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0 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo PROFª. DRª ANABELA FERREIRA FÉLIX MATEUS Estudo comparado sobre o “estado da arte” da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas entre Portugal e o Brasil Uma primeira abordagem São Paulo – SP 2012

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES

Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo

PROFª. DRª ANABELA FERREIRA FÉLIX MATEUS

Estudo comparado sobre o “estado da arte” da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas

entre Portugal e o Brasil

Uma primeira abordagem

São Paulo – SP 2012

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PROFª. DRª ANABELA FERREIRA FÉLIX MATEUS

Estudo comparado sobre o “estado da arte” da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas entre

Portugal e o Brasil

Uma primeira abordagem

Relatório de Pesquisa de Pós-doutorado

em

Ciências da Comunicação

Comunicação Organizacional e Relações Públicas

SUPERVISÃO CIENTÍFICA: PROFª DRª MARIA MARGARIDA KRÖLING KUNSCH

São Paulo – SP

2012

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Ao João e ao Joaozinho: UM testemunho de que a

persistência será sempre recompensada;

ao meu pai.

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ESTUDO COMPARADO SOBRE O “ESTADO DA ARTE” DA COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL ENTRE PORTUGAL E O BRASIL

Uma primeira abordagem

ECA-USP

2012

“ (….) La finalidade de Ia encuesta (o pesquisa) es descubrir respuestas para los asuntos, mediante Ia aplicación de un método científico.

La encuesta no siempre proporciona una respuesta plena y muchas veces suscita nuevos problemas o reformula los anteriores (...)

Ia encuesta es fundamental para el progreso de cualquier rama o actividad del conocimiento humano.

La actividad de Ia encuesta puede ser aplicada a los fenómenos originales o a nuevos aspectos de fenómenos

ya estudiados. La encuesta ordenada, por consiguiente, puede avanzar por dos

caminos: procurar descubrir nuevas verdades o rectificar y ampliar los

conocimientos adquiridos.”1

CÁNDIDOTEOBALDO DE SOUZA ANDRADE (2008)

1 “A finalidade da pesquisa é descobrir resposta para os assuntos, mediante a aplicação de um método

científico.

A pesquisa nem sempre proporciona uma resposta total e, muitas vezes, levanta novos problemas ou

reformula os anteriores (…)

A pesquisa é fundamental para o progresso de qualquer área ou atividade do conhecimento humano.

A ação da pesquisa pode ser aplicada aos fenômenos originais ou a novos aspectos de fenômenos já

estudados.

A pesquisa ordenada, em consequência, pode avançar por dois caminhos: procurar descobrir novas

verdades ou corrigir e ampliar os conhecimentos adquiridos” (tradução pessoal).

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AGRADECIMENTOS

Os meus Agradecimentos vão, em primeiro lugar, para essa pessoa que de

imediato aceitou ser a supervisora científica e responsável por este projeto no

Brasil, a professora e investigadora Margarida Kunsch. Por tudo o que sabe, pela

disponibilidade que sempre apresentou e pelo grande exemplo de pessoa que

encontrei; o meu reconhecimento também ao Professor José Esteves Rei da UTAD

– Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que em tempos me convidou para

ser investigadora desse centro de investigação do norte de Portugal e que, no meu

país, dentro do possível, tem ajudado neste projeto.

Uma palavra para os colegas que acompanharam a minha estadia no Brasil.

Uma muito especial para a Ana Oshiro e sua família, que já após a minha

permanência de sete meses no seu país, me abriu as portas de sua casa e me

acolheu com toda a sua amizade, numa posterior deslocação a São Paulo.

Aos investigadores e docentes da USP – Universidade de São Paulo, pela

motivação durante os trabalhos do PD, que permitiram a criação de relações que

ultrapassaram essa mera formalidade. Destaco, para além de Maria Margarida

Krohling Kunsch já homenageada, Maria Aparecida Ferrari, Paulo Nassar, nomes

inconfundíveis para o desenvolvimento das Ciências da Comunicação

internacionalmente.

Seria muito injusto nomear um ou dois colegas com quem partilhei os

seminários de investigação ao longo das semanas e meses que estive em São Paulo,

já que não consigo me recordar do nome de todos. Apenas digo que não esperava

encontrar discussões tão enriquecedoras e com tanto conhecimento, num grupo

composto por doutorandos e mestrandos, em pleno convívio. Quem se sentia

perdida a maior parte das vezes em tão acesas e sapientes discussões, era eu: a

única a frequentar pós-doutorado, entre eles, supostamente com graus inferiores

ao meu... Esta é uma homenagem bem merecida aos integrantes dos grupos de

trabalho liderados por Paulo Nassar e Margarida Kunsch, em que mais participei

nas discussões. Discussões animadas, que para além de produzirem conhecimento,

nos fazem sentir bem, não muito vistas noutras e distantes paisagens…

Devo agradecer ainda a outros colegas que contribuíram para a elaboração

do meu projeto com relatos, informações, conversas, entrevistas, uns mais

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informais, outros menos … Lembro-me de Ivone de Lourdes de Oliveira, Cláudia

Moura, os outros que me perdoem pela fraca memória.

Deixo também uma menção bem especial à diretora técnica da Biblioteca da

USP, Olga Mendonça, que muito me ajudou, quando me sentia perdida na

imensidão das obras da biblioteca. A ajuda que encontrei com a maior boa vontade,

raras as vezes, não veio acompanhada de um sorriso nos lábios. Chegou a altura do

meu reconhecimento, acompanhado com a distribuição do meu carinho por todos.

Uma referência ainda, já em rodapé, à Raquel Lobão e à Renata Freitas,

doutorandas de Comunicação em Portugal, que tiveram toda a paciência do mundo

na revisão do texto, de modo a não se sentirem as nuances na riqueza da

diversificação desta mesma nossa língua Portuguesa.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................. i

SUMÁRIO ................................................................................................................................................ ii

APRESENTAÇÃO……………………………………………………….……………………………………………………….01 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 03 1. METODOLOGIA 1.1 O objeto da pesquisa ................................................................................................................. 10 1.2 O objetivo do trabalho .............................................................................................................. 10 1.3 Plano e estratégia de investigação ....................................................................................... 10 1.4 Técnicas de investigação ......................................................................................................... 11

2. RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL 2.1 Relações Públicas: o nascimento de uma profissão 12 2.1.1 Os precursores ...................................................................................................................... 12 2.1.2 As consequências da revolução industrial e a origem da profissão ................. 13 2.1.3 Os pioneiros ........................................................................................................................... 14 2.1.4 Os fundamentos teóricos .................................................................................................. 15 2.2 Um novo conceito e seus introdutores–a Comunicação Organizacional .............. 16 2.2.1 A corrente norte-americana e o novo paradigma das RPs .................................. 17 2.2.2 Os quatro modelos de RP e as bases para o paradigma sistêmico das RPs. .. 18 2.2.3 As “teorias críticas” e as alternativas europeias aos norte-americanos ......... 22 2.2.4 O Bled Manifesto e as Relações Públicas na Europa ............................................... 23 2.2.5 Os resultados da investigação ......................................................................................... 24 2.3 O estágio atual das RPs na Europa e nos Estados Unidos–uma breve reflexão........ 25 3. COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL – EVOLUÇÃO DE UM CONCEITO Introdução ........................................................................................................................................... .27 3.1 As raízes e os estudos pioneiros ........................................................................................... 27 3.2 Os anos 1960 e os trabalhos em Comunicação Organizacional ................................ 29 3.3 Os anos 1970 e a nova investigação .................................................................................... 31 3.4 Os benefícios da instabilidade dos anos 1980-1990 .................................................... 33 3.5 O início do novo século ............................................................................................................. 34 3.6 O quadro atual de investigação em Comunicação Organizacional ......................................... 35

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4. AS RELAÇÕES PÚBLICAS E A COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL EM PORTUGAL E NO BRASIL I - EM PORTUGAL 4.1 O surgimento das Relações Públicas em Portugal ...................................................... 37 4.1.1 Antecedentes ...................................................................................................................... 37 4.1.2 Os pioneiros e os protagonistas da profissão ........................................................ 39 4.1.3 conhecimento em Relações Públicas ...................................................................... 41 4.1.4 A profissão em Portugal ................................................................................................. 44 4.1.4.1 A consultoria em Relações Públicas .................................................................. 50 4.1.4.2 A regulamentação profissional das RPs e da Comunicação

Organizacional ........................................................................................................... 46 4.1.4.3 A certificação da profissão .................................................................................... 46 4.1.5 Dimensão associativa ...................................................................................................... 48 II – NO BRASIL Introdução .......................................................................................................................................................... 51 4.2 Relações Públicas como profissão e mudanças de paradigmas ............................ 52 4.2.1. O surgimento das Relações Públicas ....................................................................... 52

4.2.2 A evolução da profissão ................................................................................................. 54

4.2.3 A Regulamentação Profissional das RPs ................................................................. 55

4.2.4 A mudança nos anos 1970 ........................................................................................... 57

4.3 O surgimento da Comunicação Organizacional ........................................................... 58

4.3.1 Relações Públicas e Comunicação Organizacional- o afastamento

das linhas epistemológicas dos Estados Unidos ................................................. 59

4.3.2 A década de 1980 e o novo conceito da profissão “Relações Públicas”. ..... 61

4.3.3 Os anos 1990 e a comunicação estratégica ........................................................... 62 4.4 O panorama atual .................................................................................................................... 63 4.4.1 A Comunicação Organizacional no Brasil do início do século XXI- novos conceitos .............................................................................................................. 64 4.4.2 As fronteiras entre as Relações Públicas e a Comunicação Organizacional

definição e delimitação de campos ....................................................................... 68 4.4.3 A Comunicação Organizacional Integrada ............................................................. 69 4.4.3.1 A Comunicação enquanto função estratégica da organização ................ 70 4.4.3.2 As RPs na gestão estratégica da comunicação ............................................... 71 4.5 O alinhamento estratégico ................................................................................................... 73

5. A FORMAÇÃO SUPERIOR EM RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNCIAÇÃO

ORGANIZACIONAL NO BRASIL E EM PORTUGAL INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 77 5.1NO BRASIL..……………………………………………………………………………………………..78 Introdução ......................................................................................................................................... 78 5.1.1 Os primeiros cursos em Relações Públicas ........................................................... 79

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5.1.2 A década de 1970 e o pioneirismo em pós-graduação…….………………….79 5.1.3 A regulamentação nacional do curso de Comunicação Social...………………80 5.2 EM PORTUGAL…………………………………………………………………………………….....81

5.2.1 Os primeiros cursos……………………………………………………………………………81 5.2.2 Um novo conceito para o Ensino superior: a aplicação do modelo de Bolonha e as transformações nos sistemas de ensino em Portugal ....... 84 5.2.2.1 A reforma do sistema educativo e o Processo de Bolonha em Portugal ... 90 5.2.3 O panorama atual da Comunicação nas Organizações e das Relações

Públicas no âmbito do ensino superior português ............................................ 86 5.2.3.1 As universidades públicas e o ensino da Comunicação ............................. 86 5.2.3.2 As universidades não-públicas e o ensino da Comunicação ................... 88 5.2.3.3 Os institutos politécnicos públicos e o ensino da Comunicação ............. 88 5.2.3.4 Os institutos politécnicos não-públicos e o ensino da Comunicação .. 89

6. A PÓS-GRADUAÇÃO E AS LINHAS DE PESQUISA EM COMUNICAÇÃO

ORGANIZACIONAL E RELAÇÕES PÚBLICAS 6.1 NO BRASIL…………………………………………………………………………………………….…..91

6.1.1 As linhas de pesquisa na pós-graduação em Relações Públicas e Comunicação Organizacional nas universidades do Brasil .............................. 91

6.1.2 A pesquisa no âmbito do ensino superior e o papel da CAPES ...................... 92 6.1.3 A pesquisa nos anos 1990 - a mudança de paradigma ..................................... 93 6.1.4 A multidisciplinaridade e interdisciplinaridade na pesquisa em

Comunicação Organizacional ..................................................................................... ..95 6.1.5 A pesquisa fora das universidades ......................................................................... ..98 6.1.6 As linhas de pesquisa atuais na pós-graduação em Relações Públicas

e Comunicação Organizacional ................................................................................. .99 6.2 EM PORTUGAL……………………………………………………………………………………….102 6.2.1 A pós-graduação e campos de investigação no âmbito do ensino superior

em Portugal – breve abordagem ................................................................................ .102 7. A PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E RELAÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL

7.1 O contributo da pós-graduação: teses de doutorado e dissertações de mestrado; livre-docência ............................................................................................ 106

7.1.1 Análise interpretativa ................................................................................................... 106 I-ECA-USP ................................................................................................................................ 107 1.1 Apresentação ................................................................................................................. 106 1.2 A pesquisa na ECA......................................................................................................... 110 1.2.1Os números .............................................................................................................. 110 1.2.2 Os conteúdos .......................................................................................................... 111 1.2.2 A evolução da pesquisa ...................................................................................... 113 1.3 A livre-docência ............................................................................................................. 116

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II-FAMECOS .................................................................................................................. 117 2.1 Apresentação ................................................................................................................... 117 2.2 A pesquisa na FAMECOS .............................................................................................. 118 2.2.1 Os números ................................................................................................................ 118 2.2.2 Os conteúdos ............................................................................................................. 119 2.3 Síntese ................................................................................................................................ 122 III-UMESP ........................................................................................................................ 122 3.1 Apresentação ................................................................................................................... 122 3.3 A pesquisa na UMESP ................................................................................................... 123 3.3.1 Os números ................................................................................................................. 123 3.3.2 Os conteúdos .............................................................................................................. 124

7.1.2 Considerações reflexivas ............................................................................................. 128 7.2 Produção bibliográfica e temas mais trabalhados ............................................. 130 Introdução ......................................................................................................................... 130 7.2.1 A produção acadêmica ...................................................................................... 131 7.2.1.1 Os pioneiros ................................................................................................... 131 7.2.1.2 A dependência dos Estados Unidos ........................................................ 132 7.2.1.3 O novo milênio e o despertar para a nova investigação .......................... 133 7.2.2 As publicações não acadêmicas ................................................................................ 138 7.3 Temas mais trabalhados ....................................................................................................... 139 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 8.1 Afinal o que é o “estado da arte” da Comunicação Organizacional entre Portugal e o Brasil”? ............................................................................................................... 141 8.2 Primeiras impressões e percepções ................................................................................. 142 Introdução ...................................................................................................................................... 142 8.2.1 As nossas observações ................................................................................................. 142 9 LISTA DE SIGLAS ............................................................................................................. 149 10. REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 152 11. INFORMAÇÕES ANEXAS ............................................................................................ 161 Trabalhos e atividades paralelas desenvolvidas durante o período de pos-doutorado: Fevereiro 2010- Agosto 2012

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APRESENTAÇÃO

O presente Relatório apresenta o trabalho final de pós-doutorado segundo

projeto submetido ao colegiado da Comissão de Pesquisa da Escola de

Comunicações e Artes, bem como à Comissão de Pesquisa da Reitoria da

Universidade de São Paulo.

Retrata os trabalhos desenvolvidos em Portugal e no Brasil, em vários

centros de pesquisa, sediados no CEL da UTAD e na ECA da USP, respectivamente.

Tratando-se de um “Estudo comparado sobre o ‘estado da arte’ da

Comunicação Organizacional e das Relações Públicas entre Portugal e o

Brasil”, tal como o título do trabalho apresenta, é composto por alguns

fundamentos de caráter mais teóricos, amplamente realizados até ao presente

momento, e uma pesquisa mais aplicada a cada uma das comunidades científicas

dos dois países alvo de estudo.

O trabalho agora apresentado revela a realidade que encontramos no Brasil

com a nossa pesquisa já realizada, e uma aproximação à situação atual de Portugal,

o que nos permite, desde já, algumas considerações comparativas das realidades

existentes, cumprindo assim o objetivo a que nos propusemos na USP para este

período de tempo.

Após a conclusão da pesquisa de campo em Portugal, em princípio durante

mais um ano, pensamos refazer a comparação dos dados então atualizados com as

informações agora obtidas referentes ao Brasil, de modo a este estudo se concluir

bem mais completo.

A.M.

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INTRODUÇÃO

Comunicação Organizacional e Relações Públicas

– a necessidade de uma investigação

Reconhecer o presente do campo acadêmico da Comunicação Organizacional

e das Relações Públicas significa recuar a um período recente no tempo pela

proximidade temporal com que elas se começaram a definir no âmbito das Ciências

da Comunicação. E há que aceitar uma das “críticas mais frequentes aos

investigadores de Comunicação Organizacional, a da negligência na articulação das

investigações empíricas com pressupostos teóricos sustentados” (RUÃO, 2004: 2),

o que necessitará de “um percurso de trabalho e de exploração de material teórico

e empírico, capaz de dar origem a um corpo de conhecimento solidificado” (idem,

ibidem).

A posição da investigadora Teresa Ruão vai ao encontro da necessidade

subjacente à realização do projeto que temos em curso. É precisamente nesse

quadro de programas de discurso e pesquisa que se encontra hoje a investigação

sobre comunicação organizacional, como uma herança histórica e interdisciplinar

em que é evidente a necessidade de um esforço no campo teórico-metodológico,

uma vez que esta ciência, ainda hoje, insiste em criar e solidificar corpo teórico

próprio.

Uma necessidade que sempre nos motivou, mesmo quando, em Portugal, só

existiam ainda dois cursos públicos de comunicação, ambos em Lisboa. Um

oferecido pelo ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da UTL –

Universidade Técnica de Lisboa, e o outro, pela Universidade Nova de Lisboa.

Havia ainda um outro curso privado: o de relações públicas oferecido pelo INP –

Instituto Novas Profissões. Já em 1989 se visionava um pouco dessa preocupação o

que nos levava a afirmar:

“Nos dias de hoje, porém, teoria sem aplicação não faz sentido e prática sem fundamento teórico não é válida. É com base nesta proposição que ambas as licenciaturas (Comunicação Social e Relações Públicas) convergem num objectivo final que envolve as duas vertentes e tentam preparar a nível teórico-prático pessoas que saibam diagnosticar mas também interpretar, que saibam criar estruturas de evitação mas também resolver os problemas previstos e mesmo os ainda não previstos no contexto das Relações Públicas” (MATEUS, A. 1989: 2).

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Trata-se de uma necessidade que se tem vindo a impor ao longo dos anos,

uma curiosidade científica que não dá mais para adiar. Temos como objetivo

reconhecer o estado da arte mais atual da Comunicação Organizacional e das

Relações Públicas no nosso país (Portugal), uma ambição iniciada há 20 anos, mas

que por contingências da vida profissional e particular, não teve continuidade,

tendo-se então ficado pelo registro da oferta do ensino das relações públicas e da

comunicação social – a designação dos cursos da época - em 1989, trabalho

apresentado em Congresso Internacional de Relações Públicas. Preocupação que,

no entanto, já nos permitia a conclusão de que:

“O acto de comunicar, a forma que ele adquire, assume importância principal num plano de abstracção ligado às relações humanas em que se insere a Comunicação Social. Mais do que comunicar e como fazê-lo uma licenciatura em Comunicação Social situa-se a um nível metacomunicacional que proporciona aos seus diplomados os instrumentos teóricos para entenderem, estudarem, analisarem as questões relacionadas com os vários aspectos práticos em que se traduz a Comunicação Social e assim, através da Publicidade, do Jornalismo, etc. e também das RP alcançar, sob estas várias perspetivas, a realidade social” (Mateus, A. 1989: Int.).

O fato é que a realidade nos finais da década de 1980 praticamente diferente

de tudo o que presenciamos hoje. Podemos dizer que teoricamente muito se

evoluiu, mas também a divulgação do conhecimento era muito menos facilitada do

que nos dias de hoje. Os meios online vieram permitir um acesso e partilha de

informação que põe investigadores de diferentes locais em poucas horas de

diferença a par das novidades científicas mais atuais. Por outro lado, realizamos os

nossos estudos numa universidade técnica, especificamente no ISCSP. Tratava-se

de uma universidade altamente especializada na área de Ciências Sociais e que

privilegiava muito o ensino das mesmas, sendo-nos atribuído o pioneirismo no

estudo da “comunicação social” em Portugal (o curso de Comunicação Social que

frequentamos pertenceu ao segundo ano de inscrições na universidade na área em

causa). Mas devemos aceitar, com a maior das humildades, o fato compreensível,

de que, ainda que com muito esforço por parte do corpo docente, o curso tenha

sido dado de uma forma menos aplicada às Ciências da Comunicação,

diferentemente do que se passa na atualidade.

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Por outro lado, o mestrado que concluímos, embora tivéssemos apresentado

a dissertação na área das relações públicas, sendo ela a primeira dissertação sobre

tal temática em Portugal, foi realizado no âmbito de um programa de Sociologia.

Bastante enriquecedor teoricamente, sem dúvida, mas, uma vez mais, pouco

aplicado às Ciências da Comunicação. Ainda não havia oferta em Portugal de graus

paralelos em Ciências da Comunicação ou afins.

Por sua vez, tanto para o DEA como para o doutorado, realizados em Madrid,

já se pressupunha a aquisição de determinados conhecimentos teóricos

fundamentais às Ciências da Comunicação, que para a sua realização foram obtidos

principalmente a partir de leituras individuais paralelas. No entanto, temos que

aceitar que, ainda aqui, nos permaneceu um sentimento de “falta de

conhecimento”, e principalmente de “necessidade de sistematização”,

nomeadamente pela existência de diversas linhas e diferentes perspectivas de

investigação em Portugal, pouco ou nada sistematizadas, que pretendemos

averiguar e clarificar.

No momento de vida em que nos encontramos, enquanto investigadora, não

conseguimos ficar por “meias verdades”. Precisamos aprofundar o “estado da arte

da comunicação em Portugal” e as influências que para ele contribuem.

Encontramos no Brasil, ao longo das nossas pesquisas já de há alguns anos,

um modelo de investigação sério e equilibrado que gostaríamos de importar para

Portugal, no que se refere principalmente às Relações Públicas e também à

Comunicação Organizacional.

É por isso que nos empenhamos em tentar conhecer o estágio do

conhecimento da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas no Brasil,

enquanto fonte de aprendizagem, a fim de que possamos comparar os estágios

entre os dois países; as diferentes perspectivas e os modelos de análise mais

atuais.

Até porque o “estado da arte” agora se encontra naturalmente diferente e o

estágio do conhecimento teórico apresenta-se muito mais consistente do que há

doze anos, quando começamos a fazer o doutorado, devido aos meios tecnológicos

que permitem atualmente, a busca, a sistematização e a partilha muito mais céleres

de quadros conceituais e conhecimentos empíricos.

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O nosso percurso de investigação apresenta-se, por isso, curiosamente, em

processo inverso aos habitualmente realizados. Após termos desenvolvido estes

mesmos temas em trabalhos que culminaram em investigações para obtenção do

grau de doutorado, sentimos necessidade de voltar atrás e reencontrarmo-nos na

nossa própria teoria. Em vez de prosseguir do geral para o específico, regressamos,

neste projeto, ao mais geral: os fundamentos teóricos que aqui tentamos clarificar

e atualizar.

O nosso desafio

Relativamente à Comunicação Organizacional as nossas preocupações

científicas concorrem no sentido das linhas de investigação que a objetivam uma

perspectiva de comunicação integrada dentro das organizações.

A alicerçá-la, encontramos já hoje - um pouco ainda modestamente, mas com

um percurso que se pode classificar de sério - um conjunto de distintas áreas

científicas que, cada vez mais nos permitem, com legitimidade, incluir a disciplina

no âmbito da ciência. A gênese das nossas preocupações já se encontra bem

patente há mais de uma década:

“... a comunicação, genericamente considerada, é importante na gestão da empresa tanto a nível do Planeamento como a nível da Coordenação. A nível do planeamento na medida em que só através de informação atualizada e pertinente a empresa poderá definir estratégias para alcançar os objetivos que, à partida, definiu; a nível da coordenação como um elo de ligação no funcionamento e articulação dos órgãos que lhe permitem à empresa encontrar-se como um sistema integrado de ação” (MATEUS, 1999-2001: 484).

Uma crítica habitual à disciplina é ainda a falta de quadros teóricos próprios.

Há que entender as razões destes fundamentos encontrados no âmbito de várias

outras ciências, cujas práticas derivaram de ensaios laboratoriais ou testes

científicos devidamente acautelados. Não podemos esquecer que a Comunicação

Organizacional derivou de práticas empíricas resultantes de práticas de gestão,

muitas vezes pouco ou nada planejadas. É natural a utilização da disciplina

enquanto técnica coadjuvante no todo da gestão. Muitas vezes ainda hoje sem lhe

ser reconhecida a importância real devida num quadro de gestão estratégica global

da empresa.

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Neste âmbito, o que verificamos ainda bastantes vezes é uma opção pelos

objetivos que geram resultados imediatos e que privilegiam apenas a eficácia,

descurando-se uma otimização dos mesmos só conseguidos com estratégias

caracterizadas por um prazo mais longo. Normalmente, estas são só

fundamentadas em pesquisa a um outro nível, a que o mundo organizacional

tradicionalmente demonstra pouco interesse. Quando, muitas vezes, a academia

decide avançar com a ciência e apresentar frutos do seu trabalho, encontra ainda

as costas viradas por parte das organizações. Os gestores encontram-se muitas

vezes acomodados com resultados obtidos a muito curto prazo, optando pela

eficácia diária do trabalho, descurando o fato de estarem a comprometer o futuro

da empresa. É uma situação que se espera ser reversível a curto prazo, pela

abertura das universidades ao mercado das organizações, mas é uma realidade que

se vai mantendo e com que ainda convivemos, nomeadamente em Portugal, país

para onde também estamos a realizar a presente pesquisa. Trata-se de uma

questão de resistência à mudança, em termos de mentalidade e de tradição.

Fatores culturais dificilmente transponíveis, mesmo quando a rentabilização e a

eficácia se poderiam potenciar.

Ao falarmos de transdisciplinaridade, naturalmente se entende o conceito de

comunicação integrada nas organizações. A correspondência entre ambos decorre

sequente. A recorrência à combinação de um conjunto de disciplinas variadas,

enquanto quadros teóricos representativos dos campos empíricos encontrados nas

organizações, permite abordagens flexíveis e adaptadas às diferentes áreas e

departamentos.

Vários estudos demonstram que, para se alcançar uma comunicação eficaz, os

responsáveis por ela terão que desempenhar uma função muito mais estratégica

do que tática. Precisam utilizar pesquisas científicas e contribuir para os objetivos

globais das organizações. Segundo a investigadora Margarida Kunsch, um dos

caminhos para se alcançar tudo isso será o planejamento estratégico da

comunicação. Com as próprias palavras da investigadora:

“As organizações modernas, para se posicionar perante a sociedade e fazer frente a todos os desafios da complexidade contemporânea, necessitam planejar, administrar e pensar estrategicamente a sua comunicação. Não basta pautar-se por ações isoladas de comunicação, centradas no planejamento tático para resolver questões, gerenciar crises e gerir

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produtos sem uma conexão com a análise ambiental e as necessidades do público de forma permanente e pensada estrategicamente” (2006a: 132).

A estratégia de comunicação nas organizações tem cada vez mais que aliar o

campo conceitual-metodológico ao campo empírico. Estamos cientes de que este

percurso ainda é longo, todavia, o mais importante é a conscientização e a

sensibilização dos gestores para o fato. Neste âmbito, deve ser considerada a

combinação do conjunto das várias técnicas de comunicação coexistentes na

organização, concertadas em direção a um mesmo objetivo em cada momento. É

do recurso a esta estratégia que se obtêm sinergias, derivadas de uma operação

conjunta. Como em momento oportuno defendemos:

"En su nueva magnitud, ésta se convierte en el culmen de todas las actividades de comunicación de la empresa. Su actividad se basará en los métodos y técnicas, desde los más clásicos pasando por los menos tradicionales del periodismo, relaciones públicas, promoción, recursos humanos, investigación y marketing" (MATEUS, 2009:8).

Ainda assim isto demonstra-se insuficiente. Fruto de informações obtidas

com pesquisas alargadas a campos conceituais que, direta ou indiretamente, vão

influenciar os resultados das ações da organização, há que se corresponder ao

mercado, ao ambiente, à concorrência, a todo o tipo de parceiros e aos próprios

funcionários com estratégias de gestão adequadas, a longo prazo. A forma de

resposta é através da Comunicação. Segundo Margarida Kunsch:

"Os programas de comunicação levados a efeito por um setor ou pelo departamento de comunicação de uma organização devem ser decorrentes de todo um planejamento e agregar valor aos negócios, ajudando as organizações a cumprir sua missão, atingir seus objetivos e a se posicionar institucionalmente perante a sociedade e os públicos com os quais se relacionam" (2006a: 131).

Em suma, deverá ser com base em pesquisa teórico/prática que o setor de

comunicação de uma organização pode encontrar os instrumentos adequados para

esta corresponder às necessidades e exigências dos públicos, internos ou externos,

de forma a cumprir os objetivos delineados. Os resultados de investigação deverão

ser transmitidos internamente aos órgãos de gestão, também deverão ser tratados

e circular ao longo da mesma, de modo que cada uma das áreas com

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responsabilidades relacionadas possa agir em conformidade. É a comunicação

integrada. E é também nessa base que se constrói a informação homogênea de

modo a ser transmitida ao exterior de uma forma clara, inequívoca e transparente.

Mas a função da estratégia de comunicação não acaba aqui. Há que se identificar os

resultados, analisá-los também à luz das teorias relacionadas, e apresentar

conclusões. O feedback da eficácia do processo anterior apresenta-se fundamental

para sucessivos comportamentos a nível de gestão, também de comunicação

integrada. Da eficácia do processo de comunicação resulta a eficácia da gestão; da

eficácia da estratégia da comunicação resulta a eficácia da estratégia da Gestão.

Para Richardson & Richardson ela apresenta-se como:

"um processo, em última análise de adaptação organizacional aos

ambientes através do tempo: uma tarefa para o estrategista de gestão, que é totalmente responsável pela forma como a organização se adapta ao seu ambiente e satisfaz as pessoas; uma tarefa para cada um na organização, porque os seus planos, decisões e ações criam coletivamente o nível de sucesso alcançado pela organização como a estratégia; um conjunto de trabalhos de planejamento crítico sustentado pelas necessidades, impactos e de adaptação ao meio ambiente, que os estrategistas podem reunir para manter ou melhorar o sucesso organizacional". (1992: 26/27)

De tudo isto ousamos afirmar: gestão sem comunicação não é gestão.

É neste sentido que nos preocupamos em conhecer o estado atual da

Comunicação Organizacional e das Relações Públicas no Brasil, uma referência

para nós, enquanto investigadores, com vista ao alargamento do estudo à realidade

portuguesa dos nossos dias.

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1. METODOLOGIA

1.1 O objeto da pesquisa

Como acabamos de verificar, o objeto central da pesquisa que temos em

curso, do qual apresentamos o presente relatório de pós-doutorado, recai junto de

comunidades acadêmicas com tradições e estágios de evolução distintos, Brasil e

Portugal, onde nos propusemos realizar uma comparação das linhas de

investigação em Comunicação Organizacional e Relações Públicas.

1.2 O objetivo do trabalho

O nosso objetivo com o presente trabalho é verificar o grau de uniformidade

entre quadros referenciais teóricos - campo empírico intrínseco aos trabalhos

realizados em conjunto com a dimensão da literatura científica produzida e

adotada em ambos países.

1.3 Plano e estratégia de investigação

Começamos por definir o plano de investigação com base em dados obtidos

com o estudo exploratório, que fizemos propositadamente para a presente

pesquisa, em conjunto com os conhecimentos de campo obtidos com a atividade

docente e de investigação que realizamos em Portugal em mais de duas décadas.

Com base nessa informação partimos para o desenvolvimento de um estudo

nos dois países em momentos sequenciais, com comportamentos de investigação

paralelos. Além disso, realizamos o tratamento dos dados de modo uniforme nos

objetos de investigação e fizemos o estudo comparativo após a obtenção das

conclusões.

Destacamos que o campo de análise no Brasil é mais aprofundado, uma vez

que se encontra numa fase mais avançada do que em Portugal, onde ainda é

necessário realizar maior investigação para podermos considerar o campo de

análise sobre o tema como satisfatório.

Os dados obtidos já nos permitem, no entanto, certos parâmetros de

comparação para algumas conclusões, ainda que incompletas perante os objetivos

gerais a que nos propusemos com o projeto global aqui inicialmente definido.

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No Brasil, a pesquisa esteve sediada na USP, no Departamento de Relações

Públicas, Propaganda e Turismo da ECA – Escola de Comunicação e Artes, onde

trabalhamos durante seis meses.

Importa realçar que a opção pelo início do trabalho de campo nesta unidade

de observação teve por critério uma avaliação prévia do estágio de evolução do

próprio ensino da comunicação organizacional e sobretudo da vasta dimensão de

produção científica da universidade no campo da disciplina, comparativamente

com as situações encontradas nas universidades e centros de investigação em

Portugal. Esta opção já derivou dos resultados obtidos com o estudo exploratório

previamente realizado.

Deslocamo-nos ainda a unidades de observação direta a outros centros de

investigação em distintos pontos do Brasil.

A pesquisa prossegue em Portugal, com o apoio do Centro de Estudos em

Letras da UTAD, onde somos investigadoras colaboradoras.

1.4 Técnicas de investigação

Realizamos análise documental com o objetivo de verificarmos os títulos das

linhas de investigação já registradas e entrevistas abertas a informadores

qualificados, sendo que a maioria destas assume a forma de conversas informais

pela facilidade na obtenção de informações que conseguimos com esta técnica, a

fim de verificarmos a correspondência real dos conteúdos e a sua aplicação. Mas

também com um objetivo distinto: podermos avaliar, em particular, a recorrência

às abordagens que carecem de aproximação a quadros teóricos de referência.

Para a seleção dos entrevistados, utilizamos a técnica da “Bola de Neve”; o

número de entrevistas foi definido em campo, no decorrer do estudo.

Foi a partir de pesquisa documental que realizamos a análise de contudo

temática categorial, por graus – mestrado e doutorado – e linhas temáticas

distintas, de onde partimos para a análise comparativa das situações entre os dois

países alvo do estudo, (Berelson:1952; Krippendorff:1980; Bardin:2000;

Guerra:2006) tendo realizado uma breve abordagem individual às publicações por

consulta do seu abstract.

A investigação foi complementada com análise bibliográfica de trabalhos

publicados – livros, artigos, coletâneas …

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2. RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL

2.1 Relações Públicas: o nascimento de uma profissão

2.1.1 Os precursores

Uma profissão não nasce definida; vai evoluindo e delineando-se ao longo do

tempo. Isto é perceptível especialmente nas relações públicas, campo onde se

discute ainda hoje os âmbitos de ação ou conceituais da sua existência.

Abílio da Fonseca, um dos estudiosos portugueses mais empenhados em

conhecer e dar a conhecer as Relações Públicas em Portugal, apresenta-nos, já

como precursores desta atividade, Jonh Beckley, o primeiro bibliotecário do

congresso americano e conselheiro do Presidente Thomas Jefferson, que viveu até

ao início do século XIX, e que ele assegura ter sido o primeiro especialista em

persuasão para campanhas de imprensa; Samuel Adams, seu contemporâneo, foi

um expert agente de imprensa e em publicity; Amos Kendall, que terá vivido

algumas décadas mais tarde, foi jornalista e ficou conhecido como a “máquina de

pensar” do Presidente Andrew Jackson; e mesmo o próprio Presidente durante a

Guerra da Secessão, Abraham Lincoln, já em pleno século XIX (2011: 16).

Aponta-se como muito provável ter sido Thomas Jefferson o introdutor da

expressão public relations, o que fez comprovadamente no seu Sétimo Discurso ao

Congresso, quando apresentou o seu plano de governo para o ano seguinte. (WEY,

1986, apud, FONSECA, 2011:16). Mas não há registro se outrem o fez em

circunstância anterior.

Um nome que não podemos deixar de referir, como um dos principais

pioneiros das relações públicas, é Theodore Newton Vail, o presidente da American

Bell Telephone and Telegraph Company, que colocou um capítulo no relatório anual

da empresa intitulado Public Relations, em 1906. E é este mesmo fato que parece

ter sido determinante para marcar o “nascimento” do conceito relações públicas.

Aí se encontra registrado o princípio básico das relações públicas, no qual se pode

ler que: “os bons resultados econômicos daquela empresa tinham tido por base as

boas relações com os públicos internos e externos” (apud FONSECA, 2011: 17).

Para além disso, fundou em 1907 uma seção de reclamações para os utentes,

defendendo que havia que “respeitar os interesses do público”, considerando e

valorizando, assim, o feedback, até então não considerado por parte das empresas.

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2.1.2 As consequências da Revolução Industrial e a origem da profissão

Contextualizando muito sumariamente o surgimento da profissão, urge dizer

que os Estados Unidos da América, no início do século XIX, viviam um momento de

grande produção, consequência da Revolução Industrial. A imprensa encontrava-

se num estágio bastante avançado devido ao desenvolvimento econômico vivido

pelo país, a publicidade emergia devido também à grande oferta existente, mas os

problemas sociais acumulavam-se devido ao estágio de pobreza geral da

população que alimentava a produção das fábricas e seus patrões.

Geravam-se conflitos, faziam-se greves, entravam os sindicatos em ação como

mediadores, mas os problemas não eram resolvidos. Por vezes, ainda mais os

estimulavam.

Célebres ficaram, como paradigma da falta de respeito dos empresários de

então, até mesmo para os potenciais clientes, o comportamento e o discurso de

William Vanderbilt, um grande industrial dos caminhos-de-ferro quando deu

ordem para suspender um pequeno ramal de linhas para Nova York que não vinha

sendo lucrativo.

Mediante esses confrontos, um jornalista novato foi tentar entrevistar o

Comodoro William Van Vanderbilt. Quase que milagrosamente foi aceite por este.

Perante a sua insistência na busca de informação e justificação para o público, que

precisava ser informado da situação das linhas, o entrevistado, exclama, com um

murro na mesa: “o público que vá para o Diabo!”

Com este inédito, ao lado da fotografia de Vanderbilt publicada no jornal,

uma notícia que até aquele momento passaria despercebida, veio, pelo contrário,

alcançar uma dimensão inimaginável. A notícia ganhou popularidade, foi

reproduzida e aprofundada; o tema alcançou novos contornos; o foco passou de

interesse para o potentado dos empresários exploradores dos mais fracos. O

jornalismo percebeu a sua força, a corrupção começou a ser denunciada no âmbito

das empresas e também na esfera da política e do governo. Não mais parou e o

público “recusou-se a ir para o Diabo!”. Ganhou poder, através da imprensa.

Foi neste contexto que nasceram as Relações Públicas.

Yvy Lee, em 1914, contrapondo-se à posição de William Vanderbilt,

apresenta a sua postura: “o público tem que ser informado!”.

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E foi nesse sentido que veio a colaborar com David Rockfeller, quando este o

procurou para ele lhe mudar a imagem de um dos indivíduos mais odiados dos

Estados Unidos, na década de 1920, devido aos atos mais barbáris – corrupção,

violência, dizia-se até, assassinatos (FONSECA, 2011:30) -, que tinha praticado no

âmbito dos seus negócios, para alcançar e manter o império petrolífero do qual era

detentor. Yvy Lee foi mais longe: para além da imagem, mudou-lhe a essência. Uma

vez saído das suas mãos, Rockfeller era outro “homem”. O seu caráter em nada

tinha a ver com o anterior: tornara-se um homem bondoso e altruísta.

2.1.3 Os pioneiros

Hoje todos concordam que Ivy Lee pode ser considerado como o pioneiro das

Relações Públicas no mundo, mas apenas enquanto um prático que se limitou a

aplicar as técnicas de Relações Públicas, o que se entende plenamente justificável

por toda a conjuntura da época. Já Edward Bernays, na segunda metade do século,

entregou-se aos livros, à pesquisa e à ciência, a partir de 1954. É ele o primeiro

estudioso das Relações Públicas, extremamente interessado pelas áreas da

persuasão. Não fosse sobrinho de quem era - Sigmund Freud, o fundador da

Psicanálise, cuja principal ação se encontra na influência do subconsciente humano

por meios psicoterapêuticos (nota da autora).

Há que se salientar, no entanto, que já antes dessa data, Bernays se intitulava

como “consultor de relações públicas”, tendo fundado em Nova York, em 1919, o

primeiro gabinete profissional do mundo em relações públicas (FONSECA, 2011:

31).

Foi também o primeiro professor de relações públicas do mundo, tendo

exercido a atividade a partir de 1923 na Universidade de Nova York e, mais tarde,

na Universidade de Harvard (FONSECA, 2011: 32). Foi ele que escreveu o primeiro

livro de Relações Públicas, Cristalyzing Public Opinion, em 1923, onde veio

defender, pela primeira vez, o princípio de que as relações públicas se constituem

como uma ciência fundamentada nos princípios das ciências sociais, próxima da

psicologia e da sociologia (REILLY: 23, 1987), o que temos que aceitar, que para a

época, foi um grande passo no campo epistemológico da disciplina. Foi ainda ele

que elaborou o primeiro guia da conduta para os profissionais, definindo os

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princípios de atuação e ética na profissão, tendo introduzido o termo Conselheiro

de Relações Públicas. (EMERY & outros, 1973: 215)

No seu longo percurso de atividade profissional, Bernays teve um papel

fundamental no primeiro Departamento de Relações Públicas (US Committee on

Public Information), fundado durante a Primeira Guerra Mundial, cujo objetivo era

influenciar a opinião pública e apoiar o país na intervenção na guerra através da

propaganda:

“Durante a Primeira Guerra Mundial, foi uma parte integrante do Comité de E.U. Informação Pública (IPC), um poderoso aparelho de propaganda que foi mobilizado para embalagem, publicidade e vender a guerra contra os americanos como um povo que "Make the World Safe for Democracy” (PATO, A. 2009: 26).

Bernays foi considerado “talvez a cabeça mais brilhante da história da

profissão” (FLETA, 1999, apud Fonseca 2011: 33).

