estudo de fatores de virulÊncia e de estresse...

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ESTUDO DE FATORES DE VIRULÊNCIA E DE ESTRESSE OXIDATIVO NA PRODUÇÃO DE BIOSSURFACTANTE DO TIPO RAMNOLIPÍDEO POR Pseudomonas aeruginosa PA1 Ana Carolina Loureiro Brito Fernandes Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Bioquímica, Instituto de Química, Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Bioquímica. Orientadores: Denise Maria Guimarães Freire Marcos Dias Pereira Essa dissertação de Mestrado foi realizada com o apoio financeiro da ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Rio de Janeiro Maio de 2010

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  • ESTUDO DE FATORES DE VIRULNCIA E DE ESTRESSE

    OXIDATIVO NA PRODUO DE BIOSSURFACTANTE DO TIPO

    RAMNOLIPDEO POR Pseudomonas aeruginosa PA1

    Ana Carolina Loureiro Brito Fernandes

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de

    Ps-graduao em Bioqumica, Instituto de Qumica,

    Centro de Cincias Matemticas e da Natureza, da

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

    requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em

    Bioqumica.

    Orientadores: Denise Maria Guimares Freire

    Marcos Dias Pereira

    Essa dissertao de Mestrado foi realizada

    com o apoio financeiro da ANP - Agncia

    Nacional do Petrleo, Gs Natural e

    Biocombustveis.

    Rio de Janeiro

    Maio de 2010

  • ii

    ESTUDO DE FATORES DE VIRULNCIA E DE ESTRESSE

    OXIDATIVO NA PRODUO DE BIOSSURFACTANTE DO TIPO

    RAMNOLIPDEO POR Pseudomonas aeruginosa PA1

    Ana Carolina Loureiro Brito Fernandes

    Orientadores: Denise Maria Guimares Freire

    Marcos Dias Pereira

    Dissertao de Mestrado submetida ao Programa de Ps-graduao em Bioqumica,

    Instituto de Qumica, Centro de Cincias Matemticas e da Natureza, da Universidade Federal do

    Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em

    Bioqumica.

    Aprovada por:

    _________________________________________________________

    Presidente, Profa. Denise Maria Guimares Freire, D. Sc. (IQ/UFRJ)

    _________________________________________

    Prof. Rodrigo Volcan Almeida, D. Sc. (IQ/UFRJ)

    __________________________________________

    Srgio Cant Mannarino, D. Sc. (IQ/UFRJ)

    Rio de Janeiro

    Maio de 2010

  • iii

    Fernandes, Ana Carolina Loureiro Brito

    Estudo de fatores de virulncia e de estresse oxidativo na

    produo de biossurfactante do tipo ramnolipdeo por

    Pseudomonas aeruginosa PA1/ Ana Carolina Loureiro Brito

    Fernandes. Rio de Janeiro: UFRJ/IQ, 2010.

    xiii, 110f : 29,7cm

    Orientadores: Denise Maria Guimares Freire e

    Marcos Dias Pereira

    Dissertao (mestrado) UFRJ/ IQ/ Programa de

    Ps-graduao em Bioqumica, 2010.

    Referncias Bibliogrficas: f. 92-110.

    1. Biossurfactante. 2. Fatores de virulncia. I. Freire,

    Denise Maria Guimares. II.Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, Instituto de Qumica. III. Ttulo.

  • iv

    Dedico este trabalho aos meus pais,

    Mrcia e Marco.

  • v

    Agradecimentos

    Meus sinceros agradecimentos a todos que contriburam de algum modo para a realizao

    deste trabalho e em especial:

    A minha orientadora Denise Maria Guimares Freire pela orientao, dedicao, confiana e

    pacincia fundamentais para realizao deste trabalho.

    Aos meus pais pelo amor incondicional, por estarem ao meu lado em todos os momentos e

    por serem os responsveis por tudo que eu sou.

    As minhas irms pela amizade, cumplicidade, alegria e carinho.

    minha amiga Roberta pelos nossos 10 anos de amizade e convivncia.

    Ao amigo Rodrigo Mineiro (o mais eficiente do leste ou oeste, dependendo do caminho...)

    pela amizade, sugestes, companhia, ajuda nos momentos necessrios e pela grande

    contribuio para realizao deste trabalho.

    Ao amigo Fred pela presena constante nos experimentos em biorreator, pelas sugestes,

    orientao e ajuda essenciais para realizao deste trabalho.

    Aos colegas do grupo dos Biossurfactante L, Lvia, Luiz Fernando e Rmulo pela

    contribuio neste trabalho.

    A todos os amigos do LaBiM/IQ principalmente Val, Elisa, Mel, Bruno, Joab, Jaque Velha,

    Jaque Nova, Mateus, Fernanda, Ale, Antnio, Thas e Anglica por terem tornado os dias

    difceis mais divertidos e os dias bons melhores ainda. Pessoas maravilhosas que tive a

    oportunidade de conhecer e que fazem do LaBiM um timo ambiente de trabalho.

    secretria Aline pelo carinho e dedicao a todos os alunos do LaBiM.

    Aos professores do LaMMP, Bianca e Rodrigo, por terem me emprestado seu laboratrio para

    realizao de experimentos.

    tia Sonia por me ajudar a resolver todos os problemas com toda eficincia e carinho do

    mundo.

    A todos os meus amigos que sempre estiveram ao meu lado, em especial Su, Marcella,

    Leandro, Thiago e Karen.

    A ANP pela concesso da bolsa de estudos e as professoras Maria Regina e Jussara

    responsveis pelo programa Qumico de Petrleo.

  • vi

    Resumo da Dissertao de Mestrado submetida ao IQ/UFRJ como parte dos requisitos necessrios

    obteno do ttulo de Mestre em Bioqumica.

    Estudo de fatores de virulncia e de estresse oxidativo na produo de biossurfactante do tipo

    ramnolipdeo por Pseudomonas aeruginosa PA1

    Ana Carolina Loureiro Brito Fernandes

    Maio/2010

    Orientadores:Denise Maria Guimares Freire

    Marcos Dias Pereira

    A grande demanda por energia e o aumento no consumo e produo de derivados de petrleo

    leva a um maior risco de acidentes ambientais. A ocorrncia de inmeros acidentes

    ocasionados por derramamento de leo, tem resultado em uma legislao ambiental mais

    rigorosa, e por esse motivo, na procura de tcnicas eficientes no controle e reparo dos danos

    resultantes. A cepa Pseudomonas aeruginosa PA1, isolada de poos de petrleo, produz

    elevadas concentraes de ramnolipdeo, um surfactante biodegradvel com aplicaes em

    diversas reas industrial e ambiental, como na remoo e lavagem de leos em ambientes

    impactados com derramamento de petrleo. Nesse contexto, objetivo deste trabalho foi

    investigar os fatores de virulncia e os de estresse oxidativo na cepa Pseudomonas aeruginosa

    PA1, com vistas reduo da toxicidade do processo fermentativo, em biorreatores com

    oxigenao controlada, para produo de biossurfactante do tipo ramnolipdeo. Visando uma

    futura aplicao do meio de cultivo bruto livre de clulas na biorremediao, vrios

    parmetros cinticos foram investigados em duas condies de oxigenao distintas (6 mg

    O2/L e de 1 mg O2/L ). Para anlise de fatores extracelulares o meio de cultivo bruto livre de

    clulas foi utilizado, e para anlise dos fatores relacionados ao estresse oxidativo, protenas

    foram extradas do pellet celular e analisadas na fase estacionria e exponencial de

    crescimento. A quantidade absoluta de ramnolipdeo produzida no foi significativamente

    afetada pela concentrao de oxignio dissolvido. No entanto a produo de fatores de

    virulncia extracelulares foi maior nas condies de maior concentrao de oxignio

    dissolvido, sendo que os mesmos no foram encontrados nos meios de cultivo centrifugados e

    autoclavados. Em relao ao estresse oxidativo, a presena de oxignio desencadeou reaes

    na P. aeruginosa com produtos com atividades anti-oxidante, tornando assim suas clulas

    resistentes a diferentes condies de oxigenao.

  • vii

    Abstract of Dissertation presented to IQ/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for

    the degree of Master in Biochemistry.

    Virulence factors and oxidative stress in rhamnolipid biosurfactant production by Pseudomonas

    aeruginosa PA1

    Ana Carolina Loureiro Brito Fernandes

    May/2010

    Research Supervisor: Denise Maria Guimares Freire Marcos Dias Pereira

    The high demand for energy and the increasing consumption and production of oil leads to an

    increased risk of environmental accidents. The occurrence of numerous accidents caused by

    oil spills, has resulted in a stricter environmental legislation, and therefore, the search for

    efficient techniques to control and repair the harm caused. The strain of Pseudomonas

    aeruginosa PA1, isolated from oil waste, produces high amounts of rhamnolipid, a

    biodegradable surfactant with applications in several industrial and environmental fields, as

    removal and cleaning of oils from similar environments to oil spill. In this context, the aim of

    this work was to investigate the virulence factors and oxidative stress in rhamnolipid

    biosurfactant production by Pseudomonas aeruginosa PA1 in order to reduce the toxicity of

    fermentation in a bench scale bioreactor with controlled oxygenation, for production of

    biosurfactant rhamnolipid type. Aiming at a future application of crude culture medium free

    of cells in bioremediation, several kinetic parameters were investigated in two different

    oxygenation conditions (6 mg O2/L e de 1 mg O2/L). For analysis of extra cellular factors, the

    crude culture medium free of cells was used and for the analysis of factors related to oxidative

    stress, proteins were extracted from the cell pellet and analyzed in the stationary phase and

    exponential growth. The absolute amount of rhamnolipid produced was not significantly

    affected by the concentration of dissolved oxygen. However the production of extra cellular

    virulence factors were higher under conditions of high dissolved oxygen concentration, and

    they were not found in centrifuged and autoclaved culture media. In relation to oxidative

    stress, the presence of oxygen triggered reactions in P.aeruginosa products with antioxidant

    activity, making their cells resistant to different oxygenation conditions.

