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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CINDY EMILY MEXKO DAMACENO LIMA ESTUPRO DE VULNERÁVEL INTRAFAMILIAR: MARCAS NO CORPO E TRAUMAS NA MENTE CURITIBA 2016

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CINDY EMILY MEXKO DAMACENO LIMA

ESTUPRO DE VULNERÁVEL INTRAFAMILIAR: MARCAS NO CORPO

E TRAUMAS NA MENTE

CURITIBA

2016

CINDY EMILY MEXKO DAMACENO LIMA

ESTUPRO DE VULNERÁVEL INTRAFAMILIAR: MARCAS NO CORPO

E TRAUMAS NA MENTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito Orientador: Dr. Roberto Aurichio Junior

CURITIBA

2016

TERMO DE APROVAÇÃO

CINDY EMILY MEXKO DAMACENO LIMA

ESTUPRO DE VULNERÁVEL INTRAFAMILIAR: MARCAS NO CORPO

E TRAUMAS NA MENTE

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no

Curso de Bacharelado em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ______, ________________, 2016.

___________________________

Prof.Dr.PhD. Eduardo de Oliveira Leite - Coordenador do Núcleo de Monografias do Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: _______________________________

Prof. Dr.Roberto Aurichio Junior

Universidade Tuiuti do Paraná

_______________________________

Prof. (a) Dr. (a)

Universidade Tuiuti do Paraná

_______________________________

Prof. (a) Dr. (a)

Universidade Tuiuti do Paraná

Dedico este trabalho aos meus pais, irmão e namorado e a to-

das as crianças que foram vítimas de violência sexual dentro

do âmbito familiar.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, pois Ele é o centro e o fundamento de tudo

em minha vida. Foi graças a Ele que eu fui capaz de concluir este curso e encerrar

mais essa etapa, pois renovou as minhas forças e me deu disposição e discernimen-

to ao logo desta jornada. Aos meus pais, Deberson e Rose, os quais são minha ba-

se, que me fizeram ser quem eu sou hoje. Agradeço pela educação que me

proporcionaram, pela paciência e amor incondicional, cada palavra de incentivo, e

gesto de carinho foram muito importante para o meu desenvolvimento pessoal e pro-

fissional. Ao meu irmão João Matheus, pela constante bondade e sinceridade, o qual

abriu os braços com o sorriso mais sincero no rosto, nos momentos que mais preci-

sei. Ao meu namorado Heylon Sobjak, pelo carinho, compreensão, e amor, por me

ajudar muitas vezes a achar soluções quando elas pareciam não aparecer, pelo a-

poio intenso, e por todas as orientações na diagramação de todo o trabalho, além

deste trabalho, dedico todo meu amor à você. Ao meu orientador, professor Doutor

Roberto Aurichio Junior, pela sua atenção e colaboração, a qual foi muito valiosa pa-

ra a conclusão deste trabalho acadêmico. Por fim, a todos que não foram citados,

mas que de alguma forma estão presentes em minha vida e que contribuíram para

que eu pudesse completar mais esta etapa.

“Sem sonhos, a vida não tem brilho.

Sem metas, os sonhos não têm alicerces.

Sem prioridades, os sonhos não se tornam reais.

Sonhe, trace metas, estabeleça prioridades e corra riscos

para executar seus sonhos.

Melhor é errar por tentar do que errar por omitir!”

(Augusto Cury)

RESUMO

O tema central deste trabalho foi à análise do entendimento jurisprudencial e

doutrinário acerca do estupro de vulnerável intrafamiliar, com ênfase no caput do art.

217- A do Código Penal.

A criança e o adolescente são indivíduos que merecem cuidados e atenção,

pois o mesmo estão em fase de desenvolvimento psicológico e físico. Mas infeliz-

mente, desde os tempos mais antigos, a prática da violência sexual contra eles são

constantes, ocorrendo dentro da resistência da vitima, tendo como agressor mem-

bros da sua família.

No Brasil, a proteção legal contra esse crime é considerada rígida, embora

muitas das vezes casos de abuso sexual são impunes, tendo em vista, que nem

sempre a vítima denuncia, seja por medo ou vergonha. Os efeitos do abuso sexual

intrafamiliar são devastadores, o qual acaba ferindo a dignidade da vítima e causan-

do danos psicológicos graves. E as pessoas que tem o dever de cuidar e proteger a

vítima, são aqueles que cometem tal delito.

Palavras-chave: Abuso sexual. Intrafamiliar. Criança. Família.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 9

2 VIOLÊNCIA SEXUAL .......................................................................................... 11

2.1 ASPECTO HISTÓRICO .................................................................................... 11

2.2 CONCEITO ....................................................................................................... 12

3 ABUSO SEXUAL CONTRA A CRIANÇA ............................................................ 14

3.1 DIFERENÇA DE CRIANÇA E ADOLESCENTE ................................................ 14

3.2 DIFERENÇA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL E ESTUPRO ......................... 14

4 CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITO ........................................................... 16

4.1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL .............................................................................. 16

4.2 CÓDIGO PENAL ............................................................................................... 17

4.3 ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE ................................................. 17

5 VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR ............................................................................. 19

5.1 CONCEITO ....................................................................................................... 19

5.2 MÉTODOS UTILIZADOS .................................................................................. 19

6 CHEGADA DA CRIANÇA AO SISTEMA JUDICIÁRIO ....................................... 21

7 CONSEQUÊNCIA DO ESTUPRO PARA A CRIANÇA ....................................... 23

8 ESTATÍSTICA ...................................................................................................... 26

9 UNIÃO DA PSICOLOGIA E DO DIREITO PARA COMPREENDER E COMBATER

O ESTUPRO DE VULNERÁVEL ............................................................................ 28

10 ENTENDIMENTO JURISDICIONAL .................................................................. 30

CONCLUSÃO ........................................................................................................ 38

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... . 40

9

1-INTRODUÇÃO

O presente estudo se refere ao abuso sexual intrafamiliar, com base no arti-

go 217-A do Código Penal Brasileiro. Onde se tem como vítimas crianças (14 anos),

que são abusadas sexualmente por pessoas próximas ou até mesmo familiares, os

quais deveriam proteger essas vítimas, abordando questões sociais no âmbito fami-

liar e também abordar questões históricas desde o surgimento até a atualidade que

se refere ao estupro de vulnerável intrafamiliar.

Para as pesquisas, foram estudados diversos autores, também foi observa-

do uma abordagem histórica. Como forma de demonstrar as mudanças, tanto na le-

gislação quanto na sociedade, observando a evolução dos pensamentos sobre o

tema ao longo do tempo. Terá como foco a parte histórica sobre o estupro de vulne-

rável intrafamiliar e seu conceito. Será analisado a diferença entre criança e adoles-

cente, e também a diferença de estupro e estupro de vulnerável, para que se tenha

distinção e melhor compreensão sobre o tema. Diferenciaremos a criança como su-

jeito de direito, onde a legislação começa a proteger a mesma dos abusos sofridos,

e para de ser um costume e começa a ter um tratamento diferente, passando a ser

considerado um crime.

Este estudo foca também os métodos de violência sexual e também os mei-

os utilizados pelo abusador, o perfil das vítimas, como também as conseqüências

que a mesma sofre na infância até a sua fase adulta.

Outro aspecto também que analisamos é a união das disciplinas de Direito e

Psicologia, as quais tendem a prevenir e resolver as questões que estão relaciona-

das com o abuso sexual, onde a vítima tem acesso aos seus direitos de proteção e a

saúde física e mental.

Foram analisadas várias jurisprudências do STF e de Tribunais, que após o

entendimento da Lei 12.015 de 2009, mudou-se a presunção de caráter relativo pa-

ra caráter absoluto, onde o consentimento, o amadurecimento e a vivência da vitima

não interferi-se na constatação do crime.

Com esta alteração, a conjunção carnal ou qualquer outro ato libidinoso que

é praticado contra menor de 14 (quatorze) anos, deixou de ser apenas a modalidade

do tipo penal de estupro, e passou a ser o tipo penal de estupro contra a pessoa

10

vulnerável, para que se configure este “novo” tipo penal, basta que o agente tenha

conhecimento de que a vítima seja menor de 14 (quatorze) anos e com ela pratique

qualquer ato libidinoso.

Isto posto, sabemos que por mais abrangente que possamos ser, seria pra-

ticamente impossível esgotar todas as vertentes e entendimentos sobre o assunto,

entretanto faremos todo o possível para um fácil entendimento e uma boa análise

sobre esse assunto tão atual e importante para nossa sociedade.

11

2- VIOLÊNCIA SEXUAL

2.1. ASPECTO HISTÓRICO

Ao longo da história, pode ser observado a falta de proteção que existia em

relação à criança, onde a mesma era vítima, de agressões, abusos sexuais e psico-

lógicos, aonde muitos desses delitos eram cometido por pessoas próximas e muitas

vezes por familiares.

Desde os egípcios e mesopotâmeos, passando pelos romanos e gregos,

até os povos medievais e europeus, não se considerava a infância como merecedo-

ra de proteção especial.

