estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

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ESTUDO DE IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE ENCOSTAS NA BR-116 Rita Moura Fortes Universidade Federal do Amazonas - UFAM Programa de Pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais ERI - "Engineering and Research Institute" Pesquisas Ltda Waheed Uddin Center for Advanced Infrastructure Technology (CAIT) University of Mississippi, USA Ailton Frank Barbosa Ressutte Universidade de São Paulo - USP Departamento de Engenharia de Transportes, Escola Politécnica Valéria Cristina de Faria Luis Miguel Gutierrez Klinsky Centro de Pesquisa Rodoviárias CCR Nova Dutra RESUMO Eventos climáticos extremos têm se tornado cada vez mais frequentes e relevantes devido às mudanças climáticas no mundo e no Brasil. Vários estados brasileiros, como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Cataria, Rio Grande do Sul, entre outros, têm sido fortemente afetados nos últimos anos por eventos climáticos extremos que causaram inundações, deslizamentos de terra e movimentos de massa de várias categorias. Cientistas e governos do mundo estão procurando compreender a natureza das alterações que ainda são possíveis de acontecer durante o século 21. Para as áreas sujeitas a riscos de desastres é importante identificar o processo que faz com que estes riscos ocorram além de analisar as características de sua dinâmica de evolução para posterior gestão dessas áreas. O estudo de novas técnicas para monitoramento de processos de erosão ganhou grande destaque, constituindo um grande desafio para os pesquisadores. Desenvolver uma nova tecnologia para monitorar encostas, a fim de ter um novo sistema de aviso de desastres naturais que combinam técnicas de geoprocessamento em forma de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) e levantamentos de campo sistemáticos (geológicas e geotécnicas seções) é algo a ser analisado. O objetivo deste estudo se trata de um monitoramento de encostas, próxima a Serra das Araras, tendo como base as melhores práticas internacionais, através da instrumentação, observação do seu comportamento, a análise do local de estudo e ainda o mapeamento de áreas de risco no trecho estudado na rodovia. Palavras-chave: Monitoramento; SIG; Geotecnia; Instrumentação; Áreas de Risco. 1. INTRODUÇÃO Os acontecimentos climáticos extremos têm se tornado cada vez mais relevantes e frequentes em função das mudanças climáticas no mundo e no Brasil. Diversos estados brasileiros como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Cataria, Rio Grande do Sul entre outros, têm sido fortemente afetados nos últimos anos por eventos climáticos extremos que têm provocado inundações, enxurradas e movimentos de massa de diversas categorias.

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Page 1: Estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

ESTUDO DE IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE

MONITORAMENTO DE ENCOSTAS NA BR-116

Rita Moura Fortes Universidade Federal do Amazonas - UFAM

Programa de Pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais

ERI - "Engineering and Research Institute" Pesquisas Ltda

Waheed Uddin Center for Advanced Infrastructure Technology (CAIT)

University of Mississippi, USA

Ailton Frank Barbosa Ressutte Universidade de São Paulo - USP

Departamento de Engenharia de Transportes, Escola Politécnica

Valéria Cristina de Faria

Luis Miguel Gutierrez Klinsky

Centro de Pesquisa Rodoviárias CCR Nova Dutra

RESUMO Eventos climáticos extremos têm se tornado cada vez mais frequentes e relevantes devido às mudanças

climáticas no mundo e no Brasil. Vários estados brasileiros, como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa

Cataria, Rio Grande do Sul, entre outros, têm sido fortemente afetados nos últimos anos por eventos

climáticos extremos que causaram inundações, deslizamentos de terra e movimentos de massa de

várias categorias. Cientistas e governos do mundo estão procurando compreender a natureza das

alterações que ainda são possíveis de acontecer durante o século 21. Para as áreas sujeitas a riscos de

desastres é importante identificar o processo que faz com que estes riscos ocorram além de analisar as

características de sua dinâmica de evolução para posterior gestão dessas áreas. O estudo de novas

técnicas para monitoramento de processos de erosão ganhou grande destaque, constituindo um grande

desafio para os pesquisadores. Desenvolver uma nova tecnologia para monitorar encostas, a fim de ter

um novo sistema de aviso de desastres naturais que combinam técnicas de geoprocessamento em forma

de Sistemas de Informações Geográficas (SIG) e levantamentos de campo sistemáticos (geológicas e

geotécnicas seções) é algo a ser analisado. O objetivo deste estudo se trata de um monitoramento de

encostas, próxima a Serra das Araras, tendo como base as melhores práticas internacionais, através da

instrumentação, observação do seu comportamento, a análise do local de estudo e ainda o mapeamento

de áreas de risco no trecho estudado na rodovia.

