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i Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade e biodegradabilidade dos seus produtos. Sandra Regina Longhin

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Page 1: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

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Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade e

biodegradabilidade dos seus produtos.

Sandra Regina Longhin

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Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade e

biodegradabilidade dos seus produtos.

Tese apresentada ao Instituto de Química da

Universidade de Brasília como parte dos

requisitos necessários à obtenção do grau

de Doutor em Química.

Sandra Regina Longhin

Orientador: Prof. Dr. Jurandir Rodrigues de Souza

Brasília, 2008

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Aos meus amados filhos, Tatá e Pedrão,

por amarem uma mãe “virtual”.

Aos meus pais, Zizo e Cila,

para os quais moral e ética são os verdadeiros valores de um ser humano.

Ao meu inesquecível e amado Mestre, Prof. Mario Tolentino.

(in memoriam)

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Sonhar

Mais um sonho impossível; Lutar

Quando é fácil ceder; Vencer

O inimigo invencível; Negar

Quando a regra é vender; Sofrer

A tortura implacável; Romper

A incabível prisão; Voar

Num limite improvável; Tocar

O inacessível chão; É minha lei, é minha questão;

Virar esse mundo; Cravar esse chão;

Não me importa saber; Se é terrível demais;

Quantas guerras terei que vencer; Por um pouco de paz;

E amanhã, se esse chão que eu beijei; For meu leito e perdão;

Vou saber que valeu delirar; E morrer de paixão;

E assim, seja lá como for Vai ter fim a infinita aflição;

E o mundo vai ver uma flor Brotar do impossível chão.

Sonho Impossível Chico Buarque e Ruy Guerra

Foto: Sebastião Salgado

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A G R A D E C I M E N T O S

Ao SENHOR, onde nEle tudo pode.

Ao Prof. Jurandir Rodrigues de Souza pela orientação.

Aos meus filhos Nathalia e Pedro pelo apoio, carinho e as mais verdadeiras

demonstrações de amor.

Às minhas “irmãs” Clélia, Lílian (in memoriam) e Zélia pelos 22 anos desta vida

em que caminhamos de mãos dadas.

A todos os meus Amigos, pelo companheirismo, apoio e orientação.

Ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás e a Universidade

Católica de Goiás pelo apoio no desenvolvimento deste trabalho.

Aos funcionários do Departamento de Química da UnB pela atenção e

disposição.

Ao prof. Guaritá e à profa. Denise, pela atenção e carinho durante a minha

estada no Laboratório de Química Analítica e Ambiental.

À minha amiga Fátima, por todos os momentos de reflexão e oração.

Aos “amigos de guerra” Simone, Dudu, Amelinha, Aline, Jeane, Samantha,

Susan, Waléria, Maisa, Ivoneide, Valdico, Joice, Cleiton, Carla, Edna, Leilane,

Flavinha, pelo prazer da convivência.

Ao meu aluno Carlos pelo companheirismo e dedicação nas análises de

toxicidade.

À Liliane e ao Sandro, técnicos de laboratório da UCG, por todo carinho e

atenção que me dedicaram.

Ao Dr. Danilo, por todo cuidado e apoio nos momentos de maior fragilidade.

A todos os meus alunos pela compreensão e “muita paciência”.

A todas as pessoas, que mesmo anônimas, me permitiram “rever” o mundo e

“encarar” a vida de uma outra forma.

Muito obrigado.

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R E S U M O Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e

ampicilina e avaliação da toxicidade e biodegradabilidade dos produtos formados.

A presença de compostos farmacêuticos e de higiene pessoal no

ambiente aquático tem sido objeto de preocupação entre a comunidade científica. Uma forma de aporte dessas substâncias ocorre por meio dos efluentes das indústrias farmacêuticas que possuem baixa biodegradabilidade e alta toxicidade. A preocupação com relação aos efluentes da produção industrial dos antibióticos beta-lactâmicos se deve ao fato de que os mesmos podem promover efeitos negativos como o desenvolvimento de organismos resistentes no ambiente aquático. O presente estudo avalia a eficiência dos Processos Oxidativos Avançados (POA) homogêneo UV, H2O2/UV, Fe2+/H2O2, Fe2+ H2O2/UV, Fe3+/ H2O2, Fe3+/ H2O2/UV e Fe2+/ H2O2/solar na degradação de amostras sintéticas dos antibióticos AMX e AMP. Para esses POA investigou-se o efeito de parâmetros como a concentração dos íons Fe+2, Fe+3, a concentração de H2O2, a ação da radiação UV e solar na degradação de AMX e AMP. O processo Fenton (Fe2+/H2O2) apresentou os melhores resultados mostrando-se bastante promissor. Esse processo é eficiente, simples e de baixo custo A avaliação da eficiência dos processos se deu por meio do acompanhamento da variação da concentração de AMX e AMP por espectrofotometria no UV, pela redução da DQO durante 60 min de reação e pela avaliação da presença de compostos carbônicos nos resíduos sólidos da degradação por espectrometria no IR. A toxicidade e a biodegradabilidade dos produtos formados pelo processo Fenton também foram objeto de estudo. A toxicidade foi avaliada pela influência na determinação da dose letal para 50% dos organismos (DL50) em Artemia salina e pela inibição do crescimento radicular e alteração no ciclo celular mitótico do organismo Allium cepa. Os resultados observados para a redução da concentração dos analitos AMX e AMP foram acima de 95,0% para os POA Fenton e foto-Fenton após 60 min de reação. A redução da DQO observada para o processo Fenton atingiu 75% para AMX e 81% para AMP. O resíduo sólido resultante do processo de oxidação com Fe2+/H2O2 para AMX e AMP mostrou, para ambos os antibióticos, a presença de compostos carbônicos. As respostas para toxicidade dos produtos gerados resultaram para o sistema-teste Artemia salina um DL50=70% (v/v) após 48 h de ensaio, para AMX/Fenton e DL50= 50% (v/v), após 72 h, de ensaio para AMP/Fenton. No sistema-teste Allium cepa, a toxicidade avaliada pelo crescimento da raiz foi observada para soluções acima de 5% de diluição (v/v) tanto para AMX quanto para AMP. Quanto à genotoxicidade, os resíduos de degradação apresentaram para o sistema Allium cepa alterações no ciclo celular mitótico, o que indica toxicidade podendo promover mutação no conteúdo genético celular. A biodegradabilidade (DBO/DQO) dos resíduos do tratamento por Fe2+/H2O2 mostraram uma recalcitrância indicando a necessidade de tratamento combinado como químico/biológico para este efluente.

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A B S T R A C T

Degradation of the pharmaceuticals amoxicillin and ampicillin and evaluation of toxicity and biodegradability of derived-products.

The presence of active pharmaceutical substances and personal-care products in aquatic environment has been a great concern for the scientific community. Pharmaceutical industries are one of the main sources of these types of compounds, which are characterized by low degradability and high toxicity. The antibiotic preparation may negatively affect living organisms in water bodies. However, some organisms in the water bodies may become resistant after their contact with the bioactive chemical wastes. In the present work the efficiency of some homogeneous Advanced Oxidation Process (AOP) UV, H2O2/UV, Fe2+/H2O2, Fe2+ H2O2/UV, Fe3+/ H2O2, Fe3+/ H2O2/UV e Fe2+/ H2O2/solar radiation was investigated toward the degradation of AMX and AMP. The effect of relevant experimental parameters Fe+2, Fe+3, H2O2 concentration and the UV radiation was investigate. The Fenton process (Fe2+/H2O2) offered the most promising results, mainly accounts of high degradation capacity higher than 97% at reaction time 60 min. This process is high operational, simplicity and low coast. The efficiency of Fenton process was available using UV-Vis spectral data and chemical oxygen demand (COD). The results showed that AOP Fenton and AOP photo-Fenton are able to reduce near 100% of the concentrations of AMX and AMP after 60 min of reaction. The reduction of COD using Fenton process reached 75% and 81% for AMX and AMP, respectively. Solid residues from AMX and AMP oxidation reactions produced by Fenton reagent was evaluated by infrared spectroscopy (IR). The IR results showed the presence of carbonic compounds for both antibiotics. Toxicity tests with Artemia salina and Allium cepa were performed because of fast answers related to the toxicity of by-products from oxidation process. Artemia salina was efficient for the AMX/Fenton and AMP/Fenton, which showed DL50= 70% (v/v), after 48 h, and DL50= 50% (v/v), after 72 h, respectively. Allium cepa was efficient for chemical solution greater than 5% dilution (v/v) for both AMX and AMP considering the effects of toxicity on roots growth. Allium cepa showed changes in the mitotic cellular cycle for both AMX and AMP under Fenton reagent. It indicates an eventual mutation in the cellular genetic content. The biodegradability (BOD/COD) of Fenton process residue was investigated and shows the low biodegradation for AMX residues.

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ÍNDICE Agradecimentos ................................................................................................... vi

Resumo .................................................................................................... vii

Abstract .................................................................................................... viii

Lista de Abreviaturas e Acrônimos .................................................................... xiv

Lista de Figuras ................................................................................................... xvi

Lista de Tabelas ................................................................................................... xxi

Capítulo 1. Introdução e Objetivos ..................................................................... 1

1.1 Introdução ................................................................................................... 2

1.2 Objetivos .................................................................................................... 5

Capítulo 2. Abordagem teórica ........................................................................... 7

2. Exposição ambiental a contaminantes orgânicos ............................................... 8

2.1 Presença de compostos farmacêuticos e de produtos de higiene pessoal

no meio ambiente ................................................................................................... 8

2.2 Monitoramento ambiental de CFHP ............................................................ 13

2.3 Antibióticos e seu aporte ambiental ............................................................ 19

2.4 Desenvolvimento de organismos resistentes .............................................. 27

2.5 Degradação de contaminantes orgânicos por POA .................................... 30

2.6 OWCs: antibióticos penicilânicos ................................................................ 33

2.6.1 Degradação de antibióticos penicilânicos utilizando POA .................. 34

2.7 Investigação de efeitos tóxicos e mutagênicos ........................................... 36

2.8 Biodegradabilidade ..................................................................................... 40

2.9 Produção de antibióticos beta-lactâmicos e tratamento do efluente

gerado .................................................................................................... 42

2.10 Legislação ambiental ................................................................................ 44

2.10.1 Licenciamento ambiental para indústria farmacêutica ...................... 45

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x

Capítulo 3. Materiais e Métodos .......................................................................... 47

3. Materiais e métodos ........................................................................................... 48

3.1 Avaliação do impacto na estação de lodo ativado pelo lançamento de

resíduo de hidrólise de antibióticos penicilânicos ................................................... 49

3.2 Procedimentos analíticos ............................................................................ 51

3.2.1 Determinação espectrofotométrica de AMX e AMP em solução

aquosa .................................................................................................... 51

3.2.2 Avaliação da estabilidade das soluções estoque................................ 53

3.2.3 Determinação da curva analítica ........................................................ 53

3.3 Realização das medidas de pH .................................................................. 53

3.4 Obtenção dos espectros na região do infra-vermelho................................. 54

3.5 Estudos para degradação de AMX e AMP .................................................. 54

3.5.1 Quantificação dos compostos estudados ........................................... 56

3.5.2 Ensaios oxidativos de degradação ..................................................... 56

3.5.2.1 Reator fotoquímico ..................................................................... 57

3.6 Descrição dos ensaios de degradação por POA ........................................ 57

3.6.1 Ensaios de fotodegradação ................................................................ 57

3.6.2 Ensaios de peroxidação ..................................................................... 58

3.6.3 Ensaios de fotoperoxidação ............................................................... 58

3.6.4 Ensaios com reagente de Fenton ....................................................... 58

3.6.5 Ensaios de foto-Fenton ....................................................................... 58

3.6.6 Ensaios de Fenton/Fe3+ ...................................................................... 58

3.6.7 Ensaios de foto-Fenton/ Fe3+ .............................................................. 58

3.6.8 Ensaios de foto-Fenton promovido por radiação solar ....................... 59

3.7 Determinação da Demanda Química de Oxigênio (DQO) .......................... 60

3.8 Ensaio de toxicidade ................................................................................... 60

3.8.1 Artemia salina ..................................................................................... 60

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3.8.2 Organismo teste Allium cepa .............................................................. 61

3.8.2.1 Parâmetros macroscópicos: turgescência e crescimento

radicular .................................................................................................... 62

3.8.2.2 Parâmetros microscópicos: índice mitótico (IM), micronúcleos

(NM) e anomalias cromossômicas (AC) ................................................................. 63

3.8.2.2.1 Preparação das radículas .................................................. 63

3.8.2.2.2 Preparo das lâminas .......................................................... 64

3.8.2.2.3 Análise microscópica ......................................................... 64

3.8.2.2.4 Análise estatística .............................................................. 65

3.9 Ensaio de biodegradabilidade ..................................................................... 65

Capítulo 4. Resultados e Discussão ................................................................... 67

4.1 Características das substâncias em estudo ................................................ 68

4.2 Caracterização da AMX e AMP por espectroscopia de IR e UV ................. 69

4.3 Avaliação do impacto na estação de lodo ativado pelo lançamento de

resíduo de hidrólise de antibióticos penicilânicos ................................................... 73

4.4 Amostras sintéticas em estudo ................................................................... 76

4.5 Ensaios de degradação por POA ................................................................ 76

4.6 Estudos da degradação de AMX e AMP utilizando reagente de Fenton..... 82

4.6.1 Influência da concentração de H2O2 ................................................... 85

4.7 Avaliação da razão de remoção da DQO no resíduo filtrado e sem filtrar .. 87

4.7.1 Resíduos sólidos gerados no processo de oxidação .......................... 88

4.8 Avaliação da redução da DQO ................................................................... 92

4.9 Acompanhamento do pH ............................................................................ 99

4.10 Cinética de reação com relação à DQO .................................................... 100

4.11 Degradação de AMX por foto-Fenton promovido por radiação solar ........ 101

4.12 Avaliação da toxicidade dos produtos formados pela degradação de

AMX e AMP utilizando reagente de Fenton ........................................................... 105

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4.12.1 Bioensaio utilizando o organismo teste Artemia salina (nauplii):

avaliação da toxicidade aguda pela letalidade ....................................................... 105

4.12.2 Bioensaio utilizando o organismo teste Allium cepa ......................... 110

4.12.2.1 Avaliação da toxicidade pela inibição do crescimento das

raízes .................................................................................................... 110

4.12.2.2 Análise das alterações do ciclo celular mitótico ....................... 116

4.13 Ensaio de Biodegradabilidade .................................................................. 126

4.14 Custos operacionais da degradação utilizando reagente de Fenton ........ 129

4.15 Quantidade de ferro utilizada comparada com a legislação pertinente ..... 130

Capítulo 5. Conclusão e Perspectivas ................................................................ 132

5.1 Conclusão ................................................................................................... 133

5.2 Perspectivas ............................................................................................... 135

Referências .................................................................................................... 137

Anexo .................................................................................................... 143

Anexo 1 .................................................................................................... 144

Anexo 2 .................................................................................................... 151

Referências dos Anexos ........................................................................................ 153

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xiii

Lista de abreviaturas e acrônimos (ordem alfabética)

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas

AC: anomalias cromossômicas

AMP/F: produto da oxidação de ampicilina com reagente de Fenton

AMP: ampicilina

AMX/F: produtos da oxidação de amoxicilina com reagente de Fenton

AMX: amoxicilina

BCF: Fator de bioacumulação

BTX: Benzeno, Tolueno e Xileno

CBT: Teste da garrafa fechada

CFHP: Compostos farmacêuticos e de higiene pessoal

CN: controle negativo

CONAMA: Conselho Nacional do Meio Ambiente

COT: Carbono Orgânico Total

CP: Controle positivo

CP: controle positivo

d.w.: peso seco

DBO5: Demanda Bioquímica de Oxigênio

DQO: Demanda Química de Oxigênio

EC50: Menor concentração que elimina 50% dos organismos

ETA: Estação de Tratamento de Água

ETE: Estação de Tratamento de Esgotos

IM: índice mitótico

IR: Espectrofotometria no infra-vermelho

KHP: biftalato de potássio

Kow: Coeficiente de partição n-octanol/água

LD50: dose letal para 50% dos organismos

MDICE: Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do Comércio Exterior

MIC50: concentração semi-máxima

MN: micronúcleos

NBR: |Norma Brasileira de Referência

OCWs: Contaminantes Orgânicos de Efluentes

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xiv

OECD: Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

PA: Pureza analítica

PFHP: Produtos Farmacêuticos e de Higiene Pessoal

PhACs: Compostos Farmacêuticos Ativos

POA: Processos Oxidativos Avançados

POP: Poluentes Orgânicos Persistentes

PPCPs: Produtos farmacêuticos e de higiene pessoal

RDC: Resolução da Diretoria Colegiada

ROS: Espécies Orgânicas Reativas

USEPA: Agência Norte Americana de Proteção Ambiental

UV: Espectrofotometria no ultra-violeta

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xv

Lista de figuras

Figura 2.1: Rota de exposição ambiental para CFHP de uso humano e

veterinário .................................................................................................... 12

Figura 2.2: Fórmula estrutural geral das: (a) penicilinas, (b) cefalosporinas, (c)

tetraciclinas, (d) cloranfenicol, (e) quinolonas e (f) sulfonamidas ........................... 20

Figura 2.3: Percentual de distribuição das indústrias farmacêuticas no Brasil ....... 22

Figura 2.4: Aporte de antibióticos nas ETE da Alemanha em 1998 de acordo

com consumo e razão de excreção ........................................................................ 25

Figura 2.5: Valores de DQO e DBO indicativos da tratabilidade de um efluente ... 42

Figura 2.6: Estrutura da ampicilina (AMP) e da amoxicilina (AMX) ........................ 43

Figura 2.7: Produtos da hidrólise ácida e básica das penicilinas ........................... 43

Figura 3.1: Fluxograma do efluente da linha de produção de penicilânicos ........... 51

Figura 3.2: Esquema geral da montagem do foto-reator (a). Aspecto visual do

foto-reator utilizado nos processos de degradação ................................................ 57

Figura 3.3: Aspecto visual do microcrustáceo Artemia salina ................................ 60

Figura 3.4: Aspecto visual da organização das cebolas em teste .......................... 62

Figura 3.5: Condições de exposição dos bulbos na bancada; (a) disposição

geral e aleatória, (b), (c), (d), (e) e (f) crescimento radicular dos bulbos em

diferentes ângulos ................................................................................................. 63

Figura 4.1: Anel β-lactama presente na AMP e AMX ............................................. 68

Figura 4.2: Espectro de IR característico para AMX PA (em pastilhas de KBr) ..... 69

Figura 4.3: Espectro de IR característico para AMP PA (em pastilhas de KBr) ..... 70

Figura 4.4: Espectro UV característico para AMX PA (em solução aquosa),

λmax= 272 nm .................................................................................................... 71

Figura 4.5: Espectro UV característico para AMP PA (em solução aquosa),

λmax= 262 nm .................................................................................................... 72

Figura 4.6: Razão de redução da concentração de AMX durante 60 min .............. 80

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xvi

Figura 4.7: Razão de redução da concentração de AMP durante 60 min .............. 80

Figura 4.8: Avaliação do percentual de remoção com relação ao tempo de

reação para (a) AMX e (b) AMP ............................................................................. 81

Figura 4.9: Oxidação da AMX por reagente de Fenton: (a) 2,44x10-3 mol de

H2O2, (b) 3,28x10-3 mol de H2O2, (c) 4,89x10-3 mol de H2O2 e (d) 9,79x10-3 mol

de H2O2 .................................................................................................... 83

Figura 4.10: Oxidação da AMP por reagente de Fenton: (a) 2,44x10-3 mol de

H2O2, (b) 3,28x10-3 mol de H2O2, (c) 4,89x10-3 mol de H2O2, (d) 9,79x10-3 mol

de H2O2, (e) 1,22x10-2 mol de H2O2, (f) 1,47x10-2 mol de H2O2 e (g) 1,96x10-2

mol de H2O2 ......................................................................................................................................................... 84

Figura 4.11: Relação entre kobs e a concentração de H2O2 na degradação de

AMX por reagente de Fenton ................................................................................. 85

Figura 4.12: Relação entre kobs e a concentração de H2O2 na degradação de

AMP por reagente de Fenton ................................................................................. 86

Figura 4.13: DQO normalizada para as soluções filtradas e sem filtrar da

degradação por reagente de Fenton para AMX. .................................................... 87

Figura 4.14: Aspecto visual. (a) solução de AMX/Fe2+, t= 0 min (b) solução de

AMX/Fe2+/H2O2, t= 0,5 e 5 min, (c) solução AMP/Fe2+, t= 0 min, (d) solução

AMP/Fe2+/ H2O2, t= 0,5 e 5 min ............................................................................. 89

Figura 4.15: Espectro de IR para AMX PA ............................................................. 90

Figura 4.16 Espectro de IR do resíduo sólido gerado na degradação de AMX

por reagente de Fenton .......................................................................................... 90

Figura 4.17: Espectro de IR de AMP PA ................................................................ 91

Figura 4.18: Espectro de IR do resíduo sólido gerado na degradação de AMP

por reagente de Fenton .......................................................................................... 91

Figura 4.19: Remoção da DQO para os ensaios (I), (II), (III) e (IV) para AMX ....... 94

Figura 4.20: Remoção da DQO para os ensaios (I), (II), (III) e (IV) com AMP ....... 95

Figura 4.21: Detalhe do comportamento da degradação de AMX por reagente

de Fenton para o ensaio (III) em diferentes tempos de reação. (a) AMX e Fe2+,

(b) após adição de H2O2 e de (c) a (j), a cada 5 min de reação ............................. 96

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xvii

Figura 4.22: Detalhe do comportamento da degradação de AMP por reagente

de Fenton para o ensaio (III) em diferentes tempos de reação. (a) solução de

AMP e Fe2+, (b) após adição de H2O2 e de (c) a (j), a cada 5 min de reação ........ 96

Figura 4.23: Aspecto visual do resíduo da degradação AMX/reagente de

Fenton após 24 h. Ensaios (I), (II), (III) e (IV) ......................................................... 97

Figura 4.24: Razão de remoção da DQO para os ensaios (I), (II), (III) e (IV) com

AMX (tf = 60 min) .................................................................................................... 98

Figura 4.25: Razão de remoção da DQO para os ensaios (I), (II), (III) e (IV) com

AMP (tf = 60 min) .................................................................................................... 98

Figura 4.26: Variação do pH durante a degradação AMX/Fenton, AMP/Fenton e

do reagente de Fenton ........................................................................................... 100

Figura 4.27: Relação entre kobs e a concentração de H2O2 na degradação de

AMX e AMP por regente de Fenton com relação à DQO ....................................... 101

Figura 4.28: Percentagem de remoção de DQO para ensaios de degradação de

AMX por processo Fenton, tf = 60 min ................................................................... 103

Figura 29: Redução da DQO durante 60 min de ensaio ........................................ 104

Figura 4.30: Estudo cinético da degradação de AMX por processo foto-Fenton.... 104

Figura 4.31: Aspecto visual da degradação de AMX por foto-Fenton em (a) t = 5

min e (b) t = 60 min. ............................................................................................... 104

Figura 4.32: Acompanhamento da letalidade para Artemia salina dos produtos

da degradação de AMX/F ...................................................................................... 108

Figura 4.33: Acompanhamento da letalidade para Artemia salina dos produtos

da degradação de AMP/F ...................................................................................... 109

Figura 4.34: Crescimento radicular médio em função da diluição dos resíduos

da degradação de AMX/F (t=120h) ........................................................................ 110

Figura 4.35: Crescimento radicular com relação do controle negativo (t=120 h) ... 111

Figura 4.36: Curva de crescimento em diferentes diluições para as 120 h de

ensaio .................................................................................................... 112

Page 18: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

xviii

Figura 4.37: Aspecto visual (efeito macroscópico) (a) CN, (b) 2,5%, (c) 1,0%,

(d) 0,5% e (e) 0,25% .............................................................................................. 113

Figura 4.38: Crescimento da raiz após 120 h nas diferentes soluções .................. 113

Figura 4.39: Percentual de crescimento radicular com relação ao CN ................... 114

Figura 4.40: Diagrama de Pareto para os ensaios com diferentes diluições dos

produtos de degradação de AMP/F ........................................................................ 114

Figura 4.41: Curva de crescimento nas diferentes concentrações para as 120 h

de ensaio .................................................................................................... 115

Figura 4.42: Aspecto visual (efeito macroscópico) (a) CN, (b) 2,5%, (c) 1,0%,

(d) 0,5% e (e) 0,25% .............................................................................................. 116

Figura 4.43. Estágio de degradação do sistema radicular dos bulbos de Allium

cepa expostos aos resíduos neutralizados de AMX tratada pelo processo

Fenton .................................................................................................... 117

Figura 4.44. Fotomicrografias das células meristemáticas de Allium cepa. (A)

Núcleo interfásico; (B) e (C) Núcleos na prófase; (D) Núcleo metafásico com

fragmento cromossômico; (E) Anáfase precoce normal: (F) Anáfase com

pontes cromossômicas, (G) e (H) Anáfase e Metáfase normais,

respectivamente; (I) Distribuição metafásica anormal; (J) Célula Binucleada e

(L) Células interfásicas normais ............................................................................. 118

Figura 4.45: Mitose normal ..................................................................................... 122

Figura 4.46: Prófase, metáfase e telófase normais ................................................ 122

Figura 4.47: Presença de micronúcleos em AMX/F 5,0% ...................................... 123

Figura 4.48: Quebras cromossômicas, AMX/F 5,0% .............................................. 123

Figura 4.49: Quebra cromossômica AMX/F, 2,5% ................................................. 124

Figura 4.50: Quebra cromossômica, AMX/F 1% .................................................... 124

Figura 4.51: Ponte cromossômica, AMX/F 1% ....................................................... 124

Figura 4.52: Perda cromossômica AMP/F 2,5% ..................................................... 125

Page 19: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

xix

Figura 4.53: Espectro de IR do resíduo sólido formado na neutralização da

solução de degradação de AMX/Fenton(verde), AMP/Fenton(vermelho) e

efluente bruto da industrial/Fenton(azul). ............................................................... 128

Figura 4.54: Fluxo do efluente penicilânico em uma indústria de Goiás. ............... 131

Page 20: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

xx

Lista de tabelas

Tabela 2.1: Detecção de CFHP em diferentes compartimentos ambientais ......... 10

Tabela 2.2: Fármacos de uso humano e veterinário com potencial para dano

em organismos aquáticos. ..................................................................................... 13

Tabela 2.3: Presença de sulfonamidas no lençol freático em função da

distância com relação a um aterro sanitário. .......................................................... 15

Tabela 2.4: Concentrações máximas encontradas para antibióticos em

efluentes de ETE, águas superficiais e no lençol freático ...................................... 16

Tabela 2.5: Excreção e biodegradabilidade de alguns agentes de uso

terapêutico .................................................................................................... 24

Tabela 2.6: Predominância de resistência a antibiótico de cepas de

Acinetobacter proveniente de esgoto hospitalar e de planta farmacêutica ............ 29

Tabela 2.7: Predominância de múltipla resistência a antibiótico de cepas de

Acinetobacter proveniente de esgoto hospitalas e de planta farmacêutica ............ 29

Tabela 2.8: Estudos de degradação de compostos químicos por POA ................. 31

Tabela 2.9: Eficiência de conversão de aminas cancerígenas em produtos

degradados utilizando reagente de Fenton ............................................................ 32

Tabela 2.10: Resultados obtidos a partir da degradação por diferentes POA de

eflluente industrial da produção de AMX ................................................................ 35

Tabela 3.1: Volume de reagentes utilizados para a degradação de 200,0 mL de

solução de AMX e AMP ......................................................................................... 55

Tabela 3.2: Quantidade de matéria (mol) presente nos ensaios de degradação

por foto-Fenton para AMX promovido por radiação solar ....................................... 59

Tabela 4.1: Tempo de detenção hidráulica em função do volumes dos tanques

de tratamento .................................................................................................... 74

Tabela 4.2: Cronograma de coleta de amostras e parâmetros analisados ............ 74

Tabela 4.3: Eficiência do sistema de tratamento, taxa de remoção e eficiência .... 75

Page 21: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

xxi

Tabela 4.4: Quantidades de matéria (mol) utilizadas nos diferentes POA para

200 mL de solução 2,86 x 10-3 mol L-1 de AMX e 200 mL de solução 3,20 x 10-3

mol L-1 de AMP .................................................................................................... 77

Tabela 4.5: Variação de pH durante os diversos ensaios com POA utilizando

soluções sintéticas de AMX e AMP ........................................................................ 78

Tabela 4.6: Percentagem de degradação de AMX e AMP em função do POA ...... 79

Tabela 4.7: Quantidade de matéria (mol) presente nos ensaios de degradação

por reagente de Fenton para AMX ......................................................................... 82

Tabela 4.8: Quantidade de matéria (mol) presentes nos ensaios de degradação

por reagente de Fenton para AMP ......................................................................... 84

Tabela 4.9: Quantidade de matéria (mol) presente nos ensaios de degradação

por reagente de Fenton para AMX ......................................................................... 93

Tabela 4.10: Quantidade de matéria (mol) presente nos ensaios de degradação

por reagente de Fenton para AMP ......................................................................... 95

Tabela 4.11: Variação do pH em função do tempo de reação ............................... 95

Tabela 4.12: Quantidade de matéria (mol) presentes nos ensaios de

degradação por foto-Fenton para AMX .................................................................. 102

Tabela 4.13: Letalidade de resíduo de degradação de AMX por reagente de

Fenton para Artemia salina (t=24 h). ...................................................................... 106

Tabela 4.14: Letalidade de resíduo de degradação de AMP por reagente de

Fenton para Artemia salina (t=24h). ....................................................................... 106

Tabela 4.15: Percentual de mortes de Artemia salina de acordo com a

concentração para produtos de degradação de AMX/F ......................................... 107

Tabela 4.16: Percentual de mortes de Artemia salina de acordo com a

concentração para produtos de degradação de AMP/F ......................................... 108

Tabela 4.17: Valores médios de comprimentos da raiz (cm) em soluções dos

produtos de degradação de AMX por reagente de Fenton. ................................... 112

Tabela 4.18: Valores médios de comprimentos da raiz (cm) em soluções dos

produtos de degradação de AMP por reagente de Fenton. ................................... 115

Page 22: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

xxii

Tabela 4.19. Resultados da análise citogenética observados em células

meristemáticas de Allium cepa. .............................................................................. 117

Tabela 4.20: Efeito citológico dos produtos de degradação de AMX por

reagente e Fenton .................................................................................................. 120

Tabela 4.21: Efeito citológico dos produtos de degradação de AMP por

reagente de Fenton ................................................................................................ 121

Tabela 4.22: Avaliação de DBO5 e DQO para efluentes industriais ....................... 126

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1

CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

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2

1.1 INTRODUÇÃO

A produção em massa de medicamentos capazes de combater doenças

infecciosas constitui uma das maiores realizações da humanidade. A

introdução dos antibióticos na medicina marcou o início de uma nova era 1. A

demanda por este produto cresceu vertiginosamente nos últimos anos, pois os

mesmos não são utilizados única e exclusivamente como quimioterápicos na

medicina humana e veterinária, mas também são aplicados de forma intensa

na agricultura como protetores no crescimento de plantas e no confinamento

animal como promotores de crescimento de peixes, aves e suínos2.

Desde a década de setenta (1970) que estudos realizados mostram a

presença de compostos farmacêuticos em efluentes de estações de tratamento

de esgotos 3,4,5,6, em águas superficiais 3,4,5,7, profundas5, subterrâneas5, na

água potável 4, em solo8 , em lodos9 e em sedimentos8,10,11,12. A presença

desses compostos no meio ambiente indica que os mesmos são recalcitrantes

e que possuem baixa biodegradabilidade13. Até o momento, pouco se conhece

sobre o efeito dessas substâncias no meio ambiente, principalmente em

ambientes tropicais, e a sua remoção por meio dos processos convencionais

de tratamento de efluentes domésticos e industriais.