Na antiguidade, a violência sexual era apoiada por leis, como exemplo o Có-

digo de Hamurabi, o qual foi elaborado pelo imperador Hamurabi, e utilizava como

base a Lei de Tabelião “olho por olho e dente por dente”, conforme explica no seu

artigo 192: “se o filho de um dissoluto ou de uma meretriz diz a seu pai adotivo ou a

sua mãe adotiva: "tu não és meu pai ou minha mãe", dever-se-á cortar-lhe a língua”.

Portanto, pode ser observado que essas violências eram autorizadas, e não existia

preocupação para proteger os direitos humanos da criança, afim de preservar a in-

tegridade psicológica e física.

Na idade Média essas relações tiveram uma grande proporção, pois não e-

xistia a vontade de cuidar da pureza e inocência da criança, e sim estimular a sexua-

lidade. Conforme explica e relata o autor Fhilippe Áries:

Era uma brincadeira comum e muitas vezes repetida às pessoas lhe dize-

rem: “Monsieurs não tem pênis”. Ele respondia: “É, olha aqui! E alegremen-

te levantava-o com o dedo” Essas brincadeiras não eram restritas à

criadagem ou a jovens desmiolados ou a mulheres de costumes leviano.

(Fhilippe Áries, 1981, p. 126).

Está valorização da sexualidade, ou seja, a prática de brincar com sexo da criança,

é algo decorrente nas sociedades mulçumanas.

12

Somente com o Cristianismo, que a prática de abusos contra a criança, foi

cessada, ou seja, a pessoa que cometia tal crime, muitas vezes era morta, e, portan-

to os direitos das crianças começaram a ter um pouco mais de força, conforme cons-

ta no livro de 2 Samuel 13: 10-17.

10 Então disse Amnom a Tamar: Traze a comida a câmara, para que eu

coma da tua mão. E Tamar, tomando os bolos que fizera, levou-os à câma-

ra, ao seu irmão Amnom. 11 Quando lhos chegou, para que ele comesse,

Amnom pegou dela, e disse-lhe: Vem, deita-te comigo, minha irmã. 12 Ela,

porém, lhe respondeu: Não, meu irmão, não me forces, porque não se faz

assim em Israel; não faças tal loucura. 13 Quanto a mim, para onde levaria

o meu opróbrio? E tu passarias por um dos insensatos em Israel. Rogo-te,

pois, que fales ao rei, porque ele não me negará a ti. 14 Todavia ele não

quis dar ouvidos à sua voz; antes, sendo mais forte do que ela, forçou-a e

se deitou com ela. 15 Depois sentiu Amnom grande aversão por ela, pois

maior era a aversão que se sentiu por ela do que o amor que lhe tivera. E

disse-lhe Amnom: Levanta-te, e vai-te. 16 Então ela lhe respondeu: Não há

razão de me despedires; maior seria este mal do que o outro já me tens fei-

to. Porém ele não lhe quis dar ouvidos, 17 mas, chamando o moço que o

servia, disse-lhe: Deita fora a esta mulher, e fecha a porta após ela. (Bíblia

Sagrada, 2Samuel 13: 10-17 )

No texto de 2 Samuel, pode ser observado como o estupro era considerado

algo abominável, pois Absalão, o qual era filho de Davi, irá matar seu irmão pelo es-

tupro cometido.

2.2. CONCEITO

A lei n° 2.848, de 7 de Dezembro de 1940, define em seu artigo 217 –A, o

que é o estupro de vulnerável.

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1

o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas

no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. § 2

o (VETADO)

§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave

Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos § 4

o Se da conduta resulta morte:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

13

Para que seja considerado estupro de vulnerável, é irrelevante o consenti-

mento da vítima ou a experiência sexual da mesma, para uma realização objetiva do

delito, basta que a vítima seja menor que 14 anos e com ela mantenha conjunção

carnal ou qualquer ato libidinoso.

A autora Maria Berenice entende como abuso sexual:

O abuso sexual sempre constitui uma forma de violência (física ou psicoló-

gica), na qual o abusador se aproveita de sua superioridade (física ou psico-

lógica). Esse tipo de ato tem como conseqüência um atraso ou prejuízo no

desenvolvimento ou estruturação da personalidade. Na maior parte das ve-

zes gera trauma psíquico, geralmente prolongado, e o contato físico tem

como único objetivo a satisfação sexual do abusador. (DINIZ. 2010, p. 243-

244).

O abuso sexual se constitui de violência física ou psicológica, uma vez que a

pessoa que pratica tal delito se aproveita de chantagens ou força físicas em relação

à vítima.

Se entende por abuso sexual:

Qualquer ato ou contato sexual de adultos com crianças ou adolescente,

com ou sem uso de força ou violência, que pode ocorrer num único ou em

vários episódios, de curta ou longa duração, e que resulta em danos par a

saúde, a sobrevivência ou dignidade da vítima. (EISENSTEIN, 2014, p.ú)

14

3- ABUSO SEXUAL CONTRA A CRIANÇA

3.1. DIFERENÇA DE CRIANÇA E ADOLESCENTE

A diferença entre criança e adolescente para ser algo de muita clareza, e

que não traz muita dúvida quando pergunta, mas está diferença traz um série de re-

flexões. Quando se pergunta de uma forma rápida o que é ser criança? A resposta é

simples, é um mundo onde não existe preocupações. Entretanto a concepção de

adolescência é aquela fase de descoberta, aonde existe uma certa rebeldia.

Quando analisado de forma mais profunda a diferença de criança e adoles-

cente não esta apenas no momento em que cada um está vivendo, conforme nos

mostra o Art.2°, caput do ECA: “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a

pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e de-

zoito anos de idade.”.

Portanto, podem ser observados vários conceitos para a criança e adoles-

cente, o qual é analisado por pontos de vista diferentes.

Os dicionários da língua portuguesa registram a palavra infância como o pe-

ríodo de crescimento que vai do nascimento até o ingresso na puberdade, por volta

dos doze anos de idade. Segundo a Convenção sobre os Direitos da Criança, apro-

vada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, em novembro de 1989, criança são

todas as pessoas menores de dezoito anos de idade.

3.2 DIFERENÇA DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL E ESTUPRO

O próprio artigo 213, caput, da Lei 2848/40, define o que é estupro “cons-

tranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a

praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”.

O estupro é integrado por 4 elementos, os quais são: constrangimento de-

corrente da violência física ou grave ameaça; cometido para qualquer pessoa, seja

do sexo feminino ou masculino; ter conjunção carnal; fazer com que a vítima prati-

que ou permita que com ela se pratique qualquer ato libidinoso. O estupro é consi-

derado um crime hediondo, conforme o art. 1°, V da Lei 8072/90.

15

Trata-se de um tipo de constrangimento ilegal imposto a alguém, homem ou

mulher, visando à satisfação de um desejo sexual (libido). É crime definido como

hediondo em quaisquer de suas formas, isto é, simples e qualificado, consumado e

tentado.

“O estupro é o tipo penal fundamental, relativamente aos demais crimes

contra a liberdade sexual (assédio etc.), que são acessórios, razão pela qual ocor-

rência desses últimos pressupõe a não incidência do tipo principal.” (QUEIROZ,

2011, p. ú)

A vulnerabilidade esta relacionada com as pessoas que não tem nenhum

tipo de aptidão psicológica para compreender o ato sexual, ou não possuem condi-

ções para manifestar o desejo da prática do mesmo.

O estupro de vulnerável é aquele cometido por qualquer pessoa, tendo como

vítima aquela que não pode oferecer nenhum tipo de resistência, decorrente de sua

idade (menor de 14 anos), estado físico ou mental, conforme o art. 217 –A do Códi-

go Penal :

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor

de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1º

Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com al-

guém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário

discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não

pode oferecer resistência. § 2º Vetado, § 3º Se da conduta resulta lesão

corporal de natureza grave: Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. §

4º Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta)

anos.

“ Vale observar que não há qualquer parâmetro justificativo para a escolha

em tal faixa etária, sendo tão somente uma idade escolhida pelo legislador

para sinalizar o marco divisório dos menores que padecem de vício de von-

tade, a ponto de serem reconhecidos pelo status de vulneráveis, daqueles

que possam vivenciar práticas sexuais sem impedimentos. Verifica-se, pois,

que a definição de patamar etário para a caracterização da vulnerabilidade

é baseado numa ficção jurídica, que nem sempre encontrará respaldo na

realidade do caso concreto, notadamente quando se leva em consideração

o acentuado desenvolvimento dos meios de comunicação e a propagação

de informações, que acelera o desenvolvimento intelectual e capacidade

cognitiva das crianças e adolescentes.” (NUCCI, 2010, p.395)

16

4- CRIANÇA COMO SUJEITO DE DIREITO

A mudança de paradigmas, no que tange aos direitos da criança operada no

Brasil, a partir da Constituição Federal de 1988, reflete-se em todas as áreas do co-

nhecimento. Com a vigência do Estatuto da Criança e do Adolescente, em

1990, a sociedade, como um todo, assim como o sistema de Justiça Infanto-

Juvenil, necessitou reestruturar-se a fim de atender as novas normas, embasadas

no princípio de que a criança é pessoa em desenvolvimento, é sujeito de direi-

tos e é prioridade absoluta.

