estudo sobre festivais
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Universidade de Braslia - UnB Centro de Excelncia em Turismo - CET
Mestrado Professional em Turismo
Festivais musicais: um estudo sob a tica do turismo
Rayane Ruas
Braslia - DF
2013
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Universidade de Braslia - UnB
Centro de Excelncia em Turismo - CET
Mestrado Professional em Turismo
Festivais musicais: um estudo sob a tica do turismo
Rayane Ruas
Dissertao apresentada ao Mestrado profissional em Turismo da Universidade de Braslia como requisito parcial para obteno do ttulo de mestre.
Orientadora: Profa. Dra.
Donria Coelho Duarte
Braslia - DF
2013
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FICHA CATALOGRFICA
Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Central da Universidade de
Braslia. Acervo 1013478.
Ruas , Rayane.
R894f Fest i va is musica is : um estudo sob a t ica do tur ismo
/ Rayane Ruas . - - 2013 .
197 f . : i l . ; 30 cm.
Disser tao (mest rado) - Univers idade de Bras l ia ,
Centro de Excelnc ia em Tur ismo, Mest rado Profe ss ional
em Tur ismo, 2013.
Inc lu i b ib l iograf ia .
Or ientao: Donr ia Coe lho Duarte .
1 . Fest i va is - Msica. 2 . Tur ismo. I . Duarte , Donr ia
Coelho. I I . T tu lo .
CDU 338. 482. 2
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Universidade de Braslia - UnB
Centro de Excelncia em Turismo - CET
Mestrado Professional em Turismo
Festivais de Msica: Um estudo sob a tica do Turismo
Rayane Ruas
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________
Profa. Dra. Donria Coelho Duarte UnB
(Orientadora)
_______________________________________________
Prof. Dr. Gilson Zehetmeyer Borda CNPQ
________________________________________________
Profa. Dra. Maria Elenita Menezes Nascimento UnB
_______________________________________________
Profa. Dra. Neuza de Farias ArajoUnB
(Suplente)
Braslia, 11 de dezembro de 2013.
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AGRADECIMENTOS
minha orientadora, Profa. Dra. Donria Coelho Duarte, por aceitar o
desafio, acreditar ser possvel e me dar todos os subsdios para a concluso desta
pesquisa e desta etapa da minha vida, por se converter em muito mais do que uma
orientadora, mais uma companheira de batalha e uma amiga.
Aos meus professores que a cada dia clareiam ainda mais as ideias e me
mostram que sempre h conhecimento a ser adquirido. Em especial Profa. Dra.
Ivany e Profa. Dra. Karina, que por um momento foram minhas mentoras na
construo de trabalho.
Agradeo minha famlia, que sempre me deu apoio incondicional e
acreditou em mim! Aos meus pais, que so a minha grande inspirao!
Ao meu esposo, minha mais nova famlia intima, agradeo imensamente!
Por acreditar em mim, me dar foras e apoio quando mais necessito. Por ser meu
grande amor que me entende, ou no, mas que de todas as formas que pode me d
o suporte para seguir adiante, que compreende a minha ausncia e aceita a minha
dedicao extrema, que a minha luz e minha fonte de energia. Muchas gracias mi
principote!
E a todos os que de alguma forma contriburam no processo de coleta de
dados e entrevistas, seja divulgando aos amigos ou participando diretamente da
entrevista.
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EPGRAFE
Um homem precisa viajar, por sua
conta, no por meio de histrias, imagens,
livros e tevs, precisa viajar, por si, com os
olhos e ps, para entender o que seu
Amyr Klink
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RESUMO
Este trabalho trata-se de uma pesquisa de carter qualitativo, baseada no mtodo hipottico-dedutivo, que busca analisar os festivais de msica enquanto encontros que permitem a ruptura do cotidiano proporcionando uma experincia do turismo. Primeiramente foi realizada uma pesquisa exploratria explicativa acerca do tema o que delimitou o seu objeto de estudo. O recorte do objeto de estudo foram os festivais de msica desde o Festival de Monterey em 1967 at os dias atuais. Durante a pesquisa exploratria surgiu a hiptese a ser testada: Se os festivais de msica proporcionam uma experincia do turismo, ento a motivao para a participao de festivais de msica est relacionada com a experincia vivida nele. Utilizando-se como coleta de dados a entrevista semi estruturada com participantes de pelo menos dois festivais de msica. Os resultados desta pesquisa indicaram que os festivais de msica contribuem para a diversidade de experincias proporcionadas pelo turismo, configurando-se como mais uma experincia possvel no mbito turismo, tendo em vista que a vivncia proporcionada pelos festivais possuem alguns elementos que compe a experincia do turismo (uma motivao que gera uma expectativa, um lugar que abriga a experincia e uma troca social).
Palavras chave: Festivais de Msica, Turismo, Encontro, Motivao,
Experincia.
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RESUMN
Este estudio es una investigacin cualitativa basada en el mtodo hipottico-deductivo, que posee como objetivo analizar los festivales de msica des del punto de vista de encuentros que permitan la interrupcin de la vida diaria y proporcionan una experiencia turstica. En primer lugar, llev a cabo un estudio exploratorio sobre el tema que defini el objeto central de estudio. Objeto este que comprende el contexto en que se inserta los festivales de msica des del Festival de Monterey en 1967 hasta la actualidad. Durante la investigacin exploratoria se desarroll la hiptesis a comprobar: "Si los festivales de msica ofrecen una experiencia turstica entonces la motivacin para participar en festivales de msica se relaciona con la experiencia". La hiptesis fue evaluada mediante entrevistas semi-estructuradas con participantes de al menos dos festivales de msica. Los resultados de la investigacin apuntan que los festivales de msica contribuyen para la diversidad de experiencias posibles en el turismo, considerando que la vivencia proporcionada por los festivales poseen algunos elementos con componen la experiencia del turismo (una motivacin que genera una expectativa, un lugar que abriga la experiencia y un intercambio social).
Palabras llave: Festivales de msica, Turismo, Experiencia, Encuentros,
Motivacin.
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ABSTRACT
This study is a qualitative research based on hypothetical-deductive method, which seeks to analyze the music festivals while encounters that allow the disruption of daily life providing a tourism experience. We first carried out an exploratory about the subject that defined the object of his study. The object of study was defined by the context it was inserted the music festivals from Monterey Festival in 1967 to the present day. During the exploratory research developed the hypothesis to be tested: "If the music festivals provide a tourism experience, so the motivation for participation in music festivals is related to experience it" using as data collection semi-structured interviews with participants in at least two music festivals. The results indicated that music festivals contribute to the diversity of experiences offered by tourism, configuring it as one more possible experience within tourism, considering that the experience provided by the festivals have some elements that make up the experience of tourism (a motivation that generates an expectation, a place that houses the experience and social exchange).
Key-Words: Music Festivals, Tourism, Experience, Meeting, Motivation.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1: Estrutura da Dissertao ......................................................................... 29
Figura 2.1: Programao do International Monterey Pop Festival. ............................ 56
Figura 2.2: Ingresso do Monterey Internacional Pop Festival ................................... 57
Figura 2.3: Pblico Woodstock em 1969 ................................................................... 58
Figura 2.4: Poster do Isle of Wight, edio 1970. ...................................................... 62
Figura 2.5: Pblico do Festival da Ilha de Wight, 1970. ............................................ 62
Figura 2.6: Pblico no Isle of Wight 2010 .................................................................. 63
Figura 2.7: Palco principal do Glastonbury, em 1971. ............................................... 65
Figura 2.8: Principais atraes que passaram pelos palcos do Glastonbury ............ 67
Figura 2.9: Nmeros do Glastonbury ........................................................................ 67
Figura 2.10: Cartaz de Divulgao da 3 Edio do Festival de guas Claras ......... 70
Figura 2.11: Pblico do Rock in Rio 1985. ............................................................... 73
Figura 2.12: 2 Edio do Rock in Rio em 1991, no Maracan ................................. 74
Figura 2.13: Nmero dos Rock in Rio 2013 .............................................................. 77
Figura 2.14: Confirmao Rock in Rio 2015 .............................................................. 78
Figura 2.15: Cartazes de divulgao do Lollapalooza de 1991 at 2010 .................. 80
Figura 2.16: Banner SWU ......................................................................................... 87
Figura 2.17: Linha do tempo dos Festivais ............................................................ 7794
Figura 3.1: Pirmide de Maslow .............................................................................. 103
Figura 5.1: rea de descanso com materiais reciclveis - SWU 2011 .................... 137
Figura 5.2: Lixo no SWU 2011 ................................................................................ 140
Figura 5.3: Viso panormica dos palcos do SWU 2011.. ...................................... 142
Figura 5.4: Espao construdo para a realizao do Rock in Rio 2011. .................. 158
Figura 5.5: Atraes complementares dos festivais - Rock in Rio 2013. ................ 160
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LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1: Sntese dos Festivais de Msica ........................................................... 93
Quadro 3.1: Quadro Resumo dos Conceitos .......................................................... 115
Quadro 4.1: Detalhamento das alteraes no roteiro de perguntas do pr-teste .... 128
Quadro 4.2: Relao entre variveis, autores e blocos de perguntas ..................... 129
Quadro 5.1: Quadro Resumo Perfil dos entrevistados ......................................... 145
Quadro 5.2: Elementos da Motivao ..................................................................... 151
Quadro 5.3: Turismo e os meios de comunicao .................................................. 167
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SUMRIO
Introduo ............................................................................................................. 24
I. Objetivos .................................................................................................. 29
II. Justificativa ............................................................................................... 30
1. A evoluo dos festivais ao longo da histria ................................................. 33
1.1 Idade antiga .............................................................................................. 34
1.2 Idade mdia .............................................................................................. 44
1.3 Idade Moderna ......................................................................................... 48
1.4 Idade contempornea ............................................................................... 52
2. Celebrao dos Festivais de Msica: Um Estudo da Evoluo ao Longo dos
Anos ............................................................................................................. 54
2.1 Monterey (Eua California, 1967) ............................................................ 55