Os antibióticos compõem uma importante classe de fármacos com

grande possibilidade de gerar impacto ambiental devido a sua atividade

biológica específica. Alguns antibióticos, como a amoxicilina, por exemplo,

possuem baixa taxa de metabolismo tanto para seres humanos quanto para

animais. Os antibióticos e, em alguns casos, os seus metabólitos, possuem

razões de excreção que variam de 30 a 90%. Para um consumo mundial de

cerca de 200.000 t/ano, pode-se inferir que cerca de 50% estão entrando no

ambiente aquático 5,14.

No Brasil a indústria farmoquímica não sintetiza antibióticos beta-

lactâmicos apenas formula a partir de matéria prima importada. Este processo

gera quantidades moderadas ou altas de resíduos dependendo da variação

sazonal da sua produção. O efluente gerado por esse processo possui baixa

biodegradabilidade pois seus componentes são biologicamente ativos e

Page 25: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

3

tóxicos, promovendo a inibição da atividade de sistemas de tratamento como o

de lodo ativado causando problemas aos corpos receptores.

A importância do tratamento adequado para os efluentes da produção de

antibióticos é destacada neste trabalho, pois a presença dessas substâncias

em concentrações da ordem de ng/L ou µg/L no meio ambiente leva ao

desenvolvimento de organismos resistentes, já que a seletividade natural

favorece organismos com código genético resistente a antibióticos e a

alteração do padrão de resistência é um processo irreversível15.

A indústria farmacêutica cresce ano a ano no Brasil. Em 2002 o país

possuía cerca de 1.032 indústrias farmacêuticas de micro, pequeno, médio e

grande porte. No estado de Goiás localizam-se 4,4% do total dessas indústrias,

sendo que 17 indústrias no Pólo Farmoquímico de Anápolis e 5 em Goiânia 16.

O Brasil é carente em pesquisas para o desenvolvimento de métodos

para o tratamento de efluentes da produção dos antibióticos β-lactâmicos

amoxicilina (AMX) e ampicilina (AMP). Esses antibióticos são os mais

consumidos no país e dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior do Brasil mostram que, no ano de 2003, o principal produto

farmoquímico importado foi a amoxicilina e seus sais, atingindo 2,1% do total16.

A necessidade do desenvolvimento de tecnologias e do estudo desses

efluentes é incontestável. Os antibióticos possuem baixa biodegradabilidade,

resistem ao tratamento em ETE convencionais, persistem no meio ambiente e

potencializam seu efeito no ecossistema. Dessa forma, pode-se prever que

futuramente serão necessárias adaptações ou mesmo implantação de novos

processos de tratamento que removam os resíduos desse fármaco presente

em efluentes ou os degradem física e/ou quimicamente.

Tomando-se como base esse contexto, este trabalho se ateve, no

capitulo 2, a levantar as referências da literatura sobre a presença de

compostos farmacêuticos nos diferentes compartimentos ambientais, levando-

se a conclusão de que são baixos os rendimentos com relação à degradação

desses compostos por meio dos processos de tratamento de efluentes

convencionais utilizados para água e esgotos. Neste mesmo capítulo, são

apresentados os processos que estão sendo considerados pela comunidade

científica como uma boa proposta para a degradação de substâncias químicas

refratárias entre eles os Processos Oxidativos Avançados, POA, com ênfase

Page 26: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

4

aos processos homogêneos por serem considerados os de menor custo

econômico. Como anexo apresenta-se uma breve discussão sobre os

diferentes POA homogêneos, abordando alguns com aplicação especifica na

degradação de antibióticos de interesse comercial.

A metodologia experimental utilizada para o desenvolvimento encontra-

se descrita no capítulo 3. No capítulo 4 os resultados obtidos para a oxidação,

a otimização do melhor processo, os resíduos gerados pelo POA, a toxicidade

e biodegradabilidade dos produtos formados pela oxidação por reagente de

Fenton da AMX e AMP encontram-se discutidos.

Nas conclusões e perspectivas de desenvolvimentos futuros, capítulo 5,

a partir do processo mais eficiente e da avaliação da sua toxicidade e

biodegradabilidade, sugerem-se novas pesquisas.

Este trabalho teve como objetivo a avaliação do potencial da degradação

dos efluentes da produção de AMX e AMP por diferentes POA, a otimização

dos parâmetros do POA com melhor rendimento, a avaliação da toxicidade e

da biodegradabilidade dos produtos formados na degradação.

Page 27: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

5

1.2 OBJETIVOS

Estudos recentes sobre águas e efluentes mostram a presença de

xenobióticos no meio ambiente. A concentração de substâncias como

compostos farmacêuticos e de higiene pessoal tem apresentado valores

crescentes em águas de lagos, lagoas, rios, oceanos e em efluentes de

estações de tratamento de água e de efluentes domésticos. Essas substâncias

estão sendo encontradas até mesmo em águas de abastecimento público.

Em vista da preocupação mundial quanto a manutenção da qualidade da

água disponível no planeta para consumo humano, é necessários que sejam

realizados estudos com o objetivo de degradar estas substâncias formando

moléculas menos recalcitrantes e biodegradáveis.

Objetivo geral

- Avaliar a degradação dos antibióticos beta-lactâmicos AMX e AMP

utilizando-se POA bem como a toxicidade e biodegradabilidade dos produtos

formados nesse processo de degradação oxidativa.

Objetivos específicos

- Avaliar o potencial de degradação de diferentes processos oxidativos

avançados;

- Avaliar o rendimento dos POA com e sem a promoção por radiação;

- Otimizar o POA que apresente a melhor perspectiva de aplicação;

- Avaliar a toxicidade dos produtos formados pela degradação;

- Avaliar a biodegradabilidade dos produtos gerados pelo POA.

Definidos os objetivos, a fim de se fundamentar e dimensionar a

relevância deste trabalho, no próximo capítulo tem-se a apresentação da

abordagem teórica desta tese.

Page 28: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

6

CAPÍTULO 2 ABORDAGEM TEÓRICA

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7

2. EXPOSIÇÃO AMBIENTAL A CONTAMINANTES ORGÂNICOS

2.1 Presença de compostos farmacêuticos e de produtos de higiene pessoal no meio ambiente.

A partir da década de sessenta (1960) é que o mundo começou a se

preocupar com a questão da entrada de substâncias tóxicas no meio ambiente.

A publicação, em 1962, do livro “Primavera Silenciosa” da pesquisadora Raquel

Carlson, despertou a comunidade científica para a necessidade do

desenvolvimento de modelos para as rotas de substâncias tóxicas no meio

ambiente. Os compostos farmacêuticos só entraram neste contexto nos anos

90, quando estudos realizados nos Estados Unidos mostraram que algumas

drogas ocorriam em concentrações baixas o suficiente para não ameaçar o

ambiente, enquanto outras, apesar das baixas concentrações, poderiam causar

danos ambientais. Na literatura atualmente disponível, muitas drogas estão

sendo investigadas continuamente, entre elas destacam-se os antibióticos,

analgésicos, desinfectantes, anestésicos, agentes antiparacéticos, hormônios,

meios de contrastes, agentes psicofarmacológicos, agentes citostáticos, lipídeo

reguladores, solventes, etc17,13.

A preocupação com a presença de substâncias químicas de uso

farmacológico intenso na medicina humana e veterinária no meio ambiente

deve-se ao fato de que estas foram desenvolvidas com o propósito de possuir

atividade biológica. Elas frequentemente possuem comportamento físico-

químico semelhante, isto é, são lipofílicas (atravessam membranas),

persistentes e podem bioacumular-se nos organismos provocando efeitos

desconhecidos no ecossistema aquático e terrestre. Ainda não se tem

conhecimento do destino e dos efeitos dessas substâncias, apesar do aporte

das mesmas no meio ambiente ser alto18.

Como o objetivo no desenvolvimento de compostos químicos para

uso terapêutico é o de que suas moléculas possuam atividade biológica e

propriedades físico-químicas adequadas ao fim a que se destinam, essas

substâncias podem ser definidas como compostos farmacêuticos ativos

Page 30: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

8

(pharmaceuticals active compounds, PhACs). Elas são utilizadas de acordo

com sua atividade biológica específica e notadamente caracterizadas pelas

suas propriedades iônicas naturais. Sob condições ambientais, tais moléculas

podem ser neutras, catiônicas, aniônicas ou zwitteriônicas. Elas

frequentemente funcionam como ácidos ou como bases. Esses compostos

farmacêuticos em específico podem ainda ser classificados de acordo com

seus efeitos e também devido a sua estrutura química. Normalmente a

classificação conforme seu propósito terapêutico é a mais utilizada13,12.

Os PhACs são moléculas desenhadas para estimular respostas

fisiológicas em seres humanos, animais, bactérias e outros organismos.

Durante a década passada, observou-se um grande crescimento de efeitos

adversos devido ao uso e disposição inadequada desses produtos para a

saúde do homem e do meio ambiente. Pesquisas mostram que esses produtos

passam pelas estações de tratamento de esgotos sendo então lançados

diretamente nos cursos d’água19,12.

A atenção com relação a entrada de PhACs no ambiente se soma a

preocupação com o consumo de produtos de higiene pessoal. O conjunto de

produtos farmacêuticos e de higiene pessoal (CFHP) integram um grupo

conhecido como PPCPs (pharmaceutical and personal care products). Nestes

últimos anos, o potencial poluente destas substâncias tem trazido

preocupação, pois esses produtos possuem comportamento físico-químico

semelhante a outros xenobióticos que se acumulam ou apresentam efeitos

adversos em organismos aquáticos20. Os CFHP normalmente encontrados nos

diferentes compartimentos ambientais incluem: antibióticos, analgésicos e

antiinflamatórios, agentes lipídios reguladores, β-bloqueadores, antiepiléticos,

contraceptivos, esteróides e hormônios. A concentração ambiental encontrada

é geralmente em nível de traços (µg/L ou ng/L), sendo o suficiente para induzir

efeitos tóxicos15.

Os CFHP de uso humano e veterinário são continuamente liberados

para o meio ambiente como resultado do processo de manufatura, disposição

imprópria ou excreção metabólica. Assim, sua rota passa inevitavelmente pelas

estações de tratamento de esgotos (ETE) e pelo solo por meio do uso de

biossólidos como adubo19. Algumas dessas substâncias não são degradadas

pelas plantas de tratamento de esgotos, retornando ao meio ambiente através

Page 31: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

9

de seus efluentes atingindo assim rios, córregos, lagos até chegar aos

oceanos. Estudos mostram que drogas como carbamazepina, atenolol,

metoprol, timetropina e diclofenaco são parcialmente removidas nas ETE

(menos de 10% para a maioria delas e entre 10% e 39% para o diclofenaco) 21.

Algumas drogas podem ser detectadas em suas formas modificadas como

hidrolisados ou conjugados. O ibuprofem, por exemplo, tem uma remoção de

aproximadamente 90%, transformando-se em produtos hidroxilados ou

carboxilados 21.

As pesquisas de CFHP em ecossistemas aquáticos e terrestres

detectaram-nos em diferentes compartimentos como apresentado na tabela

2.1.

Tabela 2.1: Detecção de CFHP em diferentes compartimentos ambientais.

Compartimento Referência

Efluentes de

ETE3,12,4,7,9

TERNES et al., 1998; HERNANDO et al., 2006; STUMPF

et al., 1999; KOLPIN et al., 2002; CARBALLA et al., 2004

Canais5 HIRSCH et al., 1999

Riachos4,5 STUMPF et al., 1999; HIRSCH et al., 1999

Grandes

rios4,11,3,7,5,12

STUMPF et al., 1999; BENDEZ et al., 2005; TERNES,

1998; KOLPIN et al., 2002; HIRSCH et al., 1999;

HERNANDO et al., 2006

Lagos7 KOLPIN et al., 2002

Águas

profundas7

KOLPIN et al., 2002

Oceanos6 ZUCCATO et al., 2000

Sedimentos10,8,12 LALUMERA et al., 2004; DIÁZ-CRUZ et al., 2003;

HERNANDO et al., 2006

Existe um interesse especial por exposições do ecossistema aquático,

pois o esse recebe cargas contínuas proveniente das ETE.

O fato de a meia-vida (t1/2) dos PhACs ser relativamente pequena e de

que seu aporte no meio ambiente é constante, pode-se considerá-los como

substâncias “pseudopersistentes”. A natureza polar e não volátil faz com que

Page 32: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

10

estes compostos se mantenham na água. A presença de algumas dessas

substâncias em ambientes terrestres se deve ao uso de biossólidos (lodo de

ETE) ou ainda de adubos orgânicos na agricultura. As drogas que possuem

propriedades ácidas ou alto valor de log Kow (coeficiente de partição n-

octanol/água) mostram grande afinidade por lodo e solo. Estes compostos

quando hidrofóbicos e pouco voláteis se acumulam no solo ou no sedimento o

que reduz significativamente a sua concentração na fase aquosa20.

Cerca de 200.000 t de medicamentos são produzidas anualmente para

aplicação na medicina humana, na veterinária e na agricultura. Após sua

administração, uma parte significativa é excretada, cerca de 30 a 90% da

dosagem de forma inalterada, podendo assim persistir no meio ambiente.

Como os fármacos foram desenvolvidos para serem persistentes, mantendo

suas propriedades químicas o bastante para servir a um propósito terapêutico,

o uso desenfreado de antibióticos, por exemplo, acarreta dois problemas

ambientais: um é a contaminação dos recursos hídricos e o outro, é o de que

alguns microorganismos criam resistência a esses fármacos. As bactérias

podem fazer, e frequentemente o fazem, mudanças no seu material genético,

adquirindo resistência a esses fármacos22.

Pouco se conhece até o presente momento sobre as rotas ambientais

dos fármacos. A figura 2.1 apresenta um esquema das prováveis rotas dessas

substâncias no meio ambiente22.

Em termos de periculosidade, os CFHP possuem uma série de

agravantes: 1) muitos são persistentes, assim como seus produtos de

degradação; mesmos aqueles que possuem meia-vida curta são passíveis de

causar exposições crônicas devido a sua introdução contínua no meio

ambiente; 2) os fármacos são desenvolvidos para desencadearem efeitos

fisiológicos, e, consequentemente, a biota se torna mais suscetível a impactos

desses compostos; 3) embora a concentração de alguns fármacos encontrados

no ambiente seja baixa, a combinação deles pode ter efeitos pronunciados

devido aos mecanismos de ação sinérgica 23.

Page 33: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

11

Figura 2.1: Rota de exposição ambiental para CFHP de uso humano e

veterinário. Fonte: BILA et al., 200322.

Os fatores agravantes quanto a periculosidade dos CFHP preocupam

por indicarem que os CFHP são potencialmente danosos aos organismos

aquáticos e terrestres promovendo, por exemplo, disfunções endócrinas em

peixes, répteis e invertebrados; aumento de resistência a bactericidas de

bactérias presentes no solo; estimulo no crescimento de cianobactérias e

inibição no crescimento de plantas aquáticas entre outros24.

A tabela 2.2 apresenta os principais fármacos de uso humano com

potencial para causar danos em organismos aquáticos.

AAllaaggaa--mmeennttoo

eexxccrreeççããoo

EETTEE

eessggoottoo

llooddoo

MMeeddiicciinnaa hhuummaannaa

aaqquuiiccuullttuurraa SSuuiinnoo//bboovviinnoo--ccuullttuurraa

aavviiccuullttuurraa

ddeessccaarrttee

EExxccrreeççããoo

AAtteerrrroo ssaanniittáárriioo//iinndduussttrriiaall

RReejjeeiittoo ddoommééssttiiccoo ee//oouu iinndduussttrriiaall

ÁÁgguuaa ssuuppeerrffiicciiaall

ÁÁgguuaa ttrraattaaddaa

AAdduubboo oorrggâânniiccoo

lleennççooll ffrreeááttiiccoo

CCaaddeeiiaa aalliimmeennttaarr

vvaazzaammeennttoo

CCaarrrreeaammeennttoo pplluuvviiaall

Alimentos ??????

Produção industrial

SSoolloo// ssoolloo aaggrrííccoollaa

MMeeddiicciinnaa vveetteerriinnáárriiaa

Page 34: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

12

Tabela 2.2: Fármacos de uso humano com potencial para dano em organismos

aquáticos.

Fármaco Uso terapêutico

Amoxicilina, tetraciclina, azitromicina,

ciproflaxacina, eritromicina

Antibióticos

Diclofenaco, ibuprofeno Antiinflamatório

1,7-α-etinilestradiol, dietilbestrol,

levonorgestrel, testosterona, tiroxina

Hormônios

Reserpina anti-hipertensivo

Omeprazol, ranitidina Antiulceroso

Paracetamol, dipirona sódica, codeína,

ácido acetilsalicílico, tramadol

Analgésico

Captopril, propanolol, ditilazem, verapamil,

lisinopril

Cardiovascular

Diazepan, fluoxetina, citalopram Antidepressivo

Fonte: REIS FILHO, 200723.

2.2 Monitoramento ambiental de CFHP

Pesquisadores de diversas partes do mundo reconhecem como sendo

preocupante a ocorrência de compostos farmacêuticos ativos (PhCAs) no

ambiente. Nos últimos anos diversas pesquisas foram realizadas com o

objetivo de identificar e quantificar resíduos e metabólitos das diferentes drogas

utilizadas na medicina humana e veterinária.

O descarte inadequado de resíduos da indústria farmacêutica até

poucos anos atrás e a disposição de medicamentos no lixo residencial levou a

aterros sanitários uma quantidade significativa de compostos orgânicos

farmacêuticos. A preocupação com a contaminação do lençol freático por

esses PhACs fez com que um estudo fosse realizado em um aterro que operou

de 1937 a 1977. Durante seus 40 anos de funcionamento ele recebeu cargas

constantes de quantidades diferenciadas destes compostos. Um ponto

Page 35: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

13

importante neste estudo foi a avaliação quanto a distribuição de CFHP de

acordo com a profundidade e distância com relação ao aterro. No período de

operação do aterro estudado, as sulfas, amidas sulfanílicas, eram muito

utilizadas no controle das infecções. A tabela 2.3 apresenta os resultados

obtidos para alguns antibacterianos pesquisados nesse trabalho25.

A importância desse trabalho está no fato de que o mesmo é o primeiro

a ser publicado enfocando a distribuição da concentração de compostos

farmacêuticos e/ou seus metabólitos no lençol freático em uma região próxima

a um aterro sanitário25.

O monitoramento de 18 antibióticos diferentes em efluentes de ETE,

águas superficiais e lençol freático, na região de Frankfurt a Wisbaden na

Alemanha, indicou que 30% dos antibióticos estavam presentes em todas as

matrizes estudadas5. Na tabela 2.4 tem-se os resultados obtidos para os

antibióticos encontrados. Dados da literatura indicam que a presença no

ambiente de concentrações na ordem de ng/L ou µg/L podem levar ao

desenvolvimento de organismos resistentes, logo estes dados são

preocupantes.

Page 36: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

14

Tabela 2.3: Presença de sulfonamidas no lençol freático em função da

distância com relação a um aterro sanitário.

Distância a partir do aterro (m)

Composto

(µg/mL)

Profundidade

(m) 0 15 37 50

Ácido

sulfanilico

5,5 1380 na na na

7 6470 6280 1000 90

8,5 930 10440 5530 70

10 5300 ne 3160 1610

Sulfanilamida 5,5 60 na na na

7 170 210 30 <20

8,5 40 300 140 <20

10 120 ne 170 40

Sulfaguanidina 5,5 110 na na na

7 1600 900 110 <20

8,5 190 280 480 <20

10 1070 ne 360 540

Sulfadiazina 5,5 100 na na na

7 480 720 170 <20

8,5 100 1160 440 <20

10 480 ne 410 80

Sulfadimidina 5,5 100 na na na

7 900 540 50 <20

8,5 230 900 310 20

10 640 ne 180 140

sulfametizol 5,5 70 na na na

7 310 190 <20 <20

8,5 70 330 190 <20

10 210 ne 70 70

na: ponto não amostrado, ne: água insuficiente para amostragem

Fonte: HOLM et al., 199525.

Page 37: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

15

Tabela 2.4: Concentrações máximas encontradas para antibióticos em

efluentes de ETE, águas superficiais e no lençol freático.

Substância (valores máximos µg/L)

Efluente de ETE Águas superficiais

Lençol freático

Claritromicina 0,24 0,26 <LD

Eritromicina-H2O 6,00 1,70 <LD

Roxitromicina 1,00 0,56 <LD

Cloranfenicol 0,56 0,06 <LD

Sulfametaxazol 2,00 0,48 0,47

trimetropina 0,66 0,20 <LD

Fonte: HIRSCH et al., 19995.

Uma das maiores pesquisa realizada na área aconteceu entre 1999 e

2000 nos Estados Unidos. Foram coletadas 139 amostras em rios e riachos por

praticamente todo território norte americano e 95 substâncias foram

pesquisadas, dentre elas 31 (32,6%) eram antibióticos. A freqüência

apresentada pelos antibióticos nas amostras coletadas foi a seguinte:

eritromicina–H2O: 21,5%, limcomicina: 19,2%, sulfametaxazol: 19,0%,

trimetropina: 27,4% e tilisina: 13,5%. A cafeína foi encontrada em 70% das

amostras e o esteroide coprostanol foi observado em 85,7%. Como a principal

fonte de contaminação destes corpos hídricos são as ETE municipais e/ou

industriais, podemos considerar estas substâncias como contaminantes

orgânicos de efluentes (OCWs). Observa-se no estudo que mais de um OCWs

foram detectados em 80% dos pontos coletados, podendo então considerar-se

que os mesmos ocorrem em uma escala nacional. Isto indica que os mesmos

“sobrevivem” ao tratamento nas ETE (recalcitrantes) e que possuem baixa

biodegradabilidade7.

Uma grande fonte de contaminação ambiental está no uso de

biossólidos. Compostos farmacêuticos de uso humano e veterinário, em razão

de sua taxa de excreção, acumulam-se no esterco animal e no lodo de ETE. O

uso destes sub-produtos como adubo na agricultura transfere para o solo os

PhACs. A atuação dos mesmos sobre a microbiota ainda não se encontra bem

Page 38: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

16

esclarecida. Na Comunidade Européia tem crescido a preocupação com a

presença de agentes terapêuticos nos biossólidos, eles estão sendo

considerados fonte de risco para o meio ambiente. Estudos mostram que a

capacidade de permanência no solo de substâncias como o antibiótico

bacitracina, por exemplo, pode ser de até 30 dias em temperaturas que variam

de 2 a 30 ºC 14.

Compostos farmacêuticos como analgésicos, anti-inflamatórios,

antibióticos, antiepiléticos, beta-bloqueadores, lipídeo reguladores, meios de

contraste, drogas citostáticas e contraceptivos orais têm sido encontrados em

amostras de águas de superfície, lençol freático, água potável e esgotos. Mais

de 80 diferentes drogas e seus metabólitos foram identificados no ambiente

aquático em concentrações que atingem µg/L. Por meio da recarga, os

aqüíferos podem ser contaminados com PhACs polares como o ácido

clofíbrico, carbamazepina, primidona ou agentes de contraste com Iodo

isotópico. Estudos realizados já detectaram a presença destes compostos em

águas profundas a partir da contaminação por chorume proveniente de aterro

sanitário. A contaminação observada em efluentes de ETE levaram a

conclusão de que é necessário o desenvolvimento de tecnologias para

remoção destes contaminantes com eficiência para que os mesmos não

atinjam as ETA26.

A resistência a processos convencionais de tratamento em ETE foi

avaliada pelo estudo da presença de um total de 106 OWC, entre eles 25

antibióticos, em estações de tratamento de água (ETA) e nos rios que as

abastecem. Dentre os OWC estudados, 70 foram encontrados, 34 em mais de

10% das amostras e 17 nas amostras de água potável (após tratamento na

ETA), indicando assim que esses compostos resistem aos processos de

tratamento convencionais de água. Um ponto de destaque neste estudo foi a

questão da regulamentação quanto à presença destas substâncias em água

potável. Até o presente momento ela é incipiente por ainda não termos dados

disponíveis suficientes para que se proceda à regulamentação do descarte das

mesmas. Outro fator importante levantado neste trabalho é que a ausência de

alguns OWCs não necessariamente implicam sua total remoção na ETE e/ou

na ETA. Os processos de tratamento podem estar transformando-os em

substâncias desconhecidas ou ainda, que não temos metodologia analítica que

Page 39: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

17

possa avaliar essas substâncias nas concentrações em que as mesmas se

encontram no ambiente27.

Um estudo realizado em uma ETE na Galícia, Espanha, avaliou a

presença de 13 CFHP entre eles 2 antibióticos. Os resultados apresentaram

concentrações de até 0,64 µg/L para sulfametoxazol. A remoção observada na

ETE estudada variou de 70 a 90% para fragrâncias, 40 a 65% para anti-

inflamatórios, aproximadamente 65% para hormônios e 60% para a

sulfametoxazol. A remoção observada pode ter ocorrido por degradação ou

adsorção na fase sólida. Os resultados obtidos mostram que modificações

precisam ser implementadas nas ETE existentes para atender as necessidades

quanto a qualidade da água potável9.

A aquicultura se utiliza de uma grande quantidade de antibióticos para

controlar doenças bem como para promover o crescimento dos animais.

Produtos farmacêuticos como a amoxicilina, flumequina, oxitetraciclina,

tianfenicol entre outros são de uso comum neste tipo de confinamento animal.

Desta forma, grandes quantidades de PhACs são carreados para o ambiente

ficando parte retida no sedimento. Amostras de sedimento de fazenda de

piscicultura apresentaram valores máximo de 246,3 µg/kg p.s.(peso seco) para

oxitetraciclina e 578,8 µg/kg p.s. para flumequina. Neste estudo, flumequina e

oxitetraciclina se mostraram potencialmente relevantes pois foram encontrados

no sedimento e em regiões próximas do ambiente estudado. Um ponto de

amostragem apresentou traços de oxitetraciclina apesar deste antibiótico não

estar mais sendo usado em tratamentos há mais de 2 anos. O que levou à

investigação da presença de antibióticos no meio ambiente foi a preocupação

com o desenvolvimento de organismos resistentes. A disseminação de

população de bactérias resistentes pode estar diretamente relacionada com a

aplicação destes fármacos na aqüicultura10.

A presença de 31 PhACs foi avaliada no rio Höje na Suécia. Esta região

recebe a carga de uma ETE dimensionada para uma população de 80.000

habitantes. Dentre as substâncias estudadas encontramos os antibióticos

timetropina e sulfametoxazol. A persistência dos mesmos entre outras

substâncias nos pontos de coleta a partir do ponto de descarga da ETE indica

que a sua remoção não é eficiente, isto é, a tecnologia utilizada na estação é

inadequada para a remoção dessas substâncias. A eficiência calculada de

Page 40: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

18

remoção para trimetropina foi de 49% e no caso da sulfametoxazol, 0%. Os

resultados obtidos deixam claro que há necessidade do desenvolvimento de

estudos sobre a rota destas substâncias no ambiente e da sua influência nos

organismos aquáticos11.

Com relação a ambientes como o tropical, até o presente momento,

poucos estudos foram publicados. Uma pesquisa avaliou um total de 11 drogas

polares diferentes (ácido acetilsalicilico, Ibuprofen, diclofenaco etc) na região

do rio Paraíba do Sul, em alguns de seus afluentes e na baia da Guanabara no

estado do Rio de Janeiro. Esta é uma região com alta descarga de estações de

tratamento de esgoto (ETE). A detecção das drogas estudadas e/ou seus

metabólitos nas amostras mostrou que as mesmas não são degradadas nos

sistemas utilizados (filtro biológico e lodo ativado). O diclofenaco, por exemplo,

foi encontrado em 7 de 8 pontos amostrados no rio Paraíba do Sul e sua

concentração variou de 0,02 a 0,06 µg/L. A importância deste trabalho vem do

fato de que o rio Paraíba do Sul é a principal fonte de água para o

abastecimento da população do estado do Rio de Janeiro4.

A partir das informações relatadas, observa-se a necessidade do

desenvolvimento estudos para que se amplie o banco de dados atual de forma

que as seguintes questões sejam respondidas:

(1) Como varia de acordo com a estação do ano a presença de OWCs nas

fontes de água?

(2) Como os tratamentos adotados nas ETE e ETA reduzem a

concentração dos OWCs? E

(3) Que processos físicos e/ou químicos reduzem a concentração ou

eliminam os OWCs?27

Enfim, esclarecer como se comportam os PhACs no meio ambiente, qual

seu destino e o aporte nas diferentes regiões e climas do planeta.

2.3 Antibióticos e seu aporte ambiental

Os antibióticos podem ser considerados como substâncias

“pseudopersistentes” no meio ambiente pelo fato de que possuem uma meia-

vida relativamente curta, são polares, não voláteis e, devido as suas estruturas

Page 41: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

19

químicas, promovem reações de alta complexidade12. A figura 2.2 apresenta as

estruturas gerais de alguns grupos de antibióticos de uso comum na medicina

humana e veterinária.

R CO NH

NO

S CH3

CH3

COOH (a)

R CO NH

NO

SR'

COOH

CH2 R''

(b)

OH O OH OCHNHR2

OH

N(CH3)2R5R7

OH

R1R6

(c) O2N CH CH NH C CHCl2

OCH2OHOH

(d)

B

C NA

COOH

O

R1 (e)

SO2 N R2

H

NHR1

(f)

Figura 2.2: Fórmula estrutural geral das: (a) penicilinas, (b) cefalosporinas, (c)

tetraciclinas, (d) cloranfenicol, (e) quinolonas e (f) sulfonamidas.

Um fato que chama a atenção observando essas estruturas é a

presença de um grande número de grupos funcionais entre eles ácido

carboxílico, amida, amina, álcool, cetona, enol, fenol, tiazol, nitro composto,

derivados halogenados, sulfonamida entre outros, o que caracteriza a grande

atividade química e biológica destas substâncias. Estes grupos funcionais

fazem com que estas moléculas se liguem a partículas sólidas ou formem

complexos, dependendo do pH do meio. Desta forma, podem permear o solo

sendo carreadas para o lençol freático atingindo os rios e expondo os

organismos aquáticos a este tipo de contaminação17.

Na medicina humana, os antibióticos beta-lactâmicos, particularmente as

penicilinas e as cefalosporinas, ocupam lugar de destaque pelo fato de que

juntas somam a maior quantidade de produtos biotecnologicamente produzidos

Page 42: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

20

no mundo. Nas últimas cinco décadas, houve um crescimento significativo da

produção, o que levou à quantidade suficiente para atender a toda população

mundial. Estima-se que o mercado mundial de antibióticos beta-lactâmicos

esteja em torno de US$ 15 bilhões, dos quais aproximadamente US$ 9,9

bilhões se referem à venda de cefalosporinas e US$ 5 bilhões de penicilinas.

Esta indústria representa a maior produção mundial de produtos

biotecnologicamente fabricados e atinge aproximadamente 65% do total de

antibióticos produzidos no mundo28.

Em 1996 cerca de 10.200 toneladas de antibióticos foram utilizados nos

Estados Unidos dos quais aproximadamente 50% na veterinária e como

promotores de crescimento. Em 1999 os dados da Federação Européia de

Saúde Animal mostraram que 13.288 toneladas de antibióticos foram

consumidas pelos Estados Unidos e Suécia sendo que 65% para consumo

humano, 29% veterinário e 6% como promotor de crescimento29. No ano de

2000, os Estados Unidos produziram cerca de 16.200 t dos quais 70% foram

usados em fazendas de confinamento de animais (gado, suíno, aves, peixes

etc). Este total se refere a oito vezes a quantidade utilizada pela medicina

humana no mesmo período27.

