato feito por ignorância sempre é não‐voluntário; é 

involuntário o que provoca aflição ou arrependimento” (I, 1110b18‐19). 

Definição  de  ato  voluntário:  é  aquele  “cujo  princípio  está  presente  em  quem  age 

conhecendo  as  circunstâncias  peculiares  no meio  das  quais  sua  ação  se  realiza”  (I, 

1111, a22‐24). 

Escolha, deliberação () e desejo () (III, cap. 2‐5)  Catálogo das virtudes éticas (III, 6 – IV, 9). 

Livro V 

A justiça como principal virtude ética (V, 1‐11). 

Livro VI 

As  virtudes  dianoéticas  (cap.  1‐8):  filosofia,  arte(s),  sabedoria  prática/prudência 

(phronesis). 

A filosofia e a sabedoria prática/prudência (cap. 9‐13). 

Livro VII 

Continência e incontinência (cap. 1‐10); 

O prazer (cap. 11‐14) 

Livro VIII 

A amizade e suas espécies e propriedades (cap. 1‐14) 

Page 3: Etica a Nicomaco - Roteiro de Leitura

“Ninguém escolheria viver sem amigos, ainda que dispusesse de todos os outros bens” 

(cap. 1). 

Livro IX 

A relação do homem consigo mesmo; sobre o homem bom (cap. 4). 

Livro X 

Cap. 1‐5: sobre o prazer 

Cap.  6‐8:  a  felicidade  é  fruto  da  atividade  mais  perfeita  do  homem,  que  é  a 

contemplativa  (theoría),  na  posse  de  seus  objetos  mais  elevados  (os  primeiros 

princípios). Como Deus é o princípio primeiro que  contempla a  si mesmo, Deus é  a 

finalidade da felicidade humana (Met. XII, 7, 1072b). 

Cap. 9: necessidade da lei e passagem à Política. 

 

III. Conceitos fundamentais 

 

1. :  composta  do  prefixo  “eu”  que  significa  “bem”  e  de  “daimon”  que significa “alma, espírito”. O  latim traduziu‐o por  felicitas, que resultou em  felicidade, em português. Em Aristóteles, expressa a plenitude do ser humano mediante as suas ações virtuosas. 

2. :    esse  termo  possui  significado  físico  e  moral.  Nesse  último  sentido,  é entendido  como  “excelência”.  O  latim  traduziu‐o  por  virtus,  que  resultou  em português,  virtude.  Em  Aristóteles,  é  o  que  permite  à  potência  da  alma  operar  de maneira  excelente,  perfeita.  A  virtude,  assim,  é  uma  disposição  adquirida voluntariamente (Ét. Nic. II, VI, 15). 

3. : Do grego , composto de  “si mesmo” e “comandar”, ou seja, “comandar a si mesmo”, “agir por si mesmo”. Em Aristóteles, expressa a “auto‐suficiência” pressuposta pela felicidade. 

4. :  traduz‐se por “escolha”, “escolha deliberada”. Em Aristóteles, é «um 

apetite,  guiado  pelo  desejo  (),  para  coisas  dentro  do  nosso  poder».  A escolha é sempre de meios; enquanto o desejo  () pode ter como objeto coisas que  fogem  ao nosso  alcance,  ao nosso poder. Dito de outra  forma, o desejo pertence mais ao fim, enquanto a escolha ao que é relativo ao fim (=meio). 

5. :  traduz‐se  por  “desejo”  ou  por  “vontade  não‐deliberada/espontânea”. Em Aristóteles, designa o movimento da alma humana em direção ao fim; é o apetite 

do  fim.  Difere,  assim,  da  vontade  deliberada  ()  que  versa  sobre  os meios.