2.2 Woodstock (Eua, 1969) ............................................................................ 57
2.3 The Isle Of Wight (Inglaterra, 1968 A 1970) .......................................... 61
2.4 Glastonbury (Inglaterra, 1970 at os dias atuais) ..................................... 64
2.5 guas Claras (Iacanga/SP - Brasil, 1975 - 1983) ..................................... 68
2.6 Monster Of Rock (Inglaterra 1980 1996 e 2006 At Dias Atuais) .......... 70
2.7 Rock In Rio Rio de Janeiro, Brasil (1985 At Dias Atuais) .................... 72
2.8 Lollapalooza Estados Unidos (1991) ..................................................... 79
2.9 Castlemorton Inglaterra (1992) .............................................................. 82
2.10 Tribal Gathering Inglaterra (1993) ..................................................... 83
2.11 Skol Beats Brasil (2000) ................................................................... 85
2.12 Universo Paralelo Bahia, Brasil (2000) ............................................. 86
2.13 Planeta Terra Festival So Paulo, Brasil (2007) ............................... 87
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2.14 SWU Comea Com Voc So Paulo, Brasil (2010) ....................... 88
2.15 Anlise da evoluo dos festivais ao longo dos anos .......................... 92
3. Os Festivais de Msica e o Turismo ............................................................... 97
3.1 Evoluo do Conceito de Turismo ............................................................ 97
3.2 Experincia, Vivncia, Motivao e Imaginrio ...................................... 101
3.2.1 Experincia e ViVncia..................................................................... 101
3.2.2 Motivao ......................................................................................... 103
3.2.3 Imaginrio ......................................................................................... 106
3.3 Festivais de Msica ................................................................................ 109
3.4 Eventos Especiais .................................................................................. 110
4. Procedimentos Metodolgicos ...................................................................... 119
4.1 Mtodo Hipottico-Dedutivo ................................................................... 119
4.2 Tipos de Pesquisa .................................................................................. 122
4.2.1 Pesquis Exploratria......................................................................... 122
4.2.2 Pesquisa Descritiva .......................................................................... 123
4.3 Tcnicas de Pesquisa ............................................................................ 124
4.3.1 Pesquisa Bibliogrfica ...................................................................... 124
4.3.2 Pesquisa Documental....................................................................... 125
4.3.3 Observao Participante .................................................................. 125
4.3.4 Entrevista Semi-estruturada ............................................................. 127
4.4 Anlise de dados .................................................................................... 132
4.4.1 Abordagem Qualitativa ..................................................................... 132
4.4.2 Anlise de Contedo ........................................................................ 133
5. Relato e Anlise dos Casos Pesquisados .................................................... 135
5.2 Relato Pesquisa Exploratria Observao Participante ...................... 135
5.2.1 SWU 2010 ........................................................................................ 135
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5.2.2 Rock in Rio 2011 .............................................................................. 136
5.2.3 SWU 2011 ........................................................................................ 137
5.3 Coleta de Dados ..................................................................................... 144
5.3.1 Perfil doS EntrevistadoS ................................................................... 145
5.3.2 Motivao da participao ................................................................ 148
5.3.3 Turismo nos Festivais....................................................................... 163
5.4 Experincia Vivenciada nos Festivais x Experincia Proporcionada pelo
Turismo ......................................................................................................... 170
6. Consideraes Finais ................................................................................... 175
6.1 Alcance dos Objetivos Especficos ......................................................... 175
6.2 Concluses ............................................................................................. 177
6.3 Desafios da Pesquisa ............................................................................. 181
6.4 Pesquisas Futuras .................................................................................. 181
Referncias Bibliogrficas ....................................................................................... 183
Apndice 1 - Roteiro de Entrevista SWU Music & Arts Festival 2011 .................. 192
Apndice 2 - Roteiro de Entrevistas Festivais de msica: uma anlise sob a tica
do turismo................................................................................................................ 193
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INTRODUO
Ao se pensar em festival musical, a princpio o que vem mente so
pessoas que esto em um determinado lugar para escutar os seus grupos de
msica que ali se apresentaro. No entanto, a realidade dos festivais musicais vai
alm de ouvir e executar msica, no s para os artistas que ali esto
apresentando suas msicas, mas tambm para os fs que at l se deslocaram
para vivenciar essa experincia.
Esta pesquisa tem como princpio, que atravs da msica possvel romper
barreiras e unir as pessoas, proporcionando-lhes uma vivncia diferenciada,
gerando momentos de encontro e celebrao. Portanto, os festivais musicais so
uma forma de utilizao da msica como ferramenta para a mobilizao dos seus
participantes, para a ruptura do cotidiano e a vivncia de uma experincia.
O Brasil tem se destacado cada vez mais quanto receptividade dos
festivais musicais. No ano de 2011, no Brasil, foram realizados 3 grandes festivais:
Rock in Rio, Starts With You SWU e o Planeta Terra. Em 2012, chegou ao pas o
Lollapalooza, e ainda vrios shows internacionais. J em 2013 os festivais tiveram a
sua agenda bem diversificada com a chegada do Monsters of Rock e a manuteno
dos j vinham acontecendo.
Os festivais de msica podem revelar ao mundo a diversidade do Brasil, o
seu potencial turstico, a sua capacidade de receber e organizar grandes eventos e o
seu desenvolvimento tecnolgico e humano. Revelam, ainda, a possibilidade de
congregar em um nico espao diferentes culturas, religies, formas de ver a vida
em um momento de celebrao.
Ao levar em conta a retrospectiva da maior transmissora de televiso
brasileira (Rede Globo) observa-se que os eventos de msica esto como um dos
fatos marcantes do ano de 2011. No Jornal da Globo, transmitido no dia 31 de
dezembro de 2011, no bloco especial sobre msica, foi destacado que 2011 foi um
ano de ouro para a msica. Essa afirmao justifica-se pelos cachs aplicados no
Brasil, acima da mdia mundial e ao pblico de festivais brasileiros ser
extremamente receptivo aos festivais e shows que ocorreram no pas, conforme
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expressado na reportagem. O Brasil tornou-se, ento, um dos melhores mercados
mundiais para os show Bussines, afirma a reportagem.
Sobre os festivais musicais mais especificamente, o mesmo jornal aponta
Para 2012 preparem seus coraes e seus cartes de crdito porque o Brasil se
tornou a nova Meca dos festivais internacionais.
Como espectadora participante deste tipo de evento, foi observado que a
busca dos participantes por novos lugares de encontros, novos festivais e atraes
musicais se torna cada vez maior. O interesse em participar de momentos de
celebrao, tendo a msica como elo, se torna relevante no processo de
socializao dos jovens, aos moldes da Europa que j possui uma vasta agenda de
festivais musicais.
Esta participao nos festivais contribuiu, ainda, a vivncia e a experincia
em festivais, e a sua semelhana ou complementaridade experincia
proporcionada pelo turismo, surgindo da o objeto de estudo desta pesquisa.
A princpio o objetivo de estudo desta pesquisa era verificar os impactos dos
festivais musicais no turismo, o legado para a cidade receptora, tendo como estudo
de caso o festival musical SWU Starts With You1. Ao conhecer mais
profundamente o objeto de estudo percebeu-se que a problemtica era ainda mais
complexa e interessante, pois o SWU Music & Arts Festival no era simplesmente
um festival musical de carter comercial, e sim a celebrao de um movimento social
em prol da sustentabilidade. Acontecia a, a primeira transformao do foco de
pesquisa.
1 SWU: O SWU Starts With You, em portugus, Comea com Voc, um movimento de
conscientizao em prol da sustentabilidade. Iniciado em junho de 2010, possui o intuito de mobilizar o maior nmero de pessoas possvel para adotar pequenas atitudes no seu dia a dia que ajudam a construir um mundo melhor e que fazem a diferena. uma iniciativa de Eduardo Fischer, presidente do Grupo Totalcom, que parte do princpio de que pequenas atitudes podem gerar grandes mudanas. O SWU Music & Arts Festival diz ter como principal objetivo inspirar, conscientizar e mobilizar o seu pblico, demonstrando que a sustentabilidade pode estar presente em todas as aes e contribuir para o estabelecimento de prticas sustentveis de forma inovadora. O Festival declara se utilizar da paixo que a msica desperta nas pessoas para sensibilizar o pblico em prol da sustentabilidade.
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Em novembro de 2011, a pesquisadora foi a campo para a segunda edio
do SWU Music & Arts Festival2, com o intuito de observar como este festival musical
se configuraria como um lugar de encontro, que acolhe pessoas distintas, onde se
pressupunha um movimento em prol da sustentabilidade. Nesse momento foi
realizada a primeira coleta de dados a ser explorada posteriormente neste trabalho.
A inteno era identificar, tambm, de que forma a organizao se propunha a unir a
sustentabilidade com a msica, aproveitando aquele momento de descontrao e
diverso para inserir informaes a respeito da sustentabilidade.
Infelizmente, as premissas no se confirmaram. Diferente da primeira, a
segunda edio do SWU Music & Arts Festival se confirmou como um evento
puramente mercadolgico, preocupado com a infraestrutura, o bem atender aos
participantes, deixando de lado a sua filosofia original: a sustentabilidade.
Diante disso, identificou-se atravs das entrevistas que a motivao das
pessoas de estarem naquele lugar era o desejo de compartilhar a msica, e no a
sustentabilidade como era o imaginado. Mas a motivao no estava voltada apenas
para a msica, era muito mais o viver aquela experincia. No era a
sustentabilidade que movia aquele pblico, mas sim o desejo de celebrao atravs
da msica.
Identificou-se, portanto, a existncia de uma busca por experincias que
podem ser conceituadas e entendidas sob vrios aspectos e, dentre eles, o turismo.
Tendo em vista que o turista sai do seu lugar de origem, do seu cotidiano, buscando
algo novo, buscando interagir e adquirir experincias e vivncias diferenciadas.
Portanto, os participantes dos festivais poderiam se revelar como atores do turismo,
sendo essa a primeira indagao no momento do estgio da graduao.