No Brasil, no ano de 2003, a amoxicilina e seus sais ocuparam lugar de

destaque na importação de farmoquímicos. Foram os produtos com maior

volume de importação, atingindo um total 2,1% do total16 (Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, 2004). O Brasil conta hoje

com 1032 indústrias farmacêuticas de micro, pequeno, médio e grande porte. A

distribuição das mesmas pelo país encontra-se representada na figura 2.3 a

seguir.

Page 43: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

21

Outros 11,5%

Pernambuco 3,4%Goiás 4,4%

Rio de Janeiro 14,5%

São Paulo 38,1%

Minas Gerais 11,8%Paraná

6,8%

Rio G. do Sul 6,2%

Santa Catarina 3,3%

Nos Estados Unidos, no ano de 2004, a amoxicilina foi o 6° produto

farmacêutico mais consumido em uma lista de 30031, só perdendo para

medicamentos para pressão e problemas cardiovasculares.

A entrada no ambiente de PPCPs ocorre a partir de uma variedade de

fontes, as principais são os esgotos hospitalares, esgotos domésticos, áreas de

irrigação adubadas com lodo de ETE, adubos orgânicos contendo antibióticos,

infiltração a partir de tanques de psicultura, a produção industrial, lixiviação de

aterros, resíduos de processamentos de produtos alimentícios de origem

animal etc 32. A contaminação pela manufatura é importante pelo fato de ser

localizada. A identificação da rota destas substâncias no ambiente é um ponto

crucial para o entendimento dos efeitos das mesmas. A questão é bastante

complexa pois, como apresentado, as fontes de contaminação são muitas8.

A biotransformação de compostos farmacêuticos pelos organismos nem

sempre é eficiente. Essa biodegradação modifica a estrutura química bem

como a atividade da molécula, que frequentemente resulta em uma mudança

de comportamento físico-químico e das propriedades farmacológicas. O

metabolismo destas moléculas pode frequentemente ser baixo ou incompleto,

variando de 0 a 100%13, entrando no meio ambiente através da excreção, o

que levanta uma preocupação quanto a eficiência das ETE convencionais na

eliminação destes contaminantes.

Estudos realizados na Itália para substâncias excretadas não

metabolizadas em quantidades significativa a partir do balanço de massa e da

Figura 2.3: Percentual de distribuição das indústrias farmacêuticas no Brasil.

Fonte: MDICE, 200416.

Page 44: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

22

razão de excreção (quantidade vendida x razão de excreção), estimam um

aporte ambiental na ordem de toneladas por ano para amoxicilina, ranitidina,

lincomicina e eritromicina6.

O conhecimento da taxa de excreção bem como da biodegradabilidade

dos CFHP é importante tendo em vista o fim a que se destinam14. Agentes

terapêuticos não são ambientalmente diferentes de outros compostos

orgânicos tais como pesticidas e herbicidas, alguns deles mantêm sua

atividade residual mesmo em biossólidos ou no esterco animal por um longo

tempo. Os biossólidos são comumente utilizados como adubos e aplicados em

terras agricultáveis, o que pode levar metais, patógenos e agentes terapêuticos

para o solo, água e vegetação existente14. Alguns PhACs são utilizados em

quantidades equivalentes às dos pesticidas em países como a Alemanha5. A

tabela 2.5 apresenta dados referentes a taxas de excreção por fezes e urina de

alguns agentes terapêuticos de uso humano e veterinário bem como dados

referentes à sua biodegradabilidade 5,14.

Observando a tabela 2.5, podemos destacar os antibióticos beta-

lactâmicos penicilina G com uma razão de excreção de 50 a 70% sem

alteração, de 30 a 70% na forma de metabólitos e com sua biodegradabilidade

considerada parcial, a amoxicilina com razão de excreção de 80 a 90% e a

ampicilina de 30 a 60% sem alteração.

Estudos realizados na Alemanha mostram que só no ano de 1998,

aproximadamente 412 toneladas de antibióticos foram consumidas

(aproximadamente 0,5 g per capta ao ano). Tendo em vista a taxa de excreção,

a quantidade prevista de entrada nas ETE foi de 305 t sendo que deste total,

73% correspondem a antibióticos beta-lactâmicos. A figura 2.4 apresenta a

quantidade de antibióticos que chegam nas ETE de acordo com os grupos a

que pertencem considerando a razão de excreção média de cada um15.

Page 45: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

23

Tabela 2.5: Excreção e biodegradabilidade de alguns agentes de uso

terapêutico.

Substância Razão de excreção (%) biodegradabilidade

Sem alteração

metabólitos

Consumo humano

Amoxicilina 80-90 10-20 Sem dados

Ampicilina 30-60 20-30 Sem dados

Penicilina G 50-70 30-70 Parcialmente

degradável

Penicilina V ~40 ~60

Eritromicina >60

Cloranfenicol 5-10 - Sem dados

Clorotetraciclina >70 - t1/2 = 20 dias (solo)

Oxitetraciclina >80 - t1/2 = 20 dias

Sulfametaxazole 15 - Persistente

Tetraciclina 80-90 - Persistente

Consumo veterinário

Ivermectin 40-75 25-60 Persistente

Tylosin 28-76 - t1/2 = 3-8 dias

Estreptomicina >66 - Persistente

Virgiamicina 0-31 - Persistente

Clortetraciclina 17-75 - t1/2 ≥ 64 dias

Oxitetraciclina 20 - t1/2 > 20 dias

Adaptada de HIRSCH et al., 19995 e JJEMBA, 200214.

Page 46: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

24

quinilonas2%

outros3%

macrolitos2%

tetraciclinas1%

aminoglicosideo0%

carbapenenos1%

cefalosporina15%

sulfonamidas25%

glicopeptídeos0%

penicilinas51%

Figura 2.4: Aporte de antibióticos nas ETE da Alemanha em 1998 de acordo

com consumo e razão de excreção.

Fonte: KÜMMERER E HENNINGER, 200315.

As pesquisas de CFHP em água potável apontam para o fato de que as

mesmas não são biodegradáveis e nem tão pouco eliminadas durante o

processo de tratamento em ETE e/ou ETA. Os efluentes hospitalares são

considerados uma fonte importante de contaminação ambiental. Drogas como

analgésicos, antibióticos, lipídeo reguladores, agentes psicofarmacológicos,

agentes citostáticos, meios de contraste etc já foram identificados neste tipo de

efluente. Na Alemanha, em 1999, 411 t de antibióticos foram utilizadas em

aplicações humanas sendo que 105 t só em hospitais. Considerando-se a

razão de excreção, temos que cerca de 86 t foram descarregadas nos esgotos

hospitalares. A concentração estimada de antibióticos nos efluentes

hospitalares foi da ordem de 0,1 a 2,9 mg/L, encontrando-se na mesma razão

da concentração semi-máxima de inibição (MIC50) determinada para bactérias

patogênicas sensíveis a substâncias específicas ou a grupo de substâncias. A

possibilidade do desenvolvimento de organismos resistentes em filmes

biológicos (isto é, em áreas com alta densidade de bactérias), como por

exemplo, canos de esgoto e estações de lodo ativado precisam passar com

urgência por um processo de avaliação33.

Page 47: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

25

Apesar da estrutura química bastante diferenciada para antibióticos,

lipídeos reguladores, antiinflamatórios, tranquilizantes, meios de contrate e anti-

conceptivos, eles são os PhACs mais encontrados nas ETE. A ocorrência,

quantificação, potencial para biodegradabilidade etc para essas substâncias

necessitam ser avaliada. Como já vimos, a responsabilidade pelo aporte

dessas substâncias são os efluentes hospitalares, as descargas industriais e os

esgotos domésticos. As ETE urbanas normalmente não foram projetadas para

receber o volume e a diversidade de poluentes naturais e sintéticos emitidos

em nível de traços. Muitos estudos mostram que a remoção de CFGP em ETE

municipais varia de 60 a 90% para compostos polares3 e que esta remoção

pode ser atribuída também a adsorção em superfícies sólidas. Como

conseqüência, uma enorme quantidade de CFHP são despejados nos corpos

hídricos receptores das ETE contaminando o ambiente aquático. No caso de

compostos polares como, por exemplo, ácidos carboxílicos, presente nos

antibióticos beta-lactâmicos; a questão é mais delicada pois o mecanismo

principal de eliminação é atribuído a biodegradação e estudos mostram que

nestes casos ocorre menos de 10% de degradação30.

Apesar do grande consumo de antibióticos beta-lactâmicos para uso

humano e veterinário, poucos estudos mostram a presença destas substâncias

intactas em efluentes de esgoto domésticos, em águas superficiais ou

profundas. Isto se deve a baixa estabilidade do anel β-lactama que pode ser

aberto pela enzima β-lactamase produzida por bactérias e também pela

hidrólise química destas substâncias. Esta possibilidade não exclui a presença

destas substâncias em aqüíferos nos locais onde estercos e lodo de ETE são

utilizados como biossólido ou ainda em efluentes de hospitais 35. Há a

necessidade do desenvolvimento de metodologias analíticas para antibióticos

beta-lactâmicos que sejam sensíveis às concentrações encontradas em

ambientes naturais e em efluentes36.

Estudos com águas superficiais mostraram a presença de amoxicilina,

ampicilina, mezlocilina, flucloxacilina e piperaciclina em concentrações acima

de 48 ng L-1. Em águas de rio, amoxicilina foi detectada em concentrações

próximas a 10 ng L-1 neste mesmo estudo37. Outros estudos realizados com

águas do rio Poudre, Colorado – EUA mostraram a presença de AMP em

Page 48: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

26

concentrações em torno de 11 ng L-1 em áreas com grande atividade

agrícola36, áreas essas que utilizam biossólidos provenientes de suinocultura.

2.4 Desenvolvimento de organismos resistentes

O uso de antibióticos pelos seres humanos pode estar nos mostrando

um experimento em evolução nunca antes imaginado. A partir dele estamos

presenciando uma seleção natural em um tempo real. Nos últimos 50 anos

temos observado o aumento do número de espécies e cepas de bactérias

patogênicas e comensais resistentes a antibióticos. Inúmeros estudos nesta

área estão sendo publicados. Alguns enfocam questões como o custo biológico

da resistência38, a evolução da resistência em organismos patogênicos39, a

razão da mutação bacteriana38, o uso de antibióticos em hospitais e sua

relação com a resistência de organismos no meio ambiente15,40, o

desenvolvimento de resistência de E. coli e Enterobacteriacea isolada de

frangos de corte41, e até o estudo de enterobactérias de roedores selvagens,

animais que vivem em regiões isoladas, resistentes a amoxicilina e ampicilina 42.

A presença de antibióticos no meio ambiente como resultado de

contaminações levanta uma questão bastante preocupante, o desenvolvimento

de populações de microorganismos resistentes. A atividade biológica dos

antibióticos tem como objetivo inibir o crescimento de bactérias, isto ocorre

quando concentrações consideradas altas dessas substâncias são ministradas

e destroem totalmente as populações. Quando a concentração é relativamente

baixa, na ordem de ng/L ou µg/L, há a possibilidade do desenvolvimento de

linhagens resistentes. As conseqüências da presença de concentrações a este

nível no ambiente ainda são pouco conhecidas, já que a pesquisa nesta área é

incipiente. Alguns estudos mostram que a transferência de resistência

apresentada por bactérias em laboratório pode ocorrer da mesma forma no

ambiente natural43. Estudos com E. coli 39, Ps. Putida20 e Acinetobacter spp45

avaliam o padrão de resistência desses organismos, isolados de efluentes de

estações de tratamento de esgotos com descarga hospitalar, a antibióticos do

grupo da penicilina. Estes estudos concluem que as bactérias isoladas são

Page 49: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

27

resistentes e que este tipo de contaminação pode contribuir para com a

disseminação das mesmas no meio ambiente.

A biodegradabilidade de antibióticos é um estudo importante para que se

tenha uma idéia do comportamento dos mesmos em uma ETE de lodo ativado

ou ainda em um filtro biológico. Os antibióticos ciproflaxacina, oflaxacina e

metronidazole foram avaliados quanto a sua biodegradabilidade utilizando-se

do método CBT (Close Bottle test, OECD 301D) e genotoxicidade (SOS

chromotest) em uma ETE simulada. Os resultados obtidos mostraram que os

antibióticos não se degradam biologicamente de acordo com o CBT, logo a sua

genotoxicidade não foi eliminada. Os processos como adsorção, hidrólise ou

degradação ocorreram em larga escala, necessitando desta forma mais

investigações para que se possa entender o caso 46.

A avaliação da presença de organismos resistentes a antibióticos em

rios que recebem o aporte de ETE de tratamento de efluentes hospitalares ou

ainda outras fontes de contaminação como as plantas de produção de

antibióticos são fundamentais para a compreensão do comportamento destas

substâncias no meio ambiente. Um estudo importante investigou a resistência a

antibióticos utilizando a Acinetobacter spp. (organismo conhecido por

disseminar infecções hospitalares) como bactéria indicadora. As mesmas foram

isoladas no rio que recebe o aporte de 2 ETE, uma com carga de esgoto

hospitalar e outra que recebe efluente de planta de produção de antibióticos.

Os pontos de coleta selecionados encontravam-se abaixo do ponto de

descarga de duas ETE. As bactérias forma coletadas, incubadas, replicadas e

isoladas a partir de um procedimento de enriquecimento seletivo. A quantidade

de organismos isolados neste ponto do trabalho foi de 180 cepas provenientes

das amostras da ETE hospitalar e 205 provenientes da ETE da planta

industrial. Seis agentes antimicrobianos foram usados como representantes

das diferentes classes de antibióticos: amoxicilina, oxitetraciclina, cloranfenicol,

sulfametaxozole, gentamicina e ciproflaxicina. O comportamento resultante

com relação a percentagem de organismos resistentes as drogas estudadas,

encontra-se na tabela 2.6 45.

Page 50: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

28

Tabela 2.6: Predominância de resistência a antibiótico de cepas de

Acinetobacter proveniente de esgoto hospitalar e de planta farmacêutica.

% de resistentes às drogas

Droga Hospital Planta farmacêutica

Amoxicilina 3,1 31,6

Ciprofloxacina 0 0

Gentamicina 3,1 12,3

Cloranfenicol 26,6 61,4

Oxitetraciclina 12,5 61,4

Sulfametaxozol 4,7 57,9

Fonte: GUARDABASSI et al., 199845.

A alta percentagem de resistentes entre as cepas provenientes da planta

farmacêutica é preocupante, chegando a ser dez vezes maior do que os de

origem hospitalar.

Uma outra observação com relação ao trabalho citado é o fato de que as

cepas isoladas apresentaram múltipla resistência aos antibióticos. A tabela 2.7

a seguir apresenta estes resultados45.

Tabela 2.7: Predominância de multipla resistência a antibiótico de cepas de

Acinetobacter proveniente de esgoto hospitalar e de planta farmacêutica.

% de isolados com o fenótipo

Fenótipo Hospital Planta farmacêutica

Sensível 64,1 8,8

Resistente a um antibiótico 29,7 28,1

Resistente a dois antibióticos 1,6 24,6

Resistente a três ou mais antibióticos 4,7 38,6

Fonte: GUARDABASSI et al., 199845.

Conclui-se com esses resultados que o uso indiscriminado de

antibióticos pode romper o balanço microbiano natural em favor das bactérias

resistentes e que, no caso particular das plantas farmacêuticas, seus efluentes

podem levar a seleção de bactérias resistentes no próprio esgoto. Em se

Page 51: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

29

pensando no possível impacto ecológico gerado pelos resíduos da produção de

agentes antimicrobianos, há a necessidade do desenvolvimento de mais

pesquisas que permitam avaliar a disseminação de organismos com genes

resistentes a antibióticos no meio aquático45.

A avaliação da resistência de E. coli a antibióticos isolada em diferentes

ETE municipais amplia o entendimento quanto ao desenvolvimento de

organismos resistentes nestes ambientes. Em um estudo, 767 E. coli foram

isoladas e sua resistência a 24 antibióticos diferentes foi testada. Dentre eles

ampicilina, amoxicilina, gentamicina, tetraciclina e cefalosporina. Os

organismos foram selecionados a partir da coleta em 5 pontos diferentes a

saber: entrada do esgoto bruto, tanque de lodo ativado, efluente da ETE, corpo

receptor antes da descarga, corpo receptor após a descarga e lodo prensado.

Os resultados obtidos mostraram que E. coli apresentou resistência a 16 dos

24 antibióticos estudados, isto é, para 33% dos organismos os antibióticos se

mostraram 100% efetivos. Em específico para as penicilinas a resistência

apresentada foi de 18%, para as cefalosporinas de 11% e para as quinolonas

de 2% 44.

Não se encontra até o presente momento na literatura estudos de

resistência a antibióticos desenvolvidos com organismos isolados em regiões

tropicais. Não há informações sobre a atividade biológica dos PPCPs nestas

regiões. Ainda é incipiente a quantidade de dados sobre a ecotoxicologia de

fármacos e seus metabólitos. Há a necessidade do desenvolvimento de

pesquisas nesta área pois a questão do desenvolvimento de organismos

resistentes é bastante preocupante. A seletividade natural favorece esses

organismos, o que faz com que seu código genético seja repassado e esta

alteração é irreversível.

2.5 Degradação de contaminantes orgânicos por POA

A crescente demanda por produtos industrializados levou a necessidade

do desenvolvimento de tecnologias para a destruição ou desintoxicação de

efluentes com OWCs. Os processos oxidativos avançados estão sendo

Page 52: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

30

exaustivamente estudados para uma diversidade de substâncias visando a

mineralização das mesmas.

A importância dos POA pode ser observada a partir do crescente

número de pesquisas publicadas a partir da década de noventa (1990)

envolvendo uma diversidade de compostos químicos. A tabela 2.8 apresenta

algumas substâncias estudadas. As pesquisas centram-se em compostos

utilizados em indústrias têxteis, de papel e nos poluentes orgânicos

persistentes (POP). Com relação aos compostos farmacêuticos, ainda

carecemos de estudos específicos.

Tabela 2.8: Estudos de degradação de compostos químicos por POA.

Substância estudada Referência

Corantes48,49

RODRIGUEZ et al., 2002, KANG et

al., 1999

Pigmentos47 KANG et al., 1999

Organoclorados50,51,47

CHAMARRO et al., 2001,TROVÓ et

al., 2005, PIGNATELLO, 1992

BTX52,53

SAFARZADEH-AMIRI et al., 1997;

TIBURTIUS et al., 2005

aminas aromáticas54 CASERO et al., 1997

Chorume55 LANGE et al., 2007

compostos

farmacêuticos56,57,58,59,60,61,62

ZWIENER et al., 2000; DOLL et al.,

2003, LOPEZ et al., 2003; HUBER et

al., 2003; ANDREOZZI et al., 2005;

TERNES et al., 2003, TROVÓ et al.,

2008

derivados aromáticos50 CHAMARRO et al., 2001

compostos biorecalcitrantes em

efluentes de indústria têxtil48

RODRIGUEZ et al., 2002

produtos de higiene pessoal55 TERNES et al., 2003

Fenol63 WILL et al., 2004

Herbicidas51 TROVÓ et al., 2005

Page 53: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

31

Herbicidas organoclorados como 2,4-D e 2,4,5-T foram tratados com

reagente de Fenton e Fenton/Fe3+ com e sem radiação UV. A degradação com

irradiação a 300 nm se mostrou mais eficaz, levando ao desaparecimento dos

herbicidas em menos de 2 h de reação. Este processo foi sensível a pH e altas

concentrações de H2O2 e promoveram a mineralização total dos contaminantes

estudados47.

A degradação de BTX (benzeno, tolueno e xileno) em água foi avaliada

comparando-se os POAs foto-peroxidação, foto-Fenton e foto-degradação

mediada por oxalato de Ferro (III). A degradação que se mostrou mais eficiente

foi a que utilizou foto-degradação mediada por oxalato de Ferro (III). A

degradação destes POPs foi total em um período de 30 min de reação. Em

termos de consumo de energia, kWh, este processo também mostrou-se mais

eficiente que os demais52.

Um estudo para medir a eficiência da conversão de aminas aromáticas

cancerígenas presentes em efluentes líquidos em produtos por clivagem do

anel, foi realizado utilizando-se reagente de Fenton. O tratamento oxidativo

realizado durante 1 h à temperatura ambiente mostrou uma taxa de remoção

que variou em torno de 99,9%. A tabela 2.9 apresenta estes resultados 54.

Tabela 2.9: Eficiência de conversão de aminas cancerígenas em produtos

degradados utilizando reagente de Fenton

Amina Eficiência de remoção (%)

o-dianisidina 99,99

1-naftilamina 99,97

2-naftilamina 99,95

3,3’-diclorobenzidina 99,99

p-anisidina 99,85

4-cloroanilina 99,74

2,4-diaminotolueno 99,99

o-tolidina 99,88

anilina 99,93

Fonte: CASERO et al., 199754.

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32

Com o objetivo de comparar diferentes métodos de oxidação, um estudo

entre a foto-peroxidação, reagente de Fenton e foto-Fenton foi aplicado para

efluentes de uma planta de manufatura de corantes. A remoção de cor e da

DQO deste efluente foram os parâmetros utilizados para avaliação. Em 2 horas

de reação, a oxidação por foto-Fenton levou a uma remoção de 80% na DQO e

90% na cor49.

O balanço de massa das concentrações dos produtos farmacêuticos

presentes no afluente e no efluente de uma ETE mostra que os mesmos não

são removidos com os tratamentos atualmente utilizados. A presença de

fármacos como AAS, Ibuprofen, diclofenaco, ácido clodibrico, e ácido

fenofíbrico em águas profundas e superficiais confirmam esta questão26.

Estudos da oxidação destes fármacos utilizando POA desenvolvidos como

novas tecnologias para o tratamento de efluentes. Um estudo realizado nas

águas do rio Ruhr, na Alemanha, que recebe carga de ETE, mostrou que a

percentagem de redução a partir de reação com O3 (5,0 mg/L) e H2O2 (1,8

mg/L) durante 10 min, em amostras de águas superficiais contaminadas, foi de

92% para o ácido clofibrico, 88% para ibuprofen e 3,2% para o diclofenaco56.

Todos os trabalhos apresentados indicam para a possibilidade do uso de

POA como tratamento mas não como único, há a necessidade da combinação

com tratamentos físicos e/ou biológicos pois o rendimento para cada caso é

bastante variável, como pode ser observado.

2.6 OWCs: antibióticos penicilânicos

Os efluentes de uma indústria farmacêutica são provenientes dos

processos de lavagem das linhas de produção e se caracterizam por baixo

fluxo e pequena carga poluidora. Ocorre que os efluentes gerados na

formulação de antibióticos têm baixa biodegradabilidade e praticamente uma

única substância ativa. Isto se deve ao fato de que a linha de produção de

penicilânicos é isolada das demais linhas industriais e sua carga de efluentes é

descarregada em um reservatório exclusivo. Como os antibióticos são

compostos bioinibidores, há a necessidade de um pré-tratamento químico para

estes efluentes antes de sua descarga em uma estação de lodo ativado 64.

Page 55: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

33

2.6.1 Degradação de antibióticos penicilânicos utilizando POA

Diversas técnicas de oxidação estão sendo avaliadas atualmente com

relação a degradação de antibióticos penicilânicos. Degradações utilizando O3,

O3/H2O2 e reagente de Fenton têm sido descritas na literatura.

A degradação de antibióticos de uso humano (penicilina VK, ceftriaxona

sódico) e veterinário (enroflaxina), usando O3 e O3/H2O2 foi avaliada utilizando-

se amostras sintéticas das formulações. As substâncias ativas presentes

nestas amostras foram a penicilina VK (grupo das penicilinas), a enrofloxacina

(grupo das quinolonas) e o ceftriaxona sódico (grupo das cefalosporinas). O

efeito do pH, da DQO inicial e da concentração de H2O2 foram medidos e a

concentração de O3 foi mantida constante, na ordem de 2,96 g/h. A redução de

DQO, em pH=7, foi de 74% para ceftriaxone sódica, 69% para penicilina VK e

88% para enroflaxina. Os resultados obtidos mostraram que a ozonização é um

bom método para uso como pré-tratamento de efluentes em pH neutro 64.

Os efluentes da produção industrial de amoxicilina triidratada (AMX)

foram estudados com o objetivo de avaliar a sua degradação frente aos

oxidantes ozônio e ozônio/peróxido de hidrogênio em diferentes pH. Avaliou-se

também a capacidade de degradação dos resíduos da oxidação por tratamento

biológico. O parâmetro utilizado para este estudo foi a remoção da DQO. Para

avaliação da biodegradabilidade a razão DBO5/DQO foi utilizada como

parâmetro. A DQO inicial deste efluente é de 830 mg de O2/L e seu pH = 6,9.

Os estudos de degradação ocorreram durante o período de 1 h e a

concentração de O3 utilizada foi de 2.500 mg/(L h). Os resultados obtidos

mostraram que o melhor rendimento (remoção de DQO) foi para a oxidação

com O3/H2O2, 82%, com o uso de 2,0 mM de H2O2 em pH = 10,5 (tamponado).

Para este caso, a biodegradabilidade, DBO5/DQO, variou de 0,02 (t= 0 min) a

0,45 (t= 360 min) indicando a possibilidade de tratamento biológico65.

Um outro estudo mostra a avaliação do uso dos POA fotólise,

ozonização, fotoozonização, fotoperoxidação, reagente de Fenton, foto-Fenton,

Fenton/Fe3+ e foto-Fenton/Fe3+ na degradação de efluente da produção

industrial de AMX em diferentes pH. O parâmetro usado para avaliar a

degradação foi a DQO e a biodegradabilidade DBO5/DQO. As características

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34

iniciais do efluente são: pH= 6,95, DQO= 1.555 mg O2/L, DBO5= 0 mg. O2/L.

Os resultados obtidos encontram-se na tabela 2.10.

Tabela 2.10: Resultados obtidos a partir da degradação por diferentes POA de

eflluente industrial da produção de AMX.

Processo de oxidação DBO5/DQO Remoção de DQO (%)

Efluente in natura 0,000 0

O3/ pH=3 0,083 15

O3/ pH=7 0,080 28

O3/ pH=11 0,078 49

Fotólise/ pH=7 0,000 0

H2O2(40mM)/ pH=7 0,009 11

H2O2(30mM)/ pH=7 0,007 22

Foto-Fenton/ pH=3 0,007 56

Foto-Fenton/Fe3+/ pH=3 0,045 66

Fenton/ pH=3 0,010 61

Fenton/Fe3+/pH=3 0,008 46

Fonte: ARSLAN-ALATON et al., 200465.

Os resultados obtidos mostraram uma baixa biodegradabilidade dos

resíduos gerados pela oxidação do efluente de AMX. Estudos com o substrato

ativo (AMX) mostraram uma remoção de COT na ordem de 56% utilizando-se

foto-Fenton em pH=3, indicando a remoção do ingrediente ativo AMX nestas

condições. Maiores investigações sobre o comportamento dos resíduos da

degradação por POA em uma estação de lodo ativado precisam ser realizados

para obter resultados mais confiáveis 65.

A degradação por Fenton/Fe3+ e foto-Fenton/Fe3+ bem como a

toxicidade dos resíduos gerados foi avaliada para a formulação do antibiótico

injetável penicilina G. A melhor taxa de remoção da DQO foi obtida para o foto-

Fenton/ Fe3+, 56%, nas seguintes condições experimentais: [Fe3+ ] = 1,5 mmol

L-1, [H2O2] = 25 mmol L-1, pH=3, DQO0 = 585 mg O2/L, para um tempo de

tratamento de 30 min. A biodegradabilidade, BDO5/DQO, também foi avaliada e

atingiu 0,45 após aplicação do foto-Fenton/ Fe3+, o que mostra boa degradação

Page 57: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

35

biológica para os resíduos formados. Com relação a redução de COT, uma

redução de 42% foi obtida após tratamento oxidativo. Como os efluentes da

produção de antibióticos contêm altas concentrações de compostos refratários,

eles podem inibir a atividade do processo de lodo ativado e provocar efeitos

tóxicos nos organismos aquáticos dos corpos de água onde são lançados após

o tratamento. Um estudo de toxicidade aguda para Daphnia magna nas

condições experimentais propostas para o foto-Fenton/ Fe3+, não indicou

toxicidade aguda levando a conclusão de que este é um pré-tratamento

adequado para este tipo de efluente 66.

Um outro estudo para efluente da penicilina G injetável objetivou avaliar

a degradação do mesmo utilizando ozonização e peroxiozonização. Também

foi feito um estudo de biodegradabilidade e toxicidade aguda para os resíduos

gerados pela degradação além de avaliar a capacidade de inativação do lodo

ativado pelos mesmos. Os resultados obtidos mostraram que os efluentes da

formulação de antibióticos são uma preocupação devido ao potencial tóxico e

alta resistência a degradação por microorganismos. Esta alta resistência e

toxicidade podem ser minimizadas por diferentes processos químicos utilizados

como tratamento combinado. Os resultados mostraram que a peroxiozonização

conduzida a pH=7 e com concentração inicial de H2O2 de 10 mmol L-1, levou a

melhor razão DBO5/DQO, mas este tratamento não remove completamente a

toxicidade, logo não garante um bom rendimento na estação de lodo ativado 67.

2.7 Investigação de efeitos tóxicos e mutagênicos

Os efluentes industriais e domésticos são caracterizados como misturas

complexas entre compostos orgânicos e inorgânicos. Essa complexidade não

permite que se determine a nocividade dos mesmos baseando-se apenas em

análises químicas. O desenvolvimento de sistemas-teste biológicos,

combinados com análises químicas, permitem o levantamento de dados com

base científica que levam a regulamentação da descarga de substância

potencialmente perigosas no meio ambiente 68.

A introdução do sistema-teste Allium cepa para a avaliação de efeitos

citogenéticos ocorreu em 1938. Desde então, este sistema têm sido usado

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36

largamente como material biológico para ensaios em laboratórios devido ao

rápido crescimento de suas raízes e também da resposta do material genético

na presença de substâncias com potencial citotóxico e genotóxico em soluções

aquosas 69,70,71,72.

O sistema teste Allium cepa é adequado para se avaliar a

genotoxicidade em efluentes industriais. Se o sistema for aplicado a misturas

complexas de substâncias com níveis tóxicos desconhecidos é recomendada a

medida do crescimento radicular após a avaliação da genotoxicidade 68. A

inibição do crescimento das raízes no Allium cepa é um método adequado para

avaliar-se a presença de substâncias tóxicas em diferentes concentrações. A

simplicidade desse teste é uma das razões que fez com que as agencias

internacionais de proteção ao meio ambiente o recomendassem como método

para estimar a poluição e toxicidade causada por efluentes industriais e

domésticos. O efeito macroscópico no crescimento das raízes de A. cepa

podem ser claramente observados em água de rio dopada com íons Cu, Zn e

Pb71.

Com relação ao potencial tóxico de uma substância, alguns autores se

utilizam da Diretiva Norte-Americana 93/67/EEC para interpretar a questão.

Esta Diretiva adota a seguinte classificação de acordo com a EC50 (menor

concentração que elimina 50% dos organismos) 12:

EC50 < 1 mg/L =» muito tóxico

1 mg/L < EC50 < 10 mg/L =» tóxico

10 mg/L < EC50 < 1 g/L =» perigoso para organismos aquáticos

Estudos utilizando bactérias e algas como bioindicadores de toxicidade

mostraram com base na Diretiva 93/67/EEC, que os antibióticos oflaxacina,

eritromicina, clortetraciclina, oxitetraciclina e tilosina encontram-se na classe de

muitos tóxicos. Esse estudo conclui que efluentes de ETE descartados sem um

tratamento adequado podem causar efeitos adversos nos organismos

aquáticos 11.

