etica a nicomaco - resumo do livro_aristoteles - outubro 2003

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  FERNANDO COSTA FURLANI [Turma: 1º T] RESUMO DO LIVRO “ÉTICA A NICÔMACO”, DE ARISTÓTELES Trabalho de Graduação apresentado à Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como exigência parcial para satisfazer os requisitos da Disciplina ‘Ética e Cidadania Aplicada ao Direito I’ Professor: Marcos Peixoto Mello Gonçalves  São Paulo 2003 

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FERNANDO COSTA FURLANI

[Turma: 1º T]

RESUMO DO LIVRO “ÉTICA A NICÔMACO”,

DE ARISTÓTELES 

Trabalho de Graduação apresentado à

Faculdade de Direito da Universidade

Presbiteriana Mackenzie, como exigência

parcial para satisfazer os requisitos da

Disciplina ‘Ética e Cidadania Aplicada ao

Direito I’

Professor: Marcos Peixoto Mello Gonçalves 

São Paulo

2003 

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SUMÁRIO 

LIVRO I ............................................................................................................... 4

LIVRO II............................................................................................................ 10LIVRO III .......................................................................................................... 15

LIVRO IV .......................................................................................................... 21

LIVRO V ............................................................................................................ 27

LIVRO VI .......................................................................................................... 33

LIVRO VII ......................................................................................................... 39

LIVRO VIII ....................................................................................................... 45LIVRO IX .......................................................................................................... 53

LIVRO X ............................................................................................................ 60

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ................................................................ 66

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LIVRO I

CAPÍTULO 1

Todas as coisas tendem para o bem, por exemplo: toda ação e toda escolha, toda arte e toda

investigação. Os fins se dividem entre (i) atividades, e (ii) produtos diferentes das atividades

das quais resultam, sendo estes distintos das ações, e por isso mais excelentes. Como há

muitas artes e ciências, existem muitos fins. Os fins fundamentais devem ter precedência

sobre os subordinados, pois estes são procurados em função daqueles.

CAPÍTULO 2

Considerando a existência de um fim que desejamos por si mesmo, sendo que todas as outras

coisas são desejadas por causa dele, esse fim vem a ser o “sumo bem”, tudo seguindo em sua

direção. Ele é objeto da ciência mais prestigiosa e que prevalece sobre tudo: a ciência política.

A finalidade da ciência política abrange a finalidade das outras ciências, e tal finalidade é o

bem humano, mas principalmente voltado a todos os indivíduos organizados em uma nação

ou cidade-Estado, por ser mais nobre e mais divino do que se fosse voltado a um indivíduo só.

CAPÍTULO 3

As ações belas e justas admitem grande variedade de opiniões diferentes, podendo-se concluir

que elas existem por convenção e não por natureza. Com os bens também se observa este

fenômeno, e um bem pode até chegar a ser prejudicial. A conclusão da investigação ética deve

ser feita de forma aproximada e sumária, não admitindo precisão em virtude de sua natureza.

Quem dominar um assunto específico é bom juiz nesse assunto, e quem tiver recebido

instrução a respeito de todas as coisas é bom juiz em geral. O jovem, quer jovem de idade ou

de caráter, não achará proveitoso o estudo da ciência política, e seu estudo por eles será

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improfícuo, já que os jovens agem por paixões, e a investigação ética ajuda apenas a quem

quer agir de acordo com a razão, e não por paixões.

CAPÍTULO 4

Quase todos parecem estar de acordo quanto a qual vem a ser o bem supremo: é a felicidade.

E o fim da ciência política, portanto, é a felicidade. Entretanto, existem divergências sobre o

que vem a ser a felicidade. Por exemplo, alguns consideram que ela equivale ao bem viver e

ao bem agir. A opinião dos sábios difere da do vulgo; ainda, outros pensam que a felicidade

depende das circunstâncias, por exemplo, com a saúde quando se está doente, etc. Sua

investigação deve começar pelos fatos conhecidos dos homens. Para isso é preciso ter sido

educado nos bons hábitos. Quem não é educado, deve ouvir os que foram educados desse

modo.

CAPÍTULO 5

Pode-se dizer que existem três tipos de vida: a vida dos prazeres, a vida política e a vida

contemplativa. As pessoas de maior refinamento identificam a felicidade com a honra, que

seria a finalidade da vida política. Procura-se a honra através da prática da virtude; portanto, a

virtude pode ser considerada a finalidade da vida política. Mesmo o homem virtuoso está

sujeito a sofrimentos e infortúnio, sendo então essa virtude incompleta. A vida dedicada a

ganhar dinheiro não busca um bem em si, porém algo útil no interesse de outra coisa.

CAPÍTULO 6

O bem universal é que deve ser considerado, e discutido com maior profundidade. Faz-se

mister salientar que o termo “bem” tem numerosas definições, e por isso o bem não é único e

universal. Decorre disso o fato de haver várias ciências do bem. O bem pode ser considerado

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uma substância, ou qualidade, ou ainda uma relação. O bem substancial é anterior à relação.

Não existe idéia de “bem comum” no modo absoluto e relativo. O bem em si e os particulares

não diferem enquanto bem. Os platônicos cogitam sobre um “bem em si” e outros em relação

a este. Estudando o bem em si, pode-se perceber que não existe elemento comum em uma só

idéia. O bem único e universal seria inatingível ao homem. Além disso, se houvesse o

conhecimento do bem único e universal, ele não seria útil nos casos particulares.

CAPÍTULO 7

Voltemos a falar do bem que está sendo procurado, e a indagar o que é ele. Ele se mostra

diferente nas diversas ações e artes. O bem das artes é aquele em cujo interesse giram todas as

suas ações. Portanto, o bem seria a  finalidade das ações. O sumo bem é absoluto, ou seja,

desejável “em si”, e não pelo interesse de outra coisa.

A felicidade é esse bem desejável “em si”. Ela é perfeita e auto-suficiente, faz com que a vida

seja desejável e sem carências de qualquer natureza, sendo o fim de todas as ações. Ademais,

a felicidade depende da função do homem.

A vida ativa da alma é a função do homem, implicando ela num princípio racional. Além

disso, o homem bom deve realizar bem suas ações. O bem do homem vem a ser a atividade da

alma em consonância com a virtude; se há mais de uma virtude, então será em consonância

com a melhor e mais completa entre as virtudes. Entretanto, a virtude deve ser praticada “em

uma vida inteira”, já que um só dia de prática não tornaria um homem feliz e venturoso.

Tomemos o “fato” como o ponto de partida, ou “primeiro princípio”. Os primeiros princípios

podem ser estabelecidos pela indução, pela percepção, pelo hábito, e ainda de diferentes

formas. Seu estudo merece atenção porque é comumente aceito que “o começo é mais do que

a metade do todo”.

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CAPÍTULO 8

Os bens têm sido divididos em três tipos: os externos (ou exteriores), os da alma e os do

corpo. Os bens da alma são considerados melhores, pois são “bens” no mais próprio e

verdadeiro sentido do termo. Outra crença que faz sentido é a de que o homem feliz age bem e

vive bem. Alguns identificam a felicidade com a virtude, outras com a sabedoria prática,

outras com sabedoria filosófica, e outras a consideram ser uma somatória de todas as

anteriores, somadas a pelo menos um pouco de prazer; ainda, alguns identificam a felicidade

com a prosperidade exterior. A chamada “atividade virtuosa” deve necessariamente agir , e

agir bem, posto que são uma atividade, não admitindo estado de inércia. As ações virtuosas

devem ser aprazíveis em si e por natureza. Assim, a felicidade é a melhor, a mais nobre e a

mais aprazível coisa do mundo. A felicidade parece depender também dos bens exteriores

para realizar atos nobres a fim de que seja conquistada.

CAPÍTULO 9

Pergunta-se como se adquire a felicidade: pelo hábito, pelo aprendizado, por algum tipo de

exercício, ou ainda por providência divina, e pode-se concluir que a felicidade é de fato uma

graça concedida pelos deuses, posto que é algo divino e abençoado. Além do mais, a

felicidade é uma determinada atividade da alma conforme à virtude. Não se pode dizer que

animais, e tampouco crianças, são felizes. Porque para atingir a felicidade é preciso não

apenas virtude completa, mas também levá-la por toda uma vida.

CAPÍTULO 10

Se partirmos do princípio de que a felicidade é permanente, cai-se em um paradoxo ao se

afirmar que o homem é feliz somente ao final de uma boa vida. As atividades virtuosas

constituem a felicidade, sendo as mais duráveis. As atividades viciosas nos conduzem à

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infelicidade. Durante toda a sua vida, o homem dito  feliz dedicara-se à ação ou contemplação

da virtude, suportando os reveses da vida. Nos grandes infortúnios é que se revela a

verdadeira nobreza de um homem, e é quando aparece sua grandeza de alma. O homem sábio

e bom tira o maior proveito das circunstâncias. Homens felizes são aqueles que estão em

condições de se tornarem felizes, e preferivelmente por toda a vida.

CAPÍTULO 11

A boa ou má fortuna dos amigos parecem ter certa influência sobre os mortos, porém tais

influências são muito pouco significativas para a felicidade dos homens, não sendo capazes de

alterar seu estado.

CAPÍTULO 12

A felicidade é uma coisa louvável e perfeita, não sendo do tipo das potencialidades. A

felicidade é, ainda, o “primeiro princípio” e a causa dos bens, sendo ainda de natureza divina.

CAPÍTULO 13

A felicidade é uma atividade da alma segundo a virtude perfeita. Convém considerar a

natureza da virtude para compreender a natureza da felicidade, e a virtude aqui se refere à

virtude humana, sendo esta ainda a da alma e não do corpo. O político estuda a virtude antes

de tudo, e o que se busca é a virtude humana. Portanto, o político se dedica ao estudo da alma.

A alma é formada de uma parte racional, e de outra privada de razão; isto é, uma parte sobre a

qual temos controle, e outra sobre a qual não temos nenhum controle. O homem continente,

temperante e bravo obedece à razão.

A parte irracional da alma é persuadida pela razão, pela reprovação e conselhos. As virtudes

são de ordem intelectual ou moral. As de ordem intelectual são a sabedoria, a compreensão e

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a prudência. As de ordem moral são a generosidade e a temperança. As disposições de espírito

louváveis que são praticadas por hábitos são chamadas virtudes.

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LIVRO II

CAPÍTULO 1

Havendo duas espécies de virtude, ela se divide em: moral e intelectual. A virtude moral é

adquirida pelo hábito – e não por natureza, ao passo que a virtude intelectual é desenvolvida

através do ensino. As coisas naturais não podem adquirir um hábito contrário à sua natureza.

A boa legislação torna bons os cidadãos por meio dos hábitos. O contrário também é

verdadeiro: toda virtude pode ser destruída por uma má constituição. As virtudes e os hábitos

tornam os homens justos ou não. Os nossos hábitos adquiridos na infância terão importância

decisiva nas nossas disposições morais e para a qualidade dos atos que praticamos.

CAPÍTULO 2

A presente investigação ética não visa o conhecimento teórico da virtude, e sim a natureza dos

atos na prática, ou seja, de que forma devemos praticá-los. O princípio comumente aceito é o

de que devemos agir de acordo com a “regra justa”. É importante esclarecer que está na

natureza das virtudes o fato de que são destruídas pela deficiência e pelo excesso. Por

exemplo, a temperança e a coragem são destruídas pelo excesso e pela deficiência, e

preservadas pela mediania.

CAPÍTULO 3

O prazer e a dor que são conseqüência dos atos devem ser considerados os sinais das nossas

disposições morais. Por causa do prazer, podemos praticar ações más, e por causa da dor

podemos nos abster de ações nobres. A excelência moral deve levar em conta o deleite e o

sofrimento. Cada ação e paixão é acompanhada de prazer e dor. O castigo é efetuado pelocontrário do efeito da ação a ser punida. Tanto o vício como a virtude relacionam-se com o

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prazer e a dor, mas de modo contrário. Existem três objetos de escolha: o nobre, o vantajoso e

o agradável. E, ainda, há três objetos de rejeição, a saber: o vil, o prejudicial e o doloroso.

1105a - Prazer e dor acompanham os homens desde a infância. É mais difícil lutar contra o

prazer do que contra a dor. A virtude e a arte orientam-se pelo mais difícil. E esse é o motivo

pelo qual a virtude e a ciência política sempre giram em torno de prazeres e sofrimentos, pois

o homem que os usa bem é bom, e o que os usa mal é mau.