2.1.4 Os fundamentos teóricos

Torna-se muito difícil apresentar uma definição de relações públicas.

Encontram-se centenas de tentativas, com denominadores comuns, mas que se

afastam nalguns pontos. Acreditamos que isso revela precisamente a falta de

unanimidade de perspectivas de encarar e perceber a disciplina ou ciência - e aqui

encontramos já, como se pode verificar, divergências de posturas assumidas em

distintas culturas e enquadramentos científicos – ou, noutro sentido, perspectivas

no mesmo sentido, mas distintas entre si consoante se integram em determinada

cultura, em diferente estágio de evolução, na sua relação particular com outro

ramo da ciência, dependente ou simplesmente relacional, como é o caso das

ciências da comunicação e seus componentes.

Uma coisa é certa: diferentes propostas teóricas têm construído o campo

científico das relações públicas. Essa é uma tendência, queremos deixar a ressalva.

Registramos apenas simples referências que consideramos particularmente

significativas.

A definição já clássica de Cutlip e Center em Efective Public Relations (1999:4.)

descreve as relações públicas como:

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“uma função da administração distinta, que ajuda a estabelecer e manter linhas mútuas de comunicação, entendimento, aceitação e cooperação entre a organização e os seus públicos; envolve a gestão de problemas ou temas importantes; ajuda a administração a manter-se informada sobre a opinião pública e pronta a responder perante ela; define e sublinha a responsabilidade da administração em servir o interesse do público; ajuda a administração a ficar a par da mudança e a usá-la, serve como um mecanismo de aviso prévio para antecipar modas; usa a pesquisa e uma comunicação racional, sã e ética como ferramentas principais”.

Uma das definições com fundamentos bastante atuais, se bem que criada há

já 20 anos, em 1992, atuais pertence à perspectiva norte-americana da teoria das

relações públicas representada por James Grunig para quem:

“Relações Públicas é uma função administrativa que avalia as atitudes públicas, identifica as diretrizes e a conduta individual ou da organização na busca do interesse público, e planeja e executa um programa de ação para conquistar a compreensão e a aceitação públicas (GRUNIG: 1992:37) ”.

Em oposição à perspectiva norte-americana, começa a impor-se um conceito

de relações públicas bem distinto, de origem europeia, apresentado por Ledingham

e Bruning (2000) que vêem as relações públicas não cingidas ao âmbito da

comunicação. Segundo esta perspectiva:

“a comunicação é um fundamento necessário, porém insuficiente para as relações públicas. A capacitação em psicologia social, antropologia e outras ciências sociais, para não mencionar as novas tecnologias, é necessária ao lado da capacitação em administração, marketing e até, talvez, algumas capacitações específicas de certas áreas da indústria” (VAN RULER & VERČIČ, 2003:156 ).

2.2 Um novo conceito e seus introdutores – a Comunicação Organizacional

Na produção científica até aos anos 1980, as relações públicas eram

conotadas como uma técnica de comunicação empresarial a par com a publicidade

ou o marketing. Verificava-se uma falta de consenso generalizada quanto à

natureza, campos de ação e propósitos das relações públicas nas organizações.

O estágio pré-paradigmático (GONÇALVES, 2010: Introdução) veio aportar

um momento de fundamentação sistêmica das RP, cujas origens se encontram no

âmbito da Teoria Geral dos Sistemas, formulada por Bertalanffy na década de 50.

Esta perspectiva sistêmica fundamenta uma leitura sobre as organizações na qual

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estas se concretizam num conjunto de relações de interdependência e de interação

entre as diferentes partes do sistema.

As relações públicas eram vistas enquanto função na gestão da comunicação.

A organização era vista como um sistema aberto, sofria influência do ambiente

externo e havia interação e interdependência entre os sistemas que compunham a

organização. O papel das relações públicas era de apoio às relações entre os vários

subsistemas (internos e externos), com vista à criação e manutenção de um bom

clima na organização. Neste estágio - pré-paradigmático - a produção científica

ganha corpo exatamente com a inauguração dos trabalhos contínuos de James

Grunig, como avança Jordi Xifra, “cujos modelos teóricos se constituem como ponto

de partida e chegada nesta viagem epistemológica ao campo das Relações

Públicas” (GRUNIG:2001, Xifra, 2003, apud Sobrera, 2011:141).

2.2.1 A corrente norte-americana e o novo paradigma das Relações Públicas

Porém, só 30 anos depois, o autor veio a consolidar a sua abordagem no livro

que escreveu, em coautoria, Managing Public Relations , no qual defende que as

relações públicas não podem ser vistas de forma isolada, mas como um “subsistema

administrativo de apoio à direção da empresa, abrindo canais de comunicação com

públicos internos e externos, ajudando-a a comunicar entre si e apoiando-os nas

suas actividades” (GRUNIG e HUNT, 1984:8/9).

Fundamentando-se na clássica perspectiva de Kuhn (1970) sobre a formação

de paradigmas, conclui-se que tais contributos, tendo a teoria grunigiana como

pivot, concorreram para formar o paradigma sistêmico das RP em que estas se

sistematizaram ao longo do tempo, cruzando a direcionalidade e a simetria.

É preciso reconhecer que só com a publicação de Managing Public Relations

(1984) as Relações Públicas ganharam maior visibilidade, enquanto campo

científico e autônomo, como função de gestão na organização.

Com esta nova visão de Grunig e Hunt (2003), as Relações Públicas passaram

a ser vistas como “um processo estratégico de comunicação bidirecional entre a

organização e os seus públicos, tendo em vista balançar os interesses de ambas as

partes” (GONÇALVES, 2010: Introdução).

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Estratégico aqui significa que as mensagens das relações públicas são

alinhadas com os objetivos organizacionais previamente decididos ao nível da

direção (GONÇALVES, 2010: Introdução).

A prática de tais princípios envolve uma fundamentação mais moral e ética

para as relações públicas, uma vez que tende a ampliar seu papel como disciplina e

atividade voltada para a harmonia entre uma organização e seus públicos.

Nos finais do século XX, o pensamento norte-americano veio, assim, aportar

um avanço epistemológico e o despertar para uma teoria das Relações Públicas. Há

quem defenda que foi esta mesma obra que veio trazer a maturidade à disciplina

não conseguida até então.

2.2.2 Os quatro modelos de RP e as bases para o paradigma sistêmico das RP

Os dois primeiros modelos – o de “agente de imprensa” e da “informação

pública” – são unidirecionais, i.e., em cuja prática das RP não é considerada a

participação dos públicos destinatários, apenas dos emissores.

O primeiro modelo apresentado por Grunig e Hunt é considerado o mais

antigo e predominante. Habitualmente designado de "agência/assessoria de

imprensa", ou informação "divulgação jornalística" – a publicity, no modo norte-

americano de ver as coisas. Visa publicar notícias sobre a organização e despertar

a atenção da mídia. É uma comunicação unilateral, sem troca de informações, que

utiliza técnicas propagandísticas. Exemplifica o primeiro estágio histórico de

Relações Públicas: divulgar a organização e seus produtos ou serviços.

O segundo modelo, que se caracteriza como modelo jornalístico, dissemina

informações objetivas por meio da mídia em geral e meios específicos. Pode ser

chamado "difusão de informações" ou "informações ao público".

Os outros dois modelos são bidirecionais. O terceiro é designado por

“assimétrico bidirecional” e o quarto por “simétrico bidirecional”. Estes já vão

incluir a pesquisa dos públicos, embora o terceiro mantenha o desequilíbrio da

relação comunicacional entre a organização e os seus públicos. Apenas o último

apresenta um certo objetivo de equilíbrio de interesses entre a organização e os

seus públicos, com a utilização das RP.

O terceiro modelo inclui o uso da pesquisa e outros métodos de comunicação.

Utiliza esses instrumentos para criar mensagens persuasivas e manipular os

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públicos. A expectativa de mudanças beneficia a organização, mas não os públicos.

É uma visão muito tradicionalista, pois visa apenas os interesses da organização,

não se importando com os interesses dos públicos. O feedback é usado para

verificar as atitudes do público que são mais convenientes para a organização

modificar a seu favor.

O quarto modelo, "simétrico bidirecional" representa, então, a visão mais

moderna das relações públicas. Ele procura um equilíbrio entre os interesses da

organização e os dos seus respetivos públicos. Baseia-se em pesquisas e utiliza a

comunicação para administrar conflitos. Melhora o entendimento com os públicos

estratégicos e, portanto, dá mais ênfase aos públicos prioritários do que à mídia.

Há um compromisso nas relações entre a organização (fonte) e os públicos

(receptores).

Segundo Grunig e Hunt (1984), as relações públicas não podem ser vistas de

forma isolada, mas como um “subsistema administrativo de apoio à direção da

empresa, abrindo canais de comunicação com públicos internos e externos,

ajudando-a a comunicar entre si e apoiando-os nas suas atividades” (apud

GONÇALVES, 2010:21).

E é segundo este mesmo modelo simétrico bidirecional que, enquanto

investigadora, acreditamos que as relações públicas devam ser contextuadas, no

âmbito de uma organização:

“…o Departamento de RP deve-se encontrar estrategicamente

posicionado, junto da Administração/gestão da empresa, interagindo directamente com esse alto nível de comando, não dependendo de outras hierarquias, mantendo, no entanto, constantes relações com todas as áreas da organização. Por seu lado, o profissional de RP vai ter que ter uma visão geral da organização, das actividades e acontecimentos dentro dela decorrentes, assim como a responsabilidade da criação da identidade institucional através da divulgação dos valores e demais elementos da cultura da empresa numa acção directa com todos os sectores da empresa. MATEUS: 2009, Introdução).

Na sequência das suas pesquisas, em 1985, o professor Grunig veio dar mais

um passo, agora de gigante, no sentido de ultrapassar as deficiências que

encontrou até então na área das relações públicas. Foi ele o coordenador do

PPrroojjeettoo ddaa EExxcceellêênncciiaa lançado através da Communicators (IABC - International

Association of Business Communicators), o maior projeto de sempre em

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investigação sobre relações públicas, que contou com a participação de

individualidades de referência da área – do mundo acadêmico e profissional. O

estudo teve um orçamento de 400 mil dólares, durou aproximadamente dez anos e

foi realizado em três países: Estados Unidos, Canadá e Reino Unido.

Esta investigação de caráter internacional teve como objetivo responder ao

“como e por quê” da excelência da comunicação e da relações públicas em si

mesma. A análise realizada nas diversas organizações permitiu aferir da

importância relativa das características que contribuem para as melhores práticas

ao nível da comunicação/relações públicas. A sistematização destes aspectos

resultou na construção do MMooddeelloo ddaa EExxcceellêênncciiaa..

O Projeto da Excelência foi um passo determinante para a produção de uma

teoria das relações públicas. Os dois livros mais importantes que resultaram do

projeto foram: Excellence in Public Relations and Communication Management, em

1992, e Manager’s Guide to Excellence in Public Relations and Communication

Management, em 1995.

A mudança de paradigma preconizada pela introdução do modelo simétrico

bidirecional veio caracterizar a abertura das organizações ao exterior. De

“fechadas” passaram a “abertas”, deixando-se influenciar pelo ambiente externo e

permitindo um fluxo bidirecional de informação que passou a contribuir para o seu

funcionamento.

Os valores e filosofias externos passaram a ser integrados nas estratégias das

organizações. Conceitos de responsabilidade social, ética, qualidade, ambiente,

sustentabilidade, gestão de crise, fazem agora parte do discurso comum da

organização e dos responsáveis das relações públicas.

Verifica-se assim uma renovação da proposta de Grunig segundo a qual as

relações públicas devem fundamentar-se nos princípios da estratégia, simetria e

diversidade. A prática de tais princípios envolve uma fundamentação mais moral e

ética para as relações públicas, que tende a ampliar seu papel como disciplina e

atividade voltada para a harmonia entre a organização e seus públicos.

Para Richard Lindborg "a comunicação excelente é a comunicação que é

administrada estrategicamente, que alcança seus objetivos e equilibra as

necessidades da organização com a dos principais públicos mediante uma

comunicação simétrica de duas mãos" (apud KUNSCH, M. Relações públicas e

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excelência em comunicação, Teorias e Conceitos, online). Tem é que ser adaptada e

é preciso ter visão para se saber como adaptá-la. É a comunicação estratégica

simétrica bidirecionada, adaptada às situações do dia-a-dia. É aí que está o papel

do relações públicas como gestor de comunicação: analisa as situações e decide os

instrumentos a usar e como usá-los. Faz parte dos processos de negociação de que

é responsável, mas, como defende Margarida Kunsch, não está tudo nas suas mãos

porque ele está dependente da organização.

É por isso que defendemos que a estratégia global de comunicação tem que

fazer parte da estratégia global da gestão da organização. Só no âmbito de um

plano desenhado a nível de gestão superior e global se conseguem enquadrar os

objetivos e as necessidades gerais da organização.

A filosofia da Comunicação Excelente tem que orientar os objetivos da

organização. A cultura da Comunicação Excelente tem que ser levada a todos os

cantos da organização. Todos têm que estar integrados e serem conhecedores dos

objetivos, valores e fundamentos da organização. Todos devem ser encorajados e

ter vontade de participar ativamente nela. O clima interno sairá favorecido quando,

após este processo de motivação, os colaboradores se sentirem estimulados a

trabalhar com gosto e demonstrarem vontade de participar também nas decisões

da organização.

Esta dimensão do clima interno positivo, bem exemplificativa enquanto

resultado de uma “organização simétrica”, faz parte de um conjunto de estudos

desde a década de 1970, se bem que inicialmente numa vertente psicológica, e só

passados mais de vinte anos, numa vertente mais sociológica. O conceito foi

introduzido por Litwin & Stringer na literatura organizacional nos finais da década

de 1960:

“…os efeitos percebidos subjectivos do sistema formal, o estilo

informal dos gestores e outros factores ambientais importantes sobre as atitudes, crenças, valores e motivações das pessoas que trabalham numa determinada organização” (1968:5, apud CUNHA, M. P. et al., 2003:550).

Já sob uma perspectiva sociológica, Goleman (2000: 76 , 93 –102, cit. por

CUNHA M.P. et al., 2003: 550) veio apresentar um conjunto de fatores que

influenciam o ambiente de trabalho, como flexibilidade, responsabilidade,

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modelos, recompensas, clareza e empenho, e sugerir uma relação com os estilos de

liderança. Para ele:

“… depende de factores que influencian el ambiente de trabajo como

la flexibilidad, la responsabilidad, modelos, recompensas, claridad y empeño y le sugiere una relación con los estilos de liderazgo, entendiendo que éstos influyen al clima organizacional que, a su vez, influirá en la actuación financiera de la organización, hasta el punto de poderlo definir, dependiendo del clima interno que la organización encuentre” (apud MATEUS, 2009: 133).

Por outro lado, e agora numa perspectiva externa à organização, estudos

desenvolvidos por Kim e Reber (2008) no âmbito da responsabilidade social, um

dos novos domínios que as relações públicas têm que ter em consideração, vêm

demonstrar a importância dos responsáveis das relações públicas, precisamente

ao nível da gestão da organização. Eles passam a ser a consciência da organização,

enquanto mediadores com a comunidade na identificação de necessidades aí

existentes, com preocupações filantrópicas com uma preocupação continuada com

a comunicação e na criação de mais valor na organização.

Verifica-se assim a larga dimensão das ações e estratégias de relações

públicas no âmbito da gestão da organização. Uma visão global e estratégica, que

prevê uma ação planejada e contínua, e não mais apenas pontual, oferecida

enquanto mera técnica para resolução de problemas pontualmente emergentes no

seio da organização.

2.2.3 As “teorias críticas” e as alternativas europeias aos norte-americanos

É fundamental salientar que o pensamento norte-americano das relações

públicas não é universal. Estamos, no entanto, com Ferrari, (2009:64), quando

afirma que “o seu valor pode ser medido pela amplitude que deu à disciplina e à

atividade profissional no mundo todo durante o século XX”.

Mas vejamos o exemplo no âmbito das teorias críticas das RP, que se

apresentam em ruptura com o modelo grunigiano, optando por ver as RP no seu

contexto social e econômico. Moloney (2006:75) afirma, ao contrário de Grunig,

que as relações públicas não procuram a simetria comunicacional, e o seu objetivo

é, antes de tudo, garantir vantagem comunicacional para a organização cujos

interesses serve. Esta corrente de pensamento pós-moderna defende que os

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profissionais de RP têm de entender o carácter político da sua função e escolher,

“realmente, de que lado estão” (Holtzhausen, 2000: 110), já que o agenda setting é

determinado, em grande parte, pelos RP atuando nas organizações.

A alternativa de estudos europeus, independentemente do valor do seu

conteúdo, vem demonstrar a fragilidade e não exclusividade da teoria norte-

americana e vem apresentar uma possível corrente paralela ou alternativa aos

modelos pioneiros, teoricamente falando. O debate, ou apenas a tentativa de

resposta a modelos que não cumpram cabalmente ao que se propõem, acreditamos

que seja uma mais-valia para a validação teórica da disciplina. Vêm procurar

realinhar as relações públicas com exigências sociais mais amplas.

Um modelo ou tipologia de práticas de relações públicas precisa,

necessariamente, ser ajustado às condições de cada país.

Ora a solução apontada por Grunig é de adotar princípios genéricos,

elaborados a partir do Excellence Study (Grunig, 1992); por seu lado, observa-se

que relações públicas na Europa enfatizaram a cultura humanística e

principalmente sua diversidade linguística (VAN RULER & VERČIČ, 2003: 64 ).

2.2.4 O Bled Manifesto e as Relações Públicas na Europa

O BBlleedd MMaanniiffeessttoo, iniciado em 1998, foi um trabalho desenvolvido sobre as

relações públicas na Europa, cujo objetivo era verificar as diferenças entre este

campo no velho continente e a perspectiva da profissão nos Estados Unidos.

Betteke Van Ruler e Dejan Verčič (2003) foram os autores do documento que se

baseou nos resultados de um estudo realizado em 25 países europeus.

Como conclusões, apenas se definiu que a prática de relações públicas na

Europa existe há mais de um século. Bentele e Szyska (1995) referem que a

empresa Krups foi a primeira a ter um departamento que se dedicava a relações

com a imprensa, em 1870 (apud COELHO, 2008:213).

São dados escassos, que pouca informação nos trazem sobre relações

públicas na Europa. Para além disso, são os livros americanos que introduzem no

velho continente o conhecimento para se poder estudar o conceito e a prática de

relações públicas (VAN RULER & VERČIČ, 2003:1).

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2.2.5 Os resultados da investigação

As quatro características das Relações Públicas Europeias - extraído de

Betteke Van Ruler & Dejan Verčič, 2002 (apud COELHO, 2008: 214).

1. RReefflleexxiivvaa: analisar a evolução das normas, valores, e perspectivas

presentes na sociedade e discuti-las com os membros da organização, com o

intuito de ajustar em conformidade as normas, valores, e perspectivas da

organização. Este papel trabalha as normas, valores e perspectivas da organização

com o objetivo de desenvolver a missão e estratégias organizacionais.

2. GGeessttããoo: desenvolver planos para comunicar e manter relações com grupos

de públicos, procurando alcançar a confiança pública e/ou entendimento mútuo.

Neste papel o foco vai para os públicos comerciais e outros públicos (internos e

externos), bem como para a opinião pública no seu todo, com o objetivo de

executar a missão e estratégias organizacionais.

3. OOppeerraacciioonnaall: Preparar meios de comunicação para a organização (e os seus

membros), com o intuito de contribuir para formular a sua comunicação. Este

papel é responsável pelos serviços e tem o objetivo de executar os planos de

comunicação desenvolvidos por outros.

4. EEdduuccaacciioonnaall:: Contribuir para que todos os membros da organização se

tornem comunicativamente competentes, com o intuito de responder às exigências

da sociedade. Este papel engloba os aspectos mentais e comportamentais dos

membros da organização, sendo direcionado a grupos de público interno.

Os autores, assumindo, o seu campo de ação na organização, colocam-se a par

de outras disciplinas de gestão e profissões e afirmam que, tal como cada uma

delas, apenas têm que definir a sua postura, no âmbito das organizações: “o que

nós precisamos de encontrar para as relações públicas é um modo distinto de

explicar e pensar sobre as organizações” (VAN RULER & VERČIČ, 2002:15).

Muito sinteticamente, relativamente às ccoonncclluussõõeess a que chegaram no que

respeita à concepção das relações públicas europeias, podemos adiantar os

seguintes aspectos:

- na Europa, as relações públicas são, a maioria das vezes, cientificamente

designadas por “comunicação”;

- por outro lado, são “definidas enquanto produtoras da realidade social e,

consequentemente, de um certo tipo de sociedade”;

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- numa determinada concepção, fazem-nas equivaler ao jornalismo, na sua

função democrática de impulsionar o fluxo livre da informação e da sua

interpretação, contribuindo assim para a esfera pública.

Aliás, Bentele (2004: 84) diz que, na Europa, as relações públicas são

pensadas também como atividade com funções sociais, ao contrário da visão norte-

americana.

O estudo realizado alerta para a pouca investigação que tem sido feita em

relações públicas na Europa, o que também provoca a sua dependência de outras

áreas da ciência.

2.3 O estágio atual das relações públicas na Europa e nos Estados Unidos –

breve reflexão

Fazendo uma pequena reflexão entre as situações atuais das relações públicas,

na Europa e nos Estados Unidos, uma vez que são as correntes que mais

influenciam o caminho da investigação em Portugal atualmente, podemos adiantar

que se verifica claramente um estágio distinto de reconhecimento entre a Europa e

os outros continentes.

Destaca-se uma influência muito maior da comunicação nos Estados Unidos,

tanto em termos de poder propriamente dito, nas tomadas de decisão, como ao

nível da consultoria.

Situação diferente se verifica na Europa. A comunicação encontra-se muito

mais caraterizada no âmbito organizacional. Muitos profissionais de relações

públicas encontraram já reconhecimento neste campo, mas devemos destacar que

são considerados muito mais no âmbito de uma área de “comunicação

organizacional”, mais vasta do que estritamente “relações públicas”, praticamente

ignorada, pelo menos em Portugal.

Acreditamos que isto se passa pelo fato de se tratar de uma disciplina

recente, mas também verificamos que, a meio do percurso da sua introdução no

mercado das organizações, após uma breve formação superior, as relações

públicas, sem tempo para terem encontrado solidez na academia e espaço nas

organizações, foram confrontadas com uma alteração de filosofia organizacional

com a entrada do conceito Comunicação Organizacional nas universidades, não

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tendo havido tempo para que se definisse de forma clara o conceito de cada um

dos campos e se determinasse o espaço a aferir a cada uma das áreas.

É um assunto que pretendemos continuar a trabalhar para a consecução da

presente pesquisa, mas que estamos limitadas no atual momento por falta de

tempo para investigação fundamentada.

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3. COMUNICAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL – EVOLUÇÃO DE UM CONCEITO

Introdução

Tentar definir Comunicação Organizacional ou enquadrá-la enquanto campo

no seio da organização torna-se difícil pelo modo como a vislumbramos

atualmente no âmbito organizacional. Se, há umas décadas atrás, quando se

reconheceu a importância da comunicação nas organizações e necessidade de se

fazer a sua gestão, foi entendida como um mero instrumento e um meio mais a

trabalhar dentro da mesma, hoje, ela espelha toda a organização, e é, por assim

dizer, a própria organização. A organização não existe mais sem comunicação. A

sua maior ou menor eficácia, a sua maior ou menor efetividade, a melhor ou pior

fidelidade dos seus processos comunicativos vão conferir maior ou menor êxito

aos produtos ou serviços que a organização tem a oferecer, e, claro está, à própria

organização.

É por isso que ela se autonomizou enquanto campo acadêmico da área

administrativa e ganhou legitimidade própria.

Atualmente, falar de comunicação organizacional implica uma

responsabilidade acrescida a falar de comunicação nas organizações.

Do ponto de vista teórico, a comunicação organizacional tem origem em

distintas fontes e integrou os seus conceitos.

Cresceu muito ao longo do século XX e foi buscar riqueza de conhecimento a

outras disciplinas já bem consolidadas. Hoje, embora fundamentada nesse vasto e

heterogêneo conjunto de conhecimentos, concentra os seus interesses no âmbito

das Ciências da Comunicação.

3.1 As raízes e os estudos pioneiros

O primeiro interesse pela comunicação na organização surgiu, de fato, com a

corrente da administração e as teorias das organizações, marcadamente

positivistas, e logo após, as correntes humanistas e escola das relações e humanas

e as que se lhe seguiram, da sociologia, da psicologia social e organizacional, da

linguística e da retórica, da antropologia social e da teoria da comunicação. Foi no

âmbito destes campos que foram feitos os primeiros estudos que vieram a dar

origem à comunicação organizacional dos dias de hoje.

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O pioneirismo em investigação em comunicação organizacional coube a

investigadores norte-americanos, os primeiros a fazerem pesquisa e produção

científica neste campo (KUNSCH, 2009c: 64).

Embora seja comum indicar a década de 1940 como o momento de

nascimento dos estudos da Comunicação Organizacional, há autores que

consideram que a autonomia desses estudos já data do início do século XX.

Redding e Tompkins descrevem dois momentos neste período de nascimento dos

estudos (TOMPKINS, 1967, REDDING, 1972 e JABLIN, 1978 apud Goldhaber e

Barnett, 1988: 2). O primeiro, entre 1900 e 1940, corresponde ao momento da

preparação para a emancipação. A gênese da disciplina, como um campo

acadêmico identificável só surgirá, no entanto, entre as décadas de 1940 e 1950.

Antes desse período, terá existido um percurso evolutivo longo, em que se

destacam como raízes conceituais do campo: a teoria da retórica tradicional, as

teorias das relações humanas, e as primeiras teorias organizacionais e de gestão. E

surgem enunciadas, ainda, alianças estabelecidas com outras disciplinas como: a

Ciência da Administração, a Antropologia, a Psicologia Social, o estudo do

Comportamento Organizacional, a Ciência Política, a Sociolinguística, a Sociologia,

a Retórica e até a Crítica Literária (TAYLOR. e TRUJILLO, 2001, apud Ruão,

2004:15). Isto significa que a Comunicação Organizacional emerge de um conjunto

de disciplinas científicas distintas, que contribuíram para a sua formação e o seu

estágio atual.

A Escola das Relações Humanas, com Mayo, Barnard, MacGregor ou Likert,

que emerge nesta primeira metade do século, e que já fizemos questão em referir,

começa por humanizar as organizações e vem dar origem a estratégias de

comunicação baseadas no aumento da satisfação dos trabalhadores e na realização

do seu potencial humano, o que se apresenta como um primeiro passo para

demonstrar a importância da comunicação interna descendente e horizontal, não

reconhecida até então.

Destacam-se, neste período, vários trabalhos sobre as competências

comunicativas.

É ainda de referir o pioneirismo de Chester Barnard, com o seu trabalho “A

função dos executivos” (1938) quando, pela primeira vez, alertou para a

importância da comunicação no processo de cooperação humana nas organizações

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(KUNCSH, 2009c: 64). Pode-se ver: “numa teoria exaustiva de organização, a

comunicação ocuparia um lugar central, porque a estrutura, a extensão e o âmbito

da organização são quase inteiramente determinados por técnicas de

comunicação” (BARNARD, apud Litlejohn, 1982, apud Kuncsh, 2009c: 64).

O segundo período entre 1940 e 1970, conhecido como momento da

identificação e consolidação, corresponde ao período de afirmação da então

designada “comunicação industrial e de negócio” (business communication),

enquanto disciplina científica autônoma.

Kunsch (2009c: 65) apresenta-nos uma versão mais específica identificando

a posição de Charles Redding, que considera a década de 1950, mesmo como o

momento de “cristalização dos estudos” da comunicação nas organizações (2009c:

65). Também aqui não podemos deixar de salientar o pioneirismo de Keith Davis

ao defender em 1952 a primeira tese de doutorado na Ohio State University

intitulada Chanells of personnal communication within the management setting:

episodic communications chanells in organizations, antecipando uma vasta lista de

trabalhos de pesquisa desse grau, realizados em centros universitários nos Estados

Unidos.

É também neste período que nascem os primeiros cursos de licenciatura e

surgem publicações especializadas na área.

Com o aparecimento da Teoria Geral dos Sistemas Sociais (ou dos sistemas

abertos - também assim conhecida), no final dos anos 1950, com March e Simon, e

Katz e Khan, mostrou-se a importância da distinção entre a comunicação interna e

a comunicação externa como partes de um sistema aberto. Com ela, a organização

foi reconhecida como um conjunto complexo, composto por partes

interdependentes, que interagem e se adaptam continuamente às transformações

do meio ambiente e, nesta perspectiva, a comunicação passa a ser fundamental à

identificação e ao desenvolvimento dos recursos, incluindo os humanos,

necessários ao melhor desempenho organizacional (PEDRO, 2010: 1369).

3.2 Os anos 1960 e os trabalhos em Comunicação Organizacional

Se há algo a que não podemos deixar de conceder um pouco mais de espaço,

ainda que muito sinteticamente, é aos primeiros trabalhos que vieram debruçar-se

sobre a produção existente da comunicação organizacional (mais ou menos

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científica) e puseram ordem, pela primeira vez na década de 1960, no “estado da

arte” da comunicação organizacional.

Kunsch ajuda-nos nessa árdua tarefa e, de imediato nos informa que “em

1967, Tompkins e Wanca-Thibault fizeram a primeira revisão, examinando

estudos empíricos, usando categorias de canais formais e informais de

comunicação entre superiores e subordinados” (2009c: 66). Obviamente que se

referia à comunicação no âmbito administrativo, e os estudos nesta primeira fase

ainda correspondiam a uma visão instrumental da comunicação.

Passados cinco anos, em 1972, foi feita uma segunda revisão. Agora sob a

responsabilidade de Charles Redding. A pesquisa foi considerada a mais

importante até à data, sendo composta por um volume de 538 páginas, tendo-se

tornado uma obra de referência para a área. Em termos muito gerais, o autor veio

salientar a necessidade de considerar a comunicação numa teoria alargada e

atribuir uma importância muito particular à comunicação interna, no âmbito dessa

análise. Kunsch (2009c: 67) tem a preocupação de nos apresentar os dez

postulados enunciados pelo autor inerentes à comunicação interna que começa,

muito simplesmente, com a responsabilidade da interpretação da mensagem ser

descodificada pelo receptor e não pelo emissor. Mas esta versão explicativa

demonstra já uma liberdade interpretativa de quem escreve o presente texto,

talvez um pouco demasiado simplista, perante a complexidade conceitual dos

termos originalmente utilizados pelo autor. Trata-se apenas de um exemplo.

Remete-se à consulta ao texto original (REDDING:1972).

Muito sinteticamente, e na sequência do exemplo que apresentamos, a

postura de Redding aportou o desvio da atenção da comunicação organizacional

para um novo público: os receptores. Ele preocupou-se principalmente em aplicar

os seus conhecimentos de teoria da comunicação às organizações e à comunicação

organizacional e, nesse âmbito, a sua abordagem particular incidiu na comunicação

interna.

A comunicação humana nas organizações teve o seu momento privilegiado

com este autor, também com Thayer (1961, 1968, apud KUNSCH, 2009c: 67)

precisamente na década de 1960. E, tal como já atrás sugerimos, alguns autores

que fizeram posteriormente análises aos trabalhos sobre a comunicação

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organizacional desses investigadores, concluíram que eles mudaram o objeto de

análise do emissor para o receptor.

Relativamente às áreas de pesquisa identificadas nessa época, encontram-se

duas linhas principais de pesquisa: fluxo de informação (redes comunicacionais) e

fatores perceptivos/comportamentais (percepção dos membros, clima

organizacional). Este foi um contributo dos investigadores Goldhaber et al.

(KUNSCH, 2009c: 67), que em 1978 fizeram um estudo sobre o “estado da arte da

comunicação organizacional”.

Refira-se que a pesquisa andava ainda muito ligada às antigas questões de

caráter administrativo/corporativo como produtividade, eficácia, relações

humanas, controle de tempos, etc. (MUMBY, 2007 apud Kunsch, 2009c: 68).

Refiram-se ainda, por uma questão de rigor científico e justiça devida, os

trabalhos de Linda Putman e George Cheney, publicados em 1990, que traduzem

um vasto historial dos estudos em Comunicação Organizacional do período a que

nos reportamos.

A perspectiva de análise dos trabalhos confinados a essa época limitava-se, no entanto, a

um tipo descritivo numa vertente particularmente funcionalista. E assim perdurou até ao final da

década de 1970.

3.3 Os anos 1970 e a nova investigação

A década de 1970 terá sido já um marco fundamental para a mudança de

paradigma na investigação da Comunicação Organizacional. Foi aí que se iniciou

um novo período, no seu percurso de afirmação disciplinar, que ficou conhecido

como momento da maturidade e inovação, devido ao crescimento da pesquisa

empírica e ao desenvolvimento das premissas teóricas do campo (REDDING e

TOMPKINS, 1988, apud Ruão, 2004: 6).

Um momento particularmente marcante neste período de viragem foi a

realização da Conferência sobre Abordagens Interpretativas ao Estudo da

Comunicação Organizacional, em Alta – Utah (1981), e o livro que daí resultou,

Comunicação e Organizações: uma abordagem interpretativo-crítica, da autoria de

Linda Putman e Michael E. Pacanowsky, em 1983 (KUNSCH, 2009c:68).

A partir do título da obra em referência facilmente verificamos o teor

implícito a esta nova proposta. Cansados de métodos rigorosos inerentes aos

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modelos positivistas a que estavam habituados, e também ansiosos por uma

abertura a visões alternativas às restrições que os ligava, exclusivamente, aos

estudos em gestão, afirmaram um novo paradigma assente em pressupostos

interpretativos e críticos. E surge, assim, o movimento interpretativo, com

preocupações de análise de aspectos particularmente informais nas organizações,

de onde se destaca o clima interno, as interações entre os colegas, as relações

informais. A cultura e identidade são aspectos valorizados, bem como as

sociabilidades extralaborais, nunca pensadas anteriormente, tal como o

simbolismo. Tudo isto passou a constituir os novos objetos de estudo. Como nos

bem sintetizam Taylor e Trujillo: “o principal vetor desta mudança foi a afirmação

das dimensões simbólica e expressiva das organizações nos estudos

comunicacionais, com crescentes abordagens à questão da cultura organizacional”

(apud RUÃO, 2001:18).

E tal como nos refere Pedro,

“a cultura cria a identificação necessária à satisfação e realização pessoal, bem como ao sucesso global, fornecendo informações sobre o que é a organização, para onde se dirige e qual o papel de cada um dos seus membros, usando canais de comunicação, formais e informais” (2010: 1367).

Para os autores do movimento interpretativo, as organizações deveriam ser

conceituadas como unidades de partilha de significados, e a comunicação analisada

como um processo intra subjetivo e socialmente construído. Significa isto que,

agora, dentro das organizações, o principal aspecto a considerar é a comunicação.

É ela que liga os elementos que aí convivem, formal e informalmente, é ela que dá

sentido às relações e é por meio dela que as próprias organizações crescem e se

formam naquilo que pretendem que elas sejam. A comunicação já não é algo

dentro da organização. A comunicação é a pprróópprriiaa organização (grifo nosso).

As suas funções básicas fornecem aos membros da organização a informação

necessária sobre a sua cultura integrando-os nessa mesma cultura. “A comunicação

afirma-se como o elemento essencial à vida da organização, sendo o processo pelo

qual as pessoas manifestam e partilham a cultura” (PEDRO, 2010: 1367).

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Em termos de contributo metodológico para a pesquisa, o movimento trouxe

a formalização aos métodos qualitativos, o que atribuiu uma maior credibilidade

aos estudos através da demonstração do seu grau de confiança e validade.

O campo de investigação em comunicação organizacional veio trazer, depois

de tudo quanto foi dito, novos temas, novas metodologias e diferentes quadros

teóricos.

Numa palavra, a mudança de paradigma para uma perspectiva interpretativa,

na década de 1980, trouxe à disciplina maior riqueza conceitual e metodológica.

3.4 Os benefícios da instabilidade dos anos 1980-1990

Entre os anos de 1980 e 1990, a comunicação organizacional apresentou-se

com uma certa instabilidade; passou mesmo por um período de crise de

legitimidade e de representação no que respeita à aplicação das teorias críticas

(TAYLOR e TRUJILLO, 2001, apud Ruão, 2004: 19).

Alguns dos investigadores dos modelos interpretativos começaram a

contestar parte dos pressupostos básicos do conceito “comunicação

organizacional”, enquanto cultura organizacional unificada, o que levou a um

aumento da pesquisa em distintas vertentes. Foram essas reflexões que “abriram

caminho para se estudar uma epistemologia da comunicação organizacional”

(KUNSCH, 2009c: 71).

Uma das principais vertentes da pesquisa passou a ser caracterizada por um

forte teor crítico.

Tratava-se de “uma abordagem com influência transversal nas ciências

sociais, que sugeriu a análise das dinâmicas de poder e das questões políticas nos

estudos de Comunicação Organizacional” (RUÃO, 2004: 19).

A abordagem pós-moderna nos estudos em comunicação organizacional

surgiu também nos anos 90, no mesmo sentido de análise, porém ainda de forma

mais radical. O objeto de estudo centrava-se aqui nos indivíduos marginalizados e

nos micro processos de poder e resistência. (Idem, ibidem)

Podemos concluir que as décadas de 1980 e 1990 acabaram por ser de

reflexão para a comunicação organizacional, o que lhe permitiu um

desenvolvimento teórico e empírico, pela recorrência e integração de distintas

ciências sociais na fundamentação das suas pesquisas. “A partir de então os

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estudos de comunicação organizacional passam a adquirir uma forma mais

abrangente, incorporando novos métodos e, consequentemente, avançando como

disciplina acadêmica” (KUNSCH, 2009c: 71).

3.5 O início do novo século

As divergências e contradições que levaram cientistas de distintos campos à

busca de um conhecimento novo, com instrumentos de diversas áreas do saber, só

vieram beneficiar o desenvolvimento da nova ciência no início do século XXI.

Cruzaram-se perspectivas teóricas que vieram contribuir para o começo da

criação de uma identidade, se bem que interdisciplinar, da comunicação

organizacional. Hoje a comunicação organizacional é composta por um quadro

conceitual próprio formado por um conjunto de disciplinas que, entrosadas,

formam este novo campo do saber mais definido, pelo que se poderá considerar já

uma disciplina autônoma. Como nos adianta Margarida Kunsch:

“Na primeira década do século XXI, ela pode ser considerada um campo de perspetivas múltiplas e universal em sua abordagem, por seus métodos, suas teorias, seus âmbitos de pesquisa e seus postulados filosóficos. Essa abrangência e as inúmeras possibilidades de estudos possibilitarão grandes avanços no sentido de realmente se estudarem os fenômenos comunicacionais nas organizações objetos de uma disciplina própria e não só como análises sociológicas ou psicológicas” (2009c:71).

Isso significa que os estudos estão hoje mais diretamente focalizados nas

teorias da comunicação do que nas da organização, ao contrário do que acontecia

antigamente.

3.6 O quadro atual de investigação em Comunicação Organizacional

Como vimos, o início do século XXI é marcado pela evolução histórica e a

herança multidisciplinar, muito particularmente pela mudança operada em

meados do século XX, após a década de 1970 e a vivência positivista atinente, que

aportou novas abordagens analíticas, a utilização conjunta de metodologias

qualitativas e a indispensável riqueza de discursos teóricos no âmbito da

Comunicação Organizacional.

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Numa tentativa de sistematização das últimas tendências de pesquisa, Deetz

veio apresentar, já em 1996 (191-207), um quadro de investigação, donde

resultam quatro tipos distintos de abordagens para a Comunicação

Organizacional:

A aabboorrddaaggeemm nnoorrmmaattiivvaa - trata-se da aplicação adaptada das antigas

abordagens positivistas. A flexibilização é o ponto-chave na nova corrente em

detrimento da objetividade absoluta da antiga perspectiva. Ainda assim, encaradas

como algo natural e objetivo, as organizações necessitam de previsão e controle;

A aabboorrddaaggeemm iinntteerrpprreettaattiivvaa - opõe-se e contraria a anterior. Segundo esta

perspectiva, as organizações são formas subjetivas, construídas e "manipuladas"

pelos seus elementos – fator importantíssimo a ser considerado;

A aabboorrddaaggeemm ccrrííttiiccaa - é uma tendência que se mantém de décadas anteriores.

Analisa os processos sociais e comunicativos que permitem a hegemonia nas

organizações;

A aabboorrddaaggeemm ppóóss--mmooddeerrnniissttaa - a pesquisa põe ênfase nas assimetrias, na

marginalidade, nos focos de resistência existentes nas organizações.

Este é o quadro de investigação em comunicação organizacional que nos é

apresentado em pleno início do século XXI, com base numa herança

interdisciplinar rica e variada e um percurso histórico não longo, mas que permite

discursos e pesquisa distintos e diferenciados. O fato da disciplina se encontrar

num momento em que ainda se discute sua autonomia e identidade no âmbito da

ciência, não prejudica a riqueza conjunta dos diferentes meios de pesquisa e de

abordagens transdisciplinares que continuam a fazer parte dos instrumentos de

trabalho e meios de reflexão inerentes ao quadro com que hoje nos deparamos,

dispomos e trabalhamos e que permitem uma flexibilidade bastante necessária à

investigação de organizações tão complexas, elas próprias sujeitas a quadros de

atuação nada uniformes em sociedades transculturais, tão dependentes das

consequências do processo da globalização.

A análise temática está relacionada com o estudo das competências

comunicativas, indo ao encontro das primeiras preocupações da investigação em

comunicação nas organizações, mas também da cultura, do simbolismo e das

linguagens, objeto de análise dos movimentos interpretativo, crítico e pós-

moderno. Se bem que sempre se mantenha a preocupação de uma performance

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cada vez melhor em nível dos processos comunicativos e educomunicativos nas

organizações, o fato é que os movimentos contemporâneos apontam,

prioritariamente, para temáticas políticas e críticas no âmbito da comunicação

organizacional.