O controle do descarte de efluentes líquidos no corpo receptor é

estabelecido, no Brasil, por legislação federal, CONAMA 357/0573, que

especifica as substâncias e padrões numéricos de emissão. Ao se considerar a

grande quantidade de substâncias passíveis de serem lançadas no ambiente

aquático por atividades industriais, verifica-se que o número é muito maior do

Page 59: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

37

que as que foram estabelecidas pela legislação. A identificação e detecção de

todas as substâncias presentes em efluentes de natureza química complexa é

inviável tanto analítica quanto economicamente. Ainda que padrões fossem

estabelecidos, não seria possível estimar os efeitos que essas substâncias

apresentam sobre a biota aquática74.

O controle de efluentes complexos pode ser realizado através de testes

de toxicidade. Neste teste, organismos são expostos a várias concentrações do

efluente, verificando-se o efeito do mesmo sobre os organismos-teste. Este

efeito traduz o resultado final das ações aditivas, antagônicas e sinérgicas das

substâncias biodisponiveis que os compõem 74.

Enquanto as análises químicas identificam e quantificam as substâncias

que compõem um efluente os testes de toxicidade avaliam o efeito do efluente

sobre sistemas biológicos que reagem a uma situação global, isto é, ao

efluente como um todo. As vantagens dos testes de toxicidade são:

possibilidade de ser avaliada a toxicidade conjunta de todos os constituintes de

um efluente de natureza química complexa; possibilidade de se avaliar a

redução do efeito tóxico ao se limitar a um único parâmetro (toxicidade), a

possibilidade de também se avaliar a biodisponibilidade e as interações dos

constituintes e de se obter o fator de diluição que promoverá a redução da

toxicidade, mesmo sem o conhecimento exato de quais ou quantas substâncias

estão sendo geradas 75.

Apesar da dificuldade de se estabelecer uma relação entre

contaminantes do meio ambiente e espécies vivas a comunidade cientifica

admite que a saúde humana depende diretamente da saúde do ambiente e que

a contínua degradação desse meio ameaça a qualidade de vida da população.

Muitos organismos são atualmente utilizados como bioindicadores da

avaliação de possíveis contaminantes de origem naturais ou provocadas pelo

homem. Em ambientes aquáticos são utilizados moluscos, vermes bentônicos,

esponjas, anfíbios e peixes. Em ambientes terrestres, aquáticos, e na

atmosfera tem se usado plantas como Tradescantia, Allium cepa e Vicia faba 76.

A toxicidade aguda e crônica pode ser avaliada utilizando-se crustáceos

como a Daphnia magna, a Artemia salina, peixes como o Brachydanio rerio

além de algas diversas. Estudos com esses organismos são fundamentais

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38

para, por exemplo os antibióticos, pois os mesmos são solúveis em água,

biologicamente ativos, com baixa biodegradabilidade, potencialmente

bioacumulativos e persistentes no ambiente 77. Drogas com estas

características podem exercer efeitos nos organismos terrestres e aquáticos

quando liberadas no meio ambiente.

A avaliação de drogas como tetraciclina, oxitetraciclina, estreptomicina,

bacitracina, eritromicina, flumequina entre outras de uso veterinário foram

realizadas e mostraram potencial tóxico quanto a reprodução de organismos

como a Daphnia magna 77.

Para Artemia salina, estudos de toxicidade aguda mostraram que EC50

foram encontrados para concentrações de 34,06 mg/L de bacitracina e de

283,1 mg/L de limcomicina 78.

Estudos utilizando bactérias e algas como bioindicadores de toxicidade,

mostram que os antibióticos oflaxacina, eritromicina, clortetraciclina,

oxitetraciclina e tilosina encontram-se na classe de muitos tóxicos. Este estudo

conclui que efluentes de ETE descartados sem um tratamento adequado

podem causar efeitos adversos nos organismos aquáticos 12.

Entre os bioensaios de mutagênese, as plantas apresentam uma série

de vantagens, com relação ao uso de animais entre elas: (a) as técnicas de

detecção de mutagênese são de rápida execução e de baixo custo; (b) o tempo

de geração de muitas plantas é curto, o que permite verificar os efeitos em

gerações subseqüentes; (c) vários indicadores podem ser usados, como, por

exemplo, variações cromossômicas, mutações gênicas, alterações foliares, no

embrião e nos grãos de pólen; (d) os modelos utilizados para análise de

alterações cromossômicas apresentam cromossomos grandes, o que tornam

estes modelos convenientes para análise citogenética; (e) podem ser usadas

para estudos in situ ou ex situ; (f) vários estudos mostram correlação positiva

entre os efeitos observados nas plantas e aqueles observados em modelos de

mamíferos, o que facilita a detecção de genotoxidade, uma vez que a utilização

de modelos animais faz-se, muitas vezes, complexa, mais dispendiosa e

demorada; (g) constituem testes altamente sensíveis (poucos falso-negativos)

na predição de genotoxidade79.

O Allium cepa tem sido indicada como um eficiente organismo-teste de

citotoxicidade e mutagenicidade, devido às características que possui na sua

Page 61: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

39

cinética de proliferação, pelo crescimento rápido de suas raízes, pelo grande

número de células em divisão, pela sua alta tolerância a diferentes condições

de cultivo, pela sua disponibilidade durante o ano todo, pelo seu fácil manuseio

e por possuir cromossomos em número reduzido (2n=16) e de grande tamanho 70. O uso do Allium cepa tem crescido, principalmente para o monitorar os

impactos derivados de emissão de efluentes em rios 80. A contagem da

incidência de aberrações cromossômicas e de micronúcleos em células de

meristemas radiculares fornece um método fácil para se estudar os efeitos de

diferentes agentes mutagênicos como compostos de mercúrio, selênio, zinco e

cádmio, bem como de pesticidas 70,76,81.

Os resultados positivos obtidos pelo teste de Allium cepa devem ser

considerados como uma indicação de que a substância química testada

também pode causar danos biológicos em outros organismos70.

A Artemia salina é um pequeno crustáceo da ordem Anostraca. Esse

crustáceo tem sido utilizado em testes de toxicidade devido a possibilidade de

avaliar efeitos de um contaminante em um organismo sob condições

controláveis, permitindo a comparação com diferentes contaminantes ou

espécies testadas. A eficiência deste teste reside no fato de o mesmo ser

simples, de baixo custo e de fácil implantação como ensaio de rotina. Esse

teste minimiza os problemas de ordem biológica, técnica e de custo pois os

cistos secos para eclosão são fáceis de serem obtidos82.

A resposta rápida desse organismo a substâncias químicas ou de

misturas complexas permite o uso Artemia salina em testes de toxicidade. A

avaliação da eclosão, letalidade e comportamento locomotor e morfológico

desse organismo frente a quatro inseticidas ((1)O,S-dimetil acetil fosfor-

amidotioato; (2) O,O-dietil-3,5,6-tricloro-2piridil fosforotioato; (3) dimetil(E)-1-

metil -2-(metilcarbonil)vinil fosfato; (4) O-(4-bromo-2-clorofenil)O-etil-S-propil

fosforotioato) provou que o ensaio pode ser considerado simples e preciso na

determinação de toxicidade83.

2.8. Biodegradabilidade

Page 62: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

40

Os processos de tratamento biológico de um efluente ocorrem por

mecanismos biológicos envolvendo consórcios de microorganismos que

realizam reações de oxidação e/ou redução com alta eficiência e baixo custo.

Estes processos reproduzem os processos naturais que ocorrem em um corpo

receptor após o lançamento dos despejos. Em uma ETE de lodo ativado as

reações de oxi-redução se desenvolvem em condições controladas e em taxas

mais elevadas de eficiência84. Embora a oxidação da matéria orgânica seja

uma maneira barata de minimizar o impacto dessas substâncias no ambiente,

nem sempre o uso dessa tecnologia é possível. Isso acontece porque muitas

moléculas não são biodegradáveis, isto é, não são assimiladas biologicamente

ou podem ser tóxicas aos microorganismos 85.

A tratabilidade biológica de um efluente é avaliada pela demanda

bioquímica de oxigênio (DBO5). A DBO5 retrata a quantidade de oxigênio

requerida para estabilizar, por meio de processos bioquímicos, a matéria

orgânica. É uma indicação indireta do carbono orgânico biodegradável 86. Por

outro lado, a recalcitrância dessa mesma carga orgânica pode ser avaliada

pela demanda química de oxigênio (DQO), que é obtida após oxidação drástica

em meio ácido (equação 2.1).

10 CxHyOz + n Cr2O7 2- + 4H+ 10 x CO2 + 2nCr3+ + (2n+5y) H2O (2.1)

Onde n= 4x+y-2z

Para um efluente, sob condições normais, a relação DQO/DBO permite

tirar-se conclusões sobre sua biodegradabilidade e portanto, do processo de

tratamento a ser dotado.

Para um dado efluente, se a relação DQO/DBO5 < 2,5 o mesmo é

facilmente biodegradável. Se a relação 5,0 <DQO/DBO5 > 2,5 este efluente irá

exigir cuidados na escolha do processo biológico para que se tenha uma

remoção desejável de carga orgânica e se DQO/DBO5 > 5, então o processo

biológico tem pouca chance de sucesso, e a oxidação química aparece como

um processo alternativo (Figura 2.5) 85.

Alguns autores consideram a razão DBO5/DQO como parâmetro para

avaliação da biodegradabilidade. A razão DBO5/DQO ≥ 0,5 indica degradação

Ag + calor

Page 63: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

41

biologia rápida 87, para valores menores do que 0,5 possivelmente substâncias

químicas recalcitrantes estejam presentes 50,87.

Figura 2.5: Valores de DQO e DBO indicativos da tratabilidade de um

efluente: biorefratário, pode ser biodegradável e biodegradável.

Fonte: JARDIM e CANELA, 200485.

2.9. Produção de antibióticos beta-lactâmicos e tratamento do efluente gerado

Em termos industriais, no Brasil, a produção de antibióticos utiliza a

formulação como processo predominante. Este processo gera quantidades

moderadas de efluentes dependendo da variação operacional de produção,

influindo dessa forma na qualidade e quantidade dos efluentes gerados. O

processo de formulação de antibióticos como AMX e AMP (figura 2.6) leva a

um aumento da concentração de PhACs nos efluentes, tornando os sistemas

de tratamento com lodo ativado inadequados e aumentando a toxicidadde

desse efluente para os organismos aquáticos dos corpos d’água receptores 16,46,77,88.

A química dos antibióticos penicilânicos é dominada pelas reações do

anel carbonila altamente reativo β-lactama, normalmente pela promoção de

Page 64: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

42

ataques nucleofílicos. A presença de grupos elétron-retirantes ao lado da

carbonila β-lactâmica é que leva a ativação para um ataque nucleofílico 89.

Figura 2.6: Estrutura da ampicilina (AMP) e da amoxicilina (AMX)

A hidrólise em meio ácido ou em meio básico das penicilinas promove a

abertura do anel β-lactama. A figura 2.7 apresenta a hidrólise ácida e básica

para a penicilina89,90.

N

S

O COOH

CH3CH3

NHC

O

R

H+ NH

HS

COOH

CH3CH3

N

OO

R

PenicilinaÁcido penicilênico

Penicilina

N

S

O COOH

CH3CH3

NHC

O

R

OH-

pH 10-11

HN

S

HO2C CO2H

CH3CH3

NHC

O

R

Ácido penicilóico Figura 2.7: Produtos da hidrólise ácida e básica das penicilinas.

Fonte: Arnott, 199589 e SOLOMONS, 199690.

As indústrias farmacêuticas produtoras de formulações para antibióticos

como AMX e AMP, utilizam o método de hidrólise básica como forma de pré-

tratamento de seus efluentes da linha de produção antes de descartá-los em

suas ETE. As ETE normalmente utilizam tratamento biológico (lodo ativado),

pois não há legislação específica para o tratamento desse tipo de efluente,

somente uma indicação de inativação da substância.

Com relação ao processo de hidrólise básica, não se têm informações

quanto ao seu rendimento à temperatura ambiente nem tão pouco quanto à

questão da contaminação ambiental por mercúrio (Hg) presente no hidróxido

NH2 O

HNCCH

NO

S

CH3

CH3

CO2-Na+

Ampicilina Amoxicilina

NH2 O

HNCCH

NO

S

CH3

CH3

CO2H

HO. H2O3

Page 65: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

43

de sódio (NaOH) comercial utilizado na reação. A reversibilidade da reação em

função da atividade do lodo ativado e dos processos fotoquímicos que ali

ocorrem não se encontra descrita na literatura.

2.10 LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

O Ministério do Meio Ambiente, por meio do Conselho Nacional do Meio

Ambiente (CONAMA), é quem tem competência para regulamentar as

questões pertinentes ao meio ambiente no Brasil. Usando de suas atribuições,

ele mesmo aprovou a Resolução nº 357, de 17 de março de 200573. Nesta

resolução o CONAMA “Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e

diretrizes ambientais para o seu enquadramento bem como estabelece as

condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.”.

Em seu Art. 2º, item VII, define carga poluidora como “quantidade de

determinado poluente transportado ou lançado em um corpo de água receptor,

expressa em unidade de massa por tempo.”

Em seu capítulo IV, dispõe sobre as condições e padrões de lançamento

de efluentes. No Art. 27, tem-se “É vedado, nos efluentes, o lançamento dos

Poluentes Orgânicos Persistentes – POPs∗ mencionados na Convenção de

Estocolmo. Ratificada pelo Decreto Legislativo nº 204, de 7 de maio de 2004.

Já em seu Art. 34, §1º deste mesmo capítulo define que “O efluente não deverá

causar ou possuir potencial para causar efeitos tóxicos aos organismos

aquáticos no corpo receptor, de acordo com os critérios de toxicidade

estabelecidos pelo órgão ambiental competente”.

O que pode ser observado é que a legislação não prevê especificamente

as condições para lançamento de efluentes da produção de produtos

farmacêuticos. As únicas condições a serem seguidas são as estabelecidas

pelo §4º do Art. 34 que define as condições de lançamento de efluentes com

relação a pH (5 a 9), temperatura (inferior a 40 ºC, sendo que a variação de

temperatura do corpo receptor não deverá exceder a 3 ºC na zona de mistura),

entre outras.

∗ POPs: aldrin, chlordane, dieldrin, DDT, endrin, heptachlor, hexaclorobenzeno, mirex, toxophene, PCBs, dioxinas e furanos

Page 66: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

44

Com relação à Comunidade Européia, a questão de riscos ambientais

está prevista na sua legislação. Através da Diretiva 67/548/EEC, as

substâncias são classificadas de acordo com dados experimentais para

toxicidade aguda, degradação, coeficiente de partição (Kow) n-octanol-água e

fator de bioconcentração (BCF). Os compostos são designados como

“perigosos para o ambiente aquático” e rotulados de acordo com o seguinte

critério 91:

R50 - “muito tóxico para organismos aquáticos”:

- toxicidade aguda (LC50 (peixe) ou EC50 (Daphnia) ou IC50 (alga)) ≤ 1,0 mg/L;

R50 e R33 – “muito tóxico para organismos aquáticos e pode causar a

longo prazo efeitos adversos no ambiente aquático”:

- toxicidade aguda ≤ 1,0 mg/L;

- compostos não são rapidamente degradados (log Kow ≥ 3);

- experimentalmente seu fator de bioconcentração (BCF) ≤ 100;

R51 e R53 – “tóxico para organismos aquáticos e podem causar a longo

prazo efeitos adversos no ambiente aquático”:

- 1 mg/L < toxicidade aguda ≤ 10 mg/L;

- compostos não são rapidamente degradados (log Kow ≥ 3);

- experimentalmente seu fator de bioconcentração (BCF) ≤ 100;

R52 e R53 – “prejudicial aos organismos aquáticos e pode causar a

longo prazo efeitos adversos no ambiente aquático”:

- 10 mg/L < toxicidade aguda ≤ 100 mg/L;

- os compostos não são rapidamente degradados (log Kow ≥ 3);

- experimentalmente seu fator de bioconcentração (BCF) ≤100.

2.10.1 Licenciamento ambiental para indústria farmacêutica

O licenciamento ambiental de uma indústria farmacêutica deve seguir as

normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e da Agência

Ambiental de Goiás.

As instalações da ETE devem atender às recomendações da ABNT,

NBR 570/9092 que trata da construção de estações de tratamento de esgotos e

NBR 9.800/8793 que trata do lançamento de efluentes industriais na rede

pública de esgotos.

Page 67: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

45

O licenciamento ambiental de uma indústria farmacêutica requer a

análise físico-química e bacteriológica do efluente produzido, memorial de

caracterização do empreendimento e, para as indústrias já instaladas e que

não possuem estação de tratamento de efluentes, um termo de compromisso

de ajuste de conduta deve ser firmado junto à Agência Ambiental.

Para as indústrias que produzem fármacos antimicrobianos, alguns

estudos devem ser realizados periodicamente, entre eles o estudo da

inativação dos antimicrobianos eliminados na ETE, que deve ser renovado a

cada 120 dias.

Essas indústrias devem possuir ainda um Plano de Gerenciamentos de

Resíduos do Serviço de Saúde (PGRSS) e seus resíduos sólidos devem ser

tratados de acordo com a RDC 358 de 200594 e NBR 10.004/200495.

A lei estadual de Goiás nº 8.54496 de 17 de outubro de 1978 deve ser

observada pois regulamenta o controle da poluição do meio ambiente.

Considerando-se a abordagem ambiental apresentada, observa-se a

necessidade do desenvolvimento de uma metodologia adequada ao tratamento

de efluentes industriais que vise a inativação de resíduos dos antibióticos

amoxicilina e ampicilina. O uso dos Processos Oxidativos Avançados (POA)

mostra-se promissor para diversos poluentes orgânicos, incluindo antibióticos.

No próximo capítulo apresentam-se as metodologias adotadas e os

procedimentos experimentais para os POA testados na degradação dos

antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina. Apresentam-se também,

diferentes técnicas para estudo da toxicidade dos produtos formados pela

oxidação desses antibióticos.

Page 68: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

46

CAPÍTULO 3 MATERIAIS E MÉTODOS

Page 69: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

47

3. Materiais e Métodos

Este capítulo constitui-se da descrição metodológica das diversas etapas

desenvolvidas durante este trabalho para avaliação da degradação de

antibióticos beta-lactâmicos presentes em efluente de indústria farmacêutica.

Primeiramente descreve-se a metodologia adotada para a avaliação do

impacto gerado em uma ETE de indústria farmacêutica produtora dos

antibióticos AMX e AMP, pelo lançamento dos efluentes de produção tratados

pelo método convencional (hidrólise básica). A segunda etapa se constitui da

caracterização dos poluentes e dos testes realizados para oxidação de

amostras sintéticas de AMX e AMP por Processos de Oxidativos Avançados

(POA)∗. Na terceira etapa, definiu-se o processo com melhor rendimento a um

menor custo, avaliou-se a redução da DQO promovida pelo processo e a

toxicidade dos produtos formados pela oxidação. Finalizando, realizaram-se

ensaios de biodegradabilidade com efluente industrial bruto submetido ao

processo oxidativo pelo reagente de Fenton.

Todos os reagentes necessários para a execução desse trabalho são

disponíveis comercialmente. A AMX PA e AMP PA utilizadas para a preparação

das soluções padrão bem como as comerciais para preparação das soluções

sintéticas foram gentilmente cedidas por uma indústria farmacêutica localizada

em Goiás.

O desenvolvimento experimental dos processos de oxidação deu-se em

várias etapas. Na primeira, os ensaios foram realizados a partir de soluções

sintéticas de AMX e AMP, avaliando-se a redução dos analitos, o que ocorreu

até a definição do POA com melhor rendimento. De posse dos resultados,

definiu-se o processo com reagente de Fenton. Em uma segunda etapa,

avaliou-se a redução da DQO a partir de soluções sintéticas dos antibióticos,

considerando-se os resultados obtidos na etapa anterior para o processo

Fenton. A partir destes resultados, realizaram-se os ensaios de toxicidade e

mutagenicidade dos produtos formados na degradação, utilizando-se os

organismos teste Artemia salina e Allium cepa. Em uma última etapa, o

efluente bruto da produção industrial de AMX e AMP de uma indústria goiana

∗ Anexo 1

Page 70: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

48

foi submetido ao processo de oxidação com reagente de Fenton para avaliação

de sua biodegradabilidade (DQO/DBO5).

Os materiais e a metodologia utilizada para o desenvolvimento deste

trabalho encontram-se apresentados a seguir. As análises e os ensaios

desenvolvidos foram realizados nas dependências do Laboratório de Química

Analítica e Ambiental do Instituto de Química da UnB, nos laboratórios de

Química e do centro de pesquisas REPLICON da UCG.

Toda a vidraria utilizada nos ensaios foi lavada com solução alcoólica de

hidróxido de potássio (KOH/EtOH) ou solução 10% de ácido nítrico (10%

HNO3) considerando-se as substâncias químicas analisadas e as

concentrações trabalhadas (orgânicos ou metais).

Os frascos de vidro utilizados na DQO em refluxo fechado foram

submetidos a tratamento de limpeza após cada análise para eliminar os

resíduos e armazenados para que possíveis contaminações fossem evitadas.

Os resíduos dessa análise foram devidamente armazenados para posterior

tratamento e descarte.

As amostras de efluentes para os ensaios de biodegradabilidade foram

coletadas em uma indústria farmacêutica de Goiás, em época de seca, para

que não houvesse interferência devido à diluição ocasionada pela entrada de

águas pluviais no sistema de tratamento da indústria. As coletas foram

realizadas no reservatório subterrâneo e no tanque de hidrólise do efluente

sempre ao final do período de produção do antibiótico.

3.1. Avaliação do impacto na estação de lodo ativado pelo lançamento de resíduo de hidrólise de antibióticos penicilânicos

Uma avaliação preliminar do impacto do lançamento de efluentes

hidrolisados do processamento dos penicilânicos (AMX e AMP) foi realizada

junto a uma indústria farmacêutica localizada em Goiás. Para a realização de

deste estudo, um volume de 3 m3 de efluente de antibióticos foi utilizado. Esse

efluente foi submetido à hidrólise básica conforme metodologia adotada pela

indústria: adicionaram-se 2,35 Kg de hidróxido de sódio (NaOH) comercial para

a reação básica, agitou-se o sistema, manteve-se a solução em repouso por 40

Page 71: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

49

min e em seguida adicionaram-se 2,6 L de ácido clorídrico (HCl) PA para a sua

neutralização (pH=7).

Para avaliar os efeitos do descarte de efluentes hidrolisados na ETE, 3

amostras foram coletas em diferentes datas. Para cada amostra 2 pontos de

coleta foram escolhidos: um na entrada do sistema, amostrando o efluente

bruto (tanque de equalização) e outro na saída do sistema, onde tem-se o

efluente tratado (tanque de decantação). As amostras foram coletadas de

maneira composta com freqüência de 2 horas, armazenadas em frascos

plásticos e preservadas a 4 ºC, sendo o volume coletado por ponto de coleta

igual a 5 L. Para a primeira coleta de efluentes, considerou-se o funcionamento

da ETE com a recepção de todos os efluentes, menos os da produção de

penicilânicos. A segunda coleta foi realizada 48 h após o descarte dos

efluentes hidrolisados dos penicilânicos e finalmente a terceira coleta ocorreu 7

dias após este descarte.

A figura 3.1 apresenta um fluxograma da indústria farmacêutica

localizada em Goiás que forneceu os efluentes estudados. O efluente é

composto pelos produtos básicos da produção que são: medicamento (AMX

e/ou AMP), Eudragit®, talco, estearato de magnésio, corantes e dióxido de

titânio. A estes se somam os produtos para limpeza da linha de produção como

polietilenoglicol, ácool etílico e propanona além de detergentes especiais. O

sistema de tratamento da ETE dessa indústria é o de lodo ativado. Os efluentes

da linha de penicilânicos, após hidrólise básica e neutralização, são

descartados em um tanque de equalização onde se misturam aos efluentes

das demais linhas de produção e também ao esgoto sanitário da indústria.

Após o tratamento, o efluente final é descartado na rede pública de esgoto.

Page 72: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

50

Figura 3.1: Fluxograma do efluente da linha de produção com destaque para a

linha de penicilânicos.

3.2 Procedimentos analíticos

3.2.1 Determinação espectrofotométrica de AMX e AMP em solução aquosa.

Análises espectrofotométricas de varredura foram realizadas em

soluções padrão de AMX e AMP. Estas varreduras foram realizadas para as

amostras contendo AMX nos intervalos de 250 a 300 nm e para AMP de 240 a

280 nm com o objetivo de determinar-se o λmax para cada espécie química,

Linha de Penicilânicos

Tanque de descarte de produtos de limpeza da linha de produção

(subterrâneo)

Tanque de hidrólise/ neutralização de penicilânicos

Demais linhas de produção, Esgoto sanitário, Rede pluvial

Tanque de equalização

Tanque de aeração

Tanque de decantação

Rede pública de esgoto

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51

utilizando-se o espectrofotômetro GBC-911A. Quando necessário, para efeito

de confirmação de resultados, leituras de 190 a 800 nm foram realizadas.

As soluções estoque e padrão foram preparadas segundo CASS

(2003)97. Estes procedimentos encontram-se descritos a seguir.

a) Preparação de soluções estoque:

Solução 0,01 mol L-1 de KH2PO4:

1,6900 g de KH2PO4 foi pesado em balança analítica Mettler-Toledo (modelo

AG 202), transferido para um béquer, solubilizado em água destilada, levado a

um balão volumétrico de 1,0 L e seu volume completado. Após este

procedimento, o pH da solução foi ajustado para 5,0 utilizando-se NaOH 2,0

mol L-1.

Solução estoque 1,19 x10-3 mol L-1de AMX:

0,5000 g de AMX foi solubilizada em um béquer com solução 1,0 x10-2 mol L-1

de KH2PO4 com auxilio de banho ultrassônico Bransonic (modelo Branson

5210), em seguida transferida para um balão volumétrico de 1,0 L e seu

volume final ajustado com solução 1,0 x10-2 mol L-1 de KH2PO4. A solução

resultante foi transferida para um frasco de vidro âmbar, reservada em

geladeira por um prazo máximo de 30 dias.

Solução estoque 2,79 x10-3 mol L-1 de AMP:

1,0000 g de AMX foi solubilizada em um béquer com solução 1,0 x10-2 mol L-1

de KH2PO4 com auxilio de ultrassom, em seguida transferida para um balão

volumétrico de 1,0 L e seu volume final ajustado com solução 1,0x10-2 mol L-1

de KH2PO4. A solução resultante foi transferida para um frasco de vidro âmbar,

reservada em geladeira por um prazo máximo de 7 dias.

Solução padrão de AMX:

A partir da solução estoque de AMX, alíquotas foram retiradas e 6 padrões

foram preparados com as seguintes concentrações: 1,4 x10-4 mol L-1, 2,4 x10-4

mol L-1, 4,8 x10-4 mol L-1, 7,2 x10-4 mol L-1, 9,5 x10-4 mol L-1 e 1,2 x10-4 mol L-1.

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52

Solução padrão de AMP:

A partir da solução estoque de AMP, alíquotas foram retiradas e 6 padrões

foram preparados com as seguintes concentrações: 3,2 x10-4 mol L-1, 5,4 x10-4

mol L-1, 1,08 x10-3 mol L-1, 1,62 x10-3 mol L-1, 2,16 x10-3 mol L-1e 2,69 x10-3 mol

L-1.

As soluções estoque foram transferidas para frascos de vidro âmbar,

devidamente rotuladas, e reservadas em geladeira até o momento de sua

utilização. As soluções padrão foram preparadas diariamente.

3.2.2 Avaliação da estabilidade das soluções estoque Para o estudo da validação da metodologia, 6 padrões foram preparados

a partir das soluções estoque, suas leituras repetidas a cada 7 dias, com um

intermediário no 3º dia da primeira semana, durante um período de 2 meses.

Este estudo mostrou que os padrões devem ser preparados diariamente

e que a solução estoque de AMX tem vida útil de 30 dias enquanto que a de

AMP apenas de sete dias.

3.2.3 Determinação da curva analítica As curvas analíticas foram obtidas a partir de soluções padrão

preparadas em tampão fosfato, pH=5. Os intervalos de concentração das

curvas foram de 1,4 x10-4 mol L-1, 2,4 x10-4 mol L-1, 4,8 x10-4 mol L-1, 7,2 x10-4

mol L-1, 9,5 x10-4 mol L-1e 1,19 x10-3 mol L-1para AMX e 3,2 x10-4 mol L-1, 5,4

x10-4 mol L-1, 1,08 x10-3 mol L-1, 1,62 x10-3 mol L-1, 2,16 x10-3 mol L-1 e 2,69

x10-3 mol L-1 para AMP. As leituras de varredura do espectro de absorção com

o espectrofotômetro GBC 901A permitiram a determinação do λmax para cada

uma das substâncias trabalhadas. Isto se fez necessário em função do máximo

de absorção observado para essas substâncias de acordo com as

concentrações trabalhadas nessa tese. Para AMX o λmax = 272 nm foi

estabelecido e para AMP λmax = 262 nm.

3.3 Realização das medidas de pH

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53

As medidas de pH de todas as amostras foram realizadas antes e depois

de cada degradação.

As degradações de AMX e AMP definidas como ideais tiveram seu pH

acompanhado durante os 60 min de ensaio.

O pHmetro utilizado (DIGIMED modelo PH2) é constituído de eletrodo de

vidro combinado, com cloreto de potássio (KCl) como eletrólito de referência.

Diariamente o equipamento erai calibrado, com solução tampão 4,01 e 6,98 a

temperatura ambiente.

3.4 Obtenção dos espectros na região do Infravermelho (IR)

Os espectros de infravermelho (IR) para AMX e AMP foram obtidos de

acordo com a metodologia sugerida pela monografia para substâncias

medicinais e farmacêuticas da Farmacopéia Britânica (2000)98.

As amostras estudadas (AMX, AMP e resíduos sólidos das

degradações) foram previamente secos a vácuo, por um período de 4 h, e

encaminhados a Central Analítica do IQ/UnB para confecção das pastilhas em

KBr e obtenção do espectro.

3.5 Estudos para degradação de AMX e AMP

Em uma primeira etapa do trabalho, amostras sintéticas de AMX, 2,86

x10-3 mol L-1, e AMP, 3,23 x10-3 mol L-1, foram preparadas em água destilada.

Os seguintes processos de oxidação foram testados para estas amostras:

fotodegradação, peroxidação, fotoperoxidação, processo Fenton, foto-Fenton,

processo Fenton/Fe3+ e foto-Fenton/Fe3+. Os reagentes utilizados foram H2O2

PA 30% (m/v), solução de FeCl2 1,0 x10-2 mol L-1 , preparada pela dissolução

de Fe em ácido clorídrico concentrado a quente e padronizada, e de FeCl3 1,0

x10-2 mol L-1, preparada a partir do sal em meio acidificado com HClconc.. A

variação na concentração dos analitos AMX e AMP nas amostras sintéticas foi

aacompanhada por espectrofotometria de absorção no ultravioleta (UV). Para a

comparação entre os resultados obtidos nos diferentes ensaios para os

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54

antibióticos, as concentrações utilizadas tanto de H2O2 como de Fe foram

mantidas constantes. A tabela 3.1 apresenta os volumes utilizados nos

diversos experimentos desta etapa do trabalho.

Tabela 3.1: Volume de reagente utilizado para a degradação de 200,0 mL de

solução de AMX e AMP.

POA/ Reagente

(mL) UV H2O2

H2O2/UV

Fentonfoto-

FentonFenton

/Fe3+

foto Fenton

/Fe3+

H2O2 - 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0

FeCl2 - - - 10,0 10,0 - -

FeCl3 - - - - - 10,0 10,0

Os resultados obtidos para a redução do analito por espectrofotometria

no UV levaram à definição do POA a ser utilizado nas demais etapas do

trabalho em função do melhor rendimento e ao menor custo. A opção foi pelo

reagente de Fenton.