No entanto, o que mais chamou ateno nos festivais foi a liberdade vivida,
o encontro de diferentes formas de ser e pensar em um s espao, onde as
diferenas e at deficincias no so impeditivos para a sua participao ou
geradoras de preconceito. Aps essa observao, atrelada participao no SWU
em 2010, e no Rock in Rio em 2011 nestes j com um olhar de pesquisadora
2 Realizado na cidade de Paulnia So Paulo, nos dias 12 a 14 de novembro de 2011.
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percebeu-se os festivais de msica como lugares de encontro e celebrao do
pblico que proporcionam uma experincia.
Diante do vivenciado, se delineou a problemtica dessa pesquisa: At que
ponto os festivais, entendidos como encontros que permitem a ruptura do cotidiano,
podem se revelar como uma experincia turstica?
Esse questionamento se justifica na necessidade constante de conceituao
e entendimento do turismo. Tendo como premissa que o turismo proporciona uma
experincia apoiada na possibilidade de encontro, a troca de relaes culturais
ocorridas em determinado local e em uma vivncia diferenciada do dia a dia
(GIARETTA, 2003; GASTAL, 2005; BENI, 2007). Portanto, prope-se uma anlise e
um estudo sobre os festivais de msica e as experincias proporcionada por ele com
vistas a desvelar se configuram-se como turismo, pois percebe-se que possuem um
carter humano, concebem uma troca de experincias e promovem uma celebrao
realizada atravs de um elo: a msica.
A problemtica justifica-se, ainda, em analisar como essa atividade cultural
se converte em turismo, e quais so os elementos que proporcionam a experincia
vivenciada no festival. O objetivo da pesquisa contribuir para a teorizao do
turismo e realizar uma pesquisa acadmica a respeito das novas reconfiguraes e
novas formas dessa atividade. Espera-se, ainda, deixar como legado um apanhado
da historicidade dos festivais de msica, uma temtica extremamente atual e sem
bibliografia consolidada.
O mtodo de anlise utilizado para atingir os objetivos ser utilizado o
mtodo Hipottico-dedutivo, que gera a seguinte hiptese de pesquisa: Se os
festivais de msica proporcionam uma experincia do turismo, ento a motivao
para a participao de festivais de msica est relacionada com a experincia vivida
nele.
Para atingir os objetivos da pesquisa, o trabalho foi dividido em 5 partes. O
Captulo 1 trata da evoluo dos festivais ao longo do tempo. Apresenta as
festividades e momentos de encontros ocorridos nos perodos histricos que pode
haver evoludo para chegar ao que hoje conhecido como festival de msica. Isto
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porque entende-se que os festivais e as celebrao no surgiram do nada, e foram
evoluindo at chegar ao que se conhece atualmente. Portanto busca-se na histria a
primeira ocorrncia de eventos de celebrao, com foco no entretenimento.
No segundo captulo sero apresentados e descritos os principais festivais
de msica do mundo, desde a sua primeira realizao: Festival de Monterey em
1967 at os festivais dos dias atuais, abordando aqueles que contriburam para a
formao e consolidao do fenmeno atual, que so os festivais de msica.
No captulo 3 sero apresentados os conceitos chaves a serem utilizados e
trabalhados por esta pesquisa, so eles: Turismo, Experincia, Festivais, Motivao,
Encontro, Compartilhar dentre outras. No quarto captulo discutida a metodologia
utilizada em todo o processo de elaborao e execuo da pesquisa.
O quinto captulo apresenta os dados coletados durante a pesquisa
exploratria, realizada em 2011, e durante a coleta de dados de 2013, analisando-os
em consonncia com a teoria o que possibilitar a constatao da hiptese de
pesquisa ou no, e se no porque a hiptese no se confirma. O stimo captulo
trata das concluses percebidas a partir da coleta de dados.
No intuito de visualizar as etapas que foram realizadas para a concepo
desta pesquisa, apresenta-se na Figura 1.1:
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I. OBJETIVOS
Neste contexto, os objetivos desta pesquisa so:
Objetivo Geral: Analisar os festivais de msica enquanto encontros que
permitem a ruptura do cotidiano proporcionando uma experincia do turismo.
Objetivos Especficos:
Investigar a evoluo dos festivais ao longo do tempo;
Discutir a evoluo dos festivais de musica ao longo dos anos;
Investigar a motivao e as experincias relatadas pelos entrevistados
participantes de festivais de msica; e
Leitura prvia sobre turismo e os festivais
Experincias anteriores nos festivais
Pr-concepes estabelecidas em um momento de estgio
Conhecimento Prvio
Estudo Exploratrio em festivais: SWU 2010, Rock in Rio 2011 e SWU 2011
Realizao da primeira coleta de dados durante o swu 2011 Estudo Exploratrio
Construo do referencial terico
Busca na histria as primeiras celebraes
Historicidade dos festivais de msica Referencial Terico
Discusso dos conceitos que envolvem a tmtica
Turismo, Festivais, Encontro, Lugar, Motivao, Experincia Definio de
variveis de estudo
Realizao da Coleta de Dados
Entrevistas semi-estruturadas com 32 participantes de festivais Pesquisa de campo
Anlise dos dados coletados
Cruzmento das falas com a teoria Anlise de dados
Verificao da hiptese de trabalho
Apanhado geral dos objetivos alcanados, limitaes e dificuldades Concluso
Figura 1.1: Estrutura da Dissertao
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Discutir em que medida as experincias proporcionadas pelos festivais se
revelam como experincias tursticas.
Sendo delineada, assim os objetivos desta pesquisa.
II. JUSTIFICATIVA
A temtica da presente pesquisa est centrada na investigao da
motivao e as experincias vivenciadas pelos participantes durante o evento, e
discutir de que forma as experincias proporcionadas pelos festivais se revelam
como experincias tursticas.
O questionamento quanto relao entre o turismo e os festivais musicais
se deve a uma experincia de estgio supervisionado da Graduao em Turismo3,
em que a pesquisadora teve a oportunidade de estagiar, no perodo de outubro/2008
a junho/2009, no Braslia e Regio Convention & Visitors Bureau BRC&VB4.
Durante a sua experincia no BRC&VB foi constatada a pr concepo
contrria a eventos de carter cultural acompanhada, inclusive, de certo
desinteresse por esses eventos, principalmente os musicais, pois segundo o
BRC&VB, no geram fluxo turstico para a cidade, apenas atendem a populao
local5.
Alm disso, a pesquisadora possui experincia pessoal de participao
como espectadora nos eventos culturais, musicais, shows e festivais realizados
no s em Braslia, como tambm no Brasil. Durante a sua participao pde
3 Graduao em Turismo feita no Instituto de Ensino Superior de Braslia IESB, de 2007 a
2010.
4 O BRC&VB uma fundao de carter privado, sem fins lucrativos, que visa divulgar
Braslia como destino turstico, a partir do apoio a captao de eventos, usufruindo de estratgias de marketing. O trabalho do BRC&VB consiste no repasse de informaes sobre Braslia, apresentao da infra-estrutura para eventos, apoio com material promocional institucional, elaborao de dossi de avaliao para o evento,cartas de apoio de entidades governamentais e privadas. E, ainda, a viabilizao de visitas de inspeo e de contatos com profissionais da rea.
5 No perodo em que fui estagiria, a filosofia da direo naquele momento deixava a entender que os eventos de carter cultural no geram fluxo turstico, sendo simplesmente uma forma de atender populao local. No entanto, em nenhum momento os vi tentando verificar se de fato era assim que acontecia, o que me leva a supor que essa forma de pensar no demonstrava nenhum conhecimento prvio. Portanto esse tipo de evento no recebia nenhum apoio institucional para a sua realizao do BRC&VB.
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31
observar um grande fluxo de pessoas de fora da cidade receptora que, ao se
valerem de servios locais como sistema de transporte, meios de hospedagem e de
alimentao, esto utilizando elementos do turismo.
Diante do apresentado, este trabalho justifica-se pela contemporaneidade da
temtica, tendo em vista que os festivais de msica surgiram na dcada de 60, e,
ainda, a falta de registros sobre estes eventos. Ressalta-se que se trata atual,
relevante e com realizaes maiores e mais frequentes a cada ano.
Sendo assim, identificou-se a necessidade de um estudo sobre as
experincias, motivaes e perspectivas proporcionadas pelos festivais de msica,
de forma a iniciar os registros e publicaes acerca do tema. Mas tambm, a
necessidade de realizar um apanhado e registro da sua historicidade.
Deve ser pontuada, tambm, que os festivais possuem uma estreita relao
com o turismo, principalmente ao se considerar os festivais internacionais. Relaes
estas que se devem no s pelo movimento milhares de pessoas para apreci-los,
como tambm pelos impactos socioculturais que resultam da realizao destes
eventos, agregando servios, e, tambm, inserindo um atrativo no local.
Brito e Fontes (2002) apontam que a realizao de eventos contribui para o
desenvolvimento do turismo nas regies, agregando valor com o atrativo e induzindo
a utilizao de equipamentos e servios da regio, que poderia estar ociosos devido
sazonalidade. Esta pesquisa tem a sua relevncia ao analisar em que medida os
festivais se revelam como um evento que enriquece a agenda local e induz o turismo
na regio que o abriga.
Por fim, este trabalho justifica-se pelo interesse pessoal da autora com
relao temtica. Provocado no s pela presena como espectadora em muitos
festivais e amante deste tipo de evento, como tambm como investigadora do
turismo, do qual emerge uma profunda curiosidade sobre as relaes, proximidades,
semelhanas e complementaridade entre os festivais de msica e o turismo,
passveis de observao nos eventos, entretanto sem muitos registros acadmicos e
aprofundados sobre o tema.
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1. A EVOLUO DOS FESTIVAIS AO LONGO DA HISTRIA
Tendo em vista que o presente trabalho visa analisar os festivais enquanto
encontros que proporcionam uma experincia, entende-se que o ponto de partida
desta anlise a investigao de eventos ocorridos ao longo da histria. Entretanto,
para selecionar quais eventos se encaixariam no objeto de estudo oportuno
pontuar o que entende-se por festival.
