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ESTRUTURA ATUAL E ESTIMATIVAS FUTURAS DA FORÇA DE TRABALHO EM MEDICINA, ENFERMAGEM E ODONTOLOGIA NO BRASIL 2000 A 2030 Textos para Discussão

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ESTRUTURA ATUAL E ESTIMATIVAS FUTURAS DA FORÇA DE TRABALHO

EM MEDICINA, ENFERMAGEM E ODONTOLOGIA NO BRASIL

2000 A 2030

Textos para Discussão

GOVERNO FEDERAL

Presidente da RepúblicaDilma Rousseff

Ministro da SaúdeArthur Chioro

Secretaria-ExecutivaAna Paula Menezes Sóter

Presidente da Fundação Oswaldo CruzPaulo Gadelha

Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUSPaulo de Tarso Ribeiro de Oliveira

SAÚDE AMANHÃ

Coordenação geralPaulo Gadelha

Coordenação ExecutivaJosé Carvalho de Noronha

Coordenação EditorialTelma Ruth Pereira

Apoio técnicoRenata Macedo Pereira

Normalização bibliográfi caMarcia Carnaval Valporto de Almeida

Projeto gráfi co, capa e diagramaçãoRobson Lima — Obra Completa Comunicação

TEXTOS PARA DISCUSSÃO

Publicação cujo objetivo é divulgar resultados de estudos desenvolvidos no âmbito do Projeto Saúde Amanhã, disseminando informações sobre a prospecção estratégica em saúde, em um horizonte móvel de 20 anos.

Busca, ainda, estabelecer um espaço para discussões e debates entre os profi ssionais especializados e instituições do setor.

As opiniões emitidas nesta publicação são de exclusiva e de inteira responsabilidade do(s) autor(es), não exprimindo, necessariamente, o ponto de vista da Fiocruz/MS.

O projeto Saúde Amanhã é conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com apoio fi nanceiro do Fundo Nacional de Saúde do Ministério da Saúde.

É permitida a reprodução deste texto e dos dados nele contidos, desde que citada a fonte. Reproduções para fi ns comerciais são proibidas.

URL: http://saudeamanha.fi ocruz.br/

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

G518e Girardi, Sabado Nicolau.

Estrutura Atual e Estimativas Futuras da Força de Trabalho em Medicina, Enfermagem e Odontologia no Brasil 2000 a 2030 / Sabado Nicolau Girardi (organizador), Lucas Wan Der Maas, Cristiana Leite Carvalho, Celia Regina Pierantoni. – Rio de Janeiro : Fundação Oswaldo Cruz, 2015.

14 p.

Bibliografi a: p. 13-14. – (Textos para discussão ; n. 6)

1. Recursos humanos na saúde – Brasil. 2. Mercado de trabalho em saúde – Brasil. 3. Pessoal da saúde pública. 4. Política de saúde – Brasil. 5. Projeto Saúde Amanhã. I. Girardi, Sabado Nicolau. II. Maas, Lucas Wan Der. III. Carvalho, Cristiana Leite. IV. Pierantoni, Celia Regina. V. Fundação Oswaldo Cruz. VI. Título. VII. Série.

CDU 614.2:331.5.024.5 (81)

Lucas Wan Der MaasCristiana Leite CarvalhoCelia Regina PierantoniSabado Nicolau Girardi

Textos para DiscussãoNo 6

ESTRUTURA ATUAL E ESTIMATIVAS FUTURAS DA FORÇA DE TRABALHO

EM MEDICINA, ENFERMAGEM E ODONTOLOGIA NO BRASIL

2000 A 2030

Rio de Janeiro, abril de 2015

AUTORESAUTORES

Lucas Wan Der Maas

Lucas Wan Der Maas. Sociólogo, doutorando em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas), pesquisador da Estação de Pesquisa de Sinais de Mercado/Observatório de Recursos Humanos em Saúde do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (NESCON) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Cristiana Leite Carvalho

Graduação em Odontologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (1984) e Doutora em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública/FIOCRUZ (2003), pós-doutorado pela Johns Hopkins University (1994). Atualmente é Professor Adjunto III da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais e Pesquisadora do Estação de Pesquisa de Sinais de Mercado, Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva/Faculdade de Medicina/UFMG.

