estratégias de reabilitação e sustentabilidade

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Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade Caso de estudo: Bairro Alto Francisco Manuel Coutinho Barros de Figueiredo dos Santos Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura Júri: Presidente: Prof. Doutor Pedro Filipe Pinheiro de Serpa Brandão Orientador: Prof. Doutor Manuel de Arriaga Brito Correia Guedes Vogal: Prof. Doutor Manuel Guilherme Caras Altas Duarte Pinheiro Maio 2010

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Page 1: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade Caso de estudo: Bairro Alto

Francisco Manuel Coutinho Barros de Figueiredo dos Santos

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Arquitectura

Júri:

Presidente: Prof. Doutor Pedro Filipe Pinheiro de Serpa Brandão

Orientador: Prof. Doutor Manuel de Arriaga Brito Correia Guedes

Vogal: Prof. Doutor Manuel Guilherme Caras Altas Duarte Pinheiro

Maio 2010

Page 2: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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RESUMO

O tema abordado abrange duas dimensões que, cada vez mais, são vistas como

indissociáveis, sendo elas o caminhar no sentido da sustentabilidade, de maneira a

diminuir os problemas e disfunções ambientais do nosso planeta, e a reabilitação física

e ambiental, neste caso concreto dos bairros históricos, que através da requalificação

dos mesmos e optimização energética do seu edificado, contribui para que se diminua

o impacte ambiental associado ao sector da construção.

Para tal procurou-se perceber a evolução histórica do Bairro Alto e do seu edificado;

compreender o conceito de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável,

percebendo quais os seus objectivos e caminho a percorrer; entender os princípios da

reabilitação ambiental e energética dos edifícios; perceber quais os principais

condicionamentos e problemas do Bairro Alto e seu edificado, com base no

testemunho dos seus principais utilizadores, de maneira a serem definidas estratégias

gerais de reabilitação e sustentabilidade para este bairro, que visem a sua

requalificação ambiental.

Palavras-Chave:

Bairro Alto, Sustentabilidade, Reabilitação Urbana, Arquitectura Bioclimática.

Page 3: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

3

ABSTRACT

This theme covers two dimensions, which should be considered as inseperable

nowadays. These dimensions are the path towards sustainability in order to reduce the

environmental problems existing in our planet, and urban renewal, in this case of the

historical districts, that through urban and building renewal based on energy saving

design strategies, contributes to reduce the environmental impact of the construction

sector.

For this purpose a research was developed on the historical evolution of Bairro Alto,

the concept of sustainability and sustainable development and the main design

strategies oforf environmental and energy building renewal. A survey was also carried

out, aiming at identifying the main constraints and problems of Bairro Alto, based on

the testimonies of its users, in order to define overall strategies of rehabilitation and

sustainability.

Key-Words:

Bairro Alto, Sustainability, Urban Renewal, Bioclimatic Architecture.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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ÍNDICE

LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................... 6

LISTA DE ANEXOS ........................................................................................................ 8

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9

1. BAIRRO ALTO ....................................................................................................... 11

1.1. Contexto ........................................................................................................... 11

1.2. Evolução histórica ............................................................................................ 13

1.3. O Quarteirão e Edifício Tipo do Bairro Alto ...................................................... 19

1.3. Sustentabilidade do Bairro Alto ........................................................................ 26

2. SUSTENTABILIDADE E REABILITAÇÃO .............................................................. 30

2.1. Sustentabilidade – Conceitos e objectivos ....................................................... 30

2.2 Sustentabilidade na construção ........................................................................ 35

2.3. Reabilitação Urbana como caminho para a sustentabilidade ........................... 36

2.4. Sustentabilidade em centros históricos ............................................................ 39

2.4.1. Barcelona ...................................................................................................... 39

2.4.2. Oslo ............................................................................................................... 40

2.4.3. Freiburg ......................................................................................................... 41

2.4.4. Madrid ............................................................................................................ 43

2.4.5. Guimarães ..................................................................................................... 44

3. ARQUITECTURA BIOCLIMÁTICA – ESTRATÉGIAS DE PROJECTO ................. 46

3.1. Arquitectura bioclimática .................................................................................. 46

3.2. Estratégias de design passivo para o clima de Lisboa ..................................... 49

3.3. Estratégias activas: sistemas de energia renovável ......................................... 58

Page 5: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

5

4. TRABALHO DE CAMPO ........................................................................................ 62

4.1. Objectivos ......................................................................................................... 62

4.2. Metodologia ...................................................................................................... 63

4.3. Análise dos Resultados .................................................................................... 67

4.3.1. Moradores e Comerciantes ........................................................................... 67

4.3.1.1. Questões Ambientais ................................................................................. 67

4.3.1.2. Aspectos Construtivos ................................................................................ 90

4.3.1.3. Acessibilidade e Mobilidade ..................................................................... 102

4.3.1.4. Aspectos sociais ....................................................................................... 109

4.3.2. Frequentadores ........................................................................................... 117

4.4. Entrevista à Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica ................................. 120

4.5. Sumário .......................................................................................................... 122

5. RECOMENDAÇÕES DE PROEJCTO ................................................................. 126

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 130

BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 132

ANEXOS .................................................................................................................. 136

Page 6: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Vista aérea do Bairro alto e sua envolvente

Figura 2: Comércio na Rua do Norte e Rua da Atalaia

Figura 3: Rua Luz Soriano; Rua do Século; Rua da Rosa

Figura 4: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no final do século XV

Figura 5: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no século XVI

Figura 6: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no final do século XVI

Figura 7: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no século XVII

Figura 8: Quarteirões tipo do Bairro Alto

Figura 9: Alçado e planta térrea de 2 edifícios do Bairro Alto.

Figura 10: Alçado e plantas de 2 edifícios do Bairro Alto.

Figura 11: Ruão João Pereira da Rosa; Travessa dos Fieis de Deus

Figura 12: Bairro Alto: Edifícios em mau estado de conservação

Figura 13: Travessa do Poço da cidade; Travessa da Espera

Figura 14: Bairro Alto: Vida nocturna e graffiti

Figura 15: Bairro Alto: Falta de estacionamento

Figura 16: Evolução da população mundial no último milénio

Figura 17: Evolução do consumo mundial de energia

Figura 18: Esquema representativo das componentes do desenvolvimento sustentável

Figura 19: Consumos de energia final e energia eléctrica em Portugal

Figura 20: Segmento da reabilitação no sector da construção em 2002

Figura 21: Peso da construção nova no sector da construção em 2004

Figura 22: Apoio do Estado ao sector da habitação entre 1990 e 1999

Figura 23: Centro histórico de Barcelona

Figura 24: Centro histórico de Oslo

Figura 25: Centro histórico de Freiburg

Figura 26: Centro histórico de Madrid

Figura 27: Centro histórico de Guimarães

Figura 28: Exemplos de casas tradicionais portuguesas

Figura 29: Radiação Solar anual média na Europa

Figura 30: Incidência dos raios solares em Lisboa

Figura 31: Incidência média anual da radiação solar em plano vertical

Figura 32: Bairro Alto: Exemplos de vãos em mau estado de conservação

Figura 33: Efeito da radiação solar difusa e directa

Figura 34: Exemplos de sombreamento pelo exterior

Figura 35: Bairro Alto: Exemplos de vãos com sombreamento interior e sem sombreamento

Figura 36: Ventilação simples com uma e duas aberturas

Page 7: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

7

Figura 37: Ventilação simples e cruzada

Figura 38: Inércia térmica de manhã à tarde e à noite

Figura 39: Bairro Alto: Exemplos de edifícios com paredes grossas

Figura 40: Paredes trombe

Figura 41: Sistema de colectores com depósito comum e depósitos individuais

Figura 42: Colectores solares instalados na cobertura do edifício Torre Verde

Figura 43: Exemplos de aplicação do sistema fotovoltaico

Figura 44: Bairro Alto: Exemplos de vãos em mau estado de conservação e incidência solar

Figura 45: Rua da Atalaia, 81 e 104

Figura 46: Bairro Alto: Exemplos de elementos em mau estado de conservação

Figura 47: Bairro Alto: Exemplos de mercearias em mau estado de conservação

Figura 48: Bairro Alto: Habitação e comércio

Figura 49: Rua das Gáveas; Travessa da Espera

Figura 50: Rua da Rosa

Figura 51: Bairro Alto: Exemplos de janelas abertas durante o dia

Figura 52: Bairro Alto: Exemplos de portas abertas durante o diia

Figura 53: Bairro Alto: Exemplos de edifícios com e sem sombreamento exterior

Figura 54: Vista aérea do Bairro Alto

Figura 55: Bairro Alto: Exemplos de pouca incidência solar

Figura 56: Bairro Alto: Rua da Rosa

Figura 57: Bairro Alto: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação

Figura 58: Travessa da Espera; Travessa dos Fieis de Deus

Figura 59: Rua do Grémio Lusitano

Figura 60: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação

Figura 61: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação

Figura 62: Bairro Alto: Exemplo de elementos em mau estado de conservação

Figura 63: Bairro Alto: Transportes públicos

Figura 64: Rua das Gáveas; Rua do Norte

Figura 65: Travessa da Queimada; Travessa do Poço da Cidade

Figura 66: Bairro Alto

Figura 67: Bairro Alto

Figura 68: Rua da Rosa

Figura 69: Rua Luz Soriano; Travessa do Poço da Cidade

Figura 70: Bairro Alto: Vida diurna e nocturna

Page 8: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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LISTA DE ANEXOS

ANEXO 1: Questionário aos moradores do Bairro Alto

ANEXO 2: Questionário aos comerciantes do Bairro Alto

ANEXO 3: Questionário aos frequentadores do Bairro Alto

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação centra-se no estudo da sustentabilidade em bairros históricos,

focando a importância de estratégias de projecto que permitam a recuperação

ambiental do seu edificado e sua revitalização.

O objecto de estudo é o Bairro Alto, um bairro histórico e um dos mais característicos

de Lisboa. A tendência para a degradação deste bairro nas últimas décadas, assim

como para o progressivo envelhecimento da sua população e consequente abandono

do parque habitacional, alerta-nos para a necessidade de uma intervenção que dê

resposta a estes problemas.

O caso de estudo escolhido, o Bairro Alto, é um bairro que me cativou e fascinou

desde sempre, sendo esta uma motivação forte para o estudo do tema da

sustentabilidade em bairros históricos.

A Reabilitação Sustentável assume-se como uma necessidade para o Bairro Alto, ao

promover a preservação do legado arquitectónico e histórico que este bairro

representa, proporcionando ao mesmo tempo os padrões de conforto e qualidade de

vida actualmente exigidos. A Reabilitação, quando conjugado com princípios de

Design Passivo, contribui então para que a autenticidade e integridade deste conjunto

seja preservada, ao mesmo tempo que os consumos de energia sejam minimizados,

assim como maximizados o desempenho ambiental de conforto ambiental dos

edifícios.

A necessidade de se caminhar no sentido da reabilitação antes da construção,

principalmente devido ao impacto negativo que a construção de novos edifícios tem

para a delapidação de recursos naturais, assim como para o maior consumo de

energia incorporada e consequente emissão de gases que contribuem para o efeito de

estufa, é uma das principais motivações para a escolha deste tema.

O principais objectivos da presente dissertação são o estudo do Bairro Alto ao nível do

seu funcionamento enquanto espaço urbano e do desempenho ambiental do seu

edificado, e a elaboração de estratégias de reabilitação e sustentabilidade para este

bairro, tendo como base o estudo efectuado. O estudo efectuado pretende dar

resposta às questões que contribuem para a sustentabilidade, sendo esse estudo

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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efectuado com base em questionários efectuados aos utilizadores do Bairro Alto,

sendo assim os próprios a identificar quais os principais problemas deste bairro,

permitindo que sejam elaboradas estratégias de reabilitação directamente

direccionadas para o conforto daqueles que efectivamente o utilizam.

A dissertação está organizada em cinco capítulos. No primeiro capítulo é feita a

contextualização histórica do Bairro Alto na cidade de Lisboa, de maneira a perceber a

sua evolução e suas características, assim como as diferentes tipologias do seu

edificado, sendo seguidamente efectuada uma descrição dos principais problemas do

Bairro Alto no que respeita à sua sustentabilidade.

No segundo capítulo é explicado o conceito de sustentabilidade e seus objectivos,

sendo posteriormente abordado o tema da reabilitação urbana e sua importância na

procura da sustentabilidade das cidades. São descritos, de seguida, exemplos de

boas práticas de reabilitação em centros históricos, nomeadamente os casos de

Barcelona, Oslo, Freiburg, Madrid e Guimarães.

No terceiro capítulo são sintetizados os princípios da arquitectura bioclimática e suas

estratégias de projecto, sendo descritos quais as técnicas aplicáveis no caso do

contexto climático de Lisboa.

O quarto capítulo corresponde à análise do caso de estudo. Primeiro são enunciados

os objectivos e metodologia utilizada, sendo seguidamente descritos os resultados

obtidos. É então explicada neste capítulo o objectivo e estrutura dos questionários

efectuados como base para a análise do caso de estudo, e seguidamente analisados

os resultados obtidos. São analisados em paralelo e comparados os resultados dos

questionários efectuados a moradores e comerciantes, sendo posteriormente

analisados os resultados dos questionários efectuados aos utilizadores. Finalmente é

efectuado uma síntese com os aspectos mais importantes decorrentes da análise

efectuada.

No quinto capítulo são sugeridas possíveis medidas a aplicar na reabilitação do Bairro

Alto e do seu edificado, tendo como base o estudo efectuado no capítulo anterior.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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1. BAIRRO ALTO 1.1. CONTEXTO

O Bairro Alto é um dos bairros históricos mais característicos da cidade de Lisboa,

cuja génese remonta ao século XV.

Com uma localização privilegiada na cidade, junto ao conjunto Baixa-Chiado, este

bairro assume-se como um bairro popular que tem ao mesmo tempo um forte carácter

cultural, tendo-se assumido ao longo dos séculos XIX e XX, quando diversas

tipografias estavam aqui instaladas, como lugar de encontro, tertúlia e animação

cultural.

Figura 1: Vista aérea do Bairro alto e sua envolvente

(fonte: Google Earth, 2010)

O desenvolvimento da cidade de Lisboa ao longo de século XX, levou a que o Bairro

Alto, à imagem de outros núcleos históricos, tenha vivido, nas últimas décadas, um

processo uma degradação do seu parque habitacional, resultado de um modelo de

crescimento urbano favorável à expansão para a periferia, em detrimento da

revitalização das áreas urbanas centrais já existentes.

Page 12: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

12

Outros factores, como o congelamento das rendas dos imóveis, promovido pelo

Estado Novo nos anos 40, levou a que décadas mais tarde os vários proprietários não

dispusessem dos meios financeiros necessários para proceder regularmente aos seus

deveres, enquanto proprietários, de tratar da manutenção física dos seus imóveis.

A partir dos anos 80 assiste-se a uma nova tendência, caracterizada pelo facto de os

jovens que procuram casa no Bairro Alto serem itinerantes, arrendando casas por

períodos curtos e sem, em regra, se fixarem neste local. Este conjunto de factores,

levou a que a população que ocupa maioritária e permanentemente o Bairro seja uma

população envelhecida, com rendimentos mais baixos, muitas vezes incapaz de fazer

face às obras de manutenção necessárias.

A partir dos anos 80 do século passado, este bairro afirma-se cada vez mais como

lugar de boémia e cultura. Hoje encontramos no Bairro Alto vários ateliers de design,

ateliers de moda, e variadas lojas especializadas para públicos muito específicos, e ao

mesmo tempo espaços tradicionais, como mercearias ou barbearias. De noite, os

inúmeros espaços para concertos, bares e restaurantes funcionam a par de várias das

tradicionais casas de fado que se mantiveram ao longo tempo, sendo este bairro um

dos espaços de eleição para a diversão nocturna na cidade de Lisboa.

Esta relação entre o carácter tradicional e vanguardista, entre a vivência bairrista e a

agitação nocturna, é hoje em dia a imagem que caracteriza o Bairro Alto, que para

tanta gente o torna tão especial. É ao mesmo tempo alvo de contestação por parte dos

moradores, principalmente por todos as questões que a vida nocturna acarreta, pelo

que tem sido sempre um problema sensível e polémico, de difícil resolução por parte

dos diversos governantes da cidade nas últimas duas décadas.

Figura 2: Comércio na Rua do Norte e Rua da Atalaia

Fonte: (Autor, 2010)

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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1.2. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O Bairro Alto viveu ao longo de mais de 400 anos de existência inúmeras

transformações, experimentou as mais diversas vivências. O bairro adaptou-se ao

longo da sua história a diversas situações, mostrando uma grande capacidade de

regeneração e adquirindo cada vez mais uma identidade muito própria.

Desde a construção dos seus primeiros edifícios, no século XVI, o Bairro Alto manteve

a sua estrutura original em quarteirões rectangulares que estruturam uma malha

urbana homogénea, que se manteve inalterada ao longo de toda a sua existência,

apesar dos diversos elementos de composição arquitectónica e das diferentes

tipologias características de cada época que este bairro viveu, podendo caracterizar-

se como a “primeira urbanização moderna de Lisboa” (Teixeira e Valla, 1999).

A clara definição dos limites do Bairro Alto na cidade de Lisboa, com algumas das

grandes vias de circulação na sua envolvente, foi protegendo sempre o interior do

bairro, com a sua malha ortogonal apertada e ruas e travessas muito estreitas,

mantendo desta maneira uma vivência muito característica ao longo de toda a história.

A capacidade de sobreviver a todas as alterações vividas nos mais de 400 anos de

história, mantendo sempre uma grande coesão e homogeneidade ao mesmo tempo

que apresenta marcas visíveis de diferentes épocas, fazem deste bairro uma das

zonas mais ricas a nível do legado arquitectónico na cidade de Lisboa.

Figura 3: Rua Luz Soriano; Rua do Século; Rua da Rosa

Fonte: (Autor, 2010)

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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Este grande crescimento económico do país que acontece logo após uma época em

que se viveu em crise, com o aparecimento de grandes epidemias e pestes, gerou um

clima de euforia nacional, que chegou mesmo a atrair gente de toda a Europa.

A cidade de Lisboa era caracterizada nesta época pelas ruas estreitas e labirínticas e

pelos becos de forte influência islâmica. Os grandes balcões sobre a rua constituem

outra característica marcante nesta época, que tornavam ainda mais difícil a circulação

(Carita, 1994).

Este modelo de cidade começava a ser então incomportável perante a explosão

demográfica registada, quer a nível da circulação quer a nível de questões como o

saneamento ou o controle policial.

É então que, pela mão de D. Manuel, são assinadas um conjunto de cartas com vista

a regular a expansão urbana da cidade de Lisboa. Estas cartas não são na sua

essência um conjunto de teorias urbanas, mas antes o manifesto de uma nova atitude

A novidade da malha urbana do Bairro

Alto para época, e a sua permanência ao

longo do tempo remete para uma série

de regras ao nível do traçado urbano

criadas nesta época. Não seria possível

que o conjunto homogéneo que é o

Bairro Alto se tivesse assim

desenvolvido, sem uma base legal por

trás, que impediu que este bairro se

desenvolvesse de acordo com

interesses, desejos ou caprichos.

Na viragem do Século XV para o Século

XVI houve grandes transformações

sociais e económicas assim como uma

grande explosão demográfica,

potenciadas pelo grande enriquecimento

da Nação com os descobrimentos e

comércio marítimo (França, 1988).

Figura 4: Vista aérea da área de implantação Do Bairro Alto no final do século XV

(fonte: Carita, 1994)

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

15

perante a cidade. Além destas surgem outras cartas régias com grande influência na

imagem da cidade, como as cartas Régias que determinaram o desaparecimento da

maioria dos balcões das casas (Aguiar, 1993).

O início do Século XVI marca então uma viragem na maneira de entender o espaço

urbano. A cidade passa a ser regulada por um conjunto de regras, que se eleva acima

do interesse de qualquer cidadão.

A imagem da cidade nesta época opõe-se à da cidade medieval, com o alargar das

ruas e a simplificação e maior regularidade das fachadas. O valor estético da cidade

está agora presente no seu desenvolvimento.

No início do Século XVI o contínuo crescimento demográfico na cidade de Lisboa

levou a que esta se tenha expandido para poente, ao longo do Rio Tejo, alargando os

seus limites.

A cidade, que se desenvolve nesta época segundo o conjunto de regras urbanísticas

impostas por D. Manuel, expande-se em direcção aos vastos domínios de Guedelha

Palaçano, um dos homens mais ricos de todo o Reino. Foi aqui que nasceu o Bairro

Alto, que está implantado na sua totalidade nos terrenos que outrora pertenceram a

Guedelha Palaçano, e que se estendiam ainda para Sul até ao Tejo e para Poente até

ao Pico de Belver (França. 1988).

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

16

A segunda metade do Século XVI vai marcar uma segunda fase de expansão da Vila

Nova de Andrade em direcção ao Alto de S. Roque, altura em que os padres Jesuítas

aqui se instalaram. Nesta segunda fase de expansão em que esta toma o sentido

do Alto de S. Roque, esta nova zona mais a Norte começa a funcionar de uma forma

mais autónoma, à medida que as Portas de Santa Catarina vão perdendo a sua

importância como principal foco dinamizador. O principal pólo passa mesmo a ser o

Alto de S. Roque, muito devido à acção cultural por parte dos padres Jesuítas,

passando a Vila Nova de Andrade a designar-se nesta altura por Bairro Alto de S.

Roque (França, 1988).

A expansão do Bairro Alto, que na altura

nasceu com o nome de Vila Nova de

Andrade, dá-se numa primeira fase entre

as Portas de Santa Catarina e Cata-que-

Farás, sendo delimitada a Norte pela

Estrada de Santos. As Portas de Santa

Catarina assume-se nesta época como

um foco dinamizador da Vila Nova de

Andrade, visto se tratar, nesta época, de

uma das entradas mais importantes da

cidade.

Desde o início do Século XVI até

meados deste Século, o crescimento da

Vila Nova de Andrade deu-se a uma

ritmo quase vertiginoso, tendo a sua

população aumentado cerca de 20 vezes

desde o seu nascimento (Oliveira, 1987).

Na primeira metade do século a

expansão do bairro acompanha a

Estrada de Santos e começa também a

dar-se para Norte desta.

Figura 5: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no século XVI

Fonte: (Carita, 1994)

Page 17: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

17

Este processo de urbanização revelou-se muito bem sucedido desde o seu início,

tanto que progressivamente assistimos a uma alteração a nível social dos moradores

do Bairro. Inicialmente dominado por artífices e marinheiros, começa a ser procurado

por mercadores, burgueses e também aristocratas.

Esta nova ocupação do Bairro Alto levou a que naturalmente fossem construídos

alguns palácios e casas senhoriais, o que poderia ter quebrado a continuidade da

malha da zona. Ao contrário do que seria de esperar e ao contrário do que se passa

no resto da cidade, os palácios e as grandes casas senhoriais construídas nesta

época respeitaram os lotes onde se inseriam, assim como as cérceas dominantes. Em

toda a zona do Bairro Alto observamos então um ambiente de ordem e harmonia que

se opõe por completo ao modelo da cidade de Lisboa até à data.

Entre 2ª Metade do Século XVI ao

Século XVIII, esta expansão contínua do

Bairro Alto aconteceu com uma

regularidade que marca uma grande

novidade nesta época, sem que a

estrutura original em quarteirões

rectangulares com ruas perpendiculares

se perdesse, mesmo que por vezes a

direcção principal destas se alterasse. É

evidente a continuidade existente entre a

zona primitiva do Bairro Alto, abaixo da

Estrada de Santos, e a zona a Norte

desta, no Alto de S. Roque (Teixeira e

Valla, 1999).

Figura 6: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no final do século XVI

Fonte: (Carita, 1994)

Page 18: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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O grande terramoto de 1755 que abalou a cidade de Lisboa com efeitos catastróficos,

destruiu quase por completo toda a cidade, tendo o Bairro Alto sido curiosamente

protegido na sua maior parte, principalmente na zona oriental. Os edifícios de boa

qualidade, com paredes grossas em alvenaria, e a sua baixa altura foram

determinantes para que estes não tenham sido muito afectados pelo abalo do sismo,

tendo sido, no entanto, afectados pelos incêndios que se deram nos dias seguintes

(França, 1988).

O Bairro Alto vai assim manter quase por completo o seu traçado original aquando das

grandes obras pombalinas de reconstrução da cidade. As intervenções no Bairro Alto

deram-se principalmente nas ruas principais como a Rua da Misericórdia, Rua do

Século e Largo de Camões, que foram alargadas e os seus edifícios reconstruídos à

imagem do Pombalino, mas respeitando a malha existente. Esta intervenção passou a

definir melhor os limites do Bairro Alto e suas relações com o resto da cidade. A zona

de Chagas acaba por se desagregar por completo do Bairro Alto, sendo aqui a

reconstrução feita completamente à feição do Pombalino, adquirindo assim um

carácter diferente, propício para a alta burguesia aqui habitar.

Outro factor que teve igual

preponderância para que a malha

ortogonal com as suas ruas largas e

contínuas tenham sido preservadas ao

longo de todo o processo de

urbanização desta zona, é o

aparecimento do coche e sua

generalização como meio de transporte

na cidade de Lisboa. A cidade medieval,

com o seu emaranhado de ruas estreitas

e becos não comportava a utilização

deste meio de transporte, mas este novo

modelo urbano é agora totalmente

vocacionado para a sua utilização.

Figura 7: Vista aérea da área de implantação do Bairro Alto no século XVII

Fonte: (Carita, 1994)

Page 19: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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Após o terramoto o Bairro Alto perde a sua característica de zona aristocrática ao ver a

maioria dos aristocratas mudar-se para as suas grandes quintas de Verão nos

arredores da cidade (Carita, 1994).

O bairro foi assim ganhando um carácter mais popular ao longo do tempo, embora

sempre com a grande qualidade da sua centralidade. Na viragem do Século XVIII para

o Século XIX o Bairro Alto começa a ser cada vez mais frequentado por artistas e

intelectuais, conferindo-lhe uma certa marginalidade que o tornou por isso muito

característico.

Com o passar dos séculos o Bairro Alto mantém sensivelmente a sua malha e

características originais, resistindo a intervenções arquitectónicas ao nível dos seus

edifícios ao longo dos séculos XIV e XX. As principais intervenções efectuadas foram

o aumento do número de pisos dos edifícios e obras de restauro.

Desde o século XIX que o Bairro Alto mantém o seu carácter popular, passando a ter

cada vez mais um carácter muito intimista e de união da sua comunidade, devido à

descontinuidade cada vez mais visível do bairro em relação ao resto da cidade.

O ambiente cultural e artístico que se vive no bairro desde o final do Século XVIII, foi-

se acentuando até ao aparecimento das primeiras tipografias que aqui se instalaram,

contribuindo para que a vida nocturna aqui se intensificasse e que o ambiente boémio

já patente no bairro se tornasse ainda mais evidente.