Flchet (2011) aponta que os festivais podem ser considerados como festas,
ou seja, momentos coletivos que combinam arte, lazer e certa ideia de
confraternizao entre os presentes, envolvem um grande nmero de atores sociais.
Considerando que os festivais de msica so o objeto de estudo central
deste trabalho, ser realizada uma discusso mais aprofundada a partir da
conceituao de Flchet e da discusso de outros autores (ALLEN et al, 2003,
GERTZ, 1997; BRITO; FONTES, 2002) abordada no captulo 4 Festivais de msica
e o turismo.
Entretanto, como o termo ser utilizado no decorrer do trabalho, neste
momento ser apontada uma primeira conceituao apenas a ttulo de
esclarecimento, at que esta discusso seja efetuada. Sendo assim, no decorrer de
este trabalho entende-se por festivais, um evento de grande magnitude que
proporcione uma experincia de ruptura do cotidiano, que oferea entretenimento
aos seus participantes em geral com a durao de mais de um dia. Entretanto, ao se
tratar de festivais de msica, acrescenta-se o elemento musical, ou seja, a presena
de artistas musicais como atrao principal.
Esse captulo contempla a apresentao e reflexo a cerca das celebraes
ocorridas ao longo da histria, organizadas por perodos histricos, considerando
que a evoluo destas celebraes pode chegar ao que hoje se conhece como
festivais.
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1.1 IDADE ANTIGA
O primeiro perodo histrico que se tem registro a Idade Antiga, tendo em
vista que a histria se inicia com o registro da escrita. Sendo assim, inicia-se a busca
pelo objeto de estudo, festivais, neste perodo histrico onde se tem registros dos
acontecimentos.
O que se quer explorar dessas civilizaes so seus costumes, prticas e
culturas que de alguma forma evoluram para chegar ao que hoje conhecido como
eventos.
A Antiguidade Clssica ou Idade Antiga o perodo compreendido entre a
inveno da escrita, aproximadamente 4000 a.C, e a queda do Imprio Romano do
Ocidente, no ano de 453 d.C. Ao adentrar o estudo da Antiguidade Clssica ou
Idade Antiga, bastante comum ouvir dizer que esse perodo histrico marcado
pelo surgimento das primeiras civilizaes. No entanto, ao utilizar a expresso
civilizao no se coloca os povos dessa poca em uma condio superior se
comparados s outras culturas do mesmo perodo, ou perodo anterior (PINTO,
2003; SILVA, 2013; SOUZA, 2013).
O surgimento das primeiras civilizaes demarca a existncia de uma srie
de caractersticas especficas, pautadas na existncia de instituies polticas
complexas, uma hierarquia social diversificada e de outros sistemas e convenes
que se aplicam a populao.
No se pode apontar uma localidade especfica onde encontra-se a
formao das primeiras civilizaes da histria. O processo de fixao e
desenvolvimento das relaes sociais aconteceu simultaneamente em vrias regies
e foi marcado pelo contato entre civilizaes, bem como a incorporao de duas ou
mais culturas na formao de outra civilizao (PINTO, 2003; SILVA, 2013; SOUZA,
2013).
Em se tratando do Mundo Oriental, pode-se assinalar o desenvolvimento das
milenares civilizaes chinesa e indiana. Partindo mais a Oeste, localizam-se a
formao da civilizao egpcia e dos vrios povos que dominaram a regio
Mesopotmica, localizada nas proximidades dos rios Tigre e Eufrates. Tambm
conhecidas como civilizaes hidrulicas, essas culturas agruparam largas
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populaes que sobreviviam da explorao das guas e terras frteis presentes na
beira dos rios (SILVA, 2013).
Na parte ocidental do planeta, costuma-se dar amplo destaque ao
surgimento da civilizao greco-romana. O prestgio dado aos gregos e romanos
justifica-se pela forte e notvel influncia que estes povos tiveram na formao dos
vrios conceitos, instituies e costumes que permeiam o Ocidente como um todo.
Contudo, no se pode deixar de dar o devido destaque aos maias, astecas, incas e
olmecas que surgiram no continente americano (PINTO, 2003; SILVA, 2013;
SOUZA, 2013).
Os grandes banquetes realizados pelas civilizaes Gregas e Romanas
foram identificados como um objeto de estudo potencial. Segundo Strong (2004, p.
14), desde o incio, o ato de comer em conjunto transformou uma funo corporal
necessria em algo muito mais significativo, um evento social.
Este convvio, tanto para os romanos como para os gregos, era visto como
uma das pedras angulares da civilizao. Os convidados que se reuniam mesa
poderiam ser um veculo para agregao e unidade social. No entanto, tambm
poderia encorajar distines sociais, ao separar as pessoas em categorias e coloc-
las aos seus lugares, ou at mesmo exclu-las (STRONG, 2004; MENDES;
BORGES, 2008).
No Antigo Egito os banquetes eram considerados um importante ritual social.
As pinturas encontradas nas paredes dos tmulos e stios arqueolgicos podem
demonstrar isso. Nessas pinturas, pode-se observar convidados oferecendo flores,
provavelmente ao anfitrio ao chegar ao banquete, a comida servida em procisso,
muitos servos, msica e dana (VINCENTINO; DORIGO, 2001).
Strong (2004, p.16) afirma que o banquete, mesmo naqueles tempos
remotos, j era uma experincia esttica que ia muito alm do mero consumo da
comida, abarcando a elegncia da roupa, tipos de condutas, cerimonial e todas as
formas de entretenimento teatral.
Todos esses aspectos influenciaram a Grcia, que se tornou uma importante
civilizao. Como relatado na Ilada e na Odissia (apud Strong, 2004, p. 16):
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Quanto a mim, digo que no existe alegria mais completa do que o povo tomando contentamento, e os comensais nos sales, sentados na ordem estabelecida, escutando um menestrel, sua frente as mesas supridas com po e carne, o vinho despejando nos vasos e servidos nos copos em vrias rodadas. Isso parece, para meu esprito, a mais bela coisa existente.
Nessa citao tem-se a presena de todos os elementos do banquete
cerimonial: msica e canto, lugares determinados de acordo com o status e o papel
da atraes. Elementos estes que podem ser transpostos e ao observar
profundamente os festivais, alguns deles tem presena muito marcante, como o
caso da msica, os lugares determinados de acordo com o status (camarotes, e
reas VIP) e a msica como elemento central.
Vale ressaltar que, segundo Strong (2004), a gastronomia grega
desenvolveu-se a partir da prtica do sacrifcio. A carne era relativamente escassa e
disponvel principalmente aps o sacrifcio de um animal domstico aos deuses.
Pontua-se tambm, que toda alimentao formal dos gregos eram exclusivamente
para os homens, sendo que meninos mais velhos poderiam participar, desde que
sentados no div dos pais ou de um amigo.
Ainda segundo o mesmo autor, na Grcia antiga, comer e beber em conjunto
eram expresses de igualdade. Na fase oligrquica e na democrtica, as cidades
gregas eram governadas por crculos maiores ou menores, compostos
exclusivamente por cidados masculinos. Dentro da estrutura de poder, o banquete
cvico surgiu como uma expresso comunitria de unidade entre os cidados das
polis.
Os grandes banquetes tinham como elemento central um sacrifcio feito para
os Deuses, e s ento a carne era dividida entre os cidados, cozida e comida em
conjunto. A admisso no banquete garantia a cidadania, embora a festividade
assumisse a natureza de uma liturgia do Estado, Strong (2004) aponta que era
extremamente agradvel para os que participavam. Os banquetes cvicos eram
vistos como uma necessidade, um meio de sustentao da ordem poltica da cidade-
estado.
Na sociedade romana do primeiro sculo, os jantares de gala eram um
acontecimento determinante para a sociedade. Em meados do primeiro sculo esta
refeio j havia alcanado um alto nvel de rituais e artifcios. O eventos eram
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antecedidos por visitas aos banhos, para lavagens de ps e mos, e exigiam vestir
roupas especiais (MENDES; BORGES, 2008).
Para a realizao dos grandes banquetes, os convivas6 levavam seus
servos e se instalavam em sofs em uma certa ordem que denotava seu status.
Strong (2004 p. 14) conta que:
A refeio dividida em trs partes parecia um espetculo teatral, com msicos e um grande elenco de servos cantando em coro enquanto serviam, lavando mos e ps, cortando as unhas dos ps dos convivas e distribuindo guirlandas. [...] Era tambm programado espantar os convivas com surpresas constantes, como o porco recheado de salsichas e morcelas. Alm de espetculos de cantores, danarinos, acrobatas e atores. [...] Em suma, essa refeio era a eptome das aspiraes de uma poca e um alvo perfeito para a stira, ao expor sua vacuidade.
Como apontado na citao anterior, os banquetes romanos ultrapassavam a
necessidade humana da alimentao e atingia nveis de interao, podendo ser
considerados como um evento da alta sociedade romana, em que os servos
participavam apenas como atores do espetculo teatral.
Ressalta-se a necessidade de interao, de surpresa e de inovao durante
a refeio para entreter os convivas com o intuito no s de servir a refeio, mas
tambm de impressionar os convidados com atraes diferenciadas a cada
encontro.
Ao narrar uma passagem de Cena Trimalchionis, que apareceu em uma
stira do sculo I, Satyricon de Petrnio (apud STRONG 2004, p. 11), observa-se
quo inusitada poderiam ser as atraes do jantar:
Escravos trazem uma grande travessa com uma cesta contendo uma galinha de madeira com as asas estendidas, no ato de pr ovos. Ao som ensurdecedor da msica os escravos pegam na palha, debaixo da galinha, grandes ovos pesando 250 gramas, feitas de farinha de trigo e fritos em leo. Os ovos so distribudos entre os convidados que, ao abri-los, encontram passarinhos enrolados em gema de ovo temperada.
Em se tratando do calendrio Romano, Mendes e Borges (2008) apontam
que podem ser distinguidos trs calendrios: o calendrio natural, marcado pelas
estaes que determinam o ciclo da agricultura e pelo movimento dos astros (sol e
6 Convivas - Pessoa que toma parte num banquete. Cada uma das pessoas que comem
juntas; comensal. Convidado. (Dicionrio Michaelis Online).
