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Departamento de Engenharia Civil Estratégias de Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Construção Urbana Autor: Gonçalo Jorge Maia Pascoal Orientador: Mestre João Armando Pereira Gonçalves Instituto Superior de Engenharia de Coimbra Coimbra, Dezembro, 2010

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Departamento de Engenharia Civil

Estratégias de Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana

Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Construção Urbana

Autor:

Gonçalo Jorge Maia Pascoal

Orientador:

Mestre João Armando Pereira Gonçalves

Instituto Superior de Engenharia de Coimbra

Coimbra, Dezembro, 2010

AGRADECIMENTOS

Àqueles que contribuíram para a realização deste trabalho, expresso aqui o meu agradecimento.

Ao Senhor Professor João Gonçalves, orientador científico deste trabalho, pelo apoio, a solidariedade e a amizade com que me presenteou continuamente ao longo de todo o percurso.

Ao Senhor Arquitecto Jorge Pires, pela gentileza nas informações disponibilizadas.

Aos Senhores Professores da 1ª edição do Mestrado em Construção Urbana, pela preparação científica.

Aos meus colegas de curso, pelo constante apoio e amizade e pelas palavras de incitamento.

À minha irmã, por me ter dado muito mais do que tudo aquilo que eu algum dia poderei descrever, agradecer ou retribuir.

A todos, o meu muito obrigado.

Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana RESUMO

Gonçalo Jorge Maia Pascoal

iii

RESUMO

Este trabalho explora as diferentes especificidades associadas aos processos de participação pública e, partindo desse conhecimento, procura dar pistas que contribuam para a concepção e implementação de processos que viabilizem o reforço do envolvimento público em operações de reabilitação urbana.

Começam por se clarificar, não só os diferentes conceitos associados à “recuperação” de zonas urbanas, como as diversas problemáticas e mais-valias presentes nos centros históricos. Sucede-se uma descrição do que tem sido a reabilitação urbana em Portugal, em termos de legislação, de estratégias e mecanismos operacionais e de resultados alcançados.

A dissertação progride com a abordagem da temática da participação pública, tendo como principal objectivo a apresentação e caracterização de algumas técnicas que permitem o envolvimento efectivo dos intervenientes nos processos participativos. Como enquadramento a tal apresentação, identificam-se as especificidades que influenciam a sua selecção, como sejam os intervenientes e as formas e níveis de participação. Abordam-se ainda, os benefícios e os entraves associados a este tipo de processos, fazendo por fim, uma referência aos documentos normativos vigentes no nosso país respeitantes a esta matéria.

A investigação levada a efeito incluiu a análise de uma situação concreta para procurar verificar como na prática são tratados alguns dos temas estudados; foi assim estudado o caso referente ao Processo de Reabilitação e Revitalização do Centro Histórico de Évora.

Com base nos conhecimentos reunidos e nas análises feitas, elaborou-se uma proposta de metodologia passível de reforçar o envolvimento efectivo do público em operações de reabilitação urbana.

Em suma, esta tese procura expor a importância de uma correcta definição dos processos de participação pública para a obtenção de operações de reabilitação ajustadas a cada aglomerado urbano e aos seus habitantes.

Palavras-chave – Reabilitação urbana e Participação pública.

Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana ABSTRACT

Gonçalo Jorge Maia Pascoal

vi

ABSTRACT

This work explores the different characteristics associated with the processes of public participation and, based on this knowledge, aims to assist in the development and implementation of strategies that foster public involvement in urban rehabilitation operations.

It starts by clarifying not only the different concepts associated with "recovery of urban areas” but also the various problems and benefits present in the historic centers. This is followed by a description of what has been the urban rehabilitation in Portugal, in terms of legislation, strategies, operational mechanisms and results.

The dissertation proceeds with a study about public participation, with the primary aim of presenting some techniques that enable the effective involvement of stakeholders in participatory processes. Prior to this characterization, some basic criteria that influence their selection (such as actors and the forms and levels of participation) are presented. Furthermore, it approaches benefits and barriers associated with this type of processes, ultimately making a reference to the normative documents in force in our country concerning this matter.

The investigation included the study of a real situation in order to understand how some of these subjects are treated in practice;, a case study related to the Process of Rehabilitation and Revitalization of the Centro Histórico de Évora was analysed.

Based on the knowledge gathered and the analysis undertaken, a methodology is proposed that aims to strengthen the effective involvement of the public in urban rehabilitation operations.

In short, this thesis aims to show how the definition of public participation processes may be important for obtaining rehabilitation operations adjusted to each urban area and its population.

Key-words – Urban regeneration and public participation.

Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana ÍNDICE

Gonçalo Jorge Maia Pascoal

v

ÍNDICE

RESUMO……………………………………………...…………………………………...…iii

ABSTRACT……………...…………………………………………………………………...iv

ÍNDICE………………………………………………………………………………………...v

ÍNDICE DE FIGURAS……………………………………………………………...………vii

ÍNDICE DE QUADROS…………………………………………..………………………...ix

ABREVIATURAS………………………………………………………………………….....xi

1. INTRODUÇÃO……………………………………………………………………...1

1.1. Enquadramento do tema…………………………………………………………..1

1.2. Objectivos e Metodologia………………………………………………………….2

1.3. Estrutura da Dissertação…………………………………………………………..2

2. REABILITAÇÃO URBANA……………………………………………………….3

2.1. Enquadramento Conceptual………………………………………………………3

2.2. Conceitos gerais……………………………………………………………………4

2.3. Objectivos Perseguidos Pelas Acções de Reabilitação Urbana……………..5

2.4. Centros Históricos e a Reabilitação……………………………………………...7

2.4.1. Problemáticas e Suas Consequências………………………………………….7

2.4.2. Mais-valias Existentes nos Centros Históricos…………………………………9

2.5. Reabilitação Urbana em Portugal……………………………………………….11

2.5.1. Enquadramento Legislativo/Documental……………………………………….11

2.5.2. Principais Instrumentos Financeiros de Apoio à Reabilitação………………14

2.5.3. Parcerias para a Regeneração Urbana………………………………………...17

2.5.4. A Reabilitação do Edificado nos Últimos Anos………………………………..18

2.5.5. Algumas Casos Nacionais…………………………………………………….....21

3. PARTICIPAÇÃO PÚBLICA……………………………………………………..29

3.1. Enquadramento Conceptual…………………………………………………….11

3.2. Objectivos da Participação Pública.……………………………………………30

3.3. Intervenientes……………………………………………………………………..30

Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana ÍNDICE

Gonçalo Jorge Maia Pascoal vi

3.4. Formas da Participação………………………………………………………….32

3.5. Níveis de Participação……………………………………………………………33

3.6. Ferramentas e Técnicas de Participação……………………………………...37

3.7. Benefícios da Participação………………………………………………………50

3.8. Entraves à Participação………………………………………………………….51

3.9. Enquadramento Legislativo/Documental………………………………………53

3.9.1. A Participação Pública nas Leis Fundamentais………………………………53

3.9.2. A Participação Pública nos Processos de Planeamento e Ordenamento Territorial………………………………………………………………………...…54

4. ESTUDO DE CASO………………………………………………………………59

4.1. Estratégia…………………………………………………………………………..59

4.1.1. Enquadramento……………………………………………………………………59

4.2. Comunicação e Participação Pública…………………………………………..68

4.2.1. Plano de Divulgação e Comunicação para o programa ACRÓPOLE XXI…68

4.2.2. Sessões de Debate Público Promovidas pelo Grupo Pro-Évora……………69

4.3. Análise Critica…………………………………………………………………..…71

5. UMA PROPOSTA DE METODOLOGIA……………………………………….75

5.1. Metodologia………………………………………………………………………..75

6. CONCLUSÃO……………………………………………………………………..83

BIBLIOGRAFIA………………………………………………………….…87

Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana ÍNDICE DE FIGURAS

Gonçalo Jorge Maia Pascoal

vii

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 2.1. Degradação do parque habitacional……………………………………………….8

Figura 2.2. Os sem-abrigo nas ruas de Lisboa………………………………………………...9

Figura 2.3. Actividade de lazer angariadora de população para o centro Histórico do Porto (www.1000imagens.com)....................................................................................10

Figura 2.4. Reabilitação do edificado e construção novas, 1995-2008 (INE, 2008)………...19

Figura 2.5. Planta Ribeira/Barredo cadastro 1969……………………………………………23

Figura 2.6. Ribeira/Barredo hoje……………………………………………………………..24

Figura 2.7. Planta do Centro Histórico de Guimarães (www.robotica.dei.uminho.pt)..........26

Figura 2.8. Centro histórico de Guimarães (www.flickr.com)..............................................26

Figura 2.9. Planta da Cidade de Coimbra 1873-1874 (www.skyscrapercity.com)................27

Figura 2.10. Unidade espacial Rua da Sofia/Pátio da Inquisição (www.skyscrapercity.com).....................................................................................................27

Figura 3.1. Oito degraus da escada da participação cidadã (Arnstein, 1969)……………….…..33

Figura 4.1. A cidade de Évora e a localização do Centro Histórico……………………….…59

Figura 4.2. Planta do Centro Histórico de Évora (Parque EXPO 98, 2008, 41)…………………......60

Figura 4.3. Centro histórico de Évora (www.flickr.com)......................................................61

Figura 4.4. Evolução da População Residente (Viver Évora, 2009)…………………………62

Figura 5.1. Formas de tomar uma decisão (Saboya, 2007)…………………………………..82

Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana ÍNDICE FIGURAS

Gonçalo Jorge Maia Pascoal viii

Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana ÍNDICE DE QUADROS

Gonçalo Jorge Maia Pascoal

ix

ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 2.1. Edifícios concluídos para habitação familiar, por tipo de obra, 2001-2008 (INE, 2008)……………………………………………………………………………20

Quadro 2.2. Proporção da reabilitação do edificado relativamente às construções novas de edifícios concluídos para habitação familiar, 2001-2008 (INE, 2008)…………20

Quadro 3.1. Matriz de influência e interesse (URP, 1998).................................................31

Quadro 3.2. Ferramentas de participação (People and Participation)………………………...39

Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana ÍNDICE DE QUADROS

Gonçalo Jorge Maia Pascoal x

Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana ABREVIATURAS

Gonçalo Jorge Maia Pascoal

xi

ABREVIATURAS

ACRRU - Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística

BEI – Banco Europeu de Investimento

CME – Câmara Municipal de Évora

CPA – Código do Procedimento Administrativo

CPCI – Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário

CRP – Constituição da República Portuguesa

CRUARB – Comissariado para a Renovação Urbana da Área Ribeira/Barredo

DGOTDU – Direcção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano

EBF – Estatuto de Benefícios Fiscais

FDZHP – Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto

GTL – Gabinete Técnico Local

IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico

IHRU – Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana

IMI – Imposto Municipal sobre Imóveis

IMT – Imposto Municipal Sobre Transmissões Onerosas de Imóveis (IMT)

INS – Instituto Nacional de Habitação

IRS – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

IRC – Imposto sobre o Rendimento das pessoas Colectivas

LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil

NHCE – Núcleo do Centro Histórico de Évora

OHRU – Observatório da Habitação e da Reabilitação Urbana

PM – Programa Municipal

PMOT – Plano Municipal do Ordenamento do Território

PNPOT – Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território

PP – Plano Pormenor

PPP – Parcerias Público-Privadas

PRAUD – Programa de Recuperação de Áreas Urbanas Degradadas

Participação Pública em Operações de Reabilitação Urbana ABREVIATURAS

Gonçalo Jorge Maia Pascoal xii

PRID – Programa para a Recuperação de Imóveis Degradados

PRU – Programa de Reabilitação Urbana

QCA – Quadro Comunitário de Apoio

SRU – Sociedade de Reabilitação Urbana

UNESCO – United Nations Education, Science and Culture Organization (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura)

UOR – Unidades Operativas de Reabilitação

Introdução

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 1

1. INTRODUÇÃO

1.1. Enquadramento do tema

Em Portugal a importância atribuída à reabilitação urbana como processo de requalificação e revitalização do espaço urbano tem vindo a sofrer um aumento exponencial ao longo dos últimos anos. Este crescimento destoa ainda daquilo que tem sido a reabilitação no resto da Europa, uma vez que nos restantes países europeus tal importância já se encontra bem sustentada.

Por cá, perece que a opinião dominante mudou de um dia para o outro; até “ontem” saturava- -se o mercado com construção nova, “hoje”assiste-se a um despertar colectivo para a inevitabilidade da reabilitação urbana. A sabedoria popular afirma que “existem males que vêm por bem” e ainda “mais vale tarde do que nunca”; esperemos que assim seja, e que esta consciencialização permita desencadear um arranque definitivo nas intervenções sobre tecidos urbanos mais consolidados.

Para que este arranque obtenha sucesso existe a necessita de conceber processos de reabilitação urbana que alcancem uma verdadeira requalificação e revitalização. Isto só é possível com a identificação minuciosa das problemáticas que tomam conta de cada espaço urbano, para que estas possam ser combatidas e eliminadas. Da mesma forma, há que identificar as valências existentes em cada uma destas áreas para que possam ser exploradas e fortalecidas. Só partido desta identificação é que se podem começar a desenvolver processos de reabilitação adaptados a cada tecido urbano, não caindo no facilitismo de recorrer soluções que, por melhores que tenham sido os resultados obtidos num determinado tecido urbano dificilmente seriam a solução adequada para todos os outros.

É neste sentido que se torna indispensável o envolvimento das populações directamente afectadas pelo processo. Melhor que ninguém, elas podem identificar e transmitir á administração pública e/ou aos técnicos os problemas e necessidades vivenciadas no seu dia-a-dia. Assim, só através da participação pública é que os cidadãos podem interferir nas decisões que irão afectar a sua qualidade de vida, não ficando dependentes da vontade da administração e/ou os técnicos, ou do que estes acham que é melhor para eles, permitindo- -lhes deste modo assumir a responsabilidade pelos resultados.

Uma vez que dificilmente a maioria dos intervenientes, (muitas vezes devido a ideias e mentalidades pré-concebidas em relação à administração), irá exercer o seu direito participativo de forma espontânea, é necessário recorrer à implementação de processos organizados de participação pública que possibilitem o exercício da cidadania. A implementação deste tipo de processos não é um procedimento simples, mas deve começar por definir-se quais os resultados que se pretendem obter com o processo participativo e, a partir daí, ajustar as especificidades de todo o restante processo.

CAPÍTULO 1

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1.2. Objectivos e Metodologia

O objectivo deste documento é dar a conhecer as diferentes especificidades associadas aos processos de participação pública e partindo desse conhecimento auxiliar a elaboração de metodologias participativas que contem com estratégias operacionais que viabilizem o reforço do envolvimento público em programas de reabilitação urbana.

Em termos de metodologia esta dissertação pode essencialmente ser dividida em duas partes. Uma primeira parte mais conceptual, teórica e legislativa em redor das questões ligadas à reabilitação urbana e à participação pública e uma segunda parte de cariz mais prático onde para além de se expor e criticar um caso de estudo também se elabora uma proposta de metodologia para execução de processos de participação pública em operações de reabilitação urbana.

1.3. Estrutura da Dissertação

Esta dissertação é composta por seis capítulos, quatro destes (capítulo 2, capitulo 3, capítulo 4 e capítulo 5) são os grandes capítulos que estruturam todo o estudo, já o restantes dois capítulos são a introdução (capítulo 1) e a conclusão (capítulo 6) de todo o trabalho desenvolvido.

O capítulo 2 é dedicado ao desenvolvimento e explanação do tema da reabilitação urbana, que é um dos dois temas basilares desta dissertação. Este capítulo começa por abordar as questões conceptuais seguindo-se uma exposição das singularidades dos centros históricos contemporâneos e terminando com a descrição do que tem sido a reabilitação urbana em Portugal, em termos de legislação, de estratégias e mecanismo operacionais e de resultados alcançados.

O capítulo 3 é dedicado ao outro tema fundamental, a participação pública. Neste capítulo clarificam-se todas as especificidades associadas aos processos participativos, expõe-se de forma sistemática algumas ferramentas passíveis de ser utilizadas neste tipo de processos e ainda se faz uma referência aos documentos normativos vigentes no nosso país. Todas as informações presentes neste capítulo serão uma ajuda fundamental para quem pretende implementar um qualquer processo participativo.

No capítulo 4 descreve-se e critica-se um estudo de caso referente ao Processo de Reabilitação e Revitalização do Centro Histórico de Évora. Com este estudo pretende-se verificar como são tratados alguns dos temas abordados nos capítulos anteriores quando se passa para a implementação na realidade.

Com o capítulo 5 pretende-se, recorrendo a toda a informação documentada nos capítulos anteriores, elaborar uma proposta de metodologia que, recorrendo a vários processos participativos, seja capaz de reforçar o envolvimento público em programas de reabilitação, permitindo uma maior democratização dos mesmos.

Reabilitação Urbana

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2. REABILITAÇÃO URBANA

2.1. Enquadramento Conceptual

“A reabilitação urbana é um processo de desenvolvimento local, a construção de uma vida colectiva melhor em que a permanência do passado é legítima na medida em que se mantenha viva e actual, em que a comunidade precise dela para se ligar às suas raízes e se continuar criando, com base nelas, o seu próprio futuro.” (Pereira, 1991, 1)

O estado de degradação a que chegaram grande parte dos tecidos urbanos mais consolidados e a necessidade de fomentar o desenvolvimento das comunidades neles territorializada faz com que a reabilitação urbana assuma hoje importância crescente na requalificação e revitalização destas zonas, tornando-se uma componente indispensável da política das cidades e da política da habitação.

Para desencadear uma verdadeira requalificação e a revitalização respectiva, é necessário desenvolver processos de reabilitação que abranjam as diversas problemáticas que atrofiam este tipo de zonas. Estas problemáticas têm que ser combatidas não só através de uma reabilitação física, social, económica e ambiental.

As zonas sobre as quais um processo de reabilitação urbana se justifique podem apresentar diferentes realidades que vão desde zonas de habitação social, núcleos de barracas e de construções precárias, zonas industriais em declínio até centros históricos ou núcleos antigos degradados. Devido às diferentes especificidades de todas estas realidades o ideal seria estudar uma por uma, mas a exigência e a morosidade de tal abordagem leva a que o presente estudo incida apenas sobre a reabilitação urbana dos centros históricos.

Os habitantes e os problemas de cada centro histórico são únicos, variam de centro para centro e estão consideravelmente interligados com as evoluções com que as cidades se depararam ao longo dos tempos. Perante diferentes problemas serão necessárias diferentes estratégias e diferentes acções de intervenção, não existindo uma receita única.

Assim a cidade existente, em particular a antiga, deve ser considerada como um processo evolutivo, e não assumida como uma obra acabada no tempo (Panella et al. 1993, 33).

CAPÍTULO 2

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2.2. Conceitos Gerais

São várias as noções e as práticas associadas à “recuperação” de zonas urbanas, podendo ainda cada uma destas estar associada a diferentes escalas de intervenção: mais reduzida ou mais abrangente consoante se trate respectivamente de uma intervenção levada a cabo num edifício ou abrangendo uma dada área. Visto isto, e devido à dificuldade que os cidadãos têm em distingui-las, há a necessidade de apresentar definições esclarecedoras de tais temas, como as que são apresentadas por Aguiar, Cabrita e Appleton (1997):

a) Restauro - O restauro exige o lançamento de um conjunto de acções altamente especializadas, desenvolvidas de modo a recuperar a imagem, a concepção original ou o momento áureo na história de um edifício, no qual a sua arquitectura possuiu coerente totalidade.

b) Conservação - O termo “conservação” engloba todo um conjunto de acções destinadas a prolongar o tempo de vida de uma dada edificação e implica desencadear um conjunto de medidas destinadas a salvaguardar e prevenir a degradação, que incluem a realização de operações de manutenção necessárias ao correcto funcionamento de todas as partes e elementos de um edifício.

c) Manutenção – A manutenção implica uma série de operações empreendidas visando minimizar os ritmos de deterioração na vida de um edifício (ou de um determinado parque edificado) e desenvolvidas sobre as diversas partes e elementos da sua construção, assim como sobre as suas instalações e equipamentos. São operações programadas e geralmente efectuadas em ciclos regulares.

d) Revitalização - É o termo que se tem aplicado, sobretudo como significante de operações desenvolvidas em áreas urbanas degradadas ou em conjuntos arquitectónicos de valor histórico, de modo a relacionar as intervenções pontuais de recuperação dos seus edifícios com intervenções mais gerais de apoio à “reabilitação” das estruturas sociais, económicas e culturais locais, procurando a consequente melhoria da qualidade geral dessas áreas ou conjuntos urbanos.

e) Renovação urbana - A renovação urbana implica a demolição das estruturas morfológicas e tipológicas existentes numa área urbana degradada e a sua consequente substituição por um novo padrão urbano, com novas edificações (construídas seguindo tipologias arquitectónicas contemporâneas), atribuindo uma nova estrutura funcional a essa área. Esta estratégia de intervenção, até alguns anos atrás, encontrava-se profundamente ligada a (ou que procurava potenciar) uma determinada concepção de progresso e desenvolvimento, na qual o “antigo” era sempre desconsiderado e preterido por um “novo”, de duvidosa modernidade. Hoje, estas estratégias desenvolvem-se sobre tecidos urbanos degradados nos quais não se reconhece ou não se pode atribuir valor como património arquitectónico ou conjunto urbano a preservar.

Reabilitação Urbana

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f) Reabilitação urbana – A reabilitação urbana consiste numa nova política urbana que procura a requalificação da cidade existente, desenvolvendo estratégias de intervenção múltiplas, orquestrando um conjunto de acções coerentes e de forma programada, destinadas a potenciar os valores socioeconómicos, ambientais e funcionais de determinadas áreas urbanas, com a finalidade de elevar substancialmente a qualidade de vida das populações residentes, melhorando as condições físicas do seu parque edificado, os níveis de habitabilidade e de dotação em equipamentos comunitários, infra-estruturas, instalações e espaços livres de uso público.