CAPÍTULO 4

Ao praticarmos atos justos, iremos nos tornar pessoas justas. Para praticar a virtude, o agente

deve estar em determinada condição. Deve conhecer o que faz, e deve escolher os atos em

função dos próprios atos; além disso, a ação deve proceder de uma disposição moral firme e

imutável. As ações são ditas justas e temperantes quando são conformes às praticadas pelas

pessoas justas e temperantes, e as pessoas têm necessariamente de praticá-las para se tornarem

boas. Uma pessoa não pode ficar apenas com o aspecto teórico das ações, para se tornar boa.

Apenas praticando a virtude as pessoas se tornam virtuosas.

CAPÍTULO 5

Vejamos o que vem a ser a virtude. A virtude pode pertencer às paixões, ou às faculdades e

disposições de caráter. As paixões são os sentimentos que trazem prazer e dor. As faculdades

permitem sentir as paixões. As disposições de caráter são o que pode ser considerado bom ou

mal diante das paixões.

As pessoas são louvadas ou censuradas por suas virtudes ou vícios. Com respeito às paixões

se diz que somos movidos, mas com relação às virtudes não somos movidos, e sim que temos

esta ou aquela disposição de caráter. Posto que as virtudes envolvem escolha, elas não são

paixões nem faculdades, e sim disposições de caráter .

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CAPÍTULO 6

Não basta, no entanto, definir a virtude como uma disposição de caráter, sendo necessário

assinalar de que tipo é essa disposição. Toda virtude ou excelência dá boa condição tanto à

própria coisa como à função dessa coisa. A virtude do homem é a disposição de caráter que o

torna bom e que o faz desempenhar bem sua função.

De tudo o que é divisível, pode-se tirar uma parte maior, menor ou igual – isto no que se

refere à própria coisa em si, e à coisa em relação a nós. O meio-termo vem a ser o que é

eqüidistante em relação aos extremos. O meio-termo das coisas em si é uma medida única e

invariável para todas as pessoas; por outro lado, o meio-termo entre as coisas e s pessoas é

variável de pessoa para pessoa. Por exemplo, o que vem a ser meio-termo em matéria de

definição da quantidade de alimento necessária para saciar a fome de alguém, varia de pessoa

para pessoa conforme a compleição e outras características.

A arte também realiza bem seu trabalho quando consegue acertar no meio-termo. A

excelência das obras de arte as preservam, ao passo que o excesso e a falta as destroem.

No que concerne aos homens, o meio-termo é relativo, mas não ao objeto. A virtude é o

atributo de visar o meio-termo. A virtude diz respeito às paixões e ações, sendo erros o

excesso e a falta, enquanto o meio-termo é o único modo de acerto. Enquanto há muitas

formas de errar, pode-se acertar de um modo apenas. O excesso e a falta são características do

vício e a mediania, da virtude.

Para concluir acerca da definição da essência da virtude, ela é uma mediania; entretanto, com

relação ao sumo bem e ao mais justo, ela é um extremo. Não há como se falar de virtude ou

meio-termo nas paixões viciosas, que são más em sua própria natureza. Da mesma forma que

não há excesso nem falta na mediania, com relação ao excesso ou à falta não existe meio-

termo.

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CAPÍTULO 7

Além da definição acima, que é genérica, devemos nos ater aos casos particulares, pois no que

diz respeito às regras de conduta, as normas particulares são mais verdadeiras, pois a conduta

se relaciona a casos individuais. Aristóteles passa então a tratar não muito profundamente

sobre os aspectos “excesso – falta – meio-termo” sobre o medo/temeridade/coragem, os

prazeres e sofrimentos do qual o meio-termo é a temperança e, o excesso, é a intemperança.

Existem três meios-termos distintos, embora tenham uma semelhança comum. Todos estão

em intercâmbio entre atos e palavras. Um diz respeito à verdade e os outros dois ao aprazível.

Dos aprazíveis, um proporciona divertimento e outro manifesta-se em todas as situações. A

maioria das disposições não têm nomes, mas devemos inventá-los. Há meio-termo nas

paixões propriamente ditas, e também um meio-termo em relação a elas.

A justa indignação é um meio-termo entre a inveja e o despeito, estando estas disposições

relacionadas ao sofrimento e ao prazer que sentimos diante da boa ou má sorte de nossos

semelhantes.

CAPÍTULO 8

Quanto à justiça, de difícil definição, existem três tipos de disposições: duas delas são vícios

que envolvem excesso e carência, e a terceira é uma virtude: o meio-termo.

A disposição extrema é contrária ao meio-termo e ao outro extremo. O meio-termo é contrário

aos extremos. Os estados medianos são excessivos em relação às deficiências, sendo por sua

vez deficientes diante dos excessos. Porém, a maior contrariedade é a que está entre os

extremos, e não entre extremos e meio-termo. O meio-termo pode estar mais próximo de um

extremo do que outro. Aquilo pelo qual o homem tende por natureza lhe parece mais contrário

ao meio-termo. Daí podemos concluir que somos levados mais facilmente à intemperança do

que à moderação.

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CAPÍTULO 9

Uma vez explicado que a virtude é um meio-termo entre dois vícios, e que não é fácil ser

bom, pois em tudo é difícil encontrar o meio-termo. Quem visa o meio termo deve se afastar

do que lhe é mais contrário.

Em tudo, devemos nos precaver mais contra o prazer e o que é agradável, posto que não

conseguimos julgá-los com imparcialidade. Como atingir o meio-termo não é fácil, só é

censurado aquele que se desvia consideravelmente do meio-termo, e a percepção é que decide

até que ponto o homem merece censura. Para chegarmos ao que é certo, ou seja, ao meio-

termo ora teremos de nos inclinar para o excesso, ora para a falta.

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LIVRO III

CAPÍTULO 1

Além dos aspectos já estudados da virtude, é necessário distinguir os aspectos voluntário e

involuntário da natureza da virtude. São consideradas involuntárias as ações que ocorrem sob

compulsão ou por ignorância. Há ainda as ações que poderiam ser chamadas de “mistas”, já

que contêm elementos voluntários e involuntários ao mesmo tempo – embora mesmo estas

pertençam mais ao campo das voluntárias do que ao das involuntárias. Por exemplo, às vezes

somos forçados a fazer algo ignóbil que, numa situação comum, nunca escolheríamos fazer. O

ato forçado parece ser aquele cujo princípio motor se encontra do lado de fora do agente, o

qual em nada contribui para tal ato. Tudo o que é feito por ignorância é não-voluntário, e

apenas o que acaba por produzir sofrimento e arrependimento é involuntário.

Como tudo o que se faz forçado ou por ignorância é involuntário, o voluntário parece ser

aquilo cujo princípio motor está no próprio agente quando este tenha conhecimento das

circunstâncias particulares em que está agindo.

O involuntário é doloroso, e por outro lado o que está de acordo com o apetite é prazeroso.

Não são involuntárias as paixões irracionais, como por exemplo a cólera ou aquelas derivadas

do apetite, por serem ações do homem.

CAPÍTULO 2

Agora passemos ao exame da escolha, que parece estar mais proximamente ligada à virtude

do que as ações o são. A escolha parece voluntária, mas não se identifica assim. Ela não é

comum à irracionalidade como a cólera e o apetite. A escolha é contrária ao apetite e não se

relaciona com o prazeroso e o doloroso. Além disso, a escolha não visa coisas impossíveis, e

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se relaciona com os meios, e não com os  fins, como o desejo. Também, ela não se identifica

com a opinião. A escolha é caracterizada pela bondade ou pela maldade.

A escolha requer um princípio racional e o pensamento, ou seja: envolve razão e reflexão. É

aquilo que preferimos às outras coisas.

CAPÍTULO 3

Sobre o que deliberamos? Deliberamos sobre as coisas que estão ao nosso alcance e que

podem ser realizadas, sendo estas as que restam para a análise. Quanto mais exata a ciência ou

o objeto, menos deliberamos sobre tal coisa. De outra face, quanto menos exata a coisa, mais

deliberamos sobre ela. A deliberação diz respeito às coisas que em geral acontecem de uma

determinada forma, mas cujo desfecho é obscuro e indeterminado. Além disso, nas coisas

importantes recorremos a outras pessoas para nos ajudar a deliberar, por não ser suficiente a

confiança que depositamos na nossa capacidade de decidir.

Não deliberamos sobre os fins, e sim sobre os meios. Ainda, nem toda investigação é

deliberação. Mas toda deliberação é investigação.

O homem é um princípio motor de ações, a deliberação é acerca de coisas a serem feitas pelo

próprio agente, e as ações são praticadas com vistas a outra coisa que não elas mesmas. A

escolha é um desejo deliberado de coisas que estão ao nosso alcance. Em suma, a escolha se

relaciona com os meios para chegarmos aos fins.

CAPÍTULO 4

Podemos dizer que aquilo que em verdade o homem bom deseja é que é verdadeiramente um

objeto de desejo; por outro lado, qualquer coisa poderia ser objeto de desejo para o homem

mau, pois o homem bom avalia corretamente todas as coisas, e em cada tipo de coisas a

verdade lhe aparece com clareza. Poder-se-ia afirmar que a maior diferença entre o homem

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bom e os outros está no fato de que o homem bom consegue perceber a verdade em cada

classe de coisas, sendo ele a ‘norma e medida’ dessas coisas.

CAPÍTULO 5

O exercício da virtude se relaciona com os meios; portanto, a virtude está também ao nosso

alcance, da mesma forma que o vício. Está em nossas mãos escolher agir de acordo com o que

é nobre ou o que é vil, ou seja, depende apenas de nós sermos virtuosos ou viciosos.

Todos os atos viciosos que dependem dos culpados merecem punição. Os homens são

responsáveis por serem injustos e intemperantes. Além dos vícios da alma, os do corpo

também podem ser voluntários.

Pode acontecer de uma pessoa ser punida pela própria ignorância, caso seja responsável por

ela, como no caso das penas dobradas para os ébrios [dobrada, porque: (i) se embriagou, e (ii)

a embriaguez desejada lhe tolheu o conhecimento, e lhe fizera delinqüir]. Também são

punidas as pessoas que ignoram as prescrições legais, pois elas poderiam ter-se informado de

uma maneira mais zelosa.

Com relação aos vícios do corpo, os que dependem de nós evitar são recriminados, e aqueles

que não estava ao nosso alcance evitar não são recriminados. Por exemplo: não se recrimina

aquele que nasceu sem beleza física, mas sim é recriminado aquele que não cuida de sua

saúde e cai doente em razão disso.

Visar a um fim justo não depende da nossa escolha, mas é preciso ter nascido com uma visão

moral, por assim dizer, que nos permita julgar corretamente e escolher o que é

verdadeiramente bom. Essa visão moral é a coisa mais nobre que existe, e é algo que não

aprendemos de outra pessoa, posto que recebemos ao nascer; e ser nobremente dotado dessa

qualidade, é a excelência perfeita no que diz respeito aos dotes naturais.

Portanto, as virtudes são voluntárias, da mesma forma que os vícios são voluntários.

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A seguir diremos quais são as virtudes, sua inter-relação e quantas são elas.

CAPÍTULO 6

Falemos da coragem, que é o meio-termo entre os sentimentos de medo e temeridade. A

coragem se relaciona com as coisas mais temíveis, sendo a morte a mais temível de todas as

coisas, por ser ela o fim de tudo. No entanto, não é sempre que a morte dá margem a que a

coragem se manifeste. A coragem se manifesta então nas circunstâncias mais nobres, e essas

mortes são as que ocorrem na batalha, e por isso é que são honradas nas cidades-Estados e

pelos monarcas. Corajoso é o homem que se mostra destemido diante de uma morte honrosa e

sempre que houver perigo de morte.

CAPÍTULO 7

Corajoso é o homem que enfrenta e teme as coisas que deve, e pelo devido motivo. O homem

corajoso age de acordo com o caso em questão, e do modo que a regra prescreve e por causa

da honra, pois essa é a finalidade da virtude. O corajoso sempre age com fins nobres. A

coragem em excesso é a temeridade. O excesso de medo é a covardia.

A covardia, a temeridade e a coragem relacionam-se com os mesmos objetos. A coragem é a

mediania; de outra face, os extremos são a covardia e a temeridade.

Além do mais, os temerários são precipitados e anseiam os perigos antecipadamente, porém

recuam quando os têm pela frente, ao passo que os corajosos são ardentes no momento de

agir, mas fora dessas situações são tranqüilos.

CAPÍTULO 8

Existem cinco espécies de coragem. A do cidadão-soldado é a mais próxima da verdadeira.