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lua); o calendrio civil, que indica o nome dos meses, a ordem dos dias e das fases
da lua; mas tambm o calendrio religioso, que determina as festas e demais rituais
de cada ms.
Ressalta-se que, segundo os mesmos autores, os calendrios so a forma
de regramento da vida em sociedade, funcionam como unidades de referncia e
significao da cultura de um povo. Destaca-se a importncia das festas, dos cultos
aos deuses e seus festivais para os romanos. Observa-se ainda que os calendrios
foram constantemente enriquecidos pois novos encontros festivos eram introduzidos
em Roma para celebrar os novos deus.
Na tradio romana, o ano cvico comeava no ms de maro, com festas realizadas de 1 a 24 de maro, em honra a Ana Perenna (deusa do retorno dos anos) e a Marte, cujo objetivo era a purificao das armas, dos escudos, das trombetas e da celebrao do tempo renovado. O ano terminava no ms de outubro, quando era encerrado o ano militar, com vrios festivais em honra a Marte. (MENDES; BORGES, 2008, p. 84.)
Mendes e Borges (2008) definem as festas romanas como atividades rituais
que englobavam o ldico e a fantasia, da relao entre o passado, presente e o
futuro, durante o qual os homens se comunicavam com os deuses. E ainda, que
essas festas podem ser organizadas de acordo com o carter dos seus ritos,
havendo assim o ciclo guerreiro (reuniria festas de cunho militar celebrao da
abertura do ano guerreiro, cerimnias de purificao das armas e limpeza dos
escudos, dentre outras); o ciclo civil (agruparia festas de cunho cvico); e o ciclo de
purificao (alocadas principalmente no ms de fevereiro, remete a purificao da
sociedade e ao mundo dos mortos).
Como exemplo de um festival romano, Mendes e Borges (2008) apresentam
a festa denominada Lupercalias, comemorada no dia 15 de fevereiro realizada em
honra a trs divindades: Lupercus7, Faunuss8 e Marte9.
7 Lupercus: Deus dos pastores e do rebanho
8 Faunuss: Deus rstico, descendente de fauno que habitava campos, bosques e florestas
na Itlia, o deus da agricultura, conhecido pelos gregos como P.
9 Marte: deus da guerra, no entanto inicialmente foi conhecido como deus da agricultura e
guardio dos campos e limites. Posteriormente foi identificado como o deus grego Ares, assumindo o epteto de deus da guerra.
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Para o incio das festividades os lupercos, jovens sacerdotes provenientes
de famlias nobres, se reuniam na caverna do Lupercal (localizada no Palatino, uma
das sete colinas de Roma), sacrificavam um cachorro ou uma cabra e ofereciam
bolos sagrados. Em seguida, vestidos com uma tanga feita com a pele dos animais
sacrificados, sendo untados com o sangue desses animais, comiam, bebiam e
encarnavam a condio de homens-lobo. Praticamente nus, corriam pelas duas de
Roma, batendo com uma tira de pele de bode nas mulheres que encontrassem, para
torn-las frteis (MENDES; BORGES, 2008).
A festa simbolizava a purificao que deveria acontecer em Roma ao fim do
ano. Acreditava-se que essa cerimnia servia para espantar os maus espritos e
para purificar a cidade, assim como para libertar a sade e a fertilidade das pessoas
aoitadas pelos lupercos. Esse ritual est ligado s narrativas relativas a Rmulo e
Remo10, os quais foram os primeiros lupercos (MENDES; BORGES, 2008).
Os autores Mendes e Borges (2008) pontuam que o perodo da festa era
considerado como um momento de iluso, de diverso, de inverso e de suspenso
da ordem social, em que todos participavam. No entanto, o final da festa marcava o
retorno a normalidade. Portanto, as Lupercalias simbolizavam a afirmao e a
reafirmao do fim da selvageria, barbrie e o incio da dimenso poltica dos
homens organizados como cidados e sob a proteo de Jpiter11.
Sendo assim, pode-se entender os encontros festivos romanos como rituais
ptrios fundados na possibilidade de dramatizar coletivamente valores globais,
crticos e abrangentes da sociedade, tendo em vista que cada festival estava
orientado para uma esfera da vida pblica ou da vida privada dos cidados romanos.
Observa-se, ainda, que os festivais romanos expressavam uma identidade
abrangente, pela forma como representavam os aspectos da realidade social
(relaes de poder, relaes sociais, trabalho, guerra, sexo, vida, morte, homem,
natureza, dentre outros).
10
Dois irmos gmeos da mitologia romana. Rmulo foi o fundador da cidade de Roma e o seu primeiro rei.
11 Jpiter: Deus do dia, e maior dos deuses. Conhecido pelos gregos como Zeus.
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Os festivais romanos podem ser considerados como uma fala, atravs da
linguagem das imagens e da sucesso dos eventos, que integram uma memria que
congregam passado, presente e futuro da realidade romana.
Ademais, os momentos ldicos, informais, de suspenso da ordem, ao lado
daqueles formais, comandados pelas normas rgidas, coero corporal,
comportamental e verbal, estimulavam a objetivao e o aprendizado de regras
comportamentais, prticas sociais que regulam a vida coletiva. Ou seja, durante os
festivais eram emitidas mensagens a serem reproduzidas e transmitidas de gerao
em gerao, que reforavam em cada cidado a estrutura normativa da sociedade
(MENDES; BORGES, 2008; LESSA, 2008).
Mas no foi somente no perodo grego e romano em que ocorreram grandes
eventos sociais. No segundo milnio antes de Cristo, partilhar comida e vinho era
um costume estabelecido entre os babilnios. Strong (2004) aponta que os
monarcas mesopotmicos produziam banquetes estupendos para acontecimentos
importantes, tais como uma vitria militar, a inaugurao de um novo palcio ou
templo, a chegada de uma embaixada.
Strong (2004) aponta que o rei Assurnaripal II (883 859 a.C) inaugurou seu
novo palcio com uma festa que durou dez dias para aproximadamente 69.574
convidados.
Eventos desse porte tinham um papel importante na poltica dinstica. As
provises consumidas demonstravam aos presentes que o soberano poderia dispor
de tributos do vasto domnio persa. As comidas e bebidas trazidas de regies
remodas enfatizavam a prepotncia do governo (STRONG, 2004).
Outra caracterstica desses espetculos que os representantes de
domnios reais que desejavam bajular o rei enviavam iguarias para tentar o paladar
real e o apetite dos convidados poderosos.
Strong (2004), afirma que nessa ocasio a etiqueta era algo sofisticado. O
rei deitava-se parte em um div com a rainha por perto e os convidados eram
dispostos em grupos de acordo com o seu status. Havia, tambm, o ritual de
lavagem das mos, em que os convivas recebiam um frasco de leo perfumado que
se untava no comeo e no fim da refeio. Eram servidas carnes cozidas e
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grelhadas em fatias de po, seguidas por sobremesa de frutas e tortas adoadas.
Havia, ainda, msica, canto, malabaristas, palhaos, lutadores e atores.
Outra festividade que merece destaque na Idade Antiga so os Antigos
Jogos Gregos, atualmente conhecidos como Olimpadas. Assim como os grandes
banquetes, as prticas esportivas proporcionam espaos de coeso social, primando
tanto pela tica, como pela esttica (VICENTINO; DORIGO, 2001).
Os gregos antigos, segundo Lessa (2008), consideravam o exerccio fsico
como um meio de conservar a sade e de se reencontrar. Aficionados pelos jogos e
pelos concursos, eles criaram os enfrentamentos competitivos em estdios para
satisfazer seus gostos pelas lutas e da rivalidade.
Todt (2001, p. 217) afirma que, o que poucos sabem que por trs do que
se tornou o maior evento esportivo do planeta existe uma filosofia secular de busca
pela integrao dos povos, solidariedade, paz e, principalmente, educao do
homem atravs do esporte. Isto porque a movimentao dos atletas e espectadores
dos jogos olmpicos gerava um ambiente propcio para a difuso da arte, de ideais
filosficos e para o comrcio, o que deu mais fora aos eventos olmpicos, mas
tambm o converteu em uma festividade cultural e de entretenimento.
Lessa (2008) pontua que o esporte proporciona uma descarga de energia
que em geral contida pelo processo civilizatrio. uma atividade substitutiva para
a guerra, diverte, d prazer, ensina obedincia a regras, fortalece e disciplina o
corpo, mas tambm serve para construir identidades pessoais, locais ou nacionais e
ainda, observa que o esporte um espetculo.
Vale ressaltar, tambm, que a prtica de esportes sempre esteve
relacionada dinmica da sociedade, constituindo-se como um dos principais meios
de socializao. Os encontros festivos esportivos fazem possvel a reunio de um
nmero elevado de cidados, possibilitando a exposio de ideias, a realizao de
discursos e a interao social.
Pode-se dizer tambm que:
o esprito competitivo dos jogos gregos era uma contrapartida da arte da guerra e tinha uma grande profundidade espiritual e religiosa, enquanto que hoje tem um carter producionista e uma forte raiz poltica. [...] Hoje em dia, a chama olmpica
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se converteu em um smbolo da unio dos povos, tal qual ocorria 12 sculos atrs. Mesmo que possa parecer utpico em nossa poca, a fora de certos ideais permanece vivo dentro de cada um de ns. (TODT, 2001 p. 218).
Todt (2001) afirma ainda que os Jogos Olmpicos eram os mais antigos
jogos gregos. Imagina-se que foram criados em 776 a.C. A princpio pode ter sido
um hbito exclusivamente do Peloponeso12, mas por volta dos sculo VI, os
visitantes e participantes dos jogos olmpicos j vinham de longe, inclusive os juzes.
Cartledge, (apud TODT 2001, p. 218) ressalta que Parece que a
popularidade dessas competies atlticas foi um fator crucial para que emergisse
uma identidade coletiva entre os helenos no perodo arcaico. Observa-se, por meio
desta afirmao, que este encontro festivo desportivo consistia em criar a
conscincia de pertencer.