1.3. O Quarteirão e Edifício Tipo do Bairro Alto

A estrutura urbana do Bairro Alto é definida por ser mais do que um sistema de ruas,

sendo antes um sistema organizado de quarteirões consecutivos com uma

configuração rectangular. Esta nova lógica do quarteirão vem substituir o anterior

sistema medieval da rua e beco.

O Bairro Alto surge com uma imagem de coesão, conferida pela regularidade do

quarteirão, em detrimento do sistema das ruas medievais, onde era marcante a

diferença entre as ruas principais e as travessas. No Bairro Alto os valores do

quarteirão e sua coesão assumem uma grande importância, o que acaba por quase

diluir a diferença entre as ruas e travessas que definem o bairro.

Page 20: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

20

Este sistema urbano é uma novidade para a época na cidade de Lisboa, que vem de

encontro à tendência e necessidade de racionalizar melhor o espaço urbano, em

virtude do contínuo crescimento populacional da cidade.

A malha original do Bairro Alto tem um desenho aproximadamente ortogonal, sendo

constituído por um conjunto regular de quarteirões rectangulares. Estes quarteirões

apresentam quase todos uma métrica semelhante, onde os lotes onde se inserem têm

de comprimento aproximadamente o dobro da sua largura, apesar da existência de

quarteirões com algumas variações na sua métrica. A métrica dos lotes originais é

herdada da medida medieval “chão”, que era uma medida agrária que definia um

rectângulo com 60x30 palmos, o equivalente a 13,5m x 6,75m (Corona e Lemos,

1972). Esta métrica continua a ser respeitada mesmo nos posteriores quarteirões

pombalinos, em que as suas medidas são múltiplos destes quarteirões originais.

Figura 8: Quarteirões tipo do Bairro Alto

(fonte: Aguiar, Appleton e Cabrita, 1993)

Esta nova configuração urbana, assente na malha ortogonal, apresenta algumas

vantagens como a maior facilidade de circulação ou a posterior colocação de infra-

estruturas. Ao nível ambiental apresenta também vantagens, no caso dos quarteirões

que funcionam com saguão, ao promover uma melhor ventilação e iluminação

naturais.

Os edifícios originais do Bairro Alto tinham uma altura que variava entre os 2 e os 3

pisos, o que conferia aos quarteirões uma morfologia baixa e comprida. Além deste

aspecto estilístico dotava também o bairro de boas condições de ventilação e

iluminação natural. Com a chegada do período Pombalino e consequentes avanços

tecnológicos, os edifícios acabam por crescer em altura, o que vem contrariar um

pouco a lógica de horizontalidade característica da estrutura original do Bairro Alto e

consequentemente as boas características de ventilação e iluminação natural de que

este gozava.

Page 21: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

21

Na estrutura original do quarteirão do Bairro Alto, estes eram caracterizados pela

existência de logradouros no seu interior. Com o crescimento demográfico e procura

de uma maior rendibilidade do solo, em virtude de um progressivo empobrecimento do

bairro nos séculos XVII e XIX, estes logradouros foram desaparecendo com a

expansão dos edifícios para o interior dos quarteirões, provocando a redução do

tamanho dos saguões da maioria dos quarteirões do Bairro Alto (Aguiar, 1993).

A estrutura urbana do Bairro Alto original aproxima-se assim muito da que nós

conhecemos hoje, não tendo sofrido grandes alterações apesar dos diversos períodos

ao longo da qual foi sobrevivendo. Este factor deve-se muito ao facto de esta estrutura

se encontrar sedimentada desde muito cedo, o que levou a que as principais

alterações levadas a cabo no Bairro Alto tenham sido de ampliação ou preservação

dos edifícios, não comprometendo a unidade tão característica deste bairro desde a

sua criação.

Podemos observar algumas características próprias dos edifícios do Bairro Alto quer a

nível da sua composição e tipologia, quer a nível da sua tipologia construtiva, que

tiveram lugar em diferentes períodos da história deste bairro. Essas características,

que são facilmente identificáveis na maioria dos seus edifícios, conferem-lhes uma

grande heterogeneidade muito característica do Bairro Alto.

No capítulo 4, referente ao trabalho de campo, falar-se-á também dos aspectos de

desempenho ambiental destes edifícios.

De seguida passo a descrever as principais características dos edifícios do Bairro Alto,

divididas em 4 principais períodos históricos:

Do início do Bairro Alto (finais do século XV) até meados do século XVIII (Terramoto

de 1755)

Nesta época assistimos a uma transição entre o tipo de edifício medieval, ainda com

um carácter rural, para o tipo de edifício que se insere agora na lógica urbana do

Bairro Alto. Os edifícios de habitação do bairro apresentam desde o início uma forte

relação e conferem grande unidade ao sistema de quarteirão onde estão inseridos,

moldando desta maneira todo o sistema urbano do Bairro Alto.

Os edifícios construídos nesta época apresentam uma série de traços gerais

característicos, presentes na maioria dos edifícios. Estes edifícios são os que se

Page 22: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

22

encontram virados para as ruas, ou seja, que estão implantados ao longo do eixo mais

comprido do quarteirão. As principais características destes edifícios são:

• A fachada principal normalmente é bastante estreita, havendo edifícios com

uma largura entre os 3 e 4 metros, e outros com largura entre os 6 e 8 metros;

• Os edifícios normalmente têm uma configuração rectangular, sendo estreitos e

profundos;

• A altura dos edifícios varia entre 1 piso e 3 pisos;

• Existência de duas portas de entrada, uma que dava acesso ao piso térreo,

outra que dava acesso aos pisos superiores. O acesso aos pisos superiores

era feito através de uma escada de tiro. Os pisos térreos eram usados muitas

vezes como lojas ou oficinas.

• Nas traseiras dos edifícios existiam logradouros onde se realizavam funções de

apoio às habitações e assegurava a ventilação e iluminação dos edifícios.

• A planta das habitações era bastante simples, apresentando uma divisão entre

espaço o espaço social, a sala, virada para a rua, e os quartos interiores. Havia

normalmente uma zona virada para o logradouro, que seria a zona funcional da

casa.

Figura 9: Alçado e planta térrea de 2 edifícios do Bairro Alto.

Rua da Rosa, Nº 141-143 (à esquerda); Rua Luz Soriano, Nº 114-116 (à direita)

(fonte: Carita, 1994)

Os edifícios desta época caracterizam-se todos por serem construídos com paredes

de alvenaria com uma grande espessura, conferindo-lhes grande solidez, o que terá

sido um factor preponderante para a maioria destes edifícios ter sobrevivido ao

Terramoto de 1755.

Page 23: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

23

Apesar dos edifícios deste período partilharem todos as mesmas características a

nível construtivo e estrutural, é possível dividir estes em 2 tipos, a nível da qualidade

da sua construção:

• Os edifícios de melhor qualidade construtiva, destinados aos nobres, clero e

burgueses mais endinheirados, apresentam alvenarias bem cuidadas, com

geometrias regulares e quase sempre com elementos de travamento nas

paredes. Os pavimentos eram normalmente de madeira e assentavam em

abóbadas e arcos de alvenaria de tijolo.

• Os edifícios de pior qualidade construtiva apresentam também alvenarias

espessas, mas com uma geometria imperfeita e sem elementos de travamento.

Nestes edifícios os pavimentos de madeira assentavam sobre vigas de

madeira e apoiavam-se directamente nas paredes meãs e na fachada.

De meados do século XVIII até ao segundo quartel do século XIX (período de

influência Pombalina)

Após o Terramoto de 1755 e conseguintes incêndios que abalaram a cidade de

Lisboa, grande parte da cidade teve de ser reconstruída. O interior do Bairro Alto que

não foi muito afectado, acabou por sofrer apenas obras de recuperação dos edifícios,

ao contrario do que se passou na sua envolvente e na ligação entre esta zona e a

Baixa, onde as obras de reconstrução adquiriram já uma dimensão urbana.

As marcas do período Pombalino nos edifícios do Bairro Alto reflectem-se então em

características como:

• A linguagem de algumas fachadas, que aumentam o tamanho e número dos

vãos, que sugerem um ritmo regular, mais homogéneo, característico do estilo

Pombalino;

• O aumento da área ocupada pelos lotes, expandindo-se os edifícios para a

área ocupada pelos logradouros, o que leva a transformação destes espaços

nos saguões característicos desta época;

• O aparecimento das mansardas no último piso;

• A agregação de 2 edifícios em 1 só, passando nestes casos a haver 2 fogos

por piso;

• Maior racionalidade na organização interior do espaço;

Page 24: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

24

Figura 10: Alçado e plantas de 2 edifícios do Bairro Alto.

Rua da Rosa, Nº 113-115 (à esquerda); Rua das Gáveas, Nº 38-46 (à direita)

(fonte: Aguiar, Appleton e Cabrita, 1993)

Nesta época a principal inovação a nível de técnicas construtivas foi a invenção da

estrutura em gaiola. Esta consiste numa estrutura tridimensional em madeira, fazendo

lembrar uma gaiola, que é embebida nas paredes de alvenaria. Esta estrutura

apresenta um excelente comportamento sísmico, assim como uma maior resistência

face a possíveis incêndios do que os edifícios anteriores a esta época (França, 1988).

Como já referido anteriormente, esta não é das marcas da época mais significativas

nos edifícios do Bairro Alto, visto grande parte dos seus edifícios terem resistido ao

Terramoto.

Outras marcas desta época presentes nos edifícios de habitação do Bairro Alto são:

• O aumento do tamanho dos vãos nas fachadas;

• O aparecimento dos tabiques em madeira, que vieram provocar uma

sobrecarga muito menor nos edifícios;

• A elevação das paredes meãs acima dos edifícios, uma técnica que evita a

propagação de fogo em casa de incêndio, entre os edifícios vizinhos.

Da segunda metade do século XIX ao segundo quartel do século XX

Nesta época assistiu-se por toda a cidade de Lisboa a uma adulteração e perda de

rigor em relação às técnicas construtivas Pombalinas, o que levou a que os edifícios

desenvolvidos neste período se designem por “Gaioleiros”. Este termo traduz as

alterações e simplificações feitas ao nível dos sistemas estruturais e construtivos dos

edifícios Pombalinos, assim como no emprego de materiais de pior qualidade.

Page 25: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

25

Este estilo construtivo acaba por não ter grande expressão no Bairro Alto, visto que

nesta época o bairro já se encontrava com uma grande densidade de construção,

estando praticamente sedimentado.

Podemos ainda assim encontrar algumas marcas desta época em edifícios do Bairro

Alto em aspectos como:

• Crescimento em altura dos edifícios de habitação, para edifícios com 5 a 6

pisos;

• Maior complexidade a nível da organização interior dos fogos;

• Afirmação do corredor como principal meio de circulação e comunicação entre

as diferentes divisões das habitações;

• Mistura de linguagens estilísticas ao nível das fachadas, com a introdução do

ferro como material corrente de construção.

Do segundo quartel do século XX aos nossos dias

Este período será o que menos expressão a nível de linguagem estilística teve no

Bairro Alto, quer a nível do aspecto das fachadas, quer a nível da organização do

espaço interior.

A principal marca deixada por este período no Bairro Alto foi a introdução do betão

armado como material corrente de construção. Apesar de serem muito poucos os

edifícios construídos de raiz na segunda metade do século XX, o betão armado foi

utilizado várias vezes em obras de reabilitação. Inicialmente, antes da sua

banalização, terá sido utilizado em zonas traseiras das habitações ou como elemento

de suporte de alguns elementos em fachadas. Só mais tarde começou a ser utilizado

como material estrutural, o que veio adulterar muitas vezes a organização interior dos

edifícios, visto nesta altura ser comum a construção de prédios de rendimento,

perdendo muitas vezes toda a relação antes existente do espaço interior com a

fachada.

Esta utilização do betão nos edifícios do Bairro Alto tem também consequências ao

nível ambiental. O desempenho do betão não é tão bom como o das alvenarias

características destes edifícios, que apresentam uma maior inércia térmica,

contribuindo para um melhor desempenho térmico dos edifícios.

Page 26: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

26

Figura 11: Ruão João Pereira da Rosa; Travessa dos Fieis de Deus

Fonte: (Autor, 2010)

1.3. SUSTENTABILIDADE DO BAIRRO ALTO

O Bairro Alto vê, nas últimas décadas, a sua população a envelhecer e poucos jovens

a se fixarem aqui permanentemente – a maioria dos jovens que procura casa no Bairro

Alto, acaba por aqui ficar por períodos relativamente curtos – à medida que a

expansão da cidade de Lisboa se dá para a sua periferia, ficando aqui

maioritariamente instalada apenas a população mais velha e com menos recursos.

O congelamento das rendas promovido pela Estado Novo nos anos 40 contribuiu para

que, nas últimas décadas, os proprietários dos imóveis do Bairro fossem também

bastante afectados ao nível dos seus rendimentos. Apesar da actualização das rendas

antigas, que se tem vindo a efectuar através da nova legislação ao arrendamento, há

ainda várias rendas com valores mais baixos do que os padrões actuais, visto a

actualização das mesmas se efectuar de uma maneira gradual, de maneira a não

prejudicar os arrendatários.

O parque habitacional deste bairro histórico, cujos edifícios têm já alguns séculos de

existência, e consequentemente uma grande necessidade de manutenção física, vai

sofrendo uma degradação progressiva, a que os moradores e proprietários são

incapazes de dar resposta, em virtude da sua situação social.

Page 27: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

27

Figura 12: Bairro Alto: Edifícios em mau estado de conservação

Fonte: (Autor, 2010)

Em 1990 é criada a Direcção Municipal de Reabilitação Urbana, que teve como

missão recolher e tratar sistematicamente toda a informação e documentação

necessária e pertinente para efeitos de planeamento urbanístico e intervenção local,

sendo posteriormente criado o Gabinete Técnico do Bairro Alto e Bica, actualmente

designado por Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica. Este foi um passo muito

importante no sentido da conservação e recuperação dos centros históricos da cidade

de Lisboa, e mais concretamente do Bairro Alto.

Esta Unidade de Projecto tem a seu cargo um vasto parque habitacional, com cerca

de 2000 edifícios, e um tecido social bastante complexo, pelo que todas as

intervenções são acompanhadas por um grupo de técnicos de várias especialidades,

de maneira a encontrar a melhor solução a adoptar em cada caso.

Figura 13: Travessa do Poço da cidade; Travessa da Espera

Fonte: (Autor, 2010)

Outras questões, que não apenas as condições físicas e ambientais dos edifícios, se

levantam quando se fala acerca da sustentabilidade do Bairro Alto.

Page 28: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

28

Uma das questões incontornáveis é a do relacionamento entre a vida diurna e

nocturna deste bairro. O Bairro Alto, como é sabido, é um dos principais destinos para

quem procura animação nocturna, quer entre os habitantes da cidade de Lisboa, quer

entre os turistas que visitam Lisboa. A restauração e os bares que aqui funcionam

representam uma parte muito significativa da actividade económica do Bairro Alto,

contrastando com a queda progressiva no comércio tradicional que funciona durante o

dia neste bairro.

Por outro lado, a vida nocturna acarreta consigo vários problemas, que afectam

directamente os principais utilizadores do Bairro Alto, os seus moradores. O barulho

provocado pelos bares e pela enorme afluência de pessoas, o lixo espalhado pelas

ruas do bairro no final de cada noite, o tráfico de droga nas ruas do bairro, ou os actos

de vandalismo como as inscrições feitas nas paredes dos edifícios, os chamados

graffiti, são alguns dos principais problemas apontados pelos habitantes locais,

quando se fala na vida nocturna deste bairro.

Figura 14: Bairro Alto: Vida nocturna e graffiti

Fonte: (Autor, 2010)

Page 29: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

29

A questão das mobilidades no interior do bairro é outra questão complexa quando se

fala na sustentabilidade deste bairro. A configuração urbana deste espaço histórico

não é naturalmente a mais indicada para que haja trânsito automóvel, pela reduzida

dimensão das suas ruas e pela falta de zonas onde seja possível estacionar. Em 2002

a Câmara Municipal de Lisboa procedeu ao condicionamento do trânsito automóvel no

interior do Bairro Alto, de maneira a dar resposta a este problema.

Esta questão continua, no entanto, a ser um constrangimento para comerciantes que

necessitam de acesso automóvel aos seus estabelecimentos, para moradores que não

têm zonas de estacionamento perto das suas habitações, e ainda para potenciais

novos moradores, que acabam por ser desencorajados a ir morar para o Bairro Ato,

quando vivemos numa sociedade onde está fortemente enraizado o culto do

automóvel.

Figura 15: Bairro Alto: Falta de estacionamento

Fonte: (Autor, 2010)

No próximo capítulo serão abordados em maior profundidade os conceitos de

sustentabilidade urbana e reabilitação. As questões enunciadas, relativas à

sustentabilidade do Bairro Alto, serão abordadas posteriormente no trabalho de campo

(Capítulo 4), onde será efectuado um estudo mais aprofundado dos aspectos

ambientais, construtivos e sociais.

Page 30: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

30

2. SUSTENTABILIDADE E REABIITAÇÃO

2.1. SUSTENTABILIDADE – CONCEITOS E OBJECTIVOS

As actividades humanas, das quais faz parte a construção, têm acompanhado o

desenvolvimento e o crescimento da população ao longo de toda a história,

aumentando consigo a capacidade de mobilizar recursos e suas consequências para o

ambiente. O sector da construção é, actualmente, um dos principais emissores de

gases que contribuem para o efeito de estufa, tendo assim um forte impacto no

fenómeno do aquecimento global.

Figura 16: Variação da Temperatura média no hemisfério norte

Fonte: (Michael Mann, 1998)

No último século assistiu-se a uma grande evolução demográfica, quando a população

aumentou mais de duas vezes desde 1950, ultrapassando já os 6 400 milhões de

habitantes.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

31

Figura 16: Evolução da população mundial no último milénio

Fonte: (Pinheiro, 2006)

Este aumento exponencial da população dá-se numa época de viragem definitiva, com

os constantes avanços tecnológicos, impulsionados pela Revolução Industrial.

A Revolução Industrial inicia-se em Inglaterra em meados do século XVIII e alastra-se

ao resto do mundo a partir do século XIX. A politica económica liberal1 praticada no

Reino Unido, uma burguesia com recursos financeiros que permitiam financiar as

fábricas, matérias primas e empregados, e as grandes reservas naturais de ferro e

carvão, reuniam as condições para que este processo aqui tenha ocorrido.

Ao longo desta época de grandes avanços tecnológicos, as ferramentas foram

substituídas pelas fábricas e a energia humana pela energia motriz, resultando num

processo de produção mais rápido e mais económico, que permitiu uma redução

significativa dos preços dos produtos, e com capacidade de gerar lucros muito

maiores.

As mudanças radicais que ocorreram durante esta revolução, a um ritmo muito

acelerado, trouxeram também algumas consequências negativas, como o aumento do

desemprego, uma vez que a mão-de-obra vinha sendo substituída pelas máquinas; o

êxodo rural, com as populações a invadir as cidades em busca de emprego, o que

provocou um crescimento urbano muitas vezes desordenado; o aumento da poluição

ambiental e sonora. Interessa salientar que ao longo de toda esta evolução não houve

preocupações com os gastos de energia, nem uma percepção das consequências a

longo prazo do consumo desmesurado dos recursos naturais finitos.

1Politica económica liberal: doutrina baseada na defesa individual, no campo económico, face às atitudes coercivas do poder estatal

Page 32: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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Figura 17: Evolução do consumo mundial de energia

Fonte: (IEA, 2002)

No início dos anos 70, a procura internacional de petróleo começou a exceder a

produção, que desde os anos 50 era um recurso com bastante mais oferta do que

procura, sendo os preços praticados até esta década mais baixos. Em 1973 a OPEP2

triplica o preço do barril de petróleo, uma maneira dos alguns dos membros árabes da

OPEP exercerem pressões politicas sobre os EUA e Europa Ocidental. Em 1977 uma

nova crise petrolífera, motivada por pressões politicas por parte do Irão aos EUA volta

a preocupar o mundo ocidental, sendo esta década um ponto de viragem na

consciência do problema dos recursos naturais e ambiente, passando os estas

questões a fazer parte da agenda politica internacional, com as conferencias

realizadas a partir desta década.

Em 1972 realizou-se em Estocolmo a “Conferencia das Nações Unidas sobre

Ambiente Humano”, centrada nas questões da poluição, saúde humana e do Homem.

A declaração resultante desta conferencia proclama que “O homem é, a um tempo,

resultado e artífice do meio que o circunda, o qual lhe dá o sustento material e o brinda

com a oportunidade de desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente”

(UN, 1972).

As questões ambientais e suas consequências eram ainda compreendidas de uma

forma algo incipiente, não existindo ainda um compromisso sério para a sua resolução.

2 OPEP: Organização dos Países Exportadores de Petróleo. Organização constituída por alguns dos países com maiores reservas de petróleo, que controla os preços e quantidades de produção de petróleo.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

33

Em 1987, as Nações Unidas criaram a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o

Desenvolvimento, também conhecida como Comissão Brundtland (UN, 1987), onde os

governos envolvidos se comprometeram a promover o desenvolvimento económico e

social em conjunto com a preservação ambiental.

A partir de então, desenvolvimento e meio ambiente passam a fundir-se no conceito

de “Desenvolvimento Sustentável”, que assenta na ideia da compatibilização das

dimensões económica, social e ambiental, num só modelo de desenvolvimento para o

século XXI, que dê resposta a estes três elementos.

Figura 18: Esquema representativo das componentes do desenvolvimento sustentável

Fonte: (Dréo, 2009)

No Relatório de Brundtland, O Nosso Futuro Comum encontramos a definição mais

usada para o conceito de Desenvolvimento Sustentável: “Aquele que atende as

necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras

satisfazerem as suas próprias necessidades”.

Para promover o Desenvolvimento Sustentável, o Relatório da Comissão Brundtland

definiu uma série de medidas a serem tomadas pelos diversos países, entre elas:

• Limitação do crescimento populacional;

• Garantia de recursos básicos (água, alimento, energia) a longo prazo;

• Preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;

• Diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso

de fontes energéticas renováveis;

• Aumento da produção industrial nos países não industrializados com base em

tecnologias ecologicamente adaptadas;

• Controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades

menores;

• Atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, habitação).

Page 34: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

34

Foram também propostas meta a alcançar a nível internacional, entre as quais se

destacam:

• Adopção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações de

desenvolvimento (órgãos e instituições de financiamento);

• Protecção pela comunidade internacional dos ecossistemas supra nacionais

como a Antárctica, oceanos, etc.;

• Banimento das guerras;

• Implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela

Organização das Nações Unidas.

Depois do lançamento do Relatório Brundtland, várias iniciativas foram desenvolvidas

às escalas local, nacional e global, tornando-se mais nítida a percepção do longo

caminho ainda a percorrer para atingir o fundamental ponto de viragem global, rumo a

um futuro sustentável.

A Conferencia das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO

92, realizada no Rio de Janeiro em 1992, veio consagrar definitivamente o conceito de

Desenvolvimento Sustentável.

Desta conferencia resultou a Agenda 21, um documento que estabeleceu a

importância de cada país se comprometer a reflectir, global e localmente, sobre a

forma como governos, empresas e todos os sectores da sociedade poderiam

promover a regeneração ambiental e o desenvolvimento económico e social.

Cada pais desenvolveu a sua Agenda 21, sendo esta aplicada também a nível

municipal, de maneira a que sejam tomadas as medidas mais adequadas ao contexto

local.

Em Dezembro de 1997, realiza-se, em Quioto, a Convenção Quadro das Nações

Unidas sobre Alterações Climáticas. Nesta convenção os diversos países participantes

comprometeram-se a reduzir a emissão de gases que contribuem para o aquecimento

global, através da assinatura do Protocolo de Quioto.

No protocolo fixou-se um calendário pelo qual os países desenvolvidos têm a

obrigação de “reduzir a emissão de gases com efeito de estufa em pelo menos 5.2%

em relação aos níveis de 1990 no período entre 2008 e 2012”. (Protocolo de Quito

relativo às alterações climáticas, 2002)

A redução destas emissões deverá acontecer nas mais variadas actividades

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

35

económicas, sendo promovida a cooperação entre os países signatários, através de

algumas acções básicas, entre as quais se destacam:

• Reformar os sectores de energia e transportes;

• Promover o uso de fontes energéticas renováveis;

• Limitar as emissões de metano na gestão de resíduos e dos sistemas

energéticos;

• Proteger florestas e outros sumidouros de carbono3

Caso o Protocolo de Quioto seja implementado com sucesso, estima-se que a

temperatura global reduza entre 1,4ºC e 5,8ºC até 2100.

Desde então houve mais encontros e conferências focadas na questão do

Desenvolvimento Sustentável, de maneira a perceber quais as melhores medidas e

estratégias a adoptar aos diversos níveis (económico, social e ambiental), e mais

recentemente também ao nível cultural, considerado como outra das variáveis

basilares no caminho rumo a um Desenvolvimento Sustentável.

2.2. SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO

Actualmente, a indústria da construção é um dos sectores económicos mais

importantes da Europa, sendo caracterizada pelo consumo excessivo de matérias-

primas, recursos energéticos não renováveis e excessiva produção de resíduos.

Globalmente, a construção de edifícios é responsável pelo consumo de 40% dos

recursos minerais (pedra, areia, brita, etc.), 25% da madeira, 40% da energia e 16%

da água consumidos anualmente (Roodman, 1995).

Segundo a Estratégia da União Europeia para o Ambiente (UE, 2004) c climatização e

iluminação dos edifícios são responsáveis pela maior quota individual de utilização de

energia (42%, dos quais 70% destes para aquecimento) e produzem 35% de todas as

emissões de gases com efeito de estufa, sendo uma das principais causas do

aquecimento global.

Em Portugal, o consumo energético dos edifícios representa 30% do consumo de

energia final do pais, representando os edifícios de uso habitacional 17% e os serviços

3Sumidouros de Carbono: Designação dada à capacidade das plantas reterem o dióxido de carbono, evitando que este seja emitido para a atmosfera

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

36

13% deste consumo. Nas grandes cidades portuguesas, o consumo energético dos

edifícios caminha já para os 40% de energia, à semelhança do que se passa na U.E..

Estes números revelam a pouca eficiência energética dos edifícios no nosso pais, e a

importância de promover melhorias neste campo.

Figura 19: Consumos de energia final e energia eléctrica em Portugal

Fonte: (DGEG, 2005)

2.3. REABILITAÇÃO URBANA COMO CAMINHO PARA A SUSTENTABILIDADE

O conceito de preservar o património arquitectónico construído manifestou-se pelas

primeiras vezes já há vários séculos. No Renascimento surgem os primeiros exemplos

de reutilização respeitando o legado, fruto do interesse pela arquitectura clássica.

Durante os séculos seguintes, o conceito de reabilitação esteve sempre presente,

sendo no entanto muito redutor, ao se restringir à preservação do monumento

histórico.