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4. AS RELAÇÕES PÚBLICAS E A COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL EM PORTUGAL E NO BRASIL

I- EM PORTUGAL

4.1 O surgimento das Relações Públicas em Portugal

4.1.1 - Antecedentes

É comum se falar do espírito dos portugueses em acolher bem, um princípio

para as “boas relações”. Se corremos o risco de não podermos falar de Relações

Públicas enquanto técnica e disciplina científica integrando alguns dos nossos

conceitos menos científicos, por mau entendimento de alguns cientistas sociais

atuais, defendemos a nossa posição justificando que entendemos que há que se

definir estratégias, sim, há que se planejar, sim. Porém, quando falamos em

relacionamento humano, entendemos ser fundamental a relação direta e uma

relação personalizada, até instintiva mesmo nas organizações, sobretudo nas

organizações, se queremos ganhar a confiança do cliente ou do utente. Não

significa incompetente, ignorante ou não esclarecida. Mas dificilmente o

computador substituirá uma voz no atendimento, demonstrando interesse por

alguém que direta ou indiretamente contribui para o sustento daquela organização

e tem plena consciência disso. Já em 1997 defendíamos que:

“A comunicação assume, (…) uma função social na empresa: a nível de produtividade; como factor de aproximação de interesses; (…) na coordenação de todo o sistema e sua competividade global e na formação do clima organizacional…quanto mais flexíveis forem os fluxos comunicacionais dentro das empresas, permitidos e incentivados pela técnica de Relações Públicas e postos em prática pelos respectivos serviços (…) maior será a eficácia da Gestão Empresarial, o que irá permitir a apresentação de um produto, genericamente falando, detentor de uma qualidade superior” (MATEUS, 1997:13).

E aquelas até são caraterísticas dos portugueses, como começamos por

referir.

Não é sem fundamento que se fala habitualmente nas pró-relações públicas

que terão existido como, por exemplo, com as ordens que D. Manuel I dava aos

comerciantes de Lisboa para um bom tratamento aos estrangeiros.

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Ou já mais recentemente, no início do século XX, iniciativas comunicacionais

em algumas organizações, como o “Boletim da CP”, em 1929 (publicação da

responsabilidade da direção da empresa para dar a conhecer os resultados e obras

importantes da companhia aos seus funcionários); ou na “EPAL” a partir da década

de 1950, onde os próprios trabalhadores implementaram vários boletins internos.

É comum referir-se à década de 1960 como o período em que as relações

públicas começaram a ser exercidas em Portugal (LAMPREIA, 1996; FONSECA,

2001; CABRERO, 2002, apud Sobreira: 2010).

Em 1960, surgiu em Lisboa, no LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia

Civil, organismo público, um “Gabinete de Relações Exteriores”.

Mas a chegada das relações públicas a Portugal é associada à entrada das

multinacionais “Mobil” e “Shell” no país que, ao se instalarem e darem início a suas

atividades, trouxeram consigo os serviços de relações públicas. Avelar Soeiro foi

contratado para o exercício de funções no Gabinete de Relações Exteriores, o

“primeiro organismo da Administração Pública a sentir a necessidade do

desempenho das funções inerentes às reais Public Relations”, segundo registro do

próprio (SOEIRO, 2003).

O anúncio estava publicado com essa mesma designação, o que o fez sentir-se

muito mais confiante em relação à generalidade da procura em Portugal. Até

porque designava o conteúdo correspondente da atividade. Nessa época, para além

dos tradicionais “guarda-bengaleiro” - o mais usual a ser encontrado por detrás de

um anúncio de relações públicas –, até lugares de alterne poderiam ser oferecidos.

É a partir do seu testemunho, que registramos diretamente com o próprio

para a realização de trabalho anterior (dissertação de Mestrado), que obtivemos

parte das informações aqui apresentadas.

Segundo Avelar Soeiro, a presença da empresa é anterior à década 1960. As

origens da Mobil em Portugal remontam a 1866, com a empresa Vacuum Oil

Company, Société Anónime Française, que comercializava em Portugal óleos para

lubrificação, provenientes da Vacuum Oil Company dos Estados Unidos.

Américo Ramalho, um dos primeiros relações públicas em Portugal com

formação, foi contratado pela Mobil. Pelas palavras de Avelar Soeiro, Américo

Ramalho faz saber que as relações públicas estavam ao mais alto nível da empresa.

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Avelar Soeiro também afirma que a empresa já tinha antecedentes de

comunicação, desde o início do século. A título de exemplo, em 1907, foi lançado,

pela primeira vez, em Portugal, o “Guia do Automobilista” e, em 1915, a “Carta

Itinerária de Portugal” destinados a automobilistas.

Segundo Américo Ramalho, a TAP - Transportes Aéreos Portugueses também

tinha um gabinete bem estruturado, liderado por Henrique de Queiroz Nazareth,

assim como o setor das Forças Armadas. Confirmamos as duas situações.

Conhecemo-las diretamente, embora já em meados dos anos 1980, no final da

nossa licenciatura e na realização do mestrado. Permitimo-nos acrescentar o setor

das relações públicas da CP - Comboios Portugueses, da responsabilidade do

próprio Américo Ramalho, já numa segunda fase da sua atuação profissional,

quando saiu da Móbil. Foi no âmbito associativo da extinta APREP - Associação

Portuguesa de Relações Públicas, a que todos pertencíamos, onde com eles

convivemos e que conosco colaboraram dedicada e prestativamente com as

informações que ainda hoje nos são úteis. Num extrato de uma entrevista realizada

mais tarde com Álvaro Esteves – jornalista e consultor em comunicação; ex-

dirigente da APCE - este acrescenta a EDP - Eletricidade de Portugal e os CTT-TLP-

Correios, Telégrafos e Telefones, mas salienta, e confirmamos objetivamente a sua

posição pelo tipo de associados com que convivemos, de que se tratava, “sobretudo

de empresas de caráter público. O setor privado dava pouca importância. Era um

custo”. Essa era a realidade.

4.1.2 Os pioneiros e protagonistas da profissão

Avelar Soeiro, para além de ser considerado o primeiro profissional de

relações públicas português, teve um papel importante na organização associativa

e divulgação da profissão, assim como a sua integração no âmbito europeu. Foi

fundador da SOPREP - Sociedade Portuguesa de Relações Públicas e acolhido na

IPRA - Internacional Public Relations Association, em 1971, como membro

profissional. No mesmo ano, em Barcelona, presidiu à “Reunião de Outono” da

CERP - Centre Europeénne de Rélationes Publiques, sob a sua presidência na CEDAN

- Conference Européenne pour le Dévelopement des Associations Nationales de RP´s,

para o qual foi reeleito em 1972. Entre 1972 e 1974, foi eleito membro do

Conselho de Administração da CERP. Manteve contatos tanto com as associações

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profissionais francesas como com as inglesas. Em 1973, foi convidado pelo

Ministério da Educação para fazer parte da comissão criada pela “Direcção-Geral

do Ensino Secundário” para a inclusão no programa da disciplina de Relações-

Públicas nos 10º e 11º anos do ensino secundário.

Abílio da Fonseca, nascido em Braga, em 1931, é um nome que não pode

deixar de ser integrado entre os pioneiros de Relações Públicas em Portugal. Além

da colaboração em revistas da especialidade, proferiu inúmeras palestras e

comunicações em congressos na área das Relações Públicas. É autor do livro

Comunicação Institucional: contributo das Relações Públicas. Atualmente, exerce

funções de docência e é coordenador do Curso Superior de Relações Públicas do

Instituto Superior da Maia. Tem sido consultor de Relações Públicas de várias

empresas. Profissional dos mais empenhados, tem feito tudo que é possível para o

registro da profissão.

Na década de 1970, devemos referir a importância de Joaquim Martins

Lampreia. Relações Públicas que se formou em França, em Administração de

Empresas, Gestão de Crise, Public Affairs e teve a iniciativa de fundar a primeira

agência de comunicação em Portugal, em 1976, a CNEP – Centro Nacional de

Estudos e Planejamento e a Agência Internacional de Comunicações. Depois do 25

de Abril de 1974, ano em que se deu a revolução que proclamou a mudança de

regime político em Portugal, Joaquim Martins Lampreia foi chamado pelo governo

para participar na idealização dos cursos superiores de relações públicas e de

jornalismo. Em 1979, ele foi o primeiro autor português a editar um livro dedicado

às relações públicas, “Técnicas de comunicação: Publicidade, Propaganda e

Relações Públicas”.

Luís Paixão Martins é apontado como a principal figura a partir da década de

1980. Começou a trabalhar em comunicação em 1971, primeiro como locutor da

Rádio Renascença, depois como jornalista passou pela agência ANOP, pelos jornais

“O Jornal”, “Sete”, “Mais” e “Notícias de Portugal”. Foi ainda fundador da “Rádio

Comercial”, onde se manteve até 1986. Em 1988, fundou a “LPM”, uma agência de

relações públicas que cresceu e tem, ainda, hoje grande notoriedade.

Deixamos o nome de Américo da Silva Ramalho propositadamente para o

final desta lista dos pioneiros em relações públicas em Portugal. Américo Ramalho

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foi dos nomes, senão o nome mais significativo na introdução da profissão e da

prática das relações públicas, com uma visão, que poucos lhe reconheceram.

Nascido em Aveiro, era licenciado em Ciências Sociais e Humanas e

frequentou as licenciaturas de Direito, História e Psicologia. Mas só o curso de

Relações Públicas o viria a inspirar para sua profissão, enquanto docente, e

enquanto profissional empenhado e apaixonado. Primeiramente no Departamento

de Relações Públicas da Mobil Oil Portuguesa, onde trabalhou muitos anos. Depois

na CP- Comboios de Portugal, onde chefiou o Gabinete de Relações Públicas, mais

tarde identificado como Divisão de Relações Públicas.

Américo Ramalho esteve desde sempre ligado ao movimento associativo na

área das RP. Primeiro na SOPREP e depois na APREP, na qual foi presidente geral e,

posteriormente, presidente da mesa da assembleia geral.

Uma doença precoce afastou-o das atividades profissionais e do meio,

quando ainda muito teria para oferecer às relações públicas em Portugal. Ainda

assim, “Américo Ramalho foi pela sua ação docente, quer no INP, quer como

profissional em relação aos alunos de diversas proveniências, o mais importante

promotor desta atividade em Portugal”. Estas são palavras de um ex-aluno seu,

José Viegas Soares, também ele docente muito conceituado de Relações Públicas,

Diretor do curso de Relações Públicas da Escola Superior de Comunicação Social-

IPL, durante muitos anos:

“Ele foi, sem dúvida, o mais importante de todos os pioneiros desta profissão

em Portugal, ainda que pela sua característica modéstia seja difícil encontrar

traços da sua passagem” (idem). Prescrevo.

4.1.3 O conhecimento em Relações Públicas

O interesse pelo conhecimento em Relações Públicas em Portugal apresenta-

se bastante recente. No entanto, o despertar para a área começou seriamente nos

anos de 1960, incluindo até um significativo interesse por parte das estruturas

governamentais. Em meados da década, o Secretariado Técnico da Presidência do

Conselho no âmbito da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico , promoveu, pela primeira vez, um curso de esclarecimento sobre

relações públicas, para o qual convidou prestigiados profissionais europeus.

(SOEIRO:2003)

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Os nomes Lucien Matrat e Réne Tavernier, bastante conceituados

internacionalmente, foram considerados os mais apropriados para abordar e

desenvolver informação acerca da problemática da época e sobre comunicação e

informação.

Participaram personalidades dos mais variados setores, entre eles do meio

militar.

Os pioneiros em Portugal estavam atentos ao que se passava na Europa,

particularmente na França e na Bélgica, mas não se limitavam a este continente,

como verificamos de seguida.

Podemos encontrar algumas preocupações que já faziam parte de reflexões

de alguns investigadores mais atentos, talvez inimagináveis para outros mais

novos neste campo científico.

O 1º Congresso de Relações Públicas em Portugal teve lugar quase há 25

anos, em 1988. Urge perguntar: quem tem hoje conhecimento de que já aí se

debatiam modelos teóricos da escola Americana de Cutlip e Center, confrontando

com a escola francesa de Lucien Matrat, “bailando entre o pragmatismo dos

americanos e a dúvida sistemática dos franceses?” (RAMALHO, apud Comunicação

Empresarial nº 36, 2010: 58); ou que já aí se discutiam as vantagens da

Comunicação Integrada?

Mas era uma realidade.

A comunicação apresentada ao Congresso, precisamente por Américo

Ramalho, debateu a “profissionalização e a formação das Relações Públicas”,

discutindo a polêmica existente na altura sobre a exclusividade de carreira a

técnicos futuramente possuidores de carteira profissional (inexistente até hoje em

Portugal), mas ressalvando já também as apetências teóricas como fundamento

para obtenção de qualificações certificadas:

“O estado de maturidade de uma profissão assume-se e avalia-se pela capacidade técnica dos seus profissionais, mas também pela sua produção teórica e pelo nível da sua formação teórica específica. Nesse contexto se inscreverão naturalmente os seus códigos éticos e deontológicos e as regra de outorga de documentos de capacidade do tipo carteira profissional” (RAMALHO, apud Revista Comunicação Empresarial nº 36, (APCE) 2010: 58).

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Refira-se que Américo Ramalho, em 1988, tinha os seus conceitos bem

definidos. Sabia o que queria das relações públicas e o que queria para as relações

públicas:

“Creio que não desejamos obter uma carteira profissional por decreto. Pretendemos, sim, que tal título de capacidade seja o corolário lógico da síntese dos factores (…): produção técnica, formação académica teórico-prática, capacidade técnica e código de ética e de deontologia profissionais” (apud Revista Comunicação Empresarial, 36, 2010: 58).

Mas também já no estágio de desenvolvimento da profissão podemos

encontrar algumas surpresas na década de 1960, em Portugal. Na falta de outra

documentação, Rosa Sobreira (2010) vem em nosso auxílio com o seu interessante

trabalho de doutorado, para o qual, tal como nós, anos antes, recorremos a uma

entrevista direta ao Dr. Américo Ramalho que lhe prestou depoimentos inéditos

sobre a realidade que tão bem viveu, e poucos mais conseguiriam relatar com tanto

conhecimento.

Segundo a autora nos apresenta, o entrevistado:

“Revelou algumas surpresas pela consistência e até pioneirismo de algumas dessas acções – na Mobil Oil. Américo Ramalho refere que, em 1965, na primeira distribuição de funções de relações públicas, ficou como assistente de direcção assumindo a gestão dos special projects. Este projecto incluía acções nas escolas; a «gestão operacional da pista de trânsito que havia no jardim zoológico»; o “Centro Mobil de Trânsito”, dedicado à segurança nas estradas, em que se procurava identificar os problemas nas estradas e, por fim, a gestão do “plano de sugestões” da empresa” (Sobreira, 2010: 52).

Nós, que acompanhamos uma fase de tentativa de implantação das relações

públicas na década de 80, ainda numa época muito recente da nossa entrada no

mercado de trabalho enquanto recém-licenciada pela escola superior pública então

mais dirigida para a área, o ISCSP da UTL, encontramos, particularmente com este

pioneiro e no seio dum grupo consistente de sócios empolgados nos trabalhos que

na altura se desenvolviam, uma dinâmica associativa junto da APREP, onde o

conhecimento era desenvolvido e partilhado nas muitas iniciativas realizadas sob

responsabilidade da associação. Sem registro de datas específicas, podemos

exemplificar alguns dos eventos bem avançados para a época em Portugal,

atendendo a então recente introdução da área acadêmica e profissional no país.

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Julgamos ser importante destacar o Seminário “Relações Públicas como factor de

comunicação social”, promovido pelo INP, a escola pioneira e mais desenvolvida de

então na área das relações públicas. Outro destaque, o “Seminário Nacional de

Relações Públicas das Autarquias”, promovido pela Câmara Municipal de Oeiras e

sob a égide da CERP, se bem que de caráter privado, contou com uma alargada a

participação de profissionais atuantes na área de comunicação e informação

daquela cidade e de vários outros municípios. Representativo de outra área, e por

isso também importante de registro, o Seminário “Imprensa e Relações Públicas “

da iniciativa do Jornal O Correio da Manhã, com mais de uma edição, tinha como

intenção confrontar as relações entre as duas profissões.

São exemplos dos trabalhos e linhas de conhecimento que se buscavam,

pensamos que até início da década de 1990, e se avizinhava uma atividade

bastante promissora. O fato é que questões pessoais nos ausentaram do “mundo” e

quando regressamos à “vida”, passados mais de três anos, não mais soubemos o

que se passara com a APREP.

Também o seu mais acérrimo dinamizador se via então obrigado a afastar-se

por motivos pessoais contra os quais também mais não podia lutar.

Consideramos que os registros dessa primeira fase merecem destaque não

pela associação em si no presente contexto, mas pelos resultados da dinâmica por

ela introduzidos. Os primeiros conhecimentos impulsionados, obtidos e

partilhados em Portugal foram conseguidos graças a sua existência e iniciativas.

4.1.4 A Profissão em Portugal

Em termos empresariais, as relações públicas vinham encontrando espaço

muito antes dos anos de 1960. As empresas de caráter multinacional dispunham já

hvia bastante tempo de serviços de relações públicas. Em consultoria o que

acontecia era a existência de gabinetes em Lisboa, com sede no país de origem. Isto

deu-se nos anos 1970, mas a verdade é que nenhuma dessas agências perdurou até

hoje. A título ilustrativo apresentamos o Manfred Zapp, Public Relations,

importante consultor com sede na Alemanha, e “Ponte Internacional”, este com

sede em Inglaterra, tendo em Lisboa sua representação feita pelo inglês, Jonh

Mumford. (SOEIRO, Avelar, apud Lloyd e Lloyd, 1995: 1742) Outras de menor porte

2 Apêndice à edição portuguesa.

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tentavam implantar-se, mas o futuro foi o mesmo. Enquanto ao longo das décadas

de 1970 e 1980, se foram criando várias firmas registradas como Gabinetes de

Relações Públicas, a verdade é que quase nunca elas executaram ações reais

correspondentes a relações públicas (Soeiro, idem, idem, ibidem).

Paralelamente a essas situações cujo conteúdo profissional não correspondia

às reais ações de relações públicas mas a outras empresariais, surgiam muito

outros anúncios com a mesma designação que subentendiam atividades que em

nada correspondiam à profissão, referindo-se a outro tipo de “relações”. Soeiro,

esclarece-nos melhor:

“…como a nossa expressão é ambígua, particularmente para os que não têm conhecimento da sua realidade profissional, iniciou-se e desenvolveu-se a sua utilização para tudo e mais alguma coisa que tivesse a ver com “relações” e com “público”, caindo-se na pilhéria, aliás com pouco chiste, de ser empregada em títulos aliciantes de anúncios de jornal para oferta de empregos onde as “tais relações públicas” mais não teriam a ver quiçá com “relações íntimas”... discotecas, botequins, onde a boa apresentação seria um bom cartão de visita e os lugares afins” (apud Lloyd e Lloyd: 175).

E temos que admitir que, ainda hoje, em Portugal surgem, muitas vezes,

situações pouco claras, à semelhança do que aqui acabamos de relatar…

4.1.4.1 A consultoria em Relações Públicas

Incontestável parece ser o fato de Portugal acompanhar a tendência

verificada em França, em que as relações públicas não iniciaram a prática da

atividade a partir do estatuto de consultor como nos Estados Unidos, ou seja, a

partir das agências de consultoria, mas antes como departamentos internos das

organizações.

A realidade das agências em Portugal fez-se mais tarde. Para além disso, se os

franceses instituíram a profissão de acordo com os princípios dos americanos

(WALTER, 1995:55, apud Sobreira 2011:146), os portugueses, por sua vez,

apoiaram-se nos franceses, particularmente, em Lucien Matrat: “…os relações

públicas portuguesas ancoraram-se nos colegas franceses, que eram, à época, os

parceiros naturais, através da CERP, adoptando o código de Ética de Atenas e

usando a tipologia de públicos elaborado pelo mesmo” (RAMALHO, 2010: 58).

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Ainda hoje é muito menos significativa a oferta de consultoria em

comunicação em Portugal comparada com outras realidades. Esta será uma

dimensão ainda a aprofundar na nossa pesquisa.

4.1.4.2 A regulamentação profissional das Relações Públicas e da

Comunicação Organizacional

Apresenta-se fundamental referir a existência dos Códigos de Atenas e de

Lisboa que regulamentavam a profissão desde 1965 e de 1978, na Europa,

abrangendo Portugal.

O CCóóddiiggoo ddee AAtteennaass, assim denominado por ter sido proclamado durante a

realização da assembleia-geral do CERP, mais tarde, transformado em

confederação na capital grega em 1965, é um código de ética, que passou a ser

adotado a partir desse momento. Ele procura incutir ao desempenho da atividade e

à profissão o rigor e os princípios de responsabilidade aí internacionalmente

definidos.

O CCóóddiiggoo ddee LLiissbbooaa, como é genericamente conhecido o Código Europeu

Deontológico do Profissional de Relações Públicas, título atribuído universalmente,

é um complemento fundamental à aplicação do Código de Atenas, onde se definem

as responsabilidades sociais dos respectivos executores. Foi outorgado em Maio de

1978, quando aconteceu a assembleia da CERP na capital de Portugal.

Mais recentemente, a APCE - Associação Portuguesa de Comunicação de

Empresa, conseguiu a aprovação do CCóóddiiggoo ddee CCoonndduuttaa ddoo GGeessttoorr ddee CCoommuunniiccaaççããoo

OOrrggaanniizzaacciioonnaall ee RReellaaççõõeess PPúúbblliiccaass, em assembleia-geral de 31 de Março, 2009. O

novo documento pretende constituir-se como a “base orientadora para o exercício

da atividade profissional” das áreas correspondentes (apud documento original).

4.1.4.3 A certificação da profissão

Segundo os dados de que dispomos no momento, e que confiamos na sua

atualização, desde a década de 1960 que um grupo de associados da ARPP e

docentes do ISMAI – Instituto Superior da Maia desenvolvem esforços no sentido

do reconhecimento e certificação da profissão em Portugal.

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“O processo teve início em 1968, foi retomado em 1980 e tomou um novo

impulso em 2000”3. Desde então, tem-se assistido a várias iniciativas no sentido da

regulamentação da profissão, embora ainda não consigamos ter uma resposta

positiva ao desenrolar concreto e definitivo da situação. A atividade continua sem

regulamentação profissional, uma denominação oficial estatuída e um

enquadramento fiscal. Por tudo isto continua a ser permitido um abuso no tipo de

oferta de trabalhos assim apelidados, cujo conteúdo em nada corresponde ao

conceito minimamente técnico ou científico de relações públicas.

O estudo que o ISMAI tem vindo a realizar relativamente ao caso português,

tendo apresentado um modelo inédito como proposta de reconhecimento da

atividade neste país, assentou em análise de modelos de França, Espanha e Reino

Unido.

Quanto à hipótese do ISMAI que sugere a adaptação ao caso português do

modelo utilizado noutros países em que a profissão já aí foi reconhecida, o que nos

foi sugerido de informações recolhidas numa primeira fase junto de elementos

interventores diretamente no processo, é que a mesma se afigura de difícil

aplicação, uma vez que em nenhum dos casos estudados existiu uma estratégia

planificada, mas sim um conjunto de factores que acabaram por funcionar como

elementos de pressão junto das instituições e dos órgãos de poder. E o poder

parece não ter aceitado essa pressão. É o que se tem verificado.

Há cerca de dez anos que nos parece não ter havido desenvolvimento

relativamente ao assunto.

Permitimo-nos um pequeno comentário à postura do movimento associativo

relacionado as relações públicas. Cada vez mais assistimos à agregação de

organizações, inclusivamente de organizações empresariais, com o objetivo de

conciliação de interesses. É difícil hoje atingirem-se objetivos individualmente,

quando na maioria das vezes as intenções e as preocupações de distintas origens

concorrem num mesmo sentido. Atualmente, a individualidade já não funciona

num mundo onde a tendência é cada vez maior para se ser absorvido pelo mais

forte. Vemos isso nas empresas: as aglutinações, as fusões; na pior das situações, o

encerramento por falta de capacidade de auto-subsistência perante uma

concorrência mais forte que não se compadece com os mais fracos.

3 “O estudo da certificação da profissão de Relações Públicas em Portugal”

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Em nosso entender o corpo associativo precisa de força. As relações públicas

fazem parte do campo da Comunicação. Num país tão pequeno como Portugal, num

momento em que a disciplina ainda busca o seu espaço na ciência e o respeito da

academia, será que se justifica tal individualidade quando já há outras associações

mais implantadas na sociedade, empenhadas em defender os mesmos valores das

relações públicas que, decerto, estarão dispostas a acolher e adaptarem-se ainda

mais a novas perspectivas? Temos a APCE, de caráter marcadamente profissional,

mas com um espaço também dedicado à academia, comprovadamente alerta para

assuntos comuns. Devemos considerar também a APECOM - Associação

Portuguesa das Empresas de Conselho em Comunicação e Relações Públicas, com

fronteiras nalgumas matérias, que outros melhor que nós conhecerão. Será que

aqui a tradição não é sábia? A união não fará a força? Valerá mesmo a pena esta

luta sem fim, fechada num ideal de há quase meio século?

Será que não é a própria postura individualista da Associação que contraria a

consecução do objetivo?

Fica o alerta.

4.1.5 Dimensão associativa

Em 1968, foi fundada a primeira associação de caráter profissional

integradora dos profissionais de relações públicas em Portugal, a SOPREP, cujos

estatutos permitiam a admissão de sócios profissionais em exercício e também

quaisquer outros interessados pela problemática em causa.

Brevemente o interesse pelo que se passava na Europa no campo das

relações públicas levou a direção da SOPREP a requerer sua filiação no CERP, a

qual também se filiaram alguns elementos profissionais a título individual,

membros dos corpos gerentes da SOPREP.

Em 1969, em Dublin, durante a assembleia-geral da CERP, foi proposta a

candidatura de Portugal à realização da assembleia plenária desta confederação

europeia para o ano seguinte, o que se veio a concretizar.

Assim, em 1970, a SOPREP foi a organizadora dessa reunião em Lisboa, que

se traduziu num importante evento. Participaram mais de dez países europeus e

mais de 100 profissionais.

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Em 1983, a SOPREP foi transformada na APREP, por pretender-se que os

novos estatutos dessem a esta nova associação um caráter mais profissionalizante

– fechava um pouco as portas a “quem se interessasse pela problemática das

Relações Públicas”, com estatuto um tanto indefinido, ao contrário do contemplado

nos estatutos da SOPREP.

Do pouco conhecimento que existe hoje sobre a APREP, o que se sabe é que

nunca chegou a ser extinta, mas também não se encontra ativa desde a década de

1990.

Embora a Classificação Nacional de Profissões contemple as Relações

Públicas enquanto profissão, o que acontece é que o documento formal e legal,

chamado ou não Carteira Profissional, continua por promulgar.

A APCE foi fundada a 27 de Abril de 1990 e conseguiu ver os seus estatutos

aprovados em assembleia- geral de Dezembro de 2009, tendo-se passado a reger

pelo seu novo Código de Conduta. Desta forma, a APCE apresenta-se como:

“uma entidade autónoma, independente e sem fins lucrativos, que representa e defende, no País e no estrangeiro, os interesses dos seus associados, em particular dos gestores e técnicos da Comunicação Organizacional e das Relações Públicas em Portugal, incluindo os porta-vozes. Constitui-se como um fórum de discussão e reflexão aberto a todos os interessados nas ciências da Comunicação, seja no sector empresarial, seja no domínio educativo” (apud estatutos).

A APECOM é uma associação empresarial que reúne as mais relevantes

empresas portuguesas de consultoria nas áreas das relações públicas, assessoria

de imprensa, organização e eventos e imagem empresarial, tendo iniciado a sua

atividade há 20 anos.

Desde o seu nascimento, é membro ativo da ICCO - International

Communication Consultancies Organization (a organização mundial representativa

do sector que agrupa cerca de mil empresas consultoras em 30 países).

A APECOM e todos os profissionais das empresas que integram a associação

regem-se por rigorosos códigos de ética, de aceitação universal no setor, como é o

caso do Código de Estocolmo4.

A ARPP encontra-se registrada desde Dezembro de 2001 e foi criada,

diretamente a partir do ISMAI, pela mão do então Diretor do Curso Superior de

4 Informações publicadas em divulgação pela associação, online e de sua responsabilidade.

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Relações Públicas, Mestre Abílio da Fonseca, figura muito conceituada e ativa em

prol da disciplina em Portugal, há vários anos. A organização promoveu o seu

primeiro congresso internacional, I Congresso Internacional de Relações Públicas

da ARPP, em 2002, e contou com a participação e apoio de várias associações da

Europa.

Já a SOPCOM – Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, tal como

definida pelos seus estatutos:

“... é uma associação científica sem fins lucrativos que tem por objeto estatutário desenvolver a investigação em Ciências da Comunicação. Fundada em 06 de fevereiro de 1998, a SOPCOM pretende ser a associação representativa desta área científica junto do poder político. É seu objetivo ser, de algum modo, o rosto da comunidade científica nacional das Ciências da Comunicação em Portugal e também no estrangeiro”.

No âmbito dos vários GT`s - Grupos de Trabalho existentes na SOPCOM há

um especializado em Comunicação Organizacional e Institucional, que pressuporia

a realização de investigação nas áreas afins às problemáticas correspondentes,

incluindo a das relações públicas. É o que se encontra aí instituído. Nós próprias

fazemos parte do presente GT.

Há vários anos que o GT se encontrava desativado pela sua respectiva direção

quando nos tornamos sócia no início da década de 2000.

Quando o presente protocolo de investigação deste pós doutoramento foi

estabelecido com a USP, em 2010, propusemos à SOPCOM a dinamização do grupo

com parcerias internacionais de investigação, que vimos de interesse na USP,

apenas enquanto investigadoras e sócias individuais, o que foi aceite por parte da

direção-geral, em conversa informal e do próprio diretor do GT, então afastado de

qualquer atividade. Ao aproximarmo-nos de colegas investigadores do GT para a

realização do nosso objetivo, de imediato foram realizadas eleições, não previstas

para o momento, a que não nos concederam sequer direito de voto, onde foram

eleitos elementos privilegiadamente pertencentes à ESCS – Escola Superior de

Comunicação Social, na sequência do último diretor que tinha ocupado o cargo.

Direção essa que se comprometeu em dinamizar o GT, tendo condicionado

explicitamente a iniciativa de investigação a qualquer outro elemento no âmbito do

grupo, uma vez que a iniciativa encontrar-se-ia exclusiva aos elementos da direção.

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Desde a tomada de posse, em 2010, não é realizado qualquer plano de

atividades, nem tão pouco a direção foi ativada, mantendo o site informativo da

associação sem algum tipo de informação aos sócios, o que nos impediu de honrar

o compromisso que havíamos assumido com a ABRAPCORP - Associação Brasileira

de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e Relações Públicas do Brasil e a

Professora Maria Aparecida Ferrari, diretora de relações públicas da entidade, com

autorização expressa do anterior diretor do GT, Professor Viegas Soares, que,

embora inativo, concordara com o protocolo de pesquisa entre as duas

associações. Ele próprio chegou a ter contatos com a responsável de relações

públicas da associação paralela no Brasil.

Esta é a razão por que os planos que chegaram a ser ensaiados com a diretora

de relações públicas da ABRAPCORP, Prof. Drª Maria Aparecida Ferrari, não foram

realizados, devido a postura da presente direção. Fica o registro, perante a ECA-

USP, CEL-UTAD e FCT – Fundação para Ciência e Tecnologia.

II – NO BRASIL Introdução

Sobre a criação das relações públicas no mundo já muito foi dito e muito se

divagou. Se é verdade que os nomes de Ivy Lee, no princípio do século XX, em

1914, e de Edward Bernays, umas décadas à frente, em 1954, não têm envolvido o

maior dos consensos sobre o assunto, também é verdade que se consegue

entender uma lógica sistemática para tal discussão. Sem nos queremos envolver

em tais polêmicas, entendemos ser importante fazer um ponto da situação para

contextualizar a situação do Brasil que à frente exporemos.

É hoje unânime que Ivy Lee pode ser considerado como o pioneiro das

Relações Públicas no mundo, mas apenas enquanto um prático que se limitou a

aplicar as técnicas de Relações Públicas, o que se entende plenamente justificável

por toda a conjuntura da época. Já Edward Bernays, na segunda metade do século,

entregou-se aos livros, à pesquisa e à ciência, a partir de 1954. É ele o primeiro

estudioso das Relações Públicas, extremamente interessado pelas áreas da

persuasão. Não fosse sobrinho de quem era - Sigmund Freud, o fundador da

Psicanálise, cuja principal ação se encontra na influência do subconsciente humano

por meios psicoterapêuticos (nota da autora).

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4.2 Relações Públicas como profissão e mudanças de paradigmas

4.2.1 O surgimento das Relações Públicas

O que nos interessa principalmente é reconhecer como surgiram as relações

públicas no Brasil. Marques de Melo ajudou-nos nessa tarefa (1978, apud KUNCSH,

14/15, 2009).

É preciso nos direcionarmos para São Paulo, no início do século XX. A

República havia sido proclamada nos finais deste mesmo século, concretamente

em 1989, e a conjuntura social e política encontrava-se em fase de adaptação às

recentes mudanças drásticas provocadas pela industrialização e pela urbanização

derivada da imigração em massa proveniente da Europa e da Ásia. Os conflitos

entre distintas classes sociais emergiam e o papel dos sindicatos era crucial, sendo

a imprensa operária considerada um veículo de informação por eles utilizado

bastante influente. No âmbito dos seus escritos, a esse respeito, Marques de Melo

(1978, apud KUNCSH, W., 2009: 15) destaca um nome: Maria Nazareth Ferreira,

uma pioneira nos estudos da comunicação operária brasileira, que vem defender

que as classes operárias e trabalhadoras despertaram e foram conscientizadas

para questões políticas e sociais por essas publicações, tendo desenvolvido os seus

interesses nesse sentido, o que provocou a criação do primeiro serviço de relações

públicas no Brasil para dirimir a grande quantidade dos conflitos que se geravam.

Isto aconteceu na multinacional distribuidora de energia elétrica Light & Power, a

atual AES Eletropaulo, na cidade de São Paulo.

Curiosamente, à semelhança da tarefa incumbida a Ivy Lee em 1914 nos

Estados Unidos, no Brasil, na Eletropaulo, as funções de relações públicas

começaram a ser desenvolvidas também em 1914, por um engenheiro, Eduardo

Pinheiro Lobo, originário de Alagoas. Sua prática parece ter sido tão bem

desempenhada que se manteve à frente do departamento ao longo de dezenove

anos, a fim de “harmonizar os interesses diversos da empresa e do público”

(TORRES, 2005 apud Kuncsh, W., 2009: 15).

Por esse fato, Eduardo Pinheiro Lobo veio ganhar o título de patrono da

profissão no Brasil, em 1984, o que se cumpriu segundo a Lei Federal nº 7.197. A

partir da publicação da lei, passou a se comemorar o dia de seu nascimento, 2 de

Dezembro, como o Dia Nacional das Relações Públicas (KUNCSH, W, 2009: 15).

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Por constatações de vários investigadores, inclusivamente tendo tido a sua

vida como objeto de dissertação de Mestrado, parece não ser errada a conclusão de

que o título atribuído a Eduardo Lobo se deveu mais à grande vontade que os

brasileiros tinham em ter um “pai” na sua história das relações públicas, à

semelhança do que acontecera nos Estados Unidos, do que nos atos reais

merecedores da atribuição de tal epitáfio a quem dele veio usufruir.

E é um pouco neste sentido, com fundamentos bem consistentes, que

Waldemar Kunsch questiona se o atributo de “pai” das Relações Públicas” não seria

melhor aplicado a Teobaldo de Souza Andrade (2009:18). Segundo ele havia

muitas características comuns entre este e Edward Bernays. Na realidade, foi ele o

real pioneiro em pesquisa sobre relações públicas no Brasil. Deixa para reflexão a

memória do evento realizado em sua homenagem em 1989 pela ECA-USP e tudo,

quanto e por quantos aí foi dito em relação ao seu mérito de pesquisador e

cientista na área das relações públicas, e ainda o quanto fez para a sistematização

da atividade (MARQUES DE MELO, 2007 apud Kunsch, W. 2009: 19).

Recordamos aqui, muito sumariamente, alguns feitos que levam a considerar

o mérito para tal atribuição. Primeiramente, ele foi o autor do primeiro trabalho

acadêmico sobre relações públicas em 1962 (a monografia “Relações Públicas no

governo estadual”). Foi também co-fundador do primeiro curso superior de

relações públicas, que teve lugar na ECA-USP, em 1967, além de ter sido o primeiro

investigador a obter o grau de doutor no Brasil, em 1973, com a tese denominada

“Relações Públicas e o interesse público”. Nessa sequência foi ainda o primeiro

livre-docente, em 1978, com a tese a que atribuiu o título “Relações Públicas na

administração direta e indireta” (TORRES, 2005 apud Kunsch, W., 2009: 19).

Finalmente, devemos mencionar que também publicou sete livros tendo sido o

primeiro em 1962, “Para Entender Relações Públicas”, o primeiro da América

Latina.

A sua personalidade, que reflete altruísmo e interesses superiores com

partilha de conhecimento, parece não deixar espaço para preocupações com

reconhecimentos pessoais, demonstrando sempre uma dose de modéstia no seu

comportamento. No próprio evento em que foi alvo de homenagem apresentou-se

como um mero profissional de relações públicas: “(…) sinto-me também muito feliz

em ver aqui representantes das entidades de relações públicas (…) que me dão

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certa liberdade de acreditar na minha passagem como profissional de relações

públicas” (ANDRADE, 1989, apud Kunsch, W. 1998; 2009: 20): foram estas as

simples palavras que proferiu em tão distinto momento. A sua missão, no entanto,

verificou-se bastante mais complexa, mas sempre de caráter altruísta. Como nos

confirma Margarida Kunsch com seu testemunho: “a democratização do

conhecimento acumulado sempre foi uma preocupação de Teobaldo. Ele nunca

procurou reservar só para si as suas descobertas” (1989, apud KUNSCH, W., 2009:

20).

Estes nomes revelaram-se inquestionavelmente como os principais

responsáveis individuais pela introdução das relações públicas no Brasil, mas é

ainda de destacar a grande importância de algumas associações e institutos criados

no país, também como pioneiros na área, para a afirmação da mesma. É o caso da

Fundação Getúlio Vargas, do Instituto de Administração da Universidade de São

Paulo, do Instituto de Organização Racional do Trabalho de São Paulo que

apresentaram os primeiros cursos de relações públicas a partir de 1953. Também

a ABRACORP, bastante importante com a sua dinâmica associativa na contribuição

para o entendimento da profissão com a realização de congressos, palestras, etc.

(KUNSCH, W. 2009: 20).

Reconhecemos também a importância da consultoria no Brasil e temos

conhecimento do quanto aqui se encontra implantada. Os pioneiros na área

merecem um registro. José Rolim Valença e José Carlos Fonseca foram os primeiros

a organizar uma consultoria de relações públicas em 1962, tendo-se a sua agência

revelado um bom modelo para muitas outras (KUNSCH, W. 2009: 20).

4.2.2 A evolução da profissão

Há quase um século, em 1914, foi criado o primeiro departamento de

Relações Públicas, na então Light & Power - atualmente designada Aes-Eletropaulo.

Como é comum no início de uma atividade nova, ainda não conhecida e

compreendida pela maioria dos públicos, as atribuições dos profissionais em muito

pouco ou nada correspondiam a um perfil de trabalho desenhado, com regras e

funções estabelecidas para uma função de nível empresarial, durante as décadas

que se seguiram. Até aos anos 1950 “confundiam-se relações públicas com relações

sociais e algumas empresas exibiam profissionais que não tinham outras

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qualificações senão um nome de família respeitável e um largo curriculum de

amizades influentes”. (WEY, 1983, cit. por Reis, apud Kunsch, 2009b:138).

Acontece que durante o período de ditadura militar que precedeu os anos 50

no Brasil, a atividade floresceu de tal maneira que no espaço de treze anos - até

1966 – mais de trezentas empresas criaram departamentos nas suas instalações e

contrataram profissionais, e muitas dependências governamentais também

implantaram departamentos da área, tendo até Presidência da República no Brasil

o feito nesta mesma época (CHAVES: 1966: 5/6, 9, apud Kunsch, 2009b:.139).

4.2.3 A regulamentação profissional das Relações Públicas

Nos finais da década de 1960, porém, sob a égide da ditadura militar no

Brasil, foi criada uma legislação específica, a lei nº 5.377 de 11 de Dezembro,

regulamentada em 26 de setembro de 1968 e aprovada no mesmo dia pelo

decreto-lei nº 63.683. Ela veio aprovar a autorização exclusiva do exercício da

profissão aos bacharéis em comunicação social com habilitação em relações

públicas. (KUNSCH, 1997: 24). Ficou a porta fechada ao exercício da atividade aos

detentores dos cursos de formação e dos cursos de administração, ao contrário do

que até aí era prática.

Tal como acima referimos, devido ao fator “novidade” das relações públicas,

ainda muito estava por esclarecer e definir. Naturalmente, o conteúdo da atividade

e também o saber-fazer em relação às mesmas. Tanto a teoria como a prática ainda

se encontravam num estágio muito prematuro do conhecimento. E foi neste

âmbito que as repercussões da medida se tornaram graves.

As relações públicas não eram identificadas nem pelos profissionais nem

pelos investigadores como um saber-fazer de natureza comunicacional. Senão

havia rejeição, havia, pelo menos, muita indecisão.

A legislação orientadora do exercício profissional da área relações públicas,

foi concebida em 1967 (pela Lei nº 5.377 de 1967) e logo regulamentada em 1968

(segundo o Decreto nº 63.283 de 1968). Pela primeira vez, os profissionais da área

passaram a ser registrados como relações públicas. Até então, registravam-se nos

Conselhos Regionais dos Técnicos de Administração (Moura, online, s/d).