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A coragem deve surgir por nobreza, e não por coação. A experiência e o conhecimento dos

fatos particulares também podem ser considerados coragem. Em certos casos, a paixão

também é confundida com a coragem. Os homens corajosos agem tendo em vista a honra,

mas a paixão os ajuda a agir. A paixão corajosa parece a mais natural, tornando-se a

verdadeira coragem quando acompanhada de escolha e motivo. Os otimistas assemelham-se

aos corajosos apenas porque sua confiança se baseia em sucessivas vitórias. As pessoas que

ignoram o perigo também parecem corajosas; entretanto, fogem assim que se dão conta do

perigo.

CAPÍTULO 9

A coragem relaciona-se mais com as coisas que inspiram medo. É por enfrentarem o que é

penoso que as pessoas são chamadas de corajosas. O objetivo da coragem é prazeroso, apesar

das circunstâncias desagradáveis envolvidas no caso. Não é em relação a todas as virtudes que

o exercício é agradável, exceto na medida em que atingem sua finalidade.

CAPÍTULO 10

Agora falemos da temperança, que parece pertencer à parte irracional da alma, sendo ainda o

meio-termo em relação aos prazeres. A temperança deve estar relacionada com os prazeres do

corpo (como o tato e o paladar), e não os da alma. A intemperança parece ser justamente

condenada porque nos domina não como homens, e sim como animais. E se comprazer com

tais coisas – as do tato e do paladar – e amá-las acima de todas as outras, é próprio de animais.

CAPÍTULO 11

Agora se tratará dos apetites, sendo que alguns deles são comuns a todas as pessoas, e outros

são peculiares a certas pessoas, pois foram adquiridos. O apetite pelo alimento é natural, o

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mesmo ocorrendo com o amor (como já dizia Homero, na sua Ilíada). Nos apetites naturais,

poucos se enganam, e quando se enganam o fazem em apenas um sentido: o do excesso.

Entretanto, o excesso em relação aos prazeres é intemperança, e é condenável. O homem

temperante deseja moderadamente as coisas que, sendo agradáveis, contribuem para a saúde

ou a boa condição do corpo; ele ocupa, portanto, a posição de meio-termo em relação aos

prazeres.

No que toca à covardia, esta parece ser menos voluntária do que a intemperança, graças ao

prazer. Os atos particulares da intemperança são voluntários.

Em um ser irracional, o desejo de prazer é insaciável. Já para o ser humano, os apetites devem

ser poucos, moderados e racionais. Os apetites devem ficar subordinados à razão, visto que o

homem temperante visa às coisas nobres.

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LIVRO IV

CAPÍTULO 1

Agora tratemos da liberalidade. Parece ser ela o meio-termo em relação à riqueza, pois o

homem liberal, ou generoso, é louvado pela sua capacidade de dar e obter riquezas, sobretudo

a dá-las. Por “riquezas” entendem-se tudo o que é mensurável pelo dinheiro. Por sua vez, nos

extremos estão a prodigalidade e a avareza, respectivamente o excesso e a falta.

O pródigo promove sua própria ruína ao dilapidar seus bens. O liberal é aquele que melhor

utiliza a sua riqueza. Ele dá tendo em vista o que é nobre, e como deve. Além disso, as ações

virtuosas são isentas de dor.

A liberalidade é usada em relação às posses de um homem, na disposição de caráter de quem

dá. O liberal não estima a riqueza em si, mas como meio, gastando apenas na medida de suas

posses. É mais característico do homem liberal dar às pessoas certas do que obter das fontes

certas e não das erradas. A liberalidade é sempre considerada proporcionalmente às posses de

uma pessoa liberal; alguém que dá uma pequena coisa pode ser o mais liberal, se essa pessoa

tinha menos para dar. Aqueles que herdaram sua fortuna são os mais liberais, pois estes não

têm experiência da necessidade – e ainda porque todos temos mais amor ao que nós próprios

produzimos, como os pais e os poetas.

A prodigalidade excede no dar e não receber; por outro lado, a avareza é deficiente no dar e

pelo excesso no receber. Os que têm o apetite de dar não se importam com a fonte de onde se

origina o que dão. Por isso, não o fazem com nobreza. A avareza se caracteriza por ser

deficiente em dar e por ter excesso em tomar. Os amantes do ganho indébito incluem-se no

vício da avareza. Os homens erram mais no sentido da avareza, contrária à generosidade, do

que no da prodigalidade.

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A avareza pode ser definida como o contrário da liberalidade, sendo ainda mal maior do que a

prodigalidade.

CAPÍTULO 2

Examinemos agora a magnificência (aqueles que gastam suntuosa e desmedidamente). Ela

parece ser uma virtude relacionada com a riqueza, sendo um gasto apropriado que envolve

grandes quantias. A pessoa magnificente é liberal, mas a liberal nem sempre é magnificente.

A deficiência desta disposição de caráter chama-se mesquinhez, e o excesso pode ser

chamado de vulgaridade ou mau gosto, já que o excesso diz respeito aos gastos ostentatórios

em circunstâncias erradas e do modo errado.

O homem magnificente é como um artista, pois sabe o que é adequado e sabe aplicar grandes

somas com bom gosto, e assim são os seus resultados. O magnificente, ainda, fará suas ações

visando à honra, e o fará ainda com prazer e grandeza.

Um homem pobre não pode ser magnificente, já que lhe faltam meios para isso; quem tenta

fazer isso é um tolo, pois gasta mais do que se poderia esperar que fizesse, e mais do que é

adequado à sua condição, vez que apenas a despesa justa é conforme à virtude.

O magnificente não gasta consigo mesmo, e sim com objetos públicos ou para muitas pessoas.

Ele também decora sua casa de modo compatível com sua riqueza (pois até uma casa é uma

espécie de ornamento de uma cidade), e gasta preferivelmente em obras duradouras (pois

essas são as mais belas).

O homem que se inclina para o excesso é vulgar e revela ostentação em seus atos. Por outro

lado, o que fica aquém da medida é o mesquinho, que hesita e estuda sempre de forma a

gastar menos, e lamenta até o pouco que gasta. Estes extremos, apesar de serem vícios, não

são dos mais condenáveis, porque não são nocivos aos demais, nem desonram a terceiros.

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CAPÍTULO 3

Tratemos agora da magnanimidade, que se relaciona a coisas mais grandiosas do que as da

magnificência. Magnânimo se refere ao meio-termo, e é aquele que se considera digno de

grandes coisas e de fato está à altura delas. A falta dessa disposição se refere àquele que é

indevidamente humilde. Em contraposição, o excesso disso é o pretensioso, aquele que se

atribui uma dignidade da qual não está à altura é um tolo ou ridículo, e este portanto não pode

ser virtuoso, julgando-se digno de grandes coisas sem estar à altura delas. Estes dois extremos

não são considerados maus, mas apenas equivocados.

Magnânimas são as pessoas que têm disposição certa com relação à honra e à desonra, e quem

é verdadeiramente magnânimo deve ser necessariamente bom. A magnanimidade parece ser o

coroamento das virtudes.

É característico do magnânimo não pedir nada ou quase nada, mas ajudar de bom grado e

adotar uma atitude digna diante das pessoas que desfrutam de alta posição e são favorecidas

pela fortuna, e de outra face adotar uma atitude despretensiosa para com aqueles de posses

medianas. O magnânimo não guarda rancor por ofensas que lhe façam, não é dado a

conversas fúteis, não fala de si mesmo nem dos outros; não é propenso a lamentar-se nem a

pedir favores. Além do mais, prefere ele possuir coisas belas e improfícuas em vez das úteis e

proveitosas, por ser mais próprio de um caráter independente. São ainda suas características

um andar lento, uma voz profunda e entonação uniforme.

CAPÍTULO 4

Acerca da honra: assim como em relação a ganhar e gastar existe um meio-termo, excesso e

deficiência, também a honra pode ser desejada mais ou menos do que convém, ou da maneira

e das fontes certas. E esta é a disposição de caráter que é louvada, ou seja, o desejo do meio-

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termo com relação à honra. O desejo por honra em excesso é a ambição; a falta seria a

desambição. O meio-termo, entretanto, ainda não recebeu denominação própria.

CAPÍTULO 5

A calma é o meio-termo em relação à cólera, embora ela se incline mais para a deficiência,

que também não tem nome, mas seria um tipo de pacatez. O excesso é a irascibilidade. Os que

se encolerizam por motivos justos, com coisas ou pessoas certas, e além disso, da forma, nas

ocasiões e pelo tempo que devem, são dignos de serem louvados. As pessoas calmas não são

vingativas, e se inclinam a relevar os erros dos outros.

Os irascíveis encolerizam-se com pessoas e coisas indébitas. As birrentas conservam a cólera

por mais tempo. Os mal-humorados encolerizam-se com o que não devem, e não se acalmam

enquanto não conseguem se vingar. Esses são os excessos opostos à calma. Os excessos de

cólera devem ser censurados.

Não é tarefa fácil determinar até que ponto alguém pode desviar-se do meio-termo sem se

tornar merecedor de censura, pois a decisão depende das circunstâncias particulares de cada

caso e da percepção. Entretanto, uma coisa é certa: o meio-termo merece ser louvado,

enquanto os excessos e deficiências são dignos de censura.

CAPÍTULO 6

Na vida social, nas relações interpessoais e no intercâmbio de palavras e atos, as pessoas que,

para serem agradáveis louvam todas as coisas e jamais se opõem a quem quer que seja,

 julgando ser seu dever não desagradar às pessoas que encontram, são chamadas obsequiosas;

outras, em contraste, se opõem a tudo e não têm a menor preocupação em não magoar os

outros, são chamadas grosseiras e altercadoras. Estas duas disposições são censuráveis, e a

disposição intermediária é louvável: aquela pela qual alguém se inclina a rebelar-se ou

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conformar-se em face das coisas que deve e como deve – embora esta disposição não tenha

recebido nenhum nome.

Aquele que age pelo meio-termo se relacionará de modo diferente com pessoas de alta

posição e com pessoas mais simples, com conhecidos mais íntimos e com outros mais

distantes, tratando cada classe de pessoas como for mais conveniente. Os extremos parecem

se opor entre si porque o meio-termo não recebeu denominação própria.

CAPÍTULO 7

Sobre a jactância. Considera-se jactancioso a pessoa que se arroga coisas que trazem a glória,

quando na verdade não as tem, ou atribui a si mais do que de fato tem. No outro extremo há a

pessoa falsamente modesta, que tende a negar ou a minimizar o que possui. O homem que

observa o meio-termo não exagera nem subestima, é verdadeiro seja em seu modo de viver

seja em suas palavras, declarando o que efetivamente possui, nem mais nem menos. Além

disso, o que segue a medianidade não tem nome especial.

Em princípio, os extremos são condenáveis dado que a falsidade é em si mesma ignóbil e

censurável, ao passo que a verdade é nobre e digna de louvor. Uma pessoa veraz será

naturalmente considerada uma “pessoa de bem”, digna de louvor.

O jactancioso é um ser desprezível, mas é mais fútil do que mau. Em contraposição, o

falsamente modesto – que subestimam seus méritos, parecem mais simpáticos, porque agem

assim para fugir à ostentação.

CAPÍTULO 8

É sabido que a vida não é feita só de atividade, mas também de repouso, especialmente nas

relações sociais – falemos da jocosidade. Aqui, em um extremo aparecem os “bufões

vulgares”, ou chocarreiros, aqueles que levam a jocosidade ao extremo, e que procuram

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provocar o riso a qualquer preço, não se preocupando com a inconveniência de seus atos. No

outro extremo há os rústicos e grosseiros, sendo estes o que não sabem gracejar nem suportam

os que o fazem. Por último, os que observam o meio termo são chamados espirituosos. Estes

sabem ser jocosos na medida certa, e quem sabe fazer isso necessariamente possui tato para

avaliar as circunstâncias; é próprio de um homem de tato dizer e escutar aquilo que é

conveniente a uma pessoa digna e polida. O tipo de gracejo que a pessoa de tato se disporá a

escutar será o mesmo que ele irá fazer, pois ela é fina e bem-educada.

Como o lazer e o entretenimento são considerados elementos necessários à vida, a pessoa

rústica é censurável, pois ela não dá nenhuma contribuição, e tudo repreendem.

CAPÍTULO 9

Tratemos agora da vergonha que, entretanto, não deveria constar entre as virtudes, já que

parece se assemelhar mais a um sentimento – um “medo da desonra” – do que a uma

disposição de caráter.