Este conceito manteve-se até à segunda metade do XIX, quando surge o conceito de

cidade histórica através de Ruskin. A ideia de monumento histórico deixa de estar

limitada apenas ao edifício, passando então a englobar também “o sítio urbano ou

rural que são testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa,

ou de um acontecimento histórico. Esta noção estende-se não somente às grandes

mas também às obras modestas que adquiriram com o tempo um significado cultural.”

(ICOMOS, 1964). Na Carta Europeia do Património Arquitectónico, assinada em

Amesterdão, em Outubro de 1975 ficou consagrado que “O património arquitectónico

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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europeu é formado não apenas pelos nossos monumentos mais importantes mas

também pelos conjuntos que constituem as nossas cidades antigas e as nossas

aldeias com tradições no seu ambiente natural ou construído.” (Conselho da Europa,

1975).

A reabilitação urbana assume-se actualmente e, cada vez mais, como um instrumento

que engloba as dimensões histórico-cultural, ambiental, económica e social. A reunião

destas dimensões no conceito de reabilitação urbana, ultrapassa a ideia redutora da

preocupação física com o restauro dos edifícios que até há algumas décadas ainda

estava presente.

Assim, ao mesmo tempo que se procura dar resposta à recuperação física dos

edifícios, o conceito de reabilitação urbana actual foca-se também em outros

objectivos, que acabaram por trazer novos conceitos directamente ligados com a

reabilitação urbana e seus objectivos, como a requalificação, regeneração ou

revitalização.

Estas motivações a nível histórico-cultural (ressaltam a importância da do património

como identidade e expressão do insubstituível legado do passado), ambiental (a

reabilitação consome menos energia e recursos, sendo preferível à construção de

novos edifícios), económico (o desenvolvimento cultural e patrimonial é visto como

factor de vitalidade e competitividade das cidades) e social (a reabilitação assume um

papel fundamental quando intervém em zonas históricas, caracteristicamente zonas

com tecidos sociais problemáticos), assumem uma grande importância no campo da

reabilitação urbana, que se assume cada vez mais como um instrumento essencial

para o desenvolvimento sustentável das cidades.

Na Europa assiste-se já há algum tempo ao desenvolvimento sustentável das cidades,

assente na reabilitação e requalificação do seu edificado e revitalização cultural,

social, económica e ambiental. O segmento da reabilitação representa em média cerca

de 40% do sector da construção na União Europeia. Portugal tarda em investir neste

segmento, que representa apenas 10% do sector da construção no nosso pais.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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Figura 20: Segmento da reabilitação no sector da construção em 2002 – contexto internacional

Fonte: (Pinho e Aguiar, 2005)

Figura 21: Peso da construção nova no sector da construção em 2004 – contexto internacional

Fonte: (Pinho e Aguiar, 2005)

Portugal era em 2004 o pais em que a construção nova tinha mais peso no sector da

construção, representando cerca de 90% deste sector, quando a média europeia se

situa nos 52,5%.

Desde os anos 70 que Portugal apresenta um crescimento fortíssimo na construção de

habitações novas, com o crescimento das cidades para a periferia, que não é, no

entanto, correspondido pelo crescimento demográfico. Em 2001 apenas 71% dos

fogos das 16 capitais de distrito “eram ocupados por famílias residentes, triplicando no

mesmo período a percentagem de alojamentos com “ocupação ausente” e mais que

triplicando os fogos com “usos sazonal” e “vagos”. ... este crescendo de fogos “vagos”

ou abandonados, já não ocorre só nas zonas antigas mas também nas partes “novas”

– e suburbanas – das cidades.” (Pinho e Aguiar, 2005).

Esta situação foi potenciada, durante a década de 90, pelo reduzido apoio financeiro

dado pelo Estado às iniciativas de reabilitação, enquanto que concentrou o seu

investimento no subsídio de juros para empréstimos destinados à compra de

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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habitações próprias, na sua maioria novas construções, estrangulando ao mesmo

tempo o mercado de arrendamento.

Figura 22: Apoio do Estado ao sector da habitação entre 1990 e 1999

Fonte: (Pinho e Aguiar, 2005)

Numa tentativa de contrariar esta tendência, têm sido tomadas algumas medidas de

incentivo à reabilitação física dos edifícios, pelo Instituto da Habitação e da

Reabilitação Urbana (IRHU), como é o caso da criação de programas de apoio

financeiro à reabilitação como o Recria, Recriph, Rehabita e o Solarh. Têm sido dados

também incentivos e benefícios fiscais aos particulares que procedam a intervenções

de reabilitação nos seus edifícios, como a redução da taxa do IVA, a possibilidade de

isenção do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) durante 5 anos, podendo esta ser

renovada por mais 3 anos.

Foram criadas as Sociedades de Reabilitação Urbana (SRU) – empresas municipais

de reabilitação urbana, criadas pelos município, para promover a reabilitação urbana

de zonas históricas e de áreas criticas de recuperação e reconversão urbanística. Para

tal foram dotadas de competências como o licenciamento e autorização para

operações urbanísticas, a expropriação por utilidade pública, o procedimento a

operações de realojamento, entre outras.

Foram também criados Gabinetes Técnicos Locais, hoje em dia denominados de

Unidades de Projecto, como é o caso da Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica.

Estas Unidades de Projecto, foram criadas para acompanhar os projectos de

reabilitação urbana e/ou urbanização de locais específicos, sendo para o efeito,

constituídas por equipas multidisciplinares, que procedem a estudos, projectos e

acções de reabilitação, asseguram o acompanhamento de programas e projectos de

reabilitação, propõem e/ou participam em acções de dinamização social, cultural e

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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económica das populações locais, entre outros.

Em Portugal temos assistido a este processo de degradação e desocupação das

zonas centrais e zonas históricas das cidades, em virtude da expansão das cidades

para a sua periferia, com a constante construção de novos edifícios.

Esta tendência tem vindo a decrescer aos poucos, sendo imperativo que esta se

inverta por completo, no sentido de se procurar o desenvolvimento sustentável das

cidades, onde a reabilitação urbana, assente nas suas dimensões cultural, ambiental,

económica e social, se assume como um factor basilar para este desenvolvimento

sustentável.

2.4. SUSTENTABILIDADE EM CENTROS HISTÓRICOS

Seguidamente serão descritos alguns exemplos de boas práticas ao nível da

reabilitação em centros históricos, em Portugal e na Europa.

2.4.1. Barcelona

O centro histórico de Barcelona é alvo de intervenção a partir de 1987. De maneira a

contrariar a tendência para a degradação dos edifícios, problemas sociais,

delinquência e envelhecimento da população que se vinha a verificar até então, a

Cidade Velha é considerada como Área de Rehabilitación Integral. Foi assim levada a

cabo uma intervenção intensiva, num curto espaço de tempo, de maneira a alterar a

tendência evolutiva negativa da Cidade Velha. Para que esta tenha sido possível, foi

feita uma parceria entre poder público e algumas instituições privadas.

A reabilitação da Cidade Velha foi um processo muito activo e complexo, em que as

principais estratégias adoptadas foram:

• Grande investimento na reabilitação de edifícios, espaços públicos e infra-

estruturas urbanas;

• Incentivo à reabilitação dos edifícios por parte dos proprietários, potenciada por

uma parceria entre o Gabinete de Reabilitação da Cidade Velha e o Ministério

para o fomento e governo da Catalunha;

• Requalificação dos acessos pedonais, restrição do uso do automóvel e

incentivo ao uso de transportes públicos;

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

41

• Investimento na criação de equipamentos públicos como escolas e espaços de

apoio social;

• Promoção da Cidade Velha como espaço cultural, trazendo assim mais

visitantes de outras zonas da cidade

• Criação de um plano para a segurança e prevenção, com a participação do

poder local e também dos habitantes, de maneira a regular questões como o

tráfico de droga, prostituição, roubos, etc.

Figura 23: Centro histórico de Barcelona

Fonte: (http://www.barcelonaturisme.com/)

2.4.2. Oslo

A intervenção no Centro Histórico de Oslo deu-se entre 1990 e 2000. Esta zona

histórica da cidade, era uma das zonas com mais carências da cidade, onde o nível de

vida estava muito abaixo da média do resto da cidade, com uma taxa de desemprego

muito alta. Os edifícios apresentavam na altura sinais grandes de degradação, sendo

as rendas praticadas nesta zona das mais baixas em toda a cidade. As vias

automóveis, linhas de comboio e o porto ocupavam 35% da área do Centro Histórica,

contribuindo para que a salubridade do ambiente e taxas de ruído fossem as piores da

cidade, havendo também uma grande carência de espaços verdes nesta zona.

A estratégia de intervenção foi planificada de maneira a que se procedessem

inicialmente a melhorias de pequena escala, e uma meta a atingir à escala do Centro

Histórico, ao nível da qualidade ambiental desta zona da cidade. Esta estratégia de

intervenção teve como intervenientes activos o poder público (central e municipal),

assim como os próprios moradores.

As intervenções a pequena escala efectuadas passaram pela requalificação dos

espaços públicos já existentes e criação de espaços de lazer e recreativos para as

crianças dos diferentes bairros.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

42

A estratégia de intervenção global levada a cabo no Centro Histórico foi feita tendo

sempre como uma das principais metas, a melhoria das condições ambientais desta

zona. Foram aplicadas medidas como:

• Incentivos à reabilitação dos edifícios de habilitação;

• Condicionamento do trânsito automóvel, oferecendo percursos alternativos e

promovendo o uso dos transportes públicos;

• Requalificação dos arruamentos com oferta de estacionamento para bicicletas;

• Criação de espaços de apoio social e equipamentos públicos;

• Valorização cultural e histórica desta zona.

Figura 24: Centro histórico de Oslo

Fonte: (http://www.visitoslo.com/)

2.4.3. Freiburg

Freiburg é hoje conhecida como a “capital ecológica” da Alemanha, havendo uma

série de organizações ambientais e institutos de investigação aqui sediados. A

consciência ambiental dos cidadãos é despertada quando, em 1970, foi planeada a

construção de uma central nuclear em Wyhl, a apenas 30 km de Freiburg. Houve uma

enorme manifestação por parte dos cidadãos, acabando a central por não ser

construída. O desastre de Chernobyl em 1986 contribuiu também para que o município

de Freiburg tenha adoptado uma estratégia para um futuro orientado por uma politica

de baixo consumo de energia, ganhando assim a reputação de Cidade Solar.

A politica energética da cidade assenta em três pilares fundamentais:

• Conservação de energia;

• Uso das novas tecnologias como a combinação de calor e potencia;

• Uso de fontes de energias renováveis em detrimento das energias de origem

fóssil.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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Esta politica energética tem como principal objectivo potenciar o desenvolvimento

sustentável desta região como um todo. Em 1996 esta politica foi

fortalecida por uma decisão da cidade em reduzir as emissões de CO2 até 2010, em

25% abaixo do nível registado em 1992, o que desencadeou uma série de iniciativas

nas áreas dos transportes, lixeiras e indústria.

Foram tomadas várias medidas na procura do desenvolvimento sustentável desta cidade:

• Na reabilitação de habitações deve ser aplicado isolamento térmico para

melhorar o conforto térmico;

• Na construção de novas habitações devem ser usadas técnicas de design

passivo e eficiência energética, o que acaba por tornar a construção 3% mais

onerosa, mas reduz os custos energéticos e emissões de CO2 em 30%;

• Utilização de painéis fotovoltaicos e/ou colectores solares para aquecimento de

águas sanitárias nas novas construções;

• Utilização e combinação de técnicas que permitam o aproveitamento da

energia solar como as chamadas baywindows, jardins de inverno ou técnicas

de design passivo.

Figura 25: Centro histórico de Freiburg Fonte: (http://www.freiburg.de/index.html/)

Além das iniciativas a nível da energia solar, Freiburg também apostou em campos

como as mobilidades, que contribuem para a qualidade de vida e desenvolvimento

sustentável da cidade. A primeira planta para uma ciclovia na cidade foi desenhada

em 1970, havendo hoje mais de 500 km de vias para bicicletas e mais de 5000 vagas

de estacionamento para bicicletas espalhadas pela cidade, assim como

estrategicamente localizadas junto às paragens do comboio de superfície.

O acesso automóvel ao centro histórico é restrito aos moradores, sendo o limite de

velocidade máximo permitido 30 km/h. O preço de uma habitação pode ser reduzido

substancialmente se o comprador decidir não ter carro. Este tipo de medidas traduziu-

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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se num aumento da utilização dos transportes públicos na ordem dos 100%, tendo 30

– 35% dos residentes escolhido viver sem automóvel.

2.4.4. Madrid

A intervenção no centro histórico de Madrid é levada a cabo entre 1994 e 2000.

Assistia-se nesta altura a uma tendência para uma degradação urbana, a nível do

estado de conservação dos edifícios, poluição, problemas sociais, envelhecimento da

população e abandono desta zona por parte dos sectores económicos que aqui

funcionavam. Face a este cenário, as administrações central, regional e local uniram

esforços para que fosse levada a cabo a reabilitação do centro histórico de Madrid. A

coordenação das diversas acções a levar a cabo no terreno foi feita pela Empresa

Municipal de la Vivienda.

O primeiro passo a dar foi declarar as áreas de reabilitação prioritária, começando

pelos espaços urbanos mais significativos, como praças ou ruas principais,

estendendo-se posteriormente às ruas adjacentes dentro das áreas assinaladas.

Em cada uma das áreas assinaladas foram então tomadas várias medidas para levar

a cabo esta intervenção:

• A reabilitação interior dos edifícios de habitação foi suportada em conjunto

pelos proprietários e pelo poder público, que suportou entre 50 a 60% das

obras de cada proprietário;

• Reabilitação dos espaços públicos assim como dos elementos exteriores dos

edifícios, obras financiadas pelo poder público;

• Reabilitação das infra-estruturas em pior estado (gás, electricidade, água, etc.);

• Desenho urbano a pensar nos utilizadores pedestres, com o condicionamento

da circulação automóvel, criação de espaços de estada e plantação de árvores;

• Promoção de encontros com os moradores e comerciantes desta zona de

maneira a dar a conhecer os objectivos da intervenção, promovendo a

participação dos mesmos na intervenção;

• Construção de parques de estacionamento para os residentes, ludotecas e

outros espaços de lazer, assim como disponibilização de espaços para que os

residentes se possam reunir e promover actividades locais, etc.

Page 45: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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Figura 26: Centro histórico de Madrid

Fonte: (http://www.esmadrid.com/en/portal.do/)

2.4.5. Guimarães

O centro de histórico de Guimarães sofre até meados de 1980 um processo de grande

degradação física e social, que na altura parecia não ser possível travar.

É assim criado, pela Câmara Municipal de Guimarães, em 1985, o Gabinete Técnico

Local (GTL) com o intuito de se proceder a um processo de recuperação e

revitalização do centro histórico da cidade.

A intervenção levada a cabo em Guimarães foi pioneira em Portugal, focando-se não

só nos objectivos de reabilitação do edificado, mas também em tentar manter a

população residente, proporcionando-lhe melhores condições nas suas habitações, e

ao mesmo tempo procurar intervir da maneira mais autêntica possível no património

edificado.

Nas diversas intervenções no edificado do centro histórico a manutenção dos sistemas

construtivos, materiais e técnicas tradicionais foi uma constante, o que permitiu que se

tenha mantido o centro histórico como uma unidade formal e ambiental.

As intervenções no edificado do centro histórico foram feitas de acordo com uma

avaliação criteriosa de cada caso, tendo havido intervenções mais profundas, ao nível

da estrutura e organização do espaço interior, assim como intervenções mais ligeiras,

onde se procedeu a reparações de coberturas, caixilharias, pinturas de fachadas, etc.

As intervenções levadas a cabo no edificado do centro histórico procuraram sempre

ser de impacto mínimo, recusando por completo o fachadismo4. A lógica de

intervenção foi sempre a de fazer obras de impacto mínimo, o que permitiu manter os

residentes durante o decorrer das obras em vários casos, assim como diminuir o custo

4Fachadismo: Demolição de antigos edifícios e sua substituição por novas construções com profundas mudanças tipológicas, volumétricas, estruturais e construtivas, onde a antiga fachada é preservada ou reconstruída numa imitação da antiga.

Page 46: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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das obras e os impactos psicológicos a uma população um bocado envelhecida. Este

tipo de intervenção pode também permitir que a actualização das rendas após a

realização de obras seja bastante mais tolerável para os habitantes que ainda paguem

rendas desactualizadas.

A intervenção no centro histórico de Guimarães estendeu-se aos espaços públicos e

mobiliário urbano, assim como às infra-estruturas em mau estado ou por vezes mesmo

inexistentes, como infra-estruturas de saneamento, a rede eléctrica, rede de gás, etc.

A intervenção nos espaços públicos privilegiou a circulação pedonal, com o

condicionamento de trânsito automóvel a moradores em várias vias e a transformação

de algumas ruas e praças em espaços exclusivamente pedonais.

O financiamento das intervenções no edificado foi suportado em grande parte pelos

proprietários, tendo havido um bom trabalho de consciencialização dos deveres destes

enquanto proprietários, assim como, por outro lado, a cidade não procedeu a uma

lógica de expropriações sistemáticas, o que permitiu que se tenham conservado os

recursos necessários para que se desse continuidade a todas as obras de

conservação.

A administração Central e Local terá financiado cerca de 20% das intervenções no

edificado do centro histórico, tenho cerca de 45% das obras sido feitas pela iniciativa

privada, sem qualquer tipo de comparticipação.

Figura 27: Centro histórico de Guimarães

Fonte: (http://www.cm-guimaraes.pt/PageGen.aspx)

Page 47: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

47

3. ARQUITECTURA BIOCLIMÁTICA – ESTRATÉGIAS DE PROJECTO

3.1. ARQUITECTURA BIOCLIMÁTICA

Desde sempre, existiu um esforço na consideração das componentes ambientais,

havendo uma relação da construção com o ambiente, com a adequação do tipo de

construção ao clima local e o aproveitamento dos materiais disponíveis. A arquitectura

tradicional, ou vernacular, é exemplo de como dar resposta às questões do conforto

interior dos edifícios, face às condições climáticas.

Figura 28: Exemplos de casas tradicionais portuguesas

Fonte: (Autor desconhecido)

Como já referido no capítulo anterior, ao longo do século XX, a construção afasta-se

progressivamente das preocupações ambientais, criando sistemas de elevado

consumo de energia, muito devido à sua banalização e preço mais acessível, assim

como de materiais.

As crises petrolíferas dos anos 70 e a progressiva consciencialização de que as

energias fósseis são recursos finitos, aliadas aos actuais problemas ambientais como

o aquecimento global, desflorestação, entre outros, tornam imperativo uma mudança

no actual paradigma da construção.

A Arquitectura Bioclimática (ou Solar Passiva), tem uma abordagem à concepção de

projectos baseados em princípios seculares, que permitem a optimização energética

dos edifícios e ao mesmo tempo os padrões de conforto ambiente.

Integrando estrategicamente os diversos factores naturais e utilizando técnicas de

design passivo (técnicas que aproveitam factores ambientais naturais com o objectivo

Page 48: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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promover um bom desempenho ambiental do edifício) como a orientação do edifício,

correcto dimensionamento dos vãos, entre outras, a arquitectura bioclimática procura

proporcionar, durante todo o ano, as melhores condições de conforto (i.e. o conforto

térmico, conforto acústico, iluminação, etc.) aos seus utilizadores.

Aplicando estes princípios correctamente é possível obter as melhores condições de

conforto com o mínimo consumo de energia possível, o que economicamente se

reflecte numa redução dos custos de manutenção a nível da temperatura, iluminação e

ventilação do edifício.

É também possível conjugar estes princípios com medidas de design activo (i.e.

medidas que recorrem a equipamentos instalados nos edifícios, de maneira a captar e

fornecer energia ao edifício). Este tipo de medidas assenta no aproveitamento das

fontes de energia renováveis, mantendo o princípio de interacção com o ambiente

envolvente.

Um dos objectivos principais na concepção de um edifício bioclimático é garantir as

melhores condições de conforto aos seus utilizadores, tendo em conta que estas

variam dependendo do clima, da tipologia construtiva e ainda da sua utilização. Estes

três parâmetros devem ser tidos em conta desde o início da concepção do edifício.

A concepção de um edifício dito bioclimático, deve então ter em conta as condições

climáticas do local e da sua interacção com o clima, procurando adequar o edifício ao

clima local. Desta maneira o edifício irá tirar partido das condições climáticas do local,

recorrendo ao mínimo de energia possível, de maneira a garantir o conforto desejado

para os seus utilizadores.

Em Portugal, o clima temperado mediterrânico proporciona temperaturas médias

bastante amenas (entre 18 e 26º graus centígrados). Uma construção adequada, que

promova ganhos solares durante a o Inverno, e elimine os ganhos excessivos durante

o Verão, facilmente proporciona boas condições de conforto ambiental ao longo de

todo o ano.

A disponibilidade de radiação solar em Portugal é das mais altas em toda a Europa,

com um número médio de horas de sol, que varia entre 2.200 e 3.000 horas por ano,

enquanto que por exemplo na Alemanha, essa média varia entre as 1.200 e as 1.700

horas por ano. É de referir que na Alemanha a radiação solar é muito mais explorada

do que em Portugal, apesar das condições mais propícias para tal no nosso pais.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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O clima em Portugal é um recurso que oferece boas condições de temperatura e

humidades relativas médias, assim como uma excelente radiação solar, ao contrario

do que acontece na maioria do território Europeu. É imperativo que se explore estas

condições climáticas, de maneira a reduzir as necessidades energéticas dos edifícios

no nosso pais.

Figura 29: Radiação Solar anual média na Europa

Fonte: (PVGIS European Communities, 2001 - 2007)

Podemos observar na Figura 29 que a região de Lisboa se insere neste contexto,

apresentando um clima temperado, que beneficia da presença marítima que ajuda a

suavizar as amplitudes térmicas nesta zona ao longo de todo o ano, e com níveis

elevados de radiação solar. Em outras zonas com climas mais frios, ou com climas

mais quentes, é igualmente importante a aplicação dos princípios de arquitectura

bioclimática, devendo ser efectuado uma abordagem diferente consoante o clima local.

Page 50: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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3.2. ESTRATÉGIAS DE DESIGN PASSIVO PARA O CLIMA DE LISBOA

As técnicas de design passivo procuram, como já referido, reduzir os consumos

energéticos dos edifícios e simultaneamente, proporcionar as melhores condições de

conforto possível, ao nível da temperatura, iluminação e ventilação, aos seus

utilizadores.

As técnicas a seguir descritas, são algumas das técnicas utilizadas mais

frequentemente, e dizem respeito sobretudo à climatização do interior dos edifícios,

procurando encontrar soluções para o arrefecimento destes no Verão, articuladas com

as necessidades de aquecimento no Inverno. Estas contribuem não só para a

climatização, mas também para a boa iluminação e ventilação dos edifícios.

A forma e orientação do edifício, dimensionamento e orientação dos vãos

envidraçados, sombreamentos e isolamento térmico, são técnicas que permitem o

arrefecimento do edifício, através da protecção ao calor, assim como o aquecimento

através da promoção de ganhos solares.

A ventilação natural e inércia térmica são térmicas que permitem sobretudo o

arrefecimento do edifício, através da dissipação de calor.

Forma e orientação do edifício

De maneira a optimizar os ganhos solares ao longo de todo o ano, o que resulta num

maior conforto térmico do edifício, reduzindo simultaneamente as suas necessidades

energéticas, deve-se privilegiar a orientação a Sul.

A fachada principal e espaços de permanência devem ter preferencialmente esta

orientação, de maneira a beneficiar dos ganhos solares durante o Inverno, em que o

ângulo de incidência é mais baixo e permite ganhos solares ao longo de todo o dia, e

proteger a mesma da radiação solar durante o Verão, estação em que o ângulo de

incidência solar é mais inclinado, sendo mais fácil de evitar a radiação solar directa

nos vãos com esta orientação.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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Figura 30: Incidência dos raios solares em Lisboa

(à esquerda) no Verão, (à direita) no Inverno Fonte: (Gonçalves e Graça, 2004)

Quando não é possível determinar a orientação dos edifícios, no caso de edifícios em

áreas urbanas consolidadas, como é o caso do Bairro Alto, é importante considerar a

incidência da radiação solar em todas as orientações, definindo a melhor a orientação

possível para os principais espaços de permanência, interessando que estes sejam

orientados para a exposição solar mais vantajosa.

Figura 30: Rua do Diário de Notícias; Travessa dos Fieis de Deus

Fonte: (Autor, 2010)

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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Dimensionamento e tipo dos vãos envidraçados

O dimensionamento e tipo dos vãos envidraçados, quando bem aplicada, é uma

medida que contribui consideravelmente para o conforto em espaços interiores. É

através destes que se controla a luminosidade dos espaços interiores, e que se

efectua a relação visual entre interior e exterior. É também através dos vãos

envidraçados que o edifício tem a interacção mais directa com o clima, pelo que o um

correcto dimensionamento, tipo e orientação dos vãos envidraçados, contribui para um

melhor desempenho energético do edifício.

Os vãos orientados a Sul são os que permitem mais ganhos por radiação solar no

Inverno (quando o Sol está mais baixo) e que evita a radiação solar directa mais

facilmente no Verão (quando o sol está mais alto). Deve ser feito um dimensionamento

correcto dos vãos virados a Sul, que no caso do clima de Lisboa não devem exceder

os 35% da área total da fachada, para evitar ganhos solares excessivos durante o

Verão. É também importante que os vãos com esta orientação disponham de um

sistema de sombreamento exterior, de maneira a controlar o excesso de ganhos

solares no Verão, as perdas de calor no Inverno, e controlar o grau de entrada de luz

natural.

Os vãos envidraçados orientadas a Norte são as que causam mais perdas e nunca

têm ganhos energéticos pela radiação solar, pelo que o dimensionamento destes deve

também ser bem controlado. Por outro lado estes vãos permitem garantir uma boa

ventilação natural dos espaços interiores, e fornecem uma excelente iluminação

natural difusa, que contribui para um bom conforto visual.

Os vãos envidraçados orientados a Nascente e Poente são os que recebem uma

radiação solar directa mais constante ao longo do ano – os vãos orientados a

Nascente ao longo da manhã, e os vãos orientados a Poente ao longo da tarde. É

importante uma correcto dimensionamento e sobretudo uma boa protecção destes

vãos, através de sombreamento pelo exterior, de maneira a promover os ganhos

solares durante o Invernos, e proteger principalmente os vãos orientado a Poente

durante os meses mais quentes. O ângulo de incidência dos raios solares nestas

orientações é mais directo, pelo pode causar desconforto também a nível visual, sendo

também neste aspecto importante o sombreamento destes vãos.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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Figura 31: Incidência média anual da radiação solar em plano vertical

Fonte: (Tirone, 2007)

Não sendo possível alterar a dimensão e orientação dos vãos envidraçados, como no

caso dos edifícios do Bairro Alto, é possível substituir os seus constituintes por

caixilhos de melhor qualidade e dotar estes de vidro duplo, de maneira a conferir um

melhor comportamento térmico e acústico ao edifício.