Vale ressaltar que o Dicionrio Michaelis aponta que pertencer significa fazer
parte, crescer. Assim como os Jogos Olmpicos, com o seu encontro festivo,
propiciava a conscincia de pertencer, identifica-se este elemento nos festivais de
msica. Isto considerando que se cria uma comunidade entre os participantes
assduos de festivais, na qual eles sentem que fazem parte do festival.
A partir da, surge, tambm, a questo de ser ator, um elemento importante
para que a festividade ocorra, pois assim como nas festividades esportivas, os
participantes, principalmente atletas, so os atores do evento. Enquanto que nos
festivais de musica os participantes, em alguns casos, se consideram como atores
do seu festival, como ser estudado mais adiante.
O mesmo autor pontua que essa conscincia era no s de pertencer a uma
s raa, mas tambm de falar uma lngua comum, crer nos mesmos deuses. Pois
independente da concepo dos Jogos eles contribuam para a unificao e difuso
da cultura helnica.
Ainda segundo Todt (2001), a origem dos jogos e espetculos atlticos
remontam ao terceiro milnio a.C. O mito da criao dos Jogos Olmpicos sugere,
ainda, que a corrida de carruagens sempre desempenharam um papel importante.
12
O Peloponeso uma extensa pennsula no sul da Grcia, separada do continente pelo Istmo de Corinto.
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Multides acorriam a Olimpada, acampando nos bosques prximos ao santurio.
Cada cidade mandava suas delegaes com tesouros para as divindades.
A durao dos jogos era de cinco dias e comeavam e terminavam com festivais em honra aos deuses. Os participantes e espectadores ficavam em tendas instaladas ao redor da rea esportiva. Durante os jogos realizavam-se festivais, msicas e discusses. A abrangncia dos festivais extrapolava o campo esportivo. Olmpia foi o local de encontro no s dos atletas mais destacados do mundo grego como tambm de filsofos, retricos, historiadores e letrados, que encontravam ambiente adequado para a exposio de seus ideias e doutrinas. Era tambm ocasio para a realizao de sacrifcios para os deuses nos seus altares existentes no Santurio de Olmpia (TODT, 2001, p. 219).
A afirmao acima apresenta importantes informaes para a construo do
objeto de estudo desta pesquisa. Tendo em vista que desde aquela poca os
eventos desportivos j eram vistos como eventos festivos devido sua abrangncia
e magnitude. A motivao principal era o esporte, entretanto muitos acompanhavam
como espectadores e outros, para se aproveitar da oportunidade de difundir seus
ideais e conhecimentos.
Ressalta-se execuo, durante os jogos olmpicos, de outras festividades,
de msica e de discusses, proporcionando aos participantes e espectadores mais
atraes, oportunidades de interao e experincias diferenciadas. Entretanto,
observa-se claramente a religio e o culto aos deuses, marcante da cultura grega.
Todt (2001) enriquece ainda mais os estudos ao pontuar que outros festivais
esportivos eram realizados na Antiga Grcia, porm nenhum deles poderiam igualar-
se s dimenses e celebridade dos Jogos de Olmpia realizado de quatro em quatro
anos nos meses de Agosto e Setembro (poca das colheitas) e no perodo em que
decorriam eram feitos acordos de paz a Trgua (todas as hostilidades entre as
cidades relacionadas com as provas eram interrompidas durante a realizao dos
Jogos).
Essa afirmao carregada de significado, pois se durante os Jogos at as
atividades blicas eram suspensas e toda a ateno poltica se voltava para a
realizao do festival. Tem-se ai um pequeno exemplo da sua magnitude, do poder
e da influncia que esse evento possua aos povos daquela poca. Povos
caracteristicamente guerreiros, mas que por cinco dias aboliam suas estratgias
militares em prol da realizao do festival esportivo.
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Estes foram os eventos festivos identificados no primeiro perodo histrico
Idade Antiga. No prximo item sero abordados as celebraes e festividades
ocorridas na Idade Mdia.
1.2 IDADE MDIA
O perodo da Idade Mdia, tambm chamado de era medieval,
tradicionalmente delimitado com nfase nos eventos polticos. Nesses termos, ele se
inicia com a desintegrao do Imprio Romano do Ocidente, no sculo V, e termina
com o fim do Imprio Romano do Oriente, tambm chamado de Imprio Bizantino
com a Queda de Constantinopla, no sculo XV. A chegada dos europeus Amrica
outro elemento histrico que encerra a era medieval. (PINTO 2013; VICENTINO;
DORIGO, 2001).
Entre esses marcos polticos, passaram-se cerca de mil anos. Foi um tempo
em que os europeus viveram em sua maioria no campo, restritos a propriedades
que buscavam sua auto-suficincia (VICENTINO; DORIGO, 2001).
Pinto (2013) e Vicentino e Dorigo (2001), apontam que a sociedade era
rigidamente hierarquizada e marcada pela f em Deus e pelo controle da Igreja
catlica, a instituio mais poderosa de toda a Idade Mdia. O poder poltico era
descentralizado, isto , estava nas mos de inmeros senhores da terra.
Gasparetto (2013) ressalta que na Idade Mdia, a Igreja Catlica aumentou
significativamente seu poder e a capacidade de influncia sobre a populao.
neste perodo da histria que a instituio tem mais poder e por isso condiciona o
cotidiano de todas as relaes. A soberania da Igreja interfere nas Artes, na
Arquitetura, na Poltica, na Cultura, na Filosofia, nas guerras, alm, claro, das
questes religiosas.
Sousa (2013) aponta que a educao era para poucos, pois s os filhos dos
nobres estudavam. Esta era marcada pela influncia da Igreja, ensinando o latim,
doutrinas religiosas e tticas de guerras. Grande parte da populao medieval era
analfabeta e no tinha acesso aos livros.
Os autores em suas narrativas mostram que a arte medieval tambm era
fortemente marcada pela religiosidade da poca. As pinturas retratavam passagens
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da Bblia e ensinamentos religiosos. As pinturas medievais e os vitrais das igrejas
eram formas de ensinar populao um pouco mais sobre a religio.
Pode-se dizer que, no geral, a cultura medieval foi fortemente influenciada
pela igreja catlica.
Por essas caractersticas, os estudiosos acabaram chamando esse
momento de Idade das Trevas. Eles acreditavam que o mundo medieval tinha
soterrado o conhecimento produzido pelos gregos e romanos.
A Idade Mdia, por sua vez, deu pouca importncia aos eventos de
promoo de encontro social, sendo que dois tipos deles marcaram aquela poca:
os de carter religioso: conclios e representaes teatrais, tendo como pblico os
membros do clero; e os de carter comercial: feiras, que tinham como pblico os
mercadores (SOUSA, 2013; VICENTINO; DORIGO, 2001).
Sousa (2013, p. s/n) aponta que a organizao social da Idade Mdia era
encarada como um desgnio divino que deveria ser passivamente seguido por todos
os cristos. Ir contra as desigualdades e a explorao dessa poca significava
afrontar uma harmonia proveniente dos cus.
Rapouso (2008, p s/n) mostra que os conclios, nome que se d at hoje
reunio eclesistica, era a reunio de membros do clero com o objetivo de estudar,
debater e discutir temas relacionados doutrina e aos dogmas da Igreja Catlica.
Acredita-se que o costume dos Conclios remonta s reunies ocorridas ainda na Idade Antiga, por volta do ano 50 d.C., a partir de pequenos grupos supostamente conduzidos pelos Apstolos, onde eram discutidos assuntos relacionados observncia das leis judias, bem como o ensinamento da ento nova religio crist. Porm, tais reunies, longe de representarem uma instituio formalmente constituda, possuam um carter bem privado, sem consequncias diretas de grande relevncia. (RAPOUSO, 2008, p. s/n)
Sendo os conclios encontros ocorridos pela superviso da igreja e no se
representando uma reunio formalmente constituda, entende-se que apesar de ser
um momento de encontro, ele tinha como objetivo deliberar assuntos sobre a
doutrina eclesistica, e no proporcionar uma experincia aos participantes
envolvidos, e por esses motivos, encerra-se a abordagem analtica acerca dos
conclios, tendo em vista o foco objeto de estudo deste trabalho.
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Entretanto, na Idade Mdia as representaes teatrais, que deram origem ao
teatro atual, foram produzidas visando quebrar a monotonia dos rituais da missa. O
tema central das apresentaes eram as cenas de Natal, da Paixo, da
Ressurreio de Cristo e da vida dos Santos. Isto ocorria, pois percebe-se que a
encenao de uma passagem bblica facilitava a compreenso do pblico. (AGUIAR,
2013 e VICENTINO; DORIGO, 2001).
Entretanto, com o passar do tempo o pblico teatral aumentou e as
encenaes exigiram que as representaes fossem feitas em locais maiores,
passando ento a ser utilizada a frente das igrejas ou um palco construdo para tal
fim. (AGUIAR, 2013).
Segundo a mesma autora, a partir da evoluiu o teatro, pois os espetculos
litrgicos passaram a se chamar mistrios, e aos poucos observa-se que os temas
teatrais comeam a se desligar dos aspectos religiosos e tornando o enredo mais
temporal.
Aguiar (2013) recorda que no perodo medieval no existiam casas de
espetculos ou teatros, portanto era confeccionado um palco provisrio e se
espalhavam bancos nas praas para que o povo pudesse assistir. Para os nobres,
eram construdos e ornamentados camarotes.
As informaes trazidas pela autora mostram que aos poucos o espao com
domnio da igreja foi se tornando um espao de diverso e lazer para a populao,
um espao de liberdade dentro dos moldes da igreja, onde se vivia um momento
ldico e era gerada uma experincia.
Transpondo os conceitos e levando em conta as propores dos momentos,
observa-se que as representaes teatrais na Idade Mdia, foram uma forma tmida
de um festival ocorrido durante este perodo. Pois era um momento onde se
proporcionava uma experincia diferenciada da rotineira ao pblico, onde existia
uma separao entre o pblico geral e a nobreza, mas era apresentado para ambos
a mesma obra e proporcionava a eles a possibilidade do convvio e do momento
ldico.