O sentimento de vergonha não é adequado a todas as idades, mas somente à juventude. Os

 jovens que sentem vergonha pelos erros que cometem são louváveis, pois esse sentimento

serve para refreá-los. O outro extremo é o despudor, ou seja, o não se envergonhar por

praticar de praticar ações ignóbeis, e isso é uma má disposição. Entretanto, nem por isso será

bom aquele que se envergonhar de praticá-las. Portanto, como acompanha as más ações, a

vergonha não é digna do homem bom.

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LIVRO V

CAPÍTULO 1

Agora, passemos a tratar da justiça. Devemos indagar com que espécie de ações se relacionam

elas, que tipo de meio-termo é a justiça, e entre quais extremos o ato justo é o meio-termo.

Segundo a opinião geral, a justiça é a disposição de caráter que torna as pessoas propensas a

fazer o que é justo, e as faz agir justamente e a desejar o que é justo. Por analogia, a injustiça

é a disposição que leva as pessoas a agir injustamente e a desejar o que é injusto.

Examinemos primeiramente o que vem a ser uma pessoa injusta. Tanto o que infringe a lei

quanto o ganancioso e ímprobo são injustos e, em contraposição, o que cumpre a lei e é

honesto, é justo. Desse modo, como o descumpridor da lei é injusto e que a cumpre é justo,

obviamente todos os atos conforme à lei são atos justos em certo sentido, posto que os atos

prescritos pela arte do legislador são conforme à lei, e dizemos que cada um deles é justo.

Além disso, são justos os atos que produzam e preservem a felicidade e seus elementos para a

política. A justiça é considerada a maior das virtudes. É a virtude completa, pois ela é

exercida sobre quem a possui e também ao próximo. É importante salientar as palavras de

Bias, um dos Sete Sábios da Grécia: “O exercício do poder revela o homem”.

A lei determina que pratiquemos atos de pessoas corajosas, temperante e calmo, e assim por

diante com relação às outras virtudes, na linha da medianidade. Entretanto, apenas a lei bem

elaborada faz essas coisas retamente, ao passo que as leis elaboradas às pressas não o fazem

assim tão bem.

A justiça não é uma parte da virtude, e sim a virtude inteira. Da mesma forma, a injustiça não

é uma parte do vício, mas o vício inteiro.

CAPÍTULO 2

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Todos os atos injustos são sempre atribuídos a alguma espécie de deficiência moral. Há que se

ressaltar a existência de mais de uma espécie de injustiça: a injustiça no sentido amplo e uma

injustiça de modo particular . A investigação ética deve buscar aquela que se distingue da

virtude no pleno sentido da palavra. Tudo que é probo é legítimo, mas nem tudo que é

legítimo é probo. Em relação à justiça parcial, uma classe se manifesta nas coisas que a serem

divididas entre quem tem parte na constituição. Outra tem um papel corretivo nos negócios

humanos, tanto os voluntários como os involuntários.

CAPÍTULO 3

Como já foi mostrado que tanto a pessoa quanto os atos injustos são ímprobos ou iníquos, fica

claro que há também um ponto intermediário entre essas duas iniqüidades – a chamada

eqüidade. Assim, se o injusto é iníquo, o justo é eqüitativo.

O justo deve ser ao mesmo tempo intermediário, igual (envolve duas participações iguais) e

relativo (ele é justo para determinadas pessoas). Desta forma, se as pessoas não são iguais,

não receberão coisas iguais. As distribuições devem ser feitas de acordo com o mérito de cada

um. Como se observa, o justo é uma espécie de termo proporcional. Podemos concluir que o

 justo é o proporcional, e o injusto é o que viola a proporção.

CAPÍTULO 4

Há outra espécie de justiça: a corretiva. Como este tipo de injustiça é uma desigualdade, o juiz

tenta restabelecer a igualdade através da pena, subtraindo uma parte do ganho do ofensor. A

 justiça corretiva será o meio-termo entre perda e ganho.

As pessoas recorrem ao juiz quando há injustiça, porque recorrer ao juiz é recorrer à justiça.

O justo é intermediário entre uma espécie de ganho e uma espécie de perda nas transações que

não são voluntárias.

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CAPÍTULO 5

Alguns pensam que a reciprocidade é justa sem qualquer reserva, tal como os pitagóricos

definem a justiça. No entanto, “reciprocidade” não se identifica com a justiça distributiva nem

com a corretiva, pois aquela deve ser feita de acordo com uma proporção, e não na base de

uma retribuição exatamente igual, posto que hão de ser consideradas ainda as diferenças entre

os atos voluntários e os involuntários ao aplicar-se uma pena. Assim, haverá reciprocidade

quando os termos da proporção forem igualados.

A retribuição proporcional é garantida pela conjugação cruzada. Nesse sentido, introduziu-se

o dinheiro nas negociações. Ele é o termo que serve para medir todas as coisas, e tanto o

excesso como a falta. O dinheiro veio a se tornar a representação da procura pela unidade,

mas por mera convenção entre os homens, que têm poder de mudá-lo ou torná-lo sem valor.

Se não fosse possível efetuar a reciprocidade entre os diversos produtos, não haveria

associação entre as partes. O preço de cada bem garante a troca e a associação entre os

homens. Deve haver um acordo que estabeleça a unidade do dinheiro, para que todas as coisas

sejam comensuráveis. A justiça é um meio-termo que se relaciona com a quantia ou

quantidade intermediária, ao passo que a injustiça se relaciona com os extremos.

Na ação injusta, ter demasiadamente pouco é ser vítima de injustiça; e tê-lo em demasia é agir

injustamente.

CAPÍTULO 6

Agora, falemos sobre a justiça política. Esta existe apenas entre pessoas cujas relações mútuas

são regidas pela lei, e a lei existe para as pessoas entre as quais é possível haver justiça, pois a

 justiça legal é a discriminação entre o que é justo e o que é injusto. E, havendo injustiça entre

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homens, há também ações injustas, e estas consistem em atribuir demais a si mesmo as coisas

boas em si, e muito pouco das coisas más em si.

E é por isso que não se permite que um homem governe por si mesmo, cabendo à lei esse

papel, já que o homem poderia governar em seu próprio interesse, tornando-se um tirano. O

magistrado é um guardião da justiça e, portanto, também um guardião da igualdade. Se ele é

 justo, deve ser recompensado, e sua recompensa é a honra e o privilégio. A justiça relaciona-

se com a lei e entre pessoas sujeitas à lei.

CAPÍTULO 7

A justiça política é em parte natural e em parte legal. Natural, porque tem a mesma força em

todos os lugares e não existe em virtude dos pensamentos humanos. O aspecto legal refere-se

a tudo o que passa a viger depois de ser estabelecida a lei, os decretos, etc. Ou seja, existe

uma justiça por natureza e outra por convenção. Ambas são igualmente mutáveis.

CAPÍTULO 8

Quando uma pessoa pratica atos involuntariamente, ela não age nem injusta nem justamente, a

não ser por acidente. E o fator determinante do que é justo ou injusto é o caráter voluntário ou

involuntário do ato. Por ato voluntário, deve-se entender tudo o que uma pessoa tem o poder

de fazer, e que faz, com conhecimento de causa, isto é, sem ignorar a qual a pessoa afetada

pelo seu ato, o instrumento usado, e qual o fim a ser alcançado; além disso, nenhum desses

atos deve ser acidental nem forçado.

Entre os atos voluntários, alguns praticamos por escolha; outros, não. Há três espécies de

danos nas transações entre as pessoas: (i) os que são infligidos pela ignorância – quando a

pessoa afetada pelo ato, o próprio ato, o instrumento ou o fim a ser atingido são diferentes do

que o agente imaginava; e isso se trata de um infortúnio; (ii) quando não é contrário a uma

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expectativa razoável, e tampouco implica vício, é um engano; e (iii) quando, porém, uma

pessoa age por escolha, é uma pessoa injusta e viciosa.

Entre os atos voluntários, alguns são desculpáveis (os erros cometidos na ignorância e por

ignorância) e outros não o são (os que não se devem à ignorância).

CAPÍTULO 9

Pode ocorrer que alguns sejam tratados justamente, porém contra sua vontade.

Também é possível alguém tratar injustamente a si próprio. Ninguém deseja ser tratado

injustamente.

Saber como se deve agir e como efetuar distribuições justas é mais difícil do que saber, por

exemplo, o que faz bem à saúde. Agir com justiça ou não, resulta de uma disposição de

caráter. A justiça é algo essencialmente humano.

CAPÍTULO 10

Vejamos agora a eqüidade e o eqüitativo, e suas relações com a justiça e o justo,

respectivamente. A justiça e a eqüidade não são absolutamente idênticas, nem diferentes entre

si. O justo e o eqüitativo são diferentes, mas ambos são bons; portanto, hão de ser a mesma

coisa. O eqüitativo é superior a uma simples espécie de justiça. Uma mesma coisa pode ser

 justa e eqüitativa, embora a eqüidade seja superior.

O eqüitativo não é apenas justo, e sim uma correção da justiça legalmente estabelecida. A

origem do problema é que toda lei tem caráter universal, mas não é possível fazer uma

afirmação universal que seja correta com relação a todas as situações particulares. Neste caso,

é correto então que o legislador aja de modo a preencher a lacuna existente, como se dissesse

o que o próprio elaborador da lei teria dito se estivesse cuidando daquele caso particular, e

que teria incluído na lei se tivesse previsto aquele caso especificamente.

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Assim, a natureza do eqüitativo é uma correção da lei quando esta é deficiente em razão da

sua universalidade. O eqüitativo, por seu turno, é aquele que escolhe e pratica atos

eqüitativos, que não se atém de forma intransigente aos seus direitos, e que tende a receber

menos do que lhe caberia, embora tenha a lei ao seu lado.

CAPÍTULO 11

Há ainda a questão da “injustiça contra si mesmo”. Por exemplo, aquele que, em um acesso de

forte emoção chega a se apunhalar, pratica esse ato contrariando a reta razão da vida, e isso a

lei não permite; portanto, age injustamente. Mas contra quem? Certamente contra a cidade, e

não contra si mesmo. Por esse motivo a cidade pune o suicida, com uma certa perda de

direitos civis, pois ele trata a cidade injustamente. Ademais, não é possível uma pessoa tratar

injustamente a si mesma, já que o justo e o injusto sempre envolvem mais do que uma pessoa.

Alguém que pratica um dano a si próprio, ao mesmo tempo sofre e  pratica dois atos

condenáveis de uma só vez.

Se formos considerar alguma espécie de injustiça que uma pessoa poderia cometer contra si

mesma, esta diz respeito às partes racional e irracional de sua alma, em que esta pode trair

aquela, levando a pessoa a ser injusta para consigo mesma.

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LIVRO VI

CAPÍTULO 1

O meio-termo é determinado pela reta razão. A pessoa visa sempre sua meta ora

intensificando, ora relaxando sua atividade no sentido de adotar o meio-termo. Até para as

medianias existe um padrão, uma justa regra, e isto deve ser definido.

Da mesma forma que a alma tem duas partes: uma que concebe um princípio racional, e a

outra privada de razão, a primeira (a racional) também há que ser dividida em duas. Uma

contempla as coisas de causas variáveis, e a outra as causas passíveis de variação. Os nomes

dessas duas partes são: científica e calculativa. Apenas sobre as coisas variáveis se pode

deliberar. Devemos saber qual é o melhor estado de cada uma delas, pois aí é que reside a

virtude de cada uma.

CAPÍTULO 2

São três os elementos da alma que controlam a ação e a verdade: a sensação, a razão e o

desejo. A sensação não principia nenhuma ação refletida. A escolha é um desejo deliberado.

O desejo reto (probo) corresponde à escolha acertada. O reto desejo deve buscar exatamente o

raciocínio verdadeiro. Este tipo de pensamento e de verdade é de natureza prática.

Quanto ao intelecto contemplativo (que não é prático nem produtivo), o bom e o mau estado a

verdade e a falsidade. Na parte prática, o bom estado é a concordância da verdade com o

desejo. A origem da ação é a escolha, e a origem da escolha é o desejo e o raciocínio. A ação

existe pela combinação de intelecto e caráter. Apenas o intelecto, em si, não move nada.

O intelecto produtivo sempre visa a um fim. A boa ação é um fim ao qual o desejo é

orientado. A origem da ação é o homem. A escolha é ou (i) um raciocínio desiderativo – queenvolve desejo, ou um desejo racional.