Figura 32: Bairro Alto: Exemplos de vãos em mau estado de conservação

Fonte: (Autor, 2010)

Sombreamentos

Um sombreamento eficaz é um elemento importante, pois os vãos envidraçados são

os elementos que promovem o contacto visual com o exterior, fornecem a entrada de

luz natural e recebem o calor da radiação solar necessário no Inverno. A protecção

dos vãos envidraçados torna-se então essencial nas fachadas com maior exposição

solar – Sul, Nascente e Poente. O sombreamento, de maneira a ser mais eficaz, deve

ser feito pelo exterior, para cortar a incidência da radiação solar antes de esta

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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atravessar o vidro – uma vez que os raios solares ultrapassam o vidro, o calor

acumulado não volta a sair, ficando retido no interior.

Ao nível do conforto visual, é importante que a iluminação natural seja controlada

pelos sistemas de sombreamento reguláveis, de maneira a que esta nunca seja

escassa nem seja demasiado forte, provocando desconforto conforto visual.

Existe uma grande variedade de sistemas de sombreamento a aplicar no exterior dos

vãos envidraçados como portadas, persianas, venezianas, estores laminados

orientáveis, etc. É também possível realizar o sombreamento exterior através de

elementos da própria construção, com o uso de palas projectadas no topo das janelas,

ou através de varandas.

Figura 33: Efeito da radiação solar difusa, controlada por um sistema de sombreamento regulável (à

esquerda); Efeito da radiação solar directa, sem a protecção do sombreamento (à direita) Fonte: (Tirone, 2007)

Figura 34: Exemplos de sombreamento pelo exterior

Fonte: (http://windows.lbl.gov/)

Quando não é possível aplicar sombreamentos exteriores, interessa aplicá-los pelo

interior, cumprindo na mesma a sua função de controlar a iluminação natural dos

espaços e conferir privacidade, apesar de ver a sua eficácia como medida para

controlar os ganhos térmicos através dos vãos envidraçados bastante reduzida. Outra

maneira eficaz de se efectuar o sombreamento exterior é através de varandas, como

acontece em alguns edifícios do Bairro Alto.

Page 55: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

55

Figura 35: Bairro Alto: Exemplos de vãos com sombreamento interior e sem sombreamento

Fonte: (Autor, 2010)

Isolamento térmico

O isolamento térmico, de preferência aplicado de modo contínuo pelo exterior, é um

elemento que pode contribuir bastante para o conforto térmico e optimização

energética de um edifício. A correcta utilização deste elemento apresenta vantagens

como:

• Eliminação das pontes térmicas, que podem causar o aparecimento de

condensações e patologias nas paredes interiores, fruto das condensações;

• Protecção física dos elementos maciços do edifício face às amplitudes térmicas

mais fortes e intempéries, garantindo uma maior longevidade dos materiais

constituintes e do edifício;

• Contribuição para a optimização do efeito da inércia térmica – conforme

referido anteriormente;

• Possibilidade de aplicação na reabilitação de edifícios que não tenham ou

apresentem um isolamento térmico pouco eficaz.

O isolamento térmico, mesmo que não seja possível aplicar pelo exterior, deve ser

aplicado em cavidade nas paredes (processo mais comum), ou pelo interior no caso

das coberturas, de maneira a contribuir para um melhor comportamento térmico do

edifício.

Page 56: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

56

Ventilação natural

A ventilação natural é um processo através do qual é possível arrefecer os edifícios,

através da dissipação de calor promovida pelas diferenças de temperatura interior e

exterior, onde há movimentação e troca de fluxos de ar quente e ar fresco. Este

processo é importante ser explorado no clima de Lisboa, onde durante o Verão

existem amplitudes térmicas consideráveis entre o dia e a noite. Esta técnica deve ser

efectuada durante a noite, quando a temperatura exterior é inferior a temperatura

interior do edifício, de maneira a que o calor acumulado durante o dia seja dissipado.

O dimensionamento e posicionamento dos vãos é muito importante para que se

consiga uma boa ventilação natural, que genericamente se divide em duas técnicas –

ventilação simples ou ventilação transversal.

A ventilação simples – no caso de haver aberturas em apenas uma parede – é menos

eficaz que a ventilação transversal, sendo preferível nestes casos ter vãos espaçados,

o que melhora o escoamento das massas de ar.

A ventilação transversal (ou ventilação cruzada) torna-se bastante eficaz ao aproveitar

as diferenças de temperatura entre ar interior e exterior, ou entre o ar junta da fachada

exposta ao sol e o ar junto da fachada oposta, que estará em sombra, com

temperaturas mais reduzidas.

Figura 36: Ventilação simples com uma abertura (à esquerda) com duas aberturas (à direita)

Fonte: (Gonçalves e Graça, 2004)

Figura 37: Ventilação simples (à esquerda); Ventilação cruzada (à direita)

Fonte: (http://www.passivent.com)

Page 57: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

57

Inércia Térmica

A inércia térmica é uma característica que é particularmente eficaz em climas sujeitos

a amplitudes térmicas significativas, como é o caso do clima de Lisboa. A utilização de

materiais pesados e maciços confere a inércia térmica dos edifícios, contribuindo para

espaços interiores com uma boa estabilidade térmica.

A massa do edifício interage lentamente com as temperaturas que a rodeia,

armazenando a temperatura média ambiental, visto os picos de temperatura se darem

apenas durante uma pequena parte do dia. A temperatura média vai sendo libertada

continuamente para os espaços interiores, contribuindo para arrefecer o edifício

quando a temperatura exterior é mais alta, e para aquecer o edifício quando a

temperatura exterior é mais baixa.

Para que o efeito da inércia térmica seja maximizado, é preferível que seja aplicado

um isolamento térmico de forma contínua e no pelo exterior, de maneira a proteger os

elementos maciços do edifício das fortes amplitudes térmicas características do nosso

clima.

Figura 38: Inércia térmica de manhã à tarde e à noite

Fonte: (Tirone, 2007)

A imagem da esquerda corresponde ao efeito da inércia térmica durante a manhã, em

que o calor é armazenado nos elementos maciços da construção, sendo apenas

libertado quando a temperatura do ar interior for inferior à temperatura da massa do

edifício, promovendo sempre o equilíbrio térmico.

A imagem do meio corresponde ao período da tarde, em que o calor é acumulado nos

elementos maciços do edifício ao longo do dia, aumentando o conforto térmico interior.

A imagem da direita corresponde ao período nocturno, no caso dos dias de Verão, em

que a ventilação permite a libertação do calor acumulado pelos elementos maciços

durante o dia, para que no dia seguinte armazene novamente o calor do interior do

edifício.

Page 58: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

58

Os edifícios do Bairro Alto, com a sua estrutura robusta e paredes grossas,

apresentam uma excelente inércia térmica, sendo importante que se promova uma

boa ventilação natural, para que esta característica contribua para o bom desempenho

térmico destes edifícios.

Figura 39: Bairro Alto: Exemplos de edifícios com paredes grossas

Fonte: (Autor, 2010)

Paredes Trombe para aquecimento

A Parede Trombe é um elemento que tem como finalidade armazenar calor

proveniente da irradiação solar durante os dias de Inverno. Esta é composta – da

seguinte ordem, do exterior para o um interior – por um vão envidraçado, uma caixa de

ar e uma parede de betão, que deve ser pintada na face exterior de uma cor escura

para que potencie a absorção da radiação solar. A radiação solar ao atravessar o vão

envidraçado, fica acumulada na caixa de ar, penetrando progressivamente na parede

de betão que, por sua vez, libertará o calor acumulado na mesma durante a noite.

A Parede Trombe, para funcionar correctamente, deve ser orientada a Sul, pois é com

esta orientação que é possível beneficiar da radiação solar ao longo do Inverno

(quando apresenta menor inclinação) e evitar os ganhos solares durante o Verão (a

grande inclinação dos raios solares resultam na reflexão da maioria dos mesmos).

Page 59: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

59

Figura 40: Parede trombe a ocupar parte do vão (à esquerda) de dia e de noite; a ocupar totalidade do

vão (à direita) de dia e de noite Fonte: (Tirone, 2007)

3.3. ESTRATÉGIAS ACTIVAS: SISTEMAS DE ENERGIA RENOVÁVEL

A utilização de estratégias activas como complemento às estratégias de design

passivo, é uma medida que permite contribuir para o conforto ambiental e reduzir o

consumo de energias não renováveis do edifício, o que é vantajoso para o meio

ambiente, assim como a nível económico para os seus utilizadores.

As estratégias activas utilizadas em edifícios, passam pela utilização de equipamentos

que aproveitam a energia solar, pelo que, no nosso pais as condições para a utilização

destes equipamentos óptimas, fruto da excelente enorme disponibilidade de radiação

solar ao longo de todo o ano.

Apesar de ser uma medida extremamente vantajosa a nível ambiental, a utilização

destes sistemas activos ainda está longe de ter alguma expressão em Portugal.

Sistema Solar Térmico

O Sistema Solar Térmico pode ser utilizado para aquecer as águas quentes sanitárias

e para abastecer os sistemas de aquecimento central. Os equipamentos mais comuns

utilizados no aquecimento de água são os esquentadores e caldeiras murais gás e

termoacumuladores a gás e eléctricos. Estes equipamentos representam cerca de

50% do consumo energético mensal das famílias portuguesas, pelo que a utilização de

sistemas solares térmicos seria uma contribuição importante na redução da factura

energética mensal, e também ao nível ambiental, se utilizados em larga escala.

A disponibilidade de radiação solar em Portugal está bem acima da média Europeia,

com um número médio anual de horas de Sol de aproximadamente 2500 horas, o que

Page 60: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

60

significa que o potencial para a utilização destes sistemas é muito elevado. Estes

equipamentos funcionam com dois componentes essenciais: o colector solar para

captação da energia solar e o depósito para armazenamento de água. Normalmente

instalados nas coberturas dos edifícios, devem ser orientados a Sul, de maneira a

captar o máximo de energia solar, que se mantém no colector solar. A energia captada

aquece o fluído que circula nos tubos interiores, aquecendo por sua vez a água no

depósito para armazenamento de água quente.

Os sistemas solares mais utilizados são os monoblocos – sistemas em que a captação

e armazenamento funcionam na mesma unidade – e os sistemas colectivos –

sistemas que servem mais do que uma habitação no mesmo edifício.

Figura 41: Sistema de colectores com depósito comum (à esquerda); Sistema de colectores com

depósitos individuais (à direita) Fonte: (Tirone, 2007)

Os colectores solares podem armazenar mais ou menos energia, consoante o seu

dimensionamento. O seu dimensionamento normalmente é feito de maneira a cobrir as

necessidades de água quente durante o Verão, sendo que no resto do ano, serve de

apoio ao sistema energético convencional, podendo satisfazer entre 50 a 80% das

necessidades de aquecimento de água.

O período de tempo necessário para recuperar o investimento da instalação destes

sistemas situa-se entre os 5 e os 7 anos, sendo já obrigatória a sua aplicação no caso

de construções novas.

Page 61: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

61

Figura 42: Colectores solares instalados na cobertura do edifício Torre Verde

Fonte: (Tirone, 2007)

Sistema Fotovoltaico

Este sistema consiste na conversão directa da energia solar captada pelos painéis

fotovoltaicos em energia eléctrica. A energia convertida é armazenada em baterias,

podendo ser utilizada directamente no próprio edifício, ou ser vendida à rede pública.

Os painéis fotovoltaicos, tal como os colectores solares, são normalmente colocados

na cobertura dos edifícios, orientados a Sul, como uma inclinação entre os 30º e 45º

de maneira a tirar partido do máximo de radiação solar possível. A energia fotovoltaica

é vista como uma das mais promissoras fontes de energia renováveis, apresentando

vantagens como a quase total ausência de poluição; a ausência de partes móveis

susceptíveis de partir; não produzir cheiros ou ruídos, a reduzida necessidade

manutenção; o tempo de vida elevado; a possibilidade de aplicação de células

fotovoltaicas nos edifícios é bastante versátil, o que permite haver uma grande

liberdade criativa na concepção de edifícios; um campo de aplicação muito variado ao

nível de mobiliário urbano.

Esta tecnologia apresenta ainda, no entanto, um período de retorno elevado – cerca

de 16 anos. Este factor torna-se num desincentivo grande à sua utilização, prevendo-

se, no entanto, que haja uma redução deste período de retorno para níveis aceitáveis

nos próximos anos.

Figura 43: Exemplos de aplicação do sistema fotovoltaico

Fonte: (http://www.energiasrenovaveis.com)

Page 62: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

62

Os sistemas de energia renovável referidas são, como já referido, um excelente

complemento às medidas de design passivo, de maneira a optimizar o desempenho e

eficiência energética dos edifícios. Estas podem ser aplicadas de diversas maneiras,

contribuindo para a estética exterior dos edifícios.

No caso concreto do Bairro Alto, onde o desenho original dos edifícios faz parte do

património cultural deste bairro, a aplicabilidade destas medidas activas é complexa,

visto estas poderem ser bastante intrusivas ao nível visual. Os colectores solares

térmicos e painéis fotovoltaicos, normalmente aplicados nas coberturas dos edifícios,

poderão não ser em alguns casos as soluções mais indicadas para estes edifícios. Há

também a possibilidade de aplicar os painéis no interior dos quarteirões, onde o seu

constrangimento ao nível visual é mais pequeno, perdendo estes, no entanto, um

pouco do seu rendimento. Há ainda a possibilidade de integrar células fotovoltaicas

nas coberturas e fachadas, aplicando-as nas próprias telhas no caso das coberturas e

vãos envidraçados no caso das fachadas. Esta alternativa aos painéis comuns é, no

entanto, mais onerosa, pelo que a aplicação destas medidas nos edifícios do Bairro

Alto, deve ser bem ponderada.

Page 63: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

63

4. TRABALHO DE CAMPO

4.1. OBJECTIVOS

O âmbito de estudo do presente trabalho de campo centra-se nas características e

problemas do edificado de Bairro Alto, e no seu funcionamento enquanto espaço

urbano, de maneira a encontrar respostas que sirvam de base para a reabilitação do

seu edificado, assim como para a revitalização social, económica, cultural e ambiental

do Bairro Alto.

Desta maneira, o presente estudo procura responder aos seguintes objectivos:

1. Estudar o desempenho ambiental e conforto dos edifícios do Bairro Alto;

2. Verificar o estado de conservação e aspectos construtivos dos edifícios do

Bairro Alto;

3. Analisar os aspectos sociais do Bairro Alto;

4. Elaborar recomendações de projecto, que dêem resposta aos problemas

identificados.

O estudo efectuado pretende elaborar princípios de intervenção para a reabilitação e

revitalização do Bairro Alto, baseados nos princípios da sustentabilidade, quer ao nível

da reabilitação ambiental do seu edificado, quer ao nível da revitalização do seu

espaço urbano.

Page 64: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

64

4.2. METODOLOGIA

Através da metodologia a seguir descrita, serão identificados e sistematizados os

problemas e carências do Bairro Alto enquanto espaço urbano e do seu edificado,

identificados com base nos seus principais utilizadores, ou seja, moradores,

comerciantes e frequentadores. Com base nas informações recolhidas, serão então

sugeridas possíveis soluções, definidas como linhas gerais de intervenção para os

problemas urbanos do Bairro Alto e problemas ambientais do seu edificado.

Esta abordagem permitirá perceber quais os aspectos das questões em estudo mais

importantes para os diversos utilizadores do Bairro Alto, assim como elaborar com

estratégias de reabilitação e sustentabilidade não apenas para o Bairro Alto, mas

principalmente focadas nas pessoas que o frequentam e habitam.

Para o presente estudo procedi à recolha de opiniões relativamente ao comportamento

e funcionamento do edificado do Bairro Alto e do seu espaço urbano, através da

metodologia a seguir descrita:

1. Recolha bibliográfica acerca do método de elaboração de questionários;

2. Realização de um entrevista a duas arquitectas da Unidade de Projecto do

Bairro Alto e Bica;

3. Elaboração de questionários aos moradores, comerciantes e frequentadores do

Bairro Alto (Anexos 1, 2, 3);

4. Sistematização, análise e interpretação dos resultados obtidos nos

questionários efectuados.

Os questionários afirmam-se como a cerne do presente trabalho, tendo sido

efectuados um total de 154 questionários, distribuídos em 49 questionários a

moradores, 50 questionários a comerciantes e 55 questionários a frequentadores , de

maneira a reunir uma amostra o mais significativa possível.

Esta foi a amostra possível reunir, pelo que, com base nesta, foi efectuada um análise

estatística descritiva dos resultados. Este estudo poderá ser uma boa base para um

estudo futuro, com uma amostra maior e um tratamento estatístico mais apropriado,

visando obter correlações significativas entre os vários parâmetros.

Page 65: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

65

Os questionários elaborados foram efectuados com os seguintes objectivos:

Moradores e Comerciantes:

1. Aferir o grau de satisfação dos utilizadores relativamente ao conforto térmico

dos seus edifícios e perceber quais as práticas de actuação dos inquiridos em

relação às condições ambientais dos mesmos;

2. Aferir o grau de satisfação dos utilizadores relativamente à qualidade do ar e

iluminação natural;

3. Avaliar o estado de conservação dos edifícios dos utilizadores inquiridos e

perceber quais os elementos construtivos em pior estado;

4. Avaliar a satisfação dos utilizadores com aspectos relacionados com a vivência

e funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano, que tenham

implicações na sustentabilidade do bairro;

5. Observar as manifestações de maior desagrado e recolher opiniões de como

melhorar os parâmetros avaliados.

Frequentadores:

1. Observar a opinião destes utilizadores mais esporádicos relativamente ao

funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano e das condições físicas

do seu edificado;

2. Recolher sugestões de como melhorar o Bairro Alto nos parâmetros avaliados.

A estrutura dos questionários destinados aos moradores e comerciantes é

semelhante, estando quase todas as perguntas agrupadas por temas, havendo no

entanto algumas questões relativas ao mesmo tema que surgem em momentos

diferentes, de maneira a não conduzir os inquiridos a certas respostas. As respostas

dadas pelos utilizadores foram tratadas estatisticamente, sendo apresentadas em

gráficos de barras. A análise feita é uma análise descritiva, onde se procura perceber

o porquê dos resultados obtidos. A estrutura dos questionários apresenta-se então da

seguinte forma:

As questões 1 a 4 têm como principais objectivos avaliar o comportamento do

edificado do Bairro Alto em diversos factores determinantes para o conforto dos seus

utilizadores, avaliar o estado de conservação geral e perceber quais os principais

problemas físicos do edificado do Bairro Alto.

Page 66: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

66

As questões 5 a 8 pretendem aferir o grau de satisfação dos utilizadores com o

conforto térmico do edificado do Bairro Alto durante o Inverno e de outros indicadores

que estão directamente relacionados com o conforto térmico dos edifícios, assim como

reunir sugestões para a melhoria da temperatura do edificado do Bairro Alto neste

período.

As questões 9 a 13 foram efectuadas com o mesmo propósito das anteriores, mas

relativamente ao período do Verão, assim como para perceber que tipo de acções são

efectuadas pelos utilizadores de maneira a melhorarem a temperatura no interior dos

edifícios e suas consequências.

A questão 14 pretende aferir o grau de satisfação dos utilizadores com o

funcionamento de alguns agentes do Bairro Alto enquanto espaço urbano, ao nível da

sua oferta e proximidade, assim como de questões relacionadas com a mobilidade no

Bairro Alto, de maneira a perceber se a dinâmica urbana existente é ou não

satisfatória.

A questão 15 foi efectuada para perceber se para os utilizadores do bairro existe

alguma harmonia entre a vida diurna e nocturna, ou se por outro lado esta entra em

conflito, e para saber quais os principais problemas desta relação enunciados pelos

utilizadores do Bairro Alto e/ou sugestões para melhorar esta relação.

A questão 16 foi efectuado com o propósito de aferir o grau de satisfação dos

utilizadores com o conforto acústico dos edifícios do Bairro Alto, e quais os principais

agentes que contribuem para um possível desconforto neste campo.

A questão 17 pretende perceber se a circulação pedonal e automóvel no Bairro Alto

coexistem harmoniosamente ou se de alguma forma existem constrangimentos que

tornem esta relação pouco eficaz, assim como, para este caso, perceber quais as

razões para que esta relação não seja a melhor.

A questão 18 pretende avaliar o grau de satisfação dos utilizadores com a segurança

no Bairro Alto, e perceber quais os agentes que contribuem para que haja um

sentimento de insegurança por parte dos utilizadores.

A questão 19 pretende reunir todo o tipo sugestões por parte dos utilizadores do Bairro

Alto, com vista à melhoria das condições e conforto do edificado do Bairro Alto, assim

como das questões relacionadas com o Bairro Alto enquanto espaço urbano, visto

estes serem os principais afectados com os possíveis problemas que afectem o Bairro

Alto.

Page 67: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

67

Os questionários efectuado aos frequentadores do Bairro Alto consiste apenas em 3

perguntas de resposta aberta, tendo estas sido efectuadas com o seguinte propósito:

A questão 1 pretende perceber qual a opinião deste grupo relativamente à relação

entre vida diurna e nocturna do Bairro Alto, sabendo que este grupo de frequentadores

abordará esta questão de maneira diferente, vista da óptica de quem frequenta mas

não habita o bairro, perceber o que estes consideram funcionar melhor e pior na

relação entre a vida diurna e vida nocturna do Bairro Alto e reunir sugestões com vista

à melhoria desta questão.

A questão 2 foi efectuada de maneira a perceber qual a opinião das pessoas que

visitam o Bairro Alto relativamente às condições e desempenho ambiental do seu

edificado, e para reunir sugestões diversas de como melhorar as condições do

mesmo.

A questão 3 foi efectuada para reunir sugestões dos frequentadores relativamente ao

funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano. Esta questão é mais aberta

que as anteriores, de maneira a perceber quais as questões que os frequentadores

inquiridos identificam ou denunciam como problemas funcionais do espaço urbano do

Bairro Alto.

Page 68: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

68

4.3. ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.3.1. Questionários a Moradores e Comerciantes

4.3.1.1. Questões Ambientais

Temperatura

Esta pergunta relativa às questões ambientais, insere-se na questão 1, onde foi pedido

aos utilizadores para classificarem os diferentes factores enunciados numa escala que

varia entre 1 e 5, correspondendo respectivamente à pior e melhor classificação.

Moradores Comerciantes

A quase totalidade dos moradores classificou a temperatura das suas habitações em 2

e 3. Estes resultados exprimem uma opinião algo neutra acerca do conforto térmico

das suas habitações, demonstrando que não se encontram muito satisfeitos nem

muito insatisfeitos com a temperatura das suas habitações ao longo de todo o ano. A

expressão que o valor 2 tem nas respostas dos moradores, demonstra, no entanto,

uma tendência para estes considerarem a temperatura um pouco negativa. Este

resultado poderá indicar que os habitantes do Bairro Alto sentem algum frio durante o

Inverno e calor durante o Verão nas suas habitações, não havendo portanto

satisfação com o desempenho térmico dos edifícios.

Sendo a temperatura um factor influenciado por diversos factores, como o isolamento

térmico, inércia térmica, orientação do edifício, orientação dos vãos, qualidade dos

caixilhos e envidraçados, entre outros, assim como controlável pelos utilizadores

através da utilização de aparelhos de aquecimento e/ou arrefecimento, é possível que

os edifícios de habitação do Bairro Alto tenham algumas carências nas características

construtivas enunciadas que influenciam o conforto térmico.

0

5

10

15

20

25

1 2 3 4 5 0 5

10 15 20 25 30

1 2 3 4 5

Page 69: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

69

Figura 44: Bairro Alto: Exemplos de vãos em mau estado de conservação; Incidência solar

Fonte: (Autor, 2010)

Quando inquiridos acerca da temperatura no seus estabelecimentos, cerca de metade

dos comerciantes classificaram-na em 3, tendo a outra metade se dividido

praticamente entre a classificação 2 e 4, havendo 2 comerciantes que a classificam

em 1 e apenas 1 comerciante que a classifica em 5. Este resultado demonstra que os

comerciantes consideram que a temperatura dos seus espaços comerciais ao longo

do ano é razoável, não havendo uma insatisfação nem satisfação geral relativamente

a este factor.

As razões enunciadas no caso da temperatura nas habitações do Bairro Alto poderão

ser também válidas no caso dos espaços comerciais.

Figura 45: Rua da Atalaia, 81 e 104

Fonte: (Autor, 2010)

Ao compararmos a classificação dada por moradores e comerciantes à temperatura no

interior dos edifícios, verificamos que os comerciantes dão uma classificação mais

positiva, o que poderá acontecer devido às melhores condições de conservação no

Page 70: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

70

geral, dos espaços comerciais relativamente às habitações do Bairro Alto. Esta

diferença poderá ser também causada, no inverno, por factores como o funcionamento

de máquinas necessárias nos espaços comerciais, como por ex. frigoríficos no caso

de mercearias, que libertam calor com o seu funcionamento, e/ou a presença de mais

pessoas no mesmo espaço, o que é também uma fonte de calor que influencia a

temperatura interior dos espaços. No verão, a temperatura nos espaços comerciais

poderá ser também melhor do que nos edifícios de habitação, visto os espaços

comerciais se situarem no piso térreo, recebendo menos radiação solar do que nos

pisos superiores, ou pelo facto de estes poderem ter sempre as portas e/ou janelas

abertas promovendo a ventilação natural que ajuda a arrefecer a temperatura interior.

Questão 5: Conforto térmico

Nesta questão foi pedido aos inquiridos para classificarem a satisfação com o conforto

térmico durante o Inverno no interior dos seus edifícios, de acordo com uma escala

que varia entre o “Muito satisfeito” e o “Muito insatisfeito”.

Moradores Comerciantes

A quase totalidade dos moradores inquiridos escolheu as opções “Um pouco

insatisfeito”, “Insatisfeito”, havendo alguns a escolher a opção “Muito insatisfeito”,

manifestando uma grau de insatisfação elevado com a temperatura dos seus edifícios.

Este resultado demonstra que os edifícios do Bairro Alto poderão ter carências nos

aspectos construtivos que contribuem o desempenho térmico dos mesmos, como é o

caso das portas, janelas e caixilhos, isolamento térmico, entre outros. Sendo a

temperatura um factor fundamental para o conforto dos moradores, torna-se

imperativo adoptar medidas que promovam uma melhoria substancial na temperatura

das habitações durante o Inverno. É de referir ainda que os edifícios do Bairro Alto

possuem uma boa inércia térmica, devido às suas paredes grossas, o que poderá ser

0

5

10

15

20

Muito satisfeito

Satisfeito Um pouco insatisfeito

Insatisfeito Muito insatisfeito

0

5

10

15

20

25

Muito satisfeito

Satisfeito Um pouco insatisfeito

Insatisfeito Muito insatisfeito

Page 71: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

71

um sinal de os edifícios terão carências graves ao nível dos aspectos anteriormente

enunciados.