4.1. CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Ate a CF a criança não era considerada como um sujeito de direito, pois a

mesma tinha uma fase peculiar, ou seja, ainda estava em desenvolvimento e por tal

motivo não era necessário a prioridade absoluta.

Somente em 1988 que a legislação se modernizou, e em acordo com Con-

venção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, que ocorreu a defesa

daqueles que ainda não tinham 18 anos.

O art. 227 da Constituição Federal, também esta relacionado com a proteção

á criança e adolescente:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao ado-

lescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à a-

limentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à

dignidade, ao respeito, á liberdade e à convivência familiar e comunitária,

além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, ex-

ploração, violência, crueldade e opressão.

Pode ser verificado que o art. 227 da CF, tem significado de “movimento

mais amplo de melhoria, ou seja, de reforma da vida social no que diz respeito à

promoção, defesa e atendimento dos direitos da infância e da juventude” (CURY,

SILVA e MENDEZ,1992, p. 38) .

17

4.2. CÓDIGO PENAL

O Projeto de Lei do Senado nº 253, em 2004, a partir de uma iniciativa da

CPMI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que introduziu a nova Lei

12.015/09, com foco de proteção do Estado a estes valores.

“Por ocasião desta nova Lei, foi introduzido um novo tipo penal em nosso

ordenamento jurídico, a figura típica do art. 217-A do Código Penal, o Estupro de

Vulnerável, (...) com enfoque no sujeito passivo menor de 14 anos.”

(RODRIGUES;CARDOSO, 2014, p. 1)

Esta reforma do Código Penal, teve como destaque a vulnerabilidade, não

somente das crianças ou adolescente, mas para aquela pessoa que, por enfermida-

de ou doença mental não possui discernimento para prática do ato sexual.

O que ocorre com o novo tipo penal é que não exige que o crime proceda

mediante violência real ou grave ameaça, não se trata aqui de presunção de violên-

cia, nem relativa, nem absoluta, mas sim de "objetividade fática", isto é, basta que a

vítima seja menor de 14 anos para que se configure o crime, mesmo que não haja

violência, real ou ficta.

(...) surge em nosso ordenamento jurídico penal, fruto da Lei nº 12.015, de 7

de agosto de 2009, o delito que se convencionou denominar de estupro de

vulnerável, justamente para identificar a situação de vulnerabilidade que se

encontra a vítima. Agora, não poderão os Tribunais entender de outra forma

quando a vítima do ato sexual for alguém menor de 14 (quatorze) anos.

(GRECO, 2009, p 65.)

4.3. ESTATUTO DA CRIANÇA E ADOLESCENTE

O estatuto da criança e adolescente, trouxe capítulos que definem os crimes

contra a criança e o adolescente, sem que estes tragam prejuízos a legislação pe-

nal.

A legislação passa pela idéia de que a criança ou adolescente que sofreram

violência sexual, não devem ser visto apenas como pessoas em desenvolvimento,

18

mas que as mesma necessitam de uma tutela jurídico-legal, e precisam ser tidas

como titulares de direito, cuja a proteção ocorre de toda a sociedade.

“Além dos direitos fundamentais da pessoa humana, goza a criança e o ado-

lescente do direito subjetivo de desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e

social, preservando-se sua liberdade e dignidade”. (ISHIDA, 3° Ed, p.28)

Conforme o art. 5° do Estatuto da Criança e Adolescente, explica que, “ne-

nhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligencia, discri-

minação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei

qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.”

19

5- VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR

5.1. CONCEITO

A violência intrafamiliar, ocorre dentro do âmbito familiar, entre quaisquer

membros da família, aonde a mesma pode ser de cunho sexual, físico ou psicológi-

co.

“A violência intrafamiliar pode ser compreendida como qualquer ação ou o-

missão que resulte em dano físico, sexual, emocional, social ou patrimonial de um

ser humano, onde exista vínculo familiar e íntimo entre a vítima e seu agressor.”

(CARAVANTES, 2000, p.229) .

Ainda que a violência com visibilidade seja a que ocorre fora de casa, o lar

continua sendo a maior fonte de violência.

O autor Guerra afirmar que a violência intrafamiliar contra a criança é repre-

sentada como:

Representa todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsá-

veis contra crianças e adolescentes que – sendo capaz de causar da-

no físico, sexual e/ou psicológico à vítima – implica, de um lado, uma

transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, uma coisifi-

cação da infância, isto é, uma negação do direito que crianças e ado-

lescentes têm de ser tratados como sujeitos e pessoas em condição

peculiar de desenvolvimento. (GUERRA, 1998, p. 262)

Configura-se como todo ato ou jogo sexual,relação heterossexual ou ho-

mossexual entre um ou mais adultos e uma criança ou adolescente, tendo por finali-

dade estimular sexualmente esta criança ou adolescente ou utilizá-la para obter

uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou de outra pessoa .

5.2 MÉTODOS UTILIZADOS

O estupro de vulnerável envolve a sedução, coação e poder do mais forte

com a criança, ocorrendo uma desigualdade. O mesmo muita das vezes é praticado

20

sem o uso da força e acaba não deixando marcas, e por este motivo a sua compro-

vação acaba se tornando difícil. O estupro pode ser feito de várias formas, as quais

envolvem contato sexual com ou sem penetração a atos que acabam não utilizando

o contato sexual.

O abuso sexual supõe uma disfunção em três níveis: o poder exercido pelo

grande (forte) sobre o pequeno (fraco); a confiança que o pequeno (dependente)

tem no grande (protetor); e o uso delinqüente da sexualidade, ou seja, o atentado ao

direito que todo indivíduo tem de propriedade sobre seu corpo (Gabel, 1997, p.10)

De acordo com Evelyn Eisentein, em seu artigo “Quebrando o Silencio sobre

o abuso sexual”, a mesma relata métodos e meios de violência sexual:

O abuso pode se manifestar através de maus tratos, exploração sexual ou

comercial, molestamento, exibicionismos, manipulação, masturbação,

estupro, contatos oro genitais, inserção de objetos ou penetração vaginal

ou retal, quando a vítima é forçada por medo, ameaças ou violência física.

Muitas vezes, a criança ou o adolescente é intoxicado com medicamentos

psicoativos, anestésicos, drogas ou bebidas alcoólicas, e pode ficar semi-

consciente ou em estado de estupor, ocorrendo dissociações psicoativas e

desintegradoras, com traumas agudos, que poderão se tornar sintomas crô-

nicos de problemas clínicos, com dificuldades de adaptação psicossoci-

al.( EISENSTEIN, 2014, p.ú)

Maria Amélia Azevedo e Viviane Nogueira de Azevedo Guerra, também rela-

tam no livro “Pele de Asno Não é só História”, a metodologia que é empregada em

uma criança que sofre violência sexual:

Este fenômeno estabelece no seio familiar um complô de silêncio. Isto por-

que a vítima costuma receber as mais diversas ameaças (de morte para si

ou outros familiares, de espancamento, de internação em instituição etc.)

por parte do agressor, como uma forma de intimidação para que não revele

o sucedido. Além das ameaças, o agressor a faz, muitas vezes, sentir-se

culpada, envergonhada como se ela houvesse provocado o fenômeno, dan-

do-lhe a impressão de que será estigmatizada à medida que revele os fatos.

Muitas vezes a vítima rompe a barreira do silêncio, mas defronta-se com o

descrédito dos adultos quanto á sua palavra. (AZEVEDO; GUERRA, 1988)

21

6- CHEGADA DA CRIANÇA AO SISTEMA JUDICIÁRIO

Os casos de crianças que sofreram violência sexual intrafamiliar, acaba

chegando na justiça através do Conselho Tutelar, da Delegacia de Policia e nas Va-

ras de Família, através das disputas que envolvem guarda, visitas ou destituição do

poder familiar.

Sempre que existir algum tipo de noticia que constitua qualquer tipo de infra-

ção contra os direitos da criança ou adolescente, e que seja necessário a suspensão

ou destituição do poder familiar, o Conselho Tutelar é acionado e o mesmo encami-

nhará ou representará ao promotor de Justiça. As informações estando de posse do

Ministério público, o mesmo irá analisar a situação e adorá as medidas legais que

serão cabíveis.

A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança (Decreto n°

99.710/1990), em seu art. 31, explica que:

“Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições pú-

blicas ou privadas de bem estar social, tribunais, autoridades administrativas ou ór-

gãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o interesse maior da criança.”

Na prática existem muitas dificuldades para um profissional de direito conse-

guir identificar qual será o melhor interesse para a criança, pois como Fonseca ex-

plica, que existe muita:

Prova mal formada, prova mal produzida, prova precária, em que, mesmo assim, ajuíza-se temerariamente a ação de destituição do pátrio poder, como se esta fosse a cura para todos os males da criação e da má orienta-ção dos pais. (Fonseca, 2000, p. 10).