  • viii

    Lista de Abreviaes

    3O-C12-HSL - N-(3-oxododecanoil) homoserina lactona

    AHL homoseina lactona

    BSA- soro albumina bovina

    CMC- concentrao micelar crtica

    C4-HSL - N-butiril homoserina lactona

    DNPH -2,4-dinitrofenilhidrazina

    GPS- General Secretion Pathway

    kDa- Quilodalton

    LasI- acil-HSL sintase

    LasR- regulador transcricional

    LPS- lipopolissacardeo

    MEOR microbial enhanced oil recovery

    OD- oxignio dissolvido no meio

    OUR taxa de consumo de oxignio bruto

    SOUR- taxa de consumo especfico de oxignio bruto

    RhlAB- Ramnosiltransferase I

    RhlC- Ramnosiltransferase II

    RhlG- -cetoacil-redutase

    RhlI- acil-HSL- sintase

    RhlR- regulador transcricional

    QS- quorun sensing

    Sec- General secretory pathway

    SOD- Superxido dismutase

    Vf/Vm- relao volume de frasco/ volume de meio

  • ix

    Lista de Quadros, Tabelas e Figuras

    Quadro 1 Alguns acidentes envolvendo derramamento de leo no Brasil e no

    mundo

    1

    Quadro 2 Leis e resolues ambientais 2

    Tabela 1 Principais classes de biossurfactantes e sua origem microbiana 5

    Figura 1 Sistema de quorum sensing em Pseudomonas aeruginosa e sua

    regulao gnica de rhlA e rhlB

    11

    Figura 2 Sistema Sec de secreo 15

    Figura 3 Sistema Tat de secreo 17

    Figura 4 Esquema de transporte do sistema de secreo do tipo II 18

    Figura 5 Esquema de transporte do sistema de secreo do tipo V 19

    Figura 6 Esquema de transporte do sistema de secreo do tipo I, a protena

    secretada passa para o meio externo sendo transportada pela ABC

    transportadora

    22

    Figura 7 Esquema de transporte do sistema de secreo do tipo III 24

    Figura 8 Esquema de transporte do sistema de secreo do tipo VI 26

    Figura 9 Estrutura da piocianina em dois estados: em pH perto do neutro ou

    alcalino o pigmento existe na forma de zwitterion e possui a

    colorao azul, enquanto que em pH cido sua colorao

    vermelha

    27

    Figura 10 Formao de O2.-

    e H2O2 pela reao do NAD(P)H com a

    piocianina e a interao subseqente do H2O2 com GSH. GPx,

    glutationa peroxidase

    28

    Figura 11 Rota biossinttica da piocianina 29

    Figura 12 Estrutura dos ramnolipdeos 32

    Figura 13 Via metablica de biossntese de ramnolipdeo 33

    Tabela 2 Caracterizao de algumas das principais Eros formadas in vivo 35

    Figura 14 Estados do O2 segundo a teoria do orbital molecular 37

    Figura15 Formao das EROs a partir do oxignio 37

    Figura 16 Reao de dismutao catalisada pelas enzimas superxido

    dismutases

    38

    Figura 17 Fotografia do fermentador inserido na capela de exausto,

    acoplado ao sistema de oxigenao utilizando o contactor de

    membranas

    44

    Figura 18 Controlador Lgico Programvel utilizado para implementao de

    uma malha de controle da concentrao de oxignio dissolvido nas

    fermentaes para a produo de ramnolipdeos por Pseudomonas

    aeruginosa PA1

    45

    Figura 19 Fluxograma simplificado do sistema de oxigenao 46

    Tabela 3 Composio de uma soluo de ramnolipdeos produzidos por

    Pseudomonas aeruginosa PA1

    49

    Figura 20 Crescimento celular (g/L) e consumo de oxignio (SOUR)

    (mg/g.h) em funo do tempo da fermentao. Dados da obtidos da

    Ferm3, com condio de oxigenao de 6 mg O2/L

    60

    Figura 21 Perfil do crescimento de biomassa (A), consumo de glicerol (B) e

    produo de ramnolipdeo (C) por Pseudomonas aeruginosa.

    Fermentao em shaker a 30OC e 170 rpm utilizando frasco de 1 L

    e diferentes relaes Vf/Vm

    62

  • x

    Tabela 4 Comparao entre as variveis x (variao na concentrao de

    biomassa), P (concentrao de ramnolipdeos), Yp/x (rendimento

    de produto por biomassa produzida), Yp/s (rendimento de

    produto por substrato consumido), Yx/s (rendimento de

    biomassa por substrato consumido) e Qp (produtividade de

    ramnolipdeos) para as diferentes relaes Vf/Vm (6 dias de

    fermentao)

    63

    Figura 22 Perfil da produo de elastases (A) e proteases (B) por

    Pseudomomas aeruginosa. Fermentao em shaker a 30OC e 170

    rpm utilizando frasco de 1 L e diferentes relaes Vf/Vm

    65

    Figura 23 Oxignio dissolvido no meio (mg/L) ao longo das fermentaes 3

    (6 mg O2/L) e 5 (1 mg O2/L)

    67

    Figura 24 Taxa de consumo de oxignio bruto (OUR) (mg/L.h) ao longo das

    fermentaes 3 (6 mg O2/L) e 5 (1 mg O2/L)

    67

    Figura 25 Taxa especfica de consumo de oxignio (mg/g.h) ao longo das

    fermentaes 3 (6 mg O2/L) e 5 (1 mg O2/L)

    68

    Figura 26 Perfil do crescimento de biomassa (A e B) e consumo de glicerol

    (C e D) e produo de ramnolipdeo (E e F) em biorreator com

    condio de oxigenao de 6 mg O2/L e 1 mg O2/L,

    respectivamente por Pseudomonas aeruginosa. Fermentaes em

    biorreator, a 30C e 100 rpm utilizando frasco de 5 L com volume

    til de 3,2 L

    70

    Tabela 5 Produo de ramnolipdeos por Pseudomonas aeruginosa com a

    variao da concentrao de oxignio dissolvido (biomassa e

    concentrao de produto)

    71

    Tabela 6 Comparao entre as variveis x (variao na concentrao de

    biomassa), P (concentrao de ramnolipdeos), Yp/x (rendimento

    de produto por biomassa produzida), Yp/s (rendimento de

    produto por substrato consumido), Yx/s (rendimento de

    biomassa por substrato consumido) e Qp (produtividade de

    ramnolipdeos) para as diferentes condies de oxigenao (6 dias

    de fermentao)

    72

    Figura 27 Perfil da produo de elastases (A e B) e proteases (C e D) em

    biorreator com condio de oxigenao de 6 mg O2/L e 1 mg O2/L,

    respectivamente por Pseudomonas aeruginosa. Fermentaes em

    biorreator, a 30C e 100 rpm utilizando frasco de 5 L com volume

    til de 3,2 L

    73

    Figura 28 Teste de hemlise realizado com ramnolipdeo purificado 75

    Figura 29 Inculos de com 72h de crescimento, crescido em meio de cultura

    para maximizar a produo de biossurfactante, e para maximizar a

    produo de piocianina, respectivamente

    77

    Tabela 7 Valores de razo de absorbncia e concentrao do DNA 79

    Figura 30 Gel de agarose 1%. 1,2,3- amostras autoclavadas, 4,5,6-amostras

    centrifugadas, 7,8,9- amostras centrifugadas e autoclavadas,

    10,11,12- amostras filtradas em membrana de 0,22m, 13,14-

    padro de peso molecular 1Kb DNA Ladder, 15,16,17- amostras

    centrifugadas e filtradas em membrana de 5kda

    80

    Figura 31 Gel de agarose 1%. 14 - padro de peso molecular 1Kb DNA

    Ladder, 15,16,17- amostras centrifugadas e filtradas em membrana

    de 5kda

    80

  • xi

    Figura 32 Gel nativo de poliacrilamida marcado pela atividade Sod para as

    fermentaes controle sem H2O2

    82

    Figura 33 Gel nativo de poliacrilamida marcado pela atividade Sod para as

    fermentaes com oxigenao de 6 mg O2/L ( F1, F2 e F3) nas

    fases exponencial e estacionria de crescimento em biorreator

    83

    Figura 34 Gel nativo de poliacrilamida marcado pela atividade Sod para as

    fermentaes de oxigenao de 1 mg O2/L (F4, F5 e F6) nas fases

    exponencial e estacionria de crescimento em biorreator

    85

    Figura 35 Anlise da carbonilao de protenas em frascos agitados aps

    adio de H2O2(10 mM) por 1h nos controles de 10h e 36h

    86

    Figura 36 Anlise da carbonilao de protenas em biorreator nas fases

    exponencial e estacionria de crescimento nas condies de

    oxigenao de 6 mg O2/L (F2 e F3) e 1 mg O2/L (F5 e F6)

    87

  • xii

    ndice

    Agradecimentos v Resumo vi

    Lista de Quadros, Tabelas e Figuras ix

    ndice xii

    1 Introduo 1 2 Objetivos 8 2.1 Objetivo Geral 8

    2.2 Objetivos Especficos 8

    3 Reviso Bibliogrfica 9 3.1 Pseudomonas aeruginosa 9

    3.2 Sistema de Quorun sensing 9

    3.3 Virulncia 11

    3.4 Fatores de virulncia de superfcie 12

    3.4.1 Flagelos 12

    3.4.2 Pili 12

    3.4.3 Lipopolissacardeo 13

    3.4.4 Alginato 13

    3.5 Sistema de secreo de protenas 13

    3.5.1 O sistema Sec 14

    3.5.2 O sistema Tat 15

    3.5.3 Sistemas Sec-dependentes 17

    3.5.3.1 Sistema de secreo do tipo II 17

    3.5.3.2 Sistema de secreo do tipo V 18

    3.5.4 Sistemas Sec-independentes 21

    3.5.4.1 Sistema de secreo do tipo I 21

    3.5.4.2 Sistema de secreo do tipo III 22

    3.5.4.3 Sistema de secreo do tipo VI 24

    3.6 Fatores de virulncia secretados 26

    3.6.1 Piocianina 26

    3.6.2 Proteases 30

    3.6.3 Lpases 30

    3.6.4 Hemlise 31

    3.6.5 Ramnolipdeo 31

    3.6.6 DNA extracelular 34

    3.7 Estresse oxidativo 34

    3.7.1 Espcies reativas de oxignio (Eros) 35

    3.7.2 Superxido Dismutase (Sod) 38

    3.7.3 Oxidao de protenas 39

    4 Materiais e Mtodos 41 4.1 Microrganismo e condies de cultivo 41

    4.2 Preparo do inoculo 42

    4.3 Esterilizao 42

    4.4 Frascos agitados 42

    4.5 Biorreator 43

    4.5.1 Controle da concentrao de oxignio no biorreator 44

    4.6 Biomassa 47

    4.7 Quantificao de glicerol 47

    4.8 Quantificao de ramnolipdeos 48

  • xiii

    4.9 Quantificao de proteases 49

    4.10 Quantificao de elastases 50

    4.11 Quantificao de lipases 51

    4.12 Quantificao de protenas totais 51

    4.13 Purificao do ramnolipdeo 52

    4.14 Quantificao de hemlise 52

    4.15 Precipitao do alginato 54

    4.16 Quantificao de piocianina 54

    4.17 Precipitao de DNA 55

    4.18 Verificao de extrao de DNA em gel de agarose 55

    4.19 Deteco de DNA por mtodo espectrofotomtrico 56

    4.20 Condies de estresse oxidativo 56

    4.21 Extrao de protenas 57

    4.21.1 Determinao da atividade de superxido dismutase (Sod) 57

    4.21.2 Protena carbonilada 58

    4.3 Anlise estatstica dos resultados 59

    5 Resultados e Discusso 60

    5.1 Cintica da produo de ramnolipdeos em frascos agitados 61

    5.2 Perfil da produo de elastases e proteases em frascos agitados 64

    5.3 Cintica da produo de ramnolipdeos em biorreator acoplado a

    contactores de membrana

    66

    5.4 Perfil da produo de elastases e proteases em biorreator 72

    5.5 Lipases 74

    5.6 Hemlise 75

    5.7 Alginato 76

    5.8 Piocianina 77

    5.9 DNA 78

    5.10 Secreo de protenas relacionadas ao estresse oxidativo 81

    5.10.1 Sod 81

    5.10.2 Protena Carbonilada 85

    6 Concluso 88

    7 Publicaes 91

    8 Referncias 92

  • 1

    1. Introduo

    O petrleo um recurso natural de grande importncia nas nossas vidas. A grande

    demanda por energia e o aumento no consumo e produo de derivados de petrleo leva a um

    maior risco de acidentes ambientais. Por ser extrado em locais distantes do seu consumo,

    normal que este seja transportado em grandes quantidades. Considerando que as operaes de

    transporte e armazenamento envolvem a movimentao constante de petrleo e seus

    derivados, a ocorrncia de inmeros acidentes ambientais ocasionados por derramamento de

    leo conforme ilustrado no quadro 1, tem resultado em uma legislao ambiental mais

    rigorosa como demonstrada no quadro 2, e por esse motivo, na procura de tcnicas eficientes

    no controle e reparo dos danos resultantes.