Celia Regina Pierantoni

Graduação em Medicina, Doutora em Saúde Coletiva, pos-doutorado em saúde pública pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (DMP/FM/USP), professora associada do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Diretora do Centro Colaborador da OPAS/OMS para Planejamento e Informação da Força de Trabalho em Saúde e Coordenadora Geral da Estação de Trabalho IMS/UERJ-ObservaRH.

Sabado Nicolau Girardi

Graduação em Medicina, Residência em Medicina Preventiva e Social pela UFMG e Saúde Internacional pela Organização Pan-Americana da Saúde. É Coordenador da Estação de Pesquisa de Sinais de Mercado/ Observatório de Recursos Humanos em Saúde do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva- NESCON/ UFMG e Médico da área de Gestão da Secretaria de Estado de Saúde MG.

SUMÁRIOSUMÁRIO

Introdução

Metodologia e pressupostos

Resultados

Considerações Finais

Referências Bibliográfi cas

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7

7 Textos para Discussão No 6

ESTRUTURA ATUAL E ESTIMATIVAS FUTURAS DA FORÇAESTRUTURA ATUAL E ESTIMATIVAS FUTURAS DA FORÇADE TRABALHO EM MEDICINA, ENFERMAGEMDE TRABALHO EM MEDICINA, ENFERMAGEME ODONTOLOGIA NO BRASIL – 2000 A 2030E ODONTOLOGIA NO BRASIL – 2000 A 203011

1. 1. INTRODUÇÃOINTRODUÇÃO

Entre as décadas de 1990 e 2000, sobretudo nesta última, a força de trabalho em saúde no Brasil sofreu um expressivo incremento. Especifi camente entre 2000 e 2010, houve aumento de 5,5% de ocupados, ao ano, frente a 2,8% no total da economia. Em termos absolutos, o número de trabalhadores quase dobrou de 3,5 para 6,0 milhões de pessoas, segundo dados dos Censos Demográfi cos do Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística. Entre as profi ssões e ocupações da saúde o aumento da força de trabalho ocupada, foi ainda maior, de 8,2% (IBGE, 2003; 2013). De fato, o mercado de trabalho em saúde no Brasil se desenvolveu neste período a partir de um contexto demográfi co, econômico, social, político e cultural de crescentes demandas por serviços de saúde. Demografi camente, podem-se destacar o crescimento e o envelhecimento da população no país como explicativos da demanda (CARVALHO; GARCIA, 2003). Já em termos socioeconômicos, a crise e posterior recuperação do mercado de trabalho e a ascensão de milhões de brasileiros em direção ao estrato “C”, contribuíram para a ampliação do consumo de planos e seguros privados de saúde e de atividades biomédicas mais diversifi cadas (DALPOZ; PIERANTONI; GIRARDI, 2012). Politicamente, a própria implantação e consolidação do Sis-tema Único de Saúde (SUS) e o avanço das políticas públicas da área, a exemplo da Estratégia de Saúde da Família (ESF), que foi a principal responsável por descentralizar o acesso à assistência básica em saúde no país, foram importantes demandantes de recursos humanos (GIRARDI et. al., 2010).

Neste Texto de Discussão apresenta-se uma versão sumarizada da aplicação do “Método das Componentes Demográfi cas” para estimação do quantitativo de médicos, enfermeiros e cirurgi-ões-dentistas no Brasil entre 2010 e 2030, por quinquênio. Tal aplicação foi feita tomando como base a oferta de profi ssionais para o mercado de trabalho disponível no país em 2010 e os even-tos de entrada e saída da força de trabalho esperados para o futuro. Também foi realizada tendo como referência a estrutura atual dessas profi ssões, isto é, a tendência pregressa observada na década anterior no que se refere ao estoque, composição demográfi ca e fl uxos nos cursos de for-mação. Para cada uma das profi ssões, desenharam-se cenários hipotéticos nos quais os estoques futuros de profi ssionais são adequados de acordo com a aplicação de regulações no setor por meio de políticas públicas ou de alterações nos escopos de prática. O texto se divide em três par-tes, além desta introdução. A seguir, apresentam-se a metodologia e os pressupostos emprega-dos nas estimativas futuras. No tópico posterior, os resultados, tanto em relação à estrutura atual da força de trabalho quanto dos cenários de projeção. O último tópico é de comentários fi nais.