O abuso sexual infantil, acaba gerando muita dúvida nas equipes de saúde e

nas varas da família, por causa das dúvidas sobre a veracidade ou não denuncia,

Tendo em conta que se trata de uma situação difícil de lidar, pois muitos dos profis-

sionais não têm treinamento adequado para esses casos, outro problemas é que

não há recursos institucionais para dar apoio às vítimas e/ou profissionais que as-

sumem o risco de levar adiante a denúncia, e o principal problemas e que muitas

22

vezes a vítima, diante do dilema de denunciar e enfrentar as conseqüências do seu

ato, prefere ficar em silencio ou mesmo retirar a denúncia já feita, diante da pressão

e da falta de apoio familiar, deixando os profissionais envolvidos desapontados e

impotentes diante da situação.

A chegada da criança no sistema judiciário decorre da revelação, ou seja, a

criança precisa contar para alguém sobre o abuso.

Existem fases para a criança revelar o abuso sexual sofrido, como cita os

autores Maria da Graça Saldanha Padilha e Ivan Xavier Vianna Fillho, no capítulo XI

com o tema Abuso Sexual: A violência Sexual Contra Vulneráveis:

A revelação de abuso sexual tem algumas características que podem auxili-

ar avaliadores e operadores do direito em suas decisões. Por exemplo, De

Voe e Faller (1999) apontam que a revelação pode ser um evento singu-

lar, no qual uma única tentativa (uma entrevista) pode ser suficiente

para a revelação. Ou que pode ocorrer como um processo, em quatro fases:

Negação, Revelação, Retração, Reafirmação. Nesse caso, a criança

pode avançar e retroceder em seu relato várias vezes, dependendo das

condições que se apresentam à sua volta. Por exemplo, a criança pode

estar residindo com o abusador, estar ainda sob a influência deste e de

suas ameaças, o que seria um fator a inibir seu comportamento de revelar.

Ou pode ocorrer que familiares não agressores não acreditaram na

criança, inibindo-a igualmente de fazer revelações futuras. A forma como a

criança é entrevistada também concorre para que suas respostas sejam ini-

bidas. A criança que é entrevistada diversas vezes por diversos profissio-

nais e ainda inquirida por operadores do direito (defensores,

promotores, juízes), de forma repetitiva, pode entrar num processo de recu-

sa de dar respostas, em função do desconforto que tal situação gera para a

criança. (PADILHA; FILHO, 2016, Cap. XI)

23

7- CONSEQUÊNCIA DO E STUPRO PARA A CRIANÇA

Todas as formas de violência contra a criança acabam trazendo conseqüên-

cias graves para o desenvolvimento. Mas em relação ao estupro, este acaba sendo

difícil de identificar, pois existe um medo da criança em se passar por mentirosa e

ser castigada por tal ato.

Como fala Tilman FURNISS, no livro Abuso Sexual da Criança: uma a-

bordagem multidisciplinar, manejo, terapia e intervenção legal integrados:

“permanece um segredo de família, até mesmo depois de uma clara

revelação, e inclusive quando as ameaças legais e estatutárias há

muito tempo já foram removidas; este é o resultado da negação, não da

mentira; a mentira relaciona-se ao conceito legal de prova, a negação per-

tence ao conceito psicológico de crença e assunção da autoria” (FURNISS,

1993, p. 31)

Esta negação acaba sendo utilizada como um meio de defesa para toda a

família, tanto para aquele que sofreu o abuso, como para o abusador.

O pai pode utilizar a negação por considerar o incesto como educação se-

xual para sua filha. A mãe é incapaz de reconhecer e processar os óbvios

sinais de incesto, porque isto colocaria em risco seu relacionamento com o

marido. A filha utiliza a negação e a constrição de afeto para diversos pro-

pósitos: como proteção contra a vergonha e a culpa, para obscurecer

a consciência da perversão do pai e preservar a família intacta (GREEN,

1995, p. 1033).

O abuso sexual é algo muito complexo e com difícil entendimento, para to-

dos os envolvidos. A denuncia do caso se torna mais difícil para a criança e para a

família, pois vão estar relatando algo que acontece dentro de sua casa. Para os pro-

fissionais que trabalham para solucionar o caso, também é considerado algo difícil,

pois dente dos problemas, muita das vezes não sabe como agir.

Muitas vezes, a criança, decorrente de violência, adquire de forma indireta

traumas que podem lhe acompanhar para o resto de suas vidas. Essas conseqüên-

24

cias são analisadas pela a autora Maria de Fátima Araújo, em seu artigo “Violência e

Abuso Sexual na Família”:

Tais conseqüências estão diretamente relacionadas a fatores como: idade

da criança e duração do abuso; condições em que ocorre, envolvendo vio-

lência ou ameaças; grau de relacionamento com o abusador; e ausência de

figuras parentais protetoras. A revelação do abuso sexual produz uma crise

imediata nas famílias e na rede de profissionais. A complexidade dos pro-

cessos envolvidos exige uma abordagem multidisciplinar que integre os três

tipos de intervenção: punitiva, protetora e terapêutica, como propõe Furniss

( 1993). Integrar essas ações de forma a não causar maiores danos à crian-

ça, diante da situação de exposição e rupturas desencadeadas pela situa-

ção da revelação, é o grande desafio dos profissionais. O trabalho de

atendimento à família, vítimas e agressores, é fundamental. Devido à enor-

me carga de ansiedade mobilizada nessas situações, freqüentemente a fa-

mília tenta fugir do atendimento, sendo, muitas vezes, necessário um apoio

legal para mantê-la em acompanhamento. (ARAÚJO, 2002, p.6)

A criança vive uma situação traumática e conflituosa, permeada por diferen-

tes sentimentos onde se misturam medo, raiva, prazer, culpa e desamparo. Tem rai-

va da mãe por não protegê-la e tem medo de contar, com receio de que não

acreditem nela ou a considerem culpada.

Além das conseqüências já conhecidas, existem outros traumas decorrentes

desta violência, as quais foram estudas pelas professoras Cátula Pelisoli, Lara La-

ges Gava e Débora Dalbosco Dell”Aglio, em seu artigo “Psicologia jurídica e tomada

de decisão em situação envolvendo abuso sexual infantil”:

O impacto do abuso sexual sobre a saúde física e psicológica é inquestio-

nável, com evidências de possíveis conseqüências negativas apresen-

tadas em muitos estudos. Uma metanálise demonstrou que, em mais de

nove mil vítimas de abuso investigadas em 37 estudos, transtorno de es-

tresse pós-traumático, depressão, suicídio, promiscuidade sexual e prejuízo

no desempenho acadêmico foram efeitos substanciais do abuso sexual

infantil. Mas ainda outros resultados negativos dessa violência já foram

relatados: sentimentos crônicos de medo e ansiedade, pesadelos, do-

res de estômago e cefaleia, uso de álcool e drogas, problemas de

comportamento, condutas ilegais, sentimentos de culpa, comportamento

hipersexualizado, isolamento, sentimentos de desamparo e ódio, fugas de

25

casa, baixa autoestima e agressividade, dentre outros sintomas.

(PELISOLI; GAVA; AGLIO, 2011, p.326- 327)

E também nos estudos dos autores Maria da Graça Saldanha Padilha e I-

van Xavier Vianna Fillho, em seu artigo “Abuso Sexual: A violência Sexual Contra

Vulneráveis”:

As conseqüências iniciais do abuso sexual na infância, podem ocorrer:

problemas emocionais (fobias, depressão, ansiedade, transtorno de es-

tresse pós-traumático em cerca de 50% das vítimas, sentimento de culpa,

vergonha, raiva, medo, dificuldades para confiar, condutas suicidas,

comportamento autolesivo); problemas cognitivos (dificuldades de aten-

ção e concentração, baixo rendimento acadêmico); problemas de relacio-

namento (isolamento, baixa interação com pares); problemas funcionais (de

sono, com pesadelos, perda de controle de esfíncteres, transtornos alimen-

tares); problemas de conduta (conduta sexualizada, com masturbação com-

pulsiva, imitação de atos sexuais, exibicionismo); conduta disruptiva,

com hostilidade, agressividade, comportamento desafiador e opositor.

(PADILHA; FILHO, 2016, Cap. XI)

Alguns efeitos do abuso sexual podem ser indicadores ou funcionarem

como pistas de que o abuso ocorreu, podendo ser observados no compor-

tamento da criança em vários ambientes ou na escola. Os indicadores ge-

rais são: falta de confiança nos adultos da família; perturbações severas do

sono com medos, pesadelos; isolamento social, viver em um mundo de fan-

tasia; comportamento regressivo, por exemplo, aparecimento súbito de e-

nurese (eliminação involuntária da urina); súbita mudança de humor,

tristeza; mudança de comportamento alimentar; desobediência, tentativas

de chamar a atenção, extrema agitação. Na escola: inabilidade para se con-

centrar; súbita queda no rendimento escolar; esquiva do exame médico es-

colar; relutância em participar de atividades físicas ou de mudar de roupa

para as atividades físicas. Indicadores específicos: Transtorno de Estresse

Pós-Traumático; comportamento sexual atípico, com conhecimento se-

xual inapropriado para a idade; preocupações excessivas com questões se-

xuais e conhecimento precoce de comportamento sexual adulto;

envolver-se, principalmente por meio de coerção, em brincadeiras se-

xuais com colegas; ser sexualmente provocante com os adultos.