Há ainda a considerar mais dois conceitos importantes neste contexto e no momento actual:

g) Requalificação urbana - Engloba processos de alteração em uma área urbana com o fim de conferir-lhe nova função ou novas funções, diferentes daquelas que já existiam e mais adaptadas ao contexto actual (Carta de Lisboa sobre reabilitação urbana integrada, 1995).

h) Regeneração urbana - apresenta-se como uma operação de renovação, reestruturação ou reabilitação urbana, orientada por objectivos estratégicos de desenvolvimento urbano, em que as acções de natureza material são concebidas de forma integrada e activamente combinadas na sua execução com intervenções de natureza social e económica (DGOTDU, 2008).

2.3. Objectivos Perseguidos Pelas Acções de Reabili tação Urbana

Quando se pretende realizar uma operação de reabilitação bem sucedida sobre um tecido urbano existente há a necessidade de estabelecer os objectivos a atingir com tal operação, sendo necessário um claro compromisso político para com tais objectivos (Paiva, Aguiar e Pinho, 2006).

Os objectivos da reabilitação urbana devem ser parte integrante das directrizes gerais para o desenvolvimento a longo prazo da cidade, município ou área metropolitana. Quando estes objectivos não são atingidos seguramente condenarão a intervenção ao insucesso. Os objectivos a atingir podem ser variados e estão dependentes da situação, dos problemas e das valências diagnosticados no tecido urbano a reabilitar. Destes objectivos existem aqueles mais facilmente identificáveis pela maioria dos cidadãos comuns, como por exemplo:

• Devolução da capacidade residencial perdida;

• Recuperação do edificado e melhoria das condições de habitabilidade;

• Resistência às tendências de migração da população para outras zonas;

• Criação de oportunidades de emprego local;

• Criação de equipamentos sociais e culturais;

CAPÍTULO 2

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• Fomento das actividades económicas.

Mas podem ser apontados outros; Baptista e Martinho (1997) identificam os seguintes:

• Revitalização e requalificação urbanística;

• Reforço da centralidade;

• Captação de mais população residente originando a revivificação da área;

• Promoção da integração social de faixas de população mais desfavorecidas e carenciadas;

• Reforço da animação, das sociabilidades locais e da dinamização cultural;

• Promoção das condições de envolvimento, de participação e de responsabilização dos agentes públicos e privados no desenvolvimento integrado e duradouro da cidade, e a participação activa da população.

Ou os que se são apontados por Paiva, Aguiar e Pinho (2006):

• Promover a coesão territorial;

• Contribuir para o desenvolvimento sustentável das cidades através da gestão cautelosa do ambiente;

• Promover um desenvolvimento turístico sustentável.

Tendo em conta o património herdado das gerações passadas, Panella et al. (1993), olham para a salvaguarda dos valores histórico-arquitéctonicas identitários da cidade como mais um objectivo.

Já Ferreira (2007) defende um outro objectivo não relacionado com o passado, mas com o presente, que é a readaptação das condições de mobilidade através da redução da dependência do automóvel e da promoção dos transportes públicos e da pedonalização.

Quando se pretende realizar uma operação de reabilitação sobre um tecido urbano existe assim, complementarmente um conjunto de domínios de intervenção principais a serem considerados, nomeadamente a acessibilidade, o uso e ocupação do solo, as actividades económicas, o desenho urbano, o reforço da segurança e a gestão local. A vitalidade de uma cidade depende de todos estes domínios que são fundamentais para a qualidade de vida das populações, para o seu enraizamento, para a sua identificação e sua satisfação em relação à sua área de residência.

Reabilitação Urbana

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2.4. Centros Históricos e a Reabilitação

2.4.1. Problemáticas e Suas Consequências

Como problemáticas características dos centros históricos contemporâneos há que destacar por um lado, a degradação física e ambiental e, por outro, a degradação económica e social; estas problemáticas estão interligadas uma vez que o aparecimento de umas dá origem às outras.

a) Degradação física e ambiental

Este tipo de degradação faz-se notar no parque habitacional envelhecido e bastante degradado, no património em risco, nos edifícios descaracterizados por intervenções desajustadas, na degradação dos espaços físicos e ainda no mau estado das redes de infra-estruturas, em geral antiquadas. Reflecte-se ainda na carência de espaços públicos favoráveis à instalação de famílias jovens, especialmente no que se refere a espaços de actividades lúdicas para crianças e adolescentes.

Quanto ao espaço público este apresenta-se como o “espelho” em que se revêem os residentes e a imagem que o bairro transmite para o exterior. Nesta medida, a qualidade do espaço público condiciona a auto-estima dos residentes, o estigma social de que se alimenta a exclusão e a atractividade do território para actividades mais qualificadoras (Baptista e Martinho, 1997).

Os fenómenos da degradação física em Portugal atingiram proporções particularmente graves devido aos investimentos na conservação de imóveis que não se realizam por serem incomportáveis para os senhorios que saíram muito prejudicados com as políticas aplicadas ao mercado de arrendamento, principalmente devido ao congelamento das rendas. Como consequência, o parque residencial das áreas centrais encontra-se em mau estado de conservação e desadaptado dos padrões actuais de habitação o que faz com que a população que tem possibilidade procure noutras zonas urbanas os padrões residenciais que correspondam às suas actuais exigências. Daqui advém a necessidade de recorrer ao investimento privado nas operações de reabilitação, uma vez que também não existem recursos financeiros para os investimentos necessários por parte do Estado e das Autarquias.

No entanto, de pouco adiantará investir na “paisagem urbana” se não se atacarem as desvantagens económicas e sociais.

CAPÍTULO 2

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Figura 2.1. Degradação do parque habitacional

b) Degradação económica e social

Este tido de degradação dos centros históricos está fundamentalmente relacionado com o declínio das actividades económicas e perda de competitividade relativamente a outras áreas urbanas, áreas estas que apresentam vantagens inegáveis tanto para os cidadãos, como para os sectores financeiros, de serviços e de comércio. As desvantagens dos centros históricos advêm fundamentalmente da difícil acessibilidade e a escassa capacidade de estacionamento em boa medida produzida pela topografia e pelo traçado da rede viária nestes locais.

A poderosa importância que factores como a facilidade de acessibilidade e a presença de parqueamentos gratuitos tem para os cidadãos pode-se compreender se tivermos em conta o comportamento da sociedade actual, em que a maioria da população parece já não conseguir sobreviver sem o seu próprio veículo automóvel e, como se não bastasse, tenta a todo o custo leva-lo consigo até às portas do seu destino, seja ele local de trabalho, de comércio, lazer, etc.

Em relação aos sectores financeiros, de serviços e de comércio, a sua motivação é a procura de zonas mais periféricas dos agregados metropolitanos onde o valor do solo é menos elevado e existam ainda condições para a instalação da sua actividade. Este foi o processo de crescimento urbano e económico das últimas décadas que gerou e acentuou polarizações espaciais e sociais originando uma transferência de muitas funções dos núcleos para essas novas zonas. Esses sectores, ao transferirem-se para essas novas zonas, beneficiarão de boas acessibilidade e da criação de locais que permitam acomodar um grande número de veículos automóveis.

Reabilitação Urbana

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Desenvolvem-se assim novos pólos com grandes quantidades de habitação nova que contrastam com os centros antigos em ruínas e em situação de risco para os moradores. Verifica-se também o aparecimento de edifícios afectos a serviços e grandes superfícies comerciais, geradoras de emprego e com preços, para os consumidores imbatíveis por parte do pequeno comércio tradicional, cada vez menos capaz de sobreviver nos núcleos das grandes cidades.

A população deixa assim de ter motivos para viver nos centros históricos ou mesmo para os frequentar originando o flagelo do despovoamento e a desvitalização económica destas zonas.

Todo este processo de transferência tem como consequência o isolamento de segmentos vulneráveis da população, promovendo problemas como a concentração de pobreza, a prostituição e o envelhecimento da população, sendo estes fenómenos o reflexo da degradação social experimentada nestas zonas (Figura 2.2.).

Figura 2.2. Os sem-abrigo nas ruas de Lisboa

2.4.2. Mais-valias Existentes nos Centros Histórico s

De forma a travar esta degradação é necessário intervir ao nível das valências que estes apresentam, uma vez que são locais de importante referência social e cultural, que dispõem de uma identidade própria, e de enquadramentos cénicos potencialmente muito atractivos.

Ao centros históricos são locais que também beneficiam da existência de edifícios e espaços de elevado valor patrimonial e de interesse público aos quais é necessário devolver a vida de forma a poderem atrair não só a actividade turística como actividades culturais, de recreio e lazer. No contexto do mercado do lazer e do turismo histórico e patrimonial a cidade é, hoje em dia (a par do litoral e do campo, e antes das montanhas), um dos quatro grandes destinos de férias.

CAPÍTULO 2

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A grande oferta e concentração de serviços nos centros históricos fazem parte das principais mais-valias destas zonas; tal permite aos seus habitantes beneficiar não só da pequena distancia entre a residência e os serviços como também da pequena distancia entre os vários serviços. Tudo isto leva a reduzidas e rápidas deslocações (na maioria das vezes deslocações pedonais sem preocupações com trânsito, estacionamento, etc.) a quem tem de tratar das suas obrigações e não pode perder muito tempo com isso. Por outro lado, esta concentração de serviços gera atracção de população de outras zonas da cidade que dela pretendem usufruir, também assim frequentando o centro histórico e contribuindo para a revivificação da zona.

O comércio tradicional existente nestas zonas tem que ser valorizado e estar adequado aos actuais hábitos de consumo para poder concorrer de igual para igual com os grandes centros comerciais. O mercado urbano de lazer aponta para a reactivação de usos passados, para a fabricação de produtos artesanais e para a mobilização e a concentração de elementos culturais e históricos de modo a mostrar que as cidades dispõem de um património valioso e digno de ser conhecido.

Em muitos caos são também notórias as vantagens das zonas mais centrais das cidades em termos da mobilidade, uma vez que estas zonas são apropriadas para as deslocações pedonais e normalmente bem servidas por uma grande oferta de transportes públicos. Tal possibilita a todo o público deslocar-se facilmente dentro da cidade sem ter os inconvenientes associados ao transporte privado como sejam:

• a necessidade de conduzir e a possibilidade de envolvimento em acidentes;

• a perda de tempo e o stress causados pelos engarrafamentos;

• a perda de tempo na procura de local de estacionamento;

• os custos com estacionamento e com o consumo de combustíveis;

• a poluição ambiental e sonora, etc.

Figura 2.3. Actividade de lazer angariadora de população para o centro Histórico do Porto (www.1000imagens.com)

Reabilitação Urbana

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 11

2.5. Reabilitação Urbana em Portugal

2.5.1. Enquadramento Legislativo/Documental

No nosso país tem-se assistido a sucessivas alterações à legislação afecta à reabilitação urbana. Essas sucessivas alterações demonstram o aumento que a importância atribuída a este tema tem sofrido ao longo das últimas décadas. Os seguintes diplomas comprovam isso memo.

a) Decreto-Lei nº 794/76

O primeiro Decreto-Lei pós 25 de Abril de 1974 a referir-se à reabilitação urbana, na altura denominada de renovação urbana, foi o 794/76 de 5 de Novembro. De relevante enaltece-se o estabelecimento de duas importantes figuras por parte deste diploma: «Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística» (ACRRU) e «Medidas Preventivas», que tinham como finalidade intervenções no património edificado de zonas históricas das cidades. Assim, tornou-se possível um alargamento substancial do poder de intervenção dos municípios em áreas degradas, designadamente, no âmbito das operações de reabilitação (Marques e Madeira, 2010).

b) Decreto-Lei n.º 104/2004

É com o Decreto-Lei n.º 104/2004 de 7 de Maio que é criado um regime jurídico excepcional de reabilitação de zonas históricas e de áreas críticas de recuperação e reconversão urbanística. Este diploma veio implementar uma nova forma de abordar e gerir a intervenção sobre a cidade consolidada, atribuindo a responsabilidade pelo procedimento de reabilitação urbana aos municípios. A estes foi dada a possibilidade de criar empresas municipais denominadas Sociedades de Reabilitação Urbana (SRU), com o intuito de conceder aos poderes públicos meios efectivos de intervenção e atribuindo-lhes poderes de autoridade e de polícia administrativa como os de expropriação e de licenciamento. Aos proprietários cabia promover a reabilitação dos seus imóveis, sendo a estes concedido o direito de solicitarem que o próprio município ou a empresa constituída para o efeito procedesse às obras necessárias, sem que o seu direito de propriedade fosse posto em causa. Os proprietários deviam ainda ser apoiados pelas SRU na preparação e execução das acções de reabilitação.

De acordo com esse diploma, concluída a reabilitação urbana da zona de intervenção as SRU eram extintas.

CAPÍTULO 2

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c) Decreto-Lei n.º 307/2009

Recentemente, a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 307/2009 de 23 de Outubro, estabeleceu um novo regime jurídico da reabilitação urbana. Este documento vem tentar dar resposta aos desafios com que a reabilitação urbana se depara nos dias de hoje, como sendo:

a) Articular o dever de reabilitação dos edifícios que incumbe aos privados com a responsabilidade pública de qualificar e modernizar o espaço, os equipamentos e as infra-estruturas das áreas urbanas a reabilitar;

b) Garantir a complementaridade e coordenação entre os diversos actores, concentrando recursos em operações integradas de reabilitação nas «áreas de reabilitação urbana», cuja delimitação incumbe aos municípios e nas quais se intensificam os apoios fiscais e financeiros;

c) Diversificar os modelos de gestão das intervenções de reabilitação urbana, abrindo novas possibilidades de intervenção dos proprietários e outros parceiros privados;

d) Criar mecanismos que permitam agilizar os procedimentos de controlo prévio das operações urbanísticas de reabilitação;

e) Desenvolver novos instrumentos que permitam equilibrar os direitos dos proprietários com a necessidade de remover os obstáculos à reabilitação associados à estrutura de propriedade nestas áreas.

Este novo regime jurídico da reabilitação urbana estrutura as intervenções de reabilitação com base em algumas definições fundamentais presentes no seu artigo 2.º, dentro dessas definições importa destacar três.

• Área de reabilitação urbana: a área territorialmente delimitada que, em virtude da

insuficiência, degradação ou obsolescência dos edifícios, das infra-estruturas, dos equipamentos

de utilização colectiva e dos espaços urbanos e verdes de utilização colectiva, designadamente no que se refere às suas condições de uso, solidez, segurança, estética ou salubridade, justifique uma intervenção integrada, podendo ser delimitada em instrumento próprio ou corresponder à área de intervenção de um plano de pormenor de reabilitação urbana.

• Operação de reabilitação urbana: o conjunto articulado de intervenções visando, de forma

integrada, a reabilitação urbana de uma determinada área.

• Reabilitação urbana: a forma de intervenção integrada sobre o tecido urbano existente, em que o

património urbanístico e imobiliário é mantido, no todo ou em parte substancial, e modernizado através da realização de obras de remodelação ou beneficiação dos sistemas de infra-estruturas urbanas, dos equipamentos e dos espaços urbanos ou verdes de utilização colectiva e de obras de

construção, reconstrução, ampliação, alteração, conservação ou demolição dos edifícios.

Reabilitação Urbana

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O mesmo documento apresenta no seu artigo 3.º os objectivos que a reabilitação urbana pretende alcançar, estes englobam muitos dos objectivos já apresentados anteriormente embora de uma forma mais ampla.

a) Assegurar a reabilitação dos edifícios que se encontram degradados ou funcionalmente inadequados;

b) Reabilitar tecidos urbanos degradados ou em degradação;

c) Melhorar as condições de habitabilidade e de funcionalidade do parque imobiliário urbano e

dos espaços não edificados;

d) Garantir a protecção e promover a valorização do património cultural;

e) Afirmar os valores patrimoniais, materiais e simbólicos como factores de identidade, diferenciação e competitividade urbana;

f) Modernizar as infra-estruturas urbanas;

g) Promover a sustentabilidade ambiental, cultural, social e económica dos espaços urbanos;

h) Fomentar a revitalização urbana, orientada por objectivos estratégicos de desenvolvimento urbano, em que as acções de natureza material são concebidas de forma integrada e

activamente combinadas na sua execução com intervenções de natureza social e económica;

i) Assegurar a integração funcional e a diversidade económica e sócio-cultural nos tecidos urbanos existentes;

j) Requalificar os espaços verdes, os espaços urbanos e os equipamentos de utilização colectiva;

l) Qualificar e integrar as áreas urbanas especialmente vulneráveis, promovendo a inclusão social e a coesão territorial;

m) Assegurar a igualdade de oportunidades dos cidadãos no acesso às infra-estruturas, equipamentos, serviços e funções urbanas;

n) Desenvolver novas soluções de acesso a uma habitação condigna;

o) Recuperar espaços urbanos funcionalmente obsoletos, promovendo o seu potencial para atrair funções urbanas inovadoras e competitivas;

p) Promover a melhoria geral da mobilidade, nomeadamente através de uma melhor gestão da

via pública e dos demais espaços de circulação;

q) Promover a criação e a melhoria das acessibilidades para cidadãos com mobilidade condicionada;

r) Fomentar a adopção de critérios de eficiência energética em edifícios públicos e privados.

De acordo com o artigo 5.º, o Estado, as Regiões Autónomas e as autarquias locais estão incumbidas de assegurar a promoção das medidas necessárias à reabilitação de áreas urbanas que dela careçam. Já o artigo 6.º atribui aos proprietários dos edifícios ou fracções o dever de assegurar a sua reabilitação, nomeadamente realizando todas as obras necessárias à manutenção ou reposição da sua segurança, salubridade e arranjo estético.

CAPÍTULO 2

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Este diploma estabelece dois tipos de operações de reabilitação urbana pelas quais os municípios podem optar, sendo elas a operação de reabilitação simples e a operação de reabilitação sistemática.

• Operação de reabilitação urbana simples consiste numa intervenção integrada de

reabilitação urbana de uma área, dirigindo-se primacialmente à reabilitação do

edificado, num quadro articulado de coordenação e apoio da respectiva execução

• Operação de reabilitação urbana sistemática consiste numa intervenção integrada de

reabilitação urbana de uma área, dirigida à reabilitação do edificado e à qualificação

das infra-estruturas, dos equipamentos e dos espaços verdes e urbanos de utilização

colectiva, visando a requalificação e revitalização do tecido urbano, associada a um

programa de investimento público.

2.5.2. Principais Instrumentos Financeiros de Apoio à Reabilitação

Devido aos elevados custos associados às intervenções de reabilitação existe a necessidade de auxiliar as Câmaras Municipais e os particulares que sofreram a degradação do seu património. Actualmente este auxílio é resolvido com recurso a programas de apoio à recuperação física que são concedidos através de incentivos fiscais e por meio de financiamentos (subsídios, empréstimos bonificados).

a) Incentivos fiscais

Existe um conjunto de políticas económicas destinadas a incentivar os particulares a intervir de forma mais activa no processo de reabilitação urbana. Este estímulo consiste na concessão de um conjunto de benefícios fiscais às acções de reabilitação de imóveis com incidência sobre quatro impostos: IRS, IRC, IMI e IMT, e ainda com a redução da taxa de IVA nas empreitadas de obras de reabilitação urbana realizadas em imóveis e em espaços públicos.

A concessão de incentivos fiscais às acções de reabilitação urbana é regulada pelo artigo 71º do Estatuto de Benefícios Fiscais (EBF) aprovado pelo Decreto-Lei n.º 215/89, de 1 de Julho e sofrendo a sua ultima alteração pela Lei 3-B/2010, de 28 de Abril.

b) Financiamentos

Os financiamentos disponíveis englobam fundos públicos e privados, sendo que dentro do financiamento público podem ser mobilizados recursos ao nível municipal, regional, nacional e internacional.

Os seguintes programas de financiamento público destinam-se a fornecer recursos que permitam a execução de intervenções de reabilitação no parque habitacional. Para beneficiar

Reabilitação Urbana

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 15

de tais financiamentos é necessário cumprir certas condições, condições essas que dependem do regime a que se pretende ter acesso.

• RECRIA (Regime Especial de Comparticipação na Recuperação de Imóveis Arrendados) – visa financiar a execução das obras de conservação e beneficiação que permitam aos senhorios e aos proprietários (ou aos inquilinos e aos municípios quando estes substituam aos senhorios), a recuperação de fogos e imóveis em estado de degradação, mediante a concessão de incentivos pelo Estado e pelos municípios. Este programa destina-se à recuperação de imóveis de arrendamento, consistindo numa comparticipação a fundo perdido concedida pelo IHRU e pelo município onde se situa o imóvel.

Este programa veio de certa forma procurar combater os efeitos prejudiciais gerados pelos sucessivos anos de congelamento das rendas.

As condições deste programa revelaram-se pouco atractivas especialmente devido a diversas alterações legislativas que nem sempre tiveram os efeitos pretendidos. Como exemplo destacam-se as medidas presentes no Decreto-Lei n.º 104/96, de 31 de Julho, que permitem aos municípios passarem a ter capacidade de acesso ao crédito para poderem substituir-se aos proprietários na realização de obras, na parte não comparticipada. Esta medida revelou-se pouco atractiva porque a execução coerciva de obras implicava que os municípios ficassem com vários encargos (realojamento, reparações exigidas pelos inquilinos depois das intervenções, entre outros). Além disso alguns municípios tinham um nível de endividamento elevado e puseram como condição para aderir ao programa que os encargos assumidos com este não fossem contabilizados como dívidas (Marques e Madeira, 2010).

• RECRIPH (Regime Especial de Comparticipação e Financiamento na Recuperação de Prédios Urbanos em Regime de Propriedade Horizontal) – tem como objectivo apoiar financeiramente a execução de obras de conservação e de beneficiação que permitam a recuperação de imóveis antigos, constituídos em regime de propriedade horizontal, mas apenas na componente dos espaços comuns.