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Concluindo, a função de ambas as partes intelectuais é a verdade. E as virtudes destas partes

estão no grau mais alto da verdade.

CAPÍTULO 3

Cinco são as disposições da alma para a verdade, seja as afirmando, seja as negando: (i) arte,

(ii) conhecimento científico, (iii) sabedoria prática, (iv) sabedoria filosófica (também

chamada de prudência) e (v) a razão intuitiva (também chamada de inteligência). O objeto de

conhecimento científico existe necessariamente, é eterno, pode ser ensinado e aprendido, e

pode ser adquirido por indução ou por silogismo. A indução parte do caso particular para o

universal, e o silogismo parte do universal para o particular. O epistêmico adquiriu convicção

por conhecer os pontos de partida.

CAPÍTULO 4

No campo das coisas variáveis há tanto as coisas produzidas quanto as praticadas, já que

existe uma diferença entre produzir e agir. A arte equivale a uma capacidade de produzir,

envolvendo o raciocínio reto. A arte é produção, e não ação. A carência de arte também

envolve produção, mas é uma disposição acompanhada de falso raciocínio.

CAPÍTULO 5

Quanto à sabedoria prática, chegaremos à sua definição considerando as pessoas que têm essa

virtude. Um homem dotado de sabedoria prática delibera bem acerca do que é bom e

conveniente para ele, não apenas sobre um aspecto específico, mas sobretudo referente às que

contribuem para a vida boa de um modo. Quem é capaz de deliberar tem sabedoria prática.

Ela não é ciência, nem arte. A sabedoria prática também não é epistêmica pois sua ação não é

necessária, nem técnica – pois a ação não é produção. A sabedoria prática é uma capacidade

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verdadeira e raciocinada de agir sobre as coisas que são boas ou más para o homem e todos os

seus bens. A temperança preserva a nossa sabedoria prática, que é uma virtude e não uma

técnica. Ela é formada por opiniões, pois trata do variável. Finalmente, a sabedoria prática é a

parte da virtude, dentre as duas partes da alma que se guiam pelo raciocínio.

CAPÍTULO 6

O conhecimento científico é derivado dos primeiros princípios que não são objetos de ciência,

arte, sabedoria prática ou sabedoria filosófica. Desta forma, resta apenas uma alternativa: a

razão intuitiva é a disposição que apreende os primeiros princípios.

CAPÍTULO 7

Dentre todas as artes e formas de conhecimento, a sabedoria é a mais perfeita forma de

conhecimento. A filosofia deve ser uma combinação da razão intuitiva com o conhecimento

científico.

A sabedoria filosófica é um conhecimento científico combinado com a razão intuitiva das

coisas mais elevadas por natureza. Por outro lado, a sabedoria prática diz respeito à ação, e

portanto se relaciona com coisas particulares, e não com as universais. O ideal seria

possuirmos ambas as formas de sabedoria, a ainda mais a segunda (a dos casos particulares, a

 prática) do que a primeira – a universal. Entretanto, deve haver uma espécie de sabedoria

controladora da sabedoria prática e da sabedoria filosófica.

CAPÍTULO 8

Agora, falemos da sabedoria que diz respeito à cidade. Esta faz parte da mesma disposição da

alma que a prudência. Seu papel controlador é a sabedoria legislativa, ao passo que aquela que

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se relaciona com os aspectos particulares dentro de seu universal é a ciência política. Esta se

relaciona à ação e deliberação.

A sabedoria prática diz respeito à própria pessoa; saber o que é bom para si é um

conhecimento prático, e não político. A sabedoria prática não se identifica com o

conhecimento científico, posto que ela se relaciona com o fato particular imediato, que não é

objeto de conhecimento científico e sim de percepção.

CAPÍTULO 9

Investigação e deliberação não são coisas idênticas; esta última consiste em investigar um tipo

particular de coisa. Devemos determinar a excelência da deliberação.

O conhecimento científico não é, haja vista que ninguém investiga coisas que conhece, e a

boa deliberação é um tipo de investigação. Tampouco é habilidade em fazer conjeturas – visto

que esta pressupõe rapidez, e a deliberação requer longo tempo, e que entretanto a conclusão

do que se deliberou deve ser posta imediatamente em prática. Além do mais, a excelência na

deliberação implica raciocínio. Resta, portanto, a alternativa de que sua excelência seria a

correção do raciocínio. A pessoa que delibera, está investigando e calculando algo, mas sua

excelência é a deliberação correta. Deliberar bem, entretanto, é apenas no sentido de algo

bom, ou seja, a deliberação que tende a alcançar um bem.

Ademais, pode-se deliberar bem (i) no sentido absoluto, e sua excelência será aquilo que logra

êxito no fim absoluto, e (ii) no sentido particular, cuja excelência será o êxito no fim

particular.

CAPÍTULO 10

A inteligência (idêntica à perspicácia), não se identifica totalmente com a opinião, nem com o

conhecimento científico, nem com as ciências particulares (como a medicina ou a geometria).

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A inteligência não se relaciona com as coisas eternas e imutáveis, e sim com aquelas sobre as

quais podemos ter dúvidas e deliberar. Portanto, seus objetos são os mesmos do que os da

sabedoria prática; no entanto, inteligência e sabedoria prática não são a mesma coisa: a

sabedoria prática emite ordens, enquanto que a inteligência limita-se a julgar .

Além de chamar esse tipo de perspicácia de inteligência, muitas vezes a chamamos também

de entendimento, pois há também apreensão da verdade científica.

CAPÍTULO 11

Agora, tratemos do discernimento. Este é a reta discriminação do eqüitativo, ou do honesto. O

bom discernimento é o que julga segundo a verdade. Chamamos discernimento à reta

discriminação do eqüitativo.

Quando falamos de discernimento, de inteligência, de sabedoria prática e de razão intuitiva,

atribuímos às mesmas pessoas a posse do discernimento. Quem a possui atingiu a idade da

razão, e são também dotadas de inteligência e de sabedoria prática. E todas estas coisas se

relacionam a coisas imediatas, ou particulares.

Tais disposições (discernimento, inteligência e perspicácia) são dotes naturais, são inatas das

pessoas; entretanto, ninguém é filósofo por natureza.

Devemos acatar sempre os aforismos (ensinamentos) de pessoas experientes e mais velhas e

das dotadas de sabedoria prática, pois tais pessoas enxergam bem pelo fato de que a

experiência lhes ter dado como que um outro olho.

CAPÍTULO 12

A sabedoria prática é a disposição da mente que se ocupa com as coisas justas, boas e nobres

para o homem, sendo essas coisas inerentes a uma pessoa boa. Entretanto, o simples fato de

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conhecê-las não torna boas as pessoas; é preciso praticar essa sabedoria para tornar-se bom.

Por exemplo, meramente conhecer a arte da medicina não nos torna mais saudáveis.

Além disso, a sabedoria prática é inferior à filosófica, e não tem autoridade sobre esta, haja

vista que a arte que produz alguma coisa (a filosófica) comanda e governa o que produziu.

Para alguém ser bom, é preciso ter uma disposição nesse sentido, ou seja, a pessoa deve

praticá-los em decorrência de escolha e visando aos próprios atos. A virtude torna certa a

escolha.

Há uma faculdade de que chama habilidade, que consiste em praticar as ações que conduzem

ao fim visado, e a atingi-lo. Se o fim é nobre, a habilidade merecerá louvor; em contraste, se

for mau, a habilidade será simplesmente astúcia. Não é possível possuir sabedoria prática sem

ser bom.

CAPÍTULO 13

Examinemos novamente a virtude, que guarda relação análoga à que a sabedoria prática tem

com a habilidade: assim como a sabedoria prática está para a habilidade, a virtude natural está

para a virtude no sentido estrito do termo. Contudo, a virtude inata precisa do elemento

racional para ser virtude absolutamente. Quando a virtude existe desacompanhada da razão

(em crianças, por exemplo, que ainda não adquiriram a razão), aquela disposição natural

comumente se desvia para o mau caminho e é nociva.

Portanto, entre os dois tipos de virtudes: a natural e a virtude em sentido estrito, esta última

envolve sabedoria prática.

Em suma, não é possível ser bom, no sentido estrito da palavra, sem ter sabedoria prática,

nem é possível ter essa sabedoria sem ter a virtude moral.

A escolha não será acertada sem a sabedoria prática, nem sem a virtude, pois esta nos leva a

praticar as ações que conduzem a um fim, e a sabedoria prática determina o fim.

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LIVRO VII

CAPÍTULO 1

Há três tipos de disposições morais a serem evitadas: o vício, a incontinência e a bestialidade.

As disposições opostas às duas primeiras são a virtude e a continência. À bestialidade,

corresponde opor uma disposição de ordem sobre-humana, metafísica; algo ligado com o

divino, e que se relaciona também com algo quando se diz que os homens se tornam deuses

pelo excesso de virtude. É raro encontrar o homem divino, assim como o bestial.

Tratemos da incontinência e da frouxidão (ou efeminação), e das suas disposições opostas: a

continência e a fortaleza, e estas são boas e louváveis enquanto aquelas são más e censuráveis.

O incontinente age levado pela paixão, ao passo que o continente age ciente de que seus

apetites são maus, age movido pelo princípio racional.

CAPÍTULO 2

O homem que age por incontinência não pensa que deva agir dessa forma, antes de ser afetado

por esse estado. Nem toda continência é boa, posto que ela pode levar a sustentar opiniões

falsas. Nenhuma pessoa possui todas as formas de incontinência; entretanto, outras são

absolutamente incontinentes.

CAPÍTULO 3

O incontinente se relaciona precisamente com os objetos do intemperante. O intemperante é

levado por seus desejos por sua própria escolha, pensando que deve buscar sempre o prazer

presente, ao passo que o incontinente também busca tais prazeres, mas não pensa assim. O

homem incontinente absoluto relaciona-se com os objetos da intemperança de sua própriaescolha.

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Os incontinentes agem de forma semelhante à loucura. A linguagem que usam é própria dos

farsantes, como atores que declamam suas falas. O incontinente age sob a influência de uma

razão e opinião que não é contrária em si, mas apenas acidentalmente à reta razão.

A incontinência não é provocada pela presença do conhecimento, apenas pelo conhecimento

perceptivo, e é possível agir de modo incontinente com conhecimento de causa.

CAPÍTULO 4

O fato de qualificarmos uma pessoa de incontinente apenas por analogia é evidenciado por ser

a incontinência, tanto no sentido absoluto quanto no relativo a algum prazer particular do

corpo, censurada não apenas como uma falha mas também como um tipo de deficiência

moral, embora não consideremos moralmente deficientes as pessoas incontinentes com

relação a dinheiro e coisas desse tipo.

Os incontinentes são censurados pelos seus vícios, não por sua pessoa. Os incontinentes e os

intemperantes, bem como os continentes e os temperantes, têm certa relação com os mesmos

prazeres e dores.

A semelhança de alguns sentimentos com a incontinência com faz com que esta seja

denominada de acordo com o respectivo objeto em cada caso particular, por exemplo:

incontinência no que tange à honra ou ao lucro.

CAPÍTULO 5

As disposições bestiais causadas pela natureza não são chamadas incontinentes, como os

hábitos de algumas tribos de comer carne crua, carne humana e de crianças. Há ainda aquelas

que decorrem de doenças mentais, inclusive a pederastia.

Todo estado excessivo nesse sentido, ou é bruto ou mórbido. Os estados brutos o são por

natureza, e os mórbidos por doença. Existe uma incontinência brutal e outra mórbida, mas só

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a que corresponde à intemperança no nível humano é chamada simplesmente de

incontinência.

CAPÍTULO 6

O incontinente em decorrência da cólera é vencido pelo raciocínio, enquanto há ainda aquele

que é tomado pelo apetite e não pelo raciocínio. Chamamos de vício, a incontinência dos

apetites em sentido absoluto. Ninguém comete desregramentos sofrendo com isso; quem age

sob o efeito da cólera age sofrendo, e quem comete desregramentos age com prazer. A

incontinência relacionada ao apetite é mais censurável do que a relacionada com a cólera.

A bestialidade é um mal menor do que o vício, embora seja mais assustadora.

CAPÍTULO 7

A incontinência e a continência são disposições que se relacionam com os prazeres; e as que

se relacionam com o sofrimento são a frouxidão e a fortaleza. Quem busca o excesso de

coisas agradáveis ou necessárias é intemperante. As pessoas que são deficientes na busca dos

prazeres são o contrário das intemperantes, e as que estão na medianidade são temperantes. O

intemperante é pior do que o incontinente. A continência é mais digna de escolha do que a

fortaleza.

