estudo sobre a segurança pública na região ... · humanista e articulador que impõe às ações...

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0 Metrópole Estratégica Estudo Sobre a Segurança Pública na Região Metropolitana de Recife Recife, maio de 2002 Ronidalva de Andrade Melo Laudecina Alves Pereira

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Metrópole Estratégica Estudo Sobre a Segurança Pública na Região

Metropolitana de Recife

Recife, maio de 2002

Ronidalva de Andrade Melo

Laudecina Alves Pereira

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SUMÁRIO I PARTE

APRESENTAÇÃO.....................................................................................................................3 I.1 SEGURANÇA PÚBLICA – DIAGNÓSTICO...................................................................6 I.1.1 Diagnóstico da Violência Criminosa na RMR.................................................................6 I.1.2 Evolução dos Óbitos por Homicídios...............................................................................8 Regiões Metropolitanas....................................................................................................8 Brasil, Pernambuco, Região Metropolitana de Recife e Municípios...............................9 Óbitos por Homicídio e Sexo.........................................................................................10 Óbitos por Homicídio e Faixa Etária.............................................................................11 I.1.3 Evolução dos Óbitos por Acidentes de Transporte.......................................................12

Regiões Metropolitanas................................................................................................12 Brasil, Pernambuco, Região Metropolitana de Recife e Municípios............................13 Óbitos por Acidente de Transporte e Sexo...................................................................14 Óbitos por Acidente de Transporte e Faixa Etária........................................................15

I.1.4 Crimes Contra a Pessoa e os Costumes .......................................................................16 Lesão Corporal.............................................................................................................16 Sequestro e Cárcere Privado........................................................................................18 Estupro.........................................................................................................................19 I.1.5 Crimes Contra o Patrimônio........................................................................................19

Furto............................................................................................................................19 Furto a Transeunte...................................................................................................... 19

Furto a Residência.......................................................................................................22 Furto a Estabelecimento Comercial............................................................................24 Furto de Veículo..........................................................................................................25 Roubo..........................................................................................................................26 Roubo a Transeunte.....................................................................................................27 Roubo a Residência.....................................................................................................28 Roubo a Estabelecimento Comercial..........................................................................30 Roubo de Veículo........................................................................................................31

I.1.6 O Caldeirão de Bruxa..................................................................................................32 I.2 UM DIAGNÓSTICO DA CRIMINALIDADE CONTROLADA.................................35 I.2.1 O Sistema Penitenciário de Pernambuco – O Elo Partido...........................................35 II PARTE II.1 O MODELO SISTÊMICO DA SEGURANÇA PÚBLICA – Instrumento central de enfrentamento à violência...........................................................................................44

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II.2 A POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO.......................................50 II.3 A CRÍTICA...................................................................................................................56

III PARTE

III.1 UM NOVO CAMINHO: O MODELO ARTICULADOR DA DEFESA SOCIAL....58 III.1.1 A Lógica da Complexidade.......................................................................................59 III.1.2 A inserção da Cientificidade......................................................................................59 III.1.3 A Participação da Comunidade..................................................................................60 III.1.4 O Conhecimento da Ambiência Criminosa................................................................61 III.1.5 O Compromisso com a Lei, a Ética e os Valores Essenciais da Humanidade...........62

III.2 A SEGURANÇA PÚBLICA NA PERSPECTIVA DA DEFESA SOCIAL................63 PROPOSTA 1................................................................................................................63 PROPOSTA 2................................................................................................................63 PROPOSTA 3................................................................................................................64 PROPOSTA 4................................................................................................................64 III.2.1 A Presença do Estado Federal.....................................................................................65 III.2.2 A Presença do Estado Membro...................................................................................65

a) Agenda Estruturadora..............................................................................................66 b) Agenda Emergencial...............................................................................................67 c) Agenda de Mobilização e Capacitação...................................................................69 d) Agenda de Articulação............................................................................................70

III.2.3 A presença do Município...........................................................................................70

CONCLUSÃO..........................................................................................................................71

BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................74 ANEXOS..................................................................................................................................77

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APRESENTAÇÃO

Este estudo, tem por objetivo, trabalhar o tema de Segurança Pública, considerando sua estreita relação com a realidade violenta presente na sociedade brasileira, em especial aquela que se manifesta na Região Metropolitana do Estado de Pernambuco.

O seu teor questiona, analisa as formas vigentes de efetivação da prática de segurança pública e sugere um modelo interventivo que deve se expressar na política pública dirigida para o setor.

A abordagem proposta foge àquela usualmente aceita e reproduzida cuja concepção tem, no caráter sistêmico da atuação dos órgãos do Estado, seu ponto de sustentação; no enfoque aqui apresentado, desloca-se essa visão que impera nas concepções de Segurança Pública vigentes e opta-se pela apropriação de um paradigma de caráter pluralista - humanista e articulador que impõe às ações de segurança e de defesa da sociedade, a requisição de novos atores e novos enfoques tanto no que diz respeito ao âmbito e abrangência das ações de defesa quanto no que concerne ao conjunto de referências interventivas que se impõem no processo de condução ao enfrentamento da desordem social.

Os pressupostos que orientam essa concepção alinham-se nos seguintes pontos: 1. A Segurança Pública envolve Sociedade Política e Sociedade Civil como atores

indissociáveis; 2. O alvo da Política Pública de Segurança é a proteção e preservação da ordem

pública, da incolumidade das pessoas e do patrimônio, em estrita atenção ao princípio da igualdade democrática;

3. A atribuição sobre a execução da Política de Segurança Pública é compartilhada sistêmica e organicamente entre o Estado e a Sociedade;

4. A violência social detém uma amplitude e complexidade cujo eixo de ação permeia toda a sociedade e nela, está contida a violência criminosa cuja manifestação é o principal alvo dos projetos de Segurança Pública;

5. A Segurança Pública se institui por meio de uma linha institucional semelhante a uma linha de montagem industrial, não pode prescindir do Sistema Penitenciário como instrumento de Defesa Social;

6. O Sistema Penitenciário não é só um aplicador da Justiça, também é órgão de defesa e segurança com missão ressocializadora.

Fincada nesses pressupostos, a composição desse estudo tem como solo teórico uma

base conceitual pautada sobre os seguintes conceitos: 1. Violência Branca - entendida como a negação da cidadania. A invisibilidade do

cidadão promovida pela ausência de um registro que o qualifique como sujeito de direitos, lhe indique o espaço de pertencimento comunitário que o abriga frente ao Estado e à sociedade como um todo;

2. Violência Vermelha - expressão criminosa que danifica a vida social e despreza o contrato que rege a ordem e a vida em sociedade;

3. Linha de Montagem da Segurança Pública - Conjunto de órgãos estatais responsáveis diretos, segundo definição constitucional, pela segurança e defesa da sociedade;

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4. Defesa Social - um dispositivo1 que articula forças sociais, numa conjugação de aspirações humanísticas e democráticas, com vistas a implementar e desenvolver uma prática de defesa da sociedade com gerência compartilhada entre o Estado e a Sociedade Civil cujas ações são disseminadas em todo o tecido social objetivando efetivar o controle e a vigilância da ação violenta em todos os níveis de manifestação, em especial a criminalidade;

5. Complexidade do Projeto de Defesa - A metodologia da Defesa Social montada a partir de várias estratégias, organizadas como resposta à multiplicidade da ação criminosa; sua eficiência está em instrumentalizar o conceito de dispositivo¹ na amplitude proposta por Michel Foucault. Isso implica espalhar a defesa social, de forma capilar, por todos os recônditos da sociedade;

6. Comunidade - conjunto de indivíduos que vivenciam interesses comuns e se agrupam, estimulados pela idéia de pertencimento, podendo habitar um espaço territorial construído pela proximidade;

7. Ambiência Criminosa - conjunto de fatores sociais, políticos, econômicos, psicológicos em geral excludentes que induzem as pessoas à prática da delinqüência, do ilícito e do crime;

8. Ciência e Tecnologia para a Defesa - resume-se na aplicação de todos os ramos de produção do conhecimento e da ciência na busca de criar e organizar saberes próprios à defesa da sociedade, dirigindo-os à invenção, produção e efetivação de tecnologias básicas para a Defesa social;

9. Compromisso Ético - Lei e Valores Sociais - implica na definição de pradrão de condutas socialmente aceitas, inspiradas nos valores essenciais da humanidade reproduzidos na moral instituída e na lei. Registrado o quadro conceitual que dá sustentação ao estudo, faz-se mister explicitar

o objetivo e a metodologia que ele comporta. Quanto ao objetivo, pretende o trabalho apresentar um diagnóstico do desempenho da

criminalidade na Região Metropolitana do Recife, ressaltando os seguintes pontos: a) registros da incidência e tipologia criminosas que circula na RMR; b) analisar o comportamento estatístico dos crimes mais presentes no cotidiano da

Região ; c) dispensar especial atenção ao crime de homicídio, não só pela natureza impactante

que ele carrega, mas principalmente pelo caráter de irreversibilidade e dano de altíssimo teor ofensivo à sociedade, que ele, verdadeiramente, possui. É importante também admitir que, por ser o tipo de crime que dispõe de mais informações quer seja no campo dos dados empíricos, quer seja na perspectiva analítica, trabalhar a violência criminosa a partir da experiência prática que expõe a banalização da vida por meio da incidência de homicídios em nossa sociedade torna-se "conditio sine qua non" para qualquer interpretação que se queira oferecer à compreensão da violência que nos aflige.

Por outro lado, também se constitui objetivo desse Estudo, analisar a política de

segurança pública local, visando encontrar seus pontos de compatibilidade entre 1 O conceito de Dispositivo aqui usado remete a M. Foucault a autoria e descreve como função metodológica "demarcar um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são elementos do dispositivo, é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos ...Entre estes elementos, discursivos ou não, existe um tipo de jogo, ou seja, mudanças de posição, modificações de função que também podem ser muito diferentes. O dispositivo tem, portanto, uma função estratégica dominante. ( Michel Foucault. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro Graal 1981 p. 244

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planejamento, ações e metas, na perspectiva das modalidades preventiva e repressiva à criminalidade, e sua efetividade, eficiência e eficácia, no que concerne a um efetivo controle da expressão criminosa no ambiente social.

Nesse sentido, efetivar-se-á uma análise crítica do Plano Integrado de Segurança Cidadã - Pernambuco 2000 e se observar-se-á sua compatibilidade com o Plano Nacional de Segurança Pública na direção de detectar suas complementariedades, fragilidades comuns, conexões e apoios mútuos.

Para dar conta de tais propósitos, montou-se como metodologia a construção de um

formato que obedece a seguinte orientação: 1. O apoio empírico que embasa as análises, questionamentos, críticas, sugestões e

propostas têm sua sustentação nas fontes secundárias de dados. 2. Serão, portanto, apresentados aqui, elementos referentes à incidência criminosa na

Região Metropolitana do Estado de Pernambuco extraídos dos dados oficiais gerados nos registros de ocorrências realizados pelas delegacias de polícias vinculadas à Secretaria de Defesa Social, e em particular, dados produzidos em Delegacia Especializada, também registros exclusivos da Polícia Militar de Pernambuco, da Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado, do Ministério Público, do DataSUS e do Ministério da Justiça.

3. Por fim, declara-se a constatação de que os dados disponbilizados foram insuficientes e deficitários para cobrir os objetivos declarados no Estudo. Tornou-se difícil localizar a tipologia criminosa da RMR. No nível de detalhamento que os autores do estudo tinham como expectativa, para dar conhecimento do desempenho da criminalidade na RMR, também não foi possível armar o quadro de informações sobre a ambiência criminosa onde a criminalidade circula, apontar um desenvolvimento temporal/ evolutivo a partir da montagem cronológica do desempenho da criminalidade, como também compatibilizar ações pertinentes à política de segurança pública a partir da demanda que a criminalidade impõe.Tornou-se ainda irrealizável o cruzamento entre ações criminosas versus planos de governo para o seu enfrentamento. Frustraram-se algumas expectativas do trabalho que em determinadas ocasiões, apresenta lacunas e descontinuidades por força de impossibilidade de fazer valer certos dados, o que, de certa forma, obrigou a renúncia de produção de determinadas análises, críticas ou propostas, em função da imprecisão ou mesmo inexistência do elemento empírico que daria respaldo a interpretação final.

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I PARTE

I.1 SEGURANÇA PÚBLICA - UM DIAGNÓSTICO

A Constituição Brasileira no seu Título V, trata da Defesa do Estado e das

Instituições Democráticas, dispensando todo um capítulo para regular os procedimentos referentes à Segurança Pública.

Inicialmente, ela define a Segurança Pública como um dever do Estado, determinando, ao mesmo tempo, que ela seja também, direito e responsabilidade de todos. De forma precisa, o artigo 144 declara que a segurança é exercida com a finalidade de preservar a ordem pública, a incolumidade das pessoas e do patrimônio; e, é a própria lei que atribui o dever de promover a segurança, aos seguintes órgãos estatais: polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, militares e corpos de bombeiros militares.

Embora a carta magna da sociedade brasileira tenha restringido a atribuição da segurança pública ao dever do Estado, o que implica em imputá-la às atribuições das corporações policiais, sabe-se que a segurança de uma sociedade se circunscreve num âmbito muito mais extenso que o da atuação das polícias, requisitando outras instituições sociais aptas a compartilhar desse mesmo dever e responsabilidade.

Assim é que, determinada a competência da polícia federal, e das polícia rodoviária e ferroviária federal , diz a Constituição: a polícia civil está encarregada das funções de polícia judiciária, responsável pelas apurações de infrações penais enquanto as polícias militares, força auxiliar e reserva do exército, têm por atribuição, oferecer o policiamento ostensivo e preservar a ordem pública, subordinam-se aos governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios e terão uma lei disciplinar que disporá sobre sua organização e funcionamento "de maneira a garantir a eficiência de suas atividades."2

O procedimento de atuação remete à definições contidas nas leis do país e sua forma de atuar se insere numa determinação sistêmica

I.1.1. Um Diagnóstico da Violência Criminosa na RMR

É consenso nacional o entendimento de que a situação de violência que a sociedade brasileira, hoje vivencia , representa um quadro de complexidade tão variado que, de certa forma, tem impedido uma análise fecunda e capaz de orientar com rigor científico, o planejamento de ações apropriadas ao enfrentamento dessa realidade.

Pode-se dizer, sem medo de errar, que não obstante, seja o nosso país de dimensões continentais e grande parte de sua área territorial ainda agregue um contingente populacional chamado de rural, o problema da violência, especialmente, a violência criminosa se tornou, nos dias de hoje, o problema nacional de maior visibilidade e, ao lado do desemprego, se constitui o grande vilão gerador do pânico e da insegurança social.

2 República Federativa do Brasil. Constituição de 1988 Texto Constitucional de 5 de outubro de 1988 com alterações adotadas por Emendas Constitucionais. Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, Brasília, 1997

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Apesar do senso comum admitir, ainda que a ciência e segmentos importantes da sociedade brasileira e internacional refutem, a relação pobreza e violência é praticamente verificável numa relação de causa e efeito, o jornal “ A Folha de São Paulo” , do dia 14 de fevereiro de 2002, noticia que:

“ Cruzamento de dados feito pela Prefeitura de São Paulo mostra que a pobreza e a violência andam de mãos dadas nos 96 distritos da cidade” .... diz ainda a reportagem que “ viver na linha de pobreza, além de estar mais exposto ‘a violência, pode significar também viver em um bairro mais populoso, Ter baixa escolaridade e habitar um distrito sem indústrias” E na voz de um especialista da Universidade de São Paulo, “ bairros com um alto crescimento populacional – aliado à falta de oportunidade no mercado de trabalho e uma baixa escolaridade da população – são regiões onde as pessoas estão mais expostas ‘a violência.”3

Há portanto de se perguntar de que violência é essa que estamos falando? Acreditamos que essa seja talvez uma das maiores dificuldades que o estudioso se

depara ao trabalhar a temática da violência, sua tipologia e âmbito da amplitude. Como definir o que chamamos de violência, Criminalidade? Desrespeitos a

direitos? Exclusão social? Discriminação étnica, religiosa ou sexual? Descaso do Estado frente aos imensos contingentes populacionais que sobrevivem na miséria? As guerras? O instinto patológico ameaçador? Infelizmente, tudo, absolutamente tudo aqui exposto pode ser chamado de violência e efetivamente o é.

A violência, no seu aspecto multifacetário, permeia todo espaço social real ou simbólico, aninhando-se nos seus mais impenetráveis recônditos.

Portanto, oferecer análises e propostas pertinentes ao enfrentamento da violência implica necessariamente, efetivar o recorte do enfoque social que interessa ‘a abordagem em curso.

Para esse trabalho, a opção definida tem como determinantes as chamadas violências branca e vermelha.4 A primeira se apresenta como solo onde está fincada grande parte das vigas de sustentação da reconhecida violência vermelha, aquela que, forjada no campo da criminalidade, tem sido, no fundo, o núcleo central dos palnos de segurança.

A violência, mesmo quando observada pelo enfoque do comportamento criminoso, não se exime de congregar feições distintas, nuances que delimitam seu formato e impõe ‘a sociedade como um todo o alerta do perigo ameaçador. É comum aos estudos que versam sobre o tema da violência, apresentá-la sob a marca dos homicídios. Sem dúvida, o crime contra a vida pode ser considerado aquele que maior impacto social possui, em razão do seu caráter irreversível mas também em função do seu alto teor ofensivo, uma vez que alcança o bem maior do ser humano.

No entanto, ao depararmos com a incidência criminosa na sua visão panorâmica vamos observar que é o crime contra patrimônio, representado pelo roubo, furto, assalto, que vai constituir o grosso volume de atentados criminosos contra a população e por isso mesmo, assume no imaginário popular, o grande símbolo da violência.

O assalto nada mais é senão o furto acrescido do risco da morte, cujo dano pode não se restringir apenas ao patrimônio mas enveredar pela agressão à pessoa , passando a se computar o risco nas ações desse tipo de crime. Contudo, diga-se a respeito, que a forma preferencial de incidência dos crimes contra o patrimônio se concretiza no roubo, a mais expressiva forma do agir criminoso em nossa sociedade; embora, o crime de homicídio sirva de referência da violência; pelo seu alto teor ofensivo o que se evidencia

3 Colapso na Segurança – aumento da pobreza em São Paulo atrai violência. Folha de São Paulo – Caderno Cotidiano – C 3 de 14 de fevereiro de 2002. 4 Conceito construído pela profa. Alba Guerra, refere-se ‘a negação da cidadania que a sociedade e o Estado promovem contra grandes contingentes populacionais.

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pela facilidade com se acessam os dados produzidos pelos IMLs do país, o que permite um mapear constante sobre a tipologia criminosa que mais nos ameaça.

Foi portanto, considerando as inúmeras possibilidades que os estudos sobre a violência experimentam que, nesse trabalho, percorre-se um caminho próprio cuja análise exclui a chamada violência privada ou doméstica, aquela que acontece nos espaços determinados pelas relações interpessoais e que se caracterizam por se realizarem nos estreitos espaços dos laços de parentesco, afetividade, vínculos empregatícios, de amizade etc... cuja especialidade tem constituído um segmento de farta visibilidade, não obstante o traço da omissão na denúncia que ele comporta, e, por isso reclama maior atenção no que concerne a estudos, pesquisas e planejamento estatal de intervenção.

Da mesma forma, não se encontram registros, nesse estudo, sobre a forma de violência reconhecida e denominada: violência institucional. apontada como a violência praticada pelos operadores do Estado, também essas ações não poderiam ser facilmente mostradas uma vez que se escamoteiam sob o manto do estrito cumprimento do legal e assim se torna um segmento tido com impenetrável, devido as formas escamoteadas, subterrâneas e ocultas de que se revestem suas práticas. É indubitavelmente impossível ter acesso à criminalidade que se aninha nos espaços estatais, quer em indicação de dados, quer em comprovação estão sempre fora da possibilidade de punição: as torturas, os maus tratos, a corrupção e os desrespeitos vários a que está sujeita nossa cidadania. São crimes sempre encobertos pela indevassabilidade que protege tais criminosos e engrossa o quadro de impunidade que assola o país.

Assim, coube a esse estudo, na imposição dos seus limites, expor, analisar e interpretar a violência que se situa na RMR, sob a perspectiva do crime praticado pelo cidadão comum, tal qual passamos a expor:

I.1.2. Evolução dos Óbitos por Homicídios

Regiões Metropolitanas

No período compreendido entre 1991 e 1999, a quantidade de homicídios das Regiões Metropolitanas analisadas, passou de 15.191 para 23.120, Tabela 01, significando incremento de 52,2% bastante superior ao aumento populacional de 11,0%, registrado no mesmo período.

A análise da incidência de óbitos por homicídios por região metropolitana indica Salvador com o maior incremento 376,7% seguido por Vitória 96,8%. No extremo oposto está Porto Alegre com 2,4% de aumento.

Um excelente indicador sobre os níveis de incidência relativos é obtido quando se relaciona a quantidade de homicídios com a população total para grupo de 100.000 habitantes.

Na Tabela 02 é possível visualizar a taxa de homicídios das regiões metropolitanas, durante o período, para 100.000 habitantes, corresponde em 1991 a 37,74; experimenta acréscimo para 51,76 em 1999, representando aumento de 37,15%.

Vitória, Recife e São Paulo, apresentam as taxas mais elevadas em 1999, bastante superiores a média atingida pelas Regiões Metropolitanas 51,76.

O gráfico 01 apresenta a variação relativa dos homicídios nas regiões analisadas.

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GRÁFICO 01

Brasil, Pernambuco, Região Metropolitana de Recife e Municípios

Para acompanhar a evolução do número de óbitos por homicídios no período 1991-1999, no Brasil, em Pernambuco, na Região Metropolitana de Recife e em seus municípios pode-se observar a Tabela 03.

Dos homicídios cometidos no Brasil em 1991, 9,0% ocorrem em Pernambuco, aumentando para 9,8% no ano de 1999.

O incremento dos óbitos por homicídio no Brasil corresponde a 40,4%, enquanto Pernambuco apresenta aumento de 52,4% e a Região Metropolitana de Recife 65,8%. Considerando os aumentos das respectivas populações é possível verificar no Brasil aumento de 12%, em Pernambuco 8,5% e na Região Metropolitana de Recife 13,2%, podendo afirmar que o acréscimo no número de homicídios é muito mais elevado que das respectivas populações.

A análise de homicídios da RMR em relação a Pernambuco, evidencia maiores elevações na Metrópole. No período 1991 a 1999, passa de 56,2% para 61,1% dos homicídios cometidos no Estado, significa acréscimo de 8,7% em comparação a Pernambuco.

Os municípios de São Lourenço da Mata 176,3%, Camaragibe 148,0%, Olinda 143,2% e Moreno 112,5% experimentam as elevações mais altas no período.

As taxas de óbitos por homicídios para 100.000 habitantes em Pernambuco comparado com o Brasil e da RMR em relação a Pernambuco, são cada vez mais elevadas. Tabela 04. Em 1999, nos municípios mais populosos, Recife e Jaboatão dos Guararapes, as taxas de óbitos por homicídios para 100.000 habitantes são mais elevadas que a média do Estado e da RMR. São Lourenço da Mata apresenta a maior taxa de toda a região.

VARIAÇÃO PERCENTUAL DOS HOMICÍDIOS NAS REGIÕES METROPOLITANAS

1999

Fortaleza 2,8% Vitória 5,1%

São Paulo 49,7%

Salvador 0,9%

Rio de Janeiro 26,8%

Recife 11,1%

Porto Alegre 3,6%

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MAPA 01 TAXA DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS DA POPULAÇÃO TOTAL DOS MUNICÍPIOS DA RMR para 100.000 habitantes

1999

Óbitos por Homicídio e Sexo

Estudos diversos demonstram que os óbitos por homicídios, em qualquer faixa etária, são mais frequentes na população masculina. Essa assertiva pode ser constatada através das Tabelas 05 e 07.

Em 1999 dos homicídios praticados no Brasil, 91,6% são contra pessoas do sexo masculino. Para a população dos jovens e adolescentes, faixa etária 15 a 29 anos, aumenta para 93,2%.

O comportamento desse índice apresenta pequena diferença na RMR, 94,4% para a população masculina total e 95,3% para os jovens e adolescentes.

Em 1999, menores quantidades de óbitos do sexo masculino são encontradas em Araçoiaba e Itapissuma. Recife tem maior quantidade absoluta - 1.291 óbitos - representa 53,3% dos homicídios cometidos contra a população masculina na RMR. Essas conclusões são semelhantes para a população na faixa etária 15 a 29 anos.

As taxas de óbitos por homicídios por gênero, sempre se apresentam mais elevadas para a população masculina, Tabelas 06 e 08. No Brasil, em 1999 a taxa de homicídios do sexo masculino é 10,5 vezes maior que a taxa feminina. Dispersão ainda maior é encontrada em Pernambuco e na Região Metropolitana de Recife.

São Lourenço da Mata, Recife, Itamaracá e Jaboatão dos Guararapes estão com taxas mais elevadas que a RMR.

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Abaixo da média daRMR Acima da média da RMR Variação de 10% da RMR

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A situação para a faixa etária de 15 a 29 anos quase não difere da encontrada para a população total. Três municípios, São Lourenço da Mata, Recife e Jaboatão dos Guararapes apresentam taxas maiores que da RMR.

MAPA 02

TAXA DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS DA POPULAÇÃO TOTAL DO SEXO MASCULINO DOS MUNICÍPIOS DA RMR – para 100.000 habitantes

1999

Óbitos por Homicídio e Faixa Etária

A quantidade de ocorrências de homicídios no Brasil é muito grande, torna-se maior considerada a faixa etária 15 a 29 anos, independentemente de sexo a freqüência apresenta-se aumentada. Tabela 07.

Dos homicídios cometidos no Brasil em 1991, 50,8% são contra jovens e adolescentes, havendo aumento para 53,9% em 1999.

Pernambuco apresenta comportamento ainda mais grave passando de 48,5% para 57,1% no mesmo período.

A evolução dos óbitos por homicídios da faixa etária 15 a 29 anos na RMR, tem comportamento semelhante ao Estado, de 52,5% para 62,2% no período em análise.

A seguir, o gráfico 02 mostra a participação dos municípios da RMR nos óbitos por homicídios.

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Abaixo da média da RMR

Acima da média da RMR

Em torno da média da RMR

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GRÁFICO 02

A observação das Tabelas 06 e 08 leva a constatação que a incidência de óbitos por

homicídios é mais acentuada proporcionalmente na população de jovens e adolescentes. I.1.3. Evolução dos Óbitos por Acidentes de Transporte

Regiões Metropolitanas

No período considerado – 1991/1999 – o número de óbitos por acidentes de transporte das regiões metropolitanas passa de 7.969 para 6.710, representando redução de 15,8%, bem inferior ao incremento populacional de 11%. A redução é ainda maior quando analisado o período de 1996/1999, com decréscimo de 29,2%, devido basicamente a entrada em vigor do Código Nacional de Trânsito a partir de 1998. Tabela 09.

Salvador apresenta a maior redução entre as Regiões analisadas, seguida pelo Rio de Janeiro. Em Vitória é apresentada o menor decréscimo 6,7%.

A Tabela 10 contém a Taxa de Óbitos por Acidentes de Transporte para 100.000 habitantes das Regiões Metropolitanas, nela é possível verificar que no período compreendido entre 1991 e 1996, a taxa aumenta de 19,80 para 22,05, enquanto no período subsequente 1996/1999 há redução para 15,02 em 100.000 habitantes, resultado da vigência do Código Nacional de Trânsito, como mencionado acima.

PERCENTUAL DOS ÓBITOS POR HOMICÍDIOS NOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE - FAIXA ETÁRIA 15 a 29 ANOS

1999

São Lourenço da Mata4,40%

Abreu e Lima0,70%

Cabo de Santo Agostinho3,40%

Araçoiaba0,10%Camaragibe

2,70%

Paulista3,20%

Olinda9,70%

Moreno0,40%

tão dos Guararapes19,20%

Itapissuma0,20%

Itamaracá0,40%

Ipojuca0,90% Igarassu

1,30%

Recife53,40%

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Brasil, Pernambuco, Região Metropolitana de Recife e Municípios

A quantidade de óbitos por acidentes de transporte para o Brasil, no período de 1991/1999, aumenta de 28.364 para 30.118, refletindo aumento de 6,2%, inferior ao incremento populacional de 11,0% no mesmo período.

A Tabela 11 indica, entre 1996/1999, uma redução no número de óbitos de 15,3%, enquanto a população brasileira apresenta aumento de 3,9%.

Comparado ao Brasil, Pernambuco apresenta pequenas variações de percentuais, mas o declínio da quantidade de óbitos é evidente, para a RMR o comportamento dessa variável não mostra diferença quando comparada ao Brasil ou a Pernambuco.

No interior da RMR, no período 1996/1999, há municípios com reduções muito significativas, Abreu e Lima 88,9% e Olinda 52,4%, enquanto Itapissuma, Itamaracá, Camaragibe, Igarassu e Ipojuca apresentam aumentos desses óbitos.

A Tabela 12 permite acompanhar a evolução dos óbitos por acidentes de transporte no Brasil, em Pernambuco, na Região Metropolitana de Recife e em seus Municípios, mostrando que a redução nos óbitos é significativa quando considerada a população total, haja visto a redução desse indicador, embora Recife, Itapissuma e Igarassu elevem a média da região.

MAPA 03 TAXA DE ÓBITOS POR ACIDENTES DE TRANSPORTE DA POPULAÇÃO TOTAL DOS MUNICÍPIOS DA RMR – para 100.000 habitantes

1999

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Acima da média da RMR

Em torno da média da RMR

Abaixo da média da RMR Nenhum acidente

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14

Óbitos por Acidentes de Transporte e Sexo

A quantidade de óbitos por acidentes de transporte também apresenta maior incidência no sexo masculino. Em 1999, dos 30.118 óbitos ocorridos no Brasil, 80,0% são do sexo masculino. Na população masculina de jovens e adolescentes há pequeno decréscimo para 78,7%. Tabelas 13 e 15.

A situação em Pernambuco não difere do Brasil, tendo registrado 81,0% do total de óbitos do sexo masculino, e 82,0% na população masculina jovem. A RMR e seus municípios praticamente mantém os mesmos índices.

As Tabelas 14 e 16 indicam que as taxas de óbitos do sexo masculino por acidentes de transporte para 100.000 habitantes no Brasil correspondem a 29,12 para a população total e 35,06 para a faixa etária 15 a 29 anos. Pernambuco mantém taxas idênticas, enquanto na RMR a taxa para a população total masculina em 100.000 habitantes, aumenta para 34,53. Na população jovem apresenta-se um pouco reduzida 32,73.

Atenção especial pode ser direcionada aos municípios de Recife e Itapissuma, por apresentarem taxas muito elevadas entre as duas populações estudadas.

MAPA 04 TAXA DE ÓBITOS POR ACIDENTES DE TRANSPORTE DA POPULAÇÃO TOTAL DO SEXO MASCULINO DOS MUNICÍPIOS DA RMR – para 100.000 habitantes

1999

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Acima da média da RMR

Em torno da média da RMR

Abaixo da média da RMR

Muito abaixo da RMR

Nenhum acidente

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Óbitos por Acidentes de Transporte e Faixa Etária Como mencionado anteriormente, com a implantação do Código Nacional de Trânsito ocorrem reduções nos acidentes de transporte, porém muitas vidas ainda são ceifadas devido principalmente a negligência de motoristas que dirigem embriagados ou com excesso de velocidade, em vários acidentes ocorrem as duas transgressões ao mesmo tempo. No período de 1996 a 1999, no Brasil, acontecem 15,3% a menos de mortes em acidentes de transporte na população total, para jovens e adolescentes a redução é um pouco menor 13,9%. Tabela 15. Em Pernambuco nas duas populações, população total e faixa etária 15 a 29 anos, ocorrem decréscimos em torno de 10% nos acidentes de transporte. Para a RMR as reduções apresentam-se 21% mais elevadas para as referidas populações. Há municípios da Região em que o número de acidentes de transportes aumenta no período em análise, 96-99, são eles: Itapissuma, Itamaracá, Camaragibe, Igarassu e Ipojuca, enquanto nos outros a redução varia de 9,1% em Paulista a 88,9% em Abreu e Lima. Araçoiaba não registra nenhuma ocorrência do ano de sua emancipação (1996) até 1999. As taxas de óbitos por acidentes de transporte para 100.000 habitantes, fornecem um indicador seguro da redução do número de acidentes em relação ao aumento da população. Tabela 16. Muitas são menores que as de 1991.

MAPA 05

TAXA DE ÓBITOS POR ACIDENTES DE TRANSPORTE E FAIXA ETÁRIA DOS MUNICÍPIOS DA RMR - para 100.000 habitantes

1999

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Acima da média da RMR

Em torno da média da RMR

Abaixo da média da RMR

Nenhum acidente

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I.1.4. Crimes contra a pessoa e os costumes

Lesão Corporal

O Código Penal em seu artigo 129 considera lesão corporal: ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem.

Os números da Tabela 17 indicam que no ano de 2.000 a quantidade de ofensas a integridade corporal ou a saúde de outrem, na Região Metropolitana de Recife é de 4.888.

Apresentam maiores registros os municípios do Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho. Embora esses municípios possuam as mais elevadas incidências, em números absolutos de lesão corporal, quando se relativiza por toda a população para100.000 habitantes, a maior parte deles não está incluída.

Dos municípios da RMR possuem taxas mais significativas: Itamaracá, Camaragibe, Igarassu, Itapissuma, Moreno e Araçoiaba. Por sua vez apenas três municípios apresentam taxa abaixo da média da região, Paulista, Jaboatão dos Guararapes e Olinda. Tabela 18.

MAPA 06 TAXA DE LESÃO CORPORAL DOS MUNICÍPIOS DA RMR – para 100.000 habitantes

2000

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Acima da média da RMR Em torno da média da RMR Abaixo da média da RMR

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17

A Tabela 19, possibilita acompanhar as ocorrências de lesão corporal por delegacia da cidade do Recife .Os maiores registros ocorrem em Macaxeira, Espinheiro, Afogados, Tejipió e Cordeiro, juntos representam 60,29%, enquanto as outras dez delegacias registram em torno de 40% das ocorrências.

GRÁFICO 03

Seqüestro e Cárcere Privado

O artigo 148 do Código Penal Brasileiro define como seqüestro e cárcere privado “privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado”. Esse crime privativo de liberdade apresenta 37 ocorrências na RMR em 2.000, tendo sido registrado sua freqüência em seis municípios. Tabela 17.

Em Jaboatão dos Guararapes ocorre 56,8% dos sequestros e Olinda 27,0%, portanto nesses dois municípios realiza-se 83,8% dos seqüestros.

O cálculo da taxa para 100.000 habitantes indica 3,62 em Jaboatão dos Guararapes e 2,72 em Olinda, valores bastante elevados considerando-se que a taxa do RMR é de 1,11, ou seja, patamar mais de 140% superior ao da região. Tabela 18.

Apenas duas delegacias de Recife registram queixa desse tipo de crime. Tabelas 19 e 20.

Estupro

Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça, essa é a definição dada pelo código Penal Brasileiro em seu artigo 213 sobre o crime de estupro, crime considerado hediondo ou seja inafiançável. A ocorrência de estupro na RMR, é mais registrada em Recife, Cabo de Santo Agostinho, Jaboatão do Guararapes, Camaragibe, e São Lourenço da Mata.

PERCENTUAL DO CRIME DE LESÃO CORPORAL POR DELEGACIA DA CAPITAL2.000

Espinheiro 12,13%

Macaxeira 14,73%Jordão 2,46%

Ipsep2,46%

Ibura 0,46%

Mustardinha 6,02%

Cordeiro 9,90%

Casa Amarela 2,33%

Boa Viagem 3,01%

Alto do Pascoal 3,92%

Água Fria 7,11%

Santo Amaro 4,01%

Tejipió 11,58%

Vasco da Gama 7,93% Afogados 11,95%

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18

Em três municípios metropolitanos Araçoiaba, Itamaracá e Paulista não ocorreu nenhum registro. Tabela 17.

Ao analisar o indicador para 100.000 habitantes desse tipo de violência, verifica-se em Itapissuma a taxa mais elevada 34,80. Em seguida mais com bastante diferença entre as taxas, situam-se Cabo de Santo Agostinho 9,80, São Lourenço da Mata 8,85, Moreno 8,13 e Abreu e Lima 7,86. Tabela 18.

MAPA 07 TAXA DE ESTUPRO DOS MUNICÍPIOS DA RMR – para 100.000 habitantes

2000 I.1.5. Crimes Contra o Patrimônio

Furto

“Subtrair para si ou para outrem, coisa alheia móvel” é considerado furto de acordo com o Código Penal Brasileiro em seu artigo 155.

As informações fornecidas pela Polícia Civil de Pernambuco através do Departamento de Estatística Criminal da Secretaria de Defesa Social, indicam altos índices da prática desse tipo de crime.

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Acima da média da RMR

Abaixo da média da RMR Nenhum estupro

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Furto a Transeunte

Chama a atenção principalmente a quantidade de crimes praticados contra o transeunte, deixando a clara impressão que o direito de ir e vir não está assegurado, face ao medo que a população tem de ser furtado.

No ano de 2000 nos quatorze municípios que formam a Região Metropolitana de Recife, foram cometidos 10.166 furtos a transeunte sendo o Recife o “alvo” preferido com 7.490 registros, isto significa que a cidade respondeu sozinha por 73,68% desse tipo de delito. O município de Olinda teve os transeuntes que por lá circulam, bastantes ameaçados, tendo em vista a existência de 1.124 ocorrências, representando taxa percentual de 11,06%. Tabela 21.

GRÁFICO 04

A incidência desse tipo de crime é tão elevada em Recife que até mesmo a taxa por

100.000 habitantes apresenta-se alta, bem superior a obtida pela RMR. Nesse tipo de delito apenas Recife apresenta taxa acima da Região. Itamaracá e Olinda possuem valores em torno da média, ou seja variação de 10%. Tabela 22.

O fato de Recife apresentar valores tão elevados, talvez possa ser explicado pela grande circulação que ocorre na Capital do Estado, não só de sua população residente como também de inúmeras pessoas que afluem para Recife, atraídas principalmente pelo

PERCENTUAL DE FURTO A TRANSEUNTE POR MUNICÍPIO DA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE

2.000

Paulista1,62%

Olinda11,06%

Moreno0,21%

Jaboatão dos Guararapes6,48%

São Lourenço da Mata 0,31%

Abreu e Lima0,16%

Itapissuma0,57% Itamaracá

0,49%Ipojuca0,37%

Igarassu0,92%

Cabo de Santo Agostinho2,63%

Araçoiaba0,05%

Camaragibe1,45%

Recife73,68%

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20

desenvolvimento de suas atividades comerciais, serviços médico-hospitalares, bancários e ótimos atrativos turísticos.

MAPA 08

TAXA DE FURTO A TRANSEUNTE DOS MUNICÍPIOS DA RMR – para 100.000 habitantes 2000

A análise desse tipo de ilícito penal por Delegacia da cidade de Recife, indica as

maiores incidências em Espinheiro, Santo Amaro e Boa Viagem. Tabela 23. Na Delegacia do Espinheiro são registrados 23,85% dos furtos ocorridos em Recife no

ano de 2000. A incidência muito elevada, pode ser explicada parcialmente pela quantidade de bairros que fazem parte da jurisdição dessa Delegacia: Espinheiro, Rosarinho (parte), Hipódromo, Torreão, Aflitos, Graças, Santo Amaro (parte), Encruzilhada, Parnamirim (parte) e Campo Grande, associado ao adensamento populacional, e também ao nível de circulação de riqueza. Na área habitam e circulam muitas pessoas de classe média a média alta, fato esse que pode tornar-se atrativo para ação de criminosos, inclusive é muito pequena a presença da polícia.

Quanto a Delegacia de Santo Amaro com elevado número de delito, deve ser por causa dos bairros participantes de sua circunscrição: todo o centro comercial de Recife, formado pelos bairros de : Boa Vista, Santo Antônio, São José, Recife, Ilha do Leite, Derby (parte) e Santo Amaro (parte). Nessa área a movimentação de pessoas é intensa, nela está situado o centro comercial e grande parte do centro médico, bancário e de serviços. O fluxo de pessoas que vêm de outras regiões ou Estados fazer compras, a negócios ou para tratamento de saúde, possivelmente serve como atrativo para a ação de marginais.

A terceira Delegacia em quantidade de registros de ocorrência é localizada em Boa Viagem, que tem sob sua circunscrição: Boa Viagem, Brasília Teimosa, Pina, Imbiribeira (parte) e Aeroporto. O elevado número de furtos pode estar associado ao contingente de

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Acima da média da RMR Em torno da média da RMRAbaixo da média da RMR

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21

pessoas que por aí circulam e também ao seu nível de renda. Os melhores e a maior quantidade de hotéis da cidade estão instalados no bairro, em virtude da localização de toda a faixa de praia de Recife, há sempre muitos turistas além da população residente e de outros bairros que buscam lazer e diversão. Parte da região é habitada por pessoas de classe média a média alta, e o comércio é voltado principalmente para atender a demanda dessas pessoas.

A existência de 4.638 registros nas três Delegacias indica a concentração de 61,92% furtos contra transeuntes. Tabela 24.

GRÁFICO 05

Furto a Residência

O furto a residência na RMR acontece principalmente em cinco municípios: Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Itamaracá e Igarassu. Tabela 21

O município de Recife responde sozinho por 40% dos delitos, porém para o conjunto dos cinco municípios registrou-se 1.439 ocorrências representando 77,16%.

DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DE FURTO A TRANSEUNTE POR RECIF2.000

Santo Amaro 22,80%

Espinheiro 23,85%

Casa Amarela 3,67%

Cordeiro 7,06%

Ipsep 4,23% Ibura 2,28% Jordão 1,39%

Macaxeira 1,36% Mustardinha 2,31%

Boa Viagem 15,28% Água Fria 3,89% Alto do Pascoal

1,19%

Afogados 4,98%

Vasco da Gama 1,16%

Tejipió 4,55%

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GRÁFICO 06

Quanto a análise da taxa de furto a residência por 100.000 habitantes verifica-se existir

grande diferença em Itamaracá que apresenta maior taxa entre os municípios da RMR e os três municípios seguintes: Itapissuma, Igarassu e Ipojuca. Tabela 22.

Há dois fatores que podem contribuir para explicar essa lamentável realidade em Itamaracá, porém não existe estudo comprovando essas teorias.

Em primeiro lugar a presença da PAI – Penitenciária Agrícola de Itamaracá, estabelecimento prisional de regime semi-aberto (exige um acompanhamento do preso mais rígido que o sistema dispõe), em que os prisioneiros em reclusão estão sentenciados, vivenciando a última etapa da pena privativa de liberdade, e passam o dia trabalhando, na área do presídio ou fora dela, só se recolhendo à prisão, a noite, para dormir. Os presos podem aproveitar o regime de semi liberdade, não para trabalhar mas praticar outros delitos.

Outro fator pode ser encontrado na grande população flutuante da Ilha. É significativo o contingente de pessoas que possuem casa em Itamaracá para veraneio e finais de semana, chegando a dobrar a população na época do verão, férias escolares e feriados prolongados. Durante muito tempo do ano as casas dos veranistas ficam fechadas, funcionando como “atrativo” para a ação de criminosos.

Os dois fatores conjugados, os reclusos em “liberdade” e a “disponibilidade” de casas desabitadas pode ser a explicação para que a taxa de Itamaracá se apresente várias vezes superior a dos outros municípios.

Quando se examinam os furtos a residência por Delegacia, Tabelas 23 e 24, não é encontrada explicação aparente para os elevados quantitativos de Afogados e Cordeiro, ambos bairros de classe média baixa a pobre.

FURTO A RESIDÊNCIA POR MUNICÍPIO DA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE2.000

Camaragibe3,91%

Recife40,00%

Olinda 13,08%Paulista 1,23%

Moreno 2,04%

Araçoiaba0,75%

Abreu e Lima2,63%

Igarassu 5,85%

Ipojuca 3,75%

Itamaracá 7,56%

Itapissuma 1,45%

Jaboatão dos Guararapes

10,67%

Cabo de S. Agostinho4,77%

São Lourenço da Mata 2,31%

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Há a possibilidade dessas classes não possuírem casa com alguma segurança no padrão construtivo, ou não usarem de segurança privada de alguns sistemas de alarme que não lhes são acessíveis.

GRÁFICO 07

Furto a Estabelecimento Comercial

Na Região Metropolitana de Recife os furtos praticados contra estabelecimentos comerciais, em valores absolutos, concentram-se em três municípios: Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes, os quais representam 70,43% desse delito. Tabela 21.

A Tabela 22 indica que a relativização da quantidade de delitos pela população em 100.000 habitantes, transfere as maiores incidências de ocorrências para municípios com menores populações, devido portanto a proporcionalidade entre a quantidade de ocorrências e o tamanho da população. Nessa situação Itapissuma, Itamaracá, Cabo de Santo Agostinho e Igarassu apresentam situações superiores aos demais.

DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DE FURTO A RESIDÊNCIA POR DELEGACIA DE RECIFE

2.000

Jordão2,82%

Cordeiro13,67%

Santo Amaro1,07%

Macaxeira6,03%

Ipsep4,96%

Boa Viagem5,09%

Casa Amarela5,76%

Tejipió8,85%

Água Fria8,58%

Afogados15,01%

Vasco da Gama8,31%

Alto do Pascoal4,83%

Mustardinha6,30%

Espinheiro3,89%

Ibura4,83%

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MAPA 09 TAXA DE FURTO A ESTABELECIMENTO COMERCIAL DOS MUNICÍPIOS DA RMR para 100.000 habitantes

2000

Quanto ao comportamento desse ilícito por Delegacia de Recife, verifica-se outra vez

o maior número de ocorrências em Espinheiro, seguido de Afogados, Cordeiro e Boa Viagem. Aparentemente não há explicação para a grande diferença entre Espinheiro e Boa Viagem, ambas situadas em bairros de classe média a média alta. Pode haver em Boa Viagem maior número de estabelecimentos comerciais usando sistema de segurança privada, a circulação de pessoas é maior, podendo servir de inibição a ação de criminosos. Tabelas 23 e 24.

Furto de Veículo

As informações para a análise desse ilícito penal foram obtidas junto a Delegacia Policial de Repressão aos Roubos e Furtos de Veículos. Na Região Metropolitana de Recife, ou melhor no Estado de Pernambuco, existe apenas essa especializada para o referido tipo de crime.

O furto de veículos é mais frequente em Recife - 1.330 - quantidade mais de quatro vezes maior que o segundo colocado. Recife registra 74,34% das ocorrências. Os três municípios com maiores frequências representam 92,79% dos furtos de veículos na RMR, fornecendo um claro indicador onde são necessárias ações mais urgentes. Inclusive, há informações, na Especializada, contendo o nome dos bairros e os horários de maiores frequências . Tabela 21.

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Acima da média da RMR Abaixo da média da RMR Em torno da média da RMR

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As ocorrências de furtos de veículos consideradas em relação a 100.000 habitantes, Tabela 22, permite verificar o comportamento do indicador nos municípios da RMR. A taxa encontrada para a Região é de 53,69, porém Recife apresenta taxa de 75% maior. Isso permite constatar que a quantidade de carros furtados na Capital é grande não apenas em valores absolutos, mas também quando relativizado para a população.

Em Araçoiaba e Moreno não há furto de veículo correspondente ao ano analisado, os municípios de Igarassu, Itapissuma e Camaragibe apresentam taxas bastante inferiores a da RMR.

MAPA 10

TAXA DE FURTO DE VEÍCULO DOS MUNICÍPIOS DA RMR – para 100.000 habitantes 2000

Roubo Enuncia o artigo 157 do Código Penal: “constitui roubo subtrair coisa móvel alheia,

para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência à pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio reduzido a impossibilidade de resistência”.

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Acima da média da RMR Abaixo da média da RMR Nenhum furto

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Roubo a Transeunte

O comportamento desse crime apresenta-se semelhante ao de furto. Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes possuem os maiores números de transeuntes furtados, enquanto as menores ocorrências são encontradas em Itamaracá, Ipojuca, Itapissuma e Moreno. Não há registro para Araçoiaba. Tabela 21. Tomando por base a taxa para 100.000 habitantes, verifica-se em Recife taxa muito superior a encontrada para a Região. Olinda, embora se situe abaixo de Recife, está mais elavada que à média da região. Tabela 22.

MAPA 11 TAXA DE ROUBO A TRANSEUNTE DOS MUNICÍPIOS DA RMR – para 100.000 habitantes

2000

O roubo a transeunte por Delegacia apresenta as localizadas em Espinheiro, Boa

Viagem, Afogados e Santo Amaro como as mais procuradas para queixa. As quatro Delegacias registram 56,62% dos roubos a transeuntes de toda a Região Metropolitana de Recife. Tabela 23 e 24.

O roubo a transeunte nas áreas dessas Delegacias, exceção a Afogados, tem causas semelhantes a de furto a transeuntes analisadas anteriormente, entretanto é estranho Afogados figurar entre os mais elevados registros, embora sua circunscrição seja formada de bairros bastante populosos, porém com poder aquisitivo baixo.

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Acima da média da RMR Abaixo da média da RMR Nenhum roubo

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GRÁFICO 08

Roubo a Residência

Em relação a esse ilícito os números apresentados na Tabela 21, indicam que o quantitativo é mais significativo em Recife, Jaboatão dos Guararapes e Olinda. As informações do Departamento de Estatística Criminal da Secretaria de Defesa Social para o ano de 2000, demonstram nos três municípios acontecer 66,40% dos crimes.

Quanto a taxa por 100.000 habitantes, sete municípios apresentam nível superior a média, entre eles podem ser destacados Itamaracá, Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho e Igarassu. Dos municípios considerados grandes apresentam taxas inferiores a regional, Recife e Paulista. Tabela 22.

DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DE ROUBO A TRANSEUNTE POR DELEGACIA DE RECIFE

2.000

Cordeiro 9,53%

Casa Amarela 3,71% Boa Viagem

11,88%

Alto do Pascoal 1,69%

Água Fria 4,21%

Afogados 11,24%

Espinheiro 23,07%

Ibura 4,64%

Ipsep6,79%

Vasco da Gama 1,46%

Tejipió 4,38%

Santo Amaro 10,43%

Mustardinha 3,54%

Jordão 1,54%

Macaxeira 1,89%

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MAPA 12 TAXA DE ROUBO A RESIDÊNCIA DOS MUNICÍPIOS DA RMR – para 100.000 habitantes

2000

Os números apresentados na Tabela 23 demonstram o quantitativo de residências

roubadas por Delegacia, sendo os registros mais significativos em Ibura, Macaxeira e Água Fria. É necessário mencionar que as três se situam em áreas consideradas de baixa renda, não possuindo a população condições financeiras que viabilizem a melhoria material de suas habitações, no sentido de coibir a ação de assaltantes.

O gráfico em seguida apresentado mostra o percentual de roubo por Delegacia de Recife.

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Acima da média da RMR Abaixo da média da RMR Em torno da média da RMR

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29

GRÁFICO 09

Roubo a Estabelecimento Comercial

A quantidade de estabelecimentos comerciais roubados apresenta-se semelhante ao de furto, inclusive os municípios com maiores frequências são os mesmos, Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes, seguidos de longe por Paulista e Igarassu. Tabela 21. Relativizando os dados de acordo com as magnitudes populacionais, encontra-se a taxa de 32,90 para a Região Metropolitana em 100.000 habitantes, Igarassu e Olinda se encontram em posição bastante elevada quando comparados com a média regional. Tabela 22.

Analisando as Delegacias de Recife é possível constatar significativa quantidade de registros em Espinheiro, Afogados, Cordeiro e Casa Amarela apresentam 205 ilícitos, correspondentes a 43,07% do total. Tabela 23.

O gráfico 10 contém a hierarquização de roubos a estabelecimentos comerciais praticados em Recife, tomando por base a quantidade de ocorrências por Delegacia. Tabela 24.

DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DE ROUBO A RESIDÊNCIA POR DELEGACIA DA CAPITAL - 2000

Ibura 28,02%

Espinheiro 5,10%

Santo Amaro 0,64%

Cordeiro 5,10%

Casa Amarela 2,55%

Boa Viagem 3,82%

Alto do Pascoal 1,91%

Jordão 1,27%

Ipsep 6,37%

Macaxeira 18,47%

Mustardinha 3,82%

Afogados 2,55% Água Fria 10,83%Vasco da Gama 7,64%Tejipió 1,91%

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GRÁFICO 10

Roubo de Veículo Na Região Metropolitana de Recife acontece maior quantidade de roubo de veículos

que de furto. Essa constatação pode ser um indício do aumento do grau de violência que a população está submetida. Embora não haja estudos comprovando a correlação entre subtrair o patrimônio alheio no caso, roubo de veículo, e em decorrência a prática de homicídios contra o proprietário.

Como pode ser observado na Tabela 21, segundo a Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos de Pernambuco, registra nos municípios da RMR, a exceção de Itapissuma, ocorrências dessa modalidade de ilícito. As quantidades mais expressivas, são encontradas em quatro municípios, Recife, Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes, são praticadas 92,43% das ocorrências. Essa concentração bastante significativa pode levar a indícios de ações a serem efetivadas.

O estabelecimento da relação entre a quantidade de carros roubados e a população em 100.000 habitantes indicam Recife, Abreu e Lima, Paulista e Olinda com as taxas mais altas, todas superiores a da RMR. Tabela 22.

Visto segundo o exposto, há de se perguntar que raízes sustentam esse quadro de violência e quais, efetivamente, são as estratégias possíveis de aplicação com vistas à sua contenção e seu controle.

DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DE ROUBO A ESTABELECIMENTO COMERCIAL POR DELEGACIA DA CAPITAL - 2000

Cordeiro 9,67%

Casa Amarela 8,83%

Boa Viagem 4,83%

Alto do Pascoal 2,73%

Água Fria 7,14%

Afogados10,93%

Vasco da Gama4,20%

Tejipió 3,36% Santo Amaro

6,09% Mustardinha

5,25% Macaxeira

4,41%

Jordão 4,20%

Ipsep8,19%

Ibura 6,51%

Espinheiro13,66%

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MAPA 13 TAXA DE ROUBO DE VEÍCULO DOS MUNICÍPIOS DA RMR – para 100.000 habitantes

2000 I.1.6. O Caldeirão de Bruxa

É preciso deixar claro, desde logo, que o dispositivo que dispara a ação da violência no tecido social já permite visualizar alguns dos elementos que se apresentam como elementos indutores capazes de tornar a violência manifesta ou potencial.

Do ponto de vista da indução potencial de violência, a situação de desconforto social que a maioria da população experimenta em relação à ausência de políticas públicas compensatórias, que outros estudos ligados ao projeto metrópole estratégica já dimensionaram e denunciaram referindo-se ao emprego, à saúde, à habitação, ao saneamento, à educação e ao lazer, traduz o entendimento do conceito de violência já definido como violência branca, já aqui explicitado como aquele que se realiza através da negação da cidadania.

Contudo, não é só desse indutor de caráter estrutural que se alimenta o desempenho da violência em nossa sociedade pode-se falar, entre outros, do forte indutor de violência que se mostra presente na qualidade de vida que é imposta aos jovens, principalmente, os que habitam as periferias das grandes cidades.

Sobre a situação dos jovens das classe populares ou em situação de pobreza diz recente pesquisa realizada pela Unesco: "além da falta de equipamento nas comunidades, os jovens circulam em raio restrito, segregados nos seus bairros não, necessariamente exercendo constituinte de cidadania social, qual seja, o benefício do uso da cidade em que vivem.

ABREUE LIMA

IGARASSU

PAULISTA

ARAÇOIABA

RECIFESÃO LOURENÇODA MATA

JABOATÃO DOSGUARARAPES

CABO DE SANTO AGOSTINHO

IPOJUCA

MORENO

OLINDACAMARAGIBE

ITAPISSUMA

ITAMARACÁ

Acima da média da RMR Abaixo da média da RMR Nenhum roubo

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Os próprios jovens registram a sua situação de excluído, afirmando ironicamente que o lazer é escasso porque nas favelas não têm clube, balneário, piscinas.

A carência de atividades é explorada pelo tráfico que, em muitos lugares, marca presença, ocupando um espaço deixado em aberto pelo poder público e pela comunidade, constituindo-se uma referêncai para os jovens."5

Para consolidar as afirmações acima, a pesquisa expõe depoimentos de grupos focais de jovens que diz:

"{os traficantes} colocaram lazer na comunidade, organizaram o futebol, coisa que a comunidade ama, entendeu? Colocaram o baile funk, que na época a gente adorava. Colocaram uma série de outras atividades, assim, para animar a comunidade. Poxa, os traficantes foram os nossos heróis entendem? 6Na época, os traficantes eram os meus heróis e não os policiais."

O envolvimento dos jovens com o tráfico, contudo, não se limita a um comportamento de mero beneficiário dos meios que os traficantes usam para se legitimarem socialmente na comunidade, na verdade, as drogas entram no cotidiano dos jovens também através do consumo. Vejamos como a mesma pesquisa aponta num período de 10 anos, a relação jovens e consumo de drogas em algumas cidades do Brasil.

Estudantes do Ensino Fundamental e médio, consumidores de drogas lícitas e ilícitas, por ano de levantamento. Segundo cidades selecionadas (%) 1987/1997

Cidade

1987

1997 Razão de

Crescimento (1987/1997)

Belém 13,5 24,5 1,81 Fortaleza 17,6 28,1 1,59 Salvador 22,5 20,9 0,92

Recife 23,5 25,9 1,1 Rio de Janeiro 25,6 22,0 0,86

São Paulo 23,5 18,5 0,79 Curitiba 15,6 26,3 1,68

Fonte: www.cebrid.drogas.nom.br/Levantamentos entre Estudantes/Levantamento/...síntese. 15/05/2000

Comentando esse dados, diz os autores da pesquisa que "ao contrário do que

usualmente se supõe, em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, a tendência ao consumo de drogas se reduziu entre os estudantes pesquisados. Em contrapartida, aumentou 10% em Recife; 59% em Fortaleza; 68% em Curitiba e 81% em Belém."7

É importante ressaltar o cuidado que os pesquisadores da Unesco demonstram ao trabalhar a questão da relação drogas e jovens. Chama a atenção os autores que " ao abordar a temática das drogas é preciso distinguir claramente o consumo e o tráfico, pois embora possam estar entrelaçadas, cada uma dessa atividades leva a conseqüências diferentes. De fato é necessário ter em mente que:

5 Cultivando vidas desarmando violências - experiência em educação, cultura, lazer, esporte e cidadania com jovens em situação de pobreza. Castro, Mary Garcia et alli. - Brasília: Unesco . 2001. P.61 6 idem. op. Cit. p.62 7 idem. op. Cit, p.80

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a) o consumo inclui drogas lícitas e ilícitas e ambas as modalidades acarretam alterações dos estados de consciência, possibilitando resultados direta ou indiretamente prejudiciais aos indivíduos.

b) Porém, Não necessariamente o consumo de drogas está diretamente associado à violência, enquanto o tráfico necessariamente está,

c) Por outro lado, embora os usuários de drogas possam ser mais vulneráveis à violência, esta pode atingir - e freqüentemente atinge - inclusive os que não usam drogas e que são adversários do seu consumo.

Dessa forma, mostra-se a relação jovem e droga como um indiscutível indutor de

violência, responsável em grande parte, pela dizimação dos jovens da periferia das grandes cidades onde a droga se aloca. Senão dê-se voz aos jovens dos grupos focais da pesquisa:

"São viciados em maconha e o futuro desses é morrer, porque se não tirar agora, quando chegar o tempo não tem mais como tirar, porque é desde pequeno. Às vezes, a gente fala com amigos nossos, mais novos que eu que tenho 17 anos, para largarem isso e eles dizem que não tem problema, já fumam desde os cinco anos.

Minha tia tinha cinco filhos, já mataram dois dela. Neto dela já mataram com esse negócio de droga, de violência. Metido com droga já morreram cinco primos meus, mataram.

Aqui no bairro mesmo, a maioria dos jovens são todos drogados... Sobre o futuro, eu vejo que a maioria dessas pessoas terão a morte se não forem mortos por policiais quando forem roubar, seu organismo vai sendo destruído pelas drogas."8

A questão da droga, além de se investir com indutores da violência potencial, ela, sem dúvida, representa um indutor de violência manifesta.

A trilha das rotas da droga traz no seu percurso a circulação de um emaranhado de fios da violência que se enlaçam em formato de rede.

A RMR por se destacar como inclusa nas rotas internacionais do tráfico, sofre as conseqüências da trama da violência que o mercado das drogas gera.

Segundo o pesquisador Marcos André Melo baseado em dados coletados pelo Ministério da Justiça em 1999, é possível identificar três grupos de Estados com padrões diferenciados e elevados níveis de violência. "Em primeiro lugar, os Estados situados em regiões de fronteira e ocupação territorial recente; Amapá 3o , Roraima 7o , Rondônia 11o , Acre 12o , Amapá 13o . Nessas áreas, os conflitos em torno da posse da terra envolvendo migrantes, predominantemente do sexo masculino, geram um quadro extremamente elevado de violência. Em segundo lugar, o grupo de Estados onde estão concentradas as grandes megalópoles do país, Rio e São Paulo. O terceiro grupo é representado por Estados onde se concentra o tráfico de drogas no país. É nesse grupo que se encontram não só Rio de Janeiro 1o , mas Pernambuco 4o , Mato Grosso do Sul 7o , Mato Grosso 10o . É portanto, o fato do Estado de Pernambuco concentrar, segundo estimativas de fontes as mais variadas, cerca de 80% da produção brasileira de maconha, que explica em grande parte o fato dos níveis de violência em Pernambuco se apresentarem 6 vezes mais altos do que em Minas Gerais"9

Ainda trabalhando como indutor potencial da violência, mas ao mesmo tempo se mostrando como fonte da violência manifesta está a desarticulação do sistema de segurança pública. O processo moroso e descontínuo que o funcionamento do modelo sistêmico de segurança organiza, implica em altos índices de impunidade além de facilitar a prática da corrupção e o envolvimento de operadores da segurança com o mundo do crime.

Por fim, é preciso considerar como indutor especial da violência, pelo nível de abrangência e por sua freqüência contínua, na exposição da violência e na banalização da vida

8 idem. op. Cit. p.82 9 Melo, Marcus André et alli. Violência em Pernambuco Jornal do Comércio p. Opiniões - 3 em 5 de outubro de 1999

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e dos atos cruéis que permeiam o desempenho da prática criminosa, a mídia, com suas estratégias em busca de formação de opinião, adesão, audiência, vendagem ou apenas impulsionada pela necessidade de estar no centro da principal problemática nacional.

Por fim, segue claro que os indutores da violência não se reduzem aos aqui enumerados. E, tal qual se expõe a complexidade do mundo da criminalidade, também é complexa a produção de indutores da violência na sociedade brasileira.

I.2. UM DIAGNÓSTICO DA CRIMINALIDADE CONTROLADA

I.2.1 O Sistema Penitenciário de Pernambuco - O Elo Partido

O Sistema Penal brasileiro como um todo se apresenta, em geral, desassociado dos projetos que orientam ações dirigidas à segurança pública ou à defesa social.

Situado no âmbito de dois poderes, o executivo, administrador da pena e o judiciário aplicador e fiscalizador da pena, o sistema punitivo não consegue se impor como peça fundamental do sistema de segurança principalmente como órgão realizador da punibilidade, por excelência.

Partindo das idéias de Foucault10 pode-se enfocar a prisão, como uma instituição disciplinar transformadora das disposições individuais, com objetivo específico de produzir sujeitos disciplinados, portadores de corpos dóceis, aptos a responder automaticamente ao estímulo desejado pelas forças econômicas, submissos à economia de um poder que tem na disciplina o instrumento essencial para oferecer as vantagens que o mercado econômico e a arena política suscitam e requisitam. Preocupado com o bojo social que produz a instituição prisão e com o resultado concreto que é proposto ao homem aprisionado, Foucault parte de uma análise do tipo de prática social que a produz e a mantém em funcionamento.

Para ele, estas instituições decorrem diretamente da necessidade que a sociedade capitalista burguesa sentiu de organizar, docilizar e subjugar segmentos sociais excluídos da participação no jogo do poder que o pacto social determina e que serve à organização do modelo de Estado capitalista - os loucos, os pobres, os delinqüentes. A partir dessa base econômica e política, ele explica a questão disciplinar do grande internamento e faz supor que esta emergência se esboçou pela necessidade de se proteger a propriedade privada da ameaça que representavam, principalmente, os atores excluídos, protagonistas das classes perigosas, enfim.

Para Foucault, a prisão com todas as características que hoje apresenta, inclusive esta ameaça constante de falência, se configura no século XIX como fruto do projeto disciplinar, no bojo do advento da grande internação, do controle permanente e da vigilância absoluta, já fadada a produzir uma massa disciplinada e docilizada que se prestará, não só ao revezamento da força de trabalho, imobilizada nos exércitos de reserva mas, primordialmente, a uma delinqüência capaz de assegurar a circulação do ilícito.

Nesse sentido, Foucault toma a questão da exterioridade da prisão e avalia como os conceitos, pressupostos e, principalmente, a prática social que é exercida fora das prisões vão se infiltrar na malha do poder institucional, fazendo-os circular de forma a produzir efeitos

10 Foucault, Michel. Vigiar e Punir. Vozes. Petrópolis.1970

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sobre o homem, valendo-se notadamente da vantagem de se exercer numa instituição total e fechada.

É preciso deixar claro porém que, se por um lado, as pesquisas de Foucault parecem denunciar a interdição absoluta da expressão auto transformadora e gerenciadora do homem aprisionado, é no próprio Foucault que se encontra a chave para entender porque, dentro das prisões, sobrevive um contrapoder organizado, movido pelo poder instalado, pronto a fazer capitular todo o arsenal dos pontos definidos e planejados; minando suas estratégias com armadilhas geradas e calcadas no fator criatividade e surpresa.

A prisão é, por fim, um mecanismo de punição que legalmente, se mostra aparelhada para separar criminosos do meio social que ele danificou, golpeá-lo contundentemente com a privação da liberdade - bem social maior e comum a todos - restringindo-lhes direitos políticos, econômicos e sociais, acrescendo a tudo isso, práticas minuciosas de tortura que constituem problemas crônicos dessa instituição e que são capazes de provocar medo intenso no meio social, ampliando e, ao mesmo tempo deformando, o seu caráter intimidador.

Em Pernambuco, o sistema penitenciário, hoje deficitário e, por isso mesmo, aglutinador de inúmeras críticas, já foi modelo no Brasil.

Durante seu período mais eficaz, o sistema punitivo pernambucano aderiu à ideologia do isolamento insular e passou a realizar uma prática prisional que, ainda não regulada, vez que é anterior à Lei de Execuções Penais, se permitia efetivar um exercício diferenciado do uso da liberdade.

A Penitenciária Agrícola de Itamaracá, nas décadas de 60/70 foi o carro-chefe de um estilo prisional no país. Local onde efetivamente, se experimentava o processo eficaz de ressocialização, conforme matéria publicada no Jornal O Estado de S. Paulo datada de, 15 de outubro de 1972, sob o título: "Engenho vai recuperar detentos em Pernambuco". Diz a matéria: "A Penitenciária Agrícola de Itamaracá, segundo seu diretor Ednaldo Borba, é a única no Brasil a adotar o sistema de semi-liberdade. Setenta por cento dos 718 presos ali existentes, trabalham na agricultura e plantam macaxeira, mandioca, inhame e hortaliças. A não ser a cana, todos os outros produtos são utilizados para o consumo interno, sendo beneficiados não apenas os presos e seus familiares mas os demais funcionários da Penitenciária que formam uma população de 1.500 pessoas."11

Naqueles idos, a PAI possuía um engenho de cana-de-açúcar com plantio da matéria prima, único a fabricar açúcar mascavo em Pernambuco; criação de gado, porcos e animais domésticos, hortas e casa de farinha que representavam para o estabelecimento prisional na época, certa independência sustentável.

Salientamos ainda que, uma boa parte dos presos que viveram esse tempo áureo da PAI, e que participavam de um regime próximo do que hoje chamamos de regime aberto, viviam num sistema de aldeamento, ou seja um conjunto de casa iguais edificadas no espaço territorial da prisão, abrigavam os presos e seus familiares, promovendo assim uma real possibilidade de reintegração familiar e social do homem que outrora danificara a sociedade mas que efetivava, naqueles dias, o pagamento de seus erros com a privação da liberdade.

Era comum, usar-se como "marketing" turístico da ilha, o fato dos presos serem livres, andarem junto aos banhistas comercializando ou em barracas na beira da estrada, que propiciavam ao turista, ao comprar produtos dos presos, conversarem sobre suas vidas, seus erros, suas perspectivas de mudança. Esse costume na ilha, sem dúvida serviu e muito para derrubar preconceitos, e fazer o homem apenado crer que poderia romper a hostilidade social de que predestinava-se a ser vítima, mas, acima de tudo, tem-se a convicção de que, essa iniciativa turística possibilitou o desenvolvimento econômico da ilha, uma vez que atraia

11 O Estado de São Paulo - Engenho vai Recuperar Detentos em Pernambuco. 15 de outubro de 1972.

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pessoas que foram trazendo a necessidade de serviços que foram, paulatinamente, sendo disponibilizados, até que ela pudesse alcançar o comércio de que hoje, dispõe.

Os anos 70 marcaram a inserção de um novo modelo de punição, calcado na utilização da técnica de produção de saberes sobre o preso, que favorece uma proposta de intervenção disciplinar que, mais vez, iria colocar Pernambuco à frente, em todo país, como o modo de punir mais avançado. Viu-se naqueles anos , em nosso Estado, o prenúncio do que seria, a marca de um sistema calcado na idéia de controle e vigilância preconizada nos textos de Foucault a qual seria desenvolvida por um verdadeiro exército de técnicos, postos a essa tarefa, armados com o status de saber que suas instituições profissionais lhes conferiam.

Chama-nos a atenção nesse passado recente, que fala da história institucional da PAI, o papel que desempenhavam os técnicos do sistema, capazes de, com seus pareceres, assegurarem atos especiais de atribuição do Juízo da Execução da época, como, mandar presos para S. Paulo, comprar matéria-prima para a produção de artesanato ou ainda, quando, num gesto de profunda solidariedade cristã, estimulava famílias pernambucanas que celebravam o sentido natalino a receber um preso em sua casa para compartilhar com todos da comemoração da data magna da cristandade.

São incontáveis, as experiências de audácia e ousadia que a execução penal pôde efetivar em função da ação técnica, do modelo de prática penitenciária que o Estado detinha e principalmente da eficiência quanto ao controle que nossas prisões demonstravam ter. Tratamento humano e um efeito socializador surpreendente.

Sabemos que se pode dizer: os tempos eram outros. Esses tempos, é verdade, passaram.

Assistiu-se ao sucateamento irresponsável do sistema penitenciário como um todo, um irracional esvaziamento do corpo técnico, uma predominância da famosa ideologia da segurança e da periculosidade em detrimento do processo ressocializador; um descaso criminoso quanto à produção de "monstros" que se afirmam no ideário dos espaços prisionais que conspira de forma extremamente malévola contra a sociedade pernambucano sob os olhos cerrados das autoridades.

Hoje, a experiência prisional pernambucana se eqüivale em disfunção social a todo o complexo punitivo brasileiro que se esforça para responder ao reclamo social de uma efetiva ação transformadora do homem criminoso embora, sequer apresente uma proposta ressocializadora ou pelo menos capaz de reduzir os níveis de reincidência em que a população carcerária se encontra inserida.

Do ponto de vista numérico, é visível o aumento da população carcerária em Pernambuco.

Assim é que, em 1999 esse era o quadro que apresentava a população carcerária do Estado.

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População Carcerária - capacidade de lotação - déficit de vagas por Estabelecimento Prisional - data base : 30 de setembro de 1999

População Carcerária

Estabelecimento/

Condenados/Regime

Localização Aberto

S.aberto

Fecha-do

Total

Provisó- rios

Total Geral

Capacida- De lotação

Déficit/ Superávit

Presídio Aníbal Bruno – Recife

2.570

2.570

524

- 2.046

Penit. Prof. Barreto Campelo-Itamaracá

996

996

996

606

- 390

Colônia Penal Feminina – Recife

05

58

63

86

149

85

- 64

Penit. Agrícola de Itamaracá

58

384

44

486

486

532

46

HCTP – Itamaracá 319 319 319 350 31 Pres. J. Plácido de Souza – Caruaru

121

121

109

230

50

- 180

Pres. D. Augusto Duque- Pesqueira

01

70

71

144

215

144

- 71

Penit. Rorenildo da R. Leão–Palmares

04

34

38

52

90

74

- 16

Penit. Regional do Agreste-Canhotinho

198

183

381

02

383

275

- 108

Pres. Adv. Brito Alves- Arco Verde

01

182

183

146

329 176 - 153

Sub-Total 63 588 2.007 2.658 3.109 5.767 2.816 - 2.951 Cadeias Públicas 368 368 1.428 1.796 Total Pernambuco 63 588 2.375 3.026 4.537 7.563

D. de Assistência aos Egressos e Liberados

359

359

Fonte: Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de Pernambuco Obs: A população das Cadeias Públicas está com data base em Agosto/99

Pode-se através do quadro abaixo estabelecer uma análise comparativa entre os anos 99 e 2002 de como se apresenta a criminalidade controlada em nosso Estado enfatizando algumas das suas peculiaridades quer do ponto de vista da sua ampliação quer do ponto de vista do seu tratamento. Senão vejamos.

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População Carcerária, Capacidade de Lotação e Déficit de Vagas do Sistema Penitenciário do Estado de Pernambuco - Fevereiro de 2002.

POPULAÇÃO CARCERÁRIA CAPACIDADE E DÉFICIT ESTABELECIMENTO/

CONDENADOS/REGIME

TOTAIS

DÉFICIT/ DÉFICIT/

LOCALIZAÇÃO ABERTO SEMI- FECHA- SUBTO- PROVI - CAPA- SUPE- SUPE- ABERTO DO TAL SÓRIOS TOTAL CIDADE RÁVIT RÁVIT %

1- P.P.A.B. -Recife 3.264 3.264 524 -2.740 -522,90

2 - P.P.B.C. -Itamaracá 1.087 1.087 1.087 606 -481 -79,37

3 - P.A.I.S.J. -Itamaracá 488 488 488 532 44 8,27

4 - H.C.T.P. - Homem 65 65 176 241 350 76 21,71 Itamaracá Mulher 7 7 26 33

5 - C.P.F.E. -Recife 13 98 111 146 257 154 -103 -66,88

6- P.R.A.-Canhotinho 27 244 204 475 19 494 345 -149 -43,19

7- P.J.P.S.-Caruaru 50 163 213 125 338 98 -240 -244,90

8- P.R.R.L.-Palmares 1 80 81 75 156 74 -82 -110,81

9- P.A.B A.-Arcoverde 1 244 245 163 408 176 -232 -131,82

10- P.D.A.D.-Pesqueira 3 134 137 144 281 144 -137 -95,14

SUBTOTAL 79 748 2.082 2.909 4.138 7.047 3.003 4.044 134,67

Cadeias Públicas Homem

513 513 1.738 2.251 2.019 -284 -14,07

Mulher

17 17 35 52

TOTAL 79 748 2.612 3.439 5.911 9.350 5.022 4.328 86,18

G.A.E.L. 1.006 1.006 1.006

Fonte: Secretaria de Justiça e Cidadania do estado de Pernambuco.12 Considerando o quadro que revela a população carcerária, a capacidade de lotação e o

déficit de vagas prisionais em fevereiro de 2002, no Estado de Pernambuco, podemos fazer uma análise comparativa com setembro de 1999 a partir de alguns pontos de estrangulamento que o Sistema Penitenciário comporta. 12 Quadro de apresentação das siglas utilizadas: 1) P.P.A.B = Presídio Professor Aníbal Bruno 6) P.R.A. Penitenciária Regional do Agreste 2) P.P.B.C = Penitenciária Professor Barreto Campelo 7)P.J.P.S. = Penitenciária Juiz Plácido de Souza 3) P.A.I.S.J. = Penitenciária Agro-Indústria São João 8) P.R.R.L. = Presídio Rorenildo da Rocha Leão 4) H.C.T.P. = Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico

9) P.D.A.D. = Presídio Desembargador Augusto Duque

5) C.P.F.R. = Colônia Penal Feminina do Recife 10) P.A.B.A. Presídio Advogado Brito Alves Observações: 1. População das Cadeias Públicas com data base em janeiro de 2.002 2. No H.C.T.P. há uma população atípica. No Regime Fechado leia-se Detentos Pacientes Sentenciados a Medida de Segurança e Presos Provisórios leia-se Detentos Pacientes Provisórios submetidos ao Incidente de Insanidade Mental ou Tratamento psiquiátrico Temporário.

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Inicialmente, os números revelam que nesse período houve um acréscimo de 1.787 presos no sistema e isso significa 23,6% de aumento da população carcerária em 2 anos e 5 meses. Vale salientar que é na criminalidade controlada feminina que se observa o maior aumento do contingente populacional no período definido para a análise comparativa. Tal evento implica uma ampliação do número de presas que estão recolhidas à CPFR cujos termos absolutos remontam 108 presas e, em termos percentuais representam 72,5% de aumento da população feminina na prisão.

É preciso ainda salientar que, quanto ao aumento de vagas no sistema, durante esse período, apenas a colônia Penal Feminina apresentou uma ampliação de 69 vagas, percentualmente isto representa 81,2% das que antes estavam disponíveis

Contudo, o que se mostra mais notório é o aumento do contingente de presos provisórios, que salta de 4.537 em 1999, para 5.911 em 2002 percentualmente isto representa 30,3%.

De certa forma, esses números, clivados pelo aumento que se verificou no contingente de presos condenados, passam de 2.658 em 1999 para 2.909 em 2002, implicando um aumento de 9,4%, sem incluírmos as cadeias. Somando-se a esses contingentes, os presos nas cadeias temos em 1999: 3.026 e em 2002: 3.439, com variação de 13,6%. Considerando o universo de presos provisórios constata-se que a população aumenta de 4.537 em 1999 para 5.921 em 2002, indicando aumento de 30,5%. Com isso percebe-se a face cruel do Sistema Penal, aquela que expõe a morosidade do Poder Judiciário.

Comprovada a ausência de celeridade na ação do poder judiciário, a população carcerária, na espera de sentença, não só permanece abarrotada, disputando teoricamente 1.583 vagas para o total de presos provisórios , se considerarmos que os presos condenados ocupariam 3.439 das 5.022 vagas que estão disponíveis no Sistema. Por esse cálculo, 3,7 dos reclusos de caráter provisório disputam uma vaga no sistema prisional do Estado de Pernambuco.

Claro que isso não acontece com o rigor dos números porque o processo de distribuição das vagas o encobre.

No que concerne à Região Metropolitana do Recife, percebe-se uma concentração da maioria da criminalidade controlada.

Contando com um presídio, 3 penitenciárias, e um hospital de custódia, ainda se considera que o Gael, por ser gerido na sede da superintendência do Sistema Penitenciário, pode-se dizer que a RMR abriga 6.376 pessoas vinculadas, pela ação criminosa, ao Sistema, sem ainda considerar aqueles que estão nas Cadeias Públicas da RMR o que repercute num percentual de 68,2%, em relação a toda população carcerária do Estado.

Segundo a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de Pernambuco esta concentração da população carcerária na RMR, representa uma atividade criminosa que se mostra mais freqüente numa tipologia que abaixo se mostra descrita:

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Tipologia Criminosa na P.P.B.C. em Fevereiro de 2002 Identificação do Números Números Percentual Percentuais

Crimes na P.P.B.C. tipo legal Absolutos acumulados Absoluto Acumulados Roubo 157 621 621 37,68 37,68 Homicídio 121 406 1.027 24,64 62,32 Tráfico ilícito-entorpecente 12 172 1.199 10,44 72,75 C. sexuais – Estupro 213 a 216 151 1.350 9,16 81,92 Formação de Quadrilha 288 47 1.397 2,85 84,77 Furto 155 a 156 45 1.442 2,73 87,50 Lesão Corporal 129 25 1.509 1,52 91,57 Extorsão 158 a 160 11 1.520 0,67 92,23 Extorsão med. Sequestro 159 9 1.529 0,55 92,78 Respeito aos mortos 209 a 212 9 1.538 0,55 93,33 Form. de quadrilha-Tráfico 14 8 1.546 0,49 93,81 C. c/ liberdade pessoal 146 a 149 7 1.553 0,42 94,24 Falsidade documental 196 a 305 7 1.560 0,42 94,66 C. c/ administração privada 328 a 337 6 1.566 0,36 95,02 Obter subst. para uso 16 5 1.571 0,30 95,33 Tráfico internacional 18 - I 4 1.575 0,24 95,57 Quadrilha 288 & único 3 1.578 0,18 95,75 Violação de domicílio 150 2 1.580 0,12 95,87 Estelionato – Fraude 171 a 179 2 1.582 0,12 96,00 Receptação 180 2 1.584 0,12 96,12 Perigo c. incêndio 250 a 259 2 1.587 0,06 96,30 Dano 163 a 166 1 Sedução/corrupção de menor 217 a 218 1 1.588 0,06 96,36 Ultraje/pudor 233 a 234 1 1.589 0,06 96,48 Segurança Pública 260 a 266 1 1.590 0,06 96,48 Porte de arma 10 1 1.591 0,06 96,54

Fonte: Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de Pernambuco

Uma vez descrita a carga de tipicidade criminosa que as prisões da RMR comportam, causa surpresa que alguns tipos presentes no Código Penal não tenham qualquer expressividade no vida prisional da Região Metropolitana do Recife e não se identifica nenhuma indicação na relação de crimes abaixo listados:

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Tipologia Criminosa ausente da vida prisional da Penitenciária Barreto Campelo fevereiro 2002

Maquinismo p/ fabrico Art.13

Prescrição Médica Culposa Art. 15

Violar sigilo de Investigação Art.17

Crime p/ agente de repressão Art.18,II

Visar menor de 21 anos Art. 18,III

Consumo em escola /hospitalArt.18,IV

Instigação a suicídio Art. 122 Infanticídio Art. 123

Aborto 124 a 127

Periclitação de vida Art. 130 a 136

Rixa Art. 137

Crimes contra a honra Art. 138 a 141

Violação de comunicação Art. 151 a 152

Usurpação Art. 153 a 154

Apropriação indébita Art. 168 a170

Usurpação de direito autoral Art. 184 a 185

Crimes contra o trabalho Art. 197 a 207

Ultraje a culto/impedimento Art. 208

Lenocínio Art. 227 a 232

Casamento Art. 235 a 240

Estado de filiação Art. 241 a 243

Assistência familiar Art. 244 a 247

Pátrio Poder, tutela, curatela Art. 248 a 249

Saúde Pública Art. 267 a 285

Incitação ao crime Art. 286

Apologia ao Crime Art. 287

Fonte: Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de Pernambuco

Apresentado em linhas gerais, o Sistema Penitenciário de Pernambuco evidencia problemas crônicos do estilo de punição deformado e deformante que se instalou no Brasil.

Caracteriza-se pela expressão massiça de superlotação. Com um déficit de vagas que corresponde a 86,18% da sua capacidade, o Sistema parece preconizar, em breve, sua própria implosão. É de se notar que hoje, o preso já é forçado a comprar seu espaço de sobrevivência (cela) dentro do sistema, pelo preço de R$ 500,00, em média, nas unidades do interior, dependendo da dimensão e localização. Um loteamento do espaço prisional que se efetiva sob a chamada "vista grossa" das autoridades.

O problema da superlotação, além de estimular uma corrupção sistêmica que se locupleta do estado de extrema penúria que o sistema vivencia, também acarreta uma situação dramática de condições degradantes e desumanas.

O Estado não provê as necessidades mais primárias dos presos como vestuário, produtos essenciais de limpeza, remédios tampouco oferece oportunidades de trabalho que implicariam na oportunidade dos presos terem a chance de suprir suas necessidades básicas.

O único elemento farto que circula no sistema é a tortura, os maus tratos, o espancamento cotidiano e a falta de respeito à dignidade dos presos e seus familiares.

Não obstante o exposto, o que se mostra mais grave na prática penal brasileira é o total desconhecimento sobre o homem recluso e suas reais potencialidades criminosas.

Para a execução desse estudo, as autoras encaminharam à Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de Pernambuco um questionário contendo 20 perguntas cujo objetivo era desenhar um perfil da população carcerária, a partir da sua quantidade, sua distribuição, o corte de gênero, a situação jurídica, as condições de trabalho, o nível de escolaridade, a situação familiar ( estado civil, filhos, integração familiar, apoio e disponibilidade para com o preso), a opção religiosa, a tipologia criminosa, a localização do crime e da vítima, as experiências com a reincidência, a extensão da pena, a alocação no sistema, as relações interpessoais, a conduta disciplinar e a experiência com a tortura.

Surpreendente foi o resultado obtido.

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A Secretaria de Justiça só soube indicar os números da população carcerária e sobre mais nada dispunha de informações.

Essas questões parecem absolutamente estranhas ao processo gestor do Sistema. Não há produção de conhecimento sobre a grande maioria dos instrumentos de controle que as informações sobre o preso e suas disposições criminosas poderia deter. Por exemplo: os gestores do Sistema parecem não entender a contribuição que a família, um líder ou grupo religioso podem dar, não só na adaptação do homem detido à experiência da prisão mas, principalmente, à capacidade que essas duas instituições sociais - família e religião - tem de edificar a ação ressocializadora.

No entanto, causa mais impacto e consolida a visão crítica ao sistema, o total desconhecimento das autoridades gestoras sobre os custos da punição com privação de liberdade. Não há informações sobre o custo do preso, da alimentação servida no Sistema, da manutenção, dos técnicos, do corpo de agentes penitenciários, da guarda policial militar disponibilizada para o Sistema, da administração nem mesmo informações sobre o custo total das unidades prisionais ou do Sistema como um todo.

Contudo, pior ainda é perceber que o Sistema se mantém sem constituir um plano mínimo de ação planejada com objetivos que contemplem os anseios da sociedade do ponto de vista da contenção da reincidência.

Não existe projeto ressocializador na perspectiva da totalidade da população, em andamento, na pesquisa que empreendemos com a Secretaria de Justiça, nem sequer uma ação definida, com objetivo explicitado, número de apenados que alcançaria, metas e resultados concretos a atingir, número de beneficiários e custos e benefícios.

Por outro lado. O Sistema não dispõe de qualquer instrumento de acompanhamento do homem egresso. Quando se trata de família do preso como força aliada no processo de reintegração, do mesmo modo nada o sistema possui como diretriz para a condução desse relacionamento, não conseguindo ir além da forma brutal com que a trata e desrespeita, estendendo até elas os efeitos cruéis da pena.

Torna-se assim notório, que enfrentar esta realidade requisita a formulação de uma política pública dirigida à punição a qual reivindica, para sua organização, uma efetiva mudança na concepção ideológica do Sistema penitenciário que deve ser realizada pelo Estado.

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II PARTE

II.1. O MODELO SISTÊMICO DA SEGURANÇA PÚBLICA – INSTRUMENTO CENTRAL DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA

O modelo de Segurança Pública que se encontra em vigor no território nacional se organiza de forma sistêmica, de modo a envolver os chamados operadores da justiça e da segurança numa espécie de linha de montagem que atribui deveres a cada um dos atores institucionais, na expectativa de que a ação singular de cada segmento, de forma complementar, termine por realizar a tarefa de todos, qual seja, garantir a ordem e paz social.

Embora a Constituição Federal ressalte as corporações policiais como agentes prioritários da Política de Segurança Pública, a ação policial dirigida ao bloqueio da efetivação do crime, condiciona seu sucesso à atuação de um conjunto de outros agentes que, em defesa da sociedade, são chamados a garantir a interdição do agir criminoso, colocando em prática o sistema de leis que acusa, defende, julga e pune o ato transgressor, delituoso.

Nessa perspectiva, a questão da Segurança Pública deixa de ser um "caso de polícia" para se transformar numa articulação que move também o poder de justiça quando engloba o ministério público, a defensoria pública ou privada para garantir o princípio do contraditório e o direito de defesa, a magistratura e o sistema penitenciário de cada Estado membro.

Essa verdadeira linha de montagem da Segurança Pública, como aqui se denomina o conjunto de operadores da justiça e segurança, tem assimilado a responsabilidade de garantir a organização das força coercitiva e intimidadora do Estado para promover segurança e justiça.

No Brasil como um todo, as forças que representam elos fundamentais da cadeia de segurança assim se apresentam em termos numéricos e, de distribuição em relação ao contingente de 100 mil de habitantes.

EFETIVO POLICIAL POR REGIÃO DA FEDERAÇÃO - nov/2001

Polícia Civil Polícia Militar Total Região Nºs. Abso Taxa p/100 Hab.p/ Nºs. Abso Taxa p/100 Hab.p/ Nºs. Abso Taxa p/100 Hab.p/

lutos mil habit. policial lutos mil habit. policial lutos mil habit. Policial

Brasil 111.977 66,05 1.514 361.060 212,96 470 473.037 279,00 358

Norte 8.062 62,40 1.603 30.691 237,55 421 38.753 299,95 333

Nordeste 20.027 42,00 2.381 93.739 196,60 509 113.766 238,61 419

Centro Oeste 12.484 99,34 1.007 36.880 317,62 315 49.364 425,13 235

Sudeste 58.108 62,17 1.609 151.389 209,50 477 209.497 289,91 345

Sul 13.296 40,76 2.453 48.361 192,89 518 61.657 245,93 407 Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública - Ministério da Justiça–Gov. Federal

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Observando-se a montagem dos números que apresentam a relação população e efetivo policial disponível para prestar serviço de segurança em todas as unidades da federação percebemos que o contingente de Policiais Militares está concentrado na Região Sudeste com os seus 151.389 PMs. Enquanto o menor contigente é o que forma a Região Norte cujo número é de 30.691 PMs.

No que se refere à totalidade numérica da Polícia Civil, quem apresenta o maior contigente é também a Região Sudeste com os seus 58.108 policiais e também a Região Norte é a que menos dispõe de operadores da Segurança Pública.

No entanto, no que concerne à disponibilidade de policiais por habitantes a Região Nordeste é que apresenta a pior distribuição, a mais alta proporcionalidade. No compto geral ela é que aloca o menor contigente de policiais em relação à cada habitante. São 419 habitantes para cada policial disponível.

Dentro da Região Nordeste assim se mostram os Estados mais bem colocados em relação ao número de policiais que dispõem.

EFETIVO POLICIAL NO NORDESTE MAIORES CONTINGENTES nov./2001

Polícia Civil Polícia Militar Total Ufs Nºs. Abso Taxa p/100 Hab.p/ Nºs. Abso Taxa p/100 Hab.p/ Nºs. Abso Taxa p/100 Hab.p/

lutos mil habit. policial lutos mil habit. policial lutos mil habit. policial

Bahia 5.482 41,95 2.384 26.337 201,56 496 31.819 243,51 411

Pernambuco 4.792 60,57 1.651 17.264 218,23 458 22.056 278,80 359

Ceará 2.370 31,95 3.130 11.038 148,81 672 13.408 180,76 553 Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública – Minist. da Justiça-Gov. Federal.

Observando os Estados nordestinos que menos pessoas têm sob a proteção de um

único policial, percebemos que os três de melhor resolução para essa proporcionalidade são exatamente Sergipe, Alagoas e Rio Grande do Norte e, só em 4o lugar, aparece o Estado de Pernambuco, conforme comprova a tabela abaixo.

EFETIVO POLICIAL-RELAÇÃO 1 POLICIAL PARA Nºs DE HABITANTES

Polícia Civil Polícia Militar Total Ufs Nºs. Abso Taxa p/100 Hab.p/ Nºs. Abso Taxa p/100 Hab. p/ Nºs. Abso Taxa p/100 Hab.p/

lutos mil habit. policial lutos mil habit. policial lutos mil habit. policial

Sergipe 668 37,54 2.664 5.107 286,99 348 5.775 324,53 308

Alagoas 1.237 43,90 2.278 7.552 268,00 373 8.789 311,90 321 Rio Grande do Norte 1.086 39,20 2.551 7.105 256,43 390 8.191 295,63 338 Pernambuco 4.792 60,57 1.651 17.264 218,23 458 22.056 278,80 359 Fonte: Secretarias Estaduais de Segurança Pública-Minist. da Justiça – Gov. Federal

No caso específico da Região Metropolitana de Recife, há também uma distribuição

de operadores de justiça e segurança, em relação ao contingente populacional da RMR que, considerados a partir da participação direta que têm na realização de tais política, assim se agrupam:

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Efetivo de operadores de Justiça e Segurança na RMR em 02/2002

ÓRGÃOS Nºs de operadores

Taxa por 100 mil habitantes

Hab. Por operador

Polícia Militar

7.674

226,25

441,9

9 Polícia Civil

3.451

101,74

982,8

6 Ministério Público

157

4,63

21.604,07

Ressalte-se que: a) Os 7.674 homens inclusos nos mais diversos níveis hierárquicos da

corporação policial militar, se compõem nos seguintes níveis:

375 oficiais, 1.105 praças graduados, e 6.194 praças, contam-se também, entre estes, os policiais que atuam nos órgãos operativos da corporação;

b) Os 3.451 homens pertencentes aos quadros da polícia civil entre agentes, delegados e os servidores da polícia científica assim se distribuem:

2094 estão na atividade fim, 756 na atividade meio e 601 são os cargos providos da polícia técnica. Há no quadro funcional da polícia civil uma defasagem no preenchimento dos cargos que apresenta um déficit de 6094 cargos vagos;

c) Os 157 Promotores de Justiça que integram o quadro do Ministério Público e já se encontram lotados na varas criminais da capital.

d) Os Juízes do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco que atuam nos

juízos ou nas varas criminais situadas na RMR representam um número não identificado, uma vez que o próprio Tribunal de Justiça de Pernambuco alegou impossibilidade de definir tais dados considerando seu modelo organizacional.

e) Como resultado da atuação dessa linha de montagem da segurança se

encontram no sistema penitenciário do Estado 9.350 reclusos que se distribuem entre 5.022 vagas e requisitam o preenchimento de um déficit de 4.328 novas vagas, só para a manutenção do número atual de detentos.

Parte desse contingente estadual, a mais expressiva encontra-se alocada na Região Metropolitana do Recife.

Eis como se mostra o quadro das Unidades Prisionais, segundo o número de presos

da RMR:

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Número de Presos que habitam as unidades Prisionais da RMR - 2002 Unidades Prisional Nº de presos Nº de

Vagas Deficit de vagas

Presídio Aníbal Bruno

3.264 524 - 2.740

Penitenciária Barreto Campelo

1.087 606 - 481

HCTP 274 350 Há sobra de 76 vagas

Colônia P. Feminina 257 154 - 103 PAI 488 532 Sobram

44 vagas Total 5.370 2.166 - 3.204 Fonte: Secretaria de Justiça e Cidadania dos Estado de Pernambuco.

Apresentados os contingentes de operadores de que cada órgão dispõe bem como os números referentes à comunidade transgressora, condenados ou não, que se encontra sob seu controle, temos a realidade que dá sustentação à nossa defesa.

A lógica de enfrentamento que permeia o modelo de segurança pública instaurado no Brasil, baseia-se, fundamentalmente, na interação desses órgãos, permitindo que a integração entre eles realize o produto final da aplicação da justiça permitindo-a funcionar como um traço intimidador da prática criminosa, a certeza da punibilidade.

Do ponto de vista da efetiva e eficiente atuação conjunta dos órgãos encarregados da segurança pública, a integração, a interação e a complementaridade entre eles têm sido um objetivo inalcansável no cotidiano dessas instituições. Impossibilitados de ativar um esquema preconcebido de atuação conjunta, a prática policial obstaculariza o sucesso de algumas ações a partir da disputa de comandos; a prática integradora se inviabiliza, esbarrando nos esquemas hierárquicos e o resultado esperado, que é a prática punitiva ressocializadora, se frusta pelo caráter isolado que é atribuído à prisão cuja participação na integração da linha de montagem de segurança pública parece-lhe estranha, desprezando-se sua face de instituição intimidadora da criminalidade.

A rigor, o modelo de segurança pública que vigora em Pernambuco assimila procedimentos que transcorrem, obedecendo certas etapas, muitas vezes similares a verdadeiros rituais. Dessa forma, pode-se dizer que aciona-se a linha de montagem da Segurança Pública quando se põe em movimento a partir da denúncia/informação inicial à polícia, principalmente, militar, que detém o caráter de policiamento ostensivo, responsável pelo atendimento imediato às demandas de interdição da prática criminosa ameaçadora, as intervenções urgentes de restauração da ordem e da segurança e o encaminhamento às instâncias competentes que deverão sendo percorrido todas as etapas da linha, determinar às decisões de Justiça.

No procedimento seguinte, a polícia civil ocupa o seu lugar na cena, instituindo as investigações e diligências que irão formalizar o inquérito e o decorrente libelo acusatório. Para conduzir tal tarefa, a polícia civil vai aglutinar um quadro de agentes capaz de montar a compreensão do fato criminoso e produzir, com a ajuda da polícia científica ou polícia técnica , o elenco de provas que subsidiarão as razões acusatórias presentes no inquérito.

Na etapa seguinte, é o fato criminoso encaminhado ao Ministério Público que deve analisar as formas como foram conduzidos os inquéritos policiais e oferecer a denúncia do crime ao judiciário, ou pedir novas averiguações à autoridade policial responsável. Nesse momento processual, tem lugar a inserção da defensoria pública ou da defesa privada que, resguardando o princípio do contraditório, oferecerá a defesa prévia a qual, junto com a

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peça acusatória e as respectivas provas produzidas, dará condições para que seja realizado o julgamento por parte do poder judiciário e, definida a sentença, possa o sistema prisional ou as instituições encarregadas da aplicação das penas alternativas realizarem o processo de punição que espera-se, seja arrefecedor das disposições criminosas.

O andamento desse chamado caminho processual contudo, não apresenta a fluidez que se faz necessária para, minimamente, garantir que a punibilidade da conduta criminosa seja preservada.

Mal estruturados, os órgãos responsabilizados pelo controle da criminalidade se ressentem de apoio material e humano básico para desenvolver suas funções.

Para a polícia militar, um sistema de comunicação que permita a informação detalhada, imediata, acoplada a um cadastramento nacional de identificação criminosa, de rápido acesso, apto a facilitar a consulta nacional dos antecedentes criminais dos suspeitos em qualquer ponto do país ou ainda, um sistema de comunicação interativa; a montagem de um serviço de produção de conhecimento da atividade criminosa, ressaltando sua localização sua atuação, sua capacidade de formação de redes e de apoiar-se na comunidade, sua articulação com outros seguimentos do mundo do crime, sua capacidade de transmutar-se na atividade criminosa; tudo isso contando com as informações retidas em um banco de dados capaz de fornecer informações confiáveis, são as ferramentas básicas para a polícia executar seu papel com uma melhor avaliação de desempenho.

Do ponto de vista da polícia civil é verdadeiramente desolador o quadro de operacionalidade com que a polícia tem trabalhado. Não só as condições necessárias para a instrução do inquérito mas, principalmente, a dificuldade operacional que se pode observar no coração da polícia civil que é a denominada polícia científica.

Segundo o professor Jorge Zaverucha, em trabalho apresentado no Seminário Internacional de Políticas de Segurança, "Não prestigiar a Polícia Científica equivale a incentivar a impunidade". a polícia científica, base da elaboração do inquérito, em Pernambuco, não possui condições materiais mínimas para exercer a função de produção de provas por ausência dos mais elementares instrumentos para realizar o seu trabalho. A pesquisa realizada pelo Prof Zaverucha afirma que "o objetivo da Polícia Técnica é o de prover documentação fidedigna e imparcial sobre os achados científicos que possam ser relevantes para a investigação do problema. Desse modo, a Polícia Técnica deve ser praticada em um ambiente imune à política partidária, onde seja incentivado o profissionalismo e o uso técnico do resultado do trabalho. Existe no Estado de Pernambuco apenas três Institutos de Medicina-Legal: em Recife, Caruaru e Petrolina. Isto significa que grande parte dos crimes ocorridos na região do Sertão Central não contará com o laudo do perito forense. É pratica, o delegado requisitar um médico local, que pode ser um pediatra ou ginecologista, para atestar a causa mortis. Quando o inquérito chega ao tribunal, um bom advogado consegue anulá-lo lembrando da necessidade do laudo oficial do IML. Mais um mecanismo gerador de impunidade.

As instalações do IML de Recife são precárias. Em entrevistas com os peritos forenses ficamos sabendo da ausência de material básico, como luz de foco, mesa de exame ginecológico; colposcópio (microscópio de maior potência que permite melhor enxergar uma lesão); não há intensificador de imagem na divisão de tanascopia; não há laboratório para exame de DNA; não há óculos para proteger o legista de luz ultravioleta; não há instrumento de dosagem de fosfataste ácida que, entre outras coisas, serve para detectar a presença de esperma numa vítima de estupro; há dificuldade na obtenção de material descartável como espátula, espectro, cotonotes etc.;13 as lâminas para exames microscópicos na divisão de patologia são muitas vezes levadas pelos médicos para serem feitas em laboratórios particulares; não há necropsia à noite nem de urgência; o aparelho de 13 A maior parte do material descartável chega ao IML através de doações.

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raios-X está ultrapassado; não há um aparelho deste tipo para a necropsia e o mesmo vem emprestado de outra divisão; a sala de informatização, depois de um ano inaugurada, pifou por falta de manutenção, e hoje a sala é usada para datilografia. Por conta disso, o mapa estatístico das mortes é feito manualmente e lentamente.

Em 1998, só havia duas viaturas14 e uma estava quebrada e muitas vezes, alugam-se carros de casas-funerárias. Mesmo com a criação da Secretaria de Defesa Social (SDS) o IML continuou abandonado. A situação das urnas funerárias e das viaturas do IML, está uma penúria. O pessoal que trabalha na remoção desses corpos anda sem equipamento especial de proteção e é obrigado a dirigir aqueles veículos que há bastante tempo não passam por uma revisão. Alias, dos quatro que fazem parte da frota, apenas um continua em operação porque os demais estão quebrados e ninguém sabe quando sairão das oficinas."15

O estado de sucateamento que a polícia judicial apresenta é, verdadeiramente, um indício de que o sistema de segurança que tentamos credibilizar, não apresenta argumentos fortes que dêem sustentação à sua confiabilidade.

O ministério Público, por sua vez, se considera carente de material humano que possa dar conta das inúmeras incumbências que a Constituição de 1998 determinou que fossem executadas por aquele órgão.

O Poder Judiciário se recente do acúmulo de processos que se avoluma a cada dia com ritos processuais que exigem um prolongamento temporal das ações, anulando o que fora praticamente produzido pela polícia e reiniciando a partir dos atos preliminares, repetindo as ações já realizadas, o que implica na tão conhecida morosidade da justiça.

O resultado desse diagnóstico se configura na grave denúncia que o ministério público trouxe a luz através do seu órgão informativo "Observis", na edição trimestral ( jan/mar) de 2001. Diz o jornal:

"Em 1998 ocorreram, no Recife, 1.594 homicídios ( Fonte Ministério da Saúde) Considerando, em tese, uma média de 1,09 vítima por inquérito, isso deveria dar origem a, aproximadamente, 1.462 inquéritos policiais. Não obstante, em 1998, foram apurados e remetidos à Central de Inquérito do MPPE apenas 45 inquéritos policiais referentes a esse tipo penal, dos quais resultaram 43 ações penais propostas pelos Promotores de Justiça." 16

Questiona ainda o informativo "à parte a visível impunidade, esse dados nos levam a indagar: Se a taxa de resolubilidade do sistema policial fosse maior, os sistemas ministerial, judiciário e carcerário absorveriam a demanda, mantida a forma como hoje se estruturam? "17

A análise que o Observis sugere leva a uma conclusão, no mínimo, desanimadora quando enfatisa: "Informe-se a título de ilustração, que, em 1998 os dois tribunais do Júri da Capital marcaram 158 e realizaram 109 julgamentos ( 49 foram adiados por vários motivos). E mais, todos esses julgamentos referiam-se a crimes praticados em anos anteriores. Não seria uma ilusão pensar que a resposta ao problema da criminalidade, como muitos querem dar a entender, estaria, apenas dentro do sistema de justiça e segurança? "18

Mais que uma ilusão, o que nos espanta é saber que os crimes cometidos em 1998, pelo menos durante aquele ano, não foram julgados ou punidos, os homicidas que atentaram contra a sociedade - o homicídio é um crime de ação pública - por todos os 365, daquele ano, na melhor das hipóteses, viveram uma impunidade consumada. 14 Os veículos não têm sequer estepe, triângulo e extintor, equipamentos obrigatórios. Só tem macaco e chave de roda. Se fossem parados por uma blitz policial, os carros teriam que ser apreendidos... 15 Zaverucha,Jorge. 16 Observis - Observatório sobre a Violência na Cidade do Recife, Órgão do Ministério Público de Pernambuco - Ano I . Número1 Edição Trimestral - jan.mar. 2001 Ed. Assessoria de Imprensa do Ministério Público. 17 Idem. Op. Cit. 18 Idem obra citada.

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Tão contundente exemplo parece depor contra a engrenagem de sustentação da linha de montagem da segurança pública em Pernambuco. Aponta para uma deficiência crônica da sua funcionalidade.

II.2. A POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO

De competência exclusiva do estado-membro, a segurança pública em Pernambuco, passou por um processo de reflexão que possibilitou ao Estado oferecer uma proposta objetivando um melhor desempenho dos sistemas envolvidos com a justiça e a segurança pública a qual se expressa através do chamado Plano Integrado de Segurança Cidadã - em síntese assim se mostra:

"O Plano Integrado de Segurança Cidadã do Estado de Pernambuco está estruturado em três grandes linhas de ação: Defesa Social, Justiça e Cidadania e Políticas Sociais e Ações Comunitárias. Compreende programas novos e/ou já em execução pelo Governo do Estado."

O primeiro enfoque do plano, dirigido para as ações do sistema de segurança propriamente dito, é o programa de defesa social, que tem como órgão diretamente responsável a Secretaria de Defesa Social. Nele estão contidas medidas relacionadas a uma maior capacitação do sistema de segurança pública em recursos humanos e aparelhagem para uma ação mais eficaz no enfrentamento à violência social, com ênfase para a Região Metropolitana do Recife e o combate ao narcotráfico, em particular na região do sertão pernambucano.

Tem como proposta metodológica alicerçar a ação na vontade coletiva de opção pela tranqüilidade social.

Partindo dos propósitos abaixo listados, o Estado define como política de Defesa Social:

. “Ter como foco a proteção e a defesa dos direitos do cidadão;

. Fortalecer os valores e crenças nas instituições que compõem o Sistema de Defesa Social, consolidando a necessária credibilidade social nos órgãos operativos, bem como a auto estima e o senso de profissionalismo e compromisso dos servidores da segurança pública;

. Estabelecer critérios de emprego do policiamento, a partir das linhas adequadas de relacionamento com a comunidade;

. Criar um método estrutural sistêmico, ágil e flexível, capaz de atender à verdadeira demanda da sociedade pernambucana;

. Articular o sistema de Defesa Social, no âmbito estadual e federal, com os diversos segmentos governamentais e não governamentais da sociedade, na construção e acompanhamento do desenvolvimento de Pernambuco;

. Dotar os órgãos operativos da Secretaria de Defesa Social de equipamentos, viaturas e sistema informatizados necessários às ações preventivas e repressivas;

. Intensificar as ações específicas de combate à criminalidade e ao narcotráfico na Região Metropolitana do Recife e, principalmente, no Sertão Pernambucano;

. Investir em ações que fortaleçam a autoconfiança profissional do servidor de segurança pública e o compromisso no desempenho do seu papel de protetor do cidadão."

Os objetivos do plano, além do geral que traz a proposta de reduzir os índices de

violência em todas as formas, especificamente, se aplicam a três grandes compromissos:

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1. "Conferir maior eficácia ao Sistema de Defesa Social do Estado. 2. Aperfeiçoar o Sistema Penitenciário do Estado. 3. Fortalecer as Políticas Sociais de Ações Comunitárias no Estado."

Os Programas e Metas que o Governo oferece para a efetivação da Defesa Social

ressaltam 12 iniciativas que pretendem alcançar mudanças e inovações passíveis de efetivamente, melhorar o desempenho da segurança pública no Estado, são eles:

Projeto de gestão operacional comunitária

a) Implantação de núcleos para a Polícia Comunitária Parece ser o foco orientado para iluminar a prática da segurança pública no Estado.

Destina-se a descentralizar o sistema de policiamento ostensivo fardado. A idéia é implantar 202 Núcleos que deverão abrigar gerências descentralizadas de policiamento, formadas na filosofia de Polícia Comunitária e abrangerão todo o território de Pernambuco.

Os investimentos têm um custo total de R$ 51.800.000,00 e as fontes são: recursos do Governo Federal, R$ 10.000.000,00 e do Governo Estadual 41.800.000,00

b) criação da universidade corporativa de segurança pública Com o objetivo de estabelecer um canal de cooperação técnica entre o Sistema de

Defesa Social e a Universidade Federal de Pernambuco. A meta é realinhar os órgãos de treinamento e capacitação, objetivando a construção de uma doutrina de preparação profissional para todos os integrantes dos órgãos operativos e assim, elevar o padrão de desempenho do agente de segurança pública.

Os investimentos são no valor de R$ 12.150.000,00 e recolhem do recursos do Estado 8.000.000,00 e do Governo Federal 4.150.000,00;

c) corregedoria geral de defesa social Órgão multidisciplinar criado para fiscalizar as denúncias que envolvam

irregularidades ou desvio de conduta de seus integrantes, com a participação do Ministério Público e OAB. Investimentos da ordem de R$ 3.700.000,00 e os recursos são todos Federais.

d) instrumentalização tecnológica para integração e descentralização das ações

policiais A iniciativa visa, de acordo com o Plano, "implementar um conjunto de ações que

possibilitem a utilização da tecnologia da informação como instrumento facilitador da integração e descentralização das ações policiais e a interação com a comunidade."

Investimentos previstos: R$ 10.412.000,00. Recursos Federais 3.412.000,00 e Estaduais 7.000.000,00.

e) implantação do centro de inteligência de defesa social - CIDS e da diretoria

executiva de análise criminal e estatística - DEACE. A pretensão é dotar as atividades de inteligência de estrutura moderna com

tecnologia de ponta capaz de criar um sistema de estatística criminal com índice de dados

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analisados e avaliados cientificamente, instalar programas específicos para esse fim e também possibilitar o mapeamento das ocorrências policiais no Estado.

Investimentos : R$ 1.600.000,00 recursos advindos do Governo Federal R$ 500.000,00 e do Governo Estadual R$ 1.100.000,00.

f) reestruturação do policiamento especializado das polícias militar e civil. A intenção é reestruturar o modelo de policiamento ostensivo fardado e judiciário

especializado preparando-os para combater a criminalidade a partir da criação de Regiões Integradas de Segurança. Alinhando as Unidades Especializadas adequando suas estruturas físicas, e aprimorando sua capacidade repressiva.

Investimentos R$ 14.000.000,00 origem dos recursos : Governo Federal R$ 4.000.000,00 e do Governo Estadual R$ 10.000.000,00.

g) reestruturação do complexo de polícia científica Pretende construir instalações físicas e equipar com material de informática o

Complexo Polícia Científica da Região Metropolitana do Recife e o Interior ( Caruaru e Petrolina).

Investimentos R$ 10.400.000,00 - oriundos do Governo Federal - R$ 2.500.000,00 e do Estadual - R$ 7.900.000,00.

h) reaparelhamento dos órgãos operativos Objetiva equipar e aparelhar os Órgãos Operativos fornecendo-lhes viaturas de duas

e quatro rodas, armamento e munição, colete à prova de bala, equipamentos de rádio comunicação, informática, helicópteros, embarcações e transportes para deslocamento de efetivos policiais.

Investimentos - R$ 21.000.000,00 recursos federais - 9.000.000,00 estaduais - 12.000.000,00.

i) reforma e construção das instalações físicas da polícia civil Visa construir e reformar Delegacias da Capital e Interior. Investimentos R$ 22.000.000,00 origem: Gov. Federal R$ 4.000.000,00 Gov.

Estadual R$ 18.000.000,00

j) plano estrutural de recursos humanos para os servidores do sistema de defesa social

Objetiva viabilizar a potencialidade dos talentos, a o nivelamento hierárquico entre os Órgãos Operativos e valorizar e maximizar o desempenho.

Investimentos: R$ 3.000.000,00 - recursos advindos do Governo Federal

k) ações emergenciais Viabiliza a aquisição de Viaturas e Construção da sede do Grupo Especial de

Operações - GOE, da Polícia Civil. Investimentos R$ 8.812.000,00 - recursos advindos do Governo Federal - R$

3.812.000.00 - do Governo Estadual - R$ 5.000.000,00

l) oficinas de integração do sistema de defesa social com a sociedade civil organizada Dirige-se à promoção de oficinas para a discussão de temas que repercutem na

situação da violência privada, na cidadania, no tratamento da criança buscando qualificação integração com a sociedade.

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Investimentos R$ 20.000,00 - recursos do Governo Federal.

Esse plano tornado público oficialmente , no momento de entrega do documento ao Presidente da República, pelo Governador Jarbas Vasconcelos, quando a mídia focalizou o pronunciamento do Secretário de Defesa Social de então, o Cel/PM Iran Pereira se pronunciara destacando que "a primeira parte das medidas, englobando o equipamento das delegacias e batalhões de polícia do Sertão, compreende o maior investimento que Pernambuco já fez na Segurança Pública daquela região em toda sua história."19

A repercussão esperada, a partir do anúncio da linha de planejamento do Governo Estadual para a área de segurança foi bem colocada no próprio argumento do Secretário de Defesa Social quando afirma: "Depois desse investimento, o homem de Segurança Pública não vai poder dizer que não tem condições materiais de realizar bem o seu trabalho. A partir daí vamos investir na formação do policial e no aumento do nosso efetivo".20

Esperava-se daí então, que fossem estabelecidas metas e prazos para começar a perceber os efeitos dos investimentos na diminuição da incidência criminosa no Estado.

É importante notar como a construção do Plano Integrado de Segurança Cidadã reflete uma necessidade do Estado de organizar-se internamente, de resgatar as instituições operacionais da sua situação de penúria, modernizá-las, torná-las eficientes e produtivas, oferecendo melhores condições de salário e trabalho podendo assim, preparar-se para responder à sociedade com o desempenho socialmente requerido face ao enfrentamento da violência e da criminalidade.

Sabe-se hoje, através de qualquer manual de discussão sobre a violência que, é condição definida, a promoção de ações sociais como ponto de sustentação para reduzir, inibir e controlar a atividade criminosa ao mesmo tempo em que se possibilita a efetivação do controle social sobre a violência.

Respondendo a esse verdadeiro clamor da sociedade, o Governo do Estado similarmente ao que já fizera o Governo Federal por intermédio do P.N.S.P, integrou ao plano de segurança programas dirigidos às ações sociais que objetivam contribuir para fortalecer a cidadania na busca de impedir que fragilidades advindas das condições sociais de grande contingente da nossa população acabem por favorecer a sociedade do crime no seu recrutamento constante.

Dessa forma, 11 programas novos ou em andamentos são elencados no Plano Estadual e nota-se a convergência ou, em alguns casos, até a complementaridade com os demais 47 programas do Governo Federal que pretendem, uma vez articulados estar na base de significativas mudanças.

A temática que tais programas abrangem tem os eixo de definição dos benefícios calcados na criança no adolescente, no jovem, na família, no emprego, na renda, e nos atores inseridos em situação de risco basicamente os que engrossam as fileiras da menor idade.

Contudo, é evidente que ao Executivo não bastaria definir estratégias visando a operacionalização da segurança pública, deixando fora da apreciação e do planejamento ações que dizem respeito a política penitenciária. Assim é que o Plano Integrado de Segurança Cidadã também contempla um elenco de medidas que têm na Secretaria de Justiça e cidadania de Pernambuco o seu órgão executor.

O Governo definiu como programas e metas a serem conduzidos na área de Justiça e Cidadania os seguinte:

19 Jornal do Comércio, dia 17 de agosto de 2002. Caderno Cidades - Investimento faz parte do Plano de Segurança - p. 2 - Recife - Pernambuco. 20 Jornal do Comércio - referência citada.

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1. ampliação e redimensionamento da oferta de vagas

Esse conjunto de ações se dirige à: concluir a construção , até 2001, do Presídio de Igarassu como 266 vagas; Criar o Centro de Ingresso, Classificação e Triagem; Construir 67 cadeias públicas na Região Metropolitana e Comarcas que não dispõem; Ampliar as novas Unidades localizadas em Petrolina , Limoeiro e Igarassu; Construir um presídio na Região Metropolitana do Recife - Sul; Reformar e adequar a Penitenciária Agrícola de Itamaracá para funcionar em regime fechado; Ampliar e reformar a unidade de PACAS/ Vitória de Sto. Antão para atender 330 presos em Regime semi-aberto; Construção de Penitenciária Feminina.

Investimentos R$31.755.000,00 recursos oriundos do Gov. Federal R$ 28.600,000,00 e do Gov. Estadual 3.155.000,00

2. melhoria da infra-estrutura fisica, veículos e equipamentos Reformar Cadeias Públicas; ampliar a frota de veículos; Instalar um Sistema

Integrado de Informações Penitenciárias. Investimentos R$ 5.700.000,00 recursos do Gov. Federal R$ 3.700.000,00 e do

Governo Estadual R$ 2.000.000,00

3. ampliação e adequação do quadro de recursos humanos da SUSIPE Criar novos cargos para o funcionamento das Diretorias Executivas Regionais de

Estabelecimentos Prisionais; Ampliar o número de cargos funcionais para a direção e gerência das novas unidades prisionais; Ampliar em 710, o quadro de Agentes de Segurança Penitenciária do Estado; Capacitar o quadro de Agentes de Segurança Penitenciária.

Investimento R$ 8.623.000,00 recursos do Gov. Federal R$ 900.000,00 e do Gov. Estadual R$ 7.713.000,00

4. criação do centro de atendimento e tratamento de drogaditos crianças e adolescentes

A proposta objetiva viabilizar a realização do Seminário Internacional para o debate

dos problemas ligados à droga com a perspectiva de estimular iniciativas locais de redução da demanda, prevenção, tratamento e subsidiar políticas públicas.

Investimentos R$ 480.000,00 recursos oriundos do Governo Federal R$ 400.000,00 e Governo Estadual R$ 80.000,00.

5. apoio à realização do Seminário Intinerante da América Latina sobre redução de danos - LATS

O mesmo objetivo que norteia a criação do programa anterior. Investimentos R$ 87.656,00 recursos do Gov. Federal R$ 20.000,00 e do

Governo Estadual R$ 20.000,00 As Instituições Internacionais ofereceram R$ 47.656,00.

6. implementação do novo modelo de gestão do sistema penitenciário Pretende implantar 06 Diretorias Regionais de Estabelecimentos Prisionais

acopladas a uma unidade penitenciária e cadeias para acolhimento de presos provisórios.

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Investimentos inclusos nos recursos previstos para os itens 2 e 3 e quanto a manutenção das Diretorias não foram definidos recursos.

7. projeto de vida

Ação dirigida à redução dos índices de impunidade do Estado de Pernambuco.

Pretende a restruturação das Promotorias de Justiça Criminais; Criação das Centrais de Inquéritos; e a Instrumentalização tecnológica.

Investimentos oriundos exclusivamente do Governo Federal: R$ 2.401.070,00.

Mais uma vez, observa-se no planejamento estatal um postura introspectiva, o que significa dizer, uma preocupação em intervir na realidade interna das instituições não se percebe uma definição de prioridades que possibilite ações capilares direcionadas realmente à população.

II.3. A crítica

É notório que as políticas públicas de segurança e justiça que o Plano Integrado de Segurança Cidadã do Estado de Pernambuco propõe a execução, traz, logo na sua concepção de prioridades de ações e na alocação dos recursos captados uma distorção visível que não garante mudanças substanciais palpáveis na realidade da violência que o Estado, hoje, comporta. O Plano revela a face egocentrista do Estado.

Facilmente se detecta que da quase totalidade dos reais captados, o Plano impõe para a sua execução, mais da metade dos recursos sejam investidos na atividade meio dos órgãos de segurança do Estado e mesmo os investimentos restantes, não se apresentam comprometidos com nenhuma ação efetiva da atividade fim, ou seja, nenhum recurso financeiro é direcionado, segundo a política segurança, para o desenvolvimento de estratégias reais de enfrentamento à criminalidade ou ao processo de transformação do homem apenado. Os benefícios que dele podem advir acontecerão de maneira indireta.

Fica muito claro que a preocupação do Estado ao ter acesso aos investimentos é, explicitamente o de arrumar a própria casa, sem, contudo, estabelecer metas e prazos para a concretização de tal arrumação.

Tal opção faz-nos pensar que as ações que o Estado tem como fontes de preocupação, na avaliação que faz do quadro de segurança que a sociedade pernambucana necessita, são só de ordem organizacional e para isso o governo, nessa gestão, aposta todas as suas fichas em melhorar as condições de organização interna e as condições materiais, como consequência e o sucateamento que o setor foi vítima, e o desmontou .

Mas, será que a casa arrumada implica necessariamente em efeitos sobre os sistemas prisionais e de segurança?

Senão vejamos: dos doze programas que o Plano expõe para atuar na área da segurança pública apenas dois deles podem, de forma direta repercutir na meta da contenção crime, a curto prazo, são os itens 11, as ações emergenciais e o item 12 as oficinas de integração do sistema de defesa social com a sociedade civil organizada. Do montante de investimentos que o plano diz captar para essas duas ações juntas, são destinados apenas R$ 8.832.000,00.

Nesse caso, vale a pena ressaltar que não é possível, diante da urgência que a escalada da violência impõe ao projeto governamental, esperar que a casa se arrume, que

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as condições sejam completamente favoráveis para daí erguer um plano mirabolante que venha a reestabelecer a ordem e a segurança em períodos recordes de tempo. É preciso também observar que alguns dos programas que o Governo propõe em seu plano, são linhas de atuação permanente e outros ainda, são do tipo que requisitam um longo espaço de tempo para que se possa realizar uma objetiva avaliação de impacto.

Questiona-se, se os recursos destinados a seminários não teriam melhor aproveitamento se direcionados a programas de base.

A pergunta que o Estado fará a essa crítica, naturalmente será: é possível aos operadores da segurança e da justiça realizarem o trabalho que a sociedade espera deles sem que condições mínimas, materiais e humanas lhes sejam oferecidas, ou ainda, sendo-lhes disponibilizado apenas um amontoado de sucata que pela superação material que exibem põe-lhes em perigo à própria vida?

É claro que a resposta a essa questão é definitivamente NÃO! Por isso que, pelo lado dos que fazem a sociedade, a competência que se requisita

do Estado intenciona que ele por um lado em caráter permanente seja capaz de promover a reestruturação e manutenção interna dos seus órgãos, oferecendo aos operadores da segurança o que houver de mais moderno e eficaz para o desempenho das suas eficiências, mas, perguntamos também a partir da nossa realidade cidadã, se é possível diante da ameaça do crime, da sua investida intrépida e destemida contra o cidadão, esperar essas lentas mudanças na máquina do Estado sem que, mesmo reunindo a pequena munição e os parcos recursos humanos de que dispõe, possa o Estado planejar um conjunto de ações, um plano, um programa, um projeto e para a partir dele captar recursos, que, se não realize o controle da criminalidade que se espera, pelo menos detenha, retarde, minimize a ação criminosa com que a sociedade é obrigada a conviver.

III PARTE

III.1. UM NOVO CAMINHO: O MODELO ARTICULADOR DA DEFESA SOCIAL

Falar de concepções, idéias e estratégias que orientam determinada proposta, atitude, comportamento é instituir um modelo que está na base da escolha do agir e do pensar, é pois nesse sentido que a expressão paradigma tem significado no contexto dessa análise considera-se que existe um conjunto de idéias sobre segurança pública que circula entre os encarregados de definir as propostas, as atitudes e os comportamentos dirigidas ao enfrentamento da violência e, consequentemente, à montagem da segurança pública.

Pensar a segurança pública com vistas a resultados eficazes pode significar construir instrumentais teóricos que possibilitem o entendimento da criminalidade, suas ramificações, transmutações e principalmente sua capacidade de articulação, recrutamento e ação.

Estabelecer um paradigma fidedigno às necessidades que os operadores da segurança demonstram sentir para efetivar um desempenho eficaz, implica compreender que a criminalidade representa o tipo de contrapoder que mais se destaca no seio da sociedade pelo seu caráter de expansividade e seu teor ofensivo.

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Isso pode ensinar ao poder instituído que, não obstante toda sua busca de controle e vigilância, na verdade o resultado de sua prática tende a experimentar sempre a triste realidade de correr atrás do prejuízo, se postando na maioria das vezes, a reboque do contrapoder desafiante. Essa afirmativa coloca em alerta a capacidade defensiva da sociedade e de certa forma instiga a criação de estratégias de inteligência para prevenir o delito, a transgressão, mesmo sabendo que elas nunca poderão dar conta, por completo, da capacidade de surpreender que o mundo do crime possui.

Por outro lado, já não é mais possível cultivar a ingenuidade de admitir a possibilidade de um dia se vivenciar a vitória do "bem" sobre o "mal" e assim, se poder acabar com a criminalidade.

Essa não é, e talvez nunca tenha sido, a perspectiva estratégica que vigora entre os estudiosos da questão, nem entre os operadores da segurança.

Na verdade, a tendência vitoriosa nessa avaliação de forças difunde perspectiva de controle da criminalidade, o que significa dizer, mantê-la sob patamares de suportabilidade.

Tal enfoque representa a principal demanda que a sociedade impõe aos órgãos operativos da segurança pública na intenção de que eles, possam organizar a montagem efetiva de um sistema de controle e vigilância que garanta a prevenção, muito mais presente, que a repressão contínua.

Com a vigilância e o controle efetivos, a criminalidade não deixa de ser audaciosa, mas pode deixar de ser surpreendente o que significa um ataque vital na ação criminosa. Portanto, o desafio que está posto à sociedade brasileira é o da prevenção do crime, uma potente arma que tem como mira cercear o contrapoder produtor e gerenciador do crime.

Dessa forma não escapamos à realidade imperiosa que implica definir o formato defensivo que a sociedade deverá montar para garantir a segurança e, nesse caso, é preciso pensar essa prática social observando-a através da comparação que a lente do mundo do crime pode oferecer.

Se quisermos controlar a criminalidade e mantê-la em índices suportáveis, temos que penetrar sua lógica, percorrer sua disposição, inventar, projetar, imaginar, prever e dessa postura investigadora, tentar responder a uma pergunta que pode se tornar eixo condutor de uma proposta para a repressão da violência criminosa:

É possível aos operadores da segurança se anteciparem à efetivação do crime, desfazendo suas teias quando ele ainda se projeta apenas como ameaça?

Na perspectiva dessa resposta, convém retomar a discussão do paradigma que define uma orientação diferenciada daquela instaurada e em andamento. É preciso observar o que a concepção de Defesa Social propõe na sua visão muito mais abrangente do agir dirigido à tranqüilidade social, na ampliação do seu âmbito permitindo a participação dos atores da defesa da sociedade para além da visão instituída pelo paradigma da segurança pública.

Não se trata apenas de reconhecer que a linha de montagem da segurança pública é deficitária, trata-se de dizer que ela é insuficiente para enfrentar a complexidade que o mundo do crime ostenta.

Com isto queremos dizer que, mesmo com o funcionamento integrado das instituições comprometidas com a linha de montagem da segurança, ainda é impossível esperar que a defesa da sociedade possa parecer suficientemente preservada.

O paradigma da defesa social, diferentemente da concepção instituída no âmbito da segurança pública constrói um conceito de defesa fincado numa maior abrangência cuja forma de trabalho leva a prática da segurança para além do fato criminoso em si, alcançando a pessoa do sujeito do crime e sua inserção na ambiência criminosa, ou seja, à defesa social interessa ultrapassar a repressão simples e pura, a investigação que elucida,

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a punição que segrega, para se preocupar com a multicausalidade do crime, propondo-se a intervir nas raízes dessas causas para controlar a incidência do fato criminoso.

Numa outra perspectiva, a segurança pública trabalha repressivamente o ocorrido, dando-lhe corpo e movimento e oferecendo juízo de valor sobre ele o que implica em punição.

A defesa social incorpora essa tarefa própria da concepção de segurança pública e a expande, tentando compreender o mundo do crime para atacar os seus nichos reprodutores.

Surge então, dessa compreensão, o que pode se constituir como proposta para o Projeto Metrópole Estratégica:

Trabalhar orientado pelo paradigma da defesa social é colocar em movimento, na experiência de construção da segurança, alguns instrumentos fundamentais para deter a ação criminosa, e assim construir uma orientação pragmática que expõe uma racionalidade complexa mas amparada em elementos que proporcionam uma base de apoio para a realização da Defesa Social.

Assim se inscrevem os marcos fundamentais da defesa social:

III.1.1 A Lógica da Complexidade

Aponta para o entendimento de que a disposição criminosa dos nossos dias se efetiva através de um formato de rede e a perspectiva do risco. Esse deslocamento analítico coloca a criminalidade no foco da complexidade, pulverização, desraízamento, desterritorialização e que portanto, implica a produção de estratégias de controle que devem seguir a mesma lógica da complexidade, que trabalhe a defesa da sociedade na perspectiva da capilaridade social, da construção e mobilização de uma prática embasada em referências advindas da produção de um saber que contempla, ao mesmo tempo, a concepção crítica, multidisciplinar e pluridimensional do fenômeno criminal.

III.1.2 A Inserção da Cientificidade

Essa proposta implica requisitar, para por à disposição da defesa social, contribuições de todos os ramos da ciência, indistintamente, fugindo da fixação do uso da linguagem estatística como a única ciência necessária.

Para a defesa social é também fundamental abolir o dogmatismo em matéria penal , instruir: uma doutrina multidisciplinar, tomar por base de ação a mutabilidade criminosa, para possibilitar o acompanhamento, no tempo, das mudanças sociais e se definir com a marca da universalidade, pertinente à ciência. visando facilitar o emprego de ações que podem ter passado por laboratórios em outros países porém devem ter seus resultados avaliados para serem fundidos na nossa prática social, não como mera adaptação, mas como um instrumento reelaborado uma vez que apresenta "a concepção crítica, multidisciplinar e pluridimensional do fenômeno criminal".21

Nesse sentido, a proposta geral da nova Defesa Social tem como pontos fundantes:

a) realizar exame crítico das instituições vigentes, com a disposição de atualizar, melhorar e humanizar as atividades repressoras, coercitivas e punitivas. Na sua mira, as instituições podem ser objeto de reformas ou mesmo de abolição;

21 Araújo Júnior, João Marcelo. "Os grandes movimentos da política criminal do nosso tempo - aspectos", In Sistema penal para o terceiro milênio. 2.ed. Rio de Janeiro. Ed. Revan, 1991. P.67

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b) fazer de todo conhecimento humano sua base produtora de saber, considerando a contribuição de todos os ramos da ciência, o que possibilita uma visão total e completa do fenômeno criminal e suas potencialidade;

c) fincar sua sustentação nos valores essenciais da humanidade, garantidores dos direitos do homem contidos na concepção e legislação do Estado de Direito.

d) É importante o registro de que há, na composição da defesa social, um elemento fundante essencial que lhe respalda o argumento ideológico pragmático. Este elemento é a pesquisa científica. A defesa social propõe como eixo condutor da sua realização, a produção de saberes científicos, através de estudos e pesquisas que se pretendam precisos e que norteiem suas ações, quer especificamente relacionadas com a segurança, aquelas que estabelecem a operacionalidade, quer as socialmente definidas nos programas de intervenção social que se dirigem a alcançar o desempenho das redes criminosas, principalmente em seu empenho pelo recrutamento de novos participantes e, pelo preenchimento do vazio do Estado nas comunidades. Essa atitude redireciona a ação do Estado para a proteção da sociedade e impõe a

concretização de uma vontade política que se expressa energicamente na decisão de intervir, com objetividade e resultados palpáveis na realidade social e suas demandas

III.1.3 A Participação da Comunidade

A comunidade, entendida como um conjunto de pessoas unidas pelos componentes de suas identidades, vivendo ou não num mesmo território, vivenciando experiências coletivas e movidas por interesses comuns, constitui, hoje, uma das principais alavancas da construção do bem estar social. Chamada a colaborar em áreas tradicionalmente geridas pelo Estado, ela marca sua presença como sujeito ativo do fazer social em setores como educação, saúde, habitação e, de forma muito urgente, tem sido requisitada para contribuir com a montagem da segurança que, de forma capilar precisa se expandir permeando todo o tecido social.

A proposta do paradigma da Defesa Social requisita cuidados especiais no trato com a comunidade. É preciso considerar a comunidade como um dos elos fundamentais na ação da defesa. E, é ela que finalmente assimila a determinação constitucional quando diz ser a segurança pública, responsabilidade de todos.

De acordo com essa indução constitucional, o Estado descobriu, ultimamente, um recorte diferenciado da prática policial que se denomina policiamento comunitário e tem investido nessa idéia com o objetivo de sanar grandes problemas que o fosso colocado entre a polícia e a população tem causado ao desempenho de qualidade, dos operadores da segurança.

É comum, nos programas instituídos de policiamento comunitário, desenvolver-se uma aproximação com a comunidade, estimulada por atitudes que implicam no reconhecimento do caráter potencial provedor que a qualifica como comunidade provedora e, a partir desse reconhecimento, passam os órgãos policiais a receber colaboração no sentido da prestação de auxílios materiais; a comunidade equipa a polícia, cuida das viaturas, oferece combustível, substituindo assim, obrigações que são específicas do Estado e cujo preço pode representar uma tentativa de privatizar os serviços da segurança pública, exigindo tratamento especial para aqueles que, no seu interior, se salientam pela colaboração que podem dar, para traçar o perfil da comunidade provedora.

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Por outro lado, há uma experiência policial em foco que se limita a enxergar a comunidade como braço eficiente da espionagem. A população da área torna-se ponto básico da informação devendo apontar os redutos criminosos, observar seu jeito de agir, os momentos em que costumam atuar e ser um mero repassador de informações para que a polícia monte suas estratégias. Essa, pode ser denominada de comunidade informante.

Evidentemente, nenhum dos dois tratamentos serve à eficiência, eficácia e efetividade da inserção policial no plano da Defesa Social. O exemplo mais exitoso nos dias de hoje, dessa visão de comunidade informante, se aplica ao serviço denominado de Disque Denúncia.

Poder-se-ia ainda falar de outros tipos de comunidade adjetivada: a comunidade legitimadora aquela que aceita todo e qualquer plano estatal, sem questionar; a comunidade que exerce sua participação delegando, não se interessa pelo destino da sua segurança, limita sua participação ao momento do voto. Uma vez eleitos os governantes, a segurança pública passa a ser problema deles; um outro tipo é a comunidade indiferente, em geral, essa paga sua segurança, compra os serviços da indústria da segurança e não se preocupa com a defesa da sociedade como um todo. Assim, muitos outros formatos de comunidade adjetivada poderiam ser apresentados, nesse espaço contido para a Defesa Social.

Para a Defesa Social o entendimento da necessária cumplicidade entre Estado e comunidade na ativação de sua defesa, implica necessariamente uma prática política que investe na elaboração de um consenso e nega o comportamento comum aos segmentos comunitários já identificados e definidos não só como provedor mas também aquela formada por sujeitos da mera delegação, ou os portadores da prática da indiferença como forma de reduzir sua cidadania ao momento do voto; teme-se ainda o tipo legitimador que tudo aprova e louva, mas com nada se envolve; ou rejeita-se o modelo politiqueiro que comparece as lutas comunitárias com o objetivo explícito de demarcar território e garantir seu quinhão eleitoral; vê-se também prosperar o estilo descrente, aquele que não acredita em nenhum processo de mudança e desestimula os impulsos de atores que, pensando contrariamente, buscam na ação coletiva; a oportunidade de apostar conscientemente na construção da comunidade co-gestora, que mais representa os anseios e a expectativa da Defesa Social posto que se revela como comunidade capaz de interferir de forma comprometida com a gerência da segurança pública e no seu âmbito, cobra do Estado, competência técnica e capacidade política para definir e executar as prioridades definidas em conjunto.

III.1.4 O Conhecimento da Ambiência Criminosa

A ambiência criminosa se configura no espaço simbólico onde circulam

facilitadores e, ou indutores da violência e do crime. Grosso modo, tem se evidenciado no debate sobre segurança que se move no país,

um volume significativo de solicitações dirigidas ao Estado no sentido de implementar projetos que, como respaldo à segurança pública, vão na verdade, ativar outras áreas de políticas públicas como : educação, saúde, habitação, transporte, emprego e renda, meio-ambiente , enfim todos os segmentos que na sua totalidade preconizam a justiça social.

Esses caminhos, articulados entre si no contexto da totalidade das políticas públicas, indicam a forma através da qual a sociedade pode intervir na ambiência criminosa e, eficientemente, desmontá-la ou instituir um controle permanente no âmago desse ambiente, visto como propício à gestação do crime.

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Considerada desse modo, poder-se-ia pensar que a Defesa Social, hoje sugerida, reforça aquele olhar sobre a criminalidade que localiza o ponto de irradiação do agir criminoso nas chamadas classes perigosas, ou seja, no contingente populacional do nosso país que se encontra imerso na pobreza e na indigência social.

Vale então, salientar que também entre os segmentos privilegiados da população, independente da impunidade e dos privilégios que encerram, se constata uma ambiência criminosa forjada numa gravidade extremada da hierarquia social que escamoteia a existência do desvio e da transgressão legal, isentando tais ambientes, de constituírem um solo fértil para a violência e criminalidade.

III.1.5 O Compromisso com a Lei, a Ética e os Valores Essenciais da Humanidade

Esse, talvez, seja o mais raso solo em que a Defesa Social se edifica. Não há

Defesa Social descolada da perspectiva ética, que ao Estado e à sociedade compete preservar, como verdadeiros guardiães. Os princípios éticos que valorizam o indivíduo e racionalizam a coletividade, se revelam através dos valores essenciais que fornecem os nutrientes para uma vida social ordeira e pacífica porque comprometida com os ditames da justiça.

Dessa forma, tais valores precisam ter lugar de destaque na prática social que objetiva efetivar a segurança de toda a sociedade.

É notório que o nosso ordenamento jurídico não se exime de traduzir e expressar essa ética e esses valores nas normas legais que ostenta, mas, como bem acentua Noberto Bobbio,22 os problemas que se evidenciam a partir da prática social que convive com a corrupção, com a transgressão da Lei até pelo Estado, com a banalização de valores preciosos como a vida, com a formação de uma delinqüência útil, não estão mais no âmbito da fundamentação, da doutrina, e, mesmo no campo da incorporação legal, tais problemas hoje se reportam à sua exeqüibilidade. A pergunta que se coloca na atualidade é como operacionalizar tais valores, tal ética. Como garantir a aplicabilidade da lei, na sociedade em geral mas, principalmente, na prática dos funcionários encarregados de cumpri-la e aplicá-la.

O paradigma de Defesa Social expressa essa preocupação e exorta a sociedade a estabelecer um controle e uma vigilância ininterrupta dessa prática se mostrando absolutamente intolerante com os desvios que a ela possam ser imputados.

Sabe-se de experiências mal sucedidas que, a ausência do controle, realizado pelos componentes da sociedade política - o Estado, têm produzido danos irrecuperáveis e irreversíveis. A sociedade não pode permitir que os agentes do Estado se confundam com os agentes do crime. Em palavras populares "polícia é polícia e ladrão é ladrão", não há ou não deve haver como misturar.

A Defesa Social é exigente com o controle, a vigilância e a análise das instituições, como uma forma contundente de exigir comportamento ético e respeitoso às leis.

Portanto, fincar sua sustentação nos valores essenciais da humanidade, garantidores dos direitos do homem - cidadão - contidos na concepção do Estado Democrático de Direito parece ser a espinha dorsal do paradigma da Defesa Social, a seiva que o alimenta.

Em síntese, o ideário ou modelo da defesa social se expressa por meio de uma racionalidade propositiva, embora os postulados paradigmáticos pareçam recomendações distantes, impossíveis de serem traduzidas na realidade social.

22 Bobbio, Noberto. A Era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Campos, 1992

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Faz-se necessário forjar a intermediação entre o pensar a Defesa Social e efetivar sua consolidação, a qual só poderá se dar através da Política Pública de Defesa Social que deverá condensar e adaptar a ideologia proposta e montar a Defesa Social possível de ser administrada.

Essa é, possivelmente, a única alternativa viável para se reerguer a condição do Estado Brasileiro de refém de uma criminalidade desenfreada e novamente colocá-lo no cetro da ordem e da defesa do cidadão investindo na aquisição da credibilidade necessária à gestão da segurança pública.

III.2. A SEGURANÇA PÚBLICA NA PERSPECTIVA DA DEFESA SOCIAL

O modelo de Defesa Social, antes de ser uma teoria definida no rigor da ciência, se constitui uma opção ideológica que se realiza permeando todo o tecido social.

Entendê-lo dessa forma, implica conscientizar cada cidadão a atuar em sua própria defesa e da comunidade a que pertence como um "nó" da grande rede que a sociedade estabelece com todos os seus cidadãos.

Nessa perspectiva, esse estudo apresenta alguns dos principais passos a serem desenvolvidos em direção ao objetivo final - a efetivação da Defesa Social - expondo as propostas que se mostram a seguir:

PROPOSTA 1

Promover a assimilação do ideário, dos postulados e pressupostos da Defesa Social, disseminalando-as em toda proposta, plano ou projeto de formação dos operadores da segurança, em toda concepção de projetos de política pública e, toda relação prática no cotidiano comunitário.

PROPOSTA 2

Trabalhar os órgãos operativos da segurança pública na perspectiva de executar a segurança requerida, efetivando na prática, os marcos fundamentais que sustentam o paradigma da Defesa Social.

Aproveitar o processo de descentralização que se realiza nas polícias e corpo de bombeiros na região Metropolitana de Recife e direcioná-los para , aliados à nova base de apoio que a Defesa Social propõe, serem capazes de criar, inovar, conhecer, esquadrinhar, experimentar capacitações diversas, aplicar a lei, sugerir novas leis, disciplinar, inventar ações respaldadas na ciência e tecnologia, gerir a unidade interna e externa com os aliados, incorporar a ciência e seus subsídios ao planejamento das ações operacionais, e finalmente instalar a Defesa Social no bojo da ação para uma segurança construída sobre os valores essenciais da humanidade, trabalhando especificamente a extrema legalidade do agir profissional e efetivando a partir do ponto da sua atuação, o exercício da exemplaridade. Orientar-se por fim, pelos marcos de sustentação da Defesa Social.

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PROPOSTA 3

Procurar introduzir na prática operativa o sentido articulador da Defesa Social, isso significa dizer, que os órgãos de segurança pública não podem prescindir do trabalho articulado não só com as instituições tradicionalmente envolvidas com a segurança, mas também, precisam acoplar-se aos segmentos científicos em largo espectro, à comunidade, considerar a capilaridade de determinadas instituições, tipo igreja, universidades, sindicatos, associações para possibilitar o envolvimento de todos; construir cadastros em nível nacional que promovam a identificação imediata de criminosos e produtos do crime em rede , como forma de se precaver à intensa migração do atores do crime; criar um serviço de produção de saberes sobre a ambiência criminosa que possibilitará a criação de estratégias de interdição; desenvolver uma rede de informação articulada, capaz de possibilitar a antecipação da ação de defesa contra o crime; promover o aparelhamento material dos órgãos operadores e a capacitação de seus recursos humanos.

PROPOSTA 4

Recrutar as universidades e outras instituição de pesquisa e produção de conhecimento para subsidiarem localmente a operatividade da segurança pública e da Defesa Social. Nesse sentido, torna-se imperioso que o agir científico produza conhecimentos sobre a organização estrutural da cidade, estabeleça mapeamentos e perfis da violência, organizem bancos de dados confiáveis sobre a vida social local, pesquisem e analisem o contexto da ação e as definições das políticas públicas de segurança e aquelas outras que são necessárias à articulação, no plano da Defesa Social. Enfim que a ciência possa contribuir para facilitar o planejamento da defesa da sociedade trabalhando sua fragmentação e totalidade.

Assim definida, a partir de uma concepção de segurança pública abrangente que se perfaz na orientação da Defesa Social, instaurando-se no âmbito da complexidade que a criminalidade vivencia, a proposta de defesa e segurança que a sociedade e o Estado instituírem, chegará à criminalidade difusa, espalhada capilarmente na malha social, implodindo-a nos recantos menos controlados dessa malha, como também alcançará as redes criminosas que poliferam em quase todas as tipologias do crime e que têm como atributo nefasto, conseguir o envolvimento de grandes segmentos da população pobre, porque atuam no vácuo deixado pelo Estado, ausente em políticas públicas e, desenvolvendo ações paternalistas e protetoras terminam por recrutar, principalmente na juventude ociosa dos grandes centros urbanos, contigentes consideráveis de pessoas disponíveis para o ilícito e o crime.

Efetivar a proposta político-ideológica que o paradigma da Defesa Social requisita, implica envolver todas as esferas do poder público cujas atribuições podem ser assim alinhadas:

III.2.1 A Presença do Estado Federal

Exige-se que o Governo Federal tenha lugar no desenvolvimento de uma política de Defesa Social contemplando as seguintes ações:

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a) Destinando recursos orçamentários, de fundo e de convênios para os projetos de Defesa Social, garantindo a fluidez da liberação acordada, desenvolvendo ações de controle e acompanhamento dos gastos;

b) Promovendo ações unificadas de âmbito policial com cobertura interestadual, visando enfrentar os mais importantes nichos criminosos;

c) Encarregando-se da produção e disponibilização de tecnologias de ponta que devem ser compartilhadas com as corporações policiais dos estados-membros;

d) Apoiando capacitações integradas e gerais para todas as corporações centradas no eixo ideológico/pedagógico da Defesa Social;

e) Estimulando a definição de uma base legal para a s ações dos diversos atores da Defesa Social, elaborando leis e garantindo sua aplicação;

f) Apoiando o crescimento do emprego de penas alternativas, principalmente aquelas que se efetivam através do trabalho para a comunidade;

g) Responsabilizando-se pela distribuição de recursos direcionados exclusivamente ao uso na política penitenciária a liberação dos recursos deve estar atrelada a ações julgadas pelo Conselho de Política Criminal e Penitenciária atendendo a prioridades no setor; quer sejam construções de novas vagas ou unidades prisionais que devem obedecer a ideologia da formulação de micro-unidades, evitando os mega complexos que tornam os gestores reféns das organizações dos presos;

h) Compondo com o Poder Judiciário uma estratégia de celeridade para com os processos cujos réus se encontram reclusos;

i) Pactuando com as diversas Unidades da Federação sobre o uso dos recursos nacionais apenas por aquelas que verdadeiramente desempenhem uma política de respeito aos Direitos Humanos, aquela que fugisse a esse compromisso estaria inteiramente fora do alcance dos recursos destinados à àrea de justiça e segurança.

III.2.2 A Presença do Estado Membro

Ao Estado de Pernambuco compete organizar, estruturar, elaborar política pública e efetivar a prática da Defesa Social, construindo de forma articulada com os municípios: planejamentos, projetos, planos e operacionalidades que obedecerão às seguintes agendas:

a) Agenda Estruturadora

1. A Secretaria de Defesa Social deverá organizar um banco de dados, de atualização automática a partir da informação de ocorrências registradas nas delegacias, que deverá armazenar o registro e o procedimento sucedâneo para o fato ocorrido. Meta: Colocar em funcionamento o banco de dados, disponibilizando a coleta para pesquisadores e estudiosos, inclusive, reformando o Boletim de Ocorrência que deverá ser adaptado às exigências do banco bem como treinar os policiais civis e militares para promover a alimentação correta das informações . Prazo: 6 meses para ser acionado. Recursos Previstos: R$ 65.270,00

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2. Criar um Centro de Pesquisa reunindo setores científicos da inteligência policial em parceria com todas as universidades e instituições de pesquisa ou de produção de saberes sobre a justiça e segurança da RMR, para produzir conhecimento sobre o crime, o perfil da delinquência e a ambiência criminosa dos Municípios da RMR. Meta: realizar um estudo geral da RMR que deverá desdobrar-se em aprofundamentos localizados em cada município. Prazo: nove meses para a criação. Recursos Previstos: R$ 9.720.000,00 3. Promover o zoneamento territorial da alocação criminosa e articular as políticas públicas em geral disponibilizando projetos, planos e ações governamentais que possibilitem uma cobertura o mais ampla possível, das carências da comunidade escolhida, fazendo com que o Estado marque sua presença a partir da governamentalidade. Meta: realizar mapeamentos da incidência criminosa da RMR. Prazo: um ano para finalizar. Recursos Previstos: R$ 1.748.300,00 4. Reinvidicar a presença da comunidade científica na elaboração de estratégias de Defesa Social, com pesquisa e tecnologia que deverão ser efetivas no cotidiano comunitário. Meta: realizar estratégias de controle social. Prazo: início três meses. Recursos : formular proposta a partir de cada projeto. 5. Apoiar a criação de ouvidorias, corregedorias e conselhos comunitários que realizem o controle externo das polícias, ministério público, sistema penal e do poder judiciário. Meta: corrigir desvios. Prazo: início imediato. Recursos: R$ 5.180.000,00 6. Redefinir o formato das guardas municipais atribuindo-lhes novas dimensões de patrulhamento e intervenção social. Meta: participação do município na prática da Defesa Social. Prazo: início imediato. Recursos: R$ 8.320.000,00 7. A construção, a partir de estudos realizados e de levantamentos da produção científica sobre o assunto, de uma política pública penitenciária com o objetivo de tornar o sistema funcional, do ponto de vista social, uma vez que seria dirigida a ações que preparassem o retorno do cidadão para a sociedade. Meta: Produzir conhecimentos para a liberação dos presos. Prazo: imediato. Recursos: Humanos do Estado. 8. Criar um banco de dados com dados pessoais e o perfil psicológico, social e físico do apenado inclusive certificando sobre a trajetória reincidente. Meta: Conhecer a criminalidade controlada.

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Prazo: imediato. Recursos: R$ 48.956,00 9. Montar corpo técnico eficiente capaz de produzir contínuo conhecimento sobre o homem recluso e suas disposições criminosas. Meta: Conhecer a criminalidade. Prazo: imediato. Recursos: Humanos do Estado. 10 Criar instrumentos de controle e vigilância do corpo de agentes penitenciários, punindo com o rigor da lei, aqueles que desrespeitam os Direitos Humanos e que conspiram contra a instituição. Meta: Obrigar a fiel aplicação da lei. Prazo: imediato. Recursos: R$ 976.428,00 11. Construção de novas vagas no sistema penitenciário. Meta: estruturar o sistema. Prazo: até dois anos. Recursos: R$ 8.848.000,00

b) Agenda Emergencial

1. Definir um plano emergencial de enfrentamento ao crime de rede, principalmente o que se desenvolve em torno do mercado de Drogas em toda RMR. Meta: Desbaratar as organizações responsáveis pela formação das redes criminosas. Prazo: iniciar em três meses - normalizar as ações de controle em nove meses montando uma estrutura de controle permanente. Recursos: R$ 2.671.300,00 2. Definir um plano emergencial de enfrentamento ao mercado clandestino de armas e de promoção do desarmamento. Meta: articular o controle do mercado de armas através de ações, legais, comunitárias e policiais, de desarmamento e, campanhas anti-armas, na mídia, e nas áreas de convivência coletiva de orientação ao cidadão. Prazo; início em dois meses - continuidade até se efetivar o controle da situação. Recursos: R$ 1.335.810,00

3. Estruturar os órgãos operacionais, polícia e sistema prisional, realizando um rigoroso controle dos atos dos seus operadores. Instituir um sistema de punição que desmobilize a ação criminosa (tipo Tortura e corrupção) ou de descaso do compromisso com a prestação de serviço de excelência por parte do Estado. Meta: Recuperar a credibilidade dos operadores do Sistema de Segurança e Justiça. Prazo: imediato.

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Recursos: Humanos do Estado.

4. Dar efetividade às iniciativas propostas no Plano Integrado de Segurança Cidadã, mas garantir que, no mínimo, 70% dos recursos arrecadados para a área de segurança sejam necessariamente vinculados à atividade fim, e só 30% no máximo, possam ser empregados na atividade meio. Meta: Apresentar à sociedade os resultados práticos do Plano Integrado de Segurança Cidadã. Prazo: iniciar de imediato. Recursos: Do próprio Plano.

5. Instituir soluções para o problema de saúde que o Sistema Penitenciário apresenta, através da celebração de convênios com o SUS para cobrir também a população carcerária bem como transformando os HCTPs em Hospitais para atendimento dos presos de forma geral.

Meta: Oferecer condições de saúde ao apenado. Prazo: início imediato. Recursos: Humanos do Estado e da União. 6. Estabelecer um programa de trabalho ou estudo para todos os presos garantindo junto as empresas que utilizam a mão de obra carcerária, e por isso mesmo é isenta de determinados impostos, a manter o vínculo empregatício quando o homem apenado conseguir a liberdade, ainda um programa de acolhimento ao Egresso e formas solidárias de apoio aos familiares dos presos.

Meta: ressocialização. Prazo: imediato. Recursos: R$ 4. 800.000,00

7. Criar instrumentos que interditem qualquer tipo de ilegalidade ou ações que desafiem o bom senso por parte dos operadores do Sistema Prisional.

Meta: Construir ações legais. Prazo: início imediato. Recursos: Humanos do Estado

c) Agenda de Mobilização e Capacitação

1. Elaborar um programa de capacitação em Defesa Social para representantes das comunidades que possam articular, investigar, propor e co-gerir as situações de violência pública e privada nos seus domínios territoriais. Meta: Melhorar a qualidade da ação cidadã. Prazo : seis meses a um ano. Recursos: R$ 336.000,00 2. Estimular a Mídia a participar de programas que reforcem as idéias e valores éticos que estão na base da segurança e que apoiem o sistema de segurança proporcionando à comunidade, oportunidades de trabalhar sua própria defesa. Meta: promover conscientização. Prazo: início em seis meses. Recursos: A projetar.

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3. Conscientizar as comunidades sobre a relevância do seu papel no espaço interno das prisões, cuidando da transformação do homem apenado e do seu retorno à sociedade. Meta: ressocialização do preso. Prazo: início em seis meses e manutenção contínua. Recursos: R$ 56.000,00 4. Iniciar um projeto de mobilização comunitária a partir de cursos de capacitação para trabalhar a Defesa Social nas comunidades. Meta: Conseguir instituir Conselhos de Defesa Social verdadeiramente representativos e estimular a participação de todos na defesa da sociedade. Organizar um grupo para lidar com a Defesa Social em cada município ou em várias comunidades dos grandes municípios. Prazo: seis meses para sistematizar a sensibilização e iniciar o trabalho. Recursos: R$ 84.000,00 5. Organizar as mulheres para trabalhar a campanha do desarmamento, considerando sua legitimidade como mãe, esposa, amante no estilo da campanha do "ou ela ( a arma) ou eu" preparar as mulheres para serem agentes de cidadania nesse projeto. Meta: participação social. Prazo: resultados apresentados em 9 meses. Recursos: R$ 647.890,00 6. Qualificar corpo técnico para a produção de conhecimento sobre o sistema prisional. Meta: conhecer as disposições do apenado. Prazo: imediato. Recursos: R$ 6.075.000,00

d) Agenda de Articulação:

1. Articular as organizações sociais e comunitárias para trabalhar os jovens dos municípios da RMR inserindo-os em programas complementares à jornada escolar que permitirão a prática de atividades esportivas, artísticas, musicais, profissionalizantes e de iniciação a ação política cidadã. Meta: Proteção ao Jovem. Prazo: início imediato. Recursos: R$ 2.550.000,00

2. Conscientizar as comunidades sobre a relevância do seu papel no espaço interno das prisões, instituindo comissões que cuidem do regresso do homem apenado à sociedade.

Meta: ressocialização dos presos. Prazo: imediato. Recursos: R$ 78.000,00

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3. Organização das Mulheres de Detentos para apoiá-los na ressocialização. Meta: ressocialização do preso. Prazo: 6 meses a 1 ano. Recursos: R$ 120.960,00

III.2.3. A Presença do Município

a) Cabe aos Municípios mobilizar cidadãos preocupados com a segurança e o aumento da violência para fiscalizarem o trabalho que é feito com o preso nos espaços prisionais. Exigindo o estrito cumprimento da lei pelos operadores do Sistema e, quando perceberem qualquer ilegalidade denunciar as autoridades responsáveis pela execução da pena bem como a sociedade em geral o que o Sistema está fazendo em prejuízo da ordem social;

b) Apoiar a formação e o trabalho dos Conselhos da Comunidade abrindo,

inclusive espaços comunitários para a exibição dos seus relatórios na tentativa de fazer a comunidade como um todo participar, com sugestões, da gerência das prisões de cada cidade;

c) Organizar grupos de direitos humanos para, junto com as autoridades realizar

visitas às unidades prisionais e observar suas reais condições;

d) Organizar formas solidárias de apoio aos familiares dos presos, evitando assim

que a criminalidade ocupe maiores espaços no âmbito dessas famílias;

e) Instituir comissões, principalmente entre religiosos para trabalhar junto aos egressos suas dificuldades tentando afastá-los do assédio do mundo do crime;

f) Sugerir pontos para a inclusão na política penitenciária ou mesmo para ação do

voluntariado junto às unidades prisionais situadas em seu território;

g) Oferecer seus quadros de educadores para efetivar ações educativas quer na área do ensino instrucional quer na área do ensino profissionalizante.

CONCLUSÃO

O estudo aqui exposto permitiu recolher elementos determinantes para a elaboração de um projeto de Defesa Social e Segurança Pública a ser oferecido à população da RMR.

A idéia central do trabalho teve por objetivo crivar tais elementos através do quadro conceitual, paradigmático da Defesa Social. Contudo, foi na base empírica construída a partir do diagnóstico realizado que tornou possível o entendimento:

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1. o comportamento da violência criminosa na Região Metropolitana de Recife é difuso, embora Recife apresente taxas para 100.000 habitantes mais elevadas que a média da Região em quase todos os tipos de crimes analisados. O fato de ser a capital do Estado e para ela convergiu maior contingente populacional e maior circulação de riqueza podem fornecer indícios de prática tão elevada, como também do local onde são necessárias ações mais rápidas e efetivas.

2. do papel que desempenha o consumo e o tráfico de drogas junto à população

jovem, a repercussão que as práticas ilícitas imprimem no imaginário da juventude, afirmando critérios de escolha do padrão ético em formação que parece extraído do ethos Social construído principalmente na periferia das grandes cidades.

3. da realidade do Sistema Penitenciário quer no aspecto da sua desestruturação

material que se reflete na superlotação, nas instalações deficitárias, na condição de habitação desumana; quer no diagnóstico do Sistema que aponta para um cotidiano organizacional cujo desempenho, fica evidente, não se respalda numa análise crítica da deficiência institucional, não se efetiva a partir da montagem de estratégias apoiadas na produção de conhecimento do homem preso ou da prática penal ressocializadora, mas desenvolve uma repetida ação empírica que parece se justificar por um fazer repetitivo forjado em padrões de rigidez da segurança que distancia a prática prisional de sua função social última: a ressocialização.

Num segundo momento, o trabalho realizado dirige seu foco para o processo de enfrentamento à violência e apresenta as condições reais com que o Estado efetiva o projeto de Segurança da população partindo dos seguintes instrumentos:

a) O modelo de Segurança Pública aceito como próprio às condições de defesa que a

sociedade requisita. A idéia que prevalece na elaboração da política pública de segurança repete a tradição brasileira de outorgar às Polícias, ao Ministério Público, às Defensorias Públicas (ou Advogados constituídos privadamente) ao Poder Judiciário e ao Sistema Penitenciário a responsabilidade de prevenir e reprimir a violência.

A concepção é de uma linha de montagem onde cada uma das instituições deveria realizar o seu papel, construindo uma articulação interativa entre elas que proporcionaria: eficiência, celeridade, punibilidade.

Contudo, provam os resultados demonstrados na prática, a falência que essa concepção de Segurança tem experimentado, no controle da criminalidade e da desordem social tendo como seu principal ponto de vulnerabilidade a situação estanque que cada uma das instituições envolvidas promovem, reduzindo-se a atuar no seu universo sem preocupação com o desenvolvimento integrado das ações.

b) O Plano Integrado de Segurança Cidadã do Estado de Pernambuco no ano 2000. No que concerne a elaboração de um plano integrado com vistas a unir ações para a

segurança, justiça e cidadania, o diagnóstico que o estudo apresenta mostra certa insuficiência contida nos projetos a serem implementados, se o interesse verdadeiramente é controlar a criminalidade e realizar segurança.

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O Estado de Pernambuco propõe um investimento da ordem de R$ 322.090.970,00 para estruturar os organismos estatais. Sendo destinados para o trabalho quase que exclusivo com as polícias, não apresentando projetos de enfrentamento direto aos grandes indutores da violência, tampouco demonstrando interesse em relação à comunidade carcerária com ações de reinserção do preso na sociedade e de contenção da reincidência, o principal projeto apresentado, de policiamento comunitário direciona grandes recursos que são alocados na base da implementação do projeto e parece estar preocupado em integrar comandos e ações unificadoras que desmontem a prática tradicionalmente efetivada.

Porém, é possível observar a lacuna existente na formulação de política de policiamento comunitário onde a comunidade tem um significativo papel a desempenhar. O projeto não demonstra na prática, como se dará a construção dessa relação entre polícia e comunidade com igualdade de gerenciamento.

No mais, o Plano propõe a articulação de projetos sociais encaminhados ou elaborados pelo Estado, dirigido às carências da sociedade, visando atuar em caráter de prevenção ao recrutamento da criminalidade.

Tal vazio deixado pelo Estado em relação à implementação de políticas públicas junto a determinadas comunidades, facilita a ocupação dessas lacunas pela sociedade criminosa, instituída com poderes que permite a guerra de posição pela hegemonia local.

Finalmente, o estudo conclui apresentando um modelo de segurança apropriado para as grandes metrópoles que se monta a partir de uma proposta de articulação envolvendo e comprometendo todos os segmentos da sociedade, responsáveis, nessa perspectiva, pela Defesa Social.

Trata-se de uma concepção que, embora contenha a linha de montagem de segurança pública, amplia as suas possibilidades ao introduzir novos atores sociais na prática da defesa de todos.

O modelo de Defesa Social que apresentamos aqui, não esgota todas as formas de articulação teoricamente sugeridas. Em sua racionalidade, ao se pressupor sua flexibilidade, mobilidade e capacidade criativa, abrimos suas bases para infinitas incorporações, estratégias, articulações. Assim sendo pode tal modelo expandir-se para muito mais além do que, nesse estudo propomos.

Tomando por base investimentos da ordem de R$ 53.661.914,00 nosso estudo preve apenas um ponto inicial donde poder-se-á dar a partida, enquanto adverte a necessária compreensão sobre a impossibilidade de prever desdobramentos para um projeto em que órgãos, instituições, grupos, comunidades e indivíduos são sujeitos de sua Defesa e Segurança.

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BIBLIOGRAFIA ARAÚJO Júnior, João Marcelo. Os grandes movimentos da política criminal no nosso tempo – aspectos, in Sistema Penal para o terceiro milênio. 2ª edição. Rio de Janeiro. Ed. Revan, 1991. ATHAÍDE, Austragésilo de. Ikeda Daisaka – Diálogo: Direitos Humanos no Século XXI. São Paulo: Sel Record – 1995. BENVENUTO, Jayme Lima Júnior – Organizador. Direitos Humanos Internacionais – avanços e desafios no início do século XXI – MNDH-NE: Recife –2001. BOBBIO, Noberto. A Era dos Direitos, Rio de Janeiro: Editora Campos, 1992. CLARA, Maria Dias. De La Ética Del Discurso a La Moral Del Respeto Universal. Revista Cristianismo y Sociedad, 1979. CONTADOR, Cláudio Roberto. Projetos Sociais: avaliação e prática – São Paulo: Atlas, 2.000. CONSTITUIÇÃO de 1988. República Federativa do Brasil. Texto Constitucional de 05 de outubro de 1988 com alterações adotadas por Emendas Constitucionais. Brasília: Senado Federal. 1999. FAJMZYLBER, Pablo. LEDERMAN, Daniel. LOAYZA, Morman. Crimen y Violência em América Latina. México: Alfomega. 2001. FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis. Vozes.1970. ___________Microfísica do Poder. Rio de Janeiro. Graal 1981. ___________A Verdade e as Formas Jurídicas. Rio de Janeiro: PUC, 1973. GAIARSA, José Ângelo. Agressão, Violência e Crueldade. São Paulo: Editora Gente.1993. GARCIA, Mary Castro (coordenadora) et alli – Cultivando Vidas Desarmando Violências – experiência em educação, cultura, lazer, esporte e cidadania com jovens em situação de pobreza. Brasília: Unesco, 2001. GOULART, Marcelo Pedroso. Ministério Público e Democracias teoria e praxis. São Paulo: Editora de Direito, 1998. LEAL, César Barros. Piedade Júnior, Heitor (org) Violência e Vitimização. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. MELO, Marcos André eti alli. Violência em Pernambuco. Jornal do Commércio: Página Opiniões 3, 05 de outubro de 1999.

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MELO, Ronidalva de Andrade. Cidadania e Exclusão: Dualidade Inerente à Democracia. Cadernos de Estudos Sociais. V. 16. Recife: FJN/Inpro 2002. ______O Mundo da Rua e a Cultura da Violência. Novos Paradigmas e realidade brasileira. Tereza Ximenes (org). Belém: UFPA. Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, 1993 p. 301 a 309. ______Repressão à Violência e Defesa Social. Fórum Pensar Sergipe. José Fernandes Lima e Afonso Nascimento (org) vol. II. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe. 2000. P. 503. MÉNDIZ, Juan E. et alli. Democracia, Violência e Injustiça. O Não Estado de Direito na América Latina. São Paulo: Paz e Terra, 2002. MOREIRA, José Carlos Barbosa. Estrutura e Funcionamento do Poder Judiciário no Brasil. in: Justiça: Promessa e Realidade – O acesso à Justiça em países ibero-americanos. Associação dos Magistrados Brasileiros (org). Rio de Janeiro: Editora Nova, 1996. OLIVEIRA, Edmundo. O censo Penitenciário e a Crueza Existencial das Prisões no Brasil. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciário. Brasília: Ministério da Justiça. 1993. OLIVEIRA, Luciano. Polícia e Classes Populares. Caderno de Estudos Sociais. Recife: FJN/Inpso, 1985. PLANO Integrado Segurança Cidadã – Pernambuco 2.000. Recife: Governo do Estado de Pernambuco, 2000. PINHEIRO, Paulo Sérgio et alli: Pobreza, Violência e Direitos Humanos. Novos Estudos. CEBRAP. nº 39. São Paulo: 1994. P. 189 a 208. REGRAS Mínimas Para o Tratamento do Preso no Brasil. Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Brasília: Ministério da Justiça, 1995. RODRIGUES, João Gaspar. O Ministério Público e um novo modelo de Estado. Manaus: Ed. Valer, 1999. VELHO, Gilberto e Alvito, Marcos (org). Cidadania e Violência. Rio de Janeiro: UFRJ. Ed. FGU, 1996. WAISELFISZ, Júlio Jacob. Mapa da Violência II. Brasília: UNESCO, 2.002. WALZER, Michael. Ensaio Sobre Desobediência, Guerra e Cidadania. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977. ZAVERUCHA, Jorge. Polícia Técnica-Científica. Ela existe? Texto número. 2001. INTERNET www.datasus.gov.br www.ibge.gov.br

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www.mj.gov.br www.unesco.org.br

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ANEXOS

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TABELA 01 TOTAL DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS DA POPULAÇÃO TOTAL

REGIÕES METROPOLITANAS 1991 - 1996 - 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação

Regiões Metropolitanas 15.191 21.114 23.120

Fortaleza 426 589 658

Porto Alegre 801 810 820

Recife 1.552 1.643 2.568

Rio de Janeiro 4.254 6.999 6.199

Salvador 43 971 205

São Paulo 7.520 9.247 11.499

Vitória ( * ) 595 855 1.171

FONTE: SIM/DATASUS ( * ) Região da grande Vitória do Espírito Santo

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TABELA 02 TAXA DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS DA POPULAÇÃO TOTAL - para 100.000 habitantes

REGIÕES METROPOLITANAS 1991 – 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação

Regiões Metropolitanas 37,74 49,13 51,76

Fortaleza 18,07 22,27 22,36

Porto Alegre 21,32 19,99 22,64

Recife 53,15 53,24 77,70

Rio de Janeiro 40,95 64,84 57,52

Salvador 1,37 28,77 6,85

São Paulo 45,39 52,05 65,25

Vitória ( * ) 52,81 68,07 83,44

FONTE: SIM/DATASUS e IBGE ( * ) Região da grande Vitória do Espírito Santo

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TABELA 03 TOTAL DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS DA POPULAÇÃO TOTAL

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 - 1996 - 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação

Brasil 30.566 38.888 42.914

Pernambuco 2.755 3.015 4.200

Região Metropolitana de Recife 1.547 1.639 2.565

Abreu e Lima 19 22 25

Araçoiaba * * 3

Cabo de Santo Agostinho 57 51 103

Camaragibe 25 43 62

Igarassu 34 23 41

Ipojuca 43 27 35

Itamaracá 11 7 14

Itapissuma 8 2 6

Jaboatão dos Guararapes 253 164 467

Moreno 8 17 17

Olinda 95 128 231

Paulista 56 58 88

Recife 900 1.058 1.368

São Lourenço da Mata 38 39 105

FONTE: SIM/DATASUS * Município não emancipado.

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TABELA 04 TAXA DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS DA POPULAÇÃO TOTAL - para 100.000 habitantes

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 - 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação

Brasil 20,39 24,12 25,56

Pernambuco 38,06 39,54 53,48

Região Metropolitana de Recife 52,98 52,99 77,60

Abreu e Lima 24,66 27,22 28,35

Araçoiaba * * 20,05

Cabo de Santo Agostinho 44,87 36,23 67,99

Camaragibe 25,15 38,70 48,64

Igarassu 42,59 27,06 50,32

Ipojuca 94,66 55,69 59,62

Itamaracá 94,78 50,73 89,15

Itapissuma 48,76 11,13 30,12

Jaboatão dos Guararapes 51,94 30,94 81,09

Moreno 20,44 42,54 34,89

Olinda 27,83 36,01 63,40

Paulista 26,48 24,82 33,89

Recife 69,32 78,60 97,08

São Lourenço da Mata 44,26 43,45 117,28

FONTES: SIM/DATASUS e IBGE * Município não emancipado.

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TABELA 05 TOTAL DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS DA POPULAÇÃO TOTAL POR SEXO

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 - 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino

Brasil 27.798 2.715 35.165 3.682 39.334 3.536

Pernambuco 2.530 219 2.764 247 3.937 260

Região Metropolitana de Recife 1.424 123 1.520 119 2.421 144

Abreu e Lima 17 2 21 1 22 3

Araçoiaba * * * * 3 0

Cabo de Santo Agostinho 53 4 42 9 95 8

Camaragibe 23 2 40 3 60 2

Igarassu 31 3 22 1 37 4

Ipojuca 38 5 27 0 34 1

Itamaracá 9 2 7 0 14 0

Itapissuma 7 1 2 0 5 1

Jaboatão dos Guararapes 234 19 157 7 446 21

Moreno 8 0 15 2 15 2

Olinda 89 6 126 2 216 15

Paulista 49 7 54 4 82 6

Recife 831 69 970 88 1.291 77

São Lourenço da Mata 35 3 37 2 101 4

FONTE: SIM/DATASUS * Município não emancipado.

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TABELA 06 TAXA DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS DA POPULAÇÃO TOTAL POR SEXO - para 100.000 habitantes

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 - 1996 - 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino

Brasil 38,35 3,65 45,41 4,62 47,52 4,14

Pernambuco 73,92 5,94 77,35 6,46 103,89 6,42

Região Metropolitana de Recife 102,55 8,02 103,81 7,31 154,53 8,28

Abreu e Lima 45,48 5,04 53,81 2,40 51,54 6,60

Araçoiaba * * * * 40,03 0

Cabo de Santo Agostinho 84,35 6,23 60,58 12,60 127,49 10,39

Camaragibe 47,30 3,94 73,92 5,26 96,82 3,05

Igarassu 78,67 7,42 52,62 2,32 92,87 9,61

Ipojuca 166,55 22,12 111,79 0 116,93 3,38

Itamaracá 138,42 39,18 89,81 0 164,05 0

Itapissuma 87,77 11,86 24,44 0 51,29 9,83

Jaboatão dos Guararapes 99,60 7,53 61,75 2,54 162,03 6,98

Moreno 41,59 0 76,21 9,86 62,51 8,09

Olinda 55,42 3,32 76,73 1,05 126,63 7,74

Paulista 48,28 6,36 48,55 3,27 66,24 4,42

Recife 137,70 9,93 154,93 12,22 197,02 10,21

São Lourenço da Mata 82,41 6,91 83,54 4,40 230,19 8,76

FONTES: SIM/DATASUS e IBGE * Município não emancipado

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TABELA 07 TOTAL DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS POR SEXO E FAIXA ETÁRIA - 15 a 29 anos

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 - 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino

Brasil 14.335 1.194 18.155 1.577 21.493 1.556

Pernambuco 1.244 93 1.441 85 2.273 127

Região Metropolitana de Recife 751 61 875 48 1.520 75

Abreu e Lima 6 1 14 0 10 1

Araçoiaba * * * * 1 **

Cabo de Santo Agostinho 24 2 17 3 50 4

Camaragibe 9 1 23 2 43 1

Igarassu 14 1 11 0 20 1

Ipojuca 14 3 8 0 14 0

Itamaracá 4 0 1 ** 6 **

Itapissuma 3 ** 1 0 2 1

Jaboatão dos Guararapes 126 13 96 2 293 13

Moreno 3 0 9 0 5 1

Olinda 50 4 76 1 145 10

Paulista 24 3 30 1 46 5

Recife 455 32 566 38 817 36

São Lourenço da Mata 19 1 23 1 68 2

FONTE: SIM/DATASUS * Município não emancipado ** Sem informação

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TABELA 08 TAXA DE ÓBITOS POR HOMICÍDIOS POR SEXO E FAIXA ETÁRIA - 15 a 29 anos – para 100.000 habitantes

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 – 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino

Brasil 70,31 5,74 83,08 7,10 90,88 6,53

Pernambuco 126,77 31,39 139,29 7,83 202,85 11,04

Região Metropolitana de Recife 177,72 13,28 196,44 10,04 320,99 15,02

Abreu e Lima 54,08 8,20 114,94 0 75,38 7,42

Araçoiaba * * * * 44,19 **

Cabo de Santo Agostinho 129,44 10,35 78,89 13,51 210,94 16,82

Camaragibe 58,58 6,31 134,66 11,38 223,09 5,04

Igarassu 116,48 8,11 89,68 0 164,64 7,90

Ipojuca 214,00 44,70 107,82 0 151,16 0

Itamaracá 185,10 0 37,55 ** 215,36 **

Itapissuma 125,73 ** 35,03 0 66,20 33,05

Jaboatão dos Guararapes 175,72 16,79 123,84 2,40 349,44 14,54

Moreno 52,76 0 149,23 0 67,79 13,67

Olinda 99,51 7,33 149,73 1,83 280,50 18,10

Paulista 81,51 9,18 89,16 2,77 122,49 12,71

Recife 246,19 15,54 301,97 18,38 417,23 17,06

São Lourenço da Mata 151,15 7,88 170,31 7,39 502,62 14,73

FONTES: SIM/DATASUS e IBGE * Município não emancipado ** Sem informação

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TABELA 09 TOTAL DE ÓBITOS POR ACIDENTES DE TRANSPORTE DA POPULAÇÃO TOTAL

REGIÕES METROPOLITANAS 1991 - 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação

Regiões Metropolitanas 7.969 9.474 6.710

Fortaleza 529 697 549

Porto Alegre 644 845 693

Recife 711 866 678

Rio De Janeiro 1.956 2.623 1.515

Salvador 54 166 76

São Paulo 3.654 3.846 2.797

Vitória ( * ) 421 431 402

FONTE: SIM/DATASUS ( * ) Região da grande Vitória do Espírito Santo

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TABELA 10 TAXA DE ÓBITOS POR ACIDENTES DE TRANSPORTE DA POPULAÇÃO TOTAL – para 100.000 Habitantes

REGIÕES METROPOLITANAS 1991 - 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação

Regiões Metropolitanas

19,80 22,05 15,02

Fortaleza

22,44 26,35 18,65

Porto Alegre

17,14 20,85 19,13

Recife

24,35 28,06 20,51

Rio De Janeiro

18,83 24,31 14,06

Salvador

1,73 4,92 2,54

São Paulo

22,06 21,65 15,87

Vitória ( * )

37,37 34,31 28,64

FONTE: SIM/DATASUS ( * ) Região da grande Vitória do Espírito Santo

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TABELA 11 TOTAL DE ÓBITOS POR ACIDENTES DE TRANSPORTE DA POPULAÇÃO TOTAL

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 - 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação

Brasil 28.364 35.545 30.118

Pernambuco 1.201 1.605 1.440

Região Metropolitana de Recife 709 866 678

Abreu e Lima 4 9 1

Araçoiaba * 0 0

Cabo de Santo Agostinho 17 26 25

Camaragibe 4 4 6

Igarassu 17 17 23

Ipojuca 3 8 10

Itamaracá 0 2 3

Itapissuma 1 3 6

Jaboatão dos Guararapes 37 39 24

Moreno 7 8 5

Olinda 16 21 10

Paulista 15 11 10

Recife 578 704 545

São Lourenço da Mata 10 14 10

FONTE: SIM/DATASUS * Município não emancipado.

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TABELA 12 TAXA DE ÓBITOS POR ACIDENTES DE TRANSPORTE DA POPULAÇÃO TOTAL – para 100.000 habitantes

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 – 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação

Brasil 18,92 22,04 17,94

Pernambuco 16,59 21,05 18,34

Região Metropolitana de Recife 24,28 28,00 20,51

Abreu e Lima 5,19 11,13 1,13

Araçoiaba * 0 0

Cabo de Santo Agostinho 13,38 18,47 16,50

Camaragibe 4,02 3,60 4,71

Igarassu 21,29 20,00 28,23

Ipojuca 6,60 16,50 17,03

Itamaracá 0 14,49 19,10

Itapissuma 6,09 16,69 30,12

Jaboatão dos Guararapes 7,60 7,36 4,17

Moreno 17,89 20,02 10,26

Olinda 4,69 5,91 2,74

Paulista 7,09 4,71 3,85

Recife 44,52 52,30 38,68

São Lourenço da Mata 11,65 15,60 11,17

FONTES: SIM/DATASUS e IBGE * Município não emancipado.

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TABELA 13 TOTAL DE ÓBITOS POR ACIDENTES DE TRANSPORTE DA POPULAÇÃO TOTAL POR SEXO

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 - 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino

Brasil 22.087 6.237 27.870 7.635 24.101 6.000

Pernambuco 911 287 1.275 330 1.167 273

Região Metropolitana de Recife 541 168 691 175 541 137

Abreu e Lima 3 1 7 2 1 0

Araçoiaba * * * * 0 0

Cabo de Santo Agostinho 12 5 21 5 19 6

Camaragibe 3 1 3 1 5 1

Igarassu 10 7 15 2 17 6

Ipojuca 3 0 8 0 8 2

Itamaracá 0 0 2 ** 3 **

Itapissuma 1 0 3 0 6 0

Jaboatão dos Guararapes 28 9 31 8 18 6

Moreno 5 2 7 1 4 1

Olinda 10 6 15 6 7 3

Paulista 13 2 9 2 7 3

Recife 449 129 559 145 439 106

São Lourenço da Mata 4 6 11 3 7 3

FONTE: SIM/DATASUS * Município não emancipado ** Sem informação

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TABELA 14 TAXA DE ÓBITOS POR ACIDENTES DE TRANSPORTE DA POPULAÇÃO TOTAL POR SEXO – para 100.000 habitantes.

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 - 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino

Brasil 30,47 8,39 35,99 9,59 29,12 7,03

Pernambuco 26,62 7,79 35,68 8,62 30,80 6,74

Região Metropolitana de Recife 38,96 10,96 47,19 10,75 34,53 7,88

Abreu e Lima 8,02 2,52 17,94 4,81 2,34 0

Araçoiaba * * 0 * 0 0

Cabo de Santo Agostinho 19,10 7,79 30,29 7,00 25,50 7,79

Camaragibe 6,17 1,97 5,54 1,75 8,07 1,53

Igarassu 25,38 17,31 35,88 4,63 42,67 14,41

Ipojuca 13,15 0 33,12 0 27,51 6,75

Itamaracá 0 0 25,66 ** 35,15 **

Itapissuma 12,54 0 36,66 0 61,55 0

Jaboatão dos Guararapes 11,92 3,57 12,19 2,90 6,54 2,00

Moreno 25,99 10,05 35,56 4,93 16,67 4,04

Olinda 6,23 3,32 9,13 3,14 4,10 1,55

Paulista 12,81 1,82 8,09 1,63 5,65 2,21

Recife 74,40 18,57 89,28 20,14 66,99 14,06

São Lourenço da Mata 9,42 13,83 24,84 6,60 15,95 6,57

FONTES: SIM/DATASUS e IBGE * Município não emancipado ** Sem informação

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TABELA 15 TOTAL DE ÓBITOS POR ACIDENTES DE TRANSPORTE POR SEXO E FAIXA ETÁRIA - 15 a 29 anos

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 - 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino

Brasil 7.550 1.778 9.361 2.202 8.292 1.661

Pernambuco 287 80 424 90 379 83

Região Metropolitana de Recife 162 47 219 46 155 42

Abreu e Lima 1 0 3 ** 0 **

Araçoiaba * * * * 0 0

Cabo de Santo Agostinho 2 2 4 2 7 2

Camaragibe 1 0 1 ** 2 **

Igarassu 0 1 5 1 0 1

Ipojuca 1 0 4 0 2 1

Itamaracá 0 ** 1 ** 0 **

Itapissuma 1 0 0 ** 2 **

Jaboatão dos Guararapes 12 2 10 3 5 3

Moreno 0 1 3 1 1 0

Olinda 3 3 6 2 3 1

Paulista 2 0 5 0 2 1

Recife 138 35 172 35 129 32

São Lourenço da Mata 1 3 5 2 2 1

FONTE: SIM/DATASUS * Município não emancipado ** Sem informação

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TABELA 16 TAXA DE ÓBITOS POR ACIDENTES DE TRANSPORTE POR SEXO E FAIXA ETÁRIA - 15 a 29 anos – para 100.000 habitantes

BRASIL, PERNAMBUCO, REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS 1991 - 1996 – 1999

Anos 1991 1996 1999

Discriminação Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino

Brasil 37,03 8,54 42,84 9,92 35,06 6,97

Pernambuco 29,25 27,00 40,98 8,29 33,82 7,21

Região Metropolitana de Recife 38,34 10,23 49,17 9,62 32,73 8,41

Abreu e Lima 9,01 0 24,63 ** 0 **

Araçoiaba * * * * 0 0

Cabo de Santo Agostinho 10,79 10,35 18,56 9,01 29,53 8,41

Camaragibe 6,51 0 5,85 ** 10,38 **

Igarassu 0 8,11 40,76 7,56 0 7,90

Ipojuca 15,28 0 53,91 0 21,59 15,19

Itamaracá 0 ** 37,55 ** 0 **

Itapissuma 41,91 0 0 ** 66,20 **

Jaboatão dos Guararapes 16,74 2,58 12,90 3,59 5,96 3,36

Moreno 0 16,94 49,74 17,01 13,56 0

Olinda 5,97 5,50 11,82 3,66 5,80 1,80

Paulista 6,79 0 14,86 0 5,32 2,54

Recife 74,67 17,00 91,76 16,93 65,88 15,16

São Lourenço da Mata 7,96 23,64 37,02 14,79 14,78 7,36

FONTES: SIM/DATASUS e IBGE * Município não emancipado ** Sem informação

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TABELA 17 QUANTIDADE DE CRIMES PARA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS – 2000

Tipos de crimes Lesão Sequestro e Estupro

Municípios Corporal Cárcere Privado

Região Metropolitana de Recife 4.888 37 98

Abreu e Lima 140 0 7

Araçoiaba 39 0 0

Cabo de Santo Agostinho 336 1 15

Camaragibe 361 2 9

Igarassu 220 1 5

Ipojuca 89 0 1

Itamaracá 56 0 0

Itapissuma 54 0 7

Jaboatão dos Guararapes 430 21 13

Moreno 131 0 4

Olinda 529 10 7

Paulista 110 0 0

Recife 2.193 2 22

São Lourenço da Mata 200 0 8

FONTE: SDS/Polícia Civil de Pernambuco - Departamento de Estatística Criminal

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TABELA 18 TAXA DE CRIMES PARA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS para 100.000 habitantes - 2000

Tipos de crimes Lesão Sequestro e Estupro

Municípios Corporal Cárcere Privado

Região Metropolitana de Recife 146,45 1,11 2,94

Abreu e Lima 157,14 0 7,86

Araçoiaba 258,14 0 0

Cabo de Santo Agostinho 219,64 0,65 9,80

Camaragibe 280,49 1,55 6,99

Igarassu 270,68 1,23 6,15

Ipojuca 150,13 0 1,69

Itamaracá 353,13 0 0

Itapissuma 268,44 0 34,80

Jaboatão dos Guararapes 74,07 3,62 2,24

Moreno 266,23 0 8,13

Olinda 143,79 2,72 1,90

Paulista 41,95 0 0

Recife 154,12 0,14 1,55

São Lourenço da Mata 221,23 0 8,85

FONTE: SDS/Polícia Civil de Pernambuco - Departamento de Estatística Criminal

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TABELA 19 QUANTIDADE DE CRIMES POR DELEGACIA DA CIDADE DE RECIFE - 2000

Tipos de crimes Lesão Sequestro e Estupro

Delegacias Corporal Cárcere Privado

Afogados 262 1 1

Água Fria 156 0 0

Alto do Pascoal 86 0 1

Boa Viagem 66 0 1

Casa Amarela 51 0 2

Cordeiro 217 0 2

Espinheiro 266 0 0

Ibura 10 0 2

Ipsep 54 0 1

Jordão 54 0 4

Macaxeira 323 0 4

Mustardinha 132 0 2

Santo Amaro 88 1 0

Tejipió 254 0 1

Vasco da Gama 174 0 1 Total 2.193 2 22

FONTE: SDS/Polícia Civil de Pernambuco - Departamento de Estatística Criminal

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TABELA 20 PERCENTUAL DOS CRIMES POR DELEGACIA DA CIDADE DE RECIFE - 2000

Tipos de crimes Lesão Sequestro e Estupro

Delegacias Corporal Cárcere Privado

Afogados 11,95 50,00 4,55

Água Fria 7,11 0 0

Alto do Pascoal 3,92 0 4,55

Boa Viagem 3,01 0 4,55

Casa Amarela 2,33 0 9,09

Cordeiro 9,90 0 9,09

Espinheiro 12,13 0 0

Ibura 0,46 0 9,09

Ipsep 2,46 0 4,54

Jordão 2,46 0 18,18

Macaxeira 14,73 0 18,18

Mustardinha 6,02 0 9,09

Santo Amaro 4,01 50,00 0

Tejipió 11,58 0 4,55

Vasco da Gama 7,93 0 4,54

Total 100,00 100,00 100,00

FONTE: SDS/Polícia Civil de Pernambuco - Departamento de Estatística Criminal

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TABELA 21 QUANTIDADE DE CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO PARA A RMR E MUNICÍPIOS – 2000

Tipos de crimes FURTO ROUBO Municípios a transeunte a residência a est. Comercial de veículo a transeunte a residência a est. Comercial de veículo

Região Metropolitana de Recife 10.166 1.865 1.055 1.792 11.906 506 1.098 3.027

Abreu e Lima 16 49 26 15 202 9 33 104

Araçoiaba 5 14 3 0 0 2 2 1

Cabo de Santo Agostinho 267 89 79 23 322 47 45 15

Camaragibe 147 73 37 11 162 17 28 26

Igarassu 94 109 37 2 233 23 66 54

Ipojuca 38 70 11 23 24 19 3 5

Itamaracá 50 141 13 3 17 7 4 9

Itapissuma 58 27 34 1 29 4 1 0

Jaboatão dos Guararapes 659 199 120 203 1.309 118 172 254

Moreno 21 38 10 0 33 1 5 6

Olinda 1.124 244 131 127 1.468 61 182 375

Paulista 165 23 39 44 346 37 70 272

Recife 7.490 746 492 1.330 7.677 157 476 1.897

São Lourenço da Mata 32 43 23 10 84 4 11 9

FONTE: SDS/Polícia Civil de Pernambuco - Departamento de Estatística Criminal

Page 97: Estudo Sobre a Segurança Pública na Região ... · humanista e articulador que impõe às ações de segurança e ... resume-se na aplicação de todos os ramos de produção do

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TABELA 22 TAXA DE CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO PARA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E MUNICÍPIOS - para 100.000 habitantes - 2000

Tipos de crimes FURTO ROUBO Municípios a transeunte a residência a est. comercial de veículo a transeunte a residência a est. Comercial de veículo

Região Metropolitana de Recife 304,59 55,88 31,61 53,69 356,73 15,16 32,90 90,69

Abreu e Lima 17,96 55,00 29,18 16,84 226,73 10,10 37,04 116,73

Araçoiaba 33,10 92,67 19,86 0 0 13,24 13,24 6,62

Cabo de Santo Agostinho 174,54 58,18 51,64 15,03 210,49 30,72 29,42 9,80

Camaragibe 114,22 56,72 28,75 8,55 125,87 13,21 21,76 20,20

Igarassu 115,65 134,11 45,52 2,46 286,67 28,30 81,20 66,44

Ipojuca 64,10 118,08 18,56 38,80 40,48 32,05 5,06 8,43

Itamaracá 315,30 889,14 81,98 18,92 107,20 44,14 25,22 56,75

Itapissuma 288,33 134,22 169,02 4,97 144,16 19,88 4,97 0

Jaboatão dos Guararapes 113,51 34,28 20,67 34,97 225,47 20,32 29,63 43,75

Moreno 42,68 77,23 20,32 0 67,07 2,03 10,16 12,19

Olinda 305,52 66,32 35,61 34,52 399,02 16,58 49,47 101,92

Paulista 62,92 8,77 14,87 16,78 131,94 14,11 26,69 103,72

Recife 526,39 52,43 35,58 93,47 539,53 11,03 33,45 133,32

São Lourenço da Mata 35,40 47,56 25,44 11,06 92,92 4,42 12,17 9,96

FONTES: SDS/Polícia Civil de Pernambuco – Departamento de Estatística Criminal e IBGE

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TABELA 23 QUANTIDADE DE CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO POR DELEGACIA DA CIDADE DE RECIFE - 2000

Tipos de crimes FURTO ROUBO Delegacias a transeunte a residência a est. Comercial a transeunte a residência a est. Comercial

Afogados 373 112 53 863 4 52

Água Fria 291 64 36 323 17 34

Alto do Pascoal 89 36 10 130 3 13

Boa Viagem 1.144 38 40 912 6 23

Casa Amarela 275 43 34 285 4 42

Cordeiro 529 102 47 732 8 46

Espinheiro 1.786 29 118 1.771 8 65

Ibura 171 36 3 356 44 31

Ipsep 317 37 29 521 10 39

Jordão 104 21 25 118 2 20

Macaxeira 102 45 15 145 29 21

Mustardinha 173 47 15 272 6 25

Santo Amaro 1.708 8 18 801 1 29

Tejipió 341 66 36 336 3 16

Vasco da Gama 87 62 13 112 12 20

Total 7.490 746 492 7.677 157 476 FONTE: SDS/Polícia Civil de Pernambuco – Departamento de Estatística Criminal

Page 99: Estudo Sobre a Segurança Pública na Região ... · humanista e articulador que impõe às ações de segurança e ... resume-se na aplicação de todos os ramos de produção do

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TABELA 24 PERCENTUAL DE CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO POR DELEGACIA DA CIDADE DE RECIFE - 2000

Tipos de crimes FURTO ROUBO Delegacias a transeunte a residência a est. comercial a transeunte a residência a est. Comercial

Afogados 4,98 15,01 10,77 11,24 2,55 10,93

Água Fria 3,89 8,58 7,32 4,21 10,83 7,14

Alto do Pascoal 1,19 4,83 2,03 1,69 1,91 2,73

Boa Viagem 15,28 5,09 8,13 11,88 3,82 4,83

Casa Amarela 3,67 5,76 6,91 3,71 2,55 8,83

Cordeiro 7,06 13,67 9,55 9,53 5,10 9,67

Espinheiro 23,85 3,89 23,98 23,07 5,10 13,66

Ibura 2,28 4,83 0,61 4,64 28,02 6,51

Ipsep 4,23 4,96 5,90 6,79 6,37 8,19

Jordão 1,39 2,82 5,08 1,54 1,27 4,20

Macaxeira 1,36 6,03 3,05 1,89 18,47 4,41

Mustardinha 2,31 6,30 3,05 3,54 3,82 5,25

Santo Amaro 22,80 1,07 3,66 10,43 0,64 6,09

Tejipió 4,55 8,85 7,32 4,38 1,91 3,36

Vasco da Gama 1,16 8,31 2,64 1,46 7,64 4,20

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

FONTE: SDS/Polícia Civil de Pernambuco – Departamento de Estatística Criminal