    2000 - Baa de Guanabara/RJ, derramamento de 1,3 milhes de litros de leo;

    2001 - Derramamento causado pelo naufrgio do navio tanque Windy Bay,

    transportando 35 mil gales de leo diesel, no Alaska;

    2001 - Acidente na plataforma P-7 na Bacia de Campos ocasionou vazamento de 110

    mil litros de leo;

    2002 - O navio Prestige de bandeira das Bahamas, partiu-se ao meio. O navio

    carregava 77 mil toneladas de leo, e foi avariado a 250 km da costa espanhola;

    2003 - Acidente com balsa derrama 20 mil litros de leo diesel no Rio Par;

    2006 - Um navio carregado com 70 toneladas afunda no Paquisto;

    2007 - Uma forte tempestade castigou o Mar Negro, partindo em dois o navio russo

    "Volganeft-139", que verteu no mar, no Estreito de Kertch, as 2.000 toneladas de leo;

    2007 - Derramamento de 10,5 mil toneladas de petrleo aps o acidente entre um

    cargueiro e um navio petrolfero na Coria do Sul;

    2010 Uma exploso seguida de um incndio causaram o afundamento da plataforma

    Deepwater Horizon, com vazamento de mais de 72 milhes de litros de petrleo no Golfo do

    Mxico.

    Quadro 1 : Alguns acidentes envolvendo derramamento de leo no Brasil e no mundo

    (Modificado de REIS, 2008).

  • 2

    Resoluo Conama n 398/2008- "Dispe sobre o contedo mnimo do plano de

    emergncia individual para incidentes de poluio por leo em guas sob jurisdio nacional,

    originados em portos organizados, instalaes porturias, terminais, dutos, sondas terrestres,

    plataformas e suas instalaes de apoio, refinarias, estaleiros, marinas, clubes nuticos e

    instalaes similares, e orienta a sua elaborao.";

    Resoluo Conama n 393/2007- "Dispe sobre o descarte contnuo de gua de

    processo ou de produo em plataformas martimas de petrleo e gs natural, e d outras

    providncias";

    Resoluo Conama n 269/2000- "Regulamenta o uso de dispersantes qumicos em

    derrames de leo no mar";

    Lei n 9.966, de 28 de abril de 2000- dispe sobre a preveno, o controle e a

    fiscalizao da poluio causada por lanamento de leo e outras substncias nocivas ou

    perigosas em guas sob jurisdio nacional (sendo o valor da multa por descumprimento

    desta no mnimo de R$ 7.000,00 no mximo R$ 50.000.000,00);

    Conveno internacional sobre o preparo, resposta e cooperao em caso de poluio

    por leo, promulgada pelo Brasil por meio do decreto n 2.870, de 10 de dezembro de 1998,

    define como um dos seus compromissos o estabelecimento de um sistema nacional para

    responder aos incidentes de poluio por leo, incluindo a preparao do plano nacional de

    contingncia.

    Quadro 2: Leis e resolues ambientais. Disponvel em:

    www.mma.gov.br/port/conama/legi.cfm

    A remediao, ou seja, restaurao das condies ambientais a nveis aceitveis, uma

    das maiores preocupaes e um dos maiores desafios da comunidade tcnico-cientfica na

    rea petroqumica. A degradao completa de petrleo cru requer a ao simultnea de

    diferentes grupos microbianos (RAHMAN et al., 2002). O principal fator que limita a

    biodegradao destes poluentes a sua limitada disponibilidade aos microorganismos.

    Hidrocarbonetos geralmente se agregam a componentes do solo, sendo de difcil remoo ou

    degradao. Compostos tensoativos reduzem as tenses superficial e interfacial atravs de seu

    acmulo na interface de fluidos imiscveis ou de um fluido e um slido, aumentando a rea de

    http://www.mma.gov.br/port/conama/legi.cfm

  • 3

    compostos insolveis, levando ao aumento de sua disponibilidade e subseqente

    biodegradao. Estes compostos podem ser produzidos por via qumica ou bioqumica e so

    denominados surfactantes, RAHMAN et al. (2003)

    Em funo da presena de grupos hidroflicos e hidrofbicos na mesma molcula, os

    surfactantes tendem a se distribuir nas interfaces entre fases fluidas com diferentes graus de

    polaridade (leo/gua e gua/leo) (BANAT, 1995). A formao de um filme molecular,

    ordenado nas interfaces, reduz a tenso interfacial e superficial, sendo responsvel pelas

    propriedades nicas dos surfactantes. Estas propriedades fazem os surfactantes serem

    adequados para uma ampla gama de aplicaes industriais envolvendo: detergncia,

    emulsificao, lubrificao, capacidade espumante, capacidade molhante, solubilizao e

    disperso de fases. A maior utilizao dos surfactantes se concentra na indstria de produtos

    de limpeza (sabes e detergentes), na indstria de petrleo e na indstria de cosmticos e

    produtos de higiene. A produo mundial de surfactantes excede 3 milhes de toneladas por

    ano2, sendo a maioria utilizada como matria-prima para fabricao de detergentes de uso

    domstico (NITSCHKLE e PASTORE, 2002; SINGH et al., 2007).

    Surfactantes qumicos sintticos vem sendo utilizados pela indstria de petrleo para

    auxiliar na limpeza de derrames de leo, bem como para aumentar a recuperao de leo em

    reservatrios. Estes compostos no so biodegradveis e podem ser txicos ao meio ambiente,

    trazendo novos problemas de carter ambiental as reas afetadas (BORDOLOI e KONWAR,

    2008).

    Recentemente, devido ao aumento na preocupao com a proteo do ambiente, os

    biossurfactantes passaram a ser considerados como alternativas ambientalmente corretas

    comparativamente aos surfactantes sintticos (SARACHAT, 2010). Ademais,

    regulamentaes ambientais mais severas e uma maior sensibilizao para a necessidade de

    proteger o ecossistema resultaram em um interesse crescente nos biossurfactantes como

  • 4

    possveis alternativas aos surfactantes qumicos. Biossurfactantes so compostos anfiflicos de

    origem microbiana com potencial considervel em aplicaes comerciais de diversos setores.

    Eles tm vantagens sobre os surfactantes qumicos na biodegradabilidade, possuem baixa

    toxicidade e so eficazes a temperaturas e pH extremos (BANAT et al. 2000). Em muitos

    casos os biossurfactantes tm propriedades de emulsificao equivalentes aos surfactantes

    qumicos. Assim, h um crescente interesse na possvel utilizao de biossurfactantes na

    mobilizao de petrleo bruto pesado, transporte de petrleo em oleodutos, gesto

    derramamentos de leo, controle de poluio de leo, limpeza de resduos de hidrocarbonetos

    provenientes de instalaes de armazenamento, biorremediao de solo/areia e recuperao

    microbiana melhorada de petrleo (MEOR microbial enhanced oil recovery) (BORDOLOI

    e KONWAR, 2008).

    Estes compostos possuem um domnio hidroflico e outro hidrofbico. A poro

    hidrofbica da molcula baseia-se em cidos graxos de cadeia longa saturados, insaturados ou

    hidroxilados. A poro hidroflica pode ser de carboidratos, aminocidos, peptdeos cclicos,

    fosfato, cido carboxlico ou lcool (MULLIGAN, 2004). Uma ampla variedade de

    microorganismos pode produzir estes compostos como pode ser observado na tabela 1

    (NITSCHKLE e PASTORE, 2002).

    H trs principais estratgias adotadas para a utilizao de biossurfactantes na

    recuperao aprimorada de petrleo ou mobilizao de leos pesados: (i) injeo de

    microrganismos produtores de biossurfactante no reservatrio atravs do poo, com posterior

    multiplicao dos microrganismos in situ nas rochas reservatrios; (ii) injeo de nutrientes

    selecionados em um reservatrio, estimulando o crescimento de microrganismos endgenos

    produtores de biossurfactantes; (iii) produo de biossurfactantes ex situ e sua posterior

    injeo no reservatrio (BANAT, 1995).

  • 5

    TABELA1: Principais classes de biossurfactantes e sua origem microbiana

    Tipo de surfactante Microorganismo

    Glicolipdios:

    - ramnolipdeos

    - soforolipdios

    - trehalolipdios

    Pseudomonas aeruginosa

    Torulopsis bombicola, T. apicola

    Rhodococcus erythropolis, Mycobacterium

    sp.

    Lipopeptdios e lipoprotenas

    - Peptdio-lipdio

    - Viscosina

    - Serrawetina

    - Surfactina

    - Subtilisina

    - Gramicidina

    - Polimixina

    Bacillus licheniformis

    Pseudomonas fluorescens

    Serratia marcescens

    Bacillus subtilis

    Bacillus subtilis

    Bacillus brevis

    Bacillus polymyxa

    cidos graxos, lipdios neutros

    e fosfolipdios

    - cidos graxos

    - Lipdios neutros

    - Fosfolipdios

    Corynebacterium lepus

    Nocardia erythropolis

    Thiobacillus thiooxidans

    Surfactantes polimricos

    - emulsan

    - biodispersan

    - liposan

    - carboidrato-lipdio-protena

    - manana-lipdio-protena

    Acinetobacter calcoaceticus

    Acinetobacter calcoaceticus

    Candida lipolytica

    Pseudomonas fluorescens

    Candida tropicalis

    Surfactantes particulados

    - vesculas

    - clulas

    Acinetobacter calcoaceticus

    Vrias bactrias

  • 6

    O custo de produo de biossurfactantes aproximadamente de 3 a 10 vezes maior do

    que o de surfactantes qumicos restringindo bastante sua utilizao em larga escala. A sua

    biossntese, concentrao e purificao compreendem cerca de 60% do custo do produto,

    devido ao fato do mesmo ser secretado em uma soluo diluda (SARACHAT, 2010). Muitas

    vezes os biossurfactantes so produzidos durante o crescimento dos microorganismos em

    hidrocarbonetos e/ou fontes de carbono de elevado custo, aumentando assim o custo total do

    processo. Contudo, a utilizao de substratos mais baratos como resduos (soap stock,

    glicerina bruta) e/ou substratos solveis em gua (glicose, glicerol e etanol) so alternativas

    interessantes (KRONEMBERGER, 2007; KRONEMBERGER et al., 2008).

    Nos ltimos dez anos o Laboratrio de Biotecnologia Microbiana (LaBiM) vem

    desenvolvendo, em cooperao com a Petrobras, diversos projetos com o objetivo aumentar a

    produo de biossurfactante do tipo ramnolipdeo utilizando uma cepa de Pseudomonas

    aeruginosa isolada de poos de petrleo. Foram desenvolvidas estratgias metablicas de

    aumento da produo de ramnolipdeo em detrimento da produo de outros fatores de

    virulncia (SANTOS et al., 2002), estratgias de modo de conduo do processo fermentativo

    como utilizao de resduos industrias, como o glicerol (rejeito da produo de biodiesel)

    como fonte carbono (SANTA ANNA et al., 2001, 2002), e desenho de novos reatores

    utilizando contactores de membranas capazes de suplantar o crtico problema operacional de

    formao de espuma (KRONEMBERGER et al., 2008). Ademais, esta biomolcula

    apresentou excelentes resultados quando aplicada na biorremediao e lavagem de solos

    contaminados com derramamento de leo (SANTA ANNA et al., 2007).

    Sabra et al. (2002) props que P. aeruginosa produz ramnolipdeos para reduzir a taxa

    de transferncia de oxignio contra o estresse oxidativo, e parece que este mecanismo

    ativado pela deficincia de ferro (KIM et al., 2003). Segundo Kronemberger (2007), uma

    hiperoxigenao resulta em uma queda de biomassa e este fato pode estar relacionado a algum

  • 7

    tipo de estresse oxidativo. Deste modo investigao dos fatores de estresse oxidativo e sua

    relao com a produo do biosurfactante poderia ser uma estratgia interessante para a

    otimizao do meio de cultivo. Por outro lado, a investigao dos fatores de virulncia

    secretados no meio de cultivo tambm uma estratgia a ser considerada, uma vez que, para

    diminuio do custo de produo do biossurfactante, a aplicao do meio bruto sem prvia

    purificao pode ser uma alternativa interessante.