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Ainda em se tratando dos encontros festivos que aconteceram na Idade
Mdia e podem chegar ao que hoje conhecemos como festivais, esto as grandes
feiras comerciais.
Carvalho (2013) aponta que a partir do renascimento comercial e urbano no
sculo XI, comeou uma transformao na vida social, na paisagem urbana e na
economia europeia. O artesanato se constituiu como principal meio de produo de
mercadorias.
O autor apresenta os mercadores como os principais responsveis pelas
atividades comerciais, deslocavam-se de uma regio para outra e negociando suas
mercadorias. Inclusive, foram eles que exerceram inicialmente as atividades
bancrias.
As feiras foram os eventos mais importantes da Idade Mdia e tinham o
mesmo conceito das atuais a exposio de produtos cultivados ou manufaturados
pelos mercadores, visando a conquista de clientes. A feira mais antiga data de 427,
em Champagne, Frana. As principais feiras ficavam nas regies de Champagne na
Frana, Genova e Veneza, na atual Itlia e em Flanders, atual Blgica (CARVALHO,
2013).
A princpio as feiras exerciam atividades comerciais locais, mas com o
decorrer do tempo elas se tornaram amplos espaos de negcios, realizando a
comercializao e recebendo mercadores de diversas regies da Europa, frica e
sia (CARVALHO, 2013).
Dentro da histria do turismo e do deslocamento de pessoas, as feiras da
Idade Mdia so um marco. No que se refere ao objeto de estudo deste trabalho,
segundo as narrativas dos autores, as feiras eram espaos com menos influncia da
igreja. Eram voltados diretamente para o comrcio, mas marcadas pelo
deslocamento de pessoas com a inteno de venda e compra, que proporcionavam
aos mercadores e moradores desta cidade um espao amplo de troca de
informaes e cultura.
Diferente do perodo histrico anterior, os sculos ditos como obscuros
promoveram mudanas tambm de hbitos alimentares. J que a cultura no se
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baseava na agricultura, como os romanos, mas na explorao de recursos naturais,
gado e caa. Ao mesmo tempo em que a comida tornou-se cada vez mais ligada a
hierarquia (STRONG, 2004).
Embora os alimentos estivessem intimamente conectados crena religiosa nas culturas grega e romana, em caso algum a religio tentou controlar quando e o que as pessoas comiam. Do tempo de Homero at a suspenso crist do sacrifcio pago no final do Imprio, o papel da comida na adorao e nos festejos a ela associados permaneceu basicamente o mesmo [...] Com a converso do imperador Constantino em 312, quando o cristianismo tornou-se a religio oficial do Imprio Romano, tudo isso foi condenado a mudar. [...] O cristianismo herdou da tradio judaica a prtica de regular o que e quando as pessoas comiam. Juntamente com o sexo, a comida tornou-se sujeita a regras determinadas por Deus e, portanto, uma questo de conduta tica. (STRONG, 2004 pg. 48 e 49.)
Com isso, a realizao de grandes banquetes e de festas deixou de
acontecer, pois agora eram os dogmas catlicos que regulamentava as interaes
sociais. Somente com a aprovao da igreja era que podiam haver reunies e
congregaes de pessoas. Entretanto, os hbitos, objetivos e as intenes j no
eram as praticadas pelos gregos e romanos durante seus banquetes.
Constata-se, assim, que a Idade Mdia foi muito importante no que tange
cultura, educao e costumes das civilizaes, atravs dos dogmas da igreja. Mas
no que se refere aos aspectos de interao e diverso, as extravagncias foram
reduzidas, e assim, reduz tambm a possibilidade de criar um ambiente em prol da
diverso e do prazer pelo prazer, um ambiente para o convvio, para o inusitado,
para a satisfao do homem.
Diante do exposto, no foi identificado ao longo dos relatos dos historiadores
a manifestao de prticas culturais similares, ou que poderiam evoluir, ao que
entendemos como festivais. Entretanto, foram apresentadas algumas manifestaes
culturais e sociais medievais que se remetem aos festivais, como os conclios, os
espetculos teatrais e as feiras.
1.3 IDADE MODERNA
A Idade Moderna, segundo Gasparetto (2013), compreende o perodo
iniciado em 1473, com a tomada de Constantinopla pelos turcos otomandos e vai at
Revoluo Francesa, ocorrida em 1789.
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O autor ressalta que a Idade Moderna representou uma poca de
diversificao dos costumes e das tradies medievais. Ao final da Idade Media
comearam a surgir inovaes, comeou a crescer o comrcio por meio das feiras e
das cruzadas. Com o fortalecimento do comrcio, nasce uma classe social, os
burgueses, que seriam os responsveis pelas principais alteraes sociais ocorridas
na Era Moderna. (GASPARETTO, 2013).
A Era Moderna se destaca: pela ocorrncia das grandes navegaes, que
romperam as barreiras fsicas do planeta, com a descoberta de novos continentes e
ampliaram os horizontes comerciais; pelo Renascimento, movimento cultural que
inspirada pelos valores da antiguidade e passou a representar o apogeu cultural da
humanidade at ento; pela Reforma Protestante que deixou em posio
desfavorvel a soberania religiosa da Igreja Catlica; e pelo absolutismo, que
marcou o perodo com grandes reis (VICENTINO; DORIGO, 2001; GASPARETTO,
2013).
Gasparetto (2013) pontua que a Idade Moderna foi um perodo de retonada
de valores culturais e de grande ampliao da cultura.
A expanso martima europeia reforou o fenmeno das feiras, apresentado
na Idade Mdia. Mas na era moderna as feiras tiveram seus lugares diversificados,
saindo do mar mediterrneo e se apropriando do Oceano Atlntico. As grandes
feiras de mercadores passaram a se tornar lugares de encontros de diversas
culturas, e a motivar as pessoas a se deslocarem em busca de informao e
comrcio. Agora com propores maiores do que as da Idade Mdia, se tornando
verdadeiras organizaes comerciais. (VICENTINO; DORIGO, 2001).
Em se tratando de turismo, Igarra (2003, p. 4) aponta que:
Com o fim do imprio romano, as viagens sofreram um grande decrscimo. Com a sociedade organizada em feudos autossuficientes, as viagens tornaram-se uma grande aventura pelo perigo que elas representavam. [...] As excees, nessa poca, eram as cruzadas. Grandes expedies eram organizadas para visitao de centros religiosos na Europa e para libertar Jerusalm do domnio dos rabes. [...] Com o fim da Idade Mdia e o Advento do capitalismo comercial, as viagens foram se propagando.
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Com esta afirmao o autor apresenta o turismo de acordo com o momento
histrico. Como apresentado anteriormente, na antiguidade o turismo teve um
grande avano com os jogos olmpicos e com o comrcio e este avano tem um
momento de estagnao parcial durante a Idade Mdia devido aos feudos e ao
controle da Igreja Catlica, mas ainda com a ocorrncia das Cruzadas que
representavam viagens. Na Era moderna, com o nascimento do capitalismo, o
recoro do comrcio e as suas novas rotas o turismo mais uma vez volta a se
desenvolver.
Neste mesmo contexto de mudanas est o Renascimento Cultura, vivido na
era moderna, que pode ser considerado como um movimento cultural laico, racional
e cientfico, que se inspirou na cultura greco-romana rejeitando os valores da Idade
Mdia. O elemento central do Renascimento foi o humanismo, ou seja, a valorizao
do ser humano. (VICENTINO; DORIGO, 2001).
Igarra (2003) aponta que no sculo XVII com o avano do capitalismo o
hbito de viajar para estaes de guas expandiu-se nas classes mais favorecidas,
composta pela realeza e pela burguesia. Incentivando a criao de SPAS
inicialmente no interior do pas e depois no litoral, que aos poucos deixaram de ter
uma destinao exclusivamente para a sade e passaram a serem utilizados para
eventos sociais, bailes, jogos de azar e outras formas de entretenimento.
As informaes fornecidas por Igarra (2003) remete proliferao de
eventos sociais, que passaram a estar cada vez mais presente na sociedade com o
passar dos anos. Com uma burguesia fortalecida que buscava a sua insero na
sociedade, os eventos se tornaram o espao ideal para este avano. (VICENTINO;
DORIGO, 2001).
Strong (2004) aponta que a partir da herana do final da Era Medieval, os
banquetes na Idade Moderna se transformaram em um evento altamente elaborado,
na qual a comida e o sabor no eram os elementos centrais durante a exagerada
demonstrao do luxo e da fartura e glorificao do anfitrio.
O hspede devia ser ator-espectador num tipo particular de ritual, governado por regras especficas e com um nico propsito: glorificar o anfitrio. Grandes acontecimentos, como a visita de um governante a outro ou um casamento dinstico, eram marcados primeiro pelo espetculo pblico de uma parada triunfal, e depois pelo espetculo privado de um banquete no palcio, programa que ainda
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sobrevive na Gr-Bretanha de hoje. Inicialmente se mantinha a privacidade do banquete, mas aos poucos, medida que se evidenciou o seu poder de impressionai, tornou-se costume admitir espectadores. (STRONG, 2004, p. 140).
Esta citao aponta no s para a grandiosidade dos banquetes, qualificado
como espetculos privados, mas tambm demonstra algumas situaes em que
ele era utilizado e evidencia o poder que se transmitia neste tipo de evento. Strong
(2004) aponta que durante a Idade Moderna as festas eram pretexto para a
exposio dos objetos valiosos de posse da famlia.
O autor ressalta ainda que, independente do tipo de festa, seus
componentes eram constantes, iniciando pela seleo do local e sua decorao, que
desejavam impressionar mais do que cumprir com a sua funo. Seguido pela
seleo do cardpio, em que o autor pontua que o homem que prepara um
banquete tem tanto a fazer quanto aquele que comanda um exrcito (STRONG,
2004, p. 40), isto devido diversidade de pratos e quantidades exageradas de
comida oferecida.
Alm do resgate dos banquetes, na Era Moderna os Jogos Olmpicos
tambm foram retomados, e com o passar dos anos congregavam maior quantidade
de atletas e de pblico. Assim como na Antiguidade, na Era Moderna os jogos foram
mais do que eventos esportivos, pois a sua realizao atraia pessoas para
determinados locais, o que gerava a movimentao de artistas, filsofos e
mercadores. (TODT, 2001)
Durante a Idade Moderna no houve um grande avano na execuo de
festivais, alm da retomada dos eventos sociais, festas e bailes que de alguma
forma proporcionavam aos seus participantes um momento de descontrao, uma
celebrao que ocorria na Antiguidade. Entretanto, observa-se um grande avano na
atividade turstica, em termos de deslocamento e centros comerciais, com
infraestrutura para pernoites, alimentao e entretenimento.
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1.4 IDADE CONTEMPORNEA
A Idade Contempornea, tambm conhecida como Ps-Moderna, o
perodo em que vivemos atualmente. Gasparetto (2013) aponta que a Idade
Contempornea teve o seu incio aps a Revoluo Francesa, em 1789.
O autor menciona que a Ps-Modernidade marcada pela grande
modificao nas estruturas sociais que dividiam a sociedade em escalas, como uma
pirmide, onde o Rei e a Nobreza estavam no topo, seguido pelo clero e depois os
demais integrantes da sociedade, camponeses e burgueses. Entretanto, a burguesia
j representava um importante grupo na ordem social (GASPARETTO, 2013).
O incio da idade moderna marcada pelo iluminismo que foi o movimento
em reao ao absolutismo e contribuiu para grandes modificaes. Este movimento
defendia o uso da razo como melhor caminho para alcanar a autonomia, a
liberdade. Do iluminismo surgiu, por exemplo, a ideia da criao de escolas, para
que o povo tivesse conhecimento e ele no ficasse restrito somente igreja.
(PACIEVITCH, 2013; VICENTINO; DORIGO, 2001).
Beni (2007), aponta que a histria das viagens se confundem com a prpria
histria da humanidade, j que os deslocamentos acompanharam o
desenvolvimento humano. Entretanto, ressalta que o Renascimento Europeu refletiu
na melhoria da produtividade da agricultura, no crescimento das cidades, expanso
do comrcio e dos negcios, e, ainda, o florescimento das artes e da literatura, alm
da explorao global com a chegada Amrica. O que representou a quebra do
domnio da religio e encorajou a busca pelo conhecimento, a satisfao pessoal e o
desejo de conhecer o mundo.
O perodo contemporneo caracteriza-se pela presena do capitalismo no
cotidiano da humanidade. Devido a isso surgem inmeras transformaes nas
sociedades, se consolidam as potncias capitalistas e o incentivo ao consumo
(GASPARETTO, 2013).
durante este perodo que ocorrem as principais transformaes do mundo,
com o avano da tecnologia de comunicaes, de transporte, de armamentos,
dentre muitas outras. Avanos estes que em alguns momentos geraram tenses
mundiais e terminaram em guerras. (VICENTINO; DORIGO, 2001).
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Igarra (2003) aponta que a era das ferrovias representou uma segunda
etapa no desenvolvimento do turismo, sendo a primeira estabelecida com as
grandes navegaes na modernidade.
O perodo entre guerras se destaca no processo de desenvolvimento do
turismo, pois com a paz temporariamente reestabelecida, a tecnologia desenvolvida
para a guerra, se voltou para a humanidade, proporcionando facilidades nos
deslocamentos e nas comunicaes. (IGARRA, 2003).
Entretanto, com o fim da segunda guerra mundial que o turismo toma fora
e se desenvolve plenamente. Os avies desenvolvidos para o transporte na guerra
perde utilidade e se torna um meio de transporte mais acessvel populao. Com
isso as distncias so extremamente reduzidas, percursos que antes eram feitos em
dias, com a utilizao dos avies passam a ser feitos em horas. (BENI, 2007;
IGARRA, 2003; DIAS; AGUIAR, 2002).
O avano dos meios de transporte impulsionou o turismo a se desenvolver,
levando cada vez mais pessoas a lugares diferentes. Dentro deste contexto que se
desenvolvem o turismo, e consequentemente os festivais de msica. Por se tratar de
um perodo histrico riqussimo em manifestaes culturais, se ater ao objeto de
estudo deste trabalho que ser abordado detalhadamente no prximo captulo.
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3. OS FESTIVAIS DE MSICA E O TURISMO
A partir da evoluo dos eventos ao longo dos anos e da descrio dos
festivais de msica, observa-se que estes eventos em muitos momentos tiveram o
seu desenvolvimento possvel devido ao avano do turismo. Ressalta-se tambm a
dependncia de alguns servios e equipamentos tursticos para que estes eventos
sejam possveis.
Este captulo visa elaborao e o melhor entendimento dos conceitos que
compe estes fenmenos para que, com base na literatura, seja possvel identificar
as semelhanas e singularidades que os aproximam e os distanciam, que so
comuns entre eles e que sirvam de base para a anlise.
3.1 EVOLUO DO CONCEITO DE TURISMO
A atividade do turismo surge como atividade economicamente organizada,
durante a modernidade a partir da industrializao, que entre inmeras mudanas,
tornou possvel a instituio das frias remuneradas. Entretanto, durante a ps-
modernidade que o turismo se desenvolve, devido reduo do tempo e espao
possibilitado pelas comunicaes, meios de transportes e redes de informaes.
Essa atividade se desenvolveu junto com o capitalismo, sendo, portanto, uma
atividade de grandes impactos e resultados econmicos (PIRES, 2009; GASTAL,
2005; MOESCH, 2000).
O turismo tido como uma atividade ps-moderna, pois como apresentado
por Maffesoli (1998), ocorre uma intensa relao de consumo gerada pelos
elementos diversos disponveis. No se trata apenas de um consumo materialista,
mas sim uma busca por vivenciar experincias, por tornar realidade o que se
vivencia na imaginao.
Essa necessidade de vivenciar experincias tambm relatada por Pires
(2009) que aponta que junto com a globalizao veio ideia da homogeneizao
das culturas. O autor aponta que houve a perda das identidades e a aproximao
das culturas de forma a se tornarem uma s.
No entanto, essa uma premissa que no se confirma, pois Pires (2009)
mostra que a ideia do homogneo permitiu a valorizao do outro, das diferenas
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culturais, das particularidades que em muitos casos passou a ser evidenciada e a ter
um valor, no s para o turismo, como tambm para a sociedade.
Por muitos anos, o turismo foi estudado como uma indstria sem chamins
ou como uma atividade puramente econmica. At hoje est como campo cientfico
dentro da administrao e da economia, apesar de sabermos que o turismo vai
muito alm do setor econmico (GASTAL, 2005).
Uma conceituao da atividade turstica, dos elementos que a compe, das
reas de atuao e dos resultados gerados por ela algo complexo que ainda no
se tem de forma consolidada. Isto ocorre pois entende-se que o turismo permite
vrias abordagens, de acordo com a tica e necessidade de anlise. Por isso
existem tantas classificaes, tipologias e conceituaes, que muitas vezes acabam
fazendo uma fragmentao excessiva e limitando a percepo da atividade.
Moesch (2000, p. 12) quando se refere ao turismo sendo observado da tica
econmica mostra que esta uma observao reducionista, pois
se o turismo for entendido como mera atividade econmica, sua anlise passa a vir recheada de ndices estatsticos, projees de crescimento, planos e projetos de nvel macro e micro, estudos de demandas, viabilidade econmica de investimento, custo-benefcio entre produo e consumo, limitando-se a uma anlise aparente do fenmeno.
Hoje, j se sabe que essa observao puramente econmica no o
suficiente para o entendimento da atividade turstica.
Muitos dos casos em que o turismo um destruidor da natureza ou das
culturas locais existem porque no momento de pensar, planejar e executar a
atividade, o nico aspecto analisado foi o econmico. Sem observar as
transformaes na paisagem do local e na vida das pessoas, sem inserir a
comunidade na atividade, de forma que ela seja beneficiada pelo turismo, isto ,
sem pensar a atividade como um todo. Por isso, se faz necessrio entender o
turismo em toda a sua complexidade, para que a fragmentao no permita
desconsiderar certos aspectos, de forma a gerar consequncias negativas
(MOESCH, 2000).
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Urry (2001, p. 16) aponta que o turismo, as frias e as viagens so
fenmenos sociais mais significativos que a maioria dos comentadores tm levado
em considerao.
Gastal (2005, p. 12) auxilia no processo de conceituao ao apontar que
falar em turismo significar fazer referncia quelas pessoas que saem das suas
rotinas espaciais e temporais por um perodo determinado. Esse deslocamento,
espacial e temporal, no mais ou menos significante se ultrapassa fronteiras
nacionais ou internacionais, pois o que h em comum em todos esses
deslocamentos o estranhamento, a ansiedade diante do novo.
A conceituao da autora refora a necessidade de abordar o turismo como
uma atividade sociocultural, pois envolve o encontro e a interao entre o turista e o
local. Alm disso, a ansiedade pelo novo uma caracterstica puramente cultural,
que est atrelada ao grupo em que o turista est inserido.
Complementando o conceito proposto pela Gastal, Urry (2001) aponta que o
turismo envolve o conceito de afastamento, ou seja, de uma ruptura com a rotina e
com as prticas do dia a dia, o que permite que os sentidos dos turistas se abram
para o novo, para o conjunto de estmulos que contrastam com o cotidiano.
Beni (2007) aponta que o turismo pode ser entendido como um processo de
fruio do espao natural e cultural, por meio da utilizao de servios e
equipamentos especficos, tais como transporte, alojamento, recreao e
alimentao.
Com o intuito de chegar a uma conceituao mais completa, Moesch (2000,
p. 9) afirma que:
O turismo uma combinao complexa de inter-relacionamentos entre produo e servios, em cuja composio integram-se uma prtica social com base cultural, com herana histrica, a um meio ambiente diverso