Palavras-chave: Monitoramento; SIG; Geotecnia; Instrumentação; Áreas de Risco.

1. INTRODUÇÃO

Os acontecimentos climáticos extremos têm se tornado cada vez mais relevantes e

frequentes em função das mudanças climáticas no mundo e no Brasil. Diversos

estados brasileiros como São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Cataria, Rio Grande do Sul

entre outros, têm sido fortemente afetados nos últimos anos por eventos climáticos

extremos que têm provocado inundações, enxurradas e movimentos de massa de

diversas categorias.

Page 2: Estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

Com as perspectivas de transformações climáticas, cientistas e governantes do planeta

tem buscado compreender a natureza das transformações que possivelmente ocorrerão

durante o século 21. Para o convívio adequado em áreas sujeitas aos riscos de

desastres é importante à identificação dos processos causadores de riscos e as

caracterização da sua dinâmica de evolução para posterior gerenciamento dessas áreas

e riscos (Teixeira, 2005).

Esses fenômenos têm apresentado consequências catastróficas com alto número de

perdas de vidas humanas e perdas econômicas. Em Santa Catarina, a catástrofe de

novembro de 2008 foi o evento mais intenso desse gênero ocorrido no estado que

segundo Castro et al. (2003) afetou cerca de 1,5 milhões de pessoas, com mais de

uma centena de mortes e foi mais um sinal desses novos tempos.

O crescimento acelerado e desordenado das cidades, especialmente nas zonas

periféricas, conexo à falta de política habitacional tem ocasionado graves problemas

sociais como a ocupação humana em encostas avaliadas como áreas de risco, expondo

a população a diversos perigos destacando-se os riscos de deslizamentos.

Os deslizamentos estão enquadrados segundo Castro et al. (2005) no conjunto de

risco natural, no qual estão incluídos os processos e eventos de origem naturais. A

natureza destes processos é bastante diferente nas escalas temporal e espacial, por isso

o risco natural pode apresentar-se com distintos graus de perdas, em função da

amplitude, da abrangência espacial e do tempo de atividade dos processos avaliados.

Mesmo com o acompanhamento, na maioria das vezes deficiente, das ocupações das

encostas pelo Poder Público, é frequente à ocorrência de deslizamentos decorrentes da

intensidade e duração das chuvas, lançamento de águas servidas, remoção da

vegetação, cortes e aterros inadequados, deposição de lixo, entre outras causas (Wolf

e Ghilani, 1997).

O estudo de novas técnicas para o monitoramento de processos erosivos vem

ganhando cada vez mais ênfase, constituindo um elevado desafio para os

pesquisadores, logo o presente artigo tem como foco apresentar uma descrição das

etapas dessa pesquisa que irá consistir a concepção e implantação de um sistema de

instrumentação e monitoramento de encostas que permitirá acompanhar e avaliar

parâmetros geológico-geotécnicos, hidrológicos e ambientais na rodovia BR116.

2. METODOLOGIA

Foi realizado levantamento bibliográfico sobre a literatura específica nacional e

internacional apresentando o estado de arte sobre o assunto para o desenvolvimento e

implementação do software de monitoramento de encostas.

Page 3: Estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

Após análise, foi definida para a área de estudo o trecho entre os km 219 e km 228 da

BR-116 - pista Norte, localizado próximo ao município de Piraí no Rio de Janeiro.

Segundo dados da concessionária CCR Nova Dutra foram registrados processos de

movimentação com acúmulo de detritos sobre a rodovia e interrupção de tráfego

nesse local, decorrentes das precipitações pluviométricas de extrema intensidade que

ocorreram no estado de São Paulo.

Foi definido junto a CCR que será realizado na primeira etapa do estudo a instalação

de equipamentos de instrumentação utilizados para a captação de dados para análise

de aspectos geológico-geotécnicos, hidrológicos e ambientais, que envolverão

medições de variações de poro-pressões, deslocamentos da massa de solo,

deformações do sistema de contenção e precipitações sendo que esses dados, serão

posteriormente compilados junto com todos os dados do Sistemas de Informações

Geográficas (SIG) disponíveis a partir de fontes que serão colhidas

planimétricamente, além de verificação do uso e ocupação do solo ao longo da

rodovia;

Na segunda etapa será programada uma base de dados no SIG mapeando os limites da

estrada com a verificação de Obras de Arte Especiais (OAEs), aspectos geológico-

geotécnicos, hidrológicos, ambientais, além das comunidades lindeiras para

desenvolver um mapa e utilizar as imagens ordenadas de sites selecionados como

mapa base. Com isso será possível programar a avaliação onde poderão ocorrer

desastres nas seções em estudo, utilizando o software de monitoramento de encostas

onde ele indicará locais propícios a escorregamentos, incluindo planos para a proteção

de comunidades em locais vulneráveis.

3. PERICULOSIDADE SOBRE O RISCO DE DESLIZAMENTOS

Recentemente com o aumento da precipitação em todo o mundo, os desastres

naturais,como por exemplo as inundações, tiveram a sua intensidade e frequência de

chuvas amplificada, resultando em danos sem precedentes para a infraestrutura, perda

de propriedades, de vidas, interrupções comerciais, paralisação na produção industrial

e da vida cotidiana.

Em todo o mundo, 98% de todos os desastres naturais de 2.012 foram relacionados

com o clima, que afetou mais de 3,4 milhões de pessoas (Time, 12 de Maio de 2013).

Devido ao seu tamanho e localização geográfica o Brasil tem várias regiões

climáticas, que vão desde clima tropical a condições de neve no extremo sul.

Um longo período de chuvas associada a regiões montanhosas, normalmente resulta

em deslizamentos de terra. Este problema é agravado devido à ocupação

indiscriminada das colinas, especialmente por populações de baixa renda. Este

fenômeno ocorre principalmente na região sudeste do país.

Page 4: Estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

Milhares de vidas foram perdidas nos últimos anos, como resultado de deslizamentos

de terras. Em 2011, as inundações e deslizamentos de terra afetaram mais de 100.000

habitantes, resultando na perda muitas vidas e foi responsável por US$ 1,2 milhões de

dólares em perdas econômicas (New York Times, 19 de janeiro de 2011).

Os deslizamentos de terra ocorrem geralmente na região sudeste do Brasil, perto do

Oceano Atlântico e nas partes montanhosas (Figura 1). Esta região é a mais

importante em termos de economia e que tem a maior densidade de população urbana.

No sudeste do Brasil, a camada superior da rocha é decomposto em solos residuais,

devido ao clima quente e chuvas abundantes. Portanto, as propriedades de engenharia

de solos residuais são diferentes daqueles dos solos transportados. A camada de

superfície é geralmente um material denominado solo laterítico homogénea e

estabilizada e a sua espessura é de cerca de 1 ou 2 metros (Fortes, 1991 e 1993).

Figura 1. (Esquerda) Mapa mundi deslizamento, (Direita) Deslizamento de terra

típico na região sudeste do Brasil (adaptado de [Ogura 2009]).

A camada inferior é denominada solo saprolítico, e muitas vezes tem mais de 10

metros de espessura (FORTES, 2003). O crescimento da população promove o

desmatamento. Como resultado do aumento da infiltração de água durante o período

chuvoso, a água das chuvas sobe entre o solo e a camada de rocha. Isso desestabiliza a

encosta que faz com ela entrar em colapso posteriormente.

Inundações e deslizamentos de terra atingiram cinco cidades no Rio de Janeiro,

localizado no sudeste do Brasil, em janeiro de 2011 (Figura 2). As cidades mais

atingidas foram Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis, Sumidouro e São José do

Vale do Rio Preto, na região serrana do Estado. O governo estadual informou que 916

pessoas morreram. Um declínio da economia foi relatado em todos os setores da

indústria, agricultura, pecuária, comércio, turismo e serviços.

Page 5: Estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

Figura 2. Deslizamentos nas cidades do Rio de Janeiro em 2011.

Esforços contra este tipo de catástrofes envolvem a avaliação visual dos impactos dos

desastres da inundação utilizando imagens de satélite como o Google Earth. No

entanto, é necessário um esforço concentrado para desenvolver um modelo preciso da

zona de gravidade no mapa com base em dados de elevação de alta precisão e alta

resolução de imagens de mapas base (Uddin e Durmus, 2012). São necessários mais

esforços para desenvolver estratégias para a prevenção de inundações, deslizamento

de terra, monitoramento remoto eficaz e a implantação de sistemas de alerta de

emergência.

4. SIG (SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA)

Muitas técnicas sistemáticas e tecnologias vêm sendo propostas e utilizadas para

tentar gerenciar os inúmeros problemas que ocorrem associados a deslizamentos. Um

Sistema de Informações Geográficas consiste em um conjunto de ferramentas

computacionais utilizadas no geoprocessamento.

O SIG envolve desde a coleta e processamento de dados obtidos em levantamentos de

campo, mapas, sensoriamento remoto ou aerofotogrametria, até o armazenamento,

atualização e recuperação desses dados de forma eficiente (Uddin, 2011). Os dados

utilizados no SIG podem ser: gráficos/espaciais – descrevem características

geográficas da superfície – ou não espaciais – descrevem os atributos dessas

características.

Obtido o banco de dados, escolhidos a projeção a ser utilizado nos SIGs e feito o

georreferenciamento, pode-se fazer análises de diversos fenômenos sociais,

econômicos e ambientais. Semelhante à tecnologia CAD, quando se trabalha com os

SIGs, utiliza-se camadas (ou layers ou planos de informação), onde cada uma pode

representar diferentes dados e de formas diferentes. Em outras palavras, cada camada

tem dados georreferenciados de um tema (Barbosa et al., 2012).

Esses dados podem se apresentar na forma de imagens de satélite (Figura 3), que

Page 6: Estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

representam partes da superfície terrestre. É muito comum, projetos envolverem áreas

que estão representadas em mais de uma imagem de satélite, sendo necessário juntar

essas partes. Há necessidade, então, de se formar um mosaico de imagens de satélites,

ou seja, juntar a imagens e fundi-las digitalmente.

Figura 3. Dados do SIG estimado para uma amostra da área portuária de Gulfport,

Mississippi.

Costa Nunes (1982) utilizou para a correção e prevenção dos escorregamentos

ocorridos, respectivamente, técnicas como medidas de segurança permanente

(taludamento, implantação de dispositivos de drenagem e proteção superficial),

medidas de emergência (implantação de gabiões, terra armada e protendida) e

interdição dos trechos estudados.

Estas abordagens anteriores foram complementadas com a inserção da utilização do

SIG como ferramenta básica de armazenagem e analise dos dados de interesse, além

da utilização de seções geológicos-geotécnicas de detalhe, levantada em campo ao

longo do trecho estudado.

5. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

O presente artigo foca na área de estudo que compreende o trecho entre os km 219 e

km 228 pista Norte da rodovia Presidente Dutra (BR-116), no trecho da Serra das

Araras, localizado próximo ao município de Piraí no Rio de Janeiro (Figura 4).

Segundo dados da concessionária CCR Nova Dutra foram registrados processos de

movimentação com acúmulo de detritos sobre a rodovia e interrupção de tráfego

nesse local, decorrentes das precipitações pluviométricas de extrema intensidade que

ocorreram no estado de São Paulo.

1-m Pre-Katrina

Ikonos Imagery

Water

Soil

Tree

Grass

Build/Conc

Asphalt

Water

Soil

Tree

Grass

Build/Conc

Asphalt

Legend

Pre-Katrina BANS Post-Katrina BANS1-m Post-Katrina

Ikonos Imagery

SDE Severity Level SDE Map Legend

1. Negligible or None

2. Minor

3. Major

4. Catastrophic

32.6%

28.5%

1.1%2.2%2.0%3.3%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

Ch

ang

e in

Su

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lass

Are

a,%

1

S

G T

A

B+C

W

Absolute Percent Change in Surface

Class Area

50%

2%

26%

23%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

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DE

Are

a ,%

1

Weighted Composite SDE Area

West Side Sample-2

3. Major

1. Negligible

2. Minor

4. Catastrophic

SDE Area SDE MapPercent Change

(pre- to post)

Page 7: Estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

Figura 4. Vista do trecho em estudo.

Com o objetivo de dar subsídios aos serviços preliminares à elaboração do projeto,

foram desenvolvidos estudos geológico-geotécnicos para dar apoio técnico na

avaliação da viabilidade técnica tendo em vista a escolha da melhor solução de

engenharia sob o ponto de vista técnico.

Nesta etapa de trabalho, foram levantados e analisados dados geológico-geotécnicos

preexistentes da região de interesse, de tal modo a orientar o estudo de alternativas.

Para tanto, foram consultadas plantas topográficas, mapeamentos geológicos,

sondagens executadas anteriormente no local e outros dados geológico-geotécnicos

disponíveis.

Nas investigações geotécnicas foram executadas sondagens mecânicas (mistas,

inclinadas rotativas, a percussão e a trado) e sondagens geofísicas pelos métodos de

sísmica de refração e elétrico. Para a determinação dos parâmetros a serem adotados

nos projetos geotécnicos relativos às obras previstas no trecho em estudo além da

realização de ensaios de caracterização de solos.

Para os projetos de pavimentação e aterros foram executados trados para coleta de

amostras deformadas para a elaboração de ensaios de caracterização, compactação e

CBR. Também foram executados poços dos pavimentos existentes visando a

identificação da estrutura destes, bem como foram realizadas coleta de amostras

deformadas para a realização de ensaios de caracterização, compactação e CBR.

5.1. Contexto geológico-geotécnico sobre a Serra das Araras

A região em questão se insere em unidade geológica constituída por granitos e

enclaves de gnaisses, que sustentam um relevo predominantemente forte ondulado,

com amplitudes elevadas e declividades entre 8 e 45%. Os litotipospertencentes a esta

unidade geológica, denominada de “Suite Serra das Araras”, constituem-se

principalmente de granitos que foram submetidos a tectonismo transcorrente em

diferentes graus de metamorfismo. A Figura 5 mostra a inserção da área de interesse

ao projeto em questão tendo-se como referência o Mapa Geológico do Estado do Rio

de Janeiro, CPRM (2.000), escala 1:500.000.

Page 8: Estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

Figura 5. Mapa Geológico da região da Serra da Araras (Escala 1:500.000). Fonte:

Mapa Geológico do Estado do Rio de Janeiro, CPRM, 2000.

Sob o ponto de vista geotécnico, a unidade suite Serra das Araras apresenta horizonte

de solo residual que recobre rocha muito alterada a sã. O horizonte de solo residual

exibe espessura variável.

As condições de relevo são marcadas por encostas de alta declividade que apresentam

ocorrências de coberturas de solos transportados, representados por colúvios e

depósitos de tálus, nos quais são comuns a presença e matacões. Abaixo destes

materiais ocorrem solos residuais de natureza silto-arenosa, com espessuras médias de

15 metros até atingir a rocha.

Tais características, associadas a eventos de elevada pluviosidade, tornam as obras

para implantação de aterros e execução de cortes e aterros com potencial de riscos de

mobilização de matérias.

Page 9: Estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

6. INVESTIGAÇÕES GEOTÉCNICAS

Como subsídio à elaboração do projeto, foi elaborada uma programação de

investigações geológico-geotécnicas através de sondagens mecânicas e ensaios

geofísicos, bem como de ensaios geotécnico, a qual seguiu as normas técnicas

consagradas no meio técnico.

6.1. Sondagens Mecânicas

Com o objetivo de identificar de forma preliminar as condições geológico-geotécnicas

do trecho em questão, foi elaborada uma primeira fase de sondagens mecânicas. Esta

fase da campanha de sondagens teve como objetivo principal a identificação do perfil

de alteração do maciço com a indicação de espessuras de solo residual, solo de

alteração, saprolito, rocha alterada e rocha sã, além da identificação de matacões nos

maciços graníticos.

Visou, portanto, estabelecer uma orientação para a definição de conceitos de projeto

no que se refere à definição de tipos de fundações, à qualidade do maciço na região do

túnel, bem como para a avaliação de cortes e identificação de solos moles. Dentro do

possível, as sondagens desta fase foram distribuídas de forma a buscar informações

preliminares do terreno de cada um dos viadutos previstos. Na Tabela 1 são

resumidos os quantitativos dos serviços de sondagens mecânicas realizadas para a

elaboração do projeto em questão.

Tabela 1. Quantitativos (N) dos serviços de investigaçõesgeotécnicas

6.2. Aterros

São materiais deorigemantrópica, também conhecidos como materiais do período

tecnogênico. Na região da Serra das Araras, os aterros ocorrem de forma abrangente.

Tipo de Sondagem N (Quantitativo) Critério de paralisação de perfuração

Sondagens Mistas

201 5 metros em rocha de boa qualidade (R1/R2)

12 10 metros abaixo do greide do túnel

02 10 metros em rocha sã (R1)

Sondagens Inclinadas 02 20 metros em rocha sã (R1)

Sondagens a Percussão

45 Até atingir o impenetrável a percussão

10 3 ensaios consecutivos com SPT superior a 20 golpes

15 10 metros ou impenetrável a percussão

Sondagens a Trado 42 2,5 metros

Poços de inspeção 11 1,5 metros

Page 10: Estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

Os materiais classificados como aterro são provenientes, via de regra, das obras de

terraplenagem e cortes ocorridas durante a implantação da pista atual, na década de

1960. As espessuras destes depósitos, os quais ocorrem de forma predominante a

jusante da pista atual, são bastante variáveis em função do porte das intervenções

realizadas. As maiores espessuras foram nos setores médio e superior adjacentes à

pista atual no trecho da serra.

A constituição dos aterros também é bastante variada, apresentando solos

provenientes de cortes da pista atual entremeado por blocos de rochas, de tamanhos

variados, oriundos da detonação para execução dos cortes em rocha desta mesma

pista. Em grande parte, os solos são de natureza silto-arenosos contendo blocos de

rochas de composição graníticas.

6.3. Rochas do Embasamento Cristalino Pré-Cambriano

Constituem-se predominantemente por granitos foliados e de forma subordinada por

biotita-gnaisses, e seus respectivos solos originados por intemperismo (solos

residuais). Com relação à nomenclatura adotada para as rochas acima citadas, cabe

destacar o fato de que as rochas denominadas de granitos foliados também recebem a

denominação de granitos-gnaisses.

Apesar de preservarem a textura ígnea original, os granitos não são isentos de

metamorfismo e deformação, de forma que foi adotado o termo granitos-gnaisse para

designar estas rochas. Outros estudos referentes ao maciço rochoso da Serra das

Araras relacionam os conjuntos principais de litotipos como a biotita granito com

granada, protomilonítico a milonítico, localmente apresentado textura ígnea maciça

com matriz fina a média e fenocristais de feldspato e granada, biotita granito fino,

foliado, ocorrendo nas cotas acima de 290 metros e gnaisse bandado migmatítico,

com diversas injeções de leucograníticos, com matriz fina a média foliada.

6.4. Ensaios Geotécnicos

Para a determinação dos parâmetros a serem adotados nos projetos geotécnicos

relativos às obras previstas, foram realizados ensaios de caracterização de solos,

ensaios especiais (triaxiais adensados drenados e cisalhamento direto em amostras

mais arenosas) em amostras indeformadas.

Para dar subsídios aos projetos de pavimentação e aterros foram executados trados

para coleta de amostras deformadas para a elaboração de ensaios de caracterização,

compactação e CBR. Também foram abertas valas nos pavimentos existentes visando

à identificação da estrutura destes, bem como foram realizadas coleta de amostras

deformadas para a realização de ensaios de caracterização, compactação e CBR.

Page 11: Estudo de implantação de um programa de monitoramento de encostas na br 116

Ensaios de abrasão Los Angeles foram realizados em testemunhos de sondagens na

região do túnel. Estes ensaios visaram verificar a possibilidade de utilização do

material rochoso proveniente da escavação do túnel como material pétreo na execução

das obras previstas.

Quanto aos resultados dos ensaios abrasão “Los Angeles”, verificou-se que o material

ensaiado mostrou-se adequado como agregado, no entanto, ensaios específicos

deverão ainda ser executados para a determinação de outras características exigidas

conforme o uso a ser dado a estes materiais (agregados para pavimentação, concreto,

etc.).

7. RECOMENDAÇÕES FINAIS

A implantação do plano de monitoramento proposto foi apresentado em sua primeira

etapa que representou uma etapa de alta complexidade da pesquisa, exigindo um

planejamento detalhado e específico com base em características geológica-

geotécnicas do local de instalação, histórico de movimentações bem como a

delimitação dos objetivos de análise.

Os dados obtidos pela campanha de sondagens deram os subsídios à elaboração dos

perfis geológico-geotécnicos ao longo de todo o traçado previsto para o

empreendimento. Na campanha de investigações geotécnicas foram executadas

sondagens mecânicas (mistas, inclinadas rotativas, a percussão e a trado) e sondagens

geofísicas pelos métodos de sísmica de refração e elétrico.

Para trabalhos futuros será apresentado o desenvolvimento da implementação do

software de monitoramento. Por fim, as conclusões finais serão apresentadas

formalmente nos demais trabalhos científicos produzidos em decorrência deste

estudo, aos quais se somarão novos resultados.

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