Figura 46: Bairro Alto: Exemplos de elementos em mau estado de conservação

Fonte: (Autor, 2010)

Analisando o gráfico, verificamos que 15 dos comerciantes estão ‘Satisfeitos’ com a

temperatura dos seus estabelecimentos no Inverno, havendo 21 ‘Um pouco

insatisfeitos’, 12 ‘Insatisfeitos’ e 2 ‘Muito insatisfeitos’.

O resultado aponta também para o mau funcionamento destes espaços ao nível do

conforto térmico, podendo as razões referidas relativamente aos moradores serem

igualmente válidas para o caso dos comerciantes.

Um factor que não está directamente ligado às características dos edifícios, mas que

poderá contribuir para que haja insatisfação face à temperatura durante o Inverno, é o

próprio funcionamento dos estabelecimentos comerciais, com entrada e saída

constante dos clientes, o que leva a que o calor seja constantemente libertado para o

exterior.

Figura 47: Bairro Alto: Exemplos de mercearias em mau estado de conservação

Fonte: (Autor, 2010)

Page 72: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

72

Ao comparar os resultados, é possível verificar que estes são bastante parecidos,

havendo uma maior satisfação por parte dos comerciantes, apesar de muito ligeira.

Além dos aspectos já referidos, que influenciam a temperatura no interior dos edifícios

no Inverno, o estado de conservação poderá ser outro factor que terá bastante

influência no desempenho térmico dos edifícios, quer no caso dos edifícios de

habitação, quer nos espaços comerciais.

O aproveitamento da radiação solar através da orientação do próprio edifício é

naturalmente um factor que não é possível controlar, visto este ser um espaço urbano

consolidado, havendo edifícios que terão uma exposição bastante mais favorável do

que outros, para que haja um contributo da radiação solar para o aquecimento dos

mesmos, o que poderá explicar a dispersão dos resultados apresentados. É

importante que se tomem outras medidas como aplicação de isolamento térmico nas

coberturas, correcto dimensionamento dos vãos envidraçados, aplicação de vidros

duplos e caixilhos de qualidade, aplicação de colectores solares e fotovoltaicos, entre

outras, que permitam compensar esta condicionante.

Questão 6: Conforto térmico

Foi pedido nesta questão aos moradores e comerciantes para indicarem qual a

frequência com que utilizam aparelhos de aquecimento durante o Inverno, numa

escala que varia entre “Muito frequentemente” e “Nunca”.

Moradores Comerciantes

A maioria dos moradores assinalou as opções “Frequentemente” e “Por vezes”,

demonstrando que os edifícios por si só estão longe de proporcionar um conforto

térmico satisfatório durante o Inverno. Sendo este um indicador do conforto térmico

numa habitação, é importante não esquecer que o uso de aparelhos de aquecimento

acarreta consigo gastos monetários para os utilizadores, o que não nos permite

0

5

10

15

20

Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca

0

5

10

15

20

Muito freq. Freq. Por vezes Raramente Nunca

Page 73: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

73

concluir se esta é a frequência média de utilização necessária para satisfazer as

necessidades de conforto térmico no Inverno.

Através da análise das respostas dadas não é possível encontrar um padrão para a

frequência com que os comerciantes utilizam aparelhos de aquecimento, havendo

antes uma grande dispersão nas respostas dadas, sendo possível, no entanto,

verificar uma tendência para estes não serem utilizados regularmente. Tendo em

conta os gastos energéticos e monetários ligados ao uso de aparelhos de

aquecimento, e o pouco tempo de permanência por parte dos clientes nestes espaços,

é compreensível que estes não sejam utilizados com frequência, apesar da relativa

insatisfação com a temperatura por parte dos comerciantes.

Comparando as respostas de moradores e comerciantes, é possível observar que os

moradores utilizam aparelhos de aquecimento com maior frequência, o que poderá ser

um indicador de que há uma insatisfação maior com a temperatura durante o Inverno

por parte dos mesmos.

Questão 7: Conforto térmico no Inverno

Nesta questão foi pedido aos moradores para a indicarem a frequência com que

sentem frio durante o Inverno, de acordo com uma escala que varia “Muito

frequentemente” e “Nunca”.

Moradores Comerciantes

A maioria dos moradores inquiridos dividiu-se entre as opções “Frequentemente” e

“Por vezes”, tendo alguns constatado que sentem frio “Muito frequentemente” dentro

de casa, sendo o poucos os que “Raramente” sentem frio e, nenhum o que afirma

“Nunca” ter frio dentro da sua habitação.

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Page 74: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

74

Os resultados demonstram mais uma vez que o conforto térmico durante o Inverno

está longe de ser satisfatório nas habitações do Bairro Alto, alertando para a

necessidade de se melhorar os aspectos construtivos que contribuem para o mau

desempenho térmico dos edifícios ao longo do Inverno, assim como tomar medidas

passivas e activas (aplicação de isolamento térmico, instalação de painéis solares,

entre outras) no sentido de promover a conservação do calor nos edifícios, de maneira

a melhorar o conforto térmico no interior dos mesmos.

Relativamente aos comerciantes, apenas 11 afirmam sentir frio ‘Raramente’, havendo

22 que afirmam sentir frio ‘Por vezes’ e 15 que sentem frio ‘Frequentemente’. Este

resultado é outro indicador de que o conforto térmico dos espaços comerciais do

Bairro Alto não é bom, alertando para a necessidade de se intervir neste campo.

Comparando os resultados de moradores e comerciantes, é possível observar um

equilíbrio na frequência com que sentem frio dentro dos seus edifícios, havendo ainda

assim mais moradores do que comerciantes a afirmar sentir frio com mais frequência,

demonstrando que o desempenho térmico dos edifícios do Bairro Alto não é

satisfatório, sendo pior ainda no caso dos edifícios de habitação.

Figura 48: Bairro Alto: Habitação e comércio

Fonte: (Autor, 2010)

Page 75: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

75

Questão 8: Propostas de melhoria para a temperatura no Inverno

Relativamente a esta questão, foi pedido aos habitantes e comerciantes para darem

sugestões para melhorar a temperatura dos seus edifícios durante o Inverno.

Alguns moradores não deram qualquer sugestão, tendo os restantes indicado como

possíveis soluções para a melhoria deste factor: ‘Isolamento das portas e janelas’;

‘Colocar isolamento térmico nas paredes’; ‘Colocação de janelas novas com vidro

duplo’; ‘Instalação de aquecimento central’; ‘Corrigir as folgas entre janelas/portas e

parapeitos/chão’; ‘Colocar caixilhos novos’; ‘Realizar obras na fachada’; ‘Realizar

obras gerais no edifícios’.

As soluções sugeridas com mais frequência foram a ‘Colocação de janelas novas com

vidro duplo’; ‘Instalação de aquecimento central’; ‘Colocar isolamento térmico nas

paredes’.

Entre as respostas dadas pelos comerciantes, destacam-se pela maior frequência com

que foram dadas as seguintes sugestões: ‘Utilizar mais os aparelhos de aquecimento’;

‘Colocar isolamento térmico nas paredes’; ‘Realizar obras que substituam as portas e

janelas’. Outras sugestões dadas foram: ‘Colocar janelas novas com caixilhos de

qualidade’; ‘Colocar portas automáticas de maneira a não ter a porta sempre aberta’.

Através das sugestões dadas, é possível perceber que haverá factores enunciados

pelos utilizadores, que contribuem para um melhor desempenho térmico dos edifícios,

que não estão presentes nos edifícios do Bairro Alto, como é o caso do isolamento

térmico. É necessário ter em atenção que o isolamento térmico quando aplicado pelo

interior, corta o efeito de arrefecimento, ao neutralizar o efeito da inércia térmica, não

sendo aconselhável a sua aplicação pelo interior. É possível deduzir também que há

vários elementos em mau estado de conservação, como é o caso de janelas e

caixilhos, que contribuem para que a temperatura no interior dos edifícios durante o

Inverno não seja a melhor.

Page 76: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

76

Questão 9: Conforto térmico no Verão

Foi aqui pedido aos moradores e comerciantes para indicarem o grau de satisfação

com a temperatura das suas habitações durante os meses de Verão, numa escala que

varia entre o “Muito satisfeito” e o “Muito insatisfeito”

Moradores Comerciantes

Os resultados demonstram que apenas 13 dos moradores se encontram Satisfeitos

com o conforto térmico da sua casa nos meses de Verão, enquanto que a maioria dos

restantes se encontra “Um pouco insatisfeita” ou “Insatisfeita”.

É possível observar uma ligeira melhoria da satisfação com a temperatura no Verão

em relação ao Inverno, apesar de nos meses de Verão a tendência geral ser a de

haver uma ligeira insatisfação com este factor. Esta melhoria da satisfação

relativamente ao Inverno, poderá ter a ver com o facto de os elementos em mau

estado de conservação terem mais influência no conforto térmico durante o Inverno,

onde se procura conservar o maior calor possível, do que no Verão, onde o objectivo é

libertar o calor do interior dos edifícios.

Não sendo possível controlar todos os factores que influenciam o comportamento

térmico dos edifícios do Bairro Alto, como a orientação do edifício e vãos, dimensão e

número de vãos, entre outros, é da maior importância promover a optimização das

características dos edifícios que permitam uma melhoria do conforto térmico.

Para tirar o melhor partido da inércia térmica, que é uma característica dos edifícios do

Bairro Alto, deve ser promovida uma boa ventilação natural nocturna, abrindo as

janelas durante a noite, ou aplicando bandeiras para que a ventilação se processe

com eficácia. Devem-se também aplicar sombreamentos quando estes não existam,

de preferência pelo exterior, de maneira a cortar a incidência da radiação solar antes

de esta atravessar o vidro, protegendo assim o interior do calor.

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Satisfeito Um pouco insatisfeito

Insatisfeito Muito insatisfeito

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Muito satisfeito

Satisfeito Um pouco insatisfeito

Insatisfeito Muito insatisfeito

Page 77: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

77

Figura 49: Rua das Gáveas; Travessa da Espera

Fonte: (Autor, 2010)

No caso dos comerciantes é possível observar uma divisão das opiniões, estando

cerca de metade dos comerciantes satisfeitos, e a outra metade um pouco insatisfeita

ou insatisfeita com a temperatura no Verão. A temperatura no Verão, além dos

factores já expostos no caso dos moradores, poderá ser, no caso dos

estabelecimentos comerciais, influenciada também por factores que não as

características do próprio edifício, como o funcionamento de frigoríficos e outros

aparelhos que libertam calor, no caso de mercearias, talhos, entre outros.

O conforto térmico é também considerado pelos comerciantes ligeiramente melhor do

que no Inverno, podendo ser explicado pelas razões anteriormente enunciadas para o

caso dos moradores.

Figura 50: Rua da Rosa

Fonte: (Autor, 2010)

Ao compararmos a satisfação com a temperatura no interior dos edifícios de habitação

e comerciais, verifica-se que há uma maior satisfação por parte dos comerciantes.

Page 78: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

78

Este facto pode ser reflexo de vários factores, como a exposição solar dos espaços

de comércio, que é mais reduzida do que os de habitação por estes se situarem no

piso térreo ou o facto de vários espaços comerciais apresentarem sombreamento

exterior.

Questão 10: Acções que contribuem para o conforto térmico no Verão

Nesta questão foi pedido aos moradores para indicarem com que frequência executam

determinadas acções que tenham como finalidade arrefecer a temperatura no interior

dos edifícios no Verão, de acordo com uma escala que varia entre o “Muito

frequentemente” e o “Nunca”, de maneira a perceber que consequências terão esses

hábitos.

Abrir Janelas

De dia: Moradores Comerciantes

De noite: Moradores Comerciantes

Ao compararmos a frequência com que os inquiridos abrem as janelas durante o dia e

durante a noite, verificamos que quase todos o fazem no período diurno, enquanto que

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Page 79: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

79

no período nocturno uma parte considerável dos moradores inquiridos não o faz.

Como já referido (ver Capítulo III, p. 56), abrir as janelas durante a noite permite que o

calor acumulado na massa do edifícios pela sua inércia térmica seja libertado e o ar

renovado por ar mais fresco durante este período, contribuindo para o arrefecimento

do interior do edifício.

Através da análise destes resultados, é possível concluir que pelo menos parte dos

moradores do Bairro Alto não terão a noção correcta do benefício desta prática ao

nível do conforto térmico dos edifícios, quando executada durante a noite, sendo

importante uma sensibilização acerca desta prática junto da população. Poderá ser

também condicionante o piso em que se encontra a habitação, uma vez que naquelas

que se encontraram no piso térreo, não será seguro abrir as janelas durante a noite. A

aplicação de bandeiras poderá ser um boa solução para que se efectue a ventilação

nocturna nestes casos.

Figura 51: Bairro Alto: Exemplos de janelas abertas durante o dia

Fonte: (Autor, 2010)

A partir da análise do gráfico relativo aos comerciantes, é possível verificar uma

grande dispersão de hábitos relativamente ao acto de abrir as janelas durante o dia.

Esta dispersão pode ser explicada pelo facto de alguns comerciantes utilizarem ar

condicionado, pelo que não lhes interessa abrir as janelas para terem uma

temperatura interior confortável, pelo facto de alguns estabelecimentos não terem

janelas, tendo apenas montras e uma porta, ou pela orientação e exposição solar do

estabelecimento, interessando nuns casos ter as janelas abertas com maior frequência

e noutros ter as janelas fechadas e sombreadas de maneira a proteger da radiação

solar.

Page 80: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

80

A grande maioria dos comerciantes afirma nunca abrir as janelas durante a noite. Este

facto dever-se-á ao facto de a maioria dos estabelecimentos em estudo terem um

funcionamento exclusivamente diurno, pelo que, por motivos de segurança, não é

possível abrirem as janelas durante o período nocturno. A aplicação de bandeiras

poderá ser uma boa solução para se promover a ventilação nocturna estes casos.

Figura 52: Bairro Alto: Exemplos de portas abertas durante o diia

Fonte: (Autor, 2010)

Fechar estores/persianas

Moradores Comerciantes

Cerca de metade dos moradores inquiridos afirmam nunca fechar estores, ou outros

elementos de sombreamento, enquanto que os restantes o fazem com frequências

diferentes.

A utilização de técnicas de sombreamento é, como já referido (ver Capítulo III, p. 54),

uma medida importante para a melhoria do conforto térmico no interior dos edifícios,

utilizada preferencialmente pelo exterior, possibilitando no Verão um controle da

radiação solar e consequentes ganhos de calor, além de ser também importante ao

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Page 81: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

81

nível do conforto visual. Sendo esta uma acção praticada naturalmente, por

necessidade das pessoas, leva a crer que várias habitações do Bairro Alto não têm

qualquer sistema de sombreamento, interior ou exterior. O facto de o sombreamento

durante o dia bloquear a vista para o exterior, poderá ser um factor que condiciona a

prática desta acção. Outra possível explicação para que estes moradores não

executem esta acção, poderá ter a ver com o facto de a iluminação natural nas suas

casas ser escassa, não lhes interessando dessa maneira sombrear os vãos que

permitem a entrada de luz natural.

A grande maioria dos comerciantes afirma nunca fechar estores ou persianas, sendo

poucos os que executam esta acção de maneira a protegerem o seu estabelecimento

do calor. Este facto poderá ser explicado pelo facto de a maioria das lojas ter montra,

sendo do interesse dos comerciantes que o interior seja o mais visível possível para as

pessoas que circulam na rua, levando a que estes espaços não possuam ou não

utilizem sistemas de sombreamento.

Figura 53: Bairro Alto: Exemplos de edifícios com e sem sombreamento exterior

Fonte: (Autor, 2010)

Ligar Ar Condicionado

Moradores Comerciantes

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Page 82: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

82

A totalidade dos moradores inquiridos referiu que nunca liga o ar condicionado, dado

que nenhum deles possuirá um aparelho de ar condicionado.

A grande maioria dos comerciantes inquiridos refere também nunca utilizar o ar

condicionado, uma vez que nenhum terá também aparelho de ar condicionado.

Os gastos monetários necessários para a instalação e utilização destes aparelhos

poderá ser a principal razão para que estes não sejam utilizados quer por moradores,

quer por comerciantes. Esta situação é, no entanto, positiva, tendo em conta a

contribuição que a utilização destes aparelhos tem para as emissões de gases que

contribuem para o efeito de estufa, assim como para uma menor salubridade do ar no

interior dos edifícios.

Ligar ventoinha

Moradores Comerciantes

Relativamente à frequência com que os moradores utilizam uma ventoinha,

observamos que a quase totalidade utiliza a ventoinha “Frequentemente” ou “Por

vezes”. Este resultado poderá ser um reflexo da insatisfação dos moradores com a

temperatura interior das suas habitações no Verão, provocada pelo mau

comportamento térmico dos edifícios neste período do ano. A utilização de ventoinhas

acontece normalmente quando a temperatura interior é demasiado desconfortável, o

que poderá demonstrar que os edifícios dos moradores que a utilizam frequentemente

serão bastante desconfortáveis neste campo, sendo também bastante desconfortável

nos restantes, pelo menos nos dias de maior calor.

Relativamente à frequência com que os comerciantes utilizam a ventoinha, é possível

observar que a maioria utiliza este aparelho, uns com maior frequência do que outros.

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Page 83: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

83

Este facto demonstra também que a temperatura durante o Verão não é satisfatória na

maioria dos espaços comerciais do Bairro Alto.

A utilização de ventoinhas é, do ponto de vista ambiental e energético, muito mais

vantajosa do que o uso do ar condicionado. Verificamos que apesar da frequência com

que esta é utilizada pelos utilizadores, existe alguma insatisfação com a temperatura

dos edifícios no Verão. Caso se promova uma ventilação natural eficaz destes

edifícios, a ventoinha poderá ser um bom complemento de baixo consumo para

conferir um bom conforto térmico aos edifícios durante o Verão.

Questão 11: Conforto térmico no Verão

Nesta questão pedido aos moradores e comerciantes para referir com que frequência

sentem calor dentro dos seus edifícios durante o Verão, de acordo com uma escala

que varia entre o “Muito frequentemente” e o “Nunca”.

Moradores Comerciantes

É possível observar que cerca de metade dos moradores sentem calor “Por vezes”,

havendo ainda um número significativo de pessoas que sentem calor

“Frequentemente”, não havendo grande expressão nas restantes opções.

Estes resultados voltam a confirmar que o desempenho dos edifícios no que toca ao

conforto térmico durante o Verão não é o melhor, e demonstram a importância de se

proceder às medidas necessárias para que se minimizem os ganhos solares que

contribuem para o aquecimento excessivo das habitações, e se promova o

arrefecimento dos edifícios durante este período do ano.

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Page 84: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

84

No caso dos comerciantes, a maioria destes sente calor “Por vezes” ou

“Frequentemente”, havendo uma tendência maior para sentir calor “Por vezes”. Alguns

comerciantes referem ainda apenas sentir calor “Raramente”.

Este resultado demonstra mais uma vez que a maioria dos comerciantes não estão

satisfeitos relativamente ao conforto térmico dos seus estabelecimentos durante o

Verão, sendo importante tomar medidas que promovam o arrefecimento destes

espaços durante o Verão.

Comparando o caso dos edifícios de habitação e de comércio, é possível observar que

os comerciantes sentem calor com uma frequência ligeiramente mais pequena, o que

demonstra, como já referido, uma maior satisfação com a temperatura interior durante

o Verão.

Questão 12: Ar condicionado

Nesta questão os utilizadores referiram se preferem ou não, uma alternativa natural ao

ar condicionado, como sistema de arrefecimento do edifício.

Moradores Comerciantes

A maioria dos moradores afirma preferir um sistema natural alternativo ao ar

condicionado, havendo no entanto um grupo relevante de moradores que afirma

preferir o ar condicionado. Sendo o ar condicionado um sistema que não é saudável

quer para o ar interior, quer pelo contributo para a poluição atmosférica, o grupo que

afirma preferir o ar condicionado a um sistema alternativo natural chama a atenção,

levando a crer que seria necessária uma sensibilização junto da população do Bairro

Alto acerca das desvantagens ambientais do uso do ar condicionado.

Os moradores que afirmam preferir uma alternativa natural ao ar condicionado referem

como razões para essa preferência: ‘Ser mais económico’; ‘Ser mais saudável’; ‘Ser

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Sim Não 0 5

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Sim Não

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

85

melhor para o ambiente’; ‘Ser prejudicial para as crianças’. O factor de ser mais

económico é a razão referida com maior frequência por parte dos moradores

inquiridos, demonstrando que esta preocupação se sobrepõe à questão da

salubridade e ecologia.

A maioria dos comerciantes afirmou preferir uma alternativa natural ao ar

condicionado, havendo também um grupo considerável que afirma preferir o uso do ar

condicionado, apesar das desvantagens relativamente ao ambiente e salubridade

ambiental já referidas.

Entre os comerciantes que afirmam preferir uma solução natural ao ar condicionado, a

maioria refere como principal motivo o facto de esta ser mais económica. Outras

razões apontadas foram o facto de uma solução natural ser mais saudável, Razões

logísticas e dificuldade de instalação de um aparelho de ar condicionado e ainda

motivos estéticos, visto o aparelho de ar condicionado ter de ser instalado no exterior

do edifício.

Esta tendência para os moradores e comerciantes preferirem uma alternativa natural

ao ar condicionado, pode ser um sinal de que a relativa insatisfação demonstrada com

a temperatura no Verão não é preocupante, levando a crer que o recurso ao ar

condicionado seria um último recurso para os utilizadores inquiridos. A frequência com

que utilizam ventoinhas e abrem janelas com o intuito de arrefecer os edifícios não é

muito elevada, o que poderá indicar que o desempenho térmico dos edifícios no

Verão, caso se proceda a medidas como aplicar sombreamentos ou promover uma

boa ventilação natural, pode ser satisfatório.

Questão 13: Propostas de melhoria para a temperatura no Verão

Nesta questão os utilizadores foram questionados acerca do que se poderia fazer para

melhorar a temperatura dos seus edifícios durante o Verão.

Vários moradores afirmaram não saber como melhorar a temperatura interior neste

período do ano, tendo os restantes apresentado as seguintes sugestões: ‘Colocar ar

condicionado’; ‘Ter as janelas abertas durante mais tempo’; ‘Colocar portadas ou

persianas’; ‘Utilizar a ventoinha com mais frequência’.

Vários comerciantes afirmaram também não saber o que poderia ser feito, tendo a um

grande número indicado que a instalação de um aparelho de ar condicionado seria

Page 86: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

86

uma solução para melhorar a temperatura no Verão. Outras soluções referidas foram:

‘Utilização de um sistema natural de arrefecimento’; ‘Ter mais janelas’; ‘Instalar

estores’; ‘Sistema de ventilação sem impacto visual e pouco consumo energético’;

‘Utilização de aparelhos que emitam menos calor com o seu funcionamento’.

Qualidade do ar

Esta pergunta relativa às questões ambientais, insere-se na questão 1, onde foi pedido

aos utilizadores para classificarem os diferentes factores enunciados numa escala que

varia entre 1 e 5, correspondendo respectivamente à pior e melhor classificação.

Moradores Comerciantes

A qualidade do ar das habitações do Bairro Alto é classificada pela maioria dos

moradores em 3, havendo uma dispersão da outra metade nas classificações 2 e 4.

Esta classificação poderia ser melhor, caso todos as habitações tivessem vãos em

mais do que uma frente do edifício, o que não acontece em alguns edifícios que

apenas têm vãos na frente virada para a rua, não tendo saguão nas traseiras do

edifício, ou este por vezes pode ser demasiado estreito para que contribua

convenientemente para a renovação do ar no interior das habitações. A renovação do

ar interior pode processar-se assim de maneira deficiente, contribuindo para que a

qualidade do ar não seja a ideal.

Outra razão que poderá contribuir para que a qualidade do ar não seja a ideal é a

organização do espaço interior, no caso de este não ter uma comunicação eficaz entre

as fachadas com vãos para o exterior.

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Page 87: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

87

Figura 54: Vista aérea do Bairro Alto

Fonte: (Google Earth, 2010)

A grande maioria dos comerciantes classificou a qualidade do ar no interior dos seus

espaços comerciais em 3 ou 4, tendo apenas 6 comerciantes classificado a qualidade

do ar em 2, e 2 comerciantes classificado esta em 5, revelando uma satisfação geral

com este factor.

O facto de os espaços comerciais durante o seu período de funcionamento terem

normalmente as portas abertas, poderá para que haja uma constante renovação do ar,

conferindo uma boa qualidade do ar no interior destes espaços. Alguns espaços, em

que a sua tipologia não seja favorável a que se dê esta renovação do ar, como por

exemplo espaços estreitos e compridos, poderão ter uma qualidade do ar inferior.

Se compararmos os resultados das respostas dos moradores e comerciantes,

verificamos que há uma maior satisfação por parte dos comerciantes, o que poderá

ser explicado pelo facto já referido, de os comerciantes, em virtude da sua actividade,

terem muitas vezes as portas e/ou janelas abertas ao longo de todo o dia, promovendo

uma renovação do ar constante.

Outra questão igualmente importante para a qualidade do ar, é a qualidade do ar

exterior, que é principalmente afectada, no caso da cidade de Lisboa, pelos

automóveis. Além de medidas como o condicionamento do tráfego automóvel, já em

vigor no Bairro Alto, é possível tomar outras medidas na área dos transportes, como

utilizar autocarros eléctricos ou carros eléctricos, que podem ser disponibilizados para

aluguer, como já acontece na vila de Óbidos (CMO, 2010).

Page 88: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

88

Luz natural

Moradores Comerciantes

Luz artificial

Moradores Comerciantes

A iluminação natural é classificada pela maioria dos moradores em 3, havendo ainda

alguns a classificarem esta característica em 2, enquanto que muito poucos deram

uma classificação satisfatória. Esta classificação poderá ser reflexo da tipologia urbana

e dos edifícios do Bairro Alto, com as suas ruas estreitas que não favorecem a

exposição solar, e com vários edifícios estreitos e compridos, em que por vezes existe

apenas uma frente com vãos que permitam a iluminação natural das habitações. Por

outro lado poderá haver o caso de edifícios cuja orientação se traduza numa

exposição solar excessiva, principalmente no caso dos pisos superiores, penalizando

desta maneira o conforto visual.

Outro factor que poderá ser penalizador para a iluminação natural dos edifícios, é a

organização interior, com as divisões interiores características da maioria das

habitações do Bairro Alto. Aqui a definição dos espaços de permanência adquirem

uma grande importância, sendo importante que estes estejam localizados o mais

próximo possível das janelas, enquanto que os espaços interiores sejam destinados

por exemplo a arrumos ou casas de banho.

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Page 89: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

89

A classificação dada pela maioria dos utilizadores à luz artificial nas suas habitações é

expressivamente positiva, maioritariamente classificada em 4. Este é um factor

facilmente controlado pelos próprios moradores, pelo seria estranho haver uma

classificação tendencialmente mais negativa.

É ainda de assinalar que nenhum dos moradores classificou a luz artificial da sua

habitação com a classificação 5, tendo alguns moradores classificado esta

característica em 3, o que indica que não há uma satisfação plena, ao contrario do que

seria de esperar, de um parâmetro de conforto que ode ser directamente controlado

pelos utilizadores. Este resultado poderá indicar que os edifícios de habitação do

Bairro Alto não têm as instalações eléctricas mais eficazes para satisfazer as

necessidades de iluminação artificial dos mesmos.

Figura 55: Bairro Alto: Exemplos de pouca incidência solar

Fonte: (Autor, 2010)

A grande maioria dos comerciantes classificou a iluminação natural nos seus espaços

comerciais em 3, revelando uma tendência para considerar este factor razoável.

Houve ainda 7 comerciantes a classificarem a luz natural em 3, 6 comerciantes a

classificarem-na em 4 e apenas 2 deram a classificação 5.

Tal como no caso da dos edifícios de habitação, a iluminação natural poderá também

no caso dos espaços comerciais ser condicionada pela tipologia urbana do Bairro Alto.

O facto dos estabelecimentos se encontrarem no piso térreo, poderá levar a que não

haja uma incidência directa do sol favorável, quando comparada com os pisos

superiores, sendo determinante para que não haja uma satisfação geral com a luz

natural por parte dos comerciantes. Por outro lado, os espaços comerciais têm

Page 90: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

90

normalmente mais e maiores vãos envidraçados, o que permite que haja uma maior

iluminação natural, mesmo quando não há incidência solar directa.

Figura 56: Bairro Alto: Rua da Rosa

Fonte: (Autor, 2010)

Page 91: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

91

4.3.1.2. Aspectos Construtivos

Questão 1: Estado de conservação

Nesta questão, foi pedido aos utilizadores para classificarem os vários factores numa

escala de 1 a 5, em que 1 representa a pior classificação e 5 a melhor classificação.

Os utilizadores foram inquiridos acerca das seguintes factores de desempenho das

suas habitações:

Estado de Conservação

Moradores Comerciantes

Quando questionados acerca do estado de conservação da sua habitação, os

moradores classificam-no entre 2 e 3, tendo cerca de metade dos utilizadores

inquiridos classificado o estado de conservação em 2, uma classificação

expressivamente negativa.

Os edifícios do Bairro Alto, como é sabido, são edifícios com vários séculos de

existência, pelo que requerem manutenção e cuidados especiais, que nem sempre

são efectuados, muito devido aos problemas de índole social da população deste

bairro. A falta de verbas por parte dos proprietários, a falta de verbas por falta da

Câmara Municipal, as rendas não actualizadas ainda em vigor, a falta de

sensibilização dos deveres dos proprietários, a existência de vários edifícios que não

se encontram em propriedade horizontal ou outras questões burocráticas5 poderão

são algumas das principais razões que contribuem para que não se proceda a uma

manutenção física mais regular dos edifícios do Bairro Alto.

5Entrevista à Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica

0 5

10 15 20 25 30

1 2 3 4 5 0 5

10 15 20 25 30

1 2 3 4 5

Page 92: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

92

Figura 57: Bairro Alto: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação

Fonte: (Autor, 2010)

Quando questionados acerca do estado de conservação dos seus estabelecimentos,

cerca de metade dos comerciantes classificou-o em 3, tendo entre os restantes, 14

classificado o estado de conservação em 2, 8 classificado em 4 e, apenas 2

comerciantes classificado em 1. Este resultado demonstra uma tendência para os

espaços comerciais apresentarem um estado de conservação razoável, havendo no

entanto alguns em mau estado.

Os inquéritos efectuados aos comerciantes incidiram principalmente sobre os espaços

de comércio tradicional, que apresentam naturalmente um estado de conservação pior

do que os espaços de comércio mais recentes, espaços esse que foram recentemente

alvo de obras de reabilitação física na sua grande maioria.

Algumas das razões apontadas para que se verifique um mau estado de conservação

geral dos edifícios de habitação do Bairro Alto poderão ser válidas também para que o

estado de conservação dos espaços de comércio no bairro não seja o melhor, não

tendo os comerciantes e/ou proprietários as verbas necessárias para executar obras

de recuperação física dos seus edifícios. O envelhecimento da população sem que

haja uma regeneração da população e progressiva desertificação do bairro será outro

factor que tem prejudicado os comerciantes, tornando mais difícil que estes tenham os

meios necessários para proceder a obras de reabilitação nos seus edifícios.

Ao comparar o estado de conservação das habitações do Bairro Alto com os espaços

comerciais, verificamos que os moradores classificam pior o estado de conservação

das suas habitações. É possível que esta situação se verifique devido a uma possível

maior dinâmica no mercado de arrendamento dos espaços comerciais, ou pelo

simples facto de os comerciantes necessitarem de ter os seus espaços com um

estado de conservação aceitável para a prática da sua actividade.

Page 93: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

93

O facto de os espaços comerciais se localizarem no piso térreo dos edifícios, pode

contribuir para que estes estejam sujeitos a uma degradação física menos grave do

que as habitações no pisos superiores, sujeitas a mais problemas como por exemplo

infiltrações através da cobertura.

Organização do espaço interior

Moradores Comerciantes

Relativamente à organização do espaço interior das suas habitações, os moradores

classificam-na maioritariamente em 3 e 4, havendo poucos moradores a darem uma

classificação negativa a esta característica. Esta classificação mediana poderá ser um

reflexo da organização espacial das habitações antigas do Bairro Alto, que

naturalmente procurava dar resposta a outras necessidades, sendo a concepção da

organização de espaço interior da época diferente da actual. Sendo este um factor em

que o também próprio morador pode ter influência directa, quer através da realização

de obras, ou através da definição do uso de cada divisão, é natural que este factor não

apresente uma classificação média negativa.

Relativamente à organização do espaço interior dos seus espaços comerciais, a quase

totalidade comerciantes classificam-na maioritariamente em 3 e 4, tendo apenas 3

comerciantes classificado este factor em 2 ou 1, e 3 comerciantes classificado em 5.

Sendo este um factor em que o utilizador tem influência directa, através da

organização que dá ao espaço interior, a classificação apresenta naturalmente um

resultado positivo.

Comparando a classificação dada ao espaço interior por parte dos moradores com a

dada pelos comerciantes, verificamos que os moradores deram uma classificação m

pouco mais baixa, o que poderá ser explicado pela configuração bastante mais

simples dos espaços comerciais, que servirá de forma mais eficaz função para qual

estes espaços são utilizados.

0 5

10 15 20 25 30

1 2 3 4 5 0

5

10

15

20

25

1 2 3 4 5

Page 94: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

94

Decoração/Mobiliário (Aspectos construtivos)

Moradores Comerciantes

A classificação de decoração interior e mobiliário, divide-se quase na sua totalidade

entre os valores 3 e 4. Sendo este uma parâmetro completamente controlável pelos

moradores, o resultado médio expressivamente positivo não causa surpresa.

Por outro lado, é possível observar que apenas 1 morador classificou este parâmetro

em 5, o que demonstra que não há uma satisfação plena relativamente a este factor.

Este poderá ser um indicador de problemas ao nível económico da população do

Bairro Alto, que não terá possibilidades económicas para melhorar este factor que

contribui para o conforto no interior das suas habitações.

Relativamente a este factor de conforto para os comerciantes, estes classificaram-no

em 4 na sua grande maioria. Este é um factor exclusivamente controlado pelos

próprios comerciantes, pelo que é natural que haja uma satisfação geral neste

aspecto. A decoração e mobiliário dos espaços comerciais é praticamente definida

pelo tipo de actividade comercial praticada, pelo que esta poderá limitar bastante os

comerciantes no que respeita a este ponto.

É possível observar que a classificação dada pelos moradores e comerciantes à

decoração/mobiliário, quando comparada com a temperatura (ver Capítulo IV, p. 68),

iluminação natural (ver Capítulo IV, p. 88) e estado de conservação dos edifícios (ver

Capítulo IV, p. 90), tem uma classificação um pouco mais satisfatória do que qualquer

uma das referidas. Este facto poderá indicar que os utilizadores dão um pouco mais de

importância a estes factores ambientais, o que será um sinal de que os aspectos

ambientais referidos não são satisfatórios, não se apresentando, no entanto, num

estado crítico, a avaliar pela diferença das classificações observadas.

0

5

10

15

20

25

1 2 3 4 5 0 5

10 15 20 25 30 35

1 2 3 4 5

Page 95: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

95

Vista para o exterior

Moradores Comerciantes

A vista para o exterior é um factor que contribui para o conforto visual dos moradores

na sua habitação, pelo que interessa que seja o mais apelativa e com menos

elementos que a possam obstruir possíveis. Observamos que cerca de metade das

dos inquiridos classificou este factor em 3, tendo a classificação 4 obtido também um

resultado relativamente expressivo, o que leva a concluir que os moradores do Bairro

Alto estão minimamente satisfeitos com a vista para o exterior das suas habitações.

A configuração do Bairro Alto, com as suas ruas estreitas, onde os edifícios estão

bastante próximos uns dos outros, poderá ser determinante para que não haja uma

grande extensão visual para o exterior na maioria dos edifícios do bairro, levando a

que a classificação deste factor não seja mais positiva. O mau estado do edificado,

visível nas fachadas dos edifícios, em conjunto com os vários graffiti espalhados por

vários edifícios em todo o bairro, poderá ser outra razão para que a satisfação com a

vista para o exterior dos moradores não seja melhor.

Figura 58: Travessa da Espera; Travessa dos Fieis de Deus

Fonte: (Autor, 2010)

0 5

10 15 20 25 30

1 2 3 4 5 0 5

10 15 20 25 30

1 2 3 4 5

Page 96: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

96

A vista para o exterior é classificada em 3 por cerca de metade dos comerciantes

inquiridos, tendo a maioria dos restantes comerciantes classificado este factor em 4.

Este é um factor importante para o conforto visual dos utilizadores, sendo importante

que esta seja o mais apelativa e com menos obstruções possível. Funcionando no

piso térreo, os espaços comerciais terão todos uma vista para o exterior semelhante,

havendo apenas diferenças mais significativas no caso de ruas em que haja circulação

e/ou seja possível o estacionamento de automóveis.

Este resultado demonstra que os comerciantes inquiridos estão razoavelmente

satisfeitos com a vista para o exterior dos seus estabelecimentos.

Figura 59: Rua do Grémio Lusitano

Fonte: (Autor, 2010)

Comparando os dois resultados, é possível observar que estes são quase

semelhantes, o que poderá ser explicado pela configuração urbana do Bairro Alto, com

as suas ruas estreitas, em que a vista para o exterior não difere muito de piso para

piso.

É possível observar que a classificação dada pelos moradores e comerciantes à vista

para o exterior, à semelhança do que acontece com a decoração/mobiliário, quando

comparada com a temperatura (Capítulo IV, p. 68), iluminação natural (Capítulo IV, p.

88) e estado de conservação dos edifícios (Capítulo IV, p. 90), tem uma classificação

um pouco mais satisfatória do que qualquer uma das referidas. Este facto poderá

indicar igualmente que os utilizadores dão um pouco mais de importância a estes

factores ambientais, o que será um sinal de que os aspectos ambientais referidos não

são satisfatórios, não se apresentando, como já referido, num estado crítico, a avaliar

pela diferença das classificações observadas.

Page 97: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

97

Questão 2: Obras de reabilitação

Foi aqui pedido aos utilizadores para indicarem se os seus edifícios foram alvo de

obras de reabilitação nos últimos anos, e quando é que essas obras aconteceram.

Alguns utilizadores não tiveram condições de responder a esta questão, ou de indicar

com algum rigor quando é que a sua habitação foi alvo de obras pela última vez, por

se tratar de habitantes e/ou comerciantes que se mudaram à relativamente pouco

tempo para o Bairro Alto, e/ou terem iniciado a sua actividade também há pouco

tempo, ou devido as últimas obras de reabilitação terem acontecido há um tempo

considerável.

Houve assim 27 moradores e 27 comerciantes a indicar uma estimativa de quando

aconteceram as últimas obras de reabilitação nos seus edifícios, tendo os restantes 22

moradores e 23 comerciantes afirmado não saber quando tiveram lugar as ultimas

obras de reabilitação. Organizei então as respostas cronologicamente em períodos de

5 anos, tendo obtido os seguintes resultados:

Moradores Comerciantes

Podemos observar, no caso dos moradores, uma distribuição relativamente uniforme

das obras realizadas, tendo havido um número maior de obras de reabilitação nos

últimos 10 e 15 anos. Estes resultados não significam que as habitações em causa

estejam em boas condições físicas, pois as obras realizadas podem ter sido de tipos

muito diferentes. Com efeito, 16 dos moradores que responderam a esta questão,

indicaram que as obras realizadas foram obras ligeiras ou pequenas reparações, e

não obras de reabilitação integral das suas habitações.

0

2

4

6

8

30 anos 25 anos 20 anos 15 anos 10 anos 5 anos

0 2 4 6 8

10 12 14

30 anos 25 anos 20 anos 15 anos 10 anos 5 anos

Page 98: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

98

Figura 60: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação

Fonte: (Autor, 2010)

É possível observar, no caso dos comerciantes, que cerca de metade das obras

realizadas foram efectuadas nos últimos 10 anos, havendo algumas que se realizaram

nos últimos 5 e 15 anos, sendo poucas as que se realizaram há mais de 25 anos. Foi

indicado por 19 comerciantes que as obras realizadas foram obras ligeiras, ou

pequenas reparações, não resolvendo problemas mais graves relativamente ao estado

de conservação dos espaços avaliados.

Figura 61: Exemplos de edifícios em mau estado de conservação

Fonte: (Autor, 2010)

Ao compararmos os dois resultados, verificamos que há mais obras realizadas

recentemente nos estabelecimentos comerciais do que nas habitações, o que poderá

ser explicado pela maior necessidade por parte dos comerciantes terem os seus

espaços em condições físicas aceitáveis para a prática da sua actividade comercial.

Page 99: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

99

Questão 3. Urgência de obras de reabilitação

Nesta questão foi pedido aos moradores e comerciantes para indicarem com que grau

de urgência consideram que suas habitações necessitam de sofrer obras de

reabilitação, entre 5 graduações que vão desde o “Muita urgência” até ao “Não

necessita”.

Moradores Comerciantes

As respostas dos moradores incidiram principalmente sobre a opção “Urgência” tendo

a opção “Pouca urgência” também alguma expressão. Foram poucos os inquiridos que

consideraram que a sua habitação não necessita de obras de reabilitação, o que

reflecte a necessidade de proceder à recuperação física do parque habitacional do

Bairro Alto.

Estes resultados são indicadores do estado de conservação do edificado do Bairro

Alto, pelo que poderão ser explicados pelos factos já referidos na Questão 1 deste

questionário (ver Capítulo IV, p. 90).

Perto de metade das respostas dos comerciantes incidiram principalmente sobre a

opção “Pouca urgência” tendo 13 comerciantes referido que o seu estabelecimento

“Não necessita” de obras de reabilitação. Dos restantes 14 comerciantes inquiridos, 6

afirmaram que o seu estabelecimento necessita de obras com “Alguma urgência”, 4

com “Urgência” e 4 com “Muita urgência”.

Comparando os dois resultados, é possível observar uma necessidade mais urgente

por parte dos moradores em efectuar obras de reabilitação relativamente aos

moradores, o que poderá ser explicado pelos factos referidos na Questão 1 do

presente questionário (ver Capítulo IV, p. 90).

0

5

10

15

20

Muita urgência

Urgência Alguma urgência

Pouca urgência

Não necessita

0 5

10 15 20 25

Muita urgência

Urgência Alguma urgência

Pouca urgência

Não necessita

Page 100: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

100

Questão 4. Tipos de obras de reabilitação

Relativamente a esta questão, foi pedido aos moradores e comerciantes para indicar

qual o tipo de obras que consideram ser mais prioritárias nos seus edifícios.

Depois de reunir e analisar as respostas, verificamos que os moradores apresentam

necessidades variadas no que diz respeito à recuperação física das suas habitações.

Os elementos e/ou espaços considerados como prioritários em futuras obras de

reabilitação física que aparecem com mais frequência são: Janelas; Pavimento; Casas

de banho; Paredes interiores; Fachada; Cozinha.

A realização de obras nas montras e fachada, no pavimento, nas paredes interiores e

nova pintura são os elementos que aparecem com maior frequência nas respostas

dadas pelos comerciantes

Moradores Comerciantes

Outros aspectos considerados como prioritários pelos moradores, mas com menos

expressão do que os enumerados supra, são: Pintura; Portas; Tecto; Rodapés;

Isolamento acústico; Obras que resolvam infiltrações; Escadas; Obras totais.

Outros elementos referidos pelos comerciantes inquiridos como prioritários numa

futura obra de reabilitação foram: ‘Realização de obras no tecto que resolvam as

infiltrações’; ‘Colocação de portas novas’; ‘Colocação de janelas e caixilhos novos’;

‘Realização de obras totais’.

O facto de haver vários elementos, considerados como prioritários numa futura obra

de reabilitação, referidos com alguma frequência quer por moradores quer por

comerciantes, poderá ser um indicador de que a manutenção física dos edifícios não

tem sido efectuado com a frequência ou na altura necessária, resultando num estado

de degradação avançado destes elementos. Estes resultados remetem para a questão

do estado de conservação dos edifícios e suas causa, já referido anteriormente (ver

Capítulo IV, p. 90).

0

5

10

15

20

Janelas Pavimento WC Paredes Fachada Cozinha

0

5

10

15

20

Montra/Fachada Pavimento Pintura Paredes

Page 101: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

101

Importa referir também que alguns dos aspectos construtivos que os utilizadores

referiram estar em mau estado de conservação, têm influência no desempenho

ambiental dos edifícios. As janelas, fachadas e portas, referidas tanto por moradores

como por comerciantes, como os elementos que se apresentam em pior estado de

conservação, têm bastante influência do desempenho térmico do edifício,

influenciando assim o conforto dos utilizadores.

Comparando agora as classificações dos diversos factores relativos às questões

ambientais e aspectos construtivos, verificamos que há uma tendência para os

utilizadores se mostrarem algo insatisfeitos com estas duas questões. Esta relativa

insatisfação demonstrada por moradores e comerciantes nas questões enunciadas

não difere muito de um tema para o outro, o que leva a crer que não há uma

insatisfação maior com as questões ambientais relativamente aos aspectos

construtivos. Sendo as questões ambientais aquelas que mais influenciam o conforto

dos utilizadores, verifica-se que os edifícios do Bairro Alto necessitam com igual

urgência de intervenções que melhorem o conforto e estado de conservação dos

mesmos.

Figura 62: Bairro Alto: Exemplo de elementos em mau estado de conservação

Fonte: (Autor, 2010)

Page 102: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

102

4.3.1.3. Mobilidade e Acessibilidade

Questão 14: Transportes

Nesta questão foi pedido aos moradores e comerciantes para classificar vários

factores acerca do Bairro Alto como espaço urbano. numa classificação que varia

entre 1 e 5, sendo 1 a pior e 5 a melhor classificação.

Proximidade de transportes públicos

Moradores Comerciantes

A maioria da população inquirida classificou a proximidade de transportes públicos em

4 ou 5, demonstrando que o Bairro Alto está bem servido de transportes públicos na

sua proximidade, havendo portanto, para os moradores, uma alternativa viável ao

automóvel.

A quase totalidade dos comerciantes classificou também a proximidade de transportes

públicos em 4 ou 5, demonstrando também uma grande satisfação com a oferta e

proximidade dos mesmos.

A boa oferta de transportes públicos no Bairro Alto permite que se pensem em

medidas de incentivo ao uso dos mesmos em detrimento do automóvel. Como é

sabido o automóvel é uma das principais fontes de CO2 nas cidades, contribuindo

para a má qualidade do ar. A relativa insatisfação demonstrada pelos utilizadores

relativamente à qualidade do ar, que poderá ter a ver, como já referido, com a

qualidade do ar exterior, pode ser melhorada caso se tomem medidas no sentido de

se desincentivar o uso do automóvel.

0 5

10 15 20 25 30

1 2 3 4 5 0 5

10 15 20 25 30 35

1 2 3 4 5

Page 103: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

103

Figura 63: Bairro Alto: Transportes públicos

Fonte: (Autor, 2010)

Acesso automóvel

Moradores Comerciantes

O acesso automóvel foi classificado em 3 por cerca de metade dos moradores, tendo

os restantes uma tendência para o classificar com 1 ou 2, classificações estas

negativas. Como é sabido, actualmente está em vigor um modelo de tráfego

condicionado aos moradores e comerciantes na maioria das vias do bairro alto,

podendo este resultado ser um sinal de que há alguma insatisfação relativamente ao

actual modelo de tráfego6 praticado no Bairro Alto.

6Regulamento Específico da Zona de Estacionamento de Duração Limita do Bairro Alto, CML 2002

0

5

10

15

20

25

1 2 3 4 5 0 5

10 15 20 25 30

1 2 3 4 5

Page 104: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

104

Figura 64: Rua das Gáveas; Rua do Norte

Fonte: (Autor, 2010)

Cerca de metade dos comerciantes classificou o acesso automóvel em 2, tendo a

outra metade classificado este factor em 1 ou 3 na sua maioria. Este resultado pode

ser também um sinal de um descontentamento geral por parte dos comerciantes

relativamente ao actual modelo de tráfego condicionado em vigor no Bairro Alto.

A maior parte dos comerciantes terá necessidade de ter acesso automóvel de

preferência à porta dos seus estabelecimentos, para receberem fornecedores e outros,

pelo que o modelo de acesso condicionado em vigor poderá ser menos bem visto por

parte dos comerciantes do que pelos moradores, o que é visível ao comparar as

respostas do moradores e comerciantes, onde os comerciantes classificam pior a

circulação automóvel do que os moradores.

O descontentamento também demonstrado por parte dos moradores, poderá ter a ver

com os moradores que têm automóvel próprio, e que poderão não ter acesso à própria

rua.

Figura 65: Travessa da Queimada; Travessa do Poço da Cidade

Fonte: (Autor, 2010)

Page 105: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

105

Vaga de estacionamento perto de casa

Moradores Comerciantes

A maioria dos moradores e comerciantes inquiridos classificou este aspecto em 1,

revelando uma grande insatisfação com a oferta de vagas de estacionamento no

Bairro Alto. A estrutura urbana deste bairro, com ruas bastante estreitas, em conjunto

com o modelo de tráfego automóvel no interior do Bairro Alto actualmente em vigor,

serão as razões de não haver uma maior oferta de estacionamento para os

moradores e comerciantes do bairro.

Figura 66: Bairro Alto

Fonte: (Autor, 2010)

0 5

10 15 20 25 30 35

1 2 3 4 5 0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5

Page 106: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

106

Garagem

Moradores Comerciantes

Entre moradores e comerciantes, apenas 2 dos moradores inquiridos revelaram ter

garagem no seu edifício. Este poderá ser um factor que se torna num condicionante

para os moradores com automóvel próprio, ou num factor desfavorável para quem

procure casa nesta zona. Havendo várias ruas sem acesso automóvel e tendo em

conta a tipologia dos edifícios do Bairro Alto, percebe-se que não é possível haver

muitos edifícios com garagem, sem que para isso se proceda a obras que alterem a

tipologia construtiva dos mesmos.

Figura 67: Bairro Alto

Fonte: (Autor, 2010)

0

10

20

30

40

50

1 2 3 4 5 0

10 20 30 40 50 60

1 2 3 4 5

Page 107: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

107

Condições de acesso a pé

Moradores Comerciantes

Quando questionados acerca das condições de acesso a pé, a maioria dos moradores

classificou este factor em 4, havendo alguns moradores a dar a classificação 3 e 5.

Quando questionados acerca das condições de acesso a pé, a maioria dos

comerciantes classificou este factor em 4, havendo alguns moradores a dar a

classificação 3 e 5.

Estes resultados revelam uma satisfação geral de moradores e comerciantes com as

condições de acesso pedonal no Bairro Alto, que poderá ser explicada pela vocação

original do bairro para a circulação a pé, assim como pelo modelo de tráfego

condicionado em vigor, que ao reduzir o fluxo automóvel e vias onde é permitida a

circulação automóvel, beneficia a circulação pedonal.

Figura 68: Rua da Rosa

Fonte: (Autor, 2010)

0 5

10 15 20 25 30 35

1 2 3 4 5 0 5

10 15 20 25 30 35

1 2 3 4 5

Page 108: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

108

Questão 17: Mobilidade a pé e automóvel

Nesta questão foi pedido aos moradores e comerciantes inquiridos para classificarem

a relação entre mobilidade a pé e automóvel no Bairro Alto, de acordo com uma

classificação que varia entre “Muito boa” e “Muito má”.

Moradores Comerciantes

A classificação dada pela generalidade dos moradores e comerciantes é mediana,

tendo 22 moradores classificado esta relação como “Razoável”, 14 como “Boa”, 12

como “Má” e 1 como “Muito má”, sendo os resultados dos comerciantes bastante

parecidos. O Bairro Alto é, como já referido, um espaço urbano como vocação natural

para a circulação pedonal, tendo sido adaptado em função da evolução natural no

tempo, à circulação automóvel. Para ser possível a circulação automóvel em algumas

das ruas deste bairro, os passeios criados para circulação pedonal ficaram

naturalmente estreitos, podendo este ser um factor que por vezes dificulta a

circulação dos peões. Os carros estacionados na rua poderão também funcionar por

vezes como outra barreira à circulação dos peões.

Uma grande parte dos moradores inquiridos indicou como principais razões para que

esta relação entre por vezes em conflito: ‘A existência de zonas onde a circulação

automóvel dificulta a circulação pedonal’; ‘Os carros estacionados nos passeios’; ‘As

ruas demasiado estreitas, onde não devia ser permitido o estacionamento’. Alguns

moradores indicam outras razões para que haja um constrangimento para o peões,

causado pelos automóveis, como: ‘Falta de cuidado dos condutores, que várias vezes

estacionam à porta dos moradores, dificultando a entrada e saída dos edifícios’; ‘Mau

serviço prestado pela EMEL7’. Alguns dos habitantes chama a atenção para o ‘mau

estado do pavimento das ruas do Bairro Alto’.

7 EMEL: Empresa Municipal de Estacionamento de Lisboa

0

5

10

15

20

25

Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má

0

5

10

15

20

25

Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má

Page 109: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

109

Uma pequena parte dos moradores refere que com o actual modelo de tráfego

condicionado, as condições de circulação pedonal melhoraram substancialmente.

Os comerciantes referem como principais problemas: ‘Falta de estacionamento’; ‘Ruas

demasiado estreitas, por vezes sem passeio para os peões’; ‘Carros mal estacionados

que dificultam a circulação dos peões’; ‘Falta de planeamento’. Alguns referem que o

modelo de tráfego deveria ser revisto, por vários veículos com mercadorias serem

impedidos de entrar no bairro, prejudicando o funcionamento dos seus negócios.

Figura 69: Rua Luz Soriano; Travessa do Poço da Cidade

Fonte: (Autor, 2010)

Page 110: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

110

4.3.1.1. Aspectos sociais

Oferta de serviços/equipamentos

Moradores Comerciantes

A grande maioria dos moradores inquiridos classificaram como 3 ou 4 a proximidade

de serviços e equipamentos públicos, revelando alguma satisfação com a oferta

destes no Bairro Alto e sua envolvente.

Relativamente aos comerciantes, estes classificaram a proximidade de serviços e

equipamentos públicos 3 ou 4, revelando também alguma também uma satisfação

com a oferta destes no Bairro Alto e sua envolvente.

Os resultados demonstram que quer moradores quer comerciantes, ao classificarem

este factor em 3 e 4, não apresentam uma satisfação plena com a oferta de serviços e

equipamentos, o que poderá ser um indicador de quem estes não servem com total

eficácia os utilizadores do Bairro Alto.

Proximidade de bens de 1ª necessidade

Moradores Comerciantes

0

5

10

15

20

1 2 3 4 5 0 5

10 15 20 25 30 35

1 2 3 4 5

0

10

20

30

40

1 2 3 4 5 0 5

10 15 20 25 30 35

1 2 3 4 5

Page 111: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

111

Relativamente à proximidade de bens de 1ª necessidade, a grande maioria dos

moradores classificou este factor em 4, revelando-se satisfeita com a oferta deste tipo

de bens no Bairro Alto. As várias mercearias existentes no bairro serão os

estabelecimentos que disponibilizam bens de 1ª necessidade mais próximo da

população local.

Entre os comerciantes, a grande maioria dos comerciantes classificou este factor em

4, revelando-se também satisfeita com a oferta deste tipo de bens no Bairro Alto.

Questão 15: Relação entre vida diurna e nocturna

Nesta questão foi pedido aos moradores e comerciantes para classificarem a relação

entre a vida diurna e a vida nocturna do Bairro Alto, de acordo com uma escala que

varia entre “Muito boa” e “Muito má”.

Moradores Comerciantes

No caso dos moradores resultado tem uma expressão negativa, tendo 21 dos

moradores classificado esta relação como “Má”, 12 como “Razoável” e 11 como “Muito

Má”. Apenas 5 moradores classificaram a relação entre a vida diurna e nocturna do

Bairro Alto como “Boa” ou “Muito boa”.

Este descontentamento por parte dos moradores do Bairro Alto, com a relação entre a

vida diurna e vida nocturna do bairro, poderá ser explicado por diversos factores. A

vida nocturna que tem lugar no Bairro Alto, faz com que inúmeros visitantes visitem o

bairro durante todas as noites da semana, o que traz consigo consequências

inevitáveis, como o barulho e confusão provocado pelos aglomerados de pessoas que

se juntam ou o barulho de música proveniente dos bares, o que naturalmente será um

incómodo grande para os moradores deste bairro. As características do Bairro Alto e

do seu edificado, que tem uma vocação puramente habitacional, com ruas estreitas e

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5

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Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má

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5

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Muito Boa Bom Razoável Má Muito Má

Page 112: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

112

edifícios antigos com 4 a 5, poderão contribuir também para que os efeitos da vida

nocturna sejam ainda mais sentidos pelos moradores do bairro.

Foi pedido também aos moradores para indicarem possíveis razões para essa relação

ser boa ou má, tendo a maioria referido o barulho e confusão gerada pelas inúmeras

pessoas que frequentam o Bairro Alto como principais elementos que leva a que esta

relação entre vida diurna e nocturna seja considerada negativa. Foram referidos outros

factores que contribuem para que esta relação entre em conflito, nomeadamente:

‘Falta de bom senso das pessoas que frequentam o Bairro Alto à noite’; ‘Volume da

música dos bares excessivamente alto’; ‘Vandalismo e furtos’; ‘Falta de controlo por

parte da policia’. Poucos referem que a relação entre a vida diurna e nocturna é

positiva, considerando estes que a vida nocturna traz o movimento e vida que não

existe durante o dia no Bairro Alto.

Entre os 50 comerciante inquiridos, 20 consideram que a relação entre vida diurna e

nocturna do Bairro Alto é “Razoável”, 13 consideram que é “Má”, 12 consideram que é

”Boa” e 5 consideram que esta é “Muito Má”. Ao comparar este resultado com o dos

moradores, há tendência para os comerciantes considerarem que esta relação é mais

harmoniosa do que os moradores, o que poderá ser explicado pelo facto de nem todos

os comerciantes serem também moradores do Bairro Alto.

São apontadas algumas razões por parte dos comerciantes pelas quais esta relação

entre vida diurna e nocturna não é a ideal: ‘Barulho excessivo dos bares’; ‘Falta de

policiamento, torna o bairro uma zona insegura durante a noite’; ‘Actos de vandalismo

acontecem durante a noite’; ‘Tráfico de droga acontece de noite para servir os jovens

que frequentam o bairro’; ‘De manhã há imenso lixo nas ruas’; ‘As ruas do bairro são

usadas pelos frequentadores nocturnos como um autêntico urinol público’.

Figura 70: Bairro Alto: Vida diurna e nocturna

Fonte: (Autor, 2010)

Page 113: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

113

Questão 16: Ruído

Foi pedido aos habitantes do Bairro Alto para classificarem o grau de satisfação face

aos ruídos, vindos do exterior ou de vizinhos, ouvidos nas suas casas, de acordo com

uma escala que varia entre “Muito satisfeito” e “Muito insatisfeito”.

Moradores Comerciantes

Podemos observar que 22 dos moradores inquiridos consideram estar “Insatisfeitos”,

13 “Um pouco insatisfeitos” e 8 “Muito insatisfeitos”, enquanto que apenas 6

moradores consideram estar “Muito satisfeitos” ou “Satisfeitos”. Esta forte tendência

para a insatisfação por parte dos moradores face aos ruídos ouvidos dentro das

habitações poderá ser explicada pelos edifícios antigos, com um deficiente ou

inexistente isolamento acústico e em mau estado de conservação, que não terão

naturalmente um bom funcionamento face ao ruído proveniente do exterior ou de

vizinhos do mesmo edifício. O ruído durante o dia no Bairro Alto nunca será maior do

que o ruído normal das actividades da cidade. Assim, a vida nocturna do Bairro Alto,

período em que o nível de ruído emitido é maior, poderá ser a principal razão para que

se verifique esta insatisfação geral dos moradores face ao ruído ouvido no interior das

suas habitações.

A maioria dos moradores indicam o ‘barulho causado pela vida nocturna’ como a

principal causa para a insatisfação ao nível do conforto acústico nas suas casas.

Referem a ‘música dos bares com volume demasiado alto’ e os ‘aglomerados de

pessoas que se juntam à porta dos bares’ como as principais fontes de ruído durante a

noite. Alguns moradores afirmam sentir incómodo com o ‘ruído provocado pelos

vizinhos’, indicando que os ‘edifícios antigos, sem isolamento acústico’ em que vivem,

são os principais potenciadores deste problema.

Relativamente aos comerciantes é possível observar no gráfico que 23 dos

comerciantes inquiridos se encontram “Satisfeitos” e 22 “Um pouco insatisfeitos”, o

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Muito satisfeito

Satisfeito Um pouco insatisfeito

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Muito satisfeito

Satisfeito Um pouco insatisfeito

Insatisfeito Muito insatisfeito

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

114

que revela uma tendência para estes considerarem os ruídos ouvidos nos seus

estabelecimentos como minimamente aceitáveis.

Como já referido no caso dos moradores, o facto dos edifícios do Bairro Alto serem

bastante antigos, sem isolamento acústico e por vezes em mau estado, poderá

contribuir para que não haja uma satisfação plena por parte dos comerciantes perante

o ruído exterior. Ao compararmos este resultado com o dos moradores, é possível

verificar uma maior satisfação com este factor por parte dos comerciantes, o que

poderá acontecer visto o período de funcionamento dos estabelecimentos não se

estender até à noite, período em que o ruído exterior é muito maior, em virtude da vida

nocturna do Bairro Alto.

Relativamente às causas enunciadas pelos comerciantes, alguns referem que o ruído

ouvido durante o dia não causa incómodo, sendo este o ruído normal da actividade

diária da cidade. Outros referem que sentem algum incómodo devido ao ruído de

automóveis, ao estado de conservação e falta de isolamento acústico dos edifícios, ou

ainda pelo barulho emitido por vizinhos, nomeadamente pelo volume alto de música.

Questão 18: Segurança

Nesta questão foi pedido aos moradores para classificarem a segurança no Bairro

Alto, numa escala que varia entre “Muito boa” e “Muito má”.

Moradores Comerciantes

Podemos verificar que 22 dos habitantes a classificaram como “Razoável”, 16 como

“Má”, 6 como “Muito má” e apenas 5 como “Boa”. Estes resultados reflectem um

sentimento de insegurança partilhado pela maioria dos habitantes de Bairro Alto. Esta

insegurança sentida pode encontrar algumas explicações como a vida nocturna, que

acarreta consigo problemas como o tráfico de droga, furtos, desacatos, entre outros; a

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Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má

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Muito Boa Boa Razoável Má Muito Má

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

115

má iluminação de algumas ruas; o pouco movimento de pessoas que se verifica

durante o dia.

A quase totalidade dos moradores inquiridos refere que a insegurança que sentem no

Bairro Alto se deve à falta de policiamento durante a noite, sendo neste período que

mais sentem essa insegurança. Alguns referem que há ‘ruas mal iluminadas, propícias

a que haja assaltos’ e ‘tráfico de droga que aparentemente não é controlado’, o que

provoca um clima de insegurança para os moradores do bairro. Alguns moradores

afirmam já terem sido vítimas de tentativas de assalto, assim como de arrombamento

das suas habitações.

A maioria dos comerciantes considera a segurança no Bairro Alto “Razoável”, havendo

ainda alguns a considerarem que esta é “Má”. Se compararmos este resultado com o

dos moradores, é possível observar que os moradores apresentam uma tendência

para considerar a segurança pior do que os comerciantes, o que pode ser explicado

pelo facto de muitos dos comerciantes não habitarem no Bairro Alto, acabando por

não estar no bairro durante o período nocturno, período esse em que a segurança

será pior.

A maioria dos comerciantes considera que há ‘Pouco policiamento nas ruas do Bairro

Alto durante a noite’. Outros referem que há ‘Pouco controlo ao tráfico de droga nas

ruas do bairro’; ‘Devia ser posta em prática a videovigilância do Bairro Alto.

Questão 19. Propostas de melhoria

No que respeita a esta questão, foi pedido aos habitantes e comerciantes para

indicarem sugestões que possam melhorar as condições dos seus edifícios, assim

como as condições de vida no Bairro Alto.

As principais sugestões apresentadas por parte dos moradores com maior frequência,

tendo em vista a melhoria das condições dos edifícios, foram as seguintes:

• ‘Criação de um programa de reabilitação dos edifícios mais carenciados por

parte da Câmara Municipal’;

• ‘Disponibilização de maiores ajudas e subsídios aos proprietários para

realizarem obras de reabilitação nos seus edifícios’;

• ‘Melhor articulação entre Junta de Freguesia e Câmara Municipal, de maneira a

conseguir mais apoios aos proprietários, para a realização de obras de

reabilitação’;

Page 116: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

116

• ‘Nova Junta de Freguesia, que esteja mais atenta aos problemas dos

moradores, e que se concentre menos nos problemas dos proprietários de

restaurantes e estabelecimentos nocturnos’.

Foram ainda apresentadas outras sugestões, por parte de alguns moradores, como:

‘Realização de obras nos edifícios, por parte da Câmara, que renovem as fachadas

dos edifícios e coloquem isolamento acústico, de maneira a que a vida nocturna e

diurna coexistam de uma maneira mais harmoniosa’; ‘Obrigar proprietários a realizar

obras de manutenção mais regulares nos seus edifícios’.

No que diz respeito às condições de vida no Bairro Alto, houve também opiniões

partilhadas por muitos dos moradores inquiridos, nomeadamente:

• ‘Aumento de policiamento durante a noite’;

• ‘Melhorar a iluminação das ruas mais escondidas e com má iluminação’;

• ‘Pôr em funcionamento câmaras de vigilância em todas as ruas do bairro’;

• ‘Criar soluções de estacionamento para os moradores’.

Outras sugestões apresentadas por alguns dos moradores para melhorar as

condições de vida e o Bairro Alto enquanto espaço urbano foram: ‘Melhorar a

pavimentação das ruas’; ‘Redução do horário de funcionamento dos bares’; ‘Limitação

do nível de ruído da música nos bares’; ‘Instalar mais caixotes do lixo nas ruas’;

‘Realização de uma limpeza mais eficaz e, de preferência logo no final da noite, das

ruas do Bairro Alto’; ‘Proibição da venda de garrafas de vidro nos bares, durante a

noite, visto serem utilizadas muitas vezes em actos de vandalismo’.

As sugestões indicadas pelos comerciantes com maior frequência, tendo em vista a

melhoria das condições dos edifícios, foram:

• ‘Incentivos aos proprietários por parte da Câmara Municipal para a reabilitação

dos seus edifícios’:

• ‘Programa de reabilitação integral dos edifícios do Bairro Alto por parte da

Câmara Municipal’.

Outras sugestões apresentadas pelos comerciantes, com vista à melhoria das

condições dos edifícios do Bairro Alto foram: ‘Maior articulação entre Câmara

Municipal e Junta de Freguesia no apoio aos moradores e comerciantes’; ‘Obrigação

dos proprietários de realizarem manutenção regular dos edifícios’.

Relativamente às condições de vida no Bairro Alto, houve algumas opiniões

partilhadas por vários comerciantes inquiridos, nomeadamente:

• ‘Rever o actual modelo de tráfego condicionado’;

Page 117: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

117

• ‘Aumentar o policiamento das ruas do bairro durante a noite’;

• ‘Regular o nível de ruído dos bares durante a noite’;

• ‘Melhor entendimento entre a Junta de Freguesia e Câmara Municipal, de

maneira a dar resposta mais depressa aos problemas dos moradores e

comerciantes’.

Outras sugestões apresentadas por alguns dos comerciantes para melhorar as

condições de vida e o Bairro Alto enquanto espaço urbano foram: ‘Facilitar a entrada

de automóveis no bairro, mas controlar o estacionamento’; ‘Maior controlo

relativamente aos graffiti’; ‘Pôr em prática o sistema de videovigilância do Bairro Alto’;

‘Dotar as ruas de mais caixotes do lixo, visto ao fim de cada noite as ruas estarem

repletas de lixo no chão, janelas e entradas dos edifícios’; ‘Instalar sanitários públicos

para evitar o cheiro insuportável que se sente todas as manhãs, principalmente aos

fins de semana’; ‘Facilitar a entrada de veículos de fornecedores sem se cobrar

qualquer taxa’.

Ao analisar as sugestões dadas por moradores e comerciantes, é possível verificar

algumas sugestões semelhantes, o que demonstra uma preocupação geral destes

utilizadores com certas questões prontamente enunciadas pelos mesmos, ao nível

das questões relativas ao Bairro Alto e ao seu edificado, levando a crer que estas

serão os problemas que mais incomodam os utilizadores do Bairro Alto.

Observando as sugestões que aparecem com mais frequência para dar respostas aos

problemas do edificado do Bairro Alto, é possível verificar que moradores e

comerciantes partilham a opinião de não há apoios suficientes aos proprietários, que a

dinâmica da Câmara Municipal neste campo não é suficiente e que o entendimento

entre a Câmara Municipal e a Junta de Freguesia não é o melhor, de maneira a

promover a recuperação e/ou preservação física do edificado do Bairro Alto.

Relativamente às sugestões dadas com maior frequência, tendo em vista a melhoria

do Bairro Alto enquanto espaço urbano, verificamos que há preocupações comuns,

principalmente no que respeita à segurança do bairro, assim como à questão da

circulação automóvel e falta de estacionamento.

Page 118: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

118

4.3.2. Questionários a Frequentadores

Questão 1: Vida diurna e nocturna

Nesta questão foi pedido aos frequentadores inquiridos para classificarem a relação

entre vida diurna e vida nocturna do Bairro Alto, e para indicarem sugestões do que

poderia ser feito para a melhorar.

Após analisar e sintetizar as respostas dadas, é possível apurar que a esmagadora

maioria dos frequentadores tem uma postura neutra relativamente à relação entre vida

diurna e nocturna do Bairro Alto, considerando que estas são diferentes. Os restantes

frequentadores referem que esta relação é boa ou má, havendo uma divisão de

opiniões entre este grupo. Quase unânime é a opinião de que o Bairro Alto é vivido de

maneira completamente distinta de dia e de noite, havendo muito pouco ou quase

nenhum movimento durante o dia, sendo invadido por pessoas no período nocturno.

Entre as sugestões apresentadas, é possível observar sugestões que são dadas por

vários frequentadores. As sugestões dadas, as que aparecem com maior frequência

são:

• Criar novos espaços de comércio, com uma maior heterogeneidade da oferta

para chamar mais e diferentes tipos de pessoas durante o dia;

• Aumentar o policiamento durante a noite;

• Efectuar uma manutenção e limpeza mais regular do bairro;

• Prolongar o horário de funcionamento do comércio para promover uma maior

mistura e encontro das diferentes pessoas que visitam o bairro;

• Instalar sanitários públicos no Bairro Alto;

• Divisão clara entre zonas de habitação e zonas de diversão, de maneira a que

as duas coexistam pacificamente, sem incómodo para os moradores.

Outras sugestões apresentadas por parte dos frequentadores com vista à melhoria da

relação entre vida diurna e nocturna do Bairro Alto foram: Melhor selecção e controle

das zonas onde se abrem novos bares, de maneira que haja maior segurança; Criar

atractivos diurnos diversos; Abrir escolas de artes, línguas, música, etc. de maneira a

atrair mais jovens durante o dia; Limpeza mais assídua das ruas; Incentivos fiscais

para se criarem mais espaços comerciais e culturais; Organizar feiras do livro, de

artistas, workshops, entre outros, de preferência diariamente; Criar associações,

galerias de arte, lojas de videojogos para atrair jovens durante o dia; Promover mais

actividades culturais de rua nas horas de transição entre o dia e noite, fazendo a

Page 119: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

119

divulgação destas através da colocação de MUPIS8 na rua; Incutir uma cultura de rua

através da introdução de mobiliário urbano nas ruas; Maior controlo do tráfico de

droga; Maior controlo da questão dos graffiti; Recolha do lixo deve ser efectuada

apenas depois do fecho dos bares; Espaços de comercio com rendas mais acessíveis.

As sugestões dadas pelos frequentadores demonstram uma grande tendência para

estes se focarem em três questões diferentes, sendo provável que estas sejam as

questões e/ou problemas que são imediatamente identificados pelas pessoas que

frequentam o Bairro Alto. As sugestões apresentadas apontam principalmente para a

dinamização do Bairro Alto durante o dia, para uma uniformização ou transição mais

suave entre o período diurno e o período nocturno, e para o aumento da segurança

principalmente durante o período nocturno.

Questão 2: Propostas de melhoria

Nesta questão foi pedido aos frequentadores para indicarem o que poderia ser feito

para melhorar o estado de conservação e condições ambientais dos edifícios do Bairro

Alto.

Entre as sugestões apresentadas, as que aparecem com maior frequência são:

• Programa de reabilitação geral do edificado do Bairro Alto promovido pela

Câmara Municipal ou em conjunto com outra entidade competente, ou

entidades privadas;

• Esforço conjunto entre proprietários e Câmara Municipal para se proceder à

reabilitação do edificado;

• Promover uma orientação para o arrendamento e/ou compra de imóveis por

parte dos jovens, de maneira a regenerar a população e recuperação do

edificado;

• Instalação de mais caixotes do lixo e limpeza mais regular do Bairro Alto, de

maneira a preservar com maior eficácia as fachadas dos edifícios;

• Proceder a medidas que obriguem os proprietários a reabilitar os edifícios em

pior estado.

Outras sugestões apresentadas pelos frequentadores inquiridos tendo em vista a

melhoria das condições físicas do edificado do Bairro Alto são: Instalação de sanitários

públicos de maneira a proteger as fachadas da sua utilização como um “grande urinol

8 MUPI – Mobiliário Urbano para Informação

Page 120: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

120

público”; Criação de espaços onde sejam permitidos os graffiti, de maneira a acabar

com este problema nos edifícios do bairro; Manutenção mais regular das fachadas.

As sugestões dadas pelos frequentadores demonstram uma tendência para haver

duas preocupações principais no que respeita ao estado de conservação dos edifícios

do Bairro Alto, sendo elas a urgência de uma intervenção geral no edificado do bairro,

tendo em conta as limitações económicas dos proprietários, e uma preocupação com

a imagem e limpeza do Bairro Alto, através manutenção e cuidado das fachadas dos

edifícios.

Questão 3: Propostas de melhoria

Foi pedido nesta última questão para os frequentadores apresentarem sugestões para

melhorar o funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano.

As sugestões apresentadas com maior frequência são:

• Medidas que obriguem os proprietários a reabilitar os edifícios em pior estado

de conservação;

• Parcerias público-privadas com vista a uma reabilitação integral do edificado do

Bairro Alto;

• Melhorar a segurança através de um policiamento mais eficaz do bairro,

principalmente durante a noite;

• Pôr em prática o sistema do vídeo-vigilância em todo o bairro;

• Melhorar a iluminação das ruas;

• Instalação de sanitários públicos;

• Restringir o acesso automóvel apenas a cargas e descargas;

• Melhoramento e/ou nivelamento dos pavimentos;

Outras soluções propostas pelos frequentadores para melhorar o funcionamento do

Bairro Alto enquanto espaço urbano foram: Criação de espaços de estada na rua, de

maneira a promover a mistura e encontro entre os diversos utilizadores do bairro;

Divisão entre zonas de habitação e zonas de lazer, de maneira a minimizar o impacto

da vida nocturna junto dos moradores; Reforçar o estacionamento na envolvente que

serve os habitantes do bairro; Repensar os acessos e sentidos de trânsito para evitar

os conflitos entre carros e pessoas; Repensar os acessos e sentidos de trânsito para

evitar os conflitos entre carros e pessoas; Prolongar o horário de funcionamento do

metropolitano para evitar o congestionamento do trânsito durante a noite; Colocar

isolamento acústico nos edifícios de habitação, sendo essas obras custeadas pelos

Page 121: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

121

proprietários dos bares; Limpeza mais regular das ruas e fachadas; Lançar concurso

de ideias para dinamização do bairro durante o dia; Rentabilizar os espaços através do

uso destes para comércio diurno e estabelecimentos nocturnos; Maior

heterogeneidade de comércio e usos dos edifícios de maneira a atrair diferentes tipos

de pessoas durante o dia.

Analisando as sugestões dadas pelos frequentadores do Bairro Alto, é possível

verificar que as principais preocupações ou problemas imediatamente identificados por

estes se prendem com as seguintes questões: Acesso automóvel, estacionamento e

conflito entre os automóveis e peões; Estado de conservação do edificado e condições

dos proprietários darem resposta a esta questão; Segurança do bairro no período

nocturno; Minimização do impacto da vida nocturna junto dos moradores; Dinamização

do bairro durante o dia.

4.4. ENTREVISTA COM A UNIDADE DE PROJECTO DO BAIRRO ALTO E BICA

Antes da elaboração dos inquéritos, e com o intuito de reunir mais informação para a

elaboração dos mesmos e do trabalho de campo, foi marcado um encontro com duas

arquitectas da Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica (UPBAB), que teve lugar no

dia 14 de Janeiro de 2010.

Encontrei-me com a Arq. Luísa Pereira Pinto e a Arq. Joana Cintra Gomes, com quem

conversei acerca de algumas questões do Bairro Alto, tentando tirar o melhor partido

da experiência das duas Arquitectas neste campo. Ao longo da conversa procurei

perceber qual a opinião das Arquitectas em relação a questões como os problemas

construtivos dos edifícios do Bairro Alto; o ambiente interior e condições de conforto

dos edifícios do Bairro Alto ou questões e relações funcionais do Bairro Alto enquanto

espaço urbano.

Relativamente aos problemas construtivos dos edifícios do Bairro Alto, a degradação e

falta de manutenção dos mesmos foi imediatamente apontada como o problema mais

flagrante. Muitos dos edifícios do bairro apresentam graves problemas de

manutenção, com problemas de infiltrações, deterioração de elementos estruturais e

fachadas. Além destes problemas algumas habitações apresentam carências graves a

nível funcional, como a inexistência de casa de banho, o que actualmente pode ser

considerado preocupante.

Page 122: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

122

Apesar de ser facilmente diagnosticados, são problemas cuja solução está longe de

ser fácil, devido a todas as questões de carácter social directamente associadas ao

mesmo. A falta de verbas por parte dos proprietários, falta de verbas por parte da

Câmara, as rendas antigas ainda em vigor, a falta de sensibilização dos deveres

enquanto proprietários, a existência de vários edifícios que não se encontram em

propriedade horizontal ou questões burocráticas são apontadas pelas Arquitectas da

UPBAB como algumas das principais causas para o agravar contínuo das condições

de preservação dos edifícios do Bairro Alto.

Apesar de não haver uma “fórmula” para solucionar este problema, as Arquitectas da

UPBAB sugerem um novo Regime de Arrendamento Urbano, mais eficaz, e uma

fiscalização mais apertada, com sanções mais fortes, como possíveis medidas para

ajudar a melhorar o panorama actual. Podendo a UPBAB recorrer a instrumentos

legais como a expropriação ou o direito de preferência, não existem no entanto verbas

para que estes, por si só, contribuam para o solucionar deste problema.

A questão da reabilitação ambiental e energética, na procura da sustentabilidade

ambiental dos edifícios Bairro Alto, foi um bocado secundarizada pelas arquitectas da

UPBAB, que preferiram focar a atenção nos problemas de degradação e manutenção

dos edifícios. Referiram, apesar disso, que o Bairro Alto foi dos primeiros bairros a ser

equipado com lâmpadas de baixo consumo, e que foi pioneiro com o seu calendário

da recolha do lixo porta a porta.

Outro tema abordado ao longo da conversa foram as relações funcionais no Bairro

Alto, como o tráfego/mobilidade a pé; comércio/habitação e a vida diurna/nocturna. As

arquitectas da UPBAB consideram que o actual modelo de tráfego em vigor no Bairro

Alto está longe de funcionar bem, sendo visível que não há oferta de estacionamento

suficiente para os automóveis que circulam no bairro, sendo recorrente haver carros

estacionados nos passeios, o que contribui para uma certa desordem e penaliza as

condições de acesso pedonal, sendo os moradores do bairro os principais

prejudicados. Sendo esta uma questão também muito delicada, tendo em conta todas

as implicações que uma alteração mais ou menos profunda ao modelo de tráfego

actual iria ter para os moradores e comerciantes do bairro, as arquitectas da UPBAB

apresentam como solução mais imediata para este problema uma maior fiscalização a

nível da circulação e estacionamento no bairro.

Relativamente à relação entre comércio e habitação, as arquitectas consideram que

estes coabitam com harmonia, sendo que há dois tipos de comercio no bairro: o

Page 123: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

123

tradicional, que serve a população do bairro, e o comércio das novas lojas de roupa e

outras, que não servem propriamente os habitantes do bairro, mas que acabam por ter

efeito positivo ao trazer visitantes ao bairro ao longo do dia.

A relação entre a vida diurna e vida nocturna é para as arquitectas da UPBAB outra

questão muito sensível, havendo implicações quer para moradores quer para os

comerciantes, qualquer que seja a medida tomada com vista a melhorar esta relação.

As arquitectas consideram que esta relação está longe de ser harmónica, entrando

antes em profundo conflito. Vêem como possíveis medidas a curto prazo, que podem

ajudar a caminhar no sentido de encontrar uma relação mais pacífica, as que têm sido

tomadas em reduzir o horário de funcionamento dos bares, e a “proibição” de abrir

novos bares no bairro.

A questão da gentrificação foi também abordada durante a conversa, considerando as

arquitectas da UPBAB que este fenómeno não aconteceu ainda, nem será provável

acontecer para já no Bairro Alto. Apesar de várias pessoas jovens irem morar para o

Bairro Alto, acaba por ser uma estadia passageira, mudando-se estes posteriormente

para outras zonas da cidade. A principal razão para que este fenómeno não tenha

ocorrido no bairro é para as arquitectas o facto de não existir oferta de estacionamento

ou garagens a servir as habitações, o que é uma exigência primária, que se encontra

já bastante enraizada na população mais jovem.

4.5. SUMÁRIO

Moradores

Após a análise dos inquéritos efectuados aos moradores do Bairro Alto, é possível

retirar algumas conclusões relativamente aos principais problemas ao nível do

edificado e do Bairro Alto enquanto espaço urbano, referenciados pelos moradores

inquiridos.

Relativamente aos edifícios de habitação, apura-se que para os moradores:

• O estado de conservação dos edifícios de habitação no geral é mau, com

vários elementos em estado de degradação elevado, como é o caso de

janelas, pavimentos, paredes e fachadas, sendo importante uma intervenção

geral ao nível das condições física dos mesmos, assim como um apoio mais

Page 124: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

124

eficaz e melhor articulação por parte da Câmara Municipal e Junta de

Freguesia aos proprietários e moradores;

• Foram reportados problemas ao nível do conforto térmico nos meses de Verão

e Inverno, sendo mais problemático o aquecimento durante o Inverno do que o

arrefecimento durante o Verão. É da maior importância a adopção de medidas

que melhorem o conforto térmico dos edifícios, que devem passar pela

reabilitação física dos mesmos, de maneira a recuperar, substituir ou introduzir

os elementos construtivos que influenciam o comportamento térmico no interior

dos edifícios, assim como a aplicação de painéis solares e colectores

fotovoltaicos;

• A iluminação natural nas habitações não é satisfatória, devendo ser outro

aspecto importante a ter em conta em futuras obras de reabilitação;

• A qualidade do ar não é a melhor, devendo-se dar especial atenção à

ventilação natural em futuras obras de reabilitação para melhorar o ar interior.

Para o caso do ar exterior, devem-se tomar medidas ao nível de politicas de

transportes;

• O conforto acústico é mau, sendo outro aspecto que é imperativo melhorar,

principalmente pela vida nocturna que funciona diariamente no Bairro Alto,

sendo uma forte fonte de ruído para os habitantes do bairro.

Relativamente ao Bairro Alto enquanto espaço urbano, os resultados permitem apurar

que para os moradores:

• A oferta de transportes públicos que servem o bairro é boa;

• A oferta de serviços e bens primários é boa;

• A circulação pedonal é boa, apesar de dificultada pela circulação e

estacionamento de automóveis em várias ruas do Bairro Alto, sendo importante

rever a questão do acesso automóvel ao interior do bairro;

• A oferta de estacionamento é escassa, sendo importante actuar neste campo,

ponderando bem as medidas a tomar, de maneira a não causar um maior

constrangimento à circulação pedonal;

• A relação entre a vida diurna e nocturna não é pacífica, havendo insatisfação

dos moradores principalmente face ao barulho e insegurança causados pela

grande afluência de pessoas ao bairro durante a noite.

Page 125: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

125

Comerciantes

Depois de analisar os inquéritos efectuados aos comerciantes do Bairro Alto, é

também possível sintetizar e retirar algumas conclusões relativamente aos problemas

enunciados pelos comerciantes, quer ao nível do edificado quer ao nível do Bairro Alto

enquanto espaço urbano.

Relativamente aos edifícios, apura-se que para os comerciantes:

• Há uma tendência para os edifícios se encontrarem num estado de

conservação razoável, havendo, no entanto, vários espaços em mau estado de

conservação. É importante que se proceda à reabilitação física destes espaços

comerciais, com prioridade para os que se encontram em pior estado de

conservação;

• O conforto térmico dos espaços comerciais do Bairro Alto é razoável, havendo

uma maior insatisfação com este factor no Inverno do que no Verão. Tomando

as medidas adequadas em futuras obras de reabilitação é possível melhorar

substancialmente o conforto térmico destes espaços, pelo que é importante

que se proceda à recuperação dos elementos construtivos que contribuem

para o comportamento térmico dos edifícios;

• A qualidade do ar é minimamente satisfatória, não sendo um factor prioritário a

melhorar. A qualidade do ar exterior, será a que mais influencia este factor,

visto os espaços comerciais se situarem no piso térreo. Devem ser tomadas

medidas, como já referido, ao nível da politica de transportes.

• A iluminação natural é razoável, pelo que também deve ter sida em conta em

futuras obras de reabilitação, de maneira a que seja melhorada;

• O conforto acústico é razoável face ao ruído emitido durante o período diurno.

Durante a noite a maioria dos estabelecimentos em estudo não se encontram

abertos, pelo que a melhoria do conforto acústico não é uma prioridade, sendo,

no entanto, um factor que interessa melhorar nos estabelecimentos comerciais

do Bairro Alto.

Relativamente ao Bairro Alto enquanto espaço urbano, os resultados permitem apurar

que para os comerciantes:

• A oferta de transportes públicos que servem o bairro é boa;

• A oferta de serviços e bens primários é boa;

Page 126: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

126

• O acesso automóvel condicionado causa alguns constrangimentos aos seus

negócios, ao impedir a entrada de fornecedores sem o pagamento de qualquer

taxa;

• A relação entre circulação automóvel e circulação pedonal é razoável.

• A oferta de estacionamento é escassa, sendo importante actuar neste campo,

ponderando bem as medidas a tomar, de maneira a não causar

constrangimentos à circulação pedonal;

• A relação entre vida diurna e vida nocturna do Bairro Alto é razoável, havendo

no entanto alguma insegurança durante o período nocturno.

Frequentadores

Através da análise das opiniões e sugestões dadas pelos frequentadores esporádicos

do Bairro Alto, relativamente ao seu edificado, é possível apurar que para estes:

• A condição física dos edifícios do Bairro Alto é má, sendo importante que os

proprietários realizem as obras de reabilitação e manutenção necessárias, ou

no caso de estes não terem condições para suportar os custos das obras da

intervenção, haver apoios da Câmara Municipal, ou ainda esta fazer parceria

com privados para se proceder a uma intervenção geral;

• As fachadas estão mal conservadas, mesmo em casos em que o interior dos

edifícios esteja em boas condições, sendo importante uma manutenção e

limpeza mais regular das mesmas;

Relativamente ao funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano, os

frequentadores consideram que:

• Há uma grande diferença entre a vida diurna e nocturna, não sendo esta

diferença necessariamente má. Devem ser tomadas medidas que diminuam o

impacto da vida nocturna junto dos moradores do bairro, assim como se deve

promover uma dinamização e revitalização da vida do bairro durante o dia;

• A segurança no Bairro Alto não é boa, sendo importante tomar medidas para

que esta seja mais eficaz, principalmente durante a noite;

• O acesso automóvel e estacionamento é mau, havendo certos conflitos entre a

circulação automóvel e pedonal, sendo importante actuar no sentido de reduzir

o impacto dos automóveis na vida do Bairro Alto.

Page 127: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

127

5. RECOMENDAÇÕES DE PROJECTO

Após o estudo, análise e síntese dos questionários efectuados aos diversos

utilizadores do Bairro Alto, é possível estabelecer linhas orientadoras para a

reabilitação e revitalização urbana deste bairro, assim como para o seu edificado.

Neste capítulo pretende-se então sintetizar possíveis medidas a tomar na reabilitação

e revitalização do Bairro Alto e na reabilitação ambiental do seu edificado.

Estratégias para a requalificação do Bairro Alto:

1. A reabilitação do edificado do Bairro Alto é essencial de maneira a travar o

progressivo envelhecimento da população e desertificação do bairro, e atrair novos

moradores. A reabilitação do edificado deverá ser feita de maneira a garantir a

salvaguarda e autenticidade deste conjunto urbano, dotando-o das condições

necessárias para atrair novos moradores, de diferentes tipos sociais, actividades e

idades.

A falta de verbas por parte dos proprietários e/ou a pouca consciência destes

relativamente aos seus deveres, como já referido, será sempre um entrave à

reabilitação do edificado do bairro. Seria importante que a par dos incentivos

fiscais já existentes, houvesse por exemplo parcerias entre a Câmara Municipal e

investidores privados – à imagem do que acontece em vários centros históricos

europeus – de maneira a garantir a reabilitação de todo o parque habitacional. A

actualização das rendas é outra questão que deve ser respondida, de maneira a

que os proprietários tenham condições de cumprir os seus deveres, e que o

mercado de arrendamento do bairro ganhe uma nova dinâmica, essencial para a

atracção de novos moradores.

2. A aposta numa maior heterogeneidade da oferta de espaços comerciais seria

importante, de maneira a satisfazer as necessidades dos habitantes, sem estes

terem de fazer grandes deslocações. O bairro está bem servido ao nível do

comercio de bens primários, tendo o restante comércio um carácter dirigido a um

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

128

público alvo muito específico, pelo que interessa apostar numa maior diversidade

de oferta ao nível do comercio.

Esta oferta de comércio mais diversa seria importante também para atrair mais

pessoas ao bairro durante o dia. A criação de espaços culturais que tivesse uma

boa oferta de actividades durante o dia seria uma possível medida para atrair

também diversas pessoas ao Bairro Alto durante o dia.

3. Relativamente à relação entre vida diurna e nocturna, seria importante que

houvesse uma transição o mais suave possível entre os dois períodos, e que a

vida nocturna tivesse o menor impacto possível para os moradores. O fecho dos

bares nocturnos, ou uma redução ainda maior dos horários de funcionamento

seriam medidas demasiado extremas, com fortes consequências para os

proprietários dos bares. Medidas referidas pelos utilizadores inquiridos, como a

participação dos proprietários dos bares em obras de reabilitação dos edifícios de

habitação de maneira a dotar estes de um isolamento acústico eficaz, ou a

concentração das zonas de lazer nocturna apenas numa parte do bairro poderiam

ser um princípio para que este problema fosse atenuado.

A melhoria da segurança durante a noite é uma questão a que importa também dar

resposta, devendo as ruas secundárias ser bem iluminadas. Outras medidas como

o reforço do policiamento ou a posta em prática do sistema de vídeo-vigilância são

possíveis medidas para aumentar a segurança do bairro durante a noite, sendo

estas, no entanto, medidas discutíveis.

4. O espaço público do Bairro Alto deve ser alvo de intervenção, através da

requalificação de pavimentos, escadas, corrimãos, entre outros, sendo importante

a limpeza e manutenção regular dos mesmos, principalmente após o fecho dos

bares. A colocação de caixotes do lixo e pequenos depósitos para recolha de

plásticos e vidro nas ruas seria importante para que durante a noite o lixo deixado

no chão fosse mais reduzido. Apesar do tecido urbano do Bairro Alto, com as suas

ruas bastante estreitas, poderia ser equacionada a instalação de novo mobiliário

urbano, como bancos e pequenas mesas, em ruas em que não haja acesso

automóvel, de maneira a promover o encontro de diferentes grupos de pessoas.

5. A oferta de transportes públicos é bastante boa, havendo várias paragens de

eléctrico e autocarro, assim como a estação de metropolitano Baixa-Chiado a

servir o Bairro Alto. Desta forma interessa promover o uso dos transportes

públicos, em detrimento do uso de veículo próprio.

Page 129: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

129

A circulação automóvel e oferta de estacionamento são um problema ao qual é

difícil dar resposta no Bairro Alto, devido à sua configuração urbana. Estando já em

prática uma modelo de tráfego condicionado, interessa promover ao máximo o

incentivo ao uso de transportes públicos em detrimento do uso de veículo próprio,

através de medidas como uma redução considerável do preço na compra de uma

habitação, às pessoas que se comprometerem a não ter um veículo próprio, como

acontece no caso já referido da cidade de Freiburg (ver Capítulo II, p. 42). O

acesso automóvel dever-se-á manter restrito aos moradores e comerciantes,

sendo importante que haja um maior controle relativamente ao estacionamento, de

maneira a evitar situações de carros mal estacionados que causem

constrangimentos à circulação automóvel e circulação pedonal.

Reabilitação ambiental e energética do edificado:

A reabilitação física do edificado do Bairro Alto é, como já referido, uma necessidade

para que estes dêem resposta às necessidades habitacionais actuais. De maneira a

conferir as melhores condições de conforto aos seus utilizadores e diminuir o consumo

de energia com o aquecimento, arrefecimento, ventilação e iluminação, contribuindo

assim para a redução das emissões de CO2, a reabilitação dos edifícios deve ter em

atenção os princípios do design passivo.

Apresento, de seguida, uma síntese de possíveis medidas de design passivo e activo

a tomar na reabilitação física dos edifícios do Bairro Alto, de maneira a promover o

maior conforto possível aos seus utilizadores:

1. A localização dos espaços interiores de permanência deve ser definida de maneira

a que estes tenham a melhor orientação solar possível, devendo os espaços de

utilização mais esporádica, como casas de banho e arrumos, ser localizados no

interior;

2. Proceder à reparação ou substituição dos caixilhos e vidros que constituem os

vãos por soluções mais eficientes. De preferência aplicar caixilhos de alumínio e

vidro duplo:

Page 130: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

130

3. Aplicar sombreamentos pelo exterior como portadas, venezianas, persianas,

toldos, ou, quando não for possível, pelo interior, de maneira a reduzir os ganhos

térmicos durante o Verão, e a controlar o nível de iluminação natural. Considerar

também o sombreamento já existente, originado pelos prédios vizinhos;

4. Definição dos espaços interiores, de preferência com poucos obstáculos entre

fachadas opostas, de maneira a promover a ventilação cruzada nocturna,

importante para o arrefecimento do interior durante o Verão;

5. Aplicação de bandeiras na parte superior das janelas e paredes interiores, de

maneira a que a ventilação natural nocturna se processe da maneira mais eficaz;

6. Desocupar os saguões de maneira a promover a ventilação cruzada, assim como

a iluminação natural dos edifícios;

7. Reparação das fachadas, de preferência com materiais originais, de maneira a

promover o efeito da inércia térmica, característico dos edifícios do Bairro Alto;

8. Aplicação de isolamento térmico nas coberturas, pelo interior, de maneira a evitar

perdas térmicas durante a estação de aquecimento, assim como proteger a

entrada de calor na estação de arrefecimento;

9. Aplicação de colectores solares e/ou paneis fotovoltaicos na cobertura ou no

interior dos quarteirões. Quando não for possível, aplicar células fotovoltaicas nas

coberturas, de maneira a não causar impacte visual;

10. Substituir aparelhos eléctricos e sistema de iluminação por aparelhos de maior

eficiência energética e dispositivos de iluminação de baixo consumo;

11. Aproveitamento das águas pluviais para usos não potáveis, como em descargas

de autoclismos;

12. Sensibilização ou fornecimento de documentação aos utilizadores, de maneira a

explicar como tirar o melhor partido de aspectos como a ventilação natural,

sombreamentos, entre outros, para que o desempenho ambiental e energético dos

edifícios seja o mais eficiente possível.

Page 131: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

131

CONCLUSÃO

A presente dissertação debruçou-se sobre o tema da reabilitação e sustentabilidade

em bairros históricos, tendo-se baseado num estudo junto dos utilizadores do Bairro

Alto de maneira a estudar a necessidade e pertinência de uma intervenção ao nível do

seu tecido urbano e edificado, na óptica da procura da sustentabilidade.

Observamos que no Bairro Alto, tal como na maioria dos bairros históricos

portugueses, tem havido um processo de degradação e desocupação em virtude da

expansão das cidades para a periferia, com a constante construção de novos e mais

atractivos edifícios. Este processo caminha no sentido oposto da sustentabilidade, ao

se promover a construção de novos edifícios em detrimento da recuperação dos já

existentes, e ao promover uma grande descentralização, que resulta num volume

maior de deslocações dos habitantes da periferia para o centro, e num maior

congestionamento do centro das cidades.

A reabilitação urbana, assente nas suas dimensões social, económica, cultural e

ambiental, assume assim uma grande importância para o desenvolvimento sustentável

das cidades. É através dela que é possível, além de ser preservada a integridade e

autenticidade do património, conferir aos edifícios mais antigos e/ou degradados, as

condições de habitabilidade e conforto necessárias para que sejam novamente

ocupados, resultando numa maior centralização, redução da construção de novos

edifícios, menor número e mais curtas deslocações, sendo assim promovido um

desenvolvimento mais sustentável das cidades.

O estudo apresentado mostra que a reabilitação urbana, no caso específico da

recuperação do edificado, representa por si só um forte contributo para o

desenvolvimento sustentável das cidades, quando esta procura conferir o melhor

desempenho energético e ambiental aos edifícios. Este bom desempenho dos

edifícios é possível ser alcançado através da utilização da aplicação de estratégias de

design passivo, que procuram tirar o melhor partido das características do clima local,

conferindo um maior conforto ao nível da temperatura, iluminação e qualidade do ar,

resultando num consumo de energia consideravelmente mais baixo.

O estudo realizado junto dos principais utilizadores do Bairro Alto mostra que, além

das condições físicas, o desempenho ambiental e energético dos edifícios não é

Page 132: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

132

satisfatório em factores como a temperatura, iluminação natural e ventilação natural.

Aplicando estratégias de design passivo nos edifícios do Bairro Alto, que originalmente

têm características propícias para a aplicação das mesmas, com as suas estruturas

pesadas, sólidas, com uma forte inércia térmica e com grande longevidade, poderá

contribuir-se para uma grande melhoria do desempenho ambiental e energéticos

destes edifícios.

Além das medidas passivas, é também importante considerar a medidas activas como

complemento para um melhor desempenho energético e ambiental, desde que seja

garantida a salvaguarda das características originais do edificado do Bairro Alto.

É possível observar também que ao nível do funcionamento do Bairro Alto como

espaço urbano, as questões da circulação automóvel, e principalmente da relação

entre vida diurna e vida nocturna, são factores de insatisfação para a generalidade dos

seus utilizadores, sendo importante actuar no sentido de minimizar o impacte destes

factores, nunca esquecendo que estes têm implicações no que respeita à

sustentabilidade económica do Bairro Alto.

O presente trabalho, baseado nos testemunhos dos diferentes utilizadores do Bairro

Alto, poderá constituir um ponto de partida para estudos futuros, na área da

reabilitação sustentável, mais aprofundados, que tenham como base uma amostra

maior e um tratamento estatístico mais adequado.

Concluindo, é possível afirmar que o Bairro Alto – com localização privilegiada na

cidade de Lisboa, grande valor patrimonial e cultural, edifícios com características

propícias à aplicação de medidas de design passivo, excelente oferta de transportes

públicos e boas condições de acesso pedonal – reúne um conjunto de potencialidades

que, através da sua conjugação com estratégias sustentáveis, poderá proporcionar

uma melhoria da qualidade de vida dos seus utilizadores.

Page 133: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

133

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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Page 137: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

137

ANEXOS

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

138

ANEXO 1: Questionário aos moradores do Bairro Alto

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

139

O presente questionário tem por objectivo recolher informação acerca das condições dos edifícios e condições de vida do Bairro Alto, para a elaboração de uma tese de Mestrado. Agradeço desde já a sua colaboração em responder atentamente às perguntas feitas. Todas as respostas são estritamente confidenciais.

MORADORES 1 – Classifique os seguintes factores de 1 a 5 (1 – pior classificação; 5 – melhor classificação):

2 - A sua habitação já sofreu obras de reabilitação? Quando?

....................................................................................................................................... 3 - Com que urgência pensa que a sua casa necessita de sofrer obras de reabilitação? ( ) Muita urgência ( ) Urgência ( ) Alguma urgência ( ) Pouca urgência ( ) Não necessita 4 - Que tipo de obras mais prioritárias considera serem necessárias na sua casa?

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

DURANTE O INVERNO: 5 - Qual o seu grau de satisfação com a temperatura na sua casa? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito

6 - Com que frequência utiliza aparelhos de aquecimento? ( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

7 - Com que frequência sente frio dentro de casa?

( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

Estado de conservação Temperatura Organização do espaço/divisões Luz Natural Qualidade do ar Decoração/Mobiliário Luz artificial Vista para o exterior

Page 140: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

140

8 - O que acha que poderia fazer para melhorar a temperatura da sua casa durante o

Inverno?

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

DURANTE O VERÃO: 9 - Qual o seu grau de satisfação com a temperatura na sua casa? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito 10 - Com que frequência executa as seguintes acções para arrefecer a casa? Muito

frequentemente Frequentemente Por vezes Raramente Nunca

Abrir janelas de dia

Abrir janelas de noite

Correr estores/portadas

Ligar ar condicionado

Ligar ventoinha

11 - Com que frequência sente calor dentro de casa? ( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca 12 - Preferia usar uma alternativa natural ao Ar Condicionado? ( ) SIM ( ) NÃO

Se sim, porquê?.............................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

Page 141: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

141

13 - O que acha que poderia fazer para melhorar a temperatura da sua casa durante o

Verão? ........................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

14 - Classifique os seguintes factores de 1 a 5 (1 – pior classificação; 5 – melhor classificação):

15 - Como classifica a relação entre a vida diurna (moradores) e vida nocturna (bares) do Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

16 – Qual o grau de satisfação com os ruídos (vindos de vizinhos ou da rua) que ouve em sua casa? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito Porquê? .........................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

Proximidade de transportes públicos Condições de acesso a pé Acesso automóvel Garagem Oferta de serviços/equipamentos Vaga de estacionamento perto de casa Proximidade de bens de 1ª necessidade

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

142

17 - Como classifica a relação entre mobilidade a pé e os automóveis no Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

....................................................................................................................................... 18 - Como classifica a segurança no Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

....................................................................................................................................... 19 - Que sugestões tem para melhorar as condições do seu edifício e condições de vida no Bairro? .......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

.......................................................................................................................................

MUITO OBRIGADO.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

143

ANEXO 2: Questionário aos comerciantes do Bairro Alto

Page 144: Estratégias de Reabilitação e Sustentabilidade

ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

144

O presente questionário tem por objectivo recolher informação acerca das condições dos edifícios e condições de vida do Bairro Alto, para a elaboração de uma tese de Mestrado. Agradeço desde já a sua colaboração em responder atentamente às perguntas feitas. Todas as respostas são estritamente confidenciais.

COMERCIANTES 1 – Classifique os seguintes factores de 1 a 5 (1 – pior classificação; 5 – melhor classificação):

2 – O seu estabelecimento já sofreu obras de reabilitação? Quando? ....................................................................................................................................... 3 - Com que urgência pensa que o seu estabelecimento necessita de sofrer obras de reabilitação? ( ) Muita urgência ( ) Urgência ( ) Alguma urgência ( ) Pouca urgência ( ) Não necessita

4 - Que tipo de obras mais prioritárias considera serem necessárias no seu

estabelecimento?

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DURANTE O INVERNO: 5 - Qual o seu grau de satisfação com a temperatura no seu estabelecimento? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito

6 - Com que frequência utiliza aparelhos de aquecimento? ( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

7 - Com que frequência sente frio dentro do seu estabelecimento?

( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca

Estado de conservação Temperatura Organização do espaço/divisões Luz Natural Qualidade do ar Decoração/Mobiliário Luz artificial Vista para o exterior

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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8 - O que acha que poderia fazer para melhorar a temperatura do seu estabelecimento

durante o Inverno?

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DURANTE O VERÃO: 9 - Qual o seu grau de satisfação com a temperatura no seu estabelecimento? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito 10 - Com que frequência executa as seguintes acções para arrefecer o ambiente? Muito

frequentemente Frequentemente Por vezes Raramente Nunca

Abrir janelas de dia

Abrir janelas de noite

Correr estores/portadas

Ligar ar condicionado

Ligar ventoinha

11 - Com que frequência sente calor dentro do seu estabelecimento? ( ) Muito frequentemente ( ) Frequentemente ( ) Por vezes ( ) Raramente ( ) Nunca 12 - Preferia usar uma alternativa natural ao Ar Condicionado? ( ) SIM ( ) NÃO

Se sim, porquê?.............................................................................................................

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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13 - O que acha que poderia fazer para melhorar a temperatura do seu

estabelecimento durante o Verão? ...............................................................................

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14 - Classifique os seguintes factores de 1 a 5 (1 – pior classificação; 5 – melhor classificação):

15 - Como classifica a relação entre a vida diurna (moradores) e vida nocturna (bares) do Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................

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16 – Qual o grau de satisfação com os ruídos (vindos de vizinhos ou da rua) que ouve no seu estabelecimento? ( ) Muito satisfeito ( ) Satisfeito ( ) Um pouco insatisfeito ( ) Insatisfeito ( ) Muito insatisfeito Porquê? .........................................................................................................................

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Proximidade de transportes públicos Condições de acesso a pé Acesso automóvel Garagem Oferta de serviços/equipamentos Vaga de estacionamento perto de casa Proximidade de bens de 1ª necessidade

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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17 - Como classifica a relação entre mobilidade a pé e os automóveis no Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................

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....................................................................................................................................... 18 - Como classifica a segurança no Bairro Alto? ( ) Muito boa ( ) Boa ( ) Razoável ( ) Má ( ) Muito má Porquê? .........................................................................................................................

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....................................................................................................................................... 19 - Que sugestões tem para melhorar as condições do seu edifício e condições de vida no Bairro? .......................................................................................................................................

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MUITO OBRIGADO.

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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ANEXO 3: Questionário aos frequentadores do Bairro Alto

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ESTRATÉGIAS DE REABILITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE CASO DE ESTUDO: BAIRRO ALTO

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O presente questionário tem por objectivo recolher informação acerca das condições dos edifícios e condições de vida do Bairro Alto, para a elaboração de uma tese de Mestrado. Agradeço desde já a sua colaboração em responder atentamente às perguntas feitas. Todas as respostas são estritamente confidenciais.

FREQUENTADORES 1 – Como classifica a relação entre a vida diurna e a vida nocturna do Bairro Alto? O que poderia ser feito para a melhorar? .......................................................................................................................................

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2 - O que poderia ser feito para melhorar o estado de conservação e condições ambientais dos edifícios do Bairro Alto? .......................................................................................................................................

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3 – Que sugestões tem para melhorar o funcionamento do Bairro Alto enquanto espaço urbano? .......................................................................................................................................

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MUITO OBRIGADO.