    Neste contexto, o presente trabalho visa investigar os fatores de virulncia e os fatores

    de estresse oxidativo na produo de ramnolipdeos, em biorreator acoplado a um contactor

    de membranas, que permite o controle da concentrao de oxignio dissolvido no meio de

    cultura, com vistas reduo da toxicidade do meio de cultivo bruto, para futura aplicao do

    meio de cultivo bruto livre de clulas na remediao e/ou biorremediao de solos

    contaminados por petrleo.

  • 8

    2. Objetivos

    2.1 Objetivo Geral

    .

    O objetivo deste trabalho foi investigar os fatores de virulncia secretados e os de

    estresse oxidativo na cepa Pseudomonas aeruginosa PA1, com vistas reduo da toxicidade

    do processo fermentativo, em biorreatores com oxigenao controlada, para produo de

    biossurfactantes do tipo ramnolipdeo.

    2.2 Objetivos Especficos

    Padronizar os protocolos de anlise de fatores de virulncia secretados e relacionados

    ao estresse oxidativo como ramnolipdeo, proteases, elastases, lipases, alginato, piocianina e

    superxido dismutase, por Pseudomonas aeruginosa em diferentes concentraes de

    oxigenao.

    Avaliar o meio bruto contendo biosurfactante em relao aos fatores de virulncia.

  • 9

    3. Reviso Bibliogrfica

    3.1 Pseudomonas aeruginosa

    Pseudomonas aeruginosa uma bactria gram-negativa, pertencente classe gama-

    proteobactria e famlia Pseudomonadaceae, encapsulada e mvel (HARDALO e EDBERG,

    1997). um patgeno oportunista, podendo ser encontrada em amostras de solo, gua e

    plantas (RAHME et al, 1997). capaz de provocar infeces locais em pacientes com fibrose

    cstica, cncer, pneumonia, queimaduras e imunodeficientes (HAHN, 1997; WILSON,

    DOWLING, 2006). As infeces causadas por P. aeruginosa so muito difceis de serem

    tratadas porque bactrias gram-negativas formam biofilmes e apresentam alta resistncia a

    antibiticos (NIKAIDO, 1998). Sua patogenicidade est associada a um nico grande genoma

    que contm genes para muitos fatores de virulncia e mecanismos regulatrios que permitem

    sua adaptao a ambientes hostis (KIPNIS et al. 2006).

    3.2 Sistema de Quorun sensing

    A adaptao da bactria a um novo ambiente e sua capacidade de perceber e reagir a

    este ambiente so essenciais para sua patogenia. Estas so afetadas por muitas condies

    ambientais, tais como pH, osmolaridade, disponibilidade de nutrientes e densidade

    populacional. Quando as bactrias detectam uma alterao no ambiente elas alteram a

    produo de vrios fatores que lhes permitem prosperar nesses novos ambientes. Sistema de

    Quorun sensing (QS) o mecanismo que permite que as bactrias modifiquem seu

    metabolismo de acordo com a densidade da populao bacteriana ao redor e coordenadamente

    responder a essas informaes pela co-regulao de vrios genes (SMITH e IGLEWSKI,

  • 10

    2003). QS um sistema de regulao gentica presente em diversas bactrias, onde

    responsvel por regular virulncia, produo de metablitos secundrios, simbiose, formao

    de biofilme, bem como induo de respostas da fase estacionria e mobilidade. A sinalizao

    celular no s ocorre em altas densidades celulares, pois o termo est agora sendo aplicado

    para descrever qualquer comunicao intercelular bacteriana que envolva pequenas molculas

    sinalizadoras (WINTERS et al., 2001).

    P. aeruginosa possui dois sistemas distintos que interagem, las e rhl, caracterizando o

    QS. Estes sistemas so hierarquicamente arranjados, sendo que o sistema las controla o

    sistema rhl conforme demonstrado na Figura 1 (LATIFI et al., 1996). Com o aumento da

    populao bacteriana, as molculas sinais autoindutoras produzidas pela Pseudomonas

    aeruginosa, N-(3-oxododecanoil) homoserina lactona (3O-C12-HSL) e N-butiril homoserina

    lactona (C4-HSL), se acumulam, e assim que um limiar de concentrao intracelular obtido

    essas molculas se ligam a seus reguladores transcricionais e os ativam. Ambos os sistemas

    las e rhl foram encontrados como reguladores na produo de mltiplos fatores de virulncia

    (SMITH e IGLEWSKI, 2003).

    Em adio a lasA, lasB e rhlAB, genes da protease alcalina (aprA), exotoxina A

    (toxA), piocianina, pioverdina, cido ciandrico, lipase, rpoS, alginato, secreo de protenas,

    catalases, ramnolipdeo, lectinas, homoserina lactonas aciladas e superxido desmutase (katA,

    sodA e sodB), todos so controlados por quorun sensing (SMITH, IGLEWSKI, 2003;

    RUMBAUGH, GRISWOLD, HAMOOD, 2000). No sistema las, a enzima LasI produz a

    molcula sinal 3O-C12-HSL, que complexa com LasR para ativar um nmero de genes

    virulentos, incluindo lasB, lasA, apr, toxA e o prprio lasI. A enzima RhlI catalisa a sntese da

    molcula sinal C4-HSL, que em conjunto com RhlR ativa a expresso do rhlAB , gene da

    sntese do ramnolipdeo, rhlI e lasB. Outros fatores de virulncia e metablitos secundrios,

  • 11

    incluindo piocianina, cido ciandrico so positivamente regulados pelo sistema

    rhl.(WHITELEY et al. 1999).

    Figura 1- Sistema de quorum sensing em Pseudomonas aeruginosa e sua regulao gnica de

    rhlA e rhlB. Os tringulos correspondem ao autoindutor 3OC12-HSL, e os losangos

    correspondem ao autoindutor C4-HSL, que, ao atingirem um limiar de concentrao

    intracelular, se ligam aos seus reguladores transcricionais, LasR e RhlR respectivamente, e os

    ativam. As regies em azul correspondem aos promotores dos respectivos genes e as setas

    direcionadas a essas regies indicam a ativao gnica (REIS, 2008).

    3.3 Virulncia

    Segundo Ryan e colaboradores (2004) muitas propriedades so necessrias para que

    uma clula bacteriana obtenha acesso a um hospedeiro, invada seu sistema imunolgico e

    estabelea uma infeco. Elas incluem:

    Adeso e penetrao as superfcies da clula hospedeira

  • 12

    Evaso fagocitose e ataque ao sistema imunolgico

    Secreo de protenas txicas para enfraquecimento do hospedeiro e promover a ao

    do agente patognico

    Aquisio de nutrientes, incluindo ferro, para permitir seu crescimento dentro do

    hospedeiro.

    Sobrevivncia tanto dentro como fora do hospedeiro.

    3.4 Fatores de virulncia de superfcie

    3.4.1 Flagelos

    So estruturas proticas complexas formando um apndice filamentoso polar na

    superfcie da P. aeruginosa que permitem o movimento chamado de swimming. Tem um

    papel patognico importante na aderncia clulas epiteliais, ligando-se a membrana

    (FELDMAN et al., 1998).

    3.4.2 Pili

    So filamentos pequenos, encontrados na superfcie da bactria. O pili da

    Pseudomonas aeruginosa est envolvido em sua motilidade. O movimento chamado

    twiching responsvel pelas propriedades retrteis permitindo que a bactria se espalhe ao

    longo de superfcies hidratadas, ao invs de usar o movimento swim. O pili crucial na fase

    de adeso na colonizao de clulas epiteliais (KIPNIS et al., 2006).

  • 13

    3.4.3 Lipopolissacardeo

    A face externa da membrana externa composta por lipopolissacardeo (LPS), que

    extremamente txica a humanos e outros animais, e chamada de endotoxina. Mesmo em

    quantidades mnimas, o montante liberado durante uma infeco por bactrias gram-negativas

    pode causar febre. LPS composta por lipdeo A (um fosfolipdio txico composto por

    glicosamina), o core polissacardeo (que contm resduos de carboidratos) e a cadeia lateral de

    polissacardeo, chamada de antgeno O. Molculas hidrofbicas como os antibiticos podem

    ser bloqueados pelo antgeno O. Como o flagelo e o pili, LPS tambm se adere membrana

    (RYAN e RAY, 2004; KIPNIS et al., 2006).

    3.4.4 Alginato

    um polissacardeo extracelular composto de polmeros repetidos de cido

    manurnico e glucurnico. Protege a bactria de antibiticos, da fagocitose e aumenta a

    resistncia da bactria ao sistema imune do hospedeiro. Participa no processo de formao do

    biofilme (GACESA, 1998; KIPNIS et al., 2006). A formao de alginato representa um

    importante mecanismo contra o estresse oxidativo. (SABRA et al., 2002).

    3.5 Sistema de secreo de protenas

    A secreo de toxinas e outras protenas contribui bastante para a virulncia da

    bactria, Esta secreo ocorre por diversas vias e algumas utilizam componentes de GSP

    (mecanismo geral de secreo, do ingls General Secretion Pathway). Nas espcies gram-

    negativas, a secreo deve deslocar a protena atravs de duas membranas: a membrana

  • 14

    citoplasmtica e a membrana externa. Foram descobertas cinco vias em diferentes patgenos

    gram-negativos que exportam protenas para o ambiente (RYAN e RAY, 2004).

    Pseudomonas aeruginosa possui um grande arsenal de fatores de virulncia que para serem

    secretados dependem de sistemas especializados de exportao, incluindo os sistemas de

    secreo do tipo I, II, III, V e o tipo VI, que foi recentemente descoberto (ENGEL e

    BALACHANDRAN, 2009). Os sistemas II e V utilizam o sistema de secreo Sec ou Tat

    conforme descrito a seguir (SAIER, 2006).

    3.5.1 O sistema Sec

    O sistema Sec (general secretory pathway), ou via secretora geral, exporta as protenas

    atravs da membrana citoplasmtica. Nas bactrias este sistema inclui vrias protenas

    conservadas entre diversas espcies (SecY, SecE, SecG, YidC, FtsY e Ffh) e protenas

    adicionais encontradas apenas em alguns organismos (SecA, SecB, SecD, SecF e YajC). A

    transferncia atravs da membrana interna envolve o reconhecimento da pr-protena, que

    ainda no est na conformao final, pela SecB (que uma protena chaperona ATP-

    independente) e uma posterior associao com a protena SecA (que uma ATPase) que

    impulsiona a exportao da cadeia do polipeptdeo substrato atravs do canal condutor

    SecYEG (formado pelas protenas SecY, SecE e SecG), formando o que chamamos de

    translocase. A protena passa para o espao periplasmtico atravs da translocase (MA et al,

    2003).

    Conforme ilustrado na Figura 2, a exportao da protena pelo sistema Sec ocorre em

    3 fases: na fase 1 a protena pr-secretada (linha laranja) com peptdeo sinal amino terminal

    (retngulo laranja) se liga a translocase pelo signal recognition particle, (SRP: azul) ou pela

    chaperona SecB (lils) e enviada para a translocase SecYEG ou para SecYEG complexada

  • 15

    com a SecA (caso a pr-protena tenha seqncias hidroflicas). FtsY (lils) e SecA atuam

    como receptores para a SRP e SecB, respectivamente. Na fase 2 a pr-protena translocada

    pelo canal SecYEG ,integra-se bicamada lipdica e perde o peptdeo sinal pela peptidase

    seguindo para fase 3 onde translocada para o espao periplasmtico (PAPANIKOU et al.,

    2007).