A etapa seguinte do trabalho envolveu a avaliação da variação da

relação AMX/H2O2, AMX/Fe e AMP/H2O2, AMP/Fe para o processo de

degradação definido a partir dos resultados obtidos na primeira etapa.

O processo oxidativo escolhido foi com o uso do reagente de Fenton. A

determinação da concentração residual do substrato orgânico por

espectrofotometria no UV e a remoção da demanda química de oxigênio (DQO)

foram os parâmetro utilizados para avaliação da degradação das soluções

sintéticas.

As soluções de AMX (2,86 x10-3 mol L-1) e AMP (3,23 x10-3 mol L-1)

foram preparadas em água destilada. Estas concentrações estão de acordo

com as concentrações máximas estimadas para efluentes industriais. Para o

reagente de Fenton utilizou-se sulfato de ferro (II) heptahidratado

(FeSO4.7H2O) como fonte de Fe2+. No preparo dos ensaios a adição dos

reagentes seguiu a seguinte ordem:

1º) solução aquosa AMX (ou AMP);

2º) adição do catalisador, sal de ferro, FeSO4.7H2O;

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55

3º) adição do oxidante H2O2.

3.5.1 Quantificação dos compostos estudados Na primeira etapa da pesquisa, a quantificação da AMX e AMP residual

nas degradações foi feita por espectrofotometria UV. A metodologia adotada foi

ajustada a partir de diversas referências disponíveis 99,100,97,101.

Em sua segunda etapa, após a determinação do processo oxidativo

mais eficiente e de custo relativamente baixo (uso de Reagente de Fenton), as

degradações de AMX e AMP foram realizadas utilizando a remoção da DQO

como parâmetro e sulfato de ferro (II) como fonte de Fe2+, evitando assim a

interferência dos íons cloretos. As quantidades de H2O2 e de Fe2+ foram

avaliadas com relação à AMX e AMP.

Um estudo complementar avaliou espectros de absorção no

infravermelho para os resíduos sólidos provenientes das degradações com o

objetivo de verificar a presença de AMX e AMP neste material.

3.5.2 Ensaios oxidativos de degradação Os ensaios de degradação foram realizados utilizando-se um reator

fotoquímico apresentado na figura 3.1. Para os ensaios na ausência de

radiação, o mesmo reator foi utilizado porém tendo a fonte luminosa desligada.

Dessa forma eram mantidas as mesmas condições de turbulência e ventilação.

3.5.2.1 Reator fotoquímico O reator fotoquímico utilizado foi desenvolvido no próprio laboratório.

Como fonte de radiação utilizou-se o tubo de descarga de uma lâmpada

OSRAM de vapor de mercúrio E27, HQL 125 W, que emite na faixa do UV (λ~

254 nm). A figura 3.1 apresenta um esquema do reator bem como seu aspecto

visual.

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56

(a) (b)

Figura 3.2. (a) esquema geral da montagem do foto-reator. (b) aspecto visual

do foto-reator utilizado nos processos de degradação.

3.6 Descrição dos ensaios de degradação por POA

Para os ensaios com AMX, utilizaram-se 200 mL de solução 2,86 x10-3

mol L-1 e com AMP 200 mL de solução 3,20 x10-3 mol L-1. Todos os ensaios

foram realizados sob agitação. As concentrações para as soluções sintéticas

de AMX e AMP foram estabelecidas a partir da determinação da concentração

média destas substâncias presentes no efluente industrial (aproximadamente

2,0x10-3 mol L-1). A DQO também foi considerada no estabelecimento das

concentrações estudadas. A DQO para o efluente bruto da produção de AMX e

AMP variou no intervalo de 2300 a 4200 mg O2/L (n=5). Para a solução de

AMX 2,86 x10-3 mol L-1 temos uma DQO de 2970 mg O2/L enquanto que para

solução de AMP 3,20 x10-3 mol L-1, a DQO apresenta um valor de 3300 mg

O2/L.

3.6.1 Ensaios de fotodegradação Os ensaios foram realizados utilizando o foto-reator (λ~ 254 nm). A

mistura reacional constou de 200 mL de solução de AMX ou AMP. O tempo de

degradação estudado foi de 60 min e as amostras foram coletadas a cada 10

min.

Fonte de radiação UV

Agitador magnético

Ventilação

Exaustão

Béquer Amostra sintética

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57

3.6.2 Ensaios de peroxidação Os ensaios foram realizados utilizando o foto-reator porém com a fonte

de irradiação desligada. A mistura reacional constou de 200 mL de solução de

AMX ou AMP, com adição de 9,79 x10-3 mol de H2O2 , sob agitação intensa. O

tempo de degradação estudado foi de 60 min e as amostras foram coletadas a

cada 10 min.

3.6.3 Ensaios de fotoperoxidação Os ensaios foram realizados utilizando o foto-reator (λ~ 254 nm). A

mistura reacional constou de 200 mL de solução de AMX ou AMP, com adição

de 9,79 x10-3 mol de H2O2 , sob agitação intensa. O tempo de degradação

estudado foi de 60 min e as amostras foram coletadas a cada 10 min.

3.6.4 Ensaios com reagente de Fenton Os ensaios foram realizados utilizando o foto-reator com a fonte de

irradiação desligada. A mistura reacional constou de 200 mL de solução de

AMX ou AMP, com adição de 9,79 x10-3 mol de H2O2 , e 10 mL de solução 0,01

M de FeCl2, sob agitação intensa. O tempo de degradação estudado foi de 60

min e as amostras foram coletadas a cada 10 min.

3.6.5 Ensaios de foto-Fenton Os ensaios foram realizados utilizando o foto-reator (λ~ 254 nm). A

mistura reacional constou de 200 mL de solução de AMX ou AMP, com adição

de 9,79 x10-3 mol de H2O2 , e 10 mL de solução 0,01 M de FeCl2, sob agitação

intensa. O tempo de degradação estudado foi de 60 min e as amostras foram

coletadas a cada 10 min.

3.6.6 Ensaios de Fenton/Fe3+ Os ensaios foram realizados utilizando o foto-reator com a fonte de

irradiação desligada. A mistura reacional constou de 200 mL de solução de

AMX ou AMP, com adição de 9,79 x10-3 mol de H2O2 , e 10 mL de solução 0,01

M de FeCl3, sob agitação intensa. O tempo de degradação estudado foi de 60

min e as amostras foram coletadas a cada 10 min.

Page 80: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

58

3.6.7 Ensaios de foto-Fenton/ Fe3+ Os ensaios foram realizados utilizando o foto-reator (λ~ 254 nm). A

mistura reacional constou de 200 mL de solução de AMX ou AMP, com adição

de 9,79 x10-3 mol de H2O2 , e 10 mL de solução 0,01 M de FeCl3, sob agitação

intensa. O tempo de degradação estudado foi de 60 min e as amostras foram

coletadas a cada 10 min.

3.6.8 Ensaios de foto-Fenton promovido por radiação solar Os ensaios foram realizados expondo-se a solução do antibiótico AMX

com reagente de Fenton à luz solar. A mistura reacional constou de 50 mL de

solução contendo 1,4 x10-3 mol de AMX com adição de H2O2 e Fe2+, sob

agitação intensa com razões de acordo com a tabela 3.2. O tempo de

degradação estudado foi de 60 min e as amostras foram coletadas a cada 10

min.

Tabela 3.2: Quantidade de matéria (mol) presente nos ensaios de degradação

por foto-Fenton para AMX promovido por radiação solar.

Quantidade de matéria (mol) e razão molar

Ensaio (I) (II) (III) (IV) (V)

AMX 1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3

AMX/

H2O2

0,36 1,43 0,71 0,47 0,36

AMX/

Fe2+

- 14 7 4,6 3,5

3.7 Determinação da demanda química de oxigênio (DQO)

A DQO das soluções iniciais e de cada alíquota retirada durante as

degradações foram realizadas de acordo com a metodologia estabelecida para

refluxo fechado colorimétrico pelo Standard Methods for the Examination of

Water and Wastewater102 (5220 Chemical oxigen demand, 1999) e NBR

10357/1988103, utilizando-se o termoreator VELP modelo ECO-16.

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59

3.8 Ensaios de toxicidade

Os ensaios de toxicidade foram realizados utilizando-se dois

bioindicadores, o microcrustáceo Artemia salina e o vegetal Allium cepa. O

método de avaliação em raízes de Allium cepa é validado pelo Programa

Internacional de Segurança Química (IPCS, OMS) e o Programa Ambiental das

Nações Unidas (UNEP) como eficiente teste para análise e monitoramento de

substâncias ambientais104.

3.8.1 Artemia salina

Os ensaios de toxicidade para a avaliação da dose letal para 50% dos

organismos (DL50 ) dos resíduos da degradação de AMX e AMP por reagente

de Fenton foram realizados com culturas do crustáceo Artemia salina (Figura

3.2) nos Laboratórios de Química Orgânica e de Alimentos da Universidade

Católica de Goiás com supervisão do prof. Dr. Armando Garcia-Rodriguez. A

eclosão dos cistos foi induzida no meio ambiente adequado, contendo 3,5% de

sal marinho, sob condições de aeração constante, durante 24 horas. Os

exemplares adultos foram isolados e colocados em tubos de ensaios para a

realização dos testes. Os resíduos foram adicionados nos tubos (triplicata) em

diferentes concentrações e contados após 24, 48 e 72 horas de exposição,

visualmente, os vivos e mortos 105.

Figura 3.3: Aspecto visual do microcrustáceo Artemia salina.

O procedimento adotado para o ensaio foi o seguinte:

a) Preparação do cultivo de Artemia salina para o bioensaio:

Page 82: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

60

Pesa-se 7,0 g de sal marinho e transfere-se para um béquer de 200 mL;

adiciona-se 200 mL de água destilada, dissolver o sal marinho, liga-se a

lâmpada fluorescente e a bomba de aeração; adiciona-se a solução salina no

reservatório e 1,0 g de ovos de Artemia salina. A eclosão dos ovos ocorre após

48 horas.

Após a eclosão dos ovos, as Artemias salinas devem ser transferidas para

os tubos de ensaio. Para isto prepara-se 100 mL da solução de NaCl 3,5%,

adiciona-se 0,5 mL desta solução a cada tubo de ensaio, transferem-se as

Artemias salinas para os tubos de ensaio com as pipetas Pasteur, sendo 10

exemplares por tubo; acrescenta-se as amostras a serem estudadas para a

avaliação da toxicidade (DL50) em diferentes concentrações. Deixam-se os

tubos de ensaio contendo as Artemias salinas sob iluminação fluorescente para

avaliação pelo tempo de 24, 48 e 72 horas.

b) Avaliação da toxicidade:

Após 24 h (48 e 72 h), coloca-se o tubo ligeiramente inclinado sob a luz

fluorescente, agita-se bem levemente, verificando-se quais Artemia salina

estão vivas e quais estão mortas (aquelas que afundarem após a agitação

estão mortas ou imobilizadas pela ação do poluente), conta-se o número de

exemplares vivos, mortos ou imobilizados e calcula-se a porcentagem de

sobrevivência da seguinte forma:

S(%) = __Número de organismos vivos x 100__

Número total de organismos no tubo (10)

Calcula-se os valores DL100 (dose ou concentração que provoca a morte

de todos os exemplares no tubo, S% = 1) e DL50 (dose ou concentração que

provoca a morte de 50% dos animais testados, S% = 50).

3.8.2 Organismo teste Allium cepa Para a avaliação da toxicidade dos produtos gerados na degradação de

AMX e AMP por reagente de Fenton foi seguida a metodologia padrão proposta

por Fiskesjö (1985)70. O material biológico utilizado como organismo teste

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61

constitui-se de indivíduos jovens e saudáveis da espécie Allium cepa da

Família LILIACEAE, diplóide (2n = 16 cromossomos). Os ensaios

macroscópicos foram realizados no Laboratório de Química Analítica da

Universidade Católica de Goiás e os microscópicos nos Laboratórios do Núcleo

de Pesquisas REPLICON, sob orientação do prof. MSc Cláudio Carlos da Silva.

3.8.2.1 Parâmetros macroscópicos: turgescência e crescimento radicular As cebolas adquiridas no comercio local (Allium cepa L.) foram

selecionadas segundo seu peso e tamanho buscando a maior homogeneidade

possível entre os espécimes que seriam utilizados. A túnica marrom externa foi

retirada, as raízes primárias secas foram eliminadas utilizando-se bisturi de

forma que o anel de brotamento se mantivesse intacto. As cebolas foram então

lavadas, secas com papel macio, e em seguida colocadas nos béqueres com

as soluções teste para crescer. Cada conjunto de teste era constituído de 12

cebolas70. Como controle negativo (CN) utilizou-se água de abastecimento

público. O experimento ocorreu à temperatura ambiente e protegido de luz

solar direta (Figura 3.3).

Após 24 horas do início do experimento, as raízes de cada cebola foram

observadas quanto a sua turgescência, contadas e seu comprimento medido

com paquimetro. Este acompanhamento se estendeu por 5 dias de cultivo, 120

horas de ensaio.

Figura 3.4: Aspecto visual da organização das cebolas em teste.

Page 84: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

62

3.8.2.2. Parâmetros microscópicos: índice mitótico (IM), micronúcleos (MN) e anomalias cromossômicas (AC) 3.8.2.2.1 Preparação das radículas As cebolas foram selecionadas segundo o seu tamanho sendo que os

indivíduos mais jovens e saudáveis foram escolhidos. O método de avaliação

das alterações cromossômicas em raízes de Allium é validado pelo Programa

Internacional de Segurança Química (IPCS, OMS) e o Programa Ambiental das

Nações Unidas (UNEP) como um eficiente tese para análise e monitoramento

in situ da genotoxicidade de substâncias ambientais106.

Foram formados grupos constituídos por dez cebolas para cada

condição de tratamento. Os bulbos foram colocados em béqueres de 50 mL,

em local seco arejado e com incidência indireta de luz solar, por 4 dias em

água de abastecimento público, realizando de 12 em 12 horas o revezamento

das posições dos béqueres na bancada. A figura 3.4 mostra a disposição das

amostras na bancada.

Figura 3.5: Condições de exposição dos bulbos na bancada. (a) Disposição

geral e aleatória, (b), (c), (d), (e) e (f) Crescimento radicular dos bulbos em

diferentes ângulos.

b

d

c

ef

a

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63

Após o crescimento das radículas, os indivíduos foram transferidos

paras as soluções AMX, AMP e AMX/F e AMP/F em diferentes diluições. Um

controle negativo (CN) foi feito expondo os bulbos em água de abastecimento

público. O controle positivo (CP) utilizou uma solução 10 mg L-1 de Hg2+. Todas

as raízes foram expostas por um período de 48 h. Após esse tempo, as raízes

foram coletadas e armazenadas em tubos ependorff de 2 mL contendo solução

fixadora álcool-ácida de Carnoi (3:1, etanol/ ácido acético) por um período

mínino 24 horas107.

3.8.2.2.2. Preparo das lâminas As lâminas foram obtidas pelo método de esmagamento onde,

aproximadamente 1,0 cm da região apical radicular foi submetido à hidrólise

ácida de ácido clorídrico a 1,0 mol L-1 na temperatura ambiente por 15 minutos.

Em seguida as amostras foram lavadas em água destilada por 5 min. Após, as

radículas foram transferidas para a lâmina onde, em microscópio

estereoscópico foi retirada a coifa para obtenção do meristema apical,

adicionado reativo de Fulgen, recoberta por uma lamínula e em seguida uma

leve pressão sobre o material visando espalhamento das células. Finalmente as

lâminas foram seladas com esmalte. As lâminas de cebola foram observadas

em microscópio óptico em aumento de 400X, contadas, em teste cego, através

da técnica de varredura, 2000 células por tratamento em cada bioensaio.

3.8.2.2.3 Análise microscópica

Para a determinação do índice mitótico foi utilizado o seguinte índice:

100xNTCNCMIM =

onde: IM= índice mitótico NCM= número de células em mitose e

NTC= número total de células observadas

Para a análise de anomalias cromossômicas (AC), vários tipos de

aberrações foram consideradas. Os critérios para aceitar a presença das

alterações cromossômicas observadas, estão de acordo com Nielson e Rank

(1994)108 e estão descritas a seguir:

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64

- quebras cromátídicas equivalentes à perda de cromátides do cromossomo ou

por fragmentação que ocorrem nas cromátides durante a divisão celular;

- não disjunção dos cromossomos no final da metáfase, formando estruturas

denominadas pontes anafásicas, alterações essas observadas no início da

anáfase;

- fuso acromático desestabilizado podendo provocar perda de cromossomos

inteiros durante o processo de divisão celular;

- presença de micronúcleos (MN) equivalente a uma estrutura de contorno

regular, redondo ou oval, e devendo estar dentro do citoplasma de uma célula;

o MN deve estar no mesmo plano de foco de observação e nitidamente

separado do núcleo.

Todos os registros foram reunidos em uma só categoria para possibilitar

a avaliação das AC como um único endpoint. A incidência de MN em células

meristemáticas de Allium cepa foi considerada como outro parâmetro de

avaliação, não sendo agrupada junto com as AC.

O IM, que corresponde à relação do número de células em divisão,

constitui um terceiro parâmetro de avaliação. A análise de todos estes

parâmetros se deu pela contagem de cerca de 2000 células por tratamento,

sendo 500 células por lâmina para um total de 4 lâminas.

3.8.2.2.4. Análise estatística A análise estatística foi realizada pelo teste de Kruskal-Wallis e teste t-

Student, o qual possibilita a comparação dos tratamentos com controle

negativo, bem como dos tratamentos entre si, em nível de significância de 0,05.

Os testes foram realizados com auxilio do software Bio Estatistic versão 3.01.

3.9 Ensaios de Biodegradabilidade

Para a determinação da biodegradabilidade o efluente industrial bruto foi

submetido à oxidação utilizando-se o reagente de Fenton nas razões

poluente/H2O2 e poluente/Fe estabelecidas nas etapas anteriores deste

trabalho. Após a degradação, o produto gerado foi analisado quanto a sua DBO

e DQO. Esses parâmetros foram realizados, utilizando-se as metodologia de

Page 87: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

65

diluições sucessivas, do Standard Methods for Examination of Water and

Wastewater (1999)102.

O efluente bruto hidrolisado também foi avaliado quanto à sua

biodegradabilidade para que se pudesse comparar a capacidade de

degradação biológica dos produtos da oxidação e do método convencional.

O próximo capítulo desta tese apresenta os resultados obtidos a partir

do desenvolvimento dos experimentos descritos e apresenta as discussões

referentes aos dados obtidos.

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66

CAPÍTULO 4

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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67

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados e discussão dos experimentos realizados serão

apresentados de acordo com a sua ordem de execução. Primeiramente serão

relatados os ensaios de caracterização das substâncias AMX e AMP em

estudo; em seguida os resultados de oxidação dessas substâncias por POA

avaliando-se a concentração residual de AMX e AMP por espectrofotometria

UV. Posteriormente, a partir dos resultados obtidos na oxidação de AMX e

AMP pelos POA estudados, definiu-se o processo Fenton como o de melhor

rendimento. A partir desta definição, as oxidações de AMX e AMP passam a

ser avaliadas em termos da variação da DQO. Estudou-se também a presença

de compostos orgânicos nos resíduos insolúveis formados durante a

degradação por reagente de Fenton. Em uma última etapa de trabalho, após a

definição do processo oxidativo com melhor rendimento (processo Fenton) e a

melhor razão AMX/Fe2+/H2O2 e AMP/Fe2+/H2O2 a ser utilizada, a toxicidade dos

produtos formados nas oxidações foi monitorada por bioindicadores. Como

procedimento-teste, avaliou-se também a biodegradabilidade de um efluente

industrial oxidado pelo processo Fenton.

4.1. Característica das substâncias em estudo A caracterização química das substâncias poluentes a serem estudadas

é fundamental para o desenvolvimento deste trabalho. A figura 4.1 apresenta a

estrutura das moléculas das substâncias AMX e AMP, em destaque o anel β-

lactama característico dos antibióticos beta-lactâmicos.

Figura 4.1: Anel β-lactama presente na AMP e AMX.

NH2 O

HNCCH

NO

S

CH3

CH3

CO2-Na+

Ampicilina Amoxicilina

NH2 O

HNCCH

NO

S

CH3

CH3

CO2H

HO. H2O3

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68

A presença do anel aromático, estrutura de grande estabilidade e difícil

oxidação em condições brandas, e grupos como carboxila, amida, tiazol, fenol

mostram a necessidade de uma reação de degradação promovida por um

oxidante forte não seletivo como os radicais •OH (E0 = 2,720 V versus NHE).

Para o acompanhamento da variação das concentrações nas soluções

de AMX e AMP submetidas aos processos de degradação, é necessário que se

caracterize essas substâncias por espectrometria no ultravioleta (UV) e no

infravermelho (IR).

4.2 Caracterização da AMX e AMP por espectroscopia de IR e UV A caracterização das substâncias consiste na determinação de suas

propriedades definidas na literatura ou, para o caso das substâncias de uso

farmacêutico, da Farmacopéia Brasileira. As figuras 4.2 e 4.3 apresentam

espectros de IR para padrões das substâncias AMX e AMP. Em destaque o

pico em 1775 cm-1 que caracteriza as substâncias AMX e AMP. Este pico

refere-se ao estiramento CONH, νCONH, do anel β-lactama presentes em

ambas, uma característica dos antibióticos do grupo das penicilinas. A

diferença entre AMX e AMP fica visível quando observa-se a banda larga

acima de 3000 cm-1, referente a água, presente no espectro da AMX.

3460.57 2969.74

1774.51

1686.421615.04

1584.651518.86

1462.46 1396.2

1314.161281.81 1248.71

1177.921121.51

1021.44

921.458

839.426803.666

657.296 558.844

0

50

100

150

4000 3000 2000 1000

Transmit tance / Wavenumber (cm-1)

Fi le # 1 : AMX

Sample Description: KBr Sandra

Res=4 cm-1Scans= 10 Slow

Mode= 2 (Mid-IR)

Zero Fi l ling= 1 x

18/5/2006 11:26

Apod= Cosine

Figura 4.2: Espectro de IR característico para AMX PA (em pastilha de KBr).

Page 91: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

69

Figura 4.3: Espectro de IR característico para AMP PA (em pastilha de KBr).

Para determinação de AMX e AMP por espectrometria no UV, foram

obtidos espectros de varredura de soluções padrão com a finalidade de obter-

se o λmax . As figuras 4.4 e 4.5 apresentam estes resultados.

O comprimento de onda selecionado para a AMX (em solução aquosa)

foi λmax = 272 nm e para a AMP (em solução aquosa) λmax = 262 nm. Esta

escolha deu-se em função dos mesmos apresentarem a melhor resolução para

soluções de concentrações que variaram de 1,40 x10-4 mol L-1 a 1,19 x 10-3 mol

L-1 de AMX e 3,20 x 10-4 mol L-1 a 2,79 x 10-3 mol L-1 de AMP, compreendendo

uma larga faixa de concentração, incluindo as utilizadas nesta pesquisa, e

obedecendo os limites de absorvância aceitos pela lei de Beer.

3334.37

2940.33

2621.35

1774.77

1694.071644.06

1581.66 1525.321456.96

1392.031380.14

1364.431307.96

1257.321215.88

1186.941123.4

1075.381026.05

873.112848.034

802.194778.53 752.208

729.607692.297

669.136645.134

597.667523.609 498.457

469.337

0

50

100

4000 3000 2000 1000

Transmittance / Wavenumber (cm-1)

Fi le # 1 : AMP

Sample Description: KBr Sandra

Res=4 cm-1Scans= 10 Slow

Mode= 2 (Mid-IR)

Zero Fi l ling= 1 x

18/5/2006 11:34

Apod= Cosine

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70

Figura 4.4: Espectro de UV característico para AMX PA (em solução aquosa), λmax = 272 nm. (a) 1,40 x10-3 mol L-1, (b) 2,40 x10-3

mol L-1 e (c) 4,80 x10-3 mol L-1.

(a)

(b)

(c)

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71

Figura 4.5: Espectro de UV característico para AMP PA (em solução aquosa), λmax = 262 nm. (a)3,20x10-3 mol L-1, (b) 5,40 x10-3

mol L-1 e (c) 1,08 x10-2 mol L-1.

(a)

(b)

(c)

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72

Estudos realizados por espectrofotometria de UV com o efluente

industrial da produção de AMX e de AMP filtrados (0,45 µm), apresentaram

concentrações que variaram de 1,0 x10-3 a 2,0 x10-3 mol L-1 tanto para AMX

quanto para AMP, valores estes compreendidos na faixa de concentração

estudada para os padrões e que serviram de base para os estudos de

oxidação.

4.3 Avaliação do impacto na estação de lodo ativado pelo lançamento de resíduo de hidrolise de antibióticos penicilânicos

A avaliação do impacto do descarte de resíduos do tratamento por

hidrólise básica de antibióticos beta-lactâmicos em ETE com sistema de lodo

ativado é necessária para que se possa entender a necessidade de um sistema

de tratamento mais eficiente para resíduos da produção desses fármacos.

As indústrias farmacêuticas produtoras de formulações para antibióticos

como AMX e AMP, utilizam o método de hidrólise básica como forma de pré-

tratamento de seus efluentes da linha de produção antes de descartá-los em

suas ETE. As ETE normalmente utilizam tratamento biológico (lodo ativado)

pois não há no Brasil uma legislação específica para tratamento desse

efluente, há apenas a recomendação para que a molécula seja inativada, o que

pode acontecer via hidrólise básica que promove a abertura do anel beta-

lactâmico por ataque nucleofílico ao grupo acila do anel.

A avaliação do impacto provocado na estação de lodo ativado de uma

indústria farmacêutica localizada em Goiás pelo lançamento de efluentes da

linha de produção de penicilânicos, especificamente AMX e AMP, submetidos a

hidrolise básica foi realizado de acordo com as especificações do item 3.1.1.

Este trabalho requereu uma avaliação do tempo de detenção hidráulica dos

tanques da ETE (Tabela 4.1) a partir do qual se determinou o período entre a

coleta das amostras.

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73

Tabela 4.1: Tempo de detenção hidráulica em função do volume dos tanques

de tratamento*

Etapa do tratamento Volume total (m3) Tempo de detenção hidráulica (h)

Tanque de séptico 37,8 7,56

Tanque de equalização 18,75 3,75

Tanque de aeração 154 30,8

Tanque de decantação 48 4,8

Total 47 *Vazão média de entrada de efluentes no sistema = 5,0 m3/h

Obs.: dados fornecidos pela equipe da ETE da indústria.

Os parâmetros de rotina pH, temperatura, DBO5, DQO e lodo decantável

foram avaliados e os resultados obtidos encontram-se na tabela 4.2.

Tabela 4.2: Cronograma de coleta de amostras e parâmetros analisados

Coleta de efluentes

Parâmetros

Verificados

28/07/05 entrada saída

04/08/05 entrada saída

11/08/05 entrada saída

CONAMA

357/05

pH 4,82 7,3 4,75 6,83 5,11 7,1 5,0-9,0

Temperatura (ºC) 25,8 28,1 26,4 28,2 25,9 28,7 NR

DBO5

(mg O2/L) 1800 135 960 133 1400 120 60,0

DQO

(mg O2/L) 2384 222 2220 326 1706 144 NR

razão DBO5/DQO

(biodegradabilidade,

na saída do sistema)

0,75 0,43 0,82 NR

Lodo decantável

(mL) 560 480 520 NR

NR: não há recomendação na legislação. As análises foram realizadas de

acordo com a metodologia do Standard Methods for Examination of Water and

Wastewater102.

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74

Os resultados mostram uma alteração no sistema da ETE com o

lançamento dos efluentes penicilânicos. A queda na remoção da DBO e da

DQO pode estar relacionada com a inativação do sistema de lodo ativado pela

atividade biológica própria das penicilinas. A biodegradabilidade também sofreu

alteração indicando uma diminuição na capacidade de biodegradabilidade do

efluente dos antibióticos penicilânicos após hidrólise (DQO/QBO5 >2). Em

casos como esses, tratamentos combinados físicos e/ou químicos e biológicos

são recomendados pela literatura 86,85.

A eficiência da ETE foi observada em termos da taxa de remoção da

DBO e DQO e da relação DQO/DBO na saída do sistema. A tabela 4.3 a seguir

apresenta esses resultados.

Tabela 4.3: Eficiência do sistema de tratamento, taxa de remoção e eficiência.

Parâmetro 1 ª coleta 2 ª coleta 3 ª coleta

DBO 92,5% 86,1% 91,4%

DQO 90,7% 85,3% 91,6%

DQO/DBO 1,32 2,31 1,21

Os resultados mostram uma menor eficiência do sistema, apresentando

uma redução da DBO5 (86,1%) e DQO (85,3%) para a 2ª coleta, exatamente no

período em que o resíduo da hidrolise básica dos antibióticos permaneceu em

tratamento na estação, inferior ao encontrado para as demais coletas indicando

a necessidade do desenvolvimento de novas metodologias para degradação

desses poluentes devido a sua recalcitrância.

Segundo Kümmerer (2004)13, devido as Boas Práticas de Fabricação

(BPF) adotadas pelas indústrias e ao alto custo das matérias primas, a

contribuição das mesmas com o aporte de PhAC no meio ambiente na Europa

e nos Estados Unidos sejam baixos e que só trariam problemas em caso de

acidentes mas, mesmo assim, o problema seria localizado. Esse ponto é

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75

bastante questionável quando se tem a informação de que pequenas

concentrações é que levam ao desenvolvimento de organismos resistentes. A

questão do efluente industrial é importante exatamente por ser localizada e,

portanto, permitir o uso de tecnologias combinadas como reator de degradação

por reagente Fenton seguido de descarte em estação de lodo ativado,

minimizando assim a contaminação ambiental. O propósito de teses como esta

é de que se alcance o máximo de mineralização com o menor custo. Assim, a

partir do uso do processo oxidativo reagente de Fenton para a degradação de

efluentes da produção dos antibióticos AMX e AMP, pode-se ter:

AMX intermediários CO2

AMP orgânicos ácidos minerais (mais oxidável, (menos oxidáveis,

menos biodegradável) mais biodegradáveis)

que é o espera-se alcançar em um tratamento de efluente.

4.4 Amostra sintética Para o desenvolvimento do trabalho, na busca de tratamentos

preliminares que permitissem um melhor rendimento para a oxidação de

antibióticos penicilânicos, foram testadas amostras sintéticas de AMX e AMP

em solução aquosa para realização de ensaios de degradação por POA.

A utilização de efluentes industriais in natura fez parte da etapa final do

trabalho, após a definição do POA com o melhor rendimento. Nos

experimentos realizados todos os reagentes foram adicionados no início do

processo (sistema de batelada).

4.5 Ensaios de degradação por POA

Para avaliação do potencial de degradação da AMX e AMP, realizaram-

se ensaios de diferentes POA. A avaliação dos resultados baseou-se na

Fenton microorganismos

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76

redução da concentração dos substratos orgânicos, concentração residual,

determinados por espectrofotometria no UV. As leituras foram realizadas

tomando-se como base os comprimentos de onda (λ) do pico máximo para

AMX, λ max=272 nm, e para AMP, λ max =262 nm experimentalmente

estabelecidos.

O estudo compreendeu a avaliação por diferentes POA da degradação

durante um período de 60 min, com amostras coletadas em intervalos de 10

min para cada ensaio conforme descrito no item 3.5.

Os processos oxidativos avaliados foram fotodegradação, peroxidação,

fotoperoxidação, reagente de Fenton, foto-Fenton, reagente de Fenton/Fe3+,

foto-Fenton/ Fe3+.

A tabela 4.4 apresenta as quantidades de matéria (mol) utilizadas dos

reagentes H2O2, FeCl2 e FeCl3, nas oxidações testadas para AMX e para AMP.

As concentrações de AMX e AMP foram estabelecidas tomando-se como base

estudos preliminares com efluente industrial (item 4.2).