O acesso a este regime está limitado às administrações de condomínio e aos condóminos de edifícios que tenham sido construídos até à data de entrada em vigor do RGEU ou após essa data, os que tenham licença de utilização emitida até 1 de Janeiro de 1970 e que sejam compostos pelo menos por quatro fracções autónomas, podendo uma delas ser afecta ao exercício de uma actividade de comércio ou pequena indústria hoteleira.

Apesar da adesão a este programa aparentar uma tendência crescente ainda estamos perante uma fraca adesão que talvez esteja relacionada com a excessiva burocracia que a regularização do acesso ao programa apresenta e com uma percentagem do

CAPÍTULO 2

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valor das obras concedido a fundo perdido pouco substancial para os proprietários que pretendem normalizar a situação predial do imóvel (Marques e Madeira, 2010).

• REHABITA (Regime de Apoio à Recuperação Habitacional em Áreas Urbanas Antigas) – consiste numa extensão do Programa RECRIA e visa apoiar financeiramente as Câmaras Municipais na recuperação de zonas urbanas antigas. Este programa abrange assim uma escala urbanística uma vez que não se restringe ao edificado isolado.

Os objectivos deste programa concentram-se no apoio à execução de obras de conservação, de beneficiação ou reconstrução de edifícios habitacionais e nas acções de realojamento provisório ou definitivo daí decorrentes, no âmbito de operações municipais de reabilitação dos núcleos urbanos históricos que sejam declarados como ACRRU e que possuam Plano Pormenor (PP) ou regulamentos urbanísticos aprovados.

Há que destacar a fraca adesão a este programa que conta com apenas cinco municípios do Continente a celebrar acórdãos de adesão com a Administração Central. Apesar da comparticipação concedida ao abrigo do REHABITA ser maior do que a concedida pelo programa RECRIA, a justificação desta fraca adesão está relacionada com a obrigatoriedade legal de o município ter de declarar como ACRRU a área onde se situa o imóvel. Isto envolve um trabalho rigoroso e minucioso no que toca ao levantamento das características habitacionais e seu estado de conservação, bem como à definição das características socioeconómicas da população residente, (Marques e Madeira, 2010).

• SOLARH (Programa de Apoio Financeiro Especial Para a Reabilitação de Habitações) – permite a concessão de empréstimos sem juros pelo Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), para realização de obras de conservação: em habitação própria permanente de indivíduos ou agregados familiares; em habitações devolutas de que sejam proprietários os municípios, as instituições particulares de solidariedade social, as pessoas colectivas de utilidade pública administrativa que prossiguam fins assistenciais; as cooperativas de habitação e construção e ainda em habitações devolutas de que sejam proprietárias pessoas singulares. Tem como intuito promover a reabilitação do parque habitacional e estimular a colocação no mercado de inúmeros fogos devolutos.

A regularização é demorada e dispendiosa e o facto do programa privilegiar população idosa, com poucos recurso e reduzido grau de instrução, limitou a sua aplicação.

Segundo Marques e Madeira (2010), através da análise efectuada aos programas RECRIA, REHABITA, RECRIPH e SOLARH averiguou-se que, de um modo geral, todos os programas se encontram longe de responder as necessidades efectivas de reabilitação.

Reabilitação Urbana

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Constatou-se assim que todos os programas em análise apresentam problemas relacionados com carências de verbas da administração pública, associadas a morosidades nos processos de candidatura e a grandes burocracias.

A aplicação dos programas referidos é, como se pode verificar, insuficiente para inverter o avançado estado de degradação do parque edificado.

Conclui-se que um processo de reabilitação urbana pode e deve beneficiar de todos os programas de financiamento disponíveis que sirvam os seus objectivos. Os objectivos de uma estratégia de reabilitação não devem ser definidos com base nos programas de financiamento que estão disponíveis; devem sim apresentar-se candidaturas a programas que financiem os objectivos indispensáveis para a reabilitação da zona a reabilitar.

2.5.3. Parcerias para a Regeneração Urbana

As Parcerias para a Regeneração Urbana são um instrumento para a implementação da Política de Cidades POLIS XXI, responsável por dar um novo impulso às cidades, principalmente com o programa destinado à regeneração urbana. Este programa que se foca nos espaços intra-urbanos específicos e não apenas nos tecidos históricos, visa a coesão e coerência do conjunto de cidade e envolve diferentes componentes como habitação, reabilitação e revitalização urbanas, coesão social, ambiente, mobilidade, etc.

Estas parcerias correspondem a programas de acção orientados para a revitalização integrada de espaços intra-urbanos, tendo como suporte uma estrutura de parceria local alargada, envolvendo:

a) O Município, a quem cabe tomar a iniciativa de estruturar a parceria e liderar a preparação do Programa de Acção;

b) Outros actores urbanos, nomeadamente:

• Empresas, intervindo através de investimentos directos e da participação em parcerias público-privadas (PPP);

• Associações empresariais, prestando apoio ou serviços a empresas ou outros actores envolvidos na Parceria Local;

• Serviços da administração central e outras entidades do sector público, actuando, no domínio das suas competências, no planeamento, execução, financiamento e gestão de infra-estruturas, equipamentos e serviços;

• Concessionários de serviços públicos, em particular na área dos transportes e ambiente;

CAPÍTULO 2

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• Instituições de ensino, de formação profissional e de investigação, actuando no quadro do apoio técnico, da qualificação de competências e da difusão do conhecimento;

• Fundações, organizações não governamentais (ONG) e outras associações cujo objecto social seja relevante para os objectivos do Programa de Acção;

• Moradores e suas associações, participando na proposta de soluções e na implementação de acções concretas previstas no Programa de Acção;

• Proprietários, intervindo em acções de reabilitação e valorização do respectivo património ou cedendo espaços necessários ao desenvolvimento das operações previstas.

Para além da participação na elaboração do Programa de Acção e do compromisso com o conjunto dos seus objectivos, cada parceiro deverá dar um contributo concreto e relevante para a sua execução.

Este Instrumento de Política terá o financiamento assegurado nos programas operacionais do QREN 2007-2013 e integra-se na Política de Cidades POLIS XXI que prevê o recurso a outras fontes de financiamento. Adicionalmente o Estado procurará novas fontes de financiamento, quer no quadro de parcerias público-privado, quer criando condições para um maior envolvimento de fundos privados.

A motivação para o estabelecimento de parcerias por parte dos privados pode ser nuns casos o lucro directo com a operação ou, noutros casos, as expectativas relacionadas com o aumento da qualidade de serviços e acessibilidades, com a valorização da propriedade ou numa maior competitividade gerada por maior procura e frequência da zona. Por parte do sector público, a motivação para o estabelecimento de parcerias não se reduz à obtenção de recursos financeiros extra mas para servir os diversos fins e objectivos da intervenção, como por exemplo o incentivo ao repovoamento recorrendo a parcerias com proprietários de imóveis, residentes, ou dinamização da economia local socorrendo-se de parcerias com comerciantes locais ou exteriores, proprietários, consumidores, etc.

2.5.4. A Reabilitação do Edificado nos Últimos Anos

Depois de mais de trinta anos em que a construção nova atraiu a quase totalidade do investimento no sector dos edifícios, a última década apresenta uma inversão, traduzida pela diminuição das construções novas. Entre 2001 e 2008 os edifícios licenciados em construções novas para habitação familiar viram o seu peso no total diminuir cerca de 11,1 pontos percentuais, evidenciando o peso crescente da reabilitação do edificado.

Apesar desta diminuição dos edifícios em construções novas, estes ainda apresentam grande predominância, representando 79,9% do total de todas as construções. Apesar de ainda ser um valor significativo, nota-se que a reabilitação na edificação é uma aposta crescente no sector da construção, com as alterações e ampliações a ganharem importância relativa face aos anos

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anteriores. Com valores superiores a 20% em reabilitação do edificado face ao total de todas as construções destacam-se as regiões do Alentejo e de Lisboa. Este facto pode resultar de algum modo, do reconhecimento de que existe uma saturação do mercado de novas habitações, o que leva a que as empresas de construção enveredem pela reabilitação do edificado.

É nas obras destinadas ao comércio que a reabilitação teve um maior peso no ano de 2008, correspondendo a cerca de 36,2%; já a indústria apresenta também um peso considerável das obras de reabilitação estando representada em 29,6% do total de obras concluídas em 2008.

Dos 53600 edifícios concluídos em Portugal no ano de 2008, 10700 correspondiam a obras de alteração, ampliação e reconstrução, o que leva a concluir que cerca de 20,1% das obras concluídas dizem respeito à reabilitação do edificado.

Da análise da Figura 2.4. pode-se constatar que em Portugal para o período de 1995 a 2008, a evolução das obras concluídas em edifícios (reabilitações do edificado e construções novas) levam a identificar duas fases de crescimento distintas. Uma primeira fase até 2002, em que Portugal apresentou uma relativa estabilidade das reabilitações do edificado, simultaneamente com um aumento das construções novas. Apesar de se ter já registado uma ligeira quebra das obras de reabilitação do edificado no período de 2001 e 2002, é principalmente a partir de 2003 que se observa a segunda fase em que se assiste a uma quebra sustentada (apesar de não muito acentuada) deste tipo de obras, associada a uma tendência de diminuição das construções novas.

Figura 2.4. Reabilitação do edificado e construção novas, Portugal, 1995-2008 (INE, 2008)

O estado de conservação do parque habitacional apresenta-se hoje na generalidade dos casos manifestamente deficiente, sendo os casos de abandono, mau estado e degradação das condições de utilização, de salubridade, de estética e de segurança uma realidade demasiadamente frequente e até generalizada.

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Segundo o estudo da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI) “Estratégia para a Dinamização da Construção e do Imobiliário”, Portugal apresenta cerca de 5,7 milhões de fogos construídos, dos quais cerca de 34%, ou seja, quase 2 milhões, necessitam de intervenção, sendo que 795 mil necessitam de profundas obras de reabilitação e, neste número, incluem-se mesmo 325 mil fogos muito degradados, que têm de ser alvo de intervenção urgente.

Quadro 2.1. Edifícios concluídos para habitação familiar, por tipo de obra, 2001-2008 (INE, 2008)

Quadro 2.2. Proporção da reabilitação do edificado relativamente às construções novas de edifícios concluídos para habitação familiar, 2001-2008 (INE, 2008)

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Portugal 18,7 16,9 18,6 20,3 19,8 21,7 22,2 21,9

Da análise dos quadros anteriores (Quadro 2.1. e 2.2.), facilmente se concluí que no que toca à habitação familiar o peso da reabilitação relativamente à construção nova tem aumentado nos últimos anos, fundamentalmente em resultado da redução progressiva da construção nova. Assim as perspectivas futuras para a construção nova apontarem para uma trajectória menos favorável do que a observada no passado recente. Estando actualmente o país equipado por um vasto conjunto de património edificado e infra-estrutural, é necessário mantê-lo e reabilita-lo para que continue a servir de forma eficiente as populações.

Esta progressiva redução da construção nova deve-se a uma inversão da política de habitação que estava muito virada para este tipo de construção. Para o presidente do IHRU, Nuno Vasconcelos «em termos de política de habitação, o futuro está na reabilitação e não na

construção nova», apesar de, segundo o mesmo, ainda existir espaço para se continuar a fazer habitação nova.

Também Elísio Summavielle antigo Director do IGESPAR e actual Secretário de Estado da Cultura afirma que «o futuro é a reabilitação. Cada vez mais se recupera e cada vez menos se

constrói de raiz».

Este futuro prognosticado para Portugal por estes dois agentes está ainda muito atrasado em relação à média europeia que, segundo dados do EuroConstruct, apresenta um volume de negócios da construção civil, na área da reabilitação de 37% contra os pobres 6,5% que Portugal está a alcançar nos últimos tempos. Alem disso a percentagem de reabilitação no

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

C o ns-trução N o va

R eabili-tação

do edi-f icado

C o ns-trução N o va

R eabili-tação

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R eabili-tação

do edi-f icado

C o ns-trução N o va

R eabili-tação

do edi-f icado

Portugal 43 219 8 073 46 470 7 834 40 542 7 525 32 534 6 618 33 693 6 666 29 647 6 430 33 946 7 550 35 748 7 834

Reabilitação Urbana

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segmento da habitação em Portugal situa-se nos 17,4%, enquanto na Europa as obras de reabilitação e manutenção de edifícios têm um peso idêntico ao da construção nova, ou seja 50%.

Definitivamente tem que se alterar esta situação que se vem mantendo apesar de toda a sociedade portuguesa definir a reabilitação como uma inquestionável prioridade.

Dois estudos recentes, o mencionado da CPCI (“Estratégia para a Dinamização da Construção e do Imobiliário”) e o da Associação de Empresas de Construção, Obras Públicas e Serviços (AECOPS) denominado “O Mercado da Reabilitação Enquadramento, Relevância e Perspectivas”, reconhecem na reabilitação urbana a salvação do sector da construção e imobiliário e a estratégia prioritária para o desenvolvimento do país.

Ambos os estudos apontam como principais medidas o «reforço de incentivos fiscais» e a criação de mecanismos legais de «agilização» dos processos em vigor como as principais medidas para dinamizar a reabilitação.

Para Reis Campos, presidente da CPCI, os trabalhos na reabilitação urbana seriam capazes de permitir a recuperação quase de imediato de cerca de 110 mil postos de trabalho, contribuindo assim para o desagravamento da crise resultante do esgotamento do modelo de desenvolvimento assente essencialmente na construção nova.

2.5.5. Alguns Casos Nacionais

Para ilustrar a história da reabilitação do edificado nos tecidos históricos das cidades portuguesas, vale a pena apresentar algumas intervenções que operaram em diferentes épocas e em diferentes regiões, referenciando alguns aspectos relevantes como sejam, os principais objectivos a que se propuseram e os principais programas de apoio a que recorreram.

a) Ribeira/Barredo

Em 1969 ficou concluído o Estudo de Renovação Urbana do Barredo coordenado pelo Arqt.º Fernando Távora e realizado pela Direcção de Serviços de Habitação da Câmara Municipal do Porto. Esta iniciativa é a primeira a substituir a política municipal de renovação urbana, que era usual nesta altura em Portugal, promovendo uma verdadeira política de reabilitação urbana. Os seguintes princípios da proposta avançada no Estudo de Renovação Urbana do Barredo traduzem esta inversão nas políticas (Pinho, 2009):

• Princípio da conservação integrada do património;

• Princípio da participação da população;

• Princípio do direito de toda a população a uma habitação condigna e satisfatória;

• Princípio da justiça social e da partilha por todos das mais-valias geradas pelo processo.

CAPÍTULO 2

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Posteriormente estes princípios influenciaram muitas experiências nacionais, designadamente, o Gabinete Técnico Local (GTL) de Guimarães.

A proposta tinha como objectivos centrais a conservação do património urbano e a melhoria da qualidade de vida das populações, sendo dado a ambos o mesmo nível de importância. É com o Estudo de Renovação Urbana do Barredo que são introduzidas ao nível nacional as preocupações com a dimensão social e funcional do património urbano, e é também este Estudo que avança a primeira proposta que se pode considerar de reabilitação.

Não se pode deixar de constatar e exaltar a actualidade da visão que o Estudo apresenta ao abordar aspectos que continuam a ser válidos nos dias de hoje e que vão desde a integração das políticas e das escalas de actuação, à participação e responsabilização dos actores, à monitorização e gestão contínuas dos processos (Pinho, 2009).

A realização deste Estudo foi encarada como um meio de criar um verdadeiro espírito de cidadania, de responsabilização, e como um instrumento para garantir a adesão da população ao processo e a sustentabilidade a longo prazo dos seus objectivos.

O princípio da participação da população foi assegurado por:

• inquéritos à população dos quarteirões de amostragem;

• reuniões efectuadas entre a equipa técnica e a população com vista a aferir os problemas e necessidades da população, a conhecer as suas reacções às propostas.

Para além do que se referiu anteriormente, o início do inquérito contou com a criação de grupos de trabalho com a população que, devidamente orientada, participou no levantamento dos problemas, no diagnóstico, na discussão das alternativas e na formulação das soluções. Paralelamente à actividade desenvolvida no âmbito dos grupos de trabalho, foram realizadas reuniões amplas de debate.

Este estudo só foi levado à prática após o 25 de Abril de 1974 quando a 7 de Outubro foi criado, por Despacho conjunto dos Ministérios da Administração Interna e do Equipamento Social e do Ambiente, o Comissariado para a Renovação Urbana da Área Ribeira/Barredo (CRUARB). Este Comissariado tinha por missão proceder à reabilitação da área e sua actividade iniciou-se com base nas propostas apresentadas pelo Estudo de Renovação Urbana do Barredo mencionado anteriormente.

No entanto muitas das ideias inovadoras presentes no Estudo não foram concretizadas devido ao afastamento que a operacionalização do CRUARB sofreu relativamente a esse mesmo estudo, tais como o papel do sector público e dos privados, a participação activa da população nas tomadas de decisão, a necessidade de integrar a reabilitação física com o desenvolvimento social e económico da área.

O que começou por ser uma operação com um carácter essencialmente social em que a manutenção da população enraizada e a melhoria das suas condições de vida eram os grandes

Reabilitação Urbana

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objectivos, passou, na década de 90, com a candidatura a Património Mundial pela UNESCO, a evoluir para uma intervenção de carácter integrado onde sucessivamente veio ganhando importância as preocupações associadas à salvaguarda do património, à dinamização da actividade lúdica, ao crescimento da vertente turística, à indução de novas actividades comerciais, entre outras (CRUARB, 2000).

O CRUARB inaugurou a sua actividade como Comissariado do Governo, com a renovação sistemática do Barredo, e entre 1976 e 1981 foram renovados dezenas de habitações por ano, estando em 1982, concluída a recuperação dos quarteirões mais degradados do bairro (CRUARB, 2000).

Figura 2.5. Planta Ribeira/Barredo cadastro 1969

No início, a operação dependia directamente do governo, mas a partir de 1982, em consequência da Lei das Finanças Locais, o governo deixa de poder investir de forma discriminatória nos investimentos das autarquias, e a operação passa assim da administração central para o município (CRUARB, 2000).

Ao mesmo tempo a área de intervenção sofre um alargamento, deixando de ser só a Ribeira e o Barredo e passando a abranger novas freguesias do centro histórico atingindo-se uma área de 90 ha, onde viviam, segundo o censo de 1981, cerca de 20000 habitantes, em 3200 edifícios. A maioria dos prédios era constituída por edifícios de arrendamento, em avançado estado de degradação (CRUARB, 2000).

Depois de 1990, o centro histórico é colocado como aposta da autarquia nos objectivos a curto, médio e longo prazo. Consequentemente os meios financeiros colocados à disposição do CRUARB são multiplicados, são criados novos mecanismos de intervenção como a Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto (FDZHP), o RECRIA e o projecto piloto urbano para a recuperação do Bairro da Sé (PPUB-SÉ) (CRUARB, 2000).

No ano de 2000 a área de intervenção abrangia 120 ha, 17000 habitantes e mais de 3000 edifícios com as recuperações a ultrapassarem as 500 habitações e os milhares de metros quadrados de espaços comerciais (CRUARB, 2000). Em 2003 o CRUARB deu lugar a um

CAPÍTULO 2

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novo modelo de gestão e intervenção sobre o tecido antigo através da constituição de uma Sociedade de Reabilitação Urbana.

Figura 2.6. Ribeira/Barredo hoje

b) Guimarães

Segundo Paiva, Aguiar e Pinho (2006), a reabilitação dos tecidos históricos de Guimarães apresenta-se como a mais destacada das experiências nacionais. Esta experiencia nasce em 1985 com a criação por parte da Câmara Municipal de um gabinete municipal GTL para gerir um processo de recuperação do centro histórico. A estratégia operacional do GTL de Guimarães privilegiava três frentes fundamentais de abordagem:

• o controlo, o estímulo e o apoio técnico às iniciativas particulares;

• a conservação, o restauro e a reabilitação modelares do património e dos edifícios de responsabilidade municipal;

• a requalificação dos espaços públicos.

E tinha como principais objectivos:

• a manutenção da população residente, proporcionando melhores condições de habitabilidade;

• a preservação/reposição da autenticidade dos modos de intervir no património;

• a progressiva adaptação do núcleo urbano histórico aos actuais modos de vida e às suas mais estritas exigências;

• uma reabilitação para e pelas pessoas, contra a segregação (gentrification1).

1 Expressão que ainda não consta nos dicionários de português e que traduz o processo de renovação e reconstrução em espaços urbanos que provoca a sua melhoria e consequente valorização imobiliária, dando origem a fenómenos de desalojamento dos moradores mais desfavorecidos.

Reabilitação Urbana

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O GTL, através dos financiamentos internos e do governo central, estruturou um conjunto de actuações que, além dos edifícios, incide também nos espaços públicos como método para induzir o investimento do capital privado nos edifícios limítrofes a esses espaços. O financiamento das intervenções tem sido proveniente do orçamento municipal, de diversos programas existentes nos Quadros Comunitários de Apoio (I, II, III), de fundos comparticipados cumulativamente pelo Estado e pelo Município para recuperação de imóveis arrendados.

Segundo Aguiar (2000), todos os anos Guimarães esgota praticamente os programas financeiros mobilizáveis. O autor refere-se a antigos programas no campo da reabilitação já extintos como o Programa para a Recuperação de Imóveis Degradados (PRID), o Programa de Reabilitação Urbana (PRU) e o Programa de Recuperação de Áreas Urbanas Degradadas (PRAUD), e a programas mais recentes como o RECRIA.

No período entre o ano de 1985 e 1998 foram intervencionados 331 edifícios, dos quais 40 foram financiados pelo antigo PRID e 91 pelo RECRIA (Aguiar, 2000).