    Figura 2: Sistema Sec de secreo. A exportao da protena ocorre em 3 fases; na fase 1, a

    protena pr-secretada (laranja) com peptdeo sinal amino-terminal (retngulo laranja) se liga

    translocase pelo sinal de reconhecimento (SRP) ou pela chaperona SecB (lils), sendo

    enviada translocase SecYEG ou translocase SecYEG complexada com a SecA. As

    protenas FtsS e SecA atuam como receptoras do SRP e da SecB. Na fase 2, a pr-protena

    est sendo translocada pelo canal SecYEG e se integra a bicamada lipdica, perdendo o

    peptdeo sinal e na fase 3 ela segue para o espao periplasmtico (PAPANIKOU et al.,2007)

    3.5.2 O sistema Tat

    A via Tat (twin-arginine translocator) opera em paralelo ao sistema Sec na exportao

    de protenas periplasmticas. Em uma bactria, a via Tat distinta do sistema Sec em termos

    da sua notvel capacidade de transporte de enzimas enoveladas, utilizando apenas gradiente

    de prtons como fonte de energia. O sistema Tat se encontra na membrana citoplasmtica da

  • 16

    maioria das bactrias e consiste em trs protenas integrais de membrana: TatA, TatB e TatC

    (CLINE e MCCAFFERY, 2007). O peptdeo sinal das protenas Tat-dependentes se

    assemelham ao peptdeo sinal das protenas Sec-dependentes considerando suas estruturas

    globais, mas possuem um motivo de argininas geminadas na regio positivamente carregada.

    A maioria das protenas Tat-dependentes conhecidas possuem fatores redox, e so

    componentes de vrias cadeias respiratrias que ajudam no crescimento anaerbico da

    bactria. Em Pseudomonas aeruginosa, o sistema Tat usado na secreo de pelo menos duas

    fosfolipases C (VOULHOUX et al., 2001; BUCK, et al., 2008).

    Um esquema do sistema Tat de secreo pode ser visto na Figura 3: (a) quando no

    existem substratos presentes protena TatA (verde) e o complexo TatBC (amarelo e

    vermelho) esto presentes, mas separados na membrana interna (IM), (b) o ciclo Tat-

    transporte comea quando o motivo de argininas geminadas do peptdeo sinal do substrato Tat

    reconhecido pelas TatB e TatC, (c) o complexo TatA se associa ao complexo substrato

    TatBC, sendo dependente de uma fora motriz de prtons, (d) o substrato translocado do

    citoplasma (CP) para o periplasma (PP) pelo canal formado pela protena TatA, (e) os dois

    complexos se dissociam novamente (BUCK et al., 2008).

  • 17

    Figura 3: Sistema Tat de secreo. (BUCK et al., 2008).

    3.5.3 Sistemas Sec-dependentes

    3.5.3.1 Sistema de secreo tipo II

    O sistema de secreo do tipo II um sistema Sec-dependente e ocorre em duas

    etapas. A primeira etapa corresponde na passagem da protena para fora da membrana interna

    pela vias Sec ou Tat, enquanto que a segunda etapa consiste em um perodo extremamente

    curto, onde a protena transportada do periplasma para fora da membrana externa como

    ilustrado na Figura 4 (CIANCIOTTO, 2005). Na primeira etapa, a protena a ser secretada

    produzida com um peptdeo sinal N-terminal, o que permite a sua translocao Sec-

    dependente atravs da membrana citoplasmtica. Isto seguido pela remoo do peptdeo

    sinal, enovelamento e liberao das protenas maduras no espao periplasmtico. Neste

    compartimento, pode sofrer modificaes como formao de ligao dissulfeto, antes de

  • 18

    serem translocadas atravs da membrana externa pela mquina Xcp ou secreton. Este aparato

    composto de 12 a 16 protenas extremamente especfico, podendo distinguir as protenas a

    serem excretadas das protenas periplasmticas residentes (SANDKVIST, 2001; DESVAUX

    et al., 2004).

    Figura 4: Esquema de transporte do sistema de secreo do tipo II (RYAN e RAY, 2004).

    Dentre as protenas secretadas por este sistema esto a elastase, a lipase, a fosfolipase C e a

    Exotoxina A (KIPNIS et al., 2006).

    3.5.3.2 Sistema de secreo tipo V

    O sistema de secreo do tipo V ocorre em duas etapas e Sec dependente, sendo

    considerado o sistema mais simples de secreo (RYAN e RAY, 2004). Neste sistema esto

    includas as famlias de protenas que so secretadas pelo sistema de autotransporte (tipo Va

    ou AT-1), o sistema de secreo de dois componentes (tipo Vb) e o sistema tipo Vc. As

    protenas secretadas por essas vias apresentam semelhanas em suas estruturas primrias. Na

    Figura 5 possvel ver um esquema do sistema de secreo do tipo V.

  • 19

    Figura 5: Esquema de transporte do sistema de secreo do tipo V. No sistema de secreo do

    tipo Va, as protenas so chamadas de autotransportadoras por no necessitarem de

    acoplamentos de energia, nem de protenas acessrio. Aps a passagem para o periplasma

    pelo sistema Sec, o domnio localizado na extremidade C-terminal adota uma estrutura em

    forma de barril, facilitando a passagem da molcula efetora pela membrana externa. No

    sistema do tipo Vb o peptdeo sinal orienta a passagem atravs da membrana interna. Aps

    passar para o periplasma, o domnio de passagem se insere na membrana externa, formando a

    estrutura -barril. Uma vez na superfcie, o domnio de passagem pode sofrer um processo

    proteoltico para atingir sua funo fisiolgica. O sistema do tipo Vc um sistema alternativo

    ao tipo Va, onde ocorre a formao de vrios barris (HENDERSON et al., 2004).

    a) Tipo Va

    As protenas secretadas por este sistema so chamadas de autotransportadoras por no

    necessitar de acoplamentos de energia nem de protenas acessrio para sua translocao.

  • 20

    Possuem os seguintes domnios: a sequncia sinal (ou peptdeo sinal), o domnio de passagem

    (ou domnio ) e a unidade de translocao que dividida em duas regies: uma regio curta

    de ligao -helicoidal e um domnio . A sequncia sinal est presente na extremidade N-

    terminal da protena e permite a sua ligao com a membrana interna para sua posterior

    passagem para o periplasma. O domnio , localizado na extremidade C-terminal adota uma

    estrutura em forma de barril quando embebido na membrana externa, facilitando a

    translocao do domnio de passagem a pela membrana externa. O domnio de passagem

    corresponde molcula efetora, uma vez que executa a funo extracelular da protena. Os

    domnios de passagem so muito diferentes em sequncia e funo, mas tem sido

    relacionados virulncia bacteriana. Eles podem apresentar atividade enzimtica (proteases,

    peptidases, esterases e lipases), mediar a motilidade bacteriana, ou agir como adesinas,

    toxinas, citotoxinas ou ainda permitir a maturao de uma outra protena de virulncia.

    (DESVAUX et al, 2004; HENDERSON et al, 2004).

    b) Tipo Vb

    No sistema de secreo de dois componentes ou TPS (Two-partner secretion), como

    no sistema Va, o domnio de passagem possui uma sequncia sinal que orienta a translocao

    atravs da membrana interna. Aps a exportao para o periplasma, o domnio de passagem

    se insere no poro da membrana externa formado pela estrutura -barril. Uma vez na superfcie

    da bactria, o domnio de passagem pode sofrer um processo proteoltico para atingir sua

    funo fisiolgica. Contudo, em contraste com a via autotransportadora, onde a protena

    produzida como um polipeptdeo nico, o domnio de passagem (tambm chamado de

    exoprotena) e o domnio que forma os poros so chamados respectivamente de TpsA eTpsB.

    (JACOB-DUBUISSON et al., 2001).

  • 21

    c) Tipo Vc

    Este tipo de sistema de secreo tem sido proposto como um sistema alternativo ao

    sistema autotransportador, devido secreo de protenas tercirias autotransportadoras de

    forma diferente do sistema Va. A famlia das adesinas oligomricas tem sido descrita como

    subfamlia de autotransportadoras oligomricas de ligao de superfcie. A protena YadA de

    Y. pestis a adesina prototpica deste sistema. (HENDERSON et al, 2004).

    Dentre as protenas autotransportadoras em Pseudomonas aeruginosa est a esterase

    EstA (WILHELM et al, 2007).

    3.5.4 Sistemas Sec-independentes

    Em contraste com os sistemas de secreo dos tipos II e V, os sistemas do tipo I, III,

    VI exportam protenas atravs das membranas internas e externas por um processo contnuo

    sem a necessidade de um sistema acessrio (HUECK, 1998).

    3.5.4.1 Sistema de secreo tipo I

    O sistema de secreo do tipo I consiste de trs protenas que formam o canal

    transmembrana, atravs do qual a protena secretada se move, sendo transportada por uma das

    protenas, uma transportadora ABC (ATP- binding cassete). Em apenas uma etapa, a protena

    secretada que apresenta um sinal clssico de secreo, passa do citosol para o meio externo,

    sem necessitar de um intermedirio citoplasmtico (Figura 6). Segundo Guzzo e

    colaboradores (1991), a protease alcalina secretada por esse sistema. A AprA exibe um sinal

    de secreo C-terminal bem caracterstico, localizado nos ltimos 60 aminocidos (DUONG

  • 22

    et al, 1996). As trs protenas da membrana necessrias para a secreo so AprD (protena

    transportadora ABC), AprE (protena de fuso de membrana) e AprF ( protena de membrana

    externa). (DUONG et al., 2001).

    Figura 6: Esquema de transporte do sistema de secreo do tipo I, a protena secretada passa

    para o meio externo sendo transportada pela ABC transportadora (RYAN e RAY, 2004).

    3.5.4.2 Sistema de secreo tipo III

    O sistema de secreo do tipo III, o qual responsvel pela secreo de muitos fatores

    de virulncia na espcie Pseudomonas, formado por aproximadamente 20 protenas. Estas

    protenas associam-se em uma estrutura supramolecular que lembra uma seringa com uma

    agulha denominada injectissoma (CORNELIS, 2006). Este sistema dependente de contato,

    onde a secreo das protenas virulentas (ou efetores) ativada pelo contato entre clula

    bacteriana e a clula hospedeira, resultando na injeo direta da protena secretada no

    citoplasma da clula eucaritica (Figura 7). O sistema de secreo do tipo III consiste em trs

    complexos de protenas distintos, mas que operam coordenadamente: o aparato de secreo, o

    aparato de translocao, efetores e chaperonas. um sistema Sec-independente, formando um

    canal de translocao dos efetores bacterianos para a clula. Apenas quatro molculas efetoras

    foram identificadas em Pseudomonas aeruginosa: ExoU, ExoS, ExoT e ExoY. ExoS uma

  • 23

    toxina bifuncional com dois domnios ativos, um domnio C-terminal ADP- ribosiltransferase,

    cuja atividade depende de um cofator da clula eucaritica, e um domnio N- terminal GTPase

    ativador de protena (GAP). Sua patogenicidade atribuda a atividade da ADP-

    ribosiltransferase, levando ao estabelecimento da infeco e danos ao tecido (FU et al.,1993).

    ExoT similar a ExoS, com atividades ADP- ribosiltransferase e GAP, porm considerada

    uma citotoxina minoritria, no sendo considerada como responsvel a patogenicidade da

    Pseudomonas aeruginosa (KIPNIS et al.,2006). ExoY uma adenilato ciclase injetada

    diretamente no citosol do hospedeiro, Sua toxicidade ainda incerta, embora seja txica

    quando expressa em leveduras (ENGEL e BALACHANDRAN, 2009). ExoU uma potente

    fosfolipase sendo considerada a principal citotoxina secretada pelo sistema de secreo do

    tipo III, podendo matar rapidamente os macrfagos, clulas epiteliais e fibroblastos (JAIN t

    al., 2008). Efetores adicionais devero ser revelados medida que novas cepas so

    seqenciadas e posteriormente analizadas. ExoT e ExoY so codificadas por quase todas as

    cepas, embora nem todas produzam ExoY funcional, devido a mutaes. ExoS e ExoU so

    genes variavelmente codificados e quase nunca so encontrados na mesma cepa (ENGEL e

    BALACHANDRAN, 2009).