Tabela 4.4 – Quantidade de matéria (mol) utilizados nos diferentes POA para

200 mL de solução 2,86 x10-3 mol L-1 de AMX e 200 mL de solução 3,20 x10-3

mol L-1 de AMP

POA/ Reagente (mol)

UV H2O2 UV/ H2O2

Fenton Fenton/ UV

Fenton/ Fe3+

Fenton/

Fe3+/UV

H2O2 - 9,79x10-3 9,79x10-3 9,79x10-3 9,79x10-3 9,79x10-3 9,79x10-3

FeCl2 - - - 1x10-5 1x10-5 - -

FeCl3 - - - - - 1x10-5 1x10-5

Nesta etapa do trabalho, quantidades idênticas de reagentes foram

utilizadas nos testes tanto para AMX quanto para AMP com objetivo de avaliar-

se o rendimento para ambos. A necessidade deste procedimento decorre do

fato de que durante o período de mudança na produção de AMX para AMP ou

vice-versa, pode ocorrer mistura dos antibióticos no tanque reservatório de

penicilânicos.

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77

Os valores de pH (inicial e final) para cada ensaio encontram-se

discriminados na tabela 4.5. Este acompanhamento do pH é necessário devido

ao rendimento das reações estarem diretamente relacionados com este

parâmetro. A formação dos radicais •OH é maior quando o pH se encontra

próximo de 3. Esta condição foi observadas nas soluções que usam o Fe2+

como catalisador.

Tabela 4.5: Variação de pH durante os diversos ensaios com POA utilizando

soluções sintéticas de AMX e AMP.

Ensaio UV H2O2 H2O2/UV Fenton Fenton/UV Fenton/ Fe3+

Fenton/ Fe3+/UV

AMX pHi

4,70

4,70

4,70

4,70

4,70

4,70

4,70

pHf 4,58 4,50 4,27 2,67 2,42 2,72 2,82

AMP pHi

5,08

5,08

5,08

5,08

5,08

5,08

5,08

pHf 4,87 4,80 4,49 2,85 2,68 2,78 2,78

Os resultados obtidos para os ensaios de oxidação nos tempos 30

e 60 min de degradação se encontram na tabela 4.6. Esses mostram que os

melhores rendimentos na degradação foram obtidos nos processos oxidativos

Fenton/UV e Fenton/ Fe3+/UV. Para AMX obteve-se um valor máximo de

remoção do analito de 99,62% (Fenton/UV) e para AMP de 97,52%

(Fenton/Fe3+/UV).

A importância na avaliação da oxidação em função do tempo se deve ao

custo do processo que envolve consumo de energia elétrica para agitação do

sistema e, nos processos foto-químicos, o uso de radiação UV artificial.

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78

Tabela 4.6: Percentagem de degradação de AMX e AMP em função do POA.

AMX (%)

AMP (%)

Ensaio/ tempo (min) 30 60 30 60 Fenton/ Fe3+ 99,61 99,61 53,18 79,79

Fenton/ Fe3+/UV 99,61 99,61 88,67 97,52

Fenton 85,84 97,13 60,73 95,42

Fenton/ UV 99,62 99,62 60,73 95,42

H2O2 7,29 7,29 8,66 8,66

H2O2 /UV 12,07 12,07 8,66 8,66

UV 0 0 0 0

A variação da razão de remoção de AMX e AMP durante os ensaios

para os diferentes POA em função do tempo encontra-se representada nas

figuras 4.6 e 4.7. Observa-se uma redução significativa da concentração de

AMX e AMP para os processos que utilizam Fe como catalisador. Os

processos que fazem uso do catalisador e de radiação UV se mostraram mais

eficientes.

Os resultados são evidentes quanto à eficiência do uso do Fe como

catalisador. Os processos catalisados levaram a uma redução da concentração

de AMX que variou de 85 a 99% (foto-assistido) enquanto para AMP a variação

foi de 79 a 97% (foto-assistido). A combinação Fe catalisador/radiação UV

mostrou-se eficiente tanto para a oxidação de AMX quanto para AMP.

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79

AMX

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0 10 20 30 40 50 60

min

Ct/C

0

Fenton/Fe(III) Fenton /Fe(III) Fenton Fenton UV

H2O2 H2O2 UV UV

Figura 4.6: Razão de redução da concentração de AMX durante 60 min.

AMP

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0 10 20 30 40 50 60

min

Ct/C

0

Fenton/Fe(III) Fenton/fe(III)/UV Fenton Fenton UV

H2O2 H2O2 UV UV

Figura 4.7: Razão de redução da concentração de AMP durante 60 min.

Na figura 4.8 apresenta-se uma comparação em termos de percentuais

de redução da concentração do analito (AMX e AMP) para diferentes tempos

de reação (30 e 60 min). Para as oxidações catalisadas e foto-assistidas

observa-se um rendimento para os tempos 30 e 60 min, praticamente idênticos

no caso da AMX. Para AMP, isso não se repetiu, mostrando que a questão

tempo de reação interfere no rendimento da mesma.

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80

Os ensaios realizados com os diferentes POA mostram que os melhores

rendimentos foram obtidos após 60 min de oxidação. Para AMX, os percentuais

obtidos foram os seguintes: 99,62% para Fenton/UV e 99,61% para Fenton/

Fe3+ /UV, já para AMP o percentual de degradação chegou a 97,42% para

Fenton/UV e 97,52% para Fenton/ Fe3+/UV. Pode-se observar também que os

ensaios Fenton e Fenton/ Fe3+ apresentaram rendimentos acima de 99% para

AMX e de 97% para AMP. Partindo-se do fato de que os ensaios com o uso de

radiação UV custam 2 a 3 vezes mais caros que os sem UV109, o uso do

reagente de Fenton para a degradação desse compostos orgânicos se mostra

bastante promissor.

0

20

40

60

80

100

%

Fento

n/Fe(I

II)

Fento

n/Fe(I

II)/UV

Fento

n

Fento

n UV

H2O2

H2O2 U

V UV

AMX 30 min

60 min

(a)

0

20

40

60

80

100

%

Fenton

/Fe(III)

Fenton

/Fe(III)/

UV

Fenton

Fenton

UV

H2O2

H2O2 UV UV

AMP 30 min

60 min

(b)

Figura 4.8: Avaliação do percentual de remoção com relação ao tempo de

reação para (a) AMX e (b) AMP.

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81

Considerando-se os resultados obtidos e o consumo de energia no

processo foto-assistido, pode-se estabelecer o reagente de Fenton como POA

a ser otimizado para oxidação de soluções sintéticas de AMX e AMP.

4.6 Estudos da degradação de AMX e AMP utilizando reagente de Fenton

Após a definição do POA reagente de Fenton como o processo a ser

adotado, realizaram-se os ensaios para a determinação (ajuste) das

concentrações de H2O2 e Fe2+ que levariam ao um melhor rendimento. A tabela

4.7 apresenta as concentrações utilizadas nos ensaios para AMX.

Tabela 4.7: Quantidade de matéria (mol) utilizada na oxidação de AMX por

reagente de Fenton.

Quantidade de matéria (mol) e razão molar

Ensaio (a) (b) (c) (d)

AMX 1,43x10-4 1,43x10-4 1,43x10-4 1,43x10-4

H2O2 2,44x10-3 3,28x10-3 4,89x10-3 9,79x10-3

Fe2+ 5,0x10-5 6,7x10-5 1,0x10-4 2,0x10-4

H2O2/Fe2+ 49 49 49 49

AMX/H2O2 0,058 0,043 0,029 0,014

AMX/Fe2+ 2,86 2,13 1,43 0,71

A figura 4.9 apresenta um acompanhamento da variação da

concentração residual de AMX por espectrofotometria no UV para os diversos

ensaios de degradação por reagente de Fenton durante um período de 60 min.

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82

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0 20 40 60 80

min

conc

entr

ação

nor

mal

izad

a

a b c d

Figura 4.9: Oxidação da AMX por reagente de Fenton: (a) 2,44x10-3 mol de

H2O2, (b) 3,28x10-3 mol de H2O2, (c) 4,89x10-3 mol de H2O2 e (d) 9,79x10-3 mol

de H2O2

Os ensaios (c) e (d) se mostraram os mais eficientes, com uma redução

de cerca de 100% dos analitos após um período de 60 min de oxidação. Esse

resultado era esperado devido ao aumento na concentração de radicais livres

hidroxila promovidos na mistura reacional de acordo com a concentração de

H2O2 utilizada.

As quantidades de matéria (mol) utilizadas nos diversos ensaios

realizados para avaliação da degradação por reagente de Fenton de AMP

encontram-se discriminados na tabela 4.8.

O baixo rendimento obtido para os ensaios (a) a (d) levou a necessidade

de um estudo mais amplo do que o realizado com AMX. Observou-se a

necessidade de concentrações maiores de H2O2 para uma degradação mais

eficiente.

A figura 4.10 apresenta os resultados obtidos a partir da determinação

da concentração residual de AMP por espectrofotometria no UV para cada

ensaio de degradação com reagente de Fenton durante um período de 60 min.

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83

Tabela 4.8: Quantidade de matéria (mol) utilizada na oxidação de AMP por

reagente de Fenton.

Quantidade de matéria (mol) e razão molar

ensaio (a) (b) (c) (d) (e) (f) (g)

AMP

1,62x10-4

1,62x10-4

1,62x10-4

1,62x10-4

1,62x10-4

1,62x10-4

1,62x10-4

H2O2

2,44x10-3

3,28x10-3

4,89x10-3

9,79x10-3

1,22x10-2

1,47x10-2

1,96x10-2

Fe2+

5,0x10-5

6,7x10-5

1,0x10-4

2,0x10-4

2,5x10-4

3,1x10-4

4,0x10-4

H2O2/

Fe2+

48,8

48,9

48,9

48,9

48,8

48,8

48,7

AMP/

H2O2

0,066

0,049

0,033

0,016

0,013

0,11

0,008

AMP/

Fe2+

3,24

2,42

1,62

0,81

0,65

0,52

0,40

0

0,5

1

0 10 20 30 40 50 60

min

Con

cent

raçã

o no

rmal

izad

a

a b c d e f g

Figura 4.10: Oxidação da AMP por reagente de Fenton: (a) 2,44x10-3 mol de

H2O2, (b) 3,28x10-3 mol de H2O2, (c) 4,89x10-3 mol de H2O2, (d) 9,79x10-3 mol

de H2O2, (e) 1,22x10-2 mol de H2O2, (f) 1,47x10-2 mol de H2O2 e (g) 1,96x10-2

mol de H2O2.

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84

Os resultados mostram que os ensaios (e), (f) e (g) atingiram uma

redução da concentração de AMP de próxima de 97% após 60 min de

oxidação.

A partir dos resultados obtidos, considerando-se a maior razão de

remoção com menor consumo de reagentes para t= 60 min, pode-se observar

que o melhor rendimento para AMX foi obtido com 3,28 x10-3 mol de H2O2 e 6,7

x10-5 mol de Fe2+. Para a AMP, o melhor rendimento foi obtido com 1,22 x10-2

mol de H2O2 e 2,5 x10-4 mol de Fe2+.

4.6.1 Influência da concentração de H2O2

A determinação do kobs (∆[AMX]/ ∆t) (Figura 4.11), assumindo a reação

como de pseudo 1ª ordem, mostra-se constante a partir da presença de 3,28

x10-3 mol de H2O2. Este valor coincide com o considerado ótimo no estudo da

determinação de AMX residual.

0

0,002

0,004

0,006

0,008

0,01

0,012

0,014

0,016

0,018

0 0,005 0,01

moL de H2O2

Kob

s

Figura 4.11: Relação entre kobs e a concentração de H2O2 na degradação de

AMX por reagente de Fenton.

A determinação do kobs (∆[AMP]/ ∆t) (Figura 4.12), assumindo a reação

como de pseudo 1ª ordem, se mostra constante a partir da presença de 1,22

Page 107: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

85

x10-2 mol de H2O2. Este valor coincide com o considerado ótimo no estudo da

determinação de AMP residual.

00,0020,0040,0060,0080,01

0,0120,0140,0160,018

0 0,005 0,01 0,015 0,02 0,025

moL de H2O2

kobs

Figura 4.12: Relação entre kobs e a concentração de H2O2 na degradação de

AMP por reagente de Fenton.

Com o aumento da concentração de H2O2, espera-se uma maior

destruição dos contaminantes. A constatação de que o Kobs a partir de uma

determinada concentração se torne constante pode ser justificada pela

formação de radicais hidroxiperoxila 109, que são oxidantes menos enérgicos

que os radicais •OH e que consomem esses radicais para sua formação.

Conclui-se assim que a razão ideal de AMX/H2O2 para a degradação por

regente de Fenton é 0,043 e para AMP/H2O2 é 0,013. Esta avaliação é

fundamental em termos de custo do tratamento da matriz (efluente industrial).

Apesar da comprovada eficiência na redução da concentração dos

analitos estudados, há a necessidade de se avaliar a redução do parâmetro

DQO das oxidações por reagente de Fenton. As quantidades de H2O2

determinadas pelos estudos cinéticos para AMX e AMP servirão como base

para esses estudos.

Observou-se durante a realização dos ensaios de oxidação tanto para

AMX como para AMP, a formação de um resíduo sólido que permaneceu após

24 h do final do ensaio. Estudos mostram que a destruição dos compostos de

interesse assim como de seus intermediários pode ser prejudicada pela

Page 108: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

86

formação de um precipitado durante a reação 110. Esse fato é relevante pois,

em processos promovidos por radiação UV, esses compostos provocam uma

diminuição no aproveitamento dos fótons emitidos pela fonte luminosa (natural

ou artificial), devido ao espalhamento, atrapalhando a degradação do

contaminante de interesse111. A formação desse precipitado pode também

favorecer a adsorção dos contaminantes, prejudicando o tratamento110.

4.7 Avaliação da razão de remoção da DQO no resíduo filtrado e sem filtração

Apesar do pH ácido (<3) ao final dos ensaios, a observação da formação

de um precipitado durante o processo de degradação, que persistia por mais

de 24 h após o término do ensaio, indicou a necessidade de um estudo que

avaliasse a remoção da DQO durante a degradação por reagente de Fenton

para AMX. A mistura reacional se constituiu de 1,43x10-4 mol de AMX: 9,79x10-

3 mol de H2O2: 2,0x10-4 mol de Fe2+, condição avaliada no ensaios como de

alto rendimento na degradação. Essa mistura foi colocada para reagir sob

agitação intensa e amostras coletada a cada 10 min para determinação da

DQO. A DQO foi obtida tanto do resíduo de degradação filtrado (em éster de

celulose, 0,45 µm) como sem filtrar. Os resultados obtidos para a DQO

normalizada encontram-se na figura 4.13 a seguir.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

0 10 20 30 40 50 60

min

DQ

O n

orm

aliz

ada

AMXF filtrada AMXF sem filtrar

Figura 4.13: DQO normalizada para as soluções filtradas e sem filtrar da

degradação por reagente de Fenton para AMX.

Page 109: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

87

Pode-se observar uma variação na razão de remoção da DQO entre

filtrado e não filtrado. A ausência do resíduo sólido levou a uma redução da

DQO de até 48% enquanto que na presença do mesmo, a redução não

ultrapassou 17%.

Pode-se concluir que no resíduo sólido estão presentes compostos

carbônicos que tanto podem ser o substrato orgânico que se pretende degradar

ou ainda fragmentos desse composto adsorvidos. Há a possibilidade de que

complexos de Fe3+ gerado pelo reagente de Fenton estejam se formando. Para

uma confirmação desses resultados, os resíduos sólidos foram devidamente

tratados e preparados para que se realizassem espectros de IR dos mesmos,

buscando a confirmação da presença de compostos carbônicos neste material.

4.7.1 Estudos dos resíduos sólidos gerados no processo de oxidação

A presença de íons Fe2+ nas soluções de AMX e AMP levaram à

formação de produtos solúveis, como pode ser observado nas figuras 4.14 (a)

e (c). A adição do H2O2, que promove a formação do reagente de Fenton, faz

com que se forme imediatamente uma substância insolúvel em água (figura

4.14 (b) e (d)) turvando a solução.

A formação de Fe3+ no meio reacional pode ser o responsável pela

formação do resíduo sólido observado. A constatação de que o uso prolongado

de antibióticos penicilânicos levava ao efeito clinico anemia, levantou a questão

sobre a possibilidade de formação de complexos entre o Fe3+ e os antibióticos

β-lactâmicos, o que foi confirmado por diversos estudos sobre a formação

desses complexos∗∗ 112,113,114,115.

∗∗ Anexo 2

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88

AMX AMP

(a) (c)

0,5 min 5 min 0,5 min 5 min

(b) (d)

Figura 4.14: Detalhamento do comportamento da amostra em diferentes tempo

de reação (a) solução de AMX/Fe2+, t= 0 min (b) solução de AMX/Fe2+/H2O2, t=

0,5 e 5 min, (c) solução AMP/Fe2+, t= 0 min, (d) solução AMP/Fe2+/ H2O2, t= 0,5

e 5 min

Para os estudos dos resíduos sólidos formados nos processos de

oxidação por reagente de Fenton, as suspensões resultantes dos processos de

oxidação de AMX e AMP foram então filtradas (0,45 µm) e o resíduo sólido

obtido foi seco a vácuo. A temperatura de fusão dos mesmos foi determinada

sendo que ambos apresentaram Tfusão > 300 ºC, o que indica a formação de

sais inorgânicos. Para a confirmação da presença de compostos orgânicos,

obtiveram-se espectros de IR dos mesmos. As figuras 4.15 a 4.18 apresentam

os espectros de IR obtidos para matéria prima utilizada bem como para os

resíduos obtidos da degradação, possibilitando assim uma comparação entre

ambos.

Em destaque o pico referente ao estiramento CONH, νCONH,

aproximadamente 1775 cm-1, do anel β-lactama, característico das penicilinas.

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89

3460.57 2969.74

1774.51

1686.421615.04

1584.651518.86

1462.46 1396.2

1314.161281.81 1248.71

1177.921121.51

1021.44

921.458

839.426803.666

657.296 558.844

0

50

100

150

4000 3000 2000 1000

Transmittance / Wavenumber (cm-1)

Fi le # 1 : AMX

Sample Description: KBr Sandra

Res=4 cm-1Scans= 10 Slow

Mode= 2 (Mid-IR)

Zero Fi l ling= 1 x

18/5/2006 11:26

Apod= Cosine

Figura 4.15: Espectro de IR de AMX PA.

3846.833832.53

3410.83

1631.55

1517.851458.84 1365.86

1277.98

1127.86

1038.47

791.948 580.887

60

80

100

120

4000 3000 2000 1000

Transmittance / Wavenumber (cm-1)

Fi le # 1 : AMX502

Sample Description: KBr Sandra

Res=4 cm-1Scans= 10 Slow

Mode= 2 (Mid-IR)

Zero Fi l ling= 1 x

18/5/2006 11:06

Apod= Cosine

Figura 4.16: Espectro de IR do resíduo sólido gerado na degradação de AMX

por reagente de Fenton.

Page 112: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

90

3334.37

2940.33

2621.35

1774.771694.07

1644.061581.66 1525.32

1456.961392.031380.14

1364.431307.96

1257.321215.88

1186.941123.4

1075.381026.05

873.112848.034

802.194778.53 752.208

729.607692.297

669.136645.134

597.667523.609 498.457

469.337

0

50

100

4000 3000 2000 1000

Transmittance / Wavenumber (cm-1)

Fi le # 1 : AMP

Sample Description: KBr Sandra

Res=4 cm-1Scans= 10 Slow

Mode= 2 (Mid-IR)

Zero Fi l li ng= 1 x

18/5/2006 11:34

Apod= Cosine

Figura 4.17: Espectro de IR de AMP PA.

3846

3728.17

3422.91

1653.881637.34

1559.691541.8

1508.451457.94

1281.02

1120.61

1032.12

842.328

668.864

70

80

90

100

110

4000 3000 2000 1000

Transmittance / Wavenumber (cm-1)

Fi le # 1 : AMPF10

Sample Description: KBr Sandra

Res=4 cm-1Scans= 10 Slow

Mode= 2 (Mid-IR)

Zero Fi l ling= 1 x

19/5/2006 09:15

Apod= Cosine

Figura 4.18: Espectro de IR do resíduo sólido gerado na degradação de AMP

por reagente de Fenton

Os espectros IR apresentados indicam a presença de compostos

orgânicos no resíduo sólido. Pode-se observar que o pico característico das

penicilinas, 1775 cm-1, não aparece em destaque como para as matérias

primas, mas também não tem-se como afirmar que o anel beta-lactama não se

Page 113: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

91

encontra presente. A banda larga entre 2.600 e 3.500 cm-1 indica a presença

de anel aromático, grupos carboxila, estiramento N-H e C=O da amida na

região de 2.600 cm-1 a 3.500 cm-1. A banda larga em torno de 1650 cm-1 pode

indicar o estiramento νCO de amida secundária que ocorre em torno 1.680 cm-1

e também de C=C aromático em aparece em 1.630 cm-1. As características

apresentadas nos espectros indicam à presença de grupos carbônicos tantos

no resíduo de AMX degradada por reagente de Fenton (AMX/F) quanto de

AMP degradada pelo mesmo processo (AMP/F)

A avaliação da redução de DQO é necessária na solução resultante do

processo de oxidação e não somente no filtrado. A possibilidade de formação

de complexos de Fe3+ com AMX e AMP não pode ser descartada, dessa forma

parte do substrato estaria sendo transferido para a fase sólida e não

degradado. Um ponto a ser avaliado a partir dos dados de IR é a possibilidade

de formação de subprodutos tóxicos devido a presença de moléculas orgânicas

resultantes da fragmentação das moléculas de AMX e AMP durante o processo

de oxidação.

4.8 Avaliação da redução da DQO

Considerando-se que a DQO é um dos parâmetros utilizados na

avaliação da qualidade de um efluente, por permitir que se determine a

presença de substâncias recalcitrantes, a avaliação da redução desse

parâmetro levará a determinação do grau de oxidação atingido na degradação.

Levando-se em conta os resultados obtidos para os tratamentos

oxidativos realizados para AMX e AMP e considerando-se a redução de

concentração do contaminante, optou-se pelo processo Fenton (Fe2+/H2O2)

para os ensaios de degradação avaliando-se a redução da DQO no processo.

A razão H2O2/Fe2+ foi mantida constante e a razão AMX/H2O2 foi

utilizada como parâmetro na determinação do grau de oxidação. O mesmo

trabalho foi desenvolvido para AMP. Nesta fase do trabalho, determinou-se a

melhor relação substrato orgânico/ [H2O2] que promovesse a oxidação sem a

Page 114: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

92

formação do resíduo sólido. Esses estudos tiveram como base as informações

obtidas na literatura para penicilina G 65,66.

A remoção da DQO foi avaliada a partir do processo com melhor

rendimento na relação substrato orgânico/ reagente de Fenton. O sulfato de

ferro II heptahidratado foi o sal utilizado como fonte de Fe2+ em função do seu

baixo custo e por não causar interferência na determinação da DQO.

A tabela 4.9 apresenta as quantidades molares trabalhadas. As mesmas

condições para AMX e AMP foram executadas em função da possibilidade de

que misturas em concentrações variadas dessas duas substâncias possam

estar presentes em efluentes industriais.

Tabela 4.9: Quantidade de matéria (mol) presente nos ensaios de degradação

por reagente de Fenton para AMX.

Quantidade de matéria (mol) e razão molar

Ensaio (I) (II) (III) (IV)

AMX 1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3

H2O2 9,79x10-4 1,96x10-3 2,94x10-3 3,91x10-3

Fe2+ 1,0x10-4 2,0x10-4 3,0x10-4 4,0x10-4

AMX/

H2O2

1,43 0,71 0,47 0,36

AMX/

Fe2+

14 7 4,6 3,5

H2O2/

Fe2+

9,8 9,8 9,8 9,8

AMX/

(H2O2/

Fe2+)

1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3

Os resultados obtidos na remoção de DQO para a degradação de AMX

com reagente de Fenton durante os 60 min de ensaio encontram-se na figura

4.19.

Page 115: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

93

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0 30 60 90 120 150

min

DQ

O n

orm

aliz

ada

I II III IV

Figura 4.19: Remoção da DQO para os ensaios (I), (II), (III) e (IV) com AMX.

Pode-se concluir que a reação de oxidação ocorre nos primeiros 30 min

de reação, a partir dos quais, a reação mantêm-se praticamente constante sem

variações significativas com relação a redução da DQO. Uma explicação para

esse fato é que compostos refratários podem estar sendo formados ou ainda

que complexos de Fe imobilizam o catalisador diminuído a concentração de

radicais •OH formados.

A tabela 4.10 apresenta as quantidades de matéria (mol) trabalhadas

para AMP nos ensaios para avaliação da redução da DQO.

Page 116: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

94

Tabela 4.10: Quantidade de matéria (mol) presente nos ensaios de degradação

por reagente de Fenton para AMP.

Número de mol em cada ensaio e razão molar

ensaio (I) (II) (III) (IV)

AMP 4,89x10-3 4,89x10-3 4,89x10-3 4,89x10-3

H2O2 9,79x10-4 1,96x10-3 2,94x10-3 3,91x10-3

Fe2+ 1,0x10-4 2,0x10-4 3,0x10-4 4,0x10-4

AMP/

H2O2

4,99 2,49 1,66 1,25

AMP/

Fe2+

48,9 24,45 16,3 12,25

H2O2/

Fe2+

9,8 9,8 9,8 9,8

AMP/

(H2O2/

Fe2+)

4,99x10-4 4,99x10-4 4,99x10-4 4,99x10-4

Os resultados obtidos na remoção de DQO para a degradação de AMP

com reagente de Fenton durante os 60 min de ensaio encontram-se na figura

4.20.

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

0 20 40 60 80 100 120 140

min

DQ

O n

orm

aliz

ada

(I) (II) (III) (IV)

Figura 4.20: Remoção da DQO para os ensaios (I), (II), (III) e (IV) com AMP.

Page 117: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

95

Da mesma forma como observado para a degradação da AMX, pode-se

concluir que a reação de oxidação ocorre nos primeiros 30 min de reação, a

partir dos quais mantêm-se praticamente constante sem variações

significativas com relação a redução da DQO. A formação de compostos

refratários ou a complexação dos íons ferro, diminuiem a concentração do

catalisador e podem estar promovendo este comportamento.

As figuras 4.21 e 4.22 apresentam o detalhamento (aspecto visual) do

comportamento da degradação de AMX e AMP em diferentes tempos de ração.

Figura 4.21: Detalhe do comportamento da degradação de AMX por reagente

de Fenton para o ensaio (III) em diferentes tempos de reação. (a) AMX e Fe2+,

(b) após adição de H2O2 e de (c) a (j), a cada 5 min de reação.

Figura 4.22: Detalhe do comportamento da degradação de AMP por reagente

de Fenton para o ensaio (III) em diferentes tempos de reação. (a) solução de

AMP e Fe2+, (b) após adição de H2O2 e de (c) a (j), a cada 5 min de reação.

Apesar do pH próximo de 2, observa-se a formação de uma suspensão

que turva a solução. A formação de um complexo entre AMX e Fe3+ nessas

condições encontra-se relatado na literatura112. A razão AMX/H2O2 e AMP/H2O2

(a) (b) (c) (d) (e)

(f) (g) (h) (i) (j)

(a) (b) (c) (d) (e)

(f) (g) (h) (i) (j)

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96

são fundamentais para que esse resíduo sólido não se forme durante a

degradação.

A figura 4.23 apresenta os aspectos visuais dos resíduos das

degradações com reagente de Fenton com AMX para os ensaios (I), (II), (III) e

(IV) após 60 min de reação. Pode-se observar a presença de sólidos,

provavelmente complexos de AMX com Fe3+, em (I) e (II). Já nos ensaios (III) e

(IV) não encontra-se resíduos sólidos, um indicativo de que a razão entre AMX

e H2O2/Fe2+ promove a degradação da matriz (solução do antibiótico) a

compostos refratários que não formam complexos insolúveis nas condições da

reação (pH<3).

Figura 4.23: Aspecto visual do resíduo da degradação AMX/reagente de

Fenton após 24 h. Ensaios (I), (II), (III) e (IV)

Os ensaios III e IV, onde não houve formação de resíduo sólido

insolúvel, apresentaram também os melhores rendimentos quanto à redução

da DQO na oxidação da AMX e AMP. Tem-se então as concentrações

utilizadas no ensaio IV como as mais promissoras.

Os resultados obtidos para a remoção da DQO, percentual de remoção,

para AMX e AMP no processo de degradação por reagente de Fenton,

encontram-se representados nas figuras 4.24 e 4.25.

Os resultados obtidos mostram que a razão AMX/H2O2 = 0,36 levou a

um rendimento na remoção de DQO de 75,62% enquanto que para AMP o

melhor rendimento foi obtido para a razão AMP/ H2O2 = 1,25 que resultou em

(I) (II) (III) (IV) (I) (II) (III) (IV)

(I) (II) (III) (IV)

Page 119: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

97

uma remoção de 81,92% da DQO confirmando que o melhor rendimento foi

obtido a partir das soluções que não formaram resíduo sólido, estando assim o

catalisador livre para promover a formação dos radicais •OH, e a formação de

compostos refratários a partir da degradação da AMX e da AMP foi menor.

29,51

55,16

69,2975,62

0

20

40

60

80

100

(a) (b) ( c) (d)

ensaio

% d

e re

moç

ão d

e DQ

O

Figura 4.24: Razão de remoção da DQO para os ensaios (I), (II), (III) e (IV) com

AMX (tf= 60 min).

36,65

58,49

69,29

81,92

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

(a) (b) ( c) (d)

ensaio

% d

e re

moç

ão d

e DQ

O

Figura 4.25: Razão de remoção da DQO para os ensaios (I), (II), (III) e (IV) com

AMP (tf= 60 min).

Page 120: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

98

4.9 Acompanhamento do pH Devido à dependência da eficiência do reagente de Fenton com relação

ao pH, há necessidade de um acompanhamento da sua variação durante a

degradação. A reação de formação do radical •OH por reagente de Fenton é

fortemente dependente do pH, somente em condições ácidas este radical é o

oxidante reativo predominante116.

Este estudo foi realizado para os ensaios que apresentaram melhor

rendimento, o ensaio (IV) tanto para AMX quanto para AMP.

Para AMX e AMP tem-se que o pH inicial da solução de trabalho se

encontra na faixa de 4,0. Estudos mostram que o pH próximo de 3 é uma

condição ótima para o uso do reagente de Fenton como oxidante117. A adição

do Fe2+ seguida pela de H2O2 leva o pH para aproximadamente 2,1.

A Tabela 4.11 apresenta as variações de pH para as degradações de

AMX e AMP bem como para o reagente de Fenton. A figura 4.26 apresenta a

variação do pH em função do tempo para o ensaio com melhor rendimento

tanto para AMX como para AMP. O regente de Fenton também foi

acompanhado quanto a variação de pH para uma comparação com as

soluções AMX e AMP em reação do regente de Fenton.

Tabela 4.11: Variação de pH em função do tempo de reação.

Tempo (min)/ pH 0 30 60 90

Reagente de Fenton 5,88 2,89 2,88 2,87

AMX/Fenton 4,69 2,09 2,06 2,05

AMP/Fenton 4,15 2,18 2,15 2,14

Os resultados mostram uma acidez maior para as soluções do reagente

de Fenton na presença de AMX e AMP com relação à solução do reagente

puro. A figura 4.26 apresenta o comportamento do pH para o reagente de

Fenton e para as soluções de AMX e AMX com o mesmo reagente durante um

período de 90 min.

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99

1

2

3

4

5

6

7

0 20 40 60 80 min

pH

reagente de Fenton AMX/Fenton AMP/Fenton Figura 4.26: Variação do pH durante degradação AMX/Fenton, AMP/Fenton e

do reagente de Fenton.