1 Este documento é uma versão sumarizada. Para consulta às tabelas e gráfi cos referentes aos dados aqui apresentados consultar o texto expandido.

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BRASIL SAÚDE AMANHÃ

2. 2. METODOLOGIA E PRESSUPOSTOSMETODOLOGIA E PRESSUPOSTOS

No presente estudo, o cenário quantitativo do estoque de médicos, enfermeiros e cirurgiões--dentistas foi defi nido utilizando uma adequação da metodologia de projeções de população conhecida como “método das componentes demográfi cas”2, anteriormente aplicada por Girardi et. al. (2012) apenas para médicos. Ela descansa no conceito da equação compensatória e seus componentes3. Trata-se de um processo de estimação de populações a partir de seus compo-nentes demográfi cos, o qual aplicado à estimação da força de trabalho, estima a população de um grupo ocupacional. Tal estimação se dá a partir de um período inicial (T0) para um período seguinte (T1), ao qual se adiciona uma nova população (no caso, egressos dos cursos de forma-ção da área) e os demais eventos demográfi cos inerentes a uma coorte que se modifi ca aumen-tando ou diminuindo ao longo do tempo, seja por mortalidade (óbitos) e/ou fl uxos migratórios. Ressalta-se ainda que, seguindo o método das componentes demográfi cas, o esquema foi apli-cado aos dados por sexo e idade4.

O primeiro componente da estimativa futura de profi ssionais é a defi nição do seu estoque inicial. O Censo Demográfi co do IBGE se destaca, a priori, como a fonte que fornece o número total de médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas, estejam eles economicamente ativos ou não. Neste exercício de estimativa para os anos de 2010 a 2030, assumiu-se como população inicial o número de residentes no país em 2010 aptos ao exercício da profi ssão, para o qual se estabeleceu um corte de acordo com a condição de atividade, isto é, incluíram-se os economi-camente ativos (ocupados e desocupados), independente da idade. Defi niram-se como aptos ao exercício da profi ssão as pessoas que declararam possuir graduação na área correspondente ou que estavam ocupados, no trabalho principal da semana de referência, na profi ssão, sendo as duas condições não excludentes5.

O segundo componente da estimativa futura é o número de novos profi ssionais derivados dos cursos de Medicina, Enfermagem e Odontologia de todo o país que se juntarão aos estoques atu-ais. Pressupõe-se que o número de novos profi ssionais está estreitamente associado a uma cadeia de eventos historicamente associados e regulares, a qual se inicia com o planejamento e posterior pedido de vagas para admissão de novos alunos às escolas, que se cristalizam em matrículas e que após o período regular de duração do curso refl etem num dado número de egressos. A fi m de compor um quadro geral dessa cadeia foram utilizados dados de evolução da oferta, preenchi-mento de vagas e dos níveis de conclusão dos cursos em questão, o que foi feito com os dados do Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2013) referentes aos anos de 1991 a 2012. Foram utilizados dois indicadores: a razão entre número de inscritos por vaga e a chamada Taxa de Efi ciência Terminal da graduação que indica, de forma relativa, o nível de conclusão no período provável de formação.

2 Para maiores detalhes sobre o Método das Componentes Demográfi cas, ver, por exemplo: Shryock, e Siegel, 1976; Celade, 1984; Sawyer et. al., 1999. 3 Para outras metodologias de previsões sobre a força de trabalho qualifi cada em saúde, consultar Rodrigues (2008) Medina (1988), Goic (1994, 1999), Bevilacqua e Sampaio (2002) e Pérez, López-Valcárcel e Vega (2011).4 Uma aplicação desta adequação foi feita inicialmente por Rodrigues (2008) para médicos em Minas Gerais, tendo sido aplicada também a estimativas de outros segmentos de força de trabalho qualifi cada por Pereira, Nascimento e Araújo (2013).5 A informação de graduação do Censo se refere ao último curso concluído pelo entrevistado, quando o maior nível de formação é a graduação. Nesse sentido, para indivíduos com formação em pós-graduação ou que realizaram algum curso de graduação após aquele específi co da área da saúde, a identifi cação do mesmo como uma profi ssional da saúde é feita através da ocupação no trabalho principal da semana de referência.