  • 24

    Figura 7: Esquema de transporte do sistema de secreo do tipo III (RYAN e RAY, 2004).

    3.5.4.3 Sistema de secreo tipo VI

    Este sistema foi inicialmente descrito por Pukatzki et al. (2006), que usando

    Dictyostellium discoideum como modelo de hospedeiro identificou um mecanismo de

    virulncia em V. cholerae que envolvia a translocao de protenas extracelulares que no

    possuam uma seqncia lder na regio N-terminal hidrofbica. Estes genes foram nomeados

    de VAS (virulence associated secreton) e foram propostos como sendo os codificadores do

    sistema de secreo do tipo VI. A funo do sistema de secreo do tipo VI seria mediar a

    exportao extracelular de fatores de virulncia e transloc-los para clulas eucariticas.

    O sistema do tipo VI um sistema dependente de energia, e usa uma ATPase

    hexamrica da famlia AAA+, ClpV. As protenas Hcp (hemolisina A co-regulada) estudadas

    em V. cholerae e confirmadas em P. aeruginosa no possuem um peptdeo sinal cannico,

    indicando que elas no so secretadas por um sistema Sec ou Tat dependentes, e

    provavelmente atravessam o envelope celular bacteriano de uma s vez (PUKATZKI et al

  • 25

    2006, MOUGOUS et al 2006). A protena VgrG de V. cholerae pode formar um dispositivo

    similar a cauda de um bacterifago. Este dispositivo pode ser usado para perfurar o envelope

    bacteriano e ainda a membrana da clula hospedeira para o transporte de efetores. J as

    protenas Hcp formam anis hexamricos, que formam um duto extracelular que envolve o

    tubo formado pelas protenas VgrG.

    Conforme ilustrado na figura 8, a ATPase ClpV (laranja) ajuda a transportar Hcp

    (amarelo) e VgrG (verde escuro) atravs do envelope celular. A Lip (rosa) uma lipoprotena

    putativa de membrana externa, sendo improvvel que esta forme um poro na membrana uma

    vez que est ancorada na mesma por modificao lipdica. As protenas IcmF (azul) e DotU

    (vermelho) so protenas de membrana interna. O nvel de fosforilao da protena Fha

    (marrom) que regula a atividade do sistema (FILLOUX et al., 2008).

  • 26

    Figura 8: Esquema de transporte do sistema de secreo do tipo VI, C-citoplasma bacteriano,

    IM- membrana interna bacteriana, P-periplasma bacteriano, OM- membrana externa

    bacteriana, ECM- meio extracelular e PM- membrana do hospedeiro. (FILLOUX et al. ,

    2008).

    3.6 Fatores de virulncia secretados

    3.6.1 Piocianina

    A piocianina (1-hidrxi-5-metil-fenazina) (Figura 9), em modelos animais de infeco

    pulmonar aguda e crnica, mostrou-se essencial para a virulncia da Pseudomonas

    aeruginosa. Por ser um zwitterion pode penetrar facilmente nas membranas biolgicas. Na

    maioria dos casos, a citotoxicidade da piocianina tem sido fortemente ligada ao seu potencial

    ciclo redox podendo aceitar eltrons diretamente dos agentes redutores celulares NADH ou

  • 27

    NADPH. Sob condies aerbias, ela transfere os eltrons para o O2 levando a um aumento

    do estresse oxidativo dos sistemas celulares pela gerao de espcies reativas de oxignio

    como radical superxido (O2.-) e perxido de hidrognio (H2O2) (OMALLEY et al, 2004;

    (LIU e NIZET, 2009 ).

    N+

    N+

    O-

    CH3

    H

    - H+

    + H+

    pKa=4.9

    N+

    N

    O-

    CH3

    Vermelho Azul

    Piocianina

    Figura 9: Estrutura da piocianina em dois estados: em pH perto do neutro ou alcalino o

    pigmento existe na forma de zwitterion e possui a colorao azul, enquanto que em pH cido

    sua colorao vermelha.

    A maioria das clulas possui vrios mecanismos essenciais para limitar sua exposio

    a espcies reativas de oxignio. Um dos principais componentes da defesa antioxidante o

    composto tiol glutationa. Quando as clulas so expostas a espcies oxidantes como H2O2, a

    glutationa reduzida (GSH) oxidada a sua forma dimerizada, (GSSG) pela ao da enzima

    glutationa peroxidase. GSSG reduzida novamente a GSH pela ao da glutationa redutase

    (Figura 10). Esse ciclo da GSH um importante mecanismo de limitar a exposio celular aos

    efeitos citotxicos do H2O2. O consumo e a perda de GSH conseqncia da exposio

    celular a agentes oxidantes e contribui para leso celular. (OMALLEY et al, 2004).

  • 28

    NADPH

    2H+

    NADP+

    2O2

    NAD(P)H

    Piocianina

    NAD(P)+

    2O2.-

    H2O2 + O2

    2GSH GSSG

    GPx

    GSH

    redutase

    Figura 10: Formao de O2.-

    e H2O2 pela reao do NAD(P)H com a piocianina e a interao

    subseqente do H2O2 com GSH. GPx, glutationa peroxidase.

    Este pigmento possui atividade antibitica contra uma grande variedade de

    microorganismos, o que beneficia a P. aeruginosa na eliminao de microrganismos

    competidores, inibindo a fagocitose e induzindo a apoptose do hospedeiro. Alm disso,

    tambm participa na reduo do ferro e funciona como um tampo redox intracelular.

    Recentemente a piocianina mostrou ter funo de sinalizao, sendo responsvel pela

    regulao de genes especficos, Omo genes envolvidos na aquisio de Fe+3

    (PRICE-

    WHELAN et al, 2006; PRICE-WHELAN et al, 2007; KIPNIS et al., 2006; RESKA et al. ,

    2006).

    A sntese da piocianina regulada por quorum sensing. As molculas sinais N-(3-

    oxododecanoil) homoserina lactona e N-butiril homoserina lactona so sintetizadas pelos

    genes lasI e rhlI respectivamente. A uma alta densidade celular, o ativador transcricional

    LasR se liga a N-butiril homoserina lactona (C4-HSL) para ativar a transcrio de genes de

    virulncia, alguns deles envolvidos na produo da piocianina (Figura 11) (LAU t al., 2004).

  • 29

    PAI-1 PAI-2

    Quinolones

    LasR-LasI RhlR-Rhll

    + +

    phzA1B1C1D1E1F1G1

    e phzA2B2C2D2E2F2G2

    Chorismic acid Phenazine-1-carboxylic acid

    PhzM

    S-adenosyl-L-

    methionine

    S-adenosyl-L-

    homocysteine

    5-methylphenazine-1-carboxylic acid betaine

    Pyocyanin

    NADH + O2

    NAD+ + H2O

    Figura 11: Rota biossinttica da piocianina. (LAU t al., 2004)

  • 30

    3.6.2 Proteases

    Vrias proteases de P. aeruginosa que tem sido isoladas mostraram estar envolvidas

    em sua patognese. Grande parte do dano tecidual causado por infeces por P. aeruginosa

    pode ser atribudo a zinco-dependente metaloendopeptidase LasB (elastase), LasA e proteases

    alcalinas. Embora o nome sugira especificidade elastina, a LasB pode degradar uma gama

    de substratos como fibrinognio, colgeno, lamimina, transferrina e imunoglobinas. Esta

    protease uma das mais bem caracterizadas, sendo secretada pelo sistema de secreo do tipo

    II. A LasA ativa contra uma pequena gama de substratos e potencializa a ao da LasB.

    Semelhante a LasB, a protease alcalina demonstra ampla especificidade a fibrina,

    fibrinognio, lamimina e secretada pelo sistema de secreo do tipo I. (MARQUART et al,

    2005; KIPNIS et al., 2006).

    3.6.3 Lipases

    Lipases, triacilglicerol hidrolases, so um importante grupo de enzimas

    biotecnologicamente relevantes que possuem muitas aplicaes nas indstrias de alimentos,

    de detergentes e farmacuticas. Lipases so em geral produzidas a partir de microorganismos

    e, especificamente as lipases bacterianas desempenham um papel vital em empreendimentos

    comerciais (GUPTA et al., 2004). Lipases tambm so definidas como glicerol ster

    hidrolases que catalisam a hidrlise de triglicerdeos a cidos graxos livres e glicerol. Estas

    enzimas podem catalisar reaes de esterificao, interesterificao, acidlise e alcolise.

    Novas aplicaes biotecnolgicas tem sido estabelecidas com sucesso usando lipases para a

    sntese de biopolmeros e biodiesel, na produo de frmacos enantiopuros e compostos

    agroqumicos (HASAN et al., 2009).

  • 31

    Pseudomonas aeruginosa capaz de infectar pacientes imunocomprometidos. Este

    patgeno possui um sistema lipoltico extracelular complexo, com pelo menos duas

    fosfolipases C, uma esterase ligada a membrana externa e uma lipase. Konig et al. (1996)

    descobriram que a ao combinada das enzimas lipase e fosfolipase levam a um aumento das

    substncias reativas cido 12-hidroxieicosatetranoico das plaquetas humanas e leucotrieno B4

    dos neutrfilos. Essas reaes podem levar a distrbios de respostas imunes, que poderia

    iniciar dano tecidual e estimular processos inflamatrios (STEHR et al.,2003).

    A lipase produzida por Pseudomonas aeruginosa secretada pela via de secreo do

    tipo II (LIEBETON et al., 2000).

    3.6.4 Hemlise

    O poder hemoltico um fator de virulncia para muitas bactrias patognicas. Pode

    ser relacionado a vrios fatores: toxinas formadoras de poros, citolisinas dependentes de tiol,

    fosfolipases, biossurfactantes, componentes do sistema de secreo do tipo III, ou pela ao

    concomitante destas molculas (ROWE e WELCH, 1994).

    3.6.5 Ramnolipdeo

    Em condies ambientais especficas, Pseudomonas aeruginosa produz

    biossurfactante do tipo glicolipdeo contendo ramnose. A produo de ramnolipdeos pela

    bactria foi relatada pela primeira vez por Jarvis et al. (1949). Em cultura lquida,

    P.aeruginosa produz, principalmente, duas formas de ramnolipdeo: ramnosil--

    hidroxidecanoil--hidroxidecanoato (monoramnolipdeo) e ramnosil-ramnosil--

    hidroxidecanoil--hidroxidecanoato (diramnolipdeo) (Figura 12) (RENDELL et al., 1990).

  • 32

    A biossntese dessas molculas tenso-ativas ocorre atravs de duas reaes seqenciais

    de transferncia de grupamento ramnosil, catalisada pelo complexo enzimtico

    ramnosiltransferase I (RhlA/RhlB) (BURGER et al., 1963) e ramnosiltransferase II (RhlC)

    (Rahim et al., 2001), respectivamente, tendo a molcula de deoxi-timidina-difosfato-

    Lramnose (dTDP-L-ramnose) como doadora do ramnosil em ambas as reaes e a molcula

    de -hidroxidecanoil--hidroxidecanoato ou ramnosil--hidroxidecanoil--hidroxidecanoato

    atuando como os respectivos receptores (BURGER, 1966). A figura 13 ilustra a via

    biossinttica destas molculas, (SOBERN-CHAVZ et al., 2005).

    Figura 12: Estrutura dos ramnolipdeos (SOBERN-CHVEZ et al., 2005)

    P. aeruginosa pode produzir ramnolipdios a partir de uma grande variedade de

    substratos incluindo alcanos C11 e C12, succinato, piruvato, citrato, frutose, glicerol, leo de

    oliva, glicose e manitol. A composio e os rendimentos dependem do tipo de fermentador,

    pH, composio de nutrientes, substrato e temperatura (MULLIGAN, 2009).