Mas a contestação surgiu em consequência. Na realidade, a habilitação

recente do curso de Comunicação Social, que implica essa mudança de registro, foi

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posta em causa pelos profissionais da área que solicitaram o pedido de

reconversão do curso para a área de Administração. Embora não tendo sido aceite

a proposta apresentada pelo CONFERP - Conselho Federal de Profissionais de

Relações Públicas e pela DAU - Assessoria do Departamento de Assuntos

Universitários, da área da Comunicação Social, também não foi desconsiderada:

“a aprovação da Resolução n. 3/78 pelo Conselho Federal de Educação, fixando o currículo mínimo de Comunicação Social, permitiu que a questão Administração ou Comunicação no ensino de Relações Públicas de certa forma fosse superada. Embora as Relações Públicas continuassem em Comunicação Social, as matérias de natureza profissional previstas abriam campo para o ensino de disciplinas da área de Administração, o que foi feito por várias escolas (...)” (ANDRADE, 1983, apud Moura, s/d.).

Apesar de tudo isso, mantinha-se uma dúvida identitária-epistemológica na

caracterização e nas atividades das relações públicas, que Paula Leite nos traduz:

“é possível que, em futuro próximo, as Relações Públicas deixem de ser uma

técnica, uma metodologia e passem a ser ciência estabelecida à base da psicologia,

da sociologia e da economia política” (1977 apud REIS, 2009b:144).

Há que se acrescentar que a atividade ainda não tinha uma imagem muito

definida perante a sociedade e mesmo cientificamente no meio acadêmico. A

imagem que tinha naquele momento era mais negativa do que positiva, sendo

confundida com outras atividades, muitas vezes com imagens pouco abonatórias a

seu favor.

Os próprios responsáveis pela regulamentação da profissão verificaram de

imediato que estavam a cometer um erro, pela precocidade da medida, mas o

processo já estava em curso e já não havia possibilidade de voltar atrás. Apenas

conseguiram algumas correções no documento inicial antes que fosse aprovado,

para minimizar os erros de uma versão inicialmente mal desenhada.

Em sua defesa, saem alguns autores tentando salvaguarda-la dizendo o que

as “relações públicas não são”, em vez de dizerem o que as “relações públicas são”,

ou seja, apresentarem uma definição científica e os conceitos inerentes à área, o

que ficou adiado para momento muito posterior ao da sua regulamentação.

É o caso de Cândido Teobaldo de Sousa e Nery Peixoto do Vale, este

presidente do então Conselho Nacional da Associação Brasileira de Relações

Públicas, entre outros (KUNSCH,1997: 24).

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Mas a verdade é que não foi pelo fato de se encontrar regulamentada que a

atividade ficou de imediato reconhecida e dignificada. Os resultados apresentaram-

se nefastos ao ponto de se chegar a considerar acabar com a profissão.

Um dos proprietários e fundador da maior empresa de relações públicas do

país, a AAB - Assessoria Administrativa Ltda., Rolim Valença, publicou um artigo no

qual contestava o impedimento do acesso da atividade àqueles que, mesmo que

tivessem a maior das capacidades para o desempenho da profissão estavam

inibidos de o fazer só porque não obtiveram o diploma. KUNSCH, de acordo com a

sua postura, fala em “canibalismo” provocado por essa regulamentação:

“houve um exagero de protecionismo e corporativismo que fecharam as fronteiras do ‘título’ RP a qualquer um que não fosse diplomado, embora em termos práticos um diploma nada tenha a ver com o valor ou eficácia do profissional de comunicação (…) o canibalismo desse excesso de regulamentação e de burocracia derrubou o telhado sobre os próprios profissionais de comunicação, que finalmente descobriram que não são tão indispensáveis assim” (1997: 25).

Margarida Kunsch (1997:25) adianta ainda uma razão de teor político para a

aprovação da lei nº 5.357, que regulamentou o acesso aos cargos dos profissionais

aos bacharéis de Relações Públicas e bloqueou a entrada na profissão a elementos

não diplomados, como vimos. Pelo fato da regulamentação ter acontecido em plena

ditadura, o governo fazia tudo para concentrar junto de si também o poder da

mídia.

Como conclusão, a regulamentação foi feita num momento prematuro e

tornou-se um obstáculo ao crescimento e consolidação da área.

4.2.4 A mudança nos anos 1970

Pouco a pouco, as relações públicas foram se desenvolvendo em vários

países, inclusive no Brasil. Desempenhavam um papel de “mediadoras entre a

organização e a opinião pública” e tinham como principal objetivo a sua

consolidação. Dava-se primordial importância à imagem e à reputação da

organização para o exterior, nomeadamente através dos meios de comunicação de

massa. E a sua aproximação com estes começou a surgir enquanto público de

disseminação e influência, ao mesmo tempo que com outros específicos,

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considerados pelas organizações como mais-valias de natureza institucional (REIS,

2009b: 146).

Ainda nos anos 1970, o Brasil começa a sofrer influências distintas da

corrente norte-americana, ao contrário do que até aí se passava. Começam por

entrar novas perspectivas na formação dos profissionais em nível superior, de

várias fontes, internas e externas, nomeadamente de influência da América Latina

quanto à reflexão das relações públicas, que se vão transmitir na atividade

profissional.

Temas como desenvolvimento social, participação, inserção social, relações

de trabalho, passaram a ser objeto de análise dos acadêmicos e a fazer parte da

atividade dos profissionais de comunicação.

É a partir daqui que a perspectiva se começa a alargar: “essas novas frentes

de interesse os levaram ao desenvolvimento de uma visão mais ampla,

humanizada e politizada da questão da comunicação das organizações e chamaram

a sua atenção para a importância do trabalho de comunicação com o público

interno” (REIS, 2009b:147).

O "público interno" começa, assim, a ser considerado também como alvo de

formação e, de igual modo, o meio acadêmico passa a integrá-lo como um

interessante campo para investigação.

4.3 O surgimento da Comunicação Organizacional

Os primeiros indícios do surgimento de uma área paralela e complementar às

relações públicas no Brasil deram-se por volta de 1950. Tratava-se da comunicação

nas organizações. Mas desde já esclarecemos, com Garu, (apud KUNSCH, 2009: 19),

numa perspectiva do conhecimento de “juntos mas não intrincados”.

Tratava-se de uma área recorrente de estudo por parte de investigadores

norte-americanos. A todo o historial relativo já começamos por dedicar um

capítulo correspondente.

A Comunicação Organizacional veio-se apresentando como objeto de

pesquisa privilegiado e os primeiros livros especializados derivados do meio

acadêmico chegaram ao mercado já nos anos 1970 (KUNSCH, 2009:19), aspecto a

que dedicaremos espaço alargado mais à frente.

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Porém, no Brasil, o termo comunicação organizacional só apareceu passados

quarenta anos, isto é, na década de 1990. Mas, na verdade, pode-se encontrar uma

correspondência conceitual da expressão com a de comunicação empresarial, que

já vem da década de 1970 (FARIAS, apud Kunsch: 55, 2009e), simultânea,

precisamente, à entrada no mercado dos primeiros livros acadêmicos

especializados e produzidos no país. A sua origem surge nos escritos do jornalismo

empresarial e vai-se desenvolvendo, complexando e consolidando nas décadas

posteriores.

Como nos alertava Nassar, já em 2009 (apud KUNSCH, 2009e:73), a gênese da

Comunicação Organizacional encontrava-se na evolução de reflexões operacionais

de há 40 anos atrás sobre o jornalismo empresarial, realizadas no contexto da

administração científica e de uma sociedade política e economicamente fechada,

relativamente a uma comunicação que deve ser produzida para uma sociedade

mais aberta em termos comportamentais e, no entanto, mais complexa

relativamente aos desafios econômicos, sociais e ecológicos.

Podemos considerar os pioneiros, e principais investigadores nesta área no

Brasil se bem que nossos contemporâneos, Gaudêncio Torquato e Margarida

Kunsch, uma das primeiras a utilizar o conceito de “comunicação organizacional”

(apud KUNSCH: 55, 2009e), e ainda Wilson da Costa Bueno, este não só enquanto

acadêmico mas também um profissional, dos mais empenhados para a definição de

um campo teórico próprio à mesma.

4.31 Relações Públicas e Comunicação Organizacional – o afastamento das linhas epistemológicas dos Estados Unidos

O que nos parece importante destacar é uma certa ambiguidade do conceito

Comunicação Organizacional no Brasil por volta dos anos 1970. Ao contrário do

que se passou até então, houve um certo afastamento em relação às referências

norte americanas. Na realidade, a origem do estudo da Comunicação

Organizacional apresenta-se distinta nos dois países.

Podemos dizer que desde a década de 1950 nos Estados Unidos, a

Comunicação Organizacional começa a ser considerada como uma área específica

dentro da comunicação, agora ligada à Administração, e pouco mais tem a ver com

as relações públicas do que com muitas outras áreas que fazem parte da

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organização. Toda a investigação promovida desde então seguiu o seu caminho

próprio e particular, ganhando campo de atuação, e os "estudiosos da Comunicação

Organizacional trabalham em departamentos com colegas de outras áreas de

pesquisa de Comunicação, como Retórica, Comunicação Interpessoal, Comunicação

de Massa, Comunicação em Saúde e assim por diante" (MUMBY, 2009: 193).

A realidade existente no Brasil apresenta-se bem diferente. Neste país, a

Comunicação Organizacional e as Relações Públicas mantêm-se integradas e

caminham juntas. Como já vimos, com um desenvolvimento em nível acadêmico,

com raízes não muito profundas, mas já com resultados bem visíveis derivados de

um esforço verificável, que se vai repercutir na área profissional, e que irá se

destacar dos restantes países da América Latina.

A verdade é que tal aparente retração das relações públicas e da

comunicação, encerradas nestas suas clássicas modestas designações, não fazem

justiça ao desenvolvimento que as disciplinas sofreram em conteúdo e ação.

Podemos verificar, por simples análise de títulos da produção científica realizada

por nós próprias, operação que executamos para fase distinta do presente

trabalho, e que confirmamos por leituras paralelas referidas ao longo deste texto,

que "durante a década de 1980 a conceção académica e profissional do fazer das

Relações Públicas ganhou em amplitude e grau de compreensão holística das

organizações", afirmação de Maria do Carmo Reis (2009b: 151), com a qual não

poderíamos deixar de concordar:

"Graças aos cursos de pós-graduação surgidos a partir de 1970 é que as Ciências da Comunicação no Brasil atingiram um estágio altamente elevado, se comparado com os dos demais países da América Latina. Neste contexto, tais cursos tiveram um papel relevante e decisivo para o crescimento da pesquisa em Relações Públicas e da Comunicação" (KUNSCH, 2009b: 119).

Em termos acadêmicos e de investigação, a produção científica na área da

Comunicação nas Organizações, que corresponde à prática profissional das

Relações Públicas e/ou da Comunicação Organizacional, visa respostas para

campos metodológicos e técnicos, cada vez mais fundamentais ao bom

funcionamento das organizações, como, em paralelo, se compromete com buscas

de investigação em caráter mais teórico, com preocupações numa área mais

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epistemológica visando o conhecimento e inserção da área num campo mais vasto

do conhecimento (REIS, 2009b:157).

No entanto, embora se note um esforço para o caminho da teorização, e não

querendo ser demasiado injustas nas nossas conclusões, uma vez que se tratava

dos primeiros passos a esse nível, fica-nos a impressão de que embora se tivesse

gerado alguma tentativa de reflexão nas áreas da Comunicação Organizacional e

das Relações Públicas, entrosadas com outras disciplinas, nem sempre se

demonstrou solidamente fundamentada ou bem compreendida pelos teóricos,

analistas das situações, ainda que em análises retrospectivas. Um dos comentários

a este respeito é apresentado por Maria do Carmo Reis quando afirma: "a

produção, às vezes, acaba sendo confusa, levando-nos a perguntar, como leitores,

onde estaria o comunicacional, por exemplo, na discussão da cultura

organizacional" (2009:157). Para nós, esta posição demonstra, efetivamente,

alguma indefinição de conceitos e falta de conhecimento da realidade

organizacional concernente. Apenas para fundamentarmos a nossa posição

apresentamos uma passagem de Bueno (1989: 77), eventualmente uma das que a

autora referida evocaria em discordância, mas perfeitamente legítima, em nosso

entender, e mais tarde aceite e confirmada por outros estudiosos: "cada vez mais,

fica evidente que as manifestações no campo da comunicação empresarial estão

atreladas à cultura da organização e que cada indivíduo, cada fluxo ou rede, cada

veículo ou canal de comunicação molda-se a esta cultura".

4.3.2 A década de 1980 e o novo conceito da profissão Relações Públicas

Algo passa a ser claro e definitivo: no Brasil, em termos formais, a profissão

de relações públicas nada mais tem a ver com as escolas de administração. A partir

de 1980, são as escolas de comunicação as responsáveis pela formação destes

especialistas. Embora os aportes instrumentais se mantenham os da clássica escola

de administração que alicerça o saber-fazer numa perspectiva estratégica implícita

à sua filosofia, a partir de então passam a fazer parte do novo grupo de

profissionais de Comunicação nas Organizações.

Relações Públicas, assessores de comunicação empresarial, de comunicação

corporativa, etc., jornalistas que trabalham nas organizações, fazem parte deste

grupo.

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Na produção acadêmica e literatura especializada há uma mudança das

terminologias utilizadas, em que se verifica uma incorporação do conceito

Comunicação Organizacional, muitas vezes em substituição da designação Relações

Públicas.

No campo empresarial, a comunicação começa a assumir-se numa

perspectiva holística, global, e passou a se adotar um posicionamento mais

estratégico. (KUNSCH, WALDEMAR, 2009: 29).

4.3.3 Os anos 1990 e a comunicação estratégica

A década de 1990 terá sido de abertura do Brasil ao exterior. A conjuntura

política interna assim o permitiu e promoveu. Até aí virado para si próprio, o Brasil

passa a confrontar-se com a abertura de fronteiras a uma realidade econômica

para a qual não estava preparado pela ditadura até há pouco instalada. Os efeitos

da globalização faziam-se sentir e os das empresas recém-concorrentes entradas

no país, em estágios de desenvolvimento mais avançados, também. Muitas das

empresas nacionais não conseguiram acompanhar o desenvolvimento inesperado

(FAUSTO, 2006, apud Reis: 2009b: 155).

Era urgente dar resposta com todas as armas para se poder salvar a

economia do Brasil. O governo federal incentivava à adoção de programas de

mudança organizacional. Neste âmbito, propagou-se a contratação de serviços de

comunicação integrada nas empresas e a investigação nesta mesma área, de

comunicação organizacional, de onde surgiram várias pesquisas precisamente

sobre comunicação e processos de mudança organizacional, e a implantação de

programas de qualidade total (REIS, 2009b: 155) .

Ao longo da década de 2000, o que se verifica é a existência em paralelo de

distintas áreas de comunicação, nas quais se integra a comunicação nas

organizações que, no campo brasileiro, corresponde às práticas profissionais de

relações públicas.

Em termos de trabalho, concretamente, o que as organizações pretendem é a

lente da comunicação, independentemente da área que ela vai perspectivar. Os

especialistas em relações públicas, encontram-se, assim, em pé de igualdade com

outros especialistas de diferentes áreas da comunicação como jornalistas, de

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comunicação de massa e de comunicação em saúde (estes talvez até preferidos

dependendo do tipo de organização para que são recrutados) e vários outros.

A comunicação organizacional tende a assumir uma função estratégica, tanto

numa perspectiva micro, gerindo os meios e instrumentos de caráter estritamente

comunicacional de que dispõe, como numa perspectiva ampliada, em relação com

o todo organizacional, numa perspectiva sinérgica da gestão da organização.

Há, de fato, uma mudança de paradigma, que começa nos anos 1990, em nível

do campo profissional da comunicação nas organizações e que passa a incluir uma

função estratégica no papel da comunicação. A comunicação passa a ser encarada

como uma atividade holística ligada ao todo que é a organização (KUNSCH, W.

2009: 34).

Mas, cabe-nos clarificar: de que se trata isto de função estratégica da

comunicação? O que significa gerir estrategicamente a comunicação?

Estávamos num momento de mudança, na introdução de um novo paradigma

na gestão da comunicação organizacional. São conceitos que precisam ser

definidos e contextualizados. Segundo Margarida KUNSCH:

"Pensar e administrar estrategicamente a comunicação organizacional pressupõe: revisão e avaliação dos paradigmas organizacionais e comunicacionais vigentes; uso de pesquisas e auditorias de comunicação; reconhecimento e auditoria da cultura organizacional; identificação e avaliação da importância do capital intelectual integral das organizações, que nem sempre é considerado" (2009a: 117).

Não podemos, no entanto, esquecer a realidade. A resistência à mudança por

parte das organizações é um fator que acompanha a inovação, pois isso, por regra,

implica um esforço suplementar. E aqui não se verifica exceção (KUNSCH,

2009b:113).

4.4 O panorama atual

O novo século traz com ele a energia da inovação. Há a necessidade de criar

teoria própria. O Brasil acorda para a necessidade da investigação e para a

construção de um corpus teórico próprio à comunicação. Não há mais que recorrer

às outras disciplinas para a explicação da Comunicação Organizacional, ou para a

criação de ferramentas próprias para o saber-fazer relativo à Comunicação nas

Organizações e às Relações Públicas.

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Com a noção de que a tarefa será árdua e ambiciosa, com resultados para um

futuro bem próximo, o objetivo dos investigadores brasileiros apresenta-se como

"o desenvolvimento de uma teoria que forneça aportes explicativos para a

comunicação das organizações, seja como campo de conhecimento, seja como

campo de atividades profissionais" (REIS, 2009b: 157).

Perante o fenômeno da globalização, em pleno início do século XXI, com todo

o conjunto de grandes inovações técnicas e científicas que se sentem diariamente

nas empresas e na vida comum e que levam a grandes mudanças que facilmente

poderão determinar os rumos da área, importa conceituar a atividade de relações

públicas.

Falamos hoje de ciência ou de técnica?

As Relações Públicas envolvem dois conceitos: o de cciiêênncciiaa, porque já

possuem um corpus teórico próprio, derivado de larga pesquisa efetuada, no nível

crítico e normativo; e o de ttééccnniiccaa, porque utilizam instrumentos para materializar

na prática esses conhecimentos.

Mas, enquanto ciência, as relações públicas ainda buscam a consolidação de

uma teoria, como aliás toda a comunicação (KUNSCH, W. 2009: 37); "(… ) a área

como um todo desenvolve um trabalho sério, planejado, com bases científicas, e

está em franco crescimento" (KUNSCH, 2006: 47).

4.4.1 A Comunicação Organizacional no Brasil no início do Séc. XXI – novos conceitos

A Comunicação Organizacional é uma disciplina que tem como objetivo a

investigação de tudo aquilo que se relaciona com a comunicação no seio das

organizações.5

Como acabamos de ver, a sua emergência é relativamente recente, e há

poucas décadas foi importada pelo Brasil. Em consequência, a definição do seu

campo teórico está ainda por concluir e os investigadores continuam a desenvolver

esforços para identificar pontos de interesse particulares e estabelecer fronteiras

(TOMPKINS & WANCA-THIBAULT, 2001).

5 Entenda-se no presente trabalho por “organização” todo o tipo de agrupamentos humanos instituídos

com o propósito de atingir um objetivo, sejam estes públicos, privados, lucrativos, não lucrativos,

associativos, sociais, e outros. As designações de “empresa” e “instituição” servirão para distinguir os

projetos que têm propósitos lucrativos dos não lucrativos, respectivamente.

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Não é fácil encontrar reflexões teóricas conceituais sobre a definição da

disciplina.

Margarida Kunsch, especialista também em relações públicas, vem

apresentar uma definição que consideramos bastante sólida e apropriada à

realidade científica atual, e que entendemos realçar, de acordo, com a afirmação de

Garu já dos anos de 1950, na altura da importação da mesma dos Estados Unidos

para o Brasil. Já anteriormente salientamos, numa perspectiva do conhecimento de

“juntos mas não intrincados” referindo-se à área das relações públicas. Significa

isso que a grande convivência das mesmas, ao longo de mais de 70 anos, não terá

desvirtuado a legitimidade de cada uma.

Diz-nos, então a autora:

“A Comunicação Organizacional, como objeto de pesquisa, é a disciplina que estuda como se processa o fenómeno comunicacional dentro das organizações no âmbito da sociedade global. Ela analisa o sistema, o funcionamento e o processo de comunicação entre a organização e os seus diversos públicos. Comunicação organizacional, comunicação empresarial e comunicação corporativa são terminologias usadas indistintamente no Brasil para designar todo o trabalho de comunicação levado a efeito pelas organizações em geral. Fenômeno inerente aos agrupamentos de pessoas que integram uma organização ou a ela se ligam, a comunicação organizacional configura as diferentes modalidades comunicacionais que permeiam sua atividade. Compreende, dessa foram, a comunicação institucional, a comunicação mercadológica, a comunicação interna e a comunicação administrativa” (KUNSCH, 2000: 149/150).

Pode dizer-se que a partir dos anos 1990, no Brasil, a visão da comunicação

organizacional se alargou, tornando-se mais abrangente, numa perspectiva

holística.

O perfil da comunicação organizacional veio corresponder à nova

democratização que se seguiu ao final da ditadura no Brasil em 1985. Ele está

relacionado com a internacionalização da economia do país que se deu nos anos

1990 e a inclusão do tema e as práticas de responsabilidades institucionais como

responsabilidade social, ambiente, cultural e histórico, que passaram a ser

integrados a partir de 1995 (SILVA: 2003 online).

Referindo-se à comunicação organizacional, Kunsch, M.., entende uma

comunicação excelente como “aquela que é administrada estrategicamente, que se

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baseia em conhecimentos e na pesquisa científica e valoriza a cultura corporativa,

os princípios éticos e o envolvimento das pessoas, segundo a teoria geral das

Relações Públicas.” Daí a importância que atribui ao planejamento das relações

públicas, enquanto parte integrante da gestão estratégica da comunicação

organizacional (2009a:117).

No seu livro “Planejamento de Relações Públicas na Comunicação Integrada”

(2000), Margarida Kunsch deixa claro que o planejamento das relações públicas

tem de ser fundamentado em conhecimentos teóricos sobre as organizações, a

administração, a comunicação e sobretudo, sobre a própria área. Procura reforçar

o posicionamento estratégico das relações públicas, como um campo das Ciências

da Comunicação, com teorias próprias, que desempenha funções essenciais e

específicas nas organizações. Procura ainda demonstrar que o planejamento é um

exercício com bases científicas e técnicas, que não pode ser visto como algo

puramente mecânico ou uma fórmula para preparar planos. Para ela:

“em pleno início do terceiro milênio, chegou o momento de as relações públicas, no Brasil, assumirem uma posição estratégica como campo acadêmico e profissional. A área constitui um subsistema organizacional, que deve atuar no contexto institucional das organizações” (2000: 14).

A Comunicação Integrada apresenta-se, portanto, como o conjunto das várias

áreas de Comunicação da organização – externa, interna, institucional, – que,

agindo em conformidade, segundo um plano e estratégia globais, se

complementam nas suas diversidades e especificidades, obtendo-se um efeito

sinérgico, que se revela no todo da Comunicação Organizacional.

Nesse contexto, as Relações Públicas detêm uma responsabilidade de

primeiro grau a todos os níveis, mas muito particularmente em relação à

Comunicação Institucional. O papel de construção de identidade institucional para

com o público interno e decorrente da imagem da organização para com o exterior

terá de ser uma das suas missões primordiais.

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4.4.2 As fronteiras entre as Relações Públicas e a Comunicação Organizacional – definição e delimitação de campos

As Relações Públicas e a Comunicação Organizacional, enquanto campos de

conhecimento, pertencem ao grupo das Ciências da Comunicação que, por sua vez,

se integram nas Ciências Sociais aplicadas: “estudos realizados nos âmbitos

acadêmico e mercadológico, sinalizam que as interfaces entre as duas áreas são

uma realidade no Brasil” (KUNSCH, 2009:115).

Na sequência do que atrás vimos, a relação entre as áreas apresenta-se

estreita e interdependente. Assim, para compreender e aplicar os fundamentos

teóricos das Relações Públicas é necessário também conhecer o espectro da

abrangência da Comunicação Organizacional e das áreas afins. As Relações

Públicas têm como objeto de estudo as organizações e os seus públicos. Esse

processo mediador só ocorre por meio da comunicação – contexto no qual a

Comunicação Organizacional permite o suporte teórico às relações que se

estabelecem entre a organização e os diversos públicos (KUNSCH, 2009b: 113).

No Brasil, a Comunicação Organizacional terá surgido de uma evolução

natural das Relações Públicas, expressando uma abordagem contemporânea

destas, que têm como principal característica teórica uma visão holística da

comunicação nas organizações (REIS, apud Kunsch, 2009b: 113).

No entanto, falar de identidade disciplinar torna-se ainda um pouco difícil.

Trata-se de uma situação natural uma vez que se encontrará ainda em construção

com o corpus teórico assente num conjunto de disciplinas distintas, de onde

deriva, como começamos por analisar.

4.4.3 A Comunicação Organizacional Integrada

Parece-nos, no entanto, podermos encontrar uma análise madura e

consistente por parte de estudiosos da comunicação organizacional do Brasil, que

a consideram atualmente no âmbito de uma visão ampla e estratégica, segundo

uma perspectiva integrada.

É de justiça uma palavra a Gaudêncio Torquato como um dos pioneiros dessa

concepção no país. No âmbito do conceito, já em 1986, vem incluir as várias

subáreas da Comunicação Social (Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade,

Editoração, etc.), assim como outras como a assessoria de imprensa, o jornalismo

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empresarial, a comunicação interna, a comunicação institucional, o marketing

cultural e social, e outras, todas elas bem presentes nas suas obras.

Mas a visão mais completa e atualizada pertence à Margarida Kunsch com o

seu conceito de Comunicação Organizacional Integrada.

A importância da comunicação integrada reside principalmente no fato de ela

possibilitar que se estabeleça, em função de uma coerência maior entre os diversos

programas comunicacionais, uma linguagem comum a todas as áreas da

organização e um comportamento organizacional homogêneo, além de se evitarem

sobreposição de tarefas. Num sistema integrado, os diversos setores

comunicacionais da organização trabalham em conjunto, conhecendo e visando os

objetivos gerais específicos de cada setor. Trata-se de uma gestão coordenada,

sinérgica e holística dos esforços humanos e organizacionais.

E Kunsch vai além:

“as organizações devem ter entre os objetivos de comunicação o de buscar o equilíbrio entre os seus interesses e os dos públicos a elas vinculados. Esses objetivos só serão alcançados se a comunicação for planejada de forma estratégica, utilizando técnicas de relacionamentos e meios específicos, devidamente selecionados, e integrando todas as atividades comunicacionais, dentro de uma filosofia de comunicação organizacional integrada” (SILVA, 2003, online).

Na sua mais recente reflexão sobre o assunto, em 2009, a investigadora

apresenta-nos a sua concepção: “a Comunicação Organizacional compreende o

conjunto das modalidades praticadas dentro das organizações - a Comunicação

Institucional, a Comunicação Mercadológica ou de Marketing, a Comunicação

Interna e a Comunicação Administrativa” (KUNCSH, 2009:113).

Um aspecto desde sempre fundamental à definição do conceito de

Comunicação Organizacional como Comunicação Integrada é o seu entendimento

enquanto filosofia capaz de administrar toda a comunicação gerada na

organização, e também a concepção de que as relações públicas têm que atuar no

contexto dessa Comunicação Integrada. Na sua última obra, Kunsch, presenteia-

nos com um novo diagrama que reflete o conteúdo da sua visão mais aperfeiçoada

de CCoommuunniiccaaççããoo OOrrggaanniizzaacciioonnaall IInntteeggrraaddaa,, que reproduzimos (2009b: 114):

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O que a autora procura destacar no presente diagrama são duas áreas

fundamentais para administrar a Comunicação Organizacional: as Relações

Públicas e o Marketing. As Relações Públicas abarcam, pela sua essência teórica, a

Comunicação Institucional, a Comunicação Interna e a Comunicação

Administrativa (2009: 114/115). Por outro lado, é de salientar a

complementaridade entre as várias áreas. Assim, apesar do Marketing se

apresentar responsável pela Comunicação Mercadológica ou Comercial vai ter que

interagir com a área das Relações Públicas para a concretização dos seus planos.

Neste conceito a relação implica mais do que interação, mas a integração, com vista

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ao objetivo comum. Para além das suas distintas funções, cada área tem que

recorrer, pontualmente, a outras para obter a eficácia, eficiência e efetividade da

comunicação organizacional, e consequentemente, das ações da organização. Pelas

palavras de Margarida Kunsch:

“deve haver total integração entre a Comunicação Interna, a Comunicação Institucional e a Comunicação Mercadológica para a busca e o alcance da eficácia, da eficiência e da efetividade organizacional, em benefício dos públicos e da sociedade como um todo e não só da organização isoladamente” (2009: 115).

4.4.3.1 Comunicação enquanto função estratégica da organização

Segundo Margarida Kunsch:

“as organizações devem ter entre os objetivos de comunicação o de buscar o equilíbrio entre os seus interesses e os dos públicos a elas vinculados. Esses objetivos só serão alcançados se a comunicação for planejada de forma estratégica, utilizando técnicas de relacionamentos e meios específicos, devidamente selecionados, e integrando todas as atividades comunicacionais, dentro de uma filosofia de comunicação organizacional integrada” (SILVA: 2003, online).

Mas é de salientar que a organização hoje não pode ser vista desintegrada da

sociedade onde está inserida. O planejamento estratégico da comunicação tem que

ser feito tendo em conta também esse fator externo enquanto uma variável

fundamental. Segundo a mesma autora, “os projetos e as ações de comunicação

integrada levados a efeito necessitam estar alinhados com a missão, a visão, os

valores e os objetivos das organizações” (KUNSCH, 2009:116). É neste sentido que

as ações comunicativas assumem uma função estratégica. Desde 1990, diversas

reflexões têm sido feitas neste sentido, importadas dos Estados Unidos para o

Brasil por grandes estudiosos da área como é o caso da mesma autora e

investigadora.

O conceito atual de gestão estratégica implica considerar o “impacto da

cultura organizacional e das atividades da política interna na formulação e

implementação das estratégias” (STACEY, 1993 apud Kunsch, 2006a). Mais do que

nunca, as organizações precisam planejar, administrar e pensar estrategicamente a

sua comunicação, numa perspectiva de Comunicação Integrada, interna e

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externamente, como acabamos de verificar. Já não é possível que elas se pautem

por ações isoladas de comunicação. “Daí a necessidade não só de fazer o

planejamento estratégico, mas de se valer da administração estratégica e não se

prescindir da incorporação do pensamento estratégico” (KUNSCH, 2006a).

Para Margarida Kunsch,

“pensar e administrar estrategicamente a Comunicação Organizacional pressupõe: revisão e avaliação dos paradigmas organizacionais vigentes e da comunicação; reconhecimento e auditoria da cultura organizacional; e a identificação e avaliação da importância do capital intelectual integral das organizações, que nem sempre é levado em conta” (2009:117).

Basta um primeiro olhar para o diagrama apresentado para se notar a

complexidade da Comunicação Organizacional. A sua função, como também já

várias vezes referimos, assume-se como estratégica, na administração de todas as

áreas envolvidas e aí mencionadas, com o objetivo de agregar valor às

organizações. Segundo Margarida Kunsch, cabe-lhe:

“ajudar as organizações no cumprimento de sua missão, na consecução dos objetivos globais, na fixação pública dos seus valores e nas ações para atingir seu ideário de visão no contexto de uma visão de mundo, sob a égide dos princípios éticos” (2009:115).

Não nos podemos esquecer também da necessidade de uma filosofia e de

uma política organizacional integrada na organização que conheçam, prevejam e

antecipem as necessidades e exigências dos públicos estratégicos e da sociedade

em geral (KUNSCH, 2009).

4.4.3.2 As Relações Públicas na gestão estratégica da comunicação

Um ponto desde sempre defendido por Margarida Kunsch é a necessidade de

se considerarem as relações públicas no contexto ativo da comunicação integrada.

Fazem parte da gestão estratégica da comunicação organizacional e, em

consequência, da gestão estratégica da organização: “a Comunicação

Organizacional deve constituir-se num sector estratégico, agregando valores e

facilitando, por meio das Relações Públicas, os processos interativos e as

mediações” (KUNSCH, 2000:90).

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Neste mesmo sentido, o planejamento das relações públicas tem que ser feito

de acordo com o planejamento estratégico da organização, de acordo com os

valores e objetivos, metas traçadas e missão, assim como com a política e filosofia

da organização. As estratégias têm que ser definidas segundo objetivos globais da

organização e as diretrizes desenhadas globalmente, tendo em conta os objetivos e

as estratégias globais da organização. O planejamento das relações públicas não

pode ser feito isolado sem ter em conta as diretrizes e planos para as outras áreas

e departamentos da organização. A comunicação é vista como um todo na

organização, segundo uma visão holística, em que as várias áreas se influenciam

mutuamente, criando valor numa perspectiva sinérgica à organização. Cabe às

relações públicas a administração estratégica dessa comunicação, não só com os

públicos internos à organização, nomeadamente os funcionários, mas também com

outros externos com ela envolvidos como os consumidores e clientes, meios de

comunicação social, fornecedores e distribuidores, e outros, com a definição de um

projeto global de comunicação interna e de políticas de comunicação externas, aqui

em colaboração com a área de marketing. A concretização dessas ações prevê a

definição de planos que se traduzem em programas concretos de ação.

Maria Aparecida Ferrari, baseando-se em vasta bibliografia que tem feito ao

longo da sua vida de acadêmica e investigadora, apresenta argumentos

defendendo que o responsável pelas relações públicas trabalha construindo

relacionamentos com grupos distintos e que alguns desses relacionamentos

poderão afetar diretamente as ações organizacionais, outros nem tanto. Mas nos

ambientes organizacionais é ele o responsável pela interação com os componentes

sociais e políticos que fazem parte do ambiente institucional de uma organização

(FERRARI, 2009).

As relações públicas têm ainda a função de dar assessoria à alta direção no

sentido de fazer a leitura de cenários das ameaças e das oportunidades presentes

na dinâmica do ambiente global da organização, avaliando a cultura organizacional

e as condições do ambiente interno para responder estrategicamente, por meio de

ações comunicativas planejadas com eficiência e eficácia (KUNSCH, 2009b). O

desenvolvimento da comunicação organizacional necessita, assim, do desempenho

das funções estratégicas de relações públicas, área organizada e edificada em

premissas de diagnoses ambientais e de cenários junto ao planejamento sistêmico

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e permanente das suas ações. As relações públicas utilizam ainda os ensinamentos

da gestão e da administração de processos alheios à sua praxis profissional, sendo

relevantes para a eficácia das atividades organizacionais o trabalho conjunto e

paralelo com outras atividades, teorias e metodologias. Integram a comunicação,

áreas afins, e, também, áreas mais distantes de suas aplicações, como subsídio para

a sua excelência como atividade teórico/prática, com base num plano estratégico

de comunicação integrada.

4.5 O alinhamento estratégico

Introduzimos aqui um outro conceito importado dos Estados Unidos pelo

Brasil. O conceito de AAlliinnhhaammeennttoo EEssttrraattééggiiccoo –– BBaallaanncceedd SSccoorreeccaarrdd – criado por

Kaplan & Norton (1997), professores de Harvard Business School, importada e

traduzida a obra pelo Brasil (1997) .

Conseguimos encontrar um paralelo no presente conceito ao de comunicação

organizacional integrada.

É um conceito que situa o seu foco de análise prioritário no público interno,

onde começa por ser necessária a atenção da comunicação, mas também dedica

uma visão aos públicos externos da organização.

Os autores afirmam que o planejamento e a estratégia das empresas falham

nos processos da implementação e que menos de 10% das estratégias são

efetivamente executadas devido à falta de alinhamento estratégico entre a

organização e seus funcionários.

Ele baseia-se na ideia de que a performance econômica de uma organização

está relacionada com a capacidade dos seus gestores conseguirem uma boa

posição estratégica no mercado.

A aplicação desse conceito caracteriza plenamente a mudança de paradigma

da Comunicação Empresarial/Organizacional dos anos 80 aos dias de hoje. As

ações de comunicação isoladas que então se praticavam deixaram de ter razão em

favor da ação concertada e integrada de todas as áreas e ações que hoje compõem

a comunicação nas organizações.

Indo um pouco mais além, podemos seguir a afirmação de Margarida Kunsch,

“os projetos e ações de comunicação integrada levados a efeito necessitam estar

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alinhados com a missão, a visão, os valores e os objetivos das organizações”

(KUNSCH, 2009:116).

O conceito de Kaplan e Norton, que agora exploramos, encontra-se implícito à

visão da autora que acabamos de citar.

De modo objetivo, podemos dizer que o alinhamento consiste numa situação

em que todos os membros da organização, desde o funcionário mais elementar, ao

administrador de mais alto nível, partilham a mesma visão e entendem a

importância dos seus papéis e das suas atribuições para a obtenção dos objetivos

da organização que, na realidade, são os seus. Isto é fundamental: que todos

estejam envolvidos, ou se envolvam, para repensar a comunicação e o

relacionamento entre a organização e os colaboradores. A comunicação é o fator-

chave para promover o alinhamento estratégico dentro da organização e facilitar a

obtenção dos objetivos organizacionais e a estratégia institucional a mais longo

prazo.

Se os colaboradores não estiverem bem informados ou não entenderem bem

a estratégia organizacional, não poderão estar preparados para corresponder com

alternativas inovadoras, contribuindo para a consecução dos objetivos delineados

no planejamento estratégico. Aqui o papel da comunicação interna é fundamental

como contributo para elucidar, esclarecer, orientar os colaboradores da

organização sobre as necessidades dos clientes, as debilidades da organização e

alternativas para superarem essas debilidades. Ou seja, na forma de agirem e

corresponderem, sempre com o objetivo do cumprimento da estratégia da

organização, com vista ao sucesso planejado.

“A Comunicação, genericamente considerada, é importante na gestão da empresa tanto a nível do Planeamento como a nível da Coordenação. A nível do Planeamento na medida em que só através de informação actualizada e pertinente a empresa poderá definir estratégias para alcançar os objectivos que, à partida, definiu; a nível da Coordenação como um elo de ligação no funcionamento e articulação dos órgãos que permitem à empresa encontrar-se como um sistema integrado de acção” (MATEUS: 1999-2001:484).

Para ser estratégica e eficaz, a comunicação deve orientar os órgãos

dirigentes sobre as formas de comunicar os seus objetivos da forma mais eficiente,

criando em simultâneo um ambiente participativo que favoreça a gestão dos

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75

processos de mudança e quantifique o impacto das iniciativas comunicacionais, de

modo a personificar uma identidade de organização colaborativa, orientada para

os principais clientes, colaboradores, consumidores e sociedade.

Se a comunicação não está a cumprir uma função estratégica dentro da

empresa, se ela não incorpora o desafio diário da gestão da mudança, se não

espelha a arquitetura de uma cultura corporativa comprometida com metas,

objetivos, desempenho e resultados, dificilmente o alinhamento se concretizará,

pois, alinhamento estratégico supõe mudança, e mudança não funciona sem

comunicação estrategicamente planejada..

No que respeita ao alinhamento estratégico entre a organização e os seus

colaboradores, naturalmente será necessário administrar estrategicamente a

comunicação interna. As lideranças terão uma missão particular nesse sentido, no

que respeita à gestão da estratégia e à gestão da comunicação, mas principalmente

à “gestão estratégica da comunicação da estratégia”.

Saliente-se que estes são alguns aspectos apenas que consideramos mais

significativos e generalistas do conceito Alinhamento Estratégico. É ainda de

referir, no entanto, que os idealizadores do Balanced Scorecard deixam claro que a

eficácia do alinhamento decorre de dois simples atributos: a capacidade em

traduzir claramente a estratégia e a capacidade de ligar a estratégia a um sistema

de gestão capaz de medir o desempenho e os resultados. Declaradamente dois

atributos do âmbito da comunicação. E reservamo-nos a responsabilidade do

registro. Assim vejamos: ao transmitir-se a estratégia, encontra-se uma ação de

comunicação direta, unilateral, em termos de informação. Ao ligar-se ao sistema de

gestão para medir a eficácia do processo começa-se com uma necessidade de ação

de feedback, que tem que ser isenta de ruídos, à partida, para que a percepção da

eficácia não sofra de imediato desvios sensíveis no processo de análise. A própria

análise pelo sistema de gestão do desempenho e resultados, certamente vai ser um

processo de comunicação, com tudo o que lhe está implícito, pela natural interação,

própria avaliação, e consequente transmissão de resultados.

Apenas realçamos a necessária manifesta seriedade do processo com vista à

eficiência, à eficácia e à efetividade da comunicação.

Pegando ainda na referência que acima fizemos à posição da autora

Margarida Kunsch, relativamente aos princípios do presente conceito, verificamos

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um paralelismo com a perspectiva implícita ao seu novo conceito de Comunicação

Organizacional Integrada.

No fundo, acreditamos que sejam os princípios básicos de uma corrente mais

vasta em resposta às necessidades ditadas pela conjuntura que caracteriza as

organizações atuais e as características sociopolíticas do momento.