A efeminação é uma espécie de frouxidão. Os homens que gostam muito de se divertir

também são chamados intemperantes, mas na verdade são frouxos já que a diversão é um

relaxamento da alma, uma pausa no trabalho.

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CAPÍTULO 8

Os intemperantes não se costumam arrepender pois permanecem fiéis ao que escolheram; por

outro lado, qualquer pessoa incontinente pode se arrepender. O primeiro é incurável, enquanto

que o segundo é curável. A incontinência é contrária à escolha, o vício não.

É boa a disposição da continência (possuída por quem não se deixa levar pelas paixões e

permanece firme nas suas convicções), enquanto a incontinência é má.

CAPÍTULO 9

São chamados teimosos os que não se deixam persuadir facilmente a mudar de idéia. Eles

atêm-se à paixão e ao apetite, e por causa disso não cedem. O meio-termo entre o teimoso e o

incontinente é o continente, e este é quem se atém à razão.

O continente e o temperante não contrariam a regra justa. O continente também possui

apetites maus e sente prazer; no entanto, não se deixa levar por eles.

CAPÍTULO 10

Não é possível a mesma pessoa ser dotada de sabedoria prática e ser incontinente; aquela

disposição requer também bom caráter, e o incontinente é incapaz de agir como deve.

O incontinente age voluntariamente, mas não é mau – posto que seu propósito é bom, e

também não é criminoso porque não age com premeditação.

É mais fácil mudar um hábito do que alterar a nossa natureza.

CAPÍTULO 11

O estudo do prazer e do sofrimento pertence ao campo do filósofo político, o qual é o

arquiteto do fim que avalia as coisas boas ou más.

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Há os que neguem absolutamente que o prazer seja um bem, e há os que pensem que nem

todos os prazeres são bons.

CAPÍTULO 12

Das opiniões contrárias ao prazer, não se pode concluir que ele não seja um bem.

Há dois tipos de prazeres. Os primeiros são os que não envolvem dor nem apetite, por

exemplo: a contemplação – e este são os prazeres buscados pelas pessoas dotadas de

sabedoria prática. Os prazeres não são processos (ou seja, meios), e nem todos eles envolvem

processos: os prazeres são atividades e fim. O prazer é uma atividade do estado natural, e em

vez de “consciente”, devemos dizer “sem obstáculo”. O prazer não impede a prudência. Por

exemplo, os prazeres derivados do pensar e do estudo nos fazem pensar e aprender ainda

mais. O segundo tipo de prazeres são os corporais, e estes implicam em dor e apetite;

costumam ser buscados por animais irracionais e por crianças, e é por esse motivo que estes

dois são chamados intemperantes, e pelo mesmo motivo a pessoa temperante evita tais

prazeres.

CAPÍTULO 13

O sofrimento é um mal e deve ser evitado. Além disso, algumas dores são más em sentido

absoluto, e outras são más porque de alguma forma servem de obstáculo à nossa atividade.

O prazer é necessariamente um bem. Nada impede que o sumo bem venha a ser um prazer ou

um conhecimento, embora haja prazeres e conhecimentos maus.

Todas as pessoas pensam que a vida feliz deve ser agradável e incluem o prazer no seu ideal

de felicidade. Se nenhuma atividade é perfeita quando impedida, a felicidade é uma coisa

perfeita, pois se apresenta “sem obstáculos”. É por isso que o homem feliz necessita dos bens

do corpo e dos bens exteriores (da fortuna) para não ser obstado nesses campos.

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Todos buscam o prazer, embora nem todos busquem o mesmo prazer, pois ele não é o mesmo

para todos. A vida do homem bom não será mais agradável do que a dos outros se as suas

atividades não forem também mais agradáveis.

CAPÍTULO 14

As pessoas se tornam más porque buscam o excesso dos prazeres do corpo e não por

buscarem os prazeres necessários; pois todas as pessoas se deleitam até certo ponto com

iguarias, vinhos e a união sexual, mas nem todos o fazem como deveriam. Os prazeres

corporais parecem mais desejáveis porque eles afastam o sofrimento, funcionando como um

remédio para combater o sofrimento.

Os prazeres que não implicam dor não admitem excesso. São agradáveis por natureza e não

por acidente. As coisas naturalmente agradáveis estimulam a ação da natureza sã. Não existe

nada que seja permanentemente agradável, posto que nossa natureza não é simples e à

passível de constante mutação; se assim fosse, uma mesma coisa sempre nos pareceria sempre

agradável no mais alto grau – o que não acontece. Pelo fato de não ser simples e boa, a

natureza que muda é viciosa

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LIVRO VIII

CAPÍTULO 1

Cumpre agora discorrer acerca da natureza da amizade, sendo ela uma virtude ou implica uma

virtude, e ainda é extremamente necessária à vida.

Ninguém escolheria viver sem amigos. Os ricos e poderosos são os que mais precisam de

amigos, pois de que serviria sua prosperidade sem a oportunidade de fazer o bem? Em

contraste, na pobreza e no infortúnio os amigos são o único refúgio. Com amigos, as pessoas

são mais capazes de agir e de pensar.

Poder-se-ia dizer que os legisladores se preocupam mais com a amizade do que com a justiça,

haja vista que buscam assegurar a unanimidade acima de tudo. Os amigos não precisam de

 justiça, e mesmo os justos precisam de amigos. A mais autêntica forma de justiça é um tipo de

amizade. Além de necessária, a amizade é das coisas mais nobres que há.

Sobre a amizade, há teorias dos que defendem ser ela formada da união de elementos

antagônicos, e outros que pensam que a amizade é a união de dois elementos semelhantes.

Ainda, entre os problemas que envolvem os homens, há os que envolvem caráter e

sentimentos.

CAPÍTULO 2

Os tipos de amizade podem ser esclarecidos conhecendo-se o objeto do amor. Nem tudo

merece ser amado; as coisas que o merecem são o bom e o agradável. As pessoas amam o que

é digno de ser amado.

As pessoas amam por três motivos. Há o amor dos objetos inanimados (o vinho, por

exemplo), em que não há afeição nem o ‘desejar bem ao outro’. Aos amigos, devemosdesejar-lhes o bem no interesse deles próprios – mas neste caso apenas ocorre amizade

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quando há reciprocidade de benevolência um para com o outro; sem reciprocidade, seria

apenas benevolência. Para haver amizade entre as pessoas, estas devem necessariamente se

conhecer uma a outra, desejando-se bem reciprocamente.

CAPÍTULO 3

Aqueles que fundamentam sua amizade no interesse, amam-se por causa de sua utilidade e em

virtude de algum bem que recebem um do outro, mas não amam um ao outro por si mesmos, e

acontece coisa similar com os que se amam por causa do prazer. Portanto, os que amam a

outros por interesse ou prazer, de fato amam pelo que é bom ou agradável para eles mesmos, e

quando o fator de interesse ou prazer acaba, a amizade também termina. Este tipo de amizade

parece ocorrer sobretudo entre os velhos e os jovens, pois ambos buscam mais o lado útil e

prazeroso das amizades.

A amizade perfeita é a existente entre os homens que são bons e semelhantes na virtude, pois

estes são bons em si mesmos, e desejam o bem um ao outro igualmente. Assim, sua amizade

durará enquanto as pessoas forem boas, e a bondade é muito duradoura. Estas pessoas são

também agradáveis, posto que as ações dos homens bons são as mesmas ou parecidas, e as de

uns agradam aos outros também.

Tanto o amor quanto a amizade são encontrados em sua melhor forma entre os homens bons.

Como homens assim são raros, também amizades deste tipo são raras. Além disso, uma

amizade deste tipo exige tempo e intimidade. Um desejo da amizade pode surgir depressa,

mas a amizade não o pode.

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CAPÍTULO 4

Há dois tipos de amizade: a que existe entre os bons por eles mesmos (por causa da sua

bondade), e os outros, que são amigos apenas acidentalmente e por analogia com os

primeiros.

Os que amam só pela utilidade ou prazer, são menos constantes e separam-se quando cessa a

vantagem (utilidade ou prazer). Por outro lado, muitos amantes são constantes, se a

intimidade os levou a amar o caráter um do outro pela afinidade que existe entre eles.

Só os homens bons podem ter amigos pelo que eles são em si mesmos. De outra sorte, as

pessoas más não se deleitam com o convívio uma das outras, e somente se essa relação lhes

trouxer algum proveito. Apenas a amizade entre bons é invulnerável à calúnia.

CAPÍTULO 5

A distância entre dois amigos não desfaz a amizade em si, e sim sua atividade. Porém, se a

ausência distância se prolonga por muito tempo, parece de fato acontecer de as pessoas

esquecerem sua amizade. Nada é mais característico dos amigos do que o desejo de estarem

 juntos. A amizade é, ainda, uma disposição de caráter, posto que envolve escolhas. O amor é

um sentimento. Amizade é igualdade, e ambas são normalmente encontradas entre as pessoas

boas.

CAPÍTULO 6

Os idosos e acrimoniosos são menos dados a estabelecer novas amizades, pois tais pessoas

são menos bem-humoradas e não vêem muito prazer na companhia umas das outras. As

marcas principais da amizade são a boa disposição e a sociabilidade, sendo ainda suas causas.

Por isso os jovens são rápidos em fazer amizades, e os idosos não. As pessoas não se tornam

amigas daquelas cuja companhia não lhes seja agradável.

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Não se pode ser amigos de muitas pessoas no sentido perfeito do termo, assim como não se

pode amar muitas pessoas ao mesmo tempo.

As pessoas sumamente felizes não precisam de amigos úteis, e sim daqueles agradáveis, e

preferivelmente os que também são bons.

Aqueles que ocupam posições de mando costumam ter amigos de diferentes classes, e

raramente o mesmo indivíduo reúne ao mesmo tempo qualidades diferentes de amizade (útil e

boa). As amizades por prazer e por utilidade costumam mudar com muita rapidez.

CAPÍTULO 7

Há outro tipo de amizade que envolve desigualdade, ou seja, uma não recebe a mesma coisa

da outra: a entre pai e filho, e em geral entre pessoas mais velhas e as mais jovens, entre

marido e mulher, e de modo geral entre quem manda e quem obedece. Entretanto, todas estas

diferem umas das outras, já que a virtude e a função de cada uma dessas pessoas são

diferentes, e também diferem o amor e as razões pelas quais as pessoas envolvidas são

amigas.

Mesmo nestas amizades onde há desigualdade, as pessoas boas e eqüitativas sabem fazer com

que tanto a utilidade quanto o amor distribuídos sejam proporcionais ao merecimento das

partes, e então acaba por se estabelecer uma igualdade, que é característica essencial da

amizade.

CAPÍTULO 8

A maioria das pessoas prefere ser amada ao amar, e é por isso que gostam da lisonja.

O adulador é de fato um amigo em posição inferior, ou então finge ser amigo e simula amar

mais do que é amado. Ser amado se assemelha com receber honrarias, e é a isso que a maioria

das pessoas aspira.

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Ser amado é algo bom em si mesmo, e por isso é melhor ser amado do que receber honras.

Ainda, a amizade é desejável por si mesma. A amizade tem mais relação em amar do que em

ser amado, como o amor que as mães sentem pelos filhos. Os que amam seus amigos é que

são louvados, e amar na medida é a virtude característica dos amigos.

Até pessoas desiguais podem ser amigas, já que se pode estabelecer uma igualdade entre elas,

e essa igualdade seria uma virtude comum a ambas. Os bons amigos são constantes e fiéis, e

se ajudam mutuamente a se afastarem dos males. Os maus, em contrapartida, não têm

constância e sua amizade dura pouquíssimo tempo.

CAPÍTULO 9

As imposições da justiça em relação às amizades também diferem: os deveres dos pais para

com os filhos e os dos irmãos entre si não são os mesmos, nem os dos camaradas e o dos

cidadãos em geral, e assim por diante sobre os outros tipos de amizade.

Além do mais, a injustiça pode ser mais ou menos grave dependendo a quem é feita: por

exemplo, é mais grave não ajudar um irmão do que a um estranho, e mais grave ferir o

próprio pai do que a qualquer outra pessoa. A amizade e a justiça existem entre as mesmas

pessoas e têm uma extensão igual.

As comunidades são formadas para o bem comum de todas as pessoas, que se unem

 justamente com a finalidade do bem comum, tendo em vista diferentes motivos.