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Estrutura atual e estimativas futuras da força de trabalho em Medicina, Enfermagem e Odontologia no Brasil – 2000 a 2030

Os demais componentes se referem às saídas por morte e aposentadoria defi nitiva e às migra-ções. Os números de óbitos foram obtidos indiretamente considerando como evidência os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE, 2013) referentes ao ano de 2010. Para tanto, calculou-se o diferencial dos riscos de morte por sexo e idade entre os indivíduos de cada uma das profi ssões e o restante dos trabalhadores por meio da RAIS e tal diferencial foi aplicado à Tábua de Mortalidade do total do país para aquele ano, assumindo que a mesma é representativa dos profi ssionais em questão e a um sistema de Tábuas Modelo6 7. Dessa forma, pressupôs-se que se a média dos trabalhadores apresenta uma esperança de vida similar à correspondente ao total do país para 2010, os médicos e cirurgi-ões-dentistas, respeitando os diferenciais encontrados na RAIS, teriam uma esperança de vida superior em aproximadamente quatro anos, com uma ligeira vantagem para o sexo feminino, e os enfermeiros teriam uma esperança de vida similar. As saídas por aposentadoria, quando estas signifi cam saída defi nitiva do mercado de trabalho, não foram consideradas uma vez que o modelo considera apenas a população economicamente ativa. Quanto às entradas e saídas devido à migração, presume-se que o estoque de profi ssionais alterar-se-á em função da migra-ção da mesma forma em que o Brasil é afetado. Evidências disponíveis sugerem que o saldo migratório internacional de profi ssionais de saúde tem sido tradicionalmente desprezível, daí que, neste exercício se considere que o volume total da força de trabalho das profi ssões em ques-tão seja desprezível.

3. 3. RESULTADOSRESULTADOS

3.1. 3.1. ESTRUTURA ATUAL DA FORÇA DE TRABALHOESTRUTURA ATUAL DA FORÇA DE TRABALHO

Entre os anos de 2000 e 2010, o número de médicos e cirurgiões-dentistas teve crescimento inferior ao Macrossetor Saúde8 e bem próximo do observado para o total da economia, respecti-vamente 3% e 2,9%, ao ano. Já em Enfermagem o crescimento foi muito signifi cativo, de 14,9%. Em 2010, ano correspondente ao estoque inicial das estimativas, foi encontrada no Censo Demo-gráfi co uma população médica de 355.583 pessoas, dos quais 328.006 (92,0%) economicamente ativos (ocupados ou desocupados) e 286.399 (80,5%) ocupados na profi ssão. O número total de enfermeiros contabilizados no mesmo inquérito foi de 355.383 indivíduos. Ao contrário do que foi observado entre os médicos, apenas 165.797 (46,7%) enfermeiros se ocupavam na profi s-são, ainda que 308.429 (86,8%) estivessem economicamente ativos. Para cirurgiões-dentistas o número encontrado foi de 241.622 profi ssionais, sendo 214.909 (88,9%) economicamente ativos e 187.172 (77,5%) ocupados na profi ssão, proporções muito próximas às encontradas entre os médicos.

6 A tabela de mortalidade para o país é aquela defi nida pelo IBGE para 2009. (http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/tabuadevida/2009/defaulttab.shtm). O sistema de Tábuas Modelo de mortalidade utilizado foi o de Coale e Demeny (1983), Modelo Oeste, que é o que com mais frequência costuma se ajustar melhor à experiência de mortalidade dos países em desenvolvimento.7 A população total do Brasil estimada, para os períodos considerados, salvo especifi cação contrária, foi a defi nida pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da UFMG (CEDEPLAR, 2012).8 O conceito de Macrossetor Saúde guarda similaridade ao de complexo produtivo da saúde, englobando ademais dos serviços de saúde propriamente ditos, as atividades de produção e distribuição de fármacos, vacinas e medicamentos para uso humano; a produção de insumos e equipamentos para o setor; as atividades de ensino, pesquisa e desenvolvimento; as atividades de fi nanciamento e planos de saúde; as atividades de saneamento e a gestão governamental dos serviços de saúde. Para maiores detalhes sobre o conceito e estimativas ver Dal Poz, Pierantoni e Girardi (2012).