Os resultados obtidos mostram que as degradações ocorrem em pH

ácido (abaixo de 3) definido como ótimo na literatura para o uso do reagente de

Fenton como oxidante.

Na presença de íons ferro, em pH baixo, pode-se ter reações de adição

de radicais •OH em anéis aromáticos ou em anéis heterocíclicos (também em

compostos com ligações insaturadas como alquenos e alquinos) promovendo a

liberação do próton H+ para o meio de acordo com a equação 4.1118.

OHH OHHOH

OH. .OH .OHCOOH

COOH

4.10 Cinética de reação com relação à DQO

A determinação do Kobs (∆DQO/ ∆t), assumindo a reação como de

pseudo 1ª ordem encontra-se representado na figura 4.27.

(4.1)

Page 122: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

100

0

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

0,006

0,000 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005H2O2 (mol)

Kobs

AMXAMP

Figura 4.27: Relação entre kobs e a concentração de H2O2 na degradação de

AMX e AMP por reagente de Fenton com relação à DQO.

Apesar da redução de DQO obtida para AMX/F e AMP/F, os ensaios não

mostram uma estabilidade quanto a velocidade da reação. Não foi observado

um limite máximo para H2O2 a partir do qual a velocidade de reação se torna

constante, logo quanto maior a concentração de peróxido melhor o rendimento

da reação, como mostram os resultados de redução da DQO. A limitação

quanto ao consumo de H2O2 para a degradação se deve ao custo do reagente.

4.11 Degradação de AMX por foto-Fenton promovido por radiação solar

O fato de Goiás possuir um pólo farmacêutico instalado com 23

indústrias e a facilidade da realização de reações foto-químicas promovidas por

radiação solar na região centro-oeste devido à disponibilidade da mesma

durante o período de maio a setembro, quando se tem céu claro e praticamente

sem nuvens, levou a que testes fossem realizados com o objetivo de avaliar-se

a redução da DQO de soluções de AMX utilizando o processo foto-Fenton

promovido por radiação solar. O local escolhido para os ensaios possui as

seguintes coordenadas: 16º40’ S e 49º 14’ O.

Um ensaio preliminar foi realizado com o objetivo de avaliar-se a

oxidação da matriz por foto-peroxidação. Após esses estudos, avaliou-se a

degradação da AMX por processo foto-Fenton nas mesmas concentrações

Page 123: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

101

utilizadas para os ensaios sem a presença da radiação solar, avaliando-se a

redução da DQO para um período de 60 min de exposição com coleta de

amostras em intervalos de 10 min. A tabela 4.12 apresenta os valores de H2O2

e Fe2+ utilizados para os diferentes ensaios.

Tabela 4.12: Quantidade de matéria (mol) presente nos ensaios de degradação

por foto-Fenton para AMX.

Quantidade de matéria (mol) e razão molar

Ensaio (I) (II) (III) (IV) (V)

AMX 1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3

H2O2 3,91x10-3 9,79x10-4 1,96x10-3 2,94x10-3 3,91x10-3

Fe2+ 0 1,0x10-4 2,0x10-4 3,0x10-4 4,0x10-4

AMX/

H2O2

0,36 1,43 0,71 0,47 0,36

AMX/

Fe2+

- 14 7 4,6 3,5

H2O2/

Fe2+

- 9,8 9,8 9,8 9,8

AMX/

(H2O2/

Fe2+)

- 1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3 1,4x10-3

A figura 4.28 apresenta os resultados obtidos na redução da DQO

utilizando reagente de Fenton promovido por radiação solar.

Page 124: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

102

1

40,8

56,8 60,1 60,64

0

20

40

60

80

100

1 ensaio

% d

e re

duçã

o de

DQ

O

I II III IV V

Figura 4.28: Percentagem de remoção de DQO para ensaios de degradação de

AMX por processo foto-Fenton, tf = 60 min.

Os resultados obtidos mostram que a redução de DQO não ultrapassou

os 60%, resultado este menor do que o obtido para a mesma relação de

AMX/H2O2 porem sem a presença da radiação solar (75%).

A turbulência no reator por agitação visando o melhor aproveitamento

dos fótons aliado ao aumento de temperatura do sistema pode ser pelo menor

rendimento da oxidação promovida por radiação solar frente a sem radiação. A

decomposição do H2O2 em O2 e H2O ocorre nestas condições. Neste caso, são

necessários estudos para que se encontre a condição ótima de oxidação do

poluente a um menor custo.

A figura 4.29 apresenta um acompanhamento na redução de DQO

durante os 60 min de ensaio em intervalos de 10 min.

00,10,20,30,40,50,60,70,80,9

1

0 10 20 30 40 50 60 min

DQ

O n

orm

aliz

ada

I II III IV V

Figura 4.29: Redução da DQO durante 60 min de ensaio.

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103

As condições de reação para o ensaio (I) foram semelhantes as do

ensaio (V), com exceção da presença do Fe. O baixo rendimento para o ensaio

(I) confirma novamente a necessidade do catalisador para que se obtenha um

melhor resultado no processo de oxidação da matriz orgânica.

A figura 4.30 mostra um estudo cinético para o processo de degradação

utilizando foto-Fenton.

0

0,002

0,004

0,006

0,008

0,01

0,012

0,014

0 0,0005 0,001 0,0015 0,002 0,0025 0,003 0,0035 0,004 0,0045

H2O2 mL

Kobs

Figura 4.30: Estudo cinético da degradação de AMX por processo foto-Fenton.

O aumento da concentração de H2O2 não levou a um aumento na

velocidade da degradação. A decomposição térmica do peróxido de hidrogênio

pode ser a causa desta estabilidade.

A figura 4.31 apresenta o aspecto visual da degradação de AMX

utilizando o processo foto-Fenton promovido por radiação solar para o ensaio

com a maior redução de DQO.

(a) (b)

Figura 4.31: Aspecto visual da degradação de AMX por foto-Fenton em (a) t = 5

min e (b) t = 60 min.

A turvação da solução (Figura 4.32a) foi observada durante os primeiros

20 min de reação. Este fator pode estar ligado a uma redução da concentração

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104

do radical •OH, pois limita a interação dos fótons com os reagentes

responsáveis pela formação destes radicais.

4.12 Avaliação da toxicidade dos produtos formados pela degradação de AMX e AMP utilizando reagente de Fenton.

A avaliação da toxicidade dos resíduos de degradação de AMX e AMP por

reagente de Fenton é necessária, considerando-se que, pelos resultados

obtidos com relação a redução da DQO, somente este processo de oxidação

não leva a uma mineralização total dos antibióticos estudados. O uso de

tratamentos combinados como químico/biológico podem ser adotados nestes

casos. Assim sendo, para que se possam utilizar sistemas de tratamento de

efluentes por lodo ativado ou reatores biológicos, há a necessidade de avaliar-

se o impacto dos produtos formados na oxidação dos poluentes em sistemas

biológicos. A avaliação da toxicidade utilizando biomonitores tem sido adotada

como um parâmetro para avaliação da qualidade de águas e efluentes. Essa

ferramenta avalia a resposta de organismos vivos às mudanças ocorridas

geralmente causadas por ações antropogênicas 68,70,119,120. Testes como os

utilizados neste trabalho são rápidos, simples e de baixo custo e ainda

permitem a avaliação de potenciais riscos a biota aquática.

4.12.1 Bioensaio utilizando o organismo teste Artemia salina (nauplii): avaliação da toxicidade aguda pela letalidade A avaliação da toxicidade aguda dos produtos formados a partir da

degradação de AMX e AMP por reagente de Fenton se deu pela sensibilidade

do nauplii (recém eclodido) de Artemia salina, crustáceo marinho, durante um

período que variou de 24 h a 72 h. O bioensaio com o crustáceo, que permite

determinar a DL50 (dose letal para 50% dos organismos), foi realizado em

solução com diferentes concentrações dos produtos de degradação dos

antibióticos AMX por processo Fenton (AMX/F) e AMP por processo Fenton

(AMP/F) como descrito no item 3.6.1 desta tese. A percentagem de indivíduos

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105

mortos para ambos os antibióticos em diferentes condições de pH encontra-se

na tabela 4.13.

Tabela 4.13: Letalidade de resíduo de degradação de AMX por reagente de

Fenton para Artemia salina (t=24 h).

Ensaio % de morte

a) solução salina (CN) 0

b) AMX 0,0028 mol/L (pH= 4,6) 0

c) AMX/ Fenton – resíduo, (pH=2,3) 100

d) AMX/Fenton – resíduo filtrado em 0,45 µm (pH=2,3) 100

e) AMX/Fenton – resíduo (pH=7) 100

f) AMX/Fenton – resíduo filtrado em 0,45 µm (pH=7,0) 100

CN: controle negativo

Os dados apresentados na tabela 4.13 mostram a letalidade dos

produtos de degradação da AMX. Pode-se observar que tanto em pH

fortemente ácido (2,3) como em pH neutro, este fato se repete, o que leva a

necessidade de ensaios que permitam avaliar a concentração na qual a

letalidade seja para 50% dos indivíduos (DL50).

O mesmo estudo foi realizado para os produtos de degradação de

AMP/F. Os dados encontram-se na tabela 4.14.

Tabela 4.14: Letalidade de resíduo de degradação de AMP por reagente de

Fenton para Artemia salina (t=24h).

Ensaio % de morte

a) solução salina (CN) 0

b) AMP 0,0032 mol/L (pH= 4,8) 0

c) AMP/Fenton – resíduo, (pH =2,8) 100

d) AMP/Fenton – resíduo filtrado em 0,45 µm (pH=2,8) 100

e) AMP/Fenton – resíduo (pH=7) 50

f) AMP/Fenton – resíduo filtrado em 0,45 µm (pH=7,0) 30,5

CN: controle negativo

Neste caso, observa-se uma menor letalidade aguda para os resíduos

em pH neutro frente ao apresentado pela AMX.

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106

A tabela 4.15 apresenta os resultados obtidos (percentual de indivíduos

mortos) para os ensaios realizados com soluções de produtos de degradação

de AMX/F após neutralização e diluídos com solução salina 3,5%, por um

período de 72 h.

Tabela 4.15: Percentual de mortes de Artemia salina de acordo com a

concentração para produtos de degradação de AMX/F.

% mortes

Concentração %(v/v)

24 h 48 h 72 h

90 100 100 100

80 30 60 100

70 10 50 90

60 0 40 90

50 0 50 90

25 0 50 90

CN 0 0 0

Os resultados obtidos mostram que a solução com fator de diluição de

90%(v/v) provocou a morte de 100% dos indivíduos após 24 h. As soluções

com diluições inferiores a 70% apresentaram um índice de letalidade de 50%

(DL50) após 48 h de ensaio.

O acompanhamento quanto à letalidade para as diferentes

concentrações dos produtos formados pela degradação de AMX/F encontra-se

na figura 4.32.

Page 129: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

107

0

20

40

60

80

100

0 24 48 72

h

% d

e m

orte

CN 25% 50% 60% 70% 80% 90%

Figura 4.32: Acompanhamento da letalidade para Artemia salina dos produtos

da degradação de AMX/F.

Um estudo semelhante com Artemia salina foi realizado para resíduos

de degradação de AMP/F. A tabela 4.16 apresenta os resultados de percentual

de mortes de Artemia salina a cada 24 h, de acordo com o fator de diluição

testado para os resíduos de degradação de AMP/F após neutralização.

Tabela 4.16: Percentual de mortes de Artemia salina de acordo com a

concentração para produtos de degradação de AMP/F.

% mortes

Concentração % (v/v)

24h 48h 72h

90 20 40 100

80 10 30 60

70 0 20 80

60 0 20 70

50 0 20 50

25 0 30 50

CN 0 10 30

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108

Os resultados mostram que as soluções com fatores de diluição

menores que 50% apresentaram um índice de morte dos indivíduos menor ou

igual a 50% (DL50) após 72 h de ensaio.

A figura 4.33 apresenta um acompanhamento dos resultados obtidos

para avaliação da dose letal de acordo com a concentração de produtos

formados pela degradação de AMP/F em um período de 72 h.

0

20

40

60

80

100

0 24 48 72

h

% in

diví

duos

mor

tos

0% 25% 50% 60% 70% 80% 90%

Figura 4.33: Acompanhamento da letalidade para Artemia salina dos produtos

da degradação de AMP/F

Os produtos de oxidação apresentam um comportamento diferenciado

quanto a toxicidade frente a Artemia salina. Os produtos gerados na

degradação de AMX/F apresentaram uma DL50 após 48 h de ensaio para

soluções com diluição menores do que 70% (v/v). Para os resíduos de

degradação de AMP/F a DL50 foi obtida para as soluções com diluição menor

do que 50% (v/v), porém após 72 h de ensaio. Conclui-se assim que os

produtos de degradação da AMP apresentam menor toxicidade aguda para o

organismo estudado do que os da AMX.

Considerando-se que o fator de diluição entre o tanque de desativação e

o de equalização na indústria farmacêutica estudada atinge 83,4% (v/v), pode-

se concluir que é maior do que o fator de diluição obtido para a definição do

DL50 dos produtos de degradação dos antibióticos.

Page 131: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

109

4.12.2 Bioensaio utilizando o organismo teste Allium cepa Uma outra avaliação da toxicidade dos produtos gerados pela oxidação

de AMX e AMP utilizando reagente de Fenton foi realizada utilizando-se o

sistema teste Allium cepa. Esse teste tem sido aplicado para avaliação de

águas superficiais e efluentes pela avaliação de aspectos macroscópicos como

a inibição do crescimento da raiz e turgescência e citológicos como aberrações

na metáfase e anáfase ou ainda inibição da divisão celular.

4.12.2.1 Avaliação da toxicidade pela inibição do crescimento das raízes Para a realização dos ensaios, foram preparadas soluções dos produtos

de degradação de AMX/F e AMP/F, com pH ajustado para 7,0 e filtradas,

variando as diluições de 100% a 0,25% (v/v) em água destilada. A avaliação do

crescimento radicular foi realizada em um período de 120 h e as medidas do

comprimento das raízes tomadas a cada 24 h.

A figura 4.34 apresenta a variação do comprimento médio das raízes em

função da diluição dos resíduos de degradação de AMX para 120 h de ensaio.

Observa-se que soluções com diluições acima de 10% não permitiram o

crescimento das raízes, nestas concentrações ocorreu necrose dos bulbos, o

que impediu o crescimento das mesmas.

100% 50% 10%5%

2,50%

1,00%0,50%0,25% AMX

CN

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

0,00

com

prim

ento

de

raiz

CN: controle negativo

Figura 4.34: Crescimento radicular médio em função da diluição dos resíduos

da degradação de AMX/F (t=120h).

Page 132: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

110

A média de crescimento das raízes para a solução com fator de diluição

de 5% foi 89,5% menor do que o CN enquanto que para as soluções 1,0%,

0,50% e 0,25% foram de 27%, 31% e 22 % respectivamente. As soluções com

diluição acima de 10% inibiram totalmente o crescimento das raízes, a

turgescência (mudança de cor e deformação nas raízes) foi observada para

soluções acima de 5%.

A figura 4.35 apresenta uma relação entre o crescimento das raízes e o

CN para as soluções que apresentaram maior crescimento.

100

73,87

0 08,58

33,22

73,29 69,9178,08

0

10

20

30

40

5060

70

80

90

100

1

cres

cim

ento

%

CN AMX 50% 10% 5% 2,5% 1% 0,5% 0,25%

Figura 4.35: Crescimento radicular com relação do controle negativo (t=120 h).

Os resultados mostram claramente uma relação entre a concentração

dos produtos de degradação e o crescimento da raiz. A solução diluída a 2,5%

teve seu crescimento 66,78% menor do que o CN. O maior crescimento com

relação ao CN foi obtido para a solução diluída a 0,25%, sendo este 21,92%

menor que CN.

As diluições acima de 0,5% apresentaram redução de crescimento de

raiz maior do que para a solução de AMX.

Os resultados obtidos para o tamanho médio das raízes e tamanho da

maior raiz nas soluções dos produtos da degradação de AMX após 120 h de

ensaio, encontram-se na tabela 4.17.

Page 133: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

111

Tabela 4.17: Valores médios de comprimentos da raiz (cm) em soluções dos

produtos de degradação de AMX por reagente de Fenton.

Diluição % maior raiz média desvpad intervalo n 2,5 2,5 0,788 0,61 0,1-2,5 45 1,0 3,6 1,498 1,00 0,3-3,6 50 0,5 3,2 1,429 0,85 0,4-3,2 46 0,25 3,7 1,596 1,00 0,4-3,7 61 AMX 3,3 1,511 0,94 0,3-3,3 76 CN 5 2,044 1,38 0,3-5,0 67

Com relação a maior raiz, observa-se que para a solução diluída a 2,5%,

a mesma atingiu 50% do CN. Para a solução diluída a 0,25%, o comprimento

da maior raiz atingiu 74% do CN.

A figura 4.36 apresenta o acompanhamento do crescimento das raízes

durante as 120 h de ensaio em intervalos de 24 h.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

0 24 48 72 96 120

h

cm

2,5% 1,0% 0,5% 0,25% AMX CN

Figura 4.36: Curva de crescimento em diferentes diluições para as 120 h de

ensaio.

A curva para o CN apresentou uma boa linearidade (y = 0,0222x -

0,6158) com r= 0,9821.

A figura 4.37 apresenta o efeito macroscópico dos produtos de

degradação da AMX/F no crescimento da raiz nas soluções com diluição

abaixo de 2,5%.

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112

Figura 4.37: Aspecto visual (efeito macroscópico) (a) CN, (b) 2,5%, (c) 1,0%,

(d) 0,5% e (e) 0,25%

Os resultados para o bioensaio com resíduos de degradação de AMP/F

encontram-se apresentados a seguir.

A figura 4.38 apresenta a variação do tamanho das raízes em função da

diluição dos resíduos de degradação após 120 h de ensaio para as soluções

que permitiram o desenvolvimento de raízes. As soluções acima de 50% de

resíduo de degradação promoveram a necrose dos bulbos de Allium cepa, e

deformação nas raízes. A turgescência foi observada para soluções acima de

10%.

50%

10%5% 2,50% 1% 0,50% 0,25%

AMP

CN

0

0,5

1

1,52

2,5

3

3,5

4

ensaio

cm

Figura 4.38: Crescimento da raiz após 120 h nas diferentes soluções.

As soluções com diluições menores do que 10% apresentaram

crescimento maior que para a solução de AMP.

A figura 4.39 apresenta o percentual de crescimento das raízes com

relação ao CN.

(a) (b) (c) (d) (e)

Page 135: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

113

100

40,07

27,63

65,31

84,62 80,68 80,75 82,37 78,86

0102030405060708090

100

1

% d

e cr

esci

men

to

CN AMP 50% 10% 5% 2,50% 1% 0,50% 0,25%

Figura 4.39: Percentual de crescimento radicular com relação ao CN.

A figura 4.40, Diagrama de Pareto, apresenta os resultados do

crescimento radicular para soluções AMP/F de acordo com a freqüência

destacando que diluições acima de 10% e AMP possuem diferença significativa

de acordo com o teste t-student (p>0,01)

100

84,62 82,37 80,68 80,75 78,86

65,31

40,07

27,63

0102030405060708090

100

1

% d

e cr

esci

men

to

CN 5% 0,50% 2,50% 1% 0,25% 10% AMP 50%

Figura 4.40: Diagrama de Pareto para os ensaios com diferentes diluições dos

produtos de degradação de AMP/F.

Todas as soluções com diluições menores do que 10% apresentaram

crescimento acima de 50% do CN. Para AMP, as raízes atingiram 37,63% do

CN.

Page 136: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

114

A inibição do crescimento das raízes em soluções acima de 50%

apresentou-se maior do que para a solução de AMP.

A figura 4.41 apresenta o acompanhamento do desenvolvimento das

raízes no período de 120 h para as soluções com diluição menores do que

50%.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

0 24 48 72 96 120h

cm

50% 10% 5,0% 2,5% 1,0% 0,5%0,25% AMP CN

Figura 4.41: Curva de crescimento nas diferentes concentrações para as 120 h

de ensaio.

A curva para o CN apresentou uma boa linearidade (y = 0,0246x -

0,6657) com r= 0,9855.

Os resultados obtidos para toxicidade dos produtos da

degradação de AMP após 120 h de ensaio com relação ao crescimento das

raízes encontram-se na tabela 4.18.

Tabela 4.18: Valores médios de comprimentos da raiz (cm) em soluções dos

produtos de degradação de AMP por reagente de Fenton.

Diluição % maior raiz média desvpad intervalo n 2,5 3,7 1,955 1,15 0,4-3,7 88 1 3,1 1,957 1,16 0,2-3,1 89

0,5 4,1 1,996 1,11 0,3-4,1 82 0,25 4,5 1,911 1,11 0,3-4,5 87 AMP 3 0,978 0,73 0,3-3,0 61 CN 4,9 2,420 1,36 1,2-4,9 99

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115

Quanto ao comprimento da maior raiz, as soluções abaixo de 2,5%

mostraram um crescimento maior que para AMP. O mesmo comportamento foi

observado com relação ao número total de raízes

A figura 4.42 apresenta o efeito macroscópico dos produtos de

degradação da AMP no crescimento da raiz nas soluções diluídas.

Figura 4.42: Aspecto visual (efeito macroscópico) (a) CN, (b) 2,5%, (c) 1,0%,

(d) 0,5% e (e) 0,25%

4.12.2.2 Análise das alterações do ciclo celular mitótico A análise de possíveis alterações do ciclo celular mitótico permite a

observação de efeitos das substâncias sobre os organismos teste. Testes

como estes são indicadores de eventuais mutações no conteúdo genético

celular.

A Tabela 4.19 apresenta os resultados da análise citogenética

observados após a exposição das células meristemáticas à solução de AMX e

o respectivo controle negativo. Para as soluções de AMX/F neutralizadas não

foi possível a realização da análise microscópica das células devido ao estado

de intensa degradação dos bulbos.

(a) (b) (c) (d) (e)

Page 138: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

116

Tabela 4.19. Resultados da análise citogenética observados em células meristemáticas de Allium cepa.

Células Analisadas A+M ƒ(A+M) ana ƒBN

CN 1194 209 0 0,002

AMX/Fenton 100%

NA NA NA NA

AMX/Fenton 50%

NA NA NA NA

AMX 1203 210 0,15 0,004

Legenda: A+M = Número de anáfase e metáfases analisadas; ƒ(A+M) an = Frequência de anáfases e metáfases anormais; ƒBN = Frequência de células binucleadas. NA = Não avaliado. A necrose das raízes de A. cepa para as soluções com concentrações

de 100% e 50% dos produtos de degradação de AMX/F pode ser observada na

figura 4.43.

Figura 4.43. Estágio de degradação do sistema radicular dos bulbos de Allium

cepa expostos aos resíduos neutralizados de AMX tratada pelo processo

Fenton.

A Figura 4.44 apresenta fotomicrografias de células normais e de

alterações possíveis de serem observadas durante as diferentes fases do ciclo

celular como resultantes das ações clastogênica e/ou aneugênica dos produtos

de degradação por processo Fenton.

No CN não foi observado a presença de micronúcleos e de nenhuma

metáfase e anáfase com alterações na migração cromossômica, entretanto a

frequência de binucleações celulares foi de 0,002. As células meristemáticas

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117

expostas à solução AMX apresentaram uma frequência metáfases/anáfases

anormais igual a 0,15 e de células binucleadas igual a 0,004. Não foram

observados micronúcleos em nenhuma das células expostas à solução AMX.

Há uma evidente ação microtúbulo despolimerizante da solução AMX

100%, pois foi encontrado aumento significativo (p = 0,03) na frequência de

metáfases e/ou anáfases anormais quando comparada com o CN. A ação

microtúbulo despolimerizante da solução avaliada permite caracterizá-la como

substância aneugênica e/ou clastogênica. Estas ações promovem um efeito

severo na célula impedindo a segregação simétrica do material genético

durante a divisão celular.

Figura 4.44. Fotomicrografias das células meristemáticas de Allium cepa. (A) Núcleo interfásico; (B) e (C) Núcleos na prófase; (D) Núcleo metafásico com fragmento cromossômico; (E) Anáfase precoce normal: (F) Anáfase com pontes cromossômicas, (G) e (H) Anáfase e Metáfase normais, respectivamente; (I) Distribuição metafásica anormal; (J) Célula Binucleada e (L) Células interfásicas normais.

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118

Os produtos, em altas concentrações (AMX/FNT 100% e AMX/FNT

50%), resultantes da degradação da AMX pelo processo Fenton, apresentam

uma toxicidade capaz de desencadear processos de morte celular em bulbos

de Allium cepa. Mas é importante lembrar que não podemos admitir tais

eventos, avaliando somente um único teste. Por outro lado, a liberação de

antibióticos no meio ambiente, não somente poderá induzir a seleção de

linhagens de microorganismos resistentes, como poderá aumentar o nível de

genotoxidade nos animais que habitam ecossistemas aquáticos, visto que a

frequência de micronúcleos observada nas células meristemáticas expostas à

solução AMX foi diferente da frequência de micronúcleos nas células do CN.

Uma vez que o organismo teste utilizado nesse estudo parece ter boa

correlação com testes realizados em mamíferos, é preocupante a eventual

possibilidade destes produtos de degradação, presentes nos ambientes

aquáticos apresentarem potencialidade para causar problemas à saúde

humana, uma vez que as alterações registradas neste estudo são também

apontas como alterações relacionadas à carcinogênese.

Uma complementação deste estudo se faz necessária para a

identificação da atividade genotóxica de soluções diluídas. O efeito das

diluições a 5%, 2,5% e 1% dos produtos de degradação de AMX na divisão

celular e comportamento cromossômico de Allium cepa encontram-se na tabela

4.20.

Todas as concentrações estudadas apresentaram distúrbios na mitose.

A solução diluída a 5% apresentou um IM equivalente ao do CP, sendo que

para as demais os resultados foram menores mas ainda superiores ao CN.

Quanto a presença de AC, pode-se observar que nas soluções a 1,0%

apresenta-se igual ao CP sendo maior para as soluções a 2,5% e 5,0%. Este

quadro indica possível efeito citotóxico e genotóxico para as soluções

estudadas.

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119

Tabela 4.20: Efeito citológico dos produtos de degradação de AMX por

reagente de Fenton

diluição IM MN AC Total AC Células

analisadas N (%) p n (%) p n (%) p

5.0% 8.2±0.94 4

(0.20) 0.1832

6

(0.30) 0.1465

10

(0.50) 0.1465 2000

2.5% 6.2±1.21 3

(0.15) 0.4678

5

(0.25) 0.1832

8

(0.40) 0.0650 2000

1.0% 6.2±0,72 3

(0.15) 0.4678

4

(0.20) 0.1832

7

(0.35) 0.0336 2000

CN 5.4±0,78 1

(0.05) -

1

(0.05) -

2

(0.10) - 2000

CP 8.3±1.65 5

(0.25) 0.1832

4

(0.20) 0.1832

9

(0.45) 0.1465 2000

Testes t de Student e Kruskal –Wallis, IM: índice mitótico, MN: micronúcleos,

AC: anomalias cromossômicas, p< 0,05. CN: controle negativo, CP: controle

positivo.

A avaliação do efeito de soluções diluídas a 5%, 2,5% e 1% dos

produtos de degradação de AMP na divisão celular e comportamento

cromossômico de Allium cepa encontram-se na tabela 4.21.

Os resultados mostram um IM para todas as soluções de resíduos de

degradaçãode AMP/F estudadas comparáveis ao encontrado para o CP. Com

relação as AC, estas apresentam-se superiores ao CN com exceção para a

solução a 5%. Observa-se também anomalias em todas as soluções estudadas

indicando potencial para efeitos citotóxicos e mutagênicos.

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120

Tabela 4.21: Efeito citológico dos produtos de degradação de AMP por

reagente de Fenton

Dilução IM MN AC Total AC Células

analisadas N (%) p n (%) p n (%) p

5.0% 7.4±1.022

(0.10) 1.0000

0

(0.00) 0.3910

2

(0.10) 0.6376 2000

2.5% 6.1±1.162

(0.10) 1.0000

4

(0.20) 0.0576

6

(0.30) 0.2151 2000

1.0% 7.6±0.842

(0.10) 1.0000

4

(0.20) 0.2151

6

(0.30) 0.3910 2000

CN 5.4±1.192

(0.10) -

1

(0.05) -

3

(0.15) - 2000

CP 8.9±2.425

(0.25) 0.3910

5

(0.20) 0.3910

10

(0.50) 0.0060 2000

Testes t de Student e Kruskal –Wallis, IM: índice mitótico, MN: micronúcleos,

AC: anomalias cromossômicas, p< 0,05. CN: controle negativo, CP: controle

positivo.

As figuras 4.45 a 4.53 apresentam imagens microscópicas das células

de Allium cepa para as soluções diluídas dos resíduos de degradação de AMX

e AMP por reagente de Fenton e as anomalias encontradas.

As diversas fases da divisão celular para células normais podem ser

observadas nas figuras 4.45 e 4.46, obtidas de lâminas preparadas a partir do

CN (água de abastecimento).

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121

Figura 4.45: Mitose normal

Figura 4.46: Prófase, metáfase e telófase normais

A figura 4.47 mostra, em destaque, a presença de micronúcleos nas

raízes tratadas com produtos de degradação de AMX por reagente de Fenton

(AMX/F) a 5% de diluição.

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122

Figura 4.47: Presença de micronúcleos em AMX/F 5,0%

A formação de micronúcleos é uma das aberrações cromossômicas que

podem ser observadas quando da presença de substâncias citotóxicas e

genotóxicas em solução.

Na figura 4.48, 4.49 e 4.50 observa-se quebras cromossômicas e na

figura 4.51 ponte cromossômica.

Figura 4.48: Quebras cromossômicas, AMX/F 5,0%

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123

Figura 4.49: Quebra cromossômica AMX/F, 2,5%

Figura 4.50: Quebra cromossômica, AMX/F 1%

Figura 4.51: Ponte cromossômica, AMX/F 1%

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124

A figura 4.52 apresenta a ocorrência de aberrações cromossômicas em

raízes tratadas com produtos de degradação de AMP por reagente de Fenton

(AMP/F)

Figura 4.52: Perda cromossômica AMP/F 2,5%.

As ações observadas promovem um efeito severo na célula impedindo a

segregação simétrica do material genético durante a divisão celular. Os

produtos, em altas concentrações (AMX/F 100% e AMX/F 50%), resultantes da

degradação da AMX pelo processo Fenton, apresentam uma toxicidade capaz

de desencadear processos de morte celular em bulbos de Allium cepa. Mas é

importante lembrar que não podemos admitir tais eventos, avaliando somente

um único teste. Por outro lado, a liberação de antibióticos no meio ambiente,

não somente poderá induzir a seleção de linhagens de microorganismos

resistentes, como poderá aumentar o nível de genotoxidade nos animais que

habitam ecossistemas aquáticos, visto que a frequência de micronúcleos

observada nas células meristemáticas expostas à solução AMX 100% foi

diferente da frequência de micronúcleos nas células do Grupo Controle (p =

0,04).

Uma vez que o organismo teste utilizado nesse estudo parece ter boa

correlação com testes realizados em mamíferos, é preocupante a eventual

possibilidade desses produtos de degradação, presentes nos ambientes

aquáticos, apresentarem potencialidade para causar problemas à saúde

Page 147: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

125

humana, uma vez que as alterações registradas neste estudo são também

apontadas como alterações relacionadas à carcinogênese.

4.13 Ensaio de Biodegradabilidade

A avaliação da biodegradabilidade de um afluente para uma estação de

tratamento de efluentes que usa um sistema biológico (por exemplo lodo

ativado) é fundamental para que se mantenha a eficiência desse sistema. A

biodegradabilidade de substâncias orgânicas pode ser medida pela razão

DBO5/DQO que permite avaliar o potencial de mineralização pelos

microorganismos. A tabela 4.22 apresenta um estudo da DBO5, da DQO e

biodegradabilidade para os efluentes gerados tanto pelo processo convencional

(hidrólise básica) como pela degradação por processo Fenton de efluentes

gerados pela produção industrial de AMX e AMP (efluente bruto) após

neutralização.