Todas as comunidades parecem fazer parte da comunidade política, e as espécies particulares

de amizade devem corresponder às espécies particulares de comunidade das quais se

originam.

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CAPÍTULO 10

Há três espécies de constituição das comunidades, e igual número de perversões ou desvios

daquelas. Seus tipos são: monarquia, aristocracia e o que se poderia chamar de timocracia

(que se baseia na posse dos bens e onde preponderam os ricos). A melhor é a monarquia, e a

pior é a timocracia.

O desvio da monarquia é a tirania. Em ambas há o governo de um só homem, mas na primeira

o rei visa a vantagem de seus súditos, enquanto o tirano visa à sua própria vantagem. O mau

rei pode se converter em tirano.

A aristocracia se degenera em oligarquia pela maldade dos governantes, que distribuem sem

eqüidade os bens da cidade. Finalmente, a timocracia se degenera em democracia. A

democracia é a menos má das três espécies de perversão, pois apresenta apenas um leve

desvio.

Se fôssemos fazer algumas analogias, poderíamos dizer que a associação de um pai com um

filho apresenta a forma da monarquia. A de um marido e uma mulher, com a aristocracia. A

associação de irmãos assemelha-se à timocracia, pois eles são iguais entre si.

CAPÍTULO 11

Cada uma das constituições implica amizade na exata proporção em que comporta a justiça. A

amizade entre governantes e governados depende da quantidade de benefícios conferidos.

As amizades entre pai e filho, avós e descendentes, e reis e súditos, implicam superioridade de

uma parte sobre a outra, e é por isso que se prestam honras aos antepassados.

A amizade entre marido e mulher é da mesma espécie encontrada na aristocracia, pois está em

conformidade com a virtude; e o mesmo se aplica à justiça nessas relações. A deturpação

deste tipo de amizade é a tirania, onde, em contraposição, não existe nem amizade nem justiça

entre as partes.

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CAPÍTULO 12

Toda forma de amizade envolve associação, mas há diferenças entre os tipos de amizades, por

exemplo entre os familiares e entre os camaradas. A existente entre os camaradas – os

cidadãos entre si, os companheiros de viagem – pode ser incluída a um tipo ligado à

hospitalidade.

De outro tipo é a existente entre familiares, por exemplo entre pais e filhos. Os pais sentem os

filhos como seus mais do que os filhos sentem os pais como seus, pois o produto pertence ao

produtor mas o produtor não pertence ao seu produto, ou pertence em menor grau. Os pais

amam os filhos desde o seu nascimento, mas os filhos amam os pais somente depois de

adquirirem entendimento ou discernimento pelos sentidos.

A educação em comum e a semelhança de idade tem um papel importante na amizade entre

irmãos, pois “dois da mesma idade se dão bem”, e ademais “os que se criaram juntos tendem

a ser companheiros”. Além disso, tais pessoas convivem mais entre si. E, finalmente, há

também que nestes casos a prova do tempo foi aplicada de modo mais completo e decisivo.

A amizade entre marido e mulher parece existir por natureza, pois a espécie humana tende

naturalmente a constituir casais, mais ainda do que a constituir cidades, já que a família é

anterior à cidade. A virtude pode servir de base para a amizade, mas também os filhos de um

casal podem acabar se transformando em um laço de união para um casal; isto se explica

porque os filhos são um bem comum a ambas as partes, e o que o casal possui em comum o

mantém unido.

CAPÍTULO 13

Os iguais devem ser amigos em uma base de igualdade no amor e tudo o mais, enquanto os

desiguais devem se beneficiar na proporção de sua superioridade ou inferioridade.

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As queixas e recriminações surgem apenas nas amizades cuja base seja a utilidade. Os amigos

com base na virtude anseiam por fazer o bem um ao outro, e entre estes não surgem queixas

ou querelas. Já nas amizades com base no prazer, não surgem muitas queixas.

Assim como há duas espécies de justiça, uma não escrita e a outra definida por lei,

analogamente há também uma espécie moral e outra legal de amizade baseada na utilidade. E

as queixas surgem justamente quando um trai a confiança que um depositava no outro por

causa da amizade, como por exemplo um deixar de pagar uma dívida decorrente de um

negócio feito entre dois amigos com base na confiança. Isto ocorre porque a grande maioria

das pessoas deseja o que nobre mas escolhe o que traz vantagem.

CAPÍTULO 14

As amizades com base na superioridade acarretam divergências; cada parte espera obter mais

proveito delas, e quando isso acontece a amizade de desfaz. Nesta relação, o ideal parece ser

que aquele que está em condição superior recebesse mais em honras, e o inferior recebesse em

ganho, pois a honra é o prêmio da virtude e da beneficência, e o ganho é a recompensa da

inferioridade – e assim seria estabelecido o equilíbrio necessário em toda relação de amizade.

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LIVRO IX 

CAPÍTULO 1

Cada um quer aquilo que espera obter, e é em troca disso que dá o que tem. A proporção serve

para igualar as partes e preservar a amizade entre os desiguais. Na forma política da amizade,

o dinheiro é a medida comum pela qual tudo se mede. Em uma compra e venda, parece mais

 justo que o preço seja sempre determinado por aquele que compra, posto que o que vende

tende a dar mais valor ao que tem do que aquele que compra.

CAPÍTULO 2

Outro problema diz respeito a quem devemos obedecer prioritariamente: sempre ao nosso pai

incondicionalmente, ou ao médico que nos trata, ou a um militar quando nos compete eleger

um general? Não devemos dar preferência em tudo sempre à mesma pessoa, e que devemos

retribuir benefícios em vez de obsequiar amigos, e antes de emprestar dinheiro a um amigo

devemos pagar o nosso credor. Ademais, as discussões acerca de sentimentos e ações, sobre o

que seria mais nobre fazer nesta ou naquela ocasião, são tão definidas ou indefinidas quanto

os seus objetos.

Da mesma forma, também devem ser prestadas às pessoas mais velhas as honras convenientes

à sua idade, levantando-nos para recebê-las, oferecendo-lhes lugares, e coisas análogas. Com

relação aos demais, sempre devemos sempre calcular a relação existente entre cada classe e

comparar os seus direitos, e prestar-lhes o que for apropriado.

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CAPÍTULO 3

Falemos sobre as circunstâncias de rompimento de amizade. Não há nada errado em romper

uma amizade baseada na utilidade ou no prazer quando nossos amigos já não possuem os

atributos que existiam quando a amizade foi estabelecida.

Não se pode amar todas as coisas, e sim somente o que é bom. O que é mau não pode e não

deve ser amado. Assim, devemos desfazer a amizade com aqueles que se mostraram ser

maus? Se puderem se regenerar, devemos tentar ajudá-los, mais do que nas questões

materiais, pois isso é mais característico da amizade. Se a regeneração não for possível, é

 justo que o amigo que se revelou ser mau seja abandonado. Da mesma forma, se um

continuasse o mesmo, e o outro o superasse grandemente em virtude, tampouco a amizade

entre eles não seria possível, pois eles não mais compartilhariam os mesmos ideais e

realidades.

Entretanto, uma amizade passada deve ser sempre lembrada e considerada, desde que o

rompimento não tenha ocorrido por um excesso de maldade.

CAPÍTULO 4

As relações amigáveis entre semelhantes são oriundas das relações de uma pessoa para

consigo mesma. Cada um tem seu próprio entendimento de o que vem a ser um amigo. Neste

aspecto, as disposições de caráter de cada um têm um papel fundamental nesse entendimento,

pois a pessoa boa tem opiniões harmônicas, e ela tem desejos bons tanto em relação a si

própria como em relação aos outros. Seus desejos sobre o que é bom e justo são perenes e

constantes. Os incontinentes, por outro lado, escolhem não o que eles julgam ser coisas boas,

e sim outras que são agradáveis e nocivas. Os maus, como não costumam ter nada de louvável

neles mesmos, não nutrem nenhum sentimento de amor por si próprios, e ainda estão sempre

sentindo remorsos. Por isso os maus nunca parecem ter nenhuma disposição de amizade para

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com ninguém. Como tal índole é própria da “mais desgraçada das criaturas”, devemos fazer

tudo para evitar a maldade e nos esforçar para praticar a bondade, pois só assim poderemos

ser amigos de nós mesmos e dos outros.

CAPÍTULO 5

A benevolência é um ato amigável mas não é amizade, pois podemos senti-la com relação a

pessoas que não conhecemos, passando a sentir uma boa disposição para com elas. Ainda,

surge repentinamente, e pode até ser um início de amizade, ou uma “amizade inativa”, que

pode vir a se tornar amizade verdadeira.

CAPÍTULO 6

A conformidade de opinião é uma relação amigável, como a existente entre os moradores de

uma cidade, quando as pessoas têm a mesma opinião sobre o que é de seu interesse, escolhem

as mesmas ações e fazem em comum o que decidiram. A conformidade de opinião é a

“amizade política”, e é encontrada entre as pessoas boas, as que desejam o que é justo e

vantajoso, sendo estes os objetivos de seus esforços conjuntos. Em contraste, os homens maus

não conseguem se colocar de acordo entre si, e a discórdia suscitada acabará resultando em

dissipação do patrimônio comum.

CAPÍTULO 7

Os benfeitores amam mais as pessoas a quem fizeram bem, do que estas amam os seus

benfeitores. Isso é próprio da natureza humana, pois em geral as pessoas têm memória curta e

preferem antes serem bem tratadas a tratarem bem as outras.

Os credores não têm nenhum sentimento amistoso para com seus devedores, e só desejam vê-

los em segurança pelo que têm a receber destes. Já os que prestaram um serviço a outras

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pessoas, sentem amizade e amor por tais pessoas, mesmo que estas não lhe sejam de nenhuma

utilidade e jamais possam vir a sê-lo.

A pessoa a quem o benfeitor fez bem, é como se fosse uma obra sua, e portanto eles a amam

mais do que a obra ama o seu criador. Este ama sua obra porque ama a existência, pois o que

o criador é em potência, sua obra o realiza em ação. Para o homem que fez alguma coisa para

alguém, a sua obra permanece (pois o nobre é duradouro), no entanto para o que recebeu o

benefício a utilidade passa rapidamente. É por isso que os que construíram seu patrimônio

com esforço próprio amam-no mais do que aqueles que recebem heranças. E também é por

isso que as mães parecem ter mais amor aos seus filhos do que os pais; gerar os filhos é bem

mais custoso às mães.

Além do mais, amar está para a atividade, como o ser amado para a passividade. As pessoas

mais ativas sentem amor e têm diversas formas de sentimentos amistosos.

CAPÍTULO 8

Uma pessoa deve amar acima de todas as coisas a si mesma ou a uma outra pessoa?

A pessoa deve amar a si mesma acima de todas as coisas, mas esta afirmação supõe que esta

pessoa seja boa e aja de acordo com a virtude e a temperança, e procure sempre assumir a

conduta mais nobre.

Além disso, uma pessoa tem ou não domínio sobre si mesmo na medida em que a razão

domina ou deixa de dominar nele. Segue-se que a razão é o próprio homem, e que o homem

bom ama essa sua parte que obedece ao racional, acima de tudo. Concluindo, a pessoa boa

deve ser amiga de si mesma, pois isso beneficiará tanto a ela mesma quanto ao seu próximo.

Em contraste, as pessoas más prejudicariam a si e ao próximo, posto que estariam

abandonadas às suas paixões.

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CAPÍTULO 9

Questionemos se o homem feliz precisa ou não de amigos. Obviamente necessita deles, vez

que os amigos são considerados os maiores bens exteriores. E, conforme dito acima, o homem

bom precisará de pessoas a quem possa fazer bem. “O homem é um ser político e está em sua

natureza viver em sociedade.” O homem feliz deve ter uma vida agradável, e se fosse ele

solitário a vida lhe seria penosa.

Quanto ao ser humano, a vida é definida pela capacidade de percepção e de pensar; e quanto

aos animais, apenas pela capacidade de percepção. A vida se inclui entre as coisas que são

boas e agradáveis em si mesmas, já que ela é determinada, e ser determinado é da natureza do

que é bom. Segue-se que o que é bom por natureza também é bom para o homem virtuoso.

Em contraposição, este princípio não se aplica a uma vida má e ímproba, nem a uma passada

entre sofrimentos, uma vez que é indeterminada.

A existência de uma pessoa boa é desejável porque ela consegue perceber a sua própria

bondade, sendo isso agradável em si. Igualmente, o significado da convivência para os seres

humanos é a consciência da existência de um amigo, com quem se vive junto e com quem se

compartilham discussões e pensamentos, em oposição, por exemplo, ao gado que pasta junto

no mesmo lugar e não possui pensamento nem consciência.

Em suma, é de amigos virtuosos que as pessoas precisam para serem felizes.

CAPÍTULO 10

Até quanto ao número de amigos que devemos ter, deve ser limitado; ter amigos que excedam

o número suficiente para a vida é supérfluo, é obstáculo à vida nobre, e disso não precisamos.

Como já foi dito, a amizade supõe convivência, e não é possível manter uma convivência com

um grande número de amigos, por mais que quiséssemos; se fosse assim, esses amigos entre

si também teriam de conviver, o que não seria viável. Compartilhar as alegrias e os pesares

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íntimos de muita gente também não é fácil. É por isso que não podemos amar várias pessoas

ao mesmo tempo. O amor é como um excesso de amizade, e isso só se pode sentir por uma

pessoa; segue-se que também só é possível sentir uma grande amizade por poucas pessoas.

CAPÍTULO 11

A amizade é mais necessária na adversidade, e por isso são os amigos úteis que buscamos em

tais ocasiões. Por outro lado, na prosperidade a amizade é mais nobre, e neste caso buscamos

também pessoas boas para serem nossos amigos, pois é mais desejável conviver e fazer bem a

eles. No entanto, a simples presença de um amigo é agradável em todas as circunstâncias.

Os amigos podem nos ajudar a aliviar um pesar; contudo, ver um amigo sofrer com nossos

infortúnios nos é doloroso, pois evitamos causar sofrimento aos nossos amigos. Os homens de

natureza viril abstêm-se de fazer seus amigos sofrerem com eles, ao contrário das mulheres e

dos homens efeminados, que gostam de ter pessoas solidárias com suas aflições. Em suma,

quando estivermos em situação próspera convém convidarmos logo os amigos a compartilhar

da nossa boa sorte, e na situação contrária deveríamos hesitar em chamá-los nos momentos de

infortúnio para poupar-lhes de nossos males.

É justo acudir os amigos prontamente na adversidade. Quando os amigos são prósperos não

devemos hesitar em compartilhar de suas atividades, mas não é nobre mostrar-se ávido de

receber benefícios. Entretanto, se rejeitarmos seus gestos generosos passaremos por

grosseiros, o que é condenável.

CAPÍTULO 12

É natural que os amigos, assim como os amantes, desejem conviver. As pessoas desejam

compartilhar com seus amigos o que, para eles, significa a existência. É por isso que, por

outro lado, é tão nefasta a amizade dos maus, pois eles também se associam, mas em

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ocupações más, e isso acarreta o fato de que eles se tornam piores, porque eles se tornam

semelhantes àquele que é pior dentre eles. Ao passo que a amizade das pessoas boas é de

natureza boa, pois cresce com o companheirismo, e um toma o bom exemplo do outro que é

aprovado por todos.

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LIVRO X 

CAPÍTULO 1

Passemos agora à análise do prazer. Ele está ligado intimamente à natureza humana, sendo

por isso que usamos os lemes do prazer e os do sofrimento para educar os jovens. Comprazer-

se com as coisas certas e desprezar as que devem ser desprezadas guardam relação com a

formação do caráter virtuoso.

Há uma divisão de opiniões quanto a achar que o prazer é um bem ou não. Neste campo, as

ponderações acerca do tema merecem menos confiança do que os fatos, sendo estes mais

próximos da verdade.

CAPÍTULO 2

Das diferentes opiniões sobre o que vem a ser o prazer: para Eudoxo, é o bem, pois ele via

todos os seres vivos tenderem para ele. E, se o prazer é o objeto de preferência mais genuíno,

é em si mesmo um objeto de escolha, sendo ainda o maior dos bens. Eudoxo era conhecido

pela excelência de seu caráter, e que as coisas que dizia era por pensar de fato serem verdade.

Já Platão pensava que o prazer não é um bem, pois este não pode tornar-se mais desejável

pela adição de outra coisa, seja ela qual for.

Mesmo entre as criaturas inferiores, há algum bem natural que as irá orientar para o bem que

lhes é próprio. A aversão pelo mal e a preferência pelo prazer são a natureza da oposição entre

os prazer e o sofrimento.

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CAPÍTULO 3

Há diversas espécies de prazeres, e as opiniões dos filósofos não parecem ter respostas para

todas essas espécies. Cada tipo de prazer é desejável por uma determinada classe de pessoa, e

os prazeres mudam de pessoa para pessoa.

Em análise última, o prazer nem é um bem, nem todo prazer é desejável, e que alguns

prazeres são desejáveis por si mesmos, diferenciando-se eles entre si quanto às suas fontes –

nobres ou não.

CAPÍTULO 4

O que vem a ser o prazer? Ele parece ser uma coisa completa, pois não se pode encontrar um

prazer cuja forma seja completada pelo seu prolongamento. Ainda, ele não é um movimento

nem geração. A forma do prazer é completa em todo e qualquer momento.

Há prazer em relação a cada um dos nossos sentidos, e também em relação ao pensamento e à

contemplação. Ademais, a atividade é mais agradável quando é mais perfeita, e o prazer torna

a atividade completa.

Ninguém sente prazer continuamente, pois nenhum ser humano é capaz de uma atividade

contínua, posto que o prazer acompanha a atividade. Certas coisas nos dão deleite quando as

vemos pela primeira vez, mas nem tanto quando deixam de ser novidade.

Todos desejam o prazer porque todos aspiram à vida, e esta é uma atividade. Como o prazer

completa as atividades, ele torna completa a vida desejada. Sem atividade não há prazer.

CAPÍTULO 5

Os prazeres diferem em espécie, e coisas que diferem em espécie podem ser completadas por

coisas diferentes. Cada prazer está intimamente ligado à atividade que ele completa, e tal

atividade completada é intensificada pelo prazer respectivo. Cada classe de coisas é mais bem

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compreendida e feita com maior precisão quando estiver completada pelo prazer; por

exemplo, pessoas que se comprazem com o raciocínio geométrico acabam por se tornar bons

geômetras, e assim também com os músicos, arquitetos, etc.

Já quando há dois prazeres envolvidos, um prazer sempre tem um apelo maior para

determinada pessoa, e essa pessoa irá se dedicar mais àquilo que lhe dá mais prazer, por

exemplo: se alguém que sente prazer em ouvir flauta está acompanhando um argumento

filosófico e nesse momento começa a ouvir o som de uma flauta, esta atividade lhe tomará

completamente, impedindo-o de continuar acompanhando aquele argumento.

O prazer próprio de uma atividade digna é bom, e o próprio de uma atividade indigna é mau.

Cada animal tem seu prazer peculiar, por exemplo: “os asnos preferem o feno ao ouro”, como

dizia Heráclito.

CAPÍTULO 6

Resta-nos discutir acerca da felicidade, já que ela é o fim da natureza humana. Já foi dito que

ela não é uma disposição de caráter. Ainda, a felicidade não está na recreação.

A vida feliz é conforme à virtude; por isso, a atividade da faculdade ou da pessoa mais nobre

é superior em si mesma, e por isso está mais em congruência com a natureza da felicidade.

Ela está nas atividades virtuosas.

CAPÍTULO 7

A felicidade é uma atividade em consonância com a mais alta virtude. Essa atividade não

apenas é a melhor, como também a mais contínua. Ademais, a felicidade tem um elemento de

prazer, e que a atividade da sabedoria filosófica é reconhecidamente a mais agradável das

atividades virtuosas; seu cultivo oferece prazeres maravilhosos pela pureza e pela perenidade.

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É compreensível achar que aqueles que já a sabem passem seu tempo mais agradavelmente do

que os que ainda estão buscando seu conhecimento.

Além dos fatores acima, a felicidade não depende do lazer. Ainda, a atividade racional é que

consiste na felicidade completa das pessoas, pois é possível exercermos a atividade racional

em todos os campos, no trabalho ou no lazer. Para o ser humano, a vida conforme à razão é a

melhor e a mais agradável; daí, conclui-se que essa vida é também a mais feliz.

CAPÍTULO 8

São próprias dos seres humanos as virtudes morais ligadas à prudência, bem como suas vidas

e a felicidade. No entanto, a excelência da razão constitui uma coisa à parte.

A felicidade perfeita é uma atividade contemplativa. Considerando que os deuses têm vida, e

sua vida pressupõe atividade, posto que não estariam a “dormir como Endimion”, sua

atividade seria a contemplação, pois nada mais lhes restaria fazer. Por conseguinte, entre as

atividades humanas, a que tem mais afinidade com a atividade contemplativa é a que mais

intimidade deve ter com a felicidade. Para reforçar esta idéia, há ainda o fato de que os

animais irracionais são completamente tolhidos de atividade contemplativa. A felicidade deve

ser alguma forma de contemplação.

Por outro lado, as pessoas felizes também precisam de bens exteriores, mas apenas

moderadamente – como dizia Sólon a respeito dos felizes, prosseguindo que os felizes

praticam as mais nobres ações e vivem em conformidade com a temperança.

O ser humano que cultiva e exerce a sua racionalidade é mais caro aos deuses. Como os

deuses se interessam pelos humanos, eles se comprazem com o aspecto que tem mais

afinidade com eles – a razão, e eles recompensam os que amam e honram a razão acima de

todas as coisas. Estas qualidades são sobretudo do filósofo, e é o filósofo o mais feliz dos

homens.

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CAPÍTULO 9

Os argumentos não bastam para tornar os homens bons. O homem comum não obedece por

natureza o sentimento de honra, mas unicamente ao medo, e não evita más ações por serem

ignóbeis, e sim por temer o castigo. Que argumento poderia regenerar tais pessoas?

Em geral, a paixão não cede simplesmente ao argumento, mas à força. É indispensável que o

caráter tenha alguma afinidade com a virtude, amando o que é nobre e detestando o que é vil.

Entretanto, é difícil receber desde a infância uma preparação correta para a virtude se não

formos criados sob leis adequadas. A vida temperante não seduz as pessoas naturalmente, mas

as coisas deixam de ser penosas quando se tornam hábitos. Portanto, a maneira de criar os

 jovens, bem como suas ocupações, deveriam ser estabelecidas em lei. Deverá haver também

uma lei dessa ordem para cada idade posterior à juventude, pois as pessoas obedecem mais

aos castigos do que ao que é nobre.

Uma pessoa boa submete-se à argumentação, ao passo que uma pessoa má será corrigida por

sofrer uma sanção com sofrimento, posto que só se norteia pelo prazer.

Como lamentavelmente as questões de educação e criação foram omitidos pelo legislador, à

exceção da cidade de Esparta, convém que cada pessoa ajude seus filhos e amigos a seguirem

os caminhos da excelência moral, para pelo menos lhes dar essa oportunidade.

Cada pessoa poderia agir melhor se adquirisse a capacidade de legislar. O bom controle

público é efetuado por boas leis, sendo indiferente se tais leis são escritas ou não. Além disso,

a educação privada tem vantagem sobre a pública pois naquela os detalhes são observados

com mais atenção, e cada um tem maior probabilidade de receber o que é mais adequado ao

seu caso particular.

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É graças às leis que podemos nos tornar bons. Aqueles que se empenham e conseguem tornar

os homens melhores são capazes de legislar. Mas como e com quem se pode aprender a

legislar? A legislação faz parte da ciência política. Os homens que ambicionam conhecer a

arte da política necessitam também da experiência – e neste campo os sofistas carecem de

autoridade. Como as leis são as “obras de arte” da política, não é possível aprender esta

ciência com inexperientes, como os sofistas.

Embora as compilações de leis e constituições prestem um serviço a quem as estuda, no

sentido de distinguir o bom do mau, as pessoas carentes de experiência que examinam as

compilações não terão o reto discernimento, ainda que adquiram mais conhecimento nesses

assuntos.

O melhor é estudarmos por nós mesmos as leis, bem como a questão da constituição em geral,

bem como o que já foi dito pelos pensadores que nos antecederam. Apenas depois, levando

em conta todo o material reunido e analisado, faremos o nosso exame sobre que tipo de

influências preservam ou destroem as cidades, e por que uma são bem e outras mal aplicadas.

Depois de estudar tudo isso, é que seremos capazes de concluir sobre qual é a melhor

constituição, como cada uma deve ser estruturada, e quais as leis e os costumes que convêm

ser utilizados por uma constituição de modo a ser a melhor em todos os sentidos.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Texto integral. Coleção “A Obra-Prima de Cada Autor”.

São Paulo: Martin Claret, 2003.