  • 33

    NADPH

    NADP+

    CoA

    ACP

    NADPH

    NADP+

    OH

    CH3

    O

    O P O

    O

    O-

    P O

    O

    O-

    Timidine

    HOHC

    (CH2)6

    CH3

    CH2

    C O

    O

    HC

    (CH2)6

    CH3

    CH2

    CO-S-CoA

    OH OH

    TDP

    OH OO

    HC

    (CH2)6

    CH3

    CH2

    C O

    OHC

    (CH2)6

    CH3

    CH2

    COOH

    CH3

    OH OH

    TDP

    OH OO

    HC

    (CH2)6

    CH3

    CH2

    C O

    OHC

    (CH2)6

    CH3

    CH2

    COOH

    CH3

    OH O

    OHCH3

    O

    OH OH

    dTDP-L-rhamnose

    LPS

    LPS

    FATTY ACID BIOSYNTHESIS

    -Ketodecanoylester

    -Hydroxydecanoyl-ACP

    -Hydroxydecanoyl-S-CoA

    PhaC

    +

    -Hydroxydecanoyl-B-hydroxydecanoyl-S-CoA

    RhlAB

    RhlC

    TDP-L-rha

    D-glucose-6-phosphate

    D-glucose-1-phosphate

    dTDP-D-glucose

    dTDP-4-keto-6-

    deoxy-L-mannose

    AlgC

    RmlA

    RmlB

    RmlD

    L-Rhamnosyl--hydroxydecanoyl--hydro

    xydecanoate

    L-RhamnosylL-Rhamnosyl--

    hydroxydecanoyl--hydroxydecanoate

    RhlA

    Figura 13: Via metablica de biossntese de ramnolipdeo (SOBERN-CHVEZ et al.,2005;

    ZHU e ROCK, 2008)

  • 34

    3.6.6 DNA extracelular

    O patgeno oportunista P. aeruginosa tornou-se um organismo modelo na pesquisa de

    biofilmes. possvel portanto, que a liberao do DNA, em alguns casos, permita a troca de

    material gentico para dar lugar e induzir a formao da estrutura do biofilme e sua

    estabilizao. A relativamente longa durao da proximidade fsica de bactrias em biofilmes

    permite que as clulas constituintes estabeleam relacionamentos de longo prazo uns com os

    outros, e biofilmes parecem ser ambientes ideais para que transferncia de genes ocorra

    atravs do processo de transformao (ALLESEN-HOLM et al, 2006).

    3.7 Estresse oxidativo

    O estresse oxidativo caracterizado quando a concentrao de pr-oxidantes gerados

    por fatores de origem endgena e/ou exgena supera as defesas antioxidantes das clulas. A

    oxidao parte fundamental da vida aerbica, e assim os radicais livres so produzidos

    naturalmente. Radicais livre, cujo eltron desemparelhado encontra-se centrado no tomo de

    oxignio so denominados espcies reativas de oxignio (EROs). As EROs tem sido

    caracterizadas como causadoras de danos no DNA, RNA, protenas e lipdeos. Estas

    molculas so produzidas como um subproduto inevitvel do metabolismo aerbico normal, e

    sua produo ainda exacerbada pela exposio a certos ambientes (BARREIROS et al.,

    2006; KOGOMA et al.,1991).

  • 35

    3.7.1 Espcies reativas de oxignio (EROs)

    As principais EROs distribuem-se em dois grandes grupos, os radicalares: hidroxila

    (HO.), superxido (O2

    .-), peroxila (ROO

    .) e alcoxila (RO

    .); e os no radicalares: oxignio

    singlete (O2), perxido de hidrognio (H2O2), cido hipocloroso (HOCl) e oznio (O3).

    Algumas destas espcies esto relacionadas na Tabela 2 (BARREIROS e DAVID, 2006).

    Tabela 2: Caracterizao de algumas das principais EROs formadas in vivo (RIBEIRO et al,

    2005)

    Intermedirio Comentrio Stio de formao

    (O2.-) Formado a partir da reduo

    parcial do oxignio molecular

    por 1 eltron

    Reaes de autoxidao envolvendo

    flavoprotenas e ciclos redox

    H2O2 Formado a partir da reduo

    parcial do oxignio molecular

    por 2 eltrons

    Vias catalisadas por oxidases e pela

    superxido dismutase

    OH. Formado a partir da reduo

    parcial do oxignio molecular

    por 3 eltrons e nas reaes de

    Fenton e Haber-Weiss,

    catalisada por metais

    Locais adjacentes formao de nion

    superxido/perxido de hidrognio na

    presena de metais, principalmente Fe2+

    ;

    produto da reao de xido ntrico com o

    radical superxido

    RO. Radical orgnico centrado no

    oxignio

    Intermedirio na peroxidao de lipdeos

    de membrana

    ROO. Formado a partir de

    hidroperxidos orgnicos

    Intermedirio na peroxidao de lipdeos

    de membrana

    1g O2 Primeiro estado excitado do

    oxignio molecular

    Sem stios metablicos definidos

    Segundo a teoria do orbital molecular, a molcula do oxignio diatmico (O2=

    oxignio molecular ou tripleto), em seu estado fundamental (Figura 14a), possui dois eltrons

  • 36

    desemparelhados no orbital antiligante *. Nota-se que os dois eltrons apresentam spins

    paralelos e este fato restringe a reatividade da molcula, porque quando a mesma tenta oxidar

    outro tomo ou molcula, os eltrons que sero aceitos pelo oxignio devem tambm ter spins

    paralelos para permanecerem nos orbitais vazios. Entretanto possvel eliminar a restrio de

    spin da molcula de oxignio movendo um dos eltrons desemparelhados, o qual sofre uma

    inverso de spin, e assim os dois eltrons passam a emparelhar-se (Figura 14b). Isto requer

    energia e forma o oxignio singlete. Existem duas formas do oxignio singlete: uma com os

    dois eltrons em orbitais diferentes (Figura 14d) e outra, na qual os dois eltrons ocupam o

    mesmo orbital (Figura 14b). A primeira forma, (1gO2), considerada muito instvel e antes

    de reagir com outras molculas ela se converte no estado (1g O2) (Figura 14b), o qual mais

    estvel (RIBEIRO et al, 2005). Como conseqncia, a reatividade do oxignio com

    biomolculas restrita por spin. A reatividade do oxignio aumenta pela adio de um, dois

    ou trs eltrons para formar, respectivamente o radical superxido (O2.-) (Figura 14c),

    perxido de hidrognio (H2O2) e radical hidroxila (HO.) ou quando ocorre a inverso de spin

    para formar o oxignio singlete (1gO2). Em condies cidas, O2

    - pode ser protonado para

    formar o radical peridroxila (HOO.) (Figura 15) (KOGOMA, e FARR, 1991).

  • 37

    Figura 14: Estados do O2 segundo a teoria do orbital molecular (RIBEIRO et al, 2005)

    H2O2O2 O2- H2O

    e- e

    -, 2H

    + e-, H

    +

    OH.

    e-, H

    +

    (pKa4,8)

    HOO.

    Figura 15: Formao das EROs a partir do oxignio (KOGOMA, e FARR, 1991).

    Quanto ao potencial de reatividade das EROs no meio biolgico, o radical hidroxila

    o mais reativo, podendo oxidar qualquer biomolcula presente em clulas vivas. O perxido

    de hidrognio mais estvel que o radical hidroxila e pouco reativo, porm pode atravessar

    membranas com facilidade. O oxignio singlete pode reagir com lipdeos de membrana,

    protenas, aminocidos, cidos nuclicos, carboidratos e tiis (RIBEIRO et al, 2005; BAYIR,

  • 38

    2005). A caracterizao de algumas das principais EROs formadas in vivo pode ser vista na

    tabela 2.

    3.7.2 Superxido dismutase (Sod)

    Durante a respirao aerbia o desvio de corrente de eltrons da cadeia de transporte

    de eltrons pode levar a produo de O2.-. A produo deste radical contida pelas enzimas

    superxido dismutases (Sod) que catalisam a dismutao de dois radicais superxidos em

    oxignio molecular e perxido de hidrognio (Figura 16) (HASSETT et al., 1995).

    SOD

    2O2.-

    + 2H+ O2 + H2O2

    Figura 16: Reao de dismutao catalisada pelas enzimas superxido dismutases (BAYIR,

    2005).

    O radical superxido gerado em organismos aerbios espontaneamente e tambm

    como produto de processos metablicos. A Sod considerada de grande importncia na

    proteo contra os danos causados pelo oxignio, e o aumento da tolerncia ao estresse

    oxidativo est relacionado ativao desta enzima (SCOTT et al.,1987).

    Pseudomonas aeruginosa possui duas superxido dismutases, Mn-Sod codificada pelo

    gene sodA e Fe-Sod codificada por sua vez pelo gene sodB. A Mn-Sod apresenta atividade

    mxima quando o organismo est privado de ferro, enquanto que a Fe-Sod apresenta atividade

    mxima quando o ferro abundante. No entanto, a regulao destes genes e o impacto

    relativo dos seus produtos gnicos sobre metabolismo de P. aeruginosa em condies de

    aerobiose so desconhecidos (HASSETT et al, 1992; HASSETT et al, 1999).

  • 39

    Os regulons moduladores de resposta ao estresse oxidativo em E. coli so SoxR e

    OxyR, sendo ambos ativados a nveis postranslacionais. O nion superxido O2- ativa SoxR

    pela oxidao de seus centros[2Fe-2S] e o SoxR oxidado induz a expresso do segundo fator

    transcripcional SoxS, que ativa diretamente a transcrio de alguns genes, incluindo sodA em

    Escherichia coli (OCHSNER et al., 2000). J a bactria Pseudomonas aeruginosa tem uma

    ORF que codifica uma protena homloga a E. coli SoxR mas no para SoxS (KOBAYASHI,

    TAGAWA, 2004). Ela possui duas superxido dismutases (SodA e SodB) que representam a

    primeira linha de defesa contra O2-, transformando-o em H2O2 e trs catalases (KatA, KatB e

    KatE) protegem a clula contra o H2O2. Finalmente quatro alquilhidroperxido redutases

    (AhpA, AhpB, AhpCF e Ohr) detoxificam o H2O2 e vrios perxidos orgnicos. O regulador

    transcricional-LysR de 34kDa, OxyR, crucial para a regulao dos genes antioxidantes katB,

    aphB e ahpCF aps contato com H2O2. (OCHSNER et al, 2000).

    3.7.3 Oxidao de protenas

    As protenas podem ser diretamente oxidadas por todas as EROs ou tambm ser alvo

    dos produtos da peroxidao lipdica.

    As modificaes das protenas basicamente so iniciadas pelo radical OH., contudo a

    continuidade do processo de oxidao determinada pela disponibilidade de oxignio (O2) ou

    de sua forma protonada (.HO2). Coletivamente, estas EROs conduzem a oxidao de resduos

    de aminocidos (Pro, Asp e Glu), o que pode resultar na inativao e at mesmo fragmentao

    das protenas (BARLETT e STADTMAN, 1997). Em geral, a oxidao dos aminocidos se

    d na cadeia lateral. Grupos carbonlicos (CO) podem ser formados nas cadeias laterais de

    aminocidos livres ou em cadeias polipeptdicas (especialmente His, Pro, Arg, Lys e Thr)

    quando oxidadas. Os produtos formados so quimicamente estveis, podendo ser facilmente

  • 40

    usado como biomarcador de estresse oxidativo (DALLE-DONNE et al, 2003; STADTMAN,

    1993; LEVINE et al, 1994 ).