Tabela 4.22: Avaliação de DBO5, DQO e parâmetros de biodegradabilidade

para efluente industrial, efluente hidrolisado e efluente degradado por reagente

de Fenton.

Parâmetro Efluente bruto

Efluente hidrolisado

Efluente degradado por reagente de Fenton (n=2)

DQO (mg/L O2) 4.180 3.340 1.579,5

redução da DQO 20,1% 62,21%

DBO5 (mg/L O2) 2.120 1.240 450

redução da DBO5 41,50% 78,77%

DBO5/DQO 0,507 1,972 0,410

DQO/DBO5 1,972 2,696 2,437

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126

Os valores obtidos mostram uma redução na DBO5 de 41,5% para o

efluente hidrolisado e de 67,6% para o efluente tratado com reagente de

Fenton. Quanto à DQO, obteve-se uma redução de 20,1% para o efluente

hidrolisado e de 57,1% para o tratado com reagente de Fenton.

A razão DBO5/DQO ≥ 0,5 indica degradação biologica rápida 87, para

valores menores que 0,5, é possível que substâncias químicas recalcitrantes

estejam presentes. Desta forma, os resultados apresentados na tabela 4.22

mostram que tanto o efluente hidrolisado como o degradado a razão é menor

do que 0,5, não indicando eficiência no uso de tratamento biológico para os

mesmos.

Após a degradação por processo Fenton do efluente bruto, o mesmo foi

neutralizado, o que levou a formação de um produto insolúvel. Este foi então

separado por filtração, seco a vácuo e analisado quanto a presença de

compostos orgânicos por IR. A figura 4.53 apresenta os espectros de IR

obtidos tanto para o resíduo gerado a partir do tratamento de efluente bruto

industrial como também por soluções sintéticas de AMX e AMP que passaram

pelo mesmo tratamento.

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127

Figura 4.53: Espectro de IR do resíduo sólido formado na neutralização da solução de degradação de AMX/Fenton(verde),

AMP/Fenton(vermelho) e efluente bruto da industrial/Fenton(azul).

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128

Os espectros de IR não apresentam o pico característico das penicilinas,

νCON em 1775 cm-1, porém há a indicação da presença de anel aromático,

grupos carboxila, estiramento N-H e C=O da amida na região de 2.600 cm-1 a

3.500 cm-1. Outro destaque é para a banda larga em torno de 1650 cm-1, que

pode ser devido ao estiramento νCO de amida secundária, que se apresenta em

torno 1.680 cm-1 e também de C=C aromático em 1.630 cm-1.

Os resultados apresentados para os espectros no IR demonstram a

presença de compostos carbônicos nos resíduos sólidos provenientes da

neutralização dos produtos de degradação por reagente de Fenton. Dessa

forma confirma-se que a mineralização dos poluentes não ocorre totalmente.

4.14 Custos operacionais da degradação utilizando reagente de Fenton

O custo operacional é um importante ponto a ser discutido quando se

avalia a implantação de uma nova metodologia para a degradação de

poluentes.

O custo de implantação de um tratamento deve considerar os

procedimentos de Engenharia Econômica (depreciação, custos envolvidos,

equipamentos, obras, consumo de energia elétrica, reagentes e mão de obra).

Um exemplo é a utilização do reagente de Fenton no tratamento de lixiviado de

aterro sanitário. Nesse caso, foi estimado que para um sistema com

capacidade de tratamento de 10.000 L/dia, em sistema de batelada, o

investimento deve ser de aproximadamente R$ 60.000,00. Para a operação, o

investimento necessário é de R$ 3.300,00 como custo fixo e R$ 0,023/litro de

lixiviado 121.

O custo estimado baseando-se em reagentes PA, consumidos na

hidrólise básica, tratamento adotado atualmente pelas indústrias produtores de

antibióticos penicilânicos, é o seguinte:

3 m3 de efluente consomem 2.350 g de NaOH e 2,6 L de HCl PA.

1 L de efluente consome 0,783 g de NaOH e 0,86 mL de HCl PA.

NaOH = R$ 18,00 /kg R$ 0,014/L de efluente

HCl = R$ 20,00 /L R$ 0,017/L de efluente

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129

levando a um total de R$ 0,031/L de efluente sem considerar o custo fixo.

Para o tratamento do mesmo efluente utilizando-se as concentrações de

Fe/H2O2 estabelecidas para o reagente Fenton neste trabalho, tem-se o custo

para os reagentes (PA) na oxidação de:

1 L de efluente consome:

336 mg de Fe (1,668 g de FeSO4.7H2O)

15 mL de H2O2 30%

FeSO4.7H2O = R$ 11,00/kg R$0,018 / L de efluente

H2O2 30% = R$ 180,00/L R$ 2,70 /L de efluente

o que leva a um total de R$ 2,72/L de efluente isto é, um custo 272

vezes maior que o processo atualmente adotado em termos de reagentes.

Pignatello et al. (2006)109 levantam alguns fatores importantes que

devem ser observados quando se seleciona uma tecnologia para aplicação ao

tratamento de efluentes: amortização do investimento, custo de instalação,

custo operacional, qualidade do efluente, manutenção, segurança, robustez

entre outras. Com relação aos POA, aborda que os custos não são

frequentemente levantados, que muitas vezes não se utiliza nos ensaios

efluentes in natura, que quando consideram o custo da energia elétrica

desconsideram o custo dos reagentes, alguns estudos ignoram operações tais

como filtração e/ou neutralização, que o uso de energia solar minimizaria o

custo com energia elétrica e que a projeção é para um único tipo de poluente.

Avaliando-se o custo operacional envolvendo apenas os reagentes

químicos, a nível de PA, consumidos observa-se que o mesmo é 272 vezes

maior do que o tratamento por hidrólise básica.

Apesar do custo mais elevado para o tratamento proposto, um ponto

importante que não é abordado por Pignatello et al. (2006)109 é o custo

ambiental com a redução da presença de compostos farmacêuticos ativos

como antibióticos no ambiente aquático.

4.15 Quantidade de ferro utilizada comparada com a legislação em vigor

A utilização de sais de ferro para a decomposição catalítica do peróxido

de hidrogênio apresenta-se como uma solução de custo menos elevado em

Page 152: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

130

relação aos outros POA pois utiliza um catalisador de baixo custo, o sulfato de

ferro II, que é resíduo de indústria de produção de aço 121.

O custo ambiental deve ser levado em consideração quando se trata

efluentes, logo, a concentração de Fe2+ presente no efluente pós-tratamento

deve respeitar a legislação vigente, CONAMA 357/0573.

A legislação estabelece que o padrão de lançamento direta ou

indiretamente nos corpos de água (CONAMA 357/2005, cap. IV, art. 34, §5º)

deve ser de 15 mg/L de Fe. O processo proposto para o tratamento do efluente

utilizando reagente de Fenton nesta tese consome 336 mg/L de Fe.

Considerando-se que na ETE da indústria que forneceu as amostras de

efluente bruto após a degradação, os produtos formados são descartados no

tanque de equalização para em seguida passarem pelo tratamento biológico

(tratamento combinado POA/biológico), tem-se, portanto, uma concentração

final de Fe atingindo 7,0 mg/L, menor do que o limite estabelecido pela

legislação vigente.

A figura 4.54 apresenta o fluxo dos efluentes da linha de produção dos

antibióticos penicilânicos na indústria amostrada bem como o volume dos

tanques. Pode-se observar a diluição que ocorrerá nos tanques de tratamento

antes de ser descartado na rede publica de esgoto.

Figura 4.54: Fluxo do efluente penicilânico em uma indústria de Goiás

Tanque de desativação: 336 mg Fe/L (3 m3)

Diluição: 6x

Tanque de equalização: 56 mg Fe/L (18 m3)

Diluição: 8x

Tanque de aeração: 7 mg Fe/L (154 m3)

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131

Neste capítulo foram apresentados os resultados obtidos a partir das

metodologias adotadas para avaliação da oxidação dos antibióticos beta-

lactâmicos amoxicilina e ampicilina, a toxicidade dos produtos gerados pelo

processo de oxidação definido como ideal (reagente de Fenton), o custo em

termos de consumo de reagentes comparado ao sistema de tratamento de

efluentes adotado pelas indústrias produtoras desses antibióticos e finalmente

a avaliação da presença de Fe no produto final frente aos parâmetros legais.

No próximo capítulo encontram-se as conclusões deste trabalho e

perspectivas de trabalhos futuros.

Page 154: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

132

CAPÍTULO 5 CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS

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133

5.1 Conclusão

Os compostos farmacêuticos ativos possuem moléculas complexas e

com atividade biológica específica. A presença de AMX e AMP no meio

ambiente pode gerar impactos de grandes proporções. O estudo da oxidação

buscando formas de mineralizá-las coloca-se como uma necessidade frente às

pesquisas ambientais.

Dada a importância para a saúde pública do uso dos antibióticos

amoxicilina e ampicilina, sua taxa de excreção e também de seu aporte

ambiental, torna-se indiscutível a necessidade de estudos que permitam a

avaliação da degradação dos mesmos.

Os resultados obtidos para os diferentes POA testados nesta tese

mostraram que o processo Fenton/UV levou aos melhores rendimentos com

uma redução de 99,62% do analito AMX e 97,42 % de AMP após 60 min de

reação. Para o POA reagente de Fenton no mesmo tempo, obteve-se 97,13%

de redução de AMX e 95,42% para AMP, em se considerando que:

- a redução dos analitos foi 2% menor do que para o POA Fenton/UV;

- que com reagente de Fenton não há a necessidade do uso de radiação UV;

- que este processo é simples e de baixo custo e

- que essas características são importantes para viabilizar a sua aplicação no

tratamento de efluentes industriais da produção de AMX e AMP,

esse foi o processo escolhido para os estudos de redução de DQO.

A utilização do parâmetro DQO na avaliação da mineralização dos

antibióticos AMX e AMP por processo Fenton mostrou uma redução de 75,62

% para ensaios com AMX e 81,92 % com AMP.

A diferença de rendimento da oxidação entre os resultados obtidos a

partir da redução da concentração dos analitos e da DQO pode ser justificada

pela presença de compostos carbônicos, demonstrado por meio de análises de

IR, nos sólidos formados a partir da neutralização dos resíduos de degradação

por reagente de Fenton tanto de AMX quanto de AMP. Esse fato demonstra

que a mineralização não ocorreu completamente (100%), e que compostos

carbônicos foram gerados no processo de degradação.

Page 156: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

134

A mineralização parcial dos poluentes estudados por meio do processo

Fenton indica a necessidade de tratamento combinado processo

Fenton/biológico (químico/biológico) para que se obtenha um melhor

rendimento. Sendo assim, análises de toxicidade realizadas com organismos

testes como Artemia salina e Allium cepa mostraram que:

- para os ensaios com o microcrustáceo Artemia salina, que a letalidade para

50% dos organismos (DL50) para resíduos de degradação de AMX por reagente

de Fenton ocorreu com solução diluída a 70% em um tempo de 48 h e que

para AMP por reagente de Fenton o DL50 foi obtido para 50% de diluição porém

após 72 h de ensaio mostrando assim uma menor toxicidade para os produtos

de degradação de AMP frente aos da AMX.

- para os ensaios com Allium cepa, as avaliações realizadas dos parâmetros

macroscópicos turgescência e crescimento radicular indicaram que os produtos

de degradação de:

• AMX/reagente de Fenton apresentaram efeitos significativos para soluções

com fatores de diluição maiores do que 10%, onde as mesmas provocaram

a necrose dos bulbos não permitindo o crescimento radicular. Os melhores

resultados se mostraram para soluções com fatores de diluição menores do

que 1% onde não se obteve variação significativa com relação ao controle

negativo. A turgescência foi observada nas soluções com fatores de diluição

maiores do que 10%,

• AMP/reagente de Fenton apresentaram necrose dos bulbos em soluções

com fator de diluição acima de 50%, a turgescência foi observada nas

soluções para acima de 10%. Os melhores resultados foram observados

para soluções com fator de diluição menores do que 5% pois os mesmos

não mostraram diferença significativa com relação ao controle negativo.

- para os parâmetros microscópicos anomalias cromossômicas (índice mitótico,

quebra cromossômicas, perda cromossômica, pontes cromossômicas e

formação de micronúcleos) nas diferentes diluições dos produtos de

degradação para:

Page 157: Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos ... · iii Estudo da degradação dos antibióticos beta-lactâmicos amoxicilina e ampicilina e avaliação da toxicidade

135

• AMX/reagente de Fenton os resultados obtidos mostraram que não variam

significativamente com relação ao CP para os parâmetros IM, MN e AC nas

soluções diluídas abaixo de 5%, o que é preocupante em termos de

mutagenicidade,

• AMP/reagente de Fenton os resultados mostraram que o IM, MN e AC não

variaram significativamente com relação ao CN, indicando assim uma menor

mutagenicidade do que para a AMX.

A aplicação do tratamento proposto, reagente de Fenton, para efluente

bruto industrial mostrou uma razão DBO5/DQO média de 0,4392, o que não

indica degradação biológica rápida, logo, os produtos formados pela

degradação são recalcitrantes e indica-se em casos como este tratamentos

combinados como químico/biológico ou físico/químico/biológico.

5.2 Pespectivas

Mediantes as conclusões apresentadas, vê-se que os estudos realizados

contribuem para o conhecimento do comportamento de compostos

farmacêuticos como os antibióticos beta-lactâmicos frente a oxidação por POA

e também, a toxicidade dos produtos formados e a capacidade de degradação

em sistemas biológicos de tratamento de efluentes.

Há a necessidade de aprimorar-se o conhecimento quanto às espécies

geradas durante a degradação e ampliar a avaliação da toxicidade dessas

substâncias.

Nesse intuito, sugerem-se as seguintes propostas:

- avaliar as espécies químicas formadas durante o processo de oxidação;

- avaliar a toxicidade das espécies formadas utilizando organismos testes como

algas, fungos e peixes, ampliando a compreensão do comportamento destas

substâncias no meio ambiente;

- desenvolvimento de um reator de batelada;

- desenvolvimento de um reator foto-químico;

- avaliar o desempenho de um reator foto-químico utilizando radiação solar;

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136

- avaliar os custos da implantação de um sistema de tratamento utilizando

reagente de Fenton;

- avaliar a toxicidade do efluente bruto da indústria e dos produtos gerados na

oxidação com diferentes organismos-teste.

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137

REFERÊNCIAS

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143

ANEXOS

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144

ANEXO 1 PROCESSOS OXIDATIVOS AVANÇADOS (POA)

A mineralização de um poluente pode ocorrer por métodos físicos,

químicos ou biológicos. Podemos citar que os mais utilizados atualmente são a

incineração e o tratamento biológico. O tratamento biológico é provavelmente a

técnica mais utilizada devido ao seu baixo custo e à versatilidade na oxidação

de um grande número de poluentes orgânicos. Neste tipo de tratamento,

microorganismos como bactérias e fungos promovem a conversão da matéria

orgânica em constituintes inorgânicos como o CO2 e H2O. Alguns

inconvenientes deste processo são: o processo operacional, sensibilidade a

variações de pH e temperatura, característica do efluente (presença de

substâncias tóxicas e/ou não biodegradáveis) etc1.

A utilização de oxidantes fortes para tratamento e desinfecção de água é

antigo, Meritens em 1886, utilizou ozônio (O3) como desinfetante de água de

acordo com Teixeira e Jardim (2004)2, porém a utilização da terminologia

“Tecnologia de Oxidação Avançada” só aconteceu a partir de 1973, durante o

Simpósio Internacional em Ozônio para Tratamento de Água e Efluentes. A

publicação em 1998 pela United State Environment Protection Agency

(USEPA) do Handbook of Advanced Oxidation Process3 veio consolidar a

importância desses processos2.

Os processos oxidativos avançados têm sido uma alternativa de grande

interesse para o tratamento de matrizes contaminadas com compostos

orgânicos. Estes processos são mais intensivamente utilizados para o

tratamento de efluentes em fase aquosa e gasosa e, mais recentemente, têm

sido aplicados para matrizes sólidas, como solos e sedimentos. Os processos

oxidativos geralmente envolvem geração de espécies altamente oxidantes e

não seletivas, como o radical hidroxila (•OH), oxidante mais forte do que O3.

Este radical (•OH) pode ser gerado por processos fotoquímicos ou não-

fotoquímicos para oxidar contaminantes no ambiente, convertendo-os em

espécies inócuas. Os radicais hidroxila podem ser gerados por meio de

reações que envolvem oxidantes fortes. A tabela 1 apresenta valores de

potencial padrão de redução para diversos oxidantes.

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145

Tabela 1: Potenciais padrão de redução (E0red NHE).

Espécie Potencial Redox (V)

Fúor 3,03

Radical hidroxila 2,80

Oxigênio atômico 2,42

Ozônio 2,07

Peróxido de hidrogênio 1,78

Permanganato 1,68

Dióxido de cloro 1,57

Cloro 1,36

Iodo 0,54

Fonte: TEIXEIRA e JARDIM, 20042.

A grande vantagem na utilização dos POA está no fato que a

mineralização dos poluentes pode ocorrer, transformando os compostos

refratários em biodegradáveis. Estes processos podem ser usados como pré

e/ou pós- tratamento biológico e/ou físico pois possuem uma cinética

relativamente elevada e com custo, em algum casos, reduzido.

Os POA dividem-se em dois grupos: os processos homogêneos e os

heterogêneos. Ambos geram radical hidroxila, •OH, com o sem irradiação

ultravioleta. A tabela .2 apresenta estes processos 4:

Tabela 2.: Processos oxidativos avançados

Homogêneos Heterogêneos

Com irradiação Sem irradiação Com irradiação Sem irradiação

UV O3 TiO2/UV Eletro-Fenton

O3/UV O3/H2O2 TiO2/H2O2/UV

O3/H2O2/UV H2O2 ZnO/UV

H2O2/UV Fe2+/ H2O2 Zn/H2O2/UV

Fe2+/ H2O2/UV Fe3+/ H2O2 Nb2O5/UV

Fe3+/ H2O2/UV Nb2O5/H2O2/UV

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146

2. Processos Oxidativos Avançados Homogêneos

Quanto a questão da degradação de um poluente orgânico, diversos

POA tem sido relatados na literatura. A seguir uma breve discussão teórica

para os mesmos.

2.1 Radiação UV: fotólise direta, onde a radiação UV é a única fonte capaz de

destruir o poluente.

R-H produtos de degradação (1)

2.2 Peroxidação: onde o agente oxidante utilizado é o peróxido de hidrogênio

(H2O2).

H2O2 + 2H+ + 2e- 2 H2O E0= 1,78 V (2)

2.3 Foto-peroxidação: presença do oxidante forte o peróxido de hidrogênio

(H2O2) na presença de irradiação, promovendo a formação do radical hidroxila

(•OH) 119,124.

H2O2 2 •OH E0= 2,80 V (3)

2.4 Ozonização: presença do oxidante forte ozônio (O3)2 .

O3 + 2H+ + 2e- O2 + H2O E0= 2,07 V (4)

2.5 Foto-ozonização: presença do oxidante forte ozônio (O3) e de irradiação,

promovendo a formação do radical hidroxila (•OH).

3O3 + H2O 2 •OH + 4 O2 (5)

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147

2..6 Peroxi-ozonização: presença do oxidante forte ozônio (O3) e do peróxido

de hidrogênio (H2O2), promovendo a formação do radical hidroxila (•OH) 5.

2O3 + 2H2O2 2 •OH + 3 O2 + HO2• (6)

2.7 Foto-peroxi-ozonização: presença do oxidante forte ozônio (O3) e do

peróxido de hidrogênio (H2O2) na presença de irradiação, promovendo a

formação do radical hidroxila (•OH).

2.8 Reagente de Fenton: decomposição de peróxido de hidrogênio (H2O2)

catalisada por Fe2+.

O reagente de Fenton, como é tradicionalmente chamado, é composto

de Fe2+/H2O2/H+. A reação envolve a decomposição catalítica do peróxido de

hidrogênio a formas intermediárias de radicais livres, que possuem um

potencial de oxidação maior do que o próprio peróxido 6,7. A equação para a

reação do reagente de Fenton pode ser representada por

Fe2+ + H2O2 + H+ Fe3+ + H2O + •OH (7)

O mecanismo atualmente proposto para a decomposição de H2O2 em

soluções ácidas na ausência de luz e de compostos orgânicos consiste no

conjunto de reações de (8) a (15) 8. Esta seqüência se refere a reação térmica

de Fenton.

Fe2+ + H2O2 Fe3+ + •OH + HO- (8)

Fe3+ + H2O2 Fe2+ + HO2• + H+ (9)

H2O2 + HO• HO2• + H2O (10)

Fe2+ + HO• Fe3+ + HO- (11)

Fe3+ + HO2• Fe2+ + O2H+ (12)

Fe2+ + HO2• + H+ Fe3+ + H2O2 (13)

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HO2• + HO2• H2O + O2 (14)

Alguns autores incluem a reação (8)

HO2• + H2O2 •OH + H2O + O2 (15)

Como podemos observar na reação (8), o H2O2 age como oxidante e na

(9) como redutor, este comportamento é uma característica própria do peróxido

de hidrogênio extremamente útil nas reações que envolvem os POA.

O radical hidroxila pode ser gerado (reação (8)) pela simples

combinação de sais de Fe(II) com H2O2. Entretanto, precipitados de

oxihidróxidos de Fe (III) amorfos podem ser produzidos quando o pH passa de

fortemente ácido para neutro, gerando uma quantidade de lodo indesejável 8.

Processos para tratamento de efluentes com reagente de Fenton são

conhecidos pela efetiva remoção de diversos poluentes orgânicos perigosos. A

maior vantagem deste processo está na destruição do contaminante levando-o

a compostos menos danosos como o CO2, água e sais inorgânicos 5.

A reação do radical •OH com compostos orgânicos leva a formação de

radicais centrados no carbono, reações bem conhecidas, principalmente pela

abstração do próton H+ a partir de C-H, N-H ou O-H, adições a C=C, ou adição

ao anel aromático produzindo radicais orgânicos R• 5,8,9,10.

HO• + R-H H2O + R• (16)

HO• + C=C HO-C-C• (17)

HOo + demais reações

(18)

Quando o ar está presente na solução, os radicais produzidos nas

reações acima, podem reagir com o O2 produzindo HO2• (O2•-), radicais peroxila

R-OO• ou radicais oxila R-O•:

R• + O2 →→R(-H+) + HO2• (19)

R• + O2 → R-OO• →→ R-O• (20)

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149

As reações a apresentadas a seguir sugerem um mecanismo de reação

em cadeia para a degradação de compostos orgânicos 5,11.

Fe2+ + H2O2 Fe3+ + •OH + OH- (21)

•OH + Fe2+ Fe3+ + OH- (22)

RH + •OH H2O + R• (23)

R• + Fe3+ R+ + Fe2+ (24)

R• + Fe2+ R- + Fe3+ (25)

R• + R• R-R (26)

2.9 Reagente de Fenton/UV

O processo que combina a aplicação de radiação ultra-violeta ao

processo Fenton é denominado de foto-Fenton. Uma maior eficiência na

degradação pode ser obtida a partir do uso deste processo frente ao reagente

de Fenton devido a formação de uma maior quantidade de HO• em função da

fotólise do H2O2

H2O2 2 HO• (27)

2.10 Reagente Fenton/Fe3+

Reações Fenton/Fe3+ são análogas às reações de Fenton, com o uso de

complexos metálicos do tipo Mn+Lm , com metais tais como Fe(III), Cu(I), Cr(II)

Co(II). Reações do tipo Fenton/Fe3+ são importantes em uma variedade de

processos catalíticos e biológicos 12.

O íon Fe (III) catalisa a decomposição do H2O2 para O2 e H2O. O

mecanismo clássico proposto para esta reação em cadeia segue os seguintes

passos 8,11,13.

Fe3+ + H2O2 Fe-OOH2+ + H+ (28)

Fe-OOH2+ HO2• + Fe2+ (29)

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150

Fe2+ + HO2• Fe3+ + HO2- (30)

Fe3+ + HO2• Fe2+ + O2 + H+ (31)

•OH + H2O2 H2O + HO2• (32)

2.11 Reagente de Fenton/Fe3+/UV

O processo que combina a aplicação de radiação ultra-violeta ao

processo Fenton/Fe3+ é denominado de foto-Fenton/Fe3+. Uma maior eficiência

na degradação pode ser obtida a partir do uso deste processo devido a

formação de uma maior quantidade de HO• em função da fotólise do H2O2.

H2O2 2 HO• (33)

Fe3+ + H2O2 Fe2+ + •OH + H+ (34)

3 Processos Oxidativos Avançados Heterogêneos

Os sistemas heterogêneos se diferenciam dos homogêneos devido a

presença de catalisadores sólidos. Os catalisadores sólidos utilizados nestes

sistemas são semicondutores que atuam como fotocatalisadores.

A literatura apresenta uma série de semicondutores entre eles o TiO2,

ZnO, Fe2O3, SiO2, Al2O3, V2O5, entre outros.

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151

ANEXO 2 Formação de complexos de ferro

As reações com peróxido de hidrogênio e sais de Fe2+ e Fe3+ em solução

aquosa ácidas são fontes em potencial de radicais hidroxila normalmente

utilizados na oxidação de compostos orgânicos presentes em águas

residuárias. Na ausência de luz e de ligantes complexantes que não a água, o

mecanismo da decomposição de H2O2, em solução aquosa ácida, envolve a

formação de radicais hidroperoxila (HO2•/O2•-) e hidroxila (HO•) de acordo com

as seguintes etapas14,15,16.

Fe3+ + H2O2 Fe2+ + HO2• + H+ (35)

Fe2+ + H2O2 Fe3+ + HO• + OH- (36)

Fe2+ + HO• Fe3+ + OH- (37)

H2O2 + HO• HO2• + H2O (38)

Fe2+ + HO2•/O2•- + H+ Fe3+ + H2O2 (39)

Fe3+ + HO2•/O2•- Fe2+ + O2 + H2O (40)

Em biologia estas reações são muito importantes, acredita-se que as

mesmas sejam responsáveis por reações que produzem espécies oxigênio-

reativas (ROS) nas células, causando uma diversidade de doenças como

câncer, arteriosclerose, hipertensão, mal de Alzheimer, amiloidose, osteoartrite

entre outras. Apesar de passados mais de 110 anos da publicação por Fenton 12,17 dos estudos da oxidação de substrato orgânico na presença de H2O2 e

Fe(H2O)62+, conhecido como “Reagente de Fenton”, os intermediários ativos e

detalhes do mecanismo deste tipo de reação ainda continuam ambíguos e

repetidamente discutidos em muitas publicações e artigos de revisão. A

ocorrência das reações Fenton-like dependem da natureza do metal M, do

ligante L, do substrato orgânico ROOR’ e do meio reacional. Informações

quanto a oxidação de substratos orgânicos por reagentes de Fenton em

sistemas aquosos oxigenados é bastante comum, já estudos em condições não

aquosa e anaeróbias é bastante limitado 12.

O efeito da presença de Fe3+ em soluções aquosas de antibióticos β-

lactâmicos despertou interesse, tendo em vista o quadro clínico de anemia

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observado em pacientes submetidos a longos tratamentos com estes

antibióticos. Os resultados obtidos por estudos de infra-vermelho (IR) e

espectrometria de massa (MS) levaram à proposta de um modelo de estrutura

monomolecular para o complexo formado 18. A figura 4.1 a seguir mostra uma

representação deste monocomplexo.

N

S

C

CH3

CH3

N

H

C

O

R

O OO

Fe

HO

OH

HO

OH

Figura 1: Proposta de modelo de complexo mononuclear.

Fonte: CARP, 199618.

Outros estudos sobre a formação de complexos entre metais e

substratos orgânicos, em especial os antibióticos β-lactâmicos, sugerem além

de estruturas prováveis 114, o mecanismo da reação do complexo com o

oxidante 19,20. As reações propostas estão apresentadas a seguir:

MLmn+ + H2O2 MLm

n+1 + H2O2- (41)

H2O2 HO• + OH- (42)

OH-aq + H3O+ 2 H2O (43)

HO• + RH •R + H2O (44)

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REFERÊNCIAS DOS ANEXOS

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1. von Sperling, M.; Introdução a Qualidade da Águas e ao Tratamento de Esgotos, 2a ed., DESA/UFMG: Belo Horizonte, 2004.

2. Teixeira, C.P.A.B. e Jardim, W.F.; Processos Oxidativos Avançados, Caderno Temático, vol.3, Instituto de Química, Unicamp, Campinas, 2004.

3. U.S. Environment Protection Agency,. Handbook on Advanced Photochemical Oxidation Processes, EPA/625/R-98/0004. 1998 apud Teixeira, C.P.A.B. e Jardim, W.F.; Processos Oxidativos Avançados, Caderno Temático, vol.3, Instituto de Química, Unicamp, 2004.

4. Huang, C. P., Dong, C. e Tang, Z.; Waste Manegem., 1993, 13, 361 apud Higarashi, M.M.; Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Brasil, 1999.

5. Neyens, E. e Baeyens, J.; J. Hazard. Mater., B., 2003, 98, 33. 6. Safarzadeh-Amiri, A.; Bolton, J. R. e Cater, S. R.; Water Res., 1997, 31, 787. 7. Rigg, T.; Taylor, W. e Weiss, J.; J. Chem. Phys., 1954, 22, 575. 8. Pignatello, J. J.; Oliveros, E. e Mackay, A.; Crit. Rev. Environ. Sci. Technol.,

2006, 36, 1. 9. von Sonnatag, C e Schumann, H. P. In Peroxyl Radicals, Alfassi, Z.B., John

Wiley and Sons: New York, 1997 apud Pignatello, J. J.; Oliveros, E. e Mackay, A.; Crit. Rev. Environ. Sci. Techno., 2006, 36, 1.

10. Buxton, G.V., Grenstock, C.L., Helman, W.P. e Ross, A.B.; J. Phys. Chem., 1988, 17, 513 apud Pignatello, J. J.; Oliveros, E. e Mackay, A.; Crit. Rev. Environ. Sci. Technol., 2006, 36, 1.

11. Walling, C. e Goosen, A.; J. Am. Chem. Soc., 1973, 95, 2987. 12. Masarwa, A.; Rachmilovich-Calis, S.; Meyerstein, N. e Meyerstein, D.;

Coord. Chem. Rev., 2005, 249, 1937. 13. Haber, F. e Weiss, J.J.; Proc. Roy. Soc. London, 1934, A.147, 332. 14. Pignatello, J. J.; Environ. Sci. Technol., 1992, 26, 944. 15. Barb, W.G. Baxendale, J.H., George, P. e Hargrave, K.R.; Nature, 1949,

163, 692 apud Gallard, H.; A. A.T, J. e Legube, B.; Water Res., 1999, 33, 2929.

16. Barb, W.G. Baxendale, J.H., George, P. e Hargrave, K.R.; Trans. Faraday Soc., 1951, 47, 591 apud Gallard, H.; AA.T, J. e Legube, B.; Water Res., 1999, 33, 2929.

17. Fenton, H.J.H.; J.Chem.Soc., 1894, 65, 899. 18. Carp, N., Tufoi, V. Carp, M., Aldea, V. e Badescu, V.; J. Pharm. Biomed.

Anal., 1996, 14, 1055. 19. 115. Goldstein, S.; Meyerstein, D. e Czapski, G.; Free Radical Biol. Med.,

1993, 15, 435. 20. Masarwa, M.; Cohen, H.; Meyerstein, D.; Hickman, D. L.; Bakac, A. e

Espenson, J. H.; J. Am. Chem. Soc., 1988, 110, 4294.