Em 1998, o Centro Histórico de Guimarães foi declarado ACRRU, através do Decreto n.º3/98. A delimitação desta zona crítica implicou a delineação de uma série de acções estratégicas:

• A declaração da utilidade pública da expropriação urgente, com vista a executar trabalhos de recuperação na zona;

• A possibilidade de aquisição administrativa dos imóveis da zona;

• A demolição dos edifícios considerados perigosos para os seus ocupantes ou transeuntes;

• A realização de trabalhos de recuperação ou reparação de modo a diminuir as condições insuficientes de habitabilidade. (Geraldes, 2002)

Entre os anos de 1998 e 2005, as áreas de maior investimento no centro histórico de Guimarães foram a Urbanização e o Estacionamento, representando 63% e 20%, respectivamente, do investimento global. As restantes áreas de investimento são a Defesa do Meio Ambiente com 8%, a Habitação com 5%, o Planeamento e Urbanismo com 3%, a Administração Municipal com 1% e a Cultura com um valor inferior a 1% (Sousa, 2006).

Segundo as informações disponíveis no Web site da câmara municipal de Guimarães, nos últimos catorze anos foram intervencionados 314 edifícios, dos quais 103 (20,8%) foram objecto de intervenção com financiamento da Administração Central e Local e 225 (45,6%) intervencionados pela iniciativa privada sem qualquer comparticipação. Actualmente encontram-se já reabilitados cerca de 90% dos espaços públicos da área intra-muros.

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Figura 2.7. Planta do Centro Histórico de Guimarães (robotica.dei.uminho.pt)

Figura 2.8. Centro histórico de Guimarães (flickr.com)

c) Coimbra

Em 1996 foi apresentada e aprovada a candidatura ao PRU, programa que visava apoiar a revitalização e a requalificação de áreas urbanas (centros de cidades e suas periferias) com fortes sinais de depressão e degradação, com problemas graves de declínio económico e urbano, desemprego e deterioração da qualidade de vida, e acumulação de fenómenos de exclusão social e insegurança.

Reabilitação Urbana

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Este programa contou com um plano de financiamento suportado pela subvenção a fundo perdido, por um empréstimo bonificado BEI e por fontes nacionais onde avultava o financiamento autárquico.

Um dos onze sub-programas aprovados foi o denominado “Sub-programa 7 – Coimbra – Zona do Centro Histórico”. A zona de intervenção deste sub-programa era constituída por parte do centro histórico da cidade, abrangendo duas unidades espaciais distintas, a área poente da Baixinha e o início da Rua da Sofia/Pátio da Inquisição. Estas zonas eram envelhecidas, com uma população que sofria processos de isolamento devido ao risco de despovoamento, degradação física das habitações, património em risco e desvitalização económica acompanhada por problemas de desemprego e fenómenos de marginalidade.

Figura 2.9. Planta da Cidade de Coimbra 1873-1874 (skyscrapercity.com)

Figura 2.10. Unidade espacial Rua da Sofia/Pátio da Inquisição (www.skyscrapercity.com)

CAPÍTULO 2

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A intervenção tinha os seguintes objectivos:

• Tratar e requalificar os espaços públicos de maior dimensão – praças e jardim, criando um conjunto de zonas de estar e pólos de animação urbana;

• Promover a animação destes espaços através da localização de:

- equipamentos sociais de apoio directo à população local;

- equipamentos culturais com oferta de espaço físico para o fomento da actividade associativa local;

- equipamentos de cariz económico – serviços de apoio e encaminhamento da população local desempregada;

• Tratar e requalificar a teia de canais de comunicação que se pretendem apenas de utilização pedonal;

Entre os projectos executados podem referir-se:

• Pavimentação de dois conjuntos de ruas, largos e passeios, bem como a melhoria da iluminação pública, melhorando assim a circulação pedonal e a facilitando o acesso ao pequeno comércio da zona, contribuindo para a sua dinamização económica;

• Criação e requalificação do espaço público;

• Reabilitação de Imóveis.

Na zona da Baixinha e na perspectiva de animação dos espaços foram reabilitados alguns edifícios onde foram instalados equipamentos sociais:

• A Oficina do Idoso;

• A Casa Municipal da Vida Associativa;

• O Centro de Apoio à Mulher em Situação de Risco Social Agravado;

• Centro de Apoio Infantil.

Quanto aos edifícios mais degradados vêm sendo alvo de obras auxiliadas com o apoio dos programas nacionais, RECRIA, RECRIPH e SOLARH.

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3. PARTICIPAÇÃO PÚBLICA

3.1. Enquadramento Conceptual

A constituição de formas de gestão participativa tem como principal objectivo a democratização das relações entre o Estado e a sociedade, esta democratização pretende combater a exclusão de que é alvo os cidadãos, e principalmente os sectores populares, a quando da tomada de decisões nas políticas públicas que afectam as suas vidas.

Com a participação pública dos cidadãos na tomada de decisões administrativas pretende-se dar abertura, incentivar e objectivar a participação dos agentes sociais no processo de intervenção que será realizado no território que lhes diz respeito, para que de forma consciente e responsável se tomem as devidas decisões que permitirão modificar os seus modos de vida e alterar o seu habitat, proporcionando assim meios efectivos para o exercício de uma cultura de cidadania (Pereira, 1995).

A participação dos cidadãos nos processos que lhes dizem directamente respeito tem ganho uma importância crescente. É neste sentido que a participação pública se torna num veículo indispensável para o sucesso de qualquer operação de reabilitação urbana. Esta deve assim ser encarada como uma mais-valia e como um dos pilares fundamentais para a sustentabilidade de qualquer intervenção de reabilitação, até porque, este tipo de intervenção é feita, na maior parte das vezes, em zonas ocupadas/utilizadas por população.

O envolvimento dos habitantes e utentes dessas zonas tem uma elevada importância e utilidade uma vez que permite à Administração obter um conhecimento mais profundo da realidade existente, ao mesmo tempo, permite aos cidadãos a interacção com a Administração, o que resulta numa melhor aceitação e transparência das decisões tomadas por esta.

Os cidadãos não devem ser apenas consultados acerca dos objectivos e problemáticas; devem alem disso participar na procura e na concretização das soluções, de modo a que possam influenciar as decisões que irão afectar a sua qualidade de vida, não ficando dependentes da vontade da administração e/ou técnicos. O intercâmbio de conhecimentos entre ambas as partes beneficiará o resultado final da intervenção que será levada a cabo.

Para que se obtenham importantes contribuições por parte da população é necessário que lhe seja fornecida uma informação completa e objectiva, só com base nessa informação é que os cidadãos podem fazer parte de todas as fases do processo, desde a análise até à tomada de decisão. Essa tomada de decisão resultará dos consensos alcançados entre os vários grupos de habitantes ou utilizadores do território e a administração, e sairá beneficiada pela criação de relações horizontais interactivas que se opõem às rígidas estruturas hierárquicas.

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3.2. Objectivos da Participação Pública

O sucesso de qualquer processo de participação pública depende da concretização de 6 objectivos fundamentais:

• Educar e informar o público para que ele possa não só entender o processo, as questões e os valores, como também participar efectivamente;

• Dar ao público a possibilidade de partilhar os seus pontos de vista e de incorporar os seus valores na tomada de decisões;

• Melhorar a qualidade substantiva das decisões;

• Confiança crescente nas instituições;

• Redução de conflitos entre as partes interessadas;

• Obter um compromisso quanto à solução/projecto/plano.

3.3. Intervenientes

A participação da população pode-se efectivar não só a título individual, como através de grupos de pessoas que se associam com base num denominador comum.

Esse denominador comum pode ser o sector a que os indivíduos pertencem (associações de residentes, de proprietários, de trabalhadores, de utilizadores, etc.), a geração que representam (crianças, jovens, adultos ou idosos) ou a postura social que sustentam (estratos sociais, comunidades étnicas, comunidades culturais, comunidades religiosas).

Esta questão dos diferentes públicos a envolver nos processos de participação é muito importante, uma vez que ninguém deve ser excluído ou favorecido sob pena se considerar um processo discriminativo, embora nem todos precisem de estar envolvidos em cada iniciativa, em todos os níveis e em todas as fases.

Tem que se ter bem presente quais são os diferentes públicos envolvidos, pois só assim se pode lidar com as diferenças geradoras de conflitos e rivalidades existentes entre eles como sejam interesses, crenças ou convicções divergentes.

São vários os intervenientes que podem fazer parte do processo de participação, não existindo um limite para a selecção de participantes. Algumas técnicas utilizadas são baseadas em processos que permitem uma discussão pública tão aberta e tão abrangente quanto possível (ou seja, todos que pretendem devem ser autorizados a participar). Outras técnicas dependem da criação de um grupo coeso que constrói novos relacionamentos, necessitando assim que os indivíduos envolvidos se conheçam bem (ou venham a conhecer).

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Os intervenientes podem ser divididos em três categorias principais:

• Instituições públicas: as autarquias locais (municípios, províncias, regiões, etc.) agências funcionais (associações, câmaras de comércio, empresas de saúde, órgãos ambientais, universidades, etc.) sociedades controladas e coligadas;

• Grupos organizados: os grupos de pressão (sindicatos, associações, partidos e movimentos políticos, meios de comunicação de massa), as associações locais (associações culturais, ambientais, do consumidor, social, desportivo ou grupos recreativos, etc.) grupos não organizados:

• Os cidadãos e as comunidades (todos os membros públicos da comunidade local).

Os intervenientes a envolver num processo participativo são frequentemente chamados de stakeholders (partes interessadas), estes são, indivíduos, grupos ou organizações que podem influenciar ou ser influenciados pelo alcance da acção de uma organização.

Para identificar as categorias de stakeholders é necessário efectuar uma análise à comunidade. A segmentação das classes de stakeholders deve ser definida em relação ao grau de participação na formulação das políticas consideradas.

A identificação e selecção de stakeholders representa um passo fundamental, que pode ser conseguida através da identificação da capacidade de influência e do nível de interesse (Quadro 3.1.). A capacidade de influência do participante é determinada pelo seu tamanho, representatividade e recursos potenciais, conhecimentos e competências. O nível de interesse é determinado por dois factores: o impacto e relação da política em causa com a esfera de acção e objectivos dos intervenientes identificados; e as iniciativas de pressão que os

interessados possam colocar em prática para promover ou reivindicar os seus interesses ou

favorecer a sua participação na tomada de decisão (URP, 1998). Se se representar os stakeholders numa matriz de influência e interesse obtêm-se tem três categorias de participantes:

Quadro 3.1. Matriz de influência e interesse (URP, 1998)

Influência

Interesse

Baixa Alta Baixo

Stakeholder atraente categoria

que é oportuno envolver

Alto Stakeholder débil categoria que deve ser envolvida

Stakeholder essencial categoria que é necessário envolver

CAPÍTULO 3

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• Stakeholder essencial – aquele que deve ser envolvido, porque tem grande interesse e influência política e, portanto, forte capacidade de agir sobre as decisões que se pretendem tomar;

• Stakeholder atraente – aquele que convém estar envolvido, porque apesar do interesse reduzido tem grande influência. Esta categoria pode ser representada por grupos de pressão ou líderes de opinião que podem influenciar o público em relação a determinadas questões;

• Stakeholder débil – aqueles que têm grande interesse, mas pouca influência. Esta categoria é representada por aqueles que não dispõem dos meios e ferramentas para expressar em voz alta os seus próprios interesses. Essas pessoas muitas vezes coincidem com os grupos-alvo das politicas e, portanto, devem ser envolvidas na sua formulação.

3.4. Formas de Participação

A influência na tomada de decisões por parte dos intervenientes num processo participativo depende muito da forma de participação pretendida.

As seguintes formas de participação estão organizadas do nível mais baixo de interacção, em que os participantes desempenham um papel passivo não acrescentando nada ao processo, para o nível mais alto, em que os participantes desempenham um papel interventivo e são capazes de intervir através de iniciativas próprias.

• Passiva – participação efectivada através de informação dirigida aos participantes sobre o que se passou e vai passar;

• Informativa – forma de participação em que o que se pretende é dar responda as questões colocadas pelos participantes;

• Consulta – os participantes são consultados e as suas expectativas são ouvidas, mas as iniciativas podem ser levadas a cabo independentemente das “exigências” externas;

• Funcional – as pessoas participam organizando-se em grupos para atingir objectivos definidos à priori;

• Interactiva – as pessoas participam em análises conjuntas para definir acções;

• Mobilizadora – as pessoas participam tomando elas próprias a iniciativa independentemente das instituições externas.

Estas formas estão inter-relacionadas com os diferentes níveis de participação concedidos aos intervenientes nos processos participativos.

Participação Pública

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3.5. Níveis de Participação

Os níveis de participação são os diferentes graus de envolvimento concedidos aos outros por quem está a gerir um processo de participação.

Arnstein (1969), descreveu uma escada de oito etapas de participação que traduz a participação dos cidadãos no planeamento efectuado nos Estados Unidos. De forma ilustrativa (Figura 3.1.), apresenta-se uma escada de oito degraus, correspondendo “cada degrau à amplitude do poder da população em decidir as acções e/ou programas”, aumentando o poder destes à medida que se nos aproximamos do topo.

Figura 3.1. Oito degraus da escada da participação cidadã (Arnstein, 1969)

1 – Manipulação

Em nome da participação cidadã, pessoas são convidadas a participarem de comités ou conselhos consultivos sem real poder de decisão com o propósito explícito de as “educar” ou obter o seu apoio. Ao invés da genuína participação, este primeiro degrau da escada representa a distorção da participação num instrumento de relações públicas dos grupos com poder de decisão.

2 - Terapia

Em alguns aspectos, a terapia de grupo disfarçada de participação popular deveria estar no degrau mais baixo da escada, pois ela é tanto desonesta como arrogante. Seus administradores partem do pressuposto que a falta de poder é sinónimo de distúrbios mentais. Com base neste pressuposto, sob o manto ilusório de envolver os cidadãos no

CAPÍTULO 3

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 34

planeamento, os especialistas, na verdade, submetem as pessoas à terapia de grupo. O que torna esta forma de “participação” tão ofensiva é que as pessoas são envolvidas em muitas actividades, mas o foco está em curá-las de suas “patologias”, ao invés de mudar os factores que originaram suas “patologias”.

3- Informação

Informar os cidadãos dos seus direitos, responsabilidades e opções pode ser o primeiro passo e mais importante em direcção à legítima participação dos cidadãos. No entanto, muito frequentemente o ênfase é colocado num fluxo unidireccional de informação – dos técnicos para os cidadãos - sem que haja um canal de comunicação que permita o retorno, e menos ainda que haja poder de negociação. Sob estas condições, especialmente quando a informação é divulgada apenas nos estágios finais do planeamento, as pessoas têm pouca oportunidade de influenciar o programa que foi definido para “seu benefício". Os principais instrumentos desta comunicação unidireccional são as notícias na imprensa, os folhetos, os cartazes, e as respostas aos inquéritos.

As reuniões também podem ser transformadas em veículo de comunicação de sentido único, pelo simples mecanismo de divulgação de informações superficiais, desencorajando as perguntas ou dando respostas evasivas.

4 – Consulta

Solicitar a opinião dos cidadãos, assim como informá-los, pode ser uma medida legítima para a participação. Mas se a consulta não estiver integrada com outras formas de participação, este degrau da escada ainda é uma farsa, uma vez que não oferece nenhuma garantia de que as preocupações e as ideias dos cidadãos serão tomadas em consideração. Os métodos mais utilizados para consultar as pessoas são, os inquéritos, as reuniões de bairro e as audiências públicas.

Quando os tomadores de decisão restringem as contribuições dos cidadãos exclusivamente a este nível, a participação permanece apenas como uma formalidade de fachada. As pessoas são vistas basicamente como generalizações estatísticas e a participação é medida pelo número de pessoas presentes nas reuniões, quantos folhetos foram distribuídos ou quantas pessoas foram entrevistadas. O que os cidadãos conseguem em todas estas actividades é que eles "participaram na participação". E o que tomadores de decisão conseguem é a evidência de que eles cumpriram as normas de envolver "aquelas pessoas".

5 - Pacificação

É a partir deste nível que os cidadãos começam a ter algum grau de influência, embora o acesso ao poder seja ainda limitado. Um exemplo de uma estratégia de pacificação consiste em colocar algumas pessoas “confiáveis” no conselho da Agência Municipal de Acção Comunitária, ou em órgãos públicos como o Conselho de Educação, o Conselho de Segurança, ou a autoridade habitacional. Se essas pessoas escolhidas a dedo não tiverem

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Gonçalo Jorge Maia Pascoal 35

sido legitimadas pela comunidade e se a tradicional elite do poder detém a maioria dos lugares, essas pessoas podem facilmente perder as votações e serem dominados. O grau de pacificação dos cidadãos depende basicamente de dois factores: da qualidade da assessoria técnica independente que eles recebem para definir suas prioridades, e do grau de organização da comunidade.

6 – Parceria

Neste degrau da escada, há efectivamente uma redistribuição de poder através da negociação entre os cidadãos e os tomadores de decisão. Ambos os lados concordam em partilhar o planeamento e as responsabilidades de tomada de decisão através de estruturas, tais como conselhos paritários, comissões de planeamento e mecanismos para a resolução de conflitos. Após o estabelecimento de regras através de alguma forma de dar e receber, elas não podem mais ser modificadas unilateralmente.

A parceria funciona de forma mais eficaz quando existe uma efectiva organização popular na comunidade que mantém as lideranças responsáveis por prestar contas dos seus actos; quando a organização comunitária dispõe dos recursos financeiros necessários para pagar às lideranças algum tipo de compensação pelo seu trabalho; e quando a organização tem os recursos para contratar (e demitir) seus próprios técnicos, advogados e agentes de desenvolvimento. Com estes ingredientes, os cidadãos têm uma capacidade real de influenciar os resultados do plano (pelo menos, enquanto ambas as partes acharem que vale a pena manter a parceria).

7 – Delegação de poder

As negociações entre os cidadãos e técnicos do sector público podem resultar em haver cidadãos que alcançam poder máximo de decisão num determinado plano ou programa. Neste nível da escada estamos num ponto onde os cidadãos têm em mão as principais cartas do jogo para garantir que o programa atende aos interesses da comunidade. A resolução de divergências com os grupos poderosos faz-se com recurso a processos de negociação, sem a necessidade de se organizar pressão. 8 – Controle cidadão

Pressupõe que qualquer cidadão, mesmo aquele tratado como excluído, possa intervir nos processos de tomada de decisão sobre qualquer coisa que o afecte, podendo até mesmo chegar à implementação de iniciativas próprias.

Os conceitos apresentados anteriormente não têm um carácter rígido; eles permitem uma flexibilidade previsível e necessária na sua adopção teórico-prática. Assim sendo, não são receitas nem tão pouco servirão se os envolvidos não estiverem dispostos a inspirar-se neles e tentarem actuar do degrau Parceria (6) para cima. Mesmo que qualquer actuação parta do

CAPÍTULO 3

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degrau Informação (3) e dê os passos em direcção à participação já permitirá um ganho qualitativo ao nível da aprendizagem para todos os que se envolvem.

Nenhum dos níveis é necessariamente melhor que outro, cada um pode ser adequado em circunstâncias diferentes, assim é um erro grave presumir que mais participação é necessariamente melhor (Paul Burton apud Mulgan and Blears, 2005).

Entre as circunstâncias mais relevantes na adopção de um nível destacam-se os objectivos pretendidos por quem gere o processo e o tipo de grupos sociais representativos. No entanto cada nível representa diferentes equilíbrios de controlo entre os diferentes interesses.

A participação funcionará melhor para todos os interessados, quando cada um dos stakeholders estiver satisfeito com o nível de participação no qual está envolvido. Os que não têm muito interesse no assunto podem ficar satisfeitos apenas com a informação e consulta, já outros vão querer participar das decisões e, eventualmente, da realização das acções.

Deve-se, porém, ter ampla consciência de onde se quer chegar.

Quando se trabalha com participação pública, espera-se que um determinado nível seja alcançado e que as relações e instituições estabelecidas “não voltem para trás”, ao contrário, que apenas subam sem parar para os níveis superiores. A participação deve assim criar um sentimento de “Empowerment” 2, que se traduz num sentimento de propriedade entre os cidadãos para com a sua comunidade.

Este sentimento faz com que as pessoas se envolvam mais nos projectos e tenham uma pré-disposição maior para participar, proporcionando assim uma maior responsabilização das pessoas e grupos, e o aumento do sentimento de pertença e coesão (Fazenda).

O empowerment parte do pressuposto que os grupos marginalizados e discriminados na sociedade sofrem de uma falta de poder que os impede de lutar pelos seus direitos e usufruir de benefícios económicos e sociais, assim como de participar nas decisões políticas que interferem nas suas vidas. Para alterar esta situação é necessário dar a esses grupos o poder, a liberdade e a informação que lhes permite tomar decisões e exercer uma participação activa (Fazenda).

O objectivo do empowerment é a autonomia das pessoas desfavorecidas e a sua participação a um nível de igualdade com os técnicos, numa perspectiva de parceria e interacção com dois sujeitos (dominador/dominado). Isto exige uma mudança de atitude dos profissionais, principalmente em relação à partilha do poder e ao reconhecimento das capacidades dos seus clientes.

2 “Empowerment” refere-se a processos de desenvolvimento de poderes, capacidades e competências. Uma vez que a tradução deste termo não é consensual nem muito difundida, optou neste documento por utilizar sempre o termo da língua inglesa.

Participação Pública

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 37

No seguimento deste objectivo, Friedmann (1973) defende o transactive planning como a resposta para o fosso cada vez maior entre os técnicos de planeamento e os seus clientes. Esta resposta é dada pelo estabelecimento de relações de diálogo que constroem uma aprendizagem mútua em que cada um tem algo para dar e algo para receber. Tanto o profissional de planeamento (dominador) como o cliente (dominado) aprendem um com o outro, o profissional de planeamento contacta com o conhecimento pessoal do cliente e o cliente contacta com a perícia e conhecimentos técnicos dos profissionais de planeamento (Friedmann, 1973).

Importa clarificar os objectivos que se prossegue e não iludir os cidadãos sobre a influência que eles podem ter na tomada de decisões.

Num processo de participação da população, os responsáveis políticos, deverão ter em conta os seguintes aspectos:

• Nunca fazer promessas que não se podem cumprir, pois perdem toda a credibilidade;

• Nunca prometer associar os habitantes na tomada de decisões, se não estiverem seguros de poder ter os seus compromissos;

• É melhor implementar um bom processo de informação ou organizar uma concertação eficaz que prometer uma falsa parceria, a qual sairá frustrada.

3.6. Ferramentas e Técnicas de Participação

Quando se pretende implementar um processo participativo existe a possibilidade de utilizar várias ferramentas nas diferentes fases do processo. Estas ferramentas mais não são que técnicas e métodos para concretizar o envolvimento dos intervenientes.

A escolha de uma ferramenta nunca poderá ser feita aleatoriamente ou pela sua fama, tem sim de permitir alcançar o mais eficazmente os resultados pretendidos pelo processo participativo, o grau de eficácia será tanto maior quanto a adequação das ferramentas aos contornos do processo participativo.

Assim a selecção das ferramentas a usar em cada fase do processo terá que ter em conta aspectos como:

• a complexidade do problema e das soluções;

• a atitude do público-alvo (stakeholders) a envolver (público passivo ou activo);

• o tamanho do grupo de intervenientes perante o qual se está presente;

• as características dos intervenientes (idade, capacidades e conhecimentos, etc.);

• as formas de participação requeridas;

• os níveis de participação que se pretende atingir;

CAPÍTULO 3

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 38

• a quantidade de recursos (dinheiro, pessoas);

• o tempo;

• as circunstâncias especiais (sensibilidades culturais e éticas, interesses de stakeholders, sensibilidades políticas, níveis de interesse, etc.).

Existe um grande número de técnicas e instrumentos que potenciem a participação, podendo dar como exemplo:

• Fóruns, reuniões, mesas redondas;

• Workshops, Focus Groups, painel de cidadãos;

• Apresentações a grupos específicos e colectividades;

• Acções de aprendizagem;

• Comité de acompanhamento;

• Comissões consultivas de cidadãos;

• Contactos directos com pessoas/instituições-chave;

• Mailing geral (carta, brochuras...);

• Sondagens, questionários, entrevistas;

• Debates nos media locais (ex: rádios, jornais);

• Notícias nos media locais;

• “Caixa de sugestões” electrónica;

• Discussão on-line;

• Web site;

• Web SIG (Sistemas de Informação Geográfica) com possibilidade de interacção individual;

• Exposição permanente;

• Grupos de discussão (electrónica ou presencial).

Embora a escolha de uma ferramenta ou técnica adequada seja importante para determinar o sucesso de um processo de participação também é verdade que existem outros factores que

são importantes. As competências do pessoal envolvido, a história de conflito e a clareza de propósitos podem ser tão importante (se não mais) como a escolha da ferramenta certa.

Por estas razões, há que encarar as ferramentas apenas como meios para atingir o objectivo do processo participativo.

No quadro seguinte expõem-se e caracterizam-se trinta técnicas que podem ser utilizadas em processos participativos:

P

articipação Pública

Gonçalo Jorge M

aia Pascoal

39

Quadro 3.2. Ferramentas de participação (People and Participation)

Pontos Fortes

Colaboração;

Envolvimento com os participantes, em vez de mantê-los passivos;

Fornece forte estímulo para a aprendizagem auto-dirigida.

Permite descobrir quais são as necessidades de toda a comunidade;

Os moradores podem ganhar confiança e habilidades.

Pode ser extremamente abrangente, flexível e poderosa, se correr bem;

É uma abordagem criativa e flexível;

Quando os membros das comunidades locais forem treinados para facilitar o processo, esta capacidade permanece dentro da comunidade para o futuro.

Tempo

Reuniões periódicas de 1-2 horas.

Pode ser demorado, dependendo da extensão da avaliação.

Processo contínuo.

Custo

Baixo.

Os custos são aqueles que surgem da facilitação externa e do tempo gasto em reuniões. Médio/Alto.

Pode ser caro no início, pois é muito importante que as pessoas que executam o processo sejam devidamente treinadas.

Participantes

O ideal para pequenos grupos (chamados "acção de aprendizagem em conjunto").

Cidadãos locais.

Membros da comunidade local.

Garantir que o processo inclui activamente membros da comunidade que normalmente não são envolvidos nas consultas.

Usado para:

• que as pessoas trabalhem em problemas particulares, mas também como um método de ensino e de auto-aperfeiçoamento.

• avaliar a opinião da comunidade e encontrar possíveis soluções para os problemas locais.

• investigação, aprendizagem e acção colectiva.

Breve descrição

Processo pelo qual o participante estuda as suas próprias acções e experiências, com o intuito de aprender mais, de resolver problemas e melhorar o desempenho.

Levantamento dos pontos de vista de todos os membros de uma comunidade em relação a questões específicas (habitação, escolaridade, formação, emprego, cultura, saúde, assistência social e infra-estruturas).

Família de abordagens que permitem que as pessoas locais identifiquem as suas próprias prioridades e tomem as suas próprias decisões sobre o futuro, com a agência organizadora a facilitar, ouvindo e aprendendo.

Ferramenta

Acção de Aprendizagem

Avaliação da Comunidade

Avaliação Participativa

CA

PÍT

ULO

3

Gonçalo Jorge M

aia Pascoal

40

Aberto e transparente, embora muitas vezes anónimo;

Envolve as pessoas que normalmente não podem estar envolvidas nas consultas cara-a-cara;

Permite que qualquer pessoa contribua com o seu ponto de vista a qualquer momento.

O uso das tecnologias de comunicação torna

possível gravar um grande número de discussões e

A dimensão do evento pode torná-lo uma experiência inspiradora para os participantes.

Ajuda na resolução de problemas;

Pode ajudar a criar novas ideias, reunindo o conhecimento e a experiência das pessoas;

Cria relações mais estreitas entre os participantes.

Um blog representa um compromisso contínuo, devido à necessidade de frequente actualização.

Elevado.

Algumas horas e durante várias sessões.

Varia.

Os blogs têm potencial para poupar dinheiro, reduzindo a necessidade de outras formas de comunicação.

Elevado.

Baixo/Médio.

Depende do local onde ela ocorre.

Dirigidos a qualquer grupo.

No entanto, as pessoas tem que ter acesso à tecnologia e possuir habilidade.

Existem, portanto, grupos que são excluídos do acesso aos blogs. Entre 500-5000.

Poucos (7-12), para permitir um ambiente confortável onde as pessoas possam expor os seus pontos de vista.

• efectuar comentários e críticas a um determinado assunto; • proporcionar um espaço que permite a discussão online.

• interacções em larga escala e tomada de decisão colectiva.

• envolver as pessoas com interesses semelhantes, mas também é usado para analisar e procurar soluções possíveis para um problema.

Os blogs são diários online onde os indivíduos ou organizações podem fornecer comentários e críticas sobre as notícias ou É uma maneira rápida e informal para divulgar informações para o público em geral ou grupos específicos.

Grandes reuniões públicas deliberativas que utilizam as tecnologias de comunicação para facilitar as discussões. Essas tecnologias incluem o voto electrónico, as mensagens de texto e os inquéritos online.

Envolve um pequeno número de cidadãos, guiados por um facilitador, que se encontram em mais de uma ocasião para discutir diversos assuntos.

É um esforço colaborativo, onde a responsabilidade recai sobre a criação de ideias, aprendendo mais sobre um assunto.

Blogs

Cimeiras de Cidadãos

Círculo de Estudo

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Funciona melhor com questões controversas;

Permite envolver um grande número de pessoas.

Permite que todas as partes trabalharem juntas, como iguais e aprendam umas com as outras;

Constrói habilidade, confiança e ambição entre os participantes.

Durante um período de 6 semanas a 6 meses.

Demorado.

Baixo/Médio.

Depende da duração do processo, do número de participantes e do salário/remuneração dada aos participantes.

Permite envolver um grande número de pessoas.

Adequado para empresas, instituições de caridade e outras organizações.

Usuários de um serviço ou moradores locais, que estão intimamente afectados pelo problema/serviço em questão.

• a participação activa de todas as partes interessadas ou afectadas por um problema;

• construir alianças de consenso;

• desenvolver as capacidades da comunidade.

• a tomada de decisão e concepção de serviços na administração local, da comunidade e dos voluntários e do sector privado na prestação de serviços.

É constituído por dois círculos concêntricos de pessoas sentadas, apenas os que estão no círculo interior estão autorizados a falar. O círculo interior deve representar todos os diferentes pontos de vista presentes.

Só é concedida a oportunidade de falar a outros quando estes se juntarem ao círculo interior, havendo para isso lugares em aberto.

Método de trabalho em que os decisores e os cidadãos, ou prestadores de serviços e usuários, trabalham juntos para criar uma decisão ou um serviço que sirva a todos eles.

Na prática, aqueles que são afectados por um serviço ou por uma decisão serão envolvidos em cada etapa da tomada de decisão e da elaboração do projecto.

Círculo Samoan

Co-produção

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Boa sensibilização pública, se correr bem;

Processo transparente e que incentiva o aumento da confiança;

A iniciativa cabe aos cidadãos, eles definem quais serão os pontos-chave do debate, escolhem as questões e seleccionam as testemunhas.

Igualdade entre participantes;

Rápido e acessível;

O anonimato do processo pode estimular a discussão aberta; Permite a contribuição em qualquer local e a qualquer hora.

Incentiva as pessoas a formar uma opinião sobre temas complexos;

Capacita as pessoas a acreditar que têm direito a uma palavra a dizer; O formato do jogo ajuda as pessoas a divertir-se enquanto falam.

Geralmente dura três dias, mas os participantes participam ainda em eventos preparatórios

Alguns meses, durante os quais se discute um evento ou uma situação actual.

Cerca de duas horas.

Caro.

Exige grandes instalações para acomodar a mídia e o público durante o evento.

Baixo.

Geralmente entre 10-20 pessoas.

Muito flexíveis quanto ao número e localização dos participantes. Nem todos têm acesso fácil à internet.

Normalmente, quem quiser é convidado a participar, embora, por vezes se procurem representantes em particular.

• envolver o público e incluir as suas opiniões na tomada de decisões sobre questões complexas e altamente técnicas.

• consulta de opiniões;

• recolha de informações;

• discutir um assunto.

• ajudar as pessoas a descobrir mais sobre um tema, através das diversas opiniões que são compartilhadas.

Numa conferência pública, um grupo de cidadãos, previamente preparados e informados, questiona os peritos sobre um

No final da conferência, produz-se um relatório com as conclusões e recomendações, este é usado para a tomada de decisões e distribuído pelos principais meios de comunicação.

Consultas on-line utilizam a internet para perguntar a um grupo de pessoas a sua opinião sobre um assunto.

Os participantes podem enviar informações sobre o assunto, fazer o download e responder por e-mail ou fazer comentários no site.

Jogo de conversa que ajuda a pequenos grupos a discutir questões de política pública.

Recorre-se a cartões pré-preparados que contêm todas as informações sobre um tema, as pessoas reflectem sobre as suas cartas e escolhem uma ou duas que consideram mais importantes. De seguida terão de explicar o porquê da sua escolha.

Conferência de

Consenso

Consultas On-line

Democs

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Cria cidadãos mais activos, através da aprendizagem informal e da sensibilização. Pode ajudar a superar os conflitos dentro e entre as comunidades levando a uma maior coesão. Preocupação com os problemas identificados pelas próprias comunidades, e não por aqueles indicados por agências externas.

Criativo e dinâmico;

Incentiva a colaboração entre grupos que tradicionalmente não trabalham juntos num processo de planeamento.

Alerta os projectistas para os valores e as necessidades da

Abordagem equilibrada na tomada de decisões, permitindo que todas as vozes sejam ouvidas; É altamente flexível e pode ser aplicado a todos os níveis de governo;

Ajuda em questões de pouca confiança.

É um processo a longo prazo.

Baixo/Médio.

Longo.

Processo de construção de relações e de confiança entre os grupos lento.

Depende de diversos factores (tipo de actividades a ser realizadas, número desejado de participantes, resultados pretendidos/resultados desejados).

O custo vai depender do número de reuniões e das remunerações profissionais contratados.

Devido à necessidade de um facilitador independente e, possivelmente, inúmeras reuniões os custos podem ser elevados.

Todas as comunidades, mas é mais orientado para comunidades em situação de pobreza, desvantagem e/ou discriminação.

Qualquer um, embora o processo se apoie no trabalhar com projectistas, urbanistas e arquitectos.

Na medida do possível o diálogo envolve todos os interessados.

• a construção de comunidades sustentáveis, que desenvolvam as soluções para problemas que elas próprias identificaram.

• aproximar os cidadãos, os decisores e projectistas, para que juntos construam uma nova visão para uma área ou local através de um processo criativo do trabalho em equipa.

• resolver conflitos e discordâncias, construir e melhorar as relações entre grupos, envolvendo aqueles que estão muitas vezes em perigo de ser excluído do processo decisório.

É uma abordagem a longo prazo de construção de comunidades activas e sustentáveis, baseadas na justiça social e no respeito mútuo.

Permite remover as barreiras que impedem as pessoas de participar nas questões que identificam como sendo importantes, possibilitando que a própria comunidade desenvolva as soluções para os problemas que são definidos internamente.

É um programa intensivo, um workshop que traz pessoas de diferentes disciplinas e experiências para explorar em conjunto as opções de projecto para uma área ou local específico.

O objectivo do processo é captar a visão, os valores e as ideias da comunidade.

O diálogo é conduzido principalmente através de seminários e reuniões. O objectivo mínimo é de encontrar um compromisso mutuamente aceitável, mas o ideal do processo é construir em terreno comum e chegar a um consenso pró-activo.

Desenvolvi-mento da

Comunidade

Charrettes

Diálogo

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Processo extremamente flexível;

Desencadeia a criatividade.

Incentivam a abertura e transparência;

As discussões podem ser adaptadas às preocupações dos moradores locais;

Fornecem uma interface directa entre os representantes eleitos e as comunidades que representam. Feedback instantâneo;

Permite realizar questionários;

Partilha de opiniões sobre as questões locais; Permite a ligação em rede com os funcionários eleitos; Permite acompanhar as notícias da comunidade.

Flexível.

Um evento geralmente dura entre um e cinco dias.

Reuniões entre cada dois meses ou a cada trimestre.

A abordagem pode ser muito barata, mas requer um local com espaço para acomodar todos os participantes em círculos concêntricos.

Baixo/Médio.

Baixo.

Os custos incluem a criação e manutenção de um espaço on-line.

Até 2000 participantes ou

Moradores, empresas, associações, grupos e organizações locais, representantes locais da polícia e da saúde, etc.

Conduzido pelos cidadãos.

• criar novas formas nas relações de trabalho, que permitam explorar a criatividade que é sufocada por outras formas de reunião mais estruturadas.

• informar sobre serviços e políticas que afectam a região;

• obter opiniões sobre as questões que afectam o bairro.

• dar a todos uma maior voz nas decisões locais e incentivar a maior participação dos cidadãos na formulação de políticas públicas locais.

É um quadro que permite a reunião de um número ilimitado de participantes que formam as suas próprias discussões acerca de um tema central. É em torno do tema central que os participantes identificam as questões para as quais eles estão dispostos a assumir a responsabilidade para a execução de uma sessão.

Reuniões realizadas numa localidade para debater temas e questões essenciais. São presididas por vereadores, juntamente com altos representantes das autoridades locais.

É um espaço público on-line onde qualquer cidadão ou funcionário eleito pode: ▪ tirar as suas dúvidas; ▪ fazer anúncios públicos; ▪ estar em rede com outros cidadãos locais.

O fórum necessita de um gerente que monitorize a conversa e garanta que se focam nas questões locais.

Tecnologia de Espaço

Aberto

Espaço Fórum

Fórum de Questões

Locais

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Os participantes podem preencher o questionário no seu próprio tempo;

As pessoas podem expressar livremente suas opiniões e ideias, o anonimato é mantido durante todo o processo.

Envolvimento da comunidade; Fácil de incluir as pessoas que normalmente não

Cria uma forte visão;

Trabalho em parceria;

É baseado num enredo, as pessoas falam das suas próprias experiências.

Dá uma opinião pública informada sobre como uma questão difícil deve ser abordada;

Os resultados também podem ser usados para gerar mais amplo debate público sobre as questões.

Médio.

Algumas horas.

Dois a quatro meses.

Baixo/Médio.

Baixo/Médio

Entre 23,000 € e 46,000 €.

10 a 50 participantes com competências ou conhecimentos específicos na área de

Pessoas da comunidade.

12 a 16 membros do público.

• desenvolver previsões, em resposta às questões actuais.

• promover o pensamento positivo, identificando e tomando como base experiencias bem sucedidas.

• ajudar a decidir questões de política pública muitas vezes controversas, onde a opinião está dividida e os decisores políticos não podem decidir o que fazer.

Série de questionários que permitem aos especialistas ou pessoas com conhecimentos específicos desenvolver ideias sobre o potencial de futuros desenvolvimentos em torno de uma causa. Pode ser realizada cara-a-cara, online ou por correio.

Os questionários são desenvolvidos durante todo o processo em relação às respostas dadas pelos participantes. Constrói-se uma visão para o futuro através de perguntas destinadas a incentivar as pessoas a contar histórias de experiência própria que funcionaram no passado. Ao discutir o que funcionou no passado, os participantes podem imaginar e criar uma visão do que seria um futuro de sucesso tendo como base firme a realidade dos sucessos passados.

Consiste num pequeno grupo de não-especialistas, com base na estrutura de um júri criminal, que é designado para examinar em detalhe uma questão importante de política pública e entregar um "veredicto" sobre o assunto.

Inquérito Delphi

Investigação

Apreciativa

Júri de Cidadãos

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Envolve pessoas que normalmente não estão envolvidas nas consultas cara-a-cara;

Permite a qualquer pessoa contribuir seja qual for o momento;

Permite que diferentes pontos de vista sejam exibidos e discutidos. Sondagens feitas correctamente geram dados estatisticamente significativos sobre a maioria da opinião pública;

Pode ser de baixo custo.

Flexível e aplicável em múltiplos contextos;

Permite que um grupo diversificado de chegue rapidamente a um acordo;

Após a configuração inicial, um empenho contínuo pode determinar o sucesso do painel electrónico.

Varia com a escala do levantamento, o número de respondentes, a quantidade de dados recolhidos, etc.

Um evento de dois dias com um follow-up recomendada após 6 meses.

Varia.

O custo pode variar de muito baixo a muito elevado.

A compilação e análise dos dados pode ter custos elevados.

Qualquer pessoa com

acesso à internet é um

potencial participante.

Qualquer.

De 5 a 50 é a escala típica.

Funciona bem com um grupo misto de participantes de todos os níveis da comunidade ou organização.

• estar em contacto com um grupo de cidadãos e consultar as suas opiniões.

• recolha de dados relativos à opinião pública.

• ajudar um grupo chegar a um consenso sobre onde eles querem chegar e como eles devem lá chegar.

São uma forma de assembleia ou organizações para a realização de consultas on-line e regulares com um grupo conhecido de cidadãos.

Forma de pesquisa quantitativa que mede e compara a opinião, as experiências e os comportamentos de uma amostra de pessoas.

Existem vários tipos de pesquisas de opinião, incluindo questionários, entrevistas cara-a-cara, inquéritos telefónicos, inquéritos on-line /email e sondagens deliberativas.

Abordagem de consenso que ajuda a comunidade a unir-se para explicar como gostariam que a sua comunidade ou organização se desenvolvesse ao longo dos próximos anos.

É um processo de quatro estágios: 1º determina-se o onde se quer chegar; 2º descrevem-se os obstáculos; 3º obtém-se a um acordo nos métodos para ultrapassar os obstáculos; 4º planeamento da implementação.

Painel Electrónico

Pesquisa de Opinião

Planeamen-to

Estratégico Participativo

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Um processo atraente e divertido, que é apreciada pelas pessoas que normalmente não se envolvem;

Os modelos de diminuem a necessidade de habilidades verbais ou de alfabetização;

É uma forma não conflituosa de expressar necessidades.

Todas as partes interessadas na questão estão na sala, produz-se assim uma mistura rica de informações e ideias;

As pessoas são encorajadas a analisar o que pensam;

Ajuda os participantes a compreender e apreciar os pontos de vista uns dos outros, alargando assim os horizontes de cada um.

Longo.

O ideal seria dois dias e meio, mas às vezes realiza-se em dois ou apenas em um.

Depende em grande medida do número de eventos e do tamanho do espaço necessário. Necessidade de um moderador.

Normalmente entre 5.000 € e 23.000 €.

Moradores locais. Não há limite para o número de participantes, pois eles não necessitam de estar todos presentes ao mesmo tempo.

Abrange um grande grupo de interessados, escolhidos porque têm poder ou informações sobre o tópico em questão ou são afectados pelos resultados.

• que os cidadãos locais tomem parte nas questões que os afectam.

Especialmente útil para planeamento, regeneração de bairros e capacity building.

• criar uma visão partilhada, combinada com a energia necessária para intervir;

• obter o compromisso de todos os interessados.

Os participantes adicionam sugestões a um modelo 3D da área de intervenção, indicando assim o que gostariam de ver ser feito para a sua comunidade se desenvolver.

Esta conferência é um evento que leva uma comunidade ou organização a criar uma visão partilhada para o futuro, com base nos pontos de vista dos participantes em relação a uma questão que os afecta.

Planeamento Real

Procura do Futuro

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Reúne um grande número de participantes;

Reúne informações claras e imediatas sobre o que pensam os participantes sobre um tema;

A rapidez e a dimensão do evento pode estimular os participantes.

Cria uma nova perspectiva para os actores locais;

Aspecto visual cativa o interesse;

Adaptável a diferentes ambientes sociais e culturais.

Combina a representatividade estatística de uma amostra científica com interacção e deliberação; Inclui as pessoas que normalmente não se envolvem; Boa forma de medir a diversidade da opinião pública.

Elevado.

Um dia.

Pelo menos 6 meses.

Elevado.

Médio.

Elevado.

Elevado número de participantes.

A maioria dos eventos são abertos a todos os cidadãos.

Cidadãos/atores com interesse nas questões locais.

Cerca de 200 a 600, constituindo uma amostra representativa da sociedade.

• envolver os cidadãos no planeamento, alocação de recursos e formulação de políticas.

• envolver os cidadãos e as comunidades locais, especialmente as mais carentes, em questões específicas.

• medir a opinião informada sobre um assunto.

São fóruns, que combinam a intimidade das pequenas deliberações cara-a-cara com o impacto e poder de interacções em larga escala e tomada de decisão colectiva.

Eventos de discussão com 10-12 pessoas por mesa, trabalhando com um facilitador independente, que usa um computador de rede para reunir instantaneamente as ideias e os votos das mesas.

Cada participante tem um teclado electrónico que lhes permite votar individualmente nos temas ou questões. Os resultados das votações são apresentados em tempo real.

SIG (Sistemas de Informação Geográfica) participativo é uma ferramenta de aprendizagem social que utiliza representações visuais como auxiliar de facilitação.

Usa mapas digitais, imagens de satélite, mapas esquemáticos, entre outros para ajudar o envolvimento e sensibilização a nível local.

Observação da evolução das opiniões de um grupo de teste composto por cidadãos, enquanto eles aprendem mais sobre o tema em causa.

O processo é executado em colaboração com a TV, que transmite partes do processo, permitindo ao público em geral partilhar o aprendizado dos participantes.

Reuniões do séc. XXI

SIG Participativo

Sondagem Deliberativa

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Incentiva uma maior comunicação para colher um consenso no momento da votação;

Os votos de todas as pessoas contam.

Pode construir e melhorar as relações entre os participantes;

Pode dar aos participantes novos conhecimentos e habilidades;

Permite que os participantes tenham uma visão das perspectivas uns dos outros.

No máximo um dia.

Baixo.

Baixo.

Baixo/Médio.

Qualquer pessoa.

Envolvem entre 8 a 16 participantes.

Os participantes seleccionados dependem da questão em jogo.

• qualquer sistema de votação, seja dentro de uma organização ou numa escala local/nacional.

Pode ser usado como ponto de partida numa discussão para se chegar a uma decisão.

• auscultar a opinião informada de um pequeno grupo de pessoas;

o debate aprofundado sobre um tema específico.

Utilizado para identificar a melhor opinião, chegando a um consenso através de um sistema de votação equilibrado.

No debate, as pessoas podem fazer perguntas, pedir esclarecimentos, ou ter ideias novas.

Nome genérico para eventos de diálogo em pequena escala, onde o objectivo é a deliberação.

São uma forma de discussão em grupo que proporciona aos participantes a oportunidade de examinar uma questão em profundidade, cada um desenvolve as suas opiniões ou argumentos para chegar a uma posição final informada.

Votação Consensual

Workshops Deliberativos

CAPÍTULO 3

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 50

3.7. Benefícios da Participação

Nos dias de hoje a participação pública é um direito assumido e representa um dos pilares de sustentação da democracia; esta importância resulta também dos inquestionáveis benefícios que a participação pode trazer a todos os cidadãos.

Os benefícios resultantes dos processos participativos, estes serão vistos de forma diferente pelos diversos intervenientes envolvidos, mas podem abranger aspectos como:

• Construção de cidadãos activos, autónomos e responsáveis pelas suas vidas e seus destinos colectivos;

• É mais provável obter propostas positivas quando as pessoas sentem que têm ou tiveram uma palavra a dizer;

• É mais provável as pessoas fazerem parte de uma solução a longo prazo, se tiverem tido alguma intervenção nas ideias iniciais;

• A participação da população é um garante da sustentabilidade da intervenção e a robustez das decisões;

• Passar por um processo de participação garante uma união de esforços para um fim comum, aumentando o sentido de vida em comunidade;

• Permite tirar partido das diversas aptidões e recursos que os diferentes indivíduos de uma comunidade detêm;

• Possibilita a identificação de alguns aspectos-chave para repensar as sociedades fragmentadas, as democracias viciadas e os Estados débeis;

Ainda de acordo com Ruivo e Cunha apud Xavier, (2004):

• “Resolvem-se os problemas de falta de conhecimentos e de experiência da Administração pública, indispensáveis à escolha das soluções mais adequada;

• Contribui-se para o aumento da eficiência da Administração, já que as medidas adoptadas conta com a boa vontade e o espírito de colaboração dos participantes;

• Restabelece-se o contacto directo entre a Administração e os administrados que funciona como meio de impedir a despersonalização e de evitar desvios burocráticos da função administrativa;

• Reforça-se a consciência do direito de cidadania e aprofunda-se o espírito democrático, que exige não só uma participação episódica na vida política, através da designação dos

governantes, mas também uma associação activa dos cidadãos à condução da Administração.”

A maior vantagem resultante da participação pública, advém de que, através dela, o cidadão sente-se mais intrinsecamente envolvido nas tomadas de decisão, sentindo uma co-responsabilização pelas consequências que advirão dessas decisões, quer sejam estas positivas ou negativas.

Participação Pública

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 51

Além destes benefícios que se traduzem num melhor produto ou resultado, todo o processo ajuda a desenvolver a confiança e as competências pessoais das pessoas participantes.

3.8. Entraves à Participação

Os problemas da implementação de estratégias de participação pública advêm não só das dificuldades em elaborar estratégias de comunicação e discussão eficientes, como também da mentalidade e hábitos de decisão da administração pública, dos técnicos e ainda das populações que apresentam uma atitude muito passiva perante as suas responsabilidades cívicas (Pereira, 1995).

Esta atitude muito passiva que caracteriza os cidadãos contemporâneos advêm principalmente do descrédito e da falta de confiança nas autoridades políticas e no sentimento de que a opinião do povo dificilmente é ouvida e normalmente é ignorada. É comprovativo disto a alta taxa de abstenção nos actos eleitorais onde a maioria dos cidadãos que exerce o direito de voto é o público mais idoso que ainda mantém o espírito de cidadania.

No que toca aos decisores (administração pública, técnicos, etc.), a implementação de estratégias participativas esbarram em ideias preconcebidas, estas ideias fazem com que a maioria das vezes os cidadãos sejam excluídos da tomada de decisões nas políticas públicas que afectam as suas vidas.

Ideias preconcebidas da administração pública, dos técnicos, etc, (Freitas):

• o público não quer participar (só as pessoas que são contra);

• o público não sabe como participar;

• público interfere nas decisões técnicas;

• a participação gera o caos e atrasa os projectos;

• o público não apoia as decisões porque é contra os dirigentes;

• os decisores arranjam muitas vezes informação em segunda mão sobre a opinião pública (resumos e sumários dos seus colaboradores).

A identificação de um interesse que satisfaça a toda comunidade também representa uma tarefa muito árdua, especialmente em comunidades tão heterogéneas como as urbanas constituídas por diferentes indivíduos, com interesses e potencialidades diversas.

Uma sociedade com fraco consenso civil, que se exprime pela violência, na incivilidade ou na recusa de participar no esforço público colectivo, é igualmente uma sociedade que dificilmente enfrentará o futuro com sucesso.

CAPÍTULO 3

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 52

Muitos dos problemas advém da implementação de más práticas participativas que criam desconfiança, desperdiçam tempo e dinheiro e podem prejudicar seriamente futuras tentativas de envolvimento público. Logo, todas as propostas posteriores para a participação serão susceptíveis de ser recebidas com cepticismo e desconfiança. A história positiva da participação parece ser o factor chave na determinação da vontade das pessoas de se envolver novamente (Gerry Stoker apud Mulgan and Blears, 2005). Claramente, uma má prática participativa pode ser pior do que nenhuma prática participativa. Como exemplo referem-se as práticas concebidas numa perspectiva de ludibriar o cidadão comum, levando-o a acreditar que a sua opinião é significativa e que pode, eventualmente, ter alguma influência sobre o desenrolar do processo.

Para que qualquer cidadão exerça uma participação eficiente num determinado plano ou programa é necessário que este seja devidamente informado para que se possa manifestar, caso contrário dificilmente terá uma opinião válida ou poderá contribuir para a tomada de decisão pondo assim em causa todo o processo participativo. É neste sentido que o Prof. Eng.º Fernando Nunes da Silva, do Instituto Superior Técnico afirma que “governar uma população estúpida é fácil, mas uma população esclarecida é difícil”.

Uma divulgação eficaz de informação é uma pré-condição necessária para se conseguir obter uma participação efectiva.

Mas participação não é simples informação nem consultas de opiniões, mas sim tomadas de decisão partilhadas que necessitam de tempo para que se obtenham os melhores compromissos, quando o tempo é insuficiente torna-se difícil a alcançar uma participação efectiva.

O esforço da população nos processos participativos está dependente da confiança no processo, nos objectivos que este pretende alcançar e nos tomadores de decisão.

Participação Pública

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 53

3.9. Enquadramento Legislativo/Documental

São vários os diplomas (documentos normativos) presentes na legislação portuguesa que procuram garantir e encorajar a prática da participação pública, não apenas no domínio do ordenamento do território mas, de modo mais geral, na relação que se estabelece entre a Administração e os cidadãos.

3.9.1. A Participação Pública nas Leis Fundamentais

A participação pública é um direito consagrado na Constituição da República Portuguesa, que faz desta um direito da democracia e uma obrigação de cidadania, nomeadamente nos seguintes artigos:

Artigo 52.º da CRP

1. Todos os cidadãos têm o direito de apresentar, individual ou colectivamente, aos órgãos de soberania, aos órgãos de governo próprio das regiões autónomas ou a quaisquer

autoridades petições, representações, reclamações ou queixas para defesa dos seus direitos, da constituição, das leis ou do interesse geral e, bem assim, o direito de serem informados, em prazo razoável, sobre o resultado da respectiva apreciação.

(…)

Artigo 66.º da CRP

2. (…) incumbe ao Estado, por meio de organismos próprios e com o envolvimento e a participação dos cidadãos (…) proteger paisagens e sítios, de modo a garantir a conservação da natureza e a preservação de valores culturais de interesse histórico ou

artístico;

Artigo 267.º da CRP

1. A Administração será estruturada de modo a (…) assegurar a participação dos interessados na sua gestão efectiva, designadamente por intermédio de associações

públicas, organizações de moradores e outras formas de representação democrática.

(…)

5. O processamento da actividade administrativa será objecto de lei especial, que assegurará (…) a participação dos cidadãos na formação das decisões ou deliberações que lhe disserem respeito.

A exigência da participação dos particulares nos procedimentos de tomada de decisões administrativas previstas no artigo 267º, n.º 5, constitui um factor de democratização das decisões. Tal participação deverá assumir uma configuração apropriada quando estejam em causa um número indeterminado de cidadãos, impondo a adopção dos chamados procedimentos administrativos colectivos ou populares e o acolhimento da noção dos interesses difusos (no urbanismo, no património cultural, no ambiente). Para a defesa deste

CAPÍTULO 3

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 54

tipo de interesses ganha particular importância o direito à participação procedimental e de acção popular previstos no artigo 52º CRP anteriormente apresentado).

A garantia da participação dos administrados na tomada das decisões que lhe dizem respeito é a garantia da participação nos procedimentos administrativos, sendo esses definidos como a sucessão ordenada de actos e formalidades tendentes à formação e manifestação da vontade da Administração Pública ou à sua execução.

Também no Código do Procedimento Administrativo, o princípio da participação está consagrado, “Cabe à Administração Pública fazer com que os particulares, e as associações

que defendam os seus interesses, intervenham na preparação das suas decisões”. Este principio ganha corpo nomeadamente através do Artigo 7º CPA:

1 - Os órgãos da Administração Pública devem actuar em estreita colaboração com os

particulares, procurando assegurar a sua adequada participação no desempenho da

função administrativa, cumprindo-lhes, designadamente:

a) prestar aos particulares as informações e os esclarecimentos de que careçam;

(...)

2 - A Administração Pública é responsável pelas informações prestadas por escrito aos

particulares, ainda que não obrigatórias.

Em Setembro de 1988 entra em vigor a Carta Europeia da Autonomia Local, um dos documentos mais importantes que foi lançado no âmbito da autonomia local, em especial pelo carácter vinculativo das suas disposições. Um dos seus princípios gerais destaca a necessidade de fortalecer a democracia representativa ao nível local referindo:

• o direito dos cidadãos de participar na gestão dos assuntos públicos faz parte dos

princípios democráticos comuns a todos os Estados-membros, e é ao nível local que

este direito pode ser mais directamente exercido.

3.9.2. A Participação Pública nos Processos de Plan eamento e Ordenamento Territorial

O planeamento e o ordenamento não são (ou não devem ser) atribuições exclusivas da Administração Pública. Todos os cidadãos têm o direito de participar nos processos que lhe dizem respeito, pode ser decisiva para enfrentar os problemas de ordenamento.

A legislação que forma o quadro legal e regulamentar do ordenamento do território e do urbanismo também abarca as preocupações com o reforço do papel interventivo dos cidadãos no processo de planeamento. Este reforço do papel interventivo tem um ênfase na prestação de uma maior e melhor informação aos cidadãos bem como na maior participação e responsabilização por parte destes.

Participação Pública

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 55

a) Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo, Lei n.º 48/98 de 11 de Agosto

O Artigo 5.º elege os princípios gerais a que a política de ordenamento do território e de urbanismo obedece, sendo relevante destacar o seguinte:

f) Participação, reforçando a consciência cívica dos cidadãos através do acesso à informação e à intervenção nos procedimentos de elaboração, execução, avaliação e revisão

dos instrumentos de gestão territorial;

b) Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial, Decreto-Lei n.º 380/99, de 22 de Setembro

Neste Decreto-Lei o direito à informação e o direito de participação são apresentados nos seguintes artigos respectivamente:

Artigo 5.º

1 - Todos os interessados têm direito a ser informados sobre a elaboração, aprovação, acompanhamento, execução e avaliação dos instrumentos de gestão territorial.

2 - O direito à informação referido no número anterior compreende as faculdades de:

a) Consultar os diversos processos acedendo, designadamente, aos estudos de base e outra documentação, escrita e desenhada, que fundamentem as opções estabelecidas;

b) Obter cópias de actas de reuniões deliberativas e certidões dos instrumentos aprovados;

c) Obter informações sobre as disposições constantes de instrumentos de gestão territorial

bem como conhecer as condicionantes e as servidões aplicáveis ao uso do solo.

3 - As entidades responsáveis pela elaboração e pelo registo dos instrumentos de gestão territorial devem criar e manter actualizado um sistema que assegure o exercício do direito à informação, designadamente através do recurso a meios informáticos.

Artigo 6.º

1. Todos os cidadãos bem como as associações representativas dos interesses económicos, sociais, culturais e ambientais têm o direito de participar na elaboração, alteração, revisão, execução e avaliação dos instrumentos de gestão territorial.

2. O direito de participação referido no número anterior compreende a possibilidade de formulação de sugestões e pedidos de esclarecimento ao longo dos procedimentos de elaboração, alteração, revisão, execução e avaliação, bem como a intervenção na fase de discussão pública que precede obrigatoriamente a aprovação.

3. As entidades públicas responsáveis pela elaboração, alteração, revisão, execução e avaliação dos instrumentos de gestão territorial divulgam, designadamente através da comunicação social:

CAPÍTULO 3

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a) A decisão de desencadear o processo de elaboração, alteração ou revisão, identificando os objectivos a prosseguir;

b) A conclusão da fase de elaboração, alteração ou revisão, bem como o teor dos elementos a submeter a discussão pública;

c) A abertura e a duração da fase de discussão pública;

d) As conclusões da discussão pública;

e) Os mecanismos de execução utilizados no âmbito dos instrumentos de gestão territorial;

f) O início e as conclusões dos procedimentos de avaliação.

4. As entidades referidas no número anterior estão sujeitas ao dever de ponderação das propostas apresentadas, bem como de resposta fundamentada aos pedidos de esclarecimento formulados.

c) Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território

Hoje em dia o ordenamento do território português carece do contributo de todos os cidadãos através de uma participação activa, informada e responsável de modo a que não fique apenas dependente da vontade dos políticos e dos técnicos. É dentro desta linha que se destacam dois grandes problemas do ordenamento do território identificados no Relatório do Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT):

21. Ausência de uma cultura cívica valorizadora do ordenamento do território e baseada…na participação dos cidadãos (…)

23. Dificuldade de coordenação entre os principais actores institucionais, públicos e privados,

responsáveis por políticas e intervenções com impacte territorial.

É com o propósito da construção de “Uma sociedade criativa com sentido de cidadania” que o Relatório do PNPOT lança os seguintes reptos:

“41. Uma sociedade criativa e com forte sentido de cidadania pressupõe mais conhecimento, mais abertura e cosmopolitismo, e maior participação e responsabilização.

43. Os cidadãos terão de ser melhor informados e mais interessados e responsáveis, assumindo

que o que está em jogo é sobretudo a necessidade de explorar as margens do progresso, e de crescimento económico de cada região, independentemente do grau de desenvolvimento que possui, e não tanto a manutenção de mecanismos redistributivos. A participação informada e responsável não é apenas um direito da democracia e uma obrigação de cidadania, constitui

também uma condição essencial para ultrapassar atrasos nos mais diversos domínios.”

O Programa de Acção do PNPOT, que visa concretizar a estratégia de ordenamento, desenvolvimento e coesão territorial do País, tem como ponto de partida o diagnóstico e as perspectivas e opções estratégicas previamente desenvolvidos no Relatório. Assim, de forma a combater os problemas anteriormente apresentados e, ao mesmo tempo, consolidar novas

Participação Pública

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 57

oportunidades, o Programa de Acção do PNPOT apresenta como um dos objectivos estratégicos:

“Reforçar a qualidade e a eficiência da gestão territorial, promovendo a participação informada,

activa e responsável dos cidadãos e das instituições.”

Este objectivo faz parte de um conjunto articulado de seis objectivos estratégicos que complementam e reforçam reciprocamente, e que se pretendem atingir no horizonte 2025.

Para o objectivo estratégico referido anteriormente enunciam-se diferentes linhas de intervenção polarizadas pelo seguinte objectivo específico. “Promover a participação cívica e

institucional nos processos de planeamento e desenvolvimento territorial.”

Propõe-se a concretização deste objectivo especifico através das seguintes linhas de intervenção:

“O desenvolvimento sustentável dos territórios pressupõe a concentração das vontades das entidades interessadas, através da adopção de metodologias participativas.

Os princípios da participação procedimental e da democracia participativa estão consagrados na lei fundamental. A sua concretização deve ser assegurada através do acesso à informação e da intervenção efectiva nos procedimentos de elaboração, execução, avaliação e revisão dos instrumentos de gestão territorial, de modo a reforçar a cidadania activa e a melhorar a qualidade

e eficiência desses instrumentos.

O direito à participação tem como corolário o direito dos particulares à informação, desde as fases iniciais e em todo o discurso da elaboração dos instrumentos de gestão territorial, de modo a que o processo de decisão reflicta o efectivo interesse público colectivo.

Neste processo, o acompanhamento e a cooperação activa das entidades públicas que representam diferentes interesses públicos é igualmente importante para a obtenção de soluções concertadas que aumentem a capacidade de concretização de políticas integradas de desenvolvimento.”

Apesar do PNPOT ser um documento estratégico cuja tradução territorial muito depende dos instrumentos de gestão territorial previstos na Lei de Bases, é evidente a preocupação em dar orientações no sentido do aumento de uma cultura e uma prática de participação.

CAPÍTULO 3

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Estudo de Caso

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4. ESTUDO DE CASO

No estudo de caso que se apresenta em seguida, relativo ao exemplo de uma operação de reabilitação urbana em zona histórica em execução, procuram-se identificar as estratégias de intervenção implementadas e as respectivas metodologias de acção associadas.

4.1. Processo de Reabilitação e Revitalização do Ce ntro Histórico de Évora

Foi escolhido como modelo a analisar o processo em curso de reabilitação e revitalização do Centro Histórico de Évora, promovido pela SRU Évora Viva.

Os motivos que determinaram esta escolha foram, por um lado encontrarmo-nos na presença de um centro histórico com 104 hectares e que é Património Mundial desde 1986, ano em que a Unesco o reconheceu como "o melhor exemplo de cidade da Idade do Ouro portuguesa" e, por outro pelo estado de preservação em que se encontra, sendo mesmo apontado como um dos mais bem preservados núcleos urbanos do país.

A descrição da estratégia implementada e das metodologias de acção associadas baseia-se na informação publicada no site da Câmara Municipal de Évora na Internet e na informação complementar amavelmente disponibilizada pela SRU Évora Viva.

4.1.1. Enquadramento

Figura 4.1. A cidade de Évora e a localização do Centro Histórico

CAPÍTULO 4

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Figura 4.2. Planta do Centro Histórico de Évora (Parque EXPO 98, 2008,41)

Évora é, historicamente, uma das principais cidades do País e o maior centro urbano do Alentejo, possuindo uma dinâmica de crescimento assente sobretudo no turismo e nos serviços. É uma cidade moderna que desfruta de um centro histórico valorizado com área de 107 hectares demarcada por muralhas medievais com mais de 3 km de extensão.

O seu centro histórico caracteriza-se por um tecido urbano de rede densa com ruas estreitas e travessas complementadas com pátios e largos (Figura 4.1.), onde abundam monumentos históricos (sendo exemplo destes a Sé Catedral) alguns conventos e palácios e o Templo Romano, por muitos considerado o ex-líbris da cidade.

Nas últimas décadas assistiu-se a uma vivificação tanto da cidade em geral como do comércio e da hotelaria, fruto do crescimento turístico resultante em grande parte da classificação do Centro Histórico como Património da Humanidade.

A atribuição desta classificação surge no ano de 1986, apenas três anos após a criação do Núcleo do Centro Histórico de Évora (NCHE). O NCHE era um gabinete com acções direccionadas fundamentalmente para o Centro Histórico, e que permitiram melhorar as condições de habitação, inverter a tendência de degradação do património e tecido urbano e revitalizar as actividades terciárias, atraindo o investimento público e privado para a reabilitação de edifícios degradados. (Geraldes, 2002)

Com a consideração do Centro Histórico como ACRRU em 1997, este passou a ter um olhar mais atento das entidades interessadas no seu processo de reabilitação.

Estudo de Caso

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Ao longo dos últimos anos destaca-se ainda o esforço que a Câmara Municipal de Évora tem vindo a empregar na reabilitação de prédios degradados, incentivando os proprietários ou inquilinos a efectuar obras de conservação e a respeitar as características do conjunto, não contribuindo deste modo para a desvalorização ou descaracterização patrimonial. Neste sentido vêm sendo apoiadas muitas intervenções de recuperação e reabilitação do edificado, ao abrigo do conjunto de programas municipais e nacionais (P. M. de Recuperação de Fogos, P. M. Casa Caiada, P. M. Recuperação de Caixilharias em Madeira, Programa RECRIA/REHABITA).

Todas estas práticas de reabilitação do Centro Histórico que já perduram à quase três décadas evidenciam a tradição que este tipo de processos têm na cidade de Évora. Os resultados da reabilitação física estão bem evidentes no estado de preservação em que o centro histórico se encontra, mas não basta intervir apenas ao nível da preservação do edificado, existe a necessidade de fazer mais, principalmente no que toca aos problemas actuais associados à perda de vitalidade que tem atingido esta zona.

Figura 4.3. Centro histórico de Évora (www.flickr.com)

Apesar de hoje em dia o Centro Histórico apresentar uma estrutura bem definida e organizada sente-se a necessidade de a regenerar e dinamizar de forma a combater a existência ou persistência de problemas que o afectam. Segundo o blog Viver Évora (2009) os problemas mais significativos com que as gerações actuais de eborenses se confrontam resultam de:

• excessivo acentuar das funções de centro cívico, administrativo, económico (terciarização), e cultural da cidade;

• crescimento exponencial da taxa de motorização que criou novos problemas de circulação e transportes;

• deficiente articulação com o resto da cidade;

• envelhecimento da população;

• desertificação do seu Centro Histórico.

CAPÍTULO 4

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O presidente da Câmara Municipal de Évora, José Ernesto Oliveira afirma:

"A perda de vitalidade do centro histórico é o nosso principal problema, aliás, comum a praticamente todos os centros históricos do país, mas temos de inverter esta tendência e criar condições para atrair

a população mais jovem e a classe média, que é um motor importantíssimo da economia local" (Lusa, 2006).

Este problema da perda de vitalidade relatado pelo presidente do município e definido como “principal problema” faz com que o centro histórico de Évora tenha perdido doze mil habitantes nas últimas décadas (quase 30% na última década), passando de uma população de aproximadamente dezoito mil para cerca de cinco mil e seiscentas pessoas (menos de 12% da população total da cidade). Destas pessoas existe a necessidade de destacar que a maioria são idosos (metade dos residentes com idade superior a 50 anos) e que devido ao êxodo da classe média para a periferia da cidade a população ficou bipolarizada em termos de classes sociais.

Figura 4.4. Evolução da População Residente (Viver Évora, 2009)

Em paralelo com o êxodo da população para as zonas periféricas, as edifícios do perímetro amuralhado, na sua maioria de propriedade privada, degradaram-se, exibindo muitos deles sinais de ruína. A gravidade deste problema que ameaça a integridade do centro histórico está bem patente quando nos confrontamos com uma estatística de 18,8% de alojamentos com carências relativas a condições de salubridade e ainda problemas de conservação resultantes de arrendamentos antigos, com rendas muito baixas.

Foi com a finalidade de combater as grandes problemáticas que actualmente afectam o centro histórico que mais recentemente se começaram a realizar as intervenções resultantes processo de reabilitação e revitalização do Centro Histórico de Évora.

Estudo de Caso

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4.1.2. Estratégia

A estratégia da Évora Viva – Sociedade de Reabilitação Urbana E.M., assenta numa missão empresarial de apoio à Câmara Municipal de Évora na renovação e reabilitação urbana do Centro Histórico de Évora (ACRRU). Fundamenta-se no Decreto-Lei 104/2004 de 7 de Maio já anteriormente referenciado e decorre do seu “Master Plan”.

O investimento previsto resulta de um Estudo de Enquadramento Estratégico para a Área do Centro Histórico de Évora intitulado “Évora – Recuperar o Processo Histórico”, da autoria da empresa Parque EXPO 98, S.A.

Este estudo cresceu com base na informação recolhida em diferentes contextos, desde as informações disponibilizadas pelo Município, passando pelos dados retirados das visitas ao Centro Histórico, até aos conhecimentos adquiridos nas várias reuniões com a Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), com a Equipa de Acompanhamento e com o conjunto de entidades públicas e privadas que o Município de Évora entendeu deverem ser ouvidas durante o processo de elaboração do Estudo.

Foram considerados neste caso como stakeholders principais, tendo, nessa qualidade sido ouvidas as seguintes entidades:

• Juntas de Freguesia do Centro Histórico;

• Universidade de Évora;

• Associação Comercial do Distrito de Évora;

• Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal;

• Direcção Regional da Cultura do Alentejo;

• Núcleo Empresarial da Região de Évora – Associação Empresarial;

• Sistema Integrado de Transportes e Estacionamento de Évora.

• Associação das Empresas de Construção e Obras Públicas;

• Cooperativas de Habitação;

• HABÉBORA EM;

• Ordem dos Arquitectos;

• Ordem dos Engenheiros;

• Caixa Geral de Depósitos – Grupo GI;

• Associação da Restauração e Similares de Portugal;

• Administração Regional de Saúde do Alentejo;

• Centro Distrital de Segurança Social;

CAPÍTULO 4

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• Santa Casa da Misericórdia de Évora;

• Região de Turismo de Évora;

• Biblioteca Pública de Évora;

• Museu de Évora;

• Círculo Eborense;

• Cabido da Catedral.

Os temas em que se podem agrupar as questões mais complexas com que se deparou a equipa composta pela CME, pela SRU e pela Parque EXPO foram os seguintes:

• Primeiro: Como recuperar o processo histórico de Évora?

• Segundo: Como dar coerência à cidade e unidade aos vários tecidos urbanos que

constituem Évora?

• Terceiro: Qual o papel do Centro Histórico de Évora, no contexto do desenvolvimento,

consolidação e coerência da cidade de Évora e de fortalecimento do sistema urbano local,

e que medidas devem ser implementadas para a sua reabilitação e revitalização? (Parque EXPO 98, 2008,7)

A proposta de revitalização do Centro Histórico de Évora que consta no Estudo de Enquadramento Estratégico estabelece uma operacionalização que tem um prazo para concretização de dez anos em que se actua sobre uma área de 113 ha. O estudo prevê os seguintes aumentos das funções em presença:

• Aumento da área verde em cerca de 54334 m2;

• Aumento de 1205 lugares de estacionamento;

• Aumento de edificado a reabilitar de 623092 m2;

• Aumento de construção nova de 41148 m2;

• Aumento de equipamentos de 60650 m2.

Foram definidas 7 Unidades Operacionais de Reabilitação (UOR) resultantes da análise do Centro Histórico e de todas as realidades relevantes numa operação de reabilitação urbana.

Inseridas nas UOR identificaram-se dezassete Projectos Estruturantes situados em três espaços:

• Acrópole: cidade romana e suas adaptações;

• Cerca: Portas, muralha e espaços adjacentes, intra e extramuros;

• Cidade medieval e moderna intramuros.

Estudo de Caso

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Onze dos Projectos Estruturantes estão associados a uma determinada Unidade Operativa de Reabilitação enquanto os outros seis são transversais ao conjunto da intervenção, sendo fundamentais para a regeneração urbana e promoção de vitalidade do centro histórico.

Estes 6 Projectos Estruturantes desempenham um papel transversal a toda a intervenção, e intervêm nos seguintes campos:

• Estrutura verde e espaços públicos;

• Elementos físicos do espaço público;

• Mobilidade;

• Comércio tradicional;

• Apoio à 3ª idade, infância e juventude;

• Património.

Para actuar na definição da estrutura verde e na recuperação dos espaços públicos concebeu- -se um Projecto Estruturante, que procura que as intervenções nestas áreas permitam a obtenção de um incremento da qualidade residencial. Algumas das medidas que fazem parte deste projecto são as seguintes:

• Reforço e consolidação da área verde na envolvente às muralhas;

• Desenvolvimento de diversos percursos pedonais e cicláveis de interligação, com os corredores verdes já existentes e com os novos corredores;

• Estabelecimento extensivo de novos alinhamentos arbóreos de enquadramento em reforço e complemento dos existentes;

• Valorização dos diversos tipos de espaços verdes que integram o Centro Histórico, criando condições para que estes sejam integrados na estrutura verde continua da cidade

• Intervenções profundas em alguns jardins;

• Valorização dos espaços de diferentes tipologias, “praças”, “largos” e “jardins de desenho romântico”;

• Intervenção ao nível do espaço público de forma a preservar o valor simbólico de todo o Centro Histórico e beneficiar o peão em detrimento do automóvel;

• Abertura de novas vias e reperfilamento de vias existentes, tendo como objectivo uma maior fluidez do tráfego (viário e pedonal) bem como a valorização do espaço público;

Para intervir nos elementos físicos do espaço público concebeu-se um Projecto Estruturante, que actua ao nível dos seguintes três contextos:

• Mobiliário urbano;

CAPÍTULO 4

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• Iluminação cénica;

• Sinalética.

Tendo como alvo o sistema de mobilidade criou-se um Projecto Estruturante, que procura reduzir os congestionamentos, melhorar as acessibilidades, facilitar as deslocações e criar alternativas a utilização da viatura particular no interior do Centro Histórico. Algumas das medidas estabelecidas neste projecto são as seguintes:

• Adequação dos tipos de circulação viária às funções e características da rede viária;

• Implementação de uma nova oferta de parques de estacionamento subterrâneos, intramuros e extramuros;

• Criação, promoção e divulgação de um serviço de transporte colectivo denominado Linha Verde que permite a circulação dentro do Centro Histórico, que fará dos turistas e dos visitantes o seu principal público-alvo;

• Criação, promoção e divulgação de uma rede ciclável constituída pelas ciclovias existentes, as vias do Centro Histórico e diversas ciclovias a criar;

• Implementação de um sistema de bicicletas públicas de aluguer ou empréstimo gratuito, com os locais de recolha e largada situados junto aos parques de estacionamento, aos equipamentos e espaços de referência e também junto aos terminais dos transportes públicos;

• Qualificação de percursos pedonais contínuos.

Para se obter a dinamização do comércio tradicional concebeu-se um Projecto Estruturante, que procura impulsionar e fortalecer o comércio tradicional em relação aos outros tipos de comércio através das seguintes medidas:

• Dinamização do actual eixo estruturante do comércio tradicional;

• Dinamização de um novo eixo estruturante do comércio tradicional;

• Programa de adequação dos estabelecimentos comerciais da zona da Acrópole à dignidade do território;

• Elaboração de candidaturas a projectos de modernização do comércio tradicional, no quadro da salvaguarda e valorização das suas características específicas e do seu valor patrimonial e efectivo, incentivando os “nichos de negócio que os tornam únicos e que os consolidem como elementos insubstituíveis no contexto da vida urbana e do turismo.

A construção de uma rede integrada de apoio à 3ª idade, infância e juventude, assim como a instalação de um equipamento de apoio social capaz de dar resposta aos residentes actuais, maioritariamente idosos, mas também aos novos residentes atraídos pelo processo de regeneração urbana, constituiu um outro Projecto Estruturante. Este equipamento consagrará as seguintes funções:

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• Lar/espaço de repouso;

• Centro de Dia;

• Apoio ao Domicílio Integrado (articulação com serviços de saúde);

• Creche;

• Infantário;

• ATL em vários espaços para os diferentes níveis etários até aos 12 anos.

Finalmente, a recuperação e a valorização do património são os objectos de intervenção dum Projecto Estruturante que reforça a identidade do Centro Histórico e potencia o desenvolvimento económico e social. Algumas das medidas estabelecidas neste projecto são as seguintes:

• Monitorização do processo de intervenção arqueológica articulado com o conjunto das intervenções previstas;

• Promoção das reconstituições da cidade e seus monumentos, integrada no processo de interpretação dos dados arqueológicos e históricos;

• Musealização de alguns espólios, nos edifícios ou espaços onde foram achados;

• Planos de salvaguarda para monumentos e imóveis de valor em risco.

Considera-se que o sucesso da intervenção dependerá da eficiência com que a fase de implementação da estratégia e das acções previstas é concretizada. Assim, existe a necessidade de se tirar partido de todos os mecanismos e recursos adequados capazes de contribuir para gerar a dinâmica desejada, em particular no que respeita às preocupações sociais e ambientais, ao estímulo da iniciativa privada, à regulação do mercado e ao investimento e financiamentos públicos.

A gestão da intervenção contempla as seguintes dimensões:

• Dimensão de ordenamento e regulamentar;

• Dimensão incentivos;

• Dimensão dinamizadora e reguladora;

• Dimensão social;

• Dimensão cultural;

• Dimensão comunicacional;

CAPÍTULO 4

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Quanto aos apoios, prevê-se que a Évora Viva poderá conceder, entre outros:

• Incentivos fiscais para além dos já actualmente previstos em matéria de reabilitação urbana;

• Penalizações para os casos de inércia por parte de proprietários de prédios devolutos (por exemplo agravamento de taxas);

• Criação de condições de financiamento favoráveis, preferencialmente por via da intermediação do IHRU, através de protocolos com instituições bancárias e, muito particularmente, com o Banco Europeu de Investimentos (BEI).

• Criação de uma carteira de fornecedores de serviços essenciais ao processo de reabilitação, a preços e condições de pagamento especiais.

Mas uma vez que estes apoios não bastam para o arranque da dinâmica de reabilitação, é necessário captar o interesse de investidores e dos proprietários. Prevê-se que serão realizadas algumas operações de reabilitação por parte da Évora Viva SRU com o intuito de gerar um efeito catalisador de acções idênticas por parte dos privados e de se apresentarem como exemplos.

4.2. Comunicação e Participação Pública

4.2.1. Plano de Divulgação e Comunicação para o pro grama ACRÓPOLE XXI

Este plano surge com dois intuitos basilares, o de promover a identidade e a oferta do programa ACRÓPOLE XXI destacando os valores (patrimoniais, culturais, artísticos, etc.) que têm um carácter catalisador nos processos de regeneração, e o de promover os valores e objectivos da regeneração urbana.

Este plano deve:

• realizar uma divulgação que privilegie as tecnologias de informação e comunicação multimédia. Assim sendo está previsto a criação de um website próprio, de carácter estruturante e permanente, que será peça central e a grande aposta do programa de divulgação;

• divulgar as acções concretas em que incidiu o projecto nas suas diferentes componentes: intervenção física e animação;

• sensibilizar/informar os públicos-alvo sobre os objectivos do programa e os impactos quotidianos causados durante a intervenção.

Estudo de Caso

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Este plano tem como alvo os seguintes públicos:

• Público em geral

• Público especializado:

▪ Residentes de Évora;

▪ Turistas nacionais e estrangeiros;

▪ Mediadores turísticos e culturais;

▪ Comunicação Social especializada.

Campanha e meios a utilizar:

Está previsto que o programa inclua:

• um website bilingue (Português e Inglês). Neste website está previsto a colocação de todo o tipo de informação em rede (histórico e making of da intervenção, os espaços a conhecer, agendas e programação, entre outras), com alcance maximizado pela colocação de links em websites e portais tanto das entidades da parceria de desenvolvimento do programa, como de outras com interesses congéneres nas áreas da regeneração urbana, património, cultura e lazer, turismo, etc.

• uma campanha com meios tradicionais (rede de muppis, rede de PostalFree, flyers, desdobráveis, anúncios, entre outros);

• acções de animação diversas, de relação directa e personalizada com públicos-alvo, envolvendo vivência social e cultural da nova acrópole (e.g. “Dia Aberto do Centro Histórico de Évora”).

4.2.2. Sessões de Debate Público Promovidas pelo Gr upo Pro-Évora

Ao ter-se conhecimento do Estudo de Enquadramento Estratégico para a Área do Centro Histórico de Évora e do seu agendamento para aprovação na reunião do executivo camarário do dia 9 de Abril de 2008, o Grupo Pro-Évora – associação de defesa do património da cidade de Évora – tomou a iniciativa (nível máximo de participação) e enviou ofícios ao Presidente da Câmara Municipal de Évora e aos vereadores da autarquia, solicitando o adiamento da aprovação do documento e salientando a necessidade de o mesmo ser objecto de debate público, dadas as implicações que iria produzir na vida da cidade. A solicitação foi favoravelmente acolhida pelo Presidente da Câmara, que retirou o respectivo ponto da ordem de trabalhos da reunião.

CAPÍTULO 4

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Com a intenção de alertar os eborenses para o conteúdo do documento o Grupo Pro-Évora promoveu depois três sessões públicas de debate durante o mês de Maio de 2008, subordinadas aos temas “O Plano e a sua integração estratégica”, “Reabilitação, construção/demolição, habitação e turismo” e “Mobilidade e acessibilidade”, tendo convidado para intervir nas várias sessões, reconhecidos especialistas nos domínios urbanísticos e patrimoniais, e as empresas Parque EXPO e SRU Évora Viva, enquanto promotora e executora, respectivamente, do estudo em causa.

As sessões foram organizadas em duas fases, numa primeira fase as entidades promotoras e executoras bem os especialistas realizavam uma espécie de conferência onde expressavam os seus pontos de vista e defendiam as suas convicções em relação aos vários temas, numa segunda fase realizava-se o debate propriamente dito dando-se a palavra à população que integrava a assistência havendo assim a oportunidade desta manifestar as suas preocupações.

Mais tarde, no dia 12 de Dezembro de 2009 voltou-se a realizar uma nova conferência/debate na sede do Grupo Pro-Évora sobre o projecto “Espaço Público e Equipamento Urbano para a Acrópole de Évora e Área Envolvente, Acrópole XXI”, com a participação do Prof. Arqt.º Gonçalo Ribeiro Telles e da Arqt.ª Margarida Cancela de Abreu. Para o Grupo Pro-Évora o projecto para a Acrópole de Évora e zona envolvente, constitui uma intervenção muito profunda e agressiva, que não tem em consideração aspectos como a memória, a topografia e as funcionalidades do local.

Quanto aos resultados destas sessões o Grupo Pro-Évora por um lado congratula-se com a elevada afluência de eborenses interessados mas por outro considera que as alterações feitas ao documento foram superficiais, quando este foi revisto após as primeiras três sessões.

Como resultados das sessões foi feita uma síntese elaborada pelo Grupo Pro-Évora onde constam algumas das intervenções feitas pela assistência:

“Foi assinalada o curto prazo para a realização dos projectos (dez anos), o que faz deste «um plano violento». O teor das intervenções propostas foi também considerado violento, dadas as alterações previstas para os edifícios, o perfil das ruas, a atracção do automóvel por meio de parques de estacionamento subterrâneo, com graves consequências na descaracterização do tecido urbano do Centro Histórico e da sua vivência. Foi defendido que as intervenções «têm que ser feitas com as pessoas» e não pelo cumprimento de projectos a elas estranhos.

O estudo foi acusado de constituir fundamentalmente um processo de promoção imobiliária e de não valorizar a importância da cultura na vivência da cidade. Houve também quem receasse que não haja suficiente discussão, ou que esta não seja tida na devida conta pelos decisores. Foi mesmo questionado se valeria a pena o esforço de cidadania que as muitas presenças ilustravam, acentuando-se a necessidade de um melhor esclarecimento dos propósitos globais e de muitos aspectos específicos do documento. Nem o modelo de cidade pretendido está satisfatoriamente exposto, apesar de dever constituir um elemento prévio ao estudo.

Estudo de Caso

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Foi também questionada a compatibilização do comércio tradicional com a criação de centros

comerciais, como é o caso do previsto para junto das Portas de Avis.” (Grupo Pro-Évora

4.3. Análise Crítica

a) Intervenção física

A elaboração do presente trabalho coincide com o momento em que o processo de actuação da SRU se encontra em implementação.

Segundo o Arqt.º Jorge Pires, administrador executivo da Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU) Évora Viva, das intervenções previstas no processo de reabilitação e revitalização do Centro Histórico de Évora apenas o programa de acção Acrópole XXI apoiado pelo INAlentejo – QREN está a decorrer de acordo os prazos estabelecidos inicialmente, registando-se atrasos em todos os outros programas principalmente devido a problemas de financiamento.

Quando questionado sobre quais as principais dificuldades com que se têm deparado na implementação da estratégia de intervenção foram destacadas, para alem do financiamento, a consensualização das acções mais transformadoras.

Em relação ao estudo da Parque EXPO destaca-se em primeiro lugar a importância de todo o projecto de recuperação e regeneração do centro histórico e a preocupação em não desenvolver intervenções pontuais, mas sim operações integradas.

Mas também se apontam defeitos a este estudo, a começar pela problemática da mobilidade em cidades históricas que no caso de Évora pode sair prejudicada com a criação dos inúmeros parques de estacionamento que estão previstos para o centro histórico.

Estes novos parques de estacionamento muito provavelmente atrairão mais pessoas ao centro histórico mas também funcionarão como factor de atracção de automóveis. Tal estratégia não nos parece a mais adequada quando se pretende descongestionar este local, devendo-se sim criar parqueamentos periféricos bem servidos pelos transportes públicos e com boas condições ao nível dos pavimentos e dos dispositivos de sombreamento para que os cidadãos não vejam vantagens em levar o seu automóvel para o centro histórico. Será também necessário criar restrições ao tráfego automóvel, favorecendo as características pedonais da cidade e promovendo a fruição tranquila do centro histórico.

Outra questão relacionada com o aumento da capacidade de estacionamento é provavelmente o abandono da população residente, uma vez que são criadas soluções que facilitam o acesso ao centro histórico por parte de quem reside fora deste e necessita principalmente de o frequentar para trabalhar.

Esta perda de população residente cria um forte contraste entre as actividades diurnas e nocturnas nestes tecidos, assistindo-se assim na hora de ponta da manha a uma grande

CAPÍTULO 4

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 72

afluência de utentes ao centro histórico ocupando todos os estacionamentos possíveis (quantos mais existirem mais serão ocupados e se tiverem uma tarifa associada melhor). Durante a hora de ponta da tarde assiste-se a um abandono generalizado do mesmo centro histórico dando lugar a importantes problemáticas como a desocupação e despovoamento nocturno.

A intervenção deveria assim estar apontada noutra direcção, ou seja, para o favorecimento do uso residencial e para a devolução da capacidade residencial perdida. Ao residir-se no centro histórico deixa de ser necessário um grande número de parques de estacionamento, desde que existam alternativas válidas à viatura privada e uma oferta de equipamentos adequada às necessidades. Assim, quem trabalha no centro histórico eventualmente não necessitará de viatura própria para as suas deslocações; já os que trabalham fora do centro histórico e possuírem viatura própria deixarão os seus lugares à disposição para quem vier de fora.

Uma grande parte das intervenções resultantes do processo de reabilitação e revitalização do Centro Histórico de Évora apontam para uma estratégia voltada para o mercado do lazer e do turismo histórico e patrimonial. Este tipo de estratégia alicerça-se num processo de estetização da paisagem urbana principalmente na zona da Acrópole. Este processo é actualmente bastante visível nas cidades portuguesas e tem a ver com a dimensão patrimonial da cidade, com o mercado urbano de lazer e com o fenómeno de exploração turística que depende da crescente existência de cenários que estimulem a actividade sensorial dos turistas.

Tal estratégia levanta uma questão pertinente: até que ponto um espaço preferencialmente votado para o turismo e para o consumo se torna eventualmente repulsivo às actividades quotidianas e aos cidadãos locais? Outra questão a ter em conta é a da sustentabilidade financeira de tal estratégia, uma vez que estamos perante uma actividade sazonal e de enorme susceptibilidade a efeitos de conjuntura.

Tudo isto leva a crer que estudo da Parque EXPO peca pela falta de propostas que originem factores vivenciais de atracção de habitantes e está muito voltado para a atracção de meros frequentadores do centro histórico. Qualquer plano estratégico de intervenção deve ser elaborado com base nas pessoas enquanto habitantes do espaço urbano, uma vez que só a habitabilidade mantém viva a cidade histórica.

b) Participação cidadã

Quando questionado sobre a participação dos habitantes/utentes do centro histórico nas reuniões de trabalho aquando da elaboração da estratégia de intervenção, o administrador executivo da SRU respondeu que esta participação se efectivou através das entidades e dos agentes representativos, tendo o enquadramento estratégico do processo de reabilitação urbana contado com ampla e activa participação.

Estudo de Caso

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Contudo esta participação consumada através das entidades e dos agentes representativos parece ficar aquém daquela que cidadãos têm direito e que se deve efectivar neste tipo de intervenções, uma vez que a população tem o direito de estar directamente envolvida na fase de análise, de planeamento estratégico e de implementação para não ficar à mercê da vontade dos políticos e dos técnicos.

Uma prova que este tipo de participação ficou aquém da que os cidadãos têm direito e da que se deve realizar neste tipo de intervenções traduz-se na dificuldade de consensualização em relação às acções mais transformadoras, acções estas que ficaram exclusivamente à consideração de especialistas. Esta dificuldade de consensualização tem-se traduzido num obstáculo à implementação da estratégia de intervenção.

Assim, se tivesse existido uma participação pública condizente com a importância do Processo de Reabilitação e Revitalização do Centro Histórico de Évora aquando do planeamento da estratégia e da acção, estes obstáculos não se colocariam nestes contornos, até porque a responsabilidade das intervenções não ficaria toda do lado dos técnicos, ou seja estaria repartida pelos técnicos e pelos cidadãos.

Ao estarmos em presença de um plano estratégico esperava-se que os cidadãos fossem envolvidos desde a primeira hora, logo na fase de diagnóstico. No entanto, tal não se verificou.

Outra prova desta falta de envolvimento dos cidadãos na elaboração da estratégia de intervenção é comprovada pela elevada afluência de eborenses às várias sessões de apresentação/discussão pública em torno do Estudo de Enquadramento Estratégico promovidas pelo Grupo Pro-Évora e pelas várias opiniões e preocupações demonstradas nas várias intervenções preconizadas pelos cidadãos.

Normalmente as responsabilidades pelas falhas na democracia participativa não podem ser atribuídas apenas a um dos lados, estas terão de ser repartidas pelos decisores do processo que se limitam a cumprir os requisitos mínimos exigidos e pelos cidadãos que apresentam uma atitude muito passiva em relação à realidade social que os rodeias.

Mas neste caso de estudo esta redistribuição das responsabilidades parece não se verificar, uma vez que quando solicitados pelo Grupo Pro-Évora os cidadãos compareceram nas sessões de debate e manifestaram as suas opiniões acerca do Estudo de Enquadramento Estratégico. Se não fosse a iniciativa do Grupo Pro-Évora o documento teria sido aprovado sem ter sido objecto de debate público efectivo.

Isto leva a atribuir a grande maioria da responsabilidade aos decisores do processo que não pretendiam realizar uma discussão pública que concedesse aos cidadãos a possibilidade de participar activamente no processo de reabilitação.

CAPÍTULO 4

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Neste sentido importa referir que esta discussão pública não tem carácter obrigatório, uma vez que de acordo com a legislação, os planos de pormenor de intervenções descritas no Estudo de Enquadramento Estratégico podem vir a ser realizadas sem a prévia revisão do Plano de Urbanização.

Mas mesmo após as sessões de apresentação/discussão pública promovidas pelo Grupo Pro-Évora existem cidadãos que alertam para o desconhecimento em relação às consequências dos debates públicos realizados e para a ausência de discussão das soluções decididas pelo poder autárquico.

Este afastamento da população dos processos de decisão faz pouco sentido nos dias de hoje. Para além de se estar na presença de cidadãos com uma maior cultura estes têm normalmente uma opinião formada acerca de qualquer assunto e não aceitam imposições que não compreendem.

Uma Proposta de Metodologia

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Análise e Avaliação

Resposta

Implementação

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5. UMA PROPOSTA DE METODOLOGIA

Propõe-se uma metodologia para um processo de participação pública mais eficaz na sequência das reflexões formadas anteriormente sobre as intervenções de reabilitação urbana e o envolvimento dos cidadãos. Esta metodologia pressupõe uma abordagem composta por diferentes fases bem evidentes e transparentes, a ser aplicada no âmbito da implementação de um processo de reabilitação urbana.

A metodologia proposta é composta um processo participativo assente em três fases que se desenvolvem em paralelo com o processo de reabilitação. Cada uma das fases inclui vários passos, sendo cada passo apresentado não só através de uma descrição como também pela identificação dos objectivos pretendidos, pela definição da forma de participação e ainda pela apresentação de algumas ferramentas mais adequadas ao passo a dar.

Pretende-se assim com esta metodologia contribuir para o envolvimento activo de todos os actores chave com interesse na área de intervenção, de modo a que o processo de reabilitação seja levado a cabo na base do consenso, assente na co-responsabilização de todos os intervenientes e na aproximação entre os cidadãos e a administração procurando assim obter-se as melhores decisões possíveis para a área intervencionada.

5.1. Metodologia

A metodologia proposta baseia-se num processo de intervenção do tipo racional, cíclico composto pelas seguintes fases:

Preparação

Identificação

Monitorização Avaliação

Novas Estratégias

Novos actores

CAPÍTULO 5

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 76

Preparação

• Poderes públicos tomam a iniciativa

• Constituição de uma equipa gestora do processo de participação, esta equipa tem que ser constituída por elementos com formação adequada e que reúnam as capacidades necessárias à sua implementação (comunicadores de informação, facilitador de ideias, controlador de recursos, etc.). Caso seja necessário deve-se realizar um curso técnico e estratégico para técnicos e cidadãos.

• Criação de um plano de monitorização capaz ajudar a equipa a definir e medir

objectivos atingíveis, avaliar o impacto e identificar as lições para a prática futura.

Identificação

• Identificação e mobilização dos actores e das parcerias:

◦ Administração pública;

◦ Projectista;

◦ Agentes privados;

◦ Equipa técnica interdisciplinar constituída por profissionais especializados nas diferentes áreas envolvidas (arquitectura, engenharia, urbanismo, historia de arte, sociologia, antropologia, arqueologia, geografia, etc.).

◦ Empresas;

◦ Associações empresariais;

◦ Serviços da administração central e outras entidades do sector público;

◦ Concessionários de serviços públicos;

◦ Instituições de ensino, de formação profissional e de investigação;

◦ Fundações, organizações não governamentais (ONG) e outras associações;

◦ Moradores e suas associações;

◦ Proprietários.

Uma Proposta de Metodologia

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2ª Fase de Participação

1ª Fase de Participação

3ª Fase de Participação

Análise e avaliação

• Análise e diagnóstico

◦ Problemáticas

◦ Potencialidades

◦ Necessidades

Resposta

• Plano estratégico

◦ Definição e hierarquização das metas gerais e dos objectivos específicos

• Plano de acção

◦ Mobilização de recursos

◦ Planeamento da acção

Implementação

• Monitorização e avaliação contínuas

Alterações do contexto

◦ Eventual necessidade de revisão da estratégia ou do plano de acção

◦ Eventual necessidade de integrar novos actores

CAPÍTULO 5

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 78

1ª Fase de Participação

1º Passo – Sensibilização/informação pública do processo de reabilitação urbana a conceber e a implementar, esta sensibilização será efectuada a partir dos mídia local (rádio, imprensa), pela divulgação de informação de fácil entendimento por toda a cidade (escolas, faculdades, hospitais, centro de saúde, Câmara Municipal, Juntas de Freguesia, hipermercados, mercado municipal, jardim público, cinemas, centros comerciais, igrejas, etc.) e ainda pela criação de um Website de apoio ao processo de reabilitação. A informação a transmitir deve ser preparada e difundida por técnicos especialistas em comunicação, devendo adoptar uma linguagem entendível pelo cidadão comum.

Objectivo – Informar.

Forma de participação – Passiva.

Ferramentas – Notícias nos media locais, Website, cartazes, flyers, desdobráveis, anúncios, etc.

2º Passo – Realização de pesquisas de opinião na cidade (questionários, entrevistas cara-a-cara, inquéritos telefónicos, inquéritos on-line/email e sondagens) com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre a realidade da área, fazendo uma pré-determinação dos problemas, das potencialidades e das necessidades do centro histórico, bem como uma confirmação dos actores/stakeholders a envolver nos diferentes passos do processo de participação pública.

Objectivo – Diagnóstico da área em estudo.

Forma de participação – Consulta.

Ferramentas – Pesquisa de opinião, Inquéritos Delphi, Avaliação da Comunidade, etc.

Uma Proposta de Metodologia

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2ª Fase de Participação

3º Passo – Realizar sessões organizadas de forma a dar a conhecer a todos os seus participantes, os resultados das pesquisas de opinião. Todos os resultados devem ser tratados e apresentados pela equipa técnica aos participantes para que se possa promover a discussão em torno dos mesmos e assim obter-se um consenso que permita formular e estabelecer em documento, os principais problemas, potencialidades e necessidades que estabelecerão os objectivos do processo de reabilitação urbana.

Este diagnóstico é a rampa de lançamento para a delineação da estratégia de intervenção sendo de estrema importância o rigor com que este caracteriza a realidade.

Objectivo – Análise da área em estudo.

Forma de participação – Funcional.

Ferramentas – Diálogos, Fóruns, Cimeiras de Cidadãos, Votação Consensual, etc.

1º Passo – Realizar sessões organizadas onde se pretende por meio de consenso, definir e hierarquizar as metas gerais e os objectivos específicos do processo de reabilitação urbana com base nos problemas, potencialidades e necessidades obtidos na primeira fase de participação.

Os resultados obtidos neste passo deverão permitir a definição do Plano Estratégico.

Objectivo – Definição do Plano Estratégico.

Forma de participação – Funcional.

Ferramentas – Diálogos, Fóruns, Cimeiras de Cidadãos, Votação Consensual, Planeamento Estratégico Participativo, SIG Participativo, etc.

CAPÍTULO 5

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2º Passo – Exposições informativas nos locais mais frequentados da cidade (praças, instituições de ensino, centros comerciais, igrejas, etc.), onde todos os públicos possam tomar contacto com a proposta de acção elaborada pela equipa técnica com base no Plano Estratégico resultante do passo anterior e assim possam formular sobre ela a sua opinião. As exposições devem possuir pessoal capaz de esclarecer as dúvidas da população.

Objectivo – Informar.

Forma de participação – Passiva.

Ferramentas – Exposições, folhetos, posters, publicações periódicas, programas nas rádios locais, etc.

3º Passo – Dado o tempo necessário para a população tomar contacto com a proposta de acção e formular sobre ela uma opinião informada realizar-se-ão sessões organizadas onde os intervenientes são incentivados a expressarem os seus interesses. É com base nisto que são construídas soluções, procurando potenciar os interesses comuns, o desenvolvimento de alternativas e identificação das soluções preferidas.

É da compatibilização de objectivos e da coordenação de esforços a estes dois níveis que deve nascer a versão definitiva do Plano de Acção da reabilitação urbana.

Objectivo – Plano de Acção.

Forma de participação – Interactiva.

Ferramentas – Diálogos, Cimeiras de Cidadãos, Workshops Deliberativos, Reuniões do séc. XXI, Votação Consensual, Tecnologia de Espaço Aberto, Planeamento Real, etc.

Uma Proposta de Metodologia

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3ª Fase de Participação

1º Passo – Informar previamente do início de obras, todos os públicos que sejam directamente afectados por estas (comerciantes, turistas, peões, etc.), assim como disponibilizar informação adequada e apresentando as alternativas válidas.

Esta informação prévia permitirá ao público afectado manifestar-se e participar na procura de soluções.

Objectivo – Informar.

Forma de participação – Passiva.

Ferramentas – Cartas, brochuras, notícias nos media locais, cartazes, flyers, desdobráveis, anúncios, linha de apoio ao cidadão, etc.

2º Passo – Realização de pesquisas de opinião, criação de email e página Web com “caixa de sugestões” e blog, para que a população participe no processo de monitorização e avaliação da intervenção, fornecendo assim informações relativamente à forma como as acções estão a cumprir as suas expectativas e com o propósito de obter a sua opinião acerca das obras em curso (se estão a ser afectados de alguma forma por estas, quais os transtornos causados), e participando problemas com que se deparem. Estas pesquisas de opinião devem ser realizadas nos locais que estão a ser alvo de intervenções de modo a obter a opinião do público afectado.

Objectivo – Inquerir acerca da satisfação.

Forma de participação – Interventiva.

Ferramentas – Pesquisa de opinião, “caixa de sugestões” electrónica, email, etc.

CAPÍTULO 5

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Para que este processo participativo, ou qualquer outro, seja bem sucedido é ainda necessário respeitar as seguintes recomendações:

• Deve-se adequar as formas de divulgação ao público-alvo;

• Deve ser providenciada informação necessária, entendível e credível ao público;

• Deve ser dado tempo suficiente para que haja participação efectiva;

• Devem ser definidos espaços de participação adequados;

• Devem-se encorajar os cidadãos a tomar parte das discussões;

• Deve ser feito apelo à organização de grupos de interesse para poderem tratar dos assuntos que lhe dizem directamente respeito e sobre os quais têm experiencia acumulada e necessidades especificas a satisfazer;

• Deve ser atribuído às autoridades públicas o papel de motor e moderador do processo, assumindo assim a liderança mas mantendo como valor chave a participação da população;

• Deve-se especificar o que se pretende obter com o público a cada passo do processo;

• Deve-se identificar quem é o responsável por tomar as decisões e de que forma estas serão tomadas (Figura 14).

Figura 5.1. Formas de tomar uma decisão (Saboya, 2007)

Conclusão

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6. CONCLUSÃO

a) Síntese do trabalho

O estudo que dá corpo a esta dissertação alicerça-se em duas questões estruturantes, a reabilitação urbana em centros históricos e a participação pública. Cada uma destas questões é analisada individualmente em capítulos independentes.

O estudo em torna da questão da reabilitação urbana (capítulo 2) começa por esclarecer os diferentes conceitos associados à “recuperação” de zonas urbanas, que era um dos objectivos específicos, depois analisa-se as diversas problemáticas e mais-valias presentes nos centros históricos terminando com a descrição do que tem sido a reabilitação urbana em Portugal, em termos de legislação, de estratégias e mecanismos operacionais e de resultados alcançados.

Outros dois objectivos específicos identificação de diversas técnicas de participação pública no planeamento e elaboração de uma análise crítica comparativa das diversas técnicas identificadas) é conseguido no capítulo referente à participação pública (capítulo 3), para alcançar estes objectivos foi necessária a identificação e das diferentes especificidades que condicionam a selecção das técnicas que permitem o envolvimento efectivo dos intervenientes.

As análises realizadas tanto no capítulo 2 como no capítulo 3, contribuíram não só para a realização do estudo de caso (capítulo 4) como junto com este permitido a constituição de bases sustentadas para a obtenção do último objectivo específico, que era a elaboração de uma possível proposta de metodologia participativa em contexto de reabilitação urbana. (capítulo 5).

b) Principais Conclusões, e desenvolvimentos futuro s

Em Portugal, a reabilitação urbana ao contrário do que se verifica por toda a Europa, nunca arrancou definitivamente, de forma sistemática apesar das sucessivas alterações à legislação nestes últimos anos para inverter esta situação. Por cá apenas existem casos pontuais, alguns aqui alvo de uma breve exposição, que, embora bem sucedidos, nunca contagiaram outras urbes nacionais.

Ao se enveredar por caminhos que não são os da reabilitação conclui-se que existiram sempre outras prioridades e que esta nunca foi vista como uma solução para os problemas dos aglomerados urbanos. Como consequência destas opções, apareceram novos problemas e os que existiam agravaram-se, principalmente nas zonas mais centrais.

Algum dia ter-se-á que abandonar o caminho até agora percorrido; já se insistiu de mais num caminho que não produz as soluções essenciais para os problemas actuais. Esse dia parece

CAPÍTULO 6

Gonçalo Jorge Maia Pascoal 84

estar perto de chegar pois parece estar perante um beco sem saída ou com uma saída muito apertada, só possível de ser transposta por poucos.

Se o aparecimento deste beco sem saída permitir desencadear um arranque definitivo nos processos reabilitação urbana, existe a necessidade de recorrer a estratégias que permitam a tais processos gerar uma verdadeira requalificação e revitalização dos tecidos urbanos. Esta verdadeira requalificação e revitalização não se fará apenas com intervenções no edificado, é necessário combater todas as problemáticas que vão muito para além das intervenções físicas de maquilhagem da realidade existente e da criação de cenários atractivos para a indústria do turismo. Pode-se assim considerar que reabilitações como a económica, a social e a ambiental são tão importantes como a reabilitação física, podendo até, consoante a situação, ser mais importantes.

As estratégias que este documento propõe e estuda são os processos de participação pública que, adoptados ao longo de todo o processo de reabilitação urbana, permitirão obter benefícios inquestionáveis para a administração e/ou técnicos e populações afectadas. O desconhecimento destes benefícios ou as ideias e mentalidades pré-concebidas acerca da participação pública por parte das entidades mencionadas faz com que a participação no nosso país ainda não seja olhada como algo de essencial, apesar da importância que já lhe é atribuída na nossa Constituição e nas leis que regem o ordenamento do território e o urbanismo.

Para a reabilitação urbana, a participação pública torna-se essencial porque permite que a administração e/ou os técnicos tomem contacto, através das populações afectadas, com as reais problemáticas com que os cidadãos se deparam no seu dia-a-dia e assim possam conceber as melhores soluções. Já as populações, ao serem envolvidas, sentem-se valorizadas e mais próximas da administração e, para elas, as acções na área de intervenção serão de mais fácil aceitação uma vez que existe uma co-responsabilização na tomada de decisões.

Mas a implementação de processos de participação pública não é um exercício simples e requer, por parte de quem pretende implementar um processo deste tipo, a selecção de ferramentas que permitam o envolvimento efectivo dos intervenientes. A selecção dessas ferramentas está principalmente dependente das seguintes especificidades: intervenientes, formas e níveis de participação. Só após a identificação dos resultados que se pretendem obter por quem está por de trás do processo de reabilitação urbana é que se podem ajustar e definir as especificidades atrás mencionadas pois estas é que estabelecerão os contornos do processo de participação pública. Quanto melhor for o ajuste às especificidades, melhores serão os resultados atingidos.

Assim, a execução de processos participativos ajustados às diferentes fases de uma operação de reabilitação podem ser um procedimento de grande utilidade para o sucesso das intervenções.

Conclusão

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Todo o estudo apresentado foi concebido principalmente em torno da reabilitação de centros históricos. Como futuros desafios aponta-se a análise de outras zonas urbanas castigadas por outras problemáticas e que também necessitam de ser alvo de processos de reabilitação. É o caso das zonas de habitação social, os núcleos de barracas e de construções precárias e as zonas industriais em declínio.

Após um estudo fundamentalmente teórico das questões relacionadas com a participação pública seria interessante o estudo de um caso prático que permitisse a observação, o acompanhamento e a análise de um processo de participação pública referente a uma operação de reabilitação urbana.

Contudo, todos estes estudos não seriam exequíveis devido não só à exigência e a morosidade de tal abordagem como às limitações a que se está sujeito em termos de extensão.

CAPÍTULO 6

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