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BRASIL SAÚDE AMANHÃ

Quanto à composição por sexo e idade das populações em questão, considerando apenas a população economicamente ativa, a transição ocorrida entre os anos 2000 e 2010 no que res-peita esta composição mostrou rejuvenescimento da força de trabalho nas três profi ssões. Tal crescimento é devido basicamente à abertura de vagas no ensino superior ao longo das duas últimas décadas. No topo das pirâmides etárias de médicos e cirurgiões-dentistas, nota-se um envelhecimento, principalmente entre os homens, o que refl ete a característica de uma força de trabalho em que a aposentadoria em um vínculo de emprego formal, seja do tipo estatutário ou celetista, não implica necessariamente em abandono da atividade laboral. Isso se explica fun-damentalmente pela importância da prática autônoma convencional e das formas de trabalho autônomas consorciadas em cooperativas e do trabalho organizado na forma de pessoa jurídica. As pirâmides destas duas profi ssões também apresentaram feminização no período.

Os enfermeiros apresentaram comportamento diferente nessa transição entre os anos cen-sitários. O que se deve destacar, de fato, é o substancial incremento do número de pessoas, ou o alargamento da base da pirâmide, e a permanência de uma maioria feminina, ainda que a proporção de homens tenha aumentado. Além disso, ao contrário de que se demonstrou para as outras duas profi ssões, o topo da pirâmide não se alterou, do ponto de vista da composição, já que, nesse caso, a saída do mercado de trabalho ocorre no início da terceira idade, sobretudo como resultado da aposentadoria e da predominância das relações de trabalho heterônomas. Isso se dá tanto entre os ocupados na profi ssão, quanto em outras funções. Como destacado acima, a enfermagem é uma categoria altamente formalizada e, portanto, dependente de uma trajetória típica de atuação no mercado de trabalho ao longo da vida.

No que se refere às tendências nos fl uxos de formação de novos profi ssionais, observou-se que a partir dos anos 2000 acelerou o ritmo de crescimento das vagas, ingressos e egressos nos cursos das três áreas, sendo que a Enfermagem deu um salto elevadíssimo, distanciando-se das outras duas, que cresceram em ritmos semelhantes, ainda que em Odontologia um pouco acima do que em Medicina. Durante o período compreendido entre 1991 e 2012 foram criadas 10.145 vagas em Medicina no país, o que representou um incremento bruto de 229,3%. Em Enfermagem, foram criadas 125.783 vagas até o ano de 2010, 1.487,71% de aumento, mas nos anos seguintes, 2011 e 2012, foram fechadas 13.063 vagas. Em Odontologia, por sua vez, a oferta cresceu 284,2% até 2011, ou 13.546 novas vagas, tendo sido fechadas 272 em 2012.

Este salto trouxe consequências do ponto de vista do aproveitamento de vagas. Em suma, os dados apontaram desperdício de vagas em Enfermagem e Odontologia, sobretudo da pri-meira, ainda que a procura pelos cursos tenha aumentado no período. Em outras palavras, a oferta de vagas nestas áreas foi superior à procura, mesmo em um período de crescimento da oferta geral de vagas. Em Medicina, ao contrário, o aumento da oferta esteve sempre acompa-nhado pela demanda correspondente, não havendo desperdício. Em relação ao nível de conclu-são dos cursos, vemos sinais de desperdício também ao longo do período previsto de formação em Enfermagem e Odontologia, isto é, não só se assistiu um grande hiato entre oferta de vagas e procura pelo curso, como signifi cativa desistência de graduandos, sinal que não foi observado em Medicina.

Variação (p.p.)

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Estrutura atual e estimativas futuras da força de trabalho em Medicina, Enfermagem e Odontologia no Brasil – 2000 a 2030

3.2. 3.2. ESTIMATIVAS FUTURAS DA FORÇA DE TRABALHOESTIMATIVAS FUTURAS DA FORÇA DE TRABALHO

Em função da forma de construir os componentes que constituem os estoques de profi ssio-nais, explicitado no item anterior, depreende-se que o volume de médicos no Brasil para o futuro imediato, isto é entre 2010 e 2015, está, praticamente, defi nido em função principalmente da formação dos estudantes de medicina que se matricularam entre 2003/4 a 2009/10. Esse volume variará ligeiramente em função do percurso da migração e da mortalidade, esta última, afetando minimamente a variação do estoque, mesmo com a entrada recente de médicos pelo programa “Mais Médicos”, do Governo Federal. Para os anos posteriores a 2015, o volume variará caso venha a se registrar variação no número de vagas que as universidades oferecerão para os anos posteriores a 2010. Assim, há possibilidade de vislumbrar alguns cenários que poderão determi-nar a futura variação desse estoque. Esquematicamente, temos:

a) Cenário tendencial: com base no comportamento que as escolas de Medicina do país têm apresentado, em relação à abertura anual de vagas, isto é, 3,82% ao ano entre 1991 e 2012, assume-se que o volume de novos médicos até 2030 aumentará em função da mesma varia-ção no número de vagas até 2024. Este é o cenário tendencial, no qual se passará de 17.931 vagas em 2012 para 27.635 em 2024. O cenário prevê ainda uma Taxa de Efi ciência Ter-minal do curso de 90% e uma razão de ingressos por vaga de 1,0 durante todo o período.

b) Cenário “Mais Médicos”: o segundo cenário é baseado na oferta de novas vagas previstas no Programa “Mais Médicos”, do Governo Federal, num total de 10.045 entre 2014 e 2017 (sendo 5.485, em 2014, 1.940, em 2015, 2.260, em 2016 e 360, em 2017)9. A partir de 2018, o cenário prevê que o número total de vagas resultante, que passará de 17.931 para 28.990, permanecerá constante, após o período de intervenção do Programa. E ainda, a efi ciência terminal e a razão de ingressos por vaga se manterá como no cenário tendencial.

c) Cenário sem crescimento: como comparação, um terceiro cenário implicará em manter o número de vagas anuais esperado entre 2010-2015 constante até 2030, isto é incremento 0,0. E ainda, prevê redução da efi ciência do curso para 85%.

Estes cenários resultam, para 2030, em estoques oscilando entre 543,3 e 664,7 mil profi ssio-nais médicos para Brasil. A composição por idade obtida no cenário tendencial indica que a atual diferença por sexo tenderá a cair, visto que, atualmente, o número de vestibulandos e estudantes segundo sexos tende a ser igual, com ligeira tendência ao maior aumento entre as mulheres.

Os cenários desenhados para enfermeiros são os seguintes:

a) Cenário tendencial: com base no comportamento que as escolas de Enfermagem do país têm apresentado, em relação ao número anual de vagas, assume-se que o expressivo cres-cimento de 14,9%, ocorrido entre os anos de 1991 e 2012, não será sustentado. De fato, entre 2010 e 2012 as vagas decresceram a 3,38% ao ano. Nesse sentido, as vagas passariam de 120.180 em 2012 para 76.850 em 2025, obedecendo ao decréscimo observado. Supõe-se que o número de novos enfermeiros acompanhará tal tendência desacelerando seu cresci-mento até 2030. A Taxa de Efi ciência Terminal será de 72% e a razão de ingressos por vaga de 0,85, de acordo com a tendência pregressa.

9 http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/area/417/mais-medicos.html

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BRASIL SAÚDE AMANHÃ

b) Cenário regulatório: é baseado na reversão do quadro atual de fechamento de vagas com vistas a estabelecer volumes de profi ssionais que no futuro possam cobrir um escopo de prática ampliado da profi ssão (por exemplo, em Anestesia, Obstetrícia e Geriatria), bem como a expansão das atividades da Estratégia de Saúde da Família, na qual se passaria a exigir a presença de dois enfermeiros por equipe. Ressalta-se que mesmo que os mais de 50% da força de trabalho graduada em enfermagem não exercendo a profi ssão passem a fazê-lo, supõe-se que ainda assim não será sufi ciente para atender o novo cenário regula-tório suposto. O cenário prevê o crescimento anual de 2% no número de vagas, até 2020, e posterior congelamento das mesmas até 2025, efi ciência terminal de 85% e razão de ingressos por vaga de 0,85. As vagas passariam de 120.180 em 2012 para 155.466 em 2025.

c) Cenário sem crescimento: assim como no modelo anterior de médicos, como comparação, um terceiro cenário implicará em manter o número de vagas anuais esperado entre 2010-2015 constante até 2025, isto é incremento 0,0, e aproveitamento de vagas e sucessos dos cursos iguais ao cenário tendencial.

Estes cenários resultariam, para 2030, em estoques oscilando de 1,499 a 2,037 milhões de enfermeiros para Brasil.