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5. A FORMAÇÃO SUPERIOR EM RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL NO BRASIL E EM PORTUGAL

Introdução Interpretação do Tratado de Bolonha: única língua, distinta perspectivas

O reconhecimento e a avaliação do estágio do conhecimento da comunicação

organizacional nos impele imediatamente para os bancos da escola: o que se

ensina e o que se aprende, ou antes, como se aprende. Numa perspectiva dinâmica

da atualidade, em que a tônica do conhecimento se encontra no debate ativo

ensino versus aprendizagem, cabe-nos introduzir as nuances que levam às distintas

opções entre os países em análise. Interessa-nos distinguir se a lógica educacional

dos sistemas de ensino se encontra preferencialmente perspectivada "numa lógica

educacional centrada nos docentes, ou centrada nos alunos. Ou seja, se os docentes

são mais do tipo racionalista ou comportamentalista, ou, ao invés, mais do tipo

cognitivista ou construtivista, ou se, por outro lado, se assumem posições ecléticas,

ou mesmo, neutras" (FIGUEIRA, 2001, resumo). É o meio acadêmico que apresenta

a estrutura de um ensino com uma função não só imediatista, mas de base a uma

concepção de vida, de organização, de resposta à sociedade, às necessidades de

cada economia.

Antes de tudo, há que se perceber o conceito e a filosofia inerentes a cada

sistema de ensino.

As mudanças da vida econômica e social, a oportunidade para cada sistema

socioeconômico e seu estágio de evolução. E, caso o momento implique uma

mudança radical, ou considerável, como aconteceu com as adaptações ao processo

de Bolonha com a sua aplicação numa Europa, que se pretende unificada também

ao nível do ensino, há que se providenciar a preparação das mentalidades para a

sua aceitação. Mas há, sobretudo, que pensar em aspetos muito concretos: a

preparação de recursos materiais e humanos à altura da nova oferta.

Uma mudança requer tempo. Tempo de adaptação, tempo de aceitação.

Particularmente quando o objeto são "pessoas". Há sempre que ter em atenção as

antigas estruturas como sombra de uma nova situação. Nem sempre os resultados

se obtêm tão facilitados quanto se desenharam. Por vezes existem aspetos que se

interpõem à nova realidade. São as particularidades daí decorrentes que nos

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impelem ao debate, ainda que sumário, dos modelos em que se concretizam as

estruturas de ensino superior, sujeitos a recentes transformações a nível da

maioria dos países que compõem a União Europeia, e que afetaram Portugal no

todo do seu ensino superior. Mas esta será uma discussão necessariamente adiada.

Fazendo a comparação com a diferente opção tomada pelo meio acadêmico

brasileiro, encontramo-nos perante distinta oferta em termos de estruturas, como

tentativa de resposta mais flexível e imediata a uma sociedade mais versátil,

perante aquela mais tradicional, mas consistente, que revela uma concepção e uma

filosofia de caráter mais clássico do ensino superior, em relação à portuguesa

sobre a qual também nos debruçamos no nosso país. Realidades distintas, com um

mesmo objetivo, conduzidas por filosofias próprias, objetos da nossa análise na

presente investigação.

Relativamente ao ensino superior da comunicação no Brasil, encontramos

uma estrutura habitual composta de graduação (bacharelado) em Comunicação

Social com habilitação em Relações Públicas, cujo curso tem duração de quatro

anos. Em Portugal, após a adesão ao modelo de Bolonha, encontra-se instituída a

estrutura de três anos de licenciatura, hoje genericamente denominada Ciências da

Comunicação, com várias especializações no campo das Relações Públicas e

Relações Institucionais e outras, com a possível ampliação de mais dois anos para

obtenção de Mestrado, que na prática é o que acontece quase com a generalidade

dos alunos, pela consequente desvalorização das licenciaturas com a aplicação do

modelo.

A transformação no panorama do ensino superior português apresentou-se

considerável. Voltaremos ao assunto em posterior capítulo.

5.1 NO BRASIL

Introdução

Não é nossa intenção ousar apresentar aqui o complexo sistema de ensino

superior existente no Brasil. Na realidade, a educação superior no Brasil abarca,

hoje, um sistema complexo e diversificado de instituições públicas e privadas com

diferentes tipos de cursos e programas, incluindo vários níveis de ensino, desde a

graduação até a pós graduação (NEVES, Clarissa, online).

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Faremos apenas um pequena abordagem contextual ao ensino superior em

Relações Públicas, que nos servirá de base à pesquisa que efetuaremos de seguida.

5.1.1 Os primeiros cursos em Relações Públicas

Em termos de filosofia, podemos adiantar que desde a sua introdução no

meio acadêmico brasileiro, os cursos de Relações Públicas se encontravam

próximos da área de Administração. Essa era a tendência que se verificava com o

“Parecer nº 890/68, que destacava as disciplinas de Administração para a

formação do profissional de Relações Públicas” (MOURA, online6, apud Andrade

1983:158).

No entanto, essa tendência, pelo menos em termos formais, teve que ser

abandonada uma vez que, em 1968 pela Resolução nº 11/69, foi instituído o Curso

de Comunicação Social com essa habilitação, tendo o curso ficado, a partir daí,

vinculado à área de Comunicação.

Foi assim que a ECA-USP se tornou a primeira escola de comunicação com o

curso de graduação em Relações Públicas, em 1967.

Logo no ano seguinte, em Recife, a ESURP – Escola Superior de Relações

Públicas, teve a mesma iniciativa, ao mesmo tempo que, no Rio Grande do Sul, onde

foi criado o Curso de Comunicação Social da FAMECOS/PUC-RS – Faculdade dos

Meios de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul -

apresentou aos seus alunos a possibilidade de uma especialização em relações

públicas no quarto e último ano do curso, entre várias outras.

5.1.2 A década de 1970 e o pioneirismo em pós-graduação

Por sua vez, no que respeita às pós-graduações, o pioneirismo também coube

à ECA-USP, quando, nos anos 1970, criou os primeiros mestrados e doutorados na

área, aspecto que desenvolveremos um pouco mais à frente.

Ainda na década de 1970, os cursos de Comunicação Social, com várias

especializações, incluindo a de Relações Públicas, proliferaram em todo país,

distribuídos pelos vários estados.

6 Texto adaptado do prefácio elaborado para a coletânea organizada por Ada Cristina Machado da Silveira,

intitulada “Práticas, Identidade e Memória: 30 anos de Relações Públicas na UFSM”. Santa Maria, 2003, p.

09-14.

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Para além disso, os cursos componentes da área agregaram-se, integrando

uma área mais vasta formando cursos mais genéricos de Comunicação Social, ao

nível de bacharelados.

Segundo Kunsch7, atualmente existem centenas de cursos em todo o território

nacional, concentrados principalmente nas regiões sudeste e sul.

Tal fato impede-nos uma análise exaustiva, curso a curso, e mesmo

universidade a universidade, ao contrário do que nos é permitido fazer para

Portugal com as Licenciaturas em Comunicação Social e Relações Públicas. A

distinta dimensão dos países torna o fato compreensível.

5.1.3 A regulamentação nacional do curso de Comunicação Social

Não queremos deixar de manifestar uma última referência ao ensino das

Relações Públicas e da Comunicação referindo as Diretrizes Curriculares Nacionais

do Curso de Comunicação Social e de Suas Habilitações, aprovadas em 03 de Abril

de 2001 com o parecer CNE/CES 492/2001, do Conselho Nacional da Educação,

homologadas em 4 de Julho de 2001, pelo então Ministro da Educação (KUNSCH).8

Essas diretrizes visam basicamente:

a) Flexibilizar a estrutura dos cursos para responderem às necessidades

dos locais onde são administrados;

b) Estabelecer orientações para atingirem determinado padrão de

qualidade.

De qualquer modo, o que para nós aqui se demonstra de maior relevo é o

conhecimento obtido após a graduação: as pós-graduações (cursos de Mestrado e

Doutorado e também a Livre-docência.). A investigação obtém-se a partir daí e o

conhecimento também. É esse o nosso objeto de análise principal no presente

trabalho, pelo que lhes dedicaremos um capítulo em particular. Teremos, no

entanto, o cuidado de referir também nesse contexto alguns cursos de

especialização que, embora dirigidos a alunos já graduados, qualificados, não

equivalem à pós-graduação. Com caráter mais teórico ou mais prático, consoante

as áreas, permitem atualizações, aprofundamentos e aperfeiçoamentos em campos

determinados de conhecimento.

7 Idem, 118

8 Idem, ibidem

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5.2 Em Portugal

5.2.1 Os primeiros cursos

O batismo das licenciaturas de caráter público em comunicação em Portugal

se dá no ano de 1979, na Universidade Nova de Lisboa, pelo Decreto nº. 128-A/79,

de 23 de novembro e logo de seguida, em 1980, surge o curso na Universidade

Técnica de Lisboa, criado por um Decreto de 17 de maio, curso este por nós

realizado. Eram denominadas Licenciaturas em Comunicação Social, com a

vertente de Relações Públicas enquanto especialização e como opção. Saliente-se

que a Licenciatura da Universidade Nova salientava-se pela especialização em

Jornalismo. Era essa a sua grande vocação.

Já quase uma década antes, o Instituto das Novas Profissões, instituição de

ensino não-público, mais conhecida por INP, conseguira ver o reconhecimento dos

seus cursos no âmbito do ensino superior com a aprovação do estatuto do

estabelecimento de ensino superior pelo então Ministro da educação nacional a 28

de Junho de 1971, após sete anos de atuação em campo não legalizada (Cabrero e

Cabrero, 2001: 201).

Ao longo dos anos 80, começam a proliferar vários cursos de comunicação

social, mas também principalmente na vertente do jornalismo.

Em 1989, numa fase ainda relativamente recente da introdução do estudo da

comunicação no meio acadêmico em Portugal, decidimos fazer um ponto da

situação como contributo ao “3º Congresso Europeu de Relações Públicas”

(MATEUS:1989), que se traduz de grande utilidade em termos de conhecimento

genérico e representativo das antigas estruturas institucionalizadas do ensino

superior em Portugal para a área da comunicação e relações públicas.

Já nessa altura, há mais de duas décadas, defendíamos princípios que para

nós se mantêm básicos, quer no âmbito das Relações Públicas, quer da

Comunicação Empresarial e Institucional, e portanto, fundamentais para o ensino

das Ciências da Comunicação, como fazemos questão de apresentar reportando-

nos à época em questão:

“Nos dias de hoje, porém, teoria sem aplicação não faz sentido e prática sem fundamento teórico não é válida. É com base nesta proposição que ambas as licenciaturas (Comunicação Social e Relações Públicas) convergem num objectivo final que envolve as duas vertentes e tentam

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preparar a nível teórico-prático pessoas que saibam diagnosticar mas também interpretar, que saibam criar estruturas de evitação mas também resolver os problemas previstos e mesmo os ainda não previstos no contexto das Relações Públicas” (MATEUS, 1989: Introdução).

Relativamente ao panorama de ensino superior na área das relações públicas,

encontravam-se em Portugal, no final da década de 1980, duas situações em

paralelo:

a) uma com caráter oficial;

b) outra que englobava o ensino particular oficializado.

A primeira apresentava as duas Licenciaturas em Comunicação Social

existentes no país:

- Da Universidade Nova de Lisboa, dada na Faculdade de Ciências Sociais e

Humanas; e

- Da Universidade Técnica de Lisboa, desenvolvida no Instituto Superior de

Ciências Sociais e Políticas.

A segunda apresentava duas situações distintas:

- Por um lado a licenciatura em Relações Públicas e Publicidade do Instituto

das Novas Profissões, por outro,

- Os então muito recentes bacharelato e licenciatura em Relações Públicas e

Publicidade do Instituto Superior das Ciências de Informação e da Empresa.

Um pequeno detalhe em relação aos cursos:

Licenciaturas em Comunicação Social (CS)

- Na Universidade Nova de Lisboa:

A licenciatura em CS era fundamentada nas Ciências Sociais e Humanas,

possuindo um tronco comum de dois anos, a partir do qual se desenvolviam as

várias especializações ao longo de mais dois anos. Uma destas especializações era

precisamente a das Relações Públicas (RP).

- No ISCSP da Universidade Técnica de Lisboa:

A licenciatura em Comunicação Social (CS) era composta também por um

tronco comum de dois anos com uma forte componente de cadeiras das Ciências

Sociais e Humanas.

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Algumas cadeiras persistiam comuns às várias áreas nos dois anos

especialização (3º e 4º). Uma delas era a cadeira de Técnicas de Marketing e

Relações Públicas.

Nos 3º e 4º anos, os de especialização, de entre as três áreas de opção, os

alunos podiam escolher pela de RP, Publicidade e Marketing.

Licenciaturas e Bacharelato em Relações Públicas e Publicidade

- O Instituto das Novas Profissões:

Há que dar uma palavra particular ao INP, o Instituto de Novas Profissões – o

atual Instituto Superior de Novas Profissões. Criado em 1964, foi o primeiro no

país a oferecer um curso de relações públicas, então ligado ao turismo.

Pioneiro na área, não-público, só viria a ver reconhecido o seu estatuto de

nível superior posteriormente, pelo então Ministro da Educação Nacional a 28 de

junho de 1971.

No momento dessa nossa investigação, em 1987, a licenciatura em Relações

Públicas e Publicidade do INP possuía algumas cadeiras teóricas fundamentais à

compreensão do relacionamento humano - Sociologia, Psicologia Social - e outras

relacionadas com o elemento humano nas organizações - Gestão de Pessoal,

Sociologia das Organizações, etc. O curso tinha uma forte componente de

especialização na área das relações públicas: possuía quatro cadeiras anuais de

relações públicas distribuídas ao longo do curso.

- No Instituto Superior das Ciências da Informação e da Empresa:

O curso era formado por dois ciclos. A conclusão do 1º ciclo equivalia à

obrigatoriedade do cumprimento de cento e cinquenta unidades de créditos e

conferia o grau de bacharelato.

O 1º ciclo podia ser completado com o 2º ciclo, situação a que se atribuía o

grau de licenciatura.

Na sua estrutura curricular, o Curso de Relações Públicas e Publicidade do

ISCIE continha poucas cadeiras ligadas às Ciências Sociais e Humanas e várias de

caráter técnico e pragmático.

• A duração dos cursos

A duração dos cursos de licenciatura em Comunicação Social em Portugal era,

em geral, de quatro anos ou oito semestres, sendo que alguns contemplavam

estágios profissionais com períodos de duração variável no final do curso, o caso

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da licenciatura desenvolvida no ISCSP, da UTL; os cursos com estrutura de

bacharelato tinham a duração de três anos ou seis semestres.

5.2.2 Um novo conceito para o Ensino superior: a aplicação do modelo de Bolonha e as transformações nos sistemas de ensino em Portugal

Num momento ainda recente da introdução dos cursos de comunicação em

Portugal, o país se vê confrontado com a necessidade da alteração da generalidade

das estruturas do seu ensino superior, pelo fato de ter feito a sua adesão à

Comunidade Europeia. Entre outras diretrizes comuns, o ensino superior passou a

ser objeto de uniformidade entre os vários países aderentes.

Firmado oficialmente em 19 de junho de 1999, em Itália, por ministros

ligados à educação de 29 países do velho continente, o documento que traduziu a

declaração de Bolonha previu a criação do Espaço Europeu de Ensino Superior -

uma região em que os currículos passaram a ser unificados, os créditos multi-

validados e os estudantes a ter livre mobilidade entre os países aderentes.

Paralelamente, os diversos níveis foram compactados, reduzindo o tempo de

formação.

Nos novos moldes, os estudantes podem alcançar o título de Doutor em oito

anos – no formato chamado de 3+2+3 (licenciatura + mestrado + doutorado).

Após um longo período de debates, decidiu-se pela criação de um espaço

único em que os estudantes pudessem transitar livremente, validando os seus

créditos nos vários países aderentes.

Em essência, passa-se de um paradigma de ensino para um paradigma de

aprendizagem.

As prioridades assinadas naquela declaração foram:

“…a adoção de um sistema convergente de graus académicos entre os países, adoção de um sistema de educação superior em dois ciclos, o estabelecimento e generalização de um sistema de créditos acumuláveis, a promoção de mobilidade acadêmica, a garantia de qualidade e o incremento da dimensão europeia da educação superior” (WIELEWICKI, e OLIVEIRA: 224 online).

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5.2.2.1 A reforma do sistema educativo e o Processo de Bolonha em Portugal Hoje, em Portugal, o ensino superior encontra-se estruturado no âmbito do

acordo firmado na Declaração de Bolonha, entre os países da União Europeia, e

definido na Lei de Bases do Sistema Educativo - lei nº 49/2005 de 30 de agosto.

Em março de 2010, encontrava-se concretizada, de forma generalizada, a

implementação do processo de Bolonha num contexto de profunda reforma do

sistema de ensino superior Português (online 2010)9.

Pouco antes dessa data, fora firmada uma assinatura entre o governo e todas

as instituições universitárias e politécnicas, de um Contrato de Confiança, onde as

instituições do ensino superior assumiam compromissos claros e rigorosos para

qualificar com habilitações de nível superior mais de 100 mil indivíduos da

população ativa durante o período de 2010 a 2013, em contrapartida ao reforço

dos orçamentos para o seu funcionamento.

O contrato encontrava-se consagrado na proposta de Orçamento de Estado

para 2010 e tinha como objetivo o cumprimento das diretrizes do Processo de

Bolonha em Portugal.

Esses aspectos acabaram por ser discutidos e reconhecidos no Conselho

Europeu de Educação do dia 15 de fevereiro de 2010.

Atualmente, o ensino da comunicação em Portugal encontra-se padronizado

na generalidade dos cursos que sofreram transformações de adaptação a diretrizes

de Bolonha.

Dessa forma, para um rigor legislativo, entendemos apresentar o suporte

mais relevante que permitiu a adaptação ao processo de Bolonha: com base em

“Desenvolvimento da educação em Portugal – Ensino Superior Relatório Nacional

de 2004- volume II” online:

- Dec. lei nº 296-A/98, de 25 de setembro – fixa as condições de acesso ao

ensino superior, alterado pelos Docs. lei nº 99/99 de 30 de março e 26/03 de 7 de

fevereiro;

- Lei nº 1/2003, de 6 de janeiro, que aprova o Regime Jurídico do

Desenvolvimento e da qualidade do Ensino Superior;

9 Bolonha em Portugal e a reforma do ensino superior 2010.

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- Lei nº 37/2003, de 27 de agosto, que estabelece as bases de financiamento

do ensino superior;

- Lei de Bases do Sistema Educativo- Lei nº 49/2005 de 30 de agosto.

5.2.3 O panorama atual da Comunicação nas Organizações e das Relações

Públicas no âmbito do ensino superior português Foi derivado das novas diretrizes europeias que mudou muito o panorama

acadêmico da comunicação em Portugal, com amplas influências da Comunidade

Europeia.

Cabe agora conhecer o panorama da Comunicação nas Organizações e das

Relações Públicas no âmbito do ensino superior português após a sua entrada em

vigor, que segue as definições da lei bases do Sistema Educativo de 2005,

anteriormente referidas:

- O primeiro aspecto que de imediato ressalta é o grande aumento de

estabelecimentos de ensino e cursos inerentes verificado.

- Desse vasto número anunciado, fazem parte dois tipos de estabelecimentos

de ensino, com vocações distintas: Universidades e Institutos Politécnicos.

- Completam um total de 23 unidades, independentemente dos distintos

cursos e níveis que mais à frente analisaremos. São unidades originárias de dois

setores, que se verificam não muito distintas nas suas estruturas:

a) Público

b) Privado e Cooperativas de ensino

Dentro desses estabelecimentos, Universidades e Politécnicos, encontramos

Licenciaturas e Mestrados, nalguns casos também Doutorados – estes apenas nas

Universidades e Públicas - em convívio direto, por todo país.

É de ressaltar o grande aumento e diversificação dos Institutos Politécnicos.

Tudo isto será objeto da nossa análise seguinte, ainda que sumária, devido à

vasta proliferação da área, em termos quantitativos, nos últimos anos.

5.2.3.1 As universidades públicas e o ensino da Comunicação

A oferta do ensino superior universitário da área da comunicação, traduzida

neste novo desenho e conceito, pode ser encontrada em pleno com a existência de

licenciaturas, mestrados e doutorados nas seguintes Instituições:

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UBI– Universidade da Beira Interior

UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto -Douro

UMINHO – Universidade do Minho

Todas elas apresentam:

- uma licenciatura em Ciências da Comunicação onde privilegiam as

atividades de comunicação empresarial, como a comunicação interna, a publicidade,

as RP, a comunicação estratégica e de crise e também a assessoria na área da

comunicação institucional;

- um mestrado, com uma designação mais ou menos concreta, mas que prevê

uma especialização nas RP e na comunicação empresarial, defendendo o da UBI

mesmo a especialização de Comunicação Estratégica: publicidade e RP;

- quanto a doutorados, a UBI mantém a sua linha de pesquisa e consequente

designação em Comunicação Estratégica, enquanto que o curso da UTAD se lança

na Direção de Comunicação Empresarial, ao nível do planejamento, avaliação,

decisão e liderança de projetos de comunicação empresarial e a UMINHO tenta,

com o seu curso, corresponder a necessidades locais e encontrar pontes para

relações com países de expressão oficial portuguesa.

UTL-ISCSP não foi integrado no conjunto acima uma vez que não ministra

Doutorado na área. Fica-se pela Licenciatura em Ciências da Comunicação e pelo

Mestrado em Comunicação Social, com a especialização em Comunicação

Estratégica que visa dar complementaridade à licenciatura.

Apresenta, no entanto, uma alternativa compatível, de um doutoramento em

Ciências Sociais com distintas especializações, sendo uma delas a de Ciências da

Comunicação. Trata-se de um curso com seis semestres curriculares, inserido nas

áreas científicas da Sociologia e das Ciências da Comunicação.

UNL - A Universidade Nova de Lisboa, por seu lado, ministra cursos nos três

ciclos de Ciências da Comunicação na área da Comunicação Organizacional e

Institucional, mas limita a sua vertente à especialização de Comunicação

Estratégica, em todos eles.

UMADEIRA – A Universidade da Madeira, por sua vez, ministra apenas a

Licenciatura em Comunicação, cultura e organizações.

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5.2.3.2 As universidades não-públicas e o ensino da Comunicação

A par das cinco acima apresentadas, temos outras cinco unidades não

públicas de ensino universitário que ministram o ensino da comunicação:

INP - Instituto de Novas Profissões

ULHT - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias

UFP - Universidade Fernando Pessoa

UAL - Universidade Autónoma de Lisboa

UCP – Universidade Católica Portuguesa

No que diz respeito às licenciaturas, contrapõe-se, de imediato, o caráter

aplicado da designação das apresentadas pela Universidade Lusófona e pelo INP-

estando nessas mais explícita a perspectiva das RP - ao caráter generalista das

restantes (Ciências da Comunicação). Mas todas expressam uma vertente

organizacional e institucional da comunicação no seu programa.

Relativamente aos mestrados, verifica-se a generalidade da sua coexistência,

à exceção da UCP. Ainda assim, o curso ministrado na UAL encara vertentes bem

distintas das áreas que fazem parte do objeto do presente estudo.

Reduzidos às restantes, resta-nos verificar que, na Universidade Lusófona, os

mestrados são orientados numa vertente mais global, de Ciências da Comunicação

e Teoria das Organizações ou então de forma idêntica, de Comunicação Integrada,

como no INP; contrariamente na UFP, o mestrado apresenta um ramo de

especialização em Relações Públicas.

É de realçar, como referimos anteriormente, que o maior desenvolvimento no

ensino superior deu-se muito mais ao nível politécnico. Este, tanto no público

como não - público veio inundar o meio acadêmico dos dias de hoje.

5.2.3.3 Os institutos politécnicos públicos e o ensino da Comunicação

Consubstanciam-se em número de oito os institutos politécnicos que,

atualmente, consoante o acordo de Bolonha, conferem o grau de licenciatura,

através de Escolas Superiores Públicas. São eles:

ESCS- Escola Superior e Comunicação social - Instituto Politécnico de Lisboa

ESE- Escola Superior de Educação - Instituto Politécnico de Viseu

ESE - Escola Superior de Educação - Instituto Politécnico de Portalegre

ESEC - Escola Superior de Educação de Coimbra -Instituto Politécnico de Coimbra

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ESEC - Escola Superior de Educação e Comunicação - Instituto Politécnico de Faro

ESECS - Escola Superior de Educação e Ciências Sociais - Instituto Politécnico de

Leiria

ESECD - Escola Superior de Educação, Comunicação e Desporto - Instituto

Politécnico da Guarda

EST- Escola Superior de Tecnologia de Abrantes -Instituto Politécnico Abrantes

Trata-se de denominadores comuns nos programas, na apresentação de

áreas específicas como Relações Públicas, Comunicação Empresarial, Estratégia de

Comunicação Institucional, Comunicação Interna, entre outras especializações e

algumas particularidades a cada um.

As designações variam de Ciências da Comunicação a Comunicação

Organizacional, com especialização em RP e Comunicação Empresarial,

Comunicação Social, e afins.

Na ESCS do IPL, a licenciatura em Relações Públicas e Comunicação

Empresarial pode ainda ser desenvolvida com o mestrado em Gestão Estratégica

das RP, numa vertente primordial de investigação dessa área da Comunicação

aplicada.

Atualmente, há um protocolo com o ISCTE, superior universitário, para a

realização de um doutorado em Ciências da Comunicação.

5.2.3.4 Os institutos politécnicos não-públicos e o ensino da Comunicação

ISCEM – Instituto Superior de Comunicação Empresarial

ISLA – Instituto Superior de Línguas e Administração

ISMAI – Instituto Superior da Maia

ISCAP – Instituto Superior Contabilidade e Administração do Porto

ISMT – Instituto Superior Miguel Torga

ISESP – Instituto Superior de Espinho

ISCIA – Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração

Curiosamente, como aliás não é de se estranhar, encontramos nos institutos

politécnicos não-públicos uma perspectiva mais apelativa na designação dos

cursos, em ordem às empresas, que se apresenta convergente entre eles de

Comunicação Empresarial.

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90

À exceção da licenciatura do ISMAI, que coincide com a maioria das públicas,

com o nome de Ciências da Comunicação, todas as outras têm aquela designação,

ou então Secretariado e Comunicação Empresarial, o caso da do ISLA.

Quanto ao seu conteúdo, todas convergem no ensino da Comunicação

empresarial e institucional, assessoria, relações com a comunidade, técnicas de

comunicação organizacional, protocolo. Com mais ênfase numas áreas ou noutras,

todas optam por estas e outras igualmente, do foro externo à empresa.

Em complemento, encontra-se ainda aqui uma pós-graduação de Relações

Públicas e Organização de Eventos (uma vertente prática da comunicação), curso

sequente sem necessidade de apresentação de dissertação final no ISCAP.

Os mestrados também têm lugar no ensino não-público nas estruturas do

ISCEM e do Instituto Miguel Torga, com cursos de Comunicação Empresarial. Pelo

que pudemos observar, conteúdos que incidem em tendências de estratégias de

comunicação conjunturais, relações públicas e imagem de empresa.

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91

6. A PÓS-GRADUAÇÃO E AS LINHAS DE PESQUISA EM COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E RELAÇÕES PÚBLICAS

6.1 NO BRASIL

6.1.1 As linhas de pesquisa na pós-graduação em Relações Públicas e Comunicação Organizacional nas universidades do Brasil

Suscitou-nos um pouco de interesse a dicotomia ensino público/não-público

acerca da gestão das universidades, pelo que recorremos a informadores

qualificados10, a fim de melhor entender a relação com os estabelecimentos de

ensino e o próprio ensino superior.

Verificamos a importância que as confissões têm em nível da gestão de

muitos dos estabelecimentos e grupos de ensino superior no Brasil.

Pelo que apuramos, no que toca à religião, não haverá algum tipo de

influência no ensino, a nível da confissão, independentemente daquela que esteja

na origem do conhecimento e das estruturas universitárias. Foi a sensação com

que ficamos das informações que obtivemos. No Brasil, a prática será livre e

respeitada, evitando entrar-se na privacidade de cada um. É uma opção que em

nada parece interferir com a qualidade ou nível do ensino, tentando mesmo não se

levantar polêmica sobre o assunto. Se há alguma influência, e pelo que nos foi

transmitido teremos que considerar essa realidade, ela é dada mais sobre a relação

entre o ensino público e o privado.

Falamos de pesquisa, falamos de investigação, uma das responsabilidades da

pós-graduação. E no Brasil, segundo observamos, pelo menos na área da

Comunicação Organizacional e das Relações Públicas, o ensino superior público,

universitário, dispõe de melhor qualidade pelas exigências em pesquisa,

precisamente por poder contar com investimentos financeiros públicos para

pesquisa. As universidades privadas possuem recursos, mas têm aplicado os

investimentos principalmente em tecnologias e infraestruturas. Porém,

tradicionalmente, a universidade pública ainda é a que mais investe em pesquisa. É

o caso da USP (governo do Estado de São Paulo) e das universidades federais,

financiadas pelo governo federal. No entanto, não podemos deixar de destacar

algumas não-públicas, como é o caso da PUC e da Metodista, ambas confessionais

10

Oshiro, Ana Lúcia- Docente Universitária, Investigadora e consultora em Comunicação, São Paulo, Br.

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92

(embora confissões distintas), cujas preocupações com a pesquisa têm sido de

realçar. A verdade é que o MEC- Ministério da Educação e Cultura - parece

preocupar-se em exigir e fiscalizar com algum rigor a aplicação de recursos e o

reconhecimento das habilitações do corpo docente nos cursos das instituições de

ensino superior privadas, o que impele a um correspondente investimento em

pesquisa e a elevar os padrões de qualidade na oferta, de modo a evitar alguma

tendência que se possa verificar a limitarem-se a beneficiar do apoio concedido

pelo governo federal para ampliarem o acesso ao ensino superior e potenciarem a

sua lucratividade.

6.1.2 A pesquisa no âmbito do ensino superior e o papel da CAPES

A principal fonte de produção de conhecimento é, sem dúvida, a investigação.

No Brasil, a institucionalização da pesquisa se dá, de forma generalizada, com

a implantação dos cursos de pós-graduação, com a Reforma Universitária de 1968

(KUNSCH, 1992: 39-49).

Surge a CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior, entidade ligada ao Ministério da Educação. Trata-se de uma entidade que

faz avaliação permanente dos programas dos cursos, o que vai provocar uma

competição saudável em ordem a um aumento da qualidade contínuo dos mesmos.

A CAPES apresenta indicadores de avaliação anual e trienal dos programas dos

cursos (KUNSCH, 2009: Prólogo).

Uma das primeiras universidades a ser alvo dessa reforma foi a USP. Na

década de 1970, esta foi a pioneira na criação da pós-graduação em Ciências da

Comunicação, tendo contemplado tanto as Relações Públicas como a Comunicação

Organizacional nas suas linhas de pesquisa.

A pesquisa em Comunicação Organizacional partiu, exclusivamente, do meio

acadêmico, nomeadamente através de programas de pós-graduação em

Comunicação Social principalmente da ECA-USP e da UMESP – Universidade

Metodista de São Paulo. São daí as primeiras teses com objeto de investigação em

Comunicação Organizacional. Também da FEA, mas aí o objeto principal de estudo

muito raramente era tão exclusivo.

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93

6.1.3 A pesquisa nos anos 1990 - a mudança de paradigma

Só que os anos 90 vêm trazer uma mudança de paradigma à investigação no

país.

Vimos já, sumariamente, as mudanças aí geradas e que transformaram o

panorama de investigação no Brasil, mas também os conceitos agregados à

comunicação organizacional e relações públicas por parte dos acadêmicos que

constataram a necessidade de buscas distintas nesse sentido.

Os trabalhos tinham, até então, um caráter basicamente teórico, cujos

resultados não se aplicariam à prática profissional. Teoria e prática profissional

estavam distantes entre si. A assunção da nova perspectiva da comunicação

organizacional, enquanto estratégia, relativamente recente, e a crescente

participação dos profissionais nos cursos de pós-graduação, lato e stricto sensu,

que em muito se multiplicaram com a entrada do novo século, levaram à alteração

do panorama vivenciado até pouco antes que criava obstáculos para que a

pesquisa fosse incorporada à prática (BUENO; 2009b: 249).

O que se passava era a existência de um fosso entre a teoria - ainda não muito

explorada nos cursos de pós graduação - e os problemas reais da área que

deveriam ser investigados, mas não eram percebidos pelos pesquisadores por falta

de técnicas e metodologias para os reconhecerem.

Até muito pouco antes, a teoria apresentava-se incipiente na área da

comunicação organizacional e não existiam metodologias, técnicas ou

instrumentos para trabalhar os problemas concretos vividos pelos profissionais da

área (idem, 2009b: 251). Embora já se reconhecesse no Brasil a comunicação

estratégica no âmbito do discurso empresarial, em termos conceituais e realidades

organizacionais, era preciso ter muito cuidado com afirmações generalistas.

Compreende-se que, para se apresentarem resultados fiáveis, uma pesquisa tem

que ser cientificamente válida. Acontece que os dados obtidos não conferem

garantia sobre o número de organizações que põem em prática a comunicação

estratégica enquanto tal. Na realidade, ainda se verificava que a comunicação

estratégica apenas era:

“assumida por um número reduzido de organizações, mesmo porque, na prática, o staff responsável pela comunicação organizacional, mesmo competente, não foi definitivamente incorporado no processo de

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tomada de decisões e, na maioria dos casos, tem estado a reboque de outras instâncias (recursos humanos, marketing, tecnologia da informação, etc.)” (BUENO, 2009b: 251).

Cabe-nos um pequeno comentário a este respeito. Não nos podemos

esquecer que passou pouquíssimo tempo desde que os investigadores começaram

a definir e a trabalhar os campos teóricos da comunicação organizacional no Brasil.

Em nosso entender, era natural um estágio ainda primário da aplicação do novo

conceito de Comunicação Organizacional enquanto estratégia no país.

Principalmente porque isso implicava a passagem de um estado mais estático de

caráter observatório para uma abordagem mais dinâmica de aplicação prática no

objeto em causa. E passar da observação à ação é algo que implica alguma força de

vontade e, por vezes “coragem” para mudar o instituído. Já foi bastante debatido

por sociólogos e outros estudiosos o “processo de mudança”, donde se concluiu

não ser fácil nem célere de concretizar:

“…entendemos que el cambio debe darse siempre en el ámbito de una “gestión estratégica” que, desde el punto de vista sistémico, consiste en orientar las transformaciones y las alteraciones entre el sistema del que se es responsable y el respectivo ambiente. Esto lleva al gestor a interactuar con el sistema de nivel superior y com los subsistemas y sus elementos. Definir la estrategia de gestión necesita, por tanto, que se tenga en cuenta la globalidad del sistema, su ambiente, objetivos, agentes y condicionantes, si se quiere llegar a la coherencia de las acciones de la empresa y de los quipos que la componen” (MATEUS, 2011:101)

Thévenet (1986) foi um dos autores pioneiros a preocupar-se com a

comunicação nas organizações e em processos de mudança em organizações.

Apresentou o papel da comunicação como decisivo para a estabilidade interna em

situações de mudança. Segundo ele, “comunicar é um dos seus [da organização]

desafios permanentes” (1986:42).

Mostra-nos exemplos em que os gestores decidiram procurar a sua

identidade [da empresa] como meio de selar a coesão da empresa. Mas vai mais

longe. Entende que “a comunicação deve ser, num outro plano e para o conjunto

dos colaboradores, uma atitude, porque é factor seguro de eficácia”

(THÉVENET,1986:42).

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Citando Martin (s.d.), ele vê a comunicação como uma necessidade para as

empresas afirmarem a sua identidade no espírito dos seus públicos.

Mas não se fica pela notoriedade ou pela imagem externa até agora

apresentadas.

“A comunicação deve ser global” (THÉVENET, 1986:42). A empresa dirige-se

não só aos seus fornecedores e clientes, mas também aos seus colaboradores, que

ele já considera pertencerem aos seus públicos.

É uma perspectiva que já vai de encontro e complementa a perspectiva do

discurso de Bueno, no qual já se encontra a adesão de algumas organizações à

implantação da nova concepção da comunicação enquanto estratégia, o que

implica o planejamento, a consolidação de conceitos e a realização de pesquisa, já

não só de nível acadêmico, mas principalmente de caráter organizacional concreto.

Os objetos a pesquisar centram-se na análise de fluxos de informação, discursos

empresariais, imagem e reputação dos públicos de interesse e dos meios de

comunicação social, questões ligadas à comunicação e gestão, clima interno,

cultura empresarial, memória empresarial, crise empresarial, etc. (BUENO,

2009b:251), portanto, questões de caráter mais aplicado. Os objetos de

investigação são muitos, e Bueno conclui que o fundamental é utilizar as

metodologias adequadas para não comprometer as investigações, com o perigo de

criar as consequências negativas naturais às organizações.

Para além da pesquisa em nível acadêmico, à qual consagramos um capítulo

do presente trabalho, verificamos que tem ganhado campo de atuação a pesquisa

realizada por profissionais.

6.1.4 A multiplicidade e interdisciplinaridade na pesquisa em Comunicação

Organizacional Independentemente desse fator, a pesquisa sobre comunicação

organizacional encontra-se num momento em que não pode se encontrar mais

refém de antigos modelos fragmentados de análise do processo comunicacional,

que não pressupõem interação ou articulação das várias dimensões que compõem

o processo.

Para Silva Bueno (2009b), uma pesquisa em comunicação organizacional,

como nas outras áreas da Comunicação e das Ciências Humanas, obriga a uma

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perspectiva multi e interdisciplinar. Fatores de ordem psicológica, sociológica,

cultural, tecnológica, econômica, ambiental, e outros, concorrem para a eficácia do

processo.

Nessa medida, pesquisa que classicamente foi realizada sob uma ótica

individual apresenta-se com resultados incompletos, viciados e tendenciosos, com

a utilização de metodologias redutoras. Em termos de análise, herdaram os

modelos tradicionais da pesquisa jornalística, ou outras, o que vai segregar e isolar

os públicos estratégicos da comunicação organizacional, tornando-os estanques,

comprometendo o trabalho de investigação que precisa de os perspectivar na sua

globalidade, com as interações dinâmicas naturais, ao que acrescentaríamos numa

visão holística e sinérgica da comunicação integrada.

Para se conseguir chegar ao estágio em que se encontra hoje a pesquisa no

Brasil, vimos que não partem só da universidade os investimentos em investigação.

Existem incentivos, apoios por parte de outras entidades nesse sentido também

são identificáveis, como por exemplo:

A IINNTTEERRCCOOMM - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da

Comunicação, entidade científica que presta contribuição para o desenvolvimento

dos campos das Relações Públicas e da Comunicação Organizacional no Brasil.

Apoia a participação dos NP- Núcleos de Pesquisa nos congressos.

A AABBRRAAPPCCOORRPP - Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação

Organizacional e Relações Públicas. Criada em 13 de maio de 2006, em São Paulo,

tem como objetivo geral "estimular o fomento, a realização e a divulgação de

estudos avançados, resultantes de pesquisa, nos campos da Comunicação

Organizacional e das Relações Públicas". Realiza em conjunto com outras

universidades diversos congressos científicos de comunicação organizacional e

relações públicas, com o objetivo de contribuir para o avanço do campo. Os

trabalhos são apresentados no âmbito de grupos de trabalhos específicos de

distintas temáticas.

A OORRGGAANNIICCOOMM - Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e

Relações Públicas. Trata-se de uma publicação científica semestral, desde 2004,

que pretende reunir e divulgar os temas mais atuais da Comunicação

Organizacional e das Relações Públicas, trabalhados na universidade e é de real

importância para a sociedade. Encontra-se ligada ao Programa de Pós-graduação

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em Ciências da Comunicação da ECA-USP e ao curso de especialização em

GGEESSTTCCOORRPP - Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e RP do

Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo também da ECA e

ainda à ABRAPCORP.

Margarida Kunsch tem-se preocupado em construir um patrimônio científico

que permita conhecer os contributos do país para o conhecimento da comunicação

organizacional e das relações públicas. E muito tem feito nesse sentido, em prol da

ciência. Nos últimos anos, tem-se dedicado a levantar, mapear e indexar os

registros bibliográficos das áreas de relações públicas e de comunicação

organizacional no Brasil. Procura com esta iniciativa conhecer o estado da arte

desses campos do saber, mas sobretudo contribuir para a democratização dessa

produção e para a "construção de um saber novo".

Derivado do seu esforço, podemos hoje encontrar material sistematizado

para consulta nas seguintes bases que identificamos:

- Guia Brasileiro de Relações Públicas - levantamento e registro bibliográfico

com abstracts do conhecimento produzido sobre relações públicas, comunicação

empresarial e opinião pública durante o período de 1950 a 1995, realizado com o

apoio da ECA-USP e do CCNNPPQQ - Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e

tecnológico;

- UUNNIIEEXX - Base de Dados de Bibliografia de Produção Científica em Relações

Públicas e Comunicação organizacional no Brasil;

- UUNNIITTEESS - Base de Dados de Teses de Doutoramento e livre docência e

dissertações de Mestrado em Relações Públicas e Comunicação Organizacional no

Brasil;

- EESSPPEECC - Base de dados de Artigos sobre Relações Públicas e Comunicação

Organizacional no Brasil em Publicações Especializadas.

A partir do registro bibliográfico, com abstracts dos trabalhos realizados,

obteve-se uma seleção de livros, teses, dissertações de mestrado e artigos

publicados de 1950 a 2000.

No entanto, como acima referimos, já hoje merece destaque a pesquisa

realizada em paralelo por profissionais.

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A par das fontes de informação que acima acabamos de enunciar, podemos

encontrar outras geradas fora do âmbito acadêmico, uma mais-valia como

complemento à pesquisa aí realizada.

6.1.5 A pesquisa fora das universidades

Nesse sentido, BUENO (2009b: 252-253) apresenta-nos quatro iniciativas de

projetos que considera envolverem metodologias e profissionalismo relevantes:

oo IInnssttiittuuttoo AAbbeerrjjee ddee PPeessqquuiissaass ((DDaattaabbeerrjjee)),, oo CCoommuunniiqquuee--ssee,, aa IInntteerrSScciieennccee ee

aa CCoommtteexxttoo CCoommuunniiccaaççããoo eemm PPeessqquuiissaa

-- IInnssttiittuuttoo AAbbeerrjjee ddee PPeessqquuiissaass ((DDaattaabbeerrjjee)) – Com que nós próprias tivemos o

privilégio de conviver aquando da nossa estadia no Brasil para a concretização do

presente trabalho, realiza, há mais de 10 anos pesquisa sobre Comunicação

interna, sobre o género, nomeadamente a mulher na organização, e outras.