    A carbonilao de protenas pode afetar diretamente o metabolismo celular ao alterar a

    atividade das protenas. Atualmente, a anlise de carbonilao em protenas o biomarcador

    mais utilizado para a determinao dos nveis de oxidao protica. O acmulo de protenas

    carboniladas tem sido observado em clulas de S. cerevisiae durante diversos processos

    biotecnolgicos, em especial o processo fermentativo para produo de etanol (LANDOLFO

    et al.,2008). Um exemplo de utilizao deste biomarcador em bactrias pode ser visto em

    Dukan e colaboradores (2000), onde em E.coli foi observado que protenas danificadas

    oxidativamente so mais suscetveis a protelise, e o acmulo destas protenas foi

    acompanhado pelo aumento de protenas carboniladas.

  • 41

    4. Materiais e Mtodos

    Neste captulo, so apresentados os materiais utilizados para o desenvolvimento do

    presente trabalho e as metodologias empregadas. So descritas as tcnicas utilizadas para a

    conduo e para o acompanhamento das fermentaes e dosagem de alguns fatores de

    virulncia, realizadas no Laboratrio de Biotecnologia Microbiana (LaBiM, Instituto de

    Qumica/UFRJ). Tambm so apresentadas as tcnicas utilizadas para determinao de

    protenas relacionadas ao estresse oxidativo, realizadas no Laboratrio de Investigao de

    Fatores de Estresse ( LIFE, Instituto de Qumica/UFRJ).

    4.1 Microrganismo e condies de cultivo

    A cepa de Pseudomonas aeruginosa PA1 previamente selecionada de

    ambientes de petrleo como melhor produtora de biossurfactantes (SANTA ANNA, 2000) foi

    preservada em glicerol a 10% em ultrafreezer a -80 C. O pr-inculo foi crescido em placa

    com YPDA (extrato de levedura 0,3%, peptona 1,5%, dextrose 0,1%, agar 1,2%) a 30 oC por

    48 horas e transferido para frascos de 1000 mL com 300 mL de meio com a seguinte

    composio (g/L): NaNO3 1,0; KH2PO4 3,0; K2HPO4 7,0; MgSO4.7H2O 0,2 ; extrato de

    levedura 5,0; peptona 5,0 e glicerol 30,0. Aps 24 horas de cultivo, o meio de fermentao

    contendo as clulas foi estocado em criotubos na relao glicerol/meio fermentado de 1:3 para

    servir como pr-inculo padro em todas as fermentaes.

  • 42

    4.2 Preparo do inculo

    O contedo de 1,0 ml do criotubo foi inoculado em 300ml de meio de fermentao

    com a seguinte composio (g/L): glicerol 30,0; NaNO3 1,0; K2HPO4 7,0; KH2PO4 3,0;

    MgSO4.7H2O 0,2; extrato de levedura 5,0 e peptona 5,0. Os frascos foram ento incubados

    em agitadores rotatrios a 30oC e 170 rpm por 40 horas. Ao final desse perodo, as clulas de

    cada frasco foram recuperadas por centrifugao (5000 g por 20 minutos) e utilizadas como

    inculo.

    4.3 Esterilizao

    O fermentador e os frascos, j com o meio de cultura a ser utilizado, foi esterilizado

    em autoclave a 121C por 15 minutos antes de cada produo. O sistema de oxigenao foi

    esterilizado com a circulao de uma soluo de hipoclorito de sdio a 1,0 % por 1 hora.

    Depois deste procedimento, foi circulada gua destilada estril pelo sistema para a eliminao

    de vestgios de cloro. S ento foi realizada a inoculao dos microorganismos.

    (KRONENBERGER, 2007).

    4.4 Frascos agitados

    Foram conduzidas fermentaes em frascos agitados de 1000 mL em quatro diferentes

    relaes Vf/Vm (volume de frasco / volume de meio) (1:0,15, 1:0,30, 1:0,50 e 1:0,70), com o

    objetivo de se avaliar o efeito da aerao superficial na produo do biossurfactante.

  • 43

    As clulas foram incubadas a 30C e a uma rotao de 5000 g em meio de cultivo

    (30,0 g/L de glicerol, 1,38 g/L de NaNO3, 7,0 g/L de K2HPO4, 3,0 g/L de KH2PO4, 0,2 g/L de

    MgSO4.7H2O) com uma relao carbono/nitrognio (C/N) igual a 60 (SANTOS et al., 2002).

    4.5 Biorreator

    O meio de cultura utilizado nas fermentaes apresentava a seguinte composio em

    gramas por litro: glicerol 30,0; NaNO3 1,4; K2HPO4 7,0; KH2PO4 3,0 e MgSO4.7H2O 0,2,

    resultando em uma relao carbono/nitrognio igual a 60 (SANTOS, 2003).

    As fermentaes foram realizadas em um biorreator BioFlo IIc (Batch/Continuous

    Fermentor; New Brunswick Scientific; USA) com capacidade nominal de 5,0 litros de

    volume, inserido em uma capela com exausto (Figura 17). O volume til mdio utilizado nas

    fermentaes foi de 3,0 litros, a temperatura foi mantida em 30C e a agitao, em 100 rpm.

    A oxigenao foi conduzida de forma no dispersiva atravs de um contactor gs/lquido. A

    oxigenao foi realizada com o auxlio de um cilindro de oxignio puro. As condies de

    oxigenao utilizadas foram de 1 mg O2/L e 5 mg O2/L (KRONENBERGER, 2007).

    Tambm foram conduzidas fermentaes em frascos agitados para efeito comparativo

    com o sistema proposto. A temperatura da fermentao foi mantida em 30,0 oC e a agitao,

    em 5000 g, em um agitador rotatrio (C25KC Incubator Shaker, New Brunswick Scientific).

  • 44

    Figura 17: Fotografia do fermentador inserido na capela de exausto, acoplado ao

    sistema de oxigenao utilizando o contactor de membranas

    4.5.1 Controle da concentrao de oxignio no biorreator

    O sistema de controle da concentrao de oxignio dissolvido foi projetado e

    construdo, utilizando-se um Controlador Lgico Programvel (CLP OCS, GE Fanuc). Outro

    sistema de controle da concentrao de oxignio dissolvido foi desenvolvido previamente por

    SABRA et al. (2000), mas a oxigenao era realizada de forma dispersiva por borbulhamento

    de uma mistura dos gases nitrognio e oxignio. Assim, alm de persistir o problema da

    formao de espumas, havia perda de oxignio, sendo extremamente complexa a

    determinao da exata quantidade consumida deste nutriente. Uma malha simplificada de

    controle foi implementada neste controlador com a funo de manter a concentrao de

    oxignio dissolvido no meio constante ao longo da fermentao. Isto foi conseguido

  • 45

    igualando-se a taxa de fornecimento de oxignio taxa de consumo deste nutriente pelas

    bactrias. Na Figura 18 esto apresentadas fotos do CLP e de seu painel eltrico.

    Figura 18: Controlador Lgico Programvel utilizado para implementao de uma malha de

    controle da concentrao de oxignio dissolvido nas fermentaes para a produo de

    ramnolipdeos por Pseudomonas aeruginosa.

    Pela experincia adquirida atravs da conduo dos experimentos com o controle

    manual da oxigenao, a estratgia de controle foi baseada em se alterar primeiramente a

    vazo da corrente lquida e, posteriormente, a presso da corrente gasosa para controlar a taxa

    de fornecimento de oxignio. Essa taxa diretamente proporcional s duas variveis citadas.

    Assim, se o valor da concentrao de oxignio dissolvido fosse reduzido para um valor abaixo

    do desejado, a taxa de fornecimento deveria ser elevada pelo aumento na vazo da corrente

  • 46

    lquida e, se insuficiente, na presso da corrente gasosa. Se a concentrao de oxignio

    estivesse acima do estabelecido, a taxa deveria ser reduzida. Um fluxograma simplificado do

    sistema de oxigenao apresentado na Figura 19.

    Figura 19: Fluxograma simplificado do sistema de oxigenao.

    Como observado na figura acima, a vazo da corrente lquida era controlada atravs da

    atuao sobre a bomba de engrenagens e sobre a vlvula v1. J a presso da corrente de

    alimentao de oxignio era controlada pela atuao sobre as vlvulas de entrada e sada do

    contactor, v2 e v3, respectivamente. Assim, a nica entrada do CLP se refere concentrao

    de oxignio dissolvido medida no meio de fermentao, enquanto que as sadas so quatro

    para a bomba e as vlvulas.

    Os dados de operao do controlador eram repassados a um computador acoplado ao

    sistema atravs de um programa supervisrio (IFix StandAlone Standard HMI Pack RunTime

  • 47

    para 75 pontos). Esses dados eram armazenados para anlise posterior (KRONENBERGER,

    2007).

    4.6 Biomassa

    A concentrao celular das suspenses de Pseudomonas aeruginosa PA1 foi

    determinada atravs da absorbncia de luz a 600 nm (Espectrofotmetro MultiSpec 1501;

    Shimadzu Corporation, Japan). O valor de absorbncia foi convertido no valor de

    concentrao (g/L) atravs de uma curva de calibrao (TAVARES, 2007).

    Amostras coletadas no fim de uma fermentao foram filtradas em membranas de 0,2

    m para a retirada das clulas. Essas clulas foram levadas em estufa a 70 oC at que fosse

    atingido massa constante. A curva de calibrao da absorbncia em funo da massa seca foi

    construda a partir de uma srie de diluies realizadas com amostras idnticas de meio de

    cultivo contendo clulas. Para cada diluio os valores de absorbncia e massa seca foram

    determinados e construiu-se assim uma curva de calibrao. O fator de converso de

    absorbncia em concentrao, calculado atravs da equao Abs = 2,5437 * X, foi de 0,39

    g/L.

    4.7 Quantificao de glicerol

    O teor de glicerol nas amostras livre de clulas foi avaliado pelo mtodo

    enzimtico/colorimtrico para determinao de triglicerdeos (Triglicrides Enzimtico

    Bioclin; Quibasa qumica Bsica Ltda.). O mtodo consiste na fosforilao de glicerol a

    glicerol-3-fosfato em presena de glicerol quinase e ATP. O glicerol-3-fosfato ento

    oxidado pela enzima glicerol-3-fosfato oxidase, liberando perxido de hidrognio que, na

  • 48

    presena de aminoantipirina, p-clorofenol e peroxidase, produz um composto quinnico de

    cor cereja. A intensidade dessa colorao pode ser determinada pela medida de absorbncia

    de luz no comprimento de onda correspondente 490 nm e proporcional concentrao

    de glicerol, podendo assim ser comparada a um padro (KRONENBERGER, 2007).

    4.8 Quantificao de ramnolipdeos

    A quantificao dos ramnolipdeos nas amostras livre de clulas foi realizada de modo

    indireto, utilizando-se a ramnose como referncia a ramnose um subproduto da hidrlise

    cida dos ramnolipdeos. Foi utilizado um mtodo adaptado do descrito por Pham et al.

    (2004), onde a etapa de extrao dos ramnolipdeos foi suprimida, sendo o ensaio realizado

    diretamente a partir do meio fermentado livre de clulas, j que o biossurfactante um

    produto predominantemente extracelular. Para a determinao da concentrao de ramnose

    presente na amostra, o valor de absorbncia obtido era comparado com o valor obtido na

    dosagem de uma soluo padro de ramnose. Tomando como base 100,0 g de ramnolipdeos,

    temos um total de 0,2737 gmol de ramnose. Sabendo-se que a massa molar da ramnose

    (C6H12O5) igual a 164,0 g/gmol, calculamos um total de 44,89 g de ramnose. Com isso,

    determinado o fator de 2,23 (100,0 g de ramnolipdeos/44,89 g de ramnose) para a converso

    de concentrao de ramnose em concentrao total de ramnolipdeos (KRONENBERGER,

    2007).

    A soluo de biossurfactantes produzida pela cepa PA1 de Pseudomonas aeruginosa

    foi caracterizada por HPLC e comparada a cromatogramas obtidos na literatura (SANTA

    ANNA, 2005). A composio de ramnolipdeos desta soluo est apresentada na Tabela 3.