Os cenários desenhados para os cirurgiões-dentistas são os seguintes:

a) Cenário tendencial: com base no desempenho tendencial das vagas em cursos de Odon-tologia, que aumentaram em 5,41% ao ano entre 1991 e 2012, assume-se que o volume de cirurgiões-dentistas aumentará em função da mesma variação no número de vagas pelo menos até 2015, o qual perderá força, chegando a um crescimento de 2,5% até 2025. As vagas passariam de 20.589 em 2012 para 30.781 em 2025. Ainda de acordo com a tendên-cia, a Taxa de Efi ciência Terminal será de 77% e a razão de ingressos por vaga de 0,92.

b) Cenário de Saúde Bucal universal: assim como para as outras duas profi ssões, o segundo cenário pressupõe regulação, neste caso prevendo a universalização da saúde bucal no Sis-tema Único de Saúde, sem que se alterem os serviços privados substancialmente. Aqui o crescimento anual de vagas passaria para 8% até 2020, como resultado de um processo de intervenção para abertura de novas vagas. Em seguida retornaria ao patamar de 2,5% até 2025. As vagas passariam de 20.589 em 2012 para 43.117 em 2025. Mantêm-se os mesmos níveis de aproveitamento das vagas e conclusão do curso do primeiro cenário.

c) Cenário sem crescimento: como comparação, um terceiro cenário implicará em manter o número de vagas anuais esperado entre 2010-2015 constante até 2030, isto é incremento 0,0. Também não se alterariam a Taxa de Efi ciência Terminal e a razão de ingressos por vagas.

Estes cenários resultam, para 2030, em estoques oscilando entre 458,4 e 566,1 mil cirurgiões--dentistas para Brasil

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Estrutura atual e estimativas futuras da força de trabalho em Medicina, Enfermagem e Odontologia no Brasil – 2000 a 2030

4. 4. CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente Texto para Discussão teve por objetivo apresentar as estruturas e as estimativas dos quantitativos de médicos, enfermeiros e cirurgiões-dentistas no Brasil entre 2010 e 2030. A metodologia utilizada, quando aplicada à população tem dado resultados robustos. Técnicas mais sofi sticadas poderiam ter sido usadas, no entanto, a grande oportunidade que dão os cen-sos de população aliado à precariedade de outros sistemas estatísticos, justifi cam muito o uso da metodologia demográfi ca aqui adaptada. Além disso, a fl exibilidade de se desenharem cenários hipotéticos permite considerar aspectos relativos à demanda futura por Recursos Humanos de Saúde, elemento que não é explorado diretamente nos modelos.

Além disso, o envelhecimento e a feminização observados durante a década dos anos 2000 entre profi ssionais da Medicina e da Odontologia indicam pelo menos duas tendências para os próximos anos. Em primeiro lugar, o volume de saídas da força de trabalho, dado por morte ou aposentadoria defi nitiva, será maior do que no passado, o que deverá ocorrer não só em termos absolutos, mas também relativos. Em segundo lugar, o crescimento da participação feminina aponta para uma redução da carga horária média de dedicação ao trabalho e do tempo médio de permanência no mercado ao longo da vida. Estes dois fatores certamente impulsionarão o crescimento da demanda por novos profi ssionais nos próximos anos. Em relação aos profi ssio-nais da Enfermagem, as altas proporções de mulheres sugerem ainda que as saídas do mercado ocorrem em menor tempo, do que se comparado a profi ssões com maior proporção de homens e nenhuma evidência aponta que tais tendências se alterarão em largo prazo. Assim, a demanda por enfermeiros continuará condicionada à capacidade de acomodação do mercado, a qual se mostrou insufi ciente no período anterior às estimativas, afi nal mais da metade dos graduados da área não estava ocupada na própria profi ssão.

5. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, J. A. M.; GARCIA, R. A. O envelhecimento da população brasileira: um enfoque demográfi co. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p.725-733. 2003.

CELADE. Métodos para Proyecciones Demográfi cas. Santiago: CELADE – División de Población. 1984.

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO E PLANEJAMENTO REGIONAL. Estimativas de população: revisões preli-minares incorporando informação do Censo Demográfi co de 2010. Belo Horizonte: CEDEPLAR. Relatório de Pes-quisa. 2012.

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