Também muito ligada à pesquisa das relações com a mídia enquanto assessoria

das organizações e mais recentemente, ligado à temática da sustentabilidade;

-- CCoommuunniiqquuee--ssee – Mais ligado a pesquisas de relacionamento entre

assessorias e redações, muito prestigiado em portais de Comunicação;

-- IInntteerrSScciieennccee -- ((TTNNSSIInntteerrSScciieennccee)) - Menos ligada à Comunicação

Organizacional, apresenta projetos pontuais ligados ao marketing ou em áreas

paralelas;

-- CCoommtteexxttoo CCoommuunniiccaaççããoo eemm PPeessqquuiissaa – Intimamente ligado à investigação

em Comunicação empresarial, foi criado por docentes universitários.

Dedicaremos um pequeno espaço suplementar à ABERJE, pelo conhecimento

particular em termos científicos que dela adquirimos, a vocação que lhe

conhecemos, e entendemos merecer ser divulgada (Fonte de apoio: NASSAR,

2009e:29-44).

ABERJE é a sigla que representa atualmente a Associação Brasileira de

Comunicação Empresarial, mas, na realidade, significa o que, na sua origem, a

Associação começou por ser, a Associação Brasileira de Editores de Revistas e

Jornais de Empresas, aquando da sua fundação, em 8 de outubro de 1967.

Foi criada por um grupo de Jornalistas, Relações Públicas e Administradores,

liderados pelo italiano Nilo Luchetti, e foi no seu âmbito que foi criada e

consolidada a profissão de Comunicador Organizacional.

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Segundo Margarida Kunsch, a ABERJE “é o embrião da comunicação

organizacional brasileira”(1997:7).

Nos anos 1960, ainda as universidades tinham uma vocação meramente

acadêmica, já a ABERJE procurava colaboração de profissionais de comunicação e

de recursos humanos, assim como de professores, para refletir sobre a prática da

comunicação.

O ano de 1983 marca a mudança da ABERJE para uma visão mais abrangente

e ampliada da Comunicação Empresarial.

Pelo que pudemos constatar, a ABERJE teve o mérito de inserir o pensamento

e a prática comunicacional em empresas e instituições em contextos de

relacionamentos públicos, posicionamento fundamental para a construção de valor

sustentável para as organizações, os públicos de interesse e a sociedade.

Grande parte da história da Comunicação Empresarial do Brasil encontra-se

registrada na Revista Comunicação Empresarial, criada e lançada pela Associação

em 1987.

Para além deste registro de memórias, a ABERJE criou em 2007 o Centro de

Memórias e Referência (CRM) onde congrega essa informação junto com

documentos de identidade de comunicação dos associados e elementos

provenientes de pesquisa que efetua pelo seu Instituto de Pesquisa da ABERJE

(Databerje), que já acima começamos por apresentar.

Uma das suas missões é promover o intercâmbio internacional entre

professores, investigadores, especialistas, o que tem realizado desde os anos 1970.

A Associação encontra-se intimamente ligada de forma prática a iniciativas

formadoras de caráter acadêmico como o curso de pós-graduação da ECA-USP de

Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e Relações Públicas, desde a

sua criação (SILVA, 2003, online).

Um aspecto a salientar: assumindo-se como uma associação representativa

da Comunicação Empresarial e Organizacional, não se isola nessa única área. Cada

vez mais as relações afetam os processos e, pelo fato, cada vez mais, os níveis

intrapessoal e interpessoal passam a ser considerados no âmbito da relação

comunicacional. Daí que profissionais, para além dos clássicos jornalistas, Relações

Públicas e publicitários, são hoje bem acolhidos neste grupo com os seus

contributos, como sejam psicólogos, antropólogos, cientistas sociais, da área da

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100

administração, do direito, e outras, com o objetivo de uma resposta cabal às

complexas, exigentes e diversificadas questões da sociedade dos dias de hoje

(SILVA, 2003, online).

Esta foi, de fato, uma postura inovadora e única no mercado, que criou raízes

e se desenvolveu até aos dias de hoje.

Mas se é verdade que, como vimos, não é muito comum, pelo menos tanto

quanto seria desejável, a existência da atividade de Comunicação nas Organizações

e Relações Públicas fora da academia, também é verdade que, a determinada altura

se atingiu um estágio em que os profissionais da comunicação organizacional

começaram a procurar os cursos de pós-graduação na universidade, já muitas

vezes patrocinados pelas empresas onde trabalhavam. É uma realidade que se

verifica no Brasil: a interação com o meio acadêmico.

Da mesma forma como, há pouco mais de 30 anos, se verificou a necessidade

de aproximação ao campo por parte das universidades, agora verifica-se o

processo inverso.

A conclusão está tirada: teoria e prática complementam-se e estão

indissociadas. O Brasil tem noção disso e providencia para que o mesmo aconteça.

Curiosamente, Wilson Bueno já o fazia transparecer em 2003: “a pesquisa em

comunicação não pode ficar restrita aos bancos da universidade, porque o

mercado é, afinal de contas, o maior beneficiário dos resultados obtidos com

projetos bem conduzidos de investigação” (2003:159apud BUENO, 2009b:255).

É que nem todo o projeto de investigação necessita ter a dimensão de uma

tese para ser desenvolvido seriamente e obter resultados significativos e

importantes.

Segundo mantém Bueno, a:

“…ausência de parceria entre mercado e academia era alimentada por um equívoco, respaldado na errónea convicção de que a pesquisa só pode ser realizada no ambiente universitário e que, necessariamente, precisa ter um fôlego ou uma abrangência (de que resulta um tempo amplo de execução) e uma execução incompatíveis com o ritmo do mercado” (2009b:254 ).

Também Margarida Kunsch nos legitima nesta constatação de

complementaridade, com o seu discurso:

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“Assim, ao recorrer aos estudos realizados sobre Relações Públicas e Comunicação Organizacional nas quatro últimas décadas, poder-se-á perceber que é exatamente graças aos cursos de pós-graduação que essas áreas começaram a desenvolver trabalhos mais sistematizados, resultantes de uma pesquisa acadêmico-científica. Esses, aos poucos, vão sendo publicados por editoras comerciais na forma de livros e passam a ser adotados pelas escolas de Comunicação, contribuindo para a formação universitária de novos profissionais” (2003a online).

6.1.6 As linhas de pesquisa atuais na pós-graduação em Relações Públicas e Comunicação Organizacional

Hoje o panorama apresenta-se claro e encontram-se muito específicas,

diversificadas e variadas as linhas de pesquisa no âmbito dos 39 Programas de

Pós-Graduação em Comunicação reconhecidos e certificados pela CAPES no Brasil,

no âmbito de Universidades Públicas e Confessionais Privadas11.

No que diz respeito à Comunicação Organizacional/Institucional e Relações

Públicas, o Programa de Mestrado em Ciências da Comunicação da ECA-USP-

PPGCOM foi o primeiro da área de Comunicação, criado em 8 de janeiro de 1972.

Os doutorados já aí se faziam anteriormente como formação complementar

dos docentes, sem uma estrutura definida e formalizada.

Sem dúvida que a ECA-USP se destaca dentro e fora do Brasil, em termos de

programa e de atividade de investigação, situação que temos o privilégio não só de

conhecer diretamente como de partilhar ativamente, o que nos confere

legitimidade para o afirmarmos no âmbito de vários outros que também já temos

conhecimento direto, não só no Brasil, mas ao longo da Península Ibérica.

Analisemos sumariamente o conjunto das várias unidades que apresentam pós-

graduação no Brasil, mas façamos uma pequena arrumação entre Públicas e não Públicas:

UUSSPP-- UUnniivveerrssiiddaaddee ddee SS.. PPaauulloo

Pós-graduação - Mestrado e Doutorado: Ciências da Comunicação

Linha de Pesquisa: Políticas e Estratégias de Comunicação

A USP oferece Pós-doutorado a nacionais ou a estrangeiros

11

Fonte: Busca dos Programas dos Cursos on line com base nos títulos em www.capes.gov.br e

Compós: Associação Nacional dos Programas de pós-graduação do Brasil: www.compos.org.br

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UUMMEESSPP -- UUnniivveerrssiiddaaddee MMeettooddiissttaa ddee SS.. PPaauulloo

Pós-graduação - Mestrado e Doutorado: Comunicação Social

Linha de Pesquisa: Processos de Comunicação Institucional e Mercadológica

A UMESP oferece Pós-doutorado a nacionais ou a estrangeiros

PPUUCC--RRSS -- PPoonnttiiffíícciiaa UUnniivveerrssiiddaaddee CCaattóólliiccaa ddoo RRiioo GGrraannddee ddoo SSuull

Pós-graduação - Mestrado e Doutorado: Comunicação Social

Linha de Pesquisa: Práticas profissionais e processos sociopolíticos nas mídias e na

comunicação das organizações

UUFFSSMM--UUnniivveerrssiiddaaddee FFeeddeerraall ddee SSaannttaa MMaarriiaa

Pós-graduação - Mestrado em Comunicação

Linha de Pesquisa: Mídia e Estratégias Comunicacionais

UUSSCCSS -- UUnniivveerrssiiddaaddee MMuunniicciippaall ddee SSããoo CCaaeettaannoo ddoo SSuull

Pós-graduação - Mestrado em Comunicação

Linha de Pesquisa: Transformações Comunicacionais e Comunidades

UUCCBB--UUnniivveerrssiiddaaddee CCaattóólliiccaa ddee BBrraassíílliiaa

Pós-graduação - Mestrado em Comunicação

Linha de Pesquisa: Processos Comunicacionais nas Organizações

PPUUCC –– MMiinnaass GGeerraaiiss -- PPoonnttiiffíícciiaa UUnniivveerrssiiddaaddee CCaattóólliiccaa -- MMiinnaass GGeerraaiiss

Pós-graduação - Mestrado em Comunicação Social

Linhas de Pesquisa - Midiatização e processos de interação; Linguagem e mediação

socio técnica

São estas as alternativas que se apresentam no Brasil a quem pretenda

lançar-se no estudo e pesquisa do campo da Comunicação.

6.2 EM PORTUGAL

6.2.1 A pós-graduação e campos de investigação no âmbito do ensino superior em Portugal - breve abordagem

Até há poucos anos, o campo científico da Comunicação não se encontrava

delimitado em programas de Pós-graduação em Portugal. Era no âmbito de

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Mestrados e Doutorados em Sociologia, Economia, Antropologia, e eventualmente

outros, que qualquer problemática respeitante à Comunicação era trabalhada.

Mas a realidade é que também não era exigido o grau de Mestre para a

prática da docência universitária, e a carreira era desenvolvida com a apresentação

de um doutorado sem a obrigação de grandes prazos para realização, que apenas

carecia de uma inscrição e o acompanhamento do nome de um Orientador, sem a

existência de um curso base pré-definido.

Por vasta que fosse a nossa procura não encontramos, até agora, com

fidelidade da informação para podermos apresentar, as primeiras Teses e autores

correspondentes, de Doutorados em Comunicação Organizacional/ Institucional ou

Relações Públicas. Podemos adiantar que os trabalhos pioneiros em Comunicação,

ainda nos finais dos anos 90, se situam na área do Jornalismo na Universidade

Nova e já do Discurso Publicitário no ISCTE. Mas são os dados que temos.

No que diz respeito a Mestrados, os dados apresentam-se mais fiáveis, mas

escassos. Na realidade, podemos apresentar, com uma certa segurança, um

trabalho intitulado Relações Públicas em Hotelaria – uma perspectiva da Qualidade,

apresentado e defendido em 1997 e publicado em 1999 pelo ISCSP da

Universidade Técnica de Lisboa, como pioneiro na área, de que nós próprias fomos

autoras. Trata-se de uma dissertação no âmbito do Mestrado em Sociologia, pela

inexistência de qualquer alternativa mais dirigida à Comunicação no país, no

momento em que decidimos realizar esse projeto. Mais próximo não vislumbramos

outro.

Uma das mais-valias, talvez a maior, que o novo modelo trouxe ao Ensino

Superior a Portugal com a introdução do modelo de Bolonha, foi, precisamente, a

implementação da investigação/pesquisa e a estruturação dos programas de pós-

graduação.

A nova estrutura vem permitir, em alternativa à realização de um estágio

laboral para conclusão do 1º Ciclo, a concretização de uma pesquisa, mais ou

menos profunda, mas dentro dos moldes da preparação de uma dissertação para a

conclusão desse ciclo de estudos.

Em teoria, quem pretende aprofundar-se academicamente e não exercer

diretamente uma profissão adquirirá logo aí uma preparação e aquisição de

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104

experiência para a realização da tese que fará parte do seu projeto a mais longo

prazo, quando terminar o segundo ciclo de estudos.

Na realidade, o que se tem verificado em Portugal, independentemente dos

objetivos teóricos da filosofia inerente ao processo de Bolonha, e do próprio

conceito implícito ao projeto - e só daqui podemos extrair e apresentar as nossas

observações -, a generalidade dos estudantes acaba por concluir os dois ciclos

sequencialmente, sem interrupção alguma, independentemente de os seus

objetivos serem a carreira acadêmica ou a profissional: continuam a observar os

dois ciclos como um continuum, à semelhança da tradicional licenciatura, mais

longa. O atual Mestrado tomou o lugar da antiga Licenciatura, quase a 100%.

Em termos bastante positivos, ganha a grande produção científica,

nomeadamente em número de dissertações de mestrado, que daí resulta.

Um pequeno apontamento para destacarmos o trabalho da UUnniivveerrssiiddaaddee ddoo

MMiinnhhoo enquanto Universidade Pública com produção científica significativa em

nível de teses e dissertações12.

De qualquer modo, só tivemos acesso às primeiras publicações de

Comunicação Organizacional datadas de 2008.

Também a UUnniivveerrssiiddaaddee FFeerrnnaannddoo PPeessssooaa, privada, tem o alvará para

ministrar Doutorados e desde 2005 tem DDoouuttoorraaddooss eemm CCiiêênncciiaass ddaa IInnffoorrmmaaççããoo,,

ccoomm eessppeecciiaalliiddaaddee eemm CCoommuunniiccaaççããoo EEmmpprreessaarriiaall ee RReellaaççõõeess PPúúbblliiccaass a decorrerem,

como atrás ressalvamos.

Numa breve análise dos vários doutorados em Ciências da Informação que aí

se encontram a serem realizados, encontramos três linhas de investigação que

prevalecem grandemente:

- especialidade em Marketing e Comunicação Estratégica

- especialidade em Sistemas e Tecnologias da Informação

- especialidade em Teoria e História da Comunicação.

A incidência nessas áreas parece-nos representativa da procura atual e uma

tentativa de resposta à conjuntura do momento. A investigação em Marketing e

Comunicação Estratégica só procurará, cada vez mais, alternativas primeiras para

a inovação, para o pioneirismo, seja em que área for. A luta no mercado cada vez é

mais aguerrida. O importante é a conquista de um espaço e a arma é a

12

Em Biblioteca Digital RepositoriUM-Universidade do Minho

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105

Comunicação; em Sistemas de Informação e Tecnologias da Informação,

apresentam-se os meios de Comunicar hoje e quem não os sabe utilizar, não sabe

comunicar. Fica fora do processo; Teoria e História da Comunicação, demonstra o

estágio da necessidade de teorização que se sente.13

Como temos defendido, na Comunicação o processo de busca apresenta-se

inverso ao das ciências clássicas: começou-se da prática para a teoria – há sempre

um momento em que se sente necessidade de sentir os pés bem assentes no chão

(é preciso encontrar os fundamentos). Vivemo-lo hoje.

Esta será uma linha de investigação a aprofundar na prossecução deste

mesmo trabalho em conclusão do projeto a decorrer em Portugal.

É nossa intenção, no âmbito do presente projeto patrocinado pela FCT e

Fundos Europeus, fazer um levantamento e análise da pesquisa realizada em

Relações Públicas e Comunicação Organizacional em Portugal, de modo a

conhecermos e registrarmos o “estado da arte” das Relações Públicas e

Comunicação Organizacional no nosso país. No momento estamos limitadas no

tempo em relação ao presente trabalho.

Não é demais destacar, e muito, o papel da FFCCTT que concorre no mesmo

sentido, na implementação de projetos com financiamentos e bolsas, em ordem ao

incentivo que permite os resultados positivos que hoje já se podem observar14.

13 Universidade Fernando Pessoa – consulta de Repositório on line – Biblioteca digital 14 Para o efeito pode-se consultar o site: alfa.fct.mctes.pt/apoios/projectos

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106

7. A PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL E RELAÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL

INTRODUÇÃO

O conhecimento produzido na pós-graduação stricto sensu representa a

produção científica por excelência. Pelo menos é dessa forma que, em princípio,

deve ser considerada a questão. Os especialistas em Ciências da Informação

denominam esses estudos de “literatura não-convencional” ou “literatura cinzenta”

(ALBERANI e PIETRANGELI, 1993: 56-63; POBLACIÓN, 1995: 99-112), enquanto

livros e artigos fazem parte da “literatura convencional” (KUNSCH, 2003a).

Foi graças aos cursos de pós-graduação que os trabalhos começaram a ser

mais sistematizados com base na pesquisa acadêmica. E são esses que, pouco a

pouco, começam a ser publicados por editoras sob a forma de livros e começam a

ser adotados como manuais para as Universidades, contribuindo para a formação

universitária dos novos profissionais (KUNSCH, 2003a).

A produção de discursos, dissertações e teses contribui para o

enriquecimento do conhecimento científico em termos de saber e fazer, que irá se

refletir em práticas na sociedade para assegurar uma melhor qualidade de vida

para o ser humano.

7.1 O contributo da pós-graduação: teses de doutorado e dissertações de mestrado; livre docência

Após o panorama generalizado que obtivemos até agora, encontramo-nos

com conhecimento suficiente para avançar nos nossos objetivos, e apresentar o

que foi o fruto da nossa pesquisa direta nas linhas de investigação em

Comunicação Organizacional e Relações Públicas obtidas com a nossa permanência

no Brasil.

O objeto da nossa pesquisa recaiu em três das mais significativas

universidades e centros de pesquisa do Brasil, representativos da área das

Relações Públicas e da Comunicação Organizacional.

A pesquisa foi, em parte, realizada com base no Catálogo DEDALUS - o

Catálogo Coletivo das Bibliotecas da USP -, já atrás apresentado. Aí recolhemos

grande parte da informação que viríamos, posteriormente, trabalhar.

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Para além disso, a recolha dos dados foi feita diretamente nas universidades

e centros de pesquisa enunciados, online, nas respetivas bibliotecas, e também

entrevistas diretas, abertas, aos responsáveis pelos cursos analisados e centros de

investigação e informação/bibliotecas, todos ele/as a quem nunca nos cansaremos

de enviar uma palavra de carinho e gratidão por quão tão bem nos receberam e

sempre nos fizeram sentir “em casa”.

É a partir de tudo isso que apresentamos o resultado da pesquisa que

realizamos na ECA-USP, na FAMECOS-PUC-RS e na UMESP.

A duração da generalidade dos cursos é de 24 meses para mestrados e de 48

para doutorados.

7.1.1 Análise interpretativa

A análise na produção científica nos três centros de ensino e investigação foi

realizada com um recorte das obras datadas de 1999 a 2009, segundo palavras-

chave definidas de acordo com a pesquisa em curso, das quais se fez uma leitura

apurada dos títulos e, logo aí, se separou as obras a analisar para o estudo. Na fase

seguinte, procedeu-se a uma análise apurada, por vezes comparativa, quando

necessário dos resumos, para um entendimento da recorrência e evolução das

linhas de pesquisa ao longo do tempo.

Alertamos para o fato de termos “estagiado”, participando nas atividades

acadêmicas e investigação, e fazendo pesquisa de campo direta durante seis meses

na ECA-USP para o nosso pós-doutorado. Tivemos contato direto aprofundado com

a realidade desta universidade, o que nos abriu os horizontes e permitiu um

conhecimento maior ao período anterior a 1999, na pesquisa aí realizada, aspecto

agora bem visível em relação às outras unidades de investigação.

II-- EECCAA--UUSSPP

1.1 Apresentação A USP - Universidade de São Paulo é a maior universidade pública brasileira,

bem como uma das universidades mais prestigiadas do país15.

15

Revista Exame, apud “Wikipédia, a enciclopédia livre”

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Na década de 70, a mesma foi a pioneira na criação da pós-graduação em

Ciências da Comunicação, tendo contemplado tanto as Relações Públicas como a

Comunicação Organizacional nas suas linhas de pesquisa.

Entre as universidades públicas, é aquela com o maior número de vagas de

graduação e de pós-graduação no Brasil, sendo responsável também pela formação

do maior número de mestres e doutores do mundo16 , bem como responsável por

metade de toda a produção científica do estado de São Paulo e mais de 25% da

brasileira17. Como o Brasil é responsável por cerca de 2% da produção mundial,

pode-se dizer que a USP é responsável por 0,5% das pesquisas do mundo.

A Escola de Comunicações e Artes (ECA) faz parte da USP. É considerada uma

unidade de ensino, pesquisa e extensão. Foi fundada em 15 de junho de 1966, e

hoje é composta de oito departamentos e da Escola de Arte Dramática (EAD).

Oferece vinte e um cursos de graduação, sendo treze deles da área de artes e oito

voltados às comunicações.18

CCuurrssooss ddee EEssppeecciiaalliizzaaççããoo

Independentemente dos cursos de graduação e da pós-graduação, a ECA

oferece ainda diferentes CCuurrssooss ddee EEssppeecciiaalliizzaaççããoo, todos com a duração de 20

meses, voltados para a formação profissional avançada para graduados, uma mais-

valia na área da Comunicação que, pelo fato, entendemos de apresentar no

presente contexto. Na área empresarial é de salientar19:

• GGeessttccoorrpp –– oo ccuurrssoo ddee GGeessttããoo EEssttrraattééggiiccaa eemm CCoommuunniiccaaççããoo OOrrggaanniizzaacciioonnaall ee

RReellaaççõõeess PPúúbblliiccaass, coordenado pela diretora do departamento de Relações

Públicas, Propaganda e Turismo ((CCRRPP) é dirigido para profissionais das distintas

áreas da Comunicação Organizacional, com graduação em Comunicação Social.

Tem como objetivo formar estrategistas e gestores da Comunicação Organizacional

com uma visão abrangente da sociedade e suas interseções com as Ciências da

Comunicação e, desse modo, trazer para o debate científico-acadêmico os

16 Folha de São Paulo. Reitora da USP nega queda em produção científica. Página

visitada em 11 de dezembro de 2010, idem 17

Jornal da USP. Os números da inovação no país. Página visitada em 11 de dezembro de 2010, idem,

ibidem 18

Consulta “Wikipédia, a enciclopédia livre” online 19

Informações a partir do site ECA: http://www3.eca.usp.br/node/1569.

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109

profissionais que estão no mercado e que sentem necessidade de maior

embasamento teórico para a prática de suas atividades.

• DDiiggiiccoorrpp -- oo CCuurrssoo ddee GGeessttããoo IInntteeggrraaddaa ddaa CCoommuunniiccaaççããoo DDiiggiittaall nnaass EEmmpprreessaass,

coordenado por docentes do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) é

um curso de especialização dirigido a graduados independentemente da sua área

de estudos. Faz parte do curso a aplicação de conteúdos como estratégia e

planejamento da comunicação digital, cenários da sociedade e da economia da

informação, gestão de relacionamentos em redes sociais, criação de projetos web,

design e narrativa hipermídia, entre outros relacionados.

• PPuubblliicciiddaaddee ee MMeerrccaaddoo - Dependendo também da coordenação de docentes do

CCRRPP, o curso dirige-se a profissionais graduados, interessados em ampliar os seus

conhecimentos, aliando a formação teórica da USP às práticas de mercado. O

mesmo é voltado não somente para profissionais da área de comunicação, mas

também para profissionais responsáveis pela gestão ou implantação de produtos,

serviços, lojas e instituições públicas ou privadas.

•• GGeessttããoo ddaa CCoommuunniiccaaççããoo:: PPoollííttiiccaass,, EEdduuccaaççããoo ee CCuullttuurraa – Coordenado por

docentes do Departamento de Comunicações e Artes (CCCCAA), este curso pretende,

através de uma sólida formação teórica aliada à sua aplicação prática nas áreas

empresarial, educacional e artístico-cultural, capacitar os profissionais para

atuarem no campo da comunicação de maneira integrada, articularem as diversas

mídias e as diferentes linguagens da comunicação e elaborarem, implantarem e

avaliarem projetos de comunicação ee ccuullttuurraa..

• CCuurrssoo ddee EEssppeecciiaalliizzaaççããoo eemm GGeessttããoo ddee CCoommuunniiccaaççããoo ee MMaarrkkeettiinngg. Também este

coordenado por docentes do CCRRPP, o curso é voltado principalmente para antigos

alunos de Comunicação Social, profissionais atuais de publicidade, relações

públicas, jornalismo e marketing que necessitam rever e atualizar seus conceitos

mercadológicos e comunicacionais, capacitando-os, assim, ao desenvolvimento de

uma visão crítica contemporânea das organizações, permitindo-lhes um grau de

diferenciação no mercado de trabalho, com a disponibilização de disciplinas

integradas e sequenciais de aplicação imediata; e possibilitando-lhes a criação e o

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desenvolvimento de consultorias empresariais nas áreas de comunicação e

marketing.

1.2 A pesquisa na ECA

No que se refere à ECA- USP, de acordo com o acima referido, a análise que agora

se apresenta foi feita diretamente a partir dos títulos e dos resumos dos artigos

publicados no catálogo Dedalus.

Antes ainda do resultado da pesquisa que aí efetuamos, há uma referência

como homenagem que entendemos não poder deixar de fazer.

Em 1972, anteriormente à formalização de cursos de doutorado e existência

de graus de mestrado, Cândido Teobaldo de Souza Andrade e Francisco Gaudêncio

Torquato do Rego apresentam-se como pioneiros com as suas teses em Relações

Públicas na ECA, respectivamente intituladas "Relações públicas e o interesse público" e

"Comunicação na empresa e o jornalismo empresarial", esta que podemos considerar já

como mentora em comunicação organizacional (2000).

1.2.1 Os números

A duração da generalidade dos cursos é de vinte e quatro meses para

mestrados e de quarenta e oito meses para doutorados. Esta informação é valida

para todos os objetos em análise.

Na ECA da USP sobressai largamente uma produção científica de RP.

Entre 1990 e 2008, encontram-se sessenta e sete registros de teses e

dissertações dos temas e linhas de pesquisa mais variados. Como atrás salientamos,

denota-se aqui a prevalência da produção da investigação, pelo seu caráter público.

De salientar que quarenta e cinco desses trabalhos conferem o grau de

mestrado aos seus autores, ao mesmo tempo que os outros vinte e dois contribuem

para o grupo dos novos doutores na academia.

No que diz respeito à Comunicação Organizacional, encontramos cinquenta e

cinco temas vários em Comunicação Organizacional, sendo que trinta e seis

oferecem o grau de mestrado e os restantes quinze, o grau de doutorado. É de

referir que vários destes trabalhos contemplam a problemática das relações

públicas no âmbito da pesquisa da comunicação organizacional ou da comunicação

integrada.

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Nessa sequência, embora a temática das Relações Públicas se encontre em

supremacia em termos de produção quantitativa relativamente à área de

comunicação nas organizações, os valores agora apresentados não o demonstram,

uma vez que parte da pesquisa já se encontra contemplada no registro acima.

Assim, no que diz respeito à pesquisa de Relações Públicas encontramos um total

de catorze doutorados e trinta e dois mestrados com temas diretamente ligados e

exclusivos às relações públicas.

1.2.2 Os conteúdos

A análise qualitativa, embora sumária, que a seguir realizamos, demonstra-se

bem mais significativa como contribuição para investigação das áreas pretendidas.

De imediato realçam dois aspectos:

No início dos anos 1990, precisamente em 1991, uma tese de doutorado de

Maria Stela Thomas, sob a supervisão científica de Cândido Teobaldo de Sousa,

vem alertar para a falta de adequação dos Programas Universitários de ensino de

Relações Públicas às necessidades dos profissionais da época: “Ensino e a pesquisa

em relações públicas no brasil e sua repercussão na profissão”.

Logo de seguida, em 1992 e 1993, surge uma proliferação considerável de

trabalhos de pós-graduação em Relações Públicas, particularmente de mestrado,

que em muito vieram contribuir para a definição do campo conceitual da área e

também para o papel do profissional e da sua função nas empresas. É exemplo

significativo “Administração de recursos humanos como política de relações

públicas”, de Lígia Alvares Nogueira, investigação onde a autora evidencia o

trabalho do profissional de relações públicas enquanto assessor da administração

orientando a comunicação com os subordinados e coadjuvando na administração

dos recursos humanos através da ação “comunicação”, para que se consiga

motivação e boa vontade mútua nos diversos níveis dentro da empresa.

Também o “Profissional de relações públicas como agente catalisador dentro

da empresa”, de Maria José Garcia Pereira, onde a investigadora centra a sua

atenção nas funções internas da atividade do profissional de relações públicas. O

seu papel de comunicador apresenta-se aqui privilegiado na relação entre

administradores e seus subordinados, tendo a preocupação de desenvolver a sua

função de assessor da política empresarial, com sugestões que apresenta à

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administração para as políticas da empresa derivadas do conhecimento que vai

obtendo com as relações diárias internas na empresa.

Ambas as investigações foram realizadas no âmbito de mestrados, em 1992, e

tiveram como contribuidor Cândido Teobaldo de Sousa Andrade.

Numa perspectiva diferente, com aspectos profissionais também como

objeto, vamos encontrar, ainda em 1993, a tese de mestrado de Ivone de Lourdes

Oliveira, com supervisão científica de Sidineia de Gomes Freitas, “Relações

públicas: os impasses da teoria e os desafios da ação profissional em Belo

Horizonte”, que apresenta intenções teóricas enquanto contributo para o avanço

da comunicação organizacional, particularmente das relações públicas como

profissão, segundo anuncia a autora no resumo do seu trabalho.

Salientamos que, a par das tendências de pesquisa enunciadas, encontram-se

publicados variados trabalhos de mestrado e doutoramento, com temas dos mais

diversificados no âmbito da Comunicação Organizacional e Relações Públicas.

De referir apenas ainda que, a partir destes anos iniciais, os trabalhos

evoluem para linhas de pesquisa mais amplas, diversificadas e relacionais.

Se falarmos estritamente de Comunicação Organizacional, a pesquisa traduz-

se mais restrita, como vimos com a sumária análise quantitativa acima

apresentada.

Como destacamos, também alguns dos temas tratados revelam-se

transversais às duas áreas de investigação - Relações Públicas e Comunicação

Organizacional.

Um bom exemplo de tudo isto é a tese de mestrado de Marlene Marchiori,

“Organização, cultura e comunicação: elementos para novas relações com o público

interno”, realizada em 1995, supervisionada por Sidineia Gomes Freitas, em que

vamos encontrar o cruzamento da cultura com a comunicação nas organizações na

relação com o público interno. 1995 apresenta-se mesmo como um ano marcante

para a generalização de trabalhos com conteúdos relacionados.

Um outro caso significativo é a dissertação de mestrado de Fernando Luís

Bar, “Informação e comunicação organizacional numa empresa de energia elétrica”

que vem abordar a temática da comunicação organizacional no âmbito da

informação tecnológica, num estudo de caso, mas cruzando-a com a temática

teórica do clima empresarial.

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Falando mais especificamente de Relações Públicas, muitos poderiam ser os

exemplos a apresentar. Optamos pela dissertação de mestrado de Anely Ribeiro

“Análise retórica situacional e a comunicação integrada nas organizações: uma

contribuição à área das Relações Públicas”, que em 2001 teve a supervisão

científica de Margarida Maria Krohling Kunsch. Só pelo tema em si, comunicação

integrada, um misto de técnicas e instrumentos, agregado ao discurso e à retórica,

acreditamos representar bem a complexidade e transversalidade da tendência da

investigação, a partir de meados dos anos 1990. Acresce: uma análise aplicada que

pretende a criação de valor teórico à área das Relações Públicas, a nível do

discurso organizacional.

Mas o que, de imediato, se evidencia, apenas com uma leitura atenta dos

títulos realizados numa simples ordem cronológica da sua realização – ainda antes

da análise secundária a partir dos resumos individuais de cada artigo que

realizamos-, é a evolução em termos de complexidade dos temas e estrutura dos

trabalhos apresentados. O exemplo que acabamos de dar, embora bem

representativo, não deixou de ser apenas só um de entre muitos.

1.2.3 A evolução da pesquisa

Muito sumariamente, não podemos deixar de fazer algumas referências

suplementares ilustrando a nossa observação.

No que diz respeito à realização, mas também à concepção: em 1993 nos é

apresentado o paradigma do estudo da época através de uma simples análise da

comunicação em organizações com o trabalho de mestrado de Maria Rossana

Ferrari Nassar, “Relações públicas em hospitais: São Paulo-capital”. Também

vários trabalhos revelam-se caracteristicamente descritivos. É o exemplo do

“Processo de relações públicas nas organizações sem fins lucrativos”, trabalho que

concedeu o grau de mestre para Maria Aparecida Ferrari. Em 1995, na sequência

do que atrás foi apresentado, a comunicação interna já encontra relação com a

cultura da empresa. Um bom exemplo é a pesquisa acima referida de Marlene

Marchiori “Organização, cultura e comunicação: elementos para novas relações

com o público interno”.

Em 1999, a comunicação organizacional vem a ser objeto de um estudo

comparado em três distintas empresas por José Edmundo Heráclito Silva na sua

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pesquisa para o mestrado, intitulada “Níveis de respostas na comunicação

organizacional - um estudo em três organizações de Uberlândia, MG”. Mas o final

da década é tempo de reflexão também em outras vertentes: em relação à

disciplina e seu enquadramento regulamentar/legislativo Júlio Zapata Henríquez

vem no mesmo ano -1999- e nesse contexto, com o seu trabalho de mestrado

“Começando, trinta anos depois do início...! o parlamento nacional de relações

públicas como fonte para determinar incertezas e problemas da profissão”,

repensar a profissão de relações públicas e a sua evolução ao longo de três

décadas.

E a reflexão leva à ação; ação estratégica. Dentro das organizações a

comunicação apresenta-se agora estratégica. Entendendo a importância dessa

vertente, Valéria Aparecida Cabral vai desenvolver a sua pesquisa de mestrado

apresentando a dissertação “Comunicação interna no setor bancário: estudo de

caso sobre a importância estratégica das Relações Públicas no âmbito interno das

instituições financeiras no Brasil”, ainda em 1999.

Também sabemos que as estratégias se encontram na base da definição de

políticas de comunicação. As ações de comunicação já não se fazem mais no início

da década 2000 isoladas sem base numa política previamente definida e planejada.

E as pesquisas, naturalmente, vêm traduzir essa situação. Logo mesmo em 2000

encontramos o trabalho de mestrado de Kátia Meirelles “Política de comunicação

para a Universidade Federal de Mato Grosso: a Universidade da selva”, que vem

propor a criação de uma política de comunicação para a universidade. Trata-se de

um trabalho reflexivo, à semelhança de outros já atrás enunciados nestes mesmos

anos. Definitivamente ultrapassam-se os estudos meramente descritivos.

Também em 2000 encontramos uma relação entre áreas distintas da

comunicação, o marketing cultural e a comunicação institucional, na tese de

doutorado de Manoel Marcondes Machado Neto, “Marketing cultural:

características, modalidades e seu uso como política de comunicação institucional”,

e em 2001, no âmbito da relação cultura/comunicação organizacional já se vêm

destacar fatores de identidade, como se pode ver no trabalho, também um

doutorado, de João José Curvello Andrade, “Autopoiese, sistema e identidade: a

comunicação organizacional e a construção de sentido em um ambiente de

flexibilização nas relações de trabalho”.

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2001 pode-se considerar também um marco. Paulo Nassar vem construir

teoria para a Comunicação, partindo de trabalho empírico, com a sua dissertação

de mestrado “Comunicação e Organizações brasileiras nos anos 1970: estudo de

caso sobre o papel da ABERJE no período 1967-1983 - para a definição de um

primeiro paradigma para a comunicação organizacional brasileira”.

Mas a comunicação abre-se ao exterior e a pesquisa apresenta-se como

testemunha com o mestrado de Mayra Beatriz Cunha Franceschi “A mediação das

relações públicas no processo de desenvolvimento industrial em Mato Grosso do

Sul”, em 2002, onde as relações públicas se apresentam com um papel

caracteristicamente mediador com públicos externos.

Alargam-se os horizontes à pesquisa em Comunicação e em 2002 e 2003

encontramos preocupações externas também ao seu próprio campo. Da sua área

de ação passa a fazer parte a “responsabilidade social”. O mestrado “O exercício da

cidadania empresarial: a comunicação institucional do produto social das

empresas privadas e o papel das Relações Públicas - imagem institucional versus a

busca de soluções dos problemas sociais” de Luisa Helena Alves da Silva em 2002 é

um bom exemplo, assim como “A eficácia das Relações Públicas na construção de

programas de responsabilidade social: estudo de caso da empresa 3M do Brasil,

Unidade de Sumaré”, mestrado realizado por Carmella Batista Carvalho em 2003 é

bem representativo.

Podemos afirmar que toda esta evolução na pesquisa é muito natural ao

longo de uma década. Sem dúvida. A comunicação nas empresas e as relações

públicas saltam para o exterior das organizações e passam a ter preocupações para

além da comunicação dentro das paredes das mesmas, que se vão traduzir em

distintas formas de resposta, privilegiadamente baseadas em pesquisa. O que nos

causa toda esta rendição é o fato de se encontrar uma coerência na evolução nos

estudos, como que uma linha condutora a programar os trabalhos de investigação.

Isto a par com vários outros pontuais em simultâneo, mas que ainda assim, se

consegue destacar na pesquisa da Comunicação Organizacional da ECA.20

Um bom exemplo desta última situação: títulos variados no âmbito da

hotelaria e do turismo encontram-se pontuais e dispersos como objetos de

pesquisa, não estivéssemos num Departamento de Relações Públicas, Propaganda

20

Fonte: Síntese de pesquisa realizada em bibliotecas da USP.

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116

e Turismo – CRP. Registros desde os momentos mais antigos aos mais atuais:

“Relações públicas no complexo hoteleiro da região nordeste do Brasil: perspectiva

de uma nova abrangência para o campo das relações públicas”, tese de doutorado

realizada por Esnél José Fagundes, em 2008 e “Home away from home evolução,

caracterização e perspectivas da hotelaria: um estudo compreensivo”, a

dissertação de mestrado de Célia Maria de Moraes Dias apresentada em 1990,

uma perspectiva muito embrionária das RP - as relações com os serviços

complementares à hospedagem, numa fase ainda muito pouco profissionalizada no

Brasil.

Do mesmo modo, como já referimos, temáticas isoladas de que são exemplos

os mestrados “Diagnósticos e perspectivas da comunicação nas ONGs atuantes em

questões de Gênero” de Simone Brombay em 2001 e “Contribuições das relações

públicas para a administração, implementação e desenvolvimento do conceito de

segurança cooperativa” de Robson Barbosa, em 2005.

De referir, ainda uma linha de pesquisa que se tem vindo a impor desde a

década de 2000, onde se destacam trabalhos sobre comunicação em rede,

comunicação digital, nas organizações. Em 2005, 2006 e 2008, os registros dos

seguintes mestrados: “A comunicação digital e a cultura organizacional: uma

interação a ser conhecida”, de Luciana Monteiro Uemura; “Comunicação

corporativa digital: o futuro das relações públicas na rede”, de Carolina Frazón

Terra e “O impacto da comunicação em rede nas relações de trabalho capitalistas”

de Armando Mamam são muito representativos desta realidade.

1.3 A livre-docência

Uma palavra final às teses de livre docência. A livre docência no Brasil é um

grau acadêmico concedido a doutores por uma universidade e é o grau mais

elevado da carreira universitária. Esse grau atesta uma condição acadêmica

superior para/na docência e para/na pesquisa. Normalmente os concursos exigem

que o livre-docente possua uma carreira universitária com experiência em ensino e

em pesquisa, e título de doutorado há pelo menos cinco anos, pois consideram que

esse período é necessário para o amadurecimento da tese.

Na USP, entre outras universidades do Brasil, a livre-docência é requisito

para a candidatura a professor titular. Também é exigido ao livre-docente, que

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117

demonstre capacidade de produzir linha de pesquisa própria, coerente e

continuada, bem como o exercício da docência nas áreas de graduação e pós-

graduação, principalmente orientando teses de mestrado e/ou doutorado,

orientando assim novos pesquisadores.

Do que acima decorre, naturalmente, o número de trabalhos de livre-

docência apresenta-se muito inferior aos dos graus de mestrado e doutorado. Pelos

dados que obtivemos, desde a sua implantação na ECA foram realizadas 5 (cinco)

teses na área de Relações Públicas, sendo que uma engloba a da Comunicação

organizacional.21 Salientamos aqui a tese de livre-docência de Sidineia Gomes de

Freitas, que já no início dos anos 1990, precisamente em 1992, apresenta um

ensaio na tentativa da teorização intitulado: Projetos experimentais em relações

públicas: fusão teórica prática?

E também o trabalho de Margarida Maria Krohling Kunsch, este em 1996,

pioneiro no Brasil no desenvolvimento entre as interfaces das relações públicas e

da comunicação organizacional, no caso brasileiro, intitulado precisamente:

Relações públicas e suas interfaces com a comunicação organizacional no Brasil.

A livre-docência é regulada pelas Leis nº. 5.802/72 e nº. 6.096/74 e pelo

Decreto 76.119/75 e pelo Parecer 826/98 do extinto Conselho Federal de

Educação.22

IIII-- FFAAMMEECCOOSS--PPUUCC--RRSS

2.1 Apresentação

A PUC-RS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - é uma

instituição confessional católica e comunitária, tendo como Chanceler o Arcebispo

de Porto Alegre. O título de Pontifícia, outorgado pelo Papa Pio XII, em 1º de

novembro de 1950, significa a marca de união e de filial devotamento à Santa Sé.

Constitui-se fisicamente pelo Campus, em Porto Alegre, capital do Rio Grande

do Sul, e por outras duas unidades, uma no município de Uruguaiana, no interior

do Estado, e outra em Viamão, na Região Metropolitana.

A PUC-RS está constituída por vinte e duas Faculdades no Campus Central.

Uma delas é a Faculdade de Comunicação Social – a Famecos.

21

http://www.eca.usp.br/associa/alaic/boletin11/kunsch.htm 22

http://pt.wikipedia.org/wiki/Livre-docência

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118

Acerca de graduação na área de Comunicação Organizacional, encontramos

as graduações em “Relações Públicas” e “Publicidade e Propaganda”.

A Pós-graduação - mestrado e doutorado – é composta por um Programa de

Pós-graduação em Comunicação Social de onde faz parte uma linha de pesquisa em

“Práticas profissionais e processos sociopolíticos nas mídias e na comunicação das

organizações”.

2.2 A pesquisa na FAMECOS - PUC-RS

2.2.1 Os números

As teses e dissertações com temáticas em Comunicação Organizacional

catalogadas entre 1999 e 2009 – o nosso recorte no tempo - são em número de

catorze na FAMECOS-PUC-RS. Em Relações Públicas, encontramos um registro de

onde unidades entre dissertações de mestrado e teses de doutorado.

Há que assinalar que alguns dos trabalhos destas temáticas poderão

encontrar-se inseridos noutros catálogos uma vez que as temáticas cruzam-se e

sobrepõem-se e tivemos dificuldade em isolar os temas em investigação. Para além

disso, no próprio tratamento dos dados aqui apresentado, há temáticas de áreas

que se cruzam, pelo que não é possível dissociá-las para a realização de uma

análise quantitativa objetiva.

Em Relações Públicas, prevalecem os trabalhos de mestrado (sete) em

relação aos de doutorado (apenas três); a grande maioria destes trabalhos foi

realizada entre 2003 e 2006; apenas um foi realizado mais recentemente, em 2008.

Os três trabalhos de doutorado, contrariamente, foram realizados

maioritariamente em 2008 (dois); o restante foi realizado em 2006.

Relativamente aos trabalhos em Comunicação Organizacional, verificamos

uma superioridade de registros de doutorados em relação aos mestrados,

precisamente o dobro – uma relação oito/quatro. A grande maioria de doutorados

concentra-se entre 2007 e 2008 (seis).

Os mestrados em Comunicação Organizacional verificam-se muito mais

recentes que em Relações Públicas. O primeiro registro dentro do recorte realizado

surge em 2004; o trabalho mais recente no mesmo período de tempo apresenta-se

em 2009.

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119

2.2.2 Os conteúdos

Em termos muito genéricos, a Comunicação é aqui bastante perspectivada

como um Instrumento da gestão ou administração. Veja-se o exemplo de “Mediação

de conflitos na esfera da organização: um estudo de caso” trabalho de mestrado de

Renata Sousa em 2001 sob a orientação de Cleusa Scrofreneker cujo título

dispensa maiores explicações, ou “o diagnóstico aplicado às RP: uma análise de

seus aspectos teóricos e empíricos”, Doutorado de Ana Luísa Baseggio, orientado

por Cláudia Peixoto de Moura que ainda em 2008 apresenta as relações públicas

como uma atividade com foco na comunicação e no relacionamento, que diz

respeito à manutenção do conceito favorável da organização junto aos seus

públicos de interesse. O estudo trata da realização de diagnósticos em relações

públicas, configurando-se em investigação e análise sobre as relações existentes

entre a organização e os segmentos de públicos a ela ligados, cujos resultados

permitem informação para a possibilidade de melhores práticas comunicacionais.

Momentos extremos, com preocupações paralelas.

Por volta do início da nova década, surgem os estudos virados para o

comportamento discursivo nas organizações, temática que se torna uma tendência

ao longo da mesma, como podemos ver com os trabalhos de Marcelo Schenk de

Azambuja em 2002 “Comunicação para a qualidade: o comportamento discursivo

nas organizações”, doutorado orientado por Cleusa Scrofreneker, onde a

preocupação com a comunicação organizacional se traduz na análise do discurso

nos programas de qualidade nas organizações pesquisadas; de Angela Lovato

Dellazanna, em 2005, “Comunicação Organizacional: uma visão complexa do

discurso das organizações”, mestrado orientado por Maria Helena Steffens de

Castro, onde a autora, inserindo-se na perspectiva da comunicação integrada,

apresenta a criação da imagem da organização baseada na análise do discurso;

também Cláudia Novelli de Macedo, já em 2009, “Comunicação e complexidade: o

discurso organizacional e o poder da cia Zaffari, com o estudo do discurso

organizacional nas suas interfaces com a comunicação e o poder, trabalho de

mestrado orientado por José Roberto Ramos. Nessa sequência, o caráter

multifacetado da Comunicação permite estabelecer relações inter e

transdisciplinares com vários campos do saber. Relações Públicas, como uma das

áreas objeto de estudo do campo das Ciências da Comunicação, mostra-se

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120

fundamental para o bom desempenho organizacional ao gerenciar as relações que

se estabelecem entre a organização e os seus públicos. Na relação de distintas

temáticas, alcança-se a perspectiva da comunicação integrada e nesse mesmo

contexto, em 2006, Eliane Benjamin Rivoire, vem apresentar o seu trabalho de

mestrado “A contribuição da psicologia social para a teoria e prática da atividade

de Relações públicas”, orientado por Roberto Porto Simões.

À medida que se aproxima o final da década, os meios digitais e as novas

tecnologias vão ganhando espaço enquanto objeto de investigação.

Já em 2005 Elisabete Ávila Abdala apresenta o seu doutorado “Portais

móveis: novas estratégias de comunicação com o mercado”, orientado por Jacques

Alkalai Wainberg, pesquisa que veio verificar a percepção dos profissionais com

nível gerencial das maiores empresas no Brasil, sobre a aplicação dos portais

móveis como canal de comunicação com o mercado. Pretendeu avaliar o

aproveitamento de um novo canal de comunicação; em 2007, Mônica Elisa Dias

Pons, com orientação de Cláudia Peixoto de Moura, apresenta o seu doutorado “O

planejamento de comunicação organizacional em redes intranet: um estudo em

uma universidade comunitária do RS” que vem avaliar as práticas comunicacionais

internas nas organizações e os seus reflexos no âmbito externo. A construção de

relacionamentos tornou-se a tônica dos discursos nas organizações. Também aqui

as temáticas cruzadas, do discurso organizacional com uma utilização já das novas

tecnologias, em redes intranet, um estudo que não se fica pela comunicação interna.

Na mesma linha, o mestrado de Carla Schneider em 2008, “A interação e o

relacionamento nas “pílulas da qualidade”: um caso de relações públicas na

internet” orientado por Cláudia Peixoto de Moura, tem como objetivo estudar

como a interação e o relacionamento ocorrem numa situação comunicacional

específica, mediada por computador, com acesso público e irrestrito - através da

Internet. No caso concreto considera a perspectiva relacional do sistema

organização-públicos que envolve a atividade de relações públicas, mas envolve os

mesmos meios. Embora anteriormente realizada em 2007, deixamos a sua

referência para o final desta sequência de pesquisas, devido à complexidade

derivada da relação dos temas abordados: “Intranet: compondo a rede

autopoiética organização complexa”, doutorado de Jane Rech, com orientação de

Cleusa Scrofrener. Um estudo relacional vem discutir a constituição da Intranet

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121

concebida no âmbito da comunicação organizacional midiatizada, como lugar de

processos comunicacionais emergentes, no âmbito da organização complexa.

Aborda a relação das temáticas Cultura, Conhecimento e Comunicação na empresa,

tendo o Sujeito como ponto de articulação.

Paralelamente, vão transparecendo as preocupações com a comunicação e as

estratégias comunicacionais. Vejamos: “Estratégias comunicacionais em

organizações gaúchas”, o doutoramento de Helaine Abreu Rosa em 2004, orientado

por Cleusa Scrofreneker, vem mostrar como as duas organizações estudadas

desenvolvem seus programas de comunicação. Já atrás referimos, neste âmbito, em

2005, o doutorado de Elisabete Ávila Abdala, “Portais móveis: novas estratégias de

comunicação com o mercado; em 2007 Gerson Bonfadini no seu doutorado “O

relacionamento com públicos como estratégia de comunicação nas organizações”,

sob a orientação de Cláudia Peixoto de Moura, analisa como as ações de

relacionamento das organizações se tornam estratégias de comunicação

percebidas e entendidas pelos públicos.

Referindo-nos agora um pouco especificamente à pesquisa sobre relações

públicas, verifica-se uma evolução em termos de complexidade dos estudos, de

meramente descritivos/analíticos no início da década de 2000 para relacionais

com o avançar dos anos. E sobretudo, num sentido de um enriquecimento da

própria área, no contexto organizacional. Constata-se com o mestrado de Maria

Tereza Tellez em 2000 “O papel de atividade de Relações Públicas na esfera de

microempresas”, orientado por Roberto Simões Porto, que se traduz precisamente

como um mero estudo analítico e descritivo das empresas estudadas.

Em 2003, já se pode encontrar relações públicas enquanto ação estratégica

no âmbito de atividades de Comunicação e Marketing, não atuando de forma

isolada, com o mestrado “Relações Públicas na Comunicação integradas ao

Marketing: um estudo de caso” realizado por Sandro Luís Kirst e orientado por

Roberto Porto Simões.

Vimos acima, também, um trabalho de Elaine Rivoire, “A contribuição da

psicologia social para a teoria e prática da atividade de Relações públicas” em

2006, que já permitia a leitura das Relações Públicas no âmbito da comunicação

integrada.

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122

Em 2008, já quase no final da década, Ana Luísa Baseggio, como fruto do seu

doutorado “O diagnóstico aplicado às Relações Públicas: uma análise de seus

aspectos teóricos e empíricos”, orientado por Cláudia Peixoto de Moura, vem

apresentar as relações públicas como uma atividade com foco na comunicação e no

relacionamento. A investigação diz respeito à manutenção do conceito favorável da

organização junto aos seus públicos de interesse. Por meio da legitimação e do

reconhecimento de seu discurso e de suas ações, propõe-se gerenciar as relações

que ali se estabelecem, a fim de obter a cooperação daqueles que interferem ou

podem interferir em sua existência. Também agora já os públicos externos. O

presente doutorado vem abordar a questão de diagnósticos em Relações Públicas,

configurando-se em uma investigação e análise sobre as relações existentes entre a

organização e segmentos de públicos a ela ligados. Os dados e as informações

resultantes, por sua vez, representam a possibilidade de um melhor desempenho

das práticas comunicacionais da organização. Em 2008, também é plenamente

visível o enfoque externo das relações públicas com o mestrado de Rosélia Araújo

Vianna “Relações Públicas e Ouvidoria - cidadania e poder dos públicos”, cujo título

é significativo do fato, orientado por Roberto Porto Simões.

2.3 Síntese

Ao longo do tempo verifica-se uma evolução das linhas de investigação com

uma maior complexização dos estudos e um inter relacionamento das temáticas

comunicacionais, e no sentido do interior para o exterior da organização,

concretizando-se nos seguintes campos: comportamento discursivo nas

organizações, comunicação estratégica, comunicação integrada, meios digitais e as

novas tecnologias.

IIIIII--UUMMEESSPP

3.1 Apresentação

A Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) é uma instituição privada de

ensino superior localizada nas cidades de São Bernardo do Campo e São Paulo,

estado de São Paulo.

A UMESP teve início em 1938, com a implantação da faculdade de Teologia da

Igreja Metodista em São Bernardo do Campo. Na época, a Igreja Metodista acabara

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de fundir dois centros de ensino teológico, localizados em Minas Gerais e no Rio

Grande do Sul. Em 1970, foi criado o Instituto Metodista de Ensino Superior,

também conhecido como IMS. Em 1997, conquistou o status de Universidade e

ampliou a variedade e o número de cursos em oferta.

A nossa pesquisa teve como informador privilegiado o professor

universitário, coordenador do curso de relações públicas da Universidade

Metodista de São Paulo, mestre Paulo Ferreira e baseou-se em pesquisa online.

Na área da Comunicação Organizacional, a UMESP oferece aos seus

estudantes os Cursos de “Comunicação Mercadológica”, “Publicidade e

Propaganda” e “Relações Públicas” em formato de bacharelado; “Comunicação

Social” em Pós-graduação stricto-senso e o formato lato-senso, em que se encontra

a especialização “Comunicação Empresarial”.

3.2 A pesquisa na UMESP

O recorte da nossa pesquisa, entre 1999 e 2009, trouxe-nos os resultados que

a seguir apresentamos.

Façamos uma pequena ressalva: analisando-se o pequeno histórico realizado,

é compreensível a escassa produção científica da UMESP, uma vez que só em 1997

adquiriu o estatuto de universidade. Apesar do recorte do nosso estudo incidir nos

trabalhos realizados entre 1999 e 2009, pois é o período definido para o objeto de

estudo na sua totalidade, no presente caso, só bem dentro da década de 2000

vamos encontrar frutos de investigação em pós-graduação, como se verifica pelos

dados apresentados, devido ao momento em que o estatuto de universidade o

permitiu. Fica o registro.

3.2.1 Os números

No que diz respeito à Comunicação Organizacional, encontramos um total de

vinte e sete trabalhos produzidos.

Tanto em doutorados como em mestrados, verifica-se o início relativamente

tardio das pesquisas - 2003 nos doutorados e 2004 nos mestrados. A justificação

natural já foi apresentada.

De salientar a grande supremacia de mestrados (dezenove) em relação a

doutorados (oito).

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Desde o início da realização dos trabalhos, as linhas produtivas apresentam-

se equilibradas anualmente até 2009.

A produção em Relações Públicas demonstra-se quantitativamente muito

inferior à Comunicação Organizacional. Também um pouco porque tentamos isolar

a área em exclusivo para uma análise mais objetiva.

O único doutorado realizado surge em 2005; enquanto os mestrados, em

número de quatro, apresentam-se concentrados nos anos de 2007 e 2008.

Na totalidade, encontramos cinco trabalhos de investigação produzidos sobre

relações públicas durante o período estudado.

Ressalvamos, tal como fizemos em relação às restantes unidades de

investigação objeto de estudo, a situação de inter-relação e interdependência ou

sobreposição das temáticas em estudo – Comunicação Organizacional e Relações

Públicas -, o que impede uma separação objetiva dos campos em análise em termos

quantitativos.

3.2.2 Os Conteúdos

RReellaaççõõeess PPúúbblliiccaass

O único doutorado com temática em Relações Públicas encontrado surge em

2005 pelas mãos de Mirtes Vitoriano Torres e tem orientação de José Marques de

Mello.

Apresenta-se muito oportuno ao tentar desvendar e compreender a gênese

do pensamento brasileiro em Relações Públicas e apresenta as últimas reflexões

sobre a identidade brasileira das Relações Públicas nas últimas décadas do século

XX.

Os mestrados situam a sua pesquisa, em maioria, no âmbito da comunicação

corporativa e institucional.

Um exemplo significativo é o trabalho de Backer Ribeiro Fernandes, “O

mundo de Marlboro: a comunicação corporativa da Philip Morris Brasil, realizado

de 2007, com orientação de Wilson da Costa Bueno. O estudo pretende mostrar

que a clareza semântica e a fácil navegabilidade nos sites de Relações com

Investidores são essenciais para a comunicação com os investidores individuais,

bem como para a sua compreensão das Boas Práticas da Governança Corporativa.

O estudo vem abordar os temas relacionados ao setor financeiro. Aborda também a

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evolução da comunicação empresarial e como as organizações tiveram que adaptar

a sua cultura organizacional e os canais de comunicação devido à constante e

ininterrupta série de transações (aquisições, fusões e incorporações) que vêm

acontecendo no Brasil. Nessa sequência, mostra também como a internet e as

demais mídias digitais se integraram nesse processo corporativo, a relação com os

investidores, os sites de RI das empresas do Novo Mercado e o perfil do investidor

individual.

Para compararmos os extremos temporais analisados, embora noutro

contexto, também o trabalho que Ana Cláudia Gusso apresentou em 2008, sob

orientação de Daniel dos Santos Galindo, “A comunicação de mercado a serviço da

igreja - em busca da fidelização” vem evidenciar o uso de instrumentos de

comunicação interna e dirigida, e de ações de relações públicas e marketing de

relacionamento. No caso, dentro das igrejas evangélicas históricas. Vem aqui

enfatizar a importância da comunicação interna e das estratégias de comunicação

mercadológicas utilizadas dentro das igrejas, inclusive com a utilização de

publicidade boca-a-boca.

CCoommuunniiccaaççããoo oorrggaanniizzaacciioonnaall

A pesquisa em Comunicação Organizacional da Universidade Metodista

apresenta-se um tanto “su generis”.

Um dos aspectos que mais ressalta ao longo do recorte investigado em

Comunicação Organizacional é a grande incidência de pesquisas relacionadas com

a universidade, em concreto. De caráter mais convencional como é o caso de “A

Universidade Corporativa e o treinamento industrial - a distância para

profissionais de manutenção”, doutorado de Valdir Cardoso de Souza realizado em

2003 com a orientação de Jacques Marie Joseph Vigneron, ou com caráter mais

virtual como “Universidade on-line: as salas de imprensa em universidades

Paulistas, o mestrado de Ana Paula de Oliveira realizado em 2008, com a

orientação de Wilson da Costa Bueno, ou “A Comunicação on-line entre

professores universitários e seus alunos: a sala de aula virtual”, doutoramento

realizado por Sidney Proetti em 2007, com orientação de Maria das Graças Conde

Caldas; ou ainda, numa linha de investigação um tanto diferente, “A percepção do

universitário sobre a publicidade institucional de responsabilidade social

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empresarial, mestrado apresentado por Sílvia Olga Santana em 2007, orientado

por Paulo Rogério Tarsitano.

A verdade é que a universidade se encontra no centro das pesquisas como

objeto de investigação, direto ou indireto, em variadas vertentes, de que estes são

apenas alguns exemplos.

Verifica-se também que são vários os estudos virados para aspectos ligados

às novas tecnologias e simultaneamente ao conhecimento e ensino superior.

Acabou de se constatar com referências acima. E outro exemplo o confirma: o

doutorado de Josias Ricardo Hack “Mediação multimidiática do conhecimento: um

repensar do processo comunicacional docente no ensino superior” orientado por

Jacques Marie Joseph Vigneron que já vem de 2004. O trabalho tenta promover o

desenvolvimento de uma nova postura docente para o ensino superior que

possibilite reflexões e melhorias da prática comunicacional do professor pela

utilização das TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação – a utilização das

TIC que favorece a Educação à Distância.

As novas tecnologias com aplicações muito particulares são também, per si,

temáticas abordadas em relação com a Comunicação. Vejamos como exemplo

significativo o doutorado de Nanci Manziero Trevisan apresentado em 2005, sob a

orientação de Jacques Marie Joseph Vigneron, intitulado “Comunicação &

Astronomia: uma união virtual-estudos para uma teoria de comunicação

organizacional on-line a partir do caso Rede de Astronomia Observacional

REA/Brasil”. Abordando um universo do virtual, utiliza ferramentas de

comunicação relacionadas às novas tecnologias, do ciberespaço, numa organização

imaterial, virtual.

Na realidade não se consegue encontrar uma linha temática condutora na

investigação da Universidade Metodista. Pelo contrário, a riqueza da pesquisa

surge da diversidade da produção científica observada. Os temas apresentam-se os

mais variados, e os objetos de investigação também. Realçamos ainda alguns que

nos despertaram uma atenção particular, confessando a nós uma subjetividade

assumida. A variedade dos trabalhos encontrados obriga-nos a essa opção.

“A responsabilidade social e a comunicação interna nas empresas”. A

responsabilidade social é um tema forte associado à comunicação e diretamente às

relações públicas. Já acima referido no contexto de outra pesquisa. Genericamente

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aqui abordado em relação com a comunicação interna vem levantar questões mais

abrangentes como globalização e suas consequências diretas: objetivos de

sustentabilidade, equidade e justiça social, questões agora apresentadas por

Idelazir Aparecida Souza Cáu em 2004, no âmbito da temática do seu doutorado

orientado por Wilson da Costa Bueno.

“A comunicação interpessoal como reguladora da percepção da qualidade

dos serviços de saúde”. Num momento em que se privilegiam as relações online, a

maioria das vezes mesmo no atendimento direto, decidimos realçar este trabalho

pondo em evidência a necessidade da relação personalizada em determinadas

áreas onde a relação humana se demonstra insubstituível. “…Os serviços de uma

organização especializada na área da saúde, encontra pela frente profissionais que

desenvolvem atividades assistenciais, cujo exercício está a exigir bem mais do que

apenas competência técnica”. São “áreas específicas de conhecimento [que], têm de

estabelecer sempre, com as pessoas que atende, relações de caráter interpessoal

(…) uma interação para melhor compreender suas necessidades, angústias, raivas

e expectativas é de fundamental importância”. É a perspectiva de Nelson Nogueira

traduzida no seu trabalho de doutorado em 2004, que teve orientação de Wilson

da Costa Bueno.

“A comunicação nas organizações desportivas no Brasil: profissionais e

instrumentos” doutorado de Isildinha Martins, também com orientação de Wilson

da costa Bueno, em 2006. Entendemos interessante, e um tanto original, a

abordagem da comunicação organizacional tendo como objeto organizações

desportivas - em concreto quarenta e nove unidades em São Paulo - por isso

realçamos este trabalho.

“A comunicação como um processo de inteligência empresarial em

planejamento estratégico” de Rodolpho Weishaupt Ruiz que fez doutorado em

2005, orientado por Wilson da Costa Bueno. Uma vez mais, um dos objetos da

pesquisa é uma universidade. O estudo trata da comunicação como instrumento de

inteligência empresarial numa instituição de ensino superior.

“A comunicação organizacional: um estudo epistemológico” doutorado de

Wilson Corrêa da Fonseca Júnior em 2007, orientado por Wilson da Costa Bueno.

Segundo o próprio autor, o presente trabalho “consiste num estudo epistemológico

tendo por objeto a produção teórico-metodológica em Comunicação

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Organizacional produzida no Brasil e no exterior”. Entendemos pertinente uma

muito sucinta, mas clara conclusão a que o estudo chegou: “em sua concepção

hegemônica, a Comunicação Organizacional é profundamente marcada pelas

ciências do management e concebida como um conjunto de práticas e atividades de

comunicação voltadas à eficácia empresarial”.

Um pouco nesta linha de preocupações epistemológicas e metodológicas,

Paulo Eduardo Stucchi de Carvalho, em 2007, apresenta seu doutorado intitulado

“House-organs: da teoria à prática”, orientado por Wilson da Costa Bueno, em que

nos apresenta uma perspectiva de comunicação interna no Brasil aportada pelos

house-organs, dando primazia, precisamente, a aspectos ligados ao discurso

organizacional – tipo de linguagem, mensagens, etc.

Uma vez mais, correspondendo às linhas mais atuais de pesquisa, embora já

realizado em 2006, o doutorado de Lúcia Helena Aponi Sanchez, orientado por

Wilson da Costa Bueno, “A comunicação organizacional interna e o ambiente

virtual: novas tendências” relaciona o impacto nas Comunicações Internas das

Organizações com a virtualidade e tem como objetivo descrever e analisar as

mudanças ocorridas na comunicação interna das empresas com o advento das

novas tecnologias.

7.1.2 Considerações reflexivas

Os resultados a que chegamos com a análise da produção científica das

dissertações de mestrado e teses doutorado que acabamos de realizar nos leva a

tecer algumas reflexões em relação com a literatura produzida, alguma dela já aqui

referida nas “linhas de pesquisa na pós-graduação em RP e CO nas Universidades

do Brasil”, capítulo 6 do presente trabalho, e eventualmente outra, pertinente para

a legitimação da pesquisa.

Fazendo uma abordagem generalista das três unidades analisadas, emergem

as seguintes considerações:

No que diz respeito à quantidade de produção científica de pós-graduação

entre teses de doutorado e dissertações de mestrado no âmbito de Relações

Públicas e Comunicação Organizacional, o estudo que efetuamos levou-nos a

apresentar a tendência para um crescimento considerável de trabalhos

investigação, tanto de mestrado como de doutorado em Relações Públicas e

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Comunicação Organizacional ao longo dos anos - já a partir do início dos anos 1990

- e também um crescimento do número de teses de doutorado, proporcionalmente

à realização de dissertações de mestrado consoante se aproximava o final da

década 2000. A confirmação científica da generalidade destes dados foram

encontradas nas considerações da investigadora Margarida Kunsch:

“Quanto ao volume, é a partir da década de 1990 que se registra maior expansão da produção, tanto no mestrado quanto no doutorado. Em um primeiro momento, as dissertações de Relações Públicas sobrepujam amplamente as de Comunicação Organizacional. Os últimos levantamentos mostram um grande crescimento do número de dissertações e teses defendidas em diversos centros de pós-graduação (1466)” (KUNSCH, M: VIII Congresso Lusocom: 2009).

Relativamente ao teor das pesquisas, começamos por verificar uma evolução

da própria filosofia dos trabalhos de investigação, generalizadamente descritivos,

que vinha do início dos anos 1990, para analíticos e relacionais, até ao momento de

que dispomos de dados informativos, em 2009, começando a conferir uma maior

qualidade e cientificidade aos realizados a partir do final da década. A

investigadora Margarida Kunsch vem também confirmar e legitimar essa nossa

verificação:

“Novas tendências e perspectivas são percebidas na produção científica dessas áreas (…) de 2000, a 2007 (…) pode dizer-se que está havendo um bom salto de qualidade e uma maior preocupação com estudos teóricos e mais críticos do campo, inclusive no que diz respeito à pesquisa empírica relativa” (2009e: 85)

Ao falarmos de temáticas investigadas, encontramos as linhas mais

significativas definidas no recorte de tempo estudado traduzidas nas áreas de

responsabilidade ade social, comunicação interna, meios digitais e novas tecnologias,

comunicação corporativa/institucional, discurso nas organizações, comunicação

integrada, estratégia. A partir de meados dos anos 1990, verifica-se muito a

transversalidade temática - o cruzamento de assuntos - particularmente com as

Relações Públicas como base em relação com outra temática distinta. Margarida

Kunsch apresenta-nos a sua credenciada posição a este respeito, que não anda

longe das nossas conclusões:

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130

“Ainda quanto à temática nota-se uma grande frequência des estudos vinculados ao terceiro sector e à responsabilidade social. A questão das novas tecnologias da comunicação aplicadas a segmentos de públicos determinados também está muito presente, bem como a comunicação digital e seus impactos nas organizações. (…) (…) Além disso, verifica-se uma ocorrência maior de pesquisas sobre o discurso organizacional e a análise da retórica institucional. Registram-se ainda temas inovadores, como a comunicação da diversidade corporativa [institucional] e avaliação e mensuração dos resultados em Relações Públicas” (KUNSCH, M., 2009e:85).

. A partir de 2006, encontramos alguns trabalhos - mais doutorados e no

campo da Comunicação Organizacional - com preocupações teóricas e

epistemológicas, na tentativa da criação de em “corpus” teórico para a disciplina.

Uma vez mais não estamos só nesta constatação:

“Alguns trabalhos de doutorado chamam também a atenção pelas novas contribuições, sobretudo na direção da construção de um corpus teórico para a comunicação organizacional no Brasil. Caracterizam-se por uma abordagem mais crítica e por um questionamento dos modelos tradicionais vigentes que veem a comunicação nas organizações de uma perspectiva muito funcionalista, fortemente influenciada pela Administração” (KUNSCH, 2009e: 85).

Para concluirmos as nossas considerações, podemos afirmar, com base nos

resultados da pesquisa que realizamos nos centros de investigação agregados à

ECA, FAMECOS e UMESP, que podemos encontrar hoje no Brasil uma visão

holística de Comunicação Organizacional, defendida pela autora das pesquisas

mais atuais na área, Margarida Kunsch (1986, 1997, 2003 e 2009) que abrange

três dimensões: “a humana, como parte integrante da natureza das organizações, a

instrumental, como transmissora de informações e a estratégica, como fator

relevante para os resultados organizacionais, em termos tanto de construção de

imagem e identidade corporativa, quanto de negócios” (KUNSCH, 2009b).

7.2 Produção bibliográfica e temas mais trabalhados

Introdução

A análise que faremos em seguida vai incidir sobre dois tipos de produção

bibliográfica. Primeiramente abordaremos as publicações com origem na

universidade, com autores originários do meio acadêmico, cuja produção serve

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131

principalmente à mesma academia. Num segundo momento, debruçar-nos-

emos um pouco sobre a produção paralela de autores especializados, autores

vindos do mercado de trabalho, que com a sua experiência profissional

também contribuem para o aumento do conhecimento sobre comunicação

empresarial.

7.2.1 A produção acadêmica

7.2.1.1 Os pioneiros

Entre abril de 1961 e dezembro de 1962, o professor Sylla Magalhães Chaves

escreveu um conjunto de ensaios que vieram a ser compilados, transformando-se

na obra “Aspectos de Relações Públicas”. Revelado um verdadeiro clássico na

teoria de relações públicas na sua essência, ainda é considerada uma obra atual no

Brasil.

Outros autores nos merecem também uma palavra neste contexto. O nome de

Walter Ramos Poyares nos parece enquadrar aqui, ao analisarmos a sua produção

em relações públicas desde a década de 60 até publicações já no limiar do séc. XX;

também José Xavier de Oliveira, com o seu livro “Usos e abusos de relações púbicas”

(1971); José Roberto Whitaker Penteado que publicou um manual de Relações

Públicas, vastamente usado em Portugal, a partir do momento em que a disciplina

de relações públicas passou a fazer parte do programa do ensino secundário, nos

anos 70, manual que terá vindo a suscitar-nos o primeiro interesse por estas áreas,

é um nome que, até por esse fato, não podemos deixar de sublinhar.

Salientamos que os primeiros registros de obras referenciais de relações

públicas no Brasil foram realizados por Teobaldo de Souza Andrade. Desse seu

trabalho pioneiro surgiu o Guia brasileiro de relações públicas com o registro de

livros, teses, artigos, opúsculos e apostilas sobre relações públicas e opinião pública,

publicado pela primeira vez em 1979 pela ABRP - Associação Brasileira de Relações

Públicas, em parceria com universidades e empresas.

Até os anos 70, a bibliografia brasileira das áreas de Relações Públicas e

comunicação organizacional concentrava-se prioritariamente em artigos (Kunsch,

Perfis online, 2003a).

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No entanto, já a partir da década de 50, podemos citar traduções das obras de

Carlson (1953), Reilly (1960), Baus (1961), Canfield (1961), Childs (1964), Simon

et. al. (1972) (FRANÇA, 2003).

7.2.1.2 A dependência dos Estados Unidos

As primeiras obras acadêmicas para a área de Comunicação no Brasil mais

essenciais foram, sem dúvida, importadas dos Estados Unidos. E desde 1969 que o

livro de Bertrand Canfield em dois volumes, “Relações Públicas, Princípios, casos e

problemas” se encontra traduzido, tornou-se o “manual brasileiro” da atividade,

pois foi durante muito tempo adotado nas faculdades que ensinavam Relações

Públicas, tornando-se um clássico por excelência durante muitos anos (REIS,

2009b:144).

Mas há referências de origem brasileira que merecem ser feitas. Não

podemos deixar de mencionar os livros de Cândido Teobaldo de Sousa Andrade,

“Curso de Relações Públicas”, de 1970 e de Martha Alves d’Azevedo, “Relações

Públicas: teoria e processo”, de1971. São obras que se encontravam bastante

presentes nas bibliografias dos antigos cursos de comunicação. A década de 70 foi,

de fato, produtiva em obras de Relações Públicas no Brasil. Encontram-se 14

(catorze) registros de publicações. Alguns derivados de investigação científica –

mestrados e doutorados - mas outros também resultado de traduções de livros

estrangeiros (2009b:145).

A década de 80 é marcada pela abertura ao exterior e expansão. A tecnologia

permite agora a mudança nas organizações. A comunicação encontra necessidade

de adaptação. A literatura especializada sobre comunicação organizacional

desenvolve-se em consonância. Primeiro nos Estados Unidos, depois importada

pelo Brasil. Das principais obras que se apresentam em resposta à conjuntura

encontramos: “Handbook of organizational communication”, organizado por Jablin,

Putman, Roberts e Porter, em 1987. Trata-se de uma coletânea de artigos de vários

especialistas que demonstram o rápido desenvolvimento das distintas áreas no

âmbito da comunicação organizacional (REIS, 2009b:149). Coletânea que viria a

ser atualizada em 2001 por Jablin e Putman no New handbook of organizational

communication. Também a influente obra de Botan e Hazleton sobre o

desenvolvimento de uma teoria das relações públicas, em 1989, uma outra de

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133

Pacanowski, em 1983 sobre uma abordagem interpretativa da comunicação

organizacional e de Grunig em 1989 também sobre os pressupostos de uma teoria

das relações públicas. Este seria mesmo a base para o trabalho que daria uma

grande visibilidade a Grunig, quando, em 1992, este concluiu e apresentou uma

pesquisa internacional de grande dimensão sobre a excelência organizacional e

relações públicas que coordenou com financiamento da Association of Business

Comunicators (IABC) o “Excellence Study” (REIS, 2009b:150) (que apresentamos na

p. 30).

Na década de 1990, o Brasil, ainda com grande falta de produção científica

própria, e encontrando nos Estados Unidos bálsamos para preocupações similares

às suas, continua a importar os conhecimentos de Comunicação Organizacional.

Registrem-se mais estudos realizados, particularmente numa linha de construção

teórica, estes sobre os fundamentos da comunicação organizacional, da

responsabilidade de Corman, Banks e Bantz em 1994, e o de Deetz sobre o papel da

comunicação na construção das organizações assertivas e responsáveis e também

sobre o caráter disciplinar da comunicação organizacional em 1992 (apud REIS,

2009b:155/156).

7.2.1.3 O novo milênio e o despertar para a nova investigação

A partir do novo milênio, porém, o Brasil, vem apresentar autonomia com

linhas próprias de investigação e produção científica no campo da Comunicação

Organizacional e das Relações Públicas. Essa autonomia transparece das palavras

de Margarida Kunsch em uma das suas mais recentes coletâneas sobre Relações

Públicas no país:

“… Se o pensamento dos Estados Unidos marcou, e ainda marca, presença na disciplina e na atividade profissional em nosso país, ele, apesar de paradigmático, não é universal. (…) …é mais do que necessário que os pesquisadores brasileiros adequem os paradigmas das relações públicas ao contexto do País” (2009) “in capa”.

A década de 2000 demonstra-se produtiva na área das Relações Públicas.

Margarida Kunsch consegue organizar uma coletânea de 20 (vinte) trabalhos e

com eles publicar “Relações públicas: história, teorias e estratégias nas organizações

contemporâneas”, em 2009. Uma obra que é composta por cinco capítulos que

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contêm aspectos históricos, teóricos, conceituais e empíricos das relações públicas, a

par com temáticas de caráter mais pragmático no âmbito da estratégia, gestão de

relacionamento e numa dimensão pública e comunitária das mesmas.

Aí convivem distintos trabalhos dos mais descritivos como: “Gênese e

desenvolvimento do campo profissional e acadêmico das relações públicas no Brasil”,

uma preocupação demonstrada por Waldemar Luiz Kuncsh (2006), aos mais

reflexivos como: “Da aparência à essência das relações públicas: abordagem na

perspectiva da teoria crítica e do modo de produção capitalista”, de Cicilia M.

Kroling Peruzzo (1982); também relacionais: “História e memória organizacional

como interfaces das relações públicas”, de Paulo Nassar ou “Relações Públicas e as

interconexões com o Marketing nas estratégias organizacionais”, um contributo de

Mariângela Benine Ramos Silva; de apoio comunitário e caráter público:

“Comunicação pública e as estratégias de relações públicas nas alianças inter

setoriais” de Maria José da Costa Oliveira; e com expressas motivações teóricas:

“Por uma rede teórica para relações públicas: uma forma abreviada de teoria”, de

Roberto Porto Simões.

As suas intenções em relação à comunicação organizacional concretizaram-se

identicamente em 2009. Nesse mesmo ano, publicou uma coletânea composta por

um total de 34 (trinta e quatro) trabalhos com esse mesmo título: Comunicação

organizacional. Trata-se de uma obra que, nesse âmbito, contém as mais variadas

áreas, divididas em dois volumes. O primeiro é composto por 4 (quatro) partes que

concentra trabalhos dedicados aos fundamentos históricos e teóricos, processos e

linguagens. Aí podem-se encontrar revelações sobre a “história da comunicação

organizacional no Brasil: práticas e pesquisa acadêmica”, “pressupostos teóricos

para pensar e compreender a comunicação organizacional”, mas também trabalhos

de caráter menos teórico, no âmbito da “gestão estratégica dos processos

comunicacionais e das organizações”, e sobre “os novos impactos das tecnologias da

informação na produção da comunicação organizacional integrada”. O segundo

volume contém três partes, com trabalhos sobre linguagem, gestão e perspectivas

na comunicação organizacional. Este é composto por duas partes apenas,

constituindo-se por trabalhos sobre “retórica e discursos organizacionais” e “gestão

da comunicação e das mudanças culturais”.

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135

Pela análise dos títulos, e posterior resumo dos trabalhos aí publicados,

destacam-se, de imediato, contributos para uma real fundamentação teórica do

próprio campo, de que são exemplos um artigo da própria autora da coletânea,

Margarida Maria Krohling Kunsch, intitulado “Percursos paradigmáticos e avanços

epistemológicos nos estudos da comunicação organizacional”, no qual a

investigadora faz uma retrospectiva da evolução conceitual do campo acadêmico e

da prática profissional da comunicação organizacional de 1950 a 2000, e outros

que se propõem analisar as organizações à luz de distintas perspectivas teóricas

como a “Escola de Montreal”, trabalho desenvolvido por Adriana Machado Casalli,

intitulado “Um modelo do processo de comunicação organizacional na perspectiva

da “Escola de Montreal” ou a “teoria dos sistemas sociais” de Niklas Luhmann,

investigação esta realizada por João José Azevedo Curvello no seu trabalho “A

perspectiva sistêmico-comunicacional das organizações e sua importância para os

estudos da comunicação organizacional”.

Num âmbito mais pragmático, encontramos o trabalho “Processos

comunicacionais na implantação dos programas de qualidade e de certificações” de

Cleusa Maria Andrade Scroferneker, que vem confrontar a implantação dos

programas de qualidade e certificações com a necessidade de gestão da

comunicação interna nas organizações. Esta é uma preocupação que se revela

particularmente com a comunicação interna. Numa outra dimensão, o trabalho de

Deonir de Toni, “Administração da imagem de organizações, marcas e produtos” já

vem colocar a sua tônica na relação com os diversos públicos externos à

organização. Realçamos que se trata de exemplos que entendemos significativos a

partir da totalidade dos publicados na coletânea.

Fundamental uma palavra aos trabalhos com enfoque nas novas tecnologias:

“Comunicação digital e novas mídias institucionais”, realizado por Elizabeth Saad

Correia. Trata-se de um texto que combina o conceito de comunicação corporativa,

e que numa perspectiva de comunicação estratégica na organização procura a

integração da comunicação digital. O destaque, uma vez que congrega várias

tendências da pesquisa na atualidade: comunicação digital, comunicação integrada,

estratégia…

Em dimensões distintas, várias são as publicações sobre discurso

organizacional e retórica. Teresa Lúcia Halliday debruça-se diretamente sobre os

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dois temas no seu trabalho. “Discurso organizacional: uma abordagem retórica”

aborda a comunicação organizacional na perspectiva da retórica. Já Artur Roberto

Roman, numa perspectiva mais pragmática, apresenta reflexões sobre a realidade

enfrentada pelas organizações da pós-modernidade em “Organizações: um universo

de discursos bem-ditos, mal-ditos e não-ditos”. De uma forma menos complexa, a

“Análise de um discurso organizacional”, é realizada em duas organizações por

Cleonice Furtado de Mendonça Van Raij. Não podemos deixar de evidenciar ainda

um estudo sobre “Identidade organizacional e a construção dos discursos

institucionais”, de Luiz Carlos Assis Lasbeck que obriga à relação entre a

construção dos discursos institucionais com a gestão da estratégia organizacional.

Paralelamente, vários são também os estudos publicados sobre cultura

organizacional e comunicação. De imediato nos concentramos sobre “As

interconexões entre cultura organizacional e comunicação” de Marlene Regina

Marchiori, no qual a autora propõe uma perspectiva estratégica para a área da

cultura organizacional. Também “A cultura organizacional como manifestação da

multidimensionalidade humana” em que Maria Schuler analisa a cultura como

agente influenciador da mudança nas organizações e como manifestação em várias

dimensões na organização. Um pouco nesta linha de investigação, Maria do Carmo

Reis vem discutir o tema comunicação em situação de mudança organizacional

com o seu texto “Agenciamento comunicacional e mudança organizacional

estratégica”.

Um trabalho bem representativo da gestão da comunicação é feito a partir de

uma análise sistêmica da organização, pelos autores Jorge Duarte e Graça

Monteiro, intitulado “Potencializando a comunicação nas organizações”,

responsabilizando todos os atores da organização pela gestão da comunicação aí

produzida.

Outras recentes publicações merecem registro.

Em 2009, Margarida Kunsch lança a coletânea do Congresso da Abrapcorp

“Relações Públicas e Comunicação Organizacional: Campos acadêmicos e aplicados

de múltiplas perspectivas” (2009b). Trata-se de um conjunto de textos, fruto do “1º

Congresso Científico brasileiro de comunicação organizacional e relações

públicas”, que teve lugar em 2007, em São Paulo, Brasil, de parceria entre a

Abrapcorp e ECA-USP. É uma obra que reúne vários trabalhos no âmbito de

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perspectivas conceituais e teóricas no contexto brasileiro e internacional;

metodologia para os estudos e as práticas; pesquisas brasileiras ao nível da pós-

graduação; e ainda a interação entre a academia e o mercado.

Também o livro “A comunicação como fator de humanização das

organizações” (2010), organizado pela mesma autora, traduz o resultado do 3º

Congresso da Abrapcorp que teve lugar em abril de 2009 em São Paulo. Apresenta

as contribuições dos participantes integradas em dois subtemas: “a organização

como espaço de diálogo e construção de significado, e a comunicação como lugar e

processo de humanização da organização nas relações de trabalho” (Int.).

São de referir ainda outras coletâneas de distintos autores. Num contexto

acadêmico, também, as coletâneas organizadas por docentes destas áreas,

vinculados aos programas de pós-graduação em Comunicação. Eis alguns exemplos

bastante representativos (2009b):

- uma vez mais, Margarida M. Krohling Kunsch, no contexto do Programa de

Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da ECA-USP em Gestão estratégica em

comunicação organizacional e relações públicas (2008) vem apresentar a

Comunicação Organizacional sob uma perspectiva holística, esclarecendo que ela

dispõe de um franco potencial para corresponder às necessidades e desejos do

mercado. Enfatiza aí o ponto de vista de que a Comunicação Organizacional e as

Relações Públicas não têm como únicos objetivos os interesses comerciais e

institucionais, no entanto, dependem de projeção para além do plano instrumental.

- Cleusa M. Andrade Scroferneker, do Programa de Pós-Graduação em

Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul com

“O diálogo possível: comunicação organizacional e paradigma da complexidade”

(2008) vem propor uma reflexão sobre as relações públicas (re)significando-as no

complexo campo da comunicação organizacional, o que implicará recorrer a outras

lentes paradigmáticas para o revisar permanente das concepções das estruturas

curriculares, ainda voltadas e limitadas ao “saber fazer” das relações públicas.

- Ivone de Lourdes Oliveira e Ana Thereza Soares do Mestrado em

Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais em

“Interfaces e tendências da comunicação no contexto das organizações” (2008)

organizam as reflexões baseadas nas discussões ocorridas no seminário Interfaces

da Comunicação Organizacional. Nessa obra, professores e pesquisadores

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138

apresentam suas ideias sobre comunicação, organizações e campos de

conhecimento correlatos, aprofundando o debate.

7.2.2 As publicações não acadêmicas

Como apontamento histórico podemos referir que o primeiro livro

especializado em relações públicas em Português do Brasil surgiu em 1963, pela

mão de Cândido Teobaldo de Sousa Andrade, com o título “Para entender Relações

Públicas”, logo seguido da obra traduzida de Allen Center, em 1964, intitulada

“Ideias de Relações Públicas em ação”. Pelo que pudemos apurar, tratava-se de

obras incipientes em termos académicos, desprovidas de ambições teórico-

científicas, com caráter descritivo da nova atividade profissional, de um ponto de

vista técnico-instrumental. Mas que se revelaram um contributo importante para

um primeiro delineamento identitário da profissão (REIS, 2009b:138)

Atualmente verifica-se, que relativamente a livros produzidos fora do meio

acadêmico, há um crescimento acentuado de obras coletivas. A publicação dessas

obras resulta de esforços individuais de estudiosos e profissionais.

No caso das instituições, destaca-se a Aberje que, entre 2004 e 2008,

publicou quatro números da coleção “Comunicação interna: a força das empresas”-

um por ano - e dois de “Comunicação empresarial: estratégias de organizações

vencedoras” em 2006.

Os artigos são assinados por consultores e executivos especialistas em

comunicação empresarial.

Numa análise transversal das obras, verificamos que os artigos que compõem

as publicações são escritos por executivos de mercado, profissionais, portanto.

Os três primeiros volumes da “Comunicação Interna: a força das empresas”

são compilados a partir dos 3º, 4º e 5º Mix Aberje de Comunicação Interna e

Integrada, que ocorreram em 2003, 2004 e 2005, respectivamente. Deles, fazem

parte artigos sobre utilização das ferramentas da comunicação interna, como

informar, preparar e mobilizar o público interno em ambientes de mudança, como

trabalhar com o público interno perante situação de crises empresariais. Numa

linha evolutiva, também outro tipo de temáticas como a comunicação estratégica, o

fator humano, cultura, pesquisas e a apresentação de casos concretos relacionados

com a experiência profissional dos participantes.

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No 4º volume, publicado em 2008, os autores mantêm-se profissionais do

mercado, especializados, bem qualificados, e esta é uma característica da revista,

as temáticas inerentes já se sentem numa outra dimensão da comunicação. Aqui,

vão-se encontrar os mais diversos temas, incluindo os mais recentes no âmbito da

Comunicação empresarial: desde artigos de ética nas organizações, discurso e

responsabilidade social, cultura de empresa, até comunicação digital que compõem

a totalidade dos 12 (doze) aí publicados.

Os dois volumes da Comunicação Empresarial apresentam-se com uma linha

idêntica ao 4º volume anteriormente referido, em termos de concepção e

publicação, com 16 (dezesseis) artigos em cada um dos dois volumes, escritos por

profissionais especializados em matérias relativas.

Obras publicadas individualmente como mais recentes no período

estabelecido para a nossa pesquisa, destacamos o trabalho de Marlene Marchiori,

pós-doutorada em Comunicação Organizacional pela Purdue University, dos

Estados Unidos e doutorada pela ECA da USP, com vários títulos sobre Cultura e

Comunicação organizacional, nomeadamente “Cultura e Comunicação

Organizacional-um olhar estratégico sobre a organização” em 2008 e Paulo Nassar,

já várias vezes mencionado ao longo do presente trabalho, autor de vasta

publicação, agora numa tentativa de definição do campo: “O que é a Comunicação

Organizacional”, publicado no seio da Aberje em 2008. São dois apontamentos que

merecem o nosso registro, não só pelos livros agora publicados mas pelos

antecedentes que permitiram este momento.

7.3 Temas mais trabalhados

Fazendo uma pequena retrospectiva à pesquisa que acima realizamos,

verificamos, muito sumariamente, os temas objeto de tratamento bibliográfico

para publicação, desde as coletâneas organizadas com artigos de docentes e

pesquisadores, até alguns textos de profissionais de mercado, publicados pela

associação de profissionais empresários – Aberje – nas coleções referidas. Assim

encontramos: comunicação, aspectos históricos, teóricos, conceituais e empíricos das

relações públicas, discurso organizacional, retórica, comunicação interna, cultura

organizacional. Mais recentemente: comunicação digital, comunicação integrada,

estratégia, tecnologia.

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Confrontamos as conclusões da nossa pesquisa aplicada acima apresentadas

com resultados de pesquisa publicados pela investigadora Margarida Kunsch,

realizada entre 1995 e 2000 - base de dados Unites (2000):

“No conjunto de livros, capítulos de livros, teses, artigos em periódicos científicos e comunicações em congressos ou eventos científicos, os assuntos são bastante variados. Os temas mais presentes, que ultrapassam a frequência de dez citações, foram: comunicação organizacional/empresarial; conceitos e definições de relações públicas; atividades de relações públicas; relações públicas nas empresas ou nas organizações; história das relações públicas; comunicação dirigida; técnicas de relações públicas; comunicação interna; instrumentos de relações públicas; assessoria de imprensa; comunicação institucional; comunicação integrada; relações públicas com consumidores; imagem empresarial ou institucional; profissão e profissional de relações públicas; ensino de relações públicas; comunicação e cultura organizacional”.

Tendo em vista que a nossa pesquisa tem objetivos claramente definidos, que

não abrangem a comunicação na sua generalidade, há aspectos que fazem parte

dos aqui enunciados, que não são contemplados no âmbito do nosso trabalho.

Concretamente: “ensino de relações públicas”, “história das relações públicas”;

“relações públicas com consumidores”.

Independentemente do fato, podemos verificar a consonância com as

conclusões a que chegamos com a análise dos temas atualmente mais pesquisados

e publicados no Brasil no meio acadêmico e fruto de preocupações dos

profissionais ligados à comunicação empresarial.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

8.1 Afinal o que é o “estado da arte” da Comunicação Organizacional entre

Portugal e Brasil?

Quando nos propomos alcançar resultados, ainda que num momento

intermédio de um trabalho de investigação, devemos ter, no mínimo, a curiosidade

científica de verificar se cumprimos os nossos objetivos iniciais, isto

independentemente de respondermos ao compromisso que assumimos perante a

comunidade de investigação em que estamos inseridos.

Relembrando o objetivo do nosso trabalho, pretendíamos inicialmente:

• “reconhecer o ‘estado de arte’ mais atual da Comunicação Organizacional e

das Relações Públicas em Portugal”, ao mesmo tempo que pretendíamos:

• “tentar conhecer o estágio do conhecimento da Comunicação Organizacional

e das Relações Públicas no Brasil, enquanto fonte de aprendizagem”; de

modo a podermos:

• “comparar os estágios [de conhecimento] entre os dois países; as diferentes

perspectivas e os modelos de análise mais atuais.”

De imediato, urge definir o que se entende por ‘estado da arte’ para

posteriormente se aplicar o conceito ao caso em pesquisa.

O ‘estado da arte’ é o nível mais alto de desenvolvimento, seja de um

aparelho, de uma técnica ou de uma área científica, alcançado em um tempo

definido.23

O "estado da arte" indica, portanto, o ponto em que o produto em questão

deixa de ser um projeto técnico para se tornar uma obra-prima.

Ao contrário do que se pensa, devido à existência da palavra 'arte' aí inserida,

o termo foi originado por tecnólogos, e seu primeiro uso foi formalizado num

documento em 1910, num manual de engenharia.24

No presente contexto, o que se designa por ‘estado da arte’ é o nível de

desenvolvimento ou conhecimento máximo de uma área científica, que se traduz

no âmbito das Ciências da Comunicação, no momento que se conseguir mais atual.

23 Wikipédia on line 2012 24 Idem, ibidem

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142

Com a pesquisa que efetuamos, tentamos verificar o ‘estado da arte’ da

comunicação organizacional e das relações públicas do Brasil e de Portugal através

da produção científica – pós graduações - e bibliografia realizadas.

Salientamos o fato da nossa pesquisa ainda se encontrar em curso para

Portugal, motivo pelo qual os resultados da mesma ainda virão a ser aprimorados

com a conclusão do aprofundamento da mesma neste país.

Nessa altura, não só estaremos em condições para reconhecer o real ‘estado

da arte’ também em Portugal, como também fazer “jus” a uma comparação global

do mesmo com o do Brasil.

As informações que obtivemos, e acima analisamos para cada um dos países,

já nos permitem, no entanto, primeiras impressões comparativas dos dois países

analisados.

8.2 Primeiras impressões e percepções

Introdução

No projeto que apresentamos para a realização da análise comparada entre

os dois países da relação do enquadramento teórico - aplicação empírica das linhas

de investigação em Comunicação Organizacional, pensávamos basearmo-nos na

classificação de Allen, Gotcher e Seibert, de 1993, sobre os temas mais analisados

em revistas científicas da área entre 1980 e 1991.

No decorrer do trabalho percebemos uma certa incoerência do projeto, uma

vez que o nosso objeto de análise, em termos temporais, se situava principalmente

a partir da década de 1990. Justifica-se assim o abandono dessa opção, partindo-se

para uma análise direta dos elementos levantados.

8.2.1 As nossas observações

1 - Tal como nos comprometemos desde a definição dos nossos objetivos,

apresentamos as temáticas mais atuais pesquisadas no Brasil no âmbito da

Comunicação Organizacional e das Relações Públicas:

Verificamos com a produção científica traduzida com as dissertações de

mestrado e teses de doutoramento e livre docência, na última década do final do

século XX, um recorte de tempo que se vislumbra recente, havendo as linhas mais

significativas em áreas de: responsabilidade social, comunicação interna, meios

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digitais e novas tecnologias, comunicação corporativa/institucional, discurso nas

organizações, comunicação integrada, estratégia. A partir de meados dos anos

1990, verifica-se muito a transversalidade temática - o cruzamento de assuntos -

particularmente com as Relações Públicas como base em relação com outra

temática distinta.

A produção bibliográfica, num recorte de tempo paralelo, apresenta-nos

linhas próximas das acadêmicas: comunicação, aspectos históricos, teóricos,

conceituais e empíricos das relações públicas, discurso organizacional, retórica,

comunicação interna, cultura organizacional. Mais recentemente: comunicação

digital, comunicação integrada, estratégia, tecnologia.

2 – A investigação que nos propusemos realizar centra-se, então, na análise e

na comparação da produção científica e bibliográfica em Comunicação

Organizacional e Relações Públicas no Brasil e em Portugal, que se traduz numa

comparação quantitativa e qualitativa dos resultados da pós-graduação e dos

livros publicados sobre os temas intrínsecos às áreas correspondentes.

Independentemente do fato da análise se apresentar ainda muito redutora nesta

fase, uma vez que os resultados apresentados relativamente a Portugal respeitam a

um momento intermédio da pesquisa, como já esclarecemos, mais penalizado

ficaria ainda este trabalho se apresentássemos resultados quantitativos

comparativos paralelos das situações encontradas entre os países analisados. Não

estaríamos a errar por defeito de informação, mas por distorção da mesma. Na

verdade, não se pode comparar o incomparável. E as diferentes estruturas de

ensino de Portugal e do Brasil levam a uma produção de investigação em Portugal,

particularmente superior àquela que se pode exigir, em termos relativos, à

realizada no Brasil.

Com o acordo produzido na Europa através do Tratado de Bolonha, Portugal

modificou as suas antigas estruturas do ensino superior. As atuais licenciaturas

ficaram desvalorizadas perante o mercado de trabalho e a concorrência já

instalada. A grave crise social, econômica e política que Portugal atravessa leva os

jovens a adiar um desemprego quase certo. A solução é, muitas vezes, manterem-

se durante mais dois anos na vida acadêmica, com o único objetivo da obtenção de

um emprego facilitado, após o mestrado concluído.

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Tal como antigamente, antes do acordo instalado, o grau de mestre obriga à

realização de uma dissertação. Hoje, os novos mestres, com três ou quatro

semestres de mestrado, após uma licenciatura de três anos, encontrar-se-ão,

segundo os estatutos, aptos à realização da dita dissertação. Uma dissertação, fruto

de investigação aplicada ou que se pode limitar a um estudo teórico de natureza

reflexiva sobre determinado tema, mas com necessidade de redação, a maior parte

das vezes que não ultrapassa os seis meses de concretização.

É de fazer justiça às novas tecnologias que facilitam a pesquisa com um

acesso rápido e assaz fidedigno às fontes necessárias. Ainda assim há que

considerar a pesquisa de campo não documental, que sempre terá o seu espaço no

âmbito das novas ciências, de caráter muito mais empírico. E grande parte das

áreas das Ciências da Comunicação obriga a muito trabalho fora das bibliotecas. Se

estudamos Comunicação nas Organizações e Relações Públicas, também é às

organizações que deveremos ir investigar.

Mas a verdade é que é inquestionável o número de dissertações que se obtêm

por este caminho. Se somarmos esta situação à consequência normal do grande

aumento de estabelecimentos e cursos encontrados a partir de 2000, com a

reestruturação do sistema de ensino derivada da implantação do acordo de

Bolonha, poderemos imaginar a vasta quantidade de dissertações realizada.

No Brasil, diferentemente, encontramos um estágio cada vez mais consciente

e exigente na realização da pós-graduação em Comunicação Organizacional e

Relações Públicas.

Não podendo evitar os paralelismos implícitos, apresentamos o perfil de

apenas dois distintos e representativos profissionais, docentes e pesquisadores

que desenvolviam os seus trabalhos acadêmicos, quando com eles convivemos

para o presente pós doutoramento. Um deles, profissional especialista em

Comunicação Organizacional, com uma carreira de quase uma década, enquanto

responsável de comunicação externa e com a imprensa. Possuía mestrado em

Comunicação e Mercado e era docente e coordenador do curso de Relações

Públicas, com a duração de oito semestres (mais um projeto experimental), de uma

das principais Universidades de São Paulo; uma outra, docente universitária de

pesquisa na universidade pública mais conceituada de São Paulo e do país, diretora

do instituto de pesquisa da Aberje, Conselheira da ASBPM - Associação Sociedade

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Brasileira de Pesquisa de Mercado, e diretora de uma empresa de Pesquisas

Corporativas, que também só então estava realizando o seu mestrado na ECA.

Salientamos apenas que os trabalhos finais de pós-graduação, hoje alvo de

publicação no Brasil, têm origem em mestrandos e doutorandos com tais atributos,

e cuja duração se situa entre os dois anos e os dois anos e meio.

Noutra dimensão, o grau de exigência da CAPES que, desde 1976, com as suas

avaliações aos cursos de pós-graduação, se apresenta como uma das principais

motivações a uma pesquisa séria e pertinente: nenhuma universidade pretende

ver os seus cursos encerrarem e a CAPES é entidade com poder para o fazer, caso

não veja os seus critérios de avaliação corretamente cumpridos.

Numa mesma linha de valorização, os cursos per si, sofreram uma mudança

de paradigma em 1990. A teoria tornou-se insuficiente em áreas que só se veem

cumpridas através da praxis. Desde então, profissionais credenciados passaram a

colaborar nos cursos de pós-graduação, e teoria e prática aproximaram-se.

A pesquisa passa a tratar os problemas concretos e reais, emergentes da

comunicação nas organizações. A comunicação passa a ser encarada numa

perspectiva estratégica útil à organização, incluindo as várias vertentes

comunicacionais intrínsecas a ela.

A par com a nova pesquisa da universidade, o papel da ABERJE foi

fundamental para o efeito, mas também o de outras associações como a

INTERCOM, responsável pelo apoio na participação de núcleos de pesquisa em

congressos.

Derivado de todo o trabalho então executado encontram-se hoje bases de

dados de teses de doutoramento e de livre docência, mas também artigos sobre

Relações Públicas e Comunicação Organizacional no Brasil em publicações

especializadas; muito material há para consulta e bases para se poder consultá-lo.

Nas últimas décadas, o trabalho tem sido árduo. É de salientar uma das

principais responsáveis pela seleção e compilação de muito desse material,

particularmente de origem acadêmica e de congressos, Margarida Kunsch. Hoje, já

terá motivos para se sentir recompensada ao olhar para a biblioteca bem composta

com obras de Comunicação Organizacional e Relações Públicas que revelam o

esforço de acadêmicos consagrados e profissionais de longos anos, que prestam o

seu testemunho e a sua simultânea homenagem com o seu empenho em prol do

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conhecimento e desenvolvimento da comunicação organizacional e das relações

públicas nos últimos vinte anos no Brasil.

3 – Um motivo que contribuiu fortemente para a realização da presente

pesquisa foi perceber a imagem e o lugar das Relações Públicas e a sua relação com

a Comunicação Organizacional, em cada um dos países.

Encontramos no Brasil um lugar bem destacado, autônomo, quase de

soberanas. Verificamos que a Comunicação Organizacional entrou no país em 1970

importada dos Estados Unidos pela necessidade emergente de atualização e

adaptação aos valores internacionais. A entrada do conceito da comunicação

organizacional, ainda assim não destituiu as relações públicas do seu pedestal.

Passaram a caminhar juntas com campos de ação bem definidos, paralelos e

complementares.

Mas o tempo passou e chegados quase ao novo milênio um panorama mais

complexo surge para a Comunicação Organizacional. Várias são as áreas dentro da

empresa consideradas neste âmbito. É o recente marketing virado para o exterior

da empresa, são agora os recursos humanos, a partir do momento em que a

comunicação interna passou a ser valorizada no âmbito da comunicação. É a

pesquisa fundamental às novas exigências e perfis do mercado… As várias áreas

que compõem o todo comunicacional da empresa. A comunicação é una e passa a

ser vista como global, porque atinge os vários campos nas suas distintas vertentes.

É o novo conceito de Comunicação Integrada na organização.

Neste sentido, as diferentes áreas de comunicação necessitam agir em

conformidade, em sintonia, em complemento, segundo um paradigma sistêmico

em que o todo é maior do que a soma das partes e, por isso, todos os elementos

componentes se afetam mutuamente acrescentando valor no resultado final. É o

efeito sinérgico. As Relações Públicas encontram aqui um papel muito bem

definido ao longo da organização que se traduz, muito principalmente, na

comunicação institucional e na criação de imagem, também para o exterior, mas

relacionadas com o todo que é a organização. A comunicação realiza-se agora

através de uma gestão estratégica, já desde o final do século anterior, e por isto

mesmo tem que se adaptar às nuances de cada uma das áreas; tem que encontrar a

estratégia indicada para comunicar com cada uma delas. E é o bom funcionamento

de tudo isto que caracterizará o estado ideal de Comunicação Excelente da

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Organização, um contributo teórico da autora mais atual do Brasil – Margarida

Kunsch.

Em Portugal, as relações públicas não têm a força de uma autonomia, não

detêm um forte respeito de algumas áreas semelhantes da comunicação, mas

sobretudo por parte de quem as desconhece. Em casos mais lamentáveis são

muitas vezes confundidas com áreas que de científico ou acadêmico nada tem. O

esforço vai sendo feito, mas, por muito que associações e alguns acadêmicos e

investigadores lutem, a imagem persiste pouco consistente. Por quê? Até já é difícil

argumentar. Talvez impere a imagem de uma parte de tradição mal resolvida, não

sabemos. Mas é essa a realidade.

Fato é, que, no meio acadêmico, hoje, em Portugal, as Relações Públicas,

também não gozam de uma imagem autônoma, ao contrário do que, nos seus

primórdios, chegou a acontecer. Raras as vezes são referidas sem ser no contexto

da Comunicação Organizacional.

Relativamente à Comunicação Organizacional, as escolas de Comunicação no

país encontram-se isoladas e com pouca força. Os investigadores na área com

publicações relevantes podem contar-se pelos dedos de uma mão, e refiro-me a

investigadores profissionalizados. O país encontra-se na Europa, e surgem novas

perspectivas. Mas as perspectivas dos investigadores não são consensuais entre

linhas de pesquisa. A linha europeia, que surgiu no final do século XX, parece vir

mais tentar afastar as Relações Públicas dos trabalhos desenvolvidos pelos norte-

americanos do que a desenvolver novos trabalhos em prol das mesmas. Pelo

menos até ao presente momento.

Não receamos afirmar que faltam hoje raízes que permitam a criação de

teoria própria no país. A nova estrutura do ensino superior e condições cedidas aos

investigadores não o proporcionam. As nossas primeiras impressões encaminham-

nos para uma indefinição de contextualização teórica neste país. Fora de questão

está a criação de um patrimônio próprio no atual momento; o que em tempos

houve, e o caminho que chegou a esboçar-se não teve continuidade e um dos

grandes responsáveis foi a mudança do sistema de ensino com o acordo de

Bolonha. A maior liberalidade com o sistema de aprendizagem atual não confere o

grau de exigência aos alunos que eles ainda necessitam para a realização de uma

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dissertação de um mestrado com resultados de investigação cientificamente

interessantes, e por vezes, mesmo válidos. E tudo começa nesse grau.

Relativamente a uma área operacional, enquanto profissão em Portugal, a

nossa primeira impressão é de que as Relações Públicas encontram já algum

reconhecimento neste campo, mas são consideradas muito mais no âmbito da área

de “Comunicação Organizacional”, mais vasta do que estritamente “Relações

Públicas”, estas bastante mais desvalorizadas em Portugal.

Pensamos que isto poderá passar pelo fato da disciplina ser recente, mas

também sabemos que, a meio do percurso da sua introdução no mercado das

organizações, após uma breve formação superior, as Relações Públicas, sem tempo

para terem encontrado solidez na academia e espaço nas organizações, foram

confrontadas com uma alteração de filosofia organizacional com a entrada do

conceito Comunicação Organizacional nas universidades, não tendo havido tempo

para uma definição clara do conceito de cada um dos campos nem espaço a aferir a

cada uma das áreas.

A Comunicação Organizacional poderá ser encontrada no meio acadêmico em

Portugal num estado interessante de oferta. Entre outros cursos, são várias as

licenciaturas em Comunicação Estratégica e um mestrado em Comunicação

Integrada que vem confirmar a transdisciplinaridade da Comunicação

Organizacional em que convivem várias disciplinas, interagindo para formar um

todo, entre elas as Relações Públicas. Licenciatura recente, mas um conceito para

nós bastante pertinente há já alguns anos, então assim registrado:

“La entendemos (…) como concepto estrechamente vinculado a la

gestión en una concepción de estrategia de gestión hacia la calidad total, también en la comunicación con su público estratégico, ya sea éste interno o no. En su nueva magnitud, ésta se convierte en el culmen de todas las actividades de comunicación de la empresa. Su actividad se basará en los métodos y técnicas, desde los más clásicos pasando por los menos tradicionales del periodismo, relaciones públicas, promoción, recursos humanos, investigación y marketing” (Mateus: 484/485, 2009).

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LISTA DE SIGLAS

ABERJE - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial

ABRAPCORP Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de

Relações Públicas

APCE - Associação Portuguesa de Comunicação de Empresa

APECOM - Associação Portuguesa das Empresas de Conselho em Comunicação e Relações

Públicas

APREP - Associação Portuguesa de Relações Públicas

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEDAN - Conference Européenne pour le Dévelopement des Associations Nationales de RPs

CERP- Centre Europeénne de Rélationes Publiques

CNPQ - Conselho Nacional de desenvolvimento Científico e tecnológico.

CO – Comunicação Organizacional

CONFERP - Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas

CNEP – Centro Nacional de Estudos e Planejamento

CP- Comboios Portugueses

CRM - Centro de Memórias e Referência

CS – Comunicação Social

CTT-TLP- Correios, Telégrafos e Telefones

DAU - Assessoria do Departamento de Assuntos Universitários

EAD - Escola de Arte Dramática

ECA – Escola de Comunicação e Artes

EDP- Electricidade de Portugal

ESCS – Escola Superior de Comunicação Social

ESE – Escola Superior de Educação

ESEC - Instituto Politécnico de Coimbra - IPC

ESSE- Instituto Politécnico de Viseu - IPV

ESSE - Instituto Politécnico de Faro - IPF

ESECD - Instituto Politécnico da Guarda - IPG

ESECS - Instituto Politécnico de Leiria - IPL

EST- Instituto Politécnico Abrantes - IPA

ESURP – Escola Superior de Relações Públicas

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FAMECOS/PUC-RS – Faculdade dos Meios de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica

do Rio Grande do Sul

FCT – Fundação para Ciência e Tecnologia.

GESTCORP - Gestão Estratégica em Comunicação Organizacional e RP

GT s̀ - Grupos de Trabalho

ICCO - International Communication Consultancies Organization

INP – Instituto Novas Profissões

INTERCOM - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação

IPL- Instituto Politécnico de Lisboa

IPP - Instituto Politécnico de Portalegre

IPRA - Internacional Public Relations Association

ISCAP – Instituto Superior Contabilidade e Administração do Porto

ISCEM – Instituto Superior de Comunicação Empresarial

ISCIA – Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração

ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas

ISESP – Instituto Superior de Espinho

ISLA – Instituto Superior de Línguas e Administração

ISMAI – Instituto Superior da Maia

ISMT – Instituto Superior Miguel Torga

LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil

MEC- Ministério da Educação e Cultura

NP- Núcleos de Pesquisa

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

ORGANICOM - Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas

PUC-RS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul

RP – Relações Públicas

SOPREP - Sociedade Portuguesa de Relações Públicas

SOPCOM – Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação

TAP- Transportes Aéreos Portugueses

TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação

UAL - Universidade Autónoma de Lisboa

UBI – Universidade da Beira Interior

UCB - Universidade Católica de Brasília

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UCP – Universidade Católica Portuguesa

UFP - Universidade Fernando Pessoa

UFSM - Universidade Federal de Santa Maria

UMESP – Universidade Metodista de São Paulo

USCS - Universidade Municipal de São Caetano do Sul

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161

11- INFORMAÇÕES ANEXAS Trabalhos e atividades paralelas desenvolvidos durante o período de pós

doutorado: Fevereiro 2010- Agosto 2012

Participação e realização de trabalhos durante o período de pós

doutoramento financiado pela FCT, sediados numa primeira fase na ECA, S. Paulo,

sob a supervisão Científica da Professora Doutora Margarida Kunsch, de fevereiro

a agosto de 2010, e numa segunda fase em Portugal, a partir de Setembro de

2010, sob a Co- supervisão Científica do Professora Doutor José Nunes Esteves

Rei a partir do Centro de Estudos e Linguagens da Universidade de Trás-os-

Montes e Alto Douro, com deslocações a São Paulo para trabalhos e reuniões.

I - FEVEREIRO A AGOSTO DE 2010

1- Participação em disciplinas no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação - PPGCOM – ECA-USP 1.1 “Comunicação Organizacional: Pressupostos Teóricos, Funções e Processos na

Sociedade Contemporânea” da Responsabilidade da Prof. Drª Margarida Kunsch

- Colaboração na apresentação do seminário:

` “Análise crítica - Comunicação Organizacional e Perspectivas Metateóricas:

Interfaces e possibilidades de diálogo no Contexto das Organizações,

Marlene Marchiori”

1.2 “Comunicação Organizacional e Relações Públicas na Construção da

Responsabilidade Histórica e no Resgate da Memória Institucional das

Organizações” da Responsabilidade da Prof. Dr. Paulo Nassar

- Colaboração na apresentação do seminário:

“Uma análise da obra: A Arte da Memória e o Método Cientifico: da memória

artificial à inteligência artificial de Francis Yates”.

1.3 Organizações Humanas e Comunicação da Responsabilidade da Prof. Drª

Maria Schuler

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162

2. Participação em eventos da área de Comunicação Organizacional

2.1 IV Congresso Brasileiro Científico de Comunicação Organizacional e Relações

Públicas - Abrapcorp 2010 - Comunicação Pública: interesses públicos e privados.

PUC-RS, Porto Alegre, Grupo de Trabalho “Processos, políticas e estratégias de

comunicação organizacional”, em 21 de Maio.

2.2 ‘10º Mix Aberje de Comunicação Interna e Integrada’, promovido pela

Associação Brasileira de Comunicação Empresarial. Por cortesia, gentil convite,

do Presidente da Associação, Professor Doutor Paulo Nassar, em 15 de Abril, S.

Paulo.

2.3 Lançamento do livro do Prof. Paulo Nassar “Comunicaçao todo o dia“, a

convite do autor, no mês de Julho

3. Apresentação de Palestras e Cursos

3.1 “Fusões empresariais e Comunicação Interna: uma estratégia a planear”.

Comunicação apresentada ao IV Congresso Brasileiro Científico de Comunicação

Organizacional e Relações Públicas - ABRAPCORP 2010 - Comunicação Pública:

interesses públicos e privados. PUC-RS. Inserida no GT2 – “Processos, políticas e

estratégias de comunicação organizacional”, 21 de Maio de 2010, Porto Alegre,

Brasil.

3.2 “Fusão de empresas: uma experiência portuguesa”. Palestra aos alunos da

disciplina de Relações Públicas Internacionais da Graduação em Relações

Públicas, cursos Diurno e P/L da ECA-USP, S. Paulo, da responsabilidade da Prof.

Doutora Maria Aparecida Ferrari, em 7 e 10 de Junho, respetivamente.

3.3 Mini curso com a duração de 5 horas, “Comunicação na saúde: a

responsabilidade da Física Médica”, palestra incluída no Programa de Seminários

“Física Médica em Foo”, no Instituto de Física da Universidade Federal da

Uberlândia, nos dias 10 e 11 de Agosto de 2010

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163

4. Produção Científica

4.1 “Da fusão à confusão”. Reflexão sobre as conclusões da investigação:

“Consecuencias de las fusiones empresariales en la comunicación interna:

empresas aseguradoras en Portugal” na Revista da APCE - Associação Portuguesa

de Comunicação Empresarial - nº 34, Junho 2010.

4.2 “Fusões empresariais e Comunicação Interna: uma estratégia a planear”.

Artigo publicado no site da Abrapcorp, no âmbito do IV Congresso Abrapcorp

2010 - Anais 2010

5. Outros

5.1 Adquiri um vasto conjunto de obras de investigação e académicas, de

produção e edição brasileiras, com vista à prossecução do pós-doutoramento e ao

enriquecimento de biblioteca particular nas áreas da Comunicação

Organizacional e Relações Públicas, genericamente pouco acessível a sua

aquisição em Portugal.

5.2 Abordei a Direção da ABERJE (Associação Brasileira de Comunicação

Empresarial), na pessoa do Presidente da sua Direção, o Prof. Dr. Paulo Nassar, na

tentativa de deixar o caminho aberto para a reativação das relações APCE

(Associação Portuguesa de Comunicação Empresarial)/ABERJE, situação para que

me encontrava mandatada desde Portugal, pelo Presidente da Associação do meu

País, o Dr. Mário Branco.

5.3 Tive conversações várias com a Diretora de Relações Públicas da

ABRAPCORP, Professora Doutora Maria Aparecida Ferrari, com vista ao

desenvolvimento de parcerias de investigação com entidades congéneres em

Portugal.

5.4 Realizei contatos diversos com vista à publicação de textos especializados em

jornais e revistas do Brasil.

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II A PARTIR DE SETEMBRO DE 2010

1. Participação em eventos da área de Comunicação Organizacional e Institucional

1.1 “Mobilidade Sustentável - o veículo eléctrico”. Business Drink realizado pela

APCE. 25 de Novembro, 2010, Lisboa, Portugal

1.2“Public Relations and economic Challenge – our biggest opportunity yet”-

Palestra proferida pela Professora Anne Gregory. APCE, 2 de Março de 2011,

Lisboa

1.3 “Porque é que as teorias importam?” - Seminário organizado pelo Centro de

Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), Instituto de Ciências Sociais,

Universidade do Minho, 29 de Abril de 2011, Braga, Portugal

1.4 “The Dialogue Imperative – Trends and Challenges in strategic and

Organizational Communication”- ECREA/OSCS 2011 Workshop, UBI, 5 de Maio

2011, Covilhã, Portugal

1.5 VI Congreso Internacional de Investigadores en Relaciones Públicas:

“Oportunidades en tiempos de crisis”. Facultad de Ciencias Sociales y de la

Comunicación. Universidad de Vigo, 6 de Maio, 2011, Pontevedra, Espanha

1.6 “Partilha das melhores Práticas em Comunicação Interna” - Workshop

realizado pela APCE, 27 de Abril 2011, Lisboa, Portugal

1.7 “2011 APCE & Global Alliance International Forum Communication in Times of

Crisis & Change”. 24th May 2011, Lusitania Auditorium, Lisboa, Portugal

1.8 “Os BIPs e o PLaneamento Estratégico no Município de Lisboa”. ISEC –

Instituto Superior de Educação e Ciências - 8 de Julho de 2011, Lisboa, Portugal.

1.9 VI Seminário Internacional Latino-americano de Pesquisa da Comunicação.

Organizado pela ALAIC (Asociación Latinoamericana de Investigadores de la

Comunicación). 29 e 30 de Julho de 2011, São Paulo, SP, Brasil

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165

1.10 CONFIBERCOM 2011 - 1º Congresso Mundial de Comunicação Ibero-

Americana. USP. 1 a 4 de Agosto de 2011, S. Paulo, SP, Brasil.

1.11 IX LUSOCOM. UNIP. 4 a 6 de Agosto de 2011, São Paulo, SP, Brasil.

1.12 7º SOPCOM - Meios Digitais e Indústrias Criativas. Os Efeitos e os Desafios da

Globalização. Universidade do Porto, 15 e 16 de Dezembro de 2011, Porto,

Portugal

1.13 Boas Práticas de Comunicação de Responsabilidade Social- “Masterclass”

realizado pela APCE – Associação Portuguesa de Comunicação Empresarial.

Auditório do edifício-sede da TMN, 15 de Março de 2012, Lisboa, Portugal

1.14 “Comunicação e Dinâmicas Turísticas” - Congresso realizado pela

Universidade Nova de Lisboa, co-organizado pelo Centro de Estudos de

Comunicação e Linguagens e pela Escola de Turismo e Gestão Hoteleira da

Universidade do Algarve, em 11 de Maio de 2012, Lisboa, Portugal

1.15 “1st Brazilian Corporate Communications Day”. Lisboa - 1ª Jornada de

Comunicação Corporativa Brasil-Portugal. Organização ABERJE–APCE. 25 de

Outubro, 2012, Lisboa

2. Apresentação de palestras e cursos 2.1 “Comunicación Interna y Fusiones de Empresas: un caso del pasado, una

oportunidad para el futuro”. Apresentação no VI Congreso Internacional de

Investigadores crisis”. Facultad de Ciencias Sociales y de la Comunicación.

Universidad de Vigo. Em 6 de Maio de 2011

2.2 “Comunicação Organizacional e Relações Públicas: o Estado da Arte.

EnsinoVSaprendizagem – única língua, distintas abordagens”. Trabalho

apresentado ao CONFIBERCOM (1º Congresso Mundial de Comunicação

IberoAmericana). Resultados intercalares da investigação para o Pós-

doutoramento em curso. Universidade de S. Paulo. Em 4 de Agosto de 2011

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2.3 “Las fusionés empresariales y la Comunicación interna : de la fusión à la

confusión.” Comunicação ao Congresso Universitário Internacional sobre

Investigación, Innovación e Docencia – CUICIID 2011. Facultad de Ciencias de la

Información de la Universidad Complutense. Madrid, 18 de Octubre de 2011.

2.4 “A Comunicação em Serviços na era da Globalização. A Comunicação digital e o

serviço personalizado: oportunidades e limitações”. Apresentação ao 7º SOPCOM –

‘Meios Digitais e Indústrias Criativas. Os Efeitos e os Desafios da Globalização’ -

integrada no GT ‘Comunicação Organizacional e Relações Públicas’. Universidade

do Porto, 15 de Dezembro de 2011.

2.5 “As Relações Públicas e a Comunicação Organizacional em Portugal: a um

passo da Ciência”. X Congresso da LUSOCOM: ‘Comunicação, Cultura e

Desenvolvimento’. Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade

Técnica de Lisboa, 28 de Setembro de 2012.

2.6 “Comunicación organizacional y relaciones públicas. Distintas perspectivas de

la universidad en Portugal y Brasil. Una primera aproximación”. CUICIID 2012

(Congreso Universitario Internacional sobre la Comunicación en la profesión y en

la universidad de hoy: contenidos, investigación, innovación y docencia (virtual y

en línea) Facultad de CC. II. Universidad Complutense. Madrid, 17 y 18 de Octubre

de 2012.

3. Produção científica e publicações 3.1 “Comunicação Interna e Fusões de Empresas: um caso do passado, uma

oportunidade para o futuro”. "Revista Científica de Comunicación y Nuevas

Tecnologías". ACTAS ICONO 14 - Nº A6; ISSN: 1697– 8293. Madrid, Mayo, 2011

• Também publicado na revista RECENSIO - Revista de Recensões de

Comunicação e Cultura- www.recensio.ubi.pt - revista da Biblioteca Online

de Ciências da Comunicação da Universidade da Beira Interior - BOCC-UBI,

2012.

http://bocc.ubi.pt/pag/mateus-anabela-comunicacao-interna-e-fusoes-de-empresas.pdf

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3.2 - “Comunicação Organizacional e Relações Públicas: o Estado da Arte. Ensino

VS aprendizagem – única língua, distintas abordagens”. Trabalho apresentado ao

CONFIBERCOM (1º Congresso Mundial de Comunicação IberoAmericana).USP,

Brasil, Agosto 2011 confibercom.org/anais2011/pdf/st3-anamat.pdf

3.3 - Responsável pela cobertura de informação científica do CONFIBERCOM – “1º

Congresso de Comunicação Ibero-Americana” (São Paulo); inclui entrevista à

Professora Doutora Margarida Kuncsh, Coordenadora do evento, sobre o 2º

Congresso de Comunicação IBERO-AMERICANA a ter lugar em Portugal, na

Universidade do Minho em 2014, para a rubrica “Investigação” da Revista da APCE

-Associação Portuguesa de Comunicação Empresarial- nº 38, ano XVII. Jul.-Dez.,

2011

3.4 “Las Fusiones empresariales y la Comunicación interna. Las conclusionés de

una aplicación en empresas aseguradoras en Portugal: de la fusión à la confusión”

in ‘Nuevos contenidos en Comunicación a partir del EEES’. Cap. VI, pp. 101-122.

Coord. Mª Teresa Piñero Otero. Colección Nuevo Impulso Educativo. Vision Libros.

Madrid, Espãna, 2011 www.visionlibros.es; www.terrabooks.com

3.5 “A Comunicação em Serviços na era da Globalização. A Comunicação digital e o

serviço personalizado: oportunidades e limitações”. In Atas 7º SOPCOM - Meios

Digitais e Indústrias Criativas. Os Efeitos e os Desafios da Globalização. Páginas

3348-3369 Universidade do Porto, 2012

http://sopcom2011.up.pt/media/SOPCOM_2011_Atas.pdf

3.6. “Cultura, experiência e comunicação: a metáfora e o poder da linguagem”. Artigo Científico publicado na revista RECENSIO - Revista de Recensões de Comunicação e Cultura-www.recensio.ubi.pt-revista da Biblioteca Online de Ciências da Comunicação da Universidade da Beira Interior-BOCC-UBI, 16 de Agosto, 2012

http://bocc.ubi.pt/pag/mateus-anabela-cultura-experiencia-comunicacao.pdf

Originalmente publicado na Revista de Letras nº 8, 377-389, Vila Real, UTAD-CEL.

ISSN: 0874-7962, edição 2009

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3.7 “Comunicación organizacional y relaciones públicas. Distintas perspectivas de

la universidad en Portugal y Brasil. Una primera aproximación”. Universidad

Complutense. Revista de Comunicación da la SEECI Madrid, Octubre de 2012

www.seeci.net/cuiciid/