(PADILHA; FILHO, 2016, Cap. XI).

Essas conseqüências que foram citadas, são problemas que possivelmente

decorrem do abuso sexual, não necessariamente que todas essas devem ser encon-

tradas nas vítimas.

26

8- ESTATÍSTICA

Quando se fala em abuso sexual intrafamiliar, aproximadamente 80% dos

abusos são praticados por membros da família ou por pessoa conhecida confiável.

Os parentes que tem a maior probabilidade de estar envolvido é o pai, conforme a-

ponta a pesquisa feita por Saffioti, no Município de São Paulo: 71,5% dos agresso-

res eram pais biológicos e 11,1%, padrastos. Portanto, pai e padrasto foram

responsáveis por 82,6% do total de abusos sexuais (Saffioti, 1997, p.183).

Conforme o estudo do artigo” Psicologia jurídica e tomada de decisão em si-

tuação envolvendo abuso sexual infantil”, das professoras Cátula Pelisoli, Lara La-

ges Gava e Débora Dalbosco Dell”Aglio, as quais fazem uma análise sobre o abuso

sexual intrafamiliar ao redor do mundo:

Apesar de parecer haver uma tendência de diminuição do abuso sexual

infantil (Finkelhor, 2009; McGee, Garavan, Byrne, O’Higgins & Conroy,

2010), esse fenômeno permanece sendo relativamente comum ao re-

dor do mundo. Na Irlanda, por exemplo, foi conduzido um survey que

demonstrou que quase um quarto dos homens (24%) e quase um ter-

ço das mulheres (30%) sofreram algum grau de abuso sexual na in-

fância (McGee, Garavan, Byrne, O’Higgins & Conroy, 2010). Na Austrália,

alta prevalência foi também encontrada em uma grande amostra da po-

pulação geral: 14% das mulheres e 7% dos homens relataram ter sofri-

do alguma forma de abuso sexual na infância (Moore, Romaniuk,

Olsson, Jayasinghe, Carlin & Patton, 2010). Na África, a situação é ainda

mais dramática. Além de ser considerada como uma arma de guerra, a vio-

lência sexual também ocorre porque muitos acreditam no equívoco de

que ter relações sexuais com uma virgem significa a cura do HIV/AIDS (In-

ternational Committee of Red Cross– ICRC, 2006, 2008; WHO, 2004).No

Brasil, o Serviço Nacional de Denúncias pelo Telefone, coordenado pela

Secretaria Especial dos Direitos Humanos do governo federal, Denúncia

Nacional, o Disque 100, completou seis anos de atendimento, com

mais de dois milhões de atendimentos e com cem mil denúncias re-

gistradas (Brasil, 2009). A procura pelo serviço tem aumentado a cada ano,

tendo fechado o primeiro semestre de 2009com 94 denúncias por dia.

Desde o início dos atendimentos, em maio de 2003, os números to-

tais indicam a região nordeste do país como a que mais denunciou e

a região norte como a que menos denunciou. Entretanto, proporcio-

nalmente, por número de habitantes, é a região centro-oeste que ofe-

rece a maior parte das denúncias. Do total de denúncias recebidas até

maio de 2009, 31% referiam-se à violência sexual (58,5% de abuso se-

xual; 39,7% deexploração sexual; 1,6% de pornografia e 0,7% de tráfi-

co de crianças e adolescentes). No que se refere aos dados de

27

gênero, 81% das vítimas de violência sexual eram do sexo feminino

(Brasil, 2009). Somente em 2010, de janeiro a junho, o Disque Denún-

cia realizou mais de 70 mil atendimentos, recebendo e encaminhando

mais de 13 mil denúncias de todo o país, com uma média de 403

atendimentos e 73 denúncias ao dia. Cerca de 36% das denúncias

desse ano referem-se a violência sexual, com pessoas do sexo feminino

preponderantemente sendo as vítimas mais comuns (59%) (Brasil, 2010).

(PELISOLI; GAVA; AGLIO, 2011, p.328)

O abuso sexual intrafamiliar contra menina, é algo característico não só no

Brasil,mas ao redor do mundo, com nos mostra Stoltenborgh, Jzendoorn, Euser, &

Bakermans-Kranenburg, no periódico “Child Maltreatment “, que foi publicado em

2011:

Os pesquisadores se utilizaram de um método estatístico denominado me-

ta-análise para analisar os dados obtidos com 331 amostras independentes,

ao longo de 26 anos, num total de 9 911 748 participantes de países de to-

dos os continentes. A conclusão a que se chegou é que a prevalência global

do abuso sexual é estimada em 11,8% da população mundial, sendo a pre-

valência para meninas de 18% e para meninos de 7,6%. Os autores levan-

taram a hipótese de que os meninos podem ser mais relutantes em revelar

o abuso (Stoltenborgh, Jzendoorn, Euser, & Bakermans-Kranenburg

2011). (PADILHA; FILHO, 2016, Cap. XI).

Realizado uma análise nos anos de 2014, 2015 e inicio de 2016, no Núcleo

de Proteção a Criança e Adolescente Vitimas de Crimes (NUCRIA) em Curitiba, po-

de ser observado que 85,23% dos casos ocorrem com meninas, sendo que 86,57%

são abusadas por pessoas próximas (Pais, padrastos, irmãos, primos, tios, namora-

dos, avós , amigos de família e vizinhos).

Além de um aspecto global as maiores vitimas serem meninas, entre cinco e

dez anos, e para relatar o abuso sexual geralmente a pessoa mais procurada e a

mãe, conforme o estudo de Habigzang e Koller .

28

9 -UNIÃO DA PSICOLOGIA E DO DIREITO PARA COMPREENDER E

COMBATER O ESTUPRO DE VULNERAVEL

A união do direito e da psicologia como forma de prevenir, intermediar e re-

solver as questões de abuso sexual é muito importante. Tendo em vista que as víti-

mas terão acesso aos seus direitos de proteção e saúde. A junção de vários

profissionais das áreas faz com que a vitima se sinta protegida. Como nos relata o

artigo “Psicologia jurídica e tomada de decisão em situação envolvendo abuso sexu-

al infantil”, das professoras Cátula Pelisoli, Lara Lages Gava e Débora Dalbosco

Dell”Aglio e Centro Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infância do

ABCD, 2009:

No que diz respeito ao abuso sexual contra crianças e adolescentes, o

diálogo entre psicologia e direito é de fundamental importância. É a partir

desse diálogo e das relações que se estabelecem entre essas duas disci-

plinas que muitas vítimas terão acesso à garantia dos seus direitos de

proteção e de saúde. O problema da violência sexual exige a intersec-

ção entre diferentes disciplinas e o trabalho conjugado dos profissio-

nais, na forma da interdisciplinaridade. Diante de uma alegação de abuso

sexual, a criança ou adolescente supostamente vítima deve passar por

diferentes etapas: investigação da suspeita, decisão da agência que rece-

be a denúncia de ser ou não um caso de abuso, medidas de proteção

para a criança e ação legal. O tema da violência sexual, por sua

complexidade, perpassa diferentes áreas e disciplinas: a vítima necessita

de atenção médica, psicossocial, jurídica e, também, dos profissionais

da educação. (Centro Regional de Atenção aos Maus-Tratos na Infân-

cia do ABCD, 2009. Ed.2).

A psicologia, por sua vez,tem atuado neste tema a partir de diferen-

tes vieses teóricos assumidos pelos profissionais e também de diferen-

tes contextos onde estes se inserem. Por sua diversidade teórica e

prática, a psicologia não apresenta ao problema do abuso sexual infantil

uma conduta única, padrão ou alguma perspectiva consensual, mas um

leque de possibilidades de entendimento do fenômeno e também de

abordá-lo junto à criança vítima e sua família. (PELISOLI; GAVA; AGLIO,

2011, p.328)

Nos últimos anos, houve um avanço considerável das relações entre a

psicologia e o sistema de justiça. Especificamente quando se trata de

crimes em que a vítima é criança ou adolescente e em que não há, muitas

vezes, evidências físicas que comprovem o fato, os operadores da lei

29

vêm demandando questionamentos para a psicologia. (PELISOLI; GAVA;

AGLIO, 2011, p.329)

O abuso sexual é um problema que envolve diferentes disciplinas, e,

portanto, faz-se necessária a interlocução entre os diversos campos do

saber, especialmente da psicologia e do direito. Nos casos em que a psico-

logia é chamada ao contexto judiciário, a obtenção de informações por meio

da palavra da vítima tem o foco nas situações que ocorreram, que é exata-

mente o que faz diferença para a resolução do processo judicial (Rovinski

& Stein, 2009). Nas situações de abuso sexual infantil, a importância

da psicologia se faz muito mais no sentido de confirmar a ocorrência da

violência do que avaliar os impactos sofridos pela criança ou adoles-

cente. (PELISOLI; GAVA; AGLIO, 2011, p.329)

30

10- ENTEDIMENTO JURISPRUDENCIAL

Com inserção da Lei 12.015 de 2009, que atualizou o Código Penal, o

STF entendeu que em determinado momento, a prática do ato sexual com meno-

res de quatorze (14) anos seria considerado como presunção absoluta, sendo in-

diferente o consentimento ou vida sexual da vitima, mas nem sempre isto foi

assim. Antes desse entendimento, o ato sexual com menores de quatorze (14)

anos, era considerado presunção relativa, onde se levava em consideração o fato

como um todo, como por exemplo, se a “vítima” possuía uma vida sexual ativa ou

se a mesma consentiu com o ato sexual.

Para Regis Prado, "não se deve aceitar a presunção de violência como fonte

de certeza criminal, pois, o mesmo pode promover o desprezo pela prova e não re-

velar a sua verdadeira natureza”. (PRADO, 2006, p. 246).

Nesse sentido podemos observar que no auto do Rio Grande do Sul, n°

70068904101, o consentimento da vítima foi levado em consideração, para ab-

solver o acusado:

Processo:ACR 70068904101 RS Relator (a): Lizete Andreis Sebben Julgamento: 22/06/2016 Órgão Julgador:Quinta Câmara Criminal Publicação:Diário da Justiça do dia 29/06/2016 APELAÇÃO CRIMINAL. ART. 217-A DO CÓDIGO PENAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA PELA IDADE DA VÍTIMA. RELATIVIZAÇÃO DIANTE DAS CIRCUNSTANCIAS DO CASO CONCRETO. RELAÇÕES SEXUAIS CONSENTIDAS. NAMORO PÚBLICO. ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE. SENTENÇA REFORMADA. No caso concreto, a prova produzida tanto na fase inquisitorial quanto na judicial carecem de certeza e segurança quanto ao cometimento do fato tí-pico previsto no art. 217-A do CP. Na espécie, a relação sexual existente entre vítima (então com 13 anos de idade) e réu (com 19 anos de idade) era consentida, já que eles tinham um relacionamento amoroso na época dos fatos, devendo, assim, a situação de vulnerabilidade, presumida pela idade, ser relativizada, não podendo o acusado ser responsabilizado por uma con-duta advinda de união de vontades e desígnios. Sentença reformada. Ab-solvição impositiva. RECURSO PROVIDO. DETERMINADA A EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ DE SOLTURA NA ORIGEM.

Na jurisprudência, podemos ver que muitos tribunais estaduais afastavam a

presunção de violência nas hipóteses em que a não maior de 14 anos se prostituía,

31

já havia mantido relações sexuais com outros indivíduos ou se mostrava experiente

em matéria sexual. Nesse caminho podemos ver que o Tribunal de Justiça do Esta-

do do Rio de Janeiro nos apresenta duas apelações criminais, sendo a primeira rela-

tada pela Des. Maria Helena Salcedo, da 5ª Câmara Criminal, com numero de

Apelação Criminal n° 0001210-91.2005.8.19.0039 (DJ 18/12/2008), onde asseverou

que a evolução dos costumes, bem como os dados constantes dos autos a indicar o

consentimento e a consciência dos atos sexuais praticados pela adolescente, carac-

terizam a presunção de violência estabelecida pelo art. 224, "a" do Código Penal,

como relativa. Afirmou ainda que só se justifica a punição quando apurado que a

menor era completamente ignorante em matéria sexual.

TJ/PR – 5/10/2016 10:52 – Segunda Instância – Autuado em 16/04/2008 Classe: APELAÇÃO Assunto: DIREITO PENAL Órgão Julgador: QUINTA CARAMA CRIMINAL Relator: DES. PAULO DE TARSO NEVES Revisor: DES. MARIA HELENA SALCEDO MAGALHAES Processo originário: 001210-91.2005.8.19.0039 (2005.039.001193-8) RIO DE JANEIRO PARACAMBI VARA ÚNICA FASE ATUAL: Baixa Definitiva para DIVERSOS Sem interposição de recur-so. Data do Movimento: 13/04/2009 11:00 Destinatário: DIVERSOS Local Responsável: DGJUR-DIVISÃO DE PROTOCOLO (2ª INSTANCIA) Destino:DIVERSOS Data do Movimento: 18/12/2008 11:00 Data da Sessão: 18/12/2008 13:00 Antecipação da Tutela: Não Liminar: Não Presidente: DES. MARIA HELENA SALCEDO MAGALHAES Relator: DES. PAULO DE TARSO NEVES Designado p/ Acórdão: DES. MARIA HELENA SALCEDO MAGALHAES Decisão 2: REFORMADA A(O) SETENÇA (DESPACHO). Texto: POR MAIORIA, DEU-SE PROVIMENTO AO RECURSO DEFENSIVO PARA ABSOLVER O REU, COM FULCRO NO ARTIGO 386, VII, DO CODIGO DE PROCESSO PENAL, RESTANDO, TAMBEM POR MAIORIA, PREJUDICADO O RECURSO, MINISTERIAL; VENCIDO O EMINENTE DESEMBARGADOR RELATOR, QUE NEGAVA PROVIMENTO AO APELO DEFENSIVO E DAVA PROVIMENTO AO RECURSO DO MINISTERIO PUBLICO PARA O ACORDÃO A EMINENTE DESEMBARGADOR REVISORA.

32

E também na Apelação Criminal n° 0005990-02.2005.8.19.0063 (DJ

11/04/2006), o relator, o Des. Marco Aurélio Bellizze, da 3ª Câmara Criminal, votou

pela absolvição do réu, acusado de estuprar vítimas menores de 14 anos, pelo fato

de que as menores já não eram mais virgens, se prostituíam e faziam uso de entor-

pecentes.

TJ/RJ - 05/10/2016 10:59:28 ARQUIVADO EM DEFINITIVO - MAÇO Nº 2394, em 10/08/2011 Comarca de Três Rios - 2ª Vara (Cartório da 2ª Vara) Endereço: Avenida Tenente Eneas Torno 42 Fórum Cidade: Três Rios Assunto: Estupro (Art. 213 - CP), c/c art. 224, "a" N/T Concurso; Material (Art. 69 – Cp) Classe: Ação Penal - Procedimento Ordinário Advogado(s): RJ146525 - ROSSIMAR CAIAFFA / RJ095482 - ANDRE FERREIRA PEREIRA Tipo do Movimento: Arquivamento Data de Arquivamento: 10/08/2011 Tipo de Arquivamento: Definitivo Março: 2394 Maço recebido pelo arquivo em: 25/08/2011 Local de arquivamento: Arquivo Regional de Itaipava Processo(s) no Tribunal de justiça: 0005990-02.2005.8.19.0063

(2006.050.01127)

Em contrapartida após o entendimento jurisprudencial do STJ, podemos

observar que independente do consentimento da vítima, sua experiência sexual

anterior ou existência de um relacionamento amoroso entre a vítima e o acusado,

não irá ser preponderante para a sua absolvição ou para não caracterização do

crime. Como podemos observar nos autos n° 1480881, onde o consentimento da

vítima foi irrelevante para a decisão:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSAMENTO SOB O RITO DO ART. 543-C DO CPC. RECURSO REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. VÍTIMA MENOR DE 14 ANOS. FATO POSTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI 12.015/09. CONSENTIMENTO DA VÍTIMA. IRRELEVÂNCIA. ADEQUAÇÃO SOCIAL. REJEIÇÃO. PROTEÇÃO LEGAL E CONSTITUCIONAL DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça assentou o entendimento de que, sob a normativa anterior à Lei nº 12.015/09, era absoluta a presunção de vi-olência no estupro e no atentado violento ao pudor (referida na antiga reda-ção do art. 224, "a", do CPB), quando a vítima não fosse maior de 14 anos de idade, ainda que esta anuísse voluntariamente ao ato sexual (EREsp 762.044/SP, Rel. Min. Nilson Naves, Rel. para o acórdão Ministro Felix Fis-cher, 3ª Seção, DJe 14/4/2010). 2. No caso sob exame, já sob a vigência da

33

mencionada lei, o recorrido manteve inúmeras relações sexuais com a o-fendida, quando esta ainda era uma criança com 11 anos de idade, sendo certo, ainda, que mantinham um namoro, com troca de beijos e abraços, desde quando a ofendida contava 8 anos. 3. Os fundamentos empregados no acórdão impugnado para absolver o recorrido seguiram um padrão de comportamento tipicamente patriarcal e sexista, amiúde observado em pro-cessos por crimes dessa natureza, nos quais o julgamento recai inicialmen-te sobre a vítima da ação delitiva, para, somente a partir daí, julgar-se o réu. Jurisprudência/STJ - Acórdãos Página 1 de 5 4. A vítima foi etiquetada pelo "seu grau de discernimento", como segura e informada sobre os assuntos da sexualidade, que "nunca manteve relação sexual com o acusado sem a sua vontade". Justificou-se, enfim, a conduta do réu pelo "discernimento da vítima acerca dos fatos e o seu consentimento", não se atribuindo qualquer relevo, no acórdão vergastado, sobre o comportamento do réu, um homem de idade, então, superior a 25 anos e que iniciou o namoro - "beijos e abra-ços" - com a ofendida quando esta ainda era uma criança de 8 anos. 5. O exame da história das ideias penais - e, em particular, das opções de políti-ca criminal que deram ensejo às sucessivas normatizações do Direito Penal brasileiro - demonstra que não mais se tolera a provocada e precoce inicia-ção sexual de crianças e adolescentes por adultos que se valem da imaturi-dade da pessoa ainda em formação física e psíquica para satisfazer seus desejos sexuais. 6. De um Estado ausente e de um Direito Penal indiferente à proteção da dignidade sexual de crianças e adolescentes, evoluímos, pau-latinamente, para uma Política Social e Criminal de redobrada preocupação com o saudável crescimento, físico, mental e emocional do componente in-fanto-juvenil de nossa população, preocupação que passou a ser, por co-mando do constituinte (art. 226 da C.R.), compartilhada entre o Estado, a sociedade e a família, com inúmeros reflexos na dogmática penal. 7. A mo-dernidade, a evolução moral dos costumes sociais e o acesso à informação não podem ser vistos como fatores que se contrapõem à natural tendência civilizatória de proteger certos segmentos da população física, biológica, so-cial ou psiquicamente fragilizados. No caso de crianças e adolescentes com idade inferior a 14 anos, o reconhecimento de que são pessoas ainda imatu-ras - em menor ou maior grau - legitima a proteção penal contra todo e qualquer tipo de iniciação sexual precoce a que sejam submetidas por um adulto, dados os riscos imprevisíveis sobre o desenvolvimento futuro de sua personalidade e a impossibilidade de dimensionar as cicatrizes físicas e psíquicas decorrentes de uma decisão que um adolescente ou uma criança de tenra idade ainda não é capaz de livremente tomar. 8. Não afasta a res-ponsabilização penal de autores de crimes a aclamada aceitação social da conduta imputada ao réu por moradores de sua pequena cidade natal, ou mesmo pelos familiares da ofendida, sob pena de permitir-se a sujeição do poder punitivo estatal às regionalidades e diferenças socioculturais existen-tes em um país com dimensões continentais e de tornar írrita a proteção le-gal e constitucional outorgada a específicos segmentos da população. 9. Recurso especial provido, para restabelecer a sentença proferida nos autos da Ação Penal n. 0001476-20.2010.8.0043, em tramitação na Comarca de Buriti dos Lopes/PI, por considerar que o acórdão recorrido contrariou o art. 217-A do Código Penal, assentando-se, sob o rito do Recurso Especial Re-petitivo (art. 543-C do CPC), a seguinte tese: Para a caracterização do cri-me de estupro de vulnerável previsto no art. 217-A, caput, do Código Penal, basta que o agente tenha conjunção carnal ou pratique qualquer ato libidi-noso com pessoa menor de 14 anos. O consentimento da vítima, sua even-tual experiência sexual anterior ou a existência de relacionamento amoroso entre o agente e a vítima não afastam a ocorrência do crime.

34

Doutrinamente, houve quem defendesse a tese da presunção absoluta. Para esses

autores, dentre eles, João Martinelli o qual entende que:

A nova figura justifica-se pela fragilidade das vitimas envolvidas. Entende o legislador que o menor de 14 anos não possui maturidade suficiente para discernir sobre suas escolhas, especialmente quando houver envolvimento sexual. O consentimento da vítima abaixo dos 14 é inválido. O agente, por isso, merece a punição por se aproveitar de sua condição vulnerá-vel.(MARTINELLI, 2014, p.326)

Porem, os superiores tribunais do nosso país sendo eles o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal entenderam que a presunção é absoluta, tendo em vista a apreciação do EREsp n° 688.211/SC (DJ 08/10/2008), a 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, por maioria, decidira que a presunção de violência (art. 224, “a” do CP) tinha caráter absoluto.

EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RESP Nº 688.211 - SC (2007/0227141-6) RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ EMBARGANTE : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL EMBARGADO : LAÉRCIO BIANCO CARNEIRO ADVOGADO : ALTINO LUIZ LEMOS EMENTA EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. CRIME DE ESTUPRO CONTRA MENOR DE CATORZE ANOS. PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA. CARÁTER ABSOLUTO. CONSENTIMENTO DO MENOR. IRRELEVÂNCIA. 1. A violência presumi-da, prevista no art. 224, alínea a, do Código Penal, tem caráter absoluto, a-figurando-se como instrumento legal de proteção à liberdade sexual do menor de 14 (catorze) anos, em razão de sua incapacidade volitiva. 2. O consentimento do menor de 14 (catorze) anos é irrelevante para a formação do tipo penal do estupro ou atentado violento ao pudor, pois a proibição le-gal é no sentido de coibir qualquer prática sexual com pessoa nessa faixa etária. 3. Uma vez que o crime foi praticado com violência presumida, des-cabe aplicar a agravante do art. 61, inciso II, alínea h, do Código Penal, sob pena de indevido bis in idem, porque a menoridade da vítima é circunstân-cia elementar do crime. Precedentes. 4. Embargos de Divergência acolhidos para, cassando o acórdão embargado, bem como o acórdão recorrido, res-tabelecer a sentença condenatória de primeiro grau, mas com a concessão de habeas corpus, de ofício, para excluir da pena imposta ao Réu o aumen-to decorrente da agravante genérica, tornando-a definitiva em 06 (seis) anos de reclusão, em regime semi-aberto.

E no julgamento do HC n° 81.268/DF (DJ 16/11/2001), de relatoria do Min.

Sepúlveda Pertence, os Ministros do Pretório Excelso entenderam que o consenti-

mento da vítima não maior de 14 anos era 8 inválido e, por conseguinte, irrelevante

para tipificar o estupro presumido.

16/10/2001 EMENTÁRIO N° 2052-2 PRIMEIRA TJURMA HABEAS CORPUS N. 81.268- DISTRITO FEDERAL RELATOR: MIN, SEPÚLVEDA PERTENCE PACIENTE: EDILSON JESUS XAVIER DE SOUZA IMPETRANTE: MURILO LIMA DELGADO

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COATOR: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA EMENTA: Crimes sexuais mediante violência ou grava ameaça (C. Pen., arts. 213 e 214): presunção de violência, se a vitima não é maior de 14 anos (C. Pen., art. 224, a): caráter absoluto da presunção de culpabilidade do a-gente, mas de afirmação da incapacidade absoluta da menor até 14 anos para consentir na prática sexual: análise da jurisprudência do STF – após a decisão posteriores de ambas as Turmas (HC 74286, 1° T., 22.10.96, San-ches, RTJ 163/291; HC 75608, 10.02.98, Jobim, DJ 27.03.98): orientação jurisprudencial, entretanto, que não elide a exigência, nos crimes referidos, do dolo do sujeito ativo, erro justificado quanto à idade da vítima pode exclu-ir.

Podemos analisar inúmeras jurisprudências dos Tribunais, todas voltadas sobre a

decisão do STF em considerar menores de 14 (quatorze) anos incapazes de consentir com

o abuso sexual, como nos casos do processo n° RHC 68787 / RJ RECURSO ORDINARIO

EM HABEAS CORPUS 2016/0066979-5; REsp 1582601 / DF RECURSO ESPECIAL

2015/0263721-5 e RHC 65191 / BA RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS

2015/0275369-1, por mais que a sentença levaram a decisões diferentes o caráter absoluto

em nenhum momento foi deixado de lado. Segue a íntegra das jurisprudências:

Processo RHC 68787 / RJ RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 2016/0066979-5 Relator(a) Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ (1158) Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA Data do Julgamento 01/09/2016 Data da Publicação/Fonte DJe 12/09/2016 Ementa RECURSO EM HABEAS CORPUS. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA NA SENTENÇA CONDENATÓRIA. ART. 312 DO CPP. PERICULUM LIBERTATIS. FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE. RECURSO PROVIDO. 1. A jurisprudência desta Corte Superior é firme em assinalar que a determinação de segregar cautelarmente o réu deve efeti-var-se apenas se indicada, em dados concretos dos autos, a necessidade da cautela (periculum libertatis), à luz do disposto no art. 312 do CPP. 2. O Juízo singular, por ocasião da prolação da sentença condenatória, deixou de contextualizar adequadamente a necessidade da prisão preventiva do acusado - que respondeu ao processo em liberdade -, ao mencionar ape-nas a gravidade abstrata e a hediondez do delito pelo qual o recorrente foi condenado e o regime de cumprimento de pena que lhe foi imposto, sem indicar nenhum fato novo - tal como o cometimento de outro delito - para evidenciar o periculum libertatis. 3. Recurso provido para assegurar ao re-corrente o direito de responder à ação penal em liberdade, ressalvada a possibilidade de nova decretação da custódia cautelar se efetivamente de-monstrada a sua necessidade, sem prejuízo de fixação de medida cautelar alternativa, nos termos do art. 319 do CPP. Acórdão Vistos e relatados es-tes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma, por unanimidade, dar provimento Jurisprudência/STJ - Acór-dãos Página 1 de 2 ao recurso ordinário, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro, Maria Thereza de Assis Moura e Sebastião Reis Júnior votaram com o Sr. Minis-tro Relator. Referência Legislativa LEG:FED DEL:003689 ANO:1941 ***** CPP-41 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL ART:00282 PAR:00005 ART:00312 ART:00319 Veja (PRISÃO PROVISÓRIA - GRAVIDADE ABSTRATA DO DELITO - FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA) STJ - HC 335166-PR

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Processo REsp 1582601 / DF RECURSO ESPECIAL 2015/0263721-5 Re-lator(a) Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ (1158) Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA Data do Julgamento 26/04/2016 Data da Publicação/Fonte DJe 02/05/2016 Ementa RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. CONTINUIDADE DELITIVA. PATAMAR DE AUMENTO. NÚMERO DE CRIMES COMETIDOS. SÚMULA N. 7 DO STJ. AFASTAMENTO. FRAÇÃO DE 2/3. IMPOSIÇÃO. RECURSO PROVIDO. 1. Relativamente à exasperação da reprimenda procedida em razão do crime continuado, é imperioso salientar que esta Corte Superior de Justiça possui o entendimento consolidado de que, cuidando-se aumento de pena refe-rente à continuidade delitiva, aplica-se a fração de aumento de 1/6 pela prática de 2 infrações; 1/5, para 3 infrações; 1/4, para 4 infrações; 1/3, para 5 infrações; 1/2, para 6 infrações e 2/3, para 7 ou mais infrações. 2. A Corte de origem, conquanto haja delineado e reconhecido a ocorrência de múlti-plos (e incontáveis) crimes de estupro de vulnerável, entendeu por bem negar a realidade e, na dúvida, impor o patamar mais brando. 3. O julgador está autorizado a majorar a reprimenda na fração máxima pela continuida-de delitiva nas hipóteses em que ficar inconteste que os abusos de nature-za sexual faziam parte da rotina familiar, como no caso. 4. Na espécie, ficou incontroverso, pela moldura fática exposta, que se distanciaram para muito mais de sete o número de vezes em que o recorrido molestou a víti-ma, porquanto o próprio Tribunal de origem salientou a omissão dos famili-ares em revelar os fatos, tendo em vista a influência que ele exercia sobre eles, "o que permitiu que os crimes fossem praticados durante anos, por reiteradas vezes". 5. Recurso especial conhecido e provido, para reconhe-cer a violação Jurisprudência/STJ - Acórdãos Página 1 de 2 do art. 71 do Código Penal e restabelecer a sentença condenatória. Acórdão Vistos e re-latados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Mi-nistros da Sexta Turma, por unanimidade, dar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro, Maria Thereza de Assis Moura e Se-bastião Reis Júnior votaram com o Sr. Ministro Relator. Informações Adi-cionais É possível o conhecimento do recurso especial em que se objetiva o aumento da pena do condenado pelo crime de estupro de vulnerável ante o reconhecimento da continuidade delitiva pelo Tribunal "a quo" na hipóte-se em que as circunstâncias fáticas do crime estão descritas no acórdão recorrido. Isso porque tal análise não enseja o reexame de fatos e provas, uma vez que não há a necessidade de se buscar qualquer outro material probatório acostado aos autos para a aplicação do direito ao caso concreto, razão pela qual não incide o óbice previsto na Súmula 7 do STJ.

Processo RHC 65191 / BA RECURSO ORDINARIO EM HABEAS CORPUS 2015/0275369-1 Relator(a) Ministro JORGE MUSSI (1138) Ór-gão Julgador T5 - QUINTA TURMA Data do Julgamento 16/06/2016 Data da Publicação/Fonte DJe 24/06/2016 Ementa RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ESTUPROS. ÂMBITO DOMÉSTICO. MENORES DE 14 ANOS ENTRE AS VÍTIMAS. PRISÃO PREVENTIVA. SEGREGAÇÃO FUNDADA NO ART. 312 DO CPP. CIRCUNSTÂNCIAS DO DELITO. REPROVABILIDADE ACENTUADA DA CONDUTA. PADRASTO DE UMA DAS VÍTIMAS. SEQUÊNCIA DE EVENTOS CRIMINOSOS. ABUSOS PRATICADOS AO LONGO DE TRÊS ANOS. REITERAÇÃO DELITIVA. PROBABILIDADE CONCRETA. PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA. CONSTRIÇÃO FUNDAMENTADA E NECESSÁRIA. COAÇÃO ILEGAL NÃO EVIDENCIADA. RECLAMO IMPROVIDO. 1. Inexiste constrangimento

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na ordenação da prisão preventiva quando demonstrado, com base em fa-tores concretos, que a segregação se mostra necessária a bem da ordem pública, dada a reprovabilidade excessiva da conduta do agente e suas ter-ríveis consequências, notadamente, no âmbito doméstico e familiar das ví-timas. 2. Caso em que o recorrente está sendo acusado de, no interior de sua residência, ter abusado sexualmente de sua enteada, desde que a menina contava com apenas 12 anos de idade, durante aproximadamente três anos, bem como da sobrinha de sua companheira que tinha 14 (qua-torze) anos de idade à época da violência, havendo notícia, ainda, de outra possível vítima, uma adolescente de 16 (dezesseis) anos de idade, amiga das outras duas ofendidas, sendo certo que os fatos delituosos ocorreram reiteradas vezes e em datas distintas, o que revela a inclinação do agente à criminalidade sexual, demonstrando a real possibilidade de que, solto, volte a delinquir, autorizando a preventiva. Jurisprudência/STJ - Acórdãos Página 1 de 2 3. Recurso ordinário improvido. Acórdão Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Os Srs. Ministros Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik e Felix Fischer votaram com o Sr. Ministro Relator.

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CONCLUSÃO

O presente estudo intencionou favorecer um pouco do conhecimento sobre a

evolução histórica sobre o estupro de vulnerável intrafamiliar, o qual refere-se, a

quem não tem discernimento suficiente para consentir atos sexuais a que são sub-

metidos, esses atos são praticados por pessoas próximas. Para ser considerado es-

tupro de vulnerável a vítima deve ter menos de 14 anos.

A criança não era respeitada, ou seja, a mesma não possui direitos, e não

era criada conforme a sua realidade psicológica, onde a mesma não tinha compre-

ensão das suas fases de desenvolvimento. Contudo se leva a ocorrência de abusos

dentro do seu núcleo familiar, eram consideradas como “mini” adultas, e assim se

cobravam comportamentos que eram incompatíveis com sua fase de desenvolvi-

mento.

O estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) existe para proteger essas ví-

timas, a sociedade reprova esse tipo de abuso, fazem discursos longos sobre a prá-

tica deste ato sexual, mas mesmo assim a cada dia que passa o número de casos

registrados vem aumentando e as crianças acabam se perdendo e se calando devi-

do ao abuso cometido dentro da sua própria casa.

A violência sexual intrafamiliar é algo grave, e merece atenção e diálogos

dentro da família, pois é no núcleo familiar que a violência sexual passa despercebi-

da diante dos conviventes. É na família que as piores histórias são constadas, os

mesmos se omitem e defendem o agressor. A mãe acaba não acreditando que seu

esposo teria coragem de cometer tal ato, e a culpa do estupro acaba caindo sobre a

criança.

É importante estar atendo ao comportamento da criança diante das pessoas

próximas (Pais, irmãos, tios, irmãos, vizinhos e etc.). Se a mesma evita ficar próxima

dessas pessoas, ou expressa algum tipo de medo diante deles, deve existir um aler-

ta nessa situação. Muita das vezes a criança implora para não ficar sozinha com es-

sas pessoas, O silencio da vitima também merece destaque, tendo em vista que a

mesma se cala por medo do seu agressor.

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Um dos ramos mais importante do Direito é a proteção a criança e ao ado-

lescente, não se pode deixar de agir, tendo em vista que a sociedade assume a res-

ponsabilidade de proteger a criança, conforme art. 227 da Constituição Federal.

Medidas imediatas devem ser tomadas, como por exemplo, campanhas de

divulgação sobre o problema, investimento no Conselho Tutelar, e nos Núcleos que

protegem estas crianças, como por exemplo, o NUCRIA, medidas protetivas com e-

ficácia, as quais afastam o agressor do seio familiar, e que assegurem a vítima certa

segurança.

Com o passar dos tempos percebe-se que ocorreram muitas mudanças, e

que estas foram importantes, para que esses crimes tenham uma incidência menor

na sociedade. Para que esses crimes sejam exterminados da sociedade, deve existir

um trabalho no seio familiar, de forma cultural e moral, principalmente no Brasil, on-

de existe um grande desrespeito à legislação, o que torna difícil que exista uma jus-

tiça efetiva. Portanto o grande desafio é fazer com que a sociedade e o Estado

atuem de forma que seja respeitado os direitos